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Oitava Parte
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Evolucaodo conhecimento

Jun 23, 2015

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Evolução do Conhecimento Geológico

Esta parte do estudo tende a fazer um retrospecto de toda a saga humana no sentido de des-vendar a origem das coisas existentes sobre a face do globo. A intenção é mostrar que desde os prin-cípios, ao tempo da mais completa ignorância, já se tentava explicar como era a Terra e como foram feitas todas as coisas que se viam e as que não se viam. Não há intenção de fazer estudo crítico sobre as obras dos diversos sábios que vão desfilar ao longo do texto, mas apenas evidenciar as ideias e os autores que enfocaram problemas geológicos, sem saber que eles eram, de fato, geológicos. Apenas que ele era feito por partes diminutas e praticamente sem relação entre si. O estudo era extremamente fragmentado e disperso como será evidenciado ao longo do texto por partes na história da civilização.

Período Pré-cristão

Este panorama, de completa e total ignorância é o caldo de cultura necessário para florescer a religião, de todos os tipos e modos, e a ela daremos o nome de “idade das trevas”. Vem do tempo de Moisés uma das teorias sobre a criação do mundo. São praticamente 30 séculos (1400 anos a.C. até 1500 anos da era cristã) de muita fé e pouco conhecimento. As perguntas e as respostas tinham uma finalidade que só apareceria mais adiante. O que se buscava eram as res-postas para as perguntas básicas ou questões transcendentais, que perduram ainda hoje:

• De onde viemos? Quem nos colocou aqui? • Que fazemos aqui na Terra? • Para onde iremos depois da morte?

Provavelmente, a literatura mais antiga que existe sobre a origem da Terra e do Universo é a constante na Bíblia Sagrada, no livro do Gênesis, cuja autoria é atribuída a Moisés (fl.c. 1400-1300 a.C.)1. O Velho Testamento, também chamado de Bíblia Hebraica, tomou 1,1 milênio para ser escri-to (1200 e 100 a.C.). É um nome criado por Melito de Sardis2 no ano 170 d.C. para distingui-lo do Novo Testamento, uma parte da Bíblia apenas cristã. Os cinco primeiros livros do Velho Testamento constituem o Torah ou Pentateuco, e é no primeiro deles que surgem as teorias sobre o aparecimento da Terra, do Sol, da Lua, das estrelas, dos animais e dos vegetais. Em seguida, surge a teoria da cria-ção do homem e da mulher e a crença de que aquilo tudo fora ditado a Moisés, por Deus, que teria aparecido a ele por trás de um arbusto em fogo (mas não consumido pelo fogo!). Segundo Moisés a luz foi feita no primeiro dia sem origem definida, e só no quarto dia surgiram o Sol, para iluminar o dia, e a Lua para iluminar a noite, um fato contraditório, pois o Sol é o principal astro do sistema que fornece a luz que ilumina a Terra e a Lua. No sexto dia, Deus fez o homem “do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida”, método usado para formação de todos os outros animais, menos a mulher. A mulher foi diferente: Adão foi anestesiado por um sono profundo, foi-lhe tirada uma das costelas, da qual Deus fez surgir a mulher, operação que conferiu a ela o lugar de secundária importância, que ocupa até hoje. Neste primeiro caso, a mulher foi “parida” pelo homem. Daí em diante, os homens seriam paridos pelas

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mulheres. Ambos, Adão e Eva não deveriam ter tido o umbigo, uma estrutura orgânica derivada da vida intra-uterina. Todos os seus descendentes têm. Esta declaração não tem o objetivo irônico que pode parecer à primeira vista. A finalidade é mostrar que a artificialidade da explicação de determi-nado problema complica a explicação de todos os problemas correlatos seguintes, dificuldade que deve ser evitada no estudo da Geologia. As situações criadas por Moisés para dizer como as coisas foram feitas e como foram criadas as leis gerais que deviam reger a vida dos homens, são ingênuas, contraditórias e sem qualquer arte, mas desempenharam e desempenham uma das mais fortes influências no cotidiano de grande parte da ciência, dos cientistas e da humanidade. De fato, essas lendas não existiram somente entre gregos e judeus, mas apareceram em todas as partes do mundo onde surgia alguém pensando que podia explicar o aparecimento do mundo e das coisas. Eram mitos existentes na África, nas ilhas japonesas, Austrália e Américas. Os deuses tinham de ser inteligentes e poderosos; existiam sós e antes de todo mundo; a criação deveria ser deliberada, consciente e ordenada; foi um ato de liberdade e planejamento e eles habitariam em lugar especial hoje conhecido como “céu”. A criação e o deus criador tinham sempre essas características, variando em função da geografia onde nascia a lenda3. Não nos ocuparemos disso, vendo apenas a voo de pássaro os principais filósofos que se preocuparam mais diretamente com a Geologia, e como tal fenômeno cultural continua a ser cultivado até hoje. Entre 900-800 a.C. apareceu na Grécia um poeta chamado Homero, provável autor da Ilíada e da Odisséia, que descrevia a Terra como um disco convexo rodeado pelas águas do Oceanus, pro-vavelmente uma ideia melhor do que a crença dos seus contemporâneos que equilibravam a Terra sobre quatro elefantes, que à sua vez, ficavam em cima de uma gigantesca tartaruga marinha4. Pela mesma época, 800 anos antes da nossa era, outro poeta grego por nome Hesíodo5, nascido na Beócia, distrito da Grécia Central, deixou um poema épico onde relata como surgiram a Terra, os mares, as estrelas, o céu etc., seguindo instruções de três musas que lhe apareceram no meio do campo, onde também apascentava ovelhas (observar a semelhança com o relato de Moisés). A autoria do poema é atualmente contestada por especialistas do assunto, mas a origem de toda a natureza como relatada no mesmo é incontestavelmente apenas “poética”. No seu poema, Hesíodo nem ao menos foi original, pois se existiam diferenças entre os contos de Moisés e os dele, o plano geral era o mesmo. Em vez do Deus de Moisés, eram três musas falantes, e embora com estórias diferentes, o objetivo era o mesmo: explicar como tinham nascido a Terra, os oceanos, as estrelas e os homens. Era, provavelmente, a segunda teoria da gênese da Terra e da sua natureza feita quatro séculos depois da primeira tentativa. As musas contaram a Hesíodo como nasceu a Terra (Gaea) e a errônea ideia de como ela tinha sido colocada no centro do Universo. Hesíodo dizia em seu poema que ao princípio era somente o caos escuro, selvagem, onde nasceu a Terra. Foi Gaea que pariu Ura-nus, o céu, as montanhas e o Ponto que era o mar. As coisas se complicam posteriormente, quando Gaea se une ao próprio filho, Uranus, de quem teve outros filhos, inclusive Titã que se rebela contra o pai e o emascula, e reina até o aparecimento de Zeus, etc. Esse método de teorizar sobre a origem da Terra e sua natureza era comum naquele tempo e continua a ser hoje, pois os cientistas persistem em especular sobre o assunto, apenas que mais sofisticadamente: mandam-se ao espaço foguetes e sofisticados aparelhos com sensores e telescópios para continuar pesquisando a origem do universo... Os grandes filósofos, cuja influência é sentida até hoje, também discorreram sobre assuntos diversos da ciência e do comportamento humano, e se aventuravam nas tentativas de esclarecer sobre a origem da Terra, sua forma, seu tamanho e sua natureza. Entretanto, não tinham meios de perceber que a Terra não era o centro do universo como ensinavam os sacerdotes, e isso era um fator compli-cante para o conhecimento. Era a época do Geocentrismo, naquele tempo ainda desconhecido com este nome.

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Ora, se a posição da Terra no universo já era um assunto “resolvido”, segundo se pensava, qual seria a sua forma e o seu tamanho e qual seu material formador? Surgem então ideias mais ou-sadas com a cultura grega do VI século antes da nossa era.

Forma, Tamanho e Matéria-Prima da Terra

Tales de Mileto6 (624-546 a.C.), matemático e filósofo grego, foi o primeiro a pensar em termos da natureza. Previu, segundo Herôdoto, um eclipse acontecido a 28.05.585 a.C., que provo-cou a paz entre Medas e Lídios que travavam uma determinada batalha, e por causa disso ganhou grande credibilidade. Provavelmente, foi o primeiro geômetra a estudar a divisão do círculo por seu diâmetro, e atribuía à água a origem de todas as coisas do universo, pois esta existia nos três estados possíveis da matéria: sólido, líquido e gasoso. Eram as primeiras ideias do nascente materialismo, e tinham o mérito de descartar Deus como o autor das coisas, buscando suas causas nos materiais que podiam ver e pegar. Para ele a Terra era de forma achatada e flutuava sobre um abismo de águas, ideia não muito melhor do que dizia estar a Terra equilibrada sobre quatro elefantes, que por sua vez se apoiavam sobre uma enorme tartaruga; o kosmos (ordem, em grego) e a racionalidade das coisas eram de origem divina, que também determinava o seu fim. Anaximander7 (610-546 a.C.) outro filósofo grego, discípulo de Tales, considerado o fun-dador da Astronomia, também tentou explicações sobre a Terra dentro de uma visão mais científica, dando os primeiros passos do que se chamaria, no futuro, de materialismo. Escreveu tratado de Geografia, Astronomia e Cosmologia, e chegou a fazer um mapa da parte conhecida do mundo até aquele momento. Suas teorias conservavam a errada posição central e estática da Terra ao centro do universo, segundo ele, por não haver razão para ela se mover. Criticou a ideia de Tales, sobre a água ser a substância formadora de todas as coisas, pois isso implicaria em uma contradição: uma coisa ser também o seu oposto. A água era “molhada” por sua própria natureza, e por isso não poderia formar coisas secas que sem dúvida existiam no mundo. Seu mestre, dizia ele, estava errado! A busca do que poderia compor as coisas do mundo era o problema a resolver. Como explicar o quente e o frio, seco e molhado, etc.? Surgiu então a ideia de que as substâncias formadoras das coisas da natureza eram quatro: a terra, responsável pelo seco e o frio; o fogo, responsável pelo seco e quente; a água, que res-ponderia pelas coisas frias e molhadas e finalmente o ar, que formaria as coisas quentes e molhadas. Pitágoras de Samos8 (580-500 a.C.), matemático natural da Iônia, foi também o fundador do Pitagoreanismo que proclamava que todas as coisas podiam ser baseadas em números (ideia que se-ria enfatizada mais tarde por Galileu); percebeu as relações métricas do triângulo retângulo; melho-rou muito as ideias da astronomia do seu tempo, ensinando que, se a Lua e o Sol eram esféricos como se vê, por que a Terra não teria a mesma forma? Foi ele que inaugurou a aplicação da matemática aos fenômenos físicos ao perceber que as notas emitidas por uma corda esticada dependiam de uma razão exata do comprimento da corda. As formas das coisas e figuras foram reduzidas a números, e assim formava-se a ponte entre as experiências físicas e a Matemática. Essa filosofia virá até os nossos dias, distinguindo a Matemática, erroneamente, como uma matéria básica no entendimento da natureza. O estudo com o auxílio dos números daria a resposta tanto à qualidade como a forma dos objetos. Apesar da proximidade com números e de seu famoso teorema, Pitágoras cria também na transmutação das almas, nas relações com as divindades e que seria capaz de rememorar suas passadas encarnações, etc., pavimentando o aparecimento do atual espiritismo. O mesmo caminho, isto é, a tentativa de desvendar os mistérios religiosos seria seguida por Newton, muito mais tarde. Parmênidas9, nascido 515 anos a.C. na Grécia, explicava que a existência de todas as coisas tinha uma raiz comum que ele chamava de Ser, provavelmente se referindo a Deus, voltando para as raízes metafísicas implantadas anteriormente pelos religiosos. “O Todo é único e a matéria é

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imutável”, dizia ele anunciando o que foi chamado de “princípio parmenideano”, e justo por isso, considerado o fundador da Metafísica. Foi também o fundador do Eleaticismo, nome derivado de uma colônia grega ao sul da Itália, Elea, cuja base monística fundava-se no pensamento de que Deus era único, estático, puro, eterno, e que não foi gerado por ninguém. Anaxímenes de Mileto10 (545-? a.C.) foi contemporâneo de diversos sábios. Ele esposava outra teoria, como todas, muito estranha. Todas as coisas do mundo, dizia ele, tiveram sua origem no ar (era), conforme sua densidade. A mínima condensação era o ar que se respirava, e à medida que ficava mais denso o ar era percebido na forma de orvalho, umidade, nuvens, até alcançar uma densidade máxima na forma da terra e das rochas. O ar poderia ser divino, formando e sustentando o Universo, mas poderia ser humano e nesse caso passava a se chamar de alma, responsável pela vida e pelos movimentos. Ele ensinava que o arco-íris era o efeito dos raios de Sol ao atravessar o ar compactado. Observe-se então, que mesmo naquele tempo, havia sábios e “sábios”. Uns tinham coerência nos seus ensinamentos e conclusões. Outros derrapavam entre o conhecimento e o delírio, já beiran-do a insanidade. Heráclito11 (540-480 a.C.), outro filósofo grego, como Tales, também se aventurou a discu-tir o princípio das coisas, e atribuía ao fogo a origem delas. Achava que o Sol era do tamanho que os habitantes da Terra o viam. Foi o primeiro a dissertar sobre a conexão dos contrários e emitiu o conceito do balanço das forças (ação e reação): a toda ação corresponde outra, que lhe é igual e de sentido contrário, conhecida como a 3a Lei de Newton. Diga-se de passagem, que essa lei do balanço das forças opostas já era conhecida muito antes disso pelos chineses (ying-yang). Anaxágoras12 (500- 428 a.C.), sábio da Grécia, nascido na Anatólia, descobridor da verda-deira causa dos eclipses, também explicou a natureza através de uma teoria complicada, onde ele afirmava que todas as coisas tinham aparecido da Razão, algo que existia, mas não tinha explicação. Em Atenas, o centro da cultura científica grega, para onde se mudou, foi acusado de impiedade por afirmar que o Sol era uma rocha incandescente, pouco maior que a região do Peloponeso... Os sucessores desses sábios ampliaram mais a ideia. Além do fogo e da água também eram elementos primordiais o ar e a terra, como visto anteriormente. Para os egípcios, por essa mesma época, os elementos primordiais eram a água, o fogo, a terra, os metais e a madeira. Empédocles13 (490-430 a.C.) foi um poeta, estadista, professor de Teologia e filósofo grego que aceitava a ideia vinda desde Anaximander, de que todas as coisas do mundo eram formadas pela combinação dos quatro elementos: ar, água, terra e fogo, e que nada poderia ser criado nem destruído, mas simplesmente transformado segundo as proporções das substâncias fundamentais, antecipando-se, em mais de 1200 anos, a Lavoisier e sua Lei da conservação da matéria. A diferença é que, segun-do Empédocles, havia duas forças antagônicas dominantes, Love (o Amor) e Strife (o Conflito), que interagiam e formavam ou separavam as quatro substâncias, sustentando a teoria na metafísica, en-quanto Lavoisier dispensaria essa ajuda e calcularia o balanceamento das suas equações, mostrando que a quantidade de material era a mesma, antes e depois das reações. Empédocles, como Pitágoras, foi um dos precursores da doutrina do espiritismo, pois ensinava que as almas transmigravam de uma pessoa para outra, e que os pecadores tinham de re-encarnar várias vezes para se purificarem.

