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Autor: Diego Costa Porto, Psicólogo inscrito no CRP-11 sob o número 08700, Brasil - 2014.
ESTRESSORES AMBIENTAIS NO TRABALHO DE MOTORISTAS DE TÁXI NA
CIDADE DE SÃO LUÍS – MA.1
Diego Costa Porto2
Richardson Gomes Lima da Silva3
RESUMO: Este artigo relata os resultados de estudo que teve por objetivo investigar os fatores estressores
envolvidos no ambiente de trabalho de motoristas de táxi da cidade de São Luís – Maranhão, bem como o nível
de estresse da população estudada, através de pesquisa descritiva. Os instrumentos utilizados foram o Inventário
de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) e um questionário sócio profissional elaborado para este trabalho.
Resultados: Constatou-se que 53,33% da população estudada apresentaram algum nível de estresse em diferentes
fases. Diversas situações relativas ao ambiente de trabalho dos motoristas de táxi foram identificadas enquanto
estressoras, sendo graduadas pelos taxistas quanto ao nível de esgotamento que lhes causavam. Alguns dos
principais estressores identificados foram ‘engarrafamento’, ‘vias esburacadas’, ‘medo de assalto’, ‘barulho de
buzina’ e ‘negligência de outros motoristas’.
Palavras-Chave: Estresse; Estressores Ambientais; Saúde Ocupacional; Trânsito.
ENVIRONMENTAL STRESSORS AT WORK OF TAXI DRIVERS IN SÃO LUÍS –
MA.
ABSTRACT: This article reports the results of a study that aimed to investigate the stressors involved in the
work environment of taxi drivers from São Luís – Maranhão, as well as the stress level of the sample population
through a descriptive research. The instruments used were the ISSL (Stress Symptom Inventory of Lipp) and a
social-professional questionnaire developed for this work. Results: It was found that 53,33% of the sample
population had some level of stress at different stages. Various situations concerning the working environment of
taxi drivers were identified as stressors, being graded by the taxi drivers by the level of exhaustion that caused
them. Some of the main stressors identified were ‘traffic jam’, ‘bumpy roads’, ‘fear of assault’, ‘horn noise’ and
‘negligence of other drivers’.
Key Words: Stress; Environmental Stressors; Occupational Health; Transit.
INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser social, por isso qualquer afirmação sobre o mesmo não
pode ser levada em consideração dissociada de seu contexto social e ambiental. É nestes
contextos que ele encontra o suprimento para sua subsistência e se inscreve enquanto sujeito,
como parte de um todo, uma vez que o ambiente pode ter influência direta em seus
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Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do grau
de psicólogo da Universidade CEUMA.
2 Graduando do curso de Psicologia da Universidade CEUMA;
3 Psicólogo e pesquisador orientador.
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comportamentos, na sua forma de pensar, agir e reagir. Enquanto indivíduo, o homem é
dependente do meio em que vive e, ao mesmo tempo, é construtor deste meio. A busca por
crescimento individual e profissional, por melhor qualidade de vida ou mesmo pela
manutenção das condições mínimas de sobrevivência dentro do contexto social atual
demanda, em geral, muitas horas trabalhadas por dia, poucas horas de sono, contínuo contato
com as condições urbanas (poluição sonora, visual, atmosférica), convívio diário com o
trânsito das massas e pouco contato afetivo-emocional de qualidade no que diz respeito às
relações interpessoais.
Todas essas situações referentes ao modo de existência da sociedade pós-moderna
podem ser geradoras de um alto nível de estresse para o homem contemporâneo, podendo
influenciar diretamente em suas relações pessoais e de trabalho, concorrendo para o prejuízo
de sua produtividade, gerando como consequência desde comportamentos hostis e
inadequados a perturbações do sono, de atenção e de outras ordens. Além disso, o homem da
contemporaneidade necessita estar sempre se deslocando com rapidez de um ponto ao outro, e
o estilo de vida acelerado da sociedade pós-moderna é refletido no (e é reflexo do) ambiente
urbano construído pelo homem contemporâneo, no qual surgem, dentre outras, necessidades
relacionadas à locomoção urbana e de meios de transportes públicos que possam promover
essa locomoção. Portanto, os meios de transportes, sejam públicos, particulares ou de aluguel,
tornam-se extremamente necessários.
Neste contexto, interessa-nos investigar a que fatores estressores ambientais são
submetidos os usuários de trânsito, especialmente os motoristas de táxi, que por força de sua
profissão, necessitam lidar durante todo o período de trabalho com o trânsito da sociedade
contemporânea.
