1 Estresse ocupacional e qualidade de vida de profissionais de saúde da formação à práxis. Débora Mendonça 1 [email protected]Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Ergonomia – FAIPE Resumo O objetivo deste trabalho é identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade de vida de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e docência. A área de saúde é um grupo de profissionais de diversas especialidades que apresentam características em comum, tais como: o atendimento ao público, dupla jornada, cobrança excessiva dos pacientes. Esses fatores podem influenciar no aparecimento do estresse ocupacional, também conhecido como Burnout. Trata-se de uma doença ocupacional que causa exaustão emocional e baixa realização pessoal, afetando o desempenho profissional. A carga de trabalho adotada pelos profissionais de saúde é extenuante, com trabalhos realizados em mais de uma instituição de saúde, às vezes, que associado a outros fatores, pode desencadear a Síndrome de Burnout, levando um comprometimento de sua qualidade de vida. A qualidade de vida do trabalhador tornou-se um assunto relevante, pois o processo de industrialização trouxe mudanças na rotina e na organização do trabalho. O profissional de saúde também se preocupa com questões relacionadas à demanda e produtividade. O ritmo de trabalho, a sobrecarga cognitiva, a gestão de pessoas enfermas que precisam constante assistência, a satisfação profissional e as dificuldades sociodemográficas podem influenciar na percepção da qualidade de vida. Palavras Chaves: Qualidade de Vida do Trabalhador, Trabalhadores da Saúde, Estresse Ocupacional. 1. Introdução A preocupação com assuntos referentes à qualidade de vida faz-se presente no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida. Assim, a qualidade de vida é abordada, por muitos autores, como sinônimo de saúde, e por outros como um conceito mais abrangente, em que as condições de saúde seriam um dos aspectos a serem considerados (FLECK et. al., 1999). De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida pode ser definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Para Albuquerque e França (1998), qualidade de vida no trabalhado é um conjunto de ações de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas, estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, e visa propiciar condições plenas de desenvolvimento humano para o trabalho e durante a sua realização. __________________________ 1 Pós-graduando em Ergonomia. 2 Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestre em Bioética e Direito em Saúde. Doutorando em saúde pública.
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Estresse ocupacional e qualidade de vida de profissionais de saúde da
O objetivo deste trabalho é identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade
de vida de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e
docência. A área de saúde é um grupo de profissionais de diversas especialidades que
apresentam características em comum, tais como: o atendimento ao público, dupla jornada,
cobrança excessiva dos pacientes. Esses fatores podem influenciar no aparecimento do
estresse ocupacional, também conhecido como Burnout. Trata-se de uma doença ocupacional
que causa exaustão emocional e baixa realização pessoal, afetando o desempenho
profissional. A carga de trabalho adotada pelos profissionais de saúde é extenuante, com
trabalhos realizados em mais de uma instituição de saúde, às vezes, que associado a outros
fatores, pode desencadear a Síndrome de Burnout, levando um comprometimento de sua
qualidade de vida. A qualidade de vida do trabalhador tornou-se um assunto relevante, pois o
processo de industrialização trouxe mudanças na rotina e na organização do trabalho. O
profissional de saúde também se preocupa com questões relacionadas à demanda e
produtividade. O ritmo de trabalho, a sobrecarga cognitiva, a gestão de pessoas enfermas
que precisam constante assistência, a satisfação profissional e as dificuldades
sociodemográficas podem influenciar na percepção da qualidade de vida.
Palavras Chaves: Qualidade de Vida do Trabalhador, Trabalhadores da Saúde, Estresse
Ocupacional.
1. Introdução
A preocupação com assuntos referentes à qualidade de vida faz-se presente no sentido de
valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou
o aumento da expectativa de vida. Assim, a qualidade de vida é abordada, por muitos autores,
como sinônimo de saúde, e por outros como um conceito mais abrangente, em que as
condições de saúde seriam um dos aspectos a serem considerados (FLECK et. al., 1999).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida pode ser definida como
a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores
nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.
