Exegese de Romanos 5:1~11 EFEITOS PRESENTES E FUTUROS DA
JUSTIFICAO-RECONCILIAO Paulo Sung Ho Won INTRUDUO
MartinhoLutero,emsuaintroduoaolivrodeRomanos,dizqueEstacarta
verdadeiramente a mais importante pea do Novo Testamento. o
evangelho mais puro.
degrandevalorparaumCristonosomenteparamemorizarpalavraporpalavra,
mas tambm para ocup-lo com isso diariamente, como se fosse o po
dirio da alma. impossvelleroumeditar nesta carta.Quanto mais algum
lida com ela,mais preciosa
elasetornaemelhorelasaboreia.1.Certamente,Paulofoiautordessacartaquefoi
destinadaigrejadeRoma,formadaemsuamaioriadegentios.Provavelmente,essa
carta foi escrita em circa 56/57 A.D. para preparar a sua ida
Roma.O grande tema da carta : a Justia de Deus. Paulo desenvolve de
maneira muito precisa a doutrina da justificao pela f.
De1:18~3:20,oapstolomostraanecessidadedajustiadeDeusdiantedadepravao
humanaemgeral:nessecaso,nohdistinoentregentios(1:18~32),moralistas
(2:1~16)ejudeus(2:17~3:8).TodospecarameestodestitudosdaglriadeDeus
1Disponvelemhttp://openlink.br.inter.net/gospel/prefrom.htm,acessadoem20dejunhode2009.
2(Rm3:23)etodosmerecemdacondenaodivina(3:9~20).Apartirde3:21Paulo
comea a descrever a maneira pela qual Deus, por intermdio de
Cristo, alcanou queles que estavam perdidos, justificando-os. De
3:21 at 4:25, a mensagem clara: apenas pela f em Cristo Jesus
podemos ser inocentados dos nossos pecados, sendo conduzidos diante
dapresenadeDeus;paraisso,ograndeexemploAbrao.PorqueAbrao?Ora,
Abrao,almdeserpaidosjudeus,mostraqueajustificaopelafindependede
obrashumanas,massimunicamentedagraadivina:AbraocreuemDeus,eissolhe
foiimputadoparaajustia(4:3).Logo,issoquerdizerqueasalvaonovempela
observnciadaleiedasobrasdalei,umavezqueAbraoanterioraoscdigoslegais
dados no Sinai. Paulo no quer dizer que houve uma mudana de planos
por parte de
DeusnoPlanodaSalvao,mas,quesempre,mesmoduranteavignciadaantiga
aliana,asalvaoeraobtidapelaf,enoporobras.diantedessequadroque
entramos no captulo 5.
Otextoanalisadonestaexegesefoidivididoemtrspartes:Ajustificao-reconciliaonavidapresente(5:1~5),ocomentriodePauloacercadagrandezada
morte de Jesus que nos trouxe vida (5:6~8) e, em ltimo lugar, as
conseqncias futuras
dajustificao-reconciliaonavidadocristo(5:9~11).Assim,hoentendimentode
queaaograciosadejustificaoporintermdiodeCristoalcanatodaanossa
existncia: tanto a presente como a futura.
Juntamentecomasanlisestcnicaslingsticasecriticasdooriginalgrego,os
comentrios exegticos foram colocados dentro da mesma diviso.
Optou-se por colocar
nantegraotextogregoesuatraduoentreparntesisparafacilitaravisualizaodas
duasformas.Tambm,emltimolugar,humregistroparticulardaquiloquetemosde
grandelio,deaplicaodiretaemnossasvidas.Aexegesequenofazvoltaranossa
vidaDeusestril,porm,aexegesequelevaaumquestionamentodenossomodo
atual de vida muito fecunda. 3 1. LIMITES DA PASSAGEM. A anlise
detalhada de Rm 5:1~11 mostra que esta uma passagem completa. Paulo
faz
usodapartculaparacomearessetrecho,comumdesenvolvimentoeraciocnio
completo.Assim,elechegaaumaconclusodaquiloquefoidesenvolvidodesdeo
primeiro captulo at o quarto, a saber, acerca da justia de Deus.
