Top Banner
TEORIA DA EVOLUÇÃO X "TEORIA" DA CRIAÇÃO - Um CONFRONTO Desigual - "Senhoras e Senhores! Esta noite teremos o mais esperado confronto dos últimos séculos! À minha Direita, medindo 5 mil anos e pesando 200 milhões de crentes: O CRIACIONISMO! Que desafia o atual campeão para reaver seu título perdido no século XIX. À minha Esquerda medindo 150 anos e pesando 200 mil pensadores: O atual campeão! O EVOLUCIONISMO!" Brincadeiras à parte, o debate entre a Teoria da Evolução e a pretensa "Teoria" da Criação é sempre desigual. Porém, dependendo do âmbito onde ocorre a discussão, a vantagem pesa para um lado ou para o outro. No campo científico, não é a toa que o Evolucionismo desbancou qualquer forma de Criacionismo há mais de um século e meio. Ele não só possui TODAS as evidências da natureza a seu favor, como possui toda a coerência racional e bom senso, o que explica porque todos os autênticos cientistas do mundo lhe são favoráveis. Entre estes estão simplesmente todos os ganhadores de prêmios nobel ou similares em qualquer área relevante para o tema. Os grandes nomes associados aos grandes avanços do final do Século XIX, de todo o século XX e deste início do XXI, são, é claro, Evolucionistas. Não há exceções. Todas as pesquisas, descobertas, desenvolvimento desde a Engenharia Genética, Microbiologia, Ecologia, Biologia Molecular e etc, acontecem sob o paradigma Evolucionista. Entre estudos árduos, experiências sucessivas, testes incansáveis e conferências onde seus dados são meticulosamente examinados e submetidos e duras provas de veracidade, num ambiente cético e detalhista, que não hesita em explorar o mínimo defeito, exigindo com isso o máximo de acurrácia e solidez. O aumento do conhecimento
66

Evolução vs. criação

Jan 31, 2023

Download

Documents

Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: Evolução vs. criação

TEORIA DA EVOLUÇÃOX

"TEORIA" DA CRIAÇÃO- Um CONFRONTO Desigual -

"Senhoras e Senhores! Esta noite teremos o mais esperado confronto dosúltimos séculos!

À minha Direita, medindo 5 mil anos e pesando 200 milhões de crentes:O CRIACIONISMO!

Que desafia o atual campeão para reaver seu título perdido no século XIX.À minha Esquerda medindo 150 anos e pesando 200 mil pensadores:

O atual campeão! O EVOLUCIONISMO!"

Brincadeiras à parte, o debate entre a Teoria da Evolução ea pretensa "Teoria" da Criação é sempre desigual. Porém, dependendo do âmbito onde ocorre a discussão, a vantagem pesa para um lado ou para o outro.

No campo científico, não é a toa que o Evolucionismo desbancou qualquer forma de Criacionismo há mais de um século e meio. Ele não só possui TODAS as evidências da natureza a seu favor, como possui toda a coerência racionale bom senso, o que explica porque todos os autênticos cientistas do mundo lhe são favoráveis.

Entre estes estão simplesmente todos os ganhadores de prêmios nobel ou similares em qualquer área relevante para o tema. Os grandes nomes associados aos grandes avanços do final do Século XIX, de todo o século XX e deste início do XXI, são, é claro, Evolucionistas. Não há exceções.

Todas as pesquisas, descobertas, desenvolvimento desde a Engenharia Genética, Microbiologia, Ecologia, Biologia Molecular e etc, acontecem sob o paradigma Evolucionista. Entre estudos árduos, experiências sucessivas, testes incansáveis e conferências onde seus dados são meticulosamente examinados e submetidos e duras provas de veracidade, num ambiente cético e detalhista, que não hesita em explorar o mínimo defeito, exigindo com isso o máximo de acurrácia e solidez. O aumento do conhecimento

Page 2: Evolução vs. criação

sobre a realidade e o avanço nos métodos, medicina e tecnologia são seus objetivos.

Por outro lado, o Criacionismo é restrito a crentes religiosos, que passam muito mais tempo em suas igrejas do que em instituições de pesquisas. Seu trabalho se limita a estudar a Bíblia, obras de outros criacionistas e obras de evolucionistas, para localizar fraquezas que possam ser exploradas argumentativamente, com isso construindo seu edifício racional que mistura dados reais com fictícios, incluindo milagres.

Entre uma oração e outra, acham tempo para palestras que impressionam seus fiéis sempre prontos a assentir-lhes com brados de "Aleluia" e onde o viés crítico é praticamente inexistente. Suas hipóteses nunca são testadas, seus dados não são contestados, qualquer invenção por mais infundada éaceita sem questionamento como uma prova genuína. Conversões, evangelizações, pregações, proselitismo e conservadorismo são seus objetivos.

O CONFRONTO

Não obstante, quando essas duas tradições se encontram, e preciso saber bem em que tipo de terreno se está pisando, pois isso irá definir quase totalmente quem tem a vantagem numa discussão.

Não importa o que se diga, o fato é que Natureza quando submetida a um método preciso e sistemático de pesquisa está sempre pronta a confirmar os dados do Evolucionismo. Não é que Natureza está do lado da Evolução, a Evolução é que está do lado da Natureza.

Portanto, no âmbito científico o Criacionismo não tem a menor chance. Suas premissas são impossíveis de serem verificadas, os laboratórios não reconhecem dogmas, crençase são insensíveis a rezas e pregações. Não há pesquisas criacionistas, porque nada no criacionismo diz respeito diretamente a ciência.

Nesse campo, a desigualdade é tal que o Criacionismo, embora possa até se infiltrar nas escolas, jamais teve

Page 3: Evolução vs. criação

chance de cruzar as portas de uma Universidade. O Criacionismo jamais passaria num vestibular. E enquanto a Evolução é publicada em todas os grandes periódicos do mundo, Nature, Science Today, Scientific American, a Criação só temlugar nas publicações religiosas, "Revistas da Criação", Folhinhas Criacionistas, Sentinela, Despertai e similares.

Nesse contexto, nem há confronto, a vitória é digna de MikeTyson, no início do primeiro Round, por Knock-Out.

Mas nem só de Ciência vive o mundo, e o terreno da discussão pode ser levado para o lado leigo, onde a simplesdesinformação da maioria das pessoas aumenta incomensuravelmente as possibilidades do Criacionismo. Na verdade, quanto mais ignorante for a platéia, mais o Criacionismo terá vantagem, e por isso é quase impossível que a razão prevaleça num meio onde brados de Aleluia estãosempre prontos a ecoar.

Esse Nocaute criacionista é simples de ser explicado, é o mesmo trunfo que o leva a ter chances até mesmo numa discussão meramente filosófica. Ele tem uma arma especial, nada secreta:

Ele tem um DEUS!

Com isso, enquanto qualquer dificuldade evolucionista deve ser examinada, testada, analisada e desvendada, enquanto aspesquisas científicas sob o paradigma da evolução se deparam com problemas que demandam soluções trabalhosas, enquanto a conquista da compreensão da natureza deve lidar com a fria realidade da matemática, da química e da física,o Criacionismo não sofre nada disso! Qualquer um de seus problemas pode ser resolvido, literalmente, num passe de mágica!

Deus está sempre pronto a fornecer a explicação. Foi milagre! Eventos sobrenaturais! E pronto!

Com isso pode-se explicar que os animais migraram para a arca de Noé por um "Direcionamento Instintivo Sobrenatural", podem afirmar que os casais de carnívoros não precisaram comer toda a manada de herbívoros da Arca

Page 4: Evolução vs. criação

graças a uma "Hibernação Mística". Podem garantir que uma estrutura de 150 metros de madeira pôde suportar à mais violenta tempestade de todos os tempos graças a um "Escudo Mágico" que lhe dava indestrutibilidade.

Com um Deus Todo-Poderoso, fica fácil aceitar que os animais aquáticos de água doce e os de água salgada sobreviveram devido a uma "Barreira Mística" que mantinha zonas de água salina e não salina sem se misturarem em pleno mar revolto. É possível aceitar que logo após desembarcarem da Arca, os animais herbívoros tiveram o que comer, pois a vegetação pode ter crescido milagrosamente, eque os carnívoros devem ter feito uma "Dieta Sagrada" dada a falta de herbívoros, afinal além de virem poucos deles naArca, Noé ainda sacrificou vários ao Senhor seu Deus (Genêsis 8:20).

Com a inspiração do Espírito Santo, dá até pra entender quecapivaras, lobos-guarás e tatus tenham migrado da Turquia, cruzando toda a Ásia, atravessando um estreito de Bering gelado, entrado pelo Alaska, descido pela América do Norte,América Central, cruzado a Amazônia e chegado ao planalto central do Brasil para se estabelecerem definitivamente.

Com uma mãozinha do Todo-Poderoso, as etnias humanas poderiam ter saído de um estado de pigmentação de melanina mínima na pele para um estado máximo em poucos mil anos, e se é fato que os arianos que vivem na África do Sul há quase 400 anos sem se miscigenarem nunca apresentaram qualquer escurecimento de pele, é porque Deus retirou sua mãozinha do processo.

E daí que as estrelas estejam a milhares de Anos-Luz de distância e as galáxias a Milhões e Bilhões? O Universo nãoteria que ser tão antigo, afinal Deus pode ter criado a luzjá a caminho desde a Gênese, ou pode ter aumentado a velocidade da Luz no passado!

Pronto! Com um Deus que pode tudo, qual é o problema?

Não há dificuldade, tudo pode ser explicado. Nenhum dado poderá ser usado contra o Criacionismo, pois ele sempre terá uma carta milagrosa na manga. Amém!

Page 5: Evolução vs. criação

UM EMPATE TÉCNICO

Assim, para se livrar da derrota, só caberá ao Evolucionismo contestar filosoficamente a validade de cada uma das premissas milagrosas, e lançar perguntas chatas, como:

Se Deus é tão poderoso, não seria mais fácil arrebatar a família de Noé e os animais selecionados para um outro mundo e então "lavar" a Terra e depois trazê-los de volta?

Se Deus é todo poderoso porque simplesmente não fez desaparecer os homens maus da Terra sem todo aquele estardalhaço diluviano?

Ou melhor... Se Deus é Todo-Poderoso e Bom, porque existe oMal?

E aí a discussão se envereda pela Teodicéia, e todas as implicações filosóficas embutidas, e não terá fim. Curiosamente, é a única forma do Confronto possuir alguma igualdade de condições. E assim, Evolucionistas e Criacionistas podem ficar discutindo longamente, e sem qualquer resultado prático até o fim dos tempos.

Ou até que Deus apareça novamente.

O pensamento científico dominante explica a vida na Terrapela Evolução Biológica das Espécies, o que desagrada certas religiões baseadas na Gênese Bíblica. Nos EUA, estados sulistas como Arkansas, Mississippi e Oklahoma, de maiores índices de racismo e subdesenvolvimento, proibiam o ensino escolar de conceitos evolutivos até os anos 60, quando a Suprema Corte concluiu ser uma violação de sua Primeira Emenda Constitucional, que proíbe a influência religosa no

Page 6: Evolução vs. criação

Estado e Educação. O Criacionismo, que recusa a Evolução e mantém a fé na criação divina, tentou se infiltrar no sistema educacional mas por seu caráter religioso ser ilegal passou a se articular de forma cientificista, visando serconsiderado secular. Cientistas Religiosos aderiram à causa, os Criacionistas "Científicos" possuem títulos acadêmicos em áreas afins etentam enquadrar dados da natureza na revelação bíblica com a "Ciência" da Criação, normalmente rejeitando tambéma teoria científica dominante de origem do Universo, o Big-Bang. Esta página pretende examinar tal movimento, que embora no Brasil não tenha a mesma força, se infiltra em comunidades religiosas em geral Protestantes, com ampla presença na Internet, e é para muitos uma Cruzada com ideais indo desde a simples divulgação ideológica à pretensão de banir o Evolucionismo dos meios acadêmicos ecientíficos. Não é objetivo atacar a Religião, mas demonstrar em linguagem simples, para o público leigo, a verdadeira natureza do Criacionismo, e o porquê da Evolução.

A EVOLUÇÃO DO CRIACIONISMOO Criacionismo, como tudo no universo, também evolui. Mas, diferente de muitas outras coisas que apenas mudam sem ter necessariamente algum parâmetro, há uma nítida característica na evolução criacionista. É que trata-se claramente de uma Evolução Darwiniana. Ou seja, o Criacionismo está submetido aos mesmos princípios de Seleção Natural, Adaptação e Sucesso Reprodutivo que permeiam a evolução dos seres vivos. Em síntese, a evolução do criacionismo se dá no sentido de adaptá-lo, ou não, aos ambientes.

Page 7: Evolução vs. criação

Ele já está muito bem adaptado em seu ambiente original, as igrejas, onde, embora continue tendo pequenas variações, não são estas significativas, de modo que um criacionista em seu ambiente religioso atual pode pensar praticamente da mesma forma que outro o fazia há um século atrás. Há distinções entre as religiosidades diferentes, bem como nichos mais ou menos específicos. O Criacionismo Tomista por exemplo,está restrito ao âmbito dos teólogos e filósofos que estudam as obras de São Tomás de Aquino. Mas com suas características sofisticadas e distinções aristotélicas de Ato e Potência, não poderia sobreviver no mero púlpito das igrejas intelectualmente mais simples, estando então adaptado somente aos redutos das universidades e círculos eruditos. Se o Criacionismo menos sofisticado está confortável em seu ambiente religioso natural, para ser bem sucedido no mais amplo terreno político, educacional, jurídico e científico, o desafio adaptativo é muito mais complexo, pois desde o século XIX esse espaço passou a ser dominado por um sistema de pensamento muito mais bem adaptado ao novo ambiente intelectual ecientífico que surgia. Assim as espécies de criacionismo foram reagindo de formas distintas de acordo com o ambiente, e sendo mais ou menos bem sucedidas. Na Europa, o criacionismofora do âmbito religioso foi praticamente extinto, devido às condições locais, mais sofisticadas intelectualmente e mais internacionalizadas, não seremfavoráveis a visões de mundo sectárias de congregaçõesrurais. A intelectualidade européia é multicultural, enquanto diversos pequenos países tem diversas religiões e idiomas, o ambiente acadêmico e científico permite umauniversalidade que interliga as várias nações, ao mesmo tempo que goza de grande prestígio entre a população. Já nos EUA ocorre a situação inversa. Há um único grande país, com um único idioma. Embora seja dividido em estados com peculiaridades distintas,e principalmente polarizado em Norte e Sul, há muita

Page 8: Evolução vs. criação

similaridade entre diversos estados de cada região, que são contíguos e compartilham de identidades religiosas praticamente idênticas e sintetizadas numa bandeira comum reconhecível. No caso, o protestantismosulista. Além disso, os EUA sempre tiveram uma estranha culturaanti-intelectualista, cujo valor pelo conhecimento advém quase exclusivamente dos resultados tecnológicospor ele gerados, e não pela estética do saber em si, extremamente valorizada na Europa. Isso gerou a situação bizarra de que pessoas inteligentes e com potencial para desenvolver habilidades acadêmicas, científicas e intelectuais são marginalizadas e excluídas do convívio social, que por sua vez super valoriza os esportistas e alguns segmentos artísticos.(A ponto de por vezes algumas universidades serem mais acessíveis a jogadores de football americano do que a alunos estudiosos!) Entre outras disputas regionais, os EUA apresentam tendências políticas e religiosas que podem ser Liberais ou Conservadoras. No século XIX o Cristianismo Liberal se aproximava da intelectualidadee da ciência, do abolicionismo, da independência das colônias, e de outras formas de conquistas em termos de liberdade e igualdade. Por sua vez, o Cristianismo Conservador preferia manter as coisas como eram, e disto surgiu o Fundamentalismo Cristão.

