-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 872
ISBN: 9788587884299
Apontamentos e discusses da geologia do quaternrio na Ilha do
Mel, Paranagu PR
Juliano Duarte
Graduando em Geografia, UNICENTRO Guarapuava PR (Campus CEDETEG)
E-mail: [email protected]
RESUMO A Ilha do Mel PR, pertencente ao municpio de Paranagu,
uma ilha formada por afloramentos de rochas do escudo cristalino
pr-cambriano paranaense, com idades que extrapolam os quinhentos
milhes de anos. Possui diversas formaes que se alternaram ao longo
do tempo, derivadas do processo de construo da costa a partir de
processos geomorfolgico com depsitos costeiros de areia pela ao do
mar, ora lineares ora de classificao confusa, formados durante o
holoceno, sendo este o ultimo perodo, que vem desde o ultimo
glacial at os dias atuais. Ao longo do tempo, com o recuo e o avano
do nvel do mar, a ilha passou de simples arquiplago de ilhas para
uma regio densamente florestada e com rios de plancies. Este artigo
tem por objetivo, atravs de diversas pesquisas desenvolvidas,
pontuar sobre acontecimentos do perodo quaternrio da era geolgica
ceno-zica no recorte geogrfico a que pertence a Ilha do Mel. No se
pretende esgotar o tema, mas contribuir para a construo de uma
discusso sobre o mesmo atravs de diversos autores. Sendo assim o
recorte geogrfico estu-dado pertence desembocadura da regio
estuarina da Baa de Paranagu, com grande importncia para analises
de avanos e recuos do nvel do mar no quaternrio, alm de possuir uma
fauna caracterstica e padres dinmi-cos de relevo que moldaram e
continuam moldando suas fisionomias e morfologias. Palavras-chave:
Holoceno, Linhas costeiras, geologia, Quaternrio.
ABSTRACT Ilha do Mel - PR, belonging to the municipality of
Paranagu, is an island formed by outcrops of Precambrian
crystalline shield Paran, with ages that exceed the five hundred
million years. It has diverse backgrounds who alternated over time,
derived from the process of constructing the coast from
geomorphological processes in coastal deposits of sand by the
action of the sea, sometimes linear classification now confused,
formed during the Holocene, which is the last period which comes
from the last glacial to the present day. Over time, with the
advance and retreat of the sea level, the island went from simple
archipelago of islands to a densely forested plains and rivers.
This article aims through various researches undertaken, scoring on
events of the Quaternary Period of the Cenozoic geologic era in
geographical cutout that belongs to Ilha do Mel. This is not to be
exhaustive, but to contribute to the construction of a discussion
about the same through various authors. Thus the geographical
cutout studied belongs to the mouth of the estuary of the Bay of
Paranagu, with great importance for analysis of advances and
retreats of the sea level in the Quaternary, and possess a
characteristic fauna and dynamic patterns of relief that shaped and
continue to shape their faces and morphologies. Keywords: Holocene,
Shorelines, geology, Quaternary.
1. Introduo
Este artigo teve por objetivo, descrever e apontar os
acontecimentos geolgicos quater-
nrios da Ilha do Mel, localizada na desembocadura da Baa de
Paranagu, uma das duas re-
gies estuarinas do litoral do estado do Paran, sendo que a outra
a Baa de Guaratuba. No
se pretende aqui esgotar o tema, que debatido e estudado por
muitos pesquisadores dessa
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 873
ISBN: 9788587884299
rea de estudo, os quais serviro de base bibliogrfica e
conceitual para a exposio de ideias
que se segue.
A ilha pertence uma regio costeira rochosa que se estende desde
a Ilha Grande, no Es-
tado do Rio de Janeiro at o Cabo de Santa Marta em Santa
Catarina, tendo esta caracterstica
pela proximidade com a cadeia montanhosa da Serra do Mar.
Modificaes na linha de costa
em funo de eroso, geralmente isoladas e associadas com obstculos
naturais ou artificiais
(pelo homem), interrompem o fluxo de sedimentos ao longo da
costa e podem fazer com que
esta se modifique, gerando diferenas no aporte de sedimentos
depositados, por exemplo, na
Ilha do Mel. (Tessler et al., 2006).
Com relao formao geolgica da ilha, composta principalmente por
terrenos de
rochas granitides do embasamento cristalino proterozico, os
migmatitos, que sustentam os
morros, e por terraos arenosos costeiros pertencentes poro
externa da barreira regressiva
holocnica (Lessa et al. 2000). Os migmatitos so recortados por
diques de diabsio da poca
da separao do continente africano e sul-americano, os quais
formaram o Oceano Atlntico a
aproximadamente 150 milhes de anos. composta tambm por cordes
litorneos, terraos e
dunas formadas durante o holoceno (Suguio, 1977). Seu ponto
culminante fica no Morro Ben-
to Alves, um morro composto por rochas pr-cambrianas, que atinge
151 metros.
A ilha leva-nos a diversos estudos, desde a botnica e as aves at
a geomorfologia da
ilha no ltimo perodo quaternrio da era geolgica cenozica (parte
que nos interessa), por
meio da analise de sedimentos a partir de sua deposio, por
exemplo.
2. Contextualizao da Ilha do Mel - PR
A rea de estudo fica localizada entre a baa de Paranagu e o mar
aberto pertencendo
ao municpio de Paranagu PR, sendo administrada pelo Instituto
Ambiental do Paran (I-
AP). Esse rgo dispe de um Conselho Gestor, composto por
representantes da comunidade
e do poder pblico, que acompanha a aplicao das normas previstas
no Zoneamento Florestal
e Urbano, mesmo as ocupaes sendo incipientes e rsticas na
ilha.
A ilha composta por seis lugares habitveis, assim definidos pelo
IAP, conforme re-
presentado na figura 01, possuindo 120 hectares aproximadamente
liberados para a moradia,
pois quando da sua transformao em parque ambiental, tais lugares
j existiam, sendo atual-
mente permitida sua existncia de acordo com a legislao
socioambiental.
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 874
ISBN: 9788587884299
Aproximadamente 2585 hectares da ilha de um total de 2762
hectares ou 27 km (Fi-
gueiredo, 1954), so compostos por diversos ecossistemas que
compe o complexo da Flores-
ta Atlntica, tais como, a restinga, os manguezais, entre outros
que so destinados preserva-
o integral da flora e da fauna (Marques & Oliveira, 2004). E
ainda, mais 2240 hectares per-
tencem a uma estao ecolgica, restrita a visitao, sendo permitida
a entrada somente para
pesquisas cientficas, e 345 hectares pertencem a uma reserva
natural.
Figura 01: Mapa representando os lugares habitveis da Ilha do
Mel. Duarte (2013).
Conforme site do IAP, em 1982, quando a ilha passou a ser
administrada pelo Estado
do Paran, o mesmo encarregou o instituto da criao de uma unidade
de conservao que
protegesse os ecossistemas naturais, com sua flora e fauna nela
presentes. Com isso, aproxi-
madamente 95% da ilha uma estao ecolgica, englobando manguezais
em pequeno nume-
ro, restingas, entre outros ecossistemas.
Em relao topologia que a ilha apresenta, seu ponto culminante
fica no Morro Ben-
to Alves, que atinge 151 metros. constituda por rochas que compe
o escudo cristalino pa-
ranaense que compe a Serra do Mar, sendo recortada por diques de
diabsio, datados da po-
ca da separao do continente africano e sul-americano, formando o
Oceano Atlntico a apro-
ximadamente 130 e 150 milhes de anos. composta tambm por cordes
litorneos, terraos
e dunas formadas durante o holoceno (Suguio, 1977). A areia
marrom que compe o substrato
nas praias do Farol, Nova Braslia e na praia das Encantadas tem
aproximadamente 5.000
A.P. e sua colorao se deve presena de matria orgnica originada
de paleosistemas de
florestas presentes na ilha (Couto & Savian, 1996).
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 875
ISBN: 9788587884299
Os morros que compe a Ilha do Mel so formados por gnaisses e
migmatitos de ida-
des pr-cambrianas, que formam o embasamento cristalino, com
idades inferiores a 550 mi-
lhes de anos, entremeadas por diques de diabsio com idades de
130 milhes de anos, origi-
nados na mesma poca da formao do Arco de Ponta Grossa (MAACK,
1948; 1981) (MI-
NEROPAR, 1989).
A Gruta das Encantadas se formou devido eroso diferencial entre
as rochas que a
compe. Uma delas o migmatito, que possui maior resistncia ao
intemperismo fsico (cho-
que das ondas e ao ambiente marinho mido) por ser uma rocha
metamrfica do escudo cris-
talino paranaense, caracterizada por ser menos frivel que o
diabsio, outra rocha que compe
a gruta, sendo uma rocha extrusiva mais frivel e com menor
resistncia ao intemperismo
fsico. Como os minerais que compe o diabsio o fazem menos
resistente eroso que o
migmatito, o mar o escavou mais facilmente ao longo do tempo e
com isso acabou originando
a gruta (Fig. 02).
Figura 02: Dique de Diabsio (parte escura) na Gruta das
Encantadas. Foto: Duarte (2011).
Segundo os diversos autores estudados, h 120.000 anos o nvel do
mar estava apro-
ximadamente 8 metros acima do nvel marinho atual, onde a Ilha do
Mel se apresentava ape-
nas como um arquiplago de ilhotas, formado pelos morros atuais
da ilha e que, muito prova-
velmente o Morro Bento Alves era a maior dessas ilhotas.
(MINEROPAR, 2013)
Logo a seguir, durante o ultimo mximo glacial, h 18.000 anos
aproximadamente, a
Ilha do mel estava emersa em meio a uma mata atlntica
exuberante, pois o nvel do mar esta-
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 876
ISBN: 9788587884299
va 120 metros abaixo do atual, formando assim extensas plancies,
sulcadas por rios mean-
drantes e a costa estava mais de 100 km distante da atual.
(MINEROPAR, 2013)
Quando passou o pico do ltimo perodo glacial, o nvel do mar
subiu por consequn-
cia do derretimento do gelo nas calotas polares e do equilbrio
isosttico da crosta terrestre,
at que o nvel do mar alcanou um nvel 3 metros acima do atual h
aproximadamente 5.600
A. P., levando a linha de costa para 5 km adentro do continente,
formando os cordes e paleo-
linhas de praias que, por meio da formao de uma plancie de mar
vazante a partir do estu-
rio da baa de Paranagu (Fig. 03), que, consequentemente
depositou esses sedimentos onde
hoje a Ilha do Mel (MINEROPAR, 2013). Com isso, formou a atual
plancie costeira para-
naense, tendo a plancie da Ilha do Mel sido formada do oeste
para leste, a partir do Morro da
Baleia ou do Forte, atravs da deposio arenosa, pela configurao
de dunas frontais de mar
vazante, formando uma plancie arenosa com cordes litorneos.
Figura 03: Delta de mar vazante da baa de Paranagu. MINEROPAR.
(s/a) Laboratrio F. Mari-nha/CEM UFPR - LECOST/UFPR Imagem do
satlite Landsat 5 de 1999.
Os cordes litorneos observados na parte setentrional da ilha
denotam a existncia de
paleopraias e paleolinhas de costas antigas que so de origem
holocnica e se formaram a
partir do recuo e avano do mar que ocorreu possivelmente por
causa de movimentaes tec-
tnicas geradas pelo continuo distanciamento do continente
sul-americano em relao ao con-
tinente africano alm do aumento ou diminuio das calotas polares
e movimentos isostticos
da crosta terrestre, entre outros fatores que causaram tal fato,
como comentam Bigarella &
Sanches (1949), Suguio (1977), Angulo (2002), entre outros.
Esses cordes tm orientao a
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 877
ISBN: 9788587884299
partir da baa de Paranagu em direo ao Morro da Baleia,
deformando-se atravs das late-
rais desse morro (Fig. 04).
Na formao dos terraos, cordes litorneos e dunas que compe a ilha
a partir do a-
vano e recuo do mar, moraram nos ltimos 6.000 A. P., humanos
primitivos, indgenas que
usavam embarcaes rsticas e se alimentavam de crustceos, peixes e
tubrculos pela pratica
da agricultura, que deixaram vrias evidncias de sua presena
nesse local. De acordo com
Bigarella & Sanches (1966), Angulo (2002) e diversos outros
autores, as evidncias no litoral
paranaense dessas ocupaes humanas, so da ordem de 5.600 A.P. ou
mais, datados, princi-
palmente a partir de seus componentes por Carbono 14. Algumas
dessas evidncias so co-
nhecidas pelo nome de sambaquis.
Os primeiros habitantes (...) deixaram provas de sua presena em
mais de cem stios
arqueolgicos chamados sambaquis, (...) Trata-se dos depsitos de
restos dos ali-
mentos por eles (humanos primitivos) consumidos por exemplo,
conchas de ma-
riscos , com mais de seis mil anos de idade. Segundo alguns
autores, os construto-
res dos sambaquis viviam no interior e s desciam ao litoral
durante o inverno, bus-
cando moluscos para alimentar-se devido ao escasseamento da caa.
A tese de que
eram nmades bastante aceita. Grifo nosso. (BEHR, 1997, p.
23)
Alguns desses depsitos esto acima do nvel do mar e outros esto
num nvel marinho
inferior ao atual, podendo indicar que durante o holoceno esse
nvel variou diversas vezes.
pertinente acrescentar que, segundo Martin et al. (1984), os
sambaquis so restos ar-
queolgicos onde se encontram grande quantidade de depsitos de
conchas depositados por
humanos primitivos que habitavam o litoral. Esses depsitos
demonstram de certa forma, h-
bitos alimentares e costumes desses humanos que ali viviam ali,
com alguns podendo ser da-
tados de 6.000 A.P. A localizao desses acima do nvel do mar
atual explicada possivel-
mente por uma extenso lagunar que era superior da atual e por
uma extenso lagunar inferior
para os que esto abaixo do nvel atual.
A ilha composta de duas partes, um setentrional e a outra
meridional. Os sambaquis
da ilha so observados na sua parte meridional, nos quais segundo
Couto & Savian (1996),
so encontrados artefatos lticos diversos e numerosos vestgios de
fogueiras, que provavel-
mente pertenciam ao grupo indgena primitivo denominado G,
anterior ao aparecimento dos
tupis-guaranis. So dois sambaquis, o primeiro est localizado
prximo formao das dunas
frontais que ocorreram no holoceno (Angulo, 2004), e o segundo
encontra-se no costo rocho-
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 878
ISBN: 9788587884299
so voltado para o Mar de Dentro entre o Morro Bento Alves e o
Morro do Meio, indicando
provavelmente um lugar protegido das intempries para os humanos
primitivos da Ilha do
Mel. Esses humanos primitivos surgiram a cerca de 6.000 anos,
sendo uma data estimada da
presena do primeiro ser humano na regio.
