PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2016 (13 a 15 de outubro de 2016) Economia Compartilhada: Uma visão histórica sobre o novo fenômeno mundial 1 Thais P. Stegun 2 Escola Superior de Publicidade e Propaganda – ESPM Resumo O trabalho apresentado a seguir tem como objetivo discutir a Economia Compartilhada a partir de uma perspectiva histórica. Para tanto, será necessário identificar as principais mudanças socioeconômicas ocorridas durante a evolução de sociedade e da cultura do consumo e como elas podem ter levado ao surgimento desse fenômeno. Serão utilizados autores como Lívia Barbosa, Don Slater, Mike Featherstone e Zygmund Bauman a fim de compreender o processo de desenvolvimento de uma sociedade voltada para o consumo. Esse artigo não pretende responder o que é a Economia Compartilhada nos dias de hoje, assim como o que levou ao seu surgimento, apenas discutir essa nova mentalidade considerando o histórico recente acerca do consumo e servir como base para o surgimento de novos estudos mais aprofundados. Palavras-chave: Consumo; compartilhamento; identidade. 1. Economia Compartilhada O consumo está em nosso dia-a-dia há muitas décadas e já foi analisado por diversos filósofos, publicitários e economistas. De acordo com Mary Douglas e Baron Isherwood, esta prática é essencial para a vida em sociedade: ela molda a cultura através dos bens consumidos e trata-se de “um processo ativo em que todas as categorias sociais são continuamente redefinidas” (DOUGLAS, ISHERWOOD, 2013, p. 114). No entanto, atualmente uma nova forma de consumir tem ganhado força e promete mudar a maneira como enxergamos o consumo e suas relações: a Economia 1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho COMUNICAÇÃO, CONSUMO E NOVOS FLUXOS POLÍTICOS, do 2º Encontro de GTs de Graduação - Comunicon, realizado dia 14 de outubro de 2016. 2 Estudante de Publicidade e Propaganda com habilitação em Marketing; email: [email protected]
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Economia Compartilhada: Uma visão histórica sobre o …anais-comunicon2016.espm.br/GTs/GTGRAD/GT3/GT03-THAIS_STEGU… · Resumo O trabalho apresentado a seguir tem como objetivo
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PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2016 (13 a 15 de outubro de 2016)
Economia Compartilhada: Uma visão histórica sobre o novo
fenômeno mundial1
Thais P. Stegun2
Escola Superior de Publicidade e Propaganda – ESPM
Resumo
O trabalho apresentado a seguir tem como objetivo discutir a Economia Compartilhada a
partir de uma perspectiva histórica. Para tanto, será necessário identificar as principais
mudanças socioeconômicas ocorridas durante a evolução de sociedade e da cultura do
consumo e como elas podem ter levado ao surgimento desse fenômeno. Serão utilizados
autores como Lívia Barbosa, Don Slater, Mike Featherstone e Zygmund Bauman a fim de
compreender o processo de desenvolvimento de uma sociedade voltada para o consumo. Esse
artigo não pretende responder o que é a Economia Compartilhada nos dias de hoje, assim
como o que levou ao seu surgimento, apenas discutir essa nova mentalidade considerando o
histórico recente acerca do consumo e servir como base para o surgimento de novos estudos
O consumo está em nosso dia-a-dia há muitas décadas e já foi analisado por
diversos filósofos, publicitários e economistas. De acordo com Mary Douglas e Baron
Isherwood, esta prática é essencial para a vida em sociedade: ela molda a cultura
através dos bens consumidos e trata-se de “um processo ativo em que todas as
categorias sociais são continuamente redefinidas” (DOUGLAS, ISHERWOOD, 2013,
p. 114). No entanto, atualmente uma nova forma de consumir tem ganhado força e
promete mudar a maneira como enxergamos o consumo e suas relações: a Economia
1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho COMUNICAÇÃO, CONSUMO E NOVOS FLUXOS
POLÍTICOS, do 2º Encontro de GTs de Graduação - Comunicon, realizado dia 14 de outubro de 2016. 2 Estudante de Publicidade e Propaganda com habilitação em Marketing; email:
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Compartilhada. Essa mentalidade afasta o consumidor da ideia de propriedade e
introduz o compartilhamento e a colaboração no processo de consumo, utilizando-se
da internet como ponte entre anunciante e cliente.
