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Universidade de Brasília
Instituto de Química
Fatores que Influenciam na
Fermentação Etanólica do Hidrolisado
de Eucalyptus urophylla
Sumara Teixeira Alves
Orientador: Prof. Dr. Brenno Amaro da Silveira Neto
Coorientadora: Dra. Sílvia Belém Gonçalves
Brasília, Março de 2014
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ii
Universidade de Brasília
Programa de Pós-Graduação Em Química
Fatores que Influenciam na
Fermentação Etanólica do Hidrolisado
de Eucalyptus urophylla
Sumara Teixeira Alves
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
em Química como pré-
requisito para obtenção do
título de Mestre.
Brasília, Março de 2014
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Dedicatória
iii
Dedicatória
Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me ama incondicionalmente.
E a todos que contribuíram para sua realização e conclusão.
Page 4
Agradecimentos
iv
Agradecimentos
Ao meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo, por estar comigo em todos os momentos
que passei, tanto os difíceis como os mais alegres, e por me orientar e me guiar em
todos os passos e decisões. Obrigado Senhor.
A Universidade de Brasília, ao Instituto de Química e a Unidade Embrapa
Agroenergia, pela oportunidade de desenvolvimento deste trabalho.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela concessão da bolsa de estudo.
Ao professor Dr. Brenno Amaro da Silveira Neto, pela orientação, por ter
acreditado em mim e pela oportunidade que me concedeu em ser coorientada pela
Dra. Sílvia Belém Gonçalves.
A Pesquisadora Dra. Sílvia Belém Gonçalves, pela dedicação, atenção,
carinho, correções, pelos ensinamentos que me passou e principalmente pela
amizade. Muito obrigada.
As analistas do laboratório, Thályta, Thais e Carolina, pela disposição em
ajudar sempre que foi preciso.
Aos meus pais, David e Alaydes, por terem me ensinado a andar no caminho
do Senhor e me proporcionado as melhores opções de ensino e condições de vida.
Ao meu marido e amigo, André, pela compreensão pela ausência, paciência,
carinho, pelo grande amor e por muitas vezes me escutar sem entender muita coisa.
As minhas queridas irmãs e irmão, e seus cônjuges, pelas orações, força,
apoio, incentivo e compreensão por muitas vezes estar ausente.
A minha querida amiga e discipuladora, Zenaide, pelo companheirismo, pelas
orações, pelos jejuns, por me incentivar e nunca deixar desanimar e pelo amor de
mãe.
Aos queridos irmãos em Cristo, da Célula, e da Igreja, pelas orações, carinho,
preocupação, e por torcerem pelo meu sucesso.
A Gisele e Gabriella, amigas do Mestrado em Química, pela disposição em
ajuda sempre que tive necessidade, pela paciência e incentivo.
A todos os meus amigos, que torceram por mim, pelo grande apoio e aqueles
que contribuíram mesmo não sendo citados para o meu crescimento profissional e
pessoal.
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Sumário
v
Sumário
Dedicatória .................................................................................................................. iii
Agradecimentos ......................................................................................................... iv
Sumário ........................................................................................................................ v
Resumo ..................................................................................................................... viii
Abstract ....................................................................................................................... ix
Lista de Abreviações e Acrônimos ............................................................................ x
Lista de Figuras .......................................................................................................... xi
1-Introdução ................................................................................................................. 1
1.1 Produção de Bioetanol de materiais lignocelulósicos ...................................................................... 3
1.2 A madeira ......................................................................................................................................... 4
1.3 Resíduos gerados pelo uso da madeira .......................................................................................... 5
1.4 O material lignocelulósico ................................................................................................................ 5
1.4.1 Celulose ..................................................................................................................................... 6
1.4.2 Hemicelulose ............................................................................................................................. 6
1.4.3 Lignina ....................................................................................................................................... 7
1.5 Produção de etanol a partir de materiais lignocelulósicos ............................................................... 8
1.5.1 Pré-tratamentos ......................................................................................................................... 9
1.5.2 Hidrólise ................................................................................................................................... 11
1.5.2.1 Hidrólise enzimática ......................................................................................................... 11
1.5.2.2 Hidrólise química .............................................................................................................. 12
1.5.3 Fermentação ........................................................................................................................... 13
1.5.3.1 O microrganismo da fermentação .................................................................................... 14
1.5.3.2 Os inibidores da fermentação .......................................................................................... 15
2 - Objetivos ............................................................................................................... 17
2.1. –Objetivos Gerais ...................................................................................................................... 17
2.2 –Objetivos Específicos ............................................................................................................... 17
3. Materiais e métodos .............................................................................................. 18
Page 6
Sumário
vi
3.1 Materiais ......................................................................................................................................... 18
3.1.1 Equipamentos.......................................................................................................................... 18
3.2 Métodos .......................................................................................................................................... 19
3.2.1 Preparo da biomassa .............................................................................................................. 19
3.2.2 Pré-tratamento......................................................................................................................... 19
3.2.2.1 Pré-tratamento ácido ........................................................................................................ 19
3.2.2.2 Pré-tratamento alcalino .................................................................................................... 19
3.2.3 Caracterização da biomassa ................................................................................................... 20
3.2.4 Hidrólise enzimática ................................................................................................................ 21
3.2.5 Fermentação ........................................................................................................................... 22
3.2.5.1 Preparo do meio de cultura .............................................................................................. 22
3.2.5.2 Técnica de esgotamento .................................................................................................. 22
3.2.5.3.1 Curva padrão ............................................................................................................. 23
3.2.5.4 Fermentação meio sintético ............................................................................................. 25
3.2.5.5 Fermentação meio sintético com inibidores ..................................................................... 25
3.2.5.6 Fermentação meio hidrolisado ......................................................................................... 26
3.2.5.7 Fermentação meio hidrolisado com suplementos............................................................ 26
3.2.6 Cálculos dos parâmetros de fermentação .............................................................................. 27
3.2.6.1 Taxa específica máxima de crescimento (µmax) ............................................................... 27
3.2.6.2 Fator de conversão de substrato em produto (YP/S)......................................................... 27
3.2.6.3 Fator de conversão de substrato em células (YX/S).......................................................... 27
3.2.6.4 Eficiência de fermentação (E) .......................................................................................... 28
4 – Resultados e Discussão ..................................................................................... 29
4.1 Caracterização química das biomassas bruta e pré-tratadas ........................................................ 29
4.1.1 Caracterização química da biomassa bruta ............................................................................ 29
4.1.2 Caracterização química das biomassas pré-tratadas ............................................................. 30
4.2 Hidrólise enzimática ....................................................................................................................... 31
4.3 Fermentação .................................................................................................................................. 32
4.3.1 Curva padrão de levedura ....................................................................................................... 33
4.3.2 Crescimento da levedura Saccharomyces cerevisiae ............................................................ 34
4.3.2.1 Meio sintético ................................................................................................................... 34
4.3.2.2. Meio hidrolisado .............................................................................................................. 35
4.3.2.3 Meio sintético com inibidores ........................................................................................... 38
4.3.2.4 Meio hidrolisado suplementado ....................................................................................... 39
4.3.3 Consumo do substrato e a produção de etanol ...................................................................... 41
4.3.3.1 Meio sintético ................................................................................................................... 41
4.3.3.2 Meio hidrolisado ............................................................................................................... 42
4.3.3.3 Meio sintético com inibidores ........................................................................................... 43
Page 7
Sumário
vii
4.3.3.4 Meio hidrolisado suplementado ....................................................................................... 45
5 – Conclusões e Perspectivas ................................................................................ 47
Referências ................................................................................................................ 49
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Resumo
viii
Resumo
Na busca de novas tecnologias, muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas visando
à produção de energias mais limpas. Uma das fontes de energias renováveis mais
pesquisadas são os resíduos de biomassas lignocelulósicas, como a madeira de
eucalipto, que fornecem materiais como celulose, hemicelulose e lignina, para a
produção de biocombustíveis, como briquetes e etanol. A biomassa estudada foi o
eucalipto da espécie Eucalyptus urophylla. O processo de conversão destes materiais
a etanol é separado em três etapas – pré-tratamento – hidrólise – fermentação. O pré-
tratamento foi realizado em duas etapas a primeira foi ácida com 1,5 % de H2SO4 e a
segunda etapa foi alcalina com 4% de NaOH. Em seguida foi realizada a etapa de
hidrólise enzimática. Na etapa de fermentação foi analisado o comportamento da
levedura Saccharomyces cerevisiae, que é largamente utilizada no processo de
fermentação. O pré-tratamento tem o objetivo de disponibilizar a celulose presente na
biomassa e a hidrólise enzimática de quebrar esta celulose em glicose. Durante os
procedimentos de pré-tratamento há a formação de compostos inibidores que podem
interferir na fermentação, sendo o rendimento do etanol comprometido. Estes
produtos são os derivados do furano, como o furfural e o 5-hidroximetilfurfural, os
ácidos alifáticos, como o ácido acético, e os derivados fenólicos. O foco deste
trabalho é avaliar a produção de etanol a partir da celulose resultante das etapas
citadas acima. Na fermentação do meio hidrolisado a levedura não se desenvolveu
completamente e a produção de etanol não foi eficiente. Com isso, foram analisados
diferentes meios de fermentação e foi constado que além da presença de inibidores
no meio hidrolisado, há a falta de nutrientes para o crescimento do microrganismo,
pois a levedura obteve resultados opostos quando analisado o meio sintético
contendo inibidores e o meio hidrolisado suplementado com sais minerais.
Page 9
Abstract
ix
Abstract
In search of new technologies, many researches are being developed aiming at the
production of cleaner energy. One of the most researched sources of renewable
energy is waste from lignocellulosic biomass such as eucalyptus wood, providing
materials such as cellulose, hemicellulose and lignin for the production of biofuels
such as ethanol and briquettes. His biomass was studied eucalypt species Eucalyptus
urophylla. The process of conversion of these materials to ethanol is separated into
three phases – pre-treatment – Hydrolysis – Fermentation. The pre-treatment was
performed in two stages with the first acid was 1.5% H2SO4 and the second stage was
alkaline with 4% NaOH. After the enzymatic hydrolysis step was carried out. In the
fermentation step was analyzed the behavior of the yeast Saccharomyces cerevisiae,
is widely used in the fermentation process. Pretreatment aims to provide this in
biomass and enzymatic hydrolysis of cellulose into glucose break this pulp. During the
following pre-treatment for the formation of inhibitory compounds that can interfere
with the fermentation, and the yield of ethanol compromised. These products are furan
derivatives such as furfural and 5-hydroxymethylfurfural, aliphatic acids such as acetic
acid and phenolic derivatives. The focus of this study is to evaluate the production of
ethanol from cellulose resulting from the steps mentioned above. In the fermentation of
yeast hydrolysate medium not fully developed and ethanol production was inefficient.
Thus, different fermentation media was analyzed and consisted that in addition to the
presence of inhibitors in the hydrolyzate environment, there is a lack of nutrients for
growth of the microorganism, as opposed to yeast results obtained when analyzing the
synthetic medium containing inhibitors and the hydrolyzate medium supplemented
mineral salts.
Page 10
Lista de Abreviações e Acrônimos
x
Lista de Abreviações e Acrônimos
Absorbância ABS
Ácido desoxirribonucleico DNA
Ácido ribonucleico RNA
Adenosina trifosfato ATP
Agência Internacional de Energia AIE
Ammonia fiber expansion AFEX
Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência CLAE
Densidade ótica DO
Dióxido de carbono CO2
Eficiência de fermentação E
Eucalyptus urophylla EU
Extrato de levedura, Peptona bacteriológica, Glicose YPG
Fator de conversão de substrato em células YX/S
Fator de conversão de substrato em produto YP/S
Hidroximetilfurfural HMF
Nicotinamida adenina dinucleotídeo NAD+
Saccharomyces cerevisiae S. cerevisiae
Taxa específica de crescimento celular µmax
Filter Paper of Unit FPU
Page 11
Lista de Figuras
xi
Lista de Figuras
Figura 1 - Representação esquemática da molécula de celulose. (adaptada da ref. 2).