Com relao dinmica dos fluxos de sedimentos da ilha, podemos
notar que, as mo-
dificaes incluem eroso e acreso em algumas partes dela. Exemplos
desses fenmenos
esto presentes em seu istmo central, que divide a ilha em duas,
onde as duas dinmicas esto
presentes, retirando material do istmo e depositando na enseada
das conchas, criando um es-
poro arenoso. Esse esporo evoluiu a partir da dcada de 1950 e
cresceu a taxas de at 100
metros em menos de uma dcada (Angulo et al., 2006). O fenmeno da
acreso tambm o-
corre em diferentes trechos da costa, a exemplo da parte
setentrional da praia do forte. Tais
fatos corroboram com Giannini (2004), em seu estudo sobre a
eroso da costa leste da Ilha do
Mel (Fig. 05), onde:
O terrao que formava o istmo central da ilha na localidade de
Nova Braslia, com
cerca de 150 m de largura nos anos 1950, foi completamente
erodido durante a d-
cada de 90 (sic). Simultaneamente eroso do istmo, observou-se o
surgimento e
crescimento de um esporo arenoso, que em maio de 2002 tinha mais
de 800 m de
extenso, ancorado na ponta do Farol das Conchas. (GIANNINI et
al, 2004, p.231)
Com isso, Giannini et al (2004), detalha o que vem acontecendo
na ilha ao estudar a
eroso na costa leste da Ilha do Mel atravs de um modelo baseado
na distribuio espacial de
formas deposicionais e propriedades sedimentolgicas.
Couto & Savian (1996) ao analisarem sedimentos a partir da
vegetao e dos animais
na plancie intertidal da parte sul do Saco do Limoeiro, comentam
que os sedimentos conti-
nham mostras orgnicas de manguezais, os quais serviam aos povos
primitivos do litoral para
fornecer alimentos, material para suas moradas, alm de tanino1
(produto utilizado atualmente
em vinhos, reforo do couro e tambm usado para dar resistncia a
casas e barcos frente
decomposio intensa nas reas midas e alagadas). Os sedimentos
analisados tambm conti-
nham grande quantidade de calcrio, em que se sugere que As
condies fsicas do trecho
estudado consideradas conjuntamente com as caractersticas
texturais e a anlise do material
1 TANINO: (Fr) S.m. classe de substncias adstringentes
encontradas em certos vegetais, muito usadas para curtir pele e
transform-la em couro. (Dicionrio Unesp do portugus contemporneo,
p. 1335). TANINO: S.m. (Qum.) substncia adstringente que se
encontra na casca de vrias plantas. (Do Fr. tanin) (Dicionrio
brasileiro Globo, p.592).
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 879
ISBN: 9788587884299
disperso nos testemunhos sugerem que o mecanismo predominante o
biolgico (...) (Couto
& Savian, 1996, p.9)
Figura 04: Localizao e esboo geolgico da ilha do Mel, com
indicao de duas geraes de cordes litorneos. Legenda composta na
figura: (1) praia; (2) manguezal; (3) esporo arenoso formado por
dunas frontais a partir da dcada de 1990; (4) plancie costeira
holocnica formada em um nvel mari-nho semelhante ao atual; (5)
plancie costeira holocnica formada em um nvel marinho superior ao
atual (6) alinhamento de cordes litorneos da ilha; (7) morros de
granitides do embasamento crista-lino proterozico2.
Com relao plancie arenosa que antes compunha o istmo central que
divide a ilha
em duas, comentada por Giannini (2004), tal formao fora
sedimentada durante o holoceno
atravs dos processos marinhos que uniram as parte norte e sul da
Ilha do Mel, antes separa-
das e que, foi parcialmente erodida pelas ondas e correntes de
mar at formar o estreito istmo
2 Retirado e adaptado de: GIANNINI, P. C. F.; ANGULO, R. J.;
SOUZA, M. C.; KOGUT, J. S.; DELAI, M. S. 2004. A eroso na costa
leste da Ilha do Mel, baa de Paranagu, Estado do Paran: modelo
baseado na distribui-o espacial de formas deposicionais e
propriedades sedimentolgicas. So Paulo, Revista Brasileira de
Geoci-ncias, 34 (2): 231-242.