Posição da Terra no Sistema

Posteriormente, surge um dos grandes filósofos da natureza: Aristóteles14 (384-322 a.C.), nascido em Stagira, nas vizinhanças da Macedônia, foi o sábio que organizou a pesquisa científica. Foi tutor de Alexandre, o Grande, imperador da Macedônia, e aluno de Platão, outro expoen-te da ciência daqueles tempos. Aristóteles seria o demolidor de muitas das ideias dos seus antepassa-

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dos e contemporâneos, mas em compensação criaria outras por sua conta15 que prejudicaram durante muitos séculos o progresso da ciência. Ele se opunha a Heráclito dizendo que o Sol era muito maior que o observado, pois havia uma enorme distância entre ele e nós, por isso parecia tão pequeno. A Terra sim era pequena em face do Universo. Ensinava que além dos quatro elementos formadores da natureza, havia um outro chamado por ele de quintessência. Aristóteles combateu a ideia de que os rios fluíam de um reservatório dentro da Terra, onde se concentravam as águas das chuvas, dando nova explicação, que seria a semente, tanto dos processos de sedimentação, como do ciclo da água. Isso a um tempo em que se explicava ser a água o suor da Terra, quando a luz do Sol dardejava sobre ela, e como todo suor era salgado, e que algum dia o mar secaria devido ao fenômeno da evaporação (ideia semelhante à usada hoje em relação a extinção do petróleo). O mar jamais secaria, contrapu-nha-se ele, pois a água evaporada voltava a Terra em forma de chuva, refutava o sábio grego. Era de Aristóteles a conclusão de que a Terra era esférica, como evidenciado pela observação da sombra projetada na Lua por ocasião dos eclipses, conclusão corroborada pela visão do céu que era diferente conforme a latitude do observador sobre a Terra, um avanço sobre as ideias pitagoreanas. Se a Terra era de fato esférica como afirmava, o ocaso se dava além das “Colunas de Hércu-les” (Estreito de Gibraltar), e a aurora em algum lugar por trás da Índia. Esse conceito foi usado por Colombo, em sua aventura já no século XVI e o levou a chamar as novas terras descobertas de Índias Ocidentais, pensando que tinha realmente dado a volta ao mundo. Aristóteles explicava as causas dos terremotos tão erradamente como ainda hoje se faz, e era natural que assim o fosse: os ventos encerrados no interior da Terra, dizia ele, ao passar nas estreitas fendas em seu caminho para o ex-terior, provocavam as vibrações. Os trovões, os raios e as tempestades eram os mesmos ventos, mas agora circulando no exterior. As explicações de como se formavam os metais e outras substâncias não têm qualquer sentido científico, mas devido a sua imensa superioridade de conhecimento sobre as pessoas do seu tempo, passavam a ter um sentido correto e mesmo indiscutível. Mas a pior ideia de Aristóteles foi a explicação dos movimentos. Segundo ele, os movimentos dependiam da força exterior que lhes conferia esta qualidade, ideia que só vai ser corrigida 2.000 anos depois por Galileu Galilei. Se cessasse a força não haveria movimento, afirmação que hoje, reprovaria qualquer estu-dante de física primária. Aristóteles morreu 322 anos antes da nossa era, e sua influência de ideias perdurou por muito tempo e perdura ainda hoje. Pouco depois de Aristóteles surge Aristarco de Samos16 (310-230 a.C.) , astrônomo grego que trabalhava baseado em cálculos geométricos e o primeiro a contradizer a crença geral de que a Terra era o centro do Universo. Afirmava ele, corretamente, que a Terra girava ao redor do seu próprio eixo e circundava ao redor do Sol. A ideia não soava apenas como absurda, mas era especial-mente uma ofensa aos deuses dos homens, já naquele tempo um problema herético grave. Um desses guardiões da fé naquele tempo, Cleanto, o Estóico, provavelmente enciumado do conhecimento de Aristarco, chegou a sugerir que ele fosse acusado de impiedade, uma reação aos que se opunham aos dogmas religiosos sobre a criação do mundo, vigente naquele tempo (o castigo para a impiedade era a morte pelo fogo). Foi Aristarco que mediu pela primeira vez as distâncias da Terra ao Sol e à Lua, além de medir o ano solar, evidentemente com erros, devido a imprecisão do método. Grande contribuição ao conhecimento da natureza da Terra foi dada por outro astrônomo e matemático grego chamado Hiparcos17, morto 125 anos antes de Cristo. De seus estudos nasceu o conhecimento da “precessão dos equinócios”, o aperfeiçoamento da medida do ano solar, calculado por Aristarco, mas com o erro reduzido para 6,5 minutos, além do primeiro catálogo estelar e as pri-meiras formulações da trigonometria. Sábio que era incorria no erro comum daquele tempo, ou seja, continuava a raciocinar com o sistema geocêntrico, apesar das ideias novas sobre o assunto deixadas por seu predecessor Aristarco. As dificuldades complicadoras da teoria deviam-se a tentativa de explicar os movimentos

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realmente excêntricos dos planetas ao redor do Sol, em órbitas circulares ao redor da Terra. Acabou por demonstrar que um círculo excêntrico equivale, matematicamente, a uma figura geométrica com-plicada chamada de sistema epicíclico/deferente provavelmente já pesquisada um século atrás pelo matemático grego Apolônio de Perga, que aceitava a mesma teoria, evidentemente sem resolver o problema. O sistema geocêntrico e suas consequências eram o resultado dos primeiros passos da cam-baleante ciência pelo terreno da cultura religiosa, mais fácil de impor, que afirmava que Deus teria feito a Terra e nela colocado o homem. Este lugar, importante que era, raciocinavam seus adeptos, só poderia ser o centro de um círculo (outra forma perfeita da natureza), ao redor do qual giravam todos os outros astros que podiam ser observados durante a noite. Hiparcos também foi acusado de impiedade ou de heresia por ter feito o primeiro mapa estelar com 850 estrelas e seus brilhos aparen-tes classificados em seis magnitudes, como é usual até hoje. Ainda por essa época desponta outro grande nome da ciência. Eratóstenes, de Cyrena18 (276-194 a.C.), poeta, cientista e astrônomo, o primeiro a calcular outro dos parâmetros importantes da Terra. Se ela era esférica, raciocínio que vinha desde Pitágoras (seis séculos a.C.) e Aristóteles (qua-tro séculos a.C.), qual seria a sua circunferência? Raciocinando em termos do paralelismo dos raios solares e os ângulos destes com as verticais de dois lugares da Terra distantes entre si por uma dis-tância conhecida no mesmo meridiano, pôde ele determinar (com o auxílio de uma proporção) o raio terrestre, e daí a sua circunferência, errando por pouco (15% para mais em relação a atual medida). Pouco a pouco, nos detalhes, separados por intervalos de tempo muito grandes, os homens mais curiosos e mais corajosos, diante dos castigos divinos prometidos pela Igreja, iam conseguindo desvendar os segredos da Terra. De modo geral os resultados eram sofríveis e não se podia esperar que fossem corretos desde que a técnica para obtê-los era incipiente, mas progredia-se. A virtude a ser admirada era a coragem de enfrentar o terror imposto pela ignorância, exercido pela igreja, que teimava em transformar as forças da natureza em forças divinas para explicar os fenômenos geológi-cos. Um século e meio já na “era cristã” surge outro expoente da ciência chamado Claudius Pto-lomeu, de Alexandria19 (127-145 d.C.). Ele organizou todo o conhecimento que se tinha da Astrono-mia até aquele tempo e os condensou em uma coleção de treze livros, cujo título, por corruptelas de tradução chegou até nós com o nome de Almagest. No seu trabalho sobre Astronomia e Matemática, o cientista compilou o que já se conhecia sobre a Astronomia vinda da escola grega, e confirmou em seus livros a errada posição central da Terra no sistema, fundando com isso o que ficou conhecido como Sistema Geocêntrico ou Sistema Ptolomaico. A obra de Ptolomeu foi traduzida para o árabe, em 827 d.C., e para o latim no século XII, influenciando, pesadamente, tanto os povos do oriente como os da Europa, isto é, em quase todo o mundo conhecido. Em resumo, as ideias religiosas de Moisés e Hesíodo, e as incipientes ideias científicas de Platão, Aristóteles, Aristarco e outros, passaram intactas da era pré-cristã para a nossa, e todo esse conjunto de conhecimento plasmou, influenciou e em muitos casos engessou a ciência durante qua-torze séculos. O interesse geral dos cientistas e religiosos era conhecer a origem do mundo e do ho-mem, isto é, dar uma resposta aos fatos, e explicar o funcionamento da natureza. Cada um tinha uma maneira de dar a solução do problema e elas acabaram por se contrapor: cientistas a pesquisar sem meios para fazê-lo, dando respostas parciais e incompletas e os religiosos a transformar as formas e forças da natureza em obras de deuses criados na sua imaginação. De permeio havia alguns que ten-tavam conciliar as duas coisas: ver ciência nos contos bíblicos ou ao contrário, fazer ciência dentro dos cânones religiosos, postura que se projeta até hoje. O panorama científico existente no mundo até a metade do século XVI era regido pelas anti-

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gas ideias de Ptolomeu: a Terra era o centro do Universo, e ao redor dela giravam os corpos celestes. Surgirão outros nomes ao longo do tempo que vão mudar esse panorama.

Da Renascença até Isaac Newton

O que se pode notar é que, a despeito da oposição da Igreja, os mais curiosos continuavam a procurar as suas respostas. Mesmo intuitivamente, tentava-se uma explicação das coisas ao redor. Pitágoras, fora seus magníficos ensaios matemáticos, sugeria reencarnações e a crença nos espíritos. Na Grécia há deuses para tudo e todos, dos quais dependem as coisas deste mundo. O geocentrismo vindo desde Aristóteles, 400 anos a.C. firmou-se com o Almagest de Clau-dius Ptolomeu, prosseguiria até Copérnico, em 1543, quando a Terra deixa de ser o centro do univer-so, seguido de Kepler, em 1609, que mostra que o movimento da Terra, ao redor do Sol, não é um círculo, mas uma elipse com o Sol em um dos focos. Terminada a ideia do geocentrismo, que ficaria pelo caminho descartada por melhores ob-servações astronômicas, havia uma segunda ideia que, daquela época até hoje, não foi e não está compreendida, e se mantém encastoada nos problemas científicos de maneira prejudicial, como se fosse uma obra das divindades. Trata-se da existência do homem, de onde ele veio e para onde irá quando morrer. O desconhecimento da origem da vida faz do homem, até hoje, a imagem e semelhança de Deus, com o sopro divino nas narinas e com a autoridade de dominar, tanto o âmbito da família, como sobre toda a Terra, e as coisas nela existentes. É sobre este pano de fundo que acontece o chamado Renascimento, caracterizado por um salto em todos os ramos da ciência, e uma revolução sobre as ideias vigentes: a substituição do sistema geocêntrico pelo heliocêntrico, na astronomia; a invenção da imprensa, do papel, da bússola e da pólvora; as grandes navegações, o descobrimento de novas terras, além de novos estilos nas artes e nas letras marcaram a reviravolta na mentalidade humana. Surgia o Humanismo como uma revolta no pensamento dos homens seculares contra a enclausurante ortodoxia religiosa, por um novo estilo de vida e nova concepção da natureza. Essa revolta atinge a estrutura da própria Igreja que sofre o efeito da quebra da sua hegemonia sobre o pensamento das pessoas. É Martinho Lutero o grande herói no início do século XVI. Vejamos a repercussão dessas novas ideias nas ciências geológicas.

A Reforma

A Reforma protestante, no início do Século XVI, chefiada por Martinho Lutero20 (1483-1546), é considerada como o primeiro grande salto do pensamento medieval para o Renascimento. A Reforma de Lutero quebraria o poder hegemônico e cruel da Igreja. Esta percebeu, naquele tempo, aquilo que ainda hoje continua a ser o motivo principal da cobiça humana: a riqueza é uma coisa muito boa para quem tem o dinheiro. Nada mudou de lá pra cá. As igrejas, mesmo as reformadas e todo o seu gigantesco leque de variedades continuam a praticar a mesma filosofia. Naquele tempo, na busca incessante de dinheiro e riqueza, foi produzido um documento chamado “Instructio Sum-marium” , pelo bispo de Mainz e Brandenburg, com instruções completas para todos os padres dos territórios dominados de como vender melhor as indulgências. Lutero teve acesso ao documento e daí preparou um contra-ataque com suas 95 teses, com as quais preparou o seu “Sermão da Indulgên-cia” em uma linguagem popular, estopim que estouraria o poder, dividindo a igreja católica, surgindo oficialmente, em 1529, o Protestantismo. A grande vantagem desse cisma foi o salto qualitativo para uma nova espécie de liberdade que, mesmo limitadamente, guiaria até os novos cientistas daquele tempo: Copérnico, Bruno, Kepler, Galileu e Newton. Sob o ponto de vista geológico foi a revolução

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mais importante de todas. De agora em diante, podia-se pensar sem a interferência do freio castrante da Igreja. Esta responderia com as crueldades da Inquisição.

Astronomia

Entre a segunda metade do século XVI e a primeira do XVII viveram quatro homens geniais: Giordano Bruno, Johannes Kepler e Galileu Galilei que foram precedidos por Nicolau Copérnico e sua revolução sobre a posição do planeta no sistema, iniciada com a publicação do De Revolutio-nibus Orbium Coelestium, em 1543. Esta obra de Copérnico, embora ainda com erros, inaugura o heliocentrismo.

