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Fabiana Alves Mourão Orientadora: Profa. Dra. Claudia Maria Jacobi Co-orientador: Prof. Dr. José Eugênio Côrtes Figueira Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus flexicaulis Mart.(Loranthaceae) e sua influência na estrutura da comunidade vegetal de campos rupestres ferruginosos MG
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Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

Jan 04, 2017

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Page 1: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

Fabiana Alves Mourão

Orientadora: Profa. Dra. Claudia Maria Jacobi

Co-orientador: Prof. Dr. José Eugênio Côrtes Figueira

Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus

flexicaulis Mart.(Loranthaceae) e sua influência na estrutura

da comunidade vegetal de campos rupestres ferruginosos –

MG

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Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas

Programa de Pós-graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre

Tese de Doutorado

Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus flexicaulis

Mart.(Loranthaceae) e sua influência na estrutura da comunidade vegetal

de campos rupestres ferruginosos – MG

Fabiana Alves Mourão

Orientadora: Profa. Dra. Claudia Maria Jacobi

Co-orientador: Prof. Dr. José Eugênio Côrtes Figueira

Belo Horizonte, fevereiro de 2011

Tese apresentada à Universidade Federal de

Minas Gerais, como pré-requisito para a

obtenção do título de Doutora em Ecologia.

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Dedico este trabalho aos meus pais Heliana e

Ronaldo e ao Rick, pelo amor incondicional.

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iii

Agradecimentos

A Claudia Maria Jacobi, minha orientadora querida e amiga, que me conduziu

tão bem e com tanto carinho durante todos estes anos. Obrigada Claudia por ser meu

exemplo, aprendi com você muito mais que teorias ecológicas e desenvolvimento de

projetos.

A José Eugênio Côrtes Figueira (o Zé), meu co-orientador, por ser brilhante,

ético, gentil e amigo. Obrigada Zé, por ter me acompanhado desde a graduação, me

apoiando sempre e me fazendo acreditar que eu podia chegar lá. Sua amizade, carinho e

dedicação foram essenciais durante todos esses anos.

Ao prof. Ronald Dickman, por compartilhar gentilmente seus avançados

conhecimentos sobre modelos matemáticos e nos permitir conhecer um pouquinho do

mundo da física. Obrigada Dickman por suas valiosas aulas particulares e por todo

auxilio que recebemos durante a elaboração e desenvolvimento do modelo de

simulação.

Ao Júlio Cesar Mansur Filho, meu amigo da física, inteligente, gentil, prestativo

e paciente. Sua ajuda, dedicação e infinitas explicações foram fundamentais para a

elaboração e conclusão do capítulo 2 desta tese.

Aos meus queridos estagiários e verdadeiros amigos que tornaram possível a

realização deste trabalho: Manuel Gontijo, Rafael Barros, Arthur Dias e Matheus

Scarpelli. Agradeço também aos estagiários de finais de semana: Cecília, Juliana, Luiza,

Fernando, que abdicaram de alguns sábados para nos ajudar com a coleta de dados.

Aos professores membros da banca: Rafael Arruda, Tadeu Guerra, Fernando

Vale, Frederico Neves, Maria Auxiliadora Drumond e Clemens Schlindwein, que

gentilmente aceitaram avaliar este trabalho.

Ao Programa ECMVS pelo apoio recebido nas saídas de campo. À secretaria do

curso por resolver pacientemente todas as minhas dificuldades. Aos professores e

colegas do curso pelos ensinamentos e amizade.

Ao IEF pela licença de coleta, aos funcionários do Parque Estadual da Serra do

Rola Moça pelo apoio logístico e ao CNPq pelo auxílio financeiro (Bolsa).

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iv

Aos amigos da Biotrópicos e aos milhões de amigos do ICB e do Parque

Estadual da Serra do Rola Moça!!!

Aos meus pais Heliana e Ronaldo, e minha avó Terezinha, que não entendem

muito bem o que eu faço, mas sempre torceram pelo meu sucesso. Às minhas irmãs

Renata e Luciana, por serem motivos de muitas alegrias. A minha afilhadinha Ana

Luiza e meu sobrinho Gui, presentes de Deus. Ao meu primo Fernando (In memorian)

que sempre torceu por mim e estaria muito feliz por este dia ter chegado!

A Rick, minha razão de viver, meu porto seguro nos momentos de maior

dificuldade e para quem eu sempre quero voltar para compartilhar a alegria de uma

vitória!

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para meu crescimento

pessoal e profissional e a alguém que eventualmente eu tenha me esquecido de

agradecer.

OBRIGADA!!!

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v

APOIO:

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vi

SUMÁRIO

Resumo 1

Abstract 2

Introdução Geral 3

Relevância deste estudo 5

Referências Bibliográficas 8

Capítulo 1 – Forrageamento direcionado da parasita Struthanthus flexicaulis 13

Resumo 14

Introdução 15

Materiais e Métodos 17

Resultados 21

Discussão 26

Referências bibliográficas 29

Anexo 1 - Diferentes fenofases de Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) 33

Capítulo 2 - Modelagem espacial do espalhamento da parasita Struthanthus

flexicaulis em paisagens de afloramentos ferruginosos, Brasil.

34

Resumo 35

Introdução 36

Materiais e Métodos 38

Resultados 47

Discussão 51

Referências bibliográficas 54

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vii

Capítulo 3 - Alocação de recursos da hemiparasita Struthanthus flexicaulis

(Loranthaceae) em condições de estresse hídrico do ambiente.

58

Resumo 59

Introdução 60

Materiais e Métodos 62

Resultados 65

Discussão 70

Referências bibliográficas 74

Capítulo 4 - Efeito top-down da hemiparasita Struthanthus flexicaulis

(Loranthaceae) e seu papel chave na estruturação de comunidades vegetais em

afloramentos ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero, Brasil.

77

Resumo 78

Introdução 79

Materiais e Métodos 81

Resultados 85

Discussão 91

Referências bibliográficas 96

Anexo 2A - Lista das espécies vegetais - área de altas densidades da parasita 102

Anexo 2B - Lista das espécies vegetais - área de baixas densidades da parasita 103

Considerações Finais 104

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1

Resumo

O objetivo principal do estudo foi investigar a importância da planta

hemiparasita Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) na estrutura de comunidades

vegetais em afloramentos ferruginosos, por meio de uma abordagem integrando dados

de alocação de recursos e de modelagem da sua dispersão. Para isso a tese foi

estruturada em quatro capítulos que contemplaram respectivamente os seguintes

objetivos específicos: 1) determinar os possíveis fatores que influenciam o

espalhamento de S. flexicaulis na comunidade vegetal e verificar se esta hemiparasita

apresenta comportamento de forrageamento direcionado; 2) modelar o espalhamento

desta hemiparasita usando o modelo de Gás em Rede em uma paisagem com densidade

da hospedeira Mimosa calodendron semelhante à encontrada na área de estudos, 3)

comparar a alocação de recursos de S. flexicaulis em diferentes condições de estresse

hídrico do ambiente; e 4) avaliar os efeitos do parasitismo na comunidade (Top-down e

Espécie-chave). A densidade de hospedeiras influenciou o espalhamento de S.

flexicaulis nesta comunidade. O sucesso de propagação vegetativa dependeu da altura

das hospedeiras, bem como o distanciamento entre suas copas. O forrageamento

direcionado dos ramos da hemiparasita foi comprovado, já que alteravam

significativamente suas trajetórias de crescimento indo de encontro à nova fonte de

recursos. Os resultados da simulação reforçaram a importância da distância entre

hospedeiras, e também da dispersão ornitocórica na velocidade de espalhamento da

parasita. S. flexicaulis alocou recursos de maneira diferenciada nas estações seca e

chuvosa: investiu mais no crescimento vegetativo nos meses secos, em detrimento de

estruturas reprodutivas, mais abundantes na chuva. Esta hemiparasita causou um efeito

top-down e foi considerada espécie-chave nesta comunidade, pois, embora não tenha

modificado a diversidade ou composição de espécies, provocou grande impacto na

cobertura vegetal de algumas espécies importantes no afloramento ferruginoso

estudado.

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2

Abstract

The main objective of this study was to establish the importance of the

hemiparasitic plant Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) in the structure of plant

communities on ironstone outcrops, by means of an approach that integrated data on

resource allocation and dispersal modeling. To achieve this, the dissertation was

structured in four chapters with the following specific objectives: 1) to determine the

possible factors that influence the spread of S. flexicaulis in the plant community and

verify of the parasite has an oriented foraging behavior; 2) to model the spatial dispersal

of the parasite by means of a lattice gas automata model across a landscape of its main

host (Mimosa calodendron) similar to that found in the study area; 3) to compare

resource allocation of S. flexicaulis in different environmental water stress conditions,

and 4) to evaluate the effects of parasitism in the community (top-down and keystone

species). Host density influenced the spread of S. flexicaulis in the community. The

vegetative propagation depended on host height as well as distance among hosts.

Oriented branch foraging behavior was confirmed, since branches significantly altered

their growth trajectories towards new resource points. The simulation results reinforced

the importance of distance among hosts as well as ornitochory on the speed of parasite

spread. S. flexicaulis allocated resources differentially between the dry and wet seasons:

it invested more in vegetative growth during the dry months, in detriment of

reproductive structures, more abundant during the rainy period. This parasite caused a

negative top-down effect and was considered a keystone species in its community

because, although it did not modify diversity or species composition, it exerted a great

impact on the percent cover of some important hosts.

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3

Introdução geral

As plantas parasitas constituem um interessante grupo para estudos ecológicos,

pois podem modificar a estrutura e dinâmica da comunidade onde estão inseridas,

reduzindo a biomassa e alterando a alocação de recursos das espécies parasitadas

(Tennakoon & Pate 1996; Lei 2001, Press & Phoenix 2005, Shen et al. 2006). Elas

podem afetar negativamente processos fisiológicos, reprodutivos e ecológicos de suas

hospedeiras (Press et al. 1999, Lei 1999, 2001) interferindo no balanço de água e

nutrientes, reduzindo as taxas de fotossíntese e respiração e, em algumas situações,

podendo levá-las à morte (Aukema 2003). Apesar do efeito negativo nas espécies

parasitadas, podem também desempenhar papel benéfico na comunidade por que são

utilizadas como fonte de recursos para uma variedade de animais vertebrados, entre eles

polinizadores e dispersores de sementes (Watson 2001, Aukema 2003, Kelly et al.

2004). As plantas parasitas podem exercer um efeito top down em suas hospedeiras e

permitir a existência de espécies competitivamente subordinadas (Press, 1998),

principalmente se as espécies mais parasitadas forem as dominantes.

Devido a estes efeitos, já foram consideradas espécies-chave das suas

comunidades (Press & Phoenix 2005) e até determinantes da diversidade alfa (Watson

2001). São também apontadas como importantes elementos na paisagem porque

aumentam a complexidade estrutural do ambiente (Bennets et al. 1996). Com exceção

destas referências recentes, o seu papel e sua conservação têm sido bastante ignorados

em diversos estudos de comunidades vegetais (Norton & Reid 1997), e a maioria dos

estudos ecológicos são realizados em laboratório ou com espécies consideradas pragas

agrícolas, em lugar de comunidades naturais (Pennings e Callaway 2002).

A especificidade por hospedeiras é um fator chave no estudo do grupo de plantas

parasitas e muitos padrões já foram observados (Norton & De Lange 1999, Arruda et al.

2009). Em ambientes homogêneos como florestas de coníferas (Shaw et al. 2004), a

especificidade pode ser vantajosa, pois aumentaria a eficiência na retirada de água e sais

minerais da hospedeira. Neste tipo de paisagem a planta parasita teria sua dispersão

vegetativa garantida por meio do espalhamento dos ramos, pois todas as hospedeiras

(única espécie) poderiam ser facilmente infectadas. Entretanto, ser especialista em

ambientes heterogêneos pode ser desvantajoso, pois aumenta a dificuldade – seja por

parte da planta ou do agente dispersor – de encontrar o hospedeiro específico, tornando

inviável a sobrevivência em um ambiente onde esta hospedeira ocorre em baixas

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densidades (Norton & Carpenter 1998, Arruda et al. 2006). Foi sugerido que o grau de

especificidade está relacionado não somente à abundancia local como também ao grau

de constância das hospedeiras no tempo e no espaço (Norton & Carpenter 1998, Norton

& De Lange 1999), complementando a hipótese da fragmentação do recurso proposta

por Janzen (1981).

A facilidade de encontrar hospedeiras é somente um dos fatores que contribuem

para a especificidade das parasitas, junto com outros anatômicos e até químicos que

promovem o reconhecimento das plantas e a formação de haustórios, raízes altamente

especializadas capazes de retirar água e sais minerais de suas hospedeiras (Rodl & Ward

2002, Press & Phoenix 2005, Arruda et al. 2006, Shen et al. 2006). Assim, muitas

plantas parasitas são generalistas e atacam um grande número de espécies (Pennings &

Callaway 2002), e podem aumentar a infestação do parasitismo em hospedeiras que

oferecem maiores condições de sobrevivência e reprodução. As leguminosas são as

hospedeiras preferidas devido à capacidade de fixação de nitrogênio (Radomiljac et

al.1999, Bowie & Ward 2004).

Entre as plantas parasitas melhor conhecidas estão famílias como Loranthaceae e

Viscaceae que também ocorrem no Brasil. Os principais dispersores de sementes das

mais de suas 1200 espécies são aves, motivo pelo qual são vulgarmente conhecidas

como ervas-de-passarinho (Kujt 1969, Barboza 2000, Cazetta & Galetti 2003, Arruda et

al. 2012). Muitas espécies destas famílias são hemiparasitas, pois possuem folhas

clorofiladas capazes de realizar fotossíntese e retiram água e sais minerais de suas

hospedeiras, em lugar de produtos fotoassimilados (Calder & Bernardt 1983). Outras,

geralmente aclorofiladas, não são capazes de realizar fotossíntese e são chamadas de

holoparasitas.

A família Loranthaceae é constituída de 75 gêneros (Calvin & Wilson 2006),

distribuídos em todos os continentes, exceto nos pólos (Calder & Bernardt 1983). No

Brasil foram descritas cerca de 100 espécies, distribuídas em dez gêneros (Souza &

Lorenzi 2005). São consideradas epiparasitas porque infectam os ramos aéreos de suas

hospedeiras e a presença de raízes epicorticais que ocorre em todas as espécies do

gênero Struthanthus, crescem ao longo dos galhos das hospedeiras formando haustórios

espaçadamente, com potencial de crescimento clonal em decorrência da fragmentação

dos ramos (Ehleringer et al. 1985, Calvin & Wilson 2006). O interesse primário no

estudo de Loranthaceae no Brasil tem sido os aspectos anatômicos e embriológicos da

sua relação com hospedeiras (Venturelli 1981, Venturelli 1984, Venturelli & Kraus

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5

1989, Mourão 2007, Amaral et al. 2011, Mourão et al.- submetido), enquanto que as

interações ecológicas hemiparasita-hospedeiras têm sido comparativamente pouco

estudadas. No entanto, sugere-se que representantes desta família sejam generalistas em

regiões tropicais, pois usam com sucesso uma grande variedade de espécies hospedeiras

(Arruda et al. 2006, Mourão et al. 2006, Mourão 2007, Fadini 2011).

Embora diversos aspectos da ecologia das ervas-de-passarinho têm sido estudados

em diferentes ecossistemas (Davidar 1983, Sargent 1995), especialmente a dispersão de

sementes (Sutton 1951, Davidar 1978, Overton 1994, del Rio et al. 1996, López-de-

Buen e Ornelas 1999, Aukema & del Rio 2002) e a especificidade de parasitismo (Kuijt

1963, Barlow & Wiens 1977, Thomson & Mahal 1983, Hoffman et al. 1986), ou sua

condição fisiológica (Dean et al. 1994, Bickford et al. 2005), ainda há poucos estudos

quantitativos sobre a dinâmica populacional das Loranthaceae a qual, obrigatoriamente,

está vinculada à distribuição espacial das suas hospedeiras (Shaw et al. 2004, Teodoro

et al., dados não publicados). Diante disso, torna necessária uma abordagem de pesquisa

em que a paisagem de hospedeiras esteja definida, tanto na composição de espécies

quanto nas suas qualidades como recurso para a parasita.

Comparados com campos quartzíticos do Quadrilátero Ferrífero (MG), e embora

sujeitos a um grau muito maior de degradação devido ao seu interesse comercial (Viana

& Lombardi 2007, Mourão & Stehmann 2007) os afloramentos ferruginosos (campos

rupestres sobre canga) têm sido muito pouco estudados, seja em levantamentos

florísticos ou em estudos ecológicos (Jacobi et al. 2007, Mourão 2007). Neste sentido, o

presente estudo fará uso de uma paisagem natural para descrever a densidade de

hospedeiras, sua configuração espacial (presença ou ausência de rochas expostas) e

frequência de parasitismo (que determina a mortalidade diferencial de hospedeiras) para

simular o espalhamento de S. flexicaulis nestes afloramentos ferruginosos (canga).

Relevância do estudo

O ecossistema escolhido para a realização deste trabalho foi o campo rupestre

sobre canga couraçada, também conhecido como afloramento ferruginoso. A canga é

um substrato de distribuição restrita, e no Brasil encontra-se principalmente concentrada

no Quadrilátero Ferrífero (QF), região de ecótone de dois hotspots brasileiros, o

Cerrado e a Mata Atlântica, que têm sido profundamente ameaçados e modificados

pelas atividades humanas. A canga vem sofrendo impactos constantes devido à

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exploração do minério de ferro e à urbanização, com enormes perdas na biodiversidade

local e regional (Viana & Lombardi 2007, Jacobi & Carmo 2008). Ao contrário do que

se pensava até pouco tempo atrás, as comunidades vegetais dos campos rupestres sobre

canga são bastante ricas. Um recente estudo mostrou que em apenas 100 ha foram

encontradas 430 espécies de angiospermas pertencentes a 78 famílias, que

correspondem a 36% de todas as famílias de angiospermas brasileiras (Jacobi et al.

2007). Devido às ameaças relatadas acima e ao restrito conhecimento sobre os campos

rupestres sobre canga, as espécies vegetais ali localizadas são prioritariamente indicadas

para o desenvolvimento de estudos ecológicos, incluindo padrões de riqueza e de

distribuição das espécies (Jacobi & Carmo, 2008).

Este estudo apresenta uma nova abordagem tanto no que se refere à modelagem do

espalhamento de uma planta parasita quanto suas interações ecológicas, podendo ser o

primeiro a evidenciar o efeito top-down através do parasitismo em plantas como um

possível fator estruturador da comunidade vegetal. Estudos recentes têm demonstrado

poucas evidências do efeito top-down em comunidades terrestres (Schmitz et al. 2000).

A maioria destes estudos procura demonstrar este efeito através da predação (Atlegrim

1989, Chase 1998, Marquis & Whelan 1994, Fonseca 1994, Oliveira 1997, Beckerman et

al. 1997, Kneitel & Miller 2002) e alguns poucos através de parasitóides (Gomez &

Zamora 1994). O termo top-down surgiu na década de 60 quando Hairston e

colaboradores (1960) difundiam a ideia de cascata trófica onde um controle da cadeia

poderia ser realizado “de cima para baixo”, ou seja, herbívoros controlando a abundância

de plantas. Os conceitos top-down e bottom-up foram utilizados em diversos trabalhos

que consideravam dois, três ou mais níveis tróficos. Grande parte dos experimentos

envolvendo mais níveis tróficos tem sido realizada em ambientes aquáticos por

apresentarem uma composição menos complexa da comunidade ou uma melhor

definição da cadeia trófica (Strong 1992). Os experimentos no ambiente terrestre,

entretanto, usam cadeias de forma incompleta, dificilmente passam de três níveis

tróficos, e geralmente envolvem remoção ou adição de predadores.

Além disso, este estudo utiliza o modelo físico de difusão de partículas

(Autômatos Celulares) conhecido como de Gás em Rede, para estudar o espalhamento

de S. flexicaulis sobre a vegetação. Este modelo tem sido pouco explorado por biólogos,

mas alguns trabalhos utilizaram-no para investigar a dinâmica de predadores e suas

presas e para estudar a mobilidade de organismos (Satulovsky & Tome 1994, Chen et

al. 2006, Rodrigues & Tomé 2008). Este modelo é capaz de incorporar características

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7

da paisagem natural e informações sobre os indivíduos, fornecendo padrões espaciais de

distribuição de espécies semelhante às observações de campo. Os dados sobre

interações em ambientes de afloramentos ferruginosos são escassos e aspectos como o

efeito de parasitas na estrutura e funcionamento de comunidades vegetais nesses

ecossistemas, por exemplo, são totalmente desconhecidos, dificultando qualquer

tentativa de conservação e manejo destas áreas. Neste sentido, através dos resultados

gerados neste trabalho, poderão ser elaboradas ações de manejo que visem a

conservação das espécies vegetais que vivem sobre a canga.

Page 16: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

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Referências bibliográficas

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Page 22: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

13

CAPÍTULO 1

Forrageamento direcionado da hemiparasita

Struthanthus flexicaulis

Fabiana Alves Mourão1, Claudia Maria Jacobi

1 & José Eugenio Cortes Figueira

1

1Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade

Federal de Minas Gerais.

