FERRAMENTA DE SIMULAÇÃO PARA AUXILIAR O PRODUTOR BRASILEIRO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIA LOGÍSTICA E FINANCEIRA DE COMERCIALIZAÇÃO DE UMA SAFRA DO PRODUTO A GRANEL Edson José Dalto Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Orientador: Prof. Eduardo Saliby, Ph. D. Rio de Janeiro, RJ – Brasil Dezembro de 2003
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FERRAMENTA DE SIMULAÇÃO PARA AUXILIAR O PRODUTOR
BRASILEIRO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIA
LOGÍSTICA E FINANCEIRA DE COMERCIALIZAÇÃO DE UMA SAFRA DO
PRODUTO A GRANEL
Edson José Dalto
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administração
Orientador: Prof. Eduardo Saliby, Ph. D.
Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Dezembro de 2003
iii
Dalto, Edson José
Ferramenta de Simulação para Auxiliar o Produtor Brasileiro de Soja no Desenvolvimento de Estratégia Logística e Financeira de Comercialização de uma Safra do Produto a Granel / Edson José Dalto – Rio de Janeiro, 2003.
xvii, 230 f.: il.
Tese (Doutorado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2003.
O Brasil vem ocupando a cada ano uma posição de maior destaque entre os
principais produtores mundiais de soja, impulsionado pelo forte aquecimento da
demanda mundial, com preços recompensadores. A produção nacional, estimada
preliminarmente para a safra de 2002/03, segundo o Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA, 2003, p.6), será de 52,5 milhões de toneladas, enquanto os
Estados Unidos produzirão 74,8 milhões de toneladas (USDA, 2003, p.6). Soma-se
ainda que a possibilidade de expansão produtiva mundial está quase toda no Brasil, em
termos topográficos, meteorológicos, de disponibilidade de terras e tecnológicos, que
propiciam o cultivo em larga escala, tendência mundial na produção de grãos
(EMBRAPA, 2001).
A figura I.1 ilustra a evolução comparada da produção de soja dos três principais
países produtores, desde a safra de 99/00, até aquela prevista para o ano safra 03/04.
Figura I.1 – Evolução da produção de Soja dos três principais países produtores
Evolução da Produção de Soja
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
99/00 00/01 01/02 02/03 03/04
Safras
Milh
ões
de
To
nel
adas
Estados Unidos Brasil Argentina
Fonte: USDA.
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Estima-se que sistema agro-industrial brasileiro, como um todo, contribua com
35% no valor total do PIB, ou seja, US$ 163 bilhões do PIB projetado para 2003 de
US$ 467 bilhões. Desse total, a cadeia agro- industrial da soja participa com pelo menos
16%, o que significa um montante de US$ 26 bilhões anuais (EMBRAPA, 2001). Esses
números mostram a importância econômica da soja para o País.
As projeções para a safra de 2002/03 indicam que o Brasil baterá novos recordes
de exportação, atingindo 21 milhões de toneladas de soja em grão (57%), 13,75 milhões
de toneladas de farelo (37 %) e apenas 2,25 milhões de toneladas de óleo (6%), de um
total de 37 milhões de toneladas exportadas, representando acréscimo de 21% sobre as
exportações da safra anterior e superando as exportações dos EUA, que registrarão para
o complexo soja (grãos, farelo e óleo), 35 milhões (USDA, 2003). Em valores
monetários, as exportações de soja brasileira devem situar-se perto de US$ 8 bilhões
contra US$ 7,2 bilhões dos norte-americanos.
Com a atual safra de grãos prevista em 122,2 milhões de toneladas (IBGE,2003),
o Agronegócio brasileiro deverá atingir em 2003 um superávit comercial de US$ 25
bilhões, contra US$ 20,3 bilhões de 2002 (mais de 23 % em um ano), sendo o mercado
exportador mais dinâmico da economia brasileira. O agronegócio representa mais de
40% da pauta de exportações e 11% de importações.
Costuma-se afirmar que o agricultor brasileiro é extremamente competitivo da
porteira para dentro da fazenda e os números da produtividade comparada dos três
principais players confirmam essa informação1. Entre os elementos que propiciam essa
posição de relevo na agricultura mundial, destacam-se o desenvolvimento de sementes
adequadas a cada região, resistentes às doenças; o tratamento científico dos solos; o
sistema inovador de plantio direto2 e a intensa mecanização da lavoura (PAULA e
FAVERET, 2000, p.1).
Por outro lado, o aspecto da comercialização da produção não acompanha o
mesmo desenvolvimento contemplado no campo. As deficiências no sistema de
armazenagem obrigam o produtor a vender quase a totalidade de sua safra no momento
1 As produtividades em toneladas por hectare, para os Estados Unidos, Brasil e Argentina, nesta ordem, os maiores produtores mundiais, foram, para a safra 2002/03, respectivamente de: 2,55; 2,85 e 2,82. 2 Ver item III.3.1.
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da colheita, quando os preços são mais baixos e os fretes mais caros; a restrição nas
opções de compradores, devido a uma visão do negócio muito regionalizada, sem
considerar a possibilidade de exportação direta; as dificuldades da operacionalização
logística e os altos volumes exigidos em uma exportação; o elevado custo de
escoamento, devido à escassez de modais mais baratos, condições inadequadas de
estradas e custos excessivos de terminais portuários; o desconhecimento dos sistemas de
proteção de preço em mercado futuro; as elevadas taxas de desconto cobradas pelos
mecanismos de antecipação da venda para custeio da lavoura; a escassa ou ineficiente
assistência de cooperativas em algumas regiões produtoras, entre outros problemas,
fazem com que o produtor perca boa parte da competitividade alcançada na produção.
I.2 – OBJETIVO DA PESQUISA
O principal objetivo desta tese consiste no desenvolvimento de uma ferramenta
de simulação, em forma de planilha, que auxilie o produtor na determinação de uma
estratégia de venda, mês a mês, de uma safra de soja a granel.
Com o apoio desse instrumento, o produtor terá a possibilidade de decidir sobre
a forma de comercialização (venda especulativa, antecipada, futura ou opção de venda),
o local de entrega do produto e as quantidades vendidas em cada época, em uma decisão
reavaliada mês a mês. As premissas para a tomada desse conjunto de decisões
fundamentam-se na consideração das expectativas de valor futuro, para cada mês, da
cotação do grão na Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de câmbio e dos
custos logísticos nos canais de escoamento do produto.
O modelo contempla as principais áreas produtoras de soja do país, porém a
análise é individual para a região escolhida. O ambiente de planejamento envolve um
horizonte de 18 meses onde, para cada mês, são contabilizados receitas e custos
provenientes da produção e da venda do grão.
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I.3 – IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
A literatura concede grande importância ao estudo dos aspectos de
competitividade na produção e comercialização da soja, encarada, sobretudo, em uma
perspectiva macroeconômica. No entanto, estudos relacionados à competitividade do
produtor são escassos. Este trabalho pretende abordar o problema das decisões logísticas
e financeiras que afetam o produtor de soja, em sua estratégia de comercialização de
uma safra, particularizando cada região produtora e época do ano, com o apoio de um
modelo de simulação em forma de planilha eletrônica.
Ao planejar a comercialização de uma safra anual de soja, o modelo permite ao
analista considerar, em suas especificidades logísticas, cada uma das principais regiões
produtoras do país, delimitadas pelo critério da homogeneidade dos canais de
escoamento para exportação. O decisor pode escolher entre os locais de venda na
fazenda ou no porto, analisando os custos comparados do deslocamento do produto por
um processo multimodal ou exclusivamente rodoviário.
Simultaneamente, o programa facilita a análise do papel que a armazenagem
desempenha, como vantagem comercial para o produtor, na retenção da venda, em cada
época do ano.
Além das decisões relacionadas ao ponto de venda, retenção de estoques e
escolha modal, o modelo permite a consideração, de maneira integrada, sobre a
utilização de formas de comercialização (venda especulativa, antecipada, formação de
hedge e seguro de preço) e a quantidade negociada em cada etapa da venda.
Esse painel abrangente de decisões, que devem ser tomadas de forma integrada,
em um cenário mutante, constitui um problema muito complexo para o analista, daí a
conveniência de que ele disponha de uma ferramenta que o auxilie no sentido de
maximizar sua receita comercial, de forma coerente com sua necessidade de formação
de capital de custeio para a safra e seu perfil de aversão ao risco.
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I.4 – ESTRUTURA E CONTEÚDO DO TRABALHO
Esta tese foi organizada em seis capítulos, mais uma parte de anexos.
O capítulo de introdução situa o trabalho no contexto do agronegócio brasileiro e
apresenta os objetivos e a importância da pesquisa. O capítulo seguinte revela um
aspecto da revisão de literatura, apresentando uma breve história do desenvolvimento da
soja. A seguir destaca o papel desta commodity como propulsionadora do agronegócio
brasileiro, apresenta a estrutura da oferta e demanda mundial e nacional e o processo
industrial da soja. No terceiro capítulo, segue-se outra abordagem da revisão de
literatura relacionada aos fatores de competitividade do complexo da soja,
apresentando-se a estrutura agrária na produção desta oleoginosa e os fatores de
competitividade de produção, de mercado e de comercialização.
No quarto capítulo, começa-se a esboçar a ferramenta proposta, com a
proposição conceitual um modelo de simulação para comercialização de soja em grãos,
esmiuçando-se as etapas deste processo e caracterizando-se a sua estrutura teórica,
acompanhada de uma declaração de escopo.
O quinto capítulo é o cerne da metodologia do trabalho e intitula-se Construção
e Calibração do Modelo. Inicialmente são apresentados os aspectos gerais da
modelagem, com ênfase para as características adotadas na programação;
posteriormente, descreve-se o funcionamento do modelo, sua estruturação em módulos
e, encerrando o capítulo, a metodologia construtiva e o processo de calibração do
modelo.
O sexto capítulo é reservado às conclusões e recomendações, destacando as
principais virtudes e limitações do modelo e proposições sobre as características a serem
consideradas em novos estudos.
Finalmente, nos anexos, são apresentadas algumas figuras que complementam o
entendimento do texto da tese.
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CAPÍTULO II
O AGRONEGÓCIO DA SOJA
II.1 – HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA SOJA
De acordo com a Embrapa (2001, p.1), “a soja é uma leguminosa cultivada pelos
chineses há cerca de cinco mil anos. Sua espécie mais antiga, a soja selvagem, crescia
principalmente nas terras baixas e úmidas, junto aos juncos nas proximidades dos lagos
e rios da China Central. Há três mil anos a soja se espalhou pela Ásia, onde começou a
ser utilizada como alimento. Foi no início do século XX que passou a ser cultivada
comercialmente nos Estados Unidos. A partir de então, houve um rápido crescimento na
produção, com o desenvolvimento das primeiras cultivares comerciais.”
No Brasil, o “feijão chinês”, como algumas vezes é chamada a soja, chegou em
1882, implantado na Bahia. Em 1941, apareceu pela primeira vez nas estatísticas
oficiais do Rio Grande do Sul (VERNETTI, 1977), onde, neste mesmo ano, foi
construída a primeira fábrica de processamento de soja.
O grão de soja dá origem a subprodutos dos quais os principais são o farelo e o
óleo. Outros, mais elaborados, são utilizados pela agroindústria de alimentos e indústria
química. A proteína de soja dá origem a produtos comestíveis (ingredientes de padaria,
massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para
bebês, confecções e alimentos dietéticos). É utilizada também pela indústria de adesivos
e nutrientes, alimentação animal, adubos, formulador de espumas, fabricação de fibra,
revestimento, papel, emulsão para tintas e outras aplicações. A soja integral é utilizada
pela indústria de alimentos em geral e o óleo bruto se transforma em óleo refinado e
lecitina, que dá origem a inúmeros outros produtos (EMBRAPA, 2001, p.1).
A figura 1 dos Anexos apresenta um mapa geral dos produtos originados da soja.
O interesse do Governo brasileiro pela expansão na produção da soja para
atender à indústria fez com que a leguminosa ganhasse cada vez mais incentivos
oficiais. Para atender às exigências de produção de uma cultura altamente demandante
7
de tecnologia, foi criado, em 1975, em Londrina, o Centro Nacional de Pesquisa de Soja
(atual Embrapa Soja), como uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). Sua principal incumbência era conquistar a independência
tecnológica para a produção brasileira, que até então estava concentrada nos estados do
Sul do País, aproveitando a entressafra da cultura do trigo que, na época, recebia
incentivos do governo. A boa adaptação da soja nas terras do Sul do país e a crescente
demanda dos mercados interno e externo deram estabilidade aos preços do produto, o
que incentivou o aumento de área.
Em pouco tempo, os cientistas não só criaram tecnologias específicas para as
condições de solo e clima do Sul, como conseguiram desenvolver a primeira cultivar
para regiões tropicais brasileiras, que viabilizou a produção no Cerrado, onde antes a
planta não se desenvolvia. A criação de novas sementes fez muito mais do que
desbravar as novas fronteiras agrícolas do Brasil, até então consideradas improdutivas;
levaram a soja a todas as regiões de clima tropical do mundo.
II.2 – A SOJA COMO PROPULSIONADORA DO AGRONEGÓCIO
BRASILEIRO
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.1) “Pode-se dizer, sem medo de errar,
que a expansão da cultura da soja foi a principal responsável pela introdução do
conceito de agronegócio no país, não só pelo volume físico e financeiro envolvido, mas
também pela necessidade da visão empresarial de administração da atividade por parte
dos produtores, fornecedores de insumos, processadores da matéria-prima e
negociantes, de forma a manter e ampliar as vantagens competitivas da produção.”
O processo de mecanização da agricultura brasileira e a introdução de técnicas
modernas de plantio, colheita e processamento de grãos devem-se, em grande parte, à
expansão do cultivo de soja ocorrido nas últimas três décadas.
Os setores agro- industriais relacionados à produção de carnes consolidaram-se e
expandiram-se, graças à oferta abundante de rações obtidas através da soja.
8
Cooperativas e traders ampliaram significativamente suas atividades, apoiadas
na oferta interna de grãos e na facilidade de comércio desta commodity, tanto no
mercado interno como para exportação.
A conquista do oeste brasileiro ocorreu no rastro do “ouro-verde”, que hoje já
procura as fronteiras do Norte para ocupar seu espaço (PAULA e FAVERET, 2000,
p.1).
Estruturas de armazenagem, processamento, transporte e exportação foram
bastante ampliados a partir do significativo aumento da produção e expandiram-se fora
das regiões tradicionais de plantio, acompanhando a ampliação da fronteira agrícola,
embora em ritmo descompassado.
A competição acirrada no comércio internacional exige grande dinamismo de
todos os fatores, razão pela qual a pesquisa tecnológica, especialmente agronômica,
desenvolveu-se no mesmo diapasão, oferecendo novas técnicas e cultivares adequados
às regiões, de diversas especificações (conforme o uso pretendido) e resistentes às
doenças.
II.3 – ESTRUTURA DA OFERTA E DEMANDA MUNDIAL E NACIONAL
Estados Unidos, Brasil, Argentina e China lideram a produção mundial de soja,
respondendo, em média, por 91% do total produzido, conforme estimativas do United
States Department of Agr iculture (USDA, 2003) para a safra de 2002/03. Estes mesmos
países, com exceção da China, lideram o ranking de exportação. Entre os principais
importadores do complexo soja, a União Européia, China, Japão e México respondem
por 57% do volume total. As figuras II.1 a), b) e c) ilustram essas informações.
A União Européia é a grande importadora, com uma parcela superior a 30%. A
China tornou-se forte importadora no início do século, assumindo cerca de 18% do total
comercializado, como resultado do grande crescimento da demanda interna de carnes.
Japão e México têm parcelas semelhantes, em torno de 4%. Países da Oceania, embora
9
não apareçam no gráfico, importam perto de 8 milhões de toneladas de farelo de soja,
para alimentação de seu expressivo rebanho bovino.
Figuras II.1 a), b) e c) – Principais produtores, exportadores e importadores de
soja estimados para a safra 2002/03
Fonte: USDA
Dentre as nações que se destacam como as mais promissoras importadoras de
soja para o futuro, estão a China, os países do Leste Europeu, Norte da África, Oriente
Médio e América Latina, particularmente o México. Nesses países, a maior parte da
população apresenta alta elasticidade-renda na demanda de alimentos, principalmente de
origem animal. Dessa forma, o aumento esperado da renda per capita desses países,
causará um aumento sem precedentes na demanda de oleaginosas (EMBRAPA, 2001).
De acordo com dados do USDA (2003), a produção brasileira de soja alcançará
60 milhões de toneladas na safra de 2003/04, ocupando uma área de 21 milhões de
hectares com uma produtividade de 2,86 t/ha.
A evolução da área cultivada, produção e produtividade da soja brasileira,
apresentadas em forma comparativa entre as regiões Sul e Centro-Oeste, podem ser
10
acompanhadas nas figuras II.2 a), b) e c), extraída do relatório Agriculture in Brazil and
Argentina: Developments and Prospects for Major Field Crops (USDA, 2001).
Figuras II.2 a), b) e c) – Evolução comparada da área cultivada, produção e produtividade da soja entre as regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil
A expansão da área cultivada de soja no Brasil é resultado tanto da incorporação
de novas áreas, nas regiões Centro-Oeste e Norte, quanto da substituição de outras
culturas, na Região Centro-Sul, segundo a Embrapa (2001). Quanto ao aumento da
produtividade o fator decisivo foi o sistema de pesquisa da Embrapa (PAULA e
FAVERET, 2000, p.5).
11
Em termos regionais, a figura II.3 revela a evolução da produção nos principais
estados onde a soja é cultivada.
Figura II.3 – Evolução da produção da soja nos principais estados do Brasil
Soja - Evolução da Produção nos principais estados
Ganho %Menos de 10 ha 57.203,0 356.726,0 195.068,0 6,2 3,4 1.830 - 10 a 100 ha 157.147,0 5.059.819,0 2.337.097,0 32,2 14,9 2.165 18,34%100 a 1000 ha 24.713,0 8.602.393,0 3.759.820,0 348,1 152,1 2.288 5,66%1000 a 10000 ha 3.774,0 6.656.601,0 2.809.816,0 1.763,8 744,5 2.369 3,54%Mais de 10000 ha 153,0 912.441,0 386.171,0 5.963,7 2.524,0 2.363 -0,26%Não informado 8,0 213,0 96,0 26,6 12,0 2.218
Fonte: FIBGE - Censo Agropecuário do Brasil de 1995/96.
Área Média (ha)
Condição do produtor
Grupos de Área
Produtividade (kg/ha)
Número de Informantes
Produção (t) Área (ha)Produção Média (t)
19
Observa-se, com base nos dados anteriores, um ganho de produtividade
decrescente ao se passar dos estratos de menor área para as maiores glebas. O efeito
positivo da área sobre a produtividade justifica-se pelo emprego de um melhor nível de
tecnologia, que se manifesta até um determinado tamanho de propriedade, a partir do
qual é desprezível.
A tabela III.4 revela a distribuição dos tamanhos de propriedades que cultivam
soja nos principais estados produtores.
Tabela III.4 – Área cultivada com soja, segundo grupos de área total dos
estabelecimentos nos estados de maior participação na produção - 1995/96 (mil ha)
Analisando-se a tabela III.4, pode ser observado que, no Rio Grande do Sul e no
Paraná, os produtores que trabalhavam áreas menores que 100 ha representavam quase
50% da área cultivada com soja. Os produtores que trabalhavam áreas entre 100 ha e
1 000 ha representavam 41% da área total cultivada no Rio Grande do Sul e 44% no
Paraná. Os produtores com mais de 1 000 ha representavam 10% e 8%,
respectivamente, da área cultivada. No entanto, a produção nas áreas acima de 100 ha,
representava, respectivamente, 51% e 53% do total.
No Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e em Goiás, a área cultivada por
produtores de menos de 100 ha representava uma parcela muito reduzida da área total,
sendo esses valores, respectivamente, 0,3%, 6,7% e 3%. A área cultivada entre 100 ha e
Grupos de área Brasil RS PR MT MS GO Outros0 - 10 ha 195 112 72 1 3 - 7 10 - 100 ha 2.168 1.070 1.002 4 47 26 19 100 - 1000 ha 3.759 977 1.007 383 332 392 668 1000 - 10000 ha 2.810 244 182 122 315 429 518 10000 ha e mais 383 - 5 230 50 16 83 sem dados 1 - - - - - - Total 9.316 2.403 2.268 1.740 747 863 1.295
0 - 10 ha 2,09 4,67 3,17 0,06 0,40 - 0,5410 - 100 ha 23,27 44,53 44,18 0,23 6,29 3,02 1,47100 - 1000 ha 40,35 40,66 44,40 22,01 44,44 45,42 51,581000 - 10000 ha 30,16 10,14 8,02 64,48 42,18 49,71 40,0010000 ha e mais 4,12 0,00 0,23 13,22 6,69 1,85 6,41sem dados 0 - - - - - - Total 100 100 100 100 100 100 100Fonte: IBGE - Censo Agropecuário do Brasil de 1995/96.
Em percentuais de produção
Valores em Hectares
20
1 000 ha representava, respectivamente, 22%, 44% e 45%. A área cultivada por
produtores, cuja propriedade possuía mais de 1 000 ha, representava 77% no caso do
Mato Grosso, 49% no Mato Grosso do Sul e 52% em Goiás.
Observa-se assim que os produtores do Centro-Oeste (principalmente no caso do
Mato Grosso) ocupavam áreas bem maiores do que os da Região Sul. Essa observação
permite inferir que a grande expansão da soja no Centro-Oeste se realizou e está se
realizando com base em cultivos extensivos, aproveitando economias de escala,
enquanto que no Sul houve e continua havendo uma tendência de aumento da área das
propriedades produtoras de soja, pois a produção de grãos não se sustenta mais em
pequenas propriedades que procuram fazer dessa atividade a sua principal fonte de
receita (EMBRAPA, 2001).
Para se ter uma idéia da tendência da produção de soja quanto aos parâmetros
analisados, procura-se compará- los com os dados do Censo Agropecuário de 1985. Os
dados comparativos dos dois Censos indicam que houve uma diminuição de 177 206
estabelecimentos que produziam soja de 1985 a 1996. Naturalmente, a maior parte
desses estabelecimentos possuía pequenas áreas. Por exemplo, as propriedades de áreas
abaixo de 100 ha diminuíram, nesse período, em 13,50%. As áreas, na faixa de 100 ha a
1 000 ha permaneceram no mesmo percentual, em torno de 40%. No entanto, as áreas
acima de 1 000 ha passaram de 18% para 30%. Na verdade, a grande produção de soja a
partir dos anos 90 está concentrada em propriedades cuja área está acima de 200 ha
(65%) e a tendência é que a produção se concentre cada vez mais em propriedades
acima dos 500 ha (EMBRAPA, 2001).
III.3 – FATORES DE COMPETITIVIDADE DE PRODUÇÃO
A competitividade na produção da soja, enquanto matéria-prima, não consiste no
maior problema da cadeia produtiva deste insumo, como pode ser visto na tabela III.1.
O Brasil está na vanguarda mundial da tecnologia de produção desta oleoginosa nas
regiões tropicais. A potencialidade do aumento de produção de soja no mundo está
localizada entre os paralelos 20ºS e 20ºN (EMBRAPA, 2001). Estima-se que o Brasil
21
possua entre 90 e 100 milhões de hectares de Cerrado para exploração agrícola, o que
permitiria aumentar em até dez vezes a produção atual de soja (WARNKEN, 2000,
P.62).
Levantamentos sobre custos de produção demonstram que, ao contrário do que
se poderia imaginar, não são tão grandes as diferenças entre o Cerrado e o Sul. Os dados
dão conta de custos na faixa de US$ 5,31 a US$ 6,01 por saca, para uma produtividade
de 55 sc/ha em plantio direto. A razão principal é que os custos se compensam:
enquanto o Sul tem custos menores de insumos, no Cerrado o custo de mão-de-obra e
remuneração da terra são mais baixos. A figura III.1 ilustra comparativamente os custos
de produção para diversos estados brasileiros, para a média brasileira e para EUA e
Argentina.
Figura III.1 – Custos comparativos de produção de soja no Brasil, EUA e
Argentina
Existem algumas variedades de sementes que viabilizam um ciclo de produção
mais curto ou mais longo, conforme as necessidades. As cultivares precoces possuem
um ciclo de produção de 110 dias, as semi-precoces de 130 dias e as tardias de 145 dias.
22
Estima-se que, na safra 01/02, 42% das áreas brasileiras foram cultivadas com sementes
de ciclo médio, 29% com ciclo tardio, 23% com precoces e 2% com superprecoces
(SOUZA, 2003).
Regionalmente, os ciclos de plantio e colheita variam como indica a tabela III.5.
Tabela III.5 - Plantio e colheita de soja por região brasileira
Regiões Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezNorte P C C C P P PNordeste P C C C P P PSudeste C C C C C P P P PSul C C C C P P P PCentro-Oeste C C C C C P P P PLegenda: P = Plantio; C = Colheita
Fonte: EMATER
Comparativamente entre Brasil, EUA e Argentina, o ciclo completo de produção
é mostrado na tabela III.6.
