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O ESTUDO DO LUGAR E A FORMAO DO ALUNO CIDADO
Janete Aparecida de LimaSergio Luiz Thomaz
RESUMO: Uma educao pautada na concepo terica Histrico-crtica no
pode medir seus resultados apenas em dados numricos de notas e
porcentagens de aprovaes e reprovaes. Mais que isso, a observao das
transformaes que ocorrem no comportamento do educando e na
sociedade tambm deveriam ser avaliadas. Analisando os resultados da
educao por esse vis, teramos que nos atentar se os objetivos da
educao esto sendo efetivamente alcanados. Parece consenso acreditar
que a educao est bem quando as notas e o nmero de reprovaes e
desistncias so satisfatrios. Nesse sentido, o artigo discute a
importncia de irmos alm dos nmeros e propor metodologias que de
fato colaborem para uma educao transformadora, como pretendem as
Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do Ensino
Fundamental e para o Ensino Mdio / PR. Acreditamos que o estudo do
lugar do aluno, nas aulas de Geografia, prtica que deve ser
constante em todos os nveis de ensino, colabora para a efetivao dos
objetivos da educao. PALAVRAS-CHAVE: Educao. Lugar, Metodologias,
Concepo terica. Cidadania.
ABSTRACT: An education based on historical-critical theory
conception cannot measure their results only in numerical data of
marks and approvals and disapprovals percentages. More than that,
the observation of the transformations that take place in the
behavior of the student and society should be also evaluated.
Analyzing the results of education on this perspective, we would
look if the objectives are being effectively achieved. It seems
consensus to believe that education is well when the marks and
numbers of disapprovals and failures are satisfactory. The article
discusses the importance of going beyond numbers and proposes
methodologies that actually work for an education sector as wish
the Geography Curriculum Guidelines for the final years of
elementary school and the high school/PR. We believe that study of
the place, in geography lessons, a practice that should be constant
at levels of education, contributes to the realization of the
educational.KEY-WORDS: Education. Place. Methodologies. Theory
Conception. Citizenship.
Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Mdio da Rede
Estadual de Ensino/ PR integrante do Programa de Desenvolvimento
Educacional/PR (PDE), sob orientao do professor Sergio Luiz Thomaz.
/ UEM. Hotmail: [email protected] Dr. Sergio Luiz
Thomaz. Departamento de Geografia/CCh / UEM. Av. Colombo, 5790Zona
7 Fone (44)3261 4290. CEP 87020-900- Maring PR. E-mail:
[email protected]
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1 - INTRODUO
[...] temos de assumir o nosso papel no ensino e na sociedade;
temos de assumir nosso espao algo um tanto bvio, para uma Cincia
que tem como objeto de estudo o prprio espao...[...] no podemos
deixar de ensinar Geografia! No queremos formarpequenos gegrafos,
mas sim cidados que saibam utilizar o conhecimento geogrfico para
compreender a evoluo do mundo emque vivem e, assim, nele assegurar
a sua efetiva participao.(MORAES, 2006, p.65)
O presente artigo, resultante do Programa de Desenvolvimento
Educacional PDE
implementado pelo governo do estado do Paran, prope uma reflexo
sobre a
necessidade da abordagem da escala local nas aulas de geografia,
alm dos contedos
existentes nos livros didticos. Essa abordagem a qual nos
referimos importante que
seja desempenhada em todas as sries do Ensino Fundamental e Mdio
para que os
objetivos da Geografia possam ser efetivamente alcanados.
A escolha do tema reflete a angstia de muitos professores que no
tem
conseguido, responder as freqentes curiosidades que os alunos tm
a respeito do
lugar em que vivem e a dificuldade em colocar em prtica o estudo
da Geografia na
escala local. Diante dessa realidade, que bastante comum,
enfatizamos que a
confeco de um Caderno Pedaggico onde a Geografia do municpio
esteja
sistematizada.
Se a falta de conhecimento do aluno sobre os aspectos geogrficos
na escala local
uma verdade, tambm verdade que parte dos professores de
geografia o
desconhecem. Pensamos que, com a globalizao, a geografia do
lugar perdeu
importncia, pois o mundo est dentro de casa atravs dos vrios
meios de
comunicao e, as grandes manchetes tornam-se mais importantes no
contexto escolar
do que as questes locais. Como diz CALLAI:
Na nossa vida, muitas vezes sabemos coisas do mundo, admiramos
paisagens maravilhosas, nos deslumbramos por cidades distantes,
temos informaes de acontecimentos exticos ou interessantes de vrios
lugares que nos impressionam, mas no sabemos o que existe e o que
est acontecendo no lugar onde vivemos.
Outro fator que contribuiu para isso que nas sries finais do
Ensino Fundamental
e Mdio os contedos, que esto organizados nos livros didticos
abordam contedos
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menos especficos, ou seja, trata de regies, de continentes, de
pases e, raramente,
estados. A grande ironia que queremos que conheam o mundo, mas
esquecemos
que desconhecem o prprio lugar. Destacamos ainda que, quando os
professores
passaram a adotar a Geografia Crtica como concepo terica, muitos
deixaram de se
ocupar com nmeros e conceitos, considerando muitas vezes como
isso ser antiquado
e afirmando que o entendimento das relaes que eram importantes
para a
Geografia. Tambm concordamos que precisamos entender as relaes.
Mas no d
para analisar as relaes existentes entre os componentes do espao
sem
primeiramente conhecer quais so esses componentes, sejam eles
nmeros ou
conceitos.
