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ESTRESSORES AMBIENTAIS NO TRABALHO DE MOTORISTAS DE TÁXI NA CIDADE DE SÃO LUÍS MA. 1 Diego Costa Porto 2 Richardson Gomes Lima da Silva 3 RESUMO: Este artigo relata os resultados de estudo que teve por objetivo investigar os fatores estressores envolvidos no ambiente de trabalho de motoristas de táxi da cidade de São Luís Maranhão, bem como o nível de estresse da população estudada, através de pesquisa descritiva. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) e um questionário sócio profissional elaborado para este trabalho. Resultados: Constatou-se que 53,33% da população estudada apresentaram algum nível de estresse em diferentes fases. Diversas situações relativas ao ambiente de trabalho dos motoristas de táxi foram identificadas enquanto estressoras, sendo graduadas pelos taxistas quanto ao nível de esgotamento que lhes causavam. Alguns dos principais estressores identificados foram ‘engarrafamento’, ‘vias esburacadas’, ‘medo de assalto’, ‘barulho de buzina’ e ‘negligência de outros motoristas’. Palavras-Chave: Estresse; Estressores Ambientais; Saúde Ocupacional; Trânsito. ENVIRONMENTAL STRESSORS AT WORK OF TAXI DRIVERS IN SÃO LUÍS MA. ABSTRACT: This article reports the results of a study that aimed to investigate the stressors involved in the work environment of taxi drivers from São Luís Maranhão, as well as the stress level of the sample population through a descriptive research. The instruments used were the ISSL (Stress Symptom Inventory of Lipp) and a social-professional questionnaire developed for this work. Results: It was found that 53,33% of the sample population had some level of stress at different stages. Various situations concerning the working environment of taxi drivers were identified as stressors, being graded by the taxi drivers by the level of exhaustion that caused them. Some of the main stressors identified were ‘traffic jam’, ‘bumpy roads’, ‘fear of assault’, ‘horn noise’ and ‘negligence of other drivers’. Key Words: Stress; Environmental Stressors; Occupational Health; Transit. INTRODUÇÃO O ser humano é um ser social, por isso qualquer afirmação sobre o mesmo não pode ser levada em consideração dissociada de seu contexto social e ambiental. É nestes contextos que ele encontra o suprimento para sua subsistência e se inscreve enquanto sujeito, como parte de um todo, uma vez que o ambiente pode ter influência direta em seus 1 Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do grau de psicólogo da Universidade CEUMA. 2 Graduando do curso de Psicologia da Universidade CEUMA; 3 Psicólogo e pesquisador orientador.
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ESTRESSORES AMBIENTAIS NO TRABALHO DE MOTORISTAS DE TÁXI NA CIDADE DE SÃO LUÍS - MA

Jan 22, 2023

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Page 1: ESTRESSORES AMBIENTAIS NO TRABALHO DE MOTORISTAS DE TÁXI NA CIDADE DE SÃO LUÍS - MA

Autor: Diego Costa Porto, Psicólogo inscrito no CRP-11 sob o número 08700, Brasil - 2014.

ESTRESSORES AMBIENTAIS NO TRABALHO DE MOTORISTAS DE TÁXI NA

CIDADE DE SÃO LUÍS – MA.1

Diego Costa Porto2

Richardson Gomes Lima da Silva3

RESUMO: Este artigo relata os resultados de estudo que teve por objetivo investigar os fatores estressores

envolvidos no ambiente de trabalho de motoristas de táxi da cidade de São Luís – Maranhão, bem como o nível

de estresse da população estudada, através de pesquisa descritiva. Os instrumentos utilizados foram o Inventário

de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) e um questionário sócio profissional elaborado para este trabalho.

Resultados: Constatou-se que 53,33% da população estudada apresentaram algum nível de estresse em diferentes

fases. Diversas situações relativas ao ambiente de trabalho dos motoristas de táxi foram identificadas enquanto

estressoras, sendo graduadas pelos taxistas quanto ao nível de esgotamento que lhes causavam. Alguns dos

principais estressores identificados foram ‘engarrafamento’, ‘vias esburacadas’, ‘medo de assalto’, ‘barulho de

buzina’ e ‘negligência de outros motoristas’.

Palavras-Chave: Estresse; Estressores Ambientais; Saúde Ocupacional; Trânsito.

ENVIRONMENTAL STRESSORS AT WORK OF TAXI DRIVERS IN SÃO LUÍS –

MA.

ABSTRACT: This article reports the results of a study that aimed to investigate the stressors involved in the

work environment of taxi drivers from São Luís – Maranhão, as well as the stress level of the sample population

through a descriptive research. The instruments used were the ISSL (Stress Symptom Inventory of Lipp) and a

social-professional questionnaire developed for this work. Results: It was found that 53,33% of the sample

population had some level of stress at different stages. Various situations concerning the working environment of

taxi drivers were identified as stressors, being graded by the taxi drivers by the level of exhaustion that caused

them. Some of the main stressors identified were ‘traffic jam’, ‘bumpy roads’, ‘fear of assault’, ‘horn noise’ and

‘negligence of other drivers’.

Key Words: Stress; Environmental Stressors; Occupational Health; Transit.

