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~.- ',-J' J1! -,,? :-<, ••.. ', .. :?,f, lI.: .,;.;l!t._ 5" ._---------_. ESTUDO EXPLORATÓRIO - SIMILARIDADES E DIFERENÇAS NA SITUAÇÃO PSICOTERAPÊUTICA: COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL DO PSICOTERAPEUTA EM DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS* Maria Ester Rodrigues** RESUMO o presente trabalho teve por objetivo observar e descrever o comportamento não-verbal de três psicoterapeutas de abordagens diferenciadas, a fim de identificar similaridades e diferenças entre os mesmos, tendo como pano de fundo teórico o movimento denominado Integração Terapêutica e a própria bibliografia de Comunicação Não-Verbal. Foram analisadas fitas gravadas de 9 sessões psícoterapêuticas, três sessões de cada terapeuta. As categorias de comportamento selecionadas foram registradas em Pesquisa realizada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista no Curso de pós-graduação Lato Sensu em Psicologia Clínica - Modalidade Behaviorismo, oferecido pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, orientada pela Profª Vara K. Ingberman. •• UNIOESTE - Departamento de Educação - Rua Universitária, 2069, Jardim Universitário 85814 -11 O, Cascavel- Pr - Fone: (045) 225-2100 R: 305 Fax: (045) 223-4584 - e.mail: [email protected] Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, janJdez. 1997 'li ,r T'rnl :li: I!~n ': ir,: , I;t 1 i ! 1 ~ I I ; 95
16

ESTUDO EXPLORATÓRIO -SIMILARIDADES E DIFERENÇAS NA SITUAÇÃO PSICOTERAPÊUTICA: COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL DO PSICOTERAPEUTA EM DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS (Completo)

Jan 21, 2023

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Page 1: ESTUDO EXPLORATÓRIO -SIMILARIDADES E DIFERENÇAS NA SITUAÇÃO PSICOTERAPÊUTICA: COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL DO PSICOTERAPEUTA EM DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS (Completo)

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ESTUDO EXPLORATÓRIO - SIMILARIDADES EDIFERENÇAS NA SITUAÇÃO PSICOTERAPÊUTICA:

COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL DOPSICOTERAPEUTA EM DIFERENTES ABORDAGENS

TEÓRICAS*Maria Ester Rodrigues**

RESUMO

o presente trabalho teve por objetivo observar e descrever o

comportamento não-verbal de três psicoterapeutas de abordagens

diferenciadas, a fim de identificar similaridades e diferenças entre

os mesmos, tendo como pano de fundo teórico o movimento

denominado Integração Terapêutica e a própria bibliografia de

Comunicação Não-Verbal. Foram analisadas fitas gravadas de 9

sessões psícoterapêuticas, três sessões de cada terapeuta. As

categorias de comportamento selecionadas foram registradas em

• Pesquisa realizada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista noCurso de pós-graduação Lato Sensu em Psicologia Clínica - Modalidade Behaviorismo,oferecido pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, orientada

pela Profª Vara K. Ingberman.•• UNIOESTE - Departamento de Educação - Rua Universitária, 2069, Jardim Universitário

85814 -11O, Cascavel- Pr - Fone: (045) 225-2100 R: 305 Fax: (045) 223-4584 - e.mail:

[email protected]

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, janJdez. 1997

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Estudo exploratário - similaridades e diferenças na situação ...

intervalos de 10 segundos. Todos os terapeutas*** apresentaram

comportamentos descritos na literatura como típicos de afiliação,

empatia e/ou interesse no interlocutor, mostrando-se como pessoas

potencialmente reforçadoras. Foramobservadas algumas diferenças

no comportamento, provavelmente ligadas à abordagem teórica de

cada terapeuta, como a presença de toque do paciente apresentado

pelo terapeuta reichiano; a maior quantidade de fala e de

movimentação generalizada (mãos, braços, cabeça, etc.),

apresentada pela terapeuta comportamental e a redução de

freqüência desses mesmos comportamentos no caso da terapeuta

lacaniana. A maior parte das categorias de comportamento observadas

foram apresentadas pelos três terapeutas. As principais diferenças

residiram, portanto, na freqüência com que cada categoria foi emitidapelos terapeutas.

\

\1I

A bibliografia em Psicoterapia é pródiga em fornecer descrições e

análises do comportamento dos pacientes em geral, dentro das mais. .

variadas abordagens teóricas. O mesmo não ocorre em relação à descrição

do comportamento dos psicoterapeutas. A pesquisa em Psicoterapia baseia-

se mais em resultados de procedimentos que os terapeutas dizem executar

do que em observações empíricas de suas ações concretas. Além dessa

inexatidão dos relatos de atividades terapêuticas, as discussões sobre o

qu= "'>-:<~"~1 em psicoterapia são teóricas e apoiadas em diferentes

referenciais e diferentes linguagens, o que torna o debate sobre tais

procedimentos especialmente difícil. É possível que existam práticas comuns

a uma cultura terapêutica, que surgem da solução de problemas clínicos e

que se referem a estratégias clínicas comuns a diferentes orientações.

-Também-é-po-ssíveHqüe-asaiferençasteoricas realmente determinem cursos

de ação muito diferenciados. De acordo com a literatura, uma das maneiras

mais eficientes de detectar a existência ou inexistência de tais práticas é

por meio da observação e comparação de comportamentos de

psicoterapeutas de diferentes abordagens teóricas em situação terapêutica.

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...-1~I ·i:r.

II

1\

96Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan.ldez. 1997

A existência de dados conflitantes na bibliografia investigada, sobre

semelhanças ou diferenças em práticas clínicas de terapeutas com diferentes

orientações teóricas, aliada à inexistência de uma linguagem comum a tais

abordagens, gerou a opção por escolher comportamentos não-verbais como

categoria de observação do comportamento de psicoterapeutas. Essa opção

proporciona maior objetividade e concordância na observação e permite a

descrição do comportamento do psicoterapeuta sem a necessidade de

recorrer a construtos explicativos próprios da abordagem do terapeuta em

questão. Embora o comportamento não-verbal seja analisado dentro de um

sistema verbal próprio e, portanto, isento de neutralidade, possui a vantagem

de não ser um sistema conceptual utilizado por abordagens

psicoterapêuticas.O artigo apresenta uma breve revisão de bibliografia sobre os temas

envolvidos na problematização e justificativa apresentadas para a pesquisa,

quais sejam, a questão da Integração e Ecletismo terapêuticos. Há, ainda,

a revisão de alguns aspectos básicos da Comunicação Não-Verbal que

embasarão a discussão dos dados.

INTEGRAÇÃO TERAPÊUTICA

Para GOLDFRIED (1982), qualquer tentativa de encontrar pontos

comuns em estratégias terapêuticas que perpassem diferentes orientações

deve estar baseada no que os terapeutas fazem, ao invés de no que eles

dizem fazer, por intermédio de uma observação empírica da realidade, isso

porque terapeutas podem ser observadores falhos de sua própria atividade.