Alm disso, lembramos que os professores que atuam nas sries
finais do Ensino
Fundamental e no Ensino Mdio no tiveram obrigatoriamente que
estudar a Geografia
do municpio onde atua e nem metodologias para isso, ou seja, se
j fazem isso, foi por
iniciativa do prprio professor na nsia de poder ter mais
subsdios para suas aulas.
A partir dessas constataes, concordamos que o resgate do estudo
da escala
local para ns crucial, se pretendemos formar alunos crticos. Em
SANTOS (1999):
Em cada sociedade, a educao deve ser concebida para atender, ao
mesmo tempo, ao interesse social e ao interesse dos indivduos. da
combinao desses interesses que emergem os seus princpios
fundamentais e so estes que devem nortear a elaborao dos contedos
do ensino, as prticas pedaggicas e a relao da escola com a
comunidade e com o mundo.
Para tratar desse tema to importante, inicialmente elucidaremos
o conceito de lugar
empregado nas DCEs (Diretrizes Curriculares de Geografia para os
anos finais do
Ensino Fundamental e para o Ensino Mdio) do estado do Paran,
que, por sua vez,
apia-se em vrios autores da vertente da Geografia Crtica.
Posteriormente
discutiremos a relao entre o estudo do lugar e a formao do aluno
cidado, os
desafios para implementao desse estudo e os contedos que devem
estruturar o
estudo da Geografia do municpio.
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2 - O CONCEITO DE LUGAR
[...] A Geografia, ao proporcionar novas leituras do espao
vivido cotidianamente, um poderoso instrumento para a construo da
cidadania ao fortalecer a identidade atravs da valorizao do lugar e
da compreenso da articulao deste com o espao global. (AIGNER,
211,p.213)
Nossa proposta de entendimento sobre Lugar fundamentada na
perspectiva da Geografia Crtica, adotada nas DCEs do Paran que o
denomina como
local onde os fenmenos geogrficos, fsicos ou no, acontecem. o
resultado de
polticas globais, mas que tambm tem suas especificidades, ou
seja, as atividades ali
realizadas ou o modo de organizao social a ver com o sistema
econmico adotado
em quase todos os pases, que o capitalismo. Todavia, algumas
caractersticas lhes
so peculiares e se mantm apesar do processo de globalizao. Neste
artigo, vamos
considerar, para fins pedaggicos, o municpio como a extenso
territorial do lugar.
Entendemos que seja importante para o aluno conhecer esse
conceito e, a
partir de sua sistematizao, devemos instig-los a indagar sobre
como o lugar onde
vivem foi e organizado. Deveremos torn-los capazes de procurar
respostas para a
razo da existncia das desigualdades sociais e espaciais em seu
municpio e, mais
que isso, de os capacitarem a interferirem nessa realidade.
A partir do momento que o aluno assimila o conceito de lugar,
passa a ter noo de
pertencimento a este lugar e que tambm um dos construtores /
organizadores desse
espao, que ao mesmo tempo singular/global. Enquanto essa noo
de
pertencimento no existir, o sujeito/aluno torna-se estranho ao
local e dificilmente
contribuir para que, sendo necessrio, outra realidade seja
construda. STRAFORINI
(2004: 56) diz que a Geografia no pode e no deve permitir que os
alunos saiam da
escola reproduzindo um sistema que os sufoca.
Ainda que o estudo do lugar seja imprescindvel, devemos nos
atentar para que o
contedo no se limite a essa escala. preciso ir alm, ou seja,
estudar o nvel global,
sem o qual no conseguiremos entender o prprio lugar. Como
explicar, por exemplo,
os diferentes bairros residenciais da cidade se ao menos
compreendemos que o
sistema capitalista impera no Globo? Ou ainda porque a cultura
dominante do municpio
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a de soja quando o consumo local desse gro nfimo? Para SANTOS
(1994,
p.321):
A localidade no se ope globalidade, mas tambm se confunde com
ela e o mundo, todavia, nosso estranho. Entretanto se, pela sua
essncia, ele pode esconder-se, no pode faz-lo pela sua existncia,
que se d nos lugares.
Um aluno do Ensino Mdio, que j deve ter formado vrios conceitos
geogrficos
no Ensino Fundamental, dever estar apto a fazer sempre esse jogo
de escalas e, se
no consegue ainda, necessrio repensarmos sobre o processo de
ensino/aprendizagem. Uma vez que o aluno no consiga relacionar a
existncia de
diferentes bairros ao sistema econmico mundial ou que o domnio
da cultura da soja
para suprir o mercado internacional, um bom indicador que algo
precisa ser mudado,
ainda mais hoje onde as questes globais interferem tanto no
local. No cabe mais
ensinar o lugar pelo lugar, j que ele no se explica sozinho. O
que queremos, portanto,
que todas as escalas sejam de fato estudadas e no que uma seja
privilegiada em
detrimento de outra. Entendemos que no existir aprendizagem
efetiva se uma das
escalas ficar em segundo plano. Um planejamento bem elaborado um
dos requisitos
para se garantir o estudo do espao geogrfico em todas as
escalas.
Estudar o espao geogrfico em nvel local fundamental para que
possa haver
maior participao do aluno na comunidade onde vive. Conhecer os
aspectos
geogrficos relevantes como os socioeconmicos e ambientais pode
levar o aluno
reflexo e busca de solues para possveis problemas que estejam
acontecendo
nesse espao. Por outro lado, a marginalizao do conhecimento por
parte do aluno
sobre o mundo mais prximo tem provocado indiferena e
desestimulado aes, uma
vez que os assuntos trazidos para sala de aula fogem do controle
do aluno. Dificilmente
os alunos buscaro solues para problemas que no estejam ao seu
alcance.
