Do zumbido à redenção http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-46/diario/do-zumbido-a-redencao por João Fernando Baldan Perguntado como se autodefiniria, o mineiro JOÃO FERNANDO BALDAN tem resposta pronta: "Sou jornalista hipocondríaco." Usa o termo sem artigo indefinido, como sendo profissão e condição. Formado pela puc-Campinas, mora e trabalha em Poços de Caldas, como assessor de imprensa e colaborador de site. Mas sua ocupação preferida é ser microcontista no Twitter e aspirante a escritor de ficção. Aos 33 anos de idade, teve a vida transtornada por um encadeamento de fatos insólitos que o levaram a escrever este diário OUTUBRO DE 2008_A vida pode ser bastante irônica. Enquanto eu delirava na apresentação do Mudhoney, em São Carlos (sp), no domingo dia 12, ao som de Here comes sickness (Aí vem a doença) e Touch me, I'm sick (Toque-me, estou doente), minhas preferidas da banda até então, não imaginei que fosse ficar doente de verdade. Minha cabeça virou uma caixa de marimbondo. Zumbidos dissonantes, sensação de ouvido tampado, intolerância a certos sons, audição distorcida. Tudo ao mesmo tempo agora. Lembro que o som do show estava ruim, mas não me recordo se fiquei muito tempo perto das caixas. Eu estava bêbado. Só sei que, no dia seguinte, começou um pesadelo sonoro em minha vida. Não conseguia mais ouvir música. Na minha percepção, Chico Buarque, por exemplo, parecia cantar com um balão de gás hélio. A voz da minha mãe soava distorcida, fina como a da minha tia. A sensação de ouvido tampado ou de pressão era a mesma de quando você "sobe a serra". Só que não passava. Por conta disso, eu estava meio surdo. Mas, ao mesmo tempo, alguns sons agudos se tornaram quase insuportáveis. O barulho de uma colher batendo no piso da cozinha ao cair parecia ferir meus tímpanos. Barulho de sacola plástica ou saco de papel, a mesma coisa. A voz da minha irmã se tornou irritante. Eu estava ouvindo demais e de menos 1
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ambiente sonoro da academia (aquelas músicas horríveis!) com o som do iPod, agravando uma possível
lesão auditiva causada na rave, ou o contrário. E, no show do Mudhoney, outra exposição inadequada talvez
tenha fodido tudo de vez.
Só me dei conta da situação quando o médico, no começo da desgraceira sonora, não deu muita certeza de
melhora. Zumbido causado por lesão no ouvido ainda é meio que uma incógnita para a medicina. Não tem
cura. O mesmo serve para a hipersensibilidade auditiva. Imaginei que não fosse aguentar passar a vida inteira
numa montanha-russa sonora. O otorrino me passou remédios (eu já estava tomando um vasodilatador) e
disse que eu deveria aguardar a evolução do tratamento em relação à perda auditiva e ao restante dos
sintomas.
Sempre ouvi música para dormir, mas tive que abandonar o hábito. Imaginei o absurdo: uma vida sem música.
Seria difícil. Ouvir música dá tanto prazer quanto sexo e chocolate. Segundo o neurocientista (e produtor
musical) Daniel J. Levitin, a música actua na mente de forma semelhante aos prazeres da carne. Está em seu
livro Uma Paixão Humana: O seu Cérebro e a Música. "Para um cérebro, a música é uma brincadeira", afirma.
Sempre fui o cara da diversão.
Não sou músico, mas a música (pop) tem papel importante na minha vida. Ela ajuda a me situar no tempo.
Serviu de apoio em praticamente todos os momentos da minha vida, bons e ruins. Parar de ouvir música era
como perder um(a) confidente. Era como perder um amigo. Era como perder uma namorada. Eu não estava
namorando. Menos mal. Não corri o risco da voz da minha namorada ter se tornado irritante e eu ser
obrigado a dar um tempo com ela. Compartilhei meus problemas apenas com minha família. Eu não queria
que meus amigos soubessem de nada. E como eu estava de férias, foi fácil fugir de todo o mundo.
Quase não saí de casa. Numa raríssima vez, ao resolver fazer trilha com uma amiga, a experiência foi horrível.
Quando ela caminhava à minha frente, eu não entendia o que ela falava. Ela tinha que se virar para mim ou
falar bem alto. E à medida que eu continuava a trilha, as variações do zumbido aumentavam, talvez pelo
esforço físico. Eu parava, erguia a cabeça olhando para o céu e tinha a sensação de estar no centro de um
redemoinho sonoro ou de ter um disco voador circulando dentro da minha cabeça.
Eu estava nervoso e estressado e, para piorar, meu cabelo tinha começado a cair.
Fui ao dermatologista. Ele me receitou finasterida. Dias depois, receitou hidroxizina porque comecei a ter
urticária.
Odeio hidroxizina. Dá uma sensação horrível. É como estar de ressaca o tempo todo. Nubla a percepção. Você
se sente cansado, amortecido. É como passar o dia ouvindo Enya.
A lista de remédios foi aumentando. Fora o vasodilatador, eu também estava tomando cortisona, a essência
da maldade, receitada pelo otorrino. Ele havia indicado ainda um complexo vitamínico, devido a um dos
infinitos efeitos colaterais, que é minar a resistência.
Pensei no trabalho. Queria voltar das férias com o problema estabilizado. Tinha até o feriado do começo de 2
novembro para melhorar. Acabei desmarcando uma viagem com dois amigos para o Rio de Janeiro. A viagem
seria especial, musicalmente especial. Eu iria ao Rio para ver o show da Bebel Gilberto no Circo Voador e ia
tentar fazer o roteiro "lítero-musical" traçado por Ruy Castro no livroRio Bossa Nova. Sem chance.
Mas eu precisava viajar para algum lugar para desencanar. Não podia desperdiçar o restante das férias
alucinando paranoicamente em casa.
Sempre acreditei na ciência. Sempre procurei ser lógico e racional. Mas também acredito que, quando a
ciência não dá conta de algo, quando a medicina não pode te fornecer os subsídios necessários, não custa
tentar "o outro lado". Decidi procurar cura espiritual.