Poroutrolado,seolharmostambmparaRm5:12,textoposterioraotrecho
analisado,perceberemosousodaexpressodiaw,estnoParticpio1.aoristopassivoquedenota
umaaonica4edefinitivadeCristosobreavidadaquelesquecremNele.Essa
justificao5,ouoatodetornaralgumjusto,noslevaaoimaginriojurdicodapoca.
Hqueseperceberqueajustificaoopostacondenao,conceitoestequefoi
desenvolvidoporPaulodeRm1:18~3:20.Podemosanalisarporvriosnguloso
conceitodejustificaodentrodateologiapaulina.Emprimeirolugar,ajustificao
indica que, de acordo com o imaginrio jurdico, o ru deliberadamente
absolvido pelo
juiz.Emsegundolugar,ajustificaoimplicaqueoeventoescatolgicoantecipado
trazendo para o presente o veredicto final do juzo de Deus6, a
saber, a absolvio eterna do antes condenado. Porm, a justificao no
emana da ao humana, mas sim de Deus. Dessa maneira,
Paulonosexplicaqueesseatodivinoegraciosodeinocentarumcondenadomorte
eternaspodeserrecebidamedianteaf.DeacordocomSttot,agraaeaf
pertencem indissoluvelmente uma outra, uma vez que a nica funo da f
receber o
queagraalivrementeoferece7.Aftiradohomemtodaapossibilidadedejactncia
emsi,umavezquesomentemedianteconfianaplenanagraadivinaquetemos
4Rega,pg213.5dikaiosu>nhmuitoutilizadoporPauloquelheconfereamaiorgamadesentidos.Humaconexomuito
estreita desse termo com o Antigo Testamento, ao falar da justia de
Deus e de como
Elejustifica,ouseja,tornajustooseupovo.Cf.DITNTVl1,pg1128.6STTOT,John,ACruzdeCristo,pg171.7Ibid.pg170.
7imputado sobre ns a condio de justificados, e sendo assim,
absolvidos do juzo final. mediante a essa f que temos paz com Deus.
Nesse versculo temos pelo menos
umproblemademanuscritocomrelaoaoverbo.Muitosmanuscritosusamo
verbonoPresentedoIndicativoAtivo8.Porm,algunsoutrosmanuscritos
importantestaiscomos*,A,B*,C,D,K,L,33,81,630,1175,1739*eMarcio
apresentam a variao, no Presente do Subjuntivo Ativo9. Para Bruce,
a variao
podetervindodeumprimitivoestgiodetransmissodetextoqueseriaantesda
redaofinaldasepstolaspaulinas.Brucesalientaqueoacentonaprimeiraslabadas
duasformasfariacomqueadistinofonticatantodomicron,quantodomega,
desaparecesse,demodoqueasonoridadedasduaspalavrasfosseidntica10.Assim,a
traduoficariatenhamospazcomDeus.DeacordocomFitzmyeressasegunda
variaofoientendidapelospaisdaigrejacomomanterapazoucontinuemosem
paz11comDeus.SegundoCranfield,devidoaocontextodeexortao,aprimeira
alternativa deve ser levada mais em conta12.
Essajustificaopelafnosconduzaumoutroconceitodesemelhanteimpacto no
pensamento paulino que a Reconciliao. No podemos dissociar os dois
conceitos.
AlgunsestudiososcolocamumahierarquiadentrodarelaoentreJustificaoe
Reconciliao.Fitzmyer,e.g.,dizqueajustificaopareceestarsubordinada
reconciliao13enquantoqueCranfielddizqueofatodoshomensseremjustificados
implica que devem ter sido igualmente reconciliados com Deus14. De
qualquer maneira, que tipo de reconciliao essa? Isso est expresso
justamente na frase temos paz com
8ANA27seutilizadosmanuscritoss1,B2,F,G,P,Y,0220,cf.Fitzmyer.9Harrison,pg58eNA27.10Bruce,pg60.11Ibid.pg61.12Cranfield,pg106.13Fitzmyer,pg395.14Cranfield,pg105.