Tomemos como exemplo a poluio dos mananciais. Se o professor
apenas relata
problemas de rios que no fazem parte do seu cotidiano, no
devemos esperar que os
alunos se mobilizem para resoluo de tais problemas. Essa
indiferena observada
claramente em nosso cotidiano, onde so raros os movimentos
estudantis que cobram
polticas pblicas municipais para resoluo de problemas instalados
no municpio do
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aluno. Se isso uma realidade, a Geografia no est cumprindo
totalmente os seus
objetivos.
Enquanto o ensino da Geografia estiver pautado na enumerao de
informaes
desconexas e distantes da realidade do aluno, no poderemos
almejar a sonhada
transformao social. SANTOS (1994, p. 321) diz:
Atravs do entendimento desse contedo geogrfico do cotidiano
poderemos, talvez, contribuir para o necessrio entendimento
(e,talvez teorizao) dessa relao entre o espao e movimentos sociais,
enxergando na materialidade, esse componente imprescindvel do espao
geogrfico, que ao mesmo tempo, uma condio para a ao; uma estrutura
de controle, um limite ao; um convite ao. Nada fazemos hoje que no
seja a partir dos objetos que nos cercam.
Devemos repensar nossa prtica pedaggica e propormos objetivos
mais
ambiciosos para cada aula, para que a educao no continue vazia e
pouco
significativa, atendendo apenas anseios particulares e no
comunitrios. preciso que
os educadores se conscientizem sobre a necessidade urgente de
tornar os contedos
mais significativos e, para isso, acreditamos que s
materializando a proposta das
DCEs do estado do Paran, que estabelece que o nvel de escala
local tambm deve
ser estudado, isso se tornar possvel. Notamos que alunos e
professores esto
habituados a essa pouca significncia dos contedos, ao menos
questionam se o
estudo da escala local poderia ser uma das alternativas para
mudar o quadro
educacional que no tem obtido resultados satisfatrios.
Se o estudo do lugar do aluno por si s no capaz de suprir as
deficincias da
educao, tambm verdade que sem esse estudo tais deficincias no
sero supridas
por completo. Para que isso se torne realidade necessrio que se
sistematize esse
estudo e busque fontes confiveis e metodologias que alcancem os
objetivos. RUA
(2005, p. 3) diz:
Trabalhando com base no conhecimento emprico da realidade do
aluno, seguir-se ia, depois, para a teoria e, com sua ajuda, se
voltaria quela realidade para reinterpret-la, agora no mais apenas
com base no conhecimento emprico. Realidade - Teoria Realidade,
este seria um caminho a ser seguido, a partir das observaes e das
reflexes iniciais dos alunos Na teoria, buscam-se a fundamentao, o
aprofundamento e a generalizao das reflexes iniciais. Volta-se
ento, realidade, criticando-a e analisando-a luz da teoria,
cientificizando-se os conceitos.
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Como a Secretaria de Educao do Estado do Paran deixa claro em
sua proposta
que o ensino da Geografia deve estar pautada na corrente
Histrico Crtica, onde
ressalta como objetivos a transformao de nossa sociedade,
indiscutvel que o Lugar
do aluno faa parte do componente curricular e que os resultados
sejam observados
tambm a partir das mudanas referentes conduta do aluno em sua
participao
social. Para CAVALCANTE (1998, p.11):
[...] o pensar geogrfico contribui para a contextualizao do
prprio aluno como cidado do mundo, ao contextualizar espacialmente
os fenmenos, ao conhecer o mundo em que vive, desde a escala local
regional, nacional e mundial. O conhecimento geogrfico , pois,
indispensvel formao de indivduos participantes da vida social
medida que propicia o entendimento do espao geogrfico e do papel
desse espao nas prticas sociais.
3 - DESAFIOS SOBRE O ESTUDO DO LUGAR Estudar o lugar no to fcil
quanto aparenta. Se no passado a Geografia
estudava seus objetos separadamente e em gradao de escalas,
normalmente
partindo do local para o mundial, nesse mundo globalizado no h
mais como fazer
dessa maneira. Segundo STRAFORINI (2004, p.82):
Na nossa viso de mundo, a realidade evoca a idia de realidade.
No h como conceber o mundo linearmente, estudando as partes: casa,
rua, bairro, cidade, estado, pas, continente separadamente para
depois junt-los, formando assim o mundo. No atual perodo histrico,
o mundo fragmentado nos sentido de que a globalizao produz espaos
da globalizao, ou seja, os espaos hegemnicos e os hegemonizados, os
que ditam as ordens e os que as executam. Mas o mundo no a somatria
desses espaos tomados separadamente, mas sim uma totalidade, ou
seja, esses espaos s fazem sentido no conjunto da totalidade.
Nesse sentido, as DCEs do estado do Paran so claras quanto a
necessidade de
estudar os contedos de Geografia nas sries do Ensino Fundamental
e Mdio desde a
escala global local. Porm, sabemos que nem todos o professores
conhecem essa
exigncia e mesmo os que conhecem tratam de forma muito
aligeirada e ainda sem
estabelecer relaes entre as diversas escalas espaciais,
inviabilizando um ensino de
qualidade.
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A seguir enumeramos vrios fatores que tm prejudicado a
materializao do
estudo do Lugar:
Desconhecimento das DCEs; Falta de material pedaggico de
qualidade e fontes de pesquisa
referentes Geografia do Municpio;
Diante dessas premissas vamos discutir, a seguir, sobre cada um
desses itens.