Segundo Arun Sundararajan, professor de economia da Universidade de Nova
York, em entrevista ao Jornal Nacional (2015) 3 , o conceito de Economia
Compartilhada surgiu em 2008, quando o mundo começava a viver uma grande
recessão. Ele afirma que os indivíduos buscavam serviços e produtos mais baratos e
que a internet foi fundamental nesse momento, por permitir que pessoas pudessem se
conectar umas às outras mais facilmente, a fim de compartilhar algo. De acordo com
o professor, os primeiros negócios baseados na Economia Compartilhada surgiram
nos Estados Unidos a partir de ideias como o Airbnb – um site que permite que os
usuários anunciem, procurem e reservem acomodações nas suas próprias casas,
fornecendo o imóvel na sua totalidade ou apenas um cômodo. No entanto, essa
tendência, por oferecer serviços e produtos mais baratos e ainda permitir um contato
com diversas pessoas, se disseminou, de forma que cada vez mais indivíduos em
diversos países e de culturas diferentes têm implantado ideias baseadas nessa
mentalidade.
No Brasil, especificamente, o sistema de compartilhamento já está presente no
dia-a-dia de diversas pessoas. Segundo texto publicado na Revista Galileu 4 em
fevereiro de 2015, a economia compartilhada está ganhando força no Brasil por meio
de negócios criados por brasileiros, como o Unicaronas, que cria uma ponte entre
universitários que não possuem carro e aqueles que possuem uma vaga sobrando no
veículo, além de grupos criados nas redes sociais com o intuito troca de roupas.
Outros negócios baseados no compartilhamento de produtos e serviços, como o Uber
(serviço semelhante ao táxi tradicional), Netflix (site de filmes, documentários, séries,
etc. no qual o assinante paga um valor mensal em troca do acesso), Bike Sampa
3 Jornal Nacional, edição de 6 de julho de 2015. Disponível em < http://g1.globo.com/jornal-
nacional/noticia/2015/07/compartilhar-servicos-e-produtos-vira-tendencia-entre-consumidores.html>. 4 Revista Galileu – Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/02/pode-
confiar.html> Acesso em: 08/2015
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(serviço que oferece acesso a bicicletas exclusivo para clientes Itaú), entre outros, têm
sido atraídos para o Brasil, uma vez que já é possível identificar a disposição dos
brasileiros em compartilhar com o intuito de pagar mais barato ou mesmo conhecer
novas pessoas.
Segundo dados do Uber Newsroom5 – um site que oferece dados e fatos da
empresa segmentados por países –, em uma coleta realizada em janeiro de 2016, o
número de pessoas que utilizavam o serviço no Brasil era de mais de 700 mil e a
quantidade de indivíduos que se tornaram motoristas para a empresa mais de 7 mil.
No caso da Netflix, de acordo com a E-Marketer6 – uma empresa de pesquisa –, o
número de assinantes brasileiros no início de 2015 era de 2,2 milhões. Dados de uma
pesquisa feita pelo Instituto Datafolha7 e publicados pelo jornal digital da Folha de
São Paulo, informam que, no ano de 2015, o aplicativo de aluguel de bicicletas do
Itaú possuía 464 mil usuários e eram 40 mil viagens por mês apenas em São Paulo.
Segundo Murray Newlands, consultor de negócios e colunista da Revista
Forbes8, “a Economia Compartilhada se tornou um segmento de negócio de grande
relevância”. Ele afirmou ainda que, atualmente, existem empresas que participam
desse sistema de compartilhamento cujo valor de mercado gira em torno de US$17
bilhões e que receberam um total de US$ 15 bilhões em investimentos. Além disso, a
Revista Time9 posicionou o conceito de Economia Compartilhada como uma das “10
ideias que irão mudar o mundo” (2011).
5 Uber Newsroom - Uber News, Events, Partnerships, Produtc Updates and More Disponível em
<https://newsroom.uber.com/brazil/fatos-e-dados-sobre-a-uber/>. Acesso em: 09/03/2016. 6 E-Marketer. Serviço de vídeo Netflix chega a 2,2 milhões de usuários no Brasil. Valor Econômico,
Brasil, edição de 05/02/2015. Disponível em <http://www.valor.com.br/empresas/3895686/servico-de-
video-netflix-chega-22-milhoes-de-usuarios-no-brasil>. Acesso em: 09/03/2016. 7 Instituto Datafolha. Bike Sampa é eleito o melhor sistema de empréstimo de bicicletas em SP.
Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/05/1633857-bike-sampa-e-eleito-o-
melhor-sistema-de-emprestimo-de-bicicletas-em-sp.shtml> Acesso em: 09/03/2016 8 Revista Forbes. Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/mnewlands/2015/07/17/the-sharing-
economy-why-it-works-and-how-to-join/>. Acesso em: 24/08/2015. 9 Revista Time. Disponível em: