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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO EM ENFERMAGEM LOHAINE SOUZA DA SILVA DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA CASAIS IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO CUIABÁ-MT 2020
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DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

Mar 02, 2023

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Page 1: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

MESTRADO EM ENFERMAGEM

LOHAINE SOUZA DA SILVA

DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA

CASAIS IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E

VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO

CUIABÁ-MT

2020

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LOHAINE SOUZA DA SILVA

DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA

CASAIS IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E

VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO

Relatório de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-

Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal de

Mato Grosso (UFMT), Campus Cuiabá, como requisito

para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Área de concentração: Enfermagem e o Cuidado à

Saúde Regional

Grupo de Pesquisa: Enfermagem, Saúde e Cidadania

(GPESC).

Orientadora: Prof.ª Drª Rosa Lúcia Rocha Ribeiro.

Co-orientadora: Prof.a Dra. Maria Aparecida Rodrigues

da Silva Barbosa

CUIABÁ-MT

2020

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LOHAINE SOUZA DA SILVA

DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ENFERMAGEM PARA CASAIS

IDENTIFICADOS COM FATORES PREDETERMINANTES E

VULNERABILIDADE AO ADOECIMENTO

Esta dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora para obteção do

título de:

Mestre em Enfermagem

E aprovada em 17 de setembro de 2020, atendendo às normas da legislação vigente da UFMT,

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, área de concentração: Enfermagem e o cuidado à

saúde regional.

________________________________

Profa.Dr.ª Fabiane Blanco Silva Bernardino

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - UFMT

BANCA EXAMINADORA:

________________________________

Profª.Drª. Rosa Lúcia Rocha Ribeiro

Orientadora -Presidente da Banca

________________________________

Profª.Drª. Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa

Co-Orientadora

__________________________________ _______________________________

Profa.Dr.ª Larissa de Almeida Rézio Profa.Dr.ª Roselma Lucchese

Membro Efetivo Interno Membro Efetivo Externo

FAEN/UFMT UFCAT

__________________________________ _______________________________

Profa.Dr.ª Solange Pires Salomé de Souza Profa.Dr.ª Priscilla Maria de Castro Silva

Membro Suplente Interno Membro Suplente Externo

FAEN/UFMT UFCG

Cuiabá-MT

2020

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RESUMO

SILVA, Lohaine Souza da. Depressão no pós-parto: cuidado de enfermagem para casais

identificados com fatores predeterminantes e vulnerabilidade ao adoecimento, 2020. 199 f.

Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de

Mato Grosso, Faculdade de Enfermagem, Cuiabá, 2020.

As famílias vivenciam novas e complexas experiências decorrentes do nascimento do filho

devido aos acréscimos nas responsabilidades e mudanças resultantes desse momento. Para os

pais podem surgir sentimentos de conflito, incertezas, dúvidas e anseios, que são alguns dos

fatores desencadeantes de sofrimento mental. Cerca de 10 a 15% das mães e 10% dos pais são

suscetíveis ao desenvolvimento da depressão no pós-parto. O presente estudo teve como

objetivo geral construir um modelo de cuidado de enfermagem na atenção básica para a

promoção da saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o

nascimento do filho. Os objetivos específicos foram: identificar casais vulneráveis ao

desenvolvimento de depressão após o nascimento do filho a partir da aplicação do histórico de

enfermagem (incluindo o genograma, o ecomapa e a escala EPDS); desenvolver intervenções

para minimizar a potencialidade dos fatores de risco para a depressão de gestantes após o

nascimento do filho; avaliar a ocorrência da depressão após o nascimento do filho em puérperas

após a intervenção de enfermagem; avaliar a efetividade das ações desenvolvidas para

promoção da saúde mental. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo, que utilizou o

método da Pesquisa Convergente-Assistencial. Foram realizadas entrevistas individuais abertas

e semiestruturadas com três famílias, sendo aplicados o histórico de enfermagem, a escala de

depressão pós-natal de Edinburgh e a construção do genograma e ecomapa de família. Também

compuseram, como fontes de dados, três rodas de conversa com grupo de gestantes e

profissionais de saúde, sobre os temas: (1) maternidade e paternidade, (2) assistência ao parto

e prevenção da violência obstétrica, (3) pós-parto e amamentação. A transcrição das gravações

de áudio dos encontros (entrevistas e rodas de conversa) compuseram os dados empíricos da

pesquisa. Resultados: a pesquisa resultou na construção e aplicação de um modelo de cuidado

de enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com

risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho, oferecendo maior visibilidade às

necessidades de casais durante os períodos de gravidez, parto e pós-parto. Também colaborou

para que as famílias e os profissionais de saúde compreendessem que a depressão pós-parto é

um problema de saúde grave e que afeta os diversos âmbitos das vidas das famílias. O estudo

reafirmou a evidência de que a depressão pode acometer qualquer pessoa, mas que há

indivíduos que possuem fatores que favorecem o desenvolvimento do transtorno depressivo.

Nesse sentido, foram utilizados instrumentos que possibilitaram a identificação de tais fatores

ainda durante a gestação, bem como foram construídas medidas específicas para oferecer

suporte às famílias que estavam mais vulneráveis a desenvolver esse adoecimento.

Palavras-chave: Depressão pós-parto, Enfermagem, família, maternidade, paternidade,

Pesquisa convergente-assistencial

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ABSTRACT

SILVA, Lohaine Souza da. Postpartum depression: nursing care for couples identified with

predetermining factors and vulnerability to illness, 2020. 199 p. Master Dissertation – Post-Graduate

Program in Nursing. Federal University of Mato Grosso, Nursing School, Cuiabá, 2020.

The families live new and complex experiences resulting from the childbirth due to the increase in the

responsibilities and changes from this moment. To the parents, feelings of conflict, uncertainty, doubts

and anxieties can arise, which are some triggering factor for mental suffering. Around 10 to 15% of

mothers and 10% of fathers are susceptible to develop postpartum depression. The present study had as

general aim to build a model of nursing care in the primary care to the promotion of mental health in

pregnant couples, which had risk to develop depression after the childbirth. The specific aims were: to

identify vulnerable couples to the development of depression after the childbirth based on the application

of the nursing history (including genogram, ecomap and the EPDF scale); to develop interventions to

minimize the potentiality of risk factor to the depression of pregnant after the childbirth; to evaluate the

occurrence of depression after the childbirth in postpartum women after the intervention of the nurse; to

evaluate the effectiveness of the actions developed to the promotion of mental health. Methodology: it

is a qualitative study that used the Convergent Care Research method. Individual open and semi-

structured interviews with three families were done, applying the nursing story, the Edinburgh postnatal

depression scale and the construction of genogram and ecomap of the family. Three conversation wheels

with a group of pregnant and health professionals were part of the data resource about the themes: (1)

maternity and paternity, (2) assistance to the partum and prevention of obstetric violence, (3) postpartum

and breastfeeding. The transcription of the recordings of the audio of the meetings (interviews and

conversation wheels) was part of the empiric data of the research. Results: the research resulted in the

construction and application of a model of nursing care in the primary care to the promotion of mental

health for pregnant couples with risk of developing depression after the childbirth, offering greater

visibility to the needs of the couples during the pregnancy, partum and postpartum periods. This also

collaborated so the families and the health professionals could understand that postpartum depression is

a serious health problem and that this affects several ranges of the families’ lives. The study reaffirmed

the evidence that the depression may happen with anybody, but that there are people that have factors

that favor the development of depressive disorder. In this way, instruments that allowed the

identification of such factors during the pregnancy were used, as well as specific measures to offer

support to the families that were more vulnerable to the develop this illness were built.

Keywords: Postpartum depression, Nursing, family, maternity, paternity, Convergent Care research.

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Dedico este estudo a Luciana, Alice, Bianca e suas famílias, por me permitirem

conhecer e participar de suas histórias e as equipes de saúde por se dipor a

aprender comigo as nuances da gravidez e pós-parto, todas elas me concederam

a oportunidade de ouvir os seus anseios em um período tão delicado de suas

vidas e perceber que mesmo em meio as turbulências há força na mulher.

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Meus agradecimentos

A Deus,

À minha família,

Meus pais, Dalvina e Evaldo, pelo amor, carinho, dedicação e aceitação que me

dedicaram, por me estimularem a buscar voos mais altos e mais longos, mas

também por me fornecerem colo e um lugar para voltar e descansar as asas

sempre que precisei. Vocês são a melhor parte da minha história.

A minha querida irmã Luana, pela parceria, pelos sorrisos, pela companhia e

pela presença, a minha vida não seria tão divertida sem você. Eu te amo minha

preta!

Ao meu marido Andreve, por me apoiar, me ouvir desabafar e secar minhas

lágrimas durante todo esse processo. Mas acima de tudo, obrigado por todo o

amor, dedicação, paciência e por estar ao meu lado na construção do nosso lar.

Ao meu avô Faustino, por me ensinar valores que lugar nenhum no mundo

poderia me ensinar, a sua sabedoria me inspira todos os dias.

A minha Minnie, pela companhia durante as longas noites de estudo!

A minha orientadora Profa. Doutora Rosa Lúcia Rocha Ribeiro, por aceitar

aprender comigo sobre a depressão, pela compreensão, carinho e respeito que

me dedicou nesses anos.

A minha Co-orientadora Profa. Doutora Maria Aparecida Rodrigues da Silva

Barbosa, por me acompanhar desde a graduação e dividir comigo toda a sua

sensibilidade e paixão pelo pós-parto. Eu não poderia escolher conselheiras e

companheiras melhores.

A todas as professoras da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal

de Mato Grosso, pela instrução que me proporcionaram.

Aos colegas de mestrado que dividiram as aflições, ansiedades e recompensas,

que esse processo nos proporcionou.

A CAPES por financiar essa pesquisa através da bolsa de mestrado e permitir

que me dedicasse exclusivamente a este estudo.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE LUCIANA.............................................. 37

FIGURA 2 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE LUCIANA.................................................... 38

FIGURA 3 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE ALICE................................................... 40

FIGURA 4 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE ALICE......................................................... 42

FIGURA 5 - GENOGRAMA DA FAMÍLIA DE BIANCA............................................... 45

FIGURA 6 - ECOMAPA DA FAMÍLIA DE BIANCA...................................................... 46

FIGURA 7 - REPRESENTAÇÃO DO MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM

NA ATENÇÃO BÁSICA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DE CASAIS EM

GESTAÇÃO COM RISCO DE DESENVOLVER

DPP.......................................................................................................................................... 71

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 6

2. OBJETIVOS ..................................................................................................................................................................... 13

2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................................................................... 13 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................................................... 14

3. QUADRO TEÓRICO ................................................................................................................................................... 14

3.1. SOBRE PAULO FREIRE E SUA PEDAGOGIA LIBERTADORA ......................................................................................... 15 3.2. CUIDADO E CUIDADO DE ENFERMAGEM ..................................................................................................................................... 17 3.3. MODELO ASSISTENCIAL DE ENFERMAGEM NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) .............................................. 19 3.4. SAÚDE MENTAL ............................................................................................................................................................................. 20 3.5. FAMÍLIA ........................................................................................................................................................................................... 23 3.6. GÊNERO E PATRIARCADO ............................................................................................................................................................. 24 3.7. MATERNIDADE ............................................................................................................................................................................... 27 3.8. PATERNIDADE ................................................................................................................................................................................ 28

4. METODOLOGIA ............................................................................................................................................................. 28

4.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................................................................................. 29 4.2. ESTRATÉGIA DE RECOLHA DE DADOS E TRABALHO DE CAMPO ............................................................................................ 31 4.3. ASPECTOS ÉTICOS.......................................................................................................................................................................... 36

5. RESULTADOS ................................................................................................................................................................. 37

5.1. AS FAMÍLIAS DAS GESTANTES DO ESTUDO ................................................................................................................. 37 5.1.1. Família 1 - A família da gestante Luciana. ......................................................................................................... 37 5.1.2. Família 2 - A família da gestante Alice .................................................................................................................. 40 5.1.3. Família 3 - A família da gestante Bianca .............................................................................................................. 44

5.2. O USO DO GENOGRAMA E DO ECOMAPA NA IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO

PARA A DPP ......................................................................................................................................................................................... 48 5.3. RODAS DE CONVERSA ..................................................................................................................................................... 50

5.3.1. Maternidade ....................................................................................................................................................................... 51 5.3.2. Direitos no parto e prevenção da violência obstétrica ....................................................................................... 55 5.3.3. Pós-parto e Amamentação ........................................................................................................................................... 58

5.4. DESCRIÇÕES DA 2° ENTREVISTA, ÍNDICES DE DPP E AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DAS RODAS DE

CONVERSA. ........................................................................................................................................................................................... 61

6. O MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM CONSTRUÍDO............................................................... 67

7. A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO: REFLEXÕES E SÍNTESE DOS

RESULTADOS DA PESQUISA .................................................................................................................................... 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................................... 76

ANEXOS ................................................................................................................................................................................ 84

APÊNDICES ......................................................................................................................................................................... 91

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1. INTRODUÇÃO

Os transtornos depressivos são constituídos de diversos tipos de alterações de

interações do indivíduo, além das mudanças de percepção de si e daqueles que o rodeiam (OMS,

2014). Ainda de acordo com a OMS os transtornos depressivos podem ser de longa duração ou

recorrente, e sua principal característica é causar a perda parcial ou total da capacidade do

indivíduo de manter suas atividades e relacionamentos, sejam eles sociais, familiares ou

trabalhistas. No entanto, temos que ter em mente que um transtorno depressivo difere de humor

depressivo, de tristeza momentânea e do processo de luto (OMS, 2014).

Na Classificação Internacional de Doenças CID 11 (2019) os transtornos depressivos

podem ser descritos como: Transtorno depressivo, episódio único, Recorrente, Distúrbio

distímico, Transtorno misto de ansiedade e depressão, etc. Suas principais características são a

tristeza, perda de interesse ou prazer em atividades antes prazerosas, sentimento de culpa ou

baixa autoestima, sono perturbado ou apetite alterado (aumento ou diminuição), sentimentos de

cansaço e falta de concentração, entre outros (OMS, 2019).

Em 2014, a OMS (OMS, 2014) divulgou um relatório que mostra que entre os anos de

2005 e 2010 houve o aumento em 18% nos casos de depressão no mundo, havendo atualmente

322 milhões de pessoas sofrendo desse mal. No Brasil, 5,8% da população possui esse

transtorno, sendo o país de maior prevalência do adoecimento (OMS, 2014).

Neste estudo discutiremos os transtornos psicológicos do puerpério, especificamente a

depressão, mas, para isso, teceremos algumas considerações a respeito dos termos que

utilizaremos durante este trabalho. Mesmo compreendendo que o parto é biologicamente

feminino, o homem/pai participa psicológica e socialmente desse momento, assim como do

pós-parto. Portanto, apesar de no portal de descritores da “Medical Subject Headings” (MESH)

o termo “depressão pós-parto” ser caracterizado para o uso exclusivo em mulheres, iremos,

assim como em alguns estudos dessa temática (NATH et al., 2016; NISHIMURA et al., 2015;

KERSTIS et al., 2015), utilizá-lo para designar também a depressão do homem nesse período.

Desse modo, utilizaremos aqui os termos “depressão pós-parto materna” e “depressão pós-parto

paterna” por se tratar de um período de tempo em que a mãe e o pai vivenciam conjuntamente.

Cabe ressaltar que esse termo, neste trabalho, se refere ao período do nascimento até o primeiro

ano de vida da criança, em consonância com estudos que têm destacado que a depressão pós-

parto extrapola o período considerado biologicamente como período puerperal (LUCERO, et

al., 2012; BACK, 2002).

Além dessas definições, determinaremos alguns termos da epidemiologia que serão

importantes para a compreensão deste estudo. Primeiramente, falaremos sobre “Fator de

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Risco”, que se relaciona a qualquer situação, tal como variáveis ambientais ou pessoais, que

proporciona um aumento na probabilidade de ocorrência de uma determinada doença

(EISENSTEIN; SOUZA, 1993). Já “Fator de proteção” é definido como aspectos pessoais e

sociais que diminuem ou impedem que os riscos se efetivem no desenvolvimento do agravo

(EISENSTEIN; SOUZA, 1993). E, por fim, “Fatores predisponentes” que se tratam de

características que provocam e ocasionam o aparecimento do adoecimento (FALCÃO, 2017),

como por exemplo, a obesidade é um fator predisponente para doenças cardiovasculares. Por

último, vale lembrar que para abarcar tanto os casais que possuem os fatores de riscos, quanto

os casais que possuem os fatores predisponentes, utilizaremos em alguns momentos desse

estudo, o termo “casais vulneráveis ao adoecimento”.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), em sua cartilha de acompanhamento do pré-

natal de baixo risco, adota a definição de Depressão Pós-Parto (DPP) utilizada pela Associação

Americana de Psiquiatria explicitada no Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos

Mentais, que está em sua quinta edição (DSM-V - 2014), caracterizando-a como um episódio

de crise depressiva que inicia nas primeiras quatro semanas após o parto com características

bastante heterogêneas, como ansiedade, obsessão e compulsão em relação ao bebê. E, além

disso, “os transtornos de ansiedade generalizada e de pânico são comorbidades frequentes na

depressão pós-parto e que pioram dramaticamente o prognóstico” (BRASIL, 2013, p. 271).

Ainda considerando essa última versão do DSM-V, o manual passou a utilizar o termo

“depressão periparto”, considerando a depressão “com início no periparto”, abrangendo o

diagnóstico ocorrido na gestação e em até quatro semanas após o parto. Já o CID 11 (OMS,

2019) apresenta a DPP como um diagnóstico separado das alterações relacionados a “Gravidez,

parto ou puerpério” e de “Algumas condições originárias do período perinatal”, indicando que

o momento de realizar o diagnóstico deve ser em até 6 semanas após o parto, e utiliza o termo

depressão pós-natal.

Esta breve descrição reflete a falta de concordância nos manuais oficiais que norteiam

os profissionais e pesquisadores da área (BRUM, 2017). Ainda nessa sua última publicação, a

OMS (2019) acrescentou à classificação dos “Transtornos mentais ou comportamentais

associados à gravidez, parto ou puerpério” outras especificações como: sem sintomas

psicóticos, com sintomas psicóticos ou sem especificações. Ainda de acordo com o Ministério

da Saúde do Brasil, as patologias maternas no puerpério são o Blues pós-parto (Tristeza

puerperal) que atinge de 50% a 80% das mães, a Depressão pós-parto, de 10% a 15% e a Psicose

pós-parto que pode atingir de 0,1% a 0,2% das puérperas (BRASIL, 2015).

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Uma gama de estudos vem sendo produzido ao longo das últimas décadas sobre a DPP

materna e no levantamento bibliográfico realizado sobre a temática percebemos que a África

foi o único continente que não encontramos nenhum estudo indexado nas bases de dados

pesquisadas. Em todos os outros continentes identificamos estudos de rastreio da DPP na

população. Na Europa foram identificados estudos dos seguintes países: Reino Unido (NATH,

et al. 2016; HANINGTON, et al. 2011), Portugal (FIGUEIREDO, CONDE, 2011), Alemanha

(ANDING, et al., 2016), Espanha (ESCRIBA-AGUIR, ARTAZCOZ, 2010), Suécia

(EDHBORG, et al., 2005) e Finlândia (LUOMA, et al., 2013). Nas Américas, há estudos do

Brasil (PINHEIRO, et al. 2006; SANTOS, 2017), Chile (PÉREZ, BRAHM, 2017) Canadá

(LETOURNEAU, et al. 2011), Estados Unidos da América (PAULSON, et al. 2015) e México

(ROUBINOV, et al, 2013). Na Oceania, há produções da Austrália (SEAH, MORAWSKA,

2016) e Nova Zelândia (PETERSON, et al., 2016). Já na Ásia, identificamos estudos do Japão

(NISHIMURA, et al., 2015; SUTO, et al., 2016; NISHIMURA, OHASHI, 2010), China

(ZHANG, et al. 2016; MAO, et al., 2011) e Turquia (SERHAN, et al., 2012).

No Brasil, Santos et al. (2017) ao traçarem e analisarem o perfil epidemiológico da

população de puérperas, encontraram uma prevalência de 40% de DPP. Nos homens, os níveis

mais altos encontrados foram na China, por Zhang et al. (2016) em que aproximadamente 21%

dos pais estavam adoecidos quatro meses após nascimento dos filhos e esse mesmo resultado

foi encontrado por Luoma, et al. (2013), na Finlândia. Em relação a presença da DPP em casais,

temos no Brasil o estudo de Pinheiro et al. (2006) realizado em Pelotas – RS em que 26,3% das

mães e 11,9% dos pais estavam adoecidos. Na Austrália, no estudo de Seah e Morawska (2016)

os níveis foram de 27% nas mães e 7% nos pais. Ressaltamos que todos esses estudos são

resultados de pesquisas epidemiológicas.

Lembramos que esses resultados dependem dos instrumentos utilizados para a

identificação e rastreio da DPP, e do período em que esses casais foram abordados. Nesse

quesito há discordância dessa prevalência e, por essa razão, é necessário que se padronize o

instrumento de identificação, bem como o período para a aplicação desses. Nos estudos que

encontramos na literatura, 66,6% deles utilizavam como instrumento de rastreio da DPP a

Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS – Escala de depressão pós-natal de Edinburgh).

A DPP materna, que vem sendo atualmente apontada como um transtorno psíquico de

moderado a severo, pode ter início no primeiro mês de puerpério e se estender por todo primeiro

ano de vida do bebê e sua duração depende dos tratamentos instituídos e das respostas da mulher

à terapia (BRASIL, 2013). Além disso, a DPP provoca um grande desequilíbrio nas relações

familiares, afetando todos os membros do sistema familiar (BARBOSA, 2014).

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Há, ainda, evidências que apontam ser a depressão puerperal uma continuação de um

distúrbio depressivo iniciado já durante a gestação (GOTLIB, 1989), sendo que isso é

sustentado por diversos estudos ao afirmarem que o principal e mais importante fator de risco

para a DPP é o histórico de depressão ao longo da vida (NISHIMURA et al, 2015; SUTO et al,

2016; ESCRIBA-AGUIR e ARTAZCOZ, 2010).

O estudo realizado por Ballone (2007) indica que a DPP materna causa desestruturação

em todo o contexto familiar, pois as relações entre pessoas com depressão são mais estressantes

e conflituosas quando se compara às não depressivas e que o relacionamento conjugal também

passa por diversos problemas, dentre eles, a diminuição temporária do interesse sexual no

parceiro.

Além dos relacionamentos conjugais, o processo de construção de laços entre mãe e

filho também é prejudicado. Em seu estudo, Hanington et al. (2011) constataram que mães

deprimidas exibiram diminuição da sensibilidade e capacidade de resposta e demonstrações de

sentimentos positivos em relação aos filhos, mostraram-se mais propensas a puni-los, além de

ressaltarem menos os pontos positivos de seus filhos, tendendo a enfatizar seus pontos

negativos, tornando o comportamento infantil mais problemático que realmente seria. Ressalte-

se que os estudos de Kerstis et al. (2015) e Paulson e Bazemore (2010) chegaram a esses

mesmos resultados.

Outro fator importante no ambiente familiar é que os parceiros saudáveis de mulheres

deprimidas demonstraram menos interação com seus filhos, indicando que os pais não

compensam os efeitos negativos da depressão materna sobre a criança. Portanto, os impactos

do adoecimento de ambos os genitores significam uma tensão muito maior no ambiente familiar

(GOODMAN, 2008) e, desse modo, os filhos dessa relação e inseridos nesse contexto sejam

muito mais afetados negativamente.

A gestação é definida pelas mudanças observadas no corpo feminino a partir dos meses

iniciais e, portanto, o pai pouco se encaixa nesse contexto, fazendo com que a paternidade

pareça existir somente quando a criança nasce ou mesmo quando ela já está mais crescida

(BRASIL, 2016a). Essa ideia é afirmada por Ferreira et al. (2009) ao dizerem que, para muitos

homens, sentir-se pai é um fato que só ocorre após o nascimento e, em alguns casos, mesmo

após a chegada do filho, o sentimento de paternidade e as responsabilidades inerentes a ela

ainda não são tão perceptíveis. Também, face aos acréscimos nas responsabilidades e mudanças

ocorridas nesse momento, para o pai, podem surgir conflitos, incertezas, dúvidas e anseios que

são fatores desencadeantes de sofrimento mental, especialmente se vierem acompanhados de

acontecimentos adversos (BRASIL, 2013).

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Em relação à DPP paterna, Paulson et al. (2010) trazem pesquisas epidemiológicas em

que sugerem que aproximadamente 10% dos homens/pais são suscetíveis à depressão na fase

pré-natal e pós-parto, com maior risco no último, mais especificamente entre 3-6 meses após o

nascimento da criança, sendo isso corroborado também pelo Ministério da Saúde (BRASIL,

2013). Tal patologia teria relação com fatores biológicos, tais como o descrito por Saxbe et al.

(2017) segundo os quais, haveria principalmente uma desregulação hormonal, especificamente

a baixa na produção de testosterona que ocorreria nos homens entre os últimos meses da

gravidez da parceira e o primeiro ano do período pós-parto. Também teria relação com fatores

sociais, como complicações da relação conjugal e dificuldade de formar uma ligação afetiva

com o filho (originando o ciúme da relação já estabelecida entre a mãe e o bebê) (KIM, SWAIN,

2007).

Os estudos de Saxbe et al. (2017) e Melrose (2010) trouxeram dados importantes que

demonstram as dificuldades pelas quais as famílias passam no período pós-natal. Para Saxbe et

al. (2017) os pais sofrem biologicamente uma diminuição nos níveis hemáticos do hormônio

testosterona, como forma de melhorar a sua adaptação ao bebê, aumentando seus níveis de

simpatia e empatia em relação à esposa e às respostas adequadas ao choro infantil. No entanto,

existe uma relação positiva entre os níveis baixos de testosterona e depressão nos homens. Os

conflitos entre as necessidades dos membros das famílias ocorreriam pelo fato de que as

mulheres, cujos companheiros apresentam essa baixa de testosterona, relatam maior satisfação

conjugal, pois sentem-se mais amparadas e acolhidas em suas necessidades. Ou seja, níveis

mais baixos de testosterona nos homens, aumentam os níveis de depressão neles (nos pais), mas

diminuem nas mães. Já para Melrose (2010) a depressão pós-parto paterna não é fácil de avaliar,

sendo que é comum os homens se apresentarem mais zangados e ansiosos do que tristes e, com

baixa capacidade de fornecer apoio emocional a suas parceiras e filhos.

Outro dado importante encontrado por Pinheiro et al. (2006), indica que a DPP paterna

geralmente está associada com a materna. A depressão materna é, portanto, considerada um

forte fator de risco para o desenvolvimento dos sintomas nos homens. Com uma parceira

sofrendo dessa patologia, a prevalência nos homens pode ser tão alta quanto nas mães, cerca de

24 a 50%. No entanto, ela se inicia mais tardiamente que a DPP materna, com a taxa nos homens

aumentando no primeiro ano de vida do recém-nascido (GOODMAN, 2004).

Essa associação foi encontrada em diversos outros estudos, como Nath et al. (2016),

Nishimura et al. (2015), Suto et al. (2016), Escriba-Aguir e Artazcoz (2010), Zhang et al.

(2016), Anding et al. (2016), Edhborg et al. (2005), Kerstis et al. (2015), em que todos

estabeleceram a existência de uma relação positiva entre a DPP materna e paterna, entretanto,

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não se sabe ao certo qual dos cônjuges adoece primeiro e, consequentemente, influencia no

adoecimento do parceiro. É importante ressaltar que nem todos os estudos que encontramos

estabeleceram uma relação positiva entre a DPP materna e paterna. Os resultados de Nishimura

e Ohashi (2010), no Japão, e Top et al. (2016), na Turquia, apontam que a DPP está somente

associada com um histórico de tratamento psicológico e gravidez indesejada. O último estudo

acrescenta, ainda, a crise financeira ou desemprego como fatores de risco.

O papel social de provedor financeiro, atribuído culturalmente ao homem na família,

estimulado e cobrado especialmente após o nascimento de um filho (SANTOS, 2017), faz com

que o homem ocupe mais de seu tempo com o trabalho remunerado e, por consequência,

diminua o seu convívio com o recém-nascido, dificultando esse relacionamento. No entanto,

esse distanciamento do lar pode ser um sintoma da depressão masculina, que se utiliza da

situação de sobrecarga financeira do período para se afastar (BRIA et al.,2006). Isso pode levar

a outro fator desencadeante, pois a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a

criança (comparado com a mãe) podem tornar suas interações menos interessantes para o filho,

tendendo esse a dar-lhe um menor número de retribuições (como sorrisos e vocalizações),

aumentando o estresse paterno ao longo do primeiro ano pós-parto (FALCETO et al., 2012).

A DPP paterna se manifesta com alguns sintomas semelhantes à materna, como

ansiedade, falta de tempo e energia, irritabilidade, sentir-se triste ou deprimido e alterações no

apetite (LETOURNEAU et al., 2011). Na verdade, o estudo de Mao et al. (2011) aponta que os

pais experimentam níveis de estresses semelhantes às mães, no entanto recebem menos apoio

social. Mas, nos homens, há sintomas bem diferentes da DPP materna, sendo comuns os ataques

de raiva e agressões físicas e psicológicas, além do abuso de substâncias químicas (MARTIN

et al., 2013).

Os fatores de risco para a DPP materna e paterna encontrados nos diversos estudos atuais

são basicamente os mesmos, como alcoolismo e histórico de violência doméstica na família

(cônjuge e pais), eventos estressantes no período gestacional , sobrecarga física e psíquica,

amamentação ineficaz, histórico de tratamento para infertilidade, insatisfação conjugal, falta de

apoio social e familiar, ambientes e relacionamentos interpessoais conflitantes e qualidade ruim

do atendimento ao parto (NATH et al., 2016; NISHIMURA et al.,2015; SUTO et al., 2016;

ESCRIBA-AGUIR; ARTAZCOZ, 2010; ZHANG et al., 2016; ANDING et al., 2016;

EDHBORG et al., 2005; KERSTIS et al., 2015).

Assim como os fatores de risco são importantes no desenvolvimento da DPP, há fatores

protetores que auxiliam a prevenir o desenvolvimento da depressão e, também, auxiliam no

enfrentamento por aquelas/aqueles acometidos pelo adoecimento. Barbosa (2014) em sua tese

Page 17: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

12

de doutoramento, percebeu que mulheres que tiveram maior apoio social (religiosidade,

unidade básica de saúde, médico, etc.) ou familiar (principalmente do companheiro), tiveram a

sintomatologia da depressão menos exacerbada e se recuperaram do episódio depressivo em

menor período de tempo.

Como citado anteriormente, a DPP, tanto materna quanto paterna, tem impactos

significativos no relacionamento conjugal. Diversos autores (HANINGTON et al., 2011;

ROUBINOV et al., 2013; LUOMA et al., 2013) vem afirmando em seus estudos, que a

qualidade do relacionamento do casal, deve ser considerada em qualquer método de rastreio

para a DPP, pois é um fator importante na estimulação do início dos sintomas no parceiro, tem

impactos na recuperação e superação da depressão, além do que casais depressivos apresentam

menores níveis de interações positivas com os filhos (PAULSON et al., 2015).

Em seu estudo Nath et al. (2015) verificou que a presença de sintomas depressivos nos

homens estava associada a níveis mais elevados de conflitos entre eles e seus filhos, menor

demonstração de apego/carinho e menores níveis de envolvimento com seus bebês. Assim, os

sintomas depressivos dos pais não somente afetam a si e sua parceira como também na

qualidade das interações com seus filhos.

Os mesmos resultados também foram encontrados por Kerstis et al. (2015) cujo estudo

observou que a DPP em ambos os pais na 6° semana de pós-parto está associada com a ligação

emocional/afetiva com os filhos prejudicada. Além disso, parceiros de mulheres deprimidas

demonstram menos interação com seus filhos (GOODMAN, 2008). Portanto, percebe-se que a

presença da DPP na família, em um ou ambos os pais, afeta significativamente todos os

membros do núcleo familiar e é, também, por esse motivo que se torna um problema de saúde

importante.

Nesse sentido, autores como Goodman (2004) e Nazareth (2011) defendem, como

próximo passo para estudo, o acompanhamento e atendimento de famílias férteis e o rastreio da

DPP ainda no pré-natal, além de oferecer atenção especial as famílias em puerpério e a

realização de pesquisas que subsidiem os profissionais de saúde no atendimento a esses casais.

E esse é um papel importante que a enfermagem pode exercer, ao considerarmos que somos

nós, enfermeiras, quem mais cuidamos nesse período, seja nas visitas domiciliares preconizadas

pelo Ministério da Saúde no 7° e 42° dias após o nascimento do filho, quanto nas consultas

mensais de acompanhamento infantil. Ou seja, somos os profissionais de saúde mais presentes

no cuidado a família, desde o preparo para a chegada do filho (pré-natal) até primeiro ano de

vida da criança.

Page 18: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

13

Considerando o pré-natal, o Ministério da Saúde, desde 2012, já recomenda o uso da

EPDS para o rastreio da DPP materna e paterna na atenção básica (BRASIL, 2013), mas esse

instrumento ainda é pouco utilizado nos encontros com as mães. Supomos que para com os pais

a EPDS seja menos ainda utilizada, pois estes não estão presentes na maioria das consultas de

pré e pós-natal. Além disso, no imaginário social, a depressão pós-parto ainda está muito

atrelada à figura materna.

Outro fator que devemos considerar no atendimento a famílias no puerpério é a

invisibilidade do casal após o nascimento do filho. Enquanto o pai, rotineiramente, não é

visto/incluído em nenhum momento do pré-natal e, depois, no pós-parto, mesmo sendo

preconizado pelo Ministério da Saúde (BRASIL,2016), as mães também passam a ser

desconsideradas após o nascimento do filho. É comum que tanto a equipe de saúde quanto a

família concentrem toda sua atenção no novo membro da família (a criança), silenciando as

demandas dos pais em detrimento do atendimento ao neonato. Ainda em referência ao

Ministério da Saúde, no Guia de pré-natal do parceiro as demandas relacionadas ao homem

referem-se a sua saúde física e seus direitos civis durante os períodos anterior e posterior ao

nascimento da criança, não apontando as modificações dos aspectos emocionais e relacionais

que ocorrem nesse período que são bastantes significativas, como bem vimos nos estudos

científicos citados até esse momento (BRASIL, 2016a).

A literatura cientifica sobre DPP encontrada até o momento são em sua maioria estudos

epidemiológicos, focados em sinais, sintomas e fatores associados ao adoecimento, sendo

pouco deles, a maioria antigos, que evidenciam as famílias e a importância da saúde do cônjuge

para o adoecimento e tratamento da DPP.

Diante do exposto e de posse das evidências científicas relacionadas aos fatores de risco

para a DPP, nos colocamos as seguintes reflexões e questionamentos: como poderia a

enfermagem contribuir para a promoção da saúde mental de casais em gestação na atenção

básica e, por consequência, minimizar as possibilidades de desenvolvimento da depressão no

período puerperal? Como organizar o cuidado de enfermagem no período gravídico-puerperal

na atenção básica de modo a promover a saúde mental de casais em gestação, com risco de

desenvolver depressão após o nascimento do filho?

Assim, nos desafiamos a buscar as respostas a tais questionamentos atuando de forma

prática junto aos casais, definindo os seguintes objetivos:

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

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❖ Construir um modelo de cuidado de enfermagem na atenção básica para a promoção da

saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o

nascimento do filho.

2.2. Objetivos Específicos

❖ Identificar casais vulneráveis ao desenvolvimento de depressão após o nascimento do

filho a partir da aplicação do histórico de enfermagem (incluindo o genograma, o

ecomapa e a escala EPDS);

❖ Desenvolver intervenções que visem minimizar a potencialidade dos fatores de risco

para a depressão de gestantes após o nascimento do filho;

❖ Avaliar a ocorrência da depressão após o nascimento do filho de puérperas após a

intervenção de enfermagem;

❖ Avaliar a efetividade das ações desenvolvidas para promoção da saúde mental.

3. QUADRO TEÓRICO

Considerando o tema de estudo e nosso objetivo - construir um modelo de cuidado de

enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação, com

risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho - procuramos nos alicerçar em

construções teóricas de diversos autores de modo a nos auxiliarem na compreensão, senão de

todos, mas dos principais elementos que estão contidos nesse contexto, desenhando, assim,

nosso marco conceitual.

Em artigo amplamente referenciado na área da Enfermagem há mais de 30 anos, a

professora Mercedes Trentini descreveu o processo de inter-relação da teoria, pesquisa e prática

na enfermagem e, apoiada em clássicas teoristas de enfermagem como Newman e Stevens,

definiu como marco conceitual o “conjunto de definições e conceitos, inter-relacionados, com

o objetivo de apresentar maneiras globais de perceber um fenômeno e de guiar a prática de um

modo abrangente” (TRENTINI, 1987). Nessa perspectiva, Silveira et al. (2005) reafirmam a

importância de se estruturar um marco conceitual de modo a guiar e ser uma referência para a

prática profissional de enfermagem.

Assim, discorreremos neste capítulo sobre os seguintes conceitos que compõem o nosso

quadro teórico ou marco conceitual: cuidado, cuidado de enfermagem, modelo assistencial de

enfermagem, saúde mental, família, gênero e patriarcado, maternidade e paternidade. Além

destes conceitos, na construção do marco conceitual desse estudo, utilizamos as ideias de Paulo

Freire, de forma destacada. Elas subsidiaram esta pesquisa e, também, foram de extrema

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importância para o nosso processo de formação como “Mestre em Enfermagem” e, portanto,

como educadora. Assim, consideramos oportuno apresentarmos um pouco sobre Paulo Freire e

sobre a sua pedagogia libertadora.

3.1. Sobre Paulo Freire e sua pedagogia libertadora

Paulo Freire foi um educador e filósofo brasileiro que viveu entre 1921 e 1997, nascido

em Recife, Pernambuco. Sua vida e obra foram marcadas por uma postura político-ideológica

direcionada para a superação das relações de opressão, a favor dos pobres e oprimidos, por sua

indignação contra as injustiças e seu grande desejo de transformação da sociedade.

Devido à relevância de sua obra em favor da educação, no ano de 2012, por meio da

Lei 12.612, de 13 de abril de 2012, Paulo Freire foi declarado o Patrono da Educação do Brasil

(BRASIL, 2012a).

Paulo Freire conta que foi alfabetizado por seus pais, no quintal de casa, brincando com

gravetos, à sombra das mangueiras. Aprendeu, também, o diálogo na família, a partir da

amorosidade de seus pais. Diz Paulo Freire: "As mãos de meus pais, não haviam sido feitas

para machucar seus filhos, mas para ensinar-lhes a fazer coisas". Desenvolveu seus estudos com

dificuldade, formou-se em Direito, mas abandonou a profissão de advogado logo depois da

primeira causa, dedicando-se à educação popular. Dedicando-se a lecionar e convivendo com

a classe popular, Freire descobriu a importância de ser compreendido pelo povo, usando-se de

uma linguagem simples e, ouvindo a realidade do outro, estabeleceu a relação que pautaria toda

a sua obra, ou seja, o diálogo franco e horizontal (CARNEIRO, 2006).

Entre os anos 1950 e 1960, o Brasil passou por inúmeros marcos históricos na política

e, nesse contexto, Paulo Freire, participando do Movimento de Cultura Popular do Recife,

realizou a experiência de Angicos (cidade do estado do Rio Grande do Norte), onde alfabetizou

300 trabalhadores em 45 dias. Por conta dessa experiência, Paulo Freire foi convidado pelo

Presidente João Goulart para coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização (CARNEIRO,

2006).

Freire permaneceu à frente desse projeto até 1964, quando o governo foi deposto pelo

golpe militar. Mesmo estando na fase de oferecer cursos de formação de coordenadores de todos

os estados, a Campanha Nacional da Alfabetização foi denunciada e encerrada pela alegação

de ser “perigosamente subversiva” e o educador foi exilado. Esse foi um período bastante

tenebroso para a educação e educadores brasileiros (CARNEIRO, 2006).

Em seu exílio, Freire passou por vários países da América Latina, Estados Unidos da

América, Europa, África e permaneceu por mais tempo no Chile (cinco anos) onde escreveu o

Page 21: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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seu livro mais famoso “Pedagogia do Oprimido”. Depois, instalou-se na Suíça e, através do

trabalho no Conselho Mundial de Igrejas, visitou diversos países da África, onde ajudou vários

deles a organizar seu sistema de ensino. Em suas andanças pelo mundo, ainda exilado, Freire

escreveu diversos livros que sustentam a sua pedagogia libertadora, sempre se baseando em

suas vivências e no compartilhamento de saber entre quem ensina e quem aprende

(CARNEIRO, 2006).

Com o fim do governo militar, Freire voltou para o Brasil e, em 1989, assume a

Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, a convite da então prefeita Luiza Erundina.

Paulo Freire declarou que sua metodologia busca construir um conhecimento na escola que seja

relevante e significativo na formação e vida dos educandos, uma pedagogia crítico-dialógica"

(FREIRE, 2018b).

Elegemos a pedagogia libertadora de Freire por compreendermos que para realizarmos

uma atividade educativa com a comunidade, ela só seria efetiva se fosse compartilhada

integralmente com aquelas pessoas que vivenciam a realidade social daquele ambiente. Durante

toda a sua vida e estudo, Freire discutiu essas ideias da opressão ao povo de diversas formas e

ângulos, mas, em momento algum nos proporcionou um método, uma “receita” de como

efetivamente implementar a sua Pedagogia libertadora. Então, como poderíamos fazer isso?

Como poderíamos fornecer a “liberdade das opressões” ao oprimido? E a resposta é simples:

não podemos!

Ao longo de seus estudos, Freire nos estimula a refletir que “como posso oferecer a

liberdade a alguém ao mesmo tempo que impomos como isso irá ocorrer? Como poderíamos

desejar que o povo desperte e perceba-se oprimido quando os direcionamos e condicionamos a

fazê-lo de determinada maneira? ” E essa é a principal dificuldade da Pedagogia libertadora,

percebermos que como implementadores deste ideal, temos como objetivo oferecer apoio,

suporte e elementos que os provoquem e os desafiem a perceber sua realidade, e por isso a base

de toda a Pedagogia da liberdade é o diálogo, pois através dele conseguimos estabelecer

relações horizontais, valorizando o vivido, sentido e falado por aqueles que estão

compartilhando aprendizados, que é o ponto de partida da educação libertadora, o pensar do

povo (FREIRE, 2018a).

Portanto, a pedagogia do oprimido, ao invés de um método completo, tem dois

momentos distintos. O primeiro, em que através do diálogo o oprimido percebe o mundo das

opressões e vai se descobrir como agente da transformação dessa realidade; o segundo

momento, com a realidade das opressões já suprimida, a pedagogia do oprimido passará a ser a

pedagogia do homem em processo de permanente libertação (FREIRE, 2018a).

Page 22: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

17

Os temas relevantes para o aprendizado devem ser problematizados e apresentados

como um desafio com potencial para ser superado através da reflexão e ação. Os temas

emergem da própria discussão e descobertas do povo, e isso não surge do vazio, e sim do

convívio, dos laços e relações existentes com as pessoas e ambientes ao qual está submetido. E

para se descobrir esses temas, é necessário o diálogo, mais o “ouvir” que o “falar”, a reflexão

em grupo e a contribuição de pensamentos de todos os envolvidos, num processo de

investigação cada vez mais aprofundada, num “ir e vir” buscando aproximação com a totalidade

(FREIRE, 2018a).

Paulo Freire acrescenta que todo esse processo de devolver o poder de libertar-se ao

oprimido é de suma importância, pois somente a liberdade conquistada por eles será

significativa, ao considerarmos todo o processo que eles desenvolverão até chegar ao objetivo,

o desenvolvimento do senso crítico, a capacidade de perceber-se como oprimido, a mobilização

e debate com outros na mesma condição, etc. e isso não irá ocorrer se a liberdade for lhes “dada”

e não por si conquistada (FREIRE, 2018a).

Sendo assim, a proposta de Freire é o desenvolvimento de um novo modelo de educação

em que, através da análise da realidade vivida, busquemos superar as adversidades e melhorar

a vida, mas para isso é necessária uma visão crítica do ambiente ao qual nos inserimos e só

através de uma educação popular libertadora alcançaremos esse fim, pois é necessário que a

educação passe a ser vista como um ato político (SILVEIRA et al., 2005, p.161).

Portanto, para Freire (2018b), deve haver uma emancipação daqueles que são

dominados. E, para tal, a enfermagem vem se apropriando desses conceitos para desenvolver

uma prática profissional problematizadora da realidade social (SILVEIRA et al., 2005).

3.2. Cuidado e cuidado de enfermagem

Partindo da perspectiva emancipadora de Freire, diversas áreas vêm se apropriando de

seus conceitos, sendo a saúde uma delas, a fim de construir novas práticas profissionais. Na

concepção freiriana o cuidado passa a ser visto como algo compartilhado entre quem cuida e

quem recebe o cuidado e, portanto, deve contemplar diversos aspectos de sua vida, sua história,

cultura e valores, permeando e influenciando as relações estabelecidas (SILVEIRA et al., 2013).

Para abarcar todos esses aspectos, na concepção freiriana, o cuidado deve ser

construído de modo personalizado, ou seja, ser próprio e pessoal, com cada indivíduo, e isso só

pode ser possível se o profissional assumir um “posicionamento político em favor da liberdade”

(SILVEIRA, et al. 2013, p.550). Também é necessário compreender que existe um saber

naqueles que estão sendo cuidados, que deve ser aproveitado e potencializado para a construção

Page 23: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

18

de novos saberes, e quando não for possível, deve-se adotar métodos e estratégias para que as

novas construções de saberes não sobreponham os já existentes (PIRES, 2005).

A enfermagem vem se apropriando das ideias de Paulo Freire na busca de ressignificar

as práticas profissionais. Pires (2005) construiu um modelo chamado de “triedo emancipatório

do cuidar” em que o cuidado, visto na perspectiva emancipatória, se caracteriza pela busca em

resgatar sua dimensão política, que reside basicamente em reconhecer que, por ser uma ajuda

e, portanto, poder, tanto domina quanto liberta. Por isso, a construção do cuidado pela

enfermagem deve abarcar aqueles que dele necessitam, pois, de acordo com Freire, a liberdade

só é conquistada pelos oprimidos, quando estes se percebem como dominados e lutam contra

essa condição.

O objeto de trabalho da enfermagem, o cuidado, é considerado por Silveira et al. (2005)

como um trabalho coletivo, pois não é simplesmente o desempenho de uma atividade, visto que

os profissionais compartilham seu objeto com aqueles que por eles são cuidados e com outros

profissionais, tudo isso mediado pelo ambiente. O trabalho coletivo possibilita aos participantes

realizar uma reflexão do processo e os convidam ao diálogo, tomando decisão em conjunto e

permitindo uma maior responsabilização dos usuários no cuidado, estimulando e desafiando-os

a “cuidar de si” (SILVEIRA et al. 2005).

O cuidado é um dos pilares na construção de ações de promoção da saúde definidas no

documento conclusivo da Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde da OMS,

a Carta de Ottawa, de 1986, que a definem como um processo em que a comunidade e

indivíduos atuam para a melhoria de sua qualidade de vida e saúde, o que inclui a participação

social.

A saúde é construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e com os

outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle sobre as

circunstâncias da própria vida, e pela luta para que a sociedade ofereça

condições que permitam a obtenção da saúde por todos os seus membros

(OMS, 1986, p.3).

Ainda, segundo a OMS (1986, p.1), “para atingir um estado de completo bem-estar

físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer

necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente”. A OMS completa afirmando que

“a saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver”. E o

desenvolvimento humano, para alcançar esse objetivo, é social e comunitário.

Portanto, o cuidado de enfermagem na perspectiva emancipadora busca estimular a

participação do sujeito em seu próprio cuidado, deixando de ser passivo no processo para se

tornar o agente principal de sua própria condição. E o profissional a “fortalecer-se para ocupar

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um lugar no mundo e ampliar seus conhecimentos de modo a qualificar a assistência prestada”

(SILVEIRA et al. 2013, p.160).

3.3. Modelo Assistencial de Enfermagem no Programa de Saúde da Família (PSF)

Desde a criação do Programa de Saúde da Família, em 1994, pelo Ministério da Saúde,

seu objetivo foi modificar a forma que o atendimento à população era realizado. Para isso, o

programa constrói um novo modelo assistencial de saúde em que as equipes multiprofissionais

se aproximam dos domicílios e, com o auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs),

conhecem mais profundamente as necessidades dessa comunidade (COSTA et al. 2009).

Durante esses 26 anos o programa procura alcançar esses objetivos e traçar novas

estratégias para melhor atender a população como, por exemplo, a inserção de práticas

humanizadoras no atendimento ao usuário, preconizado pelo MS e inserido nos atendimentos

de saúde nas Unidades de Atenção Básica (UBS). Neste estudo, buscamos construir um modelo

assistencial de atendimento a gestantes e seus companheiros, baseada na humanização da

atenção à saúde e na teoria libertadora de Freire.

Acreditamos que quando humanizamos o atendimento a gestantes, estamos

automaticamente construindo/inserindo a pedagogia libertadora de Freire, pois uma assistência

humanizada proporciona às mulheres confiança e segurança durante o pré-natal, no parto, no

cuidado de si mesma e de seu filho. Essa confiança e segurança são conquistadas através de

estímulos da autonomia, que segundo Fleury-Teixeira et al. (2008) é uma condição que

proporciona a liberdade de exercer domínio ativo de si e de sua capacidade de definir suas

próprias ações e construir sua trajetória na vida. E isso ocorre através do esclarecimento dos

seus direitos no processo de gestação, parto e período pós-parto e, consequentemente, essas

intervenções auxiliam a mulher a retomar o seu lugar em um processo que por direito lhe

pertence (SILVA et al., 2011).

