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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte. NATAL / RN 2021
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Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

Apr 11, 2023

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Khang Minh
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Page 1: Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com

enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

NATAL / RN

2021

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JESSYCA ALENCAR E SILVA

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com

enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao

Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como requisito para obtenção do grau de

Arquiteta e Urbanista.

Orientador: Profª. Mônica Lima.

NATAL / RN

2021

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3

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco – DARQ - - CT

Silva, Jessyca Alencar e.

Estação cultural comunitária do Guarapes: anteprojeto de um

centro de cultura com enfoque na comunidade do bairro Guarapes,

em Natal, Rio Grande do Norte / Jessyca Alencar e Silva. - 2021.

96f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura.

Natal, RN, 2021.

Orientadora: Mônica Maria Fernandes de Lima.

1. Centro de cultura - Monografia. 2. Comunidade -

Monografia. 3. Uso comunitário - Monografia. I. Lima, Mônica

Maria Fernandes de. II. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 725.8

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344

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JESSYCA ALENCAR E SILVA

Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de um Centro de Cultura com

enfoque na comunidade do bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte.

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso

de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como requisito para

obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista.

BANCA EXAMINADORA

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

PROFª DRª MÔNICA MARIA FERNANDES DE LIMA

Professora orientadora - UFRN

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

PROFº MSCº JESONIAS DA SILVA OLIVEIRA

Examinador Interno

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

PROFª MSCº SHEILA OLIVEIRA DE CARVALHO

Examinadora Externa

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Ubirany Alencar e Isabel Alencar, pelo apoio incondicional durante

toda a minha vida, meu verdadeiro porto seguro. Nenhuma palavra pode descrever o quão

eu sou grata. Obrigada por sempre terem respeitado minhas particularidades, minha

essência, sobretudo durante a graduação. Não foi fácil pra mim, e vocês sempre

estiveram lá fazendo o possível e o impossível para me ajudar a percorrer essa e tantas

outras jornadas.

À minha irmã Lala, por tudo que vivemos até aqui, por todos os aprendizados

conjuntos, por estar sempre comigo nas minhas lutas, inclusive na graduação, virando

algumas noites comigo. Obrigada por SEMPRE ter se importado e estendido a mão.

Ao meu namorado Felipe, por todo amor, companheirismo, empatia e amizade ao

longo desses quatro anos. Assim como meus pais e minha irmã você sempre esteve aqui

por mim, sem medir esforços, sem colocar dificuldade. Minha gratidão por você é enorme.

Às minhas lindas, as amigas da vida toda, Line, Laís, Larissa, Lou, Ló, Rhu e Vih,

que me incentivaram a correr atrás do meu sonho de cursar arquitetura. Passamos juntas

pelo processo de decidir o rumo das nossas vidas após o Ensino Médio, e alguns anos de

cursinho, compartilhamos inúmeros momentos de angústias e incertezas. Nossa rede de

apoio e estudo foi muito do que me trouxe até aqui.

À Naty e Ícaro, amigos tão presentes, que mesmo sem se envolver diretamente

nas questões relacionadas a esse percurso específico, o da graduação, me ajudam a

enxergar as batalhas da vida com mais leveza, com humor e tranquilidade.

Aos meus HistDivos, Camis, JP, Lou e Yas, por terem sido meus primeiros amores

na UFRN. Aprendi com você a me apaixonar pelo meio universitário, a valorizar cada ida

numa xerox do CCHLA, cada volta em um circular, e tantas coisas mais.

Às queens, Beth, Caio, Dani, Demi, Fio, Gabi, Hanley e Lari, vocês foram parte

essencial do que foi minha graduação. Aprendi muito com todos, sou extremamente grata

pela amizade e pela rede apoio que pudemos criar e desenvolver ao longo do curso.

Gostaria de agradecer imensamente meus ex-supervisores da Secretaria de

Eduação, Gabi e Zé, por todo o aprendizado. Não consigo mensurar a importância desses

dois anos de estágio para a minha formação. Se hoje me considero uma desenhista

detalhista devo isso a vocês.

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À minha atual chefe Marcelly, com quem venho aprendendo muito, principalmente

sobre projetos de interiores, e também sobre a dinâmica dentro de um escritório de

arquitetura.

Ao primeiro professor orientador deste trabalho, Profº Heitor Andrade, pelo

aprendizado e pela paciência.

À minha professora orientadora, Mônica, pela disponibilidade, incentivo e

compartilhamento de conhecimento.

À população do Guarapes, mesmo que participando em pequena quantidade, e ao

CRAS do bairro, pela disponibilidade de contribuir para a construção deste trabalho.

Agradeço, por fim, à UFRN, sobretudo ao DARQ, pela gestão e preocupação com

seus alunos, e também ao galinheiro, a segunda casa de todos os estudantes de

arquitetura.

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RESUMO

Guarapes foi o último bairro a ser oficializado em Natal, em 1993 pela lei nº

4.328/93, possuindo um histórico de sucessivos reassentamentos de famílias advindas

de diversas áreas de vulnerabilidade social da cidade, os quais foram promovidos pelo

poder público desde 1988 até os dias atuais. Há treze anos, com a criação de dois

conjuntos e dois condomínios de Habitações de Interesse Social (HIS), a população local

cresceu consideravelmente, somando diversos problemas quanto à inserção urbana das

novas habitações: longas distâncias entre elas e o centro do bairro, que converge a grande

maioria de equipamentos públicos, sérios problemas de mobilidade e infraestrutura

urbana e carência em espaços públicos de lazer. Tais fatos são o que podem ter

acarretado na relativa falta de unidade entre as “ilhas” habitacionais dos conjuntos

recentes e a parte central do bairro. Nesse sentido, o presente trabalho se justifica pela

intenção de contribuir com o debate do que pode ser feito, do ponto de vista arquitetônico,

para melhorar a vida em comunidade do bairro da perspectiva cultural, levando em

consideração sua história e seus anseios; justifica-se, também, pelo exercício de projetar

um edifício cultural que deve servir a uma comunidade específica, enriquecendo a

graduação e contribuindo para a formação de um arcabouço teórico e prático necessário

para a vida profissional.

Palavras-Chave: Centro de cultura, centro comunitário, comunidade.

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ABSTRACT

Guarapes was the last neighborhood to be officialized in Natal, in 1993 by the Law

No. 4.328/93, having a history of successive resettlements of families from several areas

of social vulnerability in the city, which were promoted by the public authority since 1988

to this day. Thirteen years ago, with the creation of two residential complexes and two

condominiums of Social Interest Housing (Habitações de Interesse Social), the local

population grew considerably, amassing various problems regarding the urban insertion

of the new housings: long distances between them and the neighborhood’s central area,

where the vast majority of the urban structure converge, severe problems of mobility and

lack of public recreational spaces. These facts may have resulted in the relative lack of

unity between the habitational “islands” of the recent housing complexes and the central

part of the neighborhood. In this sense, the present study is justified by the intention of

contributing to the debate of what can be done, from an architectural point of view, to

improve the community life in the district from a cultural perspective, bearing in mind its

history and aspirations; it is also justified by the exercise of designing a cultural building

that should serve a specific community, enriching graduation and contributing to the

formation of a theoretical and practical framework necessary for professional life.

Keywords: Cultural center, community centre, community.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Complexo Cultural Georges Pompidou .................................................. 23

Figura 02 – Mapa da Cidade do Natal, com destaque para o bairro Guarapes, na

zona oeste .......................................................................................................................... 30

Figura 03 – Ruínas do antigo complexo comercial do Guarapes ........................... 32

Figura 04 – Zoneamento do bairro................................................................................ 36

Figura 05 – Praça pública do bairro .............................................................................. 36

Figura 06 – Mobiliário da praça pública do bairro ...................................................... 37

Figura 07 – Minicampo do bairro .................................................................................. 37

Figura 08 – Quadra do bairro em 2019 ........................................................................ 37

Figura 09 – Quadra do bairro em 2021 ........................................................................ 38

Figura 10 – Terminais de ônibus dentro do bairro ..................................................... 38

Figura 11 – Contexto de implantação urbana do RedBull Station ........................... 43

Figura 12 – RedBull Station visto de frente; destaque para a marquise da

cobertura. ........................................................................................................................... 44

Figura 13 – Marquise da cobertura do RedBull Station ............................................. 44

Figura 14 – Distribuição do programa em planta ....................................................... 46

Figura 15 – Materiais empregados e estrutura existente ......................................... 47

Figura 16A – Contexto de implantação via satélite; Figura 16B – Implantação .. 48

Figura 17 – Fachada frontal do centro comunitário .................................................. 49

Figura 18 – interior do centro comunitário .................................................................. 50

Figura 19 – Planta baixa do centro comunitário ........................................................ 51

Figura 20 – Cobertura em camadas de telha de fibrocimento termo acústico ... 52

Figura 21 – Materiais empregados na construção. ................................................... 52

Figura 22 – Terrenos 01 e 02 ......................................................................................... 63

Figura 23 – Equipamentos públicos no entorno do terreno ..................................... 64

Figura 24 – Vias que margeiam o terreno ................................................................... 64

Figura 25 – Terreno da quadra em frente ao terreno 01 ........................................... 65

Figura 26 – Terreno 01 .................................................................................................... 66

Figura 27 – Situação do terreno 01 ............................................................................... 67

Figura 28 – Cobertura alta com desafogo do espaço e longos beirais, permitindo

a circulação do ar .............................................................................................................. 70

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Figura 29 – Rosa dos ventos de Natal sobre o terreno ............................................. 71

Figura 30 – Carta solar de Natal sobre o terreno ....................................................... 71

Figura 31 – Testes e orientação da planta no terreno............................................... 77

Figura 32 – Conformação 01. ........................................................................................ 78

Figura 33 – Conformação 02. ........................................................................................ 78

Figura 34 – Esboços de volumetria para a Conformação 01. ................................. 79

Figura 35 – Esboços de volumetria para a Conformação 02. ................................. 79

Figura 36 – Esquema em planta baixa. ........................................................................ 80

Figura 37 – Esboço em planta baixa ............................................................................. 81

Figura 38 – Esboço volumétrico .................................................................................... 82

Figura 39 – Moodboarding para o desenvolvimento da plástica do centro cultural

comunitário. ....................................................................................................................... 83

Figura 40 – Croqui esquemático ................................................................................... 83

Figura 41 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada frontal. ........ 84

Figura 42 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada lateral

esquerda. ............................................................................................................................ 84

Figura 43 – Implantação ................................................................................................. 86

Figura 44 – Planta baixa final do térreo........................................................................ 88

Figura 45 – Planta baixa final do pavimento superior ............................................... 88

Figura 46 – Fachada lateral esquerda .......................................................................... 89

Figura 47 – Fachada frontal ........................................................................................... 89

Figura 48 – Fachada posterior ....................................................................................... 90

Figura 49 – Corte esquemático ..................................................................................... 90

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. MÉTODOS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS .................................................................................................................11

1.1 Referencial teórico metodológico ......................................................................................... 11

1.2 Quadro síntese ............................................................................................................................. 16

2. SOB A ÓTICA DOS AUTORES ................................................................................................................................... 17

2.1 A cultura e a sua relevância ................................................................................................... 17

2.2 O centro de cultura .................................................................................................................... 19

2.3 Comunidade e o espaço de uso comunitário ...................................................................... 21

ANÁLISE

3. GUARAPES: DE UM PASSADO ÁUREO PARA UMA REALIDIDA CONFLITUOSA ............................................................. 26

3.1 Um breve histórico .................................................................................................................... 27

3.2 Condição socioeconômica atual ............................................................................................ 29

4. REFERENCIAIS PROJETUAIS .................................................................................................................................. 35

4.1 Estudo de projetos correlatos ............................................................................................... 36

4.1.1 RedBull Station ................................................................................................................ 47

4.1.2 Centro Comunitário El Rodeo de Mora ..................................................................... 43 4.1.3 Quadro síntese ................................................................................................................. 48

5. CONDICIONANTES DE PROJETO .............................................................................................................................. 51

5.1 Sob a ótica da comunidade ...................................................................................................... 51

5.1.1 Participação de natureza consultiva ....................................................................... 51

5.1.2 Uma perspectiva local ............................................................................................... 52

5.2 Problemas e potencialidades ................................................................................................. 57

5.3 Área de intervenção projetual ............................................................................................... 58

5.3.1 Condicionantes físicas e entorno .............................................................................. 59

5.3.2 Condicionantes legais e ambientais ......................................................................... 63

6. PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA ........................................................................................................................... 68

6.1 Programa de necessidades e pré-dimensionamento .................................................... 68

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SÍNTESE

7. ESTUDO PRELIMINAR ............................................................................................................................................ 73

ANTEPROJETO

8. MEMORIAL DESCRITIVO......................................................................................................................................... 80

8.1 Implantação ................................................................................................................................. 80

8.2 Soluções finais ............................................................................................................................ 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................................. 85

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................. 86

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INTRODUÇÃO

Localizado na região administrativa oeste da cidade de Natal, entre os

bairros Felipe Camarão e Planalto, o Guarapes foi oficializado como tal em 1993

pela lei 4.328, e constitui-se na atualidade como um dos bairros menos adensados

da capital potiguar.

