outubro de 2015 Fabiana Vanessa Silva Gomes Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas Universidade do Minho Escola de Psicologia
outubro de 2015
Fabiana Vanessa Silva Gomes
Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas
Universidade do MinhoEscola de Psicologia
Dissertação de Mestrado Mestrado em Psicologia Aplicada Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde
Trabalho realizado sob orientação da
Doutora Eva Conceição
e do
Doutor Paulo Machado
outubro de 2015
Fabiana Vanessa Silva Gomes
Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas
Universidade do MinhoEscola de Psicologia
ii
Índice
Índice .......................................................................................................................................... ii
Agradecimentos ......................................................................................................................... iii
Resumo ...................................................................................................................................... iv
Introdução ................................................................................................................................... 1
Objetivos .................................................................................................................................... 6
Materiais e Método ..................................................................................................................... 7
Desenho do estudo e Participantes ......................................................................................... 7
Procedimento .......................................................................................................................... 7
Instrumentos ........................................................................................................................... 8
Estratégias de análise de dados ............................................................................................... 9
Resultados ................................................................................................................................ 10
Discussão .................................................................................................................................. 17
Figuras
Figura 1…………………………………………………………………………………….10
Tabelas
Tabela 1……………………………………………………………………………………….11
Tabela 2……………………………………………………………………………………….12
Tabela 3……………………………………………………………………………………….14
Tabela 4……………………………………………………………………………………….16
iii
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço à Doutora Eva Conceição pela preciosa orientação,
interesse, compreensão e constante disponibilidade. Pela partilha de conhecimentos, confiança
e pelo suporte com que me acompanhou ao longo da concretização deste projeto.
Ao Doutor Paulo Machado pelo apoio para que este projeto pudesse ser concretizado.
À Ana Pinto Bastos por ter sido incansável no arranque deste projeto. Pela
disponibilidade imediata e pelo incentivo demonstrado.
Um agradecimento especial aos meus pais pelo apoio constante nos momentos felizes
e pelas palavras de alento nos momentos mais difíceis. Pela atitude de incentivo e reforço no
processo de recolha de amostra.
Ao meu namorado, pela paciência e pela compreensão em muitos momentos de
ausência. Pela motivação e carinho sempre demonstrado.
À “amiga” - Dulcelina – pela escuta ativa, pelo apoio, por me tranquilizar quando
pensei no pior.
Às minhas amigas, por estarem sempre presentes e me incentivarem no percurso deste
projeto.
iv
Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas
Resumo
Comportamentos alimentares disfuncionais são frequentes em jovens, mas pouco se
sabe sobre a sua prevalência em mulheres idosas. Este estudo consiste em estudar a
prevalência pontual de comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres com 65 anos
ou mais.
Estudo de prevalência constituído por um momento de avaliação de duas fases com
342 mulheres entre os 65 e 94 anos. Na primeira fase foram administrados os instrumentos:
Mini Mental State Examination; Weight Concerns Scale; Sick, Control, One, Fat, Food;
Escala de Restrição Alimentar do Eating Disorder Examination – Questionnaire; três questões
para avaliar petisco contínuo e ingestão alimentar noturna. Mulheres que reportaram
comportamentos alimentares disfuncionais (n=118) foram selecionadas para a segunda fase e
entrevistadas com a Eating Disorder Examination.
Prevalência de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão foi de 2.4%
(0.9% para IAC; 0.3% para Bulimia Nervosa e 1.2% Perturbação da Alimentação e da
Ingestão com Outra Especificação. Prevalência de petisco continuo foi de 18.9%.
Comportamentos alimentares disfuncionais e comportamentos de controlo de peso em
idosas são pouco frequentes, mas aproximam-se dos valores encontrados em populações mais
jovens. Este estudo é um contributo para o estudo de comportamentos alimentares
disfuncionais em mulheres idosas.
Palavras-chave: prevalência; mulheres idosas; comportamento alimentar disfuncional;
petisco contínuo; preocupações com o peso e forma corporal.
v
Prevalence of Dysfunctional Eating Behaviors in Elderly Women
Abstract
Dysfunctional eating behaviors are frequent among young women. However, little is
known about its prevalence in elderly women. This study is to examine the point prevalence
of dysfunctional eating behaviors in women aged 65 or over.
This is a two staged design prevalence study. Our sample consisted of 342 women
between 65 and 94 years. In the first phase, the following screening instruments were
administered: Mini Mental State Examination; Weight Concerns Scale; Sick, Control, One,
Fat, Food; subscale Restraint of Eating Disorder Examination – Questionnaire; three
questions to assess picking or nibbling and night eating. Women who reported dysfunctional
eating behaviors (n=118) were selected for the second phase of the study and were
interviewed with the Eating Disorder Examination.
The prevalence of Feeding and Eating Disorders was 2.4% (for IAC 0.9%; for bulimia
nervosa 0.3%; and 1.2% for Other Specified Feeding or Eating Disorder). The prevalence of
picking or nibbling was 18.9%.
Dysfunctional eating behaviors and weight control behaviors in women aged 65 or
over are uncommon, but they reach rates similar to younger populations. Our study is a
contribution to the study of eating disordered behaviors in elderly women.
Keywords: prevalence; elderly women; dysfunctional eating behaviors; picking or nibbling,
weight and shape concerns.
1
Introdução
Comportamento alimentar e envelhecimento
As perturbações do comportamento alimentar (PCA) são um grupo heterogéneo de
perturbações psiquiátricas complexas, caraterizadas por comportamentos alimentares
disfuncionais que levam a uma alta taxa de morbilidade, ou mesmo à morte, caso não sejam
tratadas (Berkman, Lohr & Bulik, 2007). Problemas alimentares originam padrões
alimentares patogénicos e comportamentos de controlo alimentar que resultam de cognições
disfuncionais acerca do próprio corpo e de pensamentos que interferem com o funcionamento
diário (Midlarsky & Nitzburg, 2008).
As PCA como a anorexia nervosa, bulimia nervosa e a ingestão alimentar compulsiva
(IAC) são diagnosticadas principalmente na adolescência ou em jovens adultos, pelo que a
maioria dos estudos acerca destas perturbações têm como alvo estas faixas etárias (Luca, Luca
& Calandra, 2014). A prevalência de PCA em pessoas idosas ainda é pouco estudada. Porém,
estudos, apesar de reduzidos, evidenciam que as PCA estão presentes em mulheres na meia-
idade e idosas, podendo surgir em qualquer idade (Ferraro et al., 2008; Gagne et al., 2012;
Lewis & Cachelin, 2001;Mangweth-Matzek et al., 2006). Algo que atualmente é aceite,
embora com algum ceticismo (Luca, Luca & Calandra, 2014).
Estudos assinalam que existem mulheres na meia-idade e idosas que manifestam
perturbações alimentares com início tardio ou que foram diagnosticadas quando eram jovens e
que mais tarde recaíram (Midlarsky & Nitzburg, 2008). É considerado uma perturbação
alimentar com início tardio quando é diagnosticada a partir dos 40 anos (Guerdjikova et
al.,2012). Em Portugal a prevalência de PCA em jovens do sexo feminino é de 3,06%
(Machado, Machado, Gonçalves & Hoek, 2007). Embora os estudos sejam escassos, Gadalla
(2008) evidenciou uma prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais em
mulheres idosas canadianas de 1,8%. Ainda, no estudo de Mangweth-Matzek et al. (2006)
evidenciou uma prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres
idosas austríacas de 3,8%. Para Gagne et al. (2012) comportamentos alimentares
disfuncionais, comportamentos compensatórios, métodos purgativos e preocupações com o
peso e forma corporal estão presentes em mulheres idosas.
O comportamento alimentar mais frequente nas mulheres idosas é a IAC, com uma
prevalência de 3.5% (Gagne et al., 2012), sendo a que a frequência mínima da realização
desse comportamento pelo menos uma vez por semana (Gagne et al., 2012; Mangweth-
Matzek et al.,2006). Estudo de Guerdjikova, O’Melia, Mori, McCoy & McElroy (2012)
realizado com 20 indivíduos (65 a 77 anos) todos descrevem episódios de IAC com uma
2
média de 2,9 episódios por semana. As razões habituais associadas à ingestão alimentar
consistiam no tédio (80%), hábito (75%) e falta de força de vontade (75%) Estudo de Hay,
Mond, Buttner e Darby (2008) demonstrou que em 205 indivíduos, cerca de 6.2 % com mais
de 65 anos apresentavam IAC pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses.
No DSM - 5 (APA, 2013) já se inclui como PCA a IAC que é caracterizada por:
Comer num período curto de tempo uma quantidade de alimentos que é definitivamente
superior à que a maioria das pessoas comeria num período de tempo semelhante e nas
mesmas circunstâncias; Sensação de perda de controlo sobre o ato de comer durante o
episódio. Sem recurso a comportamento compensatórios; Pelo menos três das seguintes
características associadas ao episódio de IAC devem estar presentes: ingestão muito mais
rápida que o habitual; comer até se sentir desagradavelmente cheia; comer sozinha por se
sentir envergonhada pela sua voracidade; sentir-se desgostosa consigo própria, deprimida ou
com grande culpabilidade depois da ingestão compulsiva.
Estudo realizado por Donini et al. (2013), com 527 indivíduos idosos indicou que a
prevalência de anorexia foi de 21,2%, sendo mais elevada nas mulheres do que nos homens.
Ainda segundo estes autores, as mulheres que viviam em instituições de saúde a prevalência
de anorexia foi de 33,3%, nas que viviam em lares de idosos foi de 34,1% e as que viviam na
sua habitação foi de 3,3%. Cornali, Franzoni, Frisoni e Trabucchi (2005) referem que em 316
idosos, cerca de 50 indivíduos (15,8%) têm o diagnóstico de anorexia.
Até à data, nenhum estudo avaliou os diferentes episódios de ingestão alimentar, i.e.,
episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) e episódios de ingestão exagerada (objetiva e
subjetiva), sendo que habitualmente reportam comportamentos com base em medidas de auto-
-relato, sendo que estes tendem a sobrestimar a presença de comportamentos alimentares
desajustados.
Métodos purgativos e comportamentos compensatórios
Estudos demonstram que as mulheres de 65 ou mais anos demonstram insatisfação
com o seu peso e forma corporal, do mesmo modo que adotam comportamentos com o intuito
de perder e/ou controlar o peso. De acordo com vários estudos (Allaz, Bernstein, Rouget,
Archinard & Morabia, 1998; Gagne et al., 2012; Hay et al., 2008; Mangweth-Matzek et al.,
2006), os métodos purgativos mais utilizados por mulheres idosas consistem no uso de
diuréticos, uso de laxantes, vómito auto-induzido e jejum. Os métodos compensatórios mais
evidenciados nesta população consistem em comprimidos para emagrecer, excesso de
exercício físico, verificação de peso, restrição alimentar e dieta.
3
No estudo de Gagne et al. (2012), os comportamentos evidenciados pelas mulheres
idosas para perder/controlar o peso consistiam na utilização de comprimidos para emagrecer
(7,5%), no excesso de exercício físico (6,8%), uso de diuréticos (2,5%), uso de laxantes
(2,2%) e vómito auto-induzido (1,2%). De acordo com Mangweth-Matzek et al. (2006), os
comportamentos adotados pelas mulheres referiam-se a verificação de peso (71%), exercício
físico (69%), jejum (10%), uso de laxantes e diuréticos (6%) e vómito auto-induzido (1%).
Estudo de Hay et al. (2008) indica que em 54 mulheres com 65 ou mais anos, cerca de
20,1% apresentavam métodos purgativos semanalmente, como uso de laxantes, diuréticos e
vómito auto-induzido.
Matsumoto et al. (2001) refere que o abuso de laxantes é o comportamento mais
evidente entre os indivíduos idosos com PCA, provavelmente devido a um maior
conhecimento acerca da existência de laxantes e o seu fácil acesso. Além disso, verificou que
o recurso ao vómito auto-induzido e abuso de laxantes são menos frequentes nas mulheres
diagnosticadas com anorexia nervosa com início precoce do que nas mulheres diagnosticadas
com início tardio de anorexia nervosa.
Existem poucos estudos relativamente aos métodos purgativos e métodos
compensatórios em mulheres idosas. No entanto, estudo realizado com 715 mulheres entre os
40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas perturbação do comportamento alimentar sem
outra especificação, das quais seis após ingerir uma pequena quantidade de comida tinham
comportamentos purgatórios, nomeadamente: abuso de laxantes (duas mulheres), abuso de
diuréticos (três mulheres) e comprimidos inibidores de apetite (uma mulher)
(Mangweth‐Matzek et al., 2014).
Além de serem escassos os estudos que avaliam comportamento purgativos e
comportamentos compensatórios, na sua maioria utilizam medidas de auto relato para estudar
a prevalência desses comportamentos, bem como alguns estudos não avaliam alguns
comportamentos compensatórios como o exercício físico em excesso.
Petisco Contínuo
O petisco contínuo é um comportamento alimentar estudado recentemente, descrito
como um padrão alimentar caracterizado pela ingestão alimentar repetitiva e não planeada
entre as refeições e lanches (Conceição, Mitchell, Vaz et al., 2014). Apesar de existir na
literatura várias definições para petisco contínuo, existe uma falta de coerência em relação ao
estabelecimento de critérios de diagnóstico para avaliar este comportamento. No entanto,
existem semelhanças entre as definições, nomeadamente caracteriza-se por um
4
comportamento repetitivo em que se ingere pequenas quantidades de comida (Conceição,
Mitchell, Engel et al., 2014).
Apesar da escassa investigação acerca do petisco contínuo, este é um comportamento
que tem demonstrado uma prevalência elevada, tanto em amostras não-clínicas bem como em
indivíduos com PCA, obesos e em pessoas submetidas à cirurgia bariátrica (Conceição et al.,
2013; Conceição, Mitchell, Engel et al., 2014). O petisco contínuo demonstra uma
prevalência de 89,8 % em amostras clinicas (Masheb, Roberto & White, 2013) e de 91% em
amostras não-clinicas (Reas, Wisting, Kapstad & Lask, 2012). Estudo de Conceição et., al.
(2013) com indivíduos adultos, o petisco contínuo foi evidenciado em 44% dos indivíduos
com IAC, 57,6% em indivíduos com bulimia nervosa e 34,3% em pessoas com anorexia
nervosa. De acordo com Shadar, Shai, Vardi & Fraser (2003) demonstrou que cerca de 44,6%
das mulheres entre os 65 e 74 anos afirmavam consumir alimentos entre as refeições. Nas
mulheres com mais de 75 anos, cerca de 36% também evidenciavam este comportamento. O
petisco contínuo está associado a hábitos alimentares disfuncionais, com implicações
significativas relativamente ao peso (Conceição, Mitchell, Engel et al., 2014). Até à data não
se conhecem dados de prevalência de petisco contínuo em indivíduos com mais de 65 anos.
Ingestão Alimentar Noturna
Perante o DSM - 5 (APA, 2013) a ingestão alimentar noturna (IAN) consiste numa
categoria em estudo que se caracteriza por episódios recorrentes de ingestão alimentar antes
de deitar ou a meio da noite. O indivíduo pode ter estes episódios durante a noite, isto é,
levantar-se a meio da noite para comer, ou comer uma grande quantidade de comida antes de
dormir. Nestes episódios os indivíduos estão conscientes.
Estima-se que a prevalência de IAN na população geral é de 1,5% (Rand, Macgregor
& Stunkard,1997). De acordo com o estudo de De Zwaan, Müller, Allison, Brähler e Hilbert
(2014) com indivíduos entre os 14 e os 85 anos, demonstrou que cerca de 1,1 % da amostra
apresentava comportamentos de IAN. Mais, 6,2% da amostra referiu ingerir mais de 25% da
ingestão calórica diária após o jantar. Estudo de Andersen, Stunkard, Sørensen, Petersen e
Heitmann (2004) com indivíduos com mais de 55 anos, demostrou que a IAN é mais
prevalente em mulheres (9,1%) do que em homens (7,1%). Até à data não se conhecem dados
de prevalência de IAN em indivíduos com mais de 65 anos.
5
Preocupações com o peso e forma corporal
Com o envelhecimento as mulheres acarretam várias preocupações com a imagem
corporal, especificamente pressões sociais e culturais acerca de manter uma aparência jovem,
vontade de manter o corpo atraente e perfeccionismo. Fatores que estão significativamente
relacionados com os comportamentos alimentares disfuncionais (Hall & Driscoll, 1993;
Midlarsky & Nitzburg, 2008). Mulheres idosas estão mais vulneráveis relativamente às
preocupações com a imagem corporal influenciando a sua autoestima e a forma como estas se
auto-avaliam (Shaw, Ebbeck & Snow, 2000). Estas preocupações representam uma fonte de
angústia para a maioria das mulheres, sendo notória em mulheres idosas e associada a várias
psicopatologias como as PCA, depressão e ansiedade (Lewis & Cachelin, 2001; Tylka, 2004).
As mulheres idosas, da mesma forma que as adolescentes, estão suscetíveis à pressão
social de que o corpo da mulher deve ser magro. Assim, identificam um corpo magro como a
forma corporal atraente para os homens e socialmente aceite (Ferraro et al., 2008; Lewis &
Cachelin, 2001).
A maioria das mulheres demonstra insatisfação com o seu peso e forma corporal,
sendo que a partes do corpo com maior insatisfação consiste no estômago (Gagne et al., 2012;
Mangweth-Matzek et al., 2006). De acordo com Mangweth-Matzek et al. (2006), cerca de
60% das mulheres apresentavam insatisfação com o seu corpo, e 80% praticavam algum
método para controlar o peso. Além disso, algumas mulheres restringem a sua alimentação de
modo a evitar o aumento de peso (Gagne et al., 2012; Mangweth-Matzek et al., 2006).
Comparativamente com os homens idosos, as mulheres idosas evidenciam maior preocupação
com a sua forma corporal, despendendo mais tempo a pensar sobre a forma do corpo e peso -
mais do que uma vez por dia - e têm maior desejo de perder peso (Ferraro et al., 2008; Gagne
et al., 2012). Estudo de Guerdjikova et al. (2012) evidenciou que as mulheres com mais de 65
anos apresentam uma preocupação moderada com a sua forma corporal e com o seu peso,
revelando uma importância significativa na sua auto-avaliação.
Num estudo realizado por Allaz et al. (1998) com mulheres entre os 30 e os 74 anos de
idade, demonstrou que as mulheres apresentavam insatisfação com o peso e adotavam
comportamentos de controlo de peso, nomeadamente a realização de dieta mesmo
apresentando um peso considerado normal para a sua altura. Também demostrou que a
maioria das mulheres entre os 65 e os 74 anos de idade pretendem perder peso, mesmo que
essas mulheres apresentassem um peso normal.
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Objetivos
Estudos, apesar de escassos, sobre a prevalência de comportamentos alimentares
disfuncionais em mulheres idosas, apresentam algumas limitações. Nomeadamente o pequeno
tamanho da amostra (Guerdjikova et al., 2012), a avaliação dos comportamentos alimentares
através de questionários de auto-relato (Mangweth‐Matzek et al., 2006; Gagne et al., 2012), a
baixa validade nos resultados devido comprometimento cognitivo e morbidades médicas ou
psiquiátricas das mulheres idosas (Donini et al., 2013), bem como avaliação de IAC cingir-se
apenas à avaliação de episódios bulímicos objetivos, não avaliando outros comportamentos
disfuncionais (Guerdjikova et al., 2012; Hay et al., 2008). Além disso, alguns estudos também
não avaliam a prevalência de exercício físico excessivo (Hay et al., 2008).
Através desta metodologia, o nosso estudo pretende avaliar a presença de diferentes
episódios de ingestão alimentar disfuncional, realizando uma avaliação detalhada dos
episódios de IAC (objetivos e subjetivos) e de comportamentos que ainda não foram
estudados em mulheres com 65 ou mais anos, nomeadamente o petisco contínuo e a IAN.
Além de usarmos uma entrevista clínica, pretendemos controlar o grau de validade das
respostas através da avaliação do comprometimento cognitivo.
Assim, o principal objetivo deste trabalho será realizar um estudo de prevalência
pontual de modo a analisar a prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais e
preocupações com o peso e forma corporal em mulheres com 65 anos ou mais. Assim sendo,
este estudo tem como objetivos específicos: (1) Avaliar a prevalência de episódios de ingestão
alimentar compulsiva, especificamente pretende-se avaliar o número de dias por mês com
presença de episódios bulímicos objetivos, episódios bulímicos subjetivos, episódios de
ingestão exagerada objetiva e episódios de ingestão exagera subjetiva; (2) Avaliar prevalência
de petisco contínuo; (3) Avaliar prevalência ingestão alimentar noturna; (4) Avaliar a
presença de comportamentos purgativos, nomeadamente a indução de vómito; utilização de
laxantes; e utilização de diuréticos (5) Avaliar a presença de comportamentos compensatórios,
especificamente o jejum e o exercício físico excessivo; (6) Avaliar a preocupação com peso e
forma corporal, nomeadamente a preocupação com o peso preocupação com a forma corporal,
medo de engordar e o sentimento de estar gorda.
O presente estudo propõe-se a ultrapassar as limitações dos estudos anteriores
avaliando diferentes comportamento alimentares desajustados e estabelecer diagnósticos de
comportamento alimentar de acordo com o DSM - 5, através de uma entrevista clínica semi-
estruturada “gold-standard” para avaliação e diagnóstico de perturbações do comportamento
alimentar.
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Materiais e Método
Desenho do estudo e Participantes
Estudo de prevalência pontual constituído por duas fases que decorre num único
momento de avaliação sobre a prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais.
Foram adotados como seguintes critérios de inclusão: sexo feminino; idade igual ou superior
a 65 anos; e nacionalidade portuguesa. Como critérios de exclusão definiram-se: condições
cognitivas que impossibilitem a resposta de forma autónoma e consciente aos instrumentos;
situações de surdez e situações de deterioração cognitiva.
Procedimento
Para a recolha de dados, foi selecionada uma amostra de mulheres da Ilha Terceira,
nos Açores. Na Ilha Terceira existem cerca de 8048 indivíduos (4782 mulheres) com 65 ou
mais anos. A amostra foi recolhida no Centro de Saúde de Praia da Vitória, em 23 centros de
convívio das duas cidades da Ilha Terceira e na Universidade Sénior de Angra do Heroísmo.
Em primeiro lugar foram efetuados pedidos de autorização nos locais de recolha da
amostra. Foi acordado com o Conselho de Administração do centro de saúde da Praia da
Vitória o procedimento a utilizar, i.e., o convite para participar foi feito às participantes pela
investigadora na sala de espera antes da consulta médica. Foi decidido o dia/hora semanal
onde teve lugar a recolha. A investigadora explicou às participantes como será o estudo, assim
como as questões éticas associadas à participação. As que aceitaram participar, a recolha teve
lugar nas salas de espera. Nos Centros de Convívio e na Universidade Sénior foi marcado
dia/hora para proceder à recolha dos dados. Nesses dias, foi facultado às participantes um
esclarecimento individual acerca da investigação e de todas as questões associadas à
participação, ficando ao entender das participantes participar ou não.
Na primeira fase foi apresentado o estudo e os seus objetivos de forma individual a
todas as mulheres com 65 ou mais anos que estavam presentes no Centro de Saúde da Praia
da Vitória, nos Centros de Convívio e na Universidade Sénior, nos dias que a investigadora se
dirigiu aos locais. Após as participantes assinarem o protocolo de consentimento informado
foi-lhes administrado um teste de screening inicial para identificação de comprometimento
cognitivo sério que impedisse a participação no estudo.
As mulheres que não apresentassem deterioração cognitiva foi-lhes administrada a
seguinte bateria de testes de rastreio: WCS; SCOFF; Escala de Restrição Alimentar do EDE;
uma pergunta acerca do petisco contínuo; e duas sobre a ingestão alimentar noturna.
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Para a segunda fase do estudo, foram selecionadas todas as participantes que
preenchiam pelo menos um dos seguintes critérios: uma ou mais respostas afirmativas no
SCOFF; pelo menos uma resposta afirmativa numa das perguntas acerca do petisco contínuo
ou ingestão alimentar noturna; valores superiores a 52 pontos na WCS; pontuação igual ou
superior a 3 pontos na subescala da restrição alimentar do EDE.
As mulheres que foram selecionadas para a segunda fase do estudo foram
entrevistadas para confirmação da presença de comportamento alimentar disfuncional. Todas
as entrevistas foram realizadas pela investigadora, tendo esta sido treinada para utilizar a
entrevista clínica. Além disso, todos os resultados das entrevistas foram discutidos pelo um
grupo de investigadores com experiência clínica nas PCA.
A recolha realizou-se individualmente, apenas com a investigadora e a participante.
Devido à possibilidade das participantes não saberem escrever e/ou ler ou exibirem
dificuldades em fazê-lo, a administração dos questionários foi oral a todas as participantes.
Instrumentos
Questionário sociodemográfico. Teve o intuito de avaliar variáveis como a idade,
estado civil, escolaridade, se tem filhos, história de peso, se tem problemas de saúde, cuidados
com a alimentação devido a problemas de saúde, com quem vive e como costuma passar o
dia.
Instrumentos para a primeira fase.
Mini Exame do Estado Mental (MMSE). Usado para screening de comprometimento
cognitivo na primeira fase. Desenvolvido por M. Folstein, S. Folstein e McHugh (1975),
adaptado para a população portuguesa por Guerreiro et. al. (1994) Utilizado para detetar
alterações cognitivas, principalmente nas populações geriátricas. Constituído por 30 questões
divididas em seis domínios: orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e
habilidade construtiva. Apresenta boas propriedades psicométricas demonstrando um alfa de
cronbach de 0.89 (Guerreiro et. al. 1994).
Weight Concerns Scale (WCS). Desenvolvida por Killen et al. (1994) e avalia as
preocupações e os comportamentos acerca do peso e forma corporal. Composta por cinco
perguntas acerca da preocupação com o peso e forma corporal, medo de engordar, história de
dieta, sentimentos de estar gorda e importância do peso. A pontuação total pode variar de zero
a 100 pontos, sendo que zero indica que não existe preocupação com o peso e 100 indica uma
preocupação máxima. Demonstra uma excelente fidelidade teste-reteste (r = 0,71) (killen et
9
al., 1994) e o alfa de cronbach foi de 0,82 numa amostra de mulheres (C.M. Markey, P.M.
Markey & Birch, 2001).
SCOFF Questionnaire. Desenvolvido por Morgan, Reid e Lacey (1999) e com
contribuição para a validação para a população portuguesa por Lima (2012). Instrumento de
rastreio simples que pretende avaliar a hipótese da existência de uma PCA. Constituído por
cinco questões, em que as respostas são dicotómicas acerca das características principais das
PCA (Morgan et al., 1999). Revelou propriedades psicométricas aceitáveis na amostra
portuguesa, apresentando um alfa de cronbach de 0.64, evidenciando uma boa consistência
interna, dado o número de itens do instrumento (Lima, 2012).
Eating Disorder Examination - Questionnaire (EDE-Q). Desenvolvido por Fairburn e
Beglin (1994) e adaptado para a população portuguesa por Machado (2007). Avalia sintomas
das PCA ao longo dos últimos 28 dias e é composto por quatro subescalas: restrição
alimentar, preocupação alimentar, preocupação com a forma e preocupação com o peso. Para
esta investigação foi apenas utlizada a subescala da restrição alimentar. A subescala da
restrição alimentar demonstra um alfa de Cronbach de 0,74.
Entrevista para a segunda fase.
Eating Disorder Examination. Entrevista estandardizada direcionada para as PCA, de
acordo com os critérios do DSM-IV-TR. Desenvolvida por Fairburn e Cooper (2000).
Foram utilizadas questões para identificar episódios bulímicos e outros episódios de
ingestão exagerada; Módulo para a avaliação de petisco continuo; módulo para a avaliação de
ingestão alimentar noturna; módulo para a avaliação de comportamentos compensatórios e
métodos purgativos e módulo de preocupação com o peso e forma corporal. É considerado
um método de avaliação rigoroso com índices excelentes de consistência interna, de
fidelidade teste-reteste, e de validade discriminante e concorrente (Fairburn & Cooper, 2000).
Estratégias de análise de dados
O tratamento e análise estatística dos dados foram executados através do programa
Statistical Package for Social Sciences, versão 20. Foi utilizado o nível de significância de 5%
(p=0,05).
O IMC foi calculado através da seguinte fórmula: (peso/(altura*altura)). A prevalência
relativamente aos comportamentos alimentares disfuncionais foi acompanhada por intervalos
de confiança de 95% (95% - CI). Foram realizadas análises de estatísticas descritivas,
nomeadamente frequências e descritivas.
10
Resultados
Primeira fase
Na primeira fase do estudo foram inquiridas 342 mulheres com 65 ou mais anos que
estavam presentes nos dias em que a investigadora se dirigiu aos locais de recolha da amostra.
A figura 1 representa o número de participantes na primeira e segunda fase da
investigação. Na primeira fase, cerca de 4 mulheres não prosseguiram a entrevista devido à
existência de detioração cognitiva. Foram aplicados todos os instrumentos da primeira fase a
338 mulheres, e 118 mulheres preencheram os critérios de inclusão para a segunda fase da
investigação, tendo sido alvo de uma entrevista clínica semi-estruturada.
Figura 1- Fluxograma dos participantes na primeira e segunda fase.
Total de avaliados
N=342
Cumpriram os critérios de inclusão
N=338
Casos selecionados para a fase 2
N=118 (34,9%)
Casos que não foram selecionados para a fase
2
N= 220 (65,1%)
Excluidos por não cumprirem critérios de
inclusão (MMSE)
N=4 (1,2%)
11
A tabela 1 demonstra-nos o número de participantes que foram selecionados através
dos critérios de inclusão para a segunda fase do estudo, assim como a média e desvio padrão
dos scores dos questionários relativamente à população total avaliada.
Tabela 1. Caracterização da amostra avaliada na primeira fase do estudo: número e
percentagem das 338 participantes que cumpriam cada um dos critérios de inclusão
para a segunda fase do estudo; média e desvio padrão dos scores dos questionários
relativamente à população total avaliada.
Nota. EDE-Q = Eating Disorder Examination – Questionnaire; SCOFF = Sick, Control, One,
Fat, Food; WCS= Weight Concerns Scale; IAN = Ingestão Alimentar Noturna.
A idade das 338 participantes na primeira fase da investigação variou entre os 65 e os
94 anos, sendo a média de idades de 72.5 anos (SD=6.5). Relativamente à caracterização
socio-demográfica das participantes, no que concerne ao estado civil, a maioria das mulheres
eram casadas ou viviam com um companheiro (54.2%) e viúvas (36.4%), sendo que cerca de
93.8% tinham filhos. Relativamente ao nível de escolaridade, cerca de 62.1% tinham o 1º
ciclo do ensino básico ou completado o ensino primário; 23.1% das mulheres eram
analfabetas; 6.8% concluíram o 2º ciclo do ensino básico; 3.6% completaram o 9º ano; 3.6%
detinham o 12º ano e 0.9% frequentaram o ensino superior.
A maioria das mulheres afirmam passar o dia com o marido ou companheiro (31.1%),
outras 25.4% referem passar o dia num centro de convívio; 15.7% dizem ficar sozinhas;
22.2% mencionam passar o dia com amigos ou familiares; 0.9% expõe que ainda trabalham.
Relativamente à existência de problemas de saúde, cerca de 83.4% assegura ter problemas de
saúde, pelo que 41.1% menciona apresentar mais do que um problema de saúde. Ainda,
N= 338 N (%) Média Desvio
Padrão
EDE- Q Escala de restrição
alimentar
10 (3) 0,29 0,17
SCOFF 47 (14) 0,14 0,35
WCS 2 (1,7) 0,17 0,13
Petisco Contínuo 68 (20,1) - -
IAN 1 (0,3) - -
12
59.8% refere ter cuidado com a alimentação devido aos problemas de saúde e 24.3% cita não
ter cuidado com a alimentação devido a problemas de saúde.
O Índice de Massa Corporal (IMC) variou entre 18.4 e 69.3 (M = 29.4; SD=5). Cerca
de 3.1% encontra-se desnutrida; 6.8% encontra-se em risco de desnutrição; 25.6 % encontra-
se em eutrofia; 38.9% encontra-se pré-obesa; 22.2% encontra-se com obesidade e 3,4%
encontra-se com obesidade severa.
Segunda fase
A tabela 2 demonstra-nos o número e percentagem de mulheres que apresentaram os
diferentes episódios de ingestão alimentar, de entre as 118 mulheres que foram selecionadas
para a segunda fase da investigação. Além disso, mostra os resultados da entrevista EDE
relativamente à caracterização de comportamentos alimentares disfuncionais pelo menos uma
vez no último mês e pelo menos quatro vezes por mês nos últimos três meses.
Tabela 2. Número e percentagens das 118 mulheres avaliadas na segunda fase do estudo
relativamente aos comportamentos alimentar disfuncionais.
N=118 Número de pessoas
em que ocorreu pelo
menos uma vez no
último mês (%)
Número de pessoas em
que ocorreu pelo menos
quatro vezes por mês nos
últimos três meses (%)
Episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) 19 (16.1) 12 (10.2)
Episódios bulímicos objetivos 12 (10.2) 6 (5.1)
Episódios bulímicos subjetivos 8 (6.8) 4 (3.4)
Episódios de ingestão exagerada (objetiva e
subjetiva)
21 (17.8) 14 (11.9)
Episódios de ingestão exagerada
objetiva
4 (3.4) 4 (3.4)
Episódios de ingestão exagerada
subjetiva
17 (14.4) 10 (8.5)
Petisco contínuo 64 (54.2) 55 (46.6)
Síndrome de Ingestão Alimentar Noturna 0 0
13
Ingestão Alimentar Compulsiva e Episódios de Ingestão Exagerada
Tendo em conta as 338 participantes avaliadas, cerca de 6% evidenciavam episódios
bulímicos (objetivos e subjetivos) pelo menos uma vez no último mês. Além disso, cerca de
3,5% evidenciam pelo menos um episódio bulímico (objetivos e subjetivos) por semana nos
últimos três meses.
Estima-se uma prevalência de 3.6% de episódios bulímicos objetivos ocorridos pelo
menos uma vez no último mês, sendo a média de 8 episódios por mês (SD= 6). A prevalência
de episódios bulímicos subjetivos ocorridos pelo menos uma vez no último mês foi de 2,4%,
sendo que, de entre os participantes que reportaram estes episódios, a média de episódios por
mês de 7.5 (SD=8).
Das 338 participantes, 6.1% evidenciou Episódios de Ingestão Exagerada (objetivos e
subjetivos) pelo menos uma vez no último mês. Além disso, cerca 4.1% evidenciava pelo
menos um episódio de ingestão exagerada (objetivo ou subjetivo) por semana nos últimos três
meses.
Estima-se uma prevalência de 1.1% de episódios de ingestão exagerada objetivos
ocorridos pelo menos uma vez no último mês, pelo que a média desses episódios é de 10,5
(SD=7.5). Relativamente aos episódios de ingestão exagerada subjetivos estima-se uma
prevalência de 5% sendo que este comportamento acontecia pelo menos uma vez no último
mês, pelo que, de entre os participantes que reportaram estes episódios, a média desses
episódios é de 10.5 (SD=7,3).
Petisco contínuo
Do total das 338 mulheres inquiridas, 18.9% apresentam a presença de petisco
contínuo pelo menos uma vez no último mês. E cerca de 16.3% apresentam a presença de
petisco contínuo pelo menos quatro vezes nos últimos três meses.
Das 64 participantes que evidenciavam petisco contínuo, a média do número de dias da
ocorrência desses episódios é de 13.7 (SD=6.5) dias no último mês. A média do número de
dias da ocorrência desses episódios nos últimos três meses é de 12.7 (SD=7.3). Além disso,
cerca de 42.2% das participantes apresentam a presença desse comportamento com uma
ocorrência de 5 vezes por semana. Ainda, 23.4% evidenciam esse comportamento cerca de 12
dias do mês, pelo que ocorre cerca de 3 vezes por semana
14
Síndrome de Ingestão Alimentar Noturna
Não foram detetados casos de mulheres que evidenciavam síndrome de ingestão
alimentar noturna.
Utilização de métodos purgativos e compensatórios
A tabela 3 demonstra-nos o número e percentagens de mulheres que apresentaram
métodos purgativos e compensatórios, de entre as 118 mulheres que foram selecionadas para
a segunda fase da investigação. Além disso, mostra os resultados da entrevista EDE
relativamente à ocorrência de métodos purgativos e compensatórios pelo menos uma vez no
último mês e pelo menos quatro vezes por mês nos últimos três meses.
Tabela 3. Número e percentagens das 118 mulheres relativamente aos métodos
compensatórios e purgativos.
N=118 Número de pessoas em que
ocorreu pelo menos uma vez
no último mês (%)
Número de pessoas em que
ocorreu pelo menos quatro
vezes por mês nos últimos três
meses (%)
Jejum relacionado com o peso 3 (2.5) 2 (1.69)
Jejum não relacionado com o
peso
14 (11.8) 8 (6.8)
Vómito auto-induzido
relacionado com o peso
1 (0.8) 1 (0.8)
Vómito auto-induzido não
relacionado com o peso
6 (5.1) 0
Utilização de laxantes
relacionados com o peso
1 (0.8) 0
Utilização de laxantes não
relacionados com o peso
22 (18.6) 6 (5.1)
Utilização de diuréticos
relacionados com o peso
0 0
Utilização de diuréticos não
relacionados com o peso
10 (8.5) 9 (7.6)
Exercício físico excessivo 0 0
15
No total das 338 participantes, os métodos mais utilizados de controlo de peso
consistiram no recurso ao jejum (0,9%), o vómito auto-induzido (0,3%) e a utilização de
laxantes (0.3%). Todos estes comportamentos aconteceram pelo menos uma vez no último
mês.
Estes métodos também foram evidenciados pelas participantes, não estando
relacionado com o peso, especificamente 4.1% das participantes evidenciou fazer jejum pelo
menos uma vez no último mês, e 2.4% indica fazer jejum pelo menos quatro vezes nos
últimos três meses; 1.8% refere provocar o vómito devido a desconforto físico pelo menos
uma vez no último mês; Cerca de 6.5% menciona utilizar laxantes devido a obstipação pelo
menos uma vez no último mês e 1.8% indica utilizar laxantes pelo menos quatro vezes por
mês nos últimos três meses; 3% refere utilizar diuréticos não relacionados com o peso pelo
menos uma vez no último mês, essencialmente por prescrição médica, da mesma forma que
2.7% indica utilizar diuréticos pelo menos quatro vezes nos últimos três meses.
Apesar de não se ter encontrado dados de mulheres que mencionavam realizar
exercício físico excessivo, cerca de 14.2% (N=48) faziam exercício físico regularmente.
Perturbações da Alimentação e da Ingestão
Tendo em conta as 338 participantes avaliadas, e de acordo com os dados obtidos
através da entrevista EDE, foi possível realizar diagnósticos de Perturbações da Alimentação
e da Ingestão de acordo com os critérios de diagnóstico segundo o DSM - 5.
Verificou-se uma prevalência de 0.9% de Ingestão Alimentar Compulsiva (N=3). A
gravidade desses episódios, caracterizada pela frequência dos episódios de ingestão
compulsiva, foi de ligeira (cerca de 8 a 13 episódios por semana) para uma dessas mulheres;
moderada (cerca de 4 a 7 episódios por semana) para uma mulher; e grave (cerca de 8 a 13
episódios por semana) para a outra mulher.
Estima-se a prevalência de 0.3% de Bulimia Nervosa (N=1), pelo que o nível de
gravidade é ligeiro uma vez que em média, ocorriam 2 episódios de comportamentos
compensatórios, i.e., jejum relacionado com o peso por semana. Esta mulher preenchia dois
critérios de diagnóstico de acordo com o DSM - 5.
Prevê-se uma prevalência de 1.2% (N=4) de diagnóstico de Perturbação da
Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação. Estima-se a prevalência de 0.9 % (N=3)
de Perturbação de ingestão alimentar compulsiva de baixa frequência, pelo que todos os
critérios para perturbação de ingestão alimentar compulsiva estavam presentes, exceto o fato
de que a ingestão compulsiva ocorre, em média, menos do que uma vez por semana e durante
16
menos de três meses. Além disso, prevê-se uma prevalência de 0.3% (N=1) Bulimia Nervosa
de baixa frequência, em que todos os critérios para bulimia nervosa estão presentes, exceto o
fato de que a ingestão compulsiva e os comportamentos compensatórios inapropriados
ocorrem, em média, menos do que uma vez por semana durante menos três meses.
Preocupação com o peso e forma corporal
A preocupação com o peso e forma corporal foi avaliada através da entrevista EDE
que continha os seguintes itens de avaliação: importância com o peso, importância da forma
corporal, medo de ganhar peso e sentimento de estar gorda no último mês.
A tabela 4 demonstra-nos a caracterização da amostra relativamente à importância do
peso e forma corporal.
Tabela 4. Número e percentagens das 118 mulheres relativamente aos níveis de
importância com o peso e forma corporal.
N=118 Importância com o peso
N (%)
Importância com a forma
corporal N (%)
Sem importância 24 (20.3) 58 (49.2)
Pouca importância 11 (9.3) 16 (13.6)
Alguma importância 7 (5.9) 8 (6.8)
Importante 9 (7.6) 5 (4.2)
Importância moderada 21 (17.8) 10 (8.5)
Importância moderada-extrema 27 (22.9) 12 (10.2)
Importância extrema 20 (16.9) 10 (8.5)
De acordo com a tabela 4 no que diz respeito à importância que as participantes
atribuíam ao seu peso, cerca de 22.9% preocupa-se de forma moderada-extrema, ou seja,
consideram que o peso é um aspeto claro na sua auto-avaliação; 20.3% refere que o peso não
tem qualquer importância na forma como se auto-avaliam. Além disso, para 20 participantes
(16.9%) o peso é um aspeto crucial na sua auto-avaliação, pelo que não existe nada mais
importante que o peso. A média de preocupação com o peso das 118 participantes consiste em
3,2 (SD=2.19), que resulta numa importância moderada com o peso.
17
Quanto à importância da forma corporal, 49.2% indica que a forma do corpo não tem
qualquer importância para a sua auto-avaliação, referindo que existe aspetos da sua vida
claramente mais importantes do que a forma corporal. Cerca de 10 participantes (8.5%) indica
que nada é mais importante do que a forma corporal no seu esquema de auto-avaliação. A
média de importância com a forma corporal consiste em 1.7 (SD=2.16), que reporta uma
pouca importância com a forma corporal.
Relativamente ao medo de ganhar peso, 25.2% não apresenta medo de engordar ou de
ganhar peso; 20.2% apresenta medo claro de ganhar peso em 1 a 5 dias no último mês; 5.9%
indica medo de engordar ou ganhar peso em menos de metade dos dias no último mês; 8.4%
refere medo claro de engordar ou ganhar peso em metade dos dias; 9.2% indica medo claro de
engordar ou ganhar peso em mais de metade dos dias no último mês; 9.2% também refere
medo de engordar ou ganhar peso quase todos os dias no último mês; e 21.8% refere medo
claro de engordar ou ganhar peso quase todos os dias no último mês. Das 118 mulheres
entrevistadas na segunda fase, o medo de engordar consiste numa média de 2.7 (SD=2.35),
que reporta num medo de engordar em metade dos dias no último mês.
No que concerne ao sentimento de estar gorda, 31.1% refere não ter esse sentimento;
12.6% refere que se sentiu gorda em 1 a 5 dias; 7.6% sentiu-se gorda em menos de metade
dos dias; 8.4% sentiu-se gorda em metade dos dias; 5% sentiu-se gorda em mais de metade
dos dias; 14.3% sentiu-se gorda quase todos os dias: e 21% sentiu-se gorda todos os dias. Das
118 mulheres entrevistadas na segunda fase, a média de sentimento de estar gorda consiste em
2.7 (SD=2.4), que consiste num sentimento de estar gorda em menos de metade dos dias no
último mês.
Discussão
Esta investigação consiste no primeiro estudo a utilizar uma entrevista clínica com o
intuito de avaliar comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres com 65 ou mais
anos. Este método de recolha de amostra é eficaz, tendo em conta estudos que avaliam o
comportamento alimentar regularmente utilizam questionários de auto-relato, resultando num
número considerável de falsos positivos (Celio,Wilfley, Crow, Mitchell, & Walsh, 2004).
O nosso estudo demonstrou uma prevalência de Perturbações do Comportamento Alimentar e
da Ingestão de acordo com o DSM - 5 em mulheres com 65 ou mais anos de 2.4%. A nossa
prevalência de diagnóstico de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão é
inferior ao encontrado noutro estudo semelhante que avaliava mulheres entre os 60 e 70 anos
(Mangweth‐Matzek et al., 2006).
18
A prevalência de IAC no nosso estudo foi de 0.9%, para a Bulimia Nervosa foi de
0.3% e para Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação foi de 1.2%
(0.9 % para perturbação de ingestão alimentar compulsiva de baixa frequência e 0.3% para
bulimia nervosa de baixa frequência). No estudo de Machado et al. (2007) foi utilizado uma
metodologia idêntica em mulheres jovens, que indicou prevalências superiores ao nosso
estudo nos diagnósticos de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão (3.06%)
e de anorexia nervosa (0.39%). No entanto, o nosso estudo e o estudo de Machado et al.
(2007) indicam prevalências de bulimia nervosa idênticas (0.3%). Porém, a prevalência
pontual para bulimia nervosa no nosso estudo encontra-se inferior em comparação a um
estudo com mulheres na meia-idade (0.6%) (Mangweth‐Matzek et al., 2014). Similarmente
aos resultados de Mangweth‐Matzek et al. (2014), não foram detetados casos de anorexia
nervosa.
A prevalência pontual de IAC foi maior no nosso estudo comparativamente ao estudo
de Mangweth‐Matzek et al. (2014) que indicou uma prevalência de 0.7%. No estudo de Hay
et al. (2008) que incluía mulheres com 65 anos ou mais, foi encontrada uma prevalência
superior à do nosso estudo (6.2%), apesar de também utilizar uma entrevista clínica. O nosso
estudo revelou uma prevalência de IAC semelhante às encontradas em populações mais
jovens portuguesas e em estudos em diferentes países que variam entre 0.5 a 1.9 (Kessler, et
al., 2013; Ribeiro et al., 2014).
Para o diagnóstico das Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão
foram utilizados os critérios de diagnóstico do DSM - 5. Contudo, no que concerne ao
diagnóstico da Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva, o critério C., descrito como
mal-estar marcado ao recordar as ingestões alimentares, no nosso estudo o mal-estar foi
avaliado como moderado e não marcado.
O nosso estudo é o primeiro a avaliar e a caracterizar os diferentes episódios de
ingestão alimentar, i.e., episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) e episódios de ingestão
exagerada (objetiva e subjetiva) em mulheres com 65 ou mais anos, que não preenchem os
critérios de diagnóstico no DSM - 5.
Os nossos resultados demonstram uma prevalência pontual considerável (12.1%) de
comportamentos alimentares disfuncionais quanto aos episódios de ingestão alimentar. A
prevalência pontual de episódios bulímicos foi de 6% (3.6% para episódios bulímicos
objetivos e 2.4% para episódios bulímicos subjetivos). Todos estes indivíduos apresentavam
perda de controlo e, de acordo com Niego, Pratt e Agras (1997), esta é a caracteística mais
relevante nos episódios de ingestão alimentar compulsiva, por estar associada a níveis
19
elevados de comprometimento psicológico, independentemente da quantidade ingerida. A
prevalência de episódios de ingestão exagerada (objetivos e subjetivos) foi de 6.1% (1.1%
para episódios de ingestão exagerada objetivos e 5% para episódios de ingestão exagerada
subjetivos). Estas participantes não apresentavam perda de controlo, sendo a única diferença
entre os episódios a quantidade de alimentos ingeridos.
No nosso estudo não foram encontrados dados de prevalência de ingestão alimentar
noturna, contrariamente aos dados encontrados por DeZwaan et al. (2014) que encontrou uma
prevalência de 1.1% em indivíduos entre os 14 e 85 anos. O nosso estudo foi o primeiro a
avaliar a existência de ingestão alimentar noturna em mulheres com 65 ou mais anos. Porém,
seria fundamental mais investigação de forma a avaliar este comportamento em mulheres
idosas.
Os nossos resultados sugerem que o petisco contínuo é um comportamento alimentar
frequente nas mulheres com 65 anos ou mais, evidenciando uma prevalência de 18.9%.
Devido ao escasso número de investigações relativamente ao petisco contínuo é fundamental
que exista mais investigação epidemiológica acerca deste comportamento. Porém, dados de
frequência encontrados por Reas et al. (2012) demonstra uma prevalência elevada numa
amostra não clínica de mulheres jovens (91%) O nosso estudo é o primeiro a reportar este
comportamento em mulheres idosas.
Os nossos resultados evidenciam que o comportamento de controlo de peso mais
presente nas mulheres com 65 ou mais anos consiste no recurso ao jejum (0.9%),
comportamento que ocorria pelo menos uma vez no último mês. Este resultado é muito
inferior ao encontrado nos Mangweth-Matzek et al. (2006) que reportaram que cerca de
4.14% das participantes recorriam ao jejum não relacionado com o peso. Apesar de não ter
sido estudado, as principais razões que as participantes evidenciam para o recurso do jejum
consistiam no esquecimento, não sentir fome, e não ter vontade de cozinhar e/ou comer
sozinha. Não foi encontrado estudos de forma a comparar estes resultados.
Cerca de 0.3% das participantes recorriam ao vómito auto-induzido (pelo menos uma
vez no último mês) como método de controlo de peso, dados semelhantemente encontrados
por Gagne et al. 2012 relativamente a pessoas com 65 ou mais anos e inferior ao encontrado
por Mangweth-Matzek et al. (2006).
Além disso, o nosso estudo indicou que cerca 1.8% das participantes recorriam ao
vómito auto induzido não relacionado com o peso, como forma de aliviar o desconforto físico.
Não foram encontrados dados de mulheres que utilizavam diuréticos relacionados com o
peso, contrariamente ao que acontece no estudo de Gagne et al. (2012) que refere que 0.3%
20
dos indivíduos com 65 ou mais anos demonstravam esse comportamento. Os nossos
resultados evidenciam que cerca de 5.3% utilizam diuréticos não relacionados com o peso,
referindo ter sido prescrito pelo médico, especialmente nas mulheres com hipertensão.
Contrariamente ao que acontece noutros estudos (Gagne et al., 2012) os nossos
resultados não reportaram mulheres que recorriam a exercício físico excessivo. Porém, cerca
de 14.2% das mulheres praticavam exercício físico regularmente, dados que vão de encontro
ao estudo de Shahar, Shai, Vardi e Fraser (2003).
A maioria das mulheres entrevistadas na segunda fase do estudo apresentava
preocupação moderada-extrema com o seu peso, semelhantemente aos resultados de outras
investigações (Allaz et al., 1998; Guerdjikova et al., 2012). As razões pelas quais estas
mulheres davam importância ao peso consistiam no forte impacto que o peso tem na sua auto-
avalição (Guerdjikova et al., 2012), bem como a associação da importância do peso a
questões de saúde, como por exemplo a dificuldades em andar, como o impacto que a falta de
saúde poderá ter nos familiares.
Conclusão
Os resultados do nosso estudo acerca dos comportamentos alimentares disfuncionais,
comportamentos de controlo de peso e preocupações com o peso e forma corporal em
mulheres com 65 anos ou mais, sugerem que as Perturbações do Comportamento Alimentar e
da Ingestão estão presentes em mulheres idosas, da mesma forma que os comportamentos
alimentares disfuncionais. Além disso, o nosso estudo é um contributo no que diz respeito ao
estudo do petisco contínuo, sendo este comportamento bastante frequente nas mulheres
idosas. Apesar das preocupações com o peso e forma corporal estarem presentes, o nosso
estudo demonstrou uma importância elevada com o peso e pouca importância relativamente à
forma corporal.
Esta investigação apresenta algumas limitações nomeadamente o reduzido tamanho da
amostra. No entanto, corresponde a 7.1% das mulheres com 65 ou mais anos da Ilha Terceira;
não ter sido avaliado a verificação de peso, pelo que no decurso das entrevistas realizadas foi
possível identificar mulheres que se pesavam com regularidade. Para investigações futuras
seria interessante associar variáveis psicológicas (stresse, ansiedade e depressão) e variáveis
de qualidade de vida aos comportamentos alimentares disfuncionais.
21
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