O Sistema Heliocêntrico

Nicolau Copérnico21 (original polonês, Mikolaj Kopernik, 1473-1543), natural de Torun, Polônia, torna pública a sua ideia do heliocentrismo, primeiro em forma de um sumário manuscrito - Commentariolus - depois em forma mais completa no ano da sua morte, em 1543. Tenha-se em conta que, nos quatorze séculos entre a proposição geocêntrica ptolomáica e o renascimento da ideia heliocêntrica de Aristarco, através de Copérnico, a explicação dos movimentos dos corpos celestes foi se complicando cada vez mais, só porque as observações eram feitas da Terra, como se ela fosse o centro dos movimentos. Além disso, havia um número cada vez maior de obser-vadores e consequente maior número de planetas e estrelas sendo descobertas no céu, dificultando a explicação do conjunto de movimentos. Outra característica interessante para o pesquisador diz res-peito ao progresso da ciência que era, contraditoriamente, impulsionada pelos elementos da própria igreja, desde que era dentro dela que havia os melhores estudantes, bibliotecas e tempo disponível para aqueles estudos. Copérnico estudou na universidade, em Cracóvia, transferindo-se mais tarde para Pádua, na Itália, voltando à Polônia em 1503, passando a residir em Frauenburg, onde, em 1497, fora eleito cônego da catedral daquela cidade, posição esta que lhe garantiria a sobrevivência daí por diante. As observações de Copérnico tinham começado exatamente em 1497, e quanto mais estudava mais inconformado ficava com as dificuldades apresentadas pelo sistema ptolomáico. Para Copérnico, o centro do sistema era o Sol e os planetas giravam ao seu redor, em círculos (este era o erro!), característica esta, que também não satisfazia os movimentos observados. Essa dificuldade ele tentou explicar criando o equant, (um ponto no espaço de onde os mo-vimentos circulares poderiam ser observados perfeitamente), mas mesmo assim, continuavam as dificuldades. Alguma coisa tinha melhorado na elegância da apresentação e resolução de algumas questões importantes, mas outras continuavam complicadas na compreensão geral. A perfeição do círculo, como obra de Deus, mesmo colocando o Sol ao centro do sistema, atrapalhava muito. No século XVI surge Tycho Brahe (1546-1601), outro grande cientista, especialmente dotado de paciência na observação, munido de instrumentos muito mais potentes e sofisticados que os usa-dos até então. Tycho fez milhares de observações e acabou por descartar os dois principais sistemas explicativos até aquele tempo, criando um terceiro que ficou conhecido como Sistema Tychônico. Tal sistema conservava a Terra no centro, uma herança da cultura grega condensada no Almagest de Ptolomeu, mas os outros planetas giravam ao redor do Sol, relembrando Copérnico e sua revolução. Era uma espécie de meio termo, e por isso mesmo, também insatisfatório. Lentamente iam surgindo as ideias geniais. Giordano Bruno23 ou Filippo Bruno, Il Nolano (1548-1600), filósofo, astrônomo e matemático italiano, nascido em Nola, nas vizinhanças de Nápo-les, cujo nome foi tomado quando se tornou clérigo no convento napolitano de São Domingos. Viveu a vida do convento durante dez anos e lá estudou até doutorar-se em Teologia.

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Mas também estudou com afinco a cultura e a filosofia grega. Criticou a filosofia aristoté-lica e seus seguidores, mostrando que os movimentos não poderiam ser comandados por algo que fosse estático. Nada é imóvel, inclusive a Terra, dizia ele, ao contrário do que proclamava a religião. O Universo não é finito e limitado, mas infinito e ilimitado. A Terra não é o centro do Universo24 e existiriam outros mundos habitados como o nosso. A mente humana seria idêntica a mente divina, e o homem poderia penetrar e entender toda a natureza, sendo essa uma obrigação, não somente de ordem moral, mas também cognitiva. Era um homem fora do seu tempo. A meditação sobre esses assuntos provocou admoestações de seus superiores e afastou-o pouco a pouco da ortodoxia católica, sendo afinal processado por heresia. Começa então uma vida de fugas. Inicialmente foi para Roma, em seguida para Suíça e depois para a França. Em Berna, professou o calvinismo, uma variedade do protestantismo, onde verificou que qualquer religião é tão despótica e castrante como qualquer outra, e abandonou também a seita protestante. Escreveu muitos livros que fizeram escola, e morreu na fogueira da Santa Inquisição, em 1600. Até agora não foi reabilitado. Finalmente, no fim do século XVI, surge Johannes Kepler25 (1571-1630), astrônomo alemão, que após ter publicado um trabalho sobre observações celestes quando era professor de matemática e retórica em Graz, Áustria, foi convidado por Tycho Brahe para ser seu assistente no observatório de Praga. Com a morte de Tycho, em 1601, Kepler foi o seu substituto natural e assim, apoiado nos pacientes e precisos trabalhos do dinamarquês, Kepler chegou às, hoje famosas, Leis de Kepler, dan-do precisão matemática e colocando ordem na posição e no funcionamento dos corpos celestes pela solução dada aos movimentos do planeta Marte, mistério que preocupou todos os astrônomos antes dele. O movimento do planeta era estranho, pois se fazia em uma direção, era interrompido, isto é, o planeta “parava’, “retrocedia”, “parava” de novo e retomava seu curso “normal”. Kepler mostrou que isto era o resultado de observar-se o movimento do planeta como se a Terra fosse o centro do sistema. Esta nova visão modificou toda a concepção do sistema solar. As órbitas não eram mais circulares como pensava Copérnico, mas elípticas, e o Sol está em um dos focos; a velocidade do movimento dos planetas não é constante; constante é a área varrida pelo raio que une o planeta ao Sol (áreas iguais em tempos iguais); o quadrado do tempo que um planeta gasta para dar uma volta ao redor do Sol é proporcional ao cubo do raio médio da sua órbita. As duas primeiras leis apareceram em 1609 e a terceira quase dez anos depois, em 1618. Elas nunca foram numeradas por Kepler, mas faziam parte de uma coleção de muitas outras descobertas feitas pelo grande pesquisador. Ele formulou tabelas como as Rudolphine Tables26 para predizer a posição dos corpos celes-tes; tabelas de refração e de logaritmos; fez um mapa com 1.005 estrelas com a ajuda das observações de Tycho Brahe e inventou o telescópio kepleriano, a semente do moderno telescópio refrativo. Galileu Galilei27 (1564-1642) foi contemporâneo de Bruno e Kepler. Ele modificou toda a concepção aristotélica dos movimentos, e usando o telescópio de uma maneira prática demonstrou o movimento dos planetas e satélites. Nascido em Pisa28 fez seus primeiros estudos no Monastério de Vallombrosa, entrando para a Universidade de Pisa para estudar medicina. Na Catedral daquela cidade, diz a história, observando os movimentos de uma lâmpada notou que tais movimentos gastavam o mesmo intervalo de tempo para realizar uma oscilação completa, a despeito do tamanho da oscilação. Ao regressar à sua casa, passou a verificar o fenômeno experimentalmente e concluiu que aqueles movimentos podiam ser adaptados para regular os relógios. Daí em diante passou a estudar matemática, geometria e ciência. Em 1586, publicou um trabalho sobre a balança hidrostática que o torna famoso em toda a Itália. Três anos depois sai o tratado sobre o centro de gravidade dos sólidos,

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e ganha com isto o cargo de professor de matemática ainda na Universidade de Pisa, onde começa suas pesquisas sobre o movimento dos corpos. Descarta como princípio que a queda dos corpos de-penderia do seu peso e do material de que era formado, como ditava a sabedoria aristotélica desde antes da era cristã. Dificuldades financeiras levaram-no a Pádua, onde desenvolveu grande parte de suas pesqui-sas sobre o movimento dos corpos, de onde concluiu a lei sobre o movimento acelerado. Em 1609 é que inicia a aplicação prática do uso do telescópio mostrando que era possível ver objetos a grandes distâncias, como os navios mar a fora. Deu prosseguimento às experiências com maiores e melhores lentes, por ele mesmo construídas, voltando-as para o céu. Desse ponto em diante completa-se a revolução iniciada pela imaginação de Copérnico. Galileu descobre, para desespero do clero, que a Lua não era perfeita, como se tinha impressão quan-do observada da Terra, mas tinha uma superfície irregular cheia de montanhas; descobre que a Via Láctea é formada por milhões de estrelas; descobre os satélites de Júpiter; observa as manchas na superfície do Sol, os anéis de Saturno e as fases de Vênus. Tudo o que observou levava a um ponto comum: o conhecimento ptolomaico/aristotélico deveria ser descartado, pois atrasava o conhecimen-to científico da Terra, dos movimentos, da Astronomia, etc. Em outras palavras, todo o conhecimento adquirido até aquele momento deveria ser zerado para começar tudo de novo. O sistema de Copérnico era melhor e deveria ser usado como a estrutura funcional do Uni-verso. Galileu escrevia em italiano e por isso seus trabalhos tornaram-se muito populares. Isso pro-vocou um grande movimento de opiniões favoráveis e desfavoráveis a Galileu. A Igreja, a princípio, comportou-se com tolerância, mas entre os cientistas houve muita má vontade, ciúmes e despeito, pois eles não admitiam que seus conhecimentos e cultura estivessem errados, como demonstrava Galileu. Os contrários às novas ideias então arquitetaram um plano para vingança, uma vingança vil. Demonstraram aos homens do clero que as teorias de Galileu contrariavam os evangelhos e levan-taram suspeitas contra ele. Os padres descarregaram seus sermões dos púlpitos contra o cientista e acabaram por denunciá-lo à Inquisição pelas suas blasfêmias. A teoria não deveria ser rejeitada por estar errada, mas porque contrariava os evangelhos! Essa disputa provocou, em 1616, um decreto por parte da igreja onde se pretendia combater e erradicar o copernicalismo, como ficariam conhecidas as ideias do heliocentrismo. Houve reação por parte do clero. “Proposições a serem proibidas: que o Sol é imóvel ao cen-tro do Universo; que a Terra não esteja no centro dos céus e não seja imóvel, mas se mova com dois tipos de movimento.” Isto é, a Igreja, por meio de um decreto, parava a Terra ao centro do Universo e fazia o Sol girar ao redor dela. Galileu foi considerado mais pernicioso do que Lutero e Calvino, pela Igreja Católica, que já tinham feito as reformas protestantes (1529) com isso cometendo ela um erro de avaliação. O principal golpe na autoridade totalitária da igreja daquele tempo foi, sem dúvida, a revolução do Protestantismo. Galileu foi especificamente proibido de falar sobre o copernicalismo sob qualquer pretexto e de qualquer forma, sob pena de enfrentar as sanções do Santo Ofício, o que finalmente veio acontecer quando foi acusado de heresia, sendo em seguida julgado e condenado à prisão domiciliar perpétua. Galileu, para não fugir à regra, não levou as leis de Kepler, seu contemporâneo, na devida conta, o que o impediu de formular a lei da inércia. Ele, como Copérnico, só aceitava o movimento circular como o movimento correto para corpos que giravam ao redor da Terra e do Sol, o que de fato o impediu de formular a lei da gravitação universal, antes de Newton. Realmente foi Galileu que formulou a força como um agente mecânico e fez a ligação entre a física e a matemática, antes dele duas ciências independentes, deixando para Newton a precisão de cálculos e fórmulas.

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Uniu as ciências celestiais com as terrestres e enfatizou que “O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos”, princípio hoje contestado por evidências geológicas e estratigráficas29. A queda dos corpos, o equilíbrio e movimentos dos corpos em um plano inclinado e o movi-mento de projéteis são frutos de suas observações e experimentações. Ele usou todos os argumentos possíveis para convencer os do seu tempo, que era mais lógico conceber novos princípios sobre o sistema solar, modificando os velhos e obteve grande sucesso por isso, menos por parte de seus colegas e da Igreja que, por essa altura apertava o cerco e as cravelhas dos que ousavam enfrentar seus dogmas. Galileu foi traído por um falso amigo e teve de enfrentar a Inquisição, e se escapou da fo-gueira, não conseguiu escapar da prisão domiciliar a que foi condenado, tendo assinado antes30:

“Eu, Galileu Galilei...tendo diante dos meus olhos e tocando com as minhas mãos os Santos Evangelhos - juro ter sempre acreditado, acreditando agora, e com a ajuda de Deus irei acreditar no futuro, em tudo o que é admitido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Entretanto, uma vez que uma injunção foi judicial-mente sentenciada à minha pessoa por este Santo Ofício, no sentido de que eu deva, de uma vez por todas, abandonar a opinião falsa de que o Sol seja o centro do mundo e imóvel, e de que a Terra não seja o centro do mundo e se mova, e de não poder susten-tar, defender ou ensinar, sob qualquer forma que seja, verbalmente ou por escrito, a dita doutrina e, ainda, que eu, mesmo após ter sido notificado de ser a dita doutrina contrária às Santas Escrituras - tenha escrito e feito publicar um livro no qual essa doutrina, de antemão condenada, é, não só discutida, como, também, fortalecida com argumentos de grande coerência em favor da mesma, sem, no entanto, apresentar nenhuma solução para os mesmos; e assim, por esta causa eu tenha sido pronunciado pelo Santo Ofício como altamente suspeito de heresia, isto é, ter sustentado e acreditado ser o Sol o cen-tro do mundo e imóvel, e a Terra não ser o centro e se mover. Portanto... desejoso de remover das mentes de Vossas Eminências... ... esta forte suspeita contra mim... com inquebrantável fé eu abjuro, rejeito e detesto os erros e heresias acima mencionados... ... e além disso, se vier a tomar conhecimento de algum herege, ou pessoa suspeita de he-resia, eu a denunciarei ao Santo Ofício... ...E, na eventualidade de eu vir a desobedecer (que Deus não mo permita!) a qualquer uma dessas promessas, protestos e juramentos, submeto-me a todas as dores e penalidades impostas e promulgadas nos cânones sagra-dos... ...contra tais delinquentes.”

A reabilitação de Galileu em novembro de 1992, 359 anos depois de ser condenado à pri-são perpétua para não ser queimado vivo, constitui apenas um segundo erro cometido pela Igreja, que não reabilitou todos os que sofreram a perseguição dos Torquemadas (Tomás de Torquemada; 1420-1498) e Savonarola (Girolamo Savonarola; 1452-1498) e outros representantes da fúria papal daquele tempo. Hoje continua a cometer os mesmos erros: o exercício da pedofilia nos conventos, ao mesmo tempo que, com falsa moral, combate o aborto entre seus fiéis e o uso dos preservativos no combate à AIDS, além do exercício do homossexualismo dentro dos conventos. Mais grave ainda quando se coloca como um obstáculo instransponível contra o avanço da ciência, como é o caso das pesquisas com células-tronco. O processo contra Galileu, a fogueira em que foi transformado Bruno, as torturas infligidas a Campanella e outros atos de barbaridade cometidos contra a população de modo geral, amedron-taram os pesquisadores das bordas do Mediterrâneo e as pesquisas científicas se deslocaram para o norte da Europa.