Tabela III.6 - Ciclo produtivo da soja nos principais países produtores
Ciclo produtivo da soja nos principais países produtoresPaíses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov DezEUA P P C/F V G H HBrasil F V G H H P P CArgentina C F V G H H P PLegenda: P = Plantio; C = Crescimento; F = Florescimento; V = Emissão de Vagens;
G = Formação de Grãos; H = ColheitaFonte: USDA
Fonte: USDA
III.3.1 – Plantio Direto
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.32), preocupados com os custos de
mecanização, uso de insumos e degradação do solo com as sucessivas safras a campo
aberto, pesquisadores e agricultores uniram-se na busca de novas técnicas de plantio e
manejo. A técnica do plantio direto consiste em plantar, sem utilização das operações
usuais de gradagem e aração, sobre os restos de uma cultura anterior, que fazem a
cobertura do solo, evitando o seu ressecamento e a evaporação de nutrientes.
23
A maioria dos estudos apontam significativas vantagens desse sistema em
comparação ao convencional. Além da diminuição dos custos de mecanização, a
dispensa de operações de gradagem e aração traz vantagens como a não compactação do
solo em virtude de menor trânsito de tratores pesados. Com a manutenção da palha
sobre o solo e a conseqüente criação de condições para desenvolvimento e manutenção
da fauna microbiana, as pesquisas constataram maior aeração do solo e melhor
distribuição dos nutrientes, o que traz como resultado menor necessidade de adubação e
calagem.
Outra observação importante, tanto em benefício ambiental como econômico, é
que, com cobertura, o solo fica menos suscetível a perdas por carregamento pelas
chuvas que provocam lixiviação (perda de nutrientes) e assoreamento dos rios.
Observações de pesquisa chegam a detectar perdas de 18,4 toneladas/hectare/ano de
solo no plantio convencional, contra 0,14 tonelada/hectare/ano no plantio direto sobre a
palha.
Esta melhoria, além do aspecto de menor custo proporciona uma melhor
produtividade, como confirma um estudo de Richetti e Mello Filho (2002).
Comparações entre os sistemas de plantio direto e convencional para Dourados (MS)
revelam custos de US$ 343,85/ha e uma produtividade de 50 sc/ha, para o plantio
convencional, contra um custo de US$ 322,93/ha e uma produtividade de 55 sc/ha para
o plantio direto.
III.3.2 – A Soja Transgênica
Das novas tecnologias aplicadas ao cultivo da soja, destaca-se a criação de
sementes geneticamente modificadas, nas quais genes da planta original são
modificados a fim de se obter maior rendimento na extração de óleo ou maior
resistência a doenças.
Das chamadas variedades transgênicas, destaca-se o cultivar da Monsanto, a
Roundup Ready (RR), geneticamente modificado para resistir ao herbicida da empresa.
24
Grandes polêmicas têm sido travadas sobre os limites da manipulação genética e
seus efeitos sobre o biossistema, tanto pelos ambientalistas como também por técnicos e
estudiosos da agricultura. A polêmica principal, por parte dos ambientalistas, é a
conseqüência que a modificação genética pode trazer na alimentação humana,
principalmente em relação à saúde. Os técnicos argumentam que ainda não está
devidamente provado que a resistência a herbicidas não será expandida para o ambiente,
tornando outras plantas, inclusive as invasoras, resistentes também (PAULA e
FAVERET, 2000, p.30).
No Brasil, a definição está a cargo da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CTNBIO), que tem permitido alguns experimentos de pesquisa com a
soja geneticamente modificada.
Discute-se a rotulação de produtos que utilizem insumos modificados
geneticamente, de forma que o consumidor possa ter informação sobre o conteúdo do
alimento que está comprando.
De acordo com o USDA (PESSÔA, 2001), 78% do volume plantado nos EUA
na safra de 00/01, foi de soja transgênica. Na Argentina, esse percentual excede 95%.
No Brasil, especula-se que seja entre 15% e 20%, cultivados sobretudo no Rio Grande
do Sul, onde o percentual ultrapassa os 70%.
União Européia e Japão mantêm resistência ao consumo de produtos
transgênicos e, em decorrência, à sua importação. A liberação do plantio, no Brasil,
pode·significar uma eventual restrição às exportações para aqueles mercados. Será mais
difícil assegurar a não “contaminação” dos produtos, estando liberado seu plantio no
país. A maior parte das exportações agrícolas brasileiras (cerca de 60% da soja, 75% do
farelo de soja e 60% do total de exportações agr ícolas) são dirigidas à Europa
(ARAÚJO, 2001, p.33).
Discute-se, no entanto, este impacto, uma vez que, de acordo com Pessôa
(2001), a União Européia tem adquirido cada vez mais soja Norte Americana e
Argentina e sabe-se que menos de 10% da soja não transgênica é certificada nesses
países. “Se houvesse, de fato, restrição, deveríamos estar enfrentando uma gigantesca
25
pressão sobre a cotação da soja brasileira com prêmios nas alturas, mas não é isso que
temos visto. O que vimos foi a União Européia comprando mais e mais soja transgênica
americana e argentina. Portanto, o bom senso exige uma reflexão desapaixonada de qual
é, de fato, o tamanho do mercado de não transgênicos hoje e no futuro, pois estou
convencido de que esse será muito pequeno, apenas um nicho de mercado”.
Ainda de acordo com Pessôa (2001), “nos EUA, onde já existia a prática de
segregação de tipos diferentes de produto, antes mesmo da existência dos transgênicos,
o prêmio pago por produto não transgênico, segregado desde o plantio, passando pela
armazenagem e contando com certificação até a chegada ao porto de exportação ou à
porta da fábrica, gira entre 1,0 e 3,0% no caso da soja, e chega a 6% no caso do milho,
sobre o valor do produto não segregado e não certificado. Ressalte-se que esse prêmio,
na maioria dos casos, mal cobre os custos relativos à sua segregação e certificação”.
De fato, se comparados os preços cotados na Chicago Board of Trade (CBOT)
com aqueles praticados em Paranaguá, para o período entre janeiro de 1998 e setembro
de 2003, observa-se para aqueles uma média de 191,42 US$/t, contra 201,79 para
Paranguá, uma diferença de 5,4% (ABIOVE, 2003). Deve-se ressaltar que os preços da
CBOT também levam em consideração a produção brasileira e que influenciam nestes
valores questões logísticas e aspectos particulares do mercado nacional. No entanto, a
diferença nas médias indica a existência de um prêmio maior para a soja convencional.
Recentemente surgiu um atrito na exportação de soja brasileira para a China,
uma vez que esta nação baixou uma nova regulação que exige do país de origem uma
certificação de que o produto não traz riscos à saúde humana, à saúde animal e ao meio
ambiente. O governo brasileiro entrou em acordo com o governo chinês para emitir um
certificado provisório, atestando que a soja exportada é preponderantemente
convencional, mas que pode haver contaminação, em algumas cargas, de soja
transgênica e que, se isso ocorrer, será com a soja do tipo Roundup Ready, que já
recebeu da CTNBio um atestado de que não traz riscos para a saúde humana, animal ou
ao meio ambiente, sendo do mesmo tipo que os chineses estão importando regularmente
dos EUA e da Argentina.
26
O aspecto mais importante, do ponto de vista econômico, relacionado à liberação
ou não da soja geneticamente modificada, reside nos custos de produção, com
diminuição do uso de herbicidas. Um estudo desenvolvido pela Embrapa (ROESSING,
2002, p.17), sinaliza uma redução de custos de produção da ordem de 17% (US$
6,05/saca de 60 Kg para soja convencional e US$ 5,02/saca de 60 Kg para soja
transgênica).
III.4 – FATORES DE COMPETITIVIDADE DE MERCADO
De acordo com Paula e Faveret (2000, p.11), os preços no Brasil guardam
relação direta com os internacionais e são praticados em estreita sintonia com a Bolsa de
Chicago, o que reflete a grande importância das exportações como destino da produção
(cerca de 71% da safra de 02/03). Trata-se de um dos produtos com maior exposição
internacional.
Os preços pagos ao produtor são baseados no preço internacional, descontados
os valores referentes a frete e impostos, que levam ao chamado preço de internalização
ou de paridade, conforme ilustra a tabela III.7.
O prêmio é uma variável de ajuste na negociação internacional que leva em
conta a origem e o destino do produto exportado, a qualidade e a oportunidade. A
inclusão da variável de ajuste da negociação internacional nas compras nacionais (que
não sejam para exportação) procura adequar o preço pago ao produtor com o valor
internacional do produto. Assim, a tendência de preços da soja no mercado interno
segue a mesma verificada do mercado mundial.
Deve ser observado, como nota o Relatório Agriculture in Brazil and Argentina:
Developments and Prospects for Major Field Crops (2001, p.44) que a taxa de ICMS
(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) causa distorções no mercado
para as indústrias esmagadoras domésticas.
O ICMS representa a principal fonte de recurso dos estados e varia de 5% a 13%
dependendo do produto e se este é vendido no limite do estado, para outro estado ou se
27
é exportado. No entanto, a Lei 87 (conhecida com lei Kandir) promulgada em setembro
de 1996, isenta dessa taxa a exportação de insumos e produtos semimanufaturados.
Tabela III.7 – Paridade para Exportação x Mercado Interno
As esmagadoras, quando compram a soja de outros estados para reexportá- lo,
pagam o ICMS, recuperando-o em data posterior. Entretanto, como sustenta o referido
relatório (2001, p.45), o sistema de recuperação desse imposto não funciona bem. As
esmagadoras, quando supridas por insumos de um outro estado, acumulam os
descontos, em forma de bônus, até que efetivamente exportem o produto final. Para
evitar esta restrição no fluxo de caixa, as esmagadoras competem por insumos dentro do
próprio estado, o que pode fazer com que o preço local aumente, se a capacidade de
esmagamento dentro do estado é grande, relativamente ao suprimento. Assim, os
pequenos esmagadores estão em desvantagem, uma vez que suas margens apertadas não
lhes permitem pagar o mesmo preço pago pelas trading companies no mercado
internacional. Grandes empresas multinacionais que tanto esmagam quando
comercializam internacionalmente são menos afetadas.
28
A peculiaridade dessa taxa tem encorajado produtores brasileiros a investir em
fazendas de soja nos vizinhos países Paraguai e Bolívia. A soja importada para o Brasil
não é taxada com ICMS se o produto, processado ou não, é reexportado. Este fato tem
estimulado a importação de soja paraguaia e boliviana para as plantas brasileiras.
O farelo segue as mesmas tendências do grão, pois não tem no mercado, como
fonte protéica para ração animal, concorrentes de peso, sendo o preço do grão o
determinante para o farelo. Já o óleo sofre a concorrência dos diversos tipos de óleos
vegetais, seja para uso basicamente doméstico (colza, girassol e oliva) ou misto, como
palma, algodão, coco e amendoim. Desta maneira, seu preço sofre a influência da oferta
de outros óleos, além da atividade industrial do setor de alimentos.
Além dos fatores de formação de preço, a questão da carência de estrutura de
armazenagem para muitos produtores, os força à comercialização durante a safra,
quando os preços do produto estão mais baixos e os fretes são significativamente mais
caros, em função do aumento da demanda por transporte Caixeta Filho et al. (2001,
p.136). Nos Estados Unidos, os produtores maximizam a lucratividade conjugando a
armazenagem na fazenda com o transporte da safra via ferrovia-hidrovia. Já no Brasil só
os grandes produtores dispõem de estrutura de armazenagem na fazenda, enquanto os
pequenos e médios defrontam-se com duas opções: ou fazem a venda logo após a
colheita, ou utilizam armazéns de terceiros.
Dados de mercado (Gazeta Mercantil, 27 mai. 2003) registram que, no Brasil,
apenas 5% da capacidade total de armazenagem está dentro das fazendas entre 30 e 500
hectares, contra uma média de 65% nos EUA, 50% na Europa e 25% na Argentina.
Por outro lado, as cooperativas e empresas privadas possuem uma boa
capacidade de armazenamento da soja, fazendo com que as unidades agrícolas sejam as
que mais sofrem com esta descompensação nos fretes.
Do lado da demanda por transportes, estão os produtores rurais, as agroindústrias
e as tradings e, ofertando estes serviço, encontram-se as transportadoras e os autônomos
e seus agenciadores. Os produtores rurais, individualmente, movimentam baixos
volumes de carga, e dificilmente colocam sua produção em pontos distantes de sua
29
fazenda ou de lá trazem mercadorias. Podem realizar o transporte através de uma
cooperativa, agroindústria ou pulverizadamente, sendo comum, nestes casos, o
agricultor se responsabilizar pelos custos de transporte, mas com a agroindústria ou
tradings representando-o nas negociações.
A agroindústria exerce a atividade mais abrangente no setor, sendo um elemento
bastante capacitado para administrar o abastecimento de matérias-primas ou o
escoamento da produção. Quanto às tradings, que se caracterizam por serem grandes
compradores de commodities, suas operações proporcionam menor volatilidade ao
mercado de frete e o uso de menor número de veículos, além da possibilidade de
utilização de outros modais, o que seria ainda pouco viável aos agricultores.
Principalmente no caso de distâncias maiores, o comprador da soja adquire o produto
FOT (Free on Truck), responsabilizando-se assim pelo transporte (CAIXETA FILHO et
al., 2001, p.138).
Segundo Soares & Caixeta Filho (1996), a diferença entre transportadoras e os
motoristas autônomos (carreteiros) reside no preço do frete. As transportadoras são
empresas que concentram a maior parte do transporte nos veículos da própria frota,
controlam seus custos e oferecem seguro por perdas que possam ocorrer em função de
quebras durante o transporte. Mas a frota das transportadoras não é suficiente para
movimentar o volume gerado pelas safras, fazendo com que os motoristas autônomos
desempenhem uma importante função na oferta de veículos. No transporte de grãos e
outras mercadorias ensacadas, os autônomos acabam por dominar o mercado, tendo
como principal fator de competitividade o baixo preço a que se sujeitam a operar. O
contato entre os motoristas autônomos e os embarcadores é implementado pelos
agenciadores, que intermedeiam as negociações entre os carreteiros e os proprietários de
cargas. Esses agenciadores não se responsabilizam por quebras de transporte, havendo
necessidade de que os embarcadores providenciem o seguro, caso desejem. Mas,
segundo os demandantes, a perda obtida com transporte de cargas de baixo valor
agregado não é significante, sendo preferível assumir o risco de se trabalhar com
autônomos (EMBRAPA, 2001).
O pico da safra de soja começa na segunda quinzena de março e vai até a
segunda quinzena de abril. A primeira etapa consiste no transporte entre o produtor e a
30
indústria de esmagamento, ou armazenamento do produto. Essa fase representa um
custo mais elevado, em decorrência das estradas rurais não serem pavimentadas,
ocasionando deslocamento mais lento, períodos de interrupção por causa das chuvas,
além de elevação dos custos de manutenção do caminhão. A segunda etapa caracteriza-
se pelo transporte do grão armazenado para a indústria de processamento ou dos
armazéns e indústrias aos portos, com destino ao mercado externo. Ao contrário do que
acontece com o milho, existe maior capacidade de armazenagem de soja graças às
instalações de cooperativas e outras empresas. Isso implica em que o verdadeiro pico no
mercado de frete, ocorra nos trechos que têm como origem a unidade agrícola.
Com relação à produtividade dos veículos, o fato do carregamento se realizar na
própria lavoura, devido à já referida carência de armazenagem, restringe a velocidade de
operação da carga, sendo comum que as más condições climáticas impeçam a operação
das máquinas que efetuam a colheita.
O escoamento do farelo de soja não tem como característica picos de atividade,
pois a soja em grãos é estocada de modo a estabilizar a produção das esmagadoras. Seu
armazenamento, por outro lado, torna-se dispendioso, em virtude de sua baixa relação
valor/volume, havendo algumas implicações de ordem logística. Dessa forma, os
administradores devem operar de modo a minimizar o tempo de estocagem do produto
dentro da empresa.
O mercado de frete para o farelo de soja é distinto do da soja em grão. O farelo
sai da esmagadora e vai para a fábrica de ração ou armazém. Não são envolvidos
agricultores, com o produto sendo escoado conforme as condições de mercado.
Naturalmente, em uma situação em que o produto esteja bem cotado, a solicitação de
transporte aumenta.
O caminhão utilizado é exatamente o mesmo da soja e do milho em grãos.
Normalmente, os agentes do mercado de farelo entram no mercado spot de fretes,
procurando motoristas que efetuem o serviço.
31
O transporte de farelo de soja tende a concentrar a procura por transportes em
ofertantes da própria região de origem, já que as distâncias envolvidas são relativamente
menores. A soja em grãos, ao contrário, atrai caminhões de diversificada gama de pólos.
Outra questão que também interfere na rentabilidade do produtor, de acordo com
Paula e Faveret (2000, p. 16), e que passa despercebida na maioria das análises, é o
nível de juros praticado pelo mercado, o que se explica pelo fato de que a análise
clássica leva em conta, no cálculo dos juros do custeio da safra, a taxa praticada para o
crédito rural, determinado pelo plano de safra nacional, atualmente em 8,75% ao ano.
Porém, sendo a soja uma produção de larga escala, médios e grandes produtores têm
necessidade de custeio superior ao limite fixado pelo Conselho Monetário Nacional e,
para se financiarem, recorrem ao mercado bancário comum, ou utilizam outros
instrumentos de financiamento, sujeitando-se às taxas de juros normais, que, nos
últimos tempos, estão bastante elevadas.
Ainda outra questão importante sob a ótica comercial é que, de acordo com
Warnken (2000, p.64), nenhuma outra política econômica pode ter um impacto
potencial maior sobre o setor da soja brasileira do que o preço da moeda do país. A taxa
de câmbio é o preço mais importante no Brasil e, no caso do setor da soja, é vital para
alcançar, manter ou perder a posição competitiva no mercado internacional.
III.5 – FATORES DE COMPETITIVIDADE DE COMERCIALIZAÇÃO
Na perspectiva de aumento da competitividade da soja brasileira do ponto de
vista da comercialização, dois aspectos mostram-se fundamentais. Em um primeiro
plano reside o melhor equacionamento da rede logística, que, como pode ser observado
na tabela III.2, onera significativamente o ciclo produção-comercialização da safra
nacional, principalmente a partir das grandes distâncias a serem percorridas das
fronteiras agrícolas até os portos de embarque para exportação. Por outro lado, conciliar
uma demanda estável com uma oferta agrícola que flutua sazonalmente é o outro
desafio da comercialização de produtos agro- industriais. De um modo geral, os
mecanismos financeiros de comercialização foram desenvolvidos para dar conta do
32
descasamento entre procura e oferta. Como as margens de lucro envolvidas no
agronegócio são geralmente estreitas, garantidas pelo esforço de reduzir os custos de
produção, muitas vezes a não utilização ou escolha equivocada de um mecanismo de
comercialização pode pôr tudo a perder. A eficiência de um negócio, portanto, é mais
abrangente do que simplesmente seu desempenho produtivo.
III.5.1 – Logística para o Escoamento da Soja
O transporte da soja brasileira, desde a lavoura aos armazéns e daí para as
indústrias esmagadoras ou aos portos para a exportação, onera o produto, como já visto,
e afeta a sua competitividade. Na verdade, esse problema logístico reflete a situação
geral do escoamento de grãos no país, com a concentração no uso do modo rodoviário.
Para efeito de comparação, considerando-se uma mesma distância da região
produtora ao porto (1 400 km), o frete no Brasil custa em torno de US$ 50/t, enquanto o
produtor do Mississipi (Estados Unidos) despende apenas US$ 6,60/t, segundo dados da
Companhia Vale do Rio Doce (PAULA e FAVERET, 2000, p.23). A figura III.2 ilustra
comparativamente a matriz de transportes para a soja entre os principais exportadores.
Figura III.2 – Matriz de Transportes para a soja entre os países exportadores
Rodovia Ferrovia Hidrovia
Fonte: Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec)
Distância Média ao Porto
900 a 1 000 Km 1 000 Km 250 a 300 Km
Como a Soja chega ao Porto
Estados Unidos
16%
23%61%
Brasil
60%33%
7%
Argentina
82%
16% 2%
33
O custo do frete por tonelada de grãos em geral, em trecho médio de mil
quilômetros, é de US$ 32,00 pelo modal rodoviário; US$ 15,00 a 18,00 por ferrovia e
apenas US$ 7,00 a 8,00 na hidrovia (A Granja, abr 2001). No caso dos sojicultores, o
valor do frete chega a representar 30% do preço recebido, segundo um levantamento
realizado em janeiro de 2000 pela Embrapa (2001), para escoamento do produto a
granel, entre Campo de Parecis (MT) e o porto de Paranaguá (PR).
A conjugação de alguns fatores de ordem logística leva o produtor de soja
brasileiro à perda de competitividade, de acordo com Paula e Faveret (2000, p.15):
• Quase 60% do transporte de carga no Brasil é feito por rodovia;
• Por duas décadas o país praticamente não investiu na melhoria de sua malha viária,
que se deteriorou sensivelmente;
• A produção se interiorizou cada vez mais, ficando dependente da malha viária
decadente;
• A frota de veículos também envelheceu, gerando mais custos aos seus operadores,
que os repassam ao preço do frete;
• O mercado de frete não tem transparência suficiente que possibilite ao seu
consumidor um controle sobre os preços; e
• Os outros modais de transporte ainda não oferecem versatilidade, confiabilidade e
oferta suficientes para se tornarem alternativas reais ao transporte rodoviário.
De acordo com Caixeta Filho (2001, p.16), “a principal razão de o Brasil não ter
um sistema hidroviário que venha a solucionar o problema de transporte, a exemplo do
que acontece nos EUA, reside no fato de que não há rios navegáveis que desemboquem
no oceano. Os rios brasileiros, com exceção do sistema Tietê-Paraná, não estabelecem
ligações entre centros econômicos importantes. Isso torna necessárias várias operações
de transbordo, para que o produto chegue ao destino final. Essas operações significam
custos operacionais e perdas que desestimulam o uso da hidrovia. Torna-se assim mais
racional, em muitos casos, para o tomador de decisão, colocar a carga em um caminhão,
sem que haja transbordos, e desfrutar de um serviço porta a porta.”
34
Embora este fato faça com que o Brasil jamais possa alcançar um preço de
escoamento desde a fazenda ao porto, no mesmo nível do praticado nos EUA, a
exploração de corredores viários, utilizando fórmulas intermodais de transporte, com
ênfase nos modos ferroviário e hidroviário, em substituição ao rodoviário, trará maiores
economias.
Entre os portos brasileiros com maior participação no volume do complexo soja
escoado para exportação, destaca-se Paranaguá, que é, atualmente, a porta de
escoamento internacional das exportações de grãos e farelo de soja, suplantando em
mais de 50% o quantitativo exportado pelo porto de Santos, segunda principal
plataforma nacional, como ilustra a Tabela III.8.
Tabela III.8 – Participação dos principais portos brasileiros na exportaçao do
complexo soja no ano de 2001
A figura III.3 ilustra a evolução na participação dos portos brasileiros no
escoamento da soja em grãos desde 1998 até 2002, com destaque para o crescimento
nos embarques efetuados em Santos e Vitória, com aumentos de 168% e 200%,
respectivamente.
A seguir, apoiado no estudo de Paula e Faveret (2000, p. 23), são apresentados
os principais corredores que compõem a malha de escoamento da safra brasileira de
grãos, interligando os mais importantes pólos produtivos. A figura III.4 auxilia a
compreensão do texto que detalha os principais corredores.
35
Figura III.3 – Evolução na participação dos portos dos portos brasileiros na
exportação de soja em grãos
3,7
1,91,6
0,5
3,7
2,4
0,8
0,4
4,5
3,2
1,4
0,6
4,94,6
2,7
0,7
5,1 5,1
1,81,5
0
1
2
3
4
5
6
x 10
00 t
1998 1999 2000 2001 2002
Ano
Quantidades de Soja em grãos enviadas via marítima (em milhões de toneladas)
Paranaguá (PR) Santos (SP) Rio Grande (RS) Vitória (ES)
Fonte: Departamento de Operações de Comércio Exterior / MDIC
Corredor Noroeste
O corredor multimodal de transporte do Noroeste abrange as áreas do norte do
Mato Grosso, Rondônia e sul do Amazonas, envolvendo o transporte hidroviário nos
rios Madeira e Amazonas, da foz até Itacoatiara, e o transporte rodoviário entre Porto
Velho e a Chapada dos Parecis. Em longo prazo, também poderá fazer parte do corredor
Noroeste a hidrovia projetada a partir do rio Teles, interligando com o rio Tapajós até o
Amazonas.
O caso da hidrovia do Madeira é um exemplo característico de solução a partir
da necessidade de diminuir os custos de transporte da produção: o Grupo Maggi
investiu US$ 66,1 milhões na implantação de um sistema multimodal de transporte de
soja a partir da sua fazenda em Sapezal, no norte do Mato Grosso, com ligação a um
porto em Itacoatiara, no Amazonas. O sistema consiste em transportar a produção, por
via rodoviária, de Sapezal até Porto Velho, em Rondônia (900 km), fazendo o
transbordo para balsas que descem o rio Madeira até o porto de Itacoatiara, onde o
produto é transferido para navios que levarão a carga até Roterdã.
