Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº - 2, julho/dezembro 2010 Efeitos psicofísicos da música no exercício: uma revisão Yonel Ricardo de Souza; Eduardo Ramos da Silva Resumo Com a busca incessante pela melhora no desempenho, estudos têm sido dedicados a pesquisar a influência da música no exercício físico, apontando para o ganho psicofísico das amostras, como velocidade e tempo limite de exaustão. Estudos tem demonstrado, entretanto, que parâmetros diversos tem sido usados para avaliar as mesmas valências físicas, levando a resultados divergentes. O objetivo deste estudo foi propor uma estrutura conceitual facilitadora, dividindo os principais trabalhos em 2 grandes classes (variáveis independentes): música sincrônica e música assincrônica, abordando as respostas relativas a humor, excitação psicológica e efeitos ergogênicos, além de apresentar orientações e limitações quanto à aplicação da música no exercício. Conclui-se a revisão corroborando os efeitos da música no exercício, sendo estes inversamente proporcionais à intensidade do exercício. Palavras-chave: Música; Exercício; Estrutura; Influência; Efeitos 033
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Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 2, julho/dezembro 2010
Efeitos psicofísicos da música no exercício: uma revisão
Yonel Ricardo de Souza; Eduardo Ramos da Silva
Resumo Comabuscaincessantepelamelhoranodesempenho,estudostêmsidodedicadosapesquisarainfluênciadamúsicanoexercício físico,apontandoparaoganhopsicofísicodasamostras,comovelocidadeetempolimitedeexaustão.Estudostemdemonstrado,entretanto,queparâmetrosdiversostemsidousadosparaavaliarasmesmasvalênciasfísicas,levandoaresultadosdivergentes.Oobjetivodesteestudofoiproporumaestruturaconceitualfacilitadora,dividindoosprincipaistrabalhosem2grandesclasses (variáveis independentes):música sincrônica e música assincrônica, abordando asrespostasrelativasahumor,excitaçãopsicológicaeefeitosergogênicos, além de apresentar orientações e limitaçõesquanto à aplicação da música no exercício. Conclui-se arevisãocorroborandoosefeitosdamúsicanoexercício,sendoestesinversamenteproporcionaisàintensidadedoexercício.
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Psychophysics effects of music on exercise: a review
Yonel Ricardo de Souza; Eduardo Ramos da Silva
Abstract Withtheincessantsearchforimprovedperformance,studieshavebeendevotedtoexploretheinfluenceofmusiconexercise,aimingtothepsychophysicalgainofsamples,suchasspeedandtimelimitofexhaustion.Studieshaveshown,however,thatseveralparametershavebeenusedtoevaluatethesamephysicalvalences,leadingtodivergentresults.Theaimof this studywas toproposea conceptual framework facilitator, dividingthe work into two main broad classes (independent variables): musicsynchronized and asynchronousmusic, focusing on responses to humor,excitementandpsychologicalergogeniceffects,andprovideguidelinesandlimitations theapplicationofmusic onexercise.We conclude the reviewconfirmingtheeffectsofmusiconexercise,whichareinverselyproportionaltotheintensityofexercise.
Efectos psicofisicos de la música en ejercicio: una revision
Yonel Ricardo de Souza; Eduardo Ramos da Silva
Resumen Conlabúsquedaincesanteparamejorarelrendimiento,losestudiossehandedicadoaexplorarlainfluenciadelamúsicaenelejercicio,queapunta a la ganancia psicofísica de las muestras, tales como límite develocidadyel tiempodeagotamiento.Losestudioshandemostrado,sinembargo,quevariosparámetrossehanutilizadoparaevaluarlasvalenciasfísicasmisma,queconducenaresultadosdivergentes.Elobjetivodeesteestudiofueproponerunfacilitadormarcoconceptual,dividiendoeltrabajoendosclasesprincipalesensentidoamplio(variablesindependientes):lamúsicamúsicasincronizadayasincrónica,centrándoseen lasrespuestasal humor, emoción y psicológica efectos ergogénicos, y proporcionar lasdirectricesylimitacioneslaaplicacióndelamúsicaenelejercicio.Llegamosa la conclusión de la revisión que confirma los efectos de lamúsica enejercicio,quesoninversamenteproporcionalesalaintensidaddelejercicio.
