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Eu Preservo Ano I - Edição 01 - Junho/2009 Ele quer uma chuva de empregos verdes Saiba como o presidente americano pretende criar milhões de vagas de trabalho sustentáveis Veja o que pensam os especialistas favoráveis e os contrários à ideia de Obama Por que o Brasil não exporta para os EUA? ETANOL Disputa pode aumentar investimentos em pesquisas ambientais Norte-americanos e brasileiros terão que poluir menos CHINA x EUA AO VOLANTE
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Eu Preservo

Mar 05, 2016

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Fabio Pereira

Educação Ambiental
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Eu PreservoAno I - Edição 01 - Junho/2009

Ele quer umachuva deempregos verdesSaiba como o presidente americano pretende criar milhões de vagas de trabalho sustentáveis

Veja o que pensam os especialistas favoráveis e os contrários à ideia de Obama

Por que o Brasil nãoexporta para os EUA?

ETANOL

Disputa pode aumentar investimentos em pesquisas ambientais

Norte-americanos e brasileirosterão que poluir menos

CHINA x EUA AO VOLANTE

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EditorialEsta revista, Barack Obama e nósEsta é a revista Eu Preservo. Aqui, a temática ambiental vai ser apontada no cotidiano de cada cidadão. Por isso, o nome está na primeira pessoa. Nesta estreia, várias matérias tratam do governo Barack Obama e sua política ambiental. As comparações com a realidade brasileira ajudam a entender melhor os EUA e, claro, o nosso país também. Boa leitura!

Em abril, moradores de Brasilândia, periferia de São Paulo, acor-daram cedo para realizar uma reunião incomum. É que no dia 25 daquele mês o bairro despertou para ser sede do 1º simpósio so-bre “O lixo nosso de cada dia”.

O objetivo do encontro foi debater a política de coleta dos resíduos domiciliares. A busca foi por alternativas. Atualmente, o lixo é re-colhido a custos altos por empresas privadas que, simplesmente, abandonam a carga em aterros sanitários.

As residências em torno desses aterros sofrem com a desvaloriza-ção imobiliária e também com as doenças. Sendo assim, o prob-lema do lixo não é solucionado, mas apenas “transportado” de um lugar para outro. A coleta seletiva seria a solução?

Essas e outras questões foram levantadas em toda a edição desta revista e servem para gerar uma reflexão. O que cada um de nós está fazendo pela preservação da nossa casa (leia-se mundo)?

Fábio PereiraEditor

Revista

Eu Preservo

Sumário

REDAÇÃO

Diretora de redação: Ana Lúcia TsutsuiEditor: Fábio PereiraArte e diagramação: Fábia ZuanettiRepórteres: Bruna Scavacini, Daniel Lucas Oliveira, Edemilson Camargo, Edson Gabriel da Rosa, Viviane Aparecida dos Santos

Site:www.gritaambiente.com.br

Ciência e TecnologiaRio Amazonas .................... Pág. 05China x EUA ........................ Pág. 10

ComportamentoDecoração reciclável ..........Pág. 18

EconomiaColeta seletiva .................... Pág. 09

OpiniãoEntrevista Gilson Costa ..... Pág. 04Crônica ................................ Pág. 20

Políticas PúblicasEnergia eólica ..................... Pág. 08Biocombustível .................. Pág. 15Etanol .................................. Pág. 16Simpósio Brasilândia ......... Pág. 19

SaúdeHorta orgânica .................... Pág. 07Resíduos industriais .......... Pág. 17

Foto capa: GettyIm

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Amazônia: Interagir é preciso

Hoje em dia, existem várias teo-rias em torno da agricultura, pe-

cuária, indústria, comércio, ou seja, a sustentabilidade e o agronegócio na Amazônia. As principais interpre-tações sobre a dinâmica do cenário regional, como modelo de produção hegemônico, as noções sobre o de-senvolvimento rural sustentável, os fundamentos da agroecologia como movimento social, científico, ligado ao desenvolvimento rural e agroeco-lógico relacionando-o ao contexto da agricultura camponesa e ao universo agrário da Amazônia brasileira. De acordo com o Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o desmatamento já consumiu 17% da Amazônia, o equivalente a 700 mil qui-lômetros quadrados, uma área maior que a dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ou seja, toda a região Sul do Brasil, mais Rio de Janeiro e Espírito Santo.Na tentativa de deter a destruição, o

governo federal, com seus 18 ministé-rios, elaborou o Plano Nacional sobre Mudança de Clima (PNMC), com me-tas e compromissos a serem atingidos até 2017, ou seja, diminuir em 72% o desmatamento na parte brasileira da Floresta Amazônica.Para Osvaldo Stella Martins, doutor

em Ecologia e pesquisador do Institu-to Ambiental da Amazônia (Ipam), dar um basta na destruição poderia evitar o cenário catastrófico. “A floresta fun-ciona como uma bomba d’água. Tira do solo e joga na atmosfera. A Ama-zônia tem uma influência tremenda no regime hidrológico de toda a América Latina, principalmente ao leste da Cor-dilheira dos Andes. A falta de chuvas

Para Gilson Costa, da UFPA, preservar eexplorar a floresta são extremos insustentáveise conceitos que nãofuncionam na teoria nem na prática

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Edemilson Camargo

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vai afetar o mundo inteiro, mesmo que o problema esteja localizado no Brasil. Uma quebra da safra da soja aqui no Centro-Sul, por exemplo, vai influen-ciar o preço da soja na China”.

Gilson da Silva Costa, da Universi-dade Federal do Pará, é doutor em Desenvolvimento Sustentável na Amazônia. Em entrevista à revista Eu Preservo, tratou das perspectivas de desenvolvimento rural em áreas da floresta. Na conversa, foram analisa-

das as oportunidades, os desafios, os limites, as possibilidades e as tendên-cias do cenário agrário amazônico. A seguir, trechos da entrevista.

Eu Preservo - Como os capitais na-cionais e estrangeiros, que têm por objetivo fundamental garantir a taxa de retorno de seus investimentos, se utilizam de velhas fórmulas para acumular rendimentos na Amazônia?Gilson Costa - Os parceiros dos

investidores (empresários, políticos, burocratas, banqueiros, etc.) na Ama-zônia são positivamente atingidos, afinal são sócios regionais ou nacio-nais menores, porém extremamente recompensados com a dilapidação das reservas e exploração dos povos da Amazônia, promovendo a destrui-ção dos ecossistemas, dos recursos hídricos e florestal, da vida socioeco-nômica e socioambiental dos povos empobrecidos. Veja, nosso povo não é pobre, medíocre. Ele é explorado, por isso fica empobrecido. Portanto é dessa Amazônia gigante

que estou falando, da vida de 30 mi-lhões de amazônidas, onde mais da metade vive em sub-condições mate-

Os Estados Unidos são os líderes da destruição ambiental. Ele [Barack Obama] faria muito pelo meio ambiente se cuidas-se de reduzir as emissões de gases estufa

“”

MAIS FUSÕESPara Costa, capital es-trangeiro na Amazônia melhora vida de empresas e prejudica cidadãos

