LUÍSA GUEDES DE OLIVEIRA RESULTADOS DO TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE ANEURISMAS DE AORTA ABDOMINAL - EXPERIÊNCIA EM 5 ANOS Trabalho apresentado à Universidade Federal de Santa Catarina, para a conclusão do Curso de Graduação em Medicina. Florianópolis Universidade Federal de Santa Catarina 2004 brought to you by CORE View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk provided by Repositório Institucional da UFSC
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FABRÍCIO DE OLIVEIRA FERREIRA · 2016. 3. 5. · Ana Luiza Curi Hallal, epidemiologista da Maternidade Carmela Dutra, pela simpatia, experiência, paciência e tempo dedicados a
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LUÍSA GUEDES DE OLIVEIRA
RESULTADOS DO TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE
ANEURISMAS DE AORTA ABDOMINAL - EXPERIÊNCIA
EM 5 ANOS
Trabalho apresentado à Universidade Federal
de Santa Catarina, para a conclusão do Curso
de Graduação em Medicina.
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2004
brought to you by COREView metadata, citation and similar papers at core.ac.uk
Coordenador do Curso: Prof. Ernani Lange de S. Thiago
Orientador: Prof. Dr. Pierre Galvagni Silveira
Co-Orientador: Prof. Dr. Edson José Cardoso
Florianópolis
Universidade Federal de Santa Catarina
2004
.
Oliveira, Luísa Guedes de. Resultados do Tratamento Endovascular de Aneurismas de AortaAbdominal - Experiência em 5 anos / Luísa Guedes de Oliveira. – Florianópolis,2004. 50p.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal deSanta Catarina – Curso de Graduação em Medicina.
1.Aneurisma Aórtico. 2. Endoprótese. 3. Tratamentoendovascular. I. Título
Dedico este trabalho aos
meus pais, Ana Lúcia e
José Luiz, por serem meu
porto seguro, pelo amor,
pelo apoio suficiente para
chegar onde estou e por
serem tudo na minha vida
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Pierre Galvagni Silveira, Professor de Cirurgia Vascular da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo apoio e incentivo durante todo o tempo em
que trabalhamos juntos, pela orientação e também pelo exemplo como pessoa e profissional.
Ao Prof. Dr. Edson José Cardoso, co-orientador deste trabalho, pela experiência e auxílio
os quais foram imprescindíveis para a realização deste.
A Dra. Ana Luiza Curi Hallal, epidemiologista da Maternidade Carmela Dutra, pela
simpatia, experiência, paciência e tempo dedicados a minha formação.
Aos pacientes, os quais sem eles seria impossível e sem sentido todo o esforço para se
obter as conclusões deste estudo.
Aos funcionários da Nano Endoluminal, por cederem espaço e informações, pelo
incentivo e ambiente de seriedade e amizade.
Em especial, à funcionária Nívea Salvador, pela boa vontade e dedicação sempre que
conversamos.
Aos colegas Juliana Stradiotto Steckert, Fernanda Fiorese Philippi, Gabriel El-Kouba
and etiology, treatment indication, aneurysm dimensions, complications (endoleaks, migration,
tromboses and expansion), secondary procedures, follow-up and clinical outcomes (occurrences
and alive without occurrences). Occurrences-free-survival analysis was done with Kaplan Meier
method. Sixty-three patients were analyzed; most of them were male with median age 69 years. It
was observed 15 patients with endoleak, 04 with migration, 03 with thromboses and 03 with
expansion. Five deaths occurred without any kind of relation with aneurysm or endovascular
treatment. There were observed 02 conversions and 01 aneurysm rupture case. There was no
statistic significant association between descriptive variables and occurrences. The occurrences-
free-survival probability after endovascular repair was 60,6% in five years.
1. INTRODUÇÃO
Aneurisma de aorta abdominal (AAA) é uma doença relativamente comum entre a
população idosa alcançando uma freqüência de 36,2 casos por 100.000 habitantes e pode
representar 5,9% da população com 80 anos ou mais1,2.
O risco de ruptura em 5 anos de AAA não tratado depende do tamanho do aneurisma,
com índice maior que 75% para os aneurismas com 7cm ou mais de diâmetro, 35% para os de
6cm e aproximadamente 25% para os de 5 a 5,9cm 3.
Dubost realizou, com sucesso, a primeira ressecção de AAA em Paris, em março de 1951,
com o objetivo de prevenir a ruptura e a morte como sua conseqüência inevitável1,4-7.
Desde então, o reparo cirúrgico aberto é aceito como o tratamento padrão4,6. No entanto,
o procedimento que depende de uma laparotomia e anestesia geral, pode levar ao óbito em 2 a
7% dos pacientes e apresenta uma morbidade significativa que aumentam em pacientes idosos ou
naqueles com comorbidades pulmonar, cardíaca ou renal associadas4,8,9.
O reparo endovascular de AAA foi introduzido por Parodi, Palmaz, e Barone em 1991
com a intenção de evitar a cirurgia convencional, como um tratamento menos invasivo1,4,6,9-11. O
objetivo desta forma de tratamento é excluir o aneurisma da circulação e reduzir a pressão no
saco aneurismático prevenindo a ruptura através de uma técnica minimamente invasiva12.
Relatos dos últimos 5 anos indicam que 20% a 54% dos pacientes com AAA podem ser
tratados com os dispositivos utilizados rotineiramente13, como a EVT/Guidant Ancure (Menlo
Poark, Calif) e a Medtronic AneuRx (Minneapolis, Minn). Vários artigos têm sido publicados
com os resultados desta primeira geração de endopróteses14,15. Modificações no desenho original
destes dispositivos têm resultado em uma geração subseqüente de endopróteses que estão sob
constante avaliação clínica11,14,16.
Uma destas é a Apolo®, a primeira endoprótese bifurcada, para tratamento dos aneurismas
da aorta abdominal fabricada no Brasil, desde 1998, pela empresa Nano Endoluminal de
Florianópolis – Santa Catarina17.
Trata-se de um dispositivo modular, composto por esqueleto de níquel-titânio e recoberto
por uma prótese tubular de politetrafluoretileno expandido, montado dentro de um sistema
introdutor de baixo perfil com disparo em dois tempos17.
Esta endoprótese foi estudada inicialmente em cães, onde foi avaliada sua eficácia em
excluir aneurismas da aorta abdominal em um modelo experimental confeccionado
cirurgicamente. O trabalho demonstrou que a Apolo® foi capaz de excluir todos os aneurismas
com fácil manejo deste dispositivo18.
Após este experimento e de uma série de estudos pré-clínicos, deu-se início a um estudo
clínico multicêntrico em humanos com aneurisma da aorta abdominal.
Observou-se ser um dispositivo de fácil liberação e capaz de ultrapassar grandes
tortuosidades nas artérias ilíacas devido à flexibilidade e baixo perfil do cateter. Nos pacientes de
alto risco cirúrgico, foi demonstrada a possibilidade de implantar a endoprótese com anestesia
local. Os resultados a curto e médio prazo são promissores demonstrando ser uma endoprótese
segura, eficaz e com baixo índice de complicações19-23.
O custo das endopróteses atualmente comercializadas, é alto, mas a sua aplicação tem se
justificado por demonstrar uma diminuição na morbidade transoperatória, no tempo de internação
na unidade de tratamento intensivo e melhora da qualidade de vida no período pós-operatório,
comparados ao tratamento convencional9,15,16. Outros benefícios a curto prazo do reparo
endovascular são recuperação mais rápida e reduzida perda sangüínea16,24,25.
No entanto, pouco é conhecido sobre o seguimento a longo prazo dos pacientes tratados
com estes dispositivos porque a experiência com o uso das endopróteses é relativamente
recente5,15.
Alguns estudos relatam complicações relacionadas ao funcionamento dos dispositivos,
que resultam principalmente da fadiga dos materiais, migração e presença de vazamentos.
Inevitavelmente estes fenômenos causam a repressurização do saco aneurismático com expansão
e ruptura do mesmo4,8,16,24.
Quando estes problemas ocorrem, freqüentemente são necessários procedimentos
secundários que podem variar de uma simples intervenção percutânea a um complexo reparo
cirúrgico da ruptura do aneurisma. Estudos recentes relatam uma incidência de procedimentos
secundários após o tratamento endovascular de 10 a 26%26.
No momento, um resultado satisfatório do tratamento endovascular de AAA depende de
exames de imagem periódicos (tomografia computadorizada helicoidal e raio X de abdome) para
avaliar a exclusão do fluxo sangüíneo do saco aneurismático e a posição da endoprótese.
Parâmetros adicionais que definem sucesso a longo prazo incluem informações sobre a
integridade do dispositivo, características anatômicas dos aneurismas e complicações tais como
vazamento, migração e trombose 27. A atenção na ocorrência de complicações é necessária para
indicar uma reintervenção adequada, a tempo de evitar a ruptura. Ainda que a maioria das
complicações seja resolvida através de técnicas endovasculares, em alguns casos se faz necessária
a explantação do dispositivo28.
Atualmente, tem se demonstrado melhores resultados com a técnica endovascular
somente em pacientes portadores de aneurismas maiores que 5,5cm e com comorbidades que
elevem o risco de complicações se tratados pela técnica convencional. Com a evolução
tecnológica dos dispositivos de terceira geração, será possível demonstrar se esta técnica poderá
ser utilizada em pacientes jovens, sem comorbidades e portadores de aneurisma menores que
5,5cm.
Para tal, são necessários estudos de longo prazo para verificar a ocorrência e a sobrevida
livre destas intercorrências nos pacientes tratados.
2. OBJETIVOS
Avaliar os resultados do tratamento endovascular com a endoprótese Apolo®, nos
pacientes portadores de aneurisma de aorta abdominal infra-renal, operados pelo Serviço de
Cirurgia Vascular Periférica e Endovascular (CVPE), em Florianópolis/SC.
Analisar as variáveis descritivas e intercorrências (conversão do procedimento para
cirurgia convencional, ruptura do aneurisma e óbito).
Verificar associações entre as variáveis descritivas e intercorrências.
Conhecer probabilidade de sobrevida livre de intercorrências nos pacientes tratados.
3. MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo do tipo série de casos a partir de levantamento de
registros de uma base de dados de pacientes portadores de aneurisma da aorta abdominal infra-
renal, submetidos ao tratamento endovascular com a endoprótese Apolo® pelo Serviço de
Cirurgia Vascular Periférica e Endovascular (CVPE), em Florianópolis/SC, no período entre
julho de 1998 a abril de 2004.
Critérios de Inclusão
• Pacientes com diagnóstico por tomografia computadorizada helicoidal (TCH) de
aneurisma de aorta abdominal infra-renal de ambos os sexos e sem limite de idade com
indicação de tratamento cirúrgico (Quadro 1).
• Pacientes que apresentavam condições clínicas para o tratamento endovascular.
• Pacientes submetidos ao tratamento endovascular com a implantação da endoprótese
Apolo® pelo serviço de CVPE.
• Pacientes operados em Florianópolis no período de 15 de julho de 1998 a 29 de abril de
2004.
QUADRO 1 - Indicação de tratamento cirúrgico nos pacientes com aneurisma de aortaabdominal.
1.Aneurismas maiores de 5 cm de diâmetro.2.Aneurismas com crescimento maior que 0,5cm de diâmetro em 6 meses (expansão).
3.Aneurismas saculares de qualquer diâmetro.4.Aneurismas sintomáticos (dor abdominal, embolia distal) independentes do diâmetrodo aneurisma.5.Aneurismas rotos.
Critérios anatômicos de inclusão:
• pacientes que não apresentavam colo cônico (diferença maior ou igual a 3mm entre D1 e
D2 – diâmetros do colo proximal ao nível das artérias renais e junto ao aneurisma,
respectivamente).
• pacientes com colo proximal formando um ângulo menor ou igual a 60° em relação ao
corpo do aneurisma.
• pacientes os quais as características das artérias ilíacas/femorais não dificultavam a
passagem do cateter introdutor.
Critérios de Exclusão
• Pacientes com aneurismas tóraco-abdominais.
• Pacientes que apresentavam artérias renais principais no segmento que seria excluído pelo
dispositivo.
Desenho da Endoprótese
As endopróteses Apolo, desenvolvidas pela empresa Nano Endoluminal SA, são
constituídas por um esqueleto de NiTi (níquel e titânio) e revestidas por Politetrafluoretileno
expandido ePTFE. São dispositivos modulares, auto-expansíveis e flexíveis permitindo ajuste
preciso. Os stents proximais são descobertos, o que possibilita sua implantação sobre os óstios
das artérias renais. Apresentam marcas radiopacas em ouro que orientam o posicionamento
através da fluoroscopia (Figura 1). São fabricadas em modelos estandardizados ou sob medida e
nos tipos: reta, cônica e bifurcada.
A endoprótese é montada dentro de um sistema introdutor (Saturno®) de reduzido perfil
(16,18 e 20 Fr), Figura 2. Para sua liberação conta com sistema de tração axial que permite uma
implantação mais segura e precisa. O mesmo sistema é utilizado para o implante do ramo contra-
lateral, assim como de extensões para as ilíacas, quando necessário.
Estes dispositivos estão disponíveis em diferentes diâmetros que variam entre 25 a 34mm
na extremidade proximal e 12 a 18mm nas extremidades distais, o que permite tratar a maioria
dos aneurismas.
E S T R U T U R A D A E N D O P R Ó T E S E
E s t r u t u r a d o s t e n t d e N iT i r e v e s t id o e m e P T F E
S t e n t d e s c o b
e r t o
m a r c a s r a d io p a c a s e m o u r o
FIGURA 1 – Desenho esquemático da endoprótese Apolo®
S I S T E M A I N T R O D U T O R
D is p a r a d o r d o T r a c io n a d o rA x ia l
M a n íp u lo d e d i s p a r o in f e r io r
T r a v a d e S e g u r a n ç a
M a n íp u lo d e d i s p a r o s u p e r io r
B a in h a in t r o d u tó r ia( c o m e n d o p r ó t e s e a c o n d ic io n a d a )
FIGURA 2 – Desenho esquemático do sistema introdutor Saturno®.
Estudo de Imagem Pré-operatório
A tomografia computadorizada helicoidal do abdome foi realizada com cortes de 5mm de
espessura, a intervalos de 2,5mm, com a administração endovenosa de 120 a 140ml de contraste
iodado, velocidade de injeção 3ml/segundo, para avaliar as características anatômicas do
aneurisma. Quando estas atendiam aos critérios anatômicos de inclusão as informações eram
utilizadas para construção dos dispositivos e planejamento do procedimento (Figura 3).
FIGURA 3 – Corte axial de TCH com contraste mostrando AAA.
Técnica de Implantação
No centro de hemodinâmica, após avaliação anestésica, os pacientes foram submetidos ao
tratamento endovascular, sob anestesia local, loco-regional ou geral.
O paciente foi posicionado em decúbito dorsal, feita a antissepsia do abdome e membros
inferiores até o joelho. Foi realizada a dissecção de ambas artérias femorais, introduzido um
cateter de angiografia e posicionado na aorta abdominal. A seguir, realizou-se a aortografia e
foram identificadas as artérias renais e ilíacas e marcado o local adequado para o implante do
corpo principal da endoprótese. Uma vez atingido o ponto desejado, a endoprótese foi liberada,
permitindo a fixação do stent na parede do vaso. Caso a endoprótese fosse bifurcada, era
necessária a colocação do ramo contra-lateral através da dissecção da artéria femoral daquele
lado (Figura 4). Pelo acesso femoral era feito o controle angiográfico do procedimento com
bomba de infusão (35ml de contraste, fluxo 16ml/s e pressão 600 PSI), a fim de verificar a
exclusão do saco aneurismático, a fixação e perviedade do enxerto.
Se em qualquer dos passos descritos ocorressem dificuldades técnicas que impedissem a
continuação segura da operação ou fosse constatado mau funcionamento do dispositivo, o
procedimento era interrompido e, se necessário, convertido para cirurgia convencional.
FIGURA 4 – Desenho esquemático demonstrando a introdução da endoprótese Apolo® do tipo bifurcada em AAA.
Período de Seguimento
• A série de observações foi acumulada entre 15 de julho de 1998 a 20 de abril de 2004. Os
dados de acompanhamento dos pacientes foram colhidos até abril de 2004.
Variáveis Estudadas
Foram estudadas as seguintes variáveis:
• sexo do paciente;
• idade na data do tratamento;
• comorbidades associadas;
• classificação dos pacientes em relação ao risco anestésico - ASA (American Society of
Anesthesiologists);
• localização e etiologia do aneurisma;
• indicação para o tratamento endovascular;
• medição do aneurisma (Figura 5);
• complicações do procedimento: vazamento, migração, trombose do ramo ilíaco da
endoprótese e expansão do aneurisma;
• reintervenções/procedimentos secundários;
• acompanhamento dos pacientes através da análise do D3;
• desfecho clínico: intercorrências que foi denominado I (óbito, conversão do procedimento
em cirurgia convencional e ruptura do aneurisma) e vivos sem intercorrências (V/I).
Foi verificada associação estatística entre sexo do paciente, idade no momento do
tratamento, tipo de aneurisma e desfecho clínico.
Quanto à localização, os pacientes foram considerados portadores de aneurisma aorto-
ilíaco (AAI) quando o aneurisma acometia a aorta abdominal infra-renal e as artérias ilíacas
comuns, e portadores de aneurisma de aorta abdominal (AAAbd) quando acometia somente a
aorta abdominal infra-renal. Quanto à etiologia, os aneurismas foram classificados como:
degenerativos, inflamatórios e falso aneurisma de boca anastomótica.
Foram definidos como fatores de risco para o tratamento endovascular as comorbidades
apresentadas pelos pacientes no momento do procedimento.
De acordo com a classificação ASA, os pacientes foram considerados de alto risco para a
intervenção se apresentavam graus III ou IV e/ou ruptura do aneurisma.
Quanto à indicação para o tratamento endovascular, os pacientes foram separados em
eletivos ou de urgência (ruptura).
As dimensões dos aneurismas, em milímetros, foram avaliadas através da análise de TCH.As medidas estudadas foram (Figura 5):
• diâmetro do colo proximal abaixo das artérias renais (D1).
• diâmetro do colo proximal junto ao início do aneurisma (D2).
• maior diâmetro do saco aneurismático (D3).
• diâmetro do colo distal (D4).
• L4 é a soma de L1, L2, e L3.
Outras medidas também avaliadas para confecção das endopróteses do tipo padrão (Figura 5):
• comprimento do colo proximal – distância entre D1e D2 (L1).
• extensão do aneurisma (L2).
• extensão do colo distal, se existente (L3).
• diâmetro da ilíaca comum direita (D5 e D7)
• diâmetro da ilíaca comum esquerda (D6 e D8)
• extensão da bifurcação até o final do aneurisma da ilíaca comum (L5 e L6)
• extensão da bifurcação à artéria ilíaca interna (L7 e L8)
• diâmetro da ilíaca externa (D9 e D10)
FIGURA 5: Desenho esquemático mostrando as medidas diagnosticadas pela TCH dos aneurismas.
Todos os pacientes foram acompanhados clinicamente e através de RX de abdome e TCH
com reconstrução tridimensional ao 1 e 6 meses e anualmente após o procedimento (Figura 6).
FIGURA 6 – Reconstrução tridimensional TCH de controle pós-operatório demonstrando a exclusão do fluxosangüíneo do saco aneurismático após tratamento com endoprótese.
Foi definido como mortalidade operatória àquela ocorrida nos primeiros 30 dias de pós-
operatório.
Vazamentos (endoleak; fluxo arterial persistente entre a endoprótese e o saco
aneurismático) foram classificados de acordo com a definição de White-May and Harris29 : tipo I
quando ocorre vazamento na fixação proximal ou distal, tipo II quando das colaterais, tipo III por
defeitos no dispositivo e/ou desconexão entre os módulos, tipo IV pela porosidade da
endoprótese. Foram divididos também em primário quando ocorria desde o trans-operatório até o
30° dia de acompanhamento e secundário quando diagnosticado após o acompanhamento do
primeiro mês (Figura 7).
FIGURA 7 – a) TCH com reconstrução tridimensional mostrando vazamento tipo I (seta). b) Corte axial de TCHmostrando vazamento tipo II (seta).
Migração foi considerada significante quando o stent proximal deslocou-se 5mm ou mais.
Variações maiores ou iguais a 5mm no maior diâmetro do aneurisma (D3) entre TCHs
sucessivas foram consideradas expansão do aneurisma e conseqüente falha do tratamento
endovascular.
Para a análise de sobrevida, a definição da variável tempo-dependente foi o período entre
a data do tratamento endovascular e a data da última avaliação.
Na confecção da curva de sobrevida foram considerados como seguimento “completo”, os
casos que apresentaram o evento de interesse, que foi definido como I (óbito ou conversão do
procedimento para cirurgia convencional ou ruptura do aneurisma), até a data da última revisão.
Como critério de “censura” foram considerados os casos livres destas intercorrências ao final do
seguimento.
Análise dos Dados
Os dados obtidos foram prospectivamente registrados em ficha clínica utilizada pelo
Serviço CVPE conjuntamente com a Empresa Nano Endoluminal SA (Apêndice). Posteriormente
foram transferidos para uma base de dados construída com o programa Access® para a realização
do estudo estatístico.
A análise estatística descritiva foi realizada utilizando-se o programa Epi Info, versão 6.0.
As informações obtidas permitiram a construção de uma coorte prospectiva que
possibilitou o estudo da sobrevida.
A análise de sobrevida foi realizada através do método do produto limite ou Kaplan-
Meier, que permitiu as estimativas: tempo mediano livre de I, que corresponde a 50% de
probabilidade de estar livre destas intercorrências ao tempo T, quartis inferior e superior, e o
estudo das funções S(t) e R(t).
S(t) é o tempo de sobrevida cumulativa e corresponde à probabilidade de sobrevida livre
de intercorrências (SLI) até determinado tempo t.
R(t) corresponde ao risco estimado de ocorrências ao tempo t, sendo calculado na fórmula
R(t)=1 – S(t). Isso informa a probabilidade de incidência do evento de interesse.
Foi calculado o intervalo de confiança (95%) para a estimativa de risco de I para cinco
períodos do seguimento (no início, no quartil inferior, no tempo mediano, no quartil superior e no
final do seguimento). A análise e a curva de sobrevida foram realizadas através do programa
estatístico SPSS (SPSS Inc.).
Aspectos Éticos
Neste trabalho foram estudados os pacientes submetidos ao tratamento endovascular em
um único centro. Este centro é parte do Estudo Multicêntrico com a Endoprótese Apolo®
aprovado pela Comissão de Ética do Instituto de Cardiologia de Florianópolis, conforme
Resolução 196 de 10/10/1996 – CNS que trata de pesquisas científicas com seres humanos.
4. RESULTADOS
Foram estudados 63 pacientes portadores de aneurisma de aorta abdominal infra-renal
submetidos ao tratamento endovascular com a endoprótese Apolo® no período de 15 de julho de
1998 a 29 de abril de 2004.
A maioria era do sexo masculino , um total de 53 pacientes (Tabela 1).
TABELA 1 – Distribuição dos pacientes submetidos ao tratamento endovascularcom a endoprótese Apolo® quanto ao sexo. Florianópolis, 2004.
Sexo n %
F* 10 15,9
M** 53 84,1
Total 63 100,0
Fonte: Base de dados Apolo®
*Feminino**Masculino
A idade dos pacientes na data do tratamento variou de 52 a 97 anos, sendo a média de
idade de 69,8 anos (DP = 8,7) e a mediana de 69 anos.
Quanto aos fatores de risco associados, 47 pacientes eram hipertensos, 39 coronariopatas
e 27 eram fumantes (Tabela 2). Dois pacientes eram também portadores de aneurisma de aorta
torácica, dois de aneurisma de artéria poplítea unilateral e um de artéria femoral bilateral.
TABELA 2 – Distribuição dos fatores de risco associados nos pacientessubmetidos ao tratamento endovascular com a endoprótese Apolo®. Florianópolis,2004.
De acordo com a classificação ASA, 47 (74,6%) pacientes foram considerados de alto
risco para a intervenção, que são aqueles classificados graus III ou IV e/ou que apresentavam
ruptura do aneurisma (n=1), como demonstra a Tabela 3.
TABELA 3 –Distribuição dos pacientes de acordo com a classificação ASA*.Florianópolis, 2004.
ASA* N %
II
III
IV
16
43
04
25,4
68,3
6,3
Total 63 100,0
Fonte: Base de dados Apolo® *American Society of Anesthesiologists
Quanto à localização dos aneurismas, 32 pacientes eram portadores de aneurismas aorto-
ilíacos e 31 de aneurismas de aorta abdominal, conforme descrito na Tabela 4.
TABELA 4 – Distribuição da localização dos aneurismas nos pacientes tratadoscom a endoprótese Apolo®. Florianópolis, 2004.
Tipo de Aneurisma N %
AAAbd* 31 49,2
AAI** 32 50,8
Total 63 100,0
Fonte: Base de dados Apolo®
*Aneurisma que acomete somente a aorta abdominal**Aneurisma aorto-ilíaco
A etiologia do aneurisma era degenerativa em 61 (96,8%) pacientes, inflamatório em 01
(1,6%) paciente e falso aneurisma de boca anastomótica em outro paciente.
Conforme a indicação para o procedimento endovascular, 62 (98,4%) pacientes foram
operados eletivamente e 01 (1,6%) paciente foi submetido ao tratamento endovascular de
urgência por ruptura do aneurisma.
As médias dos diâmetros (D1, D2, D3) e comprimento (L4) dos aneurismas avaliados
através de TCH no exame de pré-operatório estão relacionadas na Tabela 5.
TABELA 5 – Distribuição das medidas dos aneurismas no pré-operatório.Florianópolis, 2004.
Medidas Médias
D1 23,9
D2 24,9
D3 56,2
L4 72,7
Fonte: Base de dados Apolo®.
Dos 63 pacientes, 25 (39,7%) apresentaram complicações relacionadas ao procedimento.
Do total, foram encontrados 08 (12,7%) pacientes com vazamentos primários e 07 (11,1%) com
secundários, em 04 pacientes houve migração da endoprótese no pós-operatório, em 03 trombose
do ramo ilíaco da endoprótese, em 03 expansão do aneurisma e em 01 caso houve ruptura do
aneurisma (Tabela 6).
As condutas adotadas para os 08 pacientes com vazamento primário foram: em 02 casos
(tipo I), colocação de extensão da endoprótese e em 06 expectante. No grupo com conduta
expectante, 04 (02 tipo I e 02 tipo II) pacientes apresentaram resolução espontânea no controle de
01 mês e em 02 houve persistência, dos quais em 01 paciente foi feita conversão do
procedimento aos 12 meses de pós-operatório pois apresentava migração da endoprótese, com
vazamento tipo III e expansão do aneurisma. O outro paciente com vazamento tipo I foi a óbito
por câncer de laringe 41 meses após o procedimento.
Foram implantadas extensões das endopróteses em 04 pacientes com vazamentos
secundários. Em 02 houve resolução espontânea (tipos I e III), em 01 o vazamento tipo I persistiu
sendo necessária conversão para cirurgia convencional, em outro com vazamento tipo III houve
ruptura do aneurisma que resolveu com a implantação de outra endoprótese. Em 03 pacientes a
conduta foi expectante, dos quais 02 pacientes com vazamento tipo II houve resolução
espontânea e um com tipo III persistiu o vazamento.
TABELA 6 – Distribuição das complicações do tratamento endovascular com aendoprótese Apolo®. Florianópolis, 2004.
Complicações n %
Vazamento primário
I 5 20,0
II 2 8,0
III 1 4,0
Vazamento secundário
I 2 8,0
II 2 8,0
III 3 12,0
Migração 4 16,0
Trombose do ramo ilíaco
Expansão
3
3
12,0
12,0
Total 25 100,0Fonte: Base de dados Apolo®
Dos 63 pacientes estudados, 34 realizaram TCH para o acompanhamento de 1 mês, 22
realizaram de 6 meses, 17 de 12 meses, 10 de 24 meses, 07 de 36 meses, 05 de 48 meses e 01
paciente realizou de 60 meses. As medianas dos D3 encontrados estão relacionadas na Tabela 7.
Do total de 63 pacientes estudados, 05 (7,9%) foram submetidos a procedimentos
secundários para tratamento das complicações ocorridas no pós-operatório, dos quais 04
pacientes foram submetidos à colocação de extensão e/ou conversão para cirurgia convencional
para tratamento de vazamentos secundários e 01 foi submetido a conversão do procedimento por
persistência de vazamento primário.
TABELA 7 – Distribuição da mediana dos D3 dos aneurismas no pré-operatório eno acompanhamento pós-operatório através de TCH. Florianópolis, 2004.
Tempo de acompanhamento
(em meses)
Mediana D3
(em mm)
Mínimo-Máximo
Pré-operatório 55,0 34,0-97,0
1 54,5 37,0-97,0
6 51,5 25,0-74,0
12
24
36
48
60
50,0
54,0
46,0
64,0
36,0
35,0-81,0
44,0-73,0
37,0-66,0
37,0-71,0
36,0-36,0
Fonte: Base de dados Apolo®
Ao final do seguimento, 55 pacientes estavam vivos sem intercorrências (V/I), 08 tiveram
intercorrências, I (conversão do procedimento para cirurgia convencional, por ruptura do
aneurisma ou óbito), como demonstrado na Tabela 8. As causas de óbito nos pacientes foram em
01 por neoplasia, 01 por sepse, 01 por infarto agudo do miocárdio e 02 por pneumonia, sendo
nenhuma relacionada diretamente ao aneurisma, ao tratamento endovascular ou aos
procedimentos secundários nos quais os pacientes foram submetidos. A mortalidade operatória
foi igual a zero, todos os óbitos ocorreram no pós-operatório tardio (30 dias após o
procedimento).
TABELA 8 – Distribuição dos pacientes submetidos ao tratamento endovascularcom a endoprótese Apolo® , segundo desfecho clínico. Florianópolis, 2004.
Desfecho n %
Conversão 2 3,2
Ruptura
Óbito
Vivos sem intercorrências
1
5
55
1,6
7,9
87,3
Total 63 100,0
Fonte: Base de dados Apolo®
Não houve associação estatisticamente significativa entre sexo do paciente e desfecho
clínico (µ2=0,08; p=0,77) como pode ser observado na Tabela 9.
TABELA 9 – Distribuição dos pacientes estudados em relação ao sexo e desfechoclínico. Florianópolis, 2004.
Sexo
Desfecho
I* V/I* Total
F 1 9 10
M 7 46 53
Total 8 55 63
Fonte: Base de dados Apolo® (µ2=0,08;p=0,77)*Intercorrências**Vivos sem intercorrências
Dos 31 pacientes com AAAbd, 5 (16,1%) apresentaram I e 3 (9,4%) dos 32 pacientes com
AAI também apresentaram. Não houve associação estatisticamente significativa entre tipo de
aneurisma e desfecho clínico (µ2=0,65 p=0,42) Tabela 10.
TABELA 10 – Distribuição dos pacientes estudados em relação ao tipo de
aneurisma e desfecho clínico. Florianópolis, 2004.
Tipo de aneurisma
Desfecho
I* V/I** Total
AAAbd 5 26 31
AAI 3 29 32
Total 8 55 63
Fonte: Base de dados Apolo® (µ2=0,65;p=0,42)*Intercorrências**Vivos sem intercorrências
O grupo que apresentou desfecho clínico do tipo I, teve média de idade 75,2 anos
(DP=12,8) e o que teve como desfecho V/I teve como média de idade 69 anos (DP=7,8),
diferença de 6,2 anos, não significativa estatisticamente (p=0,17).
Quanto à estimativa da probabilidade de sobrevida livre de I, foi observado que a
probabilidade de sobrevida em 1 ano e 2 meses e 16 dias (mediana no período de seguimento) do
grupo estudado foi de 89%. No quartil inferior, a probabilidade de estar livre de I em 15 dias foi
de 100%. No quartil superior, a probabilidade de sobrevida livre de I em 4 anos 8 meses e 24 dias
foi de 60,6% , como demonstrado na Tabela 11 e na Figura 8.
TABELA 11 – Estimativa da probabilidade de sobrevida livre de falhas (em dias),e intervalos de confiança de 95%, em diferentes períodos de seguimento*.Florianópolis, 2004.
Seguimento Tempo de
sobrevida (dias)
Sobrevida
Cumulativa
Erro Padrão IC (95%)
Início 15 1.0000 - -
Percentil 25
Percentil 50
Final
152
441
1724
0,9511
0,8901
0,6063
0,0340
0,0526
0,1369
0,8166-0,9877
0,7299-0,9579
0,2976-0,8133*Método de Kaplan-Meier (Estimativa de produto limite).
FIGURA 8 – Curva de sobrevida livre de intercorrências.
Tempo de sobrevida (em dias) 0 500 1000 1500 2000
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
Função de sobrevida
4. DISCUSSÃO
O aneurisma de aorta abdominal é uma doença relativamente comum30. Ocorre em 80 a
90% dos casos na aorta abdominal infra-renal. A causa ainda não está definida mas
aparentemente é uma entidade degenerativa de gênese multifatorial, com fatores mecânicos e
genéticos envolvidos assim como a aterosclerose30-32.
Sua prevalência é de 2 a 5% em homens acima de 60 anos30 e raro em pacientes com
menos de 50 anos2. Os homens são mais afetados que as mulheres, em proporção de 4:111,14,30,31.
Desde a introdução do reparo endovascular em 1991, esta técnica tem sido utilizada com
freqüência progressiva nos últimos anos. As vantagens potenciais de um procedimento pouco
invasivo, com risco cirúrgico reduzido e recuperação rápida, têm gerado um grande interesse por
parte dos médicos e pacientes8,9,13,14.
O objetivo deste reparo é prevenir a ruptura, e a morte como sua conseqüência. Ainda não
é possível predizer com certeza qual aneurisma irá romper, ainda que o risco fique maior com o
aumento do seu diâmetro. O aumento da expectativa de vida não é o objetivo primário do reparo
do aneurisma, mas o principal é prevenir a morte prematura resultante da sua ruptura4.
Trabalhos dos últimos 5 anos têm demonstrado que a ruptura de AAA pode ocorrer após o
reparo endovascular4,5,7,31. Em publicação da base de dados EUROSTAR, a ruptura ocorreu com
índice de 1% ao ano5.
Uma das causas prováveis é o efeito a longo prazo do fluxo de sangue persistente entre a
endoprótese e o saco aneurismático, ocorrência conhecida como vazamento. Este tem o potencial
de aumentar o diâmetro do saco aneurismático e a pressão intraluminal possibilitando a ruptura5.
Por estes motivos, os pacientes submetidos ao tratamento endovascular necessitam de
acompanhamento regular através de TCH e Rx para detectar e tratar complicações, como
vazamento, migração, fadiga do material, repressurização do saco aneurismático, expansão e
trombose5,8,14,31.
Apesar deste ser um estudo com número reduzido de pacientes comparado a outros
centros, já se observaram as ocorrências de complicações. Isto se deve ao fato de alguns destes
pacientes apresentarem acompanhamento de médio prazo permitindo a detecção destas
complicações.
Observou-se a ocorrência de vazamento primário em 08 (12,7%) pacientes. A maioria dos
vazamentos resolveu espontaneamente no primeiro mês de acompanhamento, e de acordo com a
literatura isto ocorre em 50 a 60% dos casos5,11. Isto pode ser explicado pelo fato de que este
diagnóstico foi realizado durante o procedimento, ainda sob efeito anticoagulante da heparina.
Quando o cirurgião julgou que o vazamento estava relacionado a outra causa que não o efeito do
anticoagulante, no mesmo ato era corrigido, seja por implantação de extensão proximal ou distal
ou utilização de balões de angioplastia para melhor acomodação do dispositivo à parede arterial.
Segundo Marrewijk et al. em um estudo com 2463 pacientes em 6 anos, a prevalência de
vazamento secundário durante o seguimento foi de aproximadamente 20%5. A taxa de 11,1%
encontrada neste estudo foi semelhante à encontrada no trabalho de Faries et al.14.
Alric et al. acreditam que os vazamentos secundários tipo I e III representam um
importante fator de risco para ruptura do AAA, justificando intervenção imediata31. Vazamento
tipo II, o qual é uma complicação do reparo endovascular mais do que de um tipo de endoprótese
em particular, também pode resultar em ruptura de aneurisma31,33. Os resultados de Timaran et al.
indicam que a persistência de vazamento tipo II não é sempre uma ocorrência benigna,
principalmente quando associado ao aumento do diâmetro do saco aneurismático34.
No estudo de Zarins et al. sobre ruptura de aneurisma após tratamento com a endoprótese
AneuRx, foi detectado vazamento em somente 2 de 7 pacientes com ruptura do aneurisma7.
Porém neste estudo somente um paciente com vazamento teve ruptura do aneurisma. Esta
intercorrência ocorreu 18 meses após o tratamento endovascular por vazamento secundário do
tipo III. Na base de dados, foi constatado que este paciente foi submetido à somente um
acompanhamento, com 1 mês de pós-operatório onde não foi detectado vazamento. O tratamento
para esta complicação foi com implantação de outra endoprótese.
Baseados nestes resultados, acredita-se que a detecção precoce do vazamento através de
controles regulares com TCH, a análise de suas características (primário ou secundário e tipo de
vazamento) e a relação com a expansão do aneurisma, são parâmetros importantes para a escolha
da conduta a ser tomada frente a esta complicação.
A taxa de migração encontrada neste estudo foi alta (6,3%) quando comparada aos
resultados de outros dispositivos11,31,35 . Porém, no estudo de Cao et al. com 113 pacientes, a taxa
observada foi de 27%, sendo que 47% destes necessitaram de procedimentos secundários27.
A mudança no diâmetro do AAA durante o seguimento é a principal alteração na
morfologia5. No entanto, a dilatação é um fenômeno reconhecido que ocorre de 0,5 a 1mm
anualmente em 20% a 50% dos pacientes após reparo endovascular31. Por isso, o decréscimo no
tamanho é freqüentemente utilizado como um indicador da completa exclusão do aneurisma5,14.
A análise da variabilidade entre observadores e intraobservadores do tamanho do aneurisma
através de TCH, , tem mostrado que a variação de 5mm deve representar alteração no tamanho do
aneurisma mais do que um erro de medida5.
No estudo de Wolf et al., o qual analisou 154 pacientes submetidos ao reparo
endovascular, foi detectado aumento do maior diâmetro do aneurisma no primeiro mês de
acompanhamento, que pode ser explicado pela força radial do dispositivo sobre a parede arterial e
pela formação do trombo mural36.
Neste estudo observou-se um aparente decréscimo no maior diâmetro do aneurisma (D3),
porém este dado não é confiável pois nem todos pacientes realizaram o acompanhamento
preconizado e além disso alguns foram submetidos ao tratamento endovascular recentemente não
tendo, desta forma, o seguimento necessário para avaliação das variações.
No entanto, 53, 9% realizaram o acompanhamento após 30 dias e 34, 9% o de 6 meses e
nestes períodos observou-se um decréscimo no D3 de 1,5mm no primeiro mês e de 3,5mm no
sexto mês, em relação ao pré-operatório.
Intercorrências como conversão e ruptura do AAA ocorreram em 3,2% e 1,6% de todos
pacientes, respectivamente. No estudo de Dattilo et al. a ocorrência destas complicações foi
semelhante: conversão para o reparo aberto em 2,2% e ruptura de AAA em menos de 1% dos
casos8.
Todas estas complicações podem levar a necessidade de reintervenção cirúrgica ou
endovascular31. A necessidade de procedimentos secundários é um importante indicador do
insucesso a longo prazo. Em um ponto do registro EUROSTAR, quando 1023 pacientes tinham
ao menos 1 ano de seguimento, 18% foram submetidos à pelo menos um procedimento
secundário após os 14 meses. A sobrevida livre de intervenção ao 1°, 3° e 4° ano foi de 89%,
67%, e 62%, respectivamente5. Na série estudada, em 5 anos de seguimento, foram necessários
procedimentos secundários em 5 (7,9%) pacientes. Estes procedimentos foram realizados para o
tratamento de complicações como vazamento, migração, ruptura do aneurisma ou a conversão do
procedimento. Excluindo-se os casos de conversão para o reparo aberto, as outras intervenções
foram também minimamente invasivas. Apesar da maioria dos pacientes serem idosos, com
várias comorbidades associadas, nenhum procedimento secundário foi causa direta de óbito.
Jones et al. analisaram a história natural de pacientes de alto risco com AAA maior que
50mm de diâmetro; encontraram que 88% dos pacientes foram a óbito ao final do estudo e que a
mediana de sobrevida foi de somente 18 meses. Porque somente 35% destas mortes eram
relacionadas à ruptura do aneurisma, os autores concluíram que o reparo eletivo de AAA em
pacientes de alto risco não está justificado visto que a maioria morre de outras causas37. No
estudo de Alric et al., todas as mortes relacionadas ao aneurisma eram em pacientes de alto-risco.
E segundo o autor, neste tipo de população, a sobrevida é de 57% em 5 anos para qualquer morte,
o que torna difícil justificar o reparo de AAA em pacientes idosos, com comorbidades
significantes, ao menos que o risco de ruptura seja considerável (aneurisma em expansão,
inflamatórios, sintomáticos, anastomóticos ou saculares)31.
No entanto, muitos autores concordam que o reparo endovascular em pacientes de alto
risco cirúrgico é a melhor opção, por apresentar morbidade e mortalidade aceitáveis e por estes
serem freqüentemente excluídos do tratamento convencional por causa das suas
comorbidades6,11,14,38,39.
No estudo multicêntrico com o sistema bifurcado PowerLink de Carpenter et al., com 118
pacientes, não houve ruptura de aneurisma11. O objetivo de prevenir a ruptura foi alcançado em
98,4% dos 63 pacientes do presente estudo, num período de 5 anos. Semelhante ao trabalho com
a endoprótese AneuRx, em que este objetivo foi alcançado em 99,2% de 1067 pacientes com
AAA infra-renal, no período de 3 anos e 4 meses7. Este dado demonstra que o tratamento
endovascular dos aneurismas nestes pacientes é justificável, já que a ruptura esperada é de 11%
por ano para aneurismas não tratados de 55mm ou mais de diâmetro7.
Aos 3 anos, a sobrevida livre de morte relacionada à ruptura do aneurisma, tratamento ou
procedimento secundário no estudo de Arko et al. foi de 99% para pacientes submetidos ao
reparo endovascular4. No presente estudo a sobrevida livre de morte relacionada diretamente à
ruptura do aneurisma, tratamento ou procedimento secundário foi de 100%. As causas de óbito
foram relacionadas às complicações das comorbidades associadas que estes pacientes, já com
idade avançada, apresentavam previamente ao tratamento. Não ocorreram mortes no intra-
operatório, os óbitos ocorreram pelo menos 60 dias após o tratamento endovascular. Estes dados
diferem dos encontrados nos resultados com outros dispositivos, onde relatam a ocorrência de
óbitos no intra-operatório, no pós-operatório imediato e relacionados diretamente ao
aneurisma11,14,31,39.
Na série estudada considerou-se evento de interesse a ocorrência de óbito (mesmo não
relacionado diretamente ao aneurisma), conversão do procedimento e ruptura. Com estes dados
foi construída a curva de sobrevida de Kaplan-Meier. Notou-se que em 5 anos a probabilidade de
sobrevida livre destas intercorrências foi de 60%. Isto significa que um paciente operado com a
endoprótese Apolo® tem 60% de chance de estar livre destas intercorrências ao final de um
período de seguimento de 5 anos. No entanto, a chance de ocorrer uma complicação de grande
importância clínica como a ruptura do aneurisma e a conversão do procedimento que leva o
paciente a estresse cirúrgico, é, provavelmente menor se excluídos os pacientes que foram a
óbito.
Ao que tudo indica a endoprótese Apolo® reduz, mas não elimina, o risco de ruptura.
Deste modo, todo paciente submetido ao reparo endovascular de aneurisma deve ser submetido a
exames periódicos de imagem para avaliar a posição do dispositivo, a evolução das dimensões do
aneurisma e a presença de vazamento.
Como limitações observadas neste estudo, nem todos pacientes realizaram o
acompanhamento preconizado e alguns foram submetidos ao reparo endovascular recentemente,
não tendo o acompanhamento necessário para melhor avaliação do resultado do tratamento.
Ainda que os resultados a curto e médio prazos foram encorajadores, o monitoramento
contínuo destes pacientes é crucial para a realização de estudos de longo prazo. Somente com
análises criteriosas destes dados é que se poderá determinar a eficácia desta forma de tratamento.
6. CONCLUSÕES
1. A endoprótese Apolo® mostrou-se segura e eficaz no tratamento de AAA nos pacientes
estudados.
2. A maioria dos pacientes era do sexo masculino, com mediana de idade de 69 anos. Dos 63
pacientes estudados, 47 eram hipertensos, 39 coronariopatas e 27 fumantes, 47 (74,6%) foram
classificados de alto risco para a intervenção. Trinta e um pacientes eram portadores de AAAbd e
32 de AAI sendo a maioria de origem degenerativa e operados eletivamente. A média de D1
encontrada foi de 23,9, D2 24,9, D3 56,2 e L4 72,7. Do total, 25 (39,7%) apresentaram
complicações relacionadas ao procedimento sendo que 05 (7,9%) foram submetidos a
procedimentos secundários. Como desfecho clínico, 55 pacientes estavam vivos sem
intercorrências (V/I) ao final do seguimento e 08 apresentaram intercorrências (02 conversões do
procedimento para cirurgia convencional, 01 ruptura do aneurisma e 05 óbitos não relacionados
ao aneurisma, ao tratamento endovascular ou a procedimentos secundários).
3. Não houve associação estatisticamente significativa entre sexo do paciente, idade na data do
tratamento, tipo do aneurisma e desfecho clínico.
4. A probabilidade de sobrevida livre de intercorrências em 5 anos foi de 60,6% nos pacientes
estudados.
REFERÊNCIAS
1. Uflacker R, Robison J. Endovascular treatment of abdominal aortic aneurysms: a review.
AAA Stent Grafts [periódicos online] 2001 Mar [capturado 2004 Abr 7]; 1(1):[13 telas].