i UNIVERSIDADE DE ÉVORA ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Deus, o Meu Amor e o Meu Eu Estudo Correlacional entre Espiritualidade, Tipos de Amor e Representação do Self Helena Cristina Muñoz Rosado Serrão Orientação: Professora Doutora Isabel Mesquita Mestrado em Psicologia Área de especialização: Psicologia Clínica e da Saúde Dissertação Évora, 2015
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Estudo Correlacional entre Espiritualidade, Tipos de …§ão... · Lactâncio e Tertuliano a palavra religião provém do verbo latino religare cujo significado é “ligar/religar”.
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Transcript
i
UNIVERSIDADE DE ÉVORA
ESCOLA DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Deus, o Meu Amor e o Meu Eu
Estudo Correlacional entre Espiritualidade,
Tipos de Amor e Representação do Self
Helena Cristina Muñoz Rosado Serrão
Orientação: Professora Doutora Isabel
Mesquita
Mestrado em Psicologia
Área de especialização: Psicologia Clínica e da Saúde
Dissertação
Évora, 2015
ii
Love is as strong as death, as hard as hell.
Death separates the soul from the body,
but love separates all things from the soul.
Meister Eckhart
iii
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me ter proporcionado tantas oportunidades e
me ter inspirado ao longo da minha caminhada pela vida, nomeadamente na
elaboração deste trabalho.
Gostaria de agradecer aos meus pais pelo amor, pelo apoio e pela disponibilidade.
Agradeço, igualmente, à minha orientadora, a Professora Doutora Isabel Mesquita por
me ter orientado neste processo.
Agradeço aos meus amigos pelas horas passadas na conversa e com boa disposição.
Finalmente, a todos os participantes neste estudo, o meu muito obrigada. Sem as
suas colaborações este estudo não poderia ter sido realizado.
iv
Resumo
No presente estudo pretendeu-se verificar que relações existem entre
espiritualidade do indivíduo, as suas atitudes face ao amor e a sua representação do
self. Dentro da espiritualidade foi avaliada a espiritualidade em geral. Previu-se que os
tipos de atitudes face aos relacionamentos amorosos avaliados estivessem
relacionados com graus variáveis de espiritualidade e de representação do self. Os
dados para o estudo foram recolhidos através da utilização de duas medidas
quantitativas – Spirituality Scale (Delaney, 2003) e Love Attitudes Scale (Hendrick &
Hendrick, 1986) – e de uma medida qualitativa – The Assessment of Self Descriptions
(Blatt, Bers & Schaffer, 1993). Após esta primeira fase, estes foram tratados através
da utilização do software estatístico SPSS (versão 22). As características
apresentadas pelos indivíduos para participarem neste estudos são: terem entre 20 e
65 anos e estarem num relacionamento amoroso de, no mínimo, um ano. As
implicações deste estudo situam-se ao nível do impacto, na vida dos indivíduos,
gerado pelas relações estabelecidas entre as três variáveis (espiritualidade, atitudes
face ao amor e representação do self).
Palavras-chave: espiritualidade, tipos/estilos de amor, representação do self
v
God, My Love and My Self
Correlational Study among Spirituality, Love Types and Representation of the Self
Abstract
The purpose of the present study was to verify the existing relationships among
one’s spirituality, love styles and, representation of the self. Spirituality in general will
be assessed. One may predict that the assessed love styles are related to varying
degrees of spirituality and representation of the self. The data for this study was
collected by means of three quantitative measures – Spirituality Scale (Delaney, 2003)
and Love Attitudes Scale (Hendrick & Hendrick, 1986) – and a qualitative measure –
The Assessment of Self Descriptions (Blatt, Bers & Schaffer, 1993). After this first
phase, the data was analysed using SPSS (version 22). The subjects would have to be
between the ages of 20 and 65 and in a romantic relationship for at least a year. This
study may shed light on how these three variables influence people.
