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EXISTE DOENA HOLANDESA NO BRASIL ?
Nelson Marconi
Escola de Economia de So Paulo da Fundao Getlio Vargas e
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, verso de maro de
2007.1
Sub-rea 2.3: Economia Brasileira Contempornea
A taxa de cmbio vem sofrendo uma apreciao significativa em
termos reais
desde o incio de 2003 e mesmo assim a receita de exportaes
continua evoluindo
favoravelmente, ainda que a taxas menores mais recentemente, bem
como o saldo da
balana comercial se mantm elevado. Este artigo procurar
demonstrar que este um
cenrio tpico de ocorrncia de doena holandesa, da qual sofre o
Brasil e que se
agravou em funo desta valorizao cambial. Apesar de a doena
holandesa que afeta a
economia brasileira ser menos intenso que a observada em pases
cuja produo
especializada em uma ou poucas commodities que geram expressivas
rendas
ricardianas, sua conseqncia poder ser um processo de
desindustrializao caso o
atual patamar da taxa de cmbio seja mantido.
A TAXA DE CMBIO REAL E O COMPORTAMENTO RECENTE
DO COMRCIO EXTERIOR BRASILEIRO
As exportaes brasileiras vm crescendo desde 2000, mas tal evoluo
se
intensificou a partir de 2003, conforme pode se observar na
tabela 1. Enquanto o
crescimento acumulado das vendas externas brasileiras no perodo
de 2003 a 2007
atingiu 166%, as exportaes mundiais evoluram 115%, o que elevou
a nossa
participao no comrcio mundial. Mesmo com a elevao expressiva das
importaes,
o pas conseguiu manter a tendncia de crescimento do saldo da
balana comercial, que
sofreu uma reduo apenas em 2007, ainda que o patamar alcanado
permanea
bastante elevado (US$ 40 bilhes). O Brasil aumentou ligeiramente
o seu grau de
abertura econmica (tabela 2) e, o que relevante, no somente
atravs do aumento das
1 Agradeo os comentrios de Luiz Carlos Bresser Pereira e o
auxlio na elaborao e anlise dos dados de Felipe Scudeler Salto. Os
erros e omisses so de exclusiva responsabilidade do autor.
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importaes, mas tambm da sua participao nas exportaes mundiais
(que cresceu
22,9% de 2002 a 2007).
Este cenrio ocorreu a despeito do comportamento da taxa de
cmbio, que
comeou a apresentar uma tendncia declinante, em termos reais,
justamente a partir de
2003 e que assim vem se mantendo at hoje (vide grfico 1),
situando-se atualmente
prxima aos patamares do perodo de crise do setor externo da
dcada passada. A
mesma tendncia (ainda mais acentuada) pode ser observada para a
relao cmbio-
salrios, que se constitui em um relevante indicador de
competitividade do setor
exportador, principalmente para as indstrias que so intensivas
em mo-de-obra.
Porm, a presente situao do balano de pagamentos completamente
distinta da
observada naquela poca: no se avista, no curto prazo, a
possibilidade de atingirmos
um dficit em conta corrente semelhante ao que foi registrado
entre1997 e 2001, em
torno de 4% do PIB. 2,3
TABELA 1 - INDICADORES AGREGADOS DE COMRCIO EXTERIOR
var % em relao ao ano anterior
Exportaes Importaes Balana Exportaes Taxa de cmbio Taxa
nominal
comercial mundiais real efetiva (mdia) * de cmbio - venda
(mdia)
2000 14,7 13,4 41,8 12,8 -7,2 1,1
2001 5,7 -0,4 478,9 -4,2 19,2 28,4
2002 3,7 -15,0 397,2 4,6 1,1 24,3
2003 21,1 2,2 89,1 16,8 1,2 5,5
2004 32,0 30,1 35,7 21,5 -3,9 -4,9
2005 22,6 17,2 32,9 13,9 -18,2 -16,8
2006 16,5 24,2 3,8 17,0 -9,7 -10,7
2007 16,6 32,0 -13,8 13,9 -7,2 -11,4
Fonte: Funcex; Para as exportaes mundiais, Secex (Sec. Comrcio
Exterior do Min. do Desenvolvimento),
a partir de dados do FMI e da OCDE (2007 - previso FMI, out)
2 Para o clculo da taxa de cmbio efetiva real, so utilizados
como deflatores o IPC-DI da FGV e a mdia do IPC de 13 pases
parceiros comerciais do Brasil. A ponderao definida pela participao
de cada um deles na corrente de comrcio com o Brasil. A relao cmbio
/ salrios definida pela diviso entre o ndice de salrios mdios
nominais da FIESP e a mdia ponderada da taxa de cmbio entre o real
e as moedas de 16 pases selecionados da pauta de exportaes
brasileiras. A primeira calculada pela Funcex e a segunda pelo
IPEA. 3 A elevao da produtividade no foi suficiente para compensar
esta apreciao da moeda nacional. O ndice da taxa real de cmbio
corrigida pela produtividade e calculada pelo BACEN declinou em
todos os anos a partir de 2003, sendo que a queda entre 2002 e 2007
foi de 53,3%. A srie e a sua metodologia de clculo se encontram nos
Indicadores Econmicos, divulgados pelo BACEN, tabela V.36.
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Grfico 1INDICE DA TAXA DE CMBIO EFETIVA REAL E DA RELAO CMBIO /
SALRIOS
mdia 2000 = 100, fonte: Funcex e IPEA
40
60
80
100
120
140
160
180
jan
-92
jan
-93
jan
-94
jan
-95
jan
-96
jan
-97
jan
-98
jan
-99
jan
-00
jan
-01
jan
-02
jan
-03
jan
-04
jan
-05
jan
-06
jan
-07
tx cmbio real cmbio / salrios
TABELA 2 - INDICADORES AGREGADOS DE COMRCIO EXTERIOR E RENDA
var % em relao ao ano anterior
Grau de Part % Crescimento do Crescimento do
abertura Export Brasil na PIB brasileiro * PIB mundial
econmica Export Mundial
2000 17,2 0,88 4,3 4,8
2001 20,6 0,97 1,3 2,5
2002 21,3 0,96 2,7 3,1
2003 21,9 0,99 1,1 4,0
2004 24,0 1,08 5,7 5,3
2005 21,7 1,16 3,2 4,8
2006 21,4 1,15 3,8 5,4
2007 1,18 5,2 5,2
Fonte: Secex (Sec. Comrcio Exterior do Min. do Desenvolvimento),
IBGE Para as exportaes mundiais e PIB mundial, FMI e OCDE (2007 -
previso FMI, out)
* 2007, previso IPEA (dezembro/2007)
O quadro descrito atpico porque, se analisarmos a relao entre a
taxa de
cmbio real e da balana comercial, as duas sries tendem a
apresentar tendncia
semelhante e assim foi no Brasil entre 1992 e 2003 (grfico 2).
Entre 2004 e 2006 o
comportamento das duas foi oposto e apenas a partir de 2007
passaram a novamente
oscilar na mesma direo. Confirmando esta inverso, a correlao
entre taxa de cmbio
real e exportaes (seja considerando seu valor ou o ndice de
quantum) teve seu sinal
alterado, tornando-se negativo no perodo 2003-2007 (tabela 3). O
sinal da correlao
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4
entre ndice de quantum e preos tambm se altera neste perodo,
tornando-se positivo,
indicando que um dos possveis responsveis por esse comportamento
aparentemente
contraditrio da relao entre taxa de cmbio e saldo da balana
comercial o
crescimento da demanda mundial. De fato, a tabela 2 mostra que o
crescimento do PIB
mundial foi superior ao brasileiro no perodo4.
Grfico 2INDICE DA TAXA DE CMBIO REAL EFETIVA (mdia 12 meses, dez
2003 = 100)
Deflatores: IPC-DI da FGV e IPC de 13 pases (mdia ponderada pela
corrente de comrcio)BALANA COMERCIAL ACUMULADA EM 12 MESES (US$
milhes)
Fonte: Funcex
-20.000
-10.000
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
jan
/92
jan
/93
jan
/94
jan
/95
jan
/96
jan
/97
jan
/98
jan
/99
jan
/00
jan
/01
jan
/02
jan
/03
jan
/04
jan
/05
jan
/06
jan
/07
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Balana comercial Taxa de cmbio real
TABELA 3: CORRELAO ENTRE TAXA DE CMBIO, EXPORTAES E
IMPORTAES
Correlao Exportaes Importaes
1999-2002 2003-2007 1999-2002 2003-2007
Taxa real de cmbio x Valor 0,56 -0,88 -0,10 -0,85
Taxa real de cmbio x Ind. Quantum 0,63 -0,94 -0,06 -0,80
Ind. Quantum x Ind. Preos -0,40 0,78 0,00 0,89
Fonte: Funcex. Os clculos foram elaborados a partir das sries
mensais
O aumento das vendas externas aliado ao ingresso de recursos
financeiros (dada
a poltica monetria vigente no perodo) contribuiu para reduzir a
taxa real de cmbio,
mas a forte demanda externa possibilitou a manuteno das
exportaes brasileiras em
4 Dado que a tendncia de queda da taxa de cmbio e o movimento
atpico da relao entre esta varivel e a balana comercial se
iniciaram em 2003, definimos que um dos parmetros de comparao
relevantes neste artigo o comportamento das sries de dados no ano
de 2002.
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um patamar bastante favorvel5. O crescimento da demanda externa
possibilitou,
inclusive, o aumento das importaes (que tambm decorreu deste
comportamento da
taxa de cmbio; ainda que no indique sentido de causalidade, a
correlao negativa
entre taxa de cmbio real e valor e quantum das importaes
torna-se altssima no
perodo 2003-2007). Assim, o recente desempenho de nossa balana
comercial est
fortemente associado ao crescimento da economia mundial. 6
De fato, a anlise das quantidades e preos das vendas e compras
externas
(tabela 4) mostra que, no caso das exportaes, ambos se elevaram
de 2003 para frente,
indicando uma situao caracterstica de aquecimento da demanda. No
acumulado entre
2003 e 2007, a evoluo dos dois indicadores foi muito semelhante
(64 e 62%,
respectivamente).
TABELA 4 - INDICADORES DE QUANTUM E PREOS DO COMRCIO
EXTERIOR
var % das mdias anuais em relao ao perodo anterior
Quantum das Preo de Quantum de Preo das Comrcio
exportaes exportaes importaes importaes mundial
(em volume, var %) *
2000 11,1 3,3 13,2 0,1 12,8
2001 9,5 -3,5 2,9 -3,3 -0,5
2002 8,6 -4,5 -12,2 -3,2 3,7
2003 15,7 4,7 -3,6 6,1 6,4
2004 19,1 10,9 18,3 9,9 10,9
2005 9,4 12,1 5,4 11,2 7,4
2006 3,3 12,5 16,1 6,9 9,3
2007 5,5 10,5 22,0 8,2 6,3
Fonte: Funcex, FMI e OCDE
* 2007, previso FMI (outubro)
Entretanto, nota-se que a tendncia do ndice de quantum
declinante, enquanto
a do ndice de preos estvel e a variao significativa (em torno de
10% ao ano).
5 Entre 2003 e 2005, o saldo acumulado da balana comercial foi
de US$ 103,3 bilhes, enquanto o saldo da conta financeira do balano
de pagamentos foi deficitrio em 13,4 bilhes. J entre 2006 e 2007, o
saldo comercial acumulado atingiu US$ 86,5 bilhes, enquanto o da
conta financeira chegou a US$ 103,4 bi. Logo, ambos fatores
contriburam para a apreciao cambial ocorrida no perodo. 6 O ndice
de demanda externa, calculado pela Funcex como a mdia ponderada das
variaes mensais das importaes dos principais pases de destino das
exportaes brasileiras, e que portanto mensura como se comporta a
demanda por produtos externos nos pases que mais compram nossos
produtos, cresceu 107,5% de 2003 a 2006 e 29% nos doze meses
encerrados em novembro de 2007 (valores mdios em cada perodo),
confirmando a tendncia de evoluo das exportaes mundiais.
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6
Assim, a evoluo atual de nossas exportaes est muito mais
associada s variaes
de preos que da quantidade vendida. Para as importaes, ocorre o
contrrio: a
evoluo do ndice de quantum superior dos preos, sendo inclusive
maior que o
crescimento do volume de comrcio mundial. Uma reduo do nvel de
atividade
mundial provocar variaes no preo dos produtos cujo comportamento
seja pr-
cclico e possivelmente afetar mais nossas exportaes que as
importaes, ao menos
em um primeiro momento.
TAXA DE CMBIO, DOENA HOLANDESA E INDUSTRIALIZAO
Alm de observarmos a evoluo do comrcio exterior de modo mais
agregado,
uma anlise da composio da pauta de produtos exportados e
importados pode fornecer
importantes indicadores do impacto do atual cenrio do comrcio
exterior brasileiro
sobre o processo de desenvolvimento econmico do pas.