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Introdução Atualmente,odesempenhoesportivorendimentoseapresentaextremamenteequilibrado,haja visto afinal dos50metros livresdanatação,quandoo1ºcolocado(CesarCielo,Brasil)fechouaprovaem21,30segundoseo8ºcolocado(StefanNystrand,Suécia)concluiuaprovaem21,72segundos,duranteasolimpíadasdePequim2008.Aestenível,pequenosdetalhesdiferenciamas3primeirascolocações,sendoqueosatributospsicológicosdoatletasãodecisivosnestadiferenciação.Tubino (2003) refere que a preparação psicológica é um importantecomponentedoconteúdodetreinamentoequeamotivaçãodevesera principalmeta. Corroborando com os achados de Tubino,Willmoree Costil (2003) sugerem que os limites do desempenho no exercícioexaustivopodem,numagrandeextensão,serpsicológicos.
Abordando-seamúsicacomovetormotivacional,estatemumarepresentaçãoneuropsicológicaextensa(Heilman,Bowers,Valenstein& Watson, 1986). Por não necessitar de codificação lingüística, temacesso direto à afetividade, às áreas límbicas que controlam nossosimpulsos, emoções emotivação. Tambémparece ser capaz de ativaráreascerebraisterciárias,localizadasnasregiõesfrontais,responsáveispelasfunçõespráticasdeseqüenciação(motoras).
Nestesentido,Teel,Carson,HamburgeClair(1999),referemqueamúsicatempapelsignificativonosucessodassessõesdeexercícios,tornando relevante a escolha da seleçãomusical que contribua paraoprazerdeestarnaqueleambienteeparaamotivaçãonapráticadaatividade.Aatividadefísicacommúsica,porsermaisagradável,poderiareforçarasensaçãode“desligamento”(Okuma,1997)ouoestadode“fluxooufluência”(“flow”)(Csikszentmihalyi,1999),noqualoindivíduoestariaintrinsecamentemotivadoetotalmenteenvolvidoeabsorvidonaatividade.SegundoCsikszentmihalyi(1999),duranteaexperiênciade“fluxo”ou“fluência”haveriaumacontraçãodocampoperceptivo,umaumentodaautoconsciênciaedosentidodefusãocomaatividadeecomoambiente,sendoumestadomuitopositivoeprazeroso.
Porém, devido a amplitude de conhecimentos disponíveis, aaveriguação e a ausência de uma estrutura conceitual que divida osestudosdeacordocomasdiversaslinhasdepesquisa,opesquisadortemdificuldadedeorientarseusestudosquandoenvolvemarelaçãoentremúsicaeatividadefísica,devidoautilizaçãodediversosparâmetrosquetemsidousadosnosváriosestudosparaavaliarasmesmasvalênciasfísicas,levandoaresultadosdivergentes.Anecessidadedeumaestruturaconceitualsefazimportanteerelevante,comfinsdefacilitaraintroduçãoou atualização de conhecimentos voltados a influência damúsica naatividade física. O objetivo deste estudo é apresentar uma estruturaconceitualbaseadanarevisãodosprincipaistrabalhosinternacionaisqueenvolvemmúsicacomoagentemotivadordaatividadefísica,facilitando,assim,apesquisanasrespectivasáreasdeestudo.
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assincrônica (MA). Esta divisão se baseia nos principais estudos queconcentramofocodamúsicanamotivaçãointerna(principalmentenaMA)enamotivaçãoexterna(principalmentenaMS).
Na área de conhecimento daMS procurou-se abordar tópicospertinentesàrespostaergogênica,àmudançadehumoreàpromoçãodacoordenaçãomotora.AáreadeconhecimentoMAestásubdivididaem2subáreas:MAsobesforçosubmáximoeMAsobesforçomáximo.Emcadasubáreaforamverificadososefeitoscondizentesàrespostaergogênica,àsensaçãodeesforçoeasalteraçõesnosníveisdeexcitaçãopsicológica.