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O rio vai dar luz

O projeto em andamento consis-te em embarcações que fica-

rão no rio captando energia fotovol-taica, resultante da transformação direta de luz solar em eletricidade para fazer girar outro equipamento na parte inferior do barco, chama-do eletrolizador. Este equipamento produzirá e armazenará células de hidrogênio que, por sua vez, levarão energia às cidades ribeirinhas.Segundo Adônis Marcelo Saliba

Silva, que é coordenador de Hidro-gênio Não-carbogênico do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuce-lares da USP (IPEN), a ideia inicial é barata para a população, porém exige investimentos. “O painel foto-voltaico tem consumo. Ele dura de 10 a 15 anos, produzindo energia supostamente de graça, mas que não é de graça devido aos custos das coisas”, explica.A tecnologia proporciona a pro-

dução de energia limpa, visto que não precisa desmatar para que seja instalada. Outra vantagem é a mo-

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bilidade. Os barcos podem ficar se deslocando entre as regiões do rio e captando energia solar fora das regi-ões onde há sombra.A realização e o desenvolvimento

dos trabalhos são do IPEN em parce-ria com o Canadá. Silva, porém, lem-bra dos problemas enfrentados no Brasil. “Nós estamos tentando fazer coisas, mas existem leis terríveis no Brasil que impedem dinheiro de mi-nistério chegar ao IPEN para a gente gastar, para o empresário brasileiro ir para o exterior negociar. E a gente não pode levar o empresário brasi-leiro no exterior. Nós não temos con-dições administrativas; entretanto, lá [no exterior] eles têm condições de fazer tudo isso e acabam vendendo a tecnologia para gente. Mais uma vez morremos na praia”, lamenta.Mesmo com as críticas, Silva acre-

dita que haverá avanços nesta área e declara que o Brasil deverá chegar à economia do hidrogênio tal como já conseguiram países desenvolvidos como os Estados Unidos.

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Viviane Aparecida dos Santos

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riais, seja nas cidades ou nos campos. Falo de uma Amazônia multiétnica, com mais de 300 povos e línguas di-ferentes, que até o século XXI incrivel-mente conseguiu conviver, interagir, conservar a maior floresta tropical do mundo, com uma megadiversidade biológica; pescar, navegar e viver bem com seus 25 mil km de rios e bilhões de metros cúbicos de água doce super-ficial; enfim, com um manancial que o grande capital vê em cifrões e coloca a macrorregião e seus povos sob um cenário futuro de tensões.

EP - Quais perspectivas diante do capital estrangeiro? GC - Mais fusões, incorporações,

dominações, subordinações, explo-rações, avanços sobre os recursos totais da Amazônia, principalmen-te na exploração de seus povos. EP - É possível, ao mesmo tempo,

preservar e explorar a floresta? GC - A ideia não é nem preservar,

nem explorar a floresta. Esses são extremos insustentáveis. Preservar significa que não se deve tocar na floresta e explorar, o contrário.Violar, dilapidar, destruir. Portanto, nem um dos dois conceitos nos servem, nem em teoria e muito menos na prática. A questão é conviver, interagir, con-servar. Isso significa que conviver é estar junto com a floresta, promover o desenvolvimento sem agredir. Con-servar é estar com a floresta e ser com ela. Viver. Produzindo e conser-vando, interagindo e convivendo com a floresta e com os rios, os animais, os povos, a totalidade da Amazônia. EP - O discurso de Barack Obama

voltado para o meio ambiente ajuda a luta pela vida na floresta? GC - Como todo imperialismo, e não

interessa quem o dirija, Obama é mais um, só isso. Os Estados Unidos são os líderes mundiais da destruição ambien-tal. Ele faria muito pelo meio ambiente se cuidasse de reduzir as emissões de gases estufa emitidas por seu país. Para as florestas, quem tem melhores práticas e políticas são seus povos.

EP - Qual o papel das Universida-des, dos estudantes e dos professo-res neste processo histórico?GC - Se envolverem em estudo, pes-

quisa, ciência e luta política junto com os povos da Amazônia. Produzindo conhecimento científico moderno e interagindo com o etnoconhecimento.

Em dois anos, o Amazonas,maior rio do mundo, vai poder gerar energia elétrica para comunidades que, ainda,vivem na completa escuridão

PRESERVAÇÃOTécnica gera energia sem desmatar nem prejudicar rio

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O verde em nosso quintalPrimeira-dama americana mostra que se alimentar corretamente e preservar a natureza estão próximos de cada pessoa

Michelle Obama começou a culti-var uma horta orgânica no South

Lawn, gramado localizado na área sul da Casa Branca. Com 55 variedades de vegetais, ervas e frutas, o objetivo vai além de aproveitar os alimentos para as refeições da família. O intuito dessa ação é, principalmente, educar as crianças, que levarão este conheci-mento para suas famílias. Estas, por sua vez, vão informar suas comunidades.Em uma era onde a obesidade é

uma grande preocupação nos Estados Unidos, Michelle – como é chamada intimamente pelos seus admiradores – incentiva a boa alimentação e o cuida-do com os agrotóxicos. Os alimentos orgânicos evitam o uso de pestici-das que contaminam os alimentos, o solo e a água.Aqui no Brasil, há exemplos de cultivo

de hortas orgânicas. Silvia Lamanna, superintendente executiva do Instituto Verdescola, revela que trabalhar com plantio orgânico só é difícil quando não se tem as técnicas bem conheci-das. De acordo com ela, é possível se cultivar em casa. “Você pode fazer isso em uma pet, em um balde, em uma lata. Você pode fazer o plantio em qualquer lugar”, afirma.A grande vantagem em se ter uma

horta, ainda segundo Silvia, é conhe-cer de onde está vindo o alimento. “Cultivando uma horta orgânica em casa, você vai estar ali comendo um

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alimento que você sabe que que vai estar te fazendo bem, porque você vai saber qual o ciclo dele”, defende.Sobre o exemplo de Mi-

chelle, Silvia afirma: “Ela é uma grande mulher. A horta não foi somente um exem-plo, foi uma atitude”.

Educação ambiental

O Instituto Verdescola é uma organização não go-vernamental, sem fins lucra-tivos, que tem como obje-tivo a educação ambiental. Presta consultoria na área de horta orgânica para es-colas e empresas.A instituição possui uma

oficina de atividades na Praça Victor Civita, localiza-da na região de Pinheiros, conhecida pela sua carac-terística sustentável. Lá, o Instituto promove passeios monitora-dos e oficinas de reutilização de ma-teriais descartáveis.