H uma vasta discusso sobre os setores que podem gerar um estmulo
maior, ou
um efeito multiplicador mais amplificado, sobre a produo e o
crescimento da renda
per capita. Kaldor foi um dos pioneiros a analisar de modo mais
detalhado o impacto da
industrializao neste processo7. Segundo o autor, existiria uma
forte relao causal
entre o crescimento do setor manufatureiro e da produtividade da
economia como um
todo, pois a indstria operaria com rendimentos de escala
crescentes, dado o progresso
tecnolgico associado, as externalidades geradas e os
encadeamentos na cadeia
produtiva que ocorrem neste setor, o que aumentaria a sua
capacidade de gerar
empregos e a produtividade de outros setores da economia que no
seriam to
dinmicos como a indstria, ao absorver mo-de-obra neles alocada
(por exemplo, na
agricultura, minerao e servios com menor grau de intensidade
tecnolgica) e
possibilitar a difuso de tecnologia. A indstria seria, assim, o
setor com maior
capacidade de propulsar o crescimento da produtividade e do
emprego (dados seus
rendimentos crescentes de escala) e, por conseqncia, da renda
per capita do pas.8 Em
uma etapa posterior do desenvolvimento, esta capacidade se
reduz, pois a oferta de
7 H uma extensa lista de autores que discutem o tema. Citando
apenas alguns, temos Verdoorn (1951), Rowthorn e Ramaswamy (1999),
Palma (2004) e Thirlwall (2005). 8 A lei de Verdoorn afirma que h
uma forte relao causal positiva entre o crescimento da produo
manufatureira e o aumento da produtividade na manufatura
(Thirlwall, 2005).
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7
mo-de-obra disponvel no setor no-manufatureiro diminui e o nvel
de produtividade
tende a se igualar entre os diversos setores, mas o papel da
industrializao nos estgios
iniciais e intermedirios do processo de desenvolvimento muito
relevante.9 De toda
forma, os avanos tecnolgicos, que geram os rendimentos
crescentes de escala,
continuam sendo primordialmente originados pela indstria.
Por conseqncia, o incremento das exportaes de manufaturados
contribui
para o desenvolvimento do pas de duas formas: a) pelo lado da
demanda, estimulando a
produo deste setor, o qual exerce um grande impacto positivo e
encadeador sobre a
produtividade e a renda per capita de toda a economia; b) pelo
lado da oferta, gerando
externalidades que podem ser aproveitadas por toda a indstria,
na medida que a
concorrncia externa induz a aprimoramentos no processo produtivo
que so
incorporados pelos demais setores da economia.
Nassif (2008:85), com base em pesquisas empricas recentes,
argumenta que os
setores com tecnologia diferenciada e baseada em cincia tm
atuado, particularmente,
como os principais responsveis pela maximizao dos ganhos de
produtividade nas
economias e pela sustentao do crescimento econmico no longo
prazo. O autor
tambm define que os setores com tecnologia diferenciada e
baseada em cincia
possuem maior sofisticao tecnolgica em seus processos produtivos
e, portanto, maior
capacidade para provocar encadeamentos produtivos e efeitos
multiplicadores de renda
e emprego, bem como para produzir e difundir inovaes para o
restante da economia.10
Assim, uma estratgia de desenvolvimento baseada na expanso das
exportaes
de manufaturados apropriada para pases que precisam acelerar o
seu processo de
crescimento da renda per capita, de modo a realizar o catch-up
(como, alis, fizeram
os asiticos)11, e tanto melhor ser esta estratgia se estes
produtos incorporarem
elevado contedo e inovaes tecnolgicas.
9 Palma (2004), por exemplo, vai afirmar que o setor de servios
se torna o grande demandante de mo-de-obra aps o pas passar por
essa fase intensa de industrializao. 10 Nassif (2008) ressalta,
como trabalhos empricos importantes para respaldar estas afirmaes,
Brynjolfsson e Hitt (2003), Jorgenson, Ho e Stiroh (2002) e
McKinsey Global Institute (2001). 11 Um dos autores que discute a
estratgia asitica Chang (2003).
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8
A experincia recente demonstra que a manuteno de uma taxa de
cmbio
competitiva importante para o processo de industrializao e
crescimento da renda per
capita.12. A sua apreciao pode gerar um desincentivo produo nos
setores que no
possuem vantagens comparativas em relao aos seus competidores,
enquanto no
prejudicaria de modo significativo a produo dos setores que
possuem tais vantagens,
as quais esto associadas, nos pases em desenvolvimento,
disponibilidade de recursos
naturais ou mo-de-obra, mas no de tecnologia. Nesta situao, a
produo de bens
manufaturados que no esteja associada utilizao de tais recursos
no seria
estimulada. Este quadro pode estar associado, em determinadas
situaes, ocorrncia
de um processo tpico de doena holandesa.
A doena holandesa um fenmeno decorrente da existncia de
recursos
naturais abundantes que geram vantagens comparativas ao pas que
os possui e, segundo
os mecanismos de mercado, podem lev-lo a se especializar na
produo destes bens e
no se industrializar ou terminar se desindustrializando, o que
inibiria o processo de
desenvolvimento econmico.
O primeiro modelo de doena holandesa foi desenvolvido por Corden
e Neary
(1982) e aprimorado por Corden (1984). Nele, existem trs
setores: o de produtos no
comercializveis, o de produtos comercializveis que cresce
rapidamente (extrao de
produtos naturais ou produo de gros, por exemplo, nos quais o
pas possui vantagens
comparativas) e o de comercializveis que cresce mais lentamente
(indstria e demais
setores da agricultura e extrao). O setor que produz recursos
naturais
(comercializveis que cresce frente dos demais) tende a expandir
rapidamente suas
receitas de exportao, o que leva apreciao da taxa de cmbio
(ambos fatores
contribuem para elevar a renda, incluindo a dos assalariados, e
a demanda interna) e,
por conseqncia, ao desestmulo exportao no setor de
manufaturados
(comercializveis que crescem mais lentamente). Uma parcela dos
fatores produtivos
deslocada para o setor que produz recursos naturais e para o
setor de no
comercializveis (neste caso, devido ao aumento da renda interna)
e, ainda que a
produo de manufaturados se desloque para o mercado interno, pode
ocorrer um
12 H uma vasta discusso sobre o papel que a taxa de cmbio pode
desempenhar sobre a poupana, a indstria e o crescimento, incluindo
a anlise de experincias recentes. Sobre o tema, ver, entre outros,
Bresser-Pereira e Nakano (2003), Fajnzylber, Lyoyaza e Caldern
(2002), Gala (2006) e Razin e Collins (1997).
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9
processo de desindustrializao em virtude da reduo das vendas
externas deste ltimo
e do aquecimento dos demais setores.
Palma (2005) tambm ressalta o impacto do deslocamento do emprego
da
indstria para o setor de servios que ocorre durante este
processo. Se o setor industrial
for aquele que efetivamente apresentar rendimentos crescentes de
escala e os demais
no se comportarem da mesma forma (como afirmam os autores
citados anteriormente),
este movimento tender a aumentar a taxa de desemprego do pas ao
longo do tempo.
Esta seria mais uma conseqncia indesejvel dos processos de doena
holandesa.13
Bresser-Pereira define doena holandesa como a sobre-apreciao
crnica da
taxa de cmbio causada pela abundncia de recursos naturais e
humanos baratos,
compatveis com uma taxa de cmbio inferior quela que viabilizaria
as demais
indstrias de bens comercializveis....A doena holandesa um
obstculo do lado da
demanda ao inviabilizar investimentos mesmo quando as empresas
dominam a
respectiva tecnologia.....haver insuficincia crnica de
oportunidade de investimentos
lucrativos nos setores produtores de bens comercializveis cuja
principal causa ser a
tendncia sobre-apreciao da taxa de cmbio que existe nos pases
em
desenvolvimento. (2008:1,2).