3.1 - AS DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARAR
Se as Diretrizes Curriculares devem nortear o trabalho do
professor, a partir delas
que devemos construir nosso Plano de Trabalho, elegendo os
contedos,
estabelecendo mtodos, metodologias e objetivos. Sem essas
Diretrizes, cada
professor ficaria livre para desenvolver seu trabalho segundo
seus critrios e objetivos
que poderiam coincidir ou no com os da educao paranaense.
Portanto, conhec-las
indispensvel ao processo pedaggico. Sem elas, as aulas de
Geografia poderiam
tambm perder o objetivo. CAVALCANTE (1998, p. 25) tambm ressalta
a necessidade
de se estabelecer objetivos, contedos e mtodos de ensino quando
diz:
[...] o ensino um processo de conhecimento pelo aluno, mediado
pelo professor e pela matria de ensino, no qual devem estar
articulados seus componentes fundamentais: objetivos, contedos e
mtodos de ensino. Nesse sentido, os objetivos sciopolticos e
pedaggicos gerais do ensino e os objetivos especficos da Geografia
escolar que orientam a seleo e organizao de contedos para uma
situao de ensino. No entanto, o uso de um mtodo de ensino adequado
que pode viabilizar os resultados almejados.
STRAFORINI (2004, p.51) tambm revela sua preocupao em relao essa
questo:
[...] faz-se necessrio questionarmos os seu papel nas escolas,
pois sem uma clara definio desse papel no podemos escolher uma
corrente terico-metodolgica que d sustentao para a nossa viso de
mundo, evitando, dessa forma, o risco de ensinarmos uma Geografia
Tradicional escamoteada por fragmentos de vrias linhas e correntes
terico-metodolgicas, ou seja, uma verdadeira colcha de retalhos,
porm, sem o encanto da simplicidade e o colorido, mas sim confusa e
tnue..
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Entendemos que estudar os vrios nveis de escala significa,
estudar o Globo, os
continentes, o pas, a regio, o estado, o municpio e at o bairro.
Assim tanto no
Ensino Fundamental, como no Mdio, estudar o bairro ou o municpio
to necessrio
quanto o pas ou o continente. No podemos mais deixar isso passar
desapercebido ou
esperar que os alunos cobrem o estudo nesta escala, at porque
elas so
indissociveis. Segundo STRAFORINI (2004, p.93):
O mundo de hoje globalizado e todas as dimenses espaciais, sejam
elas o bairro ou o pas, o local ou o global, se encontram numa
ntima relao de proximidade. [...] Na verdade, no o ponto de partida
o bairro ou o mundo o que significativo, mas sim o estabelecimento
das relaes entre esses. Alm disso, fundamental o local seja
estudado, uma vez que, d ferramentas aos nossos educandos para que
possam entender com maior facilidade os fenmenos geogrficos que os
cercam.
Ainda para CERBATO: O conhecimento geogrfico poder formar
cidados cada vez mais
crtico e politizados. Para que isso ocorra, preciso que conheam
o espao que estabelecem suas relaes cotidianas.
(2008, pg.63)
Alm das questes pontuadas acima sabemos que a discusso desse
tema ainda
recente e no h ainda disseminado metodologias sistematizadas
para que os
professores possam se orientar. Poucos so os livros de Geografia
do Ensino Mdio
que disponibilizam atividades relacionadas ao estudo do
municpio, como tambm
pequeno o nmero de livros que tratam especificamente desse
assunto. A elaborao e
a distribuio de cadernos com atividades para estudo do municpio
tambm uma
ferramenta que pode ser eficaz para democratizar as
metodologias.
A carncia de metodologias sistematizadas promove rupturas no
trabalho do
professor. O planejamento consistente de como vai ser trabalhado
cada contedo em
nvel municipal, organiza o trabalho do professor e contribui
para que uma mesma
atividade seja no realizada vrias vezes pelos mesmos alunos (sem
intencionalidade),
enquanto outra fique sem ser realizada. No podemos trabalhar na
improvisao. O
improviso no garante que uma atividade que foi realizada com
sucesso num
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determinado ano letivo seja novamente realizada nos anos
posteriores, principalmente,
porque h uma rotatividade bastante grande dos professores.
Portanto urgente que
se trabalhe em prol da construo desses cadernos ou da incluso de
atividades nos
livros didticos.
No queremos aqui transparecer que os professores sejam incapazes
de construir
suas prprias metodologias, no isso. O que queremos que tais
metodologias
estejam sistematizadas no Plano de Trabalho do professor.
imprescindvel que os
professores consigam, antes do incio das aulas, estabelecer
quais atividades sero
realizadas em cada srie, de modo a garantir que o aluno, quando
chegar no ltimo ano
do Ensino Mdio, tenha um conhecimento amplo do seu municpio.
Quais metodologias so viveis para o estudo do municpio?
Quanto a esse questionamento, podemos responder que so muitas e
variadas e que
sero eleitas conforme critrio do professor. Por isso que o
planejamento prvio to
importante. evidente que possa haver necessidade de mudanas no
decorrer do ano,
mas isso tambm deve de certo modo ser previsto. A seguir vamos
apresentar
algumas metodologias que podero ser aplicadas ao estudo do
municpio:
3.1.1 - Aulas de campo: como o estudo do municpio enfoca espao
prximo do aluno,
a sada a campo se torna bastante vivel. Tomamos como exemplo uma
sada em torno
do quarteiro da escola para reconhecer as espcies de rvores
existentes nesse
espao. Tambm pode ser observada a conservao das caladas, se
existe lixo
jogado, qual a funo principal do bairro (residencial ou
comercial), enfim,
dependendo do contedo que o professor estiver trabalhando, ele
vai orientar seus
alunos a observarem e depois faz se discusso em sala de aula
sobre o assunto
estudado. Segundo CERBATO (pg. 63):
[...] o trabalho de campo funciona como um instrumento de
verificao e apreenso da realidade, bem como um registro de mudanas
nas paisagens, sendo, portanto um recurso de anlise da realidade
espacial em escala local e regional.