36
Figura III.4 – Principais áreas produtoras de soja do Cerrado e corredores da
malha brasileira de escoamento de grãos
Em comparação com a rota tradicional (Paranaguá, no Paraná), o sistema
proporciona uma diminuição do percurso em 650 km e do custo por tonelada em 30%.
Além do transporte de grãos, a hidrovia também pode viabilizar o abastecimento
de insumos aproveitando o retorno das barcaças, conforme já noticiada a intenção do
Grupo Maggi de importar fertilizantes de Israel para distribuir na região abrangida pela
hidrovia.
Ferronorte
A Ferronorte envolve a construção de 5 000 km de linhas férreas. A primeira
etapa compreende o trecho de Aparecida do Taboado (Mato Grosso do Sul) até Alto
37
Araguaia (Mato Grosso), num total de 500 km, e depois até Cuiabá (Mato Grosso), de
onde seguirá até Porto Velho (Rondônia) e Santarém (Pará).
Em Aparecida do Taboado, a Ferronorte se conecta com a Ferroban para, através
desta, atingir o porto de Santos (São Paulo), ou interligar-se futuramente ao porto de
Sepetiba (Rio de Janeiro). Está previsto que em breve esta atingirá Rondonópolis, no
Mato Grosso, um importante pólo produtor brasileiro.
A perspectiva dos operadores da Ferronorte é de uma economia de 40% no frete
entre Alto Araguaia e o porto de Santos.
Corredor Centro-Norte
Este corredor envolve as hidrovias do Tocantins (420 km), Araguaia (1 230 km)
e rio das Mortes (580 km), as ferrovias de Carajás (600 km) e Norte-Sul (230 km) e a
rodovia Belém-Brasília (1 500 km), além do porto de Ponta da Madeira/Itaqui
(Maranhão), servindo às regiões do leste de Mato Grosso, noroeste de Goiás, sudeste do
Pará, sul do Maranhão e todo o Estado do Tocantins.
A ligação hidroviária pelo rio Araguaia poderia ser feita a partir de Nova
Xavantina (Mato Grosso), seguindo o rio das Mortes até o Araguaia (580 km), neste até
Xambioá (Tocantins) (1 230 km), fazendo a ligação através de rodovia até Estreito
(Maranhão) (180 km) e daí através da ferrovia Norte-Sul, que se liga com a ferrovia de
Carajás e aporta em Ponta da Madeira.
A ligação através do rio Tocantins partiria de Miracema (Tocantins) até Estreito
(420 km), ligando-se então com a ferrovia Norte-Sul para chegar ao porto de Ponta da
Madeira.
A hidrovia do Araguaia já recebeu alguns investimentos, porém ainda não está
operacional. Em Xambioá existe infra-estrutura para transbordo e armazenagem,
construída pela Cia. Vale do Rio Doce.
A ferrovia Norte-Sul, que está operacional até Estreito (Maranhão), já serve hoje
ao escoamento da produção de Balsas (Maranhão). A produção do pólo é transportada
38
por via rodoviária até Estreito (300 km), onde é feito o transbordo para a ferrovia, que
leva os produtos até o porto de Ponta da Madeira e daí até os portos europeus.
A economia no sistema é estimada em US$ 10/t frente ao sistema rodoviário.
Corredor Nordeste
O corredor Nordeste é composto pela hidrovia do São Francisco e pelas ligações
rodoviárias em torno de Pirapora e de Petrolina, servindo às regiões do cerrado de
Minas Gerais, oeste da Bahia, interior de Pernambuco e sul do Piauí.
As ligações a partir de Petrolina com os portos de Suape (Pernambuco) e
Fortaleza são feitas atualmente por via rodoviária.
Há previsão de construção de ramal ferroviário entre Petrolina e Salgueiro,
possibilitando a interligação com a malha ferroviária do Nordeste e, por esta, até o porto
de Suape.
Corredor Centro-Leste
Este corredor, que tem área de influência no entorno do Distrito Federal e
noroeste de Minas, é formado basicamente pela estrada de ferro Vitória-Minas, com
ligação até Pirapora, via ramal ferroviário Belo Horizonte-Pirapora.
Hidrovia Tietê-Paraná
A hidrovia Tietê-Paraná liga São Simão (Goiás), no rio Paraná, até Pederneiras
(São Paulo), no rio Tietê, como também até Itaipu (Paraná), numa extensão de 600 km,
e tem influência sobre as regiões sul de Goiás, Triângulo Mineiro e norte de São Paulo,
estando pronta e operacional.
III.5.2 – Instrumentos Financeiros para a Comercialização da Soja
Poucos são os produtores que planejam a safra agrícola seguindo estratégias de
longo prazo previamente definidas. Segundo Manoel Pereira de Queiroz, agrônomo da
39
Scot Consultoria (A Granja, set. 2001), “o empresário rural deve ter um olho no
mercado, no curto prazo, e outro na estratégia, no longo prazo”. Queiroz acredita que a
estratégia de gerenciamento ideal da propriedade, no longo prazo, deve ser feita por
cinco anos, mas não pode ser estática. “Isso porque a expectativa para os negócios pode
sofrer alterações em função do mercado”.
Para o professor de mecanização agrícola da Faculdade de Ciências Agrárias da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Iackson Borges (A Granja, set. 2001), de um
modo geral, os agricultores brasileiros planejam precariamente a safra. No seu entender,
“as decisões são tomadas com base em cenários de curto prazo e em critérios
subjetivos”. No entanto, em sua avaliação, “o agricultor que não planeja vive em um
ciclo descendente. Para a safra, mesmo no curto prazo, o produtor deve fazer o exercício
do planejamento para otimizar os recursos, reduzir os riscos e maximizar a
rentabilidade”.
A atividade agropecuária apresenta-se com características específicas que a
diferencia dos setores industrial e comercial. Essas características estão relacionadas a
fatores adversos como: clima, perecibilidade dos produtos, ciclo da cultura, doenças e
pragas, fazendo da agropecuária uma atividade com grande risco financeiro (BB, 2000,
p.10).
Basicamente existem dois tipos de riscos: de produção e de preço. Os riscos de
produção compreendem perdas por estiagem, geadas, doenças e pragas e podem ser
minimizados pelo uso adequado de tecnologia e por seguro rural. Já os riscos de preços
decorrem das oscilações nos preços das mercadorias e, dependendo dessas oscilações, o
produtor poderá não cobrir seus custos de produção.
Os preços da soja, estabelecidos pela Bolsa de Chicago (CBOT), sofrem uma
acentuada volatilidade (valorizações ou desvalorizações), em torno de 4% ao mês, com
picos de até 26%, determinada pelas condições climáticas nas principais regiões
produtoras, volumes estocados e outros condicionantes de mercado.
Em função disso, a época de venda condiciona uma maior ou menor
lucratividade para a atividade. Por um lado, as necessidades de custeio da produção
40
comprometem uma parte considerável do volume colhido (estima-se para o custo de
produção uma faixa de 88 a 100 dólares por tonelada, algo entre 38% e 43% do preço de
venda de junho de 2003), obtidos, na maior parte dos casos, com venda antecipada, a
um custo de capital que pode chegar a 30% ao ano (BB, 2000, p.5). Vale lembrar que a
época de plantio se estende de outubro a dezembro e a colheita de fevereiro a maio.
Por outro lado, como já apresentado, a carência de silos de armazenagem obriga
o agricultor a vender quase a totalidade de sua safra no momento da colheita,
exatamente quando o excesso de oferta deprime o preço e os fretes são mais elevados,
devido a uma acentuada demanda por transportes. Além disso, na época da safra, os
modais de transportes mais baratos encontram-se indisponíveis aos produtores, pois já
estão comprometidos com quem tem maior poder de barganha e transportam um volume
elevado.
As decisões financeiras que condicionam a comercialização da safra restringem-
se a um conjunto básico de quatro alternativas, como se verá a seguir: a venda
especulativa, os contratos futuro, de opção e venda a termo, este último principalmente
representado pela CPR (Cédula do Produto Rural).
III.5.2.1 – Venda Especulativa
O mercado spot, que caracteriza a venda especulativa, é o que apresenta maior
risco para o produtor, já que o custo de produção varia em dólar e os preços futuros, na
boca da colheita, são incertos. Todavia, quando adequadamente combinado com a
armazenagem, propicia maior oportunidade de ganho. Apesar disso, a maioria dos
agricultores brasileiros ainda vende o que produz, no mercado spot, imediatamente após
a colheita, devido à ausência de infra-estrutura de armazenagem, à liquidez do mercado
à vista durante a safra, pelo fato de já terem comprometido uma porção considerável da
safra no financiamento dos custos de produção, ou por simples falta de informação (A
Granja, mai. 2002).
Outras formas de comercialização complementam o mercado especulativo,
minimizando esse grau de incerteza em relação ao ganho esperado. Fazer hedge
41
(proteção) de preço é uma das alternativas para fugir da instabilidade do mercado spot.
No mercado de derivativos agrícolas existem dois mecanismos para proteger preços: o
mercado futuro e de opções.
III.5.2.2 – Mercado Futuro
De acordo com uma apostila preparada pelo CBOT, denominada Introduction to
Hedging with Futures and Options (CBOT, 2000, p. 6), o maior benefício obtido na
cobertura de risco no mercado futuro é a possibilidade de se estabelecer um nível de
preço adequado antes de se vender ou comprar uma commodity. Há dois tipos de
pessoas que buscam proteção neste tipo de mercado, os chamados hedgers: aqueles que
buscam proteção contra uma queda nos preços, como os produtores, vendendo contratos
futuros, e aqueles que visam proteger-se contra um aumento nos preços, como os
processadores de grãos, que compram contratos futuros. Além desses dois agentes,
ainda existe a figura do especulador, fundamental para injetar recursos às operações,
que atua comprando a mercadoria porque acredita que o preço vai subir ou vendendo-a
porque pensa que o preço vai cair.
No jargão do mercado, aqueles que vendem contratos futuros assumem posição
curta (short) neste mercado. Aqueles que compram, assumem posição longa (long). Os
hedgers precisam saber duas coisas para determinar o preço de venda ou compra
esperado. Primeiramente o preço futuro da commodity na data em que pretendem fechar
fisicamente a transação, depois a diferença entre as cotações nos mercados local e
futuro.
Exemplificando, assuma-se que, em novembro, o preço futuro da soja para
entrega em julho esteja cotado a $5,20/bu (5,20 dólares por bushel – esta é a cotação
usual para a CBOT, onde 1 bushel equivale a 27,22 Kg). Suponha-se agora que, em
dezembro, este valor suba para $5,50/bu. Por hipótese, o preço agora é mais elevado
porque o mercado prevê que fenômenos meteorológicos prejudiquem a oferta de soja.
Um produtor perspicaz poderia obter vantagem dessa oportunidade, em seu
planejamento de venda. O preço futuro que ele deveria seguir seria o mais próximo,
42
porém não anterior, àquele que de fato planeja vender o grão. Dessa forma, se o
produtor pretende vender seu produto em junho, deveria vender contratos futuros de
soja para julho. Ao chegar próximo da data de expiração do contrato, o produtor
compraria contratos futuros para a mesma data anteriormente vendida, compensando
sua posição.
A compensação é o método mais comum utilizado para se liquidar um contrato
futuro. A entrega física na Bolsa ocorre em menos de 1% dos contratos negociados
(CBOT, 1990, p.5).
O segundo item necessário para a determinação do preço de venda é a base
esperada ou a diferença entre as cotações nos mercados local e futuro, uma vez que a
venda física se realiza, de maneira geral, no mercado local. As razões para a diferença
nos preços são os custos de transportes para o local onde a commodity é cotada
(Chicago), custos de armazenagem e diferenças entre demanda local e mundial para o
produto. A base é mais estável e previsível do que os preços no mercado futuro.
Através de um novo exemplo, pode-se notar mais claramente o modo de
funcionamento do mercado futuro e o papel da base. Assumindo-se que em dezembro
um produtor espere colher pelo menos 4 500 sacas de soja em abril, ele poderia vender
futuros para maio e, assim, travar o preço de venda, protegendo-se contra uma possível
queda de preços próximo à data de venda física. Em dezembro, o preço no mercado
local da soja é de $6,00/bu e o futuro para maio é cotado a $6,25. O produtor então
vende dois contratos futuros para maio (2 268 sacas por contrato) a $6,25. No começo
de maio, os preços nos mercados futuro e local caem. Quando o produtor vende a sua
produção no mercado local por $5,72, ele compensa sua posição no mercado futuro
comprando 2 contratos por $5,95. Os $0,30 ganhos no mercado futuro compensam o
preço mais baixo recebido no mercado local, como ilustra a tabela III.9.
Se o produtor não tivesse feito hedge, ele receberia apenas $5,72/bu pela sua
safra, $0,30 a menos do que ele de fato recebeu. Observa-se também neste exemplo o
fortalecimento da base entre as duas datas em $0,02, ou seja, a diferença de preços entre
os mercados local e futuro cresceu favoravelmente ao produtor em $0,02.
43
Tabela III.9 – Exemplo ilustrativo da formação de hedge em mercado futuro com
ganho na Bolsa
Mercado Local Mercado Futuro Base
Preço da soja: $6,00/bu Vende 2 contratos de soja para maio a $6,25/bu - $0,25
Vende 4 536 sacas de soja a $5,72/bu Compra 2 contratos de soja a $5,95/bu - $0,23+ $0,02
Preço no mercado local $5,72/buGanho no mercado futuro $0,30/buPreço de venda líquido $6,02/bu
Resultado
Dezembro
Maio
Ao apostar em uma operação futura, o produtor visa apenas travar um preço de
venda na época em que pretende se desfazer do produto colhido. No exemplo, o preço
inicial de $6,00/bu foi mantido, exceto pelo ganho adicional de $0,02/bu obtido pelo
fortalecimento da base. Caso o preço no mercado futuro aumentasse, por exemplo para
$$6,50/bu em maio, mantendo-se a mesma valorização da base em $0,02/bu, o preço
total de venda líquido seria obtido como exemplifica a tabela III.10.
Tabela III.10 – Exemplo ilustrativo da formação de hedge em mercado futuro com
perda na Bolsa
Mercado Local Mercado Futuro Base
Preço da soja: $6,00/bu Vende 2 contratos de soja para maio a $6,25/bu - $0,25
Vende 4 536 sacas de soja a $6,27/bu Compra 2 contratos de soja a $6,50/bu - $0,23+ $0,02
Preço no mercado local $6,27/buPerda no mercado futuro $0,25/buPreço de venda líquido $6,02/bu
Maio
Resultado
Dezembro
Neste caso, se o produtor não tivesse feito hedge, ele teria ganho $6,27/bu, no
entanto correria o risco de perder dinheiro caso o preço ficasse abaixo dos $6,00
pretendidos inicialmente.
Este acerto de contas não ocorre no vencimento do contrato futuro, mas por
meio de ajustes diários, através do qual credita-se ou debita-se na conta do portador do
contrato a diferença entre o preço de fechamento do pregão do dia e o do dia anterior.
Se o produtor estiver com contratos de venda (posição vendida, ou short) na
Bolsa e o mercado cair, os ajustes são positivos e ele receberá a diferença entre a
cotação de ajuste diário de hoje e a de ontem; se ele estiver na posição comprada (long)
44
os ajustes são negativos, ou seja, a ele será debitada a diferença entre a cotação do dia
anterior e a do dia de hoje. Esses ajustes são efetuados diariamente pela Bolsa, de forma
a liquidar os débitos e os créditos antes do vencimento do contrato, aumentando a
segurança do sistema (BB, 2000, p.9).
Para operar no mercado futuro, a Bolsa exige um depósito para garantir cada
operação. Esse depósito é denominado “Margem de Garantia”, sendo realizado em
dinheiro, carta de fiança bancária, títulos públicos e privados e outros ativos que
proporcionem auto- liqüidez. Caracteriza-se como uma fiança de garant ia para honrar o
contrato. A margem que um cliente deve manter em depósito em sua conta de
corretagem é definida pela Câmara de Compensação e está sujeita a uma porcentagem
mínima determinada pela Bolsa. Se uma mudança no preço futuro resulta em perdas em
uma posição de futuros aberta de um dia para outro, serão retirados fundos da conta de
margem do cliente para cobrir a perda. Quando o valor em conta fica aquém do mínimo
requerido, o cliente recebe uma “chamada de margem”, devendo depositar dinheiro
adicional na conta para cumprir com os requisitos de margem (CBOT, 1990, p.7).
Diversas commodities agrícolas são objeto de contratos futuros, em quantidade
comercializada necessariamente em múltiplo inteiro de um lote padrão. Elas atendem
aos requisitos de padronização em um contexto de comércio internacional. As datas de
vencimento de contrato futuro são concentradas em alguns meses do ano, como pode ser
visto na tabela III. 11, para gerar um maior volume transacionado nessas datas,
garantindo maior liquidez ao sistema.
Todos os termos de um contrato futuro são estabelecidos antecipadamente,
exceto o preço, que é determinado em viva voz no pregão da Bolsa, ou via um sistema
eletrônico operado por ela.
De acordo com a apostila do Banco do Brasil (2000), o custo de se transacionar
contratos futuro e de opção é muito inferior ao de outro qualquer, porque a
padronização reduz problemas informacionais e elimina as especificações da relação
contratual. O comprador de um lote de milho pode desincumbir-se de inspecionar o
produto ou de acompanhar o cumprimento do contrato, uma vez que este é assegurado
pela instituição responsável pela transação.
45
Uma particularidade dos mercados futuro e de opção, para o caso da soja no
Brasil, é que a Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F) que transaciona esses
contratos não oferece liquidez, por movimentar poucos contratos. Dessa forma, os
investidores contratam futuro e opção de venda na Bolsa de Chicago (CBOT). A cada
dia, a bolsa de Chicago comercializa mais de 300 mil derivativos agr ícolas (CBOT,
2003).
Outra característica importante dessas duas formas de contrato é que o produtor
não compromete nenhum volume físico do produto ao contrair essas modalidades. Em
primeiro lugar porque se trata de um contrato financeiro (embora haja a possibilidade de
entrega física do produto, para um mercado operado em Bolsa local), depois porque os
ajustes diários promovidos pelo contrato futuro e o prêmio pago pelo contrato de opção
condicionam a uma operação exclusivamente financeira. Dessa forma, o produtor ficará
livre para realizar a venda física da commodity negociada em qualquer época que
desejar, mesmo antes de findo o contrato.
III.5.2.3 – Mercado de Opções
O contrato de opção, é uma modalidade de seguro contra a queda ou aumento de
preços, de acordo com a necessidade de quem busca a proteção. Nessa forma de
contrato, o comprador (titular) da opção adquire do vendedor (lançador) o direito de
comprar (se opção de compra) ou de vender (se opção de venda) uma determinada
mercadoria por um preço preestabelecido (de exercício), em uma data prefixada,
pagando por esse direito um valor, denominado prêmio. Os custos do adquirente da
opção estão limitados ao valor do prêmio e outras despesas contratuais (BB, 2000,
p.16).
A opção permite aos vendedores de produtos agrícolas estabelecerem preços
mínimos para se proteger contra queda futura de preços sem ter que renunciar à
oportunidade de beneficiar-se dos mercados em alta. De idêntica forma, as opções
permitem aos compradores de produtos agrícolas estabelecerem preços máximos para se
46
proteger contra o aumento dos preços. Ao mesmo tempo, estes retêm a capacidade de
beneficiar-se de qualquer baixa nos preços.
De acordo com a apostila Futuros y Opciones Agrícolas: Curso de Auto-estudio,
editado pela CBOT (1990, p.23), uma opção é simplesmente o direito, mas não a
obrigação, de comprar ou vender um contrato futuro com preço predeterminado em uma
data, dentro de um período de tempo especificado. A opção de comprar um contrato
futuro se conhece como opção call e a opção de vender um contrato futuro se conhece
como opção put.
Em qualquer momento antes que a opção expire, o comprador da mesma pode
exercê- la, ou seja, converter a opção em um contrato futuro ao preço de exercício. O
comprador da opção também pode vendê- la (comprar a posição) ou não fazer nada e
deixar que a opção expire. Esta decisão fica inteiramente nas mãos do comprador da
opção, a quem às vezes também se conhece como detentor da opção.
A compra de uma opção não requer o depósito de margem de garantia, porque
todo o risco assumido pelo adquirente está expresso no valor do prêmio.
Quanto ao vendedor da opção, este recebe o prêmio do comprador no momento
em que é levada a cabo a transação. Se o comprador exerce a opção, o vendedor está
obrigado a assumir uma posição de futuros oposta, ao preço de exercício. Desta
maneira, o vendedor deverá depositar uma margem e enfrentar a possibilidade de
receber uma chamada de margem. Em qualquer momento, antes que o vendedor
enfrente o exercício, poderá comprar novamente a opção (compensar a posição) ao seu
preço atual. Para ilustrar esta situação, suponha-se que um investidor comprou uma
opção call de soja em grãos para julho com preço de exercício de $6,00/bu. Se os
futuros ultrapassarem os $6,00, antes que expire a opção call, poderia ser proveitoso
para o comprador exercer a opção – ou seja, assumir uma posição longa de futuro
abaixo do preço atual no mercado. Por exemplo, se o preço no mercado alcança $6,22,
ao exercer a opção call, o investidor contará com uma oposição longa de futuro para
$6,00 que lhe renderá um ganho de $0,22. No jargão comercial, é dito que a opção está
in-the-money por $0,22.
47
Não obstante, se os futuros de soja em grão de julho são cotados a $6,00 ou
menos, não valeria a pena exercer a opção. Por exemplo, se o preço no mercado
alcançasse apenas $5,80, o exercício da opção call para assumir a oposição longa de
futuros a $6,00 se traduzia em uma perda de $0,20. Neste cenário, o investidor poderia
conservar a opção e esperar que se produzisse uma alta nos preços ou vender a opção.
Uma opção cujo preço de exercício seja aproximadamente igual ao preço de futuros
subjacente, se conhece como at-the-money, enquanto que uma opção que se exercite e
resulte em uma perda, se denomina out-of the-money. Não seria de nenhuma utilidade
exercer as opções at-the-money ou out-of the-money.
As opções da CBOT são negociadas de maneira muito semelhante aos contratos
futuros subjacentes. Toda compra e venda se realiza mediante posições oferecidas e
demandadas, levadas a cabo no pregão da CBOT ou via o sistema eletrônico de
operação.
A negociação de opções call é completamente independente e distinta da
negociação das opções put. A compra ou venda de uma opção call não inclui nenhuma
opção put. As opções call e put constituem contratos independentes, não são lados
opostos de uma mesma transação.
Os meses de contrato para as opções padrão são os mesmos que para o contrato
futuro subjacente, no entanto, como explica a apostila editada pelo CBOT, Agricultural
Futures and Options for the Beginner (CBOT, 1996 , p. 12), as opções seguem um
calendário diferente dos futuros subjacentes. Tipicamente, expiram um mês antes do
contrato futuro associado. Por exemplo, opções de milho para dezembro encerram suas
negociações na terceira semana de novembro, enquanto os contratos futuros para
dezembro não interrompem suas negociações até meados de dezembro.
Além das opções padrão, nos meses para os quais estas não são cotadas, são
lançadas as opções em série (ou série de opções) que se caracterizam por serem de curto
prazo, sendo negociadas por aproximadamente 30 dias, expirando durante os meses nos
quais não há opções padrão.
48
A tabela III.11 apresenta os meses de expiração para os contratos futuros e de
opção padrão e para as séries de opções de soja em grãos.
Tabela III.11 – Meses de expiração para contratos futuro e de opção e para séries
de opões da soja a granel negociados na CBOT
Janeiro FevereiroMarço AbrilMaio JunhoJulho OutubroAgosto DezembroSetembroNovembro
Soja em grãosMeses padrão
Meses em série
Fonte: CBOT
Os preços de exercício para os meses de contrato padrão são cotados em
múltiplos predeterminados para cada produto físico. Por exemplo, para soja em grão se
realizam em $0,20 por bushel.
O prêmio é a única parte do contrato da opção que se negocia durante transação;
os demais termos do contrato são predeterminados. Para o comprador de uma opção o
prêmio representa o montante máximo que se pode perder, dado que o comprador está
limitado unicamente ao investimento inicial.
Em contraste, para o vendedor de uma opção, o prêmio representa a quantidade
máxima que se pode ganhar, posto que o vendedor enfrenta a possibilidade de que se
exerça a opção. Assim, se exercida a opção, a posição de futuros assinalada ao vendedor
será quase sempre desfavorável, uma vez que, geralmente, o comprador da opção
exercerá apenas a opção in-the-money.
Fixação de preços das opções
Os princípios básicos de oferta e demanda determinam o prêmio. Em um
mercado aberto, os compradores desejam pagar o preço mais baixo possível por uma
opção e os vendedores e desejam obter o prêmio mais alto possível.
49
Pode-se dizer que os prêmios das opções estão constituídos por 2 componentes:
o valor intrínseco e o valor no tempo. O prêmio de uma opção em qualquer data é a
soma total do seu valor intrínseco e do seu valor no tempo.
