UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM ENFERMAGEM E SAÚDE (NÍVEL MESTRADO ACADÊMICO) DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO CUIDADO CLÍNICO A PESSOAS COM HIPERTENSÃO E DOENÇA CARDIOVASCULAR SANJA SAMIA ROLIM FERNANDES XIMENES Fortaleza-CE 2013
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DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO CUIDADO …2 sanja samia rolim fernandes ximenes diagnÓsticos de enfermagem no cuidado clÍnico a pessoas com hipertensÃo e doenÇa cardiovascular
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO CUIDADOS CLÍNICOS EM
ENFERMAGEM E SAÚDE (NÍVEL MESTRADO ACADÊMICO)
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO CUIDADO CLÍNICO A PESSOAS COM HIPERTENSÃO E DOENÇA
CARDIOVASCULAR
SANJA SAMIA ROLIM FERNANDES XIMENES
Fortaleza-CE
2013
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SANJA SAMIA ROLIM FERNANDES XIMENES
DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM NO CUIDADO CLÍNICO A PESSOAS COM HIPERTENSÃO E DOENÇA CARDIOVASCULAR
CD-ROM 107f. : il. (algumas color.); 4 ¾ pol. ―CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho
acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)‖.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Ciências da Saúde, Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde, Fortaleza, 2013.
Área de Concentração: Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde.
Orientação: Profª. Drª. Maria Vilaní Cavalcante Guedes
1. Hipertensão. 2. Diagnóstico de enfermagem. 3. Doenças cardiovasculares. I. Título.
CDD: 610.73
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais
Por serem responsáveis pela minha formação e por tudo que hoje sou.
São pessoas que amo e admiro muito.
Ao meu esposo
Que tem sido um grande companheiro e amigo. Esteve sempre ao meu lado, transmitindo confiança, amor e
estímulo para a conclusão deste curso.
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AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Maria Vilaní Cavalcante Guedes, pela dedicação, pela disponibilidade, paciência, pela amizade e por todo o aprendizado ao longo deste percurso. Agradeço por me mostrar as soluções e caminhos que jamais poderei esquecer. Ao meu querido esposo, por acreditar em mim e nos meus objetivos e por está sempre presente, incentivando o meu crescimento pessoal e profissional. Aos meus amados filhos, Bernardo e João Pedro, pelos momentos de alegria, de amor e por me fazerem ser uma pessoa melhor e mais feliz a cada dia. Aos meus pais, pessoas de tão grande coração, que tantas vezes tornaram-se ―pais‖ dos meus filhos, para me ajudar na trajetória deste curso, sem eles nada seria possível. Aos meus irmãos queridos, Adryu, Argus e Amaury Filho, que sempre torceram por mim, me deram apoio e por vezes deixaram seus compromissos para me ajudar em muitos momentos, ao longo do Mestrado. Aos meus colegas de turma do Mestrado, pela convivência e pelos momentos de descontração e aprendizado. Em especial às amigas Cynthia Freitas e Diana Macia, com as quais compartilhei momentos de estudo, de incertezas e também de alegria. Agradeço pelo carinho de sempre. Ao Professor Paulo César Almeida, por toda atenção e imensa colaboração desde o início dos trabalhos do Mestrado. Às professoras participantes da Banca Examinadora, Dra. Célia Freitas e Dra. Nirla Gomes, pelas sugestões e contribuições que engrandeceram este trabalho. À psicóloga Dra. Rosana Vieira, que me transmitiu forças nesta caminhada. Aos pacientes participantes desta pesquisa, que foram essenciais ao estudo. A todos, muito obrigada por poder contar com vocês.
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―Não desejeis fardos leves, mas sim ombros fortes...‖
(Santo Agostinho)
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RESUMO
A hipertensão arterial é um fator de risco estabelecido para as doenças cardiovasculares, quando não controlada contribui para o infarto agudo do miocárdio (IAM), a insuficiência cardíaca (IC) e a doença arterial coronariana (DAC), desta forma o estudo tem por objetivo analisar os diagnósticos de enfermagem presentes em pessoas com hipertensão e doença cardiovascular. Estudo do tipo descritivo e transversal, realizado em instituição hospitalar da rede pública de Fortaleza-CE, referência em Cardiologia, que teve amostra composta por 105 portadores de hipertensão arterial e das doenças IAM, IC e DAC. Os dados foram coletados por meio de um formulário preenchido mediante entrevista, constituído por questões relativas às características sociodemográficas e clínico-epidemiológicas dos pacientes, assim como ao histórico do paciente e ao exame físico. A coleta de dados ocorreu no período de setembro a novembro de 2012. A análise dos resultados permitiu observar o predomínio do sexo masculino (58,1%), faixa etária de 29 a 90 anos, idade média de 63±12,2 anos, casados (77,1%), com ensino fundamental incompleto (45,7%), aposentados/ pensionistas (56,2%) e renda familiar entre um e dois salários mínimos (43,8%). As principais características clínicas presentes foram: pacientes acometidos por IAM (61), IC (37) e DAC (25), sendo que os participantes tiveram até dois diagnósticos de doença cardiovascular, pacientes com mais de 10 anos de diagnóstico de hipertensão (37,1%), história familiar de doença cardiovascular (67,6%), não eram tabagistas (48,6%), negaram etilismo (65,7%) e apresentaram IMC acima de 25Kg/m2 (65,7%). Foram identificados 46 diagnósticos de enfermagem nos 13 domínios da NANDA-I, destes 16 que se encontravam acima do percentil 50 foram discutidos com maior aprofundamento: Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída (100%), Risco de perfusão tissular periférica diminuída(100%), Risco de infecção(98,1%), Dentição prejudicada(85,7%), Estilo de vida sedentário(78,1%), Autocontrole ineficaz da saúde (74,2%), Intolerância à atividade (72,3%), Integridade da pele prejudicada (72,3%), Conhecimento deficiente (66,6%), Débito cardíaco diminuído(65,7%), Risco de trauma vascular (61,9%), Padrão de sono prejudicado (58,1%),Nutrição desequilibrada: mais do que necessidades corporais(57,1%), Tristeza crônica (55,2%) ,Dor aguda (54,2%), Ansiedade (53,3%). O domínio 4 Atividade/repouso apresentou maior número de diagnósticos identificados. Analisou-se a associação entre diagnósticos de enfermagem acima do percentil 50 e as variáveis sociodemográficas idade e sexo, e as variáveis clínicas tempo de diagnóstico de HAS, IAM, IC e DAC, por meio dos
testes não paramétricos de 2 e do teste de razão de verossimilhança. Observou-se associação estatística significativa entre as doenças cardiovasculares e os diagnósticos Débito cardíaco diminuído, Intolerância à atividade, Dor aguda, Risco de perfusão cardíaca diminuída e Risco de perfusão tissular periférica ineficaz. A identificação de diagnósticos de enfermagem conforme um sistema de classificação em pacientes hipertensos com doenças cardiovasculares possibilita a elaboração de estratégias terapêuticas direcionadas, confere fundamentação à sistematização da assistência de enfermagem e proporciona a perspectiva de um cuidado mais qualificado e coerente aos pacientes. Palavras-Chaves: Hipertensão. Diagnóstico de Enfermagem. Doenças cardiovasculares.
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ABSTRACT
Hypertension is an established risk factor for cardiovascular diseases, if not controlled it contributes to acute myocardial infarction (AMI), heart failure (HF) and coronary artery disease (CAD); therefore, this study aimed to analyze the nursing diagnoses present in people with hypertension and cardiovascular disease. A descriptive and cross-sectional study carried out in a public hospital in Fortaleza-CE, Brazil, reference in Cardiology, whose sample consisted of 105 patients with hypertension and AMI, HF and CAD. Data was collected by a form completed through interviews consisting of questions related to socio-demographic and clinical-epidemiological characteristics of patients, as well as the patient’s history and physical examination. Data collection happened from September to November 2012. The results analyses enabled us to observe the predominance of males (58.1%), in the age group of 29-90 years, average age of 63 ± 12.2 years, married (77.1%), with incomplete basic education (45.7%), retirees/pensioners (56.2%), and with family income between one and two minimum wages (43.8%). The main clinical characteristics present were: patients suffering from AMI (61), HF (37) and CAD (25), where the participants presented up to two diagnoses of Cardiovascular Diseases, patients with over 10 years of hypertension diagnosis (37.1%), family history of cardiovascular disease (67.6%), non-smokers (48.6%), reported non-alcohol abuse (65.7%), and had BMI above 25Kg/m² (65.7%). We identified 46 nursing diagnoses in the 13 domains of NANDA-I, 16 of those who were above the 50th percentile were deeply discussed: Risk for decreased cardiac tissue perfusion (100%), Risk for ineffective peripheral tissue perfusion (100%), Risk for infection (98.1%), Impaired dentition (85.7%), Sedentary lifestyle (78.1%), Ineffective self-health management (74.2%), Activity intolerance (72.3%), Impaired skin integrity (72.3%), Deficient knowledge (66.6%), Decreased cardiac output (65.7%), Risk for vascular trauma (61.9%), Disturbed sleep pattern (58.1%), Imbalanced nutrition: more than body requirement (57.1%), Chronic sorrow (55.2%), Acute pain (54.2%), and Anxiety (53.3%). Domain 4 Activity/rest had the highest number of diagnoses identified. We analyzed the association between nursing diagnoses above the 50th percentile and the socio-demographic variables age and sex, and the clinical variables time of diagnosis of hypertension, AMI, HF and CAD, through chi-square nonparametric tests and the likelihood-ratio test. We observed a statistically significant association between cardiovascular diseases and the diagnoses Decreased cardiac output, Activity intolerance, Acute pain, Risk for decreased cardiac tissue perfusion, and Risk for ineffective peripheral tissue perfusion. The identification of nursing diagnoses according to a classification system in hypertensive patients with cardiovascular diseases enables the development of targeted therapeutic strategies, gives ground to the systematization of nursing care, and offers the prospect of a more qualified and consistent care to patients. Keywords: Hypertension. Nursing Diagnosis. Cardiovascular Diseases.
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RESUMEN
La hipertensión es factor de riesgo establecido para enfermedades cardiovasculares, si no controlada contribuye para el infarto agudo de miocardio (IAM), insuficiencia cardíaca (IC) y enfermedad arterial coronaria (EAC), por lo que el objetivo del estudio fue analizar diagnósticos de enfermería presentes en personas con hipertensión y enfermedad cardiovascular. Estudio descriptivo y transversal, llevado a cabo en hospital público de Fortaleza-CE, Brasil, referencia en Cardiología, que tuvo muestra de 105 personas con enfermedades hipertensivas y AMI, IC y EAC. Los datos fueron recolectados por medio de formulario llenado a través de entrevistas que consistieron en preguntas relacionadas con las características sociodemográficas y características clínico-epidemiológicas de los pacientes, así como la historia del paciente y el examen físico. Los datos fueron recolectados de septiembre a noviembre de 2012. Los resultados permitieron observar el predominio del sexo masculino (58,1%), con edades entre 29-90 años, edad media de 63 ± 12,2 años, casados (77,1%), con nivel de educación primario incompleto (45,7%), jubilados/pensionistas (56,2%), renta familiar entre uno y dos salarios mínimos (43,8%). Las principales características clínicas presentes fueron: pacientes acometidos por infarto de miocardio (61), IC (37) y EAC (25), cuyos participantes tuvieron hasta dos diagnósticos de Enfermedad Cardiovascular, pacientes con más de 10 años de diagnóstico de hipertensión (37,1%), antecedentes familiares de enfermedad cardiovascular (67,6 %), no eran fumadores (48,6%), negaron abuso de alcohol (65,7%) y tenía IMC superior a 25kg/m2 (65,7%). Se identificaron 46 diagnósticos de enfermería en los 13 dominios de la NANDA-I, de estos 16 que estaban por encima del percentil, 50 fueron discutidos con mayor profundidad: Riesgo de perfusión tisular cardiaca disminuida (100%), Riesgo de perfusión tisular periférica disminuida (100%), Riesgo de infección (98,1%), Dentición perjudicada (85,7%), Sedentarismo (78,1%), Autocontrol ineficaz de la salud (74,2%), Intolerancia a la actividad (72,3% ), Integridad de la piel perjudicada (72,3%), Conocimiento deficiente (66,6%), Débido cardíaco disminuido (65,7%), Riesgo de trauma vascular (61,9%), Patrón de sueño perjudicado (58, 1%), Nutrición alterada: superior a las necesidades corporales (57,1%), Tristeza crónica (55,2%), Dolor agudo (54,2%), Ansiedad (53,3%). El dominio 4 Actividad/descanso tuvo mayor número de diagnósticos identificados. Se analizó la asociación entre diagnósticos de enfermería por encima del percentil 50 y las variables sociodemográficas edad y sexo, y el tiempo clínico de diagnóstico de la hipertensión, del infarto de miocardio, de la insuficiencia cardíaca y enfermedad coronaria a través de
pruebas no paramétricos de 2 razón y del test de razón de verosimilitud. Se observó asociación estadísticamente significativa entre las enfermedades cardiovasculares y los diagnósticos Débito cardiaco disminuido, Intolerancia a la actividad, Dolor agudo, Riesgo de perfusión cardiaca disminuida y Riesgo de perfusión tisular periférica ineficaz. La identificación de diagnósticos de enfermería según sistema de clasificación de pacientes hipertensos con enfermedades cardiovasculares permite el desarrollo de estrategias terapéuticas dirigidas, permite fundamentación a la sistematización de la atención de enfermería y ofrece la perspectiva de una atención más calificada y coherente a los pacientes. Palabras Claves: Hipertensión. Diagnóstico de Enfermería. Enfermedades cardiovasculares.