Tem-se aqui um bairro cuja trajetória recente muito difere de seu passado

áureo – como entreposto comercial importante para a província do Rio Grande do

Norte – tendo sido bastante influenciada por reassentamentos de famílias

advindas de periferias da cidade, como da favela do Fio e a do DETRAN, que, “em

1988, foram ali abrigadas por viverem em situação de risco” (SEMURB, 2007).

O Guarapes permaneceu recebendo migrantes da cidade a partir de

iniciativas de reassentamentos planejadas pela gestão urbana de Natal. Entre

2008 e 2009 foram entregues pela Secretaria de Habitação, Regularização

Fundiária e Projetos Estruturantes (SEHARPE) dois conjuntos Habitacionais de

Interesse Social (HIS), os quais faziam parte do projeto Planalto II, desenvolvido a

partir das premissas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o

intuito de reduzir o deficit habitacional da capital. Foram eles: o conjunto Santa

Clara e o Leningrado, localizados próximos entre si, no extremo leste do Guarapes.

Contudo, sua inserção ocorreu sem nenhum preparo do bairro para a recepção

das famílias, com ruas não pavimentadas, iluminação pública deficiente,

equipamentos públicos insuficientes e inexistências de linhas de transporte

público que circulassem dentro do bairro (DIÓGENES, 2014).

Somente após a posse das famílias, entre 2010 e 2012, que foram

ocorrendo melhorias urbanas, como o calçamento em algumas ruas do

Leningrado e seu entorno e a criação as linhas de ônibus circular 599 e a linha 41

com terminal no bairro.

Conforme a Prefeitura Municipal do Natal, no ano de 2014 outro

reassentamento foi realizado ao lado dos conjuntos habitacionais anteriormente

citados, com a entrega 869 unidades habitacionais no condomínio vertical

Vivendas do Planalto; em 2018 foram entregues mais 1792 unidades de

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apartamento, no Condomínio Village de Prata, localizado na extremidade oeste do

bairro, com divisas com o Planalto e com Macaíba.

Quanto aos aparatos urbanos, atualmente, em todo o bairro existem três

Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI), uma escola estadual e duas

municipais, uma Unidade Básica de Saúde, uma praça, um minicampo. Destes,

apenas um CEMEI está inserido dentro do Leningrado, estando próximo do

conjunto Santa Clara e também do condomínio Vivenda do Planalto. Então, a

concentração de equipamentos urbanos na parte central do bairro e as longas

distâncias entre as partes dificultam o acesso da população aos serviços públicos,

o que denuncia também a deficiência da mobilidade urbana em seu perímetro.

Nesse sentido, este Trabalho Final de Graduação (TFG) se justifica pela

intenção de contribuir com o que pode ser feito, do ponto de vista arquitetônico,

para melhorar a vida em comunidade do bairro, tendo em vista sua história, suas

demandas e anseios para elaborar um projeto com potencial para reforçar os

laços comunitários. Além disso, justifica-se pelo exercício de projetar um edifício

que deve servir a uma comunidade específica, enriquecendo a graduação e

contribuindo para a formação de um arcabouço teórico e de qualificação

necessário para a vida profissional.

Por conseguinte, guiado pela temática: centro de cultura com enfoque na

comunidade local, este trabalho objetiva conceber um anteprojeto de centro

cultural no bairro Guarapes, em Natal, Rio Grande do Norte, focando nos

problemas e as potencialidades da comunidade local. Para isso, faz-se necessário

conhecer o bairro Guarapes, tendo em vista sua história e sua condição

socioeconômica atual, para o enriquecimento o processo de projeto; Aplicar os

conhecimentos sobre os conceitos de cultura e comunidade, assim como sobre

as características funcionais de centros de cultura e centros comunitários no

processo de projeto; Propor um programa de necessidades que abarque

demandas locais condicentes com o uso da proposta arquitetônica, a fim de

compatibilizar perspectivas da comunidade com os condicionantes de projeto, e

definir problemas e potencialidades do bairro convenientes para o

desenvolvimento do programa e da proposta arquitetônica final.

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1. MÉTODOS, PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS

Neste item abordamos o referencial teórico metodológico e o processo de

projeto, no qual discutimos as fases deste processo e apresentamos um quadro

que sintetiza os procedimentos e técnicas utilizadas para o alcance dos objetivos

do presente anteprojeto arquitetônico.

1.1 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO E O PROCESSO DE PROJETO

Tendo em vista a problemática, os objetivos e o produto final a que se

propõe este trabalho, percebe-se seu cunho exploratório, haja vista a necessidade

de sobreposição de informações bibliográficas para gerar conhecimento sobre os

assuntos que permeiam a temática aqui estabelecida. Tornando possível, então,

a proposta de uma solução arquitetônica por fim.

Assim, para montar a estrutura de trabalho, decidiu-se utilizar as fases de

processo de projeto apontadas por Andrade, Ruschel e Moreira (2013). São elas:

a Análise, a Síntese, a Avaliação e a Representação. Estas etapas consistem em

uma sequência de tomada de decisões, as quais tem capacidade de tornar um

processo de projeto completo (MARKUS apud ANDRADE et al, 2013).

Para os autores em questão, o processo de projeto arquitetônico não é

engessado, mas, sim, dinâmico. Isto é, eventualmente, durante o processo haverá

a necessidade de retornar a uma fase anterior, sobretudo antes de tomar uma

decisão definitiva. Deste modo, a comunicação entre as etapas, ou a dinâmica do

processo, estaria primordialmente associada ao fluxo de informação entre as

mesmas.

A Análise é a fase onde se faz a identificação das metas, problemas e

dificuldades, onde se gerenciam os dados e as informações advindas de

pesquisas, observações in loco, entrevistas, da análise das condicionantes

culturais, legais, econômicas, ambientais etc. (ANDRADE et al, 2013).

Corresponde também à etapa em que se busca o programa de

necessidades mais adequado para o problema em questão, partindo da definição

dos requisitos do projeto e finalizando no programa (ALEXANDER apud ANDRADE

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et al, 2013); e ainda, é nela em que são definidos os principais conceitos do projeto,

já que, para um conceito possuir sentido ele deve remeter ao problema de projeto,

aos condicionantes históricos e ideológicos que são minuciados nesta etapa

(DELEUZE, GUATTARI apud ANDRADE et al, 2013).

Na Síntese tem-se o estágio criativo das tomadas de decisão, concepção

de ideias e de possíveis soluções que satisfaçam às restrições projetuais; é uma

etapa muito mais intuitiva do que racional, na qual “[...] o projetista procura por

formas, materiais, vistas, orientações, condições de iluminação e outros

elementos que se juntam numa montagem holística.” (KALAY apud GARCIA, 2014,

p. 23).

A etapa da Avaliação é quando a solução pensada é avaliada

racionalmente, garantindo que seja a mais adequada a partir da identificação de

deficiências. Em vista disto, “O resultado da avaliação serve para ajustes e

aperfeiçoamentos da solução, voltando o projetista para a segunda ou primeira

fase com mais informações ou modificando restrições ou objetivos.” (KALAY apud

GARCIA, 2014, p. 23).

Consistindo-se como uma etapa que permeia as anteriores, a

Representação torna o processo contínuo e dinâmico, permitindo a comunicação

entre a análise, síntese e a avaliação a partir da codificação e decodificação da

informação (ANDRADE et al, 2013).

Neste trabalho, as duas últimas etapas não serão tratadas

independentemente, pois ocorrerão com fluidez no andamento do trabalho,

ajudando a construir as tomadas de decisão da análise para a síntese, e da síntese

para o anteprojeto.

Em sequência, levando em conta o processo de projeto a natureza lógica

de cada etapa, temos a seguinte estruturação do trabalho:

1. Análise (restrições projetuais e gerenciamento de dados):

1.1 Referencial teórico-conceitual

1.2 Projetos correlatos;

1.3 Condicionantes projetuais:

Page 17: Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

17

1.3.1 Levantamento dos condicionantes

históricos e culturais do bairro;

1.3.2 Consulta popular;

1.3.3 Leis e normas;

1.3.4 Área de intervenção projetual (conforto,

topografia, entorno etc.);

1.4 Programação arquitetônica (programa de necessidades;

pré-dimensionamento; etc.).

2. Síntese (busca por soluções):

2.1 Conceitos;

2.2 Partido arquitetônico;

2.3 Estudo preliminar;

3. Anteprojeto;

3.1 Planta geral de implantação;

3.2 Planta dos pavimentos;

3.2 Cortes (longitudinais e transversais);

3.3 Elevações (fachadas);

3.4 Detalhes (de elementos da edificação e de seus

componentes construtivos);

3.5 Memorial descritivo da edificação.

Para a realização dos estudos de referência será utilizado como base o

método de Baker (1984), o qual analisa os correlatos a partir de diversas

categorias, das quais serão utilizadas: genius loci (contexto), iconologia (arte

como símbolo), identidade (cultura), significado do uso (programa de

necessidades), plástica do uso (movimento), geometria (configuração da forma),

estrutura e matérias;

O levantamento de condicionantes históricos e legais do bairro será

realizado a partir da leitura de documentos bibliográficos como artigos,

dissertações, reportagens, documentos oficiais do município ou do estado, entre

outros; o conhecimento produzido pelo gerenciamento destes dados será

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incrementado após o contato e recolhimento de informações com integrantes do

bairro. Já para a obtenção das condicionantes legais, ambientais e urbanísticas

do terreno serão utilizados: o plano diretor, o código de obras e mapas oficiais de

Natal. A fim de realizar o diagnóstico do terreno será utilizado como método os

recursos de desenho para análise do entorno, como mapa se zoneamento, de

orientação solar e ventos dominantes, ou os que se fizerem necessários. O

gerenciamento destes dados permitirá, além do diagnóstico, a formulação dos

problemas e potencialidades do terreno e seu entorno.

O contato com alguns dos moradores e das lideranças do bairro será

mediado pelo princípio da metodologia do Projeto Participativo (PP), termo

genérico que engloba diversas atividades e formas de inserir a participação

popular nas decisões projetuais.

De acordo com Elali e Veloso (2014), para Neparstek (1997) os princípios

do PP abrangem: envolvimento de moradores/usuários de um local na definição

de objetivos e estratégias, identificar os problemas considerados importantes

para aquela comunidade específica e os recursos disponíveis, desenvolver

estratégias específicas, reforçar laços comunitários e desenvolver laços com

instituições atuantes na cidade.

Além destas considerações é imprescindível esclarecer o nível da

participação popular no processo do projeto. Levando em conta a natureza

acadêmica deste trabalho, e o tempo disponível para sua produção, a

possibilidade de PP mais adequada é o descrito por Elali e Veloso (2014), indicado

por Deshler e Sock (1985), a Pseudo-participação. Nesta modalidade, a

comunidade se envolve parcialmente na elaboração e execução da proposta,

sendo consultada para fornecer informações para o enfrentamento do problema,

mas, sem necessariamente o acato do projetista, e sem envolver-se com os

resultados. É, portanto, uma participação de natureza consultiva, na qual se

procura atender às solicitações majoritárias.

O programa de necessidades será elaborado a partir da sistematização dos

dados obtidos nos estudos de referência, do método da pseudo-participação, e

complementado com pesquisa bibliográfica; será procedido pelo pré-

dimensionamento dos ambientes e pela elaboração de um fluxograma.

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Dispondo do conteúdo exposto por Silva (1998) em seu livro, os estudos

preliminares são o estágio inicial da concepção de projetos, no qual haverá a

compatibilização do programa com o terreno e condicionantes, e, também, as

primeiras idealizações formais. Assim, pode-se entendê-lo como um

desenvolvimento do partido arquitetônico, principal produto desta etapa. Para isto,

tem-se a relevância da fase da Representação; nela, os recursos a serem

utilizados serão os croquis feitos à mão, simulações e desenhos técnicos a partir

do programa AutoCad, simulações e desenhos de volumetria 3D no SketchUp, e

aprimoramento de imagens no V-ray e no Photoshop.

Ao final, após os estudos por busca de soluções, tem-se o anteprojeto, que

será apresentado de acordo com a normativa que regula a elaboração de projeto

e edifícios, a NBR 13532. No entanto, considerando o tempo disponível para a

elaboração deste produto, os itens “planta de terraplenagem” e “cortes de

terraplenagem” não serão confeccionados. Logo, o anteprojeto será composto

por: planta geral de implantação; plantas dos pavimentos; plantas das coberturas;

cortes (longitudinais e transversais); elevações (fachadas); detalhes (de

elementos da edificação e de seus componentes construtivos), e memorial

descritivo da edificação.

1.2 QUADRO SÍNTESE

Para melhor compreensão da metodologia empregada, foi desenvolvido

um quadro resumo (Quadro 01) com os procedimentos metodológicos, técnicas

e fontes de dados respectivos ao alcance de cada um dos objetivos específicos.

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Quadro 01 – Metodologia de trabalho.

Fonte – criado pela auto

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2. SOB A ÓTICA DOS AUTORES

Neste capítulo serão abordados os conceitos fundamentais para o

embasamento teórico essencial à compreensão do tema escolhido: centro de

cultura com enfoque na comunidade local. Para isso, irá explorar estudos

científicos que discutem as variáveis: cultura, centro de cultura, comunidade e

espaço de uso comunitário.

2.1 A CULTURA E A SUA RELEVÂNCIA

A etimologia da palavra cultura vem do latim culturae, cujo significado, “ato de

plantar e cultivar”, possui atributo dinâmico, de acordo com Laraia (1997). Seu

entendimento moderno como conceito foi sintetizado pelo antropólogo inglês

Edward Taylor, que a descreveu como um conjunto de conhecimentos, crenças,

arte, moral, leis, costumes e hábitos adquiridos por uma pessoa como membro de

uma sociedade.

Em Civilização e Cultura (2004), Câmara Cascudo escreve que cultura pode ser

entendida como um patrimônio tradicional de normas, doutrinas, hábitos e

técnicas transmissíveis pela convivência e ensino, de geração em geração. Para o

autor, ao longo do tempo, existem processos de modificações, supressões e

mutilações parciais, no terreno material ou espiritual, do elemento cultural

coletivo, sem que as permanências características se transformem de maneira

anuladora. Assim, a cultura apresentaria sempre uma fórmula aquisitiva de

conquista e movimentação de conhecimentos, com ação imediata, constante e

utilitária.

Entendendo, então, cultura como uma construção histórica e produto

coletivo da vida humana, podemos dizer que se trata de um elemento

indissociável da realidade social, sendo fundamental na formação de identidade

de um povo ao mantê-los conectados às suas raízes.

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22

Como discorre Mourão et al (2011), um dos obstáculos para a fomentação

da cultural local é o fenômeno da globalização, onde vivenciamos um enorme

intercâmbio de conhecimento e informação entre diferentes sociedades de todo

o globo. Este é um processo com potencial de modificar maneiras tradicionais de

viver, produzir e se identificar culturalmente, a partir do momento em que tende a

homogeneizar e impor a sobreposição da cultura de massa, distribuída

principalmente por países desenvolvidos com objetivo de obter lucro, sobre a

cultura local nas cidades, estados e países subdesenvolvidos.

No Brasil, além do entrave do fenômeno da globalização, a produção

cultural se torna cada vez mais desafiadora principalmente devido às próprias

medidas atuais do governo federal, que suprimiram ainda mais os investimentos

em cultura com a extinção do Ministério da Cultura (rebaixado a uma secretaria

do Ministério do Turismo) e as profundas mudanças na Lei Rouanet (Lei de

Incentivo à Cultura), diminuindo o teto para a captação de recursos de 60 milhões

de reais para 1 milhão de reais. Deste modo, com pouco suporte de recursos

federais, a produção artística dependerá ainda mais de doações e patrocínios

privados e do custeio dos espectadores, tendendo a possuir acesso ainda mais

restrito pela população.

Em termos econômicos, a promoção cultural no país é chamada de

economia criativa, que se constitui em um conjunto de negócios que se baseiam

no capital cultural e intelectual gerando valor econômico. A atual Secretaria

Especial da Cultura informa que a economia criativa gera em torno de 2,64% do

PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, sendo responsável por mais de um milhão

de empregos formais diretos, contanto com cerca de 250 mil empresas e

instituições. Sua taxa média de crescimento anual, entre 2013 e 2017, foi de 8,1%,

bem acima do conjunto da economia, cujo crescimento, neste mesmo período, foi

em média 2% do PIB.

Como podemos observar, mesmo com sua relevância social e econômica,

a promoção cultura no Brasil vem sendo mutilada e desincentivada. Neste sentido,

devemos assumir a relevância dos centros culturais como instituições criadas

com o objetivo de se produzir, elaborar e disseminar práticas culturais e bens

simbólicos.

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23

2.2 O CENTRO DE CULTURA

Pode parecer diversa a finalidade e o funcionamento de um centro cultural,

tendo em vista que surgiram no mundo com atividades que remetem aos museus

e ao enfoque no lazer. De acordo com Neves (2013), as bases para o entendimento

contemporâneo de ação cultural surgiram na França, na década 1950 quando

espaços, denominados, mais tarde como casas de cultura, foram criados para

melhorar as relações de trabalho entre pessoas, ofertando lazer para os operários

franceses a partir de áreas de convivência, quadras esportivas e centros sociais.

Mas, foi no final da década de 1970, com a criação do Complexo Cultural Georges

Pompidou (Figura 01), que a França passou a ser uma referência no assunto,

elevando qualitativamente o que se considerava um edifício de fomento à cultura,

e atraindo a atenção de todo o mundo.

Figura 01 – Complexo Cultural Georges Pompidou.

Fonte - https://www.tiqets.com/fr/activites-attractions-paris-c66746/billets-pour-

centre-pompidou-collection-permanente-entree-prioritaire-p974349/.

Para Souza (2012), apesar das contradições acerca da definição de um

espaço cultural, além de promover o lazer, atualmente eles são utilizados para

Page 24: Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

24

projetos de educação fora do ambiente escolar, estabelecendo uma conexão

entre os diversos âmbitos do conhecimento.

Conectando a finalidade destas edificações ao conceito de cultura, Milanesi

(2003) escreve que o principal intuito de um centro cultural deve ser resgatar as

origens da população da cidade em que se insere, havendo duas formas de

promoção deste resgate: a preservação quase museológica e a transformação a

partir da matriz tradicional. Na primeira, as atividades e técnicas desenvolvidas no

centro de cultura persistem ao longo de anos, servindo para que a sociedade não

perca sua memória; na segunda, como sugere o próprio nome, as tradições são

modificadas ao se adaptarem aos meios atuais de produção, mas mantendo a

essência de suas raízes.

Nesta reflexão, os centros de cultura devem preservar a cultura local para

que os usuários passem a assimilá-la, tornando-se imprescindível o cuidado de

não reproduzir exatamente as mesmas atividades já desenvolvidas, mas sim

atividades e dinâmicas afins, na região em que se insere para que não deixe de ser

atrativo.

Ainda conforme o autor, os centros culturais se constituem como espaços

para se fazer cultura viva, por meio de obra de arte, com informação, em um

processo crítico, criativo, provocativo, grupal e dinâmico. Deste modo, os espaços

que promovem cultura permitem a descoberta e o conhecimento a partir do

acesso às atividades relativas aos verbos informar, discutir e criar.

O primeiro verbo, informar, envolveria as atividades relacionadas à

transmissão de informações, como o oferecer o acesso a livros e outros tipos de

registros de conhecimento, como cartazes, filmes e palestras. Devido a isto, nos

centros sempre devem existir ambientes cuja prioridade seja promover a troca de

informação: auditórios, pátios, teatros, arenas, bibliotecas, salas de vídeo e

informática.

O verbo discutir seria um complemento ao verbo informar, abrangendo

atividades capazes de promover a reflexão, como seminários e ciclos de debate.

A promoção da interação entre pessoas, para este fim, pode ocorrer em espaços

como lanchonetes e pátios.

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25

Como somatório entre os verbos anteriores, o verbo criar se mostra como

principal objetivo de um centro cultural, já que a criação permanente acaba com a

inércia e a rotina de reproduções. Neste caso, o desenvolvimento de atividades

criativas pode ocorrer em espaços como oficinas de arte, ateliers, salas de

múltiplo uso e ambientes onde possam ser realizados trabalhos mais técnicos.

Neves (2013) complementa esta conceituação sobre a finalidade e o

funcionamento do centro cultural frisando que as atividades culturais não devem

apenas ser realizadas para as pessoas, e sim com elas. Para isso, a autora

considera três campos relativos ao trabalho cultural: a criação, tanto de bens

culturais quanto a partir de formação artística e educação estética; a circulação

de bens culturais, evitando que o centro de cultura se torne apenas um espaço

dedicado ao lazer; e a preservação do campo do trabalho cultural.

As questões mais subjetivas acerca da funcionalidade e das atividades

desenvolvidas neste tipo de construção terão de considerar as demandas de uma

comunidade específica, seja uma comunidade artística de dimensão global, ou da

comunidade de uma cidade ou região, conforme Souza (2012). Um exemplo

citado pelo autor são os centros culturais comunitários, que levam em

consideração as demandas locais e servem como suporte às famílias de baixa

renda.

Por fim, retomando uma problemática apontada no tópico anterior, cujo

principal dificultador de incentivo a cultural local é o processo de globalização,

enfatizamos o centro cultural como um espaço que deve construir laços com a

comunidade e os acontecimentos locais, ajudando a fortalecer o regionalismo,

funcionando como um equipamento informacional e proporcionando cultura para

os diferentes grupos sociais, buscando promover a sua integração.

2.3 COMUNIDADE E O ESPAÇO DE USO COMUNITÁRIO

Diante da palavra “comunidade” vislumbramos uma série de significados,

ao mesmo tempo divergentes e semelhantes em certo nível. Podemos, em

primeiro momento, associá-la às relações entre pessoas próximas fisicamente ou

simbolicamente, ou a grupos virtuais em determinados sites de relacionamento,

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26

ou utilizá-la como sinônimo de favela etc. São sentidos atribuídos

automaticamente e que remetem a sua etimologia, a qual tem origem na palavra

“comum”.

A especialista em comunicação social Cecília Peruzzo (2009) avalia que o

termo “comunitário” vem sendo utilizado de forma desordenada, principalmente

em detrimento da globalização e da aproximação virtual entre pessoas. No

entanto, há peculiaridades possíveis de serem identificadas nas mais diversas

interpretações. De acordo com a autora:

[...] não há como negar é que a palavra “comunidade” evoca sensações de solidariedade, vida em comum, independentemente de época ou de região. Atualmente, seria o lugar ideal onde se almejaria viver, um esconderijo dos perigos da sociedade moderna. Como nos mostra Bauman (2003:7), “‘comunidade’ produz uma sensação boa por causa dos significados que a palavra ‘comunidade’ carrega”: é a segurança em meio à hostilidade. (PERUZZO, 2009, p.140).

Conforme a reflexão acima – em que a palavra permite-se compreender

como de sentido comum, de adesão e mutualidade – no dicionário de língua

portuguesa temos a seguinte descrição para as palavras comunidade e

comunitário: “co-mu-ni-da-de sf 1. Qualidade de comum. 2. Corpo social; a

sociedade. 3. Grupo de pessoas submetidas a uma mesma regra religiosa. 4.

Local por elas habitado. [...]”; “co-um-ni-tá-rio adj. Relativo a comunidade.”

(FERREIRA, 2000, p. 170).

Para Leila de Albuquerque (2009), os conceitos de comunidade e sociedade

costumam estar associados e fazem parte da tradição sociológica weberiana,

apesar de terem sido sistematizados pelo sociólogo Ferdinand Tönnies. Nesta

relação entre os termos, “comunidade” carrega consigo as simbologias positivas

associadas ao conceito de sociedade:

No século XIX, a noção de comunidade é resgatada e, como a sua antítese, passa a simbolizar a imagem de uma boa sociedade, pelo menos para os utópicos ou os resistentes ao modelo de solidariedade instaurado pela modernidade. O conceito de comunidade é empregado, nos séculos XIX e XX, para todas as formas de relacionamento caracterizadas por intimidade, profundeza emocional, engajamento moral e continuidade no tempo. (ALBUQUERQUE, 2009, p.50).

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27

Tomando, então, comunidade como conceito teórico relacionado a um

otimismo social e à solidariedade, este pode ser compreendido a partir de três

gêneros: o de parentesco, de vizinhança e de amizade (TÖNNIES apud PERUZZO,

2009).

Para a área da arquitetura e urbanismo, o gênero vizinhança, elaborado por

Tönnies, é o mais aproveitável, pois nele é possível identificar a existência de

comunidades na vida urbana. Sendo assim, o espaço urbano vivido pode ser

representado pela comunidade de vizinhança, a qual “[...] caracteriza-se pela vida

em comum entre pessoas próximas, da qual nasce um sentimento mútuo de

confiança, de favores, etc. Dificilmente isso se mantém sem a proximidade física.”

(TÖNNIES apud PERUZZO, 2009, p. 142). Portanto, pode-se dizer que a vida em

comunidade está baseada em relações sociais, constituindo-se como uma

sociedade, “[...] mas nem toda sociedade é uma comunidade” (PARK, BURGESS

apud PERUZZO, 2009, p. 142).

Devemos, assim, ter em mente que o termo comunidade sempre possuirá

como característica intrínseca o sentido de comunitário, o qual também remete à

vida em comunidade, necessitando de um espaço, urbano ou não, de aproximação

das relações entre pessoas. Nesse sentido, o espaço, um dos principais conceitos

de interesse da arquitetura e do urbanismo, mostra-se como um elemento

primordial para vida em comunidade e o desenvolvimento de laços comunitários.

Segundo Débora Machado (2009), o espaço de uso público acarreta

sempre como consequência de existência o uso coletivo. Em contrapartida, um

espaço de uso coletivo nem sempre é público, pode ser privado ou comunitário.

A rua, elemento primordial dos estudos urbanos, é capaz de funcionar

como um espaço comunitário, conforme o comportamento da população que a

usufrui, pois, um espaço originalmente público apenas torna-se comunitário

quando moradores e usuários passam a tratá-lo como de sua responsabilidade,

zelando pela sua preservação (MACHADO, 2009).

Então, o espaço comunitário representa “[...] o lugar comum de convivência,

necessário para a habitação, cultura, serviços, educação e lazer, naquele onde as

pessoas vivem experiências em comuns e percebem o mundo.” (MACHADO, 2009,

p. 23). Além disto, ele é relativo à comunidade, a qual equivale “[...] ao conjunto de

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pessoas com os mesmos interesses e que se organizam respeitando seus

próprios costumes e hábitos [...]” (MACHADO, 2009, p. 23).

Por consequência, um espaço só possui o atributo comunitário ao atender

às necessidades e expectativas de uma comunidade específica, seja de uma

região, do bairro ou do município (MACHADO, 2009). Por isso, em casos onde o

espaço de uso comunitário é viabilizado por uma construção arquitetônica é

incentivado, por profissionais e estudiosos da área, que se utiliza de metodologias

de participação popular na concepção do projeto.

Como mencionado no tópico anterior, um centro de cultura, por exemplo,

pode atender às demandas de uma região específica, o que evidencia a arquitetura

como possibilitador da ampla variedade de espaços que possam sustentar o uso

comunitário, os quais podem oferecer lazer, esporte, cultura ou educação.

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29

A N Á L I S E

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30

3. GUARAPES: DE UM PASSADO ÁUREO PARA UMA REALIDADE CONFLITUOSA

O Guarapes é o segundo bairro mais recente da capital potiguar, tendo sido

oficializado como tal em 1993 pela lei 4.328. Fica localizado na região

administrativa oeste da cidade, entre os bairros Felipe Camarão e Planalto, na

fronteira com Macaíba, margeado pela BR-226 e o rio Jundiaí (Figura 02), sendo

na atualidade o bairro menos adensado da capital. Em primeiro momento, suas

divisas eram estabelecidas até os limites vigentes do Planalto, porém, em 1998

este último consolidou-se por lei como sendo único. Apesar de terem se

constituído oficialmente como bairros distintos, ainda é bastante comum que

pessoas confundam ambos.

Figura 02 – Mapa da cidade do Natal, com destaque para o bairro Guarapes, na zona oeste.

Fonte – https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_bairros_de_Natal_(Rio_Grande_do_Norte).

Adaptado pela autora.

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31

3.1 UM BREVE HISTÓRICO

Retomando sua história a partir da segunda metade século XIX, o complexo

comercial da localidade do Guarapes foi a maior praça comercial da província do

Rio Grande do Norte, comandada pelo comerciante e político paraibano Fabrício

Gomes Pedroza.

De acordo com Alves (2015), foi a influência política do comerciante que

induziu a captação de investimentos do governo para a localidade do Guarapes,

no intuito de fomentar a atividade comercial por ele chefiada. Com a instalação de

sua casa comercial na margem direita do Rio Jundiaí, na atual BR-226 (que liga

Natal a Macaíba), aos poucos seguiram as construções de demais edifícios para

suporte e apoio comercial.

O posicionamento geográfico estratégico da localidade, próxima dos Rios

Jundiaí e Potengi, possibilitou que se tornasse uma zona de fluxo de mercadorias

distribuídas para as diversas partes do interior da província, permitindo a

comercialização entre interior e litoral.

Câmara Cascudo (1999) descreve o complexo comercial:

Na colina solitária, a curva do rio doce, amplo, igual. Fundou-se “Casa de Guarapes”. Embaixo, margeando o rio, a fila dos armazéns bojudos que tudo guardavam e vendiam. Em cima, os escritórios, almoxarifado, a capela, a escola, o quartel-general da ação. (CASCUDO, 1999. P.28).

A citação do autor mostra que o complexo era composto por uma série de

instalações, das quais, o casarão principal se responsabilizava pelo protagonismo;

a sequência de armazéns às margens do Rio Jundiaí, junto ao ancoradouro,

revelava sua significativa irradiação econômica, que exportava para a Europa

produtos produzidos na província – como algodão – e importava produtos

manufaturados (ALVES, 2015).

Pela articulação e estabilidade do complexo comercial, o casarão é

lembrado pela historiografia tradicional do Rio Grande do Norte, ressaltando a

imponência do edifício e o apogeu econômico associado a ele. No discurso do

presidente Leão Velloso, de 1862, Guarapes aparece como importante entreposto

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32

comercial que transferiria para Natal a movimentação comercial dispersa no

interior (RODRIGUES, 2006, p. 64):

... por minha parte não vejo que a província tenha outra localidade mais apropriada a ser o centro de suas relações officiaes do que esta [Natal], assim como não vejo que esta cidade tenha de soffrer com o desenvolvimento de Guarapes como ponto comercial, ao contrario d’alli não se pode espera que lhe venha senão elementos de prosperidade. (Relatório do Presidente Leão Velloso de 16 de fevereiro de 1862. p.48-49).

Na teoria, seu funcionamento se deu até 1872, devido à morte do

proprietário, Fabrício Gomes Pedroza. Porém, o complexo de armazéns que

suportavam o casarão, as estradas, o ancoradouro, pontes, casas de

trabalhadores, entre outros, não teriam sido completamente desativados após

essa data. O enfraquecimento do comércio da região teria sido influenciado,

também, pela perda de importância dos rios Jundiaí e Potengi no transporte

comercial, devido ao desenvolvimento de linhas férreas e estradas de rodagem

(ALVES, 2015).

Figura 03 – Ruínas do antigo complexo comercial do Guarapes.

Fonte – https://www.caurn.gov.br/?p=13634.

Hoje em dia também conhecido como “museu velho”, o antigo casarão se

encontra abandonado e em ruínas (Figura 03), apesar de ter sido tombado pelo

Patrimônio Histórico Estadual pela Portaria nº 456/90 em dezembro de 1999; em

2002 as ruínas e seu terreno circundante foram desapropriados para pertencerem

ao governo do Estado, se tornando um bem público (ALVES, 2015).

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Após a queda do entreposto comercial não se encontram muitas

informações oficiais sobre a trajetória e desenvolvimento da localidade Guarapes,

que viria a se tornar oficialmente bairro nos anos de 1990. Todavia, é possível

apontar que o processo de expansão urbana da capital, cuja ocupação e uso do

solo passam a ser fortemente influenciadas por programas habitacionais,

impactou negativamente para o desfalque em serviços e infraestrutura pública na

Zona Norte e Zona Oeste, por não possuírem um solo urbano com valorização

imobiliária, conforme Bezerril, 2016. Os programas habitacionais mencionados

foram os implementados a partir de 1963, quando o Governo do Estado elaboraria

o primeiro Plano Habitacional Popular, e também pela criação do Banco Nacional

de Habitação (BNH), no final dos anos 1960, que acabaram por criar uma política

habitacional segregadora, em que uma parte da cidade recebeu mais

investimentos e se desenvolveu mais do que outra.

3.2 CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA ATUAL

Observando o Guarapes nos dias de hoje pode-se dizer que ele ainda possui

características de área de expansão urbana, apresentando baixos índices de

ocupação na maior parte de seu território.

Em consonância com o censo levantado pelo IBGE (2010), o Guarapes se

apresenta como o bairro com o menor número de domicílios entre 2000 e 2010, e

cerca de 68% de seu território ainda é de cobertura vegetal. Sobre isto, é

importante destacar a restrição de adensamento imposta ao bairro por conter em

seu território a Zona de Preservação Ambiental dos cordões dunares, ou ZPA-4.

No entanto, mesmo com esta particularidade ambiental, seu afastamento

geográfico e a dificuldade de acesso aos centros e principais vias da capital e,

também, a infraestrutura urbana de baixa qualidade, se mostram como fatores

elementares do baixo adensamento (DIÓGENES, 2014).

Além da particularidade ambiental, todo o bairro está contido numa

Mancha de Interesse Social (MIS), cuja predominância de renda é de até 03

salários mínimos (SEMURB, 2017).

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34

O trajeto histórico mais recente do bairro muito difere do seu passado

como importante entreposto comercial na capitania do Rio Grande do Norte,

tendo sido bastante influenciado por sucessivos reassentamentos de famílias

advindas de periferias da cidade. Como exemplo dos primeiros reassentamentos

promovidos pelo poder público, tem-se a favela do Fio e a do DETRAN, que, “em

1988, foram ali abrigadas por viverem em situação de risco” (SEMURB, 2007),

dando início a expressiva ocupação do território do bairro.

De acordo com Caroline Diógenes (2014), entre 2008 e 2009 foram

entregues pela Secretaria de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos

Estruturantes (SEHARPE) dois conjuntos Habitacionais de Interesse Social (HIS),

os quais faziam parte do projeto Planalto II, desenvolvido a partir das premissas

do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o intuito de reduzir o

déficit habitacional da capital. Foram eles: o conjunto Santa Clara e o Leningrado,

localizados próximos entre si no extremo leste do bairro (Figura 04).

Em seu trabalho a autora avalia a qualidade destas habitações, sobretudo

por terem sido inseridas em uma região pouco abastecida por equipamentos

públicos e infraestrutura urbana que pudessem amparar as novas famílias que

chegavam:

As famílias foram para os citados conjuntos habitacionais em junho de 2009, evidenciando problemas relativos à inserção urbana, principalmente, quanto ao acesso a transporte público e aos equipamentos de saúde, educação, entre outros. (DIÓGENES, 2014, p. 23)

Somente após a posse das famílias que foram ocorrendo melhoras na

infraestrutura urbana. Entre 2010 e 2012 foi promovido o calçamento em algumas

ruas do Leningrado e seu entorno, e também, foram criadas as primeiras linhas de

ônibus (linha 599 e linha 41) com terminal dentro do bairro. Esse aprimoramento

ocorreu devido reivindicação popular, e foi promovido pela Secretaria Municipal de

Mobilidade Urbana (SEMOB), beneficiando em média 1.500 habitantes. Mas, a

longa espera e atrasos das linhas faz com que muitos moradores prefiram ir a pé

ao terminal do Planalto, onde existem mais opções de linhas de ônibus

(DIÓGENES, 2014).

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Em 2014, outro reassentamento foi realizado ao lado dos conjuntos

habitacionais citados a cima. Conforme a Prefeitura Municipal do Natal, para a

entrega do condomínio vertical Vivendas do Planalto (Figura 04), com 896

unidades habitacionais, a SEHARPE cedeu o benefício financeiro a 448 famílias

cadastradas no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), advindas de

assentamentos existentes no Guarapes e no Planalto: Anatália, Oito de Outubro e

Monte Celeste. O condomínio conta com praça, playground e uma pequena quadra

poliesportiva descoberta.

Em 2018 foram entregues mais de 1792 unidades de apartamento, no

Condomínio Residencial Village de Prata, localizado na extremidade do bairro com

o Planalto e Macaíba. Parte das famílias beneficiadas são inscritas no programa

MCMV, e a outra parte é oriunda de assentamentos e ocupações informais, dentre

eles, a Favela do Fio, do Alemão e o assentamento 8 de março (SEHARPE, 2019).

A localização do condomínio pode ser verificada na Figura 04.

Se não bastasse a distância entre as “ilhas” habitacionais do bairro, a má

distribuição dos equipamentos públicos dificulta o acesso dos moradores da

região do Leningrado e do Village de Prata. Ao todo, tem-se: dois Centros

Municipais de Educação Infantil (CMEI), duas escolas municipais, uma Unidade

Básica de Saúde, uma praça, um minicampo e uma quadra (Figura 04). Destes,

apenas um CMEI está inserido dentro do Leningrado. Embora, o Residencial

Vivendas do Planalto possua praça e campinho próprios, estes não são

suficientes para ofertar lazer a todos os moradores da redondeza.

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Figura 04 – Zoneamento do bairro.

Fonte – Google Maps (2021), modificado pela autora.

Como podemos observar no mapa acima, os equipamentos se concentram

na parte central do bairro; quanto aos equipamentos destinados ao lazer, a praça

pública se encontra atualmente em relativo estado de abandono (Figuras 05 e 06);

já o minicampo possui alguma estrutura, como iluminação interna e cercamento,

além de ser bastante utilizado (Figura 07):

Figura 05 – Praça pública do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

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Figura 06 – Mobiliário da praça pública do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

Figura 07 – Minicampo do bairro.

Fonte – Acervo da autora (2021).

A quadra foi recentemente aprimorada pelos moradores, com a troca da

tela de cercamento e a constante manutenção do terreno, como se pode ver nas

Figuras 08 e 09.

Figura 08 – Quadra do bairro em 2019.

Fonte – Acervo da autora (2019).

