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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
LOHAINE SOUZA DA SILVA
DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA
CASAIS IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E
VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO
CUIABÁ-MT
2020
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LOHAINE SOUZA DA SILVA
DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA
CASAIS IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E
VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO
Relatório de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT), Campus Cuiabá, como requisito
para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem e o Cuidado à
Saúde Regional
Grupo de Pesquisa: Enfermagem, Saúde e Cidadania
(GPESC).
Orientadora: Prof.ª Drª Rosa Lúcia Rocha Ribeiro.
Co-orientadora: Prof.a Dra. Maria Aparecida Rodrigues
da Silva Barbosa
CUIABÁ-MT
2020
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LOHAINE SOUZA DA SILVA
DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA CASAIS
IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E
VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO
Esta dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para obteção do
título de:
Mestre em Enfermagem
E aprovada em 17 de setembro de 2020, atendendo às normas da legislação vigente da UFMT,
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, área de concentração: Enfermagem e o cuidado à
saúde regional.
________________________________
Profa.Dr.ª Fabiane Blanco Silva Bernardino
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - UFMT
BANCA EXAMINADORA:
________________________________
Profª.Drª. Rosa Lúcia Rocha Ribeiro
Orientadora -Presidente da Banca
________________________________
Profª.Drª. Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa
Co-Orientadora
__________________________________ _______________________________
Profa.Dr.ª Larissa de Almeida Rézio Profa.Dr.ª Roselma Lucchese
Membro Efetivo Interno Membro Efetivo Externo
FAEN/UFMT UFCAT
__________________________________ _______________________________
Profa.Dr.ª Solange Pires Salomé de Souza Profa.Dr.ª Priscilla Maria de Castro Silva
Membro Suplente Interno Membro Suplente Externo
FAEN/UFMT UFCG
Cuiabá-MT
2020
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RESUMO
SILVA, Lohaine Souza da. Depressão no pós-parto: cuidado de enfermagem para casais
identificados com fatores predeterminantes e vulnerabilidade ao adoecimento, 2020. 199 f.
Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de
Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Cuiabá, 2020.
As famílias vivenciam novas e complexas experiências decorrentes do nascimento do filho
devido aos acréscimos nas responsabilidades e mudanças resultantes desse momento. Para os
pais podem surgir sentimentos de conflito, incertezas, dúvidas e anseios, que são alguns dos
fatores desencadeantes de sofrimento mental. Cerca de 10 a 15% das mães e 10% dos pais são
suscetíveis ao desenvolvimento da depressão no pós-parto. O presente estudo teve como
objetivo geral construir um modelo de cuidado de enfermagem na atenção básica para a
promoção da saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o
nascimento do filho. Os objetivos específicos foram: identificar casais vulneráveis ao
desenvolvimento de depressão após o nascimento do filho a partir da aplicação do histórico de
enfermagem (incluindo o genograma, o ecomapa e a escala EPDS); desenvolver intervenções
para minimizar a potencialidade dos fatores de risco para a depressão de gestantes após o
nascimento do filho; avaliar a ocorrência da depressão após o nascimento do filho em puérperas
após a intervenção de enfermagem; avaliar a efetividade das ações desenvolvidas para
promoção da saúde mental. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo, que utilizou o
método da Pesquisa Convergente-Assistencial. Foram realizadas entrevistas individuais abertas
e semiestruturadas com três famílias, sendo aplicados o histórico de enfermagem, a escala de
depressão pós-natal de Edinburgh e a construção do genograma e ecomapa de família. Também
compuseram, como fontes de dados, três rodas de conversa com grupo de gestantes e
profissionais de saúde, sobre os temas: (1) maternidade e paternidade, (2) assistência ao parto
e prevenção da violência obstétrica, (3) pós-parto e amamentação. A transcrição das gravações
de áudio dos encontros (entrevistas e rodas de conversa) compuseram os dados empíricos da
pesquisa. Resultados: a pesquisa resultou na construção e aplicação de um modelo de cuidado
de enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com
risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho, oferecendo maior visibilidade às
necessidades de casais durante os períodos de gravidez, parto e pós-parto. Também colaborou
para que as famílias e os profissionais de saúde compreendessem que a depressão pós-parto é
um problema de saúde grave e que afeta os diversos âmbitos das vidas das famílias. O estudo
reafirmou a evidência de que a depressão pode acometer qualquer pessoa, mas que há
indivíduos que possuem fatores que favorecem o desenvolvimento do transtorno depressivo.
Nesse sentido, foram utilizados instrumentos que possibilitaram a identificação de tais fatores
ainda durante a gestação, bem como foram construídas medidas específicas para oferecer
suporte às famílias que estavam mais vulneráveis a desenvolver esse adoecimento.
Palavras-chave: Depressão pós-parto, Enfermagem, família, maternidade, paternidade,
Pesquisa convergente-assistencial
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ABSTRACT
SILVA, Lohaine Souza da. Postpartum depression: nursing care for couples identified with
predetermining factors and vulnerability to illness, 2020. 199 p. Master Dissertation – Post-Graduate
Program in Nursing. Federal University of Mato Grosso, Nursing School, Cuiabá, 2020.
The families live new and complex experiences resulting from the childbirth due to the increase in the
responsibilities and changes from this moment. To the parents, feelings of conflict, uncertainty, doubts
and anxieties can arise, which are some triggering factor for mental suffering. Around 10 to 15% of
mothers and 10% of fathers are susceptible to develop postpartum depression. The present study had as
general aim to build a model of nursing care in the primary care to the promotion of mental health in
pregnant couples, which had risk to develop depression after the childbirth. The specific aims were: to
identify vulnerable couples to the development of depression after the childbirth based on the application
of the nursing history (including genogram, ecomap and the EPDF scale); to develop interventions to
minimize the potentiality of risk factor to the depression of pregnant after the childbirth; to evaluate the
occurrence of depression after the childbirth in postpartum women after the intervention of the nurse; to
evaluate the effectiveness of the actions developed to the promotion of mental health. Methodology: it
is a qualitative study that used the Convergent Care Research method. Individual open and semi-
structured interviews with three families were done, applying the nursing story, the Edinburgh postnatal
depression scale and the construction of genogram and ecomap of the family. Three conversation wheels
with a group of pregnant and health professionals were part of the data resource about the themes: (1)
maternity and paternity, (2) assistance to the partum and prevention of obstetric violence, (3) postpartum
and breastfeeding. The transcription of the recordings of the audio of the meetings (interviews and
conversation wheels) was part of the empiric data of the research. Results: the research resulted in the
construction and application of a model of nursing care in the primary care to the promotion of mental
health for pregnant couples with risk of developing depression after the childbirth, offering greater
visibility to the needs of the couples during the pregnancy, partum and postpartum periods. This also
collaborated so the families and the health professionals could understand that postpartum depression is
a serious health problem and that this affects several ranges of the families’ lives. The study reaffirmed
the evidence that the depression may happen with anybody, but that there are people that have factors
that favor the development of depressive disorder. In this way, instruments that allowed the
identification of such factors during the pregnancy were used, as well as specific measures to offer
support to the families that were more vulnerable to the develop this illness were built.
Keywords: Postpartum depression, Nursing, family, maternity, paternity, Convergent Care research.
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Dedico este estudo a Luciana, Alice, Bianca e suas famílias, por me permitirem
conhecer e participar de suas histórias e as equipes de saúde por se dipor a
aprender comigo as nuances da gravidez e pós-parto, todas elas me concederam
a oportunidade de ouvir os seus anseios em um período tão delicado de suas
vidas e perceber que mesmo em meio as turbulências há força na mulher.
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Meus agradecimentos
A Deus,
À minha família,
Meus pais, Dalvina e Evaldo, pelo amor, carinho, dedicação e aceitação que me
dedicaram, por me estimularem a buscar voos mais altos e mais longos, mas
também por me fornecerem colo e um lugar para voltar e descansar as asas
sempre que precisei. Vocês são a melhor parte da minha história.
A minha querida irmã Luana, pela parceria, pelos sorrisos, pela companhia e
pela presença, a minha vida não seria tão divertida sem você. Eu te amo minha
preta!
Ao meu marido Andreve, por me apoiar, me ouvir desabafar e secar minhas
lágrimas durante todo esse processo. Mas acima de tudo, obrigado por todo o
amor, dedicação, paciência e por estar ao meu lado na construção do nosso lar.
Ao meu avô Faustino, por me ensinar valores que lugar nenhum no mundo
poderia me ensinar, a sua sabedoria me inspira todos os dias.
A minha Minnie, pela companhia durante as longas noites de estudo!
A minha orientadora Profa. Doutora Rosa Lúcia Rocha Ribeiro, por aceitar
aprender comigo sobre a depressão, pela compreensão, carinho e respeito que
me dedicou nesses anos.
A minha Co-orientadora Profa. Doutora Maria Aparecida Rodrigues da Silva
Barbosa, por me acompanhar desde a graduação e dividir comigo toda a sua
sensibilidade e paixão pelo pós-parto. Eu não poderia escolher conselheiras e
companheiras melhores.
A todas as professoras da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal
de Mato Grosso, pela instrução que me proporcionaram.
Aos colegas de mestrado que dividiram as aflições, ansiedades e recompensas,
que esse processo nos proporcionou.
A CAPES por financiar essa pesquisa através da bolsa de mestrado e permitir
que me dedicasse exclusivamente a este estudo.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE LUCIANA.............................................. 37
FIGURA 2 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE LUCIANA.................................................... 38
FIGURA 3 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE ALICE................................................... 40
FIGURA 4 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE ALICE......................................................... 42
FIGURA 5 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE BIANCA............................................... 45
FIGURA 6 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE BIANCA...................................................... 46
FIGURA 7 - REPRESENTAÇÃO DO MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM
NA ATENÇÃO BÁSICA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DE CASAIS EM
GESTAÇÃO COM RISCO DE DESENVOLVER
DPP.......................................................................................................................................... 71
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 6
2. OBJETIVOS ..................................................................................................................................................................... 13
2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................................................................... 13 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................................................... 14
3. QUADRO TEÓRICO ................................................................................................................................................... 14
3.1. SOBRE PAULO FREIRE E SUA PEDAGOGIA LIBERTADORA ......................................................................................... 15 3.2. CUIDADO E CUIDADO DE ENFERMAGEM ..................................................................................................................................... 17 3.3. MODELO ASSISTENCIAL DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) .............................................. 19 3.4. SAÚDE MENTAL ............................................................................................................................................................................. 20 3.5. FAMÍLIA ........................................................................................................................................................................................... 23 3.6. GÊNERO E PATRIARCADO ............................................................................................................................................................. 24 3.7. MATERNIDADE ............................................................................................................................................................................... 27 3.8. PATERNIDADE ................................................................................................................................................................................ 28
4. METODOLOGIA ............................................................................................................................................................. 28
4.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................................................................................. 29 4.2. ESTRATÉGIA DE RECOLHA DE DADOS E TRABALHO DE CAMPO ............................................................................................ 31 4.3. ASPECTOS ÉTICOS.......................................................................................................................................................................... 36
5. RESULTADOS ................................................................................................................................................................. 37
5.1. AS FAMÍLIAS DAS GESTANTES DO ESTUDO ................................................................................................................. 37 5.1.1. Família 1 - A família da gestante Luciana. ......................................................................................................... 37 5.1.2. Família 2 - A família da gestante Alice .................................................................................................................. 40 5.1.3. Família 3 - A família da gestante Bianca .............................................................................................................. 44
5.2. O USO DO GENOGRAMA E DO ECOMAPA NA IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO
PARA A DPP ......................................................................................................................................................................................... 48 5.3. RODAS DE CONVERSA ..................................................................................................................................................... 50
5.3.1. Maternidade ....................................................................................................................................................................... 51 5.3.2. Direitos no parto e prevenção da violência obstétrica ....................................................................................... 55 5.3.3. Pós-parto e Amamentação ........................................................................................................................................... 58
5.4. DESCRIÇÕES DA 2° ENTREVISTA, ÍNDICES DE DPP E AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DAS RODAS DE
CONVERSA. ........................................................................................................................................................................................... 61
6. O MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM CONSTRUÍDO............................................................... 67
7. A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO: REFLEXÕES E SÍNTESE DOS
RESULTADOS DA PESQUISA .................................................................................................................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................................... 76
ANEXOS ................................................................................................................................................................................ 84
APÊNDICES ......................................................................................................................................................................... 91
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1. INTRODUÇÃO
Os transtornos depressivos são constituídos de diversos tipos de alterações de
interações do indivíduo, além das mudanças de percepção de si e daqueles que o rodeiam (OMS,
2014). Ainda de acordo com a OMS os transtornos depressivos podem ser de longa duração ou
recorrente, e sua principal característica é causar a perda parcial ou total da capacidade do
indivíduo de manter suas atividades e relacionamentos, sejam eles sociais, familiares ou
trabalhistas. No entanto, temos que ter em mente que um transtorno depressivo difere de humor
depressivo, de tristeza momentânea e do processo de luto (OMS, 2014).
Na Classificação Internacional de Doenças CID 11 (2019) os transtornos depressivos
podem ser descritos como: Transtorno depressivo, episódio único, Recorrente, Distúrbio
distímico, Transtorno misto de ansiedade e depressão, etc. Suas principais características são a
tristeza, perda de interesse ou prazer em atividades antes prazerosas, sentimento de culpa ou
baixa autoestima, sono perturbado ou apetite alterado (aumento ou diminuição), sentimentos de
cansaço e falta de concentração, entre outros (OMS, 2019).
Em 2014, a OMS (OMS, 2014) divulgou um relatório que mostra que entre os anos de
2005 e 2010 houve o aumento em 18% nos casos de depressão no mundo, havendo atualmente
322 milhões de pessoas sofrendo desse mal. No Brasil, 5,8% da população possui esse
transtorno, sendo o país de maior prevalência do adoecimento (OMS, 2014).
Neste estudo discutiremos os transtornos psicológicos do puerpério, especificamente a
depressão, mas, para isso, teceremos algumas considerações a respeito dos termos que
utilizaremos durante este trabalho. Mesmo compreendendo que o parto é biologicamente
feminino, o homem/pai participa psicológica e socialmente desse momento, assim como do
pós-parto. Portanto, apesar de no portal de descritores da “Medical Subject Headings” (MESH)
o termo “depressão pós-parto” ser caracterizado para o uso exclusivo em mulheres, iremos,
assim como em alguns estudos dessa temática (NATH et al., 2016; NISHIMURA et al., 2015;
KERSTIS et al., 2015), utilizá-lo para designar também a depressão do homem nesse período.
Desse modo, utilizaremos aqui os termos “depressão pós-parto materna” e “depressão pós-parto
paterna” por se tratar de um período de tempo em que a mãe e o pai vivenciam conjuntamente.
Cabe ressaltar que esse termo, neste trabalho, se refere ao período do nascimento até o primeiro
ano de vida da criança, em consonância com estudos que têm destacado que a depressão pós-
parto extrapola o período considerado biologicamente como período puerperal (LUCERO, et
al., 2012; BACK, 2002).
Além dessas definições, determinaremos alguns termos da epidemiologia que serão
importantes para a compreensão deste estudo. Primeiramente, falaremos sobre “Fator de
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Risco”, que se relaciona a qualquer situação, tal como variáveis ambientais ou pessoais, que
proporciona um aumento na probabilidade de ocorrência de uma determinada doença
(EISENSTEIN; SOUZA, 1993). Já “Fator de proteção” é definido como aspectos pessoais e
sociais que diminuem ou impedem que os riscos se efetivem no desenvolvimento do agravo
(EISENSTEIN; SOUZA, 1993). E, por fim, “Fatores predisponentes” que se tratam de
características que provocam e ocasionam o aparecimento do adoecimento (FALCÃO, 2017),
como por exemplo, a obesidade é um fator predisponente para doenças cardiovasculares. Por
último, vale lembrar que para abarcar tanto os casais que possuem os fatores de riscos, quanto
os casais que possuem os fatores predisponentes, utilizaremos em alguns momentos desse
estudo, o termo “casais vulneráveis ao adoecimento”.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), em sua cartilha de acompanhamento do pré-
natal de baixo risco, adota a definição de Depressão Pós-Parto (DPP) utilizada pela Associação
Americana de Psiquiatria explicitada no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos
Mentais, que está em sua quinta edição (DSM-V - 2014), caracterizando-a como um episódio
de crise depressiva que inicia nas primeiras quatro semanas após o parto com características
bastante heterogêneas, como ansiedade, obsessão e compulsão em relação ao bebê. E, além
disso, “os transtornos de ansiedade generalizada e de pânico são comorbidades frequentes na
depressão pós-parto e que pioram dramaticamente o prognóstico” (BRASIL, 2013, p. 271).
Ainda considerando essa última versão do DSM-V, o manual passou a utilizar o termo
“depressão periparto”, considerando a depressão “com início no periparto”, abrangendo o
diagnóstico ocorrido na gestação e em até quatro semanas após o parto. Já o CID 11 (OMS,
2019) apresenta a DPP como um diagnóstico separado das alterações relacionados a “Gravidez,
parto ou puerpério” e de “Algumas condições originárias do período perinatal”, indicando que
o momento de realizar o diagnóstico deve ser em até 6 semanas após o parto, e utiliza o termo
depressão pós-natal.
Esta breve descrição reflete a falta de concordância nos manuais oficiais que norteiam
os profissionais e pesquisadores da área (BRUM, 2017). Ainda nessa sua última publicação, a
OMS (2019) acrescentou à classificação dos “Transtornos mentais ou comportamentais
associados à gravidez, parto ou puerpério” outras especificações como: sem sintomas
psicóticos, com sintomas psicóticos ou sem especificações. Ainda de acordo com o Ministério
da Saúde do Brasil, as patologias maternas no puerpério são o Blues pós-parto (Tristeza
puerperal) que atinge de 50% a 80% das mães, a Depressão pós-parto, de 10% a 15% e a Psicose
pós-parto que pode atingir de 0,1% a 0,2% das puérperas (BRASIL, 2015).
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Uma gama de estudos vem sendo produzido ao longo das últimas décadas sobre a DPP
materna e no levantamento bibliográfico realizado sobre a temática percebemos que a África
foi o único continente que não encontramos nenhum estudo indexado nas bases de dados
pesquisadas. Em todos os outros continentes identificamos estudos de rastreio da DPP na
população. Na Europa foram identificados estudos dos seguintes países: Reino Unido (NATH,
et al. 2016; HANINGTON, et al. 2011), Portugal (FIGUEIREDO, CONDE, 2011), Alemanha
(ANDING, et al., 2016), Espanha (ESCRIBA-AGUIR, ARTAZCOZ, 2010), Suécia
(EDHBORG, et al., 2005) e Finlândia (LUOMA, et al., 2013). Nas Américas, há estudos do
Brasil (PINHEIRO, et al. 2006; SANTOS, 2017), Chile (PÉREZ, BRAHM, 2017) Canadá
(LETOURNEAU, et al. 2011), Estados Unidos da América (PAULSON, et al. 2015) e México
(ROUBINOV, et al, 2013). Na Oceania, há produções da Austrália (SEAH, MORAWSKA,
2016) e Nova Zelândia (PETERSON, et al., 2016). Já na Ásia, identificamos estudos do Japão
(NISHIMURA, et al., 2015; SUTO, et al., 2016; NISHIMURA, OHASHI, 2010), China
(ZHANG, et al. 2016; MAO, et al., 2011) e Turquia (SERHAN, et al., 2012).
No Brasil, Santos et al. (2017) ao traçarem e analisarem o perfil epidemiológico da
população de puérperas, encontraram uma prevalência de 40% de DPP. Nos homens, os níveis
mais altos encontrados foram na China, por Zhang et al. (2016) em que aproximadamente 21%
dos pais estavam adoecidos quatro meses após nascimento dos filhos e esse mesmo resultado
foi encontrado por Luoma, et al. (2013), na Finlândia. Em relação a presença da DPP em casais,
temos no Brasil o estudo de Pinheiro et al. (2006) realizado em Pelotas – RS em que 26,3% das
mães e 11,9% dos pais estavam adoecidos. Na Austrália, no estudo de Seah e Morawska (2016)
os níveis foram de 27% nas mães e 7% nos pais. Ressaltamos que todos esses estudos são
resultados de pesquisas epidemiológicas.
Lembramos que esses resultados dependem dos instrumentos utilizados para a
identificação e rastreio da DPP, e do período em que esses casais foram abordados. Nesse
quesito há discordância dessa prevalência e, por essa razão, é necessário que se padronize o
instrumento de identificação, bem como o período para a aplicação desses. Nos estudos que
encontramos na literatura, 66,6% deles utilizavam como instrumento de rastreio da DPP a
Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS – Escala de depressão pós-natal de Edinburgh).
A DPP materna, que vem sendo atualmente apontada como um transtorno psíquico de
moderado a severo, pode ter início no primeiro mês de puerpério e se estender por todo primeiro
ano de vida do bebê e sua duração depende dos tratamentos instituídos e das respostas da mulher
à terapia (BRASIL, 2013). Além disso, a DPP provoca um grande desequilíbrio nas relações
familiares, afetando todos os membros do sistema familiar (BARBOSA, 2014).
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Há, ainda, evidências que apontam ser a depressão puerperal uma continuação de um
distúrbio depressivo iniciado já durante a gestação (GOTLIB, 1989), sendo que isso é
sustentado por diversos estudos ao afirmarem que o principal e mais importante fator de risco
para a DPP é o histórico de depressão ao longo da vida (NISHIMURA et al, 2015; SUTO et al,
2016; ESCRIBA-AGUIR e ARTAZCOZ, 2010).
O estudo realizado por Ballone (2007) indica que a DPP materna causa desestruturação
em todo o contexto familiar, pois as relações entre pessoas com depressão são mais estressantes
e conflituosas quando se compara às não depressivas e que o relacionamento conjugal também
passa por diversos problemas, dentre eles, a diminuição temporária do interesse sexual no
parceiro.
Além dos relacionamentos conjugais, o processo de construção de laços entre mãe e
filho também é prejudicado. Em seu estudo, Hanington et al. (2011) constataram que mães
deprimidas exibiram diminuição da sensibilidade e capacidade de resposta e demonstrações de
sentimentos positivos em relação aos filhos, mostraram-se mais propensas a puni-los, além de
ressaltarem menos os pontos positivos de seus filhos, tendendo a enfatizar seus pontos
negativos, tornando o comportamento infantil mais problemático que realmente seria. Ressalte-
se que os estudos de Kerstis et al. (2015) e Paulson e Bazemore (2010) chegaram a esses
mesmos resultados.
Outro fator importante no ambiente familiar é que os parceiros saudáveis de mulheres
deprimidas demonstraram menos interação com seus filhos, indicando que os pais não
compensam os efeitos negativos da depressão materna sobre a criança. Portanto, os impactos
do adoecimento de ambos os genitores significam uma tensão muito maior no ambiente familiar
(GOODMAN, 2008) e, desse modo, os filhos dessa relação e inseridos nesse contexto sejam
muito mais afetados negativamente.
A gestação é definida pelas mudanças observadas no corpo feminino a partir dos meses
iniciais e, portanto, o pai pouco se encaixa nesse contexto, fazendo com que a paternidade
pareça existir somente quando a criança nasce ou mesmo quando ela já está mais crescida
(BRASIL, 2016a). Essa ideia é afirmada por Ferreira et al. (2009) ao dizerem que, para muitos
homens, sentir-se pai é um fato que só ocorre após o nascimento e, em alguns casos, mesmo
após a chegada do filho, o sentimento de paternidade e as responsabilidades inerentes a ela
ainda não são tão perceptíveis. Também, face aos acréscimos nas responsabilidades e mudanças
ocorridas nesse momento, para o pai, podem surgir conflitos, incertezas, dúvidas e anseios que
são fatores desencadeantes de sofrimento mental, especialmente se vierem acompanhados de
acontecimentos adversos (BRASIL, 2013).
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Em relação à DPP paterna, Paulson et al. (2010) trazem pesquisas epidemiológicas em
que sugerem que aproximadamente 10% dos homens/pais são suscetíveis à depressão na fase
pré-natal e pós-parto, com maior risco no último, mais especificamente entre 3-6 meses após o
nascimento da criança, sendo isso corroborado também pelo Ministério da Saúde (BRASIL,
2013). Tal patologia teria relação com fatores biológicos, tais como o descrito por Saxbe et al.
(2017) segundo os quais, haveria principalmente uma desregulação hormonal, especificamente
a baixa na produção de testosterona que ocorreria nos homens entre os últimos meses da
gravidez da parceira e o primeiro ano do período pós-parto. Também teria relação com fatores
sociais, como complicações da relação conjugal e dificuldade de formar uma ligação afetiva
com o filho (originando o ciúme da relação já estabelecida entre a mãe e o bebê) (KIM, SWAIN,
2007).
Os estudos de Saxbe et al. (2017) e Melrose (2010) trouxeram dados importantes que
demonstram as dificuldades pelas quais as famílias passam no período pós-natal. Para Saxbe et
al. (2017) os pais sofrem biologicamente uma diminuição nos níveis hemáticos do hormônio
testosterona, como forma de melhorar a sua adaptação ao bebê, aumentando seus níveis de
simpatia e empatia em relação à esposa e às respostas adequadas ao choro infantil. No entanto,
existe uma relação positiva entre os níveis baixos de testosterona e depressão nos homens. Os
conflitos entre as necessidades dos membros das famílias ocorreriam pelo fato de que as
mulheres, cujos companheiros apresentam essa baixa de testosterona, relatam maior satisfação
conjugal, pois sentem-se mais amparadas e acolhidas em suas necessidades. Ou seja, níveis
mais baixos de testosterona nos homens, aumentam os níveis de depressão neles (nos pais), mas
diminuem nas mães. Já para Melrose (2010) a depressão pós-parto paterna não é fácil de avaliar,
sendo que é comum os homens se apresentarem mais zangados e ansiosos do que tristes e, com
baixa capacidade de fornecer apoio emocional a suas parceiras e filhos.
Outro dado importante encontrado por Pinheiro et al. (2006), indica que a DPP paterna
geralmente está associada com a materna. A depressão materna é, portanto, considerada um
forte fator de risco para o desenvolvimento dos sintomas nos homens. Com uma parceira
sofrendo dessa patologia, a prevalência nos homens pode ser tão alta quanto nas mães, cerca de
24 a 50%. No entanto, ela se inicia mais tardiamente que a DPP materna, com a taxa nos homens
aumentando no primeiro ano de vida do recém-nascido (GOODMAN, 2004).
Essa associação foi encontrada em diversos outros estudos, como Nath et al. (2016),
Nishimura et al. (2015), Suto et al. (2016), Escriba-Aguir e Artazcoz (2010), Zhang et al.
(2016), Anding et al. (2016), Edhborg et al. (2005), Kerstis et al. (2015), em que todos
estabeleceram a existência de uma relação positiva entre a DPP materna e paterna, entretanto,
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não se sabe ao certo qual dos cônjuges adoece primeiro e, consequentemente, influencia no
adoecimento do parceiro. É importante ressaltar que nem todos os estudos que encontramos
estabeleceram uma relação positiva entre a DPP materna e paterna. Os resultados de Nishimura
e Ohashi (2010), no Japão, e Top et al. (2016), na Turquia, apontam que a DPP está somente
associada com um histórico de tratamento psicológico e gravidez indesejada. O último estudo
acrescenta, ainda, a crise financeira ou desemprego como fatores de risco.
O papel social de provedor financeiro, atribuído culturalmente ao homem na família,
estimulado e cobrado especialmente após o nascimento de um filho (SANTOS, 2017), faz com
que o homem ocupe mais de seu tempo com o trabalho remunerado e, por consequência,
diminua o seu convívio com o recém-nascido, dificultando esse relacionamento. No entanto,
esse distanciamento do lar pode ser um sintoma da depressão masculina, que se utiliza da
situação de sobrecarga financeira do período para se afastar (BRIA et al.,2006). Isso pode levar
a outro fator desencadeante, pois a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a
criança (comparado com a mãe) podem tornar suas interações menos interessantes para o filho,
tendendo esse a dar-lhe um menor número de retribuições (como sorrisos e vocalizações),
aumentando o estresse paterno ao longo do primeiro ano pós-parto (FALCETO et al., 2012).
A DPP paterna se manifesta com alguns sintomas semelhantes à materna, como
ansiedade, falta de tempo e energia, irritabilidade, sentir-se triste ou deprimido e alterações no
apetite (LETOURNEAU et al., 2011). Na verdade, o estudo de Mao et al. (2011) aponta que os
pais experimentam níveis de estresses semelhantes às mães, no entanto recebem menos apoio
social. Mas, nos homens, há sintomas bem diferentes da DPP materna, sendo comuns os ataques
de raiva e agressões físicas e psicológicas, além do abuso de substâncias químicas (MARTIN
et al., 2013).
Os fatores de risco para a DPP materna e paterna encontrados nos diversos estudos atuais
são basicamente os mesmos, como alcoolismo e histórico de violência doméstica na família
(cônjuge e pais), eventos estressantes no período gestacional , sobrecarga física e psíquica,
amamentação ineficaz, histórico de tratamento para infertilidade, insatisfação conjugal, falta de
apoio social e familiar, ambientes e relacionamentos interpessoais conflitantes e qualidade ruim
do atendimento ao parto (NATH et al., 2016; NISHIMURA et al.,2015; SUTO et al., 2016;
ESCRIBA-AGUIR; ARTAZCOZ, 2010; ZHANG et al., 2016; ANDING et al., 2016;
EDHBORG et al., 2005; KERSTIS et al., 2015).
Assim como os fatores de risco são importantes no desenvolvimento da DPP, há fatores
protetores que auxiliam a prevenir o desenvolvimento da depressão e, também, auxiliam no
enfrentamento por aquelas/aqueles acometidos pelo adoecimento. Barbosa (2014) em sua tese
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de doutoramento, percebeu que mulheres que tiveram maior apoio social (religiosidade,
unidade básica de saúde, médico, etc.) ou familiar (principalmente do companheiro), tiveram a
sintomatologia da depressão menos exacerbada e se recuperaram do episódio depressivo em
menor período de tempo.
Como citado anteriormente, a DPP, tanto materna quanto paterna, tem impactos
significativos no relacionamento conjugal. Diversos autores (HANINGTON et al., 2011;
ROUBINOV et al., 2013; LUOMA et al., 2013) vem afirmando em seus estudos, que a
qualidade do relacionamento do casal, deve ser considerada em qualquer método de rastreio
para a DPP, pois é um fator importante na estimulação do início dos sintomas no parceiro, tem
impactos na recuperação e superação da depressão, além do que casais depressivos apresentam
menores níveis de interações positivas com os filhos (PAULSON et al., 2015).
Em seu estudo Nath et al. (2015) verificou que a presença de sintomas depressivos nos
homens estava associada a níveis mais elevados de conflitos entre eles e seus filhos, menor
demonstração de apego/carinho e menores níveis de envolvimento com seus bebês. Assim, os
sintomas depressivos dos pais não somente afetam a si e sua parceira como também na
qualidade das interações com seus filhos.
Os mesmos resultados também foram encontrados por Kerstis et al. (2015) cujo estudo
observou que a DPP em ambos os pais na 6° semana de pós-parto está associada com a ligação
emocional/afetiva com os filhos prejudicada. Além disso, parceiros de mulheres deprimidas
demonstram menos interação com seus filhos (GOODMAN, 2008). Portanto, percebe-se que a
presença da DPP na família, em um ou ambos os pais, afeta significativamente todos os
membros do núcleo familiar e é, também, por esse motivo que se torna um problema de saúde
importante.
Nesse sentido, autores como Goodman (2004) e Nazareth (2011) defendem, como
próximo passo para estudo, o acompanhamento e atendimento de famílias férteis e o rastreio da
DPP ainda no pré-natal, além de oferecer atenção especial as famílias em puerpério e a
realização de pesquisas que subsidiem os profissionais de saúde no atendimento a esses casais.
E esse é um papel importante que a enfermagem pode exercer, ao considerarmos que somos
nós, enfermeiras, quem mais cuidamos nesse período, seja nas visitas domiciliares preconizadas
pelo Ministério da Saúde no 7° e 42° dias após o nascimento do filho, quanto nas consultas
mensais de acompanhamento infantil. Ou seja, somos os profissionais de saúde mais presentes
no cuidado a família, desde o preparo para a chegada do filho (pré-natal) até primeiro ano de
vida da criança.
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Considerando o pré-natal, o Ministério da Saúde, desde 2012, já recomenda o uso da
EPDS para o rastreio da DPP materna e paterna na atenção básica (BRASIL, 2013), mas esse
instrumento ainda é pouco utilizado nos encontros com as mães. Supomos que para com os pais
a EPDS seja menos ainda utilizada, pois estes não estão presentes na maioria das consultas de
pré e pós-natal. Além disso, no imaginário social, a depressão pós-parto ainda está muito
atrelada à figura materna.
Outro fator que devemos considerar no atendimento a famílias no puerpério é a
invisibilidade do casal após o nascimento do filho. Enquanto o pai, rotineiramente, não é
visto/incluído em nenhum momento do pré-natal e, depois, no pós-parto, mesmo sendo
preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL,2016), as mães também passam a ser
desconsideradas após o nascimento do filho. É comum que tanto a equipe de saúde quanto a
família concentrem toda sua atenção no novo membro da família (a criança), silenciando as
demandas dos pais em detrimento do atendimento ao neonato. Ainda em referência ao
Ministério da Saúde, no Guia de pré-natal do parceiro as demandas relacionadas ao homem
referem-se a sua saúde física e seus direitos civis durante os períodos anterior e posterior ao
nascimento da criança, não apontando as modificações dos aspectos emocionais e relacionais
que ocorrem nesse período que são bastantes significativas, como bem vimos nos estudos
científicos citados até esse momento (BRASIL, 2016a).
A literatura cientifica sobre DPP encontrada até o momento são em sua maioria estudos
epidemiológicos, focados em sinais, sintomas e fatores associados ao adoecimento, sendo
pouco deles, a maioria antigos, que evidenciam as famílias e a importância da saúde do cônjuge
para o adoecimento e tratamento da DPP.
Diante do exposto e de posse das evidências científicas relacionadas aos fatores de risco
para a DPP, nos colocamos as seguintes reflexões e questionamentos: como poderia a
enfermagem contribuir para a promoção da saúde mental de casais em gestação na atenção
básica e, por consequência, minimizar as possibilidades de desenvolvimento da depressão no
período puerperal? Como organizar o cuidado de enfermagem no período gravídico-puerperal
na atenção básica de modo a promover a saúde mental de casais em gestação, com risco de
desenvolver depressão após o nascimento do filho?
Assim, nos desafiamos a buscar as respostas a tais questionamentos atuando de forma
prática junto aos casais, definindo os seguintes objetivos:
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
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❖ Construir um modelo de cuidado de enfermagem na atenção básica para a promoção da
saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o
nascimento do filho.
2.2. Objetivos Específicos
❖ Identificar casais vulneráveis ao desenvolvimento de depressão após o nascimento do
filho a partir da aplicação do histórico de enfermagem (incluindo o genograma, o
ecomapa e a escala EPDS);
❖ Desenvolver intervenções que visem minimizar a potencialidade dos fatores de risco
para a depressão de gestantes após o nascimento do filho;
❖ Avaliar a ocorrência da depressão após o nascimento do filho de puérperas após a
intervenção de enfermagem;
❖ Avaliar a efetividade das ações desenvolvidas para promoção da saúde mental.
3. QUADRO TEÓRICO
Considerando o tema de estudo e nosso objetivo - construir um modelo de cuidado de
enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação, com
risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho - procuramos nos alicerçar em
construções teóricas de diversos autores de modo a nos auxiliarem na compreensão, senão de
todos, mas dos principais elementos que estão contidos nesse contexto, desenhando, assim,
nosso marco conceitual.
Em artigo amplamente referenciado na área da Enfermagem há mais de 30 anos, a
professora Mercedes Trentini descreveu o processo de inter-relação da teoria, pesquisa e prática
na enfermagem e, apoiada em clássicas teoristas de enfermagem como Newman e Stevens,
definiu como marco conceitual o “conjunto de definições e conceitos, inter-relacionados, com
o objetivo de apresentar maneiras globais de perceber um fenômeno e de guiar a prática de um
modo abrangente” (TRENTINI, 1987). Nessa perspectiva, Silveira et al. (2005) reafirmam a
importância de se estruturar um marco conceitual de modo a guiar e ser uma referência para a
prática profissional de enfermagem.
Assim, discorreremos neste capítulo sobre os seguintes conceitos que compõem o nosso
quadro teórico ou marco conceitual: cuidado, cuidado de enfermagem, modelo assistencial de
enfermagem, saúde mental, família, gênero e patriarcado, maternidade e paternidade. Além
destes conceitos, na construção do marco conceitual desse estudo, utilizamos as ideias de Paulo
Freire, de forma destacada. Elas subsidiaram esta pesquisa e, também, foram de extrema
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importância para o nosso processo de formação como “Mestre em Enfermagem” e, portanto,
como educadora. Assim, consideramos oportuno apresentarmos um pouco sobre Paulo Freire e
sobre a sua pedagogia libertadora.
3.1. Sobre Paulo Freire e sua pedagogia libertadora
Paulo Freire foi um educador e filósofo brasileiro que viveu entre 1921 e 1997, nascido
em Recife, Pernambuco. Sua vida e obra foram marcadas por uma postura político-ideológica
direcionada para a superação das relações de opressão, a favor dos pobres e oprimidos, por sua
indignação contra as injustiças e seu grande desejo de transformação da sociedade.
Devido à relevância de sua obra em favor da educação, no ano de 2012, por meio da
Lei 12.612, de 13 de abril de 2012, Paulo Freire foi declarado o Patrono da Educação do Brasil
(BRASIL, 2012a).
Paulo Freire conta que foi alfabetizado por seus pais, no quintal de casa, brincando com
gravetos, à sombra das mangueiras. Aprendeu, também, o diálogo na família, a partir da
amorosidade de seus pais. Diz Paulo Freire: "As mãos de meus pais, não haviam sido feitas
para machucar seus filhos, mas para ensinar-lhes a fazer coisas". Desenvolveu seus estudos com
dificuldade, formou-se em Direito, mas abandonou a profissão de advogado logo depois da
primeira causa, dedicando-se à educação popular. Dedicando-se a lecionar e convivendo com
a classe popular, Freire descobriu a importância de ser compreendido pelo povo, usando-se de
uma linguagem simples e, ouvindo a realidade do outro, estabeleceu a relação que pautaria toda
a sua obra, ou seja, o diálogo franco e horizontal (CARNEIRO, 2006).
Entre os anos 1950 e 1960, o Brasil passou por inúmeros marcos históricos na política
e, nesse contexto, Paulo Freire, participando do Movimento de Cultura Popular do Recife,
realizou a experiência de Angicos (cidade do estado do Rio Grande do Norte), onde alfabetizou
300 trabalhadores em 45 dias. Por conta dessa experiência, Paulo Freire foi convidado pelo
Presidente João Goulart para coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização (CARNEIRO,
2006).
Freire permaneceu à frente desse projeto até 1964, quando o governo foi deposto pelo
golpe militar. Mesmo estando na fase de oferecer cursos de formação de coordenadores de todos
os estados, a Campanha Nacional da Alfabetização foi denunciada e encerrada pela alegação
de ser “perigosamente subversiva” e o educador foi exilado. Esse foi um período bastante
tenebroso para a educação e educadores brasileiros (CARNEIRO, 2006).
Em seu exílio, Freire passou por vários países da América Latina, Estados Unidos da
América, Europa, África e permaneceu por mais tempo no Chile (cinco anos) onde escreveu o
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seu livro mais famoso “Pedagogia do Oprimido”. Depois, instalou-se na Suíça e, através do
trabalho no Conselho Mundial de Igrejas, visitou diversos países da África, onde ajudou vários
deles a organizar seu sistema de ensino. Em suas andanças pelo mundo, ainda exilado, Freire
escreveu diversos livros que sustentam a sua pedagogia libertadora, sempre se baseando em
suas vivências e no compartilhamento de saber entre quem ensina e quem aprende
(CARNEIRO, 2006).
Com o fim do governo militar, Freire voltou para o Brasil e, em 1989, assume a
Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, a convite da então prefeita Luiza Erundina.
Paulo Freire declarou que sua metodologia busca construir um conhecimento na escola que seja
relevante e significativo na formação e vida dos educandos, uma pedagogia crítico-dialógica"
(FREIRE, 2018b).
Elegemos a pedagogia libertadora de Freire por compreendermos que para realizarmos
uma atividade educativa com a comunidade, ela só seria efetiva se fosse compartilhada
integralmente com aquelas pessoas que vivenciam a realidade social daquele ambiente. Durante
toda a sua vida e estudo, Freire discutiu essas ideias da opressão ao povo de diversas formas e
ângulos, mas, em momento algum nos proporcionou um método, uma “receita” de como
efetivamente implementar a sua Pedagogia libertadora. Então, como poderíamos fazer isso?
Como poderíamos fornecer a “liberdade das opressões” ao oprimido? E a resposta é simples:
não podemos!
Ao longo de seus estudos, Freire nos estimula a refletir que “como posso oferecer a
liberdade a alguém ao mesmo tempo que impomos como isso irá ocorrer? Como poderíamos
desejar que o povo desperte e perceba-se oprimido quando os direcionamos e condicionamos a
fazê-lo de determinada maneira? ” E essa é a principal dificuldade da Pedagogia libertadora,
percebermos que como implementadores deste ideal, temos como objetivo oferecer apoio,
suporte e elementos que os provoquem e os desafiem a perceber sua realidade, e por isso a base
de toda a Pedagogia da liberdade é o diálogo, pois através dele conseguimos estabelecer
relações horizontais, valorizando o vivido, sentido e falado por aqueles que estão
compartilhando aprendizados, que é o ponto de partida da educação libertadora, o pensar do
povo (FREIRE, 2018a).
Portanto, a pedagogia do oprimido, ao invés de um método completo, tem dois
momentos distintos. O primeiro, em que através do diálogo o oprimido percebe o mundo das
opressões e vai se descobrir como agente da transformação dessa realidade; o segundo
momento, com a realidade das opressões já suprimida, a pedagogia do oprimido passará a ser a
pedagogia do homem em processo de permanente libertação (FREIRE, 2018a).
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Os temas relevantes para o aprendizado devem ser problematizados e apresentados
como um desafio com potencial para ser superado através da reflexão e ação. Os temas
emergem da própria discussão e descobertas do povo, e isso não surge do vazio, e sim do
convívio, dos laços e relações existentes com as pessoas e ambientes ao qual está submetido. E
para se descobrir esses temas, é necessário o diálogo, mais o “ouvir” que o “falar”, a reflexão
em grupo e a contribuição de pensamentos de todos os envolvidos, num processo de
investigação cada vez mais aprofundada, num “ir e vir” buscando aproximação com a totalidade
(FREIRE, 2018a).
Paulo Freire acrescenta que todo esse processo de devolver o poder de libertar-se ao
oprimido é de suma importância, pois somente a liberdade conquistada por eles será
significativa, ao considerarmos todo o processo que eles desenvolverão até chegar ao objetivo,
o desenvolvimento do senso crítico, a capacidade de perceber-se como oprimido, a mobilização
e debate com outros na mesma condição, etc. e isso não irá ocorrer se a liberdade for lhes “dada”
e não por si conquistada (FREIRE, 2018a).
Sendo assim, a proposta de Freire é o desenvolvimento de um novo modelo de educação
em que, através da análise da realidade vivida, busquemos superar as adversidades e melhorar
a vida, mas para isso é necessária uma visão crítica do ambiente ao qual nos inserimos e só
através de uma educação popular libertadora alcançaremos esse fim, pois é necessário que a
educação passe a ser vista como um ato político (SILVEIRA et al., 2005, p.161).
Portanto, para Freire (2018b), deve haver uma emancipação daqueles que são
dominados. E, para tal, a enfermagem vem se apropriando desses conceitos para desenvolver
uma prática profissional problematizadora da realidade social (SILVEIRA et al., 2005).
3.2. Cuidado e cuidado de enfermagem
Partindo da perspectiva emancipadora de Freire, diversas áreas vêm se apropriando de
seus conceitos, sendo a saúde uma delas, a fim de construir novas práticas profissionais. Na
concepção freiriana o cuidado passa a ser visto como algo compartilhado entre quem cuida e
quem recebe o cuidado e, portanto, deve contemplar diversos aspectos de sua vida, sua história,
cultura e valores, permeando e influenciando as relações estabelecidas (SILVEIRA et al., 2013).
Para abarcar todos esses aspectos, na concepção freiriana, o cuidado deve ser
construído de modo personalizado, ou seja, ser próprio e pessoal, com cada indivíduo, e isso só
pode ser possível se o profissional assumir um “posicionamento político em favor da liberdade”
(SILVEIRA, et al. 2013, p.550). Também é necessário compreender que existe um saber
naqueles que estão sendo cuidados, que deve ser aproveitado e potencializado para a construção
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de novos saberes, e quando não for possível, deve-se adotar métodos e estratégias para que as
novas construções de saberes não sobreponham os já existentes (PIRES, 2005).
A enfermagem vem se apropriando das ideias de Paulo Freire na busca de ressignificar
as práticas profissionais. Pires (2005) construiu um modelo chamado de “triedo emancipatório
do cuidar” em que o cuidado, visto na perspectiva emancipatória, se caracteriza pela busca em
resgatar sua dimensão política, que reside basicamente em reconhecer que, por ser uma ajuda
e, portanto, poder, tanto domina quanto liberta. Por isso, a construção do cuidado pela
enfermagem deve abarcar aqueles que dele necessitam, pois, de acordo com Freire, a liberdade
só é conquistada pelos oprimidos, quando estes se percebem como dominados e lutam contra
essa condição.
O objeto de trabalho da enfermagem, o cuidado, é considerado por Silveira et al. (2005)
como um trabalho coletivo, pois não é simplesmente o desempenho de uma atividade, visto que
os profissionais compartilham seu objeto com aqueles que por eles são cuidados e com outros
profissionais, tudo isso mediado pelo ambiente. O trabalho coletivo possibilita aos participantes
realizar uma reflexão do processo e os convidam ao diálogo, tomando decisão em conjunto e
permitindo uma maior responsabilização dos usuários no cuidado, estimulando e desafiando-os
a “cuidar de si” (SILVEIRA et al. 2005).
O cuidado é um dos pilares na construção de ações de promoção da saúde definidas no
documento conclusivo da Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde da OMS,
a Carta de Ottawa, de 1986, que a definem como um processo em que a comunidade e
indivíduos atuam para a melhoria de sua qualidade de vida e saúde, o que inclui a participação
social.
A saúde é construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e com os
outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle sobre as
circunstâncias da própria vida, e pela luta para que a sociedade ofereça
condições que permitam a obtenção da saúde por todos os seus membros
(OMS, 1986, p.3).
Ainda, segundo a OMS (1986, p.1), “para atingir um estado de completo bem-estar
físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer
necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente”. A OMS completa afirmando que
“a saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver”. E o
desenvolvimento humano, para alcançar esse objetivo, é social e comunitário.
Portanto, o cuidado de enfermagem na perspectiva emancipadora busca estimular a
participação do sujeito em seu próprio cuidado, deixando de ser passivo no processo para se
tornar o agente principal de sua própria condição. E o profissional a “fortalecer-se para ocupar
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um lugar no mundo e ampliar seus conhecimentos de modo a qualificar a assistência prestada”
(SILVEIRA et al. 2013, p.160).
3.3. Modelo Assistencial de Enfermagem no Programa de Saúde da Família (PSF)
Desde a criação do Programa de Saúde da Família, em 1994, pelo Ministério da Saúde,
seu objetivo foi modificar a forma que o atendimento à população era realizado. Para isso, o
programa constrói um novo modelo assistencial de saúde em que as equipes multiprofissionais
se aproximam dos domicílios e, com o auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs),
conhecem mais profundamente as necessidades dessa comunidade (COSTA et al. 2009).
Durante esses 26 anos o programa procura alcançar esses objetivos e traçar novas
estratégias para melhor atender a população como, por exemplo, a inserção de práticas
humanizadoras no atendimento ao usuário, preconizado pelo MS e inserido nos atendimentos
de saúde nas Unidades de Atenção Básica (UBS). Neste estudo, buscamos construir um modelo
assistencial de atendimento a gestantes e seus companheiros, baseada na humanização da
atenção à saúde e na teoria libertadora de Freire.
Acreditamos que quando humanizamos o atendimento a gestantes, estamos
automaticamente construindo/inserindo a pedagogia libertadora de Freire, pois uma assistência
humanizada proporciona às mulheres confiança e segurança durante o pré-natal, no parto, no
cuidado de si mesma e de seu filho. Essa confiança e segurança são conquistadas através de
estímulos da autonomia, que segundo Fleury-Teixeira et al. (2008) é uma condição que
proporciona a liberdade de exercer domínio ativo de si e de sua capacidade de definir suas
próprias ações e construir sua trajetória na vida. E isso ocorre através do esclarecimento dos
seus direitos no processo de gestação, parto e período pós-parto e, consequentemente, essas
intervenções auxiliam a mulher a retomar o seu lugar em um processo que por direito lhe
pertence (SILVA et al., 2011).
Quando o processo de nascimento dos filhos é baseado em atitudes humanizadoras de
atendimento à saúde, muitas mães “têm uma experiência maravilhosa de autotransformação,
sentindo-se capazes em seu novo papel social. Esta experiência estimula a conscientização e o
interesse pela sociedade, tendo como consequência o fortalecimento social” (SILVA et al. 2011,
p. 61).
Portanto, em um modelo assistencial baseado na Humanização, a mulher deve ter o
controle das ações, participando dos processos de decisão sobre seu próprio cuidado.
Proporcionar subsídios para que essas mães assumam esse papel, é responsabilidade da equipe
de saúde. Nesse estudo, através de diálogos abertos e em grupos, propusemos momentos de
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reflexões sobre diversas temáticas que influenciam na saúde mental das mães após o nascimento
dos filhos, inclusive sobre seus direitos nesse processo, pois a qualidade da assistência ao parto
e pré-natal pode ser tanto um fator de risco como um fator protetor para o desenvolvimento da
DPP.
3.4. Saúde Mental
Para estabelecer a forma como trabalhamos o conceito de saúde mental neste estudo,
iremos primeiramente realizar uma breve recapitulação sobre o processo histórico pelo qual a
“loucura” passou ao longo dos séculos, especificamente da idade média até os dias atuais.
Os transtornos psicoemocionais sempre existiram em nossa sociedade, mas a forma em
que foram vistos se alterou ao longo do tempo, sempre de acordo com as condições sociais,
econômicas, religiosas, etc. Nos tempos medievais em que haviam pouquíssimos médicos e
nenhum hospital, a loucura compartilhava o espaço com a população “normal”, os loucos eram
livres para ir e vir na sociedade e buscar seu sustento como bem lhe convinham. Com o início
do processo manufatureiro econômico na Europa, inicia-se também a mudança na percepção
da loucura, passando a ser considerado um problema social e desde então ela assume status de
algo a ser tratado, medicalizado e combatido (ALVES, 2009).
Com a medicalização e, após isso, o processo de institucionalização da saúde, a
psiquiatria nasce e assume a responsabilidade por esse paciente, dando origem aos hospitais
psiquiátricos que, inicialmente, tinham por objetivo tratar os transtornos psicoemocionais. Mas
com o passar dos anos, a psiquiatria assume a postura de, unicamente, segregar e reprimir essa
população e com aumento de denúncias de maus tratos dentro desses hospitais, surgem os
movimentos da sociedade que deram origem a Reforma Psiquiátrica (ALVES, 2009).
O processo da Reforma Psiquiátrica brasileira que surge da necessidade de mudar a
prática assistencial e de gestão da saúde mental perdura até os dias atuais e continuará ao longo
do tempo (AMARANTE, 2007). Como ela foi inicialmente construída no mesmo período da
Reforma Sanitária, as diretrizes que a regulamentam são os mesmos do Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo eles: a descentralização da assistência, o atendimento integral aos pacientes,
valorização da participação social, a preservação e valorização da autonomia e garantia de sua
integridade física e emocional (EMMANUEL-TAURO; FOSCACHES, 2018)
As ideias da Reforma Psiquiátrica se formalizaram por meio Política Nacional de Saúde
Mental no ano de 2001, com a Lei nº 10216, de 06/04/2001, que dispôs sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental (BRASIL, 2001). No entanto, a política se tornou mais efetiva em 2011 por meio
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da Portaria 3.088 DE 23/12/2011 (BRASIL, 2011b) que instituiu a Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) articulando serviços de saúde voltados para o atendimento clínico e a
efetivação da reinserção ao convívio social, “por meio do trabalho, lazer, exercício da cidadania
e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários” (EMMANUEL-TAURO;
FOSCACHES, 2018, p. 97). Os serviços de saúde presentes na estrutura funcional da RAPS
são: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que basicamente atendem usuários com
transtornos mentais severos e persistentes, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) a fim
de viabilizar a reinserção social na comunidade dos moradores de hospitais cronicamente
internados, além de ambulatórios e Centros de Convivência e Cultura e do Programa de Volta
para Casa e Inclusão Social pelo Trabalho que são algumas das instituições criadas
exclusivamente aos usuários portadores de transtornos psicoemocionais que encontram-se
estáveis (AMARANTE, 2007).
No entanto, é importante enfatizar que os hospitais e Unidades básicas de Saúde do SUS
possuem responsabilidades no cuidado aos portadores do sofrimento mental. Os hospitais com
a designação de leitos exclusivos para o atendimento durante os surtos até a estabilização dos
usuários e a UBS são responsáveis pelo atendimento de outros agravos de saúde assim como o
acompanhamento dos tratamentos de saúde mental desses usuários (BRASIL,2004).
O trabalho realizado pela RAPS pode ser relacionado com a pedagogia emancipadora
de Freire ao analisarmos os seus objetivos e o funcionamento das suas instituições vinculadas.
Inicialmente, no CAPS, o usuário deverá buscar auxílio da instituição de forma espontânea ou
através de encaminhamento de outras instituições de saúde onde ele é, então, acolhido por um
dos profissionais (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, etc.)
e escutado em suas particularidades. A partir de então, a equipe busca construir, juntamente
com o indivíduo, o seu projeto terapêutico em que se baseará todo seu tratamento (BRASIL,
2004), sendo que esse projeto terapêutico deve ser compartilhado através de mecanismo de
referência e contra referência com a UBS, sendo ela a responsável por auxiliar no
acompanhamento da efetivação do tratamento, ao mesmo tempo que descentraliza o cuidado
dos hospitais e consequentemente diminui a forma medicalizada com a qual o sofrimento
mental é tratado, efetivando o princípio da intersetorialidade defendida por Amarante (2007).
Enquanto o CAPS é direcionado para portadores de transtornos mentais severos e
persistentes (como a esquizofrenia, transtornos compulsivos obsessivos e transtornos de humor
bipolar) as UBS têm a responsabilidade de acolher e cuidar de pacientes com doenças leves ou
moderadas e transitórias, como nos casos de DPP.
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Tal como já apontava estudo de Lucchese et al. (2009), em que foram analisadas as
condições concretas da assistência à saúde mental em unidades de PSF de Cuiabá, continua
sendo urgente “a necessidade de mudança de atitude dos trabalhadores e gestores em reconhecer
e incorporar as manifestações de sofrimento psíquico como objetos de seu trabalho na atenção
primária” (LUCCHESE et al., 2009, p. 2041). Portanto, ao construirmos esse modelo de
assistência como o proposto por nossa pesquisa, estamos efetivando o cuidado a portadores de
sofrimento emocional já previstos pelo MS, através das RAPS (BRASIL, 2004).
Sendo assim, todo esse processo que o cuidado em saúde mental passou ao longo dos
tempos, nos leva a perceber que esta é a área da saúde que mais se aproxima com a defendida
ideia do cuidado na perspectiva emancipatória, pois nela se estimula a responsabilização do
paciente pelo seu próprio cuidado e assegura seu direito a assumir um papel social. No entanto,
não há somente a necessidade de mudança da postura do usuário, é necessário que o profissional
de saúde assuma uma posição política e social em defesa desses direitos, e isso é complexo,
pois envolve profissionais, esferas governamentais, instituições de ensino, etc. e é
imprescindível que o profissional perceba que essas mudanças necessárias são somente de
ordem prática, mas também de saberes, valores culturais e sociais (EMMANUEL-TAURO e
FOSCACHES, 2018).
Além do mais, concordamos com Rézio et al (2019, p.7) segundo a qual “o cuidado em
saúde mental envolve aspectos jurídicos-políticos, formação, valores éticos e políticos nos quais
o cuidado é centrado no usuário/família”. Assim sendo, o cuidado em saúde mental não mais
pode ser pensado apenas de modo “restrito ao medicamento, centralizado no saber e poder
médico e a soluções padronizadas, mas sim pautado na integralidade, no contexto do sujeito e
na sua singularidade psicossocial” (RÉZIO et al., 2019, p. 7).
Nesse sentido, a proposta de cuidado de enfermagem que exercitamos nessa pesquisa
considera a saúde mental no paradigma da Reforma Psiquiátrica que, tal como afirma Oliveira
(2004) trata-se de um “novo paradigma político-social-científico-assistencial [...] em que a
cidadania é o instrumento central da abordagem terapêutica e, simultaneamente, a meta a ser
atingida”, sendo que a ampliação da cidadania se realiza por meio de um cuidado dialogado e
realizado por meio de exercícios contratuais nas três esferas de relações - habitat, rede social e
trabalho com valor social. Sobretudo, trata-se de “uma nova ética no cuidado: não mais o
isolamento e a classificação, mas a inclusão, o acolhimento, a compreensão e a ampliação da
cidadania” (OLIVEIRA, 2004).
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3.5. Família
Os conceitos de famílias são amplos e se modificam de acordo com o tempo histórico e
também a partir das diversas vertentes teóricas. Uma das definições presentes em estudos de
enfermagem é o conceito proposto por Craft e Willadsen (1992) que afirmam que família é um
contexto social composto por dois ou mais membros onde o cuidado, responsabilidade,
convivência prolongado e laços mútuo faz parte da sua dinâmica.
Assim como a própria definição de família se modifica, a enfermagem também passa
por diversas transformações ao longo do tempo. Com a transição da perspectiva do cuidado que
passa do enfoque biomédico para o biopsicossocial, o ser humano passa a ser analisado por
todas as suas peculiaridades. Nesse sentido, a enfermagem avançou ao considerar a família
como o principal e mais importante contexto a ser cuidado.
Marcon e Elsen (1999, p.22) afirmam que “embora a saúde da família e a de seus
membros seja diferente, estão interligadas. A situação de saúde/doença de um dos membros
afeta a saúde da família”. Portanto, essa percepção amplia o objeto de atuação do trabalho de
enfermagem e o cuidado deixa de ser pontual para um de seus membros, englobando todos os
membros de sua família, e ela torna-se, ao mesmo tempo, objeto de investigação, de assistência
e, consequentemente, foco do trabalho de enfermagem (MARCON E ELSEN, 1999).
Concordamos com as autoras Marcon e Elsen (1999) ao considerarmos que nas
pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC), do
qual fazemos parte, e tem como um de seus principais focos a família e o cuidado familiar, os
resultados obtidos comprovam que a família é imediatamente afetada pelo adoecimento de um
de seus membros e é, portanto, a primeira instituição a cuidar e se rearranjar para suprir as
necessidades do membro adoecido (CERENCOVICH, 2014; MUFATO et al., 2012; HILLER
et al., 2011; ALMEIDA et al., 2014).
Wrigth e Leahey (2008), afirmam que o ambiente familiar molda seus membros através
da convivência e, quando afetadas por situações traumáticas, a família se reorganiza, remaneja
e se reequilibra sempre preservando os laços que a compõem. As autoras afirmam ainda que
as relações familiares são tão enlaçadas umas às outras, que estudar separadamente os membros
individuais da família, não é o mesmo que estudar a família como um todo.
Considerando o exposto, compreendemos a razão pela qual estudiosas sobre família
(WRIGTH e LEAHEY, 2008; GOODMAN, 2008) defendem que, para compreendermos o
contexto de adoecimento e vida de uma pessoa, devemos estudar e observar todos os membros
de sua família, sendo isso, segundo Goodman (2008) o próximo passo para o estudo de casais
férteis.
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Ainda, em busca de um conceito mais próximo da perspectiva emancipatória,
encontramos os estudos de Mioto (2010), da área de serviço social, segundo a qual a família
constitui-se como um espaço muito complexo em suas diversas configurações. Para a autora,
[...]a família é construída e reconstruída histórica e cotidianamente, através das
relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre seus membros e
outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da sociedade, tais como Estado,
trabalho e mercado. Reconhece-se também que, além de sua capacidade de produção
de subjetividades, ela também é uma unidade de cuidado e de redistribuição interna
de recursos. Portanto, ela não é apenas uma construção privada, mas também pública
e tem um papel importante na estruturação da sociedade em seus aspectos sociais,
políticos e econômicos (MIOTO, p. 167-168, 2010).
Concordamos com a referida autora, uma vez que essa concepção se opõe a outras que
definem família a partir de visões tomadas como ideal (como um casal e seus filhos), com
papéis pré-definidos, que a concebem apenas na perspectiva relacional ou que a tomam como
a principal responsável pelo bem-estar de seus membros, não levando em conta as mudanças
ocorridas na sociedade (MIOTO, 2010).
Assim, apoiadas nas elaborações de Craft e Willadsen (1992), Marcon e Elsen (1999),
Wrigth e Leahey (2008) e Mioto (2010), construímos um conceito de família para este estudo,
qual seja:
Família é uma instituição social “construída e reconstruída histórica e cotidianamente,
através das relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre seus membros e outras
esferas da sociedade” (MIOTO, 2010, p. 167-168), composta por dois ou mais membros, onde o
cuidado, responsabilidade, convivência prolongada e laços mútuos fazem parte da sua dinâmica
(Craft e Willadsen, 1992). A situação de saúde/doença de um dos membros afeta a saúde da
família (MARCON, ELSEN, 1999) e, portanto, o cuidado de enfermagem em situações de
adoecimento, tais como a DPP, devem considerar o contexto familiar (Wrigth, Leahey, 2008),
mas também outras esferas da sociedade como as políticas públicas, o Estado, trabalho, as
relações de gênero, raça, classe, dentre outras.
3.6. Gênero e Patriarcado
Partimos da compreensão de que para se discutir a maternidade e paternidade e suas
repercussões nos casais, em suas mais diversas fases e condições de vida, temos que
primeiramente falar sobre a condição e relação do masculino e feminino e divisões de papéis
na sociedade patriarcal à qual estamos inseridos. As discussões sobre gênero na
contemporaneidade estão muito vinculadas aos movimentos feministas e, para nossa melhor
compreensão, faremos uma breve leitura histórica desses movimentos.
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O feminismo surge no ocidente com o movimento das Sufragistas, quando mulheres
europeias (inicialmente) foram às ruas lutar pelo direito ao voto e a inclusão do sexo feminino
na esfera pública da sociedade. Mas foi na década de 1960 que surgiu a chamada “segunda onda
do feminismo”, em que o embasamento teórico sobre o tema emerge e passa a existir o estudo
da mulher (LOURO,1997)
O argumento utilizado para se justificar as diferenças sociais existentes entre homens e
mulheres nesse período é o mesmo utilizado ainda hoje, segundo o qual as características
específicas de cada sexo, impossibilitam ou facilitam o desenvolvimento de determinadas
funções (LOURO, 1997). E é a partir dessa afirmação que se inicia por parte das feministas as
discussões de gênero. Assim sendo, elas passam a defender que
[...] não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas
características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre
elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada
sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as
relações de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus
sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos (LOURO, 1997,
p.21).
A pesquisadora Joan Scott, em seus estudos, afirma que gêneros são nada mais que
relações sociais desenvolvidas baseadas nas “diferenças percebidas entre os sexos” (1995, p.
86), e continua ao estabelecer que isso é uma forma de relação de poder. As discussões de
gênero não pretendem negar a biologia no que diz respeito ao sexo, e sim vem para enfatizar a
importância que construções sociais e históricas têm sobre eles. Basicamente, gênero diz
respeito “ao modo como as características sexuais são compreendidas e representadas”
(LOURO, 1997, p.22).
Portanto, ao compreendermos que o feminino e masculino são construções sociais e
históricas, a divisão social por sexo também é. Sendo assim, todas as ideias existentes de papéis
pré-estabelecidos de acordo com seu sexo foram construídas pela sociedade, e pode ser
desconstruída pela mesma. Esse é um ponto importante desse estudo, pois, de acordo com a
bibliografia encontrada sobre esse tema e citada no início deste estudo, grande parte das aflições
dos pais e mães adoecidos pela DPP nascem das dificuldades de se adaptarem nesses papéis.
Ou seja, considerando a construção social dos gêneros (masculino e feminino) a maioria das
mães não se encaixam no perfil de perfeição imposto e, em geral, o pai mantém-se afastado do
ambiente familiar por não ser característica masculina a paternidade baseada na presença,
carinho e cuidado direto à dupla mãe filho, e sim em prover bens materiais para a manutenção
da mesma.
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Assim como “gênero”, consideramos que a discussão do “patriarcado” precisa ser
compreendida para que possamos construir um modo de melhor cuidar e promover a saúde
mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho.
O patriarcado é a crença de que o homem, somente por ser do sexo masculino, detém o direito
de dominação sobre as mulheres, simplesmente por essas serem do sexo feminino (SAFFIOTI,
2004). Essa crença é extremamente presente do sistema social atual. O patriarcado está tão
intrínseco na sociedade que sua existência explica a maioria das mazelas das quais as mulheres
sofrem.
O patriarcado se sustenta, principalmente, pela imposição da força do homem sobre
todos os aspectos da vida da mulher e, justamente por ser o objeto de dominação do patriarcado,
as mulheres são as que mais sofrem suas marcas: violências domésticas, sexuais, psicológicas
e os feminicídios, fazem parte do cotidiano das vidas femininas em todas as partes do mundo,
sendo reflexo do controle que os homens acreditam ter sobre o corpo, mente, sexo e sexualidade
femininos (SAFFIOTI, 2004).
No entanto, não são somente as mulheres que são afetadas pelo patriarcado. O machismo
criado por essa crença afeta também os homens. As características físicas, emocionais e
comportamentais masculinas são muito bem definidas dentro dessa ideologia por ser justamente
elas que os diferem das mulheres e, portanto, justificam a dominação sobre o sexo feminino.
No entanto, quando um homem não se encaixa ou se submete a uma dessas características ele
também passa a sofrer com o peso da discriminação e, como consequência, temos homens que
limitam e eliminam traços de sua personalidade (ser carinhoso, empático, emocional, etc.) para
enquadrar-se no papel masculino esperado (LOURO,1997)
Em nossas discussões para a construção deste referencial compartilhamos um fato
recorrente na enfermaria obstétrica de nossa realidade que nos chamou a atenção. Notamos que
os homens/pais que estavam ali observavam de longe as interações mãe/bebê/equipe de saúde,
mas não se aproximavam voluntariamente para participarem desses momentos. No entanto,
quando algum membro da equipe lhe delegava tarefas referentes ao cuidado com o filho, os
pais o faziam com a maior afeição e carinho. Na nossa percepção, constatamos, que o
patriarcado limita tanto a sensibilidade dos homens que eles só se sentem à vontade para
demonstrar suas emoções quando recebem a “permissão” dos profissionais, pois estes dão a
eles as justificativas para seu momento de “fraqueza”, sem que afete a forma como é visto pelos
que lhe cercam. Percebemos, atualmente, um movimento derivado de práticas humanizadas
voltadas ao parto que tem impulsionado e estimulado a participação do pai no nascimento e
cuidados à mulher e ao recém-nascido, sendo estes estendidos ao puerpério.
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3.7. Maternidade
O processo de maternidade se alterou ao longo dos séculos e de acordo com a
importância e visibilidade que era dada à mulher e à criança em cada período, a concepção de
maternidade se alterava para melhor se adaptar às necessidades políticas, sociais e econômicas
daquela época específica. Na Idade Média, em que a mulher era considerada pela Igreja Católica
como a pecadora original, por ser descendente de Eva e, portanto, tinha um local subjugado e
inferiorizado na sociedade, a maternidade era somente o parto, após isso, as senhoras delegavam
a amamentação, e cuidados dos recém-nascidos às amas de leite, com o envio das crianças para
as amas de leite, começou-se a perceber que essas morriam aos milhares por maus tratos e
alimentação inadequada (BADINTER,1985).
Ao final do século XVII os países europeus, principalmente a França, experimentaram
o envelhecimento de sua população e por consequência a necessidade de fortalecer seus
exércitos, então, a maternidade começou a ser valorizada e as mulheres estimuladas a retirarem
seus filhos das casas das amas e a cuidá-los em casa para que chegassem vivos e saudáveis à
vida adulta. Desse modo, as mulheres se viram exercendo funções de grande importância para
a nação. Esse papel materno foi estimulado cada vez mais, diante dos vários acontecimentos na
Europa em que se observava a necessidade futura de mão de obra, bem como de soldados nas
guerras vindouras (BADINTER,1985).
Então, a maternidade pouco a pouco vai assumindo o lugar que ocupa hoje, as mães
passam a maternar seus filhos pessoalmente, e a maternidade, de função biológica, passa a ter
cada vez mais uma representação e função social (BADINTER,1985).
Esse resgate histórico da forma que a maternidade é vista socialmente é relevante para
compreendermos Simone de Beauvoir quando, em 1949, ao lançar o seu livro “Le Douxiéme
Sexe” (O segundo sexo), afirma que a maternidade é também um processo social, a forma como
a gravidez e após isso a maternidade é vivenciada pela mulher depende das relações sociais
estabelecidas com ela mesma e com aqueles que a rodeiam (BEAUVOIR, 2009).
Além disso, Beauvoir (2009) defende que, diferente do que é aceito socialmente, a
maternidade não é inerente à mulher, assim como a autora defende que “não se nasce mulher,
torna-se mulher”, a maternidade também é um processo construído pela mulher, alicerçada em
todas as relações estabelecidas ao longo da sua vida. Portanto, a maternidade é vivenciada de
maneira diferente para cada mulher e a gravidez que se desenvolve na resignação, revolta, e
insatisfação, possibilita que a mulher passe a “receá-la em silêncio, detestá-la, através de
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obsessões, de alucinações, de recordações de infância que ela própria se recusa a admitir”
(BEAUVOIR, 2009. p. 491).
Ainda para essa autora, a maternidade é tão impactante para a mulher que nenhuma
deveria exercê-la contrária à sua vontade, e esse foi um pensamento ousado tanto para aquela
época quanto nos dias de hoje, em que ainda se acredita que o ápice da realização feminina
deve ser quando ela assume seu “destino fisiológico” e torna-se mãe (BEAUVOIR, 2009). A
maternidade pode ser tão avassaladora para as mães, que para grande parte das mulheres é difícil
definir claramente as emoções suscitadas por ela, seja pela culpa dos sentimentos negativos
possíveis ou pelo julgamento da sociedade e, quando as mulheres não vivenciam a maternidade
com felicidade exultante, frequentemente são definidas como péssimas e desnaturadas mães,
“por isso, muitas se silenciam e vivem desnorteadas pelas inseguranças e conflitos relacionados
à sua função natural de dar continuidade à humanidade” (REZENDE, 2015. p.8).
3.8. Paternidade
A paternidade, assim como a maternidade, são papéis construídos socialmente ao longo
dos séculos, levando em consideração os gêneros e o papel atribuído a eles. Por esse motivo,
mesmo após todo esse tempo, o homem ainda é visto como o responsável financeiro da família,
seu domínio é o ambiente extrafamiliar, enquanto é da mãe a responsabilidade de criar/cuidar
dos filhos no núcleo da família (ZAMPIER et al., 2012).
O modelo patriarcal que é vigente na sociedade atribui significados específicos à
paternidade, indicando como responsabilidade do homem em prover os bens materiais e as
necessidades subjetivas não são consideradas prioridades na definição de pai (BENARDI,
2017). No entanto, desde as décadas de 1970-1980 vem ocorrendo mudanças nessas concepções
de paternidade, principalmente pelo novo papel que a mãe assume na família. A mulher deixa
de dominar somente o âmbito familiar e passa a contribuir financeiramente, quando não são
elas as únicas responsáveis pelo sustento da família (FREITAS, 2009).
Diante desse novo cenário, há uma necessidade maior que o homem assuma novas
funções dentro da família e os novos pais passam a contribuir com as atividades e
responsabilidades domésticas e com os filhos (atividades escolares e de lazer). No entanto, cabe
ressaltar que, apesar de haver mudanças nas características da paternidade e do homem no
núcleo familiar, ainda é a mulher/mãe a principal responsável por essas tarefas (FREITAS,
2009).
4. METODOLOGIA
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4.1 Tipo de estudo
Considerando os objetivos e marcos teóricos que discutimos até aqui, é a pesquisa
qualitativa que melhor responde as questões que surgiram no decorrer desse estudo. Minayo
(2014) a define como:
[...] estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das
percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a
respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2014, p. 57)
Isso porque compreendemos que a pesquisa é construída a partir da forma como o
pesquisador observa, analisa e compreende o mundo, e seu percurso busca responder as
indagações que surgem durante a construção e desenho do seu objeto de estudo. A escolha do
tipo de pesquisa a ser realizada deve ser, portanto, pautada nos tipos de respostas que buscamos
encontrar e, neste caso, como pretendemos construir um modelo de cuidado de enfermagem
para a promoção da saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão
após o nascimento do filho, necessitamos, inicialmente, conhecer os participantes da pesquisa
em diversos âmbitos de sua vida, social, familiar, trabalhista, emocional, etc. e, para isso,
necessitamos que eles nos contem e signifiquem sua história, o que somente a pesquisa
qualitativa é capaz de proporcionar.
Para responder o objetivo geral deste estudo optamos por nos apoiar na abordagem da
Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), pois esse método propicia ao pesquisador uma
aproximação maior com a assistência à saúde, assim como com a população daquele espaço
(PAIM et al. 2008). Esse método foi desenvolvido por enfermeiras brasileiras para o trabalho
de final do curso de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina,
teve sua primeira publicação em 1999 e vem ganhando espaço nas pesquisas, principalmente
em mestrados e doutorados de Enfermagem. A PCA consiste, basicamente, na associação da
pesquisa e prática assistencial que devem ser desenvolvidas simultaneamente em espaço e
tempo (PAIM et al. 2008).
Ainda segundo as autoras e desenvolvedoras do método, a ideia surgiu a partir dos
questionamentos e inconformismos com o distanciamento que o processo de investigação e
pesquisa assumiu na prática profissional assistencial (PAIM et al, 2008). Para elas, a
aplicabilidade da PCA seria tanto para as pesquisas científicas quanto para o dia-a-dia de
trabalho assistencial, pois possibilita ao profissional dar visibilidade a problemas, encontrando
soluções ou minimizando seus efeitos, além de introduzir novas práticas qualificadoras da
assistência (ANTONACCI, PINHO, 2011).
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Em nosso estudo, especificamente, esse método proporcionou a oportunidade de
desenvolvermos ações (neste caso, rodas de conversas com as gestantes que visaram diminuir
os impactos dos fatores predisponentes para a DPP) e a nossa aproximação das usuárias e dos
profissionais que compunham as unidades de saúde às quais nos inserimos. Concordamos com
as desenvolvedoras deste método ao afirmarem que é necessário que a pesquisa se aproxime
mais da prática assistencial tornando-se subsídio para a melhoria da qualidade do atendimento
à população.
Segundo Paim et al. (2008) a PCA é definida por quatro principais características no seu
processo: (1) a essencialidade que diz respeito à justaposição da prática assistencial com a
pesquisa científica, sempre se relacionando diretamente; (2) a conectividade que exige do
pesquisador e equipe um compromisso em planejar e executar novas ações; (3) a
interfacialidade, se referindo à necessidade de produzir e inserir mudanças no ambiente de
práticas forjadas a partir do método e, por fim, (4) a imersibilidade do pesquisador e pesquisa
no ambiente prático, compreendendo e buscando transformar a realidade do atendimento ao
usuário e das necessidades de saúde daquela população.
Para a sua aplicação, a PCA conta com quatro fases: (I) Concepção, onde ocorrerá
escolha da área de interesse do pesquisador, assim como a aproximação dos aspectos teóricos,
e resulta no tema de pesquisa, a partir do qual são estabelecidos a questão norteadora e os
objetivos e elaboradas a base teórica, a introdução e a justificativa do estudo; (II)
Instrumentação, nesse momento as decisões metodológicas são feitas, refere ao espaço onde
a pesquisa será realizada, a seleção dos participantes, métodos de coleta e análise dos dados.
(III) Perscrutação, são estabelecidas e adotadas as estratégias de obtenção de dados. (IV)
Interpretação, onde os dados obtidos são sintetizados e analisados com base na fundamentação
teórica e atribuindo significação aos resultados, com a explicitação de seus reflexos na
assistência (TRENTINI; PAIM, 2004).