8Deus.Essapaznopodeserentendidaemtermossomentesubjetivosourelacionados
apenas a resoluo de algum tipo de conflito interno ou externo ao
homem, porm, deve seguir o conceito mais pleno do :: hebraico15.
Esse termo que em grego foi traduzido
como16implicanosomenteumaquestofsica,mastambm,esobretudo,
espiritual.Eladeveserentendidanoseusentidopositivoprosperidade,deplenitudede
um relacionamento com Deus.
ParaBarth,pazcomDeussignificaumacordoentreohomemeDeus,tornando
possvelpormeiodamodificaodacondiohumana,vindadapartedeDeus,e
efetivada por meio do estabelecimento das relaes normais da
criatura com o Criador, pela fundamentao do amor a Deus no temor do
Senhor, o nico e verdadeiro amor que a criatura pode dedicar a
Deus17. 2.d()18 ,.(porintermdiode
quemobtivemosacessopelafaestagraanaqualpermanecemosfirmes;enos
orgulhamos na esperana da glria de Deus.) A grande questo : de onde
vem tal condio? A resposta categrica: por intermdio da f. A
preposio dia>tem um peso muito importante nesse trecho: ela se
repete sete
vezes.Nosomenteisso:comoseapresentanotexto,apreposiodia>
seguidapor genitivo19, indicando claramente uma relao de mediao que
Cristo assume como nico
15Dunn,pg247.16noNT,almdecarregarosentidode::
indicaduascoisas:apazcomoantnimodaguerrae segurana eterna, sendo
ddiva de Deus. Dentro do contexto de Romanos 5:1~11, Cristo
omediadordessapaz,cujoconceitocorrelatoodareconciliao.Cf.DITNTVl2,pg1596.17Barth,pg238.18NohconsensoentreosMSSdainclusooudaexcluso.Pelocontexto,parecefazermaissentidoainclusodaexpresso.19Rega,pg101.
9possvelmediadorentreDeuseoshomenscadosdagraa.Talquestotornou-seto
importante no pensamento cristo posterior que a tentativa da Igreja
Romana em manter
umsistemadeautopromoomedianteanfasenasobrasenonagraaencontrousua
maiorresistncianomovimentodeReformadosc.XVI.Cristoapresentadocomo
kurio>v,SenhorabsolutodignodeserconsideradoMediadordajustificao-reconciliao.Algunsmanuscritosnotrazemaexpresso,porm,mesmo
que esta no esteja presente, o seu conceito est implcito no trecho.
AobrademediaodeCristodetalhadanoversculo2,ondePaulo provavelmente
conduz o nosso imaginrio para a sala de audincia de um rei. A
figura do
reieracomparadaaodosdeusesnaantiguidade.Assim,adentraremseurecintode
maneiradesrespeitosaedesonrosapoderiacustaravida.Oatodoreipermitiraentrada
deumapessoaexpressabemotermoacessopelafaestagraa,ca>riv20.Nsno
somos mais adversrios ou inimigos do Rei, pelo contrrio, fomos
considerados justos e da mesma forma dignos de entrar na presena de
Deus e desfrutar da sua presena.
ConformeBruce,existeumavariaodeleituradotermo,quevem
verbokauca>omai21,cujosentidojactar-se,orgulhar-se,podendosertraduzido
como nos gloriamos ou pelo subjuntivo gloriemo-nos. As verses
inglesas traduzem o termo como boast, ou seja, uma extremo orgulho,
satisfao ou alegria. Esse orgulho est focalizada na glria de
Deus22. De acordo com Dunn, o termo prosagwgh> usado
culticamente no sentido de ter
acessoaotemploondeestapresenadeDeus.nessapresenaquepermanecemos
firmes,tendoaesperananaglriadeDeus.OatosalvficodeCristonotemeficcia
20Nosentidodefavorreal,demisericrdia,encontrandoparalelocomo:
doAntigoTestamento.21Gingrich,pg114.22Cf.NETBibleeNIV.