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Figura 09 – Quadra do bairro em 2021.

Fonte – Acervo da autora (2021).

A questão da distância geográfica entre as partes, e o próprio isolamento

do bairro dentro de Natal, foi amenizada devido à criação da linha de ônibus 587,

que conecta o centro do Guarapes ao Village de Prata, e a linha 41B, que sai do

Leningrado com destino final para o Alecrim. Ao todo, o bairro conta com cinco

linhas, das quais três saem do terminal do centro e as outras duas do terminal do

Leningrado (Figura 10).

Figura 10 – Terminais de ônibus dentro do bairro.

Fonte – Google Maps (2021), modificado pela autora.

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39

Apesar das dificuldades o bairro se vê em constante luta pela reivindicação

de seus direitos, organizadas pelas suas lideranças, que mesmo com

adversidades para estabelecer o diálogo entre partes, se esforçam para manter o

engajamento político.

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4. REFERENCIAIS PROJETUAIS

Pensando no processo de concepção de um centro cultural focado nas

questões do bairro, com intuito de reforçar os laços comunitários e fomentar a

cultura local, este tópico irá tratar sobre os estudos de referência, analisando tanto

um centro de cultura quanto um centro comunitário; pretende-se observar nos

projetos parte do que foi visto no tópico 2, principalmente sobre a funcionalidade

de um centro de cultura, e também de um espaço de uso comunitário.

Para analisar obras já construídas, com uso semelhante ao que será

proposto ao final do trabalho, serão analisados o processo de concepção

arquitetônica de cada uma, assim como seus aspectos funcionais e de conforto

ambiental, as questões estruturais, a relação com o local em que foram

construídas e a estética.

A escolha dos projetos a serem tomados como referência se deu, além do

uso, pela região de implantação do projeto. Por consequência, foram delimitadas

as Américas Latina e Central como área de abrangência de escolha. Logo, para

este estudo serão analisados os seguintes projetos: o centro cultural RedBull

Station (Brasil) e o Centro Comunitário de El Rodeo de Mora (Costa Rica).

No final deste capítulo será apresentado um quadro síntese que agrupará

as características essenciais de cada projeto a serem referenciadas, ou rebatidas,

no processo de síntese, tais como: solução do programa arquitetônico, solução

formal ou partido, solução volumétrica, conceitos empregados e/ou materiais

empregados.

4.1 ESTUDO DE PROJETOS CORRELATOS

Os estudos indiretos tomarão como referência o método de Geoffrey H.

Baker (1998), o qual elaborou um modelo de análise de projeto que foca nos

aspectos formais e volumétricos, mas que também apresenta tópicos que se

debruçam sobre o contexto cultural e uma série de outras características que

avaliam a arquitetura enquanto arte e técnica. Para o autor, a arquitetura está

condicionada a três fatores elementares: às condições do local, aos requisitos

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funcionais e à cultura local, ressaltando que esta última influência nos materiais e

estrutura empregados no projeto. Deste modo, para bem compreender uma obra

arquitetônica é necessário ter estes fatores em mente, e é isto que guiará o

modelo de análise. Este se dá com a identificação de vários elementos ou

conceitos, presentes na obra analisada, que estão sempre amparados por

questões contextuais particulares.

Utilizando sete das categorias do método de Baker que foram estudadas

em sala de aula, na disciplina de Ateliê Integrado de Arquitetura e Urbanismo,

temos a seguinte base analítica:

• Genius loci (contexto): refere-se ao contexto e como a arquitetura pode

vincular cultura e ambiente, se relacionando a sensação de identidade

pertencimento que alguém tem por um lugar; diz respeito ao local de

inserção da edificação. Para Baker, os maiores exemplares da arquitetura

conseguem capturar as qualidades intrínsecas da paisagem e da cultura

do local.

• Iconologia (arte como símbolo): implica no significado simbólico da forma

e o que a faz logicamente expressiva e significante e quais referências

podem ser observadas na expressão formal da arquitetura.

• Identidade (cultura): concerne na arquitetura como forma de comunicação

relevante a integração cultural, tendo em vista que a cultura integra o

indivíduo ao mundo; a arquitetura se integra ao contexto histórico e cultural

de onde está implantada.

• Significado do uso (programa de necessidades): o significado da

arquitetura está no uso, e, por isso, existe para servir às necessidades de

uma cultura. Portanto, é necessário que sua significação tenha origens no

uso.

• Movimento (plástica): expressa a forma arquitetônica, sua configuração

formal e volumétrica.

• Geometria: expressa a forma geométrica do projeto ou edifício.

• Estrutura e materiais: trata-se dos aspectos construtivos e da

compreensão de que estrutura não seria apenas um meio de constituir

Page 42: Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

42

arquitetura, mas também como um meio de expressão arquitetônica.

Como exemplos, tem-se a coluna grega e arco de abóboda romana.

Por questões de facilitação do estudo e compreensão objetiva das

referências a serem correlatadas, as análises prosseguirão com a simplificação

de quatro categorias em duas: “iconologia” e “identidade” em “identidade e

símbolo”; “movimento” e “geometria” em “geometria e plástica”. Teremos, assim,

cinco (5) categorias de análise, que são:

1. Genius loci (contexto);

2. Identidade e símbolo;

3. Significado do uso (programa de necessidades);

4. Geometria e plástica (configuração da forma);

5. Estrutura e materiais;

As análises serão precedidas por uma ficha técnica de apresentação de

cada projeto, informando local, equipe de projeto, a área em m² e o ano em que foi

implantado.

4.1.1 REDBULL STATION

1. GENIUS LOCI (CONTEXTO)

Em meio a um cenário de extrema urbanidade, no centro de São Paulo,

capital, o centro cultural RedBull Station se manifesta como um local vivo e

emissor de cultura. O edifício tomado pelo centro é longevo, de 1926, e tombado

como patrimônio histórico, tendo abrigado uma antiga subestação de energia até

o ano de 2004. Após um longo período de reforma e requalificação, com projeto

de 2011, o RedBull Station passou a funcionar no ano de 2013, atuando como

importante ponto transformador dentro deste cenário urbano e intenso.

FICHA TÉCNICA:

Localização: São Paulo, Brasil;

Equipe de projeto: Triptych arquitetos;

Área: 2.150m²;

Ano do Projeto: 2013;

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Figura 11 – Contexto de implantação urbana do RedBull Station.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-

slash-triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Sua localização é privilegiada, próximo à tradicional praça da capital, a

Praça da Bandeira, e está inserido no meio de um nó de avenidas e cruzamentos,

como se pode observar na Figura 11.

2. IDENTIDADE E SÍMBOLO

Para adaptar-se à sua nova função de promover a cultura, o edifício foi

restaurado seguindo os principais conceitos de preservação do patrimônio

arquitetônico, o que não o impediu de receber intervenções contemporâneas –

como a escada metálica ao longo dos cinco pavimentos até a cobertura, onde

flutua uma marquise metálica ao lado de uma fonte de água. Tanto a escada,

quanto a marquise e a fonte podem ser observadas do exterior do prédio, sobre

tudo a marquise, contribuindo ao trazer monumentalidade extra ao prédio,

comunicando sua contrastante contemporaneidade. Ainda sobre a marquise,

Grégory Bousquet, arquiteto da equipe responsável pelo projeto, comenta em

entrevista para o site Galeria da Arquitetura, que seu destaque emite um “sinal

cultural” para as pessoas que andam na rua, como uma antena, convidando

caminhantes a visitar o local.

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Figura 12 – RedBull Station visto de frente; destaque para a marquise da cobertura.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash-

triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Figura 13 – Marquise da cobertura do RedBull Station.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash-triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all.

Além da estética do projeto, a dinâmica estabelecida entre o centro e

público é uma das principais características que desenham a identidade do

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45

edifico. Para, Olivier Raffaelli, outro dos arquitetos responsáveis, a adaptação do

programa para receber instalações funcionais e bem-distribuídas foi o principal

fator projetual a contribuir para isso. A RedBull Station é um local vivo, as pessoas

têm a liberdade de passar o dia, almoçar, participar de workshops, ouvir e produzir

música, conhecer artistas em eventos e exposições, visitar o café, entre várias

outras atividades. Essa característica interativa é na verdade um movimento

mundial em que museus se tornam cada vez mais abertos ao público, integrando-

o em atividades diversas e socioeducativas, e não somente expositivas. Para o

Triptych, toda essa vivacidade presente no centro cultural seria uma evolução do

que é o museu.

3. SIGNIFICADO DE USO (PROGRAMA DE NECESSIDADES)

O programa está dividido nos cinco andares do prédio, incluindo o subsolo,

misturando diferentes expressões criativas e artísticas, com foco principal em

música e arte multimídia; o espaço funciona com programação de atividades

permanentes, o que é ofertado pela cafeteria, terraço e pelo estúdio de música.

Os espaços expositivos foram programados em plantas livres, o que exigiu a

demolição de elementos não estruturais, além da adição de novas divisórias em

vidro e gesso acartonado para delimitar novos espaços de apoio e novos locais

de trabalho.

Dentre os ambientes distribuídos no programa, tem-se, no térreo, a galeria

principal, uma sala monumental que recebe exposições de todas as formas de

artes visuais, e os estúdios de gravação de música. O subsolo foi transformado

em outro espaço expositivo, sala de ensaio de músicos e camarim. No mezanino

fica a parte destinada ao escritório.

No andar superior (Figura 14) há seis ateliers, ao lado há o grande atelier

coletivo para workshops e palestras (auditório), e também a chamada Galeria

Transitória, onde trabalhos são expostos por tempo provisório, durante o

processo de criação. É a união de todos estes espaços é o que faz do RedBull

Station um importante difusor de cultura dentro de São Paulo.

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Figura 14 – Distribuição do programa em planta.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash-triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all, modificado pela autora.

4. GEOMETRIA E PLÁSTICA (CONFIGURAÇÃO DA FORMA)

A antiga subestação de energia Riachuelo foi implantada numa pequena

quadra, em meio a um nó de cruzamentos de avenidas, com forma geométrica

sóbria, quase retangular, seguindo linhas de horizonte como em ponto de fuga. A

marquise contemporânea em sua cobertura, que parte do nível do chão em

estrutura metálica, adiciona leveza para a solidez do edifício antigo (Figura 12).

5. ESTRUTURA E MATERIAIS

As intervenções contemporâneas foram somente uma parte do projeto de

restauro, internamente foram retirados os elementos de vedação dispensáveis

para possibilitar o novo uso. No entanto, os acabamentos de pintura antiga e

concretos existentes, até mesmo parte sujeira e tubulação foram mantidas. A

essência do prédio foi, então, mantida e a beleza de seus elementos,

potencializada, principalmente a partir da decoração e adição dos elementos

contemporâneos na arquitetura.

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Figura 15 – Materiais empregados e estrutura existente.

Fonte – https://www.archdaily.com.br/br/01-155192/redbull-station-sao-paulo-slash-triptyque?ad_source=search&ad_medium=search_result_all, modificado pela autora.

Então, basicamente os materiais explorados no projeto são o concreto velho,

metal e o concreto bruto, utilizado na construção do volume do estúdio de música.

Os arquitetos destacam também o protagonismo das estruturas metálicas, tanto

das escadas quanto da marquise superior (Figura 15).

4.1.2 CENTRO COMUNITÁRIO DE EL RODEO DE MORA

FICHA TÉCNICA:

Localização: Ciudad Colón, San José, Costa Rica;

Equipe de projeto: Escritório FoRo Arquitectos;

Área: 750 m²;

Ano do Projeto: 2014-2016;

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1. GENIUS LOCI (CONTEXTO)

O projeto fica localizado numa comunidade rural em El Rodeo, na pequena Ciudad

Colón, principal cidade da província de San José, Costa Rica, a qual está inserida

na base de uma montanha.

Colón possui clima quente e é rodeada por natureza e relevo com colinas,

cercando a reserva indígena Quitirrisí, conhecida pelas habilidades dos residentes

no artesanato. As tradições folclóricas e o multiculturalismo tornaram a cidade

famosa dentro da província, já que a gestão do município costuma organizar

atividades sociais e culturais que agregam muito valor cultural à região; além de

receber muitos visitantes por esta questão, lá o turismo e o lazer também estão

muito associados às experiências de aventura e contato com a natureza.

Por ser uma comunidade rural, El Rodeo apresenta baixa densidade de

habitações e está cercada por vegetação densa. O Centro Comunitário em estudo

fica próximo de uma área especial, a Reserva Florestal El Rodeo, como podemos

conferir na imagem a seguir:

Figura 16A – Contexto de implantação via satélite; Figura 16B – Implantação.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos, modificado pela autora.

2. IDENTIDADE E SÍMBOLO

A construção do novo Centro Comunitário para a humilde comunidade rural

de El Rodeo ocorreu entre 2014 e 2016, devido à necessidade de um novo local

para manter atividades comunitárias, como reuniões, casamentos, bailes, aulas,

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apresentações artísticas, além de servir como um abrigo em caso de desastres

naturais. A ideia era de que servisse também como apoio ao campo esportivo

localizado dentro do terreno escolhido.