Ao final, procurou-se explorar as principais limitações daspesquisas realizadasnaáreadamúsicaeexercício físico,oferecendoumaferramentaútilaosfuturospesquisadoresnodesenvolvimentodeestudosdestaáreaespecíficadoconhecimento.
Música SincrônicaEntende-seporMSaquelaemqueoritmooubatidasdamúsica
sãointerligadasproporcionalmenteaosmovimentosrepetitivosdopraticantedeatividade físicacomopassadas,braçadasoupedaladas,sendo a origem da motivação predominantemente externa (Ryan ePlant,1995).
AnsheleMarisi(1978)citama influênciapositivadoritmonoorganismohumanoemtermosdecomportamentomotor.Oritmotorna-se prazeroso ao indivíduo porque o corpo humano tem uma naturalpredisposiçãoaomovimentorítmico.SmolleSchultz(1982)realizaramestudosnamesmalinhaeconcluemqueoritmoaplicadoàatividadefísicaéumdosmaisimportantescomponentesnodesenvolvimentodehabilidadesmotorasedesempenho.
Apresenterevisãonãoabordouoesforçomáximocomovariávelde controle utilizando a MS. De fato, não foi encontrado qualquertrabalhoqueembasetalhipótese.Issosedeveporqueoexercícioemaltaintensidadeépoucosuscetívelàestímulosexternos(Elliot,2005).KarageorghiseTerry(1997)tambémsugeremqueaMSestáinterligadaabenefíciosnosexercíciossubmáximos.
CONDIçõESDEERgôgENIA
ParecemexistirevidênciasnaliteraturaquantoaoefeitodaMSsobreaatividadefísicaemintensidadesubmáximanoquedizrespeitoàpossível respostaergogênica.MicheleWanner (1973) submeteramjovensdosexomasculinoentre12e15anosemtreinamentoemcircuitoeverificoumelhoradaperformancecomaMS.Anshel(1978)examinouosefeitosdaMS,MAesemmúsicaentreossexoseconstatouqueaMSobteveasmaioresperformancesparatrabalhosdeendurance.Somadoaisso,oshomensobtiverammelhoresrespostassecomparadocomasmulheresemtreinamentoemcircuito.UppaleDatta(1990)tambémregistraram um aumento voluntário da carga de trabalho através dasincronizaçãoduranteaulasdeexercíciocalistênicos(utilizadoscomaresistênciadoprópriocorpo)comparadaàcondiçãosemmúsica.
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Atkinson,WilsoneEubank(2004)submeteram23homensjovensa realizar umpercurso equivalente a 10 kmna bicicleta ergométricaouvindomúsicadancemusiccom142batidasporminuto(BPM),similaraoritmodepedalada.Avelocidadedesenvolvida,afrequênciacardíacaeapotênciaproduzidativeramníveissignificativamentemaiselevadosdoqueasituaçãosemmúsica.Ataxadepercepçãodeesforçotambémapresentouníveismaisaltossecomparadoscomacondiçãosemmúsica.
MUDANçADEHUMOR
Segundo Karageorghis e Terry (1995) a música durante aatividade física age de forma a capturar a atenção do praticante e,em conseqüência, desviar a atenção à fadiga e cansaço durante oexercício. Este processo é comparável à estratégia de dissociaçãocognitiva (Rejeski, 1985) e tende a promover umamudançapositivanoestadodehumor.Lee(1989)observouainfluênciadoritmomusicalduranteesforçosubmáximoemesteira.Osresultadosrevelaramqueasmúsicasderitmoacelerado(maisintegradasàspassadas),comoorock,produzirammelhorasmaissignificantesnohumorquemúsicaslentas,comooBarroco,enacondiçãosemmúsica.
Similar resultado foi encontrado por Kodzhaspirov, Zaitseve Kosarev (1986) quando trabalharam com halterofilistas russos,relacionando o ritmo musical com o trabalho de peso: 100% dosentrevistadosdeclararammelhoradohumore95.4%tiveramvontadedeprolongarseusexercíciosouvindomúsica.
