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Depressão e ansiedade e seus fatores associados: um estudo
com a população sénior de Vila Nova de Gaia
Discente: MARISA RAQUEL VENÂNCIO DA SILVA
Dissertação apresentada ao Instituto Superior de Serviço Social do Porto para obtenção do
Grau de Mestre em Gerontologia Social
Orientador: Prof. Doutor Óscar Ribeiro
Coorientador: Prof. Hélder Alves
ISSSP, outubro de 2018
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I
Agradecimentos
Neste momento tão importante na minha vida não poderia esquecer os que me são mais
queridos: o meu marido, os meus pais, os meus amigos, todos aqueles que de forma direta ou
indireta cruzam o meu caminho e alimentam esta minha vontade de continuar. Não foi um
processo fácil, por vezes até doloroso, mas foi, sem sombra de dúvida, repleto de emoções e de
sabor. E as pequenas vitórias adquiriram vários sabores ao longo deste processo…
De igual forma devo a agradecer aos meus orientadores. Ao Prof. Dr. Óscar Ribeiro, pela
confiança e credibilidade que depositou em mim; fez, na verdade, que este “fardo”, em alguns
momentos, se tornasse mais pesado, tal era a responsabilidade! O conhecimento e tranquilidade
que transmite enriquecem qualquer pessoa que com ele se cruze, e a mim, faz-me orgulhosa do
meu caminho. Foi, ao mesmo tempo, um privilégio e uma honra tê-lo como orientador.
Ao Prof. Hélder Alves devo agradecer o entusiasmo pelo trabalho que desenvolvi, a prontidão
e a paciência em ensinar-me algo tão novo e desconhecido como a estatística. A ele, uma
palavra especial de apreço.
Costumo dizer que tive e tenho muita sorte. Desde que regressei aos estudos encontrei sempre
professores fantásticos e de nobres valores. Um bem-haja a todos eles. Tudo o que partilham
comigo não pode senão engrandecer-me enquanto pessoa e enquanto profissional.
Obrigada a todos os que acreditaram em mim e no meu trabalho.
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II
palavras-chave: depressão, ansiedade, idosos
resumo
Objetivos: Este estudo tem como objetivo avaliar a presença de sintomatologia depressiva e
ansiosa numa população idosa residente na comunidade e determinar que fatores sociais,
sociodemográficos e de saúde lhe estão relacionados.
Método: Trata-se de um estudo quantitativo e transversal, com recurso à aplicação de
questionários a uma amostra representativa de 987 idosos do concelho de Vila Nova de Gaia, a
viver na comunidade. Foram utilizados, na recolha de dados, um questionário
sociodemográfico, a Escala de Depressão Geriátrica de 4 itens (GDS-4), o Inventário de
Ansiedade Geriátrica de 5 itens (GAI) e a Escala de Solidão da UCLA de 6 itens. Recorreu-se
à análise descritiva dos dados e a análises de regressão logística.
Resultados: De acordo com os resultados obtidos, apura-se que 32.8% da amostra (321
indivíduos) apresentam sintomatologia depressiva e 59.4% (586 indivíduos) apresentam
sintomatologia ansiosa. Os dados sugerem que os idosos que avaliam negativamente a sua
saúde, que apresentam dificuldades visuais e de mobilidade (andar ou subir degraus), que vivem
isolados, que são contactados com mais frequência por outros familiares que não filhos e netos,
os que não têm um confidente e os que apresentam valores de solidão superiores à média, têm
uma maior probabilidade de desenvolver sintomatologia depressiva. Os idosos que têm maior
chance de apresentar sintomatologia ansiosa são mulheres, de grupos etários mais novos, com
avaliação negativa da sua saúde e com valores de solidão superiores à média.
Discussão: Este estudo demonstra a importância de considerar dimensões sociodemográficas,
sociais e de saúde no diagnóstico de distress emocional, uma vez que identifica fatores de risco
para o desenvolvimento de sintomatologia depressiva e ansiosa. Atuar preventivamente sobre
as situações de isolamento social e solidão, assim como apoiar nas dificuldades físicas poderá
ser decisivo para promover níveis positivos de bem estar.
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III
keywords: depression, anxiety, older adults
abstract
Objectives: This study aims to assess the presence of depressive and anxiety symptomatology
in community-dwelling older adults and determinate its social, sociodemographic and health
related factors.
Methods: This is a quantitative and transversal study. A representative sample of 987 older
adults living the Vila Nova de Gaia council responded to an extensive assessment protocol that
along with a sociodemographic questionnaire included the following instruments: the Geriatric
Depression Scale – 4 items (GDS-4), the Geriatric Anxiety Inventory – 5 items (GAI-5), the
UCLA Loneliness Scale – 6 items (UCLA-6). Descriptive and logistic regression analyses were
performed.
Results: Considering the obtained results, 32.8% of the sample (321 persons) presented
depressive symptoms and 59.4% (586 persons) presented anxiety symptoms. Our findings
suggest that those older adults who assessed their health in a negative way, who presented visual
and mobility (walking or climbing stairs) difficulties, who lived alone, who had more often
contact with other family members rather than their children or grandchildren, who had no
confident, and those who presented loneliness scores above the average had greater odds of
having depressive symptoms. Those older adults who were more likely to present anxiety
symptoms were women, of younger ages, had a negative health self-perception, and presented
loneliness scores above the average.
Discussion: This study shows the importance of considering sociodemographic, social and
health factors in the diagnosis of emotional distress, as there can include important risk factors
for the development of depressive and anxious symptoms. Preventive actions on specific
situations of social isolation and loneliness, along with supportive initiatives targeting physical
problems may be decisive for promoting wellbeing.
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IV
Índice
1. Introdução ......................................................................................................... 1
2. Sobre o envelhecimento populacional e o envelhecimento individual ......... 3
3. Depressão nos mais velhos ............................................................................... 9
4. Ansiedade nos mais velhos ............................................................................. 15
5. Objetivos .......................................................................................................... 19
6. Metodologia ..................................................................................................... 22
6.1. Seleção da amostra e procedimentos de recolha de dados .......................... 24
6.2. Instrumentos ................................................................................................... 32
6.2.1. Geriatric Depression Scale (GDS-4) ............................................................... 35
6.2.2. Geriatric Anxiety Inventory – Short Form (GAI-SF) .................................... 36
6.2.3. Escala de Solidão da UCLA ............................................................................ 37
6.3. Análise e tratamento de dados ....................................................................... 39
7. Resultados ........................................................................................................ 40
8. Discussão de resultados .................................................................................. 57
9. Implicações do estudo ..................................................................................... 63
10. Algumas limitações ......................................................................................... 65
Bibliografia ………………………………………………………………………………...66
Webgrafia ………………………………………………………………………………...73
Apêndices
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V
Índice de quadros
Quadro 1: População residente, população residente com 65 ou mais anos e rácio da população
idosa ......................................................................................................................................... 24
Quadro 2: Distribuição dos indivíduos a inquirir, segundo o sexo masculino ......................... 26
Quadro 3: Distribuição dos indivíduos a inquirir, segundo o sexo feminino ........................... 29
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VI
Índice de figuras
Figura 1: Pirâmide etária europeia, dados de 2008 e projecções para 2060 (dados referentes a
27 Estados Membros da União Europeia) .................................................................................. 3
Figura 2: Esquematização dos objetivos do estudo (Depressão/GDS) .................................... 20
Figura 3: Esquematização dos objetivos do estudo (Ansiedade/GAI) ..................................... 21
Figura 4: Mapa do concelho de Vila Nova de Gaia ................................................................. 22
Figura 5: Domínios do inquérito por questionários ................................................................. 23
Figura 6: Variáveis sociodemográficas (idade) ........................................................................ 32
Figura 7: Variáveis sociodemográficas (freguesia de residência) ............................................ 32
Figura 8: Variáveis sociodemográficas (sexo e estado civil) ................................................... 33
Figura 9: Variáveis sociodemográficas (habilitações literárias) .............................................. 33
Figura 10: Variáveis da dimensão “saúde” .............................................................................. 34
Figura 11: Situação (isolado/não isolado) ................................................................................ 34
Figura 12: Frequência de contactos .......................................................................................... 35
Figura 13: Prestação de cuidados a terceiros ........................................................................... 35
Figura 14: Existência de confidentes ....................................................................................... 35
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VII
Índice de tabelas
Tabela 1: Variação da população segundo os grupos etários, entre 2004 e 2014, nos 28 Estados
Membros da União Europeia...................................................................................................... 4
Tabela 2: Escala de Depressão Geriátrica (GDS-4) ................................................................. 36
Tabela 3: Geriatric Anxiety Inventory (GAI-SF) ..................................................................... 37
Tabela 4: UCLA Loneliness Scale (ULS-6) ............................................................................ 38
Tabela 5: Distribuição dos inquéritos por freguesia/uniões de freguesia ................................ 41
Tabela 6: Caraterização dos participantes segundo o sexo, tipologia da freguesia de residência,
escalões etários, estado civil e habilitações literárias ............................................................... 42
Tabela 7: Distribuição dos participantes por grupo etário, média, mínima e máxima…….....42
Tabela 8: Comparação entre a GDS de acordo com as restantes caraterísticas das dimensões
“Sociodemográfica”, “Saúde” e “Social” (distribuições de frequência e teste do qui-quadrado)
.................................................................................................................................................. 47
Tabela 9: Comparação entre a GAI de acordo com as restantes caraterísticas das dimensões
“Sociodemográficas”, “Saúde” e “Social (distribuições de frequência e teste do qui-quadrado)
.................................................................................................................................................. 50
Tabela 10: Ajuste dos coeficientes de regressão logística a cada uma das variáveis explicativas
(GDS) ....................................................................................................................................... 55
Tabela 11: Ajuste dos coeficientes de regressão logística a cada uma das variáveis explicativas
(GAI) ........................................................................................................................................ 56
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VIII
Índice de gráficos
Gráfico 1: Avaliação do estado de saúde ................................................................................. 43
Gráfico 2: Grau de dificuldade sentido diariamente devido a problemas decorrentes de saúde
ou da idade (envelhecimento) ................................................................................................. 44
Gráfico 3: Tipologia de famílias .............................................................................................. 45
Gráfico 4: Prestação de cuidados a terceiros ............................................................................ 46
Gráfico 5: Avaliação das relações sociais (UCLA-6) .............................................................. 46
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IX
Glossário de siglas
ANX: Ansiedade
CID-10: International Classification Diseases-10
DEP: Depressão
DSM-5: American Psychiatric Association’s Diagnostic and Statistical Manual, 5th edition
EM: Empresa Municipal
GAI: Geriatric Anxiety Inventory
GDS: Geriatric Depression Scale
INE: Instituto Nacional de Estatística
OMS: Organização Mundial de Saúde
UCLA: University of California, Los Angeles
UE: União Europeia
ULS: UCLA Loneliness Scale
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1
1. Introdução
A presente dissertação versa sobre duas condições emocionais frequentemente
observadas na população idosa – depressão e ansiedade -, e procura estimar a relação entre estas
e fatores que as podem influenciar, designadamente de índole sociodemográfica, social e de
saúde. Parte de um estudo maior realizado pelo Instituto Superior de Serviço Social do Porto,
em parceria com a Gaiurb, E.M. e com a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia: o Plano
Gerontológico Municipal de Vila Nova de Gaia.
As questões relacionadas com o distress emocional, designadamente doenças como a
depressão e a ansiedade, na população idosa são uma preocupação nos tempos que correm.
Verificam-se, cada vez mais, situações limite de distress emocional que conduzem a finais
trágicos. O suicídio, por exemplo, é cada vez mais comum entre os mais velhos, o que nos deve
alertar para o sofrimento extremo que é vivenciado por aqueles que praticam este ato. A
presente dissertação surge como uma chamada de atenção para os números da depressão e da
ansiedade geriátrica no nosso país, bem como para os fatores que as influenciam.
De acordo com o Retrato da Saúde (Ministério da Saúde, 2018), as pessoas com nível
educacional mais elevado têm menor probabilidade de virem a sofrer de doenças crónicas,
incluindo as doenças do foro mental. O mesmo documento faz referência às doenças e ao
impacto que estas têm na mortalidade e morbilidade, identificando a depressão como um dos
problemas de saúde que mais afeta a população portuguesa – as perturbações depressiva e
ansiosa surgem nos terceiro e quinto lugares, respetivamente, no que concerne às principais
doenças causadoras de morbilidade entre as mulheres dos 15 aos 49 anos; a perturbação
depressiva sobe para segundo lugar quando nos reportamos às mulheres entre os 50 e os 60
anos. Já na faixa etária mais elevada (≥70 anos), a perturbação depressiva surge no quarto lugar.
Nos homens, a perturbação depressiva ocupa o quarto lugar das doenças causadoras de
morbilidade, nas faixas etárias entre os 15 e os 60 anos.
Na senda do exposto, surge um interesse particular em estudar este tipo de problemas
relativos à saúde mental: a preocupação com o estado emocional das pessoas mais velhas é um
tema que me é caro, na medida em que durante o meu percurso académico (nomeadamente
durante a minha envolvência no Diagnóstico Gerontológico de Vila Nova de Gaia, que dá
origem a esta dissertação) me fui cruzando com pessoas que sofriam verdadeiramente do ponto
de vista emocional, o que, aos poucos, foi elevando o meu interesse na matéria. Paralelamente
a este interesse particular, o facto de poder realizar um estudo com uma amostra numericamente
considerável, como a que foi utilizada para o presente estudo, foi, também, um motivo de peso
na minha decisão de enveredar pelos trilhos do Diagnóstico Gerontológico. Além disso, poder
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2
colaborar na elaboração de um Plano Gerontológico, instrumento fulcral na implementação de
estratégias que visam uma melhoria da qualidade de vida da população idosa não é, senão, um
privilégio acessível ainda a poucos.
A dissertação que aqui se apresenta estrutura-se da seguinte forma: na introdução teórica
(capítulos 2, 3 e 4), há uma abordagem teórica ao envelhecimento enquanto fenómeno
demográfico e individual, transformações demográficas, alterações à estrutura familiar e
principais indicadores de envelhecimento, bem como às principais caraterísticas da depressão
e ansiedade, suas especificidades nos mais velhos e fatores associados. No capítulo 5 são
expostos os objetivos do contributo empírico da presente dissertação. O capítulo 6, referente à
metodologia, expõe o desenho da investigação, a explicação dos procedimentos de seleção da
amostra e de recolha de dados, a descrição dos instrumentos utilizados, bem como dos
procedimentos usados na análise e tratamento de dados. O sétimo capítulo corresponde à
enunciação dos resultados obtidos na presente investigação e o oitavo capítulo reserva-se à
discussão dos mesmos. Por fim, a dissertação termina com uma conclusão e com a exposição
de algumas implicações do estudo.
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3
2. Sobre o envelhecimento populacional e o envelhecimento individual
O envelhecimento é um processo natural e expectável que carateriza uma fase da vida
do ser humano onde ocorrem mudanças físicas, psicológicas e sociais. É uma etapa complexa
para alguns, considerando todas as transformações envolvidas no processo, pois a sociedade
atual tende a ignorar as particularidades inerentes a esse processo, desconsiderando a sua
experiência de vida, os seus conhecimentos e toda a sua sabedoria. Ao analisar tais mudanças,
entende-se que o envelhecimento é uma fase em que as pessoas passam a refletir sobre a sua
própria existência, equacionam as suas vivências e a sua finitude, cada vez mais próxima, os
objetivos alcançados, as perdas que tiveram no decorrer da vida, destacando-se os aspetos
relacionados com a saúde como uma das dimensões mais afetadas.