INTRODUÇÃO

O ser humano é um ser social, por isso qualquer afirmação sobre o mesmo não

pode ser levada em consideração dissociada de seu contexto social e ambiental. É nestes

contextos que ele encontra o suprimento para sua subsistência e se inscreve enquanto sujeito,

como parte de um todo, uma vez que o ambiente pode ter influência direta em seus

1

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do grau

de psicólogo da Universidade CEUMA.

2 Graduando do curso de Psicologia da Universidade CEUMA;

3 Psicólogo e pesquisador orientador.

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Autor: Diego Costa Porto, Psicólogo inscrito no CRP-11 sob o número 08700, Brasil - 2014.

comportamentos, na sua forma de pensar, agir e reagir. Enquanto indivíduo, o homem é

dependente do meio em que vive e, ao mesmo tempo, é construtor deste meio. A busca por

crescimento individual e profissional, por melhor qualidade de vida ou mesmo pela

manutenção das condições mínimas de sobrevivência dentro do contexto social atual

demanda, em geral, muitas horas trabalhadas por dia, poucas horas de sono, contínuo contato

com as condições urbanas (poluição sonora, visual, atmosférica), convívio diário com o

trânsito das massas e pouco contato afetivo-emocional de qualidade no que diz respeito às

relações interpessoais.

Todas essas situações referentes ao modo de existência da sociedade pós-moderna

podem ser geradoras de um alto nível de estresse para o homem contemporâneo, podendo

influenciar diretamente em suas relações pessoais e de trabalho, concorrendo para o prejuízo

de sua produtividade, gerando como consequência desde comportamentos hostis e

inadequados a perturbações do sono, de atenção e de outras ordens. Além disso, o homem da

contemporaneidade necessita estar sempre se deslocando com rapidez de um ponto ao outro, e

o estilo de vida acelerado da sociedade pós-moderna é refletido no (e é reflexo do) ambiente

urbano construído pelo homem contemporâneo, no qual surgem, dentre outras, necessidades

relacionadas à locomoção urbana e de meios de transportes públicos que possam promover

essa locomoção. Portanto, os meios de transportes, sejam públicos, particulares ou de aluguel,

tornam-se extremamente necessários.

Neste contexto, interessa-nos investigar a que fatores estressores ambientais são

submetidos os usuários de trânsito, especialmente os motoristas de táxi, que por força de sua

profissão, necessitam lidar durante todo o período de trabalho com o trânsito da sociedade

contemporânea.

ATIVIDADE LABORAL DOS MOTORISTAS DE TÁXI

Observando o contexto de trabalho no qual se inscreve a figura do motorista de

táxi na cidade de São Luís – MA, puderam-se supor vários possíveis fatores estressores

ambientais internos e externos, tais como os engarrafamentos das vias públicas devido aos

muitos condutores que fazem uso das mesmas, em incompatibilidade com a capacidade de

tráfego dessas vias; a insegurança quanto à idoneidade do passageiro que se está

transportando; a negligência de condutores que fazem uso dessas vias, dificultando e tornando

perigoso o tráfego; a tarefa do motorista em si (fisicamente e psicologicamente desgastante); a

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poluição sonora do trânsito, o clima (calor e chuva); as condições do trânsito e das vias pelas

quais trafega; dentre outros.

Almeida (2010), citando Nascimento e Pasqualetto (2002) e complementando o

argumento desses autores, fala um pouco sobre essa realidade:

Alguns locais e atividades são apontados como intrinsecamente estressantes, seja

por suas características físicas ou ambientais, seja pelo tipo de trabalho

desenvolvido. No primeiro caso, os motoristas profissionais são um exemplo

conhecido e no segundo, os serviços prestados, cuja tarefa principal envolve, em seu

cotidiano, o contato com usuários dos transportes seja ele público ou particular e

principalmente o contato com outros motoristas amadores e profissionais

(Nascimento e Pasqualetto, 2002). O trabalho dos profissionais do trânsito conjuga

os dois aspectos acima citados e, portanto, pode ser sempre considerado como

ambiente potencialmente de risco, tanto para os motoristas, como para os que

usufruem de seus serviços. Seus aspectos relacionais e o tipo de serviço prestado

possuem características intrínsecas que permeiam o exercício profissional e que

podem contribuir para a ocorrência de estresse nesses locais. (Almeida, 2010)

Muitos dos fatores estressores no ambiente de trabalho dos taxistas escapam ao

controle destes. São questões relacionadas com o ambiente interno (carro) e externo do

trabalho (trânsito, outros condutores, passageiros desconhecidos, clima, etc.). Hoffman e

Legal (2011 apud Hoffman et al., 2011) colocam que, além dos fatores estressores relativos à

vida pessoal dos condutores:

Existem outras situações da vida diária, por exemplo: pequenas discussões, ruídos,

não encontrar estacionamento, congestionamentos no trânsito, que embora não

sejam tão graves, geram um estresse nada benéfico para o condutor, produzindo

mudanças nas batidas cardíacas, na secreção de catecolamina ou alterações na

constituição da pele (Hoffman & Legal apud Hoffman et al., 2011).

