UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE DESENHO TÉCNICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL DOUGLAS DOS SANTOS DA SILVA SISTEMA DE AUXÍLIO AO ENSINO DE BRAILLE Niterói 2017
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE DESENHO TÉCNICO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESENHO INDUSTRIAL
DOUGLAS DOS SANTOS DA SILVA
SISTEMA DE AUXÍLIO AO ENSINO DE BRAILLE
Niterói 2017
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DOUGLAS DOS SANTOS DA SILVA
SISTEMA DE AUXÍLIO AO ENSINO DE BRAILLE
Orientador Acadêmico Prof. Dr. Giuseppe Amado de Oliveira
Niterói 2017/2
Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de novembro de 2017, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.
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DOUGLAS DOS SANTOS DA SILVA
SISTEMA DE AUXÍLIO AO ENSINO DE BRAILLE
Trabalho de conclusão de curso apresentado em 28 de novembro de 2017, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Desenho Industrial pela Universidade Federal Fluminense.
Trabalho aprovado em _____ de __________ de _____.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr.Giuseppe Amado de Oliveira (Orientador Acadêmico) Universidade Federal Fluminense
Profª. Drª.Luiza Helena Boueri Rebello (Avaliador) Universidade Federal Fluminense
Profª. Drª.Renata Vilanova Lima (Avaliador) Universidade Federal Fluminense
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AGRADECIMENTOS
Aos professores que me orientaram e me ensinaram valiosas lições, aos grandes amigos, que fiz na graduação, que estiveram comigo nos melhores e piores momentos, à todos os envolvidos na produção do projeto e a minha familia pelo apoio durante esses anos de faculdade. Meu muito obrigado.
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“Só porque um homem carece do uso de seus olhos não significa que ele não tem visão. ”
(Stevie Wonder)
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RESUMO
DOS SANTOS DA SILVA, Douglas. Sistema de auxilio ao ensino de Braille. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) O presente trabalho tem com o objetivo apresentar o desenvolvimento de um produto para auxiliar no ensino de Braille, tornado a alfabetização em Braille mais dinâmica e atraente para aqueles que precisam ou querem aprender. Foi feito um estudo dos métodos de ensino de Braille no Brasil, dos problemas enfrentados pelos deficientes visuais no dia e também os beneficios de ser alfabetizado em Braille. Por fim foi construído um protótipo, para testes, que foi validado com sucesso atingindo o objetivo proposto. Palavras-chaves: Braille. Deficientes Visuais. Acessibilidade.
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ABSTRACT
DOS SANTOS DA SILVA, Douglas. Sistema de auxilio ao ensino de Braille. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2017. (Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação.) The present study aims at presenting the development of a new product to aid the teaching of Braille, making the learning process more dynamic and attractive to those who need it or wish to learn it. A study on Braille teaching approaches has been developed in order to understand the problems faced by visually impaired people as well as the perks of learning Braille. Lastly, a prototype has been built to conduct tests and expectations have been successfully met. Keywords: Braille. Visually impaired. Accessibility.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Ícone de cego com cão-guia………………………… 19
Figura 2 Ampliador portátil e pessoa utilizando o ampliador...................................................................
20
Figura 3 Display Braille............................................................ 21
Figura 4
Usuário utilizando o leitor autônomo e uma representação gráfica do áudio saindo do aparelho......................................................................
22
Figura 5 Pessoa lendo um livro em Braille............................... 23
Figura 6 Mulher com fones de ouvido mexendo no celular...... 23
Figura 7 Print da tela de um celular com a função TalkBack, leitor de tela nativo do Android...................................
24
Figura 8 Print de um post do facebook com um exemplo da #PraCegoVer..............................................................
25
Figura 9 Print da tela da Netflix com a opção de audiodescrição............................................................
26
Figura 10 Máquina Perkins......................................................... 26
Figura 11 Retrato de Louis Braille.............................................. 27
Figura 12 Primeira versão do Braille........................................... 28
Figura 13 Professora apontando para um banner com o alfabeto Braille............................................................
32
Figura 14 Exercício com bambolês que simulam em tamanho grande as células Braille............................................
32
Figura 15 Exemplo de material, feito de tampinhas de refrigerante, para ensinar Braille................................
33
Figura 16 Exemplo de material improvisado para ensinar Braille 33
Figura 17 Exemplo de placa que possui apenas informações visuais, é totalmente não acessivél para deficientes visuais.........................................................................
34
Figura 18 Exemplo de barreira atitudinal, onde carros foram estacionados sobre o piso tátil...................................
35
Figura 19 Caixa de sapatos cortada e latas de desodorante...... 39
10
Figura 20 Primeiro passo do exercício........................................ 40
Figura 21 Segundo passo do exercício....................................... 40
Figura 22 Terceiro passo do exercício........................................ 41
Figura 23 Quarto passo do exercício.......................................... 41
Figura 24 Caractere Braille obtido com o exercício e seu correspondente...........................................................
42
Figura 25 Alfabeto Braille de A à J............................................. 42
Figura 26 Alfabeto Braille de A à J representado pela caixa e desodorantes..............................................................
43
Figura 27 Representação gráfica do funcionamento da célula Braille..........................................................................
45
Figura 28 Representação gráfica dos 6 pontos do Braille.......... 45
Figura 29 Alfabeto Braille............................................................ 46
Figura 30 Palavra escrita em Braille........................................... 47
Figura 31 Frase escrita em Braille.............................................. 47
Figura 32 Texto em Braille, trecho de “Navio Negreiro” de Castro Alves................................................................
48
Figura 33 Reglete, punção e prancheta...................................... 49
Figura 34 Pessoa escrevendo em Braille com a Reglete e o punção........................................................................
49
Figura 35 Exercício com bambolês............................................ 54
Figura 36 Material, feito de sucata, que simula a célula Braille 55
Figura 37 Material, feito de sucata, que simula a célula Braille 56
Figura 38 Material feito de sucata, que simula uma célula Braille 57
Figura 39 Reglete e punção........................................................ 58
Figura 40 Alfabeto em Braille colado em EVA............................ 59
Figura 41 Produto “Communicare”.............................................. 60
Figura 42 Produto “Alpha”........................................................... 61
Figura 43 Produto “Braille Bricks”............................................... 62
Figura 44 Produto “Gira-Braille” e o alfabeto Braille ao fundo..... 63
Figura 45 Garrafas PET.............................................................. 65
11
Figura 46 Galão........................................................................... 65
Figura 47 Cano de PVC............................................................... 66
Figura 48 Seringa descartável..................................................... 67
Figura 49 Pote de sorvete........................................................... 68
Figura 50 Filamento de PLA........................................................ 68
Figura 51 Esboço da “Alternativa 1”............................................ 70
Figura 52 Esboço da “Alternativa 2”........................................... 71
Figura 53 Esboço da “Alternativa 3”........................................... 72
Figura 54 Esboço da “Alternativa 4”............................................ 73
Figura 55 Esboço da “Alternativa 5”........................................... 74
Figura 56 Esboço da alternativa escolhida................................. 75
Figura 57 Ilustração ensinando o funcionamento do produto..... 76
Figura 58 Rendering detalhando as principais partes do projeto 76
Figura 59 Ilustração do produto, do caractere Braille e da letra correspondente
77
Figura 60 Ilustração de uma palavra formada com o produto 77
Figura 61 Desenho-detalhe ilustrando o funcionamento do botão............................................................................
78
Figura 62 Mecanismo de canetas retráteis.................................. 79
Figura 63 Posições do mecanismo.............................................. 79
Figura 64 Partes do mecanismo................................................. 80
Figura 65 Mecanismo push-push button retraído........................ 81
Figura 66 Mecanismo push-push button elevado........................ 81
Figura 67 Fecho toque magnético para móveis.......................... 82
Figura 68 Exemplo formato alternativo para o mecanismo......... 82
Figura 69 Peça feita em PLA....................................................... 83
Figura 70 Filamento de PLA........................................................ 84
Figura 71 Projeto modelado em 3D e projeto impresso em 3D... 85
Figura 72 Impressora 3D e projetos impressos............................ 86
Figura 73 Exemplode peças feitas por injeção plástica................. 87
12
Figura 74 Estudos antropométricos da mãos……………………. 89
Figura 75 Modelo Virtual do projeto............................................. 90
Figura 76 Vista explodida do modelo........................................... 90
Figura 77 Modelo virtual da tampa.............................................. 91
Figura 78 Modelo virtual da base................................................. 91
Figura 79 Modelo virtual do botão............................................... 92
Figura 80 Modelo virtual do mecanismo...................................... 92
Figura 81 Primeiros modelos construídos em papel.................... 93
Figura 82 Modelo construído em papel couro.............................. 93
Figura 83 Validação: menor mão de mulher................................ 94
Figura 84 Validação: maior mão de homem................................ 94
Figura 85 Modelo impresso em 3D.............................................. 95
Figura 86 Usuária reconhecendo o modelo................................. 95
Figura 87 Peças sendo impressas na impressora 3D................. 96
Figura 88 Peças impressas......................................................... 97
Figura 89 Botão............................................................................ 97
Figura 90 Mecanismo 1............................................................... 98
Figura 91 Mecanismo 2................................................................ 98
Figura 92 Tampa........................................................................... 99
Figura 93 Base............................................................................. 99
Figura 94 Botão montado.............................................................. 100
Figura 95 Botão encaixado na base............................................ 100
Figura 96 Botões dispostos na base............................................. 101
Figura 97 Produto sendo montado................................................ 101
Figura 98 Sistema de auxilio montado......................................... 102
Figura 99 O usuário segura o produto......................................... 103
Figura 100 O usuário identifica o lado correto do produto pelo “orientador”...................................................................
