MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SEMENTES TESE DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALGODÃO EM ALEGRETE RIO GRANDE DO SUL AIRAM FERNANDES DA SILVA Pelotas, 2012
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SEMENTES
TESE
DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALGODÃO EM ALEGRETE RIO GRANDE DO SUL
AIRAM FERNANDES DA SILVA
Pelotas, 2012
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AIRAM FERNANDES DA SILVA
DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALGODÃO EM ALEGRETE RIO GRANDE DO SUL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação do Prof. Leopoldo Mario Baudet Labbé, Ph.D., como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes.
Pelotas, 2012
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Dados de catalogação na fonte: ( Marlene Cravo Castillo – CRB-10/744 )
S586d Silva, Airam Fernandes da Desempenho de cultivares de algodão em Alegrete Rio
Grande do Sul / Airam Fernandes da Silva; orientador Leopoldo Mario Baudet Labbé - Pelotas, 2012.-73f. : il..- Tese (Doutorado ) –Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Sementes. Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2012.
1.Gossypium hirsutum L. 2.Qualidade de sementes
3.Qualidade de fibras 4.Produtividade de algodão I.Labbé, Leopoldo Mario Baudet (orientador) II.Título.
CDD 633.51
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“... Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia,
nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
Caiam mil ao teu lado e dez mil a tua direita tu não serás atingido...”
Salmo 91
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Dedico a minha família....
A meu filho Bruno;
A minha esposa Fernanda;
A meus irmãos Aline e Moacir Jr;
A meus pais Moacir e Dilma;
A minha avó Ondina.
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Agradecimentos
Às instituições Universidade Federal de Pelotas e Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, pelo apoio na logística,
financiamento, infraestrutura e na execução dos experimentos;
Ao Grupo Itaquerê (Sementes Itaquerê e UDESIL) pelo apoio no material
experimental e dicas, grande abraço à colega Engª. Agrª. Patricia Brunetta;
Ao colega Geri pela orientação na análise estatística dos dados;
Ao professor Antonio Carlos Souza Albuquerque Barros, pela amizade,
companheirismo, confiança, estímulo e exemplo profissional;
Ao professor e orientador Leopoldo Baudet pelo empenho, dedicação, atenção e
amizade;
Ao professor Silmar Peske pela orientação durante a realização da pesquisa;
Ao professor Luis Osmar Braga Schuch, pelo apoio, profissionalismo, amizade e
confiança;
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de
Sementes, Villela, Orlando, Dario, Ângela, entre outros, pelo apoio e confiança;
Ao Departamento de Fitotecnia e funcionários da Faculdade de Agronomia Eliseu
Maciel;
Ao setor de Agricultura II, composto por colegas professores, técnicos e
administrativos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha –
Campus Alegrete, agradeço pelo auxílio no manejo das máquinas agrícolas;
Aos Bolsistas de iniciação científica André Martini e Diego Bacin pelo entusiasmo,
dedicação, atenção e contribuição no desenvolvimento deste estudo;
Aos colegas de profissão e amigos, pela ajuda, parceria, companheirismo,
profissionalismo e ética durante nosso convívio profissional;
A minha querida avó Ondina Ness, que sempre me aconselhou e ajudou na hora
certa...;
Aos meus pais Moacir e Dilma, pela ajuda e apoio durante a Graduação, Mestrado e
agora...., Doutorado;
Aos meus irmãos Aline e Moacir Jr., pela amizade, compreensão e apoio nos
momentos difíceis;
Ao meu filho Bruno pela alegria, espontaneidade e compreensão durante esse
período, “papai te ama muito meu filho!!”;
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A minha esposa Rita Fernanda pela compreensão, amizade, carinho, auxílio,
parceria, coleguismo e confiança, incondicionais.
Peço desculpas a todos pelas eventuais ausências, nos momentos de
comemorações e de confraternização familiar, durante a realização deste
experimento.
Dessa forma desejo a todos que....
“Deus lhes dê em dobro tudo aquilo que me desejaram”.
Obrigado!!!
Eng°. Agr°. Airam Fernandes da Silva
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DESEMPENHO DE CULTIVARES DE ALGODÃO EM ALEGRETE, RIO GRANDE DO SUL
Autor: Engo. Agro. Airam Fernandes da Silva
Orientador: Professor Leopoldo Baudet, Ph.D. Resumo: O algodoeiro (Gossypium hirsutum L. raça latifolium Hutch.) é uma espécie cultivada em várias regiões do Brasil e do mundo, destacando-se no agronegócio mundial pela utilização dos seus produtos e subprodutos. Semelhante ao que ocorreu no Cerrado brasileiro, o cultivo de algodão pode ser uma alternativa de produção para rotação em áreas com cultivo de soja e milho, no Rio Grande do Sul, associando as condições climáticas com a utilização de alta tecnologia e práticas culturais que agreguem valor ao produto e ao manejo do algodoeiro. Com o intuito de prever novas necessidades e antecipar tecnologias, o objetivo deste estudo foi verificar a produtividade e a qualidade fisiológica de sementes e fibras de cultivares de algodão na região de Alegrete, oeste do Rio Grande do Sul. O experimento foi conduzido por dois anos, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, durante as safras 2010/11 e 2011/12. O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, com cinco repetições. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância, sendo os efeitos dos tratamentos avaliados pelo teste F, enquanto que as médias foram comparadas pelo teste de Duncan a 5% de significância. Conclui-se que as cultivares de algodão em estudo produziram sementes de elevada qualidade fisiológica e fibras com características intrínsecas consideradas acima do padrão. Existem diferenças de desempenho na produção e na qualidade fisiológica das sementes entre as cultivares, influenciadas pelas características climáticas da região de cultivo. A região de Alegrete, Rio Grande do Sul, possui clima favorável à produção de sementes de algodão de elevada qualidade fisiológica.
Palavras-chave: Gossypium hirsutum L., qualidade de sementes, qualidade de fibras, produtividade de algodão.
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COTTON CULTIVARS PERFORMANCE IN ALEGRETE, RIO GRANDE DO SUL Author: Airam Fernandes da Silva Advisor: Professor Leopoldo Baudet, Ph.D. ABSTRACT – Cotton (Gossypium hirsutum L. race latifolium Hutch.) is a crop cultivated in several regions of Brazil and the world, detached in the global agribusiness because of the use of their products and sub-products. Similarly as it happened in the Brazilian Cerrado, cotton crop may be an alternative of production for rotation in areas with soybeans and corn in Rio Grande do Sul, associated to the climatic conditions and utilization of high technology and management that upgrade the product and crop handling. Objecting to prevent new necessities and to anticipate new technologies, it was verified the productivity and seed physiological quality and fiber quality of cotton cultivars in Alegrete, West of Rio Grande do Sul state. The experiment was conducted for two years, at the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, during 2010/11 and 2011/12 crop seasons. The experimental design was casualized blocks with five replications. The experimental data were submitted to analysis of variance, being the treatment effects evaluated by the F test, while averages were compared by the Duncan test to 5% significance. It was concluded that cotton cultivars studied produced high physiological quality seeds and fiber quality with inert characteristics considered outstanding. There are differences of performance in production and seed physiological quality among cultivars, influenced by regional climatic characteristics of the crop. The region of Alegrete, Rio Grande do Sul, has favorable climate to produce cotton seeds of high physiological quality.
Tabela 1 Número de plantas por metro linear, número de capulhos por planta, massa do capulho, massa de sementes por capulho, massa de 1000 sementes, percentagem de sementes por capulho e estimativa de produtividade de sementes por hectare das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12............................................................
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Tabela 2 Primeira contagem de germinação, germinação, teste de frio, comprimento da parte aérea e raiz, massa seca da parte aérea e raiz das sementes das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12.........................................................................................................
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Tabela 3 Intervalos médios de comprimento de fibra, índice de uniformidade do comprimento da fibra, índice de fibras curtas, resistência da fibra, micronaire, grau de reflexão das fibras e massa do capulho, para as cultivares de algodão em estudo, nas regiões recomendadas para cultivo, conforme obtentores........................................................................................
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Tabela 4 Comprimento de fibra, índice de uniformidade do comprimento da fibra, índice de fibras curtas, resistência da fibra, alongamento da fibra, micronaire, grau de reflexão das fibras, das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas na safra 2010/11........................................
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Tabela 5 Grau de amarelamento, cor das fibras, índice de fiabilidade, maturidade, porcentagem da fibra, estimativa de produtividade de fibra e categoria, das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas na safra 2010/11............................................................................................................
