UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS BRINCADEIRA DE ERÊ PATRÍCIA MAAS DA COSTA DE FARIA Campo Grande – MS 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
DEPARTAMENTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO
CURSO DE ARTES VISUAIS
BRINCADEIRA DE ERÊ
PATRÍCIA MAAS DA COSTA DE FARIA
Campo Grande – MS
2010
PATRÍCIA MAAS DA COSTA DE FARIA
BRINCADEIRA DE ERÊ
Relatório apresentado como exigência
parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Artes Visuais à Banca Examinadora da
Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, sob a orientação do professor Darwin
Longo.
Campo Grande – MS
2010
DEDICATÓRIA:
Dedico este trabalho primeiramente a Deus e a todos os Orixás.Ao meu
marido e incentivador Marcus Rodrigo, que me apoiou nesta longa
jornada, que em nenhum momento mediu esforços para meus sonhos.Aos
meus três filhos, Ana Clara, Amanda e Pedro Henrique que me fazem
extremamente feliz.Aos meus pais, José Ronald e Vera Maas, pois eu
aprendi que quando se sonha sozinho é apenas um sonho, mas quando
sonhamos juntos é o começo da realidade.
AMO VOCÊS!
AGRADECIMENTO:
Quero agradecer a todos que me apoiaram, neste caminho das Artes Plásticas, a
todas as pessoas que contribuíram para realização deste sonho, do meu sonho de poder
hoje saber como amo a minha profissão e de como sou grata a todas estas pessoas.
Ao meu marido Marcus Rodrigo que teve muita paciência com as tintas e pincéis
rolando pela casa, aos meus três filhos que me fazem um ser humano melhor a cada dia
que passa, ao meus pais que mesmo longe não deixaram eu desistir nunca, agradeço ao
apoio, o afeto e o reconhecimento.
Aos meus amigos do coração Paulo Edson e Sandra Amarilha, que me
emprestaram livros, que me passaram conhecimento sobre a religiosidade e que sempre
torceram pelo meu sucesso.
A minha amiga e companheira Ninha, com seus ensinamentos sobre o
candomblé, com as musicas de pontos para os Orixás e toda a sua sabedoria na sua
religião, cultuada a muitos e muitos anos. As minhas amigas que também tanto me
incentivam e torcem por mim Camila e Mirella.
Ao meu orientador, Darwin Longo, que me apoiou nestes anos de curso
compartilhando seus conhecimentos, que acreditou na minha obra, as professoras Aline
e Priscilla por sua orientação no meu trabalho e aos demais professores que fizeram
parte da minha jornada de sala de aula.
Aos meus amigos de curso Janaina, Joni, Karina, Shogun e todos os outros que
me acompanharam nestes cinco anos, portanto quero dizer a todos muito obrigado por
terem crescido junto comigo.
E aos meus guias espirituais que sem duvida me trazem a paz necessária para
seguir meu caminho.
OBRIGADA DEUS POR TUDO.
“Toda a obra de um homem, seja em literatura, música, pintura, arquitetura ou
em qualquer outra coisa, é sempre um auto retrato; e quanto mais ele tentar se esconder,
mais seu caráter se revelará, mesmo contra a sua vontade.”
Samuel Butler
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem o enfoque no tema da
religiosidade
Afro brasileira em particular, os símbolos da Umbanda e do Candomblé recriados na
linguagem da pintura. Argumento a força da religiosidade, na qual, esta representada no
plano estético e artístico de cada Orixá, suas cores, seus signos, contos e mitos. Através
de pesquisas elaborei as obras, tive a oportunidade de transformar e enriquecer minhas
obras, nas quais apresento-as não só como uma manifestação religiosa mas também
como instrumento de sensibilização de uma cultura. Interpreto cada Orixá de uma forma
pueril, narrando a história de cada um deles na forma de ilustração. A finalização da
minha obra resultou no conjunto treze painéis feitos no suporte de lona de carreta de
caminhão com o uso de tinta acrílica. A importância desta temática esta no fato da arte
Afro brasileira ter sido redescoberta, estando na sociedade contemporânea brasileira,
penetrando em outros espaços como na decoração de ambientes, nos adornos de roupas,
nas estampas de tecidos e outros tantos exemplos. Tem-se notado que a arte e a cultura
Afro tem sido apresentada em diversas linguagens plásticas como na escultura, na
pintura, gravura, fotografia e outras tantas representadas nas poéticas dos artistas, entre
eles, podemos destacar os brasileiros Rubem Valentim, Mestre Didi, Carybé e outros
que se tornaram referências visuais para esta temática.
PALAVRAS CHAVE: Pintura Ilustração. Arte Afro brasileira. Candomblé e
Umbanda
RESUMEN
Este trabajo Fin de curso (TCC) se centra en el tema de la religiosidad
África Brasil en particular, los símbolos de la Umbanda y el Candomblé recreado en el
lenguaje de la pintura. Argumento de la fuerza de la religiosidad, en la que este último
representaba el corazón estética y artística de cada Orisha, sus colores, símbolos,
historias y mitos. A través de la investigación elaboraron las obras, tuve la oportunidad
de transformar y enriquecer mis obras, en la que los presentan no sólo como un evento
religioso, sino también como una herramienta para la sensibilización de una cultura.
Interpretar cada Orisha de una manera infantil, que narra la historia de cada uno de ellos
en forma de ilustración. La realización de mi trabajo ha resultado en todos los paneles
de trece realizado en apoyo de la lona de camión remolque con pintura acrílica. La
importancia de esta cuestión es en realidad el arte afro brasileños han sido
redescubiertas y es la sociedad brasileña contemporánea, pasando a otros espacios como
en el diseño de interiores, decoración en ropa, telas en estampados y otros ejemplos. Se
ha sñalado que el arte y la cultura africanas se ha presentado en varios idiomas, como la
escultura, pintura, grabado, fotografía y muchos otros artistas representados en la
poesía, entre losque destacan el brasileño Rubem Valentim, Mestre Didi, Carybé y otros
que se han convertido en referencias visuales para este tema.
PALABRAS CLAVE: Pintura Ilustración. Afro arte brasileño. Candomblé y
Umbanda
LISTA DE FIGURAS
Fig.1. Casamento de negros escravos de uma família rica................................
Fig.2. Fotografia da festa do “Cortejo do rei dos congos.”................................
Fig.3. Fotografia de uma roda de samba............................................................
Fig.4. Fotografia da dança de umbigo de origem africana.................................
Fig.5. Fotografia da dança do Maculelê.............................................................
Fig.6. Sasará Ati Aso Keji.................................................................................
Fig.7. Orixás.......................................................................................................
Fig.8. Emblema..................................................................................................
Fig.9. Afro Carnaval..........................................................................................
Fig.10. Ogum.....................................................................................................
Fig.11. Exu........................................................................................................
Fig.12. Ogum....................................................................................................
Fig.13. Oxossi...................................................................................................
Fig.14. Ossaim...................................................................................................
Fig.15. Nana…………………………………………………………………...
Fig.16. Obaluayê………………………………………………………………
Fig.17. Oxumaré………………………………………………………………
Fig.18. Xangô…………………………………………………………………
Fig.19. Yansã………………………………………………………………….
Fig.20. Oxum.....................................................................................................
Fig.21. Ibeji.......................................................................................................
Fig.22. Yemanjá……………………………………………………………….
Fig.23. Oxalá.....................................................................................................
Fig.24. Símbolos................................................................................................
Fig.25. Arabesco I..............................................................................................
Fig.26. Folhas em movimento...........................................................................
Fig.27. Dragão e arcos.......................................................................................
Fig.28. Rosas e arabescos..................................................................................
11
13
14
14
14
15
16
16
17
17
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
33
33
33
33
33
Fig.29. Cores e folhas.........................................................................................
Fig.30. Arabescos II...........................................................................................
Fig.31. Cores I....................................................................................................
33
34
34
Fig.32. Flores I....................................................................................................
Fig.33. Signos.....................................................................................................
Fig.34. Sereia.....................................................................................................
Fig. 35. Galinha de angola.................................................................................
Fig. 36. Desenho I com lápis HB em papel A4...................................................
Fig.37. Desenho II com lápis HB em papel A4....................................................
Fig.38. Desenho III com lápis HB em papel A4..................................................
Fig.39. Desenho IV com lápis HB em papel A4..................................................
Fig.40. Dentro ou Fora?.......................................................................................
Fig.41. Lua de Ogum...........................................................................................
Fig.42. Caçador de uma Flecha Só......................................................................
Fig.43. Salve as Folhas........................................................................................
Fig.44. Da Lama vem o Homem.........................................................................
Fig.45. Encanto da Ventania................................................................................
Fig.46. Desenho do Arco-Íris..............................................................................
Fig.47. Em Respeito a uma Nação.......................................................................
Fig.48. Mãe de Nove Filhos.................................................................................
Fig.49. Um Espelho para se Olhar.......................................................................
Fig.50. Brincadeira de Erê...................................................................................
Fig.51. Estrelinhas do Céu e Peixinhos do Mar..................................................
Fig.52. E Assim Nasceram as Galinhas de Angola..............................................
34
34
34
34
34
35
35
36
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS......................................................................................
1INTRODUÇÃO..............................................................................................
2 BRINCADEIRA DE ERÊ.
2.2 O Sagrado e o Profano na Arte Afro-Brasileira.........................................
2.3 Arte Afro-Brasileira...................................................................................
2.4 Os Orixás e seus Mitos...............................................................................
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. ...............................................
3.1 Observação e Desenhos da Simbologia dos Orixás...................................
3.2 Suporte, Técnica e os Materiais Plasticos..................................................
3.3 Descrição das Obras..............................................................................
3.3.1 Dentro ouFora?.......................................................................................
3.3.2 Lua deOgum...........................................................................................
3.3.3 Caçador de uma FlechaSó......................................................................
3.3.4 Salve asFolhas........................................................................................
3.3.5 Da Lama vem oHomem.........................................................................
3.3.6 Encanto de Ventania...............................................................................
3.3.7 Desenho do Arco-Íris.............................................................................
3.3.8 Em Respeito a uma Nação.....................................................................
3.3.9 Mãe de Nove Filhos.............................................................................
3.3.10 Um Espelho para se Olhar...................................................................
3.3.11 Brincadeira de Erê...............................................................................
3.3.12 Estrelinhas do Céu e Peixinhos do Mar..............................................
3.3.13 E Assim Nasceram as Galinhas de Angola........................................
CONCLUSÃO..............................................................................................
REFERÊNCIAS...............................................................................................
0
7
0
8
1
0
1
5
1
8
3
2
3
3
3
6
3
7
3
8
3
9
4
0
4
1
4
2
4
3
1 INTRODUÇÃO
Ao analisar os símbolos culturais mais consagrados da herança
africana no Brasil como Candomblé, Umbanda, capoeira, samba e tantos
outros, mostro alguns aspectos da construção social através destes
símbolos pesquisados na religiosidade, como por exemplo, a importância
das cores dos Orixás1, suas formas e características mais marcantes
contadas através de mitos. Como cita Reginaldo Pranti (2009, pg19), o mito
esta impregnado nos objetos rituais, nas cantigas, nas cores, nos desenhos
das roupas e colares, nas danças e na própria arquitetura.
A proposta é explorar a religiosidade Afro-Brasileira propondo nas
obras novas leituras e criações por meio da pintura, representadas por
ilustrações com formas e expressões infantis.
A pesquisa bibliográfica e as referências das figuras com temática
sobre a religiosidade Afro-Brasileira ajudaram na criação das obras. Percorri
os espaços de devoção que mantém vínculos com esta cultura, os
mercados, cerimônias, museus, ONGs. Como referências de pesquisas
vivas, visitei os terreiros de Umbanda, “Pai Oxalá” e o” Candomblé de
Angola”, nos quais busquei aprender um pouco mais sobre cada Orixá.
No primeiro capitulo realizo a pesquisa através de um levantamento
teórico baseado na construção das representações no sagrado e profano, a
partir do tema religiosidade Afro brasileira, na qual enfoco os mitos (Orixás)
e suas significações. Para melhor compreensão da minha plasticidade e
liberdade de expressão, escrevo também sobre algumas influências vivas
da arte Afro-Brasileira.
No segundo capitulo descrevo o processo de criação e analiso a
produção das obras retratadas enfocando os procedimentos metodológicos
utilizados.
4
4
4
5
4
6
4
7
4
8
4
9
5
0
5
1
5
3
1 Orixá é a divindade na religião afro brasileira, espírito de luz.
2 BRINCADEIRA DE ERÊ
“Tudo que eu quero, é ter a longevidade das palavras de Oxalá, ser livre como o vento de Yansã, ser justo como o machado de Xangô, ser forte como a espada de Ogum, ser firme como o arco e reto como a flecha de Oxossi, ser mágico como as forças de Obaluaiê, ser infinito como a sabedoria de Nana, ter a beleza das águas de Oxum e as forças do mar como Yemanjá, ter a alegria das gargalhadas dos Exus e um dia merecer a doçura dos meus Erês.” (autor desconhecido)
Brincadeira de Erê2 surgiu em minha imaginação com a preocupação
a respeito da formação da nossa identidade Afro-Brasileira, refere-se ao
tema dos Orixás. Desta forma passo a observar as características de cada
um deles. As obras com o tema proposto são ilustradas com os símbolos e
signos, com um cromatismo vibrante com o qual faço uma viagem a esta
cultura marcante, a qual representa as origens africanas. A linguagem final
que materializa a pintura com características pessoais a partir do colorido
intenso e o uso marcado do contorno, se deu pela vontade de elaborar algo
novo. Na representação plástica não busco o Orixá para contemplação e
sim a reflexão da estética.
Utilizo do saber mitológico dos Orixás, os quais descrevo neste
capítulo, pois este estudo ressalta a importância de outras formas de
conhecimento. Enxergo a racionalidade do conhecimento mitológico na
medida em que este traz formas as quais podem ser interpretadas na minha
plasticidade. Portanto, os mitos dos Orixás são saberes que merecem ser
resgatados, visto que permitem a interpretação da religiosidade Afro-
Brasileira.
2 Erê, palavra vinda do yorubá, que significa brincadeira, mensageiro do Orixá.
2.2 O Sagrado E O Profano na Arte Afro-Brasileira
A cultura negra durante muito tempo, foi considerada uma cultura
profana perseguida pelo poder político e religioso (católico). A memória
cultural se manteve graças às transmissões passadas de pai a filho de
santo, sendo assim a religiosidade afro se apresenta até a atualidade. A
arte Afro-Brasileira, em seu aspecto religioso, não tem encontrado lugar nos
museus e instituições oficiais que visam preservar a memória de um povo,
suas artes e sua história.
Para o Brasil o povo africano trouxe a sua cultura, o processo de
intercâmbios culturais que conhecemos ao longo da historia até hoje, não
apagou a presença afro, ao contrario, pode ser percebida a presença
africana, deixando suas marcas na formação étnica e cultural, nas quais
estas marcas são vistas, ouvidas na linguagem e saboreadas na
alimentação do povo no cotidiano brasileiro. Sendo assim, é preciso
compreender o processo histórico que trouxe para o Brasil, no período
colonial, diferentes grupos étnicos, principalmente os Bantos e os
Sudaneses, com diferentes praticas culturais, inclusive religiosas. A arte e a
cultura está na riqueza de seus símbolos e mitologia, no significado de suas
vestes, colares, louças, nas riquezas das canções e tantas outras. Por
serem pouco estudadas, esta culturas, algumas vezes são estereotipadas
no contexto religioso, conforme Silva:
Por fim, cabe ressaltar que as religiões, ainda que sejam sistemas de práticas simbólicas e de crença relativas ao mundo invisível dos seres sobrenaturais, não se constituem se não como forma de expressão profundamente associadas à experiência social dos grupos que praticam. Assim, a historia das religiões afro brasileira, inclui necessariamente, o contexto das relações sociais políticas e econômicas estabelecidas entre seus principais grupos formadores: negros, brancos e índios. (SILVA, 2000, p.14)
No inicio do século XVI Portugal, com a colonização do Brasil, tornou
o catolicismo a religião oficial. Catequizaram os índios e fizeram deles
cristãos; com isto a Igreja Católica fazia os tementes a Deus e subordinados
ao interesse do rei.
Com o plantio da cana de açúcar a partir de 1549, e devido à
escassez de mão de obra, vieram escravizados para o Brasil os negros de
origem africana.
Assim os negros foram também catequizados e batizados no
catolicismo, recebiam nomes de santos e os casamentos entre eles apenas
eram com o consentimento dos seus senhores, como nos mostra a seguir
na obra de Debret: Casamento de negros escravos de uma família rica.
Figura 1 – Artista: Debret
Obra: Casamento de negros escravos de uma família rica.
LIMA, Uma viagem com Debret, RJ, 2004.
Conforme Clóvis Moura (1984), com a fé católica veio o Tribunal da
Santa Inquisição, um dos mais violentos e arbitrários, que condenava toda a
forma de expressão religiosa considerada como bruxaria, feitiçaria e sendo
assim as danças e musicas dos negros eram vistas para invocar as forças
do mal. A mesma visão preconceituosa era relatada, pelos viajantes
estrangeiros. Com isto o catolicismo foi se estabelecendo como conversão
obrigatória e tornando-se parte do cotidiano da vida, o escravo deveria
aceitar a religião do branco e a religiosidade Afro cada vez mais era
reprimida e vista como primitiva, atrasada e ofensiva a Deus.
Afirma Moura:
A religião foi um (ou o) elemento ideológico mediador entre a situação objetiva que existia, na qual esses negros estavam estruturalmente engastados como escravos, e a consciência dessa situação alienadora. Somente através da forma religiosa ela podia se expressar em níveis de inteligibilidade coletiva. (MOURA, 1984, P.99)
Através da alforria dos escravos, a religião e os costumes destes já
andavam livremente por entre becos e esquinas nas quais formavam suas
rodas de capoeira, suas danças e seus batuques. Para a igreja Católica
arrebanhar os africanos, a igreja aceitou seus costumes africanos que
podiam ser adaptados ao catolicismo – como aceitara dos índios – embora
com novos significados. A igreja adulterou a religião africana e iniciou a
obra do sincretismo católico africano, mas ajudou na conservação de
valores puramente africanos. Sem querer a igreja contribuiu para a
sobrevivência dos cultos africanos. A confraria não era o Candomblé, mas
constituía a forma de solidariedade racial que podia servir de núcleo aos
escravos e continuar no Candomblé ao anoitecer (AMADO, 1989).
Segundo Roger Bastide (1985, p: 31) “... em suma, a cultura africana
deixou de ser a cultura comunitária de uma sociedade global, para se tornar
a cultura de uma classe social, de um único grupo da sociedade brasileira, a
de um grupo explorado economicamente e subordinado socialmente”.
Com o constante crescimento da cultura negra brasileira, o racismo
sofrido as artes sacras Afro-Brasileiras em nada diminuíram. É necessário
reconhecer que a presença e a contribuição do elemento africano no Brasil
que se da mais explicitamente através dos elementos simbólicos da
religiosidade afro, vivas ainda no Candomblé e na Umbanda. Sendo assim
a arte Afro, marcou a arte brasileira através das esculturas, da religiosidade,
da dança e da música.
Mario Barata, como vários outros autores, afirma a maior
aproximidade da cultura baiana com a África e retrata a importância da
escultura africana como fonte de expressão artística que mais marcou a
arte Afro-Brasileira.
(...) 1. esculturas que obedecem estética negras, sendo obra de arte de padrões novos; 2- esculturas do resultado do confronto entre a tradição africana as de outras origens, correspondendo a novas necessidades e situações; 3 – esculturas feitas por africanos ou seus descendentes diretos ligadas a tradição africana, mas caracterizadas nas formas ou na plástica esquecidas ou superadas; 4- esculturas realizadas por descendentes negros integrados a cultura branca, sem aspectos estilísticos africanos(como parece ser o caso de Aleijadinho e Mestre Valentim ). (BARATA, 1988, P.183)
A arte Afro-Brasileira é primitiva, étnica e ingênua, mas é
considerada de plena expressividade, esta arte perfila uma série de
manifestações populares como, congadas, reizados, estandartes e tantos
outros, alem da arte ritual. Raul Lody, afirma:
os espaços sagrados dos terreiros, embora produzam e abasteçam objetos de fundo religioso, também expressam na sua plástica objetos não comprometidos com os deuses, o mesmo ocorrendo com a musica, dança, as tradições orais e outras tantas formas de comunicação artística e de propostas afro-baiana, afro-maranhense, ou de outras regiões que já consolidaram seus sistemas de fazer, significar e simbolizar. (LODY, 1995, p.21).
Figura 2 – fotografia da festa do “cortejo do rei dos congos”. Acesso em 20/10/2010
http://ciranda.net/brasil/ciranda-afro/article/africa-berco-do-samba-i
Figura 3 – fotografia de uma roda de samba Acesso em 20/10/2010
http://dancasalaojoinville.com/blog/2009/12/tango-origens-2/
Figura 4 – fotografia da dança do umbigo de origem africana Acesso em 20/10/2010
http://defesadastradicoes.blogspot.com/
Figura 5 – fotografia da dança do maculelê Acesso em 20/10/2010
http://cdodurinho.vilabol.uol.com.br/maculele.html
A respeito da cultura Afro-Brasileira possuímos muitos elementos de
origem africana na nossa cultura, na qual o povo ultrapassa os limites
religiosos, embora saibamos que esta arte possui uma tradição,
interferência dinâmica de interação com os elementos africanos.
2.3 Arte Afro-Brasileira
A cultura negra brasileira estabeleceu uma ponte sólida entre a
criatividade artística e a religião. Esta plasticidade era vista até pouco tempo
como uma arte dominada, ou seja, raras às vezes se via no seu valor
próprio, pouco se conhece ou valoriza, o simbolismo da arte sacra Afro-
Brasileira dificilmente é reconhecido, talvez pelo desconhecimento da
riqueza simbólica, mitológica e histórica.
Alguns artistas brasileiros se destacam, como o Mestre Didi, nascido
em Salvador em 1917, escritor e escultor, seus trabalhos são de cunho
ritual, são esculturas feitas com produtos naturais o que lhe rendeu
reconhecimento internacional como um artista de vanguarda. Suas obras
fazem parte do acervo do Museu Picasso, em Paris, do MAM de Salvador e
do Rio de Janeiro, entre vários outros estrangeiros.
Figura 6 – Artista: Mestre Didi Obra: Sasará Ati Aso Keji Acesso em 20/10/2010
http://www.palmares.gov.br Embora não tivesse sangue negro, Djanira da Motta e Silva (1914-
79), descendente de índios e austríacos, obteve grande destaque como
artista plástica que dedicou grande atenção a cultura africana na produção
visual.
Figura 7 – Artista: Djanira da Motta e Silva Obra: Orixás, 1966
Acesso em 20/10/2010 http://www.investarte.com
Rubem Valentim, nasceu no ano de 1922 e faleceu em 1991.
Autodidata, começou a pintar a partir de 1940. Pintor e escultor, contribuiu
para o movimento cultural baiano. Sua arte plástica visual explora formas
geométricas ostentando a simbologia dos cultos Afro brasileiros.
Figura 8 – Artista: Rubem Valentim
Obra: Emblema 85, 1985 Acesso em 20/10/2010
http://www.palaciodosleiloes.art.br/leilao/2010/marco/081-120.htm
Outros artistas contemporâneos se destacam, retratando a
religiosidade e os costumes da cultura Afro-Brasileira, são eles:
Rico Oliveira, artista nascido em Salvador-Bahia.
Figura 9 – Artista: Rico Oliveira Obra: Afro carnaval, 2006. Arte digital.
Acesso em 20/10/2010 http://www.overmundo.com.br/overblog/a-arte-de-rico-oliveira
Ed Ribeiro, artista contemporâneo, abstrato, cria suas obras a partir
de tintas derramadas diretamente sobre o tecido. Suas obras retratam os
Orixás, suas formas e características mais marcantes.
Figura 10 – Artista: Ed Ribeiro Obra: Ogum
Acesso em 20/10/2010 http://www.edribeiro.com.br
2.4 Os Orixás e Seus Mitos
A religiosidade Afro-Brasileira se divide em Candomblé e Umbanda,
apesar de algumas entidades serem as mesmas, a ritualística é
diferenciada pelo comportamento dos Orixás, no Candomblé não se
comunicam diretamente, eles falam com o Babalorixá3 e só assim é
permitido que eles orientem as pessoas, já na Umbanda, os Orixás não se
comunicam, só emitem sons pois só a sua presença no terreiro já é uma
benção.
Segundo Reginaldo Pranti (2009), a palavra Orixá é oriunda do
Yorubá, dialeto africano, que significa divindades criadas por um único
Deus. Os Orixás, divindades africanas a quem se dirige o culto, também
são tomados como arquétipos da personalidade humana. Os Orixás estão
ligados à noção de família, uma família numerosa, que engloba certas
forças da natureza como trovão, a chuva, e com isso as atividades e
3 Babalorixá – pai de santo, sacerdote, chefe de terreiro.
afazeres como a caça, o trabalho com metais e tantos outros. Olorum, é o
Deus supremo, inacessível, ele criou os Orixás para governarem e
supervisionarem o mundo. Na pesquisa foi possível compreender as
características de cada Orixá, seus temperamentos próprios e seus
poderes, suas cores, suas danças e principalmente seus contos os quais se
tornaram fonte de criação das obras.
Conforme Roger Bastide (2001), outra característica é a musica no
Candomblé é a cantada no dialeto africano, cada Orixá tem seu lugar
separado em quartos, e são dezesseis Orixás.
Os quais irei representar plasticamente são baseados e cultuados na
umbanda, por sua vez são treze (Exu, Ogum, Oxóssi, Ossaim, Nanã,
Obauaê, Oxumaré, Xangô, Iansã, Oxum, Ibejis, Yemanjá, Oxalá) cada um
com suas características.
Para um melhor entendimento os textos a seguir citam as formas de
se expressar, cores, danças e instrumentos, de cada orixá conforme Paulo
Newton de Almeida cita em seu livro Umbanda a caminho da luz, 2003.
Os mitos apresentados dos orixás nos textos a seguir, são recriados
plasticamente em minhas obras, suas historias são contadas no livro:
Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti, 2009.
2.4.1 EXU
Figura 11– Exu ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
O Exu significa a velocidade, é a bagunça generalizada e o silencio
completo. Diz-se que exu é a contradição, é o sim e o não; o ser e o não
ser. Exu é a confusão de idéias que temos, com seu comportamento
grosseiro e vaidoso, chegaram a compará-lo com o diabo, e assim ficou
este medo pelo Exu. Entretanto ele é o guardião dos templos, suas cores
são o preto, vermelho e o amarelo. Nas danças sempre tem na mão o ogò,
instrumento em formato de Phalus4 representando a fertilidade, a cabaça e
o ókòtó uma espécie de caracol.
Conforme Reginaldo Pranti no mito (2009, p.66), Exu atrapalha-se
com as palavras, conta que a terra estava sendo reformulada e toda a vez
Olorum era interrogado pelos orixás, pois eles queriam saber o lugar de
cada um, exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos
ordenadamente, ele sugeriu a Olorum que fosse apresentada uma questão
simples e eles deveriam dar uma resposta direta. Olorum aceitou a
sugestão de Exu, e assim de acordo com as respostas os Orixás recebiam
um modo de vida. Exu travesso pensava em como poderia confundir
Olorum, então ele ouviu a pergunta:“ Escolhes viver dentro ou fora?”, de
repente Olorum pergunta pra Exu: “E tu Exu? Dentro ou fora?”, Exu tomou
um susto, e rápido respondeu: “Ora! Fora é claro!” mas logo corrigiu: “Não,
pelo contrário, dentro.” Olorum entendeu que Exu estava tentando confundi-
lo com as palavras e com toda sua sabedoria disse: “Doravante vais viver
fora e não dentro de casa.” E assim tem sido Exu vive nas esquinas, em
céu aberto.
2.4.2 OGUM
Figura 12 – Ogum, acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
4 Phalus – enorme pênis.
Ogum temido guerreiro, que brigava sem cessar com reinos
vizinhos. Orixá Ogum é o deus do ferro e protetor dos ferreiros, agricultores,
caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, metalúrgicos, marceneiros,
mecânicos e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com ferro
ou metais afins. Dança com sua espada, na forma de abrir os caminhos
para os outros Orixás. Sua cor é o verde, azul escuro e vermelho, seu
simbolismo é a faca, pá, enxada e outras ferramentas. Ogum é associado
como São Jorge na Igreja Católica.
No mito, Ogum torna-se o rei de Ire, de Reginaldo Pranti (2009, p.88)
conta que Ogum era um grande guerreiro, lutava em todas as batalhas, era
forte e valente. Certa vez lançou-se contra um dragão, cujo povo temia
muito, e o colocou em um saco para levar ao seu pai. O rei ficou feliz e
queria recompensar o seu filho mais querido, presenteou Ogum com o reino
de Ire.
2.4.3 OXÓSSI
Figura 13 – Oxossi,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Oxóssi é o deus dos caçadores, caças. Teria sido irmão de Ogum, é
considerado o dono das terras, representa o que a de mais antigo na terra:
a sobrevivência do homem. Seu simbolismo é o Ofá, nome dado ao arco, e
o Damatá, a flecha. Sua cor é o azul turquesa e sua dança é feita com seu
arco e flecha na mão representando uma caçada, é associado São
Sebastião no catolicismo.
No mito, Oxóssi mata o pássaro das feiticeiras, de Reginaldo Pranti
(2009, p.113) conta que todos os anos o rei comemorava a colheita dos
inhames, e oferecia aos seus súditos uma grande festa, naquele ano a
cerimônia transcorria normalmente, quando um pássaro grande de asas
pousou no telhado do palácio. A ave tinha sido enviada pelas feiticeiras, por
não terem sido convidadas para a festa. O rei mandou chamar os
caçadores, veio um com vinte flechas, outro com cinqüenta prometendo
matar o bicho ou seriam presos pelo rei. Mas de nada adiantou, nenhum
consegui. Finalmente apareceu um caçador , mas com apenas uma flecha,a
mãe temendo a vida do filho, ofereceu as feiticeiras uma galinha. Neste
momento Oxó, como era conhecido, disparou sua única flecha matando o
pássaro, o rei ficou feliz e o povo passou a chamar-lhe de Oxóssi, caçador
de uma única flecha.
2.4.4 OSSAIM
Figura 14 – Ossaim,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Ossaim,é a divindade das plantas medicinais, dono das folhas e
cirurgias. Sua importância é fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser
feita sem sua presença. Seu símbolo é uma haste ladeada por sete lança
com um pássaro na ponta, sendo assim, uma árvore estilizada. Sua cor é o
verde e o branco.
No mito de Reginaldo Pranti (2009, p.153), Ossaim da uma folha a
cada orixá, conta que ele sendo o senhor das folhas e plantas, todos os
orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia. Um dia Xangô,
deus da justiça, julgou que todos deveriam compartilhar com os poderes de
Ossaim, então ele pediu a Yansã que fizesse uma ventania e mandasse
todas as folhas e plantas para o seu reino. Assim fez ela, mas quando
Ossaim percebeu o que estava acontecendo gritou: “Euê uassá!”, que
queria dizer, as folhas tem vida. Ele então ordenou que elas voltassem e
quase todas retornaram, algumas ficaram com Xangô, mas não tinham
serventia, não curavam. Os Orixás vendo o poder de Ossaim e o próprio
Xangô, arrependeram-se e pediram desculpas. Ossaim vendo isto deu uma
folha a cada Orixá. Assim os Orixás ficaram gratos e sempre o reverenciam
quando usam as folhas.
2.4.5 NANÃ
Figura 15 – Nana,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Nanã, é a divindade velha, mãe de Obaluayê, a deusa dos mistérios,
é uma divindade de origem simultânea criação do mundo, senhora de
muitos búzios. Nanã representa em si a morte, fecundidade e riqueza. É
idosa e respeitável, seu simbolismo é o Ibiri, bastão feito com haste de
palmeira. Sua dança lembra o andar lento e penoso, apoiado em seu
bastão mágico. Sua cor é o anil, branco e roxo. É associada como Nossa
Senhora do Carmo na Igreja Católica.
No mito, Nanã fornece lama para modelagem do homem, de
Reginaldo Pranti (2009, p.196) dizem que quando Olorum encarregou de
Oxalá5 de fazer o mundo e modelar o ser humano, o Orixá tentou vários
caminhos. Tentou fazer de ar, não deu certo, pois o homem se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra a tentativa foi
ainda pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e ate
vinho de palma e nada. Foi então que Nanã Burucu veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com seu Ibiri e de lá retirou uma porção de
lama. Nana deu a porção a Oxalá, do barro do fundo da lagoa Então Oxalá
criou o homem, modelou no barro e com o sopro de Olorum ele caminhou, e
com ajuda de todos os Orixás o homem povoou a terra.
5 Oxalá – espírito de luz
2.4.6 OBALUAYÊ
Figura 16 – Obaluayê ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Orixá das doenças, da varíola, pune os malfeitores com doenças
contagiosas. Dança com roupas de palha da costa, mostrando todo o seu
tormento com as dores das doenças, curvando pra frente. O seu símbolo é
o Xarará, espécie de vassoura feita de folhas de palmeiras decoradas com
búzios e lança de madeira. Sua cor é preta, branca e vermelha. Associado
como santo São Sebastião no Brasil.
No mito, Obaluayê tem feridas transformadas em pipocas por Yansã,
de Reginaldo Pranti (2009, p.206) conta que chegando em uma aldeia,
Obaluayê viu que estava acontecendo uma festa para os Orixás, mas ele
não podia entrar, devido sua aparência feia, então ficou olhando pelas
frestas a festa que estava acontecendo. Ogum, ao perceber a angustia do
Orixá convidou-o para entrar, cobriu de palha ele, e então apesar da
vergonha Obaluayê entrou, mas ninguém se aproximava dele, Yansã tudo
acompanhava, e ela compreendia a tristeza do Orixá. Yansã esperou
quando ele estivesse bem no centro do terreiro, ela soprou sua palha e
neste momento do encantamento a ventania de Yansã fez com que as
feridas de Obaluayê se transformassem em pipocas, o deus da doença se
transformou num jovem belo e encantador. Eles se tornaram grandes
amigos e reinam juntos.
2.4.7 OXUMARÉ
Figura 17 – Oxumaré ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Oxumaré é o Orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. Se
um dia ele perder suas forças o mundo acabará, por que o universo é
dinâmico e a Terra também se encontra em constante movimento. Oxumaré
mora no céu e vem a Terra nos visitar através do arco íris. Sua simbologia é
uma cobra ou um circulo, representando a terra, suas cores são amarelo,
verde e todas as cores do arco íris.
No mito, Oxumaré desenha o arco-íris no céu para estancar a chuva,
de Reginaldo Pranti (2009, p.224) conta que Oxumaré não tinha simpatia
pela chuva. Toda vez que a chuva suas nuvens e molhava a Terra por
muito tempo, Oxumaré apontava para o céu e fazia a chuva ir embora,
dando lugar ao arco íris. Um dia Olorum contraiu uma moléstia que o cegou,
e chamou Oxumaré, que da cegueira curou, temendo voltar a moléstia não
permitiu que Oxumaré descesse a Terra para morar, assim sendo ele deixa
apenas fazer visitas, e todos podem vê-lo no arco íris que ele faz com a sua
faca de bronze.
2.4.8 XANGÕ
Figura 18 –Xangô ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Xangô é o rei absoluto, atrevido, violento e justiceiro, castiga os mal
feitores e ladrões. Rei absoluto, dança com uma machadinha de duas
laminas chamadas de Oxés, mostrando o seu poder. Sua cor é vermelho,
marrom e branco. É denominado de São Jerônimo no catolicismo.
No mito de Reginaldo Pranti (2009, p.274), Xangô deixa de comer
carne de porco em honra aos malês, conta que todas as nações tinham
Xangô como rei, menos os malês, um dia Xangô foi até a cidade deles para
levar alguém de sua família, mas eles não aceitaram. Xangô não gostando
nada daquilo voltou pra casa e decidiu guerrear com os males. Quando
Xangô chegou, a terra dos malês tremia, o povo então implorou pelo fim do
suplicio. Xangô exigiu que eles se submetessem ao seu poder, com medo o
povo aceitou, e abriram a porta da cidade para que o rei entrasse. Em
homenagem ao povo mulçumano, Xangô deixou de comer carne de porco,
tão grande era seu desejo de ser respeitado por essa nação.
2.4.9 YANSÃ
Figura 19 – Yansã ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Divindade dos ventos, dos raios, da chuva e dos trovões, é esposa
de Xangô. É guerreira por vocação, nem por isso não deixa de ser vaidosa,
sensual e fogosa. Suas cores o marrom, vermelho e rosa. A sua dança é
forte como um vento, ela traz em uma de suas mãos a espada e na outra o
Eruesin, uma espécie de espanador, feito de cauda de cavalo, onde com
seus movimentos da à sensação do vento. Denominada Santa Bárbara
pelos católicos no Brasil.
No mito de Reginaldo Pranti (2009, p.294), Oiá recebe o nome de
Yansã, mãe de nove filhos, conta que ela queria muito ser mãe, mas não
conseguia, então Oiá em troca para ter filhos prometeu não comer mais
carneiro, a carne da qual mais gosta. Feito este sacrifício, ela nunca mais
comeu carneiro, e teve nove filhos, quando passeava pelo mercado para
vender seu azeite de dendê todos gritavam: “Lá vai Yansã!”, que quer dizer
mãe de nove filhos.
2.4.10 OXUM
Figura 20 – Oxum , acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Divindade das águas doces, rios, e cachoeiras, vaidosa é a dona da
fecundidade, é a dona do grande poder feminino. Seu símbolo é o leque
com espelhos chamado de Abebé, sua cor é o amarelo ouro. Sua dança
lembra de uma mulher vaidosa, ela dança com um espelho em uma de suas
mãos e com a outra contempla suas pulseiras. No Brasil é associada como
Nossa Senhora das Candeias na Igreja Católica.
No mito Oxum transforma-se em pombo, de Reginaldo Pranti (2009,
p.332) conta que Oxum casou-se com Xangô e foi viver em seu palácio.
Logo o marido percebeu o desinteresse dela pela casa, pela comida, pois
ela só cuidava de suas pulseiras e se olhava no espelho o tempo todo, ela
não cuidava do seu marido. Xangô bravo, a prendeu no castelo, mas de
nada adiantou, ela continuava vaidosa e cuidando de suas pulseiras. Exu
vendo a situação foi contar pra Olorum Então seu pai a transformou em um
pombo, e este ganhou a liberdade, voltando para casa de seu pai.
2.4.11 IBEJIS
Figura 21 – Ibejis , acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Ibeji é o orixá criança, na realidade são duas divindades gêmeas
infantis, ligadas a todos os orixás e seres humanos. É o orixá erê, ou seja, o
orixá criança. É a divindade da brincadeira, da alegria; a sua regência esta
ligada à infância. Sua simbologia são duas cabaçinhas e suas cores são
rosa, azul e o verde. No terreiro são crianças levadas, brincalhonas e
adoram doces. Denominado como Cosme e Damião na Igreja Católica.
No mito Os Ibejis brincam e põem fogo na casa, de Reginaldo Pranti
(2009, p. 373) conta que Yansã é mãe dos Ibejis, seus gêmeos. Quando
passeava pelo mercado ela ouvia: “aqueles são os gêmeos travessos de
Yansã”. Os gêmeos faziam arte o tempo todo, a casa sempre estava em
desordem, e sua mãe sempre de sobressalto. Yansã um dia perguntou a
um babalaô o que deveria fazer para acalmar os meninos, então ele disse a
ela para ter outro filho. O terceiro filho veio e apaziguou os gêmeos, seu
irmão foi chamado de Doum. Mas Doum aprendeu todas as artes dos seus
irmãos, os meninos gêmeos não brincaram mais com fogo, mas ensinaram
tudo ao irmão mais novo todas as artes capazes de fazer bater forte o
coração de uma mãe.
2.4.12 YEMANJÁ
Figura 22 –Iemanjá ,acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Yemanjá significa mãe cujos filhos são peixes, é a rainha de todas as
águas do mundo, seja dos rios, seja do mar. Seus grandes seios e sua
forma volumosa simbolizam a maternidade fecunda e nutritiva. Suas cores o
branco, prateado, azul, rosa, verde esmeralda e seu símbolo é o Abebé
espécie de espelho prateado e sua dança imita os movimentos do mar, as
ondas. No Brasil é denominada Nossa Senhora dos Navegantes pelos
católicos.
No seu mito, Yemanjá da luz as estrelas do céu, aos peixinhos, e aos
orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p. 385), conta que ela vivia sozinha e
Olorum quis dar uma família a ela para poder conversar, brincar, viver.
Então sua barriga cresceu, cresceu e dela saíram as estrelas do céu, mas
de nada adiantou elas subiram, subiram, então Olorum deu os peixinhos do
mar, mas eles também foram nadar no mar , foi ai então que Olorum teve a
idéia de dar a Yemanjá os Orixás. Sua barriga cresceu e de dentro
nasceram Xangô, Yansã, Ogum, Ossaim, Obaluaiê e os Ibejis, foi assim
que ela nunca mais ficou sozinha, eles fazem companhia sempre a ela.
2.4.13 OXALÁ
Figura 23 – Oxalá, acesso em 20/10/2010
disponível em: < http://africasaberesepraticas.blogspot.com>.
Oxalá é o grande Orixá, o rei do pano branco, como assim é
conhecido e ocupa uma posição única e a mais importante dos Orixás. O
primeiro a ser criado por Olorum, o Deus supremo. Sua cor é o branco, seu
símbolo é o Opaxoró, cajado com pendentes e na ponta uma pomba. Na
sua dança, os Orixás presentes ajudam ele, segurando a bainha de suas
vestes, vem dando um ar de cansaço, parecendo estar sem forças, mas
através dos atabaques e cânticos ele volta a sua posição firme e faz
movimentos suaves com os braços. É denominado de Nosso Senhor do
Bom Fim.
No mito de Reginaldo Pranti (2009, p.511), Oxalá cria a galinha de
angola e espanta a morte, conta que há muito tempo atrás a morte estava
apavorando uma aldeia, ela levava qualquer um criança, velho, jovem,
qualquer pessoa. As pessoas da aldeia foram procurar Oxalá pedindo a ele
para fazer alguma coisa para parar a morte, foi quando ele pediu para que
lhe trouxesse uma galinha preta. Oxalá então pegou seu dedo e foi fazendo
pintinhas brancas em todas as suas penas, após isso, pediu que
colocassem a galinha no mercado. Quando a morte chegou no mercado e
viu a galinho, achou o bicho mais feio e estranho e saiu correndo e nunca
mais voltou lá . Desde então, as Iaôs6 são pintadas igual à galinha de
angola, para que todos lembrem da sabedoria de Oxalá.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No inicio de minhas pesquisas sobre a cultura Afro-brasileira, ficou
constatado que já havia um enorme estudo teórico no qual esta cultura se
vê representada. No que diz respeito as lendas de tradição Afro-religiosa
podemos encontrar um vasto documento, tal como afirma Reginaldo Pranti:
(...) Hoje é grande o volume de publicações que trazem mitos dos Orixás. Há títulos especializados na divulgação de mitos e um enormidade de escritos sobre a religião e cultura que também produzem mitos colhidos em pesquisas em diferentes épocas, regiões e paises. (PRANTI, 2009, P.20)
Sendo assim realizei a metodologia teórica para construção da
pesquisa bibliográfica, através do conhecimento dos símbolos da arte sacra
religiosa, pela riqueza simbólica e mitológica. Sendo assim meu trabalho
ocorreu da seguinte forma:
Pesquisa bibliográfica e leitura de lendas e mitos dos Orixás.
Seleção das lendas e mitos a serem representadas.
Observação e desenhos da simbologia dos Orixás.
Desenhos dos Orixás em folha de papel A4, em forma lúdica
além dos signos e símbolos dos mesmos pintados em folha
de papel A4 com tinta acrílica.
Na pesquisa de suporte das minhas obras optei pela lona de
carreta de caminhão, pois esta seria da textura ideal a qual
6 Iaô - filhas de santo.
queria. Além da textura é mais fácil de ser transportada,
enrolando uma a uma em rolos de papelão. A cor própria da
lona não me atrapalhou em nada, pois toda a obra teve uma
aplicação de fundo de tinta látex branca. A tinta aplicada nas
obras foi tinta acrílica, além da tinta em relevo ouro, prata,
bronze, utilizada em algumas obras.
A última parte do projeto foi passar pela idealização final, as
obras retratando cada Orixá em forma lúdica.
Toda minha obra foi retratada em forma lúdica, com cores vibrantes e
contorno dos Orixás em preto, pois, assim pude transmitir um olhar
ilustrativo em meus painéis.
3.1 Observação e Desenhos da Simbologia dos Orixás
Através do processo de pesquisa fui criando minha própria
linguagem, na qual obtive o significado de cada Orixá através das: cores,
roupas, ferramentas, contas, paramentos conforme o ritual que cada qual
pertence e sua história. Esta memória religiosa não só se manteve somente
de pesquisas em livros, mas também através de transmissão da tradição
oral nos terreiros de Candomblé e Umbanda.
Estudos dos signos e símbolos feitos em papel A4 com acrílica:
Nas obras realizadas usei a técnica da transparência, na qual, pude
representar cada simbologia dos Orixás contados nas obras, para isso,
primeiramente fiz esboços das simbologias e dos signos em papel A4 onde
utilizei tinta acrílica para estudo das cores e formas.
Figura 24 – símbolos Figura 25- arabescos I Figura 26-folhas e
movimento
Figura 27-dragão e arcos Figura 28-rosas e arabescos Figura 29-cores e
folhas
Fotografia de Patrícia Maas
Figura 30-arabescos II Figura 31- cores I Figura 32- flores I
Figura 33 – signos Figura 34 - sereia Figura 35–galinha
d’angola
Fotografia de Patrícia Maas
Procurei retratar os Orixás após pesquisas dos mitos Afro-Brasileiros,
primeiramente em croquis realizados em papel sulfite A4 com o uso de lápis
HB as imagens foram realizadas para uma melhor compreensão das formas
e cores a serem representadas plasticamente nas obras.
Figuras 36 – desenho I com lápis HB em papel A4, na seguinte ordem:
dragão,
Ogum, Exu e Yemanjá. Foto de Patrícia Maas
Figuras 37 – desenho II com lápis HB em papel A4, na seguinte ordem:
Oxalá,
Xangô, Yansã e Obaluaê.foto de Patrícia Maas
.
Figuras 38 – desenho III com lápis HB em papel A4, na seguinte ordem:
Ossaim,
Oxum, Oxóssi e Nanã. Foto de Patrícia maas
Figuras 39 – desenho IV com lápis HB em papel A4, na seguinte ordem:
Oxumaré,
Ibejis, e estudo de olhos.foto de Patricia Maas
3.2 Suporte, Técnica e os Materiais Plásticos
O suporte escolhido foi a lona de carreta de caminhão no tamanho
de 2,00 X 1,60 (metros), por ser de fácil manuseio e por ter uma
flexibilidade para transporte. Toda lona teve uma aplicação de fundo com
tinta látex branca.
A tinta aplicada foi tinta acrílica. Por ter uma secagem rápida, o uso
desta me facilitou a usar a técnica da transparência, assim como a do
estêncil e do esponjado. A técnica da transparência foi usada para dar
efeito aos símbolos e signos dos Orixás. A técnica da tinta derramada me
propiciou o efeito de chuva, assim pude representar o mito de Oxumaré,
Orixá da chuva. A tinta acrílica de auto-relevo foi outro material utilizado que
me proporcionou efeitos de textura em algumas obras.
3.3 Descrição das Obras
As obras da série Brincadeira de Erê, estão representadas com uma
estética infantil para que o expectador consiga ver não apenas uma
religiosidade Afro-Brasileira e sim uma cultura dos negros africanos trazidas
ao Brasil no tempo da escravatura. Minhas obras retratam todos os Orixás
contados através de mitos pesquisados em livros e na religião transmitida
nos terreiros de Umbanda e Candomblé. Retratei os mitos dos Orixás em
minhas obras pois acredito que são saberes que merecem serem
resgatados, visto que permitem uma melhor interpretação da realidade Afro-
Brasileira religiosa. Visualizo em minha plasticidade uma forma de ver e
entender o conhecimento de uma cultura que vem sendo reconhecida com
elementos marcantes da cultura e sociedade brasileira por todo mundo.
Com o crescimento desta cultura negra brasileira reconheço a
necessidade de divulgar através de minha poética artística, sua
religiosidade contada através dos treze Orixás reproduzidos em forma de
ilustração com um contexto infantil. Cada Orixá representado retrata um
mito contado através de gerações em terreiros de Candomblé e Umbanda,
as obras contam além dos mitos as forças da natureza de cada um deles
agindo no universo, com suas particularidades de cores, formas e
significações. Através das pesquisas optei por representar as ferramentas,
as roupas, as contas,os paramentos de cada Orixá, conforme o ritual ao
qual pertencem, sendo assim tentei ao máximo representar as suas
energias e identidades.
Com a memória religiosa transmitida nos terreiros e livros
pesquisados apliquei em cada obra as cores como indicam o Candomblé e
a Umbanda, referentes aos Orixás. Com olhos grandes e arredondados quis
transmitir ao expectador a criança, o seu olhar meigo e a sua inocência. O
uso do contorno marcado faz saltar a obra, assim como as cores fortes e
vibrantes representadas em cada Orixá.
3.3.1 – Dentro ou Fora?
Exu na obra “Dentro ou Fora?”, está representado por suas cores
principais, o vermelho e o preto. Sua simbologia, o tridente e o arabesco,
este em forma de caracol, ambas utilizei na obra com a técnica da
transparência. Exu está ao centro da encruzilhada, lugar que é sua morada,
a cor terra sombra natural representa a esquina da rua e ao fundo foi
utilizado o alaranjado cádmio e o amarelo indiano, estas cores foram
empregadas para representar sua energia. Em cada uma de suas mãos,
Exu segura as palavras dentro e fora representando a sua malícia em
responder a pergunta de Deus, como está escrito no livro Mitologia dos
Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.67). Exponho ao espectador toda a
vivacidade do Orixá, com um olhar travesso e cabelos espetados.
Título: Dentro ou Fora?
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
3.3.2 – Lua de Ogum
Ogum representa a luta e a guerra. A cor que representa o Orixá é o
vermelho e o azul, sendo a cor azul cerúlio acrílica aplicada ao fundo da
obra. O símbolo do Orixá guerreiro está representado em sua espada na
cor bronze iridescente. As características marcantes do Orixá guerreiro são
representadas na figura do seu coração em vermelho claro sobre a sua
armadura de ferro na cor cinza, e no dragão morto com a língua de fora,
representado nas cores verde oliva, verde inglês e preto. As estrelas foram
aplicadas na obra com a técnica do estêncil e transparência na cor branca.
A obra Lua de Ogum caracteriza o mito: Ogum torna-se o rei de Irê, do livro
Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.88).
Título: Lua de Ogum.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência e estêncil.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
3.3.3 – Caçador de uma Flecha Só
Caçador de uma Flecha Só tem como característica marcante seu
símbolo, o arco e a flecha, estes representados na obra pela técnica da
transparência. O tom verde inglês foi utilizado ao fundo da obra
representando a mata. A galinha caracteriza a oferenda que sua mãe fez
para sua proteção. Em sua mão esquerda Oxóssi traz com orgulho o
pássaro das feiticeiras morto, no qual, claramente transmitir a fúria do
pássaro com a cor preta em evidência e as cores rosa, azul, amarelo e
laranja. Em sua mão direita, Oxossi carrega sua flecha e arco, os quais
foram pintados na cor amarelo ocre e branco. A obra Caçador de uma
Flecha Só, caracteriza o mito: Oxóssi mata o pássaro das feiticeiras, do livro
Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.113).
Título: Caçador de uma Flecha Só.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
3.3.4 – Salve as Folhas
A análise do mito Ossaim dá uma folha a cada Orixá, do livro
Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.153), enriqueceu-me
para a composição da obra Salve as Folhas. O entendimento adquirido
sobre o mito influenciou-me na composição das cores. As cores de Ossaim
são o verde e o branco. Sendo o símbolo de Ossaim uma haste ladeada por
sete lança com um pássaro na ponta, a qual representei na cor branca com
a técnica da transparência. A cor verde é demonstrada na obra nos tons de
verde inglês, verde oliva e verde terra. As folhas pintadas nas cores preta,
vermelho claro, terra siena natural, ocre, amarelo cádmio, rosa, azul
hortência, branca, violeta cobalto, laranja e azul da prússia, representam
Título: Salve as Folhas.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência e esponjado.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
cada Orixá.
3.3.5 – Da Lama Vem o Homem
A obra Da Lama Vem o Homem, conta o mito de Nanã, a divindade
velha, idosa. Utilizei a cor violeta cobalto ao fundo, sendo que esta é a cor
do Orixá e com a técnica da transparência os búzios na cor branca e as
flores na tonalidade roxa. Seu símbolo é o Ibiri, bastão onde a Orixá tira
toda a lama do rio, a cor usada para representa-lo é o preto e o terra siena
natural.Esta obra representa o mito de Reginaldo Pranti do livro Mitologia
Título: Da Lama Vem o Homem.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
dos Orixás, Nanã fornece a lama para a modelagem do homem(2009,
p.196).
3.3.6 Encanto da Ventania
Observamos na obra Encanto da Ventania o Orixá Obaluaê, na
cultura Afro-brasileira é dito como o Orixá das doenças, pois como relatam
este Orixá se veste de palha para cobrir seu corpo leproso. Mas através do
uso das cores terra siena natural, terra siena queimada e amarelo ocre
Título: Encanto da Ventania.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso de tinta auto-relevo.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
obtive um bom resultado para representar assim a sua veste de palha. As
pipocas as quais significam as doenças saindo do seu corpo foram
realizadas com tinta auto-relevo branca. A obra Encanto da Ventania
caracteriza o mito: Obaluaê tem as feriadas transformadas por Yansã, do
livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.206).
3.3.7 – Desenho do Arco – Íris
Oxumaré é o Orixá do movimento. Apresento sua simbologia através
dos seguintes elementos: a cobra, a faca de bronze e o arco-íris. A cobra
esta pintada nas cores que simbolizam o Orixá, sendo as seguintes
tonalidades: preto, amarelo cádmio claro e verde inglês. No fundo da obra
utilizei o azul cerúlio. Utilizei o recurso da transparência sobre o arco-íris, e
sobre as cobras pintadas de preto em forma circular, estas demonstram o
movimento da terra na simbologia de Oxumaré. Como cita no livro Mitologia
Título: Desenho do Arco-Iris.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência e derramamento
de tinta.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
dos Orixás de Reginaldo Pranti (2009, p.224): “Oxumarê desenha o arco-íris
no céu para estancar a chuva, utilizei da técnica de derramamento de tinta
azul cobalto para representar a chuva”.
3.3.8 – Em Respeito a uma Nação
A análise do mito Xangô deixa de comer carne de porco em honra
dos malês, do livro Mitologia dos Orixás, de Reginaldo Pranti (2009, p.274),
retrata um o Orixá guerreiro e ao mesmo tempo dócil. Representado na
obra Em Respeito a uma Nação, com seu símbolo, a machadinha na mão
esquerda e componho a cena, o porco sendo carregado no colo pelo Orixá.
O fundo da obra foi pintado de vermelho vivo com as machadinhas, e sobre
estas a técnica da transparência E esponjado. Sua roupa tem as cores
Título: Em Respeito a uma Nação.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência e esponjado.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
vermelho vivo e branco que representada as cores principais do Orixá
Xangô. A cor amarelo cádmio aplicada no esponjado representa o fogo,
pois este também em sua simbologia é caracterizado pelo fogo. Retratei no
pescoço do Orixá as cores da guia usadas no Candomblé, vermelha e
branca. E como rei de todas as nações, a coroa sobre sua cabeça na cor
amarelo cádmio.
3.3.9 – Mãe de Nove Filhos
Mãe de Nove Filhos retrata a Orixá Yansã em um de seus mitos
contados no livro Mitologia dos Orixás, por Reginaldo Pranti (2009, p.294),
no qual ela não poderia ter filhos e então deixou de comer carne de carneiro
e Deus concedeu a ela a graça de possuir nove filhos. Os filhos de Yansã
na obra estão representados por nove folhas brancas, onde a cor trás o
Título: Mãe de Nove Filhos.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
significado de paz. Sendo ela a Orixá dos ventos e tempestades,
representei esta característica com o movimento de seus cabelos e de seu
vestido na cor vermelho claro. Ao fundo da obra trabalhei com a técnica da
transparência com folhas e seu instrumento usado no Candomblé o eruesin
(ver pág.27) a cor empregada ao fundo da obra foi o verde inglês. Trabalhei
com arabescos na cor de terra siena queimada para dar continuidade ao
movimento que representa os ventos e tempestades da Orixá Yansã.
3.3.10 – Um Espelho para se Olhar
Oxum, Orixá vaidosa e meiga é representada na obra Um Espelho
Título: Um Espelho para se Olhar.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso daa técnica da transparência e tinta auto
relevo.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
para se Olhar nas cores rosa, amarelo cádmio, amarelo limão e ouro
iridescente. Narrado no livro Mitologia dos Orixás de Reginaldo Pranti
(2009, p.332), Oxum transforma-se em pombo, que por sua vaidade foi
presa em um castelo, mas Deus com pena transformou-a em pombo para
ela retornar a cada de seu pai. A sua simbologia no Candomblé é o espelho
representado na obra através da tinta auto relevo dourada e as pulseiras
pintadas de tinta acrílica ouro iridescente. O fundo da obra foi pintado com a
tinta acrílica rosa e com arabescos na tinta auto relevo dourada. Seus
cabelos longos, na cor preta acinzentado.
3.3.11 – Brincadeira de Erê
Brincadeira de Erê traz todo o colorido dos Ibejis, representado ao
fundo da obra com tinta acrílica nas cores rosa escuro, rosa, azul cerúleo,
laranja, verde inglês e violeta na forma de balas, pirulitos e confetes. A obra
Título: Brincadeira de Erê.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com
a técnica do esponjado.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
retrata no livro Mitologia dos Orixás, Os Ibejis põem fogo na casa, de
Reginaldo Pranti (2009, p.373), esta obra esta representada pelos Ibejis e
seu irmão Doum, com fogo nas mãos. O fogo é caracterizado nas cores
vermelho claro, laranja e amarelo cádmio. As roupas são em tom azul
cerúlio, as quais são usadas pelos Orixás. A obra chama atenção do
expectador ao observar o Orixá menor com fogo em suas mãos e os seus
dois irmãos maiores com um olhar de ingenuidade.
3.3.12 – Estrelinhas do Céu e Peixinhos do Mar
Yemanjá esta representada na obra Estrelinhas do Céu e Peixinhos
do Mar na forma de sereia, em toda a série, foi a única Orixá de pele clara
pois todos os outros foram representados nos tons amarronzados. Na obra
sua cauda é pintada em tinta acrílica azul turquesa e com aplicação de tinta
auto relevo prata iridescente. Para retratar o mito de Reginaldo
Pranti(2009,p. 385) do livro Mitologia dos Orixás, sobre Yemanjá os
peixinhos do mar são pintados em tons de azul cerúlio e as estrelas do céu
em branco, o fundo da obra utilizei a cor verde inglês . Os Orixás, que
segundo o mito saíram da barriga de Yemanjá, estão representados na
forma de colares, são eles: Ibejis representados nas cores azul, rosa e
branco, Xangô nas cores terra siena queimada, Yansã nas cores amarelo
cádmio e branco, Ogum na cor vermelho claro e branco, Ossaim na cor
verde inglês e branco, Obaluaê na cor preto e branco. Sua simbologia é o
Abebé, espécie de espelho representado ao fundo da obra com a técnica da
transparência.
3.3.13 – E Assim Nasceram as Galinhas de Angola
Título: Estrelinhas do Céu e Peixinhos do Mar.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com a técnica da transparência e tinta auto relevo.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
E Assim Nasceram as Galinhas de Angola, representa o
Orixá Oxalá com toda a sua doçura, demonstrada na obra pelo seu olhar. A
obra foi executada com o tom de azul cerúlio ao fundo da obra, alem do
ouro iridescente. Sua simbologia é o seu cajado com um pássaro branco,
este representado nas cores, prata iridescente e branco. As galinhas de
angola estão retratadas na obra com as cores preta, amarelo cádmio, verde
inglês, vermelho claro e amarelo escuro como conta no livro Mitologia dos
Orixás , de Reginaldo Pranti (2009, p.511), Oxalá cria a galinha de angola e
espanta a morte.
CONCLUSÃO
O processo de criação e desenvolvimento deste projeto foi uma
caminhada difícil e aconteceu devido à leitura dos mitos dos Orixás, além
disso, de uma enorme vontade de divulgar a da religiosidade Afro-brasileira
de uma forma diferenciada. Na busca de minha poética artística, encontrei a
linguagem da ilustração. Realizei os estudos bibliográficos e procurei então
fazer o diferencial de minha arte, recriando minha obra de uma forma
lúdica.
Este processo resultou na realização de treze gigantescos painéis,
representando cada um deles os Orixás cultuados na Umbanda e no
Candomblé, religiões as quais representam a cultura Afro-Brasileira.
Através da minha arte quero provocar uma reflexão da sociedade para a
cultura Afro-Brasileira, esta trazida ao Brasil pelo povo escravo vindo da
África no inicio da nossa colonização. E nada melhor do que retratar toda
Título: E Assim Nasceram as Galinhas de Angola.
Série: Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão,
com o uso da técnica da transparência.
Dimensão: 2,00 X 1,60(metro).
esta cultura de forma infantil, pois a criança tem uma representação
ingênua, sem preconceitos de raça, cor ou credo, por isso realizei todos os
treze Orixás de uma forma infantil.
Procurei representar os arquétipos dos Orixás, bem como suas
cores, ferramentas, guias, roupas e principais símbolos também com base
nos mitos. Em um ano e dois meses de trabalho, conclui minhas obras,
satisfeita por desenvolver meus painéis com um sentimento de confiança na
poética da pintura desenvolvida. Busquei a minha liberdade de expressão
sobre a cultura Afro-brasileira, e a partir disso representei livremente os
Orixás.
A escolha dos materiais também foi algo de muito estudo e pesquisa,
pois não só me preocupei com o uso das tintas, mas também com o
suporte. As obras sendo grandes (2,0 x 1,60 m), precisava de um suporte
de fácil transporte diferenciado. Em uma de minhas viagens a Paraty,
visitando o atelier do artista Aeci Sarti, no qual também pinta suas obras em
grandes painéis, observei que ele fazia o uso da lona de carreta de
caminhão, e a partir daí , também comecei a fazer uso da mesma. A
absorção da tinta acrílica sobre a lona é muito rápida e isso me ajudou na
secagem da obra.
Devo admitir que quando comecei a pesquisa sobre meu tema de
TCC, achava que estava preparada para transmitir o tema escolhido
plasticamente; doce engano, foram muitas incertezas, muitos medos. Mas
desenvolvi minha produção através de meus sentimentos, estes
sentimentos que me permitiram colocar um colorido em minhas obras, nas
quais, expresso toda a alegria de uma artista plástica satisfeita em
desenvolver o seu trabalho. Assim termino minha obra com a certeza de
uma mudança interior. A certeza de que através dos pinceis e das tintas me
transformei em uma artista.
REFERÊNCIAS
AMADO, Wolmir. A religião e o negro no Brasil. São Paulo: Loyola. 1984.
ARGAN, Giulio Carlo. A ARTE MODERNA. São Paulo: Companhia das
letras, 1992.
ARTE DO SECULO XX: Visual Encyclopedia of Art. Florence (Italy): Scala
Group,
2009.
BARATA, Mario. A escultura de origem negra no Brasil. São Paulo:
Juruá, 1988.
BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira,
1985.
BASTIDE, Roger. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1983.
CARYBÉ. As sete portas da Bahia. Rio de Janeiro: Record, 1976.
GOMBRICH, E. H. A historia da arte. Rio de Janeiro: Ltceditora, 1999.
LODY, Raul. O povo do santo. Rio de Janeiro: Pallas, 1995.
MATTOS, Regiane Augusto de. Historia da cultura afro brasileira. São Paulo: Ed. Contexto, 2007. MOURA, Carlos. Retrato do Brasil. São Paulo: 1984.
MOURA, Carlos Eugenio Marcondes de. Leopardo dos olhos de fogo.
São Paulo: Atelier Editorial, 1998.
NIKOS, Stangos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1991.
PRANTI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. RAMOS, Artur. O negro brasileiro. São Paulo: Ed. Nacional, 1940.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e umbanda: Caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Ática, 1994.
TRINDADE, Diamantino Fernandes. Os orixás na Umbanda e no Candomblé. São Paulo: Madras, 2008. VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981.
PORTIFÓLIO
PATRICIA MAAS DE FARIA
Título: Dentro ou Fora?
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão, com o uso
da técnica da transparência.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Lua de Ogum.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e estêncil.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Caçador de uma Flecha Só.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Salve as Folhas.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e esponjado.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Da Lama vem o Homem.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Encanto da Ventania.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
de tinta auto relevo.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:Desenho do Arco-Iris.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e derramamento de tinta.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:Em respeito a uma Nação.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e esponjado.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:Mãe de nove filhos.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:Um Espelho para se Olhar.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e tinta auto relevo.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:Brincadeira de Erê.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica do esponjado.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título: Estrelinhas do Céu e Peixinhos do Mar.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência e tinta auto relevo.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
Título:E Assim Nasceram as Galinhas de Angola.
Técnica: acrílica sobre lona de carreta de caminhão com o uso
da técnica da transparência.
Dimensões: 2000 X 1600 mm
As artes plásticas têm ocupado um lugar especial em minha vida desde a
minha infância em Porto Alegre. A pintura é o alimento de minha alma. A
experiência profissional em arte, proporcionou-me exposição como
“Brincadeira de Erê” no SESC HORTO, Campo Grande – MS. Através
desta exposição divulgo a cultura Afro-Religiosa com sentimento de divulgar
uma cultura tão rica e tão bela do nosso povo brasileiro.
As ilustrações dos Orixás retratam de uma forma infantil as histórias e mitos
contados por um povo sobre a cultura e religião dos negros brasileiros. E
assim me inspiro a tocar o sentimento de todos, velhos, moços, homens,
mulheres e crianças, que ajudam a fazer o nosso país.
Patrícia Maas de Faria
CURRICULUM
VITAE
DADOS PESSOAIS
Nome: Patrícia Maas de Faria
Nacionalidade: Brasileira
Naturalidade: Porto Alegre – RS
Nascimento: 03 de junho de 1971
Endereço: Rua Pirajussara, 157
e-mail: [email protected]
Telefone: 9627 1040
DOCUMENTOS
RG:70504571 47 ssp RS
FORMAÇÃO:
2010 – Bacharel em Artes Visuais
CURSOS REALIZADOS:
Curso básico de Informática
Curso de pintura – 1999
Curso de decoração de festa infantil – 1996
Curso de pintura contemporânea – 2009
Curso de decoração de ambientes – 2005
Curso de pintura cowtry – 2006
Curso de cerâmica- 2004
Curso de redes sociais – 2009