Exemplificando, considere-se que um investidor conserva uma opção put de soja
em grãos com preço de exercício de $6,30/bu e o preço futuro na data de expiração é de
$6,70. Nesta situação, ninguém estará disposto a pagar, pelo direito de vender um
contrato futuro por apenas $6,30. Esta opção estaria out-of the-money por $0,40. Por
outro lado, se o preço futuro subjacente é cotado a $6,00, o direito de vender um
contrato futuro a $6,30 estaria in-the-money por $0,30. Quer dizer, teria um valor
intrínseco de $0,30. O investidor teria um ganho de $0,30 ao vender a opção.
O valor intrínseco dos prêmios de opção é o montante no qual a opção está
atualmente in-the-money. Para uma opção call, é o quanto o preço futuro é maior do que
o preço de exercício. Para uma opção put, é o quanto o preço futuro é menor do que o
preço de exercício.
Se uma opção estivesse out-of the-money, não teria nenhum valor intrínseco.
Neste caso, o prêmio consistiria unicamente no valor no tempo.
Tautologicamente, o valor no tempo é igual ao prêmio menos o valor intrínseco.
O valor no tempo – às vezes conhecido como valor extrínseco – reflete a quantidade de
dinheiro que os compradores estão dispostos a pagar com a esperança de que o exercício
de uma opção, na data de expiração, ou antes, seja de utilidade.
Um dos componentes do valor no tempo reflete a quant idade de tempo que resta
antes que a opção expire. Por exemplo, suponha-se que um dia qualquer, em meados de
maio, o preço futuro da soja em grãos para novembro esteja cotado a $6,30/bu. Naquele
dia de maio, as opções call com preço de exercício de $6,50 sobre o futuro de soja em
grão de novembro se negociam, por hipótese, ao preço de $0,12/bu. A opção está out-of
the-money e, portanto, não tem nenhum valor intrínseco. Ainda assim, a opção tem um
valor no tempo de $0,12 (prêmio da opção) se um comprador estiver disposto a pagar
$0,12 por ela.
50
Isto se explica pelo fato da opção, ter ainda cinco meses de vigência antes de que
expire em outubro. Durante este tempo, espera-se que o preço futuro subjacente
ultrapasse o preço de exercício de $6,50. Se o preço aumentasse além de $6,62 (preço
de exercício de $6,50 mais prêmio de $0,12), o detentor da opção poderia obter um
ganho.
Os fatores principais que afetam o valor do tempo são: o tempo que resta até a
data de expiração e a volatilidade do preço de futuros subjacente.
Em igualdade de circunstâncias, quanto mais tempo reste até a data de expiração
de uma opção, maior será o prêmio. Isto se deve ao fato de que a opção terá mais tempo
para incrementar o seu valor. Do mesmo modo, o valor no tempo de uma opção
diminuirá na medida em que se aproxima a data de expiração.
A figura III.5 ilustra o comportamento do valor de uma opção na medida em que
o tempo avança até a data de sua expiração.
Figura III.5 – Valor no tempo de uma opção
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Val
or
no
tem
po
Meses até a data de expiração
Em igualdade de circunstâncias, o prêmio de uma opção é, de forma geral, mais
alto durante períodos em que se observa maior volatilidade no preço futuro subjacente.
A volatilidade do mercado traz um maior risco nos preços e, portanto, uma maior
necessidade de protegê- los. O custo de obter-se o seguro relacionado com as opções é
maior, resultando em prêmios mais altos.
Além da data até a expiração e da volatilidade do mercado, outros fatores afetam
o valor no tempo. A relação entre o preço futuro subjacente e o preço de exercício da
51
opção é outro fator que afeta o seu valor. Em igualdade de circunstâncias (tais como
volatilidade e tempo que resta até a data de expiração), uma opção at-the-money terá
mais valor no tempo do que uma opção out-of the-money. O surpreendente é saber que
uma opção at-the-money possa ter maior valor no tempo do que uma opção
substancialmente in-the-money (chamada também deep in-the-money option).
Um dos atrativos da negociação de opções é a "alavancagem" ou a capacidade
de controlar recursos relativamente grandes através de um investimento relativamente
pequeno. Uma opção nunca será negociada por menos do seu valor intrínseco, por isso,
quando ela está in-the-money, os compradores usualmente terão que pagar além do
valor intrínseco para ter o direito sobre a opção. Uma opção deep in-the-money requer
um maior investimento e compromete a alavancagem relacionada com ela.
Em geral, para uma data de expiração dada, quanto maior for o valor intrínseco
de uma opção, menor valor no tempo terá. Em algum momento, uma opção deep in-the-
money carecerá de valor no tempo, ainda que, todavia, reste algum tempo antes da sua
expiração.
As taxas de juro constituem outro fator que afeta o valor no tempo. Ainda que o
efeito seja mínimo, é importante saber que quando as taxas de juros aumentam, o valor
no tempo diminui. O contrário também é certo, quando as taxas de juros diminuem, o
valor no tempo aumenta.
III.5.2.4 – Mercado a Termo
Um contrato a termo representa um acordo entre duas partes para comprar ou
vender uma mercadoria, numa data futura, por um preço preestabelecido. O produtor
negocia um preço e efetua a venda da safra em qualquer fase da lavoura, que
compreende desde o preparo da terra até a colheita, podendo receber ou não
adiantamento de recursos. O acerto de contas, no caso do não recebimento antecipado,
fica para o vencimento do contrato, quando o vendedor entrega o produto negociado ao
comprador e este paga o preço combinado anteriormente, quando o contrato foi
assinado.
52
A venda antecipada dos produtos agrícolas, seja para capitalizar o produtor ou
para que ele receba os insumos que viabilizem a safra, é bastante comum atualmente (A
Granja, mai. 2002). Tendo-se em vista a escassez de recursos governamentais para o
custeio agrícola e a descapitalização inerente à atividade primária, o mercado a termo,
personificado pela CPR, é uma das formas seguras de angariar recursos antes da
colheita. O Banco do Brasil – onde a operação se originou – é a instituição financeira de
maior destaque nas operações de CPR no país.
A CPR é um título cambial por meio do qual o emitente – produtor rural e suas
associações ou cooperativas de produção – vende antecipadamente a safra agropecuária,
recebe o valor da venda no ato da formalização do negócio, com o compromisso de
entregar o produto vendido na quantidade, qualidade, local e data estipulados na cédula.
A legislação que criou e regulamentou as operações com CPR foi instituída em
1994. Para os financiadores, este foi o primeiro esforço efetivo na criação de normas e
de um mínimo de transparência para um mercado que, naquela ocasião, já operava
aproximadamente US$1,0 bilhão/ano em crédito lastreado em contratos futuros de grãos
(PIMENTEL, 2000).
Voltando um pouco no tempo, ao final da década de 80, as compras e vendas
antecipadas de soja já eram bastante difundidas entre os produtores, tradings e
cerealistas da região do Cerrado, apesar da falta de normatização. Esta era considerada a
melhor forma de captar recursos para o plantio, viabilizados pelas linhas de crédito para
exportação (ACC).
A princípio estas operações não eram “travadas” em preço, eram negociadas
através de contratos com preço a fixar, onde o produtor comprometia um volume maior
de soja contra o adiantamento do recurso para o custeio da safra. A fixação do preço era
feita após a entrega do grão e o saldo restante era então pago ao produtor. Em 1987, a
Cutrale Quintella (exportadora, de capital nacional) passou a oferecer a prefixação da
soja, ou soja verde, onde tudo já ficava travado no fechamento da operação: preço
futuro internalizado e câmbio. Com isso, os produtores obtinham uma proteção de preço
(hedging) que compreendia também o frete rodoviário, repassando este risco para as
tradings e cerealistas.
53
Em 1988, a mesma Cutrale Quintella, lançou a “troca” de soja por insumos
(fertilizantes, agroquímicos e sementes), definindo um volume X de sacas de soja,
contra uma quantidade de insumos Y. Isso era extremamente conveniente para os
produtores e permitia um ganho de escala no frete do fertilizante / soja e na compra de
outros insumos por parte da trading. Em seguida estas operações passaram a ser
replicadas por cerealistas locais e tradings concorrentes, apesar das críticas iniciais a
esta prática.
Com o crescimento rápido e desordenado, tanto das operações de soja verde
como as de troca, abriu-se a possibilidade do produtor, por descontrole ou má fé, vender
antecipadamente mais de uma vez a sua safra. Como não havia forma de consolidar o
volume de soja vendido por produtor ou propriedade, muitos financiadores perderam
dinheiro com inadimplência (default), apesar dos esforços da ANEC (Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais) em tentar padronizar e integrar as operações de
crédito, lastreadas em soja, por seus associados. Até que em 1994 foi instituída a Cédula
do Produto Rural.
Para fazer uma emissão de CPR, o produtor ou cooperativa deve procurar uma
instituição (banco ou seguradora) que dê garantia ao papel, pois isso aumenta o universo
de compradores interessados em adquiri- lo. Essa instituição, após análise do cadastro e
garantias que o emissor oferece, acrescenta seu aval ou agrega um seguro. De posse da
cédula, avalizada ou segurada, o emissor pode negociá- la no mercado. A CPR implica
em garantias para quem a adquire. Dependendo da instituição que está analisando o
cadastro, podem ser exigidas certidões negativas de ônus, penhor do produto, hipoteca,
alienação fiduciária de máquinas/ implementos e outras garantias cadastrais.
Depois desse trâmite, a cédula está ponta para ser negociada por intermédio do
mercado de balcão – onde a negociação se dá pelo encontro direto entre vendedor e
comprador –, ou através de leilões em Bolsas de Mercadorias. Pode-se utilizar também
o leilão eletrônico do Banco do Brasil, que interliga as Bolsas. Não existe um período
do ano específico para a utilização da CPR. Os contratos podem ser emitidos durante
todo o ciclo produtivo, tanto na fase de planejamento, desenvolvimento e pré-colheita
como na de pós-colheita (produto colhido).
54
Qualquer produto agropecuário “in natura”, beneficiado ou industrializado pode
ser negociado via CPR. Além da forma tradicional do recebimento antecipado de
dinheiro contra a entrega futura de um volume de produção estipulado na cédula, que
configura a CPR tradicional, também chamada de CPR Física, é possível negociá-la por
insumos agropecuários, máquinas e implementos agrícolas ou, se for mais interessante,
por dinheiro. Neste último caso, denomina-se CPR Financeira (CPRF).
Além das modalidades física e financeira, existe a CPR Exportação que
possibilita a venda direta da produção a compradores não residentes no país e a CPR
Financeira Seguro de Preços, vinculada à compra de opção de venda, em quantidade de
produto maior ou igual àquele negociado na CPRF, com o objetivo de garantir um
seguro de preço ao emitente da cédula.
Os custos associados à emissão de uma CPR estão constituídos pela taxa de aval,
aplicada sobre o valor do negócio, que varia de 0,45% a 0,65% ao mês, em função do
produto negociado e do estágio da lavoura, e pelos custos de registro do título. Deve ser
lembrado que, como afirmam Honda e Weydmann (2001, p. 28), a CPR enseja uma
antecipação de recursos financeiros pela aquisição de uma mercadoria com entrega
futura. Este capital, trazido à data presente, deve ser remunerado através de um deságio
aplicado sobre as cotações futuras do produto para o mês de entrega. Segundo esses
autores, na safra 99/00, pesquisaram-se os custos de financiamentos obtidos diretamente
com fornecedores de insumos, tendo sido levantados custos médios de 2,50% ao mês.
III.5.2.5 – A Utilização dos Mecanismos de Comercialização
Com relação aos mecanismos de comercialização, não há uma fórmula mágica
para determinar a melhor estratégia de colocação dos produtos. O que parece ser ideal
em um determinado ano, pode se mostrar totalmente desastrado em outro. Portanto, a
primeira lição é aprender a conviver com o inesperado, mas em prontidão para agir
assim que for necessário. Para isso valem o assessoramento com corretoras e a busca de
informações de mercado (A Granja, mai. 2002).
55
A título ilustrativo da utilização dos mecanismos de comercialização, vale a
pena conhecer um caso apresentado pela revista A Granja (mai. 2002).
O sofrimento para comercializar
Rubens Toshikazu Doi, de Castro/PR, se confessa 'perdido' na hora de vender a
produção. “A cada ano é uma novidade”, desabafa o produtor, que possui uma propriedade
de 800 hectares plantados com soja e milho. Os 10 anos de experiência em comercialização
lhe ensinaram algo valioso: é melhor usar todos os mecanismos possíveis e ganhar num
todo, ficando com um lucro médio, do que arriscar todas as fichas em uma única
modalidade de venda.
A primeira providência a ser tomada diz respeito à venda antecipada da produção.
Na visão de Doi, o produtor não deve comprometer mais do que 30% nessa fase, mesmo
que isso não chegue a ser suficiente para cobrir os custos. Em vez disso, deve arriscar com
outras modalidades de comercialização. No período da safra, por exemplo, ele costuma
fazer algumas posições com contratos de opção, intermediados pelo Banco do Brasil e
transacionados nas bolsas de Chicago e de Nova York. Como tem estrutura de
armazenagem na propriedade, com capacidade estática para 20 mil sacas, reserva outro
tanto para colocar de forma escalonada na entressafra. Parte da soja produzida por Doi é
orgânica e obedece a uma dinâmica de venda diferenciada. Cem por cento da produção é
negociada de forma antecipada, com um ágio de preço que varia entre 40% a 50%. Já na
soja convencional, ele assegura o preço com contratos de opção. Na atual safra, fez um
seguro para 20 mil sacas, assegurando uma cotação de US$ 10,14 a unidade. Se o preço à
vista no vencimento estiver abaixo desse valor, ele exercerá o contrato sabendo que
resguardou uma margem de lucro de 25%, segundo os seus cálculos. O custo para essa
transação foi de US$ 0,44 por saca.
Outra que acredita que utilizar mais de um mecanismo é a decisão acertada para
diluir ao máximo os riscos de comercialização é a engenheira agrônoma Ana Carla Ludwig.
“O que acaba sendo melhor é a média. Quem espera ganhar muito no pico, que pode não
acontecer, acaba não faturando nada”, diz. Ela é sócia de um empreendimento rural com
três fazendas – duas das quais no Paraná e uma no Mato Grosso – e uma área plantada de 3
mil hectares.
Do volume de 150 mil sacas de soja previstos para este ano, boa parte já está
comprometida com contratos antecipados em real ou em dólar. Trinta mil sacas foram
comercializadas antecipadamente por R$ 25 a unidade, o que se mostrou vantajoso. Quando
o contrato foi fechado, no fim de 2001, muitos vizinhos da propriedade localizada em
Sertanópolis/PR apostaram que uma desvalorização mais acentuada levaria à relação de três
56
por um entre as moedas brasileira e norte- americana. Isso não se confirmou, e quem
esperou até agora terá uma remuneração desfavorável.
Ana Carla ainda fez hedge de preço na bolsa de Chicago com um contrato de
opções para 2.260 sacas, apenas a título de teste. O desembolso com o 'prêmio' chegou a
setenta centavos de dólar, considerado caro pela agrônoma. A família Ludwig foi a única na
região a executá-lo, pois esperava uma queda mais acentuada no valor do mercado à vista.
“Fui acompanhando as cotações diariamente e me decidi pela liquidação. Acabei não
perdendo nada”, diz Ana Carla.
Muitos agricultores preferem repassar o produto do trabalho de uma safra para as
cooperativas. A Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo),
posicionada entre as 10 maiores do País, adquire, em média, 400 mil toneladas de soja
anuais, garantindo um preço fixado na Bolsa de Chicago aos associados. Até janeiro, 40%
da safra já havia sido arrematada antecipadamente pela Comigo. Os contratos fechados em
agosto de 2001 atingiram uma cotação que variou de US$ 8,80 a US$ 9,00. Parte do acordo
envolve o fornecimento de insumos, o que chega a comprometer até 70% da receita dos
produtores. Os pagamentos iniciam em fevereiro e se estendem até o começo de maio.
Apesar dos riscos inerentes, o presidente da cooperativa, Antônio Chavaglia, diz que nos
últimos anos a fixação antecipada tem sido positiva aos produtores.
57
CAPÍTULO IV
PROPOSTA CONCEITUAL DE UM MODELO DE SIMULAÇÃO PARA
COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA EM GRÃOS
Pretende-se descrever, neste capítulo, o processo de comercialização de uma
safra de soja, sob o ponto de vista do produtor, caracterizando a complexidade dessa
atividade para, a seguir, apresentar conceitualmente uma ferramenta que atende a essa
necessidade.
IV.1 – O PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO DA SOJA EM GRÃO
O processo de comercialização de uma safra de soja por parte do produtor
começa, na verdade, muito antes do início da colheita ou mesmo do plantio. A
necessidade de compra antecipada de insumos compromete previamente uma elevada
quantia de recursos, como apresentado em III.5.2, na maioria dos casos não disponível.
A descapitalização do setor primário no Brasil é algo muito conhecido e os recursos de
custeio público, com juros favoráveis são escassos e incertos. Dessa maneira, o produtor
deve comprometer uma parte de sua colheita futura para alavancar esse recursos. Nesse
sentido, o ciclo da comercialização da nova safra começa tão logo o agricultor termina
de colher a safra atual.
Entre os mecanismos disponíveis para o produtor antecipar o volume de recursos
necessários para o custeio da nova safra, encontram-se, desde a troca informal de
insumos por produção, até mecanismos mais sofisticados como a Cédula do Produto
Rural, com garantia de execução por meio de aval, conforme apresentado no item
III.5.2.4. O principal elemento a ser considerado na avaliação do percentual da safra a
ser comprometido neste processo refere-se ao custo do deságio cobrado pelo adquirente
da cédula no momento da negociação. Normalmente esse valor situa-se acima do custo
de oportunidade de capital disponível para o produtor.
58
Ainda no escopo dos mecanismos de venda, uma outra preocupação que ronda o
espírito do agricultor é o valor que terá o produto na época da colheita. Ele sabe que
seus insumos comprometem uma fatia considerável de sua rentabilidade e não pode
despreocupar-se dos preços que irá receber quando possui o produto disponibilizado
para a venda. Neste sentido, se quiser expor-se menos ao risco, poderá efetuar
previamente contratos no mercado futuro que lhe garantem uma faixa de lucratividade
melhor estimada. Dois mecanismos desempenham esse papel, como apresentados no
item III.5.2: o contrato futuro e de opção.
Outro elemento que convém que o produtor decida previamente diz respeito ao
local de venda do produto. As opções de que dispõe são fundamentalmente de quatro
tipos: venda na porta da fazenda; venda CIF3 na esmagadora ou outro local especificado
pelo comprador, como um armazém ou um porto para exportação; venda FOB4 porto
Brasil; ou ainda venda CIF porto de destino. A primeira modalidade de venda é, de
longe, a mais comum, seja porque é mais simples ou porque a maior escala do
comprador (normalmente uma trading e/ou esmagadora) favorece a negociação de frete.
A opção de entrega na qual o vendedor deve arcar com os custos de transporte e seguro
da carga acontece eventualmente, mas com maior intensidade na época de safra, com
entregas diretas no porto para exportação, com a venda já previamente realizada.
A venda FOB porto Brasil apresenta a dificuldade de que apenas o porto de
Paranaguá apresenta liquidez para o produto vendido em pequenos volumes em
qualquer época do ano. Para os outros portos, o volume a ser embarcado deve ser
necessariamente elevado, acima de 30 mil toneladas, restringindo a opção do produtor, a
menos que embarque em consórcio com outros fornecedores ou que, sozinho, tenha um
porte de produção significativamente avantajado. Para a formação de um pool de
embarcadores seria necessária a coordenação de alguma trading, empresa
intermediadora5ou cooperativa.
3 Cost Insurance and Freight – Modalidade de embarque na qual o vendedor fica responsável pelo produto transportado até o ponto especificado de entrega, arcando com os custos do frete e seguro da carga. 4 Free on Board – modalidade de embarque na qual o vendedor responsabiliza-se pela entrega da carga em um ponto especificado ficando desonerado de qualquer custo e responsabilidade a partir desse local. 5 A diferenciação entre trading e empresa intermediadora refere-se ao fato de que uma trading company compra o produto para depois revender, enquanto uma intermediadora tem apenas o papel de facilitadora no processo de exportação, sendo a venda fechada diretamente entre exportador e importador.
59
Do mesmo modo, como um navio requer grandes volumes para o embarque, os
sistemas multimodais também o exigem, embora em menor escala. Dada a restrição de
oferta da opção ferroviária e hidroviária no Brasil, especialmente na época de safra,
quando os volumes escoados para exportação excedem em muito a capacidade desses
modais, é necessário que o embarcador se comprometa previamente com o booking de
sua carga para a data pretendida. Isso se faz mediante o pagamento antecipado, pelo
menos de parte do volume a ser embarcado.
Embora a venda no porto seja muito mais complexa, as oportunidades de ganho
são maiores, de modo que o produtor não deveria desconsiderar esta opção de entrega.
A venda CIF porto de destino enquadra-se em uma complexidade ainda maior do que a
apresentada no caso anterior, razão pela qual é raras vezes empregada.
A decisão sobre onde vender a safra envolve o conhecimento do custo da
logística do deslocamento do produto desde a fazenda até o ponto de entrega
considerado, confrontado com a cotação na fazenda.
Como se não bastassem as decisões sobre comercialização que o produtor deve
tomar antes mesmo do plantio da safra, quando ele dispõe do produto colhido, é
necessário que compatibilize seu cronograma de vendas com um espaço de
armazenagem. A grande vantagem em retardar a venda para um período de entressafra
reside no fato de que, nessa época, os preços tendem a subir e os fretes a cair. No
entanto, essa decisão não é trivial já que existe um trade-off entre os custos de
armazenagem mais o carregamento de estoques6 com relação à melhor cotação do
produto fora da safra mais a vantagem dos fretes.
Este cenário especulativo exige do produtor um acompanhamento dedicado aos
valores da soja na Bolsa de Chicago, nos portos brasileiros para exportação, da cotação
na fazenda, da taxa de câmbio e dos valores de fretes. A ponderação sobre quanto,
quando e onde vender a cada momento requer, além de uma análise criteriosa, um
posicionamento quanto à exposição ao risco e retorno esperado em cada situação
particular da configuração das variáveis que condicionam as escolhas.
60
Apresentado o cenário do conjunto de decisões que devem ser tomadas por parte
do produtor, é imediato evidenciar a complexidade desse processo. Nesse sentido, um
instrumento que pudesse integrar em um único ambiente de planejamento esse conjunto
de variáveis intercorrelacionadas; com apresentação gráfica de suas volatilidades ao
longo do tempo; organizado de modo a que se perceba o impacto financeiro de cada
decisão; que conduzisse o analista no processo de análise, apresentado- lhe cenários de
tendências e valores históricos das informações de interesse; tudo isso em um ambiente
amigável, facilitando o preenchimento das decisões, delimitando o escopo de valores
das variáveis de interesse e não permitindo a introdução de valores inconsistentes, sendo
robusto de modo a avaliar as decisões do usuário e seu impacto sobre os resultados;
seria de grande valia para que o produtor pudesse estabelecer previamente uma
estratégia de comercialização para uma safra de sua produção. É exatamente a esse
propósito que visa este trabalho de pesquisa, cujo resultado consiste no
desenvolvimento de uma ferramenta de simulação em forma de planilha com todas as
características apontadas.
IV.2 – CARACTERIZAÇÃO DO MODELO PROPOSTO
Nesta parte do trabalho começa a ser desenhado o modelo proposto no seu
aspecto conceitual. Outros tópicos mais adiante, tratarão das particularidades da
modelagem, trazendo uma compreensão acabada de toda a metodologia empregada na
construção da ferramenta que é o objeto desta pesquisa.
O que se entende por modelo conceitual é um esboço teórico da estrutura da
ferramenta, acompanhado de uma declaração formal de escopo, que busca identificar
quais características o modelo incorporará e quais não.
O protótipo do modelo aqui apresentado contempla todos os aspectos
relacionados à comercialização de uma safra de soja a granel por parte do produtor,
construído em um ambiente integrado e com todas as características apontadas em IV.1.
6 Aqui diferencia-se o custo da armazenagem, composto por aluguel de armazém (ou oportunidade de aluguel, caso o armazém seja próprio) e outros custos de beneficiamento e movimentação do produto, dos custos financeiros de estoque que se referem ao ônus de manter o produto em detrimento de vendê-lo antes e aplicar o dinheiro desfrutando dos juros pagos pelo sistema financeiro.
61
Algumas simplificações, hipóteses e restrições, naturalmente, devem ser estabelecidas
para que se possa tratar o problema do ponto de vista prático e o que se apresenta a
seguir são algumas considerações a esse respeito, após um detalhamento do objetivo
principal do trabalho. Procurou-se agrupar os diversos aspectos respeitados na
modelagem em núcleos comuns, conforme se apresenta nos subtítulos a seguir.
IV.2.1 – Características gerais da modelagem
O objetivo básico do modelo proposto é servir como um instrumento de
planejamento para que o produtor de soja possa, em cada região de cultivo e de acordo
com seu perfil de aversão ao risco e necessidade de formação de capital de custeio,
desenvolver uma estratégia de comercialização de uma safra do produto a granel, com o
propósito de maximizar sua receita de venda.
Através desse instrumento o produtor terá a possibilidade de decidir sobre a
forma de comercialização (venda especulativa, antecipada, futura ou opção de venda), o
local de entrega do produto e as quantidades vendidas em cada época, em uma decisão
reavaliada mês a mês. As premissas para a tomada desse conjunto de decisões
fundamentam-se na consideração das expectativas de valor futuro, para cada mês, da
cotação do grão na Bolsa de Chicago e nos mercados locais, da taxa de câmbio e dos
custos logísticos nos canais de escoamento do produto.
Para atender a esse objetivo, o modelo estrutura-se através de um horizonte de
planejamento de um ano e meio, sendo que, em cada mês, vão se realizando as decisões
de comercialização que afetam o fluxo de caixa do produtor, mediante receitas
provenientes da venda do produto e despesas decorrentes do processo de produção,
adoção de mecanismos de comercialização, transportes, armazenagem e custos
financeiros.
Ao se passar de um mês a outro do planejamento, a posição de caixa é corrigida
e calcula-se a lucratividade. Estas duas informações, associadas às expectativas de
cotações futuras das variáveis de decisão, dinamizam todo o processo de
comercialização, em cujo cenário o analista visa maximizar sua lucratividade.
62
IV.2.2 – Horizonte de Planejamento
O horizonte de planejamento estabelecido no modelo abrange uma extensão de
18 meses, começando em julho e terminando em dezembro do ano seguinte.
Este escopo de tempo constitui um intervalo suficiente para que o produtor tome
as decisões de aquisição de insumos para o plantio, prepare a terra, efetue a semeadura,
colha, armazene e comercialize toda a produção.
Configura-se uma prática no mercado brasileiro que, a partir de julho o produtor
de soja passe a planejar a safra seguinte (A Granja, set. 2001), já que até o final do mês
de maio ele continua colhendo a safra anterior e junho concentra ainda um grande
esforço de comercialização. Em setembro começará a semear a soja futura. O período
de colheita estende-se de janeiro a maio e é possível que até o final do ano alguns
produtores ainda tenham algum volume a comercializar, sendo que em janeiro do ano
seguinte já começa o novo ciclo de colheita.
Por se tratar de um ambiente de planejamento e não de um instrumento de
efetivação de transações de comercialização, é razoável que se considere um intervalo
de atualização de dados, ou passo incremental, de um mês.
No modelo, assume-se que todas as cotações apresentadas refiram-se ao
primeiro dia do mês considerado, o que equivale à cotação de fechamento do último dia
do mês anterior. Considera-se que todas as decisões de comercialização efetuadas
dentro de um mesmo mês aconteçam no primeiro dia, assim, ao se passar de um mês a
outro do planejamento, as informações de caixa serão corrigidas para um mês completo
pelo custo de capital pertinente.
IV.2.3 – Condições de Venda
No item IV.1, apresentou-se como possíveis condições de venda para o produtor,
quatro possibilidades de entrega do produto: na porta da fazenda, CIF na esmagadora,
ou outro ponto especificado pelo comprador, FOB porto Brasil ou CIF porto de destino.
63
Para efeito de modelem serão consideradas apenas duas possibilidades: a venda na porta
da fazenda ou armazém próximo desta e FOB porto Brasil.
A venda na porta da fazenda ou em algum armazém vizinho é uma prática muito
comum entre os produtores e não apresenta muita dificuldade de modelagem. A opção
FOB porto Brasil já envolve alguma complexidade de modelagem e operação, como
apresentado em IV.1, mas apresenta-se como uma excelente oportunidade de ganho
para o produtor. A diferença de cotações entre a fazenda e o porto pode ser
significativamente maior do que o custo de se deslocar o produto entre esses dois
pontos, justificando um ganho que compensa, em muitos casos, a transferência do
produto até o porto de embarque.
Já a venda CIF esmagadora ou outro ponto especificado pelo comprador envolve
uma complexidade extrema, já que, teoricamente, são inúmeras as possibilidades de
pontos de destino para cada uma das regiões produtoras. Além disso, trata-se de uma
prática menos comum, uma vez que os agentes compradores, por terem maior escala,
podem conseguir melhores preços de fretes, preferindo buscar o grão na porta da
fazenda, como já apresentado em III.4.
A opção de venda CIF porto de destino é também bastante complicada do ponto
de vista operacional, porque envolve operação internacional e os ganhos adicionais,
comparados à venda FOB porto Brasil, não justificam a adoção dessa possibilidade. Na
prática é um fenômeno raro a entrega direta do produtor no porto de destino.
Desta maneira, justifica-se a restrição adotada pelo modelo em considerar apenas
as condições de venda na porta da fazenda e FOB porto Brasil.
IV.2.4 – Regiões Contempladas
As regiões contempladas no modelo constituem as principais áreas produtoras de
soja do Brasil. Um estudo efetuado pelo Geipot, em setembro de 2001, denominado
“Corredores Estratégicos de Desenvolvimento – Alternativas de Escoamento de Soja
para Exportação” (GEIPOT, 2001), auxiliou na definição das áreas a serem
64
consideradas no trabalho. Na verdade, esse estudo apresenta apenas as regiões do
Cerrado brasileiro que respondem por cerca de 58 % do volume total produzido no país.
As regiões do sul que representam outros 38 % foram incluídas a partir de informações
obtidas no Banco de dados do IBGE (2003).
Para cada uma dessas regiões, foi definido um centróide que se configura como
um ponto de referência logística para o escoamento da produção. O mapa, mostrado na
figura V.3, ilustra todas as 22 regiões tratadas pelo modelo, bem como os principais
corredores de escoamento para os portos de exportação.
Embora o modelo permita a análise de qualquer uma dessas 22 regiões, deve ser
destacado que o cenário do processo de comercialização contempla apenas a área
selecionada para estudo.
IV.2.5 – Opções de Escoamento para Exportação
Para efeito de modelagem, foram consideradas apenas duas alternativas de
escoamento para exportação para cada uma das regiões. Uma exclusivamente rodoviária
e outra multimodal, quando disponível, ambas configurando, em cada caso, a opção
mais econômica entre aquelas possíveis. Os canais de escoamento de cada uma das
regiões, com os respectivos pontos de transbordo, distâncias percorridas em cada trecho
e fretes são mostrados nas figura V.25 e V.26. Observa-se que apenas a região de
Barreiras, na Bahia, não apresenta nenhuma alternativa multimodal, por ser muito
desvantajosa frente ao transporte exclusivamente rodoviário.
Essa simplificação se justifica pelo fato de se tratar de um modelo de
planejamento cujo foco é a otimização dos recursos com vistas a uma melhor
lucratividade na operação de comercialização.
O estudo do caminho logístico de menor custo, para as regiões do Cerrado foi
obtido do trabalho do Geipot apontado anteriormente (2001) e, para as áreas de
produção do Sul foram definidos com o auxílio de um software de geoprocessamento
que calcula o melhor caminho entre dois pontos especificados. Os canais de escoamento
65
respeitam, naturalmente, todas as restrições operacionais, tal como a existência de
terminais nos portos que operem grãos.
Quanto à possível indisponibilidade de alguns modais de transporte na época da
safra, o modelo considera esta possibilidade tratando cada ligação intermodal de forma
particularizada. Assume-se que todas as ferrovias possuam restrição de capacidade,
respeitando um cronograma de disponibilidade que se torna cada vez mais restritivo
quanto mais perto da safra ocorre a tentativa de contratação. Este processo será
detalhado nos itens V.3.5 e V.4.7. Quanto às hidrovias, não é presumida nenhuma
restrição de capacidade.
O modelo também obedece a condicionantes para a venda direta no porto para
exportação, com a imposição de um volume mínimo para o transporte multimodal e no
terminal de exportação. Sabe-se que nem todos os terminais portuários brasileiros
possuem liquidez para venda imediata do produto e, dessa maneira, para esses
terminais, apenas faria sentido o embarque de um volume grande o bastante para
preencher o porão de um navio. Isso condicionaria, por exemplo, à formação de um
pool de exportadores, cada um contribuindo com um elevado volume para compor um
lote de navio.
IV.2.6 – Formas Comerciais Adotadas
As formas de comercialização disponíveis para que o produtor efetue a venda de
uma parcela de sua produção, já detalhadas no item III.5.2, podem ser divididas em três
categorias: mecanismos de antecipação de receita, de formação de hedge e venda spot.
A escolha da venda spot não oferece dificuldades para a modelagem. Exige
apenas a definição do local de entrega e volume negociado. O fluxo de caixa restringe-
se à atualização do mês atual de planejamento com as receitas advindas da venda e o
eventual custo de transporte para levar o produto ao porto.
Entre os mecanismos de antecipação de receita ao produtor, o modelo
considerará apenas a CPR, seja na forma física ou financeira, por se tratar de um
66
mecanismo mais vantajoso na negociação, já que conta com o aval de uma instituição
com crédito no mercado para honrar um possível default do produtor.
Existe uma diferença importante entre a CPR física e a financeira no aspecto
referente ao fluxo de recursos para a modelagem. No primeiro caso, o produtor
compromete um volume físico a ser entregue em data futura, não importando a sua
cotação na data de vencimento da cédula. No caso da CPR financeira, no ato da
contratação, fica travado o preço futuro da execução do contrato, baseado na expectativa
de cotação do produto na data futura considerada. Assim, o volume físico a ser
convertido para a quitação da cédula (caso o produtor não disponha de recursos
financeiros) será variável, em função da cotação do mesmo no local e data do
vencimento. Se a cotação melhorar, o volume comprometido será menor e vice-versa.
A modelagem de um contrato CPR exige o conhecimento dos custos
transacionais que são fornecidos pelos organismos financeiros que operam esta forma
de contrato, como o Banco do Brasil, por exemplo, e taxas de desconto praticadas pelo
mercado.
Os contratos futuro e de opção de venda constituem um tipo de seguro para o
produtor, sendo que, no mercado futuro, o produtor trava o preço (forma hedge) de um
lote de sua produção na data em que pretende se desfazer dessa porção de estoque. Já o
contrato de opção de venda garante ao produtor, no mínimo, o preço fixado para um lote
do produto, até a data de vencimento do contrato, mediante o pagamento de um prêmio
de seguro.
Deve ser destacado que, para efeito de modelagem, considera-se que o produtor,
ao utilizar um contrato futuro ou de opção esteja interessado apenas na formação de
hedge e não como instrumento para especulação de preços. Nesse sentido, faria pouco
sentido a utilização de opção de compra (call), porque, neste caso, ele estaria se
protegendo contra um aumento do preço futuro, quando, para quem tem o produto
físico, esse evento seria benéfico. Da mesma forma, não faria sentido para o produtor
assumir a posição comprada (long) em um contrato futuro, pelo mesmo motivo alegado.
67
No contrato de opção, a fixação do prêmio é realizada, no modelo, pela equação
proposta por Black & Scholes (ROSS et al., 1995). Considera-se, para efeito de
modelagem, que o contrato de opção não admita exercício antes da data de expiração do
mesmo. Embora haja essa liberdade nos contratos de opção (conhecidos como opção
americana), raramente acontece essa escolha, porque, neste caso, o contratante fica
comprometido com um contrato futuro, até se desfazer dessa outra posição, além do
que, com a negociação do contrato de opção antes do vencimento, o seu portador pode
conseguir um valor maior do que aquele obtido com o exercício (valor intrínseco mais o
valor no tempo) (CBOT, 1996, p. 11).
Os custos contratuais para os derivativos agrícolas são estabelecidos pelas
instituições que operam essas formas de contrato.
Existe ainda uma forma comercial mista, a ser contemplada pelo modelo,
denominada CPRF + Seguro de Preço, através da qual o produtor, ao emitir uma CPR
Financeira se compromete a adquirir contratos de opção de venda referenciados na
Bolsa de Chicago em quantitativo de produto pelo menos igual àquele negociado na
CPRF e por preço de exercício igual ou maior que o da CPRF. A data de vencimento do
contrato fica limitada aos meses das opções negociadas na CBTO.
IV.2.7 – Custos de Produção
Um aspecto não diretamente relacionado à comercialização, mas que afeta o
fluxo de caixa na modelagem e condiciona a venda antecipada de parte da safra, são os
custos de produção.
Estes custos, no modelo, são decompostos em uma componente variável, que se
modifica direta e proporcionalmente ao volume produzido, e outra parcela fixa, que,
embora não seja estática, varia proporcionalmente, porém de forma amortecida, com o
tamanho do lote cultivado. Esta composição de custos será vista com detalhes em V.3.6.
Assume-se na modelagem um custo padrão para todas as regiões produtoras no
Brasil, excetuado o custo da terra, embora este fato não seja rigorosamente uma
68
verdade. Por exemplo, os gastos com insumos dependem da localização da fazenda, os
custos de transporte da fazenda ao armazém – contabilizados como custos de produção
– dependem da distância entre um e outro, os custos de mão-de-obra variam de acordo
com a região etc. Para o custo da terra, assume-se um valor inversamente proporcional
ao custo de deslocamento fazenda-porto, como se verá em V.4.10.1.
Os custos de produção incidem durante um ano, dentro do horizonte de
planejamento, já que o ciclo de produção da soja é anual. Não é considerada a
possibilidade de haver uma cultura de inverno, como o milho, por exemplo, que
assumiria parte dos custos fixos do período.
O cronograma de desembolso durante o ciclo produtivo é variável, de acordo
com a necessidade diferenciada da utilização de cada um dos componentes de custo de
produção. Assim, por exemplo, os insumos de plantio concentram-se nos primeiros
meses do ciclo, os de cultivo durante as etapas de crescimento e colheita, e assim
sucessivamente, compondo um fluxo de recursos variável ao longo dos meses.
Todas essas simplificações derivam-se da dificuldade em se encontrar
informações detalhadas a esse respeito. Embora os custos de produção consumam uma
parcela significativa da receita recebida, algo em torno de 50 a 70% e, por isso,
mereceriam um tratamento mais preciso, o tratamento detalhado estabelecido para a
contabilização desses custos, como se verá em V.3.6, aliado a informações de campo,
no estabelecimento do cronograma de desembolso, amenizam o impacto de eventuais
imprecisões cometidas no processo de custeio da safra.
IV.2.8 – Estrutura de Armazenagem
Assume-se no modelo que o produtor dispõe de uma capacidade irrestrita de
armazenagem em qualquer época do ano. Embora seja uma simplificação bastante
irrealista, dado que apenas 5% dos produtores possuem armazéns na própria fazenda
(item III.4) e os armazéns públicos ou de cooperativas nem sempre estão disponíveis no
prazo e espaço requeridos, ou localizam-se muito distantes da fazenda, um dos objetivos
da modelagem consiste na análise do trade-off entre a retenção da venda, assumindo-se
69
os custos decorrentes disso e o escoamento imediato, a um preço geralmente menor.
Neste sentido, o modelo objetiva apresentar ao produtor a possibilidade de analisar
estratégias especulativas sobre o momento e quantidade a ser vendido na entressafra.
Outra hipótese adotada sobre a armazenagem é que o custo de aluguel ou de
oportunidade sobre o aluguel, conforme seja de terceiros ou próprio o armazém, sem
que haja uma discriminação de valores, é uniforme ao longo de todo o horizonte de
planejamento e para qualquer região produtora. Esta simplificação deve-se à ausência de
informações mais precisas que permitam fazer a distinção entre os meses e localidades.
Embora simplificadora, o impacto do custo de armazenagem é pequeno na composição
total de comercialização.
Os custos financeiros da armazenagem, também denominados custos de estoque,
são tratados de forma diferenciada, discriminando-se regiões e época do ano, através da
composição do custo de oportunidade de capital com a cotação do produto na fazenda.
Este valor, para as taxas de juros praticadas no país impactam significativamente mais a
relação de trade-off especulativas do que os custos estáticos da armazenagem.
IV.2.9 – Cotações Futuras
O principal conjunto de informações que estrutura toda a modelagem é formado
pelas variáveis de cotação Chicago, Paranaguá, Dólar, Porto, Fazenda, Multimodal e
Rodoviário.
A primeira refere-se à cotação da soja em grão na Bolsa de Chicago, em US$/t.
Paranaguá representa a cotação do mesmo produto na mesma unidade para o porto de
referência no Brasil. Dólar mede a taxa de conversão da moeda norte americana para o
Real. Porto mostra a cotação em R$/t para o terminal marítimo de escoamento da região
escolhida. Fazenda traz o preço no local de produção da área selecionada, em moeda
nacional. Multimodal apresenta todo o custo, em R$/t, envolvido no deslocamento
multimodal do produto desde a fazenda até a sua colocação a bordo do navio no porto
de referência para a região. Finalmente Rodoviário, revela o mesmo conceito descrito
em Multimodal, porém para o transporte exclusivamente rodoviário.
70
A cotação da soja na CBOT, é a informação mais básica no processo de
comercialização. Ela influencia diretamente a cotação em Paranaguá e, por decorrência,
em qualquer ponto de venda. Sua representação no modelo apresenta um duplo aspecto.
Um olhar sobre o histórico das cotações Chicago mês a mês reflete um perfil de
variabilidade que pode ser contemplado na figura IV.1, com diferenças de um mês para
outro que pode chegar até a 27%. No entanto, este é o segundo aspecto, quando
observadas as cotações futuras, os preços são mais bem comportados.
Para que se compreenda melhor a diferença na volatilidade do mercado spot
comparada ao mercado futuro, devem ser conhecidos os fatores que influenciam ambos
os casos.
As cotações no mercado de commodities agrícolas são influenciadas
principalmente por fatores de oferta e demanda do produto, clima, sazonalidade e nível
de estoques, no âmbito dos principais agentes que negociam no mercado. A Chicago
Board of Trade caracteriza-se como um mercado de referência mundial para a soja e,
por este motivo, incorpora expectativas de players do mundo inteiro, de forma
71
ponderada. Assim, por exemplo, uma expectativa de seca nas regiões produtoras dos
EUA, durante a fase de desenvolvimento do grão, causando uma quebra de safra de
20%, provocará uma elevação acentuada nos preços, muito maior do que se o mesmo
fenômeno, nas mesmas proporções, fosse noticiado na China, que responde por cerca de
8% da produção mundial, frente a 38% da produção norte americana.
O mercado spot, ou disponível, sofre a influência de todas essas e outras
variáveis compondo um preço de equilíbrio. Este valor tende a modificar-se a cada
momento, de forma dinâmica, na medida em que novas informações de mercado
alimentam o sistema, gerando uma volatilidade como a observada na figura IV.1.
O mercado futuro de produtos perecíveis, naturalmente, sofre as mesmas
influências de expectativas do mercado disponível, além das composições de
sazonalidade e um prêmio de risco associado a posições futuras (DAMODARAN,
2002). Assim, por exemplo, se a cotação da soja em Chicago for US$ 200/t em janeiro,
o preço futuro para maio incorporará um fator de sazonalidade, elevando o preço,
hipoteticamente a US$ 205,00/t, mais um prêmio de risco que determina a cotação para
maio em US$ 208,00/t.
Dado que existe um comprador e um vendedor em contratos futuros, o tamanho
e a direção do prêmio de risco variam caso a caso e dependerá de se o comprador é visto
como provendo um serviço ao vendedor ou vice-versa. Quando se considera que os
produtores são os principais vendedores de contratos futuros e investidores individuais
são os compradores, pode ser argumentado que os últimos estão provendo um serviço
de proteção de preço aos primeiros e, por isso, devem ser recompensados. Neste
cenário, descontadas as outras variáveis de mercado, pode-se afirmar que os preços
futuros serão mais baixos do que o preço spot esperado. Neste tipo de relação entre
preços futuro e disponível, costuma-se dizer que os preços exibem uma “normal
backwardation” (DAMODARAN, 2002).
Nos contratos futuros, onde os compradores são usuários de matérias primas
agrícolas e desejam uma proteção contra o aumento dos preços no futuro, e os
vendedores são investidores individuais, estes provêem um serviço aos compradores e,
por isso, devem ser recompensados, conduzindo a um prêmio de risco que, neste caso, é
72
positivo. Nesta situação, os preços futuros serão maiores do que o preço spot esperado e
diz-se que os preços futuros exibem uma “normal contango” (DAMODARAN, 2002).
Na maioria dos mercados futuros de commodities, nem sempre existe um
desequilíbrio entre vendedores e compradores e, por isso, não existe, a priori, nenhuma
razão para se acreditar que o risco de prêmio deva ser positivo ou negativo. De fato, se
ambos, compradores e vendedores, estão especulando, ao invés de se protegerem contra
riscos de preço de compra e venda, o valor do prêmio tende a ser zero. Nesses casos, os
preços futuros serão iguais aos preços disponíveis esperados (DAMODARAN, 2002).
De acordo com Damodaran (2002), “a evidência empírica sobre os mercados
futuros de commodities é contraditória. Um estudo recente de Houthaker revelou que os
preços futuros de commodities são geralmente menores do que os preços spot esperados,
refletindo uma conformação “normal backwardation”. Telser e Gray, no entanto,
reportaram uma evidência contrária para os mercados de trigo e milho”.
Voltando agora ao ponto de origem dessa discussão, quanto à diferença entre as
cotações spot e futura, foi sugerido que as cotações históricas apresentam uma
volatilidade muito maior do que as que se projetam para o futuro. Ora, isso parece
contraditório frente ao exposto, dado que além das mesmas variáveis que influenciam as
cotações spot, devem ainda ser incorporadas às cotações futuras a sazonalidade e o
prêmio de risco.
No entanto, as cotações futuras, para cada mês, num dado momento, sofrem os
mesmos fatores de expectativa, enquanto nas cotações passadas, cada uma representa
um cenário de mercado diferente, fazendo com que os preços oscilem muito mais.
Para exemplificar essa situação considere o gráfico apresentado na figura IV.2,
extraído do modelo desenvolvido, representando, numa situação hipotética, as cotações
em Chicago e Paranaguá em US$/t e Dólar em R$/US$, para uma posição no tempo no
mês de março. Pode ser evidenciado que do mês inicial de julho até março, a
volatilidade de todas as variáveis é muito maior do que a partir desse mês, quando se
projeta o comportamento do mercado para um mesmo cenário de expectativas.
73
Figura IV.2 – Cotações da Soja em grãos em Chicago e Paranaguá e Cotação do
Dólar em uma situação hipotética
Cotações
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
350,00
400,00
Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
US
$/to
n
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
R$/
US
$
Chicago (US$/t) Paranaguá (US$/t) Dólar (R$/US$)
Este fenômeno vale não apenas para a cotação Chicago, mas para todas as
variáveis consideradas nesta análise.
Finalizando este ponto, deve ser mencionado que, no modelo, para as cotações
futuras da soja em Chicago, não foi considerado o efeito de prêmio de risco sobre os
preços futuros, ou seja, os preços futuros serão iguais aos preços spot esperados,
excetuado o fator de sazonalidade de um mês para outro.
Isto pode ser justificado pela complexidade dessa análise, aliada ao fato de ser
contraditória a evidência de um ou outro efeito, como apontado mais acima.
No modelo, todos os valores de mercado disponível são gerados por um
processo de simulação e os futuros incorporaram apenas tendências de projeção, como
se verá em detalhes no item V.4.4.
No começo desse item, foi dito que um conjunto de sete variáveis estruturam o
processo de modelagem, das quais apenas se argumentou sobre a primeira. As demais
terão uma apresentação muito mais breve,como se verá.
74
A cotação em Paranaguá deriva-se imediatamente da cotação Chicago, de acordo
com um valor de prêmio estabelecido por condições de mercado local. Este valor pode
ser positivo ou negativo, conforme a época do ano, tendendo a ser significativamente
maior na época da entressafra brasileira. Um histórico de valores de prêmio em
Paranaguá pode ser visto na figura 2 dos anexos. A estimação dos valores em
Paranaguá, a partir das cotações Chicago, é estabelecida através de um processo de
regressão múltipla que se verá com detalhes em V.4.4.2.
A cotação do Dólar merece os mesmos comentários desenvolvidos quando se
tratou da cotação Chicago, uma vez que o mercado futuro de câmbio visa proporcionar
aos que nele negociam um serviço de proteção contra variações desfavoráveis futuras,
ou uma oportunidade de ganho especulativo.
Outras variáveis, além do risco de prêmio, também influenciam na diferenciação
de cotação do dólar futuro para a expectativa de seu valor spot, tais como a
possibilidade de arbitragem e o risco país (GARCIA, 1997).
No modelo, por simplificação, não é contemplada a contratação de dólar futuro
como forma de hedge, sendo, por isso, a cotação do dólar futuro idêntica à sua
expectativa de preço spot no futuro. A regra de projeção do valor futuro será
apresentada em V.4.4.3.
A cotação da soja em cada porto de exportação brasileiro sofre influência dos
mercados regionais e da maior ou menor proximidade do mercado importador. Existe
uma tendência de um prêmio ligeiramente maior, quanto mais ao norte for o porto de
embarque, como mostra a figura 3 dos anexos, em virtude da maior proximidade do
hemisfério setentrional, que é muito maior demandante de soja, comparado ao
meridional.
No modelo não é feita qualquer distinção de preço entre os portos de embarque,
por se carecer de um conjunto histórico de dados que viabilize tal análise. Além disso,
as diferenças muito pequenas nas cotações entre um porto e outro justificam esta
simplificação. As variações por conta de particularidades de mercados locais são
contempladas através de uma aleatoriedade simulada, apresentada em V.4.4.4.
