-
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
Joyce Karla Machado da Silva
Tiago Del Antonio
Rafaela Martins de Almeida
Mayra Paula de Oliveira Lima
Daniela Licka Taniguti
Vanildo Rodrigues Pereira
ISSN 2236-5435
Article type Research article
Submission date 15 September 2014
Acceptance date 16 December 2014
Publication date 19 December 2014
Article URL http://www.submission-mtprehabjournal.com
http://www.mtprehabjournal.com
Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal
This Provisional PDF corresponds to the article as it appeared
upon acceptance. Fully formatted PDF english
version will be made available soon.
Programa de estimulao motora orientada no processo de aquisio da
marcha independente de
crianas prematuras.
Like all articles in Manual Therapy, Posturology &
Rehabilitation Journal, this peer-reviewed article can be
downloaded, printed and distributed freely for any purposes (see
copyright notice below).
For information about publishing your research in Manual
Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, go
to http://www.mtprehabjournal.com
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
916
Programa de estimulao motora orientada no
processo de aquisio da marcha independente de
crianas prematuras.
Motor oriented stimulation program during the premature children
independent walking
acquisition.
Universidade Estadual do Norte do Paran (UENP), Jacarezinho
(PR), Brasil.
Joyce Karla Machado da Silva(1), Tiago Del Antonio(1), Rafaela
Martins de Almeida(2), Mayra
Paula de Oliveira Lima (2), Daniela Licka Taniguti(2), Vanildo
Rodrigues Pereira(3).
1 Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do
Norte do Paran (UENP), Jacarezinho (PR),
Brasil.
2 Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Norte
do Paran (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil.
3 Docente do curso de Educao Fsica da Universidade Estadual de
Maring (UEM), Maring (PR), Brasil.
Endereo para correspondncia
Joyce Karla Machado da Silva
Chcara Boa Esperana, S/N, Centro. CEP 86410-000. Ribeiro Claro
(PR), Brasil.
Telefone: (43) 9981-3363. Email: [email protected]
Declarao de conflitos de interesses
Eu, Joyce Karla Machado da Silva, como autora correspondente,
comprometo-me a manter contato com todos
os outros autores para atualiz-los sobre o processo de submisso
e para intercambiar possveis solicitaes
como, por exemplo, envio e recebimento de documentos, entre
outros. Declaro ainda que houve consenso
entre todos os autores para a submisso deste estudo nessa
revista.
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
917
RESUMO
Introduo: A prematuridade pode atuar negativamente no curso de
alguma habilidade
motora, tal como a aquisio da marcha independente. Objetivo:
Visa identificar a idade
de aquisio da marcha independente em prematuros de diferentes
idades gestacionais,
diferenciar o perodo de aquisio da marcha independente entre as
classes econmicas
baixas e comparar a idade de aquisio da marcha independente com
dados existentes
na literatura. Mtodo: Trata-se de um estudo de carter
desenvolvimental. Fazem parte
da amostra 21 crianas prematuras, de ambos os gneros. As
avaliaes e a coleta de
dados individuais foram realizadas mensalmente e ao final do
estudo, no ambiente de
maior convvio da criana, sendo que todo ms os pais/cuidadores
recebiam,
previamente, orientao e demonstrao referente a todo processo de
aplicao do
protocolo de estimulao, presente em uma cartilha ilustrativa e
demonstrativa. O
instrumento utilizado para avaliao mensal foi o Alberta Infant
Motor Scale (AIMS) e o
questionrio da Associao Brasileira de Empresas e Pesquisa (ABEP)
para obter o nvel
econmico da famlia das crianas. Os resultados foram analisados
por meio do teste de
Shapiro-Wilk. O teste de Kruskal-Wallis analisou a idade de
aquisio da marcha em
funo do nvel econmico baixo (C1, C2 e D). Resultados: Na
comparao entre a
idade de aquisio da marcha independente e idade gestacional, o
grupo com idade
gestacional menor que 33 semanas adquiriu marcha independente
mais tarde que o
grupo com idade gestacional entre 33-37 semanas. Verificou-se,
no entanto, que a idade
mdia de aquisio da marcha independente nas crianas do estudo foi
de 14 2 meses.