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Tabela 6 Categorias de referência para a classificação de algodão utilizada pela UNICOTTON, Primavera do Leste – Mato Grosso, safra 2011......................
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Lista de Figuras
Figura 1 Total mensal pluviométrico no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12.............................................................
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Figura 2 Umidade relativa do ar máxima, média e mínima mensal no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12.....
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Figura 3 Temperaturas máxima, média e mínima mensal no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12....................
Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, no período que antecede a
semeadura até após a amostragem das parcelas experimentais, durante os dois
anos de cultivo de algodão.
O preparo de solo, semeadura, manejo e tratos culturais foram realizados
com as máquinas e equipamentos existentes na Unidade de Ensino, Pesquisa e
Produção (UEPP) do IFF – Campus Alegrete.
O solo da área de cultivo possui textura franco-argilosa, livre de
compactação, com boa drenagem e manejado no sistema de plantio direto há mais
de quatro anos. A vegetação de cobertura foi formada por aveia (Avena sp. L.) e
azevém (Lolium multiflorum L.), semeadas no final do mês de março de 2010, e
dessecada previamente com produto de ação sistêmica, de princípio ativo
Glifosato®, na dose de 2L.ha-1 mais 20mL.ha-1 de Fipronil®, com volume de calda de
120L.ha-1. Foram realizadas duas aplicações de dessecante, sendo a primeira aos
trinta e cinco e a segunda a cinco dias antes da semeadura. Essa prática
proporcionou a eliminação das plantas concorrentes na fase inicial de
desenvolvimento do algodoeiro e o controle de insetos, como a formiga (Atta sp. L.)
e o coró-das-pastagens (Diloboderus abderus L.), comuns nesta região de produção
agropecuária.
As aplicações de produtos fitossanitários foram realizadas nas horas mais
adequadas do dia, quando as condições climáticas favorecessem a proteção das
plantas. O controle fitossanitário foi realizado de acordo com as recomendações
para o cultivo do algodoeiro.
As parcelas receberam adubação de base com NPK, na formulação de 10-
30-20 e duas suplementações de nitrogênio (ureia 45% de N), sendo que a primeira
ocorreu na emissão do primeiro botão floral, estágio B1, e a segunda, na fase de
desenvolvimento F1, caracterizado pela abertura da primeira flor (ROSOLEM, 2004).
A semeadura das parcelas foi realizada no dia 11 de outubro de 2010
(segunda-feira), na primeira safra, e no dia 11 de outubro de 2011 (terça-feira), na
segunda safra, com semeadora/adubadora de precisão tratorizada, na área
experimental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha -
Campus Alegrete. Cada parcela foi composta por quatro linhas, com espaçamento
de 0,50 metros entre linhas e 8,0 metros de comprimento, totalizando 25 (vinte e
cinco) parcelas de 16,0m2. A densidade de semeadura na área experimental foi de
35
quinze sementes por metro linear. Aos 30 dias após emergência (DAE), realizou-se
o raleio, estabelecendo-se a densidade de cultivo de oito plantas por metro linear,
para todos os tratamentos, totalizando a densidade de 160.000 plantas por hectare.
O espaçamento entre as parcelas, nos blocos, foi de 10 metros. Neste
espaço foi cultivado milho com o objetivo de fazer uma barreira vegetal, evitando a
poeira na fibra, assim como possíveis contaminantes.
As cultivares de algodão (Gossypium hirsutum variedade latifolium)
utilizadas foram cedidas pelo Grupo Itaquerê, empresa produtora de sementes e
fibra de algodão em Primavera do Leste, Mato Grosso, possuem as seguintes
características agronômicas e tecnológicas:
IMACD6001LL: De acordo com o Institto Matogrossence do Algodão, é uma
cultivar transgênica com tecnologia Liberty Link® conferindo resistência ao princípio
ativo glufosinato de amônio, sendo recomendada para áreas com infestação com
plantas concorrentes resistentes, de ciclo variando entre 150 e 160 dias, a retenção
de pluma é considerada média, o rendimento de fibra varia de 40 a 42%, a massa de
1000 sementes média é de 95 gramas (dependendo da peneira), a massa do
capulho varia entre 6,0 a 6,2 gramas, a densidade de cultivo recomendada para o
espaçamento de 0,45 m é de 220.000 a 240.000 plantas por hectare, é exigente em
fertilidade do solo.
FMT707: De acordo com a Fundação Mato Grosso, é uma cultivar
convencional ou não transgênica, com ciclo médio de 150 dias, a massa de 1000
sementes média é 90 a 110 gramas, a massa do capulho é de 6,0 gramas em média
o que depende da peneira, o rendimento de fibra varia de 39 a 42%, a densidade de
cultivo é de 60.000 a 90.000 sementes por hectare para o espaçamento de 0,90
metros.
FMT701: De acordo com a Fundação Mato Grosso, é uma cultivar
convencional ou não transgênica, com ciclo tardio, a massa de 1000 sementes
média é 90 a 110 gramas, a massa do capulho é de 6,5 gramas em média o que
depende da peneira, o rendimento de fibra varia de 39 a 42%, a densidade de cultivo
é de 60.000 a 90.000 sementes por hectare para o espaçamento de 0,90 metros.
FM910: Conforme a Bayer Cropscience é uma cultivar convencional ou não
transgênico, com ciclo de 160 a 180 dias, a massa de 1000 sementes varia entre 80
e 95 gramas o que depende da peneira, a massa do capulho varia entre 4,5 a 6,5
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gramas, o rendimento de fibra varia de 41 a 43%, a densidade de cultivo é de 90.000
a 110.000 sementes por hectare para o espaçamento entre 0,76 e 0,90 metros entre
linhas.
FM993: Conforme a Bayer Cropscience é uma cultivar convencional ou não
transgênico, com ciclo de 160 a 190 dias, a massa de 1000 sementes varia entre 85
e 105 gramas o que depende da peneira, a massa do capulho varia entre 5,0 a 6,0
gramas, o rendimento de fibra varia de 41 a 43%, a densidade de cultivo é de 90.000
a 110.000 sementes por hectare para o espaçamento entre 0,76 e 0,96 metros entre
linhas.
A amostragem dos capulhos para as análises das sementes e fibra, na safra
2010/11, foi realizada no dia 18 de abril de 2011, enquanto que, para safra 2011/12,
a amostragem ocorreu no dia 16 de abril de 2012, ambas numa segunda-feira, de
modo que as parcelas totalizaram 188 dias no campo, entre semeadura e colheita.
Nos dois anos, as amostragens foram realizadas manualmente, por parcela,
onde quinze capulhos, do terço médio, de cem plantas das duas linhas centrais de
cada parcela foram colhidos e identificados por cultivar e repetição estatística.
Logo após, as amostras foram limpas manualmente, havendo a separação
entre sementes e fibras. O grau de umidade das sementes dos cultivares de algodão
IMACD6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e FM993 na ocasião das amostragens foi
na safra 2010/11 de 14,2%, 13,6%, 13,8%, 15,3% e 14,5% de umidade nas
sementes, enquanto que na safra 2011/12 a umidade das sementes foi de 13,8%,
13,2%, 14,6%, 15,1% e 13,4%, respectivamente. Ahrens et al, (1994) verificaram
flutuações de umidade em sementes de soja após a maturidade fisiolígica. A
determinação do grau de umidade foi realizada em estufa a 105 ± 3ºC, durante 24
horas (BRASIL, 2009), utilizando-se duas repetições de 30g para cada subamostra,
por tratamento. O resultado final foi expresso em percentagem, com uma casa
decimal. As sementes foram submetidas à secagem em estufa com circulação
forçada de ar, uniformizando a umidade em 12%, para todos os cultivares. Todas as
avaliações foram realizadas em sementes com linter.
A estimativa de produtividade foi determinada através dos seguintes
componentes do rendimento como: número de plantas por metro linear, número de
capulhos por planta, e número de sementes por capulho, obtidos por processo de
contagem, não foi contabilizado as perdas decorrentes do beneficiamento,
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deslintamento e padronização no tamanho das sementes. A massa de 1000
sementes e a massa de fibra por capulho foi obtida por pesagem em balança
analítica com precisão de (0,0001g), e os resultados expressos em gramas.
Para a verificação da qualidade fisiológica das sementes, foram realizadas
as seguintes avaliações no Laboratório Didático de Análises de Sementes (LDAS)
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus
Alegrete.
