Everolimo para pacientes com tumores relacionados à esclerose tuberosa e neurofibromatose Francisco Hélder Cavalcante Félix 1 , João Paulo Mattos 1 , Carlos Gustavo Hirth 2 , Juvenia Bezerra Fontenele 3 1 - Hospital Infantil Albert Sabin, Secretaria de Saúde do Estado do Ceará 2 - Centro de Referência do Diagnóstico do Câncer da Criança e do Adolescente Dr. Murilo Martins — Hospital Infantil Albert Sabin 3 - Curso de Farmácia, Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará [email protected] XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica — SOBOPE 2014 Introdução E verolimo é um inibidor da serina/treonina quinase MTOR (mechanistic target of rapamycin), inibindo a via PI3K/AKT/MTOR através do complexo MTORC1 [1]. Foi aprovado pelo FDA e ANVISA para tratar astro- citoma subependimário de células gigantes (SEGA), uma neoplasia benigna associada à esclerose tuberosa (ET) [2]. Além disso, o everolimo está sendo investigado para o tra- tamento de tumores relacionados à neurofibromatose tipo 2 (NF2), em especial schwannomas e meningiomas [3]. Material e Métodos Realizamos uma análise retrospectiva do prontuário de 3 pacientes com tumores cerebrais relacionados à ET ou NF2 tratados com everolimo em nossa instituição, após esgotados os demais esforços terapêuticos possíveis. O tra- tamento off-label com everolimo foi iniciado após consen- timento informado dos responsáveis pelos pacientes. O projeto foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa. Resultados e Discussão Caso 1: paciente de 5 anos ao diagnóstico, sexo feminino, portadora de ET, com volumoso SEGA progressivo após ressecção cirúrgica inicial e tratamento com carboplatina e vincristina, sintomática e com epilepsia refratária. Após início de everolimo 1,5mg/m 2 /dia, a paciente não apresen- tou mais crises epilépticas e melhorou sintomaticamente. A dose foi aumentada para 3mg/m 2 /dia a fim de atin- gir concentração sérica maior que 5ng/ml. Radiologica- mente, ocorreu redução de mais de 40% da lesão. Caso 2: paciente de 7 anos ao diagnóstico, sexo feminino, com suspeita de NF2 e diagnóstico de meningioma do esfe- nóide com invasão bilateral da bainha do nervo óptico, muito sintomática e com doença refratária apesar de 3 abordagens cirúrgicas e RT. Iniciou everolimo na dose de 5mg/m 2 /dia, reduzindo depois para 1,5mg/m 2 /dia por evento adverso. A concentração sérica alcançada com a dose menor ficou na faixa terapêutica. A paciente evolui com melhora clínica evidente, com redução subjetiva de sintomas e estabilidade radiológica. Caso 3: paciente de 15 anos ao diagnóstico, sexo masculino, com schwannoma intramedular lombar e vários schwannomas nas raízes da cauda equina, caracterizando provável schwannomatose (uma condição rara relacionada com mutações de NF2 e INI1). Após cirurgia para retirada da maior lesão em cone medular, o paciente evoluiu com progressão das le- sões menores radiculares satélites e dor crônica, usando analgésicos diariamente. Iniciamos everolimo na dose de 5mg/m 2 /dia, alcançando concentração sérica terapêutica. O paciente evoluiu com cessação completa da dor, sem necessidade de analgésicos. Figura 1: Evolução radiológica do caso 1. As imagens mostram RM (T1 contrastado), com volumes em centímetros cúbicos (cc) estimados por ROI (Osirix 6.0, Pixmeo). Figura 2: Evolução radiológica do caso 3. As imagens mostram RM (T1 contrastado), após a ressecção cirúrgica do tumor intramedular. A primeira é do ano passado, mostrando lesões múltiplas captantes de contraste na cauda equina. A segunda, em janeiro de 2014, mostra aparente progressão das lesões, o que se acompanhou de clínica de dor crônica. A última imagem mostra estabilidade das lesões 8 meses após a segunda imagem, em vigência de everolimo. Remissão completa da dor concomitantemente. Figura 3: Evolução radiológica do caso 2. As imagens mostram RM (T1 contrastado), com medidas em centímetros (cm), ilustrando a somatória dos maiores diâmetros, de acordo com o RECIST (Osirix 6.0, Pixmeo). Conclusão O tratamento de tumores raros do SNC associados a ET ou NF2 com everolimo e uma opç ao para pacientes sem outras alternativas de terapia. Referências [1] LEBWOHL D, Anak O, Sahmoud T, Klimovsky J, Elmroth I, Haas T, Pos- luszny J, Saletan S, Berg W. Development of everolimus, a novel oral mTOR inhibitor, across a spectrum of diseases. Ann N Y Acad Sci. 2013;1291:14-32 [2] FRANZ DN, Belousova E, Sparagana S, Bebin EM, Frost M, Kuperman R, Witt O, Kohrman MH, Flamini JR, Wu JY, Curatolo P, de Vries PJ, Whit- temore VH, Thiele EA, Ford JP, Shah G, Cauwel H, Lebwohl D, Sahmoud T, Jozwiak S. Efficacy and safety of everolimus for subependymal giant cell as- trocytomas associated with tuberous sclerosis complex (EXIST-1): a multicen- tre, randomised, placebo-controlled phase 3 trial. Lancet. 2013 ;381(9861):125- 32. [3] KARAJANNIS MA, Legault G, Hagiwara M, Giancotti FG, Filatov A, Der- man A, Hochman T, Goldberg JD, Vega E, Wisoff JH, Golfinos JG, Merkelson A, Roland JT, Allen JC. Phase II study of everolimus in children and adults with neurofibromatosis type 2 and progressive vestibular schwannomas. Neuro Oncol. 2014 Jan;16(2):292-7. Agradecimentos SOBOPE 2014 - XIV Congresso Brasileiro de Oncologia Pediátrica