Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 360,
julho-dezembro/2003 351F FF FFeministas e tecnocratas na eministas
e tecnocratas na eministas e tecnocratas na eministas e tecnocratas
na eministas e tecnocratas nademocratizao da Amrica L democratizao
da Amrica L democratizao da Amrica L democratizao da Amrica L
democratizao da Amrica Latina atina atina atina atinaVernica
MontecinosPubl i cadoori gi nal
menteemInternationalJournalofPolitics,CultureandSociety,v.15,n.1,September2001,p.175-199.(http://www.kluweronline.com/issn/0891-4486)R
RR RResumo esumo esumo esumo esumo:Os movimentos de mulheres muito
contriburam para pr fim aos governos autoritriosna Amrica Latina,
mas sua participao na reconstruo da poltica democrtica tem sidomais
limitada do que o esperado. Este artigo argumenta que a enorme
influncia exercida porelites tecnocrticas no processo de
democratizao na Amrica Latina tem representado
umobstculoparaamelhoriadostatusdamulhernaregio.Pressupostoseprticaspreconceituosos
quanto ao gnero tm sido apenas parcialmente abordados, em parte
porqueo processo de elaborao de polticas controlado por
economistas, um grupo profissionalcom uma postura particularmente
hostil s anlises de gnero. Sugere-se que mudanas nointerior da
(disciplina) Economia poderiam colaborar na tarefa de tornar a
democracia maissensvel s demandas das mulheres.P PP PPalavras-chave
alavras-chave alavras-chave alavras-chave alavras-chave:
democratizao na Amrica Latina, viso feminista da democracia,
polticatecnocrtica e gnero.Pennsylvania State UniversityIntroduo
Introduo Introduo Introduo IntroduoAnl i sesdeexperi nci
asrecentesdedemocratizaomuitasvezesidentificamumabem-sucedida
transio do regime autoritrio, seguida de umprocesso de consolidao
democrtica.1 Essa linguagemperi gosamenteenganosa.Parecesugeri
rqueademocraci a,umavezal canada,possaserinstitucionalizada,
tornar-se durvel e estvel. A imagem deuma democracia consolidada
obscurece as ambigidadesi nerentesaosi deai seprti casdemocrti
cas.Historicamente, a prpria idia de democracia vem
sendotemadereformasei novaesconsi dervei
s:ademocraciaumalvoquesemovimenta,noumaestrutura esttica.2 O
significado e at mesmo a existnciada democracia so temas de
contnuos debates,
conformeatorespolticosesociaislutamparareconstruirprticasexistentesearranjosinstitucionaisemdireesquemais1AgradeoaLourdesBenera,John
Markoff, Jean Pyle, VernicaSchildeaoseditoresosvaliososcomentrios
feitos a uma versoanterior deste artigo.2John MARKOFF, 1999, p.
689.Ar Ar Ar Ar Artigos tigos tigos tigos tigosVERNICA
MONTECINOS352Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003adequadamente reflitam suas aspiraes e
necessidades.Desse modo, a democracia cheia de problemas
tericoseprticosnoresolvidosumestadoincertoeademocratizao um
processo incerto.3RegimesmilitaresdominaramamaiorpartedaAmrica
Latina nos anos 1960 e 1970. Um movimento
queabrangeutodaaregioembuscadademocratizaoaconteceu nos anos 1980
e, uma dcada depois, apenasa socialista Cuba no abraou a competio
eleitoral. Osesforosparaconsolidarademocraciatmchamadoaateno tanto
das elites polticas quanto dos acadmicos,em parte devido ao alto
nvel de incertezas econmicasque acompanhou a substituio do regime
autoritrio porgovernos eleitos. A transio democrtica coincidiu
comas conseqncias devastadoras das crises da dvida,
nveispersistentemente altos de desigualdade (cerca de 40% doslares
latino-americanos estavam abaixo do nvel de pobrezanos anos de
1990), e as crescentes restries impostas pelastransformaes na
economia internacional.Nas ltimas duas dcadas, as elites de
planejamentoencararamosdesafiosdaaberturapoltica,aomesmotempoquetentavamimplementarreformaseconmicasabrangentes
e dolorosas motivadas em parte pelas
severasdemandasdeinvestidoresecredoresinternacionais.Mobilizaes
sociais em oposio a polticas orientadas
pelomercadoeprotestoscontraodesempregoesalriosdeteriorados foram
reprimidos para evitar possveis retornosao controle militar, visto
como uma ameaa iminente emalguns pases. Governos eleitos colocaram
opes polticasimpopularesnasmosdeespecialistascompetentes,protegidos
da imprevisibilidade de coalizes partidrias, deinteresses de grupos
polticos e do debate pblico. Ao invsde buscar novos caminhos para a
expanso dos direitos eda participao dos cidados, a nova e frgil
democraciaseguiuumaestratgiapolticaqueisolouedeupoderareformistas
econmicos.Asexpectativasdequeatransiodemocrticafosse promover
formas inovadoras e no testadas de
umademocraciaparticipativaederepresentatividadedeinteresses foram
abafadas pela nfase na capacidade degovernar. A democratizao veio a
ser compreendida emtermos estritos, como a construo de um amplo
consensoque, sem afetar a estabilidade, garantiria a preservaodos
procedimentos convencionais da poltica democrtica:par ti ci
paopopul aratravsdevotouni versal ecompetio multipartidria. Sem
dvida, a proteo dosdi rei tosi ndi vi duai sedasl i
berdadesfundamentai srepresentou importantes ganhos para todos os
cidados.Os aspectos menos problemticos e mais bem recebidos3
Geraint PARRY e Michael MORAN,1994, p.15.FEMINISTAS E TECNOCRATAS
NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis,
11(2): 351-380, julho-dezembro/2003353da democratizao incluem o fim
do Estado de terror, asgarantias constitucionais para organizaes
civis e
polticas,eaconfianaemumaimprensanocensurada.Vozesdissonantes,
entretanto, reclamam das concepes restritasde democracia eleitoral
que no desafiam os componentescentrais da ordem hierrquica
social.Apelos por uma democratizao mais genuna
soparticularmentepungentescomrelaosituaodasmulheres. A pouca
representao histrica da mulher navida poltica e seu estado
subordinado na economia e nafamlia provavelmente no mudaro, se no
se expandirumarepresentaopluralistaeseaparticipaodoscidados na
construo de polticas permanecer limitada.Aqueles que esto
preocupados em assegurar a igualdadedasmul heresi nsi
stememqueoprocessodedemocratizao seja acompanhado de transformaes
nacultura poltica e de reformas institucionais inovadoras
emnvelestatal,empolticaseleitorais,emgovernoslocais,assim como em
prticas sociais. No a consolidao
dademocraciaqueosproponentesdosdireitosdamulheridealizam, mas sua
transfigurao.Na prxima seo este artigo investiga as mudanasno papel
poltico da mulher na Amrica Latina durante
edepoisdatransiodemocrtica,levandoemcontaoprogressoeasdecepesdasltimasduasdcadas.Aseo
seguinte mostra a ausncia de modelos
satisfatrios,jqueemnenhumlugarasdemocraciasapagaramasdesvantagens
econmicas e sociais de suas formalmenteiguais cidads. A seguir,
argumenta-se que as
tendnciastecnocratasdasnovasdemocraciasnaAmricaLatinacolidiram com
as demandas de participao das mulheres,e a posio adversa dos
economistas perante as analisesde gnero vista como um elemento
crucial nessa
tenso.Finalmente,sugere-sequemudanasnaeducaoeseleodeeconomistasnaAmricaLatinaemaisamplamente
uma reforma da teoria econmica podemcontribuir para o
fortalecimento das polticas democrticasao garantir justia social
para todos os cidados.T TT TTransio poltica e as muilheres ransio
poltica e as muilheres ransio poltica e as muilheres ransio poltica
e as muilheres ransio poltica e as
muilheresPortodaaAmricaLatina,afasedetransioofereceu oportunidades
sem precedentes para corrigir atradicional marginalizao das
mulheres na vida poltica.Nos anos de 1970 e 1980, uma
multiplicidade de gruposde mulheres mobilizou-se contra abusos
cometidos
contraosdireitoshumanosporgovernosautoritrios,organizoureaescoletivasaodesempregoepobreza,trocouinformaes
e experincias, formando uma vasta e vibranterede de trabalho
transnacional de ativistas, acadmicas eVERNICA MONTECINOS354Estudos
Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003especialistas em poltica. As mulheres
latino-americanas
notinhamsidoengajadastoativamentenavidapblicadesdeascampanhaspelosdireitosdevotoalgumasdcadasantes.Di
ferentementedomomentodeemancipaoanterior,oativismopolticofemininonoperodo
de transio ampliou objetivos e tticas. As
mulheresseorganizaramnosparareivindicarseusdireitosdeserem atores
polticos, mas para redefinir a poltica.Mui
tosdosqueconceberamacruzadaantiautoritria como inseparvel da luta
pela igualdade degnero(comonoslogandemocracianopasenolar)esperavam
que o retorno da democracia iria aumentar osesforos de apagar as
desvantagens econmicas e sociaisda mulher. Legies de organizaes
femininas autnomasestavam promovendo uma conscientizao da
opressodegnero,eapesquisaconscientedocomponentedegneroestavaapoi
andoagendasi novadorasdeempoderamento coletivo. No nvel
internacional, agnciasde desenvolvimento e fundaes privadas
passavam
cadavezmaisafocalizarospapiseasnecessidadesdasmulheres,especialmentedepoisde1975,quandoaprimeira
Conferncia Mundial de Mulheres foi realizada nacidade do Mxico.