Germinação: realizado em rolo de papel (germitest) umedecido com água destilada
na proporção de 2,5 vezes a sua massa, em germinador regulado a temperatura de
25 ºC constante. Foram utilizadas 16 subamostras de 50 sementes, para cada
parcela, com avaliações aos quatro e doze dias, e os resultados foram expressos
em percentagem de plântulas normais; conforme as Regras para Análise de
Sementes (BRASIL, 2009).
Primeira contagem de germinação: conduzido conjuntamente com o teste de
germinação, sendo a avaliação realizada após quatro dias do início do teste e os
resultados expressos em percentagem de plântulas normais (KRZYZANOWSKI et
al., 1999).
Teste de Frio: Foram distribuídas quatro repetições de 50 sementes de cada
cultivar, sobre duas folhas de papel toalha cobertas com uma terceira folha e
enroladas. As folhas de papel Germitest, foram previamente umedecidas com
quantidade de água equivalente a 2,5 vezes a sua massa. Os rolos foram colocados
em sacos plásticos e, em seguida, mantidos durante cinco dias a 10 °C. Decorrido
esse período, os rolos foram transferidos para germinador, a 25 °C, e as avaliações
efetuadas de acordo com o teste de germinação. Os resultados foram expressos em
porcentagem média de germinação por cultivar, (MIGUEL et al., 2001).
Comprimento da parte aérea e do sistema radicular das plântulas: realizado
segundo metodologia do teste de germinação, sendo as variáveis observadas no
sétimo dia após o início do teste, em plântulas normais. As variáveis foram obtidas
por processo de mensuração da parte aérea e do sistema radicular, através de
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régua graduada em milímetros (mm). O teste foi realizado com quatro repetições de
30 plântulas normais por parcela. Foi considerada a média de 30 plântulas por
parcela, seguindo a metodologia descrita por Nakagawa, (1994).
Fitomassa seca das plântulas: após a mensuração das plântulas, separou-se a
parte aérea do sistema radicular. Em seguida, o material foi submetido à
temperatura de 65 ºC, em estufa, por 96 horas. Posteriormente determinou-se a
massa seca das duas frações das plântulas normais. Os resultados foram expressos
em miligramas por plântula (mg.plântula-1), conforme recomendações de Nakagawa
(1994). Utilizaram-se 30 plântulas normais de cada tratamento, assumindo-se o valor
médio das 30 plântulas por parcela.
Massa de mil sementes: determinado por meio de contagem de oito repetições de
100 subamostras de sementes, pesadas em balança analítica de precisão de
(0,0001g) e os resultados expressos em gramas, de acordo com as Regras para
Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Para determinação da qualidade e das propriedades essenciais da fibra,
pelo laboratório de análises da Cooperativa dos Produtores de Algodão (Unicotton),
foram realizadas as análises de High Volume Instruments (HVI), determinando-se as
seguintes características:
Porcentagem da Fibra (PF): Quantidade de fibra em relação à massa total do
capulho, expresso em percentual de fibras por capulho;
Comprimento Médio de Fibra (UHM): Determinado eletronicamente, considerando-
se o comprimento médio da metade mais longa do feixe de fibras em 32 subdivisões
de polegada, e os resultados expressos em milímetros de fibra (mm);
Índice de Uniformidade do Comprimento da Fibra (UI): Relação entre o
comprimento médio e o comprimento médio da metade mais longa do feixe de
fibras, expresso em porcentagem;
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Índice ou Conteúdo de Fibras Curtas (SFI): Frequência expressa em função da
massa ou da quantidade de fibras com comprimento inferior a 12,7 mm;
Resistência (STR): Capacidade que a fibra possui de suportar uma carga até
romper-se, expressa em gf.tex-1, representando a força máxima para romper um
feixe de fibras;
Índice Micronaire (MIC) ou Finura de fibra: Indicador de resistência de uma
determinada massa de fibras a um fluxo de ar, à pressão constante, em câmara de
volume definido, expresso em microgramas por polegada;
Maturidade (MAT): Grau de desenvolvimento da fibra, no qual duas fibras de
mesma diâmetro, a mais madura será aquela que possuir a parede mais espessa
em sua seção transversal, expresso em percentagem;
Índice de Fiabilidade (SCI): Propriedade que a fibra possui de se transformar em
fio, característica importante para o mercado cotonicultor e para as empresas têxteis.
Os resultados dos testes da qualidade de fibra foram comparados com as
médias apresentadas pelas cultivares, nas regiões para as quais são recomendadas
para cultivo.
O delineamento experimental utilizado foi blocos ao acaso, com cinco
repetições. Os dados experimentais foram submetidos à análise de variância, sendo
os efeitos dos tratamentos avaliados pelo teste F, enquanto que as médias dos
tratamentos foram comparadas pelo teste de Duncan, a 5% de significância. A
análise estatística foi realizada através do programa para microcomputadores
SASM-AGR (CANTERI et al., 2001).
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4 Resultados e Discussão
4.1 Características Climáticas
Analisando os componentes de produção do algodão, nos dois anos de
cultivo, constatou-se diferença estatística entre os cultivares para, praticamente,
todos os componentes de rendimento, sendo maiores no ano agrícola de 2010/11
(Tabela 1 e 2). A distribuição das chuvas, nas mesmas épocas de cultivo, não
seguiram as mesmas características. No primeiro ano de cultivo houve, durante o
ciclo do algodoeiro, um total acumulado de 603,2 mm, enquanto que, no segundo
ano de cultivo, o total acumulado de chuvas foi de 520,4 mm (Figura 1).
Na primeira safra, mesmo com poucas chuvas nos meses de outubro e
novembro de 2010, ocorreu maior volume de chuvas durante o ciclo do algodoeiro,
havendo um estabelecimento inicial de plantas mais uniforme e de acordo com a
densidade esperada de 160.000 plantas por hectare, para todas as cultivares, no
momento da colheita, obtida mediante raleio, quando as plantas atingiram o estádio
de desenvolvimento V5. Na segunda safra, a densidade estabelecida, na área de
cultivo, variou entre 74.000 plantas para a cultivar FM993 e 100.000 plantas para a
cultivar FMT701, no momento da colheita, conforme Tabela 1.
A semeadura do algodoeiro no solo coberto por uma cobertura vegetal
formada previamente, na estação fria do ano, composta por aveia, semeada em
linha, e azevém, semeado a lanço, previamente dessecado, próximo ao momento
em que a aveia iniciou a antese, que ocorreu aos 35 dias antes da semeadura das
parcelas de algodão, pode ter contribuído para evitar a perda de água excessiva do
solo. Este manejo para a dessecação e formação de abundante palhada na
superfície do solo contribuiu para o armazenamento de umidade, evitando
oscilações bruscas de temperatura, principalmente na fase de germinação e
estabelecimento das plântulas no campo, que ocorreu no mês de outubro, quando
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as temperaturas do ambiente começaram a aumentar gradativamente, conforme
Figura 3.
De acordo com Souza e Beltrão, (1999) a faixa de temperatura ideal para a
germinação do algodoeiro situa-se entre 25 ºC e 30 ºC, enquanto que na fase do
crescimento vegetativo, a faixa ideal situa-se entre 27 ºC e 32 ºC. Semelhante às
temperaturas observadas no ambiente de cultivo (Figura 3).
Figura 1: Total mensal pluviométrico no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12. Fonte: Estação climatológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, 2012.
A amplitude da temperatura e da umidade relativa do ar durante o ciclo da
cultura (Figura 2 e 3) demonstram os estresses aos qual o algodoeiro está exposto.
A distribuição e o volume de chuvas não foram semelhantes entre as safras, o que
parece ter influenciado a umidade relativa do ar, que não permaneceu uniforme
durante os ciclos de cultivo do algodoeiro, sendo que, na primeira safra, a umidade
relativa do ar permaneceu, em média, em 70,3%, enquanto que, na segunda safra, a
umidade relativa do ar média foi de 63,2%.
A umidade relativa do ar permaneceu 70% em média, e parece não ter
afetado o desenvolvimento das plântulas, no campo (Figura 2), no primeiro ano de
0
50
100
150
200
250
set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai
pre
cip
itaç
ão (
mm
)
meses
42
cultivo, estando próxima da umidade relativa adequada para o cultivo do algodoeiro,
conforme descrito por Araújo et al. (2006), que afirmam que 60% é a umidade
relativa do ar ideal para a produção de algodão de alta qualidade.
Figura 2: Umidade relativa do ar máxima, média e mínima mensal no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12. Fonte: Estação climatológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, 2012.
