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ETNOMATEMÁTICA E MEIO AMBIENTE: OS IMPACTOS
AMBIENTAIS PROVOCADOS PELOS RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE
FARINHA DE MANDIOCA E SEUS DERIVADOS NA SEDE DO
MUNICÍPIO DE GARRAFÃO DO NORTE-PA
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ETNOMATEMÁTICA E A EDUCAÇÃO DO CAMPO
RESUMO
Nesse artigo relatamos resultados parciais das atividades desenvolvidas no projeto de pesquisa
“OS SABERES MATEMÁTICOS OBSERVADOS NA PRODUÇÃO DE FARINHA DE
MANDIOCA E SEUS DERIVADOS E OS IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS
POR ESSA CULTURA NO MUNICÍPIO DE GARRAFÃO DO NORTE /PA.”, que faz parte
do meu plano de disciplina envolvendo todas as séries do Ensino Médio da Escola Professor
Mário Brasil. A pesquisa foi dividida em dois planos de trabalho. Aqui comunicamos um
deles: “Os impactos ambientais provocados pelos resíduos da produção de farinha de
mandioca e seus derivados na sede do município de Garrafão do Norte-Pa”. O objetivo
do estudo é compreender as práticas realizadas durante todo o processo do plantio a produção
e venda da farinha de mandioca e seus derivados e os saberes matemáticos envolvidos neste
contexto, bem como, os impactos ambientais causados por essa produção buscando uma
relação entre esses saberes. Utilizamos como referencial teórico da pesquisa a
Etnomatemática por ser um estudo que ultrapassa o ambiente escolar, entrelaçando a vivencia
cultural e social da comunidade. Além disso, a pesquisa tem como propósitos verificar os
prejuízos locais provocados por esta cultura e pesquisar sugestões de manejo consciente e
aproveitamento de resíduos, ambientalmente correto e economicamente sustentável.
PALAVRAS CHAVE: etnomatemática; educação ambiental, manejo consciente, saberes
matemáticos.
INTRODUÇÃO
O projeto de pesquisa “Os saberes matemáticos observados na produção de
farinha de mandioca e seus derivados e os impactos ambientais provocados por essa
cultura no município de Garrafão Do Norte /PA” surge a partir de questões ambientais
discutidas nas salas de aula dos alunos do Ensino Médio no ano de 2009.
Na zona urbana do município de Garrafão do Norte, existem o igarapé Garrafão e o
rio Gipuúba que estão sendo assoreados e poluídos devido à ação indiscriminada de
moradores da região. Por outro lado, percebemos que esse assoreamento dos igarapés era alvo
de rodas de discussão entre moradores que relatam com grande pesar o fato de não poderem
mais lavar roupas e/ou pescar, atividades rotineiramente vivenciadas por eles quando o
igarapé estava mais cheio e ainda não era tão poluído e com cheiro insuportável como se
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encontram na atualidade em alguns pontos. Além do desmatamento nas margens e nas
nascentes, essas discussões envolviam o funcionamento de casas de farinha na sede do
referido município como fator principal da poluição desses rios, pois o despejamento
indiscriminado de resíduos da produção da farinha de mandioca, em que cascas e tucupi são
escoados diretamente nos rios e no solo da região agrava a situação.
Os vários questionamentos dos/com os alunos na sala de aula sobre as prováveis
causas do assoreamento e da poluição, assim como quais ações e/ou providências individuais
e coletivas poderiam “salvar” o rio, motivaram-me enquanto professora de Matemática de
quase todas as turmas do Ensino Médio da escola a elaboração de um projeto que investigasse
este contexto de modo que fosse possível associar os dados coletados com os conhecimentos
matemáticos escolares aplicados no Ensino Médio. Assim, desenvolvemos o projeto
dividindo-o em dois planos de trabalho: “Os saberes matemáticos observados na produção
de farinha de mandioca e seus derivados no município de Garrafão Do Norte /PA” com a
colaboração de uma ex-aluna e “Os impactos ambientais provocados pelos resíduos da
produção de farinha de mandioca e seus derivados no município de Garrafão Do Norte
/PA”, tendo como colaborador um outro ex-aluno e ainda tivemos a colaboração de uma outra
professora, hoje co-autora desse artigo.