Para o autor, a doena holandesa uma grave falha de mercado
porque implica a
coexistncia de duas taxas de cmbio de equilbrio: a taxa de cmbio
de equilbrio
corrente, que equilibra intertemporalmente a conta corrente do
pas, e a taxa de cmbio
de equilbrio industrial que a taxa que viabilizaria a produo no
pas de outros bens
comercializveis distintos dos que do origem doena holandesa.
Dada a abundncia
de recursos naturais, a produo de commodities ocorre a um custo
muito baixo, o que
leva ao surgimento de rendas ricardianas. Estas rendas
ricardianas derivam do fato de
que seus custos e correspondentes preos so menores do que
aqueles existentes no
mercado internacional, os quais so determinados pelo produtor
marginal menos
13 Uma tima resenha sobre modelos que discutem a doena holandesa
e artigos que testam sua validade se encontra em Gala (2006). No
focaremos neste artigo o impacto da doena holandesa sobre o
emprego, e sim sobre o grau de industrializao do pas.
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10
eficiente admitido nesse mercado (2008: 5), isto , da ocorrncia
de diferenciais
relevantes de produtividade entre os pases produtores destas
commodities.14
Alm de estar associada existncia de rendas ricardianas, a doena
holandesa
se expressa na sobre-apreciao da taxa de cmbio. A taxa de cmbio
de equilbrio
corrente estabelecida pelo mercado com base no custo marginal
da(s) mercadoria(s)
que do origem doena holandesa porque a essa taxa seus produtores
estaro
realizando o retorno necessrio para investirem. Porm, essa taxa
de cmbio inviabiliza
a competitividade dos setores que no usufruem das mesmas rendas
ricardianas, que so
os que produzem bens comercializveis que incorporam tecnologia
no estado da arte.
Esses setores necessitam de uma taxa de cmbio que
Bresser-Pereira chama de
equilbrio industrial. A taxa de cmbio de equilbrio corrente,
entretanto, mais
apreciada que a necessria para os demais bens comercializveis
utilizando tecnologia
no estado da arte serem rentveis e, portanto, viveis
economicamente. A gravidade da
doena holandesa se mede pela diferena existente no pas entre
estas duas taxas de
cmbio.
AS EVIDNCIAS EMPRICAS
A economia brasileira possui vantagens comparativas na produo de
diversas
commodities e, por conseqncia, tende a ser afetada pela doena
holandesa. At o
incio da dcada de 90, esta falha de mercado foi neutralizada
pela poltica de controles
tarifrios, alfandegrios e cambiais, que taxava a receita de
exportaes de commodities
primrias e desestimulava a importao de produtos manufaturados,
resultando no
incentivo sua produo interna. Aps esta data, com o fim destes
mecanismos, o pas
deixou de neutralizar a doena holandesa15. A partir de 2003, o
crescimento mais
intenso da demanda e dos preos relativos das commodities
(comparados aos dos
manufaturados), conjugado prtica de um diferencial elevado entre
a taxa de juros
14 Uma outra possibilidade, no associada existncia de rendas
ricardianas, que o preo internacional seja formado em um mercado
monopolista ou oligopolista. 15 Deve-se ressaltar que o fim destes
mecanismos tambm propiciou a abertura comercial, que foi importante
para o pas.
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11
interna e externa, contribuiu para apreciar a taxa de cmbio
(conforme cenrio descrito
na primeira seo deste trabalho) e agravar os impactos da doena
holandesa no pas.16
Este processo no to acentuado na economia brasileira como na
Venezuela ou
nos pases rabes, por exemplo, cuja abundncia de reservas de
petrleo gera elevadas
rendas ricardianas e leva tais economias a se especializarem na
produo deste bem, o
que desestimula o processo de industrializao. O Brasil possui
uma estrutura industrial
consolidada e nenhum recurso to abundante ou gera uma renda
ricardiana to elevada
a ponto de resultar na especializao da produo. Entretanto,
existem sinais claros de
que, em menor grau, a doena holandesa exerce efeitos malficos
sobre a economia
brasileira. Seu principal impacto seria o deslocamento dos
fatores de produo para os
setores que produzem as commodities das quais possumos vantagens
comparativas e a
reduo da participao do valor adicionado no valor bruto da produo
de setores que
tiram proveito da valorizao cambial para aumentar a participao
de insumos
importados no processo produtivo. Ambos eventos podem implicar
em um processo de
desindustrializao.
Desta forma, este artigo buscar, a seguir, comprovar se o Brasil
enfrenta um
processo de doena holandesa e avaliar se este ltimo est
trazendo, como
conseqncia, um processo de desindustrializao. Para tal, sero
analisadas as
informaes sobre as exportaes, importaes e o saldo da balana
comercial dos
diversos setores que produzem bens comercializveis,
classificados em dois grandes
grupos, o das commodities que poderiam gerar a doena holandesa
no caso brasileiro
(dadas suas vantagens comparativas que impactam sobre a
produtividade e implicam na
gerao de rendas ricardianas) e o dos produtos industrializados
que sofrem os efeitos
malficos da doena holandesa, cuja produo no est associada a
estas commodities,
os quais intitularemos neste paper, para efeito de simplificao,
de manufaturados.17 As
16 A apreciao cambial do perodo 1994-1998 no pode ser entendida
como o resultado de um processo de doena holandesa tradicional,
pois derivou de uma poltica deliberada do BACEN que no foi
acompanhada de um aumento da demanda internacional, dos preos e das
vendas externas de commodities, ao contrrio do que ocorreu aps
2003. 17 Ainda que no primeiro grupo, como veremos, tambm estejam
includos produtos tradicionalmente definidos como manufaturados; a
nomenclatura aqui adotada destina-se a identificar e separar os
produtos que podem gerar doena holandesa (commodities e
industrializados derivados destas commodities) daqueles que, caso
esta ocorra, sofrero os seus impactos negativos.
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12
commodities esto subdivididas em agrcolas, minerais e
industrializadas decorrentes da
atividade agrcola ou da extrao mineral. Os manufaturados, por
sua vez, esto
subdivididos em produtos com baixo e mdio-baixo contedo
tecnolgico e mdio-alto
e alto contedo tecnolgico, seguindo a classificao da OCDE.
18
Foram utilizadas, quando disponveis, as informaes referentes aos
anos de
1992, 2002 e 2007 como parmetro de comparao. O primeiro porque
representa o
incio tanto do perodo posterior eliminao das regras que
terminavam neutralizando
a doena holandesa no Brasil como daquele em que passou a vigorar
uma maior
liberdade de circulao dos fluxos de capitais, a qual contribuiu
para uma volatilidade
mais intensa da taxa de cmbio. J os dados referentes ao ano de
2002 foram escolhidos
porque a anlise da primeira seo deste artigo sobre o desempenho
do comrcio
exterior brasileiro demonstrou que ocorreu uma mudana estrutural
importante aps este
perodo o comportamento da taxa de cmbio e do saldo da balana
comercial
tornaram-se negativamente correlacionados, com queda da primeira
e elevao do
segundo -, o que representa um forte indcio de agravamento da
doena holandesa.