104
Figura 101 Usuário pressiona os botões 1 e 2............................... 104
Figura 102 Usuário pressiona os botões 1, 2 e 3........................... 105
13
Figura 103 Peça representando a letra “F” em Braille..................... 105
Figura 104 A usuária segura o produto.......................................... 106
Figura 105 A usuária identifica o lado correto do produto pelo “orientador”...................................................................
106
Figura 106 A usuária pressiona o botão 1....................................... 107
Figura 107 A usuária pressiona o botão 6...................................... 107
Figura 108 A usuária pressiona o botão 5....................................... 108
Figura 109 A usuária identifica o caractere Braille.......................... 108
14
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Tabela da caracterização e posição serial do sistema....................................................................... 50
Tabela 2 Tabela da organização hierárquica do Sistema...................................................................... 51
Tabela 3 Tabela da modelagem comunicacional.......................................................... 52
Tabela 4 Tabela GUT............................................................... 53
Tabela 5 Tabela das dimensões relevantes……………………. 88
Tabela 6 Tabela da População Usuária…………………………. 88
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
TDT Departamento de Desenho Técnico
GDI Graduação em Desenho Industrial
ISO International Standards Organization
UFF
OMS
IBGE
USA
EVA
GUT
PLA
PVC
Universidade Federal Fluminense
Organização Mundial da Saúde
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
United States America
Espuma vinílica acetinada
Gravidade, Urgência e Tendência
Poliácido láctico
Policloreto de vinila
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................17
1.DEFICIENTES VISUAIS...................................................................18
1.2 Formas de comunicação acessível.....................................20
1.3 Sistema braille.....................................................................27
1.4 Braille no Brasil...................................................................29
2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA.........................................................30
2.1 A importância do uso do Braille...........................................30
2.2 O ensino de Braille...............................................................31
3. PROBLEMATIZAÇÃO ERGONÔMICA E BARREIRAS……………34
4. JUSTIFICATIVA .............................................................................. 37
5. OBJETIVO ....................................................................................... 38
6. PÚBLICO-ALVO………………………………………………………...38
7. ANÁLISE DA TAREFA .................................................................... 39
8.SISTEMATIZAÇÃO .......................................................................... 44
8.1 Como o braille funciona ...................................................... 44
8.2. Quadros da sistematização………………………………….50
8.3 GUT……………………………………………………………..53
9. ANÁLISE DE SIMILARES……………………………………………..54
10. LEVANTAMENTO DE MATERIAIS…………………………………64
11. MODELAGEM VERBAL……………………………………………..69
12. GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS……………………………………70
13. DETALHAMENTO DA ALTERNATIVA ESCOLHIDA……………75
13.1 Análise de mecanismos……………………………………..78
13.2. Análise de materiais………………………………………...83
13.3. Processo de fabricação…………………………………….85
14. PROJETAÇÃO ERGONÔMICA....................................................88
17
15. CONSTRUÇÃO DE MODELOS E TESTES……………………….90
13.1. Modelos virtuais……………………………………………..90
13.2. Modelos físicos………………………………………………93
13.3. Primeiro teste………………………………………………..94
13.4 Segundo teste……………………………………………….95
13.5 Modelo Final………………………………………………...96
13.6 Validação…………………………………………………….103
16. CONCLUSÃO.............................................................................110
17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................111
APÊNDICE A – DESENHOS TÉCNICOS..............................113
18
INTRODUÇÃO
A todo momento somos cercados de informação, se precisarmos
atravessar a rua uma cor nos dirá quando, se precisamos nos localizar basta
procurar uma placa na rua ou se quisermos simplesmente no entreter ou se
informar basta ligar a TV, ler o jornal ou um livro. Vivemos em uma sociedade
predominantemente gráfica, a maior parte da informação nos chega através da
visão, por consequência disso uma parte da população não tem acesso a elas,
esse grupo é dos deficientes visuais.
Numa pessoa que vê, o olho é responsável por pelo menos 4/5 das informações que a nossa sensibilidade capta do real. Num homem com visão normal, os outros quatro sentidos, juntos, trazem-lhe apenas 1/5 do material informativo originário do mundo que o rodeia, sendo que este 1/5 é subutilizado (VEIGA, 1983).
Hoje em dia, a sociedade tem cada vez mais consciência da importância
da acessibilidade na vida das pessoas com deficiência, porém devido a muitas
vezes o descaso do governo ou até mesmo falta de informação para o cidadão
médio, a acessibilidade ainda não é bem praticada na maioria dos lugares, o
que pode tornar o indivíduo cego dependente de ajuda ou excluí-lo da
sociedade.
Para inserir o cego no meio social e torná-lo independente é preciso
possibilitar a ele o acesso a informação, as ferramentas mais importantes para
isso são as formas alternativas de escrita e tomada de informação acessível,
nesse projeto resolvi trabalhar com a mais comum, e dita por muitos
especialistas como insubstituível, forma de escrita e leitura para cegos: o
sistema Braille.
Apesar da importância do Braille, as pessoas estão cada vez menos
aprendendo ou se utilizando do Braille, o seu caráter mais tradicional, um certo
nível de dificuldade para aprendê-lo somado à avanços tecnológicos que
19
possibilitaram formas mais fáceis de acesso a leitura são fatores que
contribuíram para esse esse afastamento.
Nos próximos tópicos irei apresentar a importância de se aprender
Braille na formação do cego e o desenvolvimento do projeto, que visa tornar o
ato de aprender Braille mais lúdico e diminuir um pouco sua dificuldade.
1. DEFICIENTES VISUAIS
A pessoa deficiente visual é caracterizado pelo comprometimento
parcial ou total da visão. Segundo critérios da Organização Mundial de Saúde
(OMS), os graus de deficiência podem ser:
Baixa visão (leve, moderada e profunda): pode ser atenuada com lentes, ampliadores, auxílio de bengala e treinamento de orientação
Próximo a cegueira: a pessoa pode distinguir luzes e vultos, mas já é necessário o auxílio de braille para a escrita e leitura e recursos de voz para tomada de informação.
Cegueira: não possui nenhum tipo de visão, o sistema Braille e o uso de bengala ou cão-guia é de extrema importância.
Do ponto de vista educacional segundo Barraga (1985), pessoas cegas
são aquelas que possuem a percepção de luz insuficiente para enxergar,
fazendo-se necessário a utilização do sistema braille para aprender.
Dados da OMS, também apontam que as principais causas de cegueira
no Brasil são: catarata, glaucoma, retinopatia diabética, cegueira infantil e
degeneração muscular
Segundo dados do IBGE de 2010, cerca de 23% da população brasileira
declarou possuir algum tipo de deficiência, sendo a mais comum a visual,
afetando 3,5% da população. São 528.624 brasileiros que tem cegueira total e
6.056.654 que possuem baixa visão ou alguma dificuldade de enxergar.
21
1.2 FORMAS DE COMUNICAÇÃO ACESSÍVEL
Existem diversas formas de comunicação acessível para os cegos, a
maioria delas utiliza-se do tato e/ou da audição para passar a informação. A
maioria é baseado no sistema Braille, que é o meu objeto de estudo e será
aprofundado nos tópicos.
Neste capítulo será apresentado as principais formas de tomada de
informação acessível, que são de grande importância para a inclusão social do
deficiente visual.
Ampliadores
Ampliadores são indicados para pessoas que tenham algum grau de
visão, eles consistem em uma tela com uma câmera na parte de trás que
focaliza na superfície que você quer ler e dá um zoom nas palavras.
Figura 2: Ampliador portátil e pessoa utilizando o ampliador. (Fonte:
Civiam)
22
Display Braille
Display Braille, ou linha Braille, é um dispositivo que é ligado no
computador e transforma o que está escrito na tela em informação tátil,
funciona como um teclado com um conjunto de pinos que se levantam
formando caracteres Braille. É especialmente útil para surdocegos, que não
possuem a audição para se utilizar de leitores de voz.