A "CRIAÇÃO" DO CRIACIONISMO MODERNODizer "criação" é certamente um exagero, visto que nada é criado, e sim, transformado. Mas o que podemos chamar de nascimento do Criacionismo Moderno e Contemporâneo foi uma transformação radical, que num retorno à ortodoxia religiosa pretendeu enrijecer ainda mais as bases de um pensamento que vinha sendo flexibilizado pelos ventos da mudança dos novos tempos. Rejeitando a simples idéia de que a sociedade deva mudar seus valores, até mesmo aqueles que oprimem as mulheres, as etnias e segmentos religiosos menos favorecidos, era objetivo desse novo movimento Fundamentalista se apegar à velha idéia de imutabilidade, e considerando que, apesar dessa idéia,as interpretações das doutrinas bíblicas também sempre

Page 9: Evolução vs. criação

mudaram com o tempo, decidiram descer a um pilar aindamais fundamental. A literalidade do texto. Desde o surgimento do cristianismo que os pensadores cristãos se aperceberam que a Bíblia tem que ser interpretada, caso contrário, como um todo, não faz sentido algum. No entanto, essa interpretação sempre mudou ao longo da história, ainda que dentro de algunsparâmetros mais ou menos estáveis. Não é preciso mais do que observar superficialmente o desenvolvimento do cristianismo através dos séculos para perceber isso. Provavelmente, temendo o desenvolvimento de uma teologia mais complexa e avançada, mas por isso mesmo mais sujeita a mudanças, os fundamentalistas procuraram produzir a mais simples possível, e chegaram ao ponto de inventar o princípio da Inerrância Absoluta da Bíblia. Um novidade histórica. Ao contrário do que muitos pensam, a tradição cristã, em especial a católica, nunca viu a Bíblia como inerrante em matérias naturalistas. Os fundadores da Igreja por exemplo, cientes de que a visão bíblica de mundo é de uma Terra Plana, já advertiam que a interpretação de diversas passagens que descreviam o mundo deveriam ser interpretadas de forma simbólica e poética. Com a Gênese não foi diferente. Não é a toa que após a Revolução Biológica a Igreja Católica foi uma das que menos apresentou resistências ao evolucionismo, resguardando, porém, o núcleo doutrinário que garante o lugar da criação divina, o advento da consciência humana, que, de fato, permaneceuma caixa preta praticamente sem chance de uma explicação científica convincente. Já esses novos Fundamentalistas Cristãos Norte Americanos lançaram a idéia de que a Bíblia deve ser lida LITERALMENTE, que é INFALÍVEL e INERRANTE em cadadetalhe do que diz, e assim, não havia outra coisa a fazer com a Gênese a não ser interpretá-la ao pé-da-letra. A forma mais simples possível de leitura, acessível até mesmo à uma criança recém alfabetizada. Jamais será possível entender qualquer coisa sobre o movimento criacionista caso se perca de vista seu fundamento primário. A idéia de que a Gênese deve ser lida desprezando ao máximo qualquer dimensão poética,

Page 10: Evolução vs. criação

simbólica ou hermética, em especial dos capítulos 1 ao19. (Tema do texto Desrespeito à Gênese) Remova esse pressuposto, e tudo o edifício conceitual criacionista desaparece.

A ORIGEM DE NOVAS ESPÉCIES DE CRIACIONISMOTenhamos em mente agora que estamos chamando de Criacionismo esse movimento norte americano do início do século XX. Tudo o que este sempre pretendeu foi monopolizar a explicação das origens do universo, da vida e dos seres humanos. Por isso podemos identificarseu primeiro momento.

O PRIMEIRO ESTÁGIOCRIACIONISMO MITOLÓGICO

Proibição do EvolucionismoEssa primeira fase é caracterizada pela pura e simplesleitura literal da Gênese como explicação para as origens, ignorando qualquer forma de explicação alternativa. Não havia diálogo com a ainda recente tradição evolucionista. Os poderes políticos locais onde o fundamentalismo cristão era forte simplesmente criaram leis para proibir o ensino do Evolucionismo. O exemplo mais famoso é o Butler Act, do estado do Tennessee, que dizia basicamente: "É ilegal para qualquer professor em qualquer Universidade, Magistérios e qualquer outra escola pública do Estado que seja suportada total ou parcialmente por financiamento educacional do Estado, o ensino de qualquer teoria que negue a estória da Criação Divina do homem como ensinada na Bíblia, eem seu lugar ensine que o homem descenda de uma espécie inferior de animais." A lei, de 1925, tem esse nome devido a seu criador, o fazendeiro John Washington Butler (1875-1952), que era"deputado" local na "Câmara" representativa do estado.Ele admitia não conhecer coisa alguma sobre Teoria da Evolução, mas estava convencido de que ela era perigosa. Verdade seja dita, não era uma lei muito severa. Previa no máximo uma multa de 500 dólares para o infrator, ainda que naquela época esse valor fosse relativamente bem maior do que é hoje. De qualquer modo, a pena praticamente não chegou a ser aplicada devido a lei praticamente não ter sido violada. (Observe que ela não proíbe o ensino de evolucionismo em geral, mas

Page 11: Evolução vs. criação

sim somente a origem evolutiva humana.) Embora tenha sido objeto de debates e críticas em diversas instâncias jurídicas, ela só foi definitivamente removida da legislação estadual em 1967. Mas foi desta lei que, em 1926, ocorreu o famoso episódio Scopes Trial, também conhecido como "Julgamento do Macaco". Onde o professor John Scopes, orientado pela União Americana pelas Liberdades Civis deliberadamente violou a lei para chamar atenção para o absurdo jurídico e educacional que a caracterizava. Episódio este que gerou repercussão mundial e inspirouo filme Inherit The Wind (Não é uma retratação fiel do caso, mas uma versão com várias alterações.) Esses são os estados que conseguiram aprovar leis anti-evolução, embora outros tenham apresentado projetos não aprovados.

Não fosse o caso Scopes e toda a imagem negativa que causou nos estados que adotaram tais leis, que ficaramcom a pecha de retrógrados em plena era de modernização, é possível que o Fundamentalismo Cristãotivesse ficado satisfeito com o modo como as coisas eram, e assim como estava bem adaptado às Igrejas, o Criacionismo ficasse estacionado em sua espécie jurídica. Mas as leis não puderam impedir que a evolução continuasse a ser ensinada, e sem conseguir eliminar o

Page 12: Evolução vs. criação

evolucionismo das escolas, o Criacionismo só tinha umaopção: EVOLUIR!

O SEGUNDO ESTÁGIOCRIACIONISMO "CIENTÍFICO"

Reivindicação de "Tempo Igual" ao do EvolucionismoOuso desafiar qualquer um a mostrar um único exemplo de alguém que tenha abandonado o cristianismo, ou deixado de se converter, por causa da Evolução Biológica ou qualquer outra questão naturalista. Mesmoassim os Criacionistas acham que a Teoria da Evolução é uma ameaça a sua fé, e então, para defendê-la, decidiram que ela não era suficiente. Não bastava a Bíblia, Deus e Jesus. A Fé precisava do apoio do Ciência. O Criacionismo "Científico" é um conjunto de recursos argumentativos que visa mostrar que a Criação conformeentendida literalmente na Gênese é um evento que pode ser inferido por evidências na natureza, da mesma forma como a Evolução o é. Na verdade, vão mais longe.Apesar de nunca terem dado um único passo no estudo danatureza antes do evolucionismo, passaram a dizer que na verdade somente a criação era sustentada pelas evidências. Evidentemente, é um ponto de partida bem complicado, pois EVOLUÇÃO, sendo TRANSFORMAÇÃO, é um FENÔMENO FACILMENTE OBSERVÁVEL. Pode não ser fácil observar umalonga série de transformações, e é evidentemente impossível observar toda a série de transformações ocorrida nos bilhões de anos passados. Mas isso não muda o fato de, em algum nível, EVOLUÇÃO É FATO. Se suas consequências estão sendo exageradas, é uma outradiscussão. Por outro lado, CRIAÇÃO NÃO É OBSERVÁVEL EM NÍVEL ALGUM! Não se pode ver sequer uma Micro-Criação para supor uma Macro-Criação. Simplesmente não há Criação alguma, em lugar algum, e nem sequer pode ser concebida sem violar o Primeiro Princípio da TERMODINÂMICA. Portanto, o fundamento primário da "Ciência" Criacionista é absolutamente inexistente. Uma suposição cuja única alegação não vem nem sequer da Bíblia, onde também NÃO EXISTE CRIAÇÃO A PARTIR DO

Page 13: Evolução vs. criação

NADA. Para qualquer linha de pensamento que se proponha entrar na definição de ciência, isso é mais do que suficiente para inviabilizar a empreitada. Além do mais, isso explica porque de fato não há uma única proposição científica criacionista. O Criacionismo "Científico" é, basicamente, uma série decríticas ao modelo evolutivo, da quais parte vem do próprio evolucionismo, parte vem da filosofia, e a maior parte pura e simplesmente de inverdades acerca do modelo evolutivo. Mais de 10 anos de experiência na área me permitem afirmar sem receio algum que mais de 90% do trabalho dos criacionistas "científicos" foi simplesmente promover uma gigantesca versão distorcida do Evolucionismo, para que fique fácil atacá-lo. E nisso,foram extremamente bem sucedidos. De fato, o que essescriacionistas chamam de "Teoria da Evolução" é uma colcha de retalhos de conceitos confusos que não faz sentido algum. Perseguindo as origens do Criacionismo "Científico" podemos chegar ao livro The New Geology de George McCready Price (1870-1963), lançado em 1923, que advogava a Terra Jovem e o Dilúvio Global de um ponto de vista pretensamente naturalista. Não era uma idéia nova, Thomas Burnet (1635-1715) já havia feito isso em 1681 na obra Sacred Theory of the Earth,onde pode-se notar muitas das idéias que até hoje permeiam a Geologia Criacionista, como depósitos subterrâneos de água e geologia plana antes do dilúvio, embora a obra de Burnet seja mais autêntica em relação à essência mitológica da Bíblia, reconhecendo sua origem a partir do Caos e localizandoas águas originais do dilúvio acima do firmamento. De qualquer modo, a obra de Price se tornou popular nomeio religioso, servindo de referência a todo Criacionismo "Científico" subsequente. No entanto, elasó passou a ser de fato levada a "sério", como fonte de informações, pesquisa e suporte, a partir da décadade 1950 (ainda que tenha sido usada pelos criacionistas no caso Scopes). E isso, obviamente, tem o único motivo de que somente a partir daí passou a ser preocupação dos criacionistas se articular de modo mais sofisticado a

Page 14: Evolução vs. criação

ponto de se lançar sobre a mídia secular e educação. (Essa história e contada com riqueza de detalhes em Quem são os "Cientistas" da Criação , de Lenny Flank, que apesar de ser um texto de 1995 é leitura OBRIGATÓRIA para qualquer um que queira abordar o assunto.) Basicamente, os pais desse Criacionismo "Científico" são inequivocamente o engenheiro hidráulico Henry T. Morris (1918-2006), o teólogo John C. Whitcomb (1924-), e o bioquímico Duane T. Gish (1921-) que tiveo prazer de conhecer pessoalmente, como relato em Meu Encontro com Duane T. Gish. Morris, principalmente, produziu diversos livros de "Ciência" da Criação, que tinham a honestidade de assumir abertamente sua inspiração religiosa, deixandoclaro que a questão não era de simplesmente examinar evidência e tirar conclusões delas, mas sim partir do pressuposto da inerrância e literalidade da gênese, e então subordinar às evidências a esse pré conceito. Invocações à Deus, passagens bíblicas e o fervor religioso recheavam o livro, de modo completamente coerente com os objetivos criacionistas. Foi Morris também o principal responsável pelas maiores instituições criacionistas já fundadas, no caso o Creation Research Society, em 1963, e o Institute for Creation Research, em 1972. Foi também o maior mentor portrás das iniciativas de introduzir o Criacionismo nas aulas de biologia das escolas estaduais, e defensor dofamoso "tempo igual" para evolução e criação, que foi sumariamente rejeitada pela justiça. O motivo da rejeição é o óbvio fato de que o Criacionismo "Científico" não se trata de ciência, massim de apologética religiosa, mesmo que, nos manuais produzidos para o ensino secular, se tenha tido o cuidado de suprimir a maior parte dos conteúdos abertamente teísticos e bíblicos. Como, no entanto, foi impossível disfarçar o teor religioso proselitista, isso levou ao outro motivo que é o simples fato de, sendo os EUA um país oficialmente laico, não pode patrocinar nem favorecer religião alguma por meio do aparelho estatal, que era exatamente a intenção dos criacionistas. Esse tema é exaustivamente debatido em diversas fontespara merecer maior atenção aqui. O ponto que quero demonstrar é que essa espécie de criacionismo tentou

Page 15: Evolução vs. criação

se adaptar para sobreviver e prosperar no meio educacional, e embora não tenha conseguido plenamente,pode avançar para além do âmbito mais restrito da espécie criacionista anterior, visto que ao menos mobilizou seus defensores no sentido de se articular com recursos retóricos cientificizados, os incentivando a estudar um mínimo do que entendem por ciência com objetivo de fortalecê-lo. Infelizmente, porém, isso não levou os criacionistas aestudarem e se informarem seriamente sobre evolução. Amaioria esmagadora apenas conheceu a versão brutalmente distorcida criada para causar repúdio nos estudantes cristãos. Os poucos que de fato a estudaramem fontes evolucionistas sérias, ou o fizeram com o objetivo de distorcê-la, alimentando a versão espantalho, ou tentando encontrar pontos vulneráveis. Muitos destes, terminaram por descobrir que a teoria evolucionista é muito mais coerente do que pensavam, eacabaram sofisticando seu criacionismo, elevando-o a um nível mais competente, o que contribuiu para que este evolua para o próximo estágio. Enfim, enquanto o criacionismo anterior pretendia eliminar diretamente o evolucionismo, sem nenhuma condolência e pela pura e simples força autoritária, este, o Criacionismo "Científico", pretendia competir com ele, no terreno educacional extra religioso.

O TERCEIRO ESTÁGIOCRIACIONISMO "FILOSÓFICO"

Desqualificação do Evolucionismo como CiênciaAntes é preciso prevenir um frequente equívoco cometido por leigos. O fato de uma nova espécie surgirde uma espécie anterior não faz com que necessariamente a anterior seja extinta. Há inúmeros exemplos de espécies estáveis evolutivamente há tempossuficientemente longos para terem várias espécies derivadas. O mesmo pensamento deve ser aplicado aqui. O desenvolvimento de novas formas de criacionismo não significou o abandono das formas anteriores. Todas as espécies de criacionismo continuam vivas e atuantes, embora algumas tenham perdido destaque, mesmo porque uma espécie qualquer só pode ser extinta:

Page 16: Evolução vs. criação

1 - Mediante uma radical mudança de ambiente, o que é claro que não ocorreu, e tendo em vista o crescimento do fundamentalismo cristão, não parece que ocorrerá tão cedo; 2 - Ou talvez pela competição de um adversário mais bem adaptado, o que já aconteceu no campo científico há mais de um século, mas não poderia, por uma questãode características ambientais, acontecer nos campos religiosos; 3 - Ou talvez por algum fato equivalente a uma epidemia, cataclisma ou coisa que o valha, para os quais deixemos de lado analogias. O que nos interessa é mostrar que esse novo criacionismo não irá eliminar o antigo, mas poderá estar em maior evidência, e nesse caso, trata-se de uma curiosa inversão total de conceitos. Foi demonstrado juridicamente aquilo que é cientificamenteconsolidado e filosoficamente claro, que o Criacionismo não pode ser Ciência, e não pode deixar de ser uma Ideologia religiosa. Para todos os efeitos práticos, os criacionistas admitiram esse veredicto, tanto que o utilizaram em sua nova estratégia, que é acusar o Evolucionismo de ser da mesma natureza, isto é, uma CONSPIRAÇÃO IDEOLÓGICA, e não rara considerá-lacomo uma forma de "Religião Humanista". Essa nova modalidade de criacionismo, não por acaso, irá se evidenciar na década de 1980, quando os criacionistas viram suas pretensões educacionais seremdefinitivamente frustradas. Dessa forma, partem para uma recuperação da velha estratégia, tentar impedir o ensino do evolucionismo. Não possuindo mais os podereslegais para uma simples proibição direta autoritária, tentaram então usar o mesmo argumento que os derrubou a seu favor, acusando o evolucionismo de não ser ciência, e como tal, também não poder ser ensinado em escolas. Vemos aqui um expediente tão previsível quanto típico,acusar o adversário de ser exatamente aquilo que se é,uma "projeção" de conteúdos num alvo externo, conceitocomum na psicologia, geralmente envolvendo elementos vistos como incômodos ou indesejáveis.