A presença constante de tais fatores estressores impõe uma pressão (strain) sobre

os taxistas, podendo desencadear o fenômeno do estresse. Pesquisas sugerem que este tipo de

trabalho onde há pressão continuadamente sustentada está significativamente relacionado com

a exaustão mental e física em motoristas comerciais (Karasek, 1979 apud Biggs et al., 2009,

p. 5). Com isto concorda Hanzlíková (2004), ao citar Ilmarinen (1995), dizendo que:

The driving profession in general bears a wide range of stress-inducing factors

(stressors). Ilmarinen (1995 In Kloimuller et al., 2000) distinguishes between three

major classes of risk factors: high physical work demands (static muscle effort,

repetitive movements), stressful or dangerous work environment (risk of accidents,

great heat or cold) and poor 4 organization of work (role conflicts, control, fear of

failure, lack of recognition and esteem at work). (Ilmarinen, 1995 apud Hanzlíková,

2004, p.3)

SOBRE O ESTRESSE

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O termo stress é proveniente da física, significando naquela ciência o grau de

deformidade que uma estrutura sofre quando submetida a um esforço. Hans Selye, professor e

diretor do Instituto de Medicina Experimental e Cirurgia da Universidade de Montreal –

Canadá, pesquisador deste fenômeno, utilizou este termo para se referir ao conjunto de

reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige um esforço

para adaptação. De fato, a todo instante o ser humano está em constante busca por adaptação

às exigências ambientais internas e externas. Estar sob o fenômeno do estresse é estar em

busca do equilíbrio orgânico, da homeostase, ou seja, do equilíbrio com o meio onde se está

inserido. Quando um organismo é submetido a estímulos que ameacem esse equilíbrio, ele

reage com um conjunto de respostas específicas o qual recebeu, por Hans Selye, o nome de

estresse (Limongi-França & Rodrigues, 1996).

Essa síndrome do estresse, ou Síndrome Geral da Adaptação, acaba por

influenciar o organismo tanto em sua esfera biológica quanto psicossocial. Há, porém,

aspectos relacionados à maneira com que cada indivíduo reage ao estresse. Se, ao ser

submetido ao fator estressor, o organismo produz uma resposta negativa, ou seja, uma

resposta de adaptação que é inadequada ao estímulo, tal resposta recebe o nome de distresse.

Por outro lado, se o sujeito reage adequadamente ao estímulo que se lhe propõe, temos então

o fenômeno conhecido por eustresse (Limongi-França & Rodrigues, 1996).

Como colocam Limongi-França & Rodrigues (1996), uma definição clara para o

estresse é “uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais

está submetido, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que

as próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo o seu bem-estar” (Limongi-França &

Rodrigues, 1996, p. 24). Lipp & Rocha (1996) complementam esta definição ao acrescentar

que o estresse também pode ser positivo e advir de situações que emocionem profundamente

o sujeito. Os autores colocam que, assim como um acidente pode gerar estresse, uma

promoção no emprego também pode.

O indivíduo que é submetido ao estresse, só o é por que está inserido no ambiente,

elemento fundamental nesta equação. São as exigências do meio, seja esse meio considerado

externo ou interno (estímulos endógenos – biológicos – ou psicológicos), que trazem a

necessidade de homeostase por parte do sujeito. Assim, em se tratando de ambiente,

Rozenstraten (2011 apud Hoffman et al., 2011) coloca que:

A noção de ambiente permite distinguir: um ambiente material natural constituído

por toda matéria que nos cerca – o céu, o sol, a lua, os astros, o cosmos, o vento, as

chuvas e todos os fenômenos climatológicos, os oceanos, rios, praias, montanhas e

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planícies e milhões de outras coisas mais; um ambiente material construído, quer

dizer, tudo o que a cultura humana construiu em habitações, palácios, monumentos,

edifícios e vias; um ambiente vivo, com centenas de milhares de espécies de plantas,

de insetos, de peixes, de aves, de mamíferos. Dentro deste último, temos o ambiente

social, constituído por bilhões de pessoas, que percebem, sentem, pensam, desejam e

que buscam o equilíbrio entre o que se é e o que se pode fazer, uma espécie de

homeostase somática e psíquica. De toda forma, assim como os outros fazem parte

do nosso ambiente social nós fazemos parte do ambiente social dos outros: somos

ambiente. (Rozenstraten, 2011 apud Hoffman et al., 2011)

Reinier J. A. Rozenstraten deixa clara a importância do ambiente para o ser

humano, de tal forma que o indivíduo está tão fortemente vinculado ao meio que, na

perspectiva do outro, é ele mesmo ambiente para o outro enquanto o outro sujeito é parte de

seu próprio ambiente. Fica configurada a realidade da grande influência exercida entre os

sujeitos e a constante busca pela homeostase vivenciada pelos mesmos.