Figura 3: Display Braille (Fonte: Medicalexpo)
Leitor Autônomo
Funciona como um scanner, onde o usuário colocar as páginas do livro
no leitor e uma voz sintetizada faz a leitura do conteúdo. Ele também possui a
opção de salvar os arquivos em MP3, assim o usuário pode levar, em seu
celular, o arquivo e ouvir onde quiser.
23
Figura 4: Usuário utilizando o leitor autônomo e uma representação gráfica do áudio saindo do aparelho. (Fonte: Mundodalupa)
Livro em Braille
Livros em Braille são a forma mais tradicional de se consumir conteúdo
em Braille, porém a pouca variedade de material, os altos custos de fabricação
e a não praticidade de um livro em Braille acaba afastando as pessoas desse
formato, para se ter uma ideia converter uma única enciclopédia barsa, por
exemplo, para o braille custaria R$ 582 mil. A enciclopédia tem 32 volumes e
30 mil páginas, mas convertida em braille daria uma montanha de papel de
1.200 volumes e 120 mil páginas. (LEÃO, 2015)
24
Figura 5: Pessoa lendo um livro em Braille.
(Fonte: Google Imagens)
Audiolivros
Audiolivros são arquivos gravados em áudio de narrações do conteúdo
de um livro, são muito práticos e o acervo é bem maior que os dos livros em
Braille.
Figura 6: Mulher com fones de ouvido mexendo no celular. (Fonte: Pixabay)
25
Leitores de Tela
Os leitores de tela são softwares que “percorrem” a tela do computador
ou do celular e leem os conteúdos para o usuário, hoje em dia a maioria dos
dispositivos já possuem uma função de acessibilidade com leitor de tela
incluso.
Figura 7: Print da tela de um celular com a função TalkBack, leitor de tela
nativo do Android. (Fonte: o autor)
26
#PraCegoVer
O #PraCegoVer é uma iniciativa que acontece nas redes sociais, onde
a própria comunidade descreve imagens de um post de maneira literal, para
os deficientes visuais poderem interagir.
Figura 8: Print de um post do facebook com um exemplo da #PraCegoVer (Fonte: o autor)
Audiodescrição
Audiodescrição é a uma faixa narrativa adicional para os cegos e
deficientes visuais consumidores de meios de comunicação visual, onde se
incluem a televisão e o cinema, a dança, a ópera e as artes visuais. Consiste
num narrador que fala durante a apresentação, descrevendo o que está a
acontecer no ecrã durante as pausas naturais do áudio e por vezes durante
diálogos, quando considerado necessário.
27
Figura 9: Print da tela da Netflix com a opção de audiodescrição
(Fonte: o autor)
Máquina Perkins
A máquina Perkins uma máquina de escrever em Braille, sua fabricação
começou em 1951 e até hoje é muito utilizada pelo mundo, A máquina Perkins
é uma maneira de auxiliar o cego a escrever informações sem a ajuda do
computador.
Figura 10: Máquina Perkins. (Fonte: tecassistiva.com)
28
1.3 SISTEMA BRAILLE
Em meados do século XIX o francês Louis Braille inventou o sistema
Braille.
Louis perdeu a visão devido a um acidente na infância, ele frequentou
a escola tradicional durante dois anos até se destacar por sua grande
inteligência, assim ganhando uma bolsa integral no Instituto Real para Jovens
Cegos, escola referência na época. Ele se adaptou rápido a metodologia do
colégio que era baseado em repetição de explicações e textos ouvidos.
Figura 11: Retrato de Louis Braille (Fonte: Royalblind.org)
Em 1812, o militar Charles Barbier palestrou no Instituto e apresentou a
Sonografia, um sistema de sinais criado por ele, que servia para os soldados
pudessem ler no escuro. Esse sistema era baseado em pontos de relevo e foi
rejeitado pelo exército por ser muito complexo.
O sistema foi implementado no Instituto e Louis Braille logo aprendeu,
porém resolveu o aperfeiçoar e tornar-lo mais simples, ele o modificou e em
1825, aos 15 anos de idade, Louis Braille chegou a codificação de 6 pontos,
que é a que conhecemos hoje e que ainda não foi superado.
29
Ele se tornou professor do Instituto e ensinou seu método para os
alunos. Em 1837, Louis publicou toda a estrutura do Braille aplicado a diversas
áreas, como matemática, literatura e música (que era uma grande paixão).
Em 1854 o Sistema Braille foi adotado oficialmente, porém Louis morreu
1852, aos 26 anos devido a uma tuberculose, e nunca chegou a ver seu
sistema reconhecido de maneira oficial.
Figura 12: Primeira versão do Braille. (Fonte: Wikipedia)
30
1.4 Braille no brasil
Conhecido como o “Patrono da Educação de Cegos no Brasil”, José
Álvares de Azevedo, idealizou a primeira escola para cegos no Brasil. Nascido
cego, José Álvares teve a oportunidade de estudar no Instituto do Jovens
Cegos de Paris, ele estudou lá por 6 anos e foi quando conheceu o Sistema
Braille.
Quando voltou ao Brasil, ele quis difundir o sistema pelo país, se tornou
o primeiro professor cego do Brasil e fez um grande trabalho ajudando os
cegos a saírem do analfabetismo. Suas ideias conquistaram o imperador
D.Pedro II, que juntos fundaram o Imperial Instituto dos Meninos Cegos,
infelizmente ele morreu de tuberculose pouco antes da inauguração.
Com a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (que hoje é o
Instituto Benjamin Constant), o sistema Braille foi adotado oficialmente no
Brasil. O sistema utilizado aqui era o mesmo utilizado na frança e só sofreu
sua primeira modificação depois da reforma ortográfica da época.
Devido ao descaso do governo, as reformas que vieram com o tempo
ficaram nas mãos de professores e instituições de ligadas a educação de
cegos e à produção de livros em Braille, que tentavam manter o sistema
atualizado.
Em 2002, o ministério da Educação, pública a Grafia Braille para a
Língua Portuguesa, um documento com o objetivo de normatizar o Sistema
Braille no Brasil e facilitar o acesso para deficientes visuais, professores e
usuário de Braille.
31
2. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
2.1 A importância do uso do Braille
Devido aos avanços da tecnologia, o acesso a conteúdo está cada vez
mais fácil para o deficiente visual, isso causa um desinteresse pelo ensino de
Braille e também a redução do uso de Braille por parte daqueles que já
aprenderam. Segundo estatísticas da National Federation of Blind (USA,
2014), apresentado em 2014, apenas 8% dos cegos norte americanos se
utilizam do Braille, não existem estudos desse sentido no Brasil, mas ele ilustra
bem o atual cenário do Braille no mundo.
À procura por audiolivros, a utilização de programas de computadores
que leem telas e livros, com voz sintetizada, são formas de acessibilidade
priorizadas pelo cego devido a praticidade. O uso dessas tecnologias é de
grande importância para a acessibilidade e inserção cultural do cego, porém
nenhuma delas deve substituir o Braille.
“É indispensável que as autoridades na área da educação se
conscientizem de que o braille é o sistema natural de leitura das pessoas cegas
e que, portanto, a verdadeira alfabetização de crianças cegas só é garantida
por meio deste sistema” (OLIVEIRA, 2016). Sem o Braille o deficiente visual
não é alfabetizado corretamente, pulando assim uma parte de extrema
importância na formação do indivíduo, principalmente para aquele que
nasceram cegos. Muita informação, como por exemplo artigos acadêmicos só
são acessíveis para o cego através do Braille, o Braille também é a única forma
de escrita formal para deficiente visual, sem ele a produção de conteúdo e
comunicação, por parte do cego, é bem mais difícil.
32
2.2 O ensino de Braille
Ter o ambiente adaptado e informação acessível para o cego é
garantido por lei no Brasil, o deficiente visual tem o direito de ser incluído nos
lugares principalmente em ambientes acadêmicos como escolas e
universidades, porém na prática não é bem assim. Apesar de termos escolas
referência no ensino de cegos, como o Instituto Benjamin Constant no Rio de
Janeiro e Instituto Dorina Norwill em São Paulo, grandes partes da população
de deficientes visuais não têm acesso a esses pontos de referência, seja por
morar longe dos grandes centros ou por não ter condições financeiras para
arcar com materiais, transporte, etc…
Para descobrir como é o cenário do ensino de Braille no Brasil e como
é formação dos professores brailistas, conversei com a Profª Cristina Delou
que ministra aulas de Braille para alunos de Mestrado da UFF(Universidade
Federal Fluminense), segundo a professora, os professores brailistas saem da
faculdade e acabam encontrando um ambiente escolar totalmente
despreparado para começar a dar aulas, falta de materiais, despreparo de
outros professores e falta de verba e apoio são os principais problemas
encontrados.