Demandas pela incluso do gnero
napolticaenaanlisedepolticascontinuaramaganharlegitimidade nos anos
seguintes. As perspectivas de umademocratizao conveniente para as
mulheres pareciammais favorveis do que nunca. Enquanto os discursos
degnero minavam os convencionais preconceitos machistasdascomuni
dadespol ti cas,acadmi
casedeplanejamento,umapolticadetransioestavasendogendrada na prtica
cotidiana daqueles que resistiam aoautoritarismo.4Desde o final do
domnio militar, governos eleitos naAmrica Latina iniciaram uma srie
de reformas
buscandomelhorarostatusdamulher.Masoestabelecimentodepolticaseleitoraistambmdecepcionouaquelesquedefendem
interesses femininos. Ainda no h
comparaessistemticaseabrangentessobrecomooprocessodedemocratizao
afetou as mulheres latino-americanas emdiferentes pases.5 De fato,
uma reviso recente da literaturaconclui que o papel feminino sob as
novas
democraciaslatino-americanaspermaneceemgrandemedidanoexaminado.6
Dadas as disparidades nos nveis nacionais dedesenvolvimento e nas
condies da mulher na regio (vertabela1),essesestudossoessenciais.7
AsvariaesnacionaisrefletemdiferenashistricasnasnoesdegneroembutidasnoscdigoslegaisenasprticasdoEstado,diferenasemsistemaspartidrioseinstituieslegislativas,clivagenssociaiseideolgicas,ediferentes4Notadostradutores:otermogendradautilizadonosentidode
que as prticas sociais foramassumindoumaperspectivadegnero, tendo
impacto sobre aspolticas.5Anl i sescomparati vasdarelao entre gnero
e cidadaniatm enfocado principalmente
ospasesdesenvolvidos.Ver,porexemplo,AnnORLOFF,1993,eBirte SLIM,
2000.6 Tracy FITZSIMMONS, 2000, p. 221.7 Para informaes
comparativasda situao das mulheres em
19paseslatino-americanos,verTeresa VALDS e Enrique
GOMARIZ,1995.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA
LATINA Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003355legadosdepolticascoletivasdemulheres.Avanosnostatus
das mulheres tm variado de pas a pas,
conformeoscaprichosdasnegociaespolticas,mudanasnasrel
aesdepoder,apoi odepol ti cosi nfl uentes,mobilizaes de massas e a
habilidade das representantesfemininas de aproveitar as
oportunidades no processo deplanejamento.Fontes: World Bank, World
Development Indicators, Base de dados sobre estatsticas de gnero; *
ECLAC, Social Panorama ofLatin America, Edio de 1996 (Irma
ARRIAGADA, 1998); ** ECLAC, Baseado nas tabulaes especiais dos
levantamentosdomsticos para cada pas (1994) (ARRIAGADA, 1998)T TT
TTabela 1 Indicadores selecionados do status social e econmico das
abela 1 Indicadores selecionados do status social e econmico das
abela 1 Indicadores selecionados do status social e econmico das
abela 1 Indicadores selecionados do status social e econmico das
abela 1 Indicadores selecionados do status social e econmico
dasmulheres na Amrica L mulheres na Amrica L mulheres na Amrica L
mulheres na Amrica L mulheres na Amrica Latina atina atina atina
atinaP PP PPases ases ases ases ases Expectativade Expectativade
Expectativade Expectativade Expectativade Analfabetismo
Analfabetismo Analfabetismo Analfabetismo Analfabetismo Mulheresem
Mulheresem Mulheresem Mulheresem Mulheresem F FF FFer er er er
ertilidade tilidade tilidade tilidade tilidade Empregadas
Empregadas Empregadas Empregadas Empregadas Mdia Mdia Mdia Mdia
MdiaVidaF VidaF VidaF VidaF VidaFeminina eminina eminina eminina
eminina F FF FFeminino(%) eminino(%) eminino(%) eminino(%)
eminino(%) F FF FForade orade orade orade orade (Nascimentos
(Nascimentos (Nascimentos (Nascimentos (Nascimentos Domsticas
Domsticas Domsticas Domsticas Domsticas deR deR deR deR deRenda
enda enda enda enda(Anos) (Anos) (Anos) (Anos) (Anos) T TT
TTrabalho(%) rabalho(%) rabalho(%) rabalho(%) rabalho(%) porMulher)
porMulher) porMulher) porMulher) porMulher) (Comparado (Comparado
(Comparado (Comparado (Comparado- -- -- F FF FFeminina eminina
eminina eminina emininase a se a se a se a se a (Comparado
(Comparado (Comparado (Comparado (Comparadoporcentagem porcentagem
porcentagem porcentagem porcentagem -se a -se a -se a -se a -se ade
todas as de todas as de todas as de todas as de todas as
porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem porcentagemmulheres
mulheres mulheres mulheres mulheres dadadadadarenda renda renda
renda rendaempregadas)* empregadas)* empregadas)* empregadas)*
empregadas)* masculina)** masculina)** masculina)** masculina)**
masculina)**Argentina 77 3 32 2,6 12,3 70,5Bolvia 64 22 38 4,1 11,2
54,4Brasil 71 16 35 2,3 19,8 55,8Chile 78 5 33 2,6 12,7
68,1Colombia 73 9 38 2,7 10,2 69,2Costa Rica 79 5 31 2,6 Cuba 78 4
39 1,6 RepblicaDominicana 73 17 30 2,9 Equador 73 11 27 2,9 El
Salvador 72 25 36 3,3 Guatemala 67 40 28 4,4 Hait 56 54 43 4,3
Honduras 72 27 31 4,2 13,7 62,7Mxico 75 11 33 2,8 9,6 55,5Nicargua
71 31 35 3,7 Panam 76 9 35 2,6 18,1 73,1Paraguai 72 9 30 3,9 24,3
59,9Peru 71 16 31 3,1 Venezuela 76 9 34 2,9 9,4 69,4Uruguai 78 2 41
2,4 16,4 60,6VERNICA MONTECINOS356Estudos Feministas, Florianpolis,
11(2): 351-380, julho-dezembro/2003A maioria dos pases da regio
comeou a introduzirmudanas legais, abordando as normas mais
patriarcais enotrias contidas nos cdigos trabalhistas, criminais e
civis.8Esforosparaadequarlegislaesexistentesaosnovosparmetros
internacionais so especialmente
remarcveisnareadedireitoshumanos,isto,violnciacontraamulher,porsuamuitoelevadalegitimidademoraleemocional.9
Governos tm envidado esforos significativospara disseminar
informaes sobre os direitos das mulheres(cri
andocentrosquefornecemi
nformaeseaconselhamento,linhastelefnicasespeciaispararesponder a
perguntas sobre leis especficas, publicaes,e programas de rdio e
TV). Existem inmeras tentativas paraincluir o gnero nos processos
de construo de polticas eencoraj armai orcoordenaoentreagnci
asgovernamentais (isto , comisses interministeriais) em
aesqueenvolvemproblemasdegnero,especialmenteempolticasdestinadasafacilitaroacessodamulheraotrabalho
assalariado e a dar assistncia a mulheres pobresquesochefesdefam l
i a(creches,i ncenti
voamicroempresasetreinamentoprofissional).Diversasiniciativasforamadotadasparaalteraresteretiposdegneronamdia,noslivrosdidticoseemcurrculosescolares.Emalgunscasos,instituiespblicastmincorporado
o critrio de oportunidades iguais em todas assuas atividades (por
exemplo, a Direccin del Trabajo, ouDiretrio do Trabalho). Em
diversos pases, novas normas tmsido aprovadas a respeito da proteo
de mulheres grvidasou que amamentam no local de trabalho, do
regulamentodas horas de trabalho e dos salrios mnimos para
mulheresquetrabalhamnoserviodomstico,edaextensodeprogramas de
oportunidades iguais para mulheres rurais eindgenas.Existe tambm
uma srie de propostas para punir
oassdiosexualnotrabalho,planosdesadeedeaposentadori adi scri mi
natri os,eoutrasmedi dasdirecionadas a melhorar a posio da mulher
no
mercadodetrabalho.Programastmsidodesenvolvidosparapreveniragravidezdeadolescenteseparaencorajaroenvolvimento
do pai nas responsabilidades familiares (porexemplo, atravs de uma
participao mais igualitria dospais nas escolas). Na rea da legislao
das varas de famliaas revises ainda esto longe de serem
satisfatrias, masvrios pases introduziram reformas legais para
reconhecerunies informais, dar igualdade a crianas nascidas
dentroouforadomatrimnio,eerradicaradiscriminaonogerenciamento da
propriedade, no exerccio da autoridadeparental, e em outros
direitos e deveres conjugais. Existem,ainda, diversos exemplos de
programas de treinamento com8 Algumas das mais
progressistasreformas trabalhistas incluem, porexemplo, a extenso
da licenamaternidade para quatro mesespara todas as trabalhadoras
(naCosta Rica), a licena ps-natalopcional para a me ou para
opai(noChile),facilidadesdecreches no local de trabalho
emtodososestabelecimentoscomnomnimo20trabalhadores,homensoumul
heres(naVenezuela).Hanna BINSTOCK (1998)
apresentaumabrangentelevantamentodasmudanasl egi sl ati vasadotadas
em cinco pases latino-americanos.9 Elizabeth JELLIN, 1996, p.