Page 17: Evolução vs. criação

A simples coexistência com o segundo estágio já denotauma tensão, visto que ao mesmo tempo em que se afirma um Criacionismo "Científico" se nega um Evolucionismo Científico, mesmo equivalendo ambos como tendo um objeto de estudo igualmente inobservável (o que já vimos ser falso). Mas tal postura contraditória é nada mais quenatural para quem está acostumado a acreditar em punição perpétua no inferno e infinita bondade divina ao mesmo tempo. Diferente dos estágios anteriores, porém, há algo de válido no cerne dessa abordagem. É que evidentemente cabem críticas filosóficas ao modelo evolucionista, e a qualquer modelo científico, mas a Biologia tem a especialidade de ser uma área científica menos matematizada e mais voltada a sistemas complexos que as demais ciências naturais, o que torna uma teoria tão vasta e histórica como a Teoria da Evolução singular entre as demais teorias científicas. A Estrutura da Revolução Biológica Ademais, essa nova forma de Criacionismo permite trazer para dentro do debate elementos e pensadores depeso, como Filósofos da Ciência e Epistemólogos, fazendo as críticas ao modelo evolutivo irem muito além das meras propostas teológicas e de críticas ingênuas de teor científico, ou mesmo desonestas. Exatamente por essa complexidade maior, no entanto, pode-se dizer que essa forma de criacionismo é muito menos popular que a anterior, e normalmente está quasesempre atrelada a outras. Em especial a próxima, a qual ajudou muito a se desenvolver. Infelizmente, a maior repercussão foi baseada na acusação de o evolucionismo ser uma forma de religião,e se o estado não pode subvencioná-la, não poderia elaser ensinada em escolas. Alguns exemplos foram os casos Segraves (1981) e Peloza (1994).

O QUARTO ESTÁGIODESIGN INTELIGENTE

Pretensão de Inclusão em Currículos EscolaresAssim como os estágios ímpares são similares, o são também os pares. Essa nova espécie de "criacionismo", que literalmente seria um Evolucionismo Teísta, ou Deísta, tem o mesmo fundamento conceitual e pretensões

Page 18: Evolução vs. criação

do Criacionismo "Científico". Se constituir em forma de proposta científica ocultando suas conexões religiosas, e lograr êxito ao concorrer com o Evolucionismo. Muitíssimo mais sofisticado que seu ancestral primitivo, o Design Inteligente obteve notável sucesso em sua primeira pretensão, conseguindo esconder eficientemente sua origem religiosa por uma década, embora a segunda jamais tenha sido levada a sério, devido a sua fraqueza conceitual inviabilizar qualquercompetição com o neodarwinismo. Essa nova espécie não deveria ser considerada um produto "natural" da mera evolução sócio cultural espontânea, visto que foi deliberadamente projetada. Omovimento é praticamente fundado em 1992, com o lançamento da Estratégia da Cunha, que deu diretamenteorigem as publicações mais famosas sobre o tema, e quejá abordei em Evolução e Ética. Como Conspiração foi totalmente desmascarada em suas intenções, e já rejeitado também pela justiça norte americana em sua pretensão pedagógica. Episódio notavelmente retratado no vídeo Judgement Day - Inteligente Design on Trial (original em Inglês com legendas opcionais e transcrição também em inglês), que também tem uma versão com legendas em português no YOUTUBE, embora esteja editado e tenha qualidade de imagem inferior. Diferente também da espécie número 2, o DI trouxe umanovidade incomparável, que é o conceito de Complexidade Irredutível, cujo o fundamento na realidade foi criado pelo próprio Darwin como potencial falsificador de sua teoria, mas que só agoraviria a ganhar um nome mais específico. Tal conceito éabordado por mim em dois textos Complexidade Irredutível e o Argumento do Relógio, de teor mais informal, e em As Caixas-Pretas de Behe, parte de minha Monografia de conclusão de curso. Tal conceito merece algum destaque por não ser, seguramente, uma mera remodelagem dos velhos argumentos do desígnio ou das velhas falácias típicas do criacionismo "científico". É diferente dos argumentos tolos, e também recentes, do Filtro Explanatório ou do Aumento da Informação, que não

Page 19: Evolução vs. criação

passam de formas rebuscadas de se dizer a mesma coisa que a própria Bíblia diz em "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos." Salmos [19:1], que também já encontra uma forma ligeiramente mais ornamentada com o próprio Paulo de Tarso em ""Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas," Romanos [1:20] Daí, São Tomás de Aquino, e William Paley foram apenasalguns que criaram novos formatos para o Argumento do Desígnio, ou Argumento Teleológico, embora no caso comum teor de Cosmológico. Melhor seria dizer Argumento CosmoTeleológico. Também o são Michael Behe, William Dembsky ou Philip E. Jonhson, mas o primeiro, criador do conceito de Complexidade Irredutível, apresenta sua variação de ummodo mais elegante, por utilizar um conceito que se comunica mais diretamente com questões bioquímicas, e que se apresenta como um falsificador real, enquanto os demais apenas enfeitam suas petições de princípio. Isso porém nada pode fazer pelo DI enquanto possível concorrente científico do evolucionismo, pois seu conceito, além de possuir fraquezas estruturais, precisa encontrar um exemplo factual que o suporte, e todos os sugeridos por Behe em seu livro A Caixa-Pretade Darwin são facilmente refutáveis. Além do mais, falta ao DI exatamente aquilo que também falta ao Criacionismo "Científico", que é uma pura e simples teoria. De nada adianta apontar falhas no modelo evolutivo se não forem propostas soluções para as mesmas, e o DI até agora não apresentou uma única proposição científica a não ser um conceito falho e inaplicável, além de um mero apelo à comunidade científica para que proclame a existência de um designer. Muitos de seus adeptos admitem flagrantemente essa deficiência, mas sugerem que o campo ainda está em desenvolvimento. Curiosamente, o grande mentor do DI,Philip E. Johnson, criador da Estratégia da Cunha, após o julgamento na cidade de Dover (Judgement Day - Inteligente Design on Trial) acabou por assumir que não apenas não há teoria como nem sequer vai haver, conforme disse em entrevista aos produtores do documentário.

Page 20: Evolução vs. criação

Q: Então, o que o Design Inteligente diz a respeito de como a vida foi criada e como chegamos a biodiversidade que vemos hoje? Johnson: Bem, a alternativa não está bem desenvolvida, então eu prefiro dizer que, atéonde eu sei a opção é que nós não sabemos o que realmente aconteceu. Mas se a não-inteligência não pudesse ser capaz de fazer todo o trabalho, então a inteligência tem que estar envolvida de algum modo. Assim, é um grande trabalho de pesquisa descobrir as consequências dessa hipótese. Q: Como vocês esperam testar a existência de um designer? Qual o programa de pesquisa? Johnson: Eu gostaria de começar pela primeira questão. Algumas vezes se diz que a hipótese de que há um designer não é testável. Isso é falso. É testável, e o teste é a Evolução Darwiniana. A tese dos biólogos evolucionários é de que causas não inteligentes fizeram todo o serviço. Se eles podem prová-lo, então a contra hipótese de que é preciso inteligência foi testada, e se mostrou falsa. Mas o que eu concluí após pesquisar a literatura foi que a tese de que processos não inteligentes foram capazes de fazer todo o trabalho da criação, das criaturas mais simples até as mais complexas, não é suportada. A evidência para isso repousa entre muito fraca e inexistente. Quando você tenta obter uma prova, você tem estórias sobre microevolução. In Defense of Intelligent Design Ou seja, os DIstas não tem proposta científica alguma. Nada que sirva para melhorar nosso conhecimento sobre como a vida evoluiu, como a natureza funciona, ou que tipo de benefício podemos extrair dela. Em síntese, ele é negativo, apostando suas fichas na esperança de que o evolucionismo não consiga fazer o que vem fazendo há um século e meio, funcionando. A dicotomia de Jonhson já é falsa, não é questão do evolucionismo afirmar que somente causas não-inteligentes construíram o mundo que conhecemos, mas sim de que somente causas desse tipo podem ser estudadas e entendidas, e precisamos investigar com aquilo que temos, pois é impossível estudar causas inteligentes sem ao menos uma idéia do que é e como funciona essa inteligência. Se tivesse lido pelo menos o último livro de Harry Potter, Johnson teria aprendido que é absurdo basear uma crença na simples inexistência de sua prova negativa. O fato de ninguém ter provado que não existeDeus não faz com que ele automaticamente exista. Johnson acredita no Designer porque não se provou que ele não existe, o que é na verdade impossível, pois não importa o quanto a ciência avance, ela JAMAIS irá ter todas as respostas, e os DIstas sempre terão no que se agarrar, pois acham que para refutar o

Page 21: Evolução vs. criação

planejamento inteligente o evolucionismo teria que explicar quark por quark todo e cada incomensuravelmente pequeno detalhe de cada um dos infinitos eventos que compõem a totalidade do universo. Crença que ele compartilha com Michael Behe,que pergunta "Como exatamente?" infinitamente, não importa quantos níveis de explicação sejam dados. Além do mais, ele ainda fala sobre 'provas'. É curiosoque ele não sinta necessidade alguma nem de provar, nem de fornecer qualquer evidência, jogando no adversário toda a responsabilidade por isso. E, ainda mais estranho, diz que seria "...um grande trabalho de pesquisa descobrir as consequências dessa hipótese." Mas onde está esse trabalho?! Quais são as pesquisas?!Ir mais adiante em seu texto pode ajudar a esclarecer.

Q: Qual é a evidência do Design Inteligente? Johnson: E se o mecanismo darwiniano não tiver o poder criativo que alega ter? Então, alguma outra coisa tem que ser verdadeira. São dois lados de uma mesma moeda, do modo que eu vejo, e por isso sempre dediquei minhas energias para fazer uma investigação cética sobre o Darwinismo. Outros têm evidências de natureza positiva, Complexidade Irredutível e Informação de Complexidade Especificada são parte delas. (...) Q: O Design Inteligente é uma ciência? Johnson: Penso que sim. Para responder a isso preciso voltar ao ponto em que veja a questão científica como uma escolha entre duas hipóteses. Uma em que você precisa de inteligência para a criação que foi feita na história da vida, e a outra em que você não precisa. Então a abordagem científica é decidir entre essas duas hipóteses com base na evidência e na lógica. É o que eu quero ver sendo feito. É por isso que é uma questão científica. Se a evolução por seleção natural é uma doutrina científica, então a crítica a esse doutrina, e mesmo da premissa fundamental em que se baseia, e parte legítima da ciência. Ele parece ignorar o fato de que a crítica tem que teruma abordagem científica, e não apenas apostar numa moeda e ficar sentado esperando que a mínima dificuldade do adversário sirva como prova do seu ponto de vista. É muito cômodo apresentar minha 'teoria' de que não existe Força Gravitacional, e dizer que ela é corroborada pelo fato da física atual não conseguir detectar o gráviton. E daí para frente empurrar qualquer alegação. A questão que fica é: POR QUE OS DISTAS SE RECUSAM A TEORIZAR SOBRE O PLANEJADOR?

Page 22: Evolução vs. criação

Abordemos ao final. Aqui, basta entender que esta quarta espécie de criacionismo apresentou um grau de adaptação maior, com capacidade para se reproduzir em diversos ambientes. Visto que a idéia de um Evolucionismo Teísta é esmagadoramente popular, não foram poucos os membros de outras religiões, como os Kardecistas, ou mesmo teístas seculares, que foram receptivos ao Design Inteligente. Eu mesmo o fui. Na realidade, a grande maioria das pessoas, inclusive dos cientistas, é evolucionista teísta, não tendo qualquer dificuldade em lidar com a idéia de uma inteligência guiando o processo evolutivo. Essa nova espécie de criacionismo, então, foi notável por sua capacidade mimética, se camuflando e se infiltrando em nichos onde antes o Criacionismo "Científico" jamais poderia adentrar. Inúmeras pessoasde boa fé foram enganadas por essa proposta que se pretendia 'desinteressada' mas depois se revelou nada menos que uma conspiração conservadora e fundamentalista, apenas esperando a oportunidade certapara, após conseguir uma mão, tentar puxar o braço todo.

O QUINTO ESTÁGIOO Futuro do Criacionismo

Qual será a próxima espécie de criacionismo? Espécie está que, certamente, já começou a surgir. Vamos colocar as espécies já surgidas numa árvore evolutiva,para fins de ilustração.

Page 23: Evolução vs. criação

Em amarelo temos as espécies que pretenderam COMPETIR com o evolucionismo. Simulacros de ciência que pretendemnegar sua fundamentaçãoreligiosa. Foram réus nos processosjudiciais queprotagonizaram, sendo ambos condenados como não aceitáveis nocurrículo escolar.

Em cianotemos as

espécies quepretenderamCENSURAR o

evolucionismo, quer seja

a nívellegal,

penal, oumeramente

administrativo. Foram

agentes nosprocessosjudiciais

quepromoveram,

na tentativade impugnar

ourestringir o

ensino deevolucionism

o nasescolas.

Todas são descendentes de um Criacionismo Puro, original, que é a mera e perfeitamente autêntica versão mitológica, que jamais deixou de existir, apenas não chamando muita atenção uma vez que nunca selançou diretamente contra o conhecimento científico. A primeira espécie é a única que pode ser dada como "extinta" na maior parte dos ambientes do mundo ocidental. Embora talvez, isso seja prematuro afirmar.NÃO TENHO A MENOR DÚVIDA, que havendo oportunidade, que poderia ter se concretizado na regência fraudulenta e fundamentalista de George W. Bush, e ainda pode ocorrer num hipotético governo Sarah Palin,os fundamentalistas cristãos não hesitariam um só segundo em proibir novamente o ensino de evolucionismo, se o contexto político fosse favorável.Afinal, não é a toa que há um tremendo esforço de se

Page 24: Evolução vs. criação

expandir sua representação legislativa, assim como há no Brasil, e todos os clamores de considerar o país uma Nação Cristã não tem outro objetivo a não ser teocratizar o máximo possível o governo. A segunda espécie está claramente viva e atuante, ainda que tenha sofrido algum desgaste, PRINCIPALMENTEPELA CONCORRÊNCIA com a 4, pois mesmo espécies aparentadas, e mesmo indivíduos de uma mesma espécie, competem entre si. Esse Criacionismo "Científico" se aperfeiçoou muito, talvez até mais no Brasil do que nos EUA, a julgar pelo competente site da Sociedade Criacionista Brasileira, que representa um claro exemplo de que é possível aliar a religiosidade com uma boa qualidade científica, e superar as maiores dificuldades pela desenvoltura filosófica. Ainda, é claro, que esteja sempre sujeito à má herança genéticarecebida, onde monstruosos remanescentes arcaicos ainda podem se encontrados para o horror das espécies mais refinadas. A terceira, que é mais legítima, teve pouca penetração, visto que suas investidas judiciais ficaram restritas a esferas locais e ou não tenham chamado muita atenção da mídia. Certamente, o maior feito desta espécie foi conseguir obrigar, em alguns locais, a adicionar uma advertência no livros de biologia, a exemplo do caso Selman vs. Cobb County (2004), no estado da Georgia, onde a advertência dizia"Este livro contém material sobre evolução. Evolução é uma teoria, não um fato, a respeito da origem das formas de vida. Esse material deve serabordado com uma mente aberta, cuidadosamente estudado, e criticamente considerado." Por fim a quarta espécie, sendo a mais recente, ainda está em nítida e maior evidência, embora já deixe claros sinais de enfraquecimento não somente dado a seu desmascaramento e derrota judicial, mas porque a contradição explícita entre se pretender como teoria científica e não apresenta teoria alguma já está por demais evidente para não incomodar. Seria de se esperar que o Quinto Estágio seguiria a afinidade dos seus ancestrais ímpares, bem como poderia ocorrer uma tendência a fusão. De fato, é o que sugerem abordagens recentes, em especial baseadas

Page 25: Evolução vs. criação

em teoria da informação, que está sistematicamente contaminando quase toda a produção criacionista recente, que desafia os evolucionistas a fornecer exemplos de processos evolutivos que possam resultar em "Acréscimo de Informação" ao DNA. Essa abordagem tem como grande representante o ISCID - I nternational S ociecty for C omplexity, I nformation and D esign , que absorveu quase todos os membros que espertamente saíram do Discovery Institute. Essa abordagem reúne, é claro, a herança do Design Inteligente, incluindo seus dois maiores expoentes: Michael Behe e William Dembsky, e pode-se notar que seu ataque à evolução é muitíssimo mais sutil e especializado, reunindo também alguns Filósofos da Religião, entre eles se destaca Alvin Plantinga. A maior parte de sua abordagem, e qualquer abordagem da Informação em geral, é baseada numa mistura de petiçãode princípio com falsa analogia, quase totalmente concentrada no simples conceito de informação, que numa significação comum evidentemente pressupõe inteligência, mas não no sentido em que costuma ser usado na genética. Se tal nova espécie de criacionismo, ou talvez baste dizer agora, anti-evolucionismo, irá protagonizar qualquer episódio juridicamente notável, ainda não se sabe.