Interação, Curitiba, v.1, p. 95·122, jan.ldez. 1997 97

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these strategies is based on what therapists 'say they do', not what

they 'actual/y do' ln the final analysis, what is clearly needed is

a more direct empirical test of what similarities actual/y exist across

different orientations" (GOLDFRIED, 1982, p. 586-587) 1.

HAAGA (1986) e GOLDFRIED.(1982) argumentam que a pesquisa

de princípios comuns e similaridades entre psicoterapeutas e psicoterapias

deve ser feita de modo empírico, baseando-se no que os terapeutas e

clientes efetivamente fazem, ao invés de no que os terapeutas pensam

sobre isso. Além disso, argumentam que alguns procedimentos técnicos

perpassam diferentes orientações, embora sejam descritos com linguagem

própria de cada teoria.

A literatura em clínica psicológica relata algumas tentativas de

aproximação entre diferentes abordagens, na criação de uma prática clínica

que contenha elementos comuns. Tais tentativas estão ligadas a um

movimento denominado Integração Terapêutica. Esse tema é bastante

controvertido e apresenta, de um lado, defensores dedicados e de outro,

críticos severos.

GOLDFRIED (1982) apresentou uma extensiva revisão de bibliografia

na área da Intp,..·" "=:. ·',rapêutica. O autor mostra que a esperança de

encontrar um modo de aproximar e integrar várias abordagens de

psicoterapia, data dos anos 30. No entanto, a maior concentração de

trabalhos dessa natureza ocorreu após a década de 60. O conceito de

ecletismo técnico, foi introduzido na década de 60, afirmando ser possível

.. -utilizar ·técnicas-eficazes''lindas-de-diferentes sistemas ·teíâpêuticos· sem --'-

liliEstudo exploratório -símilaridades e diferenças na situação ...

Embora alguém possa enumerar o que aparece de comum em estratégias terapêuticas

que perpassam diferentes orientações, a' origem dessas estratégias está baseada noque os terapeutas "dizem fazer", não no que "realmente fazem" .....Numa análise final, oclaramente necessário é um teste mais diretamente empírico sobre as similaridadesrealmente existentes através de diferentes orientações.

98 Interação, Curitiba, v.1, p. 9.5-122 jan.ldez. 1997

aceitar, necessariamente, as bases teóricas associadas a estes métodos.

Nos anos 80, os clínicos apresentaram tendência crescente a olhar em

direção a fatores comuns a todas as escolas de pensamento e a incorporar

procedimentos vindos de outras orientações terapêuticas.O ecletismo em Psicoterapia, ou mesmo termos como integracionismo

ou convergência terapêutica, são geralmente percebidos como adesão a

uma abordagem não-sistemática e caótica. Para WOOLFOLK (1992), a

integração psicoterapêutica é um complexo movimento que tem múltiplas

causas. Para ele, integracionismo e ecletismo seriam uma espécie de

ecumenismo terapêutico que floresceu no relativismo da corrente Zeítgeíst.Esse relativismo tende a promover pluralismo teórico e metodológico.

Existem, no entanto, inúmeras barreiras para uma integração teórica entre

psicoterapias. GARFIELD (1982) afirma que é o real comportamento dos

terapeutas e não suas orientações teóricas que influencia o processo e os

resultados da terapia. Os terapeutas podem, no entanto, ser inconscientes

de seus comportamentos (não discriminar suficientemente suas próprias

ações) e falhar no conhecimento de seus possíveis significados. Rogers,

por exemplo, nunca enfatizou reforço verbal como variável na Terapia

Centrada no Cliente, mas seu uSQ foi detectado em mais de um estudo,

como os de MURRAYe TRUAX apud GARFIELD (1982).

Although adherents of particular schools of psychotherapy tend to

emphasize their particular approach and its distinctly "!";-:>-:' ?>''''''Icts,

their descriptions oftheir therapy may not (andfrequent/y do not)

correspond to their actual behaviors and interactions in the

therapeutic situations (GARFIELD, 1982, p. 616).2

Na bibliografia da área, encontramos os termos Ecletísmo e Integraçãousados como sinônimos, embora o primeiro se refira mais ao ecletismo

2 Enquanto simpatizantes de determinadas escolas de psicoterapia tendem a enfatizarsuas próprias abordagens e seus aspectos únicos distintos, as descrições de suasterapias podem não corresponder (e freqüentemente não correspondem), aos seuscomportamentos e interações reais nas situações terapêuticas (GARFIELD, 1982, p.

616).

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan.ldez. 1997 99

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Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

intervalos de 10 segundos. Todos os terapeutas*** apresentaram

comportamentos descritos na literatura como típicos de afiliação,

empatia e/ou interesse no interlocutor, mostrando-se como pessoas

potencialmente reforçadoras. Foram observadas algumas diferenças

no comportamento, provavelmente ligadas à abordagem teórica de

cada terapeuta, como a presença de toque do paciente apresentado

pelo terapeuta reichiano; a maior quarrticade de fala e de

movimentação generalizada (mãos, braços, cabeça, etc.),

apresentada pela terapeuta comportamental e a redução de

freqüência desses mesmos comportamentos no caso da terapeuta

lacaniana. A maior parte das categorias de comportamento observadas

foram apresentadas pelos três terapeutas. As principais diferenças

residiram, portanto, na freqüência com que cada categoria foi emitida

pelos terapeutas.

A bibliografia em Psicoterapia é pródiga em fornecer descrições e

análises do comportamento dos pacientes em geral, dentro das mais

variadas abqrdagens teóricas. O mesmo não ocorre em relação à descrição

do comportamento dos psicoterapeutas. A pesquisa em Psicoterapia baseia-

se mais em resultados de procedimentos que os terapeutas dizem executar

do que em observações empíricas de suas ações concretas. Além dessa

inexatidão dos relatos de auvícc-': -:-:.,-'9uticas, as discussões sobre o

que acontece em psicoterapia são teóricas e apoiadas em diferentes

referenciais e diferentes linguagens, o que torna o debate sobre tais

procedimentos especialmente difícil. É possível que existam práticas comuns

a uma cultura terapêutica, que surgem da solução de problemas clínicos e

que se reterem a ?~1@~91as clínicas comuns a diferentes orientações.

Também é possível que as difere~ça~ teÓri~~ímente determinem cursos

de ação muito diferenciados. De acordo com a literatura, uma das maneiras

mais eficientes de detectar a existência ou inexistência de tais práticas é

por meio da observação e comparação de comportamentos de

psicoterapeutas de diferentes abordagens teóricas em situação terapêutica.