ATIVIDADE LABORAL DOS MOTORISTAS DE TÁXI
Observando o contexto de trabalho no qual se inscreve a figura do motorista de
táxi na cidade de São Luís – MA, puderam-se supor vários possíveis fatores estressores
ambientais internos e externos, tais como os engarrafamentos das vias públicas devido aos
muitos condutores que fazem uso das mesmas, em incompatibilidade com a capacidade de
tráfego dessas vias; a insegurança quanto à idoneidade do passageiro que se está
transportando; a negligência de condutores que fazem uso dessas vias, dificultando e tornando
perigoso o tráfego; a tarefa do motorista em si (fisicamente e psicologicamente desgastante); a
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poluição sonora do trânsito, o clima (calor e chuva); as condições do trânsito e das vias pelas
quais trafega; dentre outros.
Almeida (2010), citando Nascimento e Pasqualetto (2002) e complementando o
argumento desses autores, fala um pouco sobre essa realidade:
Alguns locais e atividades são apontados como intrinsecamente estressantes, seja
por suas características físicas ou ambientais, seja pelo tipo de trabalho
desenvolvido. No primeiro caso, os motoristas profissionais são um exemplo
conhecido e no segundo, os serviços prestados, cuja tarefa principal envolve, em seu
cotidiano, o contato com usuários dos transportes seja ele público ou particular e
principalmente o contato com outros motoristas amadores e profissionais
(Nascimento e Pasqualetto, 2002). O trabalho dos profissionais do trânsito conjuga
os dois aspectos acima citados e, portanto, pode ser sempre considerado como
ambiente potencialmente de risco, tanto para os motoristas, como para os que
usufruem de seus serviços. Seus aspectos relacionais e o tipo de serviço prestado
possuem características intrínsecas que permeiam o exercício profissional e que
podem contribuir para a ocorrência de estresse nesses locais. (Almeida, 2010)
Muitos dos fatores estressores no ambiente de trabalho dos taxistas escapam ao
controle destes. São questões relacionadas com o ambiente interno (carro) e externo do
trabalho (trânsito, outros condutores, passageiros desconhecidos, clima, etc.). Hoffman e
Legal (2011 apud Hoffman et al., 2011) colocam que, além dos fatores estressores relativos à
vida pessoal dos condutores:
Existem outras situações da vida diária, por exemplo: pequenas discussões, ruídos,
não encontrar estacionamento, congestionamentos no trânsito, que embora não
sejam tão graves, geram um estresse nada benéfico para o condutor, produzindo
mudanças nas batidas cardíacas, na secreção de catecolamina ou alterações na
constituição da pele (Hoffman & Legal apud Hoffman et al., 2011).
A presença constante de tais fatores estressores impõe uma pressão (strain) sobre
os taxistas, podendo desencadear o fenômeno do estresse. Pesquisas sugerem que este tipo de
trabalho onde há pressão continuadamente sustentada está significativamente relacionado com
a exaustão mental e física em motoristas comerciais (Karasek, 1979 apud Biggs et al., 2009,
p. 5). Com isto concorda Hanzlíková (2004), ao citar Ilmarinen (1995), dizendo que:
The driving profession in general bears a wide range of stress-inducing factors
(stressors). Ilmarinen (1995 In Kloimuller et al., 2000) distinguishes between three
major classes of risk factors: high physical work demands (static muscle effort,
repetitive movements), stressful or dangerous work environment (risk of accidents,
great heat or cold) and poor 4 organization of work (role conflicts, control, fear of
failure, lack of recognition and esteem at work). (Ilmarinen, 1995 apud Hanzlíková,
2004, p.3)
SOBRE O ESTRESSE
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O termo stress é proveniente da física, significando naquela ciência o grau de
deformidade que uma estrutura sofre quando submetida a um esforço. Hans Selye, professor e
diretor do Instituto de Medicina Experimental e Cirurgia da Universidade de Montreal –
Canadá, pesquisador deste fenômeno, utilizou este termo para se referir ao conjunto de
reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige um esforço
para adaptação. De fato, a todo instante o ser humano está em constante busca por adaptação
às exigências ambientais internas e externas. Estar sob o fenômeno do estresse é estar em
busca do equilíbrio orgânico, da homeostase, ou seja, do equilíbrio com o meio onde se está
inserido. Quando um organismo é submetido a estímulos que ameacem esse equilíbrio, ele
reage com um conjunto de respostas específicas o qual recebeu, por Hans Selye, o nome de
estresse (Limongi-França & Rodrigues, 1996).
Essa síndrome do estresse, ou Síndrome Geral da Adaptação, acaba por
influenciar o organismo tanto em sua esfera biológica quanto psicossocial. Há, porém,
aspectos relacionados à maneira com que cada indivíduo reage ao estresse. Se, ao ser
submetido ao fator estressor, o organismo produz uma resposta negativa, ou seja, uma
resposta de adaptação que é inadequada ao estímulo, tal resposta recebe o nome de distresse.
Por outro lado, se o sujeito reage adequadamente ao estímulo que se lhe propõe, temos então
o fenômeno conhecido por eustresse (Limongi-França & Rodrigues, 1996).