O envelhecimento demográfico tem sido uma constante nas últimas décadas, em
Portugal como em muitos outros países. Este envelhecimento traduz-se em alterações na
estrutura etária da população, a qual se expressa num aumento de indivíduos nos grupos etários
mais envelhecidos e que é fruto de um duplo processo, geralmente designado como transição
demográfica e que se carateriza pela passagem de um modelo demográfico onde a fecundidade
e a mortalidade são elevadas para um modelo em que estes fenómenos atingem níveis reduzidos
(Bandeira, et al., 2014) Por referência à pirâmide de idades, a transição demográfica traduz-se
num estreitamento da base, por redução dos efetivos populacionais jovens, e no alargamento
do topo, com um número crescente de efetivos populacionais idosos, como se pode verificar na
figura abaixo apresentada:
Figura 1: Pirâmide etária europeia, dados de 2008 e projeções para 2060 (dados referentes a 27 Estados
Membros da União Europeia)
Fonte: Eurostat1
1 Web site de Eurostat, consultado em 29 de março de 2018
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4
O que distingue este fenómeno demográfico é a diminuição da natalidade, bem como a
diminuição da mortalidade – esta última pode verificar-se pelo aumento da esperança média de
vida que tem vindo a crescer consideravelmente. Já a diminuição da natalidade explica-se,
essencialmente, por fatores de ordem socioeconómica, como a industrialização e a
generalização do trabalho assalariado, a entrada da mulher no mercado de trabalho (e, por parte
de um número crescente destas, um maior investimento na vida profissional), a crescente
participação da mulher na vida cívica e no sistema de ensino, a precariedade das relações
familiares e, em particular, conjugais, a dispersão geográfica dos núcleos familiares em virtude
da urbanização e as alterações do estilo de vida que levam a valorizar cada vez mais o conforto
material (Bandeira, et al., 2014). Em consequência de todas estas mudanças, as mulheres (os
casais) passaram a recorrer cada vez mais ao planeamento familiar, reduzindo o número de
filhos por família. Por sua vez, a diminuição da mortalidade e consequente aumento da
esperança média de vida são devidos a melhorias nutricionais, das condições de habitação e dos
cuidados de saúde, bem como a melhorias nas condições de trabalho (mais regulamentadas:
determinação de horário de trabalho, melhoria das remunerações, controlo sobre as condições
ambientais e prevenção da sinistralidade, entre outras).
Tabela 1: Variação da população segundo os grupos etários, entre 2004 e 2014, nos 28 Estados Membros da União
Europeia
Fonte: Eurostat2
2 Web site de Eurostat, consultado em 29 de março de 2018
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A tabela 1 ilustra, de uma forma geral, uma diminuição da população entre os 0 e os 14
anos, enquanto se verifica um aumento da população com 65+ anos. Tal facto é observável em
quase todos os 28 países da UE, à exceção da Irlanda e da Espanha que apresentam um aumento
da população entre os 0 e os 14 anos. No entanto, nos 28 Estados Membros da UE, pôde
verificar-se um aumento da população com 65 ou mais anos o que corrobora as projeções e os
estudos que apontam para o envelhecimento da população (INE, 2015).
De acordo com o INE, a população residente em Portugal tenderá a diminuir até 2060,
em qualquer dos cenários de projeção. No cenário central a população diminui de 10.5 milhões
de pessoas, em 2012, para 8.6 milhões de pessoas, em 2060 (INE, 2014). Para além do declínio
populacional, esperam-se alterações da estrutura etária da população, resultando num
continuado e forte envelhecimento demográfico, tal como o projetado pelo Eurostat (Eurostat,
2018). Assim, entre 2012 e 2060, o índice de envelhecimento estima-se que aumente de 131
para 307 idosos por cada 100 jovens, no cenário central. Nesse mesmo período e cenário, o
índice de sustentabilidade potencial passará de 340 para 149 pessoas em idade ativa por cada
100 idosos. Refletindo sobre estes números torna-se premente a adoção de medidas que
culminem numa melhor forma de cuidar dos nossos idosos, de lhes proporcionar bem-estar e
qualidade de vida.
Na atualidade envelhecer tornou-se, simultaneamente, um privilégio e um desafio: os
avanços da medicina permitem que o ser humano viva mais anos, o que quer dizer que são
muitos os que chegam a velhos, privilégio não concedido às gerações dos nossos antepassados
não muito longínquos. No entanto, sobreviver a esta passagem do tempo tem sido sinónimo de
alegria e sabedoria para uns, de desesperança para outros. Nesse sentido, é justo afirmarmos
que muitas são as formas de viver a velhice no quotidiano, e que essa diversidade é fruto de
inúmeros fatores – biológicos, culturais, económicos, sociais, etc. – porque os idosos não são
um todo homogéneo. Assim, estudos realizados por Veloso (2011), Rosa (2012), Guedes
(2012), entre outros, sob a temática do envelhecimento, vêm demonstrar que ao indivíduo que
trabalha durante longos anos, já não é suficiente um tempo de reforma sem trabalho; tornou-se
imprescindível dar sentido à vida após a entrada na reforma, que se espera seja um tempo cada
vez mais longo.
A ocorrência da reforma e a vivência da condição de reformado são realidades
suscetíveis de gerar um conjunto de percepções, expectativas, sentimentos e comportamentos
com diversas consequências, ao nível da satisfação e do bem-estar psicológico, do
relacionamento com os outros, dos hábitos de vida quotidiana e até mesmo da personalidade
(Veloso, 2011). A reforma constitui um importante ponto de viragem, quer em termos dos
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fatores implicados na transição de um estatuto social de contribuinte ativo para o estatuto de
reformado ou aposentado, quer em termos dos fatores implicados na adaptação a este processo
e nova condição. Torna-se importante salientar que os agora idosos, durante o curso das suas
vidas, assumiram várias posições no campo familiar e profissional que, com o tempo, se
desdobraram em vários outros campos, traçando assim a trajetória social construída por
múltiplos itinerários, permitindo descobrir a génese e o desencadeamento das diferentes
situações e processos através dos quais edificaram as suas vidas (Barros & Barros, 2014). Tais
itinerários dão, assim, origem a diferentes modos de envelhecer, levando a que este seja um
processo mais ou menos penoso, com mais ou menos qualidade para os que o vivenciam.
Nesse sentido, assistimos atualmente a formas de envelhecimento normal, patológico
ou ativo/bem-sucedido, sendo que, no quadro teórico, estes últimos são alvo de diferentes
interpretações e reflexões. De acordo com a OMS (2005:13), “envelhecimento ativo é o
processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo
de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. Refere-se tanto a
um conjunto de dimensões relacionadas com o bem-estar físico, mental e social dos indivíduos
ou grupos de indivíduos, como à participação efetiva e contínua nas questões sociais, culturais,
económicas e políticas, passando por uma série de programas, definidos e implementados, que
levem a uma vivência segura, nas suas mais diversas dimensões. A realçar que estes pilares
(saúde, segurança e participação) devem ser elevados a um objetivo único e comum: aumentar
a expectativa de uma vida saudável e com qualidade, para todos os indivíduos, nomeadamente
os mais frágeis e menos capazes, promovendo a autonomia e a independência, a proteção e a
segurança adequada a cada uma das situações, o desenvolvimento do potencial relacional e das
capacidades dos mais velhos.
Já para Rowe e Kahn (1998, cit. in Lima, Silva, & Galhardoni, 2008), o envelhecimento
bem-sucedido é composto por três fatores: (i) envolvimento com a vida; (ii) manutenção de
altos níveis de capacidades funcionais e cognitivas; baixa probabilidade de doença e prática de
hábitos saudáveis para redução de riscos. Não residem dúvidas de que estes fatores são
essenciais, contudo, essa visão corre o risco de secundarizar as dimensões socioculturais e
coletivas, atribuindo a responsabilidade do envelhecimento bem-sucedido ao círculo individual
e particular, desresponsabilizando a sociedade, no seu todo, dos contributos que possa ter para
um envelhecimento saudável nas suas diversas dimensões (Kahn, 2003, cit. in Lima, Silva, &
Galhardoni, 2008).
Do ponto de vista psicológico, a adaptação ao envelhecimento engloba uma
multiplicidade de emoções e consequências. O idoso, mais ou menos capaz de lidar com todo
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o processo de envelhecer, desenvolve numerosas capacidades de adaptação e estratégias de
enfrentamento, positivas ou negativas, de acordo com os traços da sua personalidade
(neuroticismo, abertura à experiência, extroversão, agradabilidade, conscienciosidade). De
acordo com Fontes e Neri (2015), diante das adversidades, o idoso pode alterar o significado a
elas atribuído, reduzir a perceção de perigo dos eventos stressores, reduzir a sua exposição aos
mesmos, e assim diminuir as próprias reações negativas, mantendo a autoestima e a autoeficácia
e criando oportunidades para reverter os efeitos do stress. Estas formas de entender e atuar
contrastam com a vulnerabilidade, entendida como carência de recursos psicológicos para o
enfrentamento; envolvem o manuseamento dos efeitos destrutivos dos riscos e das ameaças à
adaptação. Isto significa que, quando o idoso tem desenvolvidos os recursos de resiliência, não
cede a fatores de risco biológico, socioeconómico e psicossocial, ou seja, os recursos de
resiliência atuam como um escudo protetor contra as adversidades. Segundo as mesmas autoras,
a resiliência é entendida como produto da interação entre a natureza, a quantidade e a
intensidade dos fatores de risco e das caraterísticas de personalidade, e a sua função é mitigar
os efeitos negativos do stress associado aos riscos e adversidades da adaptação do indivíduo.
Dois outros conceitos trabalhados pelas autoras são os de plasticidade e de capacidade de
reserva: a plasticidade envolve padrões de mudança adaptativa, incluindo aumento, diminuição
ou manutenção das capacidades. Na vida adulta e na velhice, esse conceito traduz-se em
flexibilidade diante dos stressores, que aumentam com o envelhecimento, contrariamente aos
limites da plasticidade biológica e comportamental, que tendem a diminuir. A capacidade de
reserva diz respeito ao potencial de manutenção e de recuperação dos níveis de adaptação
normal, por meio da ativação de recursos latentes. As respostas adaptativas podem variar
conforme o contexto, o tempo, a idade, o género, a cultura, o sentimento de autoestima e a auto-
perceção de eficácia.
De um modo geral, o aumento dos níveis de stress que caraterizam o quotidiano de
quem envelhece, associados à diminuição das estratégias de enfrentamento e/ou à necessidade
de novas respostas adaptativas podem culminar no desenvolvimento de sintomas depressivos
e/ou ansiosos - distress emocional, que segundo Ritsner, Modai e Ponizovsky (2002 cit. in
Varela, Pereira, Pereira, & Santos, 2017) pode ser caraterizado como a reação de um indivíduo
a fatores indutores de stress endógenos e exógenos propiciadores de uma experiência
psicológica desagradável associada a um elevado desgaste emocional. Estes fatores podem
derivar de determinantes sociais, biológicos (físicos) e psicológicos, tais como a solidão ou o
isolamento social, os baixos níveis de resiliência, a homeostase do organismo e os mecanismos
específicos de proteção do mesmo que reagem para o defender das ameaças à sua integridade,
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a dimensão física, relacionada com o estado de saúde efetivo, e os fatores de ordem cognitiva
e/ou comportamental, que compreendem a perceção dos indivíduos face à sua situação atual, a
satisfação com a vida, bem como o comportamento manifestado pelos indivíduos diante de todo
o processo desencadeado pelo distress emocional (Silva, Goulart, & Guido, 2018). Também a
valorização que a pessoa atribui aos diversos domínios da sua vida ao longo de toda a sua
trajetória é aqui importante (Palma & Galaz, 2018).
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3. Depressão nos mais velhos
A depressão no idoso define-se como a existência de um conjunto de sinais e sintomas
que afetam o humor dos indivíduos – síndrome depressivo, conforme definido no American
Psychiatric Association´s Diagnostic and Statistical Manual-5 (DSM-5) e na International
Classification of Diseases-10 (CID-10), em indivíduos com mais de 65 anos, e podem ter tido
início antes ou depois dessa idade. Trata-se de uma condição comum, recorrente e
frequentemente subdiagnosticada e sub-tratada, principalmente ao nível dos cuidados de saúde
primários, desde já porque, na generalidade, aqueles com quem o idoso convive tendem a
considerar “normal” ou “expectável” alguma tristeza e/ou melancolia numa idade longeva,
tendo em consideração as constantes perdas que acometem esta população (Pinho, Custódio, &
Markdisse, 2009; Medeiros, Fernandes, & Coelho, 2010; Possatto, Silva, Júnior, & Rabelo,
2015).
Quando nos referimos à depressão, devemos ter em consideração que se trata de uma
perturbação associada a uma multiplicidade de fatores e manifestações clínicas. De acordo com
Del Porto (2000, cit. in Pinho, Custódio, & Markdisse, 2009) o termo “depressão” pode
englobar um estado afetivo normal (tristeza), um sintoma, uma síndrome e uma doença. No
entendimento deste autor, há diferenças claras entre os quatro conceitos. Assim, a tristeza
refere-se a um estado afetivo normal e transitório e surge como resposta adaptativa a situações
adversas (perda, derrota, frustação, desapontamento). Os sentimentos de tristeza podem
originar momentos de reflexão e de preparação para ações futuras e não devem ser alvo de
intervenção e/ou diagnóstico médicos. Os sintomas depressivos podem ocorrer como resposta
a stressores psicossociais, estando também presentes em variados quadros clínicos, como é o
caso da perturbação de stress pós-traumático, das demências, do alcoolismo, da esquizofrenia,
entre outros. A síndrome depressiva associa alterações do humor (tristeza, apatia, irritabilidade,
anedonia, etc.) com outros aspetos, tais como alterações cognitivas, comportamentais,
psicomotoras e vegetativas.
A depressão na população idosa carateriza-se por um elevado grau de sofrimento e de
morbilidade e, além da alta prevalência, encontra-se frequentemente associada a outras
condições médicas gerais. A depressão pode tornar-se um problema crónico ou recorrente,
sobretudo em idosos com saúde física comprometida (Grinberg, 2006). Além de estar associada
ao aumento da morbilidade e da mortalidade é, sem dúvida, uma das mais prevalentes
patologias psiquiátricas neste grupo populacional (Yaka, Keskinoglu, Ucku, Yener, & Tunca,
2014).
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A depressão enquanto doença está classificada no DSM-5 em diversos quadros clínicos,
como perturbação depressiva major, perturbação de desregulação do humor disruptivo,
perturbação depressiva persistente (distimia), perturbação disfórica pré-menstrual, perturbação
depressiva induzida por substância/medicamento, perturbação depressiva devida a outra
condição médica, perturbação depressiva com outra especificação ou perturbação depressiva
não especificada, que reúnem uma série de critérios para o seu diagnóstico (APA, 2014).
Presentemente, a perturbação depressiva mais estudada é a perturbação depressiva
major - a forma mais grave de depressão. De acordo com o DSM-5 (2014), as caraterísticas
essenciais de um episódio depressivo major são o humor deprimido ou a perda de interesse ou
prazer por quase todas as atividades (anedonia), por um período mínimo de duas semanas
consecutivas. A presença de um ou de ambos os sintomas deve constituir uma alteração
funcional ao estado prévio. O indivíduo também deve experimentar, pelo menos, quatro dos
sintomas que se seguem: (1) perda ou ganho de peso significativo; (2) insónia ou hipersónia;
(3) agitação ou lentificação psicomotoras; (4) fadiga ou perda de energia; (5) culpa e
autodesvalorização; (6) diminuição da capacidade de pensar e de concentração; (7)
pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida, tentativa de suicídio ou plano específico
para o cometer.
De acordo com Oliveira e colaboradores (2012), para o diagnóstico da depressão, além
da observação clínica, são utilizados dados genéticos e recorre-se à utilização de escalas como
método de avaliação. Todavia, os critérios descritos no DSM-5 e explanados anteriormente
devem ser analisados durante a avaliação. Neste aspeto, é imprescindível para a definição
diagnóstica da depressão, necessariamente, a presença de, pelo menos, cinco dos critérios
referidos, por um período de duas semanas, associada a disfunção psicossocial ou sofrimento
significativo do indivíduo.
Quanto ao tratamento da depressão, vários regimes farmacológicos, associados ou não
à psicoterapia, são utilizados pelos profissionais de saúde. Em relação aos pacientes idosos, ao
serem consideradas ambas as terapêuticas com a promoção do envolvimento e participação
social, a experiência do envelhecimento poderá representar um ganho considerável em
qualidade de vida e saúde para o indivíduo. Nessa perspetiva, torna-se importante que a saúde
seja vista a partir de um ponto de vista holístico, resultando num trabalho intersetorial e
transdisciplinar, de promoção de modos de vida saudáveis por parte dos profissionais das áreas
sociais e da saúde que trabalham com os mais velhos.
Para a avaliação da sintomatologia depressiva, os profissionais recorrem a instrumentos
que estimam o estado de humor dos indivíduos através da observação direta e do relato
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subjetivo. Especificamente para a população idosa, podemos destacar, entre outros, a Geriatric
Depression Scale, a Hospital Anxiety and Depression Scale, o Patient Health Questionnaire e
a Cornell Scale for Depression in Dementia (Baldwin, 2010). A Geriatric Depression Scale é
um dos instrumentos mais utilizados mundialmente, havendo inúmeros estudos que o utilizam.