Ao comparar ainda a idade de aquisio da marcha independente com
os nveis
econmico baixo (C1, C2 e D), o grupo com melhor nvel econmico
(C1) adquiriu a
marcha independente dois meses antes que o grupo com menor nvel
econmico.
Concluso: A estimulao realizada pelo cuidador influenciou
positivamente o
desempenho motor das crianas prematuras.
Palavrachave: Movimento, Desenvolvimento infantil, Interveno
Precoce (Educao).
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
918
ABSTRACT
Introduction: Prematurity may act negatively in the course of
some motor slill, such as
the independent walking acquisition. Objective: It is about an
identify the independent
walking acquisition age in premature infants of different
gestational ages, distinguish the
period of independent walking acquisition among the lower
economic classes and
compare the independent walking acquisition with data in the
literature. Method: This
research is characterized as a developmental study. The sample
is 21 premature infants
of both sexes. Assessments and individual data collection were
carried out monthly and
at the end of the study, at the largest childs living
environment, and that every month
the parents / caregivers previously received orientation and
demonstration regarding the
procedure for applying the stimulation protocol, presented in an
illustrative and
demonstrative primer. The instrument used for the monthly
assessment was the Alberta
Infant Motor Scale (AIMS) and the questionnaire of the Brazilian
Association of Business
and Research (ABEP), to get the socioeconomic status of the
childrens family. The
results were analyzed using the Shapiro-Wilk test. Analyzed the
age of ability to walk due
to the low socioeconomic level through the Kruskal-Wallis test
(C1, C2 and D). Results:
When comparing the independent walking acquisition age and
gestational age, the group
with less than 33 weeks of gestational age acquired independent
walking later than the
group with gestational age between 33-37 weeks. However, it was
found that the
children average age of independent walking in the study was 14
2 months. Comparing
independent walking acquisition age and low economic levels (C1,
C2 and D), the group
with higher socioeconomic status (C1) acquired independent
walking two months before
the group with the lowest economic level. Conclusion: influenced
positively the motor
performance of premature infants in the acquisition of
independent walking.
Keywords: Movement, Infant Development, Early Intervention
(Education).
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
919
INTRODUO
A prematuridade interrompe o desenvolvimento intrauterino
gerando imaturidade
sistmica no neonato, o que acarretar em acrescida dificuldade de
adaptao, podendo
propiciar atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor e
consequentes dficits na
motricidade, linguagem, cognitivo e comportamento.(1) Por isso,
a estimulao precoce se
faz extremamente necessria em bebs pr-termo, para prevenir e/ou
amenizar as
sequelas da prematuridade, permitindo criana o desenvolvimento
mximo de suas
capacidades.(1,2)
Essa estimulao deve ocorrer preferencialmente na primeira
infncia, fase em
que h maior maturao do sistema nervoso, o ganho de vrias
habilidades e o aumento
da interao entre a criana, o ambiente e a tarefa.(2) Quando o
cuidador inserido
ativamente em um programa de estimulao, a interveno torna-se
mais eficaz que
aquela realizada apenas por profissionais.(3,4,5,6) No entanto,
no Brasil, esse modelo de
interveno pouco aplicado e a orientao ao cuidador quanto
estimulao do seu
beb ainda escassa.(3)
O presente estudo foi guiado por um programa de estimulao motora
orientada a
cuidadores e pautou-se em analisar o desenvolvimento motor no
processo de aquisio
da marcha independente em crianas prematuras de diferentes
idades gestacionais e
classes econmicas. Alm do mais, buscou-se comparar com os dados
existentes na
literatura a idade de aquisio da marcha independente dos
pr-termos do estudo que
sofreram interveno desde o primeiro trimestre de vida.
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
920
MTODO
Trata-se de um estudo de carter desenvolvimental, quase
experimental por
sries de tempo, que apresenta caracterstica longitudinal mista.
Aprovado pelo Comit
de tica em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual
de Maring (UEM)
parecer n. 032/2011 COPEP-UEM.
O programa de interveno foi desenvolvido em duas etapas: a
primeira
preconizou pela confeco do protocolo de estimulao motora
(caracterizado por uma
cartilha ilustrativa) e a segunda pela avaliao, aplicao do
protocolo e reavaliaes
peridicas. A aplicao mensal do protocolo se deu conforme a
figura 1. O
acompanhamento do protocolo foi realizado mensalmente pelo
profissional, por meio da
observao da realizao das atividades pelo cuidador, no ambiente
de maior convvio da
criana.