...................................................................................................................................... 6
Figura 2 - Representação esquemática da hemicelulose. (adaptada de ref. 2)............ 7
Figura 3 - Representação esquemática da lignina de eucalipto. (adaptada de ref. 2). . 8
Figura 4 - Alterações estruturais do complexo celulose - hemicelulose - lignina
determinadas pelo pré-tratamento. (adaptada da ref. 2) ............................................... 9
Figura 5 - Hidrólise da celulose. (adaptada da ref. 33) ............................................... 11
Figura 6 - Imagem da levedura Saccharomyces cerevisiae.44 ................................... 15
Figura 7 - Hidrólise enzimática após 24 horas de incubação. .................................... 22
Figura 8 - Ilustração da técnica de esgotamento de cultura em placa de Petri com
meio sólido.3.2.5.3 Dosagem de células ..................................................................... 23
Figura 9 - Fermentação do meio hidrolisado com suplemento e meio sintético como
contraprova. ................................................................................................................ 26
Figura 10 - Amostras de eucalipto EU: (A) eucalipto em seu estado bruto; (B)
eucalipto após pré-tratamento ácido; (C) eucalipto após pré-tratamento ácido e
seguido do alcalino. ..................................................................................................... 31
Figura 11 - Equação da reta gerada pela curva padrão. Sendo y a concentração
desejada e ABS a absorbância. .................................................................................. 33
Figura 12 - Crescimento da levedura em meio sintético. ............................................ 35
Figura 13 - Crescimento da levedura no meio hidrolisado.......................................... 36
Figura 14 - Cromatograma do tempo final da fermentação do meio hidrolisado sem
diluição realizado no CLAE. ........................................................................................ 37
Figura 15 - Crescimento da levedura em meio sintético na presença dos compostos
furfural e HMF. ............................................................................................................ 38
Figura 16 - Crescimento da levedura no meio hidrolisado suplementado com sais
inorgânicos. ................................................................................................................. 40
Figura 17 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio sintético. ................. 42
Figura 18 - Consumo de glicose e formação de etanol no meio hidrolisado. ............. 43
Figura 19 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio sintético na presença
de inibidores. ............................................................................................................... 44
Page 12
Lista de Figuras
xii
Figura 20 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio hidrolisado
suplementado. ............................................................................................................. 46
Page 13
Introdução
1
1-Introdução
As mudanças climáticas e a elevação nos custos dos combustíveis provenientes do
petróleo aliadas às estratégias de produção de energia têm motivado uma corrida no
desenvolvimento da produção de biocombustíveis de fontes renováveis, sendo uma
das fontes a biomassa lignocelulósica.1
O grande desafio para a produção de biocombustíveis, derivados de biomassas
lignocelulósicas, esta em escolher a melhor alternativa que disponibilize a glicose, a
partir da hidrólise da celulose, visando o rendimento e a fermentabilidade do
hidrolisado.1 Neste sentido, há um grande estímulo da sociedade científica em
estudar a matriz energética. Um exemplo é o desenvolvimento de novos processos
economicamente viáveis para o aproveitamento de biomassas lignocelulósicas.2
O etanol vem sendo utilizado em larga escala no Brasil, contudo nos Estados
Unidos e em alguns países da Europa têm sido utilizado fundamentalmente como
aditivos aos combustíveis de origem fósseis, e é considerado um dos biocombustíveis
renováveis mais promissores no setor de transporte nos próximos 20 anos.1
A madeira é a mais antiga fonte de energia que se tem conhecimento e desde
a antiguidade é utilizada como combustível. Como fonte energética, a madeira é
denominada lenha e foi a primeira fonte de energia usada pelo homem para a
obtenção de fogo.3 Sendo um grande contribuinte para o desenvolvimento da
humanidade, a madeira passou a ser utilizada como combustível sólido, líquido e
gasoso, em processos para a geração de energia térmica, mecânica e elétrica.4
O uso da madeira na indústria, tanto primário como secundário gera uma
grande quantidade de resíduos. A quantidade de resíduos de madeira gerada no meio
urbano (entulhos da construção civil, poda de árvores, embalagens, entre outros),
também é considerável. São geradas no Brasil, anualmente, cerca de 30.603 de
toneladas de resíduos de madeira. Porém, somente uma pequena parte destes
resíduos tem algum aproveitamento econômico, social e/ou ambiental.5
No Brasil, a lenha usada como fonte de energia ocupa o terceiro lugar. Ela é
aproveitada de duas maneiras diferentes: (1) combustão direta, que é o processo
mais antigo para a produção de calor doméstico e industrial; e (2) pirólise, que é o
processo da decomposição térmica da madeira na ausência de ar.6
Uma forma de aproveitamento do resíduo da madeira é o briquete, a lenha
Page 14
Introdução
2
ecológica ou serragem prensada, que é feita pelo processo de densificação dos
resíduos madeireiros, sendo muito utilizada na geração de energia calorífica em
estufas, caldeiras, fogões com alimentação automática, nas indústrias, bem como na
manutenção do fogo em lareiras, grelhas e churrasqueiras, nas residências, etc.7
A conversão de material lignocelulósico, como os resíduos de madeira, em
açúcar fermentáveis vem sendo considerada uma alternativa promissora para
aumentar a produção de etanol.8 A utilização de materiais lignocelulósicos para
produzir etanol envolve quatro etapas: pré-tratamento, hidrólise enzimática,
fermentação, e destilação.9
Existem vários pré-tratamentos sendo estudados e analisados para a obtenção
de etanol proveniente da biomassa lignocelulósica. Contudo, o foco deste trabalho foi
analisar o comportamento do microrganismo no processo fermentativo em diferentes
meios de fermentação. O meio que foi usado como padrão foi o meio sintético, um
meio rico para o desenvolvimento da levedura, e o meio analisado foi o hidrolisado do
resíduo da madeira de Eucalyptus urophyllaI – EU, fornecida pela unidade da
Embrapa Floresta foi cultivada na região entre Ponta Porã – MS e Dourados – MS,
localizada em Colombo, distrito de Curitiba - PR
Na etapa da fermentação a levedura mais usada é a Saccharomyces
cerevisiae, e devido à sua capacidade fermentativa é usada na produção industrial de
cervejas, vinhos, aguardentes e outras bebidas fermentadas. É o principal
microrganismo utilizado na produção de álcool combustível.10 Porém, sua atuação na
fermentação de hidrolisados derivados da biomassa lignocelulósica tem sido alterada
pela presença de inibidores, levando a baixos rendimentos.
Neste sentido, o presente trabalho foi dividido em três etapas: a etapa do pré-
tratamento, a etapa da hidrólise enzimática e a etapa da fermentação. Na etapa da
fermentação foram analisados o desenvolvimento da levedura quanto ao seu
crescimento e seu desempenho em produzir etanol. Os meios fermentativos em que a
levedura foi analisada foram no sintético, no hidrolisado, no sintético na presença de
inibidores e no hidrolisado suplementado. O mesmo faz parte do Projeto da Embrapa
Agroenergia – Fontes Alternativas de Biomassa para a Produção Sustentável de
Etanol a partir de Materiais Lignocelulósicos tendo como foco a fermentação.
Page 15
Introdução
3
1.1 Produção de Bioetanol de materiais lignocelulósicos
Com a expectativa da diminuição das reservas de petróleo, o custo elevado para sua
obtenção e os problemas ambientais correlacionados a sua utilização como principal
fonte de combustíveis e outros produtos químicos, tem levado à busca incessante de,
de novas fontes energéticas, em todo o planeta, como as fontes energéticas
renováveis. Dessa forma, por motivos econômicos, geopolíticos e ambientais, as
atenções do mundo se voltam para fontes alternativas de energia, em especial para o
etanol.11
Há muitos anos o Brasil e os Estados Unidos tem desenvolvido estudos para
obtenção do biocombustível etanol da cana de açúcar e do amido do milho,
respectivamente, na tentativa de propor alternativas que levem a substituição de
combustíveis fósseis devido ao aumento e a variação dos preços do petróleo.1
E devido aos problemas ambientais que os combustíveis fósseis desencadeiam
e a crescente procura por fontes de energia de recursos renováveis as pesquisas têm
crescido em grande escala. Estas pesquisas tem o intuito de desenvolver métodos
que viabilize a produção de bioetanol através da biomassa lignocelulósica proveniente
de resíduos da agroindústria.11
Primeiramente é importante definir biocombustível: é o combustível elaborado a
partir da transformação de diferentes materiais orgânicos disponíveis de uma maneira
renovável, por exemplo: produtos agrícolas, produtos florestais, resíduos agrícolas e
florestais, resíduos industriais, algas e resíduos animais, entre outros.12
Existem diferentes biocombustíveis e estes podem ser obtidos de variadas
matérias-primas a partir de diferentes processos térmicos, químicos e bioquímicos. Os
açúcares e os amidos (cana de açúcar, mandioca, milho, beterraba e trigo) utilizam
processos fermentativos e produzem etanol, butanol, etil, butil, éter, além de outros
produtos. As biomassas (bagaço de cana, madeira, resíduos agrícolas e resíduos de
fazendas) fazem uso de processos de gaseificação e de fermentação e podem
produzir biodiesel, etanol, butanol, metanol, dimetileter entre outros. Já óleos e
gorduras (vegetal, animal e residual) passam por processos de transesterificação para
a obtenção do biodiesel (éster etílico e éster metílico).13
O etanol produzido com base na biomassa lignocelulósica utiliza processos
químicos (empregando ácidos) ou da biotecnologia moderna (empregando enzimas)
Page 16
Introdução
4
para a quebra de moléculas de celulose e produção de açúcares, após este processo
há a produção de etanol por meio de processos fermentativos alcóolicos da
biotecnologia convencional.14
1.2 A madeira
A madeira é usada desde os primórdios para diferentes finalidades. Além de ser uma
matéria prima abundante a madeira é uma fonte com grande poder de renovação e
sua utilização esta cada vez mais presente no nosso dia a dia.
Sem dúvida a madeira é um material bem conhecido e utilizado em vários
campos tecnológicos. Uma das espécies que tem sido empregada em grande escala
é o eucalipto, devido ao seu crescimento rápido e por suas ótimas características
físicas e químicas. Em razão da preocupação com o meio ambiente e o crescente uso
desta madeira, diversos estudos tem sido realizados. Dentre eles, destacam-se o
desenvolvimento do reflorestamento, a clonagem de espécies e as mudanças
genéticas em algumas espécies, além de outras pesquisas voltadas para a
caracterização química e física da madeira e de seus produtos.15 Dessa forma, a
madeira hoje é um dos mais importantes recursos renováveis disponível para o
homem. Podendo ser usada para a fabricação de biocombustíveis e de outros
materiais de manufaturamento.3
Contudo, ainda é um desafio trabalhar com este material para a produção de
açucares/etanol, devido ao arranjo de seus componentes físicos (macroscópicos,
microscópicos e ultramicroscópicos) e químicos, pois proporcionam à sua estrutura
lenhosa uma organização bem definida.16
A composição química de uma madeira de determinada espécie pode variar
com as diferentes partes da árvore (raízes, tronco, ramos e casca), bem como pelas
condições ambientais de crescimento (localização geográfica, clima, tipo de solo,
etc.). Contudo, são considerados, de uma maneira geral, dois grandes grupos de
componentes químicos da madeira: os componentes estruturais e os componentes
não estruturais ou extrativos. O primeiro grupo é composto pelas substâncias
macromoleculares que são: a celulose, as hemiceluloses e a lignina. No segundo
grupo fazem parte as substâncias de baixa massa molecular como os extrativos e
substâncias minerais, vulgarmente chamadas de cinzas.17
Page 17
Introdução
5
1.3 Resíduos gerados pelo uso da madeira
Os resíduos gerados em todo o mundo são recurso de grande potencial para a
obtenção de energia sendo a biomassa uma das principais fontes promissoras que
podem gerar energia.