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No mesmo ano que morreu Galileu, nasceu Isaac Newton31 (1642-1727), físico e matemático inglês, cujos trabalhos se espalham por quase todos os campos da ciência, todos ligados por observa-ções e aplicações de fórmulas matemáticas extraordinárias. Astronomia, Biologia, Mecânica Celeste, Ótica, Filosofia e Teologia são alguns dos ramos onde Newton desenvolveu estudos de grande influência para a posteridade. Para o conhecimento da Terra e do sistema solar produziu alguns trabalhos definitivos. Baseado nas leis de Kepler e Galileu, Newton compreendeu e transformou em fórmula ma-temática a lei básica da natureza: a gravitação ou força gravitacional. De fato até aquela época, já conhecida a forma dos astros e a estrutura do sistema, faltava conhecer como eles giravam isolados no espaço ao redor de si mesmos e os planetas ao redor do Sol. Que os mantinha unidos? Por que não se deslocariam em linha reta espaço a fora segundo a lei da inércia? Tudo o que se aprendera desde Aristarco de Samos, passando por Copérnico, Tycho, Kepler e Galileu foi condensado por Newton, em 1687, de maneira simples e extraordinária em Philosophiae Naturalis Principia Mathematica: a força gravitacional, que mantém a mecânica e o equilíbrio dos corpos, sejam ou não celestes, depen-de da razão do produto da massa dos mesmos pelo inverso do quadrado da distância que os separa. A explicação mecânica do movimento dos corpos fora resolvida. As três leis que governam os movimentos ficaram estabelecidas e foi possível compreender, com clareza, o comportamento da Terra e seu satélite ao redor do Sol, bem como de todo o sistema. Já na Civilização do Petróleo, no Século XX, foguetes, estações espaciais e satélites de comunicação giram, flutuam ou estacionam ao redor do planeta como resultado dos estudos desse extraordinário cientista. Um planeta obedece as leis dos movimentos, mas são atraídos constantemente por uma força que ele chamou de gravitas, uma palavra do latim antigo que quer dizer peso. Como sempre, houve resistência por parte dos cientistas da época em aceitar o princípio da ação de uma força invisível que se exerceria a distância, e na época, ele, Newton, chegou a ser ridicularizado pela ideia da gravitação30. Os cientistas mais jovens, entretanto, fizeram de Newton seu modelo e dentro de uma geração, quando os cargos de professores nas principais universidades inglesas foram ocupados por esses jovens, as ideias da gravitação foram aceitas e permanecem até hoje. Newton escreveu outros trabalhos sempre procurando encontrar explicações para a natureza do Universo: Física (Opticks, 1704), Matemática (Arithmetica Universalis, 1707), Filosofia e Teologia, e morreu em 1727.

O Telescópio

Antigamente, à vista desarmada, a observação dos astros e estrelas, satélites e galáxias era feita com a mesma sensação que qualquer um de nós tem ainda hoje. Havia de fato uma barreira para que melhores observações fossem feitas: as distâncias. Os curiosos daquele tempo necessitavam de um instrumento que auxiliasse os olhos para prosseguir pesquisas e distinguir detalhes onde pode-riam estar as respostas para muitas perguntas. O resultado dessa falta de técnica e instrumentos era a especulação imaginativa sobre problemas desconhecidos, exatamente como faziam os filósofos aristotélicos e como continuam fazendo hoje alguns dos modernos cientistas e, os daquele tempo, naturalmente, não podiam passar disso. O instrumento necessário para cobrir esta lacuna estava em gestação: o telescópio. O aparelho seria usado para ver objetos à distância ou, diminuir a distância a determinado objeto, para melhor observá-lo. O nome deriva do grego tele (distância) e skopein (ver). Por ser um instrumento que usa lentes, sua história se confunde com a do vidro e do micros-cópio. Os vidros e seu comportamento eram conhecidos de há muito tempo. As lentes se tornaram necessárias à leitura de livros após o aparecimento da imprensa no século XV e mesmo para me-lhorar a visão das coisas triviais. Diz a história que foi o holandês Hans Lippershey que inventou o

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telescópio em 1608. Entretanto, em 1609 já haviam muitos telescópios a venda tanto em Paris como em Londres, tanto na Itália como na Alemanha. A verdadeira origem do instrumento não é um ponto crucial para a discussão da história da Terra, mas o uso que dele se fez para o referido estudo. Foi Galileu, depois de receber a informação sobre o novo aparelho, que teve a ideia de construir o seu próprio telescópio segundo as leis básicas da ótica, com um poder de aumento de apenas três vezes e voltá-lo para observar os astros no céu. Montou ele em um tubo de cobre, duas lentes, uma côncava e a outra convexa e a partir dessa primeira experiência, melhorou o tamanho e o polimento das suas lentes, chegando a usar lentes de 4,5 centímetros de diâmetro com aumento de 33 vezes. Foi com um aparelho desses que Galileu descobriu que a Lua não era perfeitamente lisa como se pensava, mas tinha montanhas e vales maiores que os da Terra; viu os satélites de Júpiter; mostrou que Vênus tinha fases parecidas com as da Lua e que a Via Láctea era formada de milhões de estrelas. A partir desse ponto é que se tornou um defensor da teoria heliocêntrica de Copérnico e quase morreu queimado, como relatado. Foi somente a partir da possibilidade dada pelos telescópios que se pode compreender a verdadeira natureza dos movimentos planetários a partir das observações de Tycho Brahe, Kepler e Newton. Depois do telescópio galileano, surgiram vários melhoramentos como o de Kepler, onde a lente ocular é convexa e colocada atrás do foco. Em 1640, William Gascoigne33 adapta o micrômetro que servirá para medir os diâmetros dos planetas e localizar com precisão a posição dos planetas, do Sol, da Lua e das estrelas. As aberrações cromáticas foram obstáculo até 1758, quando Peter Dollond (1730-1820), baseado nas ideias de Chester Moor Hall34 (1703-1771), inventou as lentes acromáticas, a partir de quando a Astronomia toma um grande impulso, na segunda parte do século XIX. Já em 1663, James Gregory35 (1638-1675), matemático escocês, tinha sugerido uma nova espécie de telescópio que foi chamado de refletor, uma alternativa aos refratores, pois a luz seria refletida e não refratada, evitando o fenômeno da aberração cromática. Naquele tempo não havia polidores com habilidade bastante para polir espelhos e que pu-dessem construí-los com perfeição. Esse obstáculo foi ultrapassado em 1672 por Newton que se dedicou a fazer o espelho de metal com uma liga de estanho e cobre que instalou em seu telescópio apresentado a Royal Society naquele ano. De 1740 em diante os telescópios refletores foram muito usados e ficaram famosos com os trabalhos de Sir William Frederick Herschel36 (1738-1822), o descobridor do planeta Urano, em 1781, e por isso chamado o “Pai da Astronomia Estelar”. Urano foi descoberto com um refletor de 18 cm, mas Herschel, que construía seus espelhos e telescópios, chegou a construir espelhos de 48 e de 122 cm, em 1789. Posteriormente apareceram os espelhos recobertos de prata até o aparecimento dos telescó-pios Schmidt em 1930, os quais incorporavam as vantagens tanto dos telescópios refletores, como dos refratores, permitindo fotografias de áreas do céu, muito maiores que as colhidas pelos outros telescópios. Em 1948 passa a funcionar o refletor de 5 metros de diâmetro no Monte Palomar na Califórnia, EUA, que junto com o Observatório de Monte Wilson, formam os Observatórios Hale em homenagem ao astrônomo americano George Ellery Hale37 (1868-1938). O telescópio de Monte Palomar foi o maior refletor do mundo até 1976 quando foi completada a construção do Observatório de Monte Pastukhov, nas montanhas caucasianas, onde foi montado um refletor de 6m de diâmetro pelos cientistas ainda da antiga URSS. Atualmente já estão em funcionamento, no hemisfério sul, os observatórios de Paranal e La Silla, ambos nos Andes chilenos, patrocinados por uma comunidade de paises europeus (ESO). Em Paranal, foram construídos quatro supertelescópios de 8,2m de diâmetro cada um, os quais funcio-narão com um interferômetro, que reunirá a luz provinda de um astro, equivalendo a um espelho de 16m. Isso equivale ao maior telescópio jamais construído e que permitirá colher imagens mais dis-

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tantes, quando comparadas aos atuais observatórios. Praticamente na última década do século XX, entram em cena os foguetes transportadores de engenhos capazes de fotografar e transmitir de volta, milhares de informações, quer pousando diretamente na superfície dos planetas, quer passando ao longe. Entre o telescópio de Galileu, que ampliava apenas três diâmetros construído no início do sé-culo XVII (c.1609) e os observatórios da ESO (European Southern Observatory), em Cerro Paranal (Andes chilenos) e seu interferômetro e os observatórios volantes enviados a Vênus (US Magellan) para mapeamento da sua superfície com radar; os Voyager 1 e 2, enviados na direção dos planetas exteriores em 1989, o programa Discovery iniciado em 199338 e o lançamento do Hubble Space Telescope (HST) em um “Shuttle Space Discovery “em 1991, que tem capacidade de resolução 10 vezes maior que qualquer telescópio montado na Terra, existe uma distância temporal de quase 400 anos, e, fora das especulações dos cientistas atuais, estamos longe de compreender como foi o início do universo e como será o seu fim. De fato, fora das naturais especulações, nada se sabe ao certo sobre a Terra que habitamos; da Lua, nosso satélite natural; dos planetas mais próximos, e nem pensar sobre os mais distantes. Precisaremos de maiores e melhores aparelhos... para continuar exatamente no mesmo ponto onde estamos, especialmente por falta de objetividade das pesquisas. A observação é válida: desde os tempos mais antigos, a espécie humana, depois de determi-nado estágio de consciência, levantou e manteve a curiosidade sobre a origem do planeta que habi-tava e sobre a sua própria origem. As primeiras especulações sobre o assunto tinham de ser deístas em virtude do próprio atraso técnico e científico natural daqueles tempos. Os sábios e filósofos da Antiguidade tinham como caminho mais fácil as explicações sobrenaturais e metafísicas. Moisés e Hesíodo são exemplos desse tipo de “cientistas” se assim pudéssemos chamá-los. Entre as especula-ções desses poetas (1400-1200 a.C.) e as conclusões dos estudos de Copérnico (1543 d.C.) vão mais de 2900-2700 anos. Mais setenta anos de observações e estudos desembocam em Kepler e as leis dos movimentos dos astros (1609). Em 1632 é Galileu que publica suas observações e comparações entre os dois sistemas celestiais, descartando um deles, e em 1687, apenas 50 anos decorreram até que a publicação do Principia de Newton desse as fórmulas e leis definitivas para que a ciência se desenvolvesse de maneira mais coerente. Notável é o encurtamento das distâncias temporais gastas para que pudéssemos entender a correta estrutura geral do Sistema. À medida que o homem ganhou mais liberdade (Revolução de Martinho Lutero), destruiu ideias velhas, sobre elas construindo outras mais novas e mais simples.

De Isaac Newton até Lamarck

Mas, se havia os que buscavam o ordenamento do Sistema Solar, sua forma e movimentos, havia os homens que estudavam os fenômenos existentes aqui mesmo na superfície do globo, como ciências inteiramente separadas. Não há pontos definidos onde haja começado este ou aquele uso, esta ou aquela observação, mas é possível imaginar que nas diversas regiões onde apareceu o homem, tenha aparecido também os curiosos e especuladores sobre como usar melhor os objetos que ocorriam nas suas vizinhanças para melhorar o seu dia a dia, dentro da ordem natural das coisas. O fogo é anterior à existência do homem, mas o uso do fogo para cozimento, aquecimento, desmatamento, preparação de terras para plantações, etc., certamente é posterior ao seu aparecimento. Ninguém distinguia ou conhecia o que era combustível e comburente, se havia ou não um gás chamado oxigênio; o conhecido eram os efeitos do fogo e as transformações que se operavam pelo seu uso, a despeito da teoria de apoio. Não foi de outra maneira que surgiu a alquimia, que pre-

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cedeu a moderna Química. Foi usando o fogo que se tentava transformar metais outros, “matando-os” e “revivendo-os” sob uma forma mais nobre e preciosa, como a do ouro. Foi assim que apareceu a Metalurgia; o uso do cobre ocorrente em diversas minas à superfície, sua liga com o estanho e o aparecimento do bronze e outras ligas. Essas práticas tinham relação com os astros e a astrologia que, cria-se e crê-se, exerciam influência sobre os homens na Terra. Para um geólogo, aquelas práticas, nada mais são do que uma crendice. Essas ciências eram praticadas secretamente, nas sociedades, mas eram conhecidas tanto na China, como na Arábia e na Índia, e provavelmente em terras ainda não descobertas como as Améri-cas, a África e Austrália, como se depreende de evidências achadas nas ruínas da civilização de povos habitantes daquelas regiões. Com a ajuda da imaginação é possível conceber que naquele tempo a movimentação de qual-quer objeto foi feita tracionando-o, primeiro pela força do próprio homem, posteriormente por ani-mais adaptados à tarefa, e ainda depois sobre rodas ligadas por um eixo, sem que para isso houvesse qualquer indício de uma teoria física a presidir o ato. Houve realmente a prática da vida, surgindo posteriormente a ordenação matemática visando a economia e o aperfeiçoamento da inteligência. O problema continuava a ser as crendices, a suposição de que tudo era obra de Deus, que havia criado as coisas, inclusive os homens a sua imagem e semelhança. Newton, no século XVIII es-creveu sobre o movimento dos astros, sobre a teoria da luz, sobre o problema da Santíssima Trindade e análise dos Evangelhos. Deitou luz nos problemas da física e matemática, mas não teve qualquer sucesso quando tratou dos problemas transcendentais. Estamos no século XXI, trezentos anos depois de Newton, e os luminares de hoje continuam a procurar Deus por todos os meios. São de Einstein, o principal cientista do século passado, as palavras citadas por Ferris39: “Eu quero saber como Deus criou este mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro deste ou daquele elemento. Quero conhecer os pensamentos Dele, o resto são detalhes”. Há um livro de autor brasileiro, Huberto Rohden40, escrito especialmente para mostrar os pensamentos de Einsten e da proximidade dele com a Metafísica. Na Conclusão do seu “Uma Breve História do Tempo”41 Hawking, sem resolver o problema que dá título ao livro, e lamentando o fato de ainda não haver uma teoria completa sobre o universo, que seja compreendida por pessoas leigas em ciência, afirma na última página da sua obra: “...Se encontrarmos a resposta para isto, teremos o triunfo definitivo da razão humana; por-que, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus”. Ao longo do estudo observa-se essa característica: a mistura que os cientistas fazem atu-almente e faziam antigamente entre a religião e a ciência, o real impedimento para o sucesso desta última. Por toda parte outros cientistas continuavam buscando suas pistas e as devidas explicações. Entre esses, distinguiremos alguns ramos importantes para a ciência geológica, e que facilitem a compreensão de fenômenos posteriores. Do que expusemos fica claro uma primeira conclusão: não existe um ponto definido, claro, sobre quando e onde apareceram as bases da ciência. Há homens e momentos históricos que marcam o início de uma fase nova, um ponto de inflexão mais sólido na determinação dos rumos da linha de atuação sobre determinado ramo científico, com o aparecimento de um nome mais forte, para deter-minada ciência. Todos refazendo pensamentos e bases teóricas preexistentes de modo revolucioná-rio. Os fatos e as teorias passadas foram reestudados e reformulados pelos diversos pensadores para chegar a uma nova realidade. Essa atitude choca e provoca maus humores nos adeptos das teorias colocadas em cheque. Seus autores se levantam para desqualificar e desmoralizar as novas ideias, e são raros os mais inteligentes, que compreendem de pronto as vantagens de adotá-las. É famosa a disputa entre geofísicos (Sir Harold Jeffreys e outros) contra as proposições do meteorologista ale-

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mão Alfred Wegener sobre a possibilidade da movimentação dos continentes por longas distâncias, acabando em ofensas pessoais quando foi colocada em cheque a própria competência do cientista alemão, arguindo-se a falta de credenciais para que ele, ao menos, tratasse do assunto42. Entretanto, o tempo provou que era Wegener quem tinha razão, isto é, ele estava no caminho certo, e não os ge-ofísicos. Outra observação importante sobre o problema dos cientistas, é a finalidade da busca. O que se procura sempre é a lei geral, é a lei da natureza que explique os fenômenos em conjunto. A busca se faz na direção da lei geral que governa o Universo. Queremos enfatizar que a explicação de fatos isolados, por uma teoria particular, é prejudicial ao entendimento do conjunto. Por exemplo, a explicação do movimento de cada planeta ou satélite, individualmente, complicou-se até o ponto da confusão devido ao número de órbitas dos diversos planetas e a variação das suas velocidades; a queda de meteoritos, apenas para matar os dinossauros da Terra43, sem evidências onde ele caiu; qual é o mecanismo que causa as glaciações com tanta frequência, etc., são exemplos de explicações isoladas, pontuais, solitárias, sem base em fatos. Como exemplo do contrário pode-se citar as leis de Kepler para explicação dos movimen-tos para qualquer planeta ou satélite; a lei da inércia de Galileu; a tabela periódica dos elementos, como compreendida por Mendeleyev, que foi dada à luz, sem o conhecimento de todos os elementos atualmente conhecidos. Esses elementos desconhecidos permaneceram com o lugar vago na tabela com o vaticínio de que eles seriam descobertos no futuro, como de fato aconteceu. A ciência busca as leis gerais, as grandes generalizações. Estas então definem a ciência e seus rumos, e tais pontos de inflexão é que serão aqui considerados como pontos de partida para um novo campo científico. Vimos na história passada que os antigos, nas primeiras tentativas de determinar de que ma-terial era feito o mundo, elegeram primeiro a água (Tales de Mileto 600-500 a.C.), posteriormente foram acrescentados o fogo, a terra e o ar (Anaximander 610-546 a.C.). Aristóteles admitiu a quin-tessência, e essas ideias perduraram por séculos, mas não satisfaziam ou justificavam fatos a serem compreendidos em conjunto. Do que era feito o ar? A água, a terra e o fogo? Como esses elementos poderiam formar to-das as outras coisas existentes no mundo? Certamente deveria haver uma partícula formadora dessas coisas e sem dúvida menor do que o todo.

O Átomo Desde Platão que os filósofos especulavam sobre as partículas formadoras da matéria, mas foi Leucippus44, o filósofo grego (cinco séculos a.C.), provavelmente o primeiro a lançar uma teoria baseada em átomos, uma partícula invisível e indivisível da matéria. Segundo o filósofo, a matéria era homogênea, mas constituída de uma infinidade de pequenas partículas indivisíveis. Os átomos estavam em constantes movimentos e formariam vários compostos a partir das colisões entre eles. Um de seus alunos, Demócrito44 (460-370 a.C.), desenvolveu a teoria atômica do universo, desde a sua formação. Eram teorias filosóficas, nada mais que filosóficas que, por falta de instrumentação adequada, constituiriam apenas as sementes da teoria atômica que iria florescer no século XX.

A Química A Química, uma das ciências mais importantes da atual sociedade de consumo, surgiu das primitivas especulações dos antigos alquimistas, mágicos e curandeiros. São vários os nomes que se distinguiram no campo da Química e que podem ser considerados os fundadores das suas bases, desde Leucippus, que saiu da pura filosofia do atomismo grego, passando pelos descobridores de elementos, até alcançar os atuais níveis da siderurgia e da petroquímica.

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O gás carbônico foi descoberto no século XVII e chamado de “gás silvestre” pelo seu des-cobridor Jan Baptist van Helmont45 (1580-1644), um médico, fisiologista e químico belga, que fez a ponte ou a ligação entre a alquimia e a química moderna. Foi ele que designou pela primeira vez a palavra gás, para descrever algo que existia de forma volátil, ao observar os componentes resultantes das fermentações e da combustão. O gás carbônico seria redescoberto, mais de um século depois, por Joseph Black46 (1728-1799), que em suas experiências sobre calor latente descobriu que ele era dife-rente do gás comum, querendo se referir ao ar atmosférico. Ele determinou o papel do gás carbônico, o qual se comporta como um ácido e é produzido tanto na fermentação, como na respiração animal e na queima do carvão. O oxigênio, componente do gás carbônico, a seu turno, foi descoberto no fim do século XVIII, por volta de 1772, por Carl Wilhelm Scheele47 (1742-1786), químico sueco que o obteve aquecendo óxido de mercúrio, nitrato de potássio e outras substâncias. Scheele deixou de publi-car os resultados da sua pesquisa perdendo a prioridade dessa descoberta para, Joseph Priestley48 (1733-1804), nascido na Inglaterra. Este era um religioso protestante, teórico político e químico, que desempenhou papel importante na ciência experimental. Ele, também, conseguiu o mesmo gás por decomposição do óxido de mercúrio, publicando suas observações naquele mesmo ano, 1774, três antes de Scheele tê-lo feito. E não foi somente o oxigênio que Priestley descobriu. Após frequentar um curso de Química prática, ministrado por um médico-cirurgião chamado Matthew Turner, entre 1763/65, Priestley tornou-se um cientista experimental de primeira categoria produzindo trabalhos que o imortalizaram. Entre outras observações de Priestley, vale mencionar aquela onde descobriu que a luz é de suma importância no crescimento dos vegetais49 e que eles desprendem o ar desflogis-ticado, observação que serviria de pedestal para os posteriores estudos da fotossíntese feitas por Jan Ingenhouzs e Jean Senebier, nas próximas décadas. Este fato, por sua vez, será a base da compre-ensão da gênese do petróleo e da sua inesgotabilidade na subsuperfície da crosta terrestre. Priestley se interessou pelos gases, que ao seu tempo eram chamados de “ares”, e seus estudos e experiências foram cruciais para os fundamentos da Química. Antes de Priestley eram conhecidos apenas três ga-ses: o ar da atmosfera, o dióxido de carbono e o hidrogênio. Ele se interessou pelos materiais voláteis ao observar as bolhas do gás carbônico, ou fixed-air como era conhecido, que se desprendiam nas retortas de fermentação em uma fábrica de cerveja, da cidade de Leeds, onde estava morando. Nesta fase ele descobriu o óxido nítrico, dióxido de nitrogênio, o óxido nitroso e o cloreto de hidrogênio, chamados àquele tempo respectivamente de “ar nitroso, vapor nitroso vermelho, ar nitroso menor e ar ácido marinho”. Em seguida descobriu a amônia, o dióxido de enxofre, o tetrafluoreto de sílica, o nitrogênio e o monóxido de carbono. Em 1774, teve a curiosidade de aquecer uma porção de óxido de mercúrio vermelho obtendo um gás incolor que ele chamou de “ar desflogisticado” ao observar que uma chama queimava com mais vigor na presença dele. Ao seu tempo a teoria prevalecente era a existência de determinado princípio, o flogisto ou flogístico, que explicava a combustão. Em con-versa com Lavoisier50 (1743-1794), acontecida em Paris, ele contou a sua experiência e como tinha obtido o novo ar, o que bastou ao outro gênio para descobrir o seu significado científico passando, ele mesmo, às experiências das quais nasceram: a descoberta e a nomeação do elemento oxigênio, o seu correto papel na combustão e na respiração, a rejeição da teoria flogística que dominava a ciência até o século XVIII, e a completa reorganização do conhecimento da Química. A observação de que o ar atmosférico era um composto de vários gases e que esses tomavam parte em reações químicas levou Lavoisier à descoberta da composição química de várias subs-tâncias. Chamou o ar desflogisticado de oxigênio, que quer dizer gerador de ácidos, pois supunha, erradamente, que os ácidos provinham da união desse gás com qualquer não-metal; mostrou que a água era um composto de dois elementos, hidrogênio e oxigênio e decompôs a água para produzir hi-drogênio que foi chamado de “ar inflamável”. A partir desse conhecimento, Lavoisier foi levado para

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o campo da análise quantitativa dos compostos orgânicos. Em 1789 publicou seu Traité Élémentaire de Chimie onde fez seu famoso enunciado da Lei da Conservação da Massa nas reações químicas: nada se cria nada se perde; tudo sofre transformações e a quantidade de material envolvida nas rea-ções é sempre a mesma, antes e depois dela. Por todas essas investigações e resultados, Lavoisier é considerado o Pai da Química. Estas descobertas e a época em que aconteceram marcam a aurora do atomismo científico, configurando e alicerçando também as primeiras respostas às perguntas transcendentais. Lavoisier, em vez de ganhar algum prêmio pelo seu trabalho em prol do conhecimento, do bem estar da humanidade e do progresso da ciência, teve outra paga: morreu guilhotinado pelo Terror da Revolução Francesa e seu corpo foi lançado em uma vala comum, um exemplo extremo da estu-pidez humana.

Paleontologia

É antiquíssima a observação de animais fósseis nas rochas. Essas estruturas, por serem es-tranhas, exigiam a explicação de como e porque estariam ali. De fato era o mesmo problema a ser resolvido pelas outras ciências. Deveria haver uma explicação correta para os fatos observados na superfície da Terra. Havia o fato indiscutível: teriam existido na antiguidade relativa, animais e ve-getais que se tinham conservado dentro da rocha de alguma maneira, por alguma razão. Como isso acontecia, a maneira e o porquê, eram explicados, como de costume, ao bel-prazer de cada sábio ou filósofo. Assim nasceu a Paleontologia, que se tornaria, até hoje, um dos ramos importantes da Geo-logia. Xenophanes de Colophon51 (560 a.C.) já explicava os fósseis como o resultado de uma catás-trofe havida que misturara mares e continentes, e que teria matado os animais, soterrando-os. Foi por isso chamado de “Pai da Paleontologia”. Herôdoto de Helicarnassus52, pela mesma época, tinha outra explicação. Segundo ele, os fósseis observados nas rochas com as quais haviam sido construídas as pirâmides do Egito eram os restos da alimentação abandonados pelos escravos que lá trabalharam... Outros explicavam que os fósseis eram animais que, depois de criados foram achados com defeito, e por isso descartados pelo criador; finalmente, havia os que diziam que os fósseis eram simples brin-cadeira do criador dos mesmos, para confundir os homens... Aquele tempo dava-se o nome de fóssil a todo objeto que se encontrasse enterrado. Poste-riormente esse nome foi restringido para aplicação a animais e vegetais preservados nas rochas, e o estudo deles deu origem à Paleontologia, uma ciência da Terra.

Taxionomia Científica

O empenho dos cientistas em resolver os problemas da Terra era feito com maior intensidade no ramo da Botânica, e a razão básica para a dedicação a este estudo relacionava-se, especialmente, com a cura de doenças e da alimentação dos animais. Dos vegetais extraiam-se xaropes, chás, caldos, sumos, etc. de folhas, raízes, frutos, caules, etc. com os quais se fabricavam os remédios daquele tempo. Além disso, a alimentação era feita da mesma matéria prima e os vegetais eram passivos em relação aos animais e por isso mais fáceis de serem coletados, manipulados e estudados. Assim havia uma série de condições que encaminhavam a atenção dos cientistas para estudar melhor os vegetais. Diante do grande número de informações obtidas, apareceu a necessidade de uma organização para substituir a natural confusão já existente entre os cientistas. Essa tendência de organizar as coisas naturais vinha desde Aristóteles a partir dos seus es-tudos da Lógica. Sua organização era do mais simples para o mais complexo, não tinha qualquer sentido evolutivo e dominou (como tudo o que fez Aristóteles) como base de ideia, durante muitos

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séculos. Outras tentativas de organização apareceram baseadas em propriedades medicinais de cada vegetal, ou feitos puramente em ordem alfabética. Pela altura do século XVI, apareceu um médico, filósofo e botânico italiano chamado An-drea Cesalpino ou Andreas Cesalpinus53 (1519-1603), que estudou uma classificação dos vegetais para organizá-los, fazendo da Botânica uma ciência coerente. Em 1583, publicou De Plantis Libri XVI considerado até hoje o primeiro livro-texto de Botânica. Nos quinze volumes precedentes ele descreveu e classificou mais de 1500 espécies vegetais. Seguem-se os trabalhos de Gaspard ou Cas-per Bauhin54 (1560-1624), médico e anatomista suíço, o primeiro a descrever a válvula que liga o intestino grosso ao delgado, até hoje conhecida como Bauhin’s valve. Foi ele que refinou os estudos de Cesalpinus, delineando espécies e grupos de espécies que chamou de gêneros. Classificou e des-creveu mais de 6.000 espécies, introduzindo na prática o uso dos nomes genérico e específico no mundo orgânico. Com a experiência de Bauhin, John Ray55 (1627-1705), botânico e naturalista inglês, dedica-do ao conhecimento das coisas vivas, mostrou que a categoria específica era a última a ser nomeada e contribuiu, significativamente, para as definições taxionômicas tanto de animais como de vegetais. Ray, como seus colegas, cometia o erro de fazer ciência como se estivesse estudando uma obra divina chegando a publicar, em 1691, um trabalho intitulado The Wisdom of God Manifested in the Works of the Creation onde ele tentou mostrar que a beleza, as formas e o funcionamento das coisas naturais provava a onisciência de um criador, exatamente como hoje em dia pensa a maioria dos cientistas e da plebe em geral. Já no século XVIII surge outro gigante da ciência: Carolus Linnaeus ou Carl von Linné56 (1707-1778), botânico sueco, que após estudo da flora de Lapland, sob os auspícios da Academia de Ciências de Upsala, publicou, em 1735, seu Systema Naturae que o tornou famoso internacional-mente pela proposta do método de nomenclatura científica, atualmente usado em todo o mundo, para nomear plantas e animais. O sistema proposto por Linnaeus baseava-se na estrutura das flores que, descobrira ele, se mantém imodificadas durante o processo evolutivo. Tornou-se prática a classifica-ção e sistematização de qualquer animal ou vegetal, seguindo as chaves descritas por Lineu. Enfim, depois de 2100 anos de estudo quando foi percebido por Aristóteles que havia neces-sidade de uma ordem lógica para entender fatos da natureza, fora possível chegar a um método de organização definitivo, facilitando tudo.

