Porto, Junho de 2010 Estudo da Prevalência de Mordida Cruzada em Pacientes Odontopediátricos da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto Margarida Isabel Batista Dias
Porto, Junho de 2010
Estudo da Prevalência de Mordida Cruzada em Pacientes
Odontopediátricos da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
Margarida Isabel Batista Dias
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
2
Orientadora: Professora Doutora Maria João Feio Ponces Ramalhão Co – Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel de Carvalho Dias
Lopes
Porto, 2010
Estudo da Prevalência de Mordida Cruzada em Pacientes
Odontopediátricos da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
3
Agradecimentos:
Agradeço a providencial ajuda, atenção e simpatia demonstrada pela minha
Orientadora Professora Doutora Maria João Feio Ponces Ramalhão e o meu Co-
Orientador Professor Doutor Jorge Manuel de Carvalho Dias Lopes, sem as quais este
trabalho não teria para mim tanta importância nem seria possível realiza-lo.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
4
Índice
Resumo ................................................................................................................. 5
Abstract ........................................................................................................................... 6
1. Introdução .............................................................................................................. 7
1.1 Etiologia ........................................................................................................................ 8
1.2 Diagnóstico ................................................................................................................. 10
1.2.1 Características clínicas .......................................................................................... 11
1.3 Tratamento ................................................................................................................ 13
1.3.1 Porquê da necessidade de um tratamento precoce das mordidas cruzadas? ..... 17
2. Material e métodos .............................................................................................. 18
2.1 Introdução ................................................................................................................. 18
2.2 Considerações éticas ................................................................................................. 19
2.3 Aferição do erro ........................................................................................................ 19
2.4 Questões de investigação ......................................................................................... 20
2.5 Metodologia .............................................................................................................. 21
2.5.1 Procedimentos clínicos ......................................................................................... 21
2.6 Ficha clínica ............................................................................................................... 22
2.7 Análise estatística ...................................................................................................... 23
3. Resultados ............................................................................................................ 24
4. Discussão de resultados ........................................................................................ 27
5. Conclusões ........................................................................................................... 28
6. Anexos .................................................................................................................. 29
7. Referências bibliográficas ....................................................................................... 34
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
5
Resumo: Objectivo: considerando a escassez de estudos nacionais que relacionam as modificações
ocorridas na fase da dentição mista, ambicionou-se avaliar a prevalência de mordida cruzada
posterior em pacientes da consulta de Odontopediatria na FMDUP. A importância reflecte-se
na necessidade de despistar/diagnosticar precocemente esta anomalia permitindo um melhor
tratamento, evitando-se possíveis sequelas decorrentes da manutenção desta alteração
funcional, como sejam problemas a nível da ATM, dos músculos e estética facial. Em abono do
diagnóstico e do tratamento é capital detectar a presença de factores etiológicos que possam
estar correlacionados.
Material e métodos: o estudo incluiu 71 crianças, 32 do sexo feminino e 39 do masculino. A
colheita de dados foi realizada por um único operador mediante o preenchimento de um
questionário elaborado para o efeito, em pacientes com idades compreendidas entre os 6 e os
14 anos. Apresentavam o primeiro molar em oclusão e em bom estado de conservação,
possibilitando assim uma correcta mensuração da dimensão transversal das arcadas dentárias.
Os dados recolhidos foram submetidos a testes de homogeneidade estatística em Stata 10®.
Efectuou-se uma pesquisa bibliográfica na Pubmed, limitada aos últimos 10 anos e aos idiomas
Português, Inglês e Espanhol, com as palavras-chave: prevalence of posterior crossbite,
posterior crossbite unilateral e bilateral, hábitos bucais; tendo sido recolhidos 25 artigos
associados e livros.
Resultados e Conclusões: A prevalência de mordida cruzada posterior foi de 21,1%. Valor que
se encontra dentro dos dados descritos na literatura. Verificou-se uma relação entre a mordida
cruzada posterior e a mastigação unilateral (p-value<10%). A dimensão transversal inter-molar
maxilar, nos casos com mordida cruzada posterior encontrava-se dentro dos parâmetros
normais relativamente aos dados proporcionados pelos estudos de McNamara
Palavras-chave: Mordida cruzada posterior, crianças, factores etiológicos, dentição mista
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
6
Abstract: Goal: the goal of this study is to analyze the transformations that occur in the mixed dentition.
This is a topic of interest because the number of national studies is relatively scarce. To
achieve this goal, the prevalence of the posterior crossed bite was studied in patients of
pediatric dentistry at FMDUP. This analyzes is of particular interest because the number of
national studies focusing on this topic is relatively scarce. Understanding better this pathology
is important because an early identification allows a better treatment and avoids potential
future problems. The identification of correlated etiologic factors is of high value for a better
diagnosis and treatment.
Materials and methods: this study is based on a sample of 71 children, of which 32 are female
and 39 are male, with ages ranging between 6 and 14 year old. The collection of the data was
done by the same individual, who filled a questionnaire for each patient. All patients had the
first molar in occlusion and well conserved, which allowed a more accurate measurement of
the transversal dimension of the dental arches. The data was analyzed in Stata 10® and various
homogeneity tests were performed. Additionally, a bibliographic search was run in PUBMED.
This search was confined to the last 10 years of publications written in Portuguese, English and
Spanish whose key-words were any of the following: prevalence of posterior crossbite,
posterior crossbite unilateral e bilateral, hábitos bucais. The bibliographic search yielded a
total of 25 articles and books.
Results and conclusions: The prevalence of the posterior crossed bite was 21.1%; this value is
within the values described in the literature. There was a relationship between posterior
crossbite and the type of unilateral chewing (p-value <10%). The inter-molar transverse
dimension in cases with posterior crossbite were within normal parameters for the data
provided by McNamara studies.
Key words: Posterior crossbite, children, etiolologic factors, mixed dentition
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
7
1. Introdução
Considerando que não são muitos os estudos na população portuguesa que
relacionam claramente as modificações ocorridas entre a fase da dentição mista e a
fase da dentição permanente, pretende-se com o presente estudo de cariz
investigatório avaliar a prevalência da mordida cruzada posterior numa população
odontopediátrica nacional.