Estabelecer diagnósticos de enfermagem em pacientes hipertensos com
doença cardiovascular;
Verificar a associação dos diagnósticos de enfermagem com dados
sociodemográficos sexo e idade;
Verificar a associação dos diagnósticos de enfermagem com dados clínicos:
IAM, IC, DAC e tempo de diagnóstico de HAS.
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3 REVISÃO DE LITERATURA
Iniciaremos a seguir a abordagem de literatura acerca de diagnósticos de
enfermagem, da hipertensão arterial, das doenças cardiovasculares e do cuidado
clínico ao hipertenso, contextualizando teoricamente estas questões,
proporcionando fundamentação científica ao estudo.
3.1 Diagnósticos de enfermagem
O enfermeiro como membro integrante de uma equipe, utiliza um conjunto
de conhecimentos próprios que possibilita a busca de resolutividade às respostas
dos fenômenos de saúde de pacientes, relevantes à prática de enfermagem
(BALDUÍNO; MANTOVANI; LACERDA, 2009).
Nesta ótica, os diagnósticos de enfermagem expressam o seu julgamento
profissional sobre a condição clínica do paciente e sobre suas respostas ao
processo de adoecimento ou de saúde. Os diagnósticos representam as
necessidades de cuidados de enfermagem do paciente ou família.
O conceito de diagnóstico de enfermagem foi aprovado em 1990, na 9º
Conferência da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) e definido
como:
Julgamento clínico sobre as respostas/experiências do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais.O diagnóstico de enfermagem constitui a base para a seleção das intervenções de enfermagem para alcançar
resultados pelos quais o enfermeiro é responsável (HERDMAN, 2013, p.588).
Conforme o COFEN o diagnóstico de enfermagem é o processo de
interpretação e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa do PE, que
culmina com a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem
que representam, com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou
coletividade humana em um dado momento do processo saúde e doença; e que
constituem a base para a seleção das ações ou intervenções com as quais se
objetiva alcançar os resultados esperados (COFEN, 2009).
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Lunney (2011) refere que o diagnóstico de respostas a problemas de
saúde e processos de vida, é um papel importante do enfermeiro, porque estas
respostas interferem no estado de saúde e guiam o cuidado de enfermagem .
A expressão ―diagnósticos de enfermagem‖ foi introduzida no Brasil por
Wanda Aguiar Horta, nos anos de 1960, e constituiu uma das etapas do PE
propostas por aquela autora (TANURE; GONÇALVES, 2009).
O processo de enfermagem como método utilizado para orientar a prática
profissional de enfermagem, se operacionaliza por meio de etapas ou fases. A
maioria dos autores sugerem pelo menos quatro etapas necessárias ao processo de
enfermagem: investigação ou histórico, diagnóstico, intervenção ou implementação e
evolução ou avaliação de enfermagem (TANURE; GONÇALVES, 2009).
Por meio do processo de enfermagem são desenvolvidas etapas que
permitem a coleta de informações sobre histórico da saúde do paciente, a realização
do julgamento pelo enfermeiro a respeito das necessidades do paciente, a
implementação de ações de enfermagem de acordo com estas necessidades, a
avaliação das ações e resultados alcançados.
As etapas do processo de enfermagem têm sido objeto de diversos
estudos que buscam o aprimoramento da enfermagem e ampliação de seus
conhecimentos, para atender mais adequadamente a clientela sob seus cuidados
(VASCONCELOS et al., 2007).
Neste contexto, atualmente existem vários sistemas de classificação dos
elementos da prática de enfermagem que podem ser interrelacionados de forma
dinâmica na execução do PE, e os mais utilizados são a classificação dos
diagnósticos, das intervenções e dos resultados de enfermagem (FORTES, 2007 ).
Garcia e Nóbrega (2009) referem que os elementos inerentes à prática
profissional (diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem), contribuem
para o desenvolvimento de sistemas de classificação de conceitos que fazem parte
da linguagem da enfermagem. Estes sistemas são instrumentos tecnológicos
utilizados no processo de julgamento clínico acerca das necessidades humanas, no
processo terapêutico dessas necessidades de cuidado e de resultados sensíveis a
intervenção de enfermagem.
A enfermagem necessita de um sistema de classificação ou taxonomia
para desenvolver uma fundamentação científica confiável para o preenchimento de
critérios de profissionalização. Os diagnósticos de enfermagem proporcionam um
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método útil para organizar o conhecimento de enfermagem e favorecem a definição
e classificação da especialidade enfermagem (CARPENITO,2002).
O sistema de classificação de diagnósticos de enfermagem da NANDA-I
é um dos mais conhecidos e aplicados na enfermagem em nível mundial
(HERDMAN, 2010 ).
Pode-se afirmar que essa taxonomia representa uma forma de raciocínio
lógico que possibilita a interrelação de causas e efeitos das alterações
apresentadas, facilitando o estabelecimento de metas, a adoção de adequadas
condutas e a realização confiável da avaliação da assistência de enfermagem
prestada (MARIN et al., 2010).
Desta forma, foi utilizada como base para este estudo a classificação da
Taxonomia da NANDA-Internacional versão 2012-2014, que descreve o diagnóstico
e sua definição. Os componentes de um diagnóstico segundo esta classificação são:
título, definição, características definidoras, fatores relacionados ou fatores de risco.
As características definidoras são ―pistas /inferências observáveis que se
agrupam como manifestações de um diagnóstico de enfermagem real ou de
promoção da saúde‖ (HERDMAN, 2013, p.589). São as manifestações clínicas ou
evidências que levaram um profissional a concluir que o problema existe.
Os fatores relacionados são ―fatores que parecem mostrar algum tipo de
relação padronizada com o diagnóstico de enfermagem. Podem ser descritos como
associados a , relacionados a, contribuintes para ou estimuladores‖ (HERDMAN,
2013, p.589). Estes fatores podem conter a causa do problema encontrado, e
auxiliam na decisão do enfermeiro pelo diagnóstico.
Os fatores de risco estão presentes somente nos diagnósticos de
enfermagem de risco. ―São fatores ambientais e elementos fisiológicos, psicológicos,
genéticos ou químicos que aumentam a vulnerabilidade de um indivíduo, uma
família, um grupo ou comunidade a um evento insalubre‖ (HERDMAN, 2013, p.589).
O diagnóstico é um ponto fundamental no processo de enfermagem, tem
por finalidade esclarecer a natureza exata dos problemas e os fatores de risco que
devem ser abordados para que sejam atingidos os resultados gerais esperados do
cuidado, além disso as conclusões tiradas durante esta fase afetam todo o plano e
cuidados( ALFARO-LEFREVE,2010).
Corroborando, autores referem que constitui um elemento essencial para
a realização da assistência de enfermagem sistematizada, pois a prescrição de
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cuidados, de modo preciso e relevante, depende da identificação dos problemas e
de suas causas (FAVA et al., 2010).
A elaboração dos diagnósticos de enfermagem exige uma coleta de
dados completa, a qual aborde os múltiplos aspectos que envolvem o estado de
saúde do indivíduo, estimulando melhoria da qualidade dessa etapa do processo de
enfermagem, fundamental para o desenvolvimento das demais (MARIN et al., 2010).
A tradução da entrevista e do exame físico do paciente para uma forma
de diagnóstico de enfermagem compreende a organização dos dados e a
interpretação do que essas informações revelam sobre a capacidade do paciente em
atender às suas necessidades básicas. Os diagnósticos definem as condutas e
prática do enfermeiro (SPACKS; TAYLOR, 2009).
São desta forma, reconhecidos como modelos conceituais que permitem
a interpretação de problemas observados no paciente, para serem feitos
julgamentos clínicos, a partir do raciocínio diagnóstico. Configuram instrumento
capaz de unir a teoria à prática, orientando as condutas de enfermagem (PAIVA,
2007).
O raciocínio diagnóstico é um processo complexo e intuitivo, de tomada
de decisão, que abrange a interação de processos interpessoais, técnicos e
intelectuais do enfermeiro. Envolve os seguintes elementos críticos:
Reconhecimento da existência de indicadores ou indícios, geração mental de
possíveis diagnósticos, comparação de indícios para possíveis diagnósticos, coleta
de dados focalizada, validação de diagnósticos (LUNNEY, 2011).
Desta forma, no presente estudo foram considerados os elementos do
raciocínio diagnóstico proposto por Lunney (2011) para a determinação dos
diagnósticos de enfermagem na clientela.
A literatura acerca de diagnósticos de enfermagem é um pouco divergente
nos aspectos históricos da criação dos diagnósticos. Autores referem que o termo
―diagnóstico‖ estava presente na enfermagem desde 1950 quando Louise Mc Manus
em conferência em Nova Iorque, referiu como uma das funções da enfermeira
realizar a identificação ou diagnóstico de problemas de enfermagem (GARCIA;
NÓBREGA, 2009; TANURE; GONÇALVES, 2009).
Em 1953 Vera Fry propôs o termo ―diagnóstico de enfermagem‖ para
descrever um passo necessário para o desenvolvimento de um plano de cuidados
individualizados de enfermagem. Em 1960 Faye G. Abdellah propôs o primeiro
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sistema de classificação para a identificação de 21 problemas clínicos do cliente. Na
mesma década Virginia Henderson elaborou uma lista com 14 necessidades
fundamentais, próprias do ser humano, com o objetivo de descrever cuidados que os
clientes necessitavam sem depender de diagnósticos médicos. Desta forma, as duas
autoras últimas são consideradas precursoras das taxonomias de enfermagem
(TANURE, GONÇALVES, 2009; CARPENIT0, 2002).
Em 1973 houve a I Conferência Nacional sobre Classificação de
Diagnósticos de Enfermagem realizada por enfermeiras americanas. Posteriormente
em 1982 foi criada a NANDA e proposto a primeira classificação de diagnósticos de
Na 14ª Conferência da NANDA em 2000 foi proposta a Taxonamia II,
com modificações na estrutura, ficando mais adequada para banco de dados e para
o trabalho profissional. A edição de 2010, versão 2009-2011, passou por mudanças
com relação a classes e domínios e ao número de diagnósticos. Foi aprovada em
conferência da NANDA, NIC e NOC e o Comitê da Taxonomia promoveu o foco
internacional da NANDA, passando a ser denominada NANDA -I. Após aprovação
dos diagnósticos por enfermeiros, especialistas e associados, foram colocados na
NANDA-I e na taxonomia NNN de prática de Enfermagem ( HERDAMAN, 2010).
A atual edição da NANDA International (2012-2014) sofreu modificações,
alguns diagnósticos foram retirados, 16 são novos e 11 foram revisados, além de
conter vários capítulos novos e revisados, portanto há muitas informações
novas(HERDAMN, 2013).
A estrutura da Taxonomia II da NANDA atualmente é composta por 13
domínios, 47 classes e 217 diagnósticos distribuídos entre eles. Cada diagnóstico
possui um código específico com cinco dígitos, apropriado para uso informatizado.
