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UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E
CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM
ADMINISTRAO
FATORES FINANCEIROS DETERMINANTES DA MORTALIDADE DE MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS
Carlos Alberto Ercolin
Orientador: Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa
SO PAULO 2007
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Profa. Dra. Suely Vilela Reitora da Universidade de So Paulo
Prof. Dr Carlos Roberto Azzoni Diretor da Faculdade de Economia,
Administrao e Contabilidade
Prof. Dr. Isak Kruglianskas Chefe do Departamento de
Administrao
Prof. Dr. Lindolfo Galvo de Albuquerque Coordenador do Programa
de Ps-Graduao em Administrao
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CARLOS ALBERTO ERCOLIN
FATORES FINANCEIROS DETERMINANTES DA MORTALIDADE DE MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS
Dissertao apresentada ao Departamento de Administrao da
Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade
de So Paulo, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de
Mestre em Administrao.
Orientador: Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa
SO PAULO 2007
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.
Dissertao apresentada ao Departamento de Administrao da
Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade
de So Paulo - Programa de Ps-Graduao em Administrao, seguinte banca
examinadora: Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa - presidente
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AGRADECIMENTOS
minha esposa Cecilia, pela compreenso, principalmente nas minhas
constantes ausncias, ocasio em que tomou frente a administrao de
nosso lar e a educao de nossa filha. Sem ela, as inmeras horas
dedicadas a este esforo teriam sido ainda mais longas.
minha filha, Carolina, por compreender minha indisponibilidade
de tempo e ter aceito esta condio, ainda que com certa relutncia,
compreensvel na sua pouca idade.
minha me, Noely, pela esmerada educao que me proporcionou, pelos
exemplos de fora e bravura corroborado recentemente, pois logrou
xito no vestibular para Pedagogia, aos 68 anos de idade e j bisav-
para enfrentar situaes difceis, e pela conduta e carter, sempre
pautados na retido. minha querida irm, Eliza, mestre em Psicologia
e j se preparando para o Doutorado, que me faz orgulhoso por seu
desempenho escolar e profissional.
Ao meu pai (in memorian) por ter-me ensinado o valor de se fazer
a coisa certa.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa, pela ajuda
na definio do tema de pesquisa, pelos momentos de discusso, pelo
incentivo e por suas cobranas sempre muito justas.
Aos professores Dres., Rubens Fam e Ricardo Jos de Almeida, por
participarem como membros da banca de qualificao, oferecendo seus
conhecimentos sempre atualizados e ricos comentrios, alguns dos
quais j presentes neste texto revisado.
Aos demais professores e colegas de ps-graduao, com os quais
pude reaprender a estudar e renovar meu amor pela leitura (sempre
presente e exigida neste programa de ps graduao), agradeo a
convivncia e aprendizado obtidos durante o programa de
Mestrado.
Finalmente, no querendo cometer a injustia de esquecer esta ou
aquela pessoa, agradeo a todos que, de alguma maneira, contriburam
para mais esta etapa muito importante e especial- de minha
vida.
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RESUMO
O principal objetivo desta dissertao foi identificar, descrever,
analisar e classificar os principais fatores financeiros
relacionados morte prematura de micros e pequenas
empresas na cidade de So Paulo. Partindo de alguns estudos j
existentes foi elaborado um questionrio que foi aplicado a vrios
executivos financeiros e, a partir da, confrontaram-se seus pontos
de vista com o que preconiza a teoria de finanas. As concluses
levantadas esto alinhadas com outros estudos que no apontam apenas
uma, ms vrias, as causas que levam um empreendimento de micro ou
pequeno porte morte prematura.
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ABSTRACT
The main objective of this dissertation was to identify,
describe, analyse and classify the main financial factors
relationed to the early failure of the So Paulo micro and small
companies. Starting from previous studies some questions were built
and a questionnaire was applied to several financial executives and
their responses were challenged to the financial theory. The
conclusions are in line with other studies that point out not only
one but several the causes that drive a micro or small company to
an early failure. .
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SUMRIO
LISTA DE SMBOLOS E
ABREVIATURAS.....................................................................
10 LISTA DE
TABELAS.........................................................................................................
11 LISTA DE GRFICOS
.......................................................................................................
13 LISTA DAS DEMAIS
ILUSTRAES..............................................................................
14 LISTA DE
ANEXOS...........................................................................................................
15 1 INTRODUO
............................................................................................................
16
1.1 Tema e descrio do problema em
estudo.........................................................................
16 1.2 Objetivos da dissertao
.....................................................................................................
22 1.3 Justificativa da importncia do tema
...................................................................................
23 1.4 Delimitaes do assunto
.....................................................................................................
26 1.5 Estrutura do
Trabalho..........................................................................................................
27
2 METODOLOGIA
.........................................................................................................
28 2.1 Tipologia do estudo
.............................................................................................................
28 2.2 Perguntas que se espera sejam respondidas ao final deste
trabalho: ............................... 29
3 FUNDAMENTAO TERICA
.................................................................................
30 3.1 Empreendedorismo
.............................................................................................................
30
3.1.1 Empreendedorismo no contexto internacional
........................................................... 30
3.1.2 Empreendedorismo no Brasil
.....................................................................................
33
3.2 Mortalidade de
empresas....................................................................................................
38 3.2.1 Estudos sobre mortalidade de empresas no mundo
....................................................... 42 3.2.2
Estudos sobre mortalidade de empresas no
Brasil.................................................... 58
3.3 Fatores contribuintes para a
mortalidade............................................................................
70 3.4 Micro e pequena
empresa...................................................................................................
76 3.5 Decises financeiras
...........................................................................................................
80
3.5.1 Planejamento
...................................................................................................................
83 3.5.2 Deciso de
Investir...........................................................................................................
86 3.5.3 Deciso de Financiar
.......................................................................................................
87 3.5.4 Deciso de Distribuir resultados
......................................................................................
89
4 A
PESQUISA................................................................................................................
90 4.1
Premissas............................................................................................................................
90 4.2 Delimitao da
Pesquisa.....................................................................................................
90 4.3
Qualificao.........................................................................................................................
91 4.4 Mtodos e Formas de Coleta de Dados
.............................................................................
92
4.4.1 Fontes de Dados
........................................................................................................
92 4.4.2 Tipos de Dados
.............................................................................................................
92 4.4.3 Meio de Coleta de Dados
...............................................................................................
92
-
4.5 Populao, Tamanho da Amostra e Amostragem
.............................................................. 93
4.5.1 Populao
.....................................................................................................................
93 4.5.2 Tamanho da
Amostra.....................................................................................................
94 4.5.3 Amostragem
.................................................................................................................
94
4.6 Procedimentos de Coleta de Dados
...................................................................................
95 4.7 Construo do Instrumento de Coleta de
Dados................................................................
95
4.7.1 Escala Utilizada
............................................................................................................
95 4.8 Questes Aplicadas aos Respondentes
.............................................................................
95
5 ANLISE E INTERPRETAO DOS
RESULTADOS............................................. 102 6
CONSIDERAES
FINAIS.......................................................................................
104
6.1 Sugestes para pesquisas
complementares........................................................................
107
7
REFERNCIAS..........................................................................................................
108 8 CRONOGRAMA DE TRABALHO
............................................................................
119
ANEXOS...........................................................................................................................
120
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LISTA DE SMBOLOS E ABREVIATURAS
ANEFAC - Associao Nacional dos Executivos de Finanas,Administrao
e Contabilidade CLT - Consolidao das Leis do Trabalho EVA -
Economic Value Added ou Valor Econmico Agregado FC - Fluxo de Caixa
FCD - Fluxo de Caixa Descontado
FIESP - Federao das Indstrias do Estado de So Paulo IBGE -
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBOVESPA - ndice da
Bolsa de Valores de So Paulo IPO - Initial Public Offering (oferta
inicial de aes = colocao
inicial de capital) JUCESP - Junta Comercial do Estado de So
Paulo
PL - Patrimnio Lquido RAOL - Retorno sobre o Ativo Operacional
Lquido
R2 - R-quadrado TAE - Taxa de Atividade Empreendedora TIR - Taxa
Interna de Retorno VM - Valor de Mercado
VP - Valor Presente
VPL - Valor Presente Lquido
VR - Valor Presente do Valor Residual
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Participao das MPEs na economia
brasileira............................................10 Tabela 2 -
Participao do Estado de So Paulo no
Brasil.............................................11 Tabela 3-
Taxa de Mortalidade por Regio e Brasil (2000 2002)
%...........................11 Tabela 4 Estimativas do custo social
do fechamento das empresas paulistas.............13 Tabela 5 reas
de conhecimento mais importantes no primeiro ano de atividade de
uma empresa, segundo os proprietrios das empresas
(Brasil).......................................15 Tabela 6 -
Produtividade por porte da
empresa.............................................................19
Tabela 7 - Ranking do empreendedorismo no
mundo...................................................25 Tabela 8
- Fatores condicionantes do
empreendedorismo.............................................26
Tabela 9 - Condies que afetam o empreendedorismo no
Brasil.................................29 Tabela 10 -
Caractersticas do planejamento e da gesto das empresas abertas na
JUCESP, entre 1999 e
2003...........................................................................................30
Tabela 11 - Comportamento empreendedor nas empresas abertas na
JUCESP, entre
1999 e
2003....................................................................................................................31
Tabela 12 - Condies que afetam o empreendedorismo no
Brasil...............................61 Tabela 13 Razes para
Fechamento das
Empresas......................................................62
Tabela 14 Classificao dos fatores contribuintes para a
mortalidade........................64 Tabela 15 - Principais causas
da mortalidade das
empresas..........................................66 Tabela 16 -
Sobrevivncia e mortalidade das empresas paulistas de 1 a 5
anos...........69 Tabela 17 Critrios de
enquadramento........................................................................71
Tabela 18 Caracterizao de Micro e Pequenas Empresas (Receita
Bruta)................72 Tabela 19 - Caracterizao de Micro e
Pequenas Empresas (No. De Funcionrios).....72 Tabela 20 - Segmentos
pesquisados.............................................................................88
Tabela 21 - Afirmaes do questionrio segregadas por polticas
financeiras................91
Tabela 22 - Afirmaes vlidas do questionrio segregadas por
polticas financeiras....94
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Tabela 23 - Classificao espontnea dos fatores pelos executivos
da ANEFAC.............96 Tabela 24 - Classificao (resumida)
espontnea dos fatores pelos executivos da
ANEFAC..............................................................................................................................97
Tabela 25 - Classificao a partir da anlise da diferena entre as
mdias.......................97 Tabela 26 - Classificao a partir da
anlise da diferena entre as mdias........................99 Tabela
27 - Classificao espontnea dos fatores pelos executivos da
ANEFAC............99 Tabela 28 - Sobrevivncia e mortalidade das
empresas paulistas de 1 a 5 anos..............100 Tabela 29 -
Sntese dos principais fatores que levam uma empresa
morte...................100
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Pessoal ocupado nas MPEs Formais e informais ( Em
milhes de
pessoas)............................................................................................................................10
Grfico 2 Taxa de mortalidade das MPEs no Estado de So
Paulo............................12 Grfico 3 Taxa de mortalidade
das empresas paulistas (rastreamento out/dez 2004) 12 Grfico 4
Nascimentos e Mortes em
2000..................................................................13
Grfico 5 - Mortalidade de empresas, por
Estado..........................................................35
Grfico 6 - Motivos alegados pelas empresas encerradas para o
fechamento do
negcio.............................................................................................................................67
Grfico 7 - Auxlio que teria sido til para evitar o
fechamento...................................68 Grfico 8 - Comparao
de taxas: estudos anteriores versus estudo
atual....................69
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LISTA DAS DEMAIS ILUSTRAES
Ilustrao 1 Fluxo do investimento em novas
empresas.............................................26 Ilustrao 2
Definies de
Falncia............................................................................39
Ilustrao 3 - Insolvncia associada a saldos e insolvncia associada a
fluxos.............41 Ilustrao 4 Ciclo de Vida das
Organizaes..............................................................42
Ilustrao 5 - Matriz
BCG.............................................................................................45
Ilustrao 6 - Matriz BCG Crescimento e
share........................................................45
Ilustrao 7 Contexto do Planejamento de Novas
Empresas......................................48 Ilustrao 8 -
Atividades financeiras (atividades bsicas do administrador
financeiro)........................................................................................................................76
Ilustrao 9 Quatro fases da
estratgia........................................................................78
Ilustrao 10 Execuo bem-sucedida da
estratgia...................................................79
Ilustrao 11 - O processo da funo
financeira............................................................82
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LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 - Roteiro da pesquisa
qualitativa.....................................................................114
Anexo 2 - Principais itens utilizados na Pesquisa
Qualitativa.......................................116 Anexo 3 -
Questionrio
auto-preenchimento.................................................................118
Anexo 4 - Instrumento de coleta e
dados......................................................................126
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1 INTRODUO
1.1 Tema e descrio do problema em estudo
O pblico interessado na situao financeira de uma empresa bem
variado, indo do governo, clientes, fornecedores, e empregados, at
auditores, consultores, gestores, acadmicos, pesquisadores e
estudantes.
