VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN ∕ 1808-8716 Autran. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017;4(gt1):1-16 Experimento local com implicações globais: Análise antropológico do projeto Amazon-FACE GT – 01 – Mudanças climáticas, ciência, tecnologia e Sociedade na América Latina Rodrigo Ramírez Autrán
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Experimento local com implicações globais: Análise …esocite2017.com.br/anais/beta/trabalhoscompletos/gt/1/... · 2018-04-01 · Intergovernamental de Expertos sobre Mudança
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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Autran. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017;4(gt1):1-16
Experimento local com implicações globais:
Análise antropológico do projeto Amazon-FACE
GT – 01 – Mudanças climáticas, ciência, tecnologia e Sociedade naAmérica Latina
Rodrigo Ramírez Autrán
VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716∕ Autran. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017;4(gt1):1-16
Contexto e justificativa
“O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como evidenciado pelos aumentos
observados na temperatura média mundial do ar e do oceano, o descongelamento
generalizado da neve e do gelo e o aumento do nível mundial do mar.... As observações
em todos os continentes e na maioria dos oceanos mostram que muitos sistemas naturais
estão sendo afetados por mudanças no clima regional, particularmente por um aumento
de temperatura” (IPCC, 2007: 2).
Este foi o início do relatório de síntese Mudanças Climáticas 2007, emitido pelo Grupo
Intergovernamental de Expertos sobre Mudança Climática, pertencente à Organização
Meteorológica Mundial (OMM) e ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA).
Nos discursos controvérsias atuais, os impactos de uma anormal ou extrema mudança
no clima em diferentes lugares e setores do mundo são o que tem levado a sociedade,
incluindo cientistas e instituições governamentais, interessadas na questão das mudanças
climáticas durante várias décadas. Agendas nações desenvolvidas e em desenvolvimento
incluem uma componente dedicada à análise do potencial impacto de tais mudanças
climáticas, a vulnerabilidade das regiões em condições climáticas extremas e adoptar medidas
para tais mudanças.
No entanto, também sabemos que "para determinar as ações específicas a nível global,
regional ou local, é preciso primeiro entender o problema das alterações climáticas,
principalmente através da análise do alcance e limites do conhecimento científico que temos
até agora" (Matínez e Fernández, 2008: 18). Podemos dizer, então, que o aquecimento
prolongado, assim como as quantidades crescentes de CO2 produzidas pelo homem, são uns
dos problemas globais mais importantes da agenda internacional no debate ambiental.
No trabalho revelador e pouco convencional Waiting for a Gaia. Composing the
common world through arts and politics de Bruno Latour (2011) afirmou categoricamente que
a mudança climática não pode ser vista como uma controvérsia científica e que é um fato que
o processo chamado Antropoceno (a afetação geológica feita pela humanidade) está
acontecendo iminentemente:
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“There is no single institution able to cover, oversee, dominate, manage, handle, or simply
trace ecological issues of large shape and scope. Many issues are too intractable and too
enmeshed in contradictory interests. We have problems, but we do not have the publics that
go with them. How could we imagine agreements amid so many entangled interests?”
(Latour, 2011: 9).
Hoje em dia, o Acordo de Paris da Comissão Europeia1 marcou uma unificação sem
precedentes para combater a mudança climática em escala global. No entanto, a partida dos
Estados Unidos parece destinada a mudar novamente a influência do ambientalísmo
internacional e, sob o argumento político de que tais acordos "prejudicam Washington" e
deixam de aplicar "cargas econômicas e econômicas draconianas" o passado mês de junho, o
presidente dos EUA, Donald Trump tomou a decisão de não assinar tais acordos2.
Então, enfrentando esse cenário e sendo que, para algumas mudanças climáticas, é
uma realidade "cientificamente comprovada", podemos perguntar: como as decisões são
tomadas, como a mostrada pelos EUA e que tipo de especialistas sobre o assunto aconselham
as decisões políticas de tais alto nível? Se a mudança climática não é uma controvérsia
científica, então, por enquanto, podemos dizer que é uma controvérsia político-econômica? e
quais as implicações que isso tem ao nível da produção de conhecimento tecnológico em
mudanças climáticas?
Para juntar-se a esta e outras discussões sobre mudanças climáticas, decidi iniciar um
projeto de pesquisa de doutorado com o projeto intitulado "Experimento local com
implicações globais: o caso de Amazon-FACE"; a investigação será feita dentro da tradição
das etnografias no laboratório, por exemplo, analisando alguns dos discursos e práticas tanto
científicas como políticas, e como estas estão relacionadas à tomada de decisões a partir das
cúpulas mais altas sobre as contingências de uma grave deterioração ambiental.