Alguns anos antes, eu havia lido uma matéria sobre o médium João de Deus, de Abadiânia, em Goiás. Ele faz
cirurgias espirituais. Lembro de ter pensado que, se algum dia tivesse uma doença incurável, iria procurá-lo.
Mas não imaginei que fosse fazer isso por um problema no ouvido. Imaginava um câncer ou coisa assim.
Eu não estava desesperado. Longe disso. Obviamente, o problema no ouvido estava me incomodando muito,
mas nunca pensei que fosse algo insuportável ou desesperador. Eu queria ser prático. Queria uma cura rápida.
Eu precisava voltar a ouvir normalmente a voz da minha mãe, antes que minha lembrança fosse substituída
pela paródia sonora com que estava obrigado a lidar. Eu não queria correr o risco de perder outras coisas que
me eram importantes. Eu não queria desperdiçar meu tempo disponível.
28 DE OUTUBRO_Embarquei para Abadiânia. Minha viagem de ida foi marcada por uma série de dúvidas. No
caminho, pensei se eu não estaria pulando etapas. Geralmente a pessoa busca uma cura dessas em último
caso, quando o tratamento normal não deu resultado. Eu estava no meio do meu tratamento convencional.
Será que eu não deveria ter aguardado alguns meses? Um ranço católico dominou meus pensamentos. Será
que eu merecia ser curado? Será que eu não deveria esperar e sofrer mais antes de buscar a "ajuda divina"?
Será que eu não estaria usurpando um espaço de verdadeiros sofredores, de gente com problemas mais
graves? E será que minha dúvida significava falta de fé e essa falta de fé poderia sufocar todo o processo de
cura? Tentei me manter focado.
29 DE OUTUBRO_Dia do atendimento. João de Deus recebe às quartas, quintas e sextas. Acordei por volta das
sete da manhã. Tomei um banho rápido, vesti uma camiseta e uma bermuda brancas e desci para tomar café.
Outra recomendação da Casa Dom Inácio: para ser curado, não comer carne de porco. Eu não estava
comendo nenhum tipo de carne havia dias e também não estava bebendo álcool por causa da hidroxizina e da
cortisona. No caso da cortisona, só cortaria o efeito. Mas, se misturasse bebida alcoólica com hidroxizina,
seria quase como tomar ecstasy. Não... seria como tomar anfetamina e álcool. Não... seria apenas como
misturar vodca com energético.
Meu hotel ficava a menos de um quilômetro do local. Além de mim, havia algumas dezenas de pessoas
caminhando para a Casa Dom Inácio. Uma delas, uma moça com lenço na cabeça, violava uma das regras ao
fumar um rápido cigarro para se acalmar. Era preciso estar lá antes das oito, hora que o atendimento começa.
Havia filas e, além dos gringos, também pessoas das redondezas. Circulando, descobri que as pessoas não 3
procuram João de Deus somente em situações gravíssimas, como câncer e distrofia muscular. Também
recorrem ao médium, especialmente pessoas da região, para curar dor nas costas, alergia, gastrite.
As orientações antes do encontro com João de Deus acontecem no salão da Casa Dom Inácio. As pessoas
foram se aglutinando nas bancadas. Enquanto procurava um assento, vi do lado direito do salão uma mulher
loira de meia-idade, riponga, em pé diante de seus chegados, cantando animadamente uma música em inglês,
enquanto seus companheiros faziam coro. Naquele momento, eu também estava enxergando um enxame de
moscas volantes, brancas e escuras. Isso havia começado antes da viagem, mas eu não dera muita
importância até então.
Zumbido, surdez, pontinhos na vista e cabelos caindo. Talvez eu precisasse de uns três Joões de Deus para ser
curado.
Começaram as orientações. Um orador fez um discurso primeiro em inglês, depois em português, enfatizando
que o grupo da casa não se apega a nenhuma religião específica, mas, sim, à crença em Jesus Cristo. Dividiram
o público em grupos: os da primeira vez, os da segunda, os das cirurgias. Eu estava sentado no fundo. Não
quis chegar perto de João de Deus, que usava um bisturi, porque não suporto ver sangue nem cortes, agulhas
ou coisas do tipo. Ele faz cirurgias invisíveis também, sem cortes. Era por esta que eu estava disposto a passar.
Na minha vez, ele perguntou meu nome e de onde eu vinha. Em seguida, rabiscou algo num pedaço de papel,
me entregou e disse algo que não entendi porque não estava ouvindo direito, embora a sensação de
abafamento tivesse diminuído na viagem. Fui encaminhado para fora do prédio junto com uma leva de
pessoas. E agora? O que ele disse? Droga! Olhei para o papel. Havia somente pontos e traços. Devia ter
pedido para ele repetir. Eu e mais um grupo de umas quinze pessoas fomos levados para um ponto do jardim,
perto de uma árvore. Um assistente nos disse que devíamos seguir as recomendações dadas pela entidade e ir
à farmácia adquirir medicamentos.
- Mas eu não entendi o que o médium disse?- berrei ao assistente.
- Nem eu?- falou uma garota de descendência asiática, em português claro.
O assistente pegou o meu papel e o dela, olhou e nos mandou seguir até a farmácia. Saí com quatro potes de
medicamento fitoterápico, contendo 35 cápsulas cada, para tomar três vezes ao dia. Mas e a cirurgia? Não
vou passar pela cirurgia? Tenho que tomar os remédios antes e voltar meses depois?
Após o almoço, seguindo as instruções do assistente, me juntei a uma turma que rezava numa salinha de
mentalizações. Acho que devo ter quebrado a corrente porque não consegui rezar direito. Não lembro muito
bem como eram as rezas. Acho que cantaram umas músicas católicas. Como não gosto de canções religiosas,
procurei fazer algo próximo de meditar.
