Deuses Iorubs na frica e no Novo Mundo lV(Traduo de Maria
Aparecida da Nbrega)
Iniciao no Novo Mundo
No novo mundo, como na frica, todas as pessoas que procuram a
proteo dos orixs no entram, obrigatoriamente, em transe de
possesso, da mesma maneira que nem todos os catlicos ou
protestantes tornam-se padres ou pastores. O transe de possesso uma
forma de comunho entre o crente e o seu deus, no sendo dada a todo
mundo a faculdade de experimenta-la. Os que so chamados a tornar-se
filhos ou Filhas de santo devem passar por um perodo denominado
impropriamente iniciao . Dizemos impropriamente, pois no lhes so
revelados segredos. Fazemlhes reencontrar um certo comportamento,
aquele atribudo a seu deus. A iniciao no se faz no plano do
conhecimento intelectual, consciente e aprendido, mas em nvel mais
escondido, que vem da hereditariedade adormecida, do inconsciente,
do informulado.
Todos os seres humanos possuem, em potencial, numerosas
tendncias e faculdades que ficam em estado de viglia. As
experincias vividas por um indivduo, o exemplo dos mais velhos, os
princpios inculcados pela educao, a censura do meio social, fazem
com que apenas algumas dessas tendncias e faculdades possam
expandir-se, resultando da a criao de uma personalidade aparente,
diferente daquela que ele poderia ter tido, se o acaso o tivesse
colocado num meio onde os valores morais e os princpios admitidos
tivessem sido diferentes.
A iniciao consiste em suscitar, ou melhor, em ressuscitar no
novio, em certas circunstncias, aspectos dessa personalidade
escondida; aqueles correspondentes personalidade do ancestral
divinizado, presente nele em estado latente (mesmo sendo s em razo
dos genes herdados), inibidos e alienados pelas circunstncias da
existncia levada por ele at essa data. A menos que se trate de um
arqutipo de comportamento, reprimido at essa data. A menos que se
trate de um arqutipo de comportamento, reprimido at ento, que possa
se exprimir num transe de libertao.
Durante o perodo de iniciao mergulhado num estado de
entorpecimento e de dcil sugestibilidade, causado, em parte, por
ablues e beberagens de infuses preparadas com certas folhas. Sua
memria parece momentaneamente lavada das lembranas de sua vida
anterior. Nesse estado de vacuidade e de disponibilidade, a
identidade e o comportamento do orix podem se instalar livremente,
sem obstculos, e tornar-se-lhe familiar.
Mais tarde, como veremos um pouco adiante, depois de realizada a
iniciao, a pessoa reencontrar a sua antiga personalidade e
esquecer, no estado normal, tudo o que se passou durante o perodo
de iniciao, continuando, porm, sensibilizada no seu inconsciente
aos ritmos dos atabaques particulares a seu orix. Estes agiro como
os estmulos de um reflexo condicionados tendero a fazela cair em
transe, sucumbindo ao apelo de seu deus. Em outros termos, tais
apelos incitam-na a exteriorizar um arqutipo de comportamento
conforme as suas aspiraes reprimidas.
No primeiro estgio de suas relaes com a seita, o futuro iniciado
chamado de abian. necessrio que passe ainda pela prova de ter
recebido o apelo de um orix e de ter tido o af de cair em transe (
bolar o termo).
CERIMNIAS Cerimnias da frica
As cerimnias celebradas para os orixs so acompanhadas de
oferendas e sacrifcios. Geralmente, o orix manifesta sua aceitao
encarnando-se em um de seus elgn.
Veremos nos captulos seguintes que as entradas em transe durante
as cerimnias tomam caractersticas diferentes de acordo com o orix
festejado. Para Xang, ela se realiza em pocas afastadas uma das
outras e ele s se manifesta num dos seus muitos elgn presentes,
estando, porm todos suscetveis de serem possudos pelo deus. Esse
transe, uma vez iniciado, de longa durao(cinco, nove ou dezessete
dias) e manifesta-se geralmente no momento do sacrifcio de um
carneiro.
O transe de Ogum, Observados na regio de Holi, realiza-se
praticamente a cada quatro dia, isto , a cada semana de ioruba, no
dia que lhe consagrado. O deus se manifesta em seu elgn, sempre o
mesmo, e durante um curto espao de tempo, de vinte minutos uma
hora. O transe provocado pelos ritmos dos tambores, aps as
oferendas e sacrifcios.
Nos captulos seguintes sero dadas a s descries dessas
cerimnias.
Em outras obras, relatamos uma festa para gn Edeyi, em Ilod, na
regio de Holi, Houve transe de muitos orixs, embora as oferendas
tenham sido feitas para um deles. Todos esse deuses possuam seus
elgn respectivos s ao ouvirem as chamadas ritmadas dos tambores,
prpria para cada um deles.
Naquele dia, viu-se ali uma srie de elgn fazer evolues diante do
templo de gn Edeyi, trazendo objetos simblicos de seus deuses: gn,
deus dos ferreiros e dos guerreiros, trazia dois sinos de ferro e
um faco, sng, o trovo, brandia seu machado de dois gumes; e sua
esposa, Oya, divindade das tempestades, agitava um leque de couro;
Ode, deus dos caadores, trazia um faco e bastes de caa; Oda-rsl,
todo de branco, apoiava-se em um cajado de estanho, metal que lhe
consagrado. Os elgn faziam evolues, danavam, dialogavam e cada um
deles comportavam-se de maneira diferente, de acordo com as
caractersticas de seu orix.
Eles se mantinham em atividade ao som dos ritmos dos tambores,
exatamente como ocorre nas cerimnias para os mesmos orixs no Brasil
ou em Cuba.
Cerimnias no novo Mundo Terreiros de candombl no Brasil
Na Bahia, no incio do sculo, os terreiros dedicados ao culto dos
orixs eram freqentemente instalados longe do centro da cidade. Com
o crescimento da populao e a extenso tomada pelos novos bairros,
eles progressivamente encontravam-se includos na zona urbana.
Esses terreiros so geralmente compostos de uma construo,
denominado barraco, com grande sala para as danas e cerimoniais
pblicas, de uma srie de casas, onde so instalados os pejs,
consagrados aos diversos orixs, e de casas destinadas residncia das
pessoas que fazem parte do candombl.
A responsabilidade do culto repousa sobre o pai ou a me de
santo, correspondentes aos nomes de origem ioruba, babalorix ou
ialorix. So chamados tambm de zelador ou zeladora, termos
equivalentes aos de babalaxou ialax, pai ou me encarregados de
cuidar do ax, do poder do orix.
Os pais ou as mes de santo so assistidos por pais ou mes
pequenos, babou ia keker, e por toda uma srie de ajudantes, com
papeis e atividades diversos e definidos. Assinalamos a dagan, que,
antes das cerimnias publicas, encarrega-se, com a ajuda de iamor,
do padou despacho de Ex,do qual falaremos mais adiante; a iatebex,
que assiste o pai ou a me de santo na direo da seqncia dos cnticos
dos orixs, no decorrer das cerimnias pblicas; a iabass, que
supervisiona a preparao das comidas destinadas aos deuses e aos
seres humanos; as ekedis, que so encarregadas de cuidar dos
iaoslogo que estes entran em transe; o sarepeb, que leva as
mensagens para a sociedade do terreiro. Encontramos anda o alab,
chefe dos tocadores de atabaques.
