Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO, BACIA DO RIO DOCE (MG) Leonardo Cardoso Resende Belo Horizonte 2009
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Universidade Federal de Minas Gerais
Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida
Silvestre
EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES
NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,
BACIA DO RIO DOCE (MG)
Leonardo Cardoso Resende
Belo Horizonte
2009
Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre
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EFEITOS DA TRANSPOSIÇÃO MANUAL NAS COMUNIDADES DE PEIXES
NO RESERVATÓRIO DA UHE PORTO ESTRELA, RIO SANTO ANTÔNIO,
BACIA DO RIO DOCE (MG)
Belo Horizonte
2009
Dissertação apresentada ao Programa de Pós‐
Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre da Universidade Federal de
Minas Gerais como requisito para obtenção do
título de mestre.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho
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“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória
propriamente dita.”
Mahatma Gandhi
Dedico essa dissertação a meu pai (in
memorian), minha mãe e minha irmã que
sacrificaram parte das suas vidas para
que eu pudesse realizar o meu sonho.
Obrigado!!!
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Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Alexandre Lima Godinho, meu orientador, por ter aceitado
orientar um recém-formado estudante de graduação vindo do interior querendo
trabalhar com tartarugas marinhas em Minas Gerais!
Ao Centro de Transposição de Peixes por toda estrutura de trabalho
fornecida para que eu pudesse trabalhar.
A Bios Soluções Ambientais por ter fornecido os dados que fizeram parte
desse trabalho.
Ao Consórcio Porto Estrela por ter permitido o uso dos dados coletados
pela Bios Soluções Ambientais para o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Cyro Faria e Valter Valentim que concederam permissão para que eu
pudesse visitar a UHE Porto Estrela e pudesse acompanhar o trabalho dos
funcionários da Bios.
Ao Ezonilson, que parou seu trabalho rotineiro para que pudesse me
acompanhar durante a minha visita a UHE Porto Estrela e explicar todo o
trabalho desenvolvido por eles na mesma.
Ao Renê, Márcia e Zoraia, que elucidaram eventuais dúvidas referentes
aos dados coletados na UHE Porto Estrela e que permitiram o uso desses
dados.
Ao Silvestre, “Biguá” (Fred), “Véi” (Rogério) e “Pacumã” (Geovani) que
foram muito solícitos e me receberam muito bem, parando um dia de trabalho
para me explicar todo trabalho desenvolvido pela Bios na UHE Porto Estrela.
Aos amigos de laboratório, “Jota”, Ricardo, Thiago, Alaion, Fábio,
Volney, Rocha e Gisele, que me ajudaram de alguma forma, e que, mesmo que
não ajudaram diretamente, tiveram paciência comigo. Valeu! Em especial a
Clarissa e ao Raoni que me ajudaram ativamente nas fases finais da minha
dissertação dando opiniões e me ajudando a resolver problemas. Muito
obrigado!
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v
Ao Chico Neto, que me ajudou com opiniões e a esclarecer algumas
dúvidas. Obrigado!
Aos amigos do curso de mestrado, pela amizade, companheirismo e
festas ao longo dessa jornada. Há muito tempo não estudo com uma turma
legal assim!
Aos amigos “Conselheiro” (Fabrício) e Maurício Djalles, pelos auxílios no
Corel Draw, discussões estatísticas, conversas informais e momentos de
descontração.
Aos meus familiares, por toda ajuda despendida a mim, especialmente
ao “Bim”, que me ajudou muito nos primeiros meses em Belo Horizonte. Muito
obrigado!
À minha mãe e minha irmã, que seguraram a barra em Ipatinga para que
eu pudesse estudar em Belo Horizonte; que me deram conselhos ao longo
desses dois anos; e que ajudaram muito a concluir meu curso. Amo vocês!
E, finalmente, mas não menos importante, a Suellen, que viveu e
conviveu comigo nesses dois anos de curso; ajudou-me a superar momentos
difíceis em Belo Horizonte; pela amizade e companheirismo; pelas risadas e
gargalhadas preciosas; pelo amor e carinho; pela tolerância e paciência.
Obrigado por ter aparecido em minha vida! Amo você por demais!
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Influência da transposição na CPUE e no tamanho de P. maculatus e P. vimboides a montante ................................................................................................................................ 17
Influência da transposição na CPUE e no tamanho de L. conirostris e L. copelandii a montante ................................................................................................................................ 20
Marcação e recaptura .......................................................................................................... 21
Influência das fases da lua e das vazões no número de peixes transpostos ............. 23
Implicações sobre conservação e manejo ........................................................................... 25
2007). Além disso, para o bom emprego da transposição e para que ela tenha
sucesso, é preciso definir com clareza quais são os objetivos a serem
alcançados. Isso incidirá diretamente sobre os resultados e, principalmente,
fomentará toda ação tomada durante os trabalhos (Agostinho et al., 2007).
Os resultados obtidos nesse trabalho e relatos de Fábio Vieira (com.
pes.) permitem afirmar que há recrutamento na área de estudo, embora não
estejam sendo decisivos na manutenção das populações das espécies
estudadas. Entretanto, não se sabe a origem desses jovens. Hipóteses foram
levantadas para tentar explicá-las: (i) estão vindo a montante da barragem da
UHE Salto Grande (seta verde) no rio Santo Antônio; (ii) são provenientes do
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trecho de vazão reduzida entre a UHE Salto Grande e a UHE Porto Estrela
(seta amarela); ou (iii) ambos (Figura 12). Os locais a montante da barragem
da UHE Porto Estrela ainda permitem recrutamento em P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris e L. copelandii, o que é uma prova de que a
transposição manual que tem sido feita na UHE Porto Estrela, apesar de não
transpor uma quantidade significativa de peixes como em outros STPs, tem
garantido a conexão entre jusante e montante. Entretanto, a transposição
manual não está sendo decisiva na manutenção das populações destas
espécies no rio Santo Antônio, visto que, os jovens, provavelmente, são
resultantes de outros processos, conforme já foram comentados. Ainda assim,
defende-se essa transposição, devido ao seu caráter de reduzir o processo de
deterioração gênica dessas espécies, sobretudo das nativas, já que ela tem
garantido a conexão jusante-montante (Godinho & Kynard, 2009). Então, a
transposição não é suficiente para evitar a extinção, mas para criar um fluxo
gênico entre as populações.
Ademais, a transposição manual além de cumprir seu papel como
alternativa de cumprimento à legislação mineira (Minas Gerais, Lei n° 12.488,
de 09/04/1997), não tem funcionado como uma fonte de impacto, como relata
Agostinho et al. (2002). Pelo contrário, há recrutamento, embora pouco, a
montante da barragem da UHE Porto Estrela. Além disso, migrações não
reprodutivas também são importantes, pois possibilitam a conservação de
estoques pesqueiros e conseqüente diminuição da pressão de predação e
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pesca pelos moradores do entorno da UHE Porto Estrela (Godinho & Kynard,
2009).
Estudo sobre coletas de ovos e larvas começou a ser desenvolvido na
piracema de 2008-2009 (inf. pessoal), mas ainda está em fase preliminar.
Contudo, existe a necessidade de uma durabilidade maior de tal estudo para
afirmar a(s) origem(ns) certa(s) desses ovos e larvas.
Além disso, mais estudos são necessários para entender outros
processos biológicos. É preciso saber onde essas espécies estão se
reproduzindo; se os adultos que estão sendo transpostos conseguem retornar
para jusante; se a coorte gerada também retorna para jusante ou não; se não
retornam a jusante, o que fazem à montante; se existem locais adequados e
bem conservados que permitem que essas espécies permaneçam à montante;
é necessário avaliar qual a taxa de mortalidade dos ovos e larvas que são
carreados pelo rio; quem são os principais predadores; se a usina é um
obstáculo à migração passiva desses ovos e larvas; qual a taxa de mortalidade
de adultos e coorte gerada ao atravessar a usina; e qual a qualidade gênica
das populações. São todas questões pertinentes que ainda não têm respostas
ou que precisam ser mais aprofundadas.
Conclusões
O número de peixes transpostos não foi suficiente para alterar as
populações de montante de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L.
copelandii a montante, visto que, as variações na CPUE e a estrutura em
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tamanho dos peixes capturados foram, provavelmente, devido às oscilações na
produtividade do reservatório e aprisionamento dos peixes neste no
fechamento das comportas.
Embora haja indícios de recrutamento a montante nas espécies
estudadas, ele não é resultado da transposição manual, e sim, à possível
descida de jovens dos TVRs ou aprisionamento de peixes no reservatório
devido ao fechamento das comportas. O trabalho de marcação e recaptura
revelou que alguns peixes estão conseguindo retornar a jusante, ou pelas
turbinas ou pelo vertedouro. Isso significa que a UHE Porto Estrela tem
permitido o retorno de parte dos peixes que foram transpostos.