10apenasnopresente,muitopelocontrario,elageradentrodenossoscoraesesperana
futuranaglriadeDeus.Apalavraejlpiv,possuiseucorrespondentenohebraico,
denotandonoumaexpectativaincerta,masumaconfianaplenadiantedofuturoem
Deus.Avidadocristonopodeserapenasresumidanacondiodopresente,mas
tambmnaesperanafutura.Paulonosindicaquevivemosnumatensoentreascoisas
do agora e do por vir. A expectativa que a salvao seja plenamente
completada no
diaescatolgicofinal.Tambmessamesmaesperananoestrelacionadacomo
egosmohumano,massimcomaexpectativadaplenitudedoReinoqueddivado
prprio Deus: por isso, a esperana no depende das obras, mas sim da
obra graciosa de
JesusCristo23.ParaCalvino,aesperanaresplandeceparansdesdeoevangelhoque
testifica que participaremos da natureza divina, pois quando virmos
a Deus, face a face, seremos semelhantes a ele24. 3.,, ,4.,5. ,
,(Nosomenteisso,mastambmnos
orgulhamosnastribulaes,sabendoqueatribulaoproduzperseverana; 4ea
perseverana,umcarteraprovado;eocarteraprovadoproduzesperana. 5Ea
esperananonosdesaponta,porqueoamordeDeustemsidoderramadoem nossos
coraes, por meio do Esprito Santo que ele nos concedeu.)
Enosomenteisso.EssaconstruousadadiversasvezesporPaulopararatificare
confirmar seu desenvolvimento inicial. De acordo com Dunn, a
expresso 23DITNT,verbeteesperana.24Barth,pg241. 11era amplamente
utilizado na literatura grega e judaica25. Paulo, ao expressar a
esperana
futuradaglriadeDeusvoltaaanalisaroimpactodajustificaopelafnavida
cotidianadoscrentesemCristo.Talvezhojetenhamosperdidoosignificadorealde
termoscomotribulao,perseverana,carteraprovadoeesperana,pois
vivemosemumcontextototalmentediferentedaquelevividonoprimeirosculodaera
Crist. Os seguidores de Cristo, na poca de Paulo, estavam sob
perseguio, no somente
naregiodaJudia,mastambmfora.SeguiraCristo,naquelecontexto,significava
muitasvezesterquepassarporapuros,sendonecessrioatarriscaraprpriavida.
Diantedessequadrodedificuldadeaparente,Paulonosconfortafazendocomquede
nossa condio presente, tenhamos os olhos fitos, novamente, na
esperana do por vir.
Elespodiamrealmentedizerqueseorgulhavamnastribulaes.Aexpresso
26,deacordocomFitzmyerpodesignificarnstemos orgulho em nossas
aflies27. Emoposioaopensamentosecular,ondeosproblemaseastribulaesso
encaradas como coisas ruins, e at maldio divina, Paulo nos expe de
maneira clara que a tribulao um poderoso instrumento da graa divina
para que o homem seja testado e
aprovadoparapoderteracondiodedesfrutardaseternasbnosdeDeusna
eternidade.Enquantoessetempoderefrigrioplenonochega,essamesmatribulao,
que produz em ns aprovao, consolida a nossa esperana em Deus
mediante Cristo. Tal estado de paz que vivemos em Deus no significa
ausncia de algum tipo de sofrimento, uma vez que no podemos
comparar a dimenso da nossa paz com as tribulaes que so
25Dunn,pg249.26 Danker argumenta que a expresso freqentemente usada
em um
sentidometafrico:opresso,aflio,tribulao.Cf.Danker:2000.27Fitzmyer,pg397.
12passageiras: na paz de Deus existe um sofrer, um submergir, um
estar perdido e ser estraalhado (Barth:1999:244).
Namentalidadedosprimeiroscristos,atribulaoproduziaperseverana.U28significapacincia,persistir.Atribulaoeraumagrandeoportunidade
paraqueoprprioegodaspessoasfossemquebradasequeelaspudessemolhare
depender de somente de Deus. Paulo nos leva a imaginar uma pea de
jia que colocada no fogo para ser purificada. O forno da purificao,
nesse caso, seriam as tribulaes. O
resultadodisso,quepassamosaterassimumcarteraprovado.Aprpriapalavra
significa caracterstica de ser aprovado, da, carter29. A ARA traduz
por experincia enquanto que a A21 traduz como aprovao. Esse carter
aprovado das tribulaes e dos testes da vidagera a esperana.
Talesperanavemcomagarantiadequenoseremosdecepcionados.Nossas
expectativas futuras em Cristo certamente sero satisfeitas, uma vez
que o amor de Deus tem sido derramado em nossos coraes pelo Esprito
Santo30. O uso do termo ,de
acordocomDunn,indicaqueoqueesseprocessodeaperfeioamentogarantidopelo
amor de Deus, ou seja, a esperana selada pelo amor. Esse tem sido
traduzido de diferentes maneiras: como genitivo objetivo (nosso
amor por Deus), como genitivo subjuntivo (o amor de Deus por ns),
ou at mesmo pelos dois indicando um genitivo geral ou pleno31. A
seqncia da sentena deixa claro que se refere ao amor de
Deusqueele"derramaemnossoscoraes",queoprprioEspritoSanto.De
qualquermaneira,estexplcitonotextoatentativadePaulomostrarqueanossavida
28 De acordo com Danker, significa a capacidade de suportar e
superar as dificuldades atravs
dapacinciaeperseverana.Cf.Dankerpg1039.29Gingrich,pg59.30 H o uso
do tempo perfeito indicando uma ao que se inicia no passado, mas
que temcontinuidadepresente.31Cf.NETBible.
13futura,tantoquantoavidapresente,estbaseadanofundamentodoamor,queproduz
esperanamedianteaf.Atradef-esperaa-amorumfundamentonopensamento
paulino32. O amor derramado em nossos coraes. O corao, , entendido
no como umrgofsico,mascompreendidosegundoaconcepojudaica:
,comocentrode todo o entendimento, dos sentimentos, e de toda a
interioridade humana, contrapondo-se
aparnciaexterna33.AaodeDeusinicia-se,assim,apartirdonossointerior,
atingindoasnossasaesexteriores.Overbotambmseencontranotempoperfeito,o
que indicaqueaao doderramar se iniciou nopassado, mas que
temcontinuidade at agora. O Esprito Santo no faz mais morada em
templos fsicos, mas no interior daqueles que crem em Cristo (1Co
3:16). A razo pela qual podemos estar firmes nessa esperana
divina,semmedodeserenvergonhado,porumalado,aaoapartirdocorao
humanoquepormeiodoEspritoSanto.DiferentedoAntigoTestamento,quandoo
eraderramadoaapenaspoucaspessoas,elederramadoagoraemnossos coraes,
cumprindo as profecias do derramamar do Esprito sobre todas aqueles
que crem (Cf. E.g., Jl 2:28,29). O verbo dido>nai , dar, est no
particpio aoristo passivo, indicando que o derramar do Esprito uma
ddiva divina, ou seja, algo concedido por Deus de acordo com a sua
vontade, soberania e graa. 4.2. Comentrio de Paulo: a magnitude da
morte que nos gerou vida. 6. . 32Cf.1Co13:13.33Wolff,pg84.
14(Realmente, Cristo morreu em lugar dos mpios, a seu tempo, quando
ainda ramos moralmente fracos.)
Ohomem,antesdeserjustificadopelagraamedianteaf,viviaemumestadode
ajsqenh>v,ousejadefraqueza34(talfraquezaparecesermaismoraldoquefsica).