Como citado anteriormente, o ritmo é o mais importantecomponentemusicalvoltadoàaquisiçãodehabilidadesmotoras(Smoll,1985). Shauer e Mauritz (2003) demonstraram que sujeitos querealizaramumtreinamentodecaminhadaemgrupoacompanhadodefundomusicalsincronizadoàspassadastiveramsignificativamelhoranacoordenaçãomotorasecomparadocomogrupocontrole.
No que tange à área terapêutica, Tauth (1999) pesquisou oefeitodoestímulorítmiconasdissociaçõesdemovimentoseconcluiuque a interação entre a audição rítmica e a resposta física pode serefetivamente aproveitada para propostas de trabalho terapêuticoespecífico na reabilitação de indivíduos com dissociação motora.Nesta linha, Molinari citado por Harmon (2007) monitorou o efeitomotorproduzidopeloestímulorítmiconocórtexcerebralenosnervos
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espinhais verificando que este contribui na recuperação de pacientescomdeficiênciasmotoras.
Música AssincrônicaAo contrário da MS, a MA visa motivar o praticante através
deestímulosdeorigeminterna(Ryanetal,1995),comoumamúsicaque esteja associada a um filme (Ex: “Eyes of Tiger”, do filme RockII),semqueosmovimentosrepetitivos(passadas,etc)possamestardiretamenteligadosaoritmooubatidaporminuto.EmboraaorigemdosestímulosdaMAsejainterna,suaaçãoduranteaatividadefísicaébastantesimilaràMS.Harmon(2007)condensouváriosestudossobreo assunto concluindo que amúsica pode distrair temporariamente opraticantedesensaçõesrelacionadasaocansaçoeexaustão.
Visando ter acesso a qualidades motivacionais da música noexercício e no esporte, Karageorghis, Terry e Lane (1999) criaram o“Brunel Music Rating Inventory”(BRMI).OBMRIpodeserusadoparaquantificar as qualidades motivacionais da música em referência aumapopulaçãoespecífica.Oautor apresentaumaordemhierárquicasegregando os fatores musicais e pessoais, influenciando o controleexcitatório,taxasdepercepçãodeesforçoehumor.Segundooautor,o BMRI permite a possibilidade de pesquisar como componentesindividuais que contribuem para o quocientemotivacional damúsicainfluenciamrespostaspsicofísicas.Melodia,harmonia,ritmoevelocidadesãofatoresinternosàmúsica.Letra,familiaridadesãofatoresexternos.Concluiuqueoimpactoculturaleaassociaçãodefatoresrefletemcomooindivíduointerpretaamúsica.
ESfORçOSUBMáxIMO
Analisando-seespecificamenteasrespostasrelativasàsensaçãode esforço quando empregada aMA em esforço sub-máximo, váriosestudosexistemqueabordamesta interrelaçãoentreestasvariáveis.Copelandefranks(1995)realizaramumestudocom24participantes,visando responder as questões que seguem: se a música lenta ebaixa diminuirá as respostas fisiológicas e psicológicas no exercíciosubmáximo; se a música rápida e alta aumentará as respostasfisiológicasepsicológicasnoexercíciosub-máximo;eseambosostiposdemúsica deslocarão a atenção para o foco externo, aumentando otempodeexaustão.frequênciacardíaca,taxadepercepçãodeesforçoetempodeexaustãoforamasvariáveisdependentes.Comoconclusão,esteestudogeroualgumsuportenosentidodoefeitoderelaxamentoduranteotrabalhosubmáximoeaumentodaendurancecardiovasculardo fundomusical baixo e lento. O estudo falhou na hipótese de darsuporteàmúsicaaltaerápidanoaumentodaexcitaçãopsicológicaefisiológica.