Quando o processo de nascimento dos filhos é baseado em atitudes humanizadoras de

atendimento à saúde, muitas mães “têm uma experiência maravilhosa de autotransformação,

sentindo-se capazes em seu novo papel social. Esta experiência estimula a conscientização e o

interesse pela sociedade, tendo como consequência o fortalecimento social” (SILVA et al. 2011,

p. 61).

Portanto, em um modelo assistencial baseado na Humanização, a mulher deve ter o

controle das ações, participando dos processos de decisão sobre seu próprio cuidado.

Proporcionar subsídios para que essas mães assumam esse papel, é responsabilidade da equipe

de saúde. Nesse estudo, através de diálogos abertos e em grupos, propusemos momentos de

Page 25: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

20

reflexões sobre diversas temáticas que influenciam na saúde mental das mães após o nascimento

dos filhos, inclusive sobre seus direitos nesse processo, pois a qualidade da assistência ao parto

e pré-natal pode ser tanto um fator de risco como um fator protetor para o desenvolvimento da

DPP.

3.4. Saúde Mental

Para estabelecer a forma como trabalhamos o conceito de saúde mental neste estudo,

iremos primeiramente realizar uma breve recapitulação sobre o processo histórico pelo qual a

“loucura” passou ao longo dos séculos, especificamente da idade média até os dias atuais.

Os transtornos psicoemocionais sempre existiram em nossa sociedade, mas a forma em

que foram vistos se alterou ao longo do tempo, sempre de acordo com as condições sociais,

econômicas, religiosas, etc. Nos tempos medievais em que haviam pouquíssimos médicos e

nenhum hospital, a loucura compartilhava o espaço com a população “normal”, os loucos eram

livres para ir e vir na sociedade e buscar seu sustento como bem lhe convinham. Com o início

do processo manufatureiro econômico na Europa, inicia-se também a mudança na percepção

da loucura, passando a ser considerado um problema social e desde então ela assume status de

algo a ser tratado, medicalizado e combatido (ALVES, 2009).

Com a medicalização e, após isso, o processo de institucionalização da saúde, a

psiquiatria nasce e assume a responsabilidade por esse paciente, dando origem aos hospitais

psiquiátricos que, inicialmente, tinham por objetivo tratar os transtornos psicoemocionais. Mas

com o passar dos anos, a psiquiatria assume a postura de, unicamente, segregar e reprimir essa

população e com aumento de denúncias de maus tratos dentro desses hospitais, surgem os

movimentos da sociedade que deram origem a Reforma Psiquiátrica (ALVES, 2009).

O processo da Reforma Psiquiátrica brasileira que surge da necessidade de mudar a

prática assistencial e de gestão da saúde mental perdura até os dias atuais e continuará ao longo

do tempo (AMARANTE, 2007). Como ela foi inicialmente construída no mesmo período da

Reforma Sanitária, as diretrizes que a regulamentam são os mesmos do Sistema Único de Saúde

(SUS), sendo eles: a descentralização da assistência, o atendimento integral aos pacientes,

valorização da participação social, a preservação e valorização da autonomia e garantia de sua

integridade física e emocional (EMMANUEL-TAURO; FOSCACHES, 2018)

As ideias da Reforma Psiquiátrica se formalizaram por meio Política Nacional de Saúde

Mental no ano de 2001, com a Lei nº 10216, de 06/04/2001, que dispôs sobre a proteção e os

direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em

saúde mental (BRASIL, 2001). No entanto, a política se tornou mais efetiva em 2011 por meio

Page 26: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

21

da Portaria 3.088 DE 23/12/2011 (BRASIL, 2011b) que instituiu a Rede de Atenção

Psicossocial (RAPS) articulando serviços de saúde voltados para o atendimento clínico e a

efetivação da reinserção ao convívio social, “por meio do trabalho, lazer, exercício da cidadania

e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários” (EMMANUEL-TAURO;

FOSCACHES, 2018, p. 97). Os serviços de saúde presentes na estrutura funcional da RAPS

são: Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que basicamente atendem usuários com

transtornos mentais severos e persistentes, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) a fim

de viabilizar a reinserção social na comunidade dos moradores de hospitais cronicamente

internados, além de ambulatórios e Centros de Convivência e Cultura e do Programa de Volta

para Casa e Inclusão Social pelo Trabalho que são algumas das instituições criadas

exclusivamente aos usuários portadores de transtornos psicoemocionais que encontram-se

estáveis (AMARANTE, 2007).

No entanto, é importante enfatizar que os hospitais e Unidades básicas de Saúde do SUS

possuem responsabilidades no cuidado aos portadores do sofrimento mental. Os hospitais com

a designação de leitos exclusivos para o atendimento durante os surtos até a estabilização dos

usuários e a UBS são responsáveis pelo atendimento de outros agravos de saúde assim como o

acompanhamento dos tratamentos de saúde mental desses usuários (BRASIL,2004).

O trabalho realizado pela RAPS pode ser relacionado com a pedagogia emancipadora

de Freire ao analisarmos os seus objetivos e o funcionamento das suas instituições vinculadas.

Inicialmente, no CAPS, o usuário deverá buscar auxílio da instituição de forma espontânea ou

através de encaminhamento de outras instituições de saúde onde ele é, então, acolhido por um

dos profissionais (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, etc.)

e escutado em suas particularidades. A partir de então, a equipe busca construir, juntamente

com o indivíduo, o seu projeto terapêutico em que se baseará todo seu tratamento (BRASIL,

2004), sendo que esse projeto terapêutico deve ser compartilhado através de mecanismo de

referência e contra referência com a UBS, sendo ela a responsável por auxiliar no

acompanhamento da efetivação do tratamento, ao mesmo tempo que descentraliza o cuidado

dos hospitais e consequentemente diminui a forma medicalizada com a qual o sofrimento

mental é tratado, efetivando o princípio da intersetorialidade defendida por Amarante (2007).

Enquanto o CAPS é direcionado para portadores de transtornos mentais severos e

persistentes (como a esquizofrenia, transtornos compulsivos obsessivos e transtornos de humor

bipolar) as UBS têm a responsabilidade de acolher e cuidar de pacientes com doenças leves ou

moderadas e transitórias, como nos casos de DPP.

Page 27: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

22

Tal como já apontava estudo de Lucchese et al. (2009), em que foram analisadas as

condições concretas da assistência à saúde mental em unidades de PSF de Cuiabá, continua

sendo urgente “a necessidade de mudança de atitude dos trabalhadores e gestores em reconhecer

e incorporar as manifestações de sofrimento psíquico como objetos de seu trabalho na atenção

primária” (LUCCHESE et al., 2009, p. 2041). Portanto, ao construirmos esse modelo de

assistência como o proposto por nossa pesquisa, estamos efetivando o cuidado a portadores de

sofrimento emocional já previstos pelo MS, através das RAPS (BRASIL, 2004).

Sendo assim, todo esse processo que o cuidado em saúde mental passou ao longo dos

tempos, nos leva a perceber que esta é a área da saúde que mais se aproxima com a defendida

ideia do cuidado na perspectiva emancipatória, pois nela se estimula a responsabilização do

paciente pelo seu próprio cuidado e assegura seu direito a assumir um papel social. No entanto,

não há somente a necessidade de mudança da postura do usuário, é necessário que o profissional

de saúde assuma uma posição política e social em defesa desses direitos, e isso é complexo,

pois envolve profissionais, esferas governamentais, instituições de ensino, etc. e é

imprescindível que o profissional perceba que essas mudanças necessárias são somente de

ordem prática, mas também de saberes, valores culturais e sociais (EMMANUEL-TAURO e

FOSCACHES, 2018).

Além do mais, concordamos com Rézio et al (2019, p.7) segundo a qual “o cuidado em

saúde mental envolve aspectos jurídicos-políticos, formação, valores éticos e políticos nos quais

o cuidado é centrado no usuário/família”. Assim sendo, o cuidado em saúde mental não mais

pode ser pensado apenas de modo “restrito ao medicamento, centralizado no saber e poder

médico e a soluções padronizadas, mas sim pautado na integralidade, no contexto do sujeito e

na sua singularidade psicossocial” (RÉZIO et al., 2019, p. 7).

Nesse sentido, a proposta de cuidado de enfermagem que exercitamos nessa pesquisa

considera a saúde mental no paradigma da Reforma Psiquiátrica que, tal como afirma Oliveira

(2004) trata-se de um “novo paradigma político-social-científico-assistencial [...] em que a

cidadania é o instrumento central da abordagem terapêutica e, simultaneamente, a meta a ser

atingida”, sendo que a ampliação da cidadania se realiza por meio de um cuidado dialogado e

realizado por meio de exercícios contratuais nas três esferas de relações - habitat, rede social e

trabalho com valor social. Sobretudo, trata-se de “uma nova ética no cuidado: não mais o

isolamento e a classificação, mas a inclusão, o acolhimento, a compreensão e a ampliação da

cidadania” (OLIVEIRA, 2004).

Page 28: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

23

3.5. Família

Os conceitos de famílias são amplos e se modificam de acordo com o tempo histórico e

também a partir das diversas vertentes teóricas. Uma das definições presentes em estudos de

enfermagem é o conceito proposto por Craft e Willadsen (1992) que afirmam que família é um

contexto social composto por dois ou mais membros onde o cuidado, responsabilidade,

convivência prolongado e laços mútuo faz parte da sua dinâmica.

Assim como a própria definição de família se modifica, a enfermagem também passa

por diversas transformações ao longo do tempo. Com a transição da perspectiva do cuidado que

passa do enfoque biomédico para o biopsicossocial, o ser humano passa a ser analisado por

todas as suas peculiaridades. Nesse sentido, a enfermagem avançou ao considerar a família

como o principal e mais importante contexto a ser cuidado.

Marcon e Elsen (1999, p.22) afirmam que “embora a saúde da família e a de seus

membros seja diferente, estão interligadas. A situação de saúde/doença de um dos membros

afeta a saúde da família”. Portanto, essa percepção amplia o objeto de atuação do trabalho de

enfermagem e o cuidado deixa de ser pontual para um de seus membros, englobando todos os

membros de sua família, e ela torna-se, ao mesmo tempo, objeto de investigação, de assistência

e, consequentemente, foco do trabalho de enfermagem (MARCON E ELSEN, 1999).

Concordamos com as autoras Marcon e Elsen (1999) ao considerarmos que nas

pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa Enfermagem, Saúde e Cidadania (GPESC), do

qual fazemos parte, e tem como um de seus principais focos a família e o cuidado familiar, os

resultados obtidos comprovam que a família é imediatamente afetada pelo adoecimento de um

de seus membros e é, portanto, a primeira instituição a cuidar e se rearranjar para suprir as

necessidades do membro adoecido (CERENCOVICH, 2014; MUFATO et al., 2012; HILLER

et al., 2011; ALMEIDA et al., 2014).

Wrigth e Leahey (2008), afirmam que o ambiente familiar molda seus membros através

da convivência e, quando afetadas por situações traumáticas, a família se reorganiza, remaneja

e se reequilibra sempre preservando os laços que a compõem. As autoras afirmam ainda que

as relações familiares são tão enlaçadas umas às outras, que estudar separadamente os membros

individuais da família, não é o mesmo que estudar a família como um todo.

Considerando o exposto, compreendemos a razão pela qual estudiosas sobre família

(WRIGTH e LEAHEY, 2008; GOODMAN, 2008) defendem que, para compreendermos o

contexto de adoecimento e vida de uma pessoa, devemos estudar e observar todos os membros

de sua família, sendo isso, segundo Goodman (2008) o próximo passo para o estudo de casais

férteis.

Page 29: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Ainda, em busca de um conceito mais próximo da perspectiva emancipatória,

encontramos os estudos de Mioto (2010), da área de serviço social, segundo a qual a família

constitui-se como um espaço muito complexo em suas diversas configurações. Para a autora,

[...]a família é construída e reconstruída histórica e cotidianamente, através das

relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre seus membros e

outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da sociedade, tais como Estado,

trabalho e mercado. Reconhece-se também que, além de sua capacidade de produção

de subjetividades, ela também é uma unidade de cuidado e de redistribuição interna

de recursos. Portanto, ela não é apenas uma construção privada, mas também pública

e tem um papel importante na estruturação da sociedade em seus aspectos sociais,

políticos e econômicos (MIOTO, p. 167-168, 2010).

Concordamos com a referida autora, uma vez que essa concepção se opõe a outras que

definem família a partir de visões tomadas como ideal (como um casal e seus filhos), com

papéis pré-definidos, que a concebem apenas na perspectiva relacional ou que a tomam como

a principal responsável pelo bem-estar de seus membros, não levando em conta as mudanças

ocorridas na sociedade (MIOTO, 2010).

Assim, apoiadas nas elaborações de Craft e Willadsen (1992), Marcon e Elsen (1999),

Wrigth e Leahey (2008) e Mioto (2010), construímos um conceito de família para este estudo,

qual seja:

Família é uma instituição social “construída e reconstruída histórica e cotidianamente,

através das relações e negociações que estabelece entre seus membros, entre seus membros e outras

esferas da sociedade” (MIOTO, 2010, p. 167-168), composta por dois ou mais membros, onde o

cuidado, responsabilidade, convivência prolongada e laços mútuos fazem parte da sua dinâmica

(Craft e Willadsen, 1992). A situação de saúde/doença de um dos membros afeta a saúde da

família (MARCON, ELSEN, 1999) e, portanto, o cuidado de enfermagem em situações de

adoecimento, tais como a DPP, devem considerar o contexto familiar (Wrigth, Leahey, 2008),

mas também outras esferas da sociedade como as políticas públicas, o Estado, trabalho, as

relações de gênero, raça, classe, dentre outras.

3.6. Gênero e Patriarcado

Partimos da compreensão de que para se discutir a maternidade e paternidade e suas

repercussões nos casais, em suas mais diversas fases e condições de vida, temos que

primeiramente falar sobre a condição e relação do masculino e feminino e divisões de papéis

na sociedade patriarcal à qual estamos inseridos. As discussões sobre gênero na

contemporaneidade estão muito vinculadas aos movimentos feministas e, para nossa melhor

compreensão, faremos uma breve leitura histórica desses movimentos.

Page 30: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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O feminismo surge no ocidente com o movimento das Sufragistas, quando mulheres

europeias (inicialmente) foram às ruas lutar pelo direito ao voto e a inclusão do sexo feminino

na esfera pública da sociedade. Mas foi na década de 1960 que surgiu a chamada “segunda onda

do feminismo”, em que o embasamento teórico sobre o tema emerge e passa a existir o estudo

da mulher (LOURO,1997)

O argumento utilizado para se justificar as diferenças sociais existentes entre homens e

mulheres nesse período é o mesmo utilizado ainda hoje, segundo o qual as características

específicas de cada sexo, impossibilitam ou facilitam o desenvolvimento de determinadas

funções (LOURO, 1997). E é a partir dessa afirmação que se inicia por parte das feministas as

discussões de gênero. Assim sendo, elas passam a defender que

[...] não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas

características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre

elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada

sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as

relações de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus

sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos (LOURO, 1997,

p.21).

A pesquisadora Joan Scott, em seus estudos, afirma que gêneros são nada mais que

relações sociais desenvolvidas baseadas nas “diferenças percebidas entre os sexos” (1995, p.

86), e continua ao estabelecer que isso é uma forma de relação de poder. As discussões de

gênero não pretendem negar a biologia no que diz respeito ao sexo, e sim vem para enfatizar a

importância que construções sociais e históricas têm sobre eles. Basicamente, gênero diz

respeito “ao modo como as características sexuais são compreendidas e representadas”

(LOURO, 1997, p.22).

Portanto, ao compreendermos que o feminino e masculino são construções sociais e

históricas, a divisão social por sexo também é. Sendo assim, todas as ideias existentes de papéis

pré-estabelecidos de acordo com seu sexo foram construídas pela sociedade, e pode ser

desconstruída pela mesma. Esse é um ponto importante desse estudo, pois, de acordo com a

bibliografia encontrada sobre esse tema e citada no início deste estudo, grande parte das aflições

dos pais e mães adoecidos pela DPP nascem das dificuldades de se adaptarem nesses papéis.

Ou seja, considerando a construção social dos gêneros (masculino e feminino) a maioria das

mães não se encaixam no perfil de perfeição imposto e, em geral, o pai mantém-se afastado do

ambiente familiar por não ser característica masculina a paternidade baseada na presença,

carinho e cuidado direto à dupla mãe filho, e sim em prover bens materiais para a manutenção

da mesma.

Page 31: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

26

Assim como “gênero”, consideramos que a discussão do “patriarcado” precisa ser

compreendida para que possamos construir um modo de melhor cuidar e promover a saúde

mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho.

O patriarcado é a crença de que o homem, somente por ser do sexo masculino, detém o direito

de dominação sobre as mulheres, simplesmente por essas serem do sexo feminino (SAFFIOTI,

2004). Essa crença é extremamente presente do sistema social atual. O patriarcado está tão

intrínseco na sociedade que sua existência explica a maioria das mazelas das quais as mulheres

sofrem.

O patriarcado se sustenta, principalmente, pela imposição da força do homem sobre

todos os aspectos da vida da mulher e, justamente por ser o objeto de dominação do patriarcado,

as mulheres são as que mais sofrem suas marcas: violências domésticas, sexuais, psicológicas

e os feminicídios, fazem parte do cotidiano das vidas femininas em todas as partes do mundo,

sendo reflexo do controle que os homens acreditam ter sobre o corpo, mente, sexo e sexualidade

femininos (SAFFIOTI, 2004).

No entanto, não são somente as mulheres que são afetadas pelo patriarcado. O machismo

criado por essa crença afeta também os homens. As características físicas, emocionais e

comportamentais masculinas são muito bem definidas dentro dessa ideologia por ser justamente

elas que os diferem das mulheres e, portanto, justificam a dominação sobre o sexo feminino.

No entanto, quando um homem não se encaixa ou se submete a uma dessas características ele

também passa a sofrer com o peso da discriminação e, como consequência, temos homens que

limitam e eliminam traços de sua personalidade (ser carinhoso, empático, emocional, etc.) para

enquadrar-se no papel masculino esperado (LOURO,1997)

Em nossas discussões para a construção deste referencial compartilhamos um fato

recorrente na enfermaria obstétrica de nossa realidade que nos chamou a atenção. Notamos que

os homens/pais que estavam ali observavam de longe as interações mãe/bebê/equipe de saúde,

mas não se aproximavam voluntariamente para participarem desses momentos. No entanto,

quando algum membro da equipe lhe delegava tarefas referentes ao cuidado com o filho, os

pais o faziam com a maior afeição e carinho. Na nossa percepção, constatamos, que o

patriarcado limita tanto a sensibilidade dos homens que eles só se sentem à vontade para

demonstrar suas emoções quando recebem a “permissão” dos profissionais, pois estes dão a

eles as justificativas para seu momento de “fraqueza”, sem que afete a forma como é visto pelos

que lhe cercam. Percebemos, atualmente, um movimento derivado de práticas humanizadas

voltadas ao parto que tem impulsionado e estimulado a participação do pai no nascimento e

cuidados à mulher e ao recém-nascido, sendo estes estendidos ao puerpério.

Page 32: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

27

3.7. Maternidade

O processo de maternidade se alterou ao longo dos séculos e de acordo com a

importância e visibilidade que era dada à mulher e à criança em cada período, a concepção de

maternidade se alterava para melhor se adaptar às necessidades políticas, sociais e econômicas

daquela época específica. Na Idade Média, em que a mulher era considerada pela Igreja Católica

como a pecadora original, por ser descendente de Eva e, portanto, tinha um local subjugado e

inferiorizado na sociedade, a maternidade era somente o parto, após isso, as senhoras delegavam

a amamentação, e cuidados dos recém-nascidos às amas de leite, com o envio das crianças para

as amas de leite, começou-se a perceber que essas morriam aos milhares por maus tratos e

alimentação inadequada (BADINTER,1985).

Ao final do século XVII os países europeus, principalmente a França, experimentaram

o envelhecimento de sua população e por consequência a necessidade de fortalecer seus

exércitos, então, a maternidade começou a ser valorizada e as mulheres estimuladas a retirarem

seus filhos das casas das amas e a cuidá-los em casa para que chegassem vivos e saudáveis à

vida adulta. Desse modo, as mulheres se viram exercendo funções de grande importância para

a nação. Esse papel materno foi estimulado cada vez mais, diante dos vários acontecimentos na

Europa em que se observava a necessidade futura de mão de obra, bem como de soldados nas

guerras vindouras (BADINTER,1985).

Então, a maternidade pouco a pouco vai assumindo o lugar que ocupa hoje, as mães

passam a maternar seus filhos pessoalmente, e a maternidade, de função biológica, passa a ter

cada vez mais uma representação e função social (BADINTER,1985).

Esse resgate histórico da forma que a maternidade é vista socialmente é relevante para

compreendermos Simone de Beauvoir quando, em 1949, ao lançar o seu livro “Le Douxiéme

Sexe” (O segundo sexo), afirma que a maternidade é também um processo social, a forma como

a gravidez e após isso a maternidade é vivenciada pela mulher depende das relações sociais

estabelecidas com ela mesma e com aqueles que a rodeiam (BEAUVOIR, 2009).

Além disso, Beauvoir (2009) defende que, diferente do que é aceito socialmente, a

maternidade não é inerente à mulher, assim como a autora defende que “não se nasce mulher,

torna-se mulher”, a maternidade também é um processo construído pela mulher, alicerçada em

todas as relações estabelecidas ao longo da sua vida. Portanto, a maternidade é vivenciada de

maneira diferente para cada mulher e a gravidez que se desenvolve na resignação, revolta, e

insatisfação, possibilita que a mulher passe a “receá-la em silêncio, detestá-la, através de

Page 33: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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obsessões, de alucinações, de recordações de infância que ela própria se recusa a admitir”

(BEAUVOIR, 2009. p. 491).

Ainda para essa autora, a maternidade é tão impactante para a mulher que nenhuma

deveria exercê-la contrária à sua vontade, e esse foi um pensamento ousado tanto para aquela

época quanto nos dias de hoje, em que ainda se acredita que o ápice da realização feminina

deve ser quando ela assume seu “destino fisiológico” e torna-se mãe (BEAUVOIR, 2009). A

maternidade pode ser tão avassaladora para as mães, que para grande parte das mulheres é difícil

definir claramente as emoções suscitadas por ela, seja pela culpa dos sentimentos negativos

possíveis ou pelo julgamento da sociedade e, quando as mulheres não vivenciam a maternidade

com felicidade exultante, frequentemente são definidas como péssimas e desnaturadas mães,

“por isso, muitas se silenciam e vivem desnorteadas pelas inseguranças e conflitos relacionados

à sua função natural de dar continuidade à humanidade” (REZENDE, 2015. p.8).

3.8. Paternidade

A paternidade, assim como a maternidade, são papéis construídos socialmente ao longo

dos séculos, levando em consideração os gêneros e o papel atribuído a eles. Por esse motivo,

mesmo após todo esse tempo, o homem ainda é visto como o responsável financeiro da família,

seu domínio é o ambiente extrafamiliar, enquanto é da mãe a responsabilidade de criar/cuidar

dos filhos no núcleo da família (ZAMPIER et al., 2012).

O modelo patriarcal que é vigente na sociedade atribui significados específicos à

paternidade, indicando como responsabilidade do homem em prover os bens materiais e as

necessidades subjetivas não são consideradas prioridades na definição de pai (BENARDI,

2017). No entanto, desde as décadas de 1970-1980 vem ocorrendo mudanças nessas concepções

de paternidade, principalmente pelo novo papel que a mãe assume na família. A mulher deixa

de dominar somente o âmbito familiar e passa a contribuir financeiramente, quando não são

elas as únicas responsáveis pelo sustento da família (FREITAS, 2009).

Diante desse novo cenário, há uma necessidade maior que o homem assuma novas

funções dentro da família e os novos pais passam a contribuir com as atividades e

responsabilidades domésticas e com os filhos (atividades escolares e de lazer). No entanto, cabe

ressaltar que, apesar de haver mudanças nas características da paternidade e do homem no

núcleo familiar, ainda é a mulher/mãe a principal responsável por essas tarefas (FREITAS,

2009).

4. METODOLOGIA

Page 34: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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4.1 Tipo de estudo

Considerando os objetivos e marcos teóricos que discutimos até aqui, é a pesquisa

qualitativa que melhor responde as questões que surgiram no decorrer desse estudo. Minayo

(2014) a define como:

[...] estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das

percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a

respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2014, p. 57)

Isso porque compreendemos que a pesquisa é construída a partir da forma como o

pesquisador observa, analisa e compreende o mundo, e seu percurso busca responder as

indagações que surgem durante a construção e desenho do seu objeto de estudo. A escolha do

tipo de pesquisa a ser realizada deve ser, portanto, pautada nos tipos de respostas que buscamos

encontrar e, neste caso, como pretendemos construir um modelo de cuidado de enfermagem

para a promoção da saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão

após o nascimento do filho, necessitamos, inicialmente, conhecer os participantes da pesquisa

em diversos âmbitos de sua vida, social, familiar, trabalhista, emocional, etc. e, para isso,

necessitamos que eles nos contem e signifiquem sua história, o que somente a pesquisa

qualitativa é capaz de proporcionar.

Para responder o objetivo geral deste estudo optamos por nos apoiar na abordagem da

Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), pois esse método propicia ao pesquisador uma

aproximação maior com a assistência à saúde, assim como com a população daquele espaço

(PAIM et al. 2008). Esse método foi desenvolvido por enfermeiras brasileiras para o trabalho

de final do curso de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina,

teve sua primeira publicação em 1999 e vem ganhando espaço nas pesquisas, principalmente

em mestrados e doutorados de Enfermagem. A PCA consiste, basicamente, na associação da

pesquisa e prática assistencial que devem ser desenvolvidas simultaneamente em espaço e

tempo (PAIM et al. 2008).

Ainda segundo as autoras e desenvolvedoras do método, a ideia surgiu a partir dos

questionamentos e inconformismos com o distanciamento que o processo de investigação e

pesquisa assumiu na prática profissional assistencial (PAIM et al, 2008). Para elas, a

aplicabilidade da PCA seria tanto para as pesquisas científicas quanto para o dia-a-dia de

trabalho assistencial, pois possibilita ao profissional dar visibilidade a problemas, encontrando

soluções ou minimizando seus efeitos, além de introduzir novas práticas qualificadoras da

assistência (ANTONACCI, PINHO, 2011).

Page 35: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Em nosso estudo, especificamente, esse método proporcionou a oportunidade de

desenvolvermos ações (neste caso, rodas de conversas com as gestantes que visaram diminuir

os impactos dos fatores predisponentes para a DPP) e a nossa aproximação das usuárias e dos

profissionais que compunham as unidades de saúde às quais nos inserimos. Concordamos com

as desenvolvedoras deste método ao afirmarem que é necessário que a pesquisa se aproxime

mais da prática assistencial tornando-se subsídio para a melhoria da qualidade do atendimento

à população.

Segundo Paim et al. (2008) a PCA é definida por quatro principais características no seu

processo: (1) a essencialidade que diz respeito à justaposição da prática assistencial com a

pesquisa científica, sempre se relacionando diretamente; (2) a conectividade que exige do

pesquisador e equipe um compromisso em planejar e executar novas ações; (3) a

interfacialidade, se referindo à necessidade de produzir e inserir mudanças no ambiente de

práticas forjadas a partir do método e, por fim, (4) a imersibilidade do pesquisador e pesquisa

no ambiente prático, compreendendo e buscando transformar a realidade do atendimento ao

usuário e das necessidades de saúde daquela população.

Para a sua aplicação, a PCA conta com quatro fases: (I) Concepção, onde ocorrerá

escolha da área de interesse do pesquisador, assim como a aproximação dos aspectos teóricos,

e resulta no tema de pesquisa, a partir do qual são estabelecidos a questão norteadora e os

objetivos e elaboradas a base teórica, a introdução e a justificativa do estudo; (II)

Instrumentação, nesse momento as decisões metodológicas são feitas, refere ao espaço onde

a pesquisa será realizada, a seleção dos participantes, métodos de coleta e análise dos dados.

(III) Perscrutação, são estabelecidas e adotadas as estratégias de obtenção de dados. (IV)

Interpretação, onde os dados obtidos são sintetizados e analisados com base na fundamentação

teórica e atribuindo significação aos resultados, com a explicitação de seus reflexos na

assistência (TRENTINI; PAIM, 2004).

Esse método orientou nossas ações nas rodas de conversas, as quais foram

desenvolvidas nas unidades de saúde, tendo a participação das gestantes e também dos

profissionais de saúde das unidades, com destaque para as ACSs. Elucidamos que os

homens/companheiros e os familiares das gestantes não participaram dos encontros e as

informações referente a eles foram analisadas a partir da fala das mulheres.

Assim, são considerados como sujeitos participantes da pesquisa as pessoas que

foram objeto da intervenção assistencial, ou seja, as gestantes e os profissionais de saúde que

participaram das rodas de conversa, em especial as agentes comunitárias de saúde.

Page 36: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Dentre esses profissionais consideramos importante a participação do ACS nas rodas de

conversas pela importância de seu papel junto à comunidade em que atua, dentre eles, “[...] o

de acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as famílias e indivíduos sob sua

responsabilidade [...]” bem como o “[...] desenvolvimento de ações educativas, visando a

promoção da saúde, e a prevenção das doenças [...]” (BRASIL, 2012b, p. 48 – 49). Desse

modo, sendo o ACS um profissional que tem maior trânsito/contato com as mulheres e suas

famílias em suas residências é, portanto, um profissional que pode influenciar o comportamento

de pessoas sob seus cuidados.

Para fins dessa pesquisa foram realizados três encontros coletivos.

4.2. Estratégia de Recolha de Dados e Trabalho de Campo

Este estudo foi realizado em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) localizadas no

município de Cuiabá-Mato Grosso e contou com a autorização de pesquisa da Secretaria

Municipal de Saúde através do parecer n° 71772019-1/SMS - Cuiabá/2019. Somente para

melhor compreensão, denominaremos as unidades como A e B. No entanto, elucidamos que

em todas as atividades realizadas não houve qualquer divisão entre as gestantes das unidades.

As unidades dividem a mesma edificação, com salas exclusivas de cada equipe e

algumas compartilhadas entre ambas. A recepção/sala de espera, salas de vacina e de curativos,

salas de reunião, sala de computadores, almoxarifado e cozinha são comuns. Já os consultórios

de médicas, enfermeiras e dentistas, além da sala de pré-consultas, são exclusivas de cada

equipe.

A unidade A é composta por uma equipe constituída por uma médica, uma enfermeira,

uma cirurgiã dentista, uma auxiliar de dentista, duas técnicas de enfermagem, uma secretária e

sete agentes comunitária de saúde (ACS), contendo mais duas áreas descobertas. A unidade B

é composta por uma médica, uma enfermeira, um cirurgião dentista, uma auxiliar de dentista,

duas técnicas de enfermagem, uma secretária e quatro ACSs, com 5 áreas descobertas.

Os dados foram obtidos através do instrumento do diário de campo, das gravações dos

áudios seguido das transcrições das entrevistas individuais e rodas de conversa.

Para a análise utilizamos o método da “análise temática” em que, após a leitura exaustiva

do material, os textos foram agrupados em eixos temáticos, separados de acordo com os temas

de maior relevância em consideração ao nosso objetivo. Posteriormente, trechos das falas

considerados representativos dos eixos temáticos foram explicitados na discussão, a qual foi

realizada concomitantemente com a apresentação da história das famílias e as descrições das

rodas de conversa e encontros individuais.

Page 37: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Com as unidades caracterizadas e metodologia definida, descrevemos, a seguir, a

seleção dos participantes e recolha dos dados que subsidiaram os resultados deste estudo.

Fase 1:

Para a identificação das gestantes que estavam realizando o pré-natal nas unidades de

saúde, realizamos o levantamento através dos livros de acompanhamento de gestantes das

enfermeiras e médicas das unidades e do acesso ao Sistema de Informação de Saúde da Atenção

Básica, o e-SUS AB (SUS eletrônico), em que são registrados todos os atendimentos realizados

e agendamentos de consulta pela equipe de saúde. Acessamos, assim, as agendas e consultamos

os atendimentos anteriores realizados às gestantes. De posse dos nomes completos de todas

elas, inicialmente, selecionamos 27 gestantes da unidade A e 41 gestantes na unidade B.

Fase 2:

Nesta fase ocorreu a identificação das gestantes que estavam em seu terceiro trimestre

de gravidez, pois somente elas foram selecionadas para este estudo. Essa escolha se deu

somente em decorrência do tempo que tivemos para a realização deste estudo. Isso porque, para

atingirmos os objetivos propostos, teríamos que realizar o acompanhamento até o seu terceiro

mês de pós-parto. Portanto, considerando o tempo que tivemos para finalizar este estudo ficaria

inviável a seleção de gestantes com menor tempo de gestação.

Com os nomes completos em mãos, utilizamos novamente o e-SUS para consultarmos

os prontuários virtuais das pacientes e obter as informações sobre a atual gestação. Dentre as

gestantes que estavam sendo atendidas pela unidade de saúde A, 12 estavam no 3° trimestre de

gestação, já na unidade de saúde B, 17 encontravam-se no mesmo período.

Após a identificação dos possíveis participantes procuramos os telefones das gestantes

cadastrados e entramos em contato com elas, diretamente, falávamos brevemente sobre a

pesquisa e solicitávamos um encontro em que pudéssemos explicar melhor, bem como

formalizar o convite para a participação do casal. Aquelas gestantes que não tinham no cadastro

um número de telefone, conseguimos o contato com o auxílio das ACSs, as quais iam nas casas

das gestantes e marcavam horários para a visita.

Estabelecemos, primeiramente, como critérios de seleção para este estudo aqueles casais

cujas gestantes estivessem no terceiro trimestre de gestação, sendo ambos com idade acima de

18 anos, casados ou que estivessem se relacionando em função da maternidade/paternidade da

gravidez atual, que morassem juntos e que ambos aceitassem participar deste estudo.

Page 38: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

33

Na unidade A conseguimos entrar em contato com sete gestantes. Dessas, seis eram

casadas e quatro manifestaram vontade de participar. Mas, após contato com os respectivos

companheiros, somente em um caso o homem aceitou participar do estudo. No entanto, a

gestante estava com o parto agendado para duas semanas (desse modo foi excluída do estudo),

e não conseguimos mais a adesão de nenhum casal. Na unidade B conseguimos contato com

quatro gestantes. Dessas, três eram casadas e duas manifestaram interesse em participar do

estudo. No entanto, nenhum dos companheiros aceitou participar.

Elucidamos que os participantes que trabalhavam ou estudavam receberiam um atestado

médico de consulta emitido pelos profissionais da UBS, por entendermos que as ações

programadas neste estudo fazem parte do atendimento preconizado pelo MS, conforme consta

no Caderno de Atenção ao pré-natal de Baixo Risco (BRASIL, 2013), e que deve ser oferecido

às gestantes e famílias. Ainda assim, não obtivemos a adesão desejada dos companheiros à

pesquisa.

Como não conseguimos o número dos participantes que se enquadrassem nos critérios

de seleção, replanejamos o estudo e optamos por realizá-lo com mulheres gestantes com idade

igual ou superior a 19 anos, independente do seu estado civil, condição de união ou convivência

familiar. Dessa forma, optamos por compreender o casal e/ou família através da percepção da

mulher gestante. Também, buscamos compreender a recusa dos homens em participar da

pesquisa na perspectiva das discussões de gênero e papéis sociais na sociedade patriarcal.

Foram selecionadas, portanto, três mulheres gestantes, para participar do estudo, os ACS

e as enfermeiras das unidades.

Sobre a ausência do homem durante o pré-natal, diversos autores que se propuseram a

realizar atividades que necessitavam da presença do pai nas consultas de pré-natal e

equivalentes ou que avaliaram a participação do homem no pré-natal, apontaram a ausência do

mesmo (OLIVEIRA, et al., 2009; HOLANDA, et al., 2018; HENZ, et al., 2017). Ainda de

acordo com Oliveira et al. (2009) isso se deve pelos seguintes motivos: os horários em que

serão realizados esses encontros são os mesmos das suas responsabilidades trabalhistas, o fato

de o homem não ter conhecimento sobre os direitos do acompanhante na participação das

consultas, assim como a falta de interesse em conhece-los e pôr fim a ausência de incentivo e

convites pelos profissionais diretamente aos pais. No entanto, em nosso estudo em especial, não

houve adesão dos homens mesmo com a oferta de justificativas médicas para a ausência no

trabalho, além disso, todos os convites para a participação ocorreram presencialmente.

No entanto, a justificativa que nos foi fornecida para a ausência dos homens, ainda

assim, foi a trabalhista. De acordo com o relato de alguns parceiros, eles tinham conseguido a

Page 39: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

34

inserção no mercado de trabalho havia pouco tempo e após longo período de desemprego e não

queriam apresentar um atestado médico em um período curto. Isso demonstra que a questão

financeira é uma das principais preocupações do homem nesse período e, também se constitui

na literatura como um fator de risco importante para o desenvolvimento da DPP (NISHIMURA,

OHASHI, 2010), além disso e já discutido anteriormente, ainda se tem dificuldade por parte da

sociedade de aceitar que o homem/pai falte ao trabalho para oferecer assistência à esposa ou

filho, o que vai ao encontro do modelo de papel paterno presente na sociedade patriarcal na

qual estamos inseridas (SILVEIRA, LAMOUNIER, 2006).

Fase 3:

Após essas mudanças nos critérios de seleção, obtivemos com mais facilidade o aceite

das gestantes em fazer parte desse estudo e, portanto, fomos ao seu encontro e realizamos as

primeiras entrevistas, em que levantamos os dados iniciais e tivemos a primeira e superficial

compreensão da organização familiar e social dessa mulher. Esse primeiro encontro e entrevista

se orientou pelo levantamento do histórico de enfermagem aplicado nos atendimentos

assistenciais e teve como objetivo conhecer as famílias e as redes de apoio que as cercam. A

partir desses dados, realizamos a construção do genograma de família a fim de identificar os

fatores predisponentes para o desenvolvimento da DPP, bem como o ecomapa para

representarmos em esquema a rede de apoio daquela família (MUSQUIM et al., 2013). Esses

dados do contexto familiar identificados através dessas ferramentas podem ou não se constituir

como fatores protetores para impedir o desenvolvimento da patologia e/ou amenizar a

sintomatogia da mesma.

O genograma, além de ser uma representação gráfica da família consanguínea,

parentescos ou de afetividade, permite ainda compreendermos as relações existentes no âmbito

familiar, possibilitando analisar como as trocas afetivas ocorrem nesses ambientes (MUSQUIM

et al., 2013). Isso será importante pois, de acordo com a bibliografia disponível sobre a DPP, a

qualidade das relações pode ser um fator de risco ou protetor para o adoecimento dos novos

pais.

As representações dos genograma e ecomapa das famílias estão anexadas nas

apresentações das famílias participantes deste estudo, logo abaixo.

Fase 4:

Outra etapa desenvolvida nesse estudo foi proporcionar a essas gestantes atividades de

grupo (rodas de conversa) em que foram abordados temas que as auxiliassem no processo de

construção da maternidade/paternidade. Esses temas foram previamente selecionados com base

Page 40: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

35

nas evidências científicas que definem os fatores protetores para a DPP como: (1) maternidade

e paternidade – sobre esse tema, buscamos desmistificar o papel de mãe e pai construído

socialmente, em que o pai é somente responsável pelo suporte financeiro à criança e que a mãe

nasce sabendo ser mãe e, por isso, deve ser perfeita no papel; (2) assistência ao parto e

prevenção da violência obstétrica – sobre esse tema, buscamos elucidar dúvidas sobre quais são

as violências obstétricas mais comuns, os direitos da mulher no parto e pós-parto e órgãos que

os garantem e (3) pós parto e amamentação – com essa discussão, buscou-se sanar as dúvidas

e falsas noções sobre a amamentação, bem como possibilidades e impossibilidades de

amamentação efetiva, assim como técnicas que auxiliam sua efetivação, além de outros

problemas do pós-parto. Ressaltamos que, considerando os preceitos da Pedagogia libertadora

de Paulo Freire, durante o processo de execução de todas as rodas de conversa, as gestantes

foram convidadas a sugerirem assuntos para novas reuniões e a compartilhar suas dúvidas com

o grupo, a despeito de se referirem aos temas previamente escolhidos. Ressalte-se que a escolha

prévia dos temas dessas reuniões ocorreu baseado na literatura científica da temática. Contudo,

por serem grupos diferentes, suas necessidades poderiam divergir desses estudos e, portanto,

estaríamos abertas a reconstruir e a replanejar esses momentos para que elas se sentissem

contempladas. Em um desses momentos, com a sugestão de uma das gestantes, o tema da última

roda de conversa foi ampliado. Em um primeiro momento, sugerimos a amamentação como

tema, mas fomos alertadas por ela (e com a anuência do grupo) sobre o desconhecimento dos

outros aspectos do pós-parto que também seria de grande importância, principalmente para as

primíparas, ao que acatamos e ampliamos o objeto de discussão dessa roda.

Fase 5:

Por fim, a última etapa deste estudo consistiu na realização de uma entrevista

semiestruturada (APÊNDICE 2) com o objetivo de avaliar as atividades promovidas durante o

estudo e avaliar a efetividade das ações para auxiliar no processo de construção da maternidade.

Esse método foi eleito por proporcionar ao pesquisador a possibilidade de se aprofundar sobre

determinado assunto, sem estar preso a indagações formuladas previamente (MINAYO, 2014).

A análise dessas entrevistas foi realizada pela técnica da Análise Temática, que permite que o

pesquisador identifique, analise, interprete e relate padrões/temas a partir de dados qualitativos

(BRAUN, CLARKE, 2006). Em todos esses passos descritos acima os áudios das conversas

foram gravados por gravador de voz e transcritos na íntegra para compor os dados desta

pesquisa.

Page 41: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

36

Além disso, foi aplicada a Escala de Edimburgo de Depressão pós-parto (EPDS) que é

recomendada para o rastreio de DPP em mães, pelo Ministério da Saúde. Cabe ressaltar que, no

Brasil, a EPDS foi validada tanto para a identificação de sinais e sintomas da depressão entre

gestantes (SANTOS, at. al., 2000; CANTILINO, et al., 2003) como em jovens e adultos

(MATIJASEVICH, et al., 2014). A validação ocorreu em outros países também, como:

Austrália (MATTHEY et al., 2001), Inglaterra (EDMONDSON et al., 2010), China (LAI, et

al., 2010) e Itália (LOSCALZO et al. 2015).

Esclarecemos que a metodologia deste estudo está organizada em etapas que se

desenvolvem subsequentes às outras, somente para a melhor compreensão do leitor, mas que

nem sempre elas ocorreram de forma linear, principalmente as entrevistas individuais e as rodas

de conversas.

4.3. Aspectos Éticos

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Federal de Mato Grosso – campus Rondonópolis, pelo parecer n°3.206.788/CEP-UFMT/2019,

e toda a metodologia acima descrita considerou as Resoluções nº466/2012 (BRASIL, 2012c) e

n°510/2016 (BRASIL, 2016b) do Conselho Nacional de Saúde, para que todas as medidas de

proteção dos participantes de pesquisa fossem cumpridas. Sendo assim, descreveremos as

principais medidas a seguir.

Aos participantes (gestantes e profissionais de saúde das unidades) a participação na

pesquisa ofereceria riscos mínimos, sendo eles, o desconforto ao relatar determinado

evento/assunto, o choro em decorrência de reavivar memórias, entre outras. Tais riscos foram

evitados pelo planejamento cuidadoso das rodas de conversa, o estabelecimento de um acordo

com regras construídas com os participantes para a promoção da partilha de experiências com

respeito e acolhimento. Além disso, as reuniões foram conduzidas com o apoio de minhas

orientadoras, as quais têm larga experiência com o trabalho de acolhimento com grupos,

maternidade e paternidade.

A identidade dos participantes foi preservada. As gestantes que participaram de todas

as etapas do estudo estão identificadas por nomes fictícios e seus respectivos familiares nos

genogramas, e em suas falas também estão identificados por nomes fictícios. Já as gestantes

que estiveram presentes somente nas rodas de conversas, foram identificadas pelas letras G e

números em sequência (G1, G2, etc.). As agentes comunitárias de saúde estão identificadas

pelas letras ACS e números em sequência (ACS 1, ACS 2, etc.) e, por último, a enfermeira da

unidade B utilizamos nomes fictícios

Page 42: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

37

Em relação aos benefícios da participação na pesquisa, tivemos o compromisso de

informar aos participantes que proporcionaríamos momentos de reflexão sobre a condição

social da maternidade e paternidade e que poderíamos identificar casais com riscos sociais e

emocionais de adoecerem ou que já estivessem com depressão no início do estudo e,

consequentemente, proporcionaríamos apoio e tratamento imediatamente após a constatação.

Cabe esclarecer que os resultados serão apresentados a partir da apresentação das

famílias das gestantes, onde por meio das informações obtidas por elas, construímos o

genograma, o ecomapa e identificamos a vulnerabilidade do casal ao desenvolvimento de

depressão após o nascimento do filho em resposta a um dos objetivos específicos deste estudo.

5. RESULTADOS

5.1. AS FAMÍLIAS DAS GESTANTES DO ESTUDO

Apresentamos aqui informações sobre as famílias das gestantes e como já foi dito, esses

dados foram fornecidos somente pelas grávidas ao realizarmos a primeira entrevista com elas,

para a construção do genograma e ecomapa. Os dados que obtivemos através dessas entrevistas,

demonstram as impressões e organizações iniciais da rede familiar e de apoio destas gestantes

e, para melhor compreensão da história familiar, elegemos trechos de falas das entrevistas que

melhor as representava.

5.1.1. Família 1 - A família da gestante Luciana.

A família de Luciana é composta por ela, de 24 anos e agora o seu filho recém-nascido

João Pedro. Luciana é uma mulher negra, é separada do primeiro marido há aproximadamente

um ano. Ela concluiu o ensino médio e trabalha como auxiliar de cozinha em um restaurante.

No momento encontra-se afastada do emprego por licença maternidade.

O pai de Luciana nasceu na Bahia e, ainda na juventude, mudou-se para Cuiabá. Sua

mãe, natural de Nobres, uma cidade no interior de Mato Grosso, também se mudou para a

capital, local onde eles se conheceram e iniciaram o relacionamento, moraram juntos e tiveram

três filhos - um menino, Lucas, a Luciana e Laura, sua irmã mais nova. Após o nascimento da

última filha, eles formalizaram a união e mudaram-se para o interior, um sítio, lugar que

Luciana cresceu e lembra saudosamente.

Aos 19 anos. Luciana começou a namorar com Luís e, um ano depois decidiram morar

juntos, ainda na casa dos pais de Luciana. Permaneceram juntos por três anos e por uma situação

de infidelidade eles se separaram e Luciana se mudou para Cuiabá, onde mora com seu irmão

Page 43: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Lucas, que há cinco anos já havia deixado a casa dos pais para trabalhar na capital. Luciana é

bem próxima de Lucas e mantém um forte laço com ele.

Alguns meses após sua mudança, Luciana conheceu Marcelo, iniciam um caso amoroso

e que permaneceu até a notícia da gravidez, em outubro de 2018, quando Luciana decidiu pelo

término da relação.

O pai dele, a gente, assim... porque nós não namoramos sério, porque eu fui casada

né? Aí eu falei assim: "não, agora eu não quero, namorar sério com ninguém". Só que

aí, eu sempre tomei remédio, só que depois eu engravidei, só que depois eu decidi que

não queria fica com ele.

[...] aí eu não quis ficar com ele, aí eu falei: "não, eu vô ter o neném sozinha". Aí eu

segui em frente sozinha.

[...] é porque, como você já foi casada, você já sabe como que é né? Falei: “ah eu não

quero de novo não”. Falei; “não, está bom, só o meu filho está ótimo... E eu vô dá

conta de cuidar dele sozinha” (Luciana).

Mas, ainda de acordo com seu relato, o pai paga pensão alimentícia, visitou a criança

no hospital após o nascimento e também o faz atualmente aos finais de semana, pois trabalha

todos os dias até no período da noite e não consegue visitá-los mais vezes. Nas semanas

anteriores ao parto, Luciana recebeu a mãe que a acompanhou durante o seu parto e após o

nascimento. Após a realização dos primeiros testes no bebê, decidiu voltar para o interior

enquanto durasse seu auxílio-maternidade, pois lá iria ter mais ajuda da família, mãe e avó, e

seria melhor apoiada por toda a família.

Na figura 1 representamos a família de Luciana e as relações que foram evidenciadas

por ela durante a entrevista.

Figura 1: Genograma da família de Luciana

Page 44: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Fonte: Elaborado pelas autoras

Em relação à sua rede de apoio, Luciana evidenciou seu irmão, sua tia Cléo e os tios

paternos que lhe oferecem suporte e cuidado. Luciana relata, inclusive, que mesmo recebendo

um adicional salarial para o pagamento da creche, oferecido pelo seu emprego, é a tia quem

cuidará de João Pedro enquanto trabalha e isso lhe deixa muito mais tranquila para retornar ao

trabalho.