Certos dignitrios chamados ogs no tm funes religiosas especiais,
mas ajudam materialmente o terreiro e contribuem para protege-lo.
Formam uma sociedade civil de ajuda mtua, colocada sob a invocao de
um santo catlico. Alguns ogs levam o ttulo prestigioso de ob, no
Terreiro Ax Op Afonj, e o ttulo de mangb , no Ax Op Aganj, como
lembrana de acontecimentos que, na frica, deram nascimento ao culto
de Xang.
Existem enfim as ias , mulheres dos orixs, que so os filhos e as
filhas de santo.
Nos dias de cerimnia pblica, chamada de xir dos Orixs a festa, a
distrao dos orixs - , o barraco decorado com guirlandas de papel,
nas cores do deus festejado, o cho cuidadosamente varrido,
salpicado de perfumadas folhas de pitanga, e grandes palmas atadas
com fitas decoram as paredes.
O pai ou a me-de-santo, cercados por seus ajudantes, fica
sentado prximo dos atabaques, que so colocados sobre um pequeno
estrado enquadrado por palmas tranadas. Os ogs so instalados em
cadeira ornamentadas e marcadas com seus nomes, onde s eles tem o
direito de se sentarem; os visitantes importantes sentam em bancos
e cadeiras e o resto do pblico fica dividido em dois grupos, homens
de um lado e mulheres do outro, todos separados da parte central do
barraco, onde danam os filhos e filhas-de-santo. Antigamente, o
piso do barraco devia ser de terra batida, e os ias danavam
descalos a fim de que o contato com a terra e o mundo do alm, onde
residem os orixs, fosse mais direto. Por razes de prestgio, o piso
do barraco atualmente de cimento e, algumas vezes, recoberto com
assoalho de madeira.
No incio da festa, trs atabaques de tamanhos diferentes,
denominados run, rumpi e l, acompanhados por um sino de percusso, o
agog, tocam apelos ritmados s diversas divindades. Esses atabaques
apresentam uma forma cnica e so feitos com uma nica pele, fixada e
esticada por um sistema de cravelhos para os nags e os gges, e por
cunhas de madeira para os tambores ngomas, de origem congolesa e
angolana.
Tais instrumentos foram batizados e, de vez em quando, preciso
manter sua fora (o ax), por meio de oferendas e sacrifcios. Os
atabaques desempenham um duplo papel, essencial nas cerimnias: o de
chamar os orixs no incio do ritual, e quando os transes de possesso
se realizarem, o de transmitir as mensagens dos deuses. Somente o
alab e seus auxiliares, que tiveram uma iniciao, tem o direito de
toc-los. Nos dias de festa, os atabaques so envolvidos por largas
tiras de pano, nas cores do orix invocado. Durante as cerimnias,
eles sadam, com um ritmo especial, a chegada dos membros mais
importantes da seita e estes vm curvar-se e tocar respeitosamente o
cho, em frente da orquestra, antes mesmo de saldar o pai ou
me-de-santo do terreiro.
No caso de um desses atabaques ser derrubado ou cair no cho
durante uma cerimnia, esta interrompida por alguns instantes, em
sinal de contrio.
O uso da bata, utilizando no culto de Xang na frica, perdeu-se
no Brasil, mas foi mantido Cuba. Os ritmos bata so ainda conhecidos
por este nome na Bahia. Acontece o mesmo com o ritmo denominado ibi
, dedicado a Oxal, que na frica batido sobre tambores conhecidos
como gbn. Outros ritmos, como, por exemplo, o ijex , so tocados em
certos terreiros sobre os l, pequenos tambores cilndricos com duas
peles ligadas uma outra, durante os cultos de Oxum, Ogum, Oxal e
Loguned.
Durante os toques de chamada, feitos no incio da cerimnia, os
atabaques so batidos sem o acompanhamento de danas e cantos, o que
contribui para realar, graas a essa ausncia de elementos meldicos,
a pureza de ritmo associada a cada orix. Em lugar de ritmos,
podemos chamlos ideofones ou locues musicais , segundo a definio de
Fernando Ortiz
O elemento meldico das msicas africanas destaca-se, no decorrer
das cerimnias privadas, no momento dos sacrifcios, oferendas e
louvores dirigidos s divindades diante dos pjis . So cantos sem
acompanhamento de tambores, ficando o ritmo ligeiramente
acompanhado por palmas. A melodia rigorosamente submetida as
acentuaes tonais da linguagem ioruba.
Os dois elementos, o ritmo e melodia, encontram-se associados no
decorrer do xir , quando os sons dos atabaques so acompanhados por
cantos.
Antes de comear o xir dos orixs no barraco, faz-se sempre o pad
, palavra que significa encontro em ioruba; um encontro,
principalmente com Exu, o mensageiro dos ouros deuses, para
acalma-lo e dele obter a promessa de no perturbar a boa ordem da
cerimnia que se aproxima.
Nos terreiros de origem ktu, o pad se apresenta de duas
maneiras: pode consistir em alguns cnticos em honra a Exu e em
oferendas de farofa amarela, de cachaa e azeite-de-dend,
depositados fora do barraco ao ter incio o xir .
O pad pode, tambm, tomar uma forma mais elaborada quando houver
um sacrifcio de um animal de quatro patas carneiro, cabra, bode,
tartaruga acompanhado de animais de duas patas galo e pombos -, bem
cedo ao amanhecer. O pad , nesses casos, faz-se a tarde, algumas
horas antes do xir . Trata-se, ento, de uma cerimnia completa em si
mesma e que escapa aos limites dessa obra. No se tratam mais de
orixs, salvo no que se refere a Exu. Faremos uma breve descrio
dessa manifestao, pois ela pertence ao domnio da evocao de defuntos
ancestrais e das bruxas e no do culto aos deuses africanos
propriamente ditos.
Esta pad em princpio, acessvel apenas aos membros do
terreiro.
As oferendas ficam reunidas no centro do barraco: alguns
recipientes contendo farofa amarela, cachaa, azeite-de-dend e aca.
A dagan ajoelha-se e arruma as oferendas, de acordo com os cnticos,
em pequenas pores dentro de uma cabaa entregam, entregando-a a
iamor , que dana em torno dela e leva-a para fora do barraco.
Os ias ficam ajoelhados, o corpo inclinado para frente, com a
cabea pousada para frente sobre os punhos fechados, colocados um
por cima do outro. O pai ou a me-de-santo entoa os cnticos, que so
repetidos em coro pelo conjunto de filhos e filhas-de-santo.
Exu saudado como preldio a uma srie de cantos e louvores
dirigidos sucessivamente aos esss , fundadores dos primeiros
terreiros kto na Bahia: Ess Assik, Ess Obitik, Ess Obur, que so
dessa maneira, devidamente honrados em companhia de quatro outros:
Ess Ajadi, Ess Adiro, Ess Akessan, Ess Akayod, sobre os quais no se
conhece muito alm dos nomes. Iymi Orng (minha me feiticeira), tambm
conhecida por y Agba (velha senhora respeitvel), em seguida saudada
para evitar que sua grande suscetibilidade seja ferida e afastar,
assim, a ameaa de uma possvel vingana.
