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Desenvolvimento infantil na visão psicanalítica Aspectos estruturais e instrumentais do desenvolvimento O Outro na constituição do sujeito
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Desenvolvimento infantil jerusalinky

Jul 25, 2015

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Juliana Nutti
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Desenvolvimento infantil na visão psicanalítica

Aspectos estruturais e instrumentais do desenvolvimento

O Outro na constituição do sujeito

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Falar sobre o desenvolvimento infantil é necessariamente um grande desafio pois há uma totalidade crescente de múltiplos elementos que, ao longo do tempo, vão se constituindo, se modificando e se transformando

A complexidade e abrangência do desenvolvimento contempla vários conceitos que tentam entender a trama que envolve o conhecimento do homem sobre si mesmo.

Portanto, Jerusalinsky (1989) está certo quando afirma ser o desenvolvimento infantil um verdadeiro caos conceitual

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Os profissionais das área do conhecimento trarão um enfoque ou darão ênfase a um processo do desenvolvimento

Um neurologista afirmará ser a maturação do sistema nervoso central o responsável pelas conquistas da criança

O psicanalista será pela constituição do sujeito na relação primordial com um Outro que se desdobrarão estas conquistas

O psicólogo falará das adaptações, equilibrações e acomodações

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Mas, para entender o processo de desenvolvimento, é necessário fazer a distinção entre o que é estrutura do desenvolvimento e quais são os meios e as ferramentas utilizadas para se tecer este processo

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Coriat e Jerusalinsky(1989 e 1996) afirmam que o desenvolvimento passa por três elementos essenciais às conquistas humanas:

1. O biológico;2. O sujeito psíquico;3. O sujeito cognitivo.

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1. O elemento biológico O elemento biológico nada mais é

que a maturação do sistema nervoso

A organização, a interação internuncial com as conexões nervosas são o que possibilitam as experimentações com captação de efeitos e transformações neuroevolutivas para poderem acontecer e fazer a diferenciação dos padrões e comportamentos

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Porém, segundo Jerusalinsky (1999, p. 28) “o desenvolvimento de um bebê humano não opera por simples automatismos biológicos”, uma vez que “os estímulos externos não são o motor de seu desenvolvimento (...) seu corpo não se organiza por suas funções musculares ou fisiológicas, mas sim pelas marcas simbólicas que o afetam”

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2. O sujeito psíquico Daí vem a importância do 2º elemento, o sujeito

psíquico, que tem uma dependência externa muito significativa porque é representada pela família e como esta vê e investe no filho

A dependência do lugar em que os pais colocam este filho será preponderante para sua constituição subjetiva na qual definirá seu lugar no mundo do desejo, de se diferenciar do Outro e marcar seu caminho na vida e no mundo

É nesta definição de lugar do filho no contexto familiar é que se permite a criança ser sujeito inscrito no sistema nervoso central do primeiro elemento que o possibilita por gestos, atos e linguagem

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A palavra sujeito aqui deve ser compreendida como a psicanálise apresenta: o sujeito é aquele que suporta o desejo e, no caso do bebê, é o que suporta o desejo materno pois como ainda não está constituído, está sob o desejo materno representado no Outro (grafado desta forma para indicar um grande outro, um outro primordial e não qualquer outro).

O fato de este elemento ser subjetivo traz a influencia do externo sob o interno de maneira sincronizada, organizada e interdependente.

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Segundo Jerusalinsky (1999, p. 37),

“para que um sujeito se constitua, não é necessário esperar que uma criança caminhe, ou que maneje habilidosamente sua preensão, que chute uma bola ou que possa manter sua cabeça bem alinhada em relação a sua visão. Não é necessário, pois há crianças paralíticas cerebrais que nunca manejarão bem a pinça manual, nem caminharão; ou mielomelingocélicos que nunca chutarão uma bola, ou cegos que nunca alinharão a cabeça com sua visão inexistente, e nem por isso serão menos sujeitos de desejo que outras crianças que gozam de todas as habilidades corporais. (...) é certo que não é do corpo, mas da simbolização que nele se opere (a partir mesmo de suas primeiras falhas) que depende esta estruturação psíquica.”

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3. Sujeito cognitivo O terceiro elemento é o sujeito cognitivo, o

sujeito do conhecimento dado pela percepção dos esquemas de comportamento baseados nas reações aos objetos do entorno

O meio, enquanto coisas e pessoas, tornam-se objeto de interrogação, de experimentação e de intercâmbio da criança em desenvolvimento

Cada fase, etapa vivenciada e passada no processo do desenvolvimento utilizá-se destes três elementos com ação sincronizada principalmente nos dois primeiros anos de vida e gradativamente eles vão se diferenciando com o aprimoramento das habilidades

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Desenvolvimento: aspectos estruturais e instrumentais

Coriat e Jerusalinsky (1999, p. 193) afirmam que “ao falar de desenvolvimento é preciso distinguir entre as articulações que constituem o sujeito e os instrumentos de que esse se vale para realizar seus intercâmbios com o meio ambiente. Falamos, então, de aspectos estruturais e instrumentais do desenvolvimento”.