Minha tia que vai cuidar, a minha mãe já está meio assim, aí minha tia falou que vai

cuidar dele para mim trabalhar... eu não vou deixa ele assim não, só se for o caso de

precisão mesmo (Luciana).

Na figura 2 estão representadas a rede de apoio e as relações que Luciana mantém com

a família e as instituições que prestaram cuidados ao longo da gravidez.

Page 45: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

40

Figura 2: Ecomapa da família de Luciana

Fonte: Elaborado pelas autoras

Com o a aplicação do histórico de enfermagem e a aplicação do Genograma e do

Ecomapa conseguimos identificar nesta família os seguintes fatores: não ter o apoio do pai de

seu filho durante a gestação, parto e pós-parto; ter uma renda familiar que a caracteriza como

estar inserida no estrato social baixo e baixo apoio social. Através do Genograma conseguimos

uma percepção visual da relação abalada com o pai do João Pedro, os conflitos com a irmã, o

fato de Luciana morar somente com o irmão mais velho e distante dos pais. Já o ecomapa nos

permite perceber que as únicas fontes de apoio social são a UBS e seu emprego, e mesmo assim

em momentos pontuais. Além disso, não cita amigos e outras instituições que ofereçam amparo

nesse momento.

5.1.2. Família 2 - A família da gestante Alice

A família 2 é composta por Alice (28), seu marido Jorge (22) e agora seu filho Miguel

recém-nascido. Eles moram com a mãe de Alice (Dona Maria) e dividem o espaço com a irmã

Lurdes e suas duas filhas, - que voltou a morar com a mãe após a morte do marido há alguns

meses - e com um dos irmãos, que divide seu tempo entre viagens de trabalho e a casa da

namorada, passando, assim, pouco tempo na casa em que residem.

Alice nasceu e cresceu em Cuiabá. É uma mulher branca, está desempregada no

momento e é a mais nova entre os dez filhos da Dona Maria e Seu João. Relata que teve uma

infância tranquila e relativamente feliz, só enfatiza a rigidez com a qual foi criada pela mãe.

Dona Maria nasceu em Cuiabá e casou-se com Sr. João, originário de Planalto da Serra-MT.

Page 46: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Com o passar dos anos, o senhor João, que por muitos anos foi alcoólatra e fumante,

começou a apresentar uma deterioração de saúde, passou a ter episódios em que ficava muito

triste e deixou de cuidar do roçado que possuía próximo à sua residência. Alice acredita que ele

tinha depressão, mas nunca houve diagnóstico. Após isso começou com quadros de

esquecimentos, agitação e episódios de violência física contra Dona Maria e a si próprio como

relatado por Alice:

[...] antigamente quando ele era com a minha mãe né, quando ele era mais novo, ele

bebia demais.

Aí ele parou de bebê, parou de fumar quando começou a i na igreja, aí depois, depois

veio esse negócio, o Alzheimer, mas só que a gente não sabia que era Alzheimer ainda

né... Ele era muito violento, nessa questão de às vezes querer bater na minha mãe, ou

às vezes ele mesmo socava a cabeça na parede, tipo sei lá, falava que ele queria morrer,

que não sei o que. Aí teve um tempo, teve um dia que ele sumiu, que ele saía, ele tipo

saía, não tinha Cristo que segurava ele aqui dentro não, aí ele saía, e ia para outros

bairros. Aí, um dia ele saiu e não voltou, aí passou o dia todo, passou o dia todo sem

vim, aí a gente começou a procurar ele, e não achava, foi no pronto socorro, em vários

lugares. Aí última vez que a gente foi, foi no pronto socorro, aí ele passou num ônibus

bem atrás de mim e eu vi, essa parte da cabeça dele e o boné dele.

[...] achou ele, aí de lá para cá ele só veio piorando (Alice).

Depois do diagnóstico do Alzheimer, seu João inicia o tratamento até, alguns anos

depois, descobrir um câncer de garganta, que o levou a morte em pouco tempo. Já Dona Maria,

faz tratamento contra hipertensão, além de sempre reclamar de dores em diversas partes do

corpo, como cabeça, rim e costas, mas não faz acompanhamento médico para essas queixas.

Alice e Jorge se conheceram há uma década, mas foi há dois anos atrás que começaram

a se relacionar. Jorge trabalha como auxiliar de almoxarifado. Jorge, após uma briga com a

mãe, passou a morar com a namorada Alice. Vivem com Dona Maria, mas possuem uma casa

pronta próxima à que vivem. Jorge já manifestou diversas vezes que quer se mudar, mas Alice

prefere esperar até o filho completar um mês, pois lá tem mais suporte familiar, e esse é um

motivo de atrito entre eles.

É uma coisa, mas ele quer sair, ele quer sair, ele fica assim, ele fala: "aí, até quando

vai ficar aqui? Depois que Miguel nascer nós vamos". Eu falei: “ calma, não é

assim...”, porque lá só vai ficar eu e ele, eu de primeira viagem, ele de primeira

viagem... como que vai conseguir cuida do guri direito? Aqui ainda tem minhas irmãs,

tem minha mãe que vai ajudar... Aí as vezes ele emburra, assim, negócio, por causa

disso, mas eu falo para ele, eu até falo para ele "se você quiser mudar, você vai, você

muda sozinho porque eu não vou agora"... "ah mais eu não vou se você não vai, que

não sei o que..." (Alice).

Diferente de Alice, Jorge vem de uma família pequena, composta pela mãe e duas irmãs.

Jorge não mantém contato com o pai, que se separou da esposa e mudou-se para outra cidade

quando ele e as irmãs ainda eram crianças, e não manteve mais contato com os mesmos. Então,

nas poucas vezes que se encontram é sempre um momento de muito conflito entre pai e filho.

Page 47: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Por ter conflitos também com a mãe, Jorge passou a infância toda morando com a avó

materna, voltando para a casa da mãe somente quando começou a trabalhar. Mesmo sendo uma

família pequena, ela apresenta muito mais relações conflituosas que a família de Alice. Jorge

mantém uma relação conflituosa, também, com a esposa de sua irmã mais velha e, em

consequência, não conversa com a irmã e por esse mesmo motivo, há conflito entre suas irmãs.

Ele não gosta da mulher da irmã dele, aí, às vezes, tipo não conversa também, porque

ela faz a irmã dele muito de besta, essa parte eu concordo com ele, ela tira tudo que a

irmã dele tem ela tira. E ele não gosta. Aí ele, para não caçar confusão com ela, ele

também não conversa com ela (Alice).

Todas essas relações estão explicitadas no genograma da família:

Figura 3: Genograma da família de Alice

Fonte: Elaborado pelas autoras

A rede de apoio da família 2 é composta basicamente por sua família consanguínea, a

mãe e irmãos da Alice, principalmente a Camila, a qual a cita como a mais próxima entre os

irmãos. Já a família do Jorge, mesmo estando representada no ecomapa, seu apoio é incerto na

visão de Alice:

Mas a família dele, não sei se tanto não [...] eles apoiam... no começo não apoiava

não, porque, no começo, eu lembro que ele até gravou um vídeo [...] da mãe dele

brigando com ele, porque ele vinha para cá atrás de mim e não sei o que... aí, desde

esse dia, mais conversa e tudo, mas eu acho que não apoiaria assim não (Alice).

Quanto às instituições, Alice relata que tem uma ligação próxima com o Hospital

Universitário, no qual recebeu atendimento quando teve um episódio de sangramento no início

da gravidez. Relata o bom atendimento recebido nesses momentos e a preferência pelo parto

Page 48: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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ser nesse hospital. No entanto, no dia do nascimento de Miguel, por superlotação da sala de

parto, ela foi transferida para outra maternidade da cidade com a qual não possuía nenhum

vínculo.

Relata também a pouca relação que desenvolveu com a Unidade básica B, pois quando

iniciou o pré-natal a unidade estava em reforma e os atendimentos estavam sendo realizados

em outro local, o que ocasionou uma peregrinação em busca de atendimento em outra unidade

de saúde, descrito por ela no seguinte trecho:

Era uma casa lá em cima lá, era dividido por cortina, era um buracão assim no teto,

vixe Maria, aí eu não fiquei lá, aí eu fui para o Paiaguás, aí no Paiaguás eu tive, eu

andava muito de moto, aí eu tive sangramento... daí eu tive que, como para eu ir para

lá eu tinha de ir de moto, aí eu fui e disse "agora eu vou ter que mudar pra cá", aí eu

mudei pra cá (Alice).

Além disso, relata também que no final da gestação, período em que sentia mais

necessidade de apoio da médica da unidade, ela estava em período de férias e não havia

substituta e não sentia que o atendimento com a enfermeira era suficiente. Alice experimenta a

peregrinação pelos serviços de saúde desde a gestação, o atendimento por profissional que não

confia e a incerteza sobre onde será atendida em seu parto.

Só é ruim que agora no final da gestação que eu precisava ir mais lá né, mais vezes,

não dá para mim ir, porque a doutora está de férias e a Enfermeira Joana.... Que era

minha consulta ontem com ela, não teve... agora só mês que vem a consulta com ela,

se eu não tiver ganhado. [...] aí vou espera (Alice).

Essas e outras ligações estão representadas no ecomapa abaixo

Figura 4: Ecomapa da família de Alice

Fonte: Elaborado pelas autoras

Page 49: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Os fatores de riscos desta família para o desenvolvimento da DPP levantados através do

histórico de enfermagem e representado através do Genograma e Ecomapa são: ter uma renda

familiar que a caracteriza como estar inserida no estrato social baixo, baixo apoio social,

desemprego, histórico de violência familiar e o companheiro com alto risco de desenvolver a

DPP (muitos conflitos familiares, pouco apoio familiar, cresceu sem a figura paterna e nível

alto de conflito com ele). Esses conflitos ficam bem evidentes e visualmente chamativos ao

serem representados no Genograma, nos alertando rapidamente para o risco importante ao qual

essa família está submetida.

5.1.3. Família 3 - A família da gestante Bianca

A família 3 é composta por Bianca (22), seu marido Leandro (29) e seus filhos Lúcia

(6), Cecília (3) e Vitor com 4 meses de idade. Nascida no interior de Mato Grosso, no município

de Rosário Oeste, Bianca viveu sua infância em Acorizal. Os municípios estão localizados

respectivamente, a 105 e 70 Km da capital Cuiabá. Teve uma infância tranquila, divertida

juntamente com os seus 5 irmãos, sendo a sexta filha de seus pais. Cresceu muito próxima da

irmã nascida logo antes dela, Giovana. Perdeu seu pai antes de completar seu primeiro ano de

vida, não sabendo o motivo que o levou à morte e nem muitos detalhes da vida de seu

progenitor. Aos 9 anos de idade, ao ser diagnosticada com tuberculose, foi obrigada a se mudar

para Cuiabá, indo morar com a irmã para dar continuidade ao tratamento já que o mesmo exigia

que se tomasse os medicamentos em horários certos e a mãe, totalmente analfabeta, não iria

conseguir auxilia-la nesse processo. Portanto, Bianca teve sua infância sem referências

paternas, além de ter sido separada da mãe por grande parte de sua infância, devido

impossibilidade de cuidados maternos ditados pelo analfabetismo da mãe. Isso explica as

relações fracas entre ela e sua família representadas no genograma e ecomapa abaixo. Morou

com a irmã na capital por 5 anos e aos 14 anos de idade retornou a morar com a mãe em

Acorizal. Naquele momento, além das duas, dividiam a casa com seu irmão Felipe, que tem um

sofrimento mental não diagnosticado desde a infância, marcado por episódios de agitação e

violência intercalados por poucos momentos de lucidez em que estabelece boas relações com

elas. Logo que voltou para sua cidade natal, conheceu Leandro que, na época, tinha 22 anos e

iniciaram um relacionamento. No mesmo ano descobriu sua gravidez e, então, aos 15 anos

tornou-se mãe de Lúcia. Sem ainda ter concluído os seus estudos, Bianca abandonou a escola e

voltou a estudar para concluir seu ensino médio somente em 2018, através do projeto do

governo federal de Exame Nacional para Certificação de Competência de Jovens e Adultos

(ENCCEJA).

Page 50: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

45

Leandro nasceu em Acorizal trazido ao mundo pelas mãos de parteiras e foi lá na cidade

em que nasceu que passou a sua infância e adolescência. Tem duas irmãs frutos do primeiro

casamento da mãe e quatro do segundo casamento. A mãe, após o divórcio, foi viver com seu

atual marido, com o qual tem 5 filhos, incluindo Leandro. Ele teve uma infância e adolescência

tranquilas e bem próximas dos irmãos, principalmente de Marcia, que nasceu antes dele.

Terminou os estudos concluindo o ensino médio na própria cidade de origem, e fazia pequenos

trabalhos paralelos para arcar com seus gastos, nenhum deles sendo empregos formais.

Lúcia, a primeira filha do casal, nasceu prematura, aos 7 meses de gestação. Bianca

contou que quando foi ao posto de saúde de Acorizal por estar com uma cólica fraca e

sangramento em pequena quantidade, a profissional de saúde a diagnosticou com uma infecção

urinária e receitou um soro. Naquele momento, o motorista da ambulância sugeriu que a

encaminhassem para o hospital em Cuiabá, onde foi constatado que ela estava em trabalho de

parto. Essa situação ainda causa inconformismo de Bianca, sendo um dos motivos para

participar deste estudo.

Por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal porque na época lá nem nas

enfermeiras mesmo não falavam, porque eu estava de 7 meses ainda não chegou ao

ponto de falar "ah quando você tiver sentindo isso, isso, e isso é quando o bebê vai

nascer (Bianca).

Ao chegarem ao hospital, a equipe iniciou as medicações para interromper o trabalho

de parto considerando a prematuridade do bebê. Lúcia nasceu de parto normal, que transcorreu

de forma tranquila e rápida. No entanto, Bianca relata ter notado que algo estava errado pela

reação assustada da enfermeira, quando descobre que sua filha nasceu com Onfalocele. Aos

três dias de vida sua filha passou pela cirurgia de correção e permaneceu internada na UTI-

Neonatal até os dois meses de vida. No momento da entrevista, Bianca relata que sua maior

dificuldade foi os julgamentos que recebeu por causa das condições de nascimento da filha

Lúcia além de relatar um episódio de violência obstétrica que sofreu durante seu parto:

Enfermeira levou um susto e falou para mim " você não sabia que ela estava assim?

"Aí eu fiquei "Como assim né?" E aí que elas foram explicar para mim que ela tinha

nascido com intestino para fora e que ia ter que fazer cirurgia tudo mais, e aí eu ouvi

a enfermeira, “essa daí deve ter tomado remédio para abortar e não deu certo" e saiu

do quarto, da sala, aí eu não sabia o que fazer e tipo eu não sei se é porque eu passei

a gravidez inteira ouvindo "Ah você não toma remédio? Você não preveniu? E aí

parece que todo mundo ficava olhando e julgando que eu era culpado de ela ter

nascido daquele jeito (Bianca).

Somente após o nascimento de Lúcia que Bianca e Leandro passaram a morar juntos, e

decidem que o melhor local para isso é a capital. Então ele aluga uma quitinete para dividirem

e inicia a busca por um emprego. Durante esse processo, Bianca relata que recebeu o maior

Page 51: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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apoio da sua cunhada Marcia, que esteve auxiliando no cuidado com o bebê e consigo mesma,

sendo inclusive escolhida para ser madrinha de batismo de Lúcia.

Bianca relata que durante a gravidez sua irmã Giovana descobre estar grávida também,

e elas compartilham por 2 meses a experiência da gestação. No entanto, sua irmã Giovana sofre

de artrite reumatoide e vitiligo e faz acompanhamento para gravidez de alto risco no Hospital

Júlio Muller, vindo todo mês de Acorizal para suas consultas. Conta que no seu 8° mês, já na

capital, passou mal no ônibus e foi encaminhada pelo Serviço de Atendimento Móvel de

Urgência (SAMU) ao hospital Santa Helena, onde foi constatado pré-eclâmpsia, a equipe opta

pela cesariana de emergência e o bebê nasceu prematuro em setembro de 2013. Giovana

permaneceu internada na UTI por um mês, e veio a falecer no dia 21 de outubro de 2013 durante

uma cirurgia para conter uma hemorragia ocasionada pela perfuração do pulmão durante o

procedimento de intubação. Essa foi uma perda significativa para Bianca, pois era muito

próxima da irmã, e por ter um bebê pequeno em casa e a condição financeira do momento a

impediu de assumir a criação da sobrinha que acabou ficando sob tutela de sua irmã mais velha.

Demonstrou o seu sofrimento chorando nesse momento da entrevista:

[...] eu vi ela como, assim depois que ela faleceu né a gente começa a dar mais

valor nas pequenas coisas, tipo ela faleceu e não deu para cuidar da minha

sobrinha né [...] (Bianca).

No momento, Leandro encontra-se desempregado, e movendo um processo trabalhista

contra seu antigo empregador, pois ao solicitar a demissão foi negada a rescisão na carteira de

trabalho e, por ainda ter o vínculo com o antigo emprego, consegue o seu sustento e da família

sendo motorista de aplicativo de celular. Portanto, o período de gravidez e parto do Vitor foi

permeado por problemas financeiros significativos para a família e, considerando que Bianca

nunca trabalhou fora do lar, não teve direito a nenhum auxilio da previdência federal. Ela relata

que, por engravidar muito nova, não conseguiu entrar no mercado de trabalho, e a cada filho

que teve após isso, dificultou ainda mais. Quando questionada se foi sua escolha ficar em casa

para cuidar dos filhos, ela responde:

Não é que a gente decide, acho que vai deixando né, foi assim com a Lúcia, aí a gente

sempre pensa assim "vou trabalhar quando a Lúcia fazer pelo menos 5 anos, que ela

já vai falar as coisas "fala o que aconteceu né e tal, fala como ela está né, e aí veio a

Cecília, e a gente fala de novo né, vamos deixando, deixando e, acho que a gente vai

deixando né... E aí hoje eu estou com Vitor pequenininho e não tem como trabalhar

também [...] (Bianca).

Mas relata o desejo de começar a trabalhar, e que acredita que irá conseguir pois o Vitor

é o último filho do casal. Essa necessidade de entrar no mercado de trabalho parte também pela

consciência das dificuldades do marido em prover o sustento para a família e que se sente

Page 52: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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culpada por não o auxiliar nisso. Perguntada se era algo do qual é acusada, responde que não,

pois sente-se valorizada e sabe que o marido reconhece seu trabalho no lar:

Ás vezes eu sinto que estou folgada, que eu estou só gastando as coisas e não ajudo,

mas igual ele mesmo conversa "não, você está aqui, você cuida das meninas, você faz

as comidas, você faz tudo né, coisas que eu não posso fazer porque não estou aqui, se

se você não estiver quem vai fazer? Ninguém vai cuidar das meninas, cuidar da casa

como você faz (Bianca).

A família é representada no Genograma da família.

Figura 5: Genograma da família de Bianca

Fonte: Elaborado pelas autoras

A rede de apoio da família, é constituída basicamente por familiares sendo citados

principalmente as irmãs. Bianca cita Renata e Roberta (suas irmãs) como sua maior fonte de

apoio na família. Relata ao longo da entrevista que são a elas que recorre durante as

dificuldades, no entanto, conta que nunca foi próxima aos irmãos:

Eu não sei se é porque eles eram meninos, mas, assim, eu não tenho muita memória

com eles, eu acho até estranho, até brinco que eles são adotados, porque eu não tenho

lembranças, principalmente desse meu irmão que tem problema mental, eu não tenho

lembrança dele... eu não sei, estranho, única lembrança que eu tenho dele é que ele

brincava de fazer…. A gente brincava de fazer Boizinho com manga, enfiava palito

de fósforo e fazia fazendinha e tal, a única lembrança dele que eu tenho dele é essa

(Bianca).

Em relação à família de seu marido, relata proximidade com sua cunhada Márcia, com

a qual pôde contar em todos os momentos após seu casamento, principalmente no período do

nascimento de Lúcia, em que ia para sua casa e a ajudava a cuidar da casa e da sobrinha, sempre

zelando pelo bem-estar de sua família. Conta com o apoio também do primo de Leandro,

Leonardo e sua família, que também fazem parte do círculo de confiança do casal. No entanto,

relata não ter uma boa relação com o restante da família do esposo, pois segundo ela, não são

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48

pessoas confiáveis. Quando perguntada sobre porque é próxima somente desses membros da

família ela responde: Só, infelizmente, porque eles não são muito de…. Ficar sabe, de preocupar com os

outros, eles são falsos digamos assim né. [...]. Perguntada se o marido era próximo à família continua:

Não muito, nem ele próprio, é só com a mãe dele e o pai dele, o resto [...].

As outras relações são representadas no ecomapa abaixo:

Figura 6: Ecomapa da família de Bianca

Fonte: Elaborado pelas autoras

Nesta família, o histórico de enfermagem nos possibilitou a identificação dos seguintes

fatores de risco: desemprego do marido, baixa escolaridade, sobrecarga física e emocional,

baixo apoio social e familiar, gravidez não planejada e ter sido vítima de violência obstétrica

na primeira gestação e o concepto (primeira filha) com malformação grave. O genograma nos

possibilitou perceber visualmente que Bianca estabelece relações mais distantes com a maior

parte de ambas as famílias, sendo seu marido Leandro sua principal fonte de apoio. Também, a

quantidade de relações fracas entre sua rede de apoio é bem demonstrada com o auxílio do

ecomapa.

5.2. O uso do genograma e do ecomapa na identificação dos fatores de risco e de proteção

para a DPP

Page 54: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

49

O genograma e o ecomapa fazem parte de uma gama de instrumentos que os estudos

científicos em diversas áreas utilizam para identificar diferentes características em uma família,

mapear a existência de doenças genéticas e outros agravamentos de saúde. Além disso,

possibilitam a representação das relações e vínculos afetivos existentes intrafamiliar e com as

instituições (WENDT, CREPALDI, 2007). No entanto, com a existência de muitas mais formas

de utilizá-los, basicamente, esses instrumentos são utilizados simplesmente como a

representação visual da família e as relações internas e externas ao seu núcleo.

Neste estudo, propusemos a sua utilização para identificar a vulnerabilidade de casais

para o adoecimento de DPP. Isso é realizado da seguinte forma: ao representarmos essas

famílias, mapeamos todos fatores que contribuem para o adoecimento do participante. Por

exemplo, ao relatarmos e representarmos relacionamento violento entre os pais, apontamos nos

fatores de riscos dessa gestante que um ambiente violento propicia a DPP e, diante disso,

planejamos ações que visariam diminuir esse impacto na gestação e pós-parto, tais como rodas

de conversa sobre a conscientização dos seus direitos referentes a episódios de violência

doméstica, bem como informações sobre os programas sociais que poderiam ajuda-las nesses

momentos. Portanto, essas ferramentas podem ser úteis tanto para identificar os riscos, quanto

para auxiliar no planejamento de ações para o seu combate.

Alguns dos fatores de risco para o desenvolvimento da DPP que podemos facilmente

identificar no Genograma e Ecomapa das famílias dessas mulheres são: relacionamentos

violentos, alcoolismo em algum membro da família, relacionamentos familiares conflitantes,

falta de apoio social, falta de apoio familiar, adoecimento do filho, complicações na gestação,

depressão anterior, etc.

Os resultados encontrados demostraram que três das gestantes que conversamos,

apresentam fatores de riscos importantes para o desenvolvimento da DPP. A primeira, Luciana,

por ser mãe “solo”, ser uma gravidez não planejada, ter uma renda familiar que a caracteriza

como estar inserida no estrato social baixo, e baixo apoio social. A segunda, Alice, apresenta

como fatores predisponentes o histórico de violência familiar, ter uma renda familiar que a

caracteriza como estar inserida no estrato social baixo, baixo apoio social, desemprego e o

companheiro com alto risco de desenvolver a DPP. Já a terceira, Bianca apresenta o desemprego

do marido, baixa escolaridade, sobrecarga física e emocional, baixo apoio social, gravidez não

planejada e ter sido vítima de violência obstétrica na primeira gestação e a primeira filha com

nascida com uma malformação grave. Cabe ressaltar que os estudos como de Kerber et al.

(2011), Nishimura, et al. (2015), Nath, et al. (2016) e Zhang et al. (2016) evidenciaram que

homens com esposas deprimidas tendem a se deprimir mais, isso ocorre também de forma

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inversa, as mulheres de companheiros com histórico de depressão ou depressivos têm um risco

maior de desenvolver a DPP, demonstrando a correlação existente entre ambos para o

adoecimento por DPP. Portanto, o aumento do risco de um dos cônjuges adoecer por DPP tem

correlação com o adoecimento por DPP do outro cônjuge.

Destacamos que durante a coleta dos dados, uma situação especial nos alertou para o

alto risco de desenvolvimento de DPP na família 2, pois o homem/pai (Jorge), de acordo com

os relatos de sua companheira, apresentava os seguintes fatores predisponentes: várias

ocorrências de conflitos familiares (TOP et al, 2016), conflitos conjugais (HANINGTON et al,

2011), isolamento social e familiar (SPECTOR 2006), falta de modelo paterno e rede de apoio

(LUOMA et al, 2013). Como ele não apresentava sintomas do adoecimento até o momento e,

considerando o código de ética profissional de enfermagem, comunicamos a enfermeira da

Unidade Básica B sobre o risco e sugerimos que ela solicitasse a presença dele nas consultas

de acompanhamento de Crescimento e Desenvolvimento (CD) infantil para que, durante tais

momentos, pudesse observar se haveria algum sinal de adoecimento. Essa mesma atitude foi

tomada em relação à sua esposa, ao fim do segundo encontro, pois identificamos sinais de alerta

para a DPP e, ao aplicarmos a EPDS que é composta por 10 perguntas em que respostas

pontuam em 1,2 ou 3, podendo atingir no máximo 30 pontos, em que são diagnosticada com

depressão as mulheres que atigem pontuações maiores ou iguais a 12 ou 13 (BRASIL, 2013), e

Alice foi classificada no limiar para o adoecimento (11 pontos) o que nos preocupou, nos

levando a conversar com a equipe para a observação mais atenta da família, e se necessário para

o caso, a avaliação e cuidados profissionais habilitados.

5.3. RODAS DE CONVERSA

As rodas de conversa são espaços de compartilhamento de experiências que, a partir do

coletivo, se constrói conhecimento, podendo direcionar ações ou construir consenso. São

instrumentos potentes que possibilitam a construção de vínculos e a aproximação de pessoas

sob uma mesma ótica. No entanto, para atingir todo seu potencial, necessita de um diálogo

democrático, em que todos os seus membros, sentados em círculo, tenham a possibilidade de

se expressar (CORREIA, et al, 2019). Justamente por necessitar que um relacionamento

horizontal entre seus membros e oportunizar que todos a vivencie de forma igualitária, as rodas

de conversas são instrumentos importantes na Pedagogia Libertadora de Freire. Neste estudo,

as rodas de conversa possibilitaram a construção de um conhecimento baseado em estudos

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científicos, mas também permeados e articulados por todo o conhecimento popular ofertado

pelo grupo, valorizando-o ou confrontando quando necessário.

As rodas de conversa entre mulheres, sendo um espaço de exercício e aplicação concreta

da Pedagogia libertadora de Paulo Freire, tornaram-se um ambiente de empoderamento

feminino, pois possibilitaram o fortalecimento de vínculo entre as mulheres e,

consequentemente, de confiança para o desabafo, já que elas encontraram um espaço em que

puderam se identificar em suas semelhantes, visto terem as mesmas aflições e preocupações,

trazendo-lhes a certeza de que não estavam sozinhas em suas angústias.

No decorrer da execução deste estudo foram realizadas três rodas de conversa sobre

vários temas, como relatado anteriormente. Esses temas foram selecionados conforme a

bibliografia da área, que indicavam os principais causadores de sofrimento para as mães, da

gestação ao pós-parto. No entanto, vale considerar que, por essa ser um estudo baseado nas

concepções de educação da Pedagogia libertadora de Freire, os temas que seriam pertinentes

para aquela comunidade foram discutidos com as participantes e abrimos espaço para a inclusão

de sugestão de novos temas. Isso nos levou a acrescentar o assunto “Pós-parto, o que é? E o

que esperar depois do parto” que será descrito mais detalhadamente ao longo deste subitem.

Os temas abordados nas rodas foram: (1) maternidade, (2) direitos no parto e prevenção

de violência obstétrica e (3) pós-parto e amamentação.

5.3.1. Maternidade

Na primeira reunião participaram vinte e duas (22) pessoas. Dentre elas se incluíam as

gestantes, que foram identificadas da seguinte forma: (1) aquelas que participaram de todas as

etapas do estudo estão identificadas por nomes fictícios; (2) aquelas que estiveram presentes

somente nas rodas de conversas, as identificamos pelas letras G e números (G1, G2, etc.); (3)

as agentes comunitárias de saúde pelas letras ACS e números (ACS 1, ACS 2, etc.); (4) os

dentistas, pela letra e, por último, (5) a enfermeira da unidade B utilizamos nomes fictícios. As

reuniões foram planejadas previamente com o intuito de despertar a participação de todos e,

principalmente, a estimular que as mães presentes compartilhassem suas histórias pessoais,

dificuldades de maternidades passadas, ansiedades relacionadas às gestações atuais, além de

dinâmicas para a interação entre elas (Apêndice 3).

As avaliações das rodas foram realizadas ao final de cada encontro, sendo que

solicitamos que cada participante avaliasse como se sentiu durante a conversa e quais seriam as

sugestões para o próximo encontro, tendo todas o direito de se expressarem ou não, frente ao

grupo.

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Nessa primeira reunião optamos por conversarmos sobre maternidade, isso porque, de

acordo com a bibliografia científica existente sobre DPP materna (BADINTER, 1985; FORNA,

1999), um dos fatores que contribuem para o sofrimento emocional da mãe é a dificuldade de

adaptar-se ao modelo de maternidade socialmente construído, e isso lhes causam sentimento de

culpa e incapacidade levando-as a se verem de forma negativa,

Sempre a mãe é bruxa né, porque a mãe que é ruim, a mãe que bate, a mãe que faz

isso, os outro é só para dar carinho e falar que a mãe está errada, não é para fazer isso

e aquilo, então a mãe saí como bruxa (G2).

Vemos nesse trecho como as mães se percebem como as únicas responsáveis pelo

processo educacional das crianças e, em decorrência disso, tornam-se as vilãs para os seus filhos

sendo sempre preteridas à outras mães.

Esse aumento de responsabilidade ocasionado pelo nascimento do filho ocasiona

inúmeras dificuldades para as mulheres que se tornam mães. É um momento de rearranjo de

sua identidade e dos seus papeis sociais (mulher, companheira, estudante, trabalhadora, etc.) de

reorganização de suas prioridades, e isso não ocorre de forma positiva para a mulher, que se vê

suspendendo seus planos/sonhos sobre a sua vida para atender as necessidades de outros, e isso

vem permeado de sofrimentos, ficando explicito nos trechos a seguir:

Eu acredito que a dificuldade de ser mãe, assim, você abrir mão dos seus sonhos, seus

projetos, da sua vida, para viver a dos seus filhos, [...] (ACS 4)

Porque ser mãe, não sei porque, entendeu, sofre demais, quando se não tem filho,

você, vive diferente, mas a partir da hora que você tem filho, sofre! (ACS 6)

Ah, o primeiro dia foi um susto, minha mãe tomou um susto, ela falou "Ah você é

nova, e a escola?", falei "Ah mais eu vou continua meus estudos" mas tive que parar

porque o professor estava me ameaçando né, não aceitava uma grávida na escola, teria

que sair né (G1)

Portanto, percebe-se que o nascimento dos filhos sendo ou não planejados, transforma

a vida de suas mães, e os seus sentimentos acabam por se tornarem ambíguos nesse período,

pois mesmo amando seus filhos sentem-se frustradas por serem obrigadas a adiar ou mesmo

desistir de seus projetos pessoais.

Outro aspecto significativo que surgiu durante essa roda de conversa foi o fato de as

mulheres se responsabilizarem tanto pelos filhos como pelo comportamento dos pais em relação

a eles. Isso significa que, além da carga inerente à maternidade, as mulheres acreditam, ou

melhor, foram levadas a acreditar por uma sociedade alicerçada pelo patriarcado, que é sua a

função de construir a figura paterna no homem, como vemos no seguinte trecho:

A questão que eu vejo muito, é que a mãe se cobra muito, mas não ensina o pai a ser

pai também, cê entendeu? Para as minhas (gestantes) eu coloco sempre isso, porque a

mãe ela já nasce já, com um instinto materno, agora o pai não, o pai, você tem que

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ensinar ele a ser pai, trazer ele para dentro da maternidade, porque se não a

responsabilidade só fica para mãe mesmo, e se não ensina, ele é igual uma criança, se

não ensina ele, ele não vai aprender. Você tem que ensinar ele que não é só sua

obrigação leva a criança em médico, que é dele também, reunião na escola é dele

também, porque antigamente, se vai ter uma reclamação da escola, por causa de um

probleminha, sempre fala " vou chamar a sua mãe", sempre é a mãe, se pode ver em

reunião, sempre é a mãe gente, então a gente tem que começar a mudar isso, e nós

como mãe, "não só mãe, mas tem o pai, chama o pai", vai você, eu não vou, "ah o

filho ta doente, é muito difícil se vê um pai trazendo um filho doente (na unidade de

saúde) (ACS 10).

Esse trecho levanta dois questionamentos importantes: (1) a existência do chamado

“instinto materno” das mulheres e (2) a “infantilização do homem”.

No primeiro caso, discute-se a suposta propensão inerente das mulheres de serem boas

mães, ou seja, automaticamente defende-se a existência de um “instinto materno”, sendo que

essa discussão perdura por séculos, como apresentam diversos autores como Elizabeth Badinter

(BADINTER, 1985) em sua obra “Um amor conquistado: o mito do amor materno” e Aminatta

Forna (FORNA,2000) na obra “Mãe de todos os mitos: como a sociedade modela e reprime as

mães ”. Estas autoras, com narrativas e estilos distintos, proporcionam a análise do processo

histórico da construção da maternidade, levando à indagação: se existe mesmo um “instinto

materno”, por que nos séculos XVII e XVIII as crianças eram entregues a amas de leite logo ao

nascer e voltavam para casa somente após seu quinto ano de vida, caso sobrevivessem,

considerando que a taxa de mortalidade infantil era altíssima em decorrência da insalubridade

das cidades nesse período, e eram logo encaminhadas para os colégios internos? E a resposta

para essa questão é a construção social da maternidade de cada época. A maternidade existe

através dos laços e relações que a compõem e, portanto, só é construída com a participação de

mais de um indivíduo (BADINTER, 1998; FORNA 2000).

A maternidade nasce a partir da existência do filho e, nesse momento, a mulher é mãe

somente dele. Com a vinda de uma segunda criança, ela necessitará que se construam novos

laços e relações com esse indivíduo. Uma mulher só é mãe do filho que já tem e irá tornar-se

mãe dos outros que estão por vir e de maneiras diferentes ela os maternar (VIVIAN, et al.,

2013).

No segundo caso, a infantilização do homem, é uma manifestação frequente em nossa

sociedade decorrente do patriarcado e presente na narrativa acima, segundo a qual, não importa

a idade que tenham, ainda é responsabilidade da mulher direcionar o homem ao caminho

correto. Ao firmarmos que a infantilização do homem nesse processo é reflexo do patriarcado

na sociedade, estamos cientes que se refere a um processo mundial. Autores como Beestin et

al. (2014) já trouxeram em seus estudos que a paternidade se apoia na figura materna durante

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sua construção e quando a maternidade está prejudicada por algum fator externo, como por

exemplo a DPP, acaba afetando a forma que o relacionamento pai-bebê irá ocorrer.

A fala, descrita anteriormente é de uma ACS, um profissional que se encontra

diariamente em contato com as mulheres e portanto, pode, por meio de suas falas e

comportamentos fortalecer papéis maternos/paternos que necessitam ser desconstruídos.

Entretanto, ao mesmo tempo em que as mulheres deste estudo realizam o discurso que

infantilizam o homem/pai em relação ao cuidado com os filhos, há a consciência da necessidade

de mudanças relativas à redistribuição das responsabilidades familiares:

É metade, metade né, então vamos dividir essa responsabilidade, porque senão, a mãe

fica doida gente. Tudo é você "ah o filho não está bem, sentindo mal" culpa é da mãe,

tudo é culpa da mãe. Então nós como mães, nós temos que começa a muda dentro de

casa, que a gente tem filho, a gente pega ele e coloca numa concha assim, não deixa

o pai dar banho, não deixa o pai trocar o filho com medo de cair, com medo de

machucar e não (é assim), a gente tem que acostuma desde o momento que nasceu

[...] (ACS 10)

Isso exemplifica que as mulheres acreditam que os pais devem participar mais do

cuidado direto ao filho, mesmo acreditando ser delas a responsabilidade de aproximar o homem

da família nesse período. Portanto, as mulheres são responsabilizadas pela forma que maternam,

bem como o pai paterna e também pela qualidade das relações familiares que venham a se

estabelecer.

Todas essas responsabilidades emocionais e físicas acrescidas com a chegada de um

filho, a decorrente constituição da maternidade necessária e o auxílio na construção da

paternidade do companheiro, culminam no pós-parto. Nesse sentido, a realização de rodas de

conversa como essas proporciona tanto um espaço para partilha como para aprendizado, em um

espaço em que é possível se expressar sem medo de julgamentos pois compartilham, ali,

aflições e experiências que se assemelham. A mulher se vê diante da possibilidade de

experimentar uma maternidade real onde podem e devem ser objeto de cuidado de outros.

Foi bom né, aprender um pouco mais sobre a maternidade, e também acho que a gente

não deve romantizar a maternidade, que ela não, que na realidade ela não é do jeito

que o pessoal fala, quando nasce um bebê também nasce uma mãe, que a mãe também

precisa de cuidado, não como o bebê precisa, mas ela também precisa de cuidado,

porque as vezes quando o bebê nasce, a pessoa vai lá e só paparica o bebê e a mãe fica

de lado, esquece, ela em que fazer várias coisas ao mesmo tempo, então eu acho que

foi bom (Alice).

As trocas nas rodas, proporcionaram também o entendimento de que ela não está só em

relação ao que experimenta no papel materno e isso a deixa confortável em relação ao que sente

e exercita nos cuidados ao filho:

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55

É bom trocar ideias né, com outras mulheres, com outras mães mais experientes, vê

que não é só a gente que sente essas coisas né, que a gente não é tão bruxa assim, por

fazer algumas coisas, muito bom a gente conversar sobre isso né, tirar dúvidas, eu

gostei (G2).

5.3.2. Direitos no parto e prevenção da violência obstétrica

Durante a execução da roda de conversa sobre “direitos no parto e prevenção da

violência obstétrica” houve a participação de 13 pessoas. No entanto, cabe ressaltar que houve

um aumento no número de participações de gestantes, ou seja, dentre as 13 participantes, seis

delas estavam em gestação.

Assim como para a primeira roda de conversa, durante o planejamento desta roda

(Apêndice 4) formam utilizadas dinâmicas em grupo que motivavam tanto a participação dos

membros como abordavam temas que nos pareceram muito importantes. Por exemplo, durante

a primeira roda sentimos que ocorreram muitas conversas paralelas às discutidas no âmbito do

grupo. Para tentar manter o grupo centrado nas discussões, para a segunda reunião optamos por

solicitar o auxílio das pessoas do grupo no estabelecimento de regras de boa convivência. Essa

medida influenciou a escolha da dinâmica que seria realizada, pois chamou a atenção dos

participantes sobre a importância de escutar o outro nesse ambiente e, assim, fomos moldando

as rodas de conversas às necessidades que o grupo apresentava, sendo esse o princípio da

pessoalidade das atividades que Paulo Freire sugere no referencial teórico-metodológico deste

estudo.

Quando optamos por esse tema para a realização de uma roda de conversa consideramos

as evidências científicas existentes, pois autores como Hartmann et al. (2017) afirmam que a

qualidade da assistência ao pré-natal e parto tem relação direta com o desenvolvimento da DPP

e o maior apoio das equipes de saúde é um fator de proteção para o adoecimento. Portanto,

quando afirmamos que os profissionais de saúde têm um papel importante na proteção da saúde

mental da mulher, temos que refletir sobre a qualidade dos atendimentos ofertados nas

unidades. Durante essa roda de conversa foram relatadas situações em que as gestantes afirmam

não terem recebido o cuidado de saúde do profissional, principalmente em relação ao

enfermeiro/a, chegando a alegar que a consulta com o profissional não agrega nada ao seu pré-

natal e que essas situações foram significativas para, inclusive, definir a sua participação neste

estudo:

Por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal porque na época lá nem nas

enfermeiras mesmo não falavam, porque eu estava de 7 meses ainda não chegou ao

ponto de falar "ah, quando você tiver sentindo isso, isso e isso, é quando o bebê vai

nascer... (Bianca).

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Esses foram casos em que as gestantes sofrem com a falta de suporte. Surgiram nessas

rodas muitos casos de violência obstétrica grave que ainda repercutem em impactos

significativos na saúde mental dessas gestantes. Um exemplo foi o caso de Bianca que conta

que, logo após o parto, ao descobrir a onfalocele de sua primeira filha, foi acusada de ter

“tentado abortar e não ter conseguido”, sendo culpabilizada pela má formação da criança. Além

desse relato, surgiram outros de episiotomias, manobras de Kristeller e ofensas que nos dá o

parâmetro da qualidade da assistência de saúde oferecidas a essas mulheres. Elas estão cientes

que esse histórico de violências às quais são submetidas afetam tanto a atual quanto as futuras

gestações, sendo apontada por elas, inclusive, como uma das razões pela qual a maioria das

mulheres optarem pelas cesarianas, como vemos no seguinte trecho:

Acho que muitas que escolhe a cesariana é porque teve uma experiência muito ruim

com parto normal né, aí quando engravida fica, já fica assim, já arranja dinheiro para

pagar a cesariana. Por isso que fala né, que é uma cesariana desnecessária, não tem

necessidade, mas a pessoa sofreu tanto para ter o filho que ficou traumatizada né?

(Bianca).

Outro fator que percebemos no discurso das participantes das rodas foi o

desconhecimento sobre, inclusive, os benefícios e riscos dos partos normais e cesarianas para a

díade mãe-bebê, apontando para a falta de qualidade nos atendimentos de saúde, considerando

que é necessário o conhecimento sobre o assunto para que as futuras mães consigam tomar

decisões conscientes para sua saúde e a do bebê:

Se eu soubesse naquela época que o parto normal seria tão maravilhoso, tão melhor

que um parto cesariano, [...], mas infelizmente eu não sei falar para ti quais os sinais,

eu não sei falar qual os sintomas do parto, os meus três foram cesarianos. Aí como se

diz, na cesárea seu bebê está lá não está pronto para nascer, está dormindo, quietinho,

são bebês que depois tem mais problemas de doença no futuro que se for parto normal,

se eu soubesse disso eu tinha esperado e tinha meus bebês tudo de parto normal (ACS

8).

O depoimento mostra que a pessoa somente passou a ter consciência dos benefícios do

parto normal quando se tornou um profissional de saúde e não no momento oportuno (no pré-

natal), se arrependendo das escolhas que fez sem o devido conhecimento para tal.

Quando discutimos a importância de se aplicar práticas humanizadas na assistência ao

parto, assim como preconizado pela Rede cegonha, programa criado pelo governo federal

(BRASIL, 2011a) percebemos o desconhecimento sobre o tema até pelos profissionais de

saúde.

Ah, e outra que eu achei ridículo é assim, ridículo, eu achei, é o tal do humanizado.

Meu Deus, eu fiquei lá no parto, porque eu trabalhei lá no Santa Helena três anos e

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meio, eu falei "caraca eu não queria nunca", família toda arrodiada e você sentando

ali, sentindo dor, e todo mundo ali, cruzes (ACS 7).

No entanto, quando conversado e explicado que uma prática humanizada no parto é

oferecer à gestante o seu direito de escolha, de escolher o melhor para si e para o seu bebê com

base em informações reais e honestas, que variam desde os partos domiciliares, naturais ou

cesarianas, elas percebem que houve uma melhora da assistência prestada atualmente e da qual

foram submetidas em suas primeiras gestações

[...] eu acho que assim hoje, que é bem melhor hoje os partos, porque tem as coisas,

tipo igual a mãe pode acompanhar, o esposo pode acompanhar, mais antes eu era nova

eu tinha 15 anos eu me sentia tipo assim, que meu esposo na época, que hoje é meu

ex-marido, pai dos meus filhos, me abandonou, minha mãe me abandonou, então eu

me achava que eu estava assim abandonada, aí entrava médico lá, médico para olha,

ia aquelas enfermeiras estupida e ignorante, porque hoje em dia eu sei que é (ruim),

mais antigamente eu acho que era muito mais (ACS 7).

Porém, a mulher segue experimentando o desrespeito a si como sujeito do processo de

maternagem quando no puerpério é ignorada como pessoa responsável pelo cuidado do filho

sendo completamente desconsideradas pelos profissionais de saúde em seu direito de saber o

que de fato acontece com seu filho doente, mesmo sendo elas as principais cuidadoras e,

portanto, as maiores conhecedoras das necessidades da criança. Um exemplo é o relato de Alice

que, ao levar seu filho ao pediatra com um caso persistente de diarreia, foi somente lhe dito que

“era normal e não deveria se preocupar” e ela se indaga “Como normal? Se nunca foi assim,

está diferente, ele nunca ficou assim”. O profissional, ao mesmo tempo em que cobra da mulher

a obrigação da boa maternidade, nega elementos para que ela o seja (na perspectiva médica)

limitando a sua capacidade de atuação nos cuidados do filho.

Casos como esses mostram a importância dos profissionais de saúde ressignificarem

suas práticas, por meio de abertura de espaços que possibilitem a educação permanente de todos

os membros das equipes de saúde, desde os ACS aos profissionais de ensino superior, e isso é

percebido por elas ao afirmarem que essas rodas oferecem subsídios para melhorar sua atuação

profissional.

Eu gostei porque nós agente de saúde tem que saber para poder orientar as gestantes,

e esses conhecimentos que a gente tem, vai poder passar para elas, a gente se atualiza

né porque que sempre sai coisas novas e a gente não sabe né (ACS 6).

E, por fim, ao solicitarmos a avaliação da efetividade da roda de conversa, trazemos

como exemplo a fala de uma ACS que melhor expressou a opinião do grupo. De acordo com

ela, as rodas de conversa possibilitam o compartilhamento da experiência do outro tone-se um

a experiência de aprendizado mais efetiva.

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58

Eu adoro rodas de conversas, porque aqui uma troca de experiências, às vezes aquelas

dúvidas que você tem em casa, ou no momento da consulta você esquece, aqui você

pode estar tirando, e a gente aprende muito com a experiência do outro, a gente

aprende mais com a experiência do outro do que com a gente, então é maravilhoso,

que continue assim sim [...] (ACS 10)

5.3.3. Pós-parto e Amamentação

Na terceira roda estiveram presentes 17 participantes, dentre elas oito gestantes, duas

mães com filhos pequenos (sendo uma delas participante das outras rodas de conversas

enquanto ainda estava gestante) e sete agentes comunitárias de saúde. Foram abordados, durante

esta roda, diferentes temas relacionados ao pós-parto e amamentação, tais como: a pega correta

na mama durante a amamentação, métodos para prevenir rachaduras nas mamas, alimentação

das mães lactantes, cuidados com as cicatrizes dos partos cesarianos e normais, a diferenças

entre o leite materno e as fórmulas lácteas, a contracepção durante o pós-parto e a saúde mental

das mães durante o pós-parto.

Percebemos, especialmente durante a execução desta roda de conversa, a presença das

crenças populares referentes a diversos aspectos do pós-parto que se mostraram arraigadas nas

gestantes/mães, sendo um exercício bastante meticuloso por parte da pesquisadora conseguir

diferir em até que ponto deveríamos nós, como profissionais de saúde, interferir ou julgar

determinadas crenças. Como resposta percebemos que devemos expor o conhecimento

cientifico sobre o assunto e argumentar com essas mulheres a partir das evidências sem,

contudo, desvalorizar suas escolhas, desde que estas não as afetem e nem ao bebê. Avaliamos

como importante oferecer apoio e compreensão caso optassem por continuar seguindo os

conselhos das mães e avós. Como exemplo, diversas delas mencionaram ter utilizado, em outros

pós-partos, a alimentação a base de milho (canjicas, bolos, etc.) com a crença de que aumentam

a produção de leite. Nesse caso, então, explicamos para elas a inexistência de evidência

cientifica que comprove tal costume e realizamos orientações sobre práticas comprovadamente

efetivas para melhorar a produção de leite materno, tais como: aumento da ingesta hídrica,

manter uma alimentação saudável, evitar alimentos industrializados e aumentar a quantidade

de mamadas do seu bebê. Também ressaltamos que a introdução de um alimento com grande

quantidade de calorias, como a canjica, poderia dificultar a perda do peso adquirido durante a

gestação, mas que não faria mal a ela e ao bebê, sendo que, basicamente, seria sua a escolha em

manter ou não essa alimentação no pós-parto.

Optamos por essa abordagem por reconhecermos a importância dessas crenças nos

vínculos femininos no âmbito da família, visto que o total abandono desses credos por parte

dessas mulheres poderia afetar seu relacionamento com suas mães, tias e avós. E, justamente

Page 64: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

59

por defendermos a importância do fortalecimento desses laços no pós-parto, deixamos bem

evidente que não iríamos julgá-las por manterem essas tradições.