Neste ambiente o algodoeiro encontrou, no primeiro ano de cultivo, a maior
parte dos dias do ciclo de desenvolvimento com clima favorável, embora nos
primeiros 45 dias após emergência das plântulas as chuvas tenham ficado abaixo do
esperado e a umidade relativa baixa pode ter favorecido o aparecimento de algumas
pragas desfolhadoras e sugadoras. No segundo ano de cultivo, o período de baixa
umidade e alta temperatura ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro. Neste período
do ciclo, o algodoeiro, já estava em estágio reprodutivo e crescimento intenso,
momento em que a ocorrência de insetos sugadores foi maior (EMBRAPA, 2003),
(Coleoptera), predominantemente, que foram controlados quando necessário, de
forma química e de acordo com as recomendações para o manejo integrado de
pragas do algodoeiro. Observou-se que as pragas que atacaram as parcelas com as
plantas, nos diferentes estádios de desenvolvimento, foram às mesmas comumente
encontradas nos cultivos de milho, soja e arroz irrigado, predominantes na região de
Alegrete.
Nesta região de cultivo o algodoeiro se desenvolveu na ausência das pragas
específicas desta malvácea, como o Anthonomus grandis (bicudo), Pectinophora
gossypiella (lagarta rosada), Heliothis virensens (lagarta das maçãs) e doenças
viróticas, de relativa importância econômica nas atuais regiões de cultivo e que não
interferiram na produtividade e qualidade tanto de sementes como de fibras,
conforme Tabelas 1, 2 e 3.
Esta condição climática de baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas
dificultaram as aplicações de agroquímicos visto que, de acordo com Santos, (2005)
e Vargas e Gleber (2005), as condições de clima devem ser favoráveis à absorção e
a translocação dos produtos nas plantas, preferencialmente entre 20 ºC e 30 ºC e
umidade relativa do ar entre 70% e 90%.
As chuvas foram regulares e supriram a necessidade hídrica ao longo do
ciclo da cultura, entretanto, sendo o algodoeiro uma espécie de hábito de
crescimento indeterminado, e considerando a escassez de chuvas que se prolongou
por 58 dias consecutivos nos meses de janeiro e fevereiro de 2012, essa condição
climática proporcionou queda na produtividade e menor qualidade de sementes,
visto que coincidiram com o período de maior formação, desenvolvimento e
enchimento de muitos capulhos (Figura 1 e Tabelas 1 e 2).
Araújo et. al. (2006), ressaltam que a fibra é constituída de celulose, que é o
carboidrato mais importante e que compõe mais de 94% da fibra madura. Com a
escassez de chuvas, outro efeito do clima são as altas temperaturas (Figura 03) que,
no mês de dezembro de 2011, contribuíram para a morte de muitas plantas e,
44
consequentemente, redução na densidade de plantas na área de cultivo, no
momento da colheita (Tabela 1), portanto, menor produção potencial de frutos.
— Temperatura máxima (ºC) — Temperatura média (ºC) — Temperatura mínima (ºC)
Figura 3: Temperaturas máxima, média e mínima mensal no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12. Fonte: Estação climatológica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha – Campus Alegrete, 2012.
As médias de temperatura durante as duas safras foram de 22,9 ºC e 23,3
ºC, respectivamente, observando-se a emergência e o estabelecimento das
plântulas de algodão ocorreram adequadamente no primeiro ano de cultivo.
Entretanto, no segundo ano de cultivo, houve diminuição no estande de plantas,
devido, possivelmente, às condições climáticas que ocorreram durante o ciclo da
cultura. De forma geral, no primeiro ano de cultivo, ocorreu desuniformidade no
estande de plantas, nas parcelas em observação, sendo que a prática do raleio
uniformizou o número de plantas na área de cultivo. No segundo ano de cultivo, o
número de plantas foi inferior ao desejado, possivelmente devido à escassez de
chuvas e altas temperaturas registradas na região, principalmente no mês de janeiro
de 2012, quando choveu apenas 6,2 mm e a média de temperatura foi de 25,9ºC
0
5
10
15
20
25
30
35
set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai
tem
pe
ratu
ra (
ºC)
meses
45
embora tenham ocorrido vários dias com temperatura acima de 31 ºC, conforme
Figuras 1 e 3.
4.2 Produtividade de Semente e Fibra
O número de capulhos por planta não variou entre as cultivares, na mesma
safra, embora diferente entre as safras, demonstrando a interação positiva entre
ambiente e cultivares, sendo inferior na segunda safra, com reduções de 19,35;
41,77; 34,37; 26,66 e 39,19% do número de capulhos por planta, para as cultivares
IMACD6001, FMT707, FMT701, FM910 e FM993 (Tabela 1). A cultivar
IMACD6001LL obteve a menor redução, entre as safras, produzindo o maior número
de capulhos por planta, seguida pela cultivar FMT701. O número de capulhos por
planta, mesmo inferior ao primeiro ano, manteve-se estável no segundo ano, entre
as cultivares. Na segunda safra, as condições climáticas não foram tão favoráveis,
principalmente devido à baixa pluviosidade, na fase de formação e desenvolvimento
dos frutos, fato observado na massa dos capulhos das cultivares, onde as cultivares
IMACD6001LL e FM993 mantiveram a maior massa de capulhos nas duas safras,
embora tenha ocorrido diminuição na produtividade de sementes por área, com
redução de 67,9; 77,7; 75,4; 74,9 e 76,6%, respectivamente, para as cultivares
IMACD6001, FMT707, FMT701, FM910 e FM993 (Tabela 2). A cultivar
IMACD6001LL obteve a maior produtividade de sementes nos dois anos de cultivo e
a menor redução na produção no segundo ano, demonstrando maior estabilidade e
adaptabilidade ao ambiente de cultivo, entre as cultivares em estudo.
Carvalho et al. (2007), relatam ao caracterizarem o algodoeiro como planta
de crescimento inicial lento, que cresce rapidamente a partir do surgimento dos
primeiros botões florais, localizados entre o quarto e sexto nós, acima do nó
cotiledonar. A marcha de absorção dos nutrientes pelas plantas de algodoeiro segue
o padrão de crescimento, aumentando significativamente a partir do surgimento dos
primeiros botões florais e alcançando o máximo na fase de crescimento dos frutos
(EMBRAPA, 2009). Entretanto, o algodoeiro é muito sensível à temperatura, um dos
46
fatores ambientais que mais interferem no crescimento e desenvolvimento da cultura
e que afeta significativamente a fenologia, a expansão foliar, a elongação dos
entrenós, a produção de biomassa e a partição dos fotoassimilados pelas diferentes
partes da planta, entre outros aspectos (IAMAMOTO et al., 2011).
As cultivares FMT701, FM910 e FM993 analisadas por Iamamoto et. al.
(2011), em Ipameri e Goiás, atingiram massa de capulhos de 6,9, 6,5 e 6,8 gramas,
respectivamente, enquanto que em Alegrete, na safra 2010/11, as mesmas
cultivares obtiveram massas de capulhos de 4,0; 3,6 e 4,6 gramas, entretanto, na
safra 2011/12, devido aos estresses climáticos, a massa de capulhos foi de 1,88,
1,77 e 2,60 gramas, respectivamente.
Tabela 1: Número de plantas por metro linear (nºptas.m-1
), número de capulhos por planta (nºcap.pta-
1), massa do capulho (mcap (g)), massa de sementes por capulho (msem.cap
-1 (g)), massa de 1000
sementes (m1000 (g)), percentagem de sementes por capulho (perse.cap-1
(%)) e estimativa de produtividade de sementes por hectare (prod.sem (Kg.ha
-1)) das cultivares de algodão, Universidade
Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12. CULTIVRES
Safra 2010/11
nºptas.m-1 nºcap.pta
-1 mcap
(g)
msem.cap-1
(g)
m1000
(g)
perse.cap-1
(%)
prod.sem
(Kg.ha-1)
IMACD6001LL 8,3 a 15,5 a 4,52 a 2,89 a 97,13 b 64,07 a 7.167,20 a
FMT707 8,5 a 15,8 a 4,38 a 2,66 ab 116,77 a 60,92 bc 6.724,48 a
FMT701 8,5 a 16,0 a 4,00 ab 2,54 ab 115,80 a 63,69 ab 6.502,40 a
FM910 8,5 a 15,0 a 3,63 b 2,25 b 107,32 ab 62,22 ab 5.400,00 b
FM993 8,3 a 14,8 a 4,62 a 2,69 ab 104,98 ab 58,44 c 6.369,92ab
CV (%) 6,96 9,83 7,61 8,86 7,00 2,97 13,2
CULTIVARES
Safra 2011/12
IMACD6001LL 5,5 a 12,5 a 2,56 a 1,67 a 82,88 b 65,40 a 2.296,25 a
FMT707 5,0 a 9,2 a 2,37 ab 1,63 a 99,96 a 68,89 a 1.499,60 b
FMT701 6,0 a 10,5 a 1,88 b 1,27 a 91,31 ab 67,77 a 1.600,20 b
FM910 5,0 a 11,0 a 1,77 b 1,23 a 87,32 ab 69,66 a 1.353,00 b
FM993 4,7 a 9,0 a 2,60 a 1,76 a 90,43 ab 68,06 a 1.488,96 b
CV (%) 15,49 17,95 8,88 11,3 6,84 6,47 25,03
* Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de significância. ** Produtividade bruta não sendo contabilizadas as perdas decorrentes do beneficiamento, deslintamento e da padronização das sementes.