Síndrome Geral de Adaptação – modelo trifásico do estresse

A Síndrome Geral de Adaptação consiste em três fases conhecidas por reação de

alarme, fase de resistência e fase de exaustão. A primeira delas - reação de alarme - se

caracteriza por aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, para que o sangue circule

com mais rapidez, levando mais oxigênio e nutrientes aos tecidos; contração do baço, levando

mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea e possibilitando também mais oxigênio para o

organismo; liberação, por parte do fígado, de açúcar armazenado para a corrente sanguínea

para ser utilizado como alimento e energia para os músculos; redistribuição sanguínea,

privilegiando os músculos e cérebro e havendo diminuição do sangue nas vísceras e pele;

aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios, para que o organismo possa

captar e receber mais oxigênio; dilatação da pupila com exoftalmia para aumentar a eficiência

visual; aumento do número de glóbulos brancos na corrente sanguínea para reparar possíveis

danos aos tecidos e, por fim, ansiedade. Todas estas alterações preparam o organismo para

enfrentar o estressor, levando-o a lutar ou fugir. (Limongi-França & Rodrigues, 1996)

A fase de resistência, por sua vez, acontece caso o estressor mantenha-se no

ambiente e tem como características o aumento do córtex da supra renal; a atrofia de algumas

estruturas relacionadas à produção de células do sangue; ulcerações no aparelho digestivo;

irritabilidade; insônia, mudanças no humor e diminuição do desejo sexual (Limongi-França &

Rodrigues, 1996). Lipp e Malagris (1995 apud Lipp et al.,2004) enfatizam a busca pelo

reequilíbrio que há nesse estágio o que gera um grande uso de energia e o consequente

sensação de desgaste generalizado sem causa aparente. Dentre várias consequências desse

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estágio, o sujeito passa a apresentar dificuldades com a memória, o que é sinal de que a

capacidade de lidar com a presente situação foi ultrapassada pela demanda. Quando, porém, o

indivíduo consegue proceder a uma adaptação completa, resistindo ao estressor, o processo de

stress é interrompido sem sequelas.

Já a fase da exaustão muitas vezes representa a falha do organismo na adaptação

aos estressores que lhe são apresentados. Nesta fase, permanecendo fortes os fatores

estressores ambientais, o indivíduo pode ser levado à morte. Tem como características um

retorno parcial à reação de alarme; falhas dos mecanismos de adaptação; o esgotamento por

sobrecarga fisiológica e a morte do organismo nos casos mais extremos (Limongi-França &

Rodrigues, 1996).

O Modelo Quadrifásico do Estresse

Lipp, durante o processo de padronização de seu Inventário de Sintomas de Stress

(ISSL) reparou que haviam situações em que se notava um enfraquecimento do sujeito que se

encontrava na fase de resistência, não se percebendo nesses casos uma adaptação ou

resistência ao estressor. Por conseguinte, doenças manifestavam-se nesses sujeitos em níveis

não tão graves quanto em sujeitos na fase da exaustão, possibilitando que tais pessoas

tivessem condições de trabalhar até certo ponto. O que se percebeu foi que a fase de

resistência, tal qual proposta por Selye, se mostrava extensa e com dois momentos

diferenciados quanto à intensidade com que os sintomas se manifestavam. Assim, Lipp criou

o modelo quadrifásico de estresse, no qual a fase de resistência se remete ao primeiro

momento onde os sintomas não são tão intensos e, quando da manifestação da maior

intensidade desses mesmos sintomas, os tais são abarcados pela fase à qual Lipp nomeou de

fase de quase-exaustão (Lipp et. al, 2005, p. 19).

O Estresse do Trabalho

O estresse do trabalho é assim definido por situações que são percebidas pelo

sujeito, em seu ambiente de trabalho, como ameaçadoras. Tais questões podem estar

envolvidas com as necessidades de realização pessoal e profissional bem como necessidades

físicas ou mentais, havendo prejuízo na interação destas necessidades com o ambiente de

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trabalho, apresentando demandas excessivas ao sujeito, ou demandas para as quais ele não

dispõe de recursos para o enfretamento das mesmas. (Limongi-França & Rodrigues, 1996)

É o que coloca Leka (2004, p. 4), com bastante clareza:

El estrés es el resultado del desequilibrio entre las exigencias y presiones a las que

se enfrenta el individuo, por un lado, y sus conocimientos y capacidades, por otro. El

estrés pone a prueba la capacidad del individuo para afrontar su actividad, y no sólo

incluye situaciones em que la presión laboral excede la capacidad del trabajador para

hacer frente a la misma, sino también los casos en que no se utilizan suficientemente

sus conocimientos y capacidades, y esto supone un problema para el trabajador.

Assim, este estudo visou investigar possíveis fatores ou estímulos estressores no

ambiente de trabalho no qual os motoristas de táxi de São Luís se inserem, levando em

consideração a percepção dos mesmos diante de seu contexto de trabalho, apontando também

os níveis de estresse aos quais pudessem estar envolvidos estes profissionais.

METODOLOGIA

Neste trabalho, se optou pela aplicação de pesquisa descritiva, utilizando-se dois

instrumentos para o levantamento das informações aqui contidas relativas ao estresse e ao

contexto sócio profissional da amostra pesquisada, quais sejam: Inventário de Sintomas de

Stress de Lipp - ISSL (Apêndice 01) e o Questionário Sócio Profissional (Apêndice 02), semi-

estruturado (contendo perguntas abertas e fechadas). Todos os participantes foram abordados

em seus respectivos postos de táxi durante o período de trabalho e explicitaram sua

concordância em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (Apêndice 03). A amostra foi composta por trinta voluntários dentre os motoristas

de táxi da capital maranhense.