Uma vez terminada essa parte do ritual, todos se pem de p, mos
estendidas em forma de saudao, enquanto a iamor e as outra pessoas
que tomaram parte ativa no pad danam por um momento, para honrar a
memria dos portadores de ttulos desaparecidos.
Mais tarde, no incio da noite, comea o xir . Os ias comeam por
saudar a orquestra e se protestar aos ps do pai ou da me-de-santo,
executando em seguida, ao som dos atabaques danas para cada um dos
orixs. Descrevemos, nos captulos seguintes, o carter dessas danas,
ora agressivas, ora graciosas, ora atormentadas.
Para o conjunto dos fies, esses cantos e danas so formas de
saudar as divindades. Para os filhos-desanto, consagrados a um orix
determinado, quando chega a hora de evocar o seu deus, a dana
adquire uma expresso mais profunda, mais pessoal, e os ritmos,
pelos quais foram sensibilizados, tornam-se uma chamada do orix e
podem provocar-lhe um estado de embriaguez sagrada e de
inconscincia que os incitam a se comportarem como o deus, enquanto
vivo.
O transe comea por hesitaes, passos em falso, tremedeiras e
movimentos desordenados dos ias . Imediatamente, ficam descalos, as
jias que usam so retiradas, as calas dos homens so arregaadas at o
meio da perna. Depois de alguns instantes, eles comeam a danar,
possudos pelos seus deuses, com expresses faciais e maneiras de
andar totalmente modificadas.
Os orixs so recebidos com gritos e louvores e, em seguida, fazem
a saudao aos atabaques, ao pai ou me-de-santo, aos ogs do terreiro,
sendo, finalmente, levados pelas ekdis ao pej do seu deus. Os ias
vestem-se, ento, com roupas caractersticas de seus orixs e recebem
suas armas e seu objetos simblicos. Uma vez convenientemente
vestidos, todos os orixs encarnados voltam em grupo ao barraco,
onde comeam a danar diante a uma assistncia recolhida. Xang
pavoneia-se majestosamente; Oxum requebra-se; Oxossi corre,
perseguindo a caa; Ogum guerreia; Oxaluf, enfraquecido e curvado
pelo peso dos anos, arrasta-se mais do que anda, apoiado no seu
paxor .
H vrias sutilezas sobre essas entradas em transe que se inspiram
em detalhes indicados nas lendas dos deuses. Se a festa para Xang,
pod-se aguardar a sua volta momentnea terra, acompanhado por suas
mulheres: Oxum, Oi-Ians e Oba; eventualmente, seu irmo mais velho,
Dda-jk, participa dessa cerimnia. Mais raramente, aparecem Oxal ou
Nan Buruku. Se a cerimnia destinase a Ogum, Oxossi tambm estar
presente, sendo provvel o comparecimento de Oi-Ians, freqentemente
em briga, a golpes de sabre, com Ogum. Se a festejada for Oxum,
Xang estar presente, podendo Oxossi tambm comparecer, como
lembranas de suas aventuras passadas.
Isso tende a confirmar o que Bastide escrevia a respeito do
transe de possesso, que o transe no apenas um simples reflexo
condicionado respondendo automaticamente a um estmulo . O estmulo,
nessa circunstncia, seria um determinado ritmo que sensibilizou o
ia no decorrer de sua iniciao. Existia um controle da comunidade,
da qual faziam parte os orixs, que os obrigaria a levar em conta o
carter cs relaes que existiam entre eles. Isso vlido, quer se trate
de laos hereditrios ou de manifestaes de arqutipos, que tal modo
torna-se rigoroso o conformismo do ia possudo pelo comportamento
convencional esperado pelo deus modelo.
A diferena entre as cerimnias para os orixs na frica e no Novo
Mudo decorre, sobretudo, de que, na primeira, invocasse um s orix
durante uma festa celebrada em um templo reservada para ele,
enquanto no Novo Mundo vrios orixs so chamados em um mesmo terreiro
durante uma mesma festa. E ainda na frica tal cerimnia celebrada
geralmente pela coletividade familiar e um s elgn normalmente
possudo. No Novo Mundo, no existindo essa coletividade familiar, o
orix tornou-se um carter individual e acontece que, durante uma
mesma festa, vrios ias so possudos pelo mesmo orix, para satisfao
prpria e de todos aqueles que cultuam esse orix.
Deuses Iorubs na frica e no Novo Mundo(Traduo de Maria Aparecida
da Nbrega)
EXU ELEGBAR (S ou ELEGBRA)
s na frica
Exu um orix ou um bra de mltiplos e contraditrios aspectos, o
que torna difcil defini-lo de maneira coerente. De carter irascvel,
ele gosta de suscitar dissenses e disputas, de provocar acidentes e
calamidades pblicas e privadas. astucioso, grosseiro, vaidoso,
indecente, a tal ponto que os primeiros missionrios, assustados com
essas caractersticas, compram-no ao diabo, dele fazendo o smbolo de
tudo o que maldade, perversidade, abjeo, dio, em oposio bondade,
pureza, elevao e ao amor de Deus.
Entretanto, exu possui o seu lado bom e, se ele tratado com
considerao, reage favoravelmente, mostrando-se servial e
prestativo. Se, pelo contrrio, as pessoas se esquecerem de lhe
oferecerem sacrifcios e oferendas, podem esperar todas as
catstrofes Exu revela-se, talvez, dessa maneira o mais humano dos
orixs, nem completamente mau, nem completamente bom.
Ele tem as qualidades dos seus defeitos, pois dinmico e jovial,
constituindo-se, assim, um orix protetor, havendo mesmo pessoas na
frica que usam orgulhosamente nomes como sby (concebido por Exu),
ou (Exu merece ser adorado).
Como personagem histrica, Exu teria sido um dos companheiros de
Oddu, quando da sua chegada a If, e chamava-se s Obasin. Tornou-se,
mais tarde, um dos assistentes de Orunmil, que preside a adivinhao
pelo sistema de If. Segundo Epega, Exu tornou-se rei Kto sob o nome
de s Alktu.
Exu que supervisiona as atividades do mercado do rei em cada
cidade: o de Oy chamado s Akesan.
Como orix, diz-se que ele veio ao mundo com um porrete, chamado
g, que teria a propriedade de transporta-lo, em algumas horas, a
centenas de quilmetros e de atrair, por um poder magntico, objetos
situados a distncias igualmente grandes.
Exu o guardio dos templos, das casas, das cidades e das pessoas.
tambm ele que serve de intermedirio entre os homens e os deuses.
Por essa razo que nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam
feitas, antes e qualquer outro orix, para neutralizar suas
tendncias a provocar mal-entendidos entre os seres humanos e em
suas relaes com os deuses e, at mesmo, dos deuses entre si.
Exu teve numerosas brigas com os outros orixs, nem sempre saindo
vencedor. Certas lendas nos contam seus sucessos e seus reveses nas
suas relaes com Oxal, ao qual fez passar alguns maus momentos, em
vingana por no haver recebido certas oferendas, quando Oxal foi
enviado por Olodumar, o deus supremo, para criar o mundo. Exu
provocou-lhe uma sede to intensa que Oxal bebeu vinho de palma em
excesso, com conseqncias desastrosas, como veremos. Teremos
oportunidade, tambm, de ver como exu foi responsvel pelos
transtornos de que o mesmo Oxal foi objeto quando certa vez foi
visitar Xang.