O CRIACIONISMO E SUA HISTÓRIA JURÍDICACabe agora recapitular a história do criacionismo nos tribunais, por meio dos casos mais famosos, onde pode-se notar claramente sua evolução. Lembrando que nas espécies Ímpares os evolucionismo era réu, e nas Pareso criacionismo.

1Proibição

doEvolucionis

mo

2Criacionism

o"Científico

"

3Crítica

"Filosófica"

4Design

Inteligente

Scopes 1925

TennesseEpperson

---

Daniel 1975

----

----

Page 26: Evolução vs. criação

1968 Arkansas

TennesseHendren1977

IndianaMacLean1981

ArkansasEdwards1987

LouisianaWebster1990

Illinois

---

Segraves1981

California---

Peloza 1994

CaliforniaFreiler1997

LouisianaRodney 2000Minesota

Selman 2005

Georgia

--------------

Kitzmiller2005

Pennsylvania

A evolução é mais que evidente. No começo temos os Professores John Scopes, "Julgamento do Macaco", e Susan Epperson que basicamente desafiaram as leis antievolutivas de seus estados, sendo então processados. O caso Scopes foi a única vitória do criacionismo, embora com nítido sabor de derrota, visto que a penalidade imposta a Scopes acabou sendo invalidada, e a repercussão do caso praticamente penalizou a iniciativa conservadora. O último chegou aSuprema Corte, que terminou por determinar a extinção de qualquer lei anti-evolução no país. Todos os casos da espécie 2 envolveram a introdução deCriacionismo "Científico" nos conteúdos programáticos de escolas, resultando em ações que apontavam a inconstitucionalidade da medida, visto que violava a separação Estado/Religião. Na terceira espécie temos pessoas que sentiram suas crenças religiosas serem ofendidas pelo ensino de evolucionismo, tanto de alunos que não queriam aprender quanto professores que não queriam ensinar. Moveram ações baseadas no pressuposto de que evolucionismo é uma 'religião'. E o fato de um dos

Page 27: Evolução vs. criação

casos ocorrer no mesmíssimo ano de 1981 onde outro caso usava o argumento absolutamente oposto, isto é, de que Criacionismo era tão ciência quanto Evolucionismo, é apenas uma manifestação da contradição estrutural do criacionismo. Enfim, os casos de 2005 envolveram ambos uma declaração obrigatória de que Evolucionismo era "apenasuma teoria..." nos livros escolares, sendo que no caso Kitzmiller não só ainda foi proposto o DI como uma alternativa como ainda foram disponibilizados gratuitamente exemplares do livro Of Pandas and People como suporte bibliográfico. (Curiosamente, os livros foram comprados por dirigentes da escola com dinheiro de doações de fiéis das igrejas, visto que o conselho escolar não aprovou orçamento para sua compra, e então doados anonimamente ao mesmo tempo que os próprios declararam não saber quem os doou!) De qualquer modo, esse quadro evolutivo mostra não apenas a modificação das formas de criacionismo, como também mostra sua crescente capacidade de adaptação a ambientes mais amplos do que o mero Bible Belt sulista norte americano. Comparado com o mapa anterior, acima,vemos que...

...os estados que aprovaram leis anti evolução estavamentre o Oklahoma, Kentucky e Florida (Sudeste), mas agora vemos que as contendas judiciais se espalharam, e o mais notável, a espécie 3 no extremo norte, em

Page 28: Evolução vs. criação

Minnesota, bem como no extremo oeste, Califórnia. Já a4 atingiu a Pennsylvania. Isso é um claro sinal da capacidade adaptativa das espécies mais evoluídas, quepassaram por maior quantidade de mudanças, de atingir novos nichos ambientais.

SINTETIZANDOTudo nos leva a conclusões seguras. O Criacionismo é basicamente um movimento conservador que, comprometidocom a literalidade da Gênese, reage à novidade por todos os meios disponíveis. Fica claro que se ainda fosse possível puramente proibir o ensino de evolução nas escolas, simplesmente o Criacionismo "Científico" e seus outros descendentes jamais teriam vindo a existir, pois as espécies evoluem sempre de acordo como ambiente, e caso o mesmo se estabilize, qualquer modificação tende a ser descartada pela Seleção Natural. Como porém o ambiente está frequentemente mudando, assim como muda a geografia ao longo da história natural, as variações terminam por se diversificar e se adaptar a novos ambientes, o que, mais uma vez, nãoimplica em que as anteriores desapareçam, a não ser que seu ambiente original também o faça. E é óbvio queno caso do Criacionismo isso nem passou perto de acontecer. Como a mera proibição da evolução não foi mais possível, os criacionistas não tiveram outro remédio anão ser se disfarçar de cientistas para tentar disseminar suas idéias retrógradas, até chegarmos ao atual DI e derivados, que apesar da diferença superficial, no fundo, carregam na bagagem genética o mesmo propósito, impedir ao máximo possível que o evolucionismo seja acessível aos estudantes. Isso por si só demonstra que qualquer pretensão científica do criacionismo é e sempre será uma fraude.Uma pele artificial para ocultar sua essência, que é apura ortodoxia religiosa do fundamentalismo cristão norte-americano. Que tal fraude tenha enganado muitos cristãos de boa fé, e até não cristãos, era inevitável, e que parte da discussão tenha até sua utilidade, é esperável. Mas somente uma completa faltade noção histórica, científica, teológica e filosófica

Page 29: Evolução vs. criação

pode permitir a alguém acreditar que há no criacionismo qualquer intenção cientificamente genuína. Também notamos, porém, uma distinção entre a evolução criacionista e o modelo darwiniano. É que enquanto na natureza a vida evolui de modo a não aparentar propósito algum, é evidente que o criacionismo é guiado por um propósito "inteligente". Mas talvez, essa "inteligência" não seja tão distinta das forças provavelmente cegas da Seleção Natural. Primeiro porque apesar de haver uma unicidade por trásde todo o movimento criacionista, há também um série de conflitos internos de objetivos. Há vertentes distintas, designações distintas e alguns desacordos que inviabilizam uma unidade total. O texto Quem são os "Cientistas" da Criação relata algumas das naturaisdivergências entre os próprios criacionistas que prejudicaram sua união. Isso, é claro, acontece em qualquer outra área e contexto, e o resultado é que apesar de movido por propósitos intencionais, eles acabam substituindo uma direção precisa por um amontoado de pretensões que tendem a maior quantidade de caos, aproximando sua evolução de uma evolução natural e fundamentalmente caótica. Segundo porque apesar de intencional, a "inteligência"desses propósitos é tão questionável quanto a suposta inteligência que os criacionistas querem ver na natureza, que em inúmeros casos mais pareceria resultado de um Designer péssimo, brincalhão ou mesmo perverso. Puxar briga com os cientistas, os juristas, os educadores etc, para tentar forças suas crenças religiosas no meio secular é no mínimo insensato. Principalmente quando as mesmas se baseiam em teologias que já são internamente desastrosas, como a pura e simples interpretação pretensamente literal da Gênese. Claro que os criacionistas tem uma explicação para o aparente design na natureza ser tão imperfeito, e é exatamente para esconder essa explicação que temos a resposta de POR QUE OS DISTAS SE RECUSAM A TEORIZAR SOBRE O PLANEJADOR.

Page 30: Evolução vs. criação

É simples. O método utilizado por Darwin para desenvolver sua teoria foi hipotético dedutivo. Isto é, ele primeiro parte dos dados da natureza, como se faz em qualquer ciência, tenta distinguir uma padrão nesses dados, e então formula hipóteses para explicá-los. Então dessa hipótese deduz consequências e verifica se elas se encaixam com os dados obtidos, e se prevêem dados que poderão e não poderão ser encontrados. Muitas hipóteses podem ser descartadas até que uma se conforme com os dados, e então será frequentemente testada para ver se é corroborada ou falseada, e é assim que a maioria das teorias científicas funciona. Para que o DI, ou o Criacionismo "Científico" fossem ciência, teriam que seguir basicamente esse método. Isso torna inevitável levantar hipóteses sobre o Planejador, e testar os dados de modo a conformá-la ounão. O problema é que se fizerem isso, ficará evidenteque nada mais farão do que empurrar o deus bíblico pela porta dos fundos. Vejamos por quê. 1 - O MENOR DOS PROBLEMAS é que se por um lado podemoster certeza de que algo foi projetado, nunca teremos se não o foi. Ninguém acreditará que uma escultura de barro com a forma perfeita do Cristo Redentor foi formada apenas pela erosão e pelas chuvas, mas por outro lado uma coisa completamente disforme, típica das montanhas ou das pedras, além de poder ser resultado de ações naturais, TAMBÉM PODE SER RESULTADODE AÇÃO INTELIGENTE! Temos a Arte Moderna e Abstrata para não deixar dúvidas quanto a isso. Por isso, se partirmos da hipótese de que a vida não foi planejada, essa hipótese poderá ser testada, pois bastará achar uma coisa suficientemente perfeita para fazer esse teste, como os próprios criacionistas admitem. Mas se partirmos da hipótese contrária, de que a vida foi planejada, nunca poderemos testá-la, pois como já vimos, qualquer evidência em contrário também poderá ser resultado de design. 2 - Os grandes problemas começam quando notamos que temos que trabalhar sempre com hipóteses de planejamentos locais. Se acharmos algo que nos convença ser obra de inteligência, só podemos admitir

Page 31: Evolução vs. criação

que AQUILO em si foi projetado, pois se admitirmos isso para tudo o mais, pelo motivo acima, qualquer desenvolvimento teórico seria inviabilizado. Assim, é perfeitamente possível que tenhamos estruturas projetadas e não projetadas convivendo no mundo, e isso nos permitira apenas pressupor um designer restrito. Se achássemos que o sistema imunológico é intencionalmente projetado, teríamos que considerar a intervenção apenas nesse caso, visto que diversos outros sistemas não são tão eficientes, e o simples fato de que seria muito mais plausível que seres inteligentes tenham tentado aumentar nossas chances desobrevivência fazendo apenas isso, do que seres que tivessem feito tudo construiriam doenças e depois o sistema imunológico, tendo o dobro de trabalho. Planejamento PRESSUPÕE eficiência. 3 - Disso, quer sejam inteligências extraterrestres deordem natural ou mesmo divindades específicas, permitiriam supor sempre planejadores imperfeitos, o que aliás tenderia a ser fortemente corroborado pelas evidências disponíveis. Talvez de vários planejadores trabalhando em áreas diferentes, as vezes até em conflito uns com os outros. Mas é claro que isso não interessa ao criacionistas, pois eles querem empurrar o deus bíblico, que é supostamente perfeito, e aí ficará a pergunta: Como explicar a imperfeição na criação de um ser perfeito? 4 - Aí, essa suposta nova ciência imediatamente se revelará a velha teologia, pois a explicação inevitável é que um ser perfeito projetou tudo, mas algum evento introduziu a imperfeição no mundo, o que resultaria em todas as irregularidades, defeitos e atéperversões. Estaremos então de volta ao problema clássicos da teologia cristã, que explica a corrupção da criação devido ao pecado original mas caí perpetuamente nas contradições da Existência do Mal e da Onipotência, Onisciência X Livre Arbítrio, Justiça Divina X Inferno Perpétuo e etc. Ou seja, qualquer tentativa de teorizar sobre o designer gerará ou uma teoria sobre um planejador imperfeito que não interessa ao criacionismo, ou

Page 32: Evolução vs. criação

desmascarará instantaneamente qualquer véu de honestidade científica, deixando claro que tudo não passa de reafirmação do velho conservadorismo religioso. O fato de ser impossível fazer qualquer coisa útil comesse impasse em nada incomoda os criacionistas, que não estão mesmo preocupados nem um pouco em contribuircom o que quer que seja para o avanço do conhecimento.Tudo que eles querem é que suas idéias se infiltrem nomeio secular. Se hoje os cientistas se mostram céticosquanto à existência de planejamento intencional, caso eles se mostrassem favoráveis, isso aumentaria muito aprobabilidade do cristianismo estar cientificamente justificado. Mesmo que surgisse uma teoria de "designer imperfeito" honesta, os criacionistas já a utilizariam como "evidência" a seu favor, afinal, já estão acostumados a distorcer dados científicos extremamente desfavoráveis para lhes servirem. Se já estão tentandoforçar a ciência na direção de uma subordinação à religião mesmo sendo ela tão distante, imagine o que fariam se ela desse um passinho em sua direção? Imagine o que aconteceria se inúmeros cientistas de renome começassem a cada vez mais afirmar que há indícios de planejamento inteligente na natureza? Passariam então para a campanha de mostrar que o tal planejador tem tais e tais características, e se conseguissem, mostrar que é o deus da bíblia, ainda que enfrentando concorrência com possíveis outras denominações religiosas, até por fim empurrarem sua ortodoxia inteirinha. Esse é o criacionismo, essa é sua história e sua evolução. E pelo menos nesse caso, ela não é nada cega. Pode falhar nos meios questionáveis, mas sabe muito bem onde quer chegar.