O professor braillista precisa se adaptar ao ambiente não preparado,
assim acabam desenvolvendo métodos particulares de ensino e também
improvisando materiais para passar os exercícios aos alunos.
Abaixos é apresentado materiais improvisados, criados pelos
professores, para ministrar suas aulas
33
Figura 13: Professora apontando para um banner com o alfabeto Braille. (Fonte: http://www.noticias.uff.br/noticias/2009/07/escola-inclusao.php)
Figura 14: Exercício com bambolês que simulam em tamanho grande as células Braille. (Fonte: http://www.noticias.uff.br/noticias/2009/07/escola-
inclusao.php)
34
Figura 15: Exemplo de material, feito de tampinhas de refrigerante, para
ensinar Braille. (Fonte: marioramaobenevides.blogspot)
Figura 16: Exemplo de material improvisado para ensinar Braille. (Fonte:
Pinterest)
35
3. PROBLEMATIZAÇÃO ERGONÔMICA E BARREIRAS
Nessa etapa foram caracterizados os principais problemas que um
deficiente visual enfrenta, a caracterização foi feita de acordo com o livro
“Desenho Universal – Caminhos da Acessibilidade no Brasil”.
Barreira comunicacional
Dificuldade gerada pela falta de informações a respeito do local, em
função dos sistemas de comunicação disponíveis (ou não) em seu entorno,
quer sejam visuais (inclusive em Braille), lumínicos e/ou auditivos.
Hoje em dia é possível encontrar informação em Braille em diversos
lugares, seja em placas nos prédios e escritórios ou até mesmo no botão da
sirene do ônibus, porém em muitos lugares não existe esse tipo de
acessibilidade e isso pode dificuldar bastante a vida do deficiente visual, a falta
de informação torna ele dependente de outras pessoas, se ele não puder obter
ajuda, o cego pode se perder, não descobrir o lugar onde pretende ir ou até
mesmo entrar em algum lugar que não devia.
Figura 17: Exemplo de placa que possui apenas informações visuais, é totalmente não acessivél para deficientes visuais. (Fonte:
Acessibilidadenapratica.com)
36
Barreira Atitudinal
Gerada pelas atitudes e comportamento dos indivíduos, impedindo o
acesso de outras pessoas a algum local, quer isso aconteça de modo
intencional ou não.
É mais comum do que se pensa e qualquer um pode ser o causador
desse problema, frequentemente pessoas estacionam em vagas de deficientes
ou em sobre a calçada, colocam obstáculos no piso tátil, entre outro.
Esse é um grande problema que o deficiente visual encontra, essas
barreiras podem causar problemas acidentário que vão desde tropeços,
esbarroes ou até acidentes mais sérios.
Figura 18: Exemplo de barreira atitudinal, onde carros foram estacionados sobre o piso tátil. (Fonte: Acessibilidadenapratica.com)
37
Barreira social
Causa por preconceito das pessoas, da família ou até mesmo do próprio
cego, a barreira social é a exclusão do individuo do meio social.
No que diz respeito ao Braille, a exclusão pode ser também cultural,
sem o Braille, o deficiente visual não possui uma forma adequada de
comunicação, assim ele não tem contato com a leitura e também não produz
conteúdo escrito, isso causa um isolamento cultural, deixando o indivíduo a
parte da sociedade podendo causar constrangimentos e problemas
psicológicos e psicosociais.
38
4. JUSTIFICATIVA
Vivemos em um mundo totalmente letrado, onde ler e escrever é de
extrema importância, o Braille possibilita que o cego seja inserido nesse meio.
O Sistema Braille possibilita o contato direto com a grafia, o que é muito
importante para a compreensão e o emprego das letras, das palavras, do
sistema de pontuação e de acentos, especialmente no caso das pessoas que
nasceram cegas (DIAS, 2014) portanto o Braille possibilita que a pessoa cega
faça parte do mundo da leitura e escrita de forma independente.
Se os alunos cegos, como as outras crianças, forem motivados para a prática normal e constante do seu método de leitura e escrita, a leitura será rápida e tornar-se-á também mais agradável e instrutiva, porque a atenção, menos requerida pelo trabalho de reconhecimento dos caracteres, irá mais em ajuda do pensamento. Ao acabarem de ler, as crianças e jovens cegos terão aprendido alguma coisa e estarão mentalmente dispostos a partir para novas leituras. Ora, é a ler que se ganha e se desenvolve o gosto pela leitura. Só o gosto de ler garante que o processo de aquisição de cultura não se interromperá ao sair da Escola, apesar das vicissitudes do quotidiano. E não se pode ignorar a importância da cultura como factor de integração social, como instrumento de trabalho e como elemento de conscientização na vida das pessoas cegas (BAPTISTA, 2000, p.8)
O Braille também permite que o deficiente visual tenha acesso a
notações científicas, à matemática, notas musicais, leitura de mapas, entre
outros, assim aumentando muito o leque de conhecimento que ele pode ter
acesso.
Com o Braille o cego tem um contato direto com a escrita, isso reflete
diretamente na sua capacidade de interpretação de texto e na qualidade da
escrita, estimula o gosto pela leitura, deficientes visuais usuários de Braille
possuem mais chances no mercado de trabalho
O sistema Braille é essencial para a qualidade de vida do deficiente
visual, por isso seu ensino deve ser estimulado, apesar de ser um sistema
39
simples é um desafio diferente para cada pessoa que aprende e também para
quem ensina.
5. OBJETIVO
Ė inegável a importância do Braille na vida dos deficientes visuais é na
daqueles que convivem com eles, o objetivo do projeto é auxiliar no ensino dos
alunos que estão começando seus estudos em Braille, ele irá atuar nas
primeiras fases do ensino onde o aluno aprende o alfabeto Braille e deve ter
um caráter lúdico para ser amigável para todo tipo de aluno.
6. PÚBLICO-ALVO
O projeto visa atender aqueles que estão iniciando sua alfabetização
em Braille. O ideal para se começar a aprender Braille é na infância, de 5 a 6
anos, para crianças que nasceram com alguma deficiência visual, o mesmo
período de uma alfabetização comum. Além de crianças, a alfabetização em
Braille podem ser feitas por pessoas que perderam a visão em qualquer idade
e também por videntes simpatizantes, no caso mais comum alunos de
graduação que podem vir a dar aula de Braille no futuro.
40
7. ANÁLISE DA TAREFA
Para a análise da tarefa foi observado o exercício de memorização e treino do alfabeto Braille. O exercício foi realizado por uma pessoa vidente e é usado um material improvisado que consiste em uma caixa de sapatos cortada e latas de desodorante, que simulam, respectivamente, a célula Braille e os pontos.
. Figura 19: Caixa de sapatos cortada e latas de desodorante (Fonte: o autor)
O exercício consiste em identificar a letra e colocar as latas na
combinação correta, isso ajuda na memorização e no aprendizado da lógica
do Braille. No exercício o aluno deve observar a letra em um alfabeto Braille
impresso e replicar na caixa de papelão, isso no caso de videntes, para
deficientes visuais a letra a ser replicada é dita pelo professor.
Nesse exercício a pessoa replicou as letras A, B, C, D, E, F, G, H, I e J
que é o conjunto inicial de 10 letras, que só utiliza 4 pontos.
41
Passo-a-passo para formular a Letra B em Braille
Figura 20: Primeiro passo do exercício. (Fonte: o autor)
No 1º passo (Figura 17), a pessoa identifica a letra que quer formar e
pega a primeira lata de desodorante.
Figura 21: Segundo passo do exercício. (Fonte: o autor)
42
No 2º passo (Figura18), a pessoa coloca a lata no buraco corresponde
a letra Braille.
Figura 22: Terceiro passo do exercício. (Fonte: o autor)
No 3º passo (Figura 19), a pessoa pega mais uma segunda lata.
Figura 23: Quarto passo do exercício. (Fonte: o autor)
43
No 4º passo (Figura 20), a pessoa coloca a lata no buraco corresponde
a letra Braille.
Figura 24: Caractere Braille obtido com o exercício e seu correspondente. (Fonte: o autor)
5º passo, final do exercício e resultado.
O exercício completo foi feito em 35 segundos e a pessoas completou as 10 letras de A à J, todas as letras foram feitas como o passo-a-passo acima.
Figura 25: Alfabeto Braille de A à J. (Fonte: o autor)
.
45
8.SISTEMATIZAÇÃO
Neste tópico irei apresentar como o sistema Braille funciona e como é o
primeiro contato do aluno com ele, assim contextualizando o meio em que o
projeto será inserido.
8.1. Como o braille funciona
Mesmo com quase 200 anos desde de seu reconhecimento oficial, o
Braille ainda é considerado o mais completo sistema de linguagem para
pessoas cegas e dito por muitos especialistas como insubstituível.