Para Albuquerque e França (1998), qualidade de vida no trabalhado é um conjunto de ações
de uma empresa que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais,
tecnológicas, estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, e visa propiciar condições
plenas de desenvolvimento humano para o trabalho e durante a sua realização. __________________________ 1 Pós-graduando em Ergonomia. 2 Orientadora: Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Mestre em Bioética e Direito em Saúde. Doutorando em saúde pública.
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A Política em Saúde do Trabalhador tem o intuito de promover a melhoria da qualidade de
vida e da saúde do trabalhador e, entre outras estratégias, estimular estudos e pesquisas sobre
o tema. Para isso, conhecer situações ocupacionais para avaliar determinantes de saúde que
permitam aperfeiçoar a atenção integral ao trabalhador, pode agregar valor ao humano
(ESPINDOLA et. al., 2012).
Para Mascarenhas et. al. (2013), a realização da construção de um sistema de saúde exige uma
prática ampliada, juntamente com a inserção de novos saberes e fazeres no âmbito da saúde
coletiva, e em decorrência desse processo vem também o debate sobre “à saúde de quem
produz saúde”, ou seja, a mudança do sistema de saúde e de suas práticas também promove,
de certa forma, uma preocupação com a qualidade do trabalho em saúde.
Para Ribeiro (2012), o processo saúde-doença dinâmico pode estar estruturado e articulado
com os modos de desenvolvimento produtivo. Estando nós interligados a esse processo, sem
restrições: saúde, doença e o trabalho. Por diversos motivos, essa ligação se dá, seja quando
não trabalhamos, seja quando trabalhamos muitos, ou quando realizamos certo tipo de
trabalho que não nos dá prazer ou quando somos obrigados a trabalhar. Os trabalhadores
quando inseridos em processos de produção estão, quase sempre, expostos a uma diversidade
de cargas físicas e emocionais que podem favorecer o desencadeamento de fenômenos
provocadores de estresse e que geram desgaste, trazendo impactos diretos sobre a qualidade
de vida.
Segundo Souza et. al. (2012), são considerados profissionais de saúde, aqueles que estão
diretamente associados à promoção de qualidade de vida para a população, mas, como todo
trabalhador, também sofrem consequências advindas da rotina laboral em sua qualidade de
vida. Para que desenvolvam um trabalho de qualidade, estimulando a comunidade na busca de
melhores condições de saúde, o profissional de saúde precisa de qualidade de vida, já que os
fatores que nela interferem podem comprometer a qualidade do cuidado prestado. A qualidade
de vida de profissionais da área de saúde é um tema que vem despertando crescente interesse
nos últimos anos, tendo em vista a importância dos fatores envolvidos no contexto do trabalho
e sua relação com a qualidade da assistência prestada.
2. História da qualidade de vida do trabalhador
Com o surgimento da revolução industrial e surgimento de novas tecnologias, houve a
migração dos trabalhadores da área rural para as cidades em busca de uma melhor qualidade
de vida e sustento. A qualificação da mão de obra era precária no setor fabril, bem como as
cidades também não tinham suporte para aglomerar grande quantidade de pessoas, o que
acarretava uma vida comprometida e exposta a sujeiras e bactérias, sem lugares adequados
para morarem, pondo em risco assim a saúde de todos que se sujeitavam a essa situação, tendo
em vista que os ambientes de trabalho não ofereciam condições favoráveis capazes de
proporcionar aos trabalhadores uma melhor maneira para execução de suas tarefas. Naquela
época não existia representação de classe, os trabalhadores eram submetidos a grandes
jornadas de trabalho, tendo em vista que o único objetivo da fábrica era o lucro
(RODRIGUES, 2004).