As vazões da UHE Porto Estrela têm estimulado a captura de P.
maculatus e P. vimboides. Pimelodus maculatus foi mais capturado nas noites
mais escuras, ou seja, lua nova.
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Tabela 1. Lista em ordem alfabética dos peixes capturados no rio Santo
Antônio a jusante e a montante da barragem da UHE Porto Estrela. N jusante =
número de peixes capturados a jusante; N montante = número de peixes
capturados a montante; j = capturada a jusante; m = capturada a montante; t =
espécie transposta; e = espécie exótica.
Taxa N jusante N montante Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758) m 0 861 Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) m 0 1049 Astyanax sp. j, m 3 34 Astyanax taeniatus (Jenyns, 1842) m 0 40 Brycon sp. m 0 2 Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) m 0 3 Cichlasoma facetum (Jenyns, 1842) m 0 1 Clarias gariepinnus j, e 5 0 Delturus carinotus (LaMonte, 1933) j, m, t 17 54 Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) m 0 106 Glanidium sp. m 0 5 Gymnotus carapo Linnaeus (1758) m 0 42 Henochilus wheatlandii Garman (1890) m 0 11 Hoplias intermedius Ribeiro (1908) j, m 19 57 Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) j, m, t 8 11 Hoplosternum littoralle (Hancock, 1828) j, m, e 1 3 Hypostomus sp. j, m, t 37 29 Leporinus conirostris Steindachner (1875) j, m, t 96 73 Leporinus copelandii Steindachner (1875) j, m, t 32 35 Leporinus mormyrops Steindachner (1875) j, m, t 2 25 Leporinus sp. j 27 0 Lophiosilurus alexandri (Steindachner, 1876) j, m, e 53 7 Loricariichthys castaneus (Castelnau, 1855) m 0 6 Oligosarcus argenteus Guenter (1864) j, m 4 670 Oreochromis sp. j, m, e 2 4 Pachyurus adspersus (Steindachner, 1878) j, m 1 60 Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) m, e 0 23 Pimelodus maculatus Lacepède (1917) j, m, t, e 1510 71 Pogonopoma wertheimeri (Steindachner, 1867) j, m, t, e 4 43 Prochilodus costatus (Cuvier & Valenciennes, 1849) j, m, e 875 4 Prochilodus vimboides Kner (1859) j, m, t 1210 17 Pseudoplatystoma sp. j, m, e 19 4 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) j, m, t 3 25 Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) j, m, e 632 2 Tilapia sp. j, m, e 3 7 Trachelyopterus striatulus (Steindachner, 1876) j, m 13 112
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Tabela 2. Número de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii
marcados (M) e recapturados (R) em cada estação reprodutiva. A porcentagem
de recapturas está entre parênteses.
Espécie 2003-2004 2005-2006 2006-2007 Total
M R M R M R M R (%)
P. maculatus 68 0 187 4 957 0 1212 4 (0,3)
P. vimboides 409 6 479 5 89 0 977 11 (1,1)
L. conirostris 35 1 15 0 6 0 56 1 (1,8)
L. copelandii 9 0 7 0 7 0 23 0 (0)
Total 521 9 688 11 1059 0 2268 16 (0,7)
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Tabela 3. Correlação de Spearman entre CPUE de jusante e vazões turbinada
(Qt), vertida (Qv) e defluente (Qd) para P. maculatus, P. vimboides, L.
Figura 10. Média, mínimo e máximo do comprimento padrão de P. maculatus, P. vimboides, L. conirostris e L. copelandii transpostos (barras claras) e capturados a montante (barras escuras) por estação reprodutiva. Os asteriscos representam diferenças significativas entre os pares de CP dos peixes transpostos e dos peixes capturados a montante.
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49
Minguante Crescente0,0
0,2
0,4
0,6C
PU
EP.maculatusp = 0,01
Minguante Crescente0,0
0,2
0,4
0,6
CP
UE
L.conirostrisp = 0,50
MinguanteNova
CrescenteCheia
Fases da lua
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
CP
UE
P.vimboidesp = 0,57
MinguanteNova
CrescenteCheia
Fases da lua
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
CP
UE
L.copelandiip = 0,60
Figura 11. Captura por unidade de esforço (CPUE) de P. maculatus, P.
vimboides, L. conirostris e L. copelandii a jusante da barragem da UHE Porto
Estrela por fase da lua (barra = mediana; traço vertical = intervalo interquartil).
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Figura 12. Rio Santo Antônio, bacia do rio Doce. As setas verde e amarela
significam as possíveis origens dos jovens provenientes do recrutamento