Como colocam Limongi-França & Rodrigues (1996), uma definição clara para o
estresse é “uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais
está submetido, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que
as próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo o seu bem-estar” (Limongi-França &
Rodrigues, 1996, p. 24). Lipp & Rocha (1996) complementam esta definição ao acrescentar
que o estresse também pode ser positivo e advir de situações que emocionem profundamente
o sujeito. Os autores colocam que, assim como um acidente pode gerar estresse, uma
promoção no emprego também pode.
O indivíduo que é submetido ao estresse, só o é por que está inserido no ambiente,
elemento fundamental nesta equação. São as exigências do meio, seja esse meio considerado
externo ou interno (estímulos endógenos – biológicos – ou psicológicos), que trazem a
necessidade de homeostase por parte do sujeito. Assim, em se tratando de ambiente,
Rozenstraten (2011 apud Hoffman et al., 2011) coloca que:
A noção de ambiente permite distinguir: um ambiente material natural constituído
por toda matéria que nos cerca – o céu, o sol, a lua, os astros, o cosmos, o vento, as
chuvas e todos os fenômenos climatológicos, os oceanos, rios, praias, montanhas e
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planícies e milhões de outras coisas mais; um ambiente material construído, quer
dizer, tudo o que a cultura humana construiu em habitações, palácios, monumentos,
edifícios e vias; um ambiente vivo, com centenas de milhares de espécies de plantas,
de insetos, de peixes, de aves, de mamíferos. Dentro deste último, temos o ambiente
social, constituído por bilhões de pessoas, que percebem, sentem, pensam, desejam e
que buscam o equilíbrio entre o que se é e o que se pode fazer, uma espécie de
homeostase somática e psíquica. De toda forma, assim como os outros fazem parte
do nosso ambiente social nós fazemos parte do ambiente social dos outros: somos
ambiente. (Rozenstraten, 2011 apud Hoffman et al., 2011)
Reinier J. A. Rozenstraten deixa clara a importância do ambiente para o ser
humano, de tal forma que o indivíduo está tão fortemente vinculado ao meio que, na
perspectiva do outro, é ele mesmo ambiente para o outro enquanto o outro sujeito é parte de
seu próprio ambiente. Fica configurada a realidade da grande influência exercida entre os
sujeitos e a constante busca pela homeostase vivenciada pelos mesmos.
Síndrome Geral de Adaptação – modelo trifásico do estresse
A Síndrome Geral de Adaptação consiste em três fases conhecidas por reação de
alarme, fase de resistência e fase de exaustão. A primeira delas - reação de alarme - se
caracteriza por aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, para que o sangue circule
com mais rapidez, levando mais oxigênio e nutrientes aos tecidos; contração do baço, levando
mais glóbulos vermelhos à corrente sanguínea e possibilitando também mais oxigênio para o
organismo; liberação, por parte do fígado, de açúcar armazenado para a corrente sanguínea
para ser utilizado como alimento e energia para os músculos; redistribuição sanguínea,
privilegiando os músculos e cérebro e havendo diminuição do sangue nas vísceras e pele;
aumento da frequência respiratória e dilatação dos brônquios, para que o organismo possa
captar e receber mais oxigênio; dilatação da pupila com exoftalmia para aumentar a eficiência
visual; aumento do número de glóbulos brancos na corrente sanguínea para reparar possíveis
danos aos tecidos e, por fim, ansiedade. Todas estas alterações preparam o organismo para
enfrentar o estressor, levando-o a lutar ou fugir. (Limongi-França & Rodrigues, 1996)
A fase de resistência, por sua vez, acontece caso o estressor mantenha-se no
ambiente e tem como características o aumento do córtex da supra renal; a atrofia de algumas
estruturas relacionadas à produção de células do sangue; ulcerações no aparelho digestivo;
irritabilidade; insônia, mudanças no humor e diminuição do desejo sexual (Limongi-França &
Rodrigues, 1996). Lipp e Malagris (1995 apud Lipp et al.,2004) enfatizam a busca pelo
reequilíbrio que há nesse estágio o que gera um grande uso de energia e o consequente
sensação de desgaste generalizado sem causa aparente. Dentre várias consequências desse
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estágio, o sujeito passa a apresentar dificuldades com a memória, o que é sinal de que a
capacidade de lidar com a presente situação foi ultrapassada pela demanda. Quando, porém, o
indivíduo consegue proceder a uma adaptação completa, resistindo ao estressor, o processo de
stress é interrompido sem sequelas.
Já a fase da exaustão muitas vezes representa a falha do organismo na adaptação
aos estressores que lhe são apresentados. Nesta fase, permanecendo fortes os fatores
estressores ambientais, o indivíduo pode ser levado à morte. Tem como características um
retorno parcial à reação de alarme; falhas dos mecanismos de adaptação; o esgotamento por
sobrecarga fisiológica e a morte do organismo nos casos mais extremos (Limongi-França &
Rodrigues, 1996).