Por outro lado, em lendas publicadas numa outra obra, narra-se
que houve uma disputa entre Exu e o Grande Orix, para saber qual
dos dois era o mais antigo e, em conseqncia, o mais respeitvel.
Oxal provou sua superioridade durante um combate cheio de
peripcias, ao fim do qual ele apoderou-se da cabacinha que encerra
o poder de Exu e Obalua, foi este ltimo que saiu igualmente
vencedor.
O lado malfazejo de Exu evidenciado nas seguintes histrias:
Uma delas, bastante conhecida e da qual existem numerosas
variaes, conta como ele semeou discrdia entre dois amigos que
estavam trabalhando em campos vizinhos. Ele colocou um bon vermelho
e um lado e branco do outro e passou ao longo de um caminho que
separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um dos amigos
fez aluso a um homem de bon vermelho; o outro retrucou que o bon
era branco e o primeiro voltou a insistir, mantendo a sua afirmao;
o segundo permaneceu firme na retificao. Como ambos eram de boa f,
apegavam-se a seus pontos de vista, sustentando-os com ardor e,
logo depois, com clera. Acabaram lutando corpo a corpo e mataram-se
um ao outro.
Uma outra lenda mostra Exu mais maquiavlico ainda. Ele foi
procurar uma rainha abandonada j h algum tempo por seu marido e lhe
disse: Traga-me alguns fios da barba do rei e corte-os com esta
faca. Eu lhe farei um amuleto que lhe trar de volta o seu marido .
Em seguida, Exu foi casa do filho da rainha, que era o prncipe
herdeiro.Este vivia numa residncia situada fora dos limites do
palcio do rei. O costume assim o determinava, a fim de prevenir
toda tentativa de assassinato de um soberano por um prncipe
impaciente por subir ao trono. O rei vai partir para guerra ,
disse-lhe ele, e pede o seu comparecimento esta noite ao palcio,
acompanhada de seus guerreiros. Finalmente, Exu foi ao rei e
disse-lhe: A rainha, magoada pela sua frieza, deseja mata-lo para
se vingar. Cuidado, esta noite. E a noite veio. O rei deitou-se,
fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha aproximar um afaa de sua
garganta. O que ela queria era cortar um fio da barba do rei, mas
ele julgou que ela desejava assassin-lo. O rei desarmou-a e ambos
lutaram, fazendo grande algazarra. O prncipe, que chegava ao palcio
com seus guerreiros, escutou grito nos aposentos do rei e correu
para l. Vendo o rei com a uma faca na mo, o prncipe pensou que ele
queria matar sua me. Por seu lado, o rei, ao ver o filho penetrar
nos seus aposentos, no meio da noite, armado e seguido por seus
guerreiros, acreditou que eles desejavam assassina-lo. Gritou por
socorro. A sua guarda acudiu e houve ento uma grande luta, seguida
de massacre generalizado.
Uma histria mais simples mostra a atividade de Exu na vida
cotidiana: uma mulher se encontra no mercado vendendo os seus
produtos. Exu pe fogo na sua casa, ela corre para l, abandonando
seu negcio. A mulher chega tarde, a casa est queimada e, durante
esse tempo, um ladro levou as suas mercadorias.
Nada disso teria acontecido nem os amigos teriam brigado, nem o
rei e o prncipe teriam se massacrado, nem a vendedora teria se
arruinado se tivessem feito a Exu as oferendas e os sacrifcios
usuais.
O lugar consagrado a Exu entre os iorubs constitudo de um pedao
de pedra porosa, chamada Yangi, ou por um montculo de terra
grosseiramente modelado na forma humana, com olhos, nariz e boca
assinalados com bzios, ou ento ele representado por uma esttua,
enfeitada com fieiras de bzios, tendo em suas mos pequenas cabaas
(d), contendo os ps por ele utilizados em seus trabalhos. Seus
cabelos so presos numa longa trana, que cai para trs e forma, em
cima, uma crista para esconder a lmina de faca que l tem no alto do
crnio. Isso, por sinal, dito em uma de suas saudaes:
Sinso ab k lri er [A lmina (sobre a cabea) afiada, ele no tem
(pois) cabea para carregar fardos .].
A Exu so oferecidos bodes e galos, pretos de preferncia, e prato
cozidos em azeite-de-dend (epo), porm nunca se lhe deve oferecer o
leo branco (adi), que extrado das amndoas contidas nos caroos do
dend. Este d tem a reputao de ser cheio de violncia e de clera .
Dizem que uma boa maneira de se vingar de um inimigo consiste em
derramar sobre a esttua de Exu esse leo, fervendo de preferncia,
declarando em voz alta que essa oferenda feita pela pessoa
desprezada. Exu no deixaria ento de lhe pregar uma pea!
Os elgn de Exu participam das cerimnias celebradas para os
outros orixs.Alguns acompanham Xang e traz nas costas uma tralha
curiosa, onde se encontram, em desordem, duas ou trs estatuetas de
Exu, fieiras de bzios, pentes, espelhos e as indispensveis
cabacinhas d, contendo os elementos de seu poder. Outros, chamados
olpna, participam das cerimnias que se realizam a cada quatro dias,
para Ogum, na regio de Holi. No decorrer de suas danas, trazem
sempre na mo um go, basto de forma flica.
Exu pode fazer coisas extraordinrias que se exprime nos seus
ork, os louvores tradicionais:
Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro .
numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado;
e o azeite no escorre dessa estranha vasilha .
Ele matou um pssaro ontem, com uma pedra que somente hoje
atirou. Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela pe-se a sangrar
.
Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga .
Sentado, sua cabea bate no teto; de p, no atinge nem mesmo a
altura do fogareiro.
EsElgba
Entre os fon do ex-Daom, s-Elgbra tem o nome de Lgba. Ele
representado por um montculo de terra em forma de homem acocorado,
ornado com um falo de tamanho respeitvel. Esse detalhe deu motivo a
observaes escandalizadas, ou divertidas, de numerosos viajantes
antigos e fizeram-no passar, erradamente, pelo deus da fornicao.
Esse falo ereto nada mais do que a afirmao de seu carter
truculento, atrevido e sem-vergonha e de seu desejo de chocar o
decoro.
Os Lgba, guardies dos templos de Hevioso, vodun do trovo, e de
sapata, vodun equivalente a Snpnn dos iorubs, manifestam-se atravs
de lgbasi, equivalentes a Olpna, durante as cerimnias celebradas
para esse vodun. Os lgbasi vestem-se com uma saia de rfia tinturada
de roxo e usam a tiracolo inmeros colares de bzios. Debaixo da sua
saia traz, disfarado, um volumoso falo de madeira que levantam, de
vez em quando, com mmicas erticas. Alm disso, tm na mo uma espcie
de espanta-moscas, Roxo, semelhante a um espanador, no qual est
escondido um basto em forma de falo, que eles agitam, de maneira
engraada, na cara das pessoas presentes, particularmente sob o
nariz dos turistas, pois os lgbasi no deixam de observar seus
sentimentos ambivalente diante dessas exibies.
Exu no Novo Mundo
No Brasil, como em Cuba, Exu foi sincretizado com o Diabo. No
inspira, porm, grande terror, pois sabe-se que, quando tratado
convenientemente, ele trabalha para o bem, quer dizer, pode ser
enviado para fazer mal s pessoas ms ou quelas que nos prejudicam
ou, ainda, quelas que nos causam ressentimentos.