Esse método orientou nossas ações nas rodas de conversas, as quais foram
desenvolvidas nas unidades de saúde, tendo a participação das gestantes e também dos
profissionais de saúde das unidades, com destaque para as ACSs. Elucidamos que os
homens/companheiros e os familiares das gestantes não participaram dos encontros e as
informações referente a eles foram analisadas a partir da fala das mulheres.
Assim, são considerados como sujeitos participantes da pesquisa as pessoas que
foram objeto da intervenção assistencial, ou seja, as gestantes e os profissionais de saúde que
participaram das rodas de conversa, em especial as agentes comunitárias de saúde.
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Dentre esses profissionais consideramos importante a participação do ACS nas rodas de
conversas pela importância de seu papel junto à comunidade em que atua, dentre eles, “[...] o
de acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua
responsabilidade [...]” bem como o “[...] desenvolvimento de ações educativas, visando a
promoção da saúde, e a prevenção das doenças [...]” (BRASIL, 2012b, p. 48 – 49). Desse
modo, sendo o ACS um profissional que tem maior trânsito/contato com as mulheres e suas
famílias em suas residências é, portanto, um profissional que pode influenciar o comportamento
de pessoas sob seus cuidados.
Para fins dessa pesquisa foram realizados três encontros coletivos.
4.2. Estratégia de Recolha de Dados e Trabalho de Campo
Este estudo foi realizado em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) localizadas no
município de Cuiabá-Mato Grosso e contou com a autorização de pesquisa da Secretaria
Municipal de Saúde através do parecer n° 71772019-1/SMS - Cuiabá/2019. Somente para
melhor compreensão, denominaremos as unidades como A e B. No entanto, elucidamos que
em todas as atividades realizadas não houve qualquer divisão entre as gestantes das unidades.
As unidades dividem a mesma edificação, com salas exclusivas de cada equipe e
algumas compartilhadas entre ambas. A recepção/sala de espera, salas de vacina e de curativos,
salas de reunião, sala de computadores, almoxarifado e cozinha são comuns. Já os consultórios
de médicas, enfermeiras e dentistas, além da sala de pré-consultas, são exclusivas de cada
equipe.
A unidade A é composta por uma equipe constituída por uma médica, uma enfermeira,
uma cirurgiã dentista, uma auxiliar de dentista, duas técnicas de enfermagem, uma secretária e
sete agentes comunitária de saúde (ACS), contendo mais duas áreas descobertas. A unidade B
é composta por uma médica, uma enfermeira, um cirurgião dentista, uma auxiliar de dentista,
duas técnicas de enfermagem, uma secretária e quatro ACSs, com 5 áreas descobertas.
Os dados foram obtidos através do instrumento do diário de campo, das gravações dos
áudios seguido das transcrições das entrevistas individuais e rodas de conversa.
Para a análise utilizamos o método da “análise temática” em que, após a leitura exaustiva
do material, os textos foram agrupados em eixos temáticos, separados de acordo com os temas
de maior relevância em consideração ao nosso objetivo. Posteriormente, trechos das falas
considerados representativos dos eixos temáticos foram explicitados na discussão, a qual foi
realizada concomitantemente com a apresentação da história das famílias e as descrições das
rodas de conversa e encontros individuais.
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Com as unidades caracterizadas e metodologia definida, descrevemos, a seguir, a
seleção dos participantes e recolha dos dados que subsidiaram os resultados deste estudo.
Fase 1:
Para a identificação das gestantes que estavam realizando o pré-natal nas unidades de
saúde, realizamos o levantamento através dos livros de acompanhamento de gestantes das
enfermeiras e médicas das unidades e do acesso ao Sistema de Informação de Saúde da Atenção
Básica, o e-SUS AB (SUS eletrônico), em que são registrados todos os atendimentos realizados
e agendamentos de consulta pela equipe de saúde. Acessamos, assim, as agendas e consultamos
os atendimentos anteriores realizados às gestantes. De posse dos nomes completos de todas
elas, inicialmente, selecionamos 27 gestantes da unidade A e 41 gestantes na unidade B.
Fase 2:
Nesta fase ocorreu a identificação das gestantes que estavam em seu terceiro trimestre
de gravidez, pois somente elas foram selecionadas para este estudo. Essa escolha se deu
somente em decorrência do tempo que tivemos para a realização deste estudo. Isso porque, para
atingirmos os objetivos propostos, teríamos que realizar o acompanhamento até o seu terceiro
mês de pós-parto. Portanto, considerando o tempo que tivemos para finalizar este estudo ficaria
inviável a seleção de gestantes com menor tempo de gestação.
Com os nomes completos em mãos, utilizamos novamente o e-SUS para consultarmos
os prontuários virtuais das pacientes e obter as informações sobre a atual gestação. Dentre as
gestantes que estavam sendo atendidas pela unidade de saúde A, 12 estavam no 3° trimestre de
gestação, já na unidade de saúde B, 17 encontravam-se no mesmo período.
Após a identificação dos possíveis participantes procuramos os telefones das gestantes
cadastrados e entramos em contato com elas, diretamente, falávamos brevemente sobre a
pesquisa e solicitávamos um encontro em que pudéssemos explicar melhor, bem como
formalizar o convite para a participação do casal. Aquelas gestantes que não tinham no cadastro
um número de telefone, conseguimos o contato com o auxílio das ACSs, as quais iam nas casas
das gestantes e marcavam horários para a visita.
Estabelecemos, primeiramente, como critérios de seleção para este estudo aqueles casais
cujas gestantes estivessem no terceiro trimestre de gestação, sendo ambos com idade acima de
18 anos, casados ou que estivessem se relacionando em função da maternidade/paternidade da
gravidez atual, que morassem juntos e que ambos aceitassem participar deste estudo.
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Na unidade A conseguimos entrar em contato com sete gestantes. Dessas, seis eram
casadas e quatro manifestaram vontade de participar. Mas, após contato com os respectivos
companheiros, somente em um caso o homem aceitou participar do estudo. No entanto, a
gestante estava com o parto agendado para duas semanas (desse modo foi excluída do estudo),
e não conseguimos mais a adesão de nenhum casal. Na unidade B conseguimos contato com
quatro gestantes. Dessas, três eram casadas e duas manifestaram interesse em participar do
estudo. No entanto, nenhum dos companheiros aceitou participar.
Elucidamos que os participantes que trabalhavam ou estudavam receberiam um atestado
médico de consulta emitido pelos profissionais da UBS, por entendermos que as ações
programadas neste estudo fazem parte do atendimento preconizado pelo MS, conforme consta
no Caderno de Atenção ao pré-natal de Baixo Risco (BRASIL, 2013), e que deve ser oferecido
às gestantes e famílias. Ainda assim, não obtivemos a adesão desejada dos companheiros à
pesquisa.
Como não conseguimos o número dos participantes que se enquadrassem nos critérios
de seleção, replanejamos o estudo e optamos por realizá-lo com mulheres gestantes com idade
igual ou superior a 19 anos, independente do seu estado civil, condição de união ou convivência
familiar. Dessa forma, optamos por compreender o casal e/ou família através da percepção da
mulher gestante. Também, buscamos compreender a recusa dos homens em participar da
pesquisa na perspectiva das discussões de gênero e papéis sociais na sociedade patriarcal.
Foram selecionadas, portanto, três mulheres gestantes, para participar do estudo, os ACS
e as enfermeiras das unidades.
Sobre a ausência do homem durante o pré-natal, diversos autores que se propuseram a
realizar atividades que necessitavam da presença do pai nas consultas de pré-natal e
equivalentes ou que avaliaram a participação do homem no pré-natal, apontaram a ausência do
mesmo (OLIVEIRA, et al., 2009; HOLANDA, et al., 2018; HENZ, et al., 2017). Ainda de
acordo com Oliveira et al. (2009) isso se deve pelos seguintes motivos: os horários em que
serão realizados esses encontros são os mesmos das suas responsabilidades trabalhistas, o fato
de o homem não ter conhecimento sobre os direitos do acompanhante na participação das
consultas, assim como a falta de interesse em conhece-los e pôr fim a ausência de incentivo e
convites pelos profissionais diretamente aos pais. No entanto, em nosso estudo em especial, não
houve adesão dos homens mesmo com a oferta de justificativas médicas para a ausência no
trabalho, além disso, todos os convites para a participação ocorreram presencialmente.
No entanto, a justificativa que nos foi fornecida para a ausência dos homens, ainda
assim, foi a trabalhista. De acordo com o relato de alguns parceiros, eles tinham conseguido a
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inserção no mercado de trabalho havia pouco tempo e após longo período de desemprego e não
queriam apresentar um atestado médico em um período curto. Isso demonstra que a questão
financeira é uma das principais preocupações do homem nesse período e, também se constitui
na literatura como um fator de risco importante para o desenvolvimento da DPP (NISHIMURA,
OHASHI, 2010), além disso e já discutido anteriormente, ainda se tem dificuldade por parte da
sociedade de aceitar que o homem/pai falte ao trabalho para oferecer assistência à esposa ou
filho, o que vai ao encontro do modelo de papel paterno presente na sociedade patriarcal na
qual estamos inseridas (SILVEIRA, LAMOUNIER, 2006).
Fase 3:
Após essas mudanças nos critérios de seleção, obtivemos com mais facilidade o aceite
das gestantes em fazer parte desse estudo e, portanto, fomos ao seu encontro e realizamos as
primeiras entrevistas, em que levantamos os dados iniciais e tivemos a primeira e superficial
compreensão da organização familiar e social dessa mulher. Esse primeiro encontro e entrevista
se orientou pelo levantamento do histórico de enfermagem aplicado nos atendimentos
assistenciais e teve como objetivo conhecer as famílias e as redes de apoio que as cercam. A
partir desses dados, realizamos a construção do genograma de família a fim de identificar os
fatores predisponentes para o desenvolvimento da DPP, bem como o ecomapa para
representarmos em esquema a rede de apoio daquela família (MUSQUIM et al., 2013). Esses
dados do contexto familiar identificados através dessas ferramentas podem ou não se constituir
como fatores protetores para impedir o desenvolvimento da patologia e/ou amenizar a
sintomatogia da mesma.
O genograma, além de ser uma representação gráfica da família consanguínea,
parentescos ou de afetividade, permite ainda compreendermos as relações existentes no âmbito
familiar, possibilitando analisar como as trocas afetivas ocorrem nesses ambientes (MUSQUIM
et al., 2013). Isso será importante pois, de acordo com a bibliografia disponível sobre a DPP, a
qualidade das relações pode ser um fator de risco ou protetor para o adoecimento dos novos
pais.
As representações dos genograma e ecomapa das famílias estão anexadas nas
apresentações das famílias participantes deste estudo, logo abaixo.
Fase 4:
Outra etapa desenvolvida nesse estudo foi proporcionar a essas gestantes atividades de
grupo (rodas de conversa) em que foram abordados temas que as auxiliassem no processo de
construção da maternidade/paternidade. Esses temas foram previamente selecionados com base
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35
nas evidências científicas que definem os fatores protetores para a DPP como: (1) maternidade
e paternidade – sobre esse tema, buscamos desmistificar o papel de mãe e pai construído
socialmente, em que o pai é somente responsável pelo suporte financeiro à criança e que a mãe
nasce sabendo ser mãe e, por isso, deve ser perfeita no papel; (2) assistência ao parto e
prevenção da violência obstétrica – sobre esse tema, buscamos elucidar dúvidas sobre quais são
as violências obstétricas mais comuns, os direitos da mulher no parto e pós-parto e órgãos que
os garantem e (3) pós parto e amamentação – com essa discussão, buscou-se sanar as dúvidas
e falsas noções sobre a amamentação, bem como possibilidades e impossibilidades de
amamentação efetiva, assim como técnicas que auxiliam sua efetivação, além de outros
problemas do pós-parto. Ressaltamos que, considerando os preceitos da Pedagogia libertadora
de Paulo Freire, durante o processo de execução de todas as rodas de conversa, as gestantes
foram convidadas a sugerirem assuntos para novas reuniões e a compartilhar suas dúvidas com
o grupo, a despeito de se referirem aos temas previamente escolhidos. Ressalte-se que a escolha
prévia dos temas dessas reuniões ocorreu baseado na literatura científica da temática. Contudo,
por serem grupos diferentes, suas necessidades poderiam divergir desses estudos e, portanto,
estaríamos abertas a reconstruir e a replanejar esses momentos para que elas se sentissem
contempladas. Em um desses momentos, com a sugestão de uma das gestantes, o tema da última
roda de conversa foi ampliado. Em um primeiro momento, sugerimos a amamentação como
tema, mas fomos alertadas por ela (e com a anuência do grupo) sobre o desconhecimento dos
outros aspectos do pós-parto que também seria de grande importância, principalmente para as
primíparas, ao que acatamos e ampliamos o objeto de discussão dessa roda.
Fase 5:
Por fim, a última etapa deste estudo consistiu na realização de uma entrevista
semiestruturada (APÊNDICE 2) com o objetivo de avaliar as atividades promovidas durante o
estudo e avaliar a efetividade das ações para auxiliar no processo de construção da maternidade.
Esse método foi eleito por proporcionar ao pesquisador a possibilidade de se aprofundar sobre
determinado assunto, sem estar preso a indagações formuladas previamente (MINAYO, 2014).
A análise dessas entrevistas foi realizada pela técnica da Análise Temática, que permite que o
pesquisador identifique, analise, interprete e relate padrões/temas a partir de dados qualitativos
(BRAUN, CLARKE, 2006). Em todos esses passos descritos acima os áudios das conversas
foram gravados por gravador de voz e transcritos na íntegra para compor os dados desta
pesquisa.
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Além disso, foi aplicada a Escala de Edimburgo de Depressão pós-parto (EPDS) que é
recomendada para o rastreio de DPP em mães, pelo Ministério da Saúde. Cabe ressaltar que, no
Brasil, a EPDS foi validada tanto para a identificação de sinais e sintomas da depressão entre
gestantes (SANTOS, at. al., 2000; CANTILINO, et al., 2003) como em jovens e adultos
(MATIJASEVICH, et al., 2014). A validação ocorreu em outros países também, como:
Austrália (MATTHEY et al., 2001), Inglaterra (EDMONDSON et al., 2010), China (LAI, et
al., 2010) e Itália (LOSCALZO et al. 2015).
Esclarecemos que a metodologia deste estudo está organizada em etapas que se
desenvolvem subsequentes às outras, somente para a melhor compreensão do leitor, mas que
nem sempre elas ocorreram de forma linear, principalmente as entrevistas individuais e as rodas
de conversas.
4.3. Aspectos Éticos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Mato Grosso – campus Rondonópolis, pelo parecer n°3.206.788/CEP-UFMT/2019,
e toda a metodologia acima descrita considerou as Resoluções nº466/2012 (BRASIL, 2012c) e
n°510/2016 (BRASIL, 2016b) do Conselho Nacional de Saúde, para que todas as medidas de
proteção dos participantes de pesquisa fossem cumpridas. Sendo assim, descreveremos as
principais medidas a seguir.
Aos participantes (gestantes e profissionais de saúde das unidades) a participação na
pesquisa ofereceria riscos mínimos, sendo eles, o desconforto ao relatar determinado
evento/assunto, o choro em decorrência de reavivar memórias, entre outras. Tais riscos foram
evitados pelo planejamento cuidadoso das rodas de conversa, o estabelecimento de um acordo
com regras construídas com os participantes para a promoção da partilha de experiências com
respeito e acolhimento. Além disso, as reuniões foram conduzidas com o apoio de minhas
orientadoras, as quais têm larga experiência com o trabalho de acolhimento com grupos,
maternidade e paternidade.
A identidade dos participantes foi preservada. As gestantes que participaram de todas
as etapas do estudo estão identificadas por nomes fictícios e seus respectivos familiares nos
genogramas, e em suas falas também estão identificados por nomes fictícios. Já as gestantes
que estiveram presentes somente nas rodas de conversas, foram identificadas pelas letras G e
números em sequência (G1, G2, etc.). As agentes comunitárias de saúde estão identificadas
pelas letras ACS e números em sequência (ACS 1, ACS 2, etc.) e, por último, a enfermeira da
unidade B utilizamos nomes fictícios
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Em relação aos benefícios da participação na pesquisa, tivemos o compromisso de
informar aos participantes que proporcionaríamos momentos de reflexão sobre a condição
social da maternidade e paternidade e que poderíamos identificar casais com riscos sociais e
emocionais de adoecerem ou que já estivessem com depressão no início do estudo e,
consequentemente, proporcionaríamos apoio e tratamento imediatamente após a constatação.
Cabe esclarecer que os resultados serão apresentados a partir da apresentação das
famílias das gestantes, onde por meio das informações obtidas por elas, construímos o
genograma, o ecomapa e identificamos a vulnerabilidade do casal ao desenvolvimento de
depressão após o nascimento do filho em resposta a um dos objetivos específicos deste estudo.
5. RESULTADOS
5.1. AS FAMÍLIAS DAS GESTANTES DO ESTUDO
Apresentamos aqui informações sobre as famílias das gestantes e como já foi dito, esses
dados foram fornecidos somente pelas grávidas ao realizarmos a primeira entrevista com elas,
para a construção do genograma e ecomapa. Os dados que obtivemos através dessas entrevistas,
demonstram as impressões e organizações iniciais da rede familiar e de apoio destas gestantes
e, para melhor compreensão da história familiar, elegemos trechos de falas das entrevistas que
melhor as representava.
5.1.1. Família 1 - A família da gestante Luciana.
A família de Luciana é composta por ela, de 24 anos e agora o seu filho recém-nascido
João Pedro. Luciana é uma mulher negra, é separada do primeiro marido há aproximadamente
um ano. Ela concluiu o ensino médio e trabalha como auxiliar de cozinha em um restaurante.
No momento encontra-se afastada do emprego por licença maternidade.
O pai de Luciana nasceu na Bahia e, ainda na juventude, mudou-se para Cuiabá. Sua
mãe, natural de Nobres, uma cidade no interior de Mato Grosso, também se mudou para a
capital, local onde eles se conheceram e iniciaram o relacionamento, moraram juntos e tiveram
três filhos - um menino, Lucas, a Luciana e Laura, sua irmã mais nova. Após o nascimento da
última filha, eles formalizaram a união e mudaram-se para o interior, um sítio, lugar que
Luciana cresceu e lembra saudosamente.
Aos 19 anos. Luciana começou a namorar com Luís e, um ano depois decidiram morar
juntos, ainda na casa dos pais de Luciana. Permaneceram juntos por três anos e por uma situação
de infidelidade eles se separaram e Luciana se mudou para Cuiabá, onde mora com seu irmão
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Lucas, que há cinco anos já havia deixado a casa dos pais para trabalhar na capital. Luciana é
bem próxima de Lucas e mantém um forte laço com ele.
Alguns meses após sua mudança, Luciana conheceu Marcelo, iniciam um caso amoroso
e que permaneceu até a notícia da gravidez, em outubro de 2018, quando Luciana decidiu pelo
término da relação.
O pai dele, a gente, assim... porque nós não namoramos sério, porque eu fui casada
né? Aí eu falei assim: "não, agora eu não quero, namorar sério com ninguém". Só que
aí, eu sempre tomei remédio, só que depois eu engravidei, só que depois eu decidi que
não queria fica com ele.
[...] aí eu não quis ficar com ele, aí eu falei: "não, eu vô ter o neném sozinha". Aí eu
segui em frente sozinha.
[...] é porque, como você já foi casada, você já sabe como que é né? Falei: “ah eu não
quero de novo não”. Falei; “não, está bom, só o meu filho está ótimo... E eu vô dá
conta de cuidar dele sozinha” (Luciana).
Mas, ainda de acordo com seu relato, o pai paga pensão alimentícia, visitou a criança
no hospital após o nascimento e também o faz atualmente aos finais de semana, pois trabalha
todos os dias até no período da noite e não consegue visitá-los mais vezes. Nas semanas
anteriores ao parto, Luciana recebeu a mãe que a acompanhou durante o seu parto e após o
nascimento. Após a realização dos primeiros testes no bebê, decidiu voltar para o interior
enquanto durasse seu auxílio-maternidade, pois lá iria ter mais ajuda da família, mãe e avó, e
seria melhor apoiada por toda a família.
Na figura 1 representamos a família de Luciana e as relações que foram evidenciadas
por ela durante a entrevista.
Figura 1: Genograma da família de Luciana
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Fonte: Elaborado pelas autoras
Em relação à sua rede de apoio, Luciana evidenciou seu irmão, sua tia Cléo e os tios
paternos que lhe oferecem suporte e cuidado. Luciana relata, inclusive, que mesmo recebendo
um adicional salarial para o pagamento da creche, oferecido pelo seu emprego, é a tia quem
cuidará de João Pedro enquanto trabalha e isso lhe deixa muito mais tranquila para retornar ao
trabalho.
Minha tia que vai cuidar, a minha mãe já está meio assim, aí minha tia falou que vai
cuidar dele para mim trabalhar... eu não vou deixa ele assim não, só se for o caso de
precisão mesmo (Luciana).
Na figura 2 estão representadas a rede de apoio e as relações que Luciana mantém com
a família e as instituições que prestaram cuidados ao longo da gravidez.
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Figura 2: Ecomapa da família de Luciana
Fonte: Elaborado pelas autoras
Com o a aplicação do histórico de enfermagem e a aplicação do Genograma e do
Ecomapa conseguimos identificar nesta família os seguintes fatores: não ter o apoio do pai de
seu filho durante a gestação, parto e pós-parto; ter uma renda familiar que a caracteriza como
estar inserida no estrato social baixo e baixo apoio social. Através do Genograma conseguimos
uma percepção visual da relação abalada com o pai do João Pedro, os conflitos com a irmã, o
fato de Luciana morar somente com o irmão mais velho e distante dos pais. Já o ecomapa nos
permite perceber que as únicas fontes de apoio social são a UBS e seu emprego, e mesmo assim
em momentos pontuais. Além disso, não cita amigos e outras instituições que ofereçam amparo
nesse momento.
5.1.2. Família 2 - A família da gestante Alice
A família 2 é composta por Alice (28), seu marido Jorge (22) e agora seu filho Miguel
recém-nascido. Eles moram com a mãe de Alice (Dona Maria) e dividem o espaço com a irmã
Lurdes e suas duas filhas, - que voltou a morar com a mãe após a morte do marido há alguns
meses - e com um dos irmãos, que divide seu tempo entre viagens de trabalho e a casa da
namorada, passando, assim, pouco tempo na casa em que residem.
Alice nasceu e cresceu em Cuiabá. É uma mulher branca, está desempregada no
momento e é a mais nova entre os dez filhos da Dona Maria e Seu João. Relata que teve uma
infância tranquila e relativamente feliz, só enfatiza a rigidez com a qual foi criada pela mãe.
Dona Maria nasceu em Cuiabá e casou-se com Sr. João, originário de Planalto da Serra-MT.
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Com o passar dos anos, o senhor João, que por muitos anos foi alcoólatra e fumante,
começou a apresentar uma deterioração de saúde, passou a ter episódios em que ficava muito
triste e deixou de cuidar do roçado que possuía próximo à sua residência. Alice acredita que ele
tinha depressão, mas nunca houve diagnóstico. Após isso começou com quadros de
esquecimentos, agitação e episódios de violência física contra Dona Maria e a si próprio como
relatado por Alice:
[...] antigamente quando ele era com a minha mãe né, quando ele era mais novo, ele
bebia demais.
Aí ele parou de bebê, parou de fumar quando começou a i na igreja, aí depois, depois
veio esse negócio, o Alzheimer, mas só que a gente não sabia que era Alzheimer ainda
né... Ele era muito violento, nessa questão de às vezes querer bater na minha mãe, ou
às vezes ele mesmo socava a cabeça na parede, tipo sei lá, falava que ele queria morrer,
que não sei o que. Aí teve um tempo, teve um dia que ele sumiu, que ele saía, ele tipo
saía, não tinha Cristo que segurava ele aqui dentro não, aí ele saía, e ia para outros
bairros. Aí, um dia ele saiu e não voltou, aí passou o dia todo, passou o dia todo sem
vim, aí a gente começou a procurar ele, e não achava, foi no pronto socorro, em vários
lugares. Aí última vez que a gente foi, foi no pronto socorro, aí ele passou num ônibus
bem atrás de mim e eu vi, essa parte da cabeça dele e o boné dele.
[...] achou ele, aí de lá para cá ele só veio piorando (Alice).
Depois do diagnóstico do Alzheimer, seu João inicia o tratamento até, alguns anos
depois, descobrir um câncer de garganta, que o levou a morte em pouco tempo. Já Dona Maria,
faz tratamento contra hipertensão, além de sempre reclamar de dores em diversas partes do
corpo, como cabeça, rim e costas, mas não faz acompanhamento médico para essas queixas.
Alice e Jorge se conheceram há uma década, mas foi há dois anos atrás que começaram
a se relacionar. Jorge trabalha como auxiliar de almoxarifado. Jorge, após uma briga com a
mãe, passou a morar com a namorada Alice. Vivem com Dona Maria, mas possuem uma casa
pronta próxima à que vivem. Jorge já manifestou diversas vezes que quer se mudar, mas Alice
prefere esperar até o filho completar um mês, pois lá tem mais suporte familiar, e esse é um
motivo de atrito entre eles.
É uma coisa, mas ele quer sair, ele quer sair, ele fica assim, ele fala: "aí, até quando
vai ficar aqui? Depois que Miguel nascer nós vamos". Eu falei: “ calma, não é
assim...”, porque lá só vai ficar eu e ele, eu de primeira viagem, ele de primeira
viagem... como que vai conseguir cuida do guri direito? Aqui ainda tem minhas irmãs,
tem minha mãe que vai ajudar... Aí as vezes ele emburra, assim, negócio, por causa
disso, mas eu falo para ele, eu até falo para ele "se você quiser mudar, você vai, você
muda sozinho porque eu não vou agora"... "ah mais eu não vou se você não vai, que
não sei o que..." (Alice).
Diferente de Alice, Jorge vem de uma família pequena, composta pela mãe e duas irmãs.
Jorge não mantém contato com o pai, que se separou da esposa e mudou-se para outra cidade
quando ele e as irmãs ainda eram crianças, e não manteve mais contato com os mesmos. Então,
nas poucas vezes que se encontram é sempre um momento de muito conflito entre pai e filho.
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Por ter conflitos também com a mãe, Jorge passou a infância toda morando com a avó
materna, voltando para a casa da mãe somente quando começou a trabalhar. Mesmo sendo uma
família pequena, ela apresenta muito mais relações conflituosas que a família de Alice. Jorge
mantém uma relação conflituosa, também, com a esposa de sua irmã mais velha e, em
consequência, não conversa com a irmã e por esse mesmo motivo, há conflito entre suas irmãs.
Ele não gosta da mulher da irmã dele, aí, às vezes, tipo não conversa também, porque
ela faz a irmã dele muito de besta, essa parte eu concordo com ele, ela tira tudo que a
irmã dele tem ela tira. E ele não gosta. Aí ele, para não caçar confusão com ela, ele
também não conversa com ela (Alice).
Todas essas relações estão explicitadas no genograma da família:
Figura 3: Genograma da família de Alice
Fonte: Elaborado pelas autoras
A rede de apoio da família 2 é composta basicamente por sua família consanguínea, a
mãe e irmãos da Alice, principalmente a Camila, a qual a cita como a mais próxima entre os
irmãos. Já a família do Jorge, mesmo estando representada no ecomapa, seu apoio é incerto na
visão de Alice:
Mas a família dele, não sei se tanto não [...] eles apoiam... no começo não apoiava
não, porque, no começo, eu lembro que ele até gravou um vídeo [...] da mãe dele
brigando com ele, porque ele vinha para cá atrás de mim e não sei o que... aí, desde
esse dia, mais conversa e tudo, mas eu acho que não apoiaria assim não (Alice).
Quanto às instituições, Alice relata que tem uma ligação próxima com o Hospital
Universitário, no qual recebeu atendimento quando teve um episódio de sangramento no início
da gravidez. Relata o bom atendimento recebido nesses momentos e a preferência pelo parto
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ser nesse hospital. No entanto, no dia do nascimento de Miguel, por superlotação da sala de
parto, ela foi transferida para outra maternidade da cidade com a qual não possuía nenhum
vínculo.
Relata também a pouca relação que desenvolveu com a Unidade básica B, pois quando
iniciou o pré-natal a unidade estava em reforma e os atendimentos estavam sendo realizados
em outro local, o que ocasionou uma peregrinação em busca de atendimento em outra unidade
de saúde, descrito por ela no seguinte trecho:
Era uma casa lá em cima lá, era dividido por cortina, era um buracão assim no teto,
vixe Maria, aí eu não fiquei lá, aí eu fui para o Paiaguás, aí no Paiaguás eu tive, eu
andava muito de moto, aí eu tive sangramento... daí eu tive que, como para eu ir para
lá eu tinha de ir de moto, aí eu fui e disse "agora eu vou ter que mudar pra cá", aí eu
mudei pra cá (Alice).
Além disso, relata também que no final da gestação, período em que sentia mais
necessidade de apoio da médica da unidade, ela estava em período de férias e não havia
substituta e não sentia que o atendimento com a enfermeira era suficiente. Alice experimenta a
peregrinação pelos serviços de saúde desde a gestação, o atendimento por profissional que não
confia e a incerteza sobre onde será atendida em seu parto.
Só é ruim que agora no final da gestação que eu precisava ir mais lá né, mais vezes,
não dá para mim ir, porque a doutora está de férias e a Enfermeira Joana.... Que era
minha consulta ontem com ela, não teve... agora só mês que vem a consulta com ela,
se eu não tiver ganhado. [...] aí vou espera (Alice).
Essas e outras ligações estão representadas no ecomapa abaixo
Figura 4: Ecomapa da família de Alice
Fonte: Elaborado pelas autoras
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Os fatores de riscos desta família para o desenvolvimento da DPP levantados através do
histórico de enfermagem e representado através do Genograma e Ecomapa são: ter uma renda
familiar que a caracteriza como estar inserida no estrato social baixo, baixo apoio social,
desemprego, histórico de violência familiar e o companheiro com alto risco de desenvolver a
DPP (muitos conflitos familiares, pouco apoio familiar, cresceu sem a figura paterna e nível
alto de conflito com ele). Esses conflitos ficam bem evidentes e visualmente chamativos ao
serem representados no Genograma, nos alertando rapidamente para o risco importante ao qual
essa família está submetida.
5.1.3. Família 3 - A família da gestante Bianca
A família 3 é composta por Bianca (22), seu marido Leandro (29) e seus filhos Lúcia
(6), Cecília (3) e Vitor com 4 meses de idade. Nascida no interior de Mato Grosso, no município
de Rosário Oeste, Bianca viveu sua infância em Acorizal. Os municípios estão localizados
respectivamente, a 105 e 70 Km da capital Cuiabá. Teve uma infância tranquila, divertida
juntamente com os seus 5 irmãos, sendo a sexta filha de seus pais. Cresceu muito próxima da
irmã nascida logo antes dela, Giovana. Perdeu seu pai antes de completar seu primeiro ano de
vida, não sabendo o motivo que o levou à morte e nem muitos detalhes da vida de seu
progenitor. Aos 9 anos de idade, ao ser diagnosticada com tuberculose, foi obrigada a se mudar
para Cuiabá, indo morar com a irmã para dar continuidade ao tratamento já que o mesmo exigia
que se tomasse os medicamentos em horários certos e a mãe, totalmente analfabeta, não iria
conseguir auxilia-la nesse processo. Portanto, Bianca teve sua infância sem referências
paternas, além de ter sido separada da mãe por grande parte de sua infância, devido
impossibilidade de cuidados maternos ditados pelo analfabetismo da mãe. Isso explica as
relações fracas entre ela e sua família representadas no genograma e ecomapa abaixo. Morou
com a irmã na capital por 5 anos e aos 14 anos de idade retornou a morar com a mãe em
Acorizal. Naquele momento, além das duas, dividiam a casa com seu irmão Felipe, que tem um
sofrimento mental não diagnosticado desde a infância, marcado por episódios de agitação e
violência intercalados por poucos momentos de lucidez em que estabelece boas relações com
elas. Logo que voltou para sua cidade natal, conheceu Leandro que, na época, tinha 22 anos e
iniciaram um relacionamento. No mesmo ano descobriu sua gravidez e, então, aos 15 anos
tornou-se mãe de Lúcia. Sem ainda ter concluído os seus estudos, Bianca abandonou a escola e
voltou a estudar para concluir seu ensino médio somente em 2018, através do projeto do
governo federal de Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos
(ENCCEJA).
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Leandro nasceu em Acorizal trazido ao mundo pelas mãos de parteiras e foi lá na cidade
em que nasceu que passou a sua infância e adolescência. Tem duas irmãs frutos do primeiro
casamento da mãe e quatro do segundo casamento. A mãe, após o divórcio, foi viver com seu
atual marido, com o qual tem 5 filhos, incluindo Leandro. Ele teve uma infância e adolescência
tranquilas e bem próximas dos irmãos, principalmente de Marcia, que nasceu antes dele.
Terminou os estudos concluindo o ensino médio na própria cidade de origem, e fazia pequenos
trabalhos paralelos para arcar com seus gastos, nenhum deles sendo empregos formais.
Lúcia, a primeira filha do casal, nasceu prematura, aos 7 meses de gestação. Bianca
contou que quando foi ao posto de saúde de Acorizal por estar com uma cólica fraca e
sangramento em pequena quantidade, a profissional de saúde a diagnosticou com uma infecção
urinária e receitou um soro. Naquele momento, o motorista da ambulância sugeriu que a
encaminhassem para o hospital em Cuiabá, onde foi constatado que ela estava em trabalho de
parto. Essa situação ainda causa inconformismo de Bianca, sendo um dos motivos para
participar deste estudo.
Por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal porque na época lá nem nas
enfermeiras mesmo não falavam, porque eu estava de 7 meses ainda não chegou ao
ponto de falar "ah quando você tiver sentindo isso, isso, e isso é quando o bebê vai
nascer (Bianca).
Ao chegarem ao hospital, a equipe iniciou as medicações para interromper o trabalho
de parto considerando a prematuridade do bebê. Lúcia nasceu de parto normal, que transcorreu
de forma tranquila e rápida. No entanto, Bianca relata ter notado que algo estava errado pela
reação assustada da enfermeira, quando descobre que sua filha nasceu com Onfalocele. Aos
três dias de vida sua filha passou pela cirurgia de correção e permaneceu internada na UTI-
Neonatal até os dois meses de vida. No momento da entrevista, Bianca relata que sua maior
dificuldade foi os julgamentos que recebeu por causa das condições de nascimento da filha
Lúcia além de relatar um episódio de violência obstétrica que sofreu durante seu parto:
Enfermeira levou um susto e falou para mim " você não sabia que ela estava assim?
"Aí eu fiquei "Como assim né?" E aí que elas foram explicar para mim que ela tinha
nascido com intestino para fora e que ia ter que fazer cirurgia tudo mais, e aí eu ouvi
a enfermeira, “essa daí deve ter tomado remédio para abortar e não deu certo" e saiu
do quarto, da sala, aí eu não sabia o que fazer e tipo eu não sei se é porque eu passei
a gravidez inteira ouvindo "Ah você não toma remédio? Você não preveniu? E aí
parece que todo mundo ficava olhando e julgando que eu era culpado de ela ter
nascido daquele jeito (Bianca).
Somente após o nascimento de Lúcia que Bianca e Leandro passaram a morar juntos, e
decidem que o melhor local para isso é a capital. Então ele aluga uma quitinete para dividirem
e inicia a busca por um emprego. Durante esse processo, Bianca relata que recebeu o maior
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apoio da sua cunhada Marcia, que esteve auxiliando no cuidado com o bebê e consigo mesma,
sendo inclusive escolhida para ser madrinha de batismo de Lúcia.
Bianca relata que durante a gravidez sua irmã Giovana descobre estar grávida também,
e elas compartilham por 2 meses a experiência da gestação. No entanto, sua irmã Giovana sofre
de artrite reumatoide e vitiligo e faz acompanhamento para gravidez de alto risco no Hospital
Júlio Muller, vindo todo mês de Acorizal para suas consultas. Conta que no seu 8° mês, já na
capital, passou mal no ônibus e foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (SAMU) ao hospital Santa Helena, onde foi constatado pré-eclâmpsia, a equipe opta
pela cesariana de emergência e o bebê nasceu prematuro em setembro de 2013. Giovana
permaneceu internada na UTI por um mês, e veio a falecer no dia 21 de outubro de 2013 durante
uma cirurgia para conter uma hemorragia ocasionada pela perfuração do pulmão durante o
procedimento de intubação. Essa foi uma perda significativa para Bianca, pois era muito
próxima da irmã, e por ter um bebê pequeno em casa e a condição financeira do momento a
impediu de assumir a criação da sobrinha que acabou ficando sob tutela de sua irmã mais velha.
Demonstrou o seu sofrimento chorando nesse momento da entrevista:
[...] eu vi ela como, assim depois que ela faleceu né a gente começa a dar mais
valor nas pequenas coisas, tipo ela faleceu e não deu para cuidar da minha
sobrinha né [...] (Bianca).
No momento, Leandro encontra-se desempregado, e movendo um processo trabalhista
contra seu antigo empregador, pois ao solicitar a demissão foi negada a rescisão na carteira de
trabalho e, por ainda ter o vínculo com o antigo emprego, consegue o seu sustento e da família
sendo motorista de aplicativo de celular. Portanto, o período de gravidez e parto do Vitor foi
permeado por problemas financeiros significativos para a família e, considerando que Bianca
nunca trabalhou fora do lar, não teve direito a nenhum auxilio da previdência federal. Ela relata
que, por engravidar muito nova, não conseguiu entrar no mercado de trabalho, e a cada filho
que teve após isso, dificultou ainda mais. Quando questionada se foi sua escolha ficar em casa
para cuidar dos filhos, ela responde:
Não é que a gente decide, acho que vai deixando né, foi assim com a Lúcia, aí a gente
sempre pensa assim "vou trabalhar quando a Lúcia fazer pelo menos 5 anos, que ela
já vai falar as coisas "fala o que aconteceu né e tal, fala como ela está né, e aí veio a
Cecília, e a gente fala de novo né, vamos deixando, deixando e, acho que a gente vai
deixando né... E aí hoje eu estou com Vitor pequenininho e não tem como trabalhar
também [...] (Bianca).
Mas relata o desejo de começar a trabalhar, e que acredita que irá conseguir pois o Vitor
é o último filho do casal. Essa necessidade de entrar no mercado de trabalho parte também pela
consciência das dificuldades do marido em prover o sustento para a família e que se sente
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culpada por não o auxiliar nisso. Perguntada se era algo do qual é acusada, responde que não,
pois sente-se valorizada e sabe que o marido reconhece seu trabalho no lar:
Ás vezes eu sinto que estou folgada, que eu estou só gastando as coisas e não ajudo,
mas igual ele mesmo conversa "não, você está aqui, você cuida das meninas, você faz
as comidas, você faz tudo né, coisas que eu não posso fazer porque não estou aqui, se
se você não estiver quem vai fazer? Ninguém vai cuidar das meninas, cuidar da casa
como você faz (Bianca).
A família é representada no Genograma da família.
Figura 5: Genograma da família de Bianca
Fonte: Elaborado pelas autoras
A rede de apoio da família, é constituída basicamente por familiares sendo citados
principalmente as irmãs. Bianca cita Renata e Roberta (suas irmãs) como sua maior fonte de
apoio na família. Relata ao longo da entrevista que são a elas que recorre durante as
dificuldades, no entanto, conta que nunca foi próxima aos irmãos:
Eu não sei se é porque eles eram meninos, mas, assim, eu não tenho muita memória
com eles, eu acho até estranho, até brinco que eles são adotados, porque eu não tenho
lembranças, principalmente desse meu irmão que tem problema mental, eu não tenho
lembrança dele... eu não sei, estranho, única lembrança que eu tenho dele é que ele
brincava de fazer…. A gente brincava de fazer Boizinho com manga, enfiava palito
de fósforo e fazia fazendinha e tal, a única lembrança dele que eu tenho dele é essa
(Bianca).
Em relação à família de seu marido, relata proximidade com sua cunhada Márcia, com
a qual pôde contar em todos os momentos após seu casamento, principalmente no período do
nascimento de Lúcia, em que ia para sua casa e a ajudava a cuidar da casa e da sobrinha, sempre
zelando pelo bem-estar de sua família. Conta com o apoio também do primo de Leandro,
Leonardo e sua família, que também fazem parte do círculo de confiança do casal. No entanto,
relata não ter uma boa relação com o restante da família do esposo, pois segundo ela, não são
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pessoas confiáveis. Quando perguntada sobre porque é próxima somente desses membros da
família ela responde: Só, infelizmente, porque eles não são muito de…. Ficar sabe, de preocupar com os
outros, eles são falsos digamos assim né. [...]. Perguntada se o marido era próximo à família continua:
Não muito, nem ele próprio, é só com a mãe dele e o pai dele, o resto [...].
As outras relações são representadas no ecomapa abaixo:
Figura 6: Ecomapa da família de Bianca
Fonte: Elaborado pelas autoras
Nesta família, o histórico de enfermagem nos possibilitou a identificação dos seguintes
fatores de risco: desemprego do marido, baixa escolaridade, sobrecarga física e emocional,
baixo apoio social e familiar, gravidez não planejada e ter sido vítima de violência obstétrica
na primeira gestação e o concepto (primeira filha) com malformação grave. O genograma nos
possibilitou perceber visualmente que Bianca estabelece relações mais distantes com a maior
parte de ambas as famílias, sendo seu marido Leandro sua principal fonte de apoio. Também, a
quantidade de relações fracas entre sua rede de apoio é bem demonstrada com o auxílio do
ecomapa.
5.2. O uso do genograma e do ecomapa na identificação dos fatores de risco e de proteção
para a DPP
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O genograma e o ecomapa fazem parte de uma gama de instrumentos que os estudos
científicos em diversas áreas utilizam para identificar diferentes características em uma família,
mapear a existência de doenças genéticas e outros agravamentos de saúde. Além disso,
possibilitam a representação das relações e vínculos afetivos existentes intrafamiliar e com as
instituições (WENDT, CREPALDI, 2007). No entanto, com a existência de muitas mais formas
de utilizá-los, basicamente, esses instrumentos são utilizados simplesmente como a
representação visual da família e as relações internas e externas ao seu núcleo.
Neste estudo, propusemos a sua utilização para identificar a vulnerabilidade de casais
para o adoecimento de DPP. Isso é realizado da seguinte forma: ao representarmos essas
famílias, mapeamos todos fatores que contribuem para o adoecimento do participante. Por
exemplo, ao relatarmos e representarmos relacionamento violento entre os pais, apontamos nos
fatores de riscos dessa gestante que um ambiente violento propicia a DPP e, diante disso,
planejamos ações que visariam diminuir esse impacto na gestação e pós-parto, tais como rodas
de conversa sobre a conscientização dos seus direitos referentes a episódios de violência
doméstica, bem como informações sobre os programas sociais que poderiam ajuda-las nesses
momentos. Portanto, essas ferramentas podem ser úteis tanto para identificar os riscos, quanto
para auxiliar no planejamento de ações para o seu combate.
Alguns dos fatores de risco para o desenvolvimento da DPP que podemos facilmente
identificar no Genograma e Ecomapa das famílias dessas mulheres são: relacionamentos
violentos, alcoolismo em algum membro da família, relacionamentos familiares conflitantes,
falta de apoio social, falta de apoio familiar, adoecimento do filho, complicações na gestação,
depressão anterior, etc.
Os resultados encontrados demostraram que três das gestantes que conversamos,
apresentam fatores de riscos importantes para o desenvolvimento da DPP. A primeira, Luciana,
por ser mãe “solo”, ser uma gravidez não planejada, ter uma renda familiar que a caracteriza
como estar inserida no estrato social baixo, e baixo apoio social. A segunda, Alice, apresenta
como fatores predisponentes o histórico de violência familiar, ter uma renda familiar que a
caracteriza como estar inserida no estrato social baixo, baixo apoio social, desemprego e o
companheiro com alto risco de desenvolver a DPP. Já a terceira, Bianca apresenta o desemprego
do marido, baixa escolaridade, sobrecarga física e emocional, baixo apoio social, gravidez não
planejada e ter sido vítima de violência obstétrica na primeira gestação e a primeira filha com
nascida com uma malformação grave. Cabe ressaltar que os estudos como de Kerber et al.
(2011), Nishimura, et al. (2015), Nath, et al. (2016) e Zhang et al. (2016) evidenciaram que
homens com esposas deprimidas tendem a se deprimir mais, isso ocorre também de forma
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inversa, as mulheres de companheiros com histórico de depressão ou depressivos têm um risco
maior de desenvolver a DPP, demonstrando a correlação existente entre ambos para o
adoecimento por DPP. Portanto, o aumento do risco de um dos cônjuges adoecer por DPP tem
correlação com o adoecimento por DPP do outro cônjuge.
Destacamos que durante a coleta dos dados, uma situação especial nos alertou para o
alto risco de desenvolvimento de DPP na família 2, pois o homem/pai (Jorge), de acordo com
os relatos de sua companheira, apresentava os seguintes fatores predisponentes: várias
ocorrências de conflitos familiares (TOP et al, 2016), conflitos conjugais (HANINGTON et al,
2011), isolamento social e familiar (SPECTOR 2006), falta de modelo paterno e rede de apoio
(LUOMA et al, 2013). Como ele não apresentava sintomas do adoecimento até o momento e,
considerando o código de ética profissional de enfermagem, comunicamos a enfermeira da
Unidade Básica B sobre o risco e sugerimos que ela solicitasse a presença dele nas consultas
de acompanhamento de Crescimento e Desenvolvimento (CD) infantil para que, durante tais
momentos, pudesse observar se haveria algum sinal de adoecimento. Essa mesma atitude foi
tomada em relação à sua esposa, ao fim do segundo encontro, pois identificamos sinais de alerta
para a DPP e, ao aplicarmos a EPDS que é composta por 10 perguntas em que respostas
pontuam em 1,2 ou 3, podendo atingir no máximo 30 pontos, em que são diagnosticada com
depressão as mulheres que atigem pontuações maiores ou iguais a 12 ou 13 (BRASIL, 2013), e
Alice foi classificada no limiar para o adoecimento (11 pontos) o que nos preocupou, nos
levando a conversar com a equipe para a observação mais atenta da família, e se necessário para
o caso, a avaliação e cuidados profissionais habilitados.
5.3. RODAS DE CONVERSA
As rodas de conversa são espaços de compartilhamento de experiências que, a partir do
coletivo, se constrói conhecimento, podendo direcionar ações ou construir consenso. São
instrumentos potentes que possibilitam a construção de vínculos e a aproximação de pessoas
sob uma mesma ótica. No entanto, para atingir todo seu potencial, necessita de um diálogo
democrático, em que todos os seus membros, sentados em círculo, tenham a possibilidade de
se expressar (CORREIA, et al, 2019). Justamente por necessitar que um relacionamento
horizontal entre seus membros e oportunizar que todos a vivencie de forma igualitária, as rodas
de conversas são instrumentos importantes na Pedagogia Libertadora de Freire. Neste estudo,
as rodas de conversa possibilitaram a construção de um conhecimento baseado em estudos
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científicos, mas também permeados e articulados por todo o conhecimento popular ofertado
pelo grupo, valorizando-o ou confrontando quando necessário.
As rodas de conversa entre mulheres, sendo um espaço de exercício e aplicação concreta
da Pedagogia libertadora de Paulo Freire, tornaram-se um ambiente de empoderamento
feminino, pois possibilitaram o fortalecimento de vínculo entre as mulheres e,
consequentemente, de confiança para o desabafo, já que elas encontraram um espaço em que
puderam se identificar em suas semelhantes, visto terem as mesmas aflições e preocupações,
trazendo-lhes a certeza de que não estavam sozinhas em suas angústias.
No decorrer da execução deste estudo foram realizadas três rodas de conversa sobre
vários temas, como relatado anteriormente. Esses temas foram selecionados conforme a
bibliografia da área, que indicavam os principais causadores de sofrimento para as mães, da
gestação ao pós-parto. No entanto, vale considerar que, por essa ser um estudo baseado nas
concepções de educação da Pedagogia libertadora de Freire, os temas que seriam pertinentes
para aquela comunidade foram discutidos com as participantes e abrimos espaço para a inclusão
de sugestão de novos temas. Isso nos levou a acrescentar o assunto “Pós-parto, o que é? E o
que esperar depois do parto” que será descrito mais detalhadamente ao longo deste subitem.
Os temas abordados nas rodas foram: (1) maternidade, (2) direitos no parto e prevenção
de violência obstétrica e (3) pós-parto e amamentação.
5.3.1. Maternidade
Na primeira reunião participaram vinte e duas (22) pessoas. Dentre elas se incluíam as
gestantes, que foram identificadas da seguinte forma: (1) aquelas que participaram de todas as
etapas do estudo estão identificadas por nomes fictícios; (2) aquelas que estiveram presentes
somente nas rodas de conversas, as identificamos pelas letras G e números (G1, G2, etc.); (3)
as agentes comunitárias de saúde pelas letras ACS e números (ACS 1, ACS 2, etc.); (4) os
dentistas, pela letra e, por último, (5) a enfermeira da unidade B utilizamos nomes fictícios. As
reuniões foram planejadas previamente com o intuito de despertar a participação de todos e,
principalmente, a estimular que as mães presentes compartilhassem suas histórias pessoais,
dificuldades de maternidades passadas, ansiedades relacionadas às gestações atuais, além de
dinâmicas para a interação entre elas (Apêndice 3).
As avaliações das rodas foram realizadas ao final de cada encontro, sendo que
solicitamos que cada participante avaliasse como se sentiu durante a conversa e quais seriam as
sugestões para o próximo encontro, tendo todas o direito de se expressarem ou não, frente ao
grupo.
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Nessa primeira reunião optamos por conversarmos sobre maternidade, isso porque, de
acordo com a bibliografia científica existente sobre DPP materna (BADINTER, 1985; FORNA,
1999), um dos fatores que contribuem para o sofrimento emocional da mãe é a dificuldade de
adaptar-se ao modelo de maternidade socialmente construído, e isso lhes causam sentimento de
culpa e incapacidade levando-as a se verem de forma negativa,
Sempre a mãe é bruxa né, porque a mãe que é ruim, a mãe que bate, a mãe que faz
isso, os outro é só para dar carinho e falar que a mãe está errada, não é para fazer isso
e aquilo, então a mãe saí como bruxa (G2).
Vemos nesse trecho como as mães se percebem como as únicas responsáveis pelo
processo educacional das crianças e, em decorrência disso, tornam-se as vilãs para os seus filhos
sendo sempre preteridas à outras mães.
Esse aumento de responsabilidade ocasionado pelo nascimento do filho ocasiona
inúmeras dificuldades para as mulheres que se tornam mães. É um momento de rearranjo de
sua identidade e dos seus papeis sociais (mulher, companheira, estudante, trabalhadora, etc.) de
reorganização de suas prioridades, e isso não ocorre de forma positiva para a mulher, que se vê
suspendendo seus planos/sonhos sobre a sua vida para atender as necessidades de outros, e isso
vem permeado de sofrimentos, ficando explicito nos trechos a seguir:
Eu acredito que a dificuldade de ser mãe, assim, você abrir mão dos seus sonhos, seus
projetos, da sua vida, para viver a dos seus filhos, [...] (ACS 4)
Porque ser mãe, não sei porque, entendeu, sofre demais, quando se não tem filho,
você, vive diferente, mas a partir da hora que você tem filho, sofre! (ACS 6)
Ah, o primeiro dia foi um susto, minha mãe tomou um susto, ela falou "Ah você é
nova, e a escola?", falei "Ah mais eu vou continua meus estudos" mas tive que parar
porque o professor estava me ameaçando né, não aceitava uma grávida na escola, teria
que sair né (G1)
Portanto, percebe-se que o nascimento dos filhos sendo ou não planejados, transforma
a vida de suas mães, e os seus sentimentos acabam por se tornarem ambíguos nesse período,
pois mesmo amando seus filhos sentem-se frustradas por serem obrigadas a adiar ou mesmo
desistir de seus projetos pessoais.
Outro aspecto significativo que surgiu durante essa roda de conversa foi o fato de as
mulheres se responsabilizarem tanto pelos filhos como pelo comportamento dos pais em relação
a eles. Isso significa que, além da carga inerente à maternidade, as mulheres acreditam, ou
melhor, foram levadas a acreditar por uma sociedade alicerçada pelo patriarcado, que é sua a
função de construir a figura paterna no homem, como vemos no seguinte trecho:
A questão que eu vejo muito, é que a mãe se cobra muito, mas não ensina o pai a ser
pai também, cê entendeu? Para as minhas (gestantes) eu coloco sempre isso, porque a
mãe ela já nasce já, com um instinto materno, agora o pai não, o pai, você tem que
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ensinar ele a ser pai, trazer ele para dentro da maternidade, porque se não a
responsabilidade só fica para mãe mesmo, e se não ensina, ele é igual uma criança, se
não ensina ele, ele não vai aprender. Você tem que ensinar ele que não é só sua
obrigação leva a criança em médico, que é dele também, reunião na escola é dele
também, porque antigamente, se vai ter uma reclamação da escola, por causa de um
probleminha, sempre fala " vou chamar a sua mãe", sempre é a mãe, se pode ver em
reunião, sempre é a mãe gente, então a gente tem que começar a mudar isso, e nós
como mãe, "não só mãe, mas tem o pai, chama o pai", vai você, eu não vou, "ah o
filho ta doente, é muito difícil se vê um pai trazendo um filho doente (na unidade de
saúde) (ACS 10).
Esse trecho levanta dois questionamentos importantes: (1) a existência do chamado
“instinto materno” das mulheres e (2) a “infantilização do homem”.
No primeiro caso, discute-se a suposta propensão inerente das mulheres de serem boas
mães, ou seja, automaticamente defende-se a existência de um “instinto materno”, sendo que
essa discussão perdura por séculos, como apresentam diversos autores como Elizabeth Badinter
(BADINTER, 1985) em sua obra “Um amor conquistado: o mito do amor materno” e Aminatta
Forna (FORNA,2000) na obra “Mãe de todos os mitos: como a sociedade modela e reprime as
mães ”. Estas autoras, com narrativas e estilos distintos, proporcionam a análise do processo
histórico da construção da maternidade, levando à indagação: se existe mesmo um “instinto
materno”, por que nos séculos XVII e XVIII as crianças eram entregues a amas de leite logo ao
nascer e voltavam para casa somente após seu quinto ano de vida, caso sobrevivessem,
considerando que a taxa de mortalidade infantil era altíssima em decorrência da insalubridade
das cidades nesse período, e eram logo encaminhadas para os colégios internos? E a resposta
para essa questão é a construção social da maternidade de cada época. A maternidade existe
através dos laços e relações que a compõem e, portanto, só é construída com a participação de
mais de um indivíduo (BADINTER, 1998; FORNA 2000).
A maternidade nasce a partir da existência do filho e, nesse momento, a mulher é mãe
somente dele. Com a vinda de uma segunda criança, ela necessitará que se construam novos
laços e relações com esse indivíduo. Uma mulher só é mãe do filho que já tem e irá tornar-se
mãe dos outros que estão por vir e de maneiras diferentes ela os maternar (VIVIAN, et al.,
2013).
No segundo caso, a infantilização do homem, é uma manifestação frequente em nossa
sociedade decorrente do patriarcado e presente na narrativa acima, segundo a qual, não importa
a idade que tenham, ainda é responsabilidade da mulher direcionar o homem ao caminho
correto. Ao firmarmos que a infantilização do homem nesse processo é reflexo do patriarcado
na sociedade, estamos cientes que se refere a um processo mundial. Autores como Beestin et
al. (2014) já trouxeram em seus estudos que a paternidade se apoia na figura materna durante
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sua construção e quando a maternidade está prejudicada por algum fator externo, como por
exemplo a DPP, acaba afetando a forma que o relacionamento pai-bebê irá ocorrer.
A fala, descrita anteriormente é de uma ACS, um profissional que se encontra
diariamente em contato com as mulheres e portanto, pode, por meio de suas falas e
comportamentos fortalecer papéis maternos/paternos que necessitam ser desconstruídos.
Entretanto, ao mesmo tempo em que as mulheres deste estudo realizam o discurso que
infantilizam o homem/pai em relação ao cuidado com os filhos, há a consciência da necessidade
de mudanças relativas à redistribuição das responsabilidades familiares:
É metade, metade né, então vamos dividir essa responsabilidade, porque senão, a mãe
fica doida gente. Tudo é você "ah o filho não está bem, sentindo mal" culpa é da mãe,
tudo é culpa da mãe. Então nós como mães, nós temos que começa a muda dentro de
casa, que a gente tem filho, a gente pega ele e coloca numa concha assim, não deixa
o pai dar banho, não deixa o pai trocar o filho com medo de cair, com medo de
machucar e não (é assim), a gente tem que acostuma desde o momento que nasceu
[...] (ACS 10)
Isso exemplifica que as mulheres acreditam que os pais devem participar mais do
cuidado direto ao filho, mesmo acreditando ser delas a responsabilidade de aproximar o homem
da família nesse período. Portanto, as mulheres são responsabilizadas pela forma que maternam,
bem como o pai paterna e também pela qualidade das relações familiares que venham a se
estabelecer.
Todas essas responsabilidades emocionais e físicas acrescidas com a chegada de um
filho, a decorrente constituição da maternidade necessária e o auxílio na construção da
paternidade do companheiro, culminam no pós-parto. Nesse sentido, a realização de rodas de
conversa como essas proporciona tanto um espaço para partilha como para aprendizado, em um
espaço em que é possível se expressar sem medo de julgamentos pois compartilham, ali,
aflições e experiências que se assemelham. A mulher se vê diante da possibilidade de
experimentar uma maternidade real onde podem e devem ser objeto de cuidado de outros.
Foi bom né, aprender um pouco mais sobre a maternidade, e também acho que a gente
não deve romantizar a maternidade, que ela não, que na realidade ela não é do jeito
que o pessoal fala, quando nasce um bebê também nasce uma mãe, que a mãe também
precisa de cuidado, não como o bebê precisa, mas ela também precisa de cuidado,
porque as vezes quando o bebê nasce, a pessoa vai lá e só paparica o bebê e a mãe fica
de lado, esquece, ela em que fazer várias coisas ao mesmo tempo, então eu acho que
foi bom (Alice).
As trocas nas rodas, proporcionaram também o entendimento de que ela não está só em
relação ao que experimenta no papel materno e isso a deixa confortável em relação ao que sente
e exercita nos cuidados ao filho:
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É bom trocar ideias né, com outras mulheres, com outras mães mais experientes, vê
que não é só a gente que sente essas coisas né, que a gente não é tão bruxa assim, por
fazer algumas coisas, muito bom a gente conversar sobre isso né, tirar dúvidas, eu
gostei (G2).
5.3.2. Direitos no parto e prevenção da violência obstétrica
Durante a execução da roda de conversa sobre “direitos no parto e prevenção da
violência obstétrica” houve a participação de 13 pessoas. No entanto, cabe ressaltar que houve
um aumento no número de participações de gestantes, ou seja, dentre as 13 participantes, seis
delas estavam em gestação.
Assim como para a primeira roda de conversa, durante o planejamento desta roda
(Apêndice 4) formam utilizadas dinâmicas em grupo que motivavam tanto a participação dos
membros como abordavam temas que nos pareceram muito importantes. Por exemplo, durante
a primeira roda sentimos que ocorreram muitas conversas paralelas às discutidas no âmbito do
grupo. Para tentar manter o grupo centrado nas discussões, para a segunda reunião optamos por
solicitar o auxílio das pessoas do grupo no estabelecimento de regras de boa convivência. Essa
medida influenciou a escolha da dinâmica que seria realizada, pois chamou a atenção dos
participantes sobre a importância de escutar o outro nesse ambiente e, assim, fomos moldando
as rodas de conversas às necessidades que o grupo apresentava, sendo esse o princípio da
pessoalidade das atividades que Paulo Freire sugere no referencial teórico-metodológico deste
estudo.
Quando optamos por esse tema para a realização de uma roda de conversa consideramos
as evidências científicas existentes, pois autores como Hartmann et al. (2017) afirmam que a
qualidade da assistência ao pré-natal e parto tem relação direta com o desenvolvimento da DPP
e o maior apoio das equipes de saúde é um fator de proteção para o adoecimento. Portanto,
quando afirmamos que os profissionais de saúde têm um papel importante na proteção da saúde
mental da mulher, temos que refletir sobre a qualidade dos atendimentos ofertados nas
unidades. Durante essa roda de conversa foram relatadas situações em que as gestantes afirmam
não terem recebido o cuidado de saúde do profissional, principalmente em relação ao
enfermeiro/a, chegando a alegar que a consulta com o profissional não agrega nada ao seu pré-
natal e que essas situações foram significativas para, inclusive, definir a sua participação neste
estudo:
Por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal porque na época lá nem nas
enfermeiras mesmo não falavam, porque eu estava de 7 meses ainda não chegou ao
ponto de falar "ah, quando você tiver sentindo isso, isso e isso, é quando o bebê vai
nascer... (Bianca).
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Esses foram casos em que as gestantes sofrem com a falta de suporte. Surgiram nessas
rodas muitos casos de violência obstétrica grave que ainda repercutem em impactos
significativos na saúde mental dessas gestantes. Um exemplo foi o caso de Bianca que conta
que, logo após o parto, ao descobrir a onfalocele de sua primeira filha, foi acusada de ter
“tentado abortar e não ter conseguido”, sendo culpabilizada pela má formação da criança. Além
desse relato, surgiram outros de episiotomias, manobras de Kristeller e ofensas que nos dá o
parâmetro da qualidade da assistência de saúde oferecidas a essas mulheres. Elas estão cientes
que esse histórico de violências às quais são submetidas afetam tanto a atual quanto as futuras
gestações, sendo apontada por elas, inclusive, como uma das razões pela qual a maioria das
mulheres optarem pelas cesarianas, como vemos no seguinte trecho:
Acho que muitas que escolhe a cesariana é porque teve uma experiência muito ruim
com parto normal né, aí quando engravida fica, já fica assim, já arranja dinheiro para
pagar a cesariana. Por isso que fala né, que é uma cesariana desnecessária, não tem
necessidade, mas a pessoa sofreu tanto para ter o filho que ficou traumatizada né?
(Bianca).
Outro fator que percebemos no discurso das participantes das rodas foi o
desconhecimento sobre, inclusive, os benefícios e riscos dos partos normais e cesarianas para a
díade mãe-bebê, apontando para a falta de qualidade nos atendimentos de saúde, considerando
que é necessário o conhecimento sobre o assunto para que as futuras mães consigam tomar
decisões conscientes para sua saúde e a do bebê:
Se eu soubesse naquela época que o parto normal seria tão maravilhoso, tão melhor
que um parto cesariano, [...], mas infelizmente eu não sei falar para ti quais os sinais,
eu não sei falar qual os sintomas do parto, os meus três foram cesarianos. Aí como se
diz, na cesárea seu bebê está lá não está pronto para nascer, está dormindo, quietinho,
são bebês que depois tem mais problemas de doença no futuro que se for parto normal,
se eu soubesse disso eu tinha esperado e tinha meus bebês tudo de parto normal (ACS
8).
O depoimento mostra que a pessoa somente passou a ter consciência dos benefícios do
parto normal quando se tornou um profissional de saúde e não no momento oportuno (no pré-
natal), se arrependendo das escolhas que fez sem o devido conhecimento para tal.
Quando discutimos a importância de se aplicar práticas humanizadas na assistência ao
parto, assim como preconizado pela Rede cegonha, programa criado pelo governo federal
(BRASIL, 2011a) percebemos o desconhecimento sobre o tema até pelos profissionais de
saúde.
Ah, e outra que eu achei ridículo é assim, ridículo, eu achei, é o tal do humanizado.
Meu Deus, eu fiquei lá no parto, porque eu trabalhei lá no Santa Helena três anos e
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meio, eu falei "caraca eu não queria nunca", família toda arrodiada e você sentando
ali, sentindo dor, e todo mundo ali, cruzes (ACS 7).
No entanto, quando conversado e explicado que uma prática humanizada no parto é
oferecer à gestante o seu direito de escolha, de escolher o melhor para si e para o seu bebê com
base em informações reais e honestas, que variam desde os partos domiciliares, naturais ou
cesarianas, elas percebem que houve uma melhora da assistência prestada atualmente e da qual
foram submetidas em suas primeiras gestações
[...] eu acho que assim hoje, que é bem melhor hoje os partos, porque tem as coisas,
tipo igual a mãe pode acompanhar, o esposo pode acompanhar, mais antes eu era nova
eu tinha 15 anos eu me sentia tipo assim, que meu esposo na época, que hoje é meu
ex-marido, pai dos meus filhos, me abandonou, minha mãe me abandonou, então eu
me achava que eu estava assim abandonada, aí entrava médico lá, médico para olha,
ia aquelas enfermeiras estupida e ignorante, porque hoje em dia eu sei que é (ruim),
mais antigamente eu acho que era muito mais (ACS 7).
Porém, a mulher segue experimentando o desrespeito a si como sujeito do processo de
maternagem quando no puerpério é ignorada como pessoa responsável pelo cuidado do filho
sendo completamente desconsideradas pelos profissionais de saúde em seu direito de saber o
que de fato acontece com seu filho doente, mesmo sendo elas as principais cuidadoras e,
portanto, as maiores conhecedoras das necessidades da criança. Um exemplo é o relato de Alice
que, ao levar seu filho ao pediatra com um caso persistente de diarreia, foi somente lhe dito que
“era normal e não deveria se preocupar” e ela se indaga “Como normal? Se nunca foi assim,
está diferente, ele nunca ficou assim”. O profissional, ao mesmo tempo em que cobra da mulher
a obrigação da boa maternidade, nega elementos para que ela o seja (na perspectiva médica)
limitando a sua capacidade de atuação nos cuidados do filho.
Casos como esses mostram a importância dos profissionais de saúde ressignificarem
suas práticas, por meio de abertura de espaços que possibilitem a educação permanente de todos
os membros das equipes de saúde, desde os ACS aos profissionais de ensino superior, e isso é
percebido por elas ao afirmarem que essas rodas oferecem subsídios para melhorar sua atuação
profissional.
Eu gostei porque nós agente de saúde tem que saber para poder orientar as gestantes,
e esses conhecimentos que a gente tem, vai poder passar para elas, a gente se atualiza
né porque que sempre sai coisas novas e a gente não sabe né (ACS 6).
E, por fim, ao solicitarmos a avaliação da efetividade da roda de conversa, trazemos
como exemplo a fala de uma ACS que melhor expressou a opinião do grupo. De acordo com
ela, as rodas de conversa possibilitam o compartilhamento da experiência do outro tone-se um
a experiência de aprendizado mais efetiva.
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Eu adoro rodas de conversas, porque aqui uma troca de experiências, às vezes aquelas
dúvidas que você tem em casa, ou no momento da consulta você esquece, aqui você
pode estar tirando, e a gente aprende muito com a experiência do outro, a gente
aprende mais com a experiência do outro do que com a gente, então é maravilhoso,
que continue assim sim [...] (ACS 10)
5.3.3. Pós-parto e Amamentação
Na terceira roda estiveram presentes 17 participantes, dentre elas oito gestantes, duas
mães com filhos pequenos (sendo uma delas participante das outras rodas de conversas
enquanto ainda estava gestante) e sete agentes comunitárias de saúde. Foram abordados, durante
esta roda, diferentes temas relacionados ao pós-parto e amamentação, tais como: a pega correta
na mama durante a amamentação, métodos para prevenir rachaduras nas mamas, alimentação
das mães lactantes, cuidados com as cicatrizes dos partos cesarianos e normais, a diferenças
entre o leite materno e as fórmulas lácteas, a contracepção durante o pós-parto e a saúde mental
das mães durante o pós-parto.
Percebemos, especialmente durante a execução desta roda de conversa, a presença das
crenças populares referentes a diversos aspectos do pós-parto que se mostraram arraigadas nas
gestantes/mães, sendo um exercício bastante meticuloso por parte da pesquisadora conseguir
diferir em até que ponto deveríamos nós, como profissionais de saúde, interferir ou julgar
determinadas crenças. Como resposta percebemos que devemos expor o conhecimento
cientifico sobre o assunto e argumentar com essas mulheres a partir das evidências sem,
contudo, desvalorizar suas escolhas, desde que estas não as afetem e nem ao bebê. Avaliamos
como importante oferecer apoio e compreensão caso optassem por continuar seguindo os
conselhos das mães e avós. Como exemplo, diversas delas mencionaram ter utilizado, em outros
pós-partos, a alimentação a base de milho (canjicas, bolos, etc.) com a crença de que aumentam
a produção de leite. Nesse caso, então, explicamos para elas a inexistência de evidência
cientifica que comprove tal costume e realizamos orientações sobre práticas comprovadamente
efetivas para melhorar a produção de leite materno, tais como: aumento da ingesta hídrica,
manter uma alimentação saudável, evitar alimentos industrializados e aumentar a quantidade
de mamadas do seu bebê. Também ressaltamos que a introdução de um alimento com grande
quantidade de calorias, como a canjica, poderia dificultar a perda do peso adquirido durante a
gestação, mas que não faria mal a ela e ao bebê, sendo que, basicamente, seria sua a escolha em
manter ou não essa alimentação no pós-parto.
Optamos por essa abordagem por reconhecermos a importância dessas crenças nos
vínculos femininos no âmbito da família, visto que o total abandono desses credos por parte
dessas mulheres poderia afetar seu relacionamento com suas mães, tias e avós. E, justamente
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por defendermos a importância do fortalecimento desses laços no pós-parto, deixamos bem
evidente que não iríamos julgá-las por manterem essas tradições.
Juntamente com a alimentação no pós-parto, foi levantado pelas próprias mães o tema
das cólicas infantis nos primeiros meses de pós-parto. Essas dúvidas foram bastantes frequentes
nas lactantes durante as consultas no puerpério.
É, por exemplo, não poder tomar café, não pode comer nada que tem pimenta, não
pode comer chocolate... nossa eles falaram um monte de coisa. Tem um monte de
coisa que não pode porque diz que dá cólica (G4).
Nossas orientações foram de acordo com o preconizado pelo MS (BRASIL, 2015) que
orienta as mães a manterem a alimentação costumeira da família, optando por alimentos
saudáveis e evitar alimentos processados e industrializados, enfatizando sobre a importância de
evitar as dietas restritivas durante a amamentação. Quanto ao surgimento de cólicas nos bebês,
o método indicado foi o de observação, se alimentar normalmente e, conforme o surgimento de
sintomas de cólicas no recém-nascido, realizar o recordatório alimentar e ir retirando ou
diminuindo a quantidade de alimentos que diferem da sua alimentação habitual até encontrar
qual deles provocou os sintomas na criança (GOUVEIA, ÓRFÃO, 2009).
Conversamos também sobre a importância da pega correta do bebê no mamilo durante
as mamadas, explicamos como avaliar se a criança está mamando corretamente pela posição
dos lábios, o formato das bochechas, a posição do corpo do bebê em relação ao da mãe, a
respiração e posição do nariz durante as mamadas, tudo para evitar a entrada de ar no sistema
digestivo durante a amamentação, que podem ocasionar cólicas no lactente, além de aumentar
o surgimento de rachaduras dos mamilos, que causam muita dor durante a amamentação
(BRASIL, 2015). Para as rachaduras nos mamilos orientamos também a exposição ao sol antes
e depois do parto, o uso do leite materno nos mamilos feridos como tratamento, além de evitar
o uso de absorventes para mamilos para que estes não fiquem abafados e úmidos, provocando
o surgimento de rachaduras (PEREIRA, et al., 2012). Todos os métodos, os quais as gestantes
não tinham conhecimento, elas pediam orientações e demostraram interesse em testar,
“Ah eu gostei bastante, vou começar a passar o leite no bico do peito e
tomar sol bastante (G3) ”
Outro tema que discutimos foram os cuidados com a higienização das cicatrizes dos
partos, que devem ser realizadas durante o banho com bastante água e sabão e secar a área
totalmente, tanto na região inferior do abdômen das cesarianas quanto na perianal para as
lacerações do parto normal, sendo que o mesmo procedimento deve ser realizado nas mamas,
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não sendo necessária a lavagem após cada mamada, como as gestantes acreditavam ser
necessário,
Eu trocava até de sutiã, tipo eu ficava trocando duas vezes no dia o sutiã, e lavava,
porque não sei parecia que ficava suja a mama né, aí para dar mamar para a bebê
(Bianca).
Outro aspecto de grande importância discutido com o grupo foi a importância da
amamentação do bebê e os benefícios ao lactente, como, por exemplo, o fornecimento de
anticorpos pelo leite materno, as características próprias do leite para cada criança, como o
organismo materno adapta a produção de leite às necessidades do seu filho, tomando como
exemplo o conhecimento de que leites de mães de bebês prematuros são mais ricos em lipídios,
proteínas e calorias comparados ao leite de mães de bebês a termo (BRASIL, 2015).
E, por fim, discutimos os métodos de contracepção na gestação, enfatizando que após o
parto as mães deveriam iniciar algum tipo de contracepção, a exemplo do preservativo
masculino ou feminino, a minipílula e o Dispositivo Intrauterino (DIU). Também informamos
que, para aquelas mulheres com idade superior a 25 anos ou que já tivessem dois filhos vivos,
haveria a possibilidade da realização da laqueadura pelo Sistema Único de Saúde (BRASIL,
1996), explicamos a necessidade de realizar o planejamento familiar em conjunto com a UBS
e o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Esse foi um tema de muitas dúvidas
para as gestantes, sendo que duas delas manifestaram o desejo e os pré-requisitos para a
realização do procedimento, mas não haviam recebido essa informação,
Pelo SUS qual é a idade mínima, e quantos filhos você precisa para fazer laqueadura?
[...] então eu já consigo? [...] mas é depois que o bebê nasce ou na gravidez já pode?
(Bianca).
Isso nos mostrou o quanto as informações importantes sobre os direitos dessas mulheres
não são de conhecimento das mesmas, revelando uma falha do pré-natal oferecido nas UBS,
visto ser esse o melhor momento para oferecer às mulheres o conhecimento sobre os métodos
de planejamento familiar que elas têm, como direito, de receber pelo SUS.
Como em todas as reuniões solicitamos aos participantes do grupo uma avaliação sobre
a efetividade e importância dessa reunião, e a que melhor exemplificou as falas do grupo, foi a
seguinte:
Eu achei interessante, principalmente sobre amamentação porque eu vou ser mãe de
primeira viagem, né, eu não sabia nada sobre isso, agora estou mais segura (G5).
O principal objetivo desta atividade foi de oferecer segurança a essas mulheres a partir
de orientações e conhecimentos reais e objetivos para que, com essas informações, elas
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pudessem tomar a melhor decisão para sua saúde e a do bebê, sendo responsável direta por sua
vida e seu futuro, assim como Freire sugeriu.
Reconhecemos que este estudo teve limites e que precisamos adequá-lo ao tempo de
execução. Sabemos que, para um maior benefício dessas mães, deveríamos discutir em rodas,
muitos outros temas pertinentes a esse período, sendo algumas sugeridas por elas, como por
exemplo, a violência doméstica, o mercado de trabalho e os direitos trabalhistas para as mães,
oficinas de cuidado com o bebê, saúde emocional na gravidez e pós-parto, dentre outros.
5.4. Descrições da 2° entrevista, índices de DPP e avaliação da efetividade das rodas de
conversa.
Por fim, como descrito na metodologia, a última fase deste estudo se consistiu no retorno
para avaliação dessas mães após o nascimento do seu filho, em que, através de uma entrevista
semiestruturada, buscamos inquiri-las sobre a sua experiência na maternidade, e também
aplicamos a escala EPDS para avaliar a presença de DPP.
A família 1, composta por Luciana, o recém-nascido João Pedro e seu tio Lucas,
apresentou fatores de riscos consideráveis pela construção do Genograma e Ecomapa, por ser
mãe “solo”, por sua renda familiar a caracterizar como estar inserida no estrato social baixo e
também por ter fraco apoio social. Ao retornarmos para conversar com essa família, a primeira
impressão visual era que Luciana apresentava sinais de cansaço, mas mantinha o mesmo sorriso
que exibia desde que nos conhecemos, e isso se provou correto durante a nossa conversa. Em
diversos momentos ela definiu a maternidade como uma experiência “cansativa” e “muito mais
difícil que imaginava primeiramente”, mas que estava se adaptando bem às mudanças. Também
relatou que anteriormente a gestação tinha muitos momentos em que se sentia triste e sozinha
e que após a chegada do bebê (João Pedro), sente que a presença dele preencheu o “vazio em
sua alma”. No entanto, o estudo de Saraiva e Coutinho (2008) relata o aumento do risco de DPP
quando a mãe manifesta sentir-se sobrecarregada com o cuidado com o bebê a família,
demonstrando que alguns fatores de risco surgem somente no pós-parto, considerando que
Luciana é primípara, o aumento de responsabilidade é súbita e difere do seu cotidiano.
Notamos ainda que essa mãe apresentava uma relação bastante forte com o bebê, sendo
que em todo momento se dirigia ao bebê e conversava com ele, que ria ou vocalizava alguns
sons, demonstrando que essa era uma ação comum entre eles, e isso se provou correto quando
afirmou que ela tinha o costume de conversar bastante com ele durante o dia e que saiam para
passear aos fins de semanas sempre juntos, que ele “não fica para trás”.
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Ao perguntarmos sobre o apoio que tem recebido durante esse período, ela relatou que
ficou na casa dos pais por quatro meses após o parto. Só pudemos conversar com ela no quinto
mês após o nascimento do bebê, mas ela referiu que esse período foi importante, pois recebeu
o apoio deles, da avó e dos tios que moram próximo e que se sentiu bastante acolhida pela
família. Relatou que, após seu retorno à casa e logo depois ao trabalho, seu principal suporte é
a tia, que cuida do bebê das 15:00 até as 18:00 horas e do irmão Lucas, que busca o bebê e
cuida dele até o seu retorno após as 22:00 horas, destacando o quanto a ajuda do seu irmão
estava sendo importante naquele momento. O apoio familiar recebido por Luciana nesse
período age como um importante fator protetor para o desenvolvimento da DPP, isso é
corroborado por estudos como de Xie et al. (2010) e de Konradt et al. (2011) que afirmam que
mulheres que recebem apoio familiar durante o pós-parto tem menor risco de desenvolver DPP.
Sobre sua relação com o pai de João Pedro, relatou que, inicialmente, foi muito
conflituosa e que ele só foi visitar o bebê enquanto ainda estavam no hospital e que, após isso,
Marcelo não viu mais o filho. Ao ser questionada se aquela situação lhe trazia algum
sofrimento, ela respondeu que não mais, mas que, logo após o nascimento do filho, houve muito
conflito e que desistiu de tentativas de aproximação após as frequentes recusas do mesmo em
participar da vida do filho. Perguntada se ela acreditava que isso iria afetar João de alguma
forma e ela respondeu:
“Eu acho que, deve que mais para frente ele deve achar né, que ele vai querer saber,
mas eu acho que o tio dele vai preencher o lugar, o tio dele é bem presente, então
nesse ponto aí eu, eu falo que tô fazendo a minha parte né. Agora se ele não tá fazendo
a dele, eu não posso fazer muita coisa” (Luciana).
A falta de apoio do parceiro, neste caso, do pai do bebê considerando que Luciana e
Marcelo não estavam em relacionamento amoroso desde a descoberta da gravidez e as relações
ficaram mais conflituosas com o nascimento de João e a ausência do pai, é um fator de risco
importante para o desenvolvimento de DPP em Luciana (Silva et al., 2012; Rodríguez et al.,
2013), mesmo que esse papel esteja sendo cumprido por seu irmão Lucas que assumiu boa parte
da responsabilidade inerente ao cuidado com o bebê.
Por fim ao aplicarmos a EPDS, Luciana foi a que obteve a menor pontuação dentre as
participantes deste estudo (5 pontos). Esclarecemos que esse questionário é um auxílio ao
diagnóstico e não substitui a avaliação clínica do profissional de saúde, sendo que sua aplicação
é recomendada concomitantemente a um exame físico e psicológico. Portanto, a pontuação de
Luciana na EPDS é condizente com a nossa avaliação de seu estado físico e emocional.
Já na família 2, Alice foi a mãe que obteve a maior pontuação dentre as participantes
(11 pontos), no limiar para alcançar o nível que indica a probabilidade de depressão (12 pontos)
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determinado pela EPDS. Esclarecemos que o termo “probabilidade de depressão” é relacionado
à necessidade do seu uso juntamente com a avaliação clínica. E, novamente, a avaliação
realizada pela pesquisadora é condizente com a pontuação da escala EPDS. Isso porque, logo
de início, notamos que a mãe tinha sinais de cansaço e de irritação com o filho, um fator de
risco bastante significativo assim como apresentado por Saraiva e Coutinho (2008) em seu
estudo e cita na família 1. Logo ao chegarmos na residência da família, ela reclamava das
vocalizações que a criança fazia para chamar a atenção do seu colo e o entregou para sua mãe,
dona Maria. Depois desse momento, não vimos mais a criança, além do que, durante a
conversa, demonstrava sinais preocupantes de manifestações da DPP, o que nos deixou em
alerta para essa família.
Ao longo do nosso encontro pontuamos outros fatores de risco além dos identificados
inicialmente com o auxílio do Genograma e Ecomapa, dentre eles: o adoecimento do filho, a
falta de apoio físico e emocional do companheiro (Silva et al., 2012; Rodríguez et al., 2013), o
sentimento de inadequação ao papel de mãe, manifestado pelo arrependimento da gestação e a
irritação pelas críticas da mãe e irmã (ROHITKUMAR et al., 2014; TURKCAPAR et al., 2015),
além da solidão materna (TASNEEM et al., 2014).
O bebê (Miguel) tinha aproximadamente cinco meses de idade quando ocorreu nosso
segundo encontro e, de acordo com o relato da mãe, apresentava diversos adoecimentos, como
sopro cardíaco, diagnosticado aos três meses de idade, refluxo oculto descoberto na mesma
época e uma suspeita de hepatomegalia segundo a médica que os atendeu alguns dias antes.
Esses adoecimentos e as adaptações do cotidiano necessárias para lidar com tais problemas
causavam muita ansiedade e sofrimento à mãe, como vemos nos trechos:
Ele tinha, parecia um catarro assim na garganta e aqui no pulmão dele chiava, chiava
não, ficava assim (imita um som borbulhante) o tempo inteiro [...] só parava na hora
de mamar, enquanto ele não tossia, ele não mamava direito, aí teve um dia [...] eu
levei ele na Policlínica chegando lá a médica passando raio X do peito e o exame de
sangue, aí eu fiz lá na [...] aí eu já resolvi marcar um Pediatra por lá mesmo aí é
pediatra de lá, ela pegou e ouviu o coração dele e falou "eu acho que ele tem um sopro
no coração mas só que é bem discreto" aí ela pegou e falou bem assim que era melhor
passar para o cardiologista né. Aí a gente fez, na outra semana a gente fez, aí ele tem
mesmo sopro, aí esse mês a gente levou ele no pediatra ela falou que o barulho do
sopro aumentou, e que ela estava sentindo o fígado dele que ela não tinha sentido na
outra consulta, aí falou que era bom retornar no cardiologista novamente [...] (Alice).
[...] e ele ainda tem refluxo, aí é mais difícil... Por isso que falo, se a mulher tem um
bebê e o bebê não tem que tomar remédio ela já tem erguer a mão pro céu... porque
tomando remédio, toda hora você tem que lembrar que tem que dar um... tem um que
tem que ficar na geladeira, você sai tem que voltar, ou se não dá o remédio ou se tem
que voltar cedo por causa do remédio... aí se gente vai pra casa de um conhecido de
alguém, a gente leva né, pra deixar na geladeira lá, pra dar na hora... mas é difícil,
todo tempo tem que lembrar do remédio (Alice).
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Esse fato está de acordo com o estudo de Perosa et al. (2009) que afirma que mães de
crianças com algum tipo de má formação apresentaram índices significativamente maiores de
disforia/depressão que mães de crianças saudáveis.
Além do filho estar adoecido, Alice se mostra muito incomodada com a diferença nos
atendimentos do sistema público de saúde e dos particulares. Ela faz acompanhamento em um
Hospital Universitário da capital e na UBS de origem, além de consultas com o pediatra em
uma clínica particular e, de acordo com ela,
Só que eu não sei, porque no postinho falam uma coisa, no particular fala outra, se eu
vou no postinho falam que ele está mais bom que dinheiro achado, não precisa de
nenhum remédio, não precisa de nada, mas se eu levo no pediatra particular, sempre
vem com uma lista para comprar, aí eu não sei (Alice).
E essas diferenças no atendimento são tão marcantes que incluem uma possível cirurgia
de correção do sopro cardíaco o que causa mais ansiedade e atrito entre o casal. A mãe, se
mostra mais confiante da necessidade da operação, enquanto o pai está mais relutante. Isso pode
ser reflexo do atendimento oferecido pelo médico da rede pública a qual Alice teve acesso, pois,
o mesmo explicou cada passo do procedimento e do adoecimento da criança. Como o pai
(Jorge) não estava presente nessa consulta, não teve acesso ao conhecimento e, portanto,
demonstra mais anseio pela situação:
Eu acho que ele é mais nervoso que eu, ontem mesmo ele chorou eu não sei o que
acontece assim parece que para mim tudo está certo para ele não, ontem ele falou
para mim perguntar sobre a possibilidade de não operar [...] Por um lado ele (Miguel)
tá bem, mas por outro lado ele pode piorar né, e com a cirurgia ele vai ter só ser
hipertenso por um tempo aí depois vai ficar normal, a vida dele vai ser normal, aí eu
falei “para que esperar uma coisa que pode resolver agora, que mais para frente vai
estar piorando né” (Alice).
As diferenças nas percepções/diagnósticos dos profissionais que atendem a criança,
podem deixar a mulher sem uma referência segura, bem como provocar desentendimentos entre
os pais, e toda essa situação pode ser considerada como um evento estressante no pós-parto, o
que de acordo com o estudo de Margis et al. 2003, que afirma que pessoas acometidas por
eventos estressores tem possibilidade maior de desenvolver depressão.
Alice demonstra ainda a dificuldade de se adaptar ao filho recém-nascido, um fator
bastante comum nas mães que apresentam sintomas de DPP, pois é justamente a ausência do
estabelecimento de vínculos positivos com seus filhos, como demonstrado no início deste
estudo. Isso causa muito sofrimento para as mães por se sentirem culpadas pelos sentimentos e
pela inadequação de sua atual condição, afirmando seu arrependimento de ter engravidado.
Ressalte-se que isso se torna mais marcante quando a mãe não se sente compreendida e acolhida
pelos que a cercam ou mesmo sendo julgadas ou tachadas de mães ruins por esses sentimentos.
Entretanto, ela busca por comportamentos semelhantes aos seus e não os encontra.
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[...] as vezes eu, tinha vez que eu falava, perguntava para os outros "quando você foi
mãe você sentiu isso?", igual eu falava, minha irmã quando foi mãe, eu perguntei se
quando ela foi mãe ela arrependeu... ela: "nãão", falou que não arrependeu, eu
arrependo, tinha vontade, tinha hora que eu ficava com o neném e deitado no meu
colo, mas estava chorando, tinha hora que dava vontade de abrir o braço e deixar o
guri cair, porque, cara do céu, não é possível [...] (Alice).
O choro do filho também é objeto de atenção e de cobrança e, a capacidade de calar o
choro do filho é atrelado ao papel de “boa mãe” pelos que a rodeiam. Acalentar a criança, fazê-
la parar de chorar ocupa um lugar de preocupação dos familiares no aprendizado do papel
materno:
Aí esse menino chorava, chorava, chorava aí minha mãe "Juliana, se tem que cuidar
dele se não você não vai ser uma boa mãe, tem cuidar dele, fazer as coisas", e eu
escutando sempre né... Aí acabava que meio que brigava com minha mãe, porque ela
sempre falava que eu não ia ser uma boa mãe, porque eu deixava ele chora, porque
isso, porque aquilo [...] tem que pega ele, conversa com ele, [...] eu não sei, no começo
eu sentia muita raiva, daí foi indo e melhorou, as vezes ainda sinto, mas melhorou
bastante, porque ave no começo era muito ruim (Alice).
Esses trechos são bastante marcantes do discurso de Alice. Ela demonstra toda a
insatisfação que sente em sua maternidade e como se percebe inadequada quanto ao seu papel.
Estudiosos (Arrais et al., 2014; Greinert, Milani, 2015) vem afirmando que a idealização da
maternidade pode causar sintomas depressivos em mulheres quando a realidade difere do que
ela esperava inicialmente. Por exemplo, uma mãe que espera um filho saudável e calmo é
surpreendida com um caso de adoecimento do recém-nascido, acompanhado de choro
incessante causando-lhe estresse, e este pode desencadear um quadro de DPP.
Evidencia-se nesse caso, também, o sentimento de solidão pois de acordo com ela, as
amigas que possuía antes da gestação não fazem mais parte de sua vida. Tal como relatado nos
estudos de Bos et al., (2013) e Guedes et al., (2011) essa situação pode representar falta de
apoio social, sendo que no momento atual as únicas pessoas com quem pode conversar são seus
familiares que, por sua vez, a julgam e a condenam por seus sentimentos nesse momento. Além
desses conflitos com a família, ela passou no primeiro mês de pós-parto pelas dificuldades de
estabelecer laços com o filho e isso lhe causou sofrimento intenso:
Teve uma vez que eu chorei porque eu pensava que ele não gostava de mim, com os
outros ele quietava e comigo ele chorava (Alice).
Além da solidão que sentia pelo afastamento do seu círculo social, Alice demonstrava
a insatisfação com o companheiro, pois ele dedica pouco do seu tempo livre a criança, o que
faz com que ela se sinta sobrecarregada com as responsabilidades da maternidade. Além disso,
ela sente os reflexos da divisão do trabalho por gênero ao expressar as suas percepções de
maternidade e paternidade no seu ambiente. Porém, ela busca por estratégias para forçar a
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inserção do companheiro nos cuidados do filho, pois percebe que se não o fizer, não terá sua
participação espontânea. Estudo de Guedes et al. (2011) afirmam que a falta de apoio familiar
é um fator de risco importante para o desenvolvimento da DPP, especialmente se não receber
esse apoio do parceiro.
É sempre mais difícil, para a mãe, o pai fica lá, se não manda pega não pega, se não
pedir para ficar não fica, aí brinca um pouquinho e pronto, saí para lá. Aí, o Jorge
mesmo, ele chega do serviço eu já falo "toma o neném" "ah mais..." fiquei o dia inteiro
com o neném ele chorou, tive que ficar com ele no colo, fiquei o dia inteiro com ele
no colo, e daí ele fica, eu falo “fica com ele”... Eu falo para ele que eu tenho que ir
esfregar a fralda dele, sempre arrumo alguma coisa para fazer, porque se eu não tiver
nada para fazer ele joga ele para mim de volta[...] (Alice).
Aí [...] as vezes quando ele (Miguel) fica mais manhoso assim a noite, aí ele (Jorge)
já acorda rapidinho, acalma ele o tempo de eu fazer o mama e já volta a dormir, eu
não, eu tenho que ficar acordada, quanto ele tá, as vezes ele acorda e fica lá olhando
pro tempo [...] e eu tenho que ficar lá acordada até ele cansar e o pai dele está lá
dormindo, aí por isso que parece que a responsabilidade fica tudo em cima da mãe,
parece que a responsabilidade do pai é, dar dinheiro pra comprar remédio, levar pra
algum lugar que precisa, e só (Alice).
Durante toda a conversa nos pareceu que Alice precisava desabafar e utilizou dos nossos
momentos juntos para fazer isso, o que foi importante para nós, pois demonstrou que
conseguimos, como pretendíamos inicialmente, estabelecer uma relação de confiança com essa
mãe. Todo o trabalho que havíamos realizado até aquele momento garantiu a ela a convicção
de que seria compreendida e acolhida em seus anseios, sem julgamentos e acusações, como
havia recebido anteriormente. Isso é, em nossa concepção, uma de nossas mais importantes
responsabilidades nos atendimentos às mães nas UBSs, pois só conseguiremos avaliar e cuidar
de mães com sintomatologia depressiva e até mesmo a DPP se soubermos ouvi-las em seus
momentos de vulnerabilidades, para que elas se tornem honestas com seus próprios
sentimentos, expondo-os sem medo de julgamentos. Pois sabemos o quanto é difícil e dolorido
o ato de expor-se ao julgamento de outros em um momento de tamanha fragilidade.
E, por último, falaremos sobre a família 3. Bianca é, dentre as mães participantes deste
estudo, a única que já possuía filhos, iniciando a maternidade ainda adolescente, aos 15 anos.
Atualmente, com 22 anos, tem três filhos, dentre eles o Vitor, com três meses de idade no
momento do encontro. A avaliação de Bianca pela EPDS resultou em 8 pontos. O estudo de
Guedes et al. (2011) afirma que mães com mais filhos tem maiores chances de desenvolver
DPP por causa do acúmulo de responsabilidade com todas as crianças e isso ficou evidente
quando as questões que foram mais evidenciadas por ela na EPDS se referiam ao cansaço físico
de lidar com três crianças menores de oito anos. Em nossa conversa, a sobrecarga ficou bem
evidente ao responder quando questionada sobre sua atual maternidade:
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Ah, está sendo bem sobrecarregada né, como eu digo que cuidar de três ao mesmo
tempo dá um pouquinho de trabalho (Bianca).
Por viver distante da família, ela relata que conta muito com o apoio do seu companheiro
Leandro, definindo-o como um ótimo pai e parceiro:
É, sim bastante, bastante mesmo assim, todas as coisas é eu e ele né, aí a Lúcia já é
um pouquinho maior e ela ajuda com algumas coisas né, mas é mais eu e ele aqui em
casa, e ele ajuda muito, ele faz comida, limpa a casa, tudo, tudo, limpar, dá banho
neles sabe, dobrar roupa, ajuda lavar roupa, ele é um paizão mesmo (Bianca).
A importância do apoio familiar no pós-parto (principalmente do companheiro) para a
promoção da saúde mental de mulheres com risco de desenvolver DPP aparece evidente com o
caso da família 3, corroborando com a literatura científica que utilizamos neste estudo, tal como
Barbosa (2014), já citada anteriormente, relata. Bianca (da família 3) relatou menos cansaço
físico, menor insatisfação e menores queixas em relação ao seu companheiro em relação à Alice
(família 2), o que é evidentemente justificada pela maior participação do pai/ parceiro no
cuidado com os filhos e as tarefas domésticas, reduzindo a sobrecarga de ser mãe de três
crianças e dona de casa.
6. O MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM CONSTRUÍDO
Neste momento retomamos os principais elementos que demonstram a resposta ao
objetivo desta Pesquisa Convergente Assistencial, qual seja, “a construção de um modelo de
cuidado de enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em
gestação, com risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho”.
Para tanto, apresentamos essa construção por meio de uma síntese das fases da PCA
executada, baseada em Trentini e Paim (2004), refletindo sobre esse ato de assistir e pesquisar
de forma concomitante, considerando o propósito de promover a saúde mental de casais em
gestação na atenção básica. É importante destacar que a divisão em fases representa apenas uma
forma de dar melhor compreensão ao modelo construído, mas não são rígidas em relação ao
momento em que ocorreram, visto que algumas fases se sobrepuseram durante o processo.
I – Concepção
O problema
Partimos de um problema a priori que é a DPP de casais em gestação, considerando as
evidências científicas relacionadas aos seus fatores de risco, colocando-nos o desafio de
responder às seguintes perguntas:
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- Como poderia a enfermagem contribuir para a promoção da saúde mental de casais em
gestação na atenção básica e, por consequência, minimizar as possibilidades de
desenvolvimento da depressão no período puerperal?
- Como organizar o cuidado de enfermagem no período gravídico-puerperal na atenção básica
de modo a promover a saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão
após o nascimento do filho?
O marco conceitual: aproximação aos aspectos teóricos
A construção do marco conceitual, ou seja, a aproximação aos aspectos teóricos
envolvidos no tema em estudo, correspondeu à fase I da PCA. Nessa fase, buscamos construir
um marco conceitual de modo a guiar as nossas ações, um constructo a partir do qual
poderíamos agir e refletir sobre nossas ações na tarefa de construir um modo de cuidar em
enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com
risco de desenvolver a DPP. Assim, nos munimos do estudo e sistematização dos seguintes
elementos conceituais que retomamos de maneira resumida:
- A pedagogia libertadora de Paulo Freire, que nos auxiliou na formulação deste
método com as técnicas de estabelecer relações horizontais com a utilização do diálogo como
agente transformador da realidade, sendo que, através dele, estimulamos a autonomia e a
responsabilização sobre o próprio corpo;
- Cuidado, cuidado de enfermagem, saúde e promoção da saúde que são conceitos
importantes para nos auxiliar a estabelecer objetivos do cuidado de enfermagem que
realizamos, ao sabermos “o que é saúde” conseguimos planejar estratégias que busquem
alcançar esse objetivo;
- Modelo assistencial de Enfermagem, conceito que nos ajudou a direcionar nossos
recursos afim de atingir nosso objetivo de criar um modelo de cuidado.
- Saúde mental, a DPP materna e paterna e seus impactos na estrutura familiar e
em seus membros, são todos temas que nos auxiliaram a conhecer a literatura e as pessoas que
sofrem do transtorno psicoemocional, os fatores que facilitam ou dificultam o desenvolvimento
de um quadro de DPP dentro das famílias e como a enfermagem pode contribuir para o
estabelecimento da saúde que almejamos para essas famílias;
- Família, cujo conceito ampliado permitiu marcar essa importante unidade de cuidado
de enfermagem, identificar a família que cuidamos, quem são seus membros, as razões para
que cuidemos de famílias e não somente de indivíduos, bem como considerar todos os
elementos que permeiam a sua construção como instituição social;
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- Gênero e Patriarcado, que são conceitos importantes para direcionar nosso cuidado,
considerando os seus impactos sobre a estrutura da sociedade, especialmente sobre a
maternidade e a paternidade. A compreensão dos papeis de gênero a que somos submetidos e
como o patriarcado estabelece relações de poder designados pelo sexo são essenciais para
qualificar o cuidado de enfermagem;
- Maternidade, conceito importante para a compreensão de que maternar é uma
experiência que transforma a vida das mulheres e que essas mudanças podem causar grande
sofrimento quando a mulher não se adequa ao que a sociedade espera dela, considerando os
papéis de gênero construídos;
- Paternidade, conceito que reflete as transformações que o papel de pai tem sofrido ao
longo do tempo, principalmente diante das mudanças do papel das mulheres, bem como as
adaptações necessárias às novas responsabilidades que se impõem.
II – Instrumentação: decisões metodológicas, definição do campo de ação,
participantes, instrumentos de intervenção e de interpretação
As decisões metodológicas correspondem à fase II da PCA. Tendo em vista os
questionamentos iniciais, munidas dos constructos teóricos necessários para a compreensão do
fenômeno e motivadas a respondê-los por meio de uma pesquisa intervenção - ou seja, avançar
para além da função do pesquisador que apenas contempla um fenômeno, mas também age no
campo empírico - buscamos um campo para o seu desenvolvimento que foi a atenção básica de
saúde, especificamente o programa de pré-natal desenvolvido por enfermeiras em uma unidade
de saúde do município de Cuiabá.
Nessa fase, além, de decidir o espaço da unidade em que seria realizada a intervenção,
definimos também quais seriam as pessoas participantes, os instrumentos e o modo de
abordagem e registro, a seguir sintetizados:
Participantes: nosso interesse era, inicialmente desenvolver o estudo com casais em
gestação, ou seja, estes seriam os principais participantes da intervenção. No entanto, logo
após a definição das gestantes que se adequariam ao nosso interesse, considerando
especialmente os critérios relacionados ao período da gestação, ocorreu a principal alteração de
nossa intervenção, uma vez que os companheiros das gestantes não aceitaram participar das
intervenções propostas. A justificativa para a negativa, de modo geral, se relacionava à
impossibilidade de afastamento do trabalho, embora tenhamos oferecido a eles a garantia de
emissão de atestado médico para ser apresentado ao empregador. Desse modo, foram três
mulheres gestantes as principais participantes da intervenção, sendo que optamos por
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compreender a situação do casal a partir delas e, na medida do possível, agir para o cuidado da
saúde mental dos homens, também. No decorrer das intervenções foram incluídos como
participantes alguns familiares e profissionais de saúde da unidade, com ênfase para os
ACSs.
Instrumentos de intervenção: compreenderam a consulta de enfermagem com
aplicação do histórico de enfermagem, incluindo o genograma e ecomapa, aplicação da escala
de depressão de Edinburgh, rodas de conversa e visitas domiciliares posteriores, com entrevista
às mulheres no puerpério.
III – Perscrutação: a intervenção realizada
A intervenção propriamente dita correspondeu à fase III da PCA (perscrutação).
Podemos afirmar que essa fase corresponde à culminância da PCA com a aplicação dos
instrumentos para o cuidado de enfermagem: (1) consulta de enfermagem com aplicação do
histórico de enfermagem, incluindo o genograma e ecomapa, aplicação da escala de depressão
de Edinburgh; (2) rodas de conversa com as gestantes e equipe da unidade de saúde; (3) visita
domiciliar com entrevista às mulheres após o parto. Todas as intervenções foram registradas,
por meio de anotações manuais ou gravações e, posteriormente, sistematizadas e analisadas à
luz dos referenciais teóricos. Todas as intervenções tiveram a intencionalidade de construir (e
ao mesmo tempo em que pesquisando) um modelo de cuidado à saúde mental na gestação.
Nessa fase destacamos a potencialidade da utilização dos instrumentos do genograma e
ecomapa para a identificação de fatores de risco e protetores à DPP.
IV – Interpretação: análise das informações coletadas
A avaliação das intervenções corresponde à fase IV da PCA. É nessa etapa que foram
realizadas a avaliação de todas as informações, as análises do material coletado e que foram
identificadas as gestantes com maiores riscos à saúde mental e as estratégias para oferecer maior
apoio a elas, além de definir outros temas que poderiam ser objeto das rodas de conversa.
Também, a partir delas foi possível levantar informações importantes para a avaliação de riscos
para o desenvolvimento de depressão dos seus companheiros, tal como no caso de Jorge, da
família 2
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71
Figura 7: Representação do Modelo de Cuidado de Enfermagem na atenção básica para a
promoção da saúde mental de casais em gestação com risco de desenvolver DPP.
Fonte: Elaborado pelas autoras
Limites e potencialidades da intervenção
Apresentada a síntese do modelo de cuidado construído, cabe discorrer sobre os seus
limites e suas potencialidades. Podemos considerar como principais limites da intervenção o
pequeno número de gestantes participantes da pesquisa (três), bem como a não adesão dos
homens ao convite para participar do estudo.
Para contornar a não adesão dos homens à pesquisa, buscamos compreender o casal a
partir da percepção da mulher gestante. Além disso interpretamos a recusa dos homens em
participar da pesquisa considerando as discussões de gênero e papéis sociais na sociedade
estruturada pelo patriarcado.
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72
Como potencialidade, ressaltamos a aproximação dos profissionais da equipe de saúde
com as gestantes participantes da intervenção, especialmente as ACSs. Desde o recrutamento
dos participantes de pesquisa, as ACS já começaram a se aproximar dessa população, com
visitas para realizar os convites, contatos telefônicos para relembrar as datas de novas reuniões,
etc. Além da aproximação física, ocorreu também uma aproximação no nível pessoal,
especialmente nos momentos das rodas de conversa, ao compartilhar as suas histórias de vida,
permitindo uma identificação das dificuldades e anseios, aproximando esse grupo através da
empatia e solidariedade entre mulheres.
Para as ACS esse método possibilitou também uma forma de realização da educação
permanente em saúde, visto que, ao participarem da pesquisa, especialmente nas rodas de
conversa, puderam recuperar informações e conhecimentos sobre o período gravídico-
puerperal, além de dialogar e construir conosco e com o grupo de gestantes novas compreensões
sobre o cuidado à gravidez, parto e pós-parto, cuidados com o bebê, métodos contraceptivos,
etc. que as auxiliaram nas visitas domiciliares dessa população, como foi apontado pelas
agentes na avaliação da atividade.
Como discutimos em alguns momentos durante este estudo, o patriarcado é um dos
elementos estruturantes da sociedade capitalista em que estamos inseridas. Nesse sentido, é
comum às mulheres perpetuarem falas ou ideias machistas que são responsáveis por oprimir
outras mulheres, e isso ficou evidente no discurso de algumas ACSs, como no exemplo citado
nas rodas de conversa em que uma delas infantilizam os homens e aumentam as
responsabilidades das mulheres na formação da paternidade. Quando temos profissionais de
saúde perpetuando discursos machistas para novas mães, o patriarcado se fortalece, a opressão
às mulheres se reforça e afeta negativamente essas mulheres em um momento delicado de sua
vida. Ou seja, quando utilizamos as rodas de conversa como modo de descontruir esses
discursos, estamos também educando para a libertação de todas as mulheres. Estamos
auxiliando as ACSs a perceberem que o machismo embutido em suas falas as prejudica como
mulheres. Adicionalmente, estamos auxiliando as ACSs a compreender que, ao compartilharem
ideias opressoras com novas mães, elas não estão contribuindo para a sua saúde mental, mas,
contrariamente, estão permitindo a perpetuação da situação de sobrecarga às mulheres, também
o sentimento de obrigação de se encaixar na visão de mãe perfeita que é comumente cobrada
pela sociedade e, consequentemente, promovendo sofrimento mental e risco à DPP.
Além disso, ao finalizar todo esse estudo percebemos que ele possibilitou um
mapeamento de riscos à saúde muito mais amplo que somente para a prevenção do
desenvolvimento da DPP. Esse método nos possibilitou criarmos uma tecnologia de apoio à
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gestantes na atenção básica de saúde, pois, através do mapeamento de fatores de riscos,
podemos realizar a prevenção de outros sofrimentos emocionais como, por exemplo, os
transtornos de ansiedade, além de identificar riscos sociais, como violência doméstica,
dificuldades financeiras, problemas de moradia, etc. podendo propor encaminhamentos a
outras instituições ou políticas públicas como CAPS, CRAS, polícias civil e militar, entre
outros.
Portanto, este estudo abriu um leque de possibilidades e suprem diversas necessidades
da população atendida, proporciona um cuidado mais amplo ao ofertar apoio às ACSs, gestantes
e puérperas. Tendo como referência a Pedagogia libertadora de Paulo Freire, esse modo de
cuidar promove a construção de conhecimentos e traz condições para desconstruir conceitos
que as aprisionam, permitindo mudar sua condição de vida e saúde. E isso foi representado na
fala de uma das gestantes participante das rodas de conversa em que, em nossa última roda, ela
compareceu com seu bebê no colo e, enquanto aguardávamos as outras participantes para
darmos início as discussões, conversamos. Perguntei a ela como havia sido o seu parto, ao que
ela respondeu que foi bom, que chegou no hospital com dor e que, ao dizerem que iriam induzir
o parto, ela relata que questionou: “porque? Eu acabei de chegar, você não me olhou, como
sabe que eu preciso? ”. Disse, ainda, que indagou os profissionais de saúde porque lembrou das
discussões no grupo “que eles não podem dar remédio para todo mundo, tem que precisar
mesmo, eu lembrei do que você falou, e depois eu tive o meu bebê, não precisou do remédio e
ele nasceu bem” (diário do pesquisador). Essa fala, para nós, foi muito representativa da opção
pela escolha de Paulo Freire como norteador desse estudo, no sentido de desenvolver
autonomia, estimular a responsabilização das mulheres pelo seu corpo através do conhecimento
de seus direitos e, a partir dela, escolha o melhor para si e seu filho.
7. A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO: REFLEXÕES E SÍNTESE
DOS RESULTADOS DA PESQUISA
A pesquisa resultou na construção e aplicação de um modelo de cuidado de enfermagem
na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com risco de
desenvolver depressão após o nascimento do filho, oferecendo maior visibilidade às
necessidades de casais durante os períodos de gravidez, parto e pós-parto, bem como colaborou
para que as famílias e os profissionais de saúde compreendessem que a depressão pós-parto é
um problema de saúde grave e que afeta os diversos âmbitos das vidas das famílias. Assim
como o adoecimento mental, a DPP provoca sintomas físicos psicossomatizados, prejudica as
relações conjugais, o estabelecimento de vínculos saudáveis com os filhos que viabilizam
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problemas de comportamentos infantis. Além disso, a pessoa acometida pela depressão pode
permanecer adoecida por anos se não obtiver o tratamento adequado. Por acometer uma parte
significativa de famílias, as discussões sobre a DPP devem ser realizadas e consideradas pelos
profissionais de saúde que atuam junto a essa população. Portanto, esse estudo teve o intuito de
fornecer subsídios para os profissionais de saúde cuidarem dessas famílias.
Ao construirmos esse modelo levamos em consideração que a depressão pode acometer
qualquer pessoa. No entanto, existem indivíduos que possuem fatores físicos, sociais e
comportamentais que favorecem o desenvolvimento do transtorno depressivo. Nesse sentido,
foram utilizados instrumentos que possibilitaram a identificação de tais fatores ainda durante a
gestação, para que se construam medidas específicas para dar suporte às famílias que são mais
vulneráveis a desenvolver esse adoecimento.
Ao decidirmos sobre os instrumentos que poderiam ser utilizados pelos profissionais de
saúde, neste caso enfermeiras, neste modelo consideramos a carga de trabalho extensa ao qual
essas profissionais são submetidas. Assim, optamos por priorizar os instrumentos que já são
utilizados por elas diariamente, apenas potencializando o seu uso. Deste modo, optamos como
nosso principal instrumento o histórico de Enfermagem, pois por meio dele conhecemos toda a
história de saúde e social daquela família, subsidiando a construção dos outros instrumentos
complementares ao histórico, como o Genograma, o Ecomapa e a aplicação da Escala de
Edinburgh. Dito isso, ressaltamos que todas as ferramentas escolhidas neste estudo já estão
inseridas no contexto da atenção básica, não tendo impacto significativo à quantidade de
trabalho exercido pelos profissionais.
E, por fim, a outra ferramenta escolhida para compor esse modelo foram as rodas de
conversa. As rodas de conversa têm um potencial muito grande para fornecer o conhecimento
científico dos profissionais, desbancar os conhecimentos populares que podem causar mal à
saúde, trocar experiências positivas e negativas sobre a maternidade, oferecer uma rede de apoio
institucional (UBS) e social (outras gestantes) às futuras mães, que podem construir fatores de
proteção para o desenvolvimento da DPP, como vimos no decorrer deste estudo. Além disso,
as rodas propiciam formar um grupo com interesses comuns, e esses são recomendados pelo
MS para o atendimento de populações de risco especificas (hipertensos, diabéticos, idosos e
gestantes).
Ao realizarmos essas atividades, esse estudo nos proporcionou aproximar e conhecer
aquela população, assim como estabelecer uma relação de confiança proporcionando a essas
gestantes/mães um ambiente seguro em que elas puderam admitir seus medos, receios, dores e
arrependimentos, sabendo que seriam compreendidas e que, se necessário, seriam ajudadas e
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amparadas pela instituição. Afinal, é esse o objetivo do trabalho das UBS nas comunidades, ou
seja, aproximar-se da população, conhecer seus membros e oferecer apoio utilizando todos os
recursos e profissionais que possui.
E foi esse o sentimento que surgiu dos encontros individuais com as gestantes/mães.
Elas utilizaram esses momentos para expressar suas dificuldades e dores, para admitir e afirmar
o que não tinham coragem de fazê-lo a ninguém, especialmente pelo medo dos julgamentos que
poderiam receber, nos dando o sentimento de que alcançamos o intuito de trabalhar com
comunidades.
Esse tipo de abordagem permite que as equipes conheçam verdadeiramente essas
mulheres e seu funcionamento familiar e obter mais elementos para a intervenção efetiva, pois
a aproximação dos profissionais de saúde com a população estimula a participação mais efetiva
do cuidado com o outro, em se tratando da DPP e das dificuldades da maternidade para as
mulheres, ocorre um sentimento de identificação com suas próprias dificuldades despertando a
empatia com essa população.
Por fim, para nós, enquanto pesquisadoras, a atividade também foi libertadora, na
medida em que pudemos estar com outras mulheres refletindo sobre situações que também nos
dizem respeito, nos afetam, também nos causam sofrimento e nos desafiam a superar, em
comunhão com todas as mulheres. Ou seja, também reafirmamos os ensinamentos de Paulo
Freire, segundo o qual “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho”, mas “os
homens (e as mulheres – acréscimo nosso) se libertam em comunhão (FREIRE, 2018b, p.33)”.
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ANEXOS
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85
ANEXO 1 - Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS)
Nome:
Data:
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Idade do bebê:
Pontuação:
Aplicador da escala:
Dado que teve um bebê há pouco tempo, gostaríamos de saber como se sente. Por favor, marque a
resposta que mais se aproxima dos seus sentimentos nos últimos 7 dias. Obrigado.
Nos últimos 7 dias:
1. Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas.
( ) Tanto como antes
( ) Menos do que antes
( ) Muito menos do que antes
( ) Nunca
2. Tenho tido esperança no futuro.
( ) Tanta como sempre tive
( ) Menos do que costumava ter
( ) Muito menos do que costumava ter
( ) Quase nenhuma
3. Tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal.
( ) Sim, a maioria das vezes
( ) Sim, algumas vezes
( ) Raramente
( ) Não, nunca
4. Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo.
( ) Não, nunca
( ) Quase nunca
( ) Sim, por vezes
( ) Sim, muitas vezes
5. Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo.
( ) Sim, muitas vezes
( ) Sim, por vezes
( ) Não, raramente
( ) Não, nunca
6. Tenho sentido que são coisas demais para mim.
( ) Sim, a maioria das vezes não consigo resolvê-las
( ) Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes
( ) Não, a maioria das vezes resolve-as facilmente
( ) Não, resolvo-as tão bem como antes
7. Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal.
( ) Sim, quase sempre
( ) Sim, por vezes
( ) Raramente
( ) Não, nunca
8. Tenho-me sentido triste ou muito infeliz.
( ) Sim, quase sempre
( ) Sim, muitas vezes
( ) Raramente 43 ( ) Não, nunca
9. Tenho-me sentido tão infeliz que choro.
( ) Sim, quase sempre
( ) Sim, muitas vezes
( ) Só às vezes
( ) Não, nunca
10. Tive idéias de fazer mal a mim mesma.
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( ) Sim, muitas vezes
( ) Por vezes
( ) Muito raramente
( ) Nunca
EPDS – Orientações para cotação
As respostas são cotadas de 0, 1, 2 e 3, de acordo com a gravidade crescente dos sintomas. As
questões 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 são cotadas inversamente (3, 2, 1, 0). Cada item é somado aos
restantes para obter a pontuação total. Uma pontuação de 12 ou mais indica a probabilidade de
depressão, mas não a sua gravidade. A EPDS foi desenhada para complementar, não para
substituir, a avaliação clínica.
Adaptado de Edinburgh Postnatal Depression. Original de JL Cox, JM Holden, R Sagovsky.
British Journal Of Psychiatry (1987), 150, 782-786.
Versão Portuguesa : Postnatal depression in an urban area of Portugal: comparison of childbearing
women and matched controls. Augusto A; Kumar R; Calheiros JM; Matos E; Figueiredo
E.Psychol Med, 26 (1):135-41; 1996 Jan
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ANEXO 2 – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa
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APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada (o) participante,
Meu nome é Lohaine Souza da Silva, Enfermeira, Mestranda do programa de Pós-graduação
em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sob orientação das
professoras doutoras Rosa Lúcia Rocha Ribeiro e Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa.
Estou realizando um estudo intitulado “Depressão puerperal: pesquisa intervenção com
casais identificados com fatores predeterminantes e vulneráveis ao adoecimento”. O
objetivo da pesquisa é contribuir para a promoção da saúde mental de casais em gestação e a
melhoria do cuidado de enfermagem para aqueles que têm risco de desenvolver depressão após
o nascimento do filho. Para tanto, estarei realizando atividades e entrevistas com casais como
vocês. Este estudo resultará na elaboração da minha dissertação de mestrado e os resultados
serão divulgados em eventos e publicações científicas.
Os instrumentos para a coleta dos dados a serem utilizados nesta pesquisa serão as rodas de
conversa com grupos de casais em gestação, a consulta de enfermagem (com a aplicação do
histórico de enfermagem, genograma e ecomapa), aplicação de uma escala para a identificação
de sinais e sintomas de depressão (Escala de depressão pós-natal de Edinburgh) e entrevista.
Todos esses momentos terão seu áudio gravado e, posteriormente, transcrito e analisado,
obtendo assim o corpo de dados para este estudo. As cópias ficarão guardadas comigo e serão
utilizadas somente por mim e minhas orientadoras, e você receberá também uma cópia da
versão transcrita para avaliação, possíveis correções do conteúdo transcrito e autorização do
uso da transcrição. As informações fornecidas serão mantidas em segredo e sua identidade não
será revelada em nenhum momento. Você tem liberdade para retirar seu consentimento em
participar do estudo a qualquer momento, sem prejuízo, mesmo depois de ter assinado este
documento. Se, após a entrevista, você desejar que suas informações não sejam utilizadas
poderá entrar em contato comigo e terá a fita e a cópia escrita, destruídas.
Ao participante, a participação na pesquisa oferecerá riscos mínimos (tais como algum
desconforto ao relatar determinado evento/assunto, choro em decorrência de reavivar
memórias, entre outras emoções) os quais serão prevenidos pelo planejamento cuidadoso das
rodas de conversa, estabelecimento de um acordo de convivência com regras construídas com
os participantes para a promoção da partilha de experiências com respeito e acolhimento. Além
disso, as reuniões serão conduzidas com o apoio de minhas orientadoras, as professoras Rosa
Lúcia Rocha Ribeiro e Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa, as quais têm larga
experiência com o trabalho de acolhimento com grupos, maternidade e paternidade. Em relação
aos benefícios da sua participação na pesquisa, temos o compromisso em informar-lhe que
proporcionaremos momentos de reflexão sobre a condição social da maternidade e paternidade,
poderemos identificar casais com riscos sociais e emocionais de adoecerem ou que já estejam
com depressão no início do estudo e, consequentemente, proporcionar apoio e tratamento
médico imediatamente após o diagnóstico.
A pesquisa terá duração de aproximadamente 06 meses.
Diante do exposto, eu __________________________________________ declaro que fui
esclarecida (o) o suficiente sobre o estudo a ser realizado por Lohaine Souza da Silva e consinto
em participar. Também autorizo que as gravações realizadas sejam transcritas e estou ciente
que terei acesso à cópia da versão transcrita para avaliação, possíveis correções do conteúdo
transcrito e autorizo o uso da transcrição.
Este documento possui 02 vias, ficando uma com a pessoa participante e a outra com a
pesquisadora.
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93
Cuiabá, ______ de __________________ de 2019.
___________________________ _________________________________
Assinatura da pessoa entrevistada Assinatura do pesquisador
Para quaisquer esclarecimentos pode entrar em contato com:
Pesquisadora: Lohaine Souza da Silva
Celular: (65) 99907-2218
Email: [email protected]
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus
Rondonópolis:
Endereço: Avenida dos estudantes, Nº 5055, Cidade universitária, Rondonópolis/MT.
Telefone: (66)3410-4153
E-mail: [email protected]
Coordenadora: Suellen Rodrigues De Oliveira Maier
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94
APÊNDICE 2 – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Questão 1) Como você está vivenciando sua atual/primeira maternidade?
Questão 2). As rodas de conversa que você participou te auxiliaram em algo durante o período
de parto ou pós-parto?
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APÊNDICE 3 - ROTEIROS DE PLANEJAMENTO DAS RODAS DE CONVERSA
REUNIÃO COM AS GESTANTES – 1° ENCONTRO
TEMA: MATERNIDADE
Horário: 8:30 às 10:30
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
08:30 às 8:45 – Apresentação
8:45 as 9:00 – Texto 1
9:00 às 10:00 – Abrir a discussões com o grupo
Estimular/ direcionar as contribuições para abordar os temas:
- As dificuldades de ser mãe
- A mãe perfeita
- A culpa materna
- Rede de apoio materno
10:00 às 10:10 – Dinâmica 1
10:10 às 10:20 – Uma breve conversa sobre:
- Círculos de mães, o que podemos fazer para ajudar a outra mãe?
10:20 às 10:30 – Enceramento e agradecimentos
TEXTO 1 – A MATERNIDADE REAL
A mãe, é colocada num pedestal. Ela não deveria errar, não deveria reclamar, não
deveria se sentir triste em relação aos filhos, não deveria ter quereres para além da maternidade.
Seria um ser mítico que, de tão mítico, esse ser acaba se tornando invisível na sociedade. É um
ser que não existe no mercado de trabalho, na universidade, na sociedade. Esse ser deve
permanecer apenas em seu pedestal, que está localizado no lar. Uma deusa que sorri calada em
seu lar.
Conheço mulheres que não amaram seus filhos no exato momento do nascimento.
Conheço mulheres que não gostam da barriga grande da gestação. Conheço mulheres que têm
uma dificuldade enorme em manter diálogo com os filhos por terem pensamentos tão distintos.
No entanto, tentam calar essas mulheres porque mãe boa mesmo é aquela que está
sempre caindo de amores pelos filhos.
A VERDADE É QUE NÃO AMAMOS TUDO NOS NOSSOS FILHOS O TEMPO
TODO.
Por quê? Porque somos todos de carne e osso, humanos com sentimentos e emoções
que flutuam, mudam e variam. Somos, acima de tudo, pessoas diferentes dos nossos filhos. E,
quanto mais eles crescem, mais vemos diferenças. A relação mãe e filho não deveria ser
romantizada como é. É uma relação de muito amor para a maioria, mas, como toda relação, a
gente sente de tudo por eles também: mágoa, ressentimento, frustração, irritação. Acontece que
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ninguém admite ter sentido uma grande irritação com o próprio filho, por exemplo. Não falamos
sobre isso porque é proibido. Cobram-nos amor 100% do tempo e isso não existe numa relação
entre dois seres humanos. Ninguém se ama o tempo todo.
E como ninguém fala sobre sentimentos que não foram vendidos no 'pacote
maternidade', nos sentimos um grande monstro terrível por, por exemplo, não sentirmos
saudade do filho quando ele está com outra pessoa para que possa ter tempo para você, é difícil
admitir gostar desse tempo consigo mesma, de se sentir bem por poder, uma vez ao ano, dormir
até tarde e não se preocupar com a hora do almoço.
Mas, por que acreditamos que deveríamos sentir saudade dos nossos filhos o tempo
todo? Porque nos venderam esse amor romantizado, exagerado e ilusório que nos faz sentir
culpa quando deixamos de olhar um tiquinho pra eles? É como se não pudéssemos exercer
qualquer outro papel além da maternidade. É como se tivéssemos nascido apenas pra isso.
A relação mãe e filho não é algo divinizado, de outro mundo ou transcendental. É uma
relação como qualquer outra sendo que cada relação acontece de uma maneira particular. Nós
amamos, cuidamos, nos apaixonamos por eles. Num outro dia, eles vão nos aborrecer e vamos
sentir frustração e raiva. Nada de diferente de qualquer outra relação. Acho que a gente só vai
sentir menos culpa quando entender que o amor materno é forte e fascinante, mas não pode ser
idealizado. Quanto mais a gente entender que não precisamos seguir um ideal e que esse amor
materno é, também, humano, mais leve será nossa maternidade.
Dinâmica 1 – Cai, cai, balão
Objetivo: Integração, espírito de equipe, comprometimento, determinação etc.
Material: Bexigas.
Procedimento: O facilitador deve distribuir uma bexiga (cheia) para cada participante.
Ao seu sinal, todos deverão manter os balões no ar com um simples toque, para evitar que caiam
no chão. Sutilmente, vai retirando algumas pessoas. Como seus respectivos balões permanecem
na brincadeira, o restante do grupo tem a responsabilidade de mantê-los no ar. A dinâmica
encerra-se quando o grupo já não consegue mais manter todos os balões no ar. Como
alternativa, o facilitador pode optar por acrescentar novos balões, sem que seja necessário retirar
nenhum participante. No final, podem ser feitas reflexões acerca da sobrecarga, do fato de ter
ficado sozinho sustentando os balões e da importância do apoio mútuo.
Fonte: http://www.ameconsultoria.com.br/dinamicas/32/
REUNIÃO COM AS GESTANTES – 2° ENCONTRO
TEMA: DIREITOS NO PARTO E PREVENÇÃO A VIOLÊNCIA
OBSTÉTRICA
Horário: 8:30 às 10:30
1°) Dinâmica da Rosa
Procedimento: Cada participante deve passar a rosa para a pessoa que está ao seu lado, e a
pessoa que a recebe deve dizer o seu nome e alguma informação a seu respeito. Enquanto cada
participante fala, os demais ficam atentos, ouvindo. Em seguida, faz-se a rosa voltar no sentido
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contrário da roda, e cada um deverá lembrar o nome da pessoa ao lado e a informação que ela
havia dito. Podem ser feitas as seguintes reflexões: “Todos nós soubemos ouvir?” “Às vezes,
as pessoas se preocupam tanto com o que vão falar que esquecem de ouvir”. “A pessoa está
falando e você já está imaginando o que dizer a ela, muitas vezes, sem dar a devida atenção,
sem olhar nos olhos e valorizá-la.”
Fonte: http://www.ameconsultoria.com.br/dinamicas/32/
2°) Estabelecer as regras
Regras:
- Silêncio quando a outra pessoa estiver falando
- Falar sempre usando “eu” – minha experiência
- Não julgar, não dar conselho, não fazer sermões e discurso
- Podemos cantar
3°) Perguntas disparadoras
- Alguém gostaria de compartilhar como foi sua experiência no parto?
(lei do acompanhante, violência obstétrica, direitos trabalhistas, 6 consultas de pré-natal, visita
a maternidade de referência)
4°) Relato positivo
Eu tinha muito medo de não ter um parto humanizado e sofrer violência obstétrica. Eu sabia que
teria meu filho em um hospital universitário, mas fiquei a gestação inteira apreensiva, já que eu não
teria condições de pagar um parto. Mas eu só tenho a agradecer. Fui pro hospital com a barriga
endurecendo, sem sentir dor, e já estava com 5 cm de dilatação. Fui até os 7 cm sem sentir dor de
contrações. Eles estouraram minha bolsa pra poder acelerar, e aí começaram as dores fortes. Assim
que as dores começaram, fui pra baixo do chuveiro, e foi o que me ajudou a acelerar e a aguentar
as dores. E logo eu que sou toda dengosa, aguentei quieta cada contração que vinha, sabia que a
tendência era só piorar e apertar mais, mas graças a Deus, quando eu pensei que ia piorar, me
levaram pra sala de parto. Chegando lá, fiz forca 4 vezes, tudo no meu tempo, já que o tempo todo
eles falavam que era pra eu fazer força a hora que eu quisesse. E na 4 vez, o meu bebê nasceu. E a
dor da hora que ele passou, foi uma dor muito boa! No início das contrações fortes, eu pensava
"porque eu não fiz uma cesárea," mas o PN é muito bom, a hora que passa tu nem lembra mais das
dores. Não tive nenhum corte e não houve laceração, não levei nenhum ponto! E a equipe médica
desde o início foi maravilhosa, nem se eu tivesse pago teria tido meu filho tão tranquilamente como
foi. Em menos de 2 horas do momento em que começou o trabalho de parto, eu já estava com meu
bebê em mãos. Vim fazer o relato porque assim como eu, sei que tem muitas mães com medo do
parto pelo SUS. Mas mantenham a calma, Deus sempre cuida de tudo. Eu havia lido relatos
horríveis sobre partos no hospital onde tive meu bebê, mas vi eles tratando outras mamães e a mim
muito bem, não se assustem, só segurem na mão de Deus.
5° Avaliação
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* IMPORTANTE DISCUTIR: Licença-maternidade de 120 dias para gestantes que tiverem
carteira de trabalho assinada é apenas um dos direitos garantidos.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a mulher grávida tem direito a um acompanhante (homem
ou mulher), de sua indicação, durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto.
REUNIÃO COM AS GESTANTES – 3° ENCONTRO
TEMA: AMAMENTAÇÃO E PÓS-PARTO
Horário: 8:30 às 10:30
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
08:30 às 8:45 – Apresentação
8:45 as 9:00 – Texto 1
9:00 às 10:00 – Abrir a discussões com o grupo
Estimular/ direcionar as contribuições para abordar os temas:
- Métodos para prevenir rachaduras nas mamas
- Pega
- Cuidados com as cicatrizes
- Leite materno x Fórmulas lácteas
- Alimentação para lactante
10:20 às 10:30 – Enceramento e agradecimentos
TEXTO I - Meu relato PÓS PARTO Isso mesmo, você não leu errado, meu relato é PÓS
PARTO, até porque toda minha gravidez, desde o momento em que soube até o dia do
nascimento, foi tudo mágico, tão mágico que não senti nem a dor da tão temida anestesia.
Tive meu bebê, tudo lindo e maravilhoso e então aquele vislumbre da maternidade começa a
desaparecer. Primeira decepção é eu não me lembrar da primeira mamada do meu bebê, só sei
que fiz isso porque tem fotos que registraram esse momento, momento este tão adorado pelas
novas mamães, onde estas se sentem tão realizadas. Pois é, não lembro.
Antes de ter alta, a enfermeira me alertou que quando meu leite descesse eu sentiria dor, mas
eu estava cética de que não sentiria, pois estimulei meu seio durante toda a gravidez, meu bebê
mamou no hospital e eu não senti dor! Bobinha, não sabia o que me esperava.
Chegamos em casa, a primeira noite foi tranquila, meu bebê não chorava, não tinha cólicas, era
um anjo! Mamava de mais (o colostro é claro) e eu lembrando da enfermeira e rindo “nem ta
doendo kkkk”. Primeiro dia em casa, um sucesso!!!! No dia seguinte, dia as mães, meus pontos
não doíam, andava normalmente dentro de casa, nada de andar encurvada, estava ereta, bem,
parecia que tinha feito parto normal, estava tudo ótimo até que meu bebê sentiu fome, e quando
ele abocanhou meu peito, SENHOR!!!! O que foi aquilo???? Que dor é essa? Eu não deveria ta
sentindo isso!!! Mas estava, toda mãe sente! Ahh e descobri também que não importa se é o
primeiro, segundo ou terceiro filho. SEMPRE VAI DOER. Mas essa dor tem um fim, e o meu
fim chegou ao longo de 5 dias. 5 dias achando que perderia meus mamilos!
Primeira semana, ok!
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Entramos na segunda semana, e o anjinho que vivia dormindo e só acordava para mamar,
começa a ter cólicas! CÓLICAS! Um choro sem fim, um choro agoniante. Ahh e tem mais,
você fica tão nervosa, desesperada, tentando fazer de tudo para o bebe ficar quieto e ele não
fica quieto com você! (o nosso desespero, nervosismo, estresse, passa para o bebê, pois é).
Então, minha mãe pegava ele e como num passe de mágica, ele cessava o choro.
E eu? EU me sentia a pior das mães, a pior das mulheres. E é nessa hora que tudo de ruim passa
na cabeça. “Será que eu deveria ter engravidado?”, “Será que sirvo pra ser mãe?”, “Por que ele
não fica quieto comigo?”, “Ele não gosta de mim!”. Além de tudo isso, sabe aquela ligação da
mãe com o filho, onde ele é o MAIOR amor da vida dela, e ninguém mais importa? Sabe?
Então, eu não tive! Não conseguia sentir essa ligação. Na minha cabeça passavam vários
sentimentos, um turbilhão de pensamentos e olha que nem falei da Depressão Pós Parto. Pois
é, ainda passei por isso. Lembra que eu disse que minha gravidez foi mágica? Então, foi tão
boa que eu não queria deixar de estar grávida. A barriga saiu, o bebê nasceu, era pra eu estar
maravilhada com o meu filho nos braços. Mas eu estava triste, queria minha barriga de volta.
Não queria nem ver fotos da minha linda barriga que eu começava a chorar. E não pense que
foi só uma semana nessa melancolia. Achei que nunca fosse sair desse estado, mas saí. Não
deixei meus pensamentos me dominarem. Lutei e Venci! “Mas fique calma, tudo passa!” Isso
era o que minha mãe e meu esposo diziam. Mas na minha cabeça isso não ia passar nunca!
Até que após os 40 dias de resguardo tudo mudou, como se fosse da água para o vinho. As
cólicas acabaram, meus seios já não doíam mais e meu bebê não chorava incessantemente.
Aquela ligação que toda mulher diz ter, comecei a sentir, um dia de cada vez! E aquela mãe que
mal conversava com seu bebê, já estava cantando e fazendo rimas durante o banho dele. Ele fez
2 meses e começou a sorrir! Meu coração se encheu de orgulho! “Sou a mãe mais feliz do
mundo!” assim eu pensei. Cada dia uma nova descoberta! E estamos nos descobrindo juntos.
Filho não vem com manual de instrução né?! Hoje não me vejo sem meu filhote!!!! E como
minha mãe disse: Tudo passa! Fica tranquila que tudo passa! E realmente passa, passa rápido
de mais. Hoje ele é um bebê, que cabe em meus braços, mas amanhã será um homem! Hoje eu
digo: nasceu um bebê próximo à você? Não visite, não visite O bebê. Visite a mãe do bebê!
Converse, se distraia, faça com que ela se desligue um pouco desse começo tão estressante.
Se eu soubesse antes de como tudo é tão cansativo e de como ficamos louca nas primeiras
semanas, certamente teria visitado às mamães próximas de mim mais vezes!!!
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APÊNDICE 4 – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
TRANSCRIÇÃO DA 1° RODA DE CONVERSA COM AS GESTANTES
TEMA: MATERNIDADE
MUSICISTA – pra estagia e hoje estou aqui pra conhecer a unidade de vocês e participar da roda.
ENFERMEIRA REGINA: e já acho né
MUSICISTA – Já achei!
-risos
ACS 1 : - Meu nome é ACS 1, sou a agente de saúde, e sou mãe e sou vó!
Lohaine: - Mãe duas vezes!
ACS 1: Mãe sua vezes!
ACS 2: Eu também sou, éé, eu sou ACS 2, meu apelido é de Deva, e eu tenho dois filho também e
três neto, e eu sou agente de saúde também, esqueci.
ACS 3: - Meu nome é ACS 3, sou agente de saúde e sou mãe e sou vó também.
AD 1: - Eu sou AD 1, sou auxiliar da Enfermeira Joana e da odontologia e também sou mãe de
dois filhos.
AD 2: Sou AD 2, auxiliar de odonto, sou mãe de um menino de 20 anos.
Lohaine: Nossaaa, uma criança!
- Risos
ACS 4: - Eu sou ACS 4, sou agente comunitária do Unidade A ha 15 anos, sou mãe de 4 filhos, só
4. - Risos.
ACS 5: Meu nome é ACS 5, sou agente de saúde, e ainda não tenho filhos!
ACS 6: - Meu nome é ACS 6, sou agente comunitária, sou mãe de 1 filho chamado Arthur! ele
tem 12 anos! Meu companheirinho!
ACS 7: - Meu nome é ACS 7, sou agente comunitária de saúde do Unidade B, já tem uns 20 anos
né, i sou mãe de 4, 4?, 3 vivo e um falecido que era gêmeo, e sou contemplada com 5 netos, todos
meu amor.
ACS 8: sou do Unidade B mas, sou mais conhecida como ACS 8 né, sou mãe de 3 filhos, 1 de 22
dois anos, uma de 24, e 1 de 26, e também tenho a honra de ser avó de 4 netos.
D1: Eu sou D1, dentista do Unidade B, tenho 2 filhas, uma de 26 e outra de 20.
D2: Eu sou D2, eu sou dentista do Unidade A, pai, tenho 3 filhos e agora por ultimo Deus mandou
m casalzinho, é uma dupla, são gêmeos, acabaram de completar 4 anos.
Lohaine: nossa, que legal.
ACS 9: E sou ACS 9 agente de saúde do Unidade B, sou mãe de uma menina de 10 anos.
ACS 10: Sou ACS 10, agente de saúde do Unidade B e teno 2 filhos.
ACS 11: Meu nome é ACS 11, sou agente comunitária de saúde e tenho 3 filhos e 1 neto, neta.
Lohaine: neta? olha, olha a carinha das avós aqui gente.
- risos
Alice: Meu nome é Alice, sou mãe de primeira viagem!
Lohaine: é? e quantas semanas você ta Alice?
Alice: 35
Lohaine: Legal, e você?
G1: aah e não quero falar não
Musicista : Já falô, como assim não quer falar?
-risos
Lohaine: como que é se nome, só pra gente saber como te chamar
G1: G1
Lohaine Tudo bem, seja bem vinda G1.
G1: Obrigada.
Enfermeira Regina: É se primeiro filho?
G1: Não
Enfermeira Regina: quantos filhos você tem?
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G1: duas
Lohaine: pronto, já resumiu tudo!
-risos
Enfermeira Regina: Meu nome é Enfermeira Regina, sou enfermeira do Unidade B, e eu não
tenho neném.
-risos
G2: Meu nome é G2, tô no segundo filho agora e já vou fazer a laqueadura, é uma menina tô de
33 semana e sou enfermeira também.
Lohaine: é? que legal!
Rosa: Bom dia, eu sou Rosa, eu sou mãe de 1 filha, que ta com 20 e tantos anos, to na chuva pra ser
vó.
-risos
Lohaine: esperando né professora, se for i-gual aos meus pais, estão esperando ansiosamente e
deixa isso bem claro!
- risos
Lohaine: então agora eu vou entregar um textinho pra vocês, que a gente vai ler juntos ta, só pra
vocês acompanharem, que é, a gente vai falar, sobre a maternidade, agora que a gente já se
conheceu, e é sou um texto pra gente direcionar, um pouquinho a nossa conversa.
Rosa: quer que eu ajudo aí?
Silêncio por alguns segundos.
Lohaine: vamo lá, alguém quer ler pra gente? quer ler? pode ser?
AD 1: A maternidade real. A mãe, é colocada num pedestal. Ela não deveria errar, não deveria
reclamar, não deveria se sentir triste em relação aos filhos, não deveria ter quereres para além da
maternidade. Seria um ser mítico que, de tão mítico, esse ser acaba se tornando invisível na
sociedade. É um ser que não existe no mercado de trabalho, na universidade, na sociedade. Esse
ser deve permanecer apenas em seu pedestal, que está localizado no lar. Uma deusa que sorri
calada em seu lar.
Conheço mulheres que não amaram seus filhos no exato momento do nascimento. Conheço
mulheres que não gostam da barriga grande da gestação. Conheço mulheres que têm uma
dificuldade enorme em manter diálogo com os filhos por terem pensamentos tão distintos.
No entanto, tentam calar essas mulheres porque mãe boa mesmo é aquela que está sempre caindo
de amores pelos filhos.
A VERDADE É QUE NÃO AMAMOS TUDO NOS NOSSOS FILHOS O TEMPO TODO.
Por quê? Porque somos todos de carne e osso, humanos com sentimentos e emoções que flutuam,
mudam e variam. Somos, acima de tudo, pessoas diferentes dos nossos filhos. E, quanto mais eles
crescem, mais vemos diferenças. A relação mãe e filho não deveria ser romantizada como é. É
uma relação de muito amor para a maioria, mas, como toda relação, a gente sente de tudo por eles
também: mágoa, ressentimento, frustração, irritação. Acontece que ninguém admite ter sentido
uma grande irritação com o próprio filho, por exemplo. Não falamos sobre isso porque é proibido.
Cobram-nos amor 100% do tempo e isso não existe numa relação entre dois seres humanos.
Ninguém se ama o tempo todo.
E como ninguém fala sobre sentimentos que não foram vendidos no 'pacote maternidade', nos
sentimos um grande monstro terrível por, por exemplo, não sentirmos saudade do filho quando ele
está com outra pessoa para que possa ter tempo para você, é difícil admitir gostar desse tempo
consigo mesma, de se sentir bem por poder, uma vez ao ano, dormir até tarde e não se preocupar
com a hora do almoço.
Mas, por que acreditamos que deveríamos sentir saudade dos nossos filhos o tempo todo? Porque
nos venderam esse amor romantizado, exagerado e ilusório que nos faz sentir culpa quando
deixamos de olhar um tiquinho pra eles? É como se não pudéssemos exercer qualquer outro papel
além da maternidade. É como se tivéssemos nascido apenas pra isso.
A relação mãe e filho não é algo divinizado, de outro mundo ou transcendental. É uma relação
como qualquer outra sendo que cada relação acontece de uma maneira particular. Nós amamos,
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cuidamos, nos apaixonamos por eles. Num outro dia, eles vão nos aborrecer e vamos sentir
frustração e raiva. Nada de diferente de qualquer outra relação. Acho que a gente só vai sentir
menos culpa quando entender que o amor materno é forte e fascinante, mas não pode ser
idealizado. Quanto mais a gente entender que não precisamos seguir um ideal e que esse amor
materno é, também, humano, mais leve será nossa maternidade.
Lohaine: gostaram? é, então, oque que vocês acham desse texto, vamos conversar. O que vocês
acham que a gente quis dizer com isso?
ACS 9: é oque realmente acontece né
Lohaine: aham
ACS 9: ninguém é 100%
Lohaine: Sim
Alguem diz: é assim que acontece
ACS 9: Ainda mais como tem mãe que é de 1° viagem, acho que deve sentir a culpa maior,
tipo, ah eu não to gostando dessa barriga, ta me incomodando, eu não to dormindo, eu não dou
conta de come, eu particularmente quando eu tava gravida da minha filha, cara chegou um certo
tempo que tudo que comi parava aqui ó (mostra a região do epigastro), duía o estomago e eu
ficava com raiva, se eu pudesse eu tirava, eu vô dexa ali a hora que eu quiser eu pego de volta,
mais, depois que se ta com a pessoa, aí se vai se acustumar, é como um relacionamento qualquer,
é igual fala todos somos seres humanos então não é 100%.
Lohaine: alguém mais?
ACS 9: Esses dias eu tava saindo daqui encontrei uma mocinha bem aqui na esquina, tava
passando aí, "você trabalha aqui", falei "sim", "você consegue agendar consulta com a dotora
Daniela, mas ela ta de férias né?", falei "sim" "é porque eu descobri que eu to grávida e não quero
essa criança" e não vi a hora que eu falei bem assim "porque que você não pensou antes de fazer
então, nas consequências, qui que se quer fazer agora" "eu não quero porque eu sou muito nova"
perguntei "quantos anos que você tem?" "quinze anos" falei "pois pensasse antes de fazer, que
culpa tem essa criança?" olha a minha barriga vai crescer, meu peito vai cair, nada disso gente,
tudo volta no lugar,dessas que "ah não vou amamentar que meu peito vai cair" mentira eu
amamentei meus 3 filhos, apesar que eu não tenho tanto seio,amamentei os 3 sabe, é maravilhoso,
ah eu amo meus filhos e chamo eles de bebê até hoje, um tem 23 anos, a menina tem 24, e meu
mais velho tem 26 anos, chamo ele de bebê até hoje, meus netos então é a mesma coisa, então, ser
mãe é a melhor coisa do mundo.
Lohaine: Sim é, o texto, o texto é vem falando exatamente disso, que ser mãe é bom, você amar
seu filho né, criar um relacionamento mas, mais o relacionamento materno, de mãe com o filho é
como também outros relacionamentos, você não vai ser, você vai amar seu filho o tempo todo
mais todo tempo que você vai estar transbordando amor, as vezes você vai amar irritada com
alguma coisa que ele fez né.
ACS 9: e tem até uma música do projota que fala assim, sentia vontade de amar as coisas
desejadas da vida, achei que amaria muito mais alguma coisa que saísse de mim.
Lohaine: aham
ACS 9: então, na ocasião é o filho né, é que todo mundo diz "ah eu quero amar alguem, então se
amaria muito mais alguem saído de você alguém que você criou, alguém seu.
Lohaine: aham
ACS 9: No caso seria seu, é bem bonita essa música.
Rosa: qual que é?
ACS 9: Mãe, Projota, Emicida na verdade.
Lohaine: eu não conheço, quem sabe a gente toca pra depois, outro dia a gente trás ela pra gente
ouvi.
AD 1: Ontem inclusive eu assisti uma palestra que falava, também sobre filhos né
Lohaine: Aham
AD 1: e aí o palestrante ainda citou que ah, nós temos que amar dentro de casa, porque se você
não consiguir amar, você não consegue ama na sua vida, as pessoas, aí ele falando sobre os filhos
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né, os filhos vão te irritar, os filhos vão ti tirar do sério, mas deixa de amar se filho por isso? não!
O vizinho é mais fácil você deixar de amar, porque ele não ta ali convivendo com você, então
você, aah o vizinho você dá tchau tal, se não convive com ele, e o filho não, o filho você ta o
tempo inteiro ali, você não vai abandonar seu filho porque ele te irritou, porque ele fez, eééé, uma
coisa bem complexa de poder trabalhar no dia-a-dia.
ACS 4: é igual assim, eu creio assim que ser mãe é você amar, sem querer nada em troca, porque
nem sempre você recebe a recompensa né, do mesmo, tipo assim, você se dedica tanto mas muitas
vezes você não recebe de volta essa recompensa, que é o amor de volta dos filhos, que é o respeito
o amor né? igual ontem eu ouvi da minha filha de 16 anos, ela fala assim "a senhora é a melhor
mãe do mundo, mas eu não suporto conviver com a senhora" (diz com a voz embargada), então
assim eu não entendi né, mas fiquei, é que eu to convivendo com ela agora tem uma semana, vai
fazer uma semana, e assim, não é uma pessoa fácil né, se ama incondicionalmente porque eu
responsabilizo pelas coisas dela, responsabilizo pelas quebrada de cabeça dela, corro atrás dela o
tempo todo, e eu não recebo essa recompensa sabe, então eu creio que é isso, você dedicar, você
amar, sem quere nada em troca.
Lohaine: Sim, com certeza, mas é mais ou menos nesse ponto que a gente queria chegar com essa
discussão é que, ela falou " eu amo você incondicionalmente..."
ACS 4: Não, ela falou assim " você é a melhor mãe do mundo.."
Lohaine: "Você é a melhor mãe do mundo" mas é munto difícil...
ACS 4: "Mas não suporto conviver com você"
Lohaine: " É por causa que, que nem ela, ela, o que ela quis dizer foi que ela te ama, você é uma
boa mãe, mas a relação é conflituosa, se viu que no texto fala uma coisa sobre, um trechinho que
fala que quer ver, aqui, que fala que quanto mais os filhos crescem mais a gente vê as diferenças?
exatamente esse ponto, são pessoas diferentes, totalmente diferente, a gente não vai ser igual as
nossas mães, e tem que conviver no mesmo ambiente e estabelecer uma relação, nunca quer dizer
que não tenha amor nessa relação, porque tem conflitos, tem conflitos porque você é diferente,
você pensa diferente, e ela tem 16 anos ainda tem muito processo de amadurecimento nos
pensamentos delas né? então,exatamente isso que a gente quer conversar com vocês, sobre que,
quando você estabelece uma relação com uma pessoa diferente, ela vai ser conflituosa, nem
sempre vai ser perfeita, mas é ainda assim, você é uma boa mãe. A gente quer falar sobre, como
essa mãe idealizada, a gente, a sociedade cobra que a gente seja a mãe perfeita, mas ela não existe,
não existe a mãe perfeita, exista...
AD1: existe a mãe do vizinho, a mão do meu amigo, essa sim é mais legal.
Lohaine: mas vai conversar com o filho dessa mãe do seu amigo, entendeu, ele não vai achar, por
causa que, não existe mãe perfeita, existe pessoas tentando ser melhor mãe possível, e isso já é
bastante coisa, sabe.
ACS 4: ó uma diferença assim, meus filhos, sempre foram aqueles, batendo de frente comigo,
todos fazem, porque eu num sô a mãe que dô dinheiro pra filho, sabe...(algumas reações de
concordância), eu não sou mãe assim "ah você vai levar m dinheiro pra escola mas eu sô mãe de
fazer o café da manhã, sou mãe de fazer o lanche da tarde, sô mãe de deixa eles levar a
marmitinha deles, deixa,sabe, eu sô mãe daquelas que faço bolo, faço torta, faço tudo que eles
gosta de se esbalda, aí eu falo pra eles assim, que nem sempre essas pessoas que levam dinheiro
na escola, que mostram que tem dinheiro, os pais tem tempo ou os pais tem, tem essa dedicação
de né, de querer fazer, prestigiar eles com esses tipos de lanche né, então e coloco essas diferenças
pra eles.
Lohaine: Sim, com certeza
Rosa: deixa só a... ela tem a música
Lohaine: ah a música!
Musicista : estou com ela aqui no ponto, se quiser...
Rosa: a lá, toca pra nós ajuda ela cantar então.
ACS 9: Ela é bem grande, e ai ler só uma parte, aí se toca ela no final.
Musicista : então tá
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Rosa: ta bom
Lohaine: então, e então a gente vem trazendo sobre isso, por que, a gente quer trazer que vocês, eu
vou fazer uma pergunta e vocês tentam me responder, ta bom? a gente vai construindo uma resposta
juntos. Porque que é difícil ser mãe?
ACS 6: porque ser mãe, num sei porque entendeu, sofre demais, quando se não tem filho, você,
vive diferente, mas a partir da hora que você tem filho, sofre!
G2: A responsabilidade né
ACS 6: responsabilidade
G2: você não pode ser quem você era antes, tem que ser firme, e o que você for fazer, você tem
que saber, porque você pode dar mal exemplo pro seu filho.
ACS 8: Nós somos espelhos pros nossos filhos
G2: é, então se minha mãe faz isso eu vô fazer, se meu pai faz isso eu vô fazê.
ACS 9: eu acho que a pior parte é o não, eu tiro pela minha filha, ela morou comigo até uns 4
anos, aí eu tive que deixa ela pra poder vim imbora, ela ficou 4 anos com a vó dela, vó é a melhor
coisa do mundo, aí vem, e aqui num é, tipo não, se vai me ajuda a fazer as coisas em casa, se não
tem aquela responsabilidade de fazer tudo, mas tipo, se você puder lavar uma vasilha, vai lavar
uma vasilha, vai cuidar do seu sapato, vai fazer a sua tarefa, num fez você vai ficar de castigo e é
horrível, aí ela, aí eu quero ir embora com a minha vó, olha eu sou sua mãe, eu mando ni você, se
vai embora pra sua vó o dia que eu morre ou o dia que se fica maior de idade, se mandar ni você,
enquanto isso se vai fica comigo, aah é horrível, olha pra mim com uma cara, que, e liga e fica
falando "Aí eu quero imbora" falei se não vai imbora, então tipo, a parte o não, porque eu aqui
tinha hora que eles ligava lá "ah a Emily ta respondeno" que que eu vô faze 500 e pouco km de
distancia? por telefone brigava, então sempre eu sou a errada, "ah se você não se comportar eu vo
conta pra sua mãe, sua mãe é brava, ela vai brigar com você" mas eles mesmo não faziam, então a
parte do não, é o pior!
G2: sempre a mãe é bruxa né, porque a mãe que é ruim, a mãe que bate, a mãe que faz isso, os
outro é só pra dá carinho e falar que a mãe ta errada, num é pra fazer isso e aquilo, então a mãe saí
como bruxa.
ACS 8: Mas se acontece alguma coisa com a mãe são os primeiros a defender as mães.
ACS 11: quando que alguma coisa pra quem que eles pedem? a mãe, mas lá em casa o pai é o
bonzinho (risos e vários comentários incompreensíveis)
ACS 9; O ingraçado cara, é que lá na minha casa minha mãe sempre foi bem bruta comigo, aí em
questão da minha filha, aí se não pode briga com ela, se não ta bateno nela? aí ela fala "aí minha
vó é melhor que a senhora" eu falo "eu vô conta o que que minha mais fazia" ai um dia eu
comecei a fala, o olho dela encheu de água, falei "é Emily, uma coisa é o que se ta vendo sua vó
hoje, hoje em dia a gente ta se dando bem porque tipo, eu sô mãe, se aprende que se tem que
releva que a unica pessoa que vai ta com você, mas é uma coisa eu batem em você aqui e ela acha
ruim, e você acha que ta o máximo, porque ela ta te defendendo, mas não é, ela fazia pior!
AD 1: a questão da educação é até.
ACS 4: Eu acredito que a dificuldade de ser mãe, assim, você abrir mão dos seus sonhos, seus
projetos, da sua vida, pra pra vive a dos seus filhos, pra...
AD 2: Eu tive com 15 anos, aí imagina oque foi isso, tive que para de estuda.
Rosa: Vamo ouvi um pouquinho ela aqui
ACS 9: 14
G1: A minha foi com 15
Rosa: e como foi?
G1: Ah o primeiro dia foi um susto, minha mãe tomou um susto, ela falo "Ah você é nova e a
escola?" falei "Ah mais eu vou continua meu estudos" mas teve que para porque o professora tava
me ameaçando né, num aceitava uma gravida na escola, teria que sair né, mas dou graças a Deus
de te uma filha maravilhosa.
G2: As pessoas não aceitava uma mulher gravida na escola né
Rosa: e hoje, o que você pensa? você acha difícil criar filhos?
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G1: Não
Rosa: ser mãe, você acha difícil?
G1: Não, não acho não, minha companheira
Rosa: Sua companheira?
ACS 2: Ter filho é assim, do mesmo jeito que você educa um, educa outro né, mais sempre são
diferente né, muito diferente, tem hora que eu fico olhado pros dois né, a minha menina fala "ô
mãe, senhora passa a mão na cabeça de Edelso, que é o mais velho, aí eu falo pra ela " eu num
vejo isso", sabe, mas eu vejo que ele obedece mais do que ela, ela que é mais, é... então ela fala, aí
eu falo alguma coisa pra ela, aí ela fala "mamãe, se Edelso tivesse aqui a senhora ia aceita, que ia
aceita nada. Ela acha assim, que eu passo mão na cabeça do meu filho, que já tá com 40 ano, e ela
só 31 anos.
AD 1: eu vou fala pra senhora que eu também acho, que eu falei, que eu também falo isso pra
minha mãe.
- risos
AD1: Minha mãe fala assim, "mais minha filha não faz isso" eu olho assim e falo assim manhê, a
senhora mal olhava pra gente a gente já sabia já baxava a cabecinha, agora se a gente fala um a,
coitada ele não fez nada. (várias concordâncias)
ACS 9: Conversa!
Lohaine: eu costumo dizer pras gestantes né...
AD 1: tem um irmão que é o caçula né, mas falo os netos, os netos ichi.
Lohaine: eu custumo dizer pras minhas, quanto to atendendo gestante, é que, você é mãe de quem
já nasceu, você vai aprende a ser mãe de quem você ta grávida, porque você é uma mãe diferente
para cada filho, porque os filhos são diferentes, entre si, entendeu? então você aprende ser mãe de
acordo com o que o seu filho precisa de você, então você nunca vai ser a mesma mãe pra todos os
filhos, você se adapta as necessidades dele, e isso que é muito difícil, por isso que fala "ah mais eu
já tenho 3 filhos, vai ser fácil esse" não, não vai porque ele é uma pessoa diferente, você vai ter
que te, você que vai ter que descobrir com ele, como que você vai ser melhor estabelecer, vai ser
estabelecida essa relação nova que ta crescendo.
ACS 6: não tem manual de instrução né
Lohaine: não vem com manual de instrução!
AD 1: eu acho que a sensação de culpa aumenta né...
Lohaine: SIM!
AD 1: porque um filho você fala " gente se cria do mesmo jeito", mas se olha um se fala "Meu
Deus, aquele ali, onde eu errei?"
Lohaine: então, culpa, que bom que você, você citou isso, hoje em dia a gente vive numa
sociedade em que: a mãe é cercada de culpa, ela sente culpa por tudo que acontece na vida, e a
gente como mulher, é culpada por tudo que acontece na vida da criança né (ouve-se concordância)
mas isso é tudo, como a sociedade vê a mãe, a sociedade ainda vê a mãe como aquele ser
onipresente e onisciente, que sabe de tudo e que tem, tem necessidade de saber tudo que existe na
família, na vida dessa criança né, e como é ue você vai conseguir faze isso? um ser humano. como
é que a gene consegue fazer isso?
Taimires: é que nem a gente, é nos somo em 4, aí tinha hora que a gente, vamo supor, tava
discutindo qualquer coisa ou falano sobre alguma coisa leno, no livro ou fazeno tarefa, "aí se
sabe" "não, num sei", "aí pergunta pra minha mãe, minha mãe sabe" "aí minha mãe sempre sabe"
aí tipo "aí to com isso doendo" " ah não, minha mãe sempre sabe, ela vai sabe o qui que é bom pra
isso" então tipo, as vezes a gente nem sabe, ta e fica.
AD 1: eu penso que na verdade os dois tem que (incompreensível)
Lohaine: aham
AD 1: os dois jeitos.... (incompreensivel) querer tudo, ta ali junto, isso também anexa.
ACS 8: ainda esses dias eu falei pro meu filho, ele tem 22 anos " meu filho tem horas que fico
olhando pra você e tenho medo, de ta estragando você" aí a minha filha fala assim, " mais estraga
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mesmo mãe, porque o Jony é isso, Jony aquilo, mas se fosse eu a senhora não ia fazer" falei " O
meu Deus, eu faço pra todos" mais é ciúme.
Lohaine: é sempre assim, então e a gente, é tanta cobrança né que a gente fala, quando você
engravida você começa a ouvir os palpites, e são palpites totalmente diferente um do outro e como
é que você vai seguir todo mundo? "A você tem saber falar não" "Ah mais você, pra ser uma boa
mãe, você tem que se esforçar pra fazer as vontades do seu filho", como é que eu faço falo não e
faço as vontades?
ACS 8: na hora do não lá em casa, eu mando fala com o pai deles, fala com o pai que o pai sabe
falar não (risos)
Lohaine: Mas e quando, e quando você é obrigada a tomar essa posição de dizer não, né, e como é
que você lida com isso? então a gente vem conversando um pouco da saúde mental das mães por
causa disso, é... quando você fica grávida começa a, a sociedade começa a colocar um peso nas
suas costas que, na maioria das vezes é impossível de carregar se você não aprender a filtrar as
coisas né?
ACS 4: Uma das palavras que a gente ouve é: " se é loca, se foi engravidar pra quê? que que se
quiria, você tem isso, isso e isso, pra que que se foi?" já começa aquela influencia negativa né?
Lohaine:Aham
ACS 4: aí se fala, nossa sê mãe é tão péssimo (risos) aí de repente se passa pro segundo, " se ta
loca, se nem da conta do primeiro, se vai pro segundo, ta doida"
Lohaine: Mas e quem disse que você não deu conta?
ACS 4: ééé
Lohaine: né, a questão é que como gente não consegue e nunca vai conseguir atigingir aquele
ideal de mãe perfeita que a sociedade prega, aí eles sempre pensam que você não deu conta, mas
se seu filho não ta indo pra escola, bem alimentado, feliz, contente, brincando, quem é que disse
que ele não ta sendo bem criado?
ACS 4: é verdade
AD1: a cobrança, a culpa, a nossa cobrança, nossa, a gente também cobra muito deles, eu as vezes
falo pra minha filha assim "olha se chegou, eu trabalhei a manha inteira e você fez o que?" " A
mais eu estudei, e num sei o que, não sei o que" "minha filha", e eu sou muito agitada né, as vezes
eu falo pra ela "olha na minha época" ela que morrer quando eu falo assim (risos)
Lohaine: Toda mãe fala (risos)
AD1: poxa você só digita ali no computador uma palavrinha, eu falo assim "folclore" ela olhava
assim tipo " nossa tem que fazer aquele texto, tinha que ir pra biblioteca, trabalhar, hoje ta tudo
tão fácil ali na mão e tá difícil, então assim a gente acaba transportando a culpa também pra eles.
Lohaine: Sim, a gente joga pro filho também um pouco dessa, na verdade é justamente por causa
disso sabe, a gente coloca tanta responsabilidade em cima das mães né, de ser essa mãe que
consegue suprir todas as necessidades dos filhos né, e aí a gente, eu estudando um pouco pra
gente vir conversar sobre isso com vocês, a gente estudo varias, varios tipos de maternidade né,
como é a maternidade na europa, como é a maternidade na, nas regiões latinas, como é a
maternidade na Africa e uma autora ela vem falando, que eu achei bem interessante ela vem
falando sobre como maternidade é na Africa, lá as mulheres, elas acreditam que, elas não tem a
necessidade e não tem nem a possibilidade, não tem nem como, fazer tudo e ser tudo na vida de
uma criança, elas sabem que, é, tem coisas que ela não conseguem suprir pros filhos e outra
pessoa da família consegue, e não é falha dela ela não conseguir, exemplo, tinha uma mulher que
o filho dela tava dando um pouco de trabalho, e ela não tava conseguindo por limites, e ela foi e
enviou esse filho pra passar as férias com o irmão dela, um outra casa, uma distância, e pra ela,
não via isso como falha, porque ela acreditava que tinha coisas, que ela não conseguia suprir e que
o irmão poderia fazer isso melhor, entendeu? e não é falha da mãe, é personalidade! então isso
que gente vem conversando, com vocês, é que, nem sempre, se você não consegue proporcionar
isso pro seu filho, é falha, pode ser que alguém consiga melhor que você e é ótimo você contar
com isso, isso é uma coisa, uma coisa que a gente denomina né no meio acadêmico de apoio
materno, rede de apoio materno, você pode contar com a vizinha, você pode contar com a mãe,
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um irmão, uma irmã, você pode contar com uma pessoa que nem é parente, mas é uma amiga
próxima, que ela te ajuda nisso, e não é problema e não é falha sua como mãe, é uma coisa que,
você precisa e você pode lançar mãe desses, dessa rede, você pode aproveita essa rede de apoio,
você pode formar essas redes de apoio, né, com essas pessoas próximas a você, e isso não quer
dizer que você não ta dando conta de ser uma boa mãe.
Rosa: não, to contemplada (risos)
Lohaine: né, e a rede, que nem a gente ta falando, a rede de apoio, ela pode ser diversa como eu
disse, de varias pessoas, pode ser instituições como o PSF, pode ser um grupo de gestantes, pode
ser um grupo de mães, que quem de mulheres né, quem nunca teve - Ah hje eu tenho que fazer tal
coisa aí se tem uma amiga que tem um filho também, se cuido se cuida do meu filho, outro dia eu
cuido do seu também, pro sê resolve, se tiver um problema sê resolve e eu cuido do seu - e isso é
uma rede de apoio importante e isso são instituições, instrumentos que a gente pode lançar para
ajudar nesse processo que é muito difícil de criar uma criança.
Rosa: igreja
Lohaine: Igreja!! como a G2 disse é muita responsabilidade você criar um filho e se você
conseguir que meios de tirar um pouquinho dessa responsabilidade, di levantar um pouquinho
desse peso nas costas, melhor né.
Rosa: eu lembrei de uma coisa, o estatuto da criança e adolescente, por exemplo, ele reafirma isso
né, quando ele fala assim, de quem que é o dever, é, de quem é responsabilidade sobre a criança?
lá é bem claro, fala assim é dever da família, do estado e da sociedade, então nem o estatuto fala
que é da mãe ou do pai, ou só da família, é família, e estado, é sociedade, família é o pai é a mãe,
que ta em volta é a família, estado, quem que é estado? as instituições públicas né, então PSF,
escola, o CRAS, as políticas publicas, e a sociedade, quem que é a sociedade? todo o resto né, se
eu vejo uma criança que ta com dificuldade, que ela ta com um risco de alguma violência, um
risco de não ta recebendo oo melhor, eu tenho a obrigação de ajudar né, então é de todos mundo.
ACS 8: Hoje em dia né, como se diz, tudo no papel é bonito, né, mais hoje em dia a própria
família destrói a criança, hoje mesmo tava vendo, o pai estrupou uma criança de 6 anos, a
sobrinha, o próprio pai, subrinhas, duas subrinhas, então gente, hoje em dia mãe nenhuma que
deixa com ninguém, nem com vizinho, nem cum pai, nem cum tio, nem mesmo
(incompreensível), então hoje, a ah, como se diz, o fardo pra mãe ta mais pesado, e muitas vezes a
mãe acaba contando com a própria criança, o filho, ah tem que tirar, tirar a criança da mãe porque
a mãe só judia, quantos casos a gente vê aí, então isso ta fugindo da realidade.
Lohaine: Uhum
ACS 8: como diz, corre prum lado ta feio, pro outro lado ta pior, então ta difícil.
Lohaine: éé, igual a gente ta falando né, que a rede de apoio, ela é, são as pessoas próximas né,
que infelizmente como você disse a gente não pode confiar em todo mundo assim, mas, tem as
pessoas que você pode confiar, são as pessoas que você conhece, né, que nem você falou,
acontece as coisas, sim, mas a mãe, ela pode tomar todo o cuidado do mundo mas ela não é
onipresente, onisciente né, a gente pode observar, que nem você falou, a gente pode observar, a
gente pode conhecer a pessoa e ela nos surpreender, sempre vai acontecer isso, mas, não quer
dizer que a mãe tem que ter a responsabilidade de saber exatamente qual é a, como é aquela
pessoa, como, porque não tem como gente, como é que a gente conhece as pessoas assim? então
são aquelas pessoas que a gente estabelece confiança com elas, e a gente ta sempre observando.
ACS 4: Assim como ficar com o filho 24 horas né?
Lohaine: não tem como
ACS 11: Você não pode deixar no colégio que você não sabe o que que ta acontecendo também
lá.
ACS 10: A questão que eu vejo muito, é que a mãe se cobra muito, mas não ensina o pai a se pai
também, se entendeu? pras minhas eu coloco sempre isso, porque a mãe ela já nasce já, com um
instinto materno, agora o pai não, o pai se tem que ensinar ele a se pai, trazer ele pra dentro da
maternidade, porque se não a responsabilidade só fica pra mãe mesmo, e se não ensina, ele é igual
uma criança, se não ensina ele, ele não vai aprende. Se tem que ensinar ele que não é só sua
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obrigação leva a criança em médico, que dele também, reunião na escola é dele também, porque
antigamente, se vai ter uma reclamação da escola, por causa que um probleminha, sempre fala "
vou chamar a sua mãe", sempre é a mãe, se pode ver em reunião, sempre é a mãe gente, então a
gente tem que começa a mudar isso, e nós como mãe, "não sô mãe, mas tem o pai, chama o pai",
vai você, eu não vou, "ah o filho ta doente, é muito difícil se vê um pai trazendo um filho doente.
AD 1: até o pai fala assim, vou chamar a sua mãe.
- risos
AD 1: Olha eu vou chama a sua mãe porque você não ta me obedecendo.
ACS 10: É então, nós tem que educa eles também.
- varias pessoas falando ao mesmo tempo.
Rosa: acho que ela queria fala ó!
ACS 10: é metade metade né, então vamos dividir essa responsabilidade, porque se não, a mãe
fica doida gente. Tudo é você "ah o filho não ta bem, sentindo mal" culpa é da mãe, tudo é culpa
da mãe. Então n´s como mãe, nós temos que começa a muda dentro de casa, que a gente tem filho,
a gente pega ele e coloca numa concha assim, não deixa o pai da banho, não deixa o pai trocar o
filho com medo de cair, com medo de machucar e não, a gente tem que acostuma desde o
momento que nasceu, é até bom agora que o pai assiste o parto, vê como acontece, a dificuldade
que é, alguns pais né, porque tem uns que você chega e fala assim "você vai assistir o parto do deu
neném?" "não!", então é assim, você tem 9 meses pra trabalhar na mente do seu marido, trabalha
na cabeça dele pra ele ir lá assistir e saber como que funciona.
Lohaine: é que a gente também é meio, a gente também tem um instinto primitivo que é bem
animal né, então sê vê, vamos dizer um exemplo bem... não se sintam ofendidas, mas se você vê
um cachorrinho, ela vai ter o filhotinho dela, ela não quer que ninguém chegue perto, ela vai, tem
o bebezinho ali vai cuidar dos bebezinhos num lugar escuro e protegido, e a gente também tem
uma parte do nosso cérebro que são totalmente de instintos primitivo, que é muito parecido como
os animais, a unica diferença é que a gente também tem uma parte do cérebro que, que faz a
gente, dá a nós o poder de raciocínio, de conseguir estabelecer relação, essa é a nossa diferença
com o animal, então é normal para uma mulher que depois do parto, que é um momento muito
primitivo, principalmente se for parto normal né, por causa da dor, que cérebro vai pro lado
primitivo, que vai ser acionado, o lado primitivo do nosso cérebro, então a gente abraça ali a cria e
não quer que ninguém chegue perto, né. Isso é automático da mãe, é instinto, por causa que o
nosso cérebro faz a gente fazer isso.
ACS 8: e quando a mãe não aceita o filho? o que que acontece?
Lohaine: Aí é muito da parte mais instintiva também, vocês já viram que tem animais que não
consegue estabelecer uma relação e não aceita a cria? a nossa diferença que a gente tem uma parte
racional que sabe que a gente tem cuidar daquela criança, mas aí entra dos problemas que aquela
mulher ta psicologicamente, as vezes ela não consegue estabelecer uma relação imediata e aí, que
é normal, tem muita mãe que não consegue, tipo, não fala "meu filho nasceu, peguei ele no colo e
amei aquela criança, no primeiro momento", não tem gente que não consegue, acontecer isso, cria
uma relação, porque uma relação construída, a maternidade você não nasce mãe, você se constrói
mãe. Você, através de convivência, através de do cuidado, através das suas experiências, você vai
construindo a mãe, que você vai ser né, então é normal você estabelecer, depende, as vezes é que
foi uma gravidez que ela desejou, aí ela teve aquele bebê, não conseguiu estabelecer uma relação
imediata, mas isso pode ser construido, ela pode lançar mão da rede de apoio dela, do apoio
psicológico, que pode ser importante pra essa mãe.
ACS 8: eu conheço uma moça, ela teve seis filhos, todos os seis filhos, ela doou, ela engravida e
sai oferecendo a barriga, sabe aquela moça linda, tem seis filhos, se ela tem dois com ela, é muito.
O nenê nasce e ela já ofereceu pra Deus e o mundo, aí quando o nenê nasce é de quem chegar
primeiro. Porque que essa mãe é assim?
Lohaine: Ah pode ser...
ACS 8: e todos os partos dela é normal.
Lohaine: Ah pode ser que ela é....é muito dificil, ela tinha..
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ACS 8: e ela só tem 25 anos ela só tem.
Lohaine: Não, isso ai ela tinha que ter um apoio psicológico, você não sabe os motivos dela, as
vezes ela não quer ser mãe, as vezes ela tem alguma outra...
ACS 8: Parece que ela faz por fazer sabe, acho que ela faz assim, chega aqui, você, ela fala "ah
você não é mãe" "não!", aí ela fica com aquilo, quando ela engravida ela já vem te oferecendo a
criança.
Lohaine: Ah provavelmente ela precisa de um apoio psicológico pra entender os motivos dela ser
assim.
ACS 8: e ela é linda.
Lohaine: depende
ACS 8: falei "ô senhor, entrego na mãe do senhor" porque não é fácil, seis filhos e pega quem
quiser.
Lohaine: é muito difícil você só falar, só você contando a história e eu falar qual é o motivo dela
não aceitar esses filhos, ela tem que ter um apoio psicológico, de entender como a mente dela
funciona, quais são os sentimentos que ta por disso e tal, pra depois fazer tratamento, o mais
indicado é que ela tenha um tratamento, um acompanhamento psicológico.
ACS 8: você falou mesmo, o bebê nasce, qual mãe que num derrete de vê o bebê assim?
Lohaine: existe muitas ta, que não se derrete no primeiro momento.
AD 1: então o psicológico é uma coisa tão assim.
G2: eu já falei que não quero visita antes de um mês, do primeiro, eu expulsei a vizinha de casa.
-risos
G2: Eu chego da maternidade, primeiro filho, minha mãe o desespero eu também, vem a vizinha,
falei "oque você ta fazendo aqui? vai embora daqui agora", mais gente, e ela também queria
ajudar né, depois que passou tudo, eu fui lá pedi desculpa.
Rosa: A sua racionalidade entrou na história.
G2: ééé
ACS 8: Eu fiquei com medo de trocarem ele, dentro do hospital, aí fica "aí mais ele ta indo pra
onde?"
-risos
Lohaine: então, é como eu falei, como a gente entra, a gente utiliza uma parte muito primitiva né,
quando estabelece essas relações com essas crianças é normal as mães fazerem isso, elas ficarem
meio arredias, com visitas sabe, até com o próprio pai da criança né, é muito comum, tem muitas
mulheres que passam pelo que você passou, justamente por causa da parte do cérebro que é
acionada no momento do parto sabe, então, aí a gente conversar, a gente essa racionalidade, que
depois vai voltando né aí você vai pensando "não eu fui muito dura, não é assim né" e a gente tem
que, que nem a Josi, ACS 10, desculpa, a ACS 10 tava falando, a gente tem que aprender a
valorizar as ajudas que a gente recebe.
ACS 10: Eu falo sabe porque, o pai quando você vai fazer... ele fica cinco dias sem você, se esses
cinco dias você retrai o pai, minino do céu, depois pra você trazer pra te ajudar, minino dá trabaio
demais.
G2: eu já falei pro meu marido que só quero que ele vai pra registra, depois pode voltar pra
trabalhar.
ACS 10: Olha aí
- risos
AD 1: é que as vezes dá mais trabalho que o menino
G2: mais trabalho que cuida da criança
- varias pessoas falam ao mesmo tempo
Lohaine: que nem a gente fala né, as vezes, a gente fala bem assim pro pai ou qualquer pessoa dá
banho no bebê, as vezes o primeiro banho, principalmente se for pai de primeira viagem, ele vai
fazer uma bagunça, vai molhar metade do quarto, aí a gente fala assim "não, dá mais trabalho pra
mim limpa o quarto do que eu dar banho nessa criança" e a gente vai podando as pessoas que
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querem nos ajudar. Mas ela não chegou no objetivo, a criança não ta limpa, de banho tomada,
vestida?
AD 1: Você falou uma coisa que é verdade, e você afasta depois é mais difícil, porque fala assim
"Ah quando eu queria te ajudar, você não quis, só que eu tive um poquinho assim porque o meu
marido sempre ajudou muito e aí ele foi tirou a fralda de uma vez ai eu olhei e ele foi e falou
assim " não sei oque que ta acontecendo que o umbigo ta sangrando" aí daí eu já desesperada,
coração batendo falei "aí caio" quando eu olhei, eu falei assim " mas você também me tira a fralda
quase que se ranca o umbigo do nenê, aí nunca mais deixei ele dá banho, nunca mais, até o
umbigo cair aí depois que o umbigo caiu.
ACS 10: é que geralmente eles vão falar que não quer, eles vão falar que não quer, eles tem esse
cuidado também né gente , tem coisas....
- varias pessoas falam ao mesmo tempo
Lohaine: E ele percebeu que isso, você fala não, ele machucou e tal, na próxima vez, você não
deixou, mas provavelmente ele ia tomar muito mais cuidado.
AD 1: ah sim!!
Lohaine: porque é filho dele também, ele também se preocupa com a dor, com o machucado,
então é um pouco disso também, da gente valorizar a ajudas, não só do marido, mas da mãe, da
irmã, que se dispõe a ajudar a gente. Como eu disse, o fardo é pesado se alguém ajuda a gente a
carregar.
ACS 8: Igual você falou mesmo, uma coisa da ajuda, meu primeiro filho, seu filha mais velha da
minha mãe, somos em duas né, então o primeiro neto foi meu, meu Deus, minha mãe não sabia
oque fazia, aí oque que ela falou, " meu Deus, oque que eu vou fazer", foi na farmácia e comprou
um monte de chupeta, porque ela disque achava lindo criança de chupeta, chegou, ia entrar meu
marido falou assim "não, não, não, não, se não vai enfiar a chupeta no meu filho não, se vai enfiar
essa borracha na boca do meu filho" aí começou a discussão na porta do hospital, os dois, aí
minha mãe magoou, aí pronto, não foi mais no hospital, vou ver só quando chegar em casa, e nem
encostou mais perto da criança. aí já, a ajuda que ela ia dá, já deixou de de ladinho né.
AD 1: Lá em casa pra ajudar é assim, acorda de noite, ta chorando, gente, é instinto, não tem jeito,
minha mãe ficava brava comigo porque ela falava assim "deixa que eu levanto, eu vou lá, eu
olho" de repente tava eu lá, toda manqueba indo lá, porque os meus forma todas cesárias. Não
adianta fala, porque você escuta chorando você não consegue dormir, não consegue descansar
enquanto você não levanta, não vai lá e olha, aí ela falava assim "não sei pra que que eu vim
ajuda, não sei pra que"
Lohaine: Então continuando o que a gente tava falando né, a gente valorizar essa ajuda, pode ser,
que a primeira não vai sair como a gente faz, mas se no final a criança ta limpa e de fralda
trocada, de banho tomada, ele não alcançou o objetivo? depois fala assim "não agora se limpa o
quarto, olha a bagunça que você fez", mas da próxima vez a pessoa vai fazer melhor, vai fazer
menos bagunça porque ele viu "ah u fiz de tal jeito, fez muita bagunça, agora se eu fizer tal coisa,
vai facilitar"
AD 1: a pratica vai levar a perfeição.
Lohaine: A prática leva a perfeição, mas oque acontece a maioria das vezes, nós mulheres, gente
se não sabe, deixa que eu faço, e a gente vai pegando mais responsabilidade, e vai abraçando tudo.
ACS 8: quando minha neta nasceu, eu que cuidava da cólica, eu que cuidava da fralda, eu que
banhava, minha filha só ficava esperando, se entendeu, e comigo já não foi assim né, o meu eu já
tive que fazer e o dela não, até os três meses a cólica eu que cuidava de Isabely, e assim eu fui
deixando.
Rosa: ela quer lê um negócio.
ACS 6: e quem não tem quem ajuda? aí é difícil.
Lohaine, então aí, por isso a gente falou que não é só o pai né, as vezes é um irmão, as vezes é
uma amiga, as vezes é a mãe geralmente a mãe ajuda muito.
AD 1: minha filha é a mãe do Gabriel, se você perguntar como é o nome da sua irmã ele vai fala
assim "vida". Ele vai chamar ela é só " Vida, vem cá"
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- conversas paralelas.
Lohaine: Sim, você estabelece essas relações, e a gente tem que valorizar isso né, ão porque causa
que ele estabeleceu uma relação forte com a mãe, "ah porque eu vou ficar com ciúme", não, ela ta
partilhando desse processo né, que nem eu falei pra vocês, que quando eu estudei sobre isso eu
fiquei apaixonada pela forma de maternidade das tribos africanas, por causa disso sabe, porque
eles acreditam que quando uma criança nasce ela é da família, então todo mundo tem
responsabilidade e também tem, como diz, tem a parte de direitos e deveres sabe, ela tem direito
de estabelecer uma relação, dessa criança gostar dela, de cuida de de uma criança sabe, que é
sempre bom, tipo você sê amado por uma criança é sempre bom, mas também ela sabe que ela
também tem deveres, que ela tem que ajudar a mãe a educar, ela também tem que contribuir, de
formar uma pessoa boa e de ajudar a construir uma pessoa, sabe, um adulto saudável, então por
isso que eu falo que fiquei apaixonada pela forma que a maternidade africana, porque em
momento algum eles acreditam que a criança é só da mãe, ela é nossa, nós dividimos as
responsabilidades sobre ela, por isso que eu falo sobre a gente valorizar o outro.
Musicista : eu conheço uma africana que estudou comigo e ele falou pra mim uma vez, que ele
acha estranho né, ele estuda no EJA né, ele fala que ele vai na escola a noite e as mães estão lá
com os filhos, e ele diz que o costume lá na terra dele, na aldeia, cultural deles, é que as mulheres
quando vão estudar é os homens cuidam dos filhos, então eles acham estranho o porque que a mãe
tem que levar o filho, porque que os pais não cuidam?
ACS 9: é que nem minha mãe fala, quem pariu Mateus que se balance, se vai no banheiro leva, se
vai na esquina leva.
Rosa: Mais aí a gente tem que desconstruir isso né gente.
Lohaine: mais só que lá não são só os homens maridos, são os homens tios
Musicista : é os homens tios, é os homens da família.
Lohaine: é os homens vô, sabe, não é só os homens pais, é isso que a gente ta falando.
ACS 6: Dos meus filhos, quem era o pai dos meus foi a minha mãe
G1: A minha foi o meu irmão
Lohaine: então é isso né, que nem a gente fala, as vezes a figura masculina na criação de uma
criança, não é o pai, é um tio.
ACS 6: O que aconteceu comigo, foi que eu fui mãe independente, ele era meu, não sabe que o
pai dele fez, o dia que o pai dele pegou ele, nunca tinha pegado meu filho, pegou uma vez, quase
matou ele, o que acontece que hoje ele diz assim "vou pegar meu filho" eu escondia dele, ele me
xingava, mas não dexava ficar com ele, minha mãe, desde quando nasceu, eu fui de ônibus pra
paternidade, voltei, nunca pedi nada ele, mas ele é meu, eu to com ele, aí minha mãe que foi o pai,
olha eu fiquei tão sintida que até hoje eu sinto, a primeira vez que ele pegou meu filho, ao invés
de levar meu filho pra passear, oque que ele fez, levo pra lagoa Trevisan, meu filho acho que tava
com 8 anos, apareceu com me filho todo queimado de sol, a minha mãe não aguentou, morreu,
porque o coração dela são suportou aquela dor, e depois do que ele fez, nunca mas pegou o guri,
eu falei ele é meu, se ele fala eu sou contra e não deixo levar, porque ele é meu, eu sou eu acho
que eu sou leoa sabe.
Rosa: deixa ela lê, deixa ela lê que faz tempo que ela ta querendo lê.
ACS 9: sobre a dificuldade né "Aí você virou mãe... Você tinha um milhão de planos para a sua
vida, sonhava um milhão de sonhos. Só que aí você virou mãe. Você dormia assim que deitava na
cama e acordava só às 10 h da manhã. Aí você virou mãe. Você tinha um monte de amigas de que
te ligavam e te chamavam para sair sempre. Mas você virou mãe. Você lia um livro por semana e
colocava em dia uma série em um mês. Aí você virou mãe. Você fazia as unhas e hidratava os
cabelos todo fim de semana. Aí você se tornou mãe. Você saía sem pressa e sem preocupações. Aí
você virou mãe... Aí você se tornou mãe e percebeu que os seus planos e os seus sonhos não
chegam nem perto da felicidade que o seu filho(a) lhe transmite. Que o sorriso dele é mais
transformador que qualquer viagem e que as conquistas dele te proporcionam mais satisfação que
qualquer conquista sua. Aí você virou mãe e descobriu uma força além do normal, uma força que
te guia madrugada a fora. Força que te faz sorrir mesmo depois de ter dormido quatro horas por
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noite. Aí você virou mãe e trocou seus livros por livros infantis e sua série por desenhos
animados, e quer saber. Eles são interessantes também. Aí você virou mãe e faz um coque
desajeitado no cabelo e fica maravilhosa com ele, e as unhas, elas não são tão importantes assim.
Aí você virou mãe e conheceu amigas MÃES também, e é tão incrível dividir o universo da
maternidade com elas. Aí você virou mãe e os seus passeios corridos são tão insignificantes,
porque quando você chega em casa você se depara com aquela criaturinha que mudou toda a sua
vida e percebe que sem ela não teria sentido algum todas as coisas que você fazia antes dela. Aí
você virou mãe, virou o dia, virou a noite, virou fera, virou colo, virou luz. E apesar de toda
confusão e cansaço, se você soubesse como seria lá no passado, os seus sonhos e planos teriam se
transformado em um só, que seria exatamente esse: Ser mãe!"
-Aplausos
- conversas paralelas.
Rosa: A gente vai pegar esses balões e vamos fazer uma brincadeira.
- Conversas paralelas
Rosa: e aí vamo levanta?
Lohaine: vamos levantar? vamo aproximar um pouquinho? oque que é essa brincadeira, eu dei um
balão pra cada um de vocês , quando eu falar, vocês vão jogar o balão pra frente e vão ter que
manter ele no ar só com um toque, um toque, ir batendo nele, aí vocês quem que ir batendo, aí
vamos dizer que ela bate e o balão vai pro outro lado, você também tem cuidar desse balão, não
pode deixar nenhum balão cair no chão, ta? não é só o seu.
Rosa: vocês tem que cuida de todos os balões, isso?
Lohaine: sim, temos que cuidar de todos os balões. então vocês vão jogado pra cima, mas não
pode ser só pra vocês, pode joga grande. e a gente tem que bater nos balões, que eles não poem
cair no chão.
- conversas paralelas enquanto a dinâmica ocorre.
Lohaine: a maioria dos balões caiu
ACS 4: o meu não
Lohaine: mas os delas caíram, e a gente não tinha que manter os balões no ar juntas?
- conversas paralelas.
Lohaine: E nessa dinâmica a gente queria mostrar pra vocês, como é difícil manter os balões
sozinha no ar. pra gente tenta que vocês percebam que, é muito mais difícil você manter qualquer
coisa no ar, sozinho, se você compartilha esse peso, fica mais fácil, se alguém ajuda você manter
seu balão no ar, assim como você ela manter o balão dela no ar, essa atividade fica fácil, e assim é
a maternidade e assim é o convívio m sociedade, se você ajuda o outro, e o outro ajuda você o
peso se torna mas leve, então essa era a nossa intenção com a brincadeira né, com essa dinâmica
né, que vocês percebessem isso, que o peso pode ser dividido, e nós mulheres não nos
compadecermos das outras mulheres que convivem e passam e passam pelo mesmo que nós,
quem é que vai cuidar.
- Aplausos.
Lohaine: agora, antes da gente encerrar eu gostaria que me desse o feedback do que vocês
acharam, cada um resumidamente fala o que que achou da nossa roda de conversa.
- conversas paralelas
AD 1: acho que é sempre bom a gente conversa, té comentei com você, é roda de mulher, é
sempre bom, esclarecedor, sempre tem coisas novas, a gente ta sempre aprendendo.
Rosa: ah eu gostei muito de participar dessa roda de mulheres, é sempre bom a gente partilhar as
experiências né e espero que especialmente, pra quem ta esperando seus filhos né, as meninas que
estão aí na espera né, que vocês consigam colocar em prática, que todas nós consigamos colocar
em prática, que nos não precisamos ser super poderosas.
Alice: Foi bom né, aprender um pouco mais sobre a maternidade, e também acho que a gente não
deve romantizar a maternidade, que ela não, que na realidade ela não é do jeito que o pessoal fala,
quando nasce um bebê também nasce uma mãe, que a mãe também precisa de cuidado, não como
o bebê precisa, mas ela também precisa de cuidado, porque as vezes quando o bebê nasce, a
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pessoa vai lá e só paparica o bebê e a mãe fica de lado, esquece, ela em que fazer varias coisas ao
mesmo tempo, então eu acho que foi bom.
G1: Pra mim também foi muito bom estar aqui pra conhecer vocês e eu to muito feliz.
G2: é bom trocar ideias né com outras mulheres, com outras mães mais experientes, vê que num é
só a gente que sente essas coisas né, que a gente não é tão bruxa assim, por fazer algumas coisas,
muito bom a gente conversar sobre isso né, tirar duvidas, eu gostei.
TRANSCRIÇÃO DA 2° RODA DE CONVERSA COM AS GESTANTES
TEMA: DIREITOS NO PARTO E PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Lohaine: vou explicar pra vocês que chegaram, a Ju já conhece um pouquinho o meu projeto,
então eu vou explicar pra vocês, eu sou mestranda lá da UFMT né e aí eu resolvi trabalhar, nós
escolhemos eu e a minha orientadora trabalhar com depressão pós parto, mas como sempre
pensa que é melhor evitar, do que tratar, ai a gente resolveu trabalhar com as gestantes já sobre
depressão pós parto, e como é que a gente vai fazer isso? a gente lendo sobre depressão pós
parto, um monte de estudo já tem pesquisador falando sobre fatores que podem vir a fazer como
que a mulher fique depressiva no pós parto, exemplo disso é, ela não conseguir amamentar
direito, algumas mulheres não ficam em depressão por causa disso? é claro, mais tem algumas
que ficam, então, como que essa é uma possibilidade a gente escolheu esses temas pra gente
conversar em rodas de conversa, que juntos a gente compartilha as experiencias de outras
gestantes, de outras gestações, quem nunca teve bebê vai ouvir um pouquinho sobre a
experiência de vocês que já tiveram, e através disso a gente vai construindo um pouco o nosso
conhecimento sobre a maternidade, a gente já teve uma reunião a primeira foi sobre
maternidade literalmente, sobre como é ser mãe hoje em dia né, as dificuldades de ser mãe, as
exigências que tem da maternidade, como nós mulheres somos exigidas da maternidade o tempo
todo e que nós temos que ser perfeitas, excelentes mãe mesmo que você nunca tenha sido, né?
então a gente conversou sobre isso e hoje a gente vai conversar um pouquinho sobres direitos
no parto, quais são seus direitos quando você entra em trabalho de parto? quais são os seus
direitos a partir do momento que você descobre que está gestante? o que que o SUS tem a
obrigação de prover para vocês né? então é isso que a gente vai estar conversando, os seus
direitos no pré-natal, durante o parto, durante o pós parto, e a gente vai falar também um
pouquinho sobre violência obstétrica, por causa que a violência obstétrica é tão comum que
muitas mulheres não sabem que passaram por violência obstétrica né? então, a gente tem que
conversar, falar sobre isso pra que vocês percebam os momentos que vocês sofrem violência
obstétrica pra gente poder combater né, denunciar, e reclamar em instâncias superiores. Porque
infelizmente, como qualquer tipo de violência ela não vai parar sozinha e acabar sozinha
depende também da gente exigir nossos direitos, então a gente vai falar sobre isso, ta bom?
então meu nome é Lohaine e a gente vai começar com uma apresentação, a nossa proposta é
mais ou menos o seguinte, você fala o seu nome, e fala alguma coisa sobre você, o que você
quiser, pode ser um hobby uma coisa que você goste, qualquer coisa, então meu nome é Lohaine
e eu sou viciada em leitura, eu... vivo lendo e eu estou em abstinência dos meus livros de
história porque eu tenho que só estudar pro mestrado.
- risos
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Mãe de Luciana: Meu nome é Mãe de Luciana, moro lá em Teresópolis município de Nova
Brasilândia e vim acompanhar o parto da minha filha.
Luciana: Eu sou Luciana Maria e moro aqui, não tem muita coisa
Lohaine: fala alguma coisa de você, o que você gosta de fazer?
Luciana: aah eu...
Lohaine: é seu primeiro filho?
Luciana: é é meu primeiro filho
Bianca: Bom meu nome é Bianca, tenho 21 anos, tô na minha 3° gestação, e espero que o meu
parto seja o mais rápido e menos dolorido possível...
- risos
Alice: O meu nome é Alice, é minha primeira gestação e gosto de mexer com desenho
Lohaine: que legal
G5: Meu nome é G5 é minha primeira gestação também
G3: meu nome e G3, é minha 3° gestação e é igual ela, espero que o meu parto seja menos
doído também
- risos
ACS 5: Cheguei agora mais.... Meu nome é ACS 5 agente de saúde nao tenho filhos, e eu gosto
de ouvir música.
ACS 3: Meu nome é ACS 3, sou agente de saúde e gosto de música também
ACS 7: Meu nome é ACS 7, trabalho trabalho no PSF jardim União, e eu gosto de música,
gosto de Whatsapp... facebook
-risos
(incompreensível) tenho filhos e sou agente comunitária do Jardim União.
ACS 1: Meu nome é ACS 1, tenho 2 filhos, que eu crio, e ah, eu gosto de, eu nem lembro mais...
sou agente de saúde também e só gosto de limpar casa ouvindo música também
- risos
ACS 1: Se não não trabalho, eu fico amarrada
-risos
ACS 2: Meu nome é ACS 2 e eu gosto de tudo aí
ACS 6: Meu nome é ACS 6, eu sou agente da área e eu gosto de... assim rádio, sabe, eu gosto
entendeu
G6: Meu nome é G6 eu moro aqui no bairro e gosto de whatsapp também
Lohaine: de whatsap também? ta todo mundo viciado. então ta, agora a nossa brincadeira vai
ser, a rosa vai volta e você vai ter que lembrar o nome da pessoa que ta do seu lado e o que ela
falou sobre ela, seja o que ela gosta ou onde ela mora, o que ela falou, não precisa ser
exatamente tudo, mas basicamente o que ela falou... então, ela é a G6, e ela gosta, ela falou que
gosta de whatsapp e mora aqui no bairro
G6: Vish maria, eu esqueci o que ela falou
Lohaine: esquece? é a ACS 6, e gosta de ouvir rádio
G6: éééé, ACS 6, ééé
ACS 6: Meu nome é ACS 6........
Lohaine: e o dela?
ACS 6: ééé ACS 2, ela falou que ela gosta de todos os tipos de coisa
ACS 2: eu nem num to lembrando
ACS 6: até já esqueceu.
ACS 2: fala meu nome?
Lohaine: não, o dela que tava antes
ACS 2: ACS 1, ela é ACS a muitos anos, ela falou que gosta de whatsapp...
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ACS 1: ACS 3, trabalhamos juntas a muito tempo, ela é parceira, a pesar que sou do PSF Jardim
União e ela é do Florianópolis, mas nos conhecemos a muito tempo, e somos umas das primeiras
né, na área da saúde, ela gosta de musica né...
ACS 3: .....
ACS 5: Meu nome se sabe
-risos
ACS 3: a minha amiga é a ACS 5, e ela é solteira, ela não tem filho, e ta namorando, e gosta
muito de música, ela é muito romântica...
-risos
ACS 5: Eu não lembro o nome da minha colega
G3: G3
ACS 5: G3, mas eu sei que ela quer um parto tranquilo
G3: Seu nome é G5, ela não falou do que gosta
Lohaine: ela falou que ela não falou nada né
G5: o nome dela é Alice e ela gosta de desenhar
Alice: eu não lembro o nome dala, mas lembro que ela quer um parto menos dolorido possível
Lohaine: ela é a Bianca
Bianca: ah eu também não lembro o seu nome
ACS 1: eu não escutei o nome dela porque ela falou baixinho
Bianca: eu sei que você mora aqui no bairro agora...
-risos
Lohaine: Luciana
Luciana: o nome dela é Mãe de Luciana e ela é minha mãe
Lohaine: essa foi a mais fácil
Mãe de Luciana: eu moro no interior, e eu tive 3 filhos, amei a experiencia, foi muito bom
amamentar, cuidar deles, hoje eles já são todos de maior né, agora eu vou ser avó duas vezes
esse ano e gostei, é muito bom ser mãe, ter essa experiência... e eu esqueci o seu nome, me
desculpa
-risos
Lohaine: eu sou Lohaine...então tá, a gente fez essa brincadeira né mais pra gente pensar na
importância de ouvir o outro, as vezes a gente fica tão preocupado com a nossa vida, com a
nossa experiência que a gente não para pra ouvir o outro, a gente fica tão preocupado com o
que o que vou falar e não ouve o que o outro diz, e a roda de conversa é exatamente pra isso,
pra gente conversar, é ouvir o outro, é ouvir experiências, é ouvir um pouco sobre o que ela
pensa sobre o assunto, pra ajudar a gente a entender algumas coisas também né, então é com
opinião dos outros é com a gente sabe que a gente forma nossa opinião sobre as coisas também
né, então é importante o outro, e esse grupo é exatamente isso, troca de experiência, por isso
que a gente fez essa brincadeira tá.
- silêncio
Lohaine: então, antes de a gente começar, vamos estabelecer algumas regras pro bom
andamento do grupo, é bem simples, quando uma falar a outra fila em silêncio e a gente ouve,
pra gente conseguir compreender o que ela entende sobre isso, e como a gente ta em um grupo
pra construir alguma coisa junto, não pode haver julgamento né, a gente tem que ouvir e dar a
liberdade do outro de expressar sua opinião e expressar o que ta sentindo, então não é justo a
gente julgue a experiência do outro, se você quiser comentar, você pode, mas vamos tentar
comentar com críticas construtivas, com opiniões que não machuque o outro, então é só isso.
Agora pra gente começar essa discussão, eu vou fazer uma pergunta, na verdade, eu vou fazer
um pedido, vocês que são mães, alguém quer compartilhar a experiência do parto com a gente?
- silêncio
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Lohaine: como é que foi o parto, como foi o processo? quando foi, onde foi? quem já teve
filhos?
- silêncio
Bianca: ninguém!
Lohaine: Ninguém? Então, como eu não tenho filhos então vou ter que contar a experiência da
minha mãe, eu não tenho filho né.... então, a minha mãe ela teve dois filhos, uma mais velha
que eu e eu, a mais velha ela teve com 16 anos, era bem nova e ela teve de parto normal, e a
mim ela teve de cesárea, e encerrou, fechou a fábrica, e já fez a laqueadura na época podia fazer.
A minha mãe, até hoje quando se fala de parto normal, quando eu comento que penso na
possibilidade de um dia engravidar e de um dia ter filhos de parto normal a minha mãe começa
a chorar, porque a experiência dela com parto normal foi o mais traumática possível, a minha
mãe sofreu uma série de violências obstétricas, desde física a psicológica né, a humilhação, de
que ela chegava lá ela não poderia nem sonoramente expressar a dor dela, que ela fala que a
unica pessoa que ela via, ela chegou lá ela ficou sozinha dentro de uma sala, quer dizer, sozinha
sem o acompanhante dela né, tinha outras gestantes ali e aí com muita dor, as mulheres ali com
muita dor e aí a única coisa que acontecia era que vinha uma pessoa da equipe de enfermagem,
colocava a cabeça pela porta e falava "cala a boca, na hora de fazer vocês queriam" e se alguém
fazia qualquer som, né... então a minha mãe é bem quieta e bem tímida sabe, então ela falou
que ela passou a maior parte do parto dela em silêncio, porque ela sabia que se ela falasse
alguma coisa ela ia ser muito mal tratada, ia ser xingada mesmo, nesse nível. E ela foi sozinha,
sem reclamar, com sede, que ela não poderia fazer nada, e que aí chegou um momento que a
dor tava tanta que disque ela colocou a mão e sentiu a cabeça da minha irmã e sozinha ali né,
e aí nisso chegou uma pessoa da equipe e falou assim "essa daqui ta tendo o bebê" levaram ela
pra sala de parto, deitaram ela naquela posição clássica, colocaram os pés no estribo e aí quando
ela com muita dor, ela ia tirar e eles falavam assim pra ela " não tira o pé daí se você tirar você
quer sufocar o seu filho, você vai matar o seu filho" e aí quando ela entrou em trabalho de parto,
a minha mãe ela é magra e pequenininha hoje, imaginam quando ela tinha 16 anos... e nisso
veio uma pessoa que tinha pelo menos o dobro do peso dela, colocou a mão em cima da barriga
dela e deitou, fazendo a manobra que hoje a gente chama de manobra de Kesseler, que é
empurrar o fundo útero, pra ajudar o bebê nascer, que a minha mãe diz que sente dor até hoje
na pelve por causa disso né, e ela fala que ela tinha a sensação que o bebê ia sair dela e cair no
chão de tanta dor que ela sentiu e então a experiência do parto hoje, ela morre de medo de parto
normal, por causa disso e eu falo pra ela que ela tem razão de ter medo, porque ela sofreu todos
os tipos de violência obstétrica existentes, ela sofreu, né... e infelizmente isso é realidade da
maioria das mulheres da idade dela que tiveram parto normal dentro de um hospital... quando
você vai conversar com mulheres que tiveram pato normal em casa com parteiras, como
antigamente, a maioria não sofreram violência obstétrica, porque ela começou a surgir a partir
do momento que o parto foi medicalizado, que foi pra dentro de um hospital, que em vez de ser
um momento natural ele se tornou um momento de muito medo tantos dos profissionais quanto
eles passam pras gestantes... Que outros tipos de violência obstétrica vocês sabem? que existe...
Bianca: Cortar né, o Pique!
Lohaine: a Episiotomia, sim o pique, que é cortar um pouco do músculo, pra aumentar a
passagem pro bebê, o que mais, que vocês sabem que é violência obstétrica?
Bianca: Aquele soro... ocitocina! não pode também
Lohaine: Então a ocitocina ela é diferente, não é que ela não pode, as vezes o trabalho de parto
ta começando a ter intercorrência né, começando uns probleminhas e pra acelerar o trabalho de
parto algumas equipes utilizam isso, e não é proibido, no entanto é proibido ele falar assim " eu
vou ti dar ocitocina" você falar "não" e ele te dar a ocitocina, isso é proibido, a partir do
momento que você fala que não quer a ocitocina, você não quer intervenção medicamentosa,
como, existe a anestesia para parto normal, e você fala que você não quer, ou fala que você quer
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e ele não respeita a sua decisão , a partir do momento que você não tem sua decisão respeitada
dentro do parto é violência obstétrica, então a ocitocina ela pode ser sim utilizada em alguns
casos.
Bianca: a ocitocina em alguns casos, eu acho que é desnecessário, porque as mulheres fala que
sente bem mais dor né, porque quando eu tive a minha filha tinha uma senhora que tava pra ter
a filha, aí eles deram esse soro pra ela e ficou esperando e o marido dela disque não podia ficar
lá pra espera porque ele tinha que trabalhar, na hora que ele saiu, ela virou as costa ela já...
porque ela tava com quatro centímetros, o médico falou que ainda ia demorar e tal, aplicaram
esse soro e em menos de 5 minutos já tinha tido toda dilatação, e ela começou a gritar, gritar,
gritar, com muita dor, muita dor, e eu tinha acabado de ter minha filha, fiquei desesperada por
causa dela.
Lohaine: todas as mulheres ela relatam que a dor da contração é muito muito maior a partir do
momento aplicam a ocitocina... exemplo, teve um parto que eu acompanhei que ela tava tendo
o bebê e ela começou a sangrar um pouco mais, e ai eles perceberam que ela tava com um
pouquinho de descolamento da placenta, mais isso aconteceu já quando ela tava entrando em
trabalho de parto aí eles utilizaram a ocitocina pra acelerar o trabalho de parto pra evitar que o
bebê tenha algum risco, aí eles perguntaram pra ela, explicaram "vamo colocar a ocitocina?",
ela valou "vamo", e eles colocaram... e isso não é violência, eles utilizaram um instrumento pra
adiantar o trabalho de parto porque eles acreditavam realmente que aquele momento, era
necessário pra ajudar ela e então utilizaram... Mas o que acontece é a ocitocina de custume....
todo mundo que chega lá eles já tão com o soro preparado com a ocitocina, já ta com soro ali,
e isso não pode acontecer, já vem se falando que se você não tem permissão você não pode
fazer, assim come tem varias coisas que a gente tem falado hoje né, a permissão!
Bianca: é que as vezes aplicam e nem avisa a pessoa " ó esse soro tal" já chega aplicando, e a
pessoa nem sabe o que ta tomando
ACS 7: Essa ocitocina aí, eu tomei e eu não podia ter normal, como foi o primeiro, foi no Geral,
aí colocaram uma injeção que Meu Deus do céu, que eu vi estrela, aí eu assim, como nuum
dilatava nada, aí não queriam insistir em ter normal né, nem um dos meu filhos eu tive normal,
eu acho que assim hoje, que é bem melhor hoje os parto, porque tem as coisas, tipo igual a mãe
pode acompanhar, o esposo pode acompanhar, mais antes eu era nova eu tinha 15 anos eu me
sentia tipo assim, que meu esposo, que na época que hoje é meu ex marido, pai dos meus filhos,
me abando, minha mãe me abandono, então eu me achava que eu estava assim abandonada, aí
entrava médico lá, médico pra olha, ia aquelas enfermeiras estupida e ignorante, porque hoje
em dia eu sei que é, mais antigamente eu acho que era muito mais, tipo eu era bem magrinha e
tinha uma mulher e ela era bem gorda, batia, batia assim e batia batia... e eu pensava " Meu
Deus será que o parto era tudo isso que ela fazia tanto escândalo" era "Toma no cú, cadê aquele
viado do meu marido" Aí ele falou "engraçado que na hora que você estava lá transando você
não falava isso pra ele" aí ele falou assim "agora xinga ele" aí as meninas falava que quanto
mais você xingava, você esperneava, menos atenção você tinha, e aquelas que como eu mesmo,
chorava, muito... Mas eu ficava quieta e aí você tinha mais atenção do que as outras que
ficavam, tinha muitos que ficavam queta, porque ficava com medo de você ficar ali gritando,
esperneando e essa pessoa não ia lá, então hoje eu acho assim, como eu acompanhei a minha
filha lá no Santa Helena, eu acompanhei o parto todo, e sei lá eu achei bem diferente de
antigamente, porque tentava até o ultimo momento de você ter aquela coisa de você não dilatava
e outro péssimo que eu achei é aquele toque, que Meus Deus do céu, cada hora achava um,
chegava um pra dá o toque, num é só um, era vários e aí chegava aqueles como que chama?
estagiários, os residentes e toda hora um toque, toda hora um toque e você nunca tá dilatada e
você sofria pra caramba,e hoje não, sei lá quando eu tive minha filha deu um toque e ele marcou
e ele falou "olha você não vai ter normal, você vai vir dia tanto", no dia 17,aí ele pegou como
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no dia 17 ele não estava, falaram "não é no dia 18" seu médico ta, pronto, já fez a cesária, já....
então eu acho assim que foi bem mais.... mais o primeiro? Meu Deus!
ACS 6: eu queria, assim em que momento essa anestesia acontece?
Lohaine: geralmente é quando já ta começando a fase ativa do parto, que é a fase de expulsão
mesmo né, que as contrações tão mais forte, aí você pode utilizar, infelizmente, a maioria dos
hospitais não tem esse procedimento...
ACS 6: isso que eu ia fala, é muito raro.
Lohaine: sim, infelizmente não tem o procedimento de perguntar se você quer a anestesia né, a
anestesia ela tem dois lados, o lado bom e o lado ruim, o lado bom é que diminui a dor, o lado
ruim é que você perde um pouco da força pra empurrar o bebê, então geralmente retarda um
pouquinho o trabalho de parto sabe, se vai ter o filho mais devagar do que era pra ter, por causa
da anestesia... Mas se você ta morrendo de dor, melhor ficar um pouquinho mais de tempo em
trabalho de parto e com menos dor né...
-risos
G6: Eu assisti um parto da minha... desde a hora que eu cheguei até na hora que eu saí, minha
prima sofreu, é sofrido, aí eu falei " nunca mais" "Deus me livre, né"...
(incompreensível por 2 minutos - dicção prejudicada)
G6: minha prima internou era 10 horas da noite e ela teve o bebê 1 hora da manhã, e ela
sangrava em, aí ela "aí" eu eu falei "aí? agora de ganhar o neném você vem falando aí?
chamando mãe, chamando pai? não lembra né" aí ela falou " se vai vê, se vai te um filho", agora
é eu né, me passou o medo
-risos
ACS 6: é seu primeiro?
G6: não, segundo
ACS 7: ah então já tem experiência...
G6: não mais eu não tive nenê normal, o meu foi cesária
ACS 7: Ah tá
G6: eu só assisti o parto da minha prima que foi normal, por isso que não tem a experiência...
ACS 7: Ah e outra que eu ache ridículo é assim, ridículo, eu achei, é o tal do humanizado, Meu
Deus, eu fiquei lá no parto, porque eu trabalhei lá no Santa Helena três ano e meio eu falei
"caraca eu não queria nunca", família toda arrodiada e você sentando ali sentindo dor, e todo
mundo ali, cruzes....
Lohaine: então, mais aí é que ta, a questão
ACS 10: Mas aí não foi só normal
ACS 7: A mesma coisa...
Lohaine: não, a questão do humanizado é a da escolha, entendeu...
ACS 7: eu digo porque você tá ali com dor né e todo mundo ali olhando a sua dor né
ACS 8: eu assisti os dois partos da minha filha, os dois dela foi normal, da primeira gestação
dela a minha neta, foi muito demorado... eu tive cólicas, eu sentia quase tudo que ela tava
sintindo eu sentia... cólica, toda hora queria ir no banheiro mas eu acho que é muito nervoso,
nunca tinha visto, eu falava minha filha passando ali, e ela gritando de dor e eu "aí meu Deus o
que eu faço" naquela situação e começava a fazer massagem nela acalmando ela, mas eu tava
sentindo as contrações também... coisa que eu não tive quando eu tive meus filhos, porque meus
partos tudo foi cessariana né, agora do meu neto foi rapidinho, chegou lá com 3 centímetros aí
a médica falou "não, se vai desce lá vai fazer caminhada pro bebê descer, quando ela desceu a
escada, quando chegou bem embaixo, rebentou a bolsa já levou ela lá com o bebê no braço já,
dele foi rapidinho, mas da menina demorou bastante, mas tudo foi parto normal.
G6: A minha mãe fala que não vai assisti não, que ela desmaia, ela desmaiou com a minha
filhada então ela nem vai comigo, mais eu tenho medo de ficar sozinha...
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Lohaine: Não mais assim, você tem direito de escolher qualquer pessoa pra te acompanhar,
sendo família ou não, pode ser o seu companheiro, pai do bebê, pode ser mãe, ser irmã, pode
ser uma amiga, pode ser vizinha, quem você quiser, você tem direito a um acompanhante, a lei
não especifica quem seja, você tem direito a um acompanhante.
ACS 8: Minha nora eu também eu assisti
ACS 2: e esse aparelho que tem pra puxar a criança?
Alice: porque que no geral não pode?
Lohaine: então eles vem falando assim "ah é a norma do hospital", mas você tem uma legislação
que te garante, nenhuma norma de hospital é ganha da legislação, então é revindicar, é reclamar
" eu tenho direito a um acompanhante, tem uma lei que me dá direito a um acompanhante",
porque tem uma lei e os hospitais usam muito isso de é a regra do hospital, que não pode.
G6: Lá no Julio Muller, era pra eu ter meu filho lá, aí o médico falou "você não vai ter
acompanhante" eu falei "o que? eu não vou ficar aqui nunca nesse Brasil", aqui minha filha, eu
tenho medo de fica lá sozinha.
ACS 10: Mais como que funciona, meu cunhado foi assim, ele assistiu o parto todinho mas ele
não pode ficar, o pai permaneceu...
Lohaine: então aí é que tá, a lei é que você tem direito ao acompanhante durante o parto e no
pós parto imediato, que é cerca de 24 horas depois do bebê, e aí depois se por um acaso a mãe
e o bebê ficarem por mais tempo aí não, aí realmente a lei já não ampara sobre o acompanhante
tá.... Sobre o parto humanizado, hoje em dia se discute muito sobre, não o tipo de parto, não é
porque é normal que é humanizado, e existe partos cesáreos humanizados, o que é ser um parto
humanizado, é ser um parto que respeite o protagonismo, respeite a vontade da mulher,
exemplo, ela estava rodeada de um monte de gente na hora do parto, porque ela queria esta
rodeada de um monte de gente, se ela quisesse ficar só ela e a parteira, era só ela e a parteira...
porque é uma escolha dela, e o parto humanizado é exatamente isso... respeitar as suas escolhas,
"ah eu quero que fique na sala a equipe" a equipe não pode ser mudada, porque é necessário...
mais no entanto exemplo, aí tem a parteira ou médico e três residentes, mais eu não quero os
residentes aqui e você tem direito, mas equipe básica, a enfermeira, o médico, ou uma técnica
de enfermagem, ou a pediatra que tive ali aí, é necessário pra você o pro bebê naquele momento,
mas um estagiário que está vendo, um residente que está aprendendo, você também tem direito
de pedir pra eles se retirarem tá, isso que é ser um parto humanizado. É eu sou a favor do parto
normal, não a qualquer momento? não a cesárea ta aí, ela salvou a vida de muita gestante, ela
salvou a vida de muita criança, é maravilhosa! no entanto, eu sou a favor de que seja dada as
escolhas justas pras gestantes, porque não se ta dando o direito da escolha justa porque a maioria
das gestantes que chega num consultório e fala " eu quero ter normal" e a partir desse momento
começa o processo de, principalmente da equipe médica, de te dar medo pra você fazer uma
cesária. E ele vai te tando medo até chegar os nove meses pra você desistir do seu parto normal,
aí ele vai falando "que o bebê é muito grande" "que o cordão umbilical ta enrolado no pescoço"
"que o bebê não encaixa, que não tem dilatação" "que o bebê ta passando mal, sendo que isso
não existe, e sendo que isso não é real, se é real, não pense duas vezes na cesária... é sua saúde
e a do seu filho, no entanto, eu sou contra não ser real e eles mentirem que é o que acontece
muito gente, acontece muito, os médicos, eles amedrontam as mães pra que elas não tenham
parto normal. Exemplo disso foi a minha cunhada, ela decidiu que queria paro normal e o
médico dela começou um processo de desconstrução nisso, o " o bebê é muito grande" e ela
falou "não, mais eu vou ter mesmo assim" "ah mais o bebê ta muio pesado" "não mais eu vou
ter mesmo assim" "ah o bebê ta com o cordão enrolado no pescoço" aí eu falei pra ela "isso não
é motivo" saibam disso, cordão umbilical enrolado no pescoço não é motivo de de cesária,
existe muita criança que nasce, de parto normal, com o cordão umbilical enrolado no pescoço,
isso é normal, não tem problema nenhum, porque geralmente o que nasce primeiro do bebê é a
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cabeça, nasceu a cabeça, o médico ou a enfermeira coloca a mãe e tira o cordão umbilical do
pescoço e pronto.
ACS 10: Elas tem uma duvida...
Lohaine: Hum?
ACS 10: eu questiono mais a questão do parto normal mesmo, porque assim eles deixam as
mulher sofrendo, sofrendo assim, muito, quanto tempo eles tem que i vê, pra decidir se vai ser
cesária ou normal? o que ta acontecendo muito é isso, é o contrário...
Lohaine: o que acontece é isso, uhum entendo, o que acontece é que a maioria das mulheres,
elas chegam lá, elas não estão em trabalho de parto efetivo, então é claro que elas vão ficar ali
horas, porque o parto normal demora, igual você disse "eu não tive dilatação" então não tava
na hora do seu parto, entendeu...
ACS 7: No meu parto foi assim, fui lá aí tava 2 cm, aí ela falou "não, volta pra casa, porque
aqui vai ficar muito tempo" aí voltamos pra casa, e aí quando foi meia noite, tava com quatro e
fomos, e aí não ficou muito, mais ficou, porque de meia-noite ele teve uma hora da tarde. E
teve que ficar.
ACS 10: Também tem assim que eu falo, tem caso que a mãe vai lá e ta com 3cm, a mãe ta indo
lá durante uma semana, aí ele vê e manda pra casa, vai continua com o mesmo centímetro e a
mãe com dor, não com aquela dor do parto realmente né, que aí eu já tive casos que como vai,
não chega no hospital vem até mais tarde, até tarde, porque passou da hora de nascer, essa
questão assim, desse parâmetro deles, que tem acontecido né.
Lohaine: Uhum, mais então porque é que você acha que passou da hora de nascer? quem é que
te disse?
ACS 10: Não porque assim a mãe foi assim, a mãe falou " to gestante, to com 39 semanas",
porque eles querem esperar as vezes querem esperar até 42 semanas, que é o público que é algo,
mas pra algumas crianças, as vezes o feto não consegue, tem criança que não consegue chegar
a 42.
Lohaine: então ela vi entrar em trabalho de parto
ACS 10: mais não entra, tem mãe que não tem dilatação.
Lohaine: Mais porque não ta no momento...
ACS 10: Mais si, não pode passar até das 42 pode?
Lohaine: depende do caso, tem mulheres que passam de 42 semanas, e é seguro, só que aí o que
acontece, passa de 42 semanas, aí geralmente a equipe monitora ela de 2 em e dias pra vê como
está o bebê, se o bebê não ta em sofrimento como que ta a barriga, por que geralmente não
chega a mais de 42 semanas, mais é possível chegar sim e passar, e o bebê nascer bem.
ACS 10: aah eu já tive caso assim, entendeu. É que a gente fica preocupado com a questão de
passar da hora de nascer.
Lohaine: mais aí é que está...
ACS 7: é que quando chega nas 39 tende a nascer...
Lohaine: pois é, a maioria das crianças que nascem de parto normal, elas não nascem de 37 ou
38 semanas, elas nascem de 40 pra lá.
ACS 8: eu creio assim, que ninguem sabe o dia que fize... sabem assim o dia que tiveram a
relação, mas não sabe se foi naquele dia que engravidou, né... aí sempre acontece isso.
Lohaine: Pois é e aí você falou, ah é claro que cada caso é um caso, eu cheguei lá eu não tinha
nada de dilatação, provavelmente era porque você não estava no momento de seu parto era só
esperar.
ACS 7: e eu tive cesárea todos foram cesária.
Lohaine: mas só que aí "Ah eu esperei" quanto tempo seu filho nasceu 38 semanas 39 semanas
então não esperou.
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ACS 8: e a respeito do útero infantil?
Lohaine: então o útero infantil é extremamente Raro, extremamente raro, extremamente
mesmo, mas só que vocês vivem falando isso porque é uma desculpa que os médicos usam para
falar que você não pode ter filho normal entendeu? a maioria das coisas, a maioria das vezes os
médicos utilizam de problemas reais, mas o que são minorias para para que as mulheres fiquem
apavorados de ter parto normal, e a Claro tá certa! se o profissional de saúde fala para você que
você não tem condições de ter esse bebê, que você tá colocando em risco esse bebê, é óbvio
que você vai acreditar nele e vai passar pelo que ele recomenda né, então a questão do parto a
gente fala que é um combate contra o próprio sistema de saúde, contra os próprios médicos,
porque os médicos ganham mais dinheiro para fazer cesária, parto normal não.
ACS: mas diz que parto normal disse que eles recebem mais do que cesária né?
Lohaine: então o governo federal desenvolveu um programa que se chama Rede cegonha o que
é De estimulação a qualidade quer dizer diminuição da mortalidade materno-infantil e tem
vários pactos e um dele é diminuir o número de cesáreas Porque aqui no Brasil se faz muito,
mais de 50% dos partos são de cesária e o indicado pela ONU é de cerca de 15% de cesáreas
entendeu? Por que essa cesáreas são das mães que precisam da cesárea, que os bebês precisam,
Por que claro que existe porque senão não seria inventado, a cesárea é muito boa quando
precisa.
ACS 8: Se eu soubesse naquela época que o parto normal seria tão maravilhoso, então melhor
que um parto cesariano, eu acho partos ser mas infelizmente eu não sei falar para ti quais os
sinais, eu não sei falar qual os sintomas do parto, os meus três foram cesariana. aí como se diz
na cesárea seu bebê tá lá não tá pronto para nascer, tá dormindo, quietinho, são bebês que depois
tem mais problemas de doença no futuro que se for parto normal, se eu soubesse disso eu tinha
esperado e tinham meus bebês tudo de parto normal, mas graças a Deus são todos saudáveis.
Lohaine: eles estão saudáveis ótimo, mas é a questão de respeitar suas escolhas, que nem eu
sempre falo cada caso é um caso, mas precisa ser respeitada as escolhas das Mães, precisa ser
respeitadas a sua vontade né, E que você tenha direito de receber o conhecimento justo o que
realmente pode acontecer, quais são realmente as suas opções, para que você possa escolher seu
parto, Se você souber todas as suas possibilidades, o que pode acontecer de bom e o que pode
acontecer de ruim em cada parto, e falar "não, mas eu quero cesárea mesmo assim" beleza é um
direito seu, tudo bem, não tem problema.
ACS: esse trabalho fórceps é o quê?
Lohaine: fórceps, eles utilizam um instrumento para tipo, desculpa a palavra mas desinstalar o
bebê sabe, empurra mesmo sabe?
G3: isso pode machucar a criança né?
- várias pessoas falam ao mesmo tempo.
Lohaine: sinceramente é possível.
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G3: Porque eu conheço uma criança ele é deficiente do braço Por que Puxaram ele com ferro,
aí depois foi crescendo e tenho problema no braço, aí hoje.
Lohaine: meu sobrinho nasceu com roxo No rosto..
ACS 2: a minha neta é na testa até hoje ela tem um fundo que não conseguiu voltar
G3: voltou a funcionar, hoje ele tem 18 anos.
ACS 7: e aposentou por causa disso né?
ACS 6: porque antigamente eu fazia acompanhamento do cartão de gestante, no cartão de
vacina aí tava escrito parto normal e parto fórceps, no cartão de vacina, aí depois eu perguntei
para a enfermeira o que era fórceps, Aí ela falou para mim que era assim, quando o neném nasce
primeiro os pés né, porque tem criança que nasce primeiro pé né , diz que normal é quando
nasce com a cabeça encaixada né, diz que é normal, diz que esses que nasce pelos pés não é
normal?
Lohaine: não, não tem nada haver, tudo é normal isso é só a posição tem bebê que nasce de
cócoras, que falam, que nasce a bunda primeiro e bebê que nasce com a cabeça primeiro.
ACS 6: é tem bebê que nasce os pés primeiros né?
Lohaine: é mais difícil, geralmente eles, é mais difícil eles nascerem primeiro pé…
G6: esse nenenzinho que tava falando, Ele nasceu com a cabeça, primeiro a cabeça e depois
que nasceu corpo.
Lohaine: é esse é o mais normal geralmente quando vai chegando na época do parto, o bebê já
vai virando para encaixar, então é mais difícil eles nasceram os pezinhos primeiro porquê eles
estão muito encolhidinho, eles ficam em posição bem encolhidinho, geralmente quando ele não
nasce a cabeça nasce ele nasce de bunda, nasce a bundinha primeiro.
ACS 6: aí quando ele vai nascer ele vai se ajeitando, quando ele nasce de bunda assim?
Lohaine: não, é que o bebê ele é muito mais flexível que a gente, extremamente mais flexível
né e não é problema, hoje em dia já se vê, falam que o bebê não pode nascer de parto normal
de bundinha, hoje em dia já tem vários parto normal que eu bebê nasce de bunda Tudo bem,
entendeu? o que não tem como é o bebê se tiver, o bebê estiver de lado, se o bebê estiver de
lado aí tem várias manobras que você pode fazer para virar o bebê, se o bebê não virar aí é
cesárea, não tem possibilidade do bebê nascer de lado isso vai acabar tipo se insistir ainda pode
matar a mãe e o bebê, porque não tem possibilidade se o bebê estiver de lado não tem
possibilidade alguma.
ACS 10: e se tiver sentadinho, a o bebê tá sentado tem que ser cesária?
Lohaine: então é isso que eu tava falando que o bebê pode nascer de bundinha né de cócoras
que fala tranquilamente hoje em dia.
ACS 10: tem médico que fala que não pode né?
Lohaine: é, antigamente falavam muito hoje em dia a maioria, tipo os hospitais públicos se o
bebezinho estiver de cócoras e a mãe quer parto normal consegue ter normalmente.
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ACS 6: Eu já ouvi um comentário que diz que, dizendo que o parto normal dizem que é melhor
para criança, diz que criança que nasce de parto normal É diferente daqui nasce de cesárea, quer
dizer que o parto normal só beneficia a criança não beneficia mãe.
Lohaine: não, não não não, é que a gente tem tanto falando de parto, a gente tem uma campanha
que é só para fazer as mães fazerem mais cesáreas né? Então se uma mãe morre no parto normal,
no mesmo dia já está em todas as mídias, eu acho que tem uns dois meses que morreu uma
enfermeira lá em Rondonópolis no parto cesária, de complicação de anestesia e faleceu e você
não ouviu falar, porque não beneficia ao sistema que você saiba que a cesária também tem risco,
na verdade a cesárea tem três vezes mais riscos que o parto normal para mãe e para o bebê, três
vezes e, mas não se fala nisso. que que nem você estava falando, na verdade não, ela tem
benefícios para mãe e para o bebê, para o bebê 100% mais benefícios, primeiro porque ele vai
estar na hora de nascer, então ele vai estar pronto para nascer, pulmão vai estar maturado
maturado que fala completo, vai estar no momento certo, ele vai ter se desenvolvido totalmente,
o máximo que ele poderia, o sistema imunológico dele estará mais fortalecido e tudo isso ajuda
o bebê. Então quando você tem um parto normal no momento certo isso beneficia o bebê Bebês
que nascem de parto normal depois que crescem, eles tem a menor possibilidade de desenvolver
alergia a, desenvolverá acima, desenvolver várias outras problemas que já foram comprovados
que bebês de cesáreas tem mais né, e para mãe, para mãe você tem um benefícios de
recuperação, de tempo de recuperação, uma amiga minha ela teve, ela estava em dúvidas a
gente conversou e ela escolheu ter o parto normal, teve o bebê dela ela amamentou, e enquanto
pediatra examinava depois que ela amamentou, é outro direito de vocês é, vocês têm direito de
amamentar o bebê na primeira hora de nascido tá? O bebê nasceu ela na mentou e quando o
bebê foi pego pelo pediatra, ela veio tomou banho, se arrumou, penteou o cabelo, Enquanto isso
a equipe trocou os lençóis ela deitou lá, para esperar o bebê dela, na cesárea você nunca vai
fazer isso.
ACS 6: o meu parto foi aqueles partos por agendamento, porque eu já estava perto de nascer
e era risco por causa da idade, olha acho que não vou ter normal porquê meus ossos já tá tudo
duro.
risos.
ACS 6: eu paguei né eu falei não vou fazer cesária, aí eu fui e sem dor, mas eu graças a Deus eu
não tenho reclamação da minha cesária , eu tive bebê depois fui para casa, sair de lá, só que eu
fiquei com medo por causa da idade, porque eu estava com 36 anos, falei meus ossos Estavam
todos duros para ficar abrindo assim.
Lohaine: é 33 anos, A única diferença é que geralmente as outras mulheres estão tendo o
segundo ou terceiro filho, e você estava tendo o primeiro, o que mais tem é mulher de 33 anos
tendo bebê, então você não estava velho.
ACS 7: tem o bebê e os ossos fazem crec-crec.
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- risos.
ACS 2: Olha e sobre a bolsa, aquela bolsa, porque no meu parto do filho a minha bolsa
arrebentou no dia 8 à noite aí eu passei o dia 8 a noite inteira aí no outro dia de manhã, dia 9 aí
passou nove inteirinho, aí quando eu vi era tarde que já tava eu tava sentindo um trem meio
esquisito aí eu falei, Ah não eu vou lá no médico né! aí que eu fui no hospital geral chegou lá
sem dor, mas não tive dor, aí no dia 9 de tardezinha que eu internei e eu tive o meu filho no dia
10 à noite.
Lohaine: É que geralmente Acontece muito de romper a bolsa…
ACS 2: mas eu sofri muito para ter os meus filhos, deram injeção em mim porque eu não tinha
dor.
Lohaine: Pois é a questão é da bolsa tem muitas vezes que ela rompe e não sai todo líquido sai
um pouco e fica um pouco de líquido e o bebê continua ali, por isso que ele não entra em
sofrimento, a gente fala entrar em sofrimento fetal é quando o bebê começa, Exatamente é sofrer
para nascer entendeu, a partir do momento que o bebê começa sofrer para nascer aí tá na hora
de intervenção, porque a gente não vai deixar o bebê sofrer né? Aí tá na hora de começar a
intervenção mesmo, e aí se não conseguir por parto normal vai para cesária, Às vezes o bebê
entra em sofrimento já no final do parto normal aí o médico continua, porque você já está no
parto normal, já tá parindo, mas exemplo você não tá na fase expulsiva do parto e o bebê entra
em sofrimento geralmente você vai para cesária e é ótimo, a cesária está aí para isso, a cesária
está aí para ajudar as mães mesmo.
G6: eu prefiro parto cesárea.
Lohaine: prefere?
G6: prefiro!
Lohaine: então tá bom.
G3: eu já tive os meus dois normal e quero o terceiro normal.
muita conversa Paralela de difícil compreensão.
Lohaine: gente vamos prestar atenção aqui por favor, desculpa pode continuar.
G3: eu tive meus dois normal, aí no meu segundo deu uma complicação do meu parto, eu não
vi o que o médico estava fazendo comigo, eu também não vi o que aconteceu que eu tive começo
de hemorragia , mas quando chegar na hora de nascer eu quero ir para o hospital quero ter
normal novamente, não quero ter cesariana de jeito nenhum, porque eu sei o sofrimento da
minha irmã com a cesária.
G6: Para mim foi bom a minha cesária, para mim não teve coisa ruim não porque…
Lohaine: é então, cada um é cada um né, cada casa é cada caso.
G6: por quê a minha irmã, é minha irmã fez tudo comigo né , mas nesse aqui né agora não tem
ninguém, porque minha mãe desmaia, a minha mãe vai desmaiar seu para ir lá ela vai lá vai
cair.
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Lohaine: tem que deixar você para socorrer ela né.
- risos
G6: é, porque esse ano, (trecho incompreensível pela dicção da entrevistada)
ACS 10: a Tem certas pessoas que não servem para acompanhante né.
G6: por quê a minha mãe passou muito perrengue esse ano né, então assim sim eu não quero
que ela vai por quê, eu sei que ela sim então eu não quero que ela vá, se ela desmaiar eu vou
ficar como.
Lohaine: vai ficar preocupada com ela né ?
G6: vou ficar querendo socorrer ela né, por quê…
ACS 10: arruma uma amiga!
G6: Não, a minha prima vai!
ACS 7: Essa é aquela prima que você foi a primeira vez?
Lohaine: Pois é vocês trocam né
G6: aí ela falou assim não eu vou, porque meu vô faleceu, aí então minha mãe tá passando por
um momento agora muito difícil né, como ele morava com nós, então era assim a gente era
amigo.
Lohaine: Pois é então a gente tava falando dos direitos que vocês têm durante o parto além da
acompanhante né que é um direito de vocês, vocês também tem o direito…
G3: quando eu fui ter o meu segundo parto eles não deixaram a minha amiga entrar de jeito
nenhum, e até hoje eu não sei o motivo, Por que o deter essa hemorragia, eu queria saber como
que eu faço quando chegar lá é perguntar se eu posso ter normal, ou vai ter outra complicação?
Lohaine: então, Às vezes acontece essas complicações no momento do parto, não é por uma
condição da sua gestação, então trocou de gestação esquece tudo entendeu, e como a gente não
sabe o porquê que você teve…
G3: eles não falaram de jeito nenhum, e a minha amiga queria entrar e eles não deixaram ela
entrar junto comigo, não deixou.
Lohaine: isso é na sala do parto?