O Modelo Quadrifásico do Estresse
Lipp, durante o processo de padronização de seu Inventário de Sintomas de Stress
(ISSL) reparou que haviam situações em que se notava um enfraquecimento do sujeito que se
encontrava na fase de resistência, não se percebendo nesses casos uma adaptação ou
resistência ao estressor. Por conseguinte, doenças manifestavam-se nesses sujeitos em níveis
não tão graves quanto em sujeitos na fase da exaustão, possibilitando que tais pessoas
tivessem condições de trabalhar até certo ponto. O que se percebeu foi que a fase de
resistência, tal qual proposta por Selye, se mostrava extensa e com dois momentos
diferenciados quanto à intensidade com que os sintomas se manifestavam. Assim, Lipp criou
o modelo quadrifásico de estresse, no qual a fase de resistência se remete ao primeiro
momento onde os sintomas não são tão intensos e, quando da manifestação da maior
intensidade desses mesmos sintomas, os tais são abarcados pela fase à qual Lipp nomeou de
fase de quase-exaustão (Lipp et. al, 2005, p. 19).
O Estresse do Trabalho
O estresse do trabalho é assim definido por situações que são percebidas pelo
sujeito, em seu ambiente de trabalho, como ameaçadoras. Tais questões podem estar
envolvidas com as necessidades de realização pessoal e profissional bem como necessidades
físicas ou mentais, havendo prejuízo na interação destas necessidades com o ambiente de
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trabalho, apresentando demandas excessivas ao sujeito, ou demandas para as quais ele não
dispõe de recursos para o enfretamento das mesmas. (Limongi-França & Rodrigues, 1996)
É o que coloca Leka (2004, p. 4), com bastante clareza:
El estrés es el resultado del desequilibrio entre las exigencias y presiones a las que
se enfrenta el individuo, por un lado, y sus conocimientos y capacidades, por otro. El
estrés pone a prueba la capacidad del individuo para afrontar su actividad, y no sólo
incluye situaciones em que la presión laboral excede la capacidad del trabajador para
hacer frente a la misma, sino también los casos en que no se utilizan suficientemente
sus conocimientos y capacidades, y esto supone un problema para el trabajador.
Assim, este estudo visou investigar possíveis fatores ou estímulos estressores no
ambiente de trabalho no qual os motoristas de táxi de São Luís se inserem, levando em
consideração a percepção dos mesmos diante de seu contexto de trabalho, apontando também
os níveis de estresse aos quais pudessem estar envolvidos estes profissionais.
METODOLOGIA
Neste trabalho, se optou pela aplicação de pesquisa descritiva, utilizando-se dois
instrumentos para o levantamento das informações aqui contidas relativas ao estresse e ao
contexto sócio profissional da amostra pesquisada, quais sejam: Inventário de Sintomas de
Stress de Lipp - ISSL (Apêndice 01) e o Questionário Sócio Profissional (Apêndice 02), semi-
estruturado (contendo perguntas abertas e fechadas). Todos os participantes foram abordados
em seus respectivos postos de táxi durante o período de trabalho e explicitaram sua
concordância em participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Apêndice 03). A amostra foi composta por trinta voluntários dentre os motoristas
de táxi da capital maranhense.
INSTRUMENTOS
Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)
O Inventário de Sintomas de Stress de Lipp é um inventário que se subdivide em
três etapas, cada uma delas avaliando sintomas referentes a uma das fases do estresse. São três
quadros, os quais se remetem às fases do estresse. O primeiro, referente à Fase de Alarme, é
composto por 15 itens os quais avaliam sintomas experimentados nas últimas 24 horas. O
segundo, referente à Fase de Resistência e à Fase de Quase-Exaustão é também composto por
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15 itens relativos a sintomas percebidos na última semana. O último quadro se refere à Fase
de Exaustão e o compõem 23 itens referentes a sintomas vivenciados no último mês. (Lipp et
al., 2004, p. 55-56).
Os itens apresentados em cada fase se remetem a sintomas psicológicos e físicos
do estresse. Se o entrevistado pontua mais que 6 na primeira fase, 3 na segunda fase ou 8 na
terceira, aí está demonstrado o estresse (Lipp, 2000). O ISSL foi desenvolvido e
posteriormente validado por Lipp e Guevara em 1994. De fácil e rápida aplicação, o
inventário tem confiabilidade e consistência para o diagnóstico preciso de estresse, levando
apenas algo em torno de 10 minutos para ser aplicado, podendo ser utilizado com
adolescentes a partir de 14 anos e adultos (Lipp et al., 2004). Faz-se necessária, porém, além
do resultado obtido através do ISSL, uma análise do contexto em que se insere o entrevistado,
para que se faça levantamento correto sobre a origem e duração dos sintomas.