INSTRUMENTOS

Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)

O Inventário de Sintomas de Stress de Lipp é um inventário que se subdivide em

três etapas, cada uma delas avaliando sintomas referentes a uma das fases do estresse. São três

quadros, os quais se remetem às fases do estresse. O primeiro, referente à Fase de Alarme, é

composto por 15 itens os quais avaliam sintomas experimentados nas últimas 24 horas. O

segundo, referente à Fase de Resistência e à Fase de Quase-Exaustão é também composto por

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15 itens relativos a sintomas percebidos na última semana. O último quadro se refere à Fase

de Exaustão e o compõem 23 itens referentes a sintomas vivenciados no último mês. (Lipp et

al., 2004, p. 55-56).

Os itens apresentados em cada fase se remetem a sintomas psicológicos e físicos

do estresse. Se o entrevistado pontua mais que 6 na primeira fase, 3 na segunda fase ou 8 na

terceira, aí está demonstrado o estresse (Lipp, 2000). O ISSL foi desenvolvido e

posteriormente validado por Lipp e Guevara em 1994. De fácil e rápida aplicação, o

inventário tem confiabilidade e consistência para o diagnóstico preciso de estresse, levando

apenas algo em torno de 10 minutos para ser aplicado, podendo ser utilizado com

adolescentes a partir de 14 anos e adultos (Lipp et al., 2004). Faz-se necessária, porém, além

do resultado obtido através do ISSL, uma análise do contexto em que se insere o entrevistado,

para que se faça levantamento correto sobre a origem e duração dos sintomas.

Neste trabalho, utilizou-se uma versão adaptada do ISSL para o programa de

computador Microsoft Excel®, na qual a presença de sintoma era marcada por um 1 e a

ausência por um 0. Ao final do preenchimento, as fórmulas inseridas na planilha já indicavam

automaticamente se aquele indivíduo apresentava sintomas de estresse, a fase em que se

encontrava esse estresse e a predominância de sintomas físicos ou psicológicos.

Questionário Sócio Profissional

O questionário sócio profissional aplicado neste estudo foi criado especificamente

para esta pesquisa. O mesmo contou de perguntas abertas e fechadas relacionadas ao perfil

social do entrevistado (idade, tempo de serviço, se arrimo de família ou não, escolaridade,

relacionamentos interpessoais) e a questões mais propriamente relacionadas à investigação do

ambiente de trabalho de motoristas de táxi com vistas à obtenção de informações que

corroborassem a hipótese de haverem estressores ambientais externos e internos na rotina de

trabalho dos participantes, bem como a aferição de dados importantes relacionados ao perfil

social da amostra em questão.

RESULTADOS

Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)

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Dos 30 entrevistados, 16 indivíduos (53,33% da amostra) apresentaram sintomas

de estresse em alguma das fases do inventário, com predominância dos sintomas

característicos da fase de quase-exaustão. Os 14 outros indivíduos entrevistados não

apresentaram sintomas de estresse ou apresentaram sintomas em níveis os quais não são

considerados suficientes para caracterizar o estresse, segundo o ISSL.

Dos 16 indivíduos considerados estressados, um se encontrava na fase de

resistência (3,33% do total); dez estavam na fase de quase-exaustão (33,33% do total) e 5 se

encontravam na fase de exaustão (16,67% do total) (Figura 01).

Figura 01 – Porcentagem de indivíduos com sintomas de estresse e suas fases.

Perfil Sócio profissional

O questionário sócio profissional não foi respondido por todos os entrevistados,

devido à característica própria da atividade dos taxistas de estar sempre em rotatividade. Dos

30 taxistas entrevistados, apenas 17 responderam ao questionário, de forma parcial ou

completa.

Algumas questões principais referentes ao perfil dos profissionais, como idade,

sexo e tempo de serviço foram respondidas pela maioria dos taxistas (29 entrevistados) por

ter-se incluindo tais questões no cabeçalho da folha de aplicação do ISSL. Dentre esses vinte

e nove entrevistados, o de menor idade contava com 21 anos e o de maior, 63 anos (média de

36 anos).

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O maior tempo de trabalho como taxista constatado entre os entrevistados foi de

42 anos, enquanto o menor tempo foi de 45 dias. A média de tempo de trabalho como

motorista de táxi foi de aproximadamente 16 anos. Todos os entrevistados eram do sexo

masculino.

Quanto à escolaridade, dos 17 indivíduos que responderam ao questionário sócio

profissional, 11 taxistas afirmaram possuir o ensino médio completo, cinco o ensino

fundamental incompleto e um o ensino médio incompleto.

Quando lhes foi questionado ‘É arrimo de família?’, 7 indivíduos responderam

que ‘não, mas contribuo com as despesas de casa’, 6 indivíduos responderam ‘não, mas

contribuo com a maior parte da renda da casa’ e 4 indivíduos responderam ‘sim’. Dos 17

respondentes, 14 indivíduos responderam que a atividade de motorista táxi era sua única fonte

de renda; 2 indivíduos responderam que a atividade de motorista de táxi não era sua única

fonte de renda, nem a principal fonte de renda, mas um complemento e 1 indivíduo respondeu

que a atividade de motorista de táxi não era a sua única fonte de renda, mas a principal fonte

de renda. Ainda dentre os mesmos 17 motoristas, 11 responderam serem proprietários do táxi

e 6 responderam ser defensores4.