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A existência de dados conflitantes na bibliografia investigada, sobre

semelhanças ou diferenças em práticas clínicas de terapeutas com diferentes

orientações teóricas, aliada à inexistência de uma linguagem comum a tais

abordagens, gerou a opção por escolher comportamentos não-verbais como

categoria de observação do comportamento de psicoterapeutas. Essa opção

proporciona maior objetividade e concordância na observação e permite a

descrição do comportamento do psicoterapeuta sem a necessidade de

recorrer a construtos explicativos próprios da abordagem do terapeuta em

questão. Embora o comportamento não-verbal seja analisado dentro de um

sistema verbal próprio e, portanto, isento de neutralidade, possui a vantagem

de não ser um sistema conceptual utilizado por abordagens

psicoterapêuticas.O artigo apresenta uma breve revisão de bibliografia sobre os temas

envolvidos na orobíernanzação e justificativa apresentadas para a pesquisa,

quais sejam, a questão da Integração e Ecletismo terapêuticos. Há, ainda,

a revisão de alguns aspectos básicos da Comunicação Não-Verbal que

embasarão a discussão dos dados.

INTEGRAÇÃO TERAPÊUTICA

Para GOLDFRIED (1982), qualquer tentativa de encontrar pontos

comuns em estratégias terapêuticas que perpassem diferentes orientações

deve estar baseada no que os terapeutas fazem, ao invés de no que elcr

dizem fazer, por intermédio de uma observação empírica da realidade, isso

porque terapeutas podem ser observadores falhos de sua própria atividade.

Interação, Curitiba, v.t , p. 95-122, jan./dez. 199797

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Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

técnico, ou seja, o uso de procedimentos potencialmente eficazes

provenientes de diferentes abordagens. Integração implicaria em algumaforma de junção teórica ou conceitual.

A Integração Terapêutica esbarra, no entanto, na questão da diferença

de linguagens dentro do universo terapêutico. Os proponentes da Integração

Terapêutica, GOLDFRIED (1982) e GOLDFRIED e PADAWER (1982),

sugeriram o uso de de uma linguagem neutra, ou mesmo o uso da linguagem

cognitiva contemporânea, para superar o problema. Para O'DONOHU E e

MCKELVIE (1993), essa escolha coloca em risco a alegada neutralidade,

além do que seria muito difícil traduzir a linguagem de uma teoria em

particular, sem despir essa mesma teoria de suas conotações teóricas e

conteúdos epistemológicos e ontológicos peculiares. Existem inúmeras

maneiras de correlacionar o observado com possíveis interpretações dentro

de infinitos contextos, visões de mundo, pressupostos e conceitos. Essa

questão é extensamente analisada na história do Conhecimento, da Ciênciae da Filosofia.

Apesar de todas as dificuldades, há uma tentativa crescente entre

psicoterapeutas em ignorar as barreiras ideológicas que dividem escolas

de psicoterapia e em definir o que elas têm em comum e o que pode ser útil

em cada umadelas. KARASU apudBEITMAN et aI. (1989) contou mais de

400 diferentes escolas de psicoterapia. As muitas críticas a tal proliferação

e tentativas dp íntsoração são descritas pelos autores como insultos pueris

baseados em rivalidade, antipatias mútuas e descrédito. Essa proliferação

de procedimentos terapêuticos têm florescido e se articulado. Uma revista

internacional, o Journal of Integrative and Eclectic Psychatherapy(Revistade Psicoterapia Eclética e Integracionista) e muitos artigos voltados ao tema

apareceram.nadécadade 80._D.uas.organizaçõesjnterdisciplinarestambém _

surgiram: Socíety for the Exploration of Psychatherapy Integration e o

Internatiana/ Academy ot Eclectic Psychoterapísts (Sociedade para a

exploração da Integração Psicoterapêutica e a Academia Internacional dePsicoterapeutas Ecléticos).

BEITMAN et aI. (1989) apontam como exemplo de Integração

Terapêutica bem-sucedida os procedimentos teórico - técnicos que

fi~l-

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

promovem a interação entre aspectos como Cognição, Afetos e

Comportamentos. O exemplo apontado contém alguns problemas que

sustentam as principais críticas ao movimento integracionista: a confusão

teórico - epistemológica. A despeito das diferenças entre pressupostos e

objetivos de terapias comportamentais e psicodinâmicas, dentro de um

referencial de Behaviorismo Radical, podemos afirmar que afetos e

cognições são também considerados comportamentos que, embora

encobertos, não são de natureza diferente dos demais.

BRANCH (1987) afirma que o terapeuta comportamental é

freqüentem ente descrito pelos demais ou por si próprio como "eclético" em

orientação, no sentido de privilegiar o uso de técnicas que tenham-se

mostrado efetivas em detrimento do uso de uma abordagem teórica em

particular. No entanto, essa vocação eclética não é avaliada positivamente

pelo autorque, ao contrário, aponta-a como exemplo de covardia intelectual.

Desenvolver e entender uma posição teórica é uma tarefa difícil, mas é

justamente o que leva ao desenvolvimento científico e tecnológico. Adotar

uma posição teórica permite ao terapeuta, entre outras coisas, saber por

que as técnicas utilizadas são efetivas.POPPER apud O'DONOHUE e MCKELVIE (1993) argumentou

persuasivámente que a crítica é essencial ao crescimento da Cência. Neste

sentido, a pluralidade de alternativas, antes de ser um sintoma de crise,

pode ser um fator potencialmente impulsionador do crescimento científico

(teórico e técnico). De fato, o avanço em Ciência não esta historicamente

ligado a integrações e sim a mudanças e avanços substanciais em métodos,

técnicas e teorias, apoiados no que de mais concreto possa haver sobre

os experimentos científicos, os dados obtidos.O movimento eclético-ecumênico-integracionista em psicoterapia pode

trazer mais dúvidas do que soluções. A simples combinação de

procedimentos, técnicas e abordagens não nos esclarece sobre quais seriam

as variáveis comuns à maior parte das psicoterapias. O mesmo acontece

com terapeutas estritamente ligado a uma identidade teórica e competindo

por um melhor conjunto de regras. Permanece a dúvida sobre o que

100 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan./dez. 1997 101

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I

J

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

realmente fazem, embora seus comportamentos possam ser melhor

operacionalizados.

As nossas visões e interpretações da realidade não são independentes

do paradigma que escolhemos, porém resta a dúvida sobre as nossas ações.

O que fazem efetivamente terapeutas? Existem diferenças entre ações

observáveis de psicoterapeutas de abordagens diferenciadas? As diferenças

são apenas teóricas? Parece que uma forma apropriada de investigar tais

questões é observar empiricamente a realidade, fugindo da interpretação

do terapeuta sobre o ocorrido e registrando cateqorlas de comportamento

passíveis de observação, análise e concordância.

A seguir, apresentaremos alguns aspectos básicos do comportamento

não-verbal, a macrocategoria comportamental utilizada para selecionar as

categorias específicas observadas neste trabalho e para auxiliar a

interpretação dos dados obtidos.

COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL

Comportamento e Comunicação Não-Verbal são uma parte importante

no comportamento social humano. Onde interagem duas ou mais pessoas,

boa parcela de contato será realizado através de sinais não-verbais dos

quais elas nem sempre estarão conscientes, masque cumprirão o seu papel.