Tem-se os diagnósticos de enfermagem como o fundamento do
atendimento de enfermagem. Sua implementação traz uma série de benefícios aos
cuidados do paciente no ambiente clínico: planejamento melhor e mais consistente
do atendimento; melhor comunicação entre os enfermeiros, entre enfermeiros e
outros profissionais, entre enfermeiros e pacientes; proporciona um melhor
reconhecimento dos fenômenos desafiadores como questões psicológicas, sexuais
e espirituais; melhora o controle clínico e de riscos para o paciente; auxilia a
enfermagem baseada em evidências (HERDMAN, 2010).
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Com relação aos pacientes, a identificação de diagnósticos proporcionará
um plano de cuidados efetivo e individualizado, conforme as necessidades de cada
pessoa, consolidando a assistência recebida e favorecendo, igualmente, a junção
teoria-prática da enfermagem (MUNIZ FILHA, 2007).
Contudo é notório na prática dos profissionais de enfermagem resistência
à implementação e execução do PE e sistematização da assistência, bem como na
utilização das classificações de terminologias de enfermagem, por parte dos
enfermeiros assistenciais e das lideranças na enfermagem, como gerentes e
administradores em enfermagem. A grande maioria de profissionais envolvidos com
estas questões são estudiosos da área, pesquisadores, professores universitários e
especialistas clínicos (HERDMAN, 2010).
Entre as dificuldades para a implementação do PE e, portanto de suas
etapas, como a formulação dos diagnósticos, há problemas inerentes aos
profissionais como a formação profissional da equipe de enfermagem, o despreparo
técnico e científico, a falta de interesse pela sua utilização, além de questões
relacionadas à organização do processo de trabalho, como a sobrecarga de
atividades sobre o profissional de enfermagem e a falta de apoio de gestores e das
instituições empregadoras.
Entretanto, considera-se que os diagnósticos de enfermagem
proporcionam uma forma de organização e aplicação dos conhecimentos de
enfermagem, desta forma deve ser incentivada a sua prática, seus registros e sua
avaliação (SPARCKS; TAYLOR, 2009).
Acredita-se que a realização da etapa de diagnósticos de enfermagem
dentro do processo, fornece ao enfermeiro possibilidade de resolubilidade de
problemas reais ou potenciais do paciente, assim como assistência de qualidade.
Aos profissionais, facilita a tomada de decisão, justifica suas ações e proporciona
autonomia a estes profissionais.
Desta forma, o conhecimento de diagnósticos em pacientes hipertensos
com doença cardiovascular é necessário, a fim de propor intervenções coerentes
aos resultados esperados, que permitam melhorar a sua condição de saúde e
alcançar sua recuperação de forma integral .
A partir de muitos estudos e consultas bibliográficas, foram desenvolvidos
por teóricos e estudiosos da enfermagem, 10 princípios orientadores para o uso de
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diagnósticos de enfermagem da NANDA-I (LUNNEY, 2011). Estes princípios ou
diretrizes são descritos no quadro a seguir:
Quadro 1- Diretrizes para uso de diagnósticos da NANDA-I.
Diretrizes para o uso dos diagnósticos de enfermagem e da NANDA-I:
1.Utilizar uma ou mais teorias de enfermagem para orientar sua abordagem filosófica e teórica no cuidado de enfermagem.
2. No contexto da abordagem escolhida, fazer levantamentos de dados de enfermagem da pessoa para identificar os problemas, os estados de risco, a disposição para promover a saúde e os pontos positivos adequados para orientar o cuidado de enfermagem.
3. Durante os levantamentos de dados, usar habilidades cognitivas e hábitos mentais de pensamento crítico.
4. Fazer levantamentos de dados focalizados para identificar as respostas específicas que a pessoa possa estar vivendo, considerando o contexto da situação.
5. Conseguir uma quantidade suficiente de dados de relevância maior e moderada para apoiar ou rejeitar (incluir ou descartar) os diagnósticos específicos analisados.
6. Comparar os dados levantados com os diagnósticos de enfermagem padronizados da NANDA-I, isto é, títulos, definições e características definidoras.
7. Considerar outros possíveis diagnósticos enquanto coleta os dados.
8. Sempre que possível, ao levar em conta o contexto situacional, validar as impressões diagnósticas com o indivíduo ou a família.
9. Existindo mais de um diagnóstico, identificar aquele ou aqueles prioritários.
10. Comunicar, oralmente ou por escrito, o diagnóstico ou os diagnósticos prioritários selecionados para fundamentar o planejamento de resultados e intervenções.
Fonte: LUNNEY (2011). Pensamento crítico para o alcance de resultados positivos em saúde.
A maioria destes princípios foi utilizada neste estudo, para tornar a
pesquisa coerente com a NANDA e colaborar com a prática de diagnosticar em
enfermagem.
3.2 Considerações sobre a Hipertensão Arterial
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) vem aumentando de forma
assustadora, tanto nas sociedades desenvolvidas como nas subdesenvolvidas, na
medida em que as populações se tornam mais obesas e envelhecem (KAPLAN;
VICTOR, 2012).
A HAS é considerada uma doença poligênica resultante de anormalidades
nos mecanismos de controle da pressão arterial. O nível de pressão arterial de um
indivíduo é complexo sendo determinado pela interação de múltiplos fatores
genéticos, ambientais e demográficos (COTRAN; SCHOEN, 2001).
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Por definição, é uma condição clínica multifatorial, caracterizada por
níveis elevados e sustentados da pressão arterial. Em termos de diagnóstico da HAS
são considerados os valores de PA sistólica maior ou igual a 140mmHg e/ou de PA
diastólica maior ou igual a 90mmHg, em medidas em consultório. O diagnóstico
deve ser validado por medidas repetidas, em pelo menos três ocasiões, em
condições ideais (DIRETRIZES ,2010).
O Quadro a seguir apresenta a classificação da pressão arterial de acordo
com medida em consultório em maiores de 18 anos.
Quadro 2- Classificação da pressão arterial medida em consultório em pessoas
maiores de 18 anos.
Classificação Pressão Sistólica
mmHg
Pressão Diastólica
mmHg
Otima < 120 < 80
Normal < 130 < 85
Limítrofe 130-139 85-89
Hipertensão estágio 1 140-159 90-99
Hipertensão estágio 2 160-179 100-109
Hipertensão estágio 3 ≥180 ≥110
Hipertensão sist. isolada ≥140 <90
Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2010
A HAS também pode ser classificada em hipertensão primária ou
secundária. Na hipertensão primária ou essencial, as causas da elevação da PA não
são claramente identificadas, já a HAS secundária tem uma causa definida e é
consequência de outras doenças como renais, endócrinas ou cardíacas e fatores de
risco associados. Contudo a causa de aproximadamente 90% dos casos da doença
é desconhecida (DIRETRIZES, 2010; KAPLAN, VICTOR,2012).
A elevação da pressão arterial afeta tanto a função quanto a estrutura dos
vasos sanguíneos por todo o corpo, principalmente em grande parte das pequenas
artérias musculares, sendo que os efeitos prejudiciais aumentam continuamente á
medida que a pressão sobe. A manutenção da PA elevada provoca alterações
metabólicas e funcionais ou estruturais em órgãos-alvo, como o coração, encéfalo,
olhos, rins e vasos sanguíneos (SMELTZER;BARE,2009; COTRAN;SCHOEN,2001).
26
Autores alertam que mesmo nas situações em que o tratamento atinja o
nível ideal (abaixo de 120/80 mmHg), os pacientes hipertensos continuam a
apresentar maior risco de acidente vascular cerebral e doenças cardiovasculares do
que pacientes normotensos com níveis semelhantes de pressão (KAPLAN; VICTOR,
2012).
A HAS é uma condição progressiva, que tem por fatores de risco
modificáveis e não modificáveis. Entre os fatores modificáveis estão: o excesso de
peso e obesidade (o incremento de 2,4 kg/m2 no índice de massa corporal acarreta
maior risco para hipertensão); tabagismo; ingestão de álcool ; ingestão excessiva de
sal ( dietas ricas em sal provocam alterações fisiológicas que são compensadas com
o aumento da PA); estresse e o sedentarismo. Os fatores de risco não modificáveis
se relacionam a: sexo, idade, raça e fatores hereditários (DIRETRIZES, 2010;
KAPLAN, VICTOR, 2012).
A idade é comprovadamente um fator de risco importante no diagnóstico
da HAS. É conhecido que o aumento da idade aumenta a prevalência de
hipertensão, estando presente principalmente na faixa etária de mais de 60 anos
(DIRETRIZES,2010).
Dois padrões de hipertensão são observados em idosos: a combinação
de pressão sistólica e diastólica - hipertensão essencial comum na meia-idade, e a
hipertensão sistólica isolada- forma mais frequente em indivíduos de mais de 60
anos. Entretanto as consequências são parecidas, assim como a terapia utilizada
(KAPLAN; VICTOR, 2012).
Contudo, observa-se a ocorrência da HAS precocemente em adultos
jovens e pessoas abaixo de 50 anos de idade. O acometimento da população mais
jovem contribui para o surgimento de doenças cardiocerebrovasculares mais cedo
do que o esperado na população e traduz prejuízo à força economicamente ativa.
Estudo realizado no Ceará objetivando investigar fatores de risco
cardiovasculares em adultos jovens refere que a exposição aos fatores de risco
cardiovasculares normalmente começa na infância e se consolida na juventude,
havendo uma idéia errônea de que fatores de risco cardiovasculares e DCV estejam
presentes em fases mais avançadas da vida. O estudo revelou que entre 60 adultos
jovens, com idade entre 20 a 40 anos, 45 eram hipertensos, 33 possuíam
antecedentes familiares de HAS, 33 tinham sobrepeso e 27 eram sedentários. O
27
estudo, portanto, mostrou elevada prevalência da doença e de seus fatores de risco
entre pessoas jovens (MOREIRA; GOMES; SANTOS, 2010).
Corroborando com estes autores, pesquisa realizada no Rio Grande do
Sul com 1.020 mulheres objetivando estimar a prevalência de HAS em mulheres de
20 a 60 anos, demonstrou que 267 (26,2%) eram portadoras de HAS. Dentre a
amostra, 50% tinha idade entre 20 e 39 anos (HARTMANN et al. , 2007).
Desta forma, observa-se o quanto a HAS tem se manifestado de forma
mais precoce na população, e que cada vez mais as pessoas estão em risco de
adoecimento cardiovascular.
Com relação ao tratamento da HAS, as medidas terapêuticas variam
conforme os níveis de PA e devem ser baseadas no risco cardiovascular, presença
de fatores de risco, lesão de órgãos-alvo e ou doença cardiovascular. O tratamento
tem por objetivo primordial a redução da morbidade e mortalidade cardiovasculares
(DIRETRIZES,2010). Este poderá ser medicamentoso ou não medicamentoso. O
benefício do tratamento pode ser aferido por redução de incidência de infarto do
miocárdio, acidente vascular cerebral e outros eventos clínicos relevantes (FUCHS,
2006; DIRETRIZES, 2010).
No tratamento não medicamentoso, a adoção de estilo de vida saudável
compõe a base do tratamento com medidas de controle de peso, dietas e atividades
físicas. O período de tempo recomendado para as medidas de modificação de estilo
de vida isoladamente em hipertensos com baixo risco cardiovascular, não deve
ultrapassar seis meses. O tratamento com anti-hipertensivos está previsto em
esquemas terapêuticos de monoterapia ou terapia combinada. Este esquema deve
manter a qualidade de vida do paciente, de modo a estimular a adesão ao
A decisão da terapêutica na HAS conforme o risco cardiovascular está
descrita no quadro 3:
Quadro 3- Decisão terapêutica e risco cardiovascular
Decisão terapêutica
Categoria de risco Considerar tratamento
Sem risco adicional Tratamento não medicamentoso
Risco adicional baixo Tratamento não medicamentoso por até seis
meses. Se não atingir a meta associar
tratamento medicamentoso
Risco adicional médio, alto e muito alto Tratamento não medicamentosos +
medicamentoso
Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, 2010
Um dos grandes problemas encontrados no controle da HAS e de suas
complicações está na adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Apesar das propostas
de tratamento serem eficientes, o controle da HAS é pouco satisfatório.
O curso da HAS evolui frequentemente de modo assintomático, mas
determinando alterações fisiopatológicas em órgãos nobres, desta forma no
momento do diagnóstico, o profissional que determina o ―rótulo da doença‖ tem
papel indiscutível no processo de adesão. O estímulo à adesão é um processo
contínuo, porque mesmo pacientes que iniciam a tratamento logo após o diagnóstico
da HAS evidenciam níveis de adesão indesejáveis (COUTINHO; SOUSA, 2011).
É provável que a sensação de melhora inicial, após a redução de
sintomas ou a ausência destes em virtude do uso da medicação anti-hipertensiva,
assim como a redução dos níveis pressóricos, possam ter como consequência a
interrupção do tratamento medicamentoso ou a adesão parcial (COUTINHO;
SOUSA, 2011; SANTOS; LIMA , 2008).
Desta forma, considera-se que cabe aos profissionais de saúde em geral
e ao enfermeiro em particular, engajados no cuidado clínico ao hipertenso, o
emprego de estratégias e ações específicas, de avaliação, de acompanhamento e
consultas mensais, que possam suscitar a adesão ao tratamento, colaborando para
reduzir os níveis pressóricos dos pacientes e consequentemente as doenças
cardiovasculares.
29
Autores ressaltam as implicações sociais da HAS para o paciente, entre
elas referem que a pessoa hipertensa apresenta uma condição de vida cerceada,
necessitando de monitoramentos constante, medicalização, controle da alimentação,
atividade física e mudanças de hábitos de vida. Acrescentam que o patamar de
adesão ao tratamento é insatisfatório e vários são os fatores que interferem na
adesão, sendo relacionados à terapêutica, ao sistema de saúde e à pessoa (PIRES;
MUSSI, 2009).
Contextualizando, Fava et al.(2010) referem que em virtude da
cronicidade da doença, para o seu devido controle são imprescindíveis mudanças
de hábitos diários, que para muitos significam ruptura no seu modo de viver, com
repercussões de ordem psicológica, familiar e social.
Nesta ótica, observa-se que a hipertensão acarreta modificações na
qualidade de vida das pessoas, interferindo principalmente na capacidade física,
emocional, interação social, exercício profissional e outras atividades do cotidiano
(PINOTTI; MANTOVANI; GIACOMOZZI, 2008).
De acordo com Fava et al. (2010) a equipe de enfermagem desempenha
um papel importante no cuidado a portadores de HAS e que a educação em saúde
constitui uma das estratégias para propiciar conhecimento aos hipertensos sobre
sua condição de saúde.
Como cuidados de enfermagem ao hipertenso encontram-se ações de
educação em saúde, tanto as orientações em saúde quanto relacionadas ao sistema
de saúde e acesso, troca de informações sobre cuidados de saúde, diálogos sobre o
tratamento, mudanças de comportamento e modo de vida, bem como a facilitação
da adaptação e enfrentamento da doença (FAVA, et al., 2010; GUEDES ; ARAÚJO,
2005).
O profissional de saúde é um elemento chave no processo assistencial ao
indivíduo com HAS, ao centrar esforços em todos os estágios para o diagnóstico
precoce da doença, confirmação e avaliação do tratamento. Faz-se necessário a
atuação de uma equipe multiprofissional, integrada, composta por enfermeiro,
médicos, assistente social, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionista e
farmacêuticos, que poderão desenvolver condutas que reduzam as complicações da
doença.
Corroborando, Moura (2010) refere que a HAS, sobretudo com doenças
associadas, requer uma abordagem multi e interdisciplinar, por ser caracterizada
30
como uma doença multifatorial que envolve orientações voltadas para diversas
áreas da saúde, pois seus objetivos múltiplos exigem diferentes abordagens.
Tendo em vista as considerações, os números e os fatores relacionados a
HAS, acredita-se que justificam-se estudos na área, que possam de algum modo
favorecer e inovar o conhecimento em HAS e o tratamento das pessoas portadoras
desta doença.
3.3 Hipertensão e Doenças Cardiovasculares
A HAS é uma doença ―silenciosa‖ que progride de forma assintomática
em grande parte dos pacientes, os sinais e sintomas só começam a surgir quando
as complicações decorrentes da doença se instalam. Com a evolução da HAS,
aumentam os riscos das complicações cardiovasculares. A progressão natural da
doença promove modificações estruturais em artérias e pequenos vasos, diminuindo
o aporte sanguíneo para órgãos-alvo, entre eles o coração, favorecendo as doenças.
As doenças cardiovasculares são graves por atingirem um órgão nobre e
vital, cujo adoecimento traz repercussões fisiológicas, hemodinâmicas, físicas e
emocionais para o indivíduo. Após o adoecimento cardiovascular, estende-se um
longo período para sua recuperação e, em muitos casos, não há sobrevida.
As DCV são, no seu conjunto, responsáveis por aproximadamente 30%
de todas as mortes e estas em associação com a HAS aumentam sua incidência
com o aumento da idade. Ressalta-se que cerca de 40% das pessoas hipertensas
abandonam o tratamento da HAS, este fato possui estreita relação com o surgimento
de doenças cardiovasculares (PIERIN; GUSMÃO; MION JR, 2009; PIRES; MUSSI,
2009).
No Brasil, as DCV tornaram-se problema de saúde pública, sendo
responsáveis por uma proporção de mais de 31% da mortalidade geral,
correspondendo ao maior percentual entre todas as causas (DATASUS, 2011).
Somando-se a isso, demandam cerca de 1,2 milhões de hospitalizações e custo
aproximado de 650 milhões/ano (CIPULLO et al., 2010).
No SUS as doenças cardiovasculares representaram 24% das
hospitalizações na faixa etária de 35 a 64 anos, e 49% no grupo com idade do 65
anos ou mais. Além disso, foram relacionadas a 45,7% (121.770) dos óbitos
hospitalares. Aproximadamente 2 milhões de casos graves de DCV foram relatados
31
em 2004, o custo das DCV entre gastos com a saúde, internações, seguro social e
perda de produtividade são da ordem de 30 bilhões, desta forma observa-se o
impacto social e econômico deste grupo de doenças (AZAMBUJA et al., 2008).
Destaca-se que o crescimento populacional, o aumento da expectativa de
vida, a exposição cada vez mais prematura aos fatores de risco bem como o
deficiente acesso aos serviços de saúde, têm contribuído para o incremento na
incidência de DCV (MOREIRA; GOMES; SANTOS, 2010; PAIVA, 2007).
Os fatores de risco para DCV em hipertensos foi estudado por Girotto et
al. (2009), tendo sido encontrado na amostra de 385 pacientes a prevalência de
70,4% de sedentarismo, 30,9% de história familiar de infarto, 22,6% de diabetes,
28,6% de dislipidemia e 19,9%de tabagismo, demonstrando que a presença de
fatores de risco cardiovasculares, além da própria hipertensão, reforçam a
necessidade de intervenção eficaz, para minimizar as complicações
cardiovasculares e morte entre hipertensos.
As DCV foram a principal causa de morte no Brasil em 2005 com 28,8%
dos óbitos. As doenças isquêmicas do coração se destacaram como uma das mais
frequentes, com o equivalente a 29,9% destes óbitos (GIROTTO et al., 2009).
No Estado do Ceará, autores demonstraram conforme dados coletados
junto ao Sistema de Informação Hospitalar do SUS (SIH/SUS), que as DCV
corresponderam a 18% dos internamentos, seguidas das doenças isquêmicas (16%)
e hipertensivas (16%), sendo os pacientes do sexo feminino mais afetados
(FERNANDES; CARNEIRO; CORREIA, 2007).
Historicamente, entre os anos de 1980 a 1990 houve redução no número
de óbitos pelas DCV, porém nos anos 2000 esta redução não se manteve desta
forma e os autores relatam a necessidade de avaliação do seu risco na população,
em virtude dos danos pessoais, sociais e econômicos gerados pelo adoecimento e
complicações das DCV (MOREIRA ; GOMES; SANTOS, 2010).
Neste estudo nos detemos nas doenças cardiovasculares infarto agudo
do miocárdio, insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana associadas a
HAS, que podem surgir como complicações da hipertensão.
A história natural da hipertensão não tratada aumenta a probabilidade de
incapacitação e de morte prematura em decorrência da doença cardiovascular que
precede. A patogênese da combinação de hipertensão sistólica e diastólica envolve
mudanças estruturais nas arteríolas de resistência, ocasionando o ―remodelamento‖
32
e a ―hipertrofia‖ do músculo cardíaco. Essas alterações estão quase sempre
envolvidas no desenvolvimento da arteriosclerose de vasos menores, responsável
por danos em órgãos-alvo observados na HAS de longa duração (KAPLAN;
VICTOR, 2012)..
À medida que a pessoa envelhece, a aterosclerose de vasos maiores
torna-se um fator agravado pela HAS, porém envolvem distúrbios lipídicos, ativação
plaquetária, trombose, disfunção endotelial, inflamação, fatores genéticos, entre
outros que causam os agravos cardiovasculares (KAPLAN; VICTOR, 2012).
A HAS duplica o risco de doença coronária, incluindo o infarto agudo do
miocárdio e morte súbita, e de insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Usualmente
resulta em hipertrofia ventricular esquerda e/ou isquemia miocárdica. Estes
processos precipitam disfunção sistólica e diastólica, que com frequência progridem
para a ICC (KAPLAN; VICTOR, 2012; FUCHS, 2006).
Entre as DCV que a pessoa hipertensa apresenta, mais comum e
preocupante está o infarto agudo do miocárdio. É uma emergência que requer
pronto atendimento por conferir grande chance de morte imediata.
As Síndromes Coronarianas Agudas (SCA) são definidas como conjunto
de manifestações isquêmicas da musculatura do miocárdio. A angina e o infarto
agudo do miocárdio pertencem a este grupo de doenças do coração (BAGNATORI
et al., 2009). Essas síndromes (SCA) são causadas por obstrução coronariana
decorrente da interação entre fenômenos de trombose e vasoespasmo, resultando
em uma sequência de sintomas clínicos que são compatíveis com a isquemia do
miocárdio, englobando angina instável e IAM (LEMOS et al., 2010).
A isquemia miocárdica consiste na oxigenação insuficiente do músculo
cardíaco. É reversível e se apresenta clinicamente como angina pectoris. Quando a
isquemia é grave, prolongada, resulta em lesão irreversível que consiste no infarto
do miocárdio (SMELTZER; BARE, 2009).
O infarto do miocárdio refere-se ao processo pelo qual áreas do miocárdio
são destruídas de maneira permanente, em decorrência do fluxo sanguíneo reduzido
e consequente redução de oxigênio em uma artéria coronária, causado por
aterosclerose ou oclusão de uma artéria por um trombo. À medida que as células do
miocárdio são privadas de oxigênio ocorre lesão celular, com o passar do tempo, a
falta do oxigênio resulta em morte celular caracterizando o infarto do miocárdio
(SMELTZER;BARE, 2009).
33
O termo infarto do miocárdio tem relação com o tempo de ocorrência do
infarto, podendo ser agudo, em evolução ou antigo. Também pode ter localização
diversa com relação ao suprimento do fluxo sanguíneo local, sendo na parede do
ventrículo direito ou na parede ventricular esquerda (BAGNATORI et al., 2009).
As manifestações clínicas do IAM são típicas da doença isquêmica. Os
sinais e sintomas do infarto podem incluir: dor torácica de grande intensidade, que é
o sintoma mais referido pelos pacientes, aceleração das frequências cardíaca e
respiratória, o paciente fica inquieto e ansioso, pele fria, pálida e úmida, náusea e
vômito podem estar presentes. A dor torácica pode irradiar para pescoço, mandíbula
e braço esquerdo (SMELTZER; BARE, 2009).
O enfermeiro possui função importante no manejo da clínica dos
pacientes com IAM, sendo necessário conhecimento de sua fisiopatologia,
manifestações clínicas, eletrocardiográficas, terapêutica, cuidados específicos de
enfermagem e habilidade em emergência cardiológica (BAGNATORI et al., 2009).
A maneira mais eficaz de reduzir o impacto das doenças
cardiovasculares, em nível populacional, é o desenvolvimento de ações de
prevenção e tratamento de seus fatores de risco. O enfermeiro deve conhecer os
fatores implicados no desencadeamento das síndromes coronarianas, e quais os
mais presentes na sua área de atuação, a fim de agir de forma mais incisiva no
desenvolvimento de programas capazes de reduzir a morbidade e mortalidade por
DCV (LEMOS et al., 2010).