Houve redução de 14,7; 14,4; 21,1; 18,6 e 13,9%, respectivamente, na
massa de 1000 sementes das diferentes cultivares, entre as safras. A cultivar
IMACD6001LL foi a que apresentou a menor massa de 1000 sementes e menor
redução de produtividade, entre as cultivares nas diferentes safras, demonstrando a
maior estabilidade de produção e de produtividade de sementes, neste ambiente,
entre as cultivares analisadas (Tabela 1).
A cultivares FMT707 e FMT701 apresentaram comportamento semelhante
quanto à massa de 1000 sementes, obtendo as maiores massas, entretanto
reduziram a produtividade em 77,7% e 75,4%, respectivamente, entre as safras
(Tabela 1). A cultivar FMT707 obteve a maior massa de 1000 sementes, nos dois
anos de cultivo, sendo a cultivar com maior massa de sementes de algodão por
capulho, no ambiente em estudo.
No segundo ano de cultivo, mesmo com os estresses climáticos em
determinados momentos do ciclo de desenvolvimento, a cultivar FMT707 apresentou
alto percentual de sementes por capulho, sendo 13% maior em relação ao primeiro
ano de cultivo, quando a umidade relativa do ar e a temperatura foram mais
favoráveis ao desenvolvimento do algodoeiro. Supõe-se que o estresse climático
possa ter estimulado a planta a produzir maior número de sementes por
inflorescência, para proporcionar a perpetuação da espécie. Comportamento
semelhante parece ter ocorrido com a cultivar FM993, na qual o aumento no
percentual de sementes por capulho foi de 16,5%, no segundo ano de cultivo,
embora a produtividade por área cultivada tenha reduzido 84,1%, sendo uma das
cultivares com menor produtividade de sementes por área. Todas as cultivares
aumentaram o percentual de sementes por capulho no segundo ano,
comparativamente ao primeiro ano de cultivo (Tabela 1).
No primeiro ano de cultivo houve diferença estatística entre as cultivares
para a de produção de sementes por hectare, sendo que as cultivares
IMACD6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e FM993 obtiveram as produtividades de
7.167,20 Kg.ha-1, 6.724,48 Kg.ha-1, 6.502,40 Kg.ha-1, 5.400,00 Kg.ha-1 e 6.369,92
Kg.ha-1, ficando acima das estimativas da CONAB para a safra 2010/11. No segundo
ano de cultivo, a cultivar IMACD6001LL obteve a maior produtividade de 2.296,25
Kg.ha-1, superando entre 30 e 40% as demais cultivares em estudo. Não houve
diferença estatística entre as cultivares FMT707, FMT701, FM910 e FM993 para a
estimativa de produtividade.
As cultivares analisadas no presente estudo apresentaram alto potencial de
produtividade de sementes nas condições edafoclimáticas do município de Alegrete,
conforme os resultados apresentados na Tabela 1, demonstrando que é possível
48
produzir de sementes de algodão no Rio Grande do Sul e que o ambiente contempla
as necessidades fisiológicas para estas cultivares, sendo determinante na expressão
do potencial produtivo do algodoeiro.
Em Campo Verde (MT), na safra 2005/06, Vilela et al. (2007) verificaram que
a produtividade média das cultivares FMT701 e FM993 foi de 239,9 @.ha-1 (3599
Kg.ha-1) e 198,7 @.ha-1 (2980 Kg.ha-1), respectivamente, enquanto que em
Primavera do Leste (MT) estas mesmas cultivares obtiveram as produtividades de
219,1 @.ha-1 (3.287 Kg.ha-1) e 208,5 @.ha-1 (3.128 Kg.ha-1), respectivamente, após
o descaroçamento em máquina de rolo.
Todas as cultivares em estudo foram colhidas manualmente, em separado,
quando as condições ambientais favoreceram a atividade e obtiveram classificação
da fibra entre excelente e padrão, o que se pode verificar nas Tabelas 4, 5 e 6, de
acordo com laudo da UNICOTTON (Cooperativa de Produtores de Algodão).
Observou-se que as cultivares IMACD6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e
FM993 produziram sementes e fibras de algodão em Alegrete, Rio Grande do Sul. A
média estimada de dois anos de produção de sementes foi de 4.731,72 Kg.ha-1;
4.112,04 Kg.ha-1; 4.051,30 Kg.ha-1; 3.376,50 Kg.ha-1 e 3.929,44 Kg.ha-1,
respectivamente, para as cultivares, IMACD6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e
FM993, superior à média de muitos países. As cultivares FMT707 e FMT701
obtiveram a maior massa de 1000 sementes entre as cultivares em estudo,
enquanto que a cultivar IMACD6001LL obteve a menor massa de 1000 sementes,
nos dois anos de cultivo.
4.3 Qualidade Fisiológica da Semente
A avaliação da qualidade fisiológica das sementes das cultivares de algodão,
em cada ano de produção, foi determinada pelos testes de primeira contagem de
germinação, germinação, frio, massa de mil sementes, comprimento e fitomassa
seca da parte aérea e sistema radicular.
49
As características fisiológicas das sementes foram apresentadas na Tabela
2, verificando-se que todas as cultivares de algodão em estudo produziram
sementes com alta qualidade fisiológica neste ambiente. As cultivares
IMACD6001LL, FMT707 e FMT701, provavelmente, se adaptaram melhor às
condições edafoclimáticas na região de cultivo no primeiro ano, visto que,
produziram sementes com alta germinação (Tabela 2). Não foram observadas
diferenças estatísticas entre a germinação das sementes produzidas pelas
diferentes cultivares, entretanto, observou-se variações entre 96% e 98% nessa
variável, embora todas as cultivares tenham produzido sementes com germinação
acima de 90% (Tabela 2). No segundo ano de cultivo o percentual de germinação
nas sementes produzidas foi inferior ao observado no primeiro ano de cultivo e
variou entre 81% e 83%. Todavia, ressalta-se que, nos dois anos de cultivo, o
percentual de germinação das sementes de algodão produzidas nas condições
edafoclimáticas de Alegrete/RS, foi acima de 81%, sendo o percentual de 80% de
germinação aceito para a comercialização de sementes de algodão, embora o
mínimo admissível seja de 75% (ARAÚJO et. al., 2006). O padrão recomendado
pela CESM-PB (1989) para germinação de sementes do algodoeiro é de 60%, no
mínimo. A germinação mínima ideal para uso de sementes de algodoeiro para
cultivo é de 60% (EMBRAPA apud QUEIROGA e BELTRÃO, 1999).
A primeira contagem de germinação não variou entre as cultivares, nos dois
anos de cultivo, embora tenha sido inferior no segundo ano (Tabela 2). Nas
parcelas, as plântulas das diferentes cultivares obtiveram estabelecimento adequado
e se pode afirmar que se adaptaram as condições edafoclimáticas para o seu
desenvolvimento inicial, aparentemente estando supridas, visto que o algodoeiro é
uma planta considerada com desenvolvimento inicial lento, aumentando
significativamente a partir do crescimento dos frutos (CARVALHO et. al., 2007). Na
Tabela 2, verificou-se que as sementes produzidas no primeiro ano de cultivo
obtiveram o maior percentual na primeira contagem de germinação, variando entre
85 e 92%, comparativamente ao segundo ano, que variou entre 58 e 63%, sendo
considerado satisfatório, considerando as condições climáticas registradas no
período (Figuras 1, 2 e 3).
