golpe estão tentando montar uma fraude para interromper, no Congresso, o mandato que me foi conferido pelos brasileiros. Na verdade, tra- ta-se da maior fraude jurídica e política de nos- sa história. Sem ela, o impeachment sequer se- ria votado. O relatório da comissão de impeachment é instrumento dessa fraude. O relatório é tão frá- gil, tão sem fundamento, que chega a confessar que não há indícios, não há provas suficientes, daquelas que eles chamam de irregularidades e que tentam me atribuir. Pretendem derrubar, sem provas e sem justifi- cativa jurídica, uma presidenta eleita com mais de 54 milhões de votos. (...) O impeachment sem crime de responsabili- dade; o impeachment sem provas, cometido contra uma presidente legitimamente eleita na jovem democracia brasileira, abrirá caminho para governos sem votos, formados à revelia da manifestação do eleitor. O impeachment, sem crime, será um golpe de Estado, no exato e la- mentável sentido da expressão: golpe de Esta- do. (…) Como acreditar em um pacto de salva- ção ou de unidade nacional sem sequer uma gota de legitimidade democrática por quem propõe? (…) Com farsas, fraudes e sem legitimi- dade ninguém pacifica, ninguém concilia, nin- guém constrói unidade para superação de cri- ses, só as agrava e as aprofunda. (...) Peço que vocês, que todos nós e o povo brasi- leiro, estejamos atentos e vigilantes nos próxi- mos dias. Os golpistas tentarão de tudo: tenta- rão nos intimidar, tentarão nos tirar das ruas, usarão todos os artifícios possíveis. É possível novos vazamentos ilegais e facciosos; eles po- dem acontecer. É possível novas acusações sem provas, que serão feitas e amplificadas por man- chetes escandalosas. Muito possivelmente so- frerei novas calúnias e novos ataques desespe- rados. Fiquem atentos, mantenham-se unidos, não aceitem provocações. Nós não somos do ódio; nós somos da paz. (...) Em defesa da democracia, milhões de brasi- leiras e brasileiros estão se mobilizando por todo o nosso País, movidos por uma força extraordinária, múl- tiplas de sons e de lideranças. Ontem mesmo nós vimos isso no Rio de Janeiro. Co- mo cantou, ontem, Beth Carvalho, no ato dos artis- tas, afirmando que não vai ter golpe de novo, ela disse: “Sem dividir o coração, vamos honrar nossa raiz. Democracia é o que a gente sempre quis.” l “Nós vivemos tempos estranhos e preocupantes, tempos de golpe, de farsa e de traição. Ontem, utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração. Agora conspiram abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidenta legitimamente eleita. Ao longo da semana, acusaram-me de usar expedientes escusos para recompor a base de apoio do meu governo, me julgando pelo seu espelho, pois são eles que usam tais métodos. Caluniam enquanto leiloam posições no gabi- nete do golpe, no governo dos sem-voto. Ontem ficou claro que existem, sim, dois che- fes do golpe, que agem em conjunto e de forma premeditada. Como muito brasileiros, tomei conhecimento e confesso que fiquei chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento, que foi deliberado, premeditado, vazando para eles mesmos; estranho vazamento. (…) Vamos raci- ocinar, vejam só: antes sequer da votação do in- consistente pedido de impeachment, foi distri- buído um pronunciamento em que um dos che- fes da conspiração assume a condição de presi- dente da República. A pergunta que caberia pa- ra qualquer órgão de imprensa imparcial seria: de que base legal retirou a legitimidade e legali- dade de seu gesto? Por que esta pergunta não é feita? (…) O gesto que revela a traição a mim e à democracia ainda explicita que esse chefe cons- pirador também não tem compromissos com o povo. Diz que é capaz de anunciar que está pen- sando em manter as conquistas sociais dos úl- timos anos. Pensando. Como se conquistas sociais se pensa se vai ou não manter. E avisa que será obrigado a impor sacrifícios à po- pulação. Pergunto eu: com que