Page 23: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

14

Resumo

As plantas parasitas podem se dispersar vegetativamente e esse tipo de crescimento tem

como finalidade colonização de novas áreas ou captação de recursos (forrageamento).

Se a busca de uma hospedeira for direcionada, a parasita estaria forrageando. O objetivo

desse trabalho foi determinar os possíveis fatores que influenciam a propagação

vegetativa da parasita Struthanthus flexicaulis na comunidade vegetal e verificar se

apresenta forrageamento direcionado. Foram demarcadas três áreas para a realização

das observações. Nas duas menores que apresentavam diferentes densidades de Mimosa

calodendron - sua principal hospedeira em afloramentos ferruginosos, foram avaliados

os efeitos da densidade dessas plantas na propagação de ramos (contágio). Na maior

área foram avaliados: 1) a influência da distância entre copas de hospedeiras nas

passagens dos ramos; 2) o sucesso de propagação vegetativa dos ramos e 3) o

forrageamento (mudança na direção dos ramos). A área de maior densidade de

hospedeiras apresentou uma distância média de borda entre vizinhas mais próximas de

27,8 ± 38,2 cm e na área de menor densidade essa distância foi de 140,7 ±123,7 cm.

Quanto menor a distância maior foi a chance de transmissão da parasita. Esta é uma

relação exponencial negativa. A propagação vegetativa de ramos ocorreu mais

frequentemente na área com maior densidade de mimosas, em que 89% dos ramos da

parasita tiveram sucesso ao encontrar uma nova hospedeira. Já na área menos densa

apenas 21% conseguiram explorar novas copas. A propagação vegetativa para duas ou

três hospedeiras consecutivas foi mais comum na área de maior densidade (30%); na de

menor densidade somente cerca de 5% dos ramos passavam para mais de uma

hospedeira (χ 2=226,5; gl=1; p<0,001). O efeito combinado da altura de hospedeiras e

distância entre copas foi determinante para o sucesso de propagação vegetativa da

parasita. A parasita apresentou forrageamento direcionado, pois após o encontro de um

de seus ramos com uma nova hospedeira e a formação do primeiro haustório, tanto os

ramos laterais quanto os ramos vizinhos alteravam significativamente suas trajetórias de

crescimento, indo de encontro à nova fonte de recursos (t=8,788; n=30; p<0,0001). Os

ramos parecem receber estímulos que modificam o direcionamento de suas trajetórias

visando a captura de recursos.

Palavras-chave: busca por recursos, dispersão Loranthaceae, parasitismo.

Page 24: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

15

Page 25: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

16

Introdução

Aspectos importantes em estudos populacionais como recrutamento,

sobrevivência e reprodução dos organismos possibilitam compreender o destino de uma

espécie na comunidade (Crawley 2007). Estas informações se tornam ainda mais

completas se os mecanismos de dispersão dos indivíduos forem estudados. A dispersão

é fundamental para os organismos e é particularmente difícil para as plantas parasitas.

Esta dificuldade não se resume a apenas atrair o agente dispersor, que em muitos casos

são aves (Barlow 1983), mas também suas sementes precisam ser depositadas e fixadas

em galhos de hospedeiras compatíveis (Ladley & Kelly 1996). A compatibilidade existe

se as hospedeiras não apresentarem defesas efetivas contra os processos de fixação,

germinação e a penetração do haustório, que são raízes especializadas em captar

nutrientes (Yan 1993; Roxburgh & Nicolson 2005; Calvin & Wilson 2006).

As plantas parasitas, cujos haustórios são do tipo epicorticais, podem formar

clones por meio da fragmentação quando dispersam vegetativamente (Calvin & Wilson

2006). A dispersão vegetativa tem como finalidade a colonização de novas áreas, como

em plantas aquáticas cujos rametes se destacam (Grace 1993) ou a captura de recursos

através do forrageamento (de Kroon et al. 2009). Para muitos pesquisadores o

forrageamento é de fundamental importância para compreender as interações de uma

comunidade, pois pode determinar a dinâmica da competição entre as espécies (Pianka

1981), as relações entre predadores e suas presas (Fryxell & Lundberg 1994, Krivan &

Sikder 1999), bem como as interações indiretas entre as espécies (Wootton 1992).

O forrageamento em plantas tem sido discutido amplamente por diversos autores

(de Kroon & Schieving 1990; Karban 2008; Kembel et al. 2008; de Kroon et al, 2009;

McNickle et al. 2009). Segundo de Kroon e colaboradores (2009) o forrageamento em

plantas pode ser definido como plasticidade fisiológica ou alterações morfológicas que

direta ou indiretamente melhoram a captura de recursos essenciais. Em ambientes

heterogêneos as folhas e raízes das plantas são posicionadas de maneira não aleatória,

visando captar ativamente os nutrientes essenciais, a água e a luz (Kaban 2008). Esse

comportamento remete à teoria de forrageamento ótimo, em que os organismos

procuram maximizar a absorção de energia por unidade de tempo. Isso significa que

estes organismos devem gastar o mínimo de energia para encontrar, capturar, manipular

e consumir uma presa que possa maximizar a eficiência da alimentação. Para alguns

autores como Runyon e colaboradores (2006) e Kaban (2008) o forrageamento de

Page 26: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

17

plantas parasitas seria semelhante ao de animais, pois enquanto elas localizam suas

fontes de alimento através do reconhecimento de compostos químicos liberados por

hospedeiras, os animais utilizam a visão para capturar suas presas. Os animais podem

assumir comportamentos distintos ora explorando ativamente um habitat em busca de

recursos, ora assumindo um comportamento mais passivo de senta e espera;

analogamente as plantas podem apresentar diferentes padrões de comportamento sob

diferentes condições ambientais devido a sua plasticidade morfológica (de Kroon &

Hutchings 1995).

Entretanto, os padrões de forrageamento em plantas parecem ser mais

complexos que em animais (de Kroon & Schieving 1990). Os animais podem se

deslocar de um local com baixa para outro com alta disponibilidade de recursos,

gastando certa quantidade energia (Norberg 1997). As plantas, por outro lado, precisam

investir em crescimento para alongar suas partes vegetativas na tentativa de escapar de

um local pobre em recursos, tais como nutrientes, água e luz (Kroon & Schieving 1990;

McNickle et al. 2009). As plantas parasitas, por exemplo, podem responder rapidamente

a mudanças na qualidade da hospedeira (Calvin & Wilson 2006), alterando seus padrões

de crescimento quando atacam preferencialmente algumas espécies de plantas na

tentativa de aumentar a eficiência na aquisição de recursos (Salzman 1985; Slade &

Hutchings 1987; Kelly 1990). A Convolvulaceae Cuscuta subinclusa emite ramos

exploratórios que se enrolam nos galhos das hospedeiras com a finalidade de reconhecê-

las antes de investir na formação de haustórios (Kelly 1990). Além disso, foi

comprovado experimentalmente que esta mesma parasita produziu mais haustórios em

hospedeiras que ofereciam melhores condições nutricionais (Kelly 1990).

Apesar do que foi exposto acima, os padrões de forrageamento de plantas

parasitas são pouco estudados e pouco se sabe sobre os mecanismos envolvidos na

localização e seleção de hospedeiras (Kelly 1992; Runyon et al. 2006). Como as plantas

parasitas dependem dos recursos de outras plantas para sua própria sobrevivência

(Runyon et al. 2006), podem afetar negativamente processos fisiológicos, reprodutivos

e ecológicos das hospedeiras, causando grande impacto na comunidade (Tennakoon &

Pate 1996, Press et al. 1999, Lei 1999, 2001, Press & Phoenix 2005, Shen et al. 2006).

Desta maneira, compreender seus padrões de forrageamento significa ter a capacidade

de prever a estratégia de busca por recursos, como também determinar possíveis efeitos

do parasitismo sobre a comunidade vegetal.

Page 27: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

18

O objetivo desse trabalho foi determinar os possíveis fatores que influenciam a

propagação vegetativa Struthanthus flexicaulis na comunidade vegetal e verificar se esta

parasita apresenta forrageamento direcionado. Para isso as seguintes hipóteses foram

testadas: 1) A dispersão da parasita na paisagem depende da densidade de potenciais

hospedeiras e seus tamanhos; 2) O crescimento de ramos de S. flexicaulis é afetado pelo

encontro com uma nova fonte de recursos. As predições para estas hipóteses foram

respectivamente: 1) S. flexicaulis se espalhará mais rapidamente na comunidade vegetal

quanto maior a densidade e altura de potenciais hospedeiras e menor a distância entre

suas copas; 2) os ramos da parasita mudarão sua trajetória em busca de novas fontes de

recursos quando um dos ramos formar haustórios em outras hospedeiras. De acordo

com Campbell et al. (1991) o forrageamento em plantas pode ser definido como a

habilidade das espécies em proliferar suas raízes em manchas de solo mais ricas

nutricionalmente. Este conceito foi tomado como base para avaliar e discutir o

forrageamento de S. flexicaulis através do crescimento direcionado de seus ramos.

Metodologia

Local de estudo

O estudo foi desenvolvido numa área protegida do Parque Estadual da Serra do

Rola Moça, localizada na porção sul da Cadeia do Espinhaço- Brasil, uma longa cadeia

de montanhas paralela ao oceano Atlântico. Esta área é composta por afloramentos

ferruginosos e está localizada no Quadrilátero Ferrífero (20° 03’ 60”S, 44° 02’ 00” W,

1300 m). O clima da região é mesotérmico, do tipo Cwa de acordo com a classificação

de Köppen (Nimer & Brandão 1989). A precipitação anual é de 1000 a 1500 mm, com

uma pronunciada estação seca de abril a setembro, e temperatura média anual de 25°C

(Rizzini 1997). Os ventos constantes e altos índices de radiação ultravioleta contribuem

para a severidade do ambiente, agravada durante a estação seca. A vegetação é baixa,

composta por poucos indivíduos de porte arbóreo, dominada por eudicotiledôneas como

Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae, e monocotiledôneas como Poaceae, Cyperaceae e

Orchidaceae (Viana & Lombardi 2007, Jacobi et al. 2007). Na área de estudos M.

calodendron (Fabaceae) é uma das espécies arbustivas mais abundante (Jacobi et al.

2007) e frequentemente parasitada por Sthuthanthus flexicaulis (Mourão et al. 2009).

Espécie-alvo

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19

Struthanthus flexicaulis Mart. (Loranthaceae) é uma das parasitas brasileiras

mais comuns, com ampla distribuição nas áreas de cerrado do Brasil Central (Rizzini

1980). A espécie generalista e na área de estudos pode parasitar 44 espécies

pertencentes a 19 famílias na área de estudos (Mourão et al. 2006). Possui ramos longos

e flageliformes. Cada ramo pode dar origem a outros laterais de até segunda ordem.

Estes ramos laterais podem algumas vezes crescer mais que o ramo principal. Esta

espécie possui folhas oblongo-abovadas, é dióica sendo composta por ramos com flores

pequenas (3-4 mm) exclusivamente masculinas e femininas e frutos pequenos (6-7

mm). O pico de frutificação ocorre ao final da estação chuvosa entre os meses de março

e abril (F. A. Mourão, obs. pess.). Os frutos são muito consumidos pela guaracava-de-

topete-uniforme Elaenia cristata (Tyrannidae), seu principal dispersor em algumas

áreas da Serra do Espinhaço (Guerra 2005).

Métodos

Foram demarcadas duas áreas mediram 900 m2

(30 x 30m) e diferiram quanto à

densidade de M. calodendron caracterizada pela distância entre copas (N = 281; Z = -

8,505; p < 0,0001). Nestas duas áreas foram realizadas observações do efeito da

densidade sobre a propagação vegetativa das parasitas. Outra área com

aproximadamente 1400m2 (40 x 35m) foi marcada aleatoriamente para observar a

influência da distância de hospedeiras no alcance dos ramos e o forrageamento da

parasita. As observações do efeito da distância e forrageamento foram realizadas

durante quatro dias na estação chuvosa, e as do efeito da densidade foram realizadas

durante dois dias na estação seca. Neste estudo, a referência às hospedeiras remete

exclusivamente a M. calodendron.

Efeito da densidade sobre a propagação vegetativa da parasita

Para avaliar o efeito da densidade de plantas na propagação vegetativa de ramos

(contágio), foram selecionadas duas áreas: A com alta densidade de M. calodendron e B

com baixa densidade. Nessas áreas, foram selecionados visualmente indivíduos de M.

calodendron cujas copas estavam totalmente cobertas pelos ramos da hemiparasita.

Como estes dados foram coletados durante a estação seca e estas hospedeiras

apresentavam sinais nítidos de perda de folhas, foi assumido que os ramos da parasita

teriam necessariamente que forragear até encontrar uma nova hospedeira para garantir

sua sobrevivência. Em cada indivíduo, os ramos foram acompanhados para verificar se

Page 29: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

20

haviam se estabelecido (formação de haustórios) em novos indivíduos de M.

calodendron. Em caso afirmativo o número de conexões consecutivas (passagens) era

contado. Nas duas áreas, o número de passagens consecutivas de ramos foi comparado

pelo teste do Qui-quadrado.

Efeito da distância, sucesso de propagação vegetativa e forrageamento dos ramos da

parasita

Para avaliar a influência da distância entre hospedeiras nas passagens dos ramos

da parasita foram selecionados 28 grupos totalizando 259 indivíduos de M.

calodendron. Em cada agrupamento foram identificados os indivíduos infectados por S.

flexicaulis, cujos ramos poderiam partir das copas e parasitar outras hospedeiras. Estes

indivíduos de M. calodendron parasitados foram chamados de “fonte de ramos”. A

partir dos indivíduos fonte foram tomadas as seguintes medidas: distância entre as

bordas das vizinhas mais próximas e sucesso de propagação vegetativa de ramos

(formação de haustórios). O número de passagens bem sucedidas foi contado e

distribuído em 12 classes de distâncias que variaram de 10 em 10 cm. Foi feita uma

regressão linear após a transformação logarítmica para ambos os eixos.

Para avaliar a probabilidade de contágio de novas plantas foram selecionadas 30

M. calodendron parasitadas com alturas que variaram de 60 a 90 centímetros, pois a

altura média dessas hospedeiras na área de estudos é de 50 cm. Nessas mimosas, a

altura da saída dos ramos da parasita era medida, bem como a distância que estes ramos

percorriam até tocar o substrato. Essas medidas foram feitas em três pontos: altura

inicial (medida logo após a saída do ramo e onde a distância=0); altura média (onde a

metade da distância foi percorrida pelo ramo) e altura final (altura=0 e a distância é a

máxima percorrida pelo ramo). Curvas exponenciais negativas foram ajustadas aos

pontos de altura máxima e mínima relacionando as alturas às distâncias. As equações

dessas curvas permitem determinar uma região onde qualquer copa dentro dos limites

máximos e mínimos das curvas poderá ser parasitada, pois elas descrevem dispersão de

ramos saindo das alturas máximas e mínimas. Essas equações foram utilizadas para

determinar a probabilidade de contágio de outras mimosas situadas a diferentes

distâncias da hospedeira de onde partem ramos da parasita, através da relação:

(Y(X)máx. – Y(X) min)/79, onde Y(X) máx. = altura dos ramos mais altos; Y(X) min =

altura dos ramos mais baixos e 79 é a altura máxima prevista, pelo modelo de regressão,

para um ramo ao sair da copa das hospedeiras de 90 cm de altura. Um gráfico de

Page 30: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

21

probabilidade foi calculado considerando variações de distância de 0 a 100 cm

(intervalos de 5 em 5 cm de distância).

Para avaliar forrageamento dos ramos foram selecionados outros 30 indivíduos de

M. calodendron parasitados. No centro de suas copas foi colocado um octógono (Fig. 1)

dividido em oito setores numerados, onde cada um correspondia a um ângulo de 45

graus. Em todas as copas o setor 1 foi voltado para o norte. Todos os ramos que saíam

das copas eram contados e separados por setor. Foi verificado se estes ramos passavam

para outras hospedeiras quando houvesse a formação de haustórios. O programa Systat

foi usado para representar graficamente a densidade de ramos por setores de 45 graus.

A concentração de ramos associados a setores onde a passagem de ramos foi bem

sucedidas foi comparada, por teste t pareado, com a concentração nos demais setores.

Para verificar se outras variáveis, tais como a posição do sol ou direção dos ventos da

região, poderiam interferir no direcionamento, comparou-se a saída do número de ramos

em cada setor por meio de análise de variância (ANOVA) cujas variáveis foram: setores

(posicionamento) e número de ramos.

Fig. 1- Octógono colocado sobre a copa das hospedeiras para quantificar a saída de

ramos da parasita. Cada parte colorida (setor) corresponde a um ângulo de 45 graus. As

setas brancas indicam os ramos fora das copas (exploratórios).

Resultados

A densidade de mimosas intensificou a transmissão de ramos (Fig. 2). A área de

maior densidade de hospedeiras (2,1 indivíduos/m2; N=201) apresentou uma distância

Page 31: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

22

de borda média entre vizinhas mais próximas de 27,8 e desvio padrão de ± 38,2 cm e a

mediana foi de 5 cm (n=201). Já na área de menor densidade (0,8 indivíduos/m2; N=81)

essa distância foi de 140,7 e desvio padrão de ± 123,7 cm e a mediana de 131 cm

(n=81). A propagação vegetativa de ramos para outras hospedeiras ocorreu mais

frequentemente na área com maior densidade de mimosas sendo que 89% dos ramos da

parasita tiveram sucesso em encontrar uma nova planta e formar haustórios. Nessa área

a propagação para duas ou três hospedeiras consecutivas foi mais comum, totalizando

mais de 30% das observações. Em contrapartida, na área menos densa apenas 21%

conseguiram explorar novas copas e somente cerca de 5% dos ramos passavam para

mais de uma hospedeira. Houve diferença significativa no número de passagens de

ramos entre duas áreas (χ2=226,5; gl=1; p<0,001).

Fig. 2 – Influência da densidade de hospedeiras na propagação vegetativa consecutiva

de ramos. Área de maior densidade (distância média entre bordas de hospedeiras

vizinhas = 27,8 cm) e Área de menor densidade (distância média entre bordas de

hospedeiras vizinhas = 140 cm).

A propagação vegetativa de ramos variou negativamente em função da distância

entre as bordas das copas das hospedeiras. Dos 265 ramos presentes nos agrupamentos

de mimosas, 171 tiveram sucesso na propagação vegetativa para outras hospedeiras. As

distâncias entre bordas variaram de 0 a 121 cm. O número de propagação se manteve

alto quando as distâncias eram inferiores a 20 cm e diminuiu significativamente a partir

deste valor (r2=0,700; n=12; p=0,001) (Fig. 3).

Page 32: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

23

20 40 60 80100

120140

Log Distância (cm)

20

40

6080

100

Lo

g P

rop

ag

ação

veg

eta

tiv

a b

em

su

ced

ida

Fig. 3- Relação entre a distância entre bordas das copas das mimosas e propagação

vegetativa de ramos da parasita. Esta relação é descrita pela equação da reta Y= 6,684 –

1,182 X.

A probabilidade de propagação vegetativa de ramos variou conforme a altura de

sua saída das copas das hospedeiras. As saídas de ramos das alturas máximas e mínimas

delimitaram uma região onde qualquer copa situada dentro destes limites tem chance de

ser parasitada (Fig. 4). Nesse modelo, a altura máxima de saída dos ramos das copas das

hospedeiras foi de 79 cm e a mínima foi de 36 cm. As curvas exponenciais negativas

foram descritas em seu limite superior pela equação Y = ln (4,371 – 0,065 * Distância)

e por Y = ln (3,585 – 0,059 * Distância), em seu limite inferior (Fig. 4). Estas equações

são parecidas, refletindo elasticidade semelhante dos ramos. A altura das hospedeiras

influenciou a probabilidade de propagação vegetativa de ramos, pois plantas que se

encontravam muito próximas das hospedeiras (distâncias entre bordas das copas

menores que 10 cm) a probabilidade de ser atingida variou de 36 a 70%. Estas

probabilidades caíram bastante quando a distância entre copas foi superior a 20 cm

variando entre 18 e 0,07%.

Page 33: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

24

0 10 20 30 40 50 60 70

Distância (cm)

0

20

40

60

80

Alt

ura

(cm

)

0 10 20 30 40 50 60 700

20

40

60

80

0 20 40 60 80 100 120

Distância (cm)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Pro

bab

ilid

ad

e d

e p

ass

ag

em

Fig. 4 – Sucesso de propagação vegetativa de ramos. Em A estão representadas as

curvas descritas pelas equações que relacionam altura dos ramos com as distancias as

bordas da copa e em B a probabilidade de contágio de outras plantas com copas situadas

a diferentes alturas e em diferentes distancias.

As observações na área de 1400m2 constataram que

os ramos apresentaram

forrageamento direcionado, pois após o encontro de um ramo com uma nova hospedeira

e a formação do primeiro haustório, tanto os ramos laterais quanto os vizinhos

alteravam suas trajetórias de crescimento indo de encontro à nova fonte de recursos.