Neste trabalho, utilizou-se uma versão adaptada do ISSL para o programa de
computador Microsoft Excel®, na qual a presença de sintoma era marcada por um 1 e a
ausência por um 0. Ao final do preenchimento, as fórmulas inseridas na planilha já indicavam
automaticamente se aquele indivíduo apresentava sintomas de estresse, a fase em que se
encontrava esse estresse e a predominância de sintomas físicos ou psicológicos.
Questionário Sócio Profissional
O questionário sócio profissional aplicado neste estudo foi criado especificamente
para esta pesquisa. O mesmo contou de perguntas abertas e fechadas relacionadas ao perfil
social do entrevistado (idade, tempo de serviço, se arrimo de família ou não, escolaridade,
relacionamentos interpessoais) e a questões mais propriamente relacionadas à investigação do
ambiente de trabalho de motoristas de táxi com vistas à obtenção de informações que
corroborassem a hipótese de haverem estressores ambientais externos e internos na rotina de
trabalho dos participantes, bem como a aferição de dados importantes relacionados ao perfil
social da amostra em questão.
RESULTADOS
Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)
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Dos 30 entrevistados, 16 indivíduos (53,33% da amostra) apresentaram sintomas
de estresse em alguma das fases do inventário, com predominância dos sintomas
característicos da fase de quase-exaustão. Os 14 outros indivíduos entrevistados não
apresentaram sintomas de estresse ou apresentaram sintomas em níveis os quais não são
considerados suficientes para caracterizar o estresse, segundo o ISSL.
Dos 16 indivíduos considerados estressados, um se encontrava na fase de
resistência (3,33% do total); dez estavam na fase de quase-exaustão (33,33% do total) e 5 se
encontravam na fase de exaustão (16,67% do total) (Figura 01).
Figura 01 – Porcentagem de indivíduos com sintomas de estresse e suas fases.
Perfil Sócio profissional
O questionário sócio profissional não foi respondido por todos os entrevistados,
devido à característica própria da atividade dos taxistas de estar sempre em rotatividade. Dos
30 taxistas entrevistados, apenas 17 responderam ao questionário, de forma parcial ou
completa.
Algumas questões principais referentes ao perfil dos profissionais, como idade,
sexo e tempo de serviço foram respondidas pela maioria dos taxistas (29 entrevistados) por
ter-se incluindo tais questões no cabeçalho da folha de aplicação do ISSL. Dentre esses vinte
e nove entrevistados, o de menor idade contava com 21 anos e o de maior, 63 anos (média de
36 anos).
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O maior tempo de trabalho como taxista constatado entre os entrevistados foi de
42 anos, enquanto o menor tempo foi de 45 dias. A média de tempo de trabalho como
motorista de táxi foi de aproximadamente 16 anos. Todos os entrevistados eram do sexo
masculino.
Quanto à escolaridade, dos 17 indivíduos que responderam ao questionário sócio
profissional, 11 taxistas afirmaram possuir o ensino médio completo, cinco o ensino
fundamental incompleto e um o ensino médio incompleto.
Quando lhes foi questionado ‘É arrimo de família?’, 7 indivíduos responderam
que ‘não, mas contribuo com as despesas de casa’, 6 indivíduos responderam ‘não, mas
contribuo com a maior parte da renda da casa’ e 4 indivíduos responderam ‘sim’. Dos 17
respondentes, 14 indivíduos responderam que a atividade de motorista táxi era sua única fonte
de renda; 2 indivíduos responderam que a atividade de motorista de táxi não era sua única
fonte de renda, nem a principal fonte de renda, mas um complemento e 1 indivíduo respondeu
que a atividade de motorista de táxi não era a sua única fonte de renda, mas a principal fonte
de renda. Ainda dentre os mesmos 17 motoristas, 11 responderam serem proprietários do táxi
e 6 responderam ser defensores4.
Quando a pergunta foi ‘Por que motivo decidiu ser motorista de táxi?’, puderam-
se destacar as seguintes categorias de respostas: “Necessidade financeira” (6 respostas), “falta
de opções” (4 respostas), “trabalho próprio” (3 respostas), “desgosto com o trabalho anterior”
(2 respotas), “outros motivos” (2 respostas).
Quando a pergunta foi ‘Qual é o seu período de trabalho (um turno, dois turnos,
período integral, horário flexível) e porque você optou por trabalhar assim?’, puderam-se
destacar claramente as seguintes categorias de respostas: “Um turno” (2 respostas), “dois
turnos” (1 resposta), “flexível” (2 respostas), “período integral” (2 respostas). Mesmo que
nem todos os motoristas entrevistados tenham respondido a esta questão, durante a aplicação
do questionário, a maioria dos taxistas verbalizou que trabalhavam muitas horas durante o dia.
Muitos relataram começar a trabalhar por volta de seis e sete horas da manhã e deixar o
serviço depois das vinte e duas horas, o que demonstra uma grande jornada de trabalho
enfrentada por estes profissionais, como se pode perceber na fala de um dos entrevistados: ‘16
horas por dia 6 dias por semana. O objetivo é alcançar uma renda satisfatória que possa me
dar uma velhice no mínimo agradável’.