No Brasil o Braille é definido oficialmente como:
“O sistema de escrita em relevo conhecido pelo nome de "Braille" é
constituído por 63 sinais formados por pontos a partir do conjunto matricial
(123456). Este conjunto de 6 pontos chama-se, por isso, sinal fundamental. O
espaço por ele ocupado, ou por qualquer outro sinal, denomina-se cela braille
ou célula braille e, quando vazio, é também considerado por alguns
especialistas como um sinal, passando assim o Sistema a ser composto com
64 sinais. ” (GRAFIA BRAILLE PARA A LÍNGUA PORTUGUESA, 2006,
pag.17)
46
Figura 27: Representação gráfica do funcionamento da célula Braille.
(Fonte: o autor)
Figura 28: Representação gráfica dos 6 pontos do Braille. (Fonte: o autor)
Com o Sistema Braille podemos formar todos sinais do alfabeto
ocidental, os numerais de 0 a 9, os símbolos que contemplam os sinais de
pontuação e os sinais restantes ficam para as particularidades de cada idioma.
48
Figura 30: Palavra escrita em Braille (Fonte: o autor)
Figura 31: Frase escrita em Braille. (Fonte: o autor)
49
Figura 32: Texto em Braille, trecho de “Navio Negreiro” de Castro Alves. (Fonte: Google Imagens)
O Sistema Braille possui 3 graus:
Grau 1: A palavra é escrita por extenso, letra por letra.
Grau 2: É a forma abreviada, onde são seguidos códigos especiais de
cada idioma, uma lógica parecida com a linguagem de internet. É o grau mais
usado em livros, pois o grau 1 torna o livro mais volumoso.
Grau 3: É formado por um conjunto mais complexo de abreviaturas e
exige um grande grau de conhecimento linguístico do usuário, ele precisa
também ter uma ótima memória e desenvolvimento tátil profundo.
Os caracteres Braille podem ser utilizados em textos de diversos
idiomas, na matemática, na música, em notações científicas, etc.
A escrita à mão do Braille é feita por um conjunto de uma prancha com
reglete e punção. O papel normalmente utilizado é o papel 40kg, mas qualquer
outro papel de gramatura em torno 120g/m² pode ser utilizado.
50
Existem diversos tipos de reglete: de bolso, de mesa e de página inteira.
Apesar das tecnologias atuais, a reglete ainda é muito usada hoje em dia
devido a sua praticidade.
Figura 33: Reglete, punção e prancheta. (Fonte: Google Imagens)
Figura 34: Pessoa escrevendo em Braille com a Reglete e o punção.
(Fonte:http://www.sme.pmmc.com.br/site2011/imagens/caic/pro-escolar/pro-escolar_044.jpg)
51
8.2. Quadros da sistematização
Para entender o ambiente em que o produto será inserido e definir seus requisitos, restrições e metas é preciso definir o sistema-alvo. O sistema-alvo definido é a aula de Braille e tudo que a compõe, no caso alunos, professores e materiais didáticos. As tabelas foram elaboradas de acordo com o livro “Ergonomia - Conceitos e Aplicações” (MORAES, Anamaria de; MONT’ALVÃO, Claudia, 2012, pp. 118-122). Caracterização e posição serial do sistema
(Fonte: o autor.)
54
8.3 Tabela GUT
Os problemas encontrados foram organizados em uma tabela GUT,
assim foi possível descobrir quais problemas exigem maior atenção.
Problemas Gravidade Urgência Tendência GxUxT
Falha na tomada
de informações
5 5 3 75
Falha de
comunicação
5 5 3 75
Risco de se
perder
5 3 2 30
Interpretar
erroneamente
uma informação
4 3 3 36
Obstáculos 3 4 4 48
Risco de
tropeçar/esbarrar
em obstaculos
3 4 2 24
Estresse 4 3 2 18
Isolamento 4 3 2 18
Com os resultados obtidos foi possível observar que os problemas com
maior prioridade para a intervenção foram as falhas na tomada de
informação e de comunicação, logo em seguida veio o problema dos
obstáculos. Os menos pontuados foram os de estresse e isola mento, porém
isso não significa que eles mereçam menos atenção.
55
9. ANÁLISE DE SIMILARES
Para a análise de similares foram pesquisados os produtos mais usado
nas aulas de ensino de Braille, foram avaliados ponto positivos, negativos e
interessantes de cada um deles.
Para essa análise os produtos foram divididos em 2 categorias: uma
categoria com objetos improvisados e outra com produtos encontrados no
mercado.
Objetos improvisados: Similar 1:
Figura 35: Exercício com bambolês. (Fonte: inclusaopontoaponto.blogspot)
Esse método é mais utilizado para turmas mescladas (onde tem cegos
e videntes) ou turmas só de videntes, consiste em bambolês dispostos no chão
simulando uma célula Braille, os alunos entram na área dos bambolês (que
são os “pontos”) formando assim um “caractere Braille”.
56
P: Os bambolês são baratos e de fácil acesso e a dinâmica de usar o
próprio corpo torna o exercício mais lúdico, assim tornando a aula mais
interessante e divertida.
N: Além de serem um quebra-galho, os bambolês também ocupam
bastante espaço no ambiente; o exercício não é adequado para os cegos.
I: Produto muito barato e muito bom para apresentar a lógica do Braille
para videntes.
Similar 2:
Figura 36: Material, feito de sucata, que simula a célula Braille. (Fonte: http://taismarapsicopedagoga.blogspot.com.br/2012/10/alfabeto-braille-
material-sucata.html)
Material feito de papelão recortado e botões usados em roupas. Nesse
produto o usuário deve colocar os botões no devido buraco do papelão assim
formando um caractere Braille.
P: Material muito barato ou sem custo.
N: Feito de sucata, o material não é resistente e nem tem uma longa
vida útil; pode ser facilmente derrubado por empurrões, ventos, etc…
I: -
57
Similar 3:
Figura 37: Material, feito de sucata, que simula a célula Braille.
Muito parecido com o “Similar 2”, material feito de papelão, massa de
modelar e bolinhas de gude. Nesse produto o usuário deve colocar as bolinhas
de gude no círculo formado pela massa de modelar assim formando uma célula
Braille.
P: Material muito barato ou sem custo.
N: Feito de sucata, o material não é resistente e nem tem uma longa
vida útil; as bolinhas de gude são perigosas, principalmente para crianças
pequenas que podem ingeri-las.
I: -
58
Similar 4:
Figura 38: Material feito de sucata, que simula uma célula Braille.
Material feito com caixa de ovos cortada e bolas de plástico, a caixa é
cortada para ter disposição de uma célula Braille, o usuário deve colocar as
bolas no determinado local para formar um caractere Braille.
P: Material muito barato ou sem custo.
N: Feito de sucata, o material não é resistente e nem tem uma longa
vida útil; pode ser facilmente derrubado por empurrões, ventos, etc…
I: Solução bem criativa.
59
Materiais encontrados no mercado Similar 5
Figura 39: Reglete e punção.
A forma mais comum de se escrever em Braille de maneira analógica é
com o reglete e o punção, geralmente vem com uma prancheta de MDF para
apoio, podem ser achados nos tamanhos A4 ou em formato menor.
Preço: entre R$ 157,00 e R$ 38,00
Fonte:https://www.walmart.com.br/reglete-de-mesa-com-puncao-e-
prancheta/4922069/pr?tkSource=buscape&tkOffer=c8601447-59d2-43b5-
ba6f-
18fd095a2f60&dLog=2017110303253&utm_source=buscape_cpa&utm_medi
um=comparadorpreco_cpa&utm_campaign=buscape&utm_term=22253743
P: Totalmente analógico, não necessita de eletricidade ou ajuda de
terceiros.
N: Precisa de um certo nível de desenvolvimento e treinamento para o
uso.
60
I: É um dos primeiros instrumentos criados para a escrita de Braille que
devido a praticidade é usado até hoje.
Similar 6:
Figura 40: Alfabeto em Braille colado em EVA.
Peças feitas em EVA, cada peça representa uma letra Braille.
Preço: R$ 35,00
Fonte:http://www.lojaapoio.com.br/brinquedoseducativos/braille/alfabet
o-braille-colado-em-eva
P: Relativamente barato; fácil de usar.
N: Material frágil; representa apenas o alfabeto deixando de fora os
numerais e os outros sinais.
I: -
61
Similar 7:
Figura 41: Produto “Communicare”
O Communicare é composto por um quadro branco de metal medindo
44 cm por 32 cm. Sobre ele está uma manta magnética da mesma medida
contendo 4 linhas com 10 recortes retangulares em cada linha, formando um
gabarito, uma grade xadrez. Essa grade é laranja, criando assim um contraste
com o fundo branco. Na parte inferior da manta magnética encontram-se uma
célula braille em tinta com a numeração de cada ponto, as letras do alfabeto e
letras acentuadas tanto em tinta quanto em braille (em tinta e em alto relevo).