Aproximadamente em 1950, um grupo de pesquisadores desenvolveu estudos relacionados à
qualidade de vida do trabalhador (QVT), ganhando força aproximadamente em 1960. A
preocupação com a valorização da mão de obra e com a QVT tem se tornado um assunto
relevante em todo mundo, tendo em vista que o trabalho tem o poder de garantia de uma
identidade social e um possível crescimento humano, que é importante para o
desenvolvimento e crescimento de toda e qualquer organização, pois sem as pessoas nada
funciona, elas devem ser reconhecidas como diferencial competitivo, capazes de estabelecer
alto grau de conhecimento e inovação. É importante perceber que é ao trabalho que as pessoas
dedicam a maior parte do seu tempo (SCHMIDT & DANTAS, 2006).
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Segundo Chiavenato (2010), qualidade de vida do trabalhador refere-se à preocupação com o
bem-estar e a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas tarefas. É importante perceber
que as pessoas dedicam a maior parte de seu tempo ao trabalho e que os possíveis problemas
pessoais dificilmente serão desligados ou separados do seu âmbito de atividades, podendo
assim refletir assim diante dos seus resultados organizacionais. Os reflexos advindos de
problemas podem ser prejudicais tanto para o colaborador, impedindo que este seja
reconhecido por seus resultados e adiando um possível crescimento profissional e pessoal,
quanto para a organização em termo de desenvolvimento e resultados. Como forma de
diminuir esses reflexos as organizações buscam maneiras relacionadas aos conceitos de QVT,
com o propósito de dar suporte aos seus colaboradores para que suas atividades sejam
desempenhadas com mais eficiência.
Os conceitos de QVT abrangem os aspectos físicos, ambientais e psicológicos relacionados ao
local de trabalho, que de um lado os colaboradores devem estar bem e satisfeitos quanto às
atividades exercidas, e do outro a organização interessa-se nos efeitos que o bem-estar e a
satisfação refletem sobre seus resultados. A falta de QVT abre um imenso precedente para o
adoecimento físico, mental e emocional dos trabalhadores, sendo importante a introdução de
políticas que visem à QVT, sensibilizando os empregados e as instituições para o impacto
econômico dos problemas decorrentes da sua falta ou de sua pouca valorização, influenciando
na redução da performace, nos altos índices de absenteísmo, na rotatividade no trabalho, nos
acidentes e, em um contexto geral, no adoecimento do trabalhador (WACHOWICZ, 2007).
Moraes & Kilimnik (1994) compreendem a QVT como “uma resultante direta da combinação
de dimensões básicas de tarefa, capazes de gerar estados psicológicos que, por sua vez,
resultam em motivação e satisfação em diferentes níveis, e em diferentes tipos de atitudes e
condutas”.
3. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida e estresse ocupacional
3.1. WHOQOL –Bref
O Questionário WHOQOL-Bref, foi idealizado pela Organização Mundial de Saúde, é
composto por 26 afirmações respondidas em escala Likert. Este questionário abrange os
domínios: físico, psicológico, de relações sociais e ambiental, que resultam em escores que
variam de 0 a 100. Quanto mais próximo de 100, maior é a percepção da qualidade de vida. A
versão para língua portuguesa foi desenvolvida no Centro WHOQOL para o Brasil no
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, em Porto Alegre (RS), coordenado pelo Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck (MEYER et.
al, 2012).
3.2. Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (SF-36)
O SF-36 é um questionário genérico e semiaberto de qualidade de vida, validado
internacionalmente e traduzido no Brasil para a língua portuguesa por Ciconelli et. al. (1999).
Consiste em um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 escalas
ou domínios, que são: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde,
vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Apresenta um escore final de
0 (zero) á 100 (obtido por meio de cálculo do Raw Scale), onde o zero corresponde ao pior
estado geral de saúde e o 100 corresponde ao melhor estado de saúde (PARO &
BITTENCOURT, 2013).
3.3. Escala de estresse no trabalho
A Escala de Estresse no Trabalho e seus itens foram analisados e elaborados de acordo com a
percepção sobre os estressores organizacionais de natureza psicossocial e sobre reações
psicológicas ao estresse ocupacional e análise de instrumentos existentes sobre o assunto.