A

B

Page 34: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

25

Este crescimento não teve nenhuma relação com outras variáveis tais como a posição do

sol ou direção dos ventos da região, uma vez que não houve diferenças significativas

entre os setores em relação ao número de ramos que saíam das copas das hospedeiras

(F=0,8941, gl=72, p=0,52). O estímulo parece ocorrer após a formação do haustório

(t=8,788; n=30; p<0,0001) (Fig. 5). Ramos principais conectados às novas hospedeiras

desenvolviam vários ramos laterais para o setor onde um dos ramos tinha feito a

primeira conexão. O mesmo direcionamento ocorreu com parte dos ramos vizinhos, que

parecem receber o mesmo estímulo e mudaram a trajetória de seu crescimento em

direção à nova hospedeira. É importante ressaltar que a maioria dos vetores menores,

que representam menor número de ramos no setor, indicaram casos em que não houve a

formação de haustório (H) (Fig. 5A e B). Entretanto, todos os maiores vetores,

representando o maior número de ramos no setor, tiveram a formação de pelo menos um

haustório (H) (Fig. 5A e B).

Fig. 5A - Crescimento direcionado dos ramos quando há a formação do primeiro

haustório (Teste t=8,788; n=30; p<0,0001).

Page 35: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

26

Fig. 5B – Detalhe do crescimento direcionado dos ramos quando há a formação do

primeiro haustório (representado pela letra H). As letras H corresponderam aos setores

onde havia pelo menos uma passagem de ramos (formação de haustório em uma nova

hospedeira).

Page 36: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

27

Discussão

Enquanto a deposição de sementes de plantas parasitas depende quase que

exclusivamente do comportamento e das escolhas por poleiros pelas aves dispersoras

(Aukema 2003) e está correlacionada à frequência de plantas na paisagem (del Rio et al.

1996), a propagação vegetativa é favorecida pela densidade de hospedeiras (Mourão

2007, Mourão et al. 2009). Isso foi corroborado neste trabalho uma vez que a

propagação vegetativa de ramos de mimosas parasitadas para vizinhas foi favorecida

pela proximidade entre suas copas. Na área de maior densidade, quase todas as parasitas

conseguiram se estender para outras plantas quando suas hospedeiras apresentavam

nítidos sinais de caducifolia, garantindo assim a sua sobrevivência. Além da distância

entre bordas, a altura das hospedeiras influenciou indiretamente as chances de contágio

por ramos da parasita. Os ramos que saiam de copas mais altas percorriam um caminho

mais longo até tocar o substrato influenciando o sucesso de sua propagação para outras

plantas. No entanto, na área de menor densidade de M. calodendron a propagação de

ramos ficou comprometida, e apenas uma pequena fração da população de parasitas

conseguiu atingir outras hospedeiras. Como a distância dificulta a propagação dos

ramos, os mal sucedidos tendem a permanecer na mesma planta e devem morrer junto

com suas hospedeiras. Em paisagens com baixas densidades de plantas, as copas estão

mais distantes e a forma de propagação mais eficaz seria a dispersão ornitocórica.

Hospedeiras mais altas são as preferidas das aves, pois estas são as mais atrativas como

poleiro (Aukema & Del Rio 2002).

O efeito combinado da distância e altura de hospedeiras foi determinante para o

sucesso de propagação da parasita. A emissão de ramos de S. flexicaulis desde alturas

maiores das copas das hospedeiras permite percorrer uma maior distância antes de tocar

no chão, favorecendo a propagação vegetativa desses ramos para outras plantas. O

tamanho da hospedeira é um ótimo preditor da probabilidade de parasitismo de uma

planta (Overton 1994), pois hospedeiras maiores são mais atrativas para as aves e

também favoreceriam propagação vegetativa dos ramos para outras plantas. Além disso,

copas maiores a seriam alvos mais fáceis para os ramos de S. flexicaulis. Estes

resultados remetem ao modelo de metapopulação, em que um conjunto de sub-

populações locais interage através da dinâmica do fluxo de indivíduos (Hanski 1991,

Teodoro 2010). Assim como no estudo de Overton (1994), que comparou a dispersão da

parasita Phrygilanthus sonorae em árvores dos gêneros Bursera e Cytocarpa, e de

Page 37: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

28

Teodoro (2010) que comparou a de Psittacanthus robustos em Vochysia thyrsoidea , a

propagação de S. flexicaulis pode ser equiparada à dinâmica de uma metapopulação.

Essas parasitas são compostas por sub-populações isoladas espacialmente em

fragmentos de habitat (hospedeiras) e estão unidas por fluxos biológicos, seja por

dispersão vegetativa ou ornitocórica. A dinâmica de ambas depende da distribuição

espacial de suas plantas hospedeiras que podem estar isoladas espacialmente numa

matriz de habitat desfavorável. O fluxo de plantas parasitas entre as hospedeiras se daria

em função da altura e distância entre suas copas (dispersão vegetativa) ou seus

tamanhos/altura (especialmente na dispersão ornitocórica, veja Guerra 2005). Quando

as hospedeiras morrem, morrem também as suas parasitas, a não ser que seus ramos

tenham atingido outras plantas vizinhas por dispersão vegetativa, ou suas sementes

tenham sido levadas a plantas mais distantes por aves. A paisagem pode ser vista como

uma coleção de manchas temporariamente favoráveis ao parasitismo (hospedeiras vivas,

parasitadas ou não) e de manchas favoráveis à propagação da parasita, dispersas numa

matriz de solo inóspito (Overton 1994).

Apesar de algumas plantas poderem se movimentar e crescer em resposta à luz ou

outros estímulos ambientais (Kaban 2008), os ramos de S. flexicaulis não apresentaram

este tipo de comportamento, pelo menos no ambiente aberto da canga onde luz não

parece ser limitante. Os ramos apresentaram um padrão aleatório de crescimento quando

não havia a formação de haustório em uma nova hospedeira. Eles saíam das copas,

geralmente em várias direções, indicando uma tentativa de cobrir uma maior área de

busca. Como as plantas têm crescimento modular, cada série de unidades repetitivas

(módulos) pode simultaneamente ter um comportamento de forrageamento diferente,

como proposto por McNickle et al. (2009) para raízes. Este modo de forrageamento foi

comparado ao dos insetos sociais, onde a seleção deve favorecer comportamentos que

aumentem a aptidão total da colônia, ou, no caso de plantas, de todo o indivíduo, e não

de cada unidade modular (McNickle et al. 2009). Diferentemente de outras plantas, que

precisam manter uma conexão entre as raízes e o resto, as parasitas podem se

multiplicar por fragmentação, após a formação dos haustórios em novas hospedeiras,

rompendo sua ligação com o indivíduo que o originou.

Após o encontro com uma nova hospedeira e a formação de haustórios, ocorre a

proliferação de novos ramos laterais também em direção à hospedeira, apresentando um

crescimento direcionado. Esse crescimento aumenta a eficiência na obtenção de

recursos, como previsto pela Teoria do Forrageamento Ótimo. Outros ramos vizinhos

Page 38: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

29

parecem receber estímulos que modificam o direcionamento de suas trajetórias visando

a captura de recursos, crescendo para o mesmo local da formação dos haustórios. Como

os haustórios das plantas parasitas respondem às substâncias químicas liberadas por

outras espécies, permitindo o reconhecimento e ataque a hospedeiras apropriadas

(Kaban 2008), um mecanismo semelhante poderia ser responsável por emitir e captar

estímulos de reconhecimento de novas hospedeiras e causar mudanças de trajetória e/ou

a proliferação de novos ramos. Com base em evidências empíricas da literatura, de

Kroon et al. (2005) argumentam que os comportamentos que envolvem decisões sobre

frequência de ramificação de raízes, crescimento dos entrenós e aumento no eixos de

raízes, ocorrem em níveis modulares, e as respostas são induzidas por sinais que são

percebidos localmente. Da mesma forma, é possível que os ramos de parasita, S.

flexicaulis se comuniquem e influenciem o direcionamento de ramos vizinhos. Esta

seria uma estratégia eficiente que otimizaria a busca por recursos. No caso de plantas

parasitas o encontro com uma nova hospedeira significa usufruir de uma nova fonte de

recursos e com isso ampliar a capacidade da sua população crescer, se reproduzir e

colonizar novos ambientes.

Page 39: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

30

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Anexo 1 – Diferentes fenofases de Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart.

(Loranthaceae)

Retirado de Mourão 2007.

Fig.1- Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. A) Ramos longos e flageliformes com folhas verdes

oblongo-abovaladas de tamanhos variados; B) Botões e flores; C) Frutos; D) Germinação da

semente; E) Apressórios (indicados pela setas). Escala: Barra = 1cm.

A

C B

E D

Page 44: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

34

CAPÍTULO 2

Modelagem espacial do espalhamento da planta

parasita Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) em

paisagens de afloramentos ferruginosos, Brasil.

Fabiana Alves Mourão1, Júlio César Mansur Filho

2, Claudia Maria Jacobi

1, José

Eugênio Côrtes Figueira1 e Ronald Dickman

2

1 Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade

Federal de Minas Gerais.

2 Departamento de Física, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas

Gerais.

Page 45: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

35

Resumo

A utilização de modelos matemáticos em estudos ecológicos auxilia na

compreensão dos padrões de dispersão de organismos na paisagem. Modelos de

simulação de espalhamento de plantas parasitas já têm sido propostos, principalmente

para avaliar a dispersão ornitocórica. Este estudo se propõe utilizar do modelo de Gás

em Rede na simulação da dinâmica do espalhamento de Struthanthus flexicaulis em

uma paisagem virtual com características semelhantes à da área de estudos. A dinâmica

da propagação da parasita foi modelada em duas etapas: 1) definição da paisagem para

seu espalhamento e 2) escolha dos parâmetros do modelo. Na construção da paisagem

foi considerado apenas um tipo de hospedeira. A paisagem gerada manteve as

características de densidades e distribuição espacial de hospedeiras semelhante às que

foram determinadas em campo. Os parâmetros avaliados foram a velocidade de

propagação da parasita e o número de hospedeiras infectadas após a saturação. Os

parâmetros demográficos da população de hospedeiras foram desconsiderados. A

dispersão ornitocórica foi a principal maneira de infestação na paisagem durante os

primeiros 12 meses. As áreas de maiores agrupamentos de hospedeiras foram as que

mais recebem ramos através da dispersão vegetativa. Ao final de 192 meses, mimosas

isoladas raramente foram parasitadas. Os resultados desta simulação demonstram a

importância da agregação de hospedeiras no espalhamento da parasita, sendo a

dispersão ornitocórica fundamental para acelerar o processo de espalhamento na

paisagem simulada.

Palavras-chave: autômatos celulares, densidade de hospedeiras, dispersão vegetativa e

ornitocórica, Gás em Rede, parasita.

Page 46: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

36

Introdução

Os padrões de dispersão de organismos na paisagem possibilitam compreender os

aspectos ecológicos e evolutivos de uma espécie e estão relacionados à distribuição,

dinâmica e interações com outros organismos (Kareiva 1994). Esses padrões podem ser

modelados matematicamente através de duas abordagens: paisagens espacialmente

implícitas ou explícitas. Em uma abordagem espacialmente implícita considera-se que

todas as manchas (fragmentos de habitat) na paisagem são iguais e igualmente

acessíveis para todos os organismos, como no modelo de metapopulações inicialmente

proposto por Richard Levins (Levins 1970, Hanski & Simberloff 1997). Já na

abordagem espacialmente explícita, as manchas são localizadas em coordenadas

geográficas fixas permitindo a avaliação das distâncias de dispersão dos organismos e a

relação entre populações dentro de manchas de habitat e outras características da

paisagem (Dunning et al. 1995). Um exemplo dessa abordagem são os modelos

baseados em indivíduos (MBI) (Huston et al. 1988) que permitem acompanhar o

destino de cada indivíduo de uma população separadamente (Caswell & Etter 1993,

Mistro & Jacobi 1999, Cumming 2002; Cannas et al. 2003) e por isso adquirem um

grau de realismo maior, podendo incorporar características biológicas distintas

associadas à idade, tamanho ou estágio de desenvolvimento de cada indivíduo na

população.

Modelos de simulação de espalhamento de plantas parasitas em que a paisagem é

um mapa de diferentes hospedeiras já têm sido propostos, mas principalmente para

caracterizar o comportamento das aves que dispersam suas sementes (Overton 1996;

Vallauri 1998; Lavorel et al. 1999). Os modelos que consideram populações

estruturadas espacialmente ajudaram a entender mecanismos envolvidos na dispersão,

por aves, das sementes das Loranthaceae Phrygilanthus sonorae (Overton 1994) e

Amyema preissii (Lavorel et al. 1999) entre as árvores de uma floresta real cujos dados

coletados em campo foram utilizados para compor uma paisagem simulada. As espécies

vegetais não estão presentes no ambiente apenas em decorrência da qualidade do

habitat-matriz, mas sim devido a uma distribuição diferenciada de recursos, o que

resulta em aproveitamentos diferentes da paisagem. No estudo de estrutura de

metacomunidades em um ecossistema aquático, Cottenie e de Meester (2004)

destacaram a qualidade dos recursos como o principal fator influenciando a distribuição

Page 47: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

37

de fitoplâncton, para justificar o comportamento de dispersão de populações entre

fragmentos.

De forma semelhante aos resultados encontrados por Cottenie e de Meester

(2004), a comunidade vegetal de afloramentos ferruginosos tem sua distribuição

limitada pela escassez de água e nutrientes, temperaturas elevadas e reduzida camada de

solo, e deve enfrentar o efeito combinado desses e outros fatores estressantes (Silva et

al. 1996, Klein 2000, Rosière & Chemale 2000, Vilela et al. 2004). A fina camada de

solo, quando existente, é constituída de metais pesados e minério de ferro (Benites et al.

2007) e se acumula em fissuras e reentrâncias da rocha. A vegetação adere-se a essas

fissuras (onde a água pode ficar algum tempo retida na estação chuvosa, Silva 1991),

crescendo entre as fendas e em pequenos acúmulos de matéria orgânica (Barth 1987).

Como as fissuras na rocha aparecem irregularmente na paisagem, permitem a formação

de um mosaico onde eventualmente estão presentes ilhas de vegetação (Barth 1987). O

solo influencia a sobrevivência das plantas em cada ilha contribuindo para a

heterogeneidade fisionômica da comunidade (Vincent 2004).

A distribuição de plantas parasitas é menos afetada por condições edáficas,

hidrológicas e nutricionais, devido à sua capacidade de retirar água e nutrientes das

hospedeiras. Entretanto, suas hospedeiras podem sofrer variações demográficas em

larga escala espacial e temporal provenientes da disponibilidade diferencial de recursos,

limitando por sua vez a distribuição das parasitas (Ehleringer & Marshall, 1995). Ainda

há poucos estudos quantitativos sobre sua dinâmica populacional, que são

obrigatoriamente vinculadas à distribuição espacial das suas hospedeiras (Shaw et al.

2004, Teodoro 2010, Arruda & van der Berg dados não publicados). A ecologia das

plantas parasitas têm sido estudada em diferentes ecossistemas (Arruda et al. in press.),

focando especialmente a dispersão de sementes (Sutton 1951, Davidar 1978, Overton

1994, del Rio et al. 1996, López-de-Buen e Ornelas 1999, Aukema & del Rio 2002,

Amico et al. 2009) e a especificidade de parasitismo (Kuijt 1963, Barlow & Wiens

1977, Thomson & Mahal 1983, Hoffman et al. 1986, Mourão et al. 2006, Arruda et al.

2006, Fadini 2011), ou sua condição fisiológica (Dean et al. 1994, Bickford et al. 2005).

Muitos modelos propostos na Física têm sido adaptados e usados em sistemas

biológicos, pois têm relativa simplicidade e procuram explicar os fenômenos de forma

objetiva com elevado rigor matemático (Giacomini 2007). Um exemplo é o modelo de

Gás em Rede. Este modelo faz parte de uma família de modelos conhecidos como

Autômatos Celulares, que lida com difusão de partículas que se movem em uma rede

Page 48: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

38

discreta. Cada partícula pode se propagar para sítios vizinhos, movendo-se através de

saltos de um sítio para outro, em um espaço de tempo determinado (Wolf 2002). O

modelo de Gás em Rede tem sido utilizado para investigar a dinâmica de predadores e

suas presas (Satulovsky & Tome 1994, Chen et al. 2006), e para estudar a mobilidade

de organismos (Rodrigues & Tomé 2008). Este modelo é capaz de incorporar padrões

espaciais de distribuição de espécies, bem como outras características importantes do

sistema estudado (Rodrigues & Tomé 2008), utilizando regras e condições iniciais

muito simples, característica que o torna bastante interessante para simular sistemas

mais complexos. O objetivo deste trabalho foi construir e utilizar o modelo de Gás em

Rede na simulação da dinâmica do espalhamento de S. flexicaulis em uma paisagem

virtual com características semelhantes à da área natural, comparando sua dispersão

ornitocórica e vegetativa. A principal hipótese é que a dispersão ornitocórica,

responsável por novos focos de parasitismo, potencializará a velocidade de

espalhamento da parasita, enquanto a dispersão vegetativa será responsável pela

colonização dos agrupamentos, levando à saturação do sistema.

Material e Métodos

A construção do modelo da dinâmica da propagação da parasita S. flexicaulis na

paisagem foi feita em duas etapas. A primeira consistiu em definir a paisagem e a

segunda em estabelecer os parâmetros do modelo de espalhamento. Na construção da

paisagem foi considerado apenas um tipo de hospedeira, Mimosa calodendron

(Fabaceae), que é mais abundante e mais parasitada na área de estudo (Mourão et al.

2006; 2009). Esta espécie é endêmica dos afloramentos ferruginosos do Quadrilátero

Ferrífero (Barneby 1991; Jacobi & Carmo 2012), apresenta porte arbustivo e suas

populações são agregadas, aparecendo como grandes manchas verdes na paisagem

(Mourão et al. 2009). Por se tratar de uma leguminosa, M. calodendron possivelmente

contribui para o enriquecimento de nitrogênio do solo dos afloramentos que são pobres

em nutrientes. Sua copa densa ajuda a reduzir as altas temperaturas do substrato e a

aumentar significativamente a formação de solo, através da incorporação de matéria

orgânica (Jacobi et al. 2007).

Construção da Paisagem para a simulação

Para criar a paisagem da simulação foi tirada uma fotografia aérea de uma área de

aproximadamente 8200 m2, que depois de impressa foi subdividida em 16 partes onde

Page 49: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

39

sobre cada uma foi colocada sob uma rede quadrada (L x M) de 10 x 10 cm2 dividida

em intervalos de 0,5 cm (quadrículas)(Fig. 1A). Foram determinados: 1) o número total

de quadrículas, representando todos os sítios possíveis para a localização de hospedeiras

(N constante = 400 por que todas as partes possuíam tamanhos de rede iguais) e 2) em

cada parte, o número das quadrículas que foram preenchidas por 50% ou mais pelas

hospedeiras (mimosas). Estas últimas representam os sítios que efetivamente foram

encontradas hospedeiras e, portanto são favoráveis à presença da parasita. Para

determinar a densidade de M. calodendron (ρ), o número de sítios favoráveis foi

dividido pelo total de sítios possíveis (favoráveis e não favoráveis).

Para descobrir a fração de pares vizinhos (o grau de agregação das hospedeiras na

paisagem) calculou-se o r1,1. Este parâmetro descreve a probabilidade de se ter vizinhos

ocupados por hospedeiras (quadrícula esquerda e/ou superior conforme a figura 1B).

Figura 1 – Representação esquemática da obtenção dos valores de densidade de

hospedeiras e de pares de vizinhos em: A) Rede de 6 x 6 cm colocada sobre a foto aérea

mostrando a localização de hospedeiras. A barra lateral em amarelo corresponde a 1 cm

na figura e o centro de uma quadrícula à outra corresponde a 1 m em escala real. Esta

imagem foi quadriculada para estimar sua densidade e probabilidade de se encontrar

vizinhas; B) representação esquemática da estratégia utilizada para a contagem do

número de hospedeiras vizinhas sem repeti-las. Os sentidos das setas indicam como os

pares de vizinhas foram determinados.

Cada quadrícula pode ter zero, um ou dois vizinhos ocupados (sítios favoráveis).

Após analisar cada quadrícula e determinar o número de vizinhos existentes, calculou-se

o número de pares de vizinhos possíveis que é dado por 2LM – (L+M); sendo L =

número de quadrículas na vertical e M = número de quadrículas na horizontal. A fração

A B

Quadrícula

Quadrícula

Page 50: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

40

de pares vizinhos (r1,1) foi calculado dividindo-se o número de vizinhos encontrados

pelo número de pares de vizinhos possíveis (Fig. 1).

Uma vez calculada a densidade de partículas (hospedeiras) e a ocorrência de pares

vizinhos, foi utilizado o modelo de difusão de partículas de Gás em Rede, que na sua

forma mais simples, possui o número de partículas (hospedeiras) fixo e as interações

somente ocorrem entre pares de vizinhos. A paisagem gerada manteve as características

de densidades e distribuição espacial de hospedeiras de forma semelhante às que foram

determinadas em campo. Neste modelo a interação entre partículas (hospedeiras) pode

ser descrita por potenciais repulsivos de curto alcance (repulsão de partículas) com a

energia escrita da seguinte forma:

Onde σ i,j = 1 ou 0 caso o sítio esteja ocupado ou vazio e σ k,l = posição de cada sítio.