A má oclusão é comum na generalidade da população infantil e adolescente.1-4
Frequentemente, requer longos e dispendiosos tratamentos correctivos, sendo que, é
deveras importante apostar no diagnóstico precoce e no tratamento preventivo ou
mesmo interceptivo.1,5
A mordida cruzada posterior é um dos tipos de má oclusão mais prevalente na
dentição decídua e mista.2,6-9 Apresenta uma prevalência superior na primeira
dentição, sendo justificado por vários autores com o facto de haver a uma maior
prevalência de hábitos succionais nas crianças dessas idades.10-12 Segundo Moyers,
esta anomalia oclusal foi definida como uma relação anómala vestíbulo-lingual entre
molares oponentes, pré-molares, ou ambos, em oclusão cêntrica.11 Em 2008, foi
sugerida por autores brasileiros11 uma nova classificação de mordida cruzada posterior
de modo a facilitar o diagnóstico e o posterior tratamento desta anomalia. Assim,
estes autores sugerem 4 grupos de classificação de mordida cruzada posterior: 1-
funcional; 2- esquelética ou dento-alveolar; 3- dentária; 4- mordida cruzada posterior
vestibular total. A mordida cruzada posterior esquelética diferencia-se ainda em
bilateral e unilateral, com e sem desvio mandibular. Esta última diferenciação é
também usada na mordida cruzada posterior dentária. Os autores consideram mais
didáctica esta nova classificação.11
Na dentição mista a prevalência apresentada por vários autores encontra-se
entre os 8 e os 23%.1,2,13 A forma mais comum de apresentação desta anomalia oclusal
é a mordida cruzada posterior unilateral a qual surge em 80 a 97% dos casos.14 Esta
anomalia não apresenta qualquer relação com o sexo ou com a idade da criança.1
A sua etiologia pode ser múltipla, pelo que se podem incluir factores estruturais,
musculares, funcionais e iatrogénicos.6,7,13,15,16
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
8
A importância major deste trabalho prendeu-se com o facto de esta ser uma
anomalia oclusal que raramente apresenta uma correcção espontânea1,3-5,7,13,17-22 pelo
que, o seu diagnóstico deverá ser realizado o mais precocemente possível de modo a
evitar sequelas que lhe possam estar associadas, tais como assimetrias do côndilo
mandibular e da eminência articular maxilar, que podem provocar assimetrias faciais,
parafuncionalidades musculares, actividade neuromuscular assimétrica, desvios da
linha média, má estética facial e dentária, desgastes diferenciados das estruturas
dentárias. 1,4,7,8,15,22-26 Planas, no seu livro de reabilitação oclusal, estabelece uma
correcção entre estas modificações e o tipo de mastigação presente, uma mastigação
unilateral. Justifica tal facto com a instalação de prematuridades do lado de trabalho, a
presença de cáries dolorosas ou restaurações incorrectas, ou inclusive uma mordida
cruzada. A mordida cruzada causa uma diminuição da dimensão vertical do lado
cruzado, aumentando os contactos proprioceptivos desse lado, levando desta forma à
instalação de uma mastigação unilateral. São sinais clínicos e radiográficos de uma
mastigação unilateral a presença assimétrica de tártaro e o aumento do espessamento
do ligamento periodontal dos dentes do lado de trabalho.27
Neste estudo, com o objectivo de avaliar a prevalência de mordida cruzada
posterior em crianças portuguesas, as quais apresentavam idades compreendidas
entre os 6 e 14 anos, e ainda num período de dentição mista, analisaram-se pacientes
da consulta de odontopediatria da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do
Porto (FMDUP). Foi efectuado o levantamento de dados clínicos em 71 crianças, das
quais 32 eram do sexo feminino e 39 do sexo masculino.
Este trabalho procurou ainda analisar a relação entre a mordida cruzada
posterior e alguns factores etiológicos nomeadamente a presença de hábitos bucais e
o tipo de mastigação. Aproveitou-se a oportunidade para estabelecer uma relação
comparativa entre as dimensões transversais maxilares obtidas neste estudo e as
apresentadas por McNamara. Finalmente, estudou-se a prevalência de má-oclusão na
população observada.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
9
1.1 Etiologia1,7,15
Como foi referido anteriormente, a mordida cruzada posterior pode apresentar
várias etiologias, as quais se englobam em estruturais, musculares, funcionais e
iatrogénicas.
a) Causas estruturais podem-se enumerar:
� a presença de uma maxila ou mandíbula muito larga ou muito estreito que
se vai traduzir numa oclusão transversal latero-posterior anómala;
� causas dentárias como sejam as agenesias unilaterais, o posicionamento
dentário incorrecto unilateral, as anomalias de forma dentária, desarmonia
dos sectores laterais segundo Bolton, a perda dentária causada por trauma
no sector lateral ou posterior, a geminação de um incisivo central superior
que provoca uma discrepância na forma da arcada, ou ainda uma infecção
ou um traumatismo que causou uma desordem a nível do crescimento ou
da erupção dentária.
� causas genéticas, infecciosas ou traumáticas, capazes de produzir uma
assimetria facial acompanhada de uma mordida cruzada posterior
unilateral.
b) Causas musculares:
� a atrofia ou hipertrofia assimétrica dos músculos faciais tem a capacidade
de produzir uma assimetria estrutural, podendo mesmo causar uma função
unilateral e assimetria crânio facial;
� certos comportamentos parafuncionais como a interposição lingual latero-
posterior ou a mordedura crónica da mucosa jugal, pode causar o
aparecimento de uma mordida cruzada.
c) Causas funcionais podem ser citadas por diversos motivos como:
� uma postura anómala cervico-espinhal durante o sono ou posição de
trabalho, como acontece em violinistas ou telefonistas;
� uma obstrução nasal unilateral;
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
10
Figura 1- Adaptada de Binder7, Linha exemplificativa da curva de Wilson Linha de realce da inclinação corono-vestibular dos dentes postero-superiores
� um desvio lateral mandibular funcional conhecido pela movimentação
transversal da mandíbula de uma posição cêntrica para uma posição de
conveniência.
Por vezes, quando se procede a um tratamento ortodôntico, se não for realizado
um correcto diagnóstico e um adequado controlo dos aparelhos (intra ou extra-orais)
pode-se, iatrogénicamente, causar anomalias oclusais nomeadamente a mordida
cruzada posterior. Estas são intituladas de causas iatrogénicas.
d) Como causas iatrogénicas podemos destacar:
� uma distalização incontrolada de um molar com um aparelho extra oral do
qual resulta um molar palatinizado;
� expansão exagerada da arcada com aparelhos de expansão rápida ou lenta;
� a utilização de um arco com forma incongruente em relação ao tipo facial
pode também provocar uma mordida cruzada posterior.
1.2 Diagnóstico 1,3,10,18,24
Este deve ser efectuado o mais precocemente possível de modo a evitar a
instalação de hábitos incorrectos na musculatura e alterações da estrutura esquelética,
bem como desgastes dentários diferenciados.
É importante fazer um diagnóstico diferencial entre os vários tipos de mordidas
cruzadas uni ou bilaterais, bem como os factores etiológicos que lhes possam estar
associados.7 Assim, o diagnóstico deve ser o mais preciso e minucioso possível. A
tabela I pretende ilustrar o tipo de mordidas cruzadas que podemos encontrar. É de
salientar ainda a importância da distinção dos conceitos endoalveolia e endognatia.
Através da observação clínica da curva de Wilson (Figura 1) pode avaliar-se o grau de
endoalveolia presente. Já a endognatia é
diagnosticada através da análise cefalométrica
efectuada com base numa telerradiografia de facial
em incidência postero-anterior.7
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
11
Várias são as análises existentes para a caracterização das anomalias oclusais
dento-alveolares transversais nomeadamente a análise de Korkaus. De referir ainda a
análise cefalométrica frontal de Ricketts que permite avaliar:
1. as dimensões transversais da maxila e da mandíbula, verificando a
existência ou não de uma discrepância transversal não só esquelética como
dento-alveolar; 7
2. a coincidência ou não das linhas médias dentárias e esqueléticas. 7
Anomalias transversais
Mordida Cruzada
Unilateral (MCU)
A) MCU apresenta a maxila normal e endoalveolia
B)MCU apresenta a maxila normal e uma endoalveolia
assimétrica
C) MCU apresenta endognatia maxilar simétrica
Mordida Cruzada
Bilateral (MCB)
A) MCB apresenta endognatia maxilar simétrica
B) MCB apresenta endognatia maxilar e bucoversão das apófises
alveolares maxilares
C) MCB apresenta endognatia maxilar e macromandibulia
Tabela I Classificação da mordida cruzada posterior
1.2.1 Características clínicas1,7
Mordida cruzada posterior unilateral:
A. A maxila apresenta um tamanho normal e endoalveolia (Fig. 2A)
Não há nenhuma alteração óssea;
Quando analisada a oclusão do paciente verifica-se que, apesar de existir
compressão simétrica dento-alveolar, a mordida cruzada se encontra limitada a
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
12
um lado. Tal acontece devido ao deslocamento lateral da mandíbula em
oclusão, observando-se um desvio da linha média.
B. A maxila apresenta um tamanho normal e uma endoalveolia assimétrica (Fig.
3A)
Não há nenhuma alteração óssea do maxilar, mas uma das apófises posteriores
dento-alveolares encontra-se restrita, levando a mordida cruzada unilateral
para o lado da compressão.
A diferença de diagnóstico entre este e o primeiro caso é que a mordida
cruzada unilateral persiste quando a mandíbula é corrigida para uma relação
cêntrica.
C. Apresenta endognatia maxilar simétrica (Fig. 4A)
O paciente apresenta alteração esquelética do maxilar superior, que se
expressa em compressão maxilar, para além de que as apófises dento-
alveolares estão numa relação desigual com o osso basal. Uma das apófises
dento-alveolares apresenta uma relação harmoniosa, surgindo a mordida
cruzada desse lado, enquanto que do outro lado se encontra vestibularizada,
apresentando desta forma uma oclusão normal.
Mordida Cruzada Bilateral:
A. Apresenta endognatia maxilar simétrica (Fig. 5A)
A relação entre as apófises alveolares e o osso basal é harmoniosa;
Se a relação entre as apófises alveolares e o osso basal for harmoniosa,
clinicamente observar-se-á uma verdadeira mordida cruzada bilateral.
B. Apresenta endognatia maxilar e bucoversão das apófises alveolares maxilares
de modo a compensarem o défice de osso basal. (Fig. 6A)
Clinicamente o paciente não apresentará mordida cruzada bilateral, mas a
observação do maxilar superior demonstrará um desenvolvimento deficiente.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
13
Este é observado pela presença de um palato muito profundo e estreito, o qual
tem indicação para disjunção.
C. Apresenta endognatia maxilar e macromandibulia;
A mordida cruzada bilateral é sobretudo causada pelo desenvolvimento
excessivo da mandíbula e não pela compressão do osso maxilar. Este facto
dificulta o seu tratamento.
1.3 Tratamento 1,7,15
Como já foi descrito previamente, esta anomalia oclusal, muito raramente, se
corrige sem intervenção ortodôntica. Assim, após um correcto diagnóstico é
importante adequar a cada tipo de anomalia o tratamento mais ajustado, seguro e
estável a longo prazo.
Mordida Cruzada Posterior Unilateral (Fig.2)
A. A Maxila apresenta um tamanho nornal e endoalveolia das apófises alveolares
O tratamento deste tipo de anomalia pode ser realizado com:
a) aparelhagem removível: aparelho de Hawley com um parafuso de expansão
da linha média – a activação é feita 2 vezes por semana rodando ¼ de volta
de cada vez;
b) aparelho fixo: quadri-hélice 28 (Fig.7B) aparelho fixo palatino aplicado aos
molares superiores com dois braços laterais – a sua activação pode ser feita
utilizando um alicate de três bicos.
Estes dois aparelhos realizam apenas expansões dento-alveolares. Neste caso
particular a expansão é realizada de forma simétrica, o que permite que a mandíbula
se desloque para uma oclusão em relação cêntrica.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
14
Adaptado de Castaner-Peiro 1
Fig. 2 A – Mordida cruzada unilateral com normomaxilia e endoalveolia
B – Expansão dento-alveolar com o quadri-hélice
B. Maxila normal e endoalveolia assimétrica (Fig.3)
O tratamento deste tipo de anomalia é projectado para produzir a expansão
assimétrica da apófise dento-alveolar constrita. Esta pode ser efectuada com o
auxílio:
a) Aparelhagem removível: aparelho Hawley com um escudo lingual do lado que
não está a ser expandido, fornecendo a ancoragem necessária para expandir o
lado oposto.
b) Aparelho fixo: quadri-hélice (Fig.7B). Para realizar uma expansão assimétrica
com este aparelho é necessário efectuar uma adaptação. Essa modificação
consiste em deixar um dos braços adaptado à anatomia das faces palatinas dos
pré-molares e canino superiores do lado em que não se pretende produzir
expansão. Deste modo a ancoragem vai permitir o deslocamento das
estruturas do lado oposto.
Adaptado a partir de Castaner-Peiro 1
Fig.3 A – Mordida cruzada posterior com normomaxilia e endoalveolia assimétrica
B – Expansão dento-alveolar com quadri-hélice
C. Apresenta endognatia maxilar (Fig. 4)
O tratamento deste tipo de anomalia é destinado a produzir:
Numa primeira fase de tratamento usar-se-á o quadri-hélice (Fig. 7B) para
corrigir a inclinação das apófises dento-alveolares que se encontram
vestibularizadas, ou seja, que não apresentem uma correcta relação entre estes
e o osso basal. O quadri-hélice (fig. 7B) permitirá repor a harmonia dento-
alveolar e, deste modo, a mordida cruzada unilateral converter-se-á em mordida
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
15
cruzada bilateral com compressão maxilar e relação harmoniosa das apófises
dento-alveolares com o osso basal.
Seguidamente, uma expansão da base maxilar deverá ser realizada o mais
brevemente possível, sendo recomendável a presença dos primeiros molares já
erupcionados. A opção de tratamento pode passar pelo uso de um expansor de
Haas (fig. 7A), este é fixo por quatro bandas suportando um parafuso de
expansão central, o qual permitirá abrir a sutura palatina quando activado. Numa
observação intra-oral, poderá ser perceptível a presença de um diastema central.
A realização deste tratamento ortopédico deve ocorrer antes do pico da
puberdade ser atingido, de modo a permitir a correcção da endognatia maxilar
sem recurso à cirurgia ortognática.
Adaptado de Castaner-Peiro 1
Fig 4. A – Mordida cruzada posterior unilateral com endognatia maxilar e endoalveolia
B – Expansão dento-alveolar com o quadri-hélice
C – Expansão a nível da sutura palatina com um disjuntor de Haas
Mordida Cruzada Bilateral
A. Apresenta endognatia maxilar (Fig. 5).
O tratamento desta anomalia é projectado para obter a expansão maxilar
esquelética de forma simétrica:
a) O aparelho mais indicado é o expansor de Haas (fig. 7A), para abrir a sutura
médio-palatina.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
16
Adaptado de Castaner-Peiro 1
Fig.5 A – Mordida cruzada bilateral com endognatia maxilar
B – Disjunção palatina com um disjuntor de Haas
B. Apresenta endognatia maxilar e bucoversão das apófises alveolares (Fig. 6).
Os critérios de tratamento serão os seguintes:
a) posicionamento correcto das apófises dento-alveolares que se encontram
em bucoversão. Este será realizado usando um quadri-hélice modificado, (Fig.
7C) facto que irá acentuar uma mordida cruzada bilateral e permitirá, desta
forma, analisar a real compressão maxilar.
b) aquando da erupção dos molares superiores usar-se-á um disjuntor de
Haas para abrir a sutura média-palatina.
Adaptado de Castaner-Peiro 1
Fig. 6. A – Mordida cruzada bilateral com endognatia maxilar e apófises alveolares em bucoversão
B – Compressão dento-alveolar com o Quadri-hélice
C – Expansão da sutura palatina com disjuntor de Haas
C. Apresenta uma endognatia maxilar e uma macromandíbulia
Os tratamentos ortopédicos são possíveis numa idade precoce, apesar de uma
elevada percentagem destes casos requerer uma intervenção cirúrgica.
Os critérios do tratamento serão os seguintes:
a) descompensação dento-alveolar na região posterior da maxila, usando, se
necessário, um Quadri-Hélice modificado (Fig. 7C) para proceder à
compressão;
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
17
b) apesar da tenra idade é possível, durante a primeira fase da dentição mista,
através de um tratamento ortopédico com o objectivo de expandir a maxila,
utilizar um expansor de Haas (Fig.7A) para abrir a sutura médio-palatina;
1. Se necessário, procede-se ao alinhamento dentário com um aparelho fixo
bimaxilar;
2. Reavaliação quanto à permanência da necessidade de uma futura cirurgia
Fig.7 A- disjuntor de Haas – expansor rápido da sutura média palatina, a partir de Binder, 20047
B - quadri-Hélice – utilizado para expansões dento-alveolares, a partir de Binder 20047
C - quadri-Hélice modificado – usado para proceder compressões dento-alveolares, a partir de
Langlade, 194415
1.3.1 Porquê a necessidade de um tratamento precoce das mordidas
cruzadas? 1,2,4,7,8,14,21,25,29,30
Ao longo de todo o trabalho tem-se vindo a referir que o tratamento destas
anomalias oclusais deve ser efectuado o mais breve e precocemente possível, e essa
persistência tem inúmeras razões de ser como:
� evitar alterações progressivas e irreversíveis tanto esqueléticas como dos
tecidos moles; 1,2,7,21
� diminuir as discrepâncias esqueléticas e proporcionar um ambiente mais
favorável ao normal desenvolvimento; 4,8,14
� melhorar a função oclusal; 2,21 nomeadamente permitindo promover a
mastigação bilateral. Nas mordidas cruzadas unilaterais é típica a mastigação
unilateral para o lado cruzado produzindo-se um acentuado desgaste dentário
desse lado; 29
� potenciar e possivelmente diminuir a duração, da segunda fase de
tratamento ortodôntico; 25,30
A B C
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
18
� melhorar a estética facial, favorecendo o desenvolvimento psico-social do
paciente.1
Contudo, a opção por uma implementação precoce de um tratamento deve
depender da gravidade da má oclusão e da possível estabilidade do tratamento, como
é o caso de crianças que apresentam uma respiração oral predominante. Do mesmo
modo, devem-se escalonar as anomalias pela sua possibilidade ou impossibilidade de
auto-correcção.
2. Material e Métodos 2.1 Introdução
Para a realização deste trabalho de investigação procedeu-se à recolha de
dados em pacientes odontopediátricos, a quem foram prestados serviços médico-
dentários, na FMDUP. O levantamento foi efectuado nas aulas de Odontopediatria do
4º e 5º anos.
Toda a recolha de dados foi elaborada por um único operador, o autor deste
trabalho, o qual apresentava formação e conhecimentos na área. Antes do início das
tarefas, a metodologia seguida foi treinada e aferida.
O método de trabalho consistiu no preenchimento de um questionário
realizado propositadamente para o efeito. Os dados recolhidos foram posteriormente
organizados em ficheiros individuais de Excel®i e tratados estatisticamente. Com os
dados introduzidos no Excel® procedeu-se a uma análise estatística transversal, a qual
consistiu na avaliação da prevalência da mordida cruzada.
Amostra:
Os critérios primários de selecção da amostra foram não só a presença dos
quatro primeiros molares definitivos presentes na arcada e em oclusão, mas também a
ausência de qualquer síndrome que pudesse afectar o seu normal desenvolvimento
físico e bucofacial destas crianças. Além disso, nos pacientes considerados impunha-se
a presença de dentição mista e serem de raça caucasiana. A recolha de dados foi
i Microsoft Office Excel, versão ©, Microsoft Corporation
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
19
realizada em crianças de ambos os sexos. A idade dos pacientes objecto da análise
variou entre os 6 e os 14 anos de idade.
Revisão da literatura:
Na efectivação deste trabalho procedeu-se ainda a uma revisão da literatura
acerca das prevalências mundiais da anomalia avaliada, a mordida cruzada posterior.
Para essa pesquisa bibliográfica, que foi limitada aos últimos 10 anos e aos idiomas
Português, Inglês e Espanhol, recorreu-se à Pubmed com as palavras-chave: prevalence
of posterior crossbite, posterior crossbite unilateral bilateral, bucal habits. Recolheram-
se 25 artigos associados.
2.2 Considerações éticas
O projecto de investigação “Estudo da prevalência de mordida cruzada em
pacientes odontopediátricos da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do
Porto” obteve a aprovação da Comissão de Ética da referida faculdade. (anexo 1, pág.
30 e 31)
Elaborou-se um consentimento informado específico para este trabalho, no
qual era requerida a autorização do responsável pelo paciente e onde foram
explicitados o objectivo, o método, os benefícios previstos e o eventual desconforto
inerente aos procedimentos a empreender.
Neste documento, autorizava-se a utilização dos dados recolhidos em trabalhos
de investigação que apresentassem utilidade ou relevância assegurando, no entanto, a
manutenção do seu carácter anónimo. (anexo 1, pág.(s) 30 e 31)
2.3 Aferição do erro
Para aferição da metodologia de trabalho foi escolhido um grupo aleatório de
10 alunos da FMDUP, em quem foram realizadas as medições em 10 oportunidades
diferentes. O processo foi realizado ao longo de 4 semanas, em que as medições foram
intercaladas por diversos dias e efectuadas a alturas diferentes do dia (manhã, inicio e
final da tarde) e da semana (segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira). Desta forma, foi
também, tido em linha de conta alguma fadiga inerente ao operador e que pudesse
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
20
influenciar as avaliações. Estas medições foram posteriormente comparadas e
determinou-se o erro do método (EM) pela seguinte fórmula:
EM= [-1.96* σerro; +1.96* σerro]
σerro=√∑di2/n
Esta fórmula é um desvio padrão (d é diferença média entre a primeira e
medição subsequente). Este assume que não deveria existir qualquer diferença entre
as medições efectuadas no mesmo indivíduo. Por conseguinte, esta fórmula fornece
uma avaliação do significado clínico das medições. Espera-se deste modo, que
qualquer pequena diferença entre a primeira e as medições seguintes se encontre no
intervalo de confiança obtido pelo desvio padrão.
O desvio padrão para este caso encontrou-se dentro do intervalo [-0,6;0,6] para
ambas as arcadas. Este dado permitiu afirmar que 95% das “segundas” medições se
encontraram no intervalo calculado. Pode-se concluir, desta forma, que o erro de
medição não tem significância, uma vez que as medições efectuadas apresentaram um
valor absoluto muito superior ao do erro, e considerando que estas foram observadas
numa escala milimétrica, um erro inferior à unidade base não tem relevância.
2.4 Questões de investigação
No presente estudo procurou estudar-se a prevalência da mordida cruzada
numa amostra de crianças portuguesas. Tentou responder-se às questões de
investigação que foram equacionadas da seguinte forma:
1- Determinação da prevalência da mordida cruzada na população estudada.
Questão: Haverá diferença entre a prevalência da mordida cruzada numa população
nacional e outras populações estudadas mundialmente?
Hipótese 1 (H1): na população nacional regista-se diferença na prevalência da mordida
cruzada
Hipótese 0 (H0): não existe diferença na prevalência da mordida cruzada na população
nacional relativamente aos dados internacionais
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
21
2- Relação entre a mordida cruzada e a mastigação unilateral.
Questão: Haverá alguma relação entre mordida cruzada unilateral e o tipo de
mastigação?
Hipótese 1 (H1): nesta população nos casos de mordida cruzada unilateral é mais
frequente a mastigação unilateral.
Hipótese 0 (H0): nesta população não se encontra qualquer associação entre a
mordida cruzada e a mastigação unilateral.
3- Aplicação dos dados fornecidos pelos estudos de McNamara relativamente a
avaliação clínica da dimensão transversal das arcadas na população portuguesa com
mordida cruzada
Questão: Serão aplicáveis à população nacional os parâmetros clínicos apresentados
por McNamara e que permitem dividir em três grupos (arcadas estreitas, normais e
largas) a população quanto à dimensão transversal da arcada?
Hipótese 1 (H1): na população nacional os resultados obtidos divergem dos
valores tabelados por McNamara.
Hipótese 0 (H0): na população nacional os resultados encontrados sobrepõem-
se dos valores sugeridos por McNamara.
2.5 Metodologia
No protocolo de recolha de dados seguido neste trabalho recorreu-se ao exame
clínico dos pacientes que procuraram a consulta de Odontopediatria da FMDUP entre
os meses de Março e Junho. Seguidamente, os dados recolhidos foram tratados
estatisticamente.
2.5.1. Procedimentos clínicos
Para a execução deste trabalho, foi necessário observar e preencher a ficha
clínica presente no anexo 2 (pág.(s) 32 e 33). Os pacientes dispunham no seu processo
clínico de uma ortopantomografia que foi inicialmente usada numa selecção genérica
prévia, permitindo analisar a situação geral da cavidade oral. Através deste exame foi
possível não só a avaliação das estruturas duras e moles que compõem a cavidade oral
mas também a fase eruptiva dos dentes permanente e principalmente a comparação
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
22
bilateral de estruturas permitindo, desta forma, avaliar a simetria ou assimetria das
mesmas.
A avaliação clínica dos pacientes foi feita com auxílio de um espelho intra-oral
que permitiu uma visualização da Classe molar em posição de intercuspidação máxima
(PIM). Para a identificação da Classe molar determinou-se por 3 vezes a mesma,
pedindo à criança para abrir e voltar a fechar a boca. Este método foi realizado para
aferir a PIM. No caso de haver diferenciação entre as observações optava-se por guiar
o movimento e só depois avaliar.
Já para determinar as medidas a nível das arcadas recorreu-se à utilização de
um Ortómetro de Korkaus®ii. Este foi utilizado para medir a distância transversal das
arcadas. Com o paciente colocado em abertura máxima e com as pontas deste
dispositivo posicionadas nas referências, procedeu-se às respectivas medições. Na
arcada maxilar mediu-se a distância inter-molar não só, ao nível da porção mais
gengival do sulco palatino do 1º molar como também, ao nível das pontas das cúspides
mesio-palatinas dos mesmos dentes. Na arcada inferior a distância inter-molar foi
medida ao nível do sulco central dos 1ºs molares permanentes inferiores. Determinou-
se a distância inter-molar transversal em ambas as arcadas dentárias. Esta foi
efectuada a nível dos primeiros molares permanentes.
Estas medições tinham especial interesse nos pacientes com mordida cruzada,
uma vez que é um dos parâmetros considerados como relevante nesta anomalia
oclusal, pois permite conhecer as relações de tamanho entre as arcadas.
Os dados determinados clinicamente foram transferidos e registados na ficha clínica
(anexo 2, pág (s) 32 e 33).