Com o objetivo da pesquisa de Compreender as práticas realizadas na produção de
farinha de mandioca e os saberes matemáticos envolvidos neste contexto, bem como, os
impactos ambientais causados por essa produção, a pesquisa vinculou ao Ensino de
Matemática fatores do contexto sócio cultural, expressando questões metodológicas
diferenciadas das atividades rotineiras que nos habituamos a exercer como professores da
referida disciplina nas salas de aula. Para chegarmos a esse objetivo tivemos que desdobrá-lo
em alguns específicos como: verificar os prejuízos locais provocados por esta cultura,
pesquisar sugestões de manejo que não agridam o meio ambiente, elaborar e executar
proposta de conscientização a comunidade local, divulgar os resultados da pesquisa e
principalmente contextualizar esses dados coletados entrelaçando os saberes tradicionais
(cotidianos) com os saberes matemáticos escolares.
Neste artigo daremos ênfase para as atividades matemáticas desenvolvidas na sala de
aula a partir da coleta e análise de dados da pesquisa. Relatamos ainda a pesquisa como
proposta metodológica que envolve a matemática com questões ambientais de modo que os
alunos tenham a oportunidade de construir conhecimentos matemáticos que promova a
reflexão sobre problemas ligados a vivencia da comunidade, discutindo as causas,
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consequências e possível solução para os mesmos. No final do texto tecemos as considerações
finais apontando a relevância desta experiência para nossa prática pedagógica.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa começou a ser planejada em 2009, porém teve inicio em2010. A
metodologia da pesquisa foi planejada, com o intuito de a mesma ser realizada no decorrer de
um ano letivo, porém foi um desafio. Muitos fatores contribuíram para o prazo ser estendido.
A disponibilidade de tempo da professora e dos alunos e principalmente o surgimento de
novos focos da pesquisa fez com que a mesma se estendesse e a previsão de ser concluída
ainda é para junho de2013. O projeto maior foi inscrito na FAPESPA e por isso a pesquisa
contou com o apoio da mesma que pagava uma bolsa para os dois alunos que executava os
planos de trabalho.
A fase empírica aconteceu na sede do referido Município nas comunidades onde se
localiza as 05 (cinco) casas de farinha. A coleta de informações consistiu por meio de
observações diretas nestes locais investigados, utilizamos como instrumentos para registrar as
informações o diário de campo e fotografias, também foi utilizado entrevistas semi
estruturadas com os trabalhadores das casas de farinha e os secretários municipais do meio
ambiente e da saúde que foram os sujeitos da pesquisa. Escolhemos essas pessoas por serem
eles os sujeitos ativos no processo de produção da farinha e/ou estar ligados ao meio
ambiente, pois os mesmos precisam conhecer profundamente as práticas realizadas nesse
contexto da produção de farinha de mandioca e seus derivados.
Nesta primeira etapa para observações e coleta de informações foram feitas 02 (duas)
visitas dos alunos junto com a professora e mais 04 (quatro) dos alunos sem a professora nas
casas de farinha. Após a coleta, nós (eu, o aluno e a professora colaboradora) organizamos as
informações. Tabulamos os dados em gráficos e tabelas e iniciamos as análises tendo como
referencial o objeto de estudo do Programa Etnomatemática que D’Ambrósio (1990, p.7) se
referia como: “processos de geração, organização e transmissão de conhecimento em diversos
sistemas culturais e as forças interativas que agem entre os três processos”.
Assim, a partir das primeiras análises optamos em levar para a sala de aula os
primeiros resultados para discutirmos com os demais alunos o contexto vivenciado na
comunidade. Pois, olhar para a matemática escolar como uma particular Etnomatemática abre
possibilidades para melhor compreender a matemática na qual fomos educados e aquelas que
buscamos resgatar do esquecimento coletivo (GELSA KNIJNIK, p.24). Dessa forma, além de
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apresentar a real situação do município em relação às casas de produzir farinha, elaboramos
situações problema envolvendo os saberes matemáticos identificados nos resultados para
trabalhar conteúdos da matemática escolar, tais como: funções, regra de três simples e
composta, regra de sociedade, porcentagem, juros simples e estatística. Bem como, junto com
os alunos elaboramos uma proposta de aproveitamento sustentável e de conscientização da
comunidade.