Seo',l'-:doI\RGYLE (1988), as pesquisas nessa área incluem expressão

facial, olhar, gestos e outros movimentos corporais, contato corporal,

comportamento espacial, roupas e outros aspectos da aparência,

vocalizações não-verbais e olfato; podendo cada ítem citado ser divididoem subitens.

-- Cada -LI m-desse:Ganai-s-fuFlGion a-de--ffieeo-diferente.-As -expressões - --_.--

faciais, por exemplo, seriam panculturais e acionadas por "programas

afetivos" inatos que, segundo SILVA (1989), comandariam a contração/

relaxamento de conjuntos específicos de músculos, sofrendo correções

posteriores das regras de exibição culturais. Os gestos e movimentos

corporais, sofrem grande influência cultural e variação intra e intercultural.

102 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

';:." i'rI·;;1

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

Muitos sinais não-verbais podem ser bastante sutis e não sofrer controle

voluntário; outros são compartilhados por todos os membros de uma dada

cultura, intencionais e com claro significado tanto para o receptor quanto

para o emissor (ARGYLE, 1988). A fala também é acompanhada por um

intrincado conjunto de sinais não-verbais, como tempo de fala, ênfases,

tonalidades, etc. A comunicação não-verbal serve a diferentes funções,

como expressar emoções, comunicar atitudes interpessoais, acompanhar

e dar suporte à fala (paralinguagem), apresentação pessoal, rituais, etc.

(ARGYLE, 1988 e OTTA, 1994). A distinção verbal/não-verbal não

corresponde, portanto, a vocal/não-vocal; movimentos e expressões podem

ser claramente verbais (emblemas, linguagem de sinais, etc.) e vocalizações

podem ter conteúdo não-verbal.Muitas aplicações práticas advêm da pesquisa em Comunicação Não-

Verbal. ARGYLE (1988) cita o treino de habilidades interpessoais/sociais e

o treinamento de habilidades para o trabalho. Psicoterapeutas em qeral

podem vir a aproveitar tais resultados para incrementar e/ou desenvolver

habilidades em seu trabalho (eminentemente interpessoal), tomando

consciência dos sinais não-verbais envolvidos que estejam presentes na

situação psicoterapêutica. Existem relatos na literatura, de pesquisa sobre

comunicação não-verbal de pacientes, como as de EKMAN (1985), sobre a

veracidade de emoções relatadas por meio de análise de microexpressões,

microgestos e paralinguagem que o terapeuta pode identificar. O

comportamento não-verbal de terapeutas não e analisado com o mesmo

empenho. Além de uma espécie de tabu social da comunidade terapêutica,

analisado por BERNSTEIN (1984), existiria outro fator que poderia ser a

menor consciência que os emissores da mensagem não-verbal (no caso o

terapeuta) têm sobre o que estão emitindo, em comparação com os

receptores. Enquanto receptores estam os geralmente, não totalmente e

nem para todas as informações, conscientes das informações recebidas,

mas, enquanto emissores, nosso grau de ciência diminui (ARGYLE, 1988).

Sendo assim, os terapeutas estariam muito mais sob controle dos sinais e

pistas emitidos pelos pacientes, do que pelas suas próprias deixas. Isso

pode fazer com que o terapeuta possa produzir reações sem se perceber

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan./dez. 1997 103

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I

':~1!f',",I'1': -: ~, 1..r.·~ .

.~ .~.-i Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

como agente das mesmas. Ainda para o mesmo autor, os sinais não-verbais

são menos sujeitos ao controle consciente e, portanto, mais genuínos, além

de serem úteis como segundo canal aditivo à linguagem. Essa menor

sujeição do comportamento não-verbal ao controle voluntário torna o estudo

de sinais não-verbais especialmente interessante no caso da comparação

entre o comportamento de diferentes terapeutas e identificação de possíveis

similaridades e lou diferenças.

EKMAN e FRIESEN apud ASTROM et aI. (1993), apontaram a

importância do comportamento não-verbal no processo psicoterapêutico.

Essa importância do comportamento atribui-se em parte ao seu caráter

comunicativo e em parte porque certos comportamentos não-verbais são

menos suscetíveis ao controle consciente.

ASTROM et ai. (1993) estudaram atitudes não-verbais em situações

de encontro inicial, quando paciente e terapeuta se cumprimentavam, por

meio de um questionário. O principal resultado foi o de que mais de 50%

dos pacientes responderam que a face era o mais importante canal de

comunicação não-verbal. Os resultados também mostraram a existência de

uma observação consciente de sinais não-verbais durante o encontro

inicial pelos pacientes.

GOMEZ e SALAS (1984) aplicaram análise contextual à comunicação

não-verbal em uma situação psicoterapêutica (análise de uma sessão

tArapêutica). Os pesquisadores utilizaram enfoque estrutural com objetivo

de descrever padrões típicos de comportamento e explicar a organização e

funcionamento do material verbal e não-verbal na criação do evento

interativo, incluindo nas categorias de análise o movimento das mãos, da

cabeça, a postura, a orientação e a paralinguagem. Concluíram que há a

possibilidade de-apGrltar-pa~a-t~ês-fHnçõesElo Gomportamento-não-verbal,·

quais sejam:

'~n,llj.! '

a) O feedb?cknão-verbal têm função informativa;

b) Reduz a ambigüidade da linguagem falada;

c) Regula a interação.

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

LEPPER et ai. (1995) forneceram uma revisão de bibliografia sobre

modelos de interação não-verbal na relação médico-paciente, acerca da

expectativa de ambos sobre o envolvimento do paciente na interação. A

relação médico-paciente abarca algumas peculiaridades que, se não

reproduzem a relação psicoterapeuta-paciente, a ela muito se assemelham.

Para os autores, a contribuição do médico no envolvimento do paciente

inclui comportamentos como dar informações, fazer perguntas, construir

uma parceria, engajar-se em ouvir, evitando interromper o paciente.

Interrupção da fala do interlocutor é descrito como sinal de dominação por

ARGYLE (1988) e HENLEY (1977) . A contribuição do paciente inclui fazer

perguntas, dar informações detalhadas, expressar opiniões e preocupações,

ouvir o médico e, se desejar, participar da tomada de decisão sobre o

tratamento. Tais comportamentos podem ser promovidos, modificados ou

suprimidos, janto no caso do médico como do paciente, por informações

não-verbais presentes na voz, toque, olhar, postura e expressão facial de

ambos.O sorriso, por exemplo, é uma expressão facial que apresenta um

fator regulador de interações sociais humanas muito importante,

demonstrando predisposição para continuar mantendo a interação,

comunicando sobre o caráter amistoso da mesma e inibindo comportamentos

hostis. Assim como outras expressões faciais de emoções (surpresa, medo,

nojo, desprezo, raiva), o sorriso têm caráter inato. Segundo OTTA (1994)

as expressões faciais têm funções vAI-'i8sslVas sobre o que se passa

internamente com nossas emoções, sendo o aspecto mais estudado pelos

psicólogos e também um aspecto regulativo que se refere ao modo como

usamos esses sinais em interações sociais, ou seja, às suas funções e

significados sociais, tópico que têm merecido menor atenção nas pesquisas

da área.Em virtude da discordância sobre similaridades entre sistemas teórico-

metodológicos e da existência de tantas super-estruturas lingüísticas e

conceituais, optamos por escolher algumas categorias não-verbais de

análise. Elas permitem a observação do comportamento de terapeutas e a

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan./dez. 1997105

104 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

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\

\\

I

i

T

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

comparação entre o tipo e a freqüência dos comportamentos apresentados,

permitindo a consecução do objetivo principal do trabalho, qual seja, a

verificação de possíveis diferenças e similaridades entre o comportamento

de psicoterapeutas que se auto-identificam como adeptos de uma ou outra

corrente teórica diferenciada dos demais. A comparação entre conjuntos

de comportamentos de psicoterapeutas que se definem como adeptos de

diferentes referenciais pode ser um primeiro passo em direção ao

reconhecimento das ações dos terapeutas, enquanto comportamentosobserváveis e passíveis de análise.