Porm, justamente por aqueles a quem Deus considerava fraco, ele
enviou o seu Filho a
fimdeque,medianteasuaobra,elesfossemsalvos.Almdafraquezamoral,
salientado que o homem ou seja, mpio: nas palavras de Fitzmyer, um
homem sem reverncia a Deus, ou no ingls, godless35, demonstrando
mais uma vez a condio de separao com Deus, pelo pecado, que o homem
estava antes de ter um encontro com
Cristo.FoipelofracoepelompioqueJesusmorreu.Aquiestocernedaquiloque
cremosseramensagemdoEvangelho:Jesusmorreuporaquelesquenoconheciama
Deus, para que atravs dessa morte, o amor de divino fosse revelado
cabalmente a todos
aquelesqueouvissemdamensagemevanglica.Tudoissoobedeceotempo,ouseja,o
kairo>vdivino.Algunsenxergamumaconexodessetempocomomomento
escatolgico devido a nfase dada nas tribulaes. O importante que
Deus soberano sobre o tempo cronolgico humano. O plano de salvao no
foi uma soluo feita s pressas, mas sim, pensado desde a eternidade
e colocado em ao a seu tempo. 7.
(Dificilmentealgummorreriaemlugardeumjusto,poisem favor de quem faa
o bem algum teria a coragem de morrer.)
ParecequePauloabreespaoparaumcomentrioparticularacercadamortedeJesus
nesseversculo.Comoentenderessaobservao?Noexistempessoasquemorrempor
34Cf.Gingrich,pg36.35Fitamyer,pg398.
15pessoasjustas,esomuitopoucasaspessoasquepodemmorrerporpessoas
consideradasboasouporumaboacausa36.Seessefatoreal,quemmorreriapor
fracosempios?Diantedessacontraposiodeidias,h,semdvida,uma exaltao
implcita de Paulo da obra salvfica de Cristo, concretizada na cruz.
Na posio
dePaulo,somenteDeuspoderiafazeralgoque,navisohumana,seriaumenorme
paradoxo,ouseja,fariamaissentidomorrerporalgumquevalesseapenadoquepor
uma pessoa que meu prprio adversrio. 8. . (Mas Deus demonstra seu
prprio amor para conosco porque Cristo morreu quando ainda ns ramos
pecadores.) Essa a razo pela qual Deus escolheu os fracos e mpios
para enviar o seu Filho em
sacrifciodefinitivo.Deusdemonstra,oumostra(suni>sthmi),oseuamorpornsno
apenas pelo fato de Cristo ter morrido. Paulo no deseja discutir na
morte por si mesma,
masaqualidadedessamorte.Jesusmorreunoparaserummrtirpolticoeinsuflar
posteriormenteamentedosseusseguidoresporumpropsitosecular,massim,Cristo
morreu pelos transgresses de pessoas que ainda estavam mergulhadas
em seus pecados. em favor (pe> ), dos , ou seja, pecadores, que
Cristo morreu. 4.3. Os efeitos futuros da justificao-reconciliao.
9. . (Portanto, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu
sangue, seremos salvos, por meio dele, da ira.) 36Fitzmayer,pg399.
16Paulo complementa o desenvolvimento do versculo anterior. Se Deus
demonstrou o seu
amorpormeiodeCristoquandoaindaramospecadores,muitomaisagoraquesomos
justificados seremos salvos da ira divina. Paulo leva seu raciocnio
mais longe: se Cristo morreu por pecadores, quanto mais, ou muito
mais ( ) ele nos salvar da ira vindoura de Deus (acerca da qual
Paulo explica em Rm 1). A expresso traduzida como muito mais ainda
na NVI, usada por Paulo diversas vezes nos seus escritos, e
pelomenosquatrovezesdentrodoversculo5.DeacordocomDunn,afrmula
recorrente no corpus paulinus vem do exemplo : (leve e pesado) dos
escritos rabnicos37, ou seja pares de idias que se completam no
final. Paulo volta ao verbo que iniciou o captulo 5: . Ele faz um
contraponto entre a situao atual do crente e a sua condio futura.
No presente, estamos justificados
porseusangue()enofuturo,seremossalvosdesua
ira.OsubstantivopodeserentendidoaquicomoojuzofinaldeDeus,odiaem que
ele exercer a sua justia de acordo com o conceito
veterotestamentrio do :,
oDiadoSENHOR.DeacordocomDunn,aadiodoaoristo,seguidopelofuturo,
demonstraumatensoescatolgicapresentenodesenvolvimentodePaulo38.Maisuma
vez temos a tenso entre o agora e o ainda no. 10., (Porquesens
fomosreconciliadoscomDeuspormeiodamortedeseufilho,quandoramos
inimigos dele, muito mais estando reconciliados, seremos salvos
pela sua vida.) Mais uma vez, Paulo recorrendo expresso () , forma
mais usual 37Dunn,pg257.38Dunn,pg257.