Juntamente com a alimentação no pós-parto, foi levantado pelas próprias mães o tema

das cólicas infantis nos primeiros meses de pós-parto. Essas dúvidas foram bastantes frequentes

nas lactantes durante as consultas no puerpério.

É, por exemplo, não poder tomar café, não pode comer nada que tem pimenta, não

pode comer chocolate... nossa eles falaram um monte de coisa. Tem um monte de

coisa que não pode porque diz que dá cólica (G4).

Nossas orientações foram de acordo com o preconizado pelo MS (BRASIL, 2015) que

orienta as mães a manterem a alimentação costumeira da família, optando por alimentos

saudáveis e evitar alimentos processados e industrializados, enfatizando sobre a importância de

evitar as dietas restritivas durante a amamentação. Quanto ao surgimento de cólicas nos bebês,

o método indicado foi o de observação, se alimentar normalmente e, conforme o surgimento de

sintomas de cólicas no recém-nascido, realizar o recordatório alimentar e ir retirando ou

diminuindo a quantidade de alimentos que diferem da sua alimentação habitual até encontrar

qual deles provocou os sintomas na criança (GOUVEIA, ÓRFÃO, 2009).

Conversamos também sobre a importância da pega correta do bebê no mamilo durante

as mamadas, explicamos como avaliar se a criança está mamando corretamente pela posição

dos lábios, o formato das bochechas, a posição do corpo do bebê em relação ao da mãe, a

respiração e posição do nariz durante as mamadas, tudo para evitar a entrada de ar no sistema

digestivo durante a amamentação, que podem ocasionar cólicas no lactente, além de aumentar

o surgimento de rachaduras dos mamilos, que causam muita dor durante a amamentação

(BRASIL, 2015). Para as rachaduras nos mamilos orientamos também a exposição ao sol antes

e depois do parto, o uso do leite materno nos mamilos feridos como tratamento, além de evitar

o uso de absorventes para mamilos para que estes não fiquem abafados e úmidos, provocando

o surgimento de rachaduras (PEREIRA, et al., 2012). Todos os métodos, os quais as gestantes

não tinham conhecimento, elas pediam orientações e demostraram interesse em testar,

“Ah eu gostei bastante, vou começar a passar o leite no bico do peito e

tomar sol bastante (G3) ”

Outro tema que discutimos foram os cuidados com a higienização das cicatrizes dos

partos, que devem ser realizadas durante o banho com bastante água e sabão e secar a área

totalmente, tanto na região inferior do abdômen das cesarianas quanto na perianal para as

lacerações do parto normal, sendo que o mesmo procedimento deve ser realizado nas mamas,

Page 65: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

60

não sendo necessária a lavagem após cada mamada, como as gestantes acreditavam ser

necessário,

Eu trocava até de sutiã, tipo eu ficava trocando duas vezes no dia o sutiã, e lavava,

porque não sei parecia que ficava suja a mama né, aí para dar mamar para a bebê

(Bianca).

Outro aspecto de grande importância discutido com o grupo foi a importância da

amamentação do bebê e os benefícios ao lactente, como, por exemplo, o fornecimento de

anticorpos pelo leite materno, as características próprias do leite para cada criança, como o

organismo materno adapta a produção de leite às necessidades do seu filho, tomando como

exemplo o conhecimento de que leites de mães de bebês prematuros são mais ricos em lipídios,

proteínas e calorias comparados ao leite de mães de bebês a termo (BRASIL, 2015).

E, por fim, discutimos os métodos de contracepção na gestação, enfatizando que após o

parto as mães deveriam iniciar algum tipo de contracepção, a exemplo do preservativo

masculino ou feminino, a minipílula e o Dispositivo Intrauterino (DIU). Também informamos

que, para aquelas mulheres com idade superior a 25 anos ou que já tivessem dois filhos vivos,

haveria a possibilidade da realização da laqueadura pelo Sistema Único de Saúde (BRASIL,

1996), explicamos a necessidade de realizar o planejamento familiar em conjunto com a UBS

e o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Esse foi um tema de muitas dúvidas

para as gestantes, sendo que duas delas manifestaram o desejo e os pré-requisitos para a

realização do procedimento, mas não haviam recebido essa informação,

Pelo SUS qual é a idade mínima, e quantos filhos você precisa para fazer laqueadura?

[...] então eu já consigo? [...] mas é depois que o bebê nasce ou na gravidez já pode?

(Bianca).

Isso nos mostrou o quanto as informações importantes sobre os direitos dessas mulheres

não são de conhecimento das mesmas, revelando uma falha do pré-natal oferecido nas UBS,

visto ser esse o melhor momento para oferecer às mulheres o conhecimento sobre os métodos

de planejamento familiar que elas têm, como direito, de receber pelo SUS.

Como em todas as reuniões solicitamos aos participantes do grupo uma avaliação sobre

a efetividade e importância dessa reunião, e a que melhor exemplificou as falas do grupo, foi a

seguinte:

Eu achei interessante, principalmente sobre amamentação porque eu vou ser mãe de

primeira viagem, né, eu não sabia nada sobre isso, agora estou mais segura (G5).

O principal objetivo desta atividade foi de oferecer segurança a essas mulheres a partir

de orientações e conhecimentos reais e objetivos para que, com essas informações, elas

Page 66: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

61

pudessem tomar a melhor decisão para sua saúde e a do bebê, sendo responsável direta por sua

vida e seu futuro, assim como Freire sugeriu.

Reconhecemos que este estudo teve limites e que precisamos adequá-lo ao tempo de

execução. Sabemos que, para um maior benefício dessas mães, deveríamos discutir em rodas,

muitos outros temas pertinentes a esse período, sendo algumas sugeridas por elas, como por

exemplo, a violência doméstica, o mercado de trabalho e os direitos trabalhistas para as mães,

oficinas de cuidado com o bebê, saúde emocional na gravidez e pós-parto, dentre outros.

5.4. Descrições da 2° entrevista, índices de DPP e avaliação da efetividade das rodas de

conversa.

Por fim, como descrito na metodologia, a última fase deste estudo se consistiu no retorno

para avaliação dessas mães após o nascimento do seu filho, em que, através de uma entrevista

semiestruturada, buscamos inquiri-las sobre a sua experiência na maternidade, e também

aplicamos a escala EPDS para avaliar a presença de DPP.

A família 1, composta por Luciana, o recém-nascido João Pedro e seu tio Lucas,

apresentou fatores de riscos consideráveis pela construção do Genograma e Ecomapa, por ser

mãe “solo”, por sua renda familiar a caracterizar como estar inserida no estrato social baixo e

também por ter fraco apoio social. Ao retornarmos para conversar com essa família, a primeira

impressão visual era que Luciana apresentava sinais de cansaço, mas mantinha o mesmo sorriso

que exibia desde que nos conhecemos, e isso se provou correto durante a nossa conversa. Em

diversos momentos ela definiu a maternidade como uma experiência “cansativa” e “muito mais

difícil que imaginava primeiramente”, mas que estava se adaptando bem às mudanças. Também

relatou que anteriormente a gestação tinha muitos momentos em que se sentia triste e sozinha

e que após a chegada do bebê (João Pedro), sente que a presença dele preencheu o “vazio em

sua alma”. No entanto, o estudo de Saraiva e Coutinho (2008) relata o aumento do risco de DPP

quando a mãe manifesta sentir-se sobrecarregada com o cuidado com o bebê a família,

demonstrando que alguns fatores de risco surgem somente no pós-parto, considerando que

Luciana é primípara, o aumento de responsabilidade é súbita e difere do seu cotidiano.

Notamos ainda que essa mãe apresentava uma relação bastante forte com o bebê, sendo

que em todo momento se dirigia ao bebê e conversava com ele, que ria ou vocalizava alguns

sons, demonstrando que essa era uma ação comum entre eles, e isso se provou correto quando

afirmou que ela tinha o costume de conversar bastante com ele durante o dia e que saiam para

passear aos fins de semanas sempre juntos, que ele “não fica para trás”.

Page 67: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Ao perguntarmos sobre o apoio que tem recebido durante esse período, ela relatou que

ficou na casa dos pais por quatro meses após o parto. Só pudemos conversar com ela no quinto

mês após o nascimento do bebê, mas ela referiu que esse período foi importante, pois recebeu

o apoio deles, da avó e dos tios que moram próximo e que se sentiu bastante acolhida pela

família. Relatou que, após seu retorno à casa e logo depois ao trabalho, seu principal suporte é

a tia, que cuida do bebê das 15:00 até as 18:00 horas e do irmão Lucas, que busca o bebê e

cuida dele até o seu retorno após as 22:00 horas, destacando o quanto a ajuda do seu irmão

estava sendo importante naquele momento. O apoio familiar recebido por Luciana nesse

período age como um importante fator protetor para o desenvolvimento da DPP, isso é

corroborado por estudos como de Xie et al. (2010) e de Konradt et al. (2011) que afirmam que

mulheres que recebem apoio familiar durante o pós-parto tem menor risco de desenvolver DPP.

Sobre sua relação com o pai de João Pedro, relatou que, inicialmente, foi muito

conflituosa e que ele só foi visitar o bebê enquanto ainda estavam no hospital e que, após isso,

Marcelo não viu mais o filho. Ao ser questionada se aquela situação lhe trazia algum

sofrimento, ela respondeu que não mais, mas que, logo após o nascimento do filho, houve muito

conflito e que desistiu de tentativas de aproximação após as frequentes recusas do mesmo em

participar da vida do filho. Perguntada se ela acreditava que isso iria afetar João de alguma

forma e ela respondeu:

“Eu acho que, deve que mais para frente ele deve achar né, que ele vai querer saber,

mas eu acho que o tio dele vai preencher o lugar, o tio dele é bem presente, então

nesse ponto aí eu, eu falo que tô fazendo a minha parte né. Agora se ele não tá fazendo

a dele, eu não posso fazer muita coisa” (Luciana).

A falta de apoio do parceiro, neste caso, do pai do bebê considerando que Luciana e

Marcelo não estavam em relacionamento amoroso desde a descoberta da gravidez e as relações

ficaram mais conflituosas com o nascimento de João e a ausência do pai, é um fator de risco

importante para o desenvolvimento de DPP em Luciana (Silva et al., 2012; Rodríguez et al.,

2013), mesmo que esse papel esteja sendo cumprido por seu irmão Lucas que assumiu boa parte

da responsabilidade inerente ao cuidado com o bebê.

Por fim ao aplicarmos a EPDS, Luciana foi a que obteve a menor pontuação dentre as

participantes deste estudo (5 pontos). Esclarecemos que esse questionário é um auxílio ao

diagnóstico e não substitui a avaliação clínica do profissional de saúde, sendo que sua aplicação

é recomendada concomitantemente a um exame físico e psicológico. Portanto, a pontuação de

Luciana na EPDS é condizente com a nossa avaliação de seu estado físico e emocional.

Já na família 2, Alice foi a mãe que obteve a maior pontuação dentre as participantes

(11 pontos), no limiar para alcançar o nível que indica a probabilidade de depressão (12 pontos)

Page 68: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

63

determinado pela EPDS. Esclarecemos que o termo “probabilidade de depressão” é relacionado

à necessidade do seu uso juntamente com a avaliação clínica. E, novamente, a avaliação

realizada pela pesquisadora é condizente com a pontuação da escala EPDS. Isso porque, logo

de início, notamos que a mãe tinha sinais de cansaço e de irritação com o filho, um fator de

risco bastante significativo assim como apresentado por Saraiva e Coutinho (2008) em seu

estudo e cita na família 1. Logo ao chegarmos na residência da família, ela reclamava das

vocalizações que a criança fazia para chamar a atenção do seu colo e o entregou para sua mãe,

dona Maria. Depois desse momento, não vimos mais a criança, além do que, durante a

conversa, demonstrava sinais preocupantes de manifestações da DPP, o que nos deixou em

alerta para essa família.

Ao longo do nosso encontro pontuamos outros fatores de risco além dos identificados

inicialmente com o auxílio do Genograma e Ecomapa, dentre eles: o adoecimento do filho, a

falta de apoio físico e emocional do companheiro (Silva et al., 2012; Rodríguez et al., 2013), o

sentimento de inadequação ao papel de mãe, manifestado pelo arrependimento da gestação e a

irritação pelas críticas da mãe e irmã (ROHITKUMAR et al., 2014; TURKCAPAR et al., 2015),

além da solidão materna (TASNEEM et al., 2014).

O bebê (Miguel) tinha aproximadamente cinco meses de idade quando ocorreu nosso

segundo encontro e, de acordo com o relato da mãe, apresentava diversos adoecimentos, como

sopro cardíaco, diagnosticado aos três meses de idade, refluxo oculto descoberto na mesma

época e uma suspeita de hepatomegalia segundo a médica que os atendeu alguns dias antes.

Esses adoecimentos e as adaptações do cotidiano necessárias para lidar com tais problemas

causavam muita ansiedade e sofrimento à mãe, como vemos nos trechos:

Ele tinha, parecia um catarro assim na garganta e aqui no pulmão dele chiava, chiava

não, ficava assim (imita um som borbulhante) o tempo inteiro [...] só parava na hora

de mamar, enquanto ele não tossia, ele não mamava direito, aí teve um dia [...] eu

levei ele na Policlínica chegando lá a médica passando raio X do peito e o exame de

sangue, aí eu fiz lá na [...] aí eu já resolvi marcar um Pediatra por lá mesmo aí é

pediatra de lá, ela pegou e ouviu o coração dele e falou "eu acho que ele tem um sopro

no coração mas só que é bem discreto" aí ela pegou e falou bem assim que era melhor

passar para o cardiologista né. Aí a gente fez, na outra semana a gente fez, aí ele tem

mesmo sopro, aí esse mês a gente levou ele no pediatra ela falou que o barulho do

sopro aumentou, e que ela estava sentindo o fígado dele que ela não tinha sentido na

outra consulta, aí falou que era bom retornar no cardiologista novamente [...] (Alice).

[...] e ele ainda tem refluxo, aí é mais difícil... Por isso que falo, se a mulher tem um

bebê e o bebê não tem que tomar remédio ela já tem erguer a mão pro céu... porque

tomando remédio, toda hora você tem que lembrar que tem que dar um... tem um que

tem que ficar na geladeira, você sai tem que voltar, ou se não dá o remédio ou se tem

que voltar cedo por causa do remédio... aí se gente vai pra casa de um conhecido de

alguém, a gente leva né, pra deixar na geladeira lá, pra dar na hora... mas é difícil,

todo tempo tem que lembrar do remédio (Alice).

Page 69: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Esse fato está de acordo com o estudo de Perosa et al. (2009) que afirma que mães de

crianças com algum tipo de má formação apresentaram índices significativamente maiores de

disforia/depressão que mães de crianças saudáveis.

Além do filho estar adoecido, Alice se mostra muito incomodada com a diferença nos

atendimentos do sistema público de saúde e dos particulares. Ela faz acompanhamento em um

Hospital Universitário da capital e na UBS de origem, além de consultas com o pediatra em

uma clínica particular e, de acordo com ela,

Só que eu não sei, porque no postinho falam uma coisa, no particular fala outra, se eu

vou no postinho falam que ele está mais bom que dinheiro achado, não precisa de

nenhum remédio, não precisa de nada, mas se eu levo no pediatra particular, sempre

vem com uma lista para comprar, aí eu não sei (Alice).

E essas diferenças no atendimento são tão marcantes que incluem uma possível cirurgia

de correção do sopro cardíaco o que causa mais ansiedade e atrito entre o casal. A mãe, se

mostra mais confiante da necessidade da operação, enquanto o pai está mais relutante. Isso pode

ser reflexo do atendimento oferecido pelo médico da rede pública a qual Alice teve acesso, pois,

o mesmo explicou cada passo do procedimento e do adoecimento da criança. Como o pai

(Jorge) não estava presente nessa consulta, não teve acesso ao conhecimento e, portanto,

demonstra mais anseio pela situação:

Eu acho que ele é mais nervoso que eu, ontem mesmo ele chorou eu não sei o que

acontece assim parece que para mim tudo está certo para ele não, ontem ele falou

para mim perguntar sobre a possibilidade de não operar [...] Por um lado ele (Miguel)

tá bem, mas por outro lado ele pode piorar né, e com a cirurgia ele vai ter só ser

hipertenso por um tempo aí depois vai ficar normal, a vida dele vai ser normal, aí eu

falei “para que esperar uma coisa que pode resolver agora, que mais para frente vai

estar piorando né” (Alice).

As diferenças nas percepções/diagnósticos dos profissionais que atendem a criança,

podem deixar a mulher sem uma referência segura, bem como provocar desentendimentos entre

os pais, e toda essa situação pode ser considerada como um evento estressante no pós-parto, o

que de acordo com o estudo de Margis et al. 2003, que afirma que pessoas acometidas por

eventos estressores tem possibilidade maior de desenvolver depressão.

Alice demonstra ainda a dificuldade de se adaptar ao filho recém-nascido, um fator

bastante comum nas mães que apresentam sintomas de DPP, pois é justamente a ausência do

estabelecimento de vínculos positivos com seus filhos, como demonstrado no início deste

estudo. Isso causa muito sofrimento para as mães por se sentirem culpadas pelos sentimentos e

pela inadequação de sua atual condição, afirmando seu arrependimento de ter engravidado.

Ressalte-se que isso se torna mais marcante quando a mãe não se sente compreendida e acolhida

pelos que a cercam ou mesmo sendo julgadas ou tachadas de mães ruins por esses sentimentos.

Entretanto, ela busca por comportamentos semelhantes aos seus e não os encontra.

Page 70: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

65

[...] as vezes eu, tinha vez que eu falava, perguntava para os outros "quando você foi

mãe você sentiu isso?", igual eu falava, minha irmã quando foi mãe, eu perguntei se

quando ela foi mãe ela arrependeu... ela: "nãão", falou que não arrependeu, eu

arrependo, tinha vontade, tinha hora que eu ficava com o neném e deitado no meu

colo, mas estava chorando, tinha hora que dava vontade de abrir o braço e deixar o

guri cair, porque, cara do céu, não é possível [...] (Alice).

O choro do filho também é objeto de atenção e de cobrança e, a capacidade de calar o

choro do filho é atrelado ao papel de “boa mãe” pelos que a rodeiam. Acalentar a criança, fazê-

la parar de chorar ocupa um lugar de preocupação dos familiares no aprendizado do papel

materno:

Aí esse menino chorava, chorava, chorava aí minha mãe "Juliana, se tem que cuidar

dele se não você não vai ser uma boa mãe, tem cuidar dele, fazer as coisas", e eu

escutando sempre né... Aí acabava que meio que brigava com minha mãe, porque ela

sempre falava que eu não ia ser uma boa mãe, porque eu deixava ele chora, porque

isso, porque aquilo [...] tem que pega ele, conversa com ele, [...] eu não sei, no começo

eu sentia muita raiva, daí foi indo e melhorou, as vezes ainda sinto, mas melhorou

bastante, porque ave no começo era muito ruim (Alice).

Esses trechos são bastante marcantes do discurso de Alice. Ela demonstra toda a

insatisfação que sente em sua maternidade e como se percebe inadequada quanto ao seu papel.

Estudiosos (Arrais et al., 2014; Greinert, Milani, 2015) vem afirmando que a idealização da

maternidade pode causar sintomas depressivos em mulheres quando a realidade difere do que

ela esperava inicialmente. Por exemplo, uma mãe que espera um filho saudável e calmo é

surpreendida com um caso de adoecimento do recém-nascido, acompanhado de choro

incessante causando-lhe estresse, e este pode desencadear um quadro de DPP.

Evidencia-se nesse caso, também, o sentimento de solidão pois de acordo com ela, as

amigas que possuía antes da gestação não fazem mais parte de sua vida. Tal como relatado nos

estudos de Bos et al., (2013) e Guedes et al., (2011) essa situação pode representar falta de

apoio social, sendo que no momento atual as únicas pessoas com quem pode conversar são seus

familiares que, por sua vez, a julgam e a condenam por seus sentimentos nesse momento. Além

desses conflitos com a família, ela passou no primeiro mês de pós-parto pelas dificuldades de

estabelecer laços com o filho e isso lhe causou sofrimento intenso:

Teve uma vez que eu chorei porque eu pensava que ele não gostava de mim, com os

outros ele quietava e comigo ele chorava (Alice).

Além da solidão que sentia pelo afastamento do seu círculo social, Alice demonstrava

a insatisfação com o companheiro, pois ele dedica pouco do seu tempo livre a criança, o que

faz com que ela se sinta sobrecarregada com as responsabilidades da maternidade. Além disso,

ela sente os reflexos da divisão do trabalho por gênero ao expressar as suas percepções de

maternidade e paternidade no seu ambiente. Porém, ela busca por estratégias para forçar a

Page 71: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

66

inserção do companheiro nos cuidados do filho, pois percebe que se não o fizer, não terá sua

participação espontânea. Estudo de Guedes et al. (2011) afirmam que a falta de apoio familiar

é um fator de risco importante para o desenvolvimento da DPP, especialmente se não receber

esse apoio do parceiro.

É sempre mais difícil, para a mãe, o pai fica lá, se não manda pega não pega, se não

pedir para ficar não fica, aí brinca um pouquinho e pronto, saí para lá. Aí, o Jorge

mesmo, ele chega do serviço eu já falo "toma o neném" "ah mais..." fiquei o dia inteiro

com o neném ele chorou, tive que ficar com ele no colo, fiquei o dia inteiro com ele

no colo, e daí ele fica, eu falo “fica com ele”... Eu falo para ele que eu tenho que ir

esfregar a fralda dele, sempre arrumo alguma coisa para fazer, porque se eu não tiver

nada para fazer ele joga ele para mim de volta[...] (Alice).

Aí [...] as vezes quando ele (Miguel) fica mais manhoso assim a noite, aí ele (Jorge)

já acorda rapidinho, acalma ele o tempo de eu fazer o mama e já volta a dormir, eu

não, eu tenho que ficar acordada, quanto ele tá, as vezes ele acorda e fica lá olhando

pro tempo [...] e eu tenho que ficar lá acordada até ele cansar e o pai dele está lá

dormindo, aí por isso que parece que a responsabilidade fica tudo em cima da mãe,

parece que a responsabilidade do pai é, dar dinheiro pra comprar remédio, levar pra

algum lugar que precisa, e só (Alice).

Durante toda a conversa nos pareceu que Alice precisava desabafar e utilizou dos nossos

momentos juntos para fazer isso, o que foi importante para nós, pois demonstrou que

conseguimos, como pretendíamos inicialmente, estabelecer uma relação de confiança com essa

mãe. Todo o trabalho que havíamos realizado até aquele momento garantiu a ela a convicção

de que seria compreendida e acolhida em seus anseios, sem julgamentos e acusações, como

havia recebido anteriormente. Isso é, em nossa concepção, uma de nossas mais importantes

responsabilidades nos atendimentos às mães nas UBSs, pois só conseguiremos avaliar e cuidar

de mães com sintomatologia depressiva e até mesmo a DPP se soubermos ouvi-las em seus

momentos de vulnerabilidades, para que elas se tornem honestas com seus próprios

sentimentos, expondo-os sem medo de julgamentos. Pois sabemos o quanto é difícil e dolorido

o ato de expor-se ao julgamento de outros em um momento de tamanha fragilidade.

E, por último, falaremos sobre a família 3. Bianca é, dentre as mães participantes deste

estudo, a única que já possuía filhos, iniciando a maternidade ainda adolescente, aos 15 anos.

Atualmente, com 22 anos, tem três filhos, dentre eles o Vitor, com três meses de idade no

momento do encontro. A avaliação de Bianca pela EPDS resultou em 8 pontos. O estudo de

Guedes et al. (2011) afirma que mães com mais filhos tem maiores chances de desenvolver

DPP por causa do acúmulo de responsabilidade com todas as crianças e isso ficou evidente

quando as questões que foram mais evidenciadas por ela na EPDS se referiam ao cansaço físico

de lidar com três crianças menores de oito anos. Em nossa conversa, a sobrecarga ficou bem

evidente ao responder quando questionada sobre sua atual maternidade:

Page 72: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

67

Ah, está sendo bem sobrecarregada né, como eu digo que cuidar de três ao mesmo

tempo dá um pouquinho de trabalho (Bianca).

Por viver distante da família, ela relata que conta muito com o apoio do seu companheiro

Leandro, definindo-o como um ótimo pai e parceiro:

É, sim bastante, bastante mesmo assim, todas as coisas é eu e ele né, aí a Lúcia já é

um pouquinho maior e ela ajuda com algumas coisas né, mas é mais eu e ele aqui em

casa, e ele ajuda muito, ele faz comida, limpa a casa, tudo, tudo, limpar, dá banho

neles sabe, dobrar roupa, ajuda lavar roupa, ele é um paizão mesmo (Bianca).

A importância do apoio familiar no pós-parto (principalmente do companheiro) para a

promoção da saúde mental de mulheres com risco de desenvolver DPP aparece evidente com o

caso da família 3, corroborando com a literatura científica que utilizamos neste estudo, tal como

Barbosa (2014), já citada anteriormente, relata. Bianca (da família 3) relatou menos cansaço

físico, menor insatisfação e menores queixas em relação ao seu companheiro em relação à Alice

(família 2), o que é evidentemente justificada pela maior participação do pai/ parceiro no

cuidado com os filhos e as tarefas domésticas, reduzindo a sobrecarga de ser mãe de três

crianças e dona de casa.

6. O MODELO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM CONSTRUÍDO

Neste momento retomamos os principais elementos que demonstram a resposta ao

objetivo desta Pesquisa Convergente Assistencial, qual seja, “a construção de um modelo de

cuidado de enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em

gestação, com risco de desenvolver depressão após o nascimento do filho”.

Para tanto, apresentamos essa construção por meio de uma síntese das fases da PCA

executada, baseada em Trentini e Paim (2004), refletindo sobre esse ato de assistir e pesquisar

de forma concomitante, considerando o propósito de promover a saúde mental de casais em

gestação na atenção básica. É importante destacar que a divisão em fases representa apenas uma

forma de dar melhor compreensão ao modelo construído, mas não são rígidas em relação ao

momento em que ocorreram, visto que algumas fases se sobrepuseram durante o processo.

I – Concepção

O problema

Partimos de um problema a priori que é a DPP de casais em gestação, considerando as

evidências científicas relacionadas aos seus fatores de risco, colocando-nos o desafio de

responder às seguintes perguntas:

Page 73: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

68

- Como poderia a enfermagem contribuir para a promoção da saúde mental de casais em

gestação na atenção básica e, por consequência, minimizar as possibilidades de

desenvolvimento da depressão no período puerperal?

- Como organizar o cuidado de enfermagem no período gravídico-puerperal na atenção básica

de modo a promover a saúde mental de casais em gestação, com risco de desenvolver depressão

após o nascimento do filho?

O marco conceitual: aproximação aos aspectos teóricos

A construção do marco conceitual, ou seja, a aproximação aos aspectos teóricos

envolvidos no tema em estudo, correspondeu à fase I da PCA. Nessa fase, buscamos construir

um marco conceitual de modo a guiar as nossas ações, um constructo a partir do qual

poderíamos agir e refletir sobre nossas ações na tarefa de construir um modo de cuidar em

enfermagem na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com

risco de desenvolver a DPP. Assim, nos munimos do estudo e sistematização dos seguintes

elementos conceituais que retomamos de maneira resumida:

- A pedagogia libertadora de Paulo Freire, que nos auxiliou na formulação deste

método com as técnicas de estabelecer relações horizontais com a utilização do diálogo como

agente transformador da realidade, sendo que, através dele, estimulamos a autonomia e a

responsabilização sobre o próprio corpo;

- Cuidado, cuidado de enfermagem, saúde e promoção da saúde que são conceitos

importantes para nos auxiliar a estabelecer objetivos do cuidado de enfermagem que

realizamos, ao sabermos “o que é saúde” conseguimos planejar estratégias que busquem

alcançar esse objetivo;

- Modelo assistencial de Enfermagem, conceito que nos ajudou a direcionar nossos

recursos afim de atingir nosso objetivo de criar um modelo de cuidado.

- Saúde mental, a DPP materna e paterna e seus impactos na estrutura familiar e

em seus membros, são todos temas que nos auxiliaram a conhecer a literatura e as pessoas que

sofrem do transtorno psicoemocional, os fatores que facilitam ou dificultam o desenvolvimento

de um quadro de DPP dentro das famílias e como a enfermagem pode contribuir para o

estabelecimento da saúde que almejamos para essas famílias;

- Família, cujo conceito ampliado permitiu marcar essa importante unidade de cuidado

de enfermagem, identificar a família que cuidamos, quem são seus membros, as razões para

que cuidemos de famílias e não somente de indivíduos, bem como considerar todos os

elementos que permeiam a sua construção como instituição social;

Page 74: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

69

- Gênero e Patriarcado, que são conceitos importantes para direcionar nosso cuidado,

considerando os seus impactos sobre a estrutura da sociedade, especialmente sobre a

maternidade e a paternidade. A compreensão dos papeis de gênero a que somos submetidos e

como o patriarcado estabelece relações de poder designados pelo sexo são essenciais para

qualificar o cuidado de enfermagem;

- Maternidade, conceito importante para a compreensão de que maternar é uma

experiência que transforma a vida das mulheres e que essas mudanças podem causar grande

sofrimento quando a mulher não se adequa ao que a sociedade espera dela, considerando os

papéis de gênero construídos;

- Paternidade, conceito que reflete as transformações que o papel de pai tem sofrido ao

longo do tempo, principalmente diante das mudanças do papel das mulheres, bem como as

adaptações necessárias às novas responsabilidades que se impõem.

II – Instrumentação: decisões metodológicas, definição do campo de ação,

participantes, instrumentos de intervenção e de interpretação

As decisões metodológicas correspondem à fase II da PCA. Tendo em vista os

questionamentos iniciais, munidas dos constructos teóricos necessários para a compreensão do

fenômeno e motivadas a respondê-los por meio de uma pesquisa intervenção - ou seja, avançar

para além da função do pesquisador que apenas contempla um fenômeno, mas também age no

campo empírico - buscamos um campo para o seu desenvolvimento que foi a atenção básica de

saúde, especificamente o programa de pré-natal desenvolvido por enfermeiras em uma unidade

de saúde do município de Cuiabá.

Nessa fase, além, de decidir o espaço da unidade em que seria realizada a intervenção,

definimos também quais seriam as pessoas participantes, os instrumentos e o modo de

abordagem e registro, a seguir sintetizados:

Participantes: nosso interesse era, inicialmente desenvolver o estudo com casais em

gestação, ou seja, estes seriam os principais participantes da intervenção. No entanto, logo

após a definição das gestantes que se adequariam ao nosso interesse, considerando

especialmente os critérios relacionados ao período da gestação, ocorreu a principal alteração de

nossa intervenção, uma vez que os companheiros das gestantes não aceitaram participar das

intervenções propostas. A justificativa para a negativa, de modo geral, se relacionava à

impossibilidade de afastamento do trabalho, embora tenhamos oferecido a eles a garantia de

emissão de atestado médico para ser apresentado ao empregador. Desse modo, foram três

mulheres gestantes as principais participantes da intervenção, sendo que optamos por

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70

compreender a situação do casal a partir delas e, na medida do possível, agir para o cuidado da

saúde mental dos homens, também. No decorrer das intervenções foram incluídos como

participantes alguns familiares e profissionais de saúde da unidade, com ênfase para os

ACSs.

Instrumentos de intervenção: compreenderam a consulta de enfermagem com

aplicação do histórico de enfermagem, incluindo o genograma e ecomapa, aplicação da escala

de depressão de Edinburgh, rodas de conversa e visitas domiciliares posteriores, com entrevista

às mulheres no puerpério.

III – Perscrutação: a intervenção realizada

A intervenção propriamente dita correspondeu à fase III da PCA (perscrutação).

Podemos afirmar que essa fase corresponde à culminância da PCA com a aplicação dos

instrumentos para o cuidado de enfermagem: (1) consulta de enfermagem com aplicação do

histórico de enfermagem, incluindo o genograma e ecomapa, aplicação da escala de depressão

de Edinburgh; (2) rodas de conversa com as gestantes e equipe da unidade de saúde; (3) visita

domiciliar com entrevista às mulheres após o parto. Todas as intervenções foram registradas,

por meio de anotações manuais ou gravações e, posteriormente, sistematizadas e analisadas à

luz dos referenciais teóricos. Todas as intervenções tiveram a intencionalidade de construir (e

ao mesmo tempo em que pesquisando) um modelo de cuidado à saúde mental na gestação.

Nessa fase destacamos a potencialidade da utilização dos instrumentos do genograma e

ecomapa para a identificação de fatores de risco e protetores à DPP.

IV – Interpretação: análise das informações coletadas

A avaliação das intervenções corresponde à fase IV da PCA. É nessa etapa que foram

realizadas a avaliação de todas as informações, as análises do material coletado e que foram

identificadas as gestantes com maiores riscos à saúde mental e as estratégias para oferecer maior

apoio a elas, além de definir outros temas que poderiam ser objeto das rodas de conversa.

Também, a partir delas foi possível levantar informações importantes para a avaliação de riscos

para o desenvolvimento de depressão dos seus companheiros, tal como no caso de Jorge, da

família 2

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71

Figura 7: Representação do Modelo de Cuidado de Enfermagem na atenção básica para a

promoção da saúde mental de casais em gestação com risco de desenvolver DPP.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Limites e potencialidades da intervenção

Apresentada a síntese do modelo de cuidado construído, cabe discorrer sobre os seus

limites e suas potencialidades. Podemos considerar como principais limites da intervenção o

pequeno número de gestantes participantes da pesquisa (três), bem como a não adesão dos

homens ao convite para participar do estudo.

Para contornar a não adesão dos homens à pesquisa, buscamos compreender o casal a

partir da percepção da mulher gestante. Além disso interpretamos a recusa dos homens em

participar da pesquisa considerando as discussões de gênero e papéis sociais na sociedade

estruturada pelo patriarcado.

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72

Como potencialidade, ressaltamos a aproximação dos profissionais da equipe de saúde

com as gestantes participantes da intervenção, especialmente as ACSs. Desde o recrutamento

dos participantes de pesquisa, as ACS já começaram a se aproximar dessa população, com

visitas para realizar os convites, contatos telefônicos para relembrar as datas de novas reuniões,

etc. Além da aproximação física, ocorreu também uma aproximação no nível pessoal,

especialmente nos momentos das rodas de conversa, ao compartilhar as suas histórias de vida,

permitindo uma identificação das dificuldades e anseios, aproximando esse grupo através da

empatia e solidariedade entre mulheres.

Para as ACS esse método possibilitou também uma forma de realização da educação

permanente em saúde, visto que, ao participarem da pesquisa, especialmente nas rodas de

conversa, puderam recuperar informações e conhecimentos sobre o período gravídico-

puerperal, além de dialogar e construir conosco e com o grupo de gestantes novas compreensões

sobre o cuidado à gravidez, parto e pós-parto, cuidados com o bebê, métodos contraceptivos,

etc. que as auxiliaram nas visitas domiciliares dessa população, como foi apontado pelas

agentes na avaliação da atividade.

Como discutimos em alguns momentos durante este estudo, o patriarcado é um dos

elementos estruturantes da sociedade capitalista em que estamos inseridas. Nesse sentido, é

comum às mulheres perpetuarem falas ou ideias machistas que são responsáveis por oprimir

outras mulheres, e isso ficou evidente no discurso de algumas ACSs, como no exemplo citado

nas rodas de conversa em que uma delas infantilizam os homens e aumentam as

responsabilidades das mulheres na formação da paternidade. Quando temos profissionais de

saúde perpetuando discursos machistas para novas mães, o patriarcado se fortalece, a opressão

às mulheres se reforça e afeta negativamente essas mulheres em um momento delicado de sua

vida. Ou seja, quando utilizamos as rodas de conversa como modo de descontruir esses

discursos, estamos também educando para a libertação de todas as mulheres. Estamos

auxiliando as ACSs a perceberem que o machismo embutido em suas falas as prejudica como

mulheres. Adicionalmente, estamos auxiliando as ACSs a compreender que, ao compartilharem

ideias opressoras com novas mães, elas não estão contribuindo para a sua saúde mental, mas,

contrariamente, estão permitindo a perpetuação da situação de sobrecarga às mulheres, também

o sentimento de obrigação de se encaixar na visão de mãe perfeita que é comumente cobrada

pela sociedade e, consequentemente, promovendo sofrimento mental e risco à DPP.

Além disso, ao finalizar todo esse estudo percebemos que ele possibilitou um

mapeamento de riscos à saúde muito mais amplo que somente para a prevenção do

desenvolvimento da DPP. Esse método nos possibilitou criarmos uma tecnologia de apoio à

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gestantes na atenção básica de saúde, pois, através do mapeamento de fatores de riscos,

podemos realizar a prevenção de outros sofrimentos emocionais como, por exemplo, os

transtornos de ansiedade, além de identificar riscos sociais, como violência doméstica,

dificuldades financeiras, problemas de moradia, etc. podendo propor encaminhamentos a

outras instituições ou políticas públicas como CAPS, CRAS, polícias civil e militar, entre

outros.

Portanto, este estudo abriu um leque de possibilidades e suprem diversas necessidades

da população atendida, proporciona um cuidado mais amplo ao ofertar apoio às ACSs, gestantes

e puérperas. Tendo como referência a Pedagogia libertadora de Paulo Freire, esse modo de

cuidar promove a construção de conhecimentos e traz condições para desconstruir conceitos

que as aprisionam, permitindo mudar sua condição de vida e saúde. E isso foi representado na

fala de uma das gestantes participante das rodas de conversa em que, em nossa última roda, ela

compareceu com seu bebê no colo e, enquanto aguardávamos as outras participantes para

darmos início as discussões, conversamos. Perguntei a ela como havia sido o seu parto, ao que

ela respondeu que foi bom, que chegou no hospital com dor e que, ao dizerem que iriam induzir

o parto, ela relata que questionou: “porque? Eu acabei de chegar, você não me olhou, como

sabe que eu preciso? ”. Disse, ainda, que indagou os profissionais de saúde porque lembrou das

discussões no grupo “que eles não podem dar remédio para todo mundo, tem que precisar

mesmo, eu lembrei do que você falou, e depois eu tive o meu bebê, não precisou do remédio e

ele nasceu bem” (diário do pesquisador). Essa fala, para nós, foi muito representativa da opção

pela escolha de Paulo Freire como norteador desse estudo, no sentido de desenvolver

autonomia, estimular a responsabilização das mulheres pelo seu corpo através do conhecimento

de seus direitos e, a partir dela, escolha o melhor para si e seu filho.

7. A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA GESTAÇÃO: REFLEXÕES E SÍNTESE

DOS RESULTADOS DA PESQUISA

A pesquisa resultou na construção e aplicação de um modelo de cuidado de enfermagem

na atenção básica para a promoção da saúde mental de casais em gestação com risco de

desenvolver depressão após o nascimento do filho, oferecendo maior visibilidade às

necessidades de casais durante os períodos de gravidez, parto e pós-parto, bem como colaborou

para que as famílias e os profissionais de saúde compreendessem que a depressão pós-parto é

um problema de saúde grave e que afeta os diversos âmbitos das vidas das famílias. Assim

como o adoecimento mental, a DPP provoca sintomas físicos psicossomatizados, prejudica as

relações conjugais, o estabelecimento de vínculos saudáveis com os filhos que viabilizam

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problemas de comportamentos infantis. Além disso, a pessoa acometida pela depressão pode

permanecer adoecida por anos se não obtiver o tratamento adequado. Por acometer uma parte

significativa de famílias, as discussões sobre a DPP devem ser realizadas e consideradas pelos

profissionais de saúde que atuam junto a essa população. Portanto, esse estudo teve o intuito de

fornecer subsídios para os profissionais de saúde cuidarem dessas famílias.

Ao construirmos esse modelo levamos em consideração que a depressão pode acometer

qualquer pessoa. No entanto, existem indivíduos que possuem fatores físicos, sociais e

comportamentais que favorecem o desenvolvimento do transtorno depressivo. Nesse sentido,

foram utilizados instrumentos que possibilitaram a identificação de tais fatores ainda durante a

gestação, para que se construam medidas específicas para dar suporte às famílias que são mais

vulneráveis a desenvolver esse adoecimento.

Ao decidirmos sobre os instrumentos que poderiam ser utilizados pelos profissionais de

saúde, neste caso enfermeiras, neste modelo consideramos a carga de trabalho extensa ao qual

essas profissionais são submetidas. Assim, optamos por priorizar os instrumentos que já são

utilizados por elas diariamente, apenas potencializando o seu uso. Deste modo, optamos como

nosso principal instrumento o histórico de Enfermagem, pois por meio dele conhecemos toda a

história de saúde e social daquela família, subsidiando a construção dos outros instrumentos

complementares ao histórico, como o Genograma, o Ecomapa e a aplicação da Escala de

Edinburgh. Dito isso, ressaltamos que todas as ferramentas escolhidas neste estudo já estão

inseridas no contexto da atenção básica, não tendo impacto significativo à quantidade de

trabalho exercido pelos profissionais.

E, por fim, a outra ferramenta escolhida para compor esse modelo foram as rodas de

conversa. As rodas de conversa têm um potencial muito grande para fornecer o conhecimento

científico dos profissionais, desbancar os conhecimentos populares que podem causar mal à

saúde, trocar experiências positivas e negativas sobre a maternidade, oferecer uma rede de apoio

institucional (UBS) e social (outras gestantes) às futuras mães, que podem construir fatores de

proteção para o desenvolvimento da DPP, como vimos no decorrer deste estudo. Além disso,

as rodas propiciam formar um grupo com interesses comuns, e esses são recomendados pelo

MS para o atendimento de populações de risco especificas (hipertensos, diabéticos, idosos e

gestantes).

Ao realizarmos essas atividades, esse estudo nos proporcionou aproximar e conhecer

aquela população, assim como estabelecer uma relação de confiança proporcionando a essas

gestantes/mães um ambiente seguro em que elas puderam admitir seus medos, receios, dores e

arrependimentos, sabendo que seriam compreendidas e que, se necessário, seriam ajudadas e

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amparadas pela instituição. Afinal, é esse o objetivo do trabalho das UBS nas comunidades, ou

seja, aproximar-se da população, conhecer seus membros e oferecer apoio utilizando todos os

recursos e profissionais que possui.

E foi esse o sentimento que surgiu dos encontros individuais com as gestantes/mães.

Elas utilizaram esses momentos para expressar suas dificuldades e dores, para admitir e afirmar

o que não tinham coragem de fazê-lo a ninguém, especialmente pelo medo dos julgamentos que

poderiam receber, nos dando o sentimento de que alcançamos o intuito de trabalhar com

comunidades.

Esse tipo de abordagem permite que as equipes conheçam verdadeiramente essas

mulheres e seu funcionamento familiar e obter mais elementos para a intervenção efetiva, pois

a aproximação dos profissionais de saúde com a população estimula a participação mais efetiva

do cuidado com o outro, em se tratando da DPP e das dificuldades da maternidade para as

mulheres, ocorre um sentimento de identificação com suas próprias dificuldades despertando a

empatia com essa população.

Por fim, para nós, enquanto pesquisadoras, a atividade também foi libertadora, na

medida em que pudemos estar com outras mulheres refletindo sobre situações que também nos

dizem respeito, nos afetam, também nos causam sofrimento e nos desafiam a superar, em

comunhão com todas as mulheres. Ou seja, também reafirmamos os ensinamentos de Paulo

Freire, segundo o qual “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho”, mas “os

homens (e as mulheres – acréscimo nosso) se libertam em comunhão (FREIRE, 2018b, p.33)”.

Page 81: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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ANEXOS

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85

ANEXO 1 - Escala de Depressão Pós-parto de Edimburgo (EPDS)

Nome:

Data:

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86

Idade do bebê:

Pontuação:

Aplicador da escala:

Dado que teve um bebê há pouco tempo, gostaríamos de saber como se sente. Por favor, marque a

resposta que mais se aproxima dos seus sentimentos nos últimos 7 dias. Obrigado.

Nos últimos 7 dias:

1. Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas.

( ) Tanto como antes

( ) Menos do que antes

( ) Muito menos do que antes

( ) Nunca

2. Tenho tido esperança no futuro.

( ) Tanta como sempre tive

( ) Menos do que costumava ter

( ) Muito menos do que costumava ter

( ) Quase nenhuma

3. Tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal.

( ) Sim, a maioria das vezes

( ) Sim, algumas vezes

( ) Raramente

( ) Não, nunca

4. Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo.

( ) Não, nunca

( ) Quase nunca

( ) Sim, por vezes

( ) Sim, muitas vezes

5. Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo.

( ) Sim, muitas vezes

( ) Sim, por vezes

( ) Não, raramente

( ) Não, nunca

6. Tenho sentido que são coisas demais para mim.

( ) Sim, a maioria das vezes não consigo resolvê-las

( ) Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes

( ) Não, a maioria das vezes resolve-as facilmente

( ) Não, resolvo-as tão bem como antes

7. Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal.

( ) Sim, quase sempre

( ) Sim, por vezes

( ) Raramente

( ) Não, nunca

8. Tenho-me sentido triste ou muito infeliz.

( ) Sim, quase sempre

( ) Sim, muitas vezes

( ) Raramente 43 ( ) Não, nunca

9. Tenho-me sentido tão infeliz que choro.

( ) Sim, quase sempre

( ) Sim, muitas vezes

( ) Só às vezes

( ) Não, nunca

10. Tive idéias de fazer mal a mim mesma.

Page 92: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

87

( ) Sim, muitas vezes

( ) Por vezes

( ) Muito raramente

( ) Nunca

EPDS – Orientações para cotação

As respostas são cotadas de 0, 1, 2 e 3, de acordo com a gravidade crescente dos sintomas. As

questões 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10 são cotadas inversamente (3, 2, 1, 0). Cada item é somado aos

restantes para obter a pontuação total. Uma pontuação de 12 ou mais indica a probabilidade de

depressão, mas não a sua gravidade. A EPDS foi desenhada para complementar, não para

substituir, a avaliação clínica.

Adaptado de Edinburgh Postnatal Depression. Original de JL Cox, JM Holden, R Sagovsky.

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Versão Portuguesa : Postnatal depression in an urban area of Portugal: comparison of childbearing

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88

ANEXO 2 – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa

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APÊNDICES

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92

APÊNDICE 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezada (o) participante,

Meu nome é Lohaine Souza da Silva, Enfermeira, Mestranda do programa de Pós-graduação

em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), sob orientação das

professoras doutoras Rosa Lúcia Rocha Ribeiro e Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa.

Estou realizando um estudo intitulado “Depressão puerperal: pesquisa intervenção com

casais identificados com fatores predeterminantes e vulneráveis ao adoecimento”. O

objetivo da pesquisa é contribuir para a promoção da saúde mental de casais em gestação e a

melhoria do cuidado de enfermagem para aqueles que têm risco de desenvolver depressão após

o nascimento do filho. Para tanto, estarei realizando atividades e entrevistas com casais como

vocês. Este estudo resultará na elaboração da minha dissertação de mestrado e os resultados

serão divulgados em eventos e publicações científicas.

Os instrumentos para a coleta dos dados a serem utilizados nesta pesquisa serão as rodas de

conversa com grupos de casais em gestação, a consulta de enfermagem (com a aplicação do

histórico de enfermagem, genograma e ecomapa), aplicação de uma escala para a identificação

de sinais e sintomas de depressão (Escala de depressão pós-natal de Edinburgh) e entrevista.

Todos esses momentos terão seu áudio gravado e, posteriormente, transcrito e analisado,

obtendo assim o corpo de dados para este estudo. As cópias ficarão guardadas comigo e serão

utilizadas somente por mim e minhas orientadoras, e você receberá também uma cópia da

versão transcrita para avaliação, possíveis correções do conteúdo transcrito e autorização do

uso da transcrição. As informações fornecidas serão mantidas em segredo e sua identidade não

será revelada em nenhum momento. Você tem liberdade para retirar seu consentimento em

participar do estudo a qualquer momento, sem prejuízo, mesmo depois de ter assinado este

documento. Se, após a entrevista, você desejar que suas informações não sejam utilizadas

poderá entrar em contato comigo e terá a fita e a cópia escrita, destruídas.

Ao participante, a participação na pesquisa oferecerá riscos mínimos (tais como algum

desconforto ao relatar determinado evento/assunto, choro em decorrência de reavivar

memórias, entre outras emoções) os quais serão prevenidos pelo planejamento cuidadoso das

rodas de conversa, estabelecimento de um acordo de convivência com regras construídas com

os participantes para a promoção da partilha de experiências com respeito e acolhimento. Além

disso, as reuniões serão conduzidas com o apoio de minhas orientadoras, as professoras Rosa

Lúcia Rocha Ribeiro e Maria Aparecida Rodrigues da Silva Barbosa, as quais têm larga

experiência com o trabalho de acolhimento com grupos, maternidade e paternidade. Em relação

aos benefícios da sua participação na pesquisa, temos o compromisso em informar-lhe que

proporcionaremos momentos de reflexão sobre a condição social da maternidade e paternidade,

poderemos identificar casais com riscos sociais e emocionais de adoecerem ou que já estejam

com depressão no início do estudo e, consequentemente, proporcionar apoio e tratamento

médico imediatamente após o diagnóstico.

A pesquisa terá duração de aproximadamente 06 meses.

Diante do exposto, eu __________________________________________ declaro que fui

esclarecida (o) o suficiente sobre o estudo a ser realizado por Lohaine Souza da Silva e consinto

em participar. Também autorizo que as gravações realizadas sejam transcritas e estou ciente

que terei acesso à cópia da versão transcrita para avaliação, possíveis correções do conteúdo

transcrito e autorizo o uso da transcrição.