Teoricamente na tradição de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, resgatou a
perspectiva de B. Latour sobre a importância da realização de pesquisa de tipo qualitativo e de
laboratório, já que estes são espaços sociais onde "o poder tende a concentrar-se, em centros
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de computação" (Latour, 1990, 225, tradução própria), e onde existem “todos os tipos de
inscrições científicas" (Latour, 1987: 166 tradução própria), um dos interesses da análise será
a vulnerabilidade às alterações climáticas das regiões em condições extremas no clima, e as
medidas adotadas para tais mudanças. Segundo as próprias palavras do diretor técnico do
projeto na floresta amazónica:
“O Amazon-FACE não se limita a ser um simples experimento científico. É uma
plataforma de pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas na Amazônia,
favorecendo o planejamento da economia e o desenvolvimento regional sustentável. O
governo brasileiro, por intermédio do MCTI, considera que a nova parceria com o BID é
uma aposta na importância da ciência, da tecnologia e da inovação na preservação e uso
sustentável da maior floresta tropical do planeta e na melhoria das condições de vida das
populações amazônicas, com preservação da funcionalidade dos ecossistemas e da
biodiversidade” (Lapola & Norby: 2014: 6).
Porém, meu projeto de investigação atual pretende analisar, a partir de uma perspectiva
antropológica e qualitativa, um experimento a céu aberto, internacional e multidisciplinar na
floresta amazônica brasileira.
Projeto de pesquisa
O objetivo geral deste projeto é analisar a partir de uma perspectiva qualitativa e diacrônica a
produção social do conhecimento científico no contexto de um experimento de em
laboratório a céu aberto, dedicado à observação dos indicadores de CO2 na Amazônia
brasileira. Os objetivos específicos são:
A). Identificar e aprofundar nas relações sociais entre os atores e as instituições na
implementação do 2º estágio do experimento Amazon-FACE;
B). Examinar as relações inter e multidisciplinares que estão dentro do experimento,
considerando a ampla gama de atores, instituições e perfis dos envolvidos;
C). Compreender as diferentes formas e acordos na produção social do conhecimento
cientifico entre atores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento;
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D). Pesquisar em que medida os novos conhecimentos científicos e sua aplicação,
podem mudar as visões e/ou discursos sobre controvérsias atuais, como as mudanças
climáticas.
Em quanto as primeira questões e métodos de pesquisa que procuram-se responder são: Como
é a compreensão de fenômenos globais como as mudanças climáticas e como são estas
localmente apropriado e internalizado pelo grupo de cientistas? Até que ponto iniciativas que
tem como objetivo compreender este fenómeno, contribui para normalizar ou complicam os
novos discursos e conhecimentos sobre a mudança climática?
De forma geral, as técnicas de pesquisa as quais propondo: a) revisão bibliográfica e
historiográfico, b) etnografia, c) observação participante, d) entrevistas semiestruturadas, e)
discussões em grupo e f) netnografía (etnografia digital)3.
Risco global e incerteza
Um dos trabalhos pioneiros sobre temas relacionados ao risco é o trabalho de Ulrich,
intitulado The Society of Risk, onde o autor sugere uma ruptura no processo histórico da
modernização através do acidente na central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Após esse
evento, a percepção sobre os riscos sofreu uma transformação notável. Grande parte da
experiência de Beck no trabalho de campo está ligada ao estudo da família. O autor entende
que os laços familiares estão mudando como produto da pós-modernidade. O desengajamento
pessoal está associado a um processo de individuação - que é irreversível - cujas
consequências são observadas na educação e no trabalho.
Basicamente, a preocupação de Beck está ligada à ética do meio ambiente e à
constante degradação do produto de resíduos tóxicos do capitalismo industrial. De acordo
com sua posição inicial, essa nova maneira de conceber a modernidade obriga as sociedades a
se unirem diante de um risco que a maioria das vezes excede as possibilidades individuais e se
apresenta como externo. Em sua própria dinâmica de desenvolvimento, eles democratizam os
3 Metodologia de pesquisa qualitativa baseada na realidade e na cultura, criada através dos usos sociais daInternet. Alguns autores primordiais são Kozinets (2010) & Hines (2000).
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perigos ao desfocar as fronteiras do Estado-nação, mas, ao mesmo tempo, coloca novas forças
em conflito e consenso:
"Começa a mudar a qualidade da comunidade. Esquemática, nestes dois tipos de
sociedades modernas, sistemas abertos e axiológicos completamente diferentes. As
sociedades de classe são referidas na sua dinâmica de desenvolvimento para o ideal de
igualdade [...] não é o mesmo com a sociedade de risco. Seu contra projeto normativo,
que é o núcleo e estimula, é segurança. Em vez do sistema axiológico da sociedade
desigual, então, aparece o sistema axiológico da sociedade insegura" (Beck, 1983: 69).
Este clima de crescente insegurança transforma o modo de conceber a reciprocidade na
comunidade; A hierarquização de classes implicava a ideia de alcançar um objetivo, enquanto
a sociedade de risco tendia a evitar o pior; em outras palavras, a ideia de participação é
substituída pela proteção, dando origem à comunidade de medo.