75
O valor do produto na fazenda é particularmente influenciado pela distância da
região ao porto de exportação. No modelo, o cálculo da cotação na fazenda é realizado
mediante o desconto do custo do deslocamento rodoviário exclusivo sobre o valor do
produto no porto. Uma perturbação aleatória é introduzida nessa correção do valor na
fazenda, como forma de incorporar especificidades de mercado nas diversas regiões de
cultivo. Esta análise está bem justificada no item V.4.4.5.
A cotação do transporte multimodal e exclusivamente rodoviário incorporam,
além do próprio frete de cada modal que compõe o trajeto fazenda-porto, os custos de
transbordos e terminais, de modo a representar o custo total da transferência do produto
até sua colocação a bordo do navio.
Os valores modelados respeitam a sazonalidade natural observada no mercado,
calculadas sobre um valor básico do custo dos fretes. Incorporam além disso uma
aleatoriedade para configurar particularidades do mercado de fretes em cada ligação.
76
CAPÍTULO V
CONSTRUÇÃO E CALIBRAÇÃO DO MODELO
Depois de apresentada a estrutura conceitual do modelo e definido seu escopo,
este capítulo tratará de detalhar os aspectos da organização, construção e calibração da
ferramenta. Inicialmente será vista a construção do modelo em seus aspectos mais
gerais, com ênfase nas características de programação adotadas. A seguir é analisado
detalhadamente o seu funcionamento. Mais adiante, apresenta-se a sua organização em
forma de módulos e o capítulo é concluído com uma descrição metodológica da
construção e calibração das principais variáveis que estruturam o modelo.
V.1 – ASPECTOS GERAIS DO MODELO
O modelo aqui apresentado, foi desenvolvido através de uma interface em
Microsoft Excel, com a utilização de programação de macros com o Visual Basic for
Applications (VB).
Construído em um ambiente amigável o programa comunica-se com o usuário,
inicialmente, através de uma tela contendo o mapa do Brasil com as principais regiões
produtoras de soja, para que seja escolhida a área de análise, por meio de um clique do
mouse. Feita esta opção, o cenário do modelo migra para uma planilha principal
contendo todas as informações necessárias para que o produtor possa desenvolver, mês
a mês, no horizonte de planejamento, as escolhas que lhe permitam maximizar sua
lucratividade, em função das variáveis de mercado. A inserção de dados realiza-se
exclusivamente através de formulários específicos para cada decisão a ser estabelecida
(máscaras em VB), acessados através de botões de comando. As informações
introduzidas são transferidas para a planilha principal, mediante uma verificação prévia
de consistência.
Todos os botões de comando presentes no modelo, bem como as alternativas
explicitadas no painel Formas de Comercialização (figura V.1), podem ser acionados
77
mediante o clique do mouse ou teclas de atalho. Neste último caso, uma letra sugestiva
sublinhada, identifica o caminho do atalho. O comando correspondente é ativado
mediante o acionamento simultâneo das teclas Alt com a referida letra. Por exemplo,
Alt + P provoca a marcação do item CPR. A tela mostrada na figura V.1 ilustra o
funcionamento dos comandos de acesso.
Figura V.1 – Painel Formas de Comercialização ilustrando o acesso por via de
atalho
Os formulários de comunicação foram construídos de modo a facilitar ao
máximo a inserção de dados, sendo, quando conveniente, inicializados com valores que
contemplam uma situação padrão ou estabelecidos de acordo com uma outra escolha
previamente feita, que condiciona a decisão atual. São exemplos do primeiro caso a pré-
definição de uma distância nula entre a fazenda e o centróide da região escolhida, para
os transportes rodoviário e multimodal, como mostra a figura V.5 e, do segundo caso, a
pré-definição automática da opção modal rodoviária, quando o transporte multimodal
não estiver disponível para um mês previamente escolhido.
Os dados numéricos são fornecidos sempre através de uma barra de rolagem que
modifica o valor apresentado em uma caixa de texto contígua, como ilustra a
informação de Volume na figura V.2. Clicando-se nas setas extremas da barra de
rolagem, os valores da caixa de texto alteram-se em incrementos menores do que
quando se clica no interior da própria barra de rolagem. O cursor que percorre a barra de
um extremo ao outro pode ser arrastado para qualquer posição, porém a precisão de
ajuste que se consegue é pequena.
78
Nunca é permitido o acesso direto à caixa de texto bem como às células da
planilha. Valores a serem selecionados entre um conjunto limitado são acessados
através de uma “caixa combo”, que pode ser vista nesta mesma figura V.2, na seleção
do Local de Entrega.
Figura V.2 – Ilustração da forma de inserção de dados em um formulário
As informações numéricas a serem fornecidas são sempre limitadas a um
intervalo válido de valores, como, por exemplo, um custo de capital entre 0 e 100%, e
respeitam restrições de limites aceitáveis em um intervalo, como, por exemplo, um
índice de produtividade entre 1 500 e 4 000 kg/ha.
Do mesmo modo, as informações fornecidas através de uma “caixa combo”
restringem um limite aceitável de valores, como é o caso, por exemplo, da possibilidade
de escolha de um mês de vencimento de um contrato futuro apenas entre os definidos
pela Bolsa e sempre que posterior ao mês atual de planejamento.
O modelo também avalia criticamente valores que sejam inconsistentes, como,
por exemplo, a venda de um volume maior do que o disponível para um mês futuro,
informando o usuário e reapresentando a tela para reinserção dos valores. Além disso,
antecipa algumas necessidades que se apresentarão no futuro, cuja definição na situação
atual pode ser vantajosa, como a contratação de transporte para uma data futura, em
função de uma venda efetuada no mês atual de planejamento para entrega no porto,
lembrando que a disponibilidade de transporte multimodal, que geralmente é mais
barato, é tanto menor quanto mais próximo dos meses de escoamento da safra. Uma
última característica do modelo que merece comentário são as advertências feitas
quando uma decisão a ser tomada pelo usuário pode não ser a mais adequada para
aquela situação. Isto acontece, por exemplo, ao se passar de um mês para outro, estando
79
o caixa negativo. O modelo avisará que o analista incorrerá em um elevado encargo
financeiro e sugerirá a venda de parte da produção para cobrir esse hiato no caixa.
Todos os formulários de interface apresentam os botões de comando OK e
Cancelar e, em alguns casos, um terceiro botão com o título Refazer. O botão OK
representa a aceitação dos dados fornecidos e dispara o evento de transferências dos
valores inseridos na máscara para a planilha de trabalho, fazendo com que desapareça a
referida máscara. O botão Cancelar redefine os valores originais, quando uma tela de
escolha é obrigatória, fazendo com que esta permaneça ativa na área de trabalho até que
se clique em OK, ou então, quando o formulário não constitui uma obrigação de
preenchimento, funciona como uma desistência, mantendo intacta a planilha de trabalho
e desaparecendo com a máscara após o clique do mouse. O terceiro botão mencionado
permite ao usuário redefinir escolhas prévias dentro de um mesmo mês de trabalho.
Apenas as máscaras “Contratação de Transportes” e “Formas de Comercialização”
apresentam a opção Refazer. Seu acionamento faz com que todos os transportes ou
formas comerciais, conforme o caso, contratados dentro do mês atual de planejamento,
sejam desfeitos e restaurados os valores vazios originais para cada mês.
Todas essas características apontadas contribuem para a robustez do modelo e
configuram um ambiente de trabalho bastante amigável e de fácil entendimento do
processo seqüenciado de decisões.
Quanto ao ambiente de planejamento, este abrange uma extensão de 18 meses,
começando em julho e terminando em dezembro do ano seguinte. Na planilha, os meses
são apresentados na forma abreviada (Jan, Fev, etc) e associados a um número de 1 a
18, de acordo com sua seqüência no tempo, para que não haja confusão, já que existem
dois meses com a mesma grafia entre Jul e Dez. O mês atual de planejamento é
destacado na cor vermelha, como ilustra a figura V.7. Durante o texto, a partir desse
momento, cada mês será tratado também na forma abreviada, acompanhado à direita de
um número entre parênteses, indicando sua seqüência no planejamento, como por
exemplo, Jan (7).
Todas as decisões são realizadas mediante o acionamento de 4 botões
posicionados na parte superior esquerda da tela de trabalho, que permanecem sempre
80
visíveis ao analista. Através do primeiro deles, o usuário passa ao mês seguinte do
horizonte de planejamento. O segundo botão permite obter uma visualização gráfica das
informações que condicionam seu conjunto de decisões. Acionando o terceiro botão, o
analista acessa os mecanismos financeiros para venda. O último botão conduz a um
formulário para contratação de transportes para entrega do produto no porto.
V.2 – DESCRIÇÃO DO FUNCIONAMENTO DO MODELO
Neste item será apresentada, de forma detalhada, cada uma das interfaces de
comunicação com o usuário, descrevendo-se seus elementos mais importantes,
explicando-se o papel das variáveis, como estas se relacionam com outras variáveis do
modelo, as características de programação observadas na construção e as hipóteses
adotadas nesse procedimento, respeitando-se um seqüenciamento natural no processo de
planejamento. Não será visto neste tópico V.2 o modo como foram concebidas as
variáveis, ou como elas funcionam, bem como o processo de calibração, coisa que se
fará no item V.4.
As variáveis são apresentadas com a primeira letra em maiúscula, tal como
aparecem nas telas de comunicação, para facilitar o entendimento quando a elas se
refere o texto, como, por exemplo, Local de Entrega, para se referir à variável cuja
função é definir o local de entrega do produto vendido.
A ordem natural de apresentação das telas de comunicação obedece, de maneira
geral, como se verá, a um grau crescente de complexidade, de modo que as posteriores
incorporam algumas informações já utilizadas e descritas nas anteriores, embora sejam
específicas para cada caso. Por exemplo, o Volume a ser inserido na tela CPR (figura
V.16) coincide com a informação de Volume requisitado na CPRF (figura V.19),
embora seja específico para cada caso. Deste modo, na medida em que forem
apresentadas as novas telas, as características já analisadas nas máscaras anteriores
serão omitidas.
Por ser este um tópico extenso, procurou-se itemizar os componentes,
agrupando-os pelas interfaces de comunicação com o usuário.
81
V.2.1 – Regiões Produtoras de Soja
Ao carregar o programa, o usuário é remetido automaticamente a uma tela
contendo o mapa do Brasil (figura V.3) com o título “Regiões Produtoras de Soja”, onde
escolherá a área que pretende analisar. Cada região produtora é delimitada por um
círculo contendo em seu interior o nome do centróide dessa área, que se caracteriza
como um ponto de referência logística para o escoamento da produção. Os centróides
estão grafados em cores diferentes de acordo com o estado em que se encontra cada
região. Assim, por exemplo, as regiões de Goiânia e Rio Verde aparecem na mesma cor
verde claro por pertencerem ao estado de Goiás.
Figura V.3 – Mapa do Brasil com todas as regiões produtoras de soja
contempladas pelo modelo e rede logística para exportação
82
Uma visão geral sobre essa primeira tela de comunicação com o usuário revela a
presença de uma janela que enquadra perfeitamente o mapa a ser analisado e uma barra
de ferramentas na parte inferior, que contém um único comando, permitindo ao usuário
sair do ambiente de planejamento, fechando a pasta de trabalho. O mesmo efeito é
produzido ao se clicar no botão em forma de X na parte superior direita da planilha. A
barra de ferramentas apresenta também uma área de ajuda, no entanto essa função não
foi implementada no modelo.
Clicando sobre uma região produtora, o sistema migra para a planilha principal
de trabalho, mostrada na figura V.7, transfere para ela o nome do centróide da região
escolhida e particulariza a interface, carregando as informações que são específicas da
área selecionada. Tais valores compreendem as cotações no porto e na fazenda; custos
do deslocamento rodoviário e multimodal para transferência da soja desde o centróide
até o porto para exportação e custos de produção.
Tão logo o programa ativa a planilha principal aparecerão, seqüencialmente, 3
telas de diálogo solicitando os dados estáticos do planejamento.
V.2.2 – Informações Iniciais
A primeira tela, intitulada “Informações Iniciais”, é mostrada na figura V.4 e
solicita ao usuário as informações do volume total produzido na safra, a Área total
Cultivada e os Custos de Capital, que podem ser de 3 tipos: custo de Oportunidade,
Desconto e Empréstimo.
O Volume total de Produção é fornecido em toneladas e o sistema
automaticamente apresenta o valor equivalente em número de sacas de 60 kg, que é a
unidade padrão de embalagem da soja. A Área Cultivada é fornecida em hectares (ha),
que corresponde à dimensão de 10 mil m2. Existe uma amarração entre essas duas
variáveis através de uma produtividade padrão de 2 500 kg/ha. Ao se definir, por
exemplo, uma produção de 10 000 t, a área de produção será automaticamente
preenchida com 4 000 ha e vice-versa. Entretanto, essa amarração não é rígida, havendo
83
um grau de liberdade para as duas variáveis dentro do limite de produtividade entre
1 500 e 4 000 kg/ha, que delimitam valores realísticos.
Figura V.4 – Tela para inserção das Informações Iniciais para o planejamento
Os Custos de Capital, medidos em % ao ano, representam uma taxa de juros
anual de remuneração do dinheiro. A taxa de Oportunidade é definida como a
remuneração básica que o produtor pode obter no mercado e utilizada para atualizar os
valores de caixa, quando o sistema passa de um mês de planejamento para outro, e
também como deságio na contratação de transportes antecipadamente por parte do
produtor. Assim, por exemplo, se o produtor tiver em caixa R$ 1 000 e a taxa de juros
for definida como sendo 20% ao ano, o que equivale a 1,53% ao mês, ao passar de Jul
(1) para o mês seguinte, o sistema corrige o caixa para R$ 1 000 x 1,0153, ou R$
1 015,30. Do mesmo modo, ao contratar em Jul (1) um transporte para Jan (7), no valor
de R$ 100/t, o decisor pagará, no mês 1, R$ 100/(1+1,53%)6, ou R$ 91,29/t, que
equivale ao deságio de seis meses para o custo de R$ 100.
A taxa de Desconto mede a remuneração de capital a que o produtor está sujeito
ao contratar um mecanismo de antecipação de receitas para custear a safra. Esta taxa
funciona como um deságio nesse processo, tal como exemplificado no caso da
contratação de transportes. A diferença é que, ao antecipar receitas para custeio, o
produtor recebe com deságio, enquanto, ao contratar transporte, ele paga com deságio.
De maneira geral, essa taxa é superior ao custo de Oportunidade do produtor, daí que
ele deve ser cauteloso ao adquirir uma CPR, limitando ao mínimo o dinheiro a ser
antecipado para o custeio, sob pena de estar pagando um valor mais caro por um recurso
excedente, de que ele não necessita de antemão.
84
A taxa de Empréstimo funciona como um ônus de ágio a ser cobrado do
produtor, caso ele fique com o caixa negativo. Funciona de forma equivalente à tomada
de empréstimo em um agente financeiro. Naturalmente esta taxa tende a ser ainda mais
elevada que as outras duas. Ela é utilizada no modelo apenas para corrigir o caixa ao se
passar de um mês a outro do planejamento, na situação do caixa ficar negativo.
Existe uma amarração entre esses 3 valores de Custo de Capital, que condiciona
a que a taxa de Empréstimo deve ser maior ou igual à taxa de Desconto, que deve ser
maior ou igual à taxa de Oportunidade.
O formulário que contém todas essas informações é apresentado com valores
previamente preenchidos, de modo a facilitar o trabalho do usuário. Para esta interface,
os valores default, são de 10 000 t para o Volume de Produção, 4 000 ha para a Área de
Plantio e, para o Custo de Capital, são sugeridos os valores de 20%, 30% e 50% ao ano,
respectivamente para as taxas de Oportunidade, Desconto e Empréstimo.
Ao clicar no botão de comando OK, todos os dados introduzidos nessa máscara
em VB são transferidos para a planilha de trabalho.
V.2.3 – Distâncias e Cotações Iniciais
A segunda tela de informações estáticas para configurar o ambiente de
planejamento, solicita as informações das Distâncias, em quilômetros, da Fazenda ou
ponto de armazenagem local, até o Centróide da Região, tanto para o caso do transporte
Exclusivamente Rodoviário como o Multimodal, e também as Cotações para o mês
Inicial de planejamento (julho) da soja na CBOT, em US$/t, e a taxa de câmbio, em
R$/US$. O layout dessa interface é apresentado na figura V.5.
O primeiro grupo de informações é solicitado para se fazer um ajuste fino no
cálculo do frete desde o ponto de origem até o porto de exportação. A origem da carga
pode ser tanto a fazenda, onde a soja é colhida, como um local onde ela é armazenada.
Caso o grão seja transferido para um armazém próximo da fazenda, antes de ser
comercializado, o custo desse deslocamento é contabilizado como custo de produção.
85
Figura V.5 – Tela para inserção de Distâncias e Cotações Iniciais
O centróide da região caracteriza-se como um ponto de referência logística para
a área, ou seja, um ponto a partir do qual é contabilizada a distância de transporte desde
a região considerada, até o porto de exportação que apresenta menor custo de transporte
para aquela área. Para cada uma das modalidades disponíveis no modelo (rodoviário
exclusivo e multimodal) a distância do ponto de origem da carga até o centróide pode
ser diferente. Eventualmente, uma fazenda pode estar à margem da rodovia que conduz
ao porto de referência e distante de um terminal ferroviário que atende à região. Nesse
sentido entende-se que devam ser diferentes as distâncias para os dois casos.
Quando o ponto de origem da carga encontra-se mais próximo do porto de
referência do que o centróide, para o transporte exclusivamente rodoviário, haveria uma
distância negativa e, portanto, uma economia com relação ao frete de referência. Nesta
situação, tal economia é desconsiderada, e adota-se como origem da carga o centróide
da região. Tanto é assim que a caixa de diálogo que recebe tal variável não comporta
valores negativos. Esta simplificação não prejudica a validação do modelo, já que os
fretes cobrados desde uma mesma região para grandes distâncias são equivalentes.
No caso da distância ser positiva, indiferentemente do modal a ser adotado na
longa distância, haveria uma “perna” rodoviária desde o ponto de origem até o centróide
de referência e, como ocorre nesses casos, a distância é curta e, muitas vezes, percorrida
em estradas vicinais. Desse modo o frete costuma ser proporcionalmente mais caro do
que o transporte rodoviário para longas distâncias. Nesta situação, para o cálculo do
valor adicional do frete, adota-se um “momento de transporte”, que equivale a um custo
medido em R$ / t x Km, uniforme para qualquer região sob análise. Embora, como dito,
86
a tal “perna” rodoviária costume ser curta, o modelo permite um limite de distância,
desde a origem da carga até o centróide de referência, de até 500 Km.
O segundo grupo de informações desse formulário, refere-se às Cotações Iniciais
da soja em grãos na Bolsa de Chicago e da taxa de conversão do Real para o Dólar.
A cotação em Chicago determina todos os demais valores de cotação, seja em
Paranaguá, que é o porto de referência brasileiro, ou qualquer outro porto nacional, bem
como os valores recebidos pelo produtor para a venda na fazenda, em qualquer região
brasileira, conforme apresentado em IV.2.9. A forma de obtenção das cotações para os
demais meses é apresentada no item V.4.4.1.
A Cotação Inicial do Dólar determina o patamar da base de previsão para os
demais meses e o processo de estimação futura é apresentado no item V.4.4.3.
Os limites de variabilidade da cotação CBOT e Câmbio são, respectivamente,
entre 0 e 500 US$/t e 0 e 10 R$/US$.
Os valores pré-definidos para as Distâncias da Fazenda ao Centróide da Região
são nulos para os dois modais considerados e de US$ 220,75/t para a cotação Chicago e
R$ 2,85/US$ para o Câmbio.
Após clicar no botão OK, as informações inseridas no formulário são
transferidas para a planilha. Cabe observar que, caso sejam alteradas as Distâncias da
Fazenda ao Centróide, os valores de fretes originais são recalculados na planilha,
assumindo valores mais elevados.
V.2.4 – Área Plantada e Volume Colhido
O último dos três formulários que recebem as informações estáticas do
planejamento surge automaticamente depois do usuário clicar em OK na tela anterior e
solicita a Área Plantada e o Volume Colhido em cada um dos meses de planejamento. A
figura V.6 ilustra a tela a que se faz referência.
87
Figura V.6 – Tela para inserção da Área Plantada e Volume Colhido
A Área Plantada é fornecida como um valor percentual para cada mês, sobre a
área total a ser cultivada. Os meses disponíveis (Setembro a Janeiro) contemplam uma
possibilidade realista para o período de semeadura nas regiões contempladas pelo
modelo, como apresentado no item III.3.
Considera-se no modelo uma produtividade uniforme, independentemente da
época plantada ou do tipo de semente utilizada, embora haja uma ligeira diferenciação
de rendimento de acordo com época de plantio e o tipo de semente que melhor se adapta
a cada época, como explicado em III.3.
Do mesmo modo o Volume Colhido é estimado como um valor percentual para
cada mês sobre o total a ser produzido. Igualmente também se respeita o critério de
realismo quanto aos meses disponíveis para colheita (Janeiro a Maio).
A máscara é inicializada com valores default para a Área Plantada, e Volume
Colhido, como indica a figura V.6.
O sistema de inserção de dados corrige-se automaticamente de forma que a soma
total dos valores, tanto no primeiro caso quanto no segundo, permaneça sempre em
100%. O processo de correção foi concebido em um sistema carrossel, onde o último
mês conecta-se com o primeiro. Assim, a alteração em um dos meses da seqüência,
transfere a correção para o seguinte e do último para o primeiro. Dessa maneira, por
exemplo, ao se aumentar em 1% o valor de Setembro para a Área Plantada, o sistema
automaticamente subtrai do mês seguinte 1%. O mesmo, em sentido inverso, ocorreria
caso se diminuísse em 1% o valor de Setembro, acarretando um aumento de 1% em
Outubro. Como em nenhum mês pode haver valor negativo, caso se aumente o valor de
88
Dezembro da área colhida em 1%, estando Janeiro e Setembro zerados, haverá
diminuição de 1% no mês de Outubro.
Por hipótese, não existe nenhuma perda no volume desde quando se planta até a
entrega do produto vendido.
Ao acionar o botão OK, as informações sobre Área Plantada e Volume Colhido
são transferidas para a planilha e o modelo está preparado para que o processo de
comercialização da safra de soja possa ser iniciado.
V.2.5 – Ambiente de Planejamento
Nesse instante, a planilha principal de trabalho apresenta o aspecto mostrado na
figura V.7. O ambiente de planejamento ali revelado, subdivide-se em onze áreas de
informações que são apresentadas na seqüência do texto.
Uma visão geral da área de trabalho revela que as áreas de informação estão
separadas por linhas na cor cinza e as barras de rolagem permitem o acesso a todo o
conteúdo da planilha. Da mesma forma como apresentado em V.2.1, uma barra de
ferramentas na parte inferior permite ao usuário sair do ambiente de planejamento
fechando a pasta de trabalho.
Uma característica que confere praticidade ao se deslocar pelo ambiente de
planejamento é o congelamento de painel (um recurso do Excel) na célula B11. Esta
característica permite que fique sempre visível a área compreendida acima da linha 11 e
à esquerda da coluna B, ou seja, as Informações Estáticas, a indicação dos meses de
planejamento e os nomes das variáveis.
89
Figura V.7 – Tela mostrando o Ambiente de Planejamento
90
Figura V.7 (continuação) – Tela mostrando o Ambiente de Planejamento
91
V.2.5.1 – Informações Estáticas
A primeira área de informações, presente na parte superior da planilha,
denomina-se Informações Estáticas, não por serem inalteráveis ao longo da elaboração
da estratégia de comercialização, mas por não estarem vinculadas aos 18 meses de
planejamento. Este grupo de informações apresenta, inicialmente, o título do trabalho na
primeira linha da planilha: “ESTRATÉGIA DE COMERCIALIZAÇÃO DE UMA
SAFRA DE SOJA”, na cor amarelo ouro. Do lado esquerdo aparecem 4 botões de
comando, já apresentados no item V.1, que acionam todos os eventos que realizam o
planejamento.
Logo à direita dos botões, na parte superior, aparece uma pequena moldura que
enquadra o nome da região produtora em vermelho. Abaixo desse quadro, são
mostrados o Volume de Produção em toneladas, a Área Cultivada em hectares e o
Capital de Giro Inicial, em Reais, para cobrir os primeiros gastos de produção e
comercialização.
Mais à direita, na parte de cima, aparece o Mês Atual de planejamento. O
número, como já explicado em V.2, indica a ordem entre os 18 meses possíveis e a
abreviatura especifica o mês em questão. Abaixo dessa informação apresenta-se o valor
do dinheiro em Caixa em duas situações: Inicial e Atualizada. O primeiro valor traz o
Capital de Giro para o primeiro mês de planejamento ou o dinheiro corrigido ao se
passar de um mês a outro. O segundo corrige o valor inicial, adicionando ou subtraindo
o dinheiro em Caixa para o mês corrente, cuja composição será vista em V.2.5.10. Este
segundo número é o que, efetivamente, estabelece o valor real acumulado em caixa no
Mês Atual.