179.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA
Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003357foco no gnero para funcionrios pblicos
(profissionais dasade, professores, policiais e membros do
judicirio). Almdisso, governos vm apoiando a criao de programas
deestudodegneroeoutrasatividadesdepesquisaeextenso em universidades
e outras instituies de ensinosuperior.Sistemas de cotas tm sido
adotados, obrigando ospartidos polticos a apresentar uma certa
porcentagem demulheres candidatas, por exemplo, na Argentina (a lei
daparidade de 1991 requer que no mnimo 30 por cento
doscandidatoscongressistassejammulheres),noBrasil(umalei federal de
1995 reserva uma cota de 20 por cento paramulheres na lista de
candidatos a eleies municipais) ena Bolvia (uma reforma de 1997 do
regime eleitoral exige25 por cento de candidatas a postos do
senado). No Chilee na Costa Rica, providncias foram tomadas para
facilitaro acesso da mulher a posies de liderana nos
partidospolticos.Tais mudanas de polticas e reformas legais
refletemapenasparcialmenteoaumentodaconscinciaeorganizao poltica
das mulheres latino-americanas nasltimas duas dcadas. As medidas
com enfoque no gneroforam influenciadas tambm por mudanas no
ambientedas polticas internacionais e pelas recentes agitaes
nosencontroseconvenesinternacionaisquetratamdasrel
aesdognerocomquestesambi entai
s,populacionaisededesenvolvimentosocial.Ospapiseconmicos e sociais
da mulher e, em maior ou menor
grau,odesenvolvimentodaigualdadedegnerosoagorai ncl u doscoti di
anamenteemdebatessobredesenvolvimento.Emummomentodedecrescenteinterdependncia
e ativismo regional, razes simblicas eprticas tornam difcil aos
governos no concordarem, pelomenos formalmente, com as recomendaes
adotadas emnveis globais e regionais.10 At 1985, mais de trs
quartosdospa sesl ati no-ameri canoshavi amrati fi
cadoaConvenosobreaEliminaodeTodasasFormasdeDiscriminao contra a
Mulher, o principal instrumento legalinternacional destinado a
garantir os direitos humanos paraas mulheres.11 Em 1977, membros de
pases da ComissoEconmica das Naes Unidas para a Amrica Latina e
oCaribe (ECLAC) adotou um Plano Regional de Ao para
aIntegraodeMulheresnoDesenvolvimentoEconmicoSocialLatino-Americano.Acadatrsanosumfrumpermanentedegovernoaval
i
aoprogressonaimplementaodoPlanoRegional.Essedocumentofoicomplementado
em 1994 por um novo Plano de Ao para19952001,noqual
sereconhecequeosefei
toscombinadosdodbitoeasmedidasdeajusteestrutural10 Na Bolvia, por
exemplo, ondea presso das camadas inferioresobstru
daporumgraudeanal fabeti smofemi ni
noqueultrapassa20porcento,eporuma tendncia entre as
mulheresindgenas de privilegiar classe eetni aemdetri
mentodaidentidade de gnero, o
governoconstantementereforasuastentativas de obedecer s
novasnormasinternacionais(GratziaSMEALL,
2001).11AConveno,adotadapelaAssembliaGeraldasNaesUnidasem1979,requerqueosEstadosexeramaopositivapara
assegurar o exerccio dessesdi rei tos.Ocumpri
mentodaConvenomonitoradopeloComi tnaEl i mi naodaDiscriminao contra
as
Mulheres.OsgovernossoobrigadosainformaracadaquatroanoscomoestoimplementandoaConveno.VERNICA
MONTECINOS358Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003tmrepresentadoumaumentonotrabalhoprodutivoereprodutivo
feminino, com profundas repercusses no seubem-estar econmico, fsico
e social.12Outrasorganizaesinternacionais(incluindooBancoMundi al
eoBancodeDesenvol vi mentoI nterameri cano)i denti fi
carammetasespec fi
cas,metodologiasecronogramasparapromover,guiaremonitorar a adequao
do governo aos novos padres
deigualdadedegnero.13Explicarporqueecomovriasentidades
supranacionais vieram a abraar aspectos
daagendadeigualdadedegnero(principalmentecomoparte de uma preocupao
crescente com os altos
custossociaisdasreformasorientadaspelomercado)umai mpor
tantequestoquenopodeserexpl oradaamplamente aqui.14 O novo contexto
internacional,
porm,compeleosgovernosaaparentarque,senoestocomprometidos com a
igualdade de gnero, pelo menosno esto indiferentes ou no se opem a
ela.Existem preocupaes sobre at que ponto a novalegislao a favor
dos novos direitos das mulheres est sendoimplementada, e alguns
observadores se preocupam
comasreaescontrriasareformasfeministas(gruposconservadores montaram
uma campanha efetiva contra
oapoiooficialapropostasfeministasparaaConfernciaMundial de Beijing
de 1995). No caso das cotas partidrias,quandoadotadasvol untari
amente,nohimplementaes consistentes, at mesmo pelos partidos
quemaisapiamascausasfemininas.Odebatesobreapertinncia e as
vantagens das cotas complexo:
algunsvemascotascomo,pelomenostemporariamente,ummecanismo efetivo
para aumentar o nmero de mulheresna poltica (quando legalmente
ordenado e aplicado
emnveisnacionaiselocais);outrosobjetamqueascotaspodem no levar
massa crtica necessria, pode tornar-se um teto, ao invs de uma
base, ou pode resultar nasel eodemul heresnoenvol vi
dasemquestesfemininas.15Aintroduodereformasfavorveissmulhereslevouaalgunsresultadoscontraditrios:porexemplo,atendncia
de toda a regio de criar rgos pblicos
paraassuntosdamulheralgumasvezesacusadadeserumimpedimentoaorganizaesecausasfemininas;16aformulaodosplanosdeigualdadedegnerofoidenunciadaporterobjetivosvagosdemaisparaseremavaliados;17
a abertura de novas oportunidades de
trabalhoparaamulhernamaiorpartedasvezesridicularizadacomo uma nova
forma de explorao; ou a identificaodas mulheres como destinatrias
dos programas contra apobreza criticada por reforar esteretipos de
gnero e12 ECLACUNIFEM, 1995, p. 10.13Vej a,porexempl
o,aConvenoInteramericanadePreveno,Puni oeErradicao da Violncia
contraaMul her,adotadapel aOrgani
zaodosEstadosAmericanos,oPlanodeAoparaCorrigirDesigualdadesnaParticipaodosHomensedasMul
heresnaVi daPol ti ca,adotadopel oConsel
hoInterparlamentaremmarode1994,assimcomooProgramaRegional de Ao
para MulheresnaAmricaLatinaenoCaribepara19952001,mencionadoacima.14
Alguns analistas sugerem que acrescente visibilidade e a
efetivapressoexercidapelasredestransnacionais de advocacy
(porexemplo, a criao de O Olhar dasMul heressobreoBancoMundi al
,umgrupodeaproximadamente 900 mulheresdeorgani zaesno-governamentai
sformadonaConferncia de Beijing de 1995)tmforadoagnci
asmultilaterais a reestruturarem seusprprios trabalhos, criando
assimumaespciedeconvergnciaentre eles e as organizaes
no-governamentai s(Nahi dASLANBEIGUI e Gale SUMMERFIELD,2000, e
Roberto KORZENIEWICZ eWilliam SMITH, 2000).15 Nikki CRASKE, 1998, e
KathleenSTAUDT, 1998.16Amaioriadospaiseslatino-ameri canoscri
ouumamaquinariademulheres.Osexemplos incluem novas
polticasparamulheresnaVenezuela(1979),Bolvia(1983),MxicoeBrasil(1985),CostaRica(1986),Equador(1986),Ni
cargua(1987), Argentina e Chile (1991).17 Planos de igualdade de
gneroforamaprovados,entreoutrospases,naCostaRica(1990),Argentina(19931994e19951999),Venezuela(1993)eChile(19941999
e 20002010).FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA
LATINA Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003359portransferirparaosombrosdasmulheresodeverdaproviso
social.provavelmentecedodemaisparaavaliarasconseqnciasdemuitasdasmedidasintroduzidasnadcadapassada,epodeserprematuroconcluirqueasreformas
de gnero contm mais apelos retricos para aigualdade de gnero do que
mecanismos efetivos para seualcance. Contudo, possvel generalizar
que a
retomadadeumapolticaeleitoralparadoxalmentecriounovosobstculosparaarepresentaopolticadasmulheres.Di
versasorgani zaesdemul heresperderamfinanciamentos, ficando
desmobilizadas e
fragmentadas.Onmerodemulheresnoscorposlegislativosnaregiopermanece
baixo (ver tabela 2). Na Argentina e no Chile onmero de
legisladoras durante 1990 era ainda menor doque antes de 1970. A
poltica partidria e as polticas elitistasrelegaram as mulheres
(especialmente as que no so daelite) e muitas questes de gnero a um
lugar secundriona agenda de democratizao. As atitudes patriarcais
nasesferas pblica e privada no mudaram muito.17Tabela 2 Mulheres
nas legislaes nacionais na Amrica LatinaRanking Pases Ano de Eleio
Congresso Estadual Ano de Eleio Congresso FederalMundial ou
SenadoN.% N.%12 Cuba 1998 166 27,6 15 Argentina 1999 68 26,5 1998 2
2,828 Peru 2000 24 20,0 29 Costa Rica 1998 11 19,3 38
RepblicaDominicana 1998 24 16,1 1998 2 6,739 Mxico 2000 80 16,0
2000 20 15,643 Equador 1998 18 14,6 51 Uruguai 1999 12 12,1 1999 3
9,753 Colmbia 1998 19 11,8 1998 1312,754 Bolvia 1997 15 11,5 1997
13,758 Chile 1997 13 10,8 1997 24,266 Panam 1999 7 9,9 67 Nicargua
1996 9 9,7 67 Venezuela 2000 16 9,7 68 El Salvador 2000 8 9,5 69
Honduras 1997 12 9,4 75 Guatemala 1999 10 8,8 88 Belize 1998 2 6,9
1993 337,593 Brasil 1998 29 5,7 1998 67,4107 Paraguai 1998 2 2,5
1998 817,8? Haiti 2000 ? ? 2000 ? ?Fonte: Web page da Unio
Inter-Parlamentar, 200117FITZSIMMONS,2000,eShahraRAZAVI,
2000.VERNICA MONTECINOS360Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2):
351-380, julho-dezembro/2003O fortalecimento da cidadania da mulher
ainda
estpendente.Almdisso,aspolticaseconmicasesociaisadotadaspelosgovernoseleitosapsofimdoperodoautoritriotmsidodemuitasformasdesvantajosasaosinteresses
das mulheres.18 As economias latino-americanasexperimentaram um
crescimento econmico moderado nadcada de 1990, mas o nvel de
pobreza e de distribuiode renda e de riquezas no melhorou. Polticas
que
reduzemdireitostrabalhistas,estabilidadedeemprego,salriosebenefcios,
assim como cortes nos subsdios
governamentaisenosgastospblicoscomaeducaoesade,tmcausado um impacto
desproporcionalmente negativo
nobem-estardasmulheres.Aadoodecritriosdosetorprivado na proviso de
servios sociais tambm tendeu
aacentuarasdesvantagensdasmulheres.Porexemplo,osistema chileno de
aposentadoria privada (que foi o pioneirodas reformas
previdencirias da regio), ao adotar a
lgicadesistemasdeseguroprivadonosquaisosbenefcioscorrespondemscontribuieseaosnveisderiscoindividuais,
aprofundou a desigualdade de gnero: a maiorexpectativa de vida das
mulheres, a idade mais baixa deaposentadoria, os menores ndices de
participao na forade trabalho e os salrios menores afetam suas
contribuiesaosfundosdepensoemcontasdeaposentadoriaindividuais,
levando, especialmente no caso de mulheresmais pobres, a penses
mais baixas.19Mulheres, democracia e democratizao Mulheres,
democracia e democratizao Mulheres, democracia e democratizao
Mulheres, democracia e democratizao Mulheres, democracia e
democratizaoSobquai scondi espodeoprocessodedemocratizao ir alm da
legitimidade das demandas
dasmulhereseproduzirmudanasefetivasnostatuspoltico,econmico e
social da mulher? O que podemos aprenderdasexperi nci asdemul
heresemoutrossi stemasdemocrticos? Estudos de transio acrescentam
uma
novaericadimensoparaabordagensmaisabrangentesdarelaoentregnero,cidadaniaedemocracia.20Essaliteraturamostraqueateoriaeaprticademocrticaexistenteemqualquerlugarnoconseguiramexplicareresolver
a persistente subordinao da mulher. Os
obstculosparaaigualdadepolticaoriginaram-senostatuslegaldesigualdasmulheres,naausnciadeumarendaindependenteesegura,nasuaconcentraoematividades
no pagas, na sua posio inferior no mercadode trabalho e na
conseqente escassez de prestgio social,de autonomia pessoal, de
tempo e at de mobilidade
fsica.Modelosdedemocracialiberalseutilizamdepremissasuniversalistasquesoigualmenteaplicadasamulheres
e homens. Porm, provises sociais e legais
que18DianeELSON,1994,PamelaSPARR,1994,LourdesBENERA,1995, e CRASKE,
1998.19AlbertoARENASDEMESAeMONTECINOS,
1999.20CarolePATEMAN,1989,AnnePHILLIPS, 1992, Ursula VOGEL, 1991e
1998, Mary DIETZ, 1992, SusanMENDUS, 1992, Ruth LISTER, 1993,e Rian
VOET, 1998.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA
LATINA Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003361excluem as mulheres da comunidade poltica
contradizemabertamentetaispremissas.Ahistriadademocraciamoderna se
desenvolveu com base em princpios
abstratosdeliberdadeeigualdade,masasmulheresforamestereotipadasetratadascomoinferiores,incapazesdeassegurarumadistribuiojustadosrecursos.Emtodoomundooexercciodedireitosformaispermaneceproblemtico.Asmulherescontinuamfortementesub-representadas
em sindicatos, em altos cargos
executivos,emrgoslegislativosegovernamentais.Em1995elasocupavam
apenas 9,4 por cento das cadeiras do senadoe 11,6 por cento da
cmara de deputados nos parlamentosnacionais do mundo.A democracia
falhou em servir bem as mulheres,21at mesmo nos paises hoje
considerados modelos a
serememuladospelasnovasdemocraciaslatino-americanas.Emboraamaioriadossistemasdemocrticosreconheaatualmente
a igualdade formal legal e poltica da
mulher,osobstculosparaoexercciodeseusdireitoscomocidads, moldados
em grande parte pela diviso
sexualdetrabalhoremuneradoouno,continuamintocados.Crticasfeministasdateoriaeprticadademocraciadiferem
entre si,22 mas concordam sobre a necessidade
dereconceitualizarcidadaniaeampliarosignificadodapoltica atravs de
uma redefinio das fronteiras entre
asesferaspblicaeprivada.Alinguagemaparentementeneutraquantoaognerousadanasteoriasliberaisdademocraci
aperpetuadesvantagensexi stentesnaparticipao da mulher em processos
decisrios polticos esociais.Historicamente, o acesso da mulher
cidadania
temsidogradual,namaioriadasvezesatravsdecritriosdistintivamente
separados. Isso no corroeu a discriminao,masreforouamargi nal i
zaopol ti ca(comonosilenciamento de grupos de mulheres aps a
conquista dovoto, silncio que se estendeu do final da primeira
ondafeminista,nosanos1930e1940,atosanos1970)eaumentouadependncia(comoemesquemasqueatrelam
benefcios de previdncia social maternidade
eaocasamento).Comopodeaondaatual dedemocratizao na Amrica Latina
abrir oportunidades
quesedistanciemdefrmulasqueaindatmquealterarhierarquiasdegneronasfamlias,nosmercadosenapoltica
em outras partes do universo democrtico?As ligaes entre
democratizao e igualdade degnero continuam grandemente ignoradas
pelos analistaspolticos de tendncias predominantes.23 Como era de
seesperar, a natureza gendrada da poltica de transio foiabordada
pela primeira vez por pesquisadoras feministas.2421 PHILLIPS,
1992.22 VOET, 1998.23Paraexcees,verPhillipeSCHMI
TTER,1998,eJoeFOWERAKER, 1998.24JaneJAQUETTE,1989,SoniaALVAREZ,
1990, Georgina WAYLEN,1998 e 1996, JELIN, 1996
JAQUETTEeSharonWOLCHI K,1998,eElizabeth FRIEDMAN, 1998.VERNICA
MONTECINOS362Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003Nas ltimas duas dcadas a teorizao feminista
adquiriuprestgionomundoacadmico,influenciandonovoscampos de estudo,
questionando as bases das
disciplinasexistentes,muitasvezesexplicitandoaconexoentreotrabalho
acadmico e a reforma poltica. Mas a resistncia investigao de cunho
feminista persiste, especialmenteem algumas disciplinas, e a
pesquisa segregada continuaa produzir avaliaes insatisfatrias do
carter
gendradoderealidadessociaisepolticas.Essaumatendnciaassustadora.Oconhecimentoelaboradosobessascondiestendeaperdermuitodeseupotencialtransformador
e a alcanar audincias
auto-selecionadas.Assim,ospreconceitosedistoresdopensamentoconvencionalpermanecemfortalecidosportrsdehierarquias
de prestgio profissional, da complacncia
dasrotinasacadmicasedasmodestasrecompensasdacooperao acadmica. As
perspectivas de conscinciade gnero no planejamento e nas reformas
institucionais smel horaroquandooconheci mentofi
carmenossegregado,permitindoqueosanalistasdascorrentespredominantesexploremasamplasimplicaesdasrelaes
de gnero em todas as reas da vida econmicae poltica, e que os
defensores dos direitos da mulher
tenhamumaparticipaocontnuanoplanejamentoenaimplementaodereformassociais,econmicasepolticas.25O
perodo de transio efetivamente abriu espaospara inovaes
institucionais na vida pblica da AmricaLatina. Enquanto a poltica
partidria esteve suspensa, novospolticos apareceram alinhados com
os partidos e polticostradicionais ou no lugar deles. Os movimentos
de mulhereslatino-americanos cresceram significativamente em forae
visibilidade pblica, especialmente nos anos 1980. Redesfeministas
promoveram cooperao para alm dos limitesnacionais, de classe e de
partido. A tradicional distinoentre interesses privados e pblicos
foi testada de maneirasingular e sem precedentes, como ilustrado
pela politizaoda maternidade, mais notavelmente pelo grupo das
MesdaPlazadeMayonaArgentina.26Entretanto,osnovosdiscursos pblicos e
agendas polticas refletiram mais umaestratgia de resistncia contra
o autoritarismo do que umacrtica s instituies democrticas
convencionais.O gnero, alm de sua emergncia como uma
baseimportanteparaaaocoletiva,ganhoutambml egi ti mi
dadecomoumacategori adeanl i se(odesenvolvimento de estudos de
gnero no Chile duranteesse perodo detalhado em.27 A pesquisa social
comeoua abandonar a premissa de que a sociedade consistia
deindivduos indiferenciados e/ou classes sociais conflitantes.25
Para uma anlise perturbadoradecomoosdi scursosdedesenvolvimento
reinterpretaramrestri tamenteai di adeempoderamento das mulheres
aparti rdeumparmetroindividualista e no-feminista,
verSavitriBISNATHeDianeELSON,2000.26 Marguerite BOUVARD, 1994.27
Teresa VALDS, 1993.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA
AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003363As mulheres estavam marchando nas ruas; a
feminizaodapobrezaeravisvel.Patrocinadoresinternacionaisfavoreceramprojetosdepesquisaeaescomunitriascomcomponentesespecficosdegnero.Omundoacadmicoepoltico,toacostumadodominaomasculina,
descobriu que os interesses e as
necessidadesespecficasdasmulheresnopodiamserignorados.ANicargua
revolucionria, em contraste com a experinciacubana anterior, foi
mais solidria com o feminismo.28 Mesmohostil ao feminismo e cruel
em sua perseguio de
gruposfemininosorganizados,atoSenderoLuminosoPeruanobuscou
ativamente o recrutamento de mulheres nos anos1980: quase 40 por
cento de seus membros e metade deseus lderes eram mulheres.29 A
esquerda latino-americanano podia mais descartar as idias
feministas
simplesmentecomoumadistoroburguesainspiradanoexterior.Asmulheres no
podiam ser tratadas como uma massa passivade eleitoras prontas a se
sensibilizar com mensagens sobrea famlia, patriotismo e
abnegao.Alguns partidos, especialmente partidos de esquerda(como o
Partido Socialista no Chile e o PT no Brasil),
tornaram-semaisreceptivosaoativismofeministaeincorporaramalgumas
das demandas dos movimentos das mulheres
emsuasplataformas.Atmesmoalgunspartidosdedireitafizeramajustesparapareceremsolidriosquestodamulher.
J foi argumentado, porm, que os partidos polticostmumpotenci al
desmobi l i zador nastransi esdemocrticas, sufocando as atividades
deorganizaesautnomasedevolvendoapolticaaostatusquodegnero.30 Na
melhor das hipteses, os partidos se
mostraramcomoparceirostmidos.Atrairosvotosfemininosfoiimportante,masnoacustodealienareleitoradosmaisamplos
com as demandas feministas: os partidos estavamdispostos a abrir
espaos em suas fileiras, mas muitas
vezesincorporarammulheresemsessesseparadas,noalteraram as rotinas
marcadas por preconceitos de gnero(horrio de reunies, por exemplo)
e no
proporcionaramsuficientesrecursosdecampanhaparaascandidaturasfemininas.
Rivalidades partidrias causaram divises dentrodeorgani zaesemoti
varammui tasati vi stasaabandonarem a poltica nacional.A
efervescncia da mobilizao feminista teve vidacurta. Tem sido
observado que os movimentos de
mulheresnoconverteramfacilmenteamobilizaopolticaemrepresentao
institucional, assim que a poltica partidriacompetitiva
restabelecida.31 Na Amrica Latina, o
ciclodeconscinciadegneroeativismofoirapidamenterevertido quando
regimes eleitos se acomodaram em ummodelo de transio seguro,
evitando desvios radicais das28 WAYLEN, 1996, p. 77 e 85.29 Cecilia
BLONDET, 1995.30 FRIEDMAN, 1998, p. 93 e 95.31 RAZVI, 2000, p.
5.VERNICA MONTECINOS364Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2):
351-380, julho-dezembro/2003regras estabelecidas da democracia
liberal. O
progressofeitonocontextops-autoritriotemsidonotvelemalgumasreas,mashouveapenasumaincipienteinstitucionalizao
de polticas focadas no gnero nos anos1990, basicamente sob a tutela
do Estado.A restaurao de eleies competitivas implicou
umaremasculinizao da poltica.32 Com o ressurgimento
dospartidospolticos,osmovimentossociais(particularmenteosmovi
mentospopul aresdemul
heres)perderamautonomia,apoio,membroselderes.Poucasnovasorganizaes
de mulheres foram criadas desde ento. Osgrupos existentes
redefiniram seus objetivos, restringindo
seufocoaquesteseconmicaselocaisparaassegurarasobrevivncia
organizacional, ou debandaram por falta deexperincia e recursos
para adaptar-se ao novo ambientepoltico.33A expanso da produo
baseada no mercado edas atividades de servio proporcionou a algumas
mulheresmaior independncia econmica. O ndice de
atividadeeconmicaentreasmulheresde15anosoumaisnaAmrica Latina
evoluiu de 22 por cento em 1990 para 34porcentoem1990.34
Masamaiorparticipaodasmulheresematividadesdegeraoderendatemfeitopouco
para liber-las das tradicionais responsabilidades decuidado na
famlia e na comunidade (a no ser que
possambancarossalriosdeempregadasdomsticas,quecontinua sendo uma
das maiores categorias ocupacionaisentre mulheres latino-americanas
ver tabela 1). O papelreprodutivo das mulheres tem sido amplamente
ignoradonaprivatizaodaassistnciasocialenapromoodaparticipao
feminina em mercados de trabalho cada
vezmaisflexveisedesregulamentados.Emnomedaresponsabilidade,
autonomia e confiabilidade pessoal, osindivduos so levados a prover
sua prpria subsistncia ea responsabilizar-se pelo fato de no
conseguir entrar nomercado.35Adecepoagorageneralizadaentreaqueles
que h mais de uma dcada lutaram para
introduzirigualdadedegneroeconcepesmaisinclusivasdecidadania na
agenda democrtica.Democracia tecnocrata e desapontamento Democracia
tecnocrata e desapontamento Democracia tecnocrata e desapontamento
Democracia tecnocrata e desapontamento Democracia tecnocrata e
desapontamentofeminista feminista feminista feminista feministaA
fase inicial da transio democrtica na AmricaLatina coincidiu com a
devastadora crise econmica
dosanos1980.Governoseleitosenfrentaramdesequilbrioscomerciais,inflaoaltaedvidasexternas,dficitsoramentrios,
aumento de desemprego e de pobreza. Afalta de investimentos e
emprstimos estrangeiros diminuiu32 CRASKE, 1998.33 FITZSIMMONS,
1995.34 Molly POLLACK, 1998, p. 31.35 Vernica SCHILD,
2000.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA
Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003365o leque de opes para as polticas. Elites
governamentais,almejandoaumentarsuacredibilidadeaosolhosdefinanciadores
e investidores estrangeiros ansiosos,
adotaramumanovaestratgiadedesenvolvimento.Dcadasdeintervencionismoestatalcomeamaserdesmanteladasatravs
de programas de privatizao, de polticas sociaisdelimitadas e de um
estilo mais tcnico e menos
politizado.Assim,osdesafiosdaliberalizaopolticaforamenfrentados com
revises profundas de velhos paradigmasideolgicos e de planejamento.
Produtividade de
trabalho,eficinciadegovernoedemandasdeinvestidoresreceberamatenorenovada.Enquantoosgovernostinham
que assegurar uma ampla base de apoio
poltico,asreformasdomercadoexigiamqueaautonomiaeacapacidade
gerencial das elites de planejamento fossemprotegidas das
interferncias de polticas partidrias e dopartidarismo de interesses
organizados. Uma leva cada
vezmaishomogneadeespecialistaseconmicosbemtreinados e similarmente
socializados chegou ao topo damaquinaria poltica. A profisso de
economista, cada
vezmaisunidaemsuaaceitaodaeconomiaortodoxa,ajudouafortaleceronovocomprometimentocomaausteridade
fiscal, as reformas orientadas pelo mercado ea liberalizao do cmbio
e do comrcio.36Especialistas em governo garantiram que a
polticademocrtica no colocaria em perigo as perspectivas
decrescimentoeconmico.Equipeseconmicascoesas,versadasnalinguagemenasdoutrinasdacomunidadefinanceirainternacional,eaptasparaenvolverosetorprivadoemdiscussesecompromissos,moldaramnoapenas
os termos dos discursos das polticas, mas tambmos limites do que
era possvel nas democracias
emergentes.Alegitimidadeadvindadosargumentoscientficosserviucomojustificativaparapolticascontrovertidasedealtocusto.
O emprego de critrios tcnicos prometia disciplinarburocraci asarbi
trri as,cl i entel i
stasecorruptas,encorajandoassimasexpectativasracionaisdosatoreseconmicos.
O gerenciamento econmico no mais
seriainformadoporprticasincompetentes,particularistasepopulistas.Os
technopols fizeram uma entrada triunfal na cenapoltica
latino-americana.37 Eram basicamente
economistascomps-graduaoemuniversidadesestrangeiras,osquais,
diferentemente dos tecnocratas que serviam sob oregime autoritrio,
se dedicaram a promover os
prospectosdademocracianaregio.Oprestgiodecredenciaisacadmicasconverteu-seemcapitalpoltico,eostechnopols
rapidamente subiram a posies de lideranaemagnci asgovernamentai
s,par ti dospol ti cos,36 John WILLIAMSON, 1994, eMONTECINOS e
MARKOFF, 2001.37 Jorge DOMINGUEZ, 1997.VERNICA MONTECINOS366Estudos
Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380, julho-dezembro/2003parl
amentoseatsi ndi catos.Essasdemocraci astecnocratas38
prometiamestabilidadeeprosperidadeeconmicaemumtempodecrescentecompetiodemercado.
Mas seus princpios fundamentais chocavam-secom as demandas por um
sistema de governo mais
inclusivo,participativoeigualitrioquemovimentosdemulhereshaviam
articulado na fase de pr-transio.Technopols e mulheres organizadas,
os dois
recm-chegadosmaisconspcuosnapolticadetransioderegime,coincidiamemseusargumentosdequevelhasprticas
e doutrinas polticas necessitavam uma infuso deidias criativas.
Ambos ganharam visibilidade ao introduzirnovos conceitos no antigo
discurso poltico. A ascenso defeministas e de technopols foi
auxiliada por uma densa
rededepatrocinadoresinternacionais,bemcomopeloseutalentoemorquestrarnveisinusitadamentealtosdecooperaopartidria.Ambososgruposforamcapazesdeofuscarpol
ti costradi ci onai squepareci amdespreparados para enfrentar os
desafios de uma nova era.Os caminhos das feministas e dos
technopols,
porm,apontavamdireesopostasaoprocessodetransio.Enquantoalgumasfeministasargumentavamqueaspolticas
democrticas convencionais continham prticasinerentemente
no-democrticas que marginalizavam asmulheres (e outros grupos
desamparados) das estruturas dedeci so,avi sodostechnopol
sconcordavafundamental mentecomasfundaesl i berai
sdademocracia.Emboraasfeministasclamassemporprofundas mudanas nas
estruturas econmicas e sociais,assim como em normas e valores
culturais, os technopolsno tinham problemas com as premissas
individualistas
damercadizaoenoquestionavamashierarquiastradicionais de firmas e
famlias.As propostas feministas mais ambiciosas chocavam-se com a
nfase dos technopols sobre a governabilidade.Os selos de qualidade
do planejamento tecnocrtico erama manuteno do consenso e o
posicionamento
cautelosocomrefernciaaquestesderedistribuio.Ocontroledemocrtico, na
compreenso dos technopols, tinha quegarantir prudncia. Uma poltica
gendrada causava divisese poderia fomentar a oposio em grupos que
tinham queser acalmados. Desviaria a ateno do objetivo
principal,queeraodeassegurarasbasesmateri ai sdademocratizao.A
abertura da poltica democrtica, do ponto de vistados technopols,
exigia mecanismos de consulta limitados ebem estruturados,
estratgias conciliatrias e
negociaescautelosamenteplanejadas.Esseambienteimpediuadisseminaodoativismodasmulheresnoperodops-38
Miguel CENTENO e Patricio SILVA,1998, p. 10.FEMINISTAS E
TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas,
Florianpolis, 11(2): 351-380, julho-dezembro/2003367autoritrio. Aps
ter alcanado tanta visibilidade, a agendadas mulheres no podia ser
totalmente ignorada; porm,como outras questes controvertidas, tinha
que se sujeita aconcesses e acomodaes. As exigncias mais
radicaisdas mulheres foram
silenciadas.OEstadoficouacessvelaalgumasmulheres(profissionais de
classe mdia e especialistas em gnero),e algumas propostas polticas
receberam ateno.
Porm,asconseqnciasinesperadasdofeminismodeEstadoresultaram em
inmeras crticas sobre o modo pelo qual aspol ti
casdegneroforamadotadas.Agnci
asgovernamentaisespecializadasemquestesdamulherforam enfraquecidas
por financiamentos insuficientes, faltade pessoal e legitimidade
dentro da burocracia do Estado.Foram acusadas de contribuir com a
desmobilizao deorganizaes autnomas de mulheres. Alguns acusam
essasagncias de estarem cooptando ou ignorando grupos
demulheres,outrosculpam-nasporassumirumatendnciatecnocrataqueaumentaadistnciaentremulheresdaclasse
trabalhadora (clientes de programas
patrocinadospelogoverno)eaquelascomcredenciaisprofissionaisadequadas
para competir com sucesso na obteno definanciamento estatal.As
significativas realizaes do estgio de transioque aumentaram a
visibilidade poltica das mulheres foramefmeras. Isso muitas vezes
atribudo s prprias
mulheres:elascalcularammalseusprpriosmovimentos,osmovimentosdeseusoponentesouosdeseusaliados.Interpretaesdodeclniodamobilizaopolticademulheres
organizadas nas novas democracias concentram-seti pi
camentenosaspectosgovernamentai sdosmovimentos de mulheres
(crescente fragmentao, perdade capacidade de liderana, exausto e
frustrao) ou nasalianas estratgicas que o movimento estabeleceu
compartidos polticos e com o Estado. liderana das mulheres imputado
um isolacionismo excessivo (por dispensar osbenefcios potenciais e
alianas polticas com o intuito
depreservaraautonomiadomovimento)ouumotimismoexcessivo (por pensar
que o Estado seria basicamente
uminstrumentoasermanuseadoouumespaofluidoasermoldado). Ativistas
que se mantiveram ocupadas no
nveldascomunidadesdebaseperderamconexescomouniversodaspolticas,eaquelasquesejuntaramaessemundo
perderam contato com a base dos movimentos semconseguir prestgio
entre as elites polticas. No final dos
anos1990,osmovimentosdemulheresdaAmricaLatinatentavam redefinir
suas alianas estratgicas e reestruturarsuas organizaes.VERNICA
MONTECINOS368Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003Economistas, mulheres e democratizao
Economistas, mulheres e democratizao Economistas, mulheres e
democratizao Economistas, mulheres e democratizao Economistas,
mulheres e democratizaoUma descrio mais acurada das razes pelas
quaisas transies democrticas falharam com as mulheres
naAmricaLatinapodeserobtidasetransferirmosnossaateno para um novo
mas muito mais influente ator
polticodoprocessodetransio.Emvezdeolharbasicamentepara o que as
mulheres fizeram ou poderiam ter feito
paraobtermaioresganhosdoprocessodedemocratizao,vamosconsideraropapeldoseconomistas,queatravsdetodaaAmricaLatinaforamaladossmaisaltasposies
de autoridade
formal.Ainflunciadoseconomistasfoisignificativasobautoritarismo. Os
governos eleitos, longe de diminurem
suainfluncia,podemtercontribudoparasualegitimao.Economistas
politicamente fortes guiaram a
transformaododesenvolvimentodaAmricaLatina,reformandoasregrasdapol
ti caedopl anej amento.Ocartertransnacional da profisso de
economista, a habilidade doseconomi stasemcomuni
car-secomoutrosatoresmultinacionais (instituies financeiras e de
investimentos,especialistas em desenvolvimento), seu apelo
eficinciaeracionalidade,eseuimpressionanteconsensodoutrinriosobrepostuladosortodoxosforamdegrandeimportncia
simblica para o estgio de consolidao.39Economistas so vistos como
salvaguardas contra as velhasformas de populismo e tradicionais
prticas de
clientelismo,capazesdetornarademocraciacompatvelcomasdemandasdamercadizao.Existeumaresistnciasenormesinflunciasdeatorestecnocratas,masoseudeslocamentodopoderparecepoucoprovvel,pelomenosemumfuturoprximo.Conseqentemente,nsprecisamosperguntar:Umademocraciasimpticasmulherespodeserconstrudaemsociedadesnasquaiseconomistas
ocupam os mais altos cargos no governo?Uma breve reviso da
literatura recente sobre
gneroefeminismonocampodascorrenteseconmicastradicionaisreveladora.40Desafiosfeministasparacomos
fundamentos tericos, o ensino e as prticas da economianeoclssica so
muitos e repetem muitas das crticas
quefeministasfazemcontraademocracialiberal.Issonoto surpreendente,
dadas as origens comuns do liberalismoeconmico e poltico
ocidental.41Pesquisadorasfeministasalegamqueoobjetodeestudodaeconomiamuitorestritamentecentradonaanlise
de trocas nos mercados competitivos. A
economianegligencia,subavaliaesubvalorizaasatividadeseconmicas
(produo e reproduo) realizadas em
outroscontextos,maisnotadamenteotrabalhodomsticono39 MONTECINOS,
1998.40Mari anneFERBEReJul i eNELSON,1993,BENERA,1995,NELSON, 1996,
e Randy ALBELDA,1997.41NancyFOLBREeHei diHARTMANN, 1998, Ann
JENNINGS,1993, Pamela SPARR, 1994.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA
DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis,
11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003369remuneradodasmulheres.Irrefletidamente,economistasusam
hipteses que correspondem mais aproximadamentes experincias de
homens. Suas unidades de anlise noso grupos, instituies ou a
sociedade, mas sim indivduos.Os seres humanos so caracterizados
como maximizadores,individualistas e racionais envolvidos em trocas
com atoresigualmente motivados e desconectados. Modelos baseadosem
premissas universalistas e sem noes de gnero
noconseguemreconhecerouconsi derarospadresclaramente distintos de
comportamento que as mulheresexibem como trabalhadoras e
consumidoras.Modelos que concebem as trocas econmicas comoseparadas
dos controles sociais, dos valores culturais, dopoder e da coero no
podem explicar
adequadamenteasrecompensasdesiguaisdehomensemulheresouainterao
entre famlias e mercados. A distribuio
desigualderecursosdentrodasfamliasfogeaumaanliseconvincente.Aimagemdoaltrusmofemininoirreal.Ahabilidadedasmulheresemparticipardomercadoeresponder
a sinais de preos coagida por sua
posiosubordinadanasociedadeepelaspressesculturaisdeassumirem
maiores responsabilidades na esfera domstica.A socializao
profissional de economistas os
preparaparaconceberseutrabalhocomoumempreendimentocientfico,distantedepreocupaesparticularistasoupolticas,
e separado das emoes e de outros
fenmenosincomensurveis.Enquantoaeconomiacontinuasendopraticadadentrodeumnicoparadigmadominante,discordncias
conceituais e metodolgicas so suprimidasou desestimuladas. Os
clamores por uma mais humanista,interdisciplinar, com conscincia
tnica e sensvel ao gneroso negligenciados, particularmente quando
esses discursosnoortodoxosatingemaprpriaidentidade(masculina)da
disciplina, seus valores fundamentais de objetividade erigor e seu
lugar na hierarquia de disciplinas cientificas.42Dessa forma, a
incluso sistemtica do gnero como umadimenso fundamental da vida
econmica frustrada. Amarginalizao de questes da mulher no apenas
reforaaprefernciadeeconomistasporteoriasabstratas,masconduz a
polticas que so inadequadas, e muitas
vezesabertamente(mesmoquenodeformadeliberada)preconceituosas com
relao aos interesses das
mulheres.Oposicionamentodesfavorveldaeconomiaemrel aoaanl i
sesgendradasfi cacl
aronarepresentatividadedasmulheresnaprofisso.Existempoucas
economistas, e uma mulher em posio de prestgioprofissional uma
raridade.43 Se um maior contingente demulheres economistas poderia
ou no alterar a prtica dacincia econmica no evidente por si s.