17que,ressaltaamagnitudedaobradaCristonavidadossalvos.
PormatensopassaaserentreoinimigoeoreconciliadodeDeus.Oinimigode
DeusaquelequedeacordocomCranfieldhostilaEle39.Jesus,mesmodianteda
hostilidade e da inimizade estabelecida entre Deus e os homens, deu
o primeiro passo
emdireodohomem,reconciliandoemsiasduaspartes.Logo,jnohmais
inimizade entre Deus e a humanidade que cr Nele. Diante disso, a
tarefa de salvar pela
suavidaosquejsoreconciliadosparecesermaisfcil.Paulotemapreocupaode
no dissociar a justificao da reconciliao.
AindasegundoCranfield,areconciliaopossuiumaconotaomaispessoaldo
queajustificao,termomaisrepletodeumsentidomaisjurdico-forense.Essa
reconciliaofoiconquistadamedianteamortedoseufilho.ParaCalvino,dizerque
fomosreconciliadoscomDeuspormeiodamortedeCristosignificaquefoium
sacrifcio expiatrio, atravs da qual Deus foi pacificado com relao
ao mundo40.
AidiadeumareconciliaomediadaporumapessoaerafamiliarnoAntigo
Testamento(e.g.,Moiss,Aro,Finias).Porm,diferentedoAntigoTestamento,no
Novo,Deusalmdetomarainiciativa,Elemesmoageemfavordessareconciliao.
EstandojreconciliadocomDeusporCristo,seremossalvospelasuavida(A21).O
termozwh> dentrodessecontextonoapontaapenasparaavidapresente,mas
prioritariamenteparaavidadoCristoressurreto.Assim,Paulolanaesperanano
corao dos cristos no sentido de que a nossa condio de reconciliados
com Deus gera uma conseqncia futura, que a participao da ressurreio
de da vida eterna no Filho.
Essavidaeternafoijustamenteconquistadapelamorte,pelaqualseladaa
reconciliao. Portanto, a morte do Filho gera vida eterna no Filho.
39Cranfield,pg111.40Calvino,pg198. 18 11., ,.(Nosomenteisso,masnos
orgulhamostambmemDeuspormeiodenossoSenhorJesusCristo,por intermdio
de quem recebemos, agora, a reconciliao.)
Paulotemalgoamaisadizer:enosomenteisso,mastambm(,
)quepodemosviverumavidadealegria,orgulho,glriaeexultaoemDeus.Se
antesramosinimigosseparadosporumabismointransponvel,agora,desfrutamosde
umgraudeproximidadetal,queestamosemDeus(41).Algumasverses
variamnatraduode:amaioriadasversesdoportugus,comoaA21, trazem: nos
gloriamos, porm, em verses inglesas como a NIV encontramos: we ()
rejoice.Porm,osdoissentidos,gloriar,orgulharoualegrar,secomplementamem
expressaroestadodeespritodaspessoasqueforamjustificadas-reconciliadascom
Deus. Como no poderia deixar de ser, Paulo tributa a Cristo a
realidade da proximidade comDeus.Quandolemosdevemosterem
mentequeesseCristoquenosreconcilioucomDeusSenhorAbsolutosobretodasas
coisas.Foipormeiodelequerecebemosagora(),ouseja,desfrutamosnopresente
momento, o privilgio de no mais sermos chamados de inimigos, mas
amigos de Deus. Se entendermos que a justificao-reconciliao obtida
por meio de Cristo, logo, a lei e
astradiesjudaicasperdemespaoeoseupapelprioritrionavidadoscristos.No
podemosmaisserconsiderados:spelasobras,masdi>kaiovemCristo.OAoristo
indica que a ao da reconciliao teve um comeo pontual no passado,
porm 41CasoLocativo. 19ela desfrutada at o agora () e serve de
ponte para a esperana do futuro42. 5. SIGNIFICNCIA DO TEXTO E
CONCLUSO. Esse texto onde Paulo nos mostra a dimenso da justificao
pela f, base para aquilo
