Revista Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science: v. 8, n.2, 2013. ISSN = 1980-993X – doi:10.4136/1980-993X www.ambi-agua.net E-mail: [email protected]Tel.: (12) 3631-8004 Avaliação da cobertura vegetal pelo índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN) doi: 10.4136/ambi-agua.959 Gabriela Camargos Lima *1 ; Marx Leandro Naves Silva 1 ; Nilton Curi 1 ; Mayesse Aparecida da Silva 1 ; Anna Hoffmann Oliveira 1 ; Junior Cesar Avanzi 2 Marta Eichemberger Ummus 2 1 Universidade Federal de Lavras – Lavras, MG, Brasil 2 EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Palmas, TO, Brasil *Autor correspondente: e-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]RESUMO A perda de solo por erosão hídrica é a principal causa da degradação do solo no Brasil. No entanto, a erosão pode ser reduzida pela presença da vegetação. O cálculo do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (IVDN) permite avaliar o vigor vegetativo de culturas ou vegetação natural o que facilita a identificação de áreas com cobertura vegetal. Esta informação é muito importante para identificar o fenômeno que pode estar ocorrendo em uma determinada área, especialmente aqueles relacionados à degradação do solo por erosão hídrica. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o índice de cobertura vegetal por IVDN e verificar a precisão utilizando o Índice de Cobertura (IC) de Stocking, na sub-bacia das Posses, a qual pertence ao Sistema Cantareira, localizada no município de Extrema, Minas Gerais, Brasil. Para tanto, utilizou-se as imagens Landsat-5 TM. A sub-bacia das Posses mostrou-se alterada quando comparada com a área de entorno. A técnica do IVDN mostrou-se com boa acurácia para identificar os usos que ocorrem na sub-bacia das Posses, sendo validados pela metodologia de Stocking. O mapeamento pelo IVDN permitiu localizar na sub- bacia a distribuição geográfica dos diferentes usos do solo e identificar as áreas críticas em relação à cobertura vegetal, e, assim planejar esforços para recuperação e proteção do solo nas áreas desnudas e com pastagem degradada, visando diminuição dos passivos ambientais. O IC não ultrapassou 40% para a maioria dos usos que ocorrem na sub-bacia (91%), excetuando as áreas de vegetação arbórea. Palavras-chave: IVDN, Planejamento agrícola, Stocking, sub-bacia das Posses, Extrema, MG. Evaluation of vegetation cover using the normalized difference vegetation index (NDVI) ABSTRACT Soil loss by water erosion is the main cause of soil degradation in Brazil. However, erosion can be reduced by the presence of vegetation. The Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) makes it possible to identify the vegetative vigor of crops or natural vegetation which facilities the identification of areas with vegetation covers. This information is very important in identifying the phenomena which might be occurring in a particular area, especially those related to soil degradation by water erosion. Thus, the aim of this work was
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Evaluation of vegetation cover using the normalized difference vegetation index (NDVI)
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Revista Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science: v. 8, n.2, 2013.
A principal causa de degradação do solo nas condições brasileiras, associada
principalmente ao manejo incorreto e ausência de práticas conservacionistas, é a erosão
hídrica (Bertoni e Lombardi Neto, 1999; Ferreira et al., 2011). A exposição da superfície do
solo pela redução da cobertura vegetal é o fator desencadeante do processo erosivo. As perdas
de solo decorrentes podem ocasionar prejuízos ao ambiente e ao setor agrícola, pois resultam
no depauperamento dos solos, poluição e assoreamento dos cursos d’água (Bertoni e
Lombardi Neto, 1999).
Apesar de constituir um fator passivo de proteção do solo, a vegetação possui grande
participação na redução da erosão hídrica (Cardoso et al., 2012). A cobertura vegetal auxilia
na redução da erosão hídrica interceptando as gotas de chuva que impactariam diretamente a
superfície do solo. Como consequência há uma diminuição na energia cinética da chuva
causada pelo impacto da gota de chuva, na desestruturação, no selamento superficial do solo e
na velocidade da enxurrada, aumentando a infiltração de água no solo. Estudos realizados em
áreas florestadas com eucalipto têm mostrado, por exemplo, que a ausência de cobertura
vegetal nos primeiros anos após instalação das florestas tem gerado maiores perdas de água e
de solo sendo que estas perdas são reduzidas após o fechamento das copas (Silva et al., 2011).