A tabela 5 demonstra que entre 1992 e 2007 houve uma grande
melhoria do
saldo da balana comercial das commodities e uma piora do
relativo aos manufaturados
que incorporam mdia-alta e alta tecnologia, que so aqueles com
maior capacidade de
gerar e difundir inovaes e ganhos de produtividade para a
economia; se
considerarmos apenas o perodo entre 2002 e 2007, o comportamento
semelhante, e os
dados indicam inclusive que parcela considervel da variao dos
saldos por setor,
observada desde 1992, ocorreu nos ltimos cinco anos. Assim,
estes dados fornecem um
importante indicativo de ocorrncia de doena holandesa no Brasil,
dada a deteriorao
do saldo de manufaturados e o crescimento do relativo s
commodities.
18 A classificao dos produtos segundo o seu grau de intensidade
tecnolgica se encontra no Anexo I, enquanto a classificao dos
diversos setores que produzem bens comercializveis nos grupos de
commodities e manufaturados est descrita no Anexo II.
-
13
TABELA 5 - SALDO DA BALANA COMERCIAL SEGUNDO PRODUTOS QUE
ORIGINAM
(COMMODITIES) E SO AFETADOS PELA DOENA HOLANDESA
(MANUFATURADOS)
Valores em US$ bi Contribuio % para a
variao
1992 2002 2007 2007/1992 2007/2002
Commodities 11,0 16,1 46,8 162,8 123,1
Commodities agrcolas 3,8 9,8 29,1 114,7 77,3
Commodities minerais -1,3 1,1 6,9 37,4 23,5
Commodities agrcolas industrializadas 3,5 3,9 7,7 19,0 15,1
Commodities minerais industrializadas 5,0 1,4 3,2 -8,3 7,3
Manufaturados 4,0 -4,0 -9,8 -62,8 -23,1
Manufaturados baixa e mdia-baixa tecnologia 4,7 6,0 10,4 25,8
17,5
Manufaturados mdia-alta e alta tecnologia -0,7 -10,1 -20,2 -88,6
-40,6
Total 15,0 12,1 37,0 100,0 100,0
Fonte: Funcex
A contribuio percentual para a variao considera a variao
absoluta do saldo da balana comercial
de cada grupo e calcula a sua participao na variao absoluta
total Os dados no so semelhantes aos adotados para o clculo dos
valores da tabela 1 porque no esto includas as operaes no
classificadas
A comparao entre o saldo da balana comercial desagregado nestes
dois
grupos e a taxa real de cmbio refora a hiptese de ocorrncia de
doena holandesa. O
grfico 3 mostra que o comportamento do saldo da balana comercial
de commodities
se manteve relativamente constante entre 1992 e 2001 e se eleva
substancialmente a
partir de 2002, quando a demanda externa comea a se aquecer mais
fortemente. O seu
movimento relativamente independente do observado para a taxa
real de cmbio, o
que contribui para corroborar a hiptese subjacente ocorrncia da
doena holandesa,
na qual se afirma que a taxa de cmbio pode se apreciar sem
prejudicar o desempenho
destes produtos e a suposio de que a influncia desta falha de
mercado se agravou a
partir de 2003, quando as duas sries comearam a oscilar em
sentidos opostos.
J no grfico 4 possvel observar que o comportamento do saldo da
balana
comercial de manufaturados est fortemente associado ao da taxa
de cmbio, o que
contribui para confirmar a hiptese, tambm relevante para
explicar o fenmeno da
doena holandesa, de que o desempenho comercial destes produtos
depende fortemente
da prtica de uma taxa de cmbio competitiva, justamente por no
possurem vantagens
comparativas em seu processo produtivo. A tendncia similar das
duas sries
clarssima, conforme se depreende da observao do grfico.
-
14
Grfico 3BALANA COMERCIAL ACUMULADA EM 12 MESES DAS COMMODITIES
(US$ milhes)
INDICE DA TAXA DE CMBIO REAL EFETIVA (mdia 12 meses, dez 2003 =
100)
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
jan
/92
jan
/93
jan
/94
jan
/95
jan
/96
jan
/97
jan
/98
jan
/99
jan
/00
jan
/01
jan
/02
jan
/03
jan
/04
jan
/05
jan
/06
jan
/07
20
40
60
80
100
120
140
160
Bal comercial commodities Taxa de cmbio real
Grfico 4BALANA COMERCIAL ACUMULADA EM 12 MESES DOS MANUFATURADOS
(US$ milhes)
INDICE DA TAXA DE CMBIO REAL EFETIVA (mdia 12 meses, dez 2003 =
100)
-30.000
-20.000
-10.000
0
10.000
20.000
30.000
jan
/92
jan
/93
jan
/94
jan
/95
jan
/96
jan
/97
jan
/98
jan
/99
jan
/00
jan
/01
jan
/02
jan
/03
jan
/04
jan
/05
jan
/06
jan
/07
20
40
60
80
100
120
140
Bal comercial manufaturados Taxa de cmbio real
A tabela 6 tambm contribui para confirmar a hiptese de ocorrncia
de doena
holandesa e de seu agravamento nos ltimos anos. Neste quadro
esto includas as
relaes de preos e quantum de exportaes e importaes entre o grupo
das
commodities e dos manufaturados. Os preos de exportao das
primeiras se elevam em
relao aos ltimos nos anos mais recentes, demonstrando que houve
um claro estmulo
s vendas externas de commodities; acompanhando este movimento, h
um forte
-
15
aumento do respectivo ndice de quantum em relao ao observado
para os
manufaturados. Assim, realmente a doena holandesa parece ter se
agravado a partir de
2002 em funo do incremento de preos e quantidades exportadas de
commodities. Em
relao s importaes, ocorreu o inverso: o maior aumento de preo
das commodities
est associado ao crescimento mais intenso, em termos relativos,
da quantidade de
manufaturados importados. O comportamento destes indicadores
explica a evoluo
concentrada em commodities do saldo da balana comercial.
TABELA 6 - RELAO ENTRE COMMODITIES E MANUFATURADOS PARA
O NDICE DE PREO E QUANTUM DE EXPORTAES E IMPORTAES
Commodities / Manufaturados 1992 1996 1999 2002 2007
Preo das exportaes 0,93 1,00 0,88 0,85 1,32
Preo das importaes 0,79 1,00 0,88 1,15 2,14
Quantum das exportaes 1,14 1,00 0,99 4,74 4,28
Quantum das importaes 1,94 1,00 0,93 0,85 0,61 Fonte: Funcex; os
ndices correspondem a uma mdia dos valores dos diversos setores
considerados, ponderada pela participao de cada um deles na pauta
de exportaes ou importaes em 2002 (que o ano anterior ao
agravamento dos efeitos da doena holandesa); os valores de 2007
correspondem mdia nos 12 meses findos em set/2007
Uma vez caracterizado o processo de doena holandesa que ocorre
na economia
brasileira, sero discutidos a seguir os seus impactos sobre o
grau de industrializao do
pas. Para avaliar tais impactos, sero considerados os seguintes
critrios neste trabalho:
a) diminuio da participao da exportao de manufaturados na
exportao total; b)
diminuio do saldo da balana comercial de manufaturados; c) reduo
da participao
do valor adicionado no valor bruto da produo, principalmente nos
setores de bens
comercializveis industriais de alta tecnologia; d) diminuio da
participao de
produtos industriais de alta tecnologia na produo industrial de
bens comercializveis;
e) diminuio da participao percentual da indstria no PIB; f)
crescimento da
indstria nacional relativamente menor que o de outros pases em
desenvolvimento.19
J foi demonstrada a queda do saldo da balana comercial de
manufaturados.
Entretanto, a participao percentual dos grupos de commodities e
manufaturados nas
exportaes totais praticamente no se alterou quando comparamos os
valores para
19 Para uma discusso sobre os critrios que possibilitam avaliar
a ocorrncia de desindustrializao, ver por exemplo Nassif (2008) e
Almeida, Feij e Carvalho (2005), (2007).
-
16
1992 e 2007 (vide tabela 7). Mas uma observao mais cuidadosa
mostra que durante
este intervalo houve uma grande oscilao neste indicador;
inicialmente cresce a
participao dos manufaturados e no perodo posterior a 2002, no
qual ocorreu o
agravamento dos efeitos da doena holandesa no pas, tal
participao se reduz. Este
perodo ainda muito restrito para possibilitar a afirmao de que h
um processo de
desindustrializao em curso no pas, mas se esta tendncia se
mantiver nos prximos
anos, esta suposio ser reforada. A variao relativa do quantum de
exportaes de
commodities em relao ao quantum de manufaturados, superior dos
preos das
commodities em relao aos dos manufaturados (tabela 6), demonstra
que esta alterao
na participao relativa dos dois setores na exportao total entre
2002 e 2007 no
correspondeu a uma simples mudana de preos relativos.
TABELA 7 - PARTICIPAO % DE COMMODITIES E MANUFATURADOS
NAS EXPORTAES E IMPORTAES TOTAIS
EXPORTAES
1992 1996 1999 2002 2007
Commodities 56,5 57,2 53,1 54,4 58,9
Manufaturados 43,5 42,8 46,9 45,6 41,1
IMPORTAES
1992 1996 1999 2002 2007
Commodities 44,4 35,0 30,2 34,2 38,1
Manufaturados 55,6 65,0 69,8 65,8 61,9
Fonte: Funcex
Entretanto, possvel argumentar que houve um crescimento da
importao de
manufaturados (relativamente ao de commodities), conforme se
observa na tabela 7, e
que esse movimento se deve queda nos preos relativos das
importaes destes
produtos (tabela 6). Assim, este efeito colateral da doena
holandesa aumento das
importaes de manufaturados, provavelmente em funo da queda da
taxa real de
cmbio elevaria a disponibilidade de insumos importados na
economia (apesar de
tambm elevar o consumo de bens finais), de forma a contribuir
para o aumento dos
investimentos, a introduo de inovaes no processo produtivo e a
utilizao de
matrias-primas mais baratas, o que seria benfico para a produo
da indstria nacional
e poderia resultar at na elevao das exportaes dos prprios
manufaturados, que de
fato se elevaram 140% entre 2002 e 2007 (enquanto as exportaes
de commodities se
-
17
elevaram 188% no mesmo perodo). A elevao das exportaes de
setores nos quais
no possumos vantagens comparativas, em um cenrio de queda da
taxa de cmbio que
possivelmente no esteja sendo compensada por suficiente elevao
dos preos
internacionais, pode estar sendo viabilizada pela reduo dos
custos de produo
baseada em uma estratgia que tire proveito da valorizao
cambial.
Essa argumentao s vlida se as crescentes importaes de
manufaturados
estiverem propiciando a manuteno ou aumento da participao do
valor agregado no
processo produtivo; do contrrio, tais compras estaro
contribuindo para controlar os
custos atravs da adoo de uma estratgia de produo com elevada
participao de
componentes importados visando intensificar os processos de
montagem final de
produtos sem agregar valor significativo produo, o que geraria
desindustrializao.
A tabela 8 permite confirmar a suposio de que a participao do
valor
adicionado no valor total da produo (que inclui tambm o consumo
intermedirio de
insumos) sofreu uma reduo nos ltimos anos. 20
TABELA 8 - RELAO ENTRE VALOR ADICIONADO E VALOR DA PRODUO
Var % na relao
Valor adicionado / Valor da
produo Valor adic / valor prod
1996 1999 2002 2005 2005/1996 2005/2002
Commodities 51,0 51,0 49,6 48,6 -4,8 -2,1
Commodities agrcolas 57,6 53,1 53,9 49,3 -14,5 -8,7
Commodities minerais 56,8 65,7 61,0 62,5 10,0 2,5
Commodities agrcolas industrializadas 44,4 42,3 36,9 38,0 -14,2
3,1
Commodities minerais industrializadas 47,7 52,9 51,4 51,4 7,6
-0,1
Manufaturados 48,4 45,1 43,6 39,1 -19,1 -10,3
Manufaturados baixa e mdia-baixa tecnologia 50,2 48,4 46,9 44,1
-12,1 -6,0
Manufaturados mdia-alta e alta tecnologia 47,3 43,2 41,8 36,8
-22,3 -12,1
Total 49,7 48,2 47,0 44,4 -10,8 -5,5
Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual e Contas Nacionais
Os dados mostram uma reduo na relao entre o valor adicionado e o
valor
bruto da produo tanto no perodo mais recente ps 2002 como para o
perodo que
inclui tambm a dcada anterior desde 1996. Ainda que este
indicador tenha cado na
20 No existem dados disponveis para o perodo posterior a 2005 ou
informaes compatveis para o perodo anterior a 1996. Para calcular o
valor adicionado dos grupos de produtos definidos segundo a
classificao adotada neste trabalho, foi utilizada a compatibilizao
entre as atividades do Sistema de Contas Nacionais (SCN) e a
Classificao Nacional das Atividades (CNAE) elaborada pelo IBGE.
-
18
maioria dos setores, a variao negativa muito mais intensa dentre
os manufaturados
de elevado contedo tecnolgico; logo, o processo de
desindustrializao pode estar
ocorrendo justamente nos setores que, ao longo deste artigo,
foram definidos como
aqueles com maior capacidade de induzir o crescimento da
economia.