Sendo a escola um lugar para aprender cientificamente a
Geografia, devemos
cuidar para que a aula no seja um simples passeio. A sada dos
alunos da sala de
aula deve ter objetivos claros. A anlise do contedo da paisagem
deve ser explicada
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agora sob o ponto de vista cientfico e no mais pelo senso comum.
No interessa
tambm a simples enumerao de fatos observados. Ns professores de
Geografia
temos que ser capazes de fazer uma leitura das inter-relaes
desses fatos e incitar
para que os alunos faam o mesmo diante de qualquer paisagem.
3.1.2 - Confeco de maquetes: alm de ser uma atividade muito til
na disciplina de
Geografia, em geral os alunos participam bastante. Atravs da
maquete o aluno tem
uma viso tridimensional de aspectos importantes da Geografia,
que seria muito
trabalhoso e menos prazeroso se o aluno tivesse que utilizar
somente a forma plana.
Na representao do relevo e de bacias hidrogrficas o uso de
maquete
primordial. O aluno ser capaz de perceber onde esto as reas de
maior risco de
eroso ou de enchentes e tomar conscincia de que algumas reas, em
funo da
inclinao do terreno, por exemplo, so imprprias para construes
habitacionais ou
para a prtica da agricultura.
3.1.3 Entrevistas: por ser de fcil aplicao e resultados
formidveis, a entrevista se
torna uma excelente opo para o estudo do municpio. Por exemplo,
se o contedo
que est sendo trabalhado no momento espao cultural, pode-se
entrevistar
moradores mais antigos da cidade para que descrevam as
transformaes que o
espao do municpio vem passando. Se for agricultura, tambm pode
ser perguntado
sobre as diferenas entre as tcnicas de cultivo do passado e as
atuais. So poucos os
contedos da Geografia do municpio que no podem ser estudadas por
meio de
entrevistas. Muitas vezes a entrevista pode ser substituda por
uma palestra, pois ao
invs dos alunos irem at o entrevistado, o entrevistado que vem
at o aluno.
3.1.4 - Trabalho com mapas e cartas: a utilizao de mapas e
cartas constituem
ferramentas indispensveis nas aulas de geografia. a partir
dessas ferramentas que o
aluno poder se localizar espacialmente. Sem a utilizao deles,
parte do processo
educativo ficar comprometido. Ao ensinar limites do municpio, se
o aluno no tem um
mapa ao seu alcance, impossvel que ela venha compreender esse
contedo.
-
Tambm no poder ter outras noes como a zona de iluminao onde se
encontram,
proximidade ou distanciamento do mar e a influncia deste no
clima local. importante
que o professor disponibilize vrios mapas de vrias escalas e
vrios temas. Ser
atravs deles que podero situar os fenmenos geogrficos e
entender, por exemplo,
por que os rios do municpio correm para o Norte e no para outra
direo.
Ainda sobre esse tema, orientamos para que os professores se
habituem a
apresentar mapas ou cartas no sentido horizontal, podendo ser no
cho e se for de
tamanho reduzido, na carteira mesmo. Temos observado que os
alunos apresentam
muita dificuldade para se orientarem espacialmente e, um dos
meios para superar essa
dificuldade a disposio dos mapas na horizontal e orientados
corretamente (Norte do
mapa para o Norte da Terra).
Uma atividade simples, mas de grande valia, colocar o mapa no
cho do ptio da
escola (orientado corretamente o mapa) e, a partir dele mostrar
aos alunos as direes
na cidade ou no municpio. Podemos explorar a direo de alguns
pontos de referncia
da cidade (igreja, hospital...), os limites dos municpios, at a
direo da residncia de
cada aluno.
Quando esta atividade no realizada, o aluno provavelmente ter a
noo de que
Sul para baixo e Norte para cima e que as direes mudam se voc
virar o mapa, o
que consideremos como um dos grandes pecados da Geografia.
3.1.5 - Pesquisa em cartrios e igrejas: essas duas instituies so
fontes valiosssimas
de informaes. Por esse meio podemos pesquisar dados demogrficos
de vrios
temas, como origem dos habitantes do municpio, taxas de
natalidade e mortalidade,
entre outros. Tambm, atravs dos registros de imveis, podemos
conhecer a realidade
agrria daquele municpio, se houve concentrao de terras, por
exemplo.
3.2 AUSNCIA DE MATERIAL DIDTICO ADEQUADO REFERENTE GEOGRAFIA
DO MUNICPIO
Os livros de Geografia do Ensino Fundamental (5 a 8 srie)
abordam a geografia
geral, continentes, pases e regies. Em alguns casos chegam at o
nvel estadual. O
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gargalo sobre o estudo da escala municipal est justamente a. O
estudo do municpio
no contemplado mais, a no ser em algumas sugestes de atividades
no final de
cada captulo. Sabemos que os livros, que so distribudos em nvel
nacional, no
teriam como contemplar os mais de cinco mil municpios existentes
no Brasil, no
entanto, concordamos com a necessidade de se acrescer
obrigatoriamente um captulo
com metodologias objetivando o estudo do municpio do aluno,
cabendo ao professor
viabilizar esse estudo, dando apoio bibliogrfico e metodolgico
para seus alunos.