Um dos primeiros trabalhos que se tem notcia sobre este tema o
de Fitzpatrick (1932) que comparou dezenove empresas bem sucedidas
com outras 19 que foram falncia entre 1920 e 1929 nos Estados
Unidos. Outros pontos de destaque remontam a 1966, com os estudos
de Beaver (1967) e posteriormente o de Altman (1968). No Brasil um
estudo foi desenvolvido por Kanitz (1976), sucedido pelo de Altman,
Baydia e Dias (1979).
A maioria dos estudos citados e outros se concentram nos fatores
que contribuem para o
fracasso das empresas de mdio e de grande porte. Poucos estudos
(nacionais e internacionais) focaram esta problemtica do ponto de
vista da micro e da pequena empresa.
As micro e as pequenas empresas legalmente constitudas no Brasil
eram 5,1 milhes em 2003 (IBGE 2003). Naquele mesmo ano 9,1 milhes
de pequenos negcios eram informais. Tambm vm se destacando como
geradoras de ocupao e renda no pas, participando cada vez mais na
formao do produto interno bruto PIB- anual. Segundo pesquisa do
SEBRAE (2004), 99% das empresas do pas so de micro e pequeno porte,
respondendo por quase 70% dos postos de trabalho do setor privado,
conforme grfico abaixo, alm de j representar 20% do PIB
-
Tabela 1 Participao das MPEs na economia brasileira Varivel MPEs
no Brasil
Nmero de empresas 99%
Faturamento 28%
PIB 20%
Valor das exportaes 2%
Fonte: SEBRAE (2004)
0,72,1 3,1 2,2
5,84,6
6,7 4,8
16,3
13,7
02468
1012141618
Constr Civil Indstria Servios Comrcio Todossetores
FormaisInformais
Grfico 1 Pessoal ocupado nas MPEs Formais e informais ( Em
milhes de pessoas) Fonte: IBGE (2004)
Ao mesmo tempo, possuem baixa competitividade, pois representam
apenas 2,3% das exportaes totais das empresas industriais (SEBRAE
2004), 98,6% das MPE utilizam tecnologias/processos conhecidos a
mais de um ano (GEM 2005) e 85,7% das MPE afirmam que seus produtos
no so considerados novos por seus consumidores (op. cit.).
O estado de So Paulo lidera nos empregos deste setor, pois
emprega mais que a soma das regies Nordeste, Centro-Oeste e Norte,
juntas, e aparece como o principal estado empregador do pas,
conforme o IBGE (2001).
A participao do Estado de So Paulo se faz sentir em outros
aspectos do pas, conforme se pode verificar no quadro a seguir:
-
Tabela 2 Participao do Estado de So Paulo no Brasil
Varivel So Paulo / Brasil
Produto Interno Bruto (PIB) 32%
Nmero de empresas 29%
Populao 22%
Fonte: IBGE (2005-a), IBGE (2005-b) e IBGE (2005-c)
H, no entanto, um fato que compromete o maior crescimento do
nmero absoluto de empresas e, por conseguinte da economia, que so
os altos ndices de mortalidade precoce de micros e pequenas
empresas, ocasionados por diferentes elementos e
condies ligadas a estas unidades produtivas. Em cada 100
empresas abertas, segundo pesquisa do SEBRAE (2004), 31 no
ultrapassam a barreira do primeiro ano de atividade. Esta proporo
aumenta aps cinco anos da abertura da empresa, para 60%. O quadro a
seguir mostra bem a situao:
Tabela 3- Taxa de Mortalidade por Regio e Brasil (2000 2002) %
Regies
Ano de
Constituio Sudeste Sul Nordeste Norte Centro Oeste
Brasil
2002 48,9 52,9 46,7 47,5 49,4 49,4 2001 56,7 60,1 53,4 51,6 54,6
56,4
2000 61,1 58,9 62,7 53,4 53,9 59,9
Fonte: SEBRAE (2004)
Quando se analisa os dados do Estado de So Paulo, as informaes
no so muito diferentes, como se pode perceber no grfico a
seguir:
-
29%42%
53% 56%56%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Empr. com 1 ano(fund. em 2003)
Empr. com 2 anos(fund. em 2002)
Empr. com 3 anos(fund. em 2001)
Empr. com 4 anos(fund. em 2000)
Empr. com 5 anos(fund. em 1999)
Grfico 2 Taxa de mortalidade das MPEs no Estado de So Paulo
Fonte: SEBRAE-SP (2005)
Vistos sob outro ngulo os dados se complementam, como se pode
ver no grfico abaixo :
29
71
42
58
53
47
56
44
56
44
0
20
40
60
80
100
1 2 3 4 5
Empresas encerradas Empresas em atividade
Grfico 3 Taxa de mortalidade das empresas paulistas
(rastreamento out/dez 2004) Fonte: SEBRAE-SP (2005)
So criadas, em mdia, 700.000 empresas anualmente no Brasil,
segundo o SEBRAE (2004), colocando o pas em situao cada vez mais
privilegiada no quesito empreendedorismo, conforme o relatrio, que
classifica o Brasil entre os 10 pases mais empreendedores,
alcanando o 7. lugar na Taxa de Atividade Empreendedora TAE e o 5.
Lugar em nmero de empreendedores na populao.
Idade em anos
%
-
Contudo, recente estudo do SEBRAE (2005) demonstra a gravidade
das conseqncias da curta vida das MPEs: em 2004, s no Estado de So
Paulo, o custo da mortalidade das empresas resultou na perda de 281
mil ocupaes e de quase R$15 bilhes, conforme quadro abaixo:
Tabela 4 Estimativas do custo social do fechamento das empresas
paulistas
Eliminao deCusto Social em
2002
Custo Social em 2004
Custo Total entre 1990 e 2004
(A) Empresas 78 mil empresas 73 mil empresas 1,3 milho de
empresas
(B) Ocupaes 335 mil ocupaes 281 mil ocupaes 5,1 milhes de
ocupaes
(C) Poupana pessoal (capital investido) R$1,6 bilho R$1,7 bilho
R$30 bilhes
(D) Faturamento R$ 14 bilhes R$ 13,1 bilhes R$ 240 bilhes
(C) + (D) Perda financeira total R$15,6 bilhes R$14,8 bilhes
R$270 bilhes
Fonte: Elaborado pelo SEBRAE-SP, a partir de pesquisa de campo e
dados do DNRC/JUCESP (2004) SEBRAE (2004)
Uma nao emergente como o Brasil, com imenso passivo social e
elevada taxa de desemprego, no se pode permitir conviver com tais
prejuzos.
Nascimentos = 710.258 Mortes = 457.990
659.364
426.856
45.264 27.120 4.894 3.235 634 672 102 107-
100.000200.000300.000400.000500.000600.000700.000
At 4empregados
De 5 a 19 De 20 a 99 De 100 a 499 De 500 ou mais
Nascimentos Mortes
Grfico 4 Nascimentos e Mortes em 2000 Fonte: IBGE (2002)
O que se percebe, contudo, que a maior concentrao de nascimentos
(92%) e mortes (93%) se d no segmento at 4 empregados. Quando se
analisa por setor, o comrcio foi
-
o que mais avanou de um ano para o outro, aumentando em 6,3% o
nmero de empresas e 8,4% o de pessoal empregado, mantendo assim a
liderana no total de empresas no pas em relao aos demais setores da
economia.
Quando se analisa por tamanho, percebe-se que as empresas com at
4 funcionrios respondem por 82,1% do total de empregos, contra
apenas 0,1% das que ocupam 500 pessoas ou mais.
Um fato ainda mais importante, segundo Azevedo (1992), e
corroborado por estudo do SEBRAE (2005) que as estatsticas oficiais
no retratam a realidade por completo. Segundo ele muitos negcios
fecham as portas sem dar baixa nas instituies oficiais. Ainda
segundo ele, cerca de 50% das pequenas empresas abertas no Brasil
no ultrapassam a barreira do primeiro ano. No entanto, ele faz uma
ressalva, pois nem todas, dentre as 50% que no ultrapassam esta
marca, so extintas, vindo a serem compradas ou se transformar em
novos negcios. Damodaran (2003) demonstra que existe uma ligao
entre o estgio do ciclo de vida em que se encontra uma empresa
e
sua sobrevivncia. Ele cita que empresas jovens com lucros e
fluxos de caixa negativos podem se deparar com graves problemas de
fluxo de caixa; no entanto adverte que
quando os mercados financeiros so acessveis e se pode obter
patrimnio adicional vontade, levantar mais recursos para atender a
essas necessidades de financiamento no um problema de difcil soluo.
claro que ele no se refere ao mercado brasileiro, onde h escassez
de recursos e crdito, mormente no segmento das micros e das
pequenas empresas, objeto desta dissertao.
A tabela a seguir, elaborada pelo SEBRAE (2004), mostra o que os
proprietrios de empresas extintas e das ativas apontam como sendo
as reas de conhecimento mais importante, no primeiro ano de
atividade de uma empresa:
-
Tabela 5 reas de conhecimento mais importantes no primeiro ano
de atividade de uma empresa, segundo os proprietrios das empresas
(Brasil)
Empresas
reas de conhecimentos importantes Extintas Ativas Planejamento
59% 24% Vendas 41% 10%
Marketing / Propaganda 36% 7%
Organizao empresarial 35% 17%
Anlise financeira 32% 7%
Relaes humanas 22% 3%
Conjuntura econmica 16% 14% Informtica 14% 6%
Processo decisrio 6% 10%
Nenhuma 3% 2%
Fonte: SEBRAE (2004)
A partir das constataes anteriores uma indagao se apresenta:
Quais fatores financeiros determinam a mortalidade de empresas?
Esta a principal pergunta que este trabalho se prope a responder.
Procurar-se- investigar as principais causas financeiras
que levam uma empresa morte, considerando a realidade na cidade
de So Paulo.
1.2 Objetivos da dissertao So objetivos desta dissertao:
a) Identificar, caracterizar e descrever os fatores financeiros
que sentenciam morte (aqui entendida como falncia) uma empresa de
micro e pequeno porte na cidade de So Paulo;
b) Verificar as similaridades entre o fato (empresas falidas) e
a percepo (o que os executivos financeiros preconizam como
condicionantes ao fracasso de uma
empresa) c) Aprender com os erros passados, a partir da anlise
das respostas e confronto
delas com as mais recentes pesquisas sobre o tema.
-
1.3 Justificativa da importncia do tema
Esta dissertao motivada inicialmente pela busca permanente e
constante do
conhecimento intelectual e acadmico, norteando-se pelo interesse
em contribuir para o conhecimento, entendimento e ampliao do
assunto proposto. Muitos trabalhos buscam os direcionadores ou
fatores de sucesso das empresas. fato que o sucesso altamente
valorizado na sociedade moderna. Este trabalho, no entanto, parte
do oposto -
um estudo post-mortem- para que tambm se possa aprender com os
erros alheios. Edmondson (2005) nos diz que muitas reas do
conhecimento bebem na fonte do fracasso, como no exrcito
(americano), que aps cada misso, conduz suas AAR (After Action
Reviews) independente do resultado ter sido um sucesso ou fracasso.
Da mesma forma, os hospitais conduzem as conferncias sobre M&M
(Morbidity and Mortality), ocasio em que os mdicos discutem os
erros significativos e as mortes inesperadas, como frum para
discutir e aprender a partir das falhas. Essa anlise s pode ser
efetiva se as pessoas falam abertamente sobre o que elas sabem para
os demais e, a partir da,
surge um novo entendimento/conhecimento do grupo. Similarmente a
aviao tambm usa deste expediente, mormente aps os grandes
desastres, ocasio em que se estressa
todas as possveis causas do acidente, estudando todas as
alternativas, antes de se descartar qualquer uma, por mais que, a
priori, seja considerada improvvel.
Sistemas sociais, no entanto, desencorajam este tipo de anlise.
Em primeiro lugar, os indivduos experimentam emoes negativas quando
relatam ou debatem suas prprias falhas. Isto provoca uma diminuio
em sua auto-confiana. A maioria deles prefere
esquecer o episdio, em vez de aprender com ele e coloc-lo
disposio dos demais (para que tambm eles aprendam com o erro). Em
segundo lugar, a conduo de uma anlise de falhas requer um esprito
de abertura e busca do conhecimento, pacincia e tolerncia
ambigidade. No entanto, muitos gestores so premiados por sua
conduta e decises (acertadas) tomadas, mais que por sua reflexo e
anlise de erros passados.
Em terceiro lugar vrios estudos psicolgicos apontam que no
confortvel revirar o passado busca de erros e possveis culpados. Os
indivduos preferem, sempre, uma
situao mais confortvel a essa. Pelo mesmo motivo, tendem a
racionalizar ou culpar o ambiente externo, a terceiros ou
sistemas.
-
Outro fato no pode ser descartado, segundo Chesbrough (2003):
pode-se aprender com os erros e potenciais efeitos colaterais. Ao
se jogar no lixo experimentos que foram um verdadeiro fracasso
primeira vista, sucessos comerciais no teriam existido, inclusive
em outras reas distintas das originalmente pretendidas e estudadas.
O Nylon e o Viagra so exemplos de fracassos iniciais que no foram
descartados e, pelo contrrio, foram exaustivamente estudados em
reas diversas das originais com os ganhos, inclusive
financeiros, que hoje todos conhecem. Este tipo de anlise estuda
os falsos negativos (indicaes incorretas de erros) e parte-se para
uma profunda anlise de possveis erros ou eventuais usos
alternativos. O autor reitera que muitos produtos, hoje conhecidos,
tm uso muito diverso do originalmente planejado. Sugere que as
empresas passem a estudar os falsos negativos procura de potenciais
best-sellers, outrora possivelmente descartados na lata do
lixo.
Constatada a no-muito-frtil literatura a respeito do tema,
mormente no Brasil, esta dissertao foi direcionada ao estudo na
cidade de So Paulo, haja vista que as estatsticas oficiais apontam
o Estado de So Paulo como o maior empregador no pas (e a cidade de
So Paulo conta com importante participao nestas estatsticas, como
geradora de emprego e renda). Tambm objetivo desta pesquisa
apresentar sociedade um estudo que tenha uma utilizao prtica das
concluses potencialmente advindas deste estudo.
O interesse pelo tema aumentado quando se percebe que no momento
em que uma empresa encerra suas atividades, h um efeito combinado
perverso: mesmo tendo, por exemplo, maquinrio e mo-de-obra
especializada, acaba-se desperdiando-os pois, em no se podendo
aproveit-los, h um desperdcio (no-uso dele). O atual ambiente
econmico e institucional brasileiro, caracterizado por taxas de
juros ainda altas, carga tributria elevada, legislao tributria
complexa, dificuldades para obteno do crdito,
desestimula os investimentos em capital fixo. Sendo assim,
mister que os atuais investimentos se mantenham em base slida e
duradoura , sem o que, no futuro os
recursos, j escassos atualmente, ficaro ainda mais difceis de
serem encontrados.
Sousa (2002) enftico quando diz que a empresa tem um papel
central no processo de investimento e gerao de renda, afirmando que
manter a empresa slida representa, em
-
ltima instncia, perspectiva de gerao de riqueza para seus
proprietrios e para todos os demais agentes intervenientes.
Espera-se, com este estudo, capturar os sinais/fatores
financeiros que uma empresa
beira da morte emite, como referencial do sucesso ou insucesso
de uma organizao. A insuficiente oferta de crdito, como mostra o
estudo do SEBRAE (2004) um dos fatores que levam uma empresa morte.
O contrrio, no entanto (excesso de crdito, provocando alavancagem
muito elevada), como nos sugere Silva (1988) tambm pode lev-la
quebra atravs do endividamento excessivamente alto.
Espera-se, tambm, poder contribuir para que mais estudos sejam
desenvolvidos no sentido de ampliar o conhecimento dos gestores
desse tipo de instituio. Sabe-se que
estes empreendimentos, por seu prprio tamanho reduzido,
necessitam ter mais competitividade frente aos grupos de maior
porte na economia, que podem obter altos retornos em funo de sua
economia de escala. Outro fator, sobremaneira importante, nos dias
atuais, a ampliao (via globalizao) dos fatores de concorrncia, que
mais uma vez atuam desfavoravelmente a este tipo/porte de
empreendimento.
Este trabalho se torna relevante na medida em que h a
necessidade de maiores pesquisas relacionadas aos fatores que
determinam o fracasso de uma organizao. Nesse sentido, destaca-se o
conceito de gesto integrada de uma organizao, diante das mudanas
estruturais ocorridas no contexto competitivo, exigindo do
administrador uma viso do todo organizacional.
Assim sendo, fica evidenciado que qualquer esforo de otimizao da
cadeia deve estar alinhado com a estratgia empresarial, pois
esforos individuais no necessariamente garantem ganhos para o
sistema.
Espera-se, com este trabalho, ajudar os empreendedores a melhor
se planejar e, qui, se precaver contra uma potencial falncia que
poderia advir caso no se tomasse as precaues que se espera conhecer
ao trmino desta pesquisa.
Outrossim, Bortoli Neto (1980) nos relembra que A PME reflete,
em escala considervel, a imagem pessoal e as caractersticas de
personalidade de seus
-
proprietrios. Quaisquer estudos srios que se elaborem nas PMEs,
certamente traro tona particularidades que envolvem, de forma
direta, um segmento importante das caractersticas contextuais da
populao brasileira. Do mesmo modo, ainda h muito o que se buscar em
termos de produtividade, conforme quadro a seguir:
Tabela 6: Produtividade por porte da empresa
PIB PO PIB/PO Relao
MPE/MGE
MPE 20% 67% 0,2985 1
MGE 80% 33% 2,4242 8
TOTAL 100% 100% --- ---
MPE = micro e pequena empresa
MGE = mdia e grande empresa PO = pessoas ocupadas
Fonte: SEBRAE (2006)
1.4 Delimitaes do assunto
O presente estudo tem a pretenso de descobrir, descrever e, se
possvel, elencar os fatores financeiros que contribuem para a
mortalidade de micro e pequenas empresas na
cidade de So Paulo. Sendo assim, fica dificultada a comparao com
outras regies do Estado de So Paulo e do pas.
Concentrar-se- no estudo dos fatores primordialmente
financeiros, sendo
desconsiderados os demais, por no corroborarem diretamente com o
presente tema.
Deve-se salientar que as informaes para este tipo de estudo no
so de fcil acesso. Os empresrios e funcionrios envolvidos com as
empresas que faliram frequentemente omitem ou alteram dados,
portanto, procurar-se- obter uma anlise real dos fatos, alertando a
todos os entrevistados que se trata de estudo meramente
acadmico.
Uma impossibilidade de comparao imediata e direta com estudos
anteriores se faz notar, visto que ainda no h consenso sobre o que
venha a ser micro e pequena
empresa, pois muitos critrios so usados.
-
Por ltimo, o estudo labora sobre uma amostra no-probabilstica,
no se podendo, assim, generalizar qualquer resultado obtido neste
trabalho.
1.5 Estrutura do Trabalho
Esta dissertao est estruturada sob a forma de 6 captulos. Aps
este captulo inicial de Introduo o Captulo 2 apresenta a
Metodologia a ser empregada. A seguir, no
captulo 3, ser apresentada a Fundamentao Terica, com a reviso da
literatura pertinente ao estudo e que ser a base para o
entendimento do restante do texto. A pesquisa e seus resultados
fazem parte dos Captulos 4 e 5. No captulo 6 so apresentadas as
concluses advindas do estudo, suas limitaes e recomendaes para o
desenvolvimento de pesquisas posteriores.
-
2 METODOLOGIA
2.1 Tipologia do estudo
Este captulo descreve a metodologia que ser utilizada para
alcanar os objetivos deste trabalho. A metodologia de pesquisa
cientfica o elemento necessrio para que se
possa atingir os objetivos delineados de qualquer trabalho,
tendo como sustentao o referencial terico e como pr-requisito, a
identificao objetiva do problema de pesquisa.
Segundo MATTAR (1993: 162), a pesquisa descritiva visa prover o
pesquisador de dados sobre as caractersticas de grupos, estimar
propores de determinadas
caractersticas e verificar a existncia de relaes entre as
variveis. A pesquisa descritiva serve para descobrir e observar
fenmenos, procurando descrev-los e interpret-los. Na pesquisa
descritiva o pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade
sem nela interferir para modific-la, ou seja, no h influncia do
pesquisador no objeto de estudo. De acordo com Kerlinger (1979) um
estudo um estudo no-experimental, ou ex-post-facto, quando no h
manipulao dos dados, isto , tentativa deliberada e controlada de
produzir efeitos. As relaes entre os fenmenos so estudadas aps a
ocorrncia dos mesmos, e sem qualquer interveno. As
caractersticas
do objeto de anlise so identificadas e as relaes entre as mesmas
so observadas, mas no h qualquer tentativa de mudana.
Este um estudo ps-facto (com empresas que j faliram). Ser
elaborada uma pesquisa de campo com ex-scios. Procurar-se- analisar
ao redor de 100 empresas (fonte Junta Comercial de So Paulo). Alm
disso, tambm sero analisados questionrios respondidos por
executivos de finanas e empreendedores que tiveram suas micros
ou
pequenas empresas falidas. O intuito do questionrio com esses
executivos captar sua percepo sobre quais so os fatores mais
relevantes que sentenciam uma micro ou
pequena empresa morte na cidade de So Paulo. Posteriormente,
sero confrontados os dois grupos de questionrios: o dos
empreendedores e o dos executivos, para se analisar se a teoria (o
que intuem os executivos) se traduz na prtica (o que os
empreendedores acreditam serem os verdadeiros fatores que os
levaram ao fracasso).
-
Finalmente, confrontar-se-o tais respostas com um estudo
conduzido pelo SEBRAE (2005), onde se levantou os principais
fatores que conduzem um empreendimento ao fracasso na cidade de So
Paulo. Analogamente, confrontar-se-o tais respostas com as obtidas
por Filardi em seu recente trabalho (2006).
O estudo buscar, a partir das principais decises do
administrador, quais sejam: deciso de investimento, financiamento e
distribuio de resultados, conhecer quais, ao no estarem presentes,
condicionam uma empresa morte, ou seja, se existe uma prevalncia
dentre as decises no tocante ao sucesso ou fracasso de um
empreendimento.
2.2 Perguntas que se espera sejam respondidas ao final deste
trabalho:
Existe um ou mais fatores que levam (ou podem levar) uma empresa
morte? Existindo estes fatores, possvel determinar sua importncia,
atravs de uma
classificao?
Mais especificamente este trabalho se prope a responder:
A falta de planejamento e controle financeiro um fator
contribuinte para a mortalidade precoce de uma empresa?
A dificuldade em satisfazer as exigncias fiscais, legais e
tributrias exigidas das novas empresas um fator contribuinte para a
mortalidade precoce de uma empresa?
A dificuldade da manuteno dos impostos e tributos um fator
contribuinte
para a mortalidade precoce de uma empresa?
A falta de experincia prvia no ramo um fator importante?
-
3 FUNDAMENTAO TERICA
3.1 Empreendedorismo
O empreendedorismo, segundo Timmons (1994) uma revoluo que ser
para o sculo XXI mais que a revoluo industrial representou para o
sculo XX. Esta afirmao explica em parte por que os pases em
desenvolvimento tm investido tanto em programas que visam o
desenvolvimento do empreendedorismo, pois segundo Filardi
(2000), com a reorientao do papel do Estado, os cidados se vem
cada vez mais responsveis pelo seu prprio destino e buscam reduzir
a dependncia da interveno
estatal na economia, criando seus prprios negcios.
Esta tendncia encontra origens em alguns pases considerados
desenvolvidos, onde a criao de novas empresas tem sido considerada
a base das polticas pblicas e do
crescimento da economia.
3.1.1 Empreendedorismo no contexto internacional
De acordo com Dornellas (2001), nos Estados Unidos, de 1989 at
1999, as quinhentas maiores empresas listadas pela revista Fortune
eliminaram mais de cinco milhes de
postos de trabalho, enquanto nas pequenas empresas mais de 34
milhes de novos postos de trabalho foram criados. As empresas com
menos de quinhentos funcionrios empregam 53% da mo-de-obra privada,
e so responsveis por 51% do PIB americano. Alm disso, 16% de todas
as empresas norte-americanas foram criadas h menos de um ano, o que
mostra uma oxigenao saudvel da economia.
Na Alemanha, tm sido empreendidos vrios programas que
disponibilizam recursos
financeiros e de suporte na criao de novas empresas. Na dcada de
1990, aproximadamente duzentos centros de inovao foram
estabelecidos, provendo espao e
uma srie de recursos para os novos empreendimentos.
-
Em relatrio publicado no final de 1998, a respeito do seu futuro
competitivo, as instituies de ensino e autoridades da Inglaterra
enfatizavam a necessidade de se desenvolver iniciativas para
alavancar o empreendedorismo nos pases do Reino Unido.
Segundo o com o GEM (2003), uma competio nacional para a criao
de novas empresas de tecnologia foi lanada na Frana e uma fundao de
ensino do
empreendedorismo foi criada como parte das iniciativas para
promover o ensino de empreendedorismo nas universidades, com o
intuito de engajar os estudantes a desenvolver suas idias de
negcio.
O resultado destas iniciativas o crescente desenvolvimento
econmico, impulsionado pela reduo dos ndices de desemprego e das
taxas de inflao e de juros, que aparentemente demonstram que o
empreendedorismo pode ser considerado como uma ferramenta
interessante na busca do crescimento econmico, gerando alternativas
viveis de emprego e renda.
Mas ao contrrio do que possa parecer, o empreendedorismo no uma
moda, e segundo Dolabela (1999), ele reflexo da evoluo de uma
sociedade em busca da gerao do auto-emprego e da autonomia
profissional, de modo que hoje existe uma necessidade de se
propagar conhecimentos empresariais, os quais no passado eram
obtidos apenas pela experincia prtica e no transmitida pelas
escolas.
O empreendedorismo vem despertando o interesse de diversos
agentes da sociedade de todo o mundo, e vai alm das aes do Estado,
atraindo tambm a participao de muitas organizaes multinacionais. Em
1998, a Organization for Economic Cooperation and Development ,
OECD, publicou uma pesquisa com o objetivo de compreender o estgio
de desenvolvimento do empreendedorismo nos seus pases
membros e identificar quais polticas poderiam ser mais prsperas
para intensificar o desenvolvimento do empreendedorismo nestes
pases.
A partir desta iniciativa, a Comisso Europia apresentou um
relatrio para o Conselho de Ministros que, entre outras
providncias, propunha um compromisso para simplificar a abertura de
novas empresas, facilitando o acesso ao crdito, e desenvolvendo
o
esprito de empreendedorismo na comunidade.
-
O interesse dos pases da Europa pelo empreendedorismo pode ser
entendido atravs do estudo dos nmeros atuais da economia americana,
pois o governo federal americano investe anualmente em programas de
apoio ao empreendedorismo e incentivam diversas
iniciativas de governos estaduais e de organizaes privadas que
fomentam novas empresas no pas. Por esse motivo, estas iniciativas
tm sido vistas como modelo por
outros pases que buscam aumentar o nvel de sua atividade
empresarial, como o caso da Inglaterra, que criou em 1999 a Agncia
de Servios para Pequenas Empresas, baseada em institutos
semelhantes que surgiram nos Estados Unidos.
De acordo com o GEM (2005) o Brasil se destaca no contexto
mundial, conforme mostrado no quadro abaixo:
Tabela 7: Ranking do empreendedorismo no mundo PAS TAE
1. Venezuela 25,0%
2. Tailndia 20,7%
3. Nova Zelndia 17,6%
7. Brasil 11,3% 33. Blgica 3,9%
34. Japo 2,2%
35. Hungria 1,9%
Fonte: GEM (2005)
No entanto, no quesito fatores condicionantes do
empreendedorismo, o Brasil est entre os ltimos do ranking, conforme
quadro a seguir, que confronta: Oportunidade versus
Necessidade:
Tabela 8: Fatores condicionantes do empreendedorismo Brasil 53%
x 47% Dinamarca (melhor relao) 93% x 4% Hungria (ltimo do ranking)
58% x 37%
Fonte: GEM (2005)
-
3.1.2 Empreendedorismo no Brasil
O empreendedorismo est comeando a se destacar no Brasil como
propulsor da economia e passa a receber maior ateno tanto do Estado
como das empresas privadas, buscando evoluir do modelo tradicional
de fluxo de recursos para um modelo mais dinmico, onde as empresas
investem parte do que pagariam como impostos
diretamente em projetos de iniciativa empreendedora, a exemplo
do que vem ocorrendo em pases desenvolvidos, onde os empreendedores
so tratados como a grande mola
da economia, como mostra a ilustrao 1.
Neste quadro demonstrado o novo papel do Estado, que atravs de
leis de incentivo e iseno de impostos, principalmente nas reas da
cultura, entretenimento, esportes, lazer, social e meio ambiente,
vm proporcionando o envolvimento de empresas privadas em projetos
de empreendedorismo, conforme citou Filardi (2003).