Key words: spirituality, love styles, representation of the self
vi
Índice
Agradecimentos iii
Resumo iv
Abstract v
Índice vi
Índice de quadros viii
Índice de figuras x
Introdução 1
Enquadramento teórico 3
Espiritualidade 4
Espiritualidade e religião 5
Amor e estilos de amor 8
Amor e self 15
Representação do self 15
Subjetividade e intersubjetividade 22
Consciência relacional 23
Self e Deus 24
Função reflexiva 24
Mentalização 25
Metodologia 27
Variáveis 29
Operacionalização das variáveis 29
Hipóteses 30
Amostra 32
Instrumentos 34
The Spirituality Scale 34
Love Attitudes Scale 35
The Assessment of Self-Descriptions 36
Procedimento de recolha e de tratamento dos dados 37
vii
Resultados 39
Discussão 54
Conclusão 57
Referências 59
Anexos 66
viii
Índice de quadros
Quadro 1 11
Modelos dos Estilos de Amor de Lee
Quadro 2 32
Caracterização da Amostra
Quadro 3 40
Alpha de Cronbach para a Spirituality Scale
Quadro 4 41
Alpha de Cronbach para a Love Attitudes Scale
Quadro 5 41
Estatísticas Descritivas: Love Attitudes Scale
Quadro 6 42
Estatísticas Descritivas: Spirituality Scale
Quadro 7 42
Estatísticas Descritivas: The Assessment of Self-Descriptions
Quadro 8 43
Correlações: Love Attitudes Scale e Espiritualidade
Quadro 9 44
Correlações: Representação do Self e Espiritualidade
Quadro 10 44
Correlações: Love Attitudes Scale e Representação do Self
Quadro 11 45
Correlações: Love Attitudes Scale e Género
Quadro 12 46
Correlações: Love Attitudes Scale e Duração do Relacionamento
Quadro 13 47
Correlações: Love Attitudes Scale e Estado Civil
Quadro 14 48
Regressão linear múltipla: Eros
ix
Quadro 15 49
Regressão linear múltipla: Ludus
Quadro 16 50
Regressão linear múltipla: Storge
Quadro 17 51
Regressão linear múltipla: Pragma
Quadro 18 52
Regressão linear múltipla: Mania
Quadro 19 53
Regressão linear múltipla: Agape
x
Índice de figuras
Figura 1. 9
Estilos de Amor
1
Introdução
Ao longo dos anos tem vindo a aumentar o interesse da sociedade pela
dimensão da espiritualidade e, por isso, este tema tem vindo, cada vez mais, a ser
estudado. Foi a psicologia anglo-saxónica que dominou a investigação na área da
espiritualidade embora, fossem estudos mais ligados à saúde mental, bem-estar,
desenvolvimento humanos mas também ao desenvolvimento de medidas de
espiritualidade cujos resultados determinam a posição de cada indivíduo, ao longo de
um continuum (Saroglou, 2003). Mais recentemente, verificou-se a existência de
estudos que ligavam a espiritualidade e o amor mas, não ao amor presente e
característico nos relacionamentos amorosos. Após uma cuidada reflexão acerca de
potenciais temas que, não só fossem interessantes como também que não tivessem,
ainda, sido explorados e, por conseguinte, que fizessem a ciência progredir, que
tivessem impacto. Por isso, foi escolhido o tema espiritualidade, atitudes face ao amor
e representação do self.
Esta dissertação tem, pois, como objetivos estudar as relações que se
estabelecem entre a espiritualidade, os relacionamentos amorosos, mais
precisamente as atitudes face ao amor, e a representação do self. Pretende-se
verificar se a espiritualidade e a representação do self são mediadores e têm
influência nas atitudes face ao amor de cada indivíduo mas, também saber se se
relacionam entre si. Estas relações irão ser estudadas através da aplicação dos
instrumentos referidos no campo “instrumentos”.
A presente investigação terá implicações ao nível da compreensão da
espiritualidade e da sua influência sobre as atitudes face ao amor e representação do
self. Ao verificar a existência desta ligação poder-se-á, teoricamente, ajudar os
pacientes a melhorarem a sua qualidade de vida, a identificar causas de problemas e
a incrementar a consciência acerca da natureza biopsicossocioespiritual do ser
humano. Pensa-se que os resultados que se atingirão são importantes tanto para a
2
prática clínica com também para o crescimento da área científica. Espera-se que este
estudo tenha aceitação por parte da comunidade científica uma vez que existe
bastante investigação na área da espiritualidade, especialmente nos países anglo-
saxónicos onde a investigação na área da espiritualidade é mais desenvolvida, mas
está mais ligada à saúde mental e desenvolvimento humano. Mais uma vez, esta falta
de estudos na área da espiritualidade que englobassem atitudes face ao amor e
representação do self foi um fator de peso na escolha do tema. É de apontar que este
estudo pode dar origem a posteriores investigações no sentido de expandir o
conhecimento científico na área da espiritualidade e dos relacionamentos amorosos.
Esta investigação será realizada no âmbito do Mestrado em Psicologia Clínica
e da Saúde, ministrado pela Universidade de Évora, como requisito fundamental para
a obtenção do Grau de Mestre. Por conseguinte, e de acordo com o Regulamento da
Dissertação de Mestrado em Psicologia, o estudo será desenvolvido pela mestranda
Helena Serrão e orientado pela Professora Doutora Isabel Mesquita.
É relevante explicitar desde já que durante todos os procedimentos foram
observados os códigos de ética e conduta da American Psychological Association e da
Ordem dos Psicólogos Portugueses.
3
Enquadramento Teórico
4
Enquadramento Teórico
Espiritualidade
A espiritualidade e o amor são partes integrantes da existência humana e são
tão essenciais como dormir, comer e respirar. Estes dois conceitos ainda têm outra
semelhança, ambos são difíceis de definir. Alister Hardy foi o primeiro a afirmar que a
espiritualidade é natural ao Homo sapiens (Hay & Nye, 2006). Os seres humanos são
animais espirituais, por isso, Armstrong (1994) afirma que o Homo sapiens é também
Homo religiosus. Deste modo à natureza biopsicossocial humana associa-se a
espiritualidade tornando, então, mais completa a definição de seres humanos – seres
biopsicossocio-espirituais tal como Burkhardt e Nagai-Jacobson (2002) defendem.
Segundo Burkhardt e Nagai-Jacobson (2000) a espiritualidade é o núcleo mais
profundo do ser humano, portanto, influencia as relações que estabelece e influencia o
próprio sujeito no sentido do seu autoconhecimento, da forma como experiencia, se
relaciona e vive a vida. A espiritualidade é vivida em relação (connectedness), isto é,
relação do sujeito consigo mesmo, com Deus (ou outra entidade/força superior), com
os outros e com o mundo (Natureza). Mauk e Schmidt (2004) descrevem as relações
com os outros e com o ambiente como dimensões horizontais das relações espirituais
e a relação com Deus como vertical. Burkhardt e Nagai-Jacobson (2004),
relativamente à relação com o mundo e, mais especificamente, com a Natureza,
escrevem que esta permite experienciar o magnífico e a religação do indivíduo
consigo próprio. Mauk e Schmidt (2004; Scales, 2004) defendem que as relações de
partilha entre as pessoas permitem, ao longo da vida, que estas se conheçam a si
próprias.
A espiritualidade é definida, por alguns teóricos, como uma valorização do
espírito numa perspetiva de impulsionadora da existência (Thoresen, Haris & Oman,
2001; cit. in Saroglou, 2003) que conduz à realização máxima do potencial de cada ser
humano. A espiritualidade tem implícita a existência de autonomia relativamente à
5
tradição, de uma busca de sentido de vida em cada indivíduo (uma construção ativa
de sentido), existência de uma ligação entre todos os seres, existência de uma
universalidade (ligada a um aspeto experiencial). Esta espiritualidade implica,
igualmente, uma tendência antimaterialista pois existe a visão de ultrapassagem do
visível, da matéria. A espiritualidade está associada com o otimismo, o ter objetivos na
vida e atribuir um sentido à vida (Mattis, Fontenot, Hatcher-Kay, 2003; cit. in Saroglou,
2003).
A espiritualidade é inata mas também é um percurso feito por cada pessoa ao
longo da sua vida. É por esta razão que a consciência, a capacidade de acesso e o
modo de expressão da espiritualidade variam consoante a idade e o nível de
desenvolvimento dos sujeitos. Além disso, a espiritualidade desenvolve-se e
transforma-se pelo tempo e pelas experiências de vida logo considera-se ativa e
Hipótese 4 – O género influencia os estilos amorosos.
