DILEMAS GESTÃO anos. Suas concorrentes, como O Boticário e Jequiti, conseguem lançar extensões de linha (filhotes de algum item de sucesso) em menos de nove meses. Os produtos totalmente novos, que reque- rem pesquisa e desenvolvimento, levam cerca de um ano e meio. Uma das conseqüências dessa morosidade é a perda de participação de mercado. A Natura abocanhava 34% das vendas de perfume em todo o Brasil em 2009. Sozinha, essa categoria responde por 40% da receita da empresa. Em 2013, esse número caiu para 28%, segundo dados da consultoria Euromonitor. Enquanto isso, a fatia d'O Boticário foi de 24% para 29%. Movimento semelhante aconteceu no segmento de desodorantes. A perda de mercado, no entanto, foi para a Unilever. A Natura detinha 16%desse segmento em 2009 e em 2013 possuía 10%. O market share da multinacional britânica saltou de 29% para 39% no período. Outro canal que tem crescido de forma expressiva e rou- bado mercado da empresa são as drogarias. O movimento de consolidação do setor permitiu a criação de grupos fortes como RaiaDrogasil e DPSP (Drogarias Pacheco e São Paulo). "Um A PERDA DA LIDERANÇA O BOTICÁRIO ULTRAPASSOU A NATURA NO MERCADO BRASILEIRO DE FRAGRÂNCIAS, QUE MOVIMENTA R$ 15 BILHÕES (PARTICIPAÇÃO, EM %) O Boticário Natura Avon • Demais 24 34 24 35 25 30 28 29 30 2009 29 2010 35 2011 2012 2013 Fonte: Euromoniíor dos ramos do varejo que mais crescem no país é o de drogarias", diz Ana Hubert, especialista de varejo e consumo da PwC. "E, dentro deles, o destaque é o aumento das vendas de cosméticos e perfumaria." Um ex-executivo, responsável por um projeto estratégico quando trabalha- va na Natura, afirma que a cultura da busca do consenso, sob a qual a com- panhia foi forjada, explica a demora na tomada de decisões. "Debate-se por horas a fio e, no fim, alguém fala: ok, concordo com você, vamos fazer dessa forma. Mas você nunca sabe se é ver- dade, se a pessoa concordou e vai fazer. Não é como na Ambev: eu discordo na sua cara, debatemos aqui e só saímos da sala quando resolvermos a questão." Outra ex-gerente aponta um proble- ma adicional: a falta de objetividade. "Para dizer para um funcionário que ele precisa mudar, ser mais eficiente ou produtivo, por exemplo, é preciso fazer um grande rodeio, elogiar bastante para só depois, com todo o cuidado do mundo, apontar o que precisa ser me- lhorado. Isso infantiliza a empresa e os funcionários", diz. Ninguém espera que Lima mude radicalmente essa forma de trabalhar. Na verdade, ele não é o tipo de executivo que chega demitindo e trazendo sua pró- pria equipe para a empresa, como forma de imprimir suas digitais. Não fez isso nem quando comandou a Credicard, nem quando presidiu a Vivo. O mais provável é que, aos poucos, engaje os funcionários na missão de serem mais diretos e eficazes. Quem já trabalhou com Lima o define como um CEO que não impõe regras. Ele é do tipo que, sutilmente, atrai a equipe para um objetivo comum. A dúvida é se a Natura pode esperar esse tempo todo. 80 / ÉPOCA NEGÓCIOS / FEVEREIRO 2015 Foto: RAFAEL QUINTINO