A tendência de possuir certa tolerância às baixas temperaturas, nas
sementes produzidas pelas cultivares avaliadas, nos dois anos de cultivo, conforme
50
apresentado na Tabela 2. As sementes da cultivar FM993 foram as que menos
toleraram as baixas temperaturas no momento da germinação. Em contrapartida, as
sementes da cultivar FMT701 demonstraram o melhor desempenho sob baixas
temperaturas. No segundo ano de cultivo, as sementes de todos os materiais
genéticos em estudo apresentaram qualidade fisiológica inferior, supostamente pela
escassez hídrica durante grande parte do ciclo de desenvolvimento da cultura,
principalmente, durante a formação e o enchimento das sementes, o que pode ter
influenciado no acúmulo de reservas nutritivas e, consequentemente, contribuído
para o menor vigor das sementes, conforme observado nos testes de primeira
contagem de germinação, de frio, comprimento e fitomassa seca da parte aérea e
sistema radicular das plântulas de algodão. Os resultados observados no teste de
frio das sementes produzidas no primeiro ao de cultivo corroboram com os dados de
Cardoso Sobrinho et. al. (1999), que salientam que lotes de sementes de sorgo de
alta qualidade devem alcançar, no teste de frio, percentuais de 70 a 85%. O teste de
frio avalia o desempenho intrínseco que a cultivar apresenta quanto à qualidade das
sementes, nas condições adversas de cada microrregião de produção. Segundo
Pizzinato et al. (1999), as diferenças observadas na qualidade das sementes, podem
ser atribuídas ao manejo do campo e às condições climáticas de cada local. Desta
forma o ambiente é determinante no suprimento dos fatores de produção para
contemplar as necessidades de cada material genético, para que possa atingir ou
superar o seu potencial produtivo, nas regiões para onde são recomendados para o
cultivo.
As cultivares IMACD6001LL, FMT707 e FMT701 produziram sementes que
resultaram em plântulas com maior comprimento da parte aérea e do sistema
radicular, consequentemente, com maior massa de matéria seca da parte aérea e
sistema radicular (Tabela 2), sugerindo maior acúmulo de matéria seca nos tecidos
de reserva das sementes, durante a fase reprodutiva do ciclo de desenvolvimento
das plantas, resultados semelhantes foram encontrados por Lazarini et al, (2000) em
cultivares de soja. Isso demonstra o potencial de produção de cada genótipo,
influenciado pelas condições edafoclimáticas, que se refletiram na produção de
sementes de algodão com alta qualidade fisiológica. De acordo com Lopes et al.
(2005), a fitomassa seca da planta é um importante parâmetro para avaliação do
51
crescimento, pois sua determinação adequada possibilita estimar o crescimento e
desenvolvimento das plantas durante o ciclo.
Sementes mais vigorosas são mais resistentes às condições de estresse
hídrico, de acordo com Tekrony e Egli, (1977) e Tekrony et al., (1991). Sabendo-se
que os tecidos vegetais são formados por C, H, O, N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Co, Mn,
B, entre outros, e que quase 90% da constituição dos tecidos são compostos por
produtos da fotossíntese, percebe-se que o ambiente, principalmente os fatores
climáticos como pluviosidade, umidade relativa e temperatura (Figuras 1, 2 e 3)
foram favoráveis ao cultivo desta espécie, em Alegrete/RS, conforme se observou
na alta produtividade e qualidade das sementes obtidas nos cultivos (Tabelas 1 e 2).
A colheita foi realizada aos 178 DAE, quando o clima favorável no final do
ciclo reprodutivo (Figuras 1, 2 e 3) beneficiou as cultivares com a falta de chuva. No
primeiro ano de cultivo, a última chuva antes da colheita foi de 28,9 mm, em março,
e ocorreu 23 dias antes da colheita, realizada em abril de 2011. Na segunda safra, a
última chuva foi de 26,4 mm, 19 dias antes da colheita.
Tabela 2: Primeira Contagem de Germinação (PCG (%)), Germinação (GERM(%)), Teste de Frio (FRIO (%)), Comprimento da Parte Aérea (COMP. PA. (mm)) e Raiz (COMP RZ (cm)) e Massa Seco da Parte Aérea (MASSA SECA PA (g)) e Raiz (MASSA SECA RZ (g)) das sementes das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas nas safras 2010/11 e 2011/12.
CULTIVARES
Safra 2010/11
PCG
(%)
GERM
(%)
FRIO
(%)
COMP PA
(mm)
COMP RZ
(mm)
MASSA SECA
PA (g)
MASSA SECA
RZ (g)
IMACD6001LL 85 a 98 a 78 a 54,00 a 57,75 ab 0,5723 ab 0,0388 ab
FMT707 92 a 97 a 80 a 47,85 bc 63,65 a 0,5455 b 0,0244 b
FMT701 91 a 96 a 81 a 48,50 ab 64,00 a 0,5433 b 0,0588 a
FM910 88 a 92 a 74 a 42,65 cd 57,23 ab 0,5350 b 0,0316 ab
FM993 85 a 90 a 65 b 37,63 d 48,00 b 0,5970 a 0,0326 ab CV (%) 5,87 2,77 7,23 7,78 10,40 5,19 14,19
CULTIVARES
Safra 2011/12
IMACD6001LL 63 a 81 a 71 a 41,70 a 48,22 ab 0,4582 ab 0,0325 a
FMT707 62 a 82 a 71 a 39,17 b 52,85 a 0,4525 ab 0,0322 a
FMT701 60 a 83 a 68 ab 37,60 b 53,05 a 0,4290 b 0,0410 a
FM910 58 a 81 a 61 ab 37,15 b 46,95 ab 0,4407 b 0,0400 a
FM993 59 a 81 a 54 b 32,70 c 38,25 b 0,4955 a 0,0287 a CV (%) 5,88 3,71 9,91 2,43 10,75 4,27 18,02
* Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de significância.
52
Essas condições climáticas favoreceram o não apodrecimento de maçãs,
resultando em poucas perdas dos frutos do terço inferior da planta, provavelmente
devido à ausência de dias nublados durante a maior parte do ciclo da cultura,
característica desta época do ano na região oeste do Rio Grande do Sul. Essas
condições climáticas não ocorrem, nesta fase do ciclo de desenvolvimento do
algodoeiro, nas regiões tradicionais de cultivo, havendo predominância de chuvas na
época da colheita. A alta pluviosidade e nebulosidade aumentam a susceptibilidade
ao apodrecimento de maçãs do terço inferior da planta, às viroses e à ramulária
(Ramularia areola), causando baixa capacidade de retenção de maçãs e das plumas
no capulho, conforme Aguillera et al. (2005).
As condições climáticas predominantes na área experimental onde foi
conduzido o presente estudo e apresentadas nas Figuras 1, 2 e 3, demonstram que
as temperaturas médias foram inferiores a 21 ºC e a umidade relativa média do ar foi
de 70% na colheita do primeiro ano de cultivo. No segundo ano de cultivo, as
temperaturas médias foram de 22 ºC e a umidade relativa do ar, na colheita, foi de
60%. Pressupõe-se que a alta qualidade fisiológica obtida nas sementes de algodão
produzidas pelas cultivares IMA6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e FM993, nos
dois anos de cultivo, em Alegrete, possa ter sido preservada no campo de produção
de sementes, devido às condições climáticas de baixa umidade relativa do ar e
baixas temperaturas, favoráveis para a produção e conservação das sementes nesta
fase do ciclo. A ocorrência de chuvas no final do ciclo da cultura e pode afetar o
potencial germinativo, se coincidir com a colheita, o que pode justificar a redução da
qualidade fisiológica das sementes do algodoeiro colhidas netas condições
climáticas (TANAKA e PAOLINELLI, 1984; MEDEIROS FILHO et al., 1993 e
GOULART, 1995). De acordo com Bolonhezi et al. (1999), o atraso na colheita do
algodoeiro influencia a germinação e o vigor das sementes, variando em função do
local de cultivo e do material genético. Da mesma forma, Silva (2007), avaliando
diferentes umidades para colheita de sementes de cevada, em diferentes cultivares,
no município de Piratini, no Rio Grande do Sul, verificou que há tendência ao
decréscimo na germinação, na viabilidade, na velocidade de germinação e no
envelhecimento acelerado, conforme se atrasa a colheita.