Nesse sentido, os estudos desenvolvidos por Sousa e colaboradores (2010), Whooley, Stone, &
Soghikien (2000) e Garrard e colaboradores (1998) são disso exemplo.
No diagnóstico de depressão geriátrica é importante ter em conta vários aspetos como a
comorbilidade e os efeitos colaterais da medicação, mas também o facto de estes pacientes
poderem apresentar a comunicação comprometida, taxas mais elevadas de queixas somáticas,
bem como niilismo terapêutico (convicção da impossibilidade de cura) (Buckley & Lachman,
2007). De igual modo, embora a caraterística mais comum dos quadros depressivos seja a
presença de queixas referentes a uma sensação de tristeza e vazio, nem todos os pacientes
apresentam queixas evidentes de humor triste ou deprimido; os sintomas poderão ser
diversificados, havendo referência a estados de fadiga, queixas gastrointestinais, dificuldades
de concentração e lentificação psicomotora (Pinho, Custódio, & Markdisse, 2009).
Martins (2008) refere que a depressão no idoso apresenta caraterísticas distintas de
outras faixas etárias, nomeadamente a falta de episódios de tristeza, a apatia, as queixas
recorrentes de comprometimento cognitivo, a ansiedade proeminente, a somatização e o
excesso de preocupação com o corpo. A mesma autora, citando Simões (1996), acrescenta que,
no caso dos pacientes idosos, os sintomas poderão ser relativamente inespecíficos, tais como
astenia, perturbações do sono, tristeza e ansiedade e a perda de interesse por atividades
habitualmente prazerosas. Como sintomas mais específicos, surge o humor deprimido e a
lentidão psicomotora. É ainda importante destacar que o diagnóstico de depressão nos idosos é
mais complexo quando comparado ao diagnóstico noutros grupos etários, pois, como ressaltam
Piccoloto, Wainer, Benvegnú e Juruena (2001, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006),
o próprio processo de envelhecimento apresenta algumas caraterísticas semelhantes aos
sintomas depressivos (como, por exemplo, perturbações do sono, lentificação psicomotora,
fadiga ou perda de energia, diminuição da concentração), o que conduz à confusão no
diagnóstico.
De acordo com Medeiros, Fernandes, e Coelho (2010), a dor é uma das queixas mais
comuns nos pacientes com depressão, surgindo tipicamente de forma exagerada e envolvendo
o sistema gastrointestinal, neurológico e músculo-esquelético, entre outros. Os mesmos autores
referem que tão importante como considerar a componente física é a história social do paciente,
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na medida em que poderá ser essencial para o diagnóstico, visto que a existência de perdas
pessoais (cônjuge, amigos, animais de estimação) podem precipitar um episódio depressivo.
De acordo com Beyer (2007) e Büchtemann e colaboradores (2012), na população
geriátrica a prevalência de depressão major varia de 1 a 4% e a de depressão minor3 varia de 8
a 16%. A prevalência da depressão no contexto institucional e médico é superior à da
comunidade, encontrando-se taxas de depressão em doentes hospitalizados que variam entre os
5 os 44%. Os mesmos autores referem que cerca de 12 a 14% dos idosos residentes em
estruturas residenciais apresentam sintomatologia de depressão major, sendo que 17 a 35%
apresentam depressão minor ou sintomas clínicos relevantes de depressão. Na população idosa,
a incidência e a prevalência de depressão major duplicam entre os 70 e os 85 anos.
Martins (2008) apresenta estudos de prevalência de depressão, cujos valores variam
significativamente entre 25 e 72%, em idosos na comunidade. Já os estudos com idosos
institucionalizados apresentam valores que variam entre os 14 e os 25%, sensivelmente. A título
de exemplo, num estudo levado a cabo por Porcu e colaboradores (2002) no Paraná (Brasil)
com idosos hospitalizados, institucionalizados e residentes na comunidade, verifica-se que a
prevalência de depressão assumia valores de 56 a 60% nos primeiros casos, respetivamente, e
de cerca de 23% em idosos residentes na comunidade.
Ao lançarmos um olhar sobre Portugal, verificamos que, num estudo realizado em
Bragança por Vaz e Gaspar (2011), 46.7% dos idosos institucionalizados naquela região
apresentaram sintomatologia depressiva, sendo que destes, 33.3% apresentaram sintomas
congruentes com um quadro de depressão ligeira e 13.4% com um quadro de depressão grave.
Na Covilhã, numa investigação levada a cabo por Janela (2012), 28.6% da população idosa a
residir na comunidade apresentava sintomas de depressão. Num outro estudo realizado com a
população geral, cerca de 12% dos indivíduos apresentaram sintomatologia de depressão grave
ou muito grave (Apóstolo, Figueiredo, Mendes, & Rodrigues, 2011).
Cerca de 5 a 15% dos idosos sofrem de depressão associada a alteração funcional, uso
excessivo dos recursos de saúde e aumento da mortalidade traduzido pelo aumento das taxas de
suicídio e de complicações decorrentes de doenças cardíacas (Medeiros, Fernandes, & Coelho,
2010). É importante salientar que as taxas de suicídio encontradas na população idosa são quase
o dobro das que se verificam nas faixas etárias inferiores (Medeiros, Fernandes, & Coelho,
2010; Possatto, Silva, Júnior, & Rabelo, 2015; Nóbrega, Leal, Marques, & Vieira, 2015).
3 A depressão minor é um distúrbio menos severo que a depressão major, sendo que os seus critérios de diagnóstico
incluem 2 dos 4 sintomas depressivos previamente descritos, onde pelo menos um é disforia ou anedonia. Todavia,
a presença de depressão minor acarreta consequências a nível pessoal ou profissional, comprometendo o
funcionamento normal do indivíduo.
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Segundo Forlani e colaboradores (2014), não existem diferenças raciais ou étnicas na
prevalência da depressão; porém, esta é superior no sexo feminino, em qualquer faixa etária.
Os mesmos autores elencam um conjunto de fatores considerados de risco como o isolamento
social, a singularidade (devido a situação de viuvez ou de divórcio), condições socioeconómicas
precárias, comorbilidades, dor aguda (não controlada), disfunção física e cognitiva, uma má
higiene do sono e/ou insónia, utilização de alguns fármacos (de per se indutores de
sintomatologia depressiva), história familiar de suicídio (ou tentativa) ou de depressão major.
De acordo com Hinrichsen (2008), há uma série de fatores sociais que estão na base da
depressão nos mais velhos, considerados como fatores de risco e alavancadores da
sintomatologia. São eles:
Demográficos: mulheres, e com idade avançada;
Eventos de vida ocorridos na infância: divórcio ou separação dos progenitores,
trauma de infância e baixo nível de escolaridade;
Eventos posteriores: solteiro (singular), menor realização profissional e baixa renda;
Integração social: baixo envolvimento social ou em atividades religiosas;
Fatores de vulnerabilidade: saúde física comprometida, prestação de cuidados
contínuos a um familiar;
Fatores protetores: perceção de suporte adequado;
Agentes precipitadores e estratégias de coping: eventos de vida stressantes, coping
focado na emoção.
Os aspetos biológicos, sociais e psicológicos do indivíduo exercem um papel
preponderante no desencadeamento e manutenção dos quadros depressivos. Nesse sentido, à
depressão associam-se fatores que, de acordo com uma revisão de Pinho, Custódio e Markdisse
(2009) incluem, de igual modo: o sexo feminino, o grupo etário mais elevado, a singularidade
(designadamente a viuvez), a baixa escolaridade e recursos económicos, a presença de eventos
de vida stressores, o suporte social reduzido, a perceção de baixa qualidade de vida e de
condições de saúde limitativas, a presença de défices cognitivos, limitações funcionais,
histórico psiquiátrico e comorbilidades psiquiátricas, consumo excessivo de álcool, uso de
fármacos, presença de doenças físicas agudas e crónicas, dor e comorbilidades.
A depressão surge, também, frequentemente associada a uma diminuição da qualidade
de vida e a uma taxa de mortalidade aumentada, visto as tentativas de suicídio serem mais letais,
pese embora o facto de serem em menor número, quando comparadas com a população geral
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(Grinberg, 2006). Sabe-se também que idosos com depressão podem apresentar modificações
cognitivas e funcionais significativas; verifica-se que o comprometimento cognitivo, tal como
o sofrimento mental em idosos, eleva a probabilidade de ideação suicida, sendo que as
alterações cognitivas mais recorrentes são as funções executivas, défices de atenção e
diminuição da velocidade do processamento. O envelhecimento, sendo um processo
multifatorial, promove alterações anatómicas e funcionais no organismo. Tais alterações podem
resultar no surgimento de doenças crónicas e degenerativas, como doenças pulmonares,
hipertensão arterial, osteoporose, artrite, demências ou perturbações mentais, doenças
cardíacas, artrose, reumatismo, acidente vascular cerebral e cancro, reduzindo a capacidade
funcional e a qualidade de vida do idoso. Todos esses fatores elevam as probabilidades de
ideação suicida e da sua própria consumação em idosos (Oliveira, et al., 2018).
De modo a evitar as consequências da sintomatologia depressiva na população idosa, os
estudos de rastreio neste grupo populacional revestem-se de particular importância, tanto na
prevenção, como na minimização dos sintomas, na medida em que atuando sobre estes, os
idosos potenciam a sua qualidade de vida, reduzem a morbilidade e, com isso, podem diminuir
a procura e a utilização dos cuidados de saúde primários. Adicionalmente, o uso de instrumentos
de rastreio também pode facilitar a intervenção adequada e atempada. Nesse sentido, o
diagnóstico precoce da depressão possibilita a intervenção terapêutica, diminui os níveis de
stress, tanto para os familiares como para o próprio indivíduo, e reduz riscos de comorbilidade.
Assim sendo, destaca-se a importância da utilização sistemática desses instrumentos, bem como
do reconhecimento das variáveis que possam influenciar no surgimento / fatores de risco.
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4. Ansiedade nos mais velhos
De acordo com o DSM-5 (APA, 2014), a ansiedade define-se por uma alteração do
comportamento dos indivíduos, relacionada com a antecipação a uma determinada situação
ameaçadora, real ou percebida, iminente ou futura. Ou seja, a ansiedade ocorre diante de uma
visão catastrófica de determinados acontecimentos, antecipando a iminência de um evento
perigoso ou ameaçador. De um modo geral, a ansiedade carateriza-se por um conjunto de sinais
e sintomas associados a tensão muscular, estados de vigilância antecipatórios a situações de
perigo e a comportamentos de fuga ou evitamento, apreensão e preocupação constantes. A
perturbação de ansiedade generalizada é distinta do medo, na medida em que os
comportamentos a este associados caraterizam-se por uma resposta emocional a uma ameaça
real ou percebida, e não à antecipação a uma situação concreta.
As perturbações de ansiedade envolvem uma panóplia de diagnósticos que partilham
caraterísticas relacionadas com alterações do comportamento, medo e ansiedade excessivos. A
perturbação de ansiedade generalizada, designadamente, inclui sintomas como ansiedade e
preocupação excessivas, denominada como “apreensão expectante”, durante um período
mínimo de 6 meses. Estes sintomas de ansiedade e preocupação são de difícil controlo, e podem
versar sobre qualquer domínio da vida quotidiana; interferem negativamente no funcionamento
geral do indivíduo, provocando, pelo menos, três dos sintomas que se seguem: (1) agitação,
nervosismo ou tensão interior; (2) fadiga fácil; (3) irritabilidade; (4) dificuldades de
concentração ou sensação de mente vazia; (5) tensão muscular; (6) perturbações do sono, como
dificuldade em adormecer ou manter o sono, ou sono insatisfatório (APA, 2014). De acordo
com o DSM-5, para o diagnóstico de perturbação de ansiedade é imprescindível verificar a
intensidade dos sintomas e o seu impacto na vida do indivíduo.
A perturbação de ansiedade generalizada pode ser entendida como um desfasamento
entre a realidade e a perceção da mesma, considerando-se que os indivíduos portadores desta
patologia sobrestimam as situações de perigo, tornando-as excessivas ou desproporcionadas
(Dourado, Rolim, Ahnerth, Gonzaga, & Batista, 2018). São indivíduos que relatam situações
de inquietação e apreensão durante grande parte da sua vida (senão até toda a sua vida), apesar
de o elemento que provoca esta preocupação poder ter variado ao longo dos anos: em crianças
a preocupação focava-se na escola, enquanto em adultos se tornou a vida laboral, familiar ou a
saúde física. Nesse sentido, o conteúdo das suas inquietações foi-se adaptando às várias fases
da vida, e os adultos mais jovens demonstram maior gravidade de sintomas do que os mais
velhos (APA, 2014).
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De acordo com Cully e Stanley (2008), a perturbação de ansiedade generalizada,
carateriza-se por uma preocupação exagerada, persistente e de difícil controlo, gerando
desconforto significativo. Trata-se de uma patologia psiquiátrica crónica com prevalência que
varia entre os 3% num ano e os 5% a 12% no decorrer da vida. Segundo Oliveira e
colaboradores (2006), carateriza-se pela presença frequente de sintomas como a insónia, a
tensão, a angústia, a irritabilidade, a dificuldade de concentração, bem como sintomas físicos
como taquicardia, tonturas, cefaleias, dores musculares, formigueiros e suores. A perturbação
de ansiedade generalizada tem impactos significativos na qualidade de vida e funcionamento
geral, sendo comparável à perturbação depressiva e doenças clínicas como diabetes e artrite.
Afeta mais as mulheres por comparação aos homens, numa proporção de 2 para 1, e é a
perturbação de ansiedade mais frequente em idosos (Cully & Stanley, 2008).
Grande parte das perturbações de ansiedade são desenvolvidas durante a infância e
tendem a persistir caso não sejam tratadas. Todavia, podem ocorrer em qualquer idade; têm um
pico na meia idade e diminuem ao longo dos últimos anos de vida. São mais comuns no sexo
feminino, sendo que os indivíduos provenientes de países desenvolvidos/industrializados
tendem a relatar mais experiências ao longo da vida passíveis de preencher os critérios para o
diagnóstico, onde se incluem os europeus e seus descendentes, contrariamente aos asiáticos,
africanos, nativos americanos e habitantes das ilhas do Pacífico. As taxas de remissão completa
são muito baixas (APA, 2014). Tal como na população geral, a ansiedade é uma das mais
prevalentes perturbações psiquiátricas na população idosa, sobretudo nos indivíduos com
menor grau de escolaridade e que apresentam outras doenças físicas (Machado, et al., 2016).
Por esses motivos precisa de ser diagnosticada e tratada convenientemente, pensando-se não
apenas na melhoria dos sintomas ansiosos, mas também em evitar efeitos colaterais
relacionados com o tratamento e adesão (Tomazzoni, 2013).
Na população mais velha com quadros clínicos de ansiedade observam-se com
frequência queixas ao nível gastrointestinal, da vitalidade e dos aspetos sociais, verificando-se
um retraimento nesta área. Para Skinner e Vaughan (1985, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, &
Néri, 2006), a ansiedade geriátrica está relacionada com as limitações experimentadas na
velhice e, na maioria das vezes, interpretadas como ameaçadoras. Os indivíduos que apresentam
altos níveis de ansiedade demonstram uma tendência para antecipar a sua incapacidade e
questionar as suas habilidades intelectuais. Essas perceções negativas interferem na atenção
seletiva, na codificação de informações na memória, bloqueando a compreensão e o raciocínio
(Coes, 1991, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006), o que nessa fase da vida poderia
ser a diferença entre uma saúde mental boa ou comprometida.
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Byrne (2002, cit. in Oliveira, Santos, Cruvinel, & Néri, 2006) destaca que os sintomas
de ansiedade são frequentes entre idosos e estão associados, na maioria das vezes, a transtornos
depressivos. A ansiedade em idosos com mais de 80 anos foi tema da pesquisa de Xavier e
colaboradores (2001), em Porto Alegre (Brasil) na qual apuraram que 10.6% dos 77 idosos
participantes apresentavam perturbação de ansiedade generalizada. Estes valores mostraram-se
relacionados com sintomas depressivos, nomeadamente perturbação depressiva major e minor.