Devido a esse tipo de interação, cada sítio (quadrícula) pode conter apenas uma

partícula (hospedeira) e o espaçamento de rede representa o raio da mesma. Na

paisagem real, o centro de uma quadrícula à outra corresponde a aproximadamente 1 m.

Para fins de ilustração pode-se imaginar que o centro de cada hospedeira está situado

nos vértices da rede (Fig. 2). O valor da energia do sistema (E) corresponderá à

paisagem real, pois leva em consideração a densidade de hospedeiras e a probabilidade

de formação de agrupamento (número de pares vizinhos). Um paralelo pode ser traçado

entre a energia de repulsão de partículas e o substrato dos afloramentos ferruginoso, em

que maior energia de repulsão (valor absoluto) significaria substratos mais compactos

(sem fissuras nas rochas e solos, quando existentes, pouco profundos). Como as

hospedeiras se estabelecem em fissuras ou fendas no substrato, intuitivamente áreas de

menor densidade de hospedeiras e menores probabilidades de formação de

agrupamentos devem apresentar maior energia de repulsão de partículas.

Figura 2- Ilustração da posição espacial das hospedeiras em uma rede quadrada.

Page 51: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

41

A energia de repulsão é influenciada pela Temperatura (T), uma grandeza física

que mede a energia cinética de cada uma das partículas de um sistema em equilíbrio. É

possível variar a paisagem modificando apenas os valores de temperatura e mantendo os

de densidade de partículas (hospedeiras) e número de pares vizinhos (Fig. 3). Este

procedimento é necessário para determinar em que temperatura o modelo irá rodar as

simulações, já que a paisagem gerada deve se assemelhar à paisagem real. De acordo

com o comportamento de partículas de gás na Física quando a temperatura é alta, menor

agrupamento de partículas é esperado. Neste estudo isso corresponderia a regiões cada

vez menos apropriadas para a propagação vegetativa da parasita, já que as mimosas

estariam dispostas de maneira mais isolada na paisagem.

Foi usado o teste de Monte Carlo para simular a dinâmica de interação de

partículas, e a paisagem foi aceita quando a energia de repulsão de partículas foi menor

ou igual à energia gerada com os dados de campo. Para encontrar este parâmetro foram

usadas diferentes Temperaturas (T). A implementação do algoritmo computacional do

processo foi feito pelo método Markoviano, que é um processo estocástico e tem como

propriedade a falta de memória, sendo sua evolução de um tempo tn a tn+1 dependente

apenas do seu valor no presente.

Neste modelo as N partículas foram distribuídas aleatoriamente numa rede

quadrada L x L sítios com condições de contorno periódicos. Isso significa que as

partículas localizadas em uma das bordas da rede fazem contato com as outras do lado

oposto, de modo que todas as partículas tenham iguais condições de se tornarem

contaminadas e de transmitir propágulos da parasita. A configuração final da paisagem

foi dada após o tempo de relaxação (estabilização), quando o sistema chega a um estado

de equilíbrio de menor energia (Fig. 3).

Depois de fixado o valor da densidade, os valores de r1,1 correspondentes ao da

paisagem real foram estimados a partir da variação de temperatura para definir qual ou

quais deveriam ser usadas no modelo (Fig. 4). Os resultados da variação dos valores de

r1,1 estão dentro dos limites da variação encontrada para a paisagem real (Tabela 1). A

partir destes resultados definiu-se o tamanho da rede L= 100 que foi usada no modelo e

a temperatura de 0,53 e L=50 e temperatura de 0,525 já que apresentaram agrupamentos

de partículas melhor distribuídas na paisagem, semelhante à paisagem rea

Page 52: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

42

Figura 3 – Paisagens geradas pelo modelo de Gás em Rede em uma rede quadrada L x L

sítios com L = 400. A densidade de hospedeiras foi ρ = 0,2. Os padrões para cada

temperatura foram gerados após 150.000 permutações do teste de Monte Carlo. As

variações de temperatura permitem modificar a agregação das partículas (hospedeiras),

sendo mais agregadas em temperaturas menores. Estes padrões podem ser visualizados

na sequencia acima, que parte de agregados compactados com bordas suaves até uma

total desagregação.

Page 53: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

43

Tabela 1 – Valores de r1,1 calculados a partir da variação de temperatura e que se

encontra dentro do erro esperado para a paisagem real, para os tamanhos de rede L = 50,

L = 100, L = 200 e L = 400.

Figura 4 – Estimativa dos valores de probabilidade de formação de pares de vizinhos

(r1,1) com a variação de temperatura no modelo (T). A legenda representa o tamanho das

redes discretas utilizadas. Em A a área destacada mostra a variação dos valores de r 1,1

em função das temperaturas e em B tem-se uma ampliação desta área. Note que os

valores de r1,1 escolhidos são próximos ao encontrado para a paisagem real e sua

variação está de acordo com o erro encontrado.

Figura 4 – Estimativa dos valores de probabilidade de formação de pares de vizinhos

(r1,1) com a variação de temperatura no modelo (T). A legenda representa o tamanho das

redes discretas utilizadas. Na figura da esquerda a área destacada mostra a variação dos

valores de r 1,1 em função das temperaturas e à direita tem-se uma ampliação desta área.

Note que os valores de r1,1 escolhidos são próximos ao encontrado para a paisagem real e

sua variação está de acordo com o erro encontrado.

Parâmetros do modelo de propagação da parasita

Após a germinação, as plântulas de S. flexicaulis emitem ramos em forma de

flagelos, com pequenas folhas e fixados à planta hospedeira espaçadamente por

A B

Page 54: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

44

haustórios, e gradualmente ocupam a copa da hospedeira. A partir das bordas desta copa,

os ramos de S. flexicaulis podem alcançar a copa de outra hospedeira, da mesma ou de

outra espécie, situada em diferentes distâncias com probabilidades que variam de 70 a

0% (Cap. 1 – figura 4B). Na área de estudo há variações notáveis na densidade de

plantas e, portanto, nas chances de crescimento de S. flexicaulis. A chance de passar de

uma hospedeira para outra depende do distanciamento de entre copas e quando a

distância é superior a 1m pode interromper localmente o crescimento vegetativo

(Mourão dados não publicados).

Algumas características dos afloramentos ferruginosos e da parasita

supostamente influenciam diretamente o processo de expansão deverão obrigatoriamente

compor o algoritmo que simulará a expansão de S. flexicaulis. Nesta versão preliminar

do modelo foram incluídas as seguintes características 1) agrupamento de hospedeiras;

2) desenvolvimentos de ramos exploratórios; 3) contágio de novas hospedeiras

dependente da distância; 4) morte dos ramos ocorrendo quando em contato direto com a

superfície do afloramento ferruginoso que, durante o dia, pode atingir temperaturas

bastante elevadas; 5) rochas nuas. Futuramente poderão ser incluídos no modelo outros

parâmetros tais como: 1) preferências da ave por local de alimentação (altura e

agrupamento das hospedeiras); 2) diferentes regras para o contágio de novas hospedeiras

que depende: da altura, diâmetro, distância e tipo de hospedeira; 3) modificações na

qualidade da matriz através do acréscimo de diferentes porcentagens de rochas nuas e

presença de outras plantas; 4) variações na densidade de hospedeiras; 5) morte,

nascimento e crescimento de hospedeiras.

Uma vez definida a paisagem, o modelo considera sítios saudáveis (Ns) quando

há ocorrência de mimosas não infectadas e sítios infectados (Ninf). Em cada iteração, os

sítios poderão ser infectados até os terceiros vizinhos (Fig. 5).

Figura 5 – Desenho esquemático do número de vizinhos e seu posicionamento na rede.

Page 55: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

45

A simulação do espalhamento de S. flexicaulis num mosaico ambiental

representando a variedade de hospedeiras de tamanhos iguais e solo nu típicos da área

ocorre quando uma hospedeira é sorteada como fonte da parasita (dispersão

ornitocórica) e a partir dela ocorrerá a expansão de ramos vegetativamente, iniciando a

simulação. O tempo de cada iteração no modelo correspondeu a 1 mês e neste mesmo

tempo os ramos da parasita podem atingir um crescimento médio de 20 cm (F. A.

Mourão, obs. pess.).

A infecção de uma hospedeira pode ocorrer de duas maneiras: 1) propagação por

aves, que independe da distância de uma mimosa infectada e assumiu-se que a taxa de

dispersão ornitocórica seria de µ=0,005/mês e 2) propagação vegetativa, onde

assumindo-se que a taxa seria de λ = 0,1/mês. A taxa de espalhamento (dispersão

ornitocórica + vegetativa) foi dada por: R= 4 ctλ Ninf + µ Ns , onde ct= 1 + 1/√2 + ½;

Ninf = número de sítios infectados (hospedeiras infectadas) e Ns = número de sítios

saudáveis (mimosas que podem ser infectadas). Após a escolha e infecção das

hospedeiras (sítios saudáveis), os ramos das hospedeiras infectadas poderão atingir

outras plantas (Fig. 6). Caso parte de um ou mais ramos se posicione dentro da copa de

outra hospedeira a transmissão terá sido bem sucedida e o processo se reiniciará.

Figura 6- Esquema do funcionamento do modelo de propagação.

Page 56: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

46

A expansão pode ser interrompida caso a hospedeira já esteja infectada ou os

ramos não se posicionem dentro de sítios considerados bons (copas de mimosas). Nesse

caso, será investigado como alterações na estrutura da paisagem poderiam afetar a

velocidade de espalhamento e o número de plantas virtuais parasitadas.

A cada unidade de tempo, a propagação de ramos pode ocorrer na horizontal,

vertical e diagonal, e poderá atingir primeiros, segundos e terceiros vizinhos com

probabilidades diferenciadas. Essas probabilidades de infecção são maiores para os

primeiros vizinhos, sendo 0,7 vezes menor para segundos e 2 vezes menor para

terceiros.

As regras para a simulação foram:

1) Escolher um dos quatro primeiros vizinhos do sítio infectado e se estiver saudável

infecta-lo;

2) Escolher um dos quatro segundos vizinhos e se estiver saudável, infectá-lo;

3) Escolher um dos quatro terceiros vizinhos e se estiver saudável, infectá-lo;

4) Caso exista um sítio saudável entre o sítio central infectado e seu terceiro vizinho,

infectá-lo também.

5) Atualizar o tempo.

O modelo guardará o número de sítios (hospedeiras) infectados a cada simulação

para os padrões gerados usando uma paisagem de L=100, e as taxas µ=0,005/mês e

λ=0,1/mês. As simulações foram feitas para tempo t = 12, 24, 36, 48, 60 e 192 meses.

No tempo t=0, ocorre o sorteio das quadrículas que serão infectadas por dispersão

ornitocórica (deposição de sementes), numa taxa de µ* Ns. Em seguida, os ramos da

parasita começam seu desenvolvimento, levando 10 meses para atingir uma vizinha. A

cada iteração, novos focos de parasitismo são sorteados. Pelas regras do modelo

hospedeiras já infectadas não podem mais ser sorteadas. Esta regra superestima a

dispersão ornitocórica já que em uma situação real as aves podem depositar sementes

nas mesmas hospedeiras. Este algoritmo poderia ser melhorado se fossem coletados

dados de campo para calcular a probabilidade de deposição de sementes na mesma

hospedeira, em hospedeiras mortas, em agrupamentos e em plantas isoladas.

Para obter a velocidade de expansão foi calculada a média de hospedeiras

infectadas de 10 amostras de paisagens diferentes, iniciando a partir de cada uma das

280 mimosas na rede não infectada (ρ*L2) para uma rede quadrada L=50, t=0,525 e ρ =

0,112, mantendo as mesmas características da paisagem real. No final temos ρ(t)

calculado para 2800 amostras. As iterações foram até 1000 meses (aproximadamente 83

Page 57: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

47

anos). O desvio padrão da média para esta densidade foi da ordem de 10-4

ou menores,

deixando a barra de erro insignificante. A taxa de λ = 0,1/mês para a dispersão

vegetativa foi mantida fixa durante a simulação, pois a propagação via passagem de

ramos deve se manter relativamente constante ao longo do tempo. Mas a dispersão

ornitocórica é incerta, pois depende da área de ocorrência das aves, o tamanho de sua

população, suas preferencias alimentares, seu comportamento, dentre outros fatores.

Assim, variou-se a taxa µ de 0,005/mês, em 10 (0,0005/mês) e em 100 (0,00005/mês)

vezes.

Nesta simulação foram desconsiderados a mortalidade de hospedeiras

infectadas, o recrutamento de novas hospedeiras, seu crescimento ao longo do tempo e

seus diferentes tamanhos. Tampouco foram incorporados dados sobre estocasticidade

demográfica e ambiental nos cálculos. Por exemplo, sabe-se que a morte da hospedeira

pode interromper localmente o crescimento vegetativo, provocando a morte da parasita

quando esta não consegue emitir ramos capazes de atingir outra hospedeira. A chance

de passar de uma hospedeira para outra depende também do tamanho e da arquitetura de

suas copas, já que copas maiores são “alvos” mais fáceis de serem alcançados pelos

ramos que copas menores. Entretanto, no modelo todas as mimosas tiveram chances

iguais de serem infectadas pelos ramos da parasita, pois não diferem quanto ao tamanho

e idade. A passagem dos ramos é interrompida quando a parasita se propaga para um

sítio inapropriado, ou seja, que não contém uma mimosa.

Resultados

Paisagem

A paisagem apresentou vários agrupamentos de hospedeiras muito semelhantes

aos encontrados na área de estudo. Em uma área de apenas 16 m2

foi possível encontrar

até 36 hospedeiras, demonstrando o alto padrão de agregação (Mourão 2007). A

densidade média de hospedeiras (ρ) encontrada para a paisagem real foi de 0,112 ±

0,005 e a probabilidade média de agregação (r1,1) foi de 0,061 ± 0,007. A escolha do

tamanho da rede de L = 50 e L = 100 foram baseadas no tempo de simulação e

disposição das hospedeiras na paisagem virtual (Fig. 7).

Page 58: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

48

Figura 7 – Características da paisagem gerada pela temperatura escolhida (T=0,53). O

tamanho da rede de L=100 e r1,1 = 0,061±0,002. O agrupamento de hospedeiras (em

verde) foi semelhante ao da área de estudo.

Simulação

Na simulação, durante os primeiros 12 meses a dispersão ornitocórica foi a

principal maneira de infestação na paisagem, já que os ramos da parasita levariam 10

meses aproximadamente para atingir o centro de uma quadrícula susceptível à infecção

(Fig. 8a). Já após 24 meses ficou evidente que as áreas de maiores densidades de

hospedeiras foram as que mais recebem ramos através da dispersão vegetativa (Figs. 8b

e c). Essas manchas são completamente tomadas com a passagem do tempo (Figs. 8c-f).

Como as hospedeiras continuam recebendo sementes das aves, novos pontos de

infestação iniciam-se, elevando a velocidade de espalhamento da parasita e aumentando

sua área de atuação. É interessante notar que ao final de 192 meses mimosas isoladas

raramente foram infectadas (Fig. 8f). A distância acima de 2 m entre as hospedeiras

impediu a passagem de ramos, já que neste modelo foi desconsiderada a existência de

outras plantas. Neste caso, estas hospedeiras isoladas só poderiam ser infectadas apenas

via dispersão por aves.

Page 59: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

49

Page 60: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

50

Figura 8 – Paisagens simuladas com propagação da parasita para rede L= 100 e

intervalos de tempo t= 12, 24, 36, 48, 60 e 192 meses. Pontos verdes representam

mimosas saudáveis, os azuis as mimosas infectadas por pássaros (dispersão

ornitocórica) e os vermelhos as mimosas infectadas por passagem de ramos (dispersão

vegetativa).

Velocidade de espalhamento

As curvas de velocidade de espalhamento da parasita são do tipo sigmoide,

apresentando-se lento inicialmente, seguido por um rápido aumento exponencial e

finalmente estabilizando quando o sistema está saturado. O espalhamento lento ocorreu

quando plantas sadias foram infectadas basicamente por deposição de “sementes da

parasita” nos galhos das hospedeiras (dispersão ornitocórica), e a duração desta fase

dependeu da taxa de dispersão ornitocórica (Fig. 9). Quando essa taxa foi de 0,005/mês,

a fase exponencial teve seu fim próximo a 98 meses, mas quando foi reduzida em 100

vezes, teve seu fim em aproximadamente 500 meses. Durante o aumento exponencial as

duas dispersões atuaram simultaneamente, acelerando o espalhamento da parasita na

paisagem. A saturação do sistema ocorreu quando praticamente todos os agrupamentos

foram parasitados (Fig. 8f), limitando a passagem de ramos.

Fig. 9. Densidade média de mimosas infectadas, os valores de λ e µ correspondem às

taxas de propagação vegetativa e infecção espontânea (dispersão ornitocórica). As

linhas coloridas indicam variações em uma destas taxas.

(meses)

Page 61: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

51

Mantendo as taxas de dispersão vegetativa e ornitocórica propostas para este

modelo, em aproximadamente 98 meses a densidade média de hospedeiras infectadas

seria de 80% e chegaria a 90% em 500 meses (Fig. 9). Quando a taxa da dispersão

ornitocórica foi reduzida em 10 vezes (linha azul marinho da Fig. 9), demorou 200

meses para que a população de mimosas se tornasse 70% infectada e a porcentagem

máxima ficou em torno de 78% em 1000 meses. Já quando foi reduzida em 100 vezes

(linha verde da Fig. 9), em 500 meses haveria cerca de 50% de mimosas infectadas.

Discussão

A dispersão ornitocórica foi fundamental para acelerar o processo de

espalhamento da parasita na paisagem simulada. O papel da ave dispersora tem grande

importância no ciclo de vida destas plantas, pois suas sementes necessitam da remoção

do seu exocarpo para germinar (Ladley & Kelly 1996). As aves contribuem para a

reprodução sexuada da parasita garantindo o aumento da diversidade gênica na espécie

através da propagação de sementes. Como recompensa as aves obtém energia

consumindo frutos de S. flexicaulis que são provavelmente ricos em lipídios (Watson

2001, Guerra 2005).

Na natureza, a agregação de hospedeiras pode facilitar a localização de manchas

na paisagem por aves dispersoras e aumentar as chances de deposição de sementes

(dispersão ornitocórica) (Aukema & Martinez del Rio 2002). O comportamento da ave

foi de certa maneira retratado no modelo, quando a agregação de partículas aumentou a

chance de novos focos de parasitismo iniciar em agrupamentos. A dispersão

ornitocórica, que depende exclusivamente do comportamento das aves, pode atingir

regiões mais distantes. Sabe-se que a ave Elaenia cristata (Tyrannidae), principal

dispersora de S. flexicaulis em um afloramento rupestre no sudeste do Brasil, foi capaz

de dispersar sementes desta parasita a uma distância de até 86 metros (Guerra 2005). A

atuação das aves depositando sementes a grandes distâncias na paisagem é uma

explicação plausível para o acelerado processo de dispersão. Este mesmo fenômeno foi

observado por Clark et al. (1998) quando descreveu a importância dos eventos raros de

dispersão de sementes quando são carregadas para muito longe da planta-mãe, iniciando

novas colonizações e acelerando o processo de migração de árvores após a era glacial.

De acordo com este autor, a distância percorrida por estas sementes pode ser descrita

Page 62: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

52

por uma curva de cauda longa e estes raros eventos são os responsáveis pelo acelerado

avanço da população de plantas na paisagem.

O espalhamento de S. flexicaulis em curtas distâncias se deveu principalmente à

dispersão vegetativa. Como o crescimento de ramos é limitado, não ultrapassando 1,5

m/ano (F. A. Mourão obs. pes.), esse tipo de dispersão tem curto alcance. A dispersão

vegetativa é favorecida quando as copas das hospedeiras estão muito próximas, já que

os ramos da parasita podem passar de uma hospedeira à outra dentro de uma mesma

mancha. Quando as hospedeiras se encontravam isoladas, a dispersão vegetativa tendeu

a zero, sendo a dispersão ornitocórica praticamente o único modo de infecção de plantas

na paisagem.

Obviamente, pelas regras do modelo, manchas isoladas não transmitem parasitas

via dispersão vegetativa e não podem infectar novas hospedeiras localizadas em outras

manchas. Isso só foi possível quando as aves depositavam sementes em manchas não

infectadas, iniciando o espalhamento em outras áreas. Em uma comunidade real, a

permeabilidade da matriz é maior do que a considerada nesta simulação, já que outras

plantas fazem parte do ambiente e poderiam ser infectadas ou até mesmo servir como

uma “ponte” entre uma mimosa e outra. Os ramos da parasita teriam maior mobilidade

de espalhamento, minimizando o efeito do substrato inóspito (Overton 1994),

conectando as manchas espacialmente isoladas e acelerando a dispersão.

Sabe-se que a altura das hospedeiras tende a ser positivamente correlacionada

com a intensidade de infestação (Overton 1994; Aukema 2003; Mourão 2007). Na

dispersão vegetativa, hospedeiras mais altas tem maior sucesso na passagem de ramos,

pois estes podem atingir plantas vizinhas de diferentes tamanhos e os ramos podem se

crescer, tocar o substrato e morrer (F. A. Mourão, dados não publicados). Já na

dispersão ornitocórica, a propagação de sementes se dá em função da escolha do poleiro

pelas aves, sendo as maiores as preferidas (Aukema & Del Rio 2002). Nesta simulação

o modelo não considerou características individuais das hospedeiras como altura,

diâmetro e mortalidade. Tampouco variou a densidade e agregação de hospedeiras. Mas

por se tratar de um modelo flexível (Lee & Yang 1952, Chen et al. 1992, Romano

2002), tais parâmetros poderiam ser facilmente incorporados ao modelo, o que iria

torná-lo mais realístico, embora extremamente complexo. Futuros cenários serão

propostos para avaliar como a velocidade de expansão desta parasita pode variar em

função destes parâmetros.

Page 63: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

53

A simulação utilizando o modelo de Gás em Rede sugere que tanto a dispersão

ornitocórica quanto a vegetativa desempenham papeis fundamentais e diferenciados no

espalhamento de S. flexicaulis na área estudada. Enquanto a dispersão ornitocórica

carrega as sementes da parasita e as deposita em para manchas mais distantes, a

dispersão vegetativa garante a colonização da nova área.

Referências bibliográficas

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dispersing role of the arboreal marsupial Dromiciops gliroides. Acta Oecologica 35:

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CAPÍTULO 3

Alocação de recursos da hemiparasita Struthanthus

flexicaulis (Loranthaceae) em condições de estresse

hídrico do ambiente.

Fabiana Alves Mourão1, Claudia Maria Jacobi

1 & José Eugenio Cortes Figueira

1

1 Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade

Federal de Minas Gerais.

Page 69: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

59

Resumo

Padrões de alocação de recursos em plantas podem variar em função dos

estresses ambientais aos quais estão submetidas. Entretanto, plantas parasitas poderiam

não sofrer consequências já que usufruem permanentemente dos nutrientes retirados de

suas hospedeiras. O objetivo desse trabalho foi verificar isto, comparando a alocação de

recursos da parasita Struthanthus flexicaulis em diferentes condições de estresse hídrico

do ambiente. Foram marcados 347 ramos principais que tiveram seu crescimento

acompanhado por 9 meses. Estes ramos parasitavam 32 indivíduos de Mimosa

calodendron, sua principal hospedeira em afloramentos ferruginosos. Mediu-se o

comprimento de cada ramo principal, sua localização (dentro ou fora da copa), o

número de ramos laterais, de folhas, de estruturas reprodutivas (botões, flores e frutos) e

de ramos danificados por herbivoria ou ressecamento. Além disso, foram comparados

ramos que cresciam em hospedeiras com três categorias de infestação. O crescimento de

ramos foi maior na estação seca do que na estação chuvosa, contrariamente ao número

de folhas. A mortalidade foi semelhante nos dois períodos, mas as causas foram

diferentes. A sobrevivência dos ramos exploratórios (fora das copas) foi maior do que a

dos internos (dentro das copas). Na estação seca não houve diferença significativa entre

o crescimento, número de estruturas reprodutivas e de folhas entre os ramos

exploratórios e internos. Já na estação chuvosa os ramos exploratórios cresceram mais e

produziram mais estruturas reprodutivas, sem, no entanto, diferir dos ramos internos

quanto ao número de folhas. Entre junho e agosto, os ramos em hospedeiras pouco

parasitadas apresentaram menor crescimento quando comparados aos de hospedeiras

muito parasitadas. O número de folhas seguiu o mesmo padrão e o de estruturas

reprodutivas foi semelhante entre as três categorias. Já entre os meses de novembro a

janeiro o crescimento não diferiu, mas os ramos que cresciam sobre as mimosas com

parasitismo intermediário tiveram maior número de estruturas reprodutivas e de folhas.

S. flexicaulis demonstrou sinais de estresse hídrico durante a estação seca, porque,

apesar de ter investido mais em crescimento vegetativo, não produziu estruturas

reprodutivas que são energicamente mais custosas. A parasita adotou diferentes

estratégias para garantir sua sobrevivência quando alocou recursos para realizar

diferentes funções durante as estações seca e chuvosa.

Palavras-chave: alocação de recursos, disponibilidade de água, seca.

Page 70: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

60

Introdução

Os padrões de alocação de recursos em plantas influenciam sua habilidade de

aquisição de nutrientes (Poorter et al. 1990), interações competitivas (Bazzaz et al.

1987), crescimento vegetativo e reprodução (de Jong & Klinkhamer 2005). Durante o

crescimento, a fase vegetativa é o período de maior ganho de biomassa (Shaver &

Chapin 1991, Larcher 2006). É nesta etapa que as plantas alongam raízes e partes aéreas

e ainda investem em estruturas clonais como, por exemplo, os estolões, bulbos e

rametes (Grace 1993, Larcher 2006). O decréscimo no crescimento vegetativo é

observado quando se inicia a fase reprodutiva. Isso sugere que os recursos requeridos

para a reprodução são os mesmos utilizados para o crescimento (Bazzaz et al. 1987).

Essas mudanças na alocação de biomassa afetam a sobrevivência, o crescimento e a

reprodução das plantas (McConnaughay & Coleman 1999).

A alocação de recursos pode variar em função dos estresses ambientais aos quais

as plantas estão submetidas, tais como a falta de água, variações extremas de

temperatura e variações nas concentrações de nutrientes (Bloom et al. 1985). O estresse

hídrico, que ocorre quando a disponibilidade de água no solo é baixa e a temperatura é

capaz de causar perdas contínuas por transpiração ou evaporação (Jaleel et al. 2008),

por exemplo, pode provocar a redução das taxas fotossintéticas e de respiração,

distúrbios no metabolismo e até mesmo a morte do indivíduo (Jaleel et al. 2008, Farooq

et al. 2009). As respostas das plantas ao estresse podem ser rápidas e diretas visando

aumentar as chances de sobrevivência imediata (Mooney et al. 1991). O rápido

fechamento dos estômatos em resposta à seca pode evitar a perda de água, mas também

interfere na assimilação de carbono (Mooney et al. 1991). Em longo prazo, se as

condições desfavoráveis persistirem, as plantas passam a realocar os recursos

disponíveis para o desenvolvimento de mecanismos complexos envolvendo fenômenos

moleculares, bioquímicos e fisiológicos, afetando seu crescimento e reprodução

(Razmjoo et al. 2008).

Os efeitos do estresse hídrico sobre as plantas parasitas parecem não ser tão

acentuados quanto em outras plantas. Elas assumem o controle homeostático de água de

suas hospedeiras e intensificam a retirada de recursos (Glatzel & Geils 2009). Muitas

parasitas tem a capacidade de realizar fotossíntese e investem mais em crescimento

quando retiram grandes quantidades de água e nutrientes do xilema de suas hospedeiras

Page 71: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

61

(Aukema 2003). Como o transporte de água e nutrientes ocorre devido a pressões

negativas no topo da planta pela evapotranspiração nas folhas (Glatzel & Geils 2009), as

hospedeiras sofrem duplamente com a falta de água e podem morrer principalmente

durante o período seco. Para que a parasita possa manter as taxas adequadas de seu

crescimento sem por em perigo a sobrevivência da hospedeira, é esperado um balanço

entre a quantidade de recurso disponível e o que é efetivamente retirado (Tennakoon &

Pate 1996). Mas quando a limitação de água e nutrientes é severa as parasitas buscam

novas fontes de recursos infectando mais de uma planta (Marvier 1996).

Struthanthus flexicaulis (Mart.) Mart. (Loranthaceae) é uma das hemiparasitas

brasileiras mais comuns, com ampla distribuição nas áreas de cerrado do Brasil Central

(Rizzini 1980). A espécie é generalista e pode parasitar diversas plantas vasculares

(Mourão et al. 2006). Seus ramos longos e flageliformes dispersam-se vegetativamente

e podem se fragmentar, formando novos rametes. Em fitofisionomias com elevadas

densidades de plantas a dispersão vegetativa é tão ou mais importante que a

ornitocórica, porque os ramos da parasita são capazes de infectar as copas de plantas

vizinhas espalhando-se no ambiente (Mourão et al. 2009), favorecendo a colonização de

novas hospedeiras e seu forrageamento. Esta espécie é dióica e possui folhas pequenas,

com flores e frutos pequenos (3-4 mm e 6-7 mm respectivamente).

O objetivo desse trabalho foi comparar a alocação de recursos de S. flexicaulis

em diferentes condições de estresse hídrico do ambiente. Devido à dificuldade de se

distinguir indivíduos, optou-se por adotar como unidade amostral os ramos da parasita.

As hipóteses que nortearam este trabalho foram: 1) A alocação de recursos dos ramos de

S. flexicaulis e sua mortalidade são influenciadas pela disponibilidade de água no

ambiente; 2) A alocação de recursos é afetada quando a infestação de parasitas for

elevada; 3) A sobrevivência dos ramos varia em função de sua posição com relação às

copas (dentro-internos ou fora-exploratórios) e 4) O crescimento de ramos é

influenciado por de sua posição com relação às copas (dentro-internos ou fora-

exploratórios). Acredita-se que na estação chuvosa os ramos de S. flexicaulis crescerão

mais, produzirão mais folhas e mais estruturas reprodutivas. A mortalidade deverá ser

menor. A alocação para os ramos que crescem sobre as copas de hospedeiras muito

parasitadas deverá ser menor, pois é esperada uma competição por recursos disponíveis

entre os ramos da parasita. Além disso, a sobrevivência deverá ser maior dentro das

copas já que seus ramos ficam menos expostos à predação e danos como quebra de suas

Page 72: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

62

extremidades. Os ramos exploratórios (fora das copas) deverão investir mais em

crescimento linear porque se supõe que estes estejam à procura de novas hospedeiras.

Material e métodos

Local de estudo

O estudo foi desenvolvido numa área de afloramentos ferruginosos do Parque

Estadual da Serra do Rola Moça (20° 03’ 60”S, 44° 02’ 00” W, 1300 m), localizado na

porção sul da Cadeia do Espinhaço- Brasil, uma longa cadeia de montanhas paralela ao

oceano Atlântico. O clima da região é do tipo mesotérmico, de acordo com a

classificação de Köppen, é do tipo Cwa (Nimer & Brandão 1989). A precipitação anual

é de 1000 a 1500 mm, com uma pronunciada estação seca de abril a setembro, e

temperatura média anual de 25°C (Rizzini 1997). Nos afloramentos, localizados nos

topos da serra, os ventos constantes e altos índices de radiação ultravioleta contribuem

para a severidade do ambiente, agravada durante a estação seca. A vegetação é baixa,

composta por poucos indivíduos de porte arbóreo, e é dominada por eudicotiledôneas

como Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae, e monocotiledôneas como Poaceae,

Cyperaceae e Orchidaceae (Viana & Lombardi 2007, Jacobi et al. 2007). O solo é do

tipo neossolo litólico, ou seja, quando presente é raso (apresentando menos de 5 cm de

profundidade), pedregoso e cascalhento,é rico em ferro e apresenta baixos teores de

fósforo e micronutrientes (Benites et al. 2007). Na área de estudos Mimosa calodendron

(Fabaceae) é uma leguminosa abundante e frequentemente infectada pela hemiparasita

S. flexicaulis (Mourão et al. 2009). Acredita-se que M. calodendron seja endêmica dos

afloramentos rochosos ferrugíneos do Quadrilátero Ferrífero (Barneby, 1991) e

contribua para a estruturação da comunidade vegetal em que se encontra inserida

(Jacobi et al., 2007). Esta hospedeira é perene e de porte arbustivo sendo utilizada como

poleiro por diversas aves, inclusive as dispersoras de S. flexicaulis.

Desenho amostral

Para avaliar a alocação de recursos da parasita, foi delimitada uma área de

aproximadamente 2500 m2, contendo uma população expressiva de indivíduos de M.

calodendron parasitados. Foram marcados 347 ramos principais femininos que

parasitavam 32 indivíduos de M. calodendron, cujas alturas variaram de 80 e 120 cm.

Estes ramos foram marcados a 10 cm de suas extremidades para padronizar o início das

medidas (Fig. 1), que foram tomadas mensalmente durante nove meses, iniciando-se na

Page 73: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

63

estação seca (maio) e finalizando na chuvosa (janeiro). Mediu-se o comprimento do

ramo principal, o número de ramos laterais, o número de folhas, a localização (dentro

ou fora da copa), o número de estruturas reprodutivas (botões, flores e frutos) e o

número de ramos danificados por herbivoria ou quebra. Os ramos poderiam apresentar

crescimento negativo quando: 1) cresciam sobre o substrato do afloramento ferruginoso

cujas temperaturas no verão chegam a 68° (F. F. Carmo com. pess.) e queimavam suas

extremidades ou 2) larvas de insetos no interior dos ramos que se rompiam após a

eclosão do adulto.

Fig. 1- Foto esquemática dos ramos da parasita onde A = ramo principal e B = ramos

laterais.

Para comparar o crescimento de ramos entre as estações seca e chuvosa, foram

considerados o incremento linear entre junho e agosto (estação seca) e entre novembro e

janeiro (estação chuvosa). Aplicou-se o teste U de Mann-Whitney, pois os dados não

apresentaram distribuição normal. O número de folhas de cada ramo, a partir da

marcação feita em maio, foi contado em agosto (estação seca) e janeiro (estação

chuvosa), e comparado por análise de covariância ANCOVA (covariável: número de

folhas), após a transformação usando log na base 10 para diminuir a variância. Em

seguida comparou-se cada reta através da inclinação das tangentes e os valores do

intercepto segundo metodologia de Zar (1999). As diferenças entre os valores

encontrados, tanto para as tangentes quanto para os interceptos foram comparados com

teste t de Student.

Os 347 ramos principais foram divididos em dois grupos: 142 ramos internos e

205 exploratórios. Os ramos internos são aqueles que permaneceram dentro das copas e

os exploratórios são aqueles que se estendem mais do que 10 cm além da borda da copa.

A

B

B

Page 74: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

64

Estes grupos foram analisados quanto a: 1) sobrevivência (taxa de sobrevivência mensal

dos ramos principais); 2) porcentagem de ramos principais danificados nas estações

seca e chuvosa (morte por ressecamento, morte por herbivoria ou ressecamento, e

quebra das extremidades); 3) comprimento; 4) número de folhas/cm da parasita e 5)

número de estruturas reprodutivas/cm da parasita. Para calcular a taxa de sobrevivência

os ramos foram agrupados em cinco classes de tamanho de intervalos de 20 cm e foi

criada uma tabela de vida de todos os ramos marcados no início do experimento e a

proporção sobrevivente ao longo do tempo. Foi calculada a taxa de sobrevivência

mensal para cada grupo de ramos e comparada pelo teste de Wilcoxon. Para comparar o

número de ramos danificados exploratórios e internos foi utilizado um teste t pareado,

pois os dados apresentaram distribuição normal.

Como ao longo do experimento alguns ramos mudavam de posição para dentro ou

fora das copas, para comparar o crescimento, o número de folhas/cm da parasita e de

estruturas reprodutivas/cm da parasita em cada estação, considerou-se apenas os ramos

que permaneceram no mesmo grupo (somente dentro ou somente fora das copas) após

os nove meses de monitoramento. Assim, as análises de crescimento, número de folhas

e estruturas reprodutivas em cada estação foram realizadas com 71 ramos internos e 104

exploratórios. Os dados foram analisados pelo teste U de Mann-Whitney uma vez que

não apresentaram distribuição normal, mesmo após as transformações. Os danos

causados por morte por ressecamento, morte por herbivoria ou ressecamento e quebra

das extremidades na chuva e na seca foram expressos em porcentagens e comparados

pelo teste do Qui quadrado.

Para avaliar se os ramos que cresciam em hospedeiras com diferentes graus de

infestação apresentavam diferenças no crescimento linear, número de folhas e estruturas

reprodutivas nas estações seca (agosto) e chuvosa (janeiro), cada hospedeira foi

classificada em uma das seguintes categorias de parasitismo: 1) pouco parasitadas – até

10 ramos exploratórios; 2) parasitismo intermediário – 20 a 30 ramos exploratórios e; 3)

muito parasitadas – mais de 40 ramos exploratórios. Os ramos de cada categoria foram

comparados pelo teste não paramétrico Kruskal-Wallis, já que os dados não

apresentaram uma distribuição normal mesmo após as transformações.

Os dados de precipitação dos anos de 2009 e 2010, utilizados neste estudo, foram

extraídos da estação meteorológica do Parque Estadual da Serra do Rola Moça.

Page 75: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

65

Resultados

Os ramos de S. flexicaulis alocaram os recursos para realizar diferentes funções

durante o seu desenvolvimento ao longo dos meses. O crescimento de ramos de S.

flexicaulis foi maior na estação seca do que na estação chuvosa (Z= - 9,513; n=175;

p<0,0001) (Fig. 2). Entretanto, o número de folhas foi maior durante a estação chuvosa

(Fig. 3).

Fig. 2 – Crescimento de ramos entre junho e agosto (período seco) e entre novembro e

janeiro (período chuvoso). A classe <0 representa os ramos que diminuiram seu

comprimento devido aos danos nas suas extremidades.

Para a estação seca a reta que descreveu a correlação entre o número de folhas e

comprimento dos ramos exploratórios e internos foi y = -0,098 + 0,858x (n = 175;

r2=0,860; p<0,001) e para a chuvosa, representada pelo mês de janeiro, foi y = -0,946 +

1,047x (n = 175; r2=0,846; p<0,001) (Fig. 3). Essas retas diferiram quanto a sua

inclinação (n=350; t= 4,157; p=0,001), mas não quanto ao intercepto (n=350; t=1,208;

p=0,228).

A menor quantidade de chuva durante a estação seca não impediu a produção

dos primeiros botões em julho, alcançando seu pico em outubro (Fig. 4). Já as primeiras

flores surgiram em agosto, e em setembro foi iniciada a produção de frutos.

Informações sobre os frutos foram coletados até o mês de janeiro e por esse motivo não

Page 76: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

66

foi possível quantificar seu pico de produção, que acontece entre março e abril (Mourão

obs. pess.).

1 10 100

Log Comprimento (cm)

1

10

100

1 10 1001

10

100

Lo

g N

úm

ero

de f

olh

as

Fig. 3 – Correlação entre o número de folhas e o comprimento dos ramos. Para o

período seco (agosto, cinza), e para o período chuvoso (janeiro, pretos).

May Ju

n Jul

AugSep Oct

NovDec Ja

n0

10

20

30

40

50

60

70

80

Rep

roduct

ive

stru

cture

s/bra

nch

es

0

100

200

300

400

500

600

Rain

(mm

)

Bud

Flower

Fruit

Page 77: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

67

Fig. 4 – Relação entre a quantidade de chuva (mm) e o número total de estruturas

reprodutivas por ramo (botões, flores e frutos) durante os meses de maio de 2009 a

janeiro de 2010.

Quando se considerou a produção de estruturas reprodutivas dos ramos notou-se

maior investimento nos meses de setembro a novembro, o que coincidiu com o período

de maior disponibilidade de água (Tab. 1). O início da produção de botões se deu no

mês de julho (4,26 / ramo) e teve seu pico no mês de outubro (77,36 / ramo). No mês de

novembro houve maior produção de flores (13,08 / ramo) e no mês de janeiro a

produção de frutos verdes e maduros se destacou com 28,17 / ramo (Tab. 1). Durante a

estação chuvosa, houve um maior investimento na produção de botões se comparado às

flores e frutos (Tab. 1). A produção de botões é energeticamente menos custosa para a

planta porque são menores e mais leves e, além disso, não precisam produzir

recompensas como as flores, e nem armazenar nutrientes como os frutos.

Tabela 1– Produção de estruturas reprodutivas e crescimento de ramos laterais nos

períodos de seca (maio a agosto) e chuva (setembro a janeiro).

Meses Botões Flores Frutos

Número de ramos

laterais

Número

de ramos

Produção

total

Número de

ramos

Produção

total

Número de

ramos

Produção

total

Maio 0 0 0 0 0 0 58

Junho 0 0 0 0 0 0 199

Julho 105 448 0 0 0 0 460

Agosto 157 2603 11 113 0 0 450

Setembro 218 11960 23 120 1 1 418

Outubro 202 15628 94 916 1 7 530

Novembro 165 6767 160 2093 25 499 452

Dezembro 87 1053 114 903 49 1145 443

Janeiro 16 121 17 118 41 1155 279

A mortalidade de ramos foi semelhante nos dois períodos, sendo de 3,7% na

seca e 4,2% na chuvosa. Entre as causas identificadas, a morte por ressecamento foi

mais comum durante a estação seca, enquanto a herbivoria ocorreu com maior

intensidade durante a estação chuvosa (Tab. 2). A porcentagem de quebra dos ramos

principais, sem, no entanto, leva-los à morte, foi maior durante a estação seca (Tab. 2).