Acompanha o Communicare um conjunto de 50 imãs circulares de 1,5 cm de
diâmetro com textura na parte superior. Esses círculos são azuis, contrastando
com o fundo branco e a grade laranja. Cabe ressaltar que os retângulos (que
formam as janelas) bem como os círculos (que representam os pontos do
62
braille) possuem uma espessura tal que permitem a percepção tátil bem como
impedem que os círculos deslizem de uma janela para outra.
Esse material pode ser usado para o ensino do Sistema Braille, de
português e de cálculos em braille para videntes e deficientes visuais,
substituindo com isso a necessidade de compra de um equipamento específico
para cada fim.
Preço: R$ 60,00
Fonte: http://www.tece.com.br/produtos.php
P: É um material bem completo, contempla todos os caracteres Braille
N: Não é portatíl; é caro
I: Para além de fins didáticos é também usado como mural de recados.
Similar 8:
Figura 42: Produto “Alpha”
Com o uso da célula Braille, localizada do lado esquerdo do material e
mudando-se a posição dos botões para a posição desejada é possível explicar
o conceito de célula Braille, números e localização dos pontos; conceito de
ponto positivo e negativo; formação das letras e lógica do Sistema Braille.
Preço: R$ 20,00
Fonte: http://www.tece.com.br/produtos.php
63
P: Produto bem intuitivo e apresenta de maneira simples a lógica do
sistema Braille.
N: Peças soltas e pequenas, fáceis de perder e podem ser ingeridas por
crianças pequenas.
I: Design agradavél.
Similar 9:
Figura 43: Produto “Braille Bricks” (Fonte: braillebricks.com)
O Braille Bricks é um projeto experimental criado pela Lew’Lara/TBWA
em parceira com a Fundação Dorina Nowill para Cegos. Consiste em peças de
lego modificadas para que cada peça represente um caractere Braille
diferente,
P: Muito lúdico e bem atraente para crianças.
N: É um projeto experimental e não está disponível para qualquer
pessoa.
I: Uma solução extremamente simples e inteligente para alfabetizar
crianças em Braille.
64
Similar 10:
Figura 44: Produto “Gira-Braille” e o alfabeto Braille ao fundo.
O “Gira-Braille” consiste em 3 quadrados com pontos em relevo em
suas faces, esse quadrados são unidos por um eixo central permitindo girar
os quadrados no sentido horário ou anti-horário, ao gira os quadrados o usuário
consegue representar qualquer caractere Braille.
Preço: R$ 18,00
Fonte: http://www.loja.tece.com.br/gira-braille-aprenda-comunique-se-
e-divirta-se
P: Barato e muito simples de usar, bem portátil permitindo o uso em
qualquer lugar a qualquer hora.
N: É bem pequeno e pode não ser confortável para pessoas com mãos
grandes.
65
I: Foi criado por Evaldo Frederico Ermani, que é deficiente visual, com
objetivo de facilitar a alfabetização em Braille, pois o mesmo teve dificuldades
quando precisou aprender
10.LEVANTAMENTO DE MATERIAIS
Nesta etapa foi feito um levantamento dos materiais que podem ser
usados na fabricação do produto e que respeitam os requisitos de leveza, custo
benefício e confortabilidade estabelecidos na modelagem verbal.
O material escolhido foi o plástico pois é o que melhor atende os
requisitos, é utilizado em diversos tipos de produtos devido a fatores como alta
durabilidade, baixo consumo de energia e facilidade de transporte e
processamento.
A seguir feito feita uma lista dos tipos de plásticos que podem ser
usados:
PET: poli (tereftalato de etileno)
Polietileno tereftalato, ou PET, é um plástico formado pela reação entre
o ácido tereftálico e o etileno glicol. O plástico PET normalmente compõe
frascos e garrafas para uso alimentício/hospitalar, cosméticos, bandejas para
microondas, filmes para áudio e vídeo e fibras têxteis. É um material muito
utilizado por ser transparente, inquebrável, impermeável e leve. Por ser um
termoplástico, o PET é reciclável. A desvantagem é que o PET é feito a partir
do petróleo - uma fonte não renovável - e, quando misturado a outros tipos de
materiais, como fibras de algodão - no caso das roupas de PET - a sua
reciclagem fica inviabilizada. (ECYCLE, 2017)
66
Figura 45: Garrafas PET (Fonte: Google imagens)
PEAD: polietileno de alta densidade
O polietileno de alta densidade, ou PEAD, está presente em
embalagens de detergente e óleos automotivos, sacolas de supermercados,
garrafeiras, tampas, tambores para tintas, potes, utilidades domésticas, entre
outros. É um material plástico muito utilizado por ser inquebrável, resistente a
baixas temperaturas, leve, impermeável, rígido e com resistência química. Por
ser um termoplástico, o PEAD é reciclável. Ele pode ser obtido a partir do
petróleo ou de fontes vegetais, quando ocorre o último caso ele é chamado de
plástico verde. (ECYCLE, 2017)
Figura 46: Galão. (Fonte: Google Imagens)
67
PVC
O plástico PVC, ou melhor dizendo, policloreto de polivinila, é muito
encontrado em embalagens para água mineral, óleos comestíveis, maioneses,
sucos, perfis para janelas, tubulações de água e esgoto, mangueiras,
embalagens para remédios, brinquedos, bolsas de sangue, material hospitalar,
entre outros. Ele é muito utilizado por ser rígido, transparente, impermeável,
resistente à temperatura e inquebrável.
O PVC é formado por 57% de cloro (derivado do sal de cozinha) e 43%
de eteno (derivado do petróleo).(ECYCLE, 2017)
Figura 47: Cano de PVC. (Fonte: Google imagens)
PP: polipropileno
Tem como características conservar o aroma, ser inquebrável,
transparente, brilhante, rígido e resistente a mudanças de temperatura. É muito
utilizado em filmes para embalagens e alimentos, embalagens industriais,
cordas, tubos para água quente, fios e cabos, frascos, caixas de bebidas,
68
autopeças, fibras para tapetes e utilidades domésticas, potes, fraldas e
seringas descartáveis, etc.
O PP possui uma variação chamada BOPP, plástico metalizado de
difícil reciclagem, usual em embalagens de salgadinhos e biscoitos.
Figura 48: Seringa descartável. (Fonte: Google Imagens)
PS: poliestireno
O poliestireno, utilizado em potes para iogurtes, sorvetes, doces,
frascos, bandejas de supermercados, geladeiras (parte interna da porta),
pratos, tampas, copos descartáveis, aparelhos de barbear descartáveis e
brinquedos é uma resina do grupo dos termoplásticos. As características
principais do poliestireno são leveza, capacidade de isolamento térmico, baixo
custo, flexibilidade, e a moldabilidade sob a ação do calor, que o deixa em
forma líquida ou pastosa.
69
Figura 49: Pote de sorvete. (Fonte: Google imagens)
PLA
O plástico PLA é obtido a partir do ácido lático obtido a partir da
fermentação do amido de beterraba, mandioca, entre outros. É compostável,
biodegradável (mecânica e quimicamente), biocompatível e bioabsorvível. O
plástico PLA pode ser utilizado em copos, recipientes, embalagens de
alimentos, sacolas, pratos descartáveis, garrafas, canetas, bandejas,
filamentos de impressora 3D e outros. O problema é que, como no caso dos
filamentos de impressoras 3D, ele acaba sendo misturado a outros tipos de
plásticos, o que inviabiliza a reciclagem.
Figura 50: Filamento de PLA. (Fonte: Google Imagens)
70
11.MODELAGEM VERBAL
Depois de feita a análise do sistema em que o produto irá atuar e dos
similares, foram estabelecidos critérios que os seguintes critérios, que o
produto irá atender:
O produto será bem intuitivo, o usuário deve saber usá-lo com
poucas ou nenhuma instrução.
O usuário deve se sentir confortável ao usar o produto, portanto ele será feito de material que não irrite ou machuque na hora do manuseio.
Deve ser feito de material barato, para ser acessível para todos
e ser de fácil reposição ou manutenção.
O produto deverá simbolizar/formar os caracteres braille respeitando a lógica e regras do sistema.
71
12.GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS
Nessa etapa é apresentado os rascunhos de diversas alternativas pensadas para o formato e funcionalidade do projeto. Para gerar essas alternativas foram considerados dois principais pontos: o caráter lúdico e o respeito a lógica do Braille.
Alternativa 1:
Figura 51: Esboço da “Alternativa 1” (Fonte: o autor)
Foi pensada como um teclado braille mecânico, é um retângulo dividido
em várias células braille em que os pontos de preenchimento são botões que
se elevam ou retraem quando apertados.