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Szabo,Small e Leigh (1999) estudaramos efeitos damúsicaclássicalentaerápidanaexaustãofísicanociclismo.Osparticipantesforamtestadosem5condiçõesdiferentesaleatoriamente:semmúsica,músicalenta,músicarápida,músicalentapararápidaemúsicarápidapara lenta,sendoarazãodevelocidade(batidasporminuto)de2/1.O único efeito significante observado foi quando o ritmomusical foialteradodelentopararápidoa70%dafCM,ondeapotênciamedidaaofinaldotempoestipuladofoimaiorqueasoutrassituações.Omotivoprováveldeste fenômenosedeveamudança temporária induzidadofocomentalquedistraiuosparticipantesdapreocupaçãocomafadiga.Comoconclusão,amúsicaajudouopraticanteadissociarassensaçõesdefadiga,prolongandoassimotempodeexercício.
Karageorghis,JonaseSturart(2008)apresentaramumestudosobreaspreferênciasmusicaiserespectivosefeitossobreamotivaçãointrínseca e fluência provocadas pela música durante o exercício,onde29voluntárioscaminharamnaesteirapor26minutosa70%dafrequênciacardíacamáximaem4situações:níveldeestímulomédio,níveldeestímulorápido,níveldeestímulomistoesemcontrolemusical.Concluiu-sequeoníveldeestímulomédio,aocontráriodasexpectativas,provocouosmaisaltosescoresdepreferênciaeprazersecomparadocomomisto.Demonstroutambémníveismaisbaixosdepressãoarterialse comparado com o estímulo rápido, porém de igual escore com oestimulomisto.Portanto,oestímulomédioéomaisapropriadoparaexercíciosdeintensidadede70%dafrequênciacardíacamáxima.
Elliot (2005) tambémverificouefeitosdamúsicamotivacionalnapercepçãodeesforçoerespostaafetiva.18voluntáriosnãotreinadosforam submetidos a um esforço sub-máximo de 20 minutos, numabicicletaergométrica,a50RPM,comfrequênciacardíacaentre60a80%dafCmax,atrêssituações:músicamotivacional,nãomotivacionalesemmúsica.Duranteaexecuçãodeambasasmúsicasosparticipantesgeraram122Wemoposição a 108Wda situação semmúsica.Nãohouvediferençasignificativaentreos tiposdemúsica.ConcluiuElliot(2005)queousodamúsicaduranteoexercíciosugereumaelevaçãode intensidadedoexercíciosubmáximo,manipulaçãodasensaçãodeesforçoemelhoradoestadoemocional.Entretanto,estesresultadosnãopreencheramcompletamenteaslacunaspretendidasnoiníciodoestudo.Os resultados sugerem que a música não precisa necessariamenteser classificada como motivacional para trazer benefícios físicos aoparticipante.
ESfORçOMáxIMO
Deuma formageral, o cernedaspesquisas voltadaspara asrespostaspsicofísicassobefeitodamúsicasugeremquepodesermaisefetivoembaixasdoqueemaltas intensidades(Harmon,2007).UmexemplodistofoioestudorealizadoporYamashidacitadoporHarmon(2007),respostassignificativasforamverificadascomMAembicicletaergométricaa40%doVO2max,enãosignificativasa60%doVO2maxsobasmesmascondições.
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Porém, em revisão doutrinária apresentada por Karageorghiset al em 1997, destacou-se, entre outros fatores, a importância domomento da intervençãomusical namaximização de seus efeitos.OpróprioKarageorghis(1995)realizouumainvestigaçãosobreosefeitosdosdiferentestiposdemúsicaemtestesdeforçamáximanotrabalhodemusculaçãocom25homense25mulheres.Ossujeitosforamtestadosem3situações(músicaestimulante,relaxanteesemmúsica)antesdaatividadefísica.Aanálisedosresultadosrevelouosmaisaltosescoresdeforçaquandoouviramamúsicaestimulanteeosmaisbaixosescoresnacondiçãodemúsicasedativa.