Entre os meses de junho a agosto, o maior crescimento de ramos foi de 104 cm para um

que crescia fora da copa de uma hospedeira vigorosa, destoando fortemente do

Page 78: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

68

crescimento médio para este período, que foi de 20,2 ± 17,6 cm, com mediana de 16

cm. Já durante a estação chuvosa, entre os meses de novembro a janeiro, o maior

crescimento foi de 68 cm e o crescimento médio de 4,5 ± 19,1 cm e a mediana foi de 1

cm.

Tabela 2. Porcentagem de danos e morte dos ramos principais nos períodos seco (de

junho a agosto) e chuvoso (novembro a janeiro).

SECA

N=205

CHUVA

N=176 χ2 gl p

Morte por ressecamento 19,5 6,1 6,53 1 0,01

Morte por herbivoria 0,5 27,8 27,35 1 0,00001

Quebras 35,5 19,6 4,02 1 0,05

Nestes últimos meses muitos ramos apresentaram crescimento negativo; por exemplo, o

que mais decresceu tinha 81 cm em novembro e em janeiro media 15 cm.

Quando a mortalidade foi analisada de acordo com posição dos ramos na copa, a

quebra foi mais comum nos ramos exploratórios enquanto a morte por ressecamento ou

herbivoria foi mais comum nos ramos internos (Tab. 3).

Tabela 3. Porcentagem de danos e morte dos ramos internos e exploratórios nos

períodos seco (de junho a agosto) e chuvoso (novembro a janeiro).

SECA CHUVA

Internos Exploratórios

N=109

Internos Exploratórios

N= 96 N=75 N=106

Morte por

ressecamento 12,6 6,9 3,2 2,9

Morte por

herbivoria 1 0 14,9 12,9

Quebras 12,5 23 7,8 11,8

Dos 347 ramos principais marcados, 142 se encontravam inicialmente dentro e

205 fora das copas. Os ramos que cresceram dentro das copas entrelaçaram-se com

outros ramos da parasita ou prenderam-se aos galhos da hospedeira. Estes ramos

internos tinham maior calibre e folhas maiores, escuras e menos maleáveis,

Page 79: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

69

contrastando com os ramos exploratórios que apresentaram características jovens, tais

como folhas mais maleáveis, menores e de coloração mais clara. A sobrevivência dos

ramos foi maior fora das copas (exploratórios) do que dentro delas (w=44; Z= 2,54;

p<0,01), principalmente em janeiro (Fig. 5), mas os ramos exploratórios sofreram mais

danos em suas extremidades (t=3,07; n=9; p=0,01), ao longo dos meses de estiagem.

Ramos principais danificados produziram mais ramos laterais (χ2=286; gl=1; p<0,01,

n=168), que produziam folhas menores, porém mais próximas uma das outras, com

distâncias máximas não ultrapassando 1 cm. O período de maior produção de ramos

laterais se deu nos meses de julho a dezembro. Na estação seca não houve diferença

significativa entre o crescimento (U=1775; Z=-0,12; p=0,89), número de estruturas

reprodutivas (U = 1752; Z = - 0,25; p = 0,79) e número de folhas (U=1493 ; Z= - 1,59;

p=0,11) de ramos exploratórios e internos. Já na estação chuvosa os ramos exploratórios

cresceram mais (U=1284; Z= -2,64; p=0,008) e produziram mais estruturas reprodutivas

(U=1197; Z=-3,09; p=0,001), no entanto não apresentaram diferenças quanto ao número

de folhas (U= 1545; Z= -1,26; p= 0,20).

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan

MES

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

So

bre

viv

ên

cia

Fig. 5 Sobrevivência dos ramos exploratórios e internos. Teste de Wilcoxon (w=44;

Z=2,54; p<0,01).

De uma maneira geral, os ramos analisados em conjunto não apresentaram um

crescimento regular e contínuo, sendo muito variável. Entretanto quando foram

separados em categorias de parasitismo, na estação seca os que estavam alojados em

hospedeiras pouco parasitadas apresentaram menor crescimento do que aqueles em

Exploratórios

Internos

Page 80: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

70

hospedeiras com níveis intermediários de parasitismo e muito parasitadas (H = 14,97; gl

= 2; p < 0,0001) (Tab. 4). O número de folhas seguiu o mesmo padrão (H = 17,45; gl =

2; p < 0,001). A produção de estruturas reprodutivas foi semelhante entre as 3

categorias (H = 2,31; gl = 2; p = 0,31). Já na estação chuvosa o crescimento não diferiu

entre os grupos (H = 0,41; gl = 2; p = 0,81) (Tab. 4). O número de folhas (H = 3,90; gl =

2; p = 0,11) e de estruturas reprodutivas (H = 4,29; gl = 2; p = 0,14) seguiram o mesmo

padrão.

Tabela 4. Comparação da alocação de recursos dos ramos da parasita considerando-os

crescendo sobre diferentes classes de hospedeiras parasitadas nas estações seca e

chuvosa.

Seca Comprimento

Estruturas

Reprodutivas

Número de

folhas

Pouco Parasitada (N=43) 28,8 ± 15,4 A 9,5 ± 15,8

A 19,4 ± 13,4

A

Parasitismo Intermediário

(N=55) 40,5 ± 19,1 B 10,1 ± 12,8

A 23,8 ± 12,7

B

Muito Parasitada (N=68) 41,4 ± 17,1 B 13,1 ± 18,5

A 30,1 ± 14,3

B

Kruskal-Wallis Comprimento (H=14,97 gl=2 p<0,0001)

Kruskal-Wallis Estrutura Reprodutiva (H=2,31 gl=2 p=0,31)

Kruskal-Wallis Número de Folhas (H= 17,45 gl= 2 p<0,0001)

Chuva Comprimento

Estruturas

Reprodutivas

Número de

folhas

Pouco Parasitada (N=18) 30,7 ± 21,1 A

10,1 ± 31,8 A 20,8 ± 21,5

A

Parasitismo Intermediário

(N=42) 30 ± 19 A 8,2 ± 8,1

A 25,5 ± 18,4

A

Muito Parasitada (N=49) 34 ± 21 A 11,6 ± 23,4

A 29,5 ± 19,3

A

Kruskal-Wallis Comprimento (H=1,54 gl=2 p=0,46)

Kruskal-Wallis Estrutura Reprodutiva (H=4,29 gl=2 p=0,11)

Kruskal-Wallis Número de Folhas (H= 3,90 gl= 2 p=0,14)

Discussão

As condições de estresse hídrico do ambiente influenciaram a alocação de

recursos de S. flexicaulis. Durante a estação seca, seus ramos investiram mais no

crescimento sem, entretanto, produzir muitas folhas. Isso sugere uma estratégia para

buscar novas fontes de recursos (hospedeiras), já que neste período água e nutrientes são

fatores limitantes e críticos para a maioria das plantas. Embora as plantas parasitas

Page 81: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

71

possam ser quase insensíveis à seca, pois dependem exclusivamente de suas

hospedeiras, estas últimas estão sujeitas à falta de água e podem não retirar recursos

suficientes nem mesmo para sua própria manutenção. O parasitismo reduz a biomassa e

altera a alocação de recursos das espécies parasitadas (Tennakoon & Pate 1996, Lei

2001, Press & Phoenix 2005, Shen et al. 2006), podendo leva-las à morte. Nos

afloramentos ferruginosos, cujas temperaturas podem ultrapassar 60° (Carmo, com.

pess.), a mortalidade de hospedeiras pode se intensificar durante o período seco devido

ao efeito combinado do parasitismo e do estresse hídrico a que estão sujeitas (Mourão et

al. 2009). A morte da atual hospedeira, sem que ocorra a dispersão para outra, significa

também a morte da parasita, e neste caso, investir em crescimento linear de ramos se

torna um ótimo investimento energético. Ao final da estação seca e início da chuvosa,

entre os meses de agosto e setembro, os ramos começaram a investir em novas folhas e

estruturas reprodutivas. O aumento da disponibilidade de água foi determinante para

que a parasita pudesse investir na produção de novas folhas. Com o acréscimo no

número de folhas, os ramos aumentaram a superfície fotossinteticamente ativa, o que

pode ter elevado a taxa de produção de energia (Larcher 2006). Isto permite o

investimento em estruturas reprodutivas, pois sua produção requer um elevado custo

energético (de Jong & Klinkhamer 2005).

Os padrões de alocação de recursos se tornaram mais claros quando os ramos

foram analisados quanto aos diferentes graus de parasitismo. Na estação seca, os ramos

que cresciam em hospedeiras mais parasitadas foram os que apresentaram maior

crescimento linear. Uma analogia pode ser feita entre o número de haustórios e a

ramificação de raízes de plantas durante a seca. Muitas plantas ramificam o sistema

radicular para suprir o déficit de água, que pode ser rapidamente perdida por

evapotranspiração (Jaleel et al. 2009). Comparativamente, a expansão das raízes aéreas

das plantas parasitas, que ocorre através do crescimento linear, teria a finalidade de

buscar novas fontes de recursos (colonização) e extrair mais nutrientes de suas

hospedeiras (estabelecimento e crescimento). Após o estabelecimento de novos

haustórios, os indivíduos captam mais recursos para investir em seu crescimento e

reprodução. Estudos afirmam que o número destes haustórios está correlacionado com o

crescimento da parasita e seus impactos sobre as hospedeiras (Tennakoon & Pate 1996,

Tennakoon et al. 1997, Aukema 2003). Isso sugere que hospedeiras muito parasitadas

devem abrigar poucas parasitas que estabelecem múltiplas conexões simultâneas ao

longo de seus galhos. Dessa forma, os poucos indivíduos parasitas poderiam desviar

Page 82: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

72

maiores quantidades de recursos usados para o seu desenvolvimento. Em contrapartida

estas hospedeiras estariam sujeitas aos efeitos mais acentuados do parasitismo. Sabe-se

que indivíduos de Mimosa calodendron muito parasitados apresentam de 75 a 95% de

redução de sua cobertura foliar (Mourão et al. 2009). Assim, uma redução nas taxas

fotossintéticas é esperada e o estabelecimento de ramos de S.flexicaulis em outras

plantas seria vital para sua sobrevivência.

Na estação chuvosa o crescimento de ramos, número de folhas e estruturas

reprodutivas da parasita foi semelhante não importando a categoria de parasitismo.

Como a água deixa de ser um recurso limitante para as plantas, é possível que a retirada

de nutrientes das hospedeiras atinja seu máximo, permitindo um investimento similar

entre as categorias de parasitismo. Além disso, é esperado que o estresse hídrico e

nutricional das hospedeiras diminua com a chegada das chuvas, favorecendo a reposição

de folhas que foram perdidas durante o período seco, ampliando sua área

fotossiteticamente ativa. Como as hospedeiras mais parasitadas perdem mais folhas que

as pouco parasitadas (Mourão et al. 2009), o gasto de energia para a reposição desta

estrutura deverá ser maior, assim as hospedeiras muito parasitadas poderiam fornecer

tantos nutrientes quanto comparadas às pouco parasitadas. Sabe-se que no período seco

as plantas crescem pouco, reduzem sua área foliar disponível para fotossíntese (menor

tamanho das folhas ou abscisão), além de sofrerem uma série de modificações

fisiológicas e morfológicas para sobreviverem a essas condições (Crawley 2007).

Ao contrário do que se esperava a mortalidade de ramos não foi maior no período

seco. Nesta época a maioria dos ramos morreu devido ao esgotamento de hospedeiras

que muitas vezes (15%) não conseguiam sobreviver aos efeitos combinados do

parasitismo e escassez de agua. Além disso, a maior mortalidade de ramos internos

reforça a necessidade da parasita em investir em ramos que possam buscar por novas

fontes de recursos e sua dispersão. Já na estação chuvosa, a mortalidade de ramos

ocorreu principalmente pelo ataque de insetos galhadores, pulgões e larvas não

identificadas que cresciam no interior de muitos ramos. Os insetos podem causar

inúmeros prejuízos às plantas tais como redução no crescimento, aumentando a

vulnerabilidade ao ataque de outros insetos e doenças, reduzindo a habilidade

competitiva (Crawley 1989). Estes insetos podem ser uma importante fonte reguladora

do espalhamento de ramos das parasitas em comunidades naturais. Os ramos atacados

por insetos e que não morriam tinham seu crescimento comprometido, pois as larvas se

Page 83: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

73

alimentavam de seu interior e o rompiam ao eclodir. Por esse motivo o crescimento

vegetativo na estação seca superou o da estação chuvosa.

Danos como as quebras da extremidade dos ramos principais, mais comuns nos

ramos exploratórios durante a estação seca, estimularam o desenvolvimento de ramos

laterais. As gemas danificadas perdem a dominância apical induzindo o crescimento de

novas partes (Cline 1997). É comum que plantas invistam no crescimento de novos

tecidos e estruturas para compensar as partes que foram perdidas (Harper 1985). Os

ramos exploratórios foram os que mais produziram ramos laterais e isso pode favorecer

a busca por novas hospedeiras da mesma ou de outras espécies.

O comportamento em relação ao crescimento linear, produção de estruturas

reprodutivas e folhas dos ramos principais internos e exploratórios foi semelhante nos

períodos de seca, sinalizando que a distribuição de recursos é proporcional, não

importando a posição de seus ramos na copa das hospedeiras. Já durante a estação

chuvosa os ramos exploratórios cresceram mais do que os internos e produziram mais

estruturas reprodutivas. Como os organismos clonais podem crescer assimetricamente,

priorizando partes do indivíduo que tem melhores condições desenvolvimento (Harper

1981, Harper 1985), é possível que os ramos mais expostos à luz tenham sido

beneficiados. Isso ocorre com raízes, por exemplo, que possuem uma diversidade de

respostas à heterogeneidade incluindo aumento de ramificações laterais, biomassa e

comprimento de raízes bem como a capacidade de retirada de nutrientes do solo (Hodge

2004).

Os principais efeitos do estresse hídrico nas plantas são as reduções nas taxas

fotossintéticas (Graves et al. 1992), redução na alocação de recursos afetando seu

crescimento (Crawley 2007) e diminuição no investimento reprodutivo (Mugabe 1983,

de Jong & Klinkhamer 2005). Além disso, os custos energéticos para a reprodução

esgotam os recursos necessários para manutenção e crescimento das plantas (Bazzaz et

al. 1987, de Jong & Klinkhamer 2005). S. flexicaulis alocou recursos de maneira

diferenciada durante as estações, adotando estratégias que favoreceram sua

sobrevivência. Como as parasitas assumem o controle homeostático de água das

hospedeiras, elas conseguem manter sua eficiência na captação de água e assimilação de

carbono (Glatzel & Geils 2009) mesmo durante o período de maior escassez de água.

Apesar disso, esta parasita demonstrou sinais de estresse hídrico durante a estação seca,

porque mesmo investindo em crescimento linear, não produziu estruturas reprodutivas,

que são energicamente mais custosas. Apenas na estação chuvosa, quando a agua não

Page 84: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

74

era limitante, a parasita investiu em novas folhas e estruturas reprodutivas. O maior

investimento reprodutivo durante a estação chuvosa pode servir para garantir a

sobrevivência das hospedeiras.

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CAPÍTULO 4

Efeito top-down da hemiparasita Struthanthus

flexicaulis (Loranthaceae) e seu papel chave na

estruturação de comunidades vegetais em afloramentos

ferruginosos do Quadrilátero Ferrífero, Brasil.

Fabiana Alves Mourão1, Claudia Maria Jacobi

1, José Eugênio Côrtes Figueira

1 & Rafael

Barros1.

1 Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade

Federal de Minas Gerais.

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78

Resumo

As plantas parasitas podem modificar a estrutura e dinâmica da comunidade onde estão

inseridas, reduzindo a biomassa e alterando a alocação de recursos das espécies

hospedeiras e as interações entre elas. O objetivo deste trabalho foi investigar a

importância da parasita Struthanthus flexicaulis (Loranthaceae) na estruturação de uma

comunidade vegetal sobre afloramento ferruginoso através do efeito top-down e

evidenciar se esta espécie é chave para este sistema. Foi realizado um levantamento de

espécies em duas áreas com diferentes densidades da parasita: A) alta (soma do

comprimento dos ramos da parasita superior a 180 m) e B) baixa (soma do

comprimento dos ramos da parasita inferior a 80 m), onde se mediu a cobertura vegetal

de cada indivíduo da comunidade durante a estação chuvosa, entre os meses de

fevereiro a abril de 2009. Foram amostradas cinco faixas de vegetação de 250m2 em

cada área, onde foi calculado o impacto da parasita (IP) sobre a perda de cobertura foliar

e mortalidade de hospedeiras. As densidades da parasita variaram de 3,62 a 6,4 m/m2

na

área A e 0,7 a 1,8 /m2

na área B. A composição florística da comunidade foi semelhante

entre as áreas, sendo formada por 20 famílias e 39 espécies na área A e 17 famílias e 38

espécies na B. O índice de diversidade de Shannon não apontou diferença entre a

comunidade com atuação da parasita e sem atuação da mesma. A leguminosa Mimosa

calodendron foi a mais representativa na comunidade, apresentando a maior cobertura

vegetal; também foi a espécie que mais perdeu (67%) sua cobertura com a atuação da

parasita. O efeito top-down foi negativo, pois o impacto da parasita sobre a cobertura

foliar variou de 39 a 66% na área A e 7 a 40% na B. S. flexicaulis foi considerada

espécie-chave na comunidade vegetal, apresentando valores de IP muito superiores a 1.

Os impactos que as parasitas provocam na comunidade vegetal poderiam ser

comparados aos de grandes herbívoros, já que ambos apresentaram elevado índice de

importância para as comunidades em que estão inseridos. S. flexicaulis reduziu

significativamente a cobertura vegetal de suas hospedeiras sem, entretanto, alterar a

diversidade e a composição de espécies. Sugere-se que seu papel chave e o efeito top-

down podem variar em função da densidade de plantas na paisagem.

Palavras-chave: comunidade vegetal, espécie-chave, interação planta-planta,

parasitismo.

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79

Introdução

Compreender os fatores que determinam a manutenção das populações e a

estrutura de comunidades tem sido há várias décadas um dos grandes desafios da

ecologia (Chesson 2000). Após a obra clássica de Hairston et al. (1960), vários estudos

sobre cascata trófica que demonstraram o papel estruturador dos predadores (top-down)

e disponibilidade de recursos (bottom-up) foram publicados (Balciunas & Lawler 1995,

Hunter et al. 1997, Baum & Worm 2009). A maior parte desses estudos se concentrou

nos ambientes aquáticos porque são considerados habitats relativamente discretos e

homogêneos, estratificados e que geralmente mantêm fortes interações interespecíficas

(Polis et al. 2000). Em ambientes terrestres poucos estudos têm conseguido demonstrar

o efeito top-down (Schmitz et al. 2000, Costa et al. 2008), devido a sua maior

heterogeneidade, complexidade estrutural, e às interações entre as espécies serem

consideradas muitas vezes fracas e difusas (Strong 1992, Polis et al. 2000, Werner &

Peacor 2003). Nesses ambientes experimentos têm sido realizados através de cadeias

tróficas incompletas, dificilmente passando de três níveis tróficos e geralmente

envolvendo remoção ou adição de predadores (Chase 1998, Kneitel & Miller 2002,

Gruner 2004, Schmitz 2006, Nuttle et al. 2011). O efeito top-down em comunidades

terrestres têm sido atribuído principalmente à herbivoria, que pode alterar a biomassa

(Schmitz & Suttle 2001) e interferir na reprodução das plantas (Amsberry & Maron

2006), bem como modificar a diversidade local (Nuttle et al. 2011). Já outros grupos

que poderiam causar este efeito, como os parasitoides (Gomez & Zamora 1994), são

raramente mencionados nestes estudos.

Um grupo de organismos que poderia ser utilizado para investigar a atuação da

força top-down em comunidades vegetais é o das plantas parasitas. Elas podem

modificar a estrutura e dinâmica da comunidade onde estão inseridas, reduzindo a

biomassa e alterando a alocação de recursos das espécies hospedeiras (Tennakoon &

Pate 1996, Lei 2001, Press & Phoenix 2005, Shen et al. 2006). Como a produtividade e a

permanência destas parasitas na comunidade são dependentes da “qualidade” dos

recursos obtidos, elas são capazes de escolher entre suas potenciais hospedeiras aquelas

que ofereçam melhores condições de sobrevivência (Kelly 1992, Pennings & Callaway

2002, Press & Phoenix 2005). Esta escolha pode estar relacionada à abundância de

hospedeiras (Norton & Carpenter 1998) e seu tempo de permanência no ambiente

(perenes ou anuais) (Kelly et al. 1988), bem como suas concentrações de nitrogênio

(Radomiljac et al. 1999) ou por apresentarem sistema vascular facilmente acessível e/ou

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80

com pouca capacidade de defesa (Press & Phoenix 2005). As parasitas podem afetar

negativamente processos fisiológicos, reprodutivos e ecológicos das plantas infectadas

(Press et al. 1999, Lei 1999, 2001, Mourão et al. 2009). Podem também interferir no

balanço de água e nutrientes de suas hospedeiras, reduzindo as taxas de fotossíntese e

respiração (Glatzel & Geils 2009) e, em algumas situações, podendo levá-las à morte

(Aukema 2003).