A falta de fontes de informao adequadas pode dificultar o estudo
prtico, uma
vez que nem todos os municpios constam de material didtico
sistematizado, todavia,
o uso da Internet pode contribuir extraordinariamente para que
essa lacuna seja
preenchida, uma vez que contamos com vrios sites oficiais, como
o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica), Ipeadata (site que
disponibiliza os dados do Ipea
Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), Inep ( Instituto
Nacional de Pesquisas
Educacionais Ansio Teixeira), Ipardes (Instituto Paranaense de
Desenvolvimento
Econmico e Social ) e CNM (Confederao Nacional dos Municpios)
que trazem
informaes minuciosas sobre cada municpio brasileiro, destacando
desde aspectos
ambientais at os socioeconmicos.
A utilizao da Internet imprescindvel para a coleta de dados dos
mais variados
temas e pocas. Para tanto, as escolas precisam dispor dessa
ferramenta, onde
professores e alunos podero ter acesso aos inmeros sites
oficiais que disponibilizam
as informaes. No caso da Internet ser de alcance somente dos
professores, este
dever buscar com antecedncia o contedo de interesse e repassar
posteriormente
aos alunos. A prtica contnua de busca de dados/informaes
oficiais permite
atualizao de contedos e comprovao ou negao de fatos observados,
por
exemplo, no podemos dentro da instituio escolar trabalhar com o
eu acho que a
rea de cultivo de cana-de-acar aumentou. Isso no cabe escola.
Devemos,
portanto, atravs da coleta dos dados, como os do IBGE, dizer o
que realmente
aconteceu. O professor de geografia, mais do que de outras reas,
tem que ser
obrigatoriamente um pesquisador e se atualizar constantemente,
uma vez que utiliza
muitos conceitos e dados numricos que se alteram com freqncia.
No podemos
aceitar mais, diante de tantos meios de informao, professores
trabalhando ano aps
-
anos com os mesmos conceitos e nmeros (a menos que no tenham
mudado) e muito
menos com suposies. Tambm cremos que essa busca torne-se hbito
tanto de
educadores como de educandos e a partir do momento em que ambos
se familiarizem
com os sites, as pesquisas ficam mais fceis e rpidas.
Diante das informaes obtidas interessante sistematiz-las. Isso
demanda
tempo e organizao, mas indispensvel para que o ensino saia da
abstrao e do
senso comum tornando-se realmente significativo e com base
cientfica. Tambm
oportuno dizer que os dados estatsticos coletados nos diversos
rgos devem ser
analisados contextualizando-os, pois os dados por si s se tornam
simples nmeros.
Lembramos que o referencial terico aqui utilizado no o da
Geografia Quantitativa e
sim da Crtica.
A oferta de cursos direcionados aos professores do Ensino
Fundamental e Mdio
abordando metodologias que ressaltem a importncia do estudo do
municpio uma
das aes que pode colaborar bastante para instrumentaliz-los essa
prtica.
Outro canal, embora mais burocrtico, para se buscar informaes
municipais,
atravs das secretarias da Prefeitura Municipal, tais como as da
Educao, Sade e
Meio Ambiente. Ocorre que nem sempre os funcionrios desses rgos
esto
disponveis para nos atender, s vezes por falta de tempo, outras
vezes, at por medo
de revelar alguns dados sobre o municpio que at ento se
mantinham velados.
4 - OS CONTEDOS ESTRUTURANTES NO ESTUDO DA GEOGRAFIA DO
MUNICPIO
As Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do
Ensino Fundamental
e para o Ensino Mdio apontam quatro contedos estruturantes que
vo nortear o
planejamento do professor em cada srie trabalhada. Esses
contedos, segundo as
Diretrizes so:
os conhecimentos de grande amplitude que identificam e organizam
os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados
fundamentais para a compreenso de seu objeto de estudo e ensino, So
neste caso, dimenses geogrficas da realidade a partir das quais os
contedos especficos devem ser trabalhados (DCEs, 2008).
-
Nessas Diretrizes Curriculares, os contedos estruturantes so
analisados em
quatro dimenses de mbito geogrfico, a saber: Econmica,
Poltica,
Socioambiental e Demogrfica e Cultural. Portanto, o professor de
Geografia estar
menos propenso de tratar de contedos que fujam completamente do
objeto da
disciplina, que o Espao Geogrfico, pois muitas vezes, partimos
para caminhos que
particular da Filosofia ou da Sociologia e deixamos de fazer a
abordagem geogrfica.
Sendo assim, ao selecionar os contedos especficos, o professor
ter que estar
habilitado para desenvolver os contedos estruturantes em cada um
dos contedos
especficos, por exemplo, ao selecionar o contedo gua, o
professor viabiliza a
abordagem econmica, poltica, socioambiental, demogrfica e
cultural. Esse
mecanismo deve ser uma regra para todos os contedos
especficos.
Abordaremos aqui como cada contedo estruturante poder ser
estudado na
escala municipal:
4.1 - Dimenso Econmica: nessa dimenso devemos enfatizar como a
sociedade se
apropria do meio natural, possibilitando ao aluno a compreenso
scio-histrica das
relaes de produo capitalista e como ela se manifesta no espao
geogrfico. Nesse
mbito o aluno ter que se conscientizar que tambm um agente da
construo desse
espao. Portanto, cabe a Geografia subsidi-los para que
interfiram de modo
consciente na realidade.
Na escala municipal essa dimenso tem um leque bastante grande a
ser estudado
uma vez que numa sociedade capitalista, como a nossa, o econmico
comanda
quase que exclusivamente na organizao espacial, ou seja, a
maneira como o espao
est organizado resultado, em grande parte, do sistema econmico
que impera.
Sendo assim, preciso que no Plano de Trabalho Docente o estudo
da dimenso
econmica esteja sistematizado, ou seja, que o professor
estabelea como executar
essa tarefa, quais atividades sero realizadas e como sero
realizadas, a fim de que no
final de determinado contedo, o aluno consiga explicar como seu
espao foi
construdo, quais interesses levaram a organiz-lo de tal maneira
e ainda ser capaz de
propor uma nova organizao desse espao, uma vez que no acabado.
Portanto,
alguns pontos que podem ser estudados aqui so: as atividades
econmicas do
municpio, a renda per capita, as diferenas entre bairros e o
ndice de gini.
-
Salientamos que o professor dever fazer com que o aluno entenda
como o modelo
econmico adotado interferiu na organizao espacial do seu
municpio. comum que
alunos de sries finais do Ensino Fundamental no consigam
distinguir ao menos qual
sistema econmico adotamos. Se isso ocorre, no adianta o
professor falar em
organizao espacial no modelo capitalista antes que ele entenda
como esse sistema
funciona. necessrio ento que ns professores estejamos sempre
investigando
quais conceitos os alunos j conhecem. O entendimento dos
conceitos estudados no
contedo um pr-requisito imprescindvel. Exemplificamos: quando o
professor for
trabalhar o tema agropecuria, dever partir no imediatamente das
atividades
realizadas no municpio, mas sim o que significa agropecuria e
quais so o tipos de
agropecuria ou, se o contedo indstria, o aluno ter que conhecer
primeiramente os
conceitos acerca dessa atividade, tais como, indstria de base,
de bens de
equipamentos e de bens de consumo.
Outra questo que devemos lembrar que quase todos os contedos
trazem em si
os quatro temas estruturantes, citados anteriormente. Diante,
por exemplo, do tema
gua, o professor poder explorar na dimenso econmica o
crescimento do mercado
da gua, se no municpio a gua foi privatizada, o valor de cada
litro de gua e qual
empresa responsvel pelo tratamento e distribuio. Na dimenso
socioambiental
poder estudar poluio da gua no municpio, se existe estao de
tratamento de
esgoto e quais rios recebem a gua tratada. Na dimenso demogrfica
e cultural
poder pesquisar se existem pessoas sem acesso a gua potvel, se
existe poltica que
orienta a utilizao da gua, quais os usos da gua, etc.
4.2 - Dimenso poltica: essa dimenso engloba os interesses
relativos aos territrios e
s relaes de poder, econmicas e sociais que os envolvem. O
professor dever
possibilitar ao aluno o entendimento sobre as foras que regem a
organizao do
espao, ou seja, quem tem o poder de deciso para organizar o
espao. Sabemos que
nem sempre o poder pblico municipal capaz de decidir sobre como
seu espao
dever ser organizado, uma vez que poderes de outras esferas
podem decidir sobre
eles. Alm disso, uma grande empresa, por exemplo, pode ter mais
poder sobre
determinado municpio do que o prprio poder municipal
representado pela prefeitura.
-
Essas empresas acabam por vezes decidindo sobre quais so as aes
que o prefeito
dever tomar.
Consideramos muito importante que o aluno compreenda nessa
dimenso que a
sociedade da qual ele faz parte tambm est representada pelo
poder pblico que est
a servio dessa sociedade e no o contrrio. Ao conhecer seu espao
atravs de um
estudo cientfico proporcionado nas aulas de Geografia, o aluno
tende a manifestar
sobre seus anseios em relao ao seu municpio. SEVERINO (1994,
p.71) diz que:
Ocorre uma pulsao entre o jogo de fora que constituem a
sociedade e o jogo de foras que se concretizam a educao, de tal
modo que, de um lado, a forma desta se organizar reflete e reproduz
integralmente a forma de estruturao da sociedade; mas de outro
lado, o processo de atuao especificamente educacional pode ter
efeitos desestruturadores sobre a sociedade, sendo ento fator de
mudana social.
Portanto, as atividades realizadas para o estudo dos contedos
nessa dimenso
tm como funo dar ao aluno a idia de pertencimento, de sujeito da
organizao
espacial. O estudo do Plano Diretor do municpio deve ser
contemplado nessa
dimenso.
4.3 - Dimenso socioambiental: uma vez que consideramos como
objeto de estudo da
Geografia o espao geogrfico, que o espao produzido pela
sociedade, fica evidente
que na dimenso socioambiental deve se levar o aluno compreender
o processo de
transformao que essa sociedade provocou no ambiente natural. No
entanto, somente
compreenso no basta, preciso ousar mais e fazer o aluno
reconhecer que ele ator
tambm dessa sociedade e como tal deve entender os mecanismos da
natureza,
entender como ela funciona para a partir da, quando necessrio,
intervir nela. Isso
pode garantir que antes mesmo de agir sobre essa natureza, j se
tenha previso dos
danos ambientais conseqentes.