G3: Sim, eu não lembro de nada eu só lembro que eu tava na cama lá, com aparelho em mim
e uma mulher falando para deixar o aparelho e eu não vi nem meu filho.
G6: é Igual essa minha prima, minha prima…
G3: eu nem vi como Meu filho nasceu.
Lohaine: então, na gestação você teve alguma complicação, como pressão alta ou algo assim?
G3 2 pontos não aí depois que eu ganhei, deu pressão alta deu um monte de coisa, depois que
eu peguei o meu filho.
G6: é igual a minha prima, a minha prima também foi a mesma coisa dela.
Lohaine : Agora você tem, você toma remédio?
G3: não, não controla mais.
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Lohaine: meninas Você tá doida, é perigoso!
ACS 7: nem no pré-natal ?
Lohaine 2 pontos você não fazia acompanhamento nem no pré-natal, elas não eram alta na
consulta?
G3 : não, normal.
Lohaine: então as vezes...
ACS 7: então é só gestacional, gestacional não, como que é mesmo?
Lohaine: não, as vezes foi por causa da gestação que você teve, aí a hemorragia, eles fizeram
transfusão, não fizeram?
G3: Fizeram!
Lohaine: então, isso pode dar uma alteraçãozinha de pressão, mas depois do parto, só que depois
estabiliza, isso provavelmente que aconteceu.
G3: Aí depois do parto eles comentaram pra eu tomar remédio, medicamento, mas o remédio
era muito forte e eu não quis tomar mais não.
Lohaine: Se hoje você não tem, as vezes foi por causa disso, foi por causa da sua condição que
você desenvolveu uma leve hipertensão, mas só que depois estabilizou, depois que passou o
parto.
ACS 7: mas, é que as vezes, como por exemplo a mãe dela tem pressão alta, esse também vem
devido a família também ou não?
Lohaine: hipertensão é fator.... tem fator hereditário, além de hábitos alimentares, de exercício,
também tem fatores hereditários, provavelmente, quer dizer, provavelmente não, é muito
comum se os seus pais tem hipertensão, você ter também, então é mais importante, quem tem
histórico de hipertensão, é mais importante fazer um acompanhamento mais sério, que hoje em
dia é maioria né? acho que a maioria hoje tem, eu por exemplo meu pai é hipertenso, então...
Mas só que se você ta acompanhando, fazendo pré-natal e não tem pressão alta quando vem
aferir a pressão, então provavelmente foi só aquele caso, então não tem problema na sua
gravidez, você vai pra lá pra ter parto normal, se você não escolher cesária, entendeu... é sua
preferencia, eles vão partir pra cesária quando você não tem condições de de ter.
ACS 7: Mas só que quando você já tem três ele, você já vai operar ou eles não....
G3: Eu quero opera, mas pra minha idade eles não vão quere...
ACS 7: ééé
Lohaine: Na verdade, você tem quantos? três? tem quantos anos?
G3: Três? tenho 22 anos
Lohaine: não mais eu acho que é terceiro a partir, ééé... De acordo com o SUS, o planejamento
familiar, pra fazer a laqueadura, é 25 anos ou 3 filhos.
G3: Eu quero!
ACS 10: Minha irmã teve 4...
G6: A minha prima tem 5 e não quer operar.
Lohaine: Não, eu to falando de... pra você fazer laqueadura... Aí, então acho que você já pode,
depois você pergunta pra enfermeira, mas acho que você já pode fazer o planejamento familiar
pra entrar na fila pra laqueadura.
G6: eu quero operar, Deus me livre.
ACS 8: Se ela ta com 22 agora...
ACS 7: assim se ela tá no terceiro ela tinha que planejar, no segundo ela já tinha que planejar
para engravidar do terceiro, é sério, porque uma amiga minha esperou esperou aí ela
engravidou… agora vai colocar no Júlio Muller.
ACS 8: como que ela vai fazer agora, com 22 aí demora para ser chamado.
G3:mas demora muito muito muito no Júlio Muller?
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Lohaine: na verdade, não é o Júlio Muller, não é só o Júlio Muller…
ACS 7: não, eu digo, eu digo o que é nessa área de abrangência né
Lohaine: tá, hoje em dia né…
G3: eu pensei em colocar DIU por enquanto né, até sair a laqueadura por quê misericórdia não
quero ter mais filho não.
G6: a minha cunhada colocou o DIU…
Lohaine: o DIU é muito bom…
ACS 10: se você for ter seu parto no Júlio Muller, diz que lá tá colocando tá…
G3: só pedir né…
ACS 10: se pedir eles colocam.
ACS 7: porque assim já começa dar entrada, porque eu falo assim já tem que ir planejando já
no pré-natal?
Lohaine: não, na verdade por causa que o DIU, você nem pode colocar o DIU logo depois do
seu parto porque o Seu útero está dilatado, geralmente ele demora uns 4 a 5 meses para ele
voltar no tamanho, próximo ao tamanho, o Seu útero vai estar pronto totalmente, como novo
vamos dizer assim, para uma gestação, cerca de um ano no mínimo, que ele vai tar assim "não
eu já estou, eu voltei ao que eu era antes da primeira gestação" da gestação anterior entendeu,
cerca de um ano.
ACS 10: mais lá no Júlio Muller, Eles mandaram avisar que tendo parto normal lá, nos
passaram assim que se a mãe quiser sair de lá com o DIU colocado sai.
Lohaine: Então depende do DIU, porque você sabe que existe dois tipos né, que é o DIU de
cobre e o DIU que é com hormônio também. O DIU com hormônio você coloca ele e pronto
porque ele vai liberando hormônio não importa a posição que ele está, ele vai liberar hormônio
entendeu? O DIU de cobre se você colocar ele lá, ele tem que estar na posição certa entendeu,
e como é que ele fica na posição certa com seu útero tá muito maior entendeu? Então aí existe,
aí como é lá no Júlio Muller tem que ver porque o SUS não dá, geralmente não dá esse DIU de
hormônio, eles fornecem o DIU de cobre né por isso que eu estou te dizendo, Às vezes pode
ser assim se a mãe quer usar o DIU de hormônio é só ela comprar e lá depois do parto eles
colocam, e isso é bem impossível de acontecer, mas o de cobra é bem difícil.
ACS 10: então essa informação que eles passaram, dessa forma para gente, passaram assim, se
a mãe que tá na hora do parto quisesse colocar o DIU eles colocam, foi isso que eles passou
para gente, mas isso aí tem mais de ano, então eu não sei se está ainda está dessa forma, por
causa dessa situação né.
G6: minha cunhada arrumou um DIU, mas ela esperou, a minha sobrinha ter um ano aí ela
conseguiu colocar um.
Lohaine: é por isso que eu falei o SUS coloca DIU sim.
ACS 10: mas você colocando DIU tem uma certa tratamento, tem que se manter né, direito
tem que ter uma certa prevenção né.
Lohaine: então o dia ele é bem seguro né, bem bom, é uma das melhores opções hoje em dia
que está tendo de anticoncepção a longo prazo é o DIU né? então, ele é mais de posição , vira
e mexe você tem que ver, geralmente o médico pede uma ultrassom né para ver a posição do
DIU essas coisas.
G6: Por que que o povo fala que o DIU dá câncer?
Lohaine: câncer?
G6: é , o povo fala né!
Lohaine: então o DIU, Como eu disse depende do DIU, a questão do hormônio, o hormônio
ele, gente nunca vai ser bom a gente usar mais hormônio no nosso corpo, e isso é
anticoncepcional, é pílula do dia seguinte, é qualquer tipo de hormônio, então por isso que tem
aquela lista enorme de contra-indicações e de efeitos adversos em até anticoncepcionais
simples né, e já tem comprovado que anticoncepcional pode produzir coágulos, que pode dar
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derrame e AVC né, já tem falando sobre câncer de útero que Jeová vário essas coisas então,
questão é o acompanhamento e como o DIU com o hormônio é mais ou menos o que o
anticoncepcional vai fazer, mas ao invés de você tomar todos os dias ele vai liberando, você vai
estar sujeito a ação de hormônios exógenos, de fora do seu corpo, então sempre tem riscos.
ACS 6: e esse é muito caro?
Lohaine: o DIU de hormônio?
ACS 6: é
Lohaine: então, a última vez que eu vi, eu tava até pensando em por também, tava cerca de r$
700 então ele é bem salgado.
ACS 6: e quanto tempo ele dura?
Lohaine: o de hormônio são cerca de 5 anos, 5 ou 10 anos e o de cobre são 10 anos.
ACS 6: bastante né
Lohaine: Sim, por isso que eu falei que são métodos de anticoncepção a longo prazo, aí você
tem aquela história né, Às vezes você escolhe, tipo você não quer fazer laqueadura mas não
quer ter filhos, ou às vezes antes de começar a ter filhos né, então é um opção, mas aquela que
não tem certeza, que acham que podem ter filhos antes aí não compensa pôr o DIU por causa
disso, porque às vezes você paga um pouquinho mais caro no DIU e você vai depois ter que
tirar para engravidar?
G6: eu não quero por não, não é para mim (o restante da frase está em compreensível)
ACS 6: e este de cobre em quanto tempo tem que fazer o negócio?
Lohaine: o quê?
ACS 6: ir no médico de novo
Lohaine: então você faz retorno normal geralmente, de cuidado femininos mesmo, de um em
1 ano. geralmente logo que coloca eles geralmente pedem para você voltar para ver se você
está se adaptando bem, com dois meses mais ou menos, depois disso é ano em ano. é bem
tranquilo o DIU, a questão é que ele não é muito divulgado né, no sistema de saúde aqui no
Brasil, mas no Brasil é muito útil e é bem legal muito bom. a gente pensa sempre que só tem a
pílula né.
ACS 6: eu nem sabia que tinha isso!
Mãe de Luciana: eu tive dois partos normais , teve o primeiro e foi muito bem atendida.
Lohaine: no hospital?
Mãe de Luciana: é, o parto dela também foi normal foi no hospital geral, e foi ótimo aí no meu
terceiro parto, meu filho foi uma cesariana, que eu sinto dor até hoje. Eu recebi alta, Fui para
casa E aí começou a me prender esse lado aqui ó, aí eu tinha que virar, se eu não virar se eu
tinha muita dor muita, aí eu tive que fazer outra cirurgia aí o médico lá de Nova Brasilândia,
disse que era erro médico, e eles tiraram, não sei o que que eles largaram dentro ele não quis
me mostrar, aí eu melhorei desse lado mas então esse lado de cá, do meu corpo até hoje eu sinto
dor todos os dias, daqui esse lado todo, eu não posso deitar, eu não posso limpar casa, não posso
lavar roupa, tudo que eu vou fazer essa dor me incomoda 24 horas, eu não aconselho as pessoas
a fazer o parto cesárea sem necessidade, Porque para mim, a minha experiência foi que é
horrível, aí o médico falou para mim o seguinte, Você não tem jeito Já fiz todo tipo de
tratamento e não tem jeito, e a dor ela continua, e não tem mais remédio para mim tomar, agora
só vó né…
- risos
Lohaine: e agora né
Mãe de Luciana: agora ficou bom, aí o meu filho ele fala assim, quer ver minha mãe que você
Sara depressa. se eu tivesse feito parto normal quem sabe eu não tivesse isso, meu filho vai
fazer 30 anos, ou Alexandre, aí eu tenho Luciana de 25 e e a Gabriele de 21, E aí se eu tivesse
tido normal e não tivesse ligado, eu poderia ter outros filhos, que agora que eu já vou completar
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50, na minha casa é uma solidão, na Fazenda agora todo mundo já saiu ficou só nós dois e para
adotar eu não tenho coragem.
ACS 8: mas é bom depois vem os netos!
Mãe de Luciana: não, mais os netos têm os pais e não vai deixar, e eu também não pego porque
assim se eu pegar depois eu não devolvo.
- risos
Mãe de Luciana: se eu pegar eu não devolvo.
ACS 2: eu sou assim peguei uma neta com uma minha, e já tá com 17 anos e não quer voltar.
Mãe de Luciana: então para mim pegar eu não pego porque depois eu não vou devolver.
Lohaine:então a senhora vem para cá, vai ter que arrumar outros hobbies para passar o tempo
né
Mãe de Luciana: agora eu faço assim lá né Eu queria o carneiro, cabrito, e o mesmo tenho
horta, aí eu faço farinha, faço crochê, um monte de coisa para ocupar o tempo, mas, o que que
eu fiz destruir a minha saúde, Agora já tem quase uns 15 dias que eu estou aqui, e não tô
fazendo quase nada e a dor não para, não tem jeito.
Lohaine: como a senhora disse eu destruir a minha saúde, não, foi uma escolha que a senhora
fez e tinha o direito de ser bem atendida, Como disse foi o erro do médico.
Mãe de Luciana: então Mas o médico é humano né o erro é normal .
Lohaine: sim, mas…
Mãe de Luciana: o médico não teve culpa a culpa foi minha que resolvi fazer né
Lohaine: não jamais senhora, a senhora escolheu Mas a senhora também tem direito Ah um
parto, a um parto bem feito, é tanta que se exemplo, a senhora fizesse uma denúncia contra ele,
a senhora não seria culpada ocupada seria ele. porque o erro é humano, mas ele é um
profissional que responde por isso.
Mãe de Luciana: esse médico que fez o meu parto, ele não existe mais, tirar a vida dele, não
sei se você sabe daquele médico que foi morto lá no Coxipó
Lohaine: eu não conheço
Mãe de Luciana: só sei que parto normal é bem bom.
Lohaine: e vocês escolheram Que tipo de parto? Você vai ter normal né? E você também
normal? e você Bianca?
Bianca: a eu voltei normal né, pelo SUS Você não escolhe como você quer ganhar.
Lohaine: você vai ter normal eu já sei falou bastante disso.
G3 : eu não quero cesárea de jeito nenhum;
. Lohaine: e você Alice?
Alice: normal né vai ser, eu queria cesária.
G5: eu não sei, mas eu quero ter normal.
Lohaine: então hoje em dia as experiências de parto normal, elas são , tem que ser modificado
porque tem se modificado as práticas né, então tipo, não é vocês que estão mudando é Graças
a vocês que o sistema está tentando mudar, tem muito profissional bom que tá vendo aí com
novas práticas, praticando o parto humanizado né, Como eu disse para vocês não importa o
tipo de parto, importante é é como você é tratado, se você é contratado com respeito, se as suas
escolhas são respeitadas, você teve um parto humanizado, não precisa ser em uma banheira,
dentro de casa, para ser parto humanizado não.
Bianca: Acho que muitas que escolhe a cesariana é porque teve uma experiência muito ruim
com parto normal né, aí quando engravida fica, já fica assim, já ranjo dinheiro para pagar a
cesariana, por isso que fala né O que é uma cesariana desnecessária, não tem necessidade, mas
a pessoa sofreu tanto para ter o filho que ficou traumatizada né .
ACS 7: acho engraçado ela, que é o terceiro e ainda quer normal né, porque a maioria não
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G3: a eu quero normal , a única coisa que eu sei é que o bebê sai a dor acaba, cesariana não na
hora você não vai sentir nada né, mas depois misericórdia, eu vi o sofrimento da minha irmã
então eu não quero.
Lohaine: que nem você falou a questão é que hoje, hoje não existiu um processo no Brasil
quando houve a medicalização do parto, que era aquela história, foi de maltratar mesmo a
maioria das Gestantes para acabar que, e acabou que se tornou O que é hoje, esta quantidade de
partos cesáreos justamente por causa disso Geralmente se trabalha com medo das Mães, as mães
que às vezes arriscam a ter parto normal, o que foi o caso que eu relatei o da minha mãe e
quando chega no segundo filho ela não quer nem saber, por causa que ela sofreu muito e é o
que mais acontece. Então a questão é essa, s mudar as práticas, a gente tá tentando e vocês que
estão gestantes também tem um papel nisso, é denunciar, hoje em dia se vocês sofrerem
violência obstétrica vocês podem denunciar nas ouvidorias dos hospitais, vocês podem entrar
com processo e denúncia nos nos conselhos de ética de enfermagem porque enfermeiros
obstétricos também fazem partos, equipe de enfermagem também eles apoiam durante todo
parto, seu processo de parto e eles podem também submeter vocês a algum tipo de violência
obstétrica então vocês podem denunciar no Coren, que aqui de Mato Grosso O que é o Conselho
Regional de Enfermagem de Mato Grosso, pode denunciar no CRM, que ao conselho de
medicina e por causa, e em alguns casos você pode entrar com processo civil contra equipe, em
casos mais graves, que tem a prova se você pode entrar com processo civil por causa de
violência obstétrica é isso é denunciar, s falar sobre isso, é fazer roda de conversa e discutir
sobre a qualidade da assistência ao parto, se conscientizar do seu direito durante o parto né, os
deveres da equipe e seus direitos nesse processo, e se não for cumprido denunciar E por que
são vocês que passam por isso, né então eu estava seis para falarem da sua experiência.
Lohaine: Eu queria que vocês avaliassem as rodas, vocês podem falar uma palavra, pode
resumir um pouquinho sobre as experiências de vocês nessa roda, o que vocês acharam e podem
fazer sugestões de temas que vocês tem dúvidas né, que vocês acham que seria importante a
gente discutir aqui no grupo para as próximas, ta bom? Você Luciana?
Luciana: Eu?
Lohaine: é, vamos começar assim?
Luciana: Ah eu gostei da palestra e se eu puder quero vir mais vezes... se eu não ganhar até lá
né?
Bianca: Ah mais o próximo é de amamentação, a você trás o bebê
Lohaine: e você Bianca?
Bianca: Ah eu gostei nuito, e quero participar do próximo também.
Lohaine: Que bom!
G3: ah eu gostei também quero vir no próximo pra tirar mais dúvida da gente.
Lohaine: Alice?
Alice:Eu gostei, a gente fica sabendo de outras experiências de outras pessoas, porém eu fique
mais medo agora, mas entrou e vai ter que sair, com dor ou sem dor, mas é isso, eu fiquei com
medo.
Lohaine: Então me desculpe se eu te deixei com mais medo, mas se a gente não sabe o que está
acontecendo, a gente não consegue avaliar como a gente tá, entendeu? infelizmente essa é a
realidade do que se está sendo o processo de parto aqui no Brasil, então a gente vai ter que
discutir sobre isso pra gente tentar melhorar.
G5: Eu gostei, quero participar mais.
ACS 7: Eu gostei e assim você conversou bastante com a gente né, tirou bastante as nossas
dúvidas e que a gente continue assim.
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Lohaine: que bom.
ACS 8: Eu não tava aqui né...
Lohaine: Não, fale o que você achou da roda né, avalie assim...
ACS 8: Aaah maravilhoso, tirou até minhas dúvidas também, creio que assim como eu, creio
que todos tem dúvidas ainda né, então tem que continuar bem mais tempo... era bom se tivesse
mais gestante né, mais infelizmente...
Lohaine: é mais, pensa pelo lado positivo, essa reunião teve mais gestantes que as rodas
anteriores, a gente vai aumentando aos poucos!
- Coro concordando com a afirmação.
Lohaine: é mais, pensa pelo lado positivo, essa reunião teve mais gestantes que as rodas
anteriores, a gente vai aumentando aos poucos!
- Coro concordando com a afirmação.
ACS 6: Seria bem se aquelas que são mães de primeira viagem, participarem né...
ACS 7: Mais uma vai passando pra outra né...
ACS 8: Eu to com uma gestante que tem 14 anos, eu chamei ela... Mas só que é aquela coisa,
dorme ateééé... Aproveita enquanto o bebê não nasceu, porque depois...
Lohaine: Na hora de marcar a reunião a gente tem essa dúvida né... faz de manhã que é mais
fresco, é melhor pras gestantes né pra ir para unidade, ou faz a tarde que elas podem dormir até
um pouquinho mais tarde ? sempre essa dúvida!
ACS 5: eu estou gostando muito dessa troca de experiência…
ACS 8: é que ela quer ser mãe também!
- risos
ACS 3: eu gostei também, foi muito bom, mesmo eu sendo vó já né mas o conhecimento é
sempre útil. principalmente para elas que é a primeira vez né.
Lohaine: é mas vocês como agente de saúde, vocês também podem ajudar a formar essa
gestantes, elas tem um monte de pergunta para vocês com certeza
ACS 7: eu acho assim né que é muito bom essas palestras e quanto mais gestantes melhor,
porque antigamente a gente só fazia para Natal né, não tinha essa palestras boas, por quê aqui
tivemos filhos todos jovens, agora tá velho né, então a gente não tinha essa experiência que
hoje nós temos, também as dúvidas né, porque se tivesse isso antigamente, a gente não, como
ela disse, Você pode até falar que vai sair com medo mas tenho mais experiência do que tá
falando, do que tá acontecendo com você através da experiência das outras né, que às vezes
você pensa que vai ser daquela forma, com dor, mas às vezes nem vai ser né, e nós antes tinha
muito medo né, sem nada, só aquela o médico ia e falava tá o dia, tal hora e fazia, não era bom
Igual essa que você vai atrás conhece as pessoas, você tem essa troca de experiência, é o que
eu acho, sei lá é que eu gostei muito, tô gostando dessas palestras.
Lohaine: que bom
ACS 10: eu adoro rodas de conversas, porque aqui uma troca de experiências, às vezes aquelas
dúvidas que você tem em casa, ou no momento da consulta você esquece aqui você pode tá
tirando, e a gente aprende muito com a experiência do outro, a gente aprende mais com a
experiência do outro do que com a gente, então é maravilhoso, que continue assim sim que
vocês continue com a gente, e se ter o bebê, vai ter de amamentação não parou ali, só começa
a estrada então tem muita coisa para gente conversar.
ACS 2: Eu também achei ótimo, mais uma coisa que sim, porque eu tinha dúvida sobre essa
marca da minha neta então, E aí agora eu não vou guardar isso não, sabe porquê? Porque essa
marca que ela tem, ela era bem vermelhinha assim né, de vez em quando ela some, de vez em
quando ela volta, então assim, e já pensei assim eu acho que eu vou fazer um exame, porque eu
pensava que alguma coisa aconteceu né;
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Lohaine: então né Pode ser que seja marca de nascença mesmo, eu tenho uma aqui no joelho,
nem sei qual que é o joelho nesse momento, que ela também é assim ela é vermelha às vezes
ela tá fraquinha que quase some, às vezes ela tá bem forte e como você falou ela já tem 17 anos
pelo então, mas mesmo assim 7 anos se fosse uma lesão de fato seria um hematoma e já teria
sumido entendeu, às vezes como ela falou é uma lesão em osso ou nervo, Aí sim tem sequelas,
mas é matou mas tinha que ter sumido já ponto a manchinha não é do parto em si.
ACS 2: então eu fiquei preocupada porque ela é bem vermelhinha e quando ela some, fico
preocupada.
Lohaine: entendi
ACS 6: eu gostei porque nós agente de saúde tem que saber para poder orientar a gestantes, e
essas conhecimentos que a gente tem, vai poder passar para elas, a gente se atualiza né porque
que sempre sai coisas novas e a gente não sabe né.
Lohaine: que bom né
G6: eu gostei, aprende mais por quê eu não sabia agora eu sei.
Lohaine: Que bom , fico muito feliz. Gente muito obrigado pela presença de todos vocês,
espero vocês aqui na próxima reunião que vai ser sobre amamentação e pós parto tá bom e
agora eu trouxe um lanche para gente.
TRANSCRIÇÃO DA 3° RODA DE CONVERSA
TEMA: PÓS-PARTO E AMAMENTAÇÃO
DATA: 21/08 – DURAÇÃO: 1:21:03 S
Lohaine: Bom dia meninas, meu nome é Lohaine sou enfermeira e faço mestrado na UFMT, e
eu tô trabalhando com gestantes né, e esse faz parte do meu projeto que vai ser a minha
dissertação de mestrado, eu trabalho final do mestrado, eu vou explicar um pouquinho para
vocês, para vocês entenderem, acho que nenhuma de vocês participou dessas reuniões, a gente
vem tendo algumas já algum tempo e eu, a gente tá trabalhando a depressão pós-parto, mas
como a gente sempre quer prevenir do que tratar a gente tá fazendo um projeto já com gestantes
para gente tentar diminuir os riscos desenvolver a depressão pós-parto, e como que isso
acontece? de acordo com estudos de diversas pessoas ela já vão falar para mim Quais são os
fatores que podem ajudar a mulher a ficar deprimida, depressiva depois que o bebê nasce e aí
com base nesses estudos a gente tá construindo reuniões para discutir esses assuntos, até esse
momento já foi sobre maternidade, o peso da Maternidade as mudanças do cenário, como a
mulher se enxerga e como a sociedade passa a enxergar ela, porque que é importante esse
processo de refletir sobre o seu papel de mãe né no novo momento, aí depois a gente conversou
também sobre parto, sobre a qualidade do parto, que é violência obstétrica , tirando dúvidas
sobre como é que faz para vocês terem acesso aos seus direitos, quais são os direitos que você
tem no hospital durante o seu parto? E a gente já conversou sobre isso, hoje na reunião a gente
vai conversar um pouquinho sobre amamentação e pós parto mesmo, porque? Porque ao
momento de muita mudança para vocês, mesmo você já tendo filhos eu sempre falo "você sabe
ser mãe para o filho que já nasceu, para o filho que já vai nascer você tem que aprender" Por
que uma pessoa diferente então você vai ter que ser uma mãe diferente né, então é o momento
de muita mudança é um momento de muito stress, que você cuidar do bebê recém-nascido, de
você se adaptar ao beber e ele se adaptar a você, então a gente vai estar conversando sobre isso
um pouquinho, mas primeiro eu queria que vocês se apresentasse para gente.
G7: meu nome é G7
Lohaine: Oi G7, é seu primeiro bebê?
G7: não, é o terceiro
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Lohaine: terceiro? Você tá de quantas semanas?
G7: 21, 21 e 2 dias
Lohaine: E você já sabe o que é?
G7: menina
G4: bom, meu nome é G4, tenho 29 anos e tenho um casal de filhos já e tô grávida de 7 meses,
31 semanas.
G8: eu sou G8
Lohaine: É eu vi a sua ficha, Você não é daqui né?
G8: não, Venezuela
Lohaine: legal, e você?
G9: meu nome é G9, é o terceiro filho e é complicado, e tô de 16 semanas.
ACS 3: eu sou ACS 3, agente de saúde.
ACS 1: eu sou ACS 1 agente de saúde
Bianca: Bianca e tô de 35 semanas
Lohaine: também já tá perto
Bianca: caminhando
ACS 3: eu queria saber uma coisa, Posso te procurar? tinha uma gestante na minha microárea
que ela queria saber, que tinha o dinheiro, se você fizesse o pré-natal certinho você recebi um
dinheiro, aí eu quero que você explica porque eu não tô sabendo explicar esse aí não.
Lohaine: isso, antigamente, muito tempo atrás tinha um projeto que se você fizesse o pré-natal
e todas as consultas você tinha direito a ganhar um kit maternidade, eu nem tá sabendo de
dinheiro, aí era uma bolsa que tinha algumas coisinhas dentro do Kit para mãe, que a secretaria
de saúde que dava, que eu saiba, mas a muito tempo atrás que cortou isso e eu não sei de
dinheiro não.
ACS 1e: e sei que a ACS 3 tá falando, como vem o bolsa família para nós pesarmos as pessoas,
gestante que fizeram para Natal todo mês que recebe o bolsa família, tem que procurar o Cras
para se orientar sobre isso.
ACS 3: lá no Cras não faz, ela já procuraram o Cras e eles falaram que disse que tinha que vir
aqui, Aí terminou o Cras mandando lá na Caixa Econômica levando a caderneta.
ACS 1: então vai ter que chamar a Fátima para tirar dúvida Para nós
Bianca: não seria o salário maternidade?
ACS 3: isso mais ou menos, eu sei que…
ACS 1: salário maternidade quem tem carteira assinada tem direito a receber né?
Lohaine: uhum
ACS 1: agora esse que vinha juntamente com bolsa família, nós achamos estranho, mas aí para
tirar dúvida de vocês tem que ser enfermeira chama ela lá ACS 3.
Lohaine: é ver com a Fátima porque eu não estou por dentro disso
ACS 1: Qual é o seu endereço?
Bianca: aqui no Jardim Florianópolis
ACS 1e: qual rua?
Bianca: Rua 22 Quadra 91.
ACS 1e: não tem agente de saúde né? eu acho que a Néia, Néia que vai ser se a gente. E você?
G9: Quadra 1 da Rua 21
ACS 1e: é a Neire, e você moça?
G4: na Rua 22 aqui em cima, Quadra 95
ACS 1e: não tem a gente e você? Eu liguei para todas ontem?
- chega mais pessoas para roda
Lohaine: deixa eu pegar mais cadeiras lá dentro
- conversas paralelas até as novatas sentarem.
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Lohaine: então, eu fiquei pensando em como a gente ia começar a discutir isso, aí eu, para a
gente entender mais ou menos o que vamos conversar aqui, eu trouxe Um textinho de um
depoimento de uma mãe que também tá passando pelo pós-parto.
-A gestantes ainda continuam se ajeitando nas cadeiras
Lohaine: seu nome? Você não se apresentou
G10: G10
Lohaine: você tá de quantas semanas?
G10: esse negócio de semanas eu não entendo não, mas há 5 meses, toda vez eu me confundo
com essas semanas.
Lohaine: é o seu primeiro bebê?
G10: não é o terceira
Lohaine: terceiro? Então uma menininha?
G10: é uma menina
Lohaine: e você?
G5: G5
Lohaine: G5 você tá de quantos meses?
G5: vou fazer 38 semanas
Lohaine: Nossa tá bem aí já, e você?
G11: eu sou G11
Lohaine: quantas semanas G11?
G11: 21
Lohaine: 21? Não tem barriga nenhuma
- várias gestantes concordam e riem
Lohaine: então aí eu trouxe para vocês uma, um relato de uma mãe né no pós-parto para gente
só iniciar mais ou menos a conversa, depois disso eu vou abrir para a gente tirar dúvida, é uma
conversa mesmo, uma roda de conversa, a gente tá aqui para tirar dúvida para compartilhar
experiência, o que vocês quiserem falar sobre amamentação e pós parto tá bom?
Meu relato PÓS PARTO Isso mesmo, você não leu errado, meu relato é PÓS PARTO, até
porque toda minha gravidez, desde o momento em que soube até o dia do nascimento, foi tudo
mágico, tão mágico que não senti nem a dor da tão temida anestesia.
Tive meu bebê, tudo lindo e maravilhoso e então aquele vislumbre da maternidade começa a
desaparecer. Primeira decepção é eu não me lembrar da primeira mamada do meu bebê, só sei
que fiz isso porque tem fotos que registraram esse momento, momento este tão adorado pelas
novas mamães, onde estas se sentem tão realizadas. Pois é, não lembro.
Antes de ter alta, a enfermeira me alertou que quando meu leite descesse eu sentiria dor, mas
eu estava cética de que não sentiria, pois estimulei meu seio durante toda a gravidez, meu bebê
mamou no hospital e eu não senti dor! Bobinha, não sabia o que me esperava.
Chegamos em casa, a primeira noite foi tranquila, meu bebê não chorava, não tinha cólicas, era
um anjo! Mamava de mais (o colostro é claro) e eu lembrando da enfermeira e rindo “nem ta
doendo kkkk”. Primeiro dia em casa, um sucesso!!!! No dia seguinte, dia as mães, meus pontos
não doíam, andava normalmente dentro de casa, nada de andar encurvada, estava ereta, bem,
parecia que tinha feito parto normal, estava tudo ótimo até que meu bebê sentiu fome, e quando
ele abocanhou meu peito, SENHOR!!!! O que foi aquilo???? Que dor é essa? Eu não deveria ta
sentindo isso!!! Mas estava, toda mãe sente! Ahh e descobri também que não importa se é o
primeiro, segundo ou terceiro filho. SEMPRE VAI DOER. Mas essa dor tem um fim, e o meu
fim chegou ao longo de 5 dias. 5 dias achando que perderia meus mamilos!
Primeira semana, ok!
Entramos na segunda semana, e o anjinho que vivia dormindo e só acordava para mamar,
começa a ter cólicas! CÓLICAS! Um choro sem fim, um choro agoniante. Ahh e tem mais,
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você fica tão nervosa, desesperada, tentando fazer de tudo para o bebe ficar quieto e ele não
fica quieto com você! (o nosso desespero, nervosismo, estresse, passa para o bebê, pois é).
Então, minha mãe pegava ele e como num passe de mágica, ele cessava o choro.
E eu? EU me sentia a pior das mães, a pior das mulheres. E é nessa hora que tudo de ruim passa
na cabeça. “Será que eu deveria ter engravidado?”, “Será que sirvo pra ser mãe?”, “Por que ele
não fica quieto comigo?”, “Ele não gosta de mim!”.
Além de tudo isso, sabe aquela ligação da mãe com o filho, onde ele é o MAIOR amor da vida
dela, e ninguém mais importa? Sabe? Então, eu não tive! Não conseguia sentir essa ligação. Na
minha cabeça passavam vários sentimentos, um turbilhão de pensamentos e olha que nem falei
da Depressão Pós Parto. Pois é, ainda passei por isso.
Lembra que eu disse que minha gravidez foi mágica? Então, foi tão boa que eu não queria
deixar de estar grávida. A barriga saiu, o bebê nasceu, era pra eu estar maravilhada com o meu
filho nos braços. Mas eu estava triste, queria minha barriga de volta. Não queria nem ver fotos
da minha linda barriga que eu começava a chorar. E não pense que foi só uma semana nessa
melancolia. Achei que nunca fosse sair desse estado, mas saí. Não deixei meus pensamentos
me dominarem. Lutei e Venci! “Mas fique calma, tudo passa!” Isso era o que minha mãe e meu
esposo diziam. Mas na minha cabeça isso não ia passar nunca!
Até que após os 40 dias de resguardo tudo mudou, como se fosse da água para o vinho. As
cólicas acabaram, meus seios já não doíam mais e meu bebê não chorava incessantemente.
Aquela ligação que toda mulher diz ter, comecei a sentir, um dia de cada vez! E aquela mãe que
mal conversava com seu bebê, já estava cantando e fazendo rimas durante o banho dele. Ele fez
2 meses e começou a sorrir! Meu coração se encheu de orgulho! “Sou a mãe mais feliz do
mundo!” assim eu pensei.
Cada dia uma nova descoberta! E estamos nos descobrindo juntos. Filho não vem com manual
de instrução né?! Hoje não me vejo sem meu filhote!!!! E como minha mãe disse: Tudo passa!
Fica tranquila que tudo passa! E realmente passa, passa rápido de mais. Hoje ele é um bebê,
que cabe em meus braços, mas amanhã será um homem!
Hoje eu digo: nasceu um bebê próximo à você? Não visite, não visite O bebê. Visite a mãe do
bebê! Converse, se distraia, faça com que ela se desligue um pouco desse começo tão
estressante.
Se eu soubesse antes de como tudo é tão cansativo e de como ficamos louca nas primeiras
semanas, certamente teria visitado às mamães próximas de mim mais vezes!!!
Eu escolhi esse, mas a gente tem diversos relatos de Mães, nas redes sociais e tal e a gente
resolveu conversar um pouco sobre eles por que o momento que a gente não se preparam né, a
gente se prepara para o parto, a gente começa a pensar como vai ser o parto, Vamos pensar
enxoval, vamos pensar em fraldas, mas a gente não pensa em amamentação, exemplo: quem
que você tem costume de tomar sol no peito.
- todas permanecem em silêncio
Lohaine: e isso é uma das coisas mais indicadas para fortalecer a mama e evitar que Rache o
bico do peito na hora que vocês amamenta e é muito eficaz, uma coisa muito boa de se fazer,
vocês tomarem sol no peito, e ninguém fala sobre isso, a gente vai se preocupar com a qualidade
da amamentação, vai se preocupar com peito dolorido quando ele já tá todo machucado, antes
disso a gente não pensa né, então vocês que são mãe tem alguma experiência para compartilhar
com a gente? Como é que foi, quando amamentaram quando tiver um bebê, Como foi o que
fosse parto de vocês?
G10 : na minha segunda gestação tive, eu sofri bastante nos meus dois seios, eu tinha que dar
de mamar mordendo o pano assim por que era insuportável, firiu tudo, a bebê a mamar É sim
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eu não tava aguentando, eu tinha que morder e passar, eu passava tudo quanto é remédio mas
não adiantava, porque quando tava sarando um pouquinho e lá vinha neném de novo mamar,
machucava tudo de novo, mas eu sofri bastante amamentação no primeiro eu não senti nada,
mas na segunda sofri bastante na amamentação, essa que nem nasceu e já estou sofrendo desde
agora, é uma salivação, é enjoo, é fraqueza, é tudo, tô de cinco meses mas Deus me livre o que
eu não senti nas outras eu tô sentindo tudo nessa, agora mesmo antes de vir eu tava lá com
tontura, querendo desmaiar para vir para cá, tudo que eu não passei nas outras tô passando
nessa, aí eu já tô imaginando depois quando eu ganhar como é que vai ser, porque eu já sei que
eu sofri na segunda e as duas cesáreas, e essa com certeza vai ser a cesária de novo porque eu
vou operar, aí eu já tô preparando para como vai ser depois.
G4: A minha foi tranquila, eu já tenho dois filhos e tem uma que nasceu de sete meses mas foi
tudo tranquilo graças a Deus, os meus peitos não acharam e nenhuma das duas, e eu dei graças
a Deus, porque eu vejo bastante isso, principalmente esse fator dos peitos, só que aí teve
Episódio com a minha neném e ela arrotou, e começou a ficar roxo, aí eu falei "Que negócio é
esse?" Parece que eu levei um murro, parece que alguém veio e deu uma pancada no meu peito,
aí que falaram que o neném arrotou no seu peito, mas eu não vi pode ser que eu tava tipo
dormindo, dei mamar para ela e não percebi que ela tinha voltado, aí ficou com os hematomas
roxo e começou a empedrar meu peito, quem não tem experiência não deixa a criança arrotar
no peito porque empedra e dói bastante, parece que alguém deu uma pancada no meu peito, aí
ela me orientou que era para dar mamar ao contrário, com os pés do lado que ela botou, aí eu
fiz isso graças a Deus passou, só foi isso também .
Lohaine: é simpatias né que fazem, de antigo né.
G4: já as crianças foram aquelas que tinham alguma cólica, não foram aquelas crianças que
choraram bastante, mas teve alguns Episódios, dois ou três só mas graças a Deus eu não sofri
muito, nem eu e nem eles Porque têm mulheres, que sofre bastante depois que tem neném né,
mas eu não tive foi tudo tranquilo graças a Deus.
ACS 1: então, a Fátima mandou dizer que agora não dá para ela vir, só que quem tem a bolsa
família tem que ir lá no Cras, tem que ir lá, só quem tem a bolsa família, eles lá que tem que
decidir sobre assunto aí.
Lohaine esse ponto é aqui a gente não faz mesmo
ACS 1: tem que ir lá.
Lohaine: tá bom, e você G3 que tá amamentando agora
G3: a, já tá rachada bico do meu peito, tá doendo.
Lohaine: tá rachado já? Tá sofrendo?
G3: Bastante
Lohaine: ele nasceu quando?
G3: dia 16
Lohaine: tem um tempinho mesmo tá dando para ficar machucado, e o leite já desceu?
G3: Já desceu já
Bianca: ele nasceu de 9 meses porque você tava com menos que eu
G3: não, 38 semanas, Por que deu pressão alta em mim né, deu começo de eclâmpsia, deu
hemorragia de novo, aí eu parto ia ser induzido mas graças a Deus, eu senti dor natural e nasceu.
Lohaine: nasceu normal?
G3: Normal
Lohaine: que bom Era o que você queria né
G3: aham, eu sofri de novo, sofri mais mas graças a Deus nasceu normal
Bianca: mas bom que deu tudo certo né
G3: Graças a Deus
Lohaine: que nem ela tava falando tem um monte de coisas antigas que tem né, falando sobre
essas coisas de amamentar, de alimentação para melhorar, aumentar a quantidade de leite, e eu
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falo, eu não deixo de acreditar né, Ainda mais se for coisas que não fazem mal a você e nem ao
seu bebê, Por que é que eu como profissional de saúde vou intervir nisso, exemplo: Qual é o
porquê de eu falar para você que você não pode tomar canjica enquanto tá amamentando,
porque você acredita que aumenta a quantidade de leite né, vai produzir uma maior quantidade
de leite, porque é que eu vou falar para você que não, isso não acontece sendo que não vai fazer
mal para você? Então tome canjica , comam bolo de milho, como o milho eu acho que não tem,
a única coisa que lembre-se do peso, se vocês comerem canjica todos os dia enquanto vocês
amamentam logo vão estar rolando porque engordam, mas o que a gente recomenda para
aumentar a produção de leite para vocês? Muita água muita água, porque a base do leite é água
então se vocês tomam bastante água agora, dobra em isso, toma bastante água, se alimenta em
bem, não é recomendado pelo Ministério da Saúde que vocês façam dietas restritivas agora para
perder peso logo depois que vocês têm bebê por quê, se vocês amamentarem de forma correta
automaticamente vocês vão perder peso, vocês sabiam que uma mulher gasta mais de 4000
calorias por dia só para poder leite?
G3: eu já perdi 6 kg
Lohaine: 6 kg e sem fazer dieta né, você comendo bem?
G3: Sem fazer dieta
Lohaine: por que a própria amamentação emagrece, então se alimenta bem né porque também
ajuda na produção de leite, então uma alimentação variada, com feijão, podem comer feijão sim
falou assim “ah feijão dá cólicas para o bebê" gente assim como nosso organismo é diferente o
organismo da criança também é, tem criança que vai morrer de cólica se a mãe comer feijão,
mas tem criança que não, mas como é que vocês vão saber disso? Experimentando, então a
nossa recomendação é mantém a alimentação de vocês, se vocês notaram que o bebê teve mais
cólica aí vocês param e pensa "O que é que eu comi hoje que pode ter causado cólica nesse
neném? "aí vocês diminuem aquilo dali, diminui a quantidade, mas não faça uma dieta
restritiva, tira um monte de coisa desde o início sendo que você não sabe como o bebê vai se
comportar o que é que vai dar cólica que não vai dar, como e sempre fiquem de olho "a hoje o
meu bebê teve mais cólica que o normal, ele chorou muito com cólica, o que eu comi hoje, ou
o que eu comi ontem à noite que pode ter causado isso?” E vocês vão fazendo esse recordatorio,
"Ah eu comi tal coisa, eu comi bastante feijão ontem então pode ser que seja isso "então na
próxima refeição eu diminuo a quantidade de feijão, se ele tiver a mesma quantidade de cólica
então não foi o feijão, Pode ser que seja outra coisa, "o que mais eu comi ontem?" e vocês vão
fazendo esse exercício Por que um bebê diferente de outro, Às vezes tem mães que falam "eu
comi e meu bebê Teve muita cólica se eu comesse arroz"e a maioria dos bebês não dá cólica se
comer arroz, se a gente for tirar da nossa alimentação tudo que pode dar cólica para o bebê,
vocês vão passar fome , então só observa, em relação o que vocês comerem depois do pós-
parto, e como bem, mantenho a alimentação que vocês estão acostumados tá, então comam
bem o que vocês têm costume de comer, arroz, feijão, carne, prezem por comer algum tipo de
salada todos os dias né, porque isso vai ser tudo importante para quantidade de leite que vocês
vão produzir durante o pós-parto tá.
ACS 8: é igual tipo assim, na minha família só come galinha caipira com fubá de milho, só
isso até os oito dias, é tipo uma hierarquia não tem, na minha família, foi desde a minha bisavó
e na minha família se tornou uma regra, você não pode comer nada além, nada dessas coisas
porque é reboso, Então é só galinha caipira com fubá de milho que ela faz os oito dias, isso é
de família.
Lohaine: Sim, e isso aí tradição né, uma coisa tradicional da sua família né, que vem passando,
tipo não tem nenhuma evidência científica mas como a minha bisavó fez, a minha avó fez, a
minha mãe fez, eu faço.
ACS 8: é, a minha avó fez, a minha mãe fez, e vai passando.
ACS 3: é como ela falou também, a gente não pode interferir se não tá fazendo mal.
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ACS 8: não, graças a Deus nunca fez, até porque o fubá todo mundo sabe o que é bom para
produção de leite, é bom também né, aí a galinha caipira, nada de granja só caipira.
Lohaine: mas assim o fubá também engorda você sabe disso né, bastante entendeu, então você
sempre tem que pensar nisso, porque tem um monte de coisa que as pessoas falam “Ah isso
aqui aumenta a produção de leite "que também engorda muito a mãe, depois vocês fazem, que
nem você, fazem 7 dias disso e depois no resto querem fazer uma dieta mais restritiva para
tentar perdeu o peso que ganhou na gestação né, então a gente sempre tem que Balancear,
se isso é da sua família vocês acham importante fazer, tudo bem façam, mas depois vocês têm
que entender que vocês vão ter que tomar cuidado com a alimentação se vocês quiserem voltar
o peso que vocês tinham antes de engravidar, o que é o desejo de todas as mulheres né.
-risos
G3: eu já coloco bastante toalha com água quente assim (mostrando a região dos seios) para
poder produzir bastante leite, depois que eu tomo banho para descer o leite.
Lohaine: sim é bom, principalmente como a mama tá dolorida a compressa de água quente é
muito boa para vocês colocar, coloca pega uma fraldinha né, torce deixa ela bem morna e coloca
e nos seios, realmente ela ajuda bastante tanto para aliviar ador quanto para ajudar a descer o
leite, porque às vezes vocês ficam com a mama muito cheia e dói muito, e você coloca
compressa logo peito vai vazando Leite, eles faziam um pouco sozinho Justamente por isso que
melhora um pouco da dor nos seios quando isso acontece, quando ele vai empedrando. E vocês
sabem como fazer para evitar que o leite empedre? As técnicas?
Bianca: tipo massagem? Eu só sei esse tipo massagear né, tipo assim, como ela disse banhar na
água morna e massageando, foi a doutora que ensinou isso porque quando acontecesse no meu
peito Aí a médica falou que era para fazer isso.
Lohaine: sim a massagem é muito importante, isso é quando já está empedrado, para vocês
evitar que impedre é importante que o bebê esvazie a mama, então coloca ele para mamar
Coloca ele do lado dos peito e deixa ele mamar até parar, ele parou, você vê que o peito ainda
tá cheio, vocês fiquem cuidando, geralmente o bebê esvazia, se eles basear e você vê que ele
ainda tá com fome vocês trocam de mama e da outra mama, aí ele vai dormir e quando ele tiver
com fome de novo Você volta na última mama que você deu, porque ela tem que esvaziar
também, então é importante você sempre lembrar que a Mama tem que esvaziar, e quanto mais
o bebê esvazia a mama mais leite você vai produzir Por que automaticamente o cérebro, o
nosso corpo vai falar para o cérebro “O leite está sendo pouco para o bebê produz mais” então
quanto mais ele secar a mama mesmo mas leite e vocês vão produzir, porque o corpo vai
entender que ele precisa de mais leite, então se você deu as duas mamas, na próxima mamada
que você deu por último, que nós esvaziou completamente, se você só deu Uma mama e você
viu que ele não vazio totalmente, mas ficou flácida, na próxima mamada você dá já no outro
peito, entendeu? Vai rezando, cada mamada você dá um peito para que os dois esvaziem da
mesma forma, assim como o leite não fica ali nessa mama bastante tempo o risco de empedrar
esse Leite a menor, porque se empedra realmente é muito dolorido, é muito ruim para mãe,
então toma cuidado.
G3: no caso, se tiver empedrado pode dar o aquele leite para o neném ou pode?
Lohaine: então, geralmente indica que você pode dar sim porque ele mamando vai esvaziar e
vai te ajudar só que é muito dolorido, então se vocês também conseguirem, exemplo se vocês
verem que o peito tá muito dolorido, tá muito cheio e o bebê não quer mamar, podem esvaziar
e joga fora, ou guardar se vocês quiserem doar.
G3: porque falaram para mim que depois de um dia estraga o leite, mas eu falei dentro do peito
vai estragar o leite como?
Lohaine: não não, eles indicam que pode dar sim, que até o bebê mamar ajuda desempedrar. o
que não pode é quando você fica com a mão em pedrada e fica muito peito sem dar de mamar
para o bebê, exemplo 3 dias, esse Leite parado três dias no peito empedrado aí é bom você tirar
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bastante e depois dá mama para o bebê, e tudo isso ajuda vocês evitar, outra coisa que ajuda
bastante né cicatrização da mama quando ela tá machucada, o próprio leite do peito, quando
tiver muito machucado vocês evitem os sutiã e depois que o bebê termina de mamar Pegue um
pouco do leite e passe toda a auréola, no bico do peito e toda a auréola, o próprio leite materno
ajuda a cicatrizar o machucado de rachado essas coisas, então passa o bastante, mas só que não
deixem ele abafado, exemplo se vocês usam aqueles absorvente que coloca no bico do peito?
eu sei que aquilo ali é muito útil Quando vocês vão sair, porque não deixa vazar e não mancha
roupa, mas quando você estiver em casa evitem os aquele lá porque ele abafa o bico do peito,
aí Se vocês deixarem o bico do peito úmido e aqui com aquilo ali abafando ele vai machucar
certeza certeza que ele vai machucar, então se você estiver em casa evitem usar aquele
absorvente, passem o leite no bico do peito que ele vai ajudar a cicatrizar se tiver machucado
e deixa ele respirar tá ponto de interrogação se vocês quiserem até, vocês podem passar o leite
no bico do peito para tomar sol no peito, porque o sol tem vitamina D, e e vitamina D é ótima
cicatrizante é ótimo para fortalecer a mama para que não machuque tanto então se vocês
tiverem, no quarto de vocês pega uma festinha de sol, coloca uma cadeira lá para vocês
tomarem um pouco que é bom. a sala e tal qualquer cômodo da casa né que vocês tiverem, que
vocês consigam.
G5: não tem nem como lá em casa é cheio de gente e o quarto não tem porta pronto
G3: lá no fundo do quintal
Lohaine 2 pontos o quanto vocês conseguirem, também não é assim tantas horas todos os dias,
é o quanto vocês conseguirem tomar um pouquinho de sol no peito já ajuda e já importante
então tem que fazer mesmo que seja uma vez ou duas vezes tá ótimo já. E você já decidiram
um tipo de parte que vocês querem? A Bianca eu sei que é normal, Ela já me disse.
Bianca: é normal
Lohaine: e você?
G7: Normal também, eu acho melhor porque ganha aí já tá boa né Graças a Deus
G3: já tá andando né
G7: já tá andando faz é tudo, essa que é a vantagem.
Lohaine: e o seu bebê G3 está com quantos dias?
G3: hoje está fazendo 4
Lohaine: 4 dias só?
ACS 1: Que bom que você veio eu liguei ontem para avisar para você vir hoje né
G3: é foi o meu pai, é que ele Nasceu de madrugada então Hoje faz 4 dias
G4: e as coisas que Não pode quando está gestante?
Lohaine: quando está gestante?
G4: é, por exemplo não poder tomar café, não pode comer nada que tem pimenta, não pode
comer chocolate, Nossa eles falou um monte de coisa. tem um monte de coisa que não pode
porque diz que dá cólica.
Lohaine: então, é muita coisa de saber tradicional, que não tem evidência científica entendeu,
o que fala é que é cafeína automaticamente aumenta um monte de coisa de você que vai fazer
você ficar mais agitada, e automaticamente isso vai passar para o bebê, Por que o bebê Toma e
come tudo que você ingere, então se você tem uma alimentação rica em cafeína
automaticamente o bebê vai receber uma nutrição mais rica entre cafeína né e não tem nada que
fala para você
- ouvisse bastante conversa paralela entre o grupo.
Lohaine: é mais a quantidade
Bianca: não pode ser exagerado né
Lohaine: Exato, café também aumenta a pressão de "a minha mãe é hipertensa, meu pai é
hipertenso, eu tenho um histórico a minha família tem bastante hipertensão "aí Evita mais né,
se você não tem uma xícara de café no começo do dia não vai te fazer mal.
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G9: Ah eu quase não estou mais tomando café
Lohaine: então, esse tipo de coisa né e a pimenta, é por causa que na gestação é muito comum
mulheres terem hemorróidas, por causa que aumenta o fluxo sanguíneo na região da pelve
justamente para vir mais de sangue e automaticamente mais o oxigênio e nutrientes para o bebê
então aqui nessa parte da gente vai ter mais sangue circulando Então os vasos ficam mais
sobrecarregados então é comum você ter gestantes ter hemorróidas né, e a pimenta piora o caso
da hemorróida, então é muito por causa disso também.
G5: é só que a maioria dessas pessoas falam que não é por causa disso, é porque se comer isso
fica com muita cólica depois que nasce ou então eles nascem assados, eu penso como que ele
já nascem assado gente?
- Risos
G3: O povo inventa cada coisa né meu Deus do céu.
Lohaine: não, aí já é muita crendice né né, muita coisa que as pessoas acreditam que não tem
fundamento né. e a cólica vai geralmente muito da alimentação, ou por causa da alimentação
da mãe ou por causa que ele tá engolindo muito ar durante a amamentação, Tipo quando ele
pega errado no peito aí ele vai mamando e vai engolindo ar, aí você tem muito vento na barriga
ele vai ter muita cólica, isso são os motivos do bebê ter cólica geralmente sabe, ou aí ele pode
ter uma doença né, porque tem crianças que nascem com problemas no trato gastrointestinal,
do intestino estômago, que podem causar mas isso daí são exceções, são poucos bebês, são
aqueles bebês que a mãe faz um monte de coisa, toma cuidado com amamentação, ele se
alimenta certo e ainda tem cólica, aí é importante você consultar um Pediatra e ele que vai ver
tudo isso vai examinar o bebê, mas isso são exceções são pouquíssimos, geralmente é a
alimentação e a pega errada, então como é que ele vai você já com cólica? Então isso daí é
muita credice, realmente muita crendice.
G3:Eu também pensava que o neném chorando assim era cólica, o médico falou não, criança
pequena se não tem cólica, pequena assim não ele falou,Aí eu fiquei assim porque já ia tacar
remédio no neném.
Lohaine: é bebezinho pequenininho não tem cólica, e outra coisa também é Porque dependendo
do que a gente come,, quando são coisas muito condimentados, exemplo Lanches, salsichas,
esses tipos de coisa que são muito condimentados e muito industrializados a gente tem que
lembrar que a barriga do neném, o estômago e o intestino não é igual o nosso, que já está grande
de desenvolvido, que consegue digerir essas coisas, o bebê não tem coisa que ele não consegue
digerir porque ele acabou de nascer, não tá completamente formado ainda, não tá forte o
suficiente então às vezes você come alguma coisa mais condimentado o bebê vai ter mais cólica
porque ele não tá conseguindo digerir aquilo né, então por isso que fala que na gestação, isso é
realmente importante, evitar coisa muito industrializada, refrigerantes, comidas mesmo fast-
food sabe, McDonald's esse tipo de coisas, salgadinhos,bolachinha recheada esse tipo de coisa,
que industrial industrializada por pode dificuldade em aqui, por mas ele pega os nutrientes da
bolacha os bons e os ruins entendeu? por isso que a gente fala isso é importante tio governo
consegue digerir geralmente não consegue digerir isso né. E sobre a amamentação, a pega,
Vocês já Conversaram sobre isso? Como é que o bebê tem que pegar? Como vocês sabem que
o bebê está mamando direito?
- Ninguém responde
Lohaine: então para vocês amamentar em primeiro no comecinho até vocês se acostumarem, é
bom vocês terem sempre um lugar que vocês vão sentar com as costas retas, é horrível vocês
amamentarem deitados, depois que vocês acostumarem aí vocês vão pegar o jeito e aí vai ser
tranquilo para vocês, mas no começo é horrível vocês amamentarem deitadas, porque o bebê
não vai conseguir pegar direito, ou então assim, o bebê também não consegue pegar direito,
então indicada que vocês sentem com as costas retas apoiadas, vocês vão pegar o bebê no colo
e vai encostar barriga com barriga, ele vai ficar totalmente voltado para você, aí ele vai colocar
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uma Milo na boca e ele tem que abocacanhar não só a pontinha do mamilo, ele tem que pegar
um pedaço da auréola, além do mamilo da outra parte do restante do bico do peito mesmo ele
tem que pegar boa parte disso, ele não vai colocar tudo na boca mas ele deve pegar boa
parte, quando vocês olharem a parte de baixo não vai aparecer quase nada da auréola, vai
aparecer mais em cima, mas embaixo ele vai pegar quase a auréola toda, aí ele tem que ficar
com a boca assim, os lábios para fora, a gente Fala boquinha de peixe, com os lápis assim,
quando eles mamam vocês tem que ver a bochecha cheia, eles não podem ficar assim, porque
eles estão forçando seu mamilo e vai acabar com os seus mamilos se vocês olharem eles
estiverem com a bochecha assim, então eles tem que ficar sempre com a bochecha cheia, por
que como que é amamentação? Não é assim eles sugando, bico do peito está aqui e eles vão
fazer assim, Vocês já viram um cachorrinho pequeno mamar? Gente desculpa a comparação
mas é igualzinho, vocês já olharam que eles ficam com a língua bem assim?
ACS 8: Já sim
Lohaine: Embaixo do peito da mãezinha dele,o bebê faz exatamente isso, ele pega aqui, ele vai
colocar a língua assim embaixo do mamilo e vai passar a língua embaixo do mamilo, só esse
movimento que estimula a liberar o leite, ele não suga, ele lambe entendeu, a parte de baixo do
mamilo, então se vocês sentirem uma pressão é porque ele tá pegando só o biquinho do peito e
isso que vai machucar demais o peito de vocês, então aí ele tem que ficar assim, pegar ele vai
fazer esse movimento e Buchecha sempre cheio, o queixo dele vai encostar no peito, ele vai
pegar aqui e o queixinho dele vai encostar no peito, e isso vai dar a firmeza para ele conseguir
fazer o movimento com os músculos da boca, por isso que eles vão encostar o que tinha no
peito de vocês, e tem um monte de mãe que fica assim segurando porque tem medo dele afogar
com peido, você já repararam que os nariz dos nenéns são mais lateralizados as narinas, porque
eles tem os Narizinho chatos, o que eles vão encostar isso aqui, às vezes isso aqui tá bem
encostado, que chega ficar assim ó, e nas beiradas passar entendeu? então eles respiram pelo
cantinho, Às vezes você olha e o bebê tá assim ó no bico do peito, você vê e fala meu Jesus ele
vai ele vai afogar, eles não vai respirar, mas ele respira aqui ó, pelo ladinho entendeu, então
por isso que tem um monte de mãe que ficam segurando o peito assim puxando, para
desencostar do nariz, não é necessário, só que tem aquelas mamas enormes mesmo, bem
flácidas, que isso pode acontecer, mas daqui ninguém de vocês não está nem perto disso, é
aquelas mamas assim gigantescas entendeu? Então não precisa ficar segurando a mama para
tirar do nariz do bebê, porque ele consegue respirar tranquilamente.
G3:Porque quando eu tô dando mamar para ele, ela fica bem assim ó "o nariz do neném "eu
falo que não precisa, ela fica falando que vai ficar chato
Lohaine: é ele fica bem assim, ele encosta né o Narizinho.
G3: éééé
Lohaine: que tudo isso melhora, então o que vocês fazem Quando sentirem que o bebê tá com
a pega incorreta? tira ele do peito, pode tirar mesmo, a gente indica que antes de você começar
e amamentar lavem as mãos, porque se você começar a movimentar e ver que eles tá pegando
errado, coloquem a pontinha do dedo na lateral da boca, aí ele vai soltar o peito, o bico do
peito, aí ele soltando vocês vão encaixo ele novamente entendeu? às vezes no comecei e vocês
vão ter que fazer cinco ou seis vezes antes deles conseguirem começar a mamar, mas é melhor
vocês fazerem isso do que vocês ferirem o bico do peito e depois sentir uma dor horrível para
amamentar tá então se vocês precisarem tirar eles, fazer ele soltar do bico do peito para vocês
colocarem ele de novo, façam, porque é bem melhor. então é importante que vocês tenham
paciência principalmente no começo, vai difícil até vocês conseguirem que eles acertem a pega,
Tem que bebê que de primeira ele acordou já pega no peito e mama como se ele tivesse a
mamada vida inteira, é super fácil, e tem bebê que não, tem bebê que vai ter muita dificuldade,
que não vai abrir a boca suficiente, que vai pegar só um pedacinho do mamilo “ Ah o meu
mamilo é muito grande para boca do neném” é um sofrimento, Então se isso acontecer com
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vocês, vocês verem que no comecinho o bebê tá com muita dificuldade, então esperem, tenham
paciência, respirem fundo que vocês conseguem. Mais alguma dúvida?
- silêncio
Lohaine: e sobre a cicatriz? do parto? vocês tem alguma dúvida? Sabe como higienizar tudo?
G7: cicatriz eu nem sei se eu tive
Lohaine: tipo tanto cicatriz de cesárea quanto, às vezes no parto normal você tem pequenas
lacerações, rompimento da pele do canal vaginal.
ACS 8: tipo pique?
Lohaine: não, e que é diferente, pique o médico que faz, ele chega lá com a tesoura e corta um
pedaço do músculo da sua pelve.
ACS 8: Esse é quando a criança é vem?
Lohaine: é, isso. E o pique hoje em é que violência obstétrica porque já tem estudos provando
que o pique nada faz, só prejudicar, quero ver um exemplo disso, peguem um elástico normal,
se vocês puxarem ele se estica né, a nossa musculatura exatamente assim, ela tem um monte
de filamentos que são interligados e quando você puxam ele esticam e voltam para o mesmo
lugar, sempre Estica e volta, e isso acontece no parto ele vai esticar esticar e depois de uns dias
ele volta ao normal e fica assim, Se vocês pegarem uma tesoura nesse elastico e derem um
corte, essa parte que cortou ele não vai perder elasticidade? se você puxar vai ficar o restante
que tá emendado, mas a parte que você cortou ela não estica mais de jeito nenhum, ela vai
perder totalmente, e é exatamente assim que acontece com o nosso músculo, quando eles fazem
pique músculo para de funcionar ele não vai esticar mais
G10: ele não vai esticar mais como era antes né de cortar
Lohaine: exatamente, então é por isso que hoje em dia o pique é considerado um a violência
obstétrica, ela não é mais recomendado em nenhum momento, aí quando nasce de parto normal
pode ter uma laceração, que é um rompimento da pele, mas são vários tipos de laceração, a
mais leve grau 1, a grau 2 que eu que pega além da pele superficial pega um pouquinho mais
fundo, e a grau 3 que atinge o músculo, o pique já é grau 3, se vocês tiverem o normal sem o
pique, pode ser grau 1, grau 2 ou grau 3, o pique já é grau 3 entendeu, então quer dizer que na
maioria das vezes, vocês vão ter lesões, tendo normal sem interferências, vou muito mais
fáceis de tratar e muito mais simples do que o pique, entendeu? que já é bem grave, uma das
mais graves.
G10: minha primeira eu tive 4, 4 pique que fala…
Lohaine: 4 pontos?
G10: é, 4 pontos, que na minha segunda já não, o bebê já veio espontâneo sem pique nenhum.
Lohaine: então, você teve o primeiro a bastante tempo né?
G10: já, meu filho tá com dois anos e quatro.
Lohaine: o último ou o primeiro?
G10: a minha filha, o primeiro tá com dois e quatro e a minha segunda que nasceu de 7 meses
tá com 1 e 3, na verdade eu engravidei dela eu ainda estava de resguardo dele, ele tava com
quatro meses para cinco.
Lohaine: entendi, então hoje em dia não é recomendado, às vezes pode acontecer de quando
o bebê nasce dá uma lesão, E às vezes nem precisa de ponto, porque foi superficial, não teve
nenhuma interferência e você nem precisa de ponto,mas às vezes eles falam "a deu
laceraçãoznha e a gente vai dar um pontinho”E isso pode ser desconfortável para mãe né, ou
pontinho no canal vaginal , E aí como é que vocês vão fazer para higienizar? Quando é esse
caso, vocês vão tomar banho lavar a região perianal, que é da vagina até o ânus, lavar bem essa
região, higienizar né com água e sabão normal, deixar bem sequinho, pronto se vocês, depois
de fazerem as necessidades de você, fazer xixi ou cocô vocês devem higienizar a área também
Até cicatrizar, por causa que é simples, aumenta o risco de infecção né, se tiver sujeira, se for
cesária é a mesma coisa, você tomou banho Lava bem a cicatriz com água e sabão, esfrega
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mesmo, aí seca bem e pronto. A mama Vocês não precisam, tem gente que diz que precisa
lavar o peito toda vez que for dar de mamar, mas não precisa é só tomar banho todos os dias,
quando tomar banho bastante água e sabão no bico do peito, lavar bem e pronto, isso é sua
suficiente amamentarem o bebê não precisa ficar lavando toda hora não, tá?
Bianca: eu trocava até de sutiã, tipo eu ficava trocando duas vezes no dia o sutiã, e lavava,
porque não sei parecia que ficava suja a mama né, Aí para dar mamar para beber.
Lohaine: não, não precisa não mas se vocês acharem que tem necessidade, se sentirem
desconfortável tudo bem trocar né, mas se vocês fazem isso achando que tá suja a mama que é
melhor para o bebê não é, ele vai mamar tranquilamente sem precisar fazer isso, você tava
falando, você falou alguma coisa, que não consigo….. aaaaah o resguardo! quando é que vocês
vão poder voltar a ter relações sexuais depois de ter o bebê né? E os métodos contraceptivos
depois do bebê,para vocês não correrem o risco de engravidar no resguardo né, porque eu tenho
certeza que você quer mãe é mais difícil cuidar de dois bebezinhos quase da mesma idade né
G10: muito
Lohaine: porque quando um nasceu o outro tava com mais um ano né
G10: tinha acabado de fazer um ano
Lohaine: então
G10: quando eu descobri fiquei assim "Você tem certeza?"ainda veio dois meses antes né
Lohaine: Pois é, e é muito difícil né. E outra coisa quando vocês tem um bebê o útero
geralmente demora até um ano para voltar ao que era inicialmente, 1 ano, ele vai diminuindo
aos poucos, vai voltando a elasticidade, vai refazendo as veias e tal, mas para você falar o
meu útero tá igualzinho a quando não tinha bebê é geralmente um ano, e se você não tá com
útero em perfeitas condições igual quando você não estava grávida, gravidez é mais de risco,
ela teve um bebê de 7 meses, por que o útero já passou…. por que imagina, o útero guarda
cerca de 300 ml de líquido normalmente, para quem não está grávida, 300 ml, ele é o tamanho
de uma pera, ele chega a ficar com 32 cm para guardar um bebê de 3 Kg, imagino o tamanho
que ele não fica, então é muito traumático para o útero o tanto que ele expande, ele fica enorme
né, ele fica várias e várias vezes do tamanho original dele, então é muito traumático, então ele
precisa de tempo para se recuperar e para voltar ao tamanho da natural dele né, então o que
isso significa? significa que se você engravidar com muito pouco tempo entre uma gestação e
outra às vezes o útero ele não consegue se recuperar totalmente, e a próxima gravidez pode ser
de risco, por isso que a gente indica que, se você teve o bebê esperem um ano para engravidar
novamente, E aí ela falando do resguardo eu pergunto quando é que vocês acham que podem
voltar a ter relações sexuais?
- silêncio
Lohaine: Quando você estiver em um bebê tanto normal quanto Cesário, vocês vão sangrar
depois por algumas semanas, vocês vão ficar direto sangrando, na primeira semana O fluxo vai
ser intenso igual como você estivesse menstruadas, sangue vermelho vivo com fluxo intenso,
depois isso vai diminuindo e a cor vai mudando para marrom, igual quando a gente tá
menstruada mesmo vai mudando e vai ficando amarronzado, vai diminuindo o fluxo, vai
ficando amarelado até parar de sangrar, porque quando a placenta sai, ela tá colada na parede
do útero e quando a placenta sai fica tipo um ferimento, e esse sangramento é o processo de
cicatrização dessa área entendeu, então vamos processo, Então se a gente tem uma lesão
automaticamente sexo pode levar microrganismos que podem inflamar, por isso que eles falam
que não podem fazer sexo nesse período, quando é que vocês podem fazer sexo depois,
geralmente indica a partir do momento que você parou de sangrar, se você parou de sangrar,
se você tiver vontade, você pode voltar a fazer sexo isso vai geralmente demorar em média 30
dias, para parto normal, para o parto cesário é um pouquinho mais uns 35 á um mês e meio
mais ou menos, o parto normal a menos dias de sangramento. aí tem algumas pessoas que dizem
“quem tá amamentando não engravida”
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G10: eu caí nessa, foi quase isso.
Lohaine: geralmente no comecinho quando você tava aumentando, ele realmente inibe a
ovulação, então se você não solta o óvulo você não engravida, Mas isso é no começo do pós-
parto, quando você tem uma movimentação exclusiva, você só amamenta o bebê, o bebê não
come mais nada, ele mama muito no peito, isso é mais fiel no primeiro mês, geralmente no
primeiro mês é muito difícil ela tá ovulando no primeiro mês após o parto, a partir de isso é
importante que você volte, se vai voltar até relação sexual, você volte a ter algum método
contraceptivo, Qual o método? Aí é vocês que decide, tem mulher que coloca DIU né, Você
conhece o Dil?
- Em coro algumas respondem não
Lohaine: não? O DIU é tipo um tezinho assim que você colocam já no útero, então sal médico
ou enfermeiro habilitado que coloca né, coloca no útero e ele vai tipo abrir e encaixar nas
trompas, e vai pedir a passagem do óvulo para o útero, por isso que não engravida.
G10: é eu quero colocar ele
Lohaine: é, é bom, o DIU é um método contraceptivo a longo prazo, então se vocês não
planejam, se vocês tem um bebê e não planejando engravidar tão cedo, cinco anos mais ou
menos, tenho DIU para 5 e tenho DIU para 10 anos, se vocês não planejam teu bebê nesse
tempo, ou então vocês não planejam mais ter bebê mas não querem fazer laqueadura ainda né,
que é ligar, vocês podem usar o DIU porque ele é um método contraceptivo bastante eficaz e
ele é a longo prazo, ele vai durar muito tempo, você colocou ele e esquece, ele vai ficar muito
tempo lá e você não precisa tomar mais nada, outro método contraceptivo na gestação é a
minipílula, e a camisinha, o preservativo, São esses os três métodos mais usado no pós-parto
e é importante que vocês, depois que vocês tenham primeiro mês de pós parto e vocês desejam
voltar a ter relações sexuais com os parceiros de vocês, você na unidade e converse com o
médico sobre como vocês vão fazer a sua prevenção, às vezes vocês querem ligar, então vocês
tem que fazer o planejamento familiar para pedir a laqueadura para você né, mas vocês tem
que voltar a cuidar para não engravidar.
Bianca: pelo SUS qual é a idade mínima, e quantos filhos você precisa para fazer laqueadura?
Lohaine: a laqueadura pelo SUS tá agora 25 anos ou dois filhos ou mais, então você mesmo
não tendo 25 mas já entra porque você tem três filhos.
Bianca: então eu já consigo?
Lohaine: Sim, aí você tem que vir aqui
G3: então eu também consigo?
Lohaine: Sim, pelos SUS sim, acho que está demorando mas Consegue sim, como você já tem
três filhos né, mesmo você não tendo a idade de 25 anos, você já consegue por causa dos três
filhos, Então você tem que vir aqui na consulta e falar que você deseja fazer o planejamento
familiar, aí eles vão começar o planejamento familiar vão fazer todo um processo, e vai para o
Cras né?(se Dirigindo as ACS)vai para o Cras lá falando lá, eles vão analisar vendo que a
família já é grande
Bianca: mas é depois que o bebê nasce ou na gravidez já pode?
ACS 1: você já pode falar com a Fátima para ela ver sobre, que é enfermeira daqui
Lohaine: é Já pode começar o processo, Antigamente era muito comum você fazer a cesária e
já ligava, hoje em dia já não se faz isso
ACS 1: tem que ter todo planejamento
Lohaine: exemplo, você vai fazer a cesárea ou vai ter o bebê e eles vão dar um prazo geralmente
eles pedem seis meses para você se recuperar, aí eles fazem a laqueadura, então é 25 anos ou
dois filhos Às vezes você já tem só um mas como você já tem 25 anos você pode começar a
fazer o planejamento familiar, para fazer laqueadura. Mas alguma dúvida? O que mais você
gostaria de saber?
- silêncio
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Lohaine: você gostaria de me perguntar sobre alguma coisa? Sobre o parto? Pode perguntar
também
Bianca: o meu é assim, por causa do DIU Meu medo é engravidar de novo porque já é o terceiro
e já tá bem difícil, aí eu tava pensando que eu fiquei sabendo que no Júlio Muller já tá colocando
logo depois do parto, aí meu medo é assim, como você falou o útero tá muito maior do tamanho
dele, aí coloca o DIU, assim não tem mais risco de infecção e inflamação?
Lohaine: não porque a colocação do DIU é todo esterilizada, Por que existem dois tipos de
DIU um que é o hormônio e o outro que é de cobre, o sistema único só fornece o DIU de cobre,
o dia de hormônio a gente tem que comprar, eles colocam, mas você compra e leva e eles
colocam lá, como é que funciona o DIU de cobre ele vai ficar provocando a parede do útero
que vai impedir ovulação entendeu
ACS 1: esse é o de cobre?
Lohaine: esse é o de cobre, ele vai causando essa pequena inflamação, isso vai evitar que
ovule, caso você venha ovular, ele tem que ficar na posição certa porque as alças dele impedem
o óvulo de passar, então no DIU de cobre é importante que ele fique no lugar certo, já o DIU
de hormônio ele vai ficar liberando pequenas quantidades que vai atuar só na região ali do útero
e vai impedir de ovular, então o DIU de hormônio não precisa exatamente estar na posição, Só
de ele estar lá já vai liberando os hormônios e automaticamente vai pedir que você o bule
entendeu? então eu não sei como é que funciona no Júlio Muller Mas eu acredito que lá eles
colocam esse de hormônio, mas eu não sei como é que funciona isso seria bom você se informar
lá entendeu? Porque eu realmente não vou te dar certeza qual é que eles colocam, porque eu
também fiquei sabendo que eles estão colocando DIU logo depois do parto.
G3: eu tive lá e ia colocar, só não coloquei por causa da hemorragia que deu em mim.
Lohaine: mas você ia colocar Qual o DIU? o que davam lá ou você comprou?
G3: que dava lá
Lohaine: então eles dão de cobre mesmo, deve ser algum método lá deles de colocar.
ACS 8: Deve ser mesmo mas eu ouvi essa história mesmo, que você tem que ter o bebê lá e
eles colocam depois do parto, de 48 horas após o parto até 72 horas para colocar.
Lohaine: legal
G3: o meu era até 48 horas que eles colocam
Lohaine: então, legal, mas eu realmente não sei como é que funciona, mas se eles colocam
deve ter um método lá que ajuda
ACS 8: a menina lá falou que ia como se fosse um arroz, o tamanho dele é como se fosse um
grão de arroz, bem pequeninho
Lohaine: não, um grão de arroz também nem tanto, mas ele é pequeno, mais ou menos no
tamanho assim (demonstra com os dedos), mas ele não incomoda, você coloca ele mas algumas
pessoas reclamam que tem mais cólicas, mas é só nos primeiros dias até ele a sentar no lugar
sabe, depois funciona.
Bianca: mas o risco ele sair do lugar, porque no caso do SUS mesmo é o de cobre né, aí ele
sai tu não quer se como é que ele sabe né.
Lohaine: então você tem que ir fazendo acompanhamento né.
ACS 8: mas também tem a possibilidade de engravidar com ele né? É mais pequena mais tem
né?
Lohaine:O único método contraceptivo que é 100% certeza de não engravidar é não fazer
sexo, o resto todos tenham a possibilidade.
-risos
ACS 8: porque eu vi passando no Cadeia Neles uma reportagem de uma mulher falando que
tinha o DIU e mesmo assim gravidou, só que aí o bebê veio com problema
Lohaine: geralmente quando a mulher tem DIU e descobre cedo que está grávida o médico
retira, porque ele retira por baixo não precisa abrir né, ele o DIU para não encomendar o bebê,
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mas ele é bem pequenininho, e todos os métodos contraceptivos tem um risco, tem uma
margem,A pílula tem, a camisinha tem, o DIU tem, o subcutâneo que você coloca debaixo da
pele tem, todos que, o único que você não vai engravidar é não fazer sexo. Que nem a pílula,
a pílula tem remédio que você toma que corta o efeito dela, principalmente antibiótico, então
se você não tomar certinho, porque a pílula você tem que tomar todos os dias no mesmo horário,
se você não toma todo dia no mesmo horário você já corre o risco, se você ficar gripada com
dor de garganta e tomar um antibiótico e ainda corta o efeito então…..
G10: eu fiquei com a garganta doendo mas não tomei
-risos
Lohaine: quando acontecer isso tá bom vocês associarem, continua tomando a pílula e usa
preservativo, associe o método contraceptivo com outro que aí diminui a chance. se vocês não
utilizam camisinha com parceiro e sabe que tem que tomar um remédio que vai cortar o efeito
da pílula aí vocês fazem um outro método contraceptivo junto.
G3: tem que fazer assim mesmo
Lohaine: Pois é, porque eu confesso que eu também morro de medo de engravidar, adoro
trabalhar com gestante, adoro atender criança, mas dos outros.
- risos
Lohaine: Mas alguma dúvida que vocês gostariam de tirar? alguma coisa sobre o que querem
conversar?
- ninguem responde.
Lohaine: mas é aquela coisa que vocês sabem, vai difícil… ah, outra coisa que eu esqueci de
falar, sempre vai ter uma pessoa que vai falar ” o bebê está chorando porque o seu leite está
fraco”
G3: Seu leite não tá sustentando a criança né
Lohaine: A gente não existe Leite fraco, ou a pega tá errada, ou o seu leite não desceu Por que
no comecinho Quando o bebê começa a mamar, ele Vai Mamar o colostro, o que é um líquido
bem claro e fino que é muito importante o bebê tomar, por que tem bastante caloria, muito
anticorpos, e muita proteína, e é para nesses primeiros dias, o leite demora geralmente 4 dias
após o parto para ele começar a descer entendeu, então por isso que os primeiros dias é muito
difícil, porque às vezes o bebê tá com muita fome e o colostra pouquinho e leite não desceu
ainda, então tenho paciência o leite demora um pouquinho para descer mesmo, depois que o
leite desceu não existe Leite fraco, gente o nosso organismo é tão perfeito que nosso leite se
adapta às necessidades do seu bebê, vocês sabiam que se o seu bebê for prematuro e nascer,
exemplo, ela teve um bebezinho prematuro e você teve bebê no tempo certo no mesmo dia, se
vocês tirarem o leite, o leite dela que é para bebezinho prematuro Vai ter muito mais gordura
que o seu, por que o nosso organismo sabe que o bebezinho Tá pequeno e precisa
engordar, Então observa em como nosso corpo é perfeito, ele se adapta às necessidades do seu
bebê, outro exemplo, se o seu bebê começa a ficar doente, começa a ficar com febre,
automaticamente seu leite vai ficar com mais calorias e com mais anticorpos, o nosso leite se
adapta às necessidades do bebê e você acha mesmo que o leite vai ser fraco como? não existe
isso de leite é fraco.
G7:Quando eu tive o meu filho mesmo os outros falavam “ah mas ele nasceu mais gordinha e
agora tá mais magrinho que o outro” aí eu falava é assim mesmo são bebês diferentes.
Lohaine: exatamente, ser Magrinho ou gordinho não significa que saudável, Às vezes o bebê
mama para caramba e é Magrinho, é a constituição assim como tem pessoas que comem para
caramba e são magros, e tem outros que comem só um pouco mas tem facilidade para engordar
e bebês também tem isso, Às vezes tem mães que chegam com bebê roliço, e fala que tá
amamentando exclusivo, ele só toma leite e o está super gordinho, e isso é errado? não e
ele está mamando exclusivo, é assim mesmo, provável quando chegar a idade em que acelera
o crescimento dele, ele perde peso e emagrece bastante, mas se você estava amamentando
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exclusivo o seu bebê não vai estar magro demais e nem gordo demais, ele vai estar do jeito que
é para eles tá, então não caiam nessa de leite fraco, é só ter paciência, “ Ah o meu leite não
está sustentando” é só ter paciência, se vocês verem que o seu bebê está ficando com fome mas
esse, dá mais vezes o peito, ele não precisa mamar tudo de uma vez. por isso que no primeiros
meses é importante a livre demanda, quando o bebê quiser mamar você amamenta. porque
geralmente usam a desculpa do leite fraco para incluir a fórmula na alimentação da criança.
G3: Verdade
Bianca: às vezes, comigo aconteceu assim, a minha filha amava e dormir um pouquinho e já
acordava chorando aí minha cunhada falava ” ah, tem que dar um leite porque o seu leite não
tá sustentando, não tá enchendo ela” aí eu ficava meio assim né…
Lohaine: Claro, vocês ficam preocupadas
Bianca: aí eles vão lá e compraram o leite
Lohaine: sim, você ficam preocupadas, já pensou ficar alguém no seu ouvido falando “ você
tá deixando o seu filho passar fome” é óbvio que vocês vão ficar preocupadas e isso tá certo,
eu não estou criticando vocês, por que é claro que vocês ficaram com dúvidas se alguém ficar
falando para você que seu bebê está ficando com fome, como a balançada?
Bianca: E por que dá mamadeira a gente vê a quantidade no peito não, a gente não sabe a
quantidade que o bebê tá mamando e acaba ficando com medo dele tá com fome, por isso que
tem gente que prefere encher uma mamadeira de leite dar.
Lohaine: eu sei, eu entendo vocês, mas por isso que eu já estou falando agora que o leite de
vocês é o suficiente sim, a maioria das Gestantes ouvir isso de o seu leite está fraco, vamos
dar a fórmula que o seu leite tá fraco, ia a minoria das mães que têm problemas com leite,
porque tem mulher que realmente não desce o leite mas são minorias, a maioria das Mães agem
pela pressão e pelo medo das crianças está com fome, mas elas não estão, às vezes mas
simplesmente eles metabolizam o leite mais rápido, e a gente tem que lembrar também que ele
é recém-nascido o estômago dele é pequeno, não vai caber bastante leite, então ele vai mamar
só um pouco e vai ficar satisfeito, como ele mama pouquinho ele faz digestão rápido e logo tá
com fome novamente.
Bianca: e também criança não chora só por fome né
Lohaine: sim
Bianca: tem vários motivos, mas a criança começa a chorar a mãe taca o peito nela porque tá
com fome e não é assim.
Lohaine: verdade, então eu recomendo que vocês amamente sempre, o único Meio que o seu
bebê vai conseguir se alimentar e obter anticorpos, e todos esses tipos de fatores de proteção
é só no seu leite materno, no leite de lata, pode ter todos os nutrientes mas anticorpos é só você
que consegue fornecer para o seu filho através do leite, nenhum leite de caixinha ou lata, vai
conseguir fornecer anticorpos, no entanto, “ eu comecei a amamentar e não me adaptei, não
gostei, não está me fazendo bem amamentar” o que vocês vão fazer? se acontecer isso,
suspendam a amamentação, vocês tem que pensar que o bebê é importante? é, importante
demais, mas vocês também são, Então se verem que não estão conseguindo se adaptar a
amamentação, que isso está te fazendo mal, você está ficando mentalmente mal amamentando,
porque tem mães que isso acontece, suspendam a amamentação, a gente tem que pensar que se
vocês não estão saudáveis, não tem como seu bebê ser feliz e saudável também, então pensem
em vocês e não só no bebê, pensem também na saúde de vocês, Porque não tem como os seus
bebês ficarem bem se vocês estiverem adoecidas. Então eu acho que é isso, Eu queria que vocês
me dessem um retorno do que acharam dessa reunião.
ACS 5: Ah eu acho legal, como eu não tenho experiência eu acho sempre bom essas conversas.
Bianca: Ah eu gostei, as minhas dúvidas eram mais sobre o contraceptivo né Para eu não
engravidar de novo
- risos
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Bianca: e eu consegui entender, e agora já vou procurar a Fátima para fazer o planejamento.
Lohaine: se vocês tiverem uma dúvida que acha que não foi respondida Gente podem perguntar
de novo tá
Angêlica: eu achei bom, é sempre bom ouvir essas coisas.
G5: eu achei interessante, principalmente sobre amamentação porque eu vou ser mãe de
primeira viagem né eu não sabia nada sobre isso, agora tô mais segura.
Lohaine: que bom, e você?
G10: eu gostei bastante também
Lohaine: e você que ta com o bebêzinho pequeno, o que achou?
G3: Ah eu gostei bastante, vou começar a passar o leite no bico do peito e tomar sol bastante.
Lohaine: que bom.
ACS 1: é legal, Por que a gente ver que mesmo sendo mãe a gente não sabe tudo né, ta sempre
aprendendo umas coisas.
Lohaine: verdade.
ACS 6: eu gostei porque esse é o momento que a gestante tem para tirar dúvida se quiserem
participar mais vezes sempre venham né.
Lohaine: e você ACS 3?
ACS 3: Ah eu também acho bom porque às vezes a gente sabe mas não sabe tudo né, aí
aproveita para tirar dúvida, por que a gente vai fazer visita e elas fazem pergunta e a gente pode
falar para elas para vir nas reuniões porque aqui às vezes ele já sabe mas ainda tem coisa que
ela tem dúvida, e é muito bom.
ACS 6: Uma coisa que eu achei interessante é esse DIU, eu nunca vi você podia na próxima
reunião trazer os exemplos para a gente ver né
Lohaine: dos métodos contraceptivos? Posso ver sim acho que na UFMT deve ter algum.
Lohaine: Então é isso meninas, obrigada pela presença de todas e eu trouxe um lanchinho pra
gente compartilhar.
1° ENCONTRO INDIVIDUAL – LUCIANA
29:15s
Pesquisadora 1: Então demorou pra caramba pra você ter ele?
Luciana: demoro, aí 6 horas da manhã eles aplicaram aquele soro né, pra anda mais rápido, só
consegui ter só 6 cm só, aí como eu só sangrava não saía nada.
Pesquisadora 1: aí optou pela cesária, que nem eu falei aquela vez né, a cesária ela ta aí pra
ajudar mesmo.
Luciana: É que meus planos era normal, mas aí eu não di conta, foi na cesária mesmo
Pesquisadora 1: se falando que o bebêzinho, que ele não tava achando o batimento ele podia ta
entrando em sofrimento né, é melhor tirar mesmo.
Luciana: uhum, eu não tava aguentando mais, acho que eu nem tinha mais força mais, o homem
perguntava as coisas pra mim eu só balançava a cabeça, não tinha nem voz pra responder mais
nada.
Pesquisadora 1: Ah mais é difícil mesmo
Luciana: também não quero saber de filho mais não, só esse aqui. Deus me livre de guri, ta bão,
não quero mais não.
Pesquisadora 1: éé, qual a sua idade Luciana?
Luciana: 24
Pesquisadora 1: huum, você nasceu aqui em Cuiabá?
Luciana: Nasci
Pesquisadora 1: nasceu, huuum e seus pais?
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Luciana: meus pais um é da Bahia, e a mãe eu não sei da onde que a ela é, mas ela é de Nobres
pra lá.
Pesquisadora 1: Ah, aí eles sempre moraram pra lá, pro..
Luciana: não, eles se conheceram aqui, aí eles juntaram né aí depois teram nóis que eles
cassaram, aí fomo pro sítio, aí moramo um tempo aqui.
Pesquisadora 1: Ah se morou lá no sítio também?
Luciana: é, eu cresci la né, eu nasci aqui, acho que nos fomos pra lá eu tinha o que, 4 ou 5 anos,
que nós fomos pra lá, depois que eu voltei, mas eu cresci minha infância lá.
Pesquisadora 1: Huum, bom né, realidade totalmente diferente da cidade
Luciana: é!! totalmente diferente...
Pesquisadora 1: crescer no sítio né, os meus pais também cresceram em sítio. Seus pais tem
quantos anos?
Luciana: vai fazer 50 ano agora
Pesquisadora 1: seu pai? e sua mãe?
Luciana: também
Pesquisadora 1: Os dois tem a mesma idade?
Luciana: os dois, aham.
Pesquisadora 1: legal, entendi, é aqui mora só você e seu irmão?
Luciana: só, só nós dois.
Pesquisadora 1: Alexandre né
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: entendi, ele que ta ajudando você também com o bebê, eu vi, cheguei aqui ele
tava lá.
Luciana: é, é ele fica bravo comigo, disque "ta fazendo ele chora que não sei oque", eu falo
pega ele, ele pega um pouquinho e põe lá na cama, fica brincando com ele na cama, não é
muito de paga não.
Pesquisadora 1: é que geralmente tem medo né, porque ta novinho
Luciana: é mais ele fala "peraí eu vô pega ocê", mas tem hora que ele pega pra brinca.
Pesquisadora 1: que bom, bom ter alguém assim né pra ajudar
Luciana: ééé
Pesquisadora 1: pelo menos pra aliviar um pouquinho
Luciana: aí ele me ajuda a levantar da cama porque eu num guento ainda...
Pesquisadora 1: e nem pode né
Luciana: aí ta indo, até o dia que eu for pro sítio de novo
Pesquisadora 1: se vai quando?
Luciana: to esperando terminar de fazer os exames dele tudinho aí que eu vô
Pesquisadora 1: e lá tem como se dá a vacina
Luciana: tem
Pesquisadora 1: tem posto lá né
Luciana: tem
Pesquisadora 1: tem que dá as vacinas certo.
Luciana: porque ele tomo a primeira aqui né, aí ele ta terminando de fazer o que tem que faze
pra mim ir, aí chega lá só fica as vacinas, aí faço só as vacinas dele lá, é mais fácil.
Pesquisadora 1: bonzinho ele né?
Luciana: Ah ele é bem calmo, essa noite ele dormiu bem pra caramba.
Pesquisadora 1: ele não ta dormindo bem?
Luciana: a noite passada ele não dormiu não, mas essa noite ele dormiu.
Pesquisadora 1: Ah mais também ele ta novinho, ta acostumando né, como o ambiente estranho.
Se trabalha de quê Luciana?
Luciana: Eu trabalho num restaurante.
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Pesquisadora 1: se cozinha ou se é do serviços...
Luciana: não, eu sou é como que fala... Auxiliar de cozinha
Pesquisadora 1: ah sim, de cozinha
Luciana: aham, mas na minha gestação eu fiquei na salada porque na cozinha era muito quente
né, aí eles pegaram e arrumaram eu na salada, aí na hora que eu volta eu não sei o que eu vô
fazer, eu acho que eu vou voltar pro mesmo cargo que eu tava.
Pesquisadora 1: uhum, e se gosta de trabalhar com comida?
Luciana: gosto
Pesquisadora 1: legal, minha mãe também ela fala que se ela fosse voltar a trabalhar, ela ia
voltar cozinhando porque ela gosta de mexer com isso.
Luciana: é bom, não é ruim não
Pesquisadora 1: e seu emprego, foi tranquilo? quando você descobriu que tava grávida e tal?
Luciana: Foi, foi bem tranquilo, a patroa foi bem boa, todo mundo assim, todo mundo me
ajudou muito.
Pesquisadora 1: é, que bom
Luciana: foi bem tranquilo
Pesquisadora 1: hoje em dia do jeito que ta né, se vai ter os seis meses de licença?
Luciana: vou, é quatro mês né, na empresa aí eu vô pega mais um mês de férias, vô fica 5 meses
afastada, só cuidando dele
Pesquisadora 1: huum, lá eles não proporcionam plano de saúde? no seu emprego?
Luciana: não.
Pesquisadora 1: Mais que bom que você recebeu o apoio né, que hoje em dia ta tão difícil né,
os patrão não tão nem aí
Luciana: tá, ah não minha patroa é bem boa, assim... em vista de muitos, ela é boa
Pesquisadora 1: uhum... eee desculpa mais aqui na sua casa é só você quem trabalha ou seu
irmão também trabalha?
Luciana: não, ele também trabalha
Pesquisadora 1: então tem a renda de vocês dois né.
Luciana: aham
Pesquisadora 1: ah bom que tem duas rendas né, e só vocês dois não fica tão pesado
Luciana: éé, não fica tão pesado.
Pesquisadora 1: e você estudou até que idade?
Luciana: eu terminei, eu fiz até o terceiro ano.
Pesquisadora 1: se terminou o ensino médio
Luciana: uhum, terminei.
Pesquisadora 1: e seus pais ele tem estudo?
Luciana: mais ou menos, mainha ela tem eu acho que até o, terceira série, meu pai que tem o
1°, a 1° série, só que agora ele ta estudando né, porque aquele que......
Pesquisadora 1: EJA né?
Luciana: eu acho que é esse mesmo, ele tão estudando lá.
Pesquisadora 1: Ah que bom, que legal
Luciana: tão lá tudo animado eles.
Pesquisadora 1: que bom, meu vô também, ele começou a fazer lá no sítio que ele mora, aí ele
apren... ele não sabia nada, aí ele aprendeu a assinar o nome dele, essas coisas...
Luciana: meu pai também, meu pai sabe assinar, ele não sabe lê ta aprendendo agora, todo
animado, ta aprendendo a lê a fazer conta, fico só rindo dele.
Pesquisadora 1: ah mais é bom demais, o meu vô também fica todo feliz, aí agora ele tá que
troca o documento dele, porque ele fala que, que era só digital né e analfabeto, e ele fala que
agora ela sabe escrever o nome dele,que tem que troca.
Luciana: o tadinho! ele tem quantos anos?
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Pesquisadora 1: pois é, meu vô tem 74.
Luciana: nossa, ta forte ainda...
Pesquisadora 1: ta, tá meu vô, porque ele é no sítio, e idoso no sítio é totalmente diferente de
idoso aqui né, no sítio, meu vô ainda planta, ainda tem a roça dele, as criação lá, se vê se nem
imagina que ele tem a idade que ele tem.
Luciana: tomara que Deus conserve ele muito tempo ainda
Pesquisadora 1: Amém, Ave Maria, nem penso em perder meu vô, acho que eu...
-risos
Luciana: ah é igual eu com a minha veínha lá...
Pesquisadora 1: se ainda tem vó?
Luciana: Só tenho 1 agora, o restante já foi tudo
Pesquisadora 1: eu também só tenho uma vó por parte de pai e um vô por parte de mãe, só.
Luciana: Agora eu só tenho 1 vó.
Pesquisadora 1: Ela, ela é mãe do seu pai ou da sua mãe?
Luciana: da minha mãe.
Pesquisadora 1: ela mora lá com a sua mãe?
Luciana: Mora lá
Pesquisadora 1: aah bom que vai conhecer a bisa...
Luciana: Ave Maria ta ansiosa, já falou "porque que não vem logo", eu tenho que termina de
resolve aí eu vô, "ah ta demorando demais", até cegar lá já ta grande já
Pesquisadora 1: imagino..... éé, se falou que se teve pressão alta né no seu parto, sua família
tem histórico de hipertensão?
Luciana: Uhum, minha mãe tem!
Pesquisadora 1: sua mãe tem hipertensão? e seu pai tem?
Luciana: não
Pesquisadora 1: e você teve pressão alta na gestação?
Luciana: não na gestação não, subiu só no dia de ganha mesmo...
Pesquisadora 1: Uhum, mais foi só a pressão alta né não evoluiu pra pré-eclampsia?
Luciana: não, até de manhã ela já tinha ficado normal já
Pesquisadora 1: Ah ta, deve ser então o estresse né, fica muito ansiosa, nervosa....
Luciana: éé, uhum
Pesquisadora 1: Ainda bem, menos mal.... E como é que foi sua infância lá no sítio?
Luciana: Olha foi muita danadeza, muita brincadeira, muito couro por causa de coisas erradas,
mais foi bom
-risos
Pesquisadora 1: aproveitou muito né
Luciana: muito, brinquei muito, acho que por isso que a gente, que eu demorei tanto te filhos,
porque a gente cresce no sítio se não tem muito essa, vontade igual a gente fica aqui na cidade,
tudo tem o tempo da gente, aí eu acho que foi isso...
Pesquisadora 1: verdade, se voltou pra cá pra Cuiabá com quantos anos?
Luciana: tava com 23
Pesquisadora 1: 23? então ta com pouco tempo que se veio
Luciana: tem um ano
Pesquisadora 1: ah, pensei que tinha mais tempo que ses vieram, veio você e seu irmão juntou
ou veio antes?
Luciana: não, ele sempre morou aqui, ele sempre morou aqui sozinho, eu que vim depois.
Pesquisadora 1: ele veio aqui, pra cá com quantos anos?
Luciana: olha acho que tem mais de 5 anos que ele mora aqui, ele veio, tem 29 vai fazer 30
anos.
Pesquisadora 1: Ele é mais velho? nem parece...
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Luciana: ééé, ele é o filho mais velho da minha mãe...
Pesquisadora 1: uhum
Luciana: Eu sou a do meio, tem a caçula lá também
Pesquisadora 1: uhum, entendi. Então se tem 3 irmãos, e sua vózinha aqui tem ainda tá viva,
sua vó tem quantos anos?
Luciana: minha vó tem 74.
Pesquisadora 1: Aí é seu irmão mais velho, tem 29 né, aí é você que tem 24, e a outra?
Luciana: minha irmã tem 20
Pesquisadora 1: 20? éé... só você e ela que tá grávida?
Luciana: só
Pesquisadora 1: Você tem um bebêzinho, menininho e ela ta grávida...
Luciana: Ela tá grávida de uma menina...
Pesquisadora 1: menina? bom que vem um de cada um
Luciana: vai, vem uma casal!
Pesquisadora 1: Ah por isso que sua mãe ta desse jeito então, é o primeiro neto!
Luciana: ééé o primeiro neto dela, ela ta toda empolgada! mais ta a família inteira, todo mundo
empolgado...
Pesquisadora 1: Ah mais primeiro bebê da família, todo mundo fica...
Luciana: Mais tem bastante, lá em casa somos em que... agora acho que ta em 28 neto e 6
bisneto agora...
Pesquisadora 1: huum, aah da sua vó né
Luciana: aham é grande a família, não é pequeno não
Pesquisadora 1: ah mais e diferente né, de quando é mais próximo assim...
Luciana: ééé, esse aqui é o mais, é porque eu acho que eu sou a mais xodó de todos também,
dos tios, das tias, da avó, aí eles tão mais ansioso com esse aqui, querendo que chega logo.
Pesquisadora 1: entendi, legal. Luciana, e o pai dele?
Luciana: Olha o pai dele a gente, assim porque nois num namoramo sério, porque eu fui casada
né aí eu falei assim "não, agora eu não quero, namora sério com ninguém" só que aí eu sempre
tomei remédio, só que depois eu engravidei só que depois eu decidi que não queria fica com
ele.
Pesquisadora 1: uhum
Luciana: aí eu não quis fica com ele, aí eu falei "não eu vô, te o nenê sozinha" aí eu segui em
frente sozinha.
Pesquisadora 1: entendi
Luciana: eu não quis ele não, fica com ele não.
Pesquisadora 1: Mas ele ta acompanhando a gestação?
Luciana: Tá, ele acompanhou, ele ajuda...
Pesquisadora 1: ta pagando pensão?
Luciana: ta, tudo certinho, só que eu não quis mesmo fica com ele
Pesquisadora 1: Ah então, é que a gente pergunta e a pessoa fica meio assim, não, não to... que
nem eu falei, eu acredito muito nessas coisas, as vezes é melhor você fica aí com seu bebê e
criar ele sozinha, do que fica com mais uma pessoa.
Luciana: é porque, como se já foi casada, se já sabe como que é né, falei ah eu não quero de
novo não, falei não, ta bom, só o meu filho ta ótimo... E eu vô dá conta de cuida dele sozinha.
Pesquisadora 1: E ele já viu? já conheceu? ele veio aqui?
Luciana: jááá, vem!
Pesquisadora 1: ou foi lá no hospital?
Luciana: ele foi lá também, mais o ruim é que ele trabalha também igual eu, é entra cedo só saí
de tarde, de noite, aí só nas folgas. Mas ta bem tranquilo, cada um no seu canto...
Pesquisadora 1: num tao junto mas tem uma relação boa né
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Luciana: é, uhum, é uma relação boa.
Pesquisadora 1: ele tem quantos anos?
Luciana: acho que tem 35.
Pesquisadora 1: é mais velho né
Luciana: ele é mais velho
Pesquisadora 1: huum, entendi..... E o seu primeiro casamento, se tinha quantos anos quando
se casou?
Luciana: eu fui casada 4 anos, comecei a namora com 19, acho que foi com 20, casa não, ajunto
né.
Pesquisadora 1: Ah mais esse ajuntou hoje em dia já é casamento diante da lei né, então por
isso que...
Luciana: uhum, aí a gente ficou lá junto, até que a gente separou
Pesquisadora 1: Ah então se casou lá?
Luciana: lá! nós caso lá.
Pesquisadora 1: Aí se morou lá na sua casa? ou morava com seus pais?
Luciana: não, morava com meus pais, ele morava na fazenda né, aí meu pai falou "não,se não
vai muda não" e eu também não quis ir...
Pesquisadora 1: aí ele que foi pra sua casa?
Luciana: Aí ele que foi lá pra nossa casa, a nós fico morando lá o tempo todo
Pesquisadora 1: uhum, aí nessa época se não teve filho? não quis ter?
Luciana: não, não engravidei também, engravidei só depois que eu separei
Pesquisadora 1: huum, entendi. Ah mais é bom que você tem uma relação boa com o pai do
bebê né, o pai dele
Luciana: éé, é bem tranquilo
Pesquisadora 1: Então, fazendo aqui mais ou menos né, que esse aqui, não sei se já ouviu falar,
de genograma, ou árvore genealógica.
Luciana: aaaah já, eu já fiz essa árvore na escola já
Pesquisadora 1: já
Luciana: na matéria de...
Pesquisadora 1: Geralmente se faz na de biologia, ciências
Luciana:isso, de biologia. aham
Pesquisadora 1: então é mais ou menos pra gente representar quem é a sua família né
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: aí só pra gente ter mais ou menos uma noção, sua família é pequenininha
Luciana: ééé
Pesquisadora 1: é igual a minha, a minha ainda é menor porque, é só duas
Luciana: é só duas?
Pesquisadora 1: uhum, só eu e minha irmã... aí eu coloquei aqui a sua vó, porque se falou, a
gente geralmente representa o núcleo familiar principal né, que a gente fala que é aqueles que
são mais próximos, que moram juntos, ou que não moram juntos mais são mais próximos, que
nem é você com seus pais lá, e seus pais e sua vó que moram todo mundo junto né
Luciana: isso, uhum
Pesquisadora 1: e vocês aqui, e a sua irmã é casada?
Luciana: é casada
Pesquisadora 1: e é o primeiro filho dela?
Luciana: é o primeiro filho dela também
Pesquisadora 1: huum, legal. E seu irmão que não tem filho ainda ou tem?
Luciana: não, ele eu acho que não vai ter não
Pesquisadora 1: não?
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Luciana: não ta muito preocupado com isso não, ele fala ta bom só os sobrinhos, ta ótimo. Ele
é bem sussegado nessa parte
Pesquisadora 1: vai só mimar
Luciana: ééé, isso aí acho que vai mesmo. Já é assim com esse aqui
Pesquisadora 1: fica só namorando?
Luciana: fica
Pesquisadora 1: Mas também quem que não namora um coisa fofa dessa né
Luciana: verdade, né filho!
Pesquisadora 1: éé, e vamos fazer esse aqui né, que chama ecomapa, é mais ou menos, no
genograma a gente desenha a sua família, no ecomapa a gente desenha o seu, lembra que a
gente conversou... acho que você não tava, é, você não tava na reunião... é que a gente conversou
um pouco sobre rede de apoio.
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: se quer ir lá pra dentro? ta achando ta ventando muito.
Luciana: nããõ, aqui só vou mudar ele de posição.
Pesquisadora 1: quer que eu pegue a cobertinha que ele tava enrolado?
Luciana: não, ele ta quentinho.
Pesquisadora 1: ee, aí no ecomapa a gente representa a família, os núcleos de apoio
, tipo assim, quem te ajuda nesse processo, que nem, agora, quem ta te ajudando é bastante é a
sua mãe
Luciana: éé
Pesquisadora 1: porque ela ta aqui, ela saiu lá da casa dela né e veio pra cá pra te ajudar, e quem
sempre te ajuda também é o seu irmão, que divide tudo com você e ta ajudando com o bebê,
tipo isso a gente vê só pelo seu relato né, então seu irmão Alexandre né
Luciana: isso mesmo, é assim
Pesquisadora 1: a sua irmã é Geovana né?
Luciana: Auréa
Pesquisadora 1: quem é Geovana? sua mãe falou que... Ah deve ser o bebêzinho dela então?
Luciana: é Bruna Arielly o nome da bebê
Pesquisadora 1: sua mãe falou bem assim "agora saí ela e vem Geovana"
Luciana: Ela troca os nomes, até o nome do meu nenê tem hora que ela troca, aí eu fico mãe
não é esse, aí ela fica aah é mesmo.
Pesquisadora 1: é ela falou pra mim " qual que o nome bebê?" não lembrou mesmo a hora que
eu cheguei, aí seu irmão que lembrou
-risos
Luciana: é tem horas que ela não lembra mesmo
Pesquisadora 1: esquecida
Luciana: éé, ela esquece
Pesquisadora 1:e ai eu queria que você me dissesse quem mais é o seu, quem que é seu apoio
aqui, que te ajuda de alguma forma aqui, que é importante pra você
Luciana: Minha tia
Pesquisadora 1: ela mora aqui?
Luciana: Mora aqui, tem meu tio também, tem meus 2 tios também, eles moram aqui também.
Pesquisadora 1: então, sua tia e mais 2 tios né, são juntos algum? ou são todos tios assim...
Luciana: não, é uma é irmã da minhã mãe né e o outro é irmão do meu pai
Pesquisadora 1: ah então são separados né, como que é o nome deles? da tia é?
Luciana: Bia
Pesquisadora 1: Bia e dos tios? por parte de mãe
Luciana: é Rodrigo por parte de mãe
Pesquisadora 1: uhum e por parte de pai?
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Luciana: Mauro
Pesquisadora 1: e instituições? tipo assim PSF, hospital, seu serviço
Luciana: Não
Pesquisadora 1: não? nenhum?
Luciana: não
Pesquisadora 1: entendi, se ganha algum tipo de beneficio?
Luciana: lá na empresa agora vai ganhar só do nenê né, mas é só daqui, num sei quantos que é
Pesquisadora 1: de creche?
Luciana: éé, do bebê
Pesquisadora 1: aah legal, porque não é todas que tem né
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: da creche né... e você acha que você foi, você recebeu o atendimento que você
esperava dentro dos hospitais no parto?
Luciana: assim, geralmente do que todo mundo fala que eles entram pra trata, até que o meu eu
gostei
Pesquisadora 1: uhum, você gostou?
Luciana: porque no caso foi o processo esperado né, aí eles viu que não deu certo aí tento pelo
parto cesária, mas por mim ocorreu normal
Pesquisadora 1: uhum, foi lá no Santa Helena né?
Luciana: isso
Pesquisadora 1: hospital Santa Helena, é que aquela história né, tipo é que as vezes a gente não
se sente respeitada né, dentro dum hospital né, aí por isso que eu perguntei. E o PSF? você acha
que você teve o apoio do PSF quando precisou?
Luciana: do postinho? sim!
Pesquisadora 1: Quando você precisou você conseguiu tudo que você precisava por aí né?
Luciana: uhum, sim
Pesquisadora 1: entendi, e eles já orientaram você casa você quiser ganhar bolsa família, essas
coisas, já ti orientaram?
Luciana: não
Pesquisadora 1: não?
Luciana: Mas eu acho que eu não consigo porque eu tenho a carteira assinada né
Pesquisadora 1: ah mais isso não é impedimento
Luciana: não?
Pesquisadora 1: não, por causa que o bolsa família é mais vinculada a criança né, pra ajudar,
porque o bolsa família é pra ajuda a criança, é um beneficio que foi criado pensando em
diminuir a mortalidade e a desnutrição infantil, então por isso que quando fala que é bolsa
família eles falam que a criança tem que ta matriculado na escola, tem que ta com peso
adequado esses tipos de coisa, entendeu?
Luciana: Uhum
Pesquisadora 1: então eu acho que você consegue sim, não sei se agora com ele nesse
tamanhozinho né, ou se ele tem que ta um pouquinho maior
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: e se vai deixar ele na creche ele vai estar com seis meses né
Luciana: minha tia que vai cuidar, a minha mãe já ta meio assim, aí minha tia falou que vai
cuidar dele pra mim trabalhar... eu não vou deixa ele assim não, só se for o caso de precisão
mesmo
Pesquisadora 1: entendi
Luciana: aí vou por ele na creche, mas si eu conseguir não vou por não
Pesquisadora 1: ah é, se você tem opção é sempre melhor deixar com a família né
Luciana: ééé, uhum, acho que é mais tranquilo né
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Pesquisadora 1: uhum, é essa tia Bia? que vai cui... que falou que cuida dele pra você?
Luciana: uhum, é!
Pesquisadora 1: essa tia Bia é irmã da sua mãe?
Luciana: é, irmã da minha mãe
Pesquisadora 1: irmã da sua mãe né, deixa até eu marcar aqui, porque é importante, se ela é tão
próxima
Luciana: ela é, bastante
Pesquisadora 1: ela irmã mais nova ou mais velha da sua mãe?
Luciana: ela é uma das mais novas da minha mãe, não lembro assim...
Pesquisadora 1: a ordem né
Luciana: é a ordem delas né, só sei que é uma das mais novas né
Pesquisadora 1: não, não tem importância.... vou só deixar aqui anotado, porque como eu falei
a gente desenha as pessoas que você considera família, porque assim, a família hoje é diferente
né, a gente acredita que a família é mais por relação afetiva que por laços sanguíneo, tanto que
um padrasto as vezes é mais família que um pai biológico né...
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: ou uma madrasta né, por isso que a gente coloca, que nem agora, eu queria
também colocar, porque você falou que seus avós por parte de pai já faleceram, os 2 né, aí seu
pai e qual que é os seus tios por parte de pai, que você falou que te ajudam bastante também,
são mais novos ou mais velhos que seu pai?
Luciana: eles são mais novos também
Pesquisadora 1: são mais novos?
Luciana: é, são mais novos também
Pesquisadora 1: só pra gente também ter essa noção né, pra eu colocar eles também no seu
genograma. E você sentiu, que respeitaram você nas suas vontades no parto?
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: que nem aquela história que as vezes eles ficam insistindo tanto num tipo de
parto né
Luciana: é aquilo, é que no meu caso eu que queria ter tentado normal né, só que ai quando eu
vi também que eu não aguentava mais eles opnou já por cesária aí eu falei "não, pode fazer"
Pesquisadora 1: aí eles conversaram com você é? perguntaram pra você se você queria mesmo
e tal?
Luciana: Uhum, perguntaram
Pesquisadora 1: entendi, mas bom, que nem a gente falou lá naquela reunião, a questão do parto
não é simplesmente ser tal parto, tem que ser um outro tipo de parto, é que eles respeitem a sua
vontade, primeiro eles tentaram respeitar sua vontade, viu que não deu, aí perguntaram para
você se você queria fazer a cesária, e te deram os motivos e as escolhas né, isso que é importante
né
Luciana: éé, uhum, eles falaram tudinho
Pesquisadora 1: mas fico feliz de você ter tido uma experiência com o atendimento bom, o seu
parto foi mais difícil né, mas a sua experiência com o atendimento dentro do hospital foi bom..
Luciana: Uhum, foi bom, bem tranquilo
Pesquisadora 1: que bom, ééé, essa é sua primeira gestação né, se não teve nenhum aborto antes
nada né?
Luciana: ééé, não, não tive nada.
Pesquisadora 1: entendi, aí se falou que você fazia o uso de contraceptivo? quando se
engravidou? se usava pílula?
Luciana: Sim, eu fazia, usava pílula
Pesquisadora 1: Qual que você usava?
Luciana: usava o Previane
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Pesquisadora 1: Previane? e você tava tomando certinho e mesmo assim engravidou?
Luciana: Tava, eu tomava certinho, mas era que era pra vim mesmo
Pesquisadora 1: ele era comprimido ou injeção?
Luciana: não, comprimido
Pesquisadora 1: e só usava esse, não usava preservativo?
Luciana: não, só usava ele mesmo
Pesquisadora 1: entendi, e na gestação se fez os testes de DST? aqueles testizinhos rápidos que
coloca a gotinha nas plaquinhas?
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: e fez de sangue também né, pede os dois
Luciana: uhum, fiz tudo
Pesquisadora 1: entendi, bom. E sua amamentação como é que está sendo?
Luciana: Um pouquinho dolorido, mas ta sendo tranquilo
Pesquisadora 1: ta conseguindo né?
Luciana: Ta
Pesquisadora 1: ele ta mamando bem?
Luciana: Ta mamando bem
Pesquisadora 1: hum, que bom... então não foi uma gravidez planejada né, foi um susto
Luciana: não, foi um susto.
Pesquisadora 1: Ah então ta bom, acho que é só isso... quando se for voltar lá do sítio se vai
voltar, só pra voltar a trabalhar ou vai voltar antes?
Luciana: e acho que deve voltar antes, porque, porque aí no caso eu vo assinar o papal da licença
né, aí vou voltar pra assinar o papel da férias né
Pesquisadora 1: uhum
Luciana: aí no caso eu vou vim
Pesquisadora 1: aí se já vai ficar né, não vai voltar pra lá
Luciana: aí no caso, nem sei, as vezes eu posso voltar, as vezes não...
Pesquisadora 1: quando se vim, quando você vir para assinar o papel da férias, aí se me avisa,
que ainda tem mais uma fase, que eu venho só aplicar um questionário, tá?
Luciana: Tá
Pesquisadora 1: aí se avisa que eu venho aqui ver vocês
Luciana: ta bom
Pesquisadora 1: ele ta com 8 dias agora né, ele nasceu que dia?
Luciana: ele nasceu quarta-feira
Pesquisadora 1: era que dia do mês
Luciana: é dia 26
Pesquisadora 1: 26, aniversário é 26/06
Luciana: uhum
Pesquisadora 1: aí eu venho então, aí quando você vier se menda uma mensaginha que eu venho
Luciana: uhum, ta bom
Pesquisadora 1: acho que era só isso...
2° encontro individual – Luciana
34:09s
Lohaine: Mas primeiro a gente vai falar um pouquinho, como que está sendo a maternidade pra
você?
Luciana: Assim, um pouquinho trabalhoso, mas bem, né.
Lohaine: e, como foi o primeiro mês, como foi a experiência?
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Luciana: difícil, muitoo difícil, Meu Deus do Céu, mas depois você vai pegando o jeito e vai
indo, mais tranquilo.
Lohaine: huum, que bom. E você tá feliz?
Luciana: Tô, bastante feliz, com esse coisinha, né mamãe (dirige-se ao filho)
Lohaine: E se ta com seguindo fazer todos os exames dele?
Luciana: tô, assim, por enquanto eles não pediram exame no postinho não.
Lohaine: foi só os primeiros mesmo né
Luciana: éé, e aí eu to levando ele todo, acompanhando ele né, aí só, aí as vezes quando ele ta
com alguma coisinha eu levo lá pra ver, mas por enquanto ele é bem saudável, graças a Deus.
Lohaine: Uhum, você amamentou ele até quanto tempo? tipo, ele mamou só no peito até
quantos meses?
Luciana: até os 4 meses, aí nos 5 mês pra cá ele já num, eu já comecei a dá mamadeira né, ele
mama, mas ele mama menos, ele mama quando ele quer agora, ele não mama na hora que eu
quero, mama na hora que ele qué.
Lohaine: Ah entendi, porque também a mamadeira é muito mais fácil, ele tem que fazer muito
mais esforço pra mamar no peito que na mamadeira...
Luciana: na hora que eu chego também, a noite ele, eu não sou muito de dar mama pra ele não,
deixo o neném pega o peito, aí durante a noite ele mama o peito.
Lohaine: ah mais também se tá voltando a trabalhar né, é compreensível que ele tem que pegar
mamadeira né
Luciana: ééé´, se não ele ia sofre bastante mesmo.
Lohaine: e como é que está a volta ao trabalho?
Luciana: até que tá tranquilo lá.
Lohaine: e pra você, como é que você ta se sentindo de se separar dele?
Luciana: difícil no primeiro dia, achei ruim, desinquieto, só que agora eu to saindo um
pouquinho mais cedo, to saindo 9:15 (da noite), só que já vai acaba, já que ele completa 6
meses, aí já acaba, falei "ave Maria, vou ter que ficar até o meu horário", vai ser ruim demais,
porque eu já fico querendo vir embora, chego mais cedo em casa.
Lohaine: você trabalha das, que horas?
Luciana: Das 4:00 (16:00 horas), eu entro 4 horas e saio as 10:15 da noite (22:15).
Lohaine: e ele, ta ficando com quem esse horário?
Luciana: ele fica um pouco com o meu irmão e fica um pouco com a minha tia
Lohaine: huum, seu irmão cuida dele?
Luciana: Cuida
Lohaine: Acostumou a ficar sozinho com ele?
Luciana: Fica...
Lohaine: No começo ele tava meio, batata quente não sabia o que fazer né
Luciana: ééé, agora ele tá ficando, mas ele fica bastante no carrinho, fica bastante na cama, ele
não é muito chorão não, ele é bem tranquilo.
Lohaine: to vendo, ele se interte sozinho né
Luciana: Uhum, tem os bichos dele marrado aqui, brinquedinho dele, tem que marrar pra não
perder, toda hora caí no chão.
Lohaine: entendi, e como que foi lá na sua mãe? te ajudou lá?
Luciana: foi bom, ajudou bastante, descansei bastante, o povo adulou bastante ele.
Lohaine: veio cheio de mania?
Luciana: um pouquinho, tava gostando de um braço, falei " pois é, na hora que chegar lá ele vai
sofre, porque, quem que vai tá lá pra ficar pegando ele?"
(diversos ruídos da criança vocalizando ao fundo)
Lohaine: é tia? mamãe judiou de você deixando você no carrinho? judiou? não quis dá braço
pra você? (se dirigindo ao bebê) e sua relação com o pai dele? ta do mesmo jeito?
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Luciana: ta do mesmo jeito, cada um no seu canto.
Lohaine: mais ta tranquilo ainda?
Luciana: tá
Lohaine: ele vem ver?
Luciana: Ainda não
Lohaine: não veio?
Luciana: não
Lohaine: e nem pega ele?
Luciana: não.
Lohaine: entendi, mas a pensão ele ta dando?
Luciana: uhum
Lohaine: e aí, e suas amigas? não tem amigas aqui que ajudam com ele? ou saem pra conversar
pelo menos
Luciana: não, minhas amiga... tem uma que mora lá no CPA aí na minha folga nós marca de ir
pra lá, mas só, porque aí todo mundo trabalha né, aí nos pega e num dá de deixa... Mas eu
também fico meio assim, de deixa, eu fico com medo.
Lohaine: não, nem é tanto cuidar dele né, é conversar com você, que é sempre bom.
Luciana:sim, mas eu fico meio assim, mas até que eu saio bastante ainda, carrego ele pra tudo
quanto é canto que vou, ele não fica pra trás né.
Lohaine: agora tem um anexo né. Entendi. Agora eu vou te fazer a pergunta mas você fique a
vontade pra responder com toda a sinceridade tá?
Luciana: uhum
Lohaine: As rodas te ajudaram em alguma coisa?
Luciana: como?
Lohaine: As rodas de conversa que a gente fez...
Luciana: Ajudou
Lohaine: em quê?
Luciana: é que eu fui acho que uma vez né...
Lohaine: se foi na de parto.
Luciana: Isso, foi uma vez que eu fui, a do parto não ajudou muito não, porque eu sofri.
Lohaine: não? entendi porque?
Luciana: pensa uma pessoa que sofreu fui eu, porque não tive como ter normal né, aí eu fiquei
muito tempo lá, pra mim ganha o neném. Até que ele tiraram, resolveram tira, aí eu sofri pra
caramba, nem o soro não resolveu.
Lohaine: não?
Luciana: não...
Lohaine: Eles colocaram ocitocina em você?
Luciana: uhum, e não resolveu, porque eu tava sentindo dor, e de manhã eles perguntaram se
podia pôr né, aí eu falei "ah, põe logo pra ver se resolve, mas não resolveu nada.
Lohaine: não? mas ele perguntaram pra você né?
Luciana: perguntaram.
Lohaine: Hum, entendi. E ai, sua relação com as outras pessoas, você tem notado que você ta
mais afastada das pessoas por causa dele?
Luciana: não, ta bem tranquilo. Assim, eu acho, não sei, no serviço eu também converso com
todo mundo né, normal, em casa também, não tem diferença não.
Lohaine: não afetou né?
Luciana: nãão, acho que é porque eu sou bem faladeira, eu acho. Eu converso muito com a
minha prima, é a que eu mais converso, nós liga uma pra outra de manhã e vai até 11 hora, aí a
gente conversa a manhã inteira, aí é bem tranquilo.
Lohaine: huum, e ela tem filho?
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Luciana: tem, uma neném de, ela vai fazer 8 meses, dia 17.
Lohaine: huum, entendi. E ela te ajuda?
Luciana: Ajuda muitoo
Lohaine: as dúvidas com ele?
Luciana: tudo, tudo quanto é dúvida eu tenho, eu tiro com ela, ela até ri de mim... Eu falo: "ah
o que seria de mim se não fosse você" ela fica rindo de mim, porque a dela já é mais velha né,
aí tudo ela me ensina.
Lohaine: Entendi. E você se aproximou dela, mas recente ou vocês sempre foram próximas.
Luciana: Não, toda vida nós somos assim.
Lohaine: Humm, que legal e sua irmã?
Luciana: Minha irmã ela sempre foi um pouco mais afastado, eu sempre fui na minha e ela no
cantinho dela, mas quando ela tem dúvida também ela pergunta.
Lohaine: Ela liga pra você?
Luciana: Liga.... é que lá tem mais gente né, aí ela...
Lohaine: E ela mora perto da sua mãe né?
Luciana: Ela mora perto da sogra dela, aí tem tia que não saí lá da casa dela né, então tem
bastante gente lá
Lohaine: uhum, entendi.
Luciana: Não quer rir hoje não Pedro? ( se dirigindo ao filho)
(brincam conversando com bebê)
Lohaine: Ta conversador ele
Luciana: tááá, ele é bem conversado, quando ele quer também...
Lohaine: e ele ta gatinhando já?
Luciana: não, ele ta ficando em pézinho já, põem as mãozinha pra cima já, se joga pra lá e pra
cá.
Lohaine: Ta ficando de boizinho já?
Luciana: tá
Lohaine: então daqui a pouco ele gatinha
Luciana: minha mãe que fala "ensina ele, se não ele vai ser um menino bobão" falei "aonde que
esse guri vai ser bobão mãe, ele não vai ser bobão não"
Lohaine: nessa geração não vai tem criança boba não.... as crianças nascem todas espertas
(risos)
Luciana: são mais espertas que a gente...
Lohaine: verdade
(risos)
Lohaine: Mas e você, como você tá, como ta se sentindo, porque gente tem mania de falar só
do filho.
Luciana: Ah, eu to bem tranquila assim, cansada... Eu vivo cansada só, mas de resto ta tudo
tranquilo, to dando conta, por enquanto né, por enquanto eu to dando conta né. Assim de vez
em quando eu estou tirando o tempo para mim amarrar os meus tapetes né e dormir também,
eu aproveito quando ele dorme para dormir também, mas também tranquilo ainda.
Lohaine: aah mas se você tá tranquilo agora, você já passou da fase mais difícil.
Luciana: ah graças a Deus!
Lohaine: você vai sofrer um pouquinho talvez quando ele começar a andar, porque tem que
ficar correndo atrás de criança, porque agora você coloca ele no lugar ele fica, depois você tem
que correr atrás dele né.
Luciana: Isso que é minha prima falou, "depois você vai ter que erguer tudo essas coisas, tirar
os trem tudo do alto que machuca, porque fica terrível" ainda mais aqui que não tem área Só
tem aquele portão ali, ele tem que aprender a ficar trancado Pior que ele já acostumou quando
ele sai ele fica achando estranho, acostumou a ficar dentro de casa.
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Lohaine: Antigamente você era bastante caseira?
Luciana: Sim, eu saio mesmo só na minha folga quando a gente marca alguma coisa a tarde, a
noite mesmo eu não saio fora da minha folga não, eu falo a minha folga é minha folga, é para
mim descansar aí eles ficam rindo de mim.
Lohaine:huum, entendi. Ah mas ele tem cara de ser uma criança bem tranquila mesmo.
Luciana: é ele não é muito chorão, só quando está com fome mesmo ou quando ele tá sentindo
alguma coisa aí ele chora, aí quando ele começa a chorar já pode saber que tem alguma coisa
incomodando ele, aí tá nascendo dente também pronto
Lohaine: Ah é já?
Luciana: Tá aprontando o dente sim, mas ele não gosta de mostrar de jeito nenhum esse dente
dele.
Lohaine: tá escondido ainda né tia, ainda é só seu né, fica mostrando com para os outros o
dente (se dirige ao bebê)
- risos
Lohaine: Aí o seu irmão fica com ele logo depois que você vai para o serviço e depois ele passa
para sua tia quando ele vai trabalhar? como é que é?
Luciana: é, no caso ele vai para o serviço né, hoje ele tá de folga, aí eu deixo com ela e na hora
que ele chega ele pega para mim .
Lohaine: aí fica até você chegar do serviço?
Luciana: uhum, aí ele já acostumou com os dois.
Lohaine: huum, entendi. Mas que bom que seu irmão te ajuda.
Luciana: ai ai graças a Deus! Aí a gente fica mais tranquilo.
Lohaine: É verdade com quem conhece né.
Luciana: que a madrinha dele até queria que eu mudasse, "ai vem para cá, a gente paga uma
babá" falei "Vou nada", se eu já tenho uma pessoa de confiança já já viu aí eu vou sair daqui
para arrumar outra pessoa que eu nem conheço, que ele não tem costume eu tenho muito medo.
Lohaine: verdade, ainda mais que ele já acostumou Nesse Ritmo né , depois para mudar é difícil.
Luciana: aí a minha mãe falou assim "não vai é perigoso até ele ficar doente" porque ele já
acostumou muito né.
Lohaine: e se apega né, ele deve ser doido no tio.
Luciana: é, fico o tempo todo caçando,para onde que você vai subir? (Se dirigindo ao bebê
que escala o carrinho)aqui a sua fralda, seu paninho.
- nesse momento ouve-se bastante vocalizações do bebê.
Lohaine: Veio conversar com a minha mãe tem que ouvir outra piada também tia, também
quero conversar Porque você não conversa comigo, só conversa com a mamãe porque? (a
pesquisadora se dirige ao bebê)
Luciana: você não quer mamar mesmo? (ainda se dirigindo ao bebê)
Lohaine: resolveu! não quer nada né fazer mamãe de besta só né que você quer
Luciana: direto ele faz isso!
Lohaine: Mas ele já mamou hoje?
Luciana: Só peito, mamadeira ele não mamou, Abaixa essa blusa, fica com esse pneuzinho de
Fora (se dirige o bebê enquanto abaixa a blusa)
Lohaine: vocês papel o dia inteiro né, eu que conheço a neta da vizinha, que a mãe dela é
silenciosa mas a vó Fala pelos cotovelos, e ela a vó dela que cuidava dela né, Elas moram junto,
mas essa menina fala mas fala, papeia, papeia e papeia, aí a mãe dela falava "misericórdia
minha filha fala demais", aí eu falava "uai ela cresceu com a sua mãe você quer o quê"
Luciana: éééé
- risos
Luciana: Ele também conversa bastante.
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Lohaine: é incrível a diferença da estimulação, quando a mãe tem costume de conversar
bastante com a criança, ela fica assim o tempo todo (se refere as localizações que o bebê
continua fazendo em alto som)
Luciana: o povo lá em casa também brincava bastante com ele.
Lohaine: mas vocês conversam bastante com ele né? quando estão fazendo alguma coisa, tipo
quando tão fazendo alguma coisa tá sempre falando com ele.
Luciana: aham, sempre.
Lohaine: é visível, em crianças que você não estimula tanto, não conversa com ela, ela fica mais
silenciosa.
Luciana: Ah agora tá até gritando.
- risos
Luciana: fala para ela "Espera aí eu vou pegar", é a mãe briga com você não briga? (Se dirige
a bebê)
- bebê começa a ficar irritado no carrinho
Luciana: ah você já quer sair daí de dentro não quer mais?
Lohaine: Você tá reclamando
Luciana: você já quer mamar? Agora quer né
Lohaine: tava chorando até tirar daqui aí já começa a rir, acabou o choro né, adoro um cabelo
né ele deu um puxão aqui no meu também.
Luciana: aham, gosta, esses dias eu fui no banco com ele aí a minha amiga foi comigo disque
para me ajudar, Tava com ele passou perto da mulher ele foi até fino no cabelo dela, ela disse
"meu Deus ele quase puxou o cabelo da mulher" eu falei que ele era desse jeito não pode ver
um cabelo, que ele puxa, o meu mesmo é só ele achar ele solto, mas gosta do cabelo.
Lohaine: ele tá respirando o ruídoso né? ele tá catarrento?
Luciana: tá, mas o médico falou que tá solto né, o catarrinho dele, diz que não tá… como é
que eles falam? Que o pulmão tá limpo, aí ele mandou ficar fazendo só o exame nele ou injetar
soro, 1 ml em cada lado do nariz, mas só que esse daí eu tenho dó de fazer, não tenho coragem
de fazer não.
Lohaine: o médico que falou para você fazer?
Luciana: Sim.
Lohaine: entendi, melhor não fazer Mesmo não não tá com tanto catarro para fazer assim e eu
acho perigoso.
Luciana: é, aí no caso, lá tem um médico mesmo e tem a, eu acho que a estagiária eu acho aí
ela tava me ensinando, aí ele falou assim que é um método que a gente faz mas que vai dar mãe
você vai querer fazer ou não, aí no meu caso ou não vou fazer, só que eles me deram o soro, a
seringa, só que eu prefiro fazer o outro lá é mais fácil, e judia menos também.
Lohaine: não tem necessidade também né, geralmente eles receita esse da seringa quando tá
com muito catarro e ele tá só um pouquinho.
Luciana: é ele tá com um pouquinho.
Lohaine: tá só chiando um pouquinho mas nem está escorrendo nariz né.
Luciana: não. você tá mamando? Você tem certeza que tá mamando? (se dirige ao bebê) ele
tá brincando com peito. Ele não gosta desse peito, mas é porque ele só gosta do outro, mas é
falo para ele "você vai mamar os dois, não vai deixar eu aleijado" mas ele mama bem pouco
esse aqui, estão mente de noite ele quase não manda esse aqui, ele mama só do outro lado.
Lohaine: Ah é essas crianças tem tanta Mania né
Luciana: acho que ele é igual eu mesmo, que eu sou manienta, e ele nasceu puxando tudo as
manias.
Lohaine: eu vou, a gente tem que aplicar um questionário, que eu não consegui achar a folha
impressa, aí eu vou perguntar antes, eu vou fazer a pergunta e você pode responder que: era
como antes antes de você ter o bebê, era menos do que antes tipo hoje em dia é menos do que
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quando você teve o bebê, ou é muito menos do que quando você teve ele e nunca que é tipo
depois que você teve ele parou acabou, você nunca se sentiu assim, exemplo, Tenho sido capaz
de rir e ver o lado divertido das coisas?Aí você responde se isso é tanto quanto antes de você
ter o neném ou diminuiu mudou? Você notou que mudou?
Luciana: mudou, eu acho que eu fiquei mais madura.
Lohaine: entendi, mas você consegue ver as coisas divertidas rir de si mesmo essas coisas?
Luciana: sim, qualquer coisinha.
Lohaine: Huum… tenho tido esperança no futuro.
Luciana: Tenho!
Lohaine: a mesma de antes? não mudou, até mais?
Luciana:um pouquinho, agora a gente pensa mais nele né, na gente a gente diminui um pouco.
Lohaine: entendi, tenho me culpado sem necessidade quando as coisas ocorrem mal, você tem
se sentido mais culpada pelo sobre as coisas?
Luciana: não
Lohaine: não?
Luciana: Não, nisso tá bem tranquilo
Lohaine: Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo
Luciana: Um pouco
Lohaine: é? e isso surgiu depois que ele nasceu?
Luciana: não, toda vida eu fui assim mesmo pronto
Lohaine: Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo.
Luciana: É, de vez em quando eu tenho medo.
Lohaine: E isso é depois que ele nasceu?
Luciana: fico com um pouquinho mais, porque é muito difícil né
Lohaine: até porque a gente tem medo do futuro sempre, em relação ao bebê e fica preocupada
com isso né.
Luciana: ééé
Lohaine: entendi, Tenho sentido que são coisas demais para você.
Luciana: Sim, é uma mudança…
Lohaine:Aí a gente tem essas opções: sim, a maioria das vezes não consigo resolve-las; Sim,
por vezes não tenho conseguido resolvê-lo como antes; não, a maioria das vezes resolvo
facilmente; e não, resolva tão bem quanto antes.
Luciana: acho que a segunda
Lohaine: Sim sim por vezes não tenho conseguido resolvê-los? né
Luciana: sim, isso.
Lohaine: agora você tem mais responsabilidade e tem vez você não consegue fazer?
Luciana: uhum, Isso mesmo.
Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal.
Luciana: não.
Lohaine: nunca?
Luciana: Não, eu durmo até demais.
-risos
Luciana: Quando eu tô cansada eu tô cansada, então eu durmo.
(nesse momento seu irmão Lucas se envolve na conversa rindo da afirmação de irmã)
Lohaine: ela tem dormido mal Lucas?
Lucas: hum, dorme igual a cama, cai na cama e se deixar acorda só outro dia.
-risos
Luciana: ele não chorando, durmo tranquilo.
Lohaine: ( se dirigindo ao bebê que sorri no carrinho) você também achou graça no seu tio?
- Risos.
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(Lucas se despede e sai)
Lohaine: Tenho-me sentido triste ou muito infeliz?
Luciana: triste de vez em quando, assim eu sempre me senti triste às vezes, sozinha, mas o
neném preencheu muito depois que ele nasceu, antes eu tinha bastante.
Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que choro?
Luciana: agora não, antes de eu chorar bastante agora não.
Lohaine: depois que ele nasceu você não tem tempo né
- Risos
Luciana: não tem tempo mais, o sufoco já passou.
Lohaine: (se dirige ao bebê )achei você bem mais sorridente no colo da mamãe tia
Lohaine: Tive idéias de fazer mal a mim mesma?
Luciana: não
Lohaine: nunca?
Luciana: Nunca tive isso não.
Lohaine: entendi, então... Mas e aí o que mais você tem para me contar? Que quer me contar
de como é que tá sendo , que eu não te perguntei?
Luciana: Ah eu acho que tá bem tranquilo, assim os outros falam a que até hoje eu não arrumei
um namorado nem nada aí eles falam "ah você tem que arrumar um namorado"aí eu falo "ah
não agora não" por quê eu vejo que é muito difícil, as pessoas querer uma criança, ou então
querer judiar, então eu falo para eles "não eu prefiro ficar só, só eu e o meu neném" eu acho
mais seguro, e mais feliz, que eu arrumar uma pessoa e ele fazer alguma coisa com ele aí eu
falei "a aí não" aí nesse, só nesse. que esse povo fica me enchendo o saco, Mas tirando isso tá
bem tranquilo.
Lohaine: uhum, eles ficam me esperando que você arrume um companheiro?
Luciana: É que eles falam que é para me ajudar aí eu falo "não por enquanto eu não estou, o
principal estou tendo com meu irmão, ele me ajuda bastante "então eu tô tranquilo, tô
precisando não.
Lohaine: Você sempre foi amiga do seu irmão assim?
Luciana: Sim, é que a minha mãe assim, nós crescemos juntos, só minha irmã que foi mais
Caçula que é minha mãe fala que nós dengô ela muito, agora nós mesmo eu não aguenta ela,
mas nós estamos bem Unidos assim, briga entre nós mesmos, faz as pazes.
Lohaine: entendi, porque o jeito que você fala do seu irmão, vê que vocês são bem
companheiros.
Luciana: é somos já desde pequena sim.
Lohaine: mas eu imagino né para ele um rapaz solteiro, sem filhos te ajudar dessa forma.
Luciana: ele fala assim eu não vou casar, não quero ter filhos, chega tá bom só o João Pedro tá
bom, assim que ele fala.
Lohaine: só quer ser tio?
Luciana: É, só que hoje tá muito difícil eu falo para ele "você tem que arrumar uma pessoa, mas
tem que saber a onde caçar né, se você caça um lugar ruim você não acha pessoas boas, você
tem que saber a onde caçar "mas ele disse que tá tranquilo ainda, que ele tá sossegado.
Lohaine: e ele já tem 30 né?
Luciana: Tem, 30 anos.
Lohaine: Quase a idade do meu noivo meu marido.
Luciana: é diferente né
- Risos
Lohaine: muito!
Luciana: Loguinho você se acostuma
Lohaine: espero
- risos
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Luciana: acostuma sim
Lohaine: e o pai dele? Vocês tem brigado por causa dessa distância? Porque parece que ele
está distante né?
Luciana: é bem tranquilo, mas nós não somos muito de conversar não, ele na dele eu na minha.
Lohaine: entendi, mas e a família dele ? não tem ninguém próximo?
Luciana: não
Lohaine: Não Mora Ninguém aqui?
Luciana: Não, família dele é toda de Salvador. aí não tem muito contato
Lohaine: e você acha que a, você sente falta desse contato? Não você e ele, mas do João
Pedrocom ele?
Luciana: Eu acho que, deve que mais para frente ele deve achar né, que ele vai querer saber ,
mas eu acho que o tio dele vai preencher o lugar, o tio dele é bem presente Então nesse ponto
aí eu, eu falo que tô fazendo a minha parte né agora ele não tá fazendo a dele, eu não posso
fazer muita coisa.
Lohaine: E você tem tentado, tentou já inclui ele nas coisas e ele não quis?
Luciana: É ele falou que ia ver e que não sei o quê, aí eu falei que não vou ficar insistindo.
Lohaine: você chama ele, e ele não...
Luciana: é ele não fala que não dá, não dá tempo. Então...
Lohaine: Parou de insistir né
Luciana: é, larguei mão.
Lohaine: entendi, mas você já tinha desde a gestação, você já estava se preparando para isso né?
Luciana: ééééé, que a gente brigou um pouco, ficou um pouco complicado Mas depois, falei "a,
se for para ser desse jeito não vai ser, eu não vou ficar aí sofrendo por causa de ninguém e nem
insistindo em uma coisa que não vai para frente né "aí eu abri mão
Lohaine: entendi
Luciana: por que não vale de nada fica insistindo nisso, então fui em frente. falei vou curtir só
o neném e pronto, vou ficar de boa.
Lohaine: entendi, né se você acha que isso é um assunto que traz Muita ansiedade ou sofrimento
para você?
Luciana: Não
Lohaine: hoje em dia não? E antes?
Luciana: já tive muita raiva no começo, mas agora não.
Lohaine: entendi
Luciana: agora bem tranquilo , nem me esquento mais, não vale a pena, eu acho que não vale
a pena esquentar a cabeça e sofrer, não vale a pena.
Lohaine: e no serviço falta de interrogação sua patroa tá tranquilo?
Luciana: Ela é bem tranquila, bem tranquila mesmo... esses dias o outro menino queria mudar
né, aí eles estavam precisando né, aí eles queriam me trocar para de manhã, aí eu falei "não de
manhã para mim não dá"
Lohaine: aí você é trabalhar que horas?
Luciana: Ia entrar às 7:40 né, e o Bate ponto e a ser 4 horas, mas no meu caso teria que sair
mais ou menos umas 6 horas de casa, e ia chegar aqui umas 5 horas da tarde, Aí eu falei não
vou ficar muito tempo fora de casa, falei que eu ia aproveitar ele muito pouco.
Lohaine: e ela entendeu bem sua escolha?
Luciana: aí eles ficaram meio assim mas eu falei que tava dando de mamar ainda, só que eu
nem falei que ele tava mamando leite porque eles podiam querer tocar né, por isso que eu nem
falei nada, mas eu não vou trocar não, porque eu quero curtir o máximo que eu puder dele,
quero deixar ele para trás não.
Lohaine: entendi, e seus tios que moram aqui?
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Luciana: agora tá todo mundo corrido, meu tio também ele ganhou, a mulher dele ganhou
neném também.
Lohaine: foi Esses tios que moram aqui?
Luciana: é um que mora lá em cima e o outro tá lá para minha avó, esse outro também tá
cuidando da filha dele para mulher dele trabalhar, aí ele que tá cuidando. aí de vez em quando
eu subo lá para ver eles, aí ele passa aqui também toda vez que ele vai por aqui ele passa aqui,
disse que para ver como é que tá as coisas.
Lohaine: entendi, sua família bem unida né.
Luciana: é minha família bem unida, não são briguento não.
Lohaine: bom, então eu acho que é isso.
Transcrição do 1° encontro individual
Gestante: Alice
Duração: 55 min
Lohaine: Então eu expliquei mais ou menos pra vocês como era o estudo né?
Alice: Uhum
Lohaine: e aí o que essa entrevista aqui com você ela consiste, pode ser que você fique até um
pouco desconfortável porque eu vou pergunta um monte de coisa ta, porque eu preciso tipo,
traçar um perfil, por exemplo, como eu vou fazer um manual de atendimento pros enfermeiro,
eu vou fala bem assim, "ó se vocês atenderem as gestantes, e fizerem isso, isso e isso, vocês
conseguem com que diminua o número de depressão pós-parto depois, entendeu? Então, mais
para isso eu tenho que falar, quais são essas gestantes, porque aqui é diferente de uma gestante,
exemplo, lá do Santa Isabel, que no meu bairro né. então é por isso que eu tenho que traçar um
perfil, com sua idade, é, como é a sua família, a sua escolaridade, esse tipo de coisa, então essas
coisas eu vou perguntar, ta bom?
Alice: Ta bom
Lohaine: então, quantos anos você tem?
Alice: 28
Lohaine: 28? é o seu primeiro bebê né
Alice: é
Lohaine: você é casada?
Alice: éé juntada né, não é casa do cartório mais...
Lohaine: é casada né, hoje em dia isso aí já é casado
Alice: Mora junto né
Lohaine: entendi, e seu marido tem filhos?
Alice: não,
Lohaine: não? é o primeiro dele também?
Alice: é o primeiro dele também!
Lohaine: ele tem a sua idade?
Alice: tem 22.
Lohaine: Ah mais novo. huum, legal. E quantos anos ele tem?
Alice: 22
Lohaine: ah, desculpa
-risos
Lohaine: éé, e os seus pais?
Alice: bom, aqui eu to morando aqui com a minha mãe né, mas minha casa é lá. só que eu num
tô lá ainda.
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Lohaine: aham
Alice: Aí meu pai, já tem um ano, é um ano e pouco que ele faleceu, aí eu moro aqui com a
minha mãe, e minha irmã ta morando aqui também porque o esposo dela faleceu recentemente
aí ela veio pra cá com as filhas dela
Lohaine: ah entendi.
Alice: só, eu, minha mãe, minha irmã, meu esposo e as meninas dela que nós mora aqui.
Lohaine: entendi, seu pai faleceu de quê? desculpa a pergunta indiscreta.
Alice: meu pai, ele tinha alzheimer, fico um tempo com alzheimer, aí depois que começou a
nascer um caroço aqui assim nele, ele descobriu que ele tinha câncer, aí ele foi pro hospital do
câncer e de lá ele não já não retornou vivo.
Lohaine: Entendi, ele tinha câncer de garganta ou boca?
Alice: de garganta
Lohaine: você estudou até quando?
Alice: ensino médio completo
Lohaine: e o seu marido?
Alice: meu marido, ele não fez ensino médio completo, parece que ele parou na oitava série.
Lohaine: ensino fundamental completo então né
Alice: uhum
Lohaine: entendi, ah e você nasceu aqui em Cuiabá?
Alice: foi
Lohaine: foi? e seus pais também, são daqui?
Alice: meu pai é da chapada e minha mãe, eu não sei de onde que ela é
Alice: MÃE A SENHORA É DAQUI?
Mãe da Alice: o que?
Alice: A SENHORA NASCEU AQUI NE CUIABÁ?
Mãe de Alice: não entendi
Alice: A senhora nasceu aqui em Cuiabá?
Mãe de Alice: não, aaah foi sim
- risos
Mãe da Alice: Bom dia, tudo bem?
Lohaine: Bom dia, tudo bem com a senhora?
Mãe da Alice: to bem graças a Deus, e nasci em Cuiabá.
Alice: Meu pai é de chapada né mãe
Mãe da Alice: hãm
Alice: Meu pai é de Chapada?
Mãe da Alice: Seu pai é de Chapada
Lohaine: entendi, ah, você trabalha?
Alice: não, eu saí do serviço
Lohaine: Você saiu do serviço porque engravidou ou antes?
Alice: Não, antes, eu pedi pra ser mandada embora, demorou muito tempo mas mandaram.
Lohaine: entendi, então quem trabalha aqui é só seu marido?
Alice: Aqui é só meu marido, minhã irmã e minha mãe ela recebe um auxilio, não é
aposentadoria é um auxilio.
Lohaine: Ela recebe do seu pai ou dela mesmo?
Alice: Não dela mesmo, do meu pai a gente tentou aposenta ele só que, mesmo ele com
alzheimer e os negócio a quiseram aceitar.
Lohaine: é Alzheimer é ruim pra aposentar, por causa que ele não tem muito sinais em exames,
você consegue detectar Alzheimer mesmo depois que a pessoa falece, aí você...
Alice: ah mais ele tinha bastante tempo já, bem uns 5 anos.
Lohaine: pois é, mas mesmo assim, Alzheimer é muito ruim pra aposentar.
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Alice: Ah num sei, acho que meu pai tinha Alzheimer, depressão, sei o que que ele tinha não,
mas era, no começo ele era muitooo..... tipo agressivo com minha mãe, as vezes ele acordava e
queria bater nela, as vezes ele mesmo se batia, com a cabeça na parede, ele era meio, ele era,
ele era, antigamente quando ele era com a minha mãe né, quando ele era mais novo, ele bebia
demais.
Lohaine: bebia?
Alice: era bebida e cigarro antigamente, aí depois um tempo ele melhorou com isso, passou a
ir na igreja e era, meu pai ele era assim mas ele não era uma má pessoa.
Lohaine: uhum, aquelas pessoas davam trabalho quando tavam bêbado, tirando isso...
Alice: tirando isso ele era bom, aí ele parou de bebe, parou de fuma quando começou a i na
igreja, aí depois, depois veio esse negócio, o Alzheimer, mas só que a gente não sabia que era
Alzheimer ainda né... Ele era muito violento, nessa questão de as vezes quer bater na minha
mãe, ou as vezes ele mesmo socava a cabeça na parede, tipo sei lá, falava que ele queria morrer,
que não sei o que. Aí teve um tempo, teve um dia que ele sumiu, que ele saía, ele tipo saía, não
tinha cristo que segurava ele aqui dentro não, aí ele saía, e ia pra outros bairro aí, um dia ele
saiu e não voltou, aí passou o dia todo, passou o dia todo sem vim, aí a gente começou a procurar
ele, e não achava, foi no pronto socorro, em vários lugar, aí ultima, ultima vez que a gente foi,
foi no pronto socorro aí ele passou num ônibus bem atras de mim e eu vi, essa parte da cabeça
dele e o boné dele.
Lohaine: foi sorte mesmo né
Alice: aham, achou ele, aí de lá pra cá ele só veio piorando
Lohaine: uhum, entendi. Então, você acha que ele teve depressão?
Alice: Eu acho que sim...
Lohaine: tinha um pouco né, no início. Mas ele tinha antes?
Alice: Não, ele era super ativo, esse quintal que agora é minha casa era dele né, ele fazia, tipo
ele fez uma rocinha lá né, plantava as coisas, ficava lá o tempo inteiro, ele era super ativo.
Depois da doença que ele ficou assim né. Dependente
Lohaine: entendi. Além dele, você tem mais alguém da sua família que tenha problema com
álcool?
Alice: Não, meus irmão bebe, mas não é assim igual ele bebia. bebe socialmente.
Lohaine: Socialmente né
Lohaine Você tem quantos irmãos?
Alice: 9
Lohaine: 9? é você e mais 9 ou...
Alice: Uhum, eu e mais 9
Lohaine: 10 filhos sua mãe teve?
Alice: 10 filhos
Lohaine: huum, são todos vivos?
Alice: São, graças a Deus
Lohaine: ééé, e a sua mãe, ela tem alguma doença? de base assim? tipo hipertensão essa coisa?
Alice: Tem!
Lohaine: Ela tem? ela é hipertensa? diabética também?
Alice: Uhum, diabética não, mas ela tem um monte de trenzera aí
Lohaine: de que?
Alice: aah de, ela tem dor de cabeça demais, aah é um monte de coisa, eu nem sei explica
direito
-risos
Lohaine: entendi, enxaqueca crônica eu também tenho. ô vida difícil!
Alice: ah ela, tem hernia parece que ela tem também. Dor no rim. dor não sei na onde...
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Lohaine: Ta sempre reclamando de dor em algum lugar. E os seus irmão tem? hipertensão,
alguma coisa assim? algum deles
Alice: Minha irmã que ta morando aqui ela tem, a outra minha irmã mais velha também tem.
Tem mais um irmão meu que tem.
Lohaine: Só? quantos irmãos e irmãs?
Alice: quatro irmão e 5 irmã.
Lohaine: Eu vou, depois a gente vai desenhar um pouquinho a sua família tá? porque preciso
fazer um genograma. É, e a sua mãe e o seu pai, eles estudaram?
Alice: não, minha mãe estudou acho que até a quarta série, me pai eu não sei. Mas ele sabia o
nome dele. escrever.
Lohaine: Sim, sabia assinar, meu vô também é assim.
Alice: Não sabia lê... a senhora foi até a quarta série né mãe?
Mãe da Alice: eu é.
Lohaine: Como fala, quarta série de antigamente você aprendia muito mais coisa que a quarta
série de hoje em dia né.
Mãe da Alice: eu estudava na escola lá, meu tio que era professor, mas aí ele morreu, acabou a
aula.
Lohaine: uhum, entendi. É, se teve outra gestação? aborto ou algo assim?
Alice: não
Lohaine: entendi, você fazia uso de contraceptivo? algum tipo? tomava pílula...
Alice: Antes eu toma por causa que eu tava fazendo negócio da espinha, aí a médica tinha
passado né, aí eu parei de fazer o tratamento, aí depois também meu esposo tinha feito, um....
aí como que é o nome do trem? pra saber lá o negócio dos esperma..
Lohaine: Espermograma?
Alice: É espermograma, aí o médico tinha falado assim que ele tinha esperma muito fraco, que
não sei oque...
Lohaine: A contagem era baixa
Alice: Aham, aí acabou que nós nem previnia não, falou "ah vamo vê"
Lohaine: aham
Alice: aí, mas num previnia, aí o esperma fraco ta aqui dentro!
-risos
Lohaine: não era tão fraco assim né
Alice: não era tão fraco como pensamos.
Lohaine: entendi, mas vocês queriam? tipo era um coisa que se acontecesse vocês estavam
felizes né
Alice: aham
Lohaine: entendi, legal.E você ou ele tem algum histórico de DST?
Alice: não
Lohaine: se fez aqueles teste rápidos né, que fura assim os dedos.
Alice: aham, fiz, fiz agora, eu tava com uns 5 a 6 meses, a doutora pediu também os exames de
sangue, porque eu não tinha feito no começo, aí eu fiz e agora também.
Lohaine: Uhum, entendi, e você pretende amamentar?
Alice: pretendo, como medo mais pretendo.
Lohaine: não, é mais a forma né, no começo você pode sofrer um pouquinho mais é mais a pega
né
Alice: é, que não é pra doer doer né
Lohaine: é mais a forma, dependendo como o bebê pega aí pode machucar, tem gente que a
mãe fica com o bico todo ferido né
Alice: minha mãe no primeiro filho dela o peito dela até minava sangue, mas mesmo assim ela
dava de mama
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Lohaine: é que o leite materno também é um santo remédio, tanto que você fala, as vezes o bico
do peito ta rachado a gente fala pra mãe deixar vazar um pouco e passar o leite na aureola, que
ele ajuda a cicatrizar.
Alice: que ele ajuda a cicatriza? olha eu não sabia disso.
Lohaine: Ele é, muito bom.
Alice: vou guardar isso né.
Lohaine: O leite materno até ajuda a cicatrizar, por isso que os médicos falam pra continuar
amamentando
Alice: aham
Lohaine: por causa que vai saindo o leite materno e já ajuda na cicatrização.
Alice: Vou fazer isso.
Lohaine: E como é que foi sua infância Ju?
Alice: foi boa, não tenho do que queixar não, a unica coisa que eu fiquei um pouco assim é que
a minha mãe não deixava a gente saí né, mesmo depois de maior assim ela não deixava.
Lohaine: trazia todo mundo na rédia curta
Alice: Aham, na rédia curta, aí a unica coisa assim que eu tenho de reclamação, era isso, porque,
as vezes queria ir na feira, queria saí com alguma colega, ela não
Lohaine: ela nunca deixou.
Alice: esse cachorro ronca..
Lohaine: Eu sei como é, as minhas também roncam, as pittbul roncam alto pra burro
Alice: se tem pittbul?
Lohaine: tenho, tenho duas.
Alice: que cruzar?
Lohaine: oi?
Alice: quer colocar pra cruzar com ele?
Lohaine: aaah não, é que lá em casa a gente não coloca cachorro pra cruzar, é difícil, mas vou
vê com meu pai, quem sabe.
Alice: a gente ta procurando faz dias pra cruzar e não acha.
Lohaine: Vou conversar com meu pai, que é mais dele né.
Alice: aham
Lohaine: é, você cresceu aqui nessa casa?
Alice: foi
Lohaine: todo mundo cresceu aqui
Alice: é a gente morava no Alvorada e do Alvorada a gente veio pra cá.
Lohaine: você veio pra cá com quantos anos?
Alice: foi com 5 mãe
Mãe da Alice: ah mais, 3 anos que se tava né
Alice: é 3 à 5 anos, eu não lembro
Lohaine: era bem nova né
Alice: aham
Lohaine: E seus irmãos, se sempre se deu bem com eles?
Alice: Sim, aqui em casa não tem, esses tempo teve uma desavença entre minhas irmãs mas
acabou que, elas já se acertaram.
Lohaine: desavenças tem em todas né
Alice: é
Lohaine: Eu com a minha irmã, até eu pegar uma idade, nós brigava igual cachorro com gato,
coitada da minha mãe. Ela já chegou de pegar nós duas com uma vara, colocar nós abraçadas
juntas e bate, bate um e cada uma assim pra vê se parava.
Alice: Meu pai falava que quando ele brigava com o irmão dele, dava uma vara pra cada um,
aí eles se batiam, ele batia no irmão dele e irmão dele batia nele.
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Lohaine: pois é, e o seu marido tem quantos irmãos?
Alice: tem duas
Lohaine: Duas? então são 3 ele e mais
Alice: Ele e mais 2
Lohaine: São mulheres ou homens?
Alice: Duas mulher mais uma quer ser homem
-risos
Lohaine: Ah uma é lésbica?
Alice: é
Lohaine: entendi, e ele nasceu aqui em Cuiabá também? se sabe?
Alice: Foi, uhum
Lohaine: Os pais dele são vivos?
Alice: São, mas o pai dele é lá de Campo Verde, e a mãe dele é daqui mesmo
Lohaine: São separados?
Alice: uhum
Lohaine: entendi, e ele se dá bem com a família dele?
Alice: Com a mãe dele e com as irmã dele sim, com o pai dele, ele não gosta muito porque o
pai dele não criou ele.
Lohaine: ah sim o pai dele, abandonou eles novinhos? separou da mãe deles novinhos?
Alice: aham, é
Lohaine: entendi. E você se da bem com sua sogra e cunhadas?
Alice: dô, dô
Lohaine: entendi, éé, e ele, ah já perguntei isso desculpa, ele cresceu aqui em Cuiabá tambem?
Alice: Foi
Lohaine: Foi, cresceu né, entendi. Ele trabalha de quê Alice?
Alice: agora, ele, bom a carteira dele ta assinada como encarregado de almoxarifado né, lá no
Confrade.
Lohaine: Confrade?
Alice: aham, o restaurante
Lohaine: ah restaurante, falei "o que que é confrade" não conseguia lembrar, entendi,
legal. Aqui no seu bairro é periférico igual o meu né, aqui no seu bairro o seus irmãos tiveram
contato com droga? algum deles?
Alice: Não que eu saiba
Lohaine: Não que você saiba né, Graças a Deus.
Alice: Graças a Deus.
Lohaine: Porque querendo ou não, porque aqui é igual o meu bairro né, uma realidade que tem
em todo canto, infelizmente, no meu bairro também, os rapazes da minha idade, que eu lembro
de quando eu era criança, uma galera, todos involvido com drogas.
Alice: com drogas né, verdade
Mãe da Alice: minha filha só toma a cervejinha dela né, dos dez filhos que eu tive graças a
Deus, Deus me abençoou tanto que... todo mundo trabalha, cada qual com sua responsabilidade,
com sua família.
Lohaine: entendi, que bom. Se tem bastante sobrinhos Alice? Com esse monte de irmão você
deve ter um monte de sobrinho né.
Alice: tem, tem uns, eu acho que uns 18 né mãe?
Mãe da Alice: Quê?
Alice: Sobrinho
Mãe da Alice: acho que sim
Alice: tem mesmo, tem até de sobrinho, meus sobrinho já tem tudo filho.
Lohaine: Ah, você já é tia-vó como dizem
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Alice: é, tia-vó, aham. Daqui o único que não tem filho é meu irmão, que ele gêmeos, aí ele é
o único que não tem, mas o outro já tem.
Lohaine: ah seu irmão e gêmeo? se tem irmãs gêmeos?
Alice: Sim eu tenho irmãos gêmeos
Lohaine: São iguais?
Alice: não
Lohaine: não, são diferentes? é dois homens?
Alice: é dois homens!
Lohaine: E ele são muito unidos?
Alice: não muito né mãe? conversa assim, unido igual outro, mas não de ta na casa do outro
conversando né
Lohaine: igual os outros irmãos né
Alice: uhum, até porque um conversa e o outro num é de conversar muito, é mais quietão na
dele.
Lohaine: é? é igual mais é diferente né
-risos
Alice: é diferente.
Lohaine: E você não tem medo de ter dois de uma vez também?
Alice: ah eu pensei que eu ia engravidar de gêmeo também, mas não engravidei não, graças a
Deus, se não eu ia morre
Lohaine: criar dois né
Alice: huum, só com esse um eu já to sofrendo, padecendo aqui.
Lohaine: entendi, e me fala um pouquinho mais do seu pai. Ele contava pra você como foi a
infância dele?
Alice: não
Lohaine: não? ele tinha bastante irmãos?
Mãe da Alice: tinha 22 parece né
Alice: 22?
Lohaine: 22? etâ pega
- risos
Mãe da Alice: Só que era duas mães né, não é só de um mãe
Lohaine: ah sim, entendi. Ele tinha irmãos e meio-irmãos né, entendi.
Alice: Mas também não teve, nós não tem muito contato assim com parente nosso, único que
a gente tinha mais era o Juca né mãe?
Mãe da Alice: Aham
Alice: Mais ele também faleceu.
Mãe da Alice: é que mora muito longe num tem?
Alice: é tudo lá do Paranatinga
Mãe da Alice: aí seu pai mudo pra Cuiabá, eles ficaram pra lá, o que mora aqui é difícil de ver
né
Alice: Mora no, é Planalto né mãe
Mãe da Alice: Quem?
Alice: o pai, os parente do pai é do planalto
Mãe da Alice: Planalto da Serra, pra lá de Chapada um pouco.
Alice: Mas ele tem ainda irmão vivo, minha tia de vez em quando vem aqui.
Lohaine: entendi.... Ju eu nem perguntei, o seu é um guri ou uma menina?
Alice: guri
Lohaine: Guri? como vai se chamar?
Alice: Miguel
Lohaine: Miguel?
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Alice: uhum
Lohaine: Os Miguel que conheço são todos espertos pra caramba
Alice: é?
Lohaine: conheço uns 3 que é tudo...
Alice: serelepe, abençoado?
Lohaine: não, não são serelepe assim de, tipo ser terrível, são assim de esperto, de pega as
coisas, de aprender com uma velocidade que você tem que ficar até, de olho no que você fala
perto dele.
Mãe da Alice: iiih tem uma neta que é assim
Alice: tem uma aqui que é assim
Mãe da Alice: ela mora bem aqui, menina ela não tem nem 2 anos né Alice?
Alice: ela já tem mãe, ela fez agora, semana retrasada.
Mãe da Alice: é? essa minina, muito esperta
Alice: pior que ela é mesmo, se ensina uma coisa assim pra ela
Lohaine: uhum, aprende rapidão né
Alice: Aprende rapidão
Lohaine: entendi, ééé, oque que eu ia pergunta pra você, agora esqueci....
Alice: Seu áudio vai sair só os passarinhos, as vezes eu gravo lá dentro do quarto alguma coisa
do bebê mexendo, ou ele faz alguma coisa, sai tudo os barulhos do passarinho.
Lohaine: sai? não tem importância, chega em casa eu ouço e escrevo tudo que foi falado no
áudio, dá um trabalhos...
Alice: vai ouvir só periquito
Lohaine: você espera ter mais filhos agora, depois desse? ou quer parar por aqui
Alice: eu quero parar por aqui, não quero ter mais não, no começo é muito ruim por causa das
náuseas, azia, a melhor parte é dos 4 mês até os 7 mês, depois é azia de novo, é, essa noite
mesmo eu não dormi com ele endurecia demais, enfiava na minha costela, outra hora ele tava
muito aqui em cima doía meu estômago, ah só sofrimento.
Lohaine: minha mãe fala que, quando ela tava gravida parece que enfiava, os pés debaixo da
costela, se não consegue respirar.
Alice: Uhum, ele passa a noite toda assim, doí. Enquanto isso se ta lá acordada e o marido ta lá
do seu lado roncando, nem acorda pra saber se se ta viva ou se ta morta. Ave Maria.
Lohaine: Ses tão juntos a quanto tempo?
Alice: dois anos.
Lohaine: entendi, deixa eu te falar, éé...... eu queria que você me ajudasse, você já viu,
genograma familiar?
Alice: tipo aquela árvore?
Lohaine: é, tipo árvore genealógica, então a gente vai fazer uma de você e se você me ajudar
do seu marido também.
Alice: uhum
Lohaine: Então a gente coloca aqui, a sua mãe e seu pai, aí seu pai é falecido né, seu pai tinha
quantos anos quando faleceu?
Alice: tinha quantos?
Mãe de Alice: 70 anos
Lohaine: e a senhora, tem quantos anos?
Mãe de Alice: Eu tenho 70.
Alice: Na verdade me pai tinha mais, porque foi ele mesmo que se registrou né mãe?
Mãe de Alice: é ele que registrou
Alice: aí ele colocou a data que ele achou que era.
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Mãe da Alice: ele aumentou a idade dele, ele morava pra lá aí passou do tempo do quartel, não
acho que diminuiu, passou do tempo do quartel e como ele queria alista num tem, e não era
registrado...
Alice: ele foi lá e se registrou
Lohaine: Nossa então ele, se registrou com mais de 18 anos?
Mãe da Alice: ele se registou com menos de 18, ele já tinha 18 e ele num, aí como, com 18 ano
já tinha que tá aqui, ele registrou com menos, pra ele poder.
Lohaine: não então, o que eu quis dizer é que ele se registrou ele já tinha mais de 18 anos e se
registrou
Alice: aham
Lohaine: Nossa ele se registrou grande pra caramba.
Mãe da Alice: Aí depois, eu num sei direito porque eu não conhecia ele né, conheci ele já...
parece que num sei, mais era 3 ou 4 ano que ele colocou a menos, segundo ele né.
Lohaine: uhum, nossa! não mais antigamente isso era muito comum, eu tinha uma, minha
bisavó ela morreu registrada com 99 anos, ela falou que quando ela foi registar ela lembra, ela
tinha uns 5 ou 6 anos.
Alice: Hoje em dia não saí do hospital sem o registro né
Lohaine: Aí hoje me dia meu pai fica rindo da minha mãe falando que ela, vi viver igual o povo
dela, fica pra semente.
-risos
Lohaine: e seus irmãos, qual a ordem de nascimento deles?
Alice: tipo, quem que nasceu primeiro?
Lohaine: é, quem que nasceu primeiro?
Alice: Foi minha irmã.
Lohaine: foi uma mulher?
Alice: aí depois veio meu irmão
Lohaine: um rapaz
Alice: depois quem mãe?
Mãe da Alice: Foi Silvana
Alice: Silvana
Mãe da Alice: aí Jorgea
Alice: Jucinei
Mãe da Alice: Jucinei
Lohaine: Jucinei é rapaz ou mulher?
Alice: éé um rapaz
Lohaine: é um nome que pode ser pros dois né
Alice: uhum, aí foi Mariluce né mãe
Mãe da Alice: é
Alice: aí veio o Gêmeos
Lohaine: aí veio os gêmeos?
Alice: Juliano e Julio
Mãe da Alice: Aí Rosângela
Alice: Aí Rosângela e eu
Lohaine: aí você, você é a caçula?
Alice: aham.
Lohaine: entendi, você sabe a idade dos seus irmãos?
Alice: não sei
Mãe da Alice: Eu também num sei, eu sô mãe mais não sei não
-risos
Lohaine: fica lembrando de todos né
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Alice: até data de aniversário passa batido pra mim, comigo assim eu não lembro muito não
Mãe da Alice: Eu num sei o ano nem a idade deles assim, só eles mesmo que sabe.
Lohaine: Qual é o irmão que você é mais próximo?
Alice: Minha irmã mais velha antes de mim
Lohaine: a que nasceu antes de você? ela tem quantos filhos?
Alice: 3
Lohaine: 3, são do mesmo pai?
Alice: é
Lohaine: São meninos ou meninas?
Alice: As 3 meninas
Lohaine: e agora do seu marido, você falou que os pais deles são separados né, e tem 3 filhos,
se sabe a ordem de nascimento deles?
Alice: Foi primeiro a Alice...
Lohaine: ele também tem uma irmã chamada Alice?
Alice: Aham, aí foi a Gilmara e aí foi ele
Lohaine: caçula
Alice: aham
Lohaine: só pra saber aqui, são vocês. Esse aqui eu vou fazer bonitinho e depois te mando bem
bonitinho.
Alice: Eu não sei como se entende depois
-risos
Lohaine: Outra coisa, se lembra que a gente tava conversando sobre rede de apoio?
Alice: Rede de apoio... que era uma mãe apoiar a outra, ou o marido...
Lohaine: é sobre as pessoas que você tem uma relação de apoio, pessoas, instituições, e tal.
Alice: aham
Lohaine: aí a gente vai fazer, tem um instrumento que a gente utiliza pra gente, desenhar rede
de apoio, chama ecograma ou ecomapa, aí é mais ou menos assim, primeiro a gente coloca a
sua família aqui, que é você seu marido e a sua mãe. Quem é que você acha que são os mais
próximos de você?
Alice: do meu marido e da minha mãe ou é com todo mundo?
Lohaine: não de todo mundo, assim que são as pessoas que você sabe que você pode contar?
Alice: daqui de casa são todos mundo, meus irmãos...
Lohaine: todos seus irmãos
Alice: aham
Lohaine: então são relações fortes né que a gente fala
Alice: Meu esposo também eu posso contar com ele.
Lohaine: uhum
Alice: mas a família dele não sei se tanto não
Lohaine: tudo bem, é o que você acha, é a sua percepção. Da sua família, então a gente nunca
vai falar assim "não mais, sério? como você diz isso"
Alice: Não mais, eles apoia, no começo não apoiava não, porque no começo eu lembro que ele
até gravou um vídeo da mãe dele, porque ele morava lá no Cabral, aí no começo ele vinha pra
cá, aí ele ficava aqui e aí ele ia embora tarde, as vezes ele ia embora 1 hora da manhã, aí teve
até uma vez que ele gravou um vídeo da mãe dele brigando com ele, porque ele vinha pra cá
atras de mim e não sei o que, aí desde esse dia, mais conversa e tudo, mas eu acho que não
apoiaria assim não.
Lohaine: uhum, entendi. E as instituições assim, você acha que você acha que tem um
relacionamento bom? tipo assim, que o que você precisa dela você consegue, sabe? Quais são?
Alice: aah acho que nenhuma direito assim...
Lohaine: é?
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Alice: Porque lá no postinho mesmo, por exemplo, ontem não consultei
Lohaine: então tipo, aí se coloca aqui PSF, e tem uma relação bem fraca e não é reciproca.
Alice: O Júlio Muller, quando eu precisei deles, eles me atenderam bem.
Lohaine: Atenderam bem?
Alice: Aham
Lohaine: entendi, é o serviço do seu marido? eles ti dão suporte tipo, plano de saúde essas coisas
ou não?
Alice: não, só suga o coitado
Lohaine: só suga?
Alice: só, é pau pra toda obra lá'
Lohaine: entendi, aí seus irmãos você disse que todos você pode contar, mas só que a mais
próxima e a que mora aqui?
Alice: é a que mora aqui do lado
Lohaine: aah pensei que era a que mora aqui mesmo na sua casa.
Alice: não a que mora aqui em casa não é não, eu converso assim mais
Lohaine: aham, como é o nome da sua irmã que mora aqui do lado
Alice: aqui do lado? Rosângela
Lohaine: Já que você é mais próxima a ela a gente dá mais ênfase nela né, na família dela, ela
é casada?
Alice: uhum
Lohaine: e se é próximo ao marido dela também?
Alice: uhum, eu converso com ele, porque é tipo eu dela e meu esposo do marido dela
Lohaine: ah seu esposo e ele são bastante unidos?
Alice: Uhum
Lohaine: fica mais fácil né o convívio, entendi. E os seus sobrinhos, você tem uma ligação mais
forte com algum?
Alice: Com a filha dela, a ultima menina
Lohaine: entendi, a menor. Se tem alguma com seus irmãos que é um pouco mais conflituosa?
Alice: Não
Lohaine: O são mais fracas ou são mais fortes as relações, mas todas são bem amigáveis.
Alice: ééé são
Lohaine: entendi, e o seu marido?
Alice: bom aqui dentro de casa ele conversa com todo mundo, não tem nenhum conflito com
ninguém não.
Lohaine: entendi, e com a família dele?
Alice: Com a família dele.... só o pai dele que ele não gosta né, não tem contato com o pai dele,
deixa eu vê, ah ele tem negócio de família mesmo, ele briga... ele não gosta da mulher da irmã
dele, aí as vezes, tipo num conversa também, porque ela faz a irmã dele muito de besta, essa
parte eu concordo com ele, ela tira tudo que a irmã dele tem ela tira. e ele não gosta, ai ele pra
não caçar confusão com ela ele também não conversa com ela. Só, e a irmã dela agora, que deu
uma confusão com a irmã dele e mas disque já tava conversando.
Lohaine: entendi, e a sua irmã que mora aqui com você, qual delas é?
Alice: Mariluce, depois do Geovania, Lucelina, Silvana, Jorgea, Lucinei e Mariluce
Lohaine: Essa? ela é antes dos gêmeos
Alice: é
Lohaine: E tem espaço pra todo mundo?
Alice: Tem
Lohaine: A casa é grande?
Alice: é, até sobra quarto...
Lohaine: Ah nossa
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Alice: é porque, lá no quarto que ela ta dormindo era o quarto da minha mãe, minha mãe fica
pulando de quarto, meu irmão arruma o quarto pra ela e vai e pula pro outro, aí ele vai e arruma
o outro ela vai e pula pra outro, já arrumou 2 quarto pra ela, ela já foi e pulou pro outro.
Lohaine: Uai porque?
Alice: Por causa que ele forra, e ela não gosta de forro, porque ela fala que fica muito escuro e
não sei oque
Lohaine: aah entendi
- risos
Alice: Aí ela fica, quem mandou você arrumar
Lohaine: Ele arruma forro em um, ela passa pra outro, ele arruma forro desse..
Alice: ela muda pra um que não tem, agora ele arrumou forro, no quarto que é do lado do meu,
não, ele arrumou no meu, aí ela ah porque é muito escuro, aí ele colocou uma tela na janela pra
não entrar musquito, mesmo assim ela não quis, aí ele arrumou do outro lado, aí ela não quis,
aí arrumou o dela mesmo pra ela dormir, aí ela não quis, aí ela ta no outro quarto que não tem,
aí ele falou que não vai arrumar mais.
-risos
Alice: porque ele vai arrumano e ela vai pulano de quarto pra quarto
Lohaine: então esse irmão é o que mais vem aqui?
Alice: todos eles vem aqui, todo dia... não a minha irmã mais velha que não vem todo dia, mais
o restante todo mundo, porque, a minha irmã mora aqui, a outra minha irmã mora, que eu tenho
mais negócio mora aqui do lado, tem uma irmã minha que mora no bairro aqui do lado, mas
todo dia de tarde também ta aqui, meu irmão mora do lado da minha casa lá, e a minha irmã
que quase não vem aqui mora na 22, e essa minha irmã que ta morando aqui mas a casa dela
também é na 22, mas desde que o marido dela faleceu ela passou a mora aqui. E a unica que
não vem aqui muito é a minha irmã mais velha.
Lohaine: São todos bem próximos então né, vem todos os dias seus irmãos aqui
Alice: aham, vem todo dia.
Lohaine: Legal, bom que sua mãe não se sente sozinha.
Alice: não, que nem eu falei, porque eu ia mudar né, aí tava arrumando as coisas lá pra mudar,
aí minha mãe ia ficar sozinha porque, aqui querendo ou não, era eu, ela e meu irmão, aí meu
irmão arrumou uma mulher, tem vem aqui, fica só pra lá.
Lohaine: ah então tipo ele não foi de vez mas também não fica aqui.
Alice: é, ele não foi de vez mas ele não fica aqui, aí ele vem, ele trabalha viajando né, aí ele
vem aqui traz a roupa pra minha mãe lavar, deixa aí toma banho e vai pra casa da mulher. Aí lá
na casa da mulher ele fica uns dias pra lá aí quando ele tem que viajar, ele vem e pega a roupa
que minha mãe lavou e viaja, aí fica assim, aí no caso se eu saísse ia ficar ele e minha mãe,
mais agora como minha irmã ta morando aqui, a´vai ficar minha irmã com ela.
Lohaine: entendi, e você vai pra sua casa depois que o bebê nascer?
Alice: pretendo ir né.
Lohaine: aí se vai, quer dizer, com certeza se vai pra maternidade, depois vem fica aqui um
tempo, né.
Alice: eu pretendo ficar aqui um mês, mas que nem eu falei pra ele, como só ele que tá
trabalhando fica um pouco puxada né, daí eu queria só que ele cobrisse a parte do fundo lá de
casa, porque o quarto fica muito quente, pra mim fica lá com o bebê, porque na frente não tem
área, não tem, tinha 2 pé de jaca, os dois morreram. Aí fica super quente, aí eu falei pra ele, se
pelo menos cobrisse lá no fundo já dava pra muda né, porque, já tem luz, já tem água, já ta tudo
lá.
Lohaine: ah deve ser porque o sol bate na parede né, por isso que fica quente.
Alice: é o sol da manhã bate na cozinha no caso e o sol da tarde bate no quarto.
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Lohaine: igual lá no meu quarto, quente que fica né. Aí se tem que colocar uma área pra... não
bate na parede direto né
Alice: é aí no caso teria que ser lavanderia, ai bate na área de serviço. também só falta cobri lá
a área de serviço, aí ele que fazer muro, porque o pessoal faz do nosso quintal uma rua, todo
mundo passa.
Lohaine: Mas é aquela história né, quando se precisa que você não tem pra onde ir, tem que sai
da casa dos seus pais é uma coisa, aqui você tem todo suporte.
Alice: é uma coisa, mais ele quer sair, ele quer sair, ele fica assim, ele fala "aí ate quando vai
ficar aqui, e depois que Miguel nascer nós vamos" eu falei, calma, não é assim, porque lá só vai
ficar eu e ele, eu de primeira viagem, ele de primeira viagem, como que vai conseguir cuida do
guri direito, aqui ainda tem minhas irmãs, tem minha mãe que vai ajudar, aí as vezes ele emburra
assim negócio, por causa disso, mas eu falo pra ele, eu até falo pra ele "se você quiser mudar
se vai, se muda sozinho porque eu não vou agora", "ah mais eu não vô se você não vai que não
sei o que"
Lohaine: Ah mais eu acho que deve ser bem desconfortável pra ele assim né morar só com a
família do outro né, a sua.
Alice: Não mais na verdade, é porque é assim, ele foi criado meio que solto, ele, é que
antigamente ele disque era MC, aí ele ficava só de canto, de cidade em cidade, ia pro Planalto
outra hora tava em Poconé, outra hora tava em Mimoso, não era criado assim junto da mãe dele,
ele foi criado mais pela vó dele, aí depois de uma certa idade que ele passou a conviver mais
com a mãe dele, que daí ele começou a trabalhar né, começou a pegar mais responsabilidade,
aí ele começou a mora com a mãe dele, aí tanto e que a mãe dele zangava dele vim pra cá no
começo, e também zangava pela minha idade, porque a gente é meio que aparentado distante,
sei lá... A vó dele é minha prima de segundo e a mãe dele também é prima, eu não sei, não tem
como descobri assim...
Lohaine: Ela com a sua mãe é parente mais de consideração né
Alice: é, aham
Lohaine: é bem distante
Alice: é bem distante, aí ele vivia assim, ele vivia com a vó dele porque ele brigava demais com
a mãe dele, aí depois de um certo tempo que ele começou a viver com a mãe dele, aí depois
que... porque eu já conhecia ele, conheci ele no velório da minha vó, que é bisavó dele, aí eu
conheci ele de vista lá né, nem conversei nem nada, aí depois que a gente começou a se falar,
na época também ele era novo, acho que ele tinha 16, eu já tinha mais de 18. Naquela época
também disque ele não queria nada com nada, era só viagem, canta funk e não sei oque.
Lohaine: Eu não perguntei como que é o nome do seu esposo?
Alice: Julian
Lohaine: Julian e Alice, já combina, já dá pra vocês montar a dupla
Alice: a dupla né
-risos
Alice: Aí ele era assim, ele era criado solto depois que ele passou a mora com a mãe dele, ai
acho que também a mãe dele acho que não gostou um pouco porque, meio que ele era a fonte
de renda da casa. Mas, aí como eles brigaram aí ele saiu, aí eu falei pra ele, assim, aí ele passou
a dormir aqui em casa e daqui mesmo ele ficou, até hoje.
Lohaine: nunca mais saiu
Alice: nunca mais saiu
-risos
Lohaine: entendi
Alice: aí no caso até hoje a mãe dela acha que ele é tipo obrigado, a dar dinheiro pra ela, mas
tipo ela tem tem que entender que não é mais lá, ele é aqui agora. aí as vezes eu zango um pouco
por causa disso mais, e jogo também, é tipo, muito viciado em jogo de computador.
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Lohaine: Ah, meu noivo também joga.
Alice: é? ele era um jogo lá, que ele passava o noite inteira acordado, as vezes a mãe dele achava
que ele tava dormindo ou levantando aquela horário, mas ele ainda tava acordado, não tinha
dormido nada, era dia e noite trancado no quarto, só saía comia alguma coisa e voltava pro
quarto, até esses dias atras ele tava, aí depois parou de jogar lá porque, vendeu o computador
dele, aí ele baixou o tal do free fire minha filha, não sei se é esse que seu noivo joga.
Lohaine: Ele joga pelo celular:
Alice: é, pelo celular, pior coisa da vida é esse troço, teve um tempo, esses dias atrás eu só
chorava porque ele não enturmava mais, era sempre sempre dentro do quarto, dentro do quarto
dentro do quarto, falava com ele, ele só "ahãm? que? sê falou comigo?" era assim, agora ele
voltou, depois que eu peguei no pé dele, conversei, ai ele voltou a se enturmar com o pessoal
aqui de casa.
Lohaine: Ele parou um pouquinho com o jogo?
Alice: uhum, ele ainda joga mas, e mais a noite quase perto de ir dormir.
Lohaine: só pra relaxar pra dormir né, entendi. E seus planos, depois que você ter o bebê, você
quer voltar a trabalhar?
Alice: eu quero voltar a trabalhar, até porque eu tava procurando emprego, mais eu não sabia
que tava grávida.
Lohaine: ah entendi, se trabalhava de que?
Alice: lá no Comper, era na padaria, só que lá era muito, muita coisa pra uma pessoa só, antes
quando eu comecei lá eu entrava 2 horas e saía 10:20 da noite, a foi eu batendo na mesma tecla
até que mudaram eu de horário, aí eu comecei a entrar 10 horas da manhã e saía 2:30 da tarde,
só que aí depois, sabe quando o encarregado gosta de uma pessoa, aí fica assim com aquela
pessoa mais pra você não ta nem aí? então aí ela ficava, ela vinha de lá, ela puxava o saco de
uma menina lá, porque a menina chamava ela até de mãe e pra mim era só serviço e mais nada,
aí eu fui injuriando, aí falei "ah não, eu quero sair". Daí ela pirraçando pra eu não sair e
pirraçando ela pra sair, aí que acabou que trocou de encarregado, veio outro e eu sempre
pedindo pra sair, eu tentando, aí o outro encarregado foi la e conversou aí a gerente falou que
não ia manda eu embora porque era boa de serviço e não sei oque, aí foi indo, foi indo aí eu
comecei a faltar, aí foi que eles me mandaram embora, eu tinha dois anos lá.
Lohaine: Aí depois que seu bebê nasce, depois que ele pega uma idade né, aí se quer voltar a
trabalhar.
Alice: aí eu vou voltar a trabalhar
Lohaine: e estudar, você nunca teve vontade de fazer faculdade?
Alice: eu não, eu era muito negócio com... eu mexia muito com negócio de desenho, eu gostava
muito de desenha, eu parei assim, mas antes eu gostava muito de desenha, de... sei lá eu ficava
lá no meu quarto fazendo as coisas. Aí eu ficava lá, desenhava, dormia, gostava muito de
dormir.
-risos
Lohaine: entendi, deixa eu ver, acho que é mais isso Ju, acho que é só isso, mais a gente vai
conversando, aí eu falei que acho que a gente mais fazer mais um, que nem eu falei pra vocês
que eu queria fazer sobre amamentação né, acho que vai ser 'bom pra vocês que já ta perto né,
só que a minha professora, que ela...
Alice: é aquela que foi na primeira reunião?
Lohaine: Não, é uma outra, é que eu tenho uma orientadora e uma coorientadora, é minha
coorientadora.
Alice: Aquela da reunião, ela é o que?
Lohaine: Então aquela lá e a Rosa Lúcia, minha orientadora. Só que aí ela não trabalha nessa
área, a outra que trabalha, ele trabalha com pós-parto, ela faz até estagio lá no Julio Muller, aí
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ela fica lá na maternidade mesmo né, na GO né, na obstetrícia, e aí ela cuida disso, de atender
as gestantes que já teve bebê, ajudar com banho, essas coisa né.
Alice: É eu quero ir pro Julio Muller quando eu for ter o bebê.
Lohaine: é aqui é referencia lá, então é pra lá mesmo.
Alice: é mais aí se chega lá e não tiver vaga eles manda pra outro lugar né
Lohaine: é mais é bem difícil, porque causa que como você é de referência lá, você é da região,
você automaticamente eles sabe que eles que tem a responsabilidade pelo seu parto entendeu.
Alice: é porque, no começo eu não fazia aqui eu fazia lá no Paiaguás, mas no Paiaguás também
a referência é lá. Porque no postinho daqui ave maria, fui lá, não era o postinho daqui, tava
reformando, era só uma casa.
Lohaine: Ah sim, era na época que tava de reforma né, eles tavam numa casa mesmo
Alice: era uma casa lá em cima lá, era dividido por cortina, era um buração assim no teto, vish
maria, aí eu não fiquei lá, aí eu fui pro Paiaguás, aí no Paiaguás eu tive, eu andava muito de
moto, aí eu tive sangramento, daí eu tive, como pra eu ir pra lá eu tinha de ir de moto, aí eu fui
e disse "agora eu vou ter que mudar pra cá", aí eu mudei pra cá.
Lohaine: só que aí já tava reformado né, já tava ajeitadinho
Alice: aham
Lohaine: Agora ficou bom lá, até aquela área lá no fundo, ficou ótimo.
Alice: Uhum.
Lohaine: Acabou de reformar lá
Alice: só é ruim que agora no final da gestação que eu precisava ir mais lá né, mais vezes, não
dá pra mim ir, porque a doutora ta de féria e a Fátima.... que era minha consulta ontem com ela
não teve, agora só mês que vem a consulta com ela, se eu não tiver ganhado.
Lohaine: entendi
Alice: Aí vou espera, mais também a Fátima e nada é praticamente a mesma coisa.
Lohaine: a é? é ruim o atendimento dela?
Alice: ele não é, ele não é assim questão de ser tão ruim, ela é meio desligada, ela parece ser
assim avuada, igual o ultimo dia dela, da consulta que fiz com ela, ela foi ouvir o coração do
bebê, aí ela tava me falando que ela foi ouvi o coração do bebê de outra mulher, ao invés dela
passar aquele gelzinho ela tava, ia passar cola de isopor na barriga da mulher, falei vish.... ah aí
ela larga se lá na sala e "ah esqueci de fazer tal coisa" aí ela vai, vai fazer a tal coisa dela e se
fica lá na sala lá esperando...
Lohaine: Ah entendi, se é de lá né Florianópolis.
Alice: é
Lohaine: Então aí eu quero fazer uma de amamentação né, pra ajudar vocês, mas aí eu não sei
porque, essa professora eu queria bastante que ela desse isso, ela fez uma cirurgia, aí ela ta de
atestado
Alice: ela ainda ta de atestado?
Lohaine: Aí ela ta afastada.
Alice: Cálculo renal é pedra no rim né
Lohaine: uhum
Alice: Minha irmã fez essa cirurgia.
Lohaine: Aí eu to tentando decidir se eu mesmo faço a roda sobre amamentação ou se a gente
espera ela.
Alice: Mas se ela vai ter recuperar, depois fazer outra né... Sera que é muito demorado?
Lohaine: Não ela falou que ta de atestado até dia 8 do mês que vem.
Alice: ah já ta bem aí, e essa lá que trabalha no Julio Muller, ela não pode fazer?
Lohaine: é ela, ela é professora e aí ela, o estágio que ela dá é la no Julio Muller, na GO, aí ela
trabalha com essa parte.
Alice: Lá no Julio Muller tem um monte de aprendiz né.
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Lohaine: é porque lá é hospital escola né, aí a gente, é parceria com a UFMT, aí a gente faz
estágio lá, aí ela vai com a gente pra lá fazer pós-parto né, cuidar de gestante, aprender a cuidar
de bebezinho novinho, dá banho...
Alice: é porque no dia tava com sangramento eu fui pra lá, quem me atendeu foi estudante, aí
ele faz, fala pra ele o que que a gente sentiu né, e depois ele passa pra uma professora, daí ela
fala o que que tem que fazer.
Lohaine: É que eles fazem mais ou menos pra saber o caso, e aí eles fazem uma previsão do
que que é mas aí ele confirma com o professor pra não ter perigo deles, t fazendo errado, eles
estão aprendendo.
Alice: uhum, quando eu fui lá foi estuante que me atenderam.
Lohaine: Mas se foi bem atendida lá? se gostou?
Alice: Uhum
Lohaine: que bom, tem gestante que fala que não gosta de lá.
Alice: aah as vezes que eu fui lá eu fui bem atendida...
Lohaine: Porque o povo fala "ah porque chega lá um monte de gente a mesma pergunta" é
porque lá são alunos de todas as áreas, tem aluno de medicina, de enfermagem, de nutrição e as
vezes eles vem e fazem a mesma pergunta mas especializado nas áreas deles entendeu
Alice: aham
Lohaine: Que nem o estudante de medicina, eles vão fazer as perguntas, tentando diagnosticar
você enfermagem, eu vou lá eu vou fazer as perguntas pra eu planejar como é que eu vou cuidar
de você, a nutrição pra planejar sua alimentação, orientação de alimentação entendeu, e as vezes
é as mesmas perguntas, mas com foco em coisas diferentes, aí as pessoas falam "ah mais é as
mesmas toda vez e tal".
Alice: Pra mim eles não fizeram um monte de pergunta não
Lohaine: É porque se tava na, se vai na emergência né, quando se for ser internada pra ganhar
o bebê, que se for ficar lá né um pouquinho, se vai ver, realmente tem, mas é por causa disso,
porque é um hospital escola né, tem um monte de gente ali aprendendo.
Alice: teve um dia que eu fui lá e foi só um rapaz que me atendeu, demorou um pouquinho só
pra mim passar pela triagem, eu falo com a minha irmã porque minha irmã trabalha lá né, eu
falo pra ela que lá é a UPA das gravidas, porque Meu Deus do céu, tem muita gravida naquela
emergência minina.
Lohaine: é porque lá é referência de gravidez de alto risco né, aí acaba que as gestantes...
Alice: vai tudo pra lá né
Lohaine: aham, aí as gestantes que tão com emergência igual você que teve sangramento vão
pra lá, e as gestante que já tem a gravidez de risco faz tudo a consulta lá.... quem tem pressão
alta faz todas as consultas lá
Alice: fica lá né
Lohaine: isso que eu ia perguntar, se não tem pressão alta? sua família tem um monte, se ta
acompanhando?
Alice: tô as vezes que eu vô lá no postinho ta 9 ou 10, tem gente que disque fala que teve a
pressão baixa a gravidez toda aí no dia de ganhar a pressão subiu
Lohaine: também as vezes é porque é o nervosismo né
Alice: Minha sobrinha ela teve que tira o bebê porque também tava com pressão alta.
Lohaine: sua sobrinha?
Alice: uhum, ela inchou demais, ela tava muito inchada, agora meu pé desinchou mais o
negócio, só que ela não desinchava, ela andava um pouquinho e já ficava fadigada assim, ela
acho que foi com 37 semanas o médico tirou, agora o bebezinho ta com 3 ou 4 meses.
Lohaine: ta novinho ainda, vai ter 2 bebê novo na família, quase a mesma idade
Alice: quase a mesma idade
Lohaine: o tio vai ser mais novo que o sobrinho
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Alice: é porque assim, a maioria é assim, igual meu sobrinho mais velho, que é da minha irmã
mais velha, eu tenho 28 e acho que ele tem 27.
Lohaine: cresceram quase junto, mesma idade
Alice: uhum, é tudo um perto do outro
Lohaine: Deixa eu ti perguntar, você falou que essa irmã que mora aqui com você, ela tem as
filhas delas né, são quantas filhas?
Alice: 2
Lohaine: 2? são duas meninas?
Alice: duas meninas
Lohaine: bastante mulher na sua família né
Alice: é
Lohaine: eu acho que é isso Ju, aí o que vai acontecer, a gente vai continuar fazendo as reuniões,
eu vou ti mandando os convites né, quando a gente marcar, aí pra você ir, aí depois que você
ganhar o bebê, quando você fizer 3 meses mais ou menos, aí eu volto aqui, ta? pra gente só
aplicar um questionário e finalizar. Ta ok?
Alice: ta
Transcrição do 2° encontro individual
Gestante: Alice
Duração: 1hr 10min 13s
Lohaine: E aí como é que você tá ?
Alice: Eu tô bem graças a Deus.
Lohaine: e ele?
Alice: ele também, no começo que ele deu trabalho, no começo foi o ó, mas depois de um mês
ele melhorou
Lohaine: é mas geralmente é, a gente tá acostumado com ele mas ele também tá acostumado
com a gente Né
Alice: É verdade, mas no começo ele deu trabalho demais vote, só chorava chorava chorava ,
se tava no colo chorava , se tava na cama chorava, ficava no berço chorava, mas não chora igual
aquela dali, menina mas aquela dali chora
Lohaine: a da Keila?
Alice: sim, ela é horas ela chorando, é porque ela não acordou ainda a hora que ela acorda ela
começa a chorar, né mãe
Lohaine (se dirigindo ao Miguel): mas você é muito simpático, é Miguel muito simpático
sorridente. mas só que agora está mais tranquilo?
Alice: agora tá, à noite melhorou essa noite que ele não dormi muito bem, de vez em quando
ele dorme a noite toda mas a maioria ele acorda para mamar 3 horas, 3 horas certinho Ele
acorda.
Lohaine: a mais, pelo menos se ele mama no peito só…
Alice: não mamadeira
Lohaine: mamadeira? Você não tá com ele no peito?
Alice: tava mas agora ele não quer mais
Lohaine: parou?
Alice: desde um mês eu tô dando mamadeira
Lohaine: entendi, mas se você começa a dar mamadeira geralmente logo a criança larga o peito,
porque é bem mais cansativa né (novamente se dirige ao Miguel) Oi tia você também tá
conversando com os outros e não me dá atenção, conversa comigo também tia, é eu papeio
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também bastante, eu gosto de conversar bastante) e como é que você falou que ele não tá
dormindo e comer ele tá comendo bem, mamando?
Alice: Mamar ele mama.
Lohaine: ele tá com quantos meses agora?
Alice: tá com quatro vai fazer cinco quarta-feira
Lohaine: logo vai começar a papinha né
Alice: é mas acho que ele não vai gostar não tudo que coloca na boca dele que não é leite Ele
não gosta não
Lohaine: é mas depois ele vai acostumando né
Alice: é
Lohaine: Você falou que descobriu que ele tem sopro? Quando que você descobriu?
Alice: Quando ele tinha 2 meses
Lohaine: dois meses?
Alice: Uhum
Lohaine: Porque que você descobriu?
Alice: Ele, tinha... parecia um catarro assim na garganta e aqui no pulmão dele chiava, chiava
não, ficava assim (imita um som borbulhante) o tempo inteiro, e aqui assim também o tempo
inteiro, só parava na hora de mamar, enquanto ele não tossia, ele não mamava direito, aí teve
um dia à noite ele estava gemendo gemendo, Aí eu falou vai lá na Policlínica, aí eu levei ele
na Policlínica chegando lá a médica passando raio X do peito e o exame de sangue, aí eu fiz lá
na cliniprev aí eu já resolvi marcar um Pediatra por lá mesmo aí é pediatra de lá, ela pegou e
ouviu o coração dele e falou "eu acho que ele tem um sopro no coração mas só que é bem
discreto" aí ela pegou e falou bem assim que era melhor passar para o cardiologista né, aí a
gente fez , na outra semana a gente fez aí ele tem mesmo sopro, aí esse mês a gente levou ele
no pediatra ela falou que o barulho do sopro aumentou, e que ela tava sentindo o fígado dele
que ela não tinha sentido na outra consulta, aí falou que era bom retornar no cardiologista
novamente só que o cardiologista que ele tava indo era lá na Femina e ele falou que só queria
ver ele quando ele estivesse com cinco meses, aí minha irmã trabalha no Júlio Muller né Aí eu
peguei o encaminhamento e ela conseguiu lá mais rápido aí ontem a gente foi lá.
Lohaine: entendi, e vai ter que operar então?
Alice: Vai, o cardiologista da Femina falou bem assim, ele passou um diurético para ele, passar
um diurético para ele e falou bem assim que que era para ficar tomando e com 5 meses voltasse
lá para ver como é que tá se tinha fechado ou diminuído, mas o médico ou cardiologista do
Júlio Muller falou que não sabe porque que ele e falou isso para gente porque ele sabe que não
iria fechar, que é com dois ou três dias de nascido e não fechou não fecha, aí tem que ser com
cirurgia pronto
Lohaine: entendi
Alice: aí também depois que ele começou a tomar o remédio aí acabou esse chiado assim, ele
às vezes tem, Mas é bem pouquinho, para menino (se dirigindo ao Miguel que desde o início
da entrevista está agitado fazendo diversos barulhos e gritando)
Lohaine: Ele é bem agitado né
Alice: Ele é
Lohaine: e o seu marido como é que está lidando com isso?
Alice: eu acho que ele é mais nervoso que eu, ontem mesmo ele chorou eu não sei o que
acontece assim parece que para mim tudo certo para ele não, ontem ele falou para mim
perguntar sobre a possibilidade de não operar, o médico falou né Por um lado ele tá bem mas
por outro lado ele pode piorar né, e com a cirurgia ele vai ter só ser hipertenso por um tempo aí
depois vai ficar normal a vida dele vai ser normal aí eu falei para que esperar uma coisa que
pode resolver agora, que mais para frente vai estar piorando né
Lohaine: sim, então você está bem resolvida em relação a isso?
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Alice: sim
Lohaine: mas o médico te explicou certinho como a cirurgia Ele conversou com você?
Alice: Ele explicou falou que é um corinho que faz na costela né, a amara veia, eu só esqueci
de perguntar quantos dias que ele tem que ficar no hospital depois, que depois ele vem para
casa
Lohaine: mas quando a pessoa te explica certinho como vai ser dá mais confiança né, talvez o
seu marido está tão preocupado porque ele não foi né?
Alice: é, porque ele não foi, na primeira consulta ele foi, mas na segunda ele já não foi porque
é complicado sair do serviço.
Lohaine: talvez se ele conversasse com o médico, médico explicar certinho como fez com você
daria mais uma tranquilidade né? Mas ele é muito simpático, muito sorridente.
Alice: Aí lá no Júlio Muller tem um monte de médico né aí o cardiologista dele fala aproveita
que ele é bonzinho, para ouvir que geralmente criança de quatro mês começa a reconhecer as
pessoas e estranhar né aí as vezes ele chora né
Lohaine: É aí às vezes você não consegue ouvir nada com o esteto por causa da criança
chorando muito. e como é que está sendo a maternidade para você depois que passou essa fase
mais difícil?
Alice: bem É muito difícil porque, eu não sei eu ainda bate um arrependimento de ter
engravidado, eu falo "O que é que eu fui fazer" esse menino chorava e era noite e dia, aí eu
olhava para o pai dele o pai dele acordava Porque eu acordava ele, mas é aquela coisa acordava
e dormir ao mesmo tempo, porque a mesma hora que acordava se eu olhava para ele já tava
assim dormindo
Lohaine: entendi
Alice: aí eu olhava para ele e ficar irritado, e ele chorava chorava chorava chorava, porque ele
era muito nervoso , ele não tinha paciência para pegar no peito aí o leite derramava na cara dele
ficava todo lavado de leite, tava para lá e para cá parece que não sabia pegar o peito, aí eu
olhava para o pai dele ele roncando e dormindo, aí eu pensava "cara do céu o que é que eu fui
fazer da minha vida, meu Deus do céu” até que conseguia, quando conseguia fazer ele dormir
ele fazia cocô, aí se limpar ele acordar, aí acordava. teve uma vez que ele chorou chorou, não
sei o que que deu nele, foi bem no começo quando eu vim eu saí do hospital e ele chorava
chorava chorava e nada de querer pegar o peito, aí foi indo até que minha mãe conseguiu
acalmar ele aí ela falou Para gente "vai dormir um pouco que eu vou ficar com ele" isso era
meia-noite aí ela veio entregar ele era 3 horas da manhã, ele queria mamar, aí eu tava lá o pai
dele dormindo também aí depois dessa hora ele mamou e dormiu, aí tem as cólicas que você
não sabe o que você faz tem remédio você dar remédio não adianta nada você dá outro remédio
não adianta, meu Deus do céu.
Lohaine: ele teve muita cólica?
Alice: Até que ele teve mais no começo, mas com dois meses já num.... mais a gente também
deu tanto remédio mais tanto remédio..
Lohaine: è por causa que no comecinho o intestino não ta preparado né, aí você vai comendo
as coisa e saí no leite...
Alice: Imaturo né.... E olha que eu comia só arroz branco só e frango ou carne assim né, não
comia nada de chocolate, ave maria... Ia na farmácia comprava remédio, ai falavam "ah esse
remédio é bom pra cólica" mandava ele lá ele vinha.... aah esse remédio não resolveu nada, vai
compra outro, esse outro aqui é bom! ia lá comprava... Mas eu acho que o que ajudou bastante
foi o colikids, porque ele é.... Eu achava que ele era efeito imediato, só que ele não é, ele demora
de 10 a 30 dias pra fazer efeito porque ele ajuda a matura o intestino.
Lohaine: uhum
Alice: aí com 2 meses ele não tinha mais cólica.
Lohaine: entendi
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Alice: ai o pessoal falava, com 3 mês melhor, e eu ansiava por esses 3 meses menina!! aí passou
1 mês aí eu ficava "só falta dois meses agora"... aí passava um mês "só falta mais um mês agora
e ele vai melhorar" aí tipo melhora algumas coisas mais tem outros problemas né, igual eu ouvia
falar do salto de desenvolvimento, aí fui pesquisar... "ah a criança fica chorando, a criança fica
grudenta, a criança só quer colo, falei "ah meu Deus" aí tem o pico dos 3 mês, aí eu ficava doida
pesquisando um monte de coisa...
Lohaine: Você precisa deixar de ser tão ansiosa!
Alice: Uhum, aí eu parei um pouco. No começo eu também eu sofria né por causa do corte né,
da cesária, e não conseguia levantar da cama, a cama é baixa, a cadeira todas baixa, eu sentia
dor assim parecia um fogo que tinha assim na onde que eles cortam, aí fica queimando,
queimando... Se toma remédio não passava, aí pra levantar na cama tinha que pedir pro meu
marido me ajudar a levantar, até que eu comprei uma cinta aí eu levantava sozinha, aí melhorou
bastante também depois que eu coloquei a cinta...
Lohaine: entendi...
Alice: Mas a maternidade não é fácil não!
Lohaine: não é mesmo, mas lembra que a gente falou que não era fácil?
Alice Lembro, ainda tive sorte que meu peito não feriu e nem nada...
Lohaine: éé?
Alice: uhum!
Lohaine: Que bom!
Alice: Eu usava, eu não sei, eu vejo fala que nada a vê né, mas só que eu usava bucha vegetal
a noite...
Lohaine: aaah ajuda e muito!
Alice: Só que aí o pessoal, aí eu ouvia um monte de gente falar que não era né, até na internet
eu vi que só ajudava a negociar o peito, mas não ajudava depois na hora que teve o bebê...
Lohaine: é que ajuda a firmeza, na elasticidade da pele do mamilo, isso que ajuda..
Alice: huuum, aí eu usa, não era todo dia, umas 3 vezes por semana ou sempre eu lembrava eu
passava, aí eu não sofri nada!
Lohaine: Que bom, e é sofrido demais quando fere, Ave Maria!
Alice: Quando fere disque é sofrido, minha mãe falou que quando ele teve a minha irmã mais
velha, disque o peito dela saía sangue de tão ferido que era.
Lohaine: e agora, se acha que ta muito difícil?
Alice: Agora já até melhorou, mais é porque eu fico aqui na minha mãe né, aí sempre tem um
pra pegar...
Lohaine: uhum
Alice: Mas agora, eu acho que em Janeiro a gente muda, que meu marido quer fazer o muro lá
por causa do cachorro, ai agora em janeiro eu acho que a gente muda, aí falta só a parte da
frente do muro lá.
Lohaine: entendi
Alice: aí, sei lá porque agora que deu uma melhora, porque a gente tava muito sem dinheiro, aí
acabou que teve que fazer... ele tinha vendido o celular dele pra fazer o muro, mas teve que usar
o dinheiro pra pagar a consulta pro neném, aí só que agora também o meu salário maternidade
foi aprovado...
Lohaine: huuum, ajuda né.
Alice: Aí to esperando pra vê se sai, é dia 20 parece que eles falaram, e aí já ajuda mais, só ele
que trabalha né.
Lohaine: uhum.
Alice: aí eu fico pensando assim e as pessoas que não tem ninguém? igual eu to num grupo de
mães e tem mulher lá que fala que não tem ninguém pra pegar o bebê, aí disque o marido chega
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e não quer pegar porque ta cansado, aí eu falo "Meu Deus do céu, até que não é tão ruim assim
pra mim", porque querendo ou não tem gente pra pegar ele.
Lohaine: esse grupo de mãe que você participa é na onde? na internet?
Alice: No whatsApp, aham
Lohaine: aah no WhatsApp, e onde você descobriu esse grupo?
Alice: no baby center...
Lohaine: Na página ou na loja?
Alice: é no aplicativo do baby center...
Lohaine: uhum
Alice: só que não tem nenhum de Cuiabá, é tudo de São Paulo...Não tem ninguém, só eu daqui.
Lohaine: entendi, e isso ajuda? esse grupo?
Alice: ajuda porque sempre porque que tem uma dúvida a gente vai lá, acha que é só com o
bebê da gente, mas é quem tem uma mãe que vai lá e fala "Ah meu bebê também ta assim"
Lohaine: aham
Alice: Igualzinho esses dias atrás, ele tava que toda hora fazia cocô, tava assim nesse negócio...
as vezes até tem dá nada ele fazia cocô, a bunda dele tava toda assada já, tava saindo aquelas a
pele assim, falei "ah meu Deus do Céu" aí eu fui perguntei lá né, aí a mulher foi e falou bem
assim que o bebê dela também tava assim faz dias e que tudo que dava não melhorava, aí ela
foi e falou assim pra mim que ela tinha dado Floratil e a médica pediatra dele falou que era
normal né, falei que não era normal porque num era assim, de repente de uma hora pra outra
começou em uma sexta e já tinha suas semanas quando levei ele no pediatra e ela falou que era
normal. aí a mulher falou pra mim que tinha comprado floratil, aí falei pro meu marido comprar
o Floratil pra dá pra ele pra ver se ia melhora, melhorou mais só que eu já tinha terminado de
dar o Floratil, e ele ainda tava, só que saí eu tinha desconfiado do... eu não sei se era ele, mas
depois que eu parei de dar, melhorou... foi o Sulfato ferroso, eu acho que era ele que tava dando.
Lohaine: Sulfato ferroso pode dar sim, diarreia...
Alice: e ele bebia o sulfato ferroso, demorava um pouco ele vomitava, sempre vomitava um
pouco
Lohaine: uhum
Alice: aí eu tinha falado com a pediatra ai ela foi e mudou... e ele ainda tem refluxo, aí é ais
difícil... Por isso que falo, se a mulher tem um bebê e o bebê não tem que tomar remédio ela já
tem erguer a mão pro céu... porque tomando remédio, toda hora se tem que lembrar que tem
que dar um... tem um que tem que ficar na geladeira, se saí tem que voltar, ou se não dá o
remédio ou se tem que voltar cedo por causa do remédio... aí se gente vai pra casa de um
conhecido de alguém, a gente leva né pra deixar na geladeira lá, pra dar na hora... mas é difícil,
todo tempo tem que lembrar do remédio...
Lohaine: entendi, e o refluxo, você descobriu quando?
Alice: o refluxo eu descobri no mesmo dia que ela descobriu o...
Lohaine: o Sopro?
Alice: Uhum... eu achava que... eu tinha lido os sintomas do refluxo oculto e o Miguel tinha...
Mas eu não falei pra ela, porque eles falam "não, não é nada"... aí foi ela que falou que ele fazia
umas bolinhas assim na boca de guspe, aí ela foi assim "eu acho que ele tem refluxo", aí eu
falei que ele tem os sintomas do refluxo oculto. Aí ela falou né que ele tinha refluxo, aí ela
passou um remédio pra ele, ontem mesmo ele deixou minha irmã podre vomito lá no hospital...
porque toda hora ele vomita. Aí eu vou vê né, vou marcar de novo com ela e pedi pra ela muda.
Lohaine: Então você vive com ele no médico?
Alice: Assim eu faço o acompanhamento né...
Lohaine: normal né
Alice: normal, aí se eu acho que ele ta com alguma coisa eu levo, mas só que, igual assim, eu
já tinha levado ele já, porque ele faz acompanhamento lá na cliniprev, e daí acabou que ela tinha
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pedido pra ele voltar de novo, lá na femina, só que a gente juntou o dinheiro e ainda não tinha,
faltou 100 reais, aí minha mãe falou bem assim pra eu pegar o encaminhamento que daí ela
levava no hospital né? aí eu já tinha levado ele no pediatraa na Cliniprev na terça e na segunda,
eu levei ele no paiaguas, porque lá na segunda a consulta é no mesmo dia, não é igual aqui... ai
ela pegou e falou que ela não ouviu, ai ela falou que ele tava bem, aí eu falei pra ela que ele tem
sopro, e que eu precisava do encaminhamento pro cardiopediatra porque ele tem sopro, aí que
ela voltou lá e ouviu, e falou que realmente e tem, aí ela foi e deu encaminhamento, só que eu
não sei, porque no postinho falam uma coisa, no particular fala outra, se eu vou no postinho
falam que ele ta mais bom que dinheiro achado, não precisa de nenhum remédio, não precisa
de nada, mas se eu levo no pediatra particular, sempre vem com uma lista pra comprar, aí eu
não sei.
Lohaine: difícil né
Alice: Mas to acompanhando aí, vamo vê ate quando vai.
Lohaine: aham
Alice: Mas pra mãe é mais difícil, pro pai é mais fácil
Lohaine: ahé?
Alice: è sempre mais difícil... Pro pai, o pai fica lá, se não manda pega não pega, se não pedir
pra ficar não fica, aí brinca um pouquinho e pronto, saí pra lá. Aí, Julian mesmo, ele chega do
serviço eu já falo "toma o nenêm" "ah mais.." fiquei o dia inteiro com o neném ele chorou, tive
que ficar com ele no colo, fiquei o dia inteiro com ele no colo, e daí, ele fica, eu falo fica com
ele... Eu falo pra ele que eu tenho que ir esfregar a fralda dele, sempre arrumo alguma coisa pra
fazer, porque se eu não tiver nada pra fazer ele joga ele pra mim de volta, aí ele fica com ele
arruma o desenho dele e fica com ele lá na cadeira balançando.
Lohaine: entendi
Alice: Tem que ser assim, porque ele é bem ranzinza, ele não tem paciência, essa parte aí ele
puxou eu, aí nisso ele melhorou quase 100%
Lohaine: É?
Alice: do que ele era antes...
Lohaine: Que bom, ta mais calmo
Alice: bem mais calmo...
Lohaine: Eu vi lá, acompanhava suas postagem falando lá que você tava dormindo quase nada
no WhatsApp....
Alice: Não dormi mesmo, quase nada, essa noite mesmo não o que aconteceu com ele, ele
dormia e acordava, dormia demorava um pouquinho ele acordava, aí eu pegava ele e mesmo
assim, colocava a chupeta na boca dele mas mesmo assim ele chorava, e não parava, eu ficava
sentada com ele, dava uma raiva, mexe pra lá e mexe pra cá e nada... E olha pro pai dele o pai
dele dormindo, porque disque não pode acordar porque ele acorda cedo. "Aí se fica o dia inteiro
em casa com ele, eu não posso acordar porque eu tenho que ir trabalha e não sei o que" e eu
fico olhando pra ele, ele dormindo e eu lá com nenê acordado.
Lohaine: Uhum, e sua irmã e sua mãe tem te ajudado bastante?
Alice: Minha mãe e meus irmão tudo ajuda, aí por enquanto eu ainda to aqui né, mas só que daí
eu vou pra lá e é mais difícil né, porque eu não vou ficar toda hora saindo pra vir aqui, vai ter
as coisas pra fazer em casa, aí vou ter que esperar o pai dele chegar em casa ou fazer deixa ele
lá pra fazer ou deixar o pai dele chega pra fazer.
Lohaine: uhum, verdade.
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Alice: Eu pensava que era complicado mas é bem mais complicado....
Lohaine: Deixa eu te falar, eu vou fazer uma pergunta mais é pra você ser sincera, as reunões
que a gente fez, das rodas de conversa, te ajudaram?
Alice: não
Lohaine: não? nada?
Alice: Na verdade eu nem lembrei das rodas, ah tipo, eu acho que era tanta coisa assim pra
lembrar que sabe, na hora, eu queria ir no banheiro e não podia porque tinha que ficar com o
remédio, aí eu acho que é tanta coisa na cabeça que a gente nem num lembra, passa batido.
Lohaine: uhum, e as reuniões que a gente fez sobre a maternidade?
Alice: Maternidade.... aham
Lohaine: te ajudou né?
Alice: é verdade, sobre as coisas que você falou, aquele negócio da rede de apoio também eu
fiquei pensando, nessa parte eu também pensei e ela ajudou, porque é muito bom você ter
alguém pra te ajudar...
Lohaine: aham
Alice: pra você fazer alguma coisa, pra você poder come, porque tem dia que ele dorme no
horário as vezes que ele não dorme a´eu preciso de alguém pra ficar com ele, porque ele na
cama, ele fica só se tiver entretido ou na televisão ou ne alguma coisa, porque se não tiver ele
não fica...
Lohaine: entendi...
Alice: Aí essa parte assim que eu lembrava que as mulher falava, que você também falou, é
bom...
Lohaine: Que a gente falou sobre tentar não pegar tudo pra si, compartilhar né...
Alice: uhum, as vezes eu, tinha vez que eu falava, perguntava pros outros "quando você foi mãe
você sentiu isso?", igual eu falava, minha irmã quando foi mãe, eu perguntei se quando ela foi
mãe ela arrependeu... ela: "nãão", falou que não arrependeu, eu arrependo tinha vontade, tinha
hora que eu ficava com o neném e deitado no meu colo, mas tava chorando, tinha hora que dava
vontade de abrir o braço e deixar o guri cair, porque, cara do céu, não é possível, muito... mas
agora eu vejo que ele não é nada perto do dela.... eu falo "meu Deus do céu eu tenho que
agradecer, porque ele não é nada perto dela...
Lohaine: A questão é, como você falou, é que foi muito difícil no começo né
Alice: Teve uma vez que eu chorei porque eu pensava que ele não gostava de mim, com os
outros ele quietava e comigo ele chorava....
Lohaine uhum:
Alice: "não é possível, ele não gosta de mim..." mas só que ele tinha dias só de nascido, não
tinha nem 20 dias
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Lohaine: huum
Alice: E Eu chorava, falava esse neném não gosta de mim, porque o pai dele pega, ele queta,
os outros pega e ele quieta, outro pega e ele quieta, aí os outros "Ah é porque ele sente o cheiro
do leite, por isso que ele chora e não sei o que". Cara do céu, parecia um trem...
Lohaine: Mas deixa eu te falar, mais isso que faz, já de grande ajuda, de você admitir isso, de
você perguntar pra pessoas, de você falar sobre o que você ta sentindo, porque a maioria das
mães, elas não falam, elas se sentem muito culpadas de sentirem assim e aí elas guardam isso
pra ela e só vai corroendo, vai só acumulando né... então quando você fala sobre isso... tenho
certeza que as vezes algumas pessoas te olham atravessado que é normal...
Alice: Minha irmã!! "credo você arrepende te ter seu filho"
-Risos
Lohaine: quer dizer normal não,é comum né, é o que acontece... elas já olham assim quando
você comenta o que você ta sentindo... Mas só que, como é que você não iria sentir assim? é o
desespero e tal, você acabou de ter o bebê
Alice: aí você pensa na criança sempre, sempre preocupada, porque ele não ta dormindo, não
ta fazendo tal coisa, eu não posso fazer as coisas, porque é diferente agora, tem que fazer coias
que incluam ele né,,, Não só eu e meu marido, porque nem sempre né... as vezes "Você compra
tal coisa pra mim lá no mercado?" não... leva ele, pra passiar, porque sempre "não, tem que
fazer tal coisa" porque é muito difícil porque igual no começo ele, minha mãe tinha colocado
uma rede aqui, que era pra acostumar ele na rede, de manhã cedo ele já chorando e aí eu deixei
ele aqui na rede e ele chora e eu sentada na cadeira, "vou fingir que nem ouvi" eu não sei, subiu
uma raiva assim em mim, uma coisa esquisita
Lohaine: aham
Alice: aí esse menino chorava, chorava, chorava aí minha mãe "Alice, se tem que cuidar dele
se não você não vai ser uma boa mãe, tem cuidar dele, fazer as coisas", e eu escutando sempre
né... Aí acabava que meio que brigava com minha mãe, porque ela sempre falava que eu não ia
ser uma boa mãe, porque eu deixava ele chora, porque isso, porque aquilo, porque não podia
deixar ele chora porque ia crescer o umbigo... " Não deixa ele chora porque vai crescer o
umbigo", tem que pega ele, conversa com ele, faz não sei o que, lálálálálá, eu não sei, no começo
eu sentia muita raiva, daí foi indo e melhorou, as vezes ainda sinto, mas melhorou bastante,
porque ave no começo era muito ruim.
Lohaine: E o seu marido? você notou que ele mudou depois que o bebê nasceu?
Alice: Mudou!
Lohaine: Mudou o que?
Alice: Eu não sei, ele, eu não sei se mudou assim, no começo eu falei pra você que ele jogava
bastante né
Lohaine: aham
Alice: Aí no começo eu falava pra ele, as vezes ele ia joga aí eu falava ó "Não tem tempo pra
joga, quando, você tem que fazer tal coisa, tem que fazer alguma coisa" aí eu empurrava o
neném nele, agora ele ta sem celular também aí mudou bastante, porque ele mais com ele, se
eu empurra pra ele, ele fica, tem hora ele não fica não, fala que não quê fica, mas mesmo assim
eu falo que tem que ficar "Você é o pai dele", não é "ah, vou lá e brinco com e pronto, você tem
que me ajudar"
Lohaine: uhum
Alice: Aí nessas partes assim ele até que me ajuda o ruim é só que se o neném precisar, se eu
precisar não, ou ele acorda um pouquinho e fica um pouquinho com o neném e pronto, tempo
de eu fazer, as coisas dele eu deixo lá no quarto, a mamadeira, o leite, porque ele mama o
engrossado, aí deixo o engrossado também na garrafa térmica, pra não precisar sair lá do quarto
porque as vezes ele já ta impaciente, e ele começa a resmungar, resmungar e já quer chorar e se
eu vim de lá pra cá na cozinha, pra poder fazer e volta ele já tá lá no berreiro dele.
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Lohaine: uhum
Alice: Aí eu já deixo tudo lá e as vezes quando ele fica mais manhoso assim a noite, aí ele já
acorda rapidinho, acalma ele o tempo de eu fazer o mama e já volta a dormir, eu não, eu tenho
que ficar acordada, quanto ele tá, as vezes ele acorda e fica lá olhando pro tempo lá, o nené, eu
fico lá bem assim e o neném ta lá cuidando das coisas, parece que olha pro pai dele, olha pra
luz, porque fica uma luzinha no quarto acesa aí ele fica olhando atééé, e eu tenho que ficar lá
acordada até ele cansar e o pai dele ta lá dormindo, aí por isso que parece que a responsabilidade
fica tudo em cima da mãe, parece que a responsabilidade do pai é, dar dinheiro pra comprar
remédio,, levar pra algum lugar que precisa, e só.
Lohaine: Uhum
Alice: Porque parece que tudo... porque eu falo pra ele "dá mamadeira", "Ah eu não sei dá
mamadeira" aí se eu tiver fazendo alguma coisa mesmo que ele dá, porque senão ele não dá,
tem medo de engasgar... No começo tocava fralda suja do nené, e depois de um tempo parou,
não queria trocar fralda, eu falei "troca ele, ele fez cocô" "Ah eu não sei limpa", aprende... eu
também não sabia e aprendi... "Ah mais não sei o que... parece que eu pego nele, parece que ta
estalando osso dele, parecer que ta não sei o que" sempre arruma uma desculpa, aí foi indo e eu
falei pra ele "Uai, o filho é só meu ou é meu e seu?porque tudo vem só pra mim" aí foi indo, e
agora ele troca ele. Agora também se ele ta com dor de barriga, quando ele chega do serviço a
gente tem que revezar, uma hora eu limpava aí na próxima ele limpava. Aí quando ele não tá
aqui que é só eu.
Lohaine: entendi, então basicamente você ta cansada
Alice: Uhum, bastante... As vezes eu penso "imagina se eu trabalhasse", mas talvez se eu
trabalhasse ficaria mais descansada até, porque passaria um tempo sem o bebê...
Lohaine: Porque do bebê é muito emocional que envolve né, são é só o cansaço físico, no
serviço é mais o cansaço físico né aqui é o cansaço físico e emocional né
Alice: Sim, verdade. E ainda eu fico pensando, porque o Miguel não teve nenhuma crise assim,
de deixar ele roxo, sem respirar, nenhuma coisa assim que impediu ele tanto assim, porque tem
criança que é doente né e dá muito mais trabalho pra mãe... Porque assim igual tem uma menina
ali de cima que a amiga dela ali, ela o bebê dela é prematuro, uns 5 ou 6 meses, e tem
hidrocefalia, ele ficou internado no hospital e acho que semana retrasada ela veio pra casa, aí
fico pensando, o meu dá trabalho, mas não dá trabalho igual ao dela né, porque ela tem que
viver pra ele né...
Lohaine: uhum, e você ainda quer voltar a trabalhar?
Alice: Quero ah eu quero, porque eu acho que é melhor pro meu marido, pra poder ajuda ele, e
eu fico assim, eu quero compra uma coisa pra mim ou pro nenê e não posso, porque eu dependo
do dinheiro dele.
Lohaine: aham
Alice: Aí então eu quero "Ah eu posso compra tal coisa, vai dá pra você pagar?" aí ele
fica,"deixa eu ver, a fatura do cartão tem isso e isso, pode compra, vai dar pra pagar" aí ele vai
e paga, aí...
Lohaine: Se perde muito a independência né
Alice: uhum, perde a independência... eu falei um dia pra ele compra... mas logo logo eu vou
começa a trabalha pra mim poder compra minhas coisas, tudo que eu quere compra pra mim e
pro neném eu vou pode compra, porque eu sei que eu vou ter o dinheiro depois pra pagar, não
ficar dependendo dele, porque ele não sabe se ele vai ter dinheiro ou não, igual ele fez o acerto
no serviço, porque tipo, o neném, antes do neném nascer a gente só tinha moto, ele tinha a moto
dele e eu tinha a minha, a dele vivia mais estragando do que tudo, gastava um dinheirão, aí ele
pegou e vendeu, aí ficou só com a minha, e daí eu tinha saído, eu usava pra ir trabalhar voltava,
e ele ia de ônibus e depois eu ia no serviço dele e buscava ele, a tarde, aí acabou que, daí eu
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pedi pra me mandarem embora do serviço, eles mandaram... aí ele ficou com a moto, aí eu
engravidei, tive sangramento no começo...
Lohaine: aham, eu lembro que você comentou
Alice: aí eu já não andava mais de moto, se a gente precisava ir em algum lugar, ou ia de ônibus
ou ia de Uber ou emprestava o carro de alguém, aí ele pegou e falou que não dava pra ficar
assim, aí ele pediu pra patroa dele fazer o acerto com ele no serviço, pra poder comprar um
carro, aí vendeu a biz, a minha biz, pra poder inteirar o valor do carro e comprou... Ele também
faz os sacríficos dele, eu sei que ele faz os sacrifícios dele pela gente, e não é pouco não, é
bastante, aí agora, até agora ele ta sem carteira assinada, aí ele pegou o seguro, o seguro dele
acabou em Outubro, aí ficou que "ia fechar o restaurante, que não sei o que" aí acabou que não
vai fechar e no mês que vem vai assinar a carteira dele novamente, aí não tem décimo, essas
coisas né
Lohaine: uhum
Alice: não tem né, mais ele faz, ele faz bastante sacrifícios pela gente, mas tem hora que eu
quero uma coisa e ele não tem, mas tem hora, as vezes ele dá jeito... Ele fala, "não tem como"
e eu tenho que entender ou igual eu queria uma mamadeira pro nenê, por causa que minha
sobrinha deu uma mamadeira mas eu achava que que a mamadeira entrava vento e dava cólica
nele, quando ele era menor, aí eu vi na internet que tem uma mamadeira da Avent e ela não dá
cólica, e eu queria porque queria essa mamadeira, aí ele "quanto que é essa mamadeira" e eu
falei " 70 reais uma mamadeira" "70 reais a mamadeira?" e eu falei "ééé, mas tem que pensar
no nenê porque daí ele não vai te cólica" aí eu convenci ele a comprar, aí eu peguei e fui, achei
que o bico da mamadeira tava saindo muito pouco aí eu fui e abri o bico da mamadeira com
agulha, rasgou o bico aí saía demais e ele não conseguia, ele afogava... aí nós fomos vê o bico,
40 reais o bico "Meu Deus céu mamadeira 70 reais, bico 40 reais", convenci ele e comprou o
bico, aí ficou... ele faz assim, as minha vontades, o que eu quero assim, em relação ao nenê, as
vezes ele deixa de fazer pra ele, e ele vai fazer pra mim ou pro nenê, aí assim vai, pra mim, pro
nené e pra casa na verdade, as vezes ele quer cortar o cabelo mas não corta o cabelo, mas não
corta o cabelo porque tem que usar o dinheiro pra outra coisa... aí eu falo "vai, corta o cabelo
logo" aí eu convenço ele e aí ele vai, mas se não....
Lohaine: fica preocupado também né, com as coisas que precisa
Alice: ele fica preocupado com tudo que precisa, aí corre atrás de um empresta dinheiro "fulano
tem dinheiro pra me arrumar, porque preciso fazer uma coisa pro nenê", aí sempre ele vai lá pra
vó dele e a vó dele empresta pra ele fazer alguma coisa quando é pro neném, quando é pra
compra remédio ou algo assim... Assim, nessa parte ele tem bastante responsabilidade...
Lohaine: Uhum, você reclama mais da questão de você cuidar do bebê sozinha né
Alice: é de ajuda né
Lohaine: entendo, e você acha que ficou mais solitária em relação aos seus amigos depois que
o bebê nasceu?
Alice: fiquei!! sumiu todo mundo, não aparece nenhum, sumiu sumiu, até... se lembra aquela
que veio aqui no dia que você veio, ave eu e ela vixi maria, era carne e unha, sumiu... Eu não
sei também né porque as vezes a gente fala do problema da gente mas não sabe o problema que
ela tem né
Lohaine: aham
Alice: Eu sei só que ela ta fazendo faculdade e trabalha, não sei o que aconteceu, mas assim até
em relação a conversa no whatsApp também, sumiu, sei lá parece que de repente todo mundo
evapora, todo mundo... aí acaba que você tem que conversar com alguém da sua família mesmo,
porque senão não tem ninguém de fora pra conversar...
Lohaine: Entendi
Alice: Aì eu vou aqui na vizinha e converso um pouquinho com ela, só também... As amigas
assim que eu tinha, não tem mais nenhuma...
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Lohaine: É só família mesmo
Alice: Aham, mas isso disque é normal né?
Lohaine: A maioria das mãe passam por isso, elas sentem isso.
Alice: Porque some todo mundo, parecia até que (incompreensível)
Lohaine: uhum, mas e sua família?
Alice: Ah a família é unida assim, por assim ajudar a cuidar do neném, se precisar pegar, não
tem o que queixar deles não
Lohaine: ajudam bastante né, e a família do Julian?
Alice: A família dele por morar longe, lá no Cabral, eles quase não vêm aqui, e também o Julian,
sei lá... eu não sei
Lohaine: Eles não tem uma relação muito boa né, que você falou, que tem muito conflito a
família dele.
Alice: ééé, a família tem muito conflito entre eles lá né e Julian não gosta de se meter, desde o
dia que foi lá da última vez, depois dessa vez que eles discutiram por lá, ficamos um mês e
pouco sem ir
Lohaine: Uhum
Alice: Por causa de fralda, eu falei que quando a gente vinha, quando a gente ia lá era muita
trocação de fralda, o nenê mijou uma vez e troca a fralda, o nenê... troca a fralda, aí eu falei né.
falei "Se tem que falar pra sua mãe lá que não tem condições, como que a gente vai conseguir
comprar fralda"
Lohaine: Uhum
Alice: aí teve um dia que a gente saiu do pediatra e foi lá, aí chegou,tipo tem uma rotatória
como daqui um pouquinho mais pra frente, pra chegar na mãe dele, na rotatória eu falei "para
o carro que eu vou trocar a fralda do neném, chega lá eles vão querer trocar" aí peguei troquei
a fralda do neném, chegou lá não foi 15 minutos trocaram a fralda do nenê porque disque tava
cheia, nesse dia Julian discutiu lá... tanto é que na hora ele queria vir embora, tanto que a mãe
dele falou "não, não vai embora" e ela tava fritando pastel lá pra gente e ela falou "se vai comer
o pastel e depois se você quiser embora se vai embora" discutiu, discutiu, discutiu, ele a mãe
dele a a tia dele... e eu fiquei de fora, fiquei só ouvindo eles fala né...
Lohaine: Uhum, entendi,,, e ele ainda está sem falar com a irmã?
Alice: não, já ta falando com ela
Lohaine: ja ta falando com a irmã? porque se falou que eles...
Alice: é eles, tinham se desentendido né, mas agora voltou a falar normal... Eu acho que ele
aceitou também a menina, porque é uma opção dela né, ela que tem que escolher o que ela acha
melhor pra ela, aí acho que ele, foi indo ele entendeu e agora eles conversam.
Lohaine: entendi, que bom né
Alice: Uhum, não tem como né, família é assim mesmo, se briga, outra hora se briga, outra hora
se ta bem, outra hora se briga de novo.
Lohaine: Uhum, verdade.
Alice: da ultima vez, da ultima briga deles, que ele foi pra e discutiu com a mãe dele e a tia
dele, aí passou um mês e ele falou que não ia lá enquanto eles não viessem aqui...
Lohaine: Uhum
Alice: Aí a mãe dele fica assim "ah trás meu netinho, trás meu netinho" aí ele "não vou levar,
enquanto vocês não vierem aqui, porque vocês não tem tempo pra nós, mas a gente tem que ter
tempo pra vocês" aí ele pegou e falou que não ia leva... aí acabou que ele levou, falei "ah, vai
te que leva porque eles não vem", Ah irmã dele que é madrinha do neném ainda vem né.
Lohaine: aham
Alice: mas só que agora também eles tem outro bebê lá, que a irmã dele e a mulher dela, e a
mulher dela tava grávida e teve o bebê...
Lohaine: Ah, entendi.