Também sabemos que, a partir de uma hipótese, um novo tempo geológico marcado
pelo homem está em processo. Tem sido chamado de Antropoceno e é uma hipótese
científica baseada no pressuposto de que, como clima, biodiversidade, mares, oceanos e terra,
a humanidade tornou-se um fator no sistema global da Terra. Uma hipótese que, se
comprovada, tem uma enorme variedade de implicações (Leinfelder, 2013). A tese central do
Antropoceno é que a humanidade afetou a natureza ao grau de ser responsável pelo novo
estrato no registro geológico. A periodização relacionada à sua origem tem sido a causa de
múltiplas discussões, relacionadas, em particular, com a identificação de seu início.
Considerou-se que tudo começou com a Revolução Industrial, há mais de 200 anos, e que sua
evolução foi ampliada após a Segunda Guerra Mundial, no que foi chamado de "a grande
aceleração".
Os impactos de uma mudança climática anômala ou extrema em vários lugares e
setores do mundo são o que levou a sociedade, incluindo cientistas e instituições
governamentais, a se interessar pelo tema das mudanças climáticas por várias décadas. As
agendas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento incluem um componente dedicado à
análise do impacto potencial das mudanças climáticas, da vulnerabilidade das regiões às
condições climáticas extremas e das medidas para adotar tais mudanças.
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Floresta Amazônica
Segundo Malhado et al. (2014) a floresta amazônica da América do Sul é um microcosmos
fundamental para no debate sobre o papel, influência e obrigações de pesquisadores
estrangeiros nos estudos enfocados nos trópicos. A relevância global da Amazônia está entre
muitas outras coisas: "A Amazônia funciona como um regulador do clima a escala regional e
até mesmo global. É a maior floresta tropical do planeta e é distribuída por oito países. (...)
contém o maior reservatório de biodiversidade do planeta e também é a bacia com a maior
contribuição de água doce em todo o mundo" (Lapola & Norby: 2014: 6, tradução própria).
Assim, considero pertinente o que os autores apontam e faz sentido continuar com as
investigações científicas sobre as mudanças tem sofrido a floresta amazônica:
"A Amazônia continua a ser uma área fértil para a pesquisa, especialmente no contexto
das agendas ambientais dominantes das mudanças climáticas (por exemplo, Malhi et al.,
2008), a biodiversidade (por exemplo, Laurance et al., 2002) e as enormes implicações de
quase todos os aspectos do ecossistema florestal (Bush & Lovejoy 2007)" (em Malhado,
et al., 2014: 7, tradução própria).
Os mesmos autores encontraram uma forte evidência de que a ciência amazônica está cada
vez mais globalizada. No total, 68 instituições de países diversos contribuíram para o
conhecimento sobre a Amazônia nos três períodos da pesquisa conduzidos pole grupo de
pesquisa Malhado, por isso atualmente encontramos posições como esta:
“A narrativa da Amazônia como um elemento crucial do clima global tornou-se um
elemento central de como a região é entendida tanto dentro como fora da ciência, levando
os governos da região a adotar marcos legais sobre mudanças climáticas, e eles abordam
o desmatamento” (Monteiro, Da Cal Seixas e Vieira, 2014: 689).
O trabalho de Lahsen & Nobre (2007) analisou a adequação entre ciência e uma agenda de
sustentabilidade na Amazônia brasileira. Através de um estudo de caso da Experiência de
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Biosfera e Atmosfera de Grande Escala na Amazônia (LBA), eles identificaram as
estruturas socioculturais e políticas predominantes em ciência internacional que governam, e
às vezes inibem, a produção de "sustentabilidade". Os autores afirmam que uma avaliação das
realizações do LBA ilustra os problemas que podem surgir na realização de pesquisas
orientadas a nível mundial em um contexto local de países menos desenvolvidos e serve para
testar os pressupostos de que um projeto científico internacional orientado para a produção de
ciência internacional, simultaneamente pode melhorar a sustentabilidade ambiental:
“No nível local, a análise responde aos pedidos de maior compreensão dos ajustes e
desajustes entre o conhecimento dos sistemas e as agendas de sustentabilidade.
Aproveitando os programas internacionais de ciências ambientais, as agendas de
sustentabilidade locais são agora definidas por muitos como um dos principais desafios
do século XXI” (Cash & Moser, 2000, Clark & Dickson, 2003) (Lahsen & Noble 2007:
62).
Amazon-FACE
Aproximadamente a 60 km ao norte da cidade de Manaus, no norte do Brasil, o experimento
chamado Amazon-FACE está sendo implementado na Amazônia Central, na Estação
Experimental de Silvicultura Tropical. É um projeto de pesquisa científica financiado por
múltiplos atores (BID, FAPESP, Ministérios) entre outros. A meados de 2017, o projeto tinha
dois anos de antiguidade, e espera-se continuar a contar com os recursos materiais e
econômicos para os outros dez anos mais do que o projetado. É uma iniciativa brasileira como
o maior colaborador do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. Tem 40
pesquisadores de três continentes diferentes:
"O principal resultado esperado deste projeto será uma melhoria de nosso conhecimento
científico sobre o destino da floresta amazônica no contexto atmosférico e mudanças