queentendemosserasalvaoporintermdiodeCristo.Entendemosquenesse
processo,omritohumanoirrelevantecomparadocomagraamanifestadeDeusna
pessoa de seu Filho Jesus. Essa justificao e reconciliao com Deus
faz-nos viver numa dimenso diferente de vida em relao quelas
pessoas que no conhecem da Verdade. Se
omundobuscaviveregozaraomximodasuaexistnciaefmerasobreaterra,sem
nenhuma perspectiva verdadeira do post-mortem, ns podemos viver
essa vida motivados pela esperana de estarmos eternamente na
presena da glria de Deus. Isso nos leva a
viverumavidacristdeequilbrioentreoagoraeoporvir:novivendocomoseo
amanhnoexistisse,etopouconovivendoohojeemfunodoamanh.A
Justificao-ReconciliaodeDeuspodeterinciopontualnanossaexistncia,porm,
seusefeitoseseupoderseestendemnosomenteaquinaterra,mascomotambmna
eternidade.
Algumasliessoimportantesnessetrechoestudado:primeiramente,somos
justificadospelaf,mediadospelaobraredentoradeJesusCristo.Issoimportante
porque nos revela que tudo o que somos, nessa nova condio de vida
em Cristo, vem do prprio Cristo. No h mritos pelas quais o homem
possa se gloriar. O nico motivo que o texto apresenta para nos
gloriarmos na esperana da glria de Deus. Em segundo lugar, por
intermdio do sacrifcio de Jesus, temos paz com Deus. No
42Dunn,pg261.
20somosmaismpioscondenadosaoinferno,pelocontrario,pelagraafomossalvose
inocentados.NossarelaodeseparaocomDeusfoianuladaeunidaporCristo,e
sendoassim,podemosvivernosomentecompazcomrelaoaoprprioDeus,mas
tambm em relao minha prpria vida e a dos meus semelhantes. Em
terceiro lugar, a paz que Deus nos concede nos permite viver, mesmo
que sendo
sobaspiorescondiesdesofrimentoetribulao,porqueapaznosfazestarabertos
ao de Deus em todas as circunstncias, inclusive nas dificuldade.
Nesse processo nasce a verdadeira esperana. A tribulao tira o foco
de nossas vidas e a centralidade de nossas
necessidades.Aovermosanossafragilidadeemmeiosdificuldade,desviamosnosso
olharaDeusquesetornanicafontedeforaeconforto.Astribulaesgeramno
apenas a expectativa da soluo dos problemas, mas do descanso
eterno, da paz eterna, a ser completada e desfrutada naquele dia.
Por isso, podemos nos alegrar nas tribulaes.
Emquartolugar,PaulonosfazmeditaracercadagrandezadaobradeCristona
Cruz. Em poucas palavras, ningum faria isso: nem por justos, to
pouco por pecadores. Porm, o amor de Deus se manifestou no mundo na
pessoa de Jesus. Somente por meio Dele que podemos desfrutar da
real justificao.
Ajustificao,emltimolugar,spodeserentendidaevividajuntamentecoma
reconciliao.Sodoisladosdeumamesmamoeda.Tantooaspectolegal,com
relaoleiejustia,quantooaspectorelacional,sosolucionadosemCristoJesus.
Combasenisso,deacordocomosversculos9e11,podemossersalvosdairae
salvospelasuavida.Jnohjuzo,nosentidodecondenao,paraosquecrem.
AquelesqueentendemoEvangelhoesesubmetemaelepodemgozartambmdavida
emCristo.Justificadosereconciliadospodemosviverohojedamelhorformapossvel,
comafirmeesperanadequehoamanhedequemesmonaeternidadenunca
21deixaremos de ser em Cristo justificados e reconciliados com
Deus? ___________________________ NOTAS BIBLIOGRFICAS BARTH, Karl.
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