Para saber mais, acesse:Instituto Verdescolawww.verdescola.org

Praça Victor Civitawww.pracavictorcivita.com.br

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Fábio Pereira

Fábia Zuanetti

NO DETALHEalfaces são cultivadas pelo Instituto Verdescola

POUCO ESPAÇOa horta pode ser cultivadaaté em garrafas pets

Dicas para cultivo de horta orgânica

Não plantar por plantar: Silvia acon-selha a plantar em casa alimentos bas-tante consumidos pela família. Tempe-ros, por exemplo. “Tem gente que usa muito alecrim. Alecrim é muito fácil de se ter em uma horta”.Escolhendo o local: Fora de casa: em

vasos grandes, possibilitando a planta-ção de sementes diversas; dentro de casa: em vasos menores, próximo a uma janela onde haja bastante solSaiba quais as melhores terras: Terra

orgânica ou terra preta. “São baratas”, revela Silvia.Alguns alimentos que podem ser cul-

tivados em uma horta orgânica: Ce-noura, rabanete, batata doce, alho, cebola, beterraba, alface, almeirão, chicória, couve, espinafre, berinjela.

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Brasil usa apenas 1% de seu potencial eólico para gerar energia; apenas os ventos do nordestepoderiam suprir 2/3 da demanda nacional

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No Brasil, a costa dos estados nor-destinos tem grande potencial

de produzir energia por meio dos ven-tos. De acordo com o professor Ivam Marques de Toledo, doutor em Energia Elétrica da Universidade de Brasília, a capacidade da região é de 212 tera-watts-hora por ano. Para ele, falta ao país “um projeto energético de longo prazo, como nos Estados Unidos”.O presidente Barack Obama preten-

de investir 15 bilhões de dólares em tecnologia para energias limpas. A idéia do presidente americano é ga-rantir que até 2012 10% da eletricida-de estadunidense sejam provenientes de fontes renováveis. A meta para o ano de 2025 é chegar a 25%Segundo informação da Agência

FAPESP, que é o órgão online de di-vulgação científica da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de São Paulo, os números do potencial eóli-co brasileiro foram estimados levando em conta locais específicos do país. Por isso, o valor pode estar subes-timado. Ainda segundo a agência, é possível afirmar que apenas o poten-cial da energia dos ventos do Nor-deste brasileiro seria capaz de suprir quase dois terços de toda a demanda nacional por eletricidade.

Para Marques, o problema é que, atualmente, o índice de aproveita-mento eólico na matriz energética brasileira não chega a 1%. A capa-cidade instalada é muito pequena comparada à dos países líderes em geração eólica. Praticamente toda a energia renovável no Brasil é prove-niente da geração de hidreletricida-de. “Os locais mais propícios no país para a exploração da energia eólica estão no Nordeste, principalmente na costa do Ceará e do Rio Grande do Norte, e na região Sul”, apontou ele.

Energia eólica no mundo e no BrasilSegundo estudo do Instituto Nacio-

nal de Pesquisas de Energia (Inpe), o setor de energia eólica tem apresen-

tado crescimento acelerado em todo o mundo desde o início da década de 1990. A capacidade instalada total mundial de aerogeradores voltados à produção de energia elétrica atingiu cerca de 74,2 mil megawatts (MW) no fim de 2006, um crescimento de mais de 20% em relação ao ano anterior. “Enquanto o Brasil explora pouco sua

capacidade, países como Alemanha, Espanha e Noruega utilizam por volta de 10%”, disse Martins. E ele lembra que a conversão da energia cinética dos ventos em energia mecânica é utilizada há mais de três mil anos. Em 2006, o Brasil contava com 237 mega-watts (MW) de capacidade eólica ins-talada, principalmente por conta dos parques na cidade de Osório (RS). O complexo conta com 75 aerogerado-res de 2 MW cada, instalados em três parques eólicos com capacidade de produção total estimada em 417 giga-watts-hora (GWh) por ano.

A energia dos ventos

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Edemilson Camargo

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Mais LIXO que gente

Segundo SEADE,entre 2007 e 2008,quantidade de lixo des-cartado por paulistanos cresceu cinco vezes mais que população

Acreditem. Seria possível, em ape-nas uma semana, cobrir toda a

extensão da avenida Paulista, a mais famosa de São Paulo, com um metro de altura de lixo. O Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) reali-zou uma pesquisa que aponta a capi-tal paulista como a cidade que produ-ziu, em 2008, o recorde de 3.437.607 toneladas de lixo domiciliar, cifra 3% maior do que as 3.329.770 toneladas coletadas em 2007. O aumento é cin-co vezes maior do que o da população paulistana, cujo crescimento tem sido de 0,6% ao ano desde 2000.A elevação na produção do lixo resi-

dencial desperta para a conscientiza-ção na hora do descarte dos dejetos. A prefeitura paulistana há tempos está preocupada com o lixo produzido na cidade, pois os aterros sanitários vêm sofrendo com o excedente e estão a beira de entrar em um colapso.

Coleta seletiva: solução Uma solução para reduzir esse mar

de detritos está no programa munici-pal de coleta seletiva. Atualmente, de acordo com a prefeitura, o programa abrange 74 distritos. O serviço de coleta porta a porta é realizado por concessionárias com caminhões com-pactadores e por cooperativas com caminhões menores. O material sepa-rado pelos moradores é recolhido em dias e horários diferentes da coleta domiciliar. Após a captação, os reciclá-veis seguem para centrais de triagem

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distribuídas pela cidade. Lá, o lixo é triado, prensado e comercializado. O lucro é dividido entre os cooperados.Uma das centrais que integram o pro-

grama é a da Cooperativa Sem Fron-teiras, fundada em 2004. Um galpão localizado na região do Jaçanã recebe materiais de casas dos bairros do Ja-çanã, Tremembé, Tucuruvi e Santana.Segundo Valdeli Silva, uma das coor-

denadoras da cooperativa, atualmen-te os cooperados separam cerca de 150 a 160 toneladas de recicláveis por mês. No entanto, ela afirma que a im-portância da população vai além: “Se a pessoa em casa separar a pet, a caixi-nha de leite, ou qualquer outro tipo de material, ela não só vai estar ajudando o meio ambiente, mas também vai ge-rar emprego para uma pessoa”.

Dinheiro do lixo Para Flávio Leandro de Souza, um

dos fundadores da cooperativa, o tra-balho do grupo, além de contribuir para que toneladas de materiais sejam rea-proveitadas, ele desempenha também um papel de “ressocialização”, pois

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Edson Gabriel da Rosa

proporciona trabalho e fonte de renda para pessoas que não tinham direito de consumir os produtos alimentícios mais básicos.A ex-catadora de material reciclável

Maria Helena, 45 anos, é um exemplo. Ela se tornou colaboradora da coope-rativa há 5 anos. Antes, recolhia os objetos nas ruas. Após se tornar co-operada, acredita que a mudança foi positiva. “Para mim, melhorou porque tenho mais descanso. Na rua, a gente anda muito. Aqui, eu trabalho por mês, recebo e pago o que eu tenho que pa-gar”. Questionada se já não estava na idade de parar de trabalhar, respon-deu: “A idade a gente enfrenta, ergue a cabeça e enfrenta o trabalho”.Souza ainda destaca que, com o

tempo, o projeto conquistou o apoio de dirigentes de escolas, condomínios e associações. Deste modo, foi neces-sário ampliar a capacidade de coleta da cooperativa. “Com isso, consegui-mos potencializar a capacidade de trabalho e também o ingresso de mais catadores e catadoras em nossa coo-perativa”, finaliza ele.