Zoologia Foi Jean-Baptiste-Pierre-Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck57 (1744-1829), quem usou pela primeira vez a palavra Biologia e foi o primeiro que percebeu e fez a ligação entre os fós-seis e os seres vivos. De seus aplicados estudos sobre invertebrados saíram várias das valiosas obras da Zoologia. Em 1809, publicou Philosophie zoologique onde expôs as duas leis que, segundo ele, governariam a evolução das espécies:

1. O aperfeiçoamento dos órgãos melhora com a repetição do seu uso e a falta de uso os atrofia;

2. Que o ambiente determina a aquisição ou perda de órgãos e que a aquisição ou perda é preservada pela reprodução.

Ambas seriam contestadas e substituídas pelos resultados alcançados por Charles Darwin, pouco depois. Fora dos puramente especuladores, a Paleontologia recebeu a sua forma mais definitiva e científica somente no início do século XIX, precisamente em 1812, quando apareceu o verdadeiro fundador da Paleontologia com seu trabalho Recherches sur les ossements fossiles de quadrupedes,

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George Leopold Chretien Frederic-Dagobert, Barão Cuvier58 (1769-1832). Zoólogo e anatomista francês, ele estudou animais mortos e vivos e conseguiu verificar a estreita relação existente entre estes e aqueles, percebendo a evolução havida ao longo do tempo, nas formas e nas estruturas dos animais. Entretanto, Cuvier era adepto e partidário do Catastrofismo59, escola surgida do conflito crença/ciência estabelecida na mente do cientista, devido ao conhecimento da evolução dos fósseis por ele desenterrados e a crença da criação unitária por Deus, ditada pela religião. Um dos erros cometidos pelos paleontólogos daqueles e destes tempos foi supor que aqueles estudos dariam a possibilidade de determinar a idade das rochas que formam a litosfera, um dos erros que perdurarão pelos séculos até os nossos dias. Ficaram famosos homens como William D. Conybeare que “fundou” o Carbonífero; J. Desnoyere, dono do Quaternário; Sir Charles Lyell, que dividiu e subdividiu o Terciário, que fora anteriormente criado por Arduino; Roderick Murchison, que estabeleceu a sequência temporal do Paleozóico e vários outros cientistas que deram outros nomes a diversas fatias de tempo, estudando fósseis tanto de animais como de vegetais. Erro grosseiro contra a Geologia, que precisa ser revisto e corrigido, exatamente como corrigiu-se o geocentrismo colocando em seu lugar o heliocentrismo. Datações geológicas não são feitas segundo a presença ou não de fósseis, sejam eles de ani-mais ou de vegetais, e não são contados em números de anos como se tem feito até agora. Naquele tempo ainda não se conhecia o fato de que o ovo era uma célula individual que posterior-mente evolui para um organismo completo. Mas já estavam em campo os pesquisadores do assunto, como veremos.

Do Microscópio até os Motores de Combustão Interna

Em toda a parte civilizada conhecida do planeta continuava-se a busca do conhecimento, tanto nas estrelas do céu, como na superfície da Terra. O microscópio e o telescópio seriam os meios para fazer isso e neste ponto, queremos chamar atenção para o salto qualitativo que vai acontecer em função do uso do microscópio. A Botânica estava limitada pela falta da técnica necessária para prosseguir uma busca mais fina. Só quando aparece o microscópio é que o estudo pode prosseguir. As lentes são resultados do estudo da física e suas leis, e que agora vão ser aplicadas no estudo da Botânica, sem o que, esta ficaria paralisada na observação das grandes estruturas como folhas, flores, frutos e outras caracterís-ticas. Abre-se novo horizonte: agora seria descoberto o mistério do crescimento do mundo orgânico. Em primeiro lugar vejamos o microscópio.

O Microscópio

Pelo meio do século XV surgiu o aparelho que deu possibilidade de visão de objetos fora do alcance da visão comum. Era o microscópio, aparelho que exigia lentes, um elemento mais sofisti-cado para a indústria daquele tempo. Realmente as lentes foram construídas para melhorar a simples visão das pessoas que enxergavam mal; aumentou-se o seu poder de ampliação para facilitar a visão de detalhes. Daí em diante foi buscado o melhoramento dos índices de aumento. Surge um experi-mentador: o microscopista e polidor de lentes holandês Antonie van Leeuwenhoek60 (1632-1723) interessado em observar corpos invisíveis a olho nu, conseguiu construir e polir lentes de excelente qualidade. As experiências de Leeuwenhoek e seu microscópio simples (de uma lente só), ampliaram o conhecimento para além de determinado ponto da ciência: com um método de iluminação secreto, explodiu a crença da geração espontânea estabelecida firmemente à sua época, ao mesmo tempo em que forjaram as bases da Bacteriologia e da Protozoologia. Sua verdadeira profissão era de comer-

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ciante de fazendas e roupas. Posteriormente obteve o lugar de tesoureiro em Delft, na Holanda, onde estava estabelecido, quando pôde se dedicar à sua verdadeira inclinação que era a pesquisa científi-ca, com a ajuda das suas lentes. A fabricação de lentes e a curiosidade levaram-no a observar, com cuidados de um verdadeiro cientista, uma série de fenômenos que acabaram por ligar seu nome, em definitivo, ao histórico do mundo científico. Foi o primeiro a observar os espermatozóides de insetos, dos cães e dos homens; estrias de músculos; as partes da boca dos insetos e a partenogênese verifi-cada nos pulgões. Estudou as leveduras e distinguiu suas partículas; descreveu as células vermelhas do sangue com minuciosa precisão; isolou bactérias contidas nas águas da chuva, de águas paradas, etc.; mostrou que os gorgulhos de insetos não nasciam dos próprios cereais, mas eram resultantes de ovos colocados ali por insetos voadores. Estudou as formigas e demonstrou que o que se pensava ser ovos dos insetos era, de fato, a pupa de onde sai a formiga mesmo; estudou moluscos provando que eles não se originavam da areia, nem que as enguias provinham da lama. Leeuwenhoek poliu mais de 400 lentes com possibilidade de aumentar desde 50 até mais de 300 vezes. Posteriormente apareceram os microscópios compostos, construídos com duas ou mais len-tes de maneira obter maior ampliação da imagem e isto se deu em várias partes do mundo e por di-versos pesquisadores. São citados como seus inventores Hans Jansen e um dos seus filhos chamado Zacharias e Hans Lipperschey32 (1570-1619), ambos na Holanda pelo fim do século XVI e princípio do XVII. Estas lentes tinham a desvantagem da chamada “aberração cromática”, obstáculo que só foi superado depois da construção dos telescópios, pela combinação de lentes de diferentes dispersões. Só em 1830, já no século XIX, Joseph Jackson Lister61 (1786-1869), um amador em ótica, mostrou a base teórica de como construir as lentes acromáticas, dando ensejo a que aparecessem, cinquen-ta anos depois, os microscópios de alta resolução desenhados, projetados e construídos por Ernst Abbe61 (1840-1905), alemão de origem e nome importante em problemas de ótica. Abbe juntou-se a Carl Zeiss, no fim do século XIX, conseguindo fabricar as lentes apocromáticas (sem distorção), hoje corriqueiras, que são usadas nos microscópios de alta resolução. Entre o meio do século XV, época das lentes de aumento como eram chamadas, e 1830 quan-do apareceu o trabalho de Ernst Abbe, tinham decorrido 430 anos ou quase quatro e meio séculos de tentativas e experiências, às vezes fracassadas, mas também de sucessos. Do manejo do vidro até a construção e polimento das lentes, o intervalo de tempo é ainda maior. São conhecidas bolhas ou miçangas de vidro feitas na Mesopotâmia e no Egito, 2500 anos a.C., que representa um intervalo de 3300 anos para que a humanidade começasse a desvendar novos campos de trabalho com a finalida-de de responder perguntas aparentemente sem respostas, desfazer crendices, desmontar “mistérios” e conhecer melhor a Terra em que vivemos. Leeuwenhoek estudou insetos sem ser entomólogo, sangue e glóbulos vermelhos sem ser um citologista e jogou luz sobre a reprodução sem ser um ge-neticista, polia lentes e manejava microscópios com a habilidade de um artesão extraordinário, sem sê-lo por profissão; Linnaeus, o grande sistemata, era médico de origem; Steno foi um médico e não paleontólogo e Mendel era padre. Muitos exemplos desse tipo podem ser dados para mostrar como a ciência progrediu devido à curiosidade de homens de formação diferente dos campos onde mais se destacaram, auxiliados pelas invenções de outros homens.

Citologia

Theodor Schwann62 (1810-1882), fisiologista alemão e fundador da moderna Histologia, definiu a célula como a unidade básica da estrutura animal aumentando muito a dificuldade de ex-plicar o homem feito do pó da terra lá no Paraiso. Concomitantemente apareceram os resultados dos trabalhos de outro alemão chamado Matthias Jacob Schleiden63 (1804-1881), formado em direito e apaixonado por Botânica. Ao contrário de estudar classificação dos vegetais como era a moda, Sch-

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leiden dedicou-se a estudar a estrutura dos tecidos vegetais sob o microscópio, publicando em 1838 sua obra chamada Contribution to Phytogenesis onde ele afirmou que todas as partes de uma planta são formadas de células, o mesmo constituinte básico dos animais, descoberto por Schwann. Schlei-den64 ligou a divisão do núcleo celular à multiplicação das células. Mas a Botânica já despertava atenção de vários outros cientistas, entre eles o médico escocês Robert Brown65 (1773-1858), que se tornaria um dos grandes nomes na Botânica. Nomeado natu-ralista a bordo de um navio britânico, o Investigator, foi, possivelmente, o primeiro explorador da costa australiana. De volta a Londres, se dedicou a classificar as 3.900 espécies de vegetais coletadas naquela viagem. Ao estudar pólens mergulhados em água, ele notou movimentos das partículas no meio. Por experimentação ele verificou que os movimentos existiam tanto entre as células mortas como entre as vivas. Experimentou em seguida com partículas inorgânicas e verificou que os movi-mentos continuavam e publicou os resultados dessas observações em 1828. Os movimentos ficaram conhecidos até hoje como movimento browniano, que desempenhará papel importante no campo científico futuro. Mas Brown não ficou só nisto. Em 1838, estudando a fertilização entre espécies de orquídeas, ele notou a existência, dentro das células, de uma estrutura especial que ele chamou de núcleo da célula. Walther Flemming66 (1843-1905), anatomista alemão, amplia o conhecimento da célula pelo uso de anilinas para distinguir as estruturas do núcleo e descobre a divisão das células usando pela primeira vez o nome de mitose para caracterizar o fenômeno. Ele descobre as modificações sofri-das pelo núcleo e determina a correta sequência do fenômeno. Ele verificou que o núcleo da célula desaparecia em determinada fase do processo, e reaparecia com a mesma estrutura em duas novas células. Estava descoberta a mitose e por isto Flemming é considerado atualmente como o fundador da Citogenética. Mas não só a mitose estava descoberta, mas estava também solucionado o mistério de como crescem os seres orgânicos. A importância dessas descobertas não pôde ser devidamente apreciada naquele tempo. Só 20 anos depois, com os trabalhos de Gregor Mendel67 e as duas leis básicas sobre a hereditariedade, é que foram ser corretamente avaliadas, e hoje permitem possibilidades de engenharia genética. Em 1827, Karl Ernst Ritter von Baer68 (1792-1876) identifica o ovo como uma célula, em-bora diferente das outras células conhecidas. Em 1855, Rudolph Virchov69 (1821-1902), médico prussiano, afirmava que as doenças humanas se originavam não em órgãos ou tecidos, mas eram doenças das células, fundando assim a Patologia celular. E só em 1869 o químico suíço Johann Frie-drich Miescher69 (1844-1895) mostraria que o núcleo tinha características químicas, concluindo com o estudo dos ácidos nucléicos que seriam afinal os componentes celulares com importante papel na hereditariedade e no metabolismo celular. Até aí o leitor não pode compreender o que toda essa história tem a ver com petróleo, sua ocorrência, abundância e inesgotabilidade. O Atomismo ficava mais firme. Os pequenos tijolos constituintes dos animais e vegetais ti-nham sido encontrados. Apenas que ainda não eram as menores partes constitutivas da matéria como se verá. Os tijolos eram ainda menores.

A Imprensa

Todo o conhecimento que existia nas diversas partes do mundo onde se desenvolveu a ciên-cia, não poderia ter passado adiante sem que eles pudessem ter sido gravados de alguma maneira em alguma coisa. Essa tentativa também vem de longe. Há notícia de que se poderiam fazer gravações em diversas partes do mundo, e como sempre, as primeiras tentativas vêm do oriente. Aparentemente, os primeiros caracteres impressos, se assim pudessem ser chamados, datam do século II da era cristã

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e foram feitos na China, que por essa época já dispunha dos outros meios necessários às impressões: papel, tinta e as superfícies onde estariam entalhados os textos a serem impressos. Diz a lenda que eram textos sagrados do budismo gravados nos mármores das pilastras, e que eram copiados pelos crentes que besuntavam os caracteres com alguma tinta colando em seguida um “papel”onde eram reproduzidos os textos. Somente no século VI é que os tipos gravados no mármore foram substi-tuídos pela madeira, e assim melhor manuseados. O mais antigo texto impresso desta maneira foi encontrado no Japão pelo ano de 764/770. Na China, em 868, aparece o primeiro “livro” chamado Diamond Sutra e, em 932, obras clássicas chinesas foram compostas em 130 volumes por iniciativa de Fong Tao, certo ministro chinês. A imprensa de tipos móveis apareceu ainda na China durante o século XI, entre 1041/48. Eram feitos de amálgama de argila e cola cozinhados em forno e assim manuseados. Em 1313, Wang Chen, magistrado chinês, chegou a ter uma coleção de 60.000 caracteres, com os quais foi possível compor um tratado sobre história da técnica daquele tempo. A tipografia apareceu posteriormente na Korea, pela altura do 13º século, e teve grande desenvolvimento naquele país porque foi apadrinhada por seu governante Htai Tjong que, em 1403, ordenou a confecção de 100.000 tipos em bronze, antes que a tipografia fosse conhecida na Europa. A produção de papel foi quase um monopólio da China e era distribuído através das carava-nas na Ásia central até o mundo Árabe. A técnica da confecção de papel, segundo a história, foi pas-sada aos árabes através dos prisioneiros chineses feitos na batalha de Talas, perto de Samarkand, em 751. Posteriormente essa indústria prolifera de Bagdá até a Espanha, sob dominação árabe. Chegou a Europa como produto comercial no século XII através da Itália. Na Europa, as técnicas de fazer papel foram reestudadas e reinventadas obtendo-se um produto melhor e assim reexportado de volta às suas origens. A fabricação de papel desenvolveu-se primeiro na Itália, no século XIII, e posterior-mente na França e na Alemanha, já no século XIV. Assim os elementos necessários ao início da indústria de impressão estavam prontos no século XIV e passariam por um processo de modernização daí por diante. A xilogravura ou a arte de imprimir desenvolveu-se na Europa no final do século XIV provavelmente como uma consequência da indústria do papel. As primeiras impressões eram de santos que posteriormente passaram a ser acompanhadas de algum texto. Com o passar do tempo, o texto ficou mais importante que a gravura, até que na metade do 15º século os primeiros livros propriamente ditos começaram a aparecer. O trabalho na madeira feito por “folhas” passou a ser feito em letras individuais, exigiam um trabalho artesanal paciente e demorado, mas era durável e de boa qualidade. Na primeira metade do século XV, entre 1434/39, os tipos de madeira passaram a ser substituídos por tipos de bronze e outros me-tais, o que permitia a impressão de letras iguais com a desvantagem de imprimir as mesmas letras com pressão diferente, deformando a letra vizinha e sem ter o mesmo alinhamento. Tudo isso melhorou a partir da segunda metade do século XV quando o ourives e lapidador alemão Johannes Gutemberg70 (c.1390-1468), por volta de 1440, inventou e experimentou a técnica de imprimir a partir de caracteres móveis, dando o trabalho por terminado dez anos depois, em condi-ções de ser comercializado, publicando como prova sua famosa Forty-two-Lines Bible71, completada em 1456. A invenção de Gutemberg pouco se modificou até o século XX, mas desde então sofreu grandes modificações e melhoramentos, principalmente no presente século, tornando-se uma das características mais marcantes e uma das maravilhas da atual sociedade de consumo. A sua invenção, na época em que aconteceu, possibilitou a preservação das ideias, dos resultados das experiências e a anotação de tudo o que se fez em benefício da ciência, para que se acumulasse uma quantidade de informações extraordinárias, hoje guardadas em grandes bibliotecas, e indispensáveis para os pesqui-sadores da saga humana.