Embora seja evidente que os alunos estejam mais conscientes dos
danos
ambientais provocados pela sociedade, percebemos tambm que se
consideram
isentos dessa sociedade que destri. Precisamos aplicar, portanto
atividades que os
levem a refletir sobre suas atitudes e quais poderiam ser
mudadas em prol do ambiente.
preciso ainda que entendam que a busca insacivel pelo lucro, que
quase sempre se
concentra em poucas mos, no pode legitimar desastres ambientais
que atingiro toda
-
a sociedade. A busca por informaes sobre o meio ambiente
(mananciais, destino do
lixo, mata ciliar etc.) no municpio, via poder pblico municipal
(Secretaria do Meio
Ambiente) pode ser um caminho para fazer com que os alunos
conheam a realidade
prxima e que possam propor e cobrar solues para os possveis
problemas
existentes.
4.3 - Dimenso cultural e demogrfica: nessa dimenso deve permitir
a anlise do
espao geogrfico sob a tica das relaes sociais e culturais, bem
como da
constituio, distribuio e mobilidade demogrfica. Na escala local
podemos analisar
vrios aspectos como o movimento pendular da populao, a composio
tnica, os
ndices demogrficos, as marcas culturais reconhecidas na
organizao do espao e as
transformaes que a cultura local vem passando com o processo de
massificao.
Essa dimenso fundamental para que o aluno se identifique na
sociedade, se
reconhea e descubra que as diferentes culturas produziram espaos
geogrficos
diferentes, que muitas vezes so singulares. A observao e anlise
do espao
geogrfico capaz de revelar ao aluno muitos aspectos culturais de
seu municpio,
como por exemplo, se h grande quantidade de igrejas/capelas
catlicas denuncia que
ali existem muitos fiis dessa religio. Podemos avanar nesta
dimenso analisando os
ndices demogrficos e ao contrastar com outros municpios ou com
os do Brasil, ou de
pases desenvolvidos podero reconhecer se esses ndices so bons ou
no e
discutirem as polticas pblicas necessrias para melhorar os
ndices quando se
apresentarem insatisfatrios.
Em municpios de formao recente, a pesquisa sobre a origem dos
imigrantes que
o formou e os motivos que os trouxeram se torna uma ferramenta
importante para
explicar as migraes nas outras escalas. Ainda, analisando a
organizao do espao
geogrfico, os alunos devero ser capazes de reconhecerem como a
sociedade est
organizada. importante que os alunos entendam que as diferentes
caractersticas do
espao geogrfico tambm fruto das diferentes culturas e que cada
vez mais h uma
homogeneizao da paisagem criada pela massificao da cultura.
-
5 - CONCLUSO
A postura crtica no aquela que destri o que existe, mas aquela
que supera, abrindo a perspectiva de se discutir a realizao
concreta da histria. [...] assim, os alunos devem assumir um papel
ativo no seu processo de formao, pois mais do que habilitar
tcnicos, devemos formar uma massa crtica para influir sobre a
realidade com uma perspectiva de mudana. Cabe ao professor
incentivar o aluno nessa direo.(CARLOS, 2008 p. 98)
Aps quase dois anos pesquisando sobre o estudo do lugar nas
aulas de
Geografia, observamos uma grande deficincia desse estudo. No
raro alunos no
conseguirem caracterizar aspectos simples da Geografia do Lugar
onde vivem. A
escola parece ainda privilegiar a transmisso do contedo apenas e
est perdendo de
vista os objetivos dela. Muitos professores se sentem tranqilos
quando d conta de
todo o contedo do livro, importando pouco se tais contedos foram
significativos. Se a
escola assume como concepo terica da Geografia Crtica, no mnimo,
seus alunos
deveriam conseguir fazer uma leitura geogrfica do seu espao de
vivncia, ou seja,
que fossem capaz, em Geografia, de citar os elementos que compe
esse espao e
como eles se relacionam. inconcebvel que ao estudar sobre formas
de relevo ou
biomas os alunos no sejam capazes de distinguir quais dos
aspectos se manifestam
no seu espao. Compartilhamos da idia de que se no consegue fazer
isso porque
no aprendeu o contedo. Da mesma maneira um aluno que aprendeu
sobre zonas de
iluminao deve conseguir explicar as caractersticas do clima do
seu lugar (quando
esse o fator principal).
Partimos do pressuposto que se os professores desde as sries
iniciais
estimulassem seus alunos a observarem a paisagem que os cerca,
alm de instigarem
a explicar porque ele assim (claro que considerando o nvel
intelectual de cada fase
do aluno), ao findar o Ensino Mdio, esses alunos teriam muito
menos dificuldades em
compreender a organizao espacial em outros nveis de escala.
Tambm acreditamos que, se a escola objetiva que os alunos, a
partir do
conhecimento cientfico, possam transformar a realidade atual em
uma outra melhor,
no h como isso ocorrer de fato se desconhecerem as deformidades
de seu prprio
espao. A noo de pertencimento ou estranhamento, que vai orientar
os alunos a uma
-
ao ou a simples aceitao da realidade, est relacionada ao
conhecimento da
geografia do lugar do aluno.
Percebemos que a participao dos alunos nas discusses em sala de
aula acerca
dos contedos so muito mais acaloradas quando tratamos de questes
locais e no
das que parecem mais distantes, pois quando se trata do seu
lugar, sentem que podem
comandar a organizao do espao conforme anseiam. A atitude desses
alunos
diferente quando o contedo no tratado em nvel local, onde mais
ouvem do que
discutem, afinal, propor o que para questes to distantes?
urgente que, se desejamos uma sociedade melhor do que a que
temos, as aulas
de Geografia devem indiscutivelmente assumir o estudo do Lugar
do aluno dentro da
proposta da Geografia Crtica. Enquanto isso no acontece, ela
continuar livresca,
conteudista e incapaz de cumprir com seus objetivos.
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