Neste sentido, os resíduos florestais constituem parte importante na
disponibilidade da biomassa em alguns países pelas grandes quantidades geradas na
colheita e na ação industrial. Essa fonte energética está encontrando mercado, em
consequência do desenvolvimento tecnológico e dos baixos custos que representa
sua utilização eficiente. Podemos citar, por exemplo, as indústrias madeireiras, como
as serrarias e mobiliário, que produzem resíduos a partir do beneficiamento de toras.
Os tipos de resíduo produzidos são casca, cavaco, costaneira, pó de serra, maravalha
e aparas.18
1.4 O material lignocelulósico
A biomassa, é uma forma indireta de energia solar, sendo convertida em energia
química. Essa energia química pode ser liberada diretamente por combustão, ou
convertida através de algum processo em outras fontes energéticas como álcool e
carvão vegetal.19
Biomassa é qualquer tipo de matéria orgânica de origem vegetal ou animal que
dispõe de bioenergia e que pode ser processada para fornecer formas bioenergéticas
mais elaboradas e adequadas para o uso final.1
A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que nos anos 2040 cerca de
30% do total da energia consumida pela humanidade será proveniente das fontes
renováveis, que hoje representam 14% da energia produzida no mundo, sendo que a
biomassa tem 11,4% na participação da oferta.18
Biomassa lignocelulósica são materiais formados por estruturas cristalinas e
fibrosas, compostas principalmente de celulose e hemicelulose, entremeados por
outra macromolécula formada por álcoois aromáticos, a lignina, aos quais se
encontram unidos por ligações covalentes e de hidrogênio.20
A composição química da biomassa lignocelulósica mais apropriada para
aplicação na produção de biocombustíveis, geralmente contém 35-50% de celulose,
Page 18
Introdução
6
seguido de 20-35% de hemicelulose, 10-25% de lignina e uma pequena quantidade
de cinzas e extrativos. Esta composição química varia em função do tipo de
biomassa.1,2
1.4.1 Celulose
O principal componente da parede celular da fibra vegetal, a celulose, é um polímero
natural de cadeira longa mais abundante em todo o mundo (Figura 1).8 Sua estrutura
forma-se pela união de moléculas de β-D-glicose através de ligações β-1,4-
glicosídicas carbono-carbono, onde é estabelecido inúmeras ligações de hidrogênio
entre os grupos hidroxilas das diferentes cadeias de glicose, o que as torna
impermeáveis a água e, consequentemente, insolúveis.2
As ligações intermoleculares (ligações entre unidades de glicose de moléculas
vizinhas) são responsáveis pela rigidez. E as ligações intramoleculares (ligações entre
unidades de glicose da mesma molécula) são responsáveis pela formação de fibrilas,
estruturas bastante organizadas que se agregam e formam as fibras de celulose.
Como resultado das ligações de hidrogênio, as moléculas de celulose podem formar
regiões cristalinas e amorfas, e consequentemente, tornam a celulose bastante
resistente à qualquer ação externa.2
Figura 1 - Representação esquemática da molécula de celulose. (adaptada da ref. 2).
1.4.2 Hemicelulose
Outro componente essencial na parede celular são as hemiceluloses, que são
polissacarídeos formados por diferentes unidades de açúcares pertencentes aos
grupos das pentoses (xilose e arabinose) e hexoses (glicose, manose, galactose).
Page 19
Introdução
7
Esta macromolécula possui também, ácidos hexurônicos, como os ácidos D-
glucorônico e o ácido 4-O-metil-glucurônico (Figura 2). São estruturalmente mais
parecidas com a celulose do que com a lignina, e são depositadas na parede celular
em um estagio anterior à lignificação. Sua estrutura apresenta ramificações e cadeias
laterais que interagem facilmente com a celulose, dando estabilidade e flexibilidade ao
agregado.22
Em comparação com a celulose, as hemiceluloses apresentam baixo grau de
polimerização, não formam arranjo fibroso e apresentam somente regiões amorfas
possibilitando maior susceptibilidade à hidrólise química, pois oferecem uma maior
acessibilidade aos ácidos minerais comumente utilizados como catalisadores.23
Porém, a fermentação dos açúcares derivados das pentoses ainda não é tão
desenvolvida quanto os processos envolvendo glicose.9
Figura 2 - Representação esquemática da hemicelulose. (adaptada de ref. 2)
1.4.3 Lignina
Uma das substâncias orgânicas macromoléculas naturais mais abundantes,
depois da celulose, é a lignina (Figura 3). Sua estrutura é bastante heterogênea e
consiste em uma rede de anéis aromáticos unidos, principalmente por ligações alquil-
aril-éter, formando um arranjo amorfo com grandes quantidades de ligações cruzadas
entre os anéis aromáticos. Esta macromolécula é formada pela polimerização de três
diferentes monômeros: álcool cumárico, álcool coniferílico e álcool sinapílico.22
Atua como uma barreira física, no processo de hidrólise enzimática, para as
enzimas que podem ser irreversivelmente capturadas pela lignina, influenciando na
quantidade de enzima que será usada na hidrólise, e, além disso, dificulta a
recuperação da enzima após a hidrólise.23 A lignina, no entanto, desempenha um
Page 20
Introdução
8
papel fundamental para o sucesso da tecnologia de hidrólise, pois dificulta o acesso à
celulose.
Figura 3 - Representação esquemática da lignina de eucalipto. (adaptada de ref. 2).
1.5 Produção de etanol a partir de materiais
lignocelulósicos
A conversão da biomassa lignocelulósica a etanol ocorre normalmente em quatro
etapas: (1) pré-tratamento, para melhorar a digestibilidade enzimática ou microbiana
de componentes polissacarídeos; (2) hidrólises da celulose e da hemicelulose,
hidrolisam estes polímeros em monômeros, (glicose e xilose e arabinose,
respectivamente); (3) fermentação do açúcar em combustível líquido; (4) destilação,
onde é separado o etanol presente no fermentado.9,24,25
Dessa forma, o pré-tratamento é uma etapa fundamental para o processo de
conversão da biomassa em etanol lignocelulósico, pois nesta etapa é que há a
modificação da estrutura da biomassa, que atuam como barreiras que impedem a
ação das enzimas celulases durante a etapa da hidrólise enzimática.9
Page 21
Introdução
9
1.5.1 Pré-tratamentos
A etapa do pré-tratamento é de suma importância para se alcançar um rendimento
satisfatório de açúcar fermentável e por sua vez influencia as outras etapas
subsequentes.1,2,20 O objetivo do pré-tratamento é separar a lignina e a hemicelulose,
do material lignocelulósico, sendo possível a utilização e aproveitamento de cada
parte deste material. Além disso, o pré-tratamento aumenta a área superficial e
diminui o grau de polimerização e a cristalinidade da celulose, aumentando a
porosidade dos materiais.26
Com o pré-tratamento é possível melhorar a formação de açúcares; evitar a
degradação ou perda de carbono; evitar a formação de inibidores aos processos de
hidrólise e fermentação, aumentando por consequência seu custo-benefício.9
Figura 4 - Alterações estruturais do complexo celulose - hemicelulose - lignina determinadas pelo pré-
tratamento. (adaptada da ref. 2)
A lignina e a hemicelulose devem ser seletivamente removidas pelos métodos
de pré-tratamentos biológicos, físicos, químicos, físico-químicos ou por combinação
destes.27 Acredita-se que a eficiência destes processos é a chave para uma eficiente
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Introdução
10
degradação enzimática do material lignocelulósico satisfatória. 26
Cada método de pré-tratamento tem vantagens e desvantagens, tais como: (1)
método biológico – não agride o meio ambiente, usa fungos e bactérias, tem baixo
requerimento de energia e efetiva deslignificação, mas requer um tempo excessivo de
10-14 dias; há perda de celulose; baixa taxa de hidrólise; (2) método físico – reduz
mecanicamente o tamanho da partícula da biomassa, mas exige energia; é caro e não
remove a lignina; (3) método químico – há uma descristalização da celulose, um alto
rendimento da celulose e uma efetiva deslignificação; difícil de recuperação de ácidos;
é corrosivo, altamente danoso ao meio ambiente, e há perda da lignina; (4) método
físico-químico – modifica a estrutura da lignocelulósica, aumenta a área de superfície
e melhora a purificação da celulose, mas exige altas pressões e temperaturas e uso
de catalisadores.9,25,26,28
O tratamento atualmente mais empregado para obtenção de celulose é o
processo químico Kraft, que envolve o cozimento da matéria-prima com uma solução
contendo hidróxido (hidrólise alcalina) e sulfeto de sódio, utilizando temperaturas em
torno de 160 °C. Este processo remove grande parte da lignina presente na matriz
lignocelulósica. Em geral, a celulose extraída apresenta coloração escura, e quando
se trabalha na indústria de papel e celulose, contudo é necessário processos de
branqueamento para atingir maiores níveis de brancura, levando em conta as perda
das propriedades físico-mecânicas da celulose.29
Apesar de sua popularidade e eficiência, o processo químico Kraft envolve a
utilização de uma variedade de produtos químicos tóxicos e perigosos e gera grandes
quantidades de poluentes do ar e da água.29 Além disso, no processo químico Kraft a
lignina é degradada em frações solúveis em água sendo sua reutilização
comprometida, e, dessa forma, toda a lignina é empregada na forma de queima para
geração de calor utilizado nas caldeiras da própria indústria.26
Há, entretanto, outros métodos de pré-tratamento como o Ammonia fiber
expansion (AFEX) que é muito eficaz e esta sendo bastante difundido nos Estados
Unidos. O AFEX tem a função de descristalizar as fibras de celulose, hidrolisar a
hemicelulose, remover a lignina despolimerizada e aumentar em tamanho e número
os microporos da parede celular da biomassa.21
Além destes processos há o hidrotérmico que consiste no tratamento da
biomassa com água a temperaturas elevadas, há a explosão com vapor onde a
biomassa é tratada com vapor saturado sob alta pressão e temperaturas elevadas às
Page 23
Introdução
11
quais modificam as estruturas da biomassa tornando-a mais branda para a
sacarificação.21
Neste contexto, o sucesso do processo de pré-tratamento deve ser
desenvolvido pensando no processo como um todo, envolvendo a hidrólise
enzimática, a fermentação e, além disso, o tratamento da água residual, visando a
não contaminação do meio ambiente.1
1.5.2 Hidrólise
A etapa da hidrólise da biomassa lignocelulósica é uma etapa essencial para o
processo de obtenção de etanol lignocelulósico. É a fase onde ocorre a sacarificação
da celulose (Figura 5).1,25,32,33 A hidrólise da celulose pode ser realizada por dois
métodos a hidrólise ácida e a hidrólise enzimática.32
Figura 5 - Hidrólise da celulose. (adaptada da ref. 33)
1.5.2.1 Hidrólise enzimática
A hidrólise enzimática de materiais lignocelulósicos é conduzida através de enzimas
celulases, que são altamente específicas. Normalmente as celulases são uma mistura
de diversas enzimas. Os três maiores grupos de celulases que estão envolvidas no
processo de hidrólise são: endoglucanases, exoglucanases e betaglucosidase.9
As endoglucanases atuam aleatoriamente ao longo da molécula de celulose.
No entanto, as exoglucanases atuam nas regiões terminais das moléculas de
celulose, promovendo a sua despolimerização gradativa através da remoção de
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Introdução
12
unidades de celobiose terminais. A celobiose é um dissacarídeo composto por duas
moléculas de glicose, produto da hidrólise incompleta da celulose. Finalmente, as
betaglucosidases hidrolisam celobiose a glicose.34
Em princípio, as rotas enzimáticas apresentam vantagens importantes sobre as
rotas químicas, no contexto da produção de bioetanol. Na maioria das vezes, o
processo de hidrólise enzimática apresenta vantagens associadas à obtenção de
rendimentos, para bagaço de cana, superiores a 0,85 g glicose/g celulose, sob
temperaturas moderadas (40 ºC a 50 ºC) e pressão atmosférica. Entretanto, aspectos
operacionais relacionados ao longo tempo do processo (48 a 72 horas), desativação
catalítica pela inibição da atividade enzimática, bem como do alto custo das enzimas,
têm deixado dúvidas quanto à viabilidade econômica do processo de hidrólise
enzimática para a produção de etanol a partir de biomassas lignocelulósicas.1,35
1.5.2.2 Hidrólise química
A hidrólise química da celulose foi uma das primeiras alternativas a serem testadas,
contudo mostrou limitações como a formação de inibidores que podem interferir na
fermentação (compostos fenólicos, ácidos acéticos, furfural e hidroximetilfurfural), e a
degradação de açúcares por exposição prolongada ao meio reacional, além da
corrosão de equipamentos.36
É caracterizada por envolver soluções diluídas de ácidos fortes como ácido
clorídrico e sulfúrico, e condições rígidas de pH, temperatura e tempo (pH 1 e 2 –
temperatura entre 100 a 150 ºC – tempo de 30 a 60 minutos).1,11
A hidrólise ácida é realizada em diversos compostos orgânicos (ésteres,
açúcares, aminas, etc). Além dos ácidos mais utilizados, outros ácidos são
empregados. Ácido fórmico e tricloroacético têm menor atividade, mas produzem
reações mais limpas. Ácido oxálico e benzeno-sulfônico são mais ativos que
sulfúrico.37
Para quebrar os polímeros celulose e hemicelulose em monômeros, glicose e
xilose, pela hidrólise ácida, a biomassa lignocelulósica é exposta ao ácido por um
período de tempo e em temperaturas específicas. O ácido sulfúrico (H2SO4),
normalmente, é o mais investigado, contudo o ácido clorídrico (HCl) também tem sido
utilizado na produção de etanol lignocelulósico. A hidrólise ácida pode ser com ácido
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Introdução
13
concentrado ou ácido diluído. Porém, existem vantagens e desvantagens em cada
caso, mas o que mais chama a atenção é o impacto ambiental, negativo, que os
ácidos podem produzir.38
Entretanto, o processo de hidrólise ácida tem alguns por menores como a
corrosão dos equipamentos e a possível formação de subprodutos. Contudo, o
rendimento glicosídico da ordem de 80% a 85% torna a tecnologia potencialmente
interessante para produção de etanol lignocelulósico.1
1.5.3 Fermentação
A fermentação etanólica é um fenômeno bioquímico muito complexo que provoca a
transformação de açúcares a etanol, gás carbônico, ácidos succínios, ácidos voláteis
e ésteres.39
A fermentação é um processo catabólico anaeróbico em que há a degradação
de moléculas de açúcar, no interior das células de microrganismos, até a formação de
etanol e CO2, havendo liberação de energia química e térmica. As leveduras são os
microrganismos mais empregados na obtenção de etanol por via fermentativa.41
Seu processo é iniciado com a glicólise, também chamada de via Embden-
Meyerhof, ocorrendo a oxidação da glicose em duas moléculas de ácidos pirúvicos
em dois momentos, sendo na presença ou não de oxigênio. No primeiro momento,
para a fosforilação da molécula de glicose são usadas duas moléculas de adenosina
trifosfato – ATP, em seguida é reestruturada e quebrada em dois compostos de três
carbonos: gliceraldeído 3-fosfato e diidroxiacetona fosfato, que é convertida
rapidamente em gliceraldeído 3-fosfato. No segundo momento, as moléculas de
gliceraldeído geradas são oxidadas em duas moléculas de ácido pirúvico. Nessas
reações, ocorre a redução das duas moléculas de nicotinamida adenina dinucleotídeo
– NAD+ a NADH e quatro moléculas de ATP são formadas pela fosforilação em nível
de substrato, com saldo final positivo de duas moléculas de ATP para cada molécula
de glicose que é oxidada. Após a glicólise, há a conversão das duas moléculas de
ácido pirúvico em dois acetaldeído e do dióxido de carbono – CO2. Para a formação
de etanol, produto final da fermentação, as moléculas de acetaldeído são reduzidas
por duas moléculas de NADH.10,39
A fermentação etanólica inicia-se, após a adição do microrganismo ao meio
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Introdução
14
fermentativo, ou seja, um meio rico em açúcares. Mas, existem três fases para que
ocorra o processo de fermentação, logo após a adição do microrganismo: a fase lag
onde ocorre a adaptação dos microrganismos ao novo ambiente, e os mesmos dão
início ao seu crescimento, e neste meio fermentativo existe, ainda, oxigênio disponível
para que ocorra a desenvolvimento das leveduras. A segunda fase, que é a fase
exponencial, é determinada pelo grande aumento de microrganismos e pela liberação
de gás carbônico, nesta fase o crescimento é na ordem de 2n. É onde haverá o
aumento da temperatura e do teor alcóolico. Na fase estacionária, o alimento já esta
muito pobre no meio e o crescimento das leveduras é afetado, além disso, há
diminuição de gás carbônico e precipitação do microrganismo. A fase de morte é
caracterizada pela morte celular, pois o próprio meio, rico em etanol já não é benéfico
ao microrganismo. No final da fermentação o produto obtido é o caldo bruto, que ira
apresentar 8 a 12% de etanol.40
Como relatado, a etapa de fermentação etanólica é um processo biológico, cujo
principal agente é a levedura e ocorre com a transformação de açúcares, em etanol e
CO2, através deste microrganismo. Contudo, existem fatores que afetam a
fermentação, o que causa uma perda no seu rendimento, ou seja, a porcentagem do
açúcar que se transforma em etanol não tem relação à quantidade máxima teórica da
equação de Gay-Lussac, descrita no capítulo de materiais e métodos.53
1.5.3.1 O microrganismo da fermentação
As leveduras são os microrganismos mais empregados na obtenção de etanol por via
fermentativa. As leveduras utilizadas na fabricação de bebidas alcoólicas e
combustíveis geralmente são das linhagens Saccharomyces cerevisiae.41
A Saccharomyces cerevisiae (Figura 6) é amplamente utilizada na produção
comercial de etanol proveniente de açúcares, tais como os da sacarose da cana de
açúcar e os da maltose do amido do milho.42 A sacarose é hidrolisada pela S.
cerevisiae em glicose e frutose, duas hexoses com alto rendimento fermentativo.43 A
função da levedura é transformar anaerobicamente o carboidrato, para gerar ATP que
é uma fonte de energia necessária para o seu desenvolvimento, como o seu
crescimento e sua multiplicação, além da sua sobrevivência.39
Page 27
Introdução
15
Figura 6 - Imagem da levedura Saccharomyces cerevisiae.44
Para a produção de bioetanol lignocelulósico deve-se levar em conta que a
porção hemicelulose da biomassa lignocelulósica além de produzir hexoses na sua
degradação produz açúcares como a xilose e a arabinose, que são pentoses.
Entretanto, as leveduras S. cerevisiae são incapazes de assimilar ou fermentar
pentoses.45 O fato mais importante, contudo, é a interferência de compostos formados
nas etapas precedentes a fermentação que afetam a formação do etanol.46
Variados fatores físicos (temperatura, pressão osmótica), químicos (pH,
oxigenação, nutrientes minerais e orgânicos, inibidores) e microbiológicos (espécies,
linhagem e concentração de leveduras, contaminação bacteriana) prejudicam o
rendimento da fermentação, isto é, a capacidade da levedura em converter açúcar em
etanol.47
1.5.3.2 Os inibidores da fermentação
Nas etapas do pré-tratamento ou na hidrólise ácida da biomassa lignocelulósica há a
formação de açúcares derivados da hidrólise e da dissolução da celulose e
hemicelulose, mas há a formação, também, de compostos que podem atuar como
inibidores em potencial da fermentação.47
Estes produtos de degradação, que são potenciais inibidores da fermentação,
são divididos em três categorias: os derivados do furano; ácidos alifáticos de baixa
massa molecular; derivados fenólicos.46
Em função das elevadas temperaturas aplicadas nos pré-tratamentos, os
açúcares produzidos na hidrólise, principalmente da hemicelulose, se degradam
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Introdução
16
gerando os compostos derivados do furano: o furfural, que é formado pela
degradação das pentoses (xilose e arabinose) e o 5-hidroximetilfurfural (HMF), que
por sua vez é formado pela da degradação das hexoses (glicose, manose e
galactose).46 Estes inibidores danificam as paredes e membranas celulares, inibem o
crescimento celular, reduzem atividades enzimáticas, causam danos ao DNA (ácido
desoxirribonucleico), inibem a síntese de proteínas e RNA (ácido ribonucleico), e
reduzem a produção de etanol.48
O ácido acético, um ácido alifático, é formado pela hidrólise do grupo acetil
presente na hemicelulose. A sua presença no meio fermentativo ocasiona um
aumento no consumo de ATP pela levedura, nessas condições, parte do ATP que
seria utilizado para o crescimento ou fermentação é desviado para manutenção de
seu pH interno.49
Os compostos fenólicos, formados principalmente pela degradação parcial da
lignina, podem inibir a bioconversão, inibindo a atividade enzimática, destruindo a
integridade da membrana e afetando as suas propriedades, como a barreira
seletiva.36
Os estudos relatam que a maioria das leveduras, incluindo linhagens
industriais, é suscetível a furfurais derivados do hidrolisado, e especialmente
suscetível a combinação destes inibidores. Embora o furfural seja mais tóxico do que
o 5-HMF, eles atuam em conjunto para suprimir o crescimento da levedura. Contudo,
para amenizar os efeitos dos inibidores, tratamentos adicionais são requeridos,
incluindo detoxificação química, física e bioquímica. No entanto, esses passos
adicionais acrescentam custos e complexidade ao processo e geram resíduos.
Portanto, o desenvolvimento de leveduras modificadas geneticamente com maior
tolerância a inibidores, especialmente aos furfurais, é uma alternativa promissora à
etapa de detoxificação.50
Page 29
Objetivos
17
2 - Objetivos
2.1. –Objetivos Gerais
Este trabalho tem como objetivo geral avaliar a produção de etanol a partir da
celulose presente na biomassa lignocelulósica, Eucalyptus urophylla, focando
principalmente na etapa de fermentação, utilizando a levedura Saccharomyces
cerevisiae e analisando seu comportamento.
2.2 –Objetivos Específicos
Disponibilizar a celulose através das etapas de pré-tratamento ácido e alcalino;
Hidrolisar o polímero de celulose em açúcares fermentescíveis pela etapa da
hidrólise enzimática;
Avaliar o comportamento da levedura em diferentes meios fermentativos, como
meio sintético, meio hidrolisado, meio sintético com inibidores e meio hidrolisado com
suplemento;
Verificar se há presença de inibidores no hidrolisado de eucalipto e como a
levedura se desenvolve neste meio;
Quantificar a taxa de crescimento, as taxas de conversão de substrato em
células e em produto, e o rendimento dos processos nos meios fermentativos;
Diferenciar as fermentações comparando a produção de cada meio analisado.
Page 30
Parte Experimental
18
3. Materiais e métodos
3.1 Materiais
Para a produção dos hidrolisados lignocelulósicos foi utilizada a espécie de eucalipto Eucalyptus urophylla – EU, cultivada na região entre Ponta Porã – MS e Dourados – MS, fornecida pela Embrapa Floresta, localizada em Colombo, distrito de Curitiba – PR, como citado anteriormente. Na hidrólise enzimática utilizou-se o complexo enzimático Cellic®CTec2, da Novozymes.
A fermentação alcóolica foi realizada utilizando-se a levedura Saccharomyces cerevisiae – CAT-1 (levedura para a produção de etanol). Para o meio sintético foi utilizado: Extrato de levedura – HIMEDIA; Peptona bacteriológica – HIMEDIA; Glicose – Vetec. Além dos micronutrientes (NaNO3 – Vetec; KH2PO4 – CRQ; MgSO4 – Vetec; KCl – Sigma/Aldrich; FeSO4 – Alphatec; ZnSO4 7H2O – Alphatec).
Para a produção de tampões e das soluções utilizadas nos pré-tratamentos e na hidrólise foram usados reagentes químicos: ácidos (H2SO4 – J.T. Baker;
C6H8O7 – Vetec), bases (NaOH – Sigma-Aldrich), sais (Na3C6H5O7 – SAFC).
3.1.1 Equipamentos
Equipamentos utilizados nas análises e procedimentos:
Espectrofotômetro Multimodal com absorbância UV/VIS, marca
Molecular Devices, modelo Spectramax.
Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência – CLAE. Marca Agilent, modelo
1260 Infinity. Coluna Aminex HPX-87H e detector índice de refração.
Fase móvel H2SO4 0,005 M, vazão de 0,6 mL/min, e temperatura de 45
°C. Clarificadas em cartuchos C18.
Shaker orbital de bancada com incubação e refrigeração, marca Thermo
Scientific, modelo Max 4000.
Moinho de facas tipo Willey, marca Fortinox, modelo Macor Star FT-60
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Parte Experimental
19
3.2 Métodos
3.2.1 Preparo da biomassa
O material lignocelulósico que se encontrava em forma de cavacos foi processado em
moinho de facas tipo Willey, com granulometria máxima de 3 mm.
3.2.2 Pré-tratamento
O pré-tratamento foi realizado em duas etapas: o pré-tratamento ácido e o alcalino.
Sendo cada etapa realizada em dias subsequentes.
3.2.2.1 Pré-tratamento ácido
Foram pesados, separadamente, em 15 béqueres de plástico de 250 mL, 20 g da
madeira sólida bruta. Preparou-se uma solução ácida de ácido sulfúrico e água
destilada de forma a se obter uma solução de 1,5% (v/v) de ácido sulfúrico – H2SO4.
Esta solução foi adicionada a cada béquer, contendo a madeira, numa razão
sólido/líquido de 1/10 (200 mL de solução).
O material é autoclavado a pressão de 1 atm e a temperatura de 121°C por 30
minutos. Para separar a fração sólida da líquida, por filtração, foi utilizado filtro de
tecido e espremido com o intuito de retirar ao máximo a parte líquida. O sólido foi
lavado duas vezes com água destilada. Cada lavagem conteve o mesmo volume de
solução ácida utilizada no pré-tratamento (200 mL para cada béquer). Todas as
frações sólidas foram misturadas. Deste material foi retirada uma alíquota para a
realização de matéria seca e o restante guardado em geladeira para ser utilizado
posteriormente no pré-tratamento alcalino. Após a secagem do material retirou-se 3 g
em base seca da fração sólida para a caracterização em triplicata.
3.2.2.2 Pré-tratamento alcalino
Pesou-se, separadamente, em 15 béqueres de plástico de 250 mL o material que foi
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Parte Experimental
20
lavado após a etapa do pré-tratamento ácido. Preparou-se uma solução alcalina,
hidróxido de sódio – NaOH 4% (m/v) em água destilada. Com o peso seco do
material, adicionou-se a solução alcalina ao béquer contendo o material numa razão
sólido seco/líquido de 1/10.
O material misturado com a solução alcalina foi autoclavado a pressão de 1
atm e a temperatura 121°C por 30 minutos. Após atingir o tempo determinado os
béqueres foram retirados imediatamente da autoclave e ocorreu a lavagem desse
material com água destilada fervente, aproximadamente 1 L. Para a filtração foi usado
o tecido mencionado na etapa anterior, e foi retirado todo o excesso de água. Deste
material foi retirada uma alíquota para a realização de matéria seca e após a
secagem do material retirou-se 3 g em base seca da fração sólida para a
caracterização em triplicata.
3.2.3 Caracterização da biomassa
As amostras de biomassa, madeira bruta, madeira pré-tratada com ácido e madeira
pré-tratada com base, foram pesadas, em frascos Duran, exatamente 1 g. Preparou-
se uma solução de ácido sulfúrico – H2SO4 72% (v/v) e transferiu-se 5 mL para um
tubo de ensaio. As amostras e os tubos de ensaio contendo a solução ácida foram
colocados em banho térmico a 45 °C e agitada por 7 minutos. Em seguida o frasco foi
retirado do banho e adicionou-se água destilada para interromper a reação.
Transferiu-se a amostra para um erlenmeyer de 250 mL lavando o frasco até
completar o volume de 125 mL, que foram fechados com papel alumínio e
autoclavados por 30 minutos a 121 °C e 1 atm.
A fração sólida foi separada da fração líquida por filtração, sendo lavada com
água destilada ate completar um balão volumétrico de 250 mL. A solução foi
armazenada, em congelador, para análise dos açúcares presentes em cada material
utilizado.57
Na caracterização foi possível quantificar a porcentagem de celulose, através
da glicose, e a hemicelulose, através da xilose. A lignina não foi determinada neste
estudo, dessa forma é referida como outros, juntamente com os extrativos e as
cinzas.
O método utilizado foi adaptado a fim de diminuir a quantidade de resíduos
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Parte Experimental
21
químicos gerados durante o procedimento. Os mesmos eram tratados após os
procedimentos.
3.2.4 Hidrólise enzimática
O material resultante das etapas de pré-tratamento foi dividido em erlenmeyers de
250 mL (aproximadamente 12 frascos), contendo a mesma quantidade de sólido.
Preparou-se uma solução tampão citrato de sódio/ácido cítrico 0,1 M pH 5. A
quantidade de tampão necessária para a hidrólise enzimática foi calculada
considerando a diluição de 1 g do material em base seca para 10 mL de tampão. A
quantidade de enzima adicionada (15 FPU/g de substrato seco) foi calculada a partir
dos dados de peso seco e da diluição da enzima em tampão (solução de 1/5).
Após agitação retirou-se uma primeira alíquota de 1 mL (tempo zero) de cada
erlenmeyers em eppendorfs e centrifugada imediatamente. A parte líquida foi
armazenada congelada em eppendorfs, para posterior análise da quantidade de
glicose presente na amostra no CLAE.
Os erlenmeyers com as amostras foram colocadas e Shaker rotativo de
maneira aleatória, submetidos à temperatura de 50 °C e agitação de 200 rpm por 24
horas, conforme a Figura 7. Após as 24 horas (tempo final) retirou-se, novamente,
uma alíquota de cada frasco e procedeu-se da mesma maneira do ponto zero. O
restante das amostras foram centrifugadas.
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Parte Experimental
22
Figura 7 - Hidrólise enzimática após 24 horas de incubação.
3.2.5 Fermentação
3.2.5.1 Preparo do meio de cultura
O meio de cultura utilizado foi o YPG – Extrato de levedura (Yeast extract), Peptona
bacteriológica e Glicose. A concentração utilizada foi de 10%, sendo 10 g/L de extrato
de levedura, 20 g/L de peptona bacteriológica e 100 g/L de glicose os meios são
esterilizados.
3.2.5.2 Técnica de esgotamento
As colônias de leveduras foram separadas pela técnica de esgotamento. O meio
usado para o esgotamento foi o mesmo, contudo com uma concentração de glicose
de 2% e acrescentou-se 20 g/L de Agar a fim de que o meio se tornasse sólido. O
meio foi esterilizado. Após esterilização foi vertido em placas de Petri, em ambiente
estéril.
Para a técnica de esgotamento as placas de Petri foram dividas em três
setores, fazendo uma marcação com caneta na parte externa da base da placa,
conforme Figura 8. Com o auxílio da alça de platina, flambada e resfriada, coletou-se
uma porção de microrganismo e depositou-se sobre a superfície do meio de cultura
no setor 1 em forma de estrias (Figura 8) tentando fazer o maior número de estrias
Page 35
Parte Experimental
23
possível. Com a alça de platina esterilizada, novamente, e sem carregá-la com
microrganismo deslizou-se a mesma sobre as últimas estrias que foram feitas no
primeiro setor e foram feitas novas estrias no setor 2. Repetiu-se o procedimento para
o setor 3, onde terá a menor quantidade de células, ocorrendo o crescimento de uma
colônia proveniente de uma única célula, denominada cultura pura. Depois de
terminado o procedimento levou-se as placas para incubação a uma temperatura
entre 20 a 25 °C.
Figura 8 - Ilustração da técnica de esgotamento de cultura em placa de Petri com meio sólido.3.2.5.3
Dosagem de células
Para acompanhar o crescimento celular ao longo da fermentação utilizou-se o
método de espectrofotométrico. O meio fermentativo foi diluído adequadamente e
determinou-se a absorbância em espectrofotômetro a 650 nm. O valor lido foi
comparado com uma curva padrão (Figura 11, página 32) que relacionou a
absorbância com a concentração celular em termos de massa seca em gramas por
litro, que foi construída conforme descrito abaixo. Para o branco foi utilizado água
destilada.
3.2.5.3.1 Curva padrão
Massa seca
Para este procedimento o microrganismo foi inoculado em 100 mL de YPG 10%,
Page 36
Parte Experimental
24
numa concentração aproximada a da fermentação e deixou-se crescendo em Shaker
a 30 °C e 150 rpm por aproximadamente 12 horas.
O meio fermentativo foi homogeneizado e colocado em frascos Falcon de 50
mL para centrifugar por 15 minutos, para a completa sedimentação, retirou-se o
sobrenadante, adicionou-se água destilada em seguida foi centrifugada novamente.
Esta operação foi repetida três vezes seguidas.
Secaram-se três placas de Petri de vidro em estufa até massa constante e
anotou-se a massa de cada um. Adicionou-se a levedura lavada em cada placa e
foram anotadas a massas de cada placa. Estas foram levadas para estufa a 80 °C
para secagem até massa constante. Pesaram-se as placas e determinou-se a massa
de sólido seca em cada uma. Com o volume centrifugado conhecido e a massa de
sólido seca foi possível determinar a concentração celular em g/L presente no meio.
Determinação da razão massa de célula versos comprimento de onda
Com o mesmo meio fermentado foram feitas leitura no espectrofotômetro, com
comprimento de onda de 650 nm, em diferentes diluições. As diluições adequadas
dependeram da concentração celular em que se encontrava o meio. Usou-se como
branco água destilada. O procedimento foi realizado em triplicata.
Conhecidas as absorbâncias relacionadas à cada concentração, pode-se então
construir a curva padrão que forneceu a concentração de leveduras em base seca,
em g/L (ordenada), para cada absorbância lida (abscissa). Obteve-se a equação da
reta e o R2.
Determinação da concentração nas amostras
A turbidimetria, técnica utilizada para quantificar o crescimento microbiano, faz o
monitoramento do crescimento bacteriano através da densidade ótica (DO). É o
método mais simples e rápido para se obter resultados, uma desvantagem da
turbidimetria, é não conseguir distinguir as células viáveis das não viáveis.
Com as amostras homogeneizadas e diluídas dentro do intervalo especificado
pela curva padrão foram feitas as leituras das absorbâncias no espectrofotômetro a
650 nm. O branco utilizado foi água destilada e o procedimento foi realizado em
Page 37
Parte Experimental
25
triplicata para cada amostra.
3.2.5.4 Fermentação meio sintético
Após 24 horas do crescimento da colônia da levedura verteu-se em frascos de
erlenmeyer de 500 mL (aproximadamente 4 frascos) para que houvesse o
crescimento da levedura novamente, por aproximadamente 6 horas. Em seguida
foram centrifugadas e divididas em frascos de erlenmeyer de 500 mL para um novo
crescimento por 12 horas. Para obter a levedura concentrada, as mesmas foram
centrifugadas e calculou-se a concentração pela equação da curva de crescimento
como descrito anteriormente e esta demostrado na Figura 12 da página 34.
Sabendo a concentração da levedura calculou-se o volume a ser pipetado do
mesmo para uma concentração de 10 g/L. este volume foi adicionado ao meio
sintético. Anotou-se o tempo inicial e foram retiradas alíquotas, de 1 mL de cada
amostra, de 30 em 30 minutos. Essas amostras foram diluídas para a construção da
curva de crescimento através da leitura da densidade ótica no espectrofotômetro. Em
seguida foram centrifugadas e armazenou-se o sobrenadante para posterior analise
do consumo de glicose e a produção de etanol, no CLAE.
Todo o procedimento foi mantido em Shaker a 30 °C e 150 rpm, tanto para o
crescimento das leveduras quanto para a fermentação, e realizado em ambiente
esterilizado em capela de fluxo laminar. Todo material usado foi esterilizado para
evitar a contaminação da levedura.
3.2.5.5 Fermentação meio sintético com inibidores
Após as etapas de pré-tratamento e da hidrólise enzimática foram feitas análises, no
CLAE, para verificar a existência de inibidores gerados. As amostras foram
submetidas a análises sem diluição, para detectar os inibidores.
Com as concentrações dos inibidores furfural e HMF encontradas no CLAE
adicionou-se em quantidades equivalentes as substâncias ao meio sintético e
verificou-se o comportamento da levedura. A fermentação ocorreu de forma
semelhante ao item anterior.
Page 38
Parte Experimental
26
3.2.5.6 Fermentação meio hidrolisado
As amostras retiradas na etapa da hidrólise enzimática foram analisadas no CLAE
para verificar a quantidade de glicose presente. De posse das análises o hidrolisado
foi suplementado com glicose para uma concentração de 100 g/L.
Determinado o volume do creme de levedura descrito no item anterior para
uma concentração de 10 g/L o meio hidrolisado foi inoculado para a realização da
fermentação. O procedimento seguido foi o mesmo para o meio sintético.
3.2.5.7 Fermentação meio hidrolisado com suplementos
Com o meio hidrolisado já suplementado, conforme o item anterior foi adicionado o
Meio Mínimo de Pontecorvo51 com algumas modificações, com a seguinte
composição: 6,0 g de NaNO3; 1,52 g de KH2PO4; 0,52 g de MgSO4.7H2O; 0,52 g de
KCl; 0,01 g de FeSO4; 0,01 g de ZnSO4. Em seguida iniciou-se a fermentação da
mesma maneira para os meios sintético e hidrolisado. A foto da Figura 9 ilustra os
erlenmeyers com as fermentações desta etapa.
Figura 9 - Fermentação do meio hidrolisado com suplemento e meio sintético como contraprova.
Page 39
Parte Experimental
27
3.2.6 Cálculos dos parâmetros de fermentação
Os parâmetros cinéticos da fermentação foram obtidos através da utilização dos
cálculos da taxa específica máxima de crescimento, dos fatores de conversão de
substrato em células e em produto e da eficiência de fermentação.
3.2.6.1 Taxa específica máxima de crescimento (µmax)
A taxa específica de crescimento celular (µmax) foi calculada pela Equação 1.
dt
dX
X.
1
(Equação 1)
Onde X é a concentração celular (g/L) e t é o tempo (minutos).
3.2.6.2 Fator de conversão de substrato em produto (YP/S)
O fator de conversão de substrato em produto foi expresso em getanol/gglicose, sendo
calculado através da Equação 2.
dS
dPY SP
/
(Equação 2)
Onde P é a concentração do produto (g/L) e S é a concentração de substrato
(g/L).
3.2.6.3 Fator de conversão de substrato em células (YX/S)
O fator de conversão de substrato em células foi expresso em gcélulas/gglicose, sendo
calculado através da Equação 3.
dS
dXY SX
/
(Equação 3)
Page 40
Parte Experimental
28
3.2.6.4 Eficiência de fermentação (E)
Foi calculada com base no rendimento teórico proveniente da equação de Gay-
Lussac (51,1 getanol/100gglicose),52 segundo a Equação 4.
511,0/100./ SPYE (Equação 4)
Page 41
Resultados e Discussão
29
4 – Resultados e Discussão
4.1 Caracterização química das biomassas bruta e pré-
tratadas
Como relatado nos capítulos anteriores a madeira, biomassa lignocelulósica, é
composta por celulose, hemicelulose, lignina, extrativos e cinzas. A caracterização
química é um dado essencial para este trabalho, pois através desta foi possível
calcular e analisar o percentual das frações desta biomassa em diferentes estágios do
processo.
Os resultados da caracterização da madeira em seu estado natural (bruta) e
depois de passar pelas etapas de pré-tratamento ácido e alcalino são discutidos para
demonstrar a quantidade de celulose disponibilizada e hemicelulose nos pré-
tratamentos. Cabe ressaltar que o método usado nos pré-tratamentos são os mais
utilizados no meio científico para a indústria de celulose, podendo ser realizado em
diversos laboratórios e faz parte do Projeto da Embrapa Agroenergia – Fontes
Alternativas de Biomassa para a Produção Sustentável de Etanol a partir de Materiais
Lignocelulósicos, e o foco desta pesquisa é a fermentação. Com efeito, este estudo
não tem como meta detalhar o pré-tratamento usado.9
4.1.1 Caracterização química da biomassa bruta
Na caracterização do eucalipto da espécie EU a quantidade de celulose verificada,
dada pela média das análises realizadas, foi de 28% e este valor não é compatível ao
encontrado na literatura para a mesma espécie que está na faixa de 35 a 50%. Para a
hemicelulose o valor encontrado foi de 8% e na literatura o valor está na fixa de 17 a
19%, esta diferença pode ser proveniente do método, que usou concentração do
ácido sulfúrico e temperatura menores, utilizado para a caracterização.53 Em outras
espécies como o Eucalyptus grandis composição encontrada foi de 40% para a
celulose e 9% para a hemicelulose e o hibrido das espécies Eucalyptus grandis x
urophylla a composição foi de 39% para a celulose e 10% para a hemicelulose.54 Vale
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Resultados e Discussão
30
argumentar que foram utilizadas variáveis diferentes, como o tempo e a concentração
de ácidos para a caracterização química destas espécies. Apesar de observar que
outras metodologias empregadas apresentam resultados diferentes, optamos por esta
que foi utilizada por ser a mais empregada e completamente estabelecida no
laboratório de bioprocessos da Embrapa Agroenergia. É fato que os procedimentos
experimentais envolvendo matérias-primas complexas apresentam erros
experimentais bastante elevados.
4.1.2 Caracterização química das biomassas pré-tratadas
O pré-tratamento ácido foi realizado para desorganizar a estrutura da madeira e
remover a fração hemicelulósica. Dessa forma, após esta etapa o que se percebeu foi
que o percentual de celulose aumentou e a quantidade de hemicelulose diminuiu
conforme análise realizada no CLAE. O percentual de celulose disponibilizada nesta
etapa do pré-tratamento foi de 32% e a de hemicelulose de 6%. Após o processo de
filtragem a biomassa resultante desta etapa tem em sua composição celulose e
lignina, visto que a hemicelulose foi removida.
Na etapa do pré-tratamento alcalino onde há a deslignificação da biomassa o
percentual de celulose disponibilizada foi de 40% e a de hemicelulose de 2%. Dessa
forma, pôde-se perceber que o eucalipto pré-tratado alcalinamente teve um aumento
do percentual de celulose de 39% em relação ao estado bruto do eucalipto. Podemos
comparar, por exemplo, a caracterização do bagaço de cana de açúcar que teve um
percentual de celulose de 44% e que após a etapa de pré-tratamento resultou em
64% de celulose. Dessa forma, os resultados obtidos com o pré-tratamento teve um
percentual de 56% de aumento da celulose.55 Este resultado demonstra que a
biomassa bagaço da cana de açúcar, por apresentar em sua estrutura menos
resistência quanto ao pré-tratamento, teve um rendimento maior que a biomassa do
EU. Com isso, apesar do resultado ter sido menor para o EU, fica evidente que a
etapa de pré-tratamento foi eficaz e disponibilizou uma fração maior de celulose, que
era o desejável, para a etapa da hidrólise enzimática.
Estudos relatam que a hidrólise ácida, com ácido concentrado a temperaturas
elevadas, pode levar a dissociação da celulose.30 Contudo, existem outros estudos
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Resultados e Discussão
31
que apontam a eficiência em outras biomassas, como por exemplo, o bagaço da cana
de açúcar e a palha de centeio, sendo importante lembrar que estes experimentos
foram conduzidos em condições diferentes, como em temperaturas mais amenas e
concentrações de ácidos menores. Dessa forma, durante o processo adotado, as
amostras podem ter sofrido perdas dos açúcares, tanto da celulose quanto da
hemicelulose, ou a degradação dos mesmos.56,57,58
Na Figura 10 são apresentados os três estados (bruto, pré-tratado ácido e o
pré-tratado alcalino) do eucalipto EU. Nota-se visivelmente que o EU teve uma
mudança na sua composição, pois a cor em cada etapa vai sendo modificada pela
remoção dos componentes como a hemicelulose no pré-tratamento ácido e a lignina
no alcalino.
Figura 10 - Amostras de eucalipto EU: (A) eucalipto em seu estado bruto; (B) eucalipto após pré-
tratamento ácido; (C) eucalipto após pré-tratamento ácido e seguido do alcalino.
4.2 Hidrólise enzimática
Na etapa da hidrólise enzimática, onde a celulose foi convertida a glicose, açúcar
fermentável, os resultados são restritos aos pontos inicial e final, uma vez que este
estudo tem como foco principal o processo de fermentação. Através do modelo
matemático da equação da reta, encontrada com a curva de calibração para a glicose
Page 44
Resultados e Discussão
32
no CLAE, pode-se quantificar a glicose que foi formada durante o processo.
Obteve-se com 24 horas de hidrólise enzimática 20,69 g/L de glicose no meio.
De acordo com a metodologia de caracterização, o rendimento máximo esperado
seria de 35,05 g/L, com isso foi observado que o rendimento médio da hidrólise foi de
20,69 g/L, atingiu-se 59%.
Esta conversão já era esperada visto que a madeira é um material muito
recalcitrante quando comparado com outras biomassas, soma-se a isso o fato de que
a proporção sólido/líquido em todas as etapas de processos é 1:10, o que
normalmente não é encontrado na literatura que é de 1:30. Esta proporção é utilizada
visando-se um processo em escala industrial.58,59,60
A cristalinidade da biomassa lignocelulósica é um dos entraves para a
digestibilidade enzimática, mas isso não explica a recalcitrância dos substratos
lignocelulósicos. O pré-tratamento ácido seguido de alcalino diminui
consideravelmente a cristalinidade deste material, pois remove as porções de
hemicelulose e lignina, conforme visto nas análises da composição química. Se
compararmos com o bagaço da cana de açúcar a conversão de celulose em glicose
após a hidrólise enzimática é normalmente de aproximadamente 80%.58 Outro ponto
que deve ser observado é que depende, também, da dosagem de enzimas que foi
estabelecido no procedimento.
4.3 Fermentação
Como comentado anteriormente, existem alguns fatores que afetam o desempenho
da levedura durante a fermentação. Dentre os principais fatores que podem afetar o
crescimento da levedura e a produção de etanol foram analisados a presença de
inibidores e a falta de nutrientes no meio em que ocorreu a fermentação, bem como
em meio contendo todas as necessidades deste microrganismo.
Dentro deste contexto será mostrado nos itens a seguir o comportamento da
levedura, quanto ao seu crescimento e a sua produtividade.
Page 45
Resultados e Discussão
33
4.3.1 Curva padrão de levedura
Com os resultados de peso seco das leveduras e as absorbâncias obtidas no
espectrofotômetro pelas diluições construiu-se o gráficos do tipo da Figura 11 que é a
curva padrão utilizada para quantificação de microrganismos. A equação da reta
encontrada foi usada para calcular as concentrações do crescimento das leveduras
durante o processo de fermentação.
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
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o d
a le
ve
du
ra [g
/L]
Absorbância
y=0,592(ABS) - 0,042
R2= 0,993
Figura 11 - Equação da reta gerada pela curva padrão. Sendo y a concentração desejada e ABS a
absorbância.
Para encontrar uma equação onde o coeficiente de correlação estivesse
próximo de 1, ou seja, uma correlação muito forte, o procedimento foi repetido
algumas vezes até se chegar ao valor de R2 = 0,993. A repetição se deu devido a
necessidade de estabelecer as absorbâncias em uma faixa que fosse > 0 e < 1, e
para isso foram feitas diversas diluições do meio em que se encontrava a levedura.
Este valor foi determinado para garantir que a concentração de células encontra-se na
faixa linear da curva.
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Resultados e Discussão
34
4.3.2 Crescimento da levedura Saccharomyces cerevisiae
Para o sucesso no desempenho de um processo fermentativo, é necessário que as
características do agente fermentativo, a levedura S. cerevisiae, sejam observadas e
respeitadas. A sobrevivência e o crescimento da levedura dependem de um
adequado suprimento de nutrientes e de um ambiente físico favorável.
As fermentações deste trabalho foram realizadas nas condições ambientais
necessária para o desenvolvimento das leveduras. Contudo, alguns meios não
continham substratos suficientes para a manutenção das mesmas. Os gráficos com o
crescimento de cada meio é demostrado e discutido a seguir. Os resultados
mostrados são os que melhores representaram a reprodutibilidade dos experimentos.
4.3.2.1 Meio sintético
Para o crescimento das leveduras é necessário um meio de cultura apropriado que
simule ou até melhore a condição natural do ambiente em que se desenvolve. Um
meio de cultura sintético é um substrato nutritivo capaz de permitir a nutrição e o
crescimento dos microrganismos. O meio de cultura YPG 10% é um meio rico para o
crescimento e desenvolvimento da levedura, assim como para a fermentação e
produção de etanol, principal produto desta fermentação.
Nesse sentido, o crescimento da S. cerevisiae no meio sintético obteve um
crescimento desejado podendo ser visto, no gráfico da Figura 12, que na fase lag o
microrganismo sofre com a adaptação ao meio, mais é bem sutil. Na fase exponencial
onde ocorre o crescimento na ordem de 2n, sendo n o número de divisões, a levedura
teve um crescimento expressivo. Após a fase exponencial a levedura entra na fase
estacionária, não chegando à fase de declínio devido ao tempo a qual foi monitorada.
Esta curva de crescimento da levedura foi avaliada e utilizada como padrão de
comparação com as outras curvas de crescimento da levedura em outros meios que
foram analisados.
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Resultados e Discussão
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Tempo (min)
Figura 12 - Crescimento da levedura em meio sintético.
Os resultados encontrados para o meio sintético em relação ao crescimento do
microrganismo são: a taxa específica de crescimento (µ) da levedura foi de 0,0017
g/h-1 e o fator de conversão de substrato em célula (YX/S) foi de 0,051 g/g. Estes
resultados serviram de modelo para os meios que foram analisados, como segue
abaixo.
4.3.2.2. Meio hidrolisado
Após o pré-tratamento e a hidrólise enzimática e com o hidrolisado suplementado com
glicose (100 g/L) a fermentação teve início e seguiu conforme descrito na
metodologia. Nenhum tratamento de desintoxicação, para a eliminação de inibidores,
foi realizado no meio hidrolisado antes da fermentação.
Os resultados obtidos para o crescimento da levedura no meio hidrolisado são
demostrados na Figura 13, gráfico que representa o seu crescimento neste meio, e
pôde-se observar que a levedura não se adaptou ao meio o que prejudicou o seu
crescimento. A taxa específica de crescimento da levedura (µ) foi de 0,0005 g/h-1
enquanto que no meio sintético a taxa foi de µ = 0,0017 g/h-1, como pode-se notar a
taxa do meio hidrolisado foi bem inferior a taxa do meio sintético, com isso pode-se
Fase Lag
Fase exponencial
Fase estacionária
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Resultados e Discussão
36
afirmar que há alguma interferência no desenvolvimento da levedura no meio
hidrolisado. O fator de conversão de substrato em célula (YX/S) foi de 0,023 g/g, ou
seja, a metade da taxa encontrada no meio sintético que foi de 0,051 g/g,
confirmando, assim, a incapacidade do desenvolvimento da levedura. Observou-se
que no meio sintético foi obtido um aumento de 41% na concentração de células e no
meio hidrolisado o crescimento obteve um aumento de 17%.
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Tempo (min)
Figura 13 - Crescimento da levedura no meio hidrolisado.
A produtividade de etanol na fermentação esta diretamente ligada ao
crescimento das células e da concentração da massa celular, e que nos hidrolisados
lignocelulósicos esta relacionado, também, pelos inibidores derivados do pré-
tratamento ou pela degradação dos açúcares gerados no processo.61 Neste sentido,
os dados observados na fermentação levaram-nos a inferir que o crescimento foi
afetado pela presença de inibidores, pois com a mesma levedura e com as mesmas
condições de operação, mudando-se somente o substrato, do meio sintético que é
rico em nutrientes para um meio hidrolisado, houve uma grande diferença no
comportamento da levedura.
A investigação no retardo do crescimento da levedura foi realizada utilizando-
se o CLAE, as amostras foram analisadas sem diluição, com tempo de retenção de 52
minutos para verificar a possibilidade da existência de algumas moléculas que
estivesse interferindo no desenvolvimento da levedura. Visto que na literatura Scarlata
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Resultados e Discussão
37
e Hyman62 demonstraram que a presença do composto HMF foi encontrada no tempo
de retenção de 32,0 minutos e o furfural no tempo de retenção de 48,8 minutos, nas
mesmas condições de análise que foi realizada neste estudo.
As analises realizadas no CLAE identificaram a presença dos compostos
furfural e hidroximetilfurfural, que mostra o tempo de retenção para o HMF em 31,7
minutos e para o furfural de 46,7 minutos, essa diferença pode ser atribuída pela na
coluna utilizada diversas vezes. Com base na figura 14, foram calculadas as suas
concentrações através da curva gerada com concentrações conhecidas destes
compostos. As concentrações encontradas foram de 0,026 g/L para o furfural e 0,007
g/L para o HMF. O furfural causa sobre as leveduras uma diminuição da taxa
especifica de crescimento e o HMF, apesar de menos tóxico também causa danos à
membrana celular das leveduras, isto tem sido comprovado por diferentes estudos
realizados.63,64
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
0,0
2,0x104
4,0x104
6,0x104
8,0x104
1,0x105
1,2x105
1,4x105
1,6x105
In
ten
sid
ad
e u
.a.
(X100) (X100)
FurfuralHMF
Etanol
Acido Lactico
Glicose
Tempo de retençao (min)
Figura 14 - Cromatograma do tempo final da fermentação do meio hidrolisado sem diluição realizado
no CLAE.
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Resultados e Discussão
38
4.3.2.3 Meio sintético com inibidores
Ao ser constatado a presença dos compostos furfural e HMF no meio hidrolisado e
calculadas as suas devidas concentrações, descritas no item anterior, avaliou-se o
comportamento da levedura durante a fermentação adicionando estes compostos ao
meio sintético.
Na Figura 15 pode-se perceber que a levedura obteve um crescimento com
rendimento próximo ao meio sintético sem a presença destes compostos, mas houve
uma perda em suas taxas. A taxa especifica de crescimento (µ) foi de 0,0011 g/h-1 e
no meio sintético o µ = 0,0017 g/h-1 e o fator de conversão de substrato em célula
(YX/S) de 0,033 g/g e para o meio sintético YX/S = 0,051 g/g. Além disso, verificou-se
que o aumento na concentração de células no meio sintético com a presença de
inibidores foi de 28%, e se compararmos com o meio sintético puro que foi de 41% e
com o meio hidrolisado que foi de 17% constatamos que houve uma queda em
relação ao meio padrão, mas um aumento em relação ao meio hidrolisado. Assim,
concluímos que o fator que estava impedindo o crescimento da levedura no meio
hidrolisado não era somente o fato de apresentar os compostos furfural e HMF.
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Figura 15 - Crescimento da levedura em meio sintético na presença dos compostos furfural e HMF.
Pode-se supor que o fato da levedura ter se desenvolvido, mesmo que
precariamente, na presença de inibidores deve-se a concentração destes compostos
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Resultados e Discussão
39
presentes no hidrolisado serem muito baixas, pois na literatura a concentração para
inibirem o crescimento de microrganismos pode variar, dependendo da biomassa e do
pré-tratamento que foi submetido.65 Para o furfural a concentração encontrada foi de
0,4 g/L para o abeto (árvore conífera do gênero Abies da família Pinaceae)66
enquanto que para a cana de açúcar e seu bagaço 2,22 g/L.67 Para o HMF a menor
concentração encontrada foi de 0,06 g/L para a palha de milho68 e a maior foi de 3,0
g/L para o abeto.69
4.3.2.4 Meio hidrolisado suplementado
Diante dos dados da taxa de crescimento (µ) e o fator de conversão (YX/S) percebeu-
se que há sim uma interferência significativa no crescimento do microrganismo na
presença destes inibidores, mas ela não é tão alta como no hidrolisado. Dessa forma,
suplementou-se o hidrolisado com sais inorgânicos que os microrganismos
necessitam para um crescimento satisfatório, tendo este suplemento as condições
mínimas para o desenvolvimento do microrganismo. De acordo com a metodologia
descrita as alíquotas de hidrolisado foram suplementadas e em seguida a levedura foi
inoculada no meio.
Com os resultados obtidos gerou-se o gráfico da Figura 16 que demonstrou o
crescimento da levedura, com a presença dos sais. A levedura se comportou de
maneira eficiente, mesmo em no meio hidrolisado.
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Resultados e Discussão
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Figura 16 - Crescimento da levedura no meio hidrolisado suplementado com sais inorgânicos.
As taxas encontradas neste procedimento foram µ = 0,0015 g/h-1 e Yx/s = 0,028
g/g. Nota-se que a taxa especifica de crescimento (µ) foi bem próxima ao do meio
sintético que é de µ = 0,0017 g/h-1. Contudo, o fator de conversão do substrato em
celular não foi expressivo, pois para o meio sintético o valor foi de Yx/s = 0,051 g/g e
para o meio hidrolisado foi de Yx/s = 0,023 g/g. Dessa forma, o fator de conversão não
teve uma melhora significativa com a presença dos nutrientes acrescidos no meio
hidrolisado.
Ao analisarmos o crescimento das células da levedura no meio hidrolisado
suplementado observou-se que houve um aumento na concentração de massa de
31% e o meio hidrolisado o percentual foi de 17%, o que demonstrou um crescimento
próximo ao do meio sintético que foi de 41%, e superior ao meio hidrolisado com
inibidores. Dessa forma, podemos concluir que o meio hidrolisado do EU tem uma
carência de nutrientes que interferem no crescimento da levedura, mas que também
possui compostos que inibem o desenvolvimento deste microrganismo.
Page 53
Resultados e Discussão
41
4.3.3 Consumo do substrato e a produção de etanol
A concentração de substrato, pH, tempo e temperatura, presença de contaminantes
são fatores que podem afetar o rendimento da fermentação, ou seja, a eficiência da
conversão de açúcar em etanol. Geralmente, há queda na eficiência do processo
fermentativo ou na qualidade do produto final.70
Com as amostras, do meio sintético, meio hidrolisado, meio sintético com
inibidores e meio hidrolisado suplementado, das fermentações previamente diluídas e
passadas no CLAE foram calculadas as concentrações do substrato (glicose) e do
produto (etanol) através da curva de calibração. A curva de calibração, para a glicose
e para o etanol, foi preparada com uma concentração conhecida de 5 g/L, que é o
limite de detecção do equipamento.
A seguir serão apresentados os rendimentos da fermentação nos diferentes
procedimentos que foram analisados.
4.3.3.1 Meio sintético
As análises realizadas no CLAE demonstraram que o comportamento da levedura
condiz com o seu crescimento, pois para que haja seu crescimento a mesma
necessita de substratos, o que, consequentemente, leva à formação de produtos. Isso
ocorreu, pois o meio de fermentação, meio sintético, forneceu os nutrientes
necessários favorecendo tanto o crescimento microbiano quanto a formação do
produto.71
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Etanol
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Tempo (min)
Figura 17 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio sintético.
Os resultados obtidos para o consumo de substrato e da produção do produto
estão demonstrados no gráfico da Figura 17. O fator de conversão de substrato em
produto encontrado foi de (YP/S) 0,51 g/g e a eficiência de fermentação (E) foi de
100%. Demonstrando que todo o substrato, a glicose, foi consumido e transformado
em produto, o etanol, pelo processo biológico da levedura.
Como o meio sintético é um meio rico em nutrientes para o desenvolvimento da
levedura os resultados obtidos foram o desejado, pois as condições eram as mais
favoráveis para este rendimento. Ao verificarmos o comportamento da levedura
durante seu crescimento observou-se um aumento da concentração de células de
41% e que a mesma passou pelas fases de crescimento de maneira bem definida. E,
além disso, a quantidade de glicose no final da fermentação foi toda consumida e teve
uma concentração igual a zero, o que gerou um rendimento de 100% de produto.
4.3.3.2 Meio hidrolisado
Ao analisarmos os resultados do meio hidrolisado, verificou-se que o fator de
conversão de substrato em produto (YP/S) foi de 0,43 g/g e a eficiência de fermentação
E= 84%. Levando em conta que para a fermentação ser produtiva há a necessidade
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Resultados e Discussão
43
de que a levedura se desenvolva satisfatoriamente no meio em que esta ocorrendo o
processo, observou-se que no meio sintético a levedura obteve sua produção em
100%, sendo compatível com o consumo de glicose que foi toda convertida em
etanol, e que o seu crescimento foi bem definido.
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Figura 18 - Consumo de glicose e formação de etanol no meio hidrolisado.
Os valores encontrados para o meio sintético, YP/S = 0,51 g/g e E = 100%, em
termos numéricos não ficaram muito acima dos resultados do meio hidrolisado, mas
pôde-se observar no gráfico da figura 18 que a glicose não foi totalmente consumida e
que a produção de etanol foi baixa, esta diferença de 16% na produção de etanol
pode acarretar perdas significativas nos rendimento financeiros das indústrias. Isso
pode estar atribuído ao crescimento da levedura no meio hidrolisado, que obteve uma
taxa µ = 0,0005 g/h-1, enquanto que no meio sintético esta taxa foi de µ = 0,0017 g/h-1.
O não crescimento da levedura afetou a produção de etanol, contudo houve uma
produção de etanol, muito inferior ao meio sintético.
4.3.3.3 Meio sintético com inibidores
Nas etapas de pré-tratamento da biomassa lignocelulósica, especialmente quando é
empregada a etapa com ácido, são gerados ou liberados alguns compostos que têm
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Resultados e Discussão
44
um efeito inibidor na fermentação. Esses compostos podem trazer prejuízo à taxa de
crescimento e consequentemente a produtividade.64
Os resultados do meio sintético com a presença dos compostos furfural e HMF
foram bem próximos aos resultados do meio sintético puro. O fator de conversão de
substrato em produto YP/S foi de 0,47 g/g e sua eficiência de fermentação E = 92%.
Os dados estão representados no gráfico da Figura 19. Contudo, é notável que a
levedura não apresentou uma boa conversão, como no meio sintético puro, cujo os
resultados são YP/S = 0,51 g/g e E = 100%, e isso pode ser atribuído ao estresse que
foi submetido pela presença destes compostos.
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Figura 19 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio sintético na presença de inibidores.
Para a levedura, S. cerevisiae, usada na fermentação o furfural tem efeito
negativo na taxa específica de crescimento, no rendimento de massa celular e na
produção de etanol, além de diminui a viabilidade da levedura.65 Estudos observaram
também, para a S. cerevisiae, que na presença de furfural e HMF, embora o
rendimento de biomassa sobre o substrato seja menor, o rendimento de etanol é
maior.65,63
Com efeito, isto pode ser analisado quando observamos os valores dos fatores
de conversão de substrato em células para o meio sintético puro e para o meio
sintético com os inibidores, YX/S = 0,051 g/g e YX/S = 0,033 g/g respectivamente, e as
taxas de eficiência de fermentação, E = 100% e E = 92%. Dessa forma, verificou-se
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Resultados e Discussão
45
que houve uma diminuição na via metabólica da levedura, o que acarretou uma queda
na concentração final do produto no meio.
4.3.3.4 Meio hidrolisado suplementado
Como foi relatado anteriormente, para a realização da fermentação, é necessário que
seja preparado um meio, que favoreça tanto o crescimento microbiano quanto a
formação do produto. Consequentemente, a falta de nutrientes básicos para o
desenvolvimento da levedura pode afetar o seu crescimento e a produção de etanol.
De acordo com os estudos citados acima, a falta de nutrientes pode causar um
prejuízo na formação do produto, e isto pôde ser visto na produção de etanol no meio
hidrolisado puro, onde o fator de conversão de substrato em produto (YP/S) foi de 0,43
g/g e a eficiência de fermentação E = 84%. Os dados gerados pela fermentação do
meio hidrolisado suplementado demostrados no gráfico da Figura 20 nos mostram
que a levedura se desenvolveu de forma eficiente e os valores encontrados para o
fator de conversão de substrato em produto foi de 0,505 g/g e sua eficiência de 99%.
Comprovando, assim, que há uma carência de nutrientes no meio hidrolisado de EU e
que para uma fermentação viável é importante que haja uma suplementação do meio
resultante das etapas que precedem a fermentação.
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Figura 20 - Consumo de glicose e produção de etanol no meio hidrolisado suplementado.
Dessa forma, os nutrientes são necessários para o bom desenvolvimento da
fermentação, afetando a velocidade e a multiplicação da levedura. A concentração
adequada destes nutrientes no meio é muito importante, pois se estiverem presentes
em quantidades insuficientes ou exageradas, podem refletir de forma negativa sobre o
processo fermentativo. E a falta de nutrientes pode acarretar consideravelmente o
rendimento de etanol e a viabilidade celular da levedura.70
Estudos apontam que os nutrientes participam do metabolismo da levedura
como ativadores das enzimas. No caso, quando uma quantidade de nutrientes é
insuficiente, a levedura reproduz e conduz a fermentação lentamente ou mesmo sua
reprodução é impossível.72 E isso constata o que foi analisado nos meios onde a
presença de nutrientes era satisfatória. No meio hidrolisado a falta dos nutrientes
prejudicou o desenvolvimento da levedura e, consequentemente, a produção de
etanol.
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Conclusões e Perspectivas
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5 – Conclusões e Perspectivas
A madeira de eucalipto da espécie Eucalyptus urophylla tem potencial para a
produção de etanol lignocelulósico, pois a quantidade de celulose presente em sua
composição é bastante significativa. Contudo, é mais explorada em outros setores,
como a construção e a produção de celulose para a fabricação de papel, e muito
pouco explorada como fonte de açúcares fermentáveis.54
A caracterização química do EU foi essencial para o desenvolvimento do
presente trabalho e os resultados após a etapa de pré-tratamento foram abaixo dos
encontrados na literatura. O percentual de celulose disponibilizado após o pré-
tratamento alcalino para a celulose foi de 40% e para a hemicelulose de 2%. Dessa
forma, houve um aumento de 39% da celulose em relação ao seu estado bruto. Este
resultado demonstra que a etapa de pré-tratamento foi eficaz, pois disponibilizou uma
fração maior de celulose para o processo de hidrólise enzimática. Nesta etapa a
conversão de celulose em glicose foi de 59%.
O processo de fermentação é uma parte de extrema importância na obtenção
de etanol lignocelulósico. Para que haja um crescimento microbiano suficientemente
bom, o meio de cultura deve conter os nutrientes em quantidades e proporções
corretas para o crescimento e manutenção dos microrganismos, além disso,
características como temperatura, pH e oxigênio devem estar de acordo com as
necessidades do microrganismo.
A fermentação do meio hidrolisado foi a que obteve os menores índices quando
comparado aos outros meios. O meio sintético serviu de padrão para analisar
primeiramente o meio hidrolisado puro. Os valores encontrados para os parâmetros
analisados foram: µ = 0,0017 g/h-1, YX/S = 0,051 g/g, YP/S = 0,51 g/g e E = 100%.
Ao verificar que o comportamento da levedura no meio hidrolisado, através dos
parâmetros µ = 0,0005 g/h-1, YX/S = 0,023 g/g, YP/S = 0,43 g/g e E = 84%, comparando
com o meio sintético, constatou-se que algum fator impede o desenvolvimento da
levedura, neste meio. E que esta diferença no rendimento da fermentação, 16%,
acarreta em perdas significativas para o setor de produção de etanol lignocelulósico,
nos rendimentos das indústrias.
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Conclusões e Perspectivas
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As análises do meio hidrolisado realizadas no CLAE mostraram a presença dos
compostos furfural e HMF, mesmo que em concentrações baixas. Após detectar estes
compostos foi feita a fermentação em um meio sintético com os inibidores para avaliar
o comportamento da levedura. Os valores encontrados foram: µ = 0,0011 g/h-1, YX/S =
0,033 g/g, YP/S = 0,47 g/g e E = 92%, e notou-se que apesar da melhora em relação
ao meio hidrolisado a levedura não apresentou uma boa conversão, ao comparamos
com o meio sintético, e isso pode ser ao fato de que a levedura sofreu na presença
dos inibidores.
Ao analisar o comportamento da levedura no meio hidrolisado suplementado
percebeu-se que o seu desenvolvimento foi melhor do que do meio hidrolisado sem o
suplemento, como mostra os resultados µ = 0,0015 g/h-1, YX/S = 0,028 g/g, YP/S =
0,505 g/g e E = 99%. Mesmo com os sais minerais no meio hidrolisado a levedura
teve um fator de conversão muito abaixo do meio sintético e seu rendimento não foi
total.
Como demonstrado acima, pôde-se concluir que a presença de inibidores e a
ausência de nutrientes no meio hidrolisado afetam o crescimento da levedura e,
consequentemente, a produção de etanol. Comprovando, como citado anteriormente,
que há a ação de inibidores neste processo, que causam perdas significativas no
rendimento e um tempo maior de reação.
Assim, visando a melhoria do processo e um rendimento significativo do
biocombustível sugere-se estudar mais detalhadamente a etapa de fermentação do
hidrolisado de eucalipto. Investigando e analisando os hidrolisados quanto a sua
composição química e a presença de compostos que inibem a fermentação.
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