Encontrámos as seguintes diferenças estatisticamente significativas:
Quadro 11
Correlações: Love Attitudes Scale e género
Masculino Feminino Média DP Média DP t Eros 2,04 ,62 2,34 ,79 -1,560 Ludus 3,60 ,75 3,67 ,87 -0,685 Storge 2,81 ,56 3,04 ,91 -1,141 Pragma 3,83 ,81 3,37 ,76 2,182* Mania 3,17 ,62 3,34 ,67 -0,997 Agape 2,20 ,64 2,68 ,80 -,2,282*
* p ≤ 0.05
Pragma, t(53) = 2,182, p = ,032, os homens obtêm valores significativamente
mais elevados neste estilo amoroso (3,83 vs 3,37).
Agape, Z = -2,282, p = ,022, as mulheres obtêm valores significativamente
mais elevados neste estilo amoroso (2,68 vs 2,20).
46
Hipótese 5 – São esperadas correlações significativas entre os estilos amorosos e a duração da relação.
Encontrou-se um coeficiente de correlação estatisticamente significativo entre a
duração da relação e o estilo amoroso Ludus. O coeficiente é significativo, negativo e
fraco (r = -,269). Isso significa que quanto maior é a duração da relação mais baixa é a
utilização deste estilo amoroso.
Quadro 12
Correlações: Love Attitudes Scale e Duração da Relação
Duração da relação
Eros ,159 Ludus -,269* Storge -,038 Pragma ,028 Mania -,260 Agape -,036 * p ≤ 0.05
47
Hipótese 6 – O estado civil influencia os estilos amorosos.
Encontrámos as seguintes diferenças estatisticamente significativas:
Quadro 13
Correlações: Love Attitudes Scale e estado civil
Solteiro Casado Vive com Parceiro Média Dp Média Dp Média Dp F Eros 2,22 ,92 2,14 ,63 2,27 ,65 0,132 Ludus 3,63 ,92 3,44 ,83 3,97 ,50 3,531 Storge 3,34 ,90 2,75 ,67 2,77 ,62 3,662* Pragma 3,63 ,70 3,54 ,97 3,61 ,66 ,067 Mania 3,55 ,59 3,15 ,63 3,11 ,68 2,507 Agape 2,87 ,80 2,24 ,72 2,32 ,62 7,071*
* p ≤ 0.05
Storge, F(2, 52) = 3,662, p = ,033, os testes de comparação múltipla a
posteriori indicam-nos que as diferenças significativas se encontram entre os solteiros
e os casados, sendo que os primeiros utilizam mais este estilo amoroso (3,34 vs 2,75).
Agape, χ2 KW (2) = 7,017, p = ,030, os testes de comparação múltipla a
posteriori indicam-nos que as diferenças significativas se encontram entre os solteiros
e os casados, sendo que os primeiros utilizam mais este estilo amoroso (2,87 vs 2,24).
48
Hipótese 7 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Eros.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Eros como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 28,0% da
variância total do estilo amoroso Eros e não é estatisticamente significativo, F(10, 44)
= 1,711, p = ,108. Apesar de o modelo não ser significativo, as variáveis género, (β = -
,765, p = ,003), duração do relacionamento, (β = -,029, p = ,039) e Espiritualidade (β =
-,014, p = ,014), apresentam coeficientes de regressão estatisticamente significativos.
Os homens apresentam valores mais baixos neste estilo amoroso do que as mulheres,
quanto mais elevada é a duração da relação mais elevada é a utilização deste estilo
amoroso e quanto mais elevada é a espiritualidade mais baixa é a utilização deste
estilo amoroso.
Quadro 14
Regressão linear múltipla: Eros
B Std. Error
(Constante) 4,419 ,931
Masculino -,765** ,240
Solteiro ,163 ,273
Casado -,327 ,280
Duração Relacionamento ,029* ,014
Espiritualidade -,014* ,005
NR_palavras ,080 ,138
Modos_Desc -,083 ,140
Conceptual ,005 ,103
Visao_Self -,083 ,111
NV_def_Self -,061 ,076
R2 ,280
F (10, 44) 1,711
• p ≤ 0.05 ** p ≤ 0.01
49
Hipótese 8 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Ludus.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Ludus como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 24,8% da
variância total do estilo amoroso Ludus e não é estatisticamente significativo, F(10, 44)
= 1,450, p = ,191.
Quadro 15
Regressão linear múltipla: Ludus
B Std. Error
(Constante) 3,708 1,061
Masculino ,196 ,273
Solteiro -,584 ,310
Casado -,422 ,319
Duração Relacionamento -,030 ,015
Espiritualidade -,003 ,006
NR_palavras -,136 ,157
Modos_Desc -,049 ,160
Conceptual ,225 ,118
Visao_Self ,136 ,126
NV_def_Self -,112 ,086
R2 ,248
F (10, 44) 1,450
* p ≤ 0.05 ** p ≤ 0.01
50
Hipótese 9 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Storge.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Storge como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 28,6% da
variância total do estilo amoroso Storge e não é estatisticamente significativo, F(10,
44) = 1,763, p = ,097. Apesar de o modelo não ser significativo a variável estado civil
solteiro, (β = ,859, p = ,005) apresenta um coeficiente de regressão estatisticamente
significativo. Os solteiros quando comparados com os sujeitos em união de facto
apresentam valores mais elevados neste estilo amoroso.
Quadro 16
Regressão linear múltipla: Storge
B Std. Error
(Constante) 2,114 ,986
Masculino -,257 ,254
Solteiro ,859** ,288
Casado ,007 ,296
Duração Relacionamento ,017 ,014
Espiritualidade -,002 ,006
NR_palavras ,039 ,146
Modos_Desc ,257 ,149
Conceptual ,127 ,109
Visao_Self -,042 ,117
NV_def_Self -,106 ,080
R2 ,286
F (10, 44) 1,763
* p ≤ 0.05 ** p ≤ 0.01
51
Hipótese 10 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Pragma.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Pragma como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 19,1% da
variância total do estilo amoroso Pragma e não é estatisticamente significativo, F(10,
44) = 1,040, p = ,427.
Quadro 17
Regressão linear múltipla: Pragma
B Std. Error
(Constante) 3,420 1,099
Masculino ,458 ,283
Solteiro ,187 ,322
Casado -,176 ,330
Duração Relacionamento -,001 ,016
Espiritualidade -,007 ,006
NR_palavras ,044 ,163
Modos_Desc ,086 ,166
Conceptual ,058 ,122
Visao_Self ,115 ,131
NV_def_Self -,103 ,089
R2 ,191
F (10, 44) 1,040
52
Hipótese 11 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Mania.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Mania como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 28,4% da
variância total do estilo amoroso Mania e não é estatisticamente significativo, F(10, 44)
= 1,742, p = ,101. Apesar de o modelo não ser significativo a variável nível conceptual,
(β = -,204, p = ,032) apresenta um coeficiente de regressão estatisticamente
significativo. Como o coeficiente é negativo isso significa que quanto mais elevado é o
nível conceptual mais baixa é a utilização deste estilo amoroso.
Quadro 18
Regressão linear múltipla: Mania
B Std. Error
(Constante) 3,789 ,830
Masculino -,130 ,214
Solteiro ,345 ,243
Casado -,096 ,250
Duração Relacionamento ,003 ,012
Espiritualidade ,001 ,005
NR_palavras ,217 ,123
Modos_Desc -,226 ,125
Conceptual -,204* ,092
Visao_Self ,124 ,099
NV_def_Self ,021 ,068
R2 ,284
F (10, 44) 1,742
* p ≤ 0.05
53
Hipótese 12 – O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Agape.
O modelo de regressão linear múltipla com o estilo Agape como variável
dependente e o género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self como variáveis independentes ou preditores explica 29,4% da
variância total do estilo amoroso Agape e não é estatisticamente significativo, F(10,
44) = 1,830, p = ,083. Apesar de o modelo não ser significativo, as variáveis estado
civil solteiro, (β = -,661, p = ,024) e duração do relacionamento, (β = ,029, p = ,046)
apresentam coeficientes de regressão estatisticamente significativos. Os solteiros
quando comparados com os em união de facto apresentam valores mais elevados
neste estilo amoroso e quanto mais elevada é a duração da relação mais elevada é a
utilização deste estilo amoroso.
Quadro 19
Regressão linear múltipla: Agape
B Std. Error
(Constante) 2,661 ,969
Masculino -,489 ,250
Solteiro ,661* ,284
Casado -,294 ,291
Duração Relacionamento ,029* ,014
Espiritualidade -,001 ,006
NR_palavras -,040 ,143
Modos_Desc -,052 ,146
Conceptual -,028 ,107
Visao_Self ,040 ,115
NV_def_Self -,024 ,079
R2 ,294
F (10, 44) 1,830
* p ≤ 0.05
54
Discussão
Este estudo sobre estilos de amor, espiritualidade e representação do self teve
o objetivo de observar três grandes fatores que influenciam a vida das pessoas, o
amor, sem o qual não nos desenvolvemos ou existimos, a espiritualidade, que é
marcadamente um traço natural da espécie humana e a representação do self, a
forma como cada um se vê a si próprio.
O presente estudo é o primeiro a ser elaborado de modo a verificar as
possíveis relações entre a espiritualidade, os estilos de amor e a representação do self
logo, não existe literatura disponível para que se possam comparar resultados.
De modo a poder observar a existência de relações entre estas três variáveis
recorreu-se à formulação das hipóteses, descritas no campo da “Metodologia”, e aos
seguintes instrumentos de recolha de dados: Spirituality Scale (Delaney, 2003), Love
Attitudes Scale (Hendrick & Hendrick, 1986) e Assessment of Self-Descriptions (Blatt,
Bers & Schaffer, 1993).
Ao resultados obtidos através da análise estatística mostram que a hipótese 1
– São esperadas correlações significativas entre a espiritualidade e os estilos
amorosos. – foi parcialmente comprovada uma vez que apenas um dos estilos de
amor, o estilo Pragma, estabelece uma relação significativa, negativa e fraca, com a
espiritualidade, isto é, quanto mais elevada é a espiritualidade mais baixa é a
utilização do estilo amoroso Pragma. Esta relação pode ser explicada tendo em conta
o que são o estilo Pragma e a espiritualidade. O Pragma é comparado a uma “lista de
compras”, algo concreto enquanto que a espiritualidade tem componentes mais
abstrata. Deste modo, observa-se que se encontram em polos oposto o que explica os
resultados obtido.
A hipótese 2 – São esperadas correlações significativas entre a espiritualidade
e a representação do self. – e a hipótese 3 – São esperadas correlações significativas
entre a representação do self e os estilos amorosos. – não foram confirmadas visto
que não existem coeficientes de correlação significativos.
55
A hipótese 4 – O género influencia a utilização dos estilos amorosos. – foi
confirmada. De acordo com os resultados, os homens obtiveram valores mais
elevados nos estilo de amor Pragma que as mulheres. No estudo de Hendrick e
Hendrick (1986), as mulheres apresentavam mais este estilo de amor que os homens.
No presente estudo, as mulheres obtiveram valores mais elevados no estilo Agape,
enquanto que no estudo original não existiam diferenças entre homens e mulheres
relativamente a este estilo (Hendrick & Hendrick, 1986). Para os restantes estilos não
existe influencia significativa do género. Hendrick e Hendrick (1986) observaram que
os homens apresentam mais o estilos Ludus do que as mulheres e que estas, por sua
vez, destacavam-se mais nos estilos Storge, Pragma e Mania. Nos estilos Eros e
Agape não foram constatadas diferenças de género (Hendrick & Hendrick, 1986).
A hipótese 5 – São esperadas correlações significativas entre os estilos
amorosos e a duração da relação. – foi parcialmente confirmada dado que entre o
Ludus e a duração do relacionamento observa-se uma relação negativa e fraca.
Assim, quanto maior é a duração da relação mais baixa é a utilização deste estilo
Ludus. Os sujeitos que apresentam Ludus veem o amor como um jogo para ser
jogado com vários parceiros, em que os sentimentos são superficiais, a traição pode
estar presente assim como a manipulação. Os resultados podem ser explicados por
este estilo de amor ser incompatível com uma relação duradoura.
A hipótese 6 – O estado civil influencia a utilização dos estilos amorosos. – foi
parcialmente confirmada. Os participantes solteiros apresentavam estilos de amor
Storge e Agape mais pronunciados que os casados.
As hipóteses 7 (O género, o estado civil, a duração da relação, a
espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso
Eros.), 8 (O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Ludus.), 9 (O género, o
estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores
significativos do estilo amoroso Storge.), 10 (O género, o estado civil, a duração da
relação, a espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo
amoroso Pragma.), 11 (O género, o estado civil, a duração da relação, a
espiritualidade e a definição do self são preditores significativos do estilo amoroso
Mania.) e 12 (O género, o estado civil, a duração da relação, a espiritualidade e a
56
definição do self são preditores significativos do estilo amoroso Agape.), relacionadas
com o modelo de regressão linear múltipla, não são confirmadas, isto é, os modelos
não são significativos a nível concetual.