Quando a pergunta foi ‘Por que motivo decidiu ser motorista de táxi?’, puderam-

se destacar as seguintes categorias de respostas: “Necessidade financeira” (6 respostas), “falta

de opções” (4 respostas), “trabalho próprio” (3 respostas), “desgosto com o trabalho anterior”

(2 respotas), “outros motivos” (2 respostas).

Quando a pergunta foi ‘Qual é o seu período de trabalho (um turno, dois turnos,

período integral, horário flexível) e porque você optou por trabalhar assim?’, puderam-se

destacar claramente as seguintes categorias de respostas: “Um turno” (2 respostas), “dois

turnos” (1 resposta), “flexível” (2 respostas), “período integral” (2 respostas). Mesmo que

nem todos os motoristas entrevistados tenham respondido a esta questão, durante a aplicação

do questionário, a maioria dos taxistas verbalizou que trabalhavam muitas horas durante o dia.

Muitos relataram começar a trabalhar por volta de seis e sete horas da manhã e deixar o

serviço depois das vinte e duas horas, o que demonstra uma grande jornada de trabalho

enfrentada por estes profissionais, como se pode perceber na fala de um dos entrevistados: ‘16

horas por dia 6 dias por semana. O objetivo é alcançar uma renda satisfatória que possa me

dar uma velhice no mínimo agradável’.

4 Defensor é o termo usado para designar o taxista contratado pelo proprietário do táxi para dividir o

turno de trabalho ou mesmo para trabalhar em turno integral, recebendo parte da renda arrecadada.

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Quando a pergunta foi ‘Como funcionam os seus intervalos para descanso de

almoço?’, 13 taxistas responderam a esta questão, dos quais 7 responderam que não tinham

intervalo para almoço ou este ocorria de forma muito irregular e 6 responderam que paravam

para o almoço e que o seu intervalo para descanso funcionava bem. Um deles escreveu:

‘Praticamente não tenho descanso’;

Quanto ao tempo considerado por eles ideal para um intervalo de almoço e

descanso, 11 taxistas responderam à questão, ao que obtivemos as seguintes categorias de

respostas: ‘02 horas’ (8 taxistas) e ‘respostas diversas’ (3 taxistas).

Quanto à percepção dos taxistas em relação à sua própria jornada de trabalho (se

curta, adequada ou longa), também somente 11 taxistas responderam a esta questão, dos quais

5 taxistas responderam considerar a sua jornada longa e 6 taxistas responderam considerar a

sua jornada de trabalho adequada. Vale ressaltar, no entanto, que mesmo em ter respondido à

questão, a maioria dos entrevistados (n=19) verbalizou considerar longa a sua jornada de

trabalho. Destacam-se as seguintes respostas ao questionário: ‘Longa, se faz necessário para

poder alcançar meus objetivos’ e ‘Longa, porque excede o tempo de descanso ideal’. Dentre

os que responderam considerar adequada a sua jornada de trabalho, destaca-se a seguinte

resposta ao questionário: ‘Adequada, por que sempre a descanso entre uma corrida e outra’.

Por outro lado, a maioria dos motoristas de táxi que consideraram a duração da

sua jornada de trabalho adequada (5 dos seis taxistas), também considerou que seu horário de

trabalho influenciava em sua rotina de sono e alimentação. O motorista que considerou

adequada a sua jornada de trabalho e considerou que seu horário de trabalho não exercia

influência em sua rotina de sono ou alimentação foi o motorista com menor tempo de

atividade enquanto taxista (quarenta e cinco dias). O mesmo acrescentou ao questionário

trabalhar apenas um turno como defensor.

Além disso, o questionário dispunha de uma lista de possíveis estressores

ambientais, aos quais os taxistas eram convidados a pontuar numa escala de 0 a 5 qual era o

nível de esgotamento que cada item lhe causava, sendo 0 igual a não é esgotante e 5, muito

esgotante (Apêndice 02). Nem todos os itens foram considerados esgotantes por todos os

taxistas que responderam a esta questão e alguns foram pontuados com a nota máxima com

maior frequência que outros (Tabela 01)5.

5 Alguns indivíduos ainda adicionaram outras situações que consideravam que lhes causava esgotamento: ‘Motorista

trafegar na minha frente virar para direita ou esquerda sem sinalizar’; ‘Quando o sinal vai abrindo e o motorista que está

atrás começa logo a buzinar’; ‘O motorista que vai em minha frente e muda de faixa sem sinalizar’; ‘Os motoristas burro

que tem no trânsito de São Luís’; ‘Motorista lerdo – carros quebrado, principalmente ônibus’.

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Alguns taxistas relataram já terem sido assaltados ou reféns de bandidos que

utilizaram seus veículos como carros de fuga em ações criminosas. Muitos relataram terem

medo de assalto, porém o número de relatos de medo de assalto não foram significativamente

diferentes do número de relatos de medo de se envolverem em acidente de trânsito. Um dos

taxistas entrevistados relatou: ‘Seguro não é, porque você senta na frente do bandido. Você

não sabe quem é que vai atrás. No táxi entra todos. Mas se for ficar pensando por esse lado,

a gente não faz mais nada também’.