A EVOLUÇÃO DO CRIACIONISMO

Page 33: Evolução vs. criação

O Criacionismo, como tudo no universo, também evolui. Mas, diferente de muitas outras coisas que apenas mudam sem ter necessariamente algum parâmetro, há uma nítida característica na evolução criacionista. É que trata-se claramente de uma Evolução Darwiniana. Ou seja, o Criacionismo está submetido aos mesmos princípios de Seleção Natural, Adaptação e Sucesso Reprodutivo que permeiam a evolução dos seres vivos. Em síntese, a evolução do criacionismo se dá no sentido de adaptá-lo, ou não, aos ambientes. Ele já está muito bem adaptado em seu ambiente original, as igrejas, onde, embora continue tendo pequenas variações, não são estas significativas, de modo que um criacionista em seu ambiente religioso atual pode pensar praticamente da mesma forma que outro o fazia há um século atrás. Há distinções entre as religiosidades diferentes, bem como nichos mais ou menos específicos. O Criacionismo Tomista por exemplo,está restrito ao âmbito dos teólogos e filósofos que estudam as obras de São Tomás de Aquino. Mas com suas características sofisticadas e distinções aristotélicas de Ato e Potência, não poderia sobreviver no mero púlpito das igrejas intelectualmente mais simples, estando então adaptado somente aos redutos das universidades e círculos eruditos. Se o Criacionismo menos sofisticado está confortável em seu ambiente religioso natural, para ser bem sucedido no mais amplo terreno político, educacional, jurídico e científico, o desafio adaptativo é muito mais complexo, pois desde o século XIX esse espaço passou a ser dominado por um sistema de pensamento muito mais bem adaptado ao novo ambiente intelectual ecientífico que surgia. Assim as espécies de criacionismo foram reagindo de formas distintas de acordo com o ambiente, e sendo mais ou menos bem sucedidas. Na Europa, o criacionismofora do âmbito religioso foi praticamente extinto, devido às condições locais, mais sofisticadas intelectualmente e mais internacionalizadas, não seremfavoráveis a visões de mundo sectárias de congregaçõesrurais.

Page 34: Evolução vs. criação

A intelectualidade européia é multicultural, enquanto diversos pequenos países tem diversas religiões e idiomas, o ambiente acadêmico e científico permite umauniversalidade que interliga as várias nações, ao mesmo tempo que goza de grande prestígio entre a população. Já nos EUA ocorre a situação inversa. Há um único grande país, com um único idioma. Embora seja dividido em estados com peculiaridades distintas,e principalmente polarizado em Norte e Sul, há muita similaridade entre diversos estados de cada região, que são contíguos e compartilham de identidades religiosas praticamente idênticas e sintetizadas numa bandeira comum reconhecível. No caso, o protestantismosulista. Além disso, os EUA sempre tiveram uma estranha culturaanti-intelectualista, cujo valor pelo conhecimento advém quase exclusivamente dos resultados tecnológicospor ele gerados, e não pela estética do saber em si, extremamente valorizada na Europa. Isso gerou a situação bizarra de que pessoas inteligentes e com potencial para desenvolver habilidades acadêmicas, científicas e intelectuais são marginalizadas e excluídas do convívio social, que por sua vez super valoriza os esportistas e alguns segmentos artísticos.(A ponto de por vezes algumas universidades serem mais acessíveis a jogadores de football americano do que a alunos estudiosos!) Entre outras disputas regionais, os EUA apresentam tendências políticas e religiosas que podem ser Liberais ou Conservadoras. No século XIX o Cristianismo Liberal se aproximava da intelectualidadee da ciência, do abolicionismo, da independência das colônias, e de outras formas de conquistas em termos de liberdade e igualdade. Por sua vez, o Cristianismo Conservador preferia manter as coisas como eram, e disto surgiu o Fundamentalismo Cristão.

A "CRIAÇÃO" DO CRIACIONISMO MODERNODizer "criação" é certamente um exagero, visto que nada é criado, e sim, transformado. Mas o que podemos chamar de nascimento do Criacionismo Moderno e Contemporâneo foi uma transformação radical, que num retorno à ortodoxia religiosa pretendeu enrijecer

Page 35: Evolução vs. criação

ainda mais as bases de um pensamento que vinha sendo flexibilizado pelos ventos da mudança dos novos tempos. Rejeitando a simples idéia de que a sociedade deva mudar seus valores, até mesmo aqueles que oprimem as mulheres, as etnias e segmentos religiosos menos favorecidos, era objetivo desse novo movimento Fundamentalista se apegar à velha idéia de imutabilidade, e considerando que, apesar dessa idéia,as interpretações das doutrinas bíblicas também sempremudaram com o tempo, decidiram descer a um pilar aindamais fundamental. A literalidade do texto. Desde o surgimento do cristianismo que os pensadores cristãos se aperceberam que a Bíblia tem que ser interpretada, caso contrário, como um todo, não faz sentido algum. No entanto, essa interpretação sempre mudou ao longo da história, ainda que dentro de algunsparâmetros mais ou menos estáveis. Não é preciso mais do que observar superficialmente o desenvolvimento do cristianismo através dos séculos para perceber isso. Provavelmente, temendo o desenvolvimento de uma teologia mais complexa e avançada, mas por isso mesmo mais sujeita a mudanças, os fundamentalistas procuraram produzir a mais simples possível, e chegaram ao ponto de inventar o princípio da Inerrância Absoluta da Bíblia. Um novidade histórica. Ao contrário do que muitos pensam, a tradição cristã, em especial a católica, nunca viu a Bíblia como inerrante em matérias naturalistas. Os fundadores da Igreja por exemplo, cientes de que a visão bíblica de mundo é de uma Terra Plana, já advertiam que a interpretação de diversas passagens que descreviam o mundo deveriam ser interpretadas de forma simbólica e poética. Com a Gênese não foi diferente. Não é a toa que após a Revolução Biológica a Igreja Católica foi uma das que menos apresentou resistências ao evolucionismo, resguardando, porém, o núcleo doutrinário que garante o lugar da criação divina, o advento da consciência humana, que, de fato, permaneceuma caixa preta praticamente sem chance de uma explicação científica convincente.

Page 36: Evolução vs. criação

Já esses novos Fundamentalistas Cristãos Norte Americanos lançaram a idéia de que a Bíblia deve ser lida LITERALMENTE, que é INFALÍVEL e INERRANTE em cadadetalhe do que diz, e assim, não havia outra coisa a fazer com a Gênese a não ser interpretá-la ao pé-da-letra. A forma mais simples possível de leitura, acessível até mesmo à uma criança recém alfabetizada. Jamais será possível entender qualquer coisa sobre o movimento criacionista caso se perca de vista seu fundamento primário. A idéia de que a Gênese deve ser lida desprezando ao máximo qualquer dimensão poética, simbólica ou hermética, em especial dos capítulos 1 ao19. (Tema do texto Desrespeito à Gênese) Remova esse pressuposto, e tudo o edifício conceitual criacionista desaparece.

A ORIGEM DE NOVAS ESPÉCIES DE CRIACIONISMOTenhamos em mente agora que estamos chamando de Criacionismo esse movimento norte americano do início do século XX. Tudo o que este sempre pretendeu foi monopolizar a explicação das origens do universo, da vida e dos seres humanos. Por isso podemos identificarseu primeiro momento.

O PRIMEIRO ESTÁGIOCRIACIONISMO MITOLÓGICO

Proibição do EvolucionismoEssa primeira fase é caracterizada pela pura e simplesleitura literal da Gênese como explicação para as origens, ignorando qualquer forma de explicação alternativa. Não havia diálogo com a ainda recente tradição evolucionista. Os poderes políticos locais onde o fundamentalismo cristão era forte simplesmente criaram leis para proibir o ensino do Evolucionismo. O exemplo mais famoso é o Butler Act, do estado do Tennessee, que dizia basicamente: "É ilegal para qualquer professor em qualquer Universidade, Magistérios e qualquer outra escola pública do Estado que seja suportada total ou parcialmente por financiamento educacional do Estado, o ensino de qualquer teoria que negue a estória da Criação Divina do homem como ensinada na Bíblia, eem seu lugar ensine que o homem descenda de uma espécie inferior de animais." A lei, de 1925, tem esse nome devido a seu criador, o fazendeiro John Washington Butler (1875-1952), que era

Page 37: Evolução vs. criação

"deputado" local na "Câmara" representativa do estado.Ele admitia não conhecer coisa alguma sobre Teoria da Evolução, mas estava convencido de que ela era perigosa. Verdade seja dita, não era uma lei muito severa. Previa no máximo uma multa de 500 dólares para o infrator, ainda que naquela época esse valor fosse relativamente bem maior do que é hoje. De qualquer modo, a pena praticamente não chegou a ser aplicada devido a lei praticamente não ter sido violada. (Observe que ela não proíbe o ensino de evolucionismo em geral, mas sim somente a origem evolutiva humana.) Embora tenha sido objeto de debates e críticas em diversas instâncias jurídicas, ela só foi definitivamente removida da legislação estadual em 1967. Mas foi desta lei que, em 1926, ocorreu o famoso episódio Scopes Trial, também conhecido como "Julgamento do Macaco". Onde o professor John Scopes, orientado pela União Americana pelas Liberdades Civis deliberadamente violou a lei para chamar atenção para o absurdo jurídico e educacional que a caracterizava. Episódio este que gerou repercussão mundial e inspirouo filme Inherit The Wind (Não é uma retratação fiel do caso, mas uma versão com várias alterações.) Esses são os estados que conseguiram aprovar leis anti-evolução, embora outros tenham apresentado projetos não aprovados.

Page 38: Evolução vs. criação

Não fosse o caso Scopes e toda a imagem negativa que causou nos estados que adotaram tais leis, que ficaramcom a pecha de retrógrados em plena era de modernização, é possível que o Fundamentalismo Cristãotivesse ficado satisfeito com o modo como as coisas eram, e assim como estava bem adaptado às Igrejas, o Criacionismo ficasse estacionado em sua espécie jurídica. Mas as leis não puderam impedir que a evolução continuasse a ser ensinada, e sem conseguir eliminar oevolucionismo das escolas, o Criacionismo só tinha umaopção: EVOLUIR!

O SEGUNDO ESTÁGIOCRIACIONISMO "CIENTÍFICO"

Reivindicação de "Tempo Igual" ao do EvolucionismoOuso desafiar qualquer um a mostrar um único exemplo de alguém que tenha abandonado o cristianismo, ou deixado de se converter, por causa da Evolução Biológica ou qualquer outra questão naturalista. Mesmoassim os Criacionistas acham que a Teoria da Evolução é uma ameaça a sua fé, e então, para defendê-la, decidiram que ela não era suficiente. Não bastava a Bíblia, Deus e Jesus. A Fé precisava do apoio do Ciência. O Criacionismo "Científico" é um conjunto de recursos argumentativos que visa mostrar que a Criação conforme

Page 39: Evolução vs. criação

entendida literalmente na Gênese é um evento que pode ser inferido por evidências na natureza, da mesma forma como a Evolução o é. Na verdade, vão mais longe.Apesar de nunca terem dado um único passo no estudo danatureza antes do evolucionismo, passaram a dizer que na verdade somente a criação era sustentada pelas evidências. Evidentemente, é um ponto de partida bem complicado, pois EVOLUÇÃO, sendo TRANSFORMAÇÃO, é um FENÔMENO FACILMENTE OBSERVÁVEL. Pode não ser fácil observar umalonga série de transformações, e é evidentemente impossível observar toda a série de transformações ocorrida nos bilhões de anos passados. Mas isso não muda o fato de, em algum nível, EVOLUÇÃO É FATO. Se suas consequências estão sendo exageradas, é uma outradiscussão. Por outro lado, CRIAÇÃO NÃO É OBSERVÁVEL EM NÍVEL ALGUM! Não se pode ver sequer uma Micro-Criação para supor uma Macro-Criação. Simplesmente não há Criação alguma, em lugar algum, e nem sequer pode ser concebida sem violar o Primeiro Princípio da TERMODINÂMICA. Portanto, o fundamento primário da "Ciência" Criacionista é absolutamente inexistente. Uma suposição cuja única alegação não vem nem sequer da Bíblia, onde também NÃO EXISTE CRIAÇÃO A PARTIR DO NADA. Para qualquer linha de pensamento que se proponha entrar na definição de ciência, isso é mais do que suficiente para inviabilizar a empreitada. Além do mais, isso explica porque de fato não há uma única proposição científica criacionista. O Criacionismo "Científico" é, basicamente, uma série decríticas ao modelo evolutivo, da quais parte vem do próprio evolucionismo, parte vem da filosofia, e a maior parte pura e simplesmente de inverdades acerca do modelo evolutivo. Mais de 10 anos de experiência na área me permitem afirmar sem receio algum que mais de 90% do trabalho dos criacionistas "científicos" foi simplesmente promover uma gigantesca versão distorcida do Evolucionismo, para que fique fácil atacá-lo. E nisso,foram extremamente bem sucedidos. De fato, o que esses

Page 40: Evolução vs. criação

criacionistas chamam de "Teoria da Evolução" é uma colcha de retalhos de conceitos confusos que não faz sentido algum. Perseguindo as origens do Criacionismo "Científico" podemos chegar ao livro The New Geology de George McCready Price (1870-1963), lançado em 1923, que advogava a Terra Jovem e o Dilúvio Global de um ponto de vista pretensamente naturalista. Não era uma idéia nova, Thomas Burnet (1635-1715) já havia feito isso em 1681 na obra Sacred Theory of the Earth,onde pode-se notar muitas das idéias que até hoje permeiam a Geologia Criacionista, como depósitos subterrâneos de água e geologia plana antes do dilúvio, embora a obra de Burnet seja mais autêntica em relação à essência mitológica da Bíblia, reconhecendo sua origem a partir do Caos e localizandoas águas originais do dilúvio acima do firmamento. De qualquer modo, a obra de Price se tornou popular nomeio religioso, servindo de referência a todo Criacionismo "Científico" subsequente. No entanto, elasó passou a ser de fato levada a "sério", como fonte de informações, pesquisa e suporte, a partir da décadade 1950 (ainda que tenha sido usada pelos criacionistas no caso Scopes). E isso, obviamente, tem o único motivo de que somente a partir daí passou a ser preocupação dos criacionistas se articular de modo mais sofisticado a ponto de se lançar sobre a mídia secular e educação. (Essa história e contada com riqueza de detalhes em Quem são os "Cientistas" da Criação , de Lenny Flank, que apesar de ser um texto de 1995 é leitura OBRIGATÓRIA para qualquer um que queira abordar o assunto.) Basicamente, os pais desse Criacionismo "Científico" são inequivocamente o engenheiro hidráulico Henry T. Morris (1918-2006), o teólogo John C. Whitcomb (1924-), e o bioquímico Duane T. Gish (1921-) que tiveo prazer de conhecer pessoalmente, como relato em Meu Encontro com Duane T. Gish. Morris, principalmente, produziu diversos livros de "Ciência" da Criação, que tinham a honestidade de assumir abertamente sua inspiração religiosa, deixandoclaro que a questão não era de simplesmente examinar evidência e tirar conclusões delas, mas sim partir do pressuposto da inerrância e literalidade da gênese, e então subordinar às evidências a esse pré conceito.

Page 41: Evolução vs. criação

Invocações à Deus, passagens bíblicas e o fervor religioso recheavam o livro, de modo completamente coerente com os objetivos criacionistas. Foi Morris também o principal responsável pelas maiores instituições criacionistas já fundadas, no caso o Creation Research Society, em 1963, e o Institute for Creation Research, em 1972. Foi também o maior mentor portrás das iniciativas de introduzir o Criacionismo nas aulas de biologia das escolas estaduais, e defensor dofamoso "tempo igual" para evolução e criação, que foi sumariamente rejeitada pela justiça. O motivo da rejeição é o óbvio fato de que o Criacionismo "Científico" não se trata de ciência, massim de apologética religiosa, mesmo que, nos manuais produzidos para o ensino secular, se tenha tido o cuidado de suprimir a maior parte dos conteúdos abertamente teísticos e bíblicos. Como, no entanto, foi impossível disfarçar o teor religioso proselitista, isso levou ao outro motivo que é o simples fato de, sendo os EUA um país oficialmente laico, não pode patrocinar nem favorecer religião alguma por meio do aparelho estatal, que era exatamente a intenção dos criacionistas. Esse tema é exaustivamente debatido em diversas fontespara merecer maior atenção aqui. O ponto que quero demonstrar é que essa espécie de criacionismo tentou se adaptar para sobreviver e prosperar no meio educacional, e embora não tenha conseguido plenamente,pode avançar para além do âmbito mais restrito da espécie criacionista anterior, visto que ao menos mobilizou seus defensores no sentido de se articular com recursos retóricos cientificizados, os incentivando a estudar um mínimo do que entendem por ciência com objetivo de fortalecê-lo. Infelizmente, porém, isso não levou os criacionistas aestudarem e se informarem seriamente sobre evolução. Amaioria esmagadora apenas conheceu a versão brutalmente distorcida criada para causar repúdio nos estudantes cristãos. Os poucos que de fato a estudaramem fontes evolucionistas sérias, ou o fizeram com o objetivo de distorcê-la, alimentando a versão espantalho, ou tentando encontrar pontos vulneráveis.