Este documento possui 02 vias, ficando uma com a pessoa participante e a outra com a

pesquisadora.

Page 98: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

93

Cuiabá, ______ de __________________ de 2019.

___________________________ _________________________________

Assinatura da pessoa entrevistada Assinatura do pesquisador

Para quaisquer esclarecimentos pode entrar em contato com:

Pesquisadora: Lohaine Souza da Silva

Celular: (65) 99907-2218

Email: [email protected]

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus

Rondonópolis:

Endereço: Avenida dos estudantes, Nº 5055, Cidade universitária, Rondonópolis/MT.

Telefone: (66)3410-4153

E-mail: [email protected]

Coordenadora: Suellen Rodrigues De Oliveira Maier

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94

APÊNDICE 2 – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Questão 1) Como você está vivenciando sua atual/primeira maternidade?

Questão 2). As rodas de conversa que você participou te auxiliaram em algo durante o período

de parto ou pós-parto?

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95

APÊNDICE 3 - ROTEIROS DE PLANEJAMENTO DAS RODAS DE CONVERSA

REUNIÃO COM AS GESTANTES – 1° ENCONTRO

TEMA: MATERNIDADE

Horário: 8:30 às 10:30

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

08:30 às 8:45 – Apresentação

8:45 as 9:00 – Texto 1

9:00 às 10:00 – Abrir a discussões com o grupo

Estimular/ direcionar as contribuições para abordar os temas:

- As dificuldades de ser mãe

- A mãe perfeita

- A culpa materna

- Rede de apoio materno

10:00 às 10:10 – Dinâmica 1

10:10 às 10:20 – Uma breve conversa sobre:

- Círculos de mães, o que podemos fazer para ajudar a outra mãe?

10:20 às 10:30 – Enceramento e agradecimentos

TEXTO 1 – A MATERNIDADE REAL

A mãe, é colocada num pedestal. Ela não deveria errar, não deveria reclamar, não

deveria se sentir triste em relação aos filhos, não deveria ter quereres para além da maternidade.

Seria um ser mítico que, de tão mítico, esse ser acaba se tornando invisível na sociedade. É um

ser que não existe no mercado de trabalho, na universidade, na sociedade. Esse ser deve

permanecer apenas em seu pedestal, que está localizado no lar. Uma deusa que sorri calada em

seu lar.

Conheço mulheres que não amaram seus filhos no exato momento do nascimento.

Conheço mulheres que não gostam da barriga grande da gestação. Conheço mulheres que têm

uma dificuldade enorme em manter diálogo com os filhos por terem pensamentos tão distintos.

No entanto, tentam calar essas mulheres porque mãe boa mesmo é aquela que está

sempre caindo de amores pelos filhos.

A VERDADE É QUE NÃO AMAMOS TUDO NOS NOSSOS FILHOS O TEMPO

TODO.

Por quê? Porque somos todos de carne e osso, humanos com sentimentos e emoções

que flutuam, mudam e variam. Somos, acima de tudo, pessoas diferentes dos nossos filhos. E,

quanto mais eles crescem, mais vemos diferenças. A relação mãe e filho não deveria ser

romantizada como é. É uma relação de muito amor para a maioria, mas, como toda relação, a

gente sente de tudo por eles também: mágoa, ressentimento, frustração, irritação. Acontece que

Page 101: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

96

ninguém admite ter sentido uma grande irritação com o próprio filho, por exemplo. Não falamos

sobre isso porque é proibido. Cobram-nos amor 100% do tempo e isso não existe numa relação

entre dois seres humanos. Ninguém se ama o tempo todo.

E como ninguém fala sobre sentimentos que não foram vendidos no 'pacote

maternidade', nos sentimos um grande monstro terrível por, por exemplo, não sentirmos

saudade do filho quando ele está com outra pessoa para que possa ter tempo para você, é difícil

admitir gostar desse tempo consigo mesma, de se sentir bem por poder, uma vez ao ano, dormir

até tarde e não se preocupar com a hora do almoço.

Mas, por que acreditamos que deveríamos sentir saudade dos nossos filhos o tempo

todo? Porque nos venderam esse amor romantizado, exagerado e ilusório que nos faz sentir

culpa quando deixamos de olhar um tiquinho pra eles? É como se não pudéssemos exercer

qualquer outro papel além da maternidade. É como se tivéssemos nascido apenas pra isso.

A relação mãe e filho não é algo divinizado, de outro mundo ou transcendental. É uma

relação como qualquer outra sendo que cada relação acontece de uma maneira particular. Nós

amamos, cuidamos, nos apaixonamos por eles. Num outro dia, eles vão nos aborrecer e vamos

sentir frustração e raiva. Nada de diferente de qualquer outra relação. Acho que a gente só vai

sentir menos culpa quando entender que o amor materno é forte e fascinante, mas não pode ser

idealizado. Quanto mais a gente entender que não precisamos seguir um ideal e que esse amor

materno é, também, humano, mais leve será nossa maternidade.

Dinâmica 1 – Cai, cai, balão

Objetivo: Integração, espírito de equipe, comprometimento, determinação etc.

Material: Bexigas.

Procedimento: O facilitador deve distribuir uma bexiga (cheia) para cada participante.

Ao seu sinal, todos deverão manter os balões no ar com um simples toque, para evitar que caiam

no chão. Sutilmente, vai retirando algumas pessoas. Como seus respectivos balões permanecem

na brincadeira, o restante do grupo tem a responsabilidade de mantê-los no ar. A dinâmica

encerra-se quando o grupo já não consegue mais manter todos os balões no ar. Como

alternativa, o facilitador pode optar por acrescentar novos balões, sem que seja necessário retirar

nenhum participante. No final, podem ser feitas reflexões acerca da sobrecarga, do fato de ter

ficado sozinho sustentando os balões e da importância do apoio mútuo.

Fonte: http://www.ameconsultoria.com.br/dinamicas/32/

REUNIÃO COM AS GESTANTES – 2° ENCONTRO

TEMA: DIREITOS NO PARTO E PREVENÇÃO A VIOLÊNCIA

OBSTÉTRICA

Horário: 8:30 às 10:30

1°) Dinâmica da Rosa

Procedimento: Cada participante deve passar a rosa para a pessoa que está ao seu lado, e a

pessoa que a recebe deve dizer o seu nome e alguma informação a seu respeito. Enquanto cada

participante fala, os demais ficam atentos, ouvindo. Em seguida, faz-se a rosa voltar no sentido

Page 102: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

97

contrário da roda, e cada um deverá lembrar o nome da pessoa ao lado e a informação que ela

havia dito. Podem ser feitas as seguintes reflexões: “Todos nós soubemos ouvir?” “Às vezes,

as pessoas se preocupam tanto com o que vão falar que esquecem de ouvir”. “A pessoa está

falando e você já está imaginando o que dizer a ela, muitas vezes, sem dar a devida atenção,

sem olhar nos olhos e valorizá-la.”

Fonte: http://www.ameconsultoria.com.br/dinamicas/32/

2°) Estabelecer as regras

Regras:

- Silêncio quando a outra pessoa estiver falando

- Falar sempre usando “eu” – minha experiência

- Não julgar, não dar conselho, não fazer sermões e discurso

- Podemos cantar

3°) Perguntas disparadoras

- Alguém gostaria de compartilhar como foi sua experiência no parto?

(lei do acompanhante, violência obstétrica, direitos trabalhistas, 6 consultas de pré-natal, visita

a maternidade de referência)

4°) Relato positivo

Eu tinha muito medo de não ter um parto humanizado e sofrer violência obstétrica. Eu sabia que

teria meu filho em um hospital universitário, mas fiquei a gestação inteira apreensiva, já que eu não

teria condições de pagar um parto. Mas eu só tenho a agradecer. Fui pro hospital com a barriga

endurecendo, sem sentir dor, e já estava com 5 cm de dilatação. Fui até os 7 cm sem sentir dor de

contrações. Eles estouraram minha bolsa pra poder acelerar, e aí começaram as dores fortes. Assim

que as dores começaram, fui pra baixo do chuveiro, e foi o que me ajudou a acelerar e a aguentar

as dores. E logo eu que sou toda dengosa, aguentei quieta cada contração que vinha, sabia que a

tendência era só piorar e apertar mais, mas graças a Deus, quando eu pensei que ia piorar, me

levaram pra sala de parto. Chegando lá, fiz forca 4 vezes, tudo no meu tempo, já que o tempo todo

eles falavam que era pra eu fazer força a hora que eu quisesse. E na 4 vez, o meu bebê nasceu. E a

dor da hora que ele passou, foi uma dor muito boa! No início das contrações fortes, eu pensava

"porque eu não fiz uma cesárea," mas o PN é muito bom, a hora que passa tu nem lembra mais das

dores. Não tive nenhum corte e não houve laceração, não levei nenhum ponto! E a equipe médica

desde o início foi maravilhosa, nem se eu tivesse pago teria tido meu filho tão tranquilamente como

foi. Em menos de 2 horas do momento em que começou o trabalho de parto, eu já estava com meu

bebê em mãos. Vim fazer o relato porque assim como eu, sei que tem muitas mães com medo do

parto pelo SUS. Mas mantenham a calma, Deus sempre cuida de tudo. Eu havia lido relatos

horríveis sobre partos no hospital onde tive meu bebê, mas vi eles tratando outras mamães e a mim

muito bem, não se assustem, só segurem na mão de Deus.

5° Avaliação

Page 103: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

98

* IMPORTANTE DISCUTIR: Licença-maternidade de 120 dias para gestantes que tiverem

carteira de trabalho assinada é apenas um dos direitos garantidos.

No Sistema Único de Saúde (SUS), a mulher grávida tem direito a um acompanhante (homem

ou mulher), de sua indicação, durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto.

REUNIÃO COM AS GESTANTES – 3° ENCONTRO

TEMA: AMAMENTAÇÃO E PÓS-PARTO

Horário: 8:30 às 10:30

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

08:30 às 8:45 – Apresentação

8:45 as 9:00 – Texto 1

9:00 às 10:00 – Abrir a discussões com o grupo

Estimular/ direcionar as contribuições para abordar os temas:

- Métodos para prevenir rachaduras nas mamas

- Pega

- Cuidados com as cicatrizes

- Leite materno x Fórmulas lácteas

- Alimentação para lactante

10:20 às 10:30 – Enceramento e agradecimentos

TEXTO I - Meu relato PÓS PARTO Isso mesmo, você não leu errado, meu relato é PÓS

PARTO, até porque toda minha gravidez, desde o momento em que soube até o dia do

nascimento, foi tudo mágico, tão mágico que não senti nem a dor da tão temida anestesia.

Tive meu bebê, tudo lindo e maravilhoso e então aquele vislumbre da maternidade começa a

desaparecer. Primeira decepção é eu não me lembrar da primeira mamada do meu bebê, só sei

que fiz isso porque tem fotos que registraram esse momento, momento este tão adorado pelas

novas mamães, onde estas se sentem tão realizadas. Pois é, não lembro.

Antes de ter alta, a enfermeira me alertou que quando meu leite descesse eu sentiria dor, mas

eu estava cética de que não sentiria, pois estimulei meu seio durante toda a gravidez, meu bebê

mamou no hospital e eu não senti dor! Bobinha, não sabia o que me esperava.

Chegamos em casa, a primeira noite foi tranquila, meu bebê não chorava, não tinha cólicas, era

um anjo! Mamava de mais (o colostro é claro) e eu lembrando da enfermeira e rindo “nem ta

doendo kkkk”. Primeiro dia em casa, um sucesso!!!! No dia seguinte, dia as mães, meus pontos

não doíam, andava normalmente dentro de casa, nada de andar encurvada, estava ereta, bem,

parecia que tinha feito parto normal, estava tudo ótimo até que meu bebê sentiu fome, e quando

ele abocanhou meu peito, SENHOR!!!! O que foi aquilo???? Que dor é essa? Eu não deveria ta

sentindo isso!!! Mas estava, toda mãe sente! Ahh e descobri também que não importa se é o

primeiro, segundo ou terceiro filho. SEMPRE VAI DOER. Mas essa dor tem um fim, e o meu

fim chegou ao longo de 5 dias. 5 dias achando que perderia meus mamilos!

Primeira semana, ok!

Page 104: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

99

Entramos na segunda semana, e o anjinho que vivia dormindo e só acordava para mamar,

começa a ter cólicas! CÓLICAS! Um choro sem fim, um choro agoniante. Ahh e tem mais,

você fica tão nervosa, desesperada, tentando fazer de tudo para o bebe ficar quieto e ele não

fica quieto com você! (o nosso desespero, nervosismo, estresse, passa para o bebê, pois é).

Então, minha mãe pegava ele e como num passe de mágica, ele cessava o choro.

E eu? EU me sentia a pior das mães, a pior das mulheres. E é nessa hora que tudo de ruim passa

na cabeça. “Será que eu deveria ter engravidado?”, “Será que sirvo pra ser mãe?”, “Por que ele

não fica quieto comigo?”, “Ele não gosta de mim!”. Além de tudo isso, sabe aquela ligação da

mãe com o filho, onde ele é o MAIOR amor da vida dela, e ninguém mais importa? Sabe?

Então, eu não tive! Não conseguia sentir essa ligação. Na minha cabeça passavam vários

sentimentos, um turbilhão de pensamentos e olha que nem falei da Depressão Pós Parto. Pois

é, ainda passei por isso. Lembra que eu disse que minha gravidez foi mágica? Então, foi tão

boa que eu não queria deixar de estar grávida. A barriga saiu, o bebê nasceu, era pra eu estar

maravilhada com o meu filho nos braços. Mas eu estava triste, queria minha barriga de volta.

Não queria nem ver fotos da minha linda barriga que eu começava a chorar. E não pense que

foi só uma semana nessa melancolia. Achei que nunca fosse sair desse estado, mas saí. Não

deixei meus pensamentos me dominarem. Lutei e Venci! “Mas fique calma, tudo passa!” Isso

era o que minha mãe e meu esposo diziam. Mas na minha cabeça isso não ia passar nunca!

Até que após os 40 dias de resguardo tudo mudou, como se fosse da água para o vinho. As

cólicas acabaram, meus seios já não doíam mais e meu bebê não chorava incessantemente.

Aquela ligação que toda mulher diz ter, comecei a sentir, um dia de cada vez! E aquela mãe que

mal conversava com seu bebê, já estava cantando e fazendo rimas durante o banho dele. Ele fez

2 meses e começou a sorrir! Meu coração se encheu de orgulho! “Sou a mãe mais feliz do

mundo!” assim eu pensei. Cada dia uma nova descoberta! E estamos nos descobrindo juntos.

Filho não vem com manual de instrução né?! Hoje não me vejo sem meu filhote!!!! E como

minha mãe disse: Tudo passa! Fica tranquila que tudo passa! E realmente passa, passa rápido

de mais. Hoje ele é um bebê, que cabe em meus braços, mas amanhã será um homem! Hoje eu

digo: nasceu um bebê próximo à você? Não visite, não visite O bebê. Visite a mãe do bebê!

Converse, se distraia, faça com que ela se desligue um pouco desse começo tão estressante.

Se eu soubesse antes de como tudo é tão cansativo e de como ficamos louca nas primeiras

semanas, certamente teria visitado às mamães próximas de mim mais vezes!!!

Page 105: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

100

APÊNDICE 4 – TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

TRANSCRIÇÃO DA 1° RODA DE CONVERSA COM AS GESTANTES

TEMA: MATERNIDADE

MUSICISTA – pra estagia e hoje estou aqui pra conhecer a unidade de vocês e participar da roda.

ENFERMEIRA REGINA: e já acho né

MUSICISTA – Já achei!

-risos

ACS 1 : - Meu nome é ACS 1, sou a agente de saúde, e sou mãe e sou vó!

Lohaine: - Mãe duas vezes!

ACS 1: Mãe sua vezes!

ACS 2: Eu também sou, éé, eu sou ACS 2, meu apelido é de Deva, e eu tenho dois filho também e

três neto, e eu sou agente de saúde também, esqueci.

ACS 3: - Meu nome é ACS 3, sou agente de saúde e sou mãe e sou vó também.

AD 1: - Eu sou AD 1, sou auxiliar da Enfermeira Joana e da odontologia e também sou mãe de

dois filhos.

AD 2: Sou AD 2, auxiliar de odonto, sou mãe de um menino de 20 anos.

Lohaine: Nossaaa, uma criança!

- Risos

ACS 4: - Eu sou ACS 4, sou agente comunitária do Unidade A ha 15 anos, sou mãe de 4 filhos, só

4. - Risos.

ACS 5: Meu nome é ACS 5, sou agente de saúde, e ainda não tenho filhos!

ACS 6: - Meu nome é ACS 6, sou agente comunitária, sou mãe de 1 filho chamado Arthur! ele

tem 12 anos! Meu companheirinho!

ACS 7: - Meu nome é ACS 7, sou agente comunitária de saúde do Unidade B, já tem uns 20 anos

né, i sou mãe de 4, 4?, 3 vivo e um falecido que era gêmeo, e sou contemplada com 5 netos, todos

meu amor.

ACS 8: sou do Unidade B mas, sou mais conhecida como ACS 8 né, sou mãe de 3 filhos, 1 de 22

dois anos, uma de 24, e 1 de 26, e também tenho a honra de ser avó de 4 netos.

D1: Eu sou D1, dentista do Unidade B, tenho 2 filhas, uma de 26 e outra de 20.

D2: Eu sou D2, eu sou dentista do Unidade A, pai, tenho 3 filhos e agora por ultimo Deus mandou

m casalzinho, é uma dupla, são gêmeos, acabaram de completar 4 anos.

Lohaine: nossa, que legal.

ACS 9: E sou ACS 9 agente de saúde do Unidade B, sou mãe de uma menina de 10 anos.

ACS 10: Sou ACS 10, agente de saúde do Unidade B e teno 2 filhos.

ACS 11: Meu nome é ACS 11, sou agente comunitária de saúde e tenho 3 filhos e 1 neto, neta.

Lohaine: neta? olha, olha a carinha das avós aqui gente.

- risos

Alice: Meu nome é Alice, sou mãe de primeira viagem!

Lohaine: é? e quantas semanas você ta Alice?

Alice: 35

Lohaine: Legal, e você?

G1: aah e não quero falar não

Musicista : Já falô, como assim não quer falar?

-risos

Lohaine: como que é se nome, só pra gente saber como te chamar

G1: G1

Lohaine Tudo bem, seja bem vinda G1.

G1: Obrigada.

Enfermeira Regina: É se primeiro filho?

G1: Não

Enfermeira Regina: quantos filhos você tem?

Page 106: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

101

G1: duas

Lohaine: pronto, já resumiu tudo!

-risos

Enfermeira Regina: Meu nome é Enfermeira Regina, sou enfermeira do Unidade B, e eu não

tenho neném.

-risos

G2: Meu nome é G2, tô no segundo filho agora e já vou fazer a laqueadura, é uma menina tô de

33 semana e sou enfermeira também.

Lohaine: é? que legal!

Rosa: Bom dia, eu sou Rosa, eu sou mãe de 1 filha, que ta com 20 e tantos anos, to na chuva pra ser

vó.

-risos

Lohaine: esperando né professora, se for i-gual aos meus pais, estão esperando ansiosamente e

deixa isso bem claro!

- risos

Lohaine: então agora eu vou entregar um textinho pra vocês, que a gente vai ler juntos ta, só pra

vocês acompanharem, que é, a gente vai falar, sobre a maternidade, agora que a gente já se

conheceu, e é sou um texto pra gente direcionar, um pouquinho a nossa conversa.

Rosa: quer que eu ajudo aí?

Silêncio por alguns segundos.

Lohaine: vamo lá, alguém quer ler pra gente? quer ler? pode ser?

AD 1: A maternidade real. A mãe, é colocada num pedestal. Ela não deveria errar, não deveria

reclamar, não deveria se sentir triste em relação aos filhos, não deveria ter quereres para além da

maternidade. Seria um ser mítico que, de tão mítico, esse ser acaba se tornando invisível na

sociedade. É um ser que não existe no mercado de trabalho, na universidade, na sociedade. Esse

ser deve permanecer apenas em seu pedestal, que está localizado no lar. Uma deusa que sorri

calada em seu lar.

Conheço mulheres que não amaram seus filhos no exato momento do nascimento. Conheço

mulheres que não gostam da barriga grande da gestação. Conheço mulheres que têm uma

dificuldade enorme em manter diálogo com os filhos por terem pensamentos tão distintos.

No entanto, tentam calar essas mulheres porque mãe boa mesmo é aquela que está sempre caindo

de amores pelos filhos.

A VERDADE É QUE NÃO AMAMOS TUDO NOS NOSSOS FILHOS O TEMPO TODO.

Por quê? Porque somos todos de carne e osso, humanos com sentimentos e emoções que flutuam,

mudam e variam. Somos, acima de tudo, pessoas diferentes dos nossos filhos. E, quanto mais eles

crescem, mais vemos diferenças. A relação mãe e filho não deveria ser romantizada como é. É

uma relação de muito amor para a maioria, mas, como toda relação, a gente sente de tudo por eles

também: mágoa, ressentimento, frustração, irritação. Acontece que ninguém admite ter sentido

uma grande irritação com o próprio filho, por exemplo. Não falamos sobre isso porque é proibido.

Cobram-nos amor 100% do tempo e isso não existe numa relação entre dois seres humanos.

Ninguém se ama o tempo todo.

E como ninguém fala sobre sentimentos que não foram vendidos no 'pacote maternidade', nos

sentimos um grande monstro terrível por, por exemplo, não sentirmos saudade do filho quando ele

está com outra pessoa para que possa ter tempo para você, é difícil admitir gostar desse tempo

consigo mesma, de se sentir bem por poder, uma vez ao ano, dormir até tarde e não se preocupar

com a hora do almoço.

Mas, por que acreditamos que deveríamos sentir saudade dos nossos filhos o tempo todo? Porque

nos venderam esse amor romantizado, exagerado e ilusório que nos faz sentir culpa quando

deixamos de olhar um tiquinho pra eles? É como se não pudéssemos exercer qualquer outro papel

além da maternidade. É como se tivéssemos nascido apenas pra isso.

A relação mãe e filho não é algo divinizado, de outro mundo ou transcendental. É uma relação

como qualquer outra sendo que cada relação acontece de uma maneira particular. Nós amamos,

Page 107: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

102

cuidamos, nos apaixonamos por eles. Num outro dia, eles vão nos aborrecer e vamos sentir

frustração e raiva. Nada de diferente de qualquer outra relação. Acho que a gente só vai sentir

menos culpa quando entender que o amor materno é forte e fascinante, mas não pode ser

idealizado. Quanto mais a gente entender que não precisamos seguir um ideal e que esse amor

materno é, também, humano, mais leve será nossa maternidade.

Lohaine: gostaram? é, então, oque que vocês acham desse texto, vamos conversar. O que vocês

acham que a gente quis dizer com isso?

ACS 9: é oque realmente acontece né

Lohaine: aham

ACS 9: ninguém é 100%

Lohaine: Sim

Alguem diz: é assim que acontece

ACS 9: Ainda mais como tem mãe que é de 1° viagem, acho que deve sentir a culpa maior,

tipo, ah eu não to gostando dessa barriga, ta me incomodando, eu não to dormindo, eu não dou

conta de come, eu particularmente quando eu tava gravida da minha filha, cara chegou um certo

tempo que tudo que comi parava aqui ó (mostra a região do epigastro), duía o estomago e eu

ficava com raiva, se eu pudesse eu tirava, eu vô dexa ali a hora que eu quiser eu pego de volta,

mais, depois que se ta com a pessoa, aí se vai se acustumar, é como um relacionamento qualquer,

é igual fala todos somos seres humanos então não é 100%.

Lohaine: alguém mais?

ACS 9: Esses dias eu tava saindo daqui encontrei uma mocinha bem aqui na esquina, tava

passando aí, "você trabalha aqui", falei "sim", "você consegue agendar consulta com a dotora

Daniela, mas ela ta de férias né?", falei "sim" "é porque eu descobri que eu to grávida e não quero

essa criança" e não vi a hora que eu falei bem assim "porque que você não pensou antes de fazer

então, nas consequências, qui que se quer fazer agora" "eu não quero porque eu sou muito nova"

perguntei "quantos anos que você tem?" "quinze anos" falei "pois pensasse antes de fazer, que

culpa tem essa criança?" olha a minha barriga vai crescer, meu peito vai cair, nada disso gente,

tudo volta no lugar,dessas que "ah não vou amamentar que meu peito vai cair" mentira eu

amamentei meus 3 filhos, apesar que eu não tenho tanto seio,amamentei os 3 sabe, é maravilhoso,

ah eu amo meus filhos e chamo eles de bebê até hoje, um tem 23 anos, a menina tem 24, e meu

mais velho tem 26 anos, chamo ele de bebê até hoje, meus netos então é a mesma coisa, então, ser

mãe é a melhor coisa do mundo.

Lohaine: Sim é, o texto, o texto é vem falando exatamente disso, que ser mãe é bom, você amar

seu filho né, criar um relacionamento mas, mais o relacionamento materno, de mãe com o filho é

como também outros relacionamentos, você não vai ser, você vai amar seu filho o tempo todo

mais todo tempo que você vai estar transbordando amor, as vezes você vai amar irritada com

alguma coisa que ele fez né.

ACS 9: e tem até uma música do projota que fala assim, sentia vontade de amar as coisas

desejadas da vida, achei que amaria muito mais alguma coisa que saísse de mim.

Lohaine: aham

ACS 9: então, na ocasião é o filho né, é que todo mundo diz "ah eu quero amar alguem, então se

amaria muito mais alguem saído de você alguém que você criou, alguém seu.

Lohaine: aham

ACS 9: No caso seria seu, é bem bonita essa música.

Rosa: qual que é?

ACS 9: Mãe, Projota, Emicida na verdade.

Lohaine: eu não conheço, quem sabe a gente toca pra depois, outro dia a gente trás ela pra gente

ouvi.

AD 1: Ontem inclusive eu assisti uma palestra que falava, também sobre filhos né

Lohaine: Aham

AD 1: e aí o palestrante ainda citou que ah, nós temos que amar dentro de casa, porque se você

não consiguir amar, você não consegue ama na sua vida, as pessoas, aí ele falando sobre os filhos

Page 108: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

103

né, os filhos vão te irritar, os filhos vão ti tirar do sério, mas deixa de amar se filho por isso? não!

O vizinho é mais fácil você deixar de amar, porque ele não ta ali convivendo com você, então

você, aah o vizinho você dá tchau tal, se não convive com ele, e o filho não, o filho você ta o

tempo inteiro ali, você não vai abandonar seu filho porque ele te irritou, porque ele fez, eééé, uma

coisa bem complexa de poder trabalhar no dia-a-dia.

ACS 4: é igual assim, eu creio assim que ser mãe é você amar, sem querer nada em troca, porque

nem sempre você recebe a recompensa né, do mesmo, tipo assim, você se dedica tanto mas muitas

vezes você não recebe de volta essa recompensa, que é o amor de volta dos filhos, que é o respeito

o amor né? igual ontem eu ouvi da minha filha de 16 anos, ela fala assim "a senhora é a melhor

mãe do mundo, mas eu não suporto conviver com a senhora" (diz com a voz embargada), então

assim eu não entendi né, mas fiquei, é que eu to convivendo com ela agora tem uma semana, vai

fazer uma semana, e assim, não é uma pessoa fácil né, se ama incondicionalmente porque eu

responsabilizo pelas coisas dela, responsabilizo pelas quebrada de cabeça dela, corro atrás dela o

tempo todo, e eu não recebo essa recompensa sabe, então eu creio que é isso, você dedicar, você

amar, sem quere nada em troca.

Lohaine: Sim, com certeza, mas é mais ou menos nesse ponto que a gente queria chegar com essa

discussão é que, ela falou " eu amo você incondicionalmente..."

ACS 4: Não, ela falou assim " você é a melhor mãe do mundo.."

Lohaine: "Você é a melhor mãe do mundo" mas é munto difícil...

ACS 4: "Mas não suporto conviver com você"

Lohaine: " É por causa que, que nem ela, ela, o que ela quis dizer foi que ela te ama, você é uma

boa mãe, mas a relação é conflituosa, se viu que no texto fala uma coisa sobre, um trechinho que

fala que quer ver, aqui, que fala que quanto mais os filhos crescem mais a gente vê as diferenças?

exatamente esse ponto, são pessoas diferentes, totalmente diferente, a gente não vai ser igual as

nossas mães, e tem que conviver no mesmo ambiente e estabelecer uma relação, nunca quer dizer

que não tenha amor nessa relação, porque tem conflitos, tem conflitos porque você é diferente,

você pensa diferente, e ela tem 16 anos ainda tem muito processo de amadurecimento nos

pensamentos delas né? então,exatamente isso que a gente quer conversar com vocês, sobre que,

quando você estabelece uma relação com uma pessoa diferente, ela vai ser conflituosa, nem

sempre vai ser perfeita, mas é ainda assim, você é uma boa mãe. A gente quer falar sobre, como

essa mãe idealizada, a gente, a sociedade cobra que a gente seja a mãe perfeita, mas ela não existe,

não existe a mãe perfeita, exista...

AD1: existe a mãe do vizinho, a mão do meu amigo, essa sim é mais legal.

Lohaine: mas vai conversar com o filho dessa mãe do seu amigo, entendeu, ele não vai achar, por

causa que, não existe mãe perfeita, existe pessoas tentando ser melhor mãe possível, e isso já é

bastante coisa, sabe.

ACS 4: ó uma diferença assim, meus filhos, sempre foram aqueles, batendo de frente comigo,

todos fazem, porque eu num sô a mãe que dô dinheiro pra filho, sabe...(algumas reações de

concordância), eu não sou mãe assim "ah você vai levar m dinheiro pra escola mas eu sô mãe de

fazer o café da manhã, sou mãe de fazer o lanche da tarde, sô mãe de deixa eles levar a

marmitinha deles, deixa,sabe, eu sô mãe daquelas que faço bolo, faço torta, faço tudo que eles

gosta de se esbalda, aí eu falo pra eles assim, que nem sempre essas pessoas que levam dinheiro

na escola, que mostram que tem dinheiro, os pais tem tempo ou os pais tem, tem essa dedicação

de né, de querer fazer, prestigiar eles com esses tipos de lanche né, então e coloco essas diferenças

pra eles.

Lohaine: Sim, com certeza

Rosa: deixa só a... ela tem a música

Lohaine: ah a música!

Musicista : estou com ela aqui no ponto, se quiser...

Rosa: a lá, toca pra nós ajuda ela cantar então.

ACS 9: Ela é bem grande, e ai ler só uma parte, aí se toca ela no final.

Musicista : então tá

Page 109: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

104

Rosa: ta bom

Lohaine: então, e então a gente vem trazendo sobre isso, por que, a gente quer trazer que vocês, eu

vou fazer uma pergunta e vocês tentam me responder, ta bom? a gente vai construindo uma resposta

juntos. Porque que é difícil ser mãe?

ACS 6: porque ser mãe, num sei porque entendeu, sofre demais, quando se não tem filho, você,

vive diferente, mas a partir da hora que você tem filho, sofre!

G2: A responsabilidade né

ACS 6: responsabilidade

G2: você não pode ser quem você era antes, tem que ser firme, e o que você for fazer, você tem

que saber, porque você pode dar mal exemplo pro seu filho.

ACS 8: Nós somos espelhos pros nossos filhos

G2: é, então se minha mãe faz isso eu vô fazer, se meu pai faz isso eu vô fazê.

ACS 9: eu acho que a pior parte é o não, eu tiro pela minha filha, ela morou comigo até uns 4

anos, aí eu tive que deixa ela pra poder vim imbora, ela ficou 4 anos com a vó dela, vó é a melhor

coisa do mundo, aí vem, e aqui num é, tipo não, se vai me ajuda a fazer as coisas em casa, se não

tem aquela responsabilidade de fazer tudo, mas tipo, se você puder lavar uma vasilha, vai lavar

uma vasilha, vai cuidar do seu sapato, vai fazer a sua tarefa, num fez você vai ficar de castigo e é

horrível, aí ela, aí eu quero ir embora com a minha vó, olha eu sou sua mãe, eu mando ni você, se

vai embora pra sua vó o dia que eu morre ou o dia que se fica maior de idade, se mandar ni você,

enquanto isso se vai fica comigo, aah é horrível, olha pra mim com uma cara, que, e liga e fica

falando "Aí eu quero imbora" falei se não vai imbora, então tipo, a parte o não, porque eu aqui

tinha hora que eles ligava lá "ah a Emily ta respondeno" que que eu vô faze 500 e pouco km de

distancia? por telefone brigava, então sempre eu sou a errada, "ah se você não se comportar eu vo

conta pra sua mãe, sua mãe é brava, ela vai brigar com você" mas eles mesmo não faziam, então a

parte do não, é o pior!

G2: sempre a mãe é bruxa né, porque a mãe que é ruim, a mãe que bate, a mãe que faz isso, os

outro é só pra dá carinho e falar que a mãe ta errada, num é pra fazer isso e aquilo, então a mãe saí

como bruxa.

ACS 8: Mas se acontece alguma coisa com a mãe são os primeiros a defender as mães.

ACS 11: quando que alguma coisa pra quem que eles pedem? a mãe, mas lá em casa o pai é o

bonzinho (risos e vários comentários incompreensíveis)

ACS 9; O ingraçado cara, é que lá na minha casa minha mãe sempre foi bem bruta comigo, aí em

questão da minha filha, aí se não pode briga com ela, se não ta bateno nela? aí ela fala "aí minha

vó é melhor que a senhora" eu falo "eu vô conta o que que minha mais fazia" ai um dia eu

comecei a fala, o olho dela encheu de água, falei "é Emily, uma coisa é o que se ta vendo sua vó

hoje, hoje em dia a gente ta se dando bem porque tipo, eu sô mãe, se aprende que se tem que

releva que a unica pessoa que vai ta com você, mas é uma coisa eu batem em você aqui e ela acha

ruim, e você acha que ta o máximo, porque ela ta te defendendo, mas não é, ela fazia pior!

AD 1: a questão da educação é até.

ACS 4: Eu acredito que a dificuldade de ser mãe, assim, você abrir mão dos seus sonhos, seus

projetos, da sua vida, pra pra vive a dos seus filhos, pra...

AD 2: Eu tive com 15 anos, aí imagina oque foi isso, tive que para de estuda.

Rosa: Vamo ouvi um pouquinho ela aqui

ACS 9: 14

G1: A minha foi com 15

Rosa: e como foi?

G1: Ah o primeiro dia foi um susto, minha mãe tomou um susto, ela falo "Ah você é nova e a

escola?" falei "Ah mais eu vou continua meu estudos" mas teve que para porque o professora tava

me ameaçando né, num aceitava uma gravida na escola, teria que sair né, mas dou graças a Deus

de te uma filha maravilhosa.

G2: As pessoas não aceitava uma mulher gravida na escola né

Rosa: e hoje, o que você pensa? você acha difícil criar filhos?

Page 110: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

105

G1: Não

Rosa: ser mãe, você acha difícil?

G1: Não, não acho não, minha companheira

Rosa: Sua companheira?

ACS 2: Ter filho é assim, do mesmo jeito que você educa um, educa outro né, mais sempre são

diferente né, muito diferente, tem hora que eu fico olhado pros dois né, a minha menina fala "ô

mãe, senhora passa a mão na cabeça de Edelso, que é o mais velho, aí eu falo pra ela " eu num

vejo isso", sabe, mas eu vejo que ele obedece mais do que ela, ela que é mais, é... então ela fala, aí

eu falo alguma coisa pra ela, aí ela fala "mamãe, se Edelso tivesse aqui a senhora ia aceita, que ia

aceita nada. Ela acha assim, que eu passo mão na cabeça do meu filho, que já tá com 40 ano, e ela

só 31 anos.

AD 1: eu vou fala pra senhora que eu também acho, que eu falei, que eu também falo isso pra

minha mãe.

- risos

AD1: Minha mãe fala assim, "mais minha filha não faz isso" eu olho assim e falo assim manhê, a

senhora mal olhava pra gente a gente já sabia já baxava a cabecinha, agora se a gente fala um a,

coitada ele não fez nada. (várias concordâncias)

ACS 9: Conversa!

Lohaine: eu costumo dizer pras gestantes né...

AD 1: tem um irmão que é o caçula né, mas falo os netos, os netos ichi.

Lohaine: eu custumo dizer pras minhas, quanto to atendendo gestante, é que, você é mãe de quem

já nasceu, você vai aprende a ser mãe de quem você ta grávida, porque você é uma mãe diferente

para cada filho, porque os filhos são diferentes, entre si, entendeu? então você aprende ser mãe de

acordo com o que o seu filho precisa de você, então você nunca vai ser a mesma mãe pra todos os

filhos, você se adapta as necessidades dele, e isso que é muito difícil, por isso que fala "ah mais eu

já tenho 3 filhos, vai ser fácil esse" não, não vai porque ele é uma pessoa diferente, você vai ter

que te, você que vai ter que descobrir com ele, como que você vai ser melhor estabelecer, vai ser

estabelecida essa relação nova que ta crescendo.

ACS 6: não tem manual de instrução né

Lohaine: não vem com manual de instrução!

AD 1: eu acho que a sensação de culpa aumenta né...

Lohaine: SIM!

AD 1: porque um filho você fala " gente se cria do mesmo jeito", mas se olha um se fala "Meu

Deus, aquele ali, onde eu errei?"

Lohaine: então, culpa, que bom que você, você citou isso, hoje em dia a gente vive numa

sociedade em que: a mãe é cercada de culpa, ela sente culpa por tudo que acontece na vida, e a

gente como mulher, é culpada por tudo que acontece na vida da criança né (ouve-se concordância)

mas isso é tudo, como a sociedade vê a mãe, a sociedade ainda vê a mãe como aquele ser

onipresente e onisciente, que sabe de tudo e que tem, tem necessidade de saber tudo que existe na

família, na vida dessa criança né, e como é ue você vai conseguir faze isso? um ser humano. como

é que a gene consegue fazer isso?

Taimires: é que nem a gente, é nos somo em 4, aí tinha hora que a gente, vamo supor, tava

discutindo qualquer coisa ou falano sobre alguma coisa leno, no livro ou fazeno tarefa, "aí se

sabe" "não, num sei", "aí pergunta pra minha mãe, minha mãe sabe" "aí minha mãe sempre sabe"

aí tipo "aí to com isso doendo" " ah não, minha mãe sempre sabe, ela vai sabe o qui que é bom pra

isso" então tipo, as vezes a gente nem sabe, ta e fica.

AD 1: eu penso que na verdade os dois tem que (incompreensível)

Lohaine: aham

AD 1: os dois jeitos.... (incompreensivel) querer tudo, ta ali junto, isso também anexa.

ACS 8: ainda esses dias eu falei pro meu filho, ele tem 22 anos " meu filho tem horas que fico

olhando pra você e tenho medo, de ta estragando você" aí a minha filha fala assim, " mais estraga

Page 111: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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mesmo mãe, porque o Jony é isso, Jony aquilo, mas se fosse eu a senhora não ia fazer" falei " O

meu Deus, eu faço pra todos" mais é ciúme.

Lohaine: é sempre assim, então e a gente, é tanta cobrança né que a gente fala, quando você

engravida você começa a ouvir os palpites, e são palpites totalmente diferente um do outro e como

é que você vai seguir todo mundo? "A você tem saber falar não" "Ah mais você, pra ser uma boa

mãe, você tem que se esforçar pra fazer as vontades do seu filho", como é que eu faço falo não e

faço as vontades?

ACS 8: na hora do não lá em casa, eu mando fala com o pai deles, fala com o pai que o pai sabe

falar não (risos)

Lohaine: Mas e quando, e quando você é obrigada a tomar essa posição de dizer não, né, e como é

que você lida com isso? então a gente vem conversando um pouco da saúde mental das mães por

causa disso, é... quando você fica grávida começa a, a sociedade começa a colocar um peso nas

suas costas que, na maioria das vezes é impossível de carregar se você não aprender a filtrar as

coisas né?

ACS 4: Uma das palavras que a gente ouve é: " se é loca, se foi engravidar pra quê? que que se

quiria, você tem isso, isso e isso, pra que que se foi?" já começa aquela influencia negativa né?

Lohaine:Aham

ACS 4: aí se fala, nossa sê mãe é tão péssimo (risos) aí de repente se passa pro segundo, " se ta

loca, se nem da conta do primeiro, se vai pro segundo, ta doida"

Lohaine: Mas e quem disse que você não deu conta?

ACS 4: ééé

Lohaine: né, a questão é que como gente não consegue e nunca vai conseguir atigingir aquele

ideal de mãe perfeita que a sociedade prega, aí eles sempre pensam que você não deu conta, mas

se seu filho não ta indo pra escola, bem alimentado, feliz, contente, brincando, quem é que disse

que ele não ta sendo bem criado?

ACS 4: é verdade

AD1: a cobrança, a culpa, a nossa cobrança, nossa, a gente também cobra muito deles, eu as vezes

falo pra minha filha assim "olha se chegou, eu trabalhei a manha inteira e você fez o que?" " A

mais eu estudei, e num sei o que, não sei o que" "minha filha", e eu sou muito agitada né, as vezes

eu falo pra ela "olha na minha época" ela que morrer quando eu falo assim (risos)

Lohaine: Toda mãe fala (risos)

AD1: poxa você só digita ali no computador uma palavrinha, eu falo assim "folclore" ela olhava

assim tipo " nossa tem que fazer aquele texto, tinha que ir pra biblioteca, trabalhar, hoje ta tudo

tão fácil ali na mão e tá difícil, então assim a gente acaba transportando a culpa também pra eles.

Lohaine: Sim, a gente joga pro filho também um pouco dessa, na verdade é justamente por causa

disso sabe, a gente coloca tanta responsabilidade em cima das mães né, de ser essa mãe que

consegue suprir todas as necessidades dos filhos né, e aí a gente, eu estudando um pouco pra

gente vir conversar sobre isso com vocês, a gente estudo varias, varios tipos de maternidade né,

como é a maternidade na europa, como é a maternidade na, nas regiões latinas, como é a

maternidade na Africa e uma autora ela vem falando, que eu achei bem interessante ela vem

falando sobre como maternidade é na Africa, lá as mulheres, elas acreditam que, elas não tem a

necessidade e não tem nem a possibilidade, não tem nem como, fazer tudo e ser tudo na vida de

uma criança, elas sabem que, é, tem coisas que ela não conseguem suprir pros filhos e outra

pessoa da família consegue, e não é falha dela ela não conseguir, exemplo, tinha uma mulher que

o filho dela tava dando um pouco de trabalho, e ela não tava conseguindo por limites, e ela foi e

enviou esse filho pra passar as férias com o irmão dela, um outra casa, uma distância, e pra ela,

não via isso como falha, porque ela acreditava que tinha coisas, que ela não conseguia suprir e que

o irmão poderia fazer isso melhor, entendeu? e não é falha da mãe, é personalidade! então isso

que gente vem conversando, com vocês, é que, nem sempre, se você não consegue proporcionar

isso pro seu filho, é falha, pode ser que alguém consiga melhor que você e é ótimo você contar

com isso, isso é uma coisa, uma coisa que a gente denomina né no meio acadêmico de apoio

materno, rede de apoio materno, você pode contar com a vizinha, você pode contar com a mãe,

Page 112: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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um irmão, uma irmã, você pode contar com uma pessoa que nem é parente, mas é uma amiga

próxima, que ela te ajuda nisso, e não é problema e não é falha sua como mãe, é uma coisa que,

você precisa e você pode lançar mãe desses, dessa rede, você pode aproveita essa rede de apoio,

você pode formar essas redes de apoio, né, com essas pessoas próximas a você, e isso não quer

dizer que você não ta dando conta de ser uma boa mãe.

Rosa: não, to contemplada (risos)

Lohaine: né, e a rede, que nem a gente ta falando, a rede de apoio, ela pode ser diversa como eu

disse, de varias pessoas, pode ser instituições como o PSF, pode ser um grupo de gestantes, pode

ser um grupo de mães, que quem de mulheres né, quem nunca teve - Ah hje eu tenho que fazer tal

coisa aí se tem uma amiga que tem um filho também, se cuido se cuida do meu filho, outro dia eu

cuido do seu também, pro sê resolve, se tiver um problema sê resolve e eu cuido do seu - e isso é

uma rede de apoio importante e isso são instituições, instrumentos que a gente pode lançar para

ajudar nesse processo que é muito difícil de criar uma criança.

Rosa: igreja

Lohaine: Igreja!! como a G2 disse é muita responsabilidade você criar um filho e se você

conseguir que meios de tirar um pouquinho dessa responsabilidade, di levantar um pouquinho

desse peso nas costas, melhor né.

Rosa: eu lembrei de uma coisa, o estatuto da criança e adolescente, por exemplo, ele reafirma isso

né, quando ele fala assim, de quem que é o dever, é, de quem é responsabilidade sobre a criança?

lá é bem claro, fala assim é dever da família, do estado e da sociedade, então nem o estatuto fala

que é da mãe ou do pai, ou só da família, é família, e estado, é sociedade, família é o pai é a mãe,

que ta em volta é a família, estado, quem que é estado? as instituições públicas né, então PSF,

escola, o CRAS, as políticas publicas, e a sociedade, quem que é a sociedade? todo o resto né, se

eu vejo uma criança que ta com dificuldade, que ela ta com um risco de alguma violência, um

risco de não ta recebendo oo melhor, eu tenho a obrigação de ajudar né, então é de todos mundo.

ACS 8: Hoje em dia né, como se diz, tudo no papel é bonito, né, mais hoje em dia a própria

família destrói a criança, hoje mesmo tava vendo, o pai estrupou uma criança de 6 anos, a

sobrinha, o próprio pai, subrinhas, duas subrinhas, então gente, hoje em dia mãe nenhuma que

deixa com ninguém, nem com vizinho, nem cum pai, nem cum tio, nem mesmo

(incompreensível), então hoje, a ah, como se diz, o fardo pra mãe ta mais pesado, e muitas vezes a

mãe acaba contando com a própria criança, o filho, ah tem que tirar, tirar a criança da mãe porque

a mãe só judia, quantos casos a gente vê aí, então isso ta fugindo da realidade.

Lohaine: Uhum

ACS 8: como diz, corre prum lado ta feio, pro outro lado ta pior, então ta difícil.

Lohaine: éé, igual a gente ta falando né, que a rede de apoio, ela é, são as pessoas próximas né,

que infelizmente como você disse a gente não pode confiar em todo mundo assim, mas, tem as

pessoas que você pode confiar, são as pessoas que você conhece, né, que nem você falou,

acontece as coisas, sim, mas a mãe, ela pode tomar todo o cuidado do mundo mas ela não é

onipresente, onisciente né, a gente pode observar, que nem você falou, a gente pode observar, a

gente pode conhecer a pessoa e ela nos surpreender, sempre vai acontecer isso, mas, não quer

dizer que a mãe tem que ter a responsabilidade de saber exatamente qual é a, como é aquela

pessoa, como, porque não tem como gente, como é que a gente conhece as pessoas assim? então

são aquelas pessoas que a gente estabelece confiança com elas, e a gente ta sempre observando.

ACS 4: Assim como ficar com o filho 24 horas né?

Lohaine: não tem como

ACS 11: Você não pode deixar no colégio que você não sabe o que que ta acontecendo também

lá.

ACS 10: A questão que eu vejo muito, é que a mãe se cobra muito, mas não ensina o pai a se pai

também, se entendeu? pras minhas eu coloco sempre isso, porque a mãe ela já nasce já, com um

instinto materno, agora o pai não, o pai se tem que ensinar ele a se pai, trazer ele pra dentro da

maternidade, porque se não a responsabilidade só fica pra mãe mesmo, e se não ensina, ele é igual

uma criança, se não ensina ele, ele não vai aprende. Se tem que ensinar ele que não é só sua

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obrigação leva a criança em médico, que dele também, reunião na escola é dele também, porque

antigamente, se vai ter uma reclamação da escola, por causa que um probleminha, sempre fala "

vou chamar a sua mãe", sempre é a mãe, se pode ver em reunião, sempre é a mãe gente, então a

gente tem que começa a mudar isso, e nós como mãe, "não sô mãe, mas tem o pai, chama o pai",

vai você, eu não vou, "ah o filho ta doente, é muito difícil se vê um pai trazendo um filho doente.

AD 1: até o pai fala assim, vou chamar a sua mãe.

- risos

AD 1: Olha eu vou chama a sua mãe porque você não ta me obedecendo.

ACS 10: É então, nós tem que educa eles também.

- varias pessoas falando ao mesmo tempo.

Rosa: acho que ela queria fala ó!

ACS 10: é metade metade né, então vamos dividir essa responsabilidade, porque se não, a mãe

fica doida gente. Tudo é você "ah o filho não ta bem, sentindo mal" culpa é da mãe, tudo é culpa

da mãe. Então n´s como mãe, nós temos que começa a muda dentro de casa, que a gente tem filho,

a gente pega ele e coloca numa concha assim, não deixa o pai da banho, não deixa o pai trocar o

filho com medo de cair, com medo de machucar e não, a gente tem que acostuma desde o

momento que nasceu, é até bom agora que o pai assiste o parto, vê como acontece, a dificuldade

que é, alguns pais né, porque tem uns que você chega e fala assim "você vai assistir o parto do deu

neném?" "não!", então é assim, você tem 9 meses pra trabalhar na mente do seu marido, trabalha

na cabeça dele pra ele ir lá assistir e saber como que funciona.

Lohaine: é que a gente também é meio, a gente também tem um instinto primitivo que é bem

animal né, então sê vê, vamos dizer um exemplo bem... não se sintam ofendidas, mas se você vê

um cachorrinho, ela vai ter o filhotinho dela, ela não quer que ninguém chegue perto, ela vai, tem

o bebezinho ali vai cuidar dos bebezinhos num lugar escuro e protegido, e a gente também tem

uma parte do nosso cérebro que são totalmente de instintos primitivo, que é muito parecido como

os animais, a unica diferença é que a gente também tem uma parte do cérebro que, que faz a

gente, dá a nós o poder de raciocínio, de conseguir estabelecer relação, essa é a nossa diferença

com o animal, então é normal para uma mulher que depois do parto, que é um momento muito

primitivo, principalmente se for parto normal né, por causa da dor, que cérebro vai pro lado

primitivo, que vai ser acionado, o lado primitivo do nosso cérebro, então a gente abraça ali a cria e

não quer que ninguém chegue perto, né. Isso é automático da mãe, é instinto, por causa que o

nosso cérebro faz a gente fazer isso.

ACS 8: e quando a mãe não aceita o filho? o que que acontece?

Lohaine: Aí é muito da parte mais instintiva também, vocês já viram que tem animais que não

consegue estabelecer uma relação e não aceita a cria? a nossa diferença que a gente tem uma parte

racional que sabe que a gente tem cuidar daquela criança, mas aí entra dos problemas que aquela

mulher ta psicologicamente, as vezes ela não consegue estabelecer uma relação imediata e aí, que

é normal, tem muita mãe que não consegue, tipo, não fala "meu filho nasceu, peguei ele no colo e

amei aquela criança, no primeiro momento", não tem gente que não consegue, acontecer isso, cria

uma relação, porque uma relação construída, a maternidade você não nasce mãe, você se constrói

mãe. Você, através de convivência, através de do cuidado, através das suas experiências, você vai

construindo a mãe, que você vai ser né, então é normal você estabelecer, depende, as vezes é que

foi uma gravidez que ela desejou, aí ela teve aquele bebê, não conseguiu estabelecer uma relação

imediata, mas isso pode ser construido, ela pode lançar mão da rede de apoio dela, do apoio

psicológico, que pode ser importante pra essa mãe.

ACS 8: eu conheço uma moça, ela teve seis filhos, todos os seis filhos, ela doou, ela engravida e

sai oferecendo a barriga, sabe aquela moça linda, tem seis filhos, se ela tem dois com ela, é muito.

O nenê nasce e ela já ofereceu pra Deus e o mundo, aí quando o nenê nasce é de quem chegar

primeiro. Porque que essa mãe é assim?

Lohaine: Ah pode ser...

ACS 8: e todos os partos dela é normal.

Lohaine: Ah pode ser que ela é....é muito dificil, ela tinha..

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ACS 8: e ela só tem 25 anos ela só tem.

Lohaine: Não, isso ai ela tinha que ter um apoio psicológico, você não sabe os motivos dela, as

vezes ela não quer ser mãe, as vezes ela tem alguma outra...

ACS 8: Parece que ela faz por fazer sabe, acho que ela faz assim, chega aqui, você, ela fala "ah

você não é mãe" "não!", aí ela fica com aquilo, quando ela engravida ela já vem te oferecendo a

criança.

Lohaine: Ah provavelmente ela precisa de um apoio psicológico pra entender os motivos dela ser

assim.

ACS 8: e ela é linda.

Lohaine: depende

ACS 8: falei "ô senhor, entrego na mãe do senhor" porque não é fácil, seis filhos e pega quem

quiser.

Lohaine: é muito difícil você só falar, só você contando a história e eu falar qual é o motivo dela

não aceitar esses filhos, ela tem que ter um apoio psicológico, de entender como a mente dela

funciona, quais são os sentimentos que ta por disso e tal, pra depois fazer tratamento, o mais

indicado é que ela tenha um tratamento, um acompanhamento psicológico.

ACS 8: você falou mesmo, o bebê nasce, qual mãe que num derrete de vê o bebê assim?

Lohaine: existe muitas ta, que não se derrete no primeiro momento.

AD 1: então o psicológico é uma coisa tão assim.

G2: eu já falei que não quero visita antes de um mês, do primeiro, eu expulsei a vizinha de casa.

-risos

G2: Eu chego da maternidade, primeiro filho, minha mãe o desespero eu também, vem a vizinha,

falei "oque você ta fazendo aqui? vai embora daqui agora", mais gente, e ela também queria

ajudar né, depois que passou tudo, eu fui lá pedi desculpa.

Rosa: A sua racionalidade entrou na história.

G2: ééé

ACS 8: Eu fiquei com medo de trocarem ele, dentro do hospital, aí fica "aí mais ele ta indo pra

onde?"

-risos

Lohaine: então, é como eu falei, como a gente entra, a gente utiliza uma parte muito primitiva né,

quando estabelece essas relações com essas crianças é normal as mães fazerem isso, elas ficarem

meio arredias, com visitas sabe, até com o próprio pai da criança né, é muito comum, tem muitas

mulheres que passam pelo que você passou, justamente por causa da parte do cérebro que é

acionada no momento do parto sabe, então, aí a gente conversar, a gente essa racionalidade, que

depois vai voltando né aí você vai pensando "não eu fui muito dura, não é assim né" e a gente tem

que, que nem a Josi, ACS 10, desculpa, a ACS 10 tava falando, a gente tem que aprender a

valorizar as ajudas que a gente recebe.

ACS 10: Eu falo sabe porque, o pai quando você vai fazer... ele fica cinco dias sem você, se esses

cinco dias você retrai o pai, minino do céu, depois pra você trazer pra te ajudar, minino dá trabaio

demais.

G2: eu já falei pro meu marido que só quero que ele vai pra registra, depois pode voltar pra

trabalhar.

ACS 10: Olha aí

- risos

AD 1: é que as vezes dá mais trabalho que o menino

G2: mais trabalho que cuida da criança

- varias pessoas falam ao mesmo tempo

Lohaine: que nem a gente fala né, as vezes, a gente fala bem assim pro pai ou qualquer pessoa dá

banho no bebê, as vezes o primeiro banho, principalmente se for pai de primeira viagem, ele vai

fazer uma bagunça, vai molhar metade do quarto, aí a gente fala assim "não, dá mais trabalho pra

mim limpa o quarto do que eu dar banho nessa criança" e a gente vai podando as pessoas que

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querem nos ajudar. Mas ela não chegou no objetivo, a criança não ta limpa, de banho tomada,

vestida?

AD 1: Você falou uma coisa que é verdade, e você afasta depois é mais difícil, porque fala assim

"Ah quando eu queria te ajudar, você não quis, só que eu tive um poquinho assim porque o meu

marido sempre ajudou muito e aí ele foi tirou a fralda de uma vez ai eu olhei e ele foi e falou

assim " não sei oque que ta acontecendo que o umbigo ta sangrando" aí daí eu já desesperada,

coração batendo falei "aí caio" quando eu olhei, eu falei assim " mas você também me tira a fralda

quase que se ranca o umbigo do nenê, aí nunca mais deixei ele dá banho, nunca mais, até o

umbigo cair aí depois que o umbigo caiu.

ACS 10: é que geralmente eles vão falar que não quer, eles vão falar que não quer, eles tem esse

cuidado também né gente , tem coisas....

- varias pessoas falam ao mesmo tempo

Lohaine: E ele percebeu que isso, você fala não, ele machucou e tal, na próxima vez, você não

deixou, mas provavelmente ele ia tomar muito mais cuidado.

AD 1: ah sim!!

Lohaine: porque é filho dele também, ele também se preocupa com a dor, com o machucado,

então é um pouco disso também, da gente valorizar a ajudas, não só do marido, mas da mãe, da

irmã, que se dispõe a ajudar a gente. Como eu disse, o fardo é pesado se alguém ajuda a gente a

carregar.

ACS 8: Igual você falou mesmo, uma coisa da ajuda, meu primeiro filho, seu filha mais velha da

minha mãe, somos em duas né, então o primeiro neto foi meu, meu Deus, minha mãe não sabia

oque fazia, aí oque que ela falou, " meu Deus, oque que eu vou fazer", foi na farmácia e comprou

um monte de chupeta, porque ela disque achava lindo criança de chupeta, chegou, ia entrar meu

marido falou assim "não, não, não, não, se não vai enfiar a chupeta no meu filho não, se vai enfiar

essa borracha na boca do meu filho" aí começou a discussão na porta do hospital, os dois, aí

minha mãe magoou, aí pronto, não foi mais no hospital, vou ver só quando chegar em casa, e nem

encostou mais perto da criança. aí já, a ajuda que ela ia dá, já deixou de de ladinho né.

AD 1: Lá em casa pra ajudar é assim, acorda de noite, ta chorando, gente, é instinto, não tem jeito,

minha mãe ficava brava comigo porque ela falava assim "deixa que eu levanto, eu vou lá, eu

olho" de repente tava eu lá, toda manqueba indo lá, porque os meus forma todas cesárias. Não

adianta fala, porque você escuta chorando você não consegue dormir, não consegue descansar

enquanto você não levanta, não vai lá e olha, aí ela falava assim "não sei pra que que eu vim

ajuda, não sei pra que"

Lohaine: Então continuando o que a gente tava falando né, a gente valorizar essa ajuda, pode ser,

que a primeira não vai sair como a gente faz, mas se no final a criança ta limpa e de fralda

trocada, de banho tomada, ele não alcançou o objetivo? depois fala assim "não agora se limpa o

quarto, olha a bagunça que você fez", mas da próxima vez a pessoa vai fazer melhor, vai fazer

menos bagunça porque ele viu "ah u fiz de tal jeito, fez muita bagunça, agora se eu fizer tal coisa,

vai facilitar"

AD 1: a pratica vai levar a perfeição.

Lohaine: A prática leva a perfeição, mas oque acontece a maioria das vezes, nós mulheres, gente

se não sabe, deixa que eu faço, e a gente vai pegando mais responsabilidade, e vai abraçando tudo.

ACS 8: quando minha neta nasceu, eu que cuidava da cólica, eu que cuidava da fralda, eu que

banhava, minha filha só ficava esperando, se entendeu, e comigo já não foi assim né, o meu eu já

tive que fazer e o dela não, até os três meses a cólica eu que cuidava de Isabely, e assim eu fui

deixando.

Rosa: ela quer lê um negócio.

ACS 6: e quem não tem quem ajuda? aí é difícil.

Lohaine, então aí, por isso a gente falou que não é só o pai né, as vezes é um irmão, as vezes é

uma amiga, as vezes é a mãe geralmente a mãe ajuda muito.

AD 1: minha filha é a mãe do Gabriel, se você perguntar como é o nome da sua irmã ele vai fala

assim "vida". Ele vai chamar ela é só " Vida, vem cá"

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- conversas paralelas.

Lohaine: Sim, você estabelece essas relações, e a gente tem que valorizar isso né, ão porque causa

que ele estabeleceu uma relação forte com a mãe, "ah porque eu vou ficar com ciúme", não, ela ta

partilhando desse processo né, que nem eu falei pra vocês, que quando eu estudei sobre isso eu

fiquei apaixonada pela forma de maternidade das tribos africanas, por causa disso sabe, porque

eles acreditam que quando uma criança nasce ela é da família, então todo mundo tem

responsabilidade e também tem, como diz, tem a parte de direitos e deveres sabe, ela tem direito

de estabelecer uma relação, dessa criança gostar dela, de cuida de de uma criança sabe, que é

sempre bom, tipo você sê amado por uma criança é sempre bom, mas também ela sabe que ela

também tem deveres, que ela tem que ajudar a mãe a educar, ela também tem que contribuir, de

formar uma pessoa boa e de ajudar a construir uma pessoa, sabe, um adulto saudável, então por

isso que eu falo que fiquei apaixonada pela forma que a maternidade africana, porque em

momento algum eles acreditam que a criança é só da mãe, ela é nossa, nós dividimos as

responsabilidades sobre ela, por isso que eu falo sobre a gente valorizar o outro.

Musicista : eu conheço uma africana que estudou comigo e ele falou pra mim uma vez, que ele

acha estranho né, ele estuda no EJA né, ele fala que ele vai na escola a noite e as mães estão lá

com os filhos, e ele diz que o costume lá na terra dele, na aldeia, cultural deles, é que as mulheres

quando vão estudar é os homens cuidam dos filhos, então eles acham estranho o porque que a mãe

tem que levar o filho, porque que os pais não cuidam?

ACS 9: é que nem minha mãe fala, quem pariu Mateus que se balance, se vai no banheiro leva, se

vai na esquina leva.

Rosa: Mais aí a gente tem que desconstruir isso né gente.

Lohaine: mais só que lá não são só os homens maridos, são os homens tios

Musicista : é os homens tios, é os homens da família.

Lohaine: é os homens vô, sabe, não é só os homens pais, é isso que a gente ta falando.

ACS 6: Dos meus filhos, quem era o pai dos meus foi a minha mãe

G1: A minha foi o meu irmão

Lohaine: então é isso né, que nem a gente fala, as vezes a figura masculina na criação de uma

criança, não é o pai, é um tio.

ACS 6: O que aconteceu comigo, foi que eu fui mãe independente, ele era meu, não sabe que o

pai dele fez, o dia que o pai dele pegou ele, nunca tinha pegado meu filho, pegou uma vez, quase

matou ele, o que acontece que hoje ele diz assim "vou pegar meu filho" eu escondia dele, ele me

xingava, mas não dexava ficar com ele, minha mãe, desde quando nasceu, eu fui de ônibus pra

paternidade, voltei, nunca pedi nada ele, mas ele é meu, eu to com ele, aí minha mãe que foi o pai,

olha eu fiquei tão sintida que até hoje eu sinto, a primeira vez que ele pegou meu filho, ao invés

de levar meu filho pra passear, oque que ele fez, levo pra lagoa Trevisan, meu filho acho que tava

com 8 anos, apareceu com me filho todo queimado de sol, a minha mãe não aguentou, morreu,

porque o coração dela são suportou aquela dor, e depois do que ele fez, nunca mas pegou o guri,

eu falei ele é meu, se ele fala eu sou contra e não deixo levar, porque ele é meu, eu sou eu acho

que eu sou leoa sabe.

Rosa: deixa ela lê, deixa ela lê que faz tempo que ela ta querendo lê.

ACS 9: sobre a dificuldade né "Aí você virou mãe... Você tinha um milhão de planos para a sua

vida, sonhava um milhão de sonhos. Só que aí você virou mãe. Você dormia assim que deitava na

cama e acordava só às 10 h da manhã. Aí você virou mãe. Você tinha um monte de amigas de que

te ligavam e te chamavam para sair sempre. Mas você virou mãe. Você lia um livro por semana e

colocava em dia uma série em um mês. Aí você virou mãe. Você fazia as unhas e hidratava os

cabelos todo fim de semana. Aí você se tornou mãe. Você saía sem pressa e sem preocupações. Aí

você virou mãe... Aí você se tornou mãe e percebeu que os seus planos e os seus sonhos não

chegam nem perto da felicidade que o seu filho(a) lhe transmite. Que o sorriso dele é mais

transformador que qualquer viagem e que as conquistas dele te proporcionam mais satisfação que

qualquer conquista sua. Aí você virou mãe e descobriu uma força além do normal, uma força que

te guia madrugada a fora. Força que te faz sorrir mesmo depois de ter dormido quatro horas por

Page 117: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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noite. Aí você virou mãe e trocou seus livros por livros infantis e sua série por desenhos

animados, e quer saber. Eles são interessantes também. Aí você virou mãe e faz um coque

desajeitado no cabelo e fica maravilhosa com ele, e as unhas, elas não são tão importantes assim.

Aí você virou mãe e conheceu amigas MÃES também, e é tão incrível dividir o universo da

maternidade com elas. Aí você virou mãe e os seus passeios corridos são tão insignificantes,

porque quando você chega em casa você se depara com aquela criaturinha que mudou toda a sua

vida e percebe que sem ela não teria sentido algum todas as coisas que você fazia antes dela. Aí

você virou mãe, virou o dia, virou a noite, virou fera, virou colo, virou luz. E apesar de toda

confusão e cansaço, se você soubesse como seria lá no passado, os seus sonhos e planos teriam se

transformado em um só, que seria exatamente esse: Ser mãe!"

-Aplausos

- conversas paralelas.

Rosa: A gente vai pegar esses balões e vamos fazer uma brincadeira.

- Conversas paralelas

Rosa: e aí vamo levanta?

Lohaine: vamos levantar? vamo aproximar um pouquinho? oque que é essa brincadeira, eu dei um

balão pra cada um de vocês , quando eu falar, vocês vão jogar o balão pra frente e vão ter que

manter ele no ar só com um toque, um toque, ir batendo nele, aí vocês quem que ir batendo, aí

vamos dizer que ela bate e o balão vai pro outro lado, você também tem cuidar desse balão, não

pode deixar nenhum balão cair no chão, ta? não é só o seu.

Rosa: vocês tem que cuida de todos os balões, isso?

Lohaine: sim, temos que cuidar de todos os balões. então vocês vão jogado pra cima, mas não

pode ser só pra vocês, pode joga grande. e a gente tem que bater nos balões, que eles não poem

cair no chão.

- conversas paralelas enquanto a dinâmica ocorre.

Lohaine: a maioria dos balões caiu

ACS 4: o meu não

Lohaine: mas os delas caíram, e a gente não tinha que manter os balões no ar juntas?

- conversas paralelas.

Lohaine: E nessa dinâmica a gente queria mostrar pra vocês, como é difícil manter os balões

sozinha no ar. pra gente tenta que vocês percebam que, é muito mais difícil você manter qualquer

coisa no ar, sozinho, se você compartilha esse peso, fica mais fácil, se alguém ajuda você manter

seu balão no ar, assim como você ela manter o balão dela no ar, essa atividade fica fácil, e assim é

a maternidade e assim é o convívio m sociedade, se você ajuda o outro, e o outro ajuda você o

peso se torna mas leve, então essa era a nossa intenção com a brincadeira né, com essa dinâmica

né, que vocês percebessem isso, que o peso pode ser dividido, e nós mulheres não nos

compadecermos das outras mulheres que convivem e passam e passam pelo mesmo que nós,

quem é que vai cuidar.

- Aplausos.

Lohaine: agora, antes da gente encerrar eu gostaria que me desse o feedback do que vocês

acharam, cada um resumidamente fala o que que achou da nossa roda de conversa.

- conversas paralelas

AD 1: acho que é sempre bom a gente conversa, té comentei com você, é roda de mulher, é

sempre bom, esclarecedor, sempre tem coisas novas, a gente ta sempre aprendendo.

Rosa: ah eu gostei muito de participar dessa roda de mulheres, é sempre bom a gente partilhar as

experiências né e espero que especialmente, pra quem ta esperando seus filhos né, as meninas que

estão aí na espera né, que vocês consigam colocar em prática, que todas nós consigamos colocar

em prática, que nos não precisamos ser super poderosas.

Alice: Foi bom né, aprender um pouco mais sobre a maternidade, e também acho que a gente não

deve romantizar a maternidade, que ela não, que na realidade ela não é do jeito que o pessoal fala,

quando nasce um bebê também nasce uma mãe, que a mãe também precisa de cuidado, não como

o bebê precisa, mas ela também precisa de cuidado, porque as vezes quando o bebê nasce, a

Page 118: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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pessoa vai lá e só paparica o bebê e a mãe fica de lado, esquece, ela em que fazer varias coisas ao

mesmo tempo, então eu acho que foi bom.

G1: Pra mim também foi muito bom estar aqui pra conhecer vocês e eu to muito feliz.

G2: é bom trocar ideias né com outras mulheres, com outras mães mais experientes, vê que num é

só a gente que sente essas coisas né, que a gente não é tão bruxa assim, por fazer algumas coisas,

muito bom a gente conversar sobre isso né, tirar duvidas, eu gostei.

TRANSCRIÇÃO DA 2° RODA DE CONVERSA COM AS GESTANTES

TEMA: DIREITOS NO PARTO E PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Lohaine: vou explicar pra vocês que chegaram, a Ju já conhece um pouquinho o meu projeto,

então eu vou explicar pra vocês, eu sou mestranda lá da UFMT né e aí eu resolvi trabalhar, nós

escolhemos eu e a minha orientadora trabalhar com depressão pós parto, mas como sempre

pensa que é melhor evitar, do que tratar, ai a gente resolveu trabalhar com as gestantes já sobre

depressão pós parto, e como é que a gente vai fazer isso? a gente lendo sobre depressão pós

parto, um monte de estudo já tem pesquisador falando sobre fatores que podem vir a fazer como

que a mulher fique depressiva no pós parto, exemplo disso é, ela não conseguir amamentar

direito, algumas mulheres não ficam em depressão por causa disso? é claro, mais tem algumas

que ficam, então, como que essa é uma possibilidade a gente escolheu esses temas pra gente

conversar em rodas de conversa, que juntos a gente compartilha as experiencias de outras

gestantes, de outras gestações, quem nunca teve bebê vai ouvir um pouquinho sobre a

experiência de vocês que já tiveram, e através disso a gente vai construindo um pouco o nosso

conhecimento sobre a maternidade, a gente já teve uma reunião a primeira foi sobre

maternidade literalmente, sobre como é ser mãe hoje em dia né, as dificuldades de ser mãe, as

exigências que tem da maternidade, como nós mulheres somos exigidas da maternidade o tempo

todo e que nós temos que ser perfeitas, excelentes mãe mesmo que você nunca tenha sido, né?

então a gente conversou sobre isso e hoje a gente vai conversar um pouquinho sobres direitos

no parto, quais são seus direitos quando você entra em trabalho de parto? quais são os seus

direitos a partir do momento que você descobre que está gestante? o que que o SUS tem a

obrigação de prover para vocês né? então é isso que a gente vai estar conversando, os seus

direitos no pré-natal, durante o parto, durante o pós parto, e a gente vai falar também um

pouquinho sobre violência obstétrica, por causa que a violência obstétrica é tão comum que

muitas mulheres não sabem que passaram por violência obstétrica né? então, a gente tem que

conversar, falar sobre isso pra que vocês percebam os momentos que vocês sofrem violência

obstétrica pra gente poder combater né, denunciar, e reclamar em instâncias superiores. Porque

infelizmente, como qualquer tipo de violência ela não vai parar sozinha e acabar sozinha

depende também da gente exigir nossos direitos, então a gente vai falar sobre isso, ta bom?

então meu nome é Lohaine e a gente vai começar com uma apresentação, a nossa proposta é

mais ou menos o seguinte, você fala o seu nome, e fala alguma coisa sobre você, o que você

quiser, pode ser um hobby uma coisa que você goste, qualquer coisa, então meu nome é Lohaine

e eu sou viciada em leitura, eu... vivo lendo e eu estou em abstinência dos meus livros de

história porque eu tenho que só estudar pro mestrado.

- risos

Page 119: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Mãe de Luciana: Meu nome é Mãe de Luciana, moro lá em Teresópolis município de Nova

Brasilândia e vim acompanhar o parto da minha filha.

Luciana: Eu sou Luciana Maria e moro aqui, não tem muita coisa

Lohaine: fala alguma coisa de você, o que você gosta de fazer?

Luciana: aah eu...

Lohaine: é seu primeiro filho?

Luciana: é é meu primeiro filho

Bianca: Bom meu nome é Bianca, tenho 21 anos, tô na minha 3° gestação, e espero que o meu

parto seja o mais rápido e menos dolorido possível...

- risos

Alice: O meu nome é Alice, é minha primeira gestação e gosto de mexer com desenho

Lohaine: que legal

G5: Meu nome é G5 é minha primeira gestação também

G3: meu nome e G3, é minha 3° gestação e é igual ela, espero que o meu parto seja menos

doído também

- risos

ACS 5: Cheguei agora mais.... Meu nome é ACS 5 agente de saúde nao tenho filhos, e eu gosto

de ouvir música.

ACS 3: Meu nome é ACS 3, sou agente de saúde e gosto de música também

ACS 7: Meu nome é ACS 7, trabalho trabalho no PSF jardim União, e eu gosto de música,

gosto de Whatsapp... facebook

-risos

(incompreensível) tenho filhos e sou agente comunitária do Jardim União.

ACS 1: Meu nome é ACS 1, tenho 2 filhos, que eu crio, e ah, eu gosto de, eu nem lembro mais...

sou agente de saúde também e só gosto de limpar casa ouvindo música também

- risos

ACS 1: Se não não trabalho, eu fico amarrada

-risos

ACS 2: Meu nome é ACS 2 e eu gosto de tudo aí

ACS 6: Meu nome é ACS 6, eu sou agente da área e eu gosto de... assim rádio, sabe, eu gosto

entendeu

G6: Meu nome é G6 eu moro aqui no bairro e gosto de whatsapp também

Lohaine: de whatsap também? ta todo mundo viciado. então ta, agora a nossa brincadeira vai

ser, a rosa vai volta e você vai ter que lembrar o nome da pessoa que ta do seu lado e o que ela

falou sobre ela, seja o que ela gosta ou onde ela mora, o que ela falou, não precisa ser

exatamente tudo, mas basicamente o que ela falou... então, ela é a G6, e ela gosta, ela falou que

gosta de whatsapp e mora aqui no bairro

G6: Vish maria, eu esqueci o que ela falou

Lohaine: esquece? é a ACS 6, e gosta de ouvir rádio

G6: éééé, ACS 6, ééé

ACS 6: Meu nome é ACS 6........

Lohaine: e o dela?

ACS 6: ééé ACS 2, ela falou que ela gosta de todos os tipos de coisa

ACS 2: eu nem num to lembrando

ACS 6: até já esqueceu.

ACS 2: fala meu nome?

Lohaine: não, o dela que tava antes

ACS 2: ACS 1, ela é ACS a muitos anos, ela falou que gosta de whatsapp...

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ACS 1: ACS 3, trabalhamos juntas a muito tempo, ela é parceira, a pesar que sou do PSF Jardim

União e ela é do Florianópolis, mas nos conhecemos a muito tempo, e somos umas das primeiras

né, na área da saúde, ela gosta de musica né...

ACS 3: .....

ACS 5: Meu nome se sabe

-risos

ACS 3: a minha amiga é a ACS 5, e ela é solteira, ela não tem filho, e ta namorando, e gosta

muito de música, ela é muito romântica...

-risos

ACS 5: Eu não lembro o nome da minha colega

G3: G3

ACS 5: G3, mas eu sei que ela quer um parto tranquilo

G3: Seu nome é G5, ela não falou do que gosta

Lohaine: ela falou que ela não falou nada né

G5: o nome dela é Alice e ela gosta de desenhar

Alice: eu não lembro o nome dala, mas lembro que ela quer um parto menos dolorido possível

Lohaine: ela é a Bianca

Bianca: ah eu também não lembro o seu nome

ACS 1: eu não escutei o nome dela porque ela falou baixinho

Bianca: eu sei que você mora aqui no bairro agora...

-risos

Lohaine: Luciana

Luciana: o nome dela é Mãe de Luciana e ela é minha mãe

Lohaine: essa foi a mais fácil

Mãe de Luciana: eu moro no interior, e eu tive 3 filhos, amei a experiencia, foi muito bom

amamentar, cuidar deles, hoje eles já são todos de maior né, agora eu vou ser avó duas vezes

esse ano e gostei, é muito bom ser mãe, ter essa experiência... e eu esqueci o seu nome, me

desculpa

-risos

Lohaine: eu sou Lohaine...então tá, a gente fez essa brincadeira né mais pra gente pensar na

importância de ouvir o outro, as vezes a gente fica tão preocupado com a nossa vida, com a

nossa experiência que a gente não para pra ouvir o outro, a gente fica tão preocupado com o

que o que vou falar e não ouve o que o outro diz, e a roda de conversa é exatamente pra isso,

pra gente conversar, é ouvir o outro, é ouvir experiências, é ouvir um pouco sobre o que ela

pensa sobre o assunto, pra ajudar a gente a entender algumas coisas também né, então é com

opinião dos outros é com a gente sabe que a gente forma nossa opinião sobre as coisas também

né, então é importante o outro, e esse grupo é exatamente isso, troca de experiência, por isso

que a gente fez essa brincadeira tá.

- silêncio

Lohaine: então, antes de a gente começar, vamos estabelecer algumas regras pro bom

andamento do grupo, é bem simples, quando uma falar a outra fila em silêncio e a gente ouve,

pra gente conseguir compreender o que ela entende sobre isso, e como a gente ta em um grupo

pra construir alguma coisa junto, não pode haver julgamento né, a gente tem que ouvir e dar a

liberdade do outro de expressar sua opinião e expressar o que ta sentindo, então não é justo a

gente julgue a experiência do outro, se você quiser comentar, você pode, mas vamos tentar

comentar com críticas construtivas, com opiniões que não machuque o outro, então é só isso.

Agora pra gente começar essa discussão, eu vou fazer uma pergunta, na verdade, eu vou fazer

um pedido, vocês que são mães, alguém quer compartilhar a experiência do parto com a gente?

- silêncio

Page 121: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Lohaine: como é que foi o parto, como foi o processo? quando foi, onde foi? quem já teve

filhos?

- silêncio

Bianca: ninguém!

Lohaine: Ninguém? Então, como eu não tenho filhos então vou ter que contar a experiência da

minha mãe, eu não tenho filho né.... então, a minha mãe ela teve dois filhos, uma mais velha

que eu e eu, a mais velha ela teve com 16 anos, era bem nova e ela teve de parto normal, e a

mim ela teve de cesárea, e encerrou, fechou a fábrica, e já fez a laqueadura na época podia fazer.

A minha mãe, até hoje quando se fala de parto normal, quando eu comento que penso na

possibilidade de um dia engravidar e de um dia ter filhos de parto normal a minha mãe começa

a chorar, porque a experiência dela com parto normal foi o mais traumática possível, a minha

mãe sofreu uma série de violências obstétricas, desde física a psicológica né, a humilhação, de

que ela chegava lá ela não poderia nem sonoramente expressar a dor dela, que ela fala que a

unica pessoa que ela via, ela chegou lá ela ficou sozinha dentro de uma sala, quer dizer, sozinha

sem o acompanhante dela né, tinha outras gestantes ali e aí com muita dor, as mulheres ali com

muita dor e aí a única coisa que acontecia era que vinha uma pessoa da equipe de enfermagem,

colocava a cabeça pela porta e falava "cala a boca, na hora de fazer vocês queriam" e se alguém

fazia qualquer som, né... então a minha mãe é bem quieta e bem tímida sabe, então ela falou

que ela passou a maior parte do parto dela em silêncio, porque ela sabia que se ela falasse

alguma coisa ela ia ser muito mal tratada, ia ser xingada mesmo, nesse nível. E ela foi sozinha,

sem reclamar, com sede, que ela não poderia fazer nada, e que aí chegou um momento que a

dor tava tanta que disque ela colocou a mão e sentiu a cabeça da minha irmã e sozinha ali né,

e aí nisso chegou uma pessoa da equipe e falou assim "essa daqui ta tendo o bebê" levaram ela

pra sala de parto, deitaram ela naquela posição clássica, colocaram os pés no estribo e aí quando

ela com muita dor, ela ia tirar e eles falavam assim pra ela " não tira o pé daí se você tirar você

quer sufocar o seu filho, você vai matar o seu filho" e aí quando ela entrou em trabalho de parto,

a minha mãe ela é magra e pequenininha hoje, imaginam quando ela tinha 16 anos... e nisso

veio uma pessoa que tinha pelo menos o dobro do peso dela, colocou a mão em cima da barriga

dela e deitou, fazendo a manobra que hoje a gente chama de manobra de Kesseler, que é

empurrar o fundo útero, pra ajudar o bebê nascer, que a minha mãe diz que sente dor até hoje

na pelve por causa disso né, e ela fala que ela tinha a sensação que o bebê ia sair dela e cair no

chão de tanta dor que ela sentiu e então a experiência do parto hoje, ela morre de medo de parto

normal, por causa disso e eu falo pra ela que ela tem razão de ter medo, porque ela sofreu todos

os tipos de violência obstétrica existentes, ela sofreu, né... e infelizmente isso é realidade da

maioria das mulheres da idade dela que tiveram parto normal dentro de um hospital... quando

você vai conversar com mulheres que tiveram pato normal em casa com parteiras, como

antigamente, a maioria não sofreram violência obstétrica, porque ela começou a surgir a partir

do momento que o parto foi medicalizado, que foi pra dentro de um hospital, que em vez de ser

um momento natural ele se tornou um momento de muito medo tantos dos profissionais quanto

eles passam pras gestantes... Que outros tipos de violência obstétrica vocês sabem? que existe...

Bianca: Cortar né, o Pique!

Lohaine: a Episiotomia, sim o pique, que é cortar um pouco do músculo, pra aumentar a

passagem pro bebê, o que mais, que vocês sabem que é violência obstétrica?

Bianca: Aquele soro... ocitocina! não pode também

Lohaine: Então a ocitocina ela é diferente, não é que ela não pode, as vezes o trabalho de parto

ta começando a ter intercorrência né, começando uns probleminhas e pra acelerar o trabalho de

parto algumas equipes utilizam isso, e não é proibido, no entanto é proibido ele falar assim " eu

vou ti dar ocitocina" você falar "não" e ele te dar a ocitocina, isso é proibido, a partir do

momento que você fala que não quer a ocitocina, você não quer intervenção medicamentosa,

como, existe a anestesia para parto normal, e você fala que você não quer, ou fala que você quer

Page 122: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

117

e ele não respeita a sua decisão , a partir do momento que você não tem sua decisão respeitada

dentro do parto é violência obstétrica, então a ocitocina ela pode ser sim utilizada em alguns

casos.

Bianca: a ocitocina em alguns casos, eu acho que é desnecessário, porque as mulheres fala que

sente bem mais dor né, porque quando eu tive a minha filha tinha uma senhora que tava pra ter

a filha, aí eles deram esse soro pra ela e ficou esperando e o marido dela disque não podia ficar

lá pra espera porque ele tinha que trabalhar, na hora que ele saiu, ela virou as costa ela já...

porque ela tava com quatro centímetros, o médico falou que ainda ia demorar e tal, aplicaram

esse soro e em menos de 5 minutos já tinha tido toda dilatação, e ela começou a gritar, gritar,

gritar, com muita dor, muita dor, e eu tinha acabado de ter minha filha, fiquei desesperada por

causa dela.

Lohaine: todas as mulheres ela relatam que a dor da contração é muito muito maior a partir do

momento aplicam a ocitocina... exemplo, teve um parto que eu acompanhei que ela tava tendo

o bebê e ela começou a sangrar um pouco mais, e ai eles perceberam que ela tava com um

pouquinho de descolamento da placenta, mais isso aconteceu já quando ela tava entrando em

trabalho de parto aí eles utilizaram a ocitocina pra acelerar o trabalho de parto pra evitar que o

bebê tenha algum risco, aí eles perguntaram pra ela, explicaram "vamo colocar a ocitocina?",

ela valou "vamo", e eles colocaram... e isso não é violência, eles utilizaram um instrumento pra

adiantar o trabalho de parto porque eles acreditavam realmente que aquele momento, era

necessário pra ajudar ela e então utilizaram... Mas o que acontece é a ocitocina de custume....

todo mundo que chega lá eles já tão com o soro preparado com a ocitocina, já ta com soro ali,

e isso não pode acontecer, já vem se falando que se você não tem permissão você não pode

fazer, assim come tem varias coisas que a gente tem falado hoje né, a permissão!

Bianca: é que as vezes aplicam e nem avisa a pessoa " ó esse soro tal" já chega aplicando, e a

pessoa nem sabe o que ta tomando

ACS 7: Essa ocitocina aí, eu tomei e eu não podia ter normal, como foi o primeiro, foi no Geral,

aí colocaram uma injeção que Meu Deus do céu, que eu vi estrela, aí eu assim, como nuum

dilatava nada, aí não queriam insistir em ter normal né, nem um dos meu filhos eu tive normal,

eu acho que assim hoje, que é bem melhor hoje os parto, porque tem as coisas, tipo igual a mãe

pode acompanhar, o esposo pode acompanhar, mais antes eu era nova eu tinha 15 anos eu me

sentia tipo assim, que meu esposo, que na época que hoje é meu ex marido, pai dos meus filhos,

me abando, minha mãe me abandono, então eu me achava que eu estava assim abandonada, aí

entrava médico lá, médico pra olha, ia aquelas enfermeiras estupida e ignorante, porque hoje

em dia eu sei que é, mais antigamente eu acho que era muito mais, tipo eu era bem magrinha e

tinha uma mulher e ela era bem gorda, batia, batia assim e batia batia... e eu pensava " Meu

Deus será que o parto era tudo isso que ela fazia tanto escândalo" era "Toma no cú, cadê aquele

viado do meu marido" Aí ele falou "engraçado que na hora que você estava lá transando você

não falava isso pra ele" aí ele falou assim "agora xinga ele" aí as meninas falava que quanto

mais você xingava, você esperneava, menos atenção você tinha, e aquelas que como eu mesmo,

chorava, muito... Mas eu ficava quieta e aí você tinha mais atenção do que as outras que

ficavam, tinha muitos que ficavam queta, porque ficava com medo de você ficar ali gritando,

esperneando e essa pessoa não ia lá, então hoje eu acho assim, como eu acompanhei a minha

filha lá no Santa Helena, eu acompanhei o parto todo, e sei lá eu achei bem diferente de

antigamente, porque tentava até o ultimo momento de você ter aquela coisa de você não dilatava

e outro péssimo que eu achei é aquele toque, que Meus Deus do céu, cada hora achava um,

chegava um pra dá o toque, num é só um, era vários e aí chegava aqueles como que chama?

estagiários, os residentes e toda hora um toque, toda hora um toque e você nunca tá dilatada e

você sofria pra caramba,e hoje não, sei lá quando eu tive minha filha deu um toque e ele marcou

e ele falou "olha você não vai ter normal, você vai vir dia tanto", no dia 17,aí ele pegou como

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no dia 17 ele não estava, falaram "não é no dia 18" seu médico ta, pronto, já fez a cesária, já....

então eu acho assim que foi bem mais.... mais o primeiro? Meu Deus!

ACS 6: eu queria, assim em que momento essa anestesia acontece?

Lohaine: geralmente é quando já ta começando a fase ativa do parto, que é a fase de expulsão

mesmo né, que as contrações tão mais forte, aí você pode utilizar, infelizmente, a maioria dos

hospitais não tem esse procedimento...

ACS 6: isso que eu ia fala, é muito raro.

Lohaine: sim, infelizmente não tem o procedimento de perguntar se você quer a anestesia né, a

anestesia ela tem dois lados, o lado bom e o lado ruim, o lado bom é que diminui a dor, o lado

ruim é que você perde um pouco da força pra empurrar o bebê, então geralmente retarda um

pouquinho o trabalho de parto sabe, se vai ter o filho mais devagar do que era pra ter, por causa

da anestesia... Mas se você ta morrendo de dor, melhor ficar um pouquinho mais de tempo em

trabalho de parto e com menos dor né...

-risos

G6: Eu assisti um parto da minha... desde a hora que eu cheguei até na hora que eu saí, minha

prima sofreu, é sofrido, aí eu falei " nunca mais" "Deus me livre, né"...

(incompreensível por 2 minutos - dicção prejudicada)

G6: minha prima internou era 10 horas da noite e ela teve o bebê 1 hora da manhã, e ela

sangrava em, aí ela "aí" eu eu falei "aí? agora de ganhar o neném você vem falando aí?

chamando mãe, chamando pai? não lembra né" aí ela falou " se vai vê, se vai te um filho", agora

é eu né, me passou o medo

-risos

ACS 6: é seu primeiro?

G6: não, segundo

ACS 7: ah então já tem experiência...

G6: não mais eu não tive nenê normal, o meu foi cesária

ACS 7: Ah tá

G6: eu só assisti o parto da minha prima que foi normal, por isso que não tem a experiência...

ACS 7: Ah e outra que eu ache ridículo é assim, ridículo, eu achei, é o tal do humanizado, Meu

Deus, eu fiquei lá no parto, porque eu trabalhei lá no Santa Helena três ano e meio eu falei

"caraca eu não queria nunca", família toda arrodiada e você sentando ali sentindo dor, e todo

mundo ali, cruzes....

Lohaine: então, mais aí é que ta, a questão

ACS 10: Mas aí não foi só normal

ACS 7: A mesma coisa...

Lohaine: não, a questão do humanizado é a da escolha, entendeu...

ACS 7: eu digo porque você tá ali com dor né e todo mundo ali olhando a sua dor né

ACS 8: eu assisti os dois partos da minha filha, os dois dela foi normal, da primeira gestação

dela a minha neta, foi muito demorado... eu tive cólicas, eu sentia quase tudo que ela tava

sintindo eu sentia... cólica, toda hora queria ir no banheiro mas eu acho que é muito nervoso,

nunca tinha visto, eu falava minha filha passando ali, e ela gritando de dor e eu "aí meu Deus o

que eu faço" naquela situação e começava a fazer massagem nela acalmando ela, mas eu tava

sentindo as contrações também... coisa que eu não tive quando eu tive meus filhos, porque meus

partos tudo foi cessariana né, agora do meu neto foi rapidinho, chegou lá com 3 centímetros aí

a médica falou "não, se vai desce lá vai fazer caminhada pro bebê descer, quando ela desceu a

escada, quando chegou bem embaixo, rebentou a bolsa já levou ela lá com o bebê no braço já,

dele foi rapidinho, mas da menina demorou bastante, mas tudo foi parto normal.

G6: A minha mãe fala que não vai assisti não, que ela desmaia, ela desmaiou com a minha

filhada então ela nem vai comigo, mais eu tenho medo de ficar sozinha...

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119

Lohaine: Não mais assim, você tem direito de escolher qualquer pessoa pra te acompanhar,

sendo família ou não, pode ser o seu companheiro, pai do bebê, pode ser mãe, ser irmã, pode

ser uma amiga, pode ser vizinha, quem você quiser, você tem direito a um acompanhante, a lei

não especifica quem seja, você tem direito a um acompanhante.

ACS 8: Minha nora eu também eu assisti

ACS 2: e esse aparelho que tem pra puxar a criança?

Alice: porque que no geral não pode?

Lohaine: então eles vem falando assim "ah é a norma do hospital", mas você tem uma legislação

que te garante, nenhuma norma de hospital é ganha da legislação, então é revindicar, é reclamar

" eu tenho direito a um acompanhante, tem uma lei que me dá direito a um acompanhante",

porque tem uma lei e os hospitais usam muito isso de é a regra do hospital, que não pode.

G6: Lá no Julio Muller, era pra eu ter meu filho lá, aí o médico falou "você não vai ter

acompanhante" eu falei "o que? eu não vou ficar aqui nunca nesse Brasil", aqui minha filha, eu

tenho medo de fica lá sozinha.

ACS 10: Mais como que funciona, meu cunhado foi assim, ele assistiu o parto todinho mas ele

não pode ficar, o pai permaneceu...

Lohaine: então aí é que tá, a lei é que você tem direito ao acompanhante durante o parto e no

pós parto imediato, que é cerca de 24 horas depois do bebê, e aí depois se por um acaso a mãe

e o bebê ficarem por mais tempo aí não, aí realmente a lei já não ampara sobre o acompanhante

tá.... Sobre o parto humanizado, hoje em dia se discute muito sobre, não o tipo de parto, não é

porque é normal que é humanizado, e existe partos cesáreos humanizados, o que é ser um parto

humanizado, é ser um parto que respeite o protagonismo, respeite a vontade da mulher,

exemplo, ela estava rodeada de um monte de gente na hora do parto, porque ela queria esta

rodeada de um monte de gente, se ela quisesse ficar só ela e a parteira, era só ela e a parteira...

porque é uma escolha dela, e o parto humanizado é exatamente isso... respeitar as suas escolhas,

"ah eu quero que fique na sala a equipe" a equipe não pode ser mudada, porque é necessário...

mais no entanto exemplo, aí tem a parteira ou médico e três residentes, mais eu não quero os

residentes aqui e você tem direito, mas equipe básica, a enfermeira, o médico, ou uma técnica

de enfermagem, ou a pediatra que tive ali aí, é necessário pra você o pro bebê naquele momento,

mas um estagiário que está vendo, um residente que está aprendendo, você também tem direito

de pedir pra eles se retirarem tá, isso que é ser um parto humanizado. É eu sou a favor do parto

normal, não a qualquer momento? não a cesárea ta aí, ela salvou a vida de muita gestante, ela

salvou a vida de muita criança, é maravilhosa! no entanto, eu sou a favor de que seja dada as

escolhas justas pras gestantes, porque não se ta dando o direito da escolha justa porque a maioria

das gestantes que chega num consultório e fala " eu quero ter normal" e a partir desse momento

começa o processo de, principalmente da equipe médica, de te dar medo pra você fazer uma

cesária. E ele vai te tando medo até chegar os nove meses pra você desistir do seu parto normal,

aí ele vai falando "que o bebê é muito grande" "que o cordão umbilical ta enrolado no pescoço"

"que o bebê não encaixa, que não tem dilatação" "que o bebê ta passando mal, sendo que isso

não existe, e sendo que isso não é real, se é real, não pense duas vezes na cesária... é sua saúde

e a do seu filho, no entanto, eu sou contra não ser real e eles mentirem que é o que acontece

muito gente, acontece muito, os médicos, eles amedrontam as mães pra que elas não tenham

parto normal. Exemplo disso foi a minha cunhada, ela decidiu que queria paro normal e o

médico dela começou um processo de desconstrução nisso, o " o bebê é muito grande" e ela

falou "não, mais eu vou ter mesmo assim" "ah mais o bebê ta muio pesado" "não mais eu vou

ter mesmo assim" "ah o bebê ta com o cordão enrolado no pescoço" aí eu falei pra ela "isso não

é motivo" saibam disso, cordão umbilical enrolado no pescoço não é motivo de de cesária,

existe muita criança que nasce, de parto normal, com o cordão umbilical enrolado no pescoço,

isso é normal, não tem problema nenhum, porque geralmente o que nasce primeiro do bebê é a

Page 125: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

120

cabeça, nasceu a cabeça, o médico ou a enfermeira coloca a mãe e tira o cordão umbilical do

pescoço e pronto.

ACS 10: Elas tem uma duvida...

Lohaine: Hum?

ACS 10: eu questiono mais a questão do parto normal mesmo, porque assim eles deixam as

mulher sofrendo, sofrendo assim, muito, quanto tempo eles tem que i vê, pra decidir se vai ser

cesária ou normal? o que ta acontecendo muito é isso, é o contrário...

Lohaine: o que acontece é isso, uhum entendo, o que acontece é que a maioria das mulheres,

elas chegam lá, elas não estão em trabalho de parto efetivo, então é claro que elas vão ficar ali

horas, porque o parto normal demora, igual você disse "eu não tive dilatação" então não tava

na hora do seu parto, entendeu...

ACS 7: No meu parto foi assim, fui lá aí tava 2 cm, aí ela falou "não, volta pra casa, porque

aqui vai ficar muito tempo" aí voltamos pra casa, e aí quando foi meia noite, tava com quatro e

fomos, e aí não ficou muito, mais ficou, porque de meia-noite ele teve uma hora da tarde. E

teve que ficar.

ACS 10: Também tem assim que eu falo, tem caso que a mãe vai lá e ta com 3cm, a mãe ta indo

lá durante uma semana, aí ele vê e manda pra casa, vai continua com o mesmo centímetro e a

mãe com dor, não com aquela dor do parto realmente né, que aí eu já tive casos que como vai,

não chega no hospital vem até mais tarde, até tarde, porque passou da hora de nascer, essa

questão assim, desse parâmetro deles, que tem acontecido né.

Lohaine: Uhum, mais então porque é que você acha que passou da hora de nascer? quem é que

te disse?

ACS 10: Não porque assim a mãe foi assim, a mãe falou " to gestante, to com 39 semanas",

porque eles querem esperar as vezes querem esperar até 42 semanas, que é o público que é algo,

mas pra algumas crianças, as vezes o feto não consegue, tem criança que não consegue chegar

a 42.

Lohaine: então ela vi entrar em trabalho de parto

ACS 10: mais não entra, tem mãe que não tem dilatação.

Lohaine: Mais porque não ta no momento...

ACS 10: Mais si, não pode passar até das 42 pode?

Lohaine: depende do caso, tem mulheres que passam de 42 semanas, e é seguro, só que aí o que

acontece, passa de 42 semanas, aí geralmente a equipe monitora ela de 2 em e dias pra vê como

está o bebê, se o bebê não ta em sofrimento como que ta a barriga, por que geralmente não

chega a mais de 42 semanas, mais é possível chegar sim e passar, e o bebê nascer bem.

ACS 10: aah eu já tive caso assim, entendeu. É que a gente fica preocupado com a questão de

passar da hora de nascer.

Lohaine: mais aí é que está...

ACS 7: é que quando chega nas 39 tende a nascer...

Lohaine: pois é, a maioria das crianças que nascem de parto normal, elas não nascem de 37 ou

38 semanas, elas nascem de 40 pra lá.

ACS 8: eu creio assim, que ninguem sabe o dia que fize... sabem assim o dia que tiveram a

relação, mas não sabe se foi naquele dia que engravidou, né... aí sempre acontece isso.

Lohaine: Pois é e aí você falou, ah é claro que cada caso é um caso, eu cheguei lá eu não tinha

nada de dilatação, provavelmente era porque você não estava no momento de seu parto era só

esperar.

ACS 7: e eu tive cesárea todos foram cesária.

Lohaine: mas só que aí "Ah eu esperei" quanto tempo seu filho nasceu 38 semanas 39 semanas

então não esperou.

Page 126: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

121

ACS 8: e a respeito do útero infantil?