Em Abadiânia, acabei descobrindo que, na maioria das vezes, o processo de cura espiritual não é um passe de
mágica. A pessoa que passa pelas mãos de João de Deus às vezes tem de voltar para outras sessões e fica
meses tomando os comprimidos fitoterápicos. Obviamente, a viagem me decepcionou, pois eu queria que ele 4
tivesse, sei lá, tocado meus ouvidos e "dissolvido" o zumbido e todo o resto que estava me incomodando.
NOVEMBRO_Voltei a trabalhar. Por via das dúvidas, não deixei de tomar as cápsulas receitadas na Casa Dom
Inácio. Tinha munição celestial para quarenta dias, fora todo o resto de comprimidos alopáticos que eu estava
ingerindo.
Enquanto o problema dos ouvidos não sarava (eu acreditava que ia sarar, com ajuda dos espíritos ou não), eu
me fingia de desligado quando alguém falava comigo e pedia para repetir. Funcionou bastante no trabalho.
Fui contando meu problema de audição aos poucos. Quando falava, escolhia a dedo as pessoas e revelava só
algumas coisas. Para alguns, eu dizia que era um pequeno e temporário problema no ouvido, nada mais. Para
outros, que minha audição estava afetada por causa de uma gripe.
Os comprimidos da Casa Dom Inácio confundiriam bastante. Levando-se em consideração que a pessoa não
soubesse nada sobre João de Deus, ela imaginaria que eu estivesse com os nervos à flor da pele porque o
rótulo indica "Produto fitoterápico?- passiflora sp". Imaginaria qualquer outra coisa, menos que eu tivesse
uma lesão auditiva e zumbido.
O zumbido havia diminuído e estabilizado. Nos exames, minha audição tinha melhorado consideravelmente.
Eu já conseguia ouvir a chuva caindo lá fora. Conseguia ouvir os movimentos do meu cachorro no quintal.
Minha visão também havia melhorado. A mancha verde desvaneceu. Bom sinal.
Para ter certeza de como estava a distorção sonora, eu usava a voz da minha mãe e uma música do Chico
Buarque, Olê, olá (versão ao vivo com participação de Maria Bethânia), como referências. Não me lembro por
que escolhi essa canção em vez de qualquer outra do Chico, mas era a única que rompia meu jejum musical. A
voz dele, da Bethânia e de minha mãe ainda soavam estranhas. Mau sinal.
Lá estava eu. Sem beber, sem ouvir música, sem ir ao cinema, sem (quase) fazer sexo. A cultura pop havia me
deixado doente, imaginei brincando. Talvez eu tivesse assimilado cultura pop demais. Tinha virado uma
espécie de "lixão", transbordando de informações acumuladas em anos de consumo de música, cinema e
afins, manifestadas em enfermidades nos meus sentidos. Não me lembro se cheguei a levar essa hipótese a
sério, mas precisava colocar algo para fora. Em vez de consumir, eu precisava produzir cultura pop.
DEZEMBRO_Teve show da Madonna. Não fui. Eu não estava preparado. Eu ainda não estava curado. Meu
cabelo estava cheio de falhas, especialmente na parte de trás do alto da cabeça. Não tinha jeito de esconder
que estava doente.
As festas de fim de ano chegaram. Passei o Natal em casa com minha família. Réveillon, idem. Depois de
comer, brindar e beber champanhe sem álcool, ouvi Olê, olá. Naquele momento, percebi, pela primeira vez,
que a voz do Chico e da Bethânia soavam normais de novo. Eu já tinha notado que a voz da minha mãe e
outras vozes já me soavam naturais outra vez, mas voltar a ouvir a música do Chico representou uma espécie
de "certificação de cura", de volta à normalidade, de paz com a cultura pop. E a letra, embora faça parte do
contexto da ditadura militar da época, acabou tendo um significado particular para mim. Chorei.
4 DE FEVEREIRO DE 2009_Confirmaram a vinda do B-52's ao Brasil, com show em São Paulo marcado para 18 5
de abril. B-52's é minha banda favorita desde os 9 anos. Fiquei exultante.
7 DE FEVEREIRO, sábado_Decidi colocar um basta no meu período de abstinência alcoólica e de balada. Meu
primo me convenceu a ir a uma festa com show do Double You, aquela bandinha dancedos anos 90 que fez
menos sucesso que o Information Society, hoje tão decadente quanto. Eu não tinha mais nada para fazer e
resolvi embarcar no revival-pop-trash. Por via das dúvidas, era só ficar longe das caixas de som.
Chapei. Mas não fiquei "soltinho" a ponto de expurgar da minha mente a preocupação com o som alto.
Procurei ficar longe, circulando apenas nos cantos e laterais opostos ao palco, mas não aguentei ficar lá muito
tempo. Fui embora sem dar tchau, antes do show acabar, temendo o pior.
8 DE FEVEREIRO, DOMINGO_O zumbido aumentou ligeiramente, assim como a sensibilidade a sons agudos.
Isso me fez perceber que altos decibéis me fariam mal para sempre. Não tinha jeito. Era como ter a
superaudição do Super-Homem, mas ser sempre atormentado pelo grito do Canário Negro, que faz os ouvidos
do homem de aço sangrarem. Percebi que o zumbido não era mais meu principal problema (apesar de ter
aumentado), mas a hipersenbilidade auditiva, a fragilidade dos meus ouvidos a altos decibéis, além dos sons
agudos. Eu não poderia mais me arriscar em shows, festas e afins. E o show do B-52's estava fora de questão.
Naquele momento, imaginei que fosse o começo da ruptura definitiva com o meu antigo eu. Havia dois de
mim. O do passado, batendo na porta trancada, e o novo, atravessando um corredor sem fim.
MARÇO_O Carnaval passou batido, pois fiquei em casa. Eu ainda estava bastante paranoico. Mas havia uma
regra: qualquer volume que me impedisse de ouvir normalmente a conversa de alguém podia causar
problemas. Sendo assim, passei a frequentar a academia em horários em que não havia aulas aeróbicas com
música alta, evitei bares com som ao vivo etc. Eu não era mais o cara da diversão. Tornei-me o cara
"sossegado", desencanado, que não curte muito balada. Mal sabiam eles. Eu queria uma rave.
Por outro lado, ir ao show, na condição em que eu estava, poderia ocasionar uma volta a todo o pesadelo
sonoro que gerou minha crise existencial. "Que triste demônio vive empurrando você a correr de um lado
para outro nessas reuniões?", escreveu o escritor israelense Amós Oz, no livroRimas da Vida e da Morte,
sobre os impulsos e dilemas do protagonista da história.
Após muita conversa com o otorrino, decidi encarar o show usando um protector auricular. Como não pensei
nisso antes? Descolei um modelo descartável de espuma, sem fios, que reduz o barulho em 29 decibéis.
Parece que você está com rolhas nos ouvidos.
- Mas não fique muito perto das caixas de som. Não vai ficar igual bobo lá na frente do palco?- recomendou o
médico, durante a consulta.
18 DE ABRIL, SÁBADO_Dia do show. O clima de decepção estava forte. Primeiro: teria que curtir o show de
longe. Segundo: a banda não havia tocado Legal tender (hino da banda no Brasil). Terceiro: minha concepção
de apresentações da banda tinha sido moldada por vídeos antigos vistos no YouTube, da época em que eles
eram jovens. E eles estavam velhos e inchados, com exceção de Keith Strickland, que parece ter sido
encapsulado no tempo. Mas, ainda assim, seriam eles. Sim! Eram eles! A loira, Cindy Wilson; a ruiva, Kate 6
Pierson; Fred Schneider, terceira voz do grupo; e Keith.
O show para mais de 4 mil pessoas começou com Pump, do último disco. Continuei no fundo, à esquerda, no
meio de um pessoal pouco animado. O público, aliás, era dividido entre trintões saudosos e moderninhos
mais jovens. De longe, eu via a turma da boca do palco pular com fervor. Eu não estava curtindo o show
direito. Eu precisava pular perto do palco. Eu precisava ver a banda de perto.
Após a música, voltei a atravessar o mar de cabeças, e fui para o fundo da pista, perto do balcão do bar. Tive
minha redenção.
No fim, não tocaram Legal tender mesmo, apesar do coro do público depois do bis. No geral, a plateia estava
meio apática.
Deixei o Credicard Hall sentindo um certo rebuliço nos ouvidos. Talvez fosse só emoção.
19 DE ABRIL, DOMINGO Minha audição parecia estar como antes. Foi um alívio.
Ver tinnitus.
Ver também hipersensibilidade auditiva.
Ver também hiperacusia.
Ver também fonofobia.
Ver também paranoia.
TIPOS DE HIPERSENSIBILIDADE A SONS: hiperacusia, fonofobia e recrutamento
Muitas pessoas irritam-se diante de sons altos e contínuos. Entretanto, algumas são especialmente sensíveis e não conseguem tolerar nem mesmo níveis normais de som. São os indivíduos que apresentam o que denominamos de hipersensibilidade a sons.
Os estudos em audiologia clínica geralmente focalizam apenas o recrutamento, fenômeno que ocorre nas disacusias sensoriais (lesão da cóclea) como responsável pela sensação de desconforto aos sons. Entretanto, há outros tipos de hipersensibilidade a sons como a hiperacusia e a fonofobia. Como a abordagem é diferente para cada tipo, o seu reconhecimento correto é necessário para a instituição do tratamento adequado. Considerando que estes pacientes também têm zumbido associado, os procedimentos usados na avaliação requerem cuidado especial para evitar sua exacerbação.Partindo-se do princípio que uma orelha normal não só pode ouvir sons extremamente baixos (entre 0 e 20 dB) como também pode tolerar sons de alta intensidade sem desconforto, vamos entender os 3 tipos distintos de hipersensibilidade:1- A hiperacusia ocorre em indivíduos com audição normal e representa uma sensibilidade anormal, ou seja, intolerância a sons de baixa ou moderada intensidade 5-10,17. É causada por uma alteração no processamento central dos sons, estando a cóclea geralmente preservada. Como manifestação, provoca sensação de desconforto a inúmeros sons do meio ambiente, mesmo de intensidade baixa ou moderada, independente da freqüência que os compõe, como por exemplo água corrente, ventilador, refrigerador, lava-louças, carro, telefone, campainha, portas fechando, etc.
2- Na fonofobia, apenas determinados sons produzem esse desconforto, dependendo do seu significado
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ou associação, enquanto outros sons agradáveis (música, por exemplo) podem ser tolerados em intensidades muito mais altas 4,9,10. Uma expressão comum de fonofobia é a intolerância à música moderna (mesmo que distante), ao escape de música pelos fones de ouvido em público e o atrito de giz na lousa, entre outros. Alguns pacientes podem apresentar associação de hiperacusia e fonofobia em diferentes graus. Isto significa que eles literalmente temem a exposição a um certo som, geralmente pela convicção de que o som prejudicará o ouvido, seja aumentando o zumbido ou provocando perda auditiva, mesmo quando apresentado em baixa intensidade.
3- O recrutamento ocorre associado à perda auditiva de origem sensorial, onde a incapacidade de ouvir sons baixos (por exemplo de 50 dB), particularmente nas alta freqüência, é acompanhada por uma intolerância paradoxal a sons mais altos (por exemplo de 80dB), freqüentemente com distorção do mesmo. O recrutamento ocorre por uma redução nos elementos sensoriais da orelha interna (células ciliadas), de forma que a percepção de volume para intensidades progressivamente crescentes é muito rápida, pois mais fibras nervosas são “recrutadas” para um determinado estímulo. Este crescimento rápido é restrito à parte da orelha interna que está lesada.
A hiperacusia e a fonofobia freqüentemente são confundidas com recrutamento. Talvez a maioria das pessoas com hipersensibilidade associada à perda auditiva apresente recrutamento, ou talvez até algum grau de fonofobia. Entretanto, quando a audição é normal, a hipersensibilidade é devida à hiperacusia / fonofobia, e não ao recrutamento.
A HIPERACUSIA
PROPRIAMENTE DITA
Sua prevalência na população geral é incerta, mas cerca de 25 a 40% dos pacientes com zumbido também têm hiperacusia, sendo este freqüentemente o problema mais severo, que mais restringe a vida normal 4,9-11. Pode afetar indivíduos de qualquer idade e sexo, sendo uni- ou bilateral. Talvez por não estar relacionada à mortalidade, tende a ser menosprezada pelos profissionais, embora a morbidade nos casos graves possa ser impressionante.
O nome hiperacusia não é adequado ao seu significado. O prefixo “hiper”, de origem grega, significa excessivo e “akousis” significa audição 17. Assim, tecnicamente a palavra hiperacusia significa “muita audição” ou “audição excessiva”. Os pacientes a descrevem como se pudessem ouvir sons que outras pessoas não podem. Na verdade, o sentido correto da hiperacusia é o da hipersensibilidade a sons, em termos de desconforto. Quer dizer, os limiares auditivos tonais de uma pessoa hiperacúsica são os mesmos de uma pessoa normal (ela não ouve melhor que os outros); o que varia é a intensidade necessária para alcançar o desconforto, ou seja, há uma redução na tolerância aos sons. Desse modo, a palavra hiperacusia deve ser restrita a pacientes que se queixam de desconforto a vários tipos de som, mesmo que de baixa intensidade. Mecanismos FISIOPATOLÓGICOS A percepção consciente do som só ocorre quando o estímulo alcança o córtex auditivo no lobo temporal. Até a consciência ocorrer, nenhum som é percebido. As vias auditivas centrais têm a capacidade de diferenciar as mensagens importantes dos ruídos de fundo sem importância 8-10. Freqüentemente o sinal é relativamente fraco em força, mas forte em significado. O propósito dessa habilidade de ampliar sinais pequenos e suprimir outros é facilitar a identificação de possíveis ameaças no ambiente. Um exemplo é a percepção do som de um predador (mesmo que de baixo volume) por um animal que vive em um ambiente hostil. Outro exemplo é nossa capacidade de perceber o chamado de nosso nome num ambiente ruidoso, enquanto outros sons podem passar despercebidos.
Nas vias subcorticais, um sinal importante é percebido com base em aprendizado prévio. Este sinal pode
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ser realçado e sua passagem facilitada pelas vias auditivas. Essas vias não são meros cabos elétricos inertes, mas sim uma complexa rede neuronal que trabalha ativamente, alterando a resistência elétrica de suas células nervosas 8-10. Isto é semelhante ao que ocorre em uma estação telefônica para permitir que uma pessoa fale com outra. O padrão elétrico desses sons nas vias subcorticais pode representar muitas freqüências diferentes e vai ser comparado a outro padrão guardado em nossa memória auditiva.
A hiperacusia significa um aumento anormal de ganho nas vias auditivas após um input auditivo pequeno, o que pode resultar no aumento da percepção não apenas dos sons externos (hiperacusia), como também dos internos, como o próprio funcionamento da cóclea (zumbido). Desse modo, há uma redução importante da tolerância à intensidade de sons, de forma que quase todos os sons são percebidos como muito altos ou desconfortáveis. Daí a provável explicação para a alta prevalência da associação de hiperacusia em pacientes com zumbido (25 a 40% dos casos), uma vez que a base fisiopatológica pode ser a mesma. Inclusive, é possível que a hiperacusia seja um estado pré-zumbido 10.
Sob circunstâncias normais, ouvimos sons mais intensos parecendo mais altos do que sons baixos, e isso nos parece óbvio. Entretanto, nossa percepção de intensidade não é ditada apenas pela força ou intensidade que o som chega à orelha, mas também pelo seu significado ou associações. Por exemplo: alguns sons ficam altos, intrusos e desagradáveis, como o som do giz arranhando uma lousa ou da música ouvida pelo filho do vizinho, mesmo que não sejam verdadeiramente altos.
Quando a intensidade de um som é aumentada progressivamente, esse som passa a ser desconfortável em uma determinada intensidade, que pode ser medida através do teste do “limiar de desconforto” ou “uncomfortable loudness level” (UCL), determinando-se o limite superior de tolerância a sons em cada freqüência. A partir dos limiares tonais, a intensidade do som é progressivamente aumentada e o paciente deve indicar quando esses sons tornam-se incômodos, antes de serem percebidos como dolorosos. Em normouvintes, o UCL costuma ser ao redor 110 a 120 dBNA. Na hiperacusia, sons com menos de 100 dBNA já produzem desconforto10 e muitos pacientes podem apresentar-se com desconforto em intensidades menores do que 90 dBNA1.
O Sistema Límbico e a Resposta Emocional
Mudanças no estado emocional, particularmente flutuações de humor ou ansiedade, podem aumentar a estimulação global e podem nos fazer mais capazes de descobrir ameaças potenciais em nosso ambiente. Estas mudanças emocionais podem aumentar a “intensidade” aparente e a irritação a sons para os quais já temos hipersensibilidade. Em algumas pessoas isto resulta em um aumento na percepção de todos os estímulos, sejam eles visuais, auditivos, olfatórios ou dolorosos.
O processo de desenvolvimento da hipersensibilidade envolve o sistema límbico. O foco de atenção é ocupado pelo som, de modo que há interferência com a concentração em outras tarefas. O aparecimento repetido do som que induz aborrecimento, raiva ou medo, resulta no estabelecimento de uma resposta reflexa subconsciente com ativação automática e invariável do sistema límbico e sistema nervoso autônomo. Essas reações do sistema nervoso são semelhantes às que ocorrem, por exemplo, quando estamos a ponto de atravessar uma rua e de repente ouvimos uma buzina, prontamente parando e olhando na direção do som! Reflexos protetores desencadeiam uma mensagem de emoção desagradável para assegurar que uma reação ocorra. Eles também estimulam o sistema nervoso autônomo para nos preparar para a reação de “luta ou fuga”, provocando outras reações concomitantes, como o aumento na freqüência cardíaca, sudorese fria, contração muscular e outras respostas do organismo mediadas pela adrenalina.