2.6 Ficha Clínica (anexo 2)
Na ficha clínica, que foi elaborada especificamente para a prossecução deste
trabalho, foram registados todos os itens relevantes para a sua realização. Esta ficha
era constituída por um cabeçalho onde estava presente o código do paciente, a idade
e o sexo, não havendo qualquer referência ao nome do paciente. Deste modo,
manteve-se o carácter anónimo da amostra. Com efeito, era constituída por itens
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
23
como: código do paciente, idade e sexo, Classe molar direita e esquerda, e Classe de
Angle. Os itens referenciados previamente eram de carácter obrigatório na ficha
individual de cada paciente. Também se procedeu à avaliação do tamanho da língua,
tipo de mastigação uni ou bilateral e à identificação da presença de hábitos bucais.
O tamanho da língua foi avaliado segundo parâmetros clínicos de observação,
era tido em conta a presença ou não de edentações no bordo postero-lateral da
língua, pedia-se à criança para colocar a língua apoiada nos dentes e, de seguida, que a
encostasse ao palato. As edentações postero-laterais, o transbordo excessivo da língua
sobre a superfície oclusal dos dentes e a exuberância de tecido lingual aquando da
colocação da ponta da língua no palato, eram parâmetros indicadores de
macroglossias. Por sua vez, as microglossias foram consideradas quando, apesar de
não apresentar nenhuma limitação de freio lingual a criança não conseguia apoiar a
língua no palato, o apoio nas cúspides não acontecia e era visível um espaço entre a
arcada dentária e a língua. Considerava-se como normal sempre que nenhuma das
situações anteriormente descritas fosse perceptível. A avaliação dos dois outros
parâmetros, mastigação e hábito bucal, dependia do questionamento directo à criança
e da realização do teste da pastilha elástica, ao mesmo tempo que, se observava por
exemplo, o estado das unhas da criança, factor indicador de onicofagia.
Outros itens, também presentes neste documento eram a presença de mordida
aberta anterior e/ou posterior uni ou bilateral; de mordida cruzada anterior e/ou
posterior uni ou bilateral. Após a observação a presença da sobremordida aumentada
era apontada no respectivo local da ficha.
Neste trabalho, houve dados que apesar de determinados e registados
acabaram sendo dispensados, uma vez que a amostra final foi escassa e os estudos
relacionados com esses dados não iriam permitir apresentar qualquer significado
estatístico ou interesse para este projecto.
2.7 Análise estatística
Os dados recolhidos e introduzidos no programa Excel® foram analisados no
programa de análise estatística Stata 10® para a execução do teste de homogeneidade
ii Dentaurum ®, Germany
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
24
de Pearson (Pearson’s homogeneity chi-square test), da amostra segundo
determinados parâmetros.
Com os dados introduzidos no Excel® procedeu-se a uma análise estatística
transversal, a qual consistiu na avaliação da prevalência da mordida cruzada posterior
e a sua relação com alguns factores como o sexo e a idade, Classe molar e relação
incisiva, distância inter-molar, tipo de mastigação e a influência de hábitos bucais no
acréscimo da prevalência de pacientes com mordida cruzada.
3. Resultados
Após a análise estatística dos resultados pôde-se verificar que das 71 crianças
que participaram neste estudo apenas 15 apresentavam a anomalia oclusal mordida
cruzada posterior.
Foi realizada uma análise de todos os parâmetros de forma a verificar se existia
alguma correlação destes com o sexo e com a idade. Os resultados obtidos não
apresentaram significância quanto ao sexo ou à idade da criança (p-value > 0,5)
Resultados referentes à 1ª questão de investigação:
Nesta população global a prevalência de mordida cruzada posterior foi de 21,1 %.
Nas crianças com má oclusão, 24,6% apresentavam mordidas cruzadas das quais:
a. 31,25% mordida cruzada posterior unilateral;
b. 0% mordida cruzada posterior bilateral;
c. 6,25% mordida cruzada anterior;
d. 62,5% mordida cruzada posterior e anterior;
e. 0% mordida cruzada total.
Resultados referentes à 2ª questão de investigação:
Estabelecida a comparação de dados entre crianças com mordida cruzada
posterior e crianças sem esta anomalia oclusal, verificou-se significância para a
presença de mastigação unilateral. De notar ainda que a mastigação unilateral
coincidia maioritariamente com o lado cruzado. Com p=0,1 verificou-se que há uma
significativa evidência de que crianças com mordida cruzada posterior unilateral
apresentam uma mastigação também ela unilateral. (Tabela II)
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
25
Tabela II – Teste de homogeneidade entre presença ou ausência de mordida cruzada posterior e tipo de mastigação.
Resultados referentes à 3ª questão de investigação:
Após a comparação dos valores das medições transversais das arcadas, com a
tabela de McNamara (tabela III), obtiveram-se os seguintes resultados nas crianças
com mordida cruzada posterior:
- 73,3% das crianças apresentavam dimensão transversal da arcada maxilar
normal
- 20% das crianças apresentavam dimensão transversal da arcada maxilar
diminuída
- 6,7% das crianças apresentavam dimensão transversal da arcada maxilar
aumentada
Tabela III- Retirada do livro McNamara, 2001, valores transversais médios por idades da distância inter-molar maxilar
Tipo de Mastigação Unilateral Bilateral
C/ Mordida Cruzada Posterior 10 5
66,7% 33,3%
S/ Mordida Cruzada Posterior 13 43
23,2% 76,8%
Teste 10,1999 DF 1 p-value 0,10%
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
26
Foram ainda obtidos outros resultados como:
Nas 71 crianças examinadas a prevalência de más oclusões foi de 91,5% e de
oclusão normal 8,5%.
A Classe molar com maior prevalência, em crianças com mordida cruzada, quer
direita, quer esquerda foi a Classe II com uma prevalência de 66,7%, seguida da Classe I
com 26,7% e a Classe III com 6,7%
Já em crianças sem mordida cruzada posterior verificou-se uma maior
incidência de Classe I molar direita e esquerda, com 49,1% e 57,9% respectivamente.