Page 42: Evolução vs. criação

Muitos destes, terminaram por descobrir que a teoria evolucionista é muito mais coerente do que pensavam, eacabaram sofisticando seu criacionismo, elevando-o a um nível mais competente, o que contribuiu para que este evolua para o próximo estágio. Enfim, enquanto o criacionismo anterior pretendia eliminar diretamente o evolucionismo, sem nenhuma condolência e pela pura e simples força autoritária, este, o Criacionismo "Científico", pretendia competir com ele, no terreno educacional extra religioso.

O TERCEIRO ESTÁGIOCRIACIONISMO "FILOSÓFICO"

Desqualificação do Evolucionismo como CiênciaAntes é preciso prevenir um frequente equívoco cometido por leigos. O fato de uma nova espécie surgirde uma espécie anterior não faz com que necessariamente a anterior seja extinta. Há inúmeros exemplos de espécies estáveis evolutivamente há tempossuficientemente longos para terem várias espécies derivadas. O mesmo pensamento deve ser aplicado aqui. O desenvolvimento de novas formas de criacionismo não significou o abandono das formas anteriores. Todas as espécies de criacionismo continuam vivas e atuantes, embora algumas tenham perdido destaque, mesmo porque uma espécie qualquer só pode ser extinta: 1 - Mediante uma radical mudança de ambiente, o que é claro que não ocorreu, e tendo em vista o crescimento do fundamentalismo cristão, não parece que ocorrerá tão cedo; 2 - Ou talvez pela competição de um adversário mais bem adaptado, o que já aconteceu no campo científico há mais de um século, mas não poderia, por uma questãode características ambientais, acontecer nos campos religiosos; 3 - Ou talvez por algum fato equivalente a uma epidemia, cataclisma ou coisa que o valha, para os quais deixemos de lado analogias. O que nos interessa é mostrar que esse novo criacionismo não irá eliminar o antigo, mas poderá estar em maior evidência, e nesse caso, trata-se de uma curiosa inversão total de conceitos. Foi demonstrado juridicamente aquilo que é cientificamente

Page 43: Evolução vs. criação

consolidado e filosoficamente claro, que o Criacionismo não pode ser Ciência, e não pode deixar de ser uma Ideologia religiosa. Para todos os efeitos práticos, os criacionistas admitiram esse veredicto, tanto que o utilizaram em sua nova estratégia, que é acusar o Evolucionismo de ser da mesma natureza, isto é, uma CONSPIRAÇÃO IDEOLÓGICA, e não rara considerá-lacomo uma forma de "Religião Humanista". Essa nova modalidade de criacionismo, não por acaso, irá se evidenciar na década de 1980, quando os criacionistas viram suas pretensões educacionais seremdefinitivamente frustradas. Dessa forma, partem para uma recuperação da velha estratégia, tentar impedir o ensino do evolucionismo. Não possuindo mais os podereslegais para uma simples proibição direta autoritária, tentaram então usar o mesmo argumento que os derrubou a seu favor, acusando o evolucionismo de não ser ciência, e como tal, também não poder ser ensinado em escolas. Vemos aqui um expediente tão previsível quanto típico,acusar o adversário de ser exatamente aquilo que se é,uma "projeção" de conteúdos num alvo externo, conceitocomum na psicologia, geralmente envolvendo elementos vistos como incômodos ou indesejáveis. A simples coexistência com o segundo estágio já denotauma tensão, visto que ao mesmo tempo em que se afirma um Criacionismo "Científico" se nega um Evolucionismo Científico, mesmo equivalendo ambos como tendo um objeto de estudo igualmente inobservável (o que já vimos ser falso). Mas tal postura contraditória é nada mais quenatural para quem está acostumado a acreditar em punição perpétua no inferno e infinita bondade divina ao mesmo tempo. Diferente dos estágios anteriores, porém, há algo de válido no cerne dessa abordagem. É que evidentemente cabem críticas filosóficas ao modelo evolucionista, e a qualquer modelo científico, mas a Biologia tem a especialidade de ser uma área científica menos matematizada e mais voltada a sistemas complexos que as demais ciências naturais, o que torna uma teoria tão vasta e histórica como a Teoria da Evolução

Page 44: Evolução vs. criação

singular entre as demais teorias científicas. A Estrutura da Revolução Biológica Ademais, essa nova forma de Criacionismo permite trazer para dentro do debate elementos e pensadores depeso, como Filósofos da Ciência e Epistemólogos, fazendo as críticas ao modelo evolutivo irem muito além das meras propostas teológicas e de críticas ingênuas de teor científico, ou mesmo desonestas. Exatamente por essa complexidade maior, no entanto, pode-se dizer que essa forma de criacionismo é muito menos popular que a anterior, e normalmente está quasesempre atrelada a outras. Em especial a próxima, a qual ajudou muito a se desenvolver. Infelizmente, a maior repercussão foi baseada na acusação de o evolucionismo ser uma forma de religião,e se o estado não pode subvencioná-la, não poderia elaser ensinada em escolas. Alguns exemplos foram os casos Segraves (1981) e Peloza (1994).

O QUARTO ESTÁGIODESIGN INTELIGENTE

Pretensão de Inclusão em Currículos EscolaresAssim como os estágios ímpares são similares, o são também os pares. Essa nova espécie de "criacionismo", que literalmente seria um Evolucionismo Teísta, ou Deísta, tem o mesmo fundamento conceitual e pretensõesdo Criacionismo "Científico". Se constituir em forma de proposta científica ocultando suas conexões religiosas, e lograr êxito ao concorrer com o Evolucionismo. Muitíssimo mais sofisticado que seu ancestral primitivo, o Design Inteligente obteve notável sucesso em sua primeira pretensão, conseguindo esconder eficientemente sua origem religiosa por uma década, embora a segunda jamais tenha sido levada a sério, devido a sua fraqueza conceitual inviabilizar qualquercompetição com o neodarwinismo. Essa nova espécie não deveria ser considerada um produto "natural" da mera evolução sócio cultural espontânea, visto que foi deliberadamente projetada. Omovimento é praticamente fundado em 1992, com o lançamento da Estratégia da Cunha, que deu diretamenteorigem as publicações mais famosas sobre o tema, e que

Page 45: Evolução vs. criação

já abordei em Evolução e Ética. Como Conspiração foi totalmente desmascarada em suas intenções, e já rejeitado também pela justiça norte americana em sua pretensão pedagógica. Episódio notavelmente retratado no vídeo Judgement Day - Inteligente Design on Trial (original em Inglês com legendas opcionais e transcrição também em inglês), que também tem uma versão com legendas em português no YOUTUBE, embora esteja editado e tenha qualidade de imagem inferior. Diferente também da espécie número 2, o DI trouxe umanovidade incomparável, que é o conceito de Complexidade Irredutível, cujo o fundamento na realidade foi criado pelo próprio Darwin como potencial falsificador de sua teoria, mas que só agoraviria a ganhar um nome mais específico. Tal conceito éabordado por mim em dois textos Complexidade Irredutível e o Argumento do Relógio, de teor mais informal, e em As Caixas-Pretas de Behe, parte de minha Monografia de conclusão de curso. Tal conceito merece algum destaque por não ser, seguramente, uma mera remodelagem dos velhos argumentos do desígnio ou das velhas falácias típicas do criacionismo "científico". É diferente dos argumentos tolos, e também recentes, do Filtro Explanatório ou do Aumento da Informação, que não passam de formas rebuscadas de se dizer a mesma coisa que a própria Bíblia diz em "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos." Salmos [19:1], que também já encontra uma forma ligeiramente mais ornamentada com o próprio Paulo de Tarso em ""Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas," Romanos [1:20] Daí, São Tomás de Aquino, e William Paley foram apenasalguns que criaram novos formatos para o Argumento do Desígnio, ou Argumento Teleológico, embora no caso comum teor de Cosmológico. Melhor seria dizer Argumento CosmoTeleológico. Também o são Michael Behe, William Dembsky ou Philip E. Jonhson, mas o primeiro, criador do conceito de Complexidade Irredutível, apresenta sua variação de ummodo mais elegante, por utilizar um conceito que se comunica mais diretamente com questões bioquímicas, e

Page 46: Evolução vs. criação

que se apresenta como um falsificador real, enquanto os demais apenas enfeitam suas petições de princípio. Isso porém nada pode fazer pelo DI enquanto possível concorrente científico do evolucionismo, pois seu conceito, além de possuir fraquezas estruturais, precisa encontrar um exemplo factual que o suporte, e todos os sugeridos por Behe em seu livro A Caixa-Pretade Darwin são facilmente refutáveis. Além do mais, falta ao DI exatamente aquilo que também falta ao Criacionismo "Científico", que é uma pura e simples teoria. De nada adianta apontar falhas no modelo evolutivo se não forem propostas soluções para as mesmas, e o DI até agora não apresentou uma única proposição científica a não ser um conceito falho e inaplicável, além de um mero apelo à comunidade científica para que proclame a existência de um designer. Muitos de seus adeptos admitem flagrantemente essa deficiência, mas sugerem que o campo ainda está em desenvolvimento. Curiosamente, o grande mentor do DI,Philip E. Johnson, criador da Estratégia da Cunha, após o julgamento na cidade de Dover (Judgement Day - Inteligente Design on Trial) acabou por assumir que não apenas não há teoria como nem sequer vai haver, conforme disse em entrevista aos produtores do documentário. Q: Então, o que o Design Inteligente diz a respeito de como a vida foi criada e como chegamos a biodiversidade que vemos hoje? Johnson: Bem, a alternativa não está bem desenvolvida, então eu prefiro dizer que, atéonde eu sei a opção é que nós não sabemos o que realmente aconteceu. Mas se a não-inteligência não pudesse ser capaz de fazer todo o trabalho, então a inteligência tem que estar envolvida de algum modo. Assim, é um grande trabalho de pesquisa descobrir as consequências dessa hipótese. Q: Como vocês esperam testar a existência de um designer? Qual o programa de pesquisa? Johnson: Eu gostaria de começar pela primeira questão. Algumas vezes se diz que a hipótese de que há um designer não é testável. Isso é falso. É testável, e o teste é a Evolução Darwiniana. A tese dos biólogos evolucionários é de que causas não inteligentes fizeram todo o serviço. Se eles podem prová-lo, então a contra hipótese de que é preciso inteligência foi testada, e se mostrou falsa. Mas o que eu concluí após pesquisar a literatura foi que a tese de que processos não inteligentes foram capazes de fazer todo o trabalho da criação, das criaturas mais simples até as mais complexas, não é suportada. A evidência para isso repousa entre muito fraca e inexistente. Quando você tenta obter uma prova, você tem estórias sobre microevolução. In Defense of Intelligent Design

Page 47: Evolução vs. criação

Ou seja, os DIstas não tem proposta científica alguma. Nada que sirva para melhorar nosso conhecimento sobre como a vida evoluiu, como a natureza funciona, ou que tipo de benefício podemos extrair dela. Em síntese, ele é negativo, apostando suas fichas na esperança de que o evolucionismo não consiga fazer o que vem fazendo há um século e meio, funcionando. A dicotomia de Jonhson já é falsa, não é questão do evolucionismo afirmar que somente causas não-inteligentes construíram o mundo que conhecemos, mas sim de que somente causas desse tipo podem ser estudadas e entendidas, e precisamos investigar com aquilo que temos, pois é impossível estudar causas inteligentes sem ao menos uma idéia do que é e como funciona essa inteligência. Se tivesse lido pelo menos o último livro de Harry Potter, Johnson teria aprendido que é absurdo basear uma crença na simples inexistência de sua prova negativa. O fato de ninguém ter provado que não existeDeus não faz com que ele automaticamente exista. Johnson acredita no Designer porque não se provou que ele não existe, o que é na verdade impossível, pois não importa o quanto a ciência avance, ela JAMAIS irá ter todas as respostas, e os DIstas sempre terão no que se agarrar, pois acham que para refutar o planejamento inteligente o evolucionismo teria que explicar quark por quark todo e cada incomensuravelmente pequeno detalhe de cada um dos infinitos eventos que compõem a totalidade do universo. Crença que ele compartilha com Michael Behe,que pergunta "Como exatamente?" infinitamente, não importa quantos níveis de explicação sejam dados. Além do mais, ele ainda fala sobre 'provas'. É curiosoque ele não sinta necessidade alguma nem de provar, nem de fornecer qualquer evidência, jogando no adversário toda a responsabilidade por isso. E, ainda mais estranho, diz que seria "...um grande trabalho de pesquisa descobrir as consequências dessa hipótese." Mas onde está esse trabalho?! Quais são as pesquisas?!Ir mais adiante em seu texto pode ajudar a esclarecer.

Page 48: Evolução vs. criação

Q: Qual é a evidência do Design Inteligente? Johnson: E se o mecanismo darwiniano não tiver o poder criativo que alega ter? Então, alguma outra coisa tem que ser verdadeira. São dois lados de uma mesma moeda, do modo que eu vejo, e por isso sempre dediquei minhas energias para fazer uma investigação cética sobre o Darwinismo. Outros têm evidências de natureza positiva, Complexidade Irredutível e Informação de Complexidade Especificada são parte delas. (...) Q: O Design Inteligente é uma ciência? Johnson: Penso que sim. Para responder a isso preciso voltar ao ponto em que veja a questão científica como uma escolha entre duas hipóteses. Uma em que você precisa de inteligência para a criação que foi feita na história da vida, e a outra em que você não precisa. Então a abordagem científica é decidir entre essas duas hipóteses com base na evidência e na lógica. É o que eu quero ver sendo feito. É por isso que é uma questão científica. Se a evolução por seleção natural é uma doutrina científica, então a crítica a esse doutrina, e mesmo da premissa fundamental em que se baseia, e parte legítima da ciência. Ele parece ignorar o fato de que a crítica tem que teruma abordagem científica, e não apenas apostar numa moeda e ficar sentado esperando que a mínima dificuldade do adversário sirva como prova do seu ponto de vista. É muito cômodo apresentar minha 'teoria' de que não existe Força Gravitacional, e dizer que ela é corroborada pelo fato da física atual não conseguir detectar o gráviton. E daí para frente empurrar qualquer alegação. A questão que fica é: POR QUE OS DISTAS SE RECUSAM A TEORIZAR SOBRE O PLANEJADOR? Abordemos ao final. Aqui, basta entender que esta quarta espécie de criacionismo apresentou um grau de adaptação maior, com capacidade para se reproduzir em diversos ambientes. Visto que a idéia de um Evolucionismo Teísta é esmagadoramente popular, não foram poucos os membros de outras religiões, como os Kardecistas, ou mesmo teístas seculares, que foram receptivos ao Design Inteligente. Eu mesmo o fui. Na realidade, a grande maioria das pessoas, inclusive dos cientistas, é evolucionista teísta, não tendo qualquer dificuldade em lidar com a idéia de uma inteligência guiando o processo evolutivo. Essa nova espécie de criacionismo, então, foi notável por sua capacidade mimética, se camuflando e se infiltrando em nichos onde antes o Criacionismo "Científico" jamais poderia adentrar. Inúmeras pessoasde boa fé foram enganadas por essa proposta que se pretendia 'desinteressada' mas depois se revelou nada

Page 49: Evolução vs. criação

menos que uma conspiração conservadora e fundamentalista, apenas esperando a oportunidade certapara, após conseguir uma mão, tentar puxar o braço todo.