MÉTODO

Sujeitos: Participaram deste experimento três psicoterapeutas,

autodefinidos como de orientação teórica lacaniana, comportamental e

reichiana. Os dois primeiros do sexo feminino e o último, do sexo masculino.

Situação Observacional e Equipamento: Foram gravadas três

sessões terapêuticas com cada sujeito, no Laboratório de Psicologia do

Centro de Psicologia Aplicada do Departamento de Psicologia da

Universidade Federal do Paraná. O registro foi feito pela pesquisadora com

equipamento de áudio e vídeo, através da sala de espelho unidirecionalanexa à sala de atendimento.

TABELA 1 DURAÇÃO DAS TRÊS SESSÕES ANALISADAS PARACADA TERAPEUTA

Terapeuta Sessão 1 Sessão 2 Sessão 3 Tempo Atual

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação".

t.acanano------33'-------- 32'-- -----18' - -'---fif23' - .-,,----- .

Reichiano 52' 59' 48' 2h 39'

Procedimentos: Cada sujeito foi observado em três das sessões

realizadas no laboratório, por todo o tempo de duração das se-ssões. Os

comportamentos dos sujeitos foram observados e registrados durante as

três sessões, que variaram de 15 a 60 minutos de duração, de acordo com

a Tabela 1. Os dados foram coletados por meio do registro de intervalos de

tempo, em intervalos de 10 segundos. Neste registro, anotamos na casela

(espaço correspondente a 10" na folha de registro) a ocorrência ou não

das categorias de comportamento listadas, independente da freqüência de

ocorrência (mais de uma apresentação no mesmo intervalo de 10 segundos)

e do tempo de exposição (se inferior a 10 segundos);como conseqüência,

os comportamentos foram anotados de modo seqüencial, simultâneo e não

excludentes entre si. A freqüência de comportamentos Iistados foi analisada

em termos de porcentagem de ocorrência nos intervalos, a partir de

tratamento estatístico que permitiu a comparação entre sessões de duração

diferenciada. Após o cálculo da freqüência de ocorrência de cada

comportamento listado em cada sessão, efetuamos o cálculo da média

aritmética entre as três sessões de cada terapeuta e procedemos à análise

dos dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a análise das principais semelhanças e diferenças no

comportamento não-Vf~rl··,,:d·:!·~st'ês terapeutas de diferentes abordagens,

foram registradas as categorias comportamentais Iistadas na tabela 2, que

mostra também a porcentagem de ocorrência de cada uma destas categorias

comportamentais, para cada um dos terapeutas observados.Em relação às principais semelhanças, podem-se citar os

compoítamentos indicados pela bibliografia como indicadores de atenção,

afiliação ou aproximação, naturalmente ou culturalmente reforçadores, que

foram encontrados pelos terapeutas observados. A bibliografia aponta para

o fato da atenção ser um reforço do tipo primário (MILLENSON, 1967).

As principais diferenças encontradas estão mais ligadas à freqüência

de ocorrência dos comportamentos registrados para os três terapeutas do

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan.ldez. 1997107

Cornport. 60 36' 41' 2h 17

106 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan.ldez. 1997

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I

rt:i~;1ft

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação",

que ao tipo de comportamento, Apresentam, portanto, os mesmos tipos de

comportamento, porém, em freqüência diferenciada,

Os principais comportamentos encontrados como afiliativos, empáticos

e/ou reforçadores, de acordo com a bibliografia da comunicação não-verbal

foram: sorriso (fechado e aberto); olhar para o paciente; inclinação de cabeça

para a frente; assentimento; sobrancelha levantada; tronco inclinado para

a frente e "hum-hurn". Os comportamentos considerados não-afiliativos

foram: desvios de olhar; inclinação da cabeça para trás; gesto de negação;

sobrancelha franzida; braços cruzados e tronco inclinado para trás.

108 Interação, Curitiba, v,1, p. 95-122 jan.zoez. 1997

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação."

'11

'iI

TABELA 2 FREQÜÊNCIA,S DE OCORRÊNCIA DAS CATEGORIASCOMPORTAMENTAIS ANALISADAS PARA CADA

TERAPEUTA

CATEGORIAS DE COMPORTAMENTO LACANIANO RE1CHIANO COMPORTo% % %

Sorriso aberto 5.18 7,21 30,01

Sorrjcc rcchocc 13.01 4,85 5.24

Olhar p/pacionto 98,97 93,46 81.~8

Olh.:lr plboixo 3 11,82 23,98

Olhar p/diroil;:) 0,61 1,68 6,93

Olhar p/esquorda O 0,84 0,55

Olhar pl cima 0,16 5,84 27,20

Inellnaç.5.o do cabeça p/cimo. 0,86 0,30 1,05

Inclinaç50 de cabeça plb3ixo 2,25 2.40 4,70

Inclin.:lç50 do ecbeco p/osquord3 2,68 1,&4 4,94

Inclin.o.ção de ccbeca p/direita 7,47 2,73 20,45

Inclin.:lção do cacocc p/frento 5,32 7,45 9,26

Inelirução do cccocc p/trãz 2,51 2,51 13,42

Gesto do as soottmonto 21,94 47,21 59,46

Gesto do nagaç30 3,88 7,08 10,93

Sobrancolbca orguido::; 7,88 18,77 20,89

Sob-ancelhac franzid:l~ 1,42 0,29 0,33

Màoc om movI monto com :1 reto 2,72 15,98 31,56

M50s em gosto ilu~tr:ltivode fal.:l O 0,33 1,76

M50:. tocam o l=~ O 17,30 O

Br.:lços cruzados 60,97 O 0,09

Brnçoe om movimonto com teto 3,25 10,96 44,35

Br:Jço5 om 9o::;to Ijuctrativc do b-b 0,67 0,23 5,34

Tronco p/frento 0,47 2,33 3,43

Tronco p/ trás 1,29 1,17 4,41

Pomos cruzadas 85.50 73,32 44,56

Pern.:ls lodo .::llado 13,77 0,11 51.58

Hum·Hum 14,81 14,45 8,61

Fab 14,07 24,09 71,93

Comport:Jmontos n3.o·:Ifili:Jtivos 167.58 195,73 218,68

Comportamontos n50·afili:J.tivos 73,84 31,23 87,84

Interação, Curitiba, V, 1, p. 95-122, jan.rdez. 1997109

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.:-'~'

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

Na figura 1 observa-se o predomínio dos comportamentos afiliativos

em relação aos não-afiliativos. Os primeiros em sentido crescente, na ordem

lacaniano, reichiano e comportamental. O terapeuta reichiano apresentou

o menor índice de comportamentos não-afiliativos.