A Classe de Angle mais prevalente em pacientes com mordida cruzada
posterior foi a Classe II divisão 1 com uma prevalência de 53,3%. Nos pacientes que
não apresentavam mordida cruzada posterior, verificou-se que a Classe de Angle mais
prevalente foi a Classe I com uma prevalência de 40,4% seguida da Classe II divisão 1
com 36,8%
A presença de hábitos bucais não apresentou nenhuma correlação significativa
com a presença ou ausência de mordida cruzada. Com efeito, nos pacientes com
mordida cruzada a prevalência de hábitos bucais foi de 53,3% e nos demais pacientes
de 40,3%. (p=0,8). (Tabela IV)
Hábito Bucal Presença Ausência
C/ Mordida Cruzada Posterior 8 7
53,3% 46,7%
S/ Mordida Cruzada Posterior 23 33
41,1% 58,9%
Teste 0,8163 DF 1 p-value 36,60%
Tabela IV – Teste de homogeneidade entre a presença e ausência de mordida cruzada posterior e a presença e ausência de hábito bucal
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
27
4. Discussão de Resultados
O presente estudo, assim como todos os estudos sobre a má oclusão, são
importantes para a identificar situações problemáticas que venham a ter repercussões
no crescimento. Ajudam a formular hipóteses para lidar com os principais factores
associados à má-oclusão. Todavia, a interpretação dos resultados deverá ser feita com
cautela, pois deve-se ter em conta variáveis como: os objectivos específicos de cada
trabalho, o tamanho da amostra, as idades, a subjectividade inerente ao examinador.
Não se deve negligenciar que o presente estudo teve por base uma amostra
consideravelmente pequena, daí que, seja importante ter em linha de conta a
possibilidade de os resultados estarem de certa forma deturpados.
1ª Questão de Investigação
Quanto ao principal objectivo deste trabalho, pôde-se verificar uma
sobreposição entre resultados previamente obtidos e referidos por outros autores. Por
conseguinte, obteve-se uma prevalência de mordida cruzada posterior na ordem dos
21,1%, valor que se encontra no intervalo de confiança dado para esta anomalia, ou
seja, 8 – 23%.1,2,13 De referir, ainda, que possivelmente relacionada com a dimensão da
amostra, não se encontrou qualquer caso de mordida cruzada posterior bilateral. Com
efeito, em estudos mais vastos a prevalência da mordida cruzada bilateral ronda os 10-
15% das mordidas cruzadas. 29
2ª Questão de Investigação
Neste estudo, comprovou-se a relação entre a mordida cruzada posterior e a
presença de uma mastigação maioritariamente unilateral para o lado que está
cruzado.1 De acordo com os conceitos descritos por Pedro Planas, estes resultados
vieram corroborar as expectativas uma vez que, segundo este autor como do lado
cruzado há uma diminuição da dimensão vertical, existe uma maior tendência para
que a mastigação se efectue para esse lado.13
3ª Questão de Investigação
Relativamente aos resultados do estudo comparativo das dimensões
transversais inter-molares desta população, quando comparados com os valores
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
28
apresentados por McNamara, verificou-se que maioritariamente se enquadraram na
média e desvio padrão destes: 73,3% a nível maxilar.6,10
Tal resultado não foi de encontro às expectativas uma vez que, se esperava
encontrar uma maior percentagem casos apresentando de diminuição da dimensão
transversal da arcada maxilar, nos casos com mordida cruzada posterior.
Este resultado, do presente estudo, não pôde ser comparado e discutido com
estudos prévios, uma vez que não foram encontrados estudos com as mesmas
variáveis. No entanto, esta marcada sobreposição de resultados pode estar por um
lado, relacionada com a dimensão diminuída da amostra e, por outro lado com o facto
de o estudo de McNamara e seus colaboradores terem abordado uma população mista
(Americana e Europeia). As quais possível apresentam características diferentes da
população nacional.10
5. Conclusões
Tendo em linha de conta as limitações apresentadas neste estudo, os resultados
obtidos permitiram chegar às seguintes conclusões:
� A prevalência de mordida cruzada posterior na amostra nacional foi de
21,1%,
� Verificou-se uma relação significativa entre mordida cruzada posterior e a
mastigação unilateral para o lado da mordida cruzada, apresentando uma
significância de p-value <10%;
� As dimensões transversais maxilares inter-molares obtidas nas mordidas
cruzadas posteriores enquadraram-se dentro dos valores considerados
normais apresentados por McNamara
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
29
Anexos
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
30
CONSENTIMENTO INFORMADO
Autorização para pacientes odontopediátricos:
O responsável pelo paciente ________________________________________
tendo sido devidamente informado sobre os conteúdos destes estudos
coordenados pela Prof. Dr.ª Maria João Ponces com o apoio da
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, desejo que
_________________________________________________ por quem sou
legítimo responsável seja nele incluído respondendo a todas as questões
propostas e realizando todos os exames que me sejam indicados.
Objectivo do estudo:
• Consiste em avaliar a prevalência de má oclusão em crianças
odontopediátricas mediante a relação de vários factores.
Métodos:
• Preenchimento da ficha médico-dentária;
• Exame clínico da cavidade oral;
• Registo dos dados clínicos e fotográficos (sem custos para o
paciente).
Benefícios previstos:
• Aumento do conhecimento da prevalência de má oclusão em
pacientes odontopediátricos, bem como oferta de rastreio. A
população beneficiará por ser então possível inferir as
necessidades de tratamento através do presente estudo.
Eventual desconforto:
• mediante exame clínico e fotográfico da cavidade oral. Serão tidas
em conta as regras bioéticas utilizadas para este tipo de
procedimentos.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
31
Compreendi a explicação que me foi dada e a oportunidade do
estudo.
A informação que foi prestada versou os objectivos, os métodos, os
benefícios previstos e o eventual desconforto.
Sei que posso abandonar o estudo e que não terei que suportar
qualquer prejuízo nem despesas de participação.
Mais autorizo que os dados deste estudo sejam utilizados para
outros trabalhos científicos desde que jamais percam o seu carácter
anónimo.
Quaisquer outros exames auxiliares de diagnóstico que se tornem
necessários, inserindo-se fora do âmbito deste estudo deverão ser
suportados pelo paciente.
Porto, ____/____/2010
Assinatura do responsável pelo paciente:
Pelos Investigadores responsáveis: ___________________________________________________
A Coordenadora (Prof. Doutora Maria João Ponces)
___________________________________________________ A aluna (Margarida Dias)
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
32
Ficha Clínica
Pré-requisitos: Os pacientes requeridos para este trabalho:
• Deverão apresentar, pelo menos, o 1º molar permanente erupcionado em
plano oclusal;
• Não deverão apresentar qualquer anomalia dentária;
• Não deverão apresentar qualquer síndrome;
IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE: Código do Paciente: _______ Idade:________ Sexo : Feminino Masculino AVALIAÇÃO CLÍNICA:
• Classe Oclusal:
Classe Molar Direita: Classe I Classe II Classe III Distância: 1 pré-molar ½ pré-molar Esquerda: Classe I Classe II Classe III Distância: 1 pré-molar ½ pré-molar Classificação de Angle: Classe I Classe II divisão I Classe II divisão II Classe III
• Tipo de Mordida:
Mordida Aberta Anterior Mordida Aberta Posterior Mordida Cruzada Posterior Unilateral Mordida Cruzada Posterior Bilateral Quais os dentes cruzados__________________________________________________ Mordida Cruzada Anterior Unilateral Mordida Cruzada Anterior Bilateral Quais os dentes cruzados __________________________________________________ Distância Intermolar das Arcadas: Maxilar ___________ Mandibular___________ Sobremordida Anterior Vertical Sobremordida Anterior Horizontal
• Hábitos Bucais:
Sim Não Qual?________________________________________
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
33
• Avaliação da Língua:
Normal Macroglossia Microglossia
• Mastigação:
Normal Unilateral
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
34
Referências Bibliográficas:
1. Castaner-Peiro, A., Interceptive orthodontics: the need for early diagnosis and
treatment of posterior crossbites. Med Oral Patol Oral Cir Bucal, 2006. 11(2): p. E210-4.