O antigo salão estava em péssimo estado devido à má qualidade do projeto

e da construção. Por isso, a prefeitura da cidade resolveu contratar uma equipe de

arquitetos engajada em produções de projetos sociais e ambientais, escolhendo

o escritório ForoArquitectos, que se propôs a conceber uma arquitetura tropical,

simples, funcional, flexível, refrescante e de baixo orçamento.

A proposta do desenho partiu da idealização de um projeto responsável,

levando em conta que comunidade precisava de um espaço cuidadosamente

concebido e construído, capaz de reforçar e consolidar o sentido de comunidade;

justo, pois é direito dos cidadãos uma boa qualidade de arquitetura pública;

diligente, por apresentar uma planta flexível, que permite a multiplicidade de

atividades culturais, e de fácil leitura; de arquitetura sustentável-bioclimática-

tropical, considerando o clima de El Rodeo, ao proporcionar conforto térmico e

acústico, e a praticidade da pouca necessidade de manutenção (Figuras 17).

Figura 17 – Fachada frontal do centro comunitário.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos.

Portanto, como podemos perceber nas Figuras 17 e 18, a arquitetura e o

design são muito simples, a forma faz referência à estreita relação entre o terreno

e a natureza circundante, e também aos laços comunitários; o piso circular

simboliza a comunidade e o encontro, sendo contido por uma parede de

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ventilação em tijolo de barro e por uma cobertura que permite ao ambiente a

constante renovação do ar.

Figura 18 – interior do centro comunitário.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos

3. SIGNIFICADO DE USO (PROGRAMA DE NECESSIDADES)

O programa está distribuído em uma área de 750m². O principal espaço é área

comum, um salão multiuso com planta livre, o qual permite a multiplicidade de

atividades que pode comportar. Dentre as principais atividades culturais

destacam-se: reuniões comunitárias, casamentos, bailes, aulas e apresentações

artísticas. Este espaço tem aproximadamente 7m de altura, e se comunica

diretamente com o segundo volume, que dispões das funções de serviço, como

cozinha, banheiros de uso público e um almoxarifado. A conexão entre eles conta

com uma pequena praça, que consiste no passeio circundante a ambos. O terceiro

volume é composto por vestiários, e fica um pouco afastado dos anteriores,

servindo como apoio para o campo de prática futebolística, que fica no terreno do

centro comunitário (Figura 19).

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Figura 19 – Planta baixa do centro comunitário.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos.

4. GEOMETRIA E PLÁSTICA (CONFIGURAÇÃO DA FORMA)

Como mencionado anteriormente, a forma se inspira na relação entre o

terreno e a natureza que rodea o terreno. O volume principal, de três, é o maior

responsável pela notoriedade formal da construção; possui um formato cilíndrico

simples, contrastando com sua cobertura de estética mais complexa, que lhe

confere um pé direito de 7 metros de altura. A parede de tijolos vazados lhe

confere leveza e estética rústica agradável e convidativa (Figuras 17 e 18).

5. ESTRUTURA E MATERIAIS

El Rodeo é uma localidade quente e úmida, por isso desde o início da

concepção do projeto houve a preocupação da construção captar o máximo de

ventilação natural possível. Para isso, no salão principal, a equipe de arquitetos

utilizou um tijolo ventilado, chamado de "bloco colmeia”, para que o edifício se

tornasse uma grande "grade de ventilação". O tijolo não requer qualquer

acabamento e tem baixa manutenção.

Para permitir a ampla circulação da ventilação que permeia a "grade de

ventilação", a cobertura foi pensada em várias camadas de fibrocimento termo

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acústico em diferentes alturas, fazendo o uso de forro desnecessário. A cobertura

tinha a intenção de reinterpretar os tradicionais telhados com amplos beirais,

comuns em regiões tropicais (Figura 20).

Figura 20 – Cobertura em camadas de telha de fibrocimento termo acústico.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos.

A estrutura que suporta a cobertura é toda em aço, buscando reforçar o

conceito de liberdade, parecendo levitar sobre a grade de tijolos, além de se

constituir como uma boa resposta aos abalos sísmicos. O restante da estrutura,

como os pilares que suportam a cobertura, é constituída por concreto armado.

As paredes e pisos dos outros dois volumes de apoio foram revestidos com

pedaços de cerâmicas doadas. Na parede externa da cozinha, que fica de frente

para o salão, foi montado um mural com azulejos com mosaicos criados por

crianças da comunidade, orientadas por estudantes universitários.

Figura 21 – Materiais empregados na construção.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867396/centro-comunitario-de-el-rodeo-de-

mora-fournier-rojas-arquitectos.

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4.1.3 QUADRO SÍNTESE

Diante de tantos aspectos avaliados, para fim de sistematização do estudo,

será apresentado a seguir o quadro síntese (Quadro 02) das análises realizadas

anteriormente:

Quadro 02 – Quadro síntese do estudo de referência.

Fonte: elaborado pela autora.

No quadro, todo conhecimento advindo do estudo de projetos correlatos

marcado em azul servirá para nortear o processo de projeto. Não

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necessariamente todas serão seguidas fielmente, já que existem outros inúmeros

a serem ainda tratados e levados em consideração.

Enfim, os estudos realizados a partir do método de Baker permitiram captar

a preocupação das respectivas equipes de arquitetos em se inspirarem no

entorno, considerando os condicionantes de projeto e a preocupação com a

utilização dos materiais corretos como meio de expressão para a valorização dos

públicos e da arquitetura. Sobretudo, no caso do Centro Comunitário de El Rodeo

de Mora, construído a partir das necessidades de uma região especifica, o método

construtivo e os materiais aplicados foram essenciais na intenção de tornar a

edificação parte do contexto identitário do local, com potencial de reforçar os

laços comunitários e o sentimento de zelo pela construção. Já para o centro

cultural RedBull Station, o contraste entre os elementos arquitetônicos

contemporâneos, em estrutura metálica, e o concreto velho do edifício criam uma

atmosfera alternativa e moderna, muito valorizada tanto em obras de restauro em

centros urbanos, quanto para a concepção de centros de cultura.

Além disto, foi possível observar como se comporta em planta a

distribuição do programa de necessidades para ambos os casos, principalmente

para um projeto mais complexo como o centro de cultura.

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55

5. CONDICIONANTES DE PROJETO

Um dos principais objetivos da etapa da análise é a identificação dos

problemas de projeto, isto é, das condições que são impostas pelo local, pelo

contexto histórico, social e cultural do local, pelas circunstâncias ambientais e

legais – entre outros – para que o produto final responda adequadamente a todas

as implicações intrínsecas ao lugar, aos usuários e exigências da normativa

arquitetônica.

Neste capítulo, a análise dá seus primeiros passos para a elaboração do

programa arquitetônico, que, por mais que ganhe grande suporte dos estudos de

referência, necessita vitalmente desta investigação para ser bem-sucedido.

Para tanto, será dividido em três partes: a primeira busca compreender o

bairro pela perspectiva de uma parcela de seus moradores; a segunda aponta

problemas e potencialidades do bairro; e a terceira parte, por fim, tratará sobre o

terreno escolhido e as condicionantes ambientais e legais.

5.1 SOB A ÓTICA DA COMUNIDADE

Para seguir com o estudo na etapa de análise, respeitando a temática

“centro de cultura com enfoque na comunidade local”, fez-se necessário se

aproximar, em certo nível, da comunidade para obter suas demandas

correlacionadas as funções do projeto, e descobrir mais sobre o bairro a partir de

pessoas que vivem sua realidade.

5.1.1 PARTICIPAÇÃO DE NATUREZA CONSULTIVA

Pensando numa metodologia adequada para mediar o contato com

moradores e lideranças do Guarapes, optou-se pelo princípio da metodologia do

Projeto Participativo (PP), termo genérico que engloba diversas atividades e

formas de inserir a participação popular nas decisões projetuais.

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De acordo com Elali e Veloso (2014), para Neparstek (1997) os princípios

do PP abrangem: envolvimento de moradores/usuários de um local na definição

de objetivos e estratégias, identificar os problemas considerados importantes

para àquela comunidade específica e os recursos disponíveis, desenvolver

estratégias específicas, reforçar laços comunitários e desenvolver laços com

instituições atuantes na cidade.

Além destas considerações é imprescindível esclarecer o nível da

participação popular no processo do projeto. Levando em conta a natureza

acadêmica deste trabalho, e o tempo disponível para sua elaboração, a

possibilidade de PP mais adequada é o descrito por Elali e Veloso (2014), indicado

por Deshler e Sock (1985): a Pseudo-participação. Nesta modalidade, a

comunidade se envolve parcialmente na elaboração e execução da proposta,

sendo consultada para fornecer informações para o enfrentamento do problema,

mas, sem necessariamente o acato do projetista, e sem envolver-se com os

resultados. É, portanto, uma participação de natureza consultiva, na qual se

procura atender às solicitações majoritárias.

Por fim, como pontuado ao final do tópico 2, é importante lembrar que

edifícios comunitários são normalmente providos pela própria comunidade, por

Instituições não Governamentais (ONGs), ou pelo poder público, podendo contar

com o auxílio de parcerias com instituições privadas; é indispensável considerar

qual a situação hipotética de financiamento de um centro comunitário para o

bairro. Por isso, neste trabalho, a situação hipotética de custeio estabelecida será

a partir da contribuição voluntária de Instituição não Governamental, com subsídio

e patrocínio de empresa privada potiguar.

5.1.2 UMA PERSPECTIVA LOCAL

Com a intenção de estabelecer um contato objetivo com a comunidade, foi

decidido realizar uma entrevista, de cunho qualitativo, com algumas de suas

lideranças e servidores do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),

escolhendo pessoas que exercem certa influência e que estão a par das questões

e demandas do bairro.

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57

As primeiras entrevistas foram realizadas no semestre letivo de 2019.1,

quando este trabalho teve início. Como foi interrompido no mesmo ano e

retomado neste semestre letivo de 2021.1, optou-se por refazer ao menos duas

das entrevistas, para atualizar o banco de dados. Não seria possível refazer todas

as entrevistas novamente devido ao contexto de pandemia e tempo reduzido do

semestre letivo.

Em 2019 foram realizadas seis entrevistas a partir de visitas técnicas ao

Guarapes, das quais quatro foram com lideranças do bairro e duas com

profissionais do CRAS; das quatro lideranças, duas são correspondentes da

porção central do bairro, uma é do Leningrado, e a última é do Village de Prata; os

dois profissionais entrevistados foram os que comandam o grupo de mulheres e

o grupo de idosos:

• Macilho Bezerra (liderança): presidente da Comunidade de Aprendizagem

Guarapes (COMAG), e ex-vice-presidente do Conselho Comunitário do

Guarapes (2019);

• Cristiane Freire (liderança): diretora do Conselho de Saúde e do de Esporte

(2019);

• Ana Augusta (liderança): Secretária da Associação de Moradores do

Residencial Vivendas do Planalto e Leningrado (2019);

• Edna Cardoso: Administrava seu bloco residencial no Condomínio Village

de Prata (2019);

• Isabel Cristina: Assistente social do CRAS Guarapes que comanda o grupo

de mulheres (2019);

• Giovanni de Paula: Psicólogo do CRAS Guarapes que comanda o grupo de

idosos (2019);

O corpo da entrevista é composto por dois blocos, um que procura

identificar o entrevistado, e o segundo que faz cinco perguntas diretas com o

objetivo de extrair a contribuição de cada um para a articulação da programação

arquitetônica, fazendo-os apontar problemas quanto a carências do bairro e

sugestões de atividades que eles consideram relevantes.

A seguir, apresentamos um quadro síntese das entrevistas realizadas em

2019 (Quadro 03).

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Quadro 03 – Entrevistas realizadas em 2019.

Fonte: elaborado pela autora.

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Verificando o quadro anterior, as problemáticas que envolvem o bairro

comentadas no tópico 3 ficam evidenciadas nas respostas dos moradores e dos

profissionais do CRAS; quando questionados sobre os equipamentos que o bairro

precisa o mais citado foi posto de saúde, sobretudo para o conjunto Leningrado e

para o Villa de Prata, ficando em segundo lugar um equipamento para recreação

e prática esportiva; quando questionados sobre as atividades que poderiam ser

realizadas dentro do bairro a grande maioria respondeu atividades culturais,

seguido de atividades esportivas e atividades que gerem renda. Por fim, quando

perguntados de forma direta sobre as atividades que deveriam ser realizadas em

centro cultural de uso comunitário para o Guarapes as respostas vieram com

maior pluralidade, como espaço para dança, para atendimento jurídico e

psicológico, videoteca, entre outros. De modo geral, é notório que existe uma

preocupação em ocupar principalmente os jovens e idosos do bairro em

atividades tanto culturais quanto esportivas.