Alguns esperam42DonaldMCCLOSKEY,1993,p.76, e NELSON, 1996.43
ALBELDA, 1997.VERNICA MONTECINOS370Estudos Feministas,
Florianpolis, 11(2): 351-380, julho-dezembro/2003que um maior nmero
de economistas possa enriquecer aagenda de pesquisa com novas
questes e metodologiase construir um lobby mais efetivo para a
anlise
econmicafeministaatravsdeconferncias,publicaeseoutrosveculosdedivulgao.Outrosadvertemquemulherespodem
ser to pressionadas quanto os homens a
adotaremumaconformidadedisciplinar.Mulhereseconomistaspodem ser to
hostis quanto seus colegas homens a
novosconceitosemtodos.Opressupostodequehomensemulheres pensam de
forma diferente enfatiza muito poucoo poder da socializao
profissional.44 Argumentos
similaresforamapresentadoscomrelaosocializaodemulheres polticas. No
se pode esperar que mulheres
emposiesdepoderirorepresentarosinteressesdasmulheres acima de
outras consideraes, como no
podeserargumentadoqueosinteressesdetodasasmulherespodemserefletirsemqualquerambigidadeemumconjunto
demarcado de preferncias. Aumentar o nmerode mulheres na poltica e
nas profisses por si s positivo,mas no garante transformaes no
conhecimento e nasaes
institucionais.Nadamenosqueumanovacinciaeconmicaparece necessria
para reverter as tendncias que
mantminvisveisascontribuieseconmicasdasmulhereseimpedemqueconhecimentosfeministastenhammaiorinfluncia
terica e de planejamento. A cincia
econmicafeministatemfeitoprogressosnaltimadcada.45AAssociaoInternacionalporumaEconomiaFeminista(IAFFE),
formada em 1991, patrocinou projetos de
pesquisa,organizouconfernciaselanoupublicaes,eestcomeando a receber
uma maior ateno na profisso.Muitos economistas, especialmente
keynesianos, marxistase economistas institucionais, concordam que
reformas naprofisso econmica j esto atrasadas. Algum progressoj foi
obtido com a produo de estatsticas sensveis aognero. A crise
asitica no final dos anos 1990 enfraqueceuanoodequenoexi steal
ternati vaparaoneoliberalismo.46 Na Amrica Latina, porm, o dilogo
entrecrticasfeministaseno-feministasdastradicionaistendncias da
Economia continua incipiente.Nas dcadas de 1950 e 1960, durante um
ciclo dedemocratizaopoltica,esforosparareformaraeconomia ortodoxa
floresceram na Amrica Latina;
houvetentativasambiciosasparaproduzirparadigmastericosalternativos,
incentivar a cooperao interdisciplinar, gerarnovasvi asparaensi
narEconomi aeapoi
araimplementaodepolticasprogressistas.Nenhumempenhosi mi l aremergi
unoatual cl i made44 NELSON, 1996, p. 87.45 ALBELDA, 1997.46
BENERA, 1995 e 1999.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA
AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003371democratizao,economistaslatino-americanosestoseguindo
de perto as tendncias dominantes da
profisso,eaamericanizaodoensinodaEconomiaprevaleceat mesmo em pases
que haviam anteriormente acolhidoos nichos mais proeminentes do
pensamento econmicoheterodoxo.Oneoestrutural i smo47
prometeumarevitalizaodaeconomiaheterodoxa,pormognerono foi includo
nesse projeto.48O posicionamento adverso da cincia
econmicadiantedognerofoiagravadopelarelutnciadeorganizaesdemulheresemescrutinarecontrolarosbastiesinstitucionaisdoseconomistas.Osestudosdegnero
se inserem mais naturalmente no campo de
outrascinciassociais,deixandoaEconomiaintacta.Ativistasfeministasconcentraram-senaspolticasqueafetamascondiesdetrabalhadorasedefamlias.Ofeminismoestatal
alcanou algum sucesso em programas de reduode pobreza, participao
feminina no trabalho e legislaofamiliar. Mas a poltica social e os
sistemas de
previdnciaedesadepermanecemfirmessobocontroledoseconomistas. Como
as regras de mercado cada vez
maisregulamaprovisodeserviospblicoseministriosfinanceirosimpemcontrolesfiscaismaisrgidosemoramentos,subsdiosecrditos,asfronteirasentreaspolticaseconmicaseasdeoutrasreastornam-seindistintas.Agnciasgovernamentaisqueestavamtradicionalmentesobajurisdiodeoutrosgruposprofissionaismdicos,professores,advogadoseatsocilogos
so agora dirigidas por
economistas.Crticasaofeminismoestatalqueixam-sedacrescentetecnocratizaodaspolticasdegnero,argumentando
que os discursos profissionais ampliaram
adistnciaentreplanejadoresdegnero,organizaescomunitrias e
movimentos independentes de mulheres.49Poderia ser sugerido, pelo
contrrio, que a
tecnocratizaodogneroaindademasiadofraca.Omagodessasdemocraciastecnocrticasaindanofoiatingidopelasdefensoras
dos direitos da mulher. Existem poucas
mulhereseconomistasnogoverno.Umnmeroaindamenordemulheres tem as
credenciais acadmicas que so hoje emdia cruciais para facilitar o
acesso aos crculos de poder.Muitas vezes, as carreiras polticas de
mulheres dependemde conexes familiares.50 As agncias governamentais
demulherespermanecemmarginalizadas,incapazesdenegoci arefeti
vamentecomofi ci ai sdemi ni stri osfinanceiros, diretores de
oramento, dirigentes de bancoscentrais.51No Chile, onde economistas
obtiveram uma enormevisibilidadepolticaeondeaproporoentrePh.Ds.em47
Osvaldo SUNKEL, 1993.48 Sunkel, em entrevista feita pelaautora em
2000.49 ALVAREZ, 1997, e SCHILD, 1998.50 Mara Elena VALENZUELA,
1998,e Roderic CAMP, 1998.51Anlisesdasbarreirasqueimpedem o
engendramento dotrabal hodosmi ni stri
osdefinanas,osquaisocupamumlugar cada vez mais estratgicono
processo de planejamento,
easpropostasparacorrigirospreconceitosdegneronosplanosmacroeconmicossoencontradasemRuthPEARSON,1995,
e Gita SEN, 2000.VERNICA MONTECINOS372Estudos Feministas,
Florianpolis, 11(2): 351-380, julho-dezembro/2003Economia e a
populao est entre as maiores da
regio,existemapenasaproximadamentedezmulherescomdoutoradoemEconomi
a.SERNAM,aagnci agovernamentalresponsvelpelasquestesdamulher,criada
em 1991, no tem uma equipe de economistas,
eapenasumaONGespecializadaemestudosdegnero(CEM)temduaseconomistasemumaequipededezpesquisadores.