2. Andrade Ada, S., et al., Posterior crossbite and functional changes. A systematic
review. Angle Orthod, 2009. 79(2): p. 380-6. 3. Warren, J.J., et al., Effects of nonnutritive sucking habits on occlusal
characteristics in the mixed dentition. Pediatr Dent, 2005. 27(6): p. 445-50. 4. Castelo, P.M., et al., Facial dimensions, bite force and masticatory muscle
thickness in preschool children with functional posterior crossbite. Braz Oral Res, 2008. 22(1): p. 48-54.
5. Uysal, T., A. Yagci, and S.I. Ramoglu, Dental maturation in patients with
unilateral posterior crossbite. World J Orthod, 2009. 10(4): p. 383-8. 6. Proffit, Contemporary Orthodontics. 4 th ed ed. 2007, St. Louis: Mosby Elsivier.
p.751. 7. Binder, R.E., Correction of posterior crossbites: diagnosis and treatment. Pediatr
Dent, 2004. 26(3): p. 266-72. 8. Castelo, P.M., et al., Maximal bite force, facial morphology and sucking habits
in young children with functional posterior crossbite. J Appl Oral Sci. 18(2): p. 143-8.
9. Rilo, B., et al., Unilateral posterior crossbite and mastication. Arch Oral Biol, 2007. 52(5): p. 474-8.
10. Jr. MacNamara, J., Treatment of patients in the mixed dention. in Graber 2 edition ed., 2005, Orthodontics: current principles and techniques p.548-577.
11. Arno Locks, A.W., Daltro Eneas Ritter, Gerson Luiz Ulema Ribeiro,Luciane Macedo de Menezes, Carla D'Agostini Derech, Roberto Roch, Mordida cruzada
posterior: uma classificação mais didática. R Dental Press Ortondon Ortop Facial, 2008. 13: p. 146-158.
12. Daniel Ibrahim Brito, P.F.D., Rogerio Gleiser, Prevalência de más oclusões em
crianças de 9 a 12 anos idade da cidade de Nova Friburgo. R Dental Press Ortondon Ortop Facial, 2009. 14 nº 6: p. 118-124.
13. Sidlauskas, A. and K. Lopatiene, The prevalence of malocclusion among 7-15-
year-old Lithuanian schoolchildren. Medicina (Kaunas), 2009. 45(2): p. 147-52. 14. A. S. Andrade, M.B.D.G., M. Derossi, G. H. Gameiro, Electromyographic Activity
and Thickness of Masticatory Muscles in Children with Unilateral Posterior
Crossbite. Clin Anat, 2009. 22: p. 200-2006. 15. Langlade, M., Optimisation therapeutique de l' incidence transversale. des
occlusions croisees unilaterales posterieures, ed. M.-S. éditeur. 1996, Paris: Vignon. 404.
16. Nobile, C.G., et al., Prevalence and factors related to malocclusion and
orthodontic treatment need in children and adolescents in Italy. Eur J Public Health, 2007. 17(6): p. 637-41.
17. Uysal, T., et al., Condylar and ramal vertical asymmetry in unilateral and
bilateral posterior crossbite patients and a normal occlusion sample. Am J Orthod Dentofacial Orthop, 2009. 136(1): p. 37-43.
Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto
35
18. Tecco, S. and F. Festa, Prevalence of Signs and Symptoms of
Temporomandibular Disorders in Children and Adolescents with and without
Crossbites. World J Orthod. 11(1): p. 37-42. 19. Bruhn, C., La escuela odontológica alemana, ed. S.A. Editoral Labor. Vol. 1.
1944, Barcelona, Madrid, Buenos Aires, Rio de Janeiro: Christian Bruhn. 145. 20. Bartzela, T. and I. Jonas, Long-term stability of unilateral posterior crossbite
correction. Angle Orthod, 2007. 77(2): p. 237-43. 21. Castelo, P.M., et al., Masticatory muscle thickness, bite force, and occlusal
contacts in young children with unilateral posterior crossbite. Eur J Orthod, 2007. 29(2): p. 149-56.
22. Heimer, M.V., C.R. Tornisiello Katz, and A. Rosenblatt, Non-nutritive sucking
habits, dental malocclusions, and facial morphology in Brazilian children: a
longitudinal study. Eur J Orthod, 2008. 30(6): p. 580-5. 23. Carmelo G. A. Nobile, M.P., Leonzio Fortunato, Italo F. Angelillo, Prevalence and
factors related to malocclusion and orthodontic treatment need in children and
adolescents in Italy. European Journal of Public Health, 2007. 17: p. 637-641. 24. Macena, M.C., C.R. Katz, and A. Rosenblatt, Prevalence of a posterior crossbite
and sucking habits in Brazilian children aged 18-59 months. Eur J Orthod, 2009. 31(4): p. 357-61.
25. Pinto,C., Desvios Funcionais Mandibulares, in Diagnóstico e Tratamento
Precoce. 2007, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto: Porto. p. 46.
26. Ricardo Alves de Souza, M.B.B.d.A.M., Darcy Flávio Nouer, Fábio Lourença Romano, Manuela Ribeiro Passos, Prevalence of malocclusion in a brazilian
schoolchildren population and its relationship with early tooth loss. Braz J Oral Sci, 2008. 7: p. 1566-1570.
27. Planas, P., Rehabilitación neuro-oclusal(RNO) /. 2ª ed. 1994, Barcelona: Masson, Salvat. 366.
28. Duarte,MS, O aparelho quadrihélice (Quad-helix) e as suas variaçoes. R Dental Press Ortondon Ortop Facial, 2006. 11: p. 128-156.
29. Gabris, K., S. Marton, and M. Madlena, Prevalence of malocclusions in
Hungarian adolescents. Eur J Orthod, 2006. 28(5): p. 467-70. 30. Celikoglu, M., S. Akpinar, and I. Yavuz, The pattern of malocclusion in a sample
of orthodontic patients from Turkey. Med Oral Patol Oral Cir Bucal.