De acordo com os resultados deste estudo não foram demonstradas alterações significativas do
sono e da cognição, mas sim uma menor satisfação com a vida e com a qualidade da mesma,
assim como uma perceção negativa da saúde em geral, mental e física.
Bryant, Jackson e Ames (2008) revelam que a prevalência de ansiedade em amostras
comunitárias varia de 1.2% a 15%, e em contextos clínicos de 1% a 28%. A prevalência de
sintomas de ansiedade é muito maior, variando de 15% a 52.3% em amostras comunitárias e de
15% a 56% em amostras clínicas. Os autores referem que estas discrepâncias são, em parte,
atribuíveis às inconsistências conceptuais e metodológicas que caraterizam a literatura e os
estudos de prevalência realizados. Adicionalmente, de acordo com Cully e Stanley (2008), a
prevalência dos sintomas de ansiedade na população idosa varia consideravelmente, tendo em
conta a heterogeneidade deste grupo populacional. Os mesmos autores destacam que o local
onde os profissionais encontram os pacientes também é um fator relevante, na medida em que
idosos institucionalizados ou a residir na comunidade apresentam diferenças em termos de
prevalência e gravidade dos sintomas.
As perturbações de ansiedade apresentam, comummente, elevadas comorbilidades entre
si, verificando-se um risco mórbido de 0.9% (APA, 2014). Segundo o DSM-5, exames
minuciosos têm um papel preponderante no diagnóstico e na distinção dos vários tipos de
ansiedade. Habitualmente os sintomas persistem por longos períodos de tempo, tipicamente por
6 ou mais meses. No entanto, esta diretriz temporal deve ser entendida como uma mera
orientação, uma vez que há diferenças entre grupos etários e mesmo entre os vários tipos de
ansiedade sentidos/diagnosticados. Tal como noutras patologias, o diagnóstico é efetuado por
exclusão, ou seja, a ansiedade é diagnosticada quando se excluem outras condições médicas ou
fisiológicas, o uso/consumo de substâncias medicamentosas ou outras, ou quando os sintomas
não são mais bem explicados por outra perturbação do foro mental.
Para a avaliação diagnóstica psicológica, os profissionais recorrem a instrumentos que
procuram aferir a presença de sintomas de ansiedade. À semelhança do que acontece nos
rastreios de sintomatologia depressiva, onde se usam instrumentos adequados ao efeito, os
instrumentos que avaliam a sintomatologia ansiosa tanto são utilizados em consultas clínicas
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(individuais) como em grupos (estudos/investigações). Entre eles podemos destacar, entre
outros, o Geriatric Anxiety Inventory, a Worry Scale, o Beck Anxiety Inventory ou a Hamilton
Anxiety Rating Scale (Cully & Stanley, 2008). O Geriatric Anxiety Inventory é um dos
instrumentos mais utilizados em estudos epidemiológicos, tais como os desenvolvidos por
Rozzini, et al. (2009), Pardal, et al. (2013) e Dijk, et al. (2018), entre outros.
Todavia, seria de investir em estudos acerca da prevalência de ansiedade na população
acima dos 65 anos, uma vez que as investigações realizadas com esta faixa etária são escassas
e pouco é conhecido acerca da ansiedade na população idosa.
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5. Objetivos
O presente estudo é de natureza transversal (Bastos & Duquia, 2007) e quantitativa
(Ferreira, 1999; Quivy & Campenhoudt, 2013), e a amostra estudada diz respeito a 987 idosos
residentes na comunidade. O objetivo primordial é apurar a prevalência de sintomatologia
depressiva e ansiosa em contexto comunitário, designadamente no concelho de Vila Nova de
Gaia. Tem ainda como objetivo contribuir para a compreensão da relação entre os fatores
sociodemográficos (sexo, escalão etário, estado civil, habilitações literárias e tipologia da
freguesia de residência), sociais (situação – isolado/não isolado, frequência de contacto com
filhos, netos, irmãos e outros familiares, prestação de cuidados a terceiros, existência de
confidente e solidão) e saúde (avaliação subjetiva do estado de saúde, dificuldades visuais,
dificuldades auditivas, dificuldades de mobilidade e dificuldades no arranjo pessoal) e a
presença de sintomatologia depressiva e de sintomatologia ansiosa.
Nesse sentido, pretende-se especificamente: (i) apurar a prevalência de sintomatologia
depressiva e ansiosa e os fatores sociodemográficos, de saúde e sociais associados; (ii)
identificar, de entre os fatores associados, aqueles cuja presença aumenta a chance de se ter
sintomatologia depressiva e sintomatologia ansiosa.
As figuras 2 e 3, constantes nas páginas seguintes, ilustram as variáveis presentes em
cada fator considerado. Tanto para a depressão (GDS) como para a ansiedade (GAI), serão
testados fatores sociodemográficos, de saúde e sociais, de modo a verificar se há uma relação
significativa.
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Figura 2: Esquematização dos objetivos do estudo (Depressão/GDS)
Fonte: Elaboração própria
Depressão
GDS
Fatores sociodemográficos
Sexo
Escalão etário
Estado civil
Habilitações literárias
Freguesia de residência
Saúde
Avaliação da Saúde
Dificuldade em ver
Dificuldade em ouvir
Dificuldade em andar
Dificuldade em tomar banho
Fatores sociais
Situação
isolado/não isolado
Frequência de contacto
Prestação de cuidados
Existência de confidente
Solidão
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Figura 3: Esquematização dos objetivos do estudo (Ansiedade/GAI)
Fonte: Elaboração própria
Ansiedade
GAI
Fatores sociodemográficos
Sexo
Escalão etário
Estado civil
Habilitações literárias
Freguesia de residência
Saúde
Avaliação da Saúde
Dificuldade em ver
Dificuldade em ouvir
Dificuldade em andar
Dificuldade em tomar banho
Fatores sociais
Situação
isolado/não isolado
Frequência de contacto
Prestação de cuidados
Existência de confidente
Solidão
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6. Metodologia
O presente estudo insere-se no Diagnóstico Gerontológico de Vila Nova de Gaia e
surgiu de uma proposta de investigação/intervenção do Instituto Superior de Serviço Social do
Porto à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e à Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM.
Considerando o número de idosos residentes no concelho e os problemas sociais que vivenciam,
decidiu-se investir num estudo aprofundado acerca da população idosa de todas as freguesias
do concelho, com vista à realização de um Plano Gerontológico, que levasse a cabo uma série
de políticas, iniciativas e estratégias de intervenção de caráter público e privado e que visasse
a melhoria da qualidade de vida da população geronte. Desta forma, verifica-se que o município
de Vila Nova de Gaia está atento aos problemas sociais dos seus munícipes, nomeadamente no
que se refere ao envelhecimento.
Figura 4: Mapa do Concelho de Vila Nova de Gaia
Fonte: visitarportugal.pt
A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, a Gaiurb – Urbanismo e Habitação, EM e
o Instituto Superior de Serviço Social do Porto assinaram um protocolo que define um trabalho
concertado entre as três instituições com vista à elaboração do Plano Gerontológico de Vila
Nova de Gaia, bem como ao desenvolvimento da formação e investigação na área da
Gerontologia Social. Para a elaboração desse plano considerou-se o levantamento de
informações sobre cinco grandes áreas, as quais constituíram a base do Diagnóstico
Gerontológico Municipal de Vila Nova de Gaia: caraterização sociodemográfica, recursos
sociais, ocupação de tempos livres, acessos e mobilidade e saúde (figura 5).
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O domínio da caraterização sociodemográfica incluiu a recolha de informação capaz de
traçar o perfil dos inquiridos nomeadamente em termos de sexo, idade, nível de escolaridade,
condição perante o trabalho, trajetória profissional e rendimentos. O domínio dos recursos
sociais incluiu a recolha de informação de caraterização das redes de solidariedade primárias
(existência e regularidade de contactos com a família - particularmente filhos -, vizinhos e
amigos) e de solidariedade secundária, bem como de situações de prestação de cuidados
(tipologia; recetor de cuidados vs. assunção do papel de cuidador). Já o domínio dos acessos e
mobilidade incluiu a recolha de informações acerca das condições dos inquiridos em termos de
transportes usados (tipo; especializados e respetiva regularidade) e dos principais problemas
identificados a esse nível na sua área de residência. Neste bloco, inseriram-se, igualmente,
questões relativas às condições habitacionais: tipo de habitação, regime de propriedade,
infraestruturas básicas, condições de conforto e principais problemas.
Figura 5: Domínios do inquérito por questionário
Fonte: Elaboração própria
O domínio da ocupação de tempos livres contou com a recolha de informações sobre os
hábitos diários dos inquiridos (tipo de atividades realizadas e respetiva regularidade),
participação em atividades promovidas por instituições e disponibilidade para participar em
projetos (de voluntariado ou outros). Finalmente, o inquérito contou, ainda, com um conjunto
de questões sobre saúde, contemplando a avaliação subjetiva do estado de saúde, avaliação das
Caraterização sociodemográfica
Recursos sociais
Ocupação de tempos livres
Acessos e mobilidade
Saúde
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dificuldades em termos sensoriais (visão e audição), mobilidade, cognição e comunicação,
assim como a recolha de informação sobre necessidades de apoio por situação de dependência
e respetivos apoios recebidos. Considerou-se, também, uma avaliação de vários parâmetros de
funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e uma apreciação global da qualidade de vida.
A presente dissertação centrou-se, sobretudo, na informação relativa à área da saúde,
tendo também considerado informação relativa à caraterização sociodemográfica e aos recursos
sociais. Assume a população-alvo definida pelo Diagnóstico Municipal de Vila Nova de Gaia,
cujo procedimento de amostragem e sinalização de seguida se descreve.
6.1. Seleção da amostra e procedimentos de recolha de dados
O quadro 1 representa a população de Portugal, do continente, da região norte, do grande
Porto e do concelho de Vila Nova de Gaia. Através deste quadro podemos verificar que a
percentagem de população idosa residente no concelho de Vila Nova de Gaia é inferior à
percentagem de população residente no concelho do Porto e à média do país. Foi sobre os 46658
habitantes com 65+ anos que se procedeu à definição de uma amostra representativa.
Quadro 1: População residente, população residente com 65 ou mais anos e rácio da população idosa
Fonte: Censos 2011
Território População residente
População residente
total com 65 ou mais
anos
Rácio da população idosa
Portugal 10562178 2010064 19%
Continente 10047621 1937788 19%
Norte 3689682 631439 17%
Grande Porto 1287282 213533 17%
Porto 237591 55083 23%
Vila Nova de Gaia 302295 46658 15%
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Para a constituição de uma amostra não probabilística por quotas, consideraram-se
quatro critérios para a inclusão de respondentes: (i) sexo, (ii) escalão etário (65-74 anos; 75 ou
mais anos), (iii) habilitações literárias e (iv) freguesia de residência. Para este último critério,
assegurou-se uma participação harmoniosa de indivíduos de todas as freguesias e/ou uniões de
freguesia do concelho. Com esta definição da amostra procurou-se garantir a proporcionalidade
das variáveis em estudo relativamente à população alvo: indivíduos com 65 ou mais anos
residentes no concelho de Vila Nova de Gaia, como se pode verificar nos quadros 2 e 3 (fonte:
Inquérito à População Sénior de Vila Nova de Gaia, 2016). Estabeleceram-se como critérios de
exclusão: residir em lar de idosos / entidades equiparadas ou beneficiar de um serviço de centro
de dia (assumindo-se que o indivíduo passa aí grande parte do seu dia) e apresentar dificuldades
cognitivas óbvias na resposta ao inquérito.
Na recolha de dados foi utilizado um inquérito por questionário (ver Apêndice 1), o qual
foi aplicado individualmente a 987 indivíduos, na variante de heteroadministração, sendo esta
uma técnica adequada ao estudo extensivo de um grande conjunto de indivíduos (Quivy &
Campenhoudt, 2013). A todos os participantes foi explicado o objetivo da investigação, qual o
procedimento de recolha de dados, bem como foi garantida a confidencialidade e o caráter
voluntário da participação. Não foi possível recolher a assinatura de todos os participantes no
consentimento informado (ver Apêndice 2), uma vez que, tratando-se de uma população
envelhecida, se mostrou receosa quanto ao facto de facultar a assinatura, demonstrando reservas
devido à sua vulnerabilidade. Do ponto de vista ético, foi, porém, garantida a veracidade dos
dados e a devida autorização para o tratamento e utilização dos mesmos, através de gravação
de voz e da presença de uma testemunha, atestando a respetiva autorização.
A aplicação do questionário decorreu em todas as freguesias/uniões de freguesia do
concelho, em locais públicos e privados: Juntas de Freguesia, postos de correio,
estabelecimentos e zonas comerciais, ruas e habitações dos participantes. A recolha foi efetuada
por cerca de 30 inquiridores, alunos da licenciatura e mestrado em Gerontologia Social do
Instituto Superior de Serviço Social do Porto, devidamente treinados para o efeito e
coordenados pela equipa de investigação. No total foram aplicados 1014 inquéritos por este
grupo de entrevistadores; contudo, para efeitos de análise, apenas foram validados 987
inquéritos, uma vez que os restantes não reuniam critérios do ponto de vista ético, i.e., não
possuíam o consentimento informado devidamente assinado ou a autorização em gravação de
voz, ou, por outro lado, excediam as quotas determinadas metodologicamente.
Page 36
26
Quadro 2: Distribuição dos indivíduos a inquirir, segundo o sexo masculino
Sexo
Homens
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível
de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível
de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Arcozelo 1 7 1 1 1 0 1 2 5 0 0 1 0 0
São Félix da Marinha 1 7 1 1 0 0 1 2 4 0 0 0 0 0
União de Freguesias de
Grijó e Sermonde 1 8 0 0 0 0 0 2 5 0 0 0 0 0
União de Freguesias de
Serzedo e Perosinho 2 9 1 1 0 0 0 2 6 0 0 0 0 0
Canidelo 3 14 1 2 1 0 1 2 7 0 1 1 0 0
Madalena 1 6 1 1 1 0 1 1 4 0 1 0 0 0
União de Freguesias de
Santa Marinha e São
Pedro da Afurada
2 16 3 4 2 0 3 2 11 2 2 1 0 1
(continua)
Page 37
27
Sexo
Homens
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível
de
escolarida
de
completo
1
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível
de
escolaridade
completo
1
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Oliveira do
Douro 2 13 1 2 1 0 1 3 9 1 1 0 0 0
União de
Freguesias de
Gulpilhares e
Valadares
2 10 2 2 1 0 2 2 7 1 1 0 0 1
Canelas 1 5 1 1 0 0 0 1 3 0 0 0 0 0
Vilar de
Andorinho 1 8 1 1 1 0 0 2 5 0 0 0 0 0
União de
Freguesias de
Mafamude e
Vilar do
Paraíso
3 21 5 7 5 0 6 4 17 3 4 3 0 3
União de
Freguesias de
Pedroso e
Seixezelo
3 11 1 1 1 0 1 3 7 0 0 0 0 0
(continua)
Page 38
28
Sexo
Homens
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível
de
escolarida
de
completo
1
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível
de
escolaridade
completo
1
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
União de
Freguesias de
Sandim, Olival,
Lever e
Crestuma
2 12 1 0 1 0 0 2 6 0 0 0 0 0
Avintes 1 7 0 0 0 0 0 2 5 0 0 0 0 0
TOTAL 26 155 18 23 16 0 18 34 101 9 11 7 0 7
Page 39
29
Quadro 3: Distribuição dos indivíduos a inquirir, segundo o sexo feminino
Sexo n para
quotas c/
3% de
margem
de erro
Mulheres
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível
de
escolarida
de
completo
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível
de
escolaridade
completo
1
1º
ciclo
2
2º
ciclo
3
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior N=1000
Arcozelo 3 8 0 1 1 0 1 5 5 0 0 1 0 0 47
São Félix
da Marinha 4 7 0 0 0 0 1 6 4 0 0 0 0 0 40
União de
Freguesias
de Grijó e
Sermonde
4 8 0 0 0 0 0 5 5 0 0 0 0 0 40
União de
Freguesias
de Serzedo
e Perosinho
5 8 0 0 0 0 0 7 5 0 0 0 0 0 47
Canidelo 6 14 1 1 1 0 1 1 9 9 0 0 0 0 76
Madalena 3 6 0 1 0 0 1 5 5 0 0 0 0 0 38
União de
Freguesias
de Santa
Marinha e
São Pedro
da Afurada
7 21 2 3 1 0 3 13 18 2 2 1 0 1 123
(continua)
Page 40
30
Sexo n para
quotas c/
3% de
margem
de erro
Mulheres
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior n = 1000
Oliveira do
Douro 5 16 1 1 0 1 1 10 10 0 1 0 0 0 78
União de
Freguesias de
Gulpilhares e
Valadares
4 12 1 2 1 0 1 8 10 1 1 0 0 1 73
Canelas 3 5 0 0 0 0 0 5 3 0 0 0 0 0 32
Vilar de
Andorinho 4 8 1 1 0 0 0 5 5 0 0 0 0 0 44
União de
Freguesias de
Mafamude e
Vilar do
Paraíso
8 29 3 6 3 0 7 18 29 4 3 2 0 4 198
União de
Freguesias de
Pedroso e
Seixezelo
6 11 0 0 0 0 1 9 7 0 0 0 0 0 65
União de
Freguesias de
Sandim, Olival,
Lever e
Crestuma
5 13 0 0 0 0 0 7 7 0 0 0 0 0 59
Avintes 3 8 0 0 0 0 0 6 5 0 0 0 0 0 40
(continua)
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31
Sexo n para
quotas c/
3% de
margem de
erro
Mulheres
Escalão etário
65 - 74 anos 75 e mais anos
Habilitações literárias
Freguesia
Sem nível de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior
Sem nível de
escolaridade
completo
1º
ciclo
2º
ciclo
3º
ciclo
Ensino
secundário
Ensino pós
secundário
Ensino
Superior n = 1000
Total 70 174 12 17 0 0 17 117 128 9 8 5 0 7 10000
Page 42
32
6.2. Instrumentos
Apresenta-se, de seguida, uma descrição dos instrumentos utilizados nesta dissertação.
O protocolo originalmente aplicado no estudo de Diagnóstico Gerontológico de Vila Nova de
Gaia é composto por 74 questões/variáveis; porém, para a elaboração desta dissertação apenas
foram consideradas 15 (fonte: Inquérito à População Sénior de Vila Nova de Gaia, 2016).
As variáveis utilizadas na caraterização sociodemográfica da amostra são as que
respeitam ao escalão etário (diferenciado durante a fase de tratamento de dados entre 65-74
anos e 75 ou mais anos) (figura 6), ao tipo de freguesia de residência, que foi classificada como
“urbana” ou “não urbana” (figura 7), ao sexo, ao estado civil (figura 8) e às habilitações
literárias (figura 9).
Figura 6: Variáveis sociodemográficas (idade)
Figura 7: Variáveis sociodemográficas (freguesia de residência)
Page 43
33
Figura 8: Variáveis sociodemográficas (sexo e estado civil)
Figura 9: variáveis sociodemográficas (habilitações literárias)
As variáveis utilizadas na caraterização da dimensão saúde são as que respeitam à sua
auto-perceção e às dificuldades sentidas no dia-a-dia (ver, ouvir, andar ou subir degraus, tomar
banho ou vestir-se sozinho) (figura 10). As questões que procuram apurar estas dificuldades
foram originalmente utilizadas no questionário Censitário (INE) e retiradas para utilização no
protocolo do Diagnóstico Gerontológico de Vila Nova de Gaia.
Page 44
34
Figura 10: Variáveis da dimensão “saúde”
As variáveis utilizadas na caraterização da dimensão social são as que respeitam à
situação dos idosos (isolados/não isolados) (figura 11), à frequência de contactos familiares,
mais ou menos próximos (filhos, netos, irmãos, outros familiares) (figura 12), à prestação de
cuidados a terceiros (figura 13), à existência de um confidente (figura 14) e à presença de
sentimentos de solidão (tabela 4).
Figura 11: Situação (isolado/não isolado)
Page 45
35
Figura 12: Frequência de contactos
Figura 13: Prestação de cuidados a terceiros
Figura 14: Existência de confidente
6.2.1. Geriatric Depression Scale (GDS-4)
Para avaliar a presença de sintomatologia depressiva recorremos à GDS-4 (Geriatric
Depression Scale) (Hamilton, 1960; Apóstolo, et al., 2014) composta por 4 itens e desenvolvida
para avaliar a presença de estados de ânimo indicadores/sugestivos de sintomatologia
depressiva na população idosa. Sendo um instrumento de rastreio (screening) de sintomatologia
depressiva, a GDS-4 é uma forma abreviada da GDS-30, com aplicação simples e rápida. É
uma escala de resposta dicotómica (Sim/Não) cuja pontuação máxima é de 4 valores, com
questões acerca dos sentimentos e comportamentos que decorreram na última semana. Segundo
Castelo, Filho, Neto, Noleto e Lima (2007), a grande vantagem da versão abreviada é o pouco
Page 46
36
tempo gasto na aplicação do teste, um aspeto bastante relevante para a prática dos serviços de
saúde. A Escala de Depressão Geriátrica nesta sua versão bastante abreviada, tanto pode ser
aplicada pelo clínico geral como por outros profissionais não médicos. De acordo com Shah,
Phongsathorn, Bielawska e Katona, (1996), um ponto de corte de 0/1 fornece boa sensibilidade
(85%) e especificidade (60%) para a versão de 4 itens da GDS; no entanto, para este estudo
optou-se considerar um cut-off de ≥2 para a identificação de relevância sintomatológica,
considerando-se facultar maior segurança interpretativa.
Tabela 2: Escala de Depressão Geriátrica (GDS-4)
Escala de Depressão Geriátrica (GDS-4)
Está satisfeito com a sua vida? Sim/Não
Sente que a sua vida é vazia? Sim/Não
Sente medo que algo de mau aconteça na sua vida? Sim/Não
Sente-se feliz a maior parte do tempo? Sim/Não
Respostas a negrito equivalem a 1 ponto. A pontuação máxima são 4 pontos.
Almeida e Almeida (1999) referem que a GDS 4 é um bom instrumento na deteção de
depressão major, ressalvando, no entanto, que as versões mais curtas são de valor clínico
limitado, uma vez que não permitem a avaliação da gravidade do episódio depressivo. Porém,
estes autores sugerem que tais instrumentos podem ser usados nos cuidados de saúde primários,
como forma de aumentar as taxas de deteção de depressão entre os idosos e/ou efetuar uma
deteção precoce. Tal utilização permitirá também reduzir drasticamente os efeitos associados
ao avanço da doença, argumento corroborado por vários autores (e.g., Castelo, Filho, Neto,
Noleto & Lima, 2007).
6.2.2. Geriatric Anxiety Inventory – Short Form (GAI-SF)
Para avaliar a presença de sintomas de ansiedade na amostra, optou-se pela utilização
do GAI-SF (Geriatric Anxiety Inventory – Short Form) (Byrne & Pachana, 2011), composto
por 5 itens e desenvolvido para identificar a presença de sintomatologia ansiosa na população
idosa. O GAI-SF é uma forma abreviada do GAI com 20 itens e apresenta uma pontuação
máxima de 5 valores. Um score de ≥3 indica relevância sintomatológica de ansiedade. Cada
resposta “sim” é pontuada com 1 valor. De acordo com os autores, num estudo realizado para
a validação da escala, no ponto de corte ≥3, a sensibilidade foi de 75%, a especificidade foi de
87%, sendo 86% dos participantes corretamente classificados. A consistência interna foi
considerada alta (α = 0.81 de Cronbach). Gerolimatos, Gregg e Edelstein (2013), num estudo
Page 47
37
posterior, referem uma consistência interna adequada (α = 0.73) e providenciam suporte para a
validade preditiva do instrumento, considerando a sensibilidade e a especificidade do mesmo.
Tabela 3: Geriatric Anxiety Inventory (GAI-SF)
Geriatric Anxiety Inventory (GAI-SF)
Anda preocupado a maior parte do tempo? Sim/Não
Aflige-se muito com coisas sem importância? Sim/Não
Pensa que é uma pessoa nervosa? Sim/Não
Considera-se uma pessoa preocupada? Sim/Não
Muitas vezes os seus próprios pensamentos deixam-no ansioso? Sim/Não
Respostas a negrito equivalem a 1 ponto. A pontuação máxima são 5 pontos.
Trata-se de um instrumento considerado indicado para o uso em estudos
epidemiológicos, podendo também ser útil em cuidados primários e em ambientes médico-
geriátricos. A introdução do GAI e das suas variações tem tido grande impacto nas
investigações levadas a cabo internacionalmente, contribuindo para o crescente interesse global
na ansiedade na vida tardia (Pachana & Byrne, 2012).
6.2.3. Escala de Solidão da UCLA
Para avaliar a presença de sentimentos de solidão recorremos à utilização da UCLA
(University of California, Los Angeles) Loneliness Scale (ULS-6) (Neto, 2014). A UCLA –
Loneliness Scale avalia tanto a solidão como os sentimentos inerentes à mesma, numa escala
que se insere numa abordagem unidimensional da experiência, na medida em que cada
indivíduo responde de acordo com a sua vivência do fenómeno, entendido como unitário e
pessoal, variável ao nível da intensidade em que é sentido. Trata-se de um instrumento
composto por 6 itens, cada um com 4 possibilidades de resposta, relacionadas com a frequência
em que o inquirido sente/vivencia determinada situação (nunca, raramente, algumas vezes,
muitas vezes). A cotação de cada resposta está determinada entre 1 e 4 valores, sendo 1 valor
para cada resposta “nunca”, 2 valores para “raramente”, 3 valores para “algumas vezes” e 4
valores para “muitas vezes”. Porém, na questão “sinto que faço parte de um grupo de amigos”,
a cotação aplicada será invertida (1 valor para “muitas vezes, 2 valores para “algumas vezes”,
3 valores para “raramente” e 4 valores para “nunca”). Quanto maior o score obtido, maior o
grau de solidão. Isto é, resultados mais baixos indicam satisfação social e ausência de solidão.
Page 48
38
Tabela 4: UCLA Loneliness Scale (ULS-6)
UCLA Loneliness Scale (ULS-6)
Sinto falta de camaradagem Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
Sinto que faço parte de um grupo de
amigos
Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
Sinto-me excluído(a) Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
Sinto-me isolado(a) dos outros Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
Sou infeliz por ser tão retraído(a) Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
As pessoas estão à minha volta mas não
estão comigo
Nunca/Raramente/Algumas vezes/Muitas vezes
De acordo com Neto (2014), as propriedades psicométricas da ULS-6 para a população
portuguesa foram analisadas por meio de análise fatorial confirmatória, consistência interna e
validade de critério, na sua investigação com 1154 pessoas (60% mulheres, 40% homens). A
análise fatorial veio corroborar uma estrutura unidimensional, com valores adequados em
vários índices de ajuste. Além disso, a ULS-6 apresentou propriedades psicométricas
satisfatórias, com alto nível de consistência interna. De acordo com o mesmo autor, esta escala
faculta uma breve mas correta avaliação da solidão, adequada para o uso junto dos mais velhos.
Page 49
39
6.3. Análise e tratamento de dados
A análise estatística dos dados utilizou o programa informático IBM SPSS Statistics for
Windows, Version 25.0.
Na primeira fase, com vista a descrever e a caraterizar a amostra em estudo, foi feita
uma análise descritiva dos dados em função da natureza das variáveis em estudo. Calcularam-
se as frequências absolutas (número de casos válidos – N.º) e as frequências relativas
(percentagem de casos válidos - %)
Na segunda fase, de forma a verificar se existia uma relação de dependência entre a
“GDS” (“Sem relevância sintomatológica - DEP”/”Com relevância sintomatológica - DEP”) e
a “GAI” (“Sem relevância sintomatológica - ANX”/”Com relevância sintomatológica - ANX”)
de acordo com as variáveis de interesse sociodemográficas (sexo, idade, estado civil,
habilitações literárias, tipo de freguesia), variáveis relacionadas com a saúde (avaliação da
saúde, dificuldade em ver, dificuldade em ouvir, dificuldade em subir degraus, dificuldade em
tomar banho ou vestir-se) e variáveis relacionadas com o contexto social (situação de
isolamento, frequência de contacto familiar – filhos, netos, irmãos ou outros familiares -, presta
apoio a terceiros, existência de confidente e avaliação da solidão – UCLA -), utilizou-se o teste
de independência do Qui-quadrado e respetivas tabelas de contingência (Maroco, 2011). De
forma a facilitar a interpretação da análise de regressão logística, todas as variáveis foram
dicotomizadas, isto é, foram transformadas em variáveis dummy, sendo a caraterística de
interesse o código 1.
Por fim, de acordo com os resultados estatisticamente significativos obtidos na fase
anterior (testes do qui-quadrado), recorreu-se à regressão logística pelo método Foward
Stepwise seguindo o critério de máxima verosimilhança (LR) para avaliar as caraterísticas que
estavam significativamente associadas, tanto à GAI, como à GDS (Hosmer, Lemeshow, &
Sturdivant, 2013).
Todos os testes foram aplicados com um grau de confiança de 95 %, exceto quando
devidamente assinalado.
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40
7. Resultados
Caraterização da amostra
A amostra é constituída por 987 participantes, distribuídos por todas as freguesias (ou
uniões de freguesia) do Concelho de Vila Nova de Gaia (tabela 5), dos quais 425 são do sexo
masculino (43.1%) e 562 do sexo feminino (56.9%). 542 indivíduos (54.9%) situam-se na faixa
etária dos 65-74 anos e 445 (45.1%) têm 75 ou mais anos (tabela 6). 575 indivíduos (58.2%)
vivem em situação conjugal (casados ou em união de facto) enquanto 412 (41.8%) são solteiros,
divorciados, separados ou viúvos. 81% dos participantes (800 indivíduos) tem uma escolaridade
≥ ao 1º ciclo do ensino básico (4º ano), sendo que apenas 19% (187 indivíduos) tem
escolaridade superior a este nível (tabela 6). Não existem grandes diferenças entre a tipologia
de freguesia onde os indivíduos residem, uma vez que 51.4% das mulheres e 50.8% dos homens
vivem numa freguesia urbana (versus 48.6% e 49.2%, respetivamente, que residem em
freguesias não urbanas) (tabela 6). A população da amostra tem, em média, cerca de 76.4 anos
de idade (DP = 6.7), variando entre os 65 e os 96 anos (tabela 7). Todos os resultados
mencionados têm como fonte o Inquérito à População Sénior de Vila Nova de Gaia (2016).
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41
Tabela 5: Distribuição dos inquéritos por freguesia/uniões de freguesia
N %
UF Mafamude e Vilar do Paraíso 194 19.7%
UF Santa Marinha e S. Pedro da Afurada 121 12.3%
Canidelo 78 7.9%
Oliveira do Douro 78 7.9%
UF Gulpilhares e Valadares 73 7.4%
Pedroso e Seixezelo 62 6.3%
UF Sandim, Olival, Lever e Crestuma 59 6.0%
Arcozelo 45 4.6%
UF Serzedo e Perosinho 45 4.6%
Vilar de Andorinho 43 4.4%
Avintes 41 4.2%
S. Félix da Marinha 40 4.1%
Madalena 39 4.0%
UF Grijó e Sermonde 37 3.7%
Canelas 32 3.2%
Total 987 100.0%
Page 52
42
Tabela 6: Caraterização dos participantes segundo o sexo, tipologia da freguesia de residência, escalões etários,
estado civil e habilitações literárias
Sexo
F M
nº % nº %
Escalões
Etários
65 a 74 anos 290 51.6% 252 59.3%
75 e mais anos 272 48.4% 173 40.7%
Total 562 100.0% 425 100.0%
Estado Civil Casado/União Facto 237 42.2% 338 79.5%
Singulares
(Solteiro/Divorciado
/Viúvo)
325 57.8% 87 20.5%
Total 562 100.0% 425 100,0%
Habilitações
literárias
>=1ºciclo 364 64.8% 364 85.6%
Sem escolaridade 198 35.2% 61 14.4%
Total 562 100.0% 425 100.0%
Tipo de
Freguesia
Freg-Urbana 289 51.4% 216 50.8%
Freg-n/Urbana 273 48.6% 209 49.2%
Total 562 100.0% 425 100.0%
Tabela 7: Distribuição dos participantes por grupo etário, média, mínima e máxima
nº %
Idade
65 a 74 anos 542 54.9%
75 e mais anos 445 45.1%
Total 987 100.0%
Média (D.p.) 74,6 6.7
Amplitude 65 96
Quanto ao estado de saúde, em primeiro lugar apura-se que a grande maioria dos
inquiridos faz uma apreciação positiva do seu estado de saúde, considerando-a “aceitável”
(56.6%), “boa” (20.2%) ou “excelente” (2%); cerca de 21.2% considera a sua saúde “má” ou
“muito má” (gráfico 1).
Page 53
43
Gráfico 1: Autoavaliação do estado de saúde
Quanto às dificuldades sentidas no quotidiano existentes há, pelo menos, 6 meses,
verifica-se que a grande maioria não apresenta dificuldades nas áreas inquiridas (visão, audição,
mobilidade e funcionalidade), sendo a destacar a existência de um maior número de inquiridos
com dificuldades em andar ou subir degraus (24.8%). De notar que na dimensão da mobilidade,
são as mulheres a referir um maior grau de dificuldade (34.5% refere ter muita dificuldade ou
não conseguir vs. 12.7% dos homens) (gráfico 2).
56,60%
20,20%
2%
21,20%
Aceitável
Boa
Excelente
Má ou muito má
Page 54
44
Gráfico 2: Grau de dificuldade sentido diariamente devido a problemas decorrentes de saúde ou da idade
(envelhecimento)
Os dados censitários de 2011 (INE) permitem ver que, à escala nacional, 19.8% da
população mais velha vive só e 39.8% exclusivamente com outros idosos. Relativamente a Vila
Nova de Gaia, a informação a reter dos dados do inquérito, é que na população com idades
iguais e superiores a 65 anos, as percentagens dos inquiridos cuja vida quotidiana ocorre numa
condição de isolamento são superiores às registadas ao nível nacional: 26% dos inquiridos
vivem sós, sendo que o crescimento do número de indivíduos que vivem sós ou somente com
outra pessoa idosa pode constituir um indicador de risco dos mais velhos viverem o seu
48,50%
60,40%
46,50%
78,60%
31,50%
25,10%
28,40%
14,30%
19,60%
14,30%
24,80%
5,90%
1,20%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
Dificuldade em ver
mesmo usando óculos
ou lentes de contacto
Dificuldade em ouvir
mesmo usando
aparelho auditivo
Dificuldade em andar
ou subir de graus
Dificuldade em tomar
banho ou vestir-se
sozinho
Não tem dificuldade
Tem pouca dificuldade
Tem muita dificuldade
Não consegue
Page 55
45
quotidiano separado do dos membros das outras gerações. Constata-se que as famílias
constituídas apenas por um casal de idosos predominam claramente, sendo que os idosos que
têm oportunidade de viver com membros das gerações mais novas, filhos e/ou netos, não
representam mais do que 27.3%. Por sua vez, a existência de outros tipos de famílias (familiares
além dos descendentes diretos e outros) não tem expressão significativa (3.7%).
Gráfico 3: Tipologia de famílias
Relativamente às relações com os elementos dos grupos primários (nomeadamente
filhos, netos, irmãos e outros familiares), o inquérito permitiu apurar que este tipo de interações
continua a verificar-se: os inquiridos responderam positivamente à pergunta relativa à
existência de contactos frequentes (designadamente diários) com filhos (65%) e com netos
(44.3%).
De modo a caraterizar mais detalhadamente as redes de relações sociais dos mais velhos,
procurou-se apurar se os inquiridos prestam algum tipo de cuidados a alguém, tendo-se
constatado que 24% (n=236) o faz (gráfico 4).
42,70%
26,30%
27,30%
3,70%
Família nuclear sem filhos
Pessoas que vivem sós
Pessoas que vivem com membros de
gerações mais novas
Outro tipo de famílias
Page 56
46
Gráfico 4: Prestação de cuidados a terceiros
Os indicadores de solidão avaliados sugerem a presença de resultados ligeiramente
abaixo dos obtidos em outros estudos realizados com população portuguesa (média=10.71;
d.p.=3.35) (Neto, 2014) (gráfico 5), sendo de registar que a grande maioria dos inquiridos
(90.8%) refere a existência de alguém próximo em quem pode confiar.
Gráfico 5: Avaliação das relações sociais (UCLA-6)
24%
76%
Presta cuidados a terceiros
Não presta cuidados a terceiros
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Sinto falta de
camaradagem
Sinto que faço
parte de um
grupo de amigos
Sinto-me
excluído(a)
Sinto-me
isolado(a) dos
outros
Sou infeliz por
ser tão retraído(a)
As pessoas estão
à minha vota mas
não estão comigo
Nunca
Raramente
Alguma vezes
Muitas vezes
Page 57
47
Em relação ao estado emocional dos inquiridos, uma análise preliminar aos resultados
obtidos permite verificar que o rastreio à presença de sintomatologia depressiva sugere a
existência de 32.5% (n=321) casos com GDS≥2, potencialmente merecedores de atenção
clínica. Neste grupo, incluem-se sobretudo mulheres e pessoas singulares, ou seja, solteiros,
viúvos e divorciados.
Análise da relação entre a GDS e os fatores sociodemográficos, saúde e sociais
Pela análise da tabela 8, apura-se que existe uma relação de dependência significativa
(p< 0.05) entre os resultados da GDS e o “género”, “estado civil“, “habilitações literárias”,
“avaliação da saúde”, “tem dificuldade em ver mesmo usando óculos ou lentes de contacto”,
“tem dificuldade em ouvir mesmo usando aparelho auditivo”, “tem dificuldade em andar ou
subir degraus”, “tem dificuldade em tomar banho ou vestir-se sozinho”, “situação”,
“família=netos”, “família=irmãos”, “família=outros familiares”, “tem alguém em quem possa
confiar” e a “UCLA”.
Tabela 8: Comparação entre a GDS de acordo com as restantes caraterísticas das dimensões “Sociodemográfica”,
“Saúde” e “Social (distribuições de frequência e teste do qui-quadrado)
GDS (<2 sem DEP | >=2 com DEP)
valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(DEP)
1
Com relevância
sintomatológica
(DEP) Total
n % n % n %
Caraterísticas sociodemográficas
Sexo
0 F 349 52.9% 210 65.4% 559 57.0%
s 1 M 311 47.1% 111 34.6% 422 43.0%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Escalões Etários
0 65 a 74 anos 371 56.2% 167 52.0% 538 54.8%
ns 1 75 e mais anos 289 43.8% 154 48.0% 443 45.2%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Estado Civil
0 Casado/União Facto 416 63.0% 157 48.9% 573 58.4%
s 1 Singulares
(Solteiro/Divorciado/Viúvo) 244 37.0% 164 51.1% 408 41.6%
Page 58
48
GDS (<2 sem DEP | >=2 com DEP)
valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(DEP)
1
Com relevância
sintomatológica
(DEP) Total
n % n % n %
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Habilitações Literárias
0 >=1ºciclo 507 76.8% 217 67.6% 724 73.8%
s 1 s/Esc.
Total
153
660
23.2%
100.0%
104
321
32.4%
100.0%
257
981
26.2%
100.0%
Freguesia
0 Freg-Urb 337 51.1% 167 52.0% 504 51.4%
ns 1 Freg-n/Urb 323 48.9% 154 48.0% 477 48.6%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Saúde
Avaliação da saúde
0 Avaliação Positiva (+) 562 85.2% 211 65.7% 773 78.8%
s 1 Avaliação Negativa (-) 98 14.8% 110 34.3% 208 21.2%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em ver
mesmo usando óculos ou
lentes de contacto
0 Avaliação Positiva (+) 565 85.6% 220 68.5% 785 80.0%
s 1 Avaliação Negativa (-) 95 14.4% 101 31.5% 196 20.0%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
ouvir mesmo usando
aparelho auditivo
0 Avaliação Positiva (+) 578 87.6% 261 81.3% 839 85.5%
s 1 Avaliação Negativa (-) 82 12.4% 60 18.7% 142 14.5%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
andar ou subir degraus
0 Avaliação Positiva (+) 538 81.5% 196 61.1% 734 74.8%
s 1 Avaliação Negativa (-) 122 18.5% 125 38.9% 247 25.2%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
tomar banho ou vestir-se
sozinho
0 Avaliação Positiva (+) 628 95.2% 284 88.5% 912 93.0%
s 1 Avaliação Negativa (-) 32 4.8% 37 11.5% 69 7.0%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Social
Situação
0 Não isolados 507 76.8% 203 63.2% 710 72.4%
s
1 Isolados 153 23.2% 118 36.8% 271 27.6%
Page 59
49
GDS (<2 sem DEP | >=2 com DEP)
valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(DEP)
1
Com relevância
sintomatológica
(DEP) Total
n % n % n %
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Família=Filhos
0 Contacto (+) frequente 541 89.3% 248 84.9% 789 87.9%
ns 1 Contacto (-) frequente 65 10.7% 44 15.1% 109 12.1%
Total 606 100.0% 292 100.0% 898 100.0%
Família=Netos
0 Contacto (+) frequente 454 79.5% 196 70.5% 650 76.6%
s 1 Contacto (-) frequente 117 20.5% 82 29.5% 199 23.4%
Total 571 100.0% 278 100.0% 849 100.0%
Família=Irmãos
0 Contacto (+) frequente 227 41.3% 81 31.2% 308 38.1%
s 1 Contacto (-) frequente 322 58.7% 179 68.8% 501 61.9%
Total 549 100.0% 260 100.0% 809 100.0%
Família=Outros familiares
0 Contacto (+) frequente 198 31.8% 57 18.8% 255 27.6%
s 1 Contacto (-) frequente 424 68.2% 246 81.2% 670 72.4%
Total 622 100.0% 303 100.0% 925 100.0%
Presta algum tipo de
cuidados a alguém
0 Não 509 77.1% 238 74.1% 747 76.1%
ns 1 Sim 151 22.9% 83 25.9% 234 23.9%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
Tem alguém em quem
possa confiar
0 Não 35 5.3% 55 17.1% 90 9.2%
s 1 Sim 623 94.7% 266 82.9% 889 90.8%
Total 658 100.0% 321 100.0% 979 100.0%
UCLA
0 UCLA<=média 517 78.3% 114 35.5% 631 64.3%
s 1 UCLA>média 143 21.7% 207 64.5% 350 35.7%
Total 660 100.0% 321 100.0% 981 100.0%
* Resultados de acordo o Teste de Independência do Qui-Quadrado de Pearson (s= p< 0.05).
Page 60
50
Análise da relação entre a GAI e os fatores sociodemográficos, saúde e sociais
Na tabela seguinte estão representados os resultados (em número e frequência relativa)
dos cruzamentos entre o GAI e as caraterísticas das dimensões “Sociodemográficas”, “Saúde”
e “Social”. Os resultados evidenciam que existe uma relação de dependência significativa (p<
0.05) entre os resultados do GAI e a maioria das variáveis em análise, nomeadamente: “género”,
“habilitações literárias”, “avaliação da saúde”, “tem dificuldade em ver mesmo usando óculos
ou lentes de contacto”, “tem dificuldade em ouvir mesmo usando aparelho auditivo”, “tem
dificuldade em andar ou subir degraus”, “tem dificuldade em tomar banho ou vestir-se
sozinho”, “família=netos”, “tem alguém em quem possa confiar” e a “UCLA”.
Tabela 9: Comparação entre o GAI de acordo com as restantes caraterísticas das dimensões “Sociodemográfica”,
“Saúde” e “Social” (distribuições de frequência e teste do qui-quadrado)
GAI (<3 sem ANX. | >=3 com ANX.)
Valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(ANX)
1
Com relevância
sintomatológica
(ANX) Total
n % n % n %
Caraterísticas sociodemográficas
Sexo
0 F 171 43.3% 388 66.2% 559 57.0%
s 1 M 224 56.7% 198 33.8% 422 43.0%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Escalões Etários
0 65 a 74 anos 211 53.4% 327 55.8% 538 54.8%
ns 1 75 e mais anos 184 46.6% 259 44.2% 443 45.2%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Estado Civil
0 Casado/União Facto 242 61.3% 331 56.5% 573 58.4%
ns 1 Singulares
(Solteiro/Divorciado/Viúvo) 153 38.7% 255 43.5% 408 41.6%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Habilitações
Literárias
0 >=1ºciclo 313 79.2% 411 70.1% 724 73.8%
s 1 s/Esc. 82 20.8% 175 29.9% 257 26.2%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Freguesia 0 Freg-Urb 212 53.7% 292 49.8% 504 51.4% ns
Page 61
51
GAI (<3 sem ANX. | >=3 com ANX.)
Valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(ANX)
1
Com relevância
sintomatológica
(ANX) Total
n % n % n %
1 Freg-n/Urb 183 46.3% 294 50.2% 477 48.6%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Saúde
Avaliação da saúde
0 Avaliação Positiva (+) 351 88.9% 422 72.0% 773 78.8%
s
1 Avaliação Negativa (-) 44 11.1% 164 28.0% 208 21.2%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
ver mesmo usando
óculos ou lentes de
contacto
0 Avaliação Positiva (+) 330 83.5% 455 77.6% 785 80.0%
s 1 Avaliação Negativa (-) 65 16.5% 131 22.4% 196 20.0%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
ouvir mesmo usando
aparelho auditivo
0 Avaliação Positiva (+) 352 89.1% 487 83.1% 839 85.5%
s 1 Avaliação Negativa (-) 43 10.9% 99 16.9% 142 14.5%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
andar ou subir
degraus
0 Avaliação Positiva (+) 326 82.5% 408 69.6% 734 74.8%
s 1 Avaliação Negativa (-) 69 17.5% 178 30.4% 247 25.2%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Tem dificuldade em
tomar banho ou
vestir-se sozinho
0 Avaliação Positiva (+) 376 95.2% 536 91.5% 912 93.0%
s 1 Avaliação Negativa (-) 19 4.8% 50 8.5% 69 7.0%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Social
Situação
0 Não isolados 293 74.2% 417 71.2% 710 72.4%
ns 1 Isolados 102 25.8% 169 28.8% 271 27.6%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Família=Filhos
0 Contacto (+) frequente 317 89.5% 472 86.8% 789 87.9%
ns 1 Contacto (-) frequente 37 10.5% 72 13.2% 109 12.1%
Total 354 100.0% 544 100.0% 898 100.0%
Família=Netos 0 Contacto (+) frequente 271 80.7% 379 73.9% 650 76.6% s
Page 62
52
GAI (<3 sem ANX. | >=3 com ANX.)
Valor-
p
0
Sem relevância
sintomatológica
(ANX)
1
Com relevância
sintomatológica
(ANX) Total
n % n % n %
1 Contacto (-) frequente 65 19.3% 134 26.1% 199 23.4%
Total 336 100.0% 513 100.0% 849 100.0%
Família=Irmãos
0 Contacto (+) frequente 125 37.8% 183 38.3% 308 38.1%
ns 1 Contacto (-) frequente 206 62.2% 295 61.7% 501 61.9%
Total 331 100.0% 478 100.0% 809 100.0%
Família=Outros
familiares
0 Contacto (+) frequente 109 29.5% 146 26.3% 255 27.6%
ns 1 Contacto (-) frequente 261 70.5% 409 73.7% 670 72.4%
Total 370 100.0% 555 100.0% 925 100.0%
Presta algum tipo de
cuidados a alguém
0 Não 308 78.0% 439 74.9% 747 76.1%
ns 1 Sim 87 22.0% 147 25.1% 234 23.9%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
Tem alguém em
quem possa confiar
0 Não 25 6.3% 65 11.1% 90 9.2%
s 1 Sim 370 93.7% 519 88.9% 889 90.8%
Total 395 100.0% 584 100.0% 979 100.0%
UCLA
0 UCLA<=média 305 77.2% 326 55.6% 631 64.3%
s 1 UCLA>média 90 22.8% 260 44.4% 350 35.7%
Total 395 100.0% 586 100.0% 981 100.0%
* Resultados de acordo o Teste de Independência do Qui-Quadrado de Pearson (s= p< 0.05).
Page 63
53
Análise de Regressão Logística para avaliar quais os fatores significativamente
associados à GDS e ao GAI
Para avaliar a importância que cada variável explicativa tem para a variável resposta,
“GDS” e “GAI”, recorreu-se à regressão logística pelo método de seleção Forward: LR4
(stepwise), como forma de obter o melhor modelo5. A regressão logística (binária) é definida
como uma técnica estatística de análise multivariada utilizada frequentemente no
desenvolvimento de modelos que visem entender ou predizer a relação existente entre uma
variável categórica, que assume um entre dois valores possíveis (ex.: “zero” e “um”, “sim” e
“não”, etc.), e um conjunto de variáveis explicativas ou independentes (Hosmer et al., 2013).