Por vrios anos o Chile teve um ativo, emborapequeno, grupo de
economistas feministas (o Grupo LOTA,com seis a sete membros), que
estava inicialmente
ligadoAssociaodeEconomistasSocialistas.Entrevistascomalgunsdeseusmembros,noentanto,revelaramasdificuldades
de manter uma continuidade organizacionalcom uma filiao to reduzida
operando em um ambientequehosti l porpar tedoseconomi
stasenoparticularmenteacolhedorporpartedomovimentodemulheres. Disse
uma delas: Mulheres economistas protegemseu status, elas se
defendem da acusao de que assimque comeam a lidar com questes de
gnero no soto economistas quanto antes.At mesmo na ECLAC organizao
internacionalsediada em Santiago que ficou conhecida por
patrocinarumacinciaeconmicaestruturalistaequesemprefoidominada por
economistas a criao de uma
unidadeencarregadadequestesdamulhernopromoveuumdilogo sistemtico
entre economistas e especialistas
emgnero.Essesgruposparecemestartrabal handoparalelamente. No
existem economistas trabalhando naunidade de mulheres da ECLAC, que
foi descrita em umaentrevista como lidando com diplomacia de gnero
aoi nvsdeestartransformandosubstanci al menteaabordagem do
desenvolvimento econmico e social. Nodocumento amplamente circulado
da ECLAC,
PreliminaryOverviewoftheEconomicsofLatinAmericanandtheCaribean
(1999), o qual apresenta indicadores econmicose tendncias na regio,
no existe referncia alguma sdiferenas de gnero.Semdvi da,aausnci
adei nterl
ocutoresqualificadosnoaparatopolticodasnovasdemocraciastecnocratas
explica apenas parcialmente o fracasso emassegurar recursos
suficientes (materiais e simblicos)
paradiminuirasdesvantagensdasmulheres.Porexemplo,ointransigente
conservadorismo da Igreja Catlica
obstruiudiversastentativas-chaveparaimplementaraagendafeminista,
especialmente em pases onde a igreja impesua autoridade sobre os
maiores partidos polticos e sobrepolticos proeminentes.FEMINISTAS E
TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas,
Florianpolis, 11(2): 351-380, julho-dezembro/2003373O governo
tecnocrtico e o engendrar da O governo tecnocrtico e o engendrar da
O governo tecnocrtico e o engendrar da O governo tecnocrtico e o
engendrar da O governo tecnocrtico e o engendrar dademocratizao
democratizao democratizao democratizao democratizaoO engendramento
da democracia implica
reformasalongoprazoqueestoapenascomeandoaseremconfiguradas.Asub-representaodasmulheresnogovernodemocrticoensejouumadiversidadedepropostas:ofinanciamentopblicodecampanhaseleitorais,
a descentralizao de estruturas
governamentais,eatasubstituiodeculturaspolticasexcessivamenteantagonistas
e competitivas por uma moralidade
pblicamaispreocupadaecompassiva.Noentanto,agarantiadequeaprticadademocracianomaisexcluiasnecessidades
e interesses das mulheres constitui um
desafioquevaialmdaesferadeestruturaseprocedimentosformais. Ela
implica a reconstruo dos papis do
gneronasociedade,emaiorconscinciadoimpactodaestratificao de gnero
em instituies sociais e nas rotinasdo dia-a-dia. Fazer com que a
democratizao seja
maispropciasmulheresrequerquesedesconstruamaspressuposies correntes
de que indivduos
indiferenciadoscidados,trabalhadoreseconsumidorespovoamosuniversos
das famlias, dos mercados e dos governos.Devido ao fato de a cincia
econmica ter exercidouma influncia dominante na configurao dos
processosrecentesdedemocratizao,impondosualinguagem,categorias
analticas e mtodos nas aes do Estado,
osesforoscombinadosparamudarasprofissesdaeconomiasocruciais.Omodelomonoparadigmticodeve
ser dissolvido para dar espao a tradies
intelectuaisalternativas,mtodosalternativosdepesquisaeumplanejamentomaisinovadoreprogressista.Apesquisainterdisciplinareodilogosobrepolticatmqueserfomentados
para quebrar o monoplio dos economistas
namaquinariadogoverno.Polticasgendradassirosedesenvol
verquandoaeconomi
agendradaforrotineiramentecultivadaemcenriosacadmicos,ministrios
governamentais e conversaes informais entreeconomi staseno-economi
stas.Oseconomi stascomearamatrabal harcomci enti staspol ti
cos,especialmente em questes relacionadas com a economiapoltica das
reformas de mercado. Mas essa colaboraoest baseada em uma crescente
convergncia disciplinarsobre premissas racionalistas. Os outros,
no-economistas,so usualmente estereotipados como fracos,
imprecisos,no-confiveis,econseqentementeexcludosdosdebates polticos
mais
relevantes.OrecrutamentodemaismulheresnaprofissoeconmicaimportanteespecialmentequandosuasVERNICA
MONTECINOS374Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003credenciaisastornamelegveisaposiesdeprestgioacadmico
e de poder poltico. Os movimentos de mulheresdevem apoiar o
recrutamento de mulheres na
Economia,masafeminilizaodaeconomiaumaabordageminsuficiente, e
talvez inadequada, para resolver o problemade anlises e polticas
preconceituosas quanto a gnero.Especialistas de gnero ou mulheres
economistas podemser assimiladas pelas regras do elitismo
tecnocrtico semas transformar. Mulheres economistas faro talvez
algumadiferenasomenteseasnormasprofissionaisadmitiremdesafios s
convenes dominantes. claro que tambmnecessrio que as elites
polticas ultrapassem a retrica daigualdade de gnero declaraes
cerimoniais, assinaturasde tratados e a publicao de planos
igualitrios paraobter os recursos polticos e econmicos necessrios
paraaimplementaoefetivadeprincpiosdeoportunidadeigualitria e a
erradicao do tratamento desigual e dasprticas de
excluso.Umarevisofundamentaldaspressuposiesdoutrinrias e tericas
que apiam o controle
tecnocrticonecessriaparacorrigirsuasfalhas,especialmentenoque se
refere a desigualdades especficas de gnero
noacessoaopoderpolticoeaosrecursosreguladospelomercado. Essa uma
tarefa que de forma alguma se
limitaaocampodaEconomia,jqueoutrasprofissesedisciplinasacadmicastambmresistememrepensarconceitos
e mtodos estabelecidos com o fim de levar emconta o
gnero.Feministaslatino-americanastmargumentadopersuasivamentesobreanecessidadedeintroduzirprogramas
de treinamento sensveis a gnero para juzes,policiais, professores,
jornalistas e mdicos. Elas
deveriamdefendertambmenfaticamentereformasnoensinodacinciaeconmica.Economistassotreinadoscomoespecialistas,
apesar da crescente tendncia de
empreg-loscomogeneralistas.CrticosdoensinodaEconomia53sugeremanecessi
dadedeempreenderreformascurriculares em programas de Economia,
incorporando osinsights da sociologia, histria e outras
disciplinas, reduzindoa conformidade ortodoxia, questionando a
intolernciae a arrogncia caractersticas dessa profisso. Mas, at
queessasreformasdemresultado,umamaiorcontingnciademulhereseconomistasbemtreinadaspermitirquemulheresorganizadasesuasagnciasdentrodoEstadojoguemojogodaspolticastecnocratasmelhordoqueconseguiramfazeratagora.Paradoxalmente,tornarademocratizao
mais propcia igualdade de gnero podenos compelir a manter nossos
olhares sobre os tecnocratas.52Vej a,porexempl o,Davi
dCOLANDEReReuvenBRENNER,1992.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA
DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis,
11(2): 351-380, julho-dezembro/2003375R RR RRefernciasbibliogrficas
efernciasbibliogrficas efernciasbibliogrficas
efernciasbibliogrficas efernciasbibliogrficasALBELDA, Randy.
Economics and Feminism: Disturbances inthe Field. New York: Twayne
Publishers, 1997.ALVAREZ, Sonia E. Engendering Democracy in Brazil:
WomensMovementsinTransitionPolitics.Princeton:PrincetonUniversity
Press, 1990._____. Latin American Feminisms Go Global: Trends of
the1990s and Challenges for the New Millenium. In: ALVAREZ,Sonia
E., DAGNINO, Evelina, and ESCOBAR, Arturo (eds.).Cultures of
Politics/Politics of Cultures: Re-visioning
LatinAmericanSocialMovements.Boulder:WestviewPress,1997. p.
293-324.ARENAS DE MESA, Alberto, and MONTECINOS, Vernica.
ThePrivatizationofSocialSecurityandWomensWelfare:Gender Effects of
the Chilean Reform. Latin AmericanResearch Review, v. 34, n. 3,
1999. p. 7-37.ARRIAGADA, Irma. The Urban Female Labor Market in
LatinAmerica:TheMythandtheReality.Santiago:ECLAC,1998. Serie Mujer
y Desarrollo, n.
21.ASLANBEIGUI,Nahid,andSUMMERFIELD,Gale.TheAsianCri si
s,Gender,andtheI nternati onal Fi nanci alArquitecture. Feminist
Economics, v. 6, n. 3, 2000. p. 81-103.BENERA, Lourdes. Towards a
Greater Integration of Genderin Economics. World Development, v.
23, n. 11, 1995. p.1839-1850._____. Globalization, Gender and the
Davos Man. FeministEconomics, v. 5, n. 3, 1999. p. 61-83.BINSTOCK,
Hanna. Towards Equality for Women. Progress inLegislation since the
Adoption of the Convention on theElimination of All Forms of
Discrimination against Women.Santiago: ECLAC, 1998. Serie Mujer y
Desarrollo, n. 24.BISNATH, Savitri, and ELSON, Diane. Womens
EmpowermentRevisited.UNIFEM,2000.Backgroundpaper.(online:www.unifem.undp.org/progressww/empower.html).BLONDET,
Cecilia. Out of the Kitchen and onto the Streets:Womens Activism in
Peru. In: BASU, Amrita
(ed.).WomensMovementsinGlobalPerspective.Boulder:Westview Press,
1995. p. 251-275.BOUVARD, Marguerite Guzmn. Revolutionizing
Motherhood:The Mothers of the Plaza de Mayo. Wilmington, Delaware:A
Scholarly Resources Inc. Imprint,
1994.CAMP,RodericAi.WomenandMen,MenandWomen:GenderPattersinMexicanPolitics.In:RODRGUEZ,VictoriaE.(ed.).WomensParticipationinMexicanPolitical
Life. Boulder: Westview Press, 1998. p.
167-178.CENTENO,MiguelA.,andSILVA,Patricio.ThePoliticsofExpertiseinLatinAmerica:Introduction.In:CENTENO,VERNICA
MONTECINOS376Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003MiguelA.,andSILVA,Patricio.(eds.).ThePoliticsofExpertiseinLatinAmerica.NewYork:St.MartinsPress,1998.
p.1-12.COLANDER, David, and BRENNER, Reuven (eds.).
EducatingEconomists. Ann Arbor: The University of Michigan
Press,1992.CRASKE, Nikki. Remasculinization and the Neoliberal
StateinLatinAmerica.In:RANDALL,Vicky,andWAYLEN,Georgina. (eds.).
Gender, Politics and the State. Londonand New York: Routledge,
1998. p.
100-120.DIETZ,Mary.ContextisAll:FeminismandTheoreiesofCitizenship.
In: MOUFFE, Chantal. (ed.). DimensionsofRadical Democracy:
Pluralism, Citizenship, Community.London: Verso, 1992. p.
63-85.DOMNGUEZ, Jorge I. (ed.). Technopols: Freeing Politics
andMarketsinLatinAmericainthe1990s.UniversityPark:The Pennsylvania
State University,
1997.ECLACUNIFEM.ProgramadeaccinregionalparalasmujeresdeAmricaLatinayelCaribe,1995-2001.Santiago:
United Nations, 1995.ELSON, Diane. Micro, Meso, Macro: Gender and
EconomicAnalysisintheContextofPolicyReform.In:BAKKER,Isabella(ed.).TheStrategicSilence:GenderandEconomic
Policy. London: Zed Book Ltd., 1994. p. 33-45.FERBER, Marianne A.,
and NELSON, Julie A. Introduction:
TheSocialConstructionofEconomicsandtheSocialConstruction of Gender.