Tenembaum, Lidor, Lavyan, Morrow, Tonnel et al (2002)investigaramosefeitosdotipodemúsicadirecionadosparaexaminarseoslimitesdealtaexaustãofísicaatendemàestímulosexternoscomoamúsica e como indivíduosparticipandodeumaatividade física decorrida percebem os efeitos damúsica. 25 universitários fisicamenteativoscorreramnumpercursode2,2Kmatravéscampoem8condições:4,ouvindocadaclassedemúsicasozinhoseoutras4competindocomoutroparticipante.foiverificadodesempenhosemelhanteentretodasascondiçõesquandocorreramemcompetição,sendoqueasdemandasfísicas ementais foram significativamentemaiores nas condições emcompetição que nas condições onde correram sozinhos. A música“inspiracional”emsituaçãoindividualpareceinduziraummaiordesviode atenção durante a corrida, causando provavelmente aumento damotivaçãoeperseverançafrenteaodesconforto.
Pesquisando o tempo de intervenção musical, Crust (2004)examinouosefeitosdofundomusicalduranteumtestedeendurancemuscular, onde 27 homens se submeteram a 2 condições (músicamotivacionalesemmúsica)em3aplicaçõestemporais:imediatamenteantesdaatividade,atéametadedaatividadeedurantetodaaatividade.Crustconcluiuqueemtodasascondiçõescommúsicaforamproduzidosmaiorestemposdeexaustãoquenascondiçõessemmúsica.Aaplicaçãocom música durante todo o teste demonstrou maiores tempos deexaustão.
ConformerelatodeHarmon(2007),amúsica,aopromoverorelaxamentoduranteoexercício“dopa”ossubprodutosdoexercíciodealto nível, como a acidose, melhorando assim a performance. NestalinhaSzmedra(1998)investigouasrespostasergogênicasde10atletasbem treinadosemcorridanaesteirapor15minutosouvindomúsicaclássica.Osresultadosindicaramsignificantedecréscimodafrequênciacardíaca,pressãocardíacasistólica,taxadepercepçãodeesforçoetaxadelactato,quandocomparadoscomacondiçãosemmúsica.Osníveisdeneuroepinefrinaforamligeiramentemaisbaixosnacondiçãomúsicaclássica,porémnãosignificativamente.
Aconclusãoparcialsobreaáreadeestudomúsicaassincrônica(MA),baseadanaliteraturavigente,sugerequeaMAexerceinfluênciapsicofísica quando associada à atividade física, e que esta influênciaé inversamente proporcional à intensidade do exercício e sujeita àinterpretaçãosubjetivadecadaindivíduo.Destafeita,aMA,aprincípio,teriarespostapoucosignificativaduranteasprovasdealtorendimento
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Principais Limitações na Área de EstudoAmúsica temumpoderpotencialem influenciarasrespostas
psicofísicashumanas.Porém,segundoKarageorghisetal(1995),estateoria ainda não está definitivamente sedimentada. Duas hipótesessão citadas pelo pesquisador: na primeira, a música tem impactoinconseqüente no organismo humano; e na segunda, limitaçõesmetodológicas prejudicam o efeito da musica no exercício, e comoconseqüência,respostaspositivas.Sobreestaslimitações,Karageorghisrealizoualgumasobservaçõesvisandoacontribuircomtrabalhosfuturos.
Alguns trabalhos se perderam ao não considerar o controlegeral do tipo de seleção musical, omitindo do leitor quais critériosutilizaram para planejar a seleção, colocando em dúvida a avaliaçãodos resultados. Outra falha apresentada foi na intensidade (volume)dasmúsicas. Alguns trabalhos não se preocuparam se o somestavaaudíveloumuitoaltoparaaamostra,alémdedesatençãonaformadepassaramúsica,poisalgunsouviramatravésdeheadfoneseoutrosdealto-falantes.Umbomexemplodoajustedamúsicanestascondiçõesfoi o realizadoporSzaboet al (1999)que,na fasede familiarizaçãodo equipamento, ajustou o volume individualmente de cada amostranumtomconsideradoagradávelpelopraticante,enquantorealizavaotrabalhonabicicletaergométrica.
