Desafios do Comércio Exterior Brasileiro Jorge Arbache UnB e Arbache Consultoria FIESP, 17 de novembro de 2015
Desafios do Comércio Exterior Brasileiro
Jorge ArbacheUnB e Arbache Consultoria
FIESP, 17 de novembro de 2015
Entramos numa nova fase da globalização
• Globalização 1.0 – nexo entre liberalização comercial, outsourcing, cadeias globais de valor e popularização das telecomunicações
• Globalização 2.0 – nexo entre comércio, investimentos, serviços, propriedade intelectual, tecnologia, coordenação de externalidades das redes de produção e novos padrões de acordos
• O padrão de relações econômicas internacionais está em franca transição
• Comércio no sentido convencional -- cada vez menos revelador do padrão predominante de inserção global no século XXI
• Ambiente mais desafiador
Muitos desafios para a inserção do Brasil na globalização 2.0
1. Estagnação econômica
2. Demografia
3. Desindustrialização
4. Acordos plurilaterais
5. Serviços
6. Produtividade sistêmica e novas tecnologias
7. Isolamento comercial
1. Estagnação econômica
• PIB per capita não deve se recuperar ao nível de 2014 antes de 2020
• Constrangimento fiscal impactos nos investimentos públicos e no financiamento
• Externalidades negativas, incertezas e riscos
• Desencorajamento dos investimentos privados
• Efeitos positivos do bônus demográfico para a competitividade internacional praticamente perdido
• Câmbio efeito positivo de curto prazo, mas controverso no médio prazo
-5,0
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0,0
1,0
2,0
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24500
25000
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27000
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2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023
PIB per capita (R$ de 2015) e taxa de crescimento do PIB per capita (%)Fonte: Arbache (Out/2015)
PIB per capita tx cresc PIB per capita
2. Demografia
• Transformação demográfica precoce crescente pressão sobre os custos do trabalho
• Demografia combinada com baixa produtividade elevação do Custo Unitário do Trabalho (CUT)• setores trabalho-intensivo mais afetados
• Pressão crescente de custos fiscais – saúde, previdência social, assistência social mais constrangimentos fiscais
• Pressões de custos aumentarão à medida que caminharmos para o fim do bônus demográfico em meados de 2020
1,75
1,89
1,93 1,94
1,98 1,98
Número médio de filhos 2015-2020Fonte: UNPD
-5
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-3
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-1
0
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3
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TAXA DE CRESCIMENTO DA PIA (%)FONTE: UNPD
9
10
Produtividade por trabalhador 1980 e 2013 (US$)
Fonte: Conference Board
-
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
Estados
Unidos
Brasil México Malásia Indonésia China Índia Coreia do
Sul
Tailândia África do
Sul
Vietnã
1980
2013
11
3. Desindustrialização precoce e primarização
• Impactos na capacidade de gerar valor, inovar, gerar empregos, renda, impostos
• Compromete a inserção internacional pela “porta da frente” via cadeias globais de valor
• Maior dependência do Estado
• Maior dependência das importações
05
1015202530354045
Participação da indústria no PIB (%) - Fonte: WDI-WB
1980 2012
0
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20
30
40
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60
70
Participação dos manufaturados nas exportações (%) - Fonte: WDI-WB
4. Acordos Plurilaterais
• Acordo Transpacífico (TPP), Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) e Trade in Services Agreement (TISA)
• Paulatino abandono dos princípios multilaterais que regulam as relações econômicas – praticamente “enterra” a Rodada Doha
• Consenso internacional de que o TPP estabelecerá os parâmetros que governarão as relações econômicas do século XXI
• Provavelmente influenciará as perspectivas de crescimento econômico entre países que têm serviços e PI e os demais
• Capítulos sem precedentes, incluindo serviços em geral, comércio eletrônico, serviços eletrônicos, telecomunicações, serviços financeiros, propriedade intelectual, acesso a mercado, regras de origem, padrões sanitários e fitossanitários, investimentos, compras governamentais, padrões trabalhistas, normas ambientais, empresas estatais e soluções de controvérsia
• Estabelece um espaço de convergência que vai muito além do comércio, o que é fundamental para as características produtivas e econômicas do sec. XXI
• A articulação dos acordos preexistentes com os acordos representa um passo determinante para a integração produtiva dos países membros
• Quando calculado em valor adicionado, os setores que mais se beneficiarão são os de serviços e de propriedade intelectual
• No longo prazo, provavelmente aumentará a desigualdade de renda entre países
• De imediato, TPP causará desvios de comércio e de investimentos
• Imensa pressão sobre países que estão fora do acordo
• A UE já está se sentindo pressionada para concluir a TTIP
• Acordo UE-Mercosul também pressionado
5. Serviços
• Nossos serviços são caros e deficientes – 64% do valor adicionado da indústria
• Baixíssima produtividade, focados em serviços finais de consumo
• Serviços principais fontes de geração de emprego e renda no sec. XXI
• Hoje, 54% do comércio global medido em valor adicionado; 75% até 2025
• EUA e UE já respondem por 65% do comércio global de serviços
• Muitos serviços serão fornecidos a partir de terceiros países; ex. e-commerce, cloud computing, educação, saúde, Uber, Airbnb, Netflix
• Hoje, mercado de serviços comerciais é de $4 trilhões; estima-se que chegará a $10 trilhões nos próximos 10 anos
• Cada vez mais determinante para a competitividade industrial
• Principal motivador e destino do FDI
6. Produtividade sistêmica e tecnologias de produção e de organização da produção
• Ainda estamos discutindo a agenda de “Custo Brasil”
• Enquanto isso... robôs, inteligência artificial, impressoras 3D, indústria 4.0, big data
• Produtividade sistêmica cada vez mais determinante
• Escala perdendo relevância customização
• Cadeias globais de valor perdendo relevância cadeias regionais
7. Isolacionismo comercial e ausência de participação na governança global
• Modestos acordos comerciais
• Isolamento dos principais fóruns, acordos e centros decisores da governança global
Por que esses pontos importam para nós?
• Estamos integrados às cadeias de valor basicamente por commodities
• Baixa competitividade industrial e de serviços
• Baixa produção de conhecimento
• Não temos um projeto coerente e realista para os padrões das relações econômicas no sec. XXI
• Não temos uma estratégia para o Mercosul
• Estamos de fora da discussão da nova governança das relações econômicas globais – nos tornamos passageiros
• Estamos reagindo, e não agindo para defender nossos interesses
• Estamos ficando ainda mais isolados comercialmente
• Acordos plurilaterais -- de imediato, desvio de comércio e de investimentos
• Aumenta o peso dos nossos modestos indicadores de competitividade, o que sugere desafios ainda maiores à frente
• Risco de decisões reativas exageradas
0,8
4
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5
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BEL
LUX
NLD
DEU FR
A
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CH
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IDN
IND
BR
A
Índice de competitividade internacional - quanto maior, pior - (produtividade relativa / preço relativo)
Fonte: Arbache (2015)
6055
3530
20 2010
55
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5 5 25
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5
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35
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25
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15
5
510 10 10 10
2010
Brasil África do Sul Índia Malásia Singapura Costa Rica China
Recursos naturais Baixa tecnologia Média tecnologia
Manufaturas Sofisticadas Serviços baseados em conhecimento Outros
Fonte: UNCTAD 2013
Padrão de participação em cadeias globais de valor
• Não importa ter indústria, mas que indústria ter
• Custos baixos já não serão suficientes para garantir o desenvolvimento econômico dos países e a competitividade das empresas
• Na era da globalização e do conhecimento, o que importa é o que e o como fazemos as coisas, a capacidade de criar, de fazer melhor, de agregar valor e de apresentar soluções novas e eficientes para problemas novos e antigos
• O que importa cada vez mais não é o participar, mas o como participar da economia global
Estamos aprendendo que
O que fazer? Perguntas difíceis
• Será necessário buscar atalhos – muito tarde para perseguir caminhos convencionais
• Tensão entre abrir a economia e seguir protegendo
• Riscos de ficar de fora da nova governança global e dos fluxos de comércio e investimentos
• Precisamos de uma estratégia!
• Como procrastinamos, precisaremos dar conta simultaneamente de políticas de comércio, industrial, de conhecimento, de infraestrutura, de capital humano, para o Mercosul, investimentos e PI
A despeito dos desafios, muitas oportunidades de negócios
• Baixa eficiência – maior aliado
• Serviços – imenso rol de oportunidades
• Novas tecnologias
• Aproveitar as mudanças demográficas - ex. saúde
• Economia regional
• Industrialização das vantagens comparativas
Muito [email protected]
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