De forma a obter um modelo mais estável, minimizou-se o número de variáveis
explicativas a incluir no modelo de regressão, e desta forma diminuir o risco de sobreajuste do
modelo. Na seleção destas variáveis foram tidos em conta os resultados dos testes de
independência do Qui-quadrado de Pearson (ver secção anterior) para cada variável explicativa
em relação às variáveis dependentes, a “GDS” e o “GAI”, com a finalidade de verificar a
existência de associação ou diferença significativa (p<0.05), respetivamente. De seguida,
considerando a constante no modelo, os parâmetros de estimação dos modelos apresentaram
5% de significância para a entrada de variáveis e 10% para a saída (Hosmer, Lemeshow &
Sturdivant, 2013).
A validação dos pressupostos da RL recorreu à análise gráfica dos resíduos e ao
diagnóstico dos casos influentes. Por fim, avaliou-se a capacidade discriminante do modelo
obtido recorrendo à área da curva ROC. Todos os pressupostos de validação da análise de RL
foram verificados.
Já em relação à GDS, a tabela 10 apresenta os valores estimados dos coeficientes de
regressão (B), desvio padrão (S.E.), teste de Wald e respetivos valores do nível de significância
(p), o valor estimado da medida “razão da chance” (Exp(B), ou Odds ratio) e respetivo intervalo
de confiança.
A partir dos resultados de ajuste do modelo de regressão logística (ver tabela 10),
verifica-se que a “avaliação da saúde” (B = 0.523; X2Wald (1) = 5.547; p = 0.019; OR = 1.688),
“tem dificuldade em ver mesmo usando óculos ou lentes de contacto” (B = 0.525; X2Wald (1) =
4 O método de seleção Forward:LR é baseado no rácio de verossimilhanças. É um método de seleção stepwise, isto é, a entrada
de uma variável independente no modelo é feita em função da significância da estatística “Score” e a remoção de uma variável
no modelo é feita a partir da significância do teste do rácio de verosimilhanças baseado nas estimativas parciais de máxima
verossimilhança do modelo (Maroco, 2011). 5 O modelo apresentado é relativo apenas ao modelo final com as variáveis independentes que apresentaram valores
estatisticamente significativos (p<0.05).
Page 64
54
5.113; p = 0.024; OR = 1.691), “tem dificuldade em andar ou subir degraus” (B = 0.775; X2Wald
(1) = 13.045; p = 0.000; OR = 2.170), “situação” (B = 0.533; X2Wald (1) = 6.416; p = 0.011; OR
= 1.704), “família=outros familiares” (B = 0.485; X2Wald (1) = 4.325; p = 0.038; OR = 1.625),
“tem alguém em quem possa confiar” (B = -0.994; X2Wald (1) = 10.168; p = 0.001; OR = 0.370)
e a “UCLA” (B = 1.592; X2Wald (1) = 68.413; p = 0.000; OR = 4.913), apresentam um efeito
estatisticamente significativo sobre a GDS.
Tendo como referência a sintomatologia depressiva (GDS), para a avaliação da saúde
verifica-se que a possibilidade de ter sintomatologia depressiva é 68.8% superior nos indivíduos
que avaliaram negativamente a sua saúde, por relação aos que a avaliaram de forma positiva. A
chance de ter sintomatologia depressiva é ainda 69.1% superior nos idosos que têm “dificuldade
em ver mesmo usando óculos ou lentes de contato”, face aos que não apresentam essa
dificuldade. De igual forma verifica-se que há uma possibilidade aproximadamente 2.2 vezes
superior (OR= 2.17) dos idosos que demonstram “dificuldade em andar ou subir degraus” terem
sintomatologia depressiva, em comparação com os que não identificam essa dificuldade.
Quanto aos idosos que vivem isolados verifica-se que a possibilidade de terem sintomatologia
depressiva é de 70.4% superior aos idosos que não se encontram nesta situação. De igual forma,
os idosos que são contactados com mais frequência por parte de “outros familiares” (exceto
filhos, netos e irmãos), apresentam uma possibilidade de ter sintomatologia depressiva 62.5%
superior aos idosos que são contactados com menos frequência. Por sua vez, a hipótese de ter
sintomatologia depressiva, é 37% inferior nos idosos que referiram a existência de um
confidente. Por fim, verifica-se que há uma possibilidade aproximadamente 4.9 vezes superior
(OR= 4.913) de apresentarem valores de “solidão” acima da média para a UCLA, em
comparação aos que apresentaram valores abaixo da média. Assim, de uma forma geral, os
idosos que têm maior chance de apresentar sintomatologia depressiva são: os que avaliam
negativamente a sua saúde, os que apresentam “dificuldade em ver mesmo usando óculos ou
lentes de contacto”, os que demonstram “dificuldade em andar ou subir degraus”, os que vivem
isolados (sós), os que são contactados por “outros familiares” com mais frequência (que não os
filhos, os netos e os irmãos), os que não têm um confidente e os que apresentam valores de
solidão superiores à média.
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55
Tabela 10: Ajuste dos coeficientes de regressão logística a cada uma das variáveis explicativas (GDS)
GDS - Variáveis na equação
B S.E. Wald df p. Exp(B)
95% C.I. para EXP(B)
Inferior Superior
Passo
7g
Avaliação da saúde 0.523 0.222 5.547 1 0.019 1.688 1.092 2.609
Tem dificuldade em ver mesmo usando
óculos ou lentes de contacto 0.525 0.232 5.113 1 0.024 1.691 1.072 2.666
Tem dificuldade em andar ou subir
degraus 0.775 0.214 13.045 1 0.000 2.170 1.425 3.303
Situação 0.533 0.210 6.416 1 0.011 1.704 1.128 2.574
Família=Outros familiares 0.485 0.233 4.325 1 0.038 1.625 1.028 2.567
Tem alguém em quem possa confiar -0.994 0.312 10.168 1 0.001 0.370 0.201 0.682
UCLA 1.592 0.192 68.413 1 0.000 4.913 3.369 7.164
Constante -1.460 0.375 15.150 1 0.000 0.232
a. Variável(is) inserida(s) no passo 1: UCLA.
b. Variável(is) inserida(s) no passo 2: Tem dificuldade em andar ou subir degraus.
c. Variável(is) inserida(s) no passo 3: Tem alguém em quem possa confiar.
d. Variável(is) inserida(s) no passo 4: Avaliação da saúde.
e. Variável(is) inserida(s) no passo 5: Situação.
f. Variável(is) inserida(s) no passo 6: Tem dificuldade em ver mesmo usando óculos ou lentes de contacto.
g. Variável(is) inserida(s) no passo 7: Família=Outros familiares.
Em relação ao GAI, a tabela 11 apresenta os valores estimados dos coeficientes de
regressão (B), desvio padrão (S.E.), teste de Wald e respetivos valores do nível de significância
(p), o valor estimado da medida “razão da chance” (Exp(B), ou Odds ratio - OR) e respetivo
intervalo de confiança.
A partir dos resultados de ajuste do modelo de regressão logística (ver quadro 10),
verifica-se que o “género” (B = -0.979; X2Wald (1) = 33.17; p = 0.001; OR = 0.376), o “escalão
etário” (B = -0.337; X2Wald (1) = 3.905; p = 0.048; OR = 0.714), a “avaliação da saúde” (B =
0.874; X2Wald (1) = 14.344; p = 0.001; OR = 2.397) e a “UCLA” (B =0.879; X2
Wald (1) = 21.916;
p = 0.001; OR = 2.408), apresentam um efeito estatisticamente significativo sobre a “GAI”.
Tendo como referência a sintomatologia de ansiedade (GAI), para o género verifica-se
que a chance de ter sintomatologia de ansiedade é de 37.6% inferior nos idosos do sexo
masculino (classe de referência) face aos do sexo feminino. De igual forma, apura-se que nos
idosos com “75 e mais anos” a chance é 71.4% inferior em relação aos que têm “65 a 74 anos”.
Quanto à “avaliação da saúde” constata-se que a chance em ter sintomatologia de ansiedade
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dos idosos que avaliaram negativamente a sua saúde é maior em cerca de 2.4 vezes (OR= 2.4),
face aos que a avaliaram de forma positiva. Por fim, de igual forma, verifica-se que os idosos
que apresentaram valores de “solidão” acima da média para a UCLA, é cerca de 2.4 superior
(OR= 2.4), aos que apresentaram valores abaixo da média. Assim, de um modo geral, os idosos
que têm maior chance de apresentar sintomatologia ansiosa são: mulheres, de grupos etários
mais novos, com avaliação negativa da sua saúde e com solidão.
Tabela 11: Ajuste dos coeficientes de regressão logística a cada uma das variáveis explicativas (GAI)
GAI - Variáveis na equação
B S.E. Wald df p Exp(B)
95% C.I. para EXP(B)
Inferior Superior
Passo 4d
Género -0,979 0,170 33,170 1 0,000 0,376 0,269 0,524
Escalões Etários -0,337 0,170 3,905 1 0,048 0,714 0,511 0,997
Avaliação da saúde 0,874 0,231 14,344 1 0,000 2,397 1,525 3,767
UCLA 0,879 0,188 21,916 1 0,000 2,408 1,667 3,478
Constante 0,547 0,153 12,804 1 0,000 1,729
a. Variável(is) inserida(s) no passo 1: Género.
b. Variável(is) inserida(s) no passo 2: UCLA.
c. Variável(is) inserida(s) no passo 3: Avaliação da saúde.
d. Variável(is) inserida(s) no passo 4: Escalões Etários.
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8. Discussão de resultados
Os dados obtidos no presente estudo revelam que o rastreio à presença de sintomatologia
depressiva sugere a existência de 32.5% (n=321) casos com GDS≥2, potencialmente
merecedores de atenção clínica. Neste grupo, incluem-se sobretudo mulheres e pessoas
singulares, ou seja, solteiro/as, viúvo/as e divorciado/as.
No âmbito do estudo levado a cabo por Frade, Barbosa, Cardoso e Nunes (2015), foi
aplicada a Escala de Depressão Geriátrica de 30 itens a 75 idosos, institucionalizados e a viver
na comunidade, com idades compreendidas entre os 65 e os 91 anos, do qual se concluiu que
os sintomas de depressão foram prevalentes nos idosos que viviam sozinhos (viúvos e
solteiros), quando comparados com o grupo dos idosos que vivia com o cônjuge. Ou seja, os
idosos solteiros e/ou viúvos, quer estejam institucionalizados ou não, parecem ter maior
tendência para apresentar sintomas depressivos. O mesmo estudo concluiu ainda que o sexo
masculino apresenta menor número de sintomas de depressão por comparação com o sexo
feminino, apesar de não se terem verificado diferenças estatisticamente significativas. Os
sintomas de depressão foram mais prevalentes no grupo dos idosos institucionalizados por
comparação com o grupo dos idosos não institucionalizados. Já o estudo desenvolvido por
Gonçalves-Pereira e colaboradores (2016), nas freguesias de Fernão Ferro e Mora, demonstra
que, quanto à depressão geriátrica, a prevalência na comunidade oscila entre 8‐ 16% ou 10‐
15% para a “depressão com significado clínico”, um termo adotado pelo consórcio
EURODEP6. O estudo desenvolvido por estes autores encontrou uma prevalência global de
12.3%. Mediante estes resultados, comprova-se que a presença de sintomatologia depressiva na
população idosa de Vila Nova de Gaia é substancialmente mais elevada do que a encontrada
em outros estudos e noutras regiões do país. Para melhor analisar estes dados, devemos ainda
ter em consideração que, no presente estudo, foi usado um cut-off de ≥2 para relevância
sintomatológica, ou seja, se tivéssemos em consideração o cut-off originalmente sugerido pelos
autores da GDS-4, teríamos uma prevalência ainda mais elevada.
Assim, pela análise dos dados obtidos através da aplicação da GDS, apurou-se
igualmente que 36.8% dos indivíduos (n=118) com relevância sintomatológica de depressão
vivem sozinhos, e viver só aumenta a possibilidade de vir a desenvolver sintomatologia
depressiva em 70.4%, face aos idosos que não se encontram nesta situação. Resultados idênticos
foram observados num estudo realizado por Lentsck, Schoereder, Prezotto, e Mathias (2015),
6 O consórcio EURODEP consiste em vários estudos comunitários independentes de depressão na população
idosa.
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onde a prevalência de sintomas depressivos teve grande relevância entre os idosos que viviam
sós. Roncon, Lima, e Pereira (2015) também revelam que ser casado ou viver em união de facto
reduz o risco de depressão, comparativamente com os sujeitos viúvos, solteiros e divorciados,
o que nos indica que ter alguém com quem partilhar a habitação é um fator protetor para o
diagnóstico de depressão, na medida em que se reduz drasticamente os efeitos do isolamento,
tais como a solidão. Na senda de Semedo, Ventura, Paula, Silva, & Pelzer (2016) a transição
de ficar só depois da perda do cônjuge torna os idosos mais suscetíveis à perda de contacto
social e, consequentemente, à depressão, pois, do ponto de vista vivencial, o idoso está numa
situação de perdas continuadas. Estas perdas despertam, muitas vezes, sentimentos de desânimo
e tristeza que acabam por originar sintomas depressivos, e o viver sozinho está tendencialmente
associado a essas perdas. Considera-se que existe uma perda cada vez que uma situação é
vivenciada como um insucesso, uma variação, uma separação, uma privação, afetando o status
do indivíduo, os seus papéis, os seus objetivos ou os seus sonhos e ilusões. Como resultado
dessas perdas, o idoso é, não raras vezes, obrigado a escolher entre morar sozinho ou viver em
instituições, optando, muitas vezes, pela primeira. Nesse sentido, os idosos viúvos e divorciados
merecem particular atenção em razão da maior prevalência de sintomas depressivos (Semedo,
Ventura, Paula, Silva, & Pelzer, 2016).
Tendo em consideração o resultado dos estudos apresentados, conclui-se que viver só é
um fator preditor de depressão e, nesse sentido, devem ser privilegiado um incentivo à criação
e manutenção das relações sociais como forma de contrariar esta tendência. De acordo com um
estudo realizado por Teston, Carreira e Marcon (2014) apesar da oferta de atividades que
promovem as relações sociais pelas instituições de permanência de idosos, evidenciou-se que
os idosos com depressão são justamente aqueles que, por si só, não participam nas atividades;
nesse sentido, não reforçam os relacionamentos sociais nem o estabelecimento de vínculos.
Assim, é importante que os profissionais identifiquem precocemente estes idosos e
desenvolvam estratégias de fortalecimento das relações, com o objetivo de impedir a evolução
do quadro e contribuir para a promoção da sua saúde mental e qualidade de vida.
No que diz respeito à saúde, verificamos que 34.3% dos indivíduos com relevância
sintomatológica de depressão avaliam a sua saúde negativamente. Tal seria expectável, uma
vez que sabemos que os estados depressivos influenciam negativamente o humor e a perceção
da realidade e do quotidiano. Os idosos que avaliam negativamente a sua saúde veem
aumentado em 68.8% a possibilidade de desenvolver depressão. No que respeita a esta
perturbação, a perda de capacidades funcionais está diretamente relacionada com a avaliação
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negativa do estado de saúde que, por sua vez, está diretamente relacionada com o aparecimento
da depressão. Além disso, o aparecimento de doenças crónicas é destacado como um dos fatores
que influencia a presença de sintomatologia depressiva nos idosos, tal como a diabetes e a
hipertensão. A dificuldade em ver aumenta a chance de desenvolver depressão em 69.1%, face
a quem não refere esta dificuldade. São 68.5% os idosos da amostra considerada que referem
ter problemas ao nível visual. As dificuldades visuais relacionam-se predominantemente com
doenças oftálmicas. Além das modificações oculares provocadas pela idade como o declínio da
acuidade visual e perda no campo visual, algumas doenças como cataratas, glaucoma e diabetes
podem ampliar os danos da visão. Os problemas visuais levam, por exemplo, à perda de
capacidades funcionais na realização das atividades de vida diária. Tal perda constitui um fator
de elevada importância na vida dos idosos, na medida em que, com essa perda, se veem
reduzidos os contactos sociais (Almeida, Caromano, Ribeiro, & Batista, 2016), o que leva,
inevitavelmente, a uma situação de risco de isolamento.