Cardoso et al. (2012) avaliaram o uso do feijão de porco, crotalária júncea e milheto como
plantas de cobertura, cultivadas em dois espaçamentos visando a proteção do solo. Neste
estudo, os autores verificaram que diferentes espécies proporcionaram proteção ao solo
distinta, e, portanto, perdas de solo por erosão hídrica. Assim, mudanças na cobertura vegetal
afeta diretamente a taxa de escoamento superficial (Santos et al., 2000) e consequentemente o
assoreamento de mananciais. Neste sentido, a adoção de um manejo que vise a redução da
erosão hídrica em sub-bacias hidrográficas deve considerar a importância da cobertura vegetal
no ciclo hidrológico.
Os índices de vegetação gerados a partir de dados oriundos de sensores remotos
constituem uma importante ferramenta para o monitoramento de alterações naturais ou
antrópicas no uso e na cobertura da terra. Estes índices têm sido usados na estimativa de
diversos parâmetros da vegetação como, por exemplo, o índice de área foliar (Holben et al.,
1980; Baret e Guyot, 1991) e a quantidade de biomassa verde (Tucker, 1979), bem como na
avaliação do uso e manejo do solo e da recuperação de áreas degradadas, estabelecendo
práticas conservacionistas adequadas para cada ambiente (Rizzi e Fonseca, 2001; Okin,
2007).
O índice de vegetação por diferença normalizada (IVDN) permite avaliar o vigor
vegetativo dos estágios sucessionais de determinada vegetação ou cultura, bem como
LIMA, G. C.; SILVA, M. L. N.; CURI, N.; SILVA, M. A.; OLIVEIRA, A. H.; AVANZI, J. C.; UMMUS, M. E.
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identificar e diferenciar áreas com algum tipo de vegetação e áreas sem cobertura vegetal. De
acordo com Epiphanio et al. (1996), os índices de vegetação realçam o comportamento
espectral da vegetação e se correlacionam com o vigor da vegetação verde, porcentagem de
cobertura do solo, atividade fotossintética e produtividade. Assim, as assinaturas espectrais
permitem distinguir a vegetação nativa das áreas com uso agropecuário (Wardlow et al.,
2007), o que facilita o planejamento e direcionamento das políticas públicas e privadas
relacionadas ao manejo e conservação do solo e da água.
Segundo Oliveira et al. (2012), o IVDN foi eficiente em avaliar as variações de
densidade das diferentes coberturas vegetais presentes na área avaliada, a região estudada foi
caracterizada por grande parte de sua área ocupada por pastagens degradadas, possuindo
menor IVDN o que compromete o acúmulo de matéria orgânica (MO) no solo e
consequentemente, a preservação e conservação destes ambientes.
Dada a importância da cobertura vegetal para a conservação do solo e da água, objetivou-
se com esse trabalho a determinação e quantificação das classes de vegetação na sub-bacia
das Posses, Extrema – MG, utilizando o índice de vegetação por diferença normalizada e a
verificação da acurácia da imagem obtida utilizando a metodologia de Stocking.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo possui 1.200 ha e compreende a sub-bacia das Posses, localizada no
município de Extrema, ao sul do Estado de Minas (figura 1). Esta sub-bacia está inserida na
Bacia do Rio Jaguari, um dos rios que abastece o Reservatório do Sistema Cantareira no
estado de São Paulo. Situa-se entre as coordenadas UTM 374.500 e 371.500 E (longitude
oeste) e 7.468.200 e 7.474.800 N (latitude sul) (Datum SAD 69, Zona 23 S) e entre as
altitudes de 1.144 e 1.739 m. O clima na sub-bacia das Posses é do tipo Cwb, conforme
classificação de Köppen, caracterizado como mesotérmico de verões brandos e suaves e
estiagem de inverno. A temperatura média anual é de 18°C, tendo no mês mais quente e no
mês mais frio temperaturas médias de 25,6 e 13,1°C, respectivamente, com ocorrência anual
de geadas e precipitação média anual de 1.477 mm (Agência Nacional de Águas, 2008). Os
solos ocorrentes na sub-bacia das Posses são Argissolo Vermelho Amarelo, Cambissolo
Háplico, Cambissolo Húmico, Neossolo Litólico e Neossolo Flúvico e o relevo corresponde
principalmente às classes de relevo ondulado e forte ondulado (Silva et al., 2013).