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Fotografias

As fotografias ou sensores remotos são uma qualidade especial de gravação de imagens que foram importantes para que o estudo da Geologia tivesse êxito. Deixando para a história as primeiras ideias sobre o funcionamento de câmaras escuras, passando pelos melhoramentos de Leonardo da Vinci72, no século XVI, podemos nos referir a fotografia propriamente dita, já no século XIX, com os trabalhos de Joseph-Nicéphore Niépce73 (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre74 (1787-1851). Estes franceses inventaram um processo prático de fotografar e fixar a imagem fotografada que foi chamada daguerreotipia em homenagem ao seu inventor, e que foi dada a público em 1826. Posteriormente, em 1841, William Henry Fox Talbot75 (1800-1877), químico e fotógrafo britânico descobriu, por acaso, uma maneira de obter as chamadas “chapas negativas” das quais era possível a reprodução de muitas “positivas”, manejando produtos químicos sensíveis à luz e fixadores das imagens. O primeiro livro ilustrado com fotografias chamadas de talbotipia, em homenagem ao seu descobridor, foi Pensils of Nature, publicado em 1844, de autoria do próprio Talbot. Os fabricantes de lentes obtiveram bons produtos para colher imagens em câmeras foto-gráficas, quando se destacaram os nomes de Joseph von Fraunhofer76 (1787-1826) e Louis Pierre Guinand72 (1748-1824), que conseguiram fabricar lentes sem estrias. Fotos para serem usadas em Geologia são essencialmente fotos aéreas, para obterem-se áre-as maiores do que as percebidas ao redor do observador. Assim foi preciso elevar-se as máquinas fotográficas a determinada altura, e isso foi feito pela primeira vez na França, como divertimento, em 1840. Posteriormente, Gaspar Felix Tourmachon72 tomou fotos dos arredores de Paris, de um balão cativo a algumas centenas de metros de altura, planejando com elas fazer um mapa topográfico daquela região. Nos EUA, a ideia foi posta em prática em 1860 por Samuel A.King e J.W.Black de um balão elevado, aproximadamente 400m, sobre a cidade de Boston. Os mesmos objetivos foram obtidos na Inglaterra, em 1862. Na França, em 1879, foram feitas fotos de Paris com o balão a 1200m de altura. Na Rússia a experiência foi feita em 1886, até que em 1906, Alfredo Maul fez uma de-monstração com um foguete a ar comprimido que fez fotografias a 900 m de altura, recuperando-se a máquina com o auxílio de um pára-quedas. Daí em diante várias técnicas fotográficas foram desenvolvidas em todas as partes do mun-do, especialmente para emprego com fins militares, não somente com máquinas, filmes e lentes, mas com a plataforma transportadora da máquina no espaço aéreo. O avanço necessário daí por diante, seriam fotos tiradas de uma plataforma móvel, e isso só foi possível após a invenção do avião, o vôo com o mais pesado que o ar, que por sua vez dependeu da construção de motores de combustão interna, no início da Civilização do Petróleo.

Motores de Combustão Interna

Esse tipo de motor já tinha sido patenteado, desde 1862, por Alphonse Beau de Rochas, en-genheiro francês, mas foi Nikolau August Otto que construiu o primeiro motor e requereu patente em 1876. Foi adaptado a um aeroplano, em 1872, por um alemão chamado Paul Haeinlein e aperfeiçoa-do em diversos países por diversos engenheiros com a finalidade de conseguir o vôo do mais pesado que o ar. A primeira fotografia aérea de bordo de um avião foi feita em abril de 1909, por Wilbur Wright, na Itália, e daí por diante com grandes vantagens aplicados para fins bélicos. O melhoramen-to da técnica das imagens aéreas com relação aos trabalhos da Geologia passou a ser o tamanho da escala de obtenção das mesmas, devido ao tamanho dos objetos a serem fotografados, que hoje são obtidas com facilidade de aviões e de satélites artificiais da Terra.

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Do ponto de vista do mapeamento geológico, a técnica de obtenção de imagens aéreas marca um ponto crucial. É ele o ponto de inflexão extraordinariamente importante. Reforçando a conclusão, podemos dizer que sem ela, seria e é praticamente impossível determinar-se o que vem a ser uma formação geológica, a chave para a História Geológica ou a Evolução do Globo Terrestre. Sem a escala reduzida, nada deste trabalho poderia ter sido escrito.

Dos Motores de Combustão Externa até Nossos Dias

As Leis da Sedimentação

Havia muita coisa ainda por explicar. A população do mundo crescia, e os curiosos sobre as coisas da natureza continuavam a aparecer em toda parte fazendo experiências que pudessem respon-der sobre os diversos fenômenos existentes ao seu redor. A existência dos fósseis era um fato dos mais antigos do conhecimento humano como vimos anteriormente. Houve um homem que se interessou por um problema sutil acerca dos fósseis: como um animal pode aparecer em relativo perfeito estado dentro do corpo sólido de uma rocha. Hoje é uma resposta corriqueira e óbvia como tantas outras. Entretanto, temos que nos transportar ao pano-rama científico do século XVII. A pergunta se apresentou ao cientista dinamarquês Niels Steensen ou Nicolau Steno77 (1638-1686), médico que se distinguiria em diversos outros campos do conhecimento. Ele estudou minerais e fundou as bases científicas da Cristalografia ao anunciar a lei da constância dos ângulos interfaciais de qualquer mineral, conhecida como Lei de Steno. Dos seus estudos, Steno verificou que o ângulo formado pelas linhas perpendiculares às faces dos cristais dos diversos minerais são iguais e caracte-rísticos de cada mineral. A lei funciona para qualquer mineral independente da sua origem, tamanho, ocorrência, se natural ou artificial. Na anatomia, é de Steno a descoberta dos dutos salivares da paró-tida, que também levam o seu nome como reconhecimento (Dutos de Steno ou Stensen’s duct). Mas foi na Geologia que Steno descobriu uma das pedras angulares da Ciência. O problema a resolver era a resposta a ser dada para o mistério de como um animal fossilizado sólido poderia estar presente dentro de uma rocha também sólida. Em 1667, após observações de que as estruturas fossilizadas (dentes de um tubarão) encon-tradas em sedimentos na Ilha de Malta, eram de natureza orgânica, concluiu ele que era possível recapitular eventos da história da Terra, desde que fosse organizado o pensamento sobre elas. Os restos orgânicos deveriam ter sido enterrados em um lugar baixo onde a água podia ser concentrada e posteriormente levantada aos níveis mais altos. Essa mesma ideia foi também exposta por Robert Hooke78 na mesma época, perante a Royal Society, creditando ele, aos tremores de terra, a presença dos fósseis a níveis mais altos que o mar atual. Mostrou Hooke que as partes altas da litosfera são desgastadas pelas águas correntes que vão para as partes mais baixas, preenchendo-as e nivelando-as e são posteriormente levantadas pelos terremotos. Em 1669, Steno publicou seus resultados em um trabalho intitulado De solido intra solidum naturaliter contento dissertationis prodromus, onde fez a conclusão de que quando as partes de um ser orgânico são recobertas por sedimentos é a parte orgânica que é dura, e só posteriormente se dá a consolidação dos sedimentos incluindo agora o fóssil. Sua observação dá a forma final das leis da sedimentação: “Os sedimentos vem com os fluidos e sedimentam camada por camada em posição horizontal (Primeira Lei), onde a camada de cima é sempre mais jovem que a de baixo (Segunda Lei)”. As conclusões de Hooke e Steno são semelhantes, mas o reconhecimento das leis foi credi-tado a Steno pela clareza da exposição.

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Estava descoberta a chave da Estratigrafia, da arte de mapear as rochas para reconstitui-ção da história da própria Terra, que como se verá, é a chave para o entendimento de todo o Universo, da origem do homem e do seu destino após a morte.

Mapeamentos

As leis da sedimentação, mesmo que representassem as bases da Geologia, não foram leva-das na devida conta para serem aplicadas no trabalho dos mapeamentos. Steno havia descoberto uma lei geológica que não podia ser aplicada e quando foi posta a funcionar, o foi com distorção. Não ha-via técnica suficiente para que fosse obtido um instrumento intermediário para que ela fosse aplicada. Somente 146 anos mais tarde, precisamente em 1815, aqueles princípios seriam usados por outros cientistas, entre eles um de notável importância para a Geologia. Chamava-se ele William “Strata” Smith79 (1769-1839), engenheiro inglês que trabalhou na construção de canais que eram feitos para o transporte do carvão, o combustível daquela época. O conhecimento da região onde trabalhava mostrou-lhe a semelhança entre os afloramentos das rochas e o seu conteúdo fossilífero, fato este que ele levou aos limites do aproveitamento da informação. Ele correlacionou os fósseis horizontalmen-te e junto com eles as rochas portadoras. Ele aproveitou o fato e colocou no papel, construindo em 1815, o primeiro mapa com o nome de Geologic Map of England and Wales with Part of Scotland. Evidente por si mesmo que o mapa não era geológico, mas paleontológico. O mapa das ro-chas era secundário, era uma consequência. Ele tinha mapeado os fósseis como coisa principal e introduziu uma das ideias mais danosas que surgiram na arte do mapeamento geológico. Este método de “mapeamento” ainda continua a funcionar com todas as suas danosas consequências, es-pecialmente para a indústria da pesquisa de petróleo. William prolongou a ideia de Steno evidenciando o princípio da sequência faunal: os fósseis também se arrumavam naturalmente dos mais velhos para os mais novos com os mais novos sempre em cima. Descobriu Smith que havia uma ordem no arranjo espacial das rochas e temporal na suces-são dos fósseis. Evidente que as camadas de cima sendo as mais novas, e se os fósseis nada mais são do que sedimentos de origem orgânica, os fósseis sedimentados com as camadas mais novas eram também mais novos. Smith transferia a datação das rochas para a Paleontologia. Tentava-se refinar a ideia da Estratigrafia e cometia-se um erro desastroso para alcançar o objetivo almejado: conseguir uma maneira ou um critério de mapear as rochas com objetivos histó-ricos. Passava-se a combinar duas possibilidades inteiramente incompatíveis com a realidade:

• Elegia-se os fósseis como o relógio do tempo geológico sem que haja relação entre uma e outra coisa, e

• Tentou-se fazer os mapas necessários à compreensão da história e dos recursos econômi-cos da Terra com o auxílio dos fósseis.

Essa atitude paralisaria a possibilidade de encontrarem-se respostas para as questões de inte-resse econômico, pelos próximos 170 anos. De fato, para os paleontólogos, até a publicação dos trabalhos de Smith não implicava nos resultados da paleontologia uma veleidade econômica. A Paleontologia funcionava como uma espé-cie de “ciência pura”, algo muito curioso e muito divertido. Achavam-se os fósseis, tentava-se, ou mesmo quando possível, reconstruía-se o animal, classificava-se-o, dava-se-lhe um nome segundo as regras da nomenclatura, o animal era inserido na coluna bio-estratigráfica, fazia-se uma teoria sobre seus hábitos alimentares e de reprodução, completando-se com outros detalhes possíveis de serem deduzidos das ossadas, marcas indeléveis, às vezes apenas pequenas partes do esqueleto, dentes, escamas e até prováveis indícios como pegadas em areia ou lama, etc. Em qualquer desses trabalhos,

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e isso é muito comum ainda hoje, tratava-se o fóssil como o “mais antigo”, o maior ou o elo perdido entre este e aquele animal” tentando-se um ineditismo, geralmente inexistente, procurando mais pro-mover o autor do estudo, do que contribuir para algo geologicamente importante. A ideia lançada por Smith dava a possibilidade de “mapear” as rochas mapeando os fósseis ocorrentes nas amostras colhidas nos trabalhos de campo, ao mesmo tempo em que se faziam as datações das rochas onde eles fossem encontrados. Realmente o que se fazia era o mapeamento dos fósseis, ficando o mapeamento das rochas como um subproduto, invertendo em 180º o que de fato deve ser feito. Para maior clareza, o que deve ser mapeado e datado são as rochas, ficando os fósseis, automaticamente datados, para os estudiosos da Paleontologia. Naquele tempo isso era impossível de fazer. Ainda não havia chegado a Civilização do Petróleo... Realmente a ideia de Smith não era totalmente nova. No século anterior, Jean-Étienne Guet-tard (1715-1786), botânico e mineralogista francês, fora nomeado guardador da coleção de história natural do Duque d’Orleans e empenhou-se em mapear a região da França central, quando supôs que havia uma relação entre os vegetais na superfície e as rochas da subsuperfície, sem que haja nisso qualquer realidade também. Evidente que os mapas feitos com tal critério não tiveram qualquer va-lidade. As tentativas de Guettard no século XVII e de Smith no século XIX, historicamente, foram interessantes, mas não passaram de tentativas e não deram solução a qualquer problema histórico ou econômico, sob o ponto de vista geológico. Antes, complicaram e atrasaram a compreensão e o estudo da Terra. Esses critérios geram mapas errados, sendo os melhores exemplos todos os mapas geológicos feitos no Brasil.