57
Conclusão
A presente dissertação tinha como objetivos aumentar a compreensão acerca
das interações entre espiritualidade, estilos de amor e representação do self, o
conhecimento na área e expandir o conhecimento científico. Para isso procedeu-se à
elaboração de um trabalho que seguiu o método científico de modo a poder obter
resultados válidos. No entanto, podem ser apontadas algumas limitações ao estudo,
tais como: a utilização de instrumentos estrangeiros validados e aplicados no
desenvolvimento de outros estudos mas que não estão adaptados para a população
portuguesa logo, todos foram traduzidos de inglês para português, pela investigadora.
É de destacar que foi feita uma revisão linguística por uma profissional da área de
português-inglês. Para além do referido, foi também realizada uma pré-aplicação aos
alunos do 2.º ano da licenciatura em Psicologia da Universidade de Évora de modo a
saber se os itens eram percetíveis. A pré-aplicação foi um sucesso uma vez que todas
os indivíduos compreenderam o que lhes foi pedido e que não foram assinaladas
dúvidas por parte dos mesmos. Ainda no campo dos instrumentos é pertinente
esclarecer que a utilização do Assessment of Self-Descriptions não é recomendada
uma vez que, para além, da cotação ser feita subjetivamente, isto é, o cotador atribui
pontuação tendo por base uma escala, não é um instrumento prático pois requer
tempo e experiência para ser cotado. Além disso, muitas vezes os sujeitos não
elaboram, verdadeiramente, descrições, limitam-se a referir alguns aspetos sobre si
tornando, deste modo, difícil a utilização e cotação das suas descrições. Sem dúvida
que este instrumento terá melhor aplicação na prática clínica.
Relativamente à amostra as limitações apontadas são: a reduzida dimensão da
amostra (N=55) que faz com que não se consigam extrapolar os resultados para a
população geral e limita a interpretação dos dados. Da mesma forma, a amostra
continha indivíduos em faixas etárias diferentes o que também influencia os resultados
finais obtidos. Do mesmo modo, os relacionamentos amorosos terem duração
diferente pode limitar o estudo. Os participantes podem apresentar as respostas o
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efeito da desejabilidade social, responder de forma socialmente aceite, principalmente
nos questionários que foram entregues em papel diretamente às pessoas. Outra
limitação que surge relaciona-se com o tipo de amostra utilizado (amostra não-
probabilística de julgamento/ proposicional).
Poderão existir limitações ligadas às variáveis que condicionem a investigação
que não sejam conhecidas e, por conseguinte, que não se integraram no estudo.
O facto de ser um estudo original, isto é, não existem outros dentro do mesmo
género, faz com que não se possam comparar resultados. Em estudos futuros sobre a
mesma temática é recomendado que se adaptem os instrumentos Spirituality Scale e
Love Attitudes Scale para a população portuguesa. A amostra ser maior e mais
diversificada vai poder aprofundar o conhecimento sobre os resultados bem como
poder contribuir para uma generalização à população. Será também produtivo se se
realizarem estudos em conta as diferentes faixas etárias e as diferentes durações dos
relacionamentos amorosos. Finalmente, recomenda-se a aplicação dos instrumentos
pelas seguinte ordem: The Assessment of Self-Descriptions (caso se opte por este
instrumento para avaliar o self), The Spirituality Scale e Love Attitudes Scale visto ser
melhor aplicar primeiro o instrumento de autorrelato pois reduz o número de indivíduos
que não respondem a esta parte.
Em suma, apesar de existirem algumas limitações ao estudo, os objetivos de
expansão do conhecimento científico foram alcançados.
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Referências
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(2008). Ciência, Psicanálise e Poética em torno de Gaston Bachelard. (86-125) Lisboa:
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa
Armstrong, K. (1993). The History of God. New York: The Random House Publishing
Group.
Baker, H., & Jones, S. (2008). Adding a Spiritual Dimension to the Biopsychosocial Model:
Psychoanalysis, Heinz Kohut, Friedrich Schleiermacher, Martin Buber and Gabriel Marcel.
Transdisciplinarity in Science and Religion, 4, 135–171.
Balnaves, M. & Caputi, P. (2001). Introduction to Quantitative Research Methods – An