Para o cálculo do IVDN da sub-bacia de Posses, foi utilizada a cena 216/076 obtida
através do satélite LANDSAT, sensor Thematic Mapper (TM), do dia 5 de agosto de 2009,
disponibilizadas gratuitamente pelo site da Divisão de Geração de Imagens (DGI) do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Instituto de Pesquisas Espaciais, 2009).
O pré-processamento da imagem foi realizado através de seu registro com base nos
mosaicos das imagens GeoCover disponibilizados pela National Aeronautics and Space
Administration (NASA). Para a correção geométrica foram utilizados pontos de controle
coletados in situ, a saber: três pontos na classe sem cobertura vegetal, cinco pontos na classe
pastagem degradada, oito pontos na classe de pastagem não degradada, quatro pontos na
floresta de eucalipto e seis pontos na floresta nativa. Foram admitidos erros abaixo de um
pixel.
Ainda na etapa de pré-processamento, realizou-se a correção atmosférica da cena para
atenuar a influência dos constituintes atmosféricos, tais como vapor d’água e aerossóis. Para
tanto, utilizou-se o pacote X-6Scorr (Montanher e Paulo, 2013), o qual se baseia no método
de correção atmosférica 6S, proposto por Vermote et al. (1997).
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Figura 1. Mapa de localização da sub-bacia das Posses e sua rede de drenagem,
Extrema (MG).
O processamento da imagem foi realizado considerando-se as bandas espectrais 3
(Vermelho, faixa de 400 a 700 nm) e 4 (Infravermelho próximo, faixa de 700 a 1300 nm) da
imagem Landsat. Admite-se que essas bandas são mais afetadas pela absorção da clorofila na
folhagem de vegetação verde. O IVDN foi calculado a partir das bandas, empregando a
equação descrita por Asrar et al. (1984):
43
3-4
IVDN
em que:
IVDN = índice de vegetação por diferença normalizada;
ρ3= reflectância na banda 3 e
ρ4= refletância na banda 4
Os valores do IVDN oscilam de -1 a +1, sendo que quanto mais próximo de +1, maior a
densidade da cobertura vegetal (Costa et al., 2007). A água possui refletância na banda 3
maior que na banda 4, portanto, apresenta valores negativos, próximos a -1. O solo desnudo,
ou com vegetação rala e esparsa, apresenta valores positivos, mas não próximos à +1. Nesta
situação, ocorre absorção da radiação na faixa do infravermelho próximo, justificando o baixo
valor de IVDN nessas áreas (Poeking et al., 2007).
Através de medidas radiométricas obtidas em campo, Franco e Rosa (2004)
diferenciaram as pastagens degradadas em três diferentes níveis de degradação, sendo que os
resultados de IVDN variaram entre 0,46 (alto nível de degradação), 0,63 (nível médio de
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degradação) e 0,52 (baixo nível de degradação). De acordo com Eduardo e Silva (2013), o
IVDN após a correção atmosférica em imagens Landsat assumiu valores médios de 0,82 para
vegetações de grande porte, 0,52 para pastagens e 0,05 ou menos para áreas sem cobertura
vegetal.
Dessa forma, considerando a capacidade do IVDN de apontar as diferenças na
intensidade de reflectância de diferentes alvos, principalmente de vegetação, e com base nas
informações obtidas em campo, foi possível assumir para a presente pesquisa os seguintes
valores: locais sem cobertura vegetal (-0,87 a 0,45); pastagem degradada (0,46 a 0,55),
pastagem não degradada (0,56 a 0,75) e locais com vegetação arbórea (0,76 a 1).
Para verificar a acuraria do mapeamento da cobertura vegetal pelo IVDN e validar os
resultados, foi realizada uma avaliação direta em campo utilizando-se a metodologia proposta
por Stocking (1988). Para esta validação foram selecionados 63 pontos aleatoriamente na sub-
bacia. Estes pontos contemplaram os principais usos do solo que ocorrem na sub-bacia
(vegetação arbórea, solo exposto e pastagens).