Chamam-no, familiarmente, o Compadre ou o Homem das
Encruzilhadas , pois nesses lugares que se depositam, de
preferncia, as oferendas que lhe so destinadas.
Poucas pessoas lhe so abertamente consagradas em razo desse
suposto sincretismo com o Diabo. Atendncia, logo que ele se
manifesta, de acalma-lo, de fixa-lo, oferecendo-lhe sacrifcios e
procedendo iniciao da pessoa interessada em proveito de seu irmo
Ogum, com o qual Exu divide um carter violento e arrebatado.
O lugar consagrado a Exu , geralmente, ao ar livre ou no
interior de uma pequena choupana isolada ou, ainda, atrs da porta
da casa. simbolizado por um tridente de ferro, plantado sobre um
montculo de terra e, algumas vezes, por uma imagem, igualmente de
ferro, representando o Diabo Brandindo o tridente.
A segunda-feira o dia da semana consagrado a ele. As pessoas que
procuram a sua proteo usam colares de contas pretas e vermelhas. As
oferendas, de animais e comida, como na frica, so-lhe apresentadas
antes das dos outros orixs.
Diz-se na Bahia que existem vinte e um Exus, segundo uns, e
apenas sete, segundo outros. Alguns dos seus nomes podem passar por
apelidos, outros parecem ser letras dos cnticos ou frmulas de
louvores. Eis alguns: Exu-Elegb ou Exu-Elegbar e seus possveis
derivados: Exu-Bar ou ExuIbar, Exu-Alaketo, Exu-Laalu, Exu-Jeto,
Exu-Akessan, Exu-Lon, Exu-Agb, Exu-Larye, ExuInan, Exu-Odora,
Exu-Tiriri.
Assinalamos anteriormente que, antes de realizar o xir dos
orixs, faz-se, na Bahia, o pad, palavra que, como vimos, significa
em iorub encontro ou reunio, durante a qual Exu chamado, saudado,
cumprimentado e enviado ao alm com uma dupla inteno: convocar os
outros deuses para a festa e, ao mesmo tempo, afasta-lo para que no
perturbe a boa ordem da cerimnia com um dos seus golpes de mau
gosto.
Arqutipo
O arqutipo de Exu muito comum em nossa sociedade, onde
proliferam pessoas com carter ambivalente, ao mesmo tempo boas e
ms, porm com inclinao para a maldade, o desatino, a obscenidade, a
depravao e a corrupo. Pessoas que tm a arte de inspirar confiana e
dela abusar, mas que apresentam, em contrapartida, a faculdade de
inteligente compreenso dos problemas dos outros e a de dar
ponderados conselhos, com tanto mais zelo quanto maior a recompensa
esperada. As cogitaes intelectuais enganadoras e as intrigas
polticas lhes convm particularmente e so, para elas, garantias de
sucesso na vida.
OGUM (GN) gn na frica
Ogum, como personagem histrico, teria sido o filho mais velho de
Oddu, o fundador do If. Era um temvel guerreiro que brigava sem
cessar contra os reinos vizinhos. Dessas expedies, ele trazia
sempre um rico esplio e numerosos escravos. Guerreou contra a
cidade de Ar e a destruiu. Saqueou e devastou muitos outros Estados
e apossou-se da cidade de Ire, matou o rei, a instalou seu prprio
filho no trono e regressou glorioso, usando ele mesmo o ttulo de
Onr, Rei de Ire . Por razes que ignoramos, Ogum nunca teve direito
de usar uma coroa (ad), feita com pequenas contas de vidro e ornada
por franjas de miangas, dissimulando o rosto, emblema da realeza
para os iorubas. Foiautorizado a usar um simples diadema, chamado
kr, e isso lhe valeu ser saudado, at hoje sob os nomes de gn Onr e
gn Alkr inclusive no Novo Mundo, tanto no Brasil como em Cuba,
pelos descendentes dos iorubas trazidos para esses lugares.
Ogum teria sido o mais enrgico dos filhos de Oddu e foi ele que
se tornou regente do reino de If quando Oddu ficou temporariamente
cego.
Ogum decidiu, depois de numerosos anos ausente de Ir, voltar
para visitar seu filho. Infelizmente, as pessoas celebravam, no dia
da sua chegada, uma cerimnia em que os participantes no podiam
falar sob nenhum pretexto. Ogum tinha fome e sede; viu vrios potes
de vinho de palma, mais ignorava que estivessem vazios. Ningum o
havia saudado ou respondido s suas perguntas. Ele no era
reconhecido no local por ter ficado ausente por muito tempo. Ogum,
cuja pacincia pequena, enfureceu-se com o silncio geral, por ele
considerado ofensivo. Comeou a quebrar com golpes de sabre os potes
e, logo depois, sem poder se conter, passou a cortar as cabeas das
pessoas mais prximas, at que seu filho apareceu, oferecendo-lhe as
suas comidas prediletas, como ces e caramujos, feijo regado com
azeite-de-dend e potes de vinho de palma. Enquanto saciava sua fome
e sua sede, os habitantes de Ire cantavam louvores onde no faltavam
a meno a gnjaj, que vem da frase gn je aja (Ogum come cachorro), o
que lhe valeu o nome de gnj. Satisfeito e acalmado Ogum lamentou
seus atos de violncia e declarou que j vivera bastante. Baixou a
ponta de seu sabre em direo ao cho e desapareceu pela terra adentro
com uma barulheira assustadora. Antes de desaparecer, entretanto,
ele pronunciou algumas palavras. A essas palavras, ditas durante
uma batalha, Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o
invocou. Porm elas no podem ser usadas em outras circunstncias,
pois, se no encontra inimigos diante de si, sobre o imprudente que
Ogum se lanar.
Como orix, Ogum o deus do ferro, dos ferreiros e de todos
aqueles que utilizam esse material: agricultores, caadores,
aougueiros, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores. Desde
o incio do sculo, os mecnicos, os condutores de automveis ou de
trens, os reparadores de velocpedes e de mquinas de costura vieram
juntar-se ao grupo de seus fiis.
Ogum nico, mas, em Ire, diz-se que ele composto de sete partes.
gn mjeje lde Ire, frase quefaz aluso as sete aldeias, hoje
desaparecidas, que existiam em volta de Ire. O nmero 7 , pois,
associado a Ogum e ele representado, nos lugares que lhe so
consagrados, por instrumentos de ferro, em nmero de sete, catorze
ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, tambm de
ferro:lana, espada, enxada, torqus, faco, ponta de flecha e enx,
smbolos de suas atividades.
Uma histria de If, publicada em outra obra, explica como o nmero
7 foi relacionado a Ogum e onmero 9 a Oi-Ians. Conta a lenda:
Oi era companheira de Ogum antes de se tornar a mulher de Xang.
Ela ajudava o deus dos ferreiros nos seus trabalhos; carregava
docilmente seus instrumentos, da casa oficina, e a ele manejava o
fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogum ofereceu a Oi uma
vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o
dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres que
por ela fossem tocados no decorrer de uma briga.
Xang gostava de vir sentar-se forja a fim de apreciar Ogum bater
o ferro e, freqentemente, lanava olhares Oi; esta, por seu lado,
tambm o olhava furtivamente. Xang era muito elegante, muito
elegante mesmo, afirmava o contador da histria. Seus cabelos eram
tranados como os de uma mulher e usava brincos, colares e
pulseiras. Sua imponncia e seu poder impressionaram Oi. Aconteceu,
ento, o que era de se esperar: um belo dia ela fugiu com ele. Ogum
lanou-se a sua perseguio, encontrou os fugitivos e brandiu sua vara
mgica. Oi fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim
Ogum foi dividido em sete partes e Oi em nove, recebendo ele o nome
de gn Mej e ela o de Ians, cuja origem vem de Iymsn a me
(transformada em) nove.
Ogum tambm representado por franjas de folhas de dendezeiros
devidamente desfiadas, chamadas mrw. Elas serviam de vestimenta aos
Igb Iml, os duzentos deuses da direita, dos quais fala Epega,
aqueles que, tendo se conduzido mal, foram destrudos por Olodumar,
com exceo de Ogum, que se tornou assim o guia, o condutor dos Irun
Iml, os quatrocentos deuses da esquerda, os nicos, segundo ainda
Epega, de que se pode falar sem perigo.
Esses mrw, pendurados acima das portas e janelas de uma casa ou
entrada dos caminhos, representam proteo, barreiras contra as ms
influncias.
Os lugares consagrados a Ogum ficam ao ar livre, na entrada dos
palcio dos reis e nos mercados. Esto presentes tambm na entrada nos
templos de outros orixs. So geralmente pedras em forma de bigorna
colocadas perto de uma grande rvore, rb (Ceiba pentandra), ou
protegidas por uma cerca de plantas nativas chamadas prgn (Dracaena
fragrans) ou de akro (Newbouldia laevis). Nesses locais,
periodicamente, realizam-se sacrifcios de cachorros e galos,
acompanhados de oferendas de vinho de palma e pratos de feijo e
inhame cozidos e regados com azeite-de-dend.
O culto de Ogum bastante difundido no conjunto dos territrios de
lngua ioruba e em certos pases vizinhos, gges, como o ex-Daom e o
Togo, onde chamado de Gun. Ogum , provavelmente, o deus ioruba mais
respeitado e temido. Tom-lo como testemunha no decorrer de uma
discusso, tocando com ponta da lngua a lmina de uma faca, ou um
objeto de ferro, sinal de sinceridade absoluta. Um juramento feito
envocando-se o nome de Ogum o mais solene e digno de f que se possa
imaginar, comparvel quele que faria um cristo sobre a Bblia ou um
mulumano sobre o Coro.
A vida amorosa de Ogum foi muito agitada. Ele foi o primeiro
marido de Oi aquela que se tornaria mais tarde mulher de Xang.
Teve, tambm relaes com Oxum antes que ela fosse viver com Oxossi e
com Xang. E tambm com Oba, a terceira mulher de Xang, e
Elfunlsunlr, Aquela-que-pintasua-cabea-com-ps-branco-e-vermelho, a
mulher de rs Oko. Teve numerosas aventuras galantesdurante suas
guerras, tornando-se, assim, pai de diversos orixs, como Oxossi e
Oranian.
A importncia de Ogum vem do fato de ser ele um dos mais antigos
dos deuses iorubas e, tambm, em virtude da sua ligao com os metais
e aqueles que os utilizam. Sem sua permisso e sua proteo, nenhum
dos trabalhos e atividades teis e proveitosas seriam possveis. Ele
, ento e sempre, o primeiro e abre o caminho para os outros
orixs.
Entretanto, certos deuses mais antigos que Ogum, ou originrios
de pases vizinhos aos iorubas, no aceitam de bom grado essa
primazia assumida por Ogum, o que deu origem a conflitos entre ele
e Obalua e Nan Buruku, dos quais falaremos mais adiante.
Os ork de Ogum demonstram seu carter aterrador e violento: Ogum
que, tendo gua em casa, lava-se com sangue .Os prazeres de Ogum so
os combates e as lutas.Ogum come cachorro e bebe vinho de
palam.Ogum, o violento guerreiro,O homem louco com msculos de ao,O
terrvel bra que se morde a si prprio sem piedade.Ogum que come
vermes sem vomitar.Ogum que corta qualquer um em pedaos mais ou
menos grandes.Ogum que usa um chapu coberto de sangue.Ogum, tu es o
medo na floresta o temor dos caadores.Ele mata o marido no fogo e a
mulher no fogareiro.Ele mata o ladro e o proprietrio da coisa
roubada.Ele mata o proprietrio da coisa roubada e aquele que
critica esta ao.Ele mata aquele que vende um saco de palha e aquele
que o comprar .
Mas os guerreiros, mesmo os valorosos, tm algumas vezes momentos
de fraqueza. Uma lenda africana nos conta como Ogum, voltando de
uma guerra, em companhia de sua mulher, deixa-se atemorizar pelo
coaxar das rs, e como ele cortou a cabea de sua mulher, que o havia
humilhado contando essa aventura em pblico. Essa mesma lenda foi
publicada por Lydia Cabrera, que a recolheu em Cuba.
Cerimnias para Ogum
Cerimnias dignas de serem mencionadas celebravam-se com
regularidade na regio de Ahori (no lado nigeriano) ou Holi (no lado
daomeano), realizavam-se todas no dia da semana ioruba dedicado a
Ogum, ou seja, de quatro em quatro dias. Os Ose nla (grandes
domingos) alternavam se com os Ose kker (pequenos domingos); os
primeiros tinham mais esplendor que os outros. Esta regio AhoriHoli
ficava relativamente preservada da ao civilizadora das administraes
coloniais e daquelas que as sucederam. A estrada que atravessa
Holi, ligando Kto ao sul de ex-Daom, s foi aberta em 1953, em
virtude da natureza pantanosa de algumas partes dessa regio, ou
seja, apenas sete anos antes da independncia desses paises.
Citamos, a seguir, alguns dos numerosos templos de Ogum nessas
paragens:
Ogn Igiri em Adja Were,Ogn Edeyi em Ilodo,Ogn Ond em Pob, em
Igb-Isso e em Irokonyi,Ogn Igboigbo em Ixed,Ogn Elnjo em Ibanion e
em Modogan,Ogn Agbo em Ixapo,Ogn lp em Ixed Ije,Ogn Absan em
Ibanigbe Fuditi.
Trata-se de um s e nico ogum, cujo segundo nome designa ou o
lugar de origem, como Ond, ou o nome do fundador, ou, ainda, o nome
de uma divindade como no ltimo da relao, para qual ele serve de
guardio.
O aspecto desses templos era notvel. Situados, geralmente, em
lugares calmos e isolados, no meio de uma clareira cercada de
arvores frondosas. Apresentavam a forma semelhante a de uma cabana
redonda, com telhado cnico e pontiagudo, precedidos por uma galeria
ornada com pilastras esculpidas. Construdos com materiais locais:
engradamento de madeira, telhado de palha ou de folhas de palmeira
tranadas, paredes feitas de bambu.
Os templos dedicados a Ogn Ond eram de estilo diferente. Todos
eles tinham em comum o telhado de cumeeira alta, com duas guas
descendo quase at o cho. Vistos de frente, pareciam uma muralha
elevada, tendo, ao nvel do solo, uma entrada cuja verga era to
baixa que s se podia penetrar no interior do templo curvando-se
muito, de maneira respeitosa, ou ento rastejando-se com apoio dos
cotovelos e joelhos.