Tabela 01: Classificação de estressores ambientais causadores de esgotamento, segundo

a percepção dos taxistas entrevistados

Estressores citados Quantidade de

Notas 5

Quantidade de

Notas 4

Vias públicas esburacadas 8 1

Engarrafamento 8 1

Negligência de outros motoristas 7 2

Medo de assaltos 7 1

Barulho de buzina 7 1

Medo de acidentes 6 1

Calor intenso 6 0

Dia chuvoso 6 0

Barulho do trânsito 4 1

Passar a marcha 3 1

Cansaço físico dirigindo 2 3

Quando a pergunta foi ‘Você avalia que as situações acima descritas lhe causam

mais esgotamento físico ou emocional (psicológico)?’, obtivemos somente as seguintes

categorias de respostas: “Esgotamento físico” (3 respostas), “esgotamento físico e mental” (3

respostas) e “esgotamento mental” (2 respostas), corroborando os resultados obtidos através

da aplicação do ISSL, o qual mostrou que entre os 16 motoristas considerados estressados, 11

apresentaram predominância de sintomas físicos do estresse. O restante apresentou

predominância de sintomas de estresse psicológico.

Quanto à pergunta ‘Ao final de um dia de trabalho você se considera estressado?

E ao final de uma semana trabalhada?’, 11 taxistas responderam a ambas as questões da

seguinte forma: ‘Sim, um pouco’ (4 taxistas), ‘Sim, bastante’ (4 taxistas) e ‘Não’ (3 taxistas).

Cabe pontuar que os que responderam que não se consideravam estressados ao

final de um dia ou uma semana de trabalho (02 taxistas), tinham 45 dias e oito meses de

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trabalho como taxista, respectivamente, os menores tempos de trabalho como taxistas entre os

entrevistados. Os que responderam que se consideravam um pouco estressados ao final de um

dia e uma semana trabalhada tinham entre 3 anos e 3 meses e 29 anos de trabalho como

taxista. Os que responderam que se consideravam muito estressados após um dia e uma

semana de trabalho tinham entre 13 e 26 anos de trabalho como taxista, levando-nos a supor

que haja uma correlação entre o tempo de trabalho e uma percepção mais acentuada do

estresse causado pelo tipo de trabalho.

Quando se questionou ‘Como você se comporta quando está estressado?’,

puderam-se destacar as seguintes respostas: ‘Muito nervoso’; ‘As vezes compartilho com

alguém, e outras vezes fico calado’; ‘Sinto muita vontade de dormir’; ‘Prefiro ficar calado

até acalmar’; Fico na minha, não mexo com ninguém’; ‘Vontade de chutar, quebrar alguma

coisa’. Sobre que recursos os entrevistados utilizavam para lidar com seu estresse, algumas

das respostas obtidas foram: ‘Escutar música’; ‘As vezes eu oro, falo com Deus’; ‘Procuro

conversar com meus conhecidos e brincar com meu amor (filha)’; ‘Procuro sorrir’;

‘Dormir’; ‘Descanso ou lazer como pescaria’.

Quanto à percepção dos taxistas em relação à influência das situações descritas no

questionário (os estressores ou fatores esgotantes) em sua qualidade de vida, 7 taxistas

responderam a esta questão, dos quais 1 respondeu não haver influência e 6 concordaram que

havia influências negativas, destacando-se a seguinte resposta: ‘Devido a minha jornada de

trabalho ser muito grande, acaba influenciando como por exemplo: durmo pouco, vivo muito

cansado, estressado, etc.’.

Quanto à percepção dos taxistas em relação à influência das situações descritas no

questionário em sua qualidade de trabalho e comportamento durante o trabalho, 5 taxistas

responderam a essa questão, dos quais 2 consideraram não haver influência e 3 consideraram

haver influências negativas, podendo-se destacar a seguinte resposta: ‘Apesar da minha

jornada de trabalho ser muito grande, eu encaro bem o meu trabalho. Não deixo o meu

cansaço tomar conta de mim’.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Dados referentes ao questionário sócio profissional

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A aplicação do questionário sócio profissional visou principalmente levantar

informações que corroborassem a hipótese de haverem fatores estressores ambientais no

ambiente de trabalho de motoristas de táxi na capital maranhense.

Segundo Lipp et al. (1990), as causas do estresse podem ser de ordem externa ou

interna:

[...] As externas são aquelas representadas pelo que acontece na vida ou pelas

pessoas com as quais lidamos, isto é, trabalho em excesso ou desagradável, família

em desarmonia, acidentes, etc. As causas internas são aquelas que se referem a como

pensamos, as crenças e valores que temos e como interpretamos o mundo ao nosso

redor (Lipp et al., 1990, p. 30)

Como já demonstrado, fatores como longa jornada de trabalho, irregularidade

quanto aos horários de alimentação, falta de intervalo para descanso, barulho do trânsito,

vias públicas mal conservadas, engarrafamentos, calor, chuva e negligência de condutores

que dividem o espaço das vias públicas são exemplos de fatores ambientais externos no

trabalho de motoristas de táxi que são considerados estressores na percepção dos próprios

motoristas.

Os fatores estressores internos no ambiente de trabalho dos taxistas propostos pelo

questionário foram identificados pela maioria respondente como existindo em menor

quantidade que os fatores ambientais externos. O questionário propunha como fatores

estressores ambientais internos: passar marchas constantemente, medo de acidentes, medo de

assaltos. Havia no questionário espaço para que os taxistas pudessem expressar quaisquer

outras situações as quais eles considerassem esgotantes em seu ambiente de trabalho, contudo,

entre as situações manifestadas pelos entrevistados além das já propostas, não se constatou

nenhuma que se pudesse classificar enquanto fator estressor interno.