Lohaine: então o útero infantil é extremamente Raro, extremamente raro, extremamente

mesmo, mas só que vocês vivem falando isso porque é uma desculpa que os médicos usam para

falar que você não pode ter filho normal entendeu? a maioria das coisas, a maioria das vezes os

médicos utilizam de problemas reais, mas o que são minorias para para que as mulheres fiquem

apavorados de ter parto normal, e a Claro tá certa! se o profissional de saúde fala para você que

você não tem condições de ter esse bebê, que você tá colocando em risco esse bebê, é óbvio

que você vai acreditar nele e vai passar pelo que ele recomenda né, então a questão do parto a

gente fala que é um combate contra o próprio sistema de saúde, contra os próprios médicos,

porque os médicos ganham mais dinheiro para fazer cesária, parto normal não.

ACS: mas diz que parto normal disse que eles recebem mais do que cesária né?

Lohaine: então o governo federal desenvolveu um programa que se chama Rede cegonha o que

é De estimulação a qualidade quer dizer diminuição da mortalidade materno-infantil e tem

vários pactos e um dele é diminuir o número de cesáreas Porque aqui no Brasil se faz muito,

mais de 50% dos partos são de cesária e o indicado pela ONU é de cerca de 15% de cesáreas

entendeu? Por que essa cesáreas são das mães que precisam da cesárea, que os bebês precisam,

Por que claro que existe porque senão não seria inventado, a cesárea é muito boa quando

precisa.

ACS 8: Se eu soubesse naquela época que o parto normal seria tão maravilhoso, então melhor

que um parto cesariano, eu acho partos ser mas infelizmente eu não sei falar para ti quais os

sinais, eu não sei falar qual os sintomas do parto, os meus três foram cesariana. aí como se diz

na cesárea seu bebê tá lá não tá pronto para nascer, tá dormindo, quietinho, são bebês que depois

tem mais problemas de doença no futuro que se for parto normal, se eu soubesse disso eu tinha

esperado e tinham meus bebês tudo de parto normal, mas graças a Deus são todos saudáveis.

Lohaine: eles estão saudáveis ótimo, mas é a questão de respeitar suas escolhas, que nem eu

sempre falo cada caso é um caso, mas precisa ser respeitada as escolhas das Mães, precisa ser

respeitadas a sua vontade né, E que você tenha direito de receber o conhecimento justo o que

realmente pode acontecer, quais são realmente as suas opções, para que você possa escolher seu

parto, Se você souber todas as suas possibilidades, o que pode acontecer de bom e o que pode

acontecer de ruim em cada parto, e falar "não, mas eu quero cesárea mesmo assim" beleza é um

direito seu, tudo bem, não tem problema.

ACS: esse trabalho fórceps é o quê?

Lohaine: fórceps, eles utilizam um instrumento para tipo, desculpa a palavra mas desinstalar o

bebê sabe, empurra mesmo sabe?

G3: isso pode machucar a criança né?

- várias pessoas falam ao mesmo tempo.

Lohaine: sinceramente é possível.

Page 127: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

122

G3: Porque eu conheço uma criança ele é deficiente do braço Por que Puxaram ele com ferro,

aí depois foi crescendo e tenho problema no braço, aí hoje.

Lohaine: meu sobrinho nasceu com roxo No rosto..

ACS 2: a minha neta é na testa até hoje ela tem um fundo que não conseguiu voltar

G3: voltou a funcionar, hoje ele tem 18 anos.

ACS 7: e aposentou por causa disso né?

ACS 6: porque antigamente eu fazia acompanhamento do cartão de gestante, no cartão de

vacina aí tava escrito parto normal e parto fórceps, no cartão de vacina, aí depois eu perguntei

para a enfermeira o que era fórceps, Aí ela falou para mim que era assim, quando o neném nasce

primeiro os pés né, porque tem criança que nasce primeiro pé né , diz que normal é quando

nasce com a cabeça encaixada né, diz que é normal, diz que esses que nasce pelos pés não é

normal?

Lohaine: não, não tem nada haver, tudo é normal isso é só a posição tem bebê que nasce de

cócoras, que falam, que nasce a bunda primeiro e bebê que nasce com a cabeça primeiro.

ACS 6: é tem bebê que nasce os pés primeiros né?

Lohaine: é mais difícil, geralmente eles, é mais difícil eles nascerem primeiro pé…

G6: esse nenenzinho que tava falando, Ele nasceu com a cabeça, primeiro a cabeça e depois

que nasceu corpo.

Lohaine: é esse é o mais normal geralmente quando vai chegando na época do parto, o bebê já

vai virando para encaixar, então é mais difícil eles nasceram os pezinhos primeiro porquê eles

estão muito encolhidinho, eles ficam em posição bem encolhidinho, geralmente quando ele não

nasce a cabeça nasce ele nasce de bunda, nasce a bundinha primeiro.

ACS 6: aí quando ele vai nascer ele vai se ajeitando, quando ele nasce de bunda assim?

Lohaine: não, é que o bebê ele é muito mais flexível que a gente, extremamente mais flexível

né e não é problema, hoje em dia já se vê, falam que o bebê não pode nascer de parto normal

de bundinha, hoje em dia já tem vários parto normal que eu bebê nasce de bunda Tudo bem,

entendeu? o que não tem como é o bebê se tiver, o bebê estiver de lado, se o bebê estiver de

lado aí tem várias manobras que você pode fazer para virar o bebê, se o bebê não virar aí é

cesárea, não tem possibilidade do bebê nascer de lado isso vai acabar tipo se insistir ainda pode

matar a mãe e o bebê, porque não tem possibilidade se o bebê estiver de lado não tem

possibilidade alguma.

ACS 10: e se tiver sentadinho, a o bebê tá sentado tem que ser cesária?

Lohaine: então é isso que eu tava falando que o bebê pode nascer de bundinha né de cócoras

que fala tranquilamente hoje em dia.

ACS 10: tem médico que fala que não pode né?

Lohaine: é, antigamente falavam muito hoje em dia a maioria, tipo os hospitais públicos se o

bebezinho estiver de cócoras e a mãe quer parto normal consegue ter normalmente.

Page 128: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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ACS 6: Eu já ouvi um comentário que diz que, dizendo que o parto normal dizem que é melhor

para criança, diz que criança que nasce de parto normal É diferente daqui nasce de cesárea, quer

dizer que o parto normal só beneficia a criança não beneficia mãe.

Lohaine: não, não não não, é que a gente tem tanto falando de parto, a gente tem uma campanha

que é só para fazer as mães fazerem mais cesáreas né? Então se uma mãe morre no parto normal,

no mesmo dia já está em todas as mídias, eu acho que tem uns dois meses que morreu uma

enfermeira lá em Rondonópolis no parto cesária, de complicação de anestesia e faleceu e você

não ouviu falar, porque não beneficia ao sistema que você saiba que a cesária também tem risco,

na verdade a cesárea tem três vezes mais riscos que o parto normal para mãe e para o bebê, três

vezes e, mas não se fala nisso. que que nem você estava falando, na verdade não, ela tem

benefícios para mãe e para o bebê, para o bebê 100% mais benefícios, primeiro porque ele vai

estar na hora de nascer, então ele vai estar pronto para nascer, pulmão vai estar maturado

maturado que fala completo, vai estar no momento certo, ele vai ter se desenvolvido totalmente,

o máximo que ele poderia, o sistema imunológico dele estará mais fortalecido e tudo isso ajuda

o bebê. Então quando você tem um parto normal no momento certo isso beneficia o bebê Bebês

que nascem de parto normal depois que crescem, eles tem a menor possibilidade de desenvolver

alergia a, desenvolverá acima, desenvolver várias outras problemas que já foram comprovados

que bebês de cesáreas tem mais né, e para mãe, para mãe você tem um benefícios de

recuperação, de tempo de recuperação, uma amiga minha ela teve, ela estava em dúvidas a

gente conversou e ela escolheu ter o parto normal, teve o bebê dela ela amamentou, e enquanto

pediatra examinava depois que ela amamentou, é outro direito de vocês é, vocês têm direito de

amamentar o bebê na primeira hora de nascido tá? O bebê nasceu ela na mentou e quando o

bebê foi pego pelo pediatra, ela veio tomou banho, se arrumou, penteou o cabelo, Enquanto isso

a equipe trocou os lençóis ela deitou lá, para esperar o bebê dela, na cesárea você nunca vai

fazer isso.

ACS 6: o meu parto foi aqueles partos por agendamento, porque eu já estava perto de nascer

e era risco por causa da idade, olha acho que não vou ter normal porquê meus ossos já tá tudo

duro.

risos.

ACS 6: eu paguei né eu falei não vou fazer cesária, aí eu fui e sem dor, mas eu graças a Deus eu

não tenho reclamação da minha cesária , eu tive bebê depois fui para casa, sair de lá, só que eu

fiquei com medo por causa da idade, porque eu estava com 36 anos, falei meus ossos Estavam

todos duros para ficar abrindo assim.

Lohaine: é 33 anos, A única diferença é que geralmente as outras mulheres estão tendo o

segundo ou terceiro filho, e você estava tendo o primeiro, o que mais tem é mulher de 33 anos

tendo bebê, então você não estava velho.

ACS 7: tem o bebê e os ossos fazem crec-crec.

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- risos.

ACS 2: Olha e sobre a bolsa, aquela bolsa, porque no meu parto do filho a minha bolsa

arrebentou no dia 8 à noite aí eu passei o dia 8 a noite inteira aí no outro dia de manhã, dia 9 aí

passou nove inteirinho, aí quando eu vi era tarde que já tava eu tava sentindo um trem meio

esquisito aí eu falei, Ah não eu vou lá no médico né! aí que eu fui no hospital geral chegou lá

sem dor, mas não tive dor, aí no dia 9 de tardezinha que eu internei e eu tive o meu filho no dia

10 à noite.

Lohaine: É que geralmente Acontece muito de romper a bolsa…

ACS 2: mas eu sofri muito para ter os meus filhos, deram injeção em mim porque eu não tinha

dor.

Lohaine: Pois é a questão é da bolsa tem muitas vezes que ela rompe e não sai todo líquido sai

um pouco e fica um pouco de líquido e o bebê continua ali, por isso que ele não entra em

sofrimento, a gente fala entrar em sofrimento fetal é quando o bebê começa, Exatamente é sofrer

para nascer entendeu, a partir do momento que o bebê começa sofrer para nascer aí tá na hora

de intervenção, porque a gente não vai deixar o bebê sofrer né? Aí tá na hora de começar a

intervenção mesmo, e aí se não conseguir por parto normal vai para cesária, Às vezes o bebê

entra em sofrimento já no final do parto normal aí o médico continua, porque você já está no

parto normal, já tá parindo, mas exemplo você não tá na fase expulsiva do parto e o bebê entra

em sofrimento geralmente você vai para cesária e é ótimo, a cesária está aí para isso, a cesária

está aí para ajudar as mães mesmo.

G6: eu prefiro parto cesárea.

Lohaine: prefere?

G6: prefiro!

Lohaine: então tá bom.

G3: eu já tive os meus dois normal e quero o terceiro normal.

muita conversa Paralela de difícil compreensão.

Lohaine: gente vamos prestar atenção aqui por favor, desculpa pode continuar.

G3: eu tive meus dois normal, aí no meu segundo deu uma complicação do meu parto, eu não

vi o que o médico estava fazendo comigo, eu também não vi o que aconteceu que eu tive começo

de hemorragia , mas quando chegar na hora de nascer eu quero ir para o hospital quero ter

normal novamente, não quero ter cesariana de jeito nenhum, porque eu sei o sofrimento da

minha irmã com a cesária.

G6: Para mim foi bom a minha cesária, para mim não teve coisa ruim não porque…

Lohaine: é então, cada um é cada um né, cada casa é cada caso.

G6: por quê a minha irmã, é minha irmã fez tudo comigo né , mas nesse aqui né agora não tem

ninguém, porque minha mãe desmaia, a minha mãe vai desmaiar seu para ir lá ela vai lá vai

cair.

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Lohaine: tem que deixar você para socorrer ela né.

- risos

G6: é, porque esse ano, (trecho incompreensível pela dicção da entrevistada)

ACS 10: a Tem certas pessoas que não servem para acompanhante né.

G6: por quê a minha mãe passou muito perrengue esse ano né, então assim sim eu não quero

que ela vai por quê, eu sei que ela sim então eu não quero que ela vá, se ela desmaiar eu vou

ficar como.

Lohaine: vai ficar preocupada com ela né ?

G6: vou ficar querendo socorrer ela né, por quê…

ACS 10: arruma uma amiga!

G6: Não, a minha prima vai!

ACS 7: Essa é aquela prima que você foi a primeira vez?

Lohaine: Pois é vocês trocam né

G6: aí ela falou assim não eu vou, porque meu vô faleceu, aí então minha mãe tá passando por

um momento agora muito difícil né, como ele morava com nós, então era assim a gente era

amigo.

Lohaine: Pois é então a gente tava falando dos direitos que vocês têm durante o parto além da

acompanhante né que é um direito de vocês, vocês também tem o direito…

G3: quando eu fui ter o meu segundo parto eles não deixaram a minha amiga entrar de jeito

nenhum, e até hoje eu não sei o motivo, Por que o deter essa hemorragia, eu queria saber como

que eu faço quando chegar lá é perguntar se eu posso ter normal, ou vai ter outra complicação?

Lohaine: então, Às vezes acontece essas complicações no momento do parto, não é por uma

condição da sua gestação, então trocou de gestação esquece tudo entendeu, e como a gente não

sabe o porquê que você teve…

G3: eles não falaram de jeito nenhum, e a minha amiga queria entrar e eles não deixaram ela

entrar junto comigo, não deixou.

Lohaine: isso é na sala do parto?

G3: Sim, eu não lembro de nada eu só lembro que eu tava na cama lá, com aparelho em mim

e uma mulher falando para deixar o aparelho e eu não vi nem meu filho.

G6: é Igual essa minha prima, minha prima…

G3: eu nem vi como Meu filho nasceu.

Lohaine: então, na gestação você teve alguma complicação, como pressão alta ou algo assim?

G3 2 pontos não aí depois que eu ganhei, deu pressão alta deu um monte de coisa, depois que

eu peguei o meu filho.

G6: é igual a minha prima, a minha prima também foi a mesma coisa dela.

Lohaine : Agora você tem, você toma remédio?

G3: não, não controla mais.

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Lohaine: meninas Você tá doida, é perigoso!

ACS 7: nem no pré-natal ?

Lohaine 2 pontos você não fazia acompanhamento nem no pré-natal, elas não eram alta na

consulta?

G3 : não, normal.

Lohaine: então as vezes...

ACS 7: então é só gestacional, gestacional não, como que é mesmo?

Lohaine: não, as vezes foi por causa da gestação que você teve, aí a hemorragia, eles fizeram

transfusão, não fizeram?

G3: Fizeram!

Lohaine: então, isso pode dar uma alteraçãozinha de pressão, mas depois do parto, só que depois

estabiliza, isso provavelmente que aconteceu.

G3: Aí depois do parto eles comentaram pra eu tomar remédio, medicamento, mas o remédio

era muito forte e eu não quis tomar mais não.

Lohaine: Se hoje você não tem, as vezes foi por causa disso, foi por causa da sua condição que

você desenvolveu uma leve hipertensão, mas só que depois estabilizou, depois que passou o

parto.

ACS 7: mas, é que as vezes, como por exemplo a mãe dela tem pressão alta, esse também vem

devido a família também ou não?

Lohaine: hipertensão é fator.... tem fator hereditário, além de hábitos alimentares, de exercício,

também tem fatores hereditários, provavelmente, quer dizer, provavelmente não, é muito

comum se os seus pais tem hipertensão, você ter também, então é mais importante, quem tem

histórico de hipertensão, é mais importante fazer um acompanhamento mais sério, que hoje em

dia é maioria né? acho que a maioria hoje tem, eu por exemplo meu pai é hipertenso, então...

Mas só que se você ta acompanhando, fazendo pré-natal e não tem pressão alta quando vem

aferir a pressão, então provavelmente foi só aquele caso, então não tem problema na sua

gravidez, você vai pra lá pra ter parto normal, se você não escolher cesária, entendeu... é sua

preferencia, eles vão partir pra cesária quando você não tem condições de de ter.

ACS 7: Mas só que quando você já tem três ele, você já vai operar ou eles não....

G3: Eu quero opera, mas pra minha idade eles não vão quere...

ACS 7: ééé

Lohaine: Na verdade, você tem quantos? três? tem quantos anos?

G3: Três? tenho 22 anos

Lohaine: não mais eu acho que é terceiro a partir, ééé... De acordo com o SUS, o planejamento

familiar, pra fazer a laqueadura, é 25 anos ou 3 filhos.

G3: Eu quero!

ACS 10: Minha irmã teve 4...

G6: A minha prima tem 5 e não quer operar.

Lohaine: Não, eu to falando de... pra você fazer laqueadura... Aí, então acho que você já pode,

depois você pergunta pra enfermeira, mas acho que você já pode fazer o planejamento familiar

pra entrar na fila pra laqueadura.

G6: eu quero operar, Deus me livre.

ACS 8: Se ela ta com 22 agora...

ACS 7: assim se ela tá no terceiro ela tinha que planejar, no segundo ela já tinha que planejar

para engravidar do terceiro, é sério, porque uma amiga minha esperou esperou aí ela

engravidou… agora vai colocar no Júlio Muller.

ACS 8: como que ela vai fazer agora, com 22 aí demora para ser chamado.

G3:mas demora muito muito muito no Júlio Muller?

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Lohaine: na verdade, não é o Júlio Muller, não é só o Júlio Muller…

ACS 7: não, eu digo, eu digo o que é nessa área de abrangência né

Lohaine: tá, hoje em dia né…

G3: eu pensei em colocar DIU por enquanto né, até sair a laqueadura por quê misericórdia não

quero ter mais filho não.

G6: a minha cunhada colocou o DIU…

Lohaine: o DIU é muito bom…

ACS 10: se você for ter seu parto no Júlio Muller, diz que lá tá colocando tá…

G3: só pedir né…

ACS 10: se pedir eles colocam.

ACS 7: porque assim já começa dar entrada, porque eu falo assim já tem que ir planejando já

no pré-natal?

Lohaine: não, na verdade por causa que o DIU, você nem pode colocar o DIU logo depois do

seu parto porque o Seu útero está dilatado, geralmente ele demora uns 4 a 5 meses para ele

voltar no tamanho, próximo ao tamanho, o Seu útero vai estar pronto totalmente, como novo

vamos dizer assim, para uma gestação, cerca de um ano no mínimo, que ele vai tar assim "não

eu já estou, eu voltei ao que eu era antes da primeira gestação" da gestação anterior entendeu,

cerca de um ano.

ACS 10: mais lá no Júlio Muller, Eles mandaram avisar que tendo parto normal lá, nos

passaram assim que se a mãe quiser sair de lá com o DIU colocado sai.

Lohaine: Então depende do DIU, porque você sabe que existe dois tipos né, que é o DIU de

cobre e o DIU que é com hormônio também. O DIU com hormônio você coloca ele e pronto

porque ele vai liberando hormônio não importa a posição que ele está, ele vai liberar hormônio

entendeu? O DIU de cobre se você colocar ele lá, ele tem que estar na posição certa entendeu,

e como é que ele fica na posição certa com seu útero tá muito maior entendeu? Então aí existe,

aí como é lá no Júlio Muller tem que ver porque o SUS não dá, geralmente não dá esse DIU de

hormônio, eles fornecem o DIU de cobre né por isso que eu estou te dizendo, Às vezes pode

ser assim se a mãe quer usar o DIU de hormônio é só ela comprar e lá depois do parto eles

colocam, e isso é bem impossível de acontecer, mas o de cobra é bem difícil.

ACS 10: então essa informação que eles passaram, dessa forma para gente, passaram assim, se

a mãe que tá na hora do parto quisesse colocar o DIU eles colocam, foi isso que eles passou

para gente, mas isso aí tem mais de ano, então eu não sei se está ainda está dessa forma, por

causa dessa situação né.

G6: minha cunhada arrumou um DIU, mas ela esperou, a minha sobrinha ter um ano aí ela

conseguiu colocar um.

Lohaine: é por isso que eu falei o SUS coloca DIU sim.

ACS 10: mas você colocando DIU tem uma certa tratamento, tem que se manter né, direito

tem que ter uma certa prevenção né.

Lohaine: então o dia ele é bem seguro né, bem bom, é uma das melhores opções hoje em dia

que está tendo de anticoncepção a longo prazo é o DIU né? então, ele é mais de posição , vira

e mexe você tem que ver, geralmente o médico pede uma ultrassom né para ver a posição do

DIU essas coisas.

G6: Por que que o povo fala que o DIU dá câncer?

Lohaine: câncer?

G6: é , o povo fala né!

Lohaine: então o DIU, Como eu disse depende do DIU, a questão do hormônio, o hormônio

ele, gente nunca vai ser bom a gente usar mais hormônio no nosso corpo, e isso é

anticoncepcional, é pílula do dia seguinte, é qualquer tipo de hormônio, então por isso que tem

aquela lista enorme de contra-indicações e de efeitos adversos em até anticoncepcionais

simples né, e já tem comprovado que anticoncepcional pode produzir coágulos, que pode dar

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derrame e AVC né, já tem falando sobre câncer de útero que Jeová vário essas coisas então,

questão é o acompanhamento e como o DIU com o hormônio é mais ou menos o que o

anticoncepcional vai fazer, mas ao invés de você tomar todos os dias ele vai liberando, você vai

estar sujeito a ação de hormônios exógenos, de fora do seu corpo, então sempre tem riscos.

ACS 6: e esse é muito caro?

Lohaine: o DIU de hormônio?

ACS 6: é

Lohaine: então, a última vez que eu vi, eu tava até pensando em por também, tava cerca de r$

700 então ele é bem salgado.

ACS 6: e quanto tempo ele dura?

Lohaine: o de hormônio são cerca de 5 anos, 5 ou 10 anos e o de cobre são 10 anos.

ACS 6: bastante né

Lohaine: Sim, por isso que eu falei que são métodos de anticoncepção a longo prazo, aí você

tem aquela história né, Às vezes você escolhe, tipo você não quer fazer laqueadura mas não

quer ter filhos, ou às vezes antes de começar a ter filhos né, então é um opção, mas aquela que

não tem certeza, que acham que podem ter filhos antes aí não compensa pôr o DIU por causa

disso, porque às vezes você paga um pouquinho mais caro no DIU e você vai depois ter que

tirar para engravidar?

G6: eu não quero por não, não é para mim (o restante da frase está em compreensível)

ACS 6: e este de cobre em quanto tempo tem que fazer o negócio?

Lohaine: o quê?

ACS 6: ir no médico de novo

Lohaine: então você faz retorno normal geralmente, de cuidado femininos mesmo, de um em

1 ano. geralmente logo que coloca eles geralmente pedem para você voltar para ver se você

está se adaptando bem, com dois meses mais ou menos, depois disso é ano em ano. é bem

tranquilo o DIU, a questão é que ele não é muito divulgado né, no sistema de saúde aqui no

Brasil, mas no Brasil é muito útil e é bem legal muito bom. a gente pensa sempre que só tem a

pílula né.

ACS 6: eu nem sabia que tinha isso!

Mãe de Luciana: eu tive dois partos normais , teve o primeiro e foi muito bem atendida.

Lohaine: no hospital?

Mãe de Luciana: é, o parto dela também foi normal foi no hospital geral, e foi ótimo aí no meu

terceiro parto, meu filho foi uma cesariana, que eu sinto dor até hoje. Eu recebi alta, Fui para

casa E aí começou a me prender esse lado aqui ó, aí eu tinha que virar, se eu não virar se eu

tinha muita dor muita, aí eu tive que fazer outra cirurgia aí o médico lá de Nova Brasilândia,

disse que era erro médico, e eles tiraram, não sei o que que eles largaram dentro ele não quis

me mostrar, aí eu melhorei desse lado mas então esse lado de cá, do meu corpo até hoje eu sinto

dor todos os dias, daqui esse lado todo, eu não posso deitar, eu não posso limpar casa, não posso

lavar roupa, tudo que eu vou fazer essa dor me incomoda 24 horas, eu não aconselho as pessoas

a fazer o parto cesárea sem necessidade, Porque para mim, a minha experiência foi que é

horrível, aí o médico falou para mim o seguinte, Você não tem jeito Já fiz todo tipo de

tratamento e não tem jeito, e a dor ela continua, e não tem mais remédio para mim tomar, agora

só vó né…

- risos

Lohaine: e agora né

Mãe de Luciana: agora ficou bom, aí o meu filho ele fala assim, quer ver minha mãe que você

Sara depressa. se eu tivesse feito parto normal quem sabe eu não tivesse isso, meu filho vai

fazer 30 anos, ou Alexandre, aí eu tenho Luciana de 25 e e a Gabriele de 21, E aí se eu tivesse

tido normal e não tivesse ligado, eu poderia ter outros filhos, que agora que eu já vou completar

Page 134: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

129

50, na minha casa é uma solidão, na Fazenda agora todo mundo já saiu ficou só nós dois e para

adotar eu não tenho coragem.

ACS 8: mas é bom depois vem os netos!

Mãe de Luciana: não, mais os netos têm os pais e não vai deixar, e eu também não pego porque

assim se eu pegar depois eu não devolvo.

- risos

Mãe de Luciana: se eu pegar eu não devolvo.

ACS 2: eu sou assim peguei uma neta com uma minha, e já tá com 17 anos e não quer voltar.

Mãe de Luciana: então para mim pegar eu não pego porque depois eu não vou devolver.

Lohaine:então a senhora vem para cá, vai ter que arrumar outros hobbies para passar o tempo

Mãe de Luciana: agora eu faço assim lá né Eu queria o carneiro, cabrito, e o mesmo tenho

horta, aí eu faço farinha, faço crochê, um monte de coisa para ocupar o tempo, mas, o que que

eu fiz destruir a minha saúde, Agora já tem quase uns 15 dias que eu estou aqui, e não tô

fazendo quase nada e a dor não para, não tem jeito.

Lohaine: como a senhora disse eu destruir a minha saúde, não, foi uma escolha que a senhora

fez e tinha o direito de ser bem atendida, Como disse foi o erro do médico.

Mãe de Luciana: então Mas o médico é humano né o erro é normal .

Lohaine: sim, mas…

Mãe de Luciana: o médico não teve culpa a culpa foi minha que resolvi fazer né

Lohaine: não jamais senhora, a senhora escolheu Mas a senhora também tem direito Ah um

parto, a um parto bem feito, é tanta que se exemplo, a senhora fizesse uma denúncia contra ele,

a senhora não seria culpada ocupada seria ele. porque o erro é humano, mas ele é um

profissional que responde por isso.

Mãe de Luciana: esse médico que fez o meu parto, ele não existe mais, tirar a vida dele, não

sei se você sabe daquele médico que foi morto lá no Coxipó

Lohaine: eu não conheço

Mãe de Luciana: só sei que parto normal é bem bom.

Lohaine: e vocês escolheram Que tipo de parto? Você vai ter normal né? E você também

normal? e você Bianca?

Bianca: a eu voltei normal né, pelo SUS Você não escolhe como você quer ganhar.

Lohaine: você vai ter normal eu já sei falou bastante disso.

G3 : eu não quero cesárea de jeito nenhum;

. Lohaine: e você Alice?

Alice: normal né vai ser, eu queria cesária.

G5: eu não sei, mas eu quero ter normal.

Lohaine: então hoje em dia as experiências de parto normal, elas são , tem que ser modificado

porque tem se modificado as práticas né, então tipo, não é vocês que estão mudando é Graças

a vocês que o sistema está tentando mudar, tem muito profissional bom que tá vendo aí com

novas práticas, praticando o parto humanizado né, Como eu disse para vocês não importa o

tipo de parto, importante é é como você é tratado, se você é contratado com respeito, se as suas

escolhas são respeitadas, você teve um parto humanizado, não precisa ser em uma banheira,

dentro de casa, para ser parto humanizado não.

Bianca: Acho que muitas que escolhe a cesariana é porque teve uma experiência muito ruim

com parto normal né, aí quando engravida fica, já fica assim, já ranjo dinheiro para pagar a

cesariana, por isso que fala né O que é uma cesariana desnecessária, não tem necessidade, mas

a pessoa sofreu tanto para ter o filho que ficou traumatizada né .

ACS 7: acho engraçado ela, que é o terceiro e ainda quer normal né, porque a maioria não

Page 135: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

130

G3: a eu quero normal , a única coisa que eu sei é que o bebê sai a dor acaba, cesariana não na

hora você não vai sentir nada né, mas depois misericórdia, eu vi o sofrimento da minha irmã

então eu não quero.

Lohaine: que nem você falou a questão é que hoje, hoje não existiu um processo no Brasil

quando houve a medicalização do parto, que era aquela história, foi de maltratar mesmo a

maioria das Gestantes para acabar que, e acabou que se tornou O que é hoje, esta quantidade de

partos cesáreos justamente por causa disso Geralmente se trabalha com medo das Mães, as mães

que às vezes arriscam a ter parto normal, o que foi o caso que eu relatei o da minha mãe e

quando chega no segundo filho ela não quer nem saber, por causa que ela sofreu muito e é o

que mais acontece. Então a questão é essa, s mudar as práticas, a gente tá tentando e vocês que

estão gestantes também tem um papel nisso, é denunciar, hoje em dia se vocês sofrerem

violência obstétrica vocês podem denunciar nas ouvidorias dos hospitais, vocês podem entrar

com processo e denúncia nos nos conselhos de ética de enfermagem porque enfermeiros

obstétricos também fazem partos, equipe de enfermagem também eles apoiam durante todo

parto, seu processo de parto e eles podem também submeter vocês a algum tipo de violência

obstétrica então vocês podem denunciar no Coren, que aqui de Mato Grosso O que é o Conselho

Regional de Enfermagem de Mato Grosso, pode denunciar no CRM, que ao conselho de

medicina e por causa, e em alguns casos você pode entrar com processo civil contra equipe, em

casos mais graves, que tem a prova se você pode entrar com processo civil por causa de

violência obstétrica é isso é denunciar, s falar sobre isso, é fazer roda de conversa e discutir

sobre a qualidade da assistência ao parto, se conscientizar do seu direito durante o parto né, os

deveres da equipe e seus direitos nesse processo, e se não for cumprido denunciar E por que

são vocês que passam por isso, né então eu estava seis para falarem da sua experiência.

Lohaine: Eu queria que vocês avaliassem as rodas, vocês podem falar uma palavra, pode

resumir um pouquinho sobre as experiências de vocês nessa roda, o que vocês acharam e podem

fazer sugestões de temas que vocês tem dúvidas né, que vocês acham que seria importante a

gente discutir aqui no grupo para as próximas, ta bom? Você Luciana?

Luciana: Eu?

Lohaine: é, vamos começar assim?

Luciana: Ah eu gostei da palestra e se eu puder quero vir mais vezes... se eu não ganhar até lá

né?

Bianca: Ah mais o próximo é de amamentação, a você trás o bebê

Lohaine: e você Bianca?

Bianca: Ah eu gostei nuito, e quero participar do próximo também.

Lohaine: Que bom!

G3: ah eu gostei também quero vir no próximo pra tirar mais dúvida da gente.

Lohaine: Alice?

Alice:Eu gostei, a gente fica sabendo de outras experiências de outras pessoas, porém eu fique

mais medo agora, mas entrou e vai ter que sair, com dor ou sem dor, mas é isso, eu fiquei com

medo.

Lohaine: Então me desculpe se eu te deixei com mais medo, mas se a gente não sabe o que está

acontecendo, a gente não consegue avaliar como a gente tá, entendeu? infelizmente essa é a

realidade do que se está sendo o processo de parto aqui no Brasil, então a gente vai ter que

discutir sobre isso pra gente tentar melhorar.

G5: Eu gostei, quero participar mais.

ACS 7: Eu gostei e assim você conversou bastante com a gente né, tirou bastante as nossas

dúvidas e que a gente continue assim.

Page 136: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

131

Lohaine: que bom.

ACS 8: Eu não tava aqui né...

Lohaine: Não, fale o que você achou da roda né, avalie assim...

ACS 8: Aaah maravilhoso, tirou até minhas dúvidas também, creio que assim como eu, creio

que todos tem dúvidas ainda né, então tem que continuar bem mais tempo... era bom se tivesse

mais gestante né, mais infelizmente...

Lohaine: é mais, pensa pelo lado positivo, essa reunião teve mais gestantes que as rodas

anteriores, a gente vai aumentando aos poucos!

- Coro concordando com a afirmação.

Lohaine: é mais, pensa pelo lado positivo, essa reunião teve mais gestantes que as rodas

anteriores, a gente vai aumentando aos poucos!

- Coro concordando com a afirmação.

ACS 6: Seria bem se aquelas que são mães de primeira viagem, participarem né...

ACS 7: Mais uma vai passando pra outra né...

ACS 8: Eu to com uma gestante que tem 14 anos, eu chamei ela... Mas só que é aquela coisa,

dorme ateééé... Aproveita enquanto o bebê não nasceu, porque depois...

Lohaine: Na hora de marcar a reunião a gente tem essa dúvida né... faz de manhã que é mais

fresco, é melhor pras gestantes né pra ir para unidade, ou faz a tarde que elas podem dormir até

um pouquinho mais tarde ? sempre essa dúvida!

ACS 5: eu estou gostando muito dessa troca de experiência…

ACS 8: é que ela quer ser mãe também!

- risos

ACS 3: eu gostei também, foi muito bom, mesmo eu sendo vó já né mas o conhecimento é

sempre útil. principalmente para elas que é a primeira vez né.

Lohaine: é mas vocês como agente de saúde, vocês também podem ajudar a formar essa

gestantes, elas tem um monte de pergunta para vocês com certeza

ACS 7: eu acho assim né que é muito bom essas palestras e quanto mais gestantes melhor,

porque antigamente a gente só fazia para Natal né, não tinha essa palestras boas, por quê aqui

tivemos filhos todos jovens, agora tá velho né, então a gente não tinha essa experiência que

hoje nós temos, também as dúvidas né, porque se tivesse isso antigamente, a gente não, como

ela disse, Você pode até falar que vai sair com medo mas tenho mais experiência do que tá

falando, do que tá acontecendo com você através da experiência das outras né, que às vezes

você pensa que vai ser daquela forma, com dor, mas às vezes nem vai ser né, e nós antes tinha

muito medo né, sem nada, só aquela o médico ia e falava tá o dia, tal hora e fazia, não era bom

Igual essa que você vai atrás conhece as pessoas, você tem essa troca de experiência, é o que

eu acho, sei lá é que eu gostei muito, tô gostando dessas palestras.

Lohaine: que bom

ACS 10: eu adoro rodas de conversas, porque aqui uma troca de experiências, às vezes aquelas

dúvidas que você tem em casa, ou no momento da consulta você esquece aqui você pode tá

tirando, e a gente aprende muito com a experiência do outro, a gente aprende mais com a

experiência do outro do que com a gente, então é maravilhoso, que continue assim sim que

vocês continue com a gente, e se ter o bebê, vai ter de amamentação não parou ali, só começa

a estrada então tem muita coisa para gente conversar.

ACS 2: Eu também achei ótimo, mais uma coisa que sim, porque eu tinha dúvida sobre essa

marca da minha neta então, E aí agora eu não vou guardar isso não, sabe porquê? Porque essa

marca que ela tem, ela era bem vermelhinha assim né, de vez em quando ela some, de vez em

quando ela volta, então assim, e já pensei assim eu acho que eu vou fazer um exame, porque eu

pensava que alguma coisa aconteceu né;

Page 137: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

132

Lohaine: então né Pode ser que seja marca de nascença mesmo, eu tenho uma aqui no joelho,

nem sei qual que é o joelho nesse momento, que ela também é assim ela é vermelha às vezes

ela tá fraquinha que quase some, às vezes ela tá bem forte e como você falou ela já tem 17 anos

pelo então, mas mesmo assim 7 anos se fosse uma lesão de fato seria um hematoma e já teria

sumido entendeu, às vezes como ela falou é uma lesão em osso ou nervo, Aí sim tem sequelas,

mas é matou mas tinha que ter sumido já ponto a manchinha não é do parto em si.

ACS 2: então eu fiquei preocupada porque ela é bem vermelhinha e quando ela some, fico

preocupada.

Lohaine: entendi

ACS 6: eu gostei porque nós agente de saúde tem que saber para poder orientar a gestantes, e

essas conhecimentos que a gente tem, vai poder passar para elas, a gente se atualiza né porque

que sempre sai coisas novas e a gente não sabe né.

Lohaine: que bom né

G6: eu gostei, aprende mais por quê eu não sabia agora eu sei.

Lohaine: Que bom , fico muito feliz. Gente muito obrigado pela presença de todos vocês,

espero vocês aqui na próxima reunião que vai ser sobre amamentação e pós parto tá bom e

agora eu trouxe um lanche para gente.

TRANSCRIÇÃO DA 3° RODA DE CONVERSA

TEMA: PÓS-PARTO E AMAMENTAÇÃO

DATA: 21/08 – DURAÇÃO: 1:21:03 S

Lohaine: Bom dia meninas, meu nome é Lohaine sou enfermeira e faço mestrado na UFMT, e

eu tô trabalhando com gestantes né, e esse faz parte do meu projeto que vai ser a minha

dissertação de mestrado, eu trabalho final do mestrado, eu vou explicar um pouquinho para

vocês, para vocês entenderem, acho que nenhuma de vocês participou dessas reuniões, a gente

vem tendo algumas já algum tempo e eu, a gente tá trabalhando a depressão pós-parto, mas

como a gente sempre quer prevenir do que tratar a gente tá fazendo um projeto já com gestantes

para gente tentar diminuir os riscos desenvolver a depressão pós-parto, e como que isso

acontece? de acordo com estudos de diversas pessoas ela já vão falar para mim Quais são os

fatores que podem ajudar a mulher a ficar deprimida, depressiva depois que o bebê nasce e aí

com base nesses estudos a gente tá construindo reuniões para discutir esses assuntos, até esse

momento já foi sobre maternidade, o peso da Maternidade as mudanças do cenário, como a

mulher se enxerga e como a sociedade passa a enxergar ela, porque que é importante esse

processo de refletir sobre o seu papel de mãe né no novo momento, aí depois a gente conversou

também sobre parto, sobre a qualidade do parto, que é violência obstétrica , tirando dúvidas

sobre como é que faz para vocês terem acesso aos seus direitos, quais são os direitos que você

tem no hospital durante o seu parto? E a gente já conversou sobre isso, hoje na reunião a gente

vai conversar um pouquinho sobre amamentação e pós parto mesmo, porque? Porque ao

momento de muita mudança para vocês, mesmo você já tendo filhos eu sempre falo "você sabe

ser mãe para o filho que já nasceu, para o filho que já vai nascer você tem que aprender" Por

que uma pessoa diferente então você vai ter que ser uma mãe diferente né, então é o momento

de muita mudança é um momento de muito stress, que você cuidar do bebê recém-nascido, de

você se adaptar ao beber e ele se adaptar a você, então a gente vai estar conversando sobre isso

um pouquinho, mas primeiro eu queria que vocês se apresentasse para gente.

G7: meu nome é G7

Lohaine: Oi G7, é seu primeiro bebê?

G7: não, é o terceiro

Page 138: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

133

Lohaine: terceiro? Você tá de quantas semanas?

G7: 21, 21 e 2 dias

Lohaine: E você já sabe o que é?

G7: menina

G4: bom, meu nome é G4, tenho 29 anos e tenho um casal de filhos já e tô grávida de 7 meses,

31 semanas.

G8: eu sou G8

Lohaine: É eu vi a sua ficha, Você não é daqui né?

G8: não, Venezuela

Lohaine: legal, e você?

G9: meu nome é G9, é o terceiro filho e é complicado, e tô de 16 semanas.

ACS 3: eu sou ACS 3, agente de saúde.

ACS 1: eu sou ACS 1 agente de saúde

Bianca: Bianca e tô de 35 semanas

Lohaine: também já tá perto

Bianca: caminhando

ACS 3: eu queria saber uma coisa, Posso te procurar? tinha uma gestante na minha microárea

que ela queria saber, que tinha o dinheiro, se você fizesse o pré-natal certinho você recebi um

dinheiro, aí eu quero que você explica porque eu não tô sabendo explicar esse aí não.

Lohaine: isso, antigamente, muito tempo atrás tinha um projeto que se você fizesse o pré-natal

e todas as consultas você tinha direito a ganhar um kit maternidade, eu nem tá sabendo de

dinheiro, aí era uma bolsa que tinha algumas coisinhas dentro do Kit para mãe, que a secretaria

de saúde que dava, que eu saiba, mas a muito tempo atrás que cortou isso e eu não sei de

dinheiro não.

ACS 1e: e sei que a ACS 3 tá falando, como vem o bolsa família para nós pesarmos as pessoas,

gestante que fizeram para Natal todo mês que recebe o bolsa família, tem que procurar o Cras

para se orientar sobre isso.

ACS 3: lá no Cras não faz, ela já procuraram o Cras e eles falaram que disse que tinha que vir

aqui, Aí terminou o Cras mandando lá na Caixa Econômica levando a caderneta.

ACS 1: então vai ter que chamar a Fátima para tirar dúvida Para nós

Bianca: não seria o salário maternidade?

ACS 3: isso mais ou menos, eu sei que…

ACS 1: salário maternidade quem tem carteira assinada tem direito a receber né?

Lohaine: uhum

ACS 1: agora esse que vinha juntamente com bolsa família, nós achamos estranho, mas aí para

tirar dúvida de vocês tem que ser enfermeira chama ela lá ACS 3.

Lohaine: é ver com a Fátima porque eu não estou por dentro disso

ACS 1: Qual é o seu endereço?

Bianca: aqui no Jardim Florianópolis

ACS 1e: qual rua?

Bianca: Rua 22 Quadra 91.

ACS 1e: não tem agente de saúde né? eu acho que a Néia, Néia que vai ser se a gente. E você?

G9: Quadra 1 da Rua 21

ACS 1e: é a Neire, e você moça?

G4: na Rua 22 aqui em cima, Quadra 95

ACS 1e: não tem a gente e você? Eu liguei para todas ontem?

- chega mais pessoas para roda

Lohaine: deixa eu pegar mais cadeiras lá dentro

- conversas paralelas até as novatas sentarem.

Page 139: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

134

Lohaine: então, eu fiquei pensando em como a gente ia começar a discutir isso, aí eu, para a

gente entender mais ou menos o que vamos conversar aqui, eu trouxe Um textinho de um

depoimento de uma mãe que também tá passando pelo pós-parto.

-A gestantes ainda continuam se ajeitando nas cadeiras

Lohaine: seu nome? Você não se apresentou

G10: G10

Lohaine: você tá de quantas semanas?

G10: esse negócio de semanas eu não entendo não, mas há 5 meses, toda vez eu me confundo

com essas semanas.

Lohaine: é o seu primeiro bebê?

G10: não é o terceira

Lohaine: terceiro? Então uma menininha?

G10: é uma menina

Lohaine: e você?

G5: G5

Lohaine: G5 você tá de quantos meses?

G5: vou fazer 38 semanas

Lohaine: Nossa tá bem aí já, e você?

G11: eu sou G11

Lohaine: quantas semanas G11?

G11: 21

Lohaine: 21? Não tem barriga nenhuma

- várias gestantes concordam e riem

Lohaine: então aí eu trouxe para vocês uma, um relato de uma mãe né no pós-parto para gente

só iniciar mais ou menos a conversa, depois disso eu vou abrir para a gente tirar dúvida, é uma

conversa mesmo, uma roda de conversa, a gente tá aqui para tirar dúvida para compartilhar

experiência, o que vocês quiserem falar sobre amamentação e pós parto tá bom?

Meu relato PÓS PARTO Isso mesmo, você não leu errado, meu relato é PÓS PARTO, até

porque toda minha gravidez, desde o momento em que soube até o dia do nascimento, foi tudo

mágico, tão mágico que não senti nem a dor da tão temida anestesia.

Tive meu bebê, tudo lindo e maravilhoso e então aquele vislumbre da maternidade começa a

desaparecer. Primeira decepção é eu não me lembrar da primeira mamada do meu bebê, só sei

que fiz isso porque tem fotos que registraram esse momento, momento este tão adorado pelas

novas mamães, onde estas se sentem tão realizadas. Pois é, não lembro.

Antes de ter alta, a enfermeira me alertou que quando meu leite descesse eu sentiria dor, mas

eu estava cética de que não sentiria, pois estimulei meu seio durante toda a gravidez, meu bebê

mamou no hospital e eu não senti dor! Bobinha, não sabia o que me esperava.

Chegamos em casa, a primeira noite foi tranquila, meu bebê não chorava, não tinha cólicas, era

um anjo! Mamava de mais (o colostro é claro) e eu lembrando da enfermeira e rindo “nem ta

doendo kkkk”. Primeiro dia em casa, um sucesso!!!! No dia seguinte, dia as mães, meus pontos

não doíam, andava normalmente dentro de casa, nada de andar encurvada, estava ereta, bem,

parecia que tinha feito parto normal, estava tudo ótimo até que meu bebê sentiu fome, e quando

ele abocanhou meu peito, SENHOR!!!! O que foi aquilo???? Que dor é essa? Eu não deveria ta

sentindo isso!!! Mas estava, toda mãe sente! Ahh e descobri também que não importa se é o

primeiro, segundo ou terceiro filho. SEMPRE VAI DOER. Mas essa dor tem um fim, e o meu

fim chegou ao longo de 5 dias. 5 dias achando que perderia meus mamilos!

Primeira semana, ok!

Entramos na segunda semana, e o anjinho que vivia dormindo e só acordava para mamar,

começa a ter cólicas! CÓLICAS! Um choro sem fim, um choro agoniante. Ahh e tem mais,

Page 140: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

135

você fica tão nervosa, desesperada, tentando fazer de tudo para o bebe ficar quieto e ele não

fica quieto com você! (o nosso desespero, nervosismo, estresse, passa para o bebê, pois é).

Então, minha mãe pegava ele e como num passe de mágica, ele cessava o choro.

E eu? EU me sentia a pior das mães, a pior das mulheres. E é nessa hora que tudo de ruim passa

na cabeça. “Será que eu deveria ter engravidado?”, “Será que sirvo pra ser mãe?”, “Por que ele

não fica quieto comigo?”, “Ele não gosta de mim!”.

Além de tudo isso, sabe aquela ligação da mãe com o filho, onde ele é o MAIOR amor da vida

dela, e ninguém mais importa? Sabe? Então, eu não tive! Não conseguia sentir essa ligação. Na

minha cabeça passavam vários sentimentos, um turbilhão de pensamentos e olha que nem falei

da Depressão Pós Parto. Pois é, ainda passei por isso.

Lembra que eu disse que minha gravidez foi mágica? Então, foi tão boa que eu não queria

deixar de estar grávida. A barriga saiu, o bebê nasceu, era pra eu estar maravilhada com o meu

filho nos braços. Mas eu estava triste, queria minha barriga de volta. Não queria nem ver fotos

da minha linda barriga que eu começava a chorar. E não pense que foi só uma semana nessa

melancolia. Achei que nunca fosse sair desse estado, mas saí. Não deixei meus pensamentos

me dominarem. Lutei e Venci! “Mas fique calma, tudo passa!” Isso era o que minha mãe e meu

esposo diziam. Mas na minha cabeça isso não ia passar nunca!

Até que após os 40 dias de resguardo tudo mudou, como se fosse da água para o vinho. As

cólicas acabaram, meus seios já não doíam mais e meu bebê não chorava incessantemente.

Aquela ligação que toda mulher diz ter, comecei a sentir, um dia de cada vez! E aquela mãe que

mal conversava com seu bebê, já estava cantando e fazendo rimas durante o banho dele. Ele fez

2 meses e começou a sorrir! Meu coração se encheu de orgulho! “Sou a mãe mais feliz do

mundo!” assim eu pensei.

Cada dia uma nova descoberta! E estamos nos descobrindo juntos. Filho não vem com manual

de instrução né?! Hoje não me vejo sem meu filhote!!!! E como minha mãe disse: Tudo passa!

Fica tranquila que tudo passa! E realmente passa, passa rápido de mais. Hoje ele é um bebê,

que cabe em meus braços, mas amanhã será um homem!

Hoje eu digo: nasceu um bebê próximo à você? Não visite, não visite O bebê. Visite a mãe do

bebê! Converse, se distraia, faça com que ela se desligue um pouco desse começo tão

estressante.

Se eu soubesse antes de como tudo é tão cansativo e de como ficamos louca nas primeiras

semanas, certamente teria visitado às mamães próximas de mim mais vezes!!!

Eu escolhi esse, mas a gente tem diversos relatos de Mães, nas redes sociais e tal e a gente

resolveu conversar um pouco sobre eles por que o momento que a gente não se preparam né, a

gente se prepara para o parto, a gente começa a pensar como vai ser o parto, Vamos pensar

enxoval, vamos pensar em fraldas, mas a gente não pensa em amamentação, exemplo: quem

que você tem costume de tomar sol no peito.

- todas permanecem em silêncio

Lohaine: e isso é uma das coisas mais indicadas para fortalecer a mama e evitar que Rache o

bico do peito na hora que vocês amamenta e é muito eficaz, uma coisa muito boa de se fazer,

vocês tomarem sol no peito, e ninguém fala sobre isso, a gente vai se preocupar com a qualidade

da amamentação, vai se preocupar com peito dolorido quando ele já tá todo machucado, antes

disso a gente não pensa né, então vocês que são mãe tem alguma experiência para compartilhar

com a gente? Como é que foi, quando amamentaram quando tiver um bebê, Como foi o que

fosse parto de vocês?