Apesar do efeito negativo nas espécies infectadas, as plantas parasitas podem

desempenhar um papel benéfico na comunidade controlando a expansão de algumas

espécies e beneficiando outras. O impacto na estrutura da comunidade pode ser grande,

principalmente se as espécies mais parasitadas forem as dominantes e o parasitismo

permitir a existência de espécies competitivamente subordinadas (Press 1998). As

plantas parasitas já foram consideradas espécies-chave em suas comunidades (Press &

Phoenix 2005) e até determinantes da diversidade local (Watson 2001). Além disso, as

plantas parasitas são utilizadas como fonte de recursos por uma variedade de

organismos, entre eles polinizadores e dispersores de sementes (Watson 2001, Aukema

2003, Kelly et al. 2004, Carlo & Aukema 2005, Azpeitia & Lara 2006). Foi sugerido que

a parasita Cuscuta salina poderia ser considerada chave na manutenção da diversidade

de espécies vegetais em marismas da Califórnia (Pennings & Callaway 1996).

Com exceção das referências acima, o papel ecológico das plantas parasitas têm

sido bastante ignorados em diversos estudos de comunidades vegetais (Norton & Reid

1997). Sabe-se que as plantas parasitas, com sua pequena biomassa de raízes sugadoras

de nutrientes, causam maior efeito em suas hospedeiras que herbívoros (Pennings &

Callaway 2002). As plantas parasitas podem alterar a o balanço competitivo entre

hospedeiras preferidas e outras plantas na comunidade (Callaway & Pennings 1998),

enquanto os herbívoros comumente alteram a composição de espécies (Bryant et al.

1991), podendo também alterar a composição de espécies caso o balanço competitivo

seja afetado.

O objetivo deste trabalho foi investigar a importância da parasita Struthanthus

flexicaulis (Loranthaceae) na estruturação das comunidades vegetais de afloramentos

ferruginosos através do efeito top-down e evidenciar se esta espécie pode ser considerada

chave nessas comunidades. Para isso foi formulada a seguinte hipótese: S. flexicaulis

influencia negativamente a permanência de algumas espécies nos afloramentos

ferruginosos, alterando a composição da comunidade. As predições que nortearam este

trabalho foram: 1) a parasita exerce efeito top-down significativo na comunidade vegetal

Page 91: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

81

provocando a morte de indivíduos dominantes e favorecendo a diversidade; 2) a parasita

reduz a cobertura vegetal das hospedeiras, causando um grande impacto na cobertura

foliar das hospedeiras, na composição e diversidade de espécies, podendo ser

considerada uma espécie-chave. O termo top-down se refere originalmente ao controle

dos predadores sobre abundância de suas presas em uma cascata trófica (Hairston 1960).

Este controle pode afetar poucas espécies, onde os aumentos na abundância de um

predador provocam diminuições de suas presas sem que isso necessariamente afete a

comunidade como um todo. Já uma espécie-chave está entre as mais importantes e afeta

diretamente a comunidade seja através de mudanças na sua estrutura e diversidade,

processos ecológicos e interações (Power et al. 1996). De acordo com a definição

original de Paine (1969) espécie-chave refere-se a uma espécie que preferencialmente

consome e mantém sob controle outra que poderia dominar o sistema. A definição de

espécies-chave abordada neste trabalho está de acordo com Power et al. (1995) que as

descreve como sendo aquelas cujos efeitos em suas comunidades ou ecossistemas são

muito maiores do que o esperado por suas abundâncias ou biomassas.

Material e métodos

Local de estudo

Os estudos foram realizados em um dos afloramentos ferruginosos da porção sul

da Cadeia do Espinhaço localizado no Parque Estadual da Serra do Rola Moça, uma

unidade de conservação de proteção integral. Esta área está localizada dentro do

Quadrilátero Ferrífero (20o03’60”S, 44

o02’00”W, 1300m). Estes afloramentos são

caracterizados pela presença de metais pesados, baixa retenção de umidade, altas

temperaturas e escassez do solo (Benites et al. 2007). Seu substrato é muito compacto e

é composto por minério de ferro, de coloração marrom a negra, com baixíssima

erodibilidade, e porosidade e permeabilidade variáveis (Benites et al. 2007). Nessas

áreas os ventos são constantes e a radiação ultravioleta atinge altos índices, que agrava

durante a estação seca. Sob condições de elevadas temperaturas e baixa capacidade de

retenção de água, cresce uma vegetação baixa, composta por poucos indivíduos de porte

arbóreo, dominada por eudicotiledôneas como Asteraceae, Fabaceae e Myrtaceae, e

monocotiledôneas como Poaceae, Cyperaceae e Orchidaceae (Jacobi et al. 2007, Viana

& Lombardi 2007). O clima da região é do tipo mesotérmico, precipitação anual de

1000 a 1500 mm, correspondendo ao tipo Cwa na classificação de Köppen (Nimer &

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82

Brandão 1989), com uma pronunciada estação seca de abril a setembro, e temperatura

média anual de 25°C (Rizzini 1997).

Espécie-alvo

Struthanthus flexicaulis pertence à família Loranthaceae e é considerada uma das

hemiparasitas brasileiras mais comuns, com ampla distribuição nas áreas de cerrado do

Brasil Central (Rizzini 1980). O hemiparasitismo é caracterizado pela capacidade da

planta em fabricar açúcares através da fotossíntese, mas depende da retirada de água e

nutrientes das hospedeiras por meio de raízes especializadas (haustórios) sendo

parcialmente dependentes destas. Esta espécie possui ramos longos, flageliformes,

folhas oblongo-abovadas, com flores e frutos pequenos (3-4 mm e 6-7 mm

respectivamente). Sua dispersão ocorre de duas maneiras: 1) ornitocoria, em que seus

frutos são consumidos pelas aves e as sementes depositadas nos galhos de suas

hospedeiras e 2) crescimento vegetativo, através do crescimento de ramos que podem

atingir a copa de novas hospedeiras. A parasita se fixa, através de raízes epicorticais

caulinares (Calvin & Wilson 2006), em diversas partes das hospedeiras tais como

caules, folhas e inflorescências (Mourão et al. 2006). Estes ramos emitidos podem

atingir a vizinha mais próxima e, através do contágio, dispersar vegetativamente.

Desenho amostral

Para avaliar a importância de cada espécie na comunidade e os impactos da

parasita sobre elas, foram selecionadas uma área com alta densidade de parasitas (Área

A) e uma com baixa densidade (Área B) do mesmo tamanho. Em cada área foram

traçados 5 faixas que mediram 1m x 50 m, totalizando 250 m2 e cada faixa foi dividida

em parcelas de 1m x 1m. Inicialmente a densidade da parasita foi estimada de modo

visual e posteriormente confirmada pela soma do comprimento dos seus ramos dividido

pela área da faixa (metros da parasita/250 m2). Para verificar se a densidade da parasita

diferia entre as áreas foi aplicado o teste t, uma vez que os dados apresentaram

distribuição normal. Em cada parcela das faixas foi registrada a riqueza, abundância de

indivíduos para cada espécie, e plantas parasitadas e/ou mortas. Plantas com

crescimento clonal como Orquidaceae, Cactaceae e Velloziaceae foram contadas como

único indivíduo quando os grupos da mesma espécie se encontravam isolados a uma

distância maior que cinco cm, não sendo possível identificar seu número exato. Além

disso, as Poaceae e Cyperaceae não foram identificadas, apenas tiveram suas coberturas

Page 93: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

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estimadas. O levantamento de espécies na comunidade foi realizado durante a estação

chuvosa, pois durante a seca há o desaparecimento de terófitas e muitas geófitas que

perdem suas partes aéreas, dificultando sua identificação. Este levantamento foi

realizado nos meses de fevereiro a abril de 2009.

Para avaliar a importância de cada espécie na comunidade foi calculada a

cobertura vegetal de cada indivíduo, através da projeção de suas copas sobre a

superfície do solo. Para as projeções que lembravam círculos foram tomadas medidas de

diâmetro máximo, as que lembravam triângulos mediam-se os lados e altura, quadrados

e retângulos mediam-se os lados e para formato elíptico mediam-se os diâmetros

máximos e mínimos. A determinação da cobertura vegetal de espécies permite

representar numericamente as áreas aproximadas ocupadas de cada espécie na

comunidade (Braun-Blanquet 1979). Estes valores foram somados para estimar o valor

total de área ocupada por cada espécie da comunidade. Foram relacionadas: 1) a

abundância das espécies que estiveram representadas por mais de 1% do total de

indivíduos na comunidade e o parasitismo; e 2) a cobertura sem a atuação da parasita

(CSEM) e cobertura com a atuação da parasita (CCOM) de todas as espécies que

tiveram a cobertura vegetal superior a 3% na comunidade.

Para estimar a cobertura da parasita foram coletados 10 ramos com o

comprimento igual a 1 metro, sendo 1 ramo por faixa e que se localizavam em Mimosa

calodendron, espécie mais parasitada em afloramentos ferruginosos. O ramo escolhido

possuía o maior diâmetro dentre os que parasitavam a hospedeira. Este procedimento

foi necessário para que se estimasse a maior área possível de cobertura da parasita.

Estes ramos tiveram suas folhas retiradas e contadas. A maior folha de cada ramo teve

sua área calculada, e este valor foi multiplicado pelo número total de folhas encontrado

em seu respectivo ramo para estimar a área média das folhas por metro da parasita. Em

campo, os ramos de S. flexicaulis foram medidos em seu diâmetro e comprimento.

Multiplicando o diâmetro por seu comprimento estimou-se a área ocupada pelo ramo e

a cada metro da parasita foi somado o correspondente ao valor médio da área ocupada

pelas folhas.

Para verificar a magnitude do efeito top-down por S. flexicaulis e se esta é uma

espécie-chave no sistema, foi calculado o impacto causado por sua presença sobre a

mortalidade de hospedeiras na comunidade fazendo uso da equação matemática proposta

por Power et al. (1996), que modelaram as relações predador-presa e os efeitos da

retirada da espécie (ou grupo) na estrutura da comunidade. A equação proposta por estes

Page 94: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

84

autores é flexível e permite usar tanto a biomassa, a cobertura vegetal das espécies, a

abundância, produtividade ou riqueza de espécies, entre outras variáveis que consigam

exprimir a proporção da espécie-alvo (S. flexicaulis) em relação à comunidade que

estaria afetando. Fazendo uma adaptação da fórmula de Power et al. (1996), foi possível

estimar o efeito top-down que S. flexicaulis exerce sobre a comunidade vegetal. A

primeira expressão da fórmula multiplicada por 100 mede a porcentagem do impacto

causado pela parasita (top-down) (1). Para verificar se a parasita é uma espécie-chave,

fazendo uso da fórmula de Power et al. (1996) (2), foi verificado se a proporção de

cobertura vegetal de S. flexicaulis é muito menor em relação à cobertura vegetal da

comunidade.

IP= (CSEM-CCOM) / CSEM * 100 (1)

IP= │(CSEM-CCOM) / CSEM│ * [1/pi] (2)

Onde:

IP = Importância de S. flexicaulis na comunidade

CSEM = Comunidade sem a parasita. Em CSEM foi considerada a cobertura vegetal de

todos os indivíduos (vivos, parasitados e mortos) presentes na área.

CCOM = Comunidade com a parasita. Em CCOM foi considerada a cobertura vegetal

dos indivíduos vivos que estavam presentes nas faixas.

pi = proporção da cobertura vegetal da parasita na comunidade amostrada.

Os valores de cobertura de todas as espécies foram expressos em m2.

Se o valor de IP encontrado for igual a 0 (zero) ou tiver um valor próximo a 1

então a parasita não poderá ser considerada chave na comunidade vegetal. Para

espécie-chave, de acordo com Power et al. (1996), se a parasita tiver um efeito

desproporcional na comunidade então IP deverá ser muito maior que 1. Isto somente

ocorrerá se a cobertura vegetal de S. flexicaulis for desproporcionalmente inferior à da

comunidade e causar um grande impacto nas coberturas de suas hospedeiras. Neste caso

S. flexicaulis poderá ser considerada uma espécie-chave nesta comunidade.

Para verificar se a diversidade da comunidade se altera em função do parasitismo

foi calculado o índice de diversidade de Shannon H’ para: 1) comunidade com a

parasita (CCOM) e 2) comunidade sem a parasita (CSEM) nas áreas A e B. Os valores

de H’ foram expressos em nats/indivíduos. Estes valores foram comparados pelo teste t

de Hutcheson, que é o único teste recomendado para comparar os valores de H’ entre

áreas (Zar 2009).

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85

Para comparar a composição de espécies foi calculado o índice de dissimilaridade

de Bray-Curtis para CCOM e CSEM nas áreas de maior e menor densidade da parasita,

conforme as considerações descritas acima. O índice de Bray-Curtis varia de 0 a 1 e as

áreas serão mais similares quanto maior for este valor. Este índice foi calculado para

duas variáveis: abundância de espécies e cobertura. Nas análises de abundância as

Poaceae e Cyperaceae foram excluídas, pois suas espécies não foram identificadas. Para

as famílias Orchidaceae, Cactaceae e Velloziaceae, agrupamentos de indivíduos da

mesma espécie isolados uma distância superior 5 cm, foram tratados como um único

indivíduo. Já para as análises de cobertura todas as espécies foram incluídas.

Resultados

Na área A as densidades da parasita variaram de 3,62 a 6,4 m/m2

(média= 4,96 ±

0,97) e a comunidade era composta por muitos arbustos (Tab. 1). Na área B, onde as

densidades da parasita variaram de 0,7 a 1,8 m/m2

(média=1,17 ± 0,31), houve

predominância de herbáceas e gramíneas, e os arbustos encontravam-se mais espaçados

na paisagem. As duas áreas diferiram quanto a densidade de parasitas (t = 7,39; n = 10;

p = 0,007). A cobertura total em ambas as áreas, entretanto, foi semelhante (veja adiante

Tab. 3) Houve uma correlação positiva entre a densidade de parasitas e arbustos

(rs=0,839; n=10; p<0,05).

Tabela 1. Densidade de parasitas e arbustos nas áreas A (alta densidade de parasitas) e B

(baixa densidade de parasitas) nas 5 faixas de 50 x 1 m2. (*) A densidade média de

espécies arbustivas foi calculada levando-se em consideração apenas indivíduos

lenhosos com diâmetro máximo de copas acima de 20 cm.

Faixas Área A S. flexicaulis (m)

Densidade (m de

S.flexicaulis/m2)

(*) Densidade média de

arbustivas/m2

1 181,00 3,62 2,4 ± 1,2

2 319,73 6,39 2,7 ± 1,5

3 266,06 5,32 3,1 ± 1,3

4 267,50 5,35 3,3 ± 2,1

5 207,39 4,15 2,7 ± 1,5

Faixas Área B

1 62,75 1,26 1,2 ± 1,1

2 78,20 1,56 1,9 ± 1,1

3 35,00 0,70 1,7 ± 0,9

4 46,74 0,93 1,5 ± 1,1

5 69,80 1,40 1,4 ± 1,1

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86

Excluindo-se as gramíneas (Poaceae e Cyperaceae) a composição florística da

comunidade foi semelhante entre as áreas, sendo formada por 20 famílias e 39 espécies

na área A e 17 famílias e 38 espécies na área B (Anexo 2A e B). Tanto na área A quanto

na B, as famílias mais representativas foram Asteraceae com 7 e 8 espécies,

Orchidaceae com 4 e 6 espécies, Melastomataceae e Velloziaceae com 4 e 3 espécies

respectivamente. Foram encontrados 5.419 indivíduos na área A, sendo as espécies mais

abundantes a Orquidaceae Sophronitis cattleya (679), a Euphorbiaceae Microstachys

daphnoides (562), a Fabaceae Mimosa calodendron (500) e a Asteraceae Lychnophora

pinaster (415). Já na área B foram encontrados 4.871 indivíduos, sendo as espécies mais

abundantes S. cattleya (812), M. daphnoides (568), a Melastomataceae Tibouchina

heteromalla (400) e L. pinaster (391). Os valores de diversidade de Shannon não

apontaram diferenças entre as espécies da comunidade com a parasita (CCOM) e sem a

parasita (CSEM) (Tabela 2).

Tabela 2 - Valores de diversidade calculados para CSEM (comunidade sem a parasita) e

CCOM (com a parasita). S= número de espécies; H’= índice de diversidade de Shannon

e E’ = equitabilidade. Os números de 1 a 5 se referem às faixas. Foi usado o teste t de

Hutcheson para comparar os valores de diversidade da comunidade CSEM (H’CSEM)

com os da comunidade CCOM (H’CCOM).

Área A

(Alta densidade) S H'CCOM H'CSEM ECCOM E'CSEM teste t p

1 25 2,651 2,630 0,824 0,817 0,47 0,6

2 22 2,560 2,521 0,828 0,816 0,82 0,4

3 23 2,539 2,542 0,810 0,811 0,08 0,9

4 27 2,694 2,702 0,818 0,820 0,17 0,9

5 25 2,684 2,676 0,834 0,831 0,22 0,8

Área A 36 2,792 2,789 0,762 0,761 0,19 0,9

Área B (Baixa

densidade) S H'CCOM H'CSEM ECCOM E'CSEM teste t p

1 30 2,696 2,658 0,793 0,789 0,73 0,5

2 24 2,413 2,405 0,759 0,757 0,17 0,9

3 27 2,571 2,567 0,780 0,779 0,09 0,9

4 25 2,541 2,536 0,789 0,788 0,14 0,9

5 23 2,483 2,464 0,792 0,786 0,36 0,7

Área B 36 2,682 2,674 0,743 0,746 0,42 0,7

Considerando as áreas A e B, a espécie mais abundante foi M. daphnoides com

1.130 indivíduos, sendo apenas 39 parasitados. A espécie M. calodendron destacou-se,

Page 97: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

87

representada por 858 indivíduos, dos quais mais de 57% estiveram parasitados (Fig. 1).

A composição das espécies tampouco variou. O índice de similaridade de Bray-Curtis

para CCOM e CSEM calculado com as abundâncias de espécies foi de 0,93 para a área

de alta densidade e de 0,97 para a de baixa densidade, e quando foi calculado com a

cobertura vegetal das espécies os valores foram 0,80 e 0,89 respectivamente.

0 5 10 15 20 25

Abundância (%)

0

10

20

30

40

50

60

Para

siti

smo

(%

)

Cm Cr

Bre

BorVel

Mdap

Mim

Lyc

TibStac

Sym

Fig. 1 – Relação entre o parasitismo e a abundância de 11 espécies na comunidade cuja

abundância relativa foi superior a 1%. Mim = Mimosa calodendron; Lyc =

Lychnophora pinaster; Mdap = Microstachys daphnoides; Bre = Baccharis reticularia;

Stac = Stachytarpheta glabra; Tib = Tibouchina heteromalla; Vel = Vellozia compacta;

Sym = Symphyopappus reticulatus; Cr = Croton serratoideus.; Cm = Cromolaena sp.;

Bor = Borreria sp.

De modo geral, em toda a comunidade (áreas A + B) todas as espécies arbustivas

sofreram reduções em suas coberturas vegetais devido à atuação do parasitismo (Fig. 2).

A espécie M. calodendron foi a que apresentou maior cobertura e também a que mais

sofreu com o parasitismo, pois perdeu 57% de sua cobertura total na comunidade. Esta

espécie é perene, fixadora de nitrogênio e muito abundante na área de estudo. Já L.

pinaster, representada por 806 e M. daphnoides com 562 indivíduos, tiveram uma

redução de 23% e 3,4% de suas coberturas vegetais, respectivamente.

Page 98: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

88

Fig. 2 – Atuação do parasitismo sobre a cobertura vegetal das 14 espécies que estiveram

representadas por 3m2 ou mais na comunidade. Mim = Mimosa calodendron; Lyc =

Lychnophora pinaster; Poa = Poaceae; Mdap= Microstachys daphnoides; Bret =

Baccharis reticularia; Sop = Sophronitis cattleya; Stac = Stachytarpheta glabra; Tib =

Tibouchina heteromalla; Eri = Eriope macrostachya; vel= Vellozia compacta; Sym =

Symphyopappus reticulatus; Aci = Aciantera teres; velab = Vellozia albiflora; Micr =

Microlicia sp1.; Bser= Baccharis serrulata.

Representantes herbáceas e rasteiras como as Poaceae, Orchidaceae,

Velloziaceae e Cyperaceae que eventualmente foram parasitadas, entretanto, não

tiveram suas coberturas alteradas.

Quando as áreas A e B foram analisadas separadamente notou-se que a

identidade e a cobertura das espécies pouco se alteraram (Fig. 3). Entretanto, L. pinaster

foi a espécie mais representativa na área B e perdeu menos cobertura que M.

calodendron, que possuía a segunda maior cobertura. Na área de maior densidade (A),

todas as espécies sofreram reduções em suas coberturas em decorrência da mortalidade

pelo parasitismo (Fig. 3A). O mesmo não ocorreu na área de menor densidade (B) em

que espécies como T. heteromalla, Symphyopapus brasiliensis, Acianthera teres, S.

cattleya quase não sofreram perdas de suas coberturas (Fig. 3B).