53
4.4 Qualidade Tecnológica da Fibra
Atualmente, outras características da fibra do algodão, além do comprimento
e do tipo, passaram a ter importância na determinação do valor final da fibra. A fibra
do algodão, que era classificada por técnicos treinados e experientes, passou a ser
classificada por diversos aparelhos através da determinação das características
físicas da fibra. Entre esses equipamentos, destaca-se o fibrógrafo, que determina o
comprimento e a uniformidade de comprimento, o micronaire, que determina a finura
e a maturidade, e o estelômetro que, além de analisar a resistência da fibra,
determina o alongamento. Através das análises da fibra realizadas por
equipamentos conhecidos como HVI, as fiações de algodão passaram a receber
maior volume de informações sobre cada fardo consumido.
A indústria têxtil nacional exige fibras de comprimento médio, longo e
extralongo com as características consideradas ideais para o mercado, cada vez
mais finas e resistentes, que possam ser fiadas em rotores de alta velocidade. Para
as fiações modernas, estas fibras devem apresentar, na análise de HVI, o índice de
micronaire no intervalo entre 3,5 a 4,2 µg.pol-1 e resistência da fibra superior a 24
gf.tex-1 (SANTANA et al., 1999).
Na Tabela 3, são apresentados, pelos obtentores das respectivas
tecnologias, os parâmetros relativos à qualidade das fibras produzidas pelas
diferentes cultivares de algodão utilizadas no presente estudo.
Tabela 3: Intervalos médios1 de comprimento de fibra (UHM (mm)), índice de uniformidade do
comprimento da fibra (UI (%)), índice de fibras curtas (SFC (%)), resistência da fibra (STR (gf.tex-1
)), micronaire (MIC (µg.pol
-1)), grau de reflexão das fibras (Rd (%)) e massa do capulho (mcap (g)), para
as cultivares de algodão em estudo, nas regiões recomendadas para cultivo, conforme obtentores, 2012.
Fonte*: Instituto Matogrossence do Algodão (http://www.imamt.com.br) Fonte**: Fundação Mato Grosso (http://www.fundacaomt.com.br) Fonte***: Bayer Cropscience (http://www.bayer.com.br) 1
Intervalos médios de referência para comparação das características tecnológicas das fibras entre as diferentes cultivares, estando sujeitos a efeitos ambientais.
sendo acima dos valores descritos nos intervalos, demonstrando uniformidade na
coloração das fibras, conforme a Tabela 4.
A massa dos capulhos descrita nos intervalos médios de referência (Tabela
4) não foi atingida por nenhuma das cultivares em estudo, sendo que as cultivares
IMACD6001LL, FMT707 e FMT993, obtiveram as maiores massas de sementes e
fibras por capulho, nos dois anos de cultivo (Tabela 1).
Quanto ao comprimento da fibra, de acordo com a classificação do Código
Universal para a Determinação do Comprimento de Fibra (BRASIL, 2002), a cultivar
IMACD6001LL obteve classificação de “algodão em pluma de comprimento curto e
médio”, enquanto que as cultivares FMT707, FMT701, FM910 e FM993, a
classificação de “algodão em pluma de comprimento longo e extralongo” o que
demonstra a aptidão, das cultivares de algodão em estudo, para produzir fibra de
boa qualidade, expressando seu potencial genético e adaptando-se às condições
edafoclimáticas da área de cultivo.
Tabela 4: Comprimento de fibra (UHM (mm)), índice de uniformidade do comprimento da fibra (UI (%)), índice de fibras curtas (SFC (%)), resistência da fibra (STR (gf.tex
-1)), alongamento da fibra
(ELONG), micronaire (MIC (µg.pol-1
)), grau de reflexão das fibras (Rd (%)), das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas na safra 2010/11.
TRATAMENTOS UHM (mm)
UI (%)
SFC (%)
STR (gf.tex
-1)
ELONG (%)
MIC (µg pol
-1)
Rd (%)
IMACD6001LL 30,937 a 88,90 a 4,10 b 33,60 a 6,25 a 4,20 a 78,43 a
FMT707 31,826 a 87,88 a 4,35 ab 31,58 a 5,88 a 4,20 a 79,43 a
FMT701 31,623 a 86,93 a 5,25 a 32,30 a 5,93 a 4,40 a 78,13 a
FM910 31,623 a 88,30 a 4,45 ab 33,65 a 5,68 a 4,15 a 79,35 a
FM993 31,623 a 88,48 a 4,35 ab 33,70 a 5,88 a 4,18 a 79,85 a
CV (%) 3,25 1,49 14,78 4,10 6,07 10,00 2,32
* Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de significância. ** Fonte: MAPA nº 63, de 05/12/2002 – Publicada no DOU do dia 06/12/2002 (Págs. 6 a 8). *** Fonte: Laboratório UNICOTTON, categorias para classificação de algodão, conforme romaneio nº 07 de 29 de agosto de 2011.
O índice de uniformidade do comprimento da fibra é a relação entre o
comprimento médio e o comprimento médio da metade das fibras mais longas
(UHM), expresso em porcentagem (UI%= ML ÷ UHM x 100). Todas as cultivares em
estudo obtiveram uniformidade de fibra acima de 85%, considerada “muito alta”
pelos padrões da classificação de algodão para a indústria têxtil. O índice de fibras
curtas, que é a frequência expressa em função da massa ou da quantidade de fibras
56
com comprimento inferior a 12,7 mm, ficou entre 4 e 5% para as cultivares avaliadas,
sendo considerado baixo (Tabela 4). Entretanto, ocorreram diferenças entre as
cultivares, sendo que a cultivar FMT701 apresentou o maior percentual de fibras
curtas. A cultivar IMACD6001LL aparentemente apresentou o menor percentual de
fibras curtas, quando se observa os valores absolutos desta variável (Tabela 4).
A resistência da fibra é a força, em gramas, requerida para romper um feixe
de fibras de um tex, que equivale à massa em gramas de 1000 (mil) metros de fibra.
No caso das cultivares em estudo, as fibras produzidas foram consideradas “muito
resistentes”, com valores superiores a 31,0 gf.tex-1, (BRASIL, 2002 e SANTANA et
al., 1999).
O micronaire da fibra é determinado pelo complexo de finura e maturidade
das fibras, sendo a medida do diâmetro da fibra, também conhecido como “finura da
fibra”. É um indicador de resistência de uma determinada massa de fibra a um fluxo
de ar, à pressão constante, em câmara de volume definido. O micronaire é
fortemente influenciado pelo conteúdo de celulose presente na parede secundária
da fibra, permitindo estimar a quantidade de fibras que irão compor a seção
transversal do fio e, portanto, sua resistência e regularidade em função do
comprimento (MCALISTER III e ROGERS, 2005). Exerce grande influência na
eficiência de limpeza e de remoção de “neps”, que são minúsculos emaranhados
fibrosos que se formam a partir da ruptura da fibra quando submetida aos esforços
mecânicos característicos do beneficiamento e do processo de colheita pela ação
dos fusos ou de fibras imaturas, que não se desfazem durante o processamento
têxtil (MCALISTER III e ROGERS, 2005), na resistência à ruptura e na uniformidade
da massa dos fios, bem como no tingimento das fibras, fios e tecidos. Usualmente,
comercializa-se algodão com micronaire entre os limites de 3,9 e 4,5 µg.tex-1, sendo
considerado adequado entre os valores de 3,8 a 4,2. Estes valores considerados
adequados são semelhantes aos obtidos pelas cultivares IMACD6001LL, FMT707,
FM910 e FM993, enquanto que o cultivar FMT701 obteve índice um pouco acima,
mas dentro do limite utilizado para comercialização, demonstrando que as cultivares
em estudo obtiveram valores de micronaire compatíveis com os padrões de
comercialização, de acordo com Ramos et al., (2008) e Brasil, (2002).
A reflectância das fibras é medida em uma escala que varia do branco ao
cinza, indicando quanto brilhante ou fosca é uma fibra. Quanto maior a reflectância
57
da fibra, menor será seu acinzentamento e maior o interesse pela indústria têxtil. No
presente trabalho não houve diferença para reflectância, entre as cultivares,
variando entre 78,13 e 79,85% (Tabela 4).
De acordo com a classificação HVI, a cor do algodão é medida pelo grau de
reflectância e de amarelecimento, que indicam o grau de pigmentação da cor. Este
padrão de classe é universal e está na custódia do United States Department of
Agriculture (USDA, 2011). A maturidade da fibra indica o grau de desenvolvimento
da parede da fibra, sendo que, para duas fibras de mesmo diâmetro, a mais madura
será aquela que possuir parede mais espessa em sua seção transversal. As fibras
produzidas pelas cultivares em estudo apresentaram maturidade elevada, acima de
87%, sem diferença estatística entre os materiais em estudo (Tabela 5).
Tabela 5: Grau de amarelamento (+B), cor das fibras (COR), índice de fiabilidade (SCI), maturidade (MAT), porcentagem da fibra (PF (%)), estimativa de produtividade de fibra (PROD.FIB (Kg.ha
-1)) e
categoria, das cultivares de algodão, Universidade Federal de Pelotas na safra 2010/11. CULTIVARES +B COR SCI MAT (%) PROD.F(Kg.ha
-1) CATEG.
IMACD6001LL 8,28 a 286,5 a 183,0 a 87,5 a 4.042,40 ab B,B,A,A,C
FMT707 7,75 a 261,5 a 174,5 a 87,5 a 4.348,16 a A,C,D,C,B
FMT701 7,88 a 312,0 a 169,0 a 88,3 a 3.737,60 b A,A,B,A,B
FM910 7,88 a 286,8 a 182,3 a 87,8 a 3.312,00 c B,C,A,A,A
FM993 7,90 a 261,3 a 183,0 a 87,8 a 4.570,24 a B,A,A,C,B
CV (%) 11,47 23,47 6,42 1,22 14,68
* Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Duncan ao nível de 5% de significância. **Fonte: Laboratório UNICOTTON, categorias para classificação de algodão, conforme romaneio nº 07 de 29 de agosto de 2011.
A porcentagem de fibra por capulho foi variável entre as cultivares, sendo
que a cultivar FM993 obteve percentagem acima de 41,5% de fibras por capulho de
algodão, enquanto que para a cultivar IMACD6001LL, o percentual de fibra por
capulho foi de 35,9%, no primeiro ano de cultivo. Entretanto, no segundo ano de
cultivo, a cultivar FM993 atingiu 31,94% de fibras por capulho e a cultivar
IMACD6001LL, 34,60%. Embora o potencial estimado de produtividade de fibras por
hectare, das cultivares IMACD6001LL, FMT707, FMT701, FM910 e FM993, tenha
sido de 4.042,40 Kg.ha-1; 4.348,16 Kg.ha-1; 3.737,60 Kg.ha-1; 3.312,00 Kg.ha-1 e
4.570,24 Kg.ha-1, considerados altos (Tabela 1). No segundo ano a produção de
fibra foi de 1.223,75; 680,80; 768,60; 594,00 e 710,64 Kg.ha-1. Não foram estimadas
58
perdas na pré-colheita, na colheita, no beneficiamento, sendo o potencial produtivo
bruto estimado através dos componentes do rendimento.
A estimativa de produtividade média geral bruta de fibras, nos dois anos de
cultivo, foi de 2.633,07; 2.514,48; 2.253,10; 1.953,00 e 2.640,44 Kg.ha-1
ultrapassando a média nacional e a dos maiores países produtores de algodão do
mundo.
Tabela 6: Categorias de referência para a classificação de algodão utilizada pela UNICOTTON, Primavera do Leste – Mato Grosso, safra 2011.
CATEGORIA sigla
A - Excelente B - Ótimo C - Padrão D - Abaixo do
Padrão
MICRONAIRE MIC 3,80 a 4,20 3,70 a 4,40 3,50 a 4,90 0,10 a 999,90
CONTEÚDO SFI 0,10 a 9,00 0,10 a 10,00 0,10 a 10,90
UNIFORMIDADE UNF 82,00 a 999,90 81,00 a 999,90 80,00 a 999,90
COMPRIMENTO LEN 1,15 a 999,99 1,12 a 999,99 1,08 a 999,99
RESISTÊNCIA STR 29,00 a 999,90 28,00 a 999,90 27,00 a 999,90
Fonte: Laboratório UNICOTTON, categorias para classificação de algodão, conforme romaneio nº 07 de 29 de agosto de 2011.
Resultados encontrados por Vilela et al. (2007), em experimento conduzido
no Mato Grosso, nos municípios de Primavera do Leste e Campo Verde, avaliando
as mesmas cultivares não demonstraram diferenças significativas entre as variáveis
tecnológicas das fibras, exceto para refletância, não se destacando nenhuma cultivar
em estudo, sendo que todas ficaram entre os níveis exigidos pelas indústrias têxteis.
Os componentes da qualidade da fibra apresentaram valores muito bons para índice
de uniformidade, resistência, alongamento, índice de fibras curtas e fiabilidade,
concordando com resultados encontrados por Setren e Lima (2007). Com relação às
características tecnológicas de fibras, todas as cultivares apresentaram
propriedades físicas consideradas dentro dos padrões aceitáveis pelas indústrias
têxteis e pelo mercado internacional de algodão.
59
5 Considerações Finais
Este estudo relacionou as características edafoclimáticas do ambiente de
produção com as necessidades fisiológicas das cultivares de algodão, permitindo
analisar o desempenho, a estabilidade, o vigor e a aptidão dos materiais genéticos
em manter ou ultrapassar seu potencial produtivo. Os resultados deste estudo
relatam o desempenho de cultivares, estimativa de produtividade e qualidade, que
são informações básicas para se determinar a viabilidade de cultivo e direcionar
investimentos para a produção de algodão no Rio Grande do Sul. A racionalização
dos custos de produção, a possibilidade de rotação em áreas de cultivo com soja e
milho, a sucessão de cultivos com trigo, aveia, cevada, girassol, entre outras
espécies, a rotação de princípios ativos de agroquímicos, o auxílio na extração e
inversão de nutrientes no solo, a não existência das principais pragas e doenças que
afetam diretamente o algodoeiro, são outras características agronômicas
importantes para a sustentabilidade do ambiente de produção. Em algum “momento
econômico” da agricultura brasileira pode haver a possibilidade ou a necessidade de
se desenvolver um mercado cotonicultor gaúcho, neste caso este estudo pode
fornecer informações que podem viabilizar a produção de sementes e de cultivares
adaptadas e/ou selecionadas para esta região. O Estado não é produtor de algodão,
entretanto, os resultados obtidos neste estudo demonstram que existe a
possibilidade de produzir algodão no município de Alegrete, embora sejam
necessários outros estudos e condução de novos ensaios de campo para obter mais
estimativas dos potenciais produtivos destes e de outros materiais genéticos de
algodão, em diferentes locais e por mais safras, além do levantamento de outras
características fitotécnicas. A possibilidade de adaptação de cultivares de algodão
ao ambiente do pampa gaúcho, assim como a identificação de novas regiões para a
produção de sementes e fibra poderiam ser utilizadas, estrategicamente, para suprir
com sementes de alta qualidade, as atuais e futuras áreas de produção de algodão
no país, evitando os principais problemas existentes nas regiões tradicionais de
60
produção, principalmente com relação às pragas, doenças e deterioração de
sementes no campo devido às chuvas no período de colheita. Observando os
resultados verifica-se um comportamento diferencial entre os materiais genéticos de
algodão avaliados, quanto à sua adaptabilidade ao ambiente e às condições
edafoclimáticas, onde todas as cultivares produziram sementes e fibras de alta
qualidade, sendo que as cultivares IMACD6001LL, FMT707 e FM993 apresentaram
as maiores produtividades de sementes, alto percentual de germinação e vigor das
sementes, no primeiro ano de cultivo. No segundo ano de cultivo, apesar da redução
da qualidade fisiológica das sementes, esta foi considerada muito boa, tendo em
vista às condições climáticas encontradas pelas cultivares. As cultivares
IMACD6001LL, FMT707, FM910 e FM993 obtiveram as maiores estimativas de
produtividade de fibra por área cultivada, onde a cultivar FM993 apresentou 41,56%
de fibras por capulho, considerado alto, enquanto que a cultivar IMACD6001LL
apresentou 35,93%, sendo o menor percentual de fibras por capulho. Na tecnologia
de fibras, todas as cultivares apresentaram fibras cuja qualidade foi considerada
entre excelente e padrão, demonstrando que o algodoeiro pode ser cultivado nesta
região.
61
6 Conclusão
Nas condições em que este experimento foi realizado, conclui-se que:
Todos as cultivares de algodão produziram sementes de alta qualidade
fisiológica e fibras com características intrínsecas consideradas acima dos padrões
de classificação.
As diferenças de desempenho na produção e na qualidade fisiológica das
sementes, entre as cultivares, foram influenciadas pelas características climáticas da
região de cultivo.
A região de Alegrete, Rio Grande do Sul, possui clima favorável à produção
de sementes de algodão de alta qualidade fisiológica.
62
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