72
Alternativa 2:
Figura 52: Esboço da “Alternativa 2”. (Fonte: o autor)
Consiste em um baralho com diversas ilustrações com seus respectivos
nomes gravadas em alto-relevo, tem como objetivo treinar palavras básicas.
73
Alternativa 3:
Figura 53: Esboço da “Alternativa 3”. (Fonte: o autor)
Consiste em uma espécie de dominó com pontos em relevo, onde se pode combinar varias peças e formar diversas palavras.
74
Alternativa 4:
Figura 54: Esboço da “Alternativa 4”. (Fonte: o autor)
Baseada em peças de lego essa alternativa consiste em um conjunto
de células individuais onde os pontos de preenchimento que se elevam ou
retraem quando apertados, podendo assim formar os caracteres Braille.
75
Alternativa 5:
Figura 55: Esboço da “Alternativa 5”. (Fonte: o autor)
É uma espécie de teclado, que tem a mesma disposição dos teclados
tradicionais de braile, em que é ligado a uma série de células que levantam
pontos, assim formando caracteres Braille.
76
13. DETALHAMENTO DA ALTERNATIVA ESCOLHIDA
A alternativa escolhida foi a de número 4, pois é a que melhor atende
aos requisitos propostos, é uma alternativa que tem o caráter lúdico, possui um
design familiar e agradável, o uso é bem intuitivo e principalmente serve a
função de representar a célula Braille e de acordo com as regras do sistema.
Figura 56: Esboço da alternativa escolhida. (Fonte: o autor)
O projeto é pensado para auxiliar aqueles que estão iniciando no ensino
de Braille, pode ser usado por qualquer tipo de pessoas, sejam elas deficientes
visuais ou não.
O sistema consiste em um mecanismo composto por 6 botões de
pressão, cada botão representando um ponto da célula braille. Apertando os
botões é possível fazer diversas combinações que representam algum
caractere braille.
77
Figura 57: Ilustração ensinando o funcionamento do produto. (Fonte: o autor)
Produto é formado por 3 partes principais:
A Base: Representa a célula Braille, é parte do produto que irá conter
todas as outras partes.
Os Botões: Representam os pontos da célula Braille.
Orientação: É um ponto protuberante presente na parte de cima da
célula, tem como função orientar o usuário o lado correto para se ler o
caractere Braille.
Figura 58: Rendering detalhando as principais partes do projeto. (Fonte: o autor)
78
Como funciona
Figura 59: Ilustração do produto, do caractere Braille e da letra
correspondente. (Fonte: o autor)
Pode-se combinar peças para formar palavras.
Figura 60: Ilustração de uma palavra formada com o produto. (Fonte: o autor)
79
13.1 análise de mecanismos
Depois de detalhar a alternativa escolhida, é hora de pensar na
fabricação do protótipo. As peças-chaves do produto são os botões retráteis,
sem eles o produto perde sua função.
Figura 61: Desenho-detalhe ilustrando o funcionamento do botão. (Fonte: o
autor)
Nesta etapa foi feito um levantamento dos tipos de mecanismos que
melhor cumprem a função de “clicar-retrair e clicar-levantar”, necessária para
o funcionamento dos botões.
80
Retractable pen mechanism
Figura 62: Mecanismo de canetas retráteis. (Fonte: Youtube - How a
Retractable Ballpoint Pen Works)
Figura 63: Posições do mecanismo (Fonte: Youtube - How a Retractable
Ballpoint Pen Works
81
Figura 64: Partes do mecanismo. (Fonte: Youtube - How a Retractable
Ballpoint Pen Works) Mecanismo bem complexo, apesar de pequeno é composto por diversas peças (4 peças + 2 Molas) que precisam ser bem alinhadas e trabalharem de forma precisa, é o mecanismo encontrado em canetas retráteis, ao apertar o botão a ponta da caneta sai da capa de plástico, ao apertar novamente a ponta se retrai.
82
Push-Push button mechanism
Figura 65: Mecanismo push-push button retraído. (Fonte: Youtube - Push-
push button 1)
Figura 66: Mecanismo push-push button elevado. (Fonte: Youtube - Push-
push button 1)
O “push-push button” tem o mecanismo relativamente mais simples que
o da caneta retrátil, usando apenas uma mola ele usa um princípio de
“caminho” onde o botão tem 2 estados de repouso. É normalmente encontrado
em peças eletrónicas e peças para móveis planejados.
83
O mecanismo pode ter formatos diferentes, mas a funcionalidade é a
mesma.
Figura 67: Fecho toque magnético para móveis. (Fonte: O autor)
Figura 68: Exemplo formato alternativo para o mecanismo. (Fonte: Youtube -
Push-push button 2)
84
Depois de analisar os mecanismos, foi escolhido o mecanismo “push-
push”, para integrar o projeto, por ser mais simples de fabricar e por sua
flexibilidade de formato.
13.2. Análise de materiais
PLA
O material escolhido para a fabricação do protótipo é o plástico PLA, é um
dos materiais mais utilizados para a impressão 3D devido ao seu custo-
benefício e durabilidade. O PLA é atóxico, o que é importante pois é um
produto que será bastante manipulado, e é disponível em diversas cores.
Figura 69: Peça feita em PLA. (Fonte: http://cammada.com/materiais)
O plástico PLA é obtido a partir do ácido lático obtido a partir da
fermentação do amido de beterraba, mandioca, entre outros. É compostável,
biodegradável (mecânica e quimicamente), biocompatível e bioabsorvível. O
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plástico PLA pode ser utilizado em copos, recipientes, embalagens de
alimentos, sacolas, pratos descartáveis, garrafas, canetas, bandejas,
filamentos de impressora 3D e outros. O problema é que, como no caso dos
filamentos de impressoras 3D, ele acaba sendo misturado a outros tipos de
plásticos, o que inviabiliza a reciclagem.
Figura 70: Filamento de PLA. (Fonte: Google Imagens)
86
13.3. Processo de fabricação
Para a fabricação do protótipo foi escolhido o processo de impressão
3D, devido ao fácil acesso ao equipamento, ao custo relativamente acessível
e a facilidade de encomendar poucas unidades.
Impressão 3D
A impressão 3D, também conhecida como fabricação aditiva, é o
processo pelo qual objetos físicos são criados pela deposição de materiais em
camadas, com base em um modelo digital. Todos os processos de impressão
3D requerem o trabalho conjunto de software, hardware e materiais
(AUTODESK, 2016).
Figura 71: Projeto modelado em 3D e projeto impresso em 3D. (Fonte:
Tecmundo)
O material vem em forma de filamento (como se fosse uma linha plástica
grossa em um grande carretel) que passa por um sistema que vai aquecendo
esse plástico até que ele amoleça o suficiente para passar no bico extrusor, e
87
quando encosta na mesa (plataforma na impressora que faz o suporte da
impressão) ele começa a resfriar rapidamente e volta a endurecer,
solidificando o seu objeto. É o bico extrusor que se move e vai garantir que
material será posicionado no lugar exato, fazendo isso camada por camada
até que o seu modelo se materialize (CAMMADA, 2016).
Figura 72: Impressora 3D e projetos impressos.
(Fonte:https://misteriosdomundo.org/wp-content/uploads/2016/03/impressora-3d-652x408.jpg)
88
Injeção Plástica
Para uma fabricação em grande escala, a impressão 3D não é a
alternativa mais viável, portanto o ideal seria o processo de injeção plásticas
que permite a confecção de produtos de boa qualidade e com um bom custo-
beneficio.
A Moldagem por injeção é um método de fabricação de peças de plástico.
Pelotas ou grânulos de plástico são colocados em um funil grande, que
alimenta com os grânulos uma câmara aquecida. A câmara derrete os grânulos
e injeta o plástico liquefeito em uma variedade de moldes, onde o plástico esfria
e endurece na forma apropriada. (MECANICAINDUSTRIAL, 2011)
Uma vez que o plástico tenha arrefecido, a peça é retirada do molde.
Plásticos em excesso são raspados e reciclados, e a peça acabada é polida e
limpa. A moldagem por injeção ocorre em grandes máquinas, e os moldes
necessários são comprados de fabricantes de ferramentas especiais, que
constroem os moldes em aço ou alumínio. (MECANICAINDUSTRIAL, 2011)
Figura 73: Exemplode peças feitas por injeção plástica. (Fonte: http://www.cswsp.com.br/injecao-termoplasticos)
89
14.PROJETAÇÃO ERGONOMICA
Para que o produto funcione, ele deve atingir sua função de representar
caracteres Braille e o usuário os reconheça, para que isso ocorra o projeto
precisa atingir os seguintes requisitos:
- Os botões devem funcionar da maneira correta (Levantado e retraido);
- O caractere Braille formado, deve ser reconhecivél ao toque.