4 Defensor é o termo usado para designar o taxista contratado pelo proprietário do táxi para dividir o
turno de trabalho ou mesmo para trabalhar em turno integral, recebendo parte da renda arrecadada.
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Quando a pergunta foi ‘Como funcionam os seus intervalos para descanso de
almoço?’, 13 taxistas responderam a esta questão, dos quais 7 responderam que não tinham
intervalo para almoço ou este ocorria de forma muito irregular e 6 responderam que paravam
para o almoço e que o seu intervalo para descanso funcionava bem. Um deles escreveu:
‘Praticamente não tenho descanso’;
Quanto ao tempo considerado por eles ideal para um intervalo de almoço e
descanso, 11 taxistas responderam à questão, ao que obtivemos as seguintes categorias de
respostas: ‘02 horas’ (8 taxistas) e ‘respostas diversas’ (3 taxistas).
Quanto à percepção dos taxistas em relação à sua própria jornada de trabalho (se
curta, adequada ou longa), também somente 11 taxistas responderam a esta questão, dos quais
5 taxistas responderam considerar a sua jornada longa e 6 taxistas responderam considerar a
sua jornada de trabalho adequada. Vale ressaltar, no entanto, que mesmo em ter respondido à
questão, a maioria dos entrevistados (n=19) verbalizou considerar longa a sua jornada de
trabalho. Destacam-se as seguintes respostas ao questionário: ‘Longa, se faz necessário para
poder alcançar meus objetivos’ e ‘Longa, porque excede o tempo de descanso ideal’. Dentre
os que responderam considerar adequada a sua jornada de trabalho, destaca-se a seguinte
resposta ao questionário: ‘Adequada, por que sempre a descanso entre uma corrida e outra’.
Por outro lado, a maioria dos motoristas de táxi que consideraram a duração da
sua jornada de trabalho adequada (5 dos seis taxistas), também considerou que seu horário de
trabalho influenciava em sua rotina de sono e alimentação. O motorista que considerou
adequada a sua jornada de trabalho e considerou que seu horário de trabalho não exercia
influência em sua rotina de sono ou alimentação foi o motorista com menor tempo de
atividade enquanto taxista (quarenta e cinco dias). O mesmo acrescentou ao questionário
trabalhar apenas um turno como defensor.
Além disso, o questionário dispunha de uma lista de possíveis estressores
ambientais, aos quais os taxistas eram convidados a pontuar numa escala de 0 a 5 qual era o
nível de esgotamento que cada item lhe causava, sendo 0 igual a não é esgotante e 5, muito
esgotante (Apêndice 02). Nem todos os itens foram considerados esgotantes por todos os
taxistas que responderam a esta questão e alguns foram pontuados com a nota máxima com
maior frequência que outros (Tabela 01)5.
5 Alguns indivíduos ainda adicionaram outras situações que consideravam que lhes causava esgotamento: ‘Motorista
trafegar na minha frente virar para direita ou esquerda sem sinalizar’; ‘Quando o sinal vai abrindo e o motorista que está
atrás começa logo a buzinar’; ‘O motorista que vai em minha frente e muda de faixa sem sinalizar’; ‘Os motoristas burro
que tem no trânsito de São Luís’; ‘Motorista lerdo – carros quebrado, principalmente ônibus’.
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Alguns taxistas relataram já terem sido assaltados ou reféns de bandidos que
utilizaram seus veículos como carros de fuga em ações criminosas. Muitos relataram terem
medo de assalto, porém o número de relatos de medo de assalto não foram significativamente
diferentes do número de relatos de medo de se envolverem em acidente de trânsito. Um dos
taxistas entrevistados relatou: ‘Seguro não é, porque você senta na frente do bandido. Você
não sabe quem é que vai atrás. No táxi entra todos. Mas se for ficar pensando por esse lado,
a gente não faz mais nada também’.
Tabela 01: Classificação de estressores ambientais causadores de esgotamento, segundo
a percepção dos taxistas entrevistados
Estressores citados Quantidade de
Notas 5
Quantidade de
Notas 4
Vias públicas esburacadas 8 1
Engarrafamento 8 1
Negligência de outros motoristas 7 2
Medo de assaltos 7 1
Barulho de buzina 7 1
Medo de acidentes 6 1
Calor intenso 6 0
Dia chuvoso 6 0
Barulho do trânsito 4 1
Passar a marcha 3 1
Cansaço físico dirigindo 2 3
Quando a pergunta foi ‘Você avalia que as situações acima descritas lhe causam
mais esgotamento físico ou emocional (psicológico)?’, obtivemos somente as seguintes
categorias de respostas: “Esgotamento físico” (3 respostas), “esgotamento físico e mental” (3
respostas) e “esgotamento mental” (2 respostas), corroborando os resultados obtidos através
da aplicação do ISSL, o qual mostrou que entre os 16 motoristas considerados estressados, 11
apresentaram predominância de sintomas físicos do estresse. O restante apresentou
predominância de sintomas de estresse psicológico.
Quanto à pergunta ‘Ao final de um dia de trabalho você se considera estressado?
E ao final de uma semana trabalhada?’, 11 taxistas responderam a ambas as questões da
seguinte forma: ‘Sim, um pouco’ (4 taxistas), ‘Sim, bastante’ (4 taxistas) e ‘Não’ (3 taxistas).
Cabe pontuar que os que responderam que não se consideravam estressados ao
final de um dia ou uma semana de trabalho (02 taxistas), tinham 45 dias e oito meses de
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trabalho como taxista, respectivamente, os menores tempos de trabalho como taxistas entre os
entrevistados. Os que responderam que se consideravam um pouco estressados ao final de um
dia e uma semana trabalhada tinham entre 3 anos e 3 meses e 29 anos de trabalho como
taxista. Os que responderam que se consideravam muito estressados após um dia e uma
semana de trabalho tinham entre 13 e 26 anos de trabalho como taxista, levando-nos a supor
que haja uma correlação entre o tempo de trabalho e uma percepção mais acentuada do
estresse causado pelo tipo de trabalho.
Quando se questionou ‘Como você se comporta quando está estressado?’,
puderam-se destacar as seguintes respostas: ‘Muito nervoso’; ‘As vezes compartilho com
alguém, e outras vezes fico calado’; ‘Sinto muita vontade de dormir’; ‘Prefiro ficar calado
até acalmar’; Fico na minha, não mexo com ninguém’; ‘Vontade de chutar, quebrar alguma
coisa’. Sobre que recursos os entrevistados utilizavam para lidar com seu estresse, algumas
das respostas obtidas foram: ‘Escutar música’; ‘As vezes eu oro, falo com Deus’; ‘Procuro
conversar com meus conhecidos e brincar com meu amor (filha)’; ‘Procuro sorrir’;
‘Dormir’; ‘Descanso ou lazer como pescaria’.
Quanto à percepção dos taxistas em relação à influência das situações descritas no
questionário (os estressores ou fatores esgotantes) em sua qualidade de vida, 7 taxistas
responderam a esta questão, dos quais 1 respondeu não haver influência e 6 concordaram que
havia influências negativas, destacando-se a seguinte resposta: ‘Devido a minha jornada de
trabalho ser muito grande, acaba influenciando como por exemplo: durmo pouco, vivo muito
cansado, estressado, etc.’.
Quanto à percepção dos taxistas em relação à influência das situações descritas no
questionário em sua qualidade de trabalho e comportamento durante o trabalho, 5 taxistas
responderam a essa questão, dos quais 2 consideraram não haver influência e 3 consideraram
haver influências negativas, podendo-se destacar a seguinte resposta: ‘Apesar da minha
jornada de trabalho ser muito grande, eu encaro bem o meu trabalho. Não deixo o meu
cansaço tomar conta de mim’.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Dados referentes ao questionário sócio profissional
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A aplicação do questionário sócio profissional visou principalmente levantar
informações que corroborassem a hipótese de haverem fatores estressores ambientais no
ambiente de trabalho de motoristas de táxi na capital maranhense.
Segundo Lipp et al. (1990), as causas do estresse podem ser de ordem externa ou
interna:
[...] As externas são aquelas representadas pelo que acontece na vida ou pelas
pessoas com as quais lidamos, isto é, trabalho em excesso ou desagradável, família
em desarmonia, acidentes, etc. As causas internas são aquelas que se referem a como
pensamos, as crenças e valores que temos e como interpretamos o mundo ao nosso
redor (Lipp et al., 1990, p. 30)
Como já demonstrado, fatores como longa jornada de trabalho, irregularidade
quanto aos horários de alimentação, falta de intervalo para descanso, barulho do trânsito,
vias públicas mal conservadas, engarrafamentos, calor, chuva e negligência de condutores
que dividem o espaço das vias públicas são exemplos de fatores ambientais externos no
trabalho de motoristas de táxi que são considerados estressores na percepção dos próprios
motoristas.
Os fatores estressores internos no ambiente de trabalho dos taxistas propostos pelo
questionário foram identificados pela maioria respondente como existindo em menor
quantidade que os fatores ambientais externos. O questionário propunha como fatores
estressores ambientais internos: passar marchas constantemente, medo de acidentes, medo de
assaltos. Havia no questionário espaço para que os taxistas pudessem expressar quaisquer
outras situações as quais eles considerassem esgotantes em seu ambiente de trabalho, contudo,
entre as situações manifestadas pelos entrevistados além das já propostas, não se constatou
nenhuma que se pudesse classificar enquanto fator estressor interno.