Bruna S

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TRABALHEIRA No Jaçanã, coo-perativa recicla 160 toneladas de lixo por mês

LÁ DENTRO NÃO CABE Sacos chegam todos os dias e já ocupam lugar na garagem

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Corrida intelectualNeste ano, China já registrou mais novas patentes que Estados Unidos; segundo especialista brasileiro, Obama deverá investir maisem pesquisas acadêmicas, principalmente na área ambiental

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Viviane Aparecida dos Santos

As universidades americanas devem receber mais investi-

mentos na área ambiental. “A expec-tativa nessa área é que ele [Barack Obama] mude a matriz energética e assim provavelmente vai incremen-tar novas fontes de energia e aceitar idéias como o biodiesel”, afirma Pau-lo Roberto Martins, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. No discurso de nomeação do es-

pecialista em aquecimento global John Heldren para assessor cientí-fico da Casa Branca, Obama obser-vou que é preciso que os Estados Unidos retomem a sua liderança mundial considerando a área da Ci-ência e Tecnologia como prioridade.O presidente norte-americano conta

com outros fortes nomes para aju-dá-lo: o Nobel de Química em 1995, Mario Molina, como assessor da Pre-sidência para Ciência e Tecnologia e o secretário de Energia Steven Chu, Nobel de Física, em 1997.Segundo dados divulgados pela

Casa Branca, o governo americano vai investir em 2009 3% de seu pro-duto interno bruto (PIB) em pesqui-sa, totalizando US$ 414 bilhões para o desenvolvimento de conhecimento, em diversos campos, principalmente no setor energético e novas tecnologias.Um dos motivos para este alto in-

vestimento é o fortalecimento da pro-dução científica na China, que ainda no primeiro semestre deste ano su-perou os norte - americanos em nú-mero de registro de patentes.

Importação de cérebros

Os primeiros passos rumo aos avanços da ciência incluem duas prioridades. A liberação às pesqui-sas com células-tronco, que foram impedidas pelo ex-presidente Geor-ge W. Bush e a obrigatoriedade da divulgação dos resultados de expe-rimentos realizados pelas agências de pesquisas que são financiados com recursos públicos.Outro progresso que o presidente

Barack Obama poderá trazer, se-gundo Paulo Roberto Martins, é a entrada de “cérebros” internacionais em território americano, visto que o país buscará no exterior pessoas capacitadas nas áreas em que apre-senta déficit de conhecimento.

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A grande aposta de ObamaPresidente americano pretende criar milhões de empregos verdes, chamados decentes, por

meio de energias renováveis

FOTOO presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, eleito com a for-

ça do povo, desde os debates políti-cos com o oponente republicano John McCain já prometia dar atenção ao meio ambiente criando políticas públi-cas que ajudassem os EUA a poluir menos. Obama, em vários debates, criticou negativamente o governo Ge-orge W. Bush (2000 a 2008), que ve-tou leis defendidas por ambientalistas por entender que as decisões preju-dicariam indústrias e, conseqüente-mente, a economia do país.Para os cidadãos americanos, a

mudança chegou. Para isso, Obama aposta na energia renovável, que será a política frontal de seu governo para reverter a dependência do petró-leo estrangeiro e gerar novas oportu-nidades no mercado de trabalho.O presidente dos EUA acredita que,

por meio do desenvolvimento de ener-gia renovável, além de poluir menos e ajudar o planeta, é possível criar milhões de empregos verdes (chama-dos empregos decentes). Os setores mais favorecidos serão transporte, in-dústria e agricultura. Para girar a eco-nomia americana, o governo pretende investir US$ 150 bilhões em energia e colocar um milhão de carros elétricos nas ruas até 2015.Na avaliação do economista Hugo

Penteado, formado pela Universidade de São Paulo (USP), a idéia do gover-no é equivocada. “Todos os empregos são verdes, todos eles têm relação com a natureza e com o meio ambien-te, não existem mundos artificiais. O elo é bem maior. Todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos. Esse tipo de nomenclatura só serve para reforçar os mitos que cercam a humanidade e colocam-na em risco de extinção por conta disso”.Questionado pela reportagem sobre

o investimento americano de US$ 150

bilhões e sobre a ideia do presidente Obama de inserir na frota estaduni-dense mais de um milhão de carros elétricos até 2015, Penteado declara ser “péssimo”. E enfatiza: “Daqui a pouco, seremos soterrados [por au-tomóveis]. Eles só precisam explicar se os carros produzidos com energia limpa irão ser colocados em cima de copa de árvores e como irão resolver o necessário asfaltamento de 0,6 hec-tare de terra para cada carro produzi-do a mais na Terra”.

Primeira vitória

Dia 3 de abril, o governo dos EUA conseguiu importante avanço para cumprir promessas de campanha. A Câmara e o Senado do País aprova-ram o orçamento fiscal para 2010 de US$ 3,55 trilhões. Vale destacar que os principais investimentos prioriza-dos pelo presidente não foram altera-dos no Congresso. São eles: energia, meio ambiente, saúde e educação. Obama previa gastos para o próximo ano fiscal de US$ 3,6 trilhões, que co-meça em outubro deste ano.

Solar Eólica

AS OPÇÕESDE OBAMA

Confira os diferentes tipos de energiasrenováveis nas quais Obama pretende investir

Energia da radiação solar direta, que pode ser aproveitada de di-versas formas através de diversos tipos de conversão, permitindo seu uso em aplica-ções térmicas em geral, obtenção de força motriz diversa, obtenção de eletric-idade e de energia química.

As energias renováveis são provenientes de ciclos naturais de conversão da radiação solar, que é a fonte primária de quase toda a energia disponível na Terra. Por isso, são inesgotáveis e não alteram o balanço térmico do planeta. As mais conhecidas são as energias solar, eólica, biomassa e hidroenergia.

Energia cinética das mas-sas de ar provocadas pelo aquecimento desigual na superfície do planeta. Os cataventos e embarca-ções à vela são formas bastante antigas de seu aproveitamento. Os aero geradores modernos de tecnologia recente têm se firmado com uma forte alternativa na composição da matriz energética de diversos países.

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Daniel Lucas Oliveira

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150bilhões de dólares

é quanto o governo Obama pretende investir em energias limpas

1milhão de carros elétricos

é o número que as autoridades ameri-canas esperam ter em sua frota no ano de 2015

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Energias sujas levarão homem a mudanças traumáticas,avisa escritorEm seu livro, Energia Solar e Fon-

tes Alternativas, da editora He-mus, o escritor americano Wolfgang Palz destaca os benefícios na utilização das energias renováveis. Palz acredita que a energia solar recebida pela terra a cada ano é dez vezes superior à con-tida em toda a reserva de combustíveis fósseis. Mas, atualmente, a maior parte da energia utilizada pela humanidade provém de combustíveis fósseis - pe-tróleo, carvão mineral, xisto.A linha do escritor tem forte relação

com a nova aposta de Obama para criar milhões de empregos, movimen-tar a economia americana na busca do crescimento e, principalmente, transfor-mar a América.O autor avalia que a vida moderna tem

sido movida a custa de recursos esgo-táveis que levaram milhões de anos para se formar. O uso desses combus-tíveis tem mudado substancialmente a composição da atmosfera e o balan-ço térmico do Planeta, provocando o aquecimento global, degelo nos pólos, chuvas ácidas e envenenamento da at-mosfera. As previsões dos efeitos de-correntes para um futuro próximo são catastróficos.Solução - Palz afirma que temos que

buscar soluções limpas e ambiental-mente corretas ou seremos obrigados a mudar nossos hábitos e costumes de maneira traumática. A utilização das energias renováveis em substituição aos combustíveis fósseis é uma dire-ção viável e vantajosa.Segundo o autor, além de serem ines-

Eólica Biomassa Hidroenergia

Confira os diferentes tipos de energiasrenováveis nas quais Obama pretende investir

As energias renováveis são provenientes de ciclos naturais de conversão da radiação solar, que é a fonte primária de quase toda a energia disponível na Terra. Por isso, são inesgotáveis e não alteram o balanço térmico do planeta. As mais conhecidas são as energias solar, eólica, biomassa e hidroenergia.

Energia cinética das mas-sas de ar provocadas pelo aquecimento desigual na superfície do planeta. Os cataventos e embarca-ções à vela são formas bastante antigas de seu aproveitamento. Os aero geradores modernos de tecnologia recente têm se firmado com uma forte alternativa na composição da matriz energética de diversos países.

A energia química, pro-duzida pelas plantas na forma de hidratos de carbono por meio da fo-tossíntese. Sua utilização como combustível pode ser feita das suas formas primárias ou derivados: madeira bruta, resíduos florestais, excrementos animais, carvão vegetal, álcool, óleos animal ou vegetal, gaseificação de madeira, biogás etc.

Energia cinética das mas-sas de água dos rios, que fluem de altitudes elevadas para os mares e oceanos graças à força gravitacio-nal. Este fluxo é alimentado em ciclo reverso graças à evaporação da água, eleva-ção e transporte do vapor em forma de nuvens, natu-ralmente realizados pela radiação solar e pelos ven-tos. A fase se completa com a precipitação das chuvas nos locais de maior altitude.

g o t á v e i s , as energias r e n o v á -veis podem apresentar impacto am-biental mui-to baixo ou quase nulo, sem afetar o balanço térmico ou composição atmosférica do planeta.

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“Emprego verde é uma ideia equivocada”Para economista, concordar com o conceito de “emprego decente” é aceitar mito de separação entre homem e natureza

O presidente dos EUA, Barack Obama, pretende criar milhões

de empregos verdes (chamados tam-bém empregos decentes). Para saber mais sobre o assunto, a reportagem contatou o especialista Hugo Pente-ado, que é formado em Economia, além de mestre pela Universidade de São Paulo (USP).Penteado trabalha no mercado fi-

nanceiro há mais de 20 anos. Publi-cou um livro chamado Ecoeconomia - Uma Nova Abordagem (Editora La-zuli, 2003). Desde o lançamento da obra, ele já concedeu mais de 200 palestras sobre economia ecológica.A seguir, trechos da entrevista.

Eu Preservo - Existe definição para o chamado emprego verde?

Hugo Penteado - Não. Isso é uma ideia equivocada. Todos os empregos são verdes. Isso faz parte do mito de separação entre homem e natureza e na capacidade humana de criar mun-dos artificiais, quando isso, do ponto vista da Física, da Biologia, simples-mente é falso. Todos os empregos são verdes. Todos têm relação com a natureza e o meio ambiente. Não existem mundos artificiais. As cida-des dependem da natureza. O elo é bem maior: os seres vivos dependem de todos os seres vivos. Esse tipo de nomenclatura só serve para reforçar os mitos que cercam a humanidade e colocam-na em risco de extinção.

EP - A proposta de Obama, de criar milhões de empregos por meio de energia, é possível?

HP - Acredito que todos os governos deveriam questionar a necessidade de fazer um sistema como o da eco-nomia, totalmente em conflito com a natureza, crescer tanto, gerando tanta concentração de riqueza, tanta vulnerabilidade nos lares, pois os em-pregos possuem todos eles natureza temporária. Revisitar o conceito em-prego é importante antes de lidar com

Daniel Lucas Oliveira

a falta dele. O crescimento é um fim em si mesmo, não ali-via a pobreza, não gera bem estar, não cria empregos per-manentes, não engrandece o ser humano e só há inversões de eixos: não é a economia que serve às pessoas, mas sim são as pessoas que ser-vem à economia. Essa contra-dição em salvar o emprego ou o planeta não existe.

EP - Em dez anos, Obama pre-tende investir US$ 150 bilhões em energias renováveis e colocar um milhão de carros elétricos nas ruas até 2015. Como você avalia?

HP - Péssimo. Obama só precisa explicar se os carros produzidos com energia limpa irão ser colocados em cima de copa de árvores e como irão resolver o necessário asfaltamento de 0,6 hectare de terra para cada carro produzido a mais no país. É preciso lembrar que o planeta é finito, tan-to em ecologia quanto em espaço. Imagine você dentro de sua casa e, mesmo sabendo que ela não pode aumentar de tamanho, não param de entrar coisas e lixo.

Os governos deveriam questionar a necessidade de uma economia totalmente em conflito com a natureza

EP - O presidente Obama significa uma mudança real para a política ambiental norte americana?

HP - De forma alguma. Uma de suas declarações é: iremos fazer de tudo para manter o estilo de vida dos ame-ricanos. A revista New Scientist publi-cou recentemente uma matéria intitu-lada “The Folly of Growth” (A Tolice do

Crescimento) e fez uma pergunta aos cientistas: quantas pessoas o planeta seria capaz de sustentar no nível de prosperidade e riqueza dos america-nos. A resposta: apenas 200 milhões de pessoas. Se os EUA estivessem sozinhos nesse planeta, sem nenhum país para continuarem sugando a na-tureza deles por meio do comércio global e a preço nulo, já teriam entra-do em colapso há muito tempo.

EP - Energia renovável é o primei-ro passo para os americanos saí-rem do topo de maiores devastado-res do meio ambiente?

HP - Não. O consumo deles é que é a peça principal dessa devastação. E

o pior é que esse consumo não serviu para trazer felicidade: 4,3% da popu-lação mundial consome quase todos os antidepressivos do mundo. Todos os indicadores mostram que o con-sumo é excessivo. Nos Estados Uni-dos, havia um milhão de moradias em 1900, atualmente há 190 milhões. O território americano é o mesmo, em um espaço finito.

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Divulgação

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Faxina nos aresBrasil e Estados Unidos se mobilizam paradiminuir a poluiçãode suas cidades;o principal alvo já foi escolhido e está bem longe dos céus:os carros deverãopoluir menos

Diariamente, circulam pela capital paulista cerca de cinco milhões

de carros e quinze mil ônibus. Esses veículos, junto com os caminhões e motos, são os responsáveis por emi-tir 90% dos gases poluentes, dentre eles, monóxido de carbono (CO), di-óxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2) e Ozônio (O3). Além dos problemas da queima dos po-luentes, existem também problemas com a queima incompleta de gases como o hidrocarboneto (HC), um dos responsáveis pelo efeito estufa.Segundo a Organização Mundial de

Saúde, na cidade de São Paulo mor-rem, todos os dias, cerca de 10 a 14 pessoas em decorrência da poluição do ar e, para diminuir esse número, foi decretada uma lei federal onde é obrigatório, até 2013, ser acrescen-tado ao diesel puro 5% de biodiesel. Adiantadas, algumas empresas de ônibus das capitais paulista e carioca começaram a circular, desde o início deste ano, com a mistura do Biodiesel B3 com o Diesel S-50. A sigla do die-sel significa que existem 50 partículas por milhão de enxofre, teor esse que reduziu a emissão de material parti-culado (fumaça), já que anteriormente era usado o diesel S-500.Segundo a especialista em meio am-

biente Simone Miraglia, “o biodiesel emite menos poluentes atmosféricos que o diesel tradicional”. O resultado, para ela, é satisfatório para o ar e, tam-bém, “para a saúde da população”.Porém, Itamar Lopes, responsável

por uma frota de ônibus da capital paulista, afirma que “não houve redu-ção substancial para o meio ambiente com o uso do biodiesel com 2% ou 3%. Isso poderá ocorrer na medida

em que essa porcentagem [de bio-diesel] for aumentada, podendo haver melhoras na opacidade da fumaça preta. O ganho maior e perceptível foi com a troca do diesel S-500 para o S-50”. Ainda segundo Lopes, há al-guns problemas com o rendimento do veículo ao utilizar a mistura do Biodie-sel, pois este não é bom o suficiente em relação ao diesel puro quanto ao rendimento térmico. O potencial calo-rífico desse combustível é menor do que o diesel puro.A preocupação com o meio ambiente

não é somente brasileira. O presiden-te americano Barack Obama anun-ciou um plano de redução das emis-sões de gases causadores do efeito estufa. As regras deverão entrar em vigor a partir de 2012. Há uma previ-são para que até 2016 os automóveis percorram uma média de 100 Km/h gastando apenas 6,63 litros de ga-solina. Os veículos mais econômicos deverão fazer 16,5Km/l.De acordo com o chefe de Estado

americano, as novas normas permi-tirão economizar 1,8 bilhão de barris de petróleo durante a vida útil dos no-vos veículos. Obama admitiu que fica-rá caro construir esses veículos, mas lembrou que esse custo será neutra-lizado, já que os motoristas poderão economizar no reabastecimento.

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O biodiesel é um combustível pro-duzido a partir do óleo de plantas ou animais, para ser utilizado em carros, caminhões e ônibus.Atualmente o biodiesel vendido nos postos de combustíveis pelo Brasil pos-sui 3% de biodiesel e 97% de diesel.Para se produzir biodiesel, o óleo extraído das plantas ou animais é misturado com álcool (ou metanol) e depois estimulado por um catalisador que é usado para provocar uma reação química entre o óleo e o álcool. Depois o óleo é separado da glicerina (usada na fabricação de sabonetes) e filtrado.No Brasil, a extração de óleos para a fabricação do biodiesel é concentrada em espécies vegetais como o giras-sol, o amendoim, a mamona, a soja, dentre outros.

O que é biodiesel?

www.gritaambiente.com.br

Bruna Scavacini

ATÉ 2013No Brasil, 5% de biodiesel deve ser acrescentado a cada litro de diesel

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Obama em defesa do milharalPor que o etanol brasileiro, sendo mais vantajoso, é rejeitado pelo governo americano?

Edemilson Camargo

“O governo americano está que-rendo proteger o que ele

acha importante. O status quo da sua energia”. Essa é a opinião de Adônis Marcelo Saliba Silva, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), ligado a Universi-dade de São Paulo (USP). O desen-volvimento de energias alternativas renováveis, não-poluentes e de baixo custo constitui-se, então, em um dos grandes desafios da sociedade con-temporânea. “A questão sobre a substituição de

um modelo de geração de energia baseado no petróleo, portanto carbo-gênica, por um modelo baseado em fontes renováveis, isto é, hidrogênica, é de suma importância”, diz Silva. Ape-sar de o etanol brasileiro, extraído da cana-de-açúcar, ser de boa qualidade e mais barato do que o americano, produzido a partir do milho e da be-terraba, o governo Barack Obama não tem cogitado comprar o combustível brasileiro em grandes quantidades. Essa é, segundo Silva, uma forma de

proteger a economia estadunidense. Investir no mercado interno e desen-volver tecnologia para baratear o custo do produzido a partir do milho tem sido a estratégia usada pelo mercado pro-dutor americano.

Brasil lidera exportações de etanolAs vantagens do etanol fazem dele

um combustível atraente. Em termos sociais, no caso do Brasil, gera empre-go e renda no campo. Mas há desvan-tagens. Segundo Silva, a produção na-cional gera desigualdade e exclusão social, pois o poder econômico sobre o plantio de cana fica acumulado nas mãos de poucos usineiros. Nos Esta-dos Unidos, essa situação é diferente. Lá, investimentos são feitos em pe-quenos produtores rurais. Em termos ambientais, em sintonia

com o Protocolo de Quioto e acordos internacionais de redução de emissões de gases, o etanol evita a emissão de milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, um dos gases de efeito estufa responsáveis pelo au-

mento da temperatura da Terra. Além disso, o etanol atende a uma demanda do setor de transportes por combustí-veis não derivados de petróleo.O etanol brasileiro também apresen-

ta vantagens em relação ao de ou-tros países. De acordo com dados do IPEN, o custo de produção do produ-to brasileiro é de 20 a 25 centavos de dólar por litro. O etanol produzido do milho nos Estados Unidos custa cer-ca de 10 centavos de dólar a mais. O etanol brasileiro apresenta, também, melhor rendimento energético. Para cada unidade de energia despendida no processo de produção, obtêm-se de oito a 12 unidades de energia ge-radas pelo etanol. No caso do etanol norte-americano, essa relação é de apenas 1,3 a 1,8 unidades de energia. Além do mais, em média, cada hectare em que é cultivada a cana-de-açúcar rende cerca de 6.800 litros de álcool. O Brasil é líder mundial na exportação

de etanol. Segundo a Petrobrás, ape-nas em 2005, o Brasil produziu 16,1 bi-lhões de litros de etanol e exportou 2,6 bilhões de litros para países como Ín-

dia, Suécia, Japão e Coréia do Sul, ao passo que, no mesmo ano, iniciou exportações para a Venezuela, auxiliando aquele país a dar início à mistura de etanol na gasolina.“A julgar por todo o investi-

mento da companhia para au-mentar a produção do etanol destinado à exportação e me-lhorar a logística de armazena-mento e transporte do produto, a Petrobrás tem tudo para au-mentar sua participação no ne-gócio do etanol”, observa Silva. Essa ajuda significa não ape-nas auxiliar o Brasil a manter a posição de líder no ranking dos países exportadores de etanol, mas manter “um know-how de mais de três décadas no as-sunto e auxiliar outros países na implementação de progra-mas de utilização do etanol como combustível”, finaliza.