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Alice: Aí, dia 14 faz um mêszinho... aí, acho que por eles... aí eles mandam assim mensagem
pedindo foto do neném, querendo saber... Mas, fora isso também, a gente quase não vai lá, por
causa do tempo também... Por causa que a mãe dele mexe com salgado, ela dorme cedo, porque
ela tem que acorda 2 horas da manhã, aí acho que 7 horas mais ou menos, ela já ta dormindo,
aí ele, nesses horários, ele ta chegando do serviço 5 horas pra ir lá, não dá... aí final de semana
a gente vai lá, a gente vai lá, vai rápido, não demora muito, porque logo ela já tem que mexer
com salgado na parte da tarde, pra deixar pronto pra no outro dia ela só assar ou fazer alguma
coisa assim.
Lohaine: tudo pré pronto só pra assar ou fritar né, sei como é. um conhecido meu mexe também
e dá uma trabalheira que só
Alice: Uhum, dá mesmo... aí as vezes a gente vai lá, na ultima vez que a gente foi lá mesmo,
pela distância também que ele não gosta de ir, porque gasta muita gasolina, aí na última vez
que a gente foi lá a mãe dele tava com uma enxaqueca, praticamente nem saiu do quarto, e a
irmã dele praticamente expulsou nós, porque ela tava cansada também, falei pra ele "porque
que sua mãe não avisou que tava com dor de cabeça né, que tava deitada", aí a irmã dele "tenho
que acorda amanhã de madrugada, pra poder mexer com salgado e to com sono" e a nenê não
deixa eles dormi, porque a nenê tem cólica, bastante cólica e eu falei "Ah vamos embora amor,
porque a Juh quer dormir também" saímos de lá era umas 8 horas, falei "ah, vambora" aí a gente
pego e veio embora.
Lohaine: e a vó dele?
Alice: a vó do Julian?
Lohaine: Julian!
Alice: a vó dele praticamente e gente não foi mais lá, mas esses tempo atrás ela veio aqui,
passou a tarde inteira aqui.
Lohaine: Legal
Alice: Só que a vó dele, a vó dele entende ele assim, mais que a mãe dele
Lohaine: é por isso que eu perguntei, se falou que ela que criou ele né
Alice: Ela entende mais do que a mãe dele, as vezes ele liga, ele liga quando ele quer saber
alguma coisa de lá né, aí ele liga e a vó dele conta "ah fulano foi lá, que não sei o que, minha
vó falou que saiu a maior briga lá" porque as vezes a mãe dele não conta né, mas se ele liga pra
vó dele ela conta. Mas esses dias mesmo, a vó dele tava ruim, a gente nem foi lá, ela tava de
cama, não sei o que tinha acontecido com ela lá, mas tava ruim. Mas ele também nem foi lá pra
saber, as vezes ele liga, eu não sei, a tia dele mesma hora, ela tava mexendo no psicologo, teve
um tempo que ela tava no psicologo, ao mesmo tempo que ela tipo te dá atenção, ela some!!
você pode mandar zilhões de mensagem, ela não responde mais, aí de repente ela aparece....
igual, antes quando eu tava grávida, praticamente todo dia ela me ligava ou ela mandava
mensagem, de repente se pudia mandar mensagem que ela não respondia mais você, se ligava
não atendia... aí as vezes ela que ta com o celular da vó dele, aí ele liga ela desliga, aí ele já
sabe que é ela, ou uma das primas dele. As vezes desliga até o telefone, aí eu falo pra ele "ah
sua tia, ela é muito crazy" a mesma hora que ela tá lá, ela não te atende mais.
Lohaine: Entendi, aí acaba que ele não consegue falar com a vó por causa disso?
Alice: é, e agora ele também depende muito do meu celular, se ele querer falar, aí tem que ligar
do meu celular.
Lohaine: aham
Alice: E as vezes eu to mexendo no meu celular, aí ele fala "Ah tem como você me dá o meu
celular?" e eu falo "Seu celular nada, vai comprar um celular pra você" eu não aguento mais ele
sem celular, porque se eu preciso falar com ele eu tenho que ligar no celular da empresa.
Lohaine: entendi, fica ruim né, ficar sem contato...
Alice: Uhum, vai acontece, as vezes pode acontece alguma coisa na estrada né, vai saber
Lohaine: aham
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Alice: e também tem o nenê, tem que ter, ele tem que ter algum meio de comunicação, porque
vai que acontece alguma coisa pro nenê e eu preciso dele...
Lohaine: Uhum, pois é.
Alice: Isso porque a gente ainda ta aqui na minha mãe, eu quero vê quando a gente mudar pra
lá.... por que tem horas, que eu não sei, porque tem horas que ele é bem ignorante
Lohaine: o Julian?
Alice: éé, aí as vezes assim, igual teve um dia que o pessoal veio pro velório da minha prima,
e tava só eu e ele aqui, e daí minha irmã tem mania de falar com o neném gritando né, e daí
nesse dia ela falou, do mesmo jeito que ela fala sempre com ele, e daí o Julian não gostou,
pegou o nenê e entrou com o nenê pro quarto e fechou a porta, aí eu peguei entrei pra dentro do
quarto e falei "porque você trouxe ele pra cá?" "ah, fica com essa gritação aí" e eu falei "uai, é
o normal dela, se sabe que ela fala com ele desse jeito" "ah eu não gosto de gritação, desse
barulho" ele é novo mais tem o espirito de velho "ah eu não gosto do barulho, desse povo que
vem" aí nesse dia a gente discutiu, daí ele falou que ele sempre tem que me ouvir mais eu não
posso ouvir ele...
Lohaine: Aham
Alice: Aí as vezes minha mãe fala que ele pode mudar quando a gente for pra casa, ela fala "ah,
toma cuidado com Julian" vai saber né... Mas só que eu acho que nessa parte não
Lohaine: porque, ele perde a paciência muito fácil, essas coisas?
Alice: Não, ele não perde a paciência fácil, eu não sei porque ela tem esse pensamento...
Lohaine: Ele nunca deu motivo pra ela imaginar?
Alice: Não, ele nunca deu... porque as vezes ela acha que aqui em casa ele é uma coisa e, mas
na nossa casa ela vai ser outra.
Lohaine: entendi
Alice: Aí eu não sei, ela fala "Se tem que fazer uma chave cópia e deixar escondido, se acontecer
alguma coisa, você some, você abre a porta e vem embora" aí eu, eu não sei... Ele tem as partes
dele ignorante mais...
Lohaine: Você tem esse medo?
Alice: não, em relação a isso não.
Lohaine: Mas você tem medo de morar sozinha com ele?
Alice: Tenho, eu não sei, não é pelo fato de... é pelo fato de morar sozinha, de ter a minha
própria casa, que é minha responsabilidade que vai ser maior, não sei se vai se maior ou se vai
se a mesma... Porque assim, agora depois que eu tive o nenê eu parei de fazer muita coisa,
porque o nenê ocupa o tempo e eu tenho que cuidar dele
Lohaine: uhum
Alice: e lá em casa, igual lá em casa não vai ser assim... As vezes aqui, porque aqui em casa ele
que paga a luz, a luz ele que paga, aí fica bem assim, porque eu coloco o microondas na tomada
pra esquentar o leite do nenê "Pra que deixar esse microondas na tomada" aí tira, demora três
horas, duas horas, eu boto o trem na tomada de novo, í tipo ele fala que ele que paga a luz, se
ele não ta reclamado ela não tem que falar, mas ela fala, minha mãe fica a trás da gente, e fica
eu ligo e ela desliga... aí ele fala, eu que pago... é pesado é pesado, porque é quase 400 reais de
luz mas, ele não fala nada não.
Lohaine: entendi.
Alice: Aí ele fala que quer ir pra casa porque aí vai ser os nossos gastos, porque vamos ser nós
que vamos pagar luz, aí vai ser menas coisas que acho, porque a gente gasta muito assim... nem
tanto com besteira, com coisas necessárias mesmo
Lohaine: uhum
Alice: Aí tem que pagar, tem vez que a fatura do cartão vem mil reais de um cartão, aí de outro
cartão vem 500, aí vem quase 400 reais de luz, aí as vezes ele fica sem dinheiro pra nada, se
não fosse o cartão ajudar a gente, tava desesperado... aí tem que esperar, a fatura do cartão
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vence tal dia, tem que esperar até tal dia pra poder comprar porque não tem dinheiro... Aí eu
acho que ele acha que mudando lá pra casa vai sobrar assim mais dinheiro né...
Lohaine: Uhum, entendi... vai ser menos pessoas na casa, menos gasto né
Alice: Mas em relação a gastos, o que ele tem aqui é só isso.
Lohaine: entendi, e compra do mês?
Alice: Minha mãe que faz... Mas aí a gente vai, quando a gente vai no atacadão a gente trás né,
se tiver faltando... compra frango lá, porque carne a gente não compra aqui, compra aquele
frango a passarinho, compra lá se tiver precisando de alguma coisa, compra o leite, que é uma
vez minha mãe compra uma caixa fechada, outra vez é nós,aí só que daí a fatura do cartão vem
super alta, o cartão do atacadão, porque você vai pegando uma coisa e outra coisas, a maioria
das coisas que ele gosta de reclamar, que a fatura já foi 300 reais, e nem fechou o mês e o leite
do nenê toda semana tem que compra, é 40 reais toda a semana. Aí ele fala, mas também a
maioria das coisas que a gente pega é tipo, é 10 reais ou pra mais de 10 reais, ai qualquer coisa,
umas 10 coisas já vai dá quase 100 reais, aí ele fala "ah tem que maneirar nas coisas de comprar
no Atacadão" mais ele fala, mas eu vou lá e compro.
Lohaine: Então, querendo ou não o financeiro pesa muito né
Alice: é, pra ele pesa, pra ele.
Lohaine: Se falou então que ele descobriu que o bebê vai ter que operar e ele chorou ontem?
Alice: Chorou lá pro serviço dele, na minha frente eu acho que ele chorou uma vez na minha
frente, quando ele ta na minha frente ele quase não chora.
Lohaine: entendi, mas como se ficou sabendo?
Alice: ele mesmo me falou e depois ele ficava olhando assim pro neném, aí ele falou "Ah amoor,
depois que você falou pra mim eu até chorei lá porque o nenê é tão novo pra já ter que fazer a
cirurgia", aí eu falei "Ah mais é uma coisa que é necessária, se fosse desnecessária nem
precisava mesmo, nem correria mais atrás, era só fazer o acompanhamento e pronto, mas é
necessário" aí ele "Ah mais tem gente que tem problema no coração e vive muito bem sem
cirurgia" porque meu sobrinho tem e nunca fez cirurgia e o filho do vizinho também tem e
nunca fez... aí eu falei "Ah se for pra ele viver melhor depois, compensa fazer agora" porque
ele quer coloca no neném pra fazer algum tipo de esporte pra ocupar a mente, e se ele tiver, se
ele não tiver operado não tem como né fazer, ficar fazendo cansaço, ele não pode cansar.
Lohaine: Uhum
Alice: Eu não sei também, porque eu fico pensando, porque tem uma colega minha que a nenê
dela passou por uma operação, que opero também porém não, parece que, como ela falou,
parece que não fez, porque o Miguel, ele se ele, eu não deixo muito ele chora, mas ele nunca
ficou roxo e ela ficava, aí o dela teve 3 paradas cardíaca a bebê dela aí tentaram colocar marca
passo pra vê se melhorava mas não teve resultado antes da cirurgia, ela falou que ela fez a
cirurgia, mas mesmo assim não pode deixar a neném chora porque se ela chora, ela fica roxa,
fica sem ar.
Lohaine: Entendi, não viu muita diferença?
Alice: ééé, eu não sei, teve só uma vez que eu derrubei o celular em cima dele, ele chorou duro,
mas também foi só essa vez e domingo passado também, ele não gosta muito de barulho assim,
de pessoa conversando muito alto perto dele, ele chora, e a madrinha dele tava sentada com ele
aqui na cadeira, e ele tava falando alto, ele fica assim ó, de repente ele uáááá (imita o choro do
bebê) de repente ele abriu a boca que ficou até soluçando, e foi só essas duas vezes que vi ele
chorar duro, duas, mais não ficou roxo.
Lohaine: entendi.
Alice: e disque isso deixa a criança roxa né, eu não sei, sei lá eu não entendo, tem o negócio
mais não não tem praticamente os sintomas, se você olha pra ele você não pensa que ele tem
alguma coisa...
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Lohaine: nããão, eu fiquei surpresa, é porque é pequeno né, como você falou, ele não é tão
magrinho né, geralmente criança que tem esse problema é mais magrinha que ele, ele parece
uma criança saudável magra...
Alice: saudável magra, aham!
Lohaine: não parece que ele tem algum tipo de problema.
Alice: Uhum, igual ontem eu vi lá no hospital uma menininha, mas eu acho que ele, eu não sei
se ele tinha sopro no coração, ele tava sentado lá perto da gente mesmo, eu pensei que ele tinha
meses, mas ele já tem ano, e ele é pequeninho, miradinho assim, aí eu até perguntei pra mãe
dele "ele tem quantos meses?", aí ela falou "não, ele já tem ano", e a enfermeira lá que tava
pesando o Miguel, eu não sei porque talvez porque ela é véia, ela num... perguntou se o Miguel
já tinha ano... Mas ele não parece que tem ano, falei "não, ele tem 4 meses", só que também da
mulher ele mama só no peito, eu não sei, não sei se era porque ele tem problema no coração
por isso que ele era magrinho.
Lohaine: Uhum, entendi. Eu vou fazer umas perguntas pra você que é de uma escala, ta bom?
aí eu vou ti dar 4 opções em casa pergunta, aí você me diz se é a primeira, segunda, terceira ou
quarta, ta bom?
Alice: ta bom
Lohaine: 1, Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas? aí é, tanto como antes,
menos do que antes, muito menos do que antes e nunca.
Alice: menos do que antes.
Lohaine: menos do que antes, tenho tido esperança no futuro, aí tanta como sempre tive, menos
do que costumava ter, muito menos do que costumava ter e quase nenhuma
Alice: não, sempre tive esperança, agora minha esperança é meu filho crescer também né
Lohaine: então a mesma coisa?
Alice: é, a mesma coisa de antes!
Lohaine: aham, tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal... sim, a
maioria das vezes; Sim, algumas vezes; raramente; Não, nunca.
Alice: Algumas vezes
Lohaine: algumas vezes? 4. Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo, não, nunca;
quase nunca; Sim, por vezes; Sim, muitas vezes.
Alice: quase nunca
Lohaine: quase nunca? Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo, sim,
muitas vezes; sim, por vezes; não, raramente; não, nunca.
Alice: as vezes sim, as vezes não... por vezes né
Lohaine: por vezes né? Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes
não consigo resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a
maioria das vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.
Alice: não tão bem quanto antes, antes resolvia mais e agora não consigo.
Lohaine: as vezes ou a maioria das vezes você não consegue resolve?
Alice: a maioria das vezes.
Lohaine: a maioria né, ok. Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal; Sim, quase
sempre; Sim, por vezes; Raramente; Não, nunca.
Alice: Raramente
Lohaine: raramente? Tenho-me sentido triste ou muito infeliz; Sim, quase sempre; Sim, muitas
vezes; Raramente; Não, nunca.
Alice: Raramente
Lohaine: raramente? Tenho-me sentido tão infeliz que choro, Sim, quase sempre; Sim, muitas
vezes; Só às vezes; Não, nunca.
Alice: Nunca
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Lohaine: Nunca? Tive idéias de fazer mal a mim mesma, Sim, muitas vezes; Por vezes; Muito
raramente; Nunca.
Alice: Nunca.
Lohaine: Nunca
Alice: Agora não, tinha um pouco antes.
Lohaine: Antes do bebê?
Alice: sim
Lohaine: entendi, e você falou que as vezes você sente muito, ansiosa com o bebê que não para
de chorar.
Alice: Não faz as coisas, sim eu fico ansiosa quando ele, quando ele... tem dia ele ta bem e tem
dia parece que não ta tudo bem, tem dia ele chora menos, tem dia ele chora mais...
Lohaine: Uhum, mais isso é toda a criança né
Alice: é, aham. E eu fico ansiosa com coisa assim que eu vejo, tipo uma mulher do instagram,
e ela posta a nenémzinha dela lá, e ela é uma semana mais velha que o Miguel, ela fez 5 messes
e Miguel faz na segunda.... E a bebêzinha dela já senta, e Miguel não senta.
Lohaine: Mais é menina? menina desenvolve mais rápido que guri, de sexo, não sei porque mas
meninas geralmente fala antes, gatinha antes, caminha antes, tudo que guri.
Alice: Tudo antes? e daí que eu fico ansiosa porque igualzinha a mulher que era do Ubirajara,
ela teve o bebê dela uma menininha, no mesmo dia que eu, eu até vi ela andando lá pelo
corredor, pra dilata.
Lohaine: aham
Alice: e o bebê dela já rola, e Miguel lá e do jeito que você bota ele lá ele fica, e o dela já rola,
já senta e eu não sei o que acontece com esse menino, parece que não ta desenvolvendo.
Lohaine: mais ele já ta durinho né
Alice: duro no colo da gente, mas pra senta, se senta ele, ele fica assim ó...
Lohaine: entendi, é que as vezes a gente fica muito ansiosa a gente fica comparando uma
criança a outra
Alice: uhum, a outra
Lohaine: e não, seu bebê diferente de outro, ele vai desenvolver algumas coisas diferente das
outras, igual tem criança que senta mais rápido, mais as vezes o seu não senta mais rápido mais
consegue movimentos finos mais rápidos, por exemplo pegar coisas pequenas com a pontinha
do dedo, isso é muito difícil pra criança aprender, e as vezes ele não senta tão rápido mais isso
ele aprende mais rápido então, varia uma coisa com a outra entendeu, então é muito difícil você
comparar uma criança com a outra, porque...
Alice:é que nem o daqui do lado, ele nasceu uma semana, Miguel é uma semana mais velho
que ele, aí as vezes eu vou lá conversar com a vó dele, a vó dele fica com ele, aí tipo ela, "Mais
Miguel é durinho, João não é assim", foi até um dia que eu peguei ele e eu pensei que ele era
igual o Miguel, mas ele é molão, e eu não sabia, e era a primeira vez que eu tinha pegado ele,
porque Miguel eu pego ele aqui e boto ele aqui, e aqui ele fica né, eu não preciso ficar toda hora
segurando as costas dele, eu fui fazer a mesma coisa, eu não sabia, aí eu fui peguei elem
coloquei ele aqui e daí ele "páfe" pra frente, aí eu "aí meu Deus ele ainda é mole" eu não sabia
que ele era mole, ele é bem mais molinho que o Miguel
Lohaine: Uhum, então tipo, você vê isso né, a diferença. então é muito difícil você comprar
uma criança com a outra entendeu, é só esperar, daqui a pouco quando se vê ele já ta até
caminhando, senta logo já tá, gatinha que você nem vê, entendeu, porque é muito difícil isso,
então se você ficar comparando o seu bebê com as outras, você vai ficar só ansiosa antes do
tempo e isso não vai resolver nada, porque não vai nem apresar o guri, ele vai continuar do
mesmo jeito.
Alice: Antes era o peso, o peso dele, eu achava ele muito magrinho, aí eu ficava olhando sempre,
olhava o peso sempre, aí eu via que tinha bebê com, as vezes, com mesmo mês que ele e as
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vezes com o peso, bem menos que ele, e as vezes,, bebê mais novo que ele, tipo meses e 9 kilo,
e Miguel tava lá no 5 e 6, aí tipo eu ficava assim olhando, que na hora que eu via um bebê que
era mesmo mês que ele, porém mais magrinho que ele, aí eu ficava feliz, ficava "ó ainda bem",
aí as vezes eu via, mesmo mês que ele, bem mais pesado que ele.
Lohaine: Mas aí que está, ser gordinho não quer dizer que ele seja saudável entendeu, então
vária sabe, e você não pode ficar comparando seu bebê com outro que isso só vi te dar estres,
só vai te dar ansiedade. Assim como você não pode se comparar como mãe com outras pessoas,
porque você é a melhor mãe que você pode, nas condições que você tem.
Alice: verdade
Lohaine: ai você se compara com outra mãe, e aí você acaba se sentindo culpada sem
necessidade.
Alice: é verdade
Lohaine: porque com certeza ela também vai se comparar com outra pessoa e vai se sentir
ansiosa.
Alice: E a gente sempre se compara com uma pessoa que as vezes a gente acha que é melhor
do que a gente, a gente se acha inferior
Lohaine: só pra se sentir mal
Alice: aham, a gente se acha inferior aquela pessoa fala "nossa, ela cuida tão bem do bebê, o
bebê ta com não sei quanto kilos, ta isso, ta aquilo" Com Miguel,é desse jeito, antes eu tava
negócio com pegar, mais botava as coisas pro menino e ele não pegava "ah mais era uma
lerdeza" eu falava que Miguel era uma lerdeza, "Mais esse Miguel é uma pamonha mesmo, o
guri não pega o negócio, fulano já é bem mais, já pega as coisinha" foi indo ele aprendeu,
aprendeu apegar, agora tudo que você, agora tudo que cê, ele não vira assim, ele vira assim
mais de lado, mais não vira assim de bruço, pra rola, aí esse dias mesmo eu deixei meu celular'
lá carregando, eu deixei ele lá, na cama também, e vim aqui lavar a mamadeira dele, na hora
que volto lá ta o guri com o celular e o carregador na boca, ele já tinha pegado, agora assim,
pegar, ele pega bem, qualquer coisa que você dá pra ele assim, ele já pega, antes era a mãozinha
mais dura assim, agora não já pega certinho
Lohaine: faz todo o movimento né
Alice: éé, passa com o cabelo perto dele, ele puxa assim.
Lohaine: entendi, mas é assim mesmo..
Alice: ééé, mas a gente fala que ele é bem ativo, tem hora que tenho até medo dele se igual o
primo dele, o primo dele é autista.
Lohaine: ah sim, entendi.
Alice: aí tem hora que eu fico pensando "vai esse nenê é autista também", porque o Marcos é
terrível ele, tempo inteiro que ele ta assim, se tem que, ou se ele não tiver brincando no celular,
se tem que fazer alguma coisa, se tem que ficar de olho nele... ele fica "qual que é a senha do
Wi-fi" "não tem wi-fi aqui Marcos" aí ele, esse dia mesmo ele veio aqui em casa, aí tem aquele
cachorro pequinininho ele corre, o cachorro corre atrás dele, aí ele passou perto do termometro,
já ficou apertando e desapertando o botão, "Marcos não mexe Marcos", e ele fica que sobe em
cima da estante de sapato, ele é terrivel, aí eu fico pensando "Meu Deus do Céu" até mamãe
esses dias falou "será que nenê vai se igual aquele primo dele" eu "Ah, não sei" porque tem
horas que ele é terrível.
Lohaine: Mas isso é coisa que você só tem que esperar né, não pode...
Alice: éé, só esperar, não dá pra ficar ansiosa com uma coisa que nem sabe se tem ou não.
Lohaine: Pois é
Alice: Do primo dele a mãe dela não correu atrás né, porque desde o teste do pézinho já eu
alterado alguma coisa, só que ela não foi sabe.
Lohaine: ah, entendi.
Alice: O do Miguel não, o teste do pézinho dele já deu normal
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Lohaine: Tem que ir atrás, porque o teste do pézinho ele descobre um monte de síndrome
perigosas
Alice:Sim, verdade... o bebê da menina aqui pra cima, ela fez o teste do pézinho dele e daí o
dele deu um trem lá diferente do de Miguel, ela veio aqui pra comparar, aí o dela tava dando
tipo que ele fez transfusão, que ele recebeu sangue, só que ela falou que não recebeu nenhum
sangue, porque quando ele nasceu, ele teve ictericia, ele ficou la, ela veio embora aí a equipe lá
ligou pra ela voltar e ela voltou e ele ficou, aí durante o dia ele ficava e ela ficava com ele e
durante a noite ela tinha que vir embora, aí ela fala que ele nunca recebeu sangue, mas lá no
teste do pézinho ta falando que ele recebeu, ela falou que ia lá vê mais nem num foi.
Lohaine: entendi, mas eu acho então que é só isso...
Transcrição do 1° encontro com Bianca
Realizada: 20/12/2019
Duração: 1:04:16s
Lohaine: vamos começar conversando um pouco sobre a sua maternidade, como é que está
sendo a sua maternidade? Dessa vez.
Bianca: A tá sendo bem sobrecarregada né, como eu digo que cuidar de 3 ao mesmo tempo dá
um pouquinho de trabalho, E também porque assim ela ainda é pequenininha e ela ainda
mamava no peito, aí agora com ele ela ver né ele mamando e aí ela fica com vontade de mamar
e quer mamar, tem dia la mama também né, mas é pouco.
Lohaine: entendi, e quantos anos ela tem?
Bianca: ela tem três.
Lohaine: tem três? E ela ainda estava no peito?
Bianca: Tava no peito ainda.
Lohaine: não mas é bom, Ave Maria melhor remédio é o peito.
Bianca: aí ela mama, ela vê aí ela fica com vontade de mamar e vem se esfregando, mas ela
entende eu vou conversando né com ela, mas tá sendo assim bom né, um filho assim eu acho
que é um presente de Deus né.
Lohaine: Sim, e você está bem?
Bianca: Tô, Acho que sim.
- risos
Lohaine: Por que acha?
Bianca: Eu não sei, tipo, às vezes eu fico muito cansada né, as crianças começam a chorar do
nada assim mas….. é igual assim, eu falo assim para as minhas amigas, é normal eu acho que
todas as mães têm isso né.
Lohaine: aham, Ainda mais você com três né?
Bianca: Ééé
Lohaine: e cadê a outra? Tá dormindo?
Bianca: Tá dormindo!
Lohaine: Dorminhoca?
Bianca: Ela dormiu de madrugada já, que Leandrofalou, umas 2 horas da manhã assistindo
desenho.
Lohaine: nossa
Bianca: e ele dormiu e ela ficou aí, ela não desliga a televisão enquanto não manda dormir ela
não vai né.
Lohaine: uhum
Bianca: aí foi dormir essa hora, por isso que ela tá dormindo até agora
Lohaine: e ela acorda cedo ? Ela tem escola, Ela estuda?
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Bianca: tem, mas já tá de férias já.
Lohaine: aham, mas quantos anos ela tem?
Bianca: tem seis
Lohaine: aí é uma de 6, uma de 3 e o Vitor de ...
Bianca: três meses também
Lohaine: três meses, tudo três
- risos
Bianca: de três em três
Lohaine:uhum, entendi. E você tem família aqui perto? Que te ajude?
Bianca: Não, que mede o dessa nós aqui mesmo, Maurício, eu e Leandroné.
Lohaine:aham
Bianca: mas a minha irmã mora no 1º de Março, aí ela às vezes, quando ele nasceu ele já veio
aqui né, me ajudou com algumas coisas, mas eu também não sei parece que eu tô incomodando
sabe, aí eu não gosto que a pessoa vem e me ajuda, esses dias a minha sogra veio para cá, Passou
três dias aqui e ela reclamou que eu toda hora vinha e pegava o Vitor dela, mas assim ele
começa a chorar e parece que ele tá incomodando sabe, porque ela já tem 65 anos né E aí eu ia
lá pegava ele, e ficava lá fica fazendo almoço e com ele no colo, aí eu e ela não temos tanta
intimidade assim né para conversar sobre todas as coisas, E aí ela ficava aqui só que ela ficava
sentida, ela achou que eu que não tô deixando ela pegar ele.
Lohaine: ela achou que você não...
Bianca: Eu não sei parece que eu tô incomodando, tipo eu, não é que eu não aceite ajuda, é
igual o Leandrofala para mim "você não aceita que as pessoas te ajude "mas eu não gosto,
parece que eu tô atrapalhando, que eu tô incomodando sabe?
Lohaine:uhum
Bianca: mas essas coisas eu dou conta sozinha, vai indo.
Lohaine: mas eu imagino que deve ser muito difícil com três crianças pequenas.
Bianca: um pouquinho
Lohaine: misericórdia, E como você tem se sentido além desse cansaço?
Bianca: Bem né, graças a Deus com saúde e acho que o importante é isso né, mas eu acho que
sim tudo bem sim.
Lohaine: tá satisfeita com os bebês ? quer mais um ou tá bom?
Bianca: Não, ele já veio de enxerido né.
Lohaine: você já queria ter parado com as duas meninas?
Bianca: Sim com as duas meninas, mas tipo Leandroele queria ter um menino, sempre quis ter
um menino né...
Lohaine: aham
Bianca: quando eu engravidei da Cecília ele ficava que "é um menino, um menino, um menino
"aí fez a ultrassom, menina. e ele ficou assim, não assim chateado né….
Lohaine: ficou sentido né
Bianca: É, ficou um pouquinho assim porque queria Menino né, aí quando eu descobri que tava
grávida dele, foi uma surpresa, aí a gente fez a ultrassom, e Eu já imaginava que era outra
menina, já que já tinha duas né.
Lohaine:uhum
Bianca: fez a ultrassom, quando ela falou que era menino meu Deus do céu, ficou totalmente
diferente a cara dele de quando a gente veio da ultrassom da Cecília e dele, ele vinha olhava
todas as lojinhas de roupa de bebê, que ia comprar meu sei o que De bebê, de menino que ia
comprar uma chuteira para jogar futebol….
Lohaine: ficou todo feliz!
Bianca: e ele depois que ele saiu do serviço, que ele acertou os problemas né, no começo do
ano a gente passou um pouquinho de aperto financeiro né, por causa de exame, do ultrassom, e
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o fato de ser um menino que estimulou ele para, assim, ter mais ânimo sabe, até quando ele
nasceu assim parece que ele veio não para mim sabe, mas para ele, por ele sabe? Eu acho que
eu vejo isso.
Lohaine:uhum, que legal. E ele te ajuda bastante? Ele é companheiro?
Bianca:é, sim bastante, bastante mesmo assim, todas as coisas né eu e ele né, aí a Lúcia já é um
pouquinho maior e ela ajuda com algumas coisas né, mas é mais eu e ele aqui em casa, e ele
ajuda muito, ele faz comida, limpa a casa, tudo tudo, limpar ele, dá banho nela sabe, dobrar
roupa, ajuda lavar roupa, ele é um paizão mesmo.
Lohaine: bem parceiro né?
Bianca: É
Lohaine: é, eu vi, porque quando você ia nas reuniões você ia sozinha né, não levava as
menininhas...
Bianca: é, ele ficava com elas aqui.
Lohaine: porque geralmente quando as mães têm bebê pequeno, crianças pequenas igual elas
né, acaba tendo que levar porque o pai não fica.
Bianca: A, ela não para (se referindo a Cecília) Ela não fica quieta um minuto, e a outra maior
fica quietinha né, agora ela não 3 anos tem muita energia, mas energia que eu, para gastar ela
não para, fica para lá e para cá, mexe uma coisa e nem outra aí não dá certo levar sabe, levar
ela no lugar que tem que fazer silêncio não dá, por mais que não acontece isso, porque os adultos
falam mais que as crianças lá né, mas ela não para, aí ele ficava com ela.
Lohaine: que bom, o Leandrosempre foi um bom rapaz, Que bom que ele é um bom marido.
Bianca: é, ele é .
Lohaine: porque eu não sei se você sabe, mas eu conheço ele...
Bianca: você não, mas tem a sua irmã, ele sempre falava dela.
Lohaine: eu conheço ele acho que…. ah, eu era adolescente.
Bianca: é?
Lohaine: Quando eu conheci ele. teve um tempo que ele vivia lá em casa.
Bianca: ah Leandroé bandoleiro, vai para todo canto a gente tem gente que ele conheceu assim,
todo mundo que conhece ele gosta dele né, aí para, tipo uma pessoa que ele conheceu há muito
tempo, há muito tempo que não vê aí que ele passa em frente à casa da pessoa, que ele trabalha
de Uber né, aí ele anda cidade inteira "Ah não tô com passageiro eu vou parar lá, vou lá " eu
"Leandropelo amor de Deus"
Lohaine: Mas é bom assim.E as outras, elas estão lidando bem com o novo bebê? Além dessa
com mamar?
Bianca: até que sim, o negócio dela porque ela assim, ela quer fazer carinho, às vezes pode
machucar tipo ela quer abraçar e aperta muito ele, mas ela é em geral gostaram bastante, eu
achei que ia ser mais difícil né, ter o novo bebê e tal, principalmente ela (se referindo a Cecília)
que eu fiquei mais...
Lohaine: preocupada né
Bianca:uhum, preocupada. Mas foi tranquila Sim, quando chegou, mas acho que também é
porque o menino, é diferente, e é um bebezinho, e ele parece bastante com a outra, e então ela
ficou encantada, é completamente diferente de quando ela nasceu, porque ela não sei parece
que ela rejeitou um pouco, por ser menina né.
Lohaine: Talvez porque ela era muito novinha né, tinha três aninhos quando essa aqui nasceu
né?
Bianca: Tinha 4 anos eu acho, que ela tinha, ela tipo meio que rejeitou um pouco, e ela também
sabe, vê que ela gostou né, a gente vê um bebezinho e ela é bastante cuidadosa, tem esse lado
dela de cuidar, de proteger sabe, é diferente da outra , que a outra não é muito assim de proteger
e cuidar não, ela é malvada mesmo, mas ela até na hora que ela machuca a, ela vai na intenção
de proteger, de fazer carinho né, mas ele é pequenininho...
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202
Lohaine: não tem noção da força ainda né, essas coisas né.
Bianca: já vai dormir (se referindo ao Vitor) ainda mais com esse tempinho que tá fresquinho
Lohaine: eles aproveitam né
Bianca: tão bom para dormir.
Lohaine: é é, Deixa eu te perguntar, você ainda estuda?
Bianca: não, já terminei já.
Lohaine: você terminou o ensino médio?
Bianca: aham
Lohaine: hum, Entendi, E você trabalha?
Bianca: Não, nunca trabalhei de carteira assinada, nada, está em casa mesmo. Eu tive Lúcia
com com 15 anos, aí eu tava no primeiro ano né, aí eu parei, aí sempre era para eu ir estudar e
ficava adiando e adiando, aí uma amiga minha falou desse INSEJA que é do governo né,
governo não….
Lohaine: é, do governo.
Bianca: do governo né?
Lohaine: uhum
Bianca: Então para mim fazer a prova e aí dependendo das notas né eu passava, e eu fiz esse
aí, porque assim para mim tá todo dia fazendo o CEJA, é EJA na verdade que chama, o EJA
todo dia né, pelo menos duas vezes na semLúcia é tinha que ir né E eu achava que para mim
não tinha como né, eu ir né, porque é por causa das meninas, das coisas para fazer, e eu achei
esse daí tipo um domingo só se faz a prova e Pronto né, e eu terminei com isso daí, aí eu peguei
o certificado esse ano, no começo do ano.
Lohaine: huuum, entendi, e Mauricio? Ele terminou regular?
Bianca: Ele, Ah o dele ele começou a fazer faculdade e parou, no segundo semestre se eu não
me engano, de administração que ele estava fazendo.
Lohaine: entendi, parou por quê?
Bianca: Não sei...
Lohaine: questão financeira outra coisa?
Bianca: Eu não conhecia ele na época.
Lohaine: Ah sim entendi
Bianca: não sei
Lohaine: ele é mais velho né? Quantos anos ele tinha quando você engravidou?
Bianca: Tinha 22, 21 ou 22 anos, porque ele é 7 anos mais velho que eu, eu tô com 22 e ele vai
fazer 30 né, é vai fazer 29 ou 30.
Lohaine: entendi.
Bianca: . Ele é sete anos mais velho.
Lohaine: você engravidou adolescente né, e como é que foi, Foi muito difícil para você?
Bianca: Ah um pouquinho, mas por causa do julgamento das pessoas, e a Lúcia Clara ela nasceu
com o intestino para fora e de 7 meses
Lohaine: eu lembro dessa história
Bianca: aí no dia que ela nasceu, eu fui no postinho eu morava em Acorizal na época e aí quando
eu fui lá, eu tava com sangramento e com uma cólicazinha fraca e eu não sabia ainda né, como
que era na hora de ter o bebê né, por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal Porque
na época lá nem nas enfermeiras mesmo não falavam, porque eu tava de 7 meses ainda não
chegou o ponto de falar "a quando você tiver sentindo isso isso isso é quando o bebê vai nascer
"E aí eu fui e a mulher falou que era infecção urinária e passou um soro para mim E aí o
motorista da ambulância que falou "não vamos levar ela para o Santa Helena né, qualquer
coisa" e ela nasceu...
Lohaine: aham
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Bianca: Chegamos aqui e não demorou muito tempo ela já já nasceu de parto normal, me deram
soro tudinho mas não conseguiu segurar, quando a doutora deu um toque já tava com uns 10cm
já E aí na hora que ela nasceu, aí a enfermeira levou um susto e falou para mim " você não
sabia que ela tava assim? "Aí eu eu fiquei "Como assim né? " E aí que elas foram explicar para
mim que ela tinha nascido com intestino para fora e que ia ter que fazer cirurgia tudo mais, E
aí eu vi a enfermeira, ela virou as costas para mim e falou assim "essa daí deve ter tomado
remédio para abortar e não deu certo" e saiu do quarto, da sala, aí eu não sabia o que fazer e
tipo eu não sei se é porque eu passei a gravidez inteira ouvindo "Ah você não toma remédio?
Você não preveniu? E aí parece que todo mundo ficava olhando e julgando que eu era culpado
de ela ter nascido daquele jeito mas ainda sim deu tudo certo.
Lohaine: ela passou pela cirurgia né?
Bianca: Ela fez a cirurgia no Júlio Muller
Lohaine: quando ela tinha quantos anos?
Bianca: Tava com três dias, três dias de nascida.
Lohaine: foi bem pequenininha né
Bianca: É porque a cirurgia tem que fazer rápido né
Lohaine:Entendi
Bianca: três dias de nascido, na hora, 2 horas antes mais ou menos dela fazer a cirurgia ela teve
uma parada cardíaca aí reanimaram ela e voltou, aí iam examinar ela e esperar um pouquinho
para fazer a cirurgia mesmo ou não, só que aí o cirurgião falou que tinha que fazer logo e ela
fez a cirurgia graças a Deus deu tudo certo.
Lohaine: Deu tudo certo a cirurgia?
Bianca: foi pelo umbigo, aí se você não conhecer as histórias e nem fala que ela tem uma
cirurgia né.
Lohaine: entendi, nem fica cicatriz né.
Bianca: não, é pelo umbigo que eles fizeram, é porque eu acho que ela era muito pequenininha
né.
Lohaine: não é que hoje eles fazem muito essas por vídeo assim, que usa umbigo
Bianca: é, perfeitinha a cirurgia.
Lohaine: que bom, E como é que foi cuidar, com 15 anos cuidar de um bebê recém-nascido e
ainda de pós-operatório?
Bianca: ah, Foi assim porque ela teve alta, já com dois meses né, então já tava maiorzinho, a
única coisa porque assim ela não pegava peito né, depois que ela teve alta que era para dar, que
ela não podia mamar no peito ainda, porque depois da cirurgia ela não tava fazendo cocô e eles
falaram que ela não poderia mamar nada aí eles fizeram aquela alimentação parenteral, na
sonda, mas só que ela não mamou no peito né, era NAN... (Conversa com a filha Cecília)...
Mas deu tudo certo, tinha a minha cunhada que me ajudava né, a irmã de Maurício, ela me
ajudava, ela já tinha um bebê né...
Lohaine: aham
Bianca: Mas uma experiência e foi indo né
( a entrevista é interrompida pela filha Cecília)
Lohaine: é só a mãe para atender a metade das coisas que ela diz né, eu quase não entendo que
ela fala.
Bianca: Às vezes acho que nem ela entende direito o que ela fala, e eles querem falar rápido, já
fala tudo errado e ainda quer falar rápido as coisas.
- risos
Lohaine: e você acha que a sua idade ajudou, você ser mais velha para ser mãe e depois?
Bianca: Ajudou como assim? Já amadurecer?
Lohaine: é, você ter sido mais velhas quando você engravidou depois?
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Bianca: Sim, Acho que sim a gente aprende né, porque assim quando eu morava com a minha
irmã eu cuidava da minha sobrinha, eu já tinha noção um pouquinho das coisas né
Lohaine: de cuidar de criança né?
Bianca: uhum, de cuidar de bebê a primeira era uma criança quando eu fui lá, tinha seis meses,
a outra tava maiorzinho, mas assim né é diferente quando você cuida da criança e quando é seu
filho né, mas ajudou bastante ela amadurecer, hoje mesmo eu sou muito sei lá eu acho que eu
não confio muito nas pessoas sabe, eu sou muito…. é um pouquinho que atrapalha né, você
desconfia de todo mundo, Principalmente quando em relação aos seus filhos né
Lohaine: é, mas do jeito que está o mundo não dá para você confiar cegamente nas pessoas,
Deus me livre.
Bianca: é, verdade, não gosta delas ficar pegando as coisas, tipo balinha, essas coisas dos
outros, comida, essas coisas eu não gosto, não deixo, que hoje em dia a gente tem que ficar com
os olhos bem abertos...
Lohaine: E você morava lá em Acorizal né?
Bianca:Quando eu tive Lúcia, quando ela nasceu a gente já mudou para cá, em abril de 2013.
Lohaine: e você nasceu lá?
Bianca: Nasce em Rosário mas sempre morei lá
Lohaine: uhum
Bianca: aí eu vim para cá para morar com a minha irmã que mora no primeiro de março, com
9 anos, aí eu vim morar com ela, que eu tive uma tuberculose e fiquei internada no pronto-
socorro né, E aí a minha mãe não sabia ver a hora essas coisas para dar o remédio, que tem que
dar certinho né, no horário certinho não podia passar da hora, E aí é minha irmã se prontificou
a ficar comigo, a cuidar de mim né, E aí eu vim morar com ela, na época ela morava no
PlLúcialto E aí fiquei morando com ela desde sempre, aí quando eu mudei para Acorizal que
eu conheci Leandroe aí a gente já casou, mas se não eu acho que Estaria morando para lá até
hoje.
Lohaine: aham, você casou, você foi morar com Leandroantes da Lúcia nascer?
Bianca: É, a gente, não, a gente veio morar junto mesmo quando ela nasceu, a gente alugava
uma kitnet aqui no Alto das Boa Vista E aí foi indo, que a gente foi morar junto mesmo foi em
2013, quando a Lúcia nasceu.
Lohaine: 2013 né
Bianca: É
Lohaine: se você quiser ir fazer alguma coisa para ela, levantar, você pode ficar à vontade tá,
não precisa ficar aqui sentada não….
Bianca: tá bom
Lohaine: E aí depois vocês vieram direto para cá, como é que foi você com bebê pequeno vir
morar para cá, não conhecia, recém-casada?
Bianca: ah eu acho que tava bem né, eu confiava nele, gostava dele e a gente foi indo, ele me
ajudou, desde sempre né ele sempre me ajudou, me apoiou bastante e eu apoiando ele, e eu
acho que tu já bastava para gente né, mas foi difícil também, aí ele tava trabalhando em Acorizal
né, teve que largar o serviço lá para vir para cá, mas só que para ele fosse mais fácil porque ele
já trabalhava aqui né, já conhecia tudo, aí ele foi através de amigos conseguindo serviço e foi
indo.
Lohaine: na empresa que ele trabalhava agora, que tá na justiça, ele trabalhava de quê?
Bianca: Na carteira é motorista né, mais ele fazia tudo, ele fazia a contabilidade, ele era
vendedor era tudo, serviço geral.
- risos
(a conversa novamente interrompida por Luísa)
Bianca: Joga esse aí lá no lixo para mãe, por favor (se dirigindo a Cecília que brincava com 1
lenço umidecido).
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Lohaine: a minha irmã se visse esse cabelo dela ficava doidinha, minha irmã tem cachos né
Bianca: Aqui em casa cabelo cacheado só tem ela
Lohaine: só ela? a outra não tem também?
Bianca: Não, da outra liso, não sei como porque nem o meu é liso, assim da minha mãe é, da
minha mãe é tipo índia sim, então dela é bem liso e grosso que é os fios, mais ninguém assim
dos nossos irmãos tem cabelo liso, só ela, eu falo que ela faz progressiva no cabelo dela
escondido, porque não é possível que ninguém tenha cabelo liso. (risos) aí só a Lúcia e o Vitor
parece que vai ficar liso, não sei, e minha outra sobrinha que tem cabelo liso o resto é tudo
cacheado também.
Lohaine: e quando você voltou para cá, quer dizer quando você veio para cá, Vocês decidiram
que você ia ficar em casa cuidando do bebê?
Bianca: Não é que a gente decide, acho que vai deixando né, foi assim com a Lúcia, aí a gente
sempre pensa assim "vou trabalhar quando a Lúcia fazer pelo menos 5 anos, que ela já vai falar
as coisas "fala o que aconteceu né e tal, fala como ela tá né, E aí vem a Cecília, e a gente fala
de novo né, vamos deixando deixando e, acho que a gente vai deixando né E aí aí hoje eu tô
com Vitor pequenininho e não tem como trabalhar também.
Lohaine: e você sente falta? Você gostaria de trabalhar? Ou não, você tá feliz assim?
Bianca: Assim, não, eu queria trabalhar, eu queria ter dinheiro, para gente né, porque igual
agora a gente mudou para cá comprou a nossa casa, aí a gente quer né comprar os nossos móveis
todinho, mas para ajudar né que às vezes eu sinto que estou folgada, que eu estou só gastando
as coisas e não ajudo, mas igual ele mesmo conversa "não, você tá aqui você cuida das meninas,
você faz as comidas, Você faz tudo né, coisas que eu não posso fazer porque não estou aqui, se
se você não estiver quem vai fazer? ninguém vai cuidar das meninas, cuidar da casa como a
gente faz que a mãe né
Lohaine:uhum
Bianca: então eu pretendo quando ele estiver maiorzinho né, maiores, tem vontade de trabalhar
para ajudar também na renda, é mais a questão da renda mesmo né
Lohaine: você fica preocupada né?
Bianca: É
Lohaine: entendi
Bianca: parece que fica só sobrecarregando ele né
(vamos novamente interrompidos por Cecília)
Bianca: Ô Meu Deus, vem o tetê aqui. (começa a amamentar Cecília)
Lohaine: é, a gente vai começar a fazer um, agora você já viu falar de árvore genealógica?
Bianca: não
Lohaine: é mais ou menos o esquema para gente representar a sua família tá? Aí a gente começa
primeiro pela sua mãe, sua mãe era casada com seu pai?
Bianca: Sim
Lohaine: era? Eles ficaram casado até o fim? Ou ainda são vivos?
Bianca: É, só a minha mãe, meu pai faleceu eu tinha, ia fazer 1 ano de vida.
Lohaine: da Lúcia?
Bianca: Não, eu!
Lohaine: aaaah, você fazer um ano, então nem conviveu...
Bianca: ééé, não.
Lohaine: E a sua mãe casou de novo?
Bianca: Ela tem namorado né, cada ano...
-Risos
Lohaine: tem vários namorados mas nunca casou?
Bianca: não, casar mesmo não.
Lohaine: e ela tem filhos com outro namorado?
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Bianca: Não
Lohaine: ou só tem com seu pai
Bianca: só com o meu pai, nós somos 5 né, nós somos seis, ela teve seis filhos com ele e não
teve mais filhos, depois que ele faleceu
Lohaine: entendi, e os seus irmãos Qual é a ordem? Não precisa por o nome mas se é menino
ou menina. é mais velho?
Bianca: é menina, mulher
Lohaine: uhum, e depois?
Bianca: Outra mulher, aí dois homens e aí duas mulheres de novo
Lohaine: São seis?
Bianca: Sim, 6.
Lohaine: você é a caçula?
Bianca: Sou
Lohaine: essa aqui é você (apontando no esboço do genograma que a pesquisadora fazia no
caderno)
Bianca: aaah
Lohaine: agora você consegue fazer o do Maurício?
Bianca: Ixi
Lohaine: Leandroe a mãe dele era casada com pai?
Bianca: Era, só que hoje eles são vivos mas são separados
Lohaine: são separados né?
Bianca: É, aí primeiro vem quem? A Maria da Glória e a Lenise, duas mulheres..
Lohaine: uhum , não tem gêmeos né?
Bianca: Não, é que se é de outro pai
Lohaine: aaaaah então ela era casada antes?
Bianca: É, era casada com uma pessoa, aí ele faleceu e ela casou de novo e teve….
Lohaine: o Mauricio? Deixa eu desenhar aqui de novo. Então ela, a mãe dela que ela era casada
com homem, aí ele faleceu.
Bianca: é, teve duas meninas e aí ele faleceu.
Lohaine: aí teve duas meninas
Bianca: é, duas meninas
Lohaine: só?
Bianca: Só
Lohaine: aí ela casou novamente, com o pai do Maurício, E aí?
Bianca: É, aí ela teve, quem veio primeiro? O…. Ai meu Deus quem que é o mais velho deles?
eu não sei quem que é o mais velho assim por ordem
Lohaine:uhum
Bianca: Acho que primeiro é o maurindo, homem.
Lohaine:uhum
Bianca: Aí vem o Agnaldo, outro homem, aí é a Marcia, uma mulher né E aí o Leandroe o
Magno, dois homens de novo.
Lohaine: e o Maurício
Bianca: é
Lohaine: aí ele se casa com você e tem, a Lúcia, Lúcia?
Bianca: Lúcia Clara
Lohaine: Lúcia Clara né, E aí Cecília e o rebento Vitor.
Bianca: é
Lohaine: seis anos, três anos e 3 meses
Bianca: 3 meses é
Lohaine: prontinho
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Bianca: é, eu tive três.
Lohaine: pois é, Qual que é a sua cunhada que você falou que te ajuda? Que veio para cá e te
ajudar?
Bianca: é a Marcia
Lohaine: Essa aqui? (Apontando para o genograma)
Bianca: é, ela que é a madrinha da Lúcia também, ela que ajudou bastante a gente.
Lohaine: Quando a Lúcia nasceu né?
Bianca: É
Lohaine: ainda é próxima de vocês?
Bianca: Bastante
Lohaine: e qual os outros irmãos do Maurício….. aaaaah, ela é casada?
Bianca: Sim
Lohaine: e tem quantos filhos?
Bianca: Tem só uma menina
Lohaine: e ela só é casado uma vez né
Bianca:aham
Lohaine: É por causa que as pessoas que são mais próximas a gente tenta representar também
a família dela né, e você a próxima do marido dela também? de todo mundo?
Bianca: Sim, também de todos, ele é meu padrinho né bem próximo, bem próximos mesmo,
quando a gente precisa de alguma coisa, quando eles precisam…..
Lohaine: eles são sua referência?
Bianca: Sim, bastante.
Lohaine: Entendi, e da sua família quem você é mais próxima?
Bianca: das minhas duas irmãs
Lohaine: essa aqui? Qual?
Bianca: É as duas mais velhas.
Lohaine: essas duas?
Bianca: É, por quê a outra faleceu
Lohaine: huuuum
Bianca: acho que em 2013, outubro de 2013.
Lohaine: nossaaa , Então tinha acabado de ter a Lúcia né?
Bianca: éééé, ela e, a gente engravidou quase juntos, E aí a Lúcia nasceu em abril e ela tava de
8 meses de gestação, era uma gravidez de risco Porque ela tinha reumatismo e Vitiligo também,
e ela fazia pré-natal no Júlio Muller, com reumatologista tudinho, aí tava tudo normal com oito
meses ela morava em Acorizal com a minha mãe e aí ela veio para uma consulta e ela ficava
lá em casa que eu morava lá no Alvorada na época e era mais perto do Hospital né E ela vinha
e ia para casa da minha irmã no primeiro de março, aí à noite ela pegou o ônibus levei ela no
ponto e ela foi, E aí ligou do SAMU que ela tinha desmaiada no ônibus se tinha encaminhado
ela para o Santa Helena, E aí eles fizeram o exame e falaram que a pressão dela tava alta, bem
alta, e aí tiraram a minha sobrinha e com um mês e um dia depois que ela nasceu, que ela ficou
na UTI né depois do parto ela ficou na UTI e ela faleceu, depois de um…. eles lá foram entubar
ela e o, Como que fala... o pescoço dela disse que era muito fino não sei direito como eles
explicaram e eles foram entubar e perfurou o pulmão dela, e Tava sangrando e no procedimento
para estancar né, o sangue do pulmão que ela faleceu.
Lohaine: entendi
Bianca: ela teve pouco tempo né Depois que ela teve intubação e...
Lohaine: a cirurgia?
Bianca: É
Lohaine: mas e aí a sua sobrinha? quem fica com ela?
Bianca: A minha irmã mais velha, essa que mora no 1º de Março
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Lohaine: irmã mais velha que cuida?
Bianca:aham
Lohaine: e essa sua irmã que morreu era casada?ou não?
Bianca: Não, Ela só teve namorado, namorou com o pai da minha sobrinha mas eles não
estavam juntos, tanto que na época ela estava namorando com outra pessoa já, Só que também
era porcaria, Tipo ela ficou aqui na UTI e ele nem ligou sabe, ficava indo na festa lá e nem
ligava para ela.
Lohaine: e é menina ou guri essa sua sobrinha?
Bianca: Menina
Lohaine: aí qual das, é sua irmã mais velha que cuida?
Bianca: é, ela que cuida.
Lohaine: ela é casada?
Bianca: É
Lohaine: ela tem quantos filhos?
Bianca: Olha, Micael, Eduarda, Evelyn e Emily, 4
Lohaine: quatro?
Bianca: Sim
Lohaine: Michael, Eduarda, Evelyn?
Bianca: Evelyn e Emily e é Sofia né
Lohaine: e a Sofia , depois quem veio aqui pega não entende nada né
Bianca: Sim, só você mesmo para entender
Lohaine: e essa outra irmã que você falou que é bem próxima também , ela é casada?
Bianca: É, não, ela é casada agora tá namorando.
Lohaine: a então Ela separou e começou outro relacionamento
Bianca: isso
Lohaine: do primeiro ela teve filhos?
Bianca: Teve, ela teve de cada, de cada marido dela teve um filho, já tem três filhos...Só que
ela cuida de dois
Lohaine: Ela tá no terceiro relacionamento?
Bianca: Quarto
Lohaine: no quarto?
Bianca: no quarto na verdade
Lohaine: então, com o primeiro marido que ela separou ela teve 1?
Bianca: teve um
Lohaine: tá, menina?
Bianca: Menino
Lohaine: menino, aí ela casou de novo
Bianca: de novo
Lohaine: deixa só eu ver a ordem
Bianca: aí ela teve outro filho
Lohaine:uhum
Bianca: só que esse Quando Ela separou ele ficou com a guarda dele
Lohaine: aham, e se ela não cuida?
Bianca: Não
Lohaine: é guri também?
Bianca: É menino também, todos são meninos
Lohaine: segundo, aí ela teve?
Bianca: Aí ela casou de novo, e seu casamento mais longo eu acho.
Lohaine:aham
Bianca: aí ela teve outro menino
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Lohaine: só tem guri?
Bianca: só guri
Lohaine: e agora ela está no outro relacionamento?
Bianca: Agora ela tá em outro mas não teve filhos, ela tem engravidou mas perdeu, mas ela
tava de pouquinho semLúcias.
Lohaine:E essas suas irmãs Elas moram aqui em Cuiabá?
Bianca: Moram, essa mora no primeiro de março essa mais velha
Lohaine:uhum
Bianca: que até coisa da Sofia, e a outra mora no São Gonçalo, mas os dela tão grandão já
Lohaine: você é próxima das duas?
Bianca: Sim
Lohaine: bem próxima das duas também né?
Bianca: uhum
Lohaine: entendi, e da família do Leandroé só essa que você é próxima?
Bianca: Só, infelizmente. porque eles não são muito de…. ficar sabe, de preocupar com os
outros, eles são falsos digamos assim né.
Lohaine: então você não se dá bem com a família dele?
Bianca: Não muito, nem ele próprio só com a mãe dele e o pai dele, o resto....
Lohaine: então é uma irmã do Maurício, isso aqui é o que a gente chama de ecomapa, esse que
a gente representa a sua rede de apoio, Tipo quem é que te ajuda, com quem você pode contar,
então a gente coloca que essa família no meio e a gente representa os tipos de relacionamentos
que você tem com elas, quem é mais próximo aí a irmã do Maurício, que é a madrinha da Lúcia
né, aí a família da sua irmã mais velha né, Como que é o nome da sua irmã mais velha é?
Bianca: Renata
Lohaine: TatiLúcia
Bianca: Renata
Lohaine:ne?
Bianca:aham
Lohaine: Renata né que a sua irmã, Bianca, sua que é outra relacionamento forte que você tem,
que você falou que é bem próxima a ela, aí tem a outra que a sua segunda irmã mais velha.
Bianca: é Roberta o nome dela
Lohaine: e você é próxima do marido dela ou só ela?
Bianca: Sim também, ele é bem ativo na família né, no grupo da família
Lohaine: E a sua mãe? Você tem um relacionamento forte com ela?
Bianca: É, mais ou menos, acho que eu tenho um relacionamento mais forte entre irmãs do que
ela sabe, mas é porque a minha mãe ela não, como eu posso dizer, ela tem uma certa idade, Ela
já tem 65 anos não tão velha mas ela não entende muito as coisas, tipo a gente dela, porque ela
não entende muitas coisas, acho que ela trabalhou muito já viveu muito, teve uma vida muito
sofrida doméstica sabe, e ela fala que era maltratada na casa dos patrões delas e tal, e hoje assim
para ela aconteceu mas não aconteceu, tipo ela fala que eu era gêmea, que tinha um menino,
tem hora que ela fala que é um menino tem hora que é uma menina, mas foi a minha irmã mas
ela fala que ela teve um menino e perdeu mas não sei se é verdade porque uma coisa que ela
fala sabe, mas não tem nada que comprove, um laudo médico né alguma coisa assim.
Lohaine:uhum
Bianca: só que é uma coisa forte assim, porque assim às vezes ela tem uma lembrança que ela
perdeu esse bebê e tem vez que ela fala que eu era gêmeos desse bebê e que ele nasceu morto.
Lohaine: é uma história bem confusa
Bianca: é, nessas coisas assim que você não sabe se aconteceu mesmo ou não, até coisa assim
de agora mesmo ela fala que aconteceu mas não aconteceu.
Lohaine: e ela tem alguma doença, você já viram?
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Bianca: Segundo não, a gente tá fazendo exames agora né nela para ver se tem alguma coisa né
Lohaine: Talvez o Alzheimer né
Bianca: É, e ela tomava remédio para labirintite e agora que o médico falou para mim, era o
cinarizina, e o médico falou que esse remédio causa Alzheimer nas pessoas né e que eles não
estão usando mas ele, os médicos não estão passando esse remédio.
Lohaine:uhum
Bianca: e falou para trocar
Lohaine: entendi,e o restante da sua família?
Bianca: é os meus dois irmãos, não tem problema mental, não sei se você já ouviu falar do
Felipe lá de Acorizal
Lohaine: ah, você é irmã do Felipe?
Bianca: é meu irmão, e o Alcides que eu chamo ele de Chidão, O apelido dele é Chidão, mas
ele também não é muito próximo não
Lohaine: entendi, seu irmão tem o quê?
Bianca: Olha dizer o diagnóstico dele, ele é difícil lá em casa
Lohaine: qual que é ele?
Bianca: Ele é o depois, antes da minha irmã, esse aqui (apontando para o desenho no
genograma)
Lohaine: seu irmão tem problema mental né
Bianca: uhum
Lohaine: esses tempo atrás ele tava perdido aqui né
Bianca: Tava, ele veio para cá de carona com, pegou uma carona com pessoal do Baús e veio
para cá e largaram ele lá no centro né gente sem noção, de trazer ele, mas às vezes os outros
também não sabe que ele tem esse problema
Lohaine: tão sério né?
Bianca: que às vezes, tem hora que ele conversa normal né e depois que ele, que dá loucura
dele, e ele é agressivo às vezes e esse era meu medo aqui né, mas a chamo ele devolver ele para
Acorizal
Lohaine:uhum, e ele é agressivo assim em casa?
Bianca: As vezes, minha mãe fala que as vezes ele xinga ela, quer bater nela
Lohaine: entendi…. E a sua mãe, você disse que ela teve uma vida muito sofrida, Que ela sofreu
violência em casa do seu pai?
Bianca: Não, em casa não… não sei né, mas do meu pai ela nunca falou assim não
Lohaine: você era pequena né, mas seu pai bebia?
Bianca: Ela fala, então por isso que a gente não sabe né, porque ela fala conta as coisas e a gente
não sabe se aconteceu mesmo ou não, mas ela fala muito disso, igual desse filho dela que
faleceu, mas a gente não sabe dizer se é verdade ou não, mas ela sempre fala só muda a versão
entende por isso que a gente acha que é verdade mesmo
Lohaine: ela só é confusa do que aconteceu né
Bianca: é, isso. aí ela fala que nessa, porque assim antes né, A mulher chegou na casa da minha
avó e pediu para ela para trabalhar de doméstica, que ia cuidar dela e a comprar as roupas e que
não era para ela se preocupar né, que ela ia cuidar dela muito bem, e ela veio para cá para
Cuiabá para trabalhar na casa dessa mulher, e ela tinha uma filha deficiente, na cadeira de rodas
né, E aí ela falava né que batia nela, tem um caso que ela fala que ela bateu nela com fio
do aspirador que é grosso.
Lohaine: a patroa né?
Bianca: Isso a, a patroa dela que disse que batia nela.
Lohaine: entendi
Bianca:mas não sei né
Lohaine: as suas irmãs também não lembram?
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Bianca: Não
Lohaine: elas eram pequenas?
Bianca: Elas eram pequenas, na época a gente não era nem nascido ainda né, porque ela não
tinha conhecido meu pai.
Lohaine: não, eu tô falando do seu pai, as suas irmãs não lembram dele?
Bianca: a, as minhas duas irmãs mais velhas lembram dele
Lohaine: e elas falam como ele era?
Bianca: A gente sabe um pouco também pela memória do povo de Acorizal né, todo mundo
nunca teve uma pessoa que falou mal dele, que é uma pessoa trabalhadora, tem umas que falam
que ele vendia picolé e pipoca, e andando na rua né vendendo picolé e pipoca, mas todo mundo
lá conhecia ele, O apelido dele era João pelenga, não sei se era João pelenga porque ele andava
muito né, pelenga de andar muito vendendo picolé e pipoca, mas ele sempre as pessoas me
falavam que por mais que ele não tinha estudo nada mas ele era muito inteligente, bom de
cálculo né
Lohaine: era uma boa pessoa
Bianca: era, graças a Deus.
Lohaine: alguém da sua família já sofreu algum tipo de violência, e suas irmãs, violência
doméstica? essa irmã aqui que teve bastante maridos
Bianca: não ela…. ah essa daí que batia nos maridos dela
Lohaine: entendi, problema com bebida?
Bianca: Não, Essa é minha irmã, essa que teve bastante maridos mesmo ela bebe bastante, mas
tipo não...
Lohaine: gravíssimo
Bianca: não, ela trabalha, tenha vida dela e do final de semLúcia ela bebe né, bastante. esse
marido dela também agora não bebia, aí começou a namorar com ela começou a beber também,
foi má influência.
Lohaine: entendi, e na família do Maurício?
Bianca: Na família do Leandroninguém bebe desse tanto, é mais a minha família mesmo, que
bebe mais.
Lohaine: e eles sofreram algum tipo de violência, a mãe dele? Alguém é sim?
Bianca: Acho que não, Ela nunca falou isso não
Lohaine: também vocês não são muito próximas né
Bianca: É
Lohaine: você tem amigos aqui que vocês são próximos, que vocês sabem que podem contar
Bianca: ixi, amigo mais difícil, tem um primo dele que é o Zé Luís que….
Lohaine:Ah o Leonardo, eu conheci
Bianca:conheceu? Então ele também, ele e a mulher dele é muito gente boa, e a gente tá...
Lohaine: saem juntos né
Bianca: aham, acho que de todos ele são, mas não é amigo é parente também né, primo.
Lohaine: ele tem quantos filhos, o Leonardo?
Bianca: só um, uma menina.
Lohaine: só uma ainda?
Bianca:uhum, A mulher dele teve pressão alta no parto
Lohaine: Ah sim e aí Eles resolveram parar né
Bianca: é, porque é perigoso né. Já duas vezes que ela passou mal que a pressão dela subiu, e o
médico falou que eu era perigoso né uma gravidez, porque a pressão dela fica oscilando e tal,
mas diz que eles queriam tentar no ano que vem um menino, mas eu não sei se eles vão mesmo
não né, a mulher dele ainda tá meio assim ainda, você conhece a mulher dele?
Lohaine: Não conheço, conheço, eu já vi
Bianca: então, Ela é muito gente boa
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Lohaine: minha irmã conhece mais, sim o Leonardo sempre foi um bom,Ele ainda tá
trabalhando no exército? teve um tempo que ele foi trabalhar para outro estado né
Bianca: disso eu não sei, eu sei que ele não tava trabalhando e agora tá trabalhando de Uber né
também, tem um servicinho no horário comercial e à noite ele faz Uber
Lohaine: só para complementar renda né
Bianca: É
Lohaine: o Leandroque ele está só nisso
Bianca: por enquanto, até dá baixa na carteira dele para ele procurar outro serviço né, porque
ele não pode arrumar outro serviço, porque também ele perde Seguro né, se ele arrumar outro
serviço, então ele tem que esperar
Lohaine: entendi
Bianca: e você não vai parar de mamar mais não? mama mais que o Vitor (se dirigindo a Luísa
que mama no seu peito)
Lohaine: agora eu vou aplicar uma escala que a justamente só para, eu vou lendo para você e
você diz qual que é a sua resposta tá bom?
Bianca:uhum.
Lohaine: hoje é dia 20... 20... Nossa o final do ano tá bem aí
Bianca: pois é
Lohaine: Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas? aí é, tanto como antes, menos
do que antes, muito menos do que antes e nunca.
Bianca: muito mais que antes
Lohaine:Muito mais?
Bianca: Cada vez mais
Lohaine: então vou colocar tanto como antes aqui. tenho tido esperança no futuro, aí tanta como
sempre tive, menos do que costumava ter, muito menos do que costumava ter e quase nenhuma.
Bianca: Menos do que costumava ter
Lohaine: tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal... sim, a maioria das
vezes; Sim, algumas vezes; raramente; Não, nunca.
Bianca:Raramente
Lohaine: Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo, não, nunca; quase nunca; Sim, por
vezes; Sim, muitas vezes.
Bianca: Sim por vezes
Lohaine: Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo, sim, muitas vezes; sim,
por vezes; não, raramente; não, nunca.
Bianca: Não, nunca.
Lohaine: Tranquila do jeito que você é né
Bianca: mais ou menos
Lohaine: Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes não consigo
resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a maioria das
vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.
Bianca: Como? Me perdi na pergunta
Lohaine:Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes não consigo
resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a maioria das
vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.
Bianca: Ah então é sim, a maioria das vezes
Lohaine: a maioria das vezes você senti que não consegue resolver as coisas
Bianca:é , é muita coisa... se for no sentido né que resolvo mesmo a maioria das vezes não
consigo de terminar de fazer as coisas, e vou deixando acumulando para outro dia e assim vai
indo.
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Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal; Sim, quase sempre; Sim, por
vezes; Raramente; Não, nunca.
Bianca: Não, nunca.
Lohaine: não? Você dorme bem?
Bianca: Mais ou menos com o Vitor, mas não de mal...
Lohaine: tipo não por insônia mal por causa que ele tá acordado.
Bianca: é, isso. Se deixar eu durmo o dia inteiro.
Lohaine: Tenho-me sentido triste ou muito infeliz;
Bianca:Não, nunca.
Lohaine: nunca?
(Vitor que estava dormindo no quarto acorda chorando)
Bianca: acordou!
Lohaine: Quer que eu vou pegar ele para você?
Bianca: não espera aí deixa eu ver, vamos lá pegar o Vitor? (se dirigindo a Cecília que ainda
estavam no colo mamando)
Bianca: Pera aí só vou pegar ele.
Lohaine: não, fique à vontade. Pente o cabelo bonitinho se coisa todo para cima né
- Risos
Bianca: Ah não para ficar o dia todo para cima.
(aguardo enquanto Bianca se acomoda com o Vitor no colo)
Bianca: mas eu ainda tenho outras crianças ele é bem bonzinho, mas que a Cecília era quando
era bebezinha, dá menos trabalho.
Lohaine: A Luísa dava muito trabalho?
Bianca: sim, muito
Lohaine: você acha muita diferença de criar um guri e uma menina?
Bianca: assim algumas coisas, Tipo na fralda Que menino se não colocar direito a fralda vaza,
o xixi, não sei porquê tem que colocar bem certinho, bem fechadinha Ah sim e de menina não,
não sei o que acontece, outra diferença de menino e menina é que menina você tem que limpar
de cima para baixo né para não dar infecção de urina, Por que a Luísa mesmo teve infecção de
urina quando ela tinha uns quatro ou cinco meses, que eu sempre limpei de cima para baixo
tanto que Lúcia não teve infecção de urina e ela teve, aí menino não tem isso que até bom né.
Lohaine: uhum, aí eu vou continuar, só falta mais duas questões
Bianca: tá bom
Lohaine:Tenho-me sentido tão infeliz que choro, Sim, quase sempre; Sim, muitas vezes; Só às
vezes; Não, nunca.
Bianca: não.
Lohaine: nunca? ou às vezes?
Bianca: nunca
Lohaine:Tive idéias de fazer mal a mim mesma, Sim, muitas vezes; Por vezes; Muito raramente;
Nunca.
Bianca: não, nunca
Lohaine: não?
Bianca: Não mesmo, a única coisa é que às vezes eu tenho muita coisa para fazer e acaba me
sentindo sobrecarregada, E aí aí me dá um nervoso que eu chego a chorar, mas não de...
Lohaine: entendi, mas isso começou depois que o Vitor nasceu?
Bianca: Foi, depois que a gente mudou para cá para nossa casa né, agora é mais serviço
Lohaine:aham
Bianca: porque antes a gente morava numa kitnet de dois quartos e sala cozinha americLúcia,
e eu tipo tinha visão de tudo né, se tava na cozinha eu tava vendo ontem que a Cecília e a Lúcia
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tavam, e aqui tem essa terra aqui que menino do céu quando chove eles inventam de brincar na
terra e Ave Maria, mas é gostoso.
Lohaine: entendi
Bianca: Acabou as perguntas?
Lohaine: Acabou
Bianca: oxe
Lohaine: e como é que foi a sua infância?
Bianca: Ah foi bem divertida, eu tenho boas memórias graças a Deus eu e a minha irmã que
faleceu a gente era bem próximas né então a gente brincava, corria… e com os meus irmãos
eu não... eu não sei se é porque eles eram meninos, mas assim eu não tenho muita memória com
eles, eu acho até estranho, até brinco que que eles são adotados, porque eu não tenho
lembranças principalmente desse meu irmão que tem problema mental, eu não tenho lembrança
dele, eu não sei estranho, única lembrança que eu tenho dele é que ele brincava de fazer…. a
gente brincava de fazer Boizinho com manga, enfiava palito de fósforo e fazia fazendinha e tal,
a única lembrança dele que eu tenho dele é essa, mas a infância foi boa a gente deu trabalho
para mamãe.
Lohaine: e agitado também
Bianca: é
(somos interrompidos por Cecília conversando)
Lohaine: eu não entendo nada que ela fala e ela ainda cochicha fala bem baixinho, aí sim
Bianca:É porque você tá aqui senão estava gritando aqui, até Vitor tava gritando
(Bianca conversa e brinca com Vitor)
Lohaine: como é que foi para você está grávida, quer dizer com bebezinho pequeno e perder a
sua Irmã?
Bianca: Ah, normal, tipo ela ficava se inspirando em mim "vou ter parto normal também
"porque assim o meu parto normal foi bem rápido, o parto da Lúcia né, foi um parto assim
rápido e eu não senti dor, tanto que era tão ilusão porque eu achava que não ia sentir dor com a
Cecília, quando a Luísa ia nascer, eu não tive nenhuma dor, e a recuperação foi muito boa né,
do parto, então ela ficava "eu quero ter um parto igual ao seu, assim rápido e sem dor "e a Lúcia
nunca deu muito trabalho assim, ela não teve nada, teve bastante cólica, mas tipo tomava vacina
e ela não teve febre sabe, uma criança que nunca me deu muito trabalho não
Lohaine: era tranquila?
Bianca: sim, ainda primeiro filho né, até na fase do dente nascendo ela não ficava muito
irritada, era é muito calminha assim, era não é até hoje calma.
Lohaine: entendi, você ficou… quando você teve seu bebê, quando você teve a Lúcia, mais
cedo que ela?
Bianca: Foi, a Lúcia nasceu em abril e o dela foi uma cesariLúcia tudo, foi em setembro, dia 20
de setembro que ela nasceu
Lohaine: entendi
Bianca: ela faleceu no dia 21 de outubro.
Lohaine: foi muito difícil para você?
Bianca: Ah, Foi bastante.
Lohaine: você falou que era bastante a próxima ela né
Bianca: bastante, nossa, e eu ficava sonhando com ela quase todos os dias depois que ela
faleceu, e foi só cair a ficha assim quando eu vi ela no caixão e na hora de enterrar, na hora de
enterrar Então nossa foi , sei lá tipo vai deixar lá sabe
Lohaine: é, muito difícil né
Bianca: nossa
Lohaine: e você tava com bebê pequeno né, E você acha que isso afetou a sua
maternidade?depois
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Bianca: acho que não, eu vi ela como, assim depois que ela faleceu né a gente começa dar mais
valor nas pequenas coisas, tipo ela faleceu e não deu para cuidar da minha sobrinha né
( Bianca se emociona nesse momento)
Lohaine: você tava com bebê pequeno também né
Bianca: É
Lohaine: entendi
Bianca: e a gente tipo falava assim "Vamos cuidar dela por ela né"porque a gravidez dela era
de risco, ela não podia ter bebê, então o médico falou para ela se ela queria tirar, e ela falou
que não queria levar adiante né, então foi uma escolha dela né, ela queria ter um bebê a qualquer
custo.
Lohaine:E você a próxima da sua sobrinha hoje em dia?
Bianca: Bastante, eu queria ser até madrinha dela né, foi uma briga na família de que ia batizar
ela, E ela é bem próxima da Lúcia que assim quase da mesma idade né, então a gente é bem
próxima, a gente é bem próximo da minha irmã, ela vem aqui eu vou lá, a Lúcia vai para lá
passar dias
Lohaine: nas férias
Bianca: final de semLúcia, as férias não porque ela tem muita criança né, mas assim final de
semLúcia a gente vai lá e as meninas ficam chorando para deixar a Lúcia e a Cecília, assim eu
não deixo a Luísa porque ela é muito pequenininha e dá mais trabalho né aí eu deixo a Lúcia
geralmente ela fica lá, e ela é madrinha da Cecília.
Lohaine: a sua irmã?
Bianca: É
Lohaine: a mais velha é madrinha da Cecília?
Bianca: É isso, Isso mesmo madrinha da Cecília ainda não batizou ainda mas é a madrinha, só
a Lúcia que é batizada. A gente tá só enrolando para batizar.
Lohaine: mas sua família é grande né você tem bastante sobrinhos
Bianca: sim bastante meninas, bastante meninas, só minha irmã que é a segunda mais velha que
tem menino o restante são todas meninas.
Lohaine: o sua irmã mais velha que tem o guri né? o mais velho dela que é um guri né
Bianca:é só ela que tem um menino, mas é grande Ele tem 19 anos
Lohaine: ah, sim
Bianca: e ele veio numa época que era só a menina, e todas engravidaram quase todas juntas,
era essa minha irmã, uma outra prima Nossa e essa minha irmã Zélia, tudo na época de 6 ou 7
anos assim, as meninas são dessa época
Lohaine: entendi, são todas juntas, a família do meu noivo que tem, lá eles engravida de três
em três, é incrível, uma descobriu que tá grávida logo tem duas que descobre também, as
crianças são sempre de três em três.
- risos
Bianca: esses dias eu vi no Face que a gravidez passa né
Lohaine: contagioso
Bianca: é contagioso, E é verdade. eu tava grávida a sobrinha do meu marido veio aqui, porque
ela queria batizar o Vitor né, aí ela vinha aqui em casa e descobriu que tava grávida, e ela tinha
problema para engravidar aí ela falava "gente não passa perto de Bia grávida por quê é
Contagioso "e tá todo mundo fugindo de ter bebê né, e ninguém quer ter.
Lohaine:ah mas você vem e fica assim olhando essas coisas mais fofas né aí logo pensa "Ah
eu acho que eu quero até filho"
Bianca: a minha família foi, primeiro foi a minha prima em novembro, aí a minha irmã teve
também dia 28 de novembro, aí a Lúcia nasceu em abril e a Sofia setembro, tudo assim...
Lohaine: tudo perto né, então tem bastante criança próxima
Bianca: foi
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Lohaine: O Vitor tá suando mamando (fala se dirigindo Cecília que desligou o ventilador)
Bianca: é ele soa bastante
(entrego uma caneta e uma folha em branco para Cecília e converso com ela um pouco E acabo
desenhando uma menina, uma casa com portas e janelas, árvore de Natal com presentes em
baixos e um Papai Noel e é assim terminamos nossa conversa.)