Estado
Sociedade
Empresa
Pagaimpostos
Empresa
Compraprodutos eservios
Gerabenefcios
Gera benefcios e incentivaprogramase projetos Sociedade
Investe emempreende-dorismo
D isenode impostos
Estado
Modelo Tradicional Modelo Dinmico
Ilustrao 1 Fluxo do investimento em novas empresas Fonte:
Filardi (2006)
O empreendedorismo no Brasil comeou a sobressair entre as dcadas
de 80 e 90, quando foram criadas instituies como o SEBRAE, para
auxiliar os futuros empresrios a montar seus negcios, buscando dar
suporte para a legalizao de empresas, alm de consultorias para
resolver problemas de negcios j em andamento.
-
Hoje, ao que tudo indica, h uma tendncia de que o emprego
tradicional esteja sendo paulatinamente substitudo por outras
formas de vnculo entre o capital e o trabalho, e uma das
alternativas aponta para a criao de novas empresas, situao que vem
ocorrendo de maneira acelerada no Brasil.
Os primeiros movimentos desta tendncia j podem ser sentidos, e
na ltima dcada muitos ex-empregados decidiram montar suas prprias
empresas em regime de cooperativas ou associaes, enquanto outros
procuraram abrir suas firmas individuais e prestar servios para
antigos empregadores, mas com a vantagem de no precisar se
comprometer com clusulas de exclusividade, podendo assim
comercializar para outros
clientes e aumentar sua renda. Entretanto, para cada empresa que
surge por oportunidade, outra surge por necessidade (SEBRAE,
2004)
Tendo identificado esta tendncia, as universidades e as escolas
esto se envolvendo no processo, buscando formar alunos no apenas
para trabalhar em grandes empresas, mas tambm esto comeando a
desenvolver competncias para a formao de
empreendedores, ou seja, profissionais que iro criar e
administrar seus prprios negcios e que iro contribuir para acelerar
a economia atravs de micros e pequenas
empresas, gerando renda e trabalho para milhares de pessoas. Por
esse motivo, a capacitao dos futuros empresrios vem sendo
considerada prioridade no Brasil.
Alm das iniciativas do SEBRAE, vm sendo desenvolvidos projetos
de incubadoras de empresas, e a criao de novas empresas comea a
despertar nos brasileiros um potencial que at ento havia sido pouco
promovido, e que pode ser comparado apenas aos Estados Unidos, onde
mais de 1.100 instituies contribuem para o desenvolvimento do
empreendedorismo. Dornelas (2001) enumera alguns exemplos:
1. Os programas Softex e GENESIS (Gerao de Novas Empresa de
Software, Informao e Servios), que apiam atividades de
empreendedorismo em software, estimulando o ensino da disciplina em
universidades e a gerao de
novas empresas;
2. As aes voltadas capacitao do empreendedor, como os programas
EMPRETEC e Jovem Empreendedor do SEBRAE, e ainda o programa Brasil
Empreendedor, do Governo Federal, dirigido capacitao de mais de
um
-
milho de empreendedores em todo o pas e destinando recursos
financeiros a esses empreendedores, totalizando um investimento de
oito bilhes de reais;
3. Os cursos e programas que vm sendo criados nas universidades
brasileiras para o ensino do empreendedorismo, como o caso de Santa
Catarina, como o
programa Engenheiro Empreendedor, que capacita alunos de graduao
em engenharia de todo o pas. Destaca-se tambm o programa REUNE, da
CNI
(Confederao Nacional das Indstrias), de difuso do
empreendedorismo nas escolas de ensino superior do pas, presente em
mais de duzentas instituies brasileiras;
4. O recente movimento de criao de empresas de Internet no pas,
motivando o
surgimento de entidades como o Instituto e-cobra, de apoio aos
empreendedores das pontocom, empresas baseadas em Internet, com
cursos, palestras e
prmios aos melhores planos de negcios de empresas start-ups de
Internet, desenvolvidos por jovens empreendedores;
5. E o crescimento do movimento de incubadoras de empresas no
Brasil, comprovado pelos dados da Associao Nacional de Entidades
Promotoras de
Empreendimentos de Tecnologias Avanadas ANPROTEC (2005), que
mostra que, em 2002, havia mais de 200 incubadoras de empresas no
pas, e em 2005 este nmero subiu para 297, sem considerar as
incubadoras de empresas de Internet, totalizando mais de 1.300
empresas incubadas, que geram mais de 6.200 empregos diretos.
O envolvimento das incubadoras de universidades na criao de
novas empresas de tecnologia vem crescendo, e as chamadas
spin-offs, ou seja, empresas que surgem dentro do ambiente acadmico
das universidades, atravs de uma idia de negcio gerada em estudo ou
pesquisa cientfica, vm se mostrando como uma alternativa para a
criao de novas empresas.
Este fenmeno vem contribuindo para o crescimento relevante das
incubadoras de
empresas nos ltimos anos, fato que vem se mostrando como uma
soluo vivel para auxiliar na reduo da mortalidade precoce de novas
empresas, pois, ao passar pelo processo de incubao, segundo estudo
da FIESP (2002) apenas 15% das novas empresas so extintas nos
primeiros trs anos de vida.
-
O estudo mostra ainda que, alm de sobreviverem mais tempo, as
empresas graduadas ampliam o faturamento e o volume de clientes,
visto que este processo tem a vantagem de qualificar o empreendedor
atravs de parcerias com instituies de ensino e pesquisa, alm do
suporte administrativo e mercadolgico, desde a fase de planejamento
at a consolidao das atividades. Esta tendncia parece estar se
solidificando, pois, de acordo com a pesquisa, o nmero de
incubadoras cresceu 220% nos ltimos cinco anos.
Tabela 9- Condies que afetam o empreendedorismo no Brasil*
Condies Mdia Brasil
Mdia Mundo
Posio
do Brasil
Capacidade Empreendedora: Motivao 0,53 0,38 10/31
Oportunidade Empreendedora 0,34 0,19 11/31
Participao da Mulher 0,18 0,34 19/31
Acesso Infra-Estrutura Fsica 0,13 0,95 31/31
Barreiras entrada no Mercado mercado interno e
dinamismo/oportunidades
0,12 -0,19 7/31
Educao e Treinamento Ensino Superior e Aperfeioamento -0,37
-0,21 22/31
Normas Sociais e Culturais -0,43 -0,23 18/31
Infra-Estrutura Comercial e Profissional -0,45 0,23 31/31
Capacidade Empreendedora: Potencial -0,63 -0,52 19/31
Suporte Financeiro -0,76 -0,39 23/31
Programas Governamentais -0,78 -0,38 25/31
Proteo aos Direitos Intelectuais -0,83 0,12 28/31
Barreiras Entrada no Mercado custos, concorrncia e legislao
-0,90 -0,25 31/31
Transferncia e Desenvolvimento de Tecnologia: -0,98 -0,51
28/31
Polticas Governamentais em mbito federal, estadual e municipal;
efetividade das polticas
-1,05 -0,40 28/31
Educao e Treinamento ensino de 1 e 2 graus -1,28 -0,94 27/31
Polticas Governamentais: Impostos, Tempo de Resposta -1,68 -0,57
31/31
Fonte: Pesquisa GEM (2003) *Avaliao feita pelos especialistas
nacionais
Entretanto, em pesquisa realizada pelo GEM (2003), os
especialistas nacionais ouvidos se mostraram crticos em relao s
condies para a sobrevivncia de novas empresas no Brasil. Nos
questionrios em que deram notas para condies que influenciam o
empreendedorismo, eles posicionaram o pas entre aqueles de
menores notas em aspectos como acesso infra-estrutura, educao e
treinamento, acesso a crdito,
-
polticas e programas governamentais, pesquisa e desenvolvimento,
respeito propriedade intelectual, entre outros, como pode ser visto
na tabela 3.
Algumas caractersticas parecem diferenciar as empresas
encerradas das que ainda esto
em atividade, conforme estudo levantado pelo SEBRAE (2005):
Tabela 10: Caractersticas do planejamento e da gesto das
empresas abertas na JUCESP, entre 1999 e 2003.
Planejamento e gesto Empresas Encerradas
Empresas em
Atividade
Planejamento antes de abrir (mdia) 5,3 meses 7,4 meses ndice
mdio de itens planejados (1) 53% (mdia de 7 itens) 55% (mdia de 7
itens)
Sempre aperfeioou produtos 73% sim 85% sim
Sempre acompanhou receitas/despesas 67% sim 74% sim
Sempre fez propaganda/divulgao 21% sim 24% sim
Concorre(u) com grandes empresas 43% sim 51% sim Fonte:
SEBRAE-SP (2005) Notas: (1) mdia de 7 itens de planejamento
(qualificao da mo-de-obra, nmero de clientes e hbitos de consumo,
nmero de concorrentes, localizao, aspectos legais do negcio,
condies dos fornecedores e valor do investimento).
Outros hbitos que podem ser notados, e que diferenciam as
empresas encerradas das
que ainda esto em atividade so:
-
Tabela 11: Comportamento empreendedor nas empresas abertas na
JUCESP, entre 1999 e 2003
Comportamento empreendedor (1) Empresas
Encerradas
Empresas em
Atividade
SEMPRE busca intensamente informaes 67% 84%
SEMPRE se antecipa aos fatos 59% 75%
SEMPRE planeja/monitora cada etapa 73% 83% SEMPRE sugue os
objetivos (persistncia) 86% 95% SEMPRE enfrenta riscos moderados
64% 70%
SEMPRE busca qualidade e eficincia 92% 98%
SEMPRE estabelece objetivos e metas 79% 84% SEMPRE sacrifica-se
para atingir objetivos 88% 92% SEMPRE acredita na sua capacidade
95% 98%
SEMPRE contata clientes e parceiros 93% 95%
Fonte: SEBRAE-SP 2005 Notas: (1) os itens do comportamento
empreendedor foram hierarquizados pelas maiores diferenas entre os
percentuais.
Portanto, os dados citados anteriormente sugerem que as
iniciativas criadas vm se
mostrando insuficientes para disponibilizar informao, suporte e
infra-estrutura aos novos empreendedores e para garantir a
continuidade dos negcios, demonstrando que
ainda h vrias lacunas no que diz respeito criao e sobrevivncia
de novas empresas. Portanto, passa a ser de fundamental importncia
investigar os fatores contribuintes para a alta taxa de
mortalidade, buscando subsdios para reduzir a vulnerabilidade das
empresas nascentes e das novas empresas.
3.2 Mortalidade de empresas
Os termos dificuldade financeira e insolvncia so muitas vezes
encontrados na
literatura sendo utilizados de forma indiscriminada. No entanto,
alguns autores distingue claramente essas duas formas de situao
indesejvel m empresas. Para Wruck (1990, p.421), uma empresa se
encontra em dificuldade financeira quando seu fluxo de caixa
insuficiente para cobrir as obrigaes correntes. De forma
semelhante, Ross, Westerfield & Jaffe (2002, p.683) definem
dificuldade financeira como uma situao e
-
que uma empresa no gera fluxo de caixa suficiente para fazer um
pagamento contratualmente devido.