Figura 1. Forma de aplicao mensal do protocolo.
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
921
A cartilha apresenta orientaes e informaes a respeito da
importncia de se
estimular o beb. Como proposta, apresenta 76 atividades
realizadas em quatro posturas
(prono, supino, sentado e em p), sendo que cada atividade foi
ilustrada e descrita para
uma maior compreenso de sua realizao. Os exerccios so divididos
trimestralmente
at os 24 meses de idade corrigida a idade corrigida adqua a
idade cronolgica ao
grau de prematuridade, tornando possvel a correta avaliao do
desenvolvimento de
pr-termos nos primeiros anos de vida.(7)
Como instrumento de avaliao foi utilizado uma ficha, por meio da
qual foram
coletados dados pessoais da criana, da famlia e do cuidador que
realizaria as
estimulaes, bem como a anamnese completa da gestao e do
prematuro. Tambm
buscou-se informaes quanto ao nmero de sujeitos residentes na
casa e o nvel
econmico da famlia, que se deu atravs do questionrio ABEP
(Associao Brasileira de
Empresas de Pesquisa).
O questionrio ABEP quantifica, atravs de um sistema de pontos, o
nmero de
itens existentes na residncia com a finalidade de avaliar o nvel
econmico da famlia
(de 0 a 4 ou mais) bem como o grau de instruo do chefe da famlia
(de analfabeto ao
ensino superior completo), tendo-se assim a classificao em
classes A1, A2, B1, B2, C1,
C2, D e E.
Ainda na avaliao inicial o desenvolvimento motor foi analisado
por meio dos
reflexos/reaes e da AIMS (Albert Infant Motor Scale), uma escala
fidedigna que
diagnostica atrasos motores e o grau que o mesmo se encontra.(8)
Tambm fez parte do
estudo uma ficha de reavaliao e evoluo, que era preenchida
mensalmente, contendo:
data, reflexos e reaes presentes e/ou abolidos, escore da AIMS,
exerccios da cartilha
orientados para o ms subsequente e peso corporal, que era obtido
por meio da balana
digital da marca Welmy, modelo 109E.
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
922
Para a aplicao do protocolo de estimulao foram utilizados
chocalhos/mordedores, brinquedos musicais de presso, bolas de
plstico, tapetes de
EVA (120 X 61 cm), bonecas de plstico, ursos de pelcias
coloridos, brinquedos de
encaixe, rolos grandes (25 X 80 cm) e pequenos (15 x 80 cm),
cunhas grandes (55 X 20
X 40 cm) e pequenas (45 X 10 X 40 cm), suporte de espuma em
formato de cala e
andador de empurrar. O material foi selecionado levando em
considerao a segurana
das crianas na sua utilizao, sendo atxicos e fceis de lavar; alm
do que, priorizou-se
por brinquedos que ofertassem estmulo visual (por meio de cores
fortes e primrias) e
sonoro.
Para a incluso na pesquisa os responsveis das crianas teriam que
assinar o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os
prematuros no poderiam
apresentar alteraes neurolgicas e/ou ortopdicas evidentes,
ms-formaes,
sndromes e infeces congnitas confirmadas e deficincias
sensoriais (visuais e/ou
auditivas).
As crianas foram avaliadas no incio, reavaliadas a cada 30 dias
antes de nova
estimulao mensal e ao final da pesquisa. Os profissionais
envolvidos na pesquisa foram
treinados, previamente, para realizar as avaliaes iniciais s
intervenes e,
consequentemente, a coleta de dados, de maneira adequada e
padronizada,
principalmente quanto observao das diferentes posturas dos bebs
analisados pela
AIMS.