O templo de Igbo-Isso, apresentado neste trabalho, perto de Aba,
conservou essas caractersticas. O de Pod, que conhecemos em 1936,
era um edifcio majestoso com telhados de palha, alto e pontudo,
mas, infelizmente, catlicos zelosos, estimulados pelos sermes
incendirios de um reverendo missionrio que, do plpito, esbravejava
sempre contra as religies pags, julgaram por bem ajudar a
Providncia ateando fogo ao templo de Ond numa noite de vero. Foi
uma bela fogueira cuja conseqncia foi a reconstruo do templo, com
material prova de fogo, coberto por um telhado de zinco ondulado,
semelhante a um galpo ou um galinheiro. Para dar graa ao conjunto
e, ao mesmo tempo, amedrontar os incendirios, desenharam, acima da
porta, dois leopardos mostrando todas as suas garras.
Ad cerimnias Ose nl, em gn Ond, realiza-se numa grande praa, de
cerca de cem metros de comprimento por trinta de largura, que era
antigamente, uma clareira no meio de uma floresta. Com o tempo essa
floresta ficou reduzida a uma estreita faixa de rvores, formando
uma cortina medocre entre o recinto sagrado e a cidade. O templo de
Ond esta situado em um dos lados maiores do retngulo. Defronte,
encontra-se outro templo menor e circular, dedicado a Ar, e no
fundo, onde devia ser antigamente a entrada da clareira, um templo
igualmente circular, de s Elegbra. Este conjunto se completa por
dois pequenos cercados quadrados, de cinqenta centmetros de
lado,chamados idomosun. Num deles, no comeo da cerimnia, colocam-se
o osun de cada um dos principais dignitrios; o outro reservado ao
osun de Olpnah ainda, em diversos locais, troncos de rvores
deitados no cho, servindo de assento aos diversos participantes da
cerimnia.
Os principais oficiantes do culto de gn Ond so:Alse, responsvel
pelo se do orix. Ele no entra em transe e seu papel semelhante ao
dos Mogb Sang, do qual trataremos mais adiante. Alse era
antigamente o chefe religioso mais importante da comunidade e ,
ainda, saudado com um ttulo de Kbiys, reservado aos reis. Ele
senta-se durante a cerimnia ao lado do templo de gn Ond.
Saba que assistente de Alse, entra em transe de possesso por gun
Ond durante o ose;
Oke, assistente de Saba; so dois em geral, e ambos so possudos
(montados por gn) por gnOnd. Se sentam lado a lado, perto do
idomosumIsa, que cuida de Ar e toma lugar perto do seu templo,
durante a cerimnia possudo por esta divindade.
Olpna, que se ocupa de Exu e senta-se perto do seu templo, por
ele possudo por ele muitas vezes, acompanhado por um Olpna de um
outro templo de Ogn, vindo de alguma cidade vizinha.
H ainda cerca de outros vinte oly, portadores de ttulos, que no
entram em transe e tm, cada um deles, seu lugar reservado, de onde
assistem a cerimnia e dela participam. Entre eles h os Egbenl, os
soldados de Ogum, armados com grandes faces e longos bastes.
Duas mulheres consagradas a Dda, nome dado na regio a rsl,
sentam-se perto dos Okere mas permanecem como meras espectadoras e
contentam-se em bater em instrumentos de ferro, em sinal de
respeitosa ateno, nos momentos mais solenes. H ainda as yw (ias) de
Ond, que cantam em seu louvor.
Ao lado do templo de Are instala-se o conjunto, composto de trs
atabaques e um agog. Os atabaques so: uma aposi, pequeno tambor em
terracota; um ogidan, tambor alongado colocado rente ao cho; e o
kele, pequeno tambor com ps.
Os participantes do ose de gn Ond chegam de manha cedinho. Alse,
Saba, os Okere, Isa ou os Olpona vestem-se com um pano colorido,
amarrado no ombro direito. Tm na cabea um gorro de palha pontudo,
enfeitado com grandes penas de galo e penas vermelhas da cauda de
papagaios. Os pulsos so ornados com numerosas pulseiras de contas
de vidro de diversas cores. Eles trazem numa das mos seus osun de
ferro que vo colocar no idomosun. Na outra mo, tem um faco e dois
grandes chocalhos (j), que so batidos um no outro enquanto
caminham. Olpona traz ainda um Ogo, basto esculpido de forma
flica.
Todos vo se sentar em seus respectivos lugares, com ar severo e
recolhido. As yw de gn Ond em seguida trazendo oferendas de
alimentos para as divindades: gn Ond, Are e s. As grandes gamelas
so colocadas nas portas dos trs templos. Saba, ajudado pelos okere,
Isa e os Olpona levantam-se com a cabea descoberta, deixando seus
gorros, j e faces em seus respectivos lugares e entram em
atividade, nos seus templos respectivos, colocados ali uma parte
das oferendas preparadas com inhame e feijo, regadas com
azeite-de-dend. Pem uma poro desses alimentos em seus osun para que
os antigos titulares do posto, atualmente ocupados por eles,
participem tambm da festa.
Em seguida, fazem oferendas de divindade para divindade e para
os diversos oly. Isso provoca uma srie de idas e vindas em que cada
divindade recebe, em troca de seus donativos, um contradonativo dos
dois outros. Resulta desses intercmbios uma refeio comunitria em
que participam todos os espectadores do ose.
Os oficiantes do culto consultam as divindades utilizando nozes
de cola para verificarem se os deuses esto satisfeitos, em seguida
alguns dos dignitrios vo se reunir em um local que era outrora uma
clareira adjacente, para deliberarem e comentarem o resultado das
consultas. Ao cabo de certo tempo, voltam e sentam-se nos lugares
que lhe so reservados.
Um perodo de calma sucede a toda essa agitao, aps o que, os
msicos entram em ao. Executam uma srie de invocaes. Alposi bate
alguns compassos em seu tambor aposi, que esta preso entre seus
joelhos; Olgidan, cavalgando seu instrumento ogidan colocado no
cho, o acompanha. Esses dois tambores formam um conjunto falante,
emitem sons ondulados, de acordo com a presso mais ou menos intensa
de uma das mos do executante sobre os couros dos tambores,
invocando os deuses. O terceiro tambor, kele, est no cho, diante de
Onkele, que nele bate com duas varetas numa cadncia extremamente
rpida. Vez por outra ele substitudo por um dos seus assistentes,
que mantm o ritmo, com a mesma cadncia acelerada, criando com seu
tom agudo uma atmosfera de tenso nervosa que, em certos momentos,
torna-se quase insuportvel.
O conjunto toca assim, por perodos interrompidos por curtos e
repentinos momentos de silncio. Essas interrupes contribuem para
criar uma sensao de anciosa expectativa. Na stima vez, os Olpona do
um grito estridente. A expresso de seus rostos transforma-se. Pem
gorro pontudo, pegam seus j e seus Ogo, com eles tocam trs vezes o
cho e levantam-se de um salto. Seus gritos so retomados por Saba,
pelos dois Okere, sentados lado a lado, e por Isa. Enquanto os
atabaques fazem suas chamadas, todos passam pelas mesmas fases de
tenso e de concentrao progressivas. Apertam nervosamente suas mos,
com os dedos entrelaados, seus msculos se contraem, baixam a cabea,
fazem a testa e cerram os dentes. So, ento, possudos
respectivamente por s, gn Ond e Are. Cada um deles d um grito
estridente e levanta-se de um s impulso, saltando muito alto, e vo,
apressadamente, reunir-se diante do templo de gn Ond.