A tabela 9 demonstra que a participao do valor adicionado dos
manufaturados
no valor adicionado geral permaneceu constante durante 1996 e
2005, o que contribuiria
para, mesmo considerando o comportamento da produo industrial
observado na tabela
anterior, afirmar que no houve desindustrializao no perodo
considerado; entretanto,
tal comparao leva em considerao a participao de outros setores
nesta anlise,
quais sejam, todos os que geram produtos no comercializveis
(servios e indstrias da
construo civil e de utilidades pblicas como energia eltrica).
Assim, enquanto
aumenta a participao de comercializveis no valor adicionado
geral, dada a elevao
da participao das commodities e a estabilidade da relativa aos
manufaturados, h uma
queda da participao dos no comercializveis. Logo, a incluso
deste ltimo grupo na
anlise, decorrente da comparao com o valor adicionado geral (que
o considera), pode
fazer com que a relativa estabilidade da participao dos
manufaturados seja resultante
do pior desempenho do setor de bens no comercializveis, fato que
encobriria o
desempenho no to favorvel dos manufaturados durante o perodo
constante da tabela
9. 21
TABELA 9 PARTICIPAO RELATIVA (%) DO VALOR ADICIONADO DE CADA
GRUPO
NO VALOR ADICIONADO GERAL DA ECONOMIA
1996 1999 2002 2005
Commodities 14,2 15,7 19,3 20,2
Manufaturados 12,8 12,3 13,6 13,0
Comercializveis (Commodities + Manufaturados) 27,0 28,0 32,9
33,2
No comercializveis 73,0 72,0 67,1 66,8
Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual e Contas Nacionais
Um indicador que contribuiria para o esclarecimento desta anlise
seria a
participao do valor adicionado dos manufaturados no valor
adicionado dos bens
comercializveis (tabela 10). Esta relao importante porque so os
comercializveis
que podem estimular o crescimento da economia sem gerar restries
ao saldo do
21 O valor adicionado geral da economia corresponde ao PIB
subtrado dos impostos. Optou-se por utiliz-lo por ser um indicador
semelhante ao disponvel para os dados desagregados das Contas
Nacionais referentes aos diversos setores da economia.
-
19
balano de pagamentos, bem como por sofrerem concorrncia externa
buscam se inovar
e so os mais dinmicos da economia. possvel notar que houve uma
queda
substancial da participao do valor agregado dos manufaturados
tanto de baixa e
mdia-baixa como de mdia-alta e alta tecnologia no valor agregado
dos
comercializveis. Deve-se lembrar que os setores de mdia-alta e
alta tecnologia,
conforme j afirmado anteriormente, so aqueles dentre os
comercializveis com maior
capacidade de gerar e difundir inovaes que resultam em aumentos
da produtividade
em toda a economia e gerar encadeamentos produtivos para frente
e para trs.
Logo, mais uma vez possvel afirmar que h indcios de um processo
de
desindustrializao, mas seria prematuro afirmar que esta tendncia
j se consolidou.
Ser preciso avaliar os resultados relativos aos anos seguintes,
quando disponveis, que
demonstraro se esta menor participao do valor adicionado dos
manufaturados no
valor adicionado dos comercializveis resultar em menor
participao deste grupo no
valor adicionado geral da economia. Os reflexos da reduo da
participao dos
manufaturados sobre a desindustrializao ainda no so evidentes;
este processo no
perceptvel no curto prazo, dado que a participao deste grupo de
produtos nas
exportaes e no valor adicionado da economia permanece constante
quando
analisamos todo o perodo considerado desde 1992 -, mas resultar
em perda de
dinamismo dos setores industriais mais relevantes para o
processo de desenvolvimento
se mantido ao longo dos prximos anos; de toda forma,
dificilmente ser intenso a
ponto de destruir a indstria nacional, porque nossa estrutura
produtiva diversificada e
consolidada e no sofremos de uma doena holandesa na mesma
magnitude que os
pases especializados na extrao e produo de petrleo, por
exemplo.
TABELA 10 - PARTICIPAO RELATIVA (%) DO VALOR ADICIONADO DE CADA
GRUPO
NO VALOR ADICIONADO DOS BENS COMERCIALIZVEIS (COMMODITIES E
MANUFATURADOS)
1996 1999 2002 2005
Commodities 52,7 56,1 58,8 61,0
Commodities agrcolas 23,5 23,4 24,6 22,2
Commodities minerais 1,7 2,4 2,5 3,5
Commodities agrcolas industrializadas 11,6 10,4 9,2 9,1
Commodities minerais industrializadas 15,8 19,9 22,5 26,2
Manufaturados 47,3 43,9 41,2 39,0
Manufaturados baixa e mdia-baixa tecnologia 18,4 17,4 15,7
14,2
Manufaturados mdia-alta e alta tecnologia 29,0 26,5 25,5
24,8
Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual e Contas Nacionais
-
20
A indstria nacional vem crescendo menos que o setor industrial
de outros
pases em desenvolvimento, o que tambm um indcio da ocorrncia de
um processo
de desindustrializao. Segundo o IEDI, a participao do PIB
industrial do Brasil no
PIB industrial de um conjunto de pases em desenvolvimento caiu
significativamente,
de 15,1% em 1990 para 12,8% em 2000 e 11,8% em 2005.22
O tema bastante controverso e existem posies contrrias ao
argumento aqui
desenvolvido. Nassif, por exemplo, vai afirmar que para a doena
holandesa resultar em
desindustrializao uma parte expressiva dos segmentos que
constituem as indstrias
com tecnologia intensiva em escala, diferenciada e baseada em
cincia dever mostrar,
simultaneamente, perda de participao no valor adicionado e nas
exportaes totais da
indstria (2008:86). O autor busca demonstrar que tais pr-condies
para a ocorrncia
de desindustrializao derivada de um processo de doena holandesa
no teriam sido
verificadas no perodo considerado.
Porm, neste artigo avaliamos a possibilidade de ocorrncia de
desindustrializao no apenas sob a tica da participao relativa
dos diversos setores
no valor adicionado total, mas, alm dos demais critrios j
mencionados, em funo da
reduo da participao do valor adicionado dos manufaturados
principalmente
aqueles de mdia-alta e alta tecnologia no valor bruto da produo
(o que pode indicar
a intensificao dos processos de montagem de bens finais) e no
valor adicionado dos
bens comercializveis. A hiptese aqui adotada a de que os setores
que produzem
manufaturados exercem um efeito significativo sobre as inovaes e
a estrutura
produtiva do restante da indstria (bem como dos demais setores
da economia) e sua
menor participao no valor adicionado dos comercializveis pode
resultar, a mdio
prazo, em uma reduo da participao da indstria como um todo no
PIB, ainda mais
se a tendncia de reduo da participao do valor adicionado no
processo produtivo,
indicando uma maior utilizao de componentes prontos para o
processo de montagem
se consolidar. Caso este cenrio se mantenha no futuro prximo,
ser bastante
prejudicial para o crescimento de longo prazo da economia
brasileira.