FIGURA-1 PORCENTAGEM DE FREQÜÊNCIA TOTAL DECOMPORTAMENTOS CONSIDERADOS AFILlATIVOS ENÃO-AFILlATIVOS PA.RA CADA TERAPEUTA

250.00% I I

150.00%

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

FIGURA 2 - FREQÜÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE SORRISOSABERTOS, SORRISOS FECHADOS E SOMATÓRIA DEFREQÜÊNCIA DE AMBOS OS TIPOS DE SORRISOS PARA

CADA TERAPEUTA

40.00%

35.00%

30.00%

25.00%

20.00%

15.00%

10.00%

5.00%

0.00%t oc

iIIIIiAberto

r?2 F achado.

l1li Ambos

200.00% I I I ~ I

lI!lIII Cpta Afiliativos

lI!lIII Cptos não otillotívcs

Rale Comp

100.00%

50.00%

0.00%Loc. Reie Campo

o olhar também é interpretado pela bibliografia como reforçador e

empático, além de obter julgamentos de maior persuasividade, credibilidade

e, no caso específico de terapeutas, tanto o olhar como o sorrir aliam-se a

avaliações de maior cordialidade e competência. Também pode indicar

dominância (ARGYLE, 1988). Os terapeutas apresentaram um alto índice

de olhar, conforme pode ser visualizado na figura 3.

FIGURA 3 - FREQÜÊNCIA DE DIREÇÃO DE OLHAR VOLTADA PARAO PACIENTE, APRESENTADA POR CADA TERAPEUTA,

NAS TRÊS SESSÕES ANALISADASOlhar paciente

100.00%90.00%80,00%70.GO%60.00%50.00%40.00%30.00%20.00%10.00%0.00%

O sorriso dos terapeutas, de acordo com a literatura, pode ser

interpretado como: sinal de empatia, reforço inespecífico ou específico.

OTTA (1994) e HENLEY (1977) apontam para uma diferença na freqüência

de sorriso entre os sexos. O terapeuta reichiano, único do sexo masculino

na amostra, apresentou a menor freqüência geral de sorriso entre os três

terapeutas da amostra. A terapeuta comportamental apresentou freqüência- maior-de-ser-r-isc-aberte (e0fB~extJosi~ã0de eeAtes) ea-lacaniana-e-ínverso.

Estes dados encontram-se na figura 2.

110 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

Lac R eie Comp

Interação. Curitiba, v.1, p. 95-122, jan.ldez. 1997 111

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::'IrVJ:!_..Ill_ .

·~'1.i1QiIl"""-----------------------------

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

Os desvios de olhar são relatados como padrões típicos do falante

na interação, o que quer dizer que os ouvintes desviam menos seus olhares

dos interlocutores do que o contrário. O desvio de olhar pode ser

considerado também como uma forma de time outou retirada de atenção.

O padrão de desvio de olhar é crescente para os terapeutas em questão,

considerando a abordagem teórica na seguinte ordem: lacaniana (menos

desvios), reichiano (posição intermediária) e comportamental (maior número

de desvios). Estes dados encontram-se representados na figura 4.

FIGURA 4 - FREQÜÊNCIA TOTAL DE DESVIOS DE OLHAR NASDIREÇÕES BAIXO, CIMA, ESQUERDA E DIREITA,

APRESENTADA PELOS TRÊS TERAPEUTAS.

0.3 I I

0.25 I I I !

0;1

0,2 +--- m Lae

O. I 5 +------ ffiJ Reie

111Comp

0.05

oOlharbaixo

Olharesq.

Olhardir.

Olharcima

Em relação à Inclinação de cabeça, a terapeuta comportamental

apresentou a maior média de inclinações em todas as direções (cima, baixo,

esq., dir., frente e trás). Esse fato está provavelmente ligado à maior

qu~n!i~a_d~ _doefala'~I1l_~~ez que as ~ncl~açõe~~ão u_':1pa~~? !ípi,co dofalante que se move ao som do próprio discurso (DAVIS, 1977).

Os três terapeutas inclinaram mais a cabeça para a direita (a exemplo

do olhar) e para a frente, conforme mostra a figura 5. A inclinação de cabeça

e de tronco para a frente é encontrada como postura típica da expressão

de atenção, ao contrário da cabeça inclinada para trás, que indicaria estados

de não-interesse (ARGYLE, 1988).

112 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

Os três psicoterapeutas apresentaram gestos de assentimento com

a cabeça e' em média maior que os gestos de negação. Estes dados

encontram-se na figura 6. O gesto de assentimento (balançar a cabeça de

cima para baixo), tem importante papel regulador na interação e na

manutenção ~a mesma, expressando o envolvimento do ouvinte na relação.

Os gestos de negação, que ocorreram em freqüência menor, aconteceram

mais como gestos ilustradores da fala dos terapeutas em sentenças com

perguntas negativas, do que expressando discordância para com o paciente.

As Sobrancelhas levantadas tiveram uma freqüência maior que as

franzidas. A primeira categoria é considerada expressão de interesse e

questionamento e a segunda está relacionada à expressão de descrença

e/ou discordância (ARGYLE, 1988). Apesar de não serem sempre

controlados pelo sujeito, como grande parte da expressão verbal, podem

ser considerados sinais emblemáticos, ou seja, com tradução verbal direta.

A última categoria foi encontrada em média maior para a terapeuta lacaniana,

o que pode ser visualizado na figu ra 7.

FIGURA 5- FREQÜÊNCIA TOTAL DE DESVIOS DE CABEÇA NASDIREÇÕES TRÁS, FRENTE, DIREITA, ESQUERDA, BAIXO

E CIMA, APRESENTADA PELOS TRÊS TERAPEUTAS

Ine.cob.trás Ulli""••••~=-~Ine.cob.frente

lne.cob.dir

aComp IWI----

~ \~mReic

~ IIIloe

0.00'1'0 10.00'1'0 15.00% 20.00% 25.00%

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan./dez. 1997113

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f.1fil,1~r1ft;,,,.!

,.:-:--' ;

III_-

III

Estudo exp!oratório - similaridades e diferenças na situação ..

Durante a fala, houve um predomínio da movimentação dos

braços em relação à movimentação das mãos, com exceção do terapeuta

reichiano, conforme tabela 2. A bibliografia aponta para a utilização de mãos

e braços em movimentos que acompanham o próprio discurso, provendo a

fala de ênfases, sincronizações e ilustrações (DAVIS, 1977; ARGYLE, 1988;OTTA, 1994).