Uma vez abordado o tema da funcionalidade, interessa-nos mencionar que as
dificuldades de mobilidade elevam em 2.2 vezes a hipótese de desenvolver sintomatologia
depressiva, por comparação a quem não apresenta este tipo de dificuldade. As dificuldades de
mobilidade encontram-se diretamente associadas à realização das atividades do quotidiano, e
um bom nível de funcionalidade é muitas vezes relatado pelos idosos como sinónimo de
qualidade de vida (de acordo com os testemunhos dos inquiridos). Maus níveis de
funcionalidade surgem, ainda, relacionados com a perceção negativa do estado de saúde e com
sintomas de depressão, como se pode verificar no estudo realizado por Pagotto, Silva, Pereira
e Santos (2016). A relação entre o nível de funcionalidade e de independência nas Atividades
Básicas de Vida Diária e a depressão indica que os idosos independentes são os que se
encontram menos predispostos a desenvolver a sintomatologia (Semedo, Ventura, Paula, Silva,
& Pelzer, 2016). A perda de mobilidade e consequente capacidade funcional são capazes de
gerar stress e emoções negativas no indivíduo, diminuição do interesse em atividades físicas e
na participação social. Deste modo, a manutenção de níveis de funcionalidade satisfatórios
contribui deve ser objeto de intervenção por parte dos profissionais que trabalham com esta
população. Na verdade, Freitas et al. (2017) e Teston, Carreira e Marcon (2014) identificam
estes fatores como essenciais na prevenção de síndromes depressivos.
Ao atentarmos nos dados relativos à frequência de contactos, verificamos que a chance
de ter sintomatologia depressiva é 62.5% mais elevada nos idosos que apenas contam com
contactos frequentes com outros familiares que não filhos e netos. Tal poder-se-á justificar pelo
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facto de os idosos preferirem ter contactos mais próximos com os seus familiares mais
significativos. Quando isto não acontece, os idosos sentem-se, muito provavelmente, menos
amparados, pois os seus significativos, de quem sentem mais falta, não os contactam com a
frequência desejada. Se a esta situação somarmos a viuvez e/ou a incapacidade funcional, estão,
então reunidos múltiplos riscos de desenvolvimento da doença. Para Roncon, Lima e Pereira
(2015), a família mais chegada continua a ser a principal fonte de apoio dos idosos, tanto a nível
físico e instrumental como psicológico. Resta perceber se a frequência de contacto se manteve
intacta e estável durante toda a vida, ou se se tornou mais regular devido a preocupações
inerentes ao estado depressivo em que os idosos se encontram.
No seguimento das relações significativas, o presente estudo demonstra que a existência
de um confidente diminui o risco de depressão em 37%. Resultados idênticos foram
encontrados no Reino Unido, os quais corroboram o presente estudo, onde idosos viúvos,
divorciados ou separados, a presença de eventos de vida stressores, ter duas ou mais doenças
físicas ou nenhum relacionamento com confidentes também foram significativamente
associados à depressão. Num estudo de Murphy (1982), onde foi comparada uma amostra de
idosos deprimidos e idosos sem perturbação emocional da população geral, foi encontrada uma
associação entre eventos graves da vida, grandes dificuldades sociais, saúde física precária e a
sintomatologia depressiva; os idosos que não tinham uma relação de confiança (existência de
um confidente) eram mais vulneráveis à depressão.
Por fim, apresentar valores de solidão superiores à média amplia a chance de
desenvolver sintomatologia depressiva em 4.9 vezes mais. Porém, a relação entre a solidão e a
depressão é já sobejamente conhecida. Portugal (2007) aponta para uma diminuição da
frequência de contactos interpessoais em função do aumento da idade. No entanto, o facto de
os indivíduos não manterem uma frequência de visitas/contactos forte, não significa
necessariamente que estes experienciem sentimentos de solidão, uma vez que esta pode ser uma
escolha do indivíduo, apesar de estudos confirmarem que as escolhas individuais podem ser
condicionadas pelos contextos sociais em que estes se movem (Portugal, 2007).
Conceptualizando: a solidão é um sentimento subjetivo, bem mais relacionado com a qualidade
das interações sociais estabelecidas do que propriamente com a sua quantidade; acontece
quando as relações existentes são pouco satisfatórias; aumenta tanto mais quanto as
expectativas acerca das relações vai sendo defraudada, bem como quando se verifica uma perda
de papéis, o isolamento social, a degradação do estado de saúde, etc., ou seja, quando há uma
diminuição da autoestima e do bem-estar do indivíduo idoso (Fernandes, 2000).
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“A solidão, o isolamento, ao significarem uma rarefação das relações sociais e um vazio
afetivo, funcionam como fatores stressantes, obrigando a um esforço de superação, muitas
vezes vivido através de comportamentos agressivos, de grande ansiedade ou de depressão”
(Monfort, 2001, in Quaresma, 2004:46). De acordo com esta afirmação, é possível verificar-se
a existência de uma correlação entre depressão, ansiedade e solidão .
Já no que respeita à ansiedade, o presente estudo indica que, no seu total, o número de
casos com sintomatologia ansiosa considerada relevante é cerca de 1.5 vezes superior ao
número de casos que não apresenta relevância sintomatológica de ansiedade; i.e., da amostra
total, 586 indivíduos apresentam relevância sintomatológica de ansiedade (59.7%), face a 395
indivíduos que se apresentam sem relevância sintomatológica (40.2%). Estes resultados
superam os obtidos por Possatto, Silva, Júnior e Rabelo (2015), onde a prevalência de ansiedade
se situou nos 20.9% em idosos independentes a residir na comunidade. Também um estudo
realizado na comunidade por Machado e colaboradores (2016) identifica uma prevalência de
ansiedade na ordem dos 40.5% e indica a Perturbação de Ansiedade Generalizada como a
perturbação mais prevalente. No entanto, como podemos verificar, a prevalência de ansiedade
na população idosa de Vila Nova de Gaia distingue-se dos estudos enunciados, com
percentagens superiores. De acordo com o exposto, podemos atestar que existem divergências
na literatura quanto à prevalência da ansiedade em idosos, as quais poderão estar associadas
aos diferentes instrumentos de diagnóstico, questões metodológicas ou diferenças culturais.
Machado e colaboradores (2016) sugerem-nos que as divergências entre resultados encontram-
se associadas à tipologia de região em que os idosos residem, diferenças no estilo de vida dos
indivíduos ou ao amadurecimento da personalidade dos idosos, destacando ainda que a
metodologia aplicada em diversos estudos poderá estar a subdiagnosticar a presença de
ansiedade na população idosa.
Ainda no que concerne à ansiedade, as caraterísticas testadas referentes à dimensão
sociodemográfica, sugerem-nos que as possibilidades de desenvolver ansiedade são 37,6%
inferiores no sexo masculino, logo, ser mulher é considerado um critério de risco, o que é
corroborado pelo estudo levado a cabo por Pimenta e colaboradores (2013), cuja prevalência
determinada é de 60% para o sexo feminino. Particularmente no caso das mulheres, vários
estudos de prevalência sugerem percentagens mais elevadas de indivíduos do sexo feminino a
sofrer desta patologia, por comparação aos indivíduos do sexo masculino, tal como os
desenvolvidos por Xavier e colaboradores, (2001); Possatto, Silva, Júnior e Rabelo (2015);
Minghelli, Tomé, Nunes, Neves e Simões (2013). Tal poderá estar associado a inúmeras causas
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como a reduzida qualidade de vida, o que torna propício o aumento de doenças físicas e mentais
entre os idosos, designadamente entre as mulheres. Os danos da ansiedade na saúde destacam-
se por restringir os idosos da vida social, diminuir a independência e naturalmente afetar
negativamente a qualidade de vida (Oliveira, Antunes, & Oliveira, 2017).
Apura-se ainda que pertencer ao grupo dos idosos com 65 a 74 anos é ter uma chance
66.3% superior de desenvolver sintomatologia ansiosa, sendo, também o grupo etário, um dos
fatores de risco, associado ao desenvolvimento desta sintomatologia. Isto possivelmente se
justifique pelo facto de terem uma vida ainda ativa, especulando-se que possam ter mais
preocupações com filhos e netos ou, hipoteticamente, ainda com uma atividade profissional.
Quando nos referimos à avaliação da saúde, constatamos que a possibilidade de
apresentar relevância sintomatológica de ansiedade é 87.4% mais elevada nos idosos que
avaliam negativamente a sua saúde, face aos que a avaliam positivamente. Nesse contexto, o
estudo produzido por Menezes-Silva e colaboradores (2016), evidencia que a avaliação
negativa da saúde traz repercussões importantes à vida dos idosos, com prejuízo para as áreas
cognitiva e funcional na medida em que o estado ansioso espoleta uma série de restrições ao
bem-estar dos indivíduos. No que concerne aos idosos do presente estudo, aqueles que
apresentam valores de solidão acima da média para a UCLA apresentam uma chance 87.9%
superior de ter ansiedade relativamente aos que apresentam valores abaixo da média. Estes
dados referentes ao estado emocional indicam um maior risco de isolamento social, visto que o
suporte social diminui com o passar dos anos, fruto de um menor envolvimento com a vida
coletiva. A relação da ansiedade com a solidão diz-nos que os indivíduos que se sentem sós
desenvolvem emoções negativas relativamente à sua condição, que levam ao aumento da
ansiedade; sintomas de preocupação constante são recorrentes e fruto, também, do isolamento
percebido. O estudo de Kuznier, Souza, Mata e Chianca (2016) sugere que a solidão tem
relacionadas medidas conceptuais, tais como o apoio social, a disposição social, a depressão, a
autoestima e a satisfação com a vida; a solidão foi relacionada negativamente com medidas de
personalidade e depressão. Em simultâneo, foram observadas relações negativas com medidas
de autoconceito, auto-avaliação de atratividade e felicidade e relações positivas com ansiedade
e timidez.
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9. Implicações do estudo
A população mundial está a envelhecer, e esse é um facto inegável. De acordo com os
dados emitidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (2017), Portugal assume o 4º lugar
no ranking mundial de países com maior número de pessoas idosas. Segundo as projeções para
2050, 1 em cada 3 pessoas terá mais de 65 anos, número que decairá em 2080, fruto do reduzido
número de nascimentos ocorridos nas décadas anteriores, consequência da redução da
população jovem (FFMS, 2018).
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga um estudo recente que revela que
quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro das próximas 6 décadas
(INE, 2017). Num momento em que Portugal foi classificado pela Organização Mundial de
Saúde como estando no bottom-down na Europa no que toca ao tratamento aos seus idosos,
estas notícias são alarmantes (OMS, 2011). Todavia, confirmam-se na comunicação social
diariamente. Foi ainda publicado um comunicado pela Guarda Nacional Republicana (GNR),
o “Censos Sénior 2017”, que dá conta de mais de 45 mil idosos sinalizados no ano passado pelo
facto de viverem sozinhos ou isolados. São também conhecidos dados de 2016 que revelam que
cerca de 40% da população portuguesa com mais de 65 anos se encontra sozinha durante 8
horas ou mais por dia. Isto é, quase um milhão de idosos está em situação de solidão ou
isolamento, que afeta mais homens que mulheres e está, em parte, associado ao nível de
escolaridade, segundo a mesma fonte (GNR, 2017).
As redes interpessoais significativas, designadamente a rede de familiares e a presença
de confidentes no quotidiano de cada indivíduo, concorrem para o alargamento e coesão do
capital social e familiar, decisivo nos processos de envelhecimento que, aliás, deverão ser objeto
de investimento ao longo de toda a vida já que contribuem para o bem-estar ao mesmo tempo
que promovem a saúde.
Oliveira e colaboradores (2018) verificaram uma associação entre as patologias crónicas
e o seu impacto negativo na qualidade de vida dos idosos. A depressão é apontada como fator
de risco para um prognóstico negativo de doenças crónicas, afetando a capacidade funcional e
a qualidade de vida dos indivíduos. A presença de uma doença física pode contribuir para o
agravamento da depressão, por meio direto na função cerebral, ou meios psicológicos e
psicossociais. Assim, tanto a depressão antecipa doenças crónicas, quanto essas patologias
acentuam sintomas depressivos.
Este estudo procurou alertar para alguns fatores de risco do desenvolvimento de
depressão e ansiedade, comuns e frequentes entre a população mais velha. De tão comuns,
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muitas vezes passam despercebidos; no entanto, podem ser decisivos na prevenção. Após a
análise dos dados obtidos, concluiu-se que os idosos com maior probabilidade de desenvolver
sintomatologia depressiva são aqueles que avaliam negativamente a sua saúde, os que
apresentam dificuldades visuais ou de mobilidade, os que vivem sós, os que são contactados
por “outros familiares” (que não filhos, netos e irmãos) com mais frequência (e,
consequentemente, por filhos, netos e irmãos com menor frequência do que desejariam), os que
não têm um confidente e os que apresentam valores de solidão superiores à média. Já quando
atentamos aos dados referentes à sintomatologia ansiosa, verificamos que os idosos com maior
chance de apresentar sintomatologia ansiosa são mulheres, idosos de grupos etários mais novos,
com avaliação negativa da sua saúde e com solidão. Os dados gerais recordam-nos que 32.5%
dos idosos inquiridos apresenta relevância sintomatológica de depressão, bem como 59.7%
apresenta relevância sintomatológica de ansiedade.
Numa altura em que envelhecimento da população assume cada vez maior relevância
na sociedade, pela necessidade de cuidados a prestar a esta franja da população, pela dificuldade
cada vez maior das famílias em assegurá-los e pelos problemas de saúde que as doenças mentais
acarretam, torna-se emergente a compreensão desses fatores para que se possa pensar em
oferecer a cada indivíduo o melhor cuidado possível nas melhores condições possíveis. Neste
contexto, os profissionais ligados à área do envelhecimento e saúde devem estar sensibilizados
e verdadeiramente comprometidos com o desenvolvimento de cuidados que minimizem a
implicação da institucionalização na saúde mental do idoso e na saúde em geral. Ou, por outro
lado, contribuam para diminuir a necessidade de institucionalização, através da conceção de
cuidados de natureza preventiva, interdisciplinar e comunitária que promovam nos idosos a
autossuficiência e a independência necessária à realização do autocuidado em sua casa, junto
dos seus, no seu ambiente habitual e familiar. Por outro lado, as instituições que recebem idosos
devem pautar-se por uma organização facilitadora de implementação de medidas que
minimizem o peso da institucionalização através de atividades diversificadas que exercitem as
capacidades físicas e mentais dos idosos, que contribuam para prevenção da deterioração da
saúde do idoso.
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10. Algumas limitações
Como em todos os estudos, há várias limitações que importa identificar neste. Um
primeiro prende-se com o facto de ter sido considerada uma amostra não probabilística;
contudo, este facto atribui-se às limitações temporais que um projeto deste tipo impõe. No
entanto, o tamanho e a homogeneidade da amostra não parecem limitativos da generalização
deste estudo. Pelo contrário, a dimensão da amostra é um fator distintivo e plausível de
generalização dos resultados. Um segundo aspecto prende-se com o tipo de amostra aqui
utilizado: as amostras constituídas por voluntários produzem resultados tendenciosos.
Podemos, portanto, considerar que outra das limitações é estarmos perante uma amostra de
pessoas que respondem voluntariamente, abordadas pelo investigador, tendo por isso, este,
interferência na seleção. Numa amostra aleatória a probabilidade de ser incluído era, a priori,
igual para todos os potenciais inquiridos (que aceitassem participar no estudo). Muitas vezes,
as amostras de resposta voluntária são maioritariamente constituídas por pessoas que
sobrestimam o tema sobre o qual o estudo incide, ora, tal facto poderá ter implicações nos
resultados, influenciando a validade dos mesmos. Assim, inferências a partir de uma amostra
de resposta voluntária não são tão confiáveis como as conclusões com base numa amostra
aleatória de toda a população em estudo (Freedman, 2010). Um terceiro aspeto a reconhecer foi
a de que as avaliações foram feitas por diferentes investigadores, o que representa um potencial
viés. No entanto, o viés potencial foi minimizado pelo seguimento de protocolo padronizado
pela coordenação e restante equipa deste projeto. Apesar destas limitações, o presente estudo
tem também aspetos fortes e estes devem ser evidenciados. No caso concreto, os pontos fortes
são, claramente, a metodologia utilizada e a dimensão da amostra.
Page 76
66
Bibliografia
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