Fotossíntese

O material de que eram feitas as coisas da natureza foi um tema filosófico durante muito tempo, desde a Antiguidade. Vimos que foi Tales de Mileto que, cerca de seiscentos anos antes de Cristo, tentou dar uma resposta ao enigma. Meditando sobre as propriedades da água, dizia ele que ela formava todas as coisas que eram observadas, inclusive a vida. Posteriormente, outros acrescen-taram novas substâncias como a terra, o fogo, o ar, etc. Em pleno século XVI, ou cerca de 2000 anos depois do sábio grego, Jan Baptist van Helmont80 (1580-1644), um sábio belga, médico, fisiologista e químico, decidiu provar que, de fato, a água era a matéria prima de todas as coisas. Grande experi-mentador que era, van Helmont montou a seguinte experiência: colocou uma planta em determinada quantidade de terra acrescentando apenas água durante o período de cinco anos, ao fim do qual pe-sou de novo tanto a terra como a planta. Ele verificou que a terra tinha perdido apenas uma pequena parte do seu peso original, enquanto a árvore estava pesando mais de oitenta quilos. Ora, se a terra continuava a mesma, enquanto a árvore estava com mais de 80 kg e ele só tinha acrescentado água ao recipiente, estava provado que era a água a responsável pelo crescimento da massa de que era feito o vegetal. Ao tempo de van Helmont, a experiência deve ter merecido atenção dos seus colegas. É que naquele tempo, nada se conhecia sobre o fenômeno da fotossíntese. Van Helmont teve também o mérito de, em suas experiências, ter descoberto o gás carbônico, embora não o conhecesse por este nome. Em 1648 ele estudou os produtos da combustão e da fermentação, observando neles a presen-ça do “ar silvestre” como batizou o gás carbônico, mas não fez qualquer relação entre os fenômenos por ele estudados, fazendo conclusões desconexas. Foi Joseph Priestley48 um dos gênios do seu tempo tão importante no campo da Química quanto Newton o foi na Física. Foi um pesquisador de gases e descobriu entre outros, o gás carbôni-co. Chamou-o primeiro de “gás pesado” verificando também que ele se dissolvia na água e que isso

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conferia um gosto diferente no líquido. Essa descoberta fê-lo membro da Academia Francesa de Ci-ências em 1772, e em 1773, pelo mesmo motivo, ganhou uma medalha da Royal Society. Em seguida descobriu o oxigênio aquecendo o óxido de mercúrio, chamando-o pelo nome de “ar desflogisticado” porque ele aumentava o vigor de uma chama. Logo depois ele verificou que aquele mesmo gás era fa-bricado, também, pelo material verde das plantas. Falou das suas experiências em um encontro com o cientista francês Lavoisier e este chamou o gás com o nome de oxigênio. Lavoisier desmontaria em seguida toda a teoria do flogisto, explicando com clareza o fenômeno da combustão. Vale a pena descrever a experiência de Priestley sobre as características do oxigênio. Na sua curiosidade científica ele fez a seguinte experiência81: colocou uma chama sob uma campânula fechada e ficou a observá-la notando que, com o tempo, ela definhava até se apagar. Segundo ele, o ar que restava sob a campânula não conseguia manter a chama acesa. Em seguida ele colocou uma planta dentro da campânula, e ao fim de alguns dias notou que a chama poderia ser acesa novamente. Ele concluiu que a planta tinha produzido uma substância qualquer que tornava possível acender a chama de novo. Ele não sabia que gás era aquele, mas sabia que havia outros meios de consegui-lo (aquecendo óxido de mercúrio), como vimos anteriormente, e chamou-o de “ar desflogisticado”. Alguns anos depois, em 1779, Jan Ingenhousz81, outro médico, nascido na Alemanha, mas criado na Inglaterra, trabalhando sobre os resultados obtidos por Priestley, escreveu o relatório Ex-periments Upon Vegetables, Discovering Their Great Power of Purifying the Common Air in Sun-shine, and of Injuring It in the Shade and at Night, apoiado em mais de 500 experiências. Ele mostrou que as plantas restauram para o ar um gás necessário à vida humana. Mostrou ainda que a luz é fun-damental para que a restauração fosse conseguida; que só as partes verdes da planta são responsáveis pelo fenômeno e finalmente, que as outras partes das plantas prejudicavam o ar devido à respiração, mas que a restauração excedia o prejuízo. Em 1782, outro cientista mostrou que o gás que sustentava a combustão só poderia ser pro-duzido a custa de outro gás também presente na atmosfera, naquele tempo chamado de fixed air, ou gás carbônico. Em 1804 foram desenvolvidas experiências, mostrando que o ganho de peso no cres-cimento de uma planta é igual a soma do carbono obtido do gás carbônico presente na experiência e da água obtida pelas raízes, em presença da luz. A fotossíntese podia ser enfim definida: transforma-ção da energia radiante do sol em energia química latente nos tecidos orgânicos. Estava descoberto o mistério do crescimento das coisas orgânicas! Até 1930, supunha-se que o oxigênio era removido do gás carbônico e que o carbono se combinaria com a água para formar os carboidratos, mecanismo incorreto como provou Cornelis van Niel82 naquele ano. Ele dizia que o oxigênio era removido da água. Em 1940 os químicos sub-meteram a teoria à prova, realizando experiências com isótopos pesados do oxigênio para seguir com precisão as reações químicas do processo da fotossíntese: usaram-se plantas irrigadas com água normal, isto é (H2

16O) e outras irrigadas com água marcada com oxigênio pesado (H218O). As plantas

que sintetizaram com água normal produziram oxigênio normal (16O), enquanto as que sintetizaram com oxigênio pesado produziram oxigênio pesado (18O). A interpretação do fenômeno atualmente é crucial e pode ser resumido assim: há um au-mento constante de oxigênio na atmosfera, tendendo ao infinito, desde que ele provém da água. Concomitantemente, há um decréscimo do CO2 da atmosfera, que é transformado em energia sólida, e por isso é tendente a zero.

O Papel da Energia

Do estudo dos diversos períodos que marcaram ao longo do tempo a saga da humanidade percebe-se com clareza, que tudo o que se fez até chegar ao ponto que chegamos, especialmente a

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velocidade com que se deram os acontecimentos, tudo, foi uma consequência do uso da energia em voga em cada momento histórico. A conclusão que temos atualmente da observação desses mesmos fatos é crucial: nada, absolutamente nada, se faz sem Energia. Tudo o que existe no sistema solar (e por extensão de raciocínio no Universo todo) são apenas formas diferentes da mesma Energia. Na superfície da Terra há diversas formas de energia, que foram aproveitadas dependendo da evolução que ela sofreu. Ao princípio foi apenas a força muscular dos homens. Posteriormente usamos a força mus-cular dos animais. Melhorou muito quando aproveitamos os ventos e pudemos nos movimentar a maiores distâncias ao longo das costas continentais. Passamos a usar o carvão e os motores de com-bustão externa (máquinas a vapor). Em seguida apareceram os motores de combustão interna, e o combustível agora é o petróleo. Tudo ficou mais fácil e mais rápido e é impossível voltar no tempo. Não há volta do ponto onde nos encontramos. Apenas os chamados “ambientalistas”, desconhecedo-res da Geologia, pensam o contrário.

Abrangência da Geologia

A partir da confusão criada pelo número de ciências geológicas existentes, a Geologia dis-persou-se em uma miríade de subciências que não têm possibilidade de resolver qualquer assunto. Houve em seguida uma distinção sobre o próprio trabalho do geólogo no campo que terminou por conformar uma atuação profissional inteiramente destituída de fundamento, dificultando o ensino e desmoralizando-o completamente. Chama-se Geólogo ao profissional que vai ao campo mape-ar rochas da litosfera, a partir do que surgem raciocínios que deságuam em economia. Sem saber mapear rochas e sua ordem temporal não há Geologia nem resultados econômicos, os mapas são apenas papéis coloridos onde são enterradas fortunas irrecuperáveis. Por raciocínio consequente, todas as ações, especialmente as políticas desenvolvimentistas, têm de ser amparadas em um mapa corretamente construído e nas possibilidades econômicas dele decorrentes. Com mapas errados, os problemas sócio-econômicos ficam insolúveis. Por ser uma profissão cujo desempenho é feito no campo, há necessidade de homens que tenham intimidade com as coisas da natureza, o que limita o número de pessoas habilitadas para tal mister, mas, atualmente, com os meios de transporte, estradas e comunicações de primeira classe, é também um trabalho fascinante e agradável, exercido com conforto e facilidade. Não há necessidade de carregar sacos de amostras destinadas aos laboratórios de petrografia e paleontologia; as bases dos mapas são pré-fabricadas pelo sensoriamento, e os meios e o raciocínio para interpretação, depois de adquiridos, são facilmente aplicáveis. O que se demonstra na prática é que para ser um bom químico, físico, matemático ou astrô-nomo há necessidade de se obter uma boa e firme base geológica.

Considerações

A finalidade do conhecimento científico serve para dar solução ao problema transcendental da vida, e o que devemos fazer para desfrutar a felicidade e o bem estar enquanto habitantes do plane-ta. De onde viemos e para onde vamos após a morte? Existe ou não a vida eterna? Fomos colocados na Terra por algum extraterrestre? Que fazemos na Terra? É um planeta especial dentro do sistema? Para conseguir as respostas dessas perguntas a humanidade teve de adentrar lentamente ramos cien-tíficos diversos, os quais se estruturaram de tal modo que tivemos de inventar nomes para poder qualificá-los e organizá-los, daí surgindo os diversos nomes (Matemática, Física, Química etc.) que

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conhecemos com o nome de Ciência. Se marcarmos grosseiramente o início da pesquisa teremos de recuar ao tempo de Moisés, Platão e Aristóteles, uns com estudos puramente filosóficos e outros de natureza prática, sem que haja, de fato, uma separação entre as duas qualidades enunciadas. Ao tempo dos estudos filosóficos, o método do trabalho era feito partindo do sentimento, da imaginação e da intuição para então submetê-lo à prova da verdade. Atualmente, a massa de conheci-mentos obtida ao longo das pesquisas e seus resultados práticos é tal, que permite a inversão do mé-todo. É possível fazer-se conclusões a partir da simples observação, bastando para isso reorganizar as informações já obtidas. Em suma, não existem efeitos sem uma causa anterior, ou ainda, conhecendo os efeitos determinam-se também as origens que deram lugar ao fenômeno. É uma das pilastras onde se sustém a Geologia, brilhantemente enunciada por Hutton (1726-1797) e Playfair (1748-1819) no século XVIII: “o presente é a chave do passado”. Ao assim proceder, verifica-se que, no campo científico, há necessidade de algumas sim-plificações as quais deverão ser feitas em nome da economia, tanto de recursos como de inteligên-cias, que, com rigor, estão sendo desperdiçadas em campos só aparentemente científicos, isto é, sem finalidade econômica imediata. Esta declaração desemboca em uma discussão: existem ou não as “ciências puras”? Podemos fazer ciência sem conotação econômica? Evidentemente não. Qualquer pesquisa que se faça, com qualquer finalidade, envolve gasto de recursos e de energia que têm de ser repostos ao fim da pesquisa. Alguém paga o projeto e o desenvolvimento do mesmo. Há que ter por isso uma finalidade ao fim, ou quando se obtém a resposta ou o resultado. Podemos então responder à segunda pergunta de modo peremptório: não há ciência sem conotação econômica e esta resposta também responde a primeira pergunta. Não existe “ciência pura”! Ciência cuja relação custo/benefí-cio seja fração imprópria, não é ciência. É desperdício, algo incompreensível em qualquer sociedade moderna e para qualquer grau de inteligência, mesmo as mais modestas. Para conseguirmos o que temos hoje em matéria de conforto, saúde e lazer tivemos de per-correr um longo caminho, ao longo do qual muitos foram sacrificados. Toda a humanidade se bene-ficiou com aqueles sacrifícios e temos por isso de reconhecê-los. Os exemplos são válidos: Bernard Palissi (1510-1589) morreu na prisão porque não renegou sua fé e ousou ensinar que os fósseis eram restos orgânicos; Giordano Bruno foi queimado vivo, porque dizia que o dilúvio de Noé não existiu e que a Terra girava e não era o centro do universo, que o espaço era infinito e que a quintessência era um exagero de Aristóteles; Galileu morreu na prisão domiciliar a que foi condenado por dizer que Copérnico estava certo, e Newton foi ridicularizado por acionar uma força invisível que estava fora do conhecimento dos seus contemporâneos. O reconhecimento de que seus estudos beneficiavam a coletividade e levavam a melhor compreensão dos fatos obrigou outros estudiosos a refiná-los pela admissão de outras ideias, a invenção de novos aparelhos e realização de novas experiências. Assim surgiu o telescópio, com lentes de qualidade cada vez melhor, aumentando seu alcance e a possibi-lidade de observar cada vez mais longe. Ao telescópio corresponde-se o microscópio, dando possi-bilidade de verificar detalhes que não eram percebidos à vista desarmada. Ampliou-se o mundo para além da possibilidade da escala humana. Podia-se observar desde o muito pequeno até o muito gran-de e o muito longe. Com a invenção da imprensa passou-se a escrever e publicar o resultado daquelas pesquisas. Surgiram os motores, primeiro de combustão externa (máquinas a vapor) e posteriormente os motores de ciclo Otto e Diesel, as grandes guerras, suas armas e novos inventos. À multiplicação das necessidades apareciam novos aparelhos e acabamos por criar uma parafernália de instrumentos e invenções que geraram conforto, mas também confusão, especialmente dentro do campo científico. Atualmente compreende-se o computador como um gerente final das coisas domésticas e públicas onde tem perfeita aplicação, estendendo essa possibilidade a campos onde ele não funciona, quando aparece a confusão. Os mais radicais afirmam que o computador não é um meio a usar-se, mas um fim em si mesmo. No campo da Geologia, costuma-se dar crédito a mapas feitos por computador,

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coisa absolutamente falaciosa. Para o estudo da Geologia como matéria abrangente do globo, sua origem e seus recursos para sustentação da vida em níveis cada dia melhor para seus habitantes, foi decisivo o invento do telescópio, do microscópio, da imprensa, dos sensores em escala reduzida, dos motores a combustão interna, das sondas e da construção de poços de petróleo, e mais todos os subsídios vindos dos diver-sos ramos da ciência. Com esse material pode-se verificar que há necessidade de modificações nas ideias gerais, com substancial economia de meios para resultados mais interessantes sob o ponto de vista econômico.