22 O grupo de pases considerados inclui China, ndia, Coria do
Sul, Mxico, Turquia, Tailndia, Indonsia, Argentina e Polnia. Os
dados se encontram no site do IEDI (2007) e foram elaborados pela
FIESP a partir de dados do Banco Mundial.
-
21
CONCLUSES
Os sintomas da doena holandesa que a economia brasileira, ao que
tudo indica,
parece estar sofrendo so os seguintes: a) h uma apreciao da taxa
de cmbio, em
funo do aumento das exportaes (mais intenso para as commodities,
de 188% na
comparao entre 2007 e 2002, que para os manufaturados, de 140%
no mesmo
perodo); b) a balana comercial das commodities, ou produtos que
geram a doena
holandesa, evoluiu positivamente aps 1992, enquanto a dos
manufaturados (ou
produtos que sofrem os efeitos da doena holandesa) sofreram uma
retrao no mesmo
perodo; c) a evoluo da balana comercial de commodities evoluiu
de forma
desassociada da taxa de cmbio, evidenciando que outros fatores
influem no
comportamento das vendas e compras externas destes produtos,
enquanto a evoluo da
balana comercial dos manufaturados fortemente vinculada da taxa
de cmbio,
indicando que este setor depende de tal taxa para apresentar
resultados positivos no
comrcio externo; d) os preos e quantum das exportaes de
commodities cresceram
mais que os dos manufaturados, enquanto os preos dos
manufaturados importados
cresceram menos e a quantidade importada dos mesmos cresceu
relativamente mais.
Em relao desindustrializao, os sinais de ocorrncia so menos
claros que
para a doena holandesa, principalmente porque no houve uma reduo
da participao
do valor adicionado do setor de manufaturados no valor
adicionado geral da economia.
Entretanto, outros indcios atuam no sentido contrrio, a partir
da constatao de que
estaria em curso um redirecionamento dos fatores de produo para
os setores
associados s commodities: a) novamente, reduo do saldo da balana
comercial de
manufaturados e aumento do saldo de commodities; b) diminuio,
ainda que recente,
da participao das exportaes de manufaturados nas exportaes
totais; c) diminuio
da participao do valor adicionado dos manufaturados no valor
adicionado dos bens
comercializveis. Adicionalmente, a reduo da participao do valor
adicionado no
valor da produo tambm um indcio significativo de que um processo
de
desindustrializao est em curso, caso os produtores de
manufaturados estejam
tentando manter sua competitividade (e suas vendas no exterior)
atravs da reduo de
custos oriunda da utilizao de insumos importados no processo
produtivo associada
diminuio relativa do valor adicionado. Concentrar o processo
produtivo na fase de
montagem final dos bens torna dispensvel o desenvolvimento de
tecnologia e no
-
22
contribui para a sua difuso e a formao de encadeamentos
produtivos para trs, em
virtude da elevada importao de insumos, e para frente, devido ao
reduzido valor que
agrega produo.
A prpria mudana na alocao de fatores produtivos entre os setores
industriais
(favorvel ao setor de commodities) poder resultar em um processo
de
desindustrializao em virtude da reduo da participao dos setores
industriais que
geram externalidades positivas para os demais setores da prpria
indstria, fato que
dever ocasionar, a mdio prazo, a diminuio da participao da
indstria no PIB. O
crescimento menor do PIB da indstria brasileira que do PIB
industrial de outros pases
em desenvolvimento j pode ser um sinal deste fenmeno.
Uma mudana no cenrio atual, no qual a taxa de cmbio se
encontra
sobrevalorizada, fundamental para evitar uma reduo na participao
dos setores com
maior contedo tecnolgico no valor adicionado da indstria, pois
estes so os que
renem melhores condies para gerar encadeamentos produtivos,
rendimentos de
escala crescentes e externalidades positivas para os demais
setores da economia e
possibilitar um movimento consistente de crescimento da renda
per capita do pas.
Dado que os setores produtores de bens que incorporam mais
tecnologia no
dispem de vantagens comparativas significativas (tanto em relao
ao
desenvolvimento como produo de bens com maior contedo
tecnolgico) que
possibilitariam operar com um custo marginal bastante reduzido,
o nvel da taxa de
cmbio passa a influir decisivamente na competitividade,
rentabilidade e decises de
investimento do exportador brasileiro destes produtos. Por isso,
fundamental traar
uma estratgia macroeconmica que permita a elevao da taxa real de
cmbio antes
que o possvel desaquecimento da economia global leve deteriorao
de nossas contas
externas ou, ainda que esta no ocorra, desindustrializao de
alguns setores em
decorrncia dos impactos da doena holandesa.
Por fim, importante frisar novamente que as concluses aqui
apresentadas so,
na verdade, indcios de um movimento de desindustrializao que
somente ser
consolidado e confirmado - se o cenrio descrito no texto
continuar prevalecendo.
-
23
REFERNCIAS
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ANEXO I - DETALHAMENTO DOS GRUPOS DE PRODUTOS SEGUNDO A
INTENSIDADE TECNOLGICA
Produtos industriais Indstria de alta tecnologia Aeronutica e
aeroespacial Farmacutica Material de escritrio e informtica
Equipamentos de rdio, TV e comunicao Instrumentos mdicos de tica e
preciso Indstria de mdia-alta tecnologia Mquinas e equipamentos
eltricos n. e. (no especificados) Veculos automotores, reboques e
semi-reboques Produtos qumicos,excl. farmacuticos Equipamentos para
ferrovia e material de transporte n. e. Mquinas e equipamentos
mecnicos n. e. Indstria de mdia-baixa tecnologia Construo e reparao
naval Borracha e produtos plsticos Produtos de petrleo refinado e
outros combustveis Outros produtos minerais no-metlicos Produtos
metlicos Indstria de baixa tecnologia Produtos manufaturados n.e. e
bens reciclados Madeira e seus produtos, papel e celulose
Alimentos, bebidas e tabaco Txteis, couro e calados
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ANEXO II - DETALHAMENTO DOS GRUPOS DE PRODUTOS CLASSIFICADOS
COMO COMMODITIES OU MANUFATURADOS
Commodities Commodities agrcolas Agropecuria Abate de animais
Acar Caf Commodities minerais Extrativa mineral Petrleo e carvo
Commodities agrcolas industrializadas leos vegetais Beneficiamento
prod. vegetais Laticnios Outros produtos alimentares Commodities
minerais industrializadas Siderurgia Outros produtos metalrgicos
Metalurgia no ferrosos Minerais no metlicos Refino petrleo e
petroqumicos Manufaturados Manufaturados baixa e mdia-baixa
tecnologia Madeira e mobilirio Calados, couros e peles Celulose,
papel e grfica Borracha Plstica Txtil Artigos de vesturio
Manufaturados mdia-alta e alta tecnologia Veculos automotores Peas
e outros veculos Material eltrico Elementos qumicos Farmacutica e
perfumaria Mquinas e tratores Indstrias diversas Qumicos diversos
Equipamentos eletrnicos