Fernando Collor de Melo * dep. fed. AL 1983-1986; gov. AL 1987-1989; pres. Rep. 1990-1992. Fernando Afonso Collor de Melo nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 12 de agosto de 1949, filho de Arnon de Melo e Leda Collor de Melo. Seu pai governou Alagoas (1951 a 1956), estado pelo qual foi senador (1963-1981). Seu avô materno Lindolfo Collor, deputado federal pelo Rio Grande do Sul de 1923 a 1926 e de 1927 a 1930, foi um dos principais líderes da Revolução de 1930 e, em seguida, durante o governo provisório de Getúlio Vargas, organizou o Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio, do qual foi titular até 1932, ano em que se afastou politicamente de Vargas e participou da malograda Revolução Constitucionalista de São Paulo. Quando Fernando Collor nasceu, teve como testemunhas do registro civil o editor José Olímpio e o filólogo e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, destacadas figuras do panorama cultural do Rio de Janeiro. Aluno de tradicionais colégios cariocas - Padre Antônio Vieira, São Vicente de Paulo e São José - entre 1962 e 1966, Fernando Collor mudou-se em 1967 para Brasília, ingressando no Centro Integrado de Ensino Médio (CIEM), escola pública de aplicação da Universidade de Brasília (UnB). Em seguida, matriculou-se na União Pioneira de Integração Social (UPIS), onde se formou em ciências econômicas. Estagiou no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, e trabalhou como corretor de títulos da Univest, em Brasília. Na capital federal, teve como amigos Paulo Otávio e Luís Estêvão, que se tornariam figuras de destaque na vida política da cidade. Com eles, fez parte de uma geração que ficaria conhecida como "os filhos do poder", constituída por jovens membros de famílias influentes durante o regime militar, que se divertiam promovendo corridas de automóvel pelas ruas da cidade e festas ruidosas. Praticante de artes marciais, tinha, segundo ele próprio admitiu em entrevista à revista Playboy, um comportamento agressivo quando jovem. Em 1972, transferiu-se para Maceió e assumiu a direção da Gazeta de Alagoas, jornal de propriedade de seu pai. No ano seguinte, tornou-se superintendente da Organização Arnon de Melo, grupo empresarial da família, constituído pelo jornal, a TV Gazeta, três emissoras de rádio e uma gráfica. Com a ajuda de Cláudio Francisco Vieira, advogado da TV Gazeta, elegeu-se presidente do Centro Sportivo Alagoano (CSA), clube de futebol com grande torcida em Alagoas. Em 1975, casou-se com Celi Elizabeth Júlia
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Fernando Collor de Melo
* dep. fed. AL 1983-1986; gov. AL 1987-1989; pres. Rep. 1990-1992.
Fernando Afonso Collor de Melo nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 12 de
agosto de 1949, filho de Arnon de Melo e Leda Collor de Melo. Seu pai governou Alagoas (1951 a
1956), estado pelo qual foi senador (1963-1981). Seu avô materno Lindolfo Collor, deputado federal
pelo Rio Grande do Sul de 1923 a 1926 e de 1927 a 1930, foi um dos principais líderes da Revolução
de 1930 e, em seguida, durante o governo provisório de Getúlio Vargas, organizou o Ministério do
Trabalho, da Indústria e do Comércio, do qual foi titular até 1932, ano em que se afastou politicamente
de Vargas e participou da malograda Revolução Constitucionalista de São Paulo.
Quando Fernando Collor nasceu, teve como testemunhas do registro civil o editor José Olímpio e o
filólogo e dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, destacadas figuras do panorama cultural do Rio de
Janeiro. Aluno de tradicionais colégios cariocas - Padre Antônio Vieira, São Vicente de Paulo e São José
- entre 1962 e 1966, Fernando Collor mudou-se em 1967 para Brasília, ingressando no Centro
Integrado de Ensino Médio (CIEM), escola pública de aplicação da Universidade de Brasília (UnB). Em
seguida, matriculou-se na União Pioneira de Integração Social (UPIS), onde se formou em ciências
econômicas. Estagiou no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, e trabalhou como corretor de títulos da
Univest, em Brasília.
Na capital federal, teve como amigos Paulo Otávio e Luís Estêvão, que se tornariam figuras de
destaque na vida política da cidade. Com eles, fez parte de uma geração que ficaria conhecida como
"os filhos do poder", constituída por jovens membros de famílias influentes durante o regime militar,
que se divertiam promovendo corridas de automóvel pelas ruas da cidade e festas ruidosas. Praticante
de artes marciais, tinha, segundo ele próprio admitiu em entrevista à revista Playboy, um
comportamento agressivo quando jovem.
Em 1972, transferiu-se para Maceió e assumiu a direção da Gazeta de Alagoas, jornal de
propriedade de seu pai. No ano seguinte, tornou-se superintendente da Organização Arnon de Melo,
grupo empresarial da família, constituído pelo jornal, a TV Gazeta, três emissoras de rádio e uma
gráfica. Com a ajuda de Cláudio Francisco Vieira, advogado da TV Gazeta, elegeu-se presidente do
Centro Sportivo Alagoano (CSA), clube de futebol com grande torcida em Alagoas. Em 1975, casou-se
com Celi Elizabeth Júlia Monteiro de Carvalho, conhecida como Lilibeth Carvalho e filha de Joaquim
Monteiro de Carvalho, controlador do grupo empresarial Monteiro Aranha. O casamento simbolizou,
nas palavras do jornalista João Batista Natali, a união da elite industrial do Sul com a oligarquia política
do Nordeste.
Em 1979, por indicação do pai - que conseguiu um acordo entre o seu grupo político e o do ex-
governador alagoano Divaldo Suruagi, ambos da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que
dava sustentação ao regime militar implantado em abril de 1964 -, Fernando Collor foi nomeado
prefeito de Maceió. Uma de suas primeiras medidas administrativas foi a concessão de um aumento
salarial de 168% aos funcionários do município, que estavam sem pagamento há três meses. Após
promover a reurbanização da orla marítima de Maceió e construir um conjunto habitacional, contratou
a produção de um álbum fotográfico sobre a cidade e tratou de promovê-la em viagem pelo Brasil, na
companhia de grupos folclóricos alagoanos.
Pouco antes de deixar a prefeitura, contratou mais de três mil funcionários em apenas uma
semana. Posteriormente, quando o fato foi denunciado por adversários políticos, afirmou que fora
enganado por assessores, que se aproveitaram de sua falta de tempo e lhe entregaram documentos
para assinar, sabendo que ele o faria sem lê-los.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, durante sua gestão na Prefeitura de Maceió nove parentes
seus e 19 de sua mulher foram nomeados para cargos na Assembléia Legislativa alagoana.
Em 1982 candidatou-se a um mandato de deputado federal por Alagoas na legenda do Partido
Democrático Social (PDS) - agremiação surgida após a extinção do bipartidarismo em novembro de
1979 e que deu continuidade à linha governista da antiga Arena. Juntamente com Geraldo Bulhões, foi
apoiado financeiramente pelos usineiros do estado, sendo os recursos da campanha administrados
pelo seu amigo Paulo César Farias, um empresário conhecido pelo apelido de PC. Eleito em novembro
com a maior votação entre os candidatos a deputado federal por Alagoas, foi empossado em março do
ano seguinte. Tendo a oportunidade de nomear a responsável pela Legião Brasileira de Assistência
(LBA) no estado, indicou para o cargo sua própria mãe. Nessa ocasião, já divorciado desde 1981,
conheceu Rosane Malta, então recepcionista da seção alagoana da LBA, com quem se casaria em
1984. O matrimônio selou uma aliança entre grupos oligárquicos alagoanos de força desigual, já que a
família Malta exercia influência política apenas em modestos municípios do sertão do estado, como
Canapi, ao contrário da família de Fernando Collor.
Na sessão da Câmara de 25 de abril de 1984, Collor apoiou a emenda Dante de Oliveira, que
propunha o restabelecimento de eleições diretas para a presidência da República já em novembro
daquele ano, na sucessão do presidente João Figueiredo (1979-1985). Como a emenda não obteve o
número de votos necessários para sua aprovação e para que fosse encaminhada ao Senado - faltaram
22 votos -, o novo presidente da República foi ainda escolhido de forma indireta, pelo Colégio Eleitoral
que se reuniu em 15 de janeiro de 1985. Na ocasião, Collor votou no candidato do regime militar,
Paulo Maluf, seu padrinho no segundo casamento. Maluf foi derrotado pelo oposicionista Tancredo
Neves, que era apoiado pela Aliança Democrática - uma união do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB) com uma dissidência do PDS abrigada na Frente Liberal. Contudo, por motivo de
doença, Tancredo não chegou a ser empossado, vindo a falecer em 21 de abril de 1985. Seu substituto
no cargo foi o vice-presidente, José Sarney, que já vinha exercendo interinamente a presidência desde
15 de março.
Em seu mandato como deputado federal, Collor não conseguiu aprovar nenhum dos 11 projetos de
lei que apresentou, um dos quais determinava a redução do imposto de renda pago por emissoras de
rádio e televisão, medida que beneficiaria diretamente empresas de sua família.
Transferindo-se em 1985 para o PMDB, candidatou-se em 1986 ao governo de Alagoas. Apoiado
por ampla aliança que incluía dissidentes do PDS e até o Partido Comunista do Brasil (PCdoB),
beneficiou-se do prestígio que os resultados positivos iniciais do Plano Cruzado - implementado em
fevereiro de 1986 pelo governo federal para estabilizar a economia - conferiu aos candidatos
peemedebistas. Sua campanha teve como eixo promessas de combate à corrupção e às distorções na
remuneração dos funcionários estaduais. Uma das mais pobres unidades da Federação, Alagoas tinha
em sua folha de pagamentos servidores - chamados de "marajás" - que recebiam vencimentos
superiores aos dos ministros. Realizada a eleição em novembro, Collor saiu vitorioso com 42% dos
votos, derrotando Guilherme Palmeira, do PFL.
No governo de Alagoas
Ainda antes de sua posse, Collor recebeu um relatório apontando que cerca de 9.400 servidores
estaduais (12% do total) não residiam nas cidades onde estavam lotados. Muitos recebiam salários por
procuração, pois não apareciam nos locais de trabalho nem mesmo para isso. Empossado em 15 de
março de 1987, dez dias depois Collor solicitou ao procurador-geral da República que declarasse a
inconstitucionalidade das leis estaduais que concediam vantagens salariais apontadas como
exageradas a funcionários públicos. O Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar que sustava o
pagamento dessas vantagens até o julgamento do mérito. Mas os atingidos conseguiram que o mesmo
Supremo considerasse constitucionais as vantagens em questão, numa sentença classificada por
Collor de "imoral". Sua recusa de pagar as vantagens aos "marajás", alegando falta de recursos,
resultou numa ameaça de intervenção federal em Alagoas, a pedido do Tribunal de Justiça do Estado,
o que, no entanto, não chegou a se concretizar.
Também despertaram polêmica as medidas para enxugar a máquina administrativa tomadas por
Collor. Por um único decreto, foram extintas, entre outros órgãos, as secretarias de Cultura, de
Transporte e de Irrigação, sob a justificativa de que, assim, eliminavam-se quase dez mil cargos e
reduziam-se em 25% as despesas com o funcionalismo estadual. A oposição, liderada pelo PFL, reagiu
e chegou a pedir o impeachment do governador. A Assembléia Legislativa aprovou uma deliberação
pela qual ficavam vedadas demissões e extinções de órgãos públicos, justificando que isso estaria
ocorrendo sem atender a critérios razoáveis. Ainda assim, Collor efetuou as primeiras duas mil
demissões.
Incompatibilizado com os usineiros, que haviam apoiado majoritariamente seu adversário eleitoral,
Collor anunciou que cobraria deles uma dívida de 140 milhões de dólares com o Banco do Estado de
Alagoas (Produban). Era uma batalha da guerra que, como declarou à revista Veja em abril de 1987,
ele se dizia disposto a travar contra aquilo que apontava como os quatro pilares da política alagoana:
"o sindicato do crime, o poder econômico, a contravenção penal e os desmandos
administrativos."Anúncios como o da cobrança da dívida dos usineiros eram feitos sempre na forma de
medidas de impacto, divulgadas por cadeias de rádio e televisão.
Embora permanecesse muito tempo fora de Alagoas - viajou 90 vezes só no primeiro ano de
mandato -, Collor adotou um estilo administrativo que acentuava sua ação pessoal, ignorando, na
prática, a função de instituições como os partidos e os poderes Legislativo e Judiciário estaduais.
Despertando a oposição de diversas forças políticas em Alagoas, esforçou-se para construir a imagem
de "caçador de marajás" para além das fronteiras do estado.
No plano nacional, Collor apresentou-se como opositor intransigente do presidente José Sarney
(1985-1990), cujo governo enfrentava uma situação de isolamento político e impopularidade. Durante
os trabalhos da Assembléia Constituinte (1987-1988), que, entre outros pontos, fixou a duração do
mandato do presidente José Sarney, Collor participou, em 17 de outubro de 1987, com outros 21
governadores do PMDB, de uma reunião de que resultou na Declaração do Rio de Janeiro. O
documento reafirmava a posição, majoritária no partido, favorável à fixação do mandato de Sarney em
cinco anos. Collor, favorável à imediata realização de eleições diretas para a presidência da República,
foi a única voz discordante e, em nota separada, defendeu um mandato de quatro anos para o então
presidente.
Em 27 de novembro, o STF decidiu favoravelmente aos funcionários estaduais de Alagoas e
determinou que fosse regularizado o pagamento de seus salários e vantagens, bem como fosse paga a
parcela retida durante o processo de litígio. Em resposta, o governador declarou que não faria os
pagamentos por falta de recursos.
Foi nessa época que Collor começou a se apresentar como um nome para a sucessão presidencial.
Inicialmente, as principais figuras dos grandes partidos não lhe deram importância, até porque tinham
a atenção voltada para os trabalhos constituintes. Em seu próprio círculo pessoal, comentava-se que
seu projeto de tornar-se presidente não passava de uma aventura inconseqüente. A idéia tinha surgido
naquele mesmo ano de 1987, durante uma viagem que Collor fez à China em companhia de Renan
Calheiros, Cláudio Humberto e Cleto Falcão, seus companheiros na política alagoana. Na ocasião,
chegaram a um consenso de que Collor poderia ser eleito presidente se concentrasse sua campanha
no ataque intransigente a Sarney, então acossado por acusações de corrupção em seu governo. No dia
seguinte à tomada da decisão, num jantar oferecido pelo vice-primeiro-ministro da China, seus amigos
e as respectivas esposas teriam erguido um brinde ao "futuro presidente da República".
A primeira articulação política visando à formação de uma chapa para concorrer nas eleições
presidenciais de 1989, no entanto, foi tendo Collor como candidato a vice, numa chapa encabeçada
pelo senador Mário Covas (PMDB-SP), que não aceitou a proposta. Em janeiro de 1988, Collor anunciou
a intenção de disputar com o deputado Ulisses Guimarães (SP) na convenção do PMDB o direito de se
candidatar pelo partido a presidente da República. Suas relações com o PMDB se tornavam, porém,
cada vez mais conflituosas, à medida que Collor intensificava as críticas a Sarney, a quem classificou
como "o maior batedor de carteiras da história". Ele lembrava com freqüência em suas entrevistas que
era o único governador a defender que a Constituinte fixasse o mandato do presidente em quatro
anos, opção preferida pela população, segundo as pesquisas de opinião. Quando a Constituinte, afinal,
optou pelo mandato de cinco anos, Collor acusou Sarney de ter usado o poder e o dinheiro público
para obter aquele resultado. Ameaçado de processo judicial pelo presidente, deixou o PMDB.
Em Alagoas, a situação política também se acirrava. Em 31 de janeiro de 1988, Maceió foi abalada
por uma série de manifestações políticas, ficando praticamente paralisada devido aos protestos de
funcionários do Banco do Estado de Alagoas contra os usineiros - responsabilizados pela falência do
banco por não terem honrado suas dívidas. Houve também manifestações de trabalhadores rurais e de
funcionários públicos, estes assustados com a ameaça de demissão de 15 mil servidores.
Em uma análise retrospectiva, o jornal O Estado de S. Paulo, de 5 de julho de 1992, mostrou que a
imagem de Collor como governador, em Alagoas, era polêmica devido a três episódios administrativos
mal explicados. O primeiro dizia respeito às verbas destinadas a cobrir suas despesas com a moradia,
administradas por Cláudio Vieira, e que em 1988 superaram o orçamento da Secretaria de Educação.
Deputados da oposição denunciaram que esses recursos foram gastos até com passagens aéreas
internacionais, despesas em butiques e compra de flores.
Outra questão polêmica teve como palco a Secretaria de Transportes, cujo titular era Augusto
Farias, irmão de Paulo César Farias. Verbas do estado destinadas à Empresa de Transportes Urbanos
jamais chegaram ao seu destino, sem que tivesse sido dada qualquer explicação.
O terceiro episódio mal explicado foi um acordo da Secretaria de Transportes com a Alagoas Diesel
para compra de ônibus, em troca de uma redução nas dívidas do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) da empresa com o estado. A oposição denunciou que, a cada mês, as
contas apontavam um saldo a ser recebido pela empresa, sem que houvesse explicação para isso.
No início de 1989, Collor tornou pública sua disposição de se candidatar a presidente, mesmo fora
do PMDB. Em 9 de fevereiro, lançou o manifesto de criação do Partido da Reconstrução Nacional
(PRN), que teve como base o Partido da Juventude (PJ), legenda que já existia mas que não tinha
qualquer expressão eleitoral. Com o senador Itamar Franco, recém-egresso do PMDB, como candidato
a vice-presidente, Collor iniciou a campanha, cuja parte financeira ficou novamente a cargo de Paulo
César Farias, o PC. Ainda desacreditado pelos partidos e meios de comunicação, elegeu como
principais eixos da sua pregação a defesa da moralização administrativa, centrada nas denúncias de
corrupção contra o governo Sarney e no combate ao que classificava como privilégios do
funcionalismo; e a modernização do país, com destaque para a redução da presença do Estado na
economia. A defesa deste programa o deixou como o mais popular governador do Nordeste, segundo
pesquisa divulgada pela revista Veja em março de 1989. No Carnaval carioca daquele ano, o combate
à corrupção foi o tema dos enredos de quatro escolas de samba e Collor marcou presença na avenida
em que se realizava o desfile, circulando pela pista fazendo com os dedos o "v" da vitória e sendo
aplaudido pelos espectadores das arquibancadas.
O cenário sucessório, contudo, estava indefinido. Os dois maiores partidos - PMDB e PFL - ainda
discutiam os nomes que lançariam. Apenas os candidatos de dois partidos expressivos estavam em
campanha aberta: Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista (PDT), e Luís Inácio da Silva, o
Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT). A posição de liderança que ocupavam nas pesquisas de
intenção de voto sugeria que as forças de esquerda tinham boas perspectivas de vitória. Em fins de
março, a revista Istoé/Senhor chamava a atenção para a emergência do "espectro de Brizola", como
era chamada a possibilidade de um governo esquerdista - populista, se fosse eleito Brizola, ou
socialista, no caso da vitória de Lula.
Novas medidas de redução dos gastos do estado de Alagoas com os "marajás" despertaram a
atenção dos órgãos de imprensa das grandes cidades, especialmente de São Paulo e do Rio de Janeiro,
para o nome de Collor, que, então, já aparecia em terceiro lugar nas pesquisas. As mesmas pesquisas
apuraram que a maioria dos eleitores preferia um candidato jovem, com experiência administrativa e
que fosse claro opositor do presidente José Sarney.
Em 30 de março, o PRN apresentou seu primeiro programa no horário gratuito reservado aos
partidos políticos na televisão, em cadeia nacional. Apoiado em modernas técnicas de comunicação
audiovisual, Collor apresentou-se como o único candidato capaz de resolver os problemas brasileiros.
Denunciou a crise moral que o país estaria vivendo, chamou a atenção para as dimensões da dívida
externa e criticou duramente Sarney e os "coronéis" que, no seu entendimento, dominavam a política.