In: FERBER, Marianne A., andNELSON, Julie A. (eds.). Beyond
Economic Man: FeministTheory and Economics. Chicago: University of
ChicagoPress, 1993. p. 1-22.FI TZSI MMONS,Tracy.ParadoxesofPar ti
ci pati on:OrganizationsandDemocratizationinLatinAmerica.Ph.D.
Dissertation, Stanford University, 1995._____. A Monstruous
Regiment of Women? State, Regime,and Womens Political Organizing in
Latin America.
LatinAmericanResearchReview,v.35,n.2,2000.p.216-229.FOLBRE, Nancy,
and HARTMANN, Heidi. The Rhetoric of Self-interest: Ideology and
Gender in Economic Theory. In:KLAMER, Arjo, MCCLOSKEY, Donald N.,
and SOLOW,
RobertM.(eds.).TheConsequencesofEconomicRhetoric.Cambridge:
Cambridge University Press, 1988. p. 184-203.FOWERAKER, Joe. Ten
Theses on Women in the Political
LifeofLatinAmerica.In:RODRGUEZ,VictoriaE.(ed.).Womens Participation
in Mexican Political Life. Boulder:Westview Press, 1998. p.
63-97.FEMINISTAS E TECNOCRATAS NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA
Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003377FRIEDMAN,ElizabethJ.ParadoxesofGenderedPoliticalOpportunity
in the Venezuelan Transition to Democracy.Latin American Research
Review, v. 33, n. 3, 1998, p. 87-135.JAQUETTE, Jane S. The Womens
Movement in Latin America:Feminism and the Transition to Democracy.
Boston: UnwynHyman,
1989.JAQUETTE,JaneS.,andWOLCHIK,SharonL.WomenandDemocratization in
Latin America and Central and EasternEurope: A Comparative
Introduction. In: JAQUETTE, Jane,and WOLCHIK, Sharon (eds.). Women
and DemocracyinLatinAmericaandCentralandEasternEurope.Baltimore:
The Johns Hopkins University Press, 1998. p.
1-28.JELIN,Elizabeth.Women,GenderandHumanRights.In:JELIN,
Elizabeth, and HERSHBERG, Eric (eds.). ConstructingDemocracy: Human
Rights, Citizenship, and Society inLatin America. Boulder: Westview
Press, 1996. p. 177-196.JENNINGS, Ann L. Public or Private?
Institutional
EconomicsandFeminism.In:FERBER,MarianneA.,andNELSON,Julie A.
(eds.). Beyond Economic Man: Feminist Theoryin Economics. Chicago:
University of Chicago Press, 1993.p.
111-129.KORZENIEWICZ,RobertoPatricio,andSMITH,WilliamC.Poverty,Inequality,andGrowthinLatinAmerica:SearchingfortheHighRoadtoGlobalization.LatinAmerican
Research Review, v. 35, n. 3, 2000. p. 7-54.LISTER, Ruth. Tracing
the Contours of Womens Citizenship.Policy and Politics, v. 21, n.
1, 1993. p 3-16.MARKOFF,John.WhereandWhenWasDemocracyInvented?
Comparative Studies in Society and History,v. 41, n. 4, 1999. p.
660-690.MENDUS, Susan. Losing the Faith. Feminism and Democracy.In:
DUNN, John (ed.). Democracy. The Unfinished Journey:508 BC to AD
1993. Oxford: Oxford University Press, 1992.p.
207-219.MCCLOSKEY,DonaldN.SomeConsequencesofaConjectiveEconomics.In:FERBER,Marianne,andNELSON,
Julie (eds.). Beyond Economic Man. Chicago:University of Chicago
Press, 1993. p. 69-93.MONTECINOS, Vernica. The Symbolic Value of
EconomistsintheDemocratizationofChileanPolitics.In:VONMETTENHEIM,
Kurt, and MALLOY, James (eds.).
DeepeningDemocracyinLatinAmerica.Pittsburgh:UniversityofPittsburgh
Press, 1998. p. 108-122.MONTECINOS, Vernica, and MARKOFF, John.
From the
PowerofEconomicIdeastothePowerofEconomists.In:CENTENO,MiguelAngel,andLPEZ-ALVES,Fernando(eds.).
The Other Mirror: Grand Theory through the LensVERNICA
MONTECINOS378Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003ofLatinAmerica.PrincetonandOxford:PrincetonUniversity
Press, 2001. p. 105-150.NELSON, Julie. Feminism, Objectivity and
Economics. Londonand New York: Routledge, 1996.ORLOFF, Ann S.
Gender and the Social Rights of Citizenship:The Comparative
Analysis of Gender
RelationsandWelfareStates.AmericanSociologicalReview,v.58,1993. p.
303-328.PARRY,Geraint,andMORAN,Michael.Introduction:Problems of
Democracy and Democratization. In:, PARRY,Geraint, and MORAN,
Michael (eds.). Democracy
andDemocratization.LondonandNewYork:Routledge,1994. p.
1-17.PATEMAN,Carole.TheDisorderofWomen:Democracy,Feminism, and
Political Theory. Cambrisge: Polity Press,1989.PEARSON, Ruth.
Bringing It All Back Home: Integrating
TrainingforGenderSpecialistsandEconomicPlanners.WorldDevelopment,
v. 23, n. 11, 1995. p. 1995-1999.PHI LLI PS,Anne.MustFemi ni stsGi
veUponLi beralDemocracy? Political Studies, v. 40, 1992. p.
68-82.POLLACK,Molly.ReflectionsontheUseofLabourMarketIndicatorsinDesigningPolicieswithaGender-basedApproach.Santiago:ECLAC,1998.SerieMujeryDesarrollo,
n. 19.RAZAVI, Shahra. Women in Contemporary
Democratization.Geneva:UnitedNationsResearchInstituteforSocialDevelopment,
2000. Occasional Paper
4.SCHILD,Vernica.NewSubjectsofRights?WomensMovementsandtheConstructionofCitizenshipintheNewDemocracies.In:ALVAREZ,SoniaE.,DAGNINO,Evelina,
and ESCOBAR, Arturo (eds.). Cultures of
Politics/PoliticsofCultures:Re-visioningLatinAmericanSocialMovements.
Boulder, CO: Westview Press, 1998. p.
93-117._____.EngenderingtheNewSocialCitizenshipinChile:NGOsandSocialProvisioningunderNeo-Liberalism.2000.
Mimeo.SCHMITTER,Phillipe.ContemporaryDemocratization.TheProspectsofWomen.In:JAQUETTE,JaneS.,andWOLCHICK,SharonL.(eds.).WomenandDemocracy:Latin
America and Central and Eastern Europe. Baltimore:The Johns Hopkins
University Press, 1998. p.
222-237.SEN,Gita.GenderMainstreaminginFinanceMinistries.World
Development, v. 28, n. 7, 2000. p. 1379-1390.SIIM, Birte. Gender
and Citizenship: Politics and Agency inFrance, Britain and Denmark.
Cambridge: CambridgeUniversity Press, 2000.FEMINISTAS E TECNOCRATAS
NA DEMOCRATIZAO DA AMRICA LATINA Estudos Feministas, Florianpolis,
11(2): 351-380,
julho-dezembro/2003379SMEALL,GratziaVillarroel.Bolivia.WomensRights,theI
nternati onal Women sConventi onandStateCompliance. In: WALTER,
Lynn (ed.). Womens Rights: AGlobal View. Westport, Conn.: Greenwood
Press, 2001.p. 15-28.SPARR, Pamela. Feminist Critiques of
Structural
Adjustment.In:SPARR,Pamela(ed.).MortgagingWomensLives:Feminist
Critiques of Structural Adjustment. London: ZedPress, 1994. p.
13-39.STAUDT,Kathleen.WomeninPolitics:MexicoinGlobalPerspective.In:RODRGUEZ,VictoriaE.(ed.)WomensParticipation
in Mexican Political Life. Boulder: WestviewPress, 1998. p.
23-40.SUNKEL, Osvaldo (ed.). Development from Within: Toward
aNeostructuralist Approach for Latin America. Boulder andLondon:
Lynne Rienner Publishers, 1993.VALDS, Teresa. Movimiento de mujeres
y produccin deconocimientos. In: BRIONES, Guillermo et al. Usos de
lainvestigacin social en Chile. Santiago: FLACSO, 1993.p.
245-299.VALDS,Teresa,andGOMARIZ,Enrique(coordinators).Mujeres
Latinoamericanas en cifras. Tomo comparativo.Santiago: Instituto de
la Mujer and FLACSO, 1995.VALENZUELA, Mara Elena. Women and the
DemocratizationProcess in Chile. In: JAQUETTE, J., and WOLCHIK,
Sharon(eds.).WomenandDemocracyinLatinAmericaandCentral and Eastern
Europe. Baltimore: The Johns HopkinsUniversity Press, 1998. pp.
47-74.VOET,Rian.FeminismandCitizenship.London:SagePublications,
1998.VOGEL, Ursula. Is Citizenship Gender-Specific? In:
VOGEL,Ursula,andMORAN,Michael(eds.).TheFrontiersofCitizenship. New
York: St. Martins Press 1991. p. 58-85.VOGEL, Ursula. The State and
the Making of Gender:
SomeHistoricalLegacies.In:RANDALL,Vicky,andWAYLEN,Georgina (eds.).
Gender, Politics and the State. Londonand New York: Routledge,
1998. p. 29-44.WAYLEN,Georgi
na.GenderinThirdWorldPolitics.Buckingham: Open University Press,
1996._____. Gender, Feminism and the State: An Overview.
In:RANDALL, Vicky, and WAYLEN, Georgina (eds.). Gender,Politics and
the State. London and New York: Routledge,1998. p.
1-17.WILLIAMSON,John(ed.).ThePoliticalEconomyofPolicyReform.WashingtonD.C.:InstituteForInternationalEconomics,
1994.[Recebido em abril de 2003 eaceito para publicao em julho de
2003]VERNICA MONTECINOS380Estudos Feministas, Florianpolis, 11(2):
351-380, julho-dezembro/2003Traduo de Luana Pfeifer Raiter ePedro
Diniz BennatonReviso da Traduo: Susana Brneo FunckF FF FFeminists
and T eminists and T eminists and T eminists and T eminists and
Technocrats in the Democratization of L echnocrats in the
Democratization of L echnocrats in the Democratization of L
echnocrats in the Democratization of L echnocrats in the
Democratization of Latin America atin America atin America atin
America atin AmericaAbstract Abstract Abstract Abstract Abstract:
Womens movements made important contributions to ending the period
of
authoritarianruleinLatinAmerica,buttheirparticipationinthereconstructionofdemocraticpoliticshasbeen
more limited than expected. This paper argues that the enormous
influence exerted bytechnocratic elites in the democratization
process in Latin America has represented an obstacleto the
improvement of womens status in the region. Gender-biased
assumptions and practiceshave been only partially addressed, in
part because the policy-making process is under thecontrol of
economists, a professional group with a particularly unfriendly
stand towards genderedanalysis. It is suggested that reforms within
economics may help in the task of making democracymore responsive
to the demands of women.Key words Key words Key words Key words Key
words: democratization in Latin America, feminist views of
democracy, technocratic politicsand gender.