Outrafalhaencontradaseremeteaomomentoidealdeaplicaçãotemporal da música durante a atividade física. Alguns trabalhosiniciaramaexecuçãodamúsicaaindanafasedeaquecimentodoatleta,quandoseprocuravamensurarotempodeexaustão.Trabalhosquesepropuseramaavaliaroefeitodamúsicaantesdoexercício,introduziramatividadesdecoletaentreaexposiçãoàmusicaeaatividade,interferindonegativamentenainfluênciadamesma.
Alguns pesquisadores não se preocuparam em analisar aterminologiadamúsica,idioma,enfim,detalhesdiretamenteligadosaosaspectossócio-culturaisdaamostra,bemcomoanamnesedaamostra,verificandoníveldeescolaridade,etc(KarageorghiseTerry,1995).
Outro erro que incorreram alguns pesquisadores foi o usode dependentes de medida impróprios que distraem o participante.Vários pesquisadores usaram como variável de controle o percentualde VO2max. Porém o ergoespirômetro é um aparelho desconfortávelque tende a desviar o foco atenção damúsica. Este revisor, porém,observou que alguns pesquisadores usaram comovariável controle afrequênciacardíacaparatempodeexaustãoe/oudistânciapercorrida.ÉconvenientesalientaroquetrataWillmoreet al(2003)sobreodrift(aumentogradual)queocorrecomafrequênciacardíacaemtrabalhosde endurance, que diz quemesmo sob uma velocidade constante ocomponentecinéticolentodoconsumodeoxigênionãoéestável,assimcomofrequênciacardíaca.
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Conclusões Emboraaáreadeconhecimentosobreoefeitodamúsicanoexercíciofísicosejavastaesuscitepesquisasfuturas,apresenterevisãoabordouosprincipaistrabalhosvigentes,deondealgunsensinamentosforamextraídos:omecanismoatravésdoqualamúsicaproduzbenefíciospsicofísicos estão, de uma forma geral, embasados por pesquisas.A influência da música tende a desviar a atenção do praticante deatividade física das sensações de cansaço e fadiga, resultando numamelhorresposta.Osestímulosqueprovocamestaalteraçãopsicofísicapodemserdeorigeminternaouexterna.Quando interna,oprincipalcomponente musical responsável por esta influência psicofísica é oritmomusical,ondeosmovimentosrepetitivosprocuramacompanhá-locaracterizandoamúsicasincrônica(MS).Quandoexterna,amúsicaassincrônica(MA)temseufocoemlembrançasouimagensquemotivemoparticipanteantesouduranteaatividadefísica.
AindasobreaMS,osestudos foramconcisosnoque tangeaganho de desempenho, coordenação motora e melhora de humor,quandoassociadaàatividadefísica.JánaanálisedaMA,confirmou-seasuainfluênciapsicofísicaquandoassociadaàatividadefísica,quersejanoesforçosubmáximoouesforçomáximoequeestainfluênciatendeadiminuiràmedidaqueaumentaaintensidadedoexercício,alémdetambémestarsujeitaàinterpretaçãoindividual.CaberessaltarquenãoexistemtrabalhosenvolvendoaMSemesforçomáximo,provavelmentepelofatodoaltoníveldeconcentraçãoexigidonoesforçomáximoqueinviabiliza,aomesmotempo,acompanharoritmodamúsica.
Após ter sido observado que os resultados apresentados nosdiversosestudosnãosãounânimesdevido,emparte,àmetodologia,Karageorghis et al (1997) apontaramas principais limitações destes,visando alertar os futuros pesquisadores sobre a melhor forma demaximizarosresultados.foramlevantadasasseguinteslimitações:falhanocontrolegeraldotipodemúsicas;falhanaintensidade(volume)dasmúsicas;variaçãonaformadepassaramúsica(headfones ou speakes);falhastemporaisdeaplicaçãodamúsica(duração)ounomomentodeexecução; confusão na terminologia damúsica;músicas em idiomasdiferentes;nãoatentarparaosaspectossócio-culturaisdaamostra;usodedependentesdemedidaimprópriosquedistraemoparticipante;usodevariáveisdecontrolequeimpedemamedição(dança).
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