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AVALIAÇÃO
A presença de hiperacusia já pode ser suspeitada com base na anamnese do paciente. Às vezes, quando indagado sobre a presença de hipersensibilidade a sons, o paciente não sabe informar que tipos de som lhe são desconfortáveis, gerando uma certa confusão entre hiperacusia e fonofobia (lembre-se que o recrutamento existe em pacientes com lesão coclear e pode ser claramente identificado pela diminuição do limiar necessário para evocar o reflexo estapediano).
Após a suspeita pela anamnese, o próximo passo é tentar confirmar através do UCL para tons puros em cada freqüência para cada orelha individualmente (descrito anteriormente). Valores menores do que 100 dBNA em indivíduos com limiares tonais normais já indicam a presença de hiperacusia.
Recentemente, o uso das emissões otoacústicas vem se realçando na avaliação da teoria da disfunção das vias eferentes em pacientes com hiperacusia e com zumbido 2,7,12,16. As vias eferentes, através do sistema olivococlear eferente medial, são responsáveis pela modulação inibitória das contrações rápidas das células ciliadas externas através da produção de contrações lentas nessas mesmas células, atenuando o processo de amplificação coclear 13.
Em indivíduos normais, as emissões otoacústicas podem ser suprimidas com estímulo contralateral. A ausência dessa supressão pode ocorrer em casos de zumbido e hiperacusia, sugerindo sua relação com a possível disfunção do trato eferente medial3,6, 14,18, que poderia ser responsável, pelo menos parcialmente, pelo ganho existente nas vias auditivas centrais desses pacientes. Segundo Zheng, em 1996, 50% dos pacientes com zumbido e 100% dos pacientes com hiperacusia apresentaram ausência no efeito supressivo das emissões otoacústicas, corroborando ainda mais essa teoria, assim como a da existência da mesma base fisiopatólogica para ambos os sintomas18.
TRATAMENTO
No silêncio, a ausência de aferências do mundo externo provoca um aumento de ganho auditivo central ou “amplificação”. Os filtros auditivos reagem na tentativa de monitorar o ambiente externo. Sons externos podem, então, aumentar dramaticamente de intensidade e incômodo. Isso pode ser comparado ao que ocorre, por exemplo, quando cruzamos a perna por tempo prolongado até ocorrer sensação dolorosa como a percepção dos estímulos sensitivos fica temporariamente interrompida pela posição da perna cruzada, o sistema nervoso central aumenta seus filtros para a percepção daquela região, provocando a dor.
Quando a hiperacusia se inicia, há uma grande tentação de usar protetores auriculares continuamente para evitar os sons incômodos. Entretanto, considerando-se que a intensidade dos sons que provocam hiperacusia é baixa ou moderada (e, portanto, não lesam o ouvido), a super-proteção auditiva está contra-indicada, pois aumenta o efeito de amplificação auditiva a nível central para o córtex auditivo, aumentando a intensidade desses sons (semelhante ao que ocorre com o zumbido).
Então, um treinamento é necessário nesses casos. O primeiro passo é orientar o paciente a entrar em contato gradualmente com os sons ambientais, ao invés de evitá-los. É claro que sons de alta intensidade podem prejudicar a orelha (por exemplo tiro, danceterias, maquinaria industrial, etc.) e requerem proteção apropriada. Entretanto, para o paciente com hiperacusia todos os sons são altos, portanto é compreensível sua dificuldade em entender que aquele determinado som incômodo, às vezes até doloroso, pode ser bastante inofensivo. Inicialmente, o tratamento com a exposição aos sons ambientais pode não ser agradável para a maioria desses pacientes, mas fazendo um paralelo, muitos medicamentos têm um gosto desagradável, embora sejam efetivos.
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Pesquisas recentes mostraram que o uso de geradores de som com ruído branco pode ajudar a abolir a hipersensibilidade a sons, particularmente nos pacientes com audição normal (hiperacusia / fonofobia), uma vez que o volume do som precisa ser aplicado suave e gradualmente à orelha, iniciando-se em níveis muito baixos. Esse treinamento resulta em um reajuste permanente do ganho auditivo a nível central, que ocorre em poucos meses, promovendo uma redução definitiva na intensidade em que os sons eram previamente percebidos com desconforto. Essa mudança gradual também pode ser comprovada pelo teste do limiar de desconforto (UCL), como demonstrado pela primeira vez por Hazell e Sheldrake, em 1992.8
O treinamento é um processo lento, mas definitivo. O período necessário para a obtenção dos resultados favoráveis depende do tempo e da severidade da hiperacusia, mas geralmente podem ser notados após 2 meses.
Nos casos em que a fonofobia coexiste, nenhuma mudança permanente no desconforto é alcançada sem uma orientação individual eficaz para anular as convicções impróprias responsáveis pelo estado da fobia. É o mesmo que ocorre para qualquer tipo de fobia (de lugares fechados, aranhas ou altura). Quando há um medo irracional de que sons ambientais normais possam prejudicar o ouvido, é importante treinar o sistema auditivo, tanto a nível consciente como subconsciente, para responder de maneira mais apropriada aos estímulos sonoros.
REFERÊNCIAS
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Endereço para correspondência: Dra. Tanit Ganz Sanchez. Rua Pedroso Alvarenga, 1255 cj. 26 - Itaim Bibi - São Paulo - SP - Telefone: (0xx11)3064-6556 - Fax: (0xx11)881-6769 - E-mail: [email protected]
1- Médica Assitente Doutora da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
2- Fonoaudióloga chefe do setor de Audiologia da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
3- Professor Associado da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Aqui estão dicas para evitar alguns dos problemas auriculares mais comuns.
Otite externa (ou otite dos nadadores)
Os dias quentes e ensolarados na praia são divertidos. Lidar com a otite dos nadadores, não.
A otite externa, também chamada de otite dos nadadores, é uma infecção do canal do ouvido externo. Essa doença geralmente é causada por bactérias comuns e, às vezes, por fungos. Acontece quando bactérias se aninham em um canal do ouvido externo que esteja quente e úmido, condições que elas adoram. Ficar dentro d'água durante muito tempo não só cria estas condições, como tende a limpar a cera que normalmente reveste e protege o canal auricular. As bactérias podem levar vantagem e você pega uma infecção.
Na verdade, outras atividades podem desencadear um caso de otite externa, além da natação. A água pode ficar no seu ouvido após uma chuveirada. Ou nem precisa haver água: vasculhar com um grampo de cabelo ou com um cotonete pode arranhar a pele delicada do canal auricular e derrubar a barreira contra bactérias.
Qualquer que seja a causa, a otite externa em geral começa com uma coceira ou um comichão no ouvido. Resista à vontade de coçar, pois isso pode piorar o problema. Nos casos mais graves, você pode sentir dor e corrimento ou até mesmo um pouco de perda auditiva em função do inchaço do canal auricular. Uma maneira de saber se a infecção é no ouvido externo e não está mais profunda, é observar se dói quando você puxa e aperta suavemente.
A otite dos nadadores não é um resultado inevitável de um dia na piscina ou na praia. Aqui estão algumas medidas preventivas:
Evite nadar em águas sujas, onde há mais bactérias. Não deixe a água ficar no seu ouvido. Em geral, você pode senti-la escorrer. Sacuda a
água após tomar banho ou nadar. Se você nada habitualmente, use antissépticos de gotas, especiais para os ouvidos, a fim
de prevenir as infecções. Você também pode preparar rapidamente a sua própria mistura antisséptica, usando partes iguais de álcool farmacêutico e vinagre branco. Não faça isso se o seu tímpano não estiver completamente intacto. Consulte um médico antes de usar um antisséptico, para ter certeza de que é seguro para você.
Use uma touca de natação para evitar que a água entre no ouvido. Não cutuque o ouvido externo com objeto algum. Isso remove a proteção natural contra as
bactérias.Pessoas com diabetes podem desenvolver uma forma especialmente grave de otite externa chamada otite externa maligna. Esses pacientes devem procurar ajuda médica o mais rápido possível.
Manutenção regular
Exames médicos: a maioria das pessoas só examina os ouvidos quando há algum incômodo. Pode não haver nada de errado com essa atitude. Não existem regras rígidas e permanentes sobre quando fazer um exame de audição, mas há alguns pontos a se levar em consideração.
Exercício físico e perda de audição
As pessoas que estão em boa forma se recuperam melhor da perda de audição temporária causada por barulhos muito altos, de acordo com pesquisadores da Universidade Miami em Oxford, Ohio. Parece que o exercício físico, ao produzir uma certa proteína, pode fortalecer as frágeis células ciliadas, que detectam as ondas sonoras. Além disso, os exercícios melhoram a circulação, que
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também pode fazê-las trabalharem melhor. Portanto, é bem provável que o exercício físico seja bom para os seus ouvidos.
Se você trabalha em um ambiente barulhento, examine os ouvidos pelo menos uma vez
por ano. As crianças também devem fazer exames regularmente, principalmente as
pequenas, que podem não ser capazes de verbalizar o desconforto que estão sentindo.
Examinar os bebês também é muito importante. Do contrário, os problemas podem ser
descobertos apenas quando a criança aprender a falar.
Limpeza: ao contrário do que pensam muitas pessoas, na maioria das vezes, é melhor
deixar o cerume no ouvido. Ele está lá por uma boa razão: reter sujeira, bactérias e outras
partículas que podem causar ferimentos, irritação ou infecções.
Às vezes, no entanto, o cerume se intensifica. Mesmo assim, em grande parte das vezes,
os ouvidos se limpam sozinhos. Quando você come ou fala, os movimentos do maxilar
empurram a cera para o ouvido externo, de onde você pode remover com facilidade, usando
um pedaço de algodão humedecido.
Somente quando o cerume estiver causando desconforto ou atrapalhando a audição, você
deve fazer algo para removê-lo, mas com extremo cuidado. Os cotonetes deveriam vir
com uma etiqueta de aviso: NÃO COLOQUE PROFUNDAMENTE NOS OUVIDOS. Eles
podem fazer mais mal do que bem, empurrando a cera para dentro do canal auditivo,
até mesmo contra o tímpano, podendo interferir na audição. E não é só: eles também
podem prejudicar a delicada parede do canal ou perfurar o tímpano. Tanto um quanto o
outro podem levar a uma infecção.
Se o cerume estiver realmente incomodando e precisar ser removido, deixe que um
médico faça isso para você. Não use gotinhas para amaciar a cera. Se o problema não
estiver com o cerume, as gotas podem piorá-lo. Consulte um médico antes de fazer uso
dessa substância.
As infecções são o maior problema auricular das crianças. Na próxima secção, ensinaremos
você a prevenir e tratar esse problema.
Infecções auriculares
Quem tem filhos pequenos talvez já esteja acostumado com as infecções do ouvido médio, pois são
as doenças mais comuns de bebês e crianças pequenas. Os adultos também têm infecções de
ouvido, mas elas são muito mais graves nas crianças, pois são mais suscetíveis e os sintomas mais
intensos. Daremos algumas dicas para prevenir que as crianças tenham infecções do ouvido médio
A infecção do ouvido médio, conhecida entre os médicos como otite média, é a doença mais comum nos bebês e nas crianças pequenas. Pesquisadores estimam que pelo menos 75% das crianças enfrentam no mínimo uma infecção deste tipo durante os três primeiros anos de vida. Quase 50% têm três ou mais infecções auriculares durante estes primeiros anos
É claro que as crianças não são as únicas a ter infecções auriculares. No entanto, são elas as maiores vítimas. Os adultos são mais suscetíveis a infecções do ouvido externo, conhecida como "otite dos nadadores", porque em geral começa quando a água contendo bactérias ou fungos infiltra-se e fica retida no canal auricular.
Para entender como as infecções do ouvido médio se desenvolvem, é bom saber como funcionam os ouvidos saudáveis. O ouvido externo se conecta a uma cavidade cheia de ar chamada de ouvido médio. O tímpano, uma membrana fina, fica esticado na entrada dessa cavidade e três pequenos ossos que conduzem o som estão suspensos dentro dela. A pressão dentro da cavidade do ouvido médio se iguala à da atmosfera através de um tubo estreito, chamado de tuba auditiva (anteriormente denominada trompa de Eustáquio). A tuba auditiva se abre em uma cavidade atrás do nariz por onde ar e fluidos podem entrar ou sair. A pressão do ar no ouvido médio é equalizada toda vez que engolimos geralmente sem que percebamos. A tuba auditiva também conduz fluidos do ouvido médio.
Quando temos um resfriado ou uma alergia, a tuba auditiva incha e o ar é absorvido pela parede do ouvido médio, criando um vácuo parcial. O tímpano é então puxado para dentro e os fluidos escorrem da parede do ouvido médio. As bactérias ou vírus do nariz e da garganta podem migrar pela tuba auditiva e infectar o fluido quente e parado do ouvido médio, que proporciona um ambiente perfeito para elas viverem e se multiplicarem. Quando isso acontece, uma infecção está a caminho.
As crianças podem ser mais suscetíveis a infecções do ouvido médio por uma série de razões. Nelas, por exemplo, as tubas auditivas são menores e mais retas do que nos adultos, o que pode facilitar a penetração de bactérias e vírus. As crianças também pegam resfriados e dores de garganta com mais freqüência. Além disso, o sistema imunológico não está completamente desenvolvido durante a infância.
Prevenindo infecções auricularesMantenha o seu filho à distância - já que as infecções do ouvido médio geralmente começam com um resfriado ou outra infecção respiratória superior, você vai proteger o seu filho das otites mantendo-o afastado de outras crianças que estejam infectadas. Também pode ser benéfico certificar-se de que todas as alergias nasais estejam bem controladas. Se você estiver na fase de escolher uma creche para o seu filho, verifique como eles lidam com crianças que estejam doentes.Ensine o jeito certo de assoar o nariz - se o seu filho tiver idade suficiente, ensine-o a assoar o nariz com suavidade e não com força excessiva, para não direcionar a infecção para os ouvidos. Ensine-o a não sufocar o espirro fechando as narinas, já que isto também pode aumentar a infecção nos ouvidos.Não fume - eis outra razão para não fumar: as crianças que vivem com fumantes parecem mais suscetíveis a infecções do ouvido médio do que aquelas que moram em casas onde não se fuma. A fumaça do cigarro irrita a parede do canal nasal e da cavidade do ouvido médio, interferindo no funcionamento normal da tuba auditiva. Se você não consegue abandonar o cigarro, pelo menos leve o seu hábito para fora de casa.Tenha cuidado com mamadeiras - evite dar mamadeira para um bebê que esteja deitado de costas. Quando ele engolir, o líquido pode escorrer para a tuba auditiva e acumular-se, criando um ambiente favorável à reprodução de organismos infecciosos.Fique atento aos sinais - é essencial levar o seu filho ao médico logo que você suspeitar de uma otite, mas para isso você precisa estar atento aos sintomas que podem indicá-la. Uma criança mais velha pode reclamar de dor, mal estar ou obstrução no ouvido. Uma criança mais nova talvez não seja capaz de descrever a dor, por isso você precisa estar atento a outros sinais que possam indicar uma infecção auricular iminente, tais como puxar ou esfregar a orelha, fluido escorrendo do ouvido, choro insistente, enfim, qualquer problema com a audição ou o equilíbrio. Sinais de que uma infecção se instalou incluem febre, choro, náusea, vômito e irritação na orelha.Tratando uma infecção auricular
Se você suspeitar que o seu filho está com uma infecção de ouvido, leve-o ao médico. Quando uma infecção do ouvido médio é tratada prontamente, não se torna grave. Se não for tratada logo, seu filho pode sofrer uma perda auditiva e, em conseqüência, um atraso na aprendizagem e no desenvolvimento da fala. Depois de visitar o médico, no entanto, há algumas outras coisas que você pode fazer para ajudar o seu pequeno a se sentir mais confortável.
Siga estritamente as instruções do médico - o seu trabalho não termina com a visita ao médico. Você vai precisar garantir que o seu filho receba toda a medicação prescrita. Certifique-se também de que você entendeu e está seguindo as orientações para administrar os remédios. Ligue para o médico ou para o farmacêutico se tiver quaisquer dúvidas. Se um antibiótico foi receitado, é muito importante que o seu filho tome a medicação durante todo o tempo determinado.Mantenha o queixo do seu filho levantado - se o seu filho estiver deitado, apóie a cabeça dele sobre travesseiros. Elevar a cabeça vai ajudar as tubas auditivas a continuarem refluindo na parte de trás da garganta.Tente um calor moderado - aplicar uma bolsa térmica morna (não quente) no ouvido afetado pode fazer o seu filho se sentir mais confortável.
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Paracetamol - tente dar paracetamol para o seu filho a fim de ajudar a aliviar a dor e a febre. Não dê aspirina. Seu uso em crianças com doenças virais foi associado à Sindrome de Reye, doença geralmente fatal que deteriora de maneira perentina e grave as funções do fígado e do cérebro.
Abordamos a maioria dos problemas com os ouvidos que vocêr irá encontrar, mas há problemas mais graves, como a surdez e o zumbido. Vá para a próxima página para uma investigação de outras doenças dos ouvidos.
Doenças dos ouvidos
As infecções auriculares e os danos causados por barulhos excessivamente altos geralmente são problemas
temporários. No entanto, alguns incômodos podem se tornar doenças graves e duradouras. Surdez, falta
de equilíbrio e zumbido constante nos ouvidos são sinais de problemas sérios. Apresentaremos um guia
das várias doenças auriculares existentes e de como tratá-las. Também ensinaremos como diferenciar um
problema que você pode cuidar sozinho daqueles que necessitam da atenção de um médico.
Essas informações têm propósitos apenas informativos. ELAS NÃO FORNECEM ORIENTAÇÕES MÉDICAS. Tanto
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aqui contidas. A publicação dessas informações não constitui prática da medicina e não substitui as
orientações de seu médico ou outro profissional da saúde. Antes de iniciar qualquer tratamento, o leitor deve
procurar o conselho do seu médico ou de outro profissional de saúde.