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Aspectos estruturais Quando um bebê quer mamar você não

consegue separar qual o elemento do desenvolvimento está regendo esta necessidade, se o sistema nervoso pela ação neurovegetativa, ou o sistema psíquico-afetivo pela relação mãe bebê ou mesmo pelo sistema psíquico-cognitivo pela experiência da estruturação proprioceptiva sensório-motora do ato de mamar.

Com o passar dos anos, ao virmos uma criança andando de bicicleta, podemos afirmar qual estrutura essencialmente operou e/ou está operando para que esta atividade se dê.

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Aspectos instrumentais O aspecto instrumental é representado,

efetivamente, pelos hábitos e rotinas de vida diária das crianças, do brincar, da linguagem, das atividades psicomotoras, da aprendizagem e da socialização, pois permitem a experiência, o intercambio, a regulação, a averiguação, o ajuste e adequação, e compreensão dentre outros para oportunizar as transformações do vivido.

Estes instrumentos são marcantes para a eficácia da evolução neuropsicomotora pela sua proximidade de ação nos primeiros anos de vida da criança que junto aos aspectos estruturais fazem a diferenciação de si em relação ao outro.

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Para Jerusalinsky (1999, p. 76), “nesse processo não é a cronologia o que caracteriza, nem uma progressão uniforme, tampouco um ritmo de saltos. O psíquico não tem ritmo, no que se diferencia do biológico que, ao contrário, o tem. (...) O que se desenvolve são as funções articuladas em torno do objeto faltante, como cadeias significantes que lhe dão seu contorno.”

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Esta definição de desenvolvimento afirma que os aspectos estruturais e instrumentais quando se articulam processam sua evolução

O aspecto estrutural é representado pelo biológico através do sistema nervoso central, o sujeito psíquico pelo sistema psíquico-afetivo e o sujeito cognitivo pelo sistema psíquico-cognitivo.

O aspecto instrumental pelas diversas áreas de experimentação ativa do corpo em relação com o meio de coisas e pessoas.

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Quando um bebê nasce, este faz diferentes movimentos que são denominados “naturais”: os movimentos reflexos arcaicos, movimentos espásticos, movimentos espontâneos e movimentos automáticos

À medida que ocorre o desenvolvimento psicomotor da criança, os movimentos reflexos e os automáticos arcaicos vão desaparecendo, o que, para Levin (2002, p. 43), pode ser explicado assim: os movimentos arcaicos desaparecem ou silenciam e retornam diferentes, como intencionais ou voluntários, é que entre “o arcaico” e “o voluntário” se produz uma inscrição, uma marca ou traço (uma letra).

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O desenvolvimento infantil é um lugar de encontros entre estrutura e instrumento como caminho de base para se tecer o enquadrinhamento progressivo que acontece de maneira singular e própria para cada um de nós

Os aspectos servem como fonte inicial de compreensão de algo que está sempre em movimento, como o desenvolvimento humano

Após os primeiros anos vamos aperfeiçoando o aprendido e acrescentando elementos a eles, mas potencialmente o novo será a qualificação do vivido com estruturas mais complexas de ação em um jogo dinâmico de equilíbrio e desequilíbrio progressivos

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Em síntese:

ASPECTOS ESTRUTURAIS: são as articulações que compõe o sujeito, Condicionam, marcam, definem o lugar e a modalidade desde o qual o sujeito se coloca

- orgânicos e psíquicos, subjetividade e cognição

ASPECTOS INSTRUMENTAIS:são os instrumentos para realizar o intercâmbio. Também, essas ferramentas levam a facilitar a construção do mundo e de si

- linguagem, psicomotricidade, aprendizagem, hábitos da vida diária, jogos e socialização

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O Outro na constituição do sujeito Quando falamos em estrutura psicomotora, falamos

dos aspectos neurológicos e psíquicos do sujeito e de suas articulações

Para Jerusalinsky (1999, p. 193), por exemplo: estes processos se assentam e transcorrem num corpo. Por isto, quando falamos de estrutura psicomotora, nos referimos centralmente ao corpo e suas produções. (...) Essas produções abarcam um sem número de atividades: o movimento, o tônus, os gestos, as posturas, os jogos, a palavra etc., desenvolvidas em um espaço e em um tempo e basicamente em uma relação com um Outro e com o que este Outro produz manifestando nesta produção seu desejo

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O corpo humano depende, portanto, para sua subsistência, de um Outro, já que a criança quando nasce é imatura, e sem o Outro não conseguirá constituir um corpo subjetivado.

O Outro vai criando nesse puro corpo “coisa”: buracos, bordas, protuberâncias tatuando deste modo um mapa corporal produto do desejo do Outro, que o erogeiniza, pulsionaliza, ou seja, cria-lhe uma falta no corpo, uma maneira, uma forma de que lhe falte algo.

Estas faltas primordiais geram uma queda deste corpo “coisa”, “carne” puro real, que ao cair reencontra-se sujeito ao Outro. Estas marcas, estes modos de que falte algo no corpo, transformam-no num corpo erógeno e simbólico.

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Fontes

JERUSALINSKY, A. Psicanálise e Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989

http://www.incorcrianca.com.br/fami_des_infantil.asp