Para Lipp et al. (2007),

Os estressores externos criam tensão emocional devido a necessidade de se ter que

lidar com eles, porém há outros estressores que vivem dentro do nosso próprio ser

[...]. Quando o perigo é real e imediato, uma vez retirado, o organismo volta ao seu

estado normal de relaxamento, acabando com os sintomas. E quando o perigo é

imaginário e você fica constantemente pensando nele? Seu organismo permanece

em estado de stress permanente, diminuindo sua resistência a doenças e

prejudicando a sua qualidade de vida (Lipp et al., 2007, p. 36).

Isso certamente explica o fato de a maioria dos motoristas que graduaram a lista

de possíveis estressores, ter dado nota máxima em para os itens medo de assalto e medo de

acidentes em relação ao nível de esgotamento que estes lhe causavam. Uma vez que estes

estressores são psicológicos e, como colocam Lipp e colaboradores na citação acima, se

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fazem permanentes por serem da ordem do imaginário, não se concretizando frequentemente,

mas permanecendo enquanto sentimento de medo, gerando estrese emocional, tais fatores

realmente se configuram como altamente estressores.

Interessante também é notar as respostas dadas pelos taxistas entrevistados à

pergunta ‘que recursos você utiliza para lidar com o seu estresse?’. Escutar música, sorrir,

conversar com conhecidos e brincar com a filha, dormir, orar, fazer atividades de lazer como

pescaria foram algumas das respostas obtidas de maneiras utilizadas pelos taxistas para

enfrentar o estresse. Tais atitudes podem ser denominadas por coping, que é o enfrentamento

do sujeito frente a estímulos estressores do ambiente. Segundo Folkman e Lazarus (19840,

citados por Zakir apud Lipp et al. (2005), as respostas involuntárias ao fator estressor

caracterizam o estresse, enquanto que as respostas ao mesmo fator estressor que são mantidas

por proporcionarem mudanças ao ambiente externo e sobre as condições aversivas do

ambiente interno, denominam-se coping. Em outras palavras:

O coping processa-se mediante mobilização de recursos naturais, com fins de

administração de situações estressoras. Consiste na interação entre o organismo e o

ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover

a adaptação às circunstâncias estressantes (Zakir apud Lipp et al., 2005).

Dados referentes à aplicação do Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)

As informações obtidas com o questionário sócio profissional corroboram os

dados levantados com a aplicação do ISSL, quando se constatou que a maioria dos taxistas

identificados enquanto estressados se encontrava na fase de quase-exaustão, vindo em

segundo lugar os taxistas que se encontravam na fase de exaustão e, em terceiro, na fase de

resistência. Na fase de quase-exaustão e exaustão, os sintomas apresentados se manifestam

com intensidade e podem ser de ordem física ou psicológica, dentre os quais estão alguns

sintomas que tem relação com as informações obtidas através do questionário, tais como:

irritabilidade excessiva; desgaste físico constante; estar muito nervoso; cansaço constante;

dificuldade para dormir; apatia; depressão ou raiva prolongada; cansaço excessivo;

irritabilidade sem causa aparente; hipersensibilidade emotiva / nervosismo; perda do senso

de humor.

Tais sintomas podem conduzir a doenças psicofisiológicas, pois demonstram a

fragilidade na qual o organismo já se encontra, tornando-se cada vez mais vulnerável:

Quando o stress é prolongado, ele afeta diretamente o sistema imunológico

reduzindo a resistência da pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de

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infecções e doenças contagiosas. Em consequência da queda do istema imunológico,

doenças quepermaneciam latentes podem ser desencadeadas. Úlceras, hipertensão

arterial, diabete, problemas dermatológicos, alergias, impotência sexual e obesidade

podem surgir (Lipp et al., 2005, p. 20).

CONCLUSÃO

Este trabalho visou à investigação dos fatores estressores ambientais envolvidos

no contexto da rotina de trabalho de motoristas de táxi da capital maranhense. Pôde-se

constatar a existência de tais fatores tanto no ambiente interno como externo do trabalho dos

entrevistados. Não se supôs, no entanto, ter-se elencado todos os fatores estressores inseridos

no cotidiano laboral de tais profissionais, porém, o presente estudo contribui para a

investigação dos mesmos, à medida que pôde identificar diversas situações as quais, segundo

a percepção dos motoristas de táxi entrevistados, estão envolvidas no processo de estresse,

causando-lhes esforço e desgaste físico e psicológico na tentativa de se adaptarem e resistirem

a tais situações presentes no dia a dia de sua atividade.

Portanto, fazem-se necessários posteriores estudos mais aprofundados na tentativa

de identificar outras situações que também estejam envolvidas como estressores no ambiente

de trabalho desses profissionais, bem como quais as principais doenças ocasionadas pelo

estresse nessa classe de profissionais, objetivando também trabalhar com esses profissionais

as atitudes de enfrentamento (coping) mais adequadas aos estressores que se impõem em sua

atividade e como trabalhar o distresse no intuito de conduzi-lo ao eustresse, permitindo-lhes

alcançar uma melhor qualidade de vida.

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