O quarto grupo de informações estáticas é composto pelas Taxas de Capital
medidos nas formas de custo de Oportunidade, de Desconto e Empréstimo, conforme já
explicado em V.2.2, e apresentados na forma de % ao ano e ao mês.
Logo à direita aparecem as Distâncias do ponto de armazenagem ao Centróide
da Região, tanto para o transporte Exclusivamente Rodoviário como para o Multimodal,
que também já foram explicados em V.2.3.
92
Por último aparece um Painel de Lucratividade até o mês corrente. O quadro
apresenta a informação de Receita total acumulada; do Lucro acumulado, calculado pela
diferença entre receitas e custos e a Lucratividade, medida pela relação entre Lucro e
Receita acumulada. Quando o Lucro é negativo em um determinado mês, a relação de
Lucratividade aparece com não disponível (N/D).
Logo abaixo desse primeiro grupo de informações aparece a seqüência dos 18
meses de planejamento destacados na cor amarelo claro. Todas as informações
subseqüentes aparecem na forma ve torial7 para todo o horizonte de planejamento.
V.2.5.2 – Informações sobre os Volumes
O segundo bloco de informações, intitulado “VOLUMES”, refere-se à Área
Plantada e Volume Colhido, medidos ambos em % sobre o total produzido, e Volume
Total, em toneladas, que corresponde, a cada mês, ao volume percentual multiplicado
pelo volume total absoluto em toneladas de produção.
V.2.5.3 – Informações sobre Cotações
O terceiro grupo apresenta as cotações mensais da soja em grãos em Chicago e
Paranaguá, ambos medidos em US$/t; a taxa de câmbio; a cotação no Porto de
referência para a região e na Fazenda, em R$/t e os valores de fretes Multimodal e
exclusivamente Rodoviário, em R$/t, para deslocar o produto da fazenda ao porto
considerado.
V.2.5.4 – Informações sobre Formas Comerciais
Este bloco de informações apresenta os valores comprometidos, na forma de
percentagem sobre o total produzido, em cada uma das seis formas comerciais possíveis
93
de se contratar. Todas elas, exceto a venda spot, são contraídas em uma data prévia a
sua expiração, daí a necessidade da informação sobre o mês de liquidação, já que essas
duas datas afetam o fluxo de caixa, essencial na condução do planejamento.
As duas últimas linhas desse bloco de informações revelam, respectivamente, o
Volume disponível para a Venda CPR e Spot. Esses dados são importantes na avaliação
sobre a possibilidade ou não da contratação de cada uma dessas formas, para que a
modelagem seja consistente. A forma de construção desses vetores são apresentadas na
parte metodológica presente no item V.4.5.
V.2.5.5 – Informações sobre Localidades de Venda
O quinto bloco de informações reporta os valores vendidos respectivamente na
Fazenda e no Porto, como percentual do volume total disponível. Além dessas duas
linhas, outras quatro compõem a condição de travamento para consistência das
informações. São elas, as vendas na Fazenda, no Porto e Total Acumuladas, e o Volume
Disponível para a Venda na Fazenda. A construção desses vetores é apresentada no item
V.4.6.
V.2.5.6 – Informações sobre Transportes
O sexto grupo de informações recebe o nome de “TRANSPORTES”. O primeiro
vetor apresenta a Disponibilidade de transporte Multimodal para cada um dos meses
futuros, quando é possível efetuar o deslocamento da safra atual para o porto, ou seja, a
partir de Jan (7). Observe que a disponibilidade refere-se à contratação no mês atual
para transporte em data futura. A informação é binária, do tipo Sim ou Não. Para
facilidade de visualização, quando disponível o transporte Multimodal em uma data
futura, o Sim é grafado em verde e o Não em vermelho.
7 Um vetor de informações corresponde a um conjunto seqüenciado de valores de uma variável. Um exemplo disso, aplicado ao modelo que está sendo apresentado, seria o conjunto de cotações da soja na Bolsa de Chicago, em US$/t, para os 18 meses de planejamento.
94
O segundo e terceiro vetores de informações reportam, respectivamente, os
Volumes Multimodal e Rodoviário contratados, medidos como porcentagem do volume
total produzido.
As duas últimas linhas desse grupo apresentam, respectivamente, o Volume
Contratado Acumulado, para os dois modos, e o Volume Disponível para Transporte,
ambas medidas também na forma percentual. Essas informações auxiliam a construção
da consistência do modelo e seus procedimentos são descritos em V.4.7.
V.2.5.7 – Informações sobre Armazenagem
O sétimo bloco de informações intitula-se “ARMAZENAGEM” e apresenta
apenas três variáveis: Volume Colhido Acumulado; Volume Armazenado, ambos em
porcentagem sobre o total produzido; e Custo Unitário de Armazenagem, em R$/t. O
segundo vetor modifica-se na medida em que são efetuadas entregas de produtos
vendidos (liquidação de CPR e venda spot) e não quando vendidos.
O Custo Unitário de Armazenagem assume, por hipótese no modelo, um valor
único para todos os meses e regiões de produção.
V.2.5.8 – Informações sobre Fluxos Contratuais
Este bloco registra os fluxos financeiros decorrentes da contratação de qualquer forma
comercial, excetuados os eventuais custos contratuais, margens e prêmios, que
aparecerão no próximo grupo de informações (V.2.5.9).
Apenas quatro vetores compõem este bloco. Todas as formas de CPR foram
agrupadas em uma única variável, denominada CPR’s; contratos de derivativos
agrícolas aparecem como Futuro e Opção e, isoladamente, vem a venda Spot. O último
vetor apenas sumariza o resultado dos outros três. Aqui cabe lembrar que um contrato
do tipo CPR Financeira com Seguro de Preços apareceria tanto no vetor CPR’s quanto
em Futuro e Opção, por se tratar de uma forma mista.
95
Para ilustração do preenchimento dos Fluxos Contratuais, pode-se imaginar a
emissão de uma CPRF no mês de Ago (2), para vencimento em Mar (9), a um preço de
R$ 600,00/t, para um volume de 100 t. Supondo-se uma taxa de deságio de 30% a.a. ou
2,21% a.m., ter-se-ia, para Ago (2), um valor de 100 x 600 / (1+2,21%)7, que é igual a
R$ 51 486,99. Para Mar (9), o valor negativo de R$ 100 x 600 = R$ 60 000,00; já que se
trata de um valor devido.
A formatação condicional respeitada neste bloco de informações permite
visualizar os fluxos positivos em azul e os negativos em vermelho.
V.2.5.9 – Informações sobre Custos
Este grupo de informações é composto por seis variáveis, todas grafadas na cor
vermelha por representarem desembolsos. A primeira registra os custos de Produção,
que abrange um período completo de 1 ano, desde Jul (1) até Jun (12). Os custos de
Produção dos meses posteriores devem ser contabilizados para a nova safra, daí o
motivo de não aparecerem na planilha. Seus valores são variáveis de acordo com o
fluxo de desembolso para custeio, a ser apresentado em V.4.10.1.
A segunda variável, Armazenagem, registra os custos de ocupação de espaço da
soja em armazém. Equivale a um custo de aluguel mensal devido pelo produtor para
manter estocado um volume do seu produto. Embora os custos futuros de Armazenagem
estejam apresentados na planilha, não significa que sejam valores devidos pelo
produtor. Estes apenas serão absorvidos ao Caixa a partir do momento em que o Mês de
planejamento Atual coincidir com o mês em que haja custo de armazenagem a
incorporar, sofrendo, até esta data, modificações decorrentes do volume comercializado.
Assim, por exemplo, se para o mês de Fev (8) houver um custo projetado de
Armazenagem de R$ 1 000 e, no Mês Atual, por hipótese, Ago (2), ocorrer uma venda
CPR, para aquele mês, reduzindo o valor projetado a R$ 500, este novo valor aparecerá
na planilha e, apenas será incorporado ao caixa a partir de Fev (8), pois até este mês,
incluído, poderá sofrer alterações.
96
O terceiro vetor, Estoque, mede o custo de oportunidade de manter armazenado
algum volume do produto. Este valor representa um custo financeiro que poderia ser
auferido na passagem de um mês para o outro, caso o volume armazenado fosse
totalmente vendido naquela data. Da mesma forma como exemplificado para o vetor
Armazenagem, a variável Estoque também é apresentada na planilha com os valores
subseqüentes de planejamento estimados.
A quarta variável denomina-se Transportes e mede os custos de contratação de
transportes ao longo dos meses de planejamento. Esta variável embute não apenas o
valor do frete no percurso desde o centróide da região até o porto, mas também os
custos de terminais portuários, transbordos e os eventuais deslocamento da fazenda até
o centróide.
Os Custos Contratuais são medidos pela quinta variável do conjunto, que
estabelece os desembolsos devidos pelo fechamento de qualquer contrato negociado
entre comprador e vendedor, tais como corretagens, registros e emolumentos pagos à
Bolsa, custos de aval em cédulas CPR e também margens de garantia, que podem,
eventualmente, ser resgatadas no final do período.
Finalmente, Custo Total sumariza os outros cinco vetores de custos.
V.2.5.10 – Informações sobre o Caixa
O vetor Caixa, medido em R$, contabiliza todos os fluxos financeiros a cada
mês, sendo composto pelos Fluxos Contratuais e variáveis de Custos.
Para os meses anteriores ao Mês Atual de planejamento, os valores registrados
são aqueles efetivamente incorporados ao Caixa. Os meses atual e futuros compõem
informações projetadas, como já explicado em V.2.5. 9, que podem sofrer modificações
na medida em que novas vendas são efetivadas. O vetor Caixa apresenta uma
formatação condicional que permite visualizar fluxos positivos em azul e negativos em
vermelho.
97
V.2.5.11 – Informações sobre os Contratos
A última área de informações da planilha principal de trabalho é organizada com
um aspecto diferente do formato vetorial respeitado pelas variáveis apresentadas desde
o item V.2.5.2 até V.2.5.10. Neste bloco, cada novo contrato comercial efetivado, é
representado seqüencialmente, da esquerda para a direita, revelando detalhadamente os
valores das variáveis estabelecidas no contrato. Nem todas as informações presentes na
primeira coluna da planilha (as variáveis) servem para todas as formas comerciais.
Assim, para cada contrato, são preenchidas apenas as variáveis pertinentes.
A primeira linha mostra o número do Contrato, respeitando a seqüência
temporal. Existe um limite de até 18 contratos a serem estabelecidos durante o processo
de comercialização. A seguir vem o Tipo de contrato, tais como CPR, Futuro e outros.
A terceira linha mostra o Mês em que foi efetivada a contratação. A seguir vem o mês
de Vencimento, tanto na forma descritiva (Jan, Fev etc.) como numérica (7, 8 etc.). A
próxima informação apresenta o Local de Entrega do produto, quando se aplica. Depois,
apresenta-se o Volume comprometido no contrato, tanto na forma de percentual sobre o
volume produzido como na quantidade em toneladas. A seguir vem o Preço Unitário de
Contratação, que representa o valor pelo qual foi vendido o produto. Logo abaixo segue
o Valor do Negócio, que nada mais é do que o volume comprometido, multiplicado pelo
preço unitário. O Custo Contratual é expresso na linha seguinte, sem discriminar sua
composição. Mais abaixo vem a Cotação do Dólar para o mês de vencimento do
contrato.
A seguir surgem algumas informações que se aplicam apenas aos derivativos. A
primeira delas é o Número de Contratos negociados. O Preço de Referência, que vem
logo abaixo, serve apenas para o contrato futuro e estabelece o valor unitário de
referência para comparação na liquidação do contrato. Caso o Valor Futuro Atualizado,
que aparece na próxima linha, for maior do que o valor de Referência na data de
liquidação, o portador do contrato deverá pagar a diferença à Bolsa, do contrário,
receberá a diferença. O Preço de Exercício, mostrado na linha seguinte, é utilizado para
os contratos de opção e serve como um preço de referência a ser comparado com o
Valor Futuro Atualizado. Como se sabe, nessa forma de contrato, o preço de exercício é
estipulado pelo adquirente do contrato, proporcionalmente ao Prêmio pago, que é
98
mostrado duas linhas mais abaixo. A Margem de Garantia, mostrada entre Preço de
Exercício e Prêmio, representa um valor a ser depositado na Bolsa pelo vendedor de um
contrato futuro. Serve para cobrir eventuais perdas com a valorização do produto no
mercado físico. Este valor é contabilizado como saldo positivo no acerto final de contas,
ou seja, o que foi pago ao se fecha r o contrato é restituído no saldo credor ou devedor
no vencimento do contrato. As duas últimas linhas desse bloco de informações, servem
como auxiliares para o cálculo do valor a ser pago ou recebido nos contratos de
derivativos agrícolas.
Abaixo desses onze blocos de informações aparece uma linha preenchida na cor
preta, contendo uma indicação em letras na cor branca, dizendo que abaixo segue um
“Espaço reservado para cálculos auxiliares”.
Feita esta detalhada apresentação da planilha principal de trabalho, pode-se
passar agora ao conhecimento das telas que dão seqüência ao processo de planejamento
e são acessadas através dos botões de comando, presentes no canto superior esquerdo da
referida planilha, e que podem ser vistos na figura V.7.
V.2.6 – Botão Próximo Mês
O primeiro botão, denominado Próximo Mês, na verdade, não aciona o
surgimento de nenhuma nova tela de diálogo. Ele, inicialmente, verifica a consistência
dos dados e, se necessário, solicita o fornecimento de informações adicionais para a
complementação do trabalho no Mês Atual. A seguir, o sistema atualiza algumas
informações na planilha, preparando o ambiente de planejamento para os próximos
meses.
Uma primeira verificação efetuada refere-se à possibilidade de haver sido
contratado transporte para o corrente mês, para um volume de carga superior ao até
então vendido. Neste caso, haverá um aviso, ilustrado na figura V.8, alertando o usuário
para o fato, o que lhe permitirá completar a venda, antes de passar adiante. Caso ele
recuse a venda, o dinheiro antecipado na contratação do transporte será perdido.
99
Figura V.8 – Tela de aviso alertando sobre a contratação de transporte sem uma
correspondente venda no porto para a data
A verificação contrária também é estabelecida, isto é, se a venda efetivada para
entrega no porto não corresponder ao volume para transporte contratado até a presente
data, o sistema avisará do fato e obriga rá, neste caso, o usuário a contratar o transporte
complementar para levar a carga, como mostra a figura V.9.
Figura V.9 – Tela de aviso alertando sobre a venda de parte da produção para
entrega no porto sem contratação de transporte para a data
A seguir é feita uma verificação do dinheiro em Caixa disponível. Caso este
valor seja negativo, haverá uma informação alertando o usuário de que o Custo de
Capital a ser pago é elevado e lhe permitirá complementar a venda para restituir um
saldo positivo, antes de passar ao próximo mês, como mostra a figura V.10.
Figura V.10 – Tela de aviso alertando sobre o saldo negativo em caixa
O próximo passo, depois de verificadas as informações, é atualizar a planilha
para o mês seguinte e os subseqüentes. Uma primeira evidência da atualização pode ser
constatada na mudança do Mês Atual de planejamento mostrado em uma moldura
100
presente na parte superior da planilha e na barra de indicação dos meses, onde o Mês
Atual é mostrado na cor vermelha. Também o valor em Caixa é corrigido, atualizado
pelo custo de Oportunidade ou pela taxa de Desconto, caso o valor em caixa tenha
virado o mês negativo. De igual modo, o Quadro de Lucratividade, presente na mesma
área superior da planilha tem suas informações alteradas.
Entre as principais atualizações efetuadas na passagem de um mês ao outro do
planejamento estão os valores de cotações para os meses futuros, isto é, todos os vetores
de variáveis presentes no bloco Cotações (Item V.2.5.3). As outras informações,
dependentes das cotações, naturalmente, também sofrem alterações. Tais são os casos
de todos os itens de custos pré-estabelecidos na planilha, como o valor unitário e
absoluto de Armazenagem, custo financeiro de manter Estoque e custo de Produção.
Caso tenha-se atingido o mês 18 do planejamento, o Botão “Próximo Mês”
muda sua inscrição para “Concluir” e, depois de acionado, corrige o valor de Caixa para
o final daquele mês e mostra um aviso de que o trabalho foi encerrado com sucesso,
como ilustrado na figura V.11. Ao se clicar em OK, o botão, antes com a inscrição
“Concluir”, muda novamente para “Reiniciar”. Ao se clicar em Reiniciar, o sistema
volta ao mapa que dá origem ao processo de planejamento.
Figura V.11 – Tela indicando o final da etapa de planejamento
V.2.7 – Botão Analisar Gráfico
A escolha da análise gráfica remete o planejador a uma região, dentro da mesma
planilha, contendo um Gráfico de Cotações, um Quadro de Tendências e a reprodução
de uma parte do Painel de Informações Estáticas analisados em V.2.5.1. A figura V.12
ilustra a região acessada pelo botão Analisar Gráfico.
101
Figura V.12 – Informações acessadas através do botão Analisar Gráfico
O gráfico traz as cotações da soja, em R$/t, no Porto e na Fazenda, como
definidas em IV.2.9, e os valores dos custos Multimodal e exclusivamente Rodoviário
para se deslocar o produto desde a fazenda até o porto de embarque.
O Painel de Tendências das cotações futuras revela uma expectativa de como se
comportará cada variável apresentada no quadro, quanto ao seu valor no curto prazo
(mês seguinte) e no último mês do planejamento, comparado ao mês atual. A seta para
cima indica sinal de crescimento e para baixo, uma queda na cotação. Para as quatro
primeiras variáveis, a seta em ascensão, apresentada em verde, indica um valor
favorável para o produtor. A seta para baixo é representada em vermelho, indicando ser
desfavorável. As duas últimas cotações, representando os fretes, revelam
comportamento diferente quanto à expectativa do analista. Um valor de crescimento
102
indica um sinal desfavorável, enquanto um descendente, sinaliza favoravelmente ao
analista. Por esse caráter, as cores utilizadas são diferenciadas, sendo roxa, quando
apontarem para cima e azul, quando para baixo.
O quadro que vem à direita do Painel de Tendências apresenta algumas
informações úteis durante a decisão do usuário. A Região Produtora e o Mês Atual,
servem como referência de ancoragem para o analista. O valor em Caixa, sinaliza,
especialmente quando negativo, o montante de volume a ser comprometido para se
chegar a um equilíbrio nas contas com um custo de capital maior, ajudando na definição
do quanto vender em cada etapa.
Dois botões presentes entre os Painéis e o Gráfico permitem o retorno ao
ambiente da planilha ou o acesso ao gráfico das cotações em US$, conforme o caso.
Acionando-se este segundo botão, aparece o gráfico das cotações da soja em
Chicago e em Paranaguá, ambos em US$/t, e a taxa de câmbio, em R$/US$, com uma
escala mostrada no eixo vertical direito do gráfico, tal como revela a figura V.13.
Figura V.13 – Gráfico acessado pelo acionamento do botão Cotações em US$
103
Os Painéis de Tendências e Informações Estáticas permanecem presentes na
parte superior do quadro de análise e dois novos botões se mostram presentes na parte
superior do gráfico. O primeiro permite o retorno aos dados e o segundo o acesso ao
gráfico das cotações em R$, mostrado mais acima.
As informações contidas nos Gráficos, combinadas com o Painel de Tendências
das cotações futuras e a necessidade de Caixa, servirão de base para as decisões sobre a
contratação imediata ou não de alguma forma comercial, dentre as disponíveis.
V.2.8 – Botão Formas Comerc iais
A decisão de escolha de contratação de alguma forma comercial, com o
acionamento do terceiro botão presente na planilha principal, faz com que surja na tela
uma interface apresentando as opções disponíveis, como ilustra a figura V.14.
Figura V.14 – Tela de interface para seleção de Formas de Comercialização
Ao optar por uma das formas de comercialização apresentadas, e clicar no botão
OK, o usurário é remetido a outra tela específica relacionada com a forma de contrato
escolhida. O painel permite a escolha de apenas uma forma de cada vez. Cada uma
dessas telas de comunicação será mostrada nos itens subseqüentes.
Na apresentação das diferentes formas comerciais será respeitada a ordem
natural da seqüência mostrada na figura V.14, com exceção da Forma CPRF + Seguro
de Preço, que será deslocada para a posição subseqüente à Forma Opção, uma vez que a
forma em questão possui uma característica combinada entre a CPRF e a Opção.
104
O botão Cancelar faz com que a interface de comunicação seja desativada.
Refazer tem o papel de restaurar ao estado original, dentro do Mês Atual de
planejamento, todas as contratações efetivadas, ou seja, este botão anula todos os
contratos comerciais firmados dentro do Mês Atual, trazendo a planilha de volta ao
estado inicial, quando se passa de um mês ao outro do planejamento. Além do
cancelamento das formas comerciais contratadas, este botão restaura também os
transportes eventualmente contratados durante o mês, já que algumas formas
comerciais, comandam a contratação automática de transportes, como se verá em
V.2.8.1 e V.2.8.6.
Caso seja acionado o botão Refazer, o usuário será alertado sobre as
conseqüências dessa sua escolha e terá ainda a opção de voltar atrás, como indica a
figura V.15.
Figura V.15 – Tela de aviso mostrada ao se acionar o botão Refazer, alertando
sobre as conseqüências dessa decisão
Para facilitar a localização no tempo, a máscara que comanda a escolha da forma
contratual apresenta na sua parte mais alta (barra na cor azul), além do nome do
formulário, também o Mês Atual de planejamento (figura V.14).
V.2.8.1 – Forma de Comercialização CPR
A interface que permite a inserção dos dados da forma contratual CPR apresenta
a Data de Contratação, que é o Mês Atual de planejamento, solicita o mês de
Vencimento do contrato, o Local de Entrega e o Volume, na forma de percentual sobre
o total produzido, como mostra a figura V.16.
105
Figura V.16 – Tela de interface para contratação de CPR
O mês de vencimento deve ser escolhido entre Jan (7) e Dez (18), quando pode
haver algum volume disponível para venda da safra atual. O local de entrega limita-se
às opções de fazenda e porto, conforme já apresentado em V.4.6. O volume é definido
pelo acionamento da barra de rolagem sendo imediatamente convertido para número de
sacas, no espaço reservado à direita.
O acionamento de OK faz com que os dados inseridos passem por um processo
crítico de análise de consistência e, se aceitos, são transferidos para a planilha. Cancelar
produz o desaparecimento do formulário CPR e restaura a tela de Formas Contratuais
(figura V.14).
Caso não se tenha completado todo o quadro de informações requeridas, nesta,
assim como em todas as próximas telas de comunicação, haverá um aviso para que isso
se faça, como ilustram as figuras V.17 a), b) e c).
Figura V.17 a), b) e c) – Telas de aviso mostrando a necessidade de alguma decisão
prévia para dar continuidade ao planejamento
106
Se o volume de venda CPR for maior do que o disponível, por não ter sido
colhido uma quantidade suficiente até o mês de vencimento, ou por já se ter
comprometido algum volume em alguma venda anterior, ao acionar o botão OK, o
analista será avisado através de uma mensagem, como exemplifica a figura V.18, e será
remetido à tela de Formas Contratuais.
Figura V.18 – Tela de aviso mostrando a disponibilidade de volume para a Forma
Contratual pretendida
V.2.8.2 – Forma de Comercialização CPR Financeira
A forma que permite a inserção dos dados que configuram o contrato CPRF,
apresenta a Data de Contratação, solicita o mês de Vencimento, revela o Preço Unitário
do produto, condicionado ao mês selecionado de vencimento, em R$/t e R$/sc e
requisita o Volume a ser negociado. A interface CPRF é mostrada na figura V.19.
Figura V.19 – Tela de interface para contratação de CPR Financeira
Os botões OK e Cancelar realizam os mesmos papéis apresentados em V.2.8.1 e
a mesma análise crítica com relação ao volume é feita para o caso CPRF. Observe que
nesta forma de contrato, não é necessária a definição do local de entrega, já que a
quitação do contrato é puramente financeira, não envolvendo, portanto, a entrega física
do produto.
107
V.2.8.3 – Forma de Comercialização Futuro
O Contrato Futuro, mostrado na figura V.20, apresenta, como no caso CPRF, a
Data de Contratação, o mês de Vencimento, o Preço Unitário no vencimento e o
Volume, só que este, agora, na forma de número de contratos, que corresponde a 2 268
sacas de 60 Kg.
Figura V.20 – Tela de interface para contratação de Futuro
Existe uma limitação no valor máximo a ser inserido em Volume, que
corresponde ao número de sacas produzidas. Embora o contrato futuro não comprometa
o produtor a uma entrega física do produto, esta restrição se justifica pela hipótese de
que a utilização desse tipo de contrato visa apenas à formação de hedge e não como
instrumento de especulação, como apresentado em IV.2.6.
V.2.8.4 – Forma de Comercialização Opção
A forma Opção apresenta as informações mostradas na figura V.21. Uma
novidade presente nesta tela refere-se ao Preço de Exercício, que pode ser estabelecido
pelo usuário, com variações entre -50% e + 50% da cotação da soja no mês de
vencimento, em intervalos de 0,1%.
Embora, como apresentado em III.5.2.3, o lançamento de opções para a soja em
grãos realiza-se em intervalos de $0,20/bu, no modelo, este incremento é definido em
termos percentuais sobre a cotação futura para o mês pretendido, para valores em US$/t.