Dimensões Relevantes
Requisitos da Tarefa Dimensões Relevantes
O usuário deve segurar o produto
com as mãos
Dimensões devem caber de maneira
confortavél nas mãos
O usuário deve acionar os botões
com os dedos
O acionamento dos botões deve sera
o alcance dos dedos
População usuária
Projeto População usuária
Sistema de auxílio ao ensino de
Braille
Homens e mulheres, adultos ou
crianças
90
Porcentagem (%) da população acomodada
Neste estudo foi usado o sistema antropométrico Dreyfuss com base no
livro “As medidas do Homem e da Mulher: Fatores humanos em design”.
Para a projetação foi levado em conta as medidas da mão da menor
mulher (Percentil 1) e da mão do maior homem (Percentil 50).
Figura 74: Estudos antropométricos da mãos. (Fonte: Dreyfuss, Henry)
A projetação ergonômica serviu para determinar se as dimensões do
produto se encaixariam de maneira confortavél a mão do usuário, foram
utilizadas dimensões confortavéis para a menor mão da mulher e para a maior
mão de homem, devido à abrangência do usuário.
91
15.CONSTRUÇÃO DE MODELOS E TESTES
15.1. Modelos virtuais
Figura 75: Modelo Virtual do projeto. (Fonte: o autor)
Figura 76: Vista explodida do modelo. (Fonte: o autor)
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Figura 77: Modelo virtual da tampa. (Fonte: o autor)
Figura 78: Modelo virtual da base. (Fonte: o autor)
93
Figura 79: Modelo virtual do botão. (Fonte: o autor)
Figura 80: Modelo virtual do mecanismo. (Fonte: o autor)
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15.2. Modelos físicos
Os primeiros modelos foram construídos em papel e serviram para
testar as dimensões do produto.
Figura 81: Primeiros modelos construídos em papel. (Fonte: o autor)
Figura 82: Modelo construído em papel couro. (Fonte: o autor)
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15.3 Primeiro teste
No primeiro teste foi utilizado o modelo de papel couro, de dimensões ¨60mmx90mmx30mm. O objetivo do primeiro teste era descobrir se a pega do produto se mostra confortável para diferentes tamanhos de mão.
Figura 83: Validação: menor mão de mulher. (Fonte: o autor)
Figura 84: Validação: maior mão de homem. (Fonte: o autor)
Com o teste, pode-se observar que o modelo tem uma boa pega e ficou
confortável na mão dos usuários.
96
15.4 Segundo teste
O segundo teste foi realizado com um modelo impresso em 3D, essa etapa teve 2 objetivos: testar o material (PLA) e testar um dos requisitos do projeto, a intuitividade.
Figura 85: Modelo impresso em 3D. (Fonte: o autor)
Para o teste de intuitividade o modelo foi dado para uma estudante da UFF que é cega de nascença, não foi dito para o que servia o projeto e esperava-se que a usuária percebesse do que se tratava o produto, sem receber instruções sobre.
Figura 86: Usuária reconhecendo o modelo. (Fonte: o autor)
O teste foi um sucesso, pois a usuário reconheceu, rapidamente, que o projeto representava uma célula Braille.
97
15.5 Modelo final
Depois dos primeiros testes e testes preliminares, chegou a hora de
produzir um modelo com todas as suas peças: tampa, base, botão e
mecanismo.
Esse modelo também foi feito em impressora 3D.
Figura 87: Peças sendo impressas na impressora 3D. (Fonte: O autor)
102
Figura 96: Botões dispostos na base. (Fonte: o autor)
Figura 97: Produto sendo montado. (Fonte: o autor)
104
15.6 Validação
A primeira validação foi feita com um homem vidente, foi dado a ele o
produto já montado e dado as instruções de uso, ele foi orientado a reproduzir
um caractere Braille.
Figura 99: O usuário segura o produto. (Fonte: o autor)
105
Figura 100: O usuário identifica o lado correto do produto pelo “orientador”.
(Fonte: o autor)
Figura 101: Usuário pressiona os botões 1 e 2. (Fonte: o autor)
106
Figura 102: Usuário pressiona os botões 1, 2 e 3. (Fonte: o autor)
Figura 103: Peça representando a letra “F” em Braille.
107
A segunda validação foi feita com uma mulher deficiente visual, foi
dado a ela o produto já montado e dado as instruções de uso, ela foi orientada
a reproduzir um caractere Braille.
Figura 104: A usuária segura o produto. (Fonte: o autor)
Figura 105: A usuária identifica o lado correto do produto pelo “orientador”.
(Fonte: o autor)
108
Figura 106: A usuária pressiona o botão 1. (Fonte: o autor)
Figura 107: A usuária pressiona o botão 6. (Fonte: o autor)
109
Figura 108: A usuária pressiona o botão 5. (Fonte: o autor)
. Figura 109: A usuária identifica o caractere Braille. (Fonte: o autor)
110
Como foi possível observar, o produto funcionou bem e os dois usuários
conseguiram realizar o exercício proposto. O produto atendeu aos seus
requisitos e funcionalidades, a pega foi confortável para esses usuários e tanto
o orientador e os botões serviram as suas funções.
111
16. CONCLUSÃO
Trabalhar com tecnologia assistiva é sempre um desafio, pesquisar e
buscar entender a vida e as particularidades dos deficientes visuais foi uma
ótima experiência, que será útil para a vida e não somente durante o período
do TCC.
Para o desenvolvimento desse projeto, foi preciso utilizar todo o
conhecimento adquirido durante esses anos de faculdade, depois de muita
pesquisa, análises, conversas com professores e deficientes visuais foi
idealizado e projetado o Sitema de Auxilo para o ensino de Braille, um produto
que tem como objetivo tornar o método de aprendizado do sistema Braille mais
simples e dinânimo, ajudando, assim, aqueles que precisam e/ou querer
aprender esse sistema.
Apesar de alguns problemas no seu desenvovimento, principalmente
relacionados ao mecanismo do botão, o projeto atendeu as suas
funcionalidades de manera satisfatória e obteve avaliação positiva daqueles
que o utilizaram.
Não é possível, por hora, saber se o sistema é 100% efetivo na
alfabetização em Braille, para isso seria preciso mais testes com uma amostra
maior de pessoas e por um período maior de tempo, porém acredito que o
produto obteve sucesso no que se propôs e poderia facilmente ser usado
durante uma aula de Braille por professores e alunos.
112
17. REFERÊNCIAS
BAPTISTA, José. A invenção do Braille e a sua importância na vida dos cegos.
Portugal, 2000
CERQUEIRA Jonir Bechara. Grafia Braille para a língua portuguesa.
Brasil.Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial, 2006.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/pet/192-secretarias-112877938/seesp-
esducacao-especial-2091755988/12670-grafia-braille-para-a-lingua-
portuguesa
DOMINGUES, Celma. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão
Escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; [Fortaleza]:
Universidade Federal do Ceará, 2010.
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2016.Disponívelem:https://www.fundacaodorina.org.br/afundacao/deficiencia-
visual/estatiticas-da-deficiencia-visual/. Acessado em 29/11/2017.
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em:http://proavirtualg28.pbworks.com/w/page/18670719/ESTRAT%C3%89GI
AS%20DO%20ENSINO%20DE%20ALFABETIZA%C3%87%C3%83O.
Acessado: 30/11/2017
FURRER, Maria. Tipos de barreiras. In: Acessibilidade na prática, 2012.
Disponível em: http://www.acessibilidadenapratica.com.br/textos/tipos-de-
barreiras/. Acessado em: 10/11/2017.
113
GABAGLIA, Leonard. Alfabetização de alunos usuários do sistema Braille. In:
Laboratório de acessibilidade, 2012. Disponível em:
http://www.todosnos.unicamp.br:8080/lab/alfabetizacao-de-alunos-usuarios-
do-sistema-braille/. Acessado em: 29/11/2017.
LIMA, Thalita. A Importância do letramento escolar para a criança cega. In:
revista Caminhos em Linguística Aplicada, Vol.3, 2010, p. 108-120.
MAXUEL. A criança cega e o sistema Braille. Rio de Janeiro, PUC. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8602/8602_3.PDF. Acessado em: 13/09/2017 MORAES, Anamaria de; MONT’ALVÃO, Cláudia. Ergonomia: Conceitos e aplicações. Teresópolis: Editora 2AB, 2012
SANTOS, Vivian; PEREIRA, Amanda; ZOREL, Paulo; COSTA, Ailton;
ALMEIDA, Maria; DUARTE, Marcia. Meios de acesso à literatura para pessoas
com cegueira: Braille ou Áudio-livro? In: Revista Educação Especial, Vol. 29,
p.337-350.
Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/index.php/educacaoespecial
VIEIRA, Edilene. A importância do (re) conhecimento do Sistema Braille para a humanização das políticas públicas de Inclusão. Brasil: Univ. do Porto, 2011.