legitimidade fará isso? É uma atitude de arrogância e des- prezo pelo povo, do qual certamente tentará retirar direitos, que sem o golpe seriam inali- enáveis. Se ainda havia alguma dúvida sobre o gol- pe, a farsa e a traição em curso, não há mais. (,,,) Os golpistas podem ter chefe e vice-che- fe assumidos; não sei direito qual é o chefe, qual é o vice-chefe. Um deles é a mão, não tão invisível assim, que conduz com desvio de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment; o outro esfrega as mãos e en- saia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse. Cai a máscara dos cons- piradores. O Brasil e a democracia não me- recem tamanha farsa. O fato é que os golpistas que se arrogam à condição de chefe e vice-chefe do gabinete do Na ofensiva. A presidente Dilma Rousseff participa do Encontro da Educação pela Democracia no Palácio do Planalto: em discurso, criticou aqueles que chamou de chefe e vice-chefe do golpe Em discurso, Dilma ataca com metáforas o vice, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ‘Golpistas podem ter chefe e vice-chefe’ A BATALHA DO IMPEACHMENT _ 6 l O GLOBO l País l Quarta-feira 13.4.2016 A presidente volta a discorrer sobre o ponto central de sua defesa, afirmando que não cometeu crime de responsabilidade e que o impeachment é um “golpe de Estado”. O argumento: está em jogo não é só a continuidade de seu mandato, mas o próprio “estado democrático de direito”. Ela argumenta que a democracia brasileira é jovem e que é preciso zelar por ela. ‘SEM CRIME DE RESPONSABILIDADE’ Dilma preveniu o que pode vir a acontecer. Repetiu o que disse na quinta-feira, quando foi divulgada parte da delação do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo. O Planalto teme que mais detalhes do executivo — ou desdobramentos da Lava-Jato — possam surgir, influenciando a votação do impeachment na Câmara. ‘VAZAMENTOS ILEGAIS E FACCIOSOS’ A presidente encerrou remetendo ao ato de anteontem na Lapa. Artistas que apoiam o governo, entre eles Chico Buarque e Beth Carvalho, estiveram com o ex-presidente Lula. No evento, artistas fizeram um manifesto denunciando um ‘golpe em andamento’. ‘DEFESA DA DEMOCRACIA NO RIO’ Foi vazado um áudio em que o vice Michel Temer fala como se estivesse em um cenário pós-impeachment, assumindo a Presidência, pregando um governo de “salvação nacional”. Diz que manterá programas sociais e que a situação econômica não se resolverá no curto prazo. Depois, o vice convocou a imprensa e disse que cometeu um equívoco ao enviar a gravação a amigos. O Palácio do Planalto crê em vazamento proposital 'FARSA DO VAZAMENTO' Dilma disse que seus opositores montaram um “gabinete do golpe”, justificando que Temer e Cunha comandam um governo paralelo, a base da negociação de cargos futuros, prática que seu governo não adotaria. Mas o governo, sob o comando de Lula, vem usando abertamente a negociação de cargos com partidos como o PP e o PR para tentar conquistar votos contrários ao impedimento ‘EXPEDIENTES ESCUSOS’ Afirmando pela primeira vez que o vice age como conspirador, Dilma insinua que Temer atua em conjunto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que deflagrou o processo de impeachment em dezembro do ano passado e em seguida se tornou réu no Supremo Tribunal Federal. Os ataques a Cunha já se revelaram uma estratégia eficiente, na avaliação do Palácio do Planalto, que vinha fazendo um trabalho de bastidor para associar os dois peemedebistas como artífices de um plano conjunto de tomar o poder. No entanto, isto nunca havia sido dito publicamente pela presidente. ‘DOIS CHEFES DO GOLPE’ ANDRÉ COELHO ‘RELATÓRIO É PEÇA DA FRAUDE’ Na segunda-feira, a comissão especial de impeachment na Câmara aprovou o relatório pela abertura do processo de impeachment. Ao atacar o relatório, Dilma desqualifica o resultado da comissão. O relatório diz que Dilma praticou condutas gravíssimas que configuram um atentado à Constituição.