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 880
ISBN: 9788587884299
atual, quase desaparecido no final dos anos 90 (Fig. 05). Com
isso, quando ocorrem mars de
sizgia e estas se unem as ressacas do mar associadas passagem de
uma frente fria prxima a
linha da costa, este istmo acaba encoberto pelas ondas do mar,
encerrando a ligao entre a
parte norte e sul da ilha nesse perodo de tempo. (Giannini,
2004)
Figura 05: Imagem retirada do Google Earth. (2013). Esporo
arenoso (vetor em preto indicando) e direo dos ventos predominantes
(vetores em branco indicando).
Esse esporo arenoso (Fig. 05) acrescido de sedimentos pela ao
marinha na ensea-
da das conchas, retirando material do istmo central e
depositando-o na enseada, por meio dos
ventos que ali predominam, principalmente de leste para oeste,
atingindo a costa leste da ilha
com vetores vindos do mar aberto incidindo na regio do forte
Nossa Senhora dos Prazeres e
posteriormente direcionado pela costa em direo a enseada das
conchas (Fig. 06). (Gianni-
ni, 2004). Tais fatos foram observados em campo realizado em
outubro de 2011(Fig. 07 e 08).
O processo pelo qual passa o istmo central da Ilha do Mel
solapou falsias existentes na
dcada de 1950 e transformou o local que antes era habitado em um
banco de areia que liga a
parte setentrional da ilha parte meridional da ilha. Com isso,
podemos perceber que essas
modificaes evidenciam as manifestaes de processos
erosivos-deposicionais, que intera-
gem na ilha e esto atuantes em todo o seu permetro num processo
dinmico que afetou du-
rante o holoceno, transformando a costa da ilha. (Angulo et al.
1995).
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 881
ISBN: 9788587884299
Figura 07: Depsito de sedimentos arenosos in loco na enseada das
conchas em outubro de 2011, com o processo de deposio de sedimentos
estvel em relao dcada de 1990. Foto: Duarte. (2011)
Figura 08: Vista do esporo arenoso formado na enseada das
conchas a partir de dunas frontais (no cen-tro) e do istmo da ilha
(seta indicando), vistos do Morro do Farol das conchas em dia de
mar baixa. Foto: Duarte (2011)
3. Consideraes Finais
Os processos que moldaram a Ilha do Mel so dinmicos e continuam
atuantes, sendo
os mesmos que atuaram no passado. Se, como falamos
anteriormente, ao longo do tempo,
com o recuo e o avano do nvel do mar, a ilha passou de
arquiplago de ilhas para uma regi-
o densamente florestada e com rios de plancies, devemos ter o
entendimento que no tempo
geolgico esses processos vo continuar moldando a costa da ilha,
modificando a paisagem
natural. Com isso, por meio da observao emprica das ocorrncias
naturais do relevo da
ilha, observadas em campo, nota-se que o mesmo processo pode
ocorrer em micro, macro ou
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 882
ISBN: 9788587884299
mega escala, de modo a compreender que todos os processos
interagem para moldar a fisio-
nomia e a geomorfologia da Ilha do Mel.
4. Referncias
ANGULO, J. R. PESSENDA, R. C. L. SOUZA, M. C. O significado das
dataes ao car-bono 14 na reconstruo de paleonveis marinhos e na
evoluo das barreiras quatern-rias do litoral paranaense. Revista
Brasileira de Geocincias, 2002. p. 95-106 Vol. 32
ANGULO R.J., GIANNINI P.C.F., KOGUT J.S., PRAZERES Filho H.J.,
SOUZAM.C. Va-riao das caractersticas sedimentolgicas atravs de uma
sucesso de cordes holoc-nicos, como funo da idade deposicional, na
ilha do Mel (PR). Bol. Paran. Geoc., 44: 77-86. 1996.
ANGULO R.J., GIANNINI P.C.F., PARANHOS, A. A diviso da Ilha do
Mel: perguntas e respostas. Gazeta do Povo. Curitiba, 11 de abril
de 1995. Caderno de Classificados, p.1. 1995.
BEHR, M. V. Guarakessaba: Passado, presente e futuro. So Paulo:
Empresa das artes, 1997.
BORBA, F. S. Dicionrio Unesp do portugus contemporneo. Curtiba:
Pia, 2011.
COUTO, E. C. G. e SAVIAN, M. Caracterizao sedimentolgica da
plancie intertidal da parte sul do Saco do Limoeiro (Ilha do Mel -
Paran - Brasil). I. Implicaes Ecolgi-cas. UFPR. Centro de estudos
do Mar, Pontal do Sul, 1996.
FERNANDES, F. Dicionrio brasileiro Globo. 43 ed. So Paulo:
Globo, 1996.
FIGUEIREDO J.C. Contribuio geografia da ilha do Mel (litoral do
Estado do Para-n). Tese de Ctedra de Geografia do Brasil. Faculdade
de Filosofia da Universidade Federal do Paran, 61p. 1954.
GIANNINI, P.C.F.; ANGULO, R.J.; SOUZA, M.C.; KOGUT, J.S.; DELAI,
M.S. A eroso na costa leste da Ilha do Mel, baa de Paranagu, Estado
do Paran: modelo baseado na distribuio espacial de formas
deposicionais e propriedades sedimentolgicas. So Pau-lo, Revista
Brasileira de Geocincias, p. 231-242. Vol. 34. 2004
IAP. Acesso em 04 de junho de 2013
ILHA DO MEL. Acesso em 04 de junho de 2013.
LESSA G.C., ANGULO R.J., GIANNINI P.C.F, ARAJO A.D. Stratigraphy
and Holo-cene evolution of a regressive barrier in South Brazil.
2000.
MARTIN, L.; SUGUIO, K.; FLEXOR, J.M. Informaes adicionais
fornecidas pelos sam-baquis na reconstruo de paleolinhas de praia
quaterdria: Exemplos da costa do Brasil. Rev. da Pr-Hist6ria,
Vk128-147. 1984d.
-
I Simpsio Nacional de Mtodos e Tcnicas da Geografia e Maring, 22
a 25 de outubro de 2013 XXII Semana de Geografia p. 883
ISBN: 9788587884299
MARQUES, M. C. M., OLIVEIRA, P. E. A. M. Fenologia de espcies do
dossel e do sub-bosque de duas Florestas de Restinga na Ilha do
Mel, sul do Brasil. Revista Brasil. Bot., V.27, n.4,
p.713-723,2004.
MAACK, R. Notas preliminares sobre clima, solos e vegetao do
Estado do Paran. Cu-ritiba, Arquivos de Biologia e Tecnologia,
v.II, p.102-200. 1948.
MAACK, R. Geografia fsica do Estado do Paran. Rio de Janeiro,
Livraria Jos Olympio Ed., 442p. 1981.
MINEROPAR. Acesso em 09 de junho de 2013.
MINEROPAR - MINERAIS DO PARAN S.A. 1989. Mapa Geolgico do Estado
do Pa-ran: escala 1:650.000. Curitiba, MINEROPAR-MME-DNPM.
SUGUIO, K. Annotated bibliography (19604977) on Quaternary
shorelines and sea-level changes m Brazil. Contribuio do Instituto
de Geocincias, USP/IGCP Project 61, 35 p. 1977.
SUGUIO, K. MARTIN, L. BITTENCOURT, A. C. S. P. DOMINGUEZ, J. M.
L. FLEXOR, J. M. e AZEVEDO, A. E. G. Flutuaes do nvel relativo do
mar durante o quaternrio superior ao longo do litoral brasileiro e
suas implicaes na sedimentao costeira. Re-vista Brasileira de
Geocincias, 1985. p. 273-286. Vol.15
TESSLER, M.G., GOYA, S.C., YOSHIKAWA, P.S. e HURTADO, S.N. So
Paulo - Eroso e acreso da zona costeira. Pp. 297-346. In: Muehe, D.
(Ed.). Eroso e progradao do lito-ral brasileiro. Ministrio do Meio
Ambiente, Braslia. 475p. 2006.