REFERENCIAIS TEÓRICOS
Trabalhar com temas transversais na educação passou a ser uma exigência no contexto
da escola a partir da implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Elaborar uma
proposta de trabalho que envolvesse o tema transversal Meio Ambiente, partiu de uma
necessidade vivenciada pela comunidade escolar no município que moramos. Situações de
degradação ambiental sugerem reflexão crítica sobre a realidade cultural e social da
população em especial dos jovens. Dessa forma, a proposta desse estudo passa ser um meio de
despertar nos alunos a capacidade de compreender a realidade em que vivem, além de instigá-
los a opinarem sobre os problemas locais, preocupando-se com o trabalho coletivo e com os
desafios do mundo. Abordando o tema transversal Meio Ambiente na disciplina de
matemática, é possível desenvolver determinadas atitudes nos alunos para adquirirem o hábito
de olhar com mais atenção o meio ambiente em que vivem refletindo num processo de
conscientização mais ampla. Despertando-lhes para a compreensão de que,
A atividade humana gera impactos ambientais que refletem nos meios físico-
biológicos e socioeconômicos, afetando os recursos naturais e a saúde humana,
podendo causar desequilíbrios ambientais no ar, nas águas, no solo e no meio sócio
cultural. Algumas das formas mais conhecidas de degradação ambiental são: a
desestruturação física (erosão, no caso de solos), a poluição e a contaminação.
(BRASIL, 1997, p.37)
A Organização Mundial de Saúde considera que a “poluição ou contaminação
ambiental é uma alteração do meio ambiente que pode afetar a saúde e a integridade dos
seres vivos”. (BRASIL, 1997, p.37). Entendemos que despertar tanto nos alunos quanto na
comunidade local a compreensão das causas e consequências dos problemas ambientais que
os cercam é uma forma de cooperar com a prevenção desses problemas. Com a matemática
pode-se desenvolver técnicas e procedimentos para melhor entender questões relacionadas ao
meio ambiente. O aluno poderá aprender e utilizar a matemática no seu cotidiano podendo
exercer sua função de cidadão e transformador social, compreendendo que,
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Os modos como se dá a ocupação humana e suas consequências no
ambiente, entram em contato com a ideia de poluição, tomada como
presença de materiais na água, no solo e no ar, que trazem prejuízo a saúde
pessoal e ao ambiente. (BRASIL, 1997, p.107)
Essa é uma das formas de trabalhar a matemática de forma significativa ultrapassando
a ideia de que ela seja uma ciência isolada, para que a mesma possa ser compreendida como
uma ciência abrangente que reflete sobre outras situações além do cálculo. Segundo
Halmenschlager (2001):
A perspectiva da Etnomatemática é ampla e, portanto, não se limita a identificar a
matemática criada e praticada por um grupo cultural específico, restringindo-se a
essa dimensão local. (...) Além dos saberes matemáticos dos estudantes, construídos
na sua prática cotidiana, no mundo social mais amplo, são também incorporados aos
conhecimentos transmitidos pela escola (HALMENSCHLAGER, 2001, p.27)
As casas de produzir a farinha de mandioca, contexto social e cultural da referida
pesquisa, constituem-se como cenário de investigação na linha de pesquisa Etnomatemática
tendo em vista que em todo o processo de produção, cultivo a comercialização dos derivados
da mandioca a matemática pode ser percebida mesmo de uma forma diferente. D’Ambrósio
(2004, p.43) diz que:
Sempre existiram maneiras diferentes de explicar e de entender, de lidar e
conviver com a realidade. Agora, graças aos novos meios de comunicação e
transporte, essas diferenças serão notadas com maior evidencia, criando a
necessidade de um comportamento que transcenda mesmo as novas formas
culturais.
Esses diferentes conhecimentos matemáticos observados em um determinado grupo
“são reconhecidos como matemática, mais precisamente, são etnomatemáticas”. (SANTOS,
s.d.). Consiste em conhecimentos diferentes, que empregam lógicas e procedimentos distintos
da matemática escolar, mas que também são conhecimentos matemáticos.
A abordagem Etnomatemática permite percebermos esses outros estilos de saber e fazer
a matemática e não apenas com o olhar acadêmico, mas valorizando os saberes matemáticos
vivenciados nos diferentes grupos sociais. A etnomatemática se configura como uma
importante linha de pesquisa resgatando a importância da matemática em todas as suas formas
de produção de conhecimento em diversos contextos sociais e culturais, bem como possibilita
a reflexão sobre construções matemáticas realizadas por grupos sociais que não fazem parte
de ciclos escolares.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
O beneficiamento da mandioca é uma importante fonte de renda para os trabalhadores
do município, geralmente são homens e mulheres com baixa escolaridade que não tiveram
oportunidade de trabalho em órgãos públicos, lojas e comércios varejistas da região. As
atividades são exaustivas, pois trabalham por produção e em condições ergometricamente
inadequadas, sentados no chão ou em pequenos bancos com movimentos repetitivos, no caso
das raspadeiras, por um período de aproximadamente 12 horas diariamente.
A situação da industrialização da mandioca no município não é diferente das demais
localidades do estado, ou mesmo do Brasil, em que geralmente o destino da manipueira é o
leito dos rios, bem como, os resíduos sólidos (cascas) que são armazenadas em terrenos
próximos das casas de farinha e que inevitavelmente poluem o solo.
No que diz respeito à adequação ambiental nas casas de farinha existe apenas uma na
sede do município cujo dono já vislumbra certa preocupação com relação a este aspecto,
talvez pelo fato do mesmo ter sido proprietário de um retiro que contribuiu significativamente
para a poluição do Igarapé Garrafão enquanto sua fábrica estava instalada as margens do
igarapé. Assim sendo, constatamos que atualmente todos os resíduos líquidos de sua casa de
farinha são canalizados para a plantação de laranja e pimenta do reino e
os resíduos sólidos (cascas) para a criação de suínos.
As soluções apontadas por estes pesquisadores para amenizar os impactos ambientais
provocados pela produção de farinha de mandioca é o aproveitamento dos resíduos. O mesmo
pode ser destinado à alimentação animal, como fertilizante natural, substituindo os
agrotóxicos nas lavouras, como defensivo contra insetos e pragas, como as formigas e
doenças que atacam as lavouras, na produção de vinagre para uso doméstico e comercial, na
produção de tijolos ecológicos, na fabricação de sabão e até como biogás1 e bioetanol
2.
“A busca por aprimoramentos no sistema de produção é uma atividade básica e
constante, sendo fundamental promover melhorias que ampliem as condições de
sustentabilidade do setor, diminuindo os impactos da produção no meio ambiente”.
(SEBRAE, s.d. p.2).
1 Energia renovável: o aproveitamento dos resíduos da produção de farinha de mandioca como biogás e
biofertilizante (Projeto Aprovado para I Feira de Ciência: Despertando talentos em Petróleo, gás e
biocombustíveis em agosto de 2012 - UFPA). 2
Etanol de mandioca: uma alternativa de aproveitamento dos resíduos da produção de farinha no
município de Garrafão do Norte- Pa. (Projeto Aprovado para I Feira de Ciência: Despertando talentos em
Petróleo, gás e biocombustíveis em agosto de 2012- UFPA).
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Sugerir o aproveitamento sustentável destes resíduos faz parte de nossas metas de
trabalho e estas atividades estão recheadas de saberes matemáticos que podem ser explorados
em sala de aula. Em nossa investigação produzimos sabão e tijolo ecológico e consideramos
que foi positivo, apesar da inexperiência com estes processos de produção foi gratificante,
pois percebemos tratar-se de uma experiência que poderá agregar valor a produção de farinha,
e a possibilidade de organização em cooperativa e/ou associação dos trabalhadores deste
setor.
EXPERIÊNCIA DA PESQUISA COMO ATIVIDADES NAS AULAS DE
MATEMÁTICA
Sobre o plantio, beneficiamento e comercialização da mandioca.
No decorrer da pesquisa com os dados coletados elaboramos uma tabela com os
valores matemáticos identificados no cultivo de mandioca com o intuito de entrelaçá-los com
conteúdos matemáticos desenvolvidos no 3º ano do Ensino Médio. Vamos dialogar alguns
resultados da prática pedagógica que desenvolvemos durante a execução da pesquisa de
campo.
Analisando todo o processo do cultivo da mandioca, da escolha do terreno até a venda do
produto para os retiros da região, elencamos os seguintes dados. (tabela 01).
VALORES MATEMÁTICOS IDENTIFICADOS NA PESQUISA DE CAMPO
Tarefa 25 braças (lado do quadrado)
Medida da Braça 2 m
Medidas das covas 20 x 12 cm
Distância entre as covas 80 cm
Distância entre as fileiras 1 m
Preço da caixa Na safra De R$ 5,00 a R$ 6,00
Fora da safra De R$ 7,00 a R$ 10,00
Caixa 50 kg
Quantidade de caixas retiradas por tarefa 130 a 140 caixas
Tabela 01: Valores identificados no cultivo de mandioca
A tabela 01 representa dados matemáticos identificados na pesquisa de campo e
refere-se ao cultivo (plantio) da mandioca. Observem na tabela que são unidades de medidas
diferentes das reconhecidas e utilizadas pelos saberes escolares. Com base nestes dados
elaboramos questões para discutirmos com alunos do 3º ano do Ensino Médio o contexto
vivenciado na comunidade, explorando assim os saberes matemáticos cotidianos no ambiente
escolar.
Na atividade sugerida, procurou-se estabelecer a relação quantidade/preço da venda de
caixas de mandioca por tarefa. O procedimento aconteceu da seguinte forma:
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Construiu-se uma tabela que representasse o ganho do agricultor que depende da quantidade
de caixas vendidas. O objetivo foi de os alunos relacionarem a quantidade de caixas,
percebendo que os valores aumentam dependendo da quantidade de caixas vendidas e a partir
disso, tiveram a possibilidade de visualizar essa situação em gráficos estatísticos e ainda
compreender melhor o conteúdo de função.
Figura 1: questão aplicada aos alunos do 3º ano do Ensino médio.
Vale ressaltar que os cálculos apresentados na figura1 e o gráfico (figura 2) foram
feitos pelos alunos em atividades de curiosidade e empenho para conhecer a realidade dos
agricultores da região. E ainda, de acordo com o gráfico apresentado, foi possível concluir que
os grandes produtores de mandioca apesar de com certeza ter um aumento considerável nos
custos de produção, ganham um valor considerado grande em comparação com os pequenos
agricultores da região.
Vale ressaltar que os cálculos apresentados na figura 5 foram feitos pelos alunos em
atividades de curiosidade e empenho para conhecer a realidade dos agricultores da região. De
acordo com o gráfico apresentado, foi possível concluir que os grandes produtores de
mandioca apesar de ter um aumento considerável nos custos de produção, ganham um lucro
considerado grande em comparação aos pequenos agricultores da região.
Figura 2: gráfico elaborado por alunos do 3º ano Ensino Médio
A visualização e preenchimento das tabelas sugeridas, bem como, os gráficos
construídos a partir dos resultados obtidos foram importantes, pois os alunos tiveram a
oportunidade de fazer conjecturas sobre o valor líquido que o agricultor poderá receber
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dependendo da quantidade de tarefas plantada. Na exploração dos dados foi possível
trabalhar conceitos como: medida de comprimento e área quando se discutiu sobre o processo
do cultivo da mandioca; escolha do terreno, corte da maniva, transformação das medidas de
braças para metros, cálculo da área plantada, dentre outros. Quanto ao beneficiamento nas
casas de farinha uma das situações propostas está representada na figura 3.
Figura 3: Questão aplicada aos alunos do 3º ano do Ensino médio.
Nesta atividade além de explorarmos os aspectos matemáticos envolvidos na questão,
tivemos a oportunidade de lançamos um olhar sobre as condições socioeconômicas dos
moradores da região, em que os alunos discutiram criticamente sobre a desvalorização das
trabalhadoras e a urgência da criação de políticas públicas que favoreçam a mulher
trabalhadora, que são a maioria nas casas de farinha, de modo a executarem projetos que
reforcem, dinamizem e valorizem o trabalho realizado pelas mulheres. O papel social da
matematica na formação de um individuo critico e reflexivo foi perfeitamente desenvolvido.
Sobre a produção de resíduos líquidos na fabricação de farinha de
mandioca.
No que diz respeito a produção de resíduos na fabricação de farinha de mandioca
obtivemos dados importantes e, elaboramos a questão da figura 4 para discussão.
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Figura 4: Questão aplicada a alunos do 3º ano do Ensino médio.
Dentre as atividades apresentadas, os alunos construíram gráficos, e através deles
tiveram a oportunidade de aplicar conhecimentos de estatística, reforçando conceitos
anteriores, além de desenvolverem habilidades na compreensão da leitura e interpretação de
gráficos. É notório o envolvimento dos alunos de forma prazerosa por estarem executando
uma tarefa diferenciada no contexto escolar, esse tipo de aula mobiliza os alunos na
construção de conhecimento significante e permanente.
Neste tipo de prática existe também a possibilidade de análise e valorização dos
conceitos matemáticos informais constituídos pelos alunos por meio de suas experiências,
fora do contexto da escola. Segundo D’Ambrósio (1989, p.4) “No processo de ensino
propõe-se que a matemática, informalmente construída, seja utilizada como ponto de partida
para o ensino formal”. Além disso, pode-se eliminar o preconceito de que o conhecimento
matemático do indivíduo deve ser obtido unicamente em ambiente escolar e/ou, que os
saberes escolares são os únicos válidos. Experiências como esta também deixa claro para nós
educadores que o aluno não chega à escola sem conhecimento matemático prévio.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A proposta desta pesquisa foi abordar o ensino e a aprendizagem de Matemática de
forma contextualizada, utilizando praticas pedagógicas diferenciadas. Nesse caso, utilizamos
como tema “O meio ambiente”, que além de possibilitar a integração dos conteúdos
curriculares e problemas específicos das áreas de conhecimento, possibilitou-nos desenvolver
no aluno a competência crítico-reflexivo de forma significativa.
As pesquisas atuais desenvolvidas com enfoque na abordagem da Etnomatemática
assinalam a um mesmo caminho: é necessário entrelaçar a Matemática escolar na vida
cotidiana, ou seja, extraí-la dos livros e associá-la com a Matemática vivida nos diversos
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setores sociais e culturais ou vice-versa. Entendemos que o tema abordado nesta pesquisa
além de despertar no aluno o gosto pelas matemáticas, cotidiana e escolar, ainda incentiva-os
para a consciência de valores e atitudes mais críticas. Se entendermos que o processo de
ensino e de aprendizagem está diretamente ou indiretamente relacionado às atividades e
relacionamento humano, certamente poderemos propor uma atividade diferenciada com
objetivo de um melhor aproveitamento na construção de novos conhecimentos, evidenciando
também o papel social da matemática.
Ao articular o ensino e a aprendizagem matemática com questões ambientais
percebemos que houve trocas de experiências pessoais e conceituais, influenciando no
processo de maturação dos alunos, desenvolvendo capacidades de conhecer e atuar no mundo
do conhecimento matemático e social. A possibilidade de valorização das interações
professor-aluno permite práticas dialógicas de argumentações, debates e reflexão
constituindo-se uma importante estratégia pedagógica que permite possibilidades de envolver
alunos e professores na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem de conceitos
matemáticos na construção de conhecimentos outros, de forma contextualizada e
transdisciplinar.
Temos consciência de que esta proposta de trabalho exige que o professor esteja
preparado para distinguir e identificar os conceitos desenvolvidos pelos alunos. Sabemos que
cada cultura possui inúmeras maneiras de compreender e trabalhar com o conceito
matemático, mas trabalhar essas diferentes maneiras na sala de aula é um desafio. Os
diferentes grupos sociais determinam conhecimentos matemáticos de acordo com o seu modo
de viver, pensar e agir. Para compreender esse contexto,
A Etnomatemática valoriza estas diferenças e afirma que toda a construção do
conhecimento matemático é válida e está intimamente vinculada à tradição, à
sociedade e à cultura de cada povo, é uma das alternativas de tornar viável uma
proposta de trabalho com a Matemática que leve em conta não apenas a construção
dos conteúdos, mas também a sua forte ligação com a realidade sociocultural da
criança. (HAMZE, apud MACHADO, 2008, p. 49.)
O trabalho docente em especial no Ensino de Matemática requer, além do
conhecimento dos conteúdos, um conhecimento pedagógico que possibilite a escolha de
procedimentos que desenvolva a aprendizagem dos alunos de forma significativa. Assim
sendo, “Essa perspectiva convida todos aqueles que participam do processo de ensino e de
aprendizagem de matemática, a buscarem novas formas, de pensar o currículo escolar de
forma geral”. (CALDEIRA, 1998, p.10).
A pesquisa apresentada ainda esta em andamento. Aqui mostramos alguns exemplos
de atividades possíveis de entrelaçar as matemáticas em sala de aula. Atualmente, nossa
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preocupação esta em direcionar os responsáveis pela produção de farinha de mandioca à
conscientização e principalmente, sugerir e acompanhar o aproveitamento sustentável destes
resíduos. Esperamos que os resultados parciais desta investigação possam contribuir
significativamente para que mudanças ocorram em busca de novas práticas pedagógicas, pois
procuramos evidenciar nosso comprometimento e responsabilidade na condução das
atividades, refletindo criticamente sobre nossas ações em sala de aula e/ou fora dela.
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