G10 : na minha segunda gestação tive, eu sofri bastante nos meus dois seios, eu tinha que dar

de mamar mordendo o pano assim por que era insuportável, firiu tudo, a bebê a mamar É sim

Page 141: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

136

eu não tava aguentando, eu tinha que morder e passar, eu passava tudo quanto é remédio mas

não adiantava, porque quando tava sarando um pouquinho e lá vinha neném de novo mamar,

machucava tudo de novo, mas eu sofri bastante amamentação no primeiro eu não senti nada,

mas na segunda sofri bastante na amamentação, essa que nem nasceu e já estou sofrendo desde

agora, é uma salivação, é enjoo, é fraqueza, é tudo, tô de cinco meses mas Deus me livre o que

eu não senti nas outras eu tô sentindo tudo nessa, agora mesmo antes de vir eu tava lá com

tontura, querendo desmaiar para vir para cá, tudo que eu não passei nas outras tô passando

nessa, aí eu já tô imaginando depois quando eu ganhar como é que vai ser, porque eu já sei que

eu sofri na segunda e as duas cesáreas, e essa com certeza vai ser a cesária de novo porque eu

vou operar, aí eu já tô preparando para como vai ser depois.

G4: A minha foi tranquila, eu já tenho dois filhos e tem uma que nasceu de sete meses mas foi

tudo tranquilo graças a Deus, os meus peitos não acharam e nenhuma das duas, e eu dei graças

a Deus, porque eu vejo bastante isso, principalmente esse fator dos peitos, só que aí teve

Episódio com a minha neném e ela arrotou, e começou a ficar roxo, aí eu falei "Que negócio é

esse?" Parece que eu levei um murro, parece que alguém veio e deu uma pancada no meu peito,

aí que falaram que o neném arrotou no seu peito, mas eu não vi pode ser que eu tava tipo

dormindo, dei mamar para ela e não percebi que ela tinha voltado, aí ficou com os hematomas

roxo e começou a empedrar meu peito, quem não tem experiência não deixa a criança arrotar

no peito porque empedra e dói bastante, parece que alguém deu uma pancada no meu peito, aí

ela me orientou que era para dar mamar ao contrário, com os pés do lado que ela botou, aí eu

fiz isso graças a Deus passou, só foi isso também .

Lohaine: é simpatias né que fazem, de antigo né.

G4: já as crianças foram aquelas que tinham alguma cólica, não foram aquelas crianças que

choraram bastante, mas teve alguns Episódios, dois ou três só mas graças a Deus eu não sofri

muito, nem eu e nem eles Porque têm mulheres, que sofre bastante depois que tem neném né,

mas eu não tive foi tudo tranquilo graças a Deus.

ACS 1: então, a Fátima mandou dizer que agora não dá para ela vir, só que quem tem a bolsa

família tem que ir lá no Cras, tem que ir lá, só quem tem a bolsa família, eles lá que tem que

decidir sobre assunto aí.

Lohaine esse ponto é aqui a gente não faz mesmo

ACS 1: tem que ir lá.

Lohaine: tá bom, e você G3 que tá amamentando agora

G3: a, já tá rachada bico do meu peito, tá doendo.

Lohaine: tá rachado já? Tá sofrendo?

G3: Bastante

Lohaine: ele nasceu quando?

G3: dia 16

Lohaine: tem um tempinho mesmo tá dando para ficar machucado, e o leite já desceu?

G3: Já desceu já

Bianca: ele nasceu de 9 meses porque você tava com menos que eu

G3: não, 38 semanas, Por que deu pressão alta em mim né, deu começo de eclâmpsia, deu

hemorragia de novo, aí eu parto ia ser induzido mas graças a Deus, eu senti dor natural e nasceu.

Lohaine: nasceu normal?

G3: Normal

Lohaine: que bom Era o que você queria né

G3: aham, eu sofri de novo, sofri mais mas graças a Deus nasceu normal

Bianca: mas bom que deu tudo certo né

G3: Graças a Deus

Lohaine: que nem ela tava falando tem um monte de coisas antigas que tem né, falando sobre

essas coisas de amamentar, de alimentação para melhorar, aumentar a quantidade de leite, e eu

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137

falo, eu não deixo de acreditar né, Ainda mais se for coisas que não fazem mal a você e nem ao

seu bebê, Por que é que eu como profissional de saúde vou intervir nisso, exemplo: Qual é o

porquê de eu falar para você que você não pode tomar canjica enquanto tá amamentando,

porque você acredita que aumenta a quantidade de leite né, vai produzir uma maior quantidade

de leite, porque é que eu vou falar para você que não, isso não acontece sendo que não vai fazer

mal para você? Então tome canjica , comam bolo de milho, como o milho eu acho que não tem,

a única coisa que lembre-se do peso, se vocês comerem canjica todos os dia enquanto vocês

amamentam logo vão estar rolando porque engordam, mas o que a gente recomenda para

aumentar a produção de leite para vocês? Muita água muita água, porque a base do leite é água

então se vocês tomam bastante água agora, dobra em isso, toma bastante água, se alimenta em

bem, não é recomendado pelo Ministério da Saúde que vocês façam dietas restritivas agora para

perder peso logo depois que vocês têm bebê por quê, se vocês amamentarem de forma correta

automaticamente vocês vão perder peso, vocês sabiam que uma mulher gasta mais de 4000

calorias por dia só para poder leite?

G3: eu já perdi 6 kg

Lohaine: 6 kg e sem fazer dieta né, você comendo bem?

G3: Sem fazer dieta

Lohaine: por que a própria amamentação emagrece, então se alimenta bem né porque também

ajuda na produção de leite, então uma alimentação variada, com feijão, podem comer feijão sim

falou assim “ah feijão dá cólicas para o bebê" gente assim como nosso organismo é diferente o

organismo da criança também é, tem criança que vai morrer de cólica se a mãe comer feijão,

mas tem criança que não, mas como é que vocês vão saber disso? Experimentando, então a

nossa recomendação é mantém a alimentação de vocês, se vocês notaram que o bebê teve mais

cólica aí vocês param e pensa "O que é que eu comi hoje que pode ter causado cólica nesse

neném? "aí vocês diminuem aquilo dali, diminui a quantidade, mas não faça uma dieta

restritiva, tira um monte de coisa desde o início sendo que você não sabe como o bebê vai se

comportar o que é que vai dar cólica que não vai dar, como e sempre fiquem de olho "a hoje o

meu bebê teve mais cólica que o normal, ele chorou muito com cólica, o que eu comi hoje, ou

o que eu comi ontem à noite que pode ter causado isso?” E vocês vão fazendo esse recordatorio,

"Ah eu comi tal coisa, eu comi bastante feijão ontem então pode ser que seja isso "então na

próxima refeição eu diminuo a quantidade de feijão, se ele tiver a mesma quantidade de cólica

então não foi o feijão, Pode ser que seja outra coisa, "o que mais eu comi ontem?" e vocês vão

fazendo esse exercício Por que um bebê diferente de outro, Às vezes tem mães que falam "eu

comi e meu bebê Teve muita cólica se eu comesse arroz"e a maioria dos bebês não dá cólica se

comer arroz, se a gente for tirar da nossa alimentação tudo que pode dar cólica para o bebê,

vocês vão passar fome , então só observa, em relação o que vocês comerem depois do pós-

parto, e como bem, mantenho a alimentação que vocês estão acostumados tá, então comam

bem o que vocês têm costume de comer, arroz, feijão, carne, prezem por comer algum tipo de

salada todos os dias né, porque isso vai ser tudo importante para quantidade de leite que vocês

vão produzir durante o pós-parto tá.

ACS 8: é igual tipo assim, na minha família só come galinha caipira com fubá de milho, só

isso até os oito dias, é tipo uma hierarquia não tem, na minha família, foi desde a minha bisavó

e na minha família se tornou uma regra, você não pode comer nada além, nada dessas coisas

porque é reboso, Então é só galinha caipira com fubá de milho que ela faz os oito dias, isso é

de família.

Lohaine: Sim, e isso aí tradição né, uma coisa tradicional da sua família né, que vem passando,

tipo não tem nenhuma evidência científica mas como a minha bisavó fez, a minha avó fez, a

minha mãe fez, eu faço.

ACS 8: é, a minha avó fez, a minha mãe fez, e vai passando.

ACS 3: é como ela falou também, a gente não pode interferir se não tá fazendo mal.

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138

ACS 8: não, graças a Deus nunca fez, até porque o fubá todo mundo sabe o que é bom para

produção de leite, é bom também né, aí a galinha caipira, nada de granja só caipira.

Lohaine: mas assim o fubá também engorda você sabe disso né, bastante entendeu, então você

sempre tem que pensar nisso, porque tem um monte de coisa que as pessoas falam “Ah isso

aqui aumenta a produção de leite "que também engorda muito a mãe, depois vocês fazem, que

nem você, fazem 7 dias disso e depois no resto querem fazer uma dieta mais restritiva para

tentar perdeu o peso que ganhou na gestação né, então a gente sempre tem que Balancear,

se isso é da sua família vocês acham importante fazer, tudo bem façam, mas depois vocês têm

que entender que vocês vão ter que tomar cuidado com a alimentação se vocês quiserem voltar

o peso que vocês tinham antes de engravidar, o que é o desejo de todas as mulheres né.

-risos

G3: eu já coloco bastante toalha com água quente assim (mostrando a região dos seios) para

poder produzir bastante leite, depois que eu tomo banho para descer o leite.

Lohaine: sim é bom, principalmente como a mama tá dolorida a compressa de água quente é

muito boa para vocês colocar, coloca pega uma fraldinha né, torce deixa ela bem morna e coloca

e nos seios, realmente ela ajuda bastante tanto para aliviar ador quanto para ajudar a descer o

leite, porque às vezes vocês ficam com a mama muito cheia e dói muito, e você coloca

compressa logo peito vai vazando Leite, eles faziam um pouco sozinho Justamente por isso que

melhora um pouco da dor nos seios quando isso acontece, quando ele vai empedrando. E vocês

sabem como fazer para evitar que o leite empedre? As técnicas?

Bianca: tipo massagem? Eu só sei esse tipo massagear né, tipo assim, como ela disse banhar na

água morna e massageando, foi a doutora que ensinou isso porque quando acontecesse no meu

peito Aí a médica falou que era para fazer isso.

Lohaine: sim a massagem é muito importante, isso é quando já está empedrado, para vocês

evitar que impedre é importante que o bebê esvazie a mama, então coloca ele para mamar

Coloca ele do lado dos peito e deixa ele mamar até parar, ele parou, você vê que o peito ainda

tá cheio, vocês fiquem cuidando, geralmente o bebê esvazia, se eles basear e você vê que ele

ainda tá com fome vocês trocam de mama e da outra mama, aí ele vai dormir e quando ele tiver

com fome de novo Você volta na última mama que você deu, porque ela tem que esvaziar

também, então é importante você sempre lembrar que a Mama tem que esvaziar, e quanto mais

o bebê esvazia a mama mais leite você vai produzir Por que automaticamente o cérebro, o

nosso corpo vai falar para o cérebro “O leite está sendo pouco para o bebê produz mais” então

quanto mais ele secar a mama mesmo mas leite e vocês vão produzir, porque o corpo vai

entender que ele precisa de mais leite, então se você deu as duas mamas, na próxima mamada

que você deu por último, que nós esvaziou completamente, se você só deu Uma mama e você

viu que ele não vazio totalmente, mas ficou flácida, na próxima mamada você dá já no outro

peito, entendeu? Vai rezando, cada mamada você dá um peito para que os dois esvaziem da

mesma forma, assim como o leite não fica ali nessa mama bastante tempo o risco de empedrar

esse Leite a menor, porque se empedra realmente é muito dolorido, é muito ruim para mãe,

então toma cuidado.

G3: no caso, se tiver empedrado pode dar o aquele leite para o neném ou pode?

Lohaine: então, geralmente indica que você pode dar sim porque ele mamando vai esvaziar e

vai te ajudar só que é muito dolorido, então se vocês também conseguirem, exemplo se vocês

verem que o peito tá muito dolorido, tá muito cheio e o bebê não quer mamar, podem esvaziar

e joga fora, ou guardar se vocês quiserem doar.

G3: porque falaram para mim que depois de um dia estraga o leite, mas eu falei dentro do peito

vai estragar o leite como?

Lohaine: não não, eles indicam que pode dar sim, que até o bebê mamar ajuda desempedrar. o

que não pode é quando você fica com a mão em pedrada e fica muito peito sem dar de mamar

para o bebê, exemplo 3 dias, esse Leite parado três dias no peito empedrado aí é bom você tirar

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bastante e depois dá mama para o bebê, e tudo isso ajuda vocês evitar, outra coisa que ajuda

bastante né cicatrização da mama quando ela tá machucada, o próprio leite do peito, quando

tiver muito machucado vocês evitem os sutiã e depois que o bebê termina de mamar Pegue um

pouco do leite e passe toda a auréola, no bico do peito e toda a auréola, o próprio leite materno

ajuda a cicatrizar o machucado de rachado essas coisas, então passa o bastante, mas só que não

deixem ele abafado, exemplo se vocês usam aqueles absorvente que coloca no bico do peito?

eu sei que aquilo ali é muito útil Quando vocês vão sair, porque não deixa vazar e não mancha

roupa, mas quando você estiver em casa evitem os aquele lá porque ele abafa o bico do peito,

aí Se vocês deixarem o bico do peito úmido e aqui com aquilo ali abafando ele vai machucar

certeza certeza que ele vai machucar, então se você estiver em casa evitem usar aquele

absorvente, passem o leite no bico do peito que ele vai ajudar a cicatrizar se tiver machucado

e deixa ele respirar tá ponto de interrogação se vocês quiserem até, vocês podem passar o leite

no bico do peito para tomar sol no peito, porque o sol tem vitamina D, e e vitamina D é ótima

cicatrizante é ótimo para fortalecer a mama para que não machuque tanto então se vocês

tiverem, no quarto de vocês pega uma festinha de sol, coloca uma cadeira lá para vocês

tomarem um pouco que é bom. a sala e tal qualquer cômodo da casa né que vocês tiverem, que

vocês consigam.

G5: não tem nem como lá em casa é cheio de gente e o quarto não tem porta pronto

G3: lá no fundo do quintal

Lohaine 2 pontos o quanto vocês conseguirem, também não é assim tantas horas todos os dias,

é o quanto vocês conseguirem tomar um pouquinho de sol no peito já ajuda e já importante

então tem que fazer mesmo que seja uma vez ou duas vezes tá ótimo já. E você já decidiram

um tipo de parte que vocês querem? A Bianca eu sei que é normal, Ela já me disse.

Bianca: é normal

Lohaine: e você?

G7: Normal também, eu acho melhor porque ganha aí já tá boa né Graças a Deus

G3: já tá andando né

G7: já tá andando faz é tudo, essa que é a vantagem.

Lohaine: e o seu bebê G3 está com quantos dias?

G3: hoje está fazendo 4

Lohaine: 4 dias só?

ACS 1: Que bom que você veio eu liguei ontem para avisar para você vir hoje né

G3: é foi o meu pai, é que ele Nasceu de madrugada então Hoje faz 4 dias

G4: e as coisas que Não pode quando está gestante?

Lohaine: quando está gestante?

G4: é, por exemplo não poder tomar café, não pode comer nada que tem pimenta, não pode

comer chocolate, Nossa eles falou um monte de coisa. tem um monte de coisa que não pode

porque diz que dá cólica.

Lohaine: então, é muita coisa de saber tradicional, que não tem evidência científica entendeu,

o que fala é que é cafeína automaticamente aumenta um monte de coisa de você que vai fazer

você ficar mais agitada, e automaticamente isso vai passar para o bebê, Por que o bebê Toma e

come tudo que você ingere, então se você tem uma alimentação rica em cafeína

automaticamente o bebê vai receber uma nutrição mais rica entre cafeína né e não tem nada que

fala para você

- ouvisse bastante conversa paralela entre o grupo.

Lohaine: é mais a quantidade

Bianca: não pode ser exagerado né

Lohaine: Exato, café também aumenta a pressão de "a minha mãe é hipertensa, meu pai é

hipertenso, eu tenho um histórico a minha família tem bastante hipertensão "aí Evita mais né,

se você não tem uma xícara de café no começo do dia não vai te fazer mal.

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G9: Ah eu quase não estou mais tomando café

Lohaine: então, esse tipo de coisa né e a pimenta, é por causa que na gestação é muito comum

mulheres terem hemorróidas, por causa que aumenta o fluxo sanguíneo na região da pelve

justamente para vir mais de sangue e automaticamente mais o oxigênio e nutrientes para o bebê

então aqui nessa parte da gente vai ter mais sangue circulando Então os vasos ficam mais

sobrecarregados então é comum você ter gestantes ter hemorróidas né, e a pimenta piora o caso

da hemorróida, então é muito por causa disso também.

G5: é só que a maioria dessas pessoas falam que não é por causa disso, é porque se comer isso

fica com muita cólica depois que nasce ou então eles nascem assados, eu penso como que ele

já nascem assado gente?

- Risos

G3: O povo inventa cada coisa né meu Deus do céu.

Lohaine: não, aí já é muita crendice né né, muita coisa que as pessoas acreditam que não tem

fundamento né. e a cólica vai geralmente muito da alimentação, ou por causa da alimentação

da mãe ou por causa que ele tá engolindo muito ar durante a amamentação, Tipo quando ele

pega errado no peito aí ele vai mamando e vai engolindo ar, aí você tem muito vento na barriga

ele vai ter muita cólica, isso são os motivos do bebê ter cólica geralmente sabe, ou aí ele pode

ter uma doença né, porque tem crianças que nascem com problemas no trato gastrointestinal,

do intestino estômago, que podem causar mas isso daí são exceções, são poucos bebês, são

aqueles bebês que a mãe faz um monte de coisa, toma cuidado com amamentação, ele se

alimenta certo e ainda tem cólica, aí é importante você consultar um Pediatra e ele que vai ver

tudo isso vai examinar o bebê, mas isso são exceções são pouquíssimos, geralmente é a

alimentação e a pega errada, então como é que ele vai você já com cólica? Então isso daí é

muita credice, realmente muita crendice.

G3:Eu também pensava que o neném chorando assim era cólica, o médico falou não, criança

pequena se não tem cólica, pequena assim não ele falou,Aí eu fiquei assim porque já ia tacar

remédio no neném.

Lohaine: é bebezinho pequenininho não tem cólica, e outra coisa também é Porque dependendo

do que a gente come,, quando são coisas muito condimentados, exemplo Lanches, salsichas,

esses tipos de coisa que são muito condimentados e muito industrializados a gente tem que

lembrar que a barriga do neném, o estômago e o intestino não é igual o nosso, que já está grande

de desenvolvido, que consegue digerir essas coisas, o bebê não tem coisa que ele não consegue

digerir porque ele acabou de nascer, não tá completamente formado ainda, não tá forte o

suficiente então às vezes você come alguma coisa mais condimentado o bebê vai ter mais cólica

porque ele não tá conseguindo digerir aquilo né, então por isso que fala que na gestação, isso é

realmente importante, evitar coisa muito industrializada, refrigerantes, comidas mesmo fast-

food sabe, McDonald's esse tipo de coisas, salgadinhos,bolachinha recheada esse tipo de coisa,

que industrial industrializada por pode dificuldade em aqui, por mas ele pega os nutrientes da

bolacha os bons e os ruins entendeu? por isso que a gente fala isso é importante tio governo

consegue digerir geralmente não consegue digerir isso né. E sobre a amamentação, a pega,

Vocês já Conversaram sobre isso? Como é que o bebê tem que pegar? Como vocês sabem que

o bebê está mamando direito?

- Ninguém responde

Lohaine: então para vocês amamentar em primeiro no comecinho até vocês se acostumarem, é

bom vocês terem sempre um lugar que vocês vão sentar com as costas retas, é horrível vocês

amamentarem deitados, depois que vocês acostumarem aí vocês vão pegar o jeito e aí vai ser

tranquilo para vocês, mas no começo é horrível vocês amamentarem deitadas, porque o bebê

não vai conseguir pegar direito, ou então assim, o bebê também não consegue pegar direito,

então indicada que vocês sentem com as costas retas apoiadas, vocês vão pegar o bebê no colo

e vai encostar barriga com barriga, ele vai ficar totalmente voltado para você, aí ele vai colocar

Page 146: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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uma Milo na boca e ele tem que abocacanhar não só a pontinha do mamilo, ele tem que pegar

um pedaço da auréola, além do mamilo da outra parte do restante do bico do peito mesmo ele

tem que pegar boa parte disso, ele não vai colocar tudo na boca mas ele deve pegar boa

parte, quando vocês olharem a parte de baixo não vai aparecer quase nada da auréola, vai

aparecer mais em cima, mas embaixo ele vai pegar quase a auréola toda, aí ele tem que ficar

com a boca assim, os lábios para fora, a gente Fala boquinha de peixe, com os lápis assim,

quando eles mamam vocês tem que ver a bochecha cheia, eles não podem ficar assim, porque

eles estão forçando seu mamilo e vai acabar com os seus mamilos se vocês olharem eles

estiverem com a bochecha assim, então eles tem que ficar sempre com a bochecha cheia, por

que como que é amamentação? Não é assim eles sugando, bico do peito está aqui e eles vão

fazer assim, Vocês já viram um cachorrinho pequeno mamar? Gente desculpa a comparação

mas é igualzinho, vocês já olharam que eles ficam com a língua bem assim?

ACS 8: Já sim

Lohaine: Embaixo do peito da mãezinha dele,o bebê faz exatamente isso, ele pega aqui, ele vai

colocar a língua assim embaixo do mamilo e vai passar a língua embaixo do mamilo, só esse

movimento que estimula a liberar o leite, ele não suga, ele lambe entendeu, a parte de baixo do

mamilo, então se vocês sentirem uma pressão é porque ele tá pegando só o biquinho do peito e

isso que vai machucar demais o peito de vocês, então aí ele tem que ficar assim, pegar ele vai

fazer esse movimento e Buchecha sempre cheio, o queixo dele vai encostar no peito, ele vai

pegar aqui e o queixinho dele vai encostar no peito, e isso vai dar a firmeza para ele conseguir

fazer o movimento com os músculos da boca, por isso que eles vão encostar o que tinha no

peito de vocês, e tem um monte de mãe que fica assim segurando porque tem medo dele afogar

com peido, você já repararam que os nariz dos nenéns são mais lateralizados as narinas, porque

eles tem os Narizinho chatos, o que eles vão encostar isso aqui, às vezes isso aqui tá bem

encostado, que chega ficar assim ó, e nas beiradas passar entendeu? então eles respiram pelo

cantinho, Às vezes você olha e o bebê tá assim ó no bico do peito, você vê e fala meu Jesus ele

vai ele vai afogar, eles não vai respirar, mas ele respira aqui ó, pelo ladinho entendeu, então

por isso que tem um monte de mãe que ficam segurando o peito assim puxando, para

desencostar do nariz, não é necessário, só que tem aquelas mamas enormes mesmo, bem

flácidas, que isso pode acontecer, mas daqui ninguém de vocês não está nem perto disso, é

aquelas mamas assim gigantescas entendeu? Então não precisa ficar segurando a mama para

tirar do nariz do bebê, porque ele consegue respirar tranquilamente.

G3:Porque quando eu tô dando mamar para ele, ela fica bem assim ó "o nariz do neném "eu

falo que não precisa, ela fica falando que vai ficar chato

Lohaine: é ele fica bem assim, ele encosta né o Narizinho.

G3: éééé

Lohaine: que tudo isso melhora, então o que vocês fazem Quando sentirem que o bebê tá com

a pega incorreta? tira ele do peito, pode tirar mesmo, a gente indica que antes de você começar

e amamentar lavem as mãos, porque se você começar a movimentar e ver que eles tá pegando

errado, coloquem a pontinha do dedo na lateral da boca, aí ele vai soltar o peito, o bico do

peito, aí ele soltando vocês vão encaixo ele novamente entendeu? às vezes no comecei e vocês

vão ter que fazer cinco ou seis vezes antes deles conseguirem começar a mamar, mas é melhor

vocês fazerem isso do que vocês ferirem o bico do peito e depois sentir uma dor horrível para

amamentar tá então se vocês precisarem tirar eles, fazer ele soltar do bico do peito para vocês

colocarem ele de novo, façam, porque é bem melhor. então é importante que vocês tenham

paciência principalmente no começo, vai difícil até vocês conseguirem que eles acertem a pega,

Tem que bebê que de primeira ele acordou já pega no peito e mama como se ele tivesse a

mamada vida inteira, é super fácil, e tem bebê que não, tem bebê que vai ter muita dificuldade,

que não vai abrir a boca suficiente, que vai pegar só um pedacinho do mamilo “ Ah o meu

mamilo é muito grande para boca do neném” é um sofrimento, Então se isso acontecer com

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vocês, vocês verem que no comecinho o bebê tá com muita dificuldade, então esperem, tenham

paciência, respirem fundo que vocês conseguem. Mais alguma dúvida?

- silêncio

Lohaine: e sobre a cicatriz? do parto? vocês tem alguma dúvida? Sabe como higienizar tudo?

G7: cicatriz eu nem sei se eu tive

Lohaine: tipo tanto cicatriz de cesárea quanto, às vezes no parto normal você tem pequenas

lacerações, rompimento da pele do canal vaginal.

ACS 8: tipo pique?

Lohaine: não, e que é diferente, pique o médico que faz, ele chega lá com a tesoura e corta um

pedaço do músculo da sua pelve.

ACS 8: Esse é quando a criança é vem?

Lohaine: é, isso. E o pique hoje em é que violência obstétrica porque já tem estudos provando

que o pique nada faz, só prejudicar, quero ver um exemplo disso, peguem um elástico normal,

se vocês puxarem ele se estica né, a nossa musculatura exatamente assim, ela tem um monte

de filamentos que são interligados e quando você puxam ele esticam e voltam para o mesmo

lugar, sempre Estica e volta, e isso acontece no parto ele vai esticar esticar e depois de uns dias

ele volta ao normal e fica assim, Se vocês pegarem uma tesoura nesse elastico e derem um

corte, essa parte que cortou ele não vai perder elasticidade? se você puxar vai ficar o restante

que tá emendado, mas a parte que você cortou ela não estica mais de jeito nenhum, ela vai

perder totalmente, e é exatamente assim que acontece com o nosso músculo, quando eles fazem

pique músculo para de funcionar ele não vai esticar mais

G10: ele não vai esticar mais como era antes né de cortar

Lohaine: exatamente, então é por isso que hoje em dia o pique é considerado um a violência

obstétrica, ela não é mais recomendado em nenhum momento, aí quando nasce de parto normal

pode ter uma laceração, que é um rompimento da pele, mas são vários tipos de laceração, a

mais leve grau 1, a grau 2 que eu que pega além da pele superficial pega um pouquinho mais

fundo, e a grau 3 que atinge o músculo, o pique já é grau 3, se vocês tiverem o normal sem o

pique, pode ser grau 1, grau 2 ou grau 3, o pique já é grau 3 entendeu, então quer dizer que na

maioria das vezes, vocês vão ter lesões, tendo normal sem interferências, vou muito mais

fáceis de tratar e muito mais simples do que o pique, entendeu? que já é bem grave, uma das

mais graves.

G10: minha primeira eu tive 4, 4 pique que fala…

Lohaine: 4 pontos?

G10: é, 4 pontos, que na minha segunda já não, o bebê já veio espontâneo sem pique nenhum.

Lohaine: então, você teve o primeiro a bastante tempo né?

G10: já, meu filho tá com dois anos e quatro.

Lohaine: o último ou o primeiro?

G10: a minha filha, o primeiro tá com dois e quatro e a minha segunda que nasceu de 7 meses

tá com 1 e 3, na verdade eu engravidei dela eu ainda estava de resguardo dele, ele tava com

quatro meses para cinco.

Lohaine: entendi, então hoje em dia não é recomendado, às vezes pode acontecer de quando

o bebê nasce dá uma lesão, E às vezes nem precisa de ponto, porque foi superficial, não teve

nenhuma interferência e você nem precisa de ponto,mas às vezes eles falam "a deu

laceraçãoznha e a gente vai dar um pontinho”E isso pode ser desconfortável para mãe né, ou

pontinho no canal vaginal , E aí como é que vocês vão fazer para higienizar? Quando é esse

caso, vocês vão tomar banho lavar a região perianal, que é da vagina até o ânus, lavar bem essa

região, higienizar né com água e sabão normal, deixar bem sequinho, pronto se vocês, depois

de fazerem as necessidades de você, fazer xixi ou cocô vocês devem higienizar a área também

Até cicatrizar, por causa que é simples, aumenta o risco de infecção né, se tiver sujeira, se for

cesária é a mesma coisa, você tomou banho Lava bem a cicatriz com água e sabão, esfrega

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mesmo, aí seca bem e pronto. A mama Vocês não precisam, tem gente que diz que precisa

lavar o peito toda vez que for dar de mamar, mas não precisa é só tomar banho todos os dias,

quando tomar banho bastante água e sabão no bico do peito, lavar bem e pronto, isso é sua

suficiente amamentarem o bebê não precisa ficar lavando toda hora não, tá?

Bianca: eu trocava até de sutiã, tipo eu ficava trocando duas vezes no dia o sutiã, e lavava,

porque não sei parecia que ficava suja a mama né, Aí para dar mamar para beber.

Lohaine: não, não precisa não mas se vocês acharem que tem necessidade, se sentirem

desconfortável tudo bem trocar né, mas se vocês fazem isso achando que tá suja a mama que é

melhor para o bebê não é, ele vai mamar tranquilamente sem precisar fazer isso, você tava

falando, você falou alguma coisa, que não consigo….. aaaaah o resguardo! quando é que vocês

vão poder voltar a ter relações sexuais depois de ter o bebê né? E os métodos contraceptivos

depois do bebê,para vocês não correrem o risco de engravidar no resguardo né, porque eu tenho

certeza que você quer mãe é mais difícil cuidar de dois bebezinhos quase da mesma idade né

G10: muito

Lohaine: porque quando um nasceu o outro tava com mais um ano né

G10: tinha acabado de fazer um ano

Lohaine: então

G10: quando eu descobri fiquei assim "Você tem certeza?"ainda veio dois meses antes né

Lohaine: Pois é, e é muito difícil né. E outra coisa quando vocês tem um bebê o útero

geralmente demora até um ano para voltar ao que era inicialmente, 1 ano, ele vai diminuindo

aos poucos, vai voltando a elasticidade, vai refazendo as veias e tal, mas para você falar o

meu útero tá igualzinho a quando não tinha bebê é geralmente um ano, e se você não tá com

útero em perfeitas condições igual quando você não estava grávida, gravidez é mais de risco,

ela teve um bebê de 7 meses, por que o útero já passou…. por que imagina, o útero guarda

cerca de 300 ml de líquido normalmente, para quem não está grávida, 300 ml, ele é o tamanho

de uma pera, ele chega a ficar com 32 cm para guardar um bebê de 3 Kg, imagino o tamanho

que ele não fica, então é muito traumático para o útero o tanto que ele expande, ele fica enorme

né, ele fica várias e várias vezes do tamanho original dele, então é muito traumático, então ele

precisa de tempo para se recuperar e para voltar ao tamanho da natural dele né, então o que

isso significa? significa que se você engravidar com muito pouco tempo entre uma gestação e

outra às vezes o útero ele não consegue se recuperar totalmente, e a próxima gravidez pode ser

de risco, por isso que a gente indica que, se você teve o bebê esperem um ano para engravidar

novamente, E aí ela falando do resguardo eu pergunto quando é que vocês acham que podem

voltar a ter relações sexuais?

- silêncio

Lohaine: Quando você estiver em um bebê tanto normal quanto Cesário, vocês vão sangrar

depois por algumas semanas, vocês vão ficar direto sangrando, na primeira semana O fluxo vai

ser intenso igual como você estivesse menstruadas, sangue vermelho vivo com fluxo intenso,

depois isso vai diminuindo e a cor vai mudando para marrom, igual quando a gente tá

menstruada mesmo vai mudando e vai ficando amarronzado, vai diminuindo o fluxo, vai

ficando amarelado até parar de sangrar, porque quando a placenta sai, ela tá colada na parede

do útero e quando a placenta sai fica tipo um ferimento, e esse sangramento é o processo de

cicatrização dessa área entendeu, então vamos processo, Então se a gente tem uma lesão

automaticamente sexo pode levar microrganismos que podem inflamar, por isso que eles falam

que não podem fazer sexo nesse período, quando é que vocês podem fazer sexo depois,

geralmente indica a partir do momento que você parou de sangrar, se você parou de sangrar,

se você tiver vontade, você pode voltar a fazer sexo isso vai geralmente demorar em média 30

dias, para parto normal, para o parto cesário é um pouquinho mais uns 35 á um mês e meio

mais ou menos, o parto normal a menos dias de sangramento. aí tem algumas pessoas que dizem

“quem tá amamentando não engravida”

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G10: eu caí nessa, foi quase isso.

Lohaine: geralmente no comecinho quando você tava aumentando, ele realmente inibe a

ovulação, então se você não solta o óvulo você não engravida, Mas isso é no começo do pós-

parto, quando você tem uma movimentação exclusiva, você só amamenta o bebê, o bebê não

come mais nada, ele mama muito no peito, isso é mais fiel no primeiro mês, geralmente no

primeiro mês é muito difícil ela tá ovulando no primeiro mês após o parto, a partir de isso é

importante que você volte, se vai voltar até relação sexual, você volte a ter algum método

contraceptivo, Qual o método? Aí é vocês que decide, tem mulher que coloca DIU né, Você

conhece o Dil?

- Em coro algumas respondem não

Lohaine: não? O DIU é tipo um tezinho assim que você colocam já no útero, então sal médico

ou enfermeiro habilitado que coloca né, coloca no útero e ele vai tipo abrir e encaixar nas

trompas, e vai pedir a passagem do óvulo para o útero, por isso que não engravida.

G10: é eu quero colocar ele

Lohaine: é, é bom, o DIU é um método contraceptivo a longo prazo, então se vocês não

planejam, se vocês tem um bebê e não planejando engravidar tão cedo, cinco anos mais ou

menos, tenho DIU para 5 e tenho DIU para 10 anos, se vocês não planejam teu bebê nesse

tempo, ou então vocês não planejam mais ter bebê mas não querem fazer laqueadura ainda né,

que é ligar, vocês podem usar o DIU porque ele é um método contraceptivo bastante eficaz e

ele é a longo prazo, ele vai durar muito tempo, você colocou ele e esquece, ele vai ficar muito

tempo lá e você não precisa tomar mais nada, outro método contraceptivo na gestação é a

minipílula, e a camisinha, o preservativo, São esses os três métodos mais usado no pós-parto

e é importante que vocês, depois que vocês tenham primeiro mês de pós parto e vocês desejam

voltar a ter relações sexuais com os parceiros de vocês, você na unidade e converse com o

médico sobre como vocês vão fazer a sua prevenção, às vezes vocês querem ligar, então vocês

tem que fazer o planejamento familiar para pedir a laqueadura para você né, mas vocês tem

que voltar a cuidar para não engravidar.

Bianca: pelo SUS qual é a idade mínima, e quantos filhos você precisa para fazer laqueadura?

Lohaine: a laqueadura pelo SUS tá agora 25 anos ou dois filhos ou mais, então você mesmo

não tendo 25 mas já entra porque você tem três filhos.

Bianca: então eu já consigo?

Lohaine: Sim, aí você tem que vir aqui

G3: então eu também consigo?

Lohaine: Sim, pelos SUS sim, acho que está demorando mas Consegue sim, como você já tem

três filhos né, mesmo você não tendo a idade de 25 anos, você já consegue por causa dos três

filhos, Então você tem que vir aqui na consulta e falar que você deseja fazer o planejamento

familiar, aí eles vão começar o planejamento familiar vão fazer todo um processo, e vai para o

Cras né?(se Dirigindo as ACS)vai para o Cras lá falando lá, eles vão analisar vendo que a

família já é grande

Bianca: mas é depois que o bebê nasce ou na gravidez já pode?

ACS 1: você já pode falar com a Fátima para ela ver sobre, que é enfermeira daqui

Lohaine: é Já pode começar o processo, Antigamente era muito comum você fazer a cesária e

já ligava, hoje em dia já não se faz isso

ACS 1: tem que ter todo planejamento

Lohaine: exemplo, você vai fazer a cesárea ou vai ter o bebê e eles vão dar um prazo geralmente

eles pedem seis meses para você se recuperar, aí eles fazem a laqueadura, então é 25 anos ou

dois filhos Às vezes você já tem só um mas como você já tem 25 anos você pode começar a

fazer o planejamento familiar, para fazer laqueadura. Mas alguma dúvida? O que mais você

gostaria de saber?

- silêncio

Page 150: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

145

Lohaine: você gostaria de me perguntar sobre alguma coisa? Sobre o parto? Pode perguntar

também

Bianca: o meu é assim, por causa do DIU Meu medo é engravidar de novo porque já é o terceiro

e já tá bem difícil, aí eu tava pensando que eu fiquei sabendo que no Júlio Muller já tá colocando

logo depois do parto, aí meu medo é assim, como você falou o útero tá muito maior do tamanho

dele, aí coloca o DIU, assim não tem mais risco de infecção e inflamação?

Lohaine: não porque a colocação do DIU é todo esterilizada, Por que existem dois tipos de

DIU um que é o hormônio e o outro que é de cobre, o sistema único só fornece o DIU de cobre,

o dia de hormônio a gente tem que comprar, eles colocam, mas você compra e leva e eles

colocam lá, como é que funciona o DIU de cobre ele vai ficar provocando a parede do útero

que vai impedir ovulação entendeu

ACS 1: esse é o de cobre?

Lohaine: esse é o de cobre, ele vai causando essa pequena inflamação, isso vai evitar que

ovule, caso você venha ovular, ele tem que ficar na posição certa porque as alças dele impedem

o óvulo de passar, então no DIU de cobre é importante que ele fique no lugar certo, já o DIU

de hormônio ele vai ficar liberando pequenas quantidades que vai atuar só na região ali do útero

e vai impedir de ovular, então o DIU de hormônio não precisa exatamente estar na posição, Só

de ele estar lá já vai liberando os hormônios e automaticamente vai pedir que você o bule

entendeu? então eu não sei como é que funciona no Júlio Muller Mas eu acredito que lá eles

colocam esse de hormônio, mas eu não sei como é que funciona isso seria bom você se informar

lá entendeu? Porque eu realmente não vou te dar certeza qual é que eles colocam, porque eu

também fiquei sabendo que eles estão colocando DIU logo depois do parto.

G3: eu tive lá e ia colocar, só não coloquei por causa da hemorragia que deu em mim.

Lohaine: mas você ia colocar Qual o DIU? o que davam lá ou você comprou?

G3: que dava lá

Lohaine: então eles dão de cobre mesmo, deve ser algum método lá deles de colocar.

ACS 8: Deve ser mesmo mas eu ouvi essa história mesmo, que você tem que ter o bebê lá e

eles colocam depois do parto, de 48 horas após o parto até 72 horas para colocar.

Lohaine: legal

G3: o meu era até 48 horas que eles colocam

Lohaine: então, legal, mas eu realmente não sei como é que funciona, mas se eles colocam

deve ter um método lá que ajuda

ACS 8: a menina lá falou que ia como se fosse um arroz, o tamanho dele é como se fosse um

grão de arroz, bem pequeninho

Lohaine: não, um grão de arroz também nem tanto, mas ele é pequeno, mais ou menos no

tamanho assim (demonstra com os dedos), mas ele não incomoda, você coloca ele mas algumas

pessoas reclamam que tem mais cólicas, mas é só nos primeiros dias até ele a sentar no lugar

sabe, depois funciona.

Bianca: mas o risco ele sair do lugar, porque no caso do SUS mesmo é o de cobre né, aí ele

sai tu não quer se como é que ele sabe né.

Lohaine: então você tem que ir fazendo acompanhamento né.

ACS 8: mas também tem a possibilidade de engravidar com ele né? É mais pequena mais tem

né?

Lohaine:O único método contraceptivo que é 100% certeza de não engravidar é não fazer

sexo, o resto todos tenham a possibilidade.

-risos

ACS 8: porque eu vi passando no Cadeia Neles uma reportagem de uma mulher falando que

tinha o DIU e mesmo assim gravidou, só que aí o bebê veio com problema

Lohaine: geralmente quando a mulher tem DIU e descobre cedo que está grávida o médico

retira, porque ele retira por baixo não precisa abrir né, ele o DIU para não encomendar o bebê,

Page 151: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

146

mas ele é bem pequenininho, e todos os métodos contraceptivos tem um risco, tem uma

margem,A pílula tem, a camisinha tem, o DIU tem, o subcutâneo que você coloca debaixo da

pele tem, todos que, o único que você não vai engravidar é não fazer sexo. Que nem a pílula,

a pílula tem remédio que você toma que corta o efeito dela, principalmente antibiótico, então

se você não tomar certinho, porque a pílula você tem que tomar todos os dias no mesmo horário,

se você não toma todo dia no mesmo horário você já corre o risco, se você ficar gripada com

dor de garganta e tomar um antibiótico e ainda corta o efeito então…..

G10: eu fiquei com a garganta doendo mas não tomei

-risos

Lohaine: quando acontecer isso tá bom vocês associarem, continua tomando a pílula e usa

preservativo, associe o método contraceptivo com outro que aí diminui a chance. se vocês não

utilizam camisinha com parceiro e sabe que tem que tomar um remédio que vai cortar o efeito

da pílula aí vocês fazem um outro método contraceptivo junto.

G3: tem que fazer assim mesmo

Lohaine: Pois é, porque eu confesso que eu também morro de medo de engravidar, adoro

trabalhar com gestante, adoro atender criança, mas dos outros.

- risos

Lohaine: Mas alguma dúvida que vocês gostariam de tirar? alguma coisa sobre o que querem

conversar?

- ninguem responde.

Lohaine: mas é aquela coisa que vocês sabem, vai difícil… ah, outra coisa que eu esqueci de

falar, sempre vai ter uma pessoa que vai falar ” o bebê está chorando porque o seu leite está

fraco”

G3: Seu leite não tá sustentando a criança né

Lohaine: A gente não existe Leite fraco, ou a pega tá errada, ou o seu leite não desceu Por que

no comecinho Quando o bebê começa a mamar, ele Vai Mamar o colostro, o que é um líquido

bem claro e fino que é muito importante o bebê tomar, por que tem bastante caloria, muito

anticorpos, e muita proteína, e é para nesses primeiros dias, o leite demora geralmente 4 dias

após o parto para ele começar a descer entendeu, então por isso que os primeiros dias é muito

difícil, porque às vezes o bebê tá com muita fome e o colostra pouquinho e leite não desceu

ainda, então tenho paciência o leite demora um pouquinho para descer mesmo, depois que o

leite desceu não existe Leite fraco, gente o nosso organismo é tão perfeito que nosso leite se

adapta às necessidades do seu bebê, vocês sabiam que se o seu bebê for prematuro e nascer,

exemplo, ela teve um bebezinho prematuro e você teve bebê no tempo certo no mesmo dia, se

vocês tirarem o leite, o leite dela que é para bebezinho prematuro Vai ter muito mais gordura

que o seu, por que o nosso organismo sabe que o bebezinho Tá pequeno e precisa

engordar, Então observa em como nosso corpo é perfeito, ele se adapta às necessidades do seu

bebê, outro exemplo, se o seu bebê começa a ficar doente, começa a ficar com febre,

automaticamente seu leite vai ficar com mais calorias e com mais anticorpos, o nosso leite se

adapta às necessidades do bebê e você acha mesmo que o leite vai ser fraco como? não existe

isso de leite é fraco.

G7:Quando eu tive o meu filho mesmo os outros falavam “ah mas ele nasceu mais gordinha e

agora tá mais magrinho que o outro” aí eu falava é assim mesmo são bebês diferentes.

Lohaine: exatamente, ser Magrinho ou gordinho não significa que saudável, Às vezes o bebê

mama para caramba e é Magrinho, é a constituição assim como tem pessoas que comem para

caramba e são magros, e tem outros que comem só um pouco mas tem facilidade para engordar

e bebês também tem isso, Às vezes tem mães que chegam com bebê roliço, e fala que tá

amamentando exclusivo, ele só toma leite e o está super gordinho, e isso é errado? não e

ele está mamando exclusivo, é assim mesmo, provável quando chegar a idade em que acelera

o crescimento dele, ele perde peso e emagrece bastante, mas se você estava amamentando

Page 152: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

147

exclusivo o seu bebê não vai estar magro demais e nem gordo demais, ele vai estar do jeito que

é para eles tá, então não caiam nessa de leite fraco, é só ter paciência, “ Ah o meu leite não

está sustentando” é só ter paciência, se vocês verem que o seu bebê está ficando com fome mas

esse, dá mais vezes o peito, ele não precisa mamar tudo de uma vez. por isso que no primeiros

meses é importante a livre demanda, quando o bebê quiser mamar você amamenta. porque

geralmente usam a desculpa do leite fraco para incluir a fórmula na alimentação da criança.

G3: Verdade

Bianca: às vezes, comigo aconteceu assim, a minha filha amava e dormir um pouquinho e já

acordava chorando aí minha cunhada falava ” ah, tem que dar um leite porque o seu leite não

tá sustentando, não tá enchendo ela” aí eu ficava meio assim né…

Lohaine: Claro, vocês ficam preocupadas

Bianca: aí eles vão lá e compraram o leite

Lohaine: sim, você ficam preocupadas, já pensou ficar alguém no seu ouvido falando “ você

tá deixando o seu filho passar fome” é óbvio que vocês vão ficar preocupadas e isso tá certo,

eu não estou criticando vocês, por que é claro que vocês ficaram com dúvidas se alguém ficar

falando para você que seu bebê está ficando com fome, como a balançada?

Bianca: E por que dá mamadeira a gente vê a quantidade no peito não, a gente não sabe a

quantidade que o bebê tá mamando e acaba ficando com medo dele tá com fome, por isso que

tem gente que prefere encher uma mamadeira de leite dar.

Lohaine: eu sei, eu entendo vocês, mas por isso que eu já estou falando agora que o leite de

vocês é o suficiente sim, a maioria das Gestantes ouvir isso de o seu leite está fraco, vamos

dar a fórmula que o seu leite tá fraco, ia a minoria das mães que têm problemas com leite,

porque tem mulher que realmente não desce o leite mas são minorias, a maioria das Mães agem

pela pressão e pelo medo das crianças está com fome, mas elas não estão, às vezes mas

simplesmente eles metabolizam o leite mais rápido, e a gente tem que lembrar também que ele

é recém-nascido o estômago dele é pequeno, não vai caber bastante leite, então ele vai mamar

só um pouco e vai ficar satisfeito, como ele mama pouquinho ele faz digestão rápido e logo tá

com fome novamente.

Bianca: e também criança não chora só por fome né

Lohaine: sim

Bianca: tem vários motivos, mas a criança começa a chorar a mãe taca o peito nela porque tá

com fome e não é assim.

Lohaine: verdade, então eu recomendo que vocês amamente sempre, o único Meio que o seu

bebê vai conseguir se alimentar e obter anticorpos, e todos esses tipos de fatores de proteção

é só no seu leite materno, no leite de lata, pode ter todos os nutrientes mas anticorpos é só você

que consegue fornecer para o seu filho através do leite, nenhum leite de caixinha ou lata, vai

conseguir fornecer anticorpos, no entanto, “ eu comecei a amamentar e não me adaptei, não

gostei, não está me fazendo bem amamentar” o que vocês vão fazer? se acontecer isso,

suspendam a amamentação, vocês tem que pensar que o bebê é importante? é, importante

demais, mas vocês também são, Então se verem que não estão conseguindo se adaptar a

amamentação, que isso está te fazendo mal, você está ficando mentalmente mal amamentando,

porque tem mães que isso acontece, suspendam a amamentação, a gente tem que pensar que se

vocês não estão saudáveis, não tem como seu bebê ser feliz e saudável também, então pensem

em vocês e não só no bebê, pensem também na saúde de vocês, Porque não tem como os seus

bebês ficarem bem se vocês estiverem adoecidas. Então eu acho que é isso, Eu queria que vocês

me dessem um retorno do que acharam dessa reunião.

ACS 5: Ah eu acho legal, como eu não tenho experiência eu acho sempre bom essas conversas.

Bianca: Ah eu gostei, as minhas dúvidas eram mais sobre o contraceptivo né Para eu não

engravidar de novo

- risos

Page 153: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

148

Bianca: e eu consegui entender, e agora já vou procurar a Fátima para fazer o planejamento.

Lohaine: se vocês tiverem uma dúvida que acha que não foi respondida Gente podem perguntar

de novo tá

Angêlica: eu achei bom, é sempre bom ouvir essas coisas.

G5: eu achei interessante, principalmente sobre amamentação porque eu vou ser mãe de

primeira viagem né eu não sabia nada sobre isso, agora tô mais segura.

Lohaine: que bom, e você?

G10: eu gostei bastante também

Lohaine: e você que ta com o bebêzinho pequeno, o que achou?

G3: Ah eu gostei bastante, vou começar a passar o leite no bico do peito e tomar sol bastante.

Lohaine: que bom.

ACS 1: é legal, Por que a gente ver que mesmo sendo mãe a gente não sabe tudo né, ta sempre

aprendendo umas coisas.

Lohaine: verdade.

ACS 6: eu gostei porque esse é o momento que a gestante tem para tirar dúvida se quiserem

participar mais vezes sempre venham né.

Lