Top Banner
Capital extrangeiro nos meios de comunicação PÁGINAS 8 e 9 Vitórias dos jornalistas na Justiça PÁGINA 3 Ação sindical Dr. Rosinha J o r n al d o S i n di c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i on a i s d o P ar a n á - Nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o - ISSN 1517-0217 [email protected] http://www.sindijorpr.org.br Contra as alterações das leis trabalhistas PÁGINAS 14 Greve nacional II Fórum Social Mundial Por uma comunicação diferente PÁGINAS 22 a 25 O diploma é constitucional Arquivo Extra Pauta Mauri König O recordista de prêmios do Paraná PÁGINAS 20 e 21 Reforma gráfica Jornais do Paraná mudam o visual PÁGINAS 12 e 13 A exigência de Curso Superior para o exercício da profissão de jornalista é constitucional e deverá ser mantida. A suspensão da liminar da juíza Carla Rister não foi concedida num primeiro momento, mas deverá acontecer no julgamento do recurso, que vai ocorrer a qualquer momento, segundo a assessoria jurídica da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). PÁGINAS 16 a 18 CORREIOS IMPRESSO ESPECIAL 3600137940-DR/PR SIND. DOS JORNALISTAS Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.
32
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Extra Pauta Ed. 57

Capital extrangeiro nosmeios de comunicação

PÁGINAS 8 e 9

Vitórias dosjornalistas

na JustiçaPÁGINA 3

Ação sindical

Dr. Rosinha

J o r n al do S i n di c a t o dos J o r n a l i s t as P r o f i s s i on a i s do P ar a n á - Nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o - ISSN 1517-0217

s i n d i j o r @ s i n d i j o r p r . o r g . b r

h t t p : / / w w w . s i n d i j o r p r . o r g . b r

Contra as alteraçõesdas leis trabalhistas

PÁGINAS 14

Greve nacional

II Fórum Social Mundial

Por uma comunicaçãodiferente

PÁGINAS 22 a 25

O diploma éconstitucionalArquivo Extra Pauta

Mauri König

O recordista deprêmios do Paraná

PÁGINAS 20 e 21

Reforma gráfica

Jornais do Paranámudam o visual

PÁGINAS 12 e 13

A exigência de CursoSuperior para o exercício daprofissão de jornalista éconstitucional e deverá sermantida. A suspensão daliminar da juíza Carla Risternão foi concedida numprimeiro momento, masdeverá acontecer nojulgamento do recurso, quevai ocorrer a qualquermomento, segundo aassessoria jurídica daFederação Nacional dosJornalistas (Fenaj).

PÁGINAS 16 a 18

CORREIOSIMPRESSO ESPECIAL3600137940-DR/PR

SIND. DOS JORNALISTAS

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 2: Extra Pauta Ed. 57

2 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

editorial

Extra Pauta é órgão de divulgação oficial da gestãoExtra Pauta, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais

do Paraná. Endereço: Rua José Loureiro, 211,Curitiba/Paraná. CEP 80010-140. Fone/Fax (041)

224-9296. E-mail: [email protected]

Jornalista ResponsávelMário Messagi Júnior

Reg. prof. 2963/11/101z

exp

edie

nte Reda ção

Casemiro Eugênio [email protected]

Colabo raram nesta ed içãoAlexandre Palmar, Douglas Furiatti, Emerson de Cstro Firmo,

Gil Castello Branco, Marcelo Lima, Mário Mesagi Júnior,Rogério Galindo, Silvio Rauth Filho.

Fo togra f iasJosé Suassuna, Carlos Gomes.

I lu s t raçõesSimon Taylor

Ed ição Gráf i caLeandro Taques

T i ra gem3.000 exemplares

As matérias deste jornal podem serreproduzidas, desde que citada a fonte. Não são

de responsabilidade deste jornal os artigos deopinião e as opiniões emitidas em entrevistas,por não representarem, necessariamente, a

opinião de sua diretoria.

Mario Messagi Júnior

Acrise da imprensa é nacional. Vários jornais,no Brasil todo, estão reduzindo custos edemitindo profissionais. A crise da imprensa no

Paraná talvez pudesse ser interpretada como apenas a facetaestadual desta crise. Mas não é bem assim. Por mais que osempresários paranaenses atribuam a crise à subida do dólar,o aumento do preço do papel e à retração do mercadopublicitário, é necessário interpretar estas causas de maneiraadequada.

Retração no mercado publicitário deixa entender que,em função de fatores econômicos, as empresas estãoinvestindo menos em anúncios. Vale ressaltar, no entanto,que os governos estadual e municipais são os maioresanunciantes. A crise da imprensa paranaense tem relaçãodireta com a crise no governo.

O governo do PFL, nos últimos sete anos, quebrou oEstado, seja com gastos irresponsáveis, seja com desviode dinheiro. Os jornais paranaenses, subservientes ao poderde plantão, fizeram-se de cegos. O governo trabalhou semobstáculos, sem críticas e pode, no desconhecimento daopinião pública, conduzir o Estado à situação miserável emque ele se encontra.

Neste jogo de interesses, quem é lesado em primeiroplano é o leitor, privado do direito de ter acesso ainformações, condição necessária para o exercício dademocracia. Os empresários da área de comunicação

Crise da imprensa ou crise do governo?negligenciam que o jornalismo é um serviço voltado para ointeresse público em qualquer país civilizado. Tomam osjornais como instrumentos de exercício do poder, seja paraapoiar grupos, seja para fazer campanhas eleitorais para simesmos.

Os jornalistas também são lesados. Nas redações,frustram-se a cada dia, a cada assunto não pautado, acada matér ia alterada, cortada ou derrubada.Profissionalmente, trabalhar em redação de jornal diáriono Paraná vai se tornando um fardo terrível. Jornalistasque acreditam, ainda, que jornalismo é serviço voltadopara o interesse público são privados de qualquerpossibilidade de exercício digno da profissão.

Por outro lado, os empresários da comunicação nãoconseguem imaginar projetos de médio e longo prazo quefaçam da imprensa paranaense um negócio capitalista,voltado para a busca de leitores e de anunciantes privadosque permitam autonomia editorial. Sem independênciaeditorial e caracterizada por este sistema de influênciaspolíticas e editoriais, a imprensa paranaense é uma dasmenos lidas do país. E se espantam os empresários queos gaúchos leiam jornais do Rio Grande do Sul quatrovezes mais que os paranaenses lêem jornais do Paraná. Aimprensa paranaense vive num estágio pré-capitalista, noexato lugar onde os modernos empresários dacomunicação a colocaram. Lesam, assim, a população, noseu direito, e a categoria dos jornalistas, na sua dignidadeprofissional.

O governo paranaense, arcaico, também contribui paraque a imprensa seja um joguete politiqueiro. Aos desafetos,aos que tentam produzir jornalismo independente, nenhumaverba publicitária. Seus mandatários se sentem tranqüilospara elaborar manchetes de jornais privados entre asparedesdo Palácio Iguaçu (cena que presenciei na incômodapresença de Rafael Greca).

Quando o Estado, por fim, quebra, os jornais perdemgrande parte de sua receita e entram em crise. Demitem,operam cortes, não respeitam direitos, leis, ConvençãoColetiva. E, mais uma vez, os jornalistas são prejudicados.

Circula de boca em boca uma história de que o dossiêsobre o caixa 2 da campanha de Cássio Taniguchi foioferecido a vários jornais paranaenses e recusado portodos. Aceito pela Folha de São Paulo, deu no que deu. Ahistória pode ser falsa e, por falta de provas, não servepara fundamentar nenhuma crítica. A questão é que ahistória soa como verdadeira. Se os seus personagensfossem os grandes jornais de São Paulo, soaria falsa. Nãopor que a Folha de São Paulo e o Estadão são maiscomprometidos com o interesse público. Ao longo dotempo, estes jornais também já lançaram sombras sobretemas quando lhes era conveniente. Mas a Folha e oEstadão são empresas capitalistas, com interesse emleitores e, conseqüentemente, anunciantes. No Paraná,pelo jeito, ainda não chegamos nem a isso.

Mário Messagi Júnior é presidente do Sindicato

opinião

A hora não é boaEmerson de Castro Firmo

Aúltima campanha salarial dos jornalistasparanaenses trouxe uma questão que hámuito tempo vem sendo avaliada entre os próprios

jornalistas e obviamente pelas empresas. A possibilidade deampliar, de forma regular, a jornada diária de cinco para setehoras. Destaco a “forma regular” porque vem sendo maisque comum a ampliação para muito mais que sete horas emalgumas redações, não contando assessorias. Um casocomum e denunciado pelo Sindicato é o do jornal Gazeta doPovo, onde o período de trabalho pode facilmente ultrapassardez horas, sobretudo nos casos de editores, mas os repórteresnão ficam muito atrás. Importante: como não há registro deentrada e saída, os jornalistas não recebem hora extra.

Há quem diga, observando o caso específico de Curitiba,que a cidade cresceu, ficou caótica ao ponto de tornar-seimpossível cumprir duas pautas externas em cinco horas.Não há como negar essa dificuldade. Mas será que este é oângulo correto de encarar a questão, do ponto de vista dosprofissionais?

Entendo que não é ideal dar as costas para a conjunturaem que vivemos, e que nos mostra um desemprego crescente,em parte provocado por uma crise de mercado, mas em boaparte também uma crise de capacidade administrativa entreproprietários e administradores de empresas jornalísticas.

Não creio que haja novidade na reivindicação dosjornalistas: aumentando o tempo de cinco para sete horas,será necessário que as empresas paguem um adicionalequivalente de exclusividade do profissional com o veículo.Além disso, nesses casos, deve ser estabelecida aimpossibilidade de hora extra.

Para os que imaginam ser melhor receber um pouco maispor sete horas, do que não receber nada, é importante alertar:as sete horas e seu valor de custo passarão a ser, na prática, aregra para jornada e salários entre as empresas. Além disso,ninguém garante que nos próximos anos, com umendurecimento nos acordos por parte dos patrões, percamosesse acréscimo.

Atualmente o grande impedimento para que seja impostagarganta abaixo a jornada de 7 horas é a remuneração de horaextra com100% de acréscimo, vigente na Convenção Coletiva

de Trabalho. Esse tem sido, há bastante tempo, o mecanismoque estimulou um mínimo aumento de vagas nas empresas atémeados de 2001. Poderia não ter ocorrido, caso a exploraçãodos jornalistas já empregados pudesse ser maior, sem oadicional de100%.

Mais que uma questão de negociação, o problema doaumento da jornada parece-me absolutamente inoportuno. Nãoé uma boa hora para caminhar no sentido contrário ao dadiminuição da carga diária de trabalho, como ocorre com ostrabalhadores em geral, em outros países. Aliás, muito aocontrário, precisamos sim de mais vagas e não de menos.

Embora o Sindicato nunca tenha, emsua história recente,se recusado a negociar qualquer item com as empresas,desde que em bases coerentes, considero impróprio omomento para colocar a questão em pauta. Já basta estarmosreféns da incompetência administrativa, da inaptidão paraa visão empresarial jornalística de alguns dos proprietários.Não é hora para abrir qualquer tipo de diálogo que sirvapara nos retirar direitos.

Emerson de Castro Firmo é jornalista

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 3: Extra Pauta Ed. 57

DRT multa empresas jornalísticasO Ministério do Trabalho, através da Delegacia

Regional do Trabalho (DRT), autuou e multou quatroempresas de comunicação do Paraná por manteremempregados trabalhando em condições contrárias àsdisposições da Consolidação das Leis do Trabalho(CLT) e do Decreto 83284/79, acolhendo denúnciasfeitas pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná. Três dessas empresas são de Curitiba e umado interior do Estado. A DRT está cumprindo a suaparte, procedendo a investigações em váriasempresas para coibir abusos, conforme determina alei.

Em Curitiba, além de autuar a Gazeta Mercantil

pela prática de várias irregularidades (ver matérianesta página), a DRT multou a CNT por manterma estagiária em situação irregular. O mesmoprocedimento foi adotado pela Delegacia em relaçãoà Editora O Estado do Paraná por ter contratadoAirton de Lima Morais, que não tem registroprofissional de jornalista. A multa teve efeito. Ofuncionário irregular foi substituído por um jornalistaprofissional.

No interior do Estado, a DRTrealizou fiscalizaçãoem quatro empresas de comunicação de Umuarama.Encontrou irregularidades na Tribuna de Umuarama,que foi autuada por manter na redação um

empregado que não apresentou registro de jornalistaprofissional.

“A Delegacia Regional do Trabalho tem feito oque é possível. A atuação é exemplar, se forconsiderado o reduzido número de fiscais e a grandedemanda de denúncias”, afirma Mário MessagiJúnior, presidente do Sindicato. “Muitas empresasacreditam que podem descumprir a lei que nadaacontecerá, que o Sindicato não fará a denúncia eque o Ministério do Trabalho não fiscalizará. É umgrande engano. Entregamos mensalmente dezenasde denúncias para a DRT e a multa para os infratoresé só uma questão de tempo”, alerta Messagi.

ação sindical

Jornalistas têm nova vitória na Justiça

Os jornalistas demitidos pela Gazeta Mercantilem novembro de 2001 chegaram a umacordo com a empresa. Na audiência

realizada na 9a Vara do Trabalho, no dia 23 de janeiro,a empresa aceitou pagar os salários atrasados eindenizações rescisórias dos autores do processo. Elasó tomou essa decisão porque não tinha outraalternativa, já que R$ 325 mil foram bloqueados poruma liminar concedida pela Justiça do Trabalho. Orecuo da empresa, que adotava uma política desomente fazer acordos com redução dos valores eparcelamento da dívida em 36 meses, se deu com aconcessão de liminar que bloqueou todo o seufaturamento no Paraná.

“O trabalho da assessoria jurídicadoSindicato foiperfeito e garantiuumavitória expressiva para os jornalistas”,comemorou o presidente do SindicatodosJornalistasProfissionais doParaná,Mário Messagi Júnior. “Pelasinformações que recebemos, oSindicato do Paraná foi o único a tervencido uma ação contra a Gazetaaté o momento”, completa Messagi.

Juiz mantém liminarAntes, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais

do Paraná já havia obtido na Justiça outra vitóriaimportante contra a Gazeta Mercantil. O TribunalRegional do Trabalho manteve a liminar concedidano ano passado pela juíza Nancy Mahra Oliveira,da 9a Vara do Trabalho de Curitiba, que bloqueoudinheiro em seis agências de publicidade destinadoao pagamento de anúncios no jornal.

A decisão do TRT rejeitou um pedido de liminarem mandado de segurança impetrado pela empresa,que pedia a cassação da liminar que havia bloqueadoseus créditos. “A decisão foi de grande importância,pois é muito difícil conseguir e manter uma liminarna Justiça do Trabalho”, afirma o assessor jurídico

Demitidos da Gazeta Mercantil recebem salários e indenizações rescisóriasdo Sindicato, Sidnei Machado.

A decisão se referia a ação cautelar movida peloSindicato, com o objetivo de garantir o pagamentode dívidas trabalhistas de 13 funcionários demitidosirregularmente pela empresa em 7 de novembro doano passado, data em que a Gazeta Mercantil fechousua regional em Curitiba, transformando-a emsucursal, com apenas três repórteres. Em sua decisão,o juiz Fernando Eizo Ono rejeitou o pedido decassação impetrado pela empresa, ressaltando quea medida liminar concedida visava satisfazer opagamento de salários de outubro de 2001 e asverbas rescisórias decorrentes da demissão dos

funcionários. Foi determinado o bloqueio de R$325mil.

Empresa é multada pela DRTA ação da Delegacia Regional do Trabalho em

relação às irregularidades cometidas pela GazetaMercantil foi muito rápida. O Sindicato dosJornalistas protocolou a denúncia das demissõesirregulares no dia 21 de novembro e já no dia 30 domesmo mês a DRT autuou e multou a empresa emR$ 11.913,66 por não efetuar o pagamento mensalde outubro no prazo legal, não pagar as verbasrescisórias e a multa rescisória e não recolher oFGTS.

Gazeta volta a contratarReconhecendo o erro de ter transformado a

unidade regional estadual no Paraná em sucursal, aGazeta Mercantil transferiu para Curitiba a sedede sua edição regional abrangendo os três Estadosdo Sul, que estava sendo fechada em Porto Alegre,e deslocou para cá o diretor da regional, IvanirBortot. A mudança ocorreu por motivos comerciais,pois Curitiba vinha apresentando melhoresresultados financeiros que a capital do Rio Grandedo Sul.

Mesmo com problemas financeiros, a GazetaMercantil Sul voltou a contratarem Curitiba. Mais três jornalistase dois diagramadores estãotrabalhando na sua redação, queunificou as edições regional enacional. E há a intenção deadmitir mais jornalistas. Enquantoisso, os profissionais que forammantidos na redação ainda nãoreceberam o salário de outubronem o 13o. Os salários denovembro, dezembro e janeiroforam pagos pela metade. Em

fevereiro foi pago salário integral, e a direçãonacional da empresa prometeu que de agora emdiante não haverá mais atraso nos salários. Tambémprometeu colocar em dia todos os atrasadosanteriores.

Sérgio Thompson Flores, empresário daWorldInvest que decidiu resolver os problemasfinanceiros da Gazeta, ainda está emnegociações compossíveis investidores. O futuro sócio terá que aplicarR$ 160 milhões no jornal, valor correspondente aopassivo da empresa. Na capital paulista, os saláriosde janeiro saíram em atraso e só no dia 21/2 a GazetaMercantil depositou metade dos 40% do adiantamentodos salários referentes ao mês de fevereiro.

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 4: Extra Pauta Ed. 57

4 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Negociaçãopermanentecom asempresas

ação sindical

Sindijor propõe reajuste de 7,32%OSindicato dos Jornalistas Profissionais do

Paraná enviou, no final de janeiro, ofíciopara os departamentos de Recursos

Humanos de 243 empresas jornalísticas do Estadopropondo a aplicação do reajuste de 7,32% (INPCintegral) sobre os salários de outubro de 2001. Coma concessão deste índice, as empresas estãodispensadas de fazer um plano de previdênciaprivada para seus empregados, depositando, mêsa mês, 5% do salário nominal. Foram oficiadastodas as empresas que constam do cadastro doSindicato.

A possibilidade de optar pelo reajuste emdetrimento do plano de previdência privada estáprevista no parágrafo sexto da cláusula 9a daConvenção Coletiva do Trabalho - CCT(www.sindijorpr.org.br/cct2001-2002.htm). “Estacláusula gerou o maior impasse no processo denegociação, mas era muito importante garantir,juridicamente, que as empresas pudessem adotar oreajuste integral da inflação”, explicou SidneiMachado, advogado do Sindicato.

A redação da cláusula, depois que o acordo jáestava aprovado, tomou cerca de três semanas, emidas e vindas entre os sindicatos de jornalistas doParaná e de Londrina e os sindicatos patronais. Emconseqüência, a Convenção só foi homologada em11 de janeiro de 2002, no Ministério do Trabalho. Comisso, o reajuste do salário, retroativo a outubro, acabouficando para fevereiro.

Na avaliação dos representantes dos jornalistasdurante o processo de negociação, o mecanismode previdência privada seria muito complicado paraempresas pequenas, que poderiam achar mais

vantajosos conceder o reajuste integral. Mesmoempresas de médio porte poderiam optar pelareposição da inflação. “Precisávamos criar umaalternativa. Agora, cabe às empresas conceder ounão o reajuste. A possibilidade existe”, afirmaSilvio Rauth Filho, coordenador da CampanhaSalarial 2001/2002.

Além de abrir a possibilidade de reajusteintegral, a CCT, no parágrafo quinto da cláusula9a, estabelece que as empresas não podem, sobnenhuma alegação, deixar de adotar o plano deprevidência ou conceder o reajuste. Se dentro deum mês após a homologação da CCT noMinistério do Trabalho as empresas não aderirem

ao plano de previdência privada , estarãoobrigadas a efetuar o reajuste de 7,32% retroativoa outubro de 2001. O prazo limite foi 11 defevereiro.

Jornalistas devem questionarOs jornalistas podem, e devem, questionar as

empresas sobre o reajuste ou a adoção do plano deprevidência privada. Caso a empresa alegue que nãorecebeu nenhuma notificação, entre em contato como Sindicato dos Jornalistas. A entidade pode negociarcom as empresas individualmente ou prestar maioresinformações aos departamentos de RecursosHumanos e aos jornalistas.

OSindicato dos Jornalistas do Paranáenviou, no dia 4 de fevereiro, um ofícioao s ind ica to pa t rona l propondo a

instituição de um calendário de negociaçõespermanentes, começando em fevereiro. Asnegociações permanentes estão previstas nacláusula 51 da Convenção Coletiva de Trabalho2001/2002 (www.sindijorpr.org.br)

O calendário proposto pelo Sindicato prevêsete temas, um por mês (veja quadro). São eles:saúde, formação e estágio regulamentado;

CALÊNDÁRIO DA NEGOCIAÇÃOMÊS TEMAFevereiro saúdeMarço formação e estágio regulamentadoAbril direito autoral e PLRJunho emprego, salário e éticaJulho jornada e horas-extrasAgosto anuênio e plano de cargos e saláriosSetembro primeira negociação para renovar a CCT

direito autoral e PLR; emprego, salário e ética;jornada e horas-extras não-remuneradas; eanuênio e plano de cargos e salá r ios. Ocalendário inclui assuntos que, desde a últimacampanha salarial, têm sido levanta-dos pelosindicato patronal, como jornada e anuênio. Noentanto, inclui também diversos temas deinteresse da categoria.

Dos temas propostos, apenas três (PLR, planode cargos e salários e estágio regulamentado) nãotêm nenhuma cláusula na Convenção Coletiva.

Os demais possuem, todos, alguma regulação ou,pelo menos, a determinação de que devem serdiscutidos, como é o caso do direito autoral.

Com as neg oc iaçõe s permanente s , oSindicato pretende amadurecer o debate comas empresas para realizar, a partir de setembro,negociações mais evoluídas com os patrões.“Quando deixamos tudo para a campanhasalarial, nunca conseguimos amadurecer osassuntos”, af irma Már io Messagi J únior,presidente do Sindicato.

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 5: Extra Pauta Ed. 57

Ojornal Primeira Hora, do grupo RedeParanaense de Comunicação, circulou pelaúltima vez no dia 31 de janeiro. Dos 22

jornalistas que trabalhavam na sua redação, noveforam demitidos e os demais aproveitados pelaGazeta do Povo, que dispensou igual número deprofissionais para admiti-los na sua rotina de trabalho.No total, o grupo despediu 28 funcionários, incluindorepórteres, diagramadores e repórteres-fotográficos.Paulo Krauss, ex-chefe de redação do PrimeiraHora, desligou-se da empresa, e Rogério Pereira,ex-editor chefe recebeu proposta para ocupar cargode chefia na Gazeta do Povo, mas não se definiuainda.

A área que mais sofreu com as demissões naGazeta do Povo foi a Central de Redação, estruturaque reunia pessoal de rádio-escuta e pré-produção.Ali foram dispensados quatro profissionais. Da geralsaíram três jornalistas. Também foram desligadosum profissional do Esporte, um do Caderno G, umde Economia, um da Internacional e a subeditora deNacional. As demissões não ficaram restritas aopessoal de texto. No fotográfico, foram três casos.Entre os diagramadores, foram cinco demitidos.

A decisão de fechar o Primeira Hora foi tomadapela diretoria do grupo porque a receita de publicidadenão estava correspondendo ao que havia sidoplanejado. Mesmo vinculando sua vendagem apromoções de entrega de prêmios, como panelas efaqueiros, e outros brindes, o jornal, que foi lançadoem 20 de novembro de 1999, vinha vendendo 9 milexemplares, segundo uma fonte do grupo.

No dia 29 de janeiro, a diretoria do Sindicatodos Jornalistas Profissionais do Paraná fez umareunião com os demitidos, que foram orientados peloadvogado Sidnei Machado sobre como proceder paragarantir todos os seus direitos. No dia anterior,

jornalistas do Primeira Hora e da Gazeta haviamparticipado de uma assembléia no Sindicato epediram mais transparência da direção da empresae definição dos critérios para as demissões. Naassembléia, os jornalistas se queixaram que a direçãodo grupo RPC não se preocupa com os funcionários,mas apenas com a imagem da empresa. Além disso,não oferece aos jornalistas um clima tranqüilo paratrabalhar na Gazeta do Povo, colocando-os sobconstante pressão.

Em reunião realizada com a diretora da Gazeta doPovo e do Primeira Hora, Ana Amélia Filizola, opresidente do Sindicato, Mário Messagi Júnior,encaminhou o pedido dos jornalistas à direção daempresa e cobrou o não cumprimento da cláusula 37da ConvençãoColetiva de Trabalho para os anos 2001/

imprensa do paraná

Grupo RPC demite 28 e fechao jornal Primeira Hora

Além de demitir 14 jornalistas em outubro enovembro do ano passado a pretexto de resolver seusproblemas financeiros, a Folha de Londrina, sob ocomando de José Eduardo Andrade Vieira, vemdescumprindo sucessivamente, desde o segundosemestre do ano passado, várias obrigaçõestrabalhistas com seus funcionários.

Inicialmente, cortou de maneira ilegal o vale-refeição de todos os seus trabalhadores. Em seguida,deixou de recolher o Fundo de Garantia do Tempode Serviço (FGTS). Desde o início do segundosemestre do ano passado, vem atrasandosistematicamente o pagamento de seus empregados.Somente no dia 14 de fevereiro os jornalistas

Sindicato processa Folha de Londrina

2002 e também o pagamento de horas-extras paraos profissionais da Gazeta do Povo. A empresasinalizou a possibilidade de discutir o assunto e fecharum acordo na Justiça do Trabalho.

De acordo coma cláusula 37, nos casos de dispensacoletiva, as empresas deverão obedecer aos seguintescritérios preferenciais:inicialmente,osempregadosque,consultados previamente, prefiram a dispensa; emseguida, os empregados beneficiados comaposentadoria definitiva pelaPrevidência Socialou poralguma forma de Previdência privada; finalmente, osempregados com menor tempo de casa e, entre estes,os solteiros, os de menor faixa etária e os de menoresencargos familiares.

A assessoria jurídica do Sindicato estápreparando ações jurídicas contra as ilegalidadescometidas pela Gazeta do Povo. Além de processoscoletivos, a maioria dos demitidos já entrou com açãopara receber horas-extras e comissionamentos nãodevidos pela empresa. “Vamos convencer todojornalista a processar a empresa para que receba

seus direitos. Não vamos descansar até que todosentrem com as ações”, avisou Mário Messagi Júnior,presidente do Sindicato.

Primeira levaO Primeira Hora já havia demitido anteriormente

12 jornalistas, reformulando seuquadro de profissionais.Seis foramdespedidos nos dias 18 e 20 de julho do anopassado, entre eles dois editores. O editor-chefe PedroCorrêa já havia saído antes e o chefe de redaçãoFrancisco Camargo retornou à Gazeta do Povo. Emsubstituição, foram contratados quatro jornalistas: doisrepórteres, um editor e um chefe de redação. Entredemissões e contratações no ano passado, houve nojornal uma diminuição de pelo menos cinco postos detrabalho.

receberam o pagamento integral do salário dedezembro, sem juros e correção monetária.

Há três meses, a diretoria do Sindicato dosJornalistas Profissionais do Paraná vem fazendogestões junto à direção da Folha de Londrina paraque cumpra as obrigações trabalhistas. Como nãoobteve nenhum resultado, o Sindicato dos Jornalistasentrou na Justiça do Trabalho com ação para obrigara empresa a fazer o depósito do Fundo de Garantiaque não foi recolhido e deve entrar com ação paraque ela pague multa pelos atrasos sucessivos dossalários.

O mesmo procedimento vem sendo adotado peloSindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná. Depois

das demissões do ano passado, a Folha de Londrinaconta com 57 profissionais em sua sede, entreeditores, redatores e repórteres. Na sucursal deCuritiba trabalham 21 jornalistas, sendo que duasprofissionais entraram emlicença-maternidade e umaterceira está na Austrália fazendo curso deaperfeiçoamento.

Corte ilegalEmbora a Folha de Londrina fosse a única

empresa de comunicação no estado a oferecer vale-refeição para seus funcionários, seu corte é ilegalporque caracteriza perda de salário, o que vai contrao que determina a legislação trabalhista.

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 6: Extra Pauta Ed. 57

6 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Emerson de Castro Firmo

Odesaparecimento do jornal Primeira Horade forma prematura, com pouco mais de doisanos de vida, deixou muita gente do meio

jornalístico de boca aberta. Não era só mais um jornal,ou mais um projeto desses que nascem com previsãode morte certa, caso qualquer coisa dê errado. Brotavade dentro da editora Gazeta do Povo, uma empresasólida financeiramente, apesar de manter umaadministração familiar, coisa problemática nos diasatuais. Tudo indicava uma proposta que embora nova,na pior das hipóteses, teria que sofrer ajustes, masnada comparado ao lacônico anúncio de fechamentoabrupto, no final de janeiro passado.

Para os jornalistas, o resultado esperado: mais deduas dezenas demitidos pela Editora. Digo Editoraporque, ao fechar suas portas, o Primeira Hora acabouestendendo o problema para a Gazeta do Povo, queoptou entre demitir todos do PH ou ficar com algunsprofissionais e cortar cabeças na GP.Asegunda opção,menos traumática para alguns, foi surpreendente paraoutros, que nem imaginavam a hipótese decontaminação entre redações.

Ainda há quem não esteja entendendo nada. Masnão vamos nos concentrar exclusivamente nestes doisjornais. O problema é infinitamente mais sério. A Folhade Londrina, há pouco Folha do Paraná, tambémdiminuiu nos últimos anos drasticamente o número dejornalistas tanto em Curitiba como em Londrina, masa mão pesada dos cortes recaiu mesmo sobre aredação maior, em Londrina. Na seqüência vem oEstado do Paraná, que promoveu inúmeros cortes pelointerior do estado (até fechando sucursais) e onde éfreqüente a boataria de cortes.

Não dá para deixar de lado o velho e crônicoIndústria e Comércio, onde pouca gente se arrisca atrabalhar, numa inversão de mercado absolutamentecoerente para quem conhece um pouco dos históricosproblemas trabalhistas que a empresa coleciona atéhoje (muitos pendentes, para desespero da parte fracade sempre, os jornalistas).

Não é possível identificar o que está ocorrendoolhando somente para a situação paranaense. Bemvindos à globalização. Qualquer relação coma situaçãode gigantes da comunicação do país - que tambémguardam algumas semelhanças com as empresasparanaenses, seja por laços efetivos, seja pelo tipo deadministração familiar que cultivam - não é meracoincidência.

A salvação dessa lavoura, que admitamos tambémpoderia ser nossa como mercado de trabalho, para avisão empresarialé a possibilidade de entrada do capitalestrangeiro. Em que pese as implicações disto para oexercício do jornalismo ou para o controle dainformação sob a ótica do cidadão, deixo agora de

imprensa no paraná

O que está acontecendo nasempresas jornalísticas paranaenses

lado estas questões para observar as possibilidadesde êxito dessa empreitada. Mais uma vez, destacoque estamos falando dos grandes grupos nacionais,permanecendo os grupos paranaenses num segundoplano.

Abalando estruturasNos últimos 20 anos, a cansativa globalização vem

gerando efeitos que, como o velho ditado diz, “tardamas não falha”. Noticiamos no início dos anos 1980os feitos de Margaret Tatcher na Inglaterra na direçãodas privatizações, do enfrentamento aos trabalhadorese posterior quebra de seus direitos, do fimde umestadode bem-estar social que aqui no paraíso perdido sequerchegamos a sentir o cheiro (mas era referência). OsEstados Unidos de Ronald Regan (e o sujeito era atorde cinema, hein...) antes dela, e não por acasoexercendo influência evidente na Dama de Ferro,traziam à tela mundial o espetáculo do reforço àsnoções liberais de Adam Smith no século XIX, agoradenominado neoliberalismo (nem sempre o que é novoé bom, não é mesmo...). O mercado é quem sabetudo, regula tudo: salve o mercado (aliás quem é o talde mercado, se não é o Walter). Ao Estado nada, foracom a presença do Estado em qualquer instância,mesmo aquelas em que ele foi criado para regular oschoques de interesses, baseado em noçõesdemocráticas (uma inutilidade, pois o mercado faz issomuito melhor, não é mesmo...).

Também noticiamos a queda do muro de Berlim,para regozijo dos robertocampos da vida; o fim daUnião Soviética (idem), a derrocada de uma era bipolarem que EUA e URSS dividiam o mundo como áreasde influência. Paralelamente, a Europa começa aferver em greves, porque o tal estado de bem-estarsocial estava em declínio geral. Quem prestou aatenção em filmes franceses, ingleses, alemães ouespanhóis da época, para citar alguns, assustou-se aoperceber pessoas pobres, gente brigando por emprego,lutando contra imigrantes, uma ascensão do trabalhoprecarizado como forma de subsistência.

Para completar, noticiamos ainda o início de umamovimentação empresarial que nos traz de volta aoponto em questão. A noção de que é necessárioampliar infinitamente os mercados (Marx já previaisso) ao menor custo, o que significa não abrir novasempresas para competir, mas forçar a venda das quejá existem. As regras do jogo começavam a empurraras empresas mais fracas para a boca faminta das maisfortes.

Bem, chegamos de volta ao Brasil e ao Paraná.Privatizações à parte, assistimos ao desaparecimentode várias empresas tradicionais, algumas apenasmudando de nome e dono, mas também demitindomuito. As mesmas regras do jogo reforçam aautomação onde ela é possível e onde não é, que a

tigrada trabalhadora funcione como máquina (leia-se:muito sangue e esforço para nenhum dinheiro, só peloprazer de trabalhar). Fazem parte do processo aterceirização, o trabalho temporário, a carteira detrabalho guardada na gaveta de casa com os papéisinúteis que quase todo mundo guarda.

E a imprensa como é que fica?Pois bem, o que os grupos de comunicação têm a

ver com tudo isso? Ninguém escapa ao olho que tudovê, no caso o mercado. Com a transnacionalizaçãodas empresas, omercado publicitário também diminuiu(praticamente não existe atualmente agência depublicidade grande que não esteja acoplada de algumaforma a outra maior internacional). Isso diminuiudrasticamente o volume de anunciantes, como tambémdificultou o acesso aos próprios anunciantes empotencial, na medida emque estescentralizam decisões,o que necessariamente não ocorre no Paraná.

Tudo isso está fazendo com que a imprensa doParaná entre quase em desespero. E não é um fatoexatamente novo. Há poucos anos assistimos a umaalteração no quadro, digamos geoeconômico, dasempresas. A Gazeta do Povo aventurou-se na comprado Jornal de Londrina, além de manter relaçõescordiais com outras empresas menores dentro doestado, estabelecendo, na prática, áreas de influência.Também criou o Primeira Hora, uma promessa dejornalismo voltado para a comunidade. Mais que isso,as empresas de Francisco Cunha Pereira Filho estãoagora reunidas sob a sigla RPC, também uma iniciativaque pode ser considerada estratégica.

A Folha de Londrina tornou-se por algum tempoFolha do Paraná, visando uma competição estadual,movimento que pode revelar-se no futuro um errotático deJosé Eduardo Vieira, mais ou menos admitidohá pouco, quando retornou ao velho e consagradonome.

O Estado do Paraná, de Paulo Pimentel, tambémpassa por uma reestruturação. Depois dos inúmerosboatos - alguns confirmados - da tentativa de compradas empresas pela RBS, foram fechadas diversassucursais no interior do estado e jornalistas demitidos,o que não significa o fim do processo.

Há saída?Tudo indica que as empresas estão se

movimentando para novas estrepolias na tentativa demanter-se de pé. Como isso pode ser possível?Investimentos estrangeiros é uma hipótese. Masrecentemente, em entrevista à revista Carta Capital,um empresário que faz a ponte entre gigantes dacomunicação mundial e empresas brasileiras com afinalidade de estabelecer uma negociação observouque isso está bastante difícil. O motivo: o sistemaarraigado da tradicional administração familiar. Nada

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 7: Extra Pauta Ed. 57

contra pessoas, mas quando a administração de umnegócio é feita sob lógicas distantes do mercado - leia-se uma lógica familiar, portanto sem considerar custo-benefício de algumas idéias, ou mesmo avaliaremocionalmente questões eminentemente objetivas -fica difícil imaginaro investimento estrangeiro entrandoporta adentro. Ninguém é santo nesse ramo dentro efora do Brasil, mas a diferença é que lá visa-se o lucro,enquanto aqui tem-se visado o puro e simples cortede custos, para manter a mesma lógica deadministração. Em sociedades anônimas, o acionistaprecisa ver os lucros e dividendosno final do ano, o que exige umavisão empresarial arrojada.

Esse é um problema que, creio,está na raiz das questões que hoje asempresas paranaenses enfrentam.Jornalé empresa,masvive para servira comunidade e não o contrário. Empoucas oportunidades, os grupos decomunicação paranaense observarama comunidade como de fato seu alvode interlocução, como seria deesperar. Ou seja: os jornais nuncaforam e não são feitos para acomunidade, mas para o podereconômico e político. Quando essespoderes se desestruturaram, “a vacafoiprobrejo”.Éumraciocíniosimples,mas que explica o embróglio. Umexemplo: respondamrápidoquemé omaiorcompetidordaGazeta doPovo,o jornalcommaior circulação noestado:ninguémmenosque uma certa Folha de S. Paulo, um jornal que tambémnão fala para curitibanos e paranaenses, também sofreas mesmas pressões de mercado, mas mantém ummínimo de interlocução com a sociedade, coisa que jáfez infinitamente melhor na primeira metade da décadade 1980 (e hoje vive da fama).

Não há no Paraná um projeto jornalístico querealmente esteja fincado no conceito de prestação deserviço à comunidade. Digo prestação de serviço queo jornalismosempre foi, seja na indicação de programasculturais, seja ao trazer para o debate público (commatérias informativas, interpretativas e opinativas,reportagens e entrevistas) questões emergentes na

sociedade. Este é o papel fundamental da imprensa, oque não é visto como saída porque significaria admitirum erro fatal de décadas. Empresas de comunicaçãopouquíssimas vezes estiveram ao lado da comunidadeparanaense quando esta precisou de um espaçodemocrático e plural para estabelecer suas tomadas deposição. Infelizmente, se o mercado “tarda mas nãofalha”, o “castigo chega a cavalo”, no caso a galope deZorro.

O que há de ser feito?

Sem imaginar ter bola de cristal e turbante, acreditoque estanão é uma situaçãocircunstancial. É estrutural,e paranossa infelicidade (dos jornalistas e da população,sempre no mesmo barco, apesar dealguns dos primeirosnão perceberemclaramente isto), vai terseqüelas gravesainda.

A tendência é de enxugamento maior do que oque já estamos vivendo. Entre as estrepolias prováveisdas empresas, não descarto a possibilidade surrealistade formaremuma espécie de “pool”, dividindo o estadoem áreas de influência, ajudando-se mutuamente. Masé difícil também acreditar na idéia de cooperaçãosolidária entre empresários, cuja noção competitivanunca termina. Vale lembrar no entanto que sempre

houve uma certa dose de cooperação entre asempresas, na base de acordos verbais, para evitar adisputa pelos melhores profissionais econseqüentemente a inflação dos salários; para nãodisputar áreas de interesse como o sensacionalismo,a economia, espaços geográficos de domínioconsagrado.

São coisas que o tempo, muito breve por sinal,revelará em que pé estão.

A plebe rude, fará o quê?Cabe aos jornalistas, apesar da

premência da grana para almoçar oupara o jantar (a escolha as vezes éinevitável), observarna lacuna deixadapelas empresas de comunicação demassa a possibilidade de encontrar umespaço profissional muito poucoexplorado.

É verdadeiro que nunca asociedade comunicou-se ou precisoucomunicar-se tanto quanto nas últimasdécadas. Acomplexidade das relaçõesexigiu isso. Celulares, internet, bips esimilares são umnotório reflexo disso.Ao mesmo tempo em que as pessoasprecisam das vias de comunicaçãocomo os exemplos citados (além dejornais empresariais, sindicais, deassociações, de comunidades),também precisam de algo mais, emtermos de compreensão analítica das

situações em que estão envolvidas (é o caso do clipingselecionado e comentado,das consultorias em projetos,das assessorias que orientam o assessorado e nãosimplesmente prestam serviço técnico). Também éverdadeiro que estas áreas já foram descobertas e têmmuita gente brigando pelos espaços. Mas isso estárelacionado à comunicação dirigida.

Há no entanto algumas brechas ainda poucoobservadas no campo da comunicação de massa. Aidéia do jornal Primeira Hora teria sido uma espécie deredenção desse problema, não fosse uma tristereprodução do modelo de imprensa vigente no Paraná.

Emerson de Castro Firmo é jornalista

Quemconhece,mesmo de longe, ahistória do jornalO Dia, do Rio de Janeiro, sabe que tenho razão. É ojornal que em 1993 atingiu um recorde: um milhão dejornais vendido em banca. Nessa época, mais de 65%da arrecadação do jornal vinha das bancas e 35% deanunciantes. É verdade que essa já não é mais averdade daquele jornal. Mas o que fez O Dia vendertanto e ainda hoje estar entre os jornais com grandetiragem: sua vinculação aos interesses do leitor. Umanotícia sobre aumento salarial para funcionáriospúblicos é manchete em O Dia, justamente porqueeste é um público grande no Rio de Janeiro e aspesquisas os apontam como leitores do jornal. Tambémfaz promoções de sorteio de carros,venda de fascículosdo dicionário Aurélio e outros penduricalhos, queservem para dar o empurrão final na decisão do

Primeira Hora, o que saiu erradoconsumidor.

Quando o Primeira Hora apareceu, imaginei algopróximo de O Dia em Curitiba. Uma grande sacada.Aquilo que estava faltando no mercado jornalísticoparanaense. Atécomo exemplo. O projetoseduziumuitagente, inclusive jornalistas com empregos estabilizados,alguns importadosde São Paulo.Aperspectiva eramuitoboa.

Para encurtar, creio que não havia maior dificuldadeem perceber qual era o ponto para fazer o jornaldecolar, mesmo que em dois anos de vida. Era precisoestabelecer um grau de interlocução, de diálogo, deinteração com a comunidade curitibana. Tersensibilidade para os problemas dessa comunidade.Não só faltoua sensibilidade, como o erro dos demaisjornais repetiu-se. Uma visão descolada dos interesses

da população, escorada marqueteiramente mais emprêmios, panelas e que tais, do que em informação,notícia para ler.Aliás, com esta noção de brindes comochamariz, nem que as notícias estivessem lá o leitorsaberia, pois o peso maior das publicidades sempre foialgo como “compreo Primeira Hora eganhe tal coisa”,quando poderia ser “Leia no Primeira Hora as notíciasque interessam a você curitibano, e de quebra ganheum brinde”. O conteúdo jornalístico teria que ser odestaque. Não foi e deu no que deu, o que foi péssimopara todos, investidores financeiros e investidores detrabalho.

Creio que essa é uma iniciativa que ainda está poracontecer. Talvez o momento seja bicudo demais parauma nova tentativa, mas ela permanece comopossibilidade verdadeira. (ECF)

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 8: Extra Pauta Ed. 57

8 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

entrevista

O capital estrangeiro nosmeios de comunicaçãoACâmara Federal aprovou, em segundo

turno, no dia 26 de fevereiro, por 402votos a favor e 23 contra e 3 abstenções,

a PEC 203B/95. A PEC já havia sido aprovada,em 11 de dezembro do ano passado, no primeiroturno, por 406 votos a 23. Ainda deverão ocorrerduas votações no Senado. A proposta altera oartigo 222 da Constituição, permitindo quepessoas jurídicas, e não só brasileiros natos,de tenham até 30% das empresas decomunicação no Brasil. Em outras palavras,permite ao capital estrangeiro comprar parte dejornais, revistas, editoras, rádios e TVs. Entreos parcos 23 deputados que votaram contra aproposta estava o nome de Florisvaldo Fier, oDr. Rosinha (PT/PR). Rosinha acompanhou aPEC203B/95 desde o princípio e fez parte dacomissão especial que discutiu a proposta hácerca de dois anos. Na sua opinião, a entradado capital es t range iro nos meios decomunicação é mais uma jogada no processo dedomínio econômico, que hoje passa ,necessariamente, pelo domínio cultural. “OsEstados Unidos , em todos os acordoseconômicos, incluem a exigência de exibição defilmes americanos”, afirma. Leia abaixo osprincipais trechos da entrevista feita no dia 10de dezembro, um dia antes da votação da PEC203B/95.

O que representa a entrada do capitalestrangeiro nos meios de comunicação noBrasil?

A primeira questão, a pior para nós, é que aprogramação pode sofrer mudanças. Se o capitalentrar, não terá interesse pela diretoria deadministração, a diretoria financeira, mas pelada programação. Assim, poderá obter, a médioe longo prazo, um retorno financeiro maioratravés da mudança dos hábitos culturais dapopulação, incluindo o maior consumo demercadorias.

A Fenaj afirma que a questão está sendotratada no Congresso apenas como soluçãopara os problemas de caixa das empresas. Éisso mesmo e por que as empresas estãopassando por este momento de crise?

A PEC 203B/95 está tramitando há seis anose está pronta para ser votada há pelo menosdois . Até agora não h avia inte res se ,principalmente das Organizações Globo, decolocá-la em votação. Mas ultimamente há umagravamento da situação financeira de todos,que começou com a privatização do sistema de

te lecomunicações. Como a legis lação decomunicação de massa no Bras il é poucocriteriosa e permite que um grupo atue emrádio , TV, inte rne t e o ut ros s e tores , asempresas de comunicação entraram também naárea de telecomunicações. Isso colocou osveículos com necessidade de mais capitais.Então todas as empresas estão vendo naentrada do capital estrangeiro a solução parao seu problema. Mas volto à questão anterior.Há uma primeira preocupação ideológica como que ela vai veicular. E a segunda preocupaçãoé com as conseqüências. Se hoje a Globo, porexemplo, tem alguma produção voltada para acultura regional, como as séries especiais comtextos de escritores brasileiros, essas sériespodem deixar de existir se não for interessedeste capital. O setor de dublagem, também,que hoje é feito no Brasil, poderá ser feito foradaqui.

Como a entrada do capita lestrangeiro vai afetar o jornalismoespecificamente?

Depois do a tentado do WorldTrade Center, o único veículo decomunicação autorizado a noticiar foia CNN. Houve um elevado grau decensura em todos os meios ,principalmente na TV, nos EstadosUnidos. No Brasil, não fomos vítimasdesta censura. Existia uma certaliberdade de informar. Se entrar ocapital estrangeiro e entrar dinheirode algum investidor americano, osveículos te rão uma out ra visão .Haverá um outro caráter dos meios.

É possível, ainda, tentar regularos meios de comunicação e oambiente onde es te capi tal va iatuar?

Ter ia que haver dois tipos demecanismos regulatórios. A PECpode ser aprovada, prevendo projetosde lei estabelecendo dois tipos decontrole. Um deles seria econômico.Proibir que um mesmo empresárioestrangeiro atue em todos os meiosde comunicação, evitando monopóliosou oligopólios. Ou seja, ele nãopoderia comprar 30% de O Globo, daTV Globo, 30% do Estadão, 30% daBandeirantes, 30% da Folha de S.Paulo . O out ro seria rela t ivo àprogramação . O Conse lho de

Comunicação tem que ser instalado, mesmo queseja consultivo, para delimitar a programação dosmeios de comunicação, principalmente os meioseconômicos. O PT vai ter que buscar fazer esseacordo. Aprova-se a emenda, porque ela vai seraprovada quer a oposição seja favorável ou não,mas com alguns mecanismos de controle.

Dentro deste ambiente de controle pelocapi ta l es t range iro de várias áreaseconômicas e, agora, também dos meios decomunicação de massa , existem brechaspara democratizar o acesso à informação eo acesso aos meios de comunicação?

Existem alguns caminhos. Rever a legislaçãodas rádios comunitárias. As universidadesdeveriam ter rádios, o que é um mecanismo parademocrat iza r. Es tabe lecer o Conse lho deComunicação, não para estabe lecer fa ixasetárias, mas para discutir o conteúdo ideológico

“As séries brasileiras podem deixar de existir senão for interesse do capital extrangeiro”

Arqu

ivo

Extra

Paut

a

Cre

ated

by

PD

F G

ener

ator

(http

://w

ww

.alie

ntoo

ls.c

om/),

to re

mov

e th

is m

ark,

ple

ase

buy

the

softw

are.

Page 9: Extra Pauta Ed. 57

da programação . Exis tem, enfim,mecanismos , mas falta vontade. Alegislação tem que ser refeita, mas é umdebate longo, que não se resolve a curtoprazo.

E que demanda a organização dasociedade civil em torno do problema.

O principal agente de mudanças temque ser a sociedade civil. Felizmente oses tudantes es tão re tomando osmovimentos dentro das universidades.Eles estavam meio ca lados . Ossindicatos têm um papel importante,principalmente os de jornalistas e detodos os trabalhadores de meios decomunicação, porque são as primeirasvít imas do avanço tecnológico . Atecnologia não é o problema em questão,mas temos que debater. Está entrandoagora a TV dig ita l, e a legis laçãoespecífica é praticamente inexistente.E quem serão as ví t imas?Ideologicamente, o povo brasileiro. Naquestão profissional os trabalhadores daárea. Mas o que mais precisa, mesmo,é uma alteração no governo . Estegoverno é muito autoritário. Temos umaagência nacional da área (a Anatel) quenão a tua, que não faz nada pe lasociedade, mas apenas pelas grandesempresas de comunicação. O ministroda Comunicação está a serviço dasempresas. Em todos os seminários queele fez sobre TV digital, só levou osempresários. A sociedade civil nuncaestava presente no debate. A CâmaraFederal tem um pedido de semináriosobre TV digital, mas não há interessedas bancadas governistas de discutir o assunto.Na Câmara, este debate é muito limitado. Então,se não tiver cobrança popular, manifestação dasociedade civil organizada, a alteração lá porcima não virá. Até porque estes meios decomunicação são os principais financiadores decampanhas eleitorais. Se você pegar os grandesmeios de comunicação e as grandes empresasque eram es ta ta is, a í es tão os grandesfinanciadores de campanha.

Como fica a questão da produção culturale intelectual neste modelo de concentração ede hegemonia do capital?

Foi publicado em setembro no Le MondeDiplomatique em espanhol um texto chamado“A Propriedade Intelectual é um Roubo”, noqual o autor mostra que hoje os grandes gruposcultura is cobrem o globo . E a í ent ra emdiscussão o capital estrangeiro. Quem dispõehoje dos meios de comunicações dispõe tambémdo copyright. Ninguém hoje vai ter um meio decomunicação se não tiver o copyright daquiloque for exibir. É curioso que este texto traz ainformação de que o Bill Gates ou as suasempresas são proprietárias de 65 milhões de

imagens (fotografias, filmes, espetáculos etc.)dos quais 2,1 milhões estão disponíveis. Quandoum investidor como o Bill Gates assume ocontrole de um meio de comunicação, o que elevai querer exibir? Aquilo do qual ele detém odireito autoral para ter retorno econômico.

Aí entra, por exemplo, a fusão da Aol coma Time Warner.

E hoje eles só exibem alguma coisa se o copyright for deles. Tanto é que 90% da produção

criativa está na mão de empresas. Só 10% estãocom os autores. É nesse contexto que vejo ogrande perigo. Eles vão querer a programação.Não vão querer outra diretoria. E vão programaraquilo no qual eles têm o ganho direto e o ganhoindireto. O lucro é muito grande a médio e longoprazo.

E o ganho é também político.É político, porque assim eles ganham também

a consciência do povo. Nossa fé está lá. E deonde vem tudo isso? É tudo americano. Se hojeeste modelo já se estende desta forma sem tero controle dos meios de comunicação, imaginatendo esse controle. Os Estados Unidos, em

todos os acordos econômicos, incluema exigênc ia de exibição de f ilmesamericanos. Veja a questão da Índia. AÍndia não queria assinar o acordo naOrganização Mundial de Comércioporque é produtora de filmes e nãoaceitava esta exigência.

Não é necessár io , a bem dasociedade , separar produção deveiculação?

Primeiro, temos que discutir se ocopy right não é um roubo. Eu acho queé. O direito à patente, por exemplo.Ninguém descobre algo sem ter umacúmulo da civilização. Eu nunca chegoa nada se antes de mim não tem todauma história. Aquilo que eu criei, eu nãocriei exatamente. Há um acúmulo. Issotem que ser melhor discutido, porque éum acúmulo da humanidade, não umacúmulo individual. Claro, o criador, naciência ou na arte, tem que ter umretorno financeiro, mas não pode ficarcomo está hoje na mão de empresas.Este é o grande debate hoje da Alca. AAlca não está vindo à toa para o Brasil.Os Estados Unidos querem pegar parasi as patentes. O sonho das empresas,hoje, é possuir patentes, que são a suagrande fonte de lucro.

Você acha que a entrada do capitalestrangeiro pode, pelo menos, mudarum pouco a forma como os meios decomunicação são gerenc iados nonosso estado , como empresasfami l iares e não como empresascapitalistas? Você acha que os nossos

jornais podem sair, com o capital estrangeiro,deste estágio pré-capitalista?

Eu não tenho dúvida disso não. Você pega aempresa que era estatal e tinha por objetivoatender o interesse público. Então você mudaa característica dela. A empresa passa a visarunicament e o lucro . Q uando você p egatrazendo isso para uma empresa privada, quevisa o lucro, mas com uma visão limitada à suaprovíncia, ao entrar o capital estrangeiro, éevidente que nenhum empresário vai quererinves tir se não puder mudar o modelo degerência para obter mais lucros. E a visãomuda . Não pode mais ser só a visão daprovíncia. Se nas estatais muda a visão deempresa pública para empresa privada, ocapital vai ter que romper es ta visão daprovíncia. Não tenho dúvida de que vai haveressa ruptura, principalmente se o capital entrarnos jornais do Paraná.

A PEC203B/95 vai ser aprovada?A PEC vai ser promulgada no ano de 2002,

se for aprovada. Mas ela vai ser aprovadaporque todas as televisões estão querendo. Eelas mandam no Brasil.

“A sociedade civil nunca estavapresente no debate sobre TV digital”

Arqu

ivo

Extra

Paut

a

Cre

ated

by

PD

F G

ener

ator

(http

://w

ww

.alie

ntoo

ls.c

om/),

to re

mov

e th

is m

ark,

ple

ase

buy

the

softw

are.

Page 10: Extra Pauta Ed. 57

10 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Gil Castello Branco

Desemprego, depressão e Prozac são três palavrasque num certo momento da vida de uma pessoa podemestar associadas a conceitos como modernização,estagnação, privatização, hipercapitalismo eglobalização. Qualquer projeto querendo modernizarum país, isso parece estar muito mais claro hoje emdia, traz uma gama de custos sociais – mas quemaponta esse tipo de problema, ou que revela estarpassando por esta crise, pode ser consideradoautomaticamente um profissional que perdeu suacapacidade de enfrentar os complexos desafios domercado, enfim mais um trabalhador que cometeu“erros graves, que virou um incompetente” e por issomereceu ser punido.

Muita gente sente-se culpada por ter perdido seuemprego. Daí vem a depressão e o consumo críticode antidepressivos como o famoso Prozac. Nósjornalistas – comoqualquer outra categoria profissional– também estamos sendo duramente atingidos poressa dramática realidade.

Mas saindo desse contexto mais emocional epensando num cenário maior – o que já nos confundeintensamente pela profundidade da crise que estamosvivendo – devemos tentar resgatar o que amodernização parece nos ter feito perder: o senso doreal.

E temos também uma estranha atitude. Fazemosde conta que as mazelas que estão presentes no nossodia-a-dia não nos afetam. Somos mestres em reclamarentre nós da falta de educação, da ineficiência nosserviços de saúde, da corrupção, da sonegação dosimpostos, da insegurança, da impunidade, dassacanagens do FMI com o Brasil, mas não tomamosnenhuma decisão efetiva para mudar as coisas,somente no plano individual que cada umse vira comopode para tentar sobreviver a todo esse caos agoraencurralado.

Assim, individualmente, cada um vai tomando seu“Prozac” para tentar anestesiar seu problema e aí secria uma contrafação da realidade: quem estádesempregado, “que se vire, para os competentes omercado sempre tem trabalho”.

Consolida-se na sociedade a sensação de que nadafunciona e nada merece ser valorizado. Nesse cenárioé que vem aumentando a perda de confiança nasinstituições – especialmente nas pertencentes à esferagovernamental e ao sistema de representação.Vivemos um cruzamento de crises que secomplementam: crise econômico-social, crise delegitimação (representação), crise de governabilidade.

No imaginário social a política estáposta emxeque,

demissões

A cultura assassinado caos encurralado

reduzida àcorrupção, ao espaço de interesses privados,a malandros e espertos. O indiferentismo, a apatia e odesinteresse político crescem. Condutas individuais emesmo coletivas tendem a negar sustentação aosistema político e social, acirrando os efeitos de umacrise econômica e social que vem corroendoinstituições, deteriorando as condições de vida e dejustiça social numa escala nunca tão forte que tende areduzir todo associativismo à mera agregação deinteresses para autodefesa.

O mal-estar confunde e angustia quandopercebemos que há um grande desemprego atingindode forma perversa nossa sociedade, mas essa situaçãosó temsidoencarada, individualmente. Nosso sindicato,como as instituições das demais categorias, pouco podefazer para nos ajudar.

Foi essa sensação que numa noite dessas, num barcentral de Curitiba, percebi ao estar conversando comseis jornalistas, todos consumidores de Prozac. Odesemprego de todos nós foi o tema que acompanhouos salgados e cervejas que tomamos, e a depressãoda maioria talvez pela primeira vez na vida de cadaum tenha merecido uma confissão mais corajosa ehonesta, como passo a relatar no próximo segmentodesta reportagem, que mais do que uma matériaentendo como uma proposta de pauta para novosassuntos, ou até de um seminário que possamosorganizar em nosso sindicato, onde possamos debatera atual conjuntura crítica que nos envolveu sob novosângulos.

“O pessoal e o profissional bateram de frente”Quando cada um dos repórteres e editores falaram

de suas histórias de vida, senti que mais do que nuncao mundo profissional invadira densamente a vida decada um de nós, numa mistura perigosa. E todos nosabrimos, sem medo até de chorar. Para respeitar aindividualidade de cada depoimento, as identidades dosprofissionais forammantidas em sigilo a pedido deles.Assim consegui ouvir seis histórias de desempregadosdeprimidos e consumidores de Prozac,coincidentemente.

Caso número 1 – “Sou casado, eu e minha mulheresperamos nosso primeiro filho. Estamos vivendo háquase um ano na casa dos meus pais. Nossa vida temsido muito difícil. Somos sustentados por meu paiaposentado. Só consigo pegar ônibus quando ele medá dinheiro. Saio de manhã para procurar emprego.Não almoço, nem lancho, só janto. Minha mulherguarda comidapara mim, mas todasas noites discutimosfeio na cama. Ela diz que viver comigo é uma ameaçapara seu futuro. Meu casamento está acabando e soupressionado para sair da casa dos meus pais. Passei a

tomar o antidepressivo que me acalma, mas não seipor quanto tempo terei dinheiro de um irmão paracomprar o remédio, e sem ele fico muito tenso, maisrevoltado. Minha mulher quer que eu arranje outroemprego, diz que não acredita mais em mim comojornalista.”

Caso número 2 – “Já peguei grana até de bichapara conseguir jantar depois de ficar com fome o diainteiro, rodando pela cidade a pé,entregando currículosnos jornais. Foi um terror quando me vi na cama como cara. Acho que isso é o fundo do poço e o pior é quevocê tem que manter a imagem, andar mais ou menosbem vestido e não pode fazer cara de derrotado enem sequer falar em crise. As pessoas não gostamde falar de crise e muito menos de ver alguémdeprimido, até te humilham, gozando sua situação. Fuidemitido porque reclamei de uma pauta burra, malformulada. Deprimido, depois de um tempo passei afantasiar até meu suicídio. Para evitar a depressãopassei a consumir Prozac. Às vezes durmo mal e melevanto para fazer os textos que gostaria de ver osjornais publicando, reportagens fictícias que inventono computador.”

Caso número 3 – “Eu trabalhava na assessoria deuma empresa e fuidemitido pelo telefone praticamente.Primeiro me disseram que eu estava fora, só pudeganhar uma explicação depois de quase implorar.Queria saber por que estavam me demitindo. O diretorde Recursos Humanos veio me dar conselhos, dizendoque temos que nos adaptar à conjuntura desafiadoraque estamos vivendo. A empresa tem o direito deenxugar seus custos, precisa manter sua sobrevivênciano mercado. Tudo bem, e eu? Será que não precisosobreviver também? Meus trabalhos eram elogiados,diziam que eu tenho um bom texto, que deveria irtrabalhar num grande jornal. No dia que fui cortadoda empresa uma funcionária da presidência observouque agora eu teria chance de transformar minha crisenuma mudança de vida para uma situação melhor.Estou sendo sustentado por minha irmã até no Prozac.Já andei roubando grana da bolsa de uma parenta.Não sei se posso pensar em futuro com o mercadoselvagem como está.”

Caso número 4 – “Estou brigando na JustiçaTrabalhista. Minha namorada está me sustentando etem que comprar produtos mais baratos no mercadopara conseguir colocar o básico na mesa. Ela achaque devo me adaptar às novasexigências do jornalismo.Trabalhar mais e não discutir nunca. Temos que fazero máximo de concessões para sobreviver com omínimo hoje e sermos o mais fortes possíveisemocionalmente. Se cairmos na depressão, aí é o fim.Tenho tentado agir assim, mas ainda não arranjei

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 11: Extra Pauta Ed. 57

emprego nem sei quando terei um novocontrato. Já experimentei coca e gosteida sensação. Estou administrando ovício que, segundo um amigo meuempresário, é possível ser controlado.Ele consome coca há vários anos. TomoProzac, acho que o antidepressivo nãocombina bem comdrogas, mas continuomisturando tudo.”

Caso número 5 – “Estou vivendo defrilas há mais de três anos e posso dizerque isso não é vida. Para começarraramente pagam bem o seu trabalho.Estou bebendo muito e fumandomaconha, alémde três maços de cigarrospor dia. Minha namorada sonhou com oPrimeira Hora, que terminou numpesadelo depois que fizemos um mundode planos de vida. O caso do PrimeiraHora deixou muita gente decepcionada,perdida, até sem referências agora sobreo que pode ser uma empresa mais séria,confiável. Há mil explicações, mas ogrande caso é que os dirigentes dasempresas não sabem exatamente o quequerem fazer. Você tenta achar que osistema é certo, tem ética, justiçaprofissionalpara quemtrabalha bem, masnão é nada disso. Geralmente são osjornalistas que são julgados, mas e osjornais? Fiquei dependente do Prozacpara tentar segurar minha fragilidadeemocional. Mas isso não é o mais críticona nossa área de atividade. Algumasjornalistas de vez em quando fazemprostituição. Isso é uma situação muitodramática, mas já existem alguns casosem Curitiba. Eu já transeicom uma delaspagando um bom dinheiro.”

Caso número 6 – “Quando procuroemprego bato de frente com alguém lembrando quesou um bom profissional, mas que tenho umcomportamento muito complicado. Sempre gostei dediscutir pautas e textos, trocar idéias. Antigamentehavia um ambiente mais bem humorado nas redações,mais dialético. Os chefes e editores na redação erammais humanos, sei lá, mais preocupados comprofissionalismo. Hoje são todos cumpridores deordens e metas, ou de manuais de redação. Hoje nãoposso mais viver do jornalismo, estou endividado emorando em pensão e já estive albergado duas vezesem Curitiba, morrendo de medo que alguémdescobrisse. Tenho faturado umdinheirinho comfrilas,o que me garante a compra de antidepressivos e àsvezes maconha. Você acha minha situação ruim?Tempior. Conheço um jornalista que é traficante e temuma grande clientela no Jardim Social.”

A normalidade assassinaSegundo alguns cientistas sociais, entre sociólogos

e psicanalistas, os avanços da tecnologia,principalmente na mídia eletrônica e na informática,bem como a globalização da economia, criam práticasque implicam uma pluralidade de ambientes,aproximando uma imensa diversidade de corpos, não

só humanos. Tudo isso tem abalado cada vez mais ocontexto da nossa subjetividade e passamos a agir coma tal “consciência objetiva”, que não respeita o mundopessoal. O homem passa a se guiar somente pelaconduta proposta pelo mercado e suas circunstânciasaltamente complexas.

Ocorre então o que a psicanálise chama de“desestabilização exacerbada”, um processo em quequalquer profissional é obrigado a conviver com umaespécie de nova identidade, caso não queira correr operigo de ser rejeitado totalmente, de virar um nada,caso não consiga produzir o perfil requerido paragravitar em alguma órbita do mercado.

Esse processo emocional funciona numa pessoadificultando sua resistência à depressão, impede suaexperiência dos vazios de sentido e de valor. Taisexperiências tendem então a ser apavorantes: aexperiência subjetiva de uma pessoa é tomada pelaameaça permanente de fracasso profissional,despersonalização e daí para seu vazio interior sertomado pela depressão não demora muito.

Para o psiquiatra social José Elias Aiex, ex-presidente da Associação Médica do Paraná,“estamos vivendo numa sociedade que imbeciliza oindivíduo nessa cultura densamente mercadológica.

E esta cultura não valoriza a dialética,a controvérsia, a análise maior dosconflitos. Pelo contrário, estamos todossendo anestesiados diariamente, nãosomente pelo consumo de um Prozac,por exemplo, como tambémpela mídia.E por trás dessa situação está averdadeira doença da sociedadeliberal: a negação do crescimentointerior de uma pessoa, a negação dasubjetividade, com seu corolário: aimposição culturalde uma normalidadeassassina que mata em cada homem oque torna único, a sua subjetividade ea força criadora do dinamismoinconsciente”.

Na visão do psiquiatra, “oantidepressivo abole o sintoma, reduza angústia e livra o homem daresponsabilidade de seu mal. Temoshoje inclusive uma psiquiatria biológicaque, desinteressada dos processoscausais do sofrimento psíquico, afastao homem do encontro de si mesmo e otorna até fármaco-dependente: já quea solução (passageira) está nomedicamento, volta-se a ele sempreque o conflito (não resolvido) aflorar”.

Parece, entretanto, que a sociedadenão quer que ninguém pense assim.Quem fica desempregado, quem érejeitado ou discriminado pelo mercadode trabalho, “errou na sua trajetóriaprofissional, foi irresponsável com afamília, foi incompetente. Temos queentender que o mercado está acima dosnossos problemas pessoais”, afirmamalguns consultores de empresa na áreade recursos humanos, mas será que nãopodemos questionar issode outra forma?

Ou teremos que aceitar que o neoliberalismo éum sistema perfeito, é um sistema que talvez tenhaplena possibilidade de utilizar sua pujança industrial,sua engenharia social, sua pura opulência e suasdesenvolvidas táticas diversivas para minorar, usandomeios que a maioria das pessoas julgará perfeitamenteaceitáveis, todas as tensões geradas peladesorganização, pela privação e pela injustiça queatualmente perturbam nossas vidas?

Acho que, como diz a apresentação de um Manualde Assessoria de Imprensa publicado pelo nossosindicato em 1986, “a nova conjuntura abre imensaspossibilidades para uma nova etapa do debate. Ademocracia, ou melhor, a transição democrática traza oportunidade de viver experiências que pelo menosuma geração de profissionais não vivenciou. O públicoamadureceu e se tornou mais esclarecido e exigente.Os interesses de grupos acentuaram-se...”

O manual foi produzido noutra época, mas suaproposta de diálogo continua aberta no tempo muitomais difícil que estamos vivendo agora para manternossos empregos. Vamos ao debate.

Gil Castello Branco é jornalista comespecialização em sociologia das comunicações

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 12: Extra Pauta Ed. 57

12 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

reforma gráfica

O Estado do Paraná tem cara novaSem a preocupação de transformar o fato

num grande evento, O Estado do Paranárealizou uma reforma gráfica em sua

edição diária de 17 de outubro do ano passado.“Partimos do princípio de que uma reformagráfica e editorial se faz no dia-a-dia”, explicao cartunista e designer Dante Mendonça, autorda reforma. “Mudamos a cara do jornal, masnão o seu conteúdo. No aspecto editorialmantivemos tudo. Fizemos uma reorganização,pois o jornal vai se desgastando com o passardo tempo.”

Segundo Dante Mendonça, a reforma foifeita respeitando o leitor. O novo desenhográfico não agrediu o hábito do leitortradicional. Foram mantidos os mesmos pontosde atração, mas com um novo design. Doponto de vista do cartunista e designer, “o leitormédio de O Estado do Paraná é um senhorelegante vestindo um belo traje social Armani,mas com um tênis no pé”. Assim, a idéia básicada reforma foi fazer um veículo elegante, mascom a descontração de quem usa um tênis.

A reforma gráfica foi uma primeira etapa.A segunda será implantada no início de março,quando o jornal passará a usar um novosoftware de edição e editoração, o Quarck,em substituição ao Ventura. Nessa primeiraetapa, foi mudada a tipografia e reordenada acomposição gráfica das colunas, títulos elegendas. O Times continua a ser utilizado nacomposição dos textos, mas nos títulos passoua ser usada também a família do FrankfurtGothic, além de uma família nova, a Utopia.Basicamente, O Estado do Paraná trabalhaagora com três famílias de fontes.

Uma cara únicaTambém foi feito um novo desenho de página,

incorporando todo o material editorial que o jornaltinha antes. “A preocupação foi a simplicidade, semarabescos e barroquismos, para facilitar a leitura”,observa Dante Mendonça. “Procuramos deixar odesenho o mais limpo possível, eliminando as firulasgráficas. A firula não devia ser mais importante quea notícia. Areforma também tinha o objetivo de fazerum jornal bonito e agradável”, ele diz.

O desenho gráfico de O Estado do Paraná éúnico, segundo Dante Mendonça. O jornal sempreteve uma primeira página personalizada. Foi oprimeiro a usar as janelinhas, que semprerepresentaram a marca da publicação. Elas forammodernizadas, com um design novo. A logomarca,em fonte Futura, que na reforma anterior havia sidocondensada, retornou à sua forma original. Embaixoda logomarca, foi acrescentada uma barra em verdee azul, as cores da bandeira do Paraná. A idéia foitirar partido das cores do Estado e marcar o nomeda publicação: jornal de todo o Estado do Paraná.

“No Estado do Paraná, conseguimos criar umacara única para o jornal”, afirma Dante Mendonça.“O veículo tem um desenho personalizado, muitopróprio, tecnicamente bem feito. Em outros jornaishá uma miscelânea e eles ficam amorfos, semespírito e sem rosto. Pegam um pouco de O Globoe mais um pouco de Folha de S. Paulo, e não têmuma personalidade própria, em soluções gráficas eeditoriais. O Estado do Paraná tem uma soluçãopersonalizada em termos editoriais.”

O Estado do Paraná fez toda a reforma gráficacom equipe própria. Não contratou uma empresade fora, de outro Estado ou de outro país. “Areforma foi feita por pessoas que conhecem asnecessidades do jornal. Demos os passos quepodíamos e devíamos dar. Não oneramos o jornalfinanceiramente nem aumentamos cadernos. Houveuma racionalização, pois as empresas decomunicação passam por dificuldades no mundointeiro”, comenta Dante Mendonça. “Além disso, areforma facilitou muito o trabalho do jornalista que

trabalha na redação. Ela ajuda no momentofinal de edição. E dá velocidade ao editorno momento de fechar”.

Uma mudança constantePara facilitar a leitura, foram

uniformizados os tipos. O corpo 10,5 daTimes foi estabelecido como padrão em todoo jornal. “Antes havia uma miscelânea detipos num verdadeiro carnaval”, observaDante Mendonça. “Cada página eraresolvida de uma forma. Isso complicava aleitura. Fizemos uma organização eestabelecemos normas de edição dentro dospadrões modernos. Conseguimos, com areforma, deixar o jornal mais ágil, bemorganizado, de leitura fácil, limpo e leve”,ele explica.

Segundo Dante Mendonça, o jornal temque estar em processo constante de reforma.Um jornal que se engessa é um jornal morto.Mas o leitor não pode encontrar um jornaldiferente cada dia. Ele tem que sentir queestá lendo o mesmo jornal, e nem deveperceber a mudança. “Cada dia vamosfazendo um jornal novo. Até graficamentepode ser feita uma reforma, pois o jornal écomo um ser vivo. Ele está evoluindoconstantemente. Mas não se pode assustaro leitor todo dia”, observa o cartunista edesigner.

As mudanças trouxeram uma respostapositiva dos leitores e assinantes. Elesassimilaram as alterações introduzidas.Depois da reforma, foi feito umacompanhamento pelo telemarketing. “Aaceitação foi total e expressiva, causandouma surpresa agradável”, diz Dante

Mendonça. “Os assinantes deram em média,graficamente, a nota 9,5. O resultado foi um aumentoexpressivo na venda em banca e principalmente nasassinaturas.”

Na parte editorial, há necessidade de maismudanças, que exigem recursos financeiros e depessoal. Essa reforma está em fase de espera, poiso momento difícil que os meios de comunicaçãoatravessam não aconselha a realização deinvestimentos. “Não vamos ficar no que está aí.Vamos avançar, com o pé no chão e a preocupaçãode cada dia melhorar o produto”, diz DanteMendonça.

O designer e cartunista já havia feito a reformada Tribuna do Paraná há dois anos. Tambémmodernizou o jornal A Notícia, de Joinville, há oitoanos. Hoje, este veículo de Santa Catarina é umadas publicações graficamente mais premiadas doBrasil. Em 1984, ele idealizou o designdo Correio deNotícias, junto com Mussa José Assis, atual diretorde redação de O Estado do Paraná.

“No Estado do Paraná, conseguimos criaruma cara única para o jornal”

Arquivo O Estado do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 13: Extra Pauta Ed. 57

reforma gráfica

Folha recupera identidade localArecuperação da identidade local. Este foi o

ponto principal no processo de reforma gráficae editorial da Folha de Londrina, que foi

implantada no dia 23 de dezembro do ano passado. Oprocesso começou com a constatação de problemaseditoriais e toda a redação participou da reforma, oque raramente acontece no jornalismo brasileiro. Istofoi possível porque a direção estava disposta a fazeruma reforma em profundidade, num momento difícilda história do jornal.

Segundo a jornalista Teresa Urban, que coordenoua reforma, a direção da empresa e a redação chegaramnum determinado momento à conclusão de que erapreciso mudar. E, a partir de julho do ano passado, adireção passou a pedir a mudança de formasistemática. Inicialmente foi feita uma discussão comquatro coordenadores de área em Londrina e uma emCuritiba, na qual o jornal foi avaliado caderno porcaderno, numa análise de conteúdo, procurandoverificar o que faltava e o que sobrava na publicação.

A avaliação foi aprofundada e, emagosto, concluiu-se que o jornal tinha vários problemas na organizaçãoda informação para o leitor e na sua apresentação.“O processo de discussão, pensando o jornal fora dodia-a-dia, foi muito rico”, analisa Teresa Urban.“Observamos que o jornal não era homogêneo e nãotinha um modelo de edição adequado. Faltavamserviços ao leitor, as matérias eram monótonas e haviapouco uso de gráficos e de remissão. O leitor nãoconseguia entender bem onde o fato se situava. Oscadernos semanais estavam divorciados da coberturae não tinham relação com o que estava acontecendodurante a semana”, ela diz.

Foram então levantadas sete propostas, para seremdiscutidas comos editores. Em seguida houve reuniõesde trabalho com todos os jornalistas de Londrina, deCuritiba e das sucursais, cerca de 120 pessoas. Forammontados grupos de trabalho, para discussão, e chegou-se à definição de alguns princípios que deviam orientara mudança. A Folha de Londrina devia ser:1. um jornal independente, que informe o leitor sobreos principais acontecimentos do Estado, sobretudo nasáreas de política, administração pública (geral) eeconomia2. um jornal com fortes raízes locais na cobertura dacidade3. um jornal de linguagem clara e rápida e informaçãoacessível4. um jornal de serviços ao leitor5. um jornal que dê espaço ao leitor6. um jornal mais vibrante.

“Dicotomia insustentável”“Quando isso ficou configurado, a dicotomia entre

Folha de Londrina e Folha do Paraná erainsustentável”, comenta Teresa Urban. “A Folha deLondrina era um jornal local, com raízes locais, eestava sendo pressionada por uma publicaçãoestadual. No entanto, o jornal deve ter fortes relações

com a comunidade. Precisa conhecer bema cidade e cobri-la muito bem. Ao mesmotempo, tem que oferecer ao leitor da cidadede origem informações adequadas sobre oestado e de caráter nacional. Mas a inserçãodo jornal na comunidade é fundamental parao seu sucesso”, ela explica.

Outro ponto importante: o leitor tinha queestar presente em todas as páginas. Criou-seum índice explicativo na terceira página, paraque ele pudesse optar pelo que o jornaloferece. Aumentou-se muito o espaço donoticiário geral. As políticas públicas, quetinham uma cobertura pequena, ganharam umespaço bem maior. Educação, moradia esaúde passaram a ter uma grande coberturano final do primeiro caderno.

No segundo caderno, destinado a cidades,foi dada prioridade a Londrina, com umapágina específica deserviços e quatro páginasde cobertura. As cidades pequenas ficaramcom uma página e para Curitiba e as cidadesonde o jornal mantém sucursais ecorrespondentes foram destinadas três.Londrina foi privilegiada, sobretudo na páginade serviços, segundo a idéia de que, nestapágina, o leitor deve ter a cidade na palma damão. O guia obriga o leitor a mergulhar nacidade.

O espírito da reforma era estabelecerum caderno de quatro páginas para cadaeditoria, e cada caderno iria crescendoconforme a sua relação com o leitor. Ocaderno de sociedade foi eliminado e houvea recuperação de colunas que eram caras à cidade.A página 3 passou a ser a última no fechamento,sem tumultuar o processo industrial. Finalmente, aidéia era ter uma primeira página como espécie delead do jornal, com as informações mais importantese as imagens visualmente mais fortes.

A reforma também introduziu uma nova formade agir na redação, exigindo uma grande integraçãodos editores, numa ligação forte com a página 3. Areforma criou uma articulação entre as editorias,quebrando os muros que as separavam, etransformou o jornal num produto único.

Quando estas idéias estavam claras, Teresa Urbanprocurou um programador gráfico e pediu a ele queas traduzisse numa proposta gráfica. “Buscamosalguém de fora que não tivesse intimidade com o dia-a-dia da redação. Ele já havia feito outros projetos erespondeu muito bem. Criou um modelo leve, ousadoe moderno. Levou em conta a agenda das pessoas dehoje, que lêem o jornal rapidamente e precisam ternele um suporte para o dia-a-dia, para entender o queacontece”, diz Teresa Urban.

Um jornal novoJoão Roberto Alves dos Santos, designer e editor

gráfico, foi encarregado da reforma gráfica. Foi elequem idealizou o Caderno G da Gazeta do Povo, ehá quatro anos realizou uma reforma no mesmojornal. Antes, já havia reorganizado o Indústria &Comércio e o Diário Popular, além de outros jornaismenores. “Foi feito um jornal novo. A mudançafoi total. A reforma gráfica complementou a parteeditorial”, afirma o designer.

Ele sugeriu textos mais curtos, manchetesmenores para aumentar o tamanho das letras efotos maiores. “Isso dá mais conforto à leitura, eo editorial e o gráfico ficam equilibrados”, explicaJoão Roberto. “Dei uma clareada na Folha. Elaficou mais leve e mais nova. A introdução de clarosentre as colunas deixou o jornal mais leve. O jornalficou mais alegre e mais fácil de ler.”

O designer também adotou a diagramaçãoverticalizada e introduziu um manual gráfico naFolha. “Um paginador novo entra no jornal e nãoconhece as definições gráficas. O manual lhe dátodas as informações, padronizando a publicação.Sem o manual, logo se perde a identidade visual.”João Roberto vai acompanhar a mudança gráficadurante três meses, para corrigir as másaplicações.

A jornalista Teresa Urban coordenoua reforma da Folha

Arquivo Extra Pauta

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 14: Extra Pauta Ed. 57

14 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

greve nacional

Alexandre Palmar

Opresidente Fernando Henrique Cardoso(PSDB) prepara mais um duro golpecontra os trabalhadores. Depois de inúmeras

investidas visando diminuir os direitos trabalhistas,FHC resolveu mostrar suas garras, impondo oprojeto de lei 5843/01, que altera o artigo 618 daConsolidação das Leis de Trabalho (CLT). Amedida permite, de forma simpática e perversa, queo negociado prevaleça sobre o legislado.

A proposta soa como uma piada num quadronacional de desemprego acentuado. É fácil preverque não haverá equilíbrio nas negociações diretasentre trabalhadores e sindicatos. Em pouco tempo,as empresas cortarão o direito do trabalhador detirar férias por 30 dias, as mulheres podem ter alicença maternidade reduzida de quatro meses paraalguns dias, a licença paternidade poderá ser extintae o 13º salário pago em até 12 meses. Isso paraficar em alguns exemplos.

Com o desemprego batendo à porta, os patrõesiriam pressionar diretamente seus funcionários paraeliminar essas garantias. “Os sindicatospossivelmente seriam obrigados a assinar contratosinferiores, perdendo direitos históricos. Eles serãoempurrados a isso pelos próprios trabalhadores quealmejam preservar os seus empregos”, afirma oeconomista Marcio Pochamnn, professor livre-docente da Unicamp e secretário doDesenvolvimento, Trabalho e Solidariedade domunicípio de São Paulo.

Essa situação está perto de tornar-se realidade.No segundo semestre de 2001, a Central Única dosTrabalhadores (CUT), parte do movimento sindicale várias entidades tentaram brecar o andamento damatéria na Câmara Federal. Somente na quartatentativa, em 4 de dezembro, o governo reuniu votossuficientes: 264 a favor, 213 contra e 2 abstenções.Agora, o governo FHC pode bater o martelo, coma proposta sendo votada em breve no Senado.

Ciente do problema, a CUT está convocando ostrabalhadores brasileiros para uma greve geral nodia 21 de março. Sob o slogan “Só depende de nós”,o movimento grevista quer dar um basta à ofensivado Palácio do Planalto contra a classe operáriainiciada em 1990, com o início dos governosneoliberais. A central já organiza plenárias, inclusiveno Paraná, para definir os detalhes da paralisação.

Onde os jornalistas se encaixam nesse cenário?A categoria demonstra pouco interesse porquestões trabalhistas, em parte, porque a maioriase considera profissional liberal. Este pensamentoé equivocado. Basta lembrar da escravidão nasredações e recordar que o piso muitas vezes é oteto salarial, apesar dos direitos previstos na CLT econvenção coletiva. Esta aí uma oportunidade paracomeçar a reverter esse comportamento apático.

FHC dizima direitos trabalhistas

Governo quer o fim da unicidade sindical

O pacote de mudanças na legislação trabalhistatraz a gana do governo de quebrar a unicidadesindical, caracterizando mais um golpe contra asentidades. A unicidade sindical é de sumaimportância, pois garante um sindicato porcategoria em cada cidade. O fim da limitaçãopossibilitaria que vários sindicatos atuassem numamesma base territorial, pois desapareceria aprópria delimitação de categoria profissional.

A modificação pretendida através de Propostade Emenda Constitucional 623 (PEC) tende a

Conceitos neoliberaisA política neoliberal trabalhista é sustentada em três eixos.1 - As pessoas estão desempregadas porque não têm qualificação necessária. De 1995 a 2000, cerca de 10 milhõesde brasileiros foram “qualificados” nos cursos profissionalizantes. Nem por isso o desemprego diminuiu. Mas odesemprego persiste nesta idéia, como se existissem vagas esperando as pessoas qualificadas.2 - O segundo prioriza o microcrédito. O governo diz que, se o desempregado quiser ser dono do seu própriodestino, basta tomar um empréstimo e montar o seu pequeno negócio.3 - O terceiro diz que o trabalhador está desempregado porque não aceita trabalhar com custos menores. Daí asmedidas voltadas à flexibilização trabalhista.

1 - Flexibilização dos direitos sociais;2 - Implantação do contrato coletivo do trabalho;3 - Redução dos encargos trabalhistas;

Fonte: Revista Debate Sindical, novembro de 2001

4 - Redução do acesso à Justiça do Trabalho;5 - Fim da contribuição sindical;6 - Introdução do pluralismo sindical.

Estratégia para o desmonte dos direitos trabalhistas

resultar, num primeiro momento,na criação de mais sindicatos.Surgiriam entidades iguais apenascom nomes diferentes. Digamosque, por algum motivo,funcionários do jornal xis, dáblioou zê resolvam montar umsindicato. É provável que nasçamentidades frágeis, ocasionando,num segundo momento, ofechamento de grande parte delas.

Para o deputado federal AldoRebelo (PCdoB/SP), “sempre que sepropõe alterar a atual forma deorganização sindical, a intenção dogoverno é a mesma: reduzir o poderdos sindicatos, limitando suarepresentação apenasaos associados;instituir o sindicato por empresa, paraque asnegociações trabalhistas sejamfeitas de forma pulverizada, o que vaicontribuir ainda mais para diminuir aforma da pressão dos trabalhadores;por fim, asfixiar financeiramente asorganizações de trabalhadores edesmontar os direitos coletivos dosassalariados”.

Dentro desse quadro, valelembrar um discurso do senador Darcy Ribeiro em1996. “A unicidade sindical dá possibilidade à classeoperária de ter atuação política, de estar presenteno quadro nacional. (....) É uma coisa criminosa,que se deve à inspiração estrangeira, o pluralismosindical dos financiadores do movimento sindical nomundo, os alemães, os franceses, os norte-americanos. Adotar isso no país é como jogar forao nosso passado e adotar o passado norte-americano, o passado inglês.”

Alexandre Palmar é vice-presidente doSindicato dos Jornalistas do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 15: Extra Pauta Ed. 57

O presidente do Sindicato dos Motoristas eCobradores de ônibus de Curitiba e RegiãoMetropolitana (Sindimoc), Denílson Pires da Silva,abandonou a posição passiva que tinha adotado emrelação aos dissidentes que queriam derrubá-lo eresolveu contra-atacar. Os descontentes com a atualdiretoria do Sindimoc haviam convocado umaassembléia para ontem à noite (dia 4 de fevereiro),na Praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba, paraorganizar a greve que estava marcada para hoje (dia5). No entanto, Denílson adiantou-se e chamou umgrupo de companheiros para tumultuar a assembléia.Cerca de 300 pessoas com fitas amarelas nos punhostomaram a praça. Para evitar confrontos, aassembléia foi cancelada e a greve suspensa.

Um cobrador, que não quis se identificar,denunciou que a manifestação de ontem foi umaarmação. Ele afirmou que as pessoas que estavamna praça não eram motoristas nem cobradores, mashomens contratados pelo sindicato. “Passaram nafavela do Parolin, na Vila São Pedro e no Bairro Novooferecendo R$ 25 para quem viesse gritar o nomedo Denílson”, diz. Ele conta que os “contratados”

liberdade de imprensa

Sindimoc tumultuaassembléia degrevistas

Em seu primeiro dia de trabalho na Gazetado Povo, o repórter Ricardo Sabbag teve queenfrentar a ira de quem participava de umamanifestação em frente ao Sindica to dosMotoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba(Sindimoc). O jornalista, recém-saído do jornalPrimeira Hora, recebeu chutes e empurrões decinco homens, que reclamaram da maneiracomo Sabbag estava apurando as informações.

Na verdade, a agressão queria inibir aa tuação de Sabbag , que momentos antesrecebera uma informação da polícia sobre apossibilidade de a lguns manifestantes nãoserem nem motoristas, nem cobradores deônibus. Muitos dos que ali estavam usavam umapulseira amarela, que serviria para identificaras pessoas que tinham recebido dinheiro paraestarem no loca l. Quando soube disso , orep ór te r fo i pe rgunt a r aos própr iosmanifestantes se estavam usando a pulseira emtroca de alguma coisa. Todos negaram. Logodepois, um grupo de cinco pessoas o cercou e,enquanto o agredia, dizia para não tocar noassunto das fitas.

A agressão sofrida pelo jornalista repercutiude forma negativa no sindicato e nos jornaisda região . O Sindicato dos Jorna listas doParaná divulgou nota de repúdio à agressão. Amanifestação era de apoio ao presidente doSindimoc, que vem sofrendo pressões internas.

Transcrito da Gazeta do Povo de 6/2/2002

O Sindicato dos Jornalistas reagiu à agressão ajornalistas praticada por pessoas ligadas ao Sindimoc- Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibusde Curitiba. Foi enviado ofício ao presidente daentidade, DenílsonPires da Silva, pedindo explicaçõese divulgada nota de repúdio, que segue abaixo.

Nota de repúdioO Sindicato dos Jornalistas Profissionais do

Paraná repudia a agressão a jornalistas cometida nodia 4 de fevereiro de 2002, na Praça Rui Barbosa,em Curitiba (PR), por pessoas ligadas ao Sindicatodos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba(Sindimoc). A agressão teve a clara intenção de inibiro trabalho dos jornalistas, que não desrespeitaramprincípios éticos ou faltaram com profissionalismo.A ação configura um grave atentado à liberdade deimprensa e, por conseqüência, à democracia. OSindicato dos Jornalistas exige uma explicação formalpor parte do Sindimoc e das pessoas envolvidas.Alerta também que tomará todas as medidasnecessárias para garantir os direitos dos jornalistasagredidos e para impedir que episódios lamentáveiscomo esse aconteçam novamente.

estavam com a fita amarela no pulso para diferenciá-los dos verdadeiros motoristas e cobradores. “Quemnão estava com fita poderia apanhar se houvessepancadaria.”

O grupo, emseguida, se dirigiu àsede do Sindimoc.Em meio ao tumulto, a reportagem da Gazeta doPovo foi cercada por um grupo de manifestantes quequeria tirar satisfações sobre perguntas feitas arespeito das fitas amarelas. O grupo agrediu o repórtercom empurrões, chutes e ofensas verbais. A situaçãosó não se complicou ainda mais porque membros daimprensa intercederam. Mais tarde, o presidentePires tentou minimizar a situação e disse que “ostrabalhadores estão nervosos porque passaram umasemana tensa”.

Os da fita amarela foram para as garagens dasempresas de ônibus e, segundo o advogado dosindicato, Valdenir Dias, a intenção era coibirqualquer tentativa de greve. “Quem reclamar, nósvamos baixar o pau”, afirmou.

Ricardo Sabbag e Fábio Okubaru

Transcrito da Gazeta do Povo de 5/2/2002

Repórter da Gazetaé agredido emmanifestação

Sindicato repudiaa agressão

Homens contratados pelo Sindimoc tumultuam a assembléia convocada pelos dicidentes

Arqu

ivo

Gaz

eta

doPo

voC

reat

ed b

y P

DF

Gen

erat

or (h

ttp://

ww

w.a

lient

ools

.com

/), to

rem

ove

this

mar

k, p

leas

e bu

y th

e so

ftwar

e.

Page 16: Extra Pauta Ed. 57

16 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

diploma

Diferenças de formaçãoOcirurgião-dentista Valdir Konzen, de Toledo,

suicidou-se em 23 de janeiro de 2000,relacionando seu ato às chantagens do

colunista Sérgio Ricardo, da Gazeta do Paraná, deCascavel. Ele deixou duas cartas explicando queperdera a vontade de viver, depois que seu nomeapareceu na coluna de Sérgio Ricardo, em cinconotas, que insinuavam estar o dentista mantendoum caso homossexual. “Estou desesperado edesacreditado na vida! Nunca fiz o que se comenta”,escreveu Konzen em uma das cartas. SérgioRicardo não tinha curso de comunicação e utilizoude maneira antiética espaços jornalísticos.

Três dias antes, Antonio Almeida, proprietárioda revista Estado e também colunista da Gazeta doParaná, foi preso em flagrante quando recebia R$mil da Prefeitura de Cascavel, referente à primeiraparcela de R$ 5 mil exigidos por ele para nãoespalhar na cidade panfletos contra o prefeitoSalazar Barreiros (PPB). Antonio Almeida, oMagal, também não tinha diploma de curso dejornalismo.

Os dois casos de Cascave l levaram oSindica to dos J orna lis tas a fazer umlevantamento sobre as pessoas em situaçãoirregular que trabalhavam na imprensa local eencaminhar denúnc ia à Procurador ia doMinistério Público do Trabalho contra a empresaque contratou de forma irregular pessoas semregistro no Ministério do Trabalho, portanto semcondições de exercer a profissão.

Os casos de suicídio e de extorsão são osexemplos mais graves do que pode ocorrer quandopessoas não habilitadas em curso de Jornalismoocupam espaços de meios de comunicação noexercício ilegal da profissão. Um jornal feito pornão-jornalistas também pode trazer aborrecimentosao jornalista responsável que não acompanha a suaprodução. Foi o que aconteceu com o Jornal daBarreirinha, que nas últimas eleições para prefeito

de Curitiba saiu com a manchete “O bem venceu omal na última batalha do século” A foto do “bem”trazia Cassio Taniguchi abraçado a uma idosa,enquanto o “mal” era representado por ÂngeloVanhoni, Roberto Requião e Álvaro Dias. Oresponsável pelo jornal era o jornalista e vereadorJorge Bernardi (PDT), que apoiou Vanhoni nosegundo turno.

Tomando o exemplo dos jornais de bairro,“uma das diferenças entre uma publicação feitapor um profissional formado e as outras é queeste se preocupa mais com a comunidade e querser o seu porta-voz. Concentra sua atenção noque está ocorrendo no bairro e vai atrás da notíciaque o jornal grande normalmente não publica.Quem não é jornalista se interessa mais pelaparte comercial, não se preocupa em buscar anotícia e não tem visão comunitária”, observa ojornalista Ramón Ribeiro, responsável peloJornal do Bairro Alto.

Opinião parecida tem Mário Milani, editor darevista Crea/PR, que trabalhou muitos anos nointerior do Estado e em jornais de bairro de Curitiba.“A maioria dessas publicações é feita por não-jornalistas, e a sua falta de qualidade é visível. Nãosabem como escrever uma notícia, que muitas vezesvem cheia de erros de português e de informação.A maioria só se preocupa em faturar ou estáatrelada a políticos e tem pouca consideração pelaética. Pior ainda é no interior, mesmo onde hájornalistas provisionados”, ele diz.

Mantendo sua posição de defesa daregulamentação dos jornalistas, o Sindicato dosJornalistas Profissionais do Paraná enviou no finalde fevereiro um ofício a trinta conselhos regionaise sindicatos de várias categorias profissionaispedindo o seu apoio pela manutenção daregulamentação profissional em Jornalismo. Emanexo, enviou um abaixo-assinado pedindo aassinatura dos integrantes da diretoria e/ou conselhodas entidades.

Considero ilegítimoo movimentoque estátentandoextinguir o diploma docurso de

Jornalismo nopaís. A profissão de jornalista émuito importante parao desenvolvimento de umanação. As pessoas que escrevemsem ter feito o

curso desconhecem as técnicas de transformar osfatos em notícias. A sociedade precisa de

informação comqualidade, ética e democrática.Os jornalistas devem ser formados em

universidade. Ali eles freqüentamdisciplinasespecíficas que lhesensinam, os orientame

capacitam a bem atuar no exercício da profissão.

Affonso Correa de Araujo, presidentedo Sindicato dos Economistas do

Estado do Paraná

A sociedade precisa de informações dereferência, para embasar as diversas

profissões. O importante não é tanto odiploma, mas a preparação dos profissionais.

Se a decisão da juíza for confirmada,extinguindoaexigência dodiploma, um

jornalistaespecializado emdeterminada áreatambém poderia atuar como advogado,

médico ou engenheiro. O que se discute é oque está por trás do diploma: o conhecimentoe a referência ética. E é na universidade que se

tem essa formação.

Mário Milani, editor da revista Crea/PR

Aexigência dodiploma é indispensável, porqueo profissional de comunicação precisa de

conhecimentosgerais e de uma formação quesó a universidade pode dar. Os que queremobter registro sem uma fundamentação maissólida só trarão prejuízo para a imagem dacategoria. Para escrever umsó texto não énecessário o diploma, mas para exercer a

profissão são necessários maioresconhecimentose a formação emum curso

específico da área.

Carlos Bittencourt, presidente do Sindicatodos Engenheiros no Estado do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 17: Extra Pauta Ed. 57

O diploma é constitucionalAexigência do diploma para o exercício da

profissão de jornalista é constitucional edeverá ser mantida. A suspensão da liminar

não foi concedida num primeiro momento, masdeverá acontecer no julgamento do recurso. Estaconfiança vem do fato de que esta não é a únicaliminar concedida com esta finalidade e não será aúltima. A diferença é que esta foi concedida numaação de autoria do Ministério Público.

Quem afirma isto é o advogado ClaudismarZupiroli, assessor jurídico da Federação Nacional dosJornalistas (Fenaj), comentando a possibilidade damanutenção da exigência do diploma para que umprofissional trabalhe como jornalista. Como é doconhecimento da categoria, a juíza substituta CarlaAbrantkoski Rister, da 16a Vara Federal em SãoPaulo, concedeu uma liminar em ação civil públicado Ministério Público suspendendo a exigência dodiploma de graduação em comunicação social paraa concessão do registro profissional. A ordem judicialfoidirigidaao Ministério do Trabalho, a quem competeemitir os registros, e não aos sindicatos, que em geralencaminham as indicações.

Segundo Zupiroli, a decisão judicial se baseou noentendimento de que a exigência do diploma, contidano artigo 4o do Decreto Lei no 972 de 1969, não teriasido recepcionada pela Constituição de 1988. A juízaentendeu que a exigência não estaria mais em vigordiante da liberdade de informação e de imprensaassegurada constitucionalmente, assim como emrazão da garantia da liberdade do exercício dequalquer ofício ou profissão. Entendeu, ainda, que aexigência do diploma também estaria contra aConvenção Americana dos Direitos Humanos,assinada pelo Brasil em 1992, e que igualmenteassegura a liberdade de informação e expressão.

Contra o despacho, a Fenaj, junto com ossindicatos dos jornalistas, ingressou com um pedidode intervenção como terceiro prejudicado no processoe, ao mesmo tempo, ingressou com recurso noTribunal Regional Federal de São Paulo visando asuspensão da decisão. A Advocacia Geral da Uniãotambém ingressou com recurso contra a mesmadecisão. Esses recursos foram rejeitados pelo juizfederal Manoel Álvares e, agora, o julgamento finalficará a cargo da 4a turma do TRF, que poderá ocorrera qualquer momento. Se essa turma não cassar aliminar da juíza Carla Rister, a Fenaj e a AdvocaciaGeral da União entrarão com recurso no SuperiorTribunal do Trabalho, em Brasília. Nesse caso, adecisão levará muito tempo

Zupiroli espera que os argumentos usados pelajuíza não venham a prevalecer, até porque já foramafastados em outros julgamentos. Segundo ele, todasas decisões são unânimes em afirmar que o Decreto-Lei 972 de 1969 está integralmente em vigor e que aexigência do diploma é garantia de qualidade dainformação, não contrariando a liberdade de imprensanem do exercício profissional.

Um julgamento feito em 2000 (REOR nº 830)afirma que, “se o próprio texto constitucional, aogarantir a liberdade de informação jornalística edo exercício das profissões, reserva à lei disporsobre a qualificação profissional, é óbvio que odecreto acima mencionado foi recepcionado pelanova Carta. Além disso, a regulamentação dasprofissões é muito salutar em qualquer área doconhecimento humano. Impor aos profissionais dojornalismo a satisfação de requisitos mínimos,indispensáveis ao bom desempenho do ofício, longede ameaçar a liberdade de imprensa, é um dosmeios pelos quais, no estado democrático de direito,

se garante à população qualidade na informaçãoprestada”.

No mesmo julgamento, o juiz garante que não sepode esquecer “a importância do jornalista comoformador de opinião”. Por isso, “é pertinente aexigência de registro e formação acadêmica, pois aatuação nesta área não prescinde de conhecimentostécnicos específicos e, sobretudo, de preceitoséticos”.

A Coordenadoria de Interesses Difusos eColetivos do Ministério Público do Trabalho tem omesmo entendimento. Em1996, na apreciação prévianº 145, deliberou que as normas relativas à profissãode jornalista, mesmo tendo sido editadas antes dapromulgação da Constituição de 1988, por nãoestarem em confronto com ela, foram recepcionadas,encontrando-se em plena vigência.

No mesmo sentido, o Tribunal Regional doTrabalho do Paraná decidiu em 2000 que “o diplomade curso superior de jornalismo ou comunicaçãosocial é imprescindível para a configuração da funçãode revisor”, como prevê a alínea “g” do artigo 6o doDecreto-Lei 972 de 1969. Se é assim, observaClaudismar Zupiroli, para as demais funções previstasnas alíneas “a“e “f” do mesmo artigo, que se referemao redator e arquivista-pesquisador, também se exigeo diploma em curso superior, confirmando a vigênciado artigo 3o,V do mesmo decreto.

Deste modo, afirma o assessor jurídico da Fenaj,qualquer tentativa de revogar aquela norma sob aalegação de inconstitucionalidade mal disfarça oobjetivo de banalizar a profissão e permitir que ospatrões da comunicação social desmobilizem acategoria profissional e rebaixem o nível salarial, emprejuízo da qualidade da informação prestada àsociedade.

O diploma foi umagrande conquista dos jornalistase adecisão da juíza federal é ao arrepio da lei, e visa atenderos interesses de grandes empresas jornalísticas que não

têmcompromisso como aperfeiçoamento técnico ecultural dos profissionais. Sou amplamente favorável aodiplomae consideroa decisão uma violência contra os

jornalistas emais especificamente contra osestudantes deJornalismo que fazem cursos em dezenasde faculdades

que proliferam, num mercado restrito. Hoje temos a“indústria” das faculdades, que são encontradas em cadaesquina. Mas, apesar disso, umjornalista mal formado é

melhor que umcurioso. Defendo o diplomaintransigentemente. O argumento de queé umalei da

ditadura não tem fundamento. A lutapelo reconhecimentovem desde a década de 50 e só na de 60 os jornalistasgarantiramo diploma. E a lei faz uma concessão para osprovisionados. Ela não atenta contra a liberdade. Hoje

temos a liberdade dos donos, e não dos jornalistas.

Jorge Bernardi, jornalista e vereador na CâmaraMunicipal de Curitiba, PDT

Os jornalistas têmque estar maisunidos. Semdiploma, as coisas ficamainda maiscomplicadas. Por que as outras categorias precisam de diploma e nós não?

Suman Gaertner, da Assessoria de Imprensada Câmara Municipal de Curitiba

É umabsurdo quehaja uma decisão de não exigir diploma de uma profissãocomoa de jornalista. Os jornalistas tiveramum papel fundamental no

processo de democratização e na defenestração de políticos corruptos. É ruimque agora venha uma decisão desobrigando a exigência de diploma e de cursopara os jornalistas. A categoria precisa lutar para que haja a regulamentaçãoda profissão e a criação do Conselho de Comunicação, que só fortalece a

democracia na sociedade, como vimos com a criação de outros conselhos. Oestrago ético que umjornalista semhabilitação pode causar é tão gravequanto o de um advogado ou um médico. A formação é necessária e a

regulamentação garante a qualidade da própria profissão. É preciso lutar pelaqualificação, já que não é possível brecar a criação de novas faculdades.

Dionísio Barazewski, presidente doConselho Regional de Psicologia do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 18: Extra Pauta Ed. 57

18 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

“Somos jornalistas etemos uma profissão”As sociedades contemporâneas, cada vez

mais complexas, exigem o conhecimento deassuntos de interesse público que circulam

em toda as áreas, da Medicina à Antropologia, daEngenharia ao Direito, da Biotecnologia à História.É preciso saber, no calor da hora, de temas, fatos eversões que ocorrem tanto em tais áreas quantonas ruas. Para isso, existe um profissional, envolvidodiariamente com o seu fazer, que buscainformações, as apura, faz entrevistas,contextualiza, registra e edita, para que mais gente,em todas as áreas e em todos os cantos, possa tomarconhecimento e melhor se situar frente à realidade.Este profissional se chama jornalista.

Em escala pública e dimensão planetária, emperíodos extremamente curtos (dia, hora, minuto –tal como é o andar diário da humanidade), e emlinguagem acessível à população e não hermética,há profissionais que se empenham para estareconstrução do mundo. Este profissional se chamajornalista.

Sem este profissional, não há jornalismo. Para ainformação jornalística é preciso qualidade, sãonecessários pressupostos éticos, conhecimentostécnicos e tecnológicos – da tevê ao rádio, da internetà revista, do jornal ao planejamento gráfico. Em todasestas coberturas e atividades e para todos estessuportes tecnológicos, é preciso cuidado naapuração, rigor na exatidão, obediência a preceitoséticos, qualidade na produção estética, cuidado eprecisão nas conseqüências da forma de divulgação.

Há um profissional que se preocupa com isso.Ele se chama jornalista.

A informação com tais características, produzidapor jornalistas, permite à sociedade maior liberdade,além de m ais e melhor opção de escolha. Permitemelhor escolha e decisão nos caminhos a seguir.

Depois de 60 anos de regulamentaçãoprofissional e 80 de luta pela formação superior emJornalismo, há agora a clara ameaça do fim dequaisquer exigências para o exercício da profissão.

O ataque contemporâneo do neoliberalismo àprofissão jornalística é mais um ataque às liberdadessociais e às profissões em particular. Com isso,amplia-se o campo das desregulamentações emgeral e aumentam as barreiras à construçãoqualificada e lúcida de um mundo mais democrático,visível e justo.

O ataque ao jornalismo é também um desrespeitoà sociedade, que diminui sua amplitude de escolha,diminui o espaço de liberdade e de confronto deopiniões. Há claros prejuízos à ética profissional eamplia-se o controle sobre quem entra nas redações– do interesse particularizado expresso nacontratação de apadrinhados políticos e ideológicosao aviltamento profissional e salarial, por meio decontrato de pessoas que nada têm a ver com aformação específica na área.

Hoje, já existe liberdade garantida para quemquiser expor sua opinião, como entrevistado ouarticulista de uma determinada área. Com adesregulamentação, contudo, perde-se as raízes davinculação do jornalismo ao interesse público, razãode sua consolidação como profissão nos últimos 60anos. Com isso, além da própria categoriaprofissional ter redução de empregos, desprestígioem seu reconhecimento público, a própriasociedade, no conjunto, perde a referência qualitativados acontecimentos do dia-a-dia, essenciais para aliberdade de escolha do dia seguinte.

O ataque à regulamentação em Jornalismo atingeprofissionais e estudantes, desrespeita asidentidades de cada área, – e nisso desrespeitatambém as demais -, e fere frontalmente asociedade em seu direito de ter informação apuradapor profissionais, com qualidade técnica e ética,bases para a visibilidade pública dos fatos, debates,versões e opiniões contemporâneas. É um ataque,portanto, ao próprio futuro do país e da sociedadebrasileira.

FENAJ- Federação Nacional dos Jornalistas

A Delegacia Regional do Trabalho do Paranájá concedeu treze registros profissionais após aliminar concedida pela juíza Carla Rister. Mais 30pedidos já foram feitos e 26 deles encaminhadospara avaliação pela assessoria jurídica da DRT.Os registros concedidos são provisórios e atéagora foram atendidos sete pedidos de Curitiba,três de Ponta Grossa, dois de Maringá e um deLondrina. Hoje, para obter um registro, basta levarà DRT documentos como carteira de identidade eCPF e um trabalho que comprove a atuação numveículo de comunicação.

Por enquanto, São Paulo é o Estado onde maisforam solicitados registros profissionais por quemnão fez curso de comunicação, segundolevantamento feito pelo portal Comunique-se atéo dia 15 de fevereiro. Lá, 276 pessoas sem diplomajá obtiveram registro na DRT do Estado e outros100 pedidos estão sendo avaliados. Em MinasGerais, 57 pedidos haviam sido atendidos até 31de janeiro. Quarenta e oito registros foramconcedidos no Rio Grande do Sul, 35 no Rio deJaneiro e 20 no Distrito Federal.

Na Bahia, apenas um pedido foi atendido e trêsestão em avaliação. Três não-diplomados tambémforam registrados no Espírito Santo e apenas umem Santa Catarina. No Ceará ainda não ocorreunenhum pedido e no Acre os registros já eramprovisionados, pois não há Escola de Comunicaçãono Estado. Desde a suspensão provisória daexigência do diploma o número cresceu, já que oregistro vale em todo o território nacional.

Treze registrosprovisóriosna DRT

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná fez duas enquetes sobre a exigência dodiploma para o exercício da profissão. Na primeira,a pergunta era: “Qual o principal efeito que o fim daexigência do diploma provocaria no jornalismo?” Aresposta “Aumentaria os atentados à ética daprofissão” recebeu 41,18% dos votos, enquanto29,41% acham que “diminuiria a qualidade dainformação” e outros 29,41% que “prejudicaria avalorização da profissão de jornalista”. Trêsalternativas: “Dificultaria a elitização da profissão dejornalista”, “Favoreceria a liberdade de imprensa,dando mais acesso para pessoas sem diplomamanifestarem opiniões” e “Os jornalistas perderiammenos tempo e dinheiro nas faculdades, que ensinammal” não foram clicadas por nenhum internauta.

Na segunda enquete, que pedia a opinião dosinternautas sobre a exigência do diploma para oexercício da profissão de jornalista, 85,71%responderam que são favoráveis à exigência dodiploma e 14,75% acharam que a questão é muitocomplicada e precisa ser melhor discutida.

Enquetes

A exigência do diploma é um procedimento que dá garantia dequalidade à profissão e também aos que recebem a notícia. Já estamos

longe da Idade Média, onde um mestre ensinava a alguns poucosaprendizes. Só evoluímos quando o conhecimento se torna

sistematizado, o que ocorre na Universidade. Quando o conhecimentoartesanal começa a se sobrepor ao que foi acumulado, isso acabatrazendo um desserviço à sociedade. A exigência do diploma dá

legitimidade à profissão. Faz com que o conhecimento acumuladoesteja disponível para as pessoas que o procuram e buscam reproduzi-

lo. No caso do aprendiz, ele quase sempre acaba beneficiado porrelações pessoais.

Tadeu Veneri, vereador na Câmara Municipal de Curitiba, PT

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 19: Extra Pauta Ed. 57

ação sindical

OSindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná esteve reunido no dia 14 de março coma Folha de Londrina e o Estado do Paraná, na

Delegacia Regional do Trabalho, em Curitiba. O assun-to foi um possível acordo entre as duas empresas paratroca de material jornalístico. O representante da Folha,Germano Vieira, negou essa possibilidade e afirmou queo interesse da empresa, ao procurar o Grupo PauloPimentel, era comercial, ou seja, para vender materialproduzido pela agência Folha News.

A Folha News existe hoje no papel, como pessoa jurídi-ca, mas não tem operado com uma estrutura independenteda Folha de Londrina. Germano Vieira relatou que tem de-senvolvido esforços para recuperar a agência, que teve par-te de sua estrutura destruída por um incêndio há dois anos.

O representante do Estadodo Paraná, o advogado Mar-cos Malhadas, confirmou que a empresa foi procuradapela Folha de Londrina para discutir a questão da agênciade notícias, além de assuntos comerciais. Ele esclareceuainda que, se o Grupo Paulo Pimentel vier a planejar qual-

Sindijor investigaacordo

quer mudança desse tipo, conversará antes com o Sindi-cato.

Já Germano Vieira adotou uma postura agressiva epreferiu hostilizar o Sindicato. Insinuou que a entidadeestaria fazendo demasiado alarme por causa de “boa-tos” e que estaria atuando contra a estabilização finan-ceira da Folha. Mas, depois de repreendido e de ter re-cuperado o controle, assinou a ata da reunião, em quese compromete a manter o diálogo com a entidade sin-dical e informar qualquer fato novo relacionado ao as-sunto da reunião. O presidente doSindijor, Mário MessagiJúnior, afirmou que obteve a informação do acordo defonte segura e que luta em defesa dos jornalistas, nãocontra as empresas.

Messagi alertou as empresas que o Sindicato temmecanismos jurídicos para tentar impedir danos aos jor-nalistas, principalmente na questão do direito autoral.“Vamos acompanhar com muito cuidado os passos daFolha de Londrina e ficar prontos para intervir, casoseja necessário”, afirmou.

mídia 2002

A Arfoc participou daFeira Mídia 2002, 3ªFeira da Comunicação eseus fornecedores, de 5 a8 de março, no Centro deExposições de Curitiba,no Parque Barigüi.

Luiz Augusto Costa

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 20: Extra Pauta Ed. 57

20 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Mauri König, o recordistaparanaense em prêmios

EP – Que análise faz da imprensa brasileira?Mauri König – Olha, existe uma diferença

abismal entre a imprensa que temos e a imprensaque deveríamos ter. De qualquer forma, acredito quenum balanço geral ela tem mais ajudado do queprejudicado a sociedade. Se por um lado tornou-seum tribunal de exceção, julgando e condenando porconta própria, de outro tem sido uma importantealiada no combate à corrupção e outros problemassociais. Desculpe-me a má comparação, mas dariapara dizer que, mesmo com seus vícios, a imprensabrasileira vem apresentando superávit. Veja agoraos casos mais recentes, de como a imprensa ajudouna solução do seqüestro de Washington Olivetto, narenúncia de ACM e Jáder Barbalho, apenas paracitar dois exemplos. Acredito que sem a imprensa oBrasil estaria mais pobre e ignorante.

EP – E no Paraná?MK – Veja bem, a imprensa no Paraná é um

reflexo da imprensa no restante do país. No geral,existem os mesmos vícios e as mesmas virtudes. Omesmo comprometimento com o poder estabelecido.Averdadeira imprensa é a que tem o direito de criticar,sem a obrigação de elogiar. Claro que nem sempreisso é possível, mas estamos num meio termoaceitável. O ápice da profissão está no eixo Rio-SãoPaulo-Brasília, mas os jornalistas do Paraná estãocada vez mais mostrando o seu potencial. O Paranájá não é visto apenas como celeiro de grãos, mastambém como um importante centro formador demão-de-obra qualificada em jornalismo.

EP - Como você vê as demissões nos jornaisdo Paraná e do Brasil, que estão ocorrendo hámeses?

MK – Este é mais um jogo do capitalismo. Óbvioque as redações estão sendo preparadas para aabertura da imprensa ao capital estrangeiro, tamanhaa confiança na mudança do artigo 222. Também temo dedo da incompetência nisso tudo. Mas nãodevemos nos iludir, porque isso vem ocorrendosistematicamente em vários outros setores, não sónas redações. Operário é peça descartável seja naconstrução, na engenharia, nos escritórios ou naescrita. No caso particular da imprensa, a obtusidadedos patrões não os deixa ver a importância de manterum bom quadro de jornalistas. Vêem isso comodespesa. Que barbaridade, não? Quantas notíciasvocê viu nos últimos meses anunciando a demissãode publicitários? Possivelmente nenhuma; mas dejornalistas...

EP – Então você acredita que deveria haveruma eqüidade nas demissões?

Mauri König é o jornalistaparanaense que mais prêmiosnacionais ganhou até agora. Elefoi contemplado com os prêmiosEsso Regional Sul, EmbratelRegional Sul e Wladimir Herzogde Anistia e Direitos Humanos,patrocinado pelo Sindicato dosJornalistas Profissionais doEstado de São Paulo. E foi umdos finalistas do prêmio Mídia daPaz, promovido pela revistaImprensa. Publicou asreportagens vencedoras em OEstado do Paraná, do GrupoPaulo Pimentel, jornal que odemitiu ao fechar todas assucursais da empresa no interior.Ele trabalhava na sucursal deFoz do Iguaçu e investigavairregularidades cometidas porpoliciais do Paraguai, quando foipreso e torturado. Nestaentrevista, Mauri fala sobre aimprensa brasileira eparanaense, as demissões queocorreram nos últimos meses, osprêmios que ganhou e se declarafavorável à exigência do diplomapara o exercício profissional,embora seja provisionado e estejacursando o terceiro ano deJornalismo em faculdade de Fozdo Iguaçu.

MK – Eu não diria exatamente assim, mas diriaque na “hierarquia” da mídia a notícia vem primeiroque a publicidade. Por quê, então, o jornalismo é sóvisto como despesa e discriminado na hora dos cortes?Claro que um jornal não sobrevive sem publicidade,mas também não existiria sem notícia. Um jornal nãoentra para a história pelos anúncios que veicula, maspelas reportagens que publica.

EP – Considerando o seu caso particular, comovocê encarou seu desligamento de O Estado doParaná, vindo em seguida a conquistar tantosprêmios com reportagens publicadas no própriojornal?

MK – Encarei com naturalidade. A gente vaidescobrindo que isso faz parte do aprendizado davida. E, alémdo mais, eu já tinha tido uma experiênciatraumática ao deixar a Secretaria Municipal deComunicação, em 1999, por não compactuar comirregularidades. Hoje minha relação com o jornal eos colegas que lá trabalham é a melhor possível. Foium jornal que me possibilitou um crescimentoprofissional.

EP – O que você acha do fechamento dassucursais de O Estado do Paraná e da TV Iguaçuno interior do Estado, principalmente em cidadesimportantes como Maringá, Cascavel, Londrinae Foz do Iguaçu?

MK – É realmente triste. Nós, profissionais daárea de comunicação, não perdemos só o emprego,perdemos conceito e a representatividade diante deuma sociedade que tanto precisa de alguém que falepor ela. E a imprensa, pelo menos em parte,desempenha este papel. Os profissionais perdemmuito, mas quem mais perde com isso é a sociedadeparanaense. O cidadão que deixa de ter esses canaisde informação, de orientação. O Grupo PauloPimentel sempre teve uma presença muito forte noParaná, e isso me leva a crer que esta situação decrise vai passar. A crise é financeira, e não político-ideológica. Portanto, creio que em breve teremosnovamente esses espaços ocupados no mercado.

EP – Como foi sua trajetória profissional?MK – Meu ingresso no jornalismo deu-se em

1992, por indicação de um amigo da faculdade, poucoantes de concluir o curso de Letras na Unioeste.Comecei a trabalhar como repórter num semanáriostandard, o Jornal de Foz, do qual seria editor mesesdepois. Na época, havia poucos profissionaisformados no mercado. Depois disso passei pelasucursal da Folha de Londrina e ao mesmo tempocomecei a escrever para o Estadão, o que faço atéhoje. No início de 1997 deixei a Folha para ingressar

entrevista

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 21: Extra Pauta Ed. 57

na atividade pública, como diretor de Imprensa daPrefeitura de Foz. Dez meses depois assumi comosecretário municipal de Comunicação, cargo queocupei por pouco mais de um ano. Saí em janeiro de1999, já fazendo frilas para o caderno Paraná daGazeta Mercantil. Passei ainda pelo jornal O Estadodo Paraná, onde tive a oportunidade de fazer algumasreportagens que considero muito importantes. Hojefaço assessoria de imprensa para uma empresa locale para um deputado estadual, além de continuarfazendo frilas para o Estadão.

EP – Qual sua posição sobre a exigência ounão de diploma para um profissional trabalharno jornalismo?

MK – A despeito do meu histórico profissional,todo ele embasado na prática, sou um árduo defensordo diploma para jornalista, tanto que entrei naprimeira turma do primeiro curso de Jornalismo quesurgiu na cidade, há dois anos. Só não fiz o cursoantes porque não havia em Foz. Sou de uma turmaforjada na prática, que se iniciou na profissão poruma carência do mercado. Se a oportunidade de umcurso superior tivesse surgido antes, talvez muitoscaminhos da profissão tivessem sido abreviados.

EP – Então como você analisa a liminarjudicial dispensando o curso específico para aprática do Jornalismo?

MK – Bem, na minha opinião a juíza que emitiuessa liminar prestou um grande desserviço à

sociedade brasileira. Ela não sóconseguiu lançar milhares deestudantes e profissionais já formadosnum abismo de angústia, comotambém desrespeitou uma profissãotão importante para a sociedadequanto a dela própria. O Jornalismonão é uma subprofissão; não é umhobby que médicos, engenheiros,políticos ou qualquer pessoa podeexercer nas horas de folga.Jornalismo é coisa muito séria, eprecisa ser levado a sério. O Brasilnão pode incorrer no risco de lançaratividade tão relevante nas mãos deautodidatas ou de pessoas que sejulgam jornalista apenas porquesabem conjugar verbos ou fazer umaconcordância. Muito mais do quesaber escrever, é preciso tercompromisso com o que se escreve epara quem se escreve. Quem, senãoo jornalista, é o mais apto para isso?

EP – A juíza argumenta quetodos têm o direito de escrever, dese manifestar na imprensa.

MK – Sim, mas a exigência dodiploma não implica em cerceamentoda liberdade de expressão. Ummédico, um engenheiro, um políticonão deixarão de manifestar suaopinião, vão apenas continuar tendoo espaço adequado aoscolaboradores. Não é recomendávelque um médico use o computador deuma redação, assim como não cabe a

um jornalista manusear um bisturi. Cada qual devese preparar para sua respectiva profissão.

EP – Podia contar um pouco da história dosprêmios que você ganhou?

MK – Olha, eu nunca tive o hábito de inscrevermatérias em concursos de jornalismo. Havia feitoisso só duas vezes, ambas no Prêmio Esso. Destavez foidiferente. Depois do incidente ocorrido comigono Paraguai, recebi inúmeras manifestações deamigos, muitos deles incentivando-me a inscrever amatéria. Alguns até me trouxeram regulamentos deprêmios. Inscrevi a reportagem em seis deles e tiveo privilégio de ganhar três.

EP – Que matéria é esta que lhe deu osprêmios?

MK – Eu sempre estive muito ligadoprofissionalmente aos diferentes assuntos dafronteira. A relação Brasil-Paraguai éparticularmente especial. Agora mesmo concluí umasérie de reportagens publicada no jornal O Estadodo Paraná, com um minucioso levantamento sobreos problemas dessa região fronteiriça. A reportagemque levou os prêmios também diz respeito aoParaguai. Tratava do recrutamento irregular e mortesmisteriosas de crianças nos quartéis paraguaios. Aminha primeira abordagem sobre o assunto foi emdezembro de 2000, no jornal O Estado do Paraná. Amatéria saiu em duas páginas, cinco dias depois deeu ter sofrido um atentado no Paraguai enquanto

investigava o assunto. A seqüência saiuquatro mesesdepois, desta vez com o dobro do tamanho e commuito mais informações. Novas denúnciascomeçaram a brotar de várias fontes e eu não tinhacomo não voltar ao assunto. Mas desta vez voltei aoParaguai com um esquema especial de segurança.Tive o apoio da senadora oposicionista Elba Recalde,do PLRA, fonte antiga que eu cultivava por lá. Alémde fonte, ela revelou-se uma grande amiga.

EP – Explique melhor este atentado que vocêsofreu no Paraguai.

MK – Bem, foi a experiência mais traumáticada minha vida. Aconteceu numa das minhas cincoidas ao Paraguai para apurar as denúncias derecrutamento ilegal de menores para as ForçasArmadas de lá. Nas quatro vezes anteriores eu haviaido com o fotógrafo Nilton Rolin, da sucursal de Fozde O Estado. Eu nem imaginava que nós estávamossendo observados. Eles escolheram o dia em que euestava sozinho para me espancar. O Nilton ficourevelando as fotos do dia anterior e eu fui colhermais dados na região de San Alberto, a uns 80quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu. Fuiparado numa falsa blitz policial numa estrada vicinal,no meio de plantações de soja. Um homem com afarda da Polícia Nacional do Paraguai fez sinal paraque eu parasse. Parei e fui arrancado do carro porele e outros dois homens em trajes civis. Jogaram-me no chão, atrás de uma caminhonete vermelha, ecomeçaram a me espancar com chutes, socos,pedaços de pau e corrente.

EP – E como você escapou com vida?MK – Eu tive muita sorte. Depois de bater

bastante, um deles tentou me estrangular com acorrente. Eu estava de bruços no chão e ele com ojoelho nas minhas costas. Eu ainda via os pés dosoutros dois enquanto ele forçava com a corrente nomeu pescoço. Quando eu já estava todo mole eperdendo os sentidos, sem reação nenhuma, eleretirou bruscamente a corrente. Acho que pensaramque eu já estivesse morto. Fiquei estendido no chão,imóvel, até que eles se afastassem. Dei um tempo elevantei-me. Foi quando vi que haviam quebradominha máquina fotográfica, velado o filme, amassadoo carro do jornal e escrito com faca ou pedra nocapô a frase “Abajo prensa de Brasil”. Mesmo comas costas arrebentadas, os braços e o rostomachucados, o pé destroncado, eu ainda conseguidirigir até a sucursal do Diário Notícias. Fui atrásdos colegas jornalistas paraguaios. No outro dia oespancamento estava na capa de todos os jornais dopaís, nas rádios, na televisão. Mostravam os mais de100 hematomas que ficaram no meu corpo.

EP – Acharam os culpados?MK – Não! Até hoje o Ministério Público do

Paraguai, que começou a investigar o caso, nãoencontrou respostas. Já a Polícia Nacional tentoudesde o primeiro momento negar o envolvimento depoliciais. Estava evidente que tudo ficaria no vazio.Mas eu ainda me sinto satisfeito porque essarepercussão toda ajudou a trazer à tona a situaçãodramática em que vivem menores de 12, 13, 14 anosnos quartéis paraguaios. O Congresso atédesengavetou um projeto que torna facultativo oserviço militar no país.

“A imprensa tem mais ajudado do que prejudicado a sociedade”

Arqu

ivo

Extra

Paut

aC

reat

ed b

y P

DF

Gen

erat

or (h

ttp://

ww

w.a

lient

ools

.com

/), to

rem

ove

this

mar

k, p

leas

e bu

y th

e so

ftwar

e.

Page 22: Extra Pauta Ed. 57

22 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

II fórum social mundial

Um outro mundo é possível (mas vai exigirmuito trabalho). Esta foi a manchete doTerra Viva, jornal oficial do Fórum Social

Mundial, no dia do seu encerramento. No finaldeste segundo encontro de Porto Alegre, que serealizou de 31 de janeiro a 5 de fevereiro e no qualo Extra Pauta esteve presente, um sentimentocomum tomava conta dos 51.350 participantes: aesperança. Um motivo pelo menos permitejustificar esse otimismo. A mobilização três vezesmaior que no ano passado mostra que a dinâmicado movimento não se quebrou como foi preditologo depois dos atentados de Nova York e deWashington.

Ao final dos trabalhos, os organizadores doevento fizeram uma avaliação, fornecendo algunsnúmeros simbólicos. Assim, dos 51. 350participantes inscritos, 22 mil eram mulheres. Onúmero de delegados aumentou para 15.230,representando mais de 4.900 organizações de 131países. A maior delegação era representada peloBrasil, seguido por Itália, Argentina, França, Uruguaie Estados Unidos. A presença de 406 norte-americanos, que estiveram quase ausentes nopr imeiro Fórum, chamou a a tenção dosorganizadores. Outra constatação foi o crescimentodo número de sindicatos presentes em Porto Alegre,ao lado de ONGs e movimentos sociais.

Reforçar os movimentos“Em 2001, os organizadores de Davos nos

desprezaram. Hoje eles não podem mais nosignorar e a participação no nosso Fórum os deixapreocupados”, explicou Cândido Grzybowski, umdos membros do comitê de organização. “Ametodologia também evoluiu. No ano passado,personalidades vieram debater temas que nosinteressam. Neste ano, as próprias organizaçõesfizeram as propostas e vão transmiti-las a toda asociedade civil”, acrescentou ele.

“Estamos no meio de um processo. Em todasas cidades e aldeias, a sociedade civil vai começara trocar idéias e fazer propostas ao comitê deorganização, que será encarregado de ordená-las.Po is o nosso obje t ivo é re força r todos osmovimentos que lu tam através do mundo edevolver a esperança, e não nos tornar o comandodessas lutas”, afirmou Cândido Grzybowski.

Durante o encontro, duas grandes marchasforam realizadas. A primeira, no dia 31 de janeiro,reuniu mais de 50 mil pessoas, que protestaramcontra a globalização e pediram a adoção de ummodelo econômico que não dê tanta importânciaaos ganhos das grandes mul t inac iona is econsidere principalmente as pessoas. A segunda,no dia 4 de fevereiro, mobilizou mais de 40 milparticipantes do Fórum Social Mundial e lançoua campanha continental de luta contra a Área deLivre Comércio das Américas (Alca), prevendomanifestações em vários países. Outro objetivofoi desencadear um plebiscito popular no Brasilem setembro para decidir sobre a participação do

Um movimento contra a globalização

Brasil na aliança.Ao marcar no ca lendár io os próx imos

encontros mundiais - de novo Porto Alegre em2003 e a Índia em 2004 -, o movimento mostraque aposta em sua continuidade. Ao anunciarema realização, cada ano, de diferentes fórunscontinentais e regionais, os organizadores doFórum Social acreditam em sua inserção nasrealidades locais. Um fórum europeu na Itália eou tro na reg ião do Medi te r râneo já es tãoprogramados.

N a op inião dos organizadores , o Fórumcumpriu o objetivo que pretendia atingir. Otrabalho de elaboração de propostas está emandamento, de modo mais ou menos definidoconforme os temas. Várias questões, como opapel das multinacionais, o lugar da agriculturanas soc iedades ou o f inanc iamento dodesenvolvimento que será debatido na conferênciade Monterrey, no México, de 18 a 22 de março,para citar apenas esses exemplos, agora têm umaalternativa.

Novos economistas se juntaram aos quecontestam as instituições internacionais - FundoMonetár io Internacional, Banco Mundial,Organização Mundial do Comércio e G8 - para ajudá-los a combater o “consenso de Washington”, caixade ferramentas do liberalismo que as instituiçõesfinanceiras internacionais adotaram como modelodesde os anos 80 e que os opositores da globalizaçãopretendem desmontar. Diplomados em Harvard ouCambridge criaram há alguns meses, com o apoiofinanceiro das Nações Unidas e da Fundação Ford,uma associação chamada Ideas (InternationalDevelopment Economics Associates ), paraapresentar alternativas econômicas ao modelo.

Um salto em credibilidadeEste salto em credibilidade do movimento,

sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, nãosignifica menos radicalidade. O sucesso fortalece

o movimento a reivindicar numal inha sem concessões . Se oFórum conseguiu atrair este anoorganizações moderadas como aFederação Inte rnac iona l dosDireitos Humanos (FIDH) nocampo das O N Gs, tambémtrouxe movimentos maisradicais que até então estavam àmargem e, em geral, foram estesque deram o tom. Tanto maisque os partidários de uma outraglobalização avaliam que a crisena Argentina e a falência dog igante nor te -amer icano daeletricidade Enron são mais duasprovas das limitações do modeloliberal.

O acordo que deve se rado tado na confe rênc ia deMonterrey, que anunciou suas

grandes linhas alguns dias antes do Fórum, estáabaixo das expectativas. Esta reunião, promovidapelas Nações Unidas, tem como objetivo obter dasinstituições que concentram fundos do Ocidenteos incentivos financeiros indispensáveis parareduzir a pobreza de metade do mundo até 2015.

Os bastidores de Porto Alegre, por trás daimagem de uma multidão de mais de 50 milpessoas que querem debater, se abrem em redesem formação ou já constituídas, em busca deestratégias para levar adiante a luta contra aglobal ização. Alianças nacionais, regionais,reuniões e movimentos internacionais em tornode campanhas, um calendário de ação para váriosanos foram alguns dos resultados do Fórum.Cada continente realizou suas próprias reuniõese fixou sua própria agenda, que passará pormanifestações trad ic iona is , ações di re tas edebates. Essas mobilizações vão respeitar adiversidade, como muitos líderes de organizaçãoreafirmaram.

Até agora todas as tentativas para estruturaro movimento em torno de uma organização centralque teria o poder de falar - e até decidir - emnome das ou tras f racassa ram. O conse lhointernacional do Fórum Social que reúne, ao ladodo comitê brasileiro, 40 movimentos, reafirmouassim que a sua única vocação é organizar ospróximos encontros. O movimento sabe que umde seus desafios permanentes é ser capaz deadministrar essa diversidade, para não explodir.É não opor as diferentes identidades de ummovimento onde se cruzam várias gerações,intelectuais e sem-terra do Sul, desempregados,funcionários e sindicalistas incentivados pelamanifestação repentina da sociedade civil que vemfazer concorrência a eles no campo das lutassociais. Até agora, esta frágil alquimia não serompeu. Antes de se separarem, milhares depessoas realizaram uma festa de encerramento emPorto Alegre, com muito entusiasmo e esperança.

Mais de 50 mil pessoas se manifestaram contra a globalização

Car

los

Gom

es

Cre

ated

by

PD

F G

ener

ator

(http

://w

ww

.alie

ntoo

ls.c

om/),

to re

mov

e th

is m

ark,

ple

ase

buy

the

softw

are.

Page 23: Extra Pauta Ed. 57

Muito marginais no ano passado, os debatessobre a sociedade da informação, ademocratização dos meios de comunicação

e os movimentos sociais na Internet encontraram umlugar maior no segundo Fórum Social Mundial,realizado em Porto Alegre de 31 de janeiro a 5 defevereiro. Várias conferências e oficinas foramdedicadas aos meios de comunicação, lançandopropostas para que uma contra-informação sejaorganizada.

Segundo Osvaldo León, da Agência Latino-Americana de Informação (Alai), com sede noEquador, “cada dia ouvimos dizer que as novastecnologias vão transformar a vida das pessoas. Masa verdade é que, nos meios de comunicaçãosobretudo, não há espaço para transformar nada.Estamos diante da ameaça de que a ditadura domercado feche tudo o que se refere ao interessepúblico. Estes meios têm um poder enorme e nelesse desenvolveu uma grande força de interessepolítico. Por isso, as mudanças não virão dessesmeios. Elas só podem vir dos movimentos sociais”.

Osvaldo León afirmou que a lógica do mercadopredominante afasta a população da iniciativa deproduzir conteúdos e isso faz com que o espaço de

Mudar a comunicaçãoLeón:

“Mudançasvirão dos

movimentossociais”

discussão seja reduzido. “As mudanças não virão dedentro dascorporações, por isso osmovimentos sociaisprecisam se organizar pela defesa da democracia.Afinal, o direito à informação é fundamental para oexercício dos outros direitos”, disse León.

Hoje, observa León, há grandes mudanças noprocesso de comunicação. Ela se transformou numdos pontas de lança da nova economia e sua expansãoé avassaladora. Foi neste setor que houve maiorconcentração, reduzindo a concorrência. Sãomegaempresas criadas por fusões dos diversosmeios, sob o mesmo teto. Produtos e serviços ficamno mesmo espaço. Tudo é regido por critérioscomerciais, sem levar em conta os direitos do cidadãoou do consumidor.

Para ele, o tema da democratização dacomunicação está ligado ao da cidadania. Os cidadãosprecisam ser atuantes, para modificar a situação.Hoje já existem coletivos em vários países do mundodestinados a se apropriar das tecnologias dacomunicação. León cita como embriões deresistência associações de usuários, a mídiacomunitária livre, redes de cidadãos articuladasatravés da Internet, organizações que oferecemsoluções, movimentos culturais e redes de

comunicação popular.Para a francesa Joelle Palmiéri, delegada geral da

Associação para a Promoção da Economia Social eSolidária (Apress), com sede em Paris, “o controle dacomunicação pelos cidadãos é uma questão real na lutacontraaglobalização e umcontrapoderreal. Ele caminhajunto com o direito à iniciativa econômica alternativa”.

Diante do mercado da comunicação e dasestratégias de concentração e de monopólio dasmultinacionais, o que se deve fazer é “identificar asverdadeiras riquezas e enfrentar o liberalismo no seucampo, a economia. Diante de um mundo dominadopelas finanças, eu me coloco no campo indivisível dademocracia em termos políticos, econômicos esociais. Temos de reconhecer as nossas capacidadese valorizá-las de maneira diferente do que faz o setorfinanceiro”, concluiu.

II fórum social mundial

A informação “dominante” está poluída. “Épreciso desenvolver uma ecologia da informação,para limpá-la de uma ideologia que procura converteras pessoas à posição de domesticados econformados.” Foi com estas palavras, quereceberam os aplausos do enorme público presenteno auditório da Pontifícia Universidade Católica doRio Grande do Sul, sede principal do segundo FórumSocial Mundial, que Ignacio Ramonet, diretor dojornal francês Le Monde Diplomatique e professorde Teoria da Comunicação na Universidade de Paris,concluiu a sua análise sobre um dos temas maisdebatidos em Porto Alegre.

Para Ramonet, na era da globalização dacomunicação, a informação é uma mercadoria ecircula de acordo com as leis do mercado. Isto fazcom que as “empresas da informação” ofereçam asinformações com maior demanda, segundo a lei daoferta e da procura. Para ser vendida, “estainformação deve ser curta, simples, elementar epatética (para distrair, provocar a compaixão ecomover), segundo as exigências da cultura demassa”.

Mas, como falar ainda em vender numa sociedadeonde as informações são cada vez mais gratuitas, eonde vários jornais novos são distribuídos? perguntaIgnacio Ramonet. E ele mesmo responde: “Nestasociedade as empresas não vendem mais informaçãoaos cidadãos, mas cidadãos aos anunciantes. Elasvendem audiência.” A informação se mistura com a

Uma ecologia da informação

Ramonet: “É preciso fazera contra-informação”

publicidade, e é assimque o analista francêsexplica “a degradaçãoda condição dojornalista, que vive umprocesso acelerado deproletarização”.

“Se a informaçãoé gratuita e deve sercurta, simples epatética, por quegastar dinheiro empromover e estimularos profissionais de

comunicação?” O que interessa aos empreendedoresnão é a qualidade das informações, nem a formaçãoda opinião pública, mas simplesmente a venda dapublicidade. Os leitores ou telespectadores não sãomais um público que é preciso informar e formar,mas reféns de um simples mecanismo de publicidadee consumo. Hoje, há cada vez menos diferença entreuma informação de jornal e um filme de Hollywood.

De agora em diante, os grandes “valores” dainformação vão se relativizar, assim como o princípioda verdade informativa e da validade dosmecanismos para verificar essa verdade. Nestasociedade, “a verdade de uma informação dependedo fato de que vários meios de comunicaçãoimportantes a repetem e dizem que ela é verdadeira,mesmo que seja falsa. No sentido inverso, uma

informação verdadeira pode ser pulverizada se váriosmeios de comunicação importantes repetirem demaneira unânime que ela é falsa”.

Segundo Ramonet, é preciso inverter a lógica dainformação e fazer a contra-informação. Mas épreciso que essa contra-informação seja feita comnotícias verdadeiras, para que não se torne umaguerra de mentiras. A sociedade civil tem queparticipar cada vez mais e controlar a informaçãoque os meios de comunicação lhe oferecem. AInternet já está oferecendo muita informação quenão é dominada pelas grandes corporações e é graçasa ela que um número cada vez maior de jovens estãose movimentando no mundo inteiro contra aglobalização.

Publicidade x educaçãoTudo se modifica no mundo sensível da

informação-mercadoria, onde os números falamcomo verdades. Esta é a reflexão de RobertoSavio, diretor da agência alternativa terceiro-mundista Inter Press Service, com sede em Roma,que também participou como conferencista nosegundo Fórum Social Mundial. Enquanto hoje,no mundo, são destinados em média 180 dólarespor pessoa para a educação, os gastos anuais percapita com publicidade chegam a 156 dólares,num processo em que a publicidade aumenta namesma proporção em que a educação públicadesaparece.

Car

los

Gom

es

Carlos Gomes

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 24: Extra Pauta Ed. 57

24 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Informação, um bem comumPara as associações e ONGs que militam no

campo das tecnologias da informação e dacomunicação, Porto Alegre permitiu o

encontro das diferentes entidades. Só nãoparticiparam do segundo Fórum Social Mundial osmilitantes do programa livre, embora o seu guruRichard Stallman estivesse presente. Todos osoutros grupos tiveram a oportunidade de comparare sobretudo de aproximar suas posições.

Lá estiveram presentes pela primeira vez osagentes da “Internet cidadã e solidária”, comoeles próprios se definem (a Vecam - VigíliaEuropéia e Cidadã nas Auto-Est radas daInformação e Mult imíd ia e a Apress -Associação para a Promoção da EconomiaSocial e Solidária) e as redes internacionais (aAlai - Agência Latino-Americana de Informaçãoe a APC - Associação para o Progresso dasComunicações), que atuam mais na área dademocratização do uso da Internet nos paísesdo Sul.

Depois de quatro dias de muita troca deidéias, dois seminários de quatro horas cada um

e reuniões improvisadas no hall do Hotel SãoRafa e l, os agent es soc ia is d a Inte rne tformularam uma série de recomendações quedevem servir de base para a construção de umaagenda da comunicação para os movimentossociais e de cidadania.

Partindo do princípio de que “a comunicação éum fator chave no processo de globalização”, elesescolheram como prioridade número um a lutacontra a “concentração monopolista” em processode implantação nos meios de comunicação e nosgrupos de telecomunicações, assim como naindústria do software e em termos de produção deconteúdo.

A segunda prioridade é promover a informaçãocomo um “bem comum universal”, lutando contraas atuais políticas em matéria de direito depropriedade intelectual acusadas de “proteger osganhos econômicos e privatizar o conhecimento”.Dentro da mesma lógica, os agentes sociais daInternet colocam como objetivo “defender oespectro radioelétrico contra a privatização ecomo parte do patrimônio da humanidade” assim

como as liberdades civis e a vida privada contrao “uso invasivo da tecnologia para vigiar econtrolar, e contra a legislação repressiva queameaça a liberdade de expressão e deassociação”.

Em termos de produção de conteúdos, elespedem o respeito ao “pluralismo e à diversidadede expressão”. E, por fim, convidam a manter umavigilância constante para que as tecnologias decomunicação não se transformem em uma “novafonte de fragmentação social” e recomendam odesenvolvimento de uma economia solidária nosetor das tecnologias da informação.

Para fazer essas idéias avançarem, osparticipantes do Fórum Social Mundial lançaramoficialmente uma Campanha Internacional peloDireito à Comunicação na Sociedade daInformação (CRIS). Eles pretendem apoiar-sesobretudo na dinâmica aberta pela Cúpula Mundialsobre a Sociedade da Informação que se realizaráem Genebra no final de 2003, e que atribuiu um deseus secretariados executivos à sociedade civil,para dinamizar a campanha.

A cobertura do FórumMais de 2.400 jornalistas do mundo inteiro

se credenciaram no segundo FórumSocial Mundial para fazer a cobertura

do encontro, enquanto menos de 800 estiveram emNova York. Assim, além de conquistar a vitóriasobre o fórum concorrente de Davos em númerode participantes (51.300 contra 3 mil), o FórumSocial Mundial de Porto Alegre também venceu abatalha nos meios de comunicação. Televisões,rádios, jornais, revistas web, nenhum suporte decomunicação deixou de comparecer.

Segundo uma avaliação feita por jornalistaseuropeus logo após o encerramento do encontro,cinco matérias de Porto Alegre contra uma deNova York foi a proporção de textos publicadospelos principais jornais da Europa. A criação deum observatório internacional dos meios decomunicação e a conexão de 550 mil internautas napágina do FSM por dia mostraram o interesse cadavez maior que o encontro de Porto Alegre vemdespertando através do planeta.

Metade dos jornalistas credenciados erambrasileiros. A TVE do Rio Grande do Sul mobilizoucem técnicos e jornalistas para garantir 12 horasdiárias alternando reportagens, transmissão ao vivodas principais conferências e entrevistas num estúdiomontado especialmente no Fórum. Mais de 50 paísesestiveram representados por seus repórteres. Acomeçar pelos Estados Unidos, que enviaramrepresentantes do Washington Post, Los AngelesTimes, New York Times e da versão espanhola daCNN. Mas foram a França, com cem jornalistas, e a

Itália que formaram o grosso da imprensa estrangeira.Até aí, nada de muito diferente, a não ser o número

de jornalistas em relação ao Fórum EconômicoMundial de Davos-Nova York. Mas o que surpreendeufoi a grande cobertura alternativa, num fórumalternativo. Várias centenas de jornalistas usaram aInternet para produzir a sua própria informação.Cinqüenta veículos decomunicação ativistas brasileiros,norte-americanos e italianos da Indymedia – umaespécie de internacionalda imprensa alternativa online– produziram 24 horas por dia um programa de rádiodo “Acampamento da Juventude”, onde montaramsuas tendas, à margem do rio Guaíba.

Dez jovens franceses da Attac – Associação paraa Taxação das Transações Financeiras de Ajuda ao

Cidadãos, que tiveram parte da viagem financiadapela associação para cobrir o Fórum em suapágina, montaram a sua redação num hotel nocentro da cidade. Ali organizaram no dia 1o defevereiro uma conferência online de três horas –que recebeu, segundo dirigentes da associação,cerca de 3 mil visitas – com as cidades de Lião eMarselha.

Outros grupos franceses de mídia alternativa,reunidos na Associação para a Promoção daEconomia Social e Solidária (Apress), como Politis,Témoignage Chrétien, Le Courrier de Genebra epáginas de informação como Place Publique e LesPénélopes, também divulgaram em comummatérias, vídeos e fotos no portal da economiasolidária, mediasol.org.

Partindo do princípio de que a união faz a força,a Apress juntou seus esforços à Ciranda(www.ciranda.net), uma agência de notíciasalternativa, internacional e online que, graças àscontribuições de cerca de 300 militantes, garantiu umacobertura ampla do Fórum, feita de reportagens,crônicas, análises e entrevistas disponíveis em seislínguas.

“A Ciranda é uma tentativa de construiralternativas ao jornalismo de mercado”, explica umde seus fundadores, Antônio Martins, jornalista edirigente da Attac no Brasil, que pretende continuaresta experiência depois do Fórum de Porto Alegre,“para divulgar todas as manifestações e idéias queestruturam o movimento em favor de umaglobalização diferente”.

Mais de 2.400 jornalistas cobriramas atividades do Fórum

II fórum social mundial

Carlos Gomes

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 25: Extra Pauta Ed. 57

Écada vez maior o número de internautas queinvadem a Internet para dar uma informaçãodiferente daquela que é oferecida pelos meios

de comunicação tradicionais. Militantes contra aglobalização, eles investem na Internet para fazer ouvirsuas vozes à margem dos meios de comunicaçãotradicionais, que consideram muito próximos da ordemeconômica que contestam.

Em todas as reuniões dos organismosinternacionais, como o Fundo Monetário Internacional(FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC),o Banco Mundial e o G8, que decidem as políticas quesão aplicadas em todos os países do mundo, as redesde informação alternativa colocam na Internet asmanifestações contra um “mundo neoliberal” queacompanham as diversas cúpulas.

Na América do Sul, a Agência Latino-Americana deInformação (Alai), uma das organizadoras do FórumSocial Mundial realizado em Porto Alegre, dá a palavraem sua página aos movimentos sociais para debater osproblemas que a região enfrenta. Na Itália e na Espanha,Isole nella rete (“Ilhas na rede”) e Sindominio (“Sem

As redes deinformaçãoalternativa

II fórum social mundial

domínio”) se apóiam nos coletivos dos centros sociaispara testar a autogestão inclusive na comunicação. Criamagências de “contra-informação”, que são “espaços deconstrução coletiva e permanente da informação abertosa todos”, como eles mesmos definem. Com essesinstrumentos, multiplicam reportagens e editoriais sobreassuntos como o “desastre das políticas neoliberais naArgentina”.

Na França, a Samizdat.net serve como caixa deressonância de vários coletivos (dos anti-fascistas de NoPasaran ao observatório crítico dos meios de comunicaçãoAcrimed) e publica análises sobre a sociedade de consumo- como, por exemplo, da jornalistacanadense Naomi Klein,autora do livro No Logo - ou pontos de vista sobre asrepercussões da política antiterrorista internacional nosmovimentos sociais.

É a Indymedia que encarna com mais força avontade de “fazer uma informação diferente”. Redeinternacional da imprensa alternativa, a Indymedia reúneum grande número de militantes. Só no Fórum Socialde Porto Alegre estiveram mais de cem, de vários

países. Trabalhadores,desempregados ou estudantes, namaioria jovens, eles alimentam 70páginas espalhadas em mais de30 países, nos cinco continentes.

Não há chefe de redação.Cada internauta pode editar umamatéria, uma foto, umacaricatura ou um vídeo usandouma simples ferramenta depublicação online. O sistemaalcança algum sucesso, pois a

galáxia Indymedia totaliza cerca de 500 mil páginasvistas por dia. Mas ele tem suas limitações. Durante aintervenção militar dos Estados Unidos contra oAfeganistão, alguns sites nacionais da Indymediadeixaram passar mensagens anti-semitas, por falta deum filtro editorial.

A Indymedia foi criada em novembro de 2000 poriniciativa de meios de comunicação alternativos como aFree Speech TV e associações norte-americanas comoa Public Citizen de Ralph Nader para cobrir a cúpula deoposição à OMC em Seattle. “Contra a globalização,globalizamos a informação alternativa”, diz um de seusfundadores. Em seguida, esteve em todos os encontrosde contestação à globalização, de Davos a Doha e NovaYork, passando pela cúpula do G8 em Gênova, durantea qual a página registrou 3 milhões de conexões. A seçãobrasileira foi criada em 23 de dezembro de 2000.

Para acessar qualquer destas páginas de informaçãoalternativa, o internauta deve ir ao sistema de buscaGoogle (www.google.com), digitar o nome do site edepois clicar em busca direta.

As melhores coberturas que o Centro de MídiaIndependente do Brasil (CMI) tem feito sãosobre o movimento estudantil e os “novos

movimentos”. Como o site nasceu ligado a essesmovimentos, não é de surpreender que seja no CMIque vai ser encontrada a melhor cobertura sobre o quepensam, o que fazem e o que querem os novosmovimentos de ação direta e contra a globalização.

As palavras são de Pablo Ortellado, um doscolaboradores do Centro de Mídia Independente doBrasil, a seção brasileira da Indymedia, que foiconcebida em meados de 2000 por ativistas ligados aomovimento antiglobalização em São Paulo. O site entrouno ar em dezembro de 2000 e desde então tem crescidoem número de acessos e de voluntários, que são cercade 200 em todo o país. Os voluntários maiscomprometidos com o projeto se encarregam deproduzir matérias, gerenciar o site e tocar projetos devídeo, rádio e jornal.

O site também fez a cobertura do Fórum SocialMundial realizado em Porto Alegre. Lá estiveram maisde 30 voluntários brasileiros. Havia também muitoslatinos (do Uruguai e da Argentina) e norte-americanos.De resto, havia gente de todo o mundo, do Zimbábueà Bélgica. Foi na página do CMI que pôde ser visto oque aconteceu nos eventos paralelos ao Fórum SocialMundial e nas manifestações em Porto Alegre, muitoalém do que os grandes meios de comunicaçãomostraram.

A Indymedia do BrasilA página do CMI é um site de publicação aberta:

quem publica as matérias que aparecem na coluna dadireita são os próprios usuários do site. Existem várioscoletivos espalhados pelo Brasil. Os mais estruturadosestão no Rio, em São Paulo e Porto Alegre. Entre seuscolaboradores estão desde estudantes secundaristas atéestudantes de pós-graduação, arquitetos, físicos ejornalistas. Todos fazem trabalho voluntário e o tempoque dedicam ao CMI varia muito. Há desde os queaparecem uma vez por mês e dão uma mão, até os quetrabalham quase em tempo integral, como PabloOrtellado.

Pablo não sabe quantas visitas o site recebenormalmente. “Desde o dia 21 de abril do ano passado,quando o FBI entrou com um processo pedindo oslogs que permitiriam identificar os 1 milhão e meio deacessos que a rede CMI teve e que acabaria com odireito à privacidade dos nossos usuários, decidimosnão mais registrar os acessos. A história do motivopelo qual o FBI pediu os logs é longa, mas basicamenteela foi motivada por uma matéria que tornava públicoo esquema de segurança durante os protestos deQuebec contra a Cúpula das Américas que iria discutira Alca”, explica Ortellado.

”Se entregássemos os logs, e tivemos uma batalhajudicial para impedir isso, o governo americano saberiaexatamente quem acessou qual das nossas matérias ea que horas. Seria um atentado enorme contra aliberdade dos usuários. Por esse motivo não registramos

os logs.Porém, durante os protestos em Gênova em julho

do ano passado tivemos um problema com o softwaree registramos os logs por algumas horas. Fazendo umpouco uma projeção com os dados antigos e o quesoubemos em julho, o CMI Brasil tem uns 3 mil acessosdiários e uns mil usuários e durante as crises esseacesso triplica ou quadruplica”, diz Ortellado. Na redeglobal, são uns 600 mil acessos e 100 mil usuários,boa parte concentrada no site global que é administradopor um coletivo internacional. Mas, em tempos de crise,o número pode subir para até um milhão de usuários.

O CMI também analisa assuntos mais gerais.Assim, “o CMI foi um dos poucos veículos a darvisibilidade à ocupação Anita Garibaldi, a maiorocupação urbana da América Latina. E foi também oCMI o primeiro, salvo uma pequena nota aqui e ali, amostrar que o governo de São Paulo montou umaagência de inteligência que monitora movimentossociais sob os escombros do DOPS de forma tãointeligente que ganhou o apoio dos grupos de direitoshumanos”, observa Pablo Ortellado.

No plano internacional, “era apenas no CMI quese percebia a verdadeira dimensão mundial dosprotestos contra a guerra do Afeganistão. Antesque a Argentina entrasse em colapso, era no CMIque se podia ver o fenômeno dos piqueteiros, queseriam um dos catalisadores da crise”, concluiOrtellado.

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 26: Extra Pauta Ed. 57

26 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Marcelo Lima

Ojornalismo moderno surgiu há não muito maisdo que 200 anos, apesar de a criação daimprensa de tipos móveis, no século XV (a

invenção vistosa que fez McLuhan cunhar aexpressão “Galáxia de Gutenberg”, referindo-se à revo lução daque le per íodo) serconsiderada um fato muito mais importante pelosenso comum.

O que se entende hoje por jornalismo temmuito pouco a ver com as publicações dosprimeiros anos da era gutenberguiana, aindapróx imas a os reg imes a bsolut is tas , querepresentavam instituições engessadas e umjeito de governar autoritário e excludente.Voltadas para um público muito restrito, aspublicações da época aristocrática reproduzema intolerância dos regimes antidemocráticos ede uma sociedade que não dividia o saber.

A origem mais remota do jornalismo moderno— sua linguagem, seu papel social, sua técnica,sua corporação, sua filosofia — é a segundametade do século XVIII, fruto da RevoluçãoIndustrial e da Francesa. As transformaçõeseconômicas e sociais desses dois movimentos éque ajudaram a engendrar a imprensa moderna.E é simples mostrar por que isso ocorreu.

Com o progresso técnico, o crescimento dascidades, o aumento da população alfabetizada,a informação tornou-se moeda corrente dasociedade capitalista recém-inaugurada. Anotícia é um produto à venda, capaz de mudar avida das pessoas. Para tomar uma decisão sobreos rumos de seu negócio, o capitalista precisasaber o que está acontecendo à sua volta. E seinforma lendo jornais.

A visão pragmática instaurada nos primeirospaíses do capitalismo industrial demandava umtipo de informação que fosse fatual e utilitária,mais ou menos como ocorre hoje no jornalismo.Tratava-se de um discurso que, aos poucos,ganhava autonomia.

A informação passou a ser tão importante parao homem moderno que o filósofo alemão GeorgW. F. Hegel (1770-1831) afirmou, certa vez, quenão saía de casa sem antes ter feito sua oraçãodiária, matinal, que consistia na leitura dos jornaisdo dia.

O capital da informação é tão evidente nesseperíodo que uma nova profissão florescia: a dosjornalistas, cujas técnicas de escrita e apuraçãose diferenciavam das dos romancistas.

O período de grande crescimento das publicaçõese do prestígio dos jornalistas foi registrado de formamagistral pelo escritor francês Honoré de Balzac

livro

Coletânea de ensaios mostra a importânciada imprensa na Revolução Francesa

A revolução de papel(1799-1850), que identificava, no romance “IlusõesPerdidas”, o poder dessa corporação, capaz deconquistar corações e mentes com palavras eestabelecer uma nova relação entre o público e arealidade.

E é sobre essa capacidade de conquistar opúblico e promover a transformação social queversa o livro “Revolução impressa: a imprensana França (1775-1800)”, Edusp, R$ 35, 410páginas, organizado pelos historiadores RobertDarnton e Daniel Roche, nomes geralmenteassociados à história da leitura.

O livro é parte de exposição e projeto feitos nabiblioteca pública de Nova York para comemoraro bicentenário da Revolução Francesa, no primeirosemestre de 1989. Assim como a exposição, ovolume traz uma grande variedade de imagens depublicações que mostram a riqueza da imprensarevolucionária. São ilustrações de jornais,almanaques, emblemas, caricaturas, canções euma grande variedade de páginas.

“Revolução impressa” evidenc ia que aRevo lução France sa fo i dec is iva pa ra odesenvolvimento da imprensa — não apenas emrelação ao jornalismo, mas também ao mercadolivreiro. O contrário também é verdadeiro: nãoteria ocorrido Revolução se não houvesse umacomplexa rede de informações — muitas vezesfeita de forma ilegal, driblando a censura —que crescia à medida que os burgueses iam-seorganizando.

O primeiro texto do livro, “A censura e aindústria editorial”, do francês Daniel Roche, falaexatamente disso. O ensaio mostra que, já no finaldo Ant igo Regime, a produção de livrosconsiderados proibidos era tão volumosa que oscensores não tinham controle sobre ela, tornando-se, aos poucos, menos rígidos com o que erapublicado.

Livros considerados subversivos, como os deVolteire e de Rousseau, eram vendidos, àsescondidas, por duas ou três vezes o preço detítulos comuns. O problema era tão sério quecerca de 30% dos prisioneiros da Bastilhacumpriam pena por terem desrespeitado asinterdições impostas sobre a publicação deimpressos.

A aristocracia tentava conter a imprensa,queimando livros e penalizando os responsáveis.“No entanto, enquanto essas obras ardiam emchamas , mi lhares de out ras c ircula vamsecretamente através dos canais do comércioclandestino de livros. Formavam a dieta básicada literatura para os leitores famintos de todoo reino”, explica Robert Darnton, no textoseguinte, “A filosofia por baixo do pano”.

Nesse texto, o historiador norte-americanoconta que as obras consideradas subversivaseram, geralmente, rotuladas de filosóficas. Sobessa a lcunha, c irculavam tanto os livrospropriamente filosóf icos , quanto ospornográficos. Segundo Darnton, “liberdade elibertinagem demonstram-se vinculados”, naimprensa revolucionária.

Assim, a informação que era segredo dosnobres , passava a ser ve iculada de formaintensa e mais livre no meio burguês. Cabia aosjornalis tas abastecer esse novo mercado ,procurando revirar, de cabeça para baixo, ossegredos da aristocracia.

Por meio de pesquisas em documentos daépoca, Darnton descobriu que havia, poucoant es da Revolução , uma imensa r edeclandestina que fazia com que as publicaçõesc ir culass em. Além de livr os , p anf le t os ,canções , a lmanaques f ize ram com que aliberdade de expressão fosse um dos artigosmais importantes da Declaração dos Direitosdo Homem e do Cidadão.

Escrito numa linguagem direta, com muitasimagens, chegando às vezes a incomodar peloseu didatismo, “Revolução Impressa” traz umpanorama bas tante comple to da nascenteimprensa revoluc ionár ia, responsável pelaf ixação de pressupos tos impor tantes dojornalismo: a busca do esclarecimento e a lutapelo bem comum — valores que, diga-se, estãomeio fora de moda na imprensa brasileira.

Marcelo Lima, 30 anos, é jornalista e professor

Panfletos ilustrados baratos vendidos naprimeira comemoração do 14 de julho, em 1880

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 27: Extra Pauta Ed. 57

Faleceu dia 5 de fevereiro, aos 47 anos, ojornalista Carlos Roberto Tavares, diretorde redação da Tribuna do Paraná, vítima

de infarto. Chamado carinhosamente de Charles,trabalhava na Editora O Estado do Paraná desde1973, onde começou aos 17 anos como contínuo.Passou depois a diagramador e assumiu o cargode diretor de redação em junho de 1987. Em1990, acumulou as funções de diretor do Estadodo Paraná e da Tribuna. Em 1997, resolveudedicar-se inteiramente ao jornal mais popular.

Organizado, dedicado e perfeccionista, eraapaixonado pelo que fazia. Chegava à redaçãoàs 11h30 e só saía entre 23h e meia-noite, quandoo jornal fechava, pondo em prática suacriatividade, orientando os jornalistas ediagramadores. Tinha espírito de liderança ecompanheirismo. Mais que um chefe, era umamigo, lembraram colegas de redação no dia doseu sepultamento.

Segundo Rafael Tavares, sobrinho de Charlese novo diretor de redação da Tribuna do Paraná,a principal contribuição de Carlos RobertoTavares para a imprensa do Paraná foi teradotado uma linguagem próxima do leitor,simples mas sem ser desqualificada. “Charlessempre dizia que o jornal devia falar com o leitorcomo se o leitor estivesse falando com o repórter.Ele deu à Tribuna uma linguagem própria.”

“Charles conseguiu traçar, na Tribuna doParaná, uma linha de trabalho na qual os crimesnunca iam chocar o leitor. Se uma foto não podiaser usada, pedia que fosse substituída por um

memória

Carlos Roberto Tavares

desenho. A Tribuna dava tudo o que os outrosjornais davam, mas a filosofia era que devia sernuma linguagem simples para o leitor entender”,explica Rafael Tavares.

Morreu no dia 23 de janeiro na França, aos71 anos, o sociólogo Pierre Bourdieu, umdos mais ferrenhos combatentes contra o

pensamento único na comunicação. Bourdieu éreconhecido como um dos grandes pensadores dasociedade contemporânea. Um de seus discípulos,Luís Pinto, lembrou que o trabalho do sociólogorepresentou “uma revolução simbólica” semelhanteàs que é possível encontrar em outras disciplinas,como Música, Pintura, Filosofia ou Física. SegundoLuís Pinto, Bourdieu trouxe à Sociologia uma“maneira nova de ver o mundo social, dando umafunção principal às estruturas simbólicas”.

A educação, a cultura, a literatura e a arte, queforam seus primeiros temas de estudo, pertencem aeste universo. Mas os meios de comunicação e apolítica, dos quais Pierre Bourdieu fez o seu campode investigação privilegiado no fim de sua vida,também fazem parte desse enfoque. Foi a vontadede superar as “falsas antinomias” da tradiçãosociológica - entre interpretação e explicação,estrutura e história, liberdade e determinismo,

Pierre Bourdieuindivíduo e sociedade, subjetivismo e objetivismo -que deu à sociologia de Pierre Bourdieu a suaoriginalidade.

Dos Herdeiros, um de seus primeiros livros,publicado em 1964 com Jean-Claude Passeron, atéas Estruturas sociais da economia em 2000,passando por A distinção em 1979 e a obra coletivaA miséria do mundo em 1993, para citar apenasalguns dos 25 livros que publicou, ele abriu umcaminho de grande riqueza. Em 1993, o CentroNacional de Pesquisa Científica de Paris lhe concedeuuma medalha de ouro, numa homenagem merecida,destacando que ele “regenerou a Sociologia francesa,associando permanentemente o rigor experimental àteoria baseada numa grande cultura em Filosofia,Antropologia e Sociologia”.

Dedicou suas últimas forças à luta contra oneoliberalismo. Esforçava-se em combinar a posturado sábio e do militante colocando seus conhecimentoscientíficos a serviço do seu engajamento político.Dizia-se preocupado em “fazer com que o sabersaísse da cidadela da sabedoria” para oferecer bases

teóricas sólidas àqueles que tentavam entender emudar o mundo contemporâneo.

Pierre Bourdieu considerava os meios decomunicação cada vez mais sujeitos a uma lógicacomercial e os reprovava por darem a palavra a“ensaístas que falam muito e são incompetentes”.Escreveu, numartigo de 1999, que hoje os verdadeirosdonos do mundo são os donos dos meios decomunicação. “O poder simbólico que, na maioriadas sociedades, era distinto do poder político eeconômico, hoje está reunido nas mãos das mesmaspessoas, que detêm o controle dos grandes gruposde comunicação.”

Bourdieu soube usar muito bem os meios decomunicação para difundir no espaço público suasidéias e sua obra. Ele sabia que esta esfera do espaçopúblico era uma “caixa de ressonância”particularmente adequada para repercutir osproblemas sociais de que ele se fazia o porta-voz.Procurava inserir sua ação na agenda da mídia, poissabia que ela era a plataforma mais eficaz para fazersua mensagem ouvida pelo maior número de pessoas.

Conhecedor das artes gráficas (graças àdiagramação, praticada durante anos), CarlosRoberto Tavares deu cara nova à Tribuna.“Quando chegava o momento de fechar o jornal,ele sempre tinha uma idéia na cabeça para aprimeira página”, comenta o novo diretor.“Muitos editores não têm noção de espaço. Eletinha e conversava muito com o diagramadorque fechava a capa do jornal. Trocava muitasidéias com os editores de polícia e esportes.”

“Certa vez, lembra-se Rafael Tavares,ele bateu qua tro tí tulos e colocou emvotação, para a redação escolher. Charlesgostava de t rocar idé ias e ace itavasugestões. A vida dele era o jornal. Paraele, a redação era como um time de futebol.Costumava dizer que, se um atleta joga mal,isso afeta toda a equipe.”

Médicos do trabalho afirmam que acategoria dos jornalistas é a que menos sepreocupa com a saúde. Rafael Tavaresconcorda que a dedicação de Charles aotrabalho contribuiu para que ele morresseainda novo. “Com certeza, ele deixou asaúde um pouco em segundo plano, apesardos avisos do pessoal da redação.”

Carlos Roberto Tavares era filho deValdivino Tavares de Mello e Aparecida dosSantos Mello e nasceu em Alto Paraná, no

noroeste do Estado, em 27 de maio de 1954.Deixou viúva Leila Gazal Tavares e os filhosDiogo, Rodrigo e Fernanda.

Arquivo O Estado do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 28: Extra Pauta Ed. 57

28 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Queremos “cair na boca do povo”!!!.Participar da Feira de Mídia 2002 foi

uma oportunidade para reforçar aos olhosdo s p rof is s io na is d e mar ke t ing eempre sá r io s o s “pr odutos ” des tedepar tamento . Af ina l, para rea liza revent os c omo Ci c lo d e I d é ia s eLiberdade de Imprensa precisamos deparceiros que os patrocinem. E a Feira deMídia funciona como uma vitrine.

Então, quando surge uma oportunidadecomo a Feira de Mídia, acho que devemosestar lá. Para mostrar que estamos desenvolvendo um trabalhosério, com muita responsabilidade no Projetos de Comunicação

projetos de comunicação & cidadania

*** Eugenia Romaniv ,que aceitoutrabalhar no stand Projetos deComunicação (Feira de Mídia 2002),com o que o Sindijor pode oferecercomo remuneração pelos quatro dias.Além disso, esta profissional foi uma daspessoas que teve o fabuloso espírito deparceria e auxiliou na recepção do 2ºCiclo de Idéias/2000 nos dez dias semesperar remuneração. Felizmente,fazendo as contas no final, deu tudo certopara quem trabalhou na organização.

& Cidadania . E que as empresas quevirem a ser parceiras, terão um retornomuito positivo, agregando sua marca aoseventos e outros serviços desenvolvidosaqui.

A Fei ra de Míd ia fo i muitomovimentada. Nosso stand estava entreos mais básicos, digamos assim (são asnossas condições f inanceiras). Mesmoassim, ficou atraente, segundo opiniões dopúblico. E, obviamente, o que mais chamoua atenção foi o Ciclo de Idéias. Claro que

procuramos dar destaque e a busca de informações sobre apróxima edição do Ciclo de Idéias foi muito grande.

Em nome do Ciclo de Idéias, agradeço :

Quem deseja maiores informações ou quer acrescentar sugestões e críticas, envie e-mail para:Cida Mondini - [email protected] - Projetos de Comunicação & Cidadania

Aí, Eugenia !! Você é cidadã nota 10!!!

*** Luiz Gil de Oliveira (sóciodiretor da Abaeté Loca-TourTransportes de PassageirosLimitada), por seu espírito deparceria durante o evento 3º Ciclode Idéias. A terceira edição, no

assunto verba, foi complicada. Mesmo nãosabendo quando receberia, foi super profissionale um grande amigo. Pois não ficou restritoapenas a levar e trazer os convidados com a sua

peculiar classe e gentileza, mas tambémajudou durante o evento em tudo quepode.Aí, Gil, Você é cidadão nota 10!!

*** Chris e Creso (empresários daEnfoque Assessoria de Comunicação).No 3º Ciclo de Idéias contribuíram comuma verba de R$ 1.000 para amenizar umpouco as despesas do evento.Aí, Chris e Creso, vocês são cidadãosnota 10!

Será? Será que teremos a quarta edição do Ciclo de Idéias?É sempre assim? Será, que será? Até agora sim!Será sempre assim? Sooocooorrooo!Afinal, o que é o tal de Ciclo de Idéias?Para quem ainda não conhece: É um evento de cidadania. Não são palestras, é umespaço para bate-papo, troca de idéias e reflexão. É aberto ao público. Ou seja, épromovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, para toda acomunidade. Com entrada franca.Até o momento é o maior evento (10 dias de duração) promovido pelo Sindijor.Pessoal, participem! Assistam, questionem, divulguem, patrocinem!

O 4ºCiclo

deIdéias

Na próxima edição desta página o assunto será Responsabilidade Social das Empresas x Imprensa

José Suassuna

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 29: Extra Pauta Ed. 57

foz do iguaçu

Embaixador debate blocoseconômicos em Foz

Douglas Furiatti

Oembaixador Samuel Pinheiro Guimarãesestará em 26 de março em Foz do Iguaçupara discutir o Mercado Comum do Sul

(Mercosul) e a Área de Livre Comércio dasAméricas (ALCA). O diplomata vai debater asconseqüências dos blocos para o Brasil e outrospaíses sul-americanos, já nítidas na crise daArgentina, seja sob os aspectos político, econômicoou social.

Guimarães dará ênfase à influência que a atualsituação do país vizinho exerce sobre o Brasil, bemcomo outros aspectos relacionados à política e àsrelações internacionais. Promovido pela Delegaciade Foz do Sindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná, o evento será realizado no próximo dia 26,terça-feira, às 20h, na UDC.

Com 38 anos de carreira, passagem por órgãoscomo Sudene e Embrafilme, e cargos diplomáticosexercidos na França e Estados Unidos, SamuelGuimarães se mostra um ferrenho crítico da ALCA.Em entrevista à revista Caros Amigos, o embaixadorse posiciona contrariamente à entrada do Brasil naÁrea de Livre Comércio. Em 2001, suas opiniõessobre o acordo lhe renderam a exoneração do cargode diretor do Instituto de Pesquisas em RelaçõesInternacionais do Itamaraty.

“Os americanos já propuseram uma área de livrecomércio com os europeus, já propuseram o mesmopara os japoneses, e ninguém aceitou. Por quê?Porque sabem que saem perdendo na disputa comos Estados Unidos, dadas as condições do sistemaamericano, tão poderoso que detém a moeda dereserva universal, o dólar, tem todos os meios de

pressão, é o único país que tem realmente empresasmultinacionais em todo o mundo, uma capacidadetecnológica extraordinária, investe em tecnologia otempo todo através do sistema militar”, disse àrevista.

Para o autor do livro Quinhentos Anos dePeriferia, a aliança econômica com os EUA é umprocesso de recolonização da periferia, de formaindireta. “Quais são as características da colônia?Não pode ter armas, não pode ter política externa,não pode ter políticas econômicas internas, não deveter moeda”, afirmou o embaixador.

Com vistas a um melhor entendimento dessaspolíticas internacionais e uma integração entre osjornalistas e comunidade, a Delegacia Sindical deFoz do Iguaçu contatou o diplomata brasileiro, queaceitou o convite para vir à fronteira.

Esta é a primeira promoção do ano da Delegaciade Foz do Iguaçu do Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná, que reserva também futuraspalestras nas áreas de jornalismo fotográfico,cinematográfico e impresso, além de outrosbenefícios em prol dos profissionais que atuam nomercado local e regional.

Douglas Furiatti é membro doConselho de Ética do Sindicato

dos Jornalistas Profissionais do Paraná

Farsas com ares de verdadeAlexandre Palmar

A interferência do repórter numa pauta é umassunto que a maioria evita discutir com aseriedade exigida pelo tema. É constrangedor

debater esta prática condenável, mas registrada deforma surreal em Foz do Iguaçu, com uma distorçãoda realidade capaz de levar leitores, telespectadoresou ouvintes ao Procon para reclamar contra notíciaenganosa. Esse debate é oportuno diante de algumascenas registradas na cidade nos últimos meses.Antes, faz-se necessário restringir a polêmica, poisdo contrário seria preciso uma tese de doutorado paratentar esboçar uma conclusão. Embora os exemplosa seguir sejam triviais e corriqueiros, será possívelperceber que determinadas condutas merecem serrepensadas.

Mulheres de soldados protestam em frente aoquartel do 14o Batalhão da Polícia Militar (BPM).Elas estão acampadas desde as 7 horas. O jornalista,de forma sutil, pergunta se o grupo poderia fechar aAvenida General Meira para valorizar a notícia.Simpáticas à idéia, as senhoras fecham a via por

poucos minutos, mas suficientes para o profissionalsustentar a matéria dizendo que as “Mulheres dePMs fecham avenida em Foz”.

Depois de perceber a armação, é impossível nãopensar na diferença entre “mulheres acampam emfrente ao quartel” e “mulheres fecham avenida doquartel”. Já para o consumidor, as senhoras foramvalentes, estavam revoltadas com o mundo. Ou foramirresponsáveis porque prejudicaram o trânsito. Asinterpretações são inúmeras.

Atitudes semelhantes a essas acontecemdiariamente. Certa vez um repórter sugeriu que oacusado de roubo segurasse o produto roubado para“sintetizar a cena”. A imagem pôde ser encaradacomo a prova de um crime ainda não julgado. Outrorepórter pediu para o comandante da PM deslocar ohelicóptero, que estava no heliporto, até o gramadodo quartel só para mostrar que a aeronave seria usadanum arrastão policial.

Em Foz, tais abusos estão longe de ser punidos,mas em São Paulo um caso - digamos menosproblemático - virou objeto de discussão na coluna doombudsman da Folha de S. Paulo, Bernardo

Ajzenberg. Ele descobriu que uma foto publicada naprimeira página do jornal, edição de 19 de junho, foimontada. Nela, aparece um homem encolhido, comfrio, embaixo de um termômetro de rua, na AvenidaPaulista, que marcava 11 graus. Depois de descobertaa fraude, o autor da cena montada foi penalizado.Essasatitudes são descabidas para uma imprensa em que amaioria dosprofissionais busca a ética como horizonte.

O limite para a intromissão numa reportagem émínimo (a possibilidade remete a uma outracontenda). Em condições normais, cabe aoprofissional - ou à sua equipe - ser bom observador.

Como disse Ajzenberg, numa crítica à redaçãoda Folha de S. Paulo, essas atitudes têm a ver com“artes plásticas, publicidade, com o que for, menoscom jornalismo. E não importa se tratava-se deassunto supostamente “menor”, como a temperaturada cidade. É questão de princípio”.Quem discordapoderia seguir a carreira de diretor de cinema.

Alexandre Palmar é vice-presidentedo Sindicato dos Jornalistas

Profissionais do Paraná

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 30: Extra Pauta Ed. 57

30 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

A Gazeta Mercantil voltou a contratar em Curitiba.Além dos três jornalistas que permaneceram naredação após a demissão da maioria da redação,agora trabalham na sucursal da Gazeta ValmirDenardin, ex-repórter da Folha de Londrina, eCynthia Calderon. Sérgio Garschagen, que já foidiretor da Gazeta Mercantil em Curitiba , é agora oeditor executivo. Como diagramadores foramcontratados Alexandre Victorino Nunes e DanielleSasaki.

Quase todos os jornalistas que a GazetaMercantil Paraná demitiu inexplicavelmenteem novembro do ano passado já encontraramnovos caminhos profissionais. NilsonMonteiro, que montou e chefiou a equipe, éagora o superintendente de Comunicação daCompanhia de Habitação do Paraná(Cohapar). Sílvio Oricolli, que era editoradjunto, foi contratado como repórter especialpela Folha de Londrina e é articulista daAgência Rural. Adriano Koehler estátrabalhando na assessoria de imprensa da TimCelular. José Aparecido Marinho voltou a daraulas na Uniandrade, em três disciplinas:Telejornalismo, Redação Jornalística eTécnica de Reportagem, Entrevista eRedação. Marcelo Almeida lecionaFotografia, Matérias Expressivas e dá cursopara alunos de Educação Artística comhabilitação em Artes Plásticas na FAP -Faculdade de Artes do Paraná. Larissa Jedyntrabalha como frila, Josiane Schulz (ex-correspondente em Londrina) casou e foimorar em Brasília, e Rosely Vargas encontra-se no Rio Grande do Sul e sonha ir trabalharcomo jornalista na Argentina. Como o ExtraPauta já noticiou, Lorena Aubrift Klenktrabalha como pauteira e Fernando Schellerfoi contratado como repórter da Gazeta doPovo.

Aurélio Munhoz, de O Estado do Paraná, e LucianaAntoniucci, professora na Universidade Tuiuti doParaná, iniciam em março mestrado na UniversidadeFederal do Paraná em Sociologia Política. SílviaCalciolari, assessora do vice-prefeito de Curitiba BetoRicha, e Mira Graçano, apresentadora da TVParanaense, Canal 12, começam no mesmo período ena mesma Universidade estudos de Sociologia dasOrganizações.

Carmen Célia, professora na UniversidadeTuiuti do Paraná, concluiu um curso deaperfeiçoamento na UFPR em JornalismoAgrobusines e agora faz mestrado de Gestãodo Conhecimento na Universidade Federalde Santa Catarina.

Celsina Favorito, da assessoria de imprensa daUFPR, está fazendo doutorado na UniversidadeNova de Lisboa, em Portugal, na área da Ciênciada Comunicação. Lá já se encontra Walter

rádio corredorSchmidt, da Gazeta do Povo, que cursa mestradoem comunicação.

O jornalista Sérgio Henrique Schmitt,assessor regional de comunicação emarketing na Emater/PR em Londrina, crioue editou a agenda e almanaque TurismoRural Paraná 2002, uma publicação inédita naárea de turismo. Sérgio Henrique começou aobra há seis anos, com uma revisão deliteratura e viagens pelo interior do Paraná edo Brasil e pelo exterior. A agenda foieditada em convênio com a Editora Grafmarke contou com a colaboração promocional doBanco Regional de Desenvolvimento doExtremo Sul (BRDE). A publicação tem umatiragem de 5 mil exemplares e se destina aempreendedores de turismo do campo e dointerior, acadêmicos e docentes dos cursosde turismo, monitores, secretáriosmunicipais e técnicos que atuam no setorturístico, além de ser um guia de orientaçãoaos profissionais e veículos de comunicaçãodo Paraná. Pode ser encontrada na LivrariaChain e em todas as unidades regionais daEmater/PR.

Entrou no ar a Agência RS, agência pública denotícias do Rio Grande do Sul. O serviço foicriado pela Casa 6 Comunicação, empresaparanaense dos jornalistas Heros Schwinden eEledovino Basseto, que tem em seu portfólio oguiaparana.com.br. No RS será administrado pelaPRK EVentos e Marketing Digital do grupo WBIBrasil, empresa especializada em consultoriaestratégica em e-business. A Agência RSfunciona como banco gratuito de releasesenviados por jornalistas, assessorias de imprensa,ONGs e empresas. O site traz um passo-a-passopara as empresas interessadas em publicar seustextos no serviço. Para isso, a empresainteressada precisa tornar-se uma fontecadastrada da agência. Os releases são enviadosa partir de um sistema de publicação. Maioresinformações no site www.agenciars.com.br

Osni Bermudes Junior assumiu a chefia daassessoria de imprensa da Risotolândia.Osni Junior já havia prestado serviços deimprensa e edição nos jornais da empresadurante quase cinco anos, por meio da suaOBJ Consultoria. Agora põe literalmente a“mão na massa” como profissionalcontratado. Osni Bermudes Junior foiescolhido como Destaque em ComunicaçãoEmpresarial do Ano na edição Melhores doAno do Diário Popular, em decorrência dotrabalho desenvolvido como assessor deimprensa da Associação Brasileira deRecursos Humanos (ABRH-PR),reformulando a coluna da entidade na Gazetado Povo e dando maior visibilidade a seuseventos e ações.

Os jornalistas Adilson Faxina e Gláucio RobertoDias (ex-Fonte Segura) e Samuel Estevam Reuse(ex-Gazeta do Povo) somaram forças na EditoraFonte de Comunicação. A empresa -especializada em editoração de boletins e jornais -tem como carro-chefe o jornalismo do suplementoRodapé e do Caderno Imobiliário, ambos daGazeta do Povo.

Rafael Tavares de Mello é, desde 3 demarço, o novo diretor de redação da Tribunado Paraná. Ocupa o cargo que durantemuitos anos foi exercido por seu tio, CarlosRoberto Tavares, falecido no dia 5 defevereiro.

A Gazeta recebeu no começo de fevereiro osjornalistas que trabalhavam no Primeira Hora.Até agora, nove pessoas já assumiram funções nojornal. A maioria, no lugar de pessoas demitidasno fim de janeiro.Na pauta, estão trabalhando duas das recém-chegadas. Daniela Neves já havia feito a mesmafunção no PH. Na época do fechamento dodiário, no entanto, já havia voltado para areportagem. Era a responsável pela maior partedas coberturas políticas.Nádia Schiavinatto também começou a trabalharna pauta da Gazeta. O cargo não é novo para ela.Antes de ser chamada para trabalhar comoeditora de variedades no jornal que fechou, era láque ela estava.Na economia, a novata é Deise Roza. Arepórter, que ficou durante um ano comoeditora assistente do PH, assumiu a página deDireitos do Consumidor e ajuda nas matériasdiárias do caderno econômico.Dois repórteres ficaram com a parte policial daGazeta. Ricardo Sabbag e Rodrigo Lopes, quetambém trabalhavam na mesma função quandoestavam no Primeira Hora, substituíram aveterana Mara Cornelsen.O esporte ficou com André Gonçalves eEduardo Nunes. O Caderno G ganhou LuísPellanda, que integrava o caderno deVariedades do Primeira Hora. O editor deComunidade do PH, Ricardo Medeiros, assumiucomo editor assistente do primeiro caderno daGazeta.

Do pessoal demitido pela Gazeta do Povo epelo Primeira Hora, alguns já conseguiramnovas colocações. É o caso de MilenaMiziara, que voltou para a assessoria deimprensa da Secretaria de Segurança Pública.Ela havia saído de lá no fim do ano passadopara começar no PH. João de Santa foicontratado pela TV Educativa. AndréaRibeiro entrou para a Calvin Entretenimento.Mara Cornelsen voltou à editoria de polícia esegurança pública da Tribuna do Paraná, ondejá havia trabalhado 17 anos.(Colaborou Rogério Galindo)

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 31: Extra Pauta Ed. 57

tabela de preçosSALÁRIOSDE INGRESSO OUT 2001a2002Repórter, redator, revisor, ilustrador, diagramador,repórter fotográfico e repórter cinematográfico 1.184,63Editor 1.539,98Pauteiro 1.539,98Editor chefe 1.776,95Chefe de setor 1.776,95Chefe de reportagem 1.776,95

Estes são os menores salários que poderão ser pagos nas redações;Os valores da tabela são para jornada de trabalho de 5 horas.O piso salarial da categoria é definido em Acordo Coletivo de Trabalho,Convenção Coletiva e/ou Dissídio Coletivo.

FREE LANCERedaçãoLauda de 20 linhas (1.440 caracteres) 63,62Mais de duas fontes: 50% a maisEdição por páginaTablóide 82,40Standard 98,73Diagramação por páginaTablóide 41,20Standart 56,20Revista 30,63Tablita / Ofício / A4 20,93RevisãoLauda (1.440 caracteres) 16,58Tablóide 34,63Tablita 26,12Standard 72,41IlustraçãoCor 98,3P&B 65,46Reportagem fotográfica – ARFOCReportagem EditorialSaída cor ou P&B até 3 horas 149,65Saída cor ou P&B até 5 horas 280,95Saída cor ou P&B até 8 horas 314,65Adicional por foto solicitada 28,24Foto de arquivo para uso editorial 224,78Reportagem Comercial/InstitucionalSaída cor ou P&B até 3 horas 298,08Saída cor ou P&B até 5 horas 530,33Saída cor ou P&B até 8 horas 707,21Adicional por foto 56,20Reportagem CinematográficaEquipamento e estrutura funcional fornecida pelo contratanteSaída até 3 horas 81,97Saída até 5 horas 131,03Saída até 8 horas 215,35Adicional por hora 32,73Foto de arquivo para uso em:Anúncio de jornais 486,87Anúncio de Revista e TV 524,50Capa de Disco e Calendário 674,46Outdoor 1033,27Cartazes, Folhetos e Camisetas 337,22Audiovisual até 50 unidades 711,89Audiovisual acima de 50 unidades à combinarDiária em reportagem que inclui viagem 412,89Reportagem aérea internacional à combinarHora técnica 65,46

Observações importantes:A produção (filme, laboratório, hospedagem, transporte, seguro devida, credenciamento, etc.) é por conta do contratante; Narepublicação, serão cobrados 100% do valor da tabela; A fotoeditorial não pode ter Utilização comercial.

Sport ClinicFisioterapia, Hidroterapia, Nutrição, Ortopedia,Traumatologia, Clínica Médica, Geriatria,Cardiologia, Reeducação Muscular eReabilitação FísicaPreços especiais para sindicalizados: Consultamédica R$ 25, Fisioterapia R$ 20, HidroterapiaR$ 20 e Reeducação Física e muscular R$ 25Av. Presidente Arthur Bernardes, 186 - Curitiba(41) 274 8561

Esquema InternacionalDesconto de 20% na matrícula parafiliados do Sindicato dos Jornalistas.-Cursos no Exterior-Intercâmbio cultural-Pré-intercâmbioRua Dr. Faivre, 115 conjunto 2 - Curitiba (PR)Fone (41) [email protected]

Novos convênios

Outros convêniosClínica Millennium - FONOAUDIOLOGIA - 50%de desconto para jornalista com carteira da FENAJ.Avaliação fonoaudiológica. Atendimento com asfonoaudiólogas Cristiane Barbosa Mendes e SuzanneBettega Almeida. Mais informações na Rua Acyr Gui-marães 166, Batel . Fone 244-2509

Clínica Gross - 20% de desconto no pacote de 10seções de tratamento de fisioterapia dermatológica(estética), realizados com o fisioterapeuta NelsonAlves dos Santos Filho. Localizada na Avenida Presi-dente Affonso Camargo, 4623. Fone: 366-5234.

CFC Cristo Rei - O Centro de Formação de Condu-tores Cristo Rei está oferecendo 10% de desconto parajornalistas que apresentarem a carteira da FENAJ nocurso para tirar carteira de motorista e/ou moto. Estapromoção estende-se também aos filhos de jornalistas.Rua Nilo Cairo, 8 – Fone: 324-7141

BARES & RESTAURANTESCafé Curaçao - Na apresentação da carteirade jornalista, não é preciso pagar a entrada. Obar funciona de segunda à sábado. Na quinta-feira, a entrada é de R$ 5 para mulheres e R$ 7para homens. Sextas e sábados, R$ 7 para mu-lheres e R$ 10 para homens. Os preços podemmudar quando há festas especiais ou outros even-tos. Rua Senador Xavier da Silva, 210. Fone 224-6086. O convênio também é vál ido para oCuraçao Guaratuba, que só abre nos feriados edurante o verão.

Jockey Lounge Bar - Na apresentação da carteirade jornalista, não é preciso pagar a entrada. O des-conto não será dado em dias de eventos especiais. RuaVictor Ferreira do Amaral, 2291, Tarumã. Fone 365-5050

Bar Brahma – Desconto de 10%, apenas para o porta-dor da carteira de jornalista. (Av. Getú-lio Vargas, 234,esquina com R. João Negrão, fone 224-1628)

Shima Restaurant – Desconto de 10%. (R. Pres.Taunay, 892, fone 224-3868).

Monsenhor Fast Gril l - Desconto de 15%. Abertode 2ª a 6ª para o almoço. (R. Monse-nhor Celso, 270- Centro)

ACADEMIASAquátika - Desconto será de 50% na anuidade e 15%na mensalidade, além da isenção do valor da matrícu-la, que é de R$ 30,00. O convênio é valido para nata-ção, musculação e hidroginástica. Rua Antonio Grade,563, no Mercês, fone 335-1310

Academia Kine - Ginástica com orientação, Nutriçãoe Fisioterapia. Desconto de 20%. R. Mauá, 706 B, Altoda Glória. Fone 253-3841. Funciona das 8 às 20h30mintodos os dias.

CURSOSInsti tuto Cultura l Brasil -Argentina Desconto de50% na matrícula e 30% na mensalidade para os cursosEspanhol Dinâmico Intensivo e Espanhol Dinâmico Semi-Intensivo. Fones: 252-0332, 254-5006 e 343-6435.Site www.softone.com.br/icba

Centro Cultural Brasil Portugal - Desconto de 10%.Cursos de português e de litera-tura brasileira e portu-guesa. Rua Paula Gomes, 325 - Centro. Fone 232-5406.

Microcamp Mercês - Desconto de 30% para o Cursointegrado Teens e 10% para o curso VIP, além de 5% dedesconto no caso de promoções em que os descontosjá mencionados sejam concedidos a todos os alunos.

SAÚDEClínica Santa Cecíl ia - Consultas médicas a R$ 25em todas as especialidades. Desconto de 10% em exa-mes radiológicos. Odontologia com desconto de 45%sobre o preço da tabela da ABO. Descontos tambémem exames laboratoriais, fisioterapia e psicologia. Fo-nes: 41 225-2627 e 08004126000.

Good Life - Serviços de Odon-tologia, Medicina.Fonaudiologia, Fisioterapia, Psicologia e Massote-rapia. Descontos e tabelas espe-ciais, de acordo comsua neces-sidade. Endereços: R. Padre Agos-tinho ,2800, fone 335-4362 (Odonto e Fono); Av. SilvaJardim, 266, fone 233-2577 (Fisio); R. PadreAnchieta, 1826, 2º andar, conj. 212, fone 335-5954( Medicina) e R. Princesa Isabel, 927, fone 233-3192(Psico e Massoterapia).

Ao Seu Alcance - A Clínica Odontológica Ao SeuAlcance oferece serviços com até 30% de descontos natabela do Conselho Regional de Odontologia. R. Vo-luntários da Pátria, 475/conj. 301-A, fone 232-0166.

Ps icologia Infanti l e Psiquia tria - O psiquiatraVitório Ciupka e as psicólogas infantis Suzane Ciupkae Denise Ciupka Yamagutt oferecem descontos especi-ais para os jornalistas. Mais informações pelo telefone41 336-7308.

Consultório de Psicolog ia - Al. Princesa Isabel,420 - Centro - Curitiba/ PR. 50% de desconto no pre-ço da consulta, na apresentação da Carteira de Identi-dade de Jornalista. Atendimento psico-terapêutico in-dividual de adultos e adolescentes. Mais informações:41 223-7748 e 233-7074.

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

Page 32: Extra Pauta Ed. 57

32 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 7 - j a n e i r o / f e v e r e i r o 2 0 0 2

Filho do fotógrafo Gibi Penas, da FotoAvenida, Kraw Penas no início não seinteressava muito por fotografia. Só

começou a trabalhar em estúdio por voltados 16 anos, como office-boy, e passou acurtir mais o aspecto publicitário. Aos 22anos começou a fazer lay-outs, trabalharcom traços e fotografar. A primeira agênciaem que trabalhou foi a Meta Propaganda.Depois se transferiu para a Exclam. Emseguida foi trabalhar no estúdio fotográficode S. J. Vieira, lidando com assistência deestúdio e fotos maiores. Passou ainda poroutros estúdios.Foi então que começou a trabalhar emjornal, no Indústria & Comércio. Usando oque havia aprendido na atividade anterior,procurava conhecer o assunto para produzira foto, tentando fazer com que ela dessemais vida à matéria. O que ele aprendeucom publicidade o ajudou muito nessatarefa. Kraw gostou da nova atividade e jáatua no fotojornalismo há 18 anos.Em seguida foi para a Folha de Londrina,para cobrir o colunismo social, e ali ficounove anos. “Os repórteres fotográficos nãogostam muito dessa área, por causa doshorários, geralmente noturnos. Eu aceitei odesafio”, comenta Kraw. “Não meconcentro nas mesmas pessoas de sempre.Com isso, acabei participando da pauta efazendo fotos muito boas. E as pessoastambém curtem muito”, explica ele.“Antes, os fotógrafos faziam fotos depessoas em grupo ou sozinhas, em pose. Euprivilegiei o flagrante, procurando fazerfotos diferentes. E acabei me dando bem.Depois adaptei esse estilo a política,economia, cidades e geral, tentando semprefazer algo diferente. A foto trabalha juntocom a matéria. Gosto de fazer reportagem,de produzir uma notícia ou documentar umfato. Mas o que faço mais é colunismosocial, pois trabalhei principalmente nestaárea e me adaptei melhor a ela”, explicaKraw.Entre os repórteres fotográficos nacionais,Kraw aprecia as fotos de Marlene Bérgamo,da Folha de S. Paulo. No planointernacional, o francês Henri Cartier-Bresson e o norte-americano Ansel Adamssão seus preferidos. “Bresson é coração eolho. Adams, com suas paisagens e técnicaapurada, é mais cabeça e olho”, segundoKraw Penas. “Em Curitiba também hámuitos bons repórteres fotográficos. Aspessoas precisam prestar mais atenção nasfotos e ver os créditos”, ele conclui.

imagem

A foto sempre diferente

KrawPenas

Pacientes aguardando atendimento durante greve no HC

Confronto entre policiais e estudantes durantemanifestação contra a venda da Copel

Policiais revistam celas após tentativa de fugade presos do Centro de Triagem, em Curitiba

Apresentação de jóias emdesfile do I Gold Fashion

Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.