O QUINTO ESTÁGIOO Futuro do Criacionismo

Qual será a próxima espécie de criacionismo? Espécie está que, certamente, já começou a surgir. Vamos colocar as espécies já surgidas numa árvore evolutiva,para fins de ilustração.

Em amarelo temos as espécies que pretenderam COMPETIR com o evolucionismo. Simulacros de ciência que pretendemnegar sua fundamentaçãoreligiosa. Foram réus nos processosjudiciais queprotagonizaram, sendo ambos condenados como não aceitáveis nocurrículo escolar.

Em cianotemos as

espécies quepretenderamCENSURAR o

evolucionismo, quer seja

a nívellegal,

penal, oumeramente

administrativo. Foram

agentes nosprocessosjudiciais

quepromoveram,

na tentativade impugnar

ourestringir o

ensino deevolucionism

o nasescolas.

Todas são descendentes de um Criacionismo Puro, original, que é a mera e perfeitamente autêntica versão mitológica, que jamais deixou de existir, apenas não chamando muita atenção uma vez que nunca selançou diretamente contra o conhecimento científico.

Page 50: Evolução vs. criação

A primeira espécie é a única que pode ser dada como "extinta" na maior parte dos ambientes do mundo ocidental. Embora talvez, isso seja prematuro afirmar.NÃO TENHO A MENOR DÚVIDA, que havendo oportunidade, que poderia ter se concretizado na regência fraudulenta e fundamentalista de George W. Bush, e ainda pode ocorrer num hipotético governo Sarah Palin,os fundamentalistas cristãos não hesitariam um só segundo em proibir novamente o ensino de evolucionismo, se o contexto político fosse favorável.Afinal, não é a toa que há um tremendo esforço de se expandir sua representação legislativa, assim como há no Brasil, e todos os clamores de considerar o país uma Nação Cristã não tem outro objetivo a não ser teocratizar o máximo possível o governo. A segunda espécie está claramente viva e atuante, ainda que tenha sofrido algum desgaste, PRINCIPALMENTEPELA CONCORRÊNCIA com a 4, pois mesmo espécies aparentadas, e mesmo indivíduos de uma mesma espécie, competem entre si. Esse Criacionismo "Científico" se aperfeiçoou muito, talvez até mais no Brasil do que nos EUA, a julgar pelo competente site da Sociedade Criacionista Brasileira, que representa um claro exemplo de que é possível aliar a religiosidade com uma boa qualidade científica, e superar as maiores dificuldades pela desenvoltura filosófica. Ainda, é claro, que esteja sempre sujeito à má herança genéticarecebida, onde monstruosos remanescentes arcaicos ainda podem se encontrados para o horror das espécies mais refinadas. A terceira, que é mais legítima, teve pouca penetração, visto que suas investidas judiciais ficaram restritas a esferas locais e ou não tenham chamado muita atenção da mídia. Certamente, o maior feito desta espécie foi conseguir obrigar, em alguns locais, a adicionar uma advertência no livros de biologia, a exemplo do caso Selman vs. Cobb County (2004), no estado da Georgia, onde a advertência dizia"Este livro contém material sobre evolução. Evolução é uma teoria, não um fato, a respeito da origem das formas de vida. Esse material deve serabordado com uma mente aberta, cuidadosamente estudado, e criticamente considerado."

Page 51: Evolução vs. criação

Por fim a quarta espécie, sendo a mais recente, ainda está em nítida e maior evidência, embora já deixe claros sinais de enfraquecimento não somente dado a seu desmascaramento e derrota judicial, mas porque a contradição explícita entre se pretender como teoria científica e não apresenta teoria alguma já está por demais evidente para não incomodar. Seria de se esperar que o Quinto Estágio seguiria a afinidade dos seus ancestrais ímpares, bem como poderia ocorrer uma tendência a fusão. De fato, é o que sugerem abordagens recentes, em especial baseadas em teoria da informação, que está sistematicamente contaminando quase toda a produção criacionista recente, que desafia os evolucionistas a fornecer exemplos de processos evolutivos que possam resultar em "Acréscimo de Informação" ao DNA. Essa abordagem tem como grande representante o ISCID - I nternational S ociecty for C omplexity, I nformation and D esign , que absorveu quase todos os membros que espertamente saíram do Discovery Institute. Essa abordagem reúne, é claro, a herança do Design Inteligente, incluindo seus dois maiores expoentes: Michael Behe e William Dembsky, e pode-se notar que seu ataque à evolução é muitíssimo mais sutil e especializado, reunindo também alguns Filósofos da Religião, entre eles se destaca Alvin Plantinga. A maior parte de sua abordagem, e qualquer abordagem da Informação em geral, é baseada numa mistura de petiçãode princípio com falsa analogia, quase totalmente concentrada no simples conceito de informação, que numa significação comum evidentemente pressupõe inteligência, mas não no sentido em que costuma ser usado na genética. Se tal nova espécie de criacionismo, ou talvez baste dizer agora, anti-evolucionismo, irá protagonizar qualquer episódio juridicamente notável, ainda não se sabe.

O CRIACIONISMO E SUA HISTÓRIA JURÍDICACabe agora recapitular a história do criacionismo nos tribunais, por meio dos casos mais famosos, onde pode-se notar claramente sua evolução. Lembrando que nas

Page 52: Evolução vs. criação

espécies Ímpares os evolucionismo era réu, e nas Pareso criacionismo.

1Proibição

doEvolucionis

mo

2Criacionism

o"Científico

"

3Crítica

"Filosófica"

4Design

Inteligente

Scopes 1925

TennesseEpperson1968

Arkansas

---

Daniel 1975TennesseHendren1977

IndianaMacLean1981

ArkansasEdwards1987

LouisianaWebster1990

Illinois

-------

Segraves1981

California---

Peloza 1994

CaliforniaFreiler1997

LouisianaRodney 2000Minesota

Selman 2005

Georgia

------------------

Kitzmiller2005

Pennsylvania

A evolução é mais que evidente. No começo temos os Professores John Scopes, "Julgamento do Macaco", e Susan Epperson que basicamente desafiaram as leis antievolutivas de seus estados, sendo então processados. O caso Scopes foi a única vitória do criacionismo, embora com nítido sabor de derrota, visto que a penalidade imposta a Scopes acabou sendo invalidada, e a repercussão do caso praticamente penalizou a iniciativa conservadora. O último chegou a

Page 53: Evolução vs. criação

Suprema Corte, que terminou por determinar a extinção de qualquer lei anti-evolução no país. Todos os casos da espécie 2 envolveram a introdução deCriacionismo "Científico" nos conteúdos programáticos de escolas, resultando em ações que apontavam a inconstitucionalidade da medida, visto que violava a separação Estado/Religião. Na terceira espécie temos pessoas que sentiram suas crenças religiosas serem ofendidas pelo ensino de evolucionismo, tanto de alunos que não queriam aprender quanto professores que não queriam ensinar. Moveram ações baseadas no pressuposto de que evolucionismo é uma 'religião'. E o fato de um dos casos ocorrer no mesmíssimo ano de 1981 onde outro caso usava o argumento absolutamente oposto, isto é, de que Criacionismo era tão ciência quanto Evolucionismo, é apenas uma manifestação da contradição estrutural do criacionismo. Enfim, os casos de 2005 envolveram ambos uma declaração obrigatória de que Evolucionismo era "apenasuma teoria..." nos livros escolares, sendo que no caso Kitzmiller não só ainda foi proposto o DI como uma alternativa como ainda foram disponibilizados gratuitamente exemplares do livro Of Pandas and People como suporte bibliográfico. (Curiosamente, os livros foram comprados por dirigentes da escola com dinheiro de doações de fiéis das igrejas, visto que o conselho escolar não aprovou orçamento para sua compra, e então doados anonimamente ao mesmo tempo que os próprios declararam não saber quem os doou!) De qualquer modo, esse quadro evolutivo mostra não apenas a modificação das formas de criacionismo, como também mostra sua crescente capacidade de adaptação a ambientes mais amplos do que o mero Bible Belt sulista norte americano. Comparado com o mapa anterior, acima,vemos que...

Page 54: Evolução vs. criação

...os estados que aprovaram leis anti evolução estavamentre o Oklahoma, Kentucky e Florida (Sudeste), mas agora vemos que as contendas judiciais se espalharam, e o mais notável, a espécie 3 no extremo norte, em Minnesota, bem como no extremo oeste, Califórnia. Já a4 atingiu a Pennsylvania. Isso é um claro sinal da capacidade adaptativa das espécies mais evoluídas, quepassaram por maior quantidade de mudanças, de atingir novos nichos ambientais.

SINTETIZANDOTudo nos leva a conclusões seguras. O Criacionismo é basicamente um movimento conservador que, comprometidocom a literalidade da Gênese, reage à novidade por todos os meios disponíveis. Fica claro que se ainda fosse possível puramente proibir o ensino de evolução nas escolas, simplesmente o Criacionismo "Científico" e seus outros descendentes jamais teriam vindo a existir, pois as espécies evoluem sempre de acordo como ambiente, e caso o mesmo se estabilize, qualquer modificação tende a ser descartada pela Seleção Natural. Como porém o ambiente está frequentemente mudando, assim como muda a geografia ao longo da história natural, as variações terminam por se diversificar e se adaptar a novos ambientes, o que, mais uma vez, nãoimplica em que as anteriores desapareçam, a não ser

Page 55: Evolução vs. criação

que seu ambiente original também o faça. E é óbvio queno caso do Criacionismo isso nem passou perto de acontecer. Como a mera proibição da evolução não foi mais possível, os criacionistas não tiveram outro remédio anão ser se disfarçar de cientistas para tentar disseminar suas idéias retrógradas, até chegarmos ao atual DI e derivados, que apesar da diferença superficial, no fundo, carregam na bagagem genética o mesmo propósito, impedir ao máximo possível que o evolucionismo seja acessível aos estudantes. Isso por si só demonstra que qualquer pretensão científica do criacionismo é e sempre será uma fraude.Uma pele artificial para ocultar sua essência, que é apura ortodoxia religiosa do fundamentalismo cristão norte-americano. Que tal fraude tenha enganado muitos cristãos de boa fé, e até não cristãos, era inevitável, e que parte da discussão tenha até sua utilidade, é esperável. Mas somente uma completa faltade noção histórica, científica, teológica e filosóficapode permitir a alguém acreditar que há no criacionismo qualquer intenção cientificamente genuína. Também notamos, porém, uma distinção entre a evolução criacionista e o modelo darwiniano. É que enquanto na natureza a vida evolui de modo a não aparentar propósito algum, é evidente que o criacionismo é guiado por um propósito "inteligente". Mas talvez, essa "inteligência" não seja tão distinta das forças provavelmente cegas da Seleção Natural. Primeiro porque apesar de haver uma unicidade por trásde todo o movimento criacionista, há também um série de conflitos internos de objetivos. Há vertentes distintas, designações distintas e alguns desacordos que inviabilizam uma unidade total. O texto Quem são os "Cientistas" da Criação relata algumas das naturaisdivergências entre os próprios criacionistas que prejudicaram sua união. Isso, é claro, acontece em qualquer outra área e contexto, e o resultado é que apesar de movido por propósitos intencionais, eles acabam substituindo uma direção precisa por um amontoado de pretensões que tendem a maior quantidade

Page 56: Evolução vs. criação

de caos, aproximando sua evolução de uma evolução natural e fundamentalmente caótica. Segundo porque apesar de intencional, a "inteligência"desses propósitos é tão questionável quanto a suposta inteligência que os criacionistas querem ver na natureza, que em inúmeros casos mais pareceria resultado de um Designer péssimo, brincalhão ou mesmo perverso. Puxar briga com os cientistas, os juristas, os educadores etc, para tentar forças suas crenças religiosas no meio secular é no mínimo insensato. Principalmente quando as mesmas se baseiam em teologias que já são internamente desastrosas, como a pura e simples interpretação pretensamente literal da Gênese. Claro que os criacionistas tem uma explicação para o aparente design na natureza ser tão imperfeito, e é exatamente para esconder essa explicação que temos a resposta de POR QUE OS DISTAS SE RECUSAM A TEORIZAR SOBRE O PLANEJADOR. É simples. O método utilizado por Darwin para desenvolver sua teoria foi hipotético dedutivo. Isto é, ele primeiro parte dos dados da natureza, como se faz em qualquer ciência, tenta distinguir uma padrão nesses dados, e então formula hipóteses para explicá-los. Então dessa hipótese deduz consequências e verifica se elas se encaixam com os dados obtidos, e se prevêem dados que poderão e não poderão ser encontrados. Muitas hipóteses podem ser descartadas até que uma se conforme com os dados, e então será frequentemente testada para ver se é corroborada ou falseada, e é assim que a maioria das teorias científicas funciona. Para que o DI, ou o Criacionismo "Científico" fossem ciência, teriam que seguir basicamente esse método. Isso torna inevitável levantar hipóteses sobre o Planejador, e testar os dados de modo a conformá-la ounão. O problema é que se fizerem isso, ficará evidenteque nada mais farão do que empurrar o deus bíblico pela porta dos fundos. Vejamos por quê. 1 - O MENOR DOS PROBLEMAS é que se por um lado podemoster certeza de que algo foi projetado, nunca teremos se não o foi. Ninguém acreditará que uma escultura de

Page 57: Evolução vs. criação

barro com a forma perfeita do Cristo Redentor foi formada apenas pela erosão e pelas chuvas, mas por outro lado uma coisa completamente disforme, típica das montanhas ou das pedras, além de poder ser resultado de ações naturais, TAMBÉM PODE SER RESULTADODE AÇÃO INTELIGENTE! Temos a Arte Moderna e Abstrata para não deixar dúvidas quanto a isso. Por isso, se partirmos da hipótese de que a vida não foi planejada, essa hipótese poderá ser testada, pois bastará achar uma coisa suficientemente perfeita para fazer esse teste, como os próprios criacionistas admitem. Mas se partirmos da hipótese contrária, de que a vida foi planejada, nunca poderemos testá-la, pois como já vimos, qualquer evidência em contrário também poderá ser resultado de design. 2 - Os grandes problemas começam quando notamos que temos que trabalhar sempre com hipóteses de planejamentos locais. Se acharmos algo que nos convença ser obra de inteligência, só podemos admitir que AQUILO em si foi projetado, pois se admitirmos isso para tudo o mais, pelo motivo acima, qualquer desenvolvimento teórico seria inviabilizado. Assim, é perfeitamente possível que tenhamos estruturas projetadas e não projetadas convivendo no mundo, e isso nos permitira apenas pressupor um designer restrito. Se achássemos que o sistema imunológico é intencionalmente projetado, teríamos que considerar a intervenção apenas nesse caso, visto que diversos outros sistemas não são tão eficientes, e o simples fato de que seria muito mais plausível que seres inteligentes tenham tentado aumentar nossas chances desobrevivência fazendo apenas isso, do que seres que tivessem feito tudo construiriam doenças e depois o sistema imunológico, tendo o dobro de trabalho. Planejamento PRESSUPÕE eficiência. 3 - Disso, quer sejam inteligências extraterrestres deordem natural ou mesmo divindades específicas, permitiriam supor sempre planejadores imperfeitos, o que aliás tenderia a ser fortemente corroborado pelas evidências disponíveis. Talvez de vários planejadores

Page 58: Evolução vs. criação

trabalhando em áreas diferentes, as vezes até em conflito uns com os outros. Mas é claro que isso não interessa ao criacionistas, pois eles querem empurrar o deus bíblico, que é supostamente perfeito, e aí ficará a pergunta: Como explicar a imperfeição na criação de um ser perfeito? 4 - Aí, essa suposta nova ciência imediatamente se revelará a velha teologia, pois a explicação inevitável é que um ser perfeito projetou tudo, mas algum evento introduziu a imperfeição no mundo, o que resultaria em todas as irregularidades, defeitos e atéperversões. Estaremos então de volta ao problema clássicos da teologia cristã, que explica a corrupção da criação devido ao pecado original mas caí perpetuamente nas contradições da Existência do Mal e da Onipotência, Onisciência X Livre Arbítrio, Justiça Divina X Inferno Perpétuo e etc. Ou seja, qualquer tentativa de teorizar sobre o designer gerará ou uma teoria sobre um planejador imperfeito que não interessa ao criacionismo, ou desmascarará instantaneamente qualquer véu de honestidade científica, deixando claro que tudo não passa de reafirmação do velho conservadorismo religioso. O fato de ser impossível fazer qualquer coisa útil comesse impasse em nada incomoda os criacionistas, que não estão mesmo preocupados nem um pouco em contribuircom o que quer que seja para o avanço do conhecimento.Tudo que eles querem é que suas idéias se infiltrem nomeio secular. Se hoje os cientistas se mostram céticosquanto à existência de planejamento intencional, caso eles se mostrassem favoráveis, isso aumentaria muito aprobabilidade do cristianismo estar cientificamente justificado. Mesmo que surgisse uma teoria de "designer imperfeito" honesta, os criacionistas já a utilizariam como "evidência" a seu favor, afinal, já estão acostumados a distorcer dados científicos extremamente desfavoráveis para lhes servirem. Se já estão tentandoforçar a ciência na direção de uma subordinação à religião mesmo sendo ela tão distante, imagine o que fariam se ela desse um passinho em sua direção?