Os dados foram analisados pelo programa GraphPad Prism 5.0
(Inc., San Diego
CA, USA). A normalidade na distribuio dos dados foi avaliada por
meio do teste de
Shapiro-Wilk; os testes estatsticos paramtricos foram utilizados
quando a distribuio
dos dados era normal, enquanto que os no-paramtricos foram
aplicados para dados
no-normais. Em relao comparao da idade de aquisio da marcha das
crianas
prematuras em funo do nvel econmico da famlia (C1, C2 e D)
efetuou-se o teste de
Kruskal-Wallis. Significncia estatstica foi determinada como
p
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
923
RESULTADOS
A amostra foi composta por 21 prematuros, de ambos os gneros,
com idades
corrigidas do nascimento aproximadamente 18 meses, perodo
aproximado da
aquisio da marcha independente. As crianas residiam em cidades
do Norte Pioneiro do
Paran (Andir, Cambar, Carlpolis, Jacarezinho, Ribeiro Claro e
Santo Antnio da
Platina) e todas pertenciam a nveis econmicos baixos, C1 a D
segundo a ABEP (28,6%-
C1, 47,6%- C2 e 23,8% -D).
Do grupo amostral, 12 prematuros iniciaram a interveno dede o 1
trimestre de
vida at a aquisio da marcha independente (escore 58 da AIMS),
enquanto que 9
prematuros tiveram no mnimo 6 meses de interveno. Totalizando 21
crianas de nvel
econmico baixo e de diferentes idades gestacionais (< 33
semanas gestacionais e de 33
a 37 semanas gestacionais).
Dada comparao entre a idade de aquisio da marcha independente
com
relao idade gestacional, o grupo com idade gestacional menor que
33 semanas
adquiriu a marcha independente mais tarde que o grupo com idade
gestacional entre 33-
37 semanas, apesar da diferena no ser estatisticamente
significante (Tabela I).
Tabela I. Comparao entre as idades gestacionais com relao
aquisio da marcha independente.
VARIVEL
Idade Gestacional
p
33 a 37
semanas
(n=13)
Abaixo de 33
semanas
(n=8)
IC (meses) de aquisio da marcha
independente
15
(13-15)
17
(13- 18)
0,11
* IC idade corrigida
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
924
Ao comparar a idade de aquisio da marcha independente entre os
nveis
econmicos baixos (C1, C2 e D), o grupo com melhor nvel econmico
(C1) adquiriu a
marcha independente dois meses antes que os grupos com menores
nveis econmicos
(C2 e D), apesar de no apresentar relevncia estatstica (Tabela
II).
Tabela II. Comparao entre os nveis econmicos com relao aquisio
da marcha independente.
VARIVEL
Nvel econmico
C1
(n=6)
C2
(n=9)
D
(n=6)
p
Idade (meses) de aquisio da marcha
independente
13
(12-14)
15
(13-17)
15
(13-17) 0,12
Verificou-se, tambm, que a idade mdia de aquisio da marcha
independente
nas crianas que sofreram interveno desde o primeiro trimestre de
vida foi de 14 2
meses.
DISCUSSO
As crianas expostas a fatores de risco, como a prematuridade,
devem obter uma
ateno especial dos servios de sade atravs de acompanhamentos
mensais,
principalmente no primeiro ano de vida, pois uma nica avaliao
pode no trazer
resultados concretos quanto ao diagnstico do desenvolvimento
motor.(1)
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
925
A anlise do desenvolvimento motor e suas influncias facilita a
elaborao de
programas interventivos que possam prevenir a instalao de
atrasos ou fazer
encaminhamentos adequados para minimizar a instalao de
comprometimentos.(9)
Nesse sentido o presente estudo buscou viabilizar uma
alternativa de interveno, em
que o cuidador seria o responsvel pelas aes dirias e o
profissional pelas avaliaes
mensais e orientaes quanto s estimulaes e encaminhamentos. Essa
alternativa
mostrou ser possvel abordar um nmero maior de crianas, de forma
contnua, por um
longo perodo de tempo, o que seria impossvel caso o profissional
tivesse que realizar as
intervenes dirias. Alm do mais, as avaliaes e estimulaes no
ambiente de maior
convvio da criana apontaram para uma prtica em que se conseguiu
evitar a falta de
periodicidade dos pais e seus filhos aos programas.
O desenvolvimento motor, contudo, pode sofrer influncia negativa
do
ambiente.(10,11,12) A utilizao de brinquedos inadequados para
faixa etria e a baixa
condio socioeconmica familiar so alguns destes fatores
ambientais que tendem a ser
danosos. Na atual pesquisa observou-se, nos acompanhamentos
mensais s residncias
das famlias, que a grande maioria das famlias no possua
brinquedos para a
estimulao, evidenciando um ambiente pobre de estmulos e, muitas
vezes, sem espao
para os exerccios locomotores. Baseado nisso, o risco ambiental
quanto utilizao de
brinquedos foi suprido fornecendo materiais a todas as crianas,
para uma estimulao
adequada idade e fase de desenvolvimento motor em que a mesma se
encontrava.
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
926
O fator nutricional apresenta grande relao com a estruturao do
encfalo e
consequentemente com o desenvolvimento motor. A m nutrio
pr-natal no primeiro
ano de vida determina um dficit de 15% das clulas cerebrais.(13)
Assim, a desnutrio
considerada um fator de risco para o desenvolvimento e as
condies socioeconmicas
desfavorveis potencializam seus efeitos deletrios. O presente
estudo verificou,
contudo, que 100% das crianas apresentaram-se adequadas para a
Idade Gestacional
(AIG) pela anlise do peso ao nascimento e a idade gestacional
mesmo sendo
prematuros e de nvel econmico baixo. Entretanto, no foi avaliado
o permetro ceflico
no decorrer das atividades, o que no permite relacionar
adequadamente o estado
nutricional das crianas e seu desenvolvimento cortical.
Uma pesquisa realizada com prematuros constatou no haver
qualquer influncia
da idade gestacional na aquisio dos padres motores avaliados
pela AIMS.(8) No
presente estudo, no foi verificado a idade gestacional e as
aquisies dos padres
motores, analisou-se somente idade de aquisio da marcha
independente em relao
AIMS. E a no significncia na idade de aquisio da marcha para com
a idade
gestacional menor e maior, poderia sugerir que a orientao e
estimulao fornecida pelo
cuidador possa ter favorecido a idade de aquisio da marcha
independente das crianas
com menor idade gestacional, na mesma fase das crianas com maior
idade gestacional.
Saccani(14) ao analisar a associao entre o desempenho motor e a
idade
gestacional, verificou que as crianas prematuras apresentaram
maior representatividade
do critrio atraso motor e suspeita de atraso quando comparadas
com as crianas a
termo. O mesmo ocorre no presente estudo, pois quando se observa
a idade de aquisio
da marcha independente volta-se a ateno para o perodo a partir
dos 12 ms de vida
da criana, coforme a escala AIMS, onde 50% atingem a marcha aos
12 meses e 90%
aos 14 meses. Entretanto, em nossa anlise, a aquisio da marcha
nas diferentes
idades gestacionais foi de 15 a 17 meses, o que aponta um
critrio de atraso com base
nos escores da AIMS para com as crianas nascidas a termo.
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
927
Das 21 crianas em que se analisou a idade de aquisio da marcha,
100% faziam
parte do nvel econmico baixo, sendo 23,8% da classe D, 47,6% da
classe C2 e 28,6%
da classe C1, portanto, no foi possvel a anlise entre as classes
econmicas alta e
baixa. Isso corrobora com os dados de uma pesquisa que verificou
que 90% das famlias
de crianas prematuras, inseridas na anlise, pertenciam classe C
e D.(15) E tambm vai
ao encontro do estudo de Mancini et al.(16), que expe que a
grande parte das crianas
brasileiras prematuras pertence a famlias de nvel econmico
baixo. Pois o perfil de
mes dos prematuros e a caracterizao dos nascidos vivos so
influenciados pelas
condies sociais, econmicas e sanitrias da localidade onde
ocorrem a gestao e o
nascimento, e que essas mesmas condies, certamente, influenciaro
na qualidade de
vida futura.(17)
O presente estudo identifica que estatisticamente no houve
diferena
significativa entre os nveis econmicos baixo das famlias e a
idade de aquisio do
andar independente, porm, verificou-se uma diferena de 2 meses
na aquisio da
marcha entre a classe econmica C1 e D, mostrando que as crianas
prematuras com o
melhor nvel econmico (C1) adquiriram a marcha independente mais
tarde que as
crianas consideradas a termo, mas ainda dentro dos padres de
normalidade proposto
pela AIMS. Alguns autores ressaltam a influncia de fatores
socioambientais, como o
grau de instruo dos pais, no melhor desempenho motor das
crianas, destacando que
crianas de famlias com menor renda possuem maior probabilidade
de desordens
motoras.(14,16)
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
928
Quando analisada a idade de aquisio da marcha das crianas do
presente
estudo de nvel econmico baixo com os dados da AIMS, verificou-se
que essas
adquiriram a marcha mais tardiamente. Entretanto na criao dos
padres AIMS, as
avaliaes ocorreram com crianas nascidas a termo, alm de ter sido
realizado na
regio de Alberta, Canad, onde segundo a Organizao das Naes
Unidas apresenta
um IDH de 0,908 foi pontuado como um ndice muito elevado.(8) J
na regio do presente
estudo (Regio Norte do Estado do Paran) o IDH de 0,747 pontuado
como um ndice
mdio, segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico
e Social. Essas
diferentes caractersticas apresentadas, podem ser fatores de
interferncias biolgicas e
ambientais na diferena dos resultados quanto idade de aquisio da
marcha.