FIGURA 6- FREQÜÊNCIA TOTAL DE GESTOS DE ASSENTIMENTO

E NEGAÇÃO APRESENTADA P_ELOSTRÊS TERAPEUTAS

::] fia40.00%

20,00%

10,00%

0,00%

30.00"10 I I i

Lcx:: Reic Conp

Os gestos ilustrativos da fala (emblemáticos, icônicos) tanto das mãos

como dos braços, apareceram mais na movimentação da terapeuta

comportamenta/; com ocorrência menor para os demais, conforme mostra afigura 8.

Braços cruzados foi uma careqoria de comportamento apresentada

pela terapeuta lacaniana, numa freqüência de 60,97%. A freqüência para a

terapeuta comportamental foi de 0,09%, e não houve ocorrência para oterapeuta reichiano.

114 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

TI

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

FIGURA 7- FREQÜÊNCIA TOTAL DE OCORRÊNCIA DE LEVANTAMENTOOU FRANZIMENTO DE SOBRANCELHAS PELOS TRÊSTERAPEUTAS

25.00% I I i

5,00%

20,00% I l/ri

15.00% I l-li,

10.00% I I

0.00%Lac Reie Comp

mJ Sabrcne.lev

riSabeme.trm

FIGURA 8 - FREQÜÊNCIA TOTAL DE MOVIMENTAÇÃO DE MÃOS E

BRAÇOS EM GESTO ILUSTRATIVO DA FALA, PARA OS

TRÊS TERAPEUTAS

0.06

0.05 I I .

0.04 I I I ~

0.03 I I I

0.02 I I I

0.01 +1-----+-----+-1

m Mãos em gestoilus tronvo da fda

m Braço em gestoilus trativo da fala

Lac ReiC" Comp

A interpretação de inúmeros analistas para esse comportamento é de

não-abertura para o contato e como autodefesa, embora não existam

evidências científicas sobre esse possível significado (ARGYLE, 1988). A

mesma interpretação é dada à categoria pernas cruzadas, que também

ocorreu em maior freqüência para a terapeuta lacaniana, a exemplo do

Interação, Curitiba, v.1 , p. 95-122, jan.zdez. 1997 115

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___L _

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

cruzamento de braços. As pernas permaneceram cruzadas a maior parte

do tempo para os terapeutas lacaniano e reichiano, respectivamente. Não

houve grande diferença de posição para a comportamental em relação a

pernas cruzadas e lado a lado. Estes dados podem ser visualizados nafigura 9.

FIGURA 9 - FREQÜÊNCIA TOTAL DO TEMPO DE PERMANÊNCIA DE

PERNAS EM POSiÇÃO CRUZADA E LADO A LADO, PARAOS TRÊS TERAPEUTAS

90.00% I _ I I I80.00%

70.00%

60.00%

50.00%

~~"

_.1

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

f'í1! II .; ;

!

dir.). A terapeuta lacaniana teve a menor movimentação, no geral, com

ausência de movimento para a direita, ocupando o terapeuta reichiano a

posição intermediária, conforme mostra a figura 10.

Vocalizações paralinguísticas do tipo hum-hum, também têm claro

efeito regulador da interaçâo, com função de feed-backdo ouvinte sobre o

falante como sinal de que está ouvindo e com interesse ( ARGYLE, 1988 e

HENLEY, 1977). Apareceram bem distribuídas nas sessões (verfigura 11).As médias dos terapeutas reichiano e lacaniano foram semelhantes e a

terapeuta comportamental obteve a menor média.

O tempo de fala numa interação está relacionado na literatura com

expressão de dominância (HENLEY, 1977). Segundo LEPPER et ai. (1995),médicos tendem a exercer dominância e controle sobre seus pacientes,

entre outras pistas, falando mais tempo do que eles. A terapeuta

comportamental foi a que obteve a maior média de ocorrência de fala.ma Pernas cruzadas

êl Pernas lado a lado40.00%

30.00%

20.00%

10.00%

0.00%loc Reic Comp

FIGURA 10-FREQÜÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO DO TRONCO NASDIREÇÕES FRENTE, TRÁS, ESQUERDA E DIREITA PARA

OS TRÊS TERAPEUTAS

4.50% r-------r-4.00% -!--+---

Uma diferença de comportamento encontrada, nitidamente ligada àabordagem teórico-técnica do terapeuta foi o toque do paciente, somente

encontrado pelo terapeuta reichiano, numa freqüência de 17,30%, conforme

tabela 2. O contato físico é interpretado na literatura como tendo função

profissional, como sendo expressão de dominância (maior status), além de

serem relatados efeitos terapêuticos (ARGYLE, 1988; HENLEY, 1977;MONTAGU, 1988).

.. EQ!:.ªf!lJa,rn.b.~D1éillQtgçlos_º.s.momentQs..d.e.inclioação.de.tronco.dos

terapeutas. A bibliografia aponta para a inclinação à frente como expressão

de interesse e afiliação, o contrário ocorrendo em relação à inclinação do

tronco para trás, sendo ainda interpretado como sinal dedominância. Na

movimentação do tronco, a terapeuta comportamental novamente

apresentou maior movimentação em todas as direções (frente, trás, esq.,

116 Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan.ldez. 1997

3.00",1,

2.50%

2.00%

1.50%

1.00%

0.50%

0.00%

IIIIIIloc

l1ill Reie

•• Comp

Troncocoo ofrente

T rCX"KO T roocopcro frós pcro

esqJE<cb

Troncop:yo

dreito

A freqüência aumentada de sorriso, e de movimentação facial e

corporal generalizada, apresentada pela terapeuta comportamental, está

provavelmente relacionado ao tempo de fala apresentado pela terapeuta

(71,93%), significativamente maior ao dos demais terapeutas (14,07% para

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan.ldez. 1997 117

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~

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

a lacaniana e 24,09% para o reichiano), pois a bibliografia aponta a

existência de um padrão de movimentação facial e corporal que acompanha

a fala.

Além disso, pode estar ligado a fatores relacionados à abordagem

teórica da mesma, caracterizada pela maior diretividade no padrão de

interação. O terapeuta reichiano ocupa a maior parte das posições

intermediárias nos histogramas e a terapeuta lacaniana apresenta os escores

mais baixos, também no geral.

FIGURA 11- FREQÜÊNCIA DE EMISSÃO DE FALA E DE

VOCALlZAÇÃO PARALlNGuíSTICA HUfiII-HUM, PARA OSTRÊS TERAPEUTAS

80.00%

70.00%

60.00%

50,00%

40,00%

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%Loc. Raie. Campo

_J __

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ...