A expresso dos rostos mudou de novo. Agora esto com um ar
descontrado, folgazo e vagamente alegre, balanando a cabea e
resmungando frases inacabadas. Caminham com passos irregulares,
desajeitadamente, levantando muito os ps. Quando param, eles se
estremecem e oscilam para frente e para trs, bem devagar.
O conjunto toca sem parar mas em surdina. Os elgn, possudos
pelos deuses, com Olpona frente, partem em fila e correm ofegantes,
com o corpo inclinado para frente e arrastando os ps. Vo em direo
entrada da clareira e a outros lugares, parando um momento agitado
seus j, sadam os quatro cantos do mundo. Em seguida, vo
cumprimentar Alse, que esta sentado perto do templo de gn Ond.
Aproximam-se um a um, passam cuidadosamente seus j e seu faco para
a mo direita e com a esquerda apertam a de Al, sacudindo-a com
fora. Tocam trs vezes o cho com seus j, entrechocam-nos com fora e
regularidade e executam, assim uma verdadeira msica de ferreiros
que lembra o som do martelo batendo sobre uma bigorna. Formulam,
com voz de falsete votos de prosperidade e de felicidade. Vo em
seguida saudar da mesma forma todos os dignitrios, os tocadores de
atabaques, os gbnl e os yw de gn Ond. O ritmo da msica
transforma-se e torna-se cada vez mais rpido. Os elgn comeam ento a
danar, lado a lado, como numa quadrilha e seguindo, cuidadosamente
o compasso marcado pela msica, indo do templo de Ond ao de Are
Recuando, voltam ao ponto de partida e continuam danando durante um
bom tempo, um pouco pesadamente e em diversas direes, marcando seus
movimentos com o som de sinos entrechocados. A msica pra e os elgn
tambm. Passam a caminhar de um lado para o outro, com passos ora
apressados, ora indolentes, mas sempre desajeitados e hesitantes.
Eles profetizam, cantarolam e alternadamente sorriem ou ficam
carrancudos; levantam as sobrancelhas, arregalam os olhos ou, com
ar beato, exprimem votos aos presentes. Por fim, vo se sentar em
seu lugar habitual, resignadamente, com a cabea baixa e o queixo
encostado no peito. Por instantes so agitados por tremores, mas
pouco a pouco, voltam a si e retomam sua expresso e comportamentos
habituais.
Para os fon do Daom, Gun desempenha o mesmo papel que Ogun dos
iorubas, mas como Odda, desconhecido em Abomey. Gun, a, considerado
o filho de Lisa e Mawu, verso fon de Orsl e Yemowo. Maximilien
Qunum o compara a Legba e assinala sua presena diante das forjas.
Christian Merlo indica que todos os templos tm seu Gun, cuja
virtude fortificar o vodun.
Ogum no Novo Mundo
Ogum no Brasil conhecido, sobretudo como deus dos guerreiros.
Perdeu sua posio de protetor dos agricultores, pois os escravos,
nos sculos anteriores, no possuam interesse pessoal na abundncia e
na qualidade das colheitas e, sendo assim, no procuravam sua proteo
neste domnio. Isso explica, igualmente, pouco a pouco que os
iorubas, escravos no Brasil, deram ao ri Oko, cujo culto continuou
popular na frica. Como deus dos caadores, Ogum foi substitudo por
Oxossi, trazido Bahia plos africanos de Kto, fundadores dos
primeiros candombls desta cidade.
Ogum recebe na Bahia sete nomes prximos daqueles com os quais
ele designado na frica. Existem algumas variaes nas listas dadas
pelas pessoas interrogadas, mas os nomes mais freqentemente
mencionados parecem ser: Ogum Onir, Ogum Akor, Ogum Alagbed, Ogunj,
ogum Mej, Ogum Omini, Ogum War.
As pessoas consagradas a Ogum usam colares de contas de vidro
azul-escuro e, algumas vezes, verde. Tera feira o dia da semana que
lhe consagrado. Como na frica ele representado por sete
instrumentos de ferro, pendurados em uma haste do mesmo metal, e
por franjas de folhas de dendezeiro desfiadas, chamadas mrw.
Seu nome sempre mencionado por ocasio de sacrifcios dedicados
aos diversos orixs no momento em que a cabea do animal decepada com
uma faca da qual ele o senhor.
tambm o primeiro a ser saudado depois que Ex despachado. Quando
Ogum se manifesta no corpo em transe de seus iniciados, dana com ar
marcial, agitando sua espada e procurando um adversrio para
golpear. , ento, saudado com gritos de Ogum ieee! ( Ol, Ogum! ).
sempre Ogum quem desfila na frente, abrindo caminho para os outros
orixs, quando eles entram no barraco nos dias de festa,
manifestados e vestidos com suas roupas simblicas.
Na Bahia, Ogum foi sincretizado com Santo Antnio de Pdua.
Expressamos j num captulo precedente nossa surpresa a respeito da
aproximao do deus ioruba e esse santo, geralmente representado com
um ar doce a envolvente, bem como a propsito das surpreendentes
honras militares que lhe foram concedidas. No Rio de Janeiro, com
So Jorge que Ogum foi associado, o que mais compreensvel, pois ele
representado em suas imagens como um valente guerreiro, vestido com
uma brilhante armadura, montado em um fogoso cavalo, s curvetas, e
armado com uma lana com a qual ele transpassa um drago
encolerizado.
Em Cuba, Ogum sincretizado com So Joo Batista e So PedroNo
Haiti, a famlia dos Ogous engloba o conjunto dos loas nags, os
orixs iorubas. Encontra-se a: O pai e chefe dos Ogous, Papa Ogou,
sincretizado com So Tiago Maior;Ogou Ferraille, sincretizado com So
Felipe;Ogou Olisha (Obatal) sincretizado com So Raimuido;Ogou
Balinjo (que existe na frica em Dassa Zum), sincretizando com So
Tiago Menor ou SoJos; Ogou Djamsan (Ians-Oi) e Ossange (Ossain)
fazem parte da mesma famlia dos Ogous, mas nosabemos com que santos
eles so sincretizados;Enfim, Ogou Chango (Xang), que, sob influncia
de Cuba, foi sincretizado com santa Brbara .
Arqutipo
O arqutipo de Ogum o das pessoas violentas, briguentas e
impulsivas, incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vtimas.
Das pessoas que perseguem energeticamente seus objetivos e no se
desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difceis triunfam
onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a
esperana. Das pessoas que possuem humor mutvel, passando por
furiosos acessos de raiva ao mais tranqilo dos comportamentos.
Finalmente, o arqutipo das pessoas impetuosas e arrogantes,
daquelas que se arriscam a melindrar os outros por uma certa falta
de discrio quando lhe prestam servios, mas que, devido sinceridade
e fraqueza desuas intenes, tornam-se difceis de serem odiadas.