Ao verificar a mdia da idade de aquisio da marcha independente
de todas as
crianas que iniciaram a interveno desde o 1 trimestre de vida
identificou-se que esta
ocorreu aos 14 meses. Comparados os dados com os existentes na
literatura quanto
idade de aquisio da marcha de crianas nascidas tambm prematuras,
encontrou-se
alguma compatibilidade. Campos et al.(18) constataram em seu
estudo que as crianas
prematuras adquiriram a marcha sem apoio por volta de 14,7 2,8
meses, sendo que
estas recebiam estimulaes duas vezes por semana. Marn et
al.(19), com base em
diferentes idades gestacionais e peso no nascimento, relatam que
a marcha ocorreu por
volta de 13,6 2,8 meses e Bucher et al.(20), em um estudo na
Sua, verificaram a
aquisio da marcha independente em torno de 14,5 meses.
Oposto a estes resultados, verifica-se os dados encontrados em
um estudo com
prematuros de muito baixo peso (
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
929
Desta forma, as crianas prematuras estimuladas desde o 1
trimestre de vida
pelo cuidador realizaram a marcha independente na mesma fase de
aquisio apontada
em diversos estudos realizados com prematuros que tambm sofriam
estimulao. Essa
marcha tambm ocorreu na mesma fase de aquisio da escala AIMS
para com crianas
a termo, que preconiza 90% dos sujeitos nascidos a termo
adquirirem a marcha
independente em torno dos 14 meses.
CONCLUSO
Conclui-se com base nos resultados, que a estimulao precoce
realizada pelo
cuidador, no ambiente de maior convvio da criana e com
brinquedos de estimulao
apropriados, favoreceu a aquisio da marcha independente. Quanto
anlise da
aquisio da marcha independente entre os diferentes nveis
econmicos baixos e as
diferentes idades gestacionais no foi encontrada significncia
estatstica, embora os
resultados tenham apontado certa diferena desenvolvimental. Uma
amostra mais
numerosa poder implicar na averiguao de uma possvel associao
entre a
escolaridade dos pais com o nvel econmico baixo e as diferentes
idades gestacionais
dos sujeitos; caso haja tal associao, poder ser examinada a sua
influncia sobre todo
o processo de desenvolvimento at a aquisio da marcha
independente. Pois no
presente estudo foram encontradas apenas pequenas diferenas, as
quais no
caracterizaram estado de associao.
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
930
REFERNCIAS
1. Rugolo LMSS. Crescimento e desenvolvimento a longo prazo do
prematuro
extremo. J Pediatr. 2005;81(1):101-110.
2. Almeida CS, Paines AV, Almeida CB. Interveno motora precoce
ambulatorial
para neonatos prematuros no controle postural. Rev Cinc Sade.
2008;1(2):64-
70.
3. Formiga CKMR, Pedrazzani ES, Silva FPS, Lima CD. Eficcia de
um programa de
interveno precoce com bebs pr-termo. Paidia.
2004;14(29):301-311.
4. Navajas AF, Caniato F. Estimulao precoce/essencial: a interao
famlia e beb
pr-termo (prematuro). Cad. de Ps-Graduao em Distrbios do
Desenv.
2003;3(1):59-62.
5. Oliveira SMS, Almeida CS, Valentini NC. Programa de
fisioterapia aplicado no
desenvolvimento motor de bebs saudveis em ambiente familiar.
REVDEF,
2012;23(1):25-35.
6. Andrade SA, Santos DN, Bastos AC, Pedromnico MRM,
Almeida-filho N, Barreto
ML. Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma
abordagem
epidemiolgica. Rev Sade Pbl. 2005;39(4):606-611.
7. Willrich A, Azevedo CCF, Fernandes JO. Desenvolvimento motor
na infncia:
Influncia dos fatores de risco e programas de interveno. Rev
Neurocienc,
2009;17(1):51-6.
-
Joyce KM Silva, Tiago D Antonio, Rafaela M Almeida, Mayra PO
Lima, Daniela L Taniguti, Vanildo R Pereira.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
931
8. Manacero S, Nunes ML. Avaliao do desempenho motor de
prematuros nos
primeiros meses de vida na Escala Motora Infantil de Alberta
(AIMS). J. Pediatr.
2008;84(1):53-59.
9. Seki TN, Balieiro MMFG. Cuidados voltados ao desenvolvimento
do prematuro:
pesquisa bibliogrfica. Rev Soc Bras Enferm Ped.
2009;9(2):67-75.
10. Mancini MC, Megale L, Brando MB, Melo AP, Sampaio RF. Efeito
moderador do
risco social na relao entre risco biolgico e desempenho
funcional infantil. Rev
Bras Sade Matern Infant. 2004;4(1):25-34.
11. Neto AS, Mascarenhas LPG, Nunes GF, Lepre C, Campos W. Relao
entre fatores
ambientais e habilidades motoras bsicas em crianas de 6 e 7
anos. Rev
Mackenzie Educ Fs Esporte, 2004; 3 (3): 135-140.
12. Ribeiro NO. O ambiente teraputico como agente otimizador na
neuroplasticidade
em reabilitao de pacientes neurolgicos. [SI], 2005.
13. Guardiola A, Egewarth C, Rotta NT. Avaliao do
desenvolvimento
neuropisicomotor em escolares de primeira srie e sua relao com o
estado
nutricional. J. Pediatr. 2001;77(3):189-96.
14. Valentini N.C, Saccani R. Escala Motora Infantil de Alberta:
validao para uma
populao gacha. Rev. paul. pediatr. 2011; 29(2).
15. Formiga CK, Cezar ME, Linhares MB. Avaliao longitudinal do
desenvolvimento
motor e da habilidade de sentar em crianas nascidas prematuras.
Fisioterapia e
Pesquisa. 2010;17(2):102-7.
-
Estimulao motora e aquisio da marcha independente.
MTP&RehabJournal 2014, 12:915-932
932
16. Mancini MC, Megale L, Brando MB, Melo AP, Sampaio RF. Efeito
moderador do
risco social na relao entre risco biolgico e desempenho
funcional infantil.
Revista Brasileira Sade de Materna Infantil.
2004;4(1):25-34.
17. Ramos HAC, Cuman RKN. Fatores de risco para prematuridade:
pesquisa
documental. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2009;13(2):297-304.
18. Campos AM, Oliveira TG, Urzda RN, Formiga CKMR.
Desenvolvimento motor e
pessoal-social de crianas nascidas pr-termo participantes de um
programa de
interveno precoce. Revista Digital, Buenos Aires.
2010;14(140).
19. Marn GAM, Pallas ACR, De La Cruz BJ, Carbonero CS, Maestro
LM, Pumarega MM
et al. Age of sitting unsupported and independent walking in
very low birth weight
preterm infants with normal motor development at 2 years. Acta
Paediatr.
2009;98:18151821.
20. Bucher HU, Killer C, Ochsner Y, Vaihinger S, Fauchere JC.
Growth, developmental
milestones and health problems in the first 2 years in very
preterm infants
compared with term infants: a population based study. Eur J
Pediatr.
2002;161:1516.
21. Volpi SC, Rugolo LM, Peraoli JC, Corrente JE. Aquisio de
habilidades motoras
at a marcha independente em prematuros de muito baixo peso. J
Pediatr.
2010;86(2):143-148.