Esta dissertao parte do pressuposto conceitual de que a
mortalidade de pequenas empresas no acontece apenas como uma fase
natural do seu ciclo de vida. As
turbulncias do ambiente empresarial tm aumentado, sobremaneira,
trazendo cada vez mais desafios para a sobrevivncia das empresas e,
com maior fora, para as pequenas
empresas. A turbulncia no ambiente empresarial gera um clima de
incerteza para a tomada de decises, ocasionando uma situao em que,
cada vez menos, as organizaes assistem passivamente aos
acontecimentos sendo, ao contrrio, atores do seu prprio destino.
Neste contexto, pode-se deduzir que o planejamento estratgico e at
conceitos mais amplos como gesto estratgica passaram a se
incorporar ao ferramental diuturno orientado para o controle da
turbulncia ambiental (OLIVEIRA, 1986). Algumas empresas, por outro
lado, vm adotando abordagens reativas na gesto, consumindo
substanciais doses de esforo gerencial e recursos que, em
conseqncia, no so utilizados para a gesto estratgica (CORREA &
PROCHNO, 1998).
Neste contexto, a mortalidade pode ser tambm resultado de uma
srie de fatores ligados ao empreendedor, empresa ou ao ambiente
externo que podem acelerar o
processo de morte da empresa. Gesto pode ser entendida como a
atividade de conduzir uma empresa ao atingimento do resultado
desejado (eficcia) por ela, apesar das dificuldades. Sendo assim,
pode-se afirmar, sem medo de estar pintando com cores muito fortes,
que todas as empresas que morreram tiveram algum problema de gesto,
dentre outros possveis.
Buscar-se-, no entanto, uma iseno quanto falncia. No se procurar
valorar se a
falncia boa ou ruim, pois ainda que individualmente ela possa
provocar -alm dos malefcios inequvoca e imediatamente observveis,
como a perda de postos de trabalho
e a cessao de recolhimento de tributos- alguns contratempos ao
seu entorno mais imediato, no mbito macroeconmico ela at necessria,
pois filtra a economia,
tornando os sobreviventes mais aptos, na medida em que apenas os
mais fortes sobrevivem.
-
No mercado atual verifica-se que a cada dia mais e mais empresas
se defrontam com problemas causados pelo alto grau de competio
entre suas concorrentes, por um lado, e pela vulnerabilidade de
seus mercados, por outro, sujeitas a toda srie de ameaas, desde o
surgimento de novos produtos at a rejeio de seu produto pelos
clientes. em funo dessa realidade mutante que as empresas esto em
busca de formas mais modernas e racionais de utilizar recursos para
produzir e distribuir seus produtos. Para
tanto se faz necessrio uma nova ordem nas relaes entre clientes
e fornecedores.
Obter vantagem competitiva um mister; ms tambm o , manter-se
vivo. A sobrevivncia est cada vez mais difcil no s pelos motivos
acima expostos seno pela especializao cada vez maior dos mercados.
Esta especializao cobra seu preo: maior especializao das empresas
e, por decorrncia, dos gestores da empresa.
Para cada dez empresas abertas, sete so fechadas (IBGE 2004)
este estudo mostra que a maioria dos empreendimentos que nascem e
morrem no pas de pequeno porte e pertence ao setor comercial. O
estudo ainda firma que, num mesmo grupo de empresas
criadas em 1997, quase metade j tinha fechado as portas sete
anos depois.
A pesquisa denota que a maioria das empresas que nascem e morrem
no pas conta com um nmero pequeno de funcionrios. As que tm at
quatro funcionrios concentraram
94,0% das empresas criadas e 61,9% do pessoal ocupado em novos
empreendimentos. O mesmo ocorre com empresas extintas: 96,7% delas
tinham at quatro empregados.
As empresas de grande porte representaram apenas 0,05% das novas
empresas, mas tiveram uma taxa de mortalidade correspondente:
apenas 0,04% delas foi extinto em
2004.
Outra concluso que a maior taxa de mortalidade encontrada nas
empresas de pequeno porte explicada, em parte, pela maior
dificuldade de acesso ao crdito e menor
capacidade de competitividade. Por outro lado, as menores taxas
de mortalidade se encontram na faixa de empresas com cem ou mais
pessoas ocupadas porque so menos
vulnerveis s variaes conjunturais da economia.
-
A anlise por setores mostra que a menor taxa de mortalidade de
empresas a do setor industrial, com 10,1%. O comrcio foi responsvel
pela criao e pela extino do maior nmero de empresas. Em 2004,
surgiram 387.275 novas empresas desse setor e foram fechadas
292.557. No comrcio, o percentual de empresas que foram fechadas em
2004 foi de 11,6% e no setor de servios ficou em 11,4%.
O estudo tambm apontou, alm do elevado patamar de empresas
fechadas, que a vida mdia das novas empresas curta. Depois de sete
anos, 45,1% das empresas criadas em 1997 j tinham sido fechadas em
2004. A maior taxa de sobrevivncia das empresas ocorre nas de nmero
elevado de pessoal. Aps um ano de abertura, ainda existiam
80,1% das empresas com at quatro empregados e, na faixa de 500
ou mais funcionrios, ainda existiam 93,8%.
No tocante ao aspecto geogrfico, coube regio Norte (grfico
abaixo), as maiores taxas de mortalidade de empresas. Em So Paulo,
a taxa de novas empresas foi de 14,9% em 2004, e a taxa de
mortalidade, de 10,7% (contra 21,5% no Amap).
-
9,6
9,8
10,0
10,4
10,5
10,7
11,0
11,1
11,4
11,6
11,7
12,9
13,1
13,3
13,5
13,7
14,1
15,2
15,4
15,5
16,1
16,5
16,7
19,4
19,6
20,7
21,5
Paraba
Paran
S. Catarina
Minas Gerais
Rio Gr. Do Sul
So Paulo
R. G. do Nort e
Esp r it o Sant o
Rio de Janeiro
Piau
Cear
M. G. do Sul
Sergipe
Gois
Bahia
Mat o Grosso
Pernambuco
Par
Maranho
Dist r . Federal
Alagoas
Rondnia
Tocant ins
Roraima
Acre
Amazonas
Amap
Grfico 5: Mortalidade de empresas, por Estado Fonte: IBGE
(2004)
3.2.1 Estudos sobre mortalidade de empresas no mundo
As elevadas taxas de mortalidade de empresas sempre despertaram
o interesse dos pesquisadores em diversas partes do mundo.
Fitzpatrick fez o primeiro trabalho do qual
se tem notcia (1932) acerca da previso de falncia e Davis (1939)
j as estudava no final da dcada de 30. Sua pesquisa, realizada com
base nos dados de empresa Dun & Bradstreet, mostra que, em
algumas cidades dos Estados Unidos, a mortalidade de pequenas
empresas chegava a 77,6% ao final do terceiro ano de existncia.
Os
-
principais fatores citados pelo autor como responsveis pela alta
mortalidade so: a falta de mo de obra especializada, falta de
infra-estrutura, a instabilidade poltica e econmica, a rpida mudana
de demanda por parte dos clientes.
Beaver (1967) fez seus estudos coletando dados de empresas
falidas, como: no-pagamento de dividendos e inadimplncia com
debenturistas de 79 empresas, no perodo de 1954 a 1964. Esses dados
foram comparados com os de 79 empresas saudveis, iniciando o estudo
com 30 ndices e finalizando com 6 ndices mais significativos, que
foram: gerao de caixa dividido pela dvida total, liquidez corrente,
capital circulante lquido menos estoque sobre desembolsos
operacionais previstos,
lucro lquido sobre ativo total, exigvel total sobre ativo total
e capital de giro sobre ativo total.
Foi utilizado um teste de classificao dicotmica, dividindo as
empresas em duas sub-amostras. O ponto de interseco entre as duas
foi definido como ponto de corte, sendo que valores acima dele
seriam para empresas falidas e, abaixo, empresas no-falidas.
Altman (1968) utilizou nos Estados Unidos a anlise discriminante
mltipla para definir uma funo que separasse as empresas boas das
ruins. Nesse contexto, ele as separou segundo a probabilidade de
insolvncia, que ele menciona que ocorre quando os acionistas
recebem uma rentabilidade pelos seus investimentos inferior
rentabilidade ofertada pelo mercado a investimentos de risco
similar. Foram definidas variveis que pudessem separar essas
empresas e seus respectivos pesos. A funo por ele definida foi:
Z1 = 0,012X1 + 0,014X2 + 0,033X3 + 0,006X4 + 0,0999X5
Em que:
X1 = (Ativo Circulante Passivo Circulante) Ativo Total
-
X3 = (Lucros antes dos juros e impostos) Ativo Total
X3 = (Lucros antes dos juros e impostos) Ativo Total
X4 = Valor de Mercado do Equity Exigvel Total
X5 = Vendas .
Ativo Total
Sendo que o valor de mercado do equity definido pelo nmero de
aes vezes o preo de mercado.
As mdias obtidas foram as seguintes:
Grupo de Empresas Falidas: -0,29
Grupo de Empresas no Falidas: 5,02
Observa-se que, das cinco variveis, quatro trabalham com o ativo
total no denominador.
O autor usou algumas das concluses a que Beaver havia chegado em
seu estudo um ano antes, como a de que dados contbeis podem prever
falncia com at cinco anos de antecedncia. Segundo Altman (1983,
p.99), na maioria das vezes, os problemas fundamentais que levam o
negcio a situaes de dificuldade financeira esto dentro da prpria
empresa. A questo, ento, passaria a ser quais indicadores seriam
mais
importantes para detectar o potencial de uma empresa estar
caminhando em direo a uma situao de dificuldade financeira, e quais
pesos atribuir para cada um desses indicadores.
-
Backer e Gosman verificaram que, no perodo de 1947 a 1975 houve
queda nos ndices de liquidez das empresas americanas. Para os
autores, esta queda foi em virtude da insuficincia de fluxo de
caixa para satisfazer o pagamento de dividendos e as necessidades
de investimentos, adicionalmente ao esforo das empresas para elevar
o
ganho por ao a partir do aumento do nvel de endividamento.
Os autores fizeram pesquisas abrangendo debntures, crdito
comercial e emprstimos bancrios. Trabalharam com 33 ndices
financeiros que foram citados em entrevistas com bancos, agncias de
informaes e companhias de seguro.
No estudo os ndices foram classificados em quatro categorias:
operacionais, alavancagem financeira, liquidez e fluxo de
caixa.
Utilizaram como recursos estatsticos: teste T, anlise fatorial e
anlise discriminante.
No incio dos anos 70, Edmister (1972) buscou aplicar ferramentas
para predizer a falncia das pequenas empresas, baseado em anlises
financeiras e sofisticadas tcnicas estatsticas com o objetivo de
testar a hiptese de que a m gesto financeira contribui para a
mortalidade precoce de pequenas empresas. Em seus estudos ele
conclui que possvel predizer a falncia de uma pequena empresa com
at 5 anos de antecedncia, com uma certa margem de erro, e que a m
gesto financeira pode ser considerada um dos principais fatores que
contribuem para a mortalidade precoce.
O Modelo ZETA, desenvolvido por Altman, Haldeman & Narayanan
em 1977 sucedeu o anterior Modelo Z-Score. Esse novo modelo,
desenvolvido em parceria com uma empresa financeira privada, tinha
capacidade de previso de 90% para dados um ano antes da falncia e
de 70% para dados cinco anos antes. Este modelo privilegiou
empresas de maior porte, ao contrrio de modelos anteriores.
Segundo Altman, as razes para desenvolver este novo modelo quase
dez anos aps a introduo do escore Z
foram baseadas na verificao que, aps esse perodo, houve uma
mudana de tamanho das empresas que entravam em falncia, exigindo
que um novo modelo que contemplasse empresas de grande porte fosse
desenvolvido. Foram analisadas 53 empresas que haviam entrado em
falncia e 58 que no haviam entrado.
-
A contribuio de Cochran (1981) deve ser ressaltada,
principalmente pela sua capacidade de revisar a literatura
existente at ento e pela sua viso crtica dos estudos realizados,
onde ele questiona os conceitos, definies e mtodos utilizados,
mostrando que h muita polmica e complexidade no estudo da
mortalidade de empresas.
Sua pesquisa identifica problemas conceituais e de definio que
demonstram que no
h uma uniformidade na definio do conceito de falncia, para o
qual existem pelo menos cinco definies conforme mostra a ilustrao a
seguir:
ED
CB
A
Ilustrao 2 Definies de Falncia Fonte: Cochran, 1981
A: Falncia formal: empresas que deram baixa formal junto aos
rgos oficiais; B: Encerramento das atividades com dvidas a credores
sem baixa formal;
C: Encerramento das atividades para evitar perdas e dvidas sem
baixa formal; D: Empresas vendidas ou transformadas em outras
atividades; E: Descontinuidade da empresa por qualquer outra
razo.
Para efeito desta pesquisa, ser adotada a definio de falncia
formal, principalmente pela disponibilidade de informaes junto aos
rgos oficiais, especialmente a junta comercial da cidade de So
Paulo objeto deste estudo.
Cochran explica que, dependendo do conceito que se tome por
base, o resultado de uma pesquisa sobre mortalidade ou falncia de
empresas pode variar muito e gerar resultados
pouco confiveis, e que, quanto mais amplo o conceito, maior ser
a taxa de mortalidade encontrada. Apesar disso, ao revisar a
literatura sobre o assunto, o autor
identifica a falta de competncia gerencial e a falta de
experincia no ramo de negcio
-
como fatores contribuintes para a mortalidade mais citados pela
maior parte dos autores pesquisados.
Em 1983, Altman (1983, p.6) comenta tambm o conceito de failure,
segundo o qual a empresa se encontra em uma situao em que a ta de
retorno sobre o capital investido significativa e continuamente
menor que as taxas mais comuns existentes para
investimentos similares. Essa situao no implica que a empresa
venha a estar ou esteja descumprindo com suas obrigaes legais. Por
outro lado, a insolvncia est diretamente relacionada ao fato dela
estar sem meios para realizar o pagamento de suas dvidas.
A insolvncia pode ser separada em duas formas conceitualmente
distintas: Insolvncia baseada em fluxos (flow-based insolvency) ou
insolvncia tcnica
(technical insolvency), e Insolvncia baseada em saldos
(stock-based insolvency).
Segundo Altman (1983, p.6), a insolvncia tcnica diz respeito a
uma falta e liquidez da firma que impossibilita o cumprimento de
uma obrigao. Sendo assim, a insolvncia tcnica pode ser uma condio
temporria. J a insolvncia baseada em saldos, segundo
Wruck (1990, p.421), ocorre quando a firma tem valor econmico
negativo, ou seja, o valor presente dos fluxos futuros menor que o
total de suas obrigaes. Esse conceito de insolvncia mais grave pois
indica segundo Altman (1983) uma situao crnica e no temporria.
A figura 3 representa esquematicamente as diferenas entre os
conceitos de insolvncia baseada em fluxos (ou insolvncia tcnica) e
insolvncia baseada em saldos. A insolvncia associada a saldos
ocorre quando o valor dos ativos de uma empresa inferior ao valor
de suas dvidas. Isso significa que o patrimnio lquido negativo.
A
insolvncia associada a fluxos se d quando os fluxos de caixa so
insuficientes para cobrir pagamentos determinados por contrato
(Ross, Westerfield & Jaffe, 2002).
-
1. Insolvncia associada a saldos
A Dvidas A T T DI I V V VO Patrimnio O IS S D
AS Patrimnio
Negativo
2. Insolvncia associada a fluxos
Obrigaes Contratuais
Fluxo de Caixa da Empresa
Insolvncia
Empresa Solvente Empresa Insolvente
Ilustrao 3 - Insolvncia associada a saldos e insolvncia
associada a fluxos. Adaptado de: Ross, Westerfield & Jaffe
(2002).
Holmes e Haswell (1989) reforam esta viso afirmando que a
competncia gerencial e a falta de experincia no ramo tambm so
considerados fatores contribuintes para a
mortalidade precoce de pequenas empresas na Austrlia. Seus
estudos mostram que, das 418 empresas falidas entre os anos de 1981
e 1985, 90% tiveram sua morte associada a um dos dois fatores
citados acima.
Para Adizes (1990) a criao e o desenvolvimento de um negcio s se
do pela real necessidade de consumidores empresariais ou finais ser
satisfeita e ele considera este o primeiro fator associado
mortalidade precoce de pequenas empresas, visto que muitos negcios
so abertos sem ter identificado uma necessidade existente no
mercado a ser satisfeita.
Ele traa um ciclo de vida das organizaes com base em fases de
crescimento e
envelhecimento que mostra os principais fatores que podem
acelerar a mortalidade de uma empresa, conforme a ilustrao 3.
-
O autor define que o ciclo de vida de uma empresa passa por 10
fases, e identifica disfunes que podem levar a empresa morte em
vrias fases, porm para efeito desta pesquisa se considera apenas os
fatores que aceleram a mortalidade infantil, ou seja, os que
ocorrem nas fases de namoro e infncia, cujas definies so as
seguintes:
Fase de namoro: a fase da idia e da concepo do negcio, durao de
6 meses a 1 ano, em mdia;
Fase de infncia: a fase de abertura da empresa, ou seja, quando
se coloca a idia em prtica, durao de 1 ano a 3 anos.
Namoro
Infncia
Toca-Toca
Adolescncia
Plenitude
Estabilidade
Aristocracia
Burocracia Incipiente
Burocracia
Morte
Crescimento Envelhecimento
Ilustrao 4 Ciclo de Vida das Organizaes Fonte: Adizes, 1990
Em sua pesquisa, Adizes cita como principais causas da
mortalidade infantil de empresas os seguintes fatores:
1. Sub-capitalizao: a tendncia de subestimar a necessidade de
dinheiro e capital de giro, devido ao entusiasmo do empreendedor
durante o estgio da infncia. Nesse caso, costumam ocorrer erros que
podem levar a empresa falncia, quais sejam:
a. Emprstimos de curto prazo para investimentos com retorno de
longo prazo;
b. Comear a vender com desconto para gerar dinheiro em caixa; c.
Vender uma parte da empresa a capitalistas de risco com pouco
compromisso com o negcio;
-
2. Baixo compromisso do fundador. Acontece por conta da baixa
remunerao gerada nos primeiros anos, com muitas horas de trabalho e
pouco retorno financeiro.
3. Interveno Governamental: Se durante as primeiras fases
ocorrem
mudanas relevantes em leis e impostos, isso pode levar morte; 4.
Delegar funes importantes: por falta de tempo ou outro motivo,
o
empreendedor no participa das decises importantes da empresa; 5.
Estagnao: Manuteno da situao de Infncia por mais de 3 anos,
mostrando taxas de crescimento iguais ou menores que as dos anos
anteriores;
6. Falta de foco: Envolvimento em muitos negcios sem sinergia
entre eles, dividindo e pulverizando a ateno do empreendedor;
7. Ausncia de sistemas administrativos: A empresa perde o
controle; isso acontece principalmente com empresas familiares que
no profissionalizam
sua gesto;
8. Falta de criatividade: Ocorre depois da fase de namoro, onde
a empresa
passa a se ocupar cada vez mais com tarefas burocrticas; 9.
Falta de informao tcnica: No utilizar consultoria de advogados
e
contadores, entre outros profissionais especializados, pode
levar o empreendedor a cometer erros e levar a empresa morte.
Outra conhecida classificao a do BCG (Boston Consulting Group)
que na dcada de 60 realizou estudos e verificou que h uma forte
relao entre a participao de mercado (market-share) e o retorno
sobre o capital.
Na composio de uma carteira de negcios, segundo a viso da matriz
BCG, h unidades com necessidades variadas de investimentos, ou
simplesmente de caixa, e
tambm de gerao de caixa para a empresa. Uma forma de se obter a
composio eficiente dessa carteira est na maximizao da gerao de
caixa e na minimizao da
sua aplicao. Resumidamente, as unidades de negcio so
classificadas em quatro categorias de acordo com a gerao e o
consumo de caixa. A seguir, uma descrio de cada categoria:
-
Estrelas: empresas que esto num mercado de alto crescimento e
possuem um alto market-share. Como o mercado est em rpido
crescimento, a empresa necessita de elevados investimentos para
acompanhar esse crescimento. Por possuir uma posio competitiva
vantajosa, a empresa usufrui de economias de escala dada a sua
curva de experincia, atingindo elevadas margens e, assim, gerando
caixa. Resumindo, o caixa gerado consumido pela prpria unidade de
negcio;
Vaca Leiteira: classificam-se as unidades neste grupo com
caractersticas de um mercado em baixo crescimento mas com uma
participao elevada no mercado. O market-share elevado garante a
gerao de caixa e o fato de estar em um mercado
maduro (crescimento lento), significa que o consumo de caixa
desse produto menor.
Abacaxi: so empresas que possuem as duas situaes desfavorveis
pequena participao em um mercado de baixo crescimento. Devido a sua
pouca participao no mercado, a sua curva de experincia no lhe
favorvel para a obteno de boas margens, ocasionando uma deficincia
na gerao de caixa. Possibilidades de
investimentos nesse segmento tornam-se inoportunas pois o
crescimento do mercado baixo;
Ponto de interrogao: aquelas unidades que experimentam uma baixa
participao no mercado em crescimento so conhecidos como um ponto de
interrogao. O crescimento do mercado atrativo para a empresa mas a
empresa no consegue gerar caixa para esses investimentos dada a sua
pouca participao de mercado. Portanto, essas unidades so
consumidores de caixa e, futuramente, sero fornecedores de
caixa.
Para a matriz BCG, o critrio para se definir um mercado em
crescimento uma ta superior a 10% a.a. e o critrio de definio de
participao no mercado a posio
competitiva em relao ao maior concorrente.
Segundo a teoria de financiamento Pecking Order desenvolvida por
Myers (1983), uma empresa que possua no seu portflio uma unidade de
negcio do tipo vaca leiteira e outra estrela ou ponto de interrogao
optaria, primeiramente, por financiar novos projetos dessas duas
ltimas atravs de recursos gerados pela vaca leiteira, ou seja,
recursos gerados internamente para ento captar recursos de
terceiros.
-
Ilustrao 5 - Matriz BCG
Uma das crticas que se faz a esse modelo a m interpretao dos
seus resultados, pois no leva em considerao a relao entre as
unidades. A deciso de aumentar o
investimento num segmento ponto de interrogao e diminuir numa
unidade criana-problema pode conduzir perda de economia de escala
existente entre as unidades, perda na eficincia das equipes de
venda e canais de distribuio.
Ilustrao 6 - Matriz BCG Crescimento e share
-
Os estudos de Barrow (1993) nos mostram as razes pelas quais as
pequenas empresas britnicas fecham, como se pode ver:
Falta de experincia do empreendedor;
Falta de estratgia de marketing;
Avaliao demasiadamente otimista do tamanho do mercado;
Subestimar o tempo de alavancagem do negcio;
Falta de Capital de Giro;
Custo de criao da empresa muito alto;
Capacidade produtiva menor que a demanda;
Escolha errada do ponto considerando maior volume de pessoas que
o real;
Seleo e gesto de pessoas sem competncia para o negcio.
Audretsch (1995) em seu estudo sobre sobrevivncia e crescimento,
afirma que num perodo de 10 anos as empresas que tendem a
sobreviver so aquelas que tm um tamanho maior, investem mais em
inovao e, portanto, crescem mais rpido.
Alm disso, segundo Bates (1995), o perfil do empreendedor
influencia em grande escala a probabilidade de morte da empresa,
pois, de acordo com sua pesquisa sobre empresas independentes e
empresas franqueadas dos Estados Unidos, fica comprovado
que empreendedores que buscam franquias tm menor propenso a
assumir riscos, o que est ligado diretamente ao baixo retorno do
negcio, levando morte da empresa.
Ele demonstra que pequenas empresas franqueadas possuem maiores
taxas de descontinuidade do negcio e menor retorno que as empresas
criadas de maneira independente.
Complementando as concluses de Bates, os pesquisadores Birley e
Niktari (1996) identificam outros quatro fatores ligados ao perfil
dos empreendedores que contribuem
para a mortalidade de pequenas empresas:
Perfil inflexvel, resistente a mudanas e no aceita procurar
ajuda externa; Contrata equipe de baixa competncia e com baixa
experincia no ramo;
Falta de planejamento; Falta de organizao das operaes da
empresa.
-
Esta pesquisa encontrou alguns resultados que merecem destaque,
entre eles o fato de que 41% dos empresrios entrevistados dizem ter
acreditado exageradamente na intuio e emoo, 60% confessam que no
planejaram o negcio, 23% dizem que fizeram retiradas acima do que o
negcio poderia suportar 3 33% no pediram auxlio
externo, apesar de terem sentido dificuldades em competncias que
no possuam, como rea de tributos, rea jurdica e de finanas.
Watson e Everett (1996) concluem em suas pesquisas que a hiptese
de que quanto menor a empresa maior a probabilidade de morte falsa,
visto que no foram encontradas evidncias de que as pequenas
empresas faliram por serem pequenas,
contrariando estudos anteriores. Os autores afirmam ainda que as
principais causas associadas mortalidade de pequenas empresas so:
Falta de capital nos primeiros
meses de operao, Falta de experincia do dono e Baixo nvel de
apoio externo solicitado nas reas jurdica e contbil.
Ainda segundo os autores, a definio de pequena empresa tambm
varia muito, o que
influencia os resultados das pesquisas sobre mortalidade. As
definies mais utilizadas consideram a receita total anual, o nmero
de empregados e a fatia de mercado. Para
efeito desta pesquisa, vai se utilizar a definio de receita
total anual e nmero inferior a cinco empregados, pois estes so os
conceitos utilizados pelo SEBRAE e pela Receita Federal para
definir pequena empresa.
O planejamento tem sido apontado por muitos autores como
fundamental para reduzir a probabilidade de morte de uma nova
empresa, no entanto existe uma outra corrente de estudo liderada
por Castrogiovanni (1996) que questiona esta associao e levanta
algumas controvrsias sobre este tpico. Aps ter pesquisado 220
empresas em todo o territrio americano, o autor chega a algumas
concluses sobre a influncia do
planejamento na sobrevivncia das pequenas empresas.
Primeiramente, o autor mostra que apenas 51% das empresas que
sobreviveram por mais de trs anos, tinham planejamento formal
quando comearam e que os resultados deste planejamento variaram
muito dependendo do tipo de negcio. Dos 49% restantes, 70%
afirmaram que prepararam Planos de Negcios simplesmente para
conseguir
investimento externo.
-
Entretanto, apesar de no encontrar relao direta entre
sobrevivncia, rentabilidade ou desempenho das empresas,
Castrogiovanni afirma que um plano de negcios pode gerar alguns
benefcios e contribuir para a reduo da mortalidade, conforme a
seguir:
Planejar ajuda para conseguir capital e investimento; Planejar
um mtodo de aprendizado que reduz riscos e incertezas; Planejar
aumenta o nvel de informao do empreendedor sobre o negcio; Planejar
aumenta a eficincia operacional, comunicando as aes e objetivos
aos membros envolvidos.
A concluso final do autor coloca o contexto em que a empresa est
sendo criada como
principal fator associado mortalidade, e as relaes entre as
variveis podem ser vistas na ilustrao 4.
Contexto do Benefcios do
Planejamento Planejamento
Condies do
Mercado e do Negcio Formalizao
Nvel de Sobrevivncia
Planejamento Aprendizado da empresa
Condies da Empresa Eficincia
e do Empreendedor
Ilustrao 7 Contexto do Planejamento de Novas Empresas Fonte:
Castrogiovanni, 1996.
Watson e Everett (1999) em estudo sobre os efeitos da indstria
sobre a mortalidade de pequenas empresas afirmam que a
probabilidade de falncia em mercados com baixas barreiras de
entrada muito maior porque o nvel de competio entre os
concorrentes
tende a ser extremamente elevado e, tambm, pois com a baixa
barreira de entrada os
-
novos entrantes no necessitam ser experts no assunto, atraindo,
com isso, potenciais aventureiros o que s faz aumentar a
mortalidade.
J Perry (2001) afirma, com base em uma pesquisa randmica que
envolveu 152 empresas da base de dados da Dun &Bradstreet, que
escrever um Plano de Negcios, ou seja, um planejamento formal,
melhora o desempenho e reduz a probabilidade de morte das pequenas
empresas, visto que mais de 50% das firmas pesquisadas que no
fecharam tinham escrito um planejamento antes de montar a
empresa.
Cleverly (2002) indica os cinco fatores que, de acordo com seus
estudos, contribuem para a mortalidade de empresas. So eles:
Um elevado nvel de complacncia com os gastos na fase de abertura
da
empresa;
Nvel de competncia da diretoria e dos scios varia muito, e
muitos fazem parte da sociedade por causa do grau de parentesco, ou
por que traz recursos financeiros, mas lhes falta experincia
empresarial;
Em muitos casos, os novos empresrios no tm recursos para
abandonar seu
atual emprego e se dedicar em tempo integral ao novo negcio;
Muitos no conhecem o mercado onde esto entrando, so
curiosos;
Muita informao e mudanas rpidas fazem com que os empresrios no
dem foco ao que prioridade;
Baseado em pesquisa junto a instituies bancrias que emprestaram
capital a pequenos empresrios, Mager (2002) demonstra quais so os
quatro principais fatores contribuintes para a mortalidade de
pequenas empresas, conforme a seguir:
Falta de Planejamento Estratgico de Longo Prazo; Falta de
Conceitos de Finanas;
Baixa qualidade de Mo de Obra;
Falta de processo e mtodos internos de trabalho (organizao).
-
Riquelme e Watson (2002) concluem em uma pesquisa junto aos
capitalistas de risco, bancos e instituies financeiras da
Inglaterra, que os principais fatores contribuintes para a
mortalidade de pequenas empresas, na opinio deles, so as
seguintes:
Falta de Experincia da equipe gerencial e da mo de obra;
Mercado com baixo potencial de crescimento e alta
concorrncia;
Produto/Servio sem diferencial competitivo;
Produto/Servio com baixa tecnologia e inovao.
Estudo de Lussier (2006) apontam, contudo, em outra direo. Ele
conduziu um experimento com 216 pares de empresas usando estatstica
bivariada para testar a hiptese de que os negcios com sucesso fazem
melhor uso de todas as 15 variveis da literatura. Os testes
revelaram, no entanto, que em apenas duas delas: maior uso de
consultores profissionais e seus pais possuam um negcio
anteriormente. De acordo
com este estudo, uma empresa de sucesso deveria ter os lucros da
mdia do setor, pelo menos. As empresas que falharam, por outro
lado, so aquelas envolvidas em processos na corte ou aes envolvendo
perdas a credores.
As 15 variveis por ele estudadas foram: 1. Capital (suficiente)
2. Contabilizao e controle financeiro (adequado) 3. Experincia
prvia
4. Experincia gerencial
5. Planejamento 6. Ajuda profissional (consultor, advogado,
contador) 7. Escolaridade
8. Funcionrios (atrao e reteno) 9. Adequao dos produtos e
servios (no tempo certo) 10. Ambiente macroeconmico (expanso ou
recesso) 11. Idade do empreendedor (quanto mais maduro, melhor) 12.
Scios (a existncia deles positiva) 13. Pais (j tiveram um negcio)
14. Acionistas minoritrios 15. Marketing (habili