1"1i

CONCLUSÕES

Verifica~a_~_-~~tanto difer~-'2.~~~q~~~~o simila~dades _n~adLã~ de __o

comunicação não-verbal dos terapeutas da amostra. O estudo foi descritivo

e de caráter exploratório, uma vez que não existem muitos relatos na literatura

sobre o tema estudado. É importante ressaltar que as conclusões aqui

obtidas referem-se ao comportamento de apenas três terapeutas e em

virtude do tamanho reduzido da amostra, as conclusões não podem ser

generalizadas para outros terapeutas das abordagens em questão.

118 Interação, Curitiba, v.t , p. 95-122 jan./dez. 1997

Conclusões estendíveis às abordagens em questão somente poderão ser

obtidas com a ampliação da amostra.As principais diferenças entre os terapeutas foram de freqüência de

movimentação, no sentido crescente considerando a ordem: lacaniano,

reichiano e comportamental. Diferenças essas provavelmente ligadas à

abordagem teórica, mais ou menos diretiva; a presença de toque para o

terapeuta reichiano, único a se utilizar de técnicas terapêuticas corporais; a

ocorrência de braços cruzados, em alta freqüência para a terapeuta lacaniana

e o índice de ocorrência de fala, em alta freqüência para a terapeuta

comportamental.Apesar de todas as diferenças no padrão de movimentação dos

terapeutas, podemos concluir que os três se mostraram como pessoas

Reforçadoras. Todos apresentaram padrões de comportamento descritos

na literatura como indicativos de afiliação e interesse no interlocutor. A

atenção no lnterlocutor, característica apresentada pelos três terapeutas,

é encontrada na bibliografia como exemplo de Reforço Primário

(MILLENSON, 1967).O controledo terapeuta sobre o comportamento do paciente (e vice-

versa), pode ser inferido do tipo de movimentação apresentado por eles.

Algumas vezes ocorrendo de forma mais sutil (psicanálise), outras de forma

mais explícita (reichiano e comportamental), A relação terapêutica, longe

de ser neutra, ergue-se sobre o padrão de comunicação construído pela

espécie, tanto em sua evolução filogenética, quanto social e CL•. ,•.•,cil, e

também é sujeita a diferenças individuais (ontogenéticas) que a presente

amostra não se destinou a analisar.Em relação à questão da Integração Terapêutica, não há como falar

em respostas, uma vez que elas pertencem ao campo do compartilhamento

de conceitos teóricos. Há muitos dados conflitantes na bibliografia sobre a

possibilidade de haver ou não compartilhamento de ações terapêuticas

propriamente ditas, principalmente por se pautarem em pressupostos

filosóficos, teóricos e metodológicos tão diferenciados. No entanto, não é

possível fechar os olhos aos bons resultados obtidos por terapeutas de

Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122, jan./dez. 1997119

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~J__.\iIIi

Estudo exploratório - similaridades e diferenças na situação ... -correntes teóricas diferenciadas, e também às semelhanças em suas

práticas. Este estudo teve como principal indicativo, mostrar que o tipo de

metodologia utilizada aqui é útil para o estudo do tema, qual seja, a

observação empírica através de categorias não- verbais permite a

decodificação da ação do terapeuta, por serem objetivas para o observador

e por serem, pelo menos em grande parte, menos sujeitas ao controle

voluntário do emissor, no caso, o terapeuta; além de serem independentes

da interpretação dos terapeutas sobreo ocorrido. A continuidade de estudos

dessa natureza, com esta metodologia, pode s.er um instrumental capaz de

trazer resultados valiosos na descrição de quais são as éaracterísticas (não-

verbais) gerais de um terapeuta, e quais são as características específicas

de um terapeuta comportamental, de um psicanalista, um reichiano entre

outros; bem como, de comparar e explicitar as possíveis semelhanças e

diferenças entre eles.

Vale ressaltar que o estudo da comunicação não-verbal em

Psicoterapia é valioso por si mesmo, 'ainda que não tenha por objetivo

oferecer caminhos para o estudo da integração terapêutica, pois são

comportamentos que produzem reações no paciente, e é desejável que o

terapeuta tenha ciência do seu próprio comportamento e, num estágio mais

avançado, dos efeitos que esse comportamento produz no seu paciente,

utilizando-se deles voluntariamente.

A presente investigação sugere questionamentos que podem servir

de base é. ",vestlgações subseqüentes. A principal questão refere-se à

necessidade de se analisar o comportamento do terapeuta em relação ao

comportamento do paciente, ou seja, em efetuar a análise da interação

entre as ações de um como contrapartida das ações do outro. Cada uma

das categorias de comportamento obs~l'Y.adªs nesteestudo.Ie outras não. - - - ---_. --- ------

contempladas aqui), poderia também servir como tema de futuras pesquisas,

ou seja, cada um deles tem uma importância tal na regulação de interações

humanas, que mereceria um estudo detalhado e em separado.

Os dados obtidos fornecem inúmeras questões para investigação e

abrem caminho para inúmeras investigações posteriores.

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1.20 Interação, Curitiba, v.1, p. 95·122 jan.ldez. 1997

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Page 16: ESTUDO EXPLORATÓRIO -SIMILARIDADES E DIFERENÇAS NA SITUAÇÃO PSICOTERAPÊUTICA: COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL DO PSICOTERAPEUTA EM DIFERENTES ABORDAGENS TEÓRICAS (Completo)

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122 . Interação, Curitiba, v.1, p. 95-122 jan./dez. 1997

CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE PAIS ADOTIVOS: EMDISCUSSÃO*

Lidia Natalia Dobrianskyj Weber**

RESUMO

. Este texto pretende fazer uma reflexão crítica sobre as práticas

de seleção das pessoas cadastradas nos Serviços de Adoção dos

Juizadós-da Infância e da Juventude, uma vez que, muitas vezes,

este processo seletivo tem sido feito com base em pressupostos

dogmáticos acerca do comportamento humano. A presente análise

norteia-se pelo pensamento aberto da pós-modernidade, que avalia

o pensamento sentencioso como anticientífico e anti-intelectual; com

a pós-modernidade é preciso crivar nossos preconceitos e não ter

medo da ausência de certezas.

"Deus nos dê sabedoria para descobrir o certo, vontade para escolhê-Ia e

força para fazê-Ia durar" (Rei Arthur, no filme Lancelot)

* Recentes estudos (WEBER, 1995 A e B; WEBER. 1996; WEBER, 1997; WEBER,CORNÉLlO, GAGNO e SILVA, 1994; WEBER e CORNÉLlO, 1995 Ae B) têm demonstradoatravés de entrevistas, questionários e depoimenios que existe uma postura doçrnáticaem relação à seleção de pais adotivos por alguns Serviços de Adoção dos Juizados daInfância e da Juventude do país. Serão usados alguns relatos obtidos nos trabalhos acima

citados para ilustrar o pensamento da autora.

** Professora do Departamento de Psicologia da UFPR; Especialista em "Origens daPsicologia" (UFPR) e em "Antropologia Filosófica" (UFPR); Mestre e Doutoranda em

Psicologia Experimental (USP).

Interação, Curitiba, v.1, p. 123-137, jan./dez. 1997 123