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Nesta escala foi utilizado o protocolo designado como Modelo de Exigência-Controle-Suporte
(De-mand-Control-Support - DCS), com versão resumida da job stress scale adaptada para a
língua portuguesa, apresenta 17 questões que avaliam as dimensões demanda psicológica,
controle (discernimento intelectual e autoridade) e apoio social. As questões de 1 a 5 avaliam
as demandas psicológicas, indicando pouca ou muita demanda. As questões de 6 a 11 estão
relacionadas ao controle (discernimento intelectual e autoridade sobre decisões) e indicam
muito ou pouco discernimento. De 12 a 17, é determinado o apoio social, de maior ou menor
intensidade (MEYER et. al., 2012).
3.4. Modelo teórico para explicar o estresse em gerentes – MTEG
O modelo teórico para explicar o estresse ocupacional em gerentes (MTEG) foi desenvolvido
e validado por Zille (2005). É estruturado em cinco dimensões: fontes de tensão no trabalho
(FTT); fontes de tensão do indivíduo e do papel gerencial (FTIPG); mecanismos de regulação
(MECREGUL); sintomas de estresse (SINTOMAS) e indicadores de impactos na
produtividade (IMPACTOS). De maneira geral, o instrumento utilizado na etapa quantitativa
permite verificar a existência e os níveis de estresse, identificar as principais fontes de tensão
excessivas no trabalho e as estratégias de defesa e combate ao estado de estresse (METZKER
et. al., 2012).
3.6. Escala Visual Analógica - EVA
Escala Visual Analógica (EVA) de zero a dez, com uma questão global para QVT e a versão
validada e adaptada para a língua portuguesa do Maslach Burnout Inventory – Human Service
Survey (MBI-HSS). Consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente. A
EVA é de fácil e rápida aplicação. Tem fácil entendimento pelo indivíduo, sendo uma forma
adequada para estimar a intensidade da dor presente (OLIVEIRA, 2013).
4. Metodologia
Baseado nas informações citadas sobre a saúde do trabalhador da área de saúde, este trabalho
teve como objetivo identificar a correlação do estresse ocupacional com a qualidade de vida
de profissionais da área de saúde, desde sua formação até sua atuação profissional e docente.
Tendo em vista que a qualidade de vida de profissionais de saúde é um assunto de grande
importância, pois se trata da qualidade de vida dos promotores de saúde, este trabalho foi
realizado através da procura de artigos científicos relacionados à qualidade de vida de
profissionais de saúde e o impacto do estresse sobre ela. A pesquisa foi no período de abril de
2014 a maio de 2015. As referências foram pesquisadas em bancos de dados como Scielo,
Bireme, Medline, Pubmed, através dos seguintes descritores: trabalhador da saúde, estresse
ocupacional e qualidade de vida do trabalhador. Foram selecionadas referências do ano de
1998 a 2015 referentes ao tema. O este trabalho foi divido em duas fases: levantamento
teórico sobre qualidade de vida do trabalhador; estresse ocupacional e principais ferramentas
de análise de qualidade de vida (fase 1) e a discussão dos resultados encontrados nos artigos
selecionados, sobre QVT e a correlação com o estresse ocupacional (fase 2). Foram incluídos
no trabalho artigos que faziam referência à qualidade de vida do trabalhador de saúde e
estresse ocupacional. Foram excluídos do trabalho os artigos que não havia correlação com a
qualidade de vida do trabalhador. Durante a realização desse trabalho, foi levado em
consideração se além da presença do estresse, havia outros fatores que possam contribuir para
uma percepção negativa de qualidade de vida.
5. Resultados e discussão A preocupação com o estresse está presente no dia a dia, pois este pode causar alterações
fisiológicas, como doenças cardiovasculares e desequilíbrio na atuação do sistema nervoso. O