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DESVANTAGEMProdutores de cana ainda provocam incêndios incontroláveis

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Milhões de mortes a menosResíduos industriais jogados em rios deixam milhões de brasileiros com grandes chances de adoecer e morrer; de acordo com pesquisadora do

IPEN, solução sustentável já existe

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S a ú d e

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Nos Estados Unidos, a aborda-gem relativa a resíduos sólidos

começou no início da década de 80 com a instauração da legislação do Superfund, que visava recuperar os grandes lixões que haviam e ainda há espalhados no país. Aqui no Brasil, segundo dados do

Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inPEV), so-mente no estado de São Paulo, em abril deste ano, foram descartadas 269.388 Kg de embalagens vazias de resíduos agrícolas, contra 317.260 Kg do mesmo período no ano passado.Ainda de acordo com o Instituto, é

possível reciclar 95% das embala-gens vazias e defensivos agrícolas colocados à venda no mercado bra-sileiro. Os outros 5% são embalagens que não utilizam água como veículo de pulverização (sacos plásticos, em-balagens de produtos para tratamen-to de sementes, entre outras) e, sen-do assim, são incinerados. Em todo o país, existem 10 empre-

sas parceiras do inPEV que realizam o trabalho de reciclagem das emba-lagens vazias de agrotóxicos. Elas estão situadas nos estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. São produzidos mais de 12 diferentes artigos prove-nientes da reciclagem, entre eles, embalagem para óleo lubrificante; cantoneira de papelão para proteção de peças, e várias outras.As embalagens vazias dos resíduos

agrícolas devem ser devolvidas ao fornecedor junto com suas tampas e rótulos. É necessário prepará-las antes da entrega, considerando que cada tipo de embalagem deve rece-ber tratamento diferenciado. O agri-cultor tem o prazo de um ano depois da compra para devolver a embala-gem vazia e, se sobrar algum produto em seu interior, até seis meses depois do vencimento. A unidade de recebi-mento dessas embalagens vem indi-cada pelo revendedor na nota fiscal. Não são somente resíduos agríco-

las que podem ser reaproveitados ou reciclados. A pesquisadora do Cen-

tro de Ciência e Tecnologia de Mate-riais (CCTM) do Instituto de Pesqui-sas Energéticas e Nucleares (IPEN) Sonia Mello tem como proposta de pesquisa transformar os resíduos de galvanoplastia em vidros e revesti-mentos cerâmicos. De acordo com ela, “é muito comum estar passando no rio Tamanduateí e, de repente, se deparar com uma água verde, cor-de-rosa ou azul. Isso possivelmente são materiais de galvanoplastia que estão

sendo jogados. Na maioria, muitos deles são tóxicos e é difícil rastrear porque, em geral, são empresas ca-seiras, de fundo de quinta.”Para compor esse vidro, que é

mais resistente e de melhor qualida-de, é utilizado 70% de resíduos só-lidos industriais que seriam jogados nas águas. Em 2002, a Fundacentro apontou seis milhões de trabalhadores brasileiros expostos ao material e que corriam o risco de adoecer ou morrer.

Bruna Scavacini

Bruna S

cavacini

QUASE TODAS 95% das embalagens agrícolas podem ser recicladas

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Uma decoração reciclávelNa capital paulista, lixo acumulado o ano inteiro em edifício é decoração no período natalino; iniciativa já rendeu premiações e congestionamento causado por curiosos

C o m p o r t a m e n t o

Edson Gabriel da Rosa

Para muitas pessoas, cinco mil garrafas plásticas, 100 latas

usadas de tinta e canos de PVC não passariam de um amontoado de mate-rial para se jogar no lixo. Porém, essa montanha aparentemente inútil ga-nhou outro destino em um condomínio residencial do bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Tudo foi transfor-mado em enfeite da Natal.A responsável pela iniciativa foi Ro-

seli Pigrinataro, a síndica do prédio. Com a experiência de 10 anos como decoradora profissional, ela resolveu explorar sua criatividade. Logo que teve a ideia de aproveitar os materiais que iam para o lixo, mobilizou todos os moradores para que separassem des-de bandejinhas de presunto até “tudo aquilo que eles achassem que a gente pudesse usar para os enfeites”.A primeira decoração levou um ano

inteiro para ser feita. A certeza de ter realizado um bom trabalho, afirma a síndica, surgiu quando todos os en-feites ficaram prontos. Mas ela lembra que nem todas as pessoas viram bele-za na estreia. “O pessoal falava ‘nos-sa, ela fez decoração esse ano com o lixo, com garrafa, que feio’”. Mas, com o tempo, a novidade conquistou não apenas um contingente de admirado-res, que causou até um congestiona-mento em frente ao condomínio, mas também alguns prêmios.A decoração do edifício já foi eleita,

por três anos consecutivos, a mais criativa e ecológica da cidade de São Paulo. A premiação foi dada pela pre-

feitura de São Paulo, que a cada natal sai em busca dos enfeites mais criati-vos encontrados na cidade.Neste ano, a iniciativa ecologicamen-

te correta saltou os muros do condo-mínio de Roseli. A decoradora foi con-vidada a criar enfeites recicláveis para o Dia das Mães, para a Páscoa e até para a festa junina de estabelecimen-tos comerciais da região. Um colégio percebeu que o trabalho da síndica tinha uma importância maior que dar boa aparência aos objetos e a contra-tou para desenvolver o mesmo traba-lho na instituição. Deste modo, os alunos receberam a

tarefa de contribuir com a captação de materiais. A ação despertou nas crian-ças a importância e a conscientização de realizar corretamente a seleção e o descarte do lixo. Roseli pôde com-provar bem de perto a aceitação dos alunos à iniciativa. “As crianças é que ficam mais encantadas. Isso, pra mim, é fantástico. Porque elas olham, admi-ram ver que a gente corta o bico da garrafa e o transforma em uma flor. Elas querem ajudar, participar e, as-sim, estão tomando consciência do quanto é importante reciclar”, diz.E Roseli completa: “Se cada pessoa

pegar uma garrafa pet que usa em casa, um galão de água, uma lata de tinta, encaminhe para a reciclagem ou leve para alguma ONG. Peço que contribua para a ação de reciclar. Não jogue fora. Tudo tem um jeito”.

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refeitura de São P

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AJUDA Funcionários do prédio colaboram com a iniciativa

MULTIUSO As pets são os materi-ais mais usados

TUDO TEM JEITOComerciantes solicitaram que síndica fizesse decorações do dia das mães, de Páscoa e festa junina

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Conversa sobre o quê?No bairro da Brasilândia, moradores se reuniram para falar sobre o (até então) indiscutível e nada comentado lixo domiciliar

Com o objetivo de estimular polí-ticas públicas de gestão do lixo

e desenvolver uma agenda propositi-va para solucionar os problemas da cidade com descarte dos resíduos sólidos, o simpósio O Lixo Nosso de Cada Dia foi o primeiro organizado na região de Brasilândia, zona oeste de São Paulo. O encontro contou com a participação do diretor do Departa-mento de Limpeza Urbana (Limpurb) Wagner Taveiras, responsável pela coleta seletiva na Capital, do técnico especialista em coleta e destinação de resíduos sólidos Minoru Kodama; e Leonardo Morelli que é secretário-geral da Defensoria Social.Um dos motivos que comprovaram

a real necessidade da realização do encontro pode ser confirmado a partir dos números obtidos pela Associação Brasileira de Resíduos Sólidos. Os dados mostram que o Brasil produz cerca de 240 milhões de quilos de lixo por dia. Só a cidade de São Paulo gera 16 mil toneladas, que são depo-sitadas nos lixões.No município, o programa de coleta

seletiva que está em andamento aten-de a 74 distritos. O serviço é realizado com coleta porta a porta por conces-sionárias contratadas. Após o lixo ser recolhido, ele é encaminhado para as centrais de triagem associadas à prefeitura. De acordo com Taveiras, a população aprova o programa. Ele admite, porém, que as cooperativas de coleta seletiva já não têm a mesma po-pularidade. “Todo mundo acha ótimo a existência das centrais, mas ninguém quer uma perto de casa”, afirmou.O dirigente da Limpurb destacou ain-

da que a questão do lixo não deve ser uma preocupação só da prefeitura e sim de todos. “O lixo é ecumênico. Ele não tem cor, não tem base, não tem sexo, não tem questões ideológicas e filosóficas. Todos nós produzimos”.Já Morelli criticou a gestão do lixo e

o sistema de coleta seletiva paulistas. “Você não tem programa e sim um conjunto de iniciativas normalmente isoladas. São atitudes que vêm de cima para baixo, não são discutidas

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Fotos: Com

unidade Episcopal B

rasilândia

Edson Gabriel da Rosa

coletivamente. O povo não participa. E o que você tem é apenas propaganda”.Os debatedores também destaca-

ram as dificuldades que inviabilizam as mudanças na atual política de lim-peza urbana. Para Kodama, atual-mente existe uma “máfia do lixo” que não quer mudanças. Para ele, as al-ternativas que mais aparecem são a compostagem, a incineração, o aterro sanitário e a coleta seletiva. E aponta

que só há uma saída para diminuir a quantidade de lixo. “É preciso ha-ver mudança de hábitos alimenta-res e de consumo”.O resultado do debate foi transfor-

mado em um documento para ser diretamente encaminhado às autori-dades competentes. Wagner Tavei-ras, da Limpurb, comprometeu-se em encaminhar as reivindicações para o gabinete do prefeito.

MULTIDIVERSIDADE DO LIXO Wagner Taveiras, da Limpurb, destacou que o lixo não tem uma só cor. “Todos nós produzimos”

MAIS PARTICIPAÇÃOLeonardo Morelli (foto), da defensoria sSocial, afirmou que o povo não consegue participar das decisões sobre a gestão do lixo

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Esse tal mundo free

O sujeito não entendeu nada quan-do chegou do trabalho e se assentou à mesa do jantar. Nela, havia uma pessoa a mais: um garoto de roupas bem simples, mas limpas, chamado Gaio. Era o novo namorado da filha que fora conhecer os sogros. Chegadas as panelas transbordan-

tes, algo mais estranho ainda. O car-dápio era sopa. Sopa e água. Nada de cerveja nem refrigerante. Recla-mou à esposa. Esta explicou que aquele era um jantar freegan, típico de uma tribo de mesmo nome que adora produtos ditos “naturebas” e não aceita nada industrializado. Ele já tinha visto algo sobre isso na

TV. A esposa continuou explicando e disse que aquela mesa era servi-da em respeito à filhinha e ao Gaio, ambos novos convertidos àquela fé verde. Ela começou a explicou tam-bém o motivo daquele par de bicicle-tas no quintal. “Sei, sei... essa gente prefere não poluir”, rosnou ele. E, enquanto sorvia o caldo quente, ru-minava um inconformismo sem fim.A certa altura, aquele pai resolveu

quebrar o silêncio. Perguntou ao Caio (“É Gaio, papai! Gaio!”)... per-guntou ao Gaio o que ele faria para sobreviver e sustentar uma família. O menino, de corpo franzino, olhos bem miúdos e voz finíssima, garantiu que sustento não era problema e foi, em seguida, relatando os números do desperdício em uma capital como São Paulo. Segundo ele, roupa boa para o uso é facilmente encontrada em meio ao lixo da grande metrópo-le. “Lixo!”, gritou o pai surpreendido. E lá se foi uma involuntária cuspara-da de sopa pela mesa toda. Bem de noite, no reduto do quarto,

a esposa tentava acalmar o infeliz. Dizia que aqueles meninos freegans pregavam uma ideologia bonita de se ver e ouvir. Eram só paz, com-batiam o consumo exagerado, não

C r ô n i c a

Fábio Pereira*

*Editor da revista Eu Preservo

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queriam poluir e, além disso, gos-tavam de viver em comunidade, uns ajudando aos outros. E lembrou ao marido contrariado que aquela era a sociedade com a qual a geração deles, ainda jovem, tinha sonhado. O sujeito, enfim, se tranqüilizou um pouco. Para ele, ideal aquele menino não era, mas devia ser boa pessoa. Bem no fundo. E a esposa, conten-te, prometeu pagar a compreensão com uma reconfortante massagem. Do jeito que ele adorava. Madrugada a dentro, o inconsolável

acordou. Virava-se, revirava e revi-rava. Não achava posição confortá-vel. Não encontrava o sono. O caso era que o que mais se contorcia e se agitava não era o corpo, mas a mente. Era seu coração, batendo em compasso doído, que não en-contrava sossego. Lá pelas tantas, se levantou. Ao descer na sala, viu que a filha, fissurada, lia um livro. Ele puxou papo. Ela, toda graciosa, toda preocupação, perguntou se ele estava bem, por que levantara aque-le horário? Ele inventou que tinha bebido muito café depois da janta. Ela sorriu. Ele também. O que será que ela lia? Queria per-

guntar, mas não era sujeito muito comunicativo, não gostava dessa história de “dialogar”. Era chefe de família. Era quem bancava tudo. Nunca teve tempo para esse negó-cio de convivência familiar. Sua vida era o sustento familiar. E só. A filha, então, calou esses pensamentos tão rápidos com uma frase mais rápida ainda. “Eu te amo, papai”. Ele ficou mais sem palavras do que já esta-va. Mas conseguiu responder “eu também”. Ela de novo sorriu. E ele voltou para o quarto, leve, e mes-mo sem ainda saber direito quem era esse tal de “Caio”, achou muito bonita a ideia maluca de mundo que aqueles dois tinham.

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“O cardápio era sopa. Sopa e água. Nada de cerveja nem refrige-rante. Reclamou à es-posa. Esta explicou que aquele era um jan-tar freegan”.

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