Page 59: Evolução vs. criação

Imagine o que aconteceria se inúmeros cientistas de renome começassem a cada vez mais afirmar que há indícios de planejamento inteligente na natureza? Passariam então para a campanha de mostrar que o tal planejador tem tais e tais características, e se conseguissem, mostrar que é o deus da bíblia, ainda que enfrentando concorrência com possíveis outras denominações religiosas, até por fim empurrarem sua ortodoxia inteirinha. Esse é o criacionismo, essa é sua história e sua evolução. E pelo menos nesse caso, ela não é nada cega. Pode falhar nos meios questionáveis, mas sabe muito bem onde quer chegar.

Questões Simples que oCRIACIONISMO

é Incapaz de Responder

Enquanto os pontos não esclarecidos do EVOLUCIONISMO sequersão, em geral, compreensíveis pelo senso-comum, o CRIACIONISMO não é capaz de responder questões triviais, facilmente inteligíveis para qualquer pessoa.

As acusações dos Criacionistas de que a Teoria da Evolução não responde perguntas simples como "Onde estão os fósseis"são claramente falsas. As respostas podem até ser discutíveis ou não inteiramente comprovadas mas pelo menos há uma explicação racional.

Essa é na verdade, A MAIOR E MAIS FORTE RAZÃO pela qual jamais tive dúvidas de que o Criacionismo de Terra Jovem não passa de um engodo.

Não é preciso qualquer conhecimento científico específico, não é preciso qualquer jargão não usual. São questões ridiculamente simples, para as quais o CRIACIONISMO adepto do Dilúvio Universal, e fundamentado na velha obra "A Nova

Page 60: Evolução vs. criação

Geologia"(1923) do fundamentalista cristão George MacCreadyPrice, não tem qualquer chance de oferecer uma resposta sequer razoável.

Uma vez tendo ocorrido o Dilúvio, as questões podem ser resumidas em:

1-COMO OS ANIMAIS ESPECÍFICOS DE CADA REGIÃO FORAM CHEGAR ATÉ LÁ?

2-COMO AS MILHÕES DE ESPÉCIES VEGETAIS DE CADA REGIÃO DO MUNDO SOBREVIVERAM AO DILÚVIO? HAVIA NA ARCA DE NOÉ EXEMPLARES DE VEGETAIS DE TODAS AS PARTES DO PLANETA?

3-COMO AS MILHÕES DE ESPÉCIES DE ARTRÓPODOS SOBREVIVERAM AODILÚVIO? HAVIA NA ARCA UMA SEÇÃO COM MILHÕES DE COMPARTIMENTOS PARA "CASAIS" DE INSETOS, ARACNÍDEOS, CRUSTÁCEOS E SIMILARES?

4-COMO SOBREVIVERAM OS ANIMAIS AQUÁTICOS DE ÁGUA DOCE?

5-COMO SE DESENVOLVERAM AS DIVERSAS ETNIAS HUMANAS EM TÃO POUCO TEMPO?

Posso exemplificar estas questões naquilo que gosto de chamar de ENIGMA DAS CAPIVARAS que diz o seguinte:

"As Capivaras são exclusivas brasileiras, não havendo em outro lugar do mundo.Pelo Criacionismo elas foram criadas juntamente com todas as demais espécies animais.No dilúvio todas as Capivaras que não embarcaram na Arca deNoé morreram.Então, é lógico que se elas hoje existem, é por que havia um casal delas na Arca, e se não houve evolução, eram como são hoje.Foram então desembarcadas por Noé no monte Ararat. Na atualTurquia.Como elas não nadam grandes distâncias nem possuem navios. Só podem ter sido trazidas para o Brasil por descendentes de Noé que vieram para a América depois da dispersão.Sem tais tribos não haveria os índios por aqui, nem as Capivaras.

Page 61: Evolução vs. criação

Conclusão lógica:

Eles trouxeram as Capivaras do Velho Mundo (Europa e Oriente Médio), via Ásia, estreito de Bering, Américas do Norte e Central para finalmente chegar a América do Sul.Evidentemente não foram só as Capivaras, mas também as Antas, Tamanduás, Lobos-Guará, Tatus, Jaguatiricas e etc. Animais que não existem em nenhum outro lugar do planeta a começar pelo Velho Mundo.

Perguntas:

1-COMO OS ANIMAIS ESPECÍFICOS DE CADA REGIÃO FORAM CHEGAR ATÉ LÁ? Como trouxeram essas e mais outras milhares de espécies animais exclusivas do Brasil? Por que nenhuma ficou pelo caminho, nem nenhuma ossada, nem memória nos povos que testemunharam sua passagem, ou que ficaram pelo caminho desde a Ásia até a América Central? Por que não há nenhum registro fóssil, histórico ou mesmo Bíblico de todas as milhões de espécies animais que pelo menos hoje, não mais existem no Velho Mundo? Como Noé as buscou nas diversas partes do mundo para levá-las para a Arca? Se existiam todas no Velho Mundo, como poderiam conviver com os animaisde climas gelados e os de climas desérticos?

Se todas as espécies animais de todo o mundo de hoje existiam juntas no Velho Mundo, e se não houve evolução, então elas eram exatamente como agora. Sendo assim o Velho Mundo teria uma enorme variabilidade de climas, com desertos, florestas tropicais, ambientes gelados, pântanos,cavernas, lagos e etc. Por que não há nenhuma evidência de que tais ambientes existiram? Por que a Bíblia não mencionaabsolutamente nada sobre eles?

2-COMO AS MILHÕES DE ESPÉCIES VEGETAIS DE CADA REGIÃO DO MUNDO SOBREVIVERAM AO DILÚVIO? HAVIA NA ARCA DE NOÉ EXEMPLARES DE VEGETAIS DE TODAS AS PARTES DO PLANETA?

3-COMO AS MILHÕES DE ESPÉCIES DE ARTRÓPODOS SOBREVIVERAM AODILÚVIO? HAVIA NA ARCA UMA SEÇÃO COM MILHÕES DE COMPARTIMENTOS PARA "CASAIS" DE INSETOS, ARACNÍDEOS, CRUSTÁCEOS E SIMILARES?

Page 62: Evolução vs. criação

Como trouxeram Milhões de espécies de insetos e aracnídeos terrestres exclusivos da Amazônia? Sem os quais inclusive oecossistema da floresta não se manteria? Quando os descendentes de Noé se alastraram pelo mundo, já encontraram florestas prontas? Se sim como elas sobreviveram ao Dilúvio? Já deveria haver animais principalmente artrópodes, vitais para a existência do ecossistema, então o Dilúvio não foi Universal. Se não existiam as florestas, por que os descendentes de Noé migrariam para desertos, e como implantaram os ecossistemas?

E os fungos e bactérias que não poderiam sobreviver ao Dilúvio? Será que a Arca de Noé também possuía reservatóriopara "casais" de fungos, bactérias e vírus?

4-COMO SOBREVIVERAM OS ANIMAIS AQUÁTICOS DE ÁGUA DOCE? Ou as águas do Dilúvio eram doces? Se sim como sobreviveramos de água salgada? Se era um meio termo, como se explica, sem evolução, que os animais sobreviveriam nesse meio termo?

5-COMO SE DESENVOLVERAM AS DIVERSAS ETNIAS HUMANAS EM TÃO POUCO TEMPO? Na Teologia Bíblica, tanto os nativos das Américas quanto os Africanos e Asiáticos são descendentes do tronco de Can,ou Cão, o filho mais novo de Noé. Qual seria a aparência deCão? Com certeza não deveria ser radicalmente diferente de seus irmãos e pais ou a Bíblia omitiria algo tão notável? Se dele descenderam Negros, Asiáticos e Ameríndios como é possível que estes tenham assumido características étnicas tão distintas em tão pouco tempo?

Vejamos por exemplo o caso do negros. Se Cão era de pele clara, qual seria o motivo que levou seus descendentes africanos a ficarem com a pele escura?

Se um casal de nórdicos passar toda a vida em fortes exposições solares com certeza por volta dos 30 anos terá apele bem escurecida, mas mesmo após isso um descendente deles não nascerá com a pele perceptivelmente mais escura. A única explicação seria Mutação e Seleção Natural, porém em pouquíssimo tempo.

Page 63: Evolução vs. criação

Se houve gradativa transformação étnica, por que ela ocorreu? Seria para adaptar os Negros à grande incidência solar da África? Negros são mais resistentes a Câncer de Pele. Seria adaptação?

Se foi esse o caso, transformações adaptativas em tão poucotempo, usemos um raciocínio.

De acordo com a cronologia bíblica essa diferenciação de etnias teve no máximo uns 3000 anos para ocorrer. O que é extremamente rápido em termos biológicos. Nessa proporção deveria ser notável alguma variação recente em etnias que se distanciam de seus locais de origem mesmo que não sofressem miscigenação.

Porém há arianos habitando a África do Sul há cerca de 300 anos e não há nenhum indício de escurecimento de pele em seus descendentes não mestiços.

Há negros habitando a América do Norte há quase 300 anos e não há nenhum indício de clareamento de pele em seus descendentes não mestiços.

Distribuindo animais através do globo

Se todos os animais terrestres que existem hoje estavam presentes na Arca de Noé, como foram para as ilhas isoladas?

Por que os descendentes de Noé se dariam ao trabalho de transportar de navio, milhares de espécies que hoje só existem por exemplo nas Ilhas Galápagos? E como implementaram a fauna?

E não são só ilhas. Mas há também um continente inteiro em questão, a Antártida. Que jamais possuiu qualquer ocupação humana até a Era Contemporânea. Como os pinguins, que não nadam grandes distâncias em águas quentes, foram até lá?

E quanto a fauna do Ártico? Ursos polares, raposas e gaviões de clima frio. Existiriam há menos de 3.000 anos noberço da civilização? Sob que clima? Ou se adaptaram ao novo ambiente após chegar lá?

Page 64: Evolução vs. criação

E voltando ao pequenos animais.

Haveria na Arca de Noé uma seção destinada aos insetos? Commilhões de reservatórios rigidamente discriminados abrigando todo o conteúdo necessário a sobrevivência das mais peculiares espécies algumas das quais microscópicas e indistinguíveis visualmente? Os passageiros da Arca teriam tão avançado conhecimento de Biologia a ponto de realizaremtão rigorosa seleção, manutenção e transporte para depois depositarem as espécies em locais específicos do planeta? Inclusive nas profundezas de cavernas recém descobertas onde não há qualquer indício de incursão anterior humana.? Por quê tão valioso conhecimento se perdeu?

Se os insetos ao invés de terem sido volutariamente trazidos, tivessem apenas infestado a arca, imaginemos milhões de espécies artropóides, inclusive as que não sobreviveram até a atualidade, convivendo com os demais animais e 8 humanos, por 150 dias

É POSSÍVEL RESPONDER A ESSAS PERGUNTAS?!?!?

Acho que já é suficiente.

Enfim, são questões triviais, que não exigem conhecimento científico apurado, basta pensar, e perguntar a qualquer Criacionista adepto do Dilúvio Universal, o que inclui a maioria esmagadora. Perguntas simples.

É claro que tudo isso pode ser explicado sob justificativasnão usuais, como milagres, mistérios divinos, talvez uma recriação divina em determinadas partes do mundo, ou mesmo algumas hipóteses mirabolantes, coincidências fabulosas! Tudo bem! Isso seria uma resposta. Porém, como diria MichelRuse:

MAS ISSO É CIÊNCIA?!?!

E agora? O Criacionismo já era? Está aniquilado? Ou basta uma pequena concessão?

Que tal simplesmente renegar a Universalidade do Dilúvio?

Page 65: Evolução vs. criação

Há indícios de que de fato ocorreu um dilúvio extenso na região do Velho Mundo, que poderia ser o descrito pela Bíblia. Bastaria essa simples concessão para que a Bíblia não só conservasse, mas até aumentasse seu valor histórico?Bastaria apenas admitir que o Dilúvio não foi Universal, como realmente fazem alguns criacionistas mais flexíveis?

Infelizmente, não é tão simples assim. Renegar a Universalidade do Dilúvio poderia ser útil para melhorar umpouco a pretensão científica do Criacionismo. Mas Teologicamente, principalmente no âmbito da Ontologia e da Soteriologia, agora entrando num campo mais restrito, seriaum completo desastre. A Teologia Bíblica simplesmente pode desabar por completo.

Sem o Dilúvio Universal, poderíamos assumir que muitos seres humanos além da família de Noé teriam sobrevivido, o que incluiria descendentes do povo de Node, cuja origem a Bíblia deixa obscura, e de Caim. Teríamos então hoje em diapessoas descendentes de outras linhagens que não as de Sem,Jafé e Canaã?

E os Nefilins? Teriam sobrevivido? Se sim onde estariam? Isso resolveria o problema da diversas etnias e culturas diferentes espalhadas por todo o globo?

Se tivéssemos hoje descendentes do povo de Node, que possivelmente jamais habitou o paraíso, e dos Nefilins, estariam eles submetido ao Pecado Original? Ou seriam frutode algo muito pior? A queda dos Anjos por exemplo. Estariamesses seres incluídos no plano de salvação? Trariam eles o Pecado Original?

Se admitíssemos que mesmo sem um Dilúvio Universal todos esse seres humanos ou semi-humanos não tivessem sobrevivido, ainda restam outras questões. O que extinguiu os dinossauros? O Dilúvio? Então por que os dinossauros aquáticos não sobreviveram? Por que tantos fósseis de espécies extintas? E quanto a proposição de que o fora o Dilúvio que mudara as condições climáticas do planeta? Condições que antes teriam permitido as pessoas viverem quase Mil anos. O que dizer então das evidências das Eras Glaciais?

Page 66: Evolução vs. criação

E ONDE ESTÃO AS PROVAS DO CRIACIONISMO?

Os Criacionistas vivem exigindo provas do Evolucionismo. Umdeles, o Creation Science Evangelism oferece U$ 250.000 para quem der uma prova científica a favor da evolução. Ou irá a falência ou não aceitará nenhuma das provas, os evolucionistas porém pelo menos mostram fósseis transicionais, orgãos vestigiais, a distribuição geográficadas espécies, a similaridade do DNA e etc.

O que os Criacionistas mostram? Onde estão os vestígios da Arca de Noé? Onde estão os vestígios da Torre de Babel? Onde estão os fósseis dos Nefilins? Ou as ossadas dos milhões de seres humanos mortos no Dilúvio? Onde estão as evidências do fabuloso evento de Josué parando o Sol sobre Jericó? Onde está toda a água do Dilúvio?