A metodologia de Stocking consiste em um aparato horizontal (figura 2a) de 2,0 m de
comprimento e 1,5 m de altura do solo. Na parte horizontal do equipamento de campo há 19
orifícios de 9 mm de diâmetro, espaçados 10 cm entre si. Por estes orifícios o operador realiza
visadas de cima para baixo (figura 2b). De acordo com a visualização do operador, da
cobertura presente, pelos orifícios do equipamento registra-se o valor da cobertura vegetal.
Convencionou-se a contagem de 0 para visadas que correspondessem a solo desnudo ou com
restos de vegetação, o valor 0,5 quando a visada foi parcialmente formada por vegetação e o
valor de 1,0 quando se visualizou a própria vegetação (Stocking, 1988). Levando-se em
consideração que a classe arbórea ultrapassa a altura da régua do aparato utilizada para
avaliação, foi colocado um dispositivo espelhado na parte inferior dos orifícios, de maneira a
permitir a visualização de baixo para cima, conforme descrito em Stocking (1988). Nestes
casos, registrou-se o valor 0 quando se visualizou o céu pelo espelho, o valor 0,5 quando a
visada foi parcialmente formada por vegetação aérea e o valor de 1,0 quando se visualizou
somente a vegetação. Após a realização das visadas em campo, determinou-se o índice de
cobertura vegetal em cada ponto por meio da seguinte equação:
100(%) xvisõesdetotal
visõesdenúmeroIC
em que:
IC (%)= índice de cobertura do solo em porcentagem.
Figura 2. Demonstração do aparato vista frontal (a) e visualização de cima (b) para avaliação do índice
de cobertura vegetal conforme Stocking (1988).
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do IVDN mostraram que 9% da sub-bacia de Posses é ocupada por
vegetação arbórea (mata nativa e silvicultura), enquanto que 27% de seu entorno é ocupado
pela mesma classe, conforme pode ser observado na Tabela 1 e Figura 3. Apesar da área do
entorno não apresentar grande área ocupada com vegetação arbórea, esse resultado mostra que
a vegetação nativa da sub-bacia das Posses encontra-se bastante alterada quando comparada
com a paisagem do entorno, indicando que o uso do solo na sub-bacia tem reduzido a
cobertura vegetal natural. Isso é comprovado pela alta porcentagem de área da sub-bacia
ocupada por pastagens degradadas ou não degradadas (cerca de 88%), as quais são
representadas principalmente pela pecuária de baixo nível tecnológico, em associação aos
declives acentuados dominantes (relevo ondulado e forte ondulado), favorecendo a redução da
cobertura vegetal proporcionada pela pastagem.
Tabela 1. Distribuição das classes de cobertura do solo obtidas pelo IVDN na sub-bacia
das Posses, Extrema (MG) e na área de entorno obtido pela imagem do satélite Landsat
para o dia 5 de agosto de 2009.
Classe de cobertura do solo Sub-bacia das Posses Área de entorno
ha % ha %
Sem cobertura vegetal 33 2,7 228 4,0
Pastagem degradada 321 26,8 985 17,4
Pastagem não degradada 738 61,5 2.897 51,2
Vegetação arbórea 108 9,0 1.551 27,4
Total 1.200 100,0 5.661 100,0
Figura 3. Mapa de cobertura do solo da sub-bacia das Posses, Extrema (MG),
pontos de coleta de dados e da área de entorno.
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Na sub-bacia das Posses as áreas ocupadas por pastagens degradadas e áreas sem
vegetação ocupam 29,5% da sub-bacia (Tabela 1; Figura 3), caracterizando-se como áreas
críticas em relação à degradação, pois a ausência de vegetação pode aumentar os riscos de
erosão na área, reduzir a capacidade de infiltração de água no solo, por conseguinte, redução
da capacidade do solo em promover a recarga de água nos aquíferos. As perdas de solo ainda
pode causar assoreamento dos mananciais, estes são essenciais ao bom funcionamento do
Sistema Cantareira. A área de entorno, apesar de haver mais áreas desnudas, a porcentagem
de uso do solo com pastagem degradadas é bem inferior ao encontrado na sub-bacia de
estudo.
Os dados obtidos diretamente em campo confirmam a situação da cobertura vegetal na
sub-bacia das Posses obtida por IVDN. Os valores dos índices de cobertura, em porcentagem,
para cada classe de vegetação apresentaram a seguinte variação: i) solo sem cobertura vegetal,
IC de 0 à 5; ii) solo com pastagem degradada, IC de 18 à 26; iii) solo com pastagem não
degradada, IC de 34 a 39 e; solo com cobertura arbórea, IC de 92 à 100. Na Tabela 2 são
apresentados os resultados das classes de vegetação em cada ponto de observação no campo,
pela metodologia de Stocking, e sua respectiva classe de vegetação identificado pelo IVDN.
Tabela 2. Classes de vegetação em cada faixa do índice de cobertura de Stocking e do valor de IVDN.
Stocking IVDN
Sem
cobert.
Past.
degrad.
Past. não
degrad.
Cobertura
arbórea
Sem
cobert.
Past.
degrad.
Past. não
degrad.
Cobertura
arbórea
33 2 31
3 1 2
21 21
6 4 2
Pela Tabela 2 pode-se verifica a acurácia do IVDN com os pontos de checagem no
campo, pelo método de Stocking. Desta maneira observa-se que todos os pontos identificados
no campo como vegetação arbórea caíram dentro da área com os IVDN’s para esta cobertura.
Para os demais usos do solo, esta acurácia foi de 94% para a cobertura com o uso identificado
como pastagem não degradada e de 67% para os usos pastagem degradada e sem cobertura do
solo. Considerando todos os usos, o percentual de acerto foi de 92%.
Em relação aos pontos cobertos por vegetação arbórea verificou-se que esta cobertura
apresenta elevados valores do IC, conforme descrito anteriormente, o que mostra que estas
áreas oferecem uma adequada proteção ao solo. Porém a sub-bacia das Posses, de modo geral,
pode ser caracterizada como bastante degradada, pois dos 63 pontos de checagem no campo,
67% destes locais encontram-se com índices de cobertura do solo inferior a 40%. Em termos
de área pode-se verificar que estes usos, com baixo valor de IC, ocupam 91% da área da sub-
bacia (Tabela 1).
Estudos de erosão conduzidos em diferentes classes de solo sob vegetação de Mata
Atlântica mostraram valores de perdas de solo na ordem de 0,06 Mg ha-1
ano-1
. Já em solo
descoberto o valor médio das perdas de solo foram de 9,48 Mg ha-1
ano-1
(Martins et al.,
2010). Estes resultados reforça a importância da cobertura vegetal na proteção do solo e no
controle da erosão hídrica. Assim, a recuperação das pastagens presentes na sub-bacia das
Posses deverá aumentar a cobertura vegetal do solo e reduzir consideravelmente as perdas de
solo e água nesta região, ocasionando aumento da infiltração de água no solo e posterior
recarga. Além disso, as áreas com pastagens degradadas presentes na sub-bacia das Posses são
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passíveis de recuperação, sem a necessidade de renovação do pasto, pois a distância entre as
plantas das espécies forrageiras é inferior a 2 m (Oliveira e Corsi, 2005).
Pastagens degradadas apresentam rarefação da cobertura do solo, o que pode ser um dos
fatores mais graves no tocante ao impacto ambiental. Conforme Bonato et al. (2007), as
perdas de solos e nutrientes, associadas a menor capacidade de produção de biomassa
condicionam o assoreamento dos mananciais e cursos d’água, dificultando as pastagens
degradadas de manter a conservação do solo e da água. Machado e Vettorazzi (2003) relatam
a forte relação entre o uso do solo e a erosão e produção de sedimento, notadamente para uso
com pastagens.
Do ponto de vista ambiental, a recuperação de pastagens é muito interessante, porque,
entre outras razões, evita o desmatamento de novas áreas para a formação de pastagens,
melhora a conservação do solo, recompõe a fertilidade do solo, aumenta a cobertura do solo,
preserva a matéria orgânica do sistema e aumenta a retenção de água, sendo que estes fatores
são consonantes com a busca da sustentabilidade do ambiente, ou seja, a recuperação da
infraestrutura ambiental mínima para que funções ecológicas possam ser reativadas (Oliveira
e Corsi, 2005).
A área da sub-bacia com solos descoberto foi observado nas classes de solo Argissolo
Vermelho Amarelo e Cambissolo Háplico (Tabela 3). Estes solos estão localizados em relevos
caracterizados como ondulados a forte ondulados. A ocorrência de áreas de pastagens
degradadas também seguiu a mesma tendência, incluindo áreas de solo mais frágeis, como os
Neossolos. A ausência de cobertura vegetal e de pastagens degradadas impacta o ambiente de
maneira que a chuva não é interceptada antes de atingir o solo tendo assim uma maior
desagregação das partículas de solo e, devido ao relevo, a enxurrada atinge velocidade
suficiente para carear estas partículas da superfície do solo. Levando-se em consideração a
velocidade e força com que a água da chuva pode chegar em um solo tendo pouca ou
nenhuma cobertura vegetal, o escoamento superficial nas pastagens degradadas sob Argissolo
Vermelho Amarelo e Cambissolo Háplico é mais favorecido em relação à infiltração de água
no solo. Ressalta-se que áreas de Cambissolo são mais propensas ao selamento superficial,
reduzindo sobremaneira as taxas de infiltração de água no solo (Silva et al., 2005). A
utilização destas ferramentas facilita na tomada de decisão por parte dos produtores e agências
regulatórias em relação à prioridade de implantação de práticas de conservação e de
recuperação do solo.
Tabela 3: Número de observações em cada classe de solo e em seus respectivos valores de IVDN.
Classe de solo
IVDN
Sem
cobertura
Pastagem
degradada
Pastagem não
degradada
Vegetação
arbórea
Argissolo Vermelho
Amarelo 3 3 9 3
Cambissolo Húmico 0 0 6 12
Cambissolo Háplico 2 1 6 3
Neossolo Flúvico 0 1 2 0
Neossolo Litólico 0 1 8 3
Os maiores valores de IVDN foram encontrados em áreas de Cambissolo Húmico, Neossolo Flúvico, Neossolo Litólico, bem como de Argissolo Vermelho Amarelo, indicando as áreas com presença de floresta nativa. Ressalta-se a importância de se preservar estes ambientes nativos, uma vez que estes se encontram, em sua maioria, em solos considerados
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frágeis ambientalmente. Os resultados obtidos por IVDN foram confirmados com a avaliação em campo, de acordo com a metodologia de Stocking.
4. CONCLUSÕES
A técnica do IVDN permitiu a identificação dos seguintes usos na sub-bacia das
Posses: solo descoberto, pastagem degradada, pastagem não degradada e cobertura arbórea.
Estes usos foram confirmados pela metodologia de Stocking.
A classificação da cobertura vegetal com base no IVDN permitiu localizar na sub-
bacia a distribuição geográfica dos diferentes usos do solo e identificar as áreas críticas em
relação à cobertura vegetal, indicando esforços para recuperação da proteção do solo nas áreas
desnudas e com pastagem degradada, visando a diminuição dos passivos ambientais.
O uso do IVDN para identificação de cobertura vegetal foi validado pela metodogia de
Stocking, apresentando uma acurácia de 92%.
O índice de cobertura do solo, pela metodologia de Stocking, não ultrapassou 40%
para os usos que ocorrem na sub-bacia (91%), excetuando as áreas de vegetação arbórea.
5. AGRADECIMENTOS
À CAPES, FAPEMIG e ao CNPq pela concessão da bolsa aos autores e co-autores deste
trabalho, à FAPEMIG (CAG-APQ-01423-11) e ao CNPq (processo: 471522/2012) pelo
financiamento de parte do projeto e à Prefeitura Municipal de Extrema, Minas Gerais, na
pessoa do secretário de Meio Ambiente, Paulo Henrique Pereira, pelo suporte logístico, e ao
funcionário, Benedito Arlindo Cortes, pelo auxílio nos trabalhos de campo.
6. REFERÊNCIAS
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C. Plantas de Cobertura no Controle das Perdas de Solo, Água e Nutrientes por Erosão
Hídrica. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande,
v. 16, p. 632-638, 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-43662012000600007