Estudo realizado por Oliveira, Albuquerque e Alencar (2010) com o
objetivo de conhecer o nível de satisfação de usuários portadores de IAM acerca do
cuidado de enfermagem prestado em uma instituição hospitalar, revelou claramente
a intensa satisfação destes usuários, estando relacionada aos aspectos afetivos do
cuidado de enfermagem prestado, como a atenção, o respeito, a gentileza e o zelo,
assim como aspectos relacionados à terapêutica assistencial e ao agir do
profissional de enfermagem ético e técnico, demonstrando a relevância destes
cuidados na reabilitação destes pacientes.
A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica, complexa em sua
fisiopatologia e tratamento, caracterizada pela disfunção cardíaca ventricular
sistólica ou diastólica, geralmente resultante de disfunção ou perda do músculo
miocárdio, caracterizada por dilatação do ventrículo esquerdo ou hipertrofia
(CASTRO et al., 2010). É também definida como a incapacidade do coração
34
bombear sangue suficiente para satisfazer às necessidades de oxigenação dos
tecidos. Manifesta-se por sobrecarga hídrica e perfusão tissular inadequada
(SMELTZER; BARE, 2009).
É ainda, considerada a via final da maior parte das doenças
cardiovasculares, sendo causa de incapacidade e morbidade, pois impossibilita a
execução de atividades diárias e profissionais, além de predispor à alterações
emocionais, como a depressão e ansiedade. Traz impacto físico e psicológico, gera
modificações sociais e nas atividades cotidianas(ARRUDA ;CAVALCANTE, 2012).
A IC pode ser aguda ou congestiva. Na IC congestiva o ventrículo
esquerdo não consegue bombear sangue para fora do ventrículo, provocando o
aumento do volume sanguíneo nos tecidos pulmonares e alvéolos. Entre os sinais e
sintomas estão a dispnéia, tosse, expectoração e edema pulmonar. Na IC aguda há
uma súbita disfunção ventricular em consequência de outras doenças
cardiovasculares que comprometam o funcionamento cardíaco, como o IAM e
aterosclerose de artérias coronarianas (SMELTZER;BARE, 2005; ROCHA, 2008).
A insuficiência cardíaca tem sido subdividida em classificações diferentes
para descrevê-la e essas classificações variam conforme IC aguda ou crônica,
esquerda ou direita, congestão, choque, disfunção sistólica ou diastólica
(LAURENT-BOOP, 2006).
Em países subdesenvolvidos a HAS é a principal causa de IC crônica
associada com a doença arterial coronariana. Constitui um fator de risco importante
para a IC, sendo que o mecanismo pelo qual a HAS leva à IC é multifatorial e têm
sido verificados (ROLANDE et al., 2011).
As manifestações clínicas mais comumente apresentadas por pacientes
com IC descompensada são: dispneia, ortopneia, cansaço, distensão de veia
jugular, edema de membros inferiores e fração de ejeção diminuída (ALITI et al.,
2011).
Estudo realizado por Arruda e Cavalcante (2012) para investigar as
causas para o grande número de re-internações e mortalidade da IC destacam-se o
desconhecimento de medidas não farmacológicas, a incapacidade dos pacientes de
identificarem sinais e sintomas que antecedem a fase de descompensação e/ou a
adesão inadequada ao tratamento medicamentoso.
Autores demonstraram que a baixa adesão ao tratamento na IC estaria
relacionada a fatores de risco que envolve problemas socioeconômicos, prejuízos
35
cognitivos somados às características da doença e à complexidade do tratamento.
Os custos das medicações, as quantidades e efeitos, o relacionamento entre
profissional de saúde e paciente e o apoio necessário são identificados como fatores
contribuintes para influenciar na adesão ao tratamento (CASTRO et al., 2010).
Ressalta-se que a enfermagem contribui de sobremaneira nos cuidados
ao paciente com IC, realizando-os a partir do histórico de enfermagem, do exame
físico, diagnósticos de enfermagem identificados, avaliação contínua do paciente,
além de realizar ações de educar o paciente com relação aos cuidados
subsequentes (LAURENT-BOPP, 2006).
O enfermeiro é um dos profissionais que avalia a presença de IC, conduz
a terapêutica em conjunto com a equipe médica, realiza educação em saúde, orienta
paciente e família para prognóstico da doença, recomendações de atividades,
medicações e dietas (ROCHA, 2008).
Enfermeiros treinados podem detectar as manifestações da IC
descompensada e avaliar o perfil hemodinâmico durante a realização de exame
clínico diário, à beira do leito, apresentando um desempenho similar ao médico
cardiologista (ALITI et al., 2011). No entanto é necessário considerar que mais
importante que tratar a IC é preveni-la, tratando seus fatores de risco como a
hipertensão, a diabetes e dislipidemia, a fim de evitar a instalação e o
desenvolvimento da disfunção ventricular.
Por sua vez, a doença arterial coronariana, DAC, se desenvolve a partir
da aterosclerose, que constitui em um acúmulo anormal de substâncias lipídicas ou
de tecido fibroso na parede vascular. Essas substâncias podem formar placas que
obstruem ou estreitam os vasos, provocando a redução ou bloqueio do fluxo
sanguíneo para o miocárdio (SMELTZER; BARE, 2005; COTRAN;SCOEN, 2001).
A DAC tem estreita relação com o IAM e a IC. A aterosclerose
coronariana produz sintomas e complicações de acordo com o grau de
acometimento da luz arterial, formação de trombo e obstrução do fluxo sanguíneo,
que podem gerar a isquemia miocárdica e o infarto do miocárdio. A lesão
miocárdica significativa, provoca débito cardíaco inadequado e o coração não
consegue suprir as necessidades do corpo, podendo ocasionar insuficiência
cardíaca (SMELTZER ;BARE, 2005).
A HAS, ao lado de alterações no colesterol, fumo e diabetes melitus foram
citados como fatores de risco para a doença arterial coronariana e suas
36
complicações (FUCHS, 2006). Corroborando, autores referem que os principais
fatores de risco para DAC incluem a hipertensão, tabagismo, dislipidemias,
obesidade, sedentarismo, diabetes mellitus e antecedentes familiares (GUS;
FISCHMAN; MEDINA, 2002).
Observa-se por tudo que foi exposto, que a HAS é um fator predisponente
a várias doenças cardiovasculares e que a hipertensão de longa duração causa
danos que podem ser irreversíveis ao coração. Os enfermeiros por meio da
sistematização da assistência de enfermagem, com emprego dos diagnósticos de
enfermagem, podem auxiliar na saúde da pessoa hipertensa e na redução da
complicação cardiovascular.
O enfermeiro responde por cuidados essenciais às pessoas portadoras de
HAS, sendo um agente facilitador para que o indivíduo desenvolva competências
para um agir saudável. Por isso, frente aos hipertensos, o enfermeiro deve dar
atenção especial aos fatores de risco cardiovasculares, que poderão perpetuar em
complicações graves (MENEZES; GOBBI, 2010).
Acredita-se que a utilização de diagnósticos de enfermagem no cuidado
de pacientes hipertensos com DCV torna-se relevante pela identificação de
problemas e necessidades reais desta clientela, com vistas a elaboração de um
plano de cuidados e intervenções de enfermagem adequadas a cada cliente.
3.4 Cuidado clínico de enfermagem a pessoas hipertensas
Diversas definições são atribuídas a palavra cuidado/cuidar por muitos
autores, filósofos e profissionais. Diversas também são as formas ou dimensões do
cuidado, havendo muitas possibilidades de se prestar o cuidado a quem dele
necessita. A necessidade de cuidado é uma experiência cotidiana, vivenciada por
todos.
O cuidado faz parte da vida do ser humano desde os primórdios da
humanidade, vem atravessando civilizações e gerações, configurando-se como
resposta ao atendimento às suas necessidades em algum momento da vida (SILVA
et al. ,2009). O cuidado de enfermagem tem sido compreendido como uma atitude
de desvelo, atenção, que está presente na interação dinâmica entre paciente e
enfermeiro e é inerente a profissão de enfermagem (VALE; PAGLIUCA, 2011).
37
A realização do cuidado de enfermagem se estabelece mediante uma
ação interativa entre o enfermeiro e paciente. Nele as atividades do profissional são
desenvolvidas ―para‖ e ―com‖ o paciente, ancoradas no conhecimento científico,
habilidade, intuição, pensamento crítico e criatividade, acompanhadas de ações de
cuidar/cuidado no sentido de promover, manter ou recuperar a totalidade humana
(BALDUÍNO; MANTOVANI; LACERDA, 2009).
Nesta perspectiva, autores referem que o cuidado é uma característica do
ser humano, adotada pela enfermagem, tornando-se sua essência. Tem sido
apontado como objeto epistemológico da enfermagem, abrangendo diversos
significados, por vezes complexos, no entanto pode ser compreendido como ato de
dedicação e inquietação pelo outro (SILVA et al. ,2009).
Pires (2009) refere que o cuidar em enfermagem, tem o sentido de
promover a vida, o potencial vital, o bem estar dos seres humanos na sua
individualidade, complexidade e integralidade. Envolve um encontro com o objetivo
terapêutico de conforto, de cura quando possível e também de preparo para a morte.
Waldow (2008) afirma que o cuidar na enfermagem tem se distinguido
como o seu fazer e que vem afirmando-se mais recentemente também como um
saber diferenciado e único. É sua essência, a sua condição existencial, pois sem o
cuidar a enfermagem não existe.
Neste contexto, Vale e Pagliuca (2011, p.112) caracterizam o cuidado de
enfermagem humanizado como competente e eficaz. Estes autores definiram o
cuidado de enfermagem a partir de estudos com grupos de enfermeiros e
graduandos em enfermagem:
Cuidado de enfermagem é um fenômeno intencional, essencial à vida, que ocorre no encontro de seres humanos que interagem, por meio de atitudes que envolvem consciência, zelo, solidariedade, e amor. Expressam um ―saber fazer‖, embasado na arte, na ciência, ética e na estética, direcionado às necessidades do indivíduo, da
família e da comunidade.
Autores referem que o cuidar em enfermagem consiste no
desenvolvimento de ações e comportamentos com base em conhecimento científico,
experiência, intuição e pensamento crítico, no sentido de manter, promover ou
recuperar a dignidade e totalidade humana. Sob uma ótica humanizadora é uma
atitude intencional de preocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o
outro (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE; ALENCAR, 2009).
38
Considera-se que o foco do cuidado de enfermagem é o ser humano com
suas necessidades biopsicossociais e espirituais. A função precípua do enfermeiro é
o cuidado de enfermagem, seu objetivo está centrado na promoção da saúde,
prevenção de doenças, recuperação e reabilitação da saúde (VALE; PAGLIUCA,
2011).
Acredita-se que o enfermeiro deve exercer o cuidado de forma
individualizada e holística ao indivíduo, para que ele possa alcançar a sua saúde de
forma integral e obter maior qualidade na assistência recebida. Esse cuidado é
realizado por meio de ações que são únicas e essenciais à recuperação da saúde
do indivíduo em todo o seu ciclo de vida.
Por ser o cuidado a essência da profissão de enfermagem, este se
concretiza nos diversos espaços em que o enfermeiro está presente, interagindo
com o paciente e de alguma forma prestando a assistência de enfermagem. Convém
ressaltar que o cuidado clínico de enfermagem é o cuidado que ocorre nos vários
cenários da prática de enfermagem, desde que seja realizado pela equipe de
enfermagem de forma sistematizada, humanizada, dirigida ao indivíduo em todas as
etapas do ciclo vital, à família ou à comunidade, com bases na filosofia, na ética, no
conhecimento teórico, considerando a subjetividade do indivíduo e suas
manifestações pessoais no processo saúde-doença.
Ante a clientela de hipertensos, as ações cuidativas dos enfermeiros
objetivam favorecer as pessoas a assumirem comportamentos saudáveis, modificar
o estilo de vida, seguir esquemas terapêuticos e medicamentosos. Assim, os
cuidados da enfermagem contribuem para a redução do risco cardiovascular,
mediante a adesão do paciente aos cuidados de promoção e manutenção da saúde
(BEZERRA et al., 2010).