Mim

Lyc

Poa

Mdap

Bret

Sop

Stac

Tibo

vel

Sym

Aci

velab

Cyp

Crot

Crom

Bor

Esp

écie

01020304050607080

Cobertura sem atuação da parasita (m²)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Cobertura com atuação da parasita (m²)

Page 99: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

89

Fig. 3 – Atuação do parasitismo sobre a cobertura vegetal das espécies que estiveram

representadas por 3m2 ou mais na comunidade. A) Área de maior densidade da parasita

e B) Área de menor densidade da parasita. Aci = Aciantera teres; Bret = Baccharis

reticularia; Eri = Eriope macrostachya; Lyc = Lychnophora pinaster; Mdap=

Microstachys daphnoides; Mim = Mimosa calodendron; Poa = Poaceae; Sop =

Sophronitis cattleya; Stac = Stachytarpheta glabra; Sym = Symphyopappus reticulatus;

Tib = Tibouchina heteromalla; vel= Vellozia compacta.

O efeito top-down de S. flexicaulis sobre a comunidade vegetal esteve

relacionado à densidade de parasitas (Tab. 3). Nas faixas da área B este efeito foi

menor, pois a perda de cobertura foliar das espécies da comunidade variou de 7 a 40% e

seu valor médio foi de 22%. A faixa 3 foi a que menos sofreu este efeito, pois teve a

menor densidade de parasitas (Tab. 1). O contrário ocorreu nas faixas 1 e 2, de maiores

densidades de S. flexicaulis, que tiveram os maiores valores de perda de cobertura (Tab.

Lyc

Mim

Poa

Mdap

Bret

Tib

Stac

Sop

vel

Sym

Aci

Esp

écie

01020304050607080

Cobertura sem atuação da parasita (m²)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Cobertura com atuação da parasita (m²)

Mim

Lyc

Poa

Mdap

Sop

Bret

Stac

Eri

vel

SymE

spécie

01020304050607080

Cobertura sem atuação da parasita (m²)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Cobertura com atuação da parasita

Page 100: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

90

1 e 3). Já na área A o efeito foi maior (Tab. 1 e 3). A perda de cobertura foliar foi 2,3

vezes maior que na área B e variou de 39 a 66%, com média de 50%.

Tabela 3- Magnitude do efeito top-down baseada em Power et al. (1996). CSEM

representa a cobertura vegetal da comunidade sem a parasita e CCOM representa a

cobertura vegetal da comunidade com a parasita. Os números de 1 a 5 se referem às

faixas.

Área A (Altas

densidades) CSEM (m

2) CCOM (m

2) (CSEM-CCOM)/CSEM top-down

1 13,69 19,65 -0,44 -43,54

2 25,43 42,18 -0,66 -65,87

3 22,27 34,44 -0,55 -54,65

4 29,56 41,20 -0,39 -39,38

5 22,24 32,65 -0,47 -46,81

Área A 113,19 170,12 -0,50 -50,30

Área B (Baixas

densidades) CSEM (m

2) CCOM (m

2) (CSEM-CCOM)/CSEM top-down

1 23,56 32,91 -0,40 -39,69

2 18,89 26,05 -0,38 -37,90

3 34,62 37,11 -0,07 -7,19

4 18,91 23,25 -0,23 -22,95

5 22,12 24,29 -0,10 -9,81

Área B 118,1 143,61 -0,22 -22,00

A parasita S. flexicaulis apresentou valores de IP indicativos de ser espécie-

chave na comunidade vegetal (Tabela 4). Os valores do IP variaram muito, de 10,85 a

51,94, nas faixas de baixas densidades (área B) de parasitas, sendo que a média para

esta área foi de 30. Já para as faixas de maiores densidades (área A) os valores do IP

variaram de 11,04 a 17,63 e a média para a área foi de 15,39. A cobertura vegetal da

comunidade sem a atuação parasita (CSEM) foi semelhante entre as áreas, mas a

cobertura da parasita foi mais de 4 vezes maior em A que em B, resultando em valores

de IP menores (Tabela 4).

Page 101: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

91

Tabela 4- Resultados da aplicação da equação matemática proposta por Power et al.

(1996) para espécie-chave. CSEM = cobertura vegetal da comunidade sem a parasita;

CCOM = cobertura vegetal da comunidade com a parasita; Parasita = cobertura vegetal

da parasita; pi = proporção da cobertura vegetal da parasita. Os números de 1 a 5 se

referem às faixas.

Área A CSEM (m2) CCOM (m

2) Parasita (m

2) pi 1/pi Espécie-chave (IP)

1 13,69 19,65 0,54 0,039 25,35 11,04

2 25,43 42,18 0,95 0,037 26,77 17,63

3 22,27 34,44 0,79 0,035 28,19 15,41

4 29,56 41,20 0,80 0,027 36,95 14,55

5 22,24 32,65 0,62 0,028 35,87 16,79

Total Área A 113,19 170,12 3,7 0,033 30,59 15,39

Área B

1 23,56 32,91 0,18 0,008 130,89 51,94

2 18,89 26,05 0,23 0,012 82,13 31,13

3 34,62 37,11 0,10 0,003 346,20 24,90

4 18,91 23,25 0,14 0,007 135,07 31,00

5 22,12 24,29 0,20 0,009 110,60 10,85

Total Área B 118,1 143,61 0,85 0,007 138,94 30,01

Discussão

Os efeitos do parasitismo numa comunidade vegetal são dependentes da

densidade de plantas e a preferência da parasita por hospedeiras. Se por um lado a

produtividade e a permanência das plantas parasitas são dependentes da “qualidade” dos

recursos obtidos (Press & Phoenix 2005), hospedeiras muito parasitadas podem morrer

(Aukema 2003). Quando as plantas mais atacadas são competitivamente subordinadas, a

diversidade de espécies na comunidade poderá diminuir (Press & Phoenix 2005,

Grewell 2008). Por outro lado, se as mais atacadas forem as dominantes, é esperado um

aumento na diversidade local (Press 1998, Press & Phoenix 2005). A atuação da

parasita Cuscuta salina, por exemplo, modificou negativamente a riqueza e a

diversidade de plantas em marismas no norte da Califórnia (Pennings & Callaway

1996).

Em teoria S. flexicaulis poderia favorecer o aumento da diversidade local, pois

parasita preferencialmente a hospedeira M. calodendron, uma das espécies dominantes

dos afloramentos ferruginosos e possivelmente uma forte competidora. Entretanto, a

morte desta hospedeira poderia afetar negativamente a composição das espécies na

Page 102: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

92

comunidade e até diminuir a diversidade, pois conforme sugerido por Jacobi et al.

(2007) M. calodendron seria uma espécie babá e auxiliaria no recrutamento de outras

espécies. Após considerar a atuação da parasita, verificou-se que a composição florística

da comunidade, tanto na área de maior quanto na de menor densidade da parasita, não

foi alterada. S. flexicaulis reduziu significativamente a cobertura vegetal de suas

hospedeiras sem que isso afetasse a diversidade de espécies. Embora a comunidade

vegetal não tenha sido acompanhada ao longo do tempo, estima-se que as espécies

parasitadas tenham morrido no período máximo de 5 anos. Isso por que os vestígios da

parasita estavam bastante visíveis e as espécies parasitadas demoram de 2 a 3 anos para

morrer (F. A. Mourão, obs. pess.). Dessa forma, seria possível que a comunidade

vegetal sofresse mudanças negativas em sua composição e diversidade de espécies no

decorrer de vários anos. Mas novos estudos precisam ser realizados para averiguar as

possíveis mudanças nesta comunidade.

Estudos que analisam o efeito top-down em comunidades terrestres têm

enfatizado as causas e consequências das variações de biomassa (Oksanen 1990, Dyer

& Letourneau 2003). Uma analogia pode ser feita com o estudo de Mourão e

colaboradores (2009) quando confirmaram que hospedeiras muito parasitadas

apresentavam de 75 a 95% de redução da cobertura vegetal. Para algumas espécies

como L. pinaster e M. calodendron foram nítidas as variações de cobertura vegetal após

a atuação da parasita. Esta última espécie foi que mais sofreu com o parasitismo na

comunidade. Por ser capaz de fixar nitrogênio, M. calodendron teria uma vantagem

competitiva sobre as demais plantas podendo se desenvolver e espalhar em locais com

sérias restrições nutricionais, já que as leguminosas são capazes de elevar o pH do solo

e favorecer a absorção de nutrientes necessários ao seu desenvolvimento (Nascimento et

al. 2003). Entretanto, as populações de M. calodendron são controladas por S.

flexicaulis, que reduzem o investimento reprodutivo desta hospedeira (Mourão et al.

2009), afetando o recrutamento de novos indivíduos na população e levando-as morte

por parasitismo. Isso porque M. calodendron é, dentre as potenciais hospedeiras, a que

mais poderia atender as necessidades nutricionais da parasita, já que o nitrogênio é um

recurso limitante para o desenvolvimento de plantas (Crawley 2007). Como há uma

relação direta e positiva entre a disponibilidade de nitrogênio e ganho de biomassa

(Crawford 1995, Ângre 1985, Cechim & Fumis 2004, Larcher 2006), ao parasitar as

leguminosas, S. flexicaulis poderia investir mais em crescimento e estruturas

reprodutivas. Outras espécies abundantes, mas pouco parasitadas como M. daphnoides e

Page 103: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

93

T. heteromalla, por exemplo, não tiveram uma perda da cobertura vegetal tão

significativa. Estes resultados demonstram que a importância do efeito top-down pode

ser alterada em função da abundância e a composição de espécies na comunidade, em

função das “escolhas” das parasitas.

Apesar de este estudo tratar de interações de plantas em apenas dois níveis

tróficos, efeitos indiretos em outros níveis não mensurados neste trabalho podem

ocorrer. Assim como a adição de animais parasitas em teias tróficas pode aumentar a

riqueza de espécies, o número de ligações, os níveis tróficos e comprimento da teia

(Thompson et al. 2005), as plantas parasitas podem modificar as interações entre suas

hospedeiras e as demais espécies da cadeia trófica, podendo interferir na estabilidade,

nas forças de interação e no fluxo de energia (Lafferty et al. 2008). Como as espécies

parasitadas perdem cobertura vegetal, as aves que as utilizam como recursos tais como

alimento, poleiros e local para nidificação, poderiam se tornar mais vulneráveis à

predação. As aves da família Tyranidae Polystictus superciliaris, Elaenia cristata e

Embernagra longicauda, por exemplo, que se alimentam de insetos capturados nos

troncos de arbustos e constroem seus ninhos em galhos de M. calodendron (Hoffman et

al. 2009a, Hoffman et al. 2009b, Hoffmann & Rodrigues 2011) poderiam ser

prejudicadas. Por outro lado S. flexicaulis pode servir como fonte de recurso para aves

como E. cristata, que também se alimentam de frutos da parasita (Guerra 2005), insetos

como as formigas Camponotus crassus (Formicidae), que coletam o visco de sementes

da parasita recém-depositadas nos galhos das hospedeiras (Mourão obs. pessoal), e

polinizadores.

S. flexicaulis foi considerada espécie chave na comunidade estudada, segundo os

preceitos de Power e colaboradores (1996). Os valores de IP e de top-down foram

evidentes e variaram conforme diferentes densidades de arbustos. Na área A, que teve

quase o dobro de espécies arbustivas/m2 em relação à B, fazendo com que as distâncias

entre copas vizinhas fossem menores, o que possivelmente favoreceu o contágio de

outras plantas, elevando os valores de top-down. Entretanto, como a parasita também

apresentou maiores coberturas nestas áreas, os valores para espécie-chave foram

menores que em B. Já na área B, as distâncias entre as copas intuitivamente são maiores

e a dispersão vegetativa dos ramos da parasita pode ter sido dificultada, reduzindo a

importância do efeito top-down. As parasitas que se estabelecem em hospedeiras

isoladas, a mais de 20 cm de outras plantas (F. A. Mourão, dados não publicados),

dificilmente infectam outras plantas por dispersão vegetativa, pois quanto maior a

Page 104: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

94

distância entre copas menor a chance de transmissão de ramos para outras hospedeiras.

O mesmo ocorre com a dispersão ornitocórica, pois a proximidade entre arbustos tende

a atrair mais aves, intensificando a deposição de sementes na área (Overton 1996). Se

este espalhamento for mais abrangente um efeito top-down maior é esperado, pois mais

plantas serão atacadas simultaneamente. O efeito top-down variou em função da

distribuição espacial de plantas na paisagem, pois a menor distância entre as

hospedeiras favorece o espalhamento de S. flexicaulis intensificando seus efeitos sobre a

comunidade vegetal. Além disso, a maior cobertura vegetal da parasita garantiu os

maiores valores deste efeito. Já a importância da parasita como espécie-chave variou

em função da perda de cobertura vegetal em relação à cobertura vegetal da parasita. Ao

contrário do efeito top-down, os valores de espécie-chave foram mais elevados onde a

pouca cobertura vegetal da parasita causou um grande efeito na cobertura das

hospedeiras. Os valores de espécie-chave refletiram bem esta relação uma vez que em

áreas de maior densidade de hospedeiras a parasita teve também maiores valores de

cobertura.

Neste trabalho os valores de IP que caracterizaram os impactos da parasita sobre

a vegetação foram até maiores que os valores encontrados por Knapp e colaboradores

(1999) para os grandes herbívoros das pradarias Norte Americanas (5 a 25). Eles

quantificaram os impactos diretos e indiretos causados por bisões que se alimentavam

seletivamente de espécies vegetais. Estes herbívoros alteraram as características físicas

e químicas do ambiente, aumentaram a heterogeneidade temporal e espacial da

vegetação e afetaram uma variedade de processos ecossistêmicos. Também,

diferentemente das parasitas, os bisões foram capazes de modificar a diversidade da

comunidade vegetal. Contudo, mesmo que a perda de espécies não tenha sido notada, a

parasita suprimiu consideravelmente a cobertura vegetal de plantas dominantes, que

pode ter ocorrido devido à constituição peculiar desta comunidade caracterizada por

elevada abundância e cobertura de M. calodendron. De maneira semelhante aos bisões,

que aumentam a quantidade de nutrientes no ecossistema, a queda acentuada de folhas

provocadas pelo parasitismo poderia contribuir para acelerar a entrada de nutrientes no

sistema. Isso também ocorreu em florestas temperadas de eucaliptos, cuja parasita

Amyema miquelli aumentou o retorno de nutrientes na serapilheira, duplicando as taxas

de nitrogênio e quadruplicando as taxas de fósforo (March & Watson 2010). S.

flexicaulis também poderia alterar a heterogeneidade espacial da paisagem e reduzir o

potencial competitivo de M. calodendron, já que hospedeiras muito infectadas morrem

Page 105: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

95

com o passar do tempo.

Apesar de S. flexicaulis não ter alterado a diversidade e a composição de

espécies, foi capaz de modificar substancialmente a cobertura vegetal da hospedeira

dominante, o que sugere modificações espaciais na comunidade a longo prazo. A

variação do efeito top-down da parasita sobre a comunidade vegetal dos afloramentos

ferruginosos foi dependente da densidade de hospedeiras e contribuiu para sua atuação

como espécie-chave. Sua atuação pode contribuir para o aumento da heterogeneidade

ambiental, afetar a dinâmica das populações de suas hospedeiras e modificar as

interações entre as espécies, interferindo assim no funcionamento da comunidade.

Page 106: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

96

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Anexo 2A – Lista das espécies vegetais - área A (Altas densidades da parasita).

Anemiacea Anemia sp.

Apocynaceae Ditassa mucronata Mart.

Asteraceae Ageratum fastigiatum (Gardn.) R.M. King & H. Rob.

Baccharis serrulata DC.

Baccharis reticulariaDC.

Cromolaena sp.

Lychnophora pinaster Mart.

Symphyopapus brasiliensis (Gardner) R. M. King & H. Rob.

Trixis vauthieri DC.

Bromeliaceae Dyckia cf. simulans L.B. Sm.

Cactaceae Arthrocereus glaziovii (K. Schum.) N.P.Taylor & D.C. Zappi

Celastraceae Maytenus gonoclada Mart.

Cyperaceae Cyperaceae

Euphorbiaceae Croton serratoideus Radcl.-Sm. & Govaerts

Microstachys daphnoides

Fabaceae Mimosa calodendron Mart.

Periandra mediterranea Taub

Lamiaceae Eriope macrostachya Mart. ex Benth.

Lauraceae Ocotea tristis (Nees) Mez

Loranthaceae Struthanthus flexicaulis Mart. Mart.

Tripodanthus acutifoliusThieg.

Melastomataceae Leandra australis (Cham.) Cogn.

Microlicia sp.

Tibouchina sp1

Tibouchina heteromalla

Myrtaceae Myrcia mutabilis (O.Berg) N.J.E. Silveira

Orquidaceae Acianthera teres (Lindl.) Borba

Epidendrum

Orchidaceae

Sophronitis cattleya

Phytolaccaceae Microtea paniculataMoq.

Piperaceae Peperomia decora Dahlst.

Poaceae Poaceae

Portulacaceae Portulaca hirsutissima Cambess.

Rubiaceae Borreria cf. capitata (Ruiz & Pav.) DC.

Velloziaceae Barbacenia

Vellozia albiflora

Vellozia graminea Pohl.

Vellozia compacta Mart.

Verbenaceae Lippia sp.

Stachytarpheta glabra Cham.

Page 113: Dinâmica do forrageamento da hemiparasita Struthanthus ...

103

Anexo 2B – Lista das espécies vegetais - área B (Baixas densidades da parasita).

Alstroemeriaceae Alstroemeria plantaginea Mart.

Apocynaceae Ditassa mucronata Mart.

Asteraceae Ageratum fastigiatum (Gardn.) R.M. King & H. Rob.

Baccharis serrulata DC.

Baccharis reticularia DC.

Cromolaena sp.

Lessingianthus sp.

Lychnophora pinaster Mart.

Symphyopapus brasiliensis (Gardner) R. M. King & H. Rob.

Trixis vauthieri DC.

Bromeliaceae Dyckia cf. simulans L.B. Sm.

Vriesea minarum L.B. Sm.

Cactaceae Arthrocereus glaziovii (K. Schum.) N.P.Taylor & D.C. Zappi

Cyperaceae Cyperaceae

Euphorbiaceae Croton serratoideus Radcl.-Sm. & Govaerts

Microstachys daphnoides

Fabaceae Mimosa calodendron Mart.

Periandra mediterranea Taub

Lamiaceae Eriope macrostachya Mart. ex Benth.

Loranthaceae Struthanthus flexicaulis Mart. Mart.

Tripodanthus acutifoliusThieg.

Malpighiaceae Heteropteres sp.

Melastomataceae Leandra australis (Cham.) Cogn.

Microlicia sp.

Tibouchina heteromalla

Orquidaceae Acianthera teres (Lindl.) Borba

Epidendrum

Oncidium blanquet

Orchidaceae

Orquidea geófita

Sophronitis cattleya

Phytolaccaceae Microtea paniculataMoq.

Poaceae Poaceae

Portulacaceae Portulaca hirsutissima Cambess.

Rubiaceae Borreria cf. capitata (Ruiz & Pav.) DC.

Velloziaceae Vellozia albiflora

Vellozia graminea Pohl.

Vellozia compacta Mart.

Verbenaceae Lippia

Stachytarpheta glabra Cham.

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104

Considerações finais

Durante a realização deste estudo surgiram novos questionamentos sobre o papel

de S. flexicaulis no funcionamento e estruturação da comunidade vegetal dos

afloramentos ferruginosos. Uma das perguntas a ser respondida é se a composição

vegetal e a riqueza de espécies se alterariam com o tempo de atuação da parasita. Como

este trabalho foi realizado dentro de uma unidade de conservação e as áreas foram

georeferenciadas, futuramente seria possível fazer um novo levantamento de espécies

vegetais. Outra solução seria buscar respostas mais imediatas através da incorporação de

novos parâmetros ao modelo matemático que, para esta tese, foram desconsiderados nas

simulações. A adição de novos parâmetros como densidade de hospedeiras (não

somente M. calodendron), configuração da paisagem considerando espécies herbáceas,

demografia das hospedeiras e o tempo que as espécies vegetais associadas ao

parasitismo levam para morrer, deverá dar respostas mais precisas sobre o destino desta

comunidade vegetal.

Futuros estudos deverão investigar como e quando a parasita forrageia. Através

de um experimento mais detalhado envolvendo as áreas de fisiologia e anatomia

vegetal, química e ecologia seria possível determinar os mecanismos de forrageamento

adotados pela parasita para otimizar as estratégias de busca por alimentos e

reconhecimento de hospedeiras. Como complemento a esta pergunta, recomenda-se

acompanhar a fenologia da parasita em diferentes hospedeiras. Estas respostas

ajudariam a compreender os diferentes efeitos do parasitismo por S. flexicaulis sobre

cada espécie hospedeira, indicando seu o sucesso e permanência em diferentes

comunidades vegetais.

Durante o desenvolvimento deste trabalho, alguns funcionários do Parque

Estadual da Serra do Rola Moça questionaram a necessidade do manejo de S. flexicaulis

na comunidade vegetal, uma vez que ela provoca a morte de indivíduos. Contudo não se

recomenda a retirada de S. flexicaulis da comunidade vegetal, uma vez que esta é uma

espécie-chave, nativa e não causou nenhuma alteração na composição e na diversidade

de espécies.

A