Neste primeiro contato com a comunidade o grupo de mulheres e o grupo

de idosos estavam em pleno funcionamento dentro do CRAS, e consistiam em

reuniões para discussão de temas relativos a cada grupo, palestras, sessão de

cinema, e também aulas de zumba e dança no caso do grupo de mulheres. Ainda

que a concessão do espaço de trabalho da equipe do CRAS para aulas de dança

não seja uma atividade prevista dentro dos benefícios sociais, não existe no bairro

um local adequado para desenvolver esta atividade, nem para deixar as crianças

de mães envolvidas no grupo.

Para o segundo momento das entrevistas, realizadas este ano de forma

remota (via videochamada), foram entrevistadas novamente a assistente social

Isabel Cristina e Cristiane Freire, que veio a se tornar a atual presidente do

Conselho Comunitário do Guarapes. Além de atualizar o banco de dados, foi

decidido adicionar duas perguntas: a primeira relativa a situação do bairro diante

da pandemia, e outra que procura identificar, aos olhos das entrevistadas, quais

as principais qualidades e defeitos do bairro. Na próxima página consta o Quadro

04, com o resumo das novas informações cedidas.

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Quadro 04 – Entrevistas realizadas em 2021.

Fonte: elaborado pela autora.

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As mudanças significativas que ocorreram dentro do bairro se deram devido a

pandemia, agravando a situação de vulnerabilidade social da população local; o

que também afetou o funcionamento do grupo de mulheres e do grupo de idosos,

que por juntarem uma média de 10 a 20 pessoas, a depender do dia, tiveram que

ser interrompidos por tempo indeterminado.

Quanto às perguntas que necessitaram de atualização, as repostas variaram

de maneira semelhante a anterior, com maior enfoque na necessidade de

atividades com possibilidade de gerar renda.

Por fim, é explícito que existe uma urgência no bairro pela instalação de

equipamentos públicos de saúde, e em segundo plano, a necessidade de espaços

para a prática de atividades culturais e esportivas. Em razão do trabalho de

objetivar, projetar um centro de cultura com enfoque na comunidade local, não

será possível atender a demanda essencial de conceber um equipamento de

saúde. Ademais, houve inúmeras sugestões que cabem na tipologia de projeto

escolhida.

5.2 PROBLEMAS E POTENCIALIDADES

A partir do levantamento das condicionantes históricas e socioeconômicas do

bairro, desenvolvidos no tópico 3, e das informações obtidas pelas entrevistas, foi

possível definir os problemas e potencialidades do bairro convenientes para o

desenvolvimento, ou validação, do programa e da proposta arquitetônica final. São

eles:

• Problemas:

– Bairro segregado internamente;

– Dificuldade da população em acessar serviços públicos;

– Fragilidade econômica e social da população;

– Carência em espaços públicos de lazer;

– Carência em atividades culturais;

– Dificuldade da população em acessar informação, aconselhamento

jurídico e atendimento psicológico;

• Potencialidades:

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– Engajamento de moradores nas lutas sociais;

– Bom funcionamento do CRAS no bairro (provendo inúmeras assistências

e benefícios sociais);

– Disposição da população para atividades esportivas, sobretudo a

população jovem com o futebol e o futsal;

– Interesse da população em ensino capacitante/profissionalizante;

– Interesse da população em atividades culturais;

Com isso, pretende-se tirar proveito das potencialidades do bairro ao propor

as soluções no programa para tentar amenizar os problemas, afinal, a principal

intenção do projeto é garantir sua funcionalidade e utilidade para a comunidade,

respeitando suas características intrínsecas.

5.3 ÁREA DE INTERVENÇÃO PROJETUAL

Conforme as entrevistas (Quadros 03 e 04), o terreno mais citado foi o ao lado

da Igreja Católica (terreno 01), por estar situado na porção que concentra

infraestrutura, por ser do poder público e pela sua ampla dimensão; apenas um

terreno localizado fora da porção central do bairro foi mencionado, o terreno ao

lado do CMEI do Leningrado (terreno 02), sugerido por Ana Augusta, na época

secretária da Associação de moradores do Vivendas do Planalto e do Leningrado.

Um outro terreno foi sugerido, também no centro, mas logo foi descartado por

comportar a feira semanal.

Desde o início do trabalho, tendo conhecimento dos problemas para se

locomover dentro do bairro, foi considerada a dificuldade de escolha do terreno a

ser implantado o centro cultural comunitário em proposta. Contudo, pela

localização, o terreno 01 mostrou-se o mais acessível por ser central entre todas

as partes do bairro, sendo margeado por ruas próximas ao terminal de ônibus. E,

ainda, a única linha de ônibus que conecta o Village de Prata com o restante do

bairro é a 587, que sai do terminal central; com a escolha de um terreno no

Leningrado, moradores do Village de Prata teriam que pagar uma passagem para

o centro, e uma mais, do centro para o Leningrado, tornando a escolha menos

democrática. Por estas razões o terreno 01 foi o escolhido (Figura 22).

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63

Figura 22 – Terrenos 01 e 02.

Fonte: Google Maps, modificado pela autora.

Constata-se, então, que o maior problema de escolher este terreno mora na

adição de mais um equipamento público, destinado a todo bairro, em sua parte

central. Em contrapartida, cada uma das partes do bairro possui suas

organizações comunitárias, com lideranças engajadas. Deste modo, o projeto

serviria como um ponto central de encontro para a prática de atividades culturais,

trocas comunitárias e políticas, permitindo às partes o diálogo e a convivência.

Seria mais difícil cumprir esta tarefa se o terreno fosse localizado no extremo leste

ou extremo oeste do bairro.

5.3.1 CONDICIONANTES FÍSICAS E ENTORNO

O terreno 01, como dito anteriormente, tem localização privilegiada, sendo

muito próximo da maioria dos equipamentos que ofertam serviço público dentro

do bairro (figura 23); é margeado por duas vias locais, a Rua da Lagoa Nova e a

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Rua Novo Guarapes (Figura 24), e seu vizinho imediato é o terreno da Igreja

Católica.

Figura 23 – Equipamentos públicos no entorno do terreno.

Fonte: Google Maps, modificado pela autora.

Figura 24 – Vias que margeiam o terreno.

Fonte: Google Maps, modificado pela autora.

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65

Em frente a ele, marcado em verde na Figura 23, tem-se a quadra que foi

recentemente restaurada pela comunidade, citada no tópico 3; no mesmo terreno

dela, existe a delimitação de uma quadra de areia, utilizada para prática esportiva

(Figura 25).

Figura 25 – Terreno da quadra em frente ao terreno 01.

Fonte: Acervo da autora.

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66

Parte da fachada posterior do terreno 01 fica voltada para fundos de lote

(figuras 26), apresentando comumente carros estacionados e depósito de lixo.

Figura 26 – Terreno 01.

Fonte: Google Maps, modificado pela autora.

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67

Com dimensões brandas e forma geométrica irregular (Figura 27), possui uma

área de 3.967,00m², cuja fachada principal está voltada ao sul, para os ventos

dominantes; sua topografia é levemente acidentada, com caimento em direção

aos lotes voltados para a fachada posterior.

Figura 27 – Situação do terreno 01.

Fonte: SEMURB (2007), modificado pela autora.

5.3.2 CONDICIONANTES LEGAIS E AMBIENTAIS

Com relação às condicionantes legais para o terreno, em consonância com

a Lei Complementar nº. 082 de 21 de junho de 2007 (Plano Diretor de Natal), em

seu capítulo I, o Guarapes está inserido na Zona de Adensamento Básico, que é

aquela onde se aplica, estritamente, o coeficiente de aproveitamento básico. Nos

quadros 5 a 7 apresentamos as prescrições legais que devem orientar o projeto:

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68

Quadro 05 – prescrições urbanísticas máximas para o terreno.

Fonte – criado pela autora a partir do Plano Diretor de Natal, 2007.

Quadro 06 – Recuos mínimos para o terreno.

Fonte – Plano Diretor de Natal, 2007.

Quanto à quantidade mínima de vagas de estacionamento que o projeto

deve conter, é previsto o cálculo a partir da área construída da edificação em

proposta. Portanto, de acordo com o Código de Obras de Natal (2004), e

considerando a classificação de “serviço de educação em geral”, temos no quadro

7:

Quadro 07 – Quantidade mínima de vagas de estacionamento.

Fonte: criado pela autora a partir do Código de Obras de Natal (2004).

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Ainda conforme o Código de Obras (2004), para promover a iluminação e

ventilação natural, adequadas, todos os compartimentos devem dispor aberturas

para o logradouro, pátio ou recuo; a área de abertura mínima para ambientes de

uso prolongado correspondente a um sexto (1/6) da área do compartimento, e um

oitavo (1/8), quando se tratar de ambientes de uso transitório. Estão dispensados

de ventilação e iluminação direta halls e corredores com área inferior a 5m²,

depósitos e despensas.

Para promover a acessibilidade no projeto será utilizada a NBR 9050/2020,

dentre outras normas recomendadas pela mesma.

Quanto as condicionantes ambientais de natal, de acordo com a NBR

15220 (2005) Natal está inserida na Zona Bioclimática 8 (clima quente e úmido);

as diretrizes e estratégias construtivas apontadas são direcionadas para

condicionamento térmico de habitações, mas que também servem para os

demais projetos. De forma geral, as diretrizes indicam:

• Aberturas grandes e sombreadas;

• Paredes e cobertura: leves e refletoras;

• Estratégia de condicionamento térmico passivo: ventilação cruzada

permanente;

Tomando como referência, também, as recomendações construtivas do

Roteiro Para Construir no Nordeste (1976), que indica soluções para a concepção

de um lugar ameno nos trópicos ensolarados, temos:

• Sombreamento: cobertura ventilada, que reflita e isole a radiação do sol;

sombra alta, com bastante espaço para o ar circular; cobertura capaz de

incorporar sua própria sombra como elemento expressivo (Figura 28).

• Recuar paredes: lançar paredes sobre a sombra, recuadas e protegidas do sol;

inserir terraços, varandas, pergolados ou jardins sombreados; explorar a longa

projeção das paredes, (evitando volumes puros) e fachadas sombreadas;

• Vazar muros: cobogós (luz, ventilação e estética);

• Proteger as janelas: mantê-las abrigadas e sombreadas para que possam

permanecer abertas; estudar a insolação nas fachadas e os caminhos da

ventilação; proteções que além de sombrear renovem o ar; evitar fachadas

envidraçadas desprotegidas;

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• Portas: protegidas e sombreadas para que possam permanecer abertas; portas

externas vazadas, de maneira que se mantenha a privacidade;

• Continuidade dos espaços: permitir que o ar flua no ambiente, fazendo-o livre e

desafogado;

• Construir com pouco: empregar materiais refrescantes e leves, para não

acumularem calor; desenvolver componentes padronizados com amplas

possibilidades combinatórias; racionalizar e padronizar a construção para a

repetição dos processos construtivos e para a redução dos custos da

construção;

• Conviver com a natureza;

Figura 28 – Cobertura alta com desafogo do espaço e longos beirais, permitindo a circulação do ar.

Fonte – HOLANDA (1976).

No tocante as condicionantes ambientais do terreno, em Natal/RN, a

predominância das correntes de ventilação vem no sentido sudeste, como

demonstra a Rosa dos Ventos da capital, Figura 29. No terreno, tem-se o privilégio

da fachada principal ser a maior e estar voltada para sudeste.

A carta solar para a capital indica que as fachadas voltadas para leste e

oeste são as que mais necessitam de proteção contra a incidência solar. Horários

de maior incidência solar: das 07:00h da manhã as 16:00h da tarde, sobretudo das

11:00h da manhã as 13:00 da tarde (Figura 30).

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Figura 29 – Rosa dos ventos de Natal sobre o terreno.

Fonte – Projetee (2021), adaptado pela autora.

Figura 30 – Carta solar de Natal sobre o terreno.

Fonte – Projetee (2021), adaptado pela autora.

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6. PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA

A NBR 13531, que trata da elaboração de projetos e edificações, define o

programa de necessidades como a “etapa destinada à determinação das

exigências de caráter ou de desempenho (necessidades e expectativas do

usuário) a serem satisfeitas pela edificação a ser concebida” (ABNT, 1995a, p.4).

Assumimos, então, que o conteúdo do programa identifica as atividades a

serem desenvolvidas na edificação projetada, buscando compreender as

questões impostas pelas condicionantes de projeto para então propor uma

solução (Kowaltowski et. al, 2011). Neste raciocínio considerar as atividades

desenvolvidas na edificação implica identificar cada setor ou serviço organizado

pelos usuários.

Para poder elaborá-lo foram seguidos alguns passos. O primeiro deles foi

relacionar atividades citadas nas entrevistas com ambientes também citados,

estudados nos projetos de referência ou ambientes pensados para acomodar

uma atividade específica (Quaro 08).

Quadro 08 – Relação atividades x ambientes.

Fonte – criado pela autora.

As atividades esportivas foram delimitadas no quadro anterior devido à

proximidade do terreno com uma quadra esportiva existente e em pleno

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73

funcionamento, onde se pratica futebol, vôlei e basquete, pelo menos; então, foram

delimitadas outras atividades esportivas citadas nas entrevistas.