A enfermagem desempenha cuidados junto a estes pacientes almejando
o controle eficaz da hipertensão, para tanto é importante considerar as
características individuais de cada pessoa. As intervenções necessárias às
mudanças de comportamentos devem ter por base fatores específicos e influentes
na determinação do modo de ser e viver dos hipertensos, os quais podem ser de
origem interna e externa (FAVA et al., 2010).
Neste contexto, não deixamos de observar a formulação dos diagnósticos
de enfermagem no cuidado clínico de hipertensos, após as etapas de levantamento
de dados e exame físico. Por meio de diagnósticos de enfermagem definidos
39
corretamente, é possível estabelecer intervenções que atendam às necessidades
individuais dos sujeitos com hipertensão arterial e minimizem complicações (FAVA et
al., 2010).
Os diagnósticos de enfermagem são essenciais para a continuação da
assistência, e formam o elo entre a identificação das necessidades do paciente, o
planejamento e a implementação dos cuidados de enfermagem.
Muniz Filha (2007), ao tratar de diagnósticos de enfermagem em
hipertensos com complicações, refere que a utilização de diagnósticos de
enfermagem em pacientes portadores de HAS contribui positivamente na obtenção
de resultados esperados e aumentam o campo de ação do enfermeiro, sem restringi-
lo somente a técnicas e procedimentos.
Desta forma considera-se que diagnósticos de enfermagem são parte
integrante do cuidado clínico de enfermagem, devendo ser aceitos e praticado pelos
enfermeiros nos diversos espaços de atuação da enfermagem. São capazes de unir
à fundamentação científica ao cuidado humanizado e individualizado.
A inserção do diagnóstico de enfermagem no processo de trabalho
favorece aos enfermeiros a usar uma linguagem comum, que possibilita o
entendimento entre os pares sobre os fenômenos clínicos de interesse, norteando
as decisões sobre o fazer da enfermagem. A contextualização do diagnóstico de
enfermagem no PE pode ter efeitos positivos na definição dos fenômenos, na
proposição de cuidados de enfermagem e avaliação dos resultados obtidos
(FONTES; CRUZ, 2008).
A atuação do enfermeiro no contexto do cuidado clínico aos pacientes
hipertensos envolve diversos aspectos do cuidado de enfermagem. Citam-se
cuidados prestados pela enfermagem a estes pacientes: detecção precoce da
doença, realização periódica da medida da PA, atuação em campanhas no
rastreamento de prováveis hipertensos; promoção da saúde por meio de ações
educativas visando a adoção de estilos de vida saudáveis e controle de fatores de
risco para DCV; cuidado direto por meio de consulta de enfermagem que favoreça o
desenvolvimento de vínculo entre o profissional e a pessoa hipertensa, e educação
em saúde que inclui desenvolver e estimular transformações no modo de viver
(PIERIN; GUSMÃO; MION JR ,2009).
Segundo Smeltzer e Bare (2009) o objetivo do cuidado de enfermagem
para pacientes hipertensos focaliza principalmente a diminuição e o controle da PA.
40
Para alcançar estas metas a enfermeira deve apoiar e orientar o paciente a aderir ao
regime de tratamento, implementar alterações necessárias no estilo de vida, bem
como monitorar a evolução da doença e identificar complicações ou problemas na
terapia.
No cuidado de hipertensos na ESF, o enfermeiro atua como educador em
saúde no trabalho com grupos de pessoas hipertensas, seus familiares e
comunidade, além de desenvolver a consulta de enfermagem (FELIPE; ABREU;
MOREIRA, 2008).
Se os cuidados sugeridos em nível de Atenção Primária de Saúde não
forem seguidos de modo adequado, em algum momento da vida da pessoa
hipertensa surgirão complicações. Após a instalação das complicações
cardiovasculares da HAS os cuidados de enfermagem estarão voltados para a
recuperação do processo patológico mediante tratamento e para o autocuidado do
paciente. Estas ações são realizadas inicialmente em nível terciário, em instituições
hospitalares.
As competências do enfermeiro no cuidado da pessoa com doença
cardiovascular, abrangem ações de proteção e recuperação da saúde, por meio de
intervenções terapêuticas relacionadas ao tratamento medicamentoso,
procedimentos técnicos de enfermagem, orientação para a realização de exames
especializados, adaptação do paciente e família à condição de hipertensão e suas
complicações, além de ações educativas e de apoio emocional.
O cuidado é oferecido aos pacientes crônicos cardíacos mediante ações,
emoções e sensibilidade que o ajudam a vivenciar o processo de adoecimento.
Cuidar destes pacientes na dimensão técnica envolve a atenção aos sinais,
sintomas e complicações do adoecimento, bem como a terapêutica empregada. O
cuidado humanizado torna-se indispensável a estes pacientes, o enfermeiro precisa
transcender o cuidado propriamente dito e compreender quem é esse paciente. A
implementação das ações do cuidado no dia-a-dia, implicam em perceber o paciente
como um ser, respeitar seus valores, crenças, sentimentos, emoções e não apenas
considerar o aspecto biológico (BALDUÍNO; MANTOVANI; LACERDA, 2009).
Entende-se que os diagnósticos de enfermagem antecedem às ações de
cuidado, sendo necessário a sua determinação para efetivar o processo de
enfermagem. A partir das manifestações clínicas e problemas identificados descritos
41
como diagnósticos de enfermagem, infere-se os resultados possíveis e as
intervenções de enfermagem para a continuidade ao tratamento (HERDMAN,2010).
Ressalta-se que as doenças cardiovasculares carecem de intervenções
precoces e efetivas por parte do enfermeiro. Estas doenças associadas a HAS
dificultam ainda mais a qualidade de vida das pessoas acometidas. Desta forma os
enfermeiros devem estar fundamentados cientifica e tecnicamente para o cuidado
clínico desta parcela da população. Para tanto diagnósticos de enfermagem formam
a base para a consolidação do processo de enfermagem e fortalecem a sua prática.
42
4 METODOLOGIA
4.1 Natureza de Estudo
Pesquisa de natureza descritiva, do tipo transversal. A escolha da
estratégia descritiva se deve ao fato do estudo descrever características de uma
determinada população, em consonância com a obtenção de informações e dados
acerca do problema, para uma visão mais aprofundada e maior conhecimento do
tema em questão, sem a pretensão de interferir na realidade encontrada.
A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos e
fenômenos sem que haja manipulação do pesquisador, buscando entre outros,
descobrir a frequência com que uma variável ocorre (BARBOSA, 2000). Entre
outras, tem por finalidade a descrição das características de uma população ou a
identificação de possíveis relações entre variáveis (GIL, 2010).
Empregou-se o método transversal por se tratar de um estudo com
pacientes em um determinado momento do processo de adoecimento, não havendo
referências ao processo saúde-doença como um todo, nem acompanhamento da
evolução da doença. O estudo transversal tem caráter instantâneo, a produção do
dado é realizada em um único momento no processo de observação
(ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).
4.2 Local da Pesquisa
O estudo foi realizado em um hospital especializado em doenças
cardiopulmonares, da rede pública de saúde de Fortaleza- CE, sendo hospital de
referência em Cardiologia no Estado do Ceará, sob a administração da Secretaria
Estadual de Saúde do Ceará (SESA-CE).
A instituição é destinada para tratamento de pacientes com doenças
torácicas, respiratórias ou cardíacas. Dispõe de 379 leitos, distribuídos em duas
unidades de internação pneumológica, uma de internação pediátrica, quatro
unidades de internação cardiológica, sete unidades de terapia intensiva, uma
unidade de parada cardiorrespiratória, uma emergência para adultos, um setor de
43
hemodinâmica, um centro cirúrgico e ambulatórios de consulta médica e de
enfermagem. A pesquisa foi realizada nas quatro unidades de internação
cardiológica.
O hospital oferece ainda serviços diversos de diagnósticos e de exames
incluindo exames radiológicos, tomografia computadorizada, implante de
marcapasso, cateterismo cardíaco, broncoscopia, atendimento odontológico. Além
disso realiza transplantes de órgãos, sendo reconhecido nacionalmente por este
serviço.
No período de um ano o hospital realiza em média de 1.180 cirurgias
cardíacas e abrange a estimativa de 8.170 internamentos em unidades de clínica
médica.
Na instituição o processo de enfermagem é realizado pelos enfermeiros.
Os diagnósticos de enfermagem são determinados a partir de um instrumento
próprio da enfermagem, padronizado para toda instituição, no qual existem 11
diagnósticos formulados, algumas intervenções de enfermagem e resultados
esperados. Entretanto considera-se que este instrumento utilizado limita a
determinação dos diagnósticos de enfermagem e não contempla as reais
necessidades de cuidados dos pacientes com DCV, portanto limita a assistência de
enfermagem.
Desta forma, acredita-se na necessidade elaborar-se um novo
instrumento mais direcionado e atualizado, em que o enfermeiro possa estabelecer
os diagnósticos, intervenções e resultados próprios de cada paciente.
4.3 População e amostra
A população foi constituída por pacientes hipertensos com diagnóstico
das doenças cardiovasculares infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca ou
com doença arterial coronariana.
Após acesso aos livros de registros de pacientes atendidos na instituição,
foi então realizado o somatório do número de pacientes com hipertensão e as
44
doenças cardiovasculares IAM, IC e DAC. Foi encontrado um total de 1390
pacientes, atendidos no período de três meses consecutivos, durante o ano de 2011.
No período de coleta dos dados, equivalente aos meses de setembro a
novembro de 2012 (três meses), estimou-se, portanto que seriam admitidos
aproximadamente 1.390 pacientes hipertensos com as doenças cardiovasculares
IAM, IC e DAC.
Para o cálculo do tamanho da amostra estimou-se uma prevalência P de
80%, equivalente à prevalência de hipertensão em pacientes internados na
instituição cenário do estudo, com doença cardiovascular. Esta prevalência foi
encontrada a partir do levantamento de registros em prontuários, em uma das
unidades de internação de cardiologia, quando da realização nesta instituição do
estudo intitulado ―Prática Clínica de Enfermagem: Fundamentação Teórica e
Classificações para as Práticas Profissionais‖.
Fixou-se o nível de significância de 5% ( = 0,05) e um erro amostral
relativo de 7,3% (erro amostral absoluto = 9,1%). Esses valores aplicados na fórmula
abaixo, indicada para populações finitas (N =1390 pacientes), proporcionou uma
amostra de tamanho ―n‖ igual 105 pacientes.
t25% x P x Q x N
n =
e2(N-1) + t25% x P x Q
Onde: n= tamanho da amostra, N= tamanho da população, t= valor
tabelado da distribuição de t de Student ao nível de significância de 5%, e= erro
amostral absoluto, Q = porcentagem complementar (100-p), P = prevalência da
doença.
Os critérios de inclusão foram: ter diagnóstico de hipertensão arterial
registrado no prontuário, ser maior de 18 anos, está consciente e capaz de
verbalizar necessidades e ter diagnóstico médico de IAM, IC ou DAC.
Os critérios de exclusão foram: pacientes que apresentaram condições
clínicas instáveis, ou seja, pacientes graves, que não tinham condições de verbalizar
ou de serem examinados fisicamente.
45
4.4 Procedimentos e Instrumentos de Coleta de dados
A coleta de dados foi efetuada por meio de um formulário constituído por
questões abertas, fechadas e mistas, envolvendo as características
sociodemográficas e clínico-epidemiológicas dos pacientes, assim como relativas ao
histórico do paciente preenchido por meio de entrevista e ao exame físico realizado
pela pesquisadora. O formulário foi elaborado com base na Taxonomia II da
NANDA-I nos seus 13 domínios e nos roteiros e formulários utilizados por Paiva
(2007) e Muniz Filha (2007).
Foram inicialmente coletados dados nos prontuários a fim de selecionar
os pacientes com diagnóstico de hipertensão e diagnóstico de uma das doenças
cardíacas citadas, para obter informações acerca de exames como cateterismo
cardíaco, procedimentos médicos realizados e outras informações pertinentes ao
estado clínico do paciente.
Os diagnósticos de enfermagem foram elaborados pela pesquisadora
após a obtenção dos dados relacionados às respostas humanas apresentadas pelos
pacientes, as quais foram registradas no instrumento de coleta de dados.
Para estabelecer um diagnóstico de enfermagem, exige-se a utilização do
raciocínio diagnóstico. O raciocínio diagnóstico é um processo que inclui inferências
a partir da análise de dados obtidos dos pacientes, família ou comunidade.
Para a elaboração dos diagnósticos de enfermagem utilizou-se as etapas
do raciocínio diagnóstico proposto por Lunney (2011), que envolve os seguintes
elementos críticos: Reconhecimento da existência de indicadores ou indícios,
geração de possíveis diagnósticos, comparação de indícios para possíveis
diagnósticos, coleta de dados focalizada, validação de diagnósticos. Estes
elementos estão descritos a seguir conforme a autora:
1-Reconhecimento de indícios: O enfermeiro reconhece indícios, pistas ou
evidências com fins diagnósticos, com base no levantamento de dados e exame
físico. Indícios são unidades de dados, como por exemplo, a frequência respiratória.
2-Geração de possíveis diagnósticos: Identificação de possíveis
diagnósticos e/ou outros indícios a serem investigados. A decisão do diagnóstico
somente ocorre quando da obtenção de evidências ou dados de apoio suficientes.
46
3- Comparação de indícios para possíveis diagnósticos: Os indícios são
analisados em relação aos possíveis diagnósticos, por meio de um processo de
avaliação, que envolve a combinação de indícios existentes e esperados para os
diagnósticos. Durante a avaliação dos indícios e dos diagnósticos, o enfermeiro
pode decidir pela existência ou não de evidências suficientes para o diagnóstico.
4- Coleta de dados focalizada: Para confirmar ou descartar diagnósticos
considerados, indícios adicionais podem ser coletados de forma focalizada. A coleta
focalizada termina quando o enfermeiro sintetiza os dados disponíveis e escolhe um
dos diagnósticos, descarta ou revisa os diagnósticos em análise para incorporar
outros. Se um ou mais diagnósticos forem considerados, a etapa seguinte é a
validação.
5- Validação dos diagnósticos: A validação ou confirmação do diagnóstico
pode ser realizada com o enfermeiro, juntamente ao paciente ou a outro indivíduo
como um profissional de saúde. Ambos devem concordar com o diagnóstico
encontrado. Validar os diagnósticos com outros indivíduos ajuda a garantir a
acurácia diagnóstica.
Nesta pesquisa, após a pesquisadora estabelecer os diagnósticos gerais,
foram identificados os diagnósticos prioritários conforme a NANDA-I: A
pesquisadora após levantamento dos dados a partir do formulário de pesquisa,
estabeleceu inicialmente 172 diagnósticos possíveis. Os índicios e pistas
diagnósticas encontrados para tais diagnósticos foram comparados e confirmados
ou não com os encontrados na NANDA Internacional 2012-2014, sendo descartados
diagnósticos que não apresentaram evidências suficientes para sua formulação.
Após estas etapas, foi realizada a validação ou confirmação dos diagnósticos pela
pesquisadora juntamente com sua orientadora, com base nas evidências,
características definidoras e fatores relacionados encontrados. Nesta etapa foram
selecionados somente diagnósticos que ambas, pesquisadora e orientadora,
concordaram. Após a realização de todas as etapas para a determinação dos
diagnósticos conforme Lunney (2011), foram identificados 46 diagnósticos definitivos
na amostra.
47
4.5 Organização e Análise de dados
Os dados foram consolidados em uma base de dados, por meio de
planilhas do programa Excel. Nestas foram registrados dados sociodemográficos,
clínico-epidemiológicos e as respostas humanas. Posteriormente os dados foram
processados estatisticamente no programa SPSS (Statistical Package of Social of
Science) versão 17.0.
Os diagnósticos de enfermagem estão apresentados por meio de quadros
para melhor compreensão. Já os dados sociodemográficos e clínico-epidemiológicos
foram dispostos em tabelas com frequência simples e percentual. Estão também em
tabelas os dados de associação entre variáveis.
Foram calculadas as medidas estatísticas descritivas médias e desvio
padrão das variáveis: idade, renda, tempo de diagnóstico de HAS e índice de massa
corporal.
Analisou-se a associação entre diagnóstico de enfermagem e as
variáveis sociodemográficas idade e sexo, e as variáveis clínicas tempo de HAS,
IAM, IC e DAC, por meio dos testes não paramétricos de 2 e do teste de razão de
verossimilhança. Para todas as análises consideraram-se como estatisticamente
significantes aquelas com p < 0,05.
A discussão dos resultados fundamentou-se em literatura revisada,
sobre doença cardiovascular e diagnósticos de enfermagem. Dados acerca da HAS
foram analisados conforme diretrizes nacionais, normas do Ministério da Saúde e na
literatura científica atualizada e disponíveis em bases de dados nacionais.
4.6 Aspectos éticos e legais da pesquisa
O trabalho buscou atender a todos os preceitos éticos contidos na
Resolução196/96, que trata das pesquisas que envolvem seres humanos.
A pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Estadual do Ceará (UECE) aprovado segundo o Parecer Nº 65732 e
em seguida ao CEP da instituição hospitalar aprovado sob o Parecer Nº77609,
conforme determina a Resolução 196/96 Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL,1996).
48
A coleta de dados iniciou-se após parecer favorável dos dois Comitês.
Ressalta-se a obtenção inicial, junto a Chefia do Serviço de Cardiologia da
instituição, de autorização para realização da coleta de dados para a pesquisa, nas
unidades de cardiologia. A autorização foi encaminhada juntamente com o projeto
de pesquisa ao CEP da instituição e da UECE.
Para a realização da coleta de dados, pacientes que atendiam aos
critérios de inclusão na amostra, foram abordados e convidados a participar. Foi
lhes explicado o propósito da pesquisa e sua participação no estudo. Na ocasião,
entregou-se aos mesmos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
(Apêndice B), o qual os pacientes assinaram após aceitar participar do estudo.
O TCLE esclarece a intenção do estudo, garante o sigilo de identidade
dos participantes na divulgação das informações obtidas, e foi preenchido em duas
vias, ficando uma para a pesquisadora e outra para o pesquisado.
49
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 105 pacientes neste estudo. Adiante são apresentadas
as características sociodemográficas e clínico-epidemiológicas da amostra, os
diagnósticos de enfermagem encontrados e a associação entre diagnósticos e
variáveis.
Tabela1: Distribuição dos pacientes quanto a características sociodemográficas. Fortaleza- CE, 2012 Variáveis F % Média ± DP
Sexo Masculino Feminino Total
61 44
105
58,1 41,9 100
Idade (anos) 29-59 60-69 70-90 Total
34 40 31
105
32,4 38,1 29,5 100
63,59±12,2
Estado civil
Solteiro Casado/ união estável Sep/ viúvo Total
10 81 13
105
9,5
77,1 12,4 100
Escolaridade Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio completo Ensino superior completo Total
31 48 16 8 2
105
29,5 45,7 15,2 7,6 1,9 100
Ocupação
Trabalha Aposentado/Pensionista Desempregado Total
29 59 17
105
27,6 56,2 16,2 100
Renda familiar(sm) 0---/1 1---/2 2---/8 Total
37 46 21
105
35,2 43,8 20,0 100
1,84±1,22
Procedência Capital Interior do estado Outro estado Total
51 52 2
105
48,6 49,5 1,9 100
Salário mínimo = R$ 622,00
50
Nessa pesquisa encontrou-se a predominância do sexo masculino, sendo
61(58,1%) homens e 44(41,9%) mulheres, apontando a prevalência da HAS nos
homens. No entanto, em nosso município, Fortaleza-CE, o VIGITEL 2011 mostrou
que a prevalência da HAS em mulheres tem se mostrado mais elevada do que em
homens (BRASIL, 2012). Contudo, a prevalência global da HAS entre homens e
mulheres é semelhante, sendo mais elevada nos homens até os 50 anos e
invertendo-se a partir desta idade (DIRETRIZES, 2010).
No que se refere à DCV, em geral, estudos têm demonstrado ser mais
comum entre homens (LEMOS et al., 2010; ROLANDE et al., 2011; BARRETO et al.,
2008). Pesquisa realizada com 130 pacientes com diagnóstico de IC secundária à
HAS demonstrou a predominância do sexo masculino entre os pesquisados, com
58% (74) homens (ROLANDE et al., 2011). Na mesma linha, estudo com pacientes
internados em unidade coronariana com complicações da HAS, encontrou a maioria
de pacientes do sexo masculino (MUNIZ FILHA, 2007). Outro estudo, conduzido em
hospital universitário com 252 pacientes com IC, reforçou a prevalência do sexo
masculino, correspondendo a 60%(151) da amostra (CASTRO et al., 2010). Autores
referem que mulheres têm maior tolerância à HAS do que os homens e apresentam
taxas de mortalidade coronariana em geral mais baixas (KAPLAN; VICTOR, 2011).
A idade dos 105 participantes variou de 29 a 90 anos com média
(63,5+12,2) anos, havendo maior número de pacientes idosos, correspondendo a 71
(67,6%) participantes. A idade demonstra ser fator de risco relevante para a HAS. À
medida que aumenta a idade, eleva-se a prevalência de hipertensão, estando
presente principalmente na faixa etária de 60 anos ou mais (DIRETRIZES, 2010).
Este fato pode relacionar-se aos níveis tensionais que tendem a se elevar em
pessoas com idades mais avançadas, devido ao desenvolvimento de
arteriosclerose, que diminui a complacência das artérias, ocasionando
principalmente a hipertensão arterial sistólica (PINOTTI; MANTOVANI;
GIACOMOZZI, 2008).
O impacto do envelhecimento associado a HAS foi observado
precisamente em estudo que demonstrou que 90% de pacientes normotensos na
idade de 55 ou 65 anos, acompanhados por 20 anos, desenvolveram hipertensão
na idade de 75 ou 85 anos (KAPLAN;VICTOR, 2011).
Estudo realizado com 263 pacientes internados pela doença
cardiovascular, IC, identificou a maior concentração de idosos entre os pesquisados
51
e a média de 59,9 anos entre os pacientes. Neste mesmo estudo, a etiologia mais
frequente da IC foi a cardiopatia isquêmica, seguida da hipertensiva, que contribuiu
com 27% das internações (BARRETO et al.2008).
Igualmente, Castro et al. (2010) encontraram entre 252 pacientes com
diagnóstico de IC, a média de idade de 63 anos. A principal etiologia da IC neste
caso foi hipertensiva, seguida das doenças isquêmicas.
Desta forma considera-se que, no presente estudo, a idade avançada foi
fator importante em pacientes com HAS e DCV, contribuidor na gênese das
doenças.
Quanto ao estado civil, observou-se que a grande maioria, 81 (77,1%)
pacientes, era casada. Estudos com pacientes hipertensos também encontraram
essa característica. A presença do companheiro nesta pesquisa revelou ser um fator
positivo, relatado pelos pacientes como de apoio na internação hospitalar e ao longo
do tratamento das doenças antes da internação. Muitos pacientes afirmaram a
participação do cônjuge no tratamento farmacológico, no que diz respeito aos
horários e controle da medicação.
Com relação à ocupação, mais da metade da amostra era aposentado
ou pensionista correspondendo a 59 (56,2%) pacientes, o que pode ter relação com
a idade, já que a maioria também era de idosos.
Percebeu-se neste estudo a baixa escolaridade dos participantes, 31(
29,5%) pacientes eram analfabetos e 48 (45,7%) não concluíram o ensino
fundamental. Sendo pouco instruídos, os pacientes compreendem menos as
doenças e sua condição de saúde, o que pode influenciar no agravamento destas e
suas complicações.
Estudo de base populacional realizado com 1.717 indivíduos, demonstrou
que pessoas com nível de escolaridade mais baixo apresentaram uma maior
prevalência de HAS. O risco de HAS foi 2,8 vezes maior para aqueles com nível de
instrução mais baixo (CIPULLO et al., 2010). Já Costa et al. (2007) observaram que
indivíduos com menos de quatro anos de estudo tinham quase duas vezes mais
probabilidade de apresentar HAS.
Autores encontraram entre 385 portadores de HAS, 86,8% com no
máximo oito anos de estudo (GIROTTO at al., 2009) e entre 152 portadores de
síndromes coronarianas, 94(61,8%) possuíam menos de 5 anos de estudo(LEMOS
et al., 2010)
52
O baixo nível de instrução escolar pode dificultar o entendimento dos
indivíduos acerca das orientações recebidas por profissionais de saúde, sobretudo
de medidas de tratamento correto, o que contribui para a não adesão ao tratamento
e consequentemente a maior prevalência das complicações hipertensivas (PINOTTI;
MANTOVANI; GIACOMOZZI, 2008).
Ressalta-se que muitos pacientes neste estudo, preocupavam-se em
justificar sua baixa escolaridade pela dificuldade de acesso à escola e à educação
em tempos mais antigos, e pela necessidade de trabalhar muito cedo para ajudar
financeiramente a família, configurando o abandono dos estudos.
A influência do nível socioeconômico na ocorrência da HAS é complexa e
deve ser estabelecida. Com relação à renda dos indivíduos, a amostra foi
caracterizada por pacientes de baixa renda. Encontrou-se que mais da metade da
amostra 83 (79,0%) dos pacientes, possuía renda familiar inferior a dois salários
mínimos. A renda pode influenciar diretamente no tratamento de pacientes
cardiopatas, que demandam parte de seus salários com medicações para controle
cardiovascular, que nem sempre são distribuídas em programas do governo. A baixa
renda, muitas vezes, implica na carência de medicações e de condição para
alimentação saudável e atividade física, recomendadas no tratamento.
A renda escassa também poderá dificultar a aquisição de hábitos
adequados à nova condição de vida (PINOTTI; MANTOVANI; GIACOMOZZI, 2008)
necessários na presença de DCV. Adiciona-se a isso que taxas mais altas de DCV
foram mostradas em grupos com nível socioeconômico mais baixo. As diferenças
socioeconômicas têm papel importante nas condições de saúde por influenciarem
fatores como acesso ao sistema de saúde, grau de informação, entendimento da
condição de saúde e adesão ao tratamento (CIPULLO et al., 2010).
Diversos estudos identificaram a relação entre baixa renda e prevalência
da HAS, alertando-nos para o risco na população economicamente mais pobre.
Conforme Santos e Lima (2008), a prevalência da HAS é inversamente proporcional
à escolaridade e a renda, fato derivado do menor nível de cuidados com a saúde
presente nesses indivíduos.
A condição socioeconômica geralmente alinha ganho salarial e nível
educacional, sendo ambos influentes nos hábitos de vida, sociais, na saúde,
compreensão e aceitação da doença (MUNIZ FILHA, 2007). Porquanto, melhores
53
condições socioeconômicas podem facilitar a adesão e tratamento adequado das
doenças do aparelho circulatório.
Dentre a amostra observou-se a distribuição homogênea de pacientes
advindos do interior do Estado e da capital. O correspondente a 48,6% (51) da
amostra foi procedente da capital, Fortaleza. Do interior do Estado foram admitidos
49,5% (52) da amostra. Desta forma considerou-se que a procedência do paciente
não exerceu importante influência nas DCV, por serem equivalentes, principalmente
por ter como característica socioeconômica a baixa renda, fato que parece não
haver diferença entre morar na periferia da capital e os municípios do interior do
Estado. Pacientes da região metropolitana foram considerados como procedentes
da capital.
Convém ressaltar a grande demanda de pacientes do interior do estado,
equiparando-se a da capital. Este fato denota que a atenção terciária no serviço de
saúde dos municípios interioranos, em sua maioria, não disponibilizam hospitais em
nível terciário de atenção à saúde com suporte para realização de tratamento clínico
ou cirúrgico na área de Cardiologia e em consequência, existe excesso de demanda
nas instituições hospitalares da capital.
Estudo buscando descrever o padrão de morbidade por doenças do
aparelho cardiovascular no Ceará identificou que 58% dos internamentos por
doenças cardiovasculares em hospitais da rede pública de saúde eram oriundos do
interior do Estado. Isso representa uma fuga ao conceito de que a morbidade por
DCV está associada principalmente ao estilo de vida urbano, e não ao estilo de vida
rural, onde se acredita viver de maneira mais saudável e supostamente livre de
fatores de risco cardiovascular, como hábitos sociais perniciosos, sedentarismo,
alimentação inadequada e estresse psicológico (FERNANDES; CARNEIRO;
CORREIA, 2007).
As características sócio-demográficas devem ser estudas e observadas
em pessoas hipertensas e em portadores de DCV, pois possibilitam conhecer a
clientela e servem de base para a realização de ações estratégicas de controle
destas doenças.
54
Tabela 2: Distribuição dos pacientes hipertensos com DCV quanto às características clínico-epidemiológicas. Fortaleza- CE, 2012. Variável F %
Tempo de diagnóstico de HAS(anos) < 1 1-5 6-10 >10
19 22 25 39
18,1 21
23,8
37,1
Média±DP 2,8±1,13
História familiar de HAS
Sim Não
77 28
73,3 26,7
Doença Cardiovascular Presente* IAM IC DAC
61 37 25
58
35,2 23,8
História Familiar de DCV Sim Não
71 34
67,6 32,4
Internamentos Anteriores por DCV
Sim Não
49 56
46,7 53,3
Cirurgia Cardíaca Sim Não
32 73
30,5 69,5
Cateterismo Sim Não
78 27
74,3 25,7
Tabagismo Sim Não Deixou de fumar
35 51 19
33,3 48,6 18,1
Etilismo Sim Não Deixou de beber
27 69 9
25,7 65,7 8,6
Índice de massa corpórea- IMC <25 >25
36 69
34,3 65,7
Média±DP 27,25±6,1
*Alguns pacientes apresentaram mais de um diagnóstico de DCV
É comum observar na prática clínica que decorre um longo período de
tempo até que o portador de hipertensão venha apresentar sinais, sintomas e
complicações a ela associadas. Sua evolução é insidiosa e progride de forma
silenciosa na maioria dos casos (MUNIZ FILHA, 2007). Observou-se que 25 (23,8%)
pacientes possuía diagnóstico de HAS dentro do período de 6 a 10 anos, enquanto
39 (37,1%) foram diagnosticados com HAS há mais de 10 anos, ou seja, mais da
metade da amostra, 64 pacientes, tinha o conhecimento do diagnóstico da doença
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há mais de 6 anos. Supõe-se desta forma que houve entre os pacientes pouca ou
nenhuma adesão ao regime terapêutico da HAS, que favoreceu ao surgimento da
morbidade cardiovascular.
Somente conhecer o diagnóstico da HAS não significa muito, é preciso
que a pessoa compreenda que esse fato, requer mudanças no estilo de vida e
mudanças comportamentais no que se refere à saúde, entretanto, para muitos
pacientes receber o diagnóstico de hipertensão nem sempre significa iniciar o
tratamento da doença, seja farmacológico ou não. Além disso, embora o paciente se
reconheça como hipertenso, a característica assintomática da doença favorece a
não adesão ao tratamento.
Com relação a história familiar de HAS como predisponente a doença,
esta tem sido relatada em vários estudos que abrangem hipertensão, sendo fator de
risco constitucional ou não modificável para esta doença (SANTOS, 2008;
FUCHS,2006). Entre os pesquisados, 77(73,3%) tinham antecedentes de
hipertensão familiar, bem como 71(67,6%) pacientes possuíam história familiar de
DCV.
Pesquisas constataram 30,9% de 385 pacientes hipertensos com historia
familiar de HAS (GIROTTO et al., 2009), assim como identificaram que 60% dos
indivíduos ora pesquisados possuíam história familiar de doença hipertensiva
(COSTA et al.,2007). Desta forma reforçam que a história familiar positiva para no
mínimo um dos progenitores está associada com o aumento da prevalência da HAS.
Estudo relacionado à DCV, observou que 56,6% dos pacientes com
diagnóstico de síndrome coronariana aguda, possuíam antecedentes familiares da
doença (LEMOS et al.,2010). Outro estudo revelou o fator de risco antecedente
familiares de doença coronariana presente em 57,3% dos indivíduos pesquisados
(GUS; FISCHMANN; MEDINA, 2002).
Acrescenta-se que pacientes com parentes de primeiro grau portadores
de cardiopatia coronariana têm maiores riscos de desenvolver DAC, do que a
população em geral (GUS; FISCHMANN; MEDINA, 2002).
Destaca-se, portanto, a relevância da história familiar de DCV como fator
de risco não modificável para cardiopatia. A identificação deste fator é de grande
importância para intensificar a observação de pacientes quanto ao risco
cardiovascular (GIROTTO et al., 2009), e orientar mais especificamente o paciente
quanto ao alto risco de surgimento da HAS e doenças cardiovasculares associadas.
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Quanto a DCV presente, entre os sujeitos da pesquisa, encontraram-se
61 indivíduos com diagnóstico de IAM; 37 de IC; e 25 de DAC. Atenta-se para o fato
de que os participantes tiveram até dois diagnósticos presentes de DCV, além da
HAS, portanto muitos tinham mais de uma das doenças referidas registradas no
prontuário. Desta forma, o IAM foi a DCV mais prevalente.
Conforme Costa et al. (2007) a HAS é responsável pelo desenvolvimento
de doenças cardiovasculares como cardiopatia isquêmica e insuficiência cardíaca.
As complicações da HAS levam o pacientes a requerer cuidados médicos de alto
custo, e no Brasil, as doenças cardiocirculatórias são uma das principais causas de
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. VIGITEL Brasil
2011: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito
telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
CARPENITO,L.J. Diagnósticos de enfermagem: aplicação à prática clínica. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
CASTRO,R.A. et al. Adesão ao tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca
em um hospital universitário. Rev. Gaúcha Enferm. Porto Alegre, v.31, n.2, p.225-
31, 2010.
CIPULLO, J.P et al. Prevalência e fatores de risco para hipertensão em uma população urbana brasileira. Arq. Bras. Cardiol. [On line]. v.,? n. , 2010. Disponível em: < www.arquivosonline.com.br/2010/9404/pdf/9404014.pdf > Acesso em 6 ago.2012. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM- COFEN. Resolução Nº358/2009.
Dispõe sobre a Sistematização da assistência de Enfermagem e a implementação
30. Conhecimento sobre seu estado de saúde e doença atual (DCV):____________________________________________________________________________________________________________________________________
31. Percepção dos sinais e sintomas de alteração da HAS: 1.sim ( ) 2.não ( )
32. A família participa do tratamento da HAS? 1.sim( ) 2.não( ) Como: _________________________________________________________________________________________________________________________________________
33.Uso de medicações antes do internamento. Quais?___________________________________________
34. Expectativas quanto ao tratamento: 1.cura ( ) 2.controle( ) 3. Não sabe responder ( )
35. Problemas relacionados ao uso de medicação:___________________________
36. Seguia as recomendações de profissionais de saúde? 1.sim( ) 2.não( ) Quais?_______________________________________________________________ Se não, por que?_______________________________________________________
38. Número de refeições por dia antes do internamento:__________________
39. Dieta anterior ao tratamento: 1( )hipossódica 2( )hiperssódica 3( )hipolipídica 4( ) hiperlipídica 5( ) hiperglicêmica 6( )hipoglicêmica 7( ) Dieta com sal
40. Dificuldade para mastigar alimentos: 1( )sim 2( )não. Esp________________
41.Dificuldade para engolir alimentos 1( )sim 2( ) não. Esp________________
60. Deambula: 1( )sim 2( ) não 3( ) com ajuda Esp.___________
61 Mobilidade no leito: 1sim ( ) 2 não( )
62. Restrição de movimento de membros: 1( ) sim 2( )não Qual:_____________
63 Realizava atividade física antes do internamento? 1( )sim 2( )não. O que fazia? ________________________________Se sim, quantas vezes por semana:________
Durante quanto tempo_____________. Se não, por que? _____________________________________________________________________
64. Sedentarismo(anterior à internação): 1( ) sim 2( )não
65.Disposição atual para atividades diárias: 1( ) sim 2( )não
86 Visão do paciente sobre si mesmo:______________________________________ _____________________________________________________________________ 87. Percebe modificações relacionadas a doença?____________________________ _____________________________________________________________________ 88.Autoestima prejudicada:1( )sim 2( )não. Especificar________________________
89. Satisfeito com seu estado de saúde atual: 1( )sim 2( )não. Esp.______________ _____________________________________________________________________ 90 .Visão do paciente sobre seu futuro:______________________________________ _____________________________________________________________________ 7) DOMÍNIO 7: PAPÉIS E RELACIONAMENTOS ( papéis do cuidador, relações familiares, desempenho de papel)