DESENVOLVIMENTO MOTOR: Um Modelo Terico
David Gallahue
O desenvolvimento motor pode ser conceitualizado, usando uma
ampulheta heurstica, como um processo faseestgio descontnuo e
sobreposto.
A funo principal da teoria integrar fatos existentes para
organiza-los de tal maneira que eles forneam um significado. As
teorias do desenvolvimento tomam os fatos existentes sobre o
organismo e fornecem um modelo desenvolvimentista congruente com os
fatos. Portanto, a formulao de teorias serve como base para testar
os fatos e viceversa. Os fatos so importantes, mas sozinhos no
constituem cincia. O desenvolvimento de uma cincia depende do avano
da teoria, bem como da acumulao dos fatos. No estudo do
comportamento humano, especialmente nas reas de desenvolvimento
cognitivo e afetivo, a formulao das teorias ganhou crescente
importncia nos ltimos anos. As teorias tm desempenhado um papel
duplo essencial em ambas as reas, a saber, tm servido e continuam a
servir como integradoras dos fatos existentes e como base para a
derivao de novos fatos (Bigge e Shermis, 1992; Learner, 1986).
At recentemente o interesse pelo desenvolvimento motor estava
preocupado basicamente em descrever e em catalogar dados, com pouco
interesse em modelos desenvolvimentistas que levassem a uma
explicao terica do comportamento no decorrer da vida. Essa pesquisa
era necessria e muito importante para a nossa base de
conhecimentos. Porm, na realidade, ela pouco fez para ajudarnos a
responder s questes criticamente importantes do que est na base do
processo do desenvolvimento motor e como o processo ocorre. Somente
existe um nmero limitado de modelos abrangentes do desenvolvimento
motor. Agora, entretanto, estudiosos do desenvolvimento motor esto
reexaminando o seu trabalho em relao a pesquisas mais
cuidadosamente planejadas e baseadas em estruturas tericas
experimentais. O objetivo deste captulo apresentar um modelo
abrangente de desenvolvimento motor, baseado em pontos de vistas
tericoespecficos, em um esforo tanto para descrever quanto para
explicar o desenvolvimento e para servir como base para a gerao de
novos fatos sobre esse importante aspecto do comportamento
humano.
CONCEITO 1
Poucos modelos tericos abrangentes de desenvolvimento motor
existemA primeira funo de um modelo terico de desenvolvimento motor
deveria ser a integrao dos fatos existentes englobados pela rea de
estudo. A segunda funo deveria ser servir como base para a gerao de
novos fatos. Podese argumentar que os fatos poderiam ser
interpretados de mais de uma maneira, isto , a partir de
perspectivas tericas diferentes, o que , de fato, desejado. Pontos
de vistas diferentes promovem argumentos e debates tericos que so,
a prpria centelha da pesquisa, ao lanar nova luz sobre interpretaes
tericas divergentes. Mesmo se diferenas tericas no existirem,
pesquisas devem ser realizadas para determinar se as hipteses
derivadas da teoria podem ter um suporte tanto experimental quanto
ecolgico (Bigge e Shermis, 1992; Learner, 1986).
A teoria deveria servir como base para todas as pesquisas e para
a cincia, e o estudo do desenvolvimento motor no constitui exceo. A
teoria desenvolvimentista deve ser tanto descritiva quanto
explicativa. Em outras palavras, o desenvolvimentalista est
interessado em como as pessoas tipicamente so em faixas etrias
particulares (descrio) e o que faz com que essas caractersticas
ocorram (explicao). Sem uma base terica de operao, a pesquisa sobre
o desenvolvimento motor ou qualquer outra rea tende a produzir
pouco mais do que fatos isolados. Todavia, sem um corpo existente
de conhecimento (fatos), no podemos formular teorias e sem a
formulao e o teste constante de teorias, no podemos esperar um nvel
superior de compreenso e de conscientizao do fenmeno que chamamos
de desenvolvimento motor.
CONCEITO 2
Modelos tericos tentam descrever e explicar o comportamento e
podem ser indutivos ou dedutivos em sua natureza.
Uma teoria um grupo de afirmaes e de conceitos que integram
fatos existentes e levam gerao de novos fatos. O modelo das "fases
do desenvolvimento motor" a ser apresentado neste captulo no
baseado unicamente na acumulao dos fatos. Tal modelo resulta do uso
de um "mtodo embutido" de formulao de teoria. No mtodo indutivo, o
pesquisador primeiramente inicia com um conjunto de fatos e, ento,
tenta encontrar uma estrutura conceptual ao redor da qual possa
organizlos e expliclos. O "mtodo dedutivo", de formulao terica,
conforme usado aqui, baseado na inferncia e possui trs qualificaes
bsicas. Primeiramente, a teoria deve integrar fatos existentes e
responder por evidncias empricas que se relacionem com o contedo da
teoria. Em segundo lugar, a teoria deveria prestarse formulao de
hipteses estveis na forma de: se _, ento. Em terceiro lugar, a
teoria deveria satisfazer o teste emprico, isto , hipteses que so
experimentalmente testadas deveriam produzir resultados que
fornecessem maior apoio teoria.
O uso de um modelo dedutivo ao invs de um modelo indutivo faz
com que possamos ver como fatos bemacumulados encaixamse em um todo
coeso e compreensvel. Isso tambm faz com que identifiquemos as
informaes que so necessrias para preencher as lacunas na teoria,
para esclarecla ou refinla. As fases do desenvolvimento motor
delineadas neste captulo so baseadas na deduo e servem como modelo
para a formulao terica. Em sees subseqentes do texto cada fase ser
explorada em maiores detalhes.
AS FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR
O processo do desenvolvimento motor revelase basicamente por
alteraes no comportamento motor. Todos ns bebs, crianas,
adolescentes e adultos - estamos envolvidos no processo permanente
de aprender a moverse com controle e competncia, em reao aos
desafios que enfrentamos diariamente em um mundo em constante
mutao. Podemos observar diferenas desenvolvimentistas no
comportamento motor, provocadas por fatores prprios do indivduo
(biologia), do ambiente (experincia) e da tarefa em si
(fsicos/mecnicos). Podemos fazer isso pela observao das alteraes no
processo (forma) e no produto (desempenho). Assim, um meio primrio
pelo qual o processo de desenvolvimento motor pode ser observado o
estudo das alteraes no comportamento motor no decorrer do ciclo da
vida. Em outras palavras, o comportamento motor observvel real de
um indivduo fornece uma "janela" para o processo de desenvolvimento
motor, assim como indicaes para os processos motores
subjacentes.
CONCEITO 3
O processo de desenvolvimento motor pode ser considerado sob o
aspecto de fases e sob o aspecto de estgios.
O movimento observvel pode ser agrupado em trs categorias:
movimentos estabilizadores, movimentos locomotores e manipulativos
ou combinaes desses trs. Em sentido mais amplo, um movimento
estabilizador qualquer movimento no qual algum grau de equilbrio
necessrio (isto , virtualmente toda atividade motora rudimentar).
Em sentido mais estreito, um movimento estabilizador aquele
nolocomotor e nomanipulativo. A categoria convenientemente inclui
movimentos como girar, virarse, empurrar e puxar, que no podem ser
classificados como locomotores ou manipulativos. Neste livro, a
estabilidade, como "categoria de movimento", considerada mais do
que um termo abrangente e proveitoso, porm, no se trata de um termo
global aplicvel a todo movimento. A "estabilidade" referese a
qualquer movimento que tenha como objetivo obter e manter o
equilbrio em relao fora de gravidade. Assim, movimentos axiais
(outro termo algumas vezes usado para movimentos no-locomotores) e
posturas invertidas e posturas de rolamento corporal so
consideradas como movimentos establizadores.
A categoria de movimento locomotor referese a movimentos que
envolvem mudanas na localizao do corpo relativamente a um ponto
fixo na superfcie. Caminhar, correr, pular, ficar apoiado em um p s
ou saltar um obstculo desempenhar uma tarefa locomotora. Em nosso
uso do termo, atividades como rolar para a frente e rolar para trs
podem ser consideradas tanto como movimentos locomotores quanto
como movimentos estabilzadores/locomotores porque o corpo est
movendose de um ponto a outro; estabilizadores porque tm como
objetivo a manuteno do equilbrio em situao de equilbrio
incomum.
A categoria de movimento manipulativo referese tanto manipulao
motora rudimentar quanto manipulao motora refinada. A manipulao
motora rudimentar envolve a aplicao de fora ou a recepo de fora de
objetos. As tarefas de arremessar, apanhar, chutar e derrubar um
objeto, bem como prender e rebater so movimentos manipulativos
motores rudimentares. A manipulao motora refinada envolve o uso
intrincado de msculos da mo e do pulso. Costurar, cortar com
tesouras e digitar so movimentos manipulativos motores refinados.
Grande nmero de movimentos envolve a combinao de movimentos
estabilizadores, locomotores e/ou manipulativos. Por exemplo, pular
corda envolve locomoo (pular), manipulao (girar a corda) e
estabilidade (manter o equilbrio). Da mesma forma, jogar futebol
envolve habilidades locomotoras (correr e pular), manipulativas
(driblar, passar, chutar e cabecear) e estabilizadoras (esquivarse,
atingir, girar e virarse).
Em resumo, se o movimento serve corno janela para o processo de
desenvolvimento motor, ento a maneira de estudar esse processo pelo
exame da progresso seqencial de habilidades motoras ao longo de
toda a vida. As seguintes fases de desenvolvimento motor e os
estgios desenvolvimentistas de cada fase so projetadas para servir
como modelo para esse estudo (veja a Figura 1 para uma representao
visual das quatro fases e de seus estgios correspondentes).
Fase motora reflexiva
Os primeiros movimentos que o feto faz so reflexivos. Os
reflexos so movimentos involuntrios, controlados subcorticalmente,
que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. A partir
da atividade de reflexos, o bebe obtm informaes sobre o ambiente
imediato. As reaes do bebe ao toque, luz, a sons e a alteraes na
presso provocam atividade motora involuntria. Esses movimentos
involuntrios e a crescente sofisticao cortical nos primeiros meses
de vida psnatal desempenham importante papel para auxiliar a criana
a aprender mais sobre seu corpo e o mundo exterior.
Figura 1.
Os reflexos primitivos podem ser classificados como agrupadores
de informaes, caadores de alimentao e de reaes protetoras. So
agrupadores de informaes medida que auxiliam a estimular a
atividade cortical e o desenvolvimento. So caadores de alimentao e
protetores porque h considerveis evidncias de que sejam
filogenticos por natureza. Os reflexos primitivos, como os reflexos
de sugar e de pesquisar pelo olfato, so considerados mecanismos de
sobrevivncia primitivos. Sem eles, o recmnascido seria incapaz de
obter alimento.
Os reflexos posturais compem a segunda forma de movimento
involuntrio e so notavelmente similares, na aparncia, a
comportamentos voluntrios posteriores, mas so inteiramente
involuntrios. Esses reflexos parecem servir como equipamentos de
teste neuromotores para mecanismos estabilizadores, locomotores e
manipulativos que sero usados mais tarde com controle consciente.O
reflexo primrio de pisar e o reflexo de arrastarse, por exemplo,
relembram intimamente os comportamentos de caminhar voluntrio
posterior e de engatinhar. O reflexo palmar de agarrar intimamente
relacionado aos comportamentos voluntrios posteriores de agarrar e
soltar. O reflexo vertical labirntico e os reflexos de sustentao
esto relacionados s habilidades de equilbrio posteriores. A fase
reflexiva do desenvolvimento motor pode ser dividida em dois
estgios sobrepostos.
CONCEITO 4
Os reflexos so as primeiras formas de movimento humano.
Estgio de codificao de informaes
O estgio de codificao de informaes (reunio) da fase de
movimentos reflexivos caracterizado por atividade motora
involuntria observvel no perodo fetal at aproximadamente o quarto
ms do perodo psnatal. Nesse estgio, os centros cerebrais inferiores
so mais altamente desenvolvidos do que o crtex motor e esto
essencialmente no comando do movimento fetal e neonatal. Esses
centros cerebrais so capazes de causar reaes involuntrias a inmeros
estmulos de intensidade e durao variadas. Os reflexos, agora,
servem de meios primrios pelos quais o bebe capaz de reunir
informaes, buscar alimento e encontrar proteo ao longo do
movimento.
Estgio de decodificao de informaes
O estgio de decodificao de informaes (processamento) da fase
reflexiva comea aproximadamente no quarto ms de vida. Nesse perodo,
h gradual inibio de muitos reflexos medida que os centros cerebrais
superiores continuam a desenvolverse. Os centros cerebrais
inferiores gradualmente cedem o controle sobre os movimentos
esqueletais e so substitudos por atividade motora voluntria mediada
pela rea motora do crtex cerebral. O estgio de decodificao
substitui a atividade sensriomotora por habilidade motorperceptiva.
Isto , o desenvolvimento do controle voluntrio dos movimentos
esqueletais do bebe envolve o processamento de estmulos sensoriais
com informaes armazenadas, no simplesmente reao aos estmulos.
Fase de movimentos rudimentares
As primeiras formas de movimentos voluntrios so os movimentos
rudimentares, observados no bebe, desde o nascimento at,
aproximadamente, a idade de 2 anos. Os movimentos rudimentares ,so
determinados de forma maturacional e caracterizamse por uma seqncia
de aparecimento altamente previsvel. Esta seqncia resistente a
alteraes em condies normais. O nvel com que essas habilidades
aparecem, porm, varia de criana a criana e depende de fatores
biolgicos, ambientais e da tarefa. As "habilidades motoras
rudimentares" do bebe representam as formas bsicas de movimento
voluntrio que so necessrias para a sobrevivncia. Elas envolvem
movimentos estabilizadores, como obter o controle da cabea, pescoo
e msculos do tronco; as tarefas manipulativas de alcanar, agarrar e
soltar; e os movimentos locomotores de arrastarse, engatinhar e
caminhar. A fase de movimentos rudimentares de desenvolvimento pode
ser dividida em dois estgios que representam progressivamente
ordens superiores de controle motor.
CONCEITO 5
A seqncia de aquisio de habilidades motoras, a fase de
movimentos rudimentares, fixa, porm o ndice varivel.
Estgio de inibio de reflexos
O estgio de inibio de reflexos da fase de movimentos
rudimentares inicia-se no nascimento. No nascimento, os reflexos
dominam o repertrio de movimentos do bebe. Dali em diante,
entretanto, os movimentos do bebe so crescentemente influenciados
pelo crtex em desenvolvimento. O desenvolvimento do crtex e a
diminuio de certas restries ambientais fazem com que vrios reflexos
sejam inibidos e gradualmente desapaream. Os reflexos primitivos e
posturais so substitudos por comportamentos motores voluntrios.
Quanto inibio de reflexos, o movimento voluntrio fragilmente
diferenciado e integrado porque o aparato neuromotor do bebe est
ainda em estgio rudimentar de desenvolvimento. Os movimentos,
embora com objetivos, parecem descontrolados e grosseiros. Se o
bebe deseja entrar em contato com um objeto, haver atividade global
da mo inteira, pulso, ombro e at do tronco. O processo de
movimentar a mo para o contato com objeto, apesar de voluntrio,
apresenta falta de controle.
Estgio de prcontrole
Por volta de 1 ano de idade, as crianas comeam a ter preciso e
controle maiores sobre seus movimentos. O processo de diferenciao
entre os sistemas sensorial e motor e a integrao de informaes
motoras e perceptivas, em um todo mais significativo e coerente,
acontecem. O rpido desenvolvimento tanto de processos cognitivos
superiores quanto de processos motores encoraja rpidos ganhos nas
habilidades motoras rudimentares nesse estgio. No estgio de
prcontrole, as crianas aprendem a obter e a manter seu equilbrio, a
manipular objetos e a locomoverse pelo ambiente com notvel grau de
proficincia e controle, considerandose o curto perodo que tiveram
para desenvolver essas habilidades. O processo maturacional pode
explicar parcialmente a rapidez e a extenso do desenvolvimento do
controle dos movimentos nessa fase, mas o crescimento da
proficincia motora no menos assombroso.
Fase de movimentos fundamentais
As "habilidades motoras fundamentais" da primeira infncia so
conseqncia da fase de movimentos rudimentares do perodo neonatal.
Esta fase do desenvolvimento motor representa um perodo no qual as
crianas pequenas esto ativamente envolvidas na explorao e na
experimentao das capacidades motoras de seus corpos. um perodo para
descobrir como desempenhar uma variedade de movimentos
estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro isoladamente
e, ento, de modo combinado. As crianas que esto desenvolvendo
padres fundamentais de movimento esto aprendendo a reagir com
controle motor e competncia motora a vrios estmulos. Esto obtendo
crescente controle para desempenhar movimentos discretos, em srie e
contnuos, como fica evidenciado por sua habilidade em aceitar
alteraes nas exigncias das tarefas. Os padres de movimento
fundamentais so padres observveis bsicos de comportamento.
Atividades locomotoras (correr e pular), manipulativas (arremessar
e apanhar) e estabilizadoras (andar com firmeza e o equilbrio em um
p s) so exemplos de movimentos fundamentais que devem ser
desenvolvidos nos primeiros anos da infncia.
Uma das principais concepes erradas sobre o conceito
desenvolvimentista da fase de movimentos fundamentais a noo de que
essas habilidades so determinadas maturacionalmente e so pouco
influenciadas pela tarefa e por fatores ambientais. Alguns
especialistas em desenvolvimento infantil (no na rea de
desenvolvimento motor) tm escrito repetidamente sobre o
desdobramento "natural" do movimento e das habilidades motoras
infantis e a idia de que as crianas desenvolvem essas habilidades
simplesmente por ficarem mais velhas (maturao). Embora a maturao
realmente desempenhe papel bsico no desenvolvimento de padres de
movimento fundamentais, no deve ser considerada como a nica
influncia. As condies do ambiente a saber, oportunidades para a
prtica, encorajamento, instruo e a ecologia (cenrio) do ambiente em
si desempenham papel importante no grau mximo de desenvolvimento
que os padres de movimento fundamentais atingem.
CONCEITO 6
Os recursos e os limitadores de nvel contidos na tarefa, no
indivduo e no ambiente tm efeito profundo na aquisio de habilidades
motoras fundamentais maduras.
Vrios pesquisadores e profissionais que desenvolvem instrumentos
de avaliao tm tentado dividir os movimentos fundamentais em estgios
seqenciais identificveis. Para os objetivos de nosso modelo,
consideraremos toda a fase de movimentos fundamentais como tendo
trs estgios separados, mas freqentemente sobrepostos: o inicial, o
elementar e o maduro.
Estgio inicial
O estgio inicial de uma fase de movimentos fundamentais
representa as primeiras tentativas da criana orientadas para o
objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental. O movimento, em
si, caracterizado por elementos que faltam ou que so de forma
imprpria marcadamente seqenciados e restritos, pelo uso exagerado
do corpo e por fluxo rtmico e coordenao deficientes. Tipicamente,
os movimentos locomotores, manipulativos e estabilizadores da
criana de 2 anos de idade esto no nvel inicial. Algumas crianas
podem estar alm desse nvel no desempenho de alguns padres de
movimento, porm, a maioria est no estgio inicial.
Estgio elementar
O estgio elementar envolve maior controle e melhor coordenao
rtmica dos movimentos fundamentais. Aprimorase a sincronizao dos
elementos temporais e espaciais do movimento, porm, os padres de
movimento nesse estgio so ainda geralmente restritos ou exagerados,
embora mais bem coordenados. Crianas de inteligncia e funcionamento
fsico normais tendem a avanar para o estgio elementar,
primariamente, ao longo do processo de maturao. A observao de
crianas de 3 ou 4 anos de idade revela inmeros movimentos
fundamentais no estgio elementar. Muitos indivduos, tanto adultos
quanto crianas, no vo alm do estgio elementar em muitos padres de
movimento.
Estgio maduro
O estgio maduro na fase de movimentos fundamentais caracterizado
por desempenhos mecanicamente eficientes, coordenados e
controlados. A maioria dos dados disponveis sobre a aquisio de
habilidades motoras fundamentais sugere que as crianas podem e
devem atingir o estgio maduro aos 5 ou 6 anos de idade. As
habilidades manipulativas que requerem acompanhamento e interceptao
de objetos em movimento (apanhar, derrubar, rebater) desenvolvemse
um pouco mais tarde em funo das exigncias visuais e motoras
sofisticadas dessas tarefas. At mesmo a observao casual nos
movimentos de crianas e de adultos revela que muitos deles no
desenvolveram suas habilidades motoras fundamentais at o nvel
maduro. Embora algumas crianas possam atingir esse estgio
basicamente pela maturao e com um mnimo de influncias ambientais, a
grande maioria precisa de oportunidades para a prtica, o
encorajamento e a instruo em um ambiente que promova o aprendizado.
Sem essas oportunidades, tomase virtualmente impossvel um indivduo
atingir o estgio maduro de certa habilidade nessa fase, o que vai
inibir a aplicao e o desenvolvimento dessa habilidade em perodos
posteriores.
Fase de movimentos especializados
A fase especializada do desenvolvimento motor resultado da fase
de movimentos fundamentais. Na fase especializada, o movimento
tornase uma ferramenta que se aplica a muitas atividades motoras
complexas presentes na vida diria, na recreao e nos objetivos
esportivos. Esse um perodo em que as habilidades estabilizadoras,
locomotoras e manipulativas fundamentais so progressivamente
refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situaes
crescentemente exigentes. Os movimentos fundamentais de saltar em
um p s e pular, por exemplo, podem agora ser aplicados a atividades
de pular corda, ao desempenho de danas folclricas e ao desempenho
do salto triplo na pista e em competies.
O aparecimento e a extenso do desenvolvimento de habilidades na
fase de movimentos especializados depende de muitos fatores da
tarefa, individuais e ambientais. O tempo de reao e a velocidade do
movimento, a coordenao, o tipo de corpo, a altura e o peso, os
hbitos, a presso do grupo social a que se pertence e a estrutura
emocional so apenas alguns desses fatores. A fase de movimentos
especializados tem trs estgios.
CONCEITO 7
O progresso ao longo da fase de habilidades motoras
especializadas depende do desenvolvimento de habilidades motoras
fundamentais maduras.
Estgio transitrio
Em algum perodo, nos seus 7 ou 8 anos de idade, as crianas
geralmente entram em um estgio de habilidades motoras transitrio
(Haubenstricker e Seefldt, 1986). No perodo transitrio, o indivduo
comea a combinar e a aplicar habilidades motoras fundamentais ao
desempenho de habilidades especializadas no esporte e em ambientes
recreacionais. Caminhar em ponte de cordas, pular corda e jogar
bola so exemplos de habilidades transitrias comuns. As habilidades
motoras transitrias contm os mesmos elementos que os movimentos
fundamentais, mas com forma, preciso e controle maiores. As
habilidades motoras fundamentais, que foram desenvolvidas e
refinadas para seu prprio melhoramento no estgio anterior, so
aplicadas em brincadeiras, jogos e em situaes da vida diria. As
habilidades transitrias so simplesmente aplicaes de padres de
movimentos fundamentais, de algum modo, em formas mais especficas e
mais complexas.
O estgio transitrio um perodo agitado para os pais e para os
professores, bem como para as crianas. Estas achamse ativamente
envolvidas na descoberta e na combinao de numerosos padres motores
e, freqentemente, ficam exultantes com a rpida expanso de suas
habilidades motoras. O objetivo de pais, professores e de
treinadores, nesse estgio, deve ser o de ajudar as crianas a
aumentar tanto o controle motor quanto a competncia motora em
inmeras atividades. Devese tomar cuidado para que a criana no
restrinja seu envolvimento a certas atividades, especializandose em
algumas. Um enfoque restrito das habilidades, nesse estgio,
provavelmente provocar efeitos indesejveis nos ltimos dois estgios
da fase de movimentos especializados.
Estgio de aplicao
Aproximadamente, dos 11 aos 13 anos, mudanas interessantes
acontecem no desenvolvimento das habilidades do indivduo. No estgio
anterior, as habilidades cognitivas limitadas da criana, as
habilidades afetivas e as experiencias, combinadas com a avidez
natural desse ser ativo, fizeram com que o foco normal (sem
interferncia adulta) sobre o movimento fosse amplo e generalizado a
"todas" as atividades. No estgio de aplicao, a sofisticao cognitiva
crescente e certa base ampliada de experincias tornam o indivduo
capaz de tomar numerosas decises de aprendizado e de participao
baseadas em muitos fatores da tarefa, individuais e ambientais. Por
exemplo, a criana de 12 anos que gosta de atividades de equipe e de
aplicar estratgias a jogos, que tenha coordenao razoavelmente boa e
agilidade, e que viva em INDIANA (EUA), pode escolher
especializarse no desenvolvimento de suas habilidades para jogar
basquetebol. Uma criana de constituio semelhante, que no aprecie
esforos de equipe, pode optar por especializarse em atividades
competitivas de pista. O indivduo comea a tomar decises conscientes
a favor ou contra sua participao em certas atividades. Essas
decises fundamentamse, em larga escala, no modo pelo qual a criana
percebe at que ponto os fatores inerentes tarefa, a ela mesma e ao
ambiente aumentam ou inibem a probabilidade de ela obter satisfao e
sucesso. Esse autoexame de foras e fraquezas, oportunidades e
restries, diminui as opes.
No estgio de aplicao, os indivduos comeam a buscar ou a evitar a
participao em atividades especficas. H nfase crescente na forma,
habilidade, preciso e nos aspectos quantitativos do desempenho
motor. Essa a poca para refinar e usar habilidades mais complexas
em jogos avanados, atividades de liderana e em esportes
selecionados.
Estgio de utilizao permanente
O estgio de utilizao permanente da fase especializada de
desenvolvimento motor comea por volta dos 14 anos de idade e
continua por toda a vida adulta. O estgio de utilizao permanente
representa o pinculo do processo de desenvolvimento motor e
caracterizado pelo uso do repertrio de movimentos adquiridos pelo
indivduo por toda a vida. Fatores como tempo disponvel, dinheiro,
equipamento, instalaes e limitaes fsicas e mentais afetam esse
estgio. Entre outros pontos, o nvel de participao de um indivduo em
certas atividades depender do talento, oportunidades, condies
fsicas e da motivao pessoal, O nvel de desempenho permanente de um
indivduo pode variar desde o status profissional e olmpico at
competies universitrias e escolares, incluindo a participao em
habilidades organizadas ou noorganizadas, competitivas ou
cooperativas, esportivas recreacionais ou da simples vida
diria.
Em essncia, o estgio de utilizao permanente representa a cume de
todos os estgios e fases precedentes. Ele deve, entretanto, ser
considerado continuao do processo permanente. Um dos objetivos
bsicos da educao tornar os indivduos mais felizes e mais saudveis,
qualificandoos como membros efetivos da sociedade. No se pode
perder de vista esse objetivo, considerandose o desenvolvimento
hierrquico das habilidades motoras como degraus para o nvel de
habilidades motoras especializadas. Devemos parar de considerar as
crianas como adultos em miniatura que podem ser programadas para
desempenhar atividades fisiolgicas e psicolgicas potencialmente to
questionveis como a Little League de beisebol e a Pee Wee de
futebol. As crianas so, quanto ao seu desenvolvimento, imaturas e,
por isso, fazse necessrio estruturar experincias motoras
significativas apropriadas para seus nveis desenvolvimentistas
particulares. Quando reconhecermos que a aquisio progressiva de
habilidades motoras de forma desenvolvimentista apropriada
imperativa para o desenvolvimento motor equilibrado de bebes,
crianas, adolescentes e de adultos, passaremos a fazer contribuies
reais para o seu desenvolvimento total. O desenvolvimento de
habilidades especializadas pode e deve desempenhar papel
fundamental em nossas vidas, porm, injusto exigir de crianas que se
especializem em uma ou duas reas de habilidades, com o nus de
desenvolver habilidades e a apreciao por outras reas de modo
deficiente.
CONCEITO 8
O objetivo bsico do desenvolvimento motor e da educao motora de
uma pessoa aceitar o desafio de alterar o processo contnuo de
obteno e de manuteno do controle motor e da competncia motora no
decurso da vida toda.
A AMPULHETA: UM MODELO PERMANENTE
As faixas etrias para cada fase do desenvolvimento motor
deveriam ser consideradas como orientaes gerais, ilustrativas
somente do amplo conceito de apropriao etria. Os indivduos
freqentemente funcionam em fases diferentes, dependendo de seus
ambientes de experincias e de certas estruturas genticas. Por
exemplo, inteiramente possvel para uma criana de 10 anos funcionar
na fase de movimentos especializados, no estgio de utilizao
permanente, em atividades estabilizadoras que envolvam movimentos
de ginstica, mas somente no estgio elementar da fase de movimentos
fundamentais, em habilidades manipulativas e locomotoras, como
arremessar, apanhar ou correr. Embora se deva encorajar esse
comportamento precoce na ginstica, importante tambm ajudar a criana
a igualarse aos seus companheiros da mesma idade nas outras reas e
a desenvolver nveis aceitveis de proficincia tambm nelas.
importante reunir fatos sobre o processo de desenvolvimento
motor. Ao longo deste texto, discutimos muitos estudos, porm, se no
fornecermos estrutura terica e compreenso conceitual do processo de
desenvolvimento motor, teremos apresentado fatos isolados que
significaro pouco para o leitor quanto s suas implicaes para o
ensino, treino e cuidados paternos e maternos desenvolvimentistas
bem sucedidos. Portanto, gostaramos de propor e de trabalhar um
modelo terico para o processo de desenvolvimento motor. Esse
modelo, como apresentado, no uma teoria abrangente do
desenvolvimento motor. um aparato heurstico, isto , representao
conceitual ou modelo de desenvolvimento motor, que nos fornece
orientaes gerais para a descrio e a explicao do comportamento
motor. A "heurstica" difere de um algoritmo de forma importante.
Enquanto este um procedimento ou um conjunto de regras que garante
caso seja obedecido a soluo de um problema de determinado tipo, a
heurstica compreende normas prticas que fornecem indicaes sobre
como buscar respostas para determinados problemas. No estudo do
desenvolvimento, muitas teorias partem de modelos heursticos que,
eventualmente, levam aos algoritmos (Hilgard e Bower, 1966).
CONCEITO 9
O modelo da ampulheta uma inveno heurstica til para conceituar e
explanar o processo de desenvolvimento motor.
Para compreender esse modelo, imaginese como uma ampulheta
(Figura 2). Dentro da sua ampulheta, precisamos colocar o recheio
da vida: "areia". A areia que entra na ampulheta vem de dois
recipientes diferentes. Um o recipiente hereditrio e o outro, o
ambiental. O recipiente hereditrio tem uma tampa. No momento da
concepo, nossa estrutura gentica determinada e a quantidade de
areia no recipiente fixa. Entretanto, o recipiente ambiental no tem
tampa. A areia pode ser acrescentada ao recipiente e sua ampulheta.
Poderamos abaixarnos sobre a "pilha de areia" (isto , o ambiente) e
pegar mais areia para colocar na ampulheta.
Os dois baldes de areia significam que tanto a hereditariedade
quanto o ambiente influenciam o processo de desenvolvimento. As
contribuies relativas de cada um tm sido um tpico de debate voltil
h anos. Discutir a importncia de cada um um exerccio sem
significado porque a areia, na verdade, converge de ambos os
recipientes na ampulheta. Na anlise final, no importa realmente se
sua ampulheta est preenchida com areia hereditria ou com areia
ambiental. O que importa que, de alguma forma, a areia entra na
ampulheta e que esse recheio da vida seja produto tanto da
hereditariedade quanto do ambiente.
Mas o que sabemos sobre o desenvolvimento motor nas primeiras
fases da vida? Quando olhamos as fases reflexiva e rudimentar do
desenvolvimento motor, sabemos que a areia vertida na ampulheta,
basicamente, mas no de modo exclusivo do recepiente hereditrio. A
progresso seqencial do desenvolvimento motor nos primeiros anos de
vida bastante rgida e resistente a alteraes, exceto em ambientais
externos. Portanto, sabemos, nas duas primeiras fases do
desenvolvimento motor, que a seqncia de desenvolvimento altamente
previsvel. Por exemplo, crianas no mundo inteiro aprendem a
sentarse antes de ficar em p, a ficar em p antes de caminhar e a
caminhar antes de correr. Mas realmente notase considervel
variabilidade nos nveis em que as crianas pequenas adquirem suas
habilidades motoras rudimentares. Isso algo pelo qual pesquisadores
e programadores tm se interessado crescentemente nos ltimos anos.
Temos visto um rpido crescimento no nmero de programas de estimulao
para bebes e de programas motores para bebes e crianas pequenas.
Alguns fazem elaboradas afirmaes sobre a validade desses programas,
sem grande importncia para a criana. Infelizmente, temos poucas
evidncias slidas para apoiar ou refutar essas afirmaes. O nvel da
aquisio de habilidades motoras varivel desde o perodo psnatal at o
final da vida. Seja beb, criana, adolescente ou adulto, quem
receber oportunidades adicionais para a prtica, o encorajamento e a
instruo em um ambiente propcio ao aprendizado ter a possibilidade
de adquirir as habilidades motoras. A ausncia desses recursos
ambientais (fatores de habilitao) inibir a aquisio de habilidades
motoras. Alm disso, o nvel de aquisio variar, dependendo das
exigncias mecnicas e fsicas de cada tarefa. Se um bebe no tiver
bastante apoio (recurso) em seu ambiente que possibilite a ele a
impulso necessria para ficar em p, ter que esperar at que tenha se
desenvolvido suficientemente o equilbrio (fator de tarefa mecnico)
e a fora nas pernas (um fator fsico da tarefa), antes de que seja
capaz de colocarse em posio ereta sem auxlio.
Figura 2. Enchendo a ampulheta com areia (isto o recheio da
vida)
Na fase de movimentos fundamentais, meninos e meninas esto
comeando a desenvolver um conjunto inteiro de habilidades motoras
bsicas correr, pular, arremessar, apanhar, chutar e driblar.
Infelizmente, muitos educadores tm a noo de que as crianas, de
algum modo, "automaticamente" aprendem como desempenhar esses
movimentos fundamentais. Muitos, ingenuamente, pensam que as
crianas, nessa fase, desenvolvero, pelo processo de maturao,
habilidades motoras fundamentais maduras. Isso simplesmente no
verdade para a grande maioria das crianas. A maioria delas deve ter
alguma combinao de oportunidades para a prtica, o encorajamento e a
instruo em um ambiente ecologicamente sadio. Essas condies so
cruciais para ajudlas em cada um dos estgios da fase de movimentos
fundamentais. Alm disso, medida que as exigncias da tarefa de uma
habilidade motora fundamental mudam, tambm mudaro o processo e o
produto. Por exemplo, as exigncias perceptivas de rebater bolas
arremessadas so consideravelmente mais sofisticadas do que as
necessrias para bater em bolas estacionrias ou para desempenhar o
padro de derrubar objetos sem fazer contato com outros. Os
professores dos indivduos na fase de movimentos fundamentais devem
aprender a reconhecer e a analisar as exigncias das tarefas das
habilidades motoras, a fim de maximizar o xito do aprendiz. Os
professores que ignoram esses deveres erguem barreiras de
proficincia na fase de habilidades motoras especializadas.
Na fase de habilidades motoras especializadas, o desempenho
bemsucedido da mecnica de habilidades motoras depende de movimentos
fundamentais maduros. Aps o estgio transitrio, progredimos para os
estgios finais, nos quais as habilidades motoras especializadas so
aplicadas vida dirias, a experincias recreacionais e
esportivas.
Em algum ponto, a ampulheta invertese (Figura 3). A poca desse
acontecimento bastante varivel e depende mais de fatores sociais e
culturais do que de fatores fsicos e mecnicos. Para a maioria dos
indivduos, a ampulheta invertese e a "areia" comea a escorrer no
final da adolescncia e no incio dos 20 anos. Esse um perodo no qual
muitos indivduos ingressam no mundo adulto do trabalho pagamento de
carro, hipotecas, responsabilidades familiares e outras tarefas que
consomem tempo. As restries de tempo limitam a busca de novas
habilidades motoras e a conservao de habilidades dominadas na
infncia e na adolescncia.
H vrias caractersticas interessantes na ampulheta invertida que
precisamos considerar. A areia cai por dois filtros diferentes. Um
o "filtro hereditrio" com o qual podemos fazer muito pouco. Por
exemplo, um indivduo pode ter herdado a predisposio para a
longevidade ou para doena cardaca das coronrias. O filtro
hereditrio vai ficar denso, fazendo com que a areia filtrese pela
ampulheta lentamente ou fcil de penetrar, permitindo que a areia
flua pela ampulheta mais rapidamente. A areia que caiu do filtro
hereditrio no pode ser recuperada, mas deve passar por um segundo
filtro ou filtro final, chamado de estilo de vida.
A densidade do "filtro do estilo de vida" determinada por muitos
fatores: aptido fsica, estado nutricional, dieta, exerccio,
habilidade para lidar com o estresse, bemestar social e espiritual
etc. O filtro do estilo de vida baseado no ambiente e temos
bastante controle sobre o ritmo com que a areia cai no filtro.
Embora nunca possamos impedir a areia de fluir at a base da
ampulheta podemos diminuir o ritmo com que ela cai. Um antigo
cirurgiogeral dos Estados Unidos, o Dr. C. Everett Koop, certa vez
afirmou que, apesar de no podermos parar o processo de
envelhecimento, podemos controllo em at 40%. Podemos influenciar
diretamente a velocidade de vazo da areia em nossas ampulhetas.
Como professores, treinadores e pais, temos a maravilhosa
oportunidade de despejar "areia" em muitas ampulhetas e, tambm, o
privilgio e a obrigao de auxiliar os outros a desenvolver "filtros
de estilo de vida" que diminuiro a velocidade de escoamento da
areia em suas ampulhetas. Deve-se notar que a areia pode ainda ser
acrescentada, mesmo quando as ampulhetas esto invertidas e a areia
est caindo no fundo. Cada um de ns possui "oportunidades por toda a
vida para o aprendizado". Ao tirar vantagem das numerosas
oportunidades para o desenvolvimento de atividades contnuas,
acrescentaramos mais areia. Obviamente, no podemos acrescentar
areia mais rpido do que a areia que est caindo e, assim, pretender
a imortalidade. Mas estender e melhorar a qualidade de vida
possvel.
importante mencionar que o modelo de "ampulheta heurstica",
conforme descrito at esse ponto, fornece a impresso de que o
desenvolvimento um processo ordenado e contnuo. Note, contudo, que
a areia no fundo da ampulheta, nas figuras 2 e 3, est distribuda em
curva, em forma de sino. Essa forma implica que h uma distribuio de
habilidades motoras entre as categorias de movimento (locomoo,
manipulao e estabilidade) e nas vrias habilidades motoras em si.
Por exemplo, um indivduo pode estar no estgio elementar de algumas
habilidades, no estgio maduro de outras e em vrios outros nveis de
habilidades esportivas. Alm disso, um indivduo pode estar em
estgios diferentes de desenvolvimento na mesma habilidade. Quando
crianas e adultos desempenham um arremesso supramanual, por
exemplo, eles esto freqentemente no estgio inicial em sua ao do
tronco, no estgio elementar em sua ao do brao e no estgio maduro em
sua ao da perna. O desenvolvimento motor no modelo da ampulheta,
portanto, um processo descontnuo, isto , um, processo que, embora
tenha aspectos de fases e de estgios em sentido geral, altamente
varivel em sentido especfico. O desenvolvimento motor, quando
considerado como descontnuo , realmente, um processo "dinmico"
(isto , nolinear) que ocorre em um sistema autoorganizado (isto , a
"ampulheta"). Veja Karnin, Thelen e Jensen (1990) para uma
excelente viso geral da teoria de sistemas dinmicos.
Figura 3. Esvaziando a ampulheta da vida
CONCEITO 10
O processo de desenvolvimento motor descontnuo em um sistema
autoorganizado.
O modelo da ampulheta de desenvolvimento motor no
unidimensional, isto , no afetado pelas reas cognitiva e afetiva do
comportamento humano. Diferentemente da representao bidimensional
da ampulheta nas figuras 4.2 e 4.3, as ampulhetas "reais" esto
presentes somente no espao tridimensional. Como resultado, as
ampulhetas reais tm altura, largura e profundidade e devem ter
algum tipo de apoio para permanecer em p. Visualize a ampulheta de
um indivduo sendo apoiada por trs pilares: o cognitivo, o afetivo e
o motor. A ampulheta multidimensional; existe interao entre as reas
cognitiva, afetiva e motora. Em outras palavras, o modelo da
ampulheta mais do que um modelo motor. um modelo de desenvolvimento
motor que influencia e influenciado por grande variedade de fatores
cognitivos e afetivos, operando tanto no indivduo quanto no
ambiente.
Pode ser til visualizar o modelo da ampulheta heurstica medida
que se acompanham as sees seguintes, que se referem ao
desenvolvimento motor no perodo psnatal, infncia, adolescncia e na
idade adulta. Lembre, todavia, que no importante aceitar esse
modelo como ele proposto. Os modelos tericos so somente isso
"modelos". Como tal, so incompletos, inexatos e sujeitos verificao
e a um refinamento maior. O importante visualizar como o processo
de desenvolvimento motor ocorre. A compreenso do desenvolvimento
motor ajuda a explicar como ocorre o aprendizado. Tudo isso crucial
para a criao de uma instruo desenvolvimentista efetiva e
apropriada.
CONCEITO 11
A compreenso do processo de desenvolvimento motor ajuda a
explicar como o aprendizado de habilidades motoras ocorre, o que
crucial para a instruo desenvolvimentista apropriada.