Para Lipp et al. (2007),
Os estressores externos criam tensão emocional devido a necessidade de se ter que
lidar com eles, porém há outros estressores que vivem dentro do nosso próprio ser
[...]. Quando o perigo é real e imediato, uma vez retirado, o organismo volta ao seu
estado normal de relaxamento, acabando com os sintomas. E quando o perigo é
imaginário e você fica constantemente pensando nele? Seu organismo permanece
em estado de stress permanente, diminuindo sua resistência a doenças e
prejudicando a sua qualidade de vida (Lipp et al., 2007, p. 36).
Isso certamente explica o fato de a maioria dos motoristas que graduaram a lista
de possíveis estressores, ter dado nota máxima em para os itens medo de assalto e medo de
acidentes em relação ao nível de esgotamento que estes lhe causavam. Uma vez que estes
estressores são psicológicos e, como colocam Lipp e colaboradores na citação acima, se
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fazem permanentes por serem da ordem do imaginário, não se concretizando frequentemente,
mas permanecendo enquanto sentimento de medo, gerando estrese emocional, tais fatores
realmente se configuram como altamente estressores.
Interessante também é notar as respostas dadas pelos taxistas entrevistados à
pergunta ‘que recursos você utiliza para lidar com o seu estresse?’. Escutar música, sorrir,
conversar com conhecidos e brincar com a filha, dormir, orar, fazer atividades de lazer como
pescaria foram algumas das respostas obtidas de maneiras utilizadas pelos taxistas para
enfrentar o estresse. Tais atitudes podem ser denominadas por coping, que é o enfrentamento
do sujeito frente a estímulos estressores do ambiente. Segundo Folkman e Lazarus (19840,
citados por Zakir apud Lipp et al. (2005), as respostas involuntárias ao fator estressor
caracterizam o estresse, enquanto que as respostas ao mesmo fator estressor que são mantidas
por proporcionarem mudanças ao ambiente externo e sobre as condições aversivas do
ambiente interno, denominam-se coping. Em outras palavras:
O coping processa-se mediante mobilização de recursos naturais, com fins de
administração de situações estressoras. Consiste na interação entre o organismo e o
ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover
a adaptação às circunstâncias estressantes (Zakir apud Lipp et al., 2005).
Dados referentes à aplicação do Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL)
As informações obtidas com o questionário sócio profissional corroboram os
dados levantados com a aplicação do ISSL, quando se constatou que a maioria dos taxistas
identificados enquanto estressados se encontrava na fase de quase-exaustão, vindo em
segundo lugar os taxistas que se encontravam na fase de exaustão e, em terceiro, na fase de
resistência. Na fase de quase-exaustão e exaustão, os sintomas apresentados se manifestam
com intensidade e podem ser de ordem física ou psicológica, dentre os quais estão alguns
sintomas que tem relação com as informações obtidas através do questionário, tais como:
irritabilidade excessiva; desgaste físico constante; estar muito nervoso; cansaço constante;
dificuldade para dormir; apatia; depressão ou raiva prolongada; cansaço excessivo;
irritabilidade sem causa aparente; hipersensibilidade emotiva / nervosismo; perda do senso
de humor.
Tais sintomas podem conduzir a doenças psicofisiológicas, pois demonstram a
fragilidade na qual o organismo já se encontra, tornando-se cada vez mais vulnerável:
Quando o stress é prolongado, ele afeta diretamente o sistema imunológico
reduzindo a resistência da pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de
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infecções e doenças contagiosas. Em consequência da queda do istema imunológico,
doenças quepermaneciam latentes podem ser desencadeadas. Úlceras, hipertensão
arterial, diabete, problemas dermatológicos, alergias, impotência sexual e obesidade
podem surgir (Lipp et al., 2005, p. 20).
CONCLUSÃO
Este trabalho visou à investigação dos fatores estressores ambientais envolvidos
no contexto da rotina de trabalho de motoristas de táxi da capital maranhense. Pôde-se
constatar a existência de tais fatores tanto no ambiente interno como externo do trabalho dos
entrevistados. Não se supôs, no entanto, ter-se elencado todos os fatores estressores inseridos
no cotidiano laboral de tais profissionais, porém, o presente estudo contribui para a
investigação dos mesmos, à medida que pôde identificar diversas situações as quais, segundo
a percepção dos motoristas de táxi entrevistados, estão envolvidas no processo de estresse,
causando-lhes esforço e desgaste físico e psicológico na tentativa de se adaptarem e resistirem
a tais situações presentes no dia a dia de sua atividade.
Portanto, fazem-se necessários posteriores estudos mais aprofundados na tentativa
de identificar outras situações que também estejam envolvidas como estressores no ambiente
de trabalho desses profissionais, bem como quais as principais doenças ocasionadas pelo
estresse nessa classe de profissionais, objetivando também trabalhar com esses profissionais
as atitudes de enfrentamento (coping) mais adequadas aos estressores que se impõem em sua
atividade e como trabalhar o distresse no intuito de conduzi-lo ao eustresse, permitindo-lhes
alcançar uma melhor qualidade de vida.
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