As atividades culturais mencionadas na maioria das respostas não foram

incluídas no quadro, pois consistem em algo amplo, podendo corresponder a uma

série de ambientes. Para poder delimitar exatamente os ambientes de fomento à

cultura será tomado como partida os verbos intrínsecos aos centros de cultura,

estudados no tópico 2: “informar”, “discutir” e “criar” (Quadro 9).

Quadro 09 – Ambientes para atividades culturais.

Fonte – criado pela autora.

Enfim, podemos elencar os ambientes citados nas entrevistas que não estavam

diretamente relacionados a nenhuma outra atividade. São eles:

• Sala para o conselho comunitário;

• Sala para a administração;

• Banheiros;

• Cozinha;

• Depósito;

6.1 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Em detrimento de haverem ambientes relacionados às demandas especificas da

comunidade, e ambientes mais relacionados às funções de um centro de cultura,

apesar de ao mesmo tempo responderem às questões locais, o programa será

dividido por função, em 4 partes: centro comunitário, centro de cultura, ambiente

comum e apoios.

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Para realizar o pré-dimensionamento mínimo do programa foram levados em

consideração: o estudo de projetos correlatos, referências bibliográficas como

Neufert (1976) e a NBR 9050/2020 para resolver a acessibilidade (Quadro 10).

Quadro 10 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento.

Fonte – criado pela autora.

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75

Considerando que a grande maioria dos ambientes dispostos no programa

vieram da síntese das entrevistas, avaliamos que esta disposição soube

aproveitar bem as potencialidades da comunidade mais relacionadas ao objetivo

do trabalho.

Uma observação a ser feita é que, mesmo que não conste no programa

uma quadra ou ambiente esportivo para o futebol e o futsal, a potencialidade da

disposição da população para atividades esportivas de modo geral, como dança,

tão solicitada pelas entrevistas, pode ser bem explorada a partir da sala tatame.

O salão comunitário foi definido como ambiente comum a função de centro

comunitário e de centro cultural pois, além de poder comportar eventos

comunitários (festas juninas, casamentos, aniversários, data comemorativas

etc.), pode ser também um ambiente utilizado como auditório para palestras e

reuniões comunitárias, de cunho político ou não, e para oficinas de grande porte,

articulando informação, discussão e criação, além da reunião; pode ainda

comportar um grupo de dança maior que 15 pessoas e competições esportivas.

A intenção de propor este ambiente multiuso em planta livre é para que ele esteja

a disposição para os mais variados usos que a comunidade considere necessário.

Assim, com o programa proposto tem-se a intenção de, apesar do

problema da segregação espacial dentro do bairro, promover um espaço de

encontro para a troca comunitária e política, permitindo às partes o diálogo e a

convivência, ofertando atividades de fomento a cultura (e a educação), lazer e

atendimentos especializados, a fim de tratar os problemas identificados.

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S Í N T E S E

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7. ESTUDO PRELIMINAR

Dando início a etapa de síntese, os estudos preliminares são o estágio inicial

da concepção de projetos, com a compatibilização do programa com o terreno e

condicionantes, além das primeiras idealizações formais. Deste modo, podemos

entendê-lo como o processo de desenvolvimento do partido arquitetônico,

principal produto desta etapa. Para isto, tem-se a relevância da fase da

representação.

O primeiro passo foi definir o sentido da implantação da edificação,

considerando as dimensões do terreno, a carta solar e a rosa de ventos de Natal.

Figura 31 – Testes e orientação da planta no terreno.

Fonte: elaborado pela autora.

Como já mencionado no subtópico 5.3.2, a fachada principal do terreno

possui boa posição para a captação dos ventos predominantes a sudeste, e a

menor fachada, voltada para oeste, fica volta para o sol poente. Por isso, optou-se

pela disposição horizontal de volumes no terreno.

Em primeiro momento foram testadas duas conformações de planta, uma

ortogonal (conformação 01) e outra dispondo as formas retangulares em

semiarco (conformação 02):

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Figura 32 – Conformação 01.

Fonte: SEMURB (2007), modificado pela autora.

Figura 33 – Conformação 02.

Fonte: SEMURB (2007), modificado pela autora.

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79

Para cada uma destas disposições de volumes foi pensado soluções formais

e estéticas, por mais que muito maduras, ainda nada satisfatórias.

Figura 34 – Esboço de volumetria para a Conformação 01.

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 35 – Esboço de volumetria para a Conformação 02.

Fonte: elaborado pela autora.

Uma das intenções de projeto era recua-lo o máximo possível para o lado leste

do terreno, afastando-o dos fundos de lote, para não prejudicar de forma brusca a

ventilação natural das residências muito próximas. Por isso, devido a

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80

conformação 02 necessitar de mais espaço para a disposição das plantas,

avançando sobre os fundos de lote, optou-se pelo debruçamento na solução da

conformação 01.

No desenvolvimento da conformação 01, por ser mais compacta, o segundo

pavimento fez-se necessário. Com isso, o programa do centro comunitário e o

salão comunitário foram locados no térreo, e os ambientes referentes ao centro

de cultura foram dispostos no primeiro pavimento.

Uma premissa norteadora, que surgiu nesta etapa do processo, foi inserir uma

rampa para promover o acesso entre pavimentos, já que se mostra como uma

alternativa acessível a uma maior diversidade de usuários que uma escada.

Figura 36 – Esquema em planta baixa.

Fonte: elaborado pela autora.

Deste modo, como seria uma rampa longa, para poder vencer o pé-esquerdo,

foi decidido tomar partido estético desta, ficando locada externamente e

abraçando os volumes do salão comunitário e da galeria, como se pode ver a

cima.

Dispondo o programa considerando o pré-dimensionamento mínimo,

chegamos na seguinte distribuição em planta:

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Figura 37 – Esboços em planta baixa.

Fonte: elaborado pela autora.

Considerando os estudos a partir do Roteiro Para Construir no Nordeste

(Holanda, 1976), foi pensado em uma circulação ao redor dos ambientes no

pavimento superior, que possui dois metros de largura, permitindo a comunicação

dos usuários com a rua e com o terreno, e gerando, também, um sombreamento

satisfatório para ambos pavimentos.

Então, o partido, consequência formal do programa e das premissas

norteadoras do projeto, resultou, numa solução em dois pavimentos, com

circulação vertical externa e beirais do térreo emitidos pela circulação externa do

pavimento superior.

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Figura 38 – Esboço volumétrico.

Fonte: elaborado pela autora.

Com a volumetria básica do centro cultural comunitário definida vem o

momento de pensar nos detalhes da edificação.

A premissa de conceber uma edificação para uma comunidade com poucos

recursos inspirou o desenvolvimento de uma estética que valorizasse a natureza

dos materiais, evitando gasto com grandes áreas revestidas ou pintadas. Mesmo

com o hipotético financiamento por Instituição não Governamental, com subsídio

e patrocínio de empresa privada potiguar, como mencionado no subtópico 5.1, o

ideal seria manter os custos mínimos. Além disto, os estudos de referência

inspiraram uma estética rústica, no sentido de expor os materiais e os aspectos

construtivos da edificação.

Para organizar as ideias, foi elaborado um moodboarding conceitual estético

(Figura 36), focado principalmente na escolha de materiais e na solução para a

cobertura para o primeiro pavimento. A estética da edificação foi pensada a partir

de materiais como o tijolo ecológico, cobogós e estrutura tanto em concreto

quanto em metal.

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Figura 39 – Moodboarding para o desenvolvimento da plástica do centro cultural comunitário.

Fonte: elaborado pela autora.

Para resolver a cobertura do pavimento superior, foi levado em consideração

o que Neufert (1976) indica como ideal para a iluminação em ateliers e oficinas de

arte e trabalho manual: a iluminação zenital, promovida por aberturas na

cobertura.

Em razão do volume da galeria diferir do restante do pavimento superior, foi

decidido utilizar telhado encoberto por platibanda, já que a rampa externa

sombreia o térreo.

Figura 40 – Croqui esquemático.

Fonte: elaborado pela autora.

Ao final do estudo preliminar, partindo para o anteprojeto, temos definida a

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84

volumetria final da edificação e muito de seus detalhes estruturais e estéticos pré-

estabelecidos, como se pode ver abaixo:

Figura 41 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada frontal.

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 42 – Esquema volumétrico da solução final para a fachada lateral esquerda.

Fonte: elaborado pela autora.

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A N T E P R O J E T O

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86

8. MEMORIAL DESCRITIVO

Este tópico irá tratar sobre a parte técnica do projeto, descrevendo

justificativas para as decisões de projeto tomadas. Contém informações sobre a

implantação da edificação no terreno, sobre suas características funcionais e

formais, além das estratégias adotadas para conferir conforto térmico no interior

dos ambientes.

8.1 IMPLANTAÇÃO

A implantação da edificação no terreno buscou não invadir a área do

terreno a frente dos fundos de lote que estão voltados para a fachada posterior, locando

o estacionamento na porção oeste do terreno.

Figura 43 – Implantação.

Fonte: elaborado pela autora.

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87

Para o estacionamento, calculado conforme o Quadro 07 (subtópico 5.3.2),

ficaram dispostas trinta e três vagas, das quais duas são destinadas para idosos e uma

para pessoa com deficiência, conforme a NBR 9050/2020; o embarque e desembarque,

obrigatório para a tipologia, de acordo com o Código de Obras de Natal (2004), foi

locado dentro do terreno, na frente da fachada frontal.

A calçada foi projetada com 3 metros de largura, para conter a faixa de serviço e

a faixa livre. Além disto, foi previsto uma rota acessível com pisos tátil de alerta e piso

tátil direcional, interligando a calçada ao interior da edificação, conforme a NBR

9050/2020; a calçada foi prolongada na fachada posterior, com previsão de instalação

de gradil para demarcar o terreno em relação aos fundos de lote.

A casa de lixo ficou situada no limite do terreno com Rua Novo Guarapes, de modo

que a coleta não venha a interferir no acesso do estacionamento, tão pouco no acesso

de pedestres e de carros para o embarque e desembarque.

Por fim, respeitando a delimitação de recuos, foi delimitada uma área para o caso

de necessidade de expansão do centro cultural comunitário.

8.2 SOLUÇÕES FINAIS

Na parte térrea ficaram todos os ambientes relativos ao centro comunitário, o

salão comunitário, cozinha (para servir de apoio ao salão em caso de eventos),

banheiros (com chuveiro, para servir, também, de apoio a quadra do terreno em frente),

o café, e a cozinha do café; a casa de gás locada ao lado da cozinha do café foi pensada

para comportar gás de cozinha convencional.

Todo o projeto foi pensado com vedação em tijololo ecológico 12,5cm x 25,00cm,

e salão comunitário, com função multiuso e de planta livre, com vedação em cobogó

pré-moldado rústico; a rampa foi pensada com guarda-corpo em tijolo, e o restante da

vedação até a própria cobertura em cobogó.

Junto do salão foi incluído uma área para depósito, já que não possui layout fixo.

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Figura 44 – Planta baixa final do térreo.

Fonte: elaborado pela autora.

O pavimento superior possui uma circulação externa de 2 metros de

largura, funcionando como uma grande varanda, que permite a comunicação

direta com a rua e a renovação constante do ar no interior dos ambientes.

Funciona também como proteção solar para o térreo, como um grande beiral.

Figura 45 – Planta baixa final do pavimento superior.

Fonte: elaborado pela autora.

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A estética final da edificação se deu através dos materiais, sobretudo entre o

contraste das estruturas metálicas em cor preta, do tijolo e cobogós em tom natural

terracota e o cinza do concreto.

Figura 46 – Facha lateral esquerda.

Fonte: elaborado pela autora.

Figura 47 – Fachada frontal.

Fonte: elaborado pela autora.

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Figura 48 – Fachada posterior.

Fonte: elaborado pela autora.

A galeria, na fachada posterior (Figura 48), voltada para o sol poente (Figura 30),

foi o único ambiente mal sombreado. Para amenizar o problema foi decidido aumentar

seu pé-direito, deixando-o com 3,80 metros, e explorar bem a ventilação cruzada, com a

disposição de quatorze janelas e vedação da parte superior em cobogó, permitindo a

constante renovação do ar.

Figura 49 – Corte esquemático.

Fonte: elaborado pela autora.

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91

Mantendo os elementos de ventilação em diferentes alturas é possível

fazer com que o ar quente, mais leve que o ar ameno que vem de sudeste, seja

retirado do ambiente com maior eficácia, e a renovação do ar seja satisfatória.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta final foi resultado de um processo de projeto que se esforçou

em se manter fiel aos objetivos traçados desde o início do trabalho, buscando dar

relevância a cada etapa metodológica.

A edificação do Centro Cultural Comunitário do Guarapes tem impresso na

sua arquitetura parte da identidade da comunidade, com um programa pensando

inteiramente em suas demandas possíveis de serem abarcadas na tipologia

arquitetônica.

Page 93: Estação Cultural Comunitária do Guarapes: Anteprojeto de ...

93

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