Não esqueceu de bater em seu alvo predileto, os "marajás". Uma semana depois, nova pesquisa o
apontou como o líder na preferência dos eleitores. Sua candidatura não era, porém, vista ainda como
uma real ameaça pelos favoritos, que a interpretavam como fenômeno eleitoral passageiro.
Collor apareceu na televisão em cadeia nacional pela segunda vez em 27 de abril, como convidado
especial do Partido Trabalhista Renovador (PTR), também totalmente desconhecido do público.
Retomando os temas do primeiro programa, reforçou sua imagem de "caçador de marajás",
combinando-a com a de um candidato jovem e ousado.
Ao sair do governo de Alagoas, em 14 de maio de 1989, para cumprir a exigência legal de
desincompatibilização, deixou o estado em sérias dificuldades financeiras: a arrecadação estava em
queda vertiginosa; os servidores tinham os salários defasados e atrasados; apenas 1/3 das demissões
planejadas havia sido executado; e, para agravar ainda mais o quadro, faltavam recursos para
indenizar os funcionários que já tinham sido afastados. Além disso, seu sucessor, Moacir Andrade,
herdou uma pendência com os usineiros, com quem Collor se comprometera a devolver, no prazo de
dez anos, o ICMS recolhido irregularmente. O acordo foi denunciado pela Justiça estadual e pelo novo
governador, segundo os quais o débito seria resultado de um processo irregular e teria tido seu valor
superestimado. O acordo acabou sendo anulado e Collor foi acusado de ter usado na negociação com
os usineiros um intermediário - que teria sido Paulo César Farias, o PC - para recolher 20% do valor dos
mais de 60 milhões de dólares em questão para engordar o caixa de sua campanha presidencial.
Quando, em 18 de maio, Collor participou do terceiro programa de televisão em cadeia nacional,
no horário reservado ao também inexpressivo Partido Social Cristão (PSC), já era o líder disparado nas
pesquisas eleitorais. Usando técnicas de comunicação política e marketing e assessorado por um
instituto de pesquisas - o Vox Populi, do cientista político Marcos Antônio Coimbra -, sua candidatura
começava a se distanciar significativamente das concorrentes, o que lhe granjeou o apelido de
"furacão Collor" e a adesão de políticos e empresários que passaram a vê-lo como única alternativa
viável para barrar uma vitória de Lula ou Brizola. A diferença para seus concorrentes crescia de forma
tão acelerada que, em junho, já se aventava a possibilidade de a eleição ser decidida no primeiro
turno.
Por outro lado, a adesão de setores conservadores à sua candidatura, como a do grupo liderado
pelo ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), preocupava alguns de seus
coordenadores, que temiam sua descaracterização. Marcos Coimbra, um dos responsáveis pela
campanha, entendia que o perfil de Collor deveria ser o de um socialdemocrata modernizador e
defendia que não fossem dados muitos espaços na campanha para figuras marcadamente direitistas
na aliança que àquela altura já o apoiava. Na ocasião, Collor tentou, sem êxito, obter a adesão do
senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP), oferecendo-lhe o lugar de vice-presidente na sua
chapa, em detrimento de Itamar Franco.
Apenas a candidatura do empresário e animador de televisão Sílvio Santos, lançada 15 dias antes
da realização do primeiro turno pelo inexpressivo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), surgiu como
ameaça à trajetória fulminante de Collor em 1989. Pesquisas de opinião apontaram Sílvio Santos como
o preferido de 30% dos eleitores, a maior parte dos quais nas camadas mais pobres, onde Collor vinha
obtendo grande apoio. Mas a candidatura de Sílvio Santos acabou impugnada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e Collor capitalizou o episódio, apontando-o como uma manobra do presidente José
Sarney contra ele. No horário eleitoral gratuito do dia 4 de novembro, investiu contra o presidente,
chamando-o de "corrupto, incompetente e safado". A agressão lhe valeu, por decisão do TSE, uma
resposta de Sarney no horário eleitoral do PRN num outro dia, além de um processo por injúria, calúnia
e difamação. Em contrapartida, contribuiu decisivamente para a consolidação das suas possibilidades
de vitória.
No primeiro turno, Collor concorreu com 24 candidatos, entre eles Aureliano Chaves (PFL),