108
Figura V.21 – Tela de interface para contratação de Opção
A escolha do Preço de Exercício é condicionada pela seleção prévia do Mês de
Vencimento. Ao se definir o Preço de Exercício, o valor do Prêmio, em US$/t e R$/sc é
automaticamente calculado pelo método Black & Scholes, explicado em V.4.12.3, e
mostrado na máscara no local especificado.
V.2.8.5 – Forma de Comercialização CPRF + Seguro de Preço
Esta Forma de Comercialização é uma mescla entre um contrato CPRF e uma
Opção, conforme apresentado em III.5.2.4. Por esse motivo, a interface possui um
aspecto bastante semelhante à tela de Opção, que, por sua vez, incorpora as informações
necessárias ao contrato CPRF. A diferença específica do contrato em tela para o de
Opção consiste em que o Preço de Exercício tem de ser necessariamente maior ou igual
do que a cotação do mês de Vencimento. Assim, a barra de rolagem contígua ao Box do
Preço de Exercício, permite a inserção de valores começando em 0% e vai até +50% do
valor de Exercício. A figura V.22 ilustra a forma contratual CPRF + Seguro de Preço.
109
Figura V.22 – Tela de interface para contratação de CPRF + Seguro de Preço
V.2.8.6 – Forma de Comercialização Spot
A forma de comercialização Spot possui uma configuração bastante simples, como
mostra a figura V.23.
Figura V.23 – Tela de interface para comercialização Spot
Devido ao fato de ser um “contrato” para vencimento imediato, com entrega
física, precisa apenas das informações do Local de Entrega e Volume vendido.
V.2.9 – Botão Transporte
Este último botão da planilha de trabalho, ao ser acionado faz com que se
apresente na tela uma interface como a representada na figura V.24.
110
Figura V.24 – Tela de interface para contratação de transporte
Nesta interface consta o Mês Atual de Planejamento, a Data requisitada para o
Transporte, o Modal e o Volume, este como percentual do volume colhido e o
correspondente valor em número de sacas.
As possíveis datas de transporte disponibilizadas para escolha são os meses de
Jan(7) a Dez (18), quando efetivamente pode haver produto da safra atual a transportar.
Os modais são apenas de dois tipos, Multimodal e Rodoviário Exclusivo, como
explicado em IV.2.5.
Esta tela apresenta a possibilidade de se refazer, dentro de um mesmo mês de
planejamento, todas as contratações de transportes efetivadas. Caso o usuário acione o
botão Refazer, ele será alertado desse fato, podendo optar por seguir adiante ou recuar
desta sua decisão, como mostrado na figura V.15.
V.3 – ESTRUTURAÇÃO DO MODELO
Devido a sua complexidade, o modelo foi construído em módulos auxiliares
contendo informações que alimentam a planilha principal de trabalho. Neste tópico
serão apresentados esses módulos e o processo de geração das informações que
estruturam o ambiente de planejamento.
O modelo é subdividido em seis módulos, organizados em forma de planilhas,
denominadas Mapa, Modelo, Real, Fretes, Sazonalidade e Produção. As duas primeiras
constituem as interfaces visíveis ao usuário, já apresentadas detalhadamente nos itens
111
V.2.1 e V.2.5. As outras quatro encontram-se ocultas, alimentando de informações a
planilha principal de trabalho (Modelo).
Segue, nos próximos tópicos, uma breve reapresentação das duas primeiras
planilhas e uma análise mais detalhada das quatro últimas, das quais serão mostradas
suas áreas de informações, as variáveis, bem como a função que desempenham no
processo de modelagem, sem serem revelados os processos como foram concebidas. Tal
detalhamento será feito no item V.4.
V.3.1 – Mapa
Contém o mapa do Brasil com as principais regiões produtoras de soja,
delimitadas por um círculo, contendo em seu interior o nome do município mais
representativo da região (centróide), que servirá como referência logística. A figura V.3,
apresentada em V.2.1 ilustra todas as regiões consideradas no modelo.
V.3.2 – Modelo
Constitui-se na tela principal de interface com o usuário; contém quatro botões
principais de comando, denominados Próximo Mês, Analisar Gráfico, Formas
comerciais e Transporte, que acionam todo o processo de planejamento, e está
subdividida em onze áreas de informações separadas por linhas na cor cinza. Essas áreas
são denominadas, sucessivamente, como: Informações Estáticas, Volumes, Cotações,
Formas Comerciais, Localidades de Venda, Transportes, Armazenagem, Fluxos
Contratuais, Custos, Caixa e Contratos. A figura V.7 ilustra a planilha modelo e o item
V.2.5 mostra detalhadamente todos os seus elementos.
112
V.3.3 – Real
Este módulo é responsável pela determinação de todas as cotações que são
transferidas para a planilha principal na área de informações Cotações, bem como pela
sinalização do Painel de Tendências mostrado na figura V.12. Todos esses valores são
gerados através de um processo de simulação que será explicado em V.4.4.
Até chegar às cotações finais, Real processa um conjunto de variáveis
intermediárias e organiza-se em áreas de informações, de forma semelhante à planilha
Modelo. Tais áreas, que serão apresentadas a seguir, denominam-se: Valores Iniciais,
Tendências, Tendências Fixas no Curto Prazo e Tendências Fixas no Longo Prazo.
Todas essas áreas de informação são formadas por um conjunto de variáveis comuns,
denominadas: Chicago, Porto, Dólar, Fazenda, Multimodal e Rodoviário. Cada uma das
áreas de informações compõe aspectos desse conjunto de variáveis.
A figura 4 dos anexos mostra a planilha Real de forma completa, com suas áreas
de informações e variáreis. Adota-se, por conveniência, na apresentação das áreas de
informações, uma seqüência diferente da que se observa na planilha.
Valores Iniciais constituem as variáveis de calibração de cotações para o
primeiro mês de planejamento, isto é Jul (1). Es ta é a única área de informações desta
planilha que não obedece à forma vetorial com os 18 meses de planejamento.
Na figura V.5, mostrada no item V.2.3, são fornecidas as cotações, para o
primeiro mês de planejamento, para Chicago e Dólar, que são transferidas para esta
planilha. A cotação Porto é estabelecida a partir da cotação Chicago. As cotações
Multimodal e Rodoviário são trazidas da planilha Fretes e, finalmente, Fazenda é obtido
da diferença entre a cotação Porto e Rodoviário. Todos os valores são fornecidos em
US$/t.
Aleatórios abriga um conjunto de 18 valores aleatórios, obedecendo a uma
distribuição normal padrão8, para cada uma das 6 variáveis de Cotações. Estas células
8 Esta distribuição possui a forma de sino, com média zero e desvio -padrão um.
113
são coladas como valor9 para uma outra área de informações, denominada Aleatórios
Fixos.
Sazonalidade apresenta um valor percentual de sazonalidade para cada uma das
variáveis. Chicago obedece a um parâmetro de calibração a ser mostrado em V.4.4.1.
Porto é calculado em função de Chicago por um processo de regressão múltipla a ser
apresentado em V.4.4.4. Para o Dólar é estimado um crescimento uniforme no horizonte
de planejamento de 5% ao ano que será justificado em V.4.4.3. As sazonalidades dos
modos de transportes são obtidas da planilha Sazonalidade, como se verá em V.3.5.
Nesta área de informações é desmembrada a sazonalidade do transporte Multimodal
para todos os modos que compõem esse sistema.
Cotações Básicas compõe o vetor de cotações de cada uma das variáveis,
levando em consideração a Cotação Inicial, a Sazonalidade e uma perturbação aleatória,
cujo fator de perturbação está registrado em Aleatórios Fixos. As equações que regem
esse processo de simulação são apresentadas em V.4.4.
Valores Futuros realiza uma ponderação quanto ao mês atual. A cotação do mês
atual e as anteriores são mantidas estáticas de acordo com os valores estabelecidos em
Cotações Básicas. As posteriores ao mês atual são projetadas, a partir do valor atual,
respeitando apenas a sazonalidade e tendência de cada variável, sem ser considerada a
aleatoriedade. Esta distinção se deve ao fato dos valores futuros estarem sujeitos aos
mesmos fatores de expectativa, conforme apresentado em IV.2.9.
Em Tendências são gerados 6 vetores com 18 elementos para as variáveis
básicas (Chicago, Porto, Dólar, Fazenda, Multimodal e Rodoviário), respeitando uma
distribuição uniforme padrão10. Estes números são copiados como valores para a região
Tendências Fixas no Curto Prazo. Depois de atualizados, os novos valores gerados em
Tendências são copiados como valor para Tendências Fixas no Longo Prazo,
apresentando, dessa forma, números diferentes do Curto Prazo. O conjunto de valores
fixos para o Curto e Longo Prazos comporá o Painel de Tendências, cuja construção
será detalhada em V.4.13.
9 Forma de cópia do Excel que elimina a formulação que compõe a variável, tornando-a constante. 10 Nesta distribuição são gerados valores equiprováveis no intervalo zero, um.
114
V.3.4 – Fretes
O módulo Fretes compõe as informações básicas sobre os valores de fretes que
servirão de subsídio à planilha Real. Os valores ali apresentados estão dessazonalizados,
representando, por isso, valores chamados básicos. Esta planilha apresenta apenas duas
áreas de informação, separadas pelos tipos modais contemplados pelo modelo.
A área de informações Multimodal é apresentada na figura V.25, contendo, para
cada uma das 22 regiões contempladas pelo modelo, o Pólo (centróide), ou nome da
região com seu respectivo número, a Rota desde o centróide até o porto de exportação, a
Extensão em Km e o valor do Frete em US$/t para os modos Rodoviário, Ferroviário e
Hidroviário, o Custo dos Terminais utilizados no trajeto, e um resumo do Frete Total.
Figura V.25 – Área de Informações sobre Frete Multimodal
Observa-se que quando não é utilizado algum dos modais na ligação fazenda-
porto, os valores aparecem vazios. Para a região de Barreiras, pode ser notado que não
existe ligação Multimodal, daí o fato de estarem em branco as células correspondentes.
A mesma estrutura de campos é respeitada para o transporte Exclusivamente
Rodoviário, com exceção da introdução do Custo da Terra, em US$/ha, que é
estabelecido como função do frete rodoviário até o porto de destino, como se verá em
V.4.10.1. Os valores das variáveis básicas para este modal, bem como o Custo da Terra
é apresentado na figura V.26.
115
Figura V.26 – Área de Informações sobre Frete Rodoviário
Observa-se nessa figura que todos os campos da ligação rodoviária estão
preenchidos, uma vez que todas as ligações fazenda-porto podem ser feitas pelo modo
rodoviário e, como é natural, os campos correspondentes aos modos ferroviário e
hidroviário estão vazios.
Uma vez selecionada a região de trabalho, os valores básicos de frete daquela
área são transferidos para a planilha Real, na área de informações Cotações Básicas, de
forma segregada, já que cada modal sofre fatores sazonais diferentes.
V.3.5 – Sazonalidade
Esta planilha contém duas macro-regiões de informações: uma que traz os
fatores de sazonalidade para cada um dos 12 meses do ano, para cada um dos modais,
em cada uma das 22 ligações centróide-porto. A segunda apresenta uma matriz de
disponibilidade de transporte multimodal a ser comentada mais adiante. As figuras 5 a)
e b) dos anexos apresenta uma visão completa da planilha Sazonalidade.
A primeira macro-região (figura 5 a) revela, de forma percentual, o fator de
ponderação sazonal de cada mês sobre o valor básico de frete, como apresentado em
V.3.4. Embora apareçam na referida figura os 18 meses do planejamento, os números
116
que correspondem aos mesmos meses, como Jul (1) e Jul (13), são idênticos, dado que a
sazonalidade é mensal.
Uma vez selecionada a região de trabalho, os fatores sazonais para cada um dos
modos de transportes são transferidos para a planilha Real, na Área de Informações
Sazonalidade.
A segunda macro-região de informação desta planilha, que também pode ser
vista na figura 5 b) dos anexos, ilustra a seleção de uma região de categoria B, dentro de
um critério que será detalhado no item V.4.7. A figura V.27, apresentada abaixo,
reproduz parcialmente a referida macro-região, para facilitar a exemplificação do
processo de transferência da disponibilidade de transporte Multimodal para a planilha
principal de trabalho.
Figura V.27 – Área de Informações sobre Disponibilidade de Transporte
Multimodal na planilha Sazonalidades
Na vertical apresentam-se todos os 18 meses do planejamento e na horizontal, os
meses de Jan a Dez, quando pode ser transportada a safra sob estudo.
Assumindo-se, por exemplo, que o Mês Atual de planejamento seja Jul (1),
pode-se verificar que existe disponibilidade de transporte Multimodal para qualquer mês
a partir de Jan (7), representado pelo Sim em verde na planilha. Já, se o Mês Atual for
Jan (7), não haverá disponibilidade de transporte Multimodal para os meses Mar (9),
Abr (10) e Mai (11), indicados com Não em vermelho nas correspondentes datas.
Observe que existe uma região vazia na planilha, indicando que não se pode contratar
transporte para os meses anteriores ao atual, o que seria inconsistente.
117
Na medida em que se percorrem os meses de planejamento, na planilha principal
de trabalho, durante processo de comercialização da safra de soja, os valores de
disponibilidade para o transporte multimodal, para o correspondente mês de
planejamento, são atualizados, de acordo com os valores apresentados nesta macro-
região de informações da planilha Sazonalidade, respeitando a mesma formatação
condicional em verde e vermelho para as condições de disponibilidade ou
indisponibilidade, respectivamente.
Detalhes sobre os critérios adotados na construção dessa matriz de
Disponibilidade de Transporte Multimodal são apresentados em V.4.7.
V.3.6 – Produção
Este módulo é responsável pelas informações fornecidas à planilha Modelo em
sua área de informações denominada Custos, mais precisamente à primeira linha desse
grupo de variáveis, o vetor Produção.
O módulo Produção possui quatro áreas de informações, denominadas:
Volumes, Custos Unitários, Cronograma de Desembolso e Custos de Produção, que são
explicadas a seguir e apresentadas na figura 6 dos anexos.
Volumes nada mais é do que uma repetição da área de informações Volumes da
planilha Modelo, como apresentada no item V.2.5.2 e na figura V.7.
Custos Unitários tem a função de apresentar, para cada um dos itens de custo, o
valor unitário. Os Custos Operacionais ou Variáveis dependem direta e
proporcionalmente do Volume Produzido. O Custo da Terra varia também direta e
proporcionalmente com a Área Cultivada. Já os Custos Fixos, variam
proporcionalmente com a Área Cultivada, regidos por uma equação logarítmica a ser
discutida em V.4.10.1.
A área de informações Cronograma de Desembolso desempenha o papel de
atribuir um peso proporcional ao fator de incidência do custo para cada um dos meses
de produção. A soma dos valores de cada item de custo corresponde a 100%.
118
Finalmente, a área de informações Custos de Produção apresenta os custos
totais, em US$, detalhados para cada um dos itens de custo e um valor Totalizado que é
transferido para a planilha Modelo. Os Custos de Produção ajustados à região escolhida
e aos cronogramas de plantio e colheita são compostos a partir das outras áreas de
informações apresentadas. Conhecendo-se os Custos Unitários, Cronograma de
Desembolso, o Volume Produzido e Área Cultivada, chega-se aos valores mensais de
custos, como mostra a figura 6 dos anexos.
V.4 – METODOLOGIA CONSTRUTIVA E CALIBRAÇÃO DO MODELO
Neste item será estabelecido o modo como foram concebidas cada uma das
variáveis que compõem o modelo em seu aspecto operacional, ou seja, como elas foram
pensadas, que papel desempenham, como se relacionam com outras variáveis e como
foram calibradas, no sentido de representarem, da melhor forma possível, valores
realistas.
A organização deste item obedecerá à forma natural de utilização do modelo,
seguindo, em linhas gerais, a mesma estrutura apresentada no item V.2, na forma
itemizada. Porém, como todas as informações inseridas através das interfaces de
comunicação construídas em Visual Basic, são transferidas para a planilha principal,
bem como as informações processadas nas planilhas de apoio, será dado ênfase à
apresentação da planilha principal de trabalho, subdividida através de suas áreas de
informações, conforme visto em V.2.5.
V.4.1 – Regiões Produtoras de Soja
Assim que o modelo é carregado, o usuário é apresentado a um mapa do Brasil,
contendo as principais regiões produtoras de soja. Ao percorrer o mouse sobre o mapa,
passando sobre o nome das regiões, observa-se que o cursor toma o formato de uma
pequena mão direita, com o dedo indicador levantado, sinalizando que ali existe um
hiperlink. Este fato indica que existe uma macro associada a cada uma dessas diferentes
119
áreas. O usuário, ao clicar sobre uma dessas regiões, faz com que se desencadeie uma
seqüência de eventos, cujo objetivo se resume em transferir para a planilha Modelo,
todas as informações específicas relacionadas à região escolhida.
Imediatamente, o nome da região selecionada é transferido para a planilha
Modelo, na área reservada às Informações Estáticas. A seguir, verifica-se o grupo
(categoria) a que pertence a região escolhida, para que se possa estabelecer o
cronograma de Disponibilidade de Transporte Multimodal, processo que será mais bem
detalhado no item V.4.7. Esta informação, associada ao mês inicial de planejamento
(Mês 1), como explicado em V.3.5, é transferida para a planilha Modelo, para a área de
informações sobre Transportes, no formato Sim ou Não, nas cores verde ou vermelho.
As cotações dos transportes Exclusivamente Rodoviário e Multimodal são
estabelecidas de acordo com a região escolhida. Cálculos intermediários envolvendo as
planilhas Fretes e Sazonalidade, apresentados em V.3.4 e V.3.5, determinam os vetores
de cotações dos sistemas de transportes, em US$/t, que são transferidos à planilha
Modelo, após serem corrigidos pela cotação do dólar, já que estas cotações são
mostradas em R$/t.
V.4.2 – Informações Estáticas
Tão logo o modelo migra para a planilha principal, três telas solicitam
informações para a configuração do ambiente de planejamento. Para esta área de
Informações Estáticas são transferidos o Volume de Produção (t), a Área Cultivada (ha),
as Taxas de Capital Anual, correspondentes aos valores das taxas de Oportunidade,
Desconto e Empréstimo, e a Distância do Centróide (Km) para os modos Rodoviário
Exclusivo e Multimodal. Todas essas variáveis foram apresentadas em V.2.2 e V.2.3.
Além dessas, outras variáveis, também já apresentadas em V.2.5.1, compõem
esta área de informações. Aqui se mostrará qual o processo percorrido para se chegar
aos seus valores.
120
O Capital de Giro Inicial (R$) é calculado tomando-se por base a cotação do
produto na Fazenda (R$/t) para o primeiro mês de planejamento, multiplicado por 15%
do Volume de Produção (t), como indica a fórmula abaixo :
Capital de Giro Inicial = 15% * Volume de Produção * Cotação Fazenda1
Onde: o número 1 indica o valor do primeiro mês de planejamento, Jul (1)
Este parâmetro de 15% é arbitrário e estabelece um capital inicial para que o
produtor possa cobrir uma parcela dos custos de produção da nova safra.
O valor em Caixa (R$) contém duas informações. Um valor Inicial e outro
Atualizado. O valor Atualizado, corrige o Caixa Inicial adicionando as receitas
auferidas e subtraindo os custos e outras despesas incorridos durante o Mês Atual. Seu
cálculo é estabelecido pela soma do valor do Caixa Inicial, com o valor do CAIXA
(R$), na linha 67 da planilha principal (figura V.7), como indicado na fórmula abaixo:
Caixa Atualizadot = CAIXAt + Caixa Inicialt
Onde: t representa o Mês Atual
O Caixa Inicial nada mais é do que o valor em caixa no início do processo de
planejamento para cada mês. Para o mês 1, será o valor do Capital de Giro Inicial (R$);
para os outros meses representará o valor corrigido do Caixa Atualizado pela Taxa de
Capital, ao se passar para o mês em questão, como explicitado pela fórmula abaixo:
Caixa Inicialt = Caixa Atualizadot-1 * (1 + Taxa de Capital Mensal)
Onde: t-1 representa o mês anterior
Taxa de Capital pode ser a Taxa de Oportunidade ou a Taxa de Empréstimo,
dependendo se o Caixa Inicial for positivo ou negativo, respectivamente
A Taxa de Capital Mensal, em cada um dos seus três formatos, é calculada a
partir da Taxa Anual pela seguinte fórmula:
Taxa Mensal = (1+Taxa Anual)^(1/12) - 1
121
O Quadro de Lucratividade, presente nesta área de informações, Mostra o Mês
Atual de planejamento, Lucro, Receitas e Margem, ou L/R. Receitas é calculada
acumulando-se ao valor anterior o total de vendas, em R$, realizadas no Mês Atual,
definido pela linha 58 (Fluxo Total) da planilha principal (figura V.7), corrigido a cada
mês pela taxa de Oportunidade. Sua fórmula de cálculo é:
Foi mencionado anteriormente que a cotação Paranaguá é calculada mediante
uma correção de correlação com Chicago, acrescentada de uma perturbação aleatória. A
correlação com Chicago é presidida pela equação de regressão apresentada acima. A
perturbação aleatória é obtida, como no caso da cotação Chicago, através de um fator de
calibração calculado por simulação de vários fatores até se chegar a uma relação de
volatilidade semelhante a um valor médio histórico das cotações Paranaguá, algo em
torno de 24%, como mostra a figura 2 dos anexos. A figura 11 a), b), c) e d) dos anexos
revela as estatísticas geradas no processo de calibração da variável, com 10 000 valores
simulados de volatilidade para a seqüência de 18 meses de planejamento.
A equação que rege o valor da cotação Paranaguá, depois de calibrada é:
12 O método stepwise de regressão adiciona e remove variáveis no processo de cálculo, de modo a se chegar a um modelo com a maior capacidade possível de previsão com as variáveis disponíveis.
Esta equação, ainda mais complexa, compõe inicialmente o valor mínimo entre
toda a venda Spot até o mês considerado (t) e as liquidações CPRs nas formas
financeiras para todo o horizonte de planejamento. A este valor é adicionado o menor
valor de Auxiliar2 desde t+1 até o mês 18. O resultado é comparado com auxilizar2 no
mês t. O menor valor dessa comparação é considerado o Volume Disponível para Venda
CPR na data t.
De forma bastante simplificada, esta variável quer significar que o Volume
Disponível para Venda CPR em um mês genérico é igual ao volume colhido até o mês
considerado, descontados todos os comprometimentos com vendas futuras em qualquer
forma de CPR e descontadas também as entregas já realizadas através de CPRs físicas
passadas e vendas Spot.
Esta restrição, ainda mais forte que o Volume Disponível para Venda Spot,
representa também uma equação de continuidade para a venda na forma CPR. A figura
20 dos anexos ilustra uma situação semelhante àquela mostrada na figura 18 dos anexos,
cuja diferença consiste na forma de contrato CPRF no lugar de CPR, porém com o
comprometimento do mesmo volume e mesmas datas. Na comparação das duas figuras,
pode ser notado como o Volume Disponível para Venda CPR apresenta os mesmos
13 A equação da continuidade, no seu aspecto geral, expressa que, em um sistema conservativo, durante um intervalo de tempo, tudo o que sai do sistema é igual ao que já havia no seu interior, mais o que entrou, menos o que permanece no seu interior, de tal forma a se manter constante o volume.
139
valores de Volume Disponível para Venda Spot, do caso anterior e, para o caso
presente, o Volume Disponível para Venda Spot não apresenta nenhuma restrição, já
que a venda Spot visa cobrir a dívida que será gerada com a liquidação do contrato
CPRF.
V.4.6 – Informações sobre Localidades de Venda
Esta área de informações é composta por seis variáveis: Venda na Fazenda,
Venda no Porto, Venda na Fazenda Acumulada, Venda no Porto Acumulada, Venda
Total Acumulada e Volume Disponível para Venda na Fazenda.
As duas primeiras são alimentadas pelas máscaras em VB das formas contratuais
CPR e Spot, que são apresentadas, respectivamente em V.2.8.1 e V.2.8.6.
A Venda na Fazenda Acumulada é calculada pelo seguinte par de fórmulas:
Venda na Fazenda Acumulada1 = Venda na Fazenda1
Venda na Fazenda Acumuladat = Venda na Fazenda Acumuladat-1 + Venda na Fazendat
A Venda no Porto Acumulada é calculada pelo mesmo critério, como indicam as
fórmulas seguintes:
Venda no Porto Acumulada1 = Venda na Porto1
Venda no Porto Acumuladat = Venda no Porto Acumuladat-1 + Venda no Porto t
Venda Total Acumulada também é bastante simples e compõe a Venda Total
Acumulada do período anterior com a soma das vendas na Fazenda e no Porto, no
período considerado, como apresentado nas fórmulas abaixo.
Venda Total Acumulada1 = Venda na Fazenda1 + Venda na Porto1
Venda Total Acumuladat = Venda total Acumuladat-1 + Venda na Fazendat + Venda no
Porto t
140
A última variável desta área de informações possui um cálculo ligeiramente mais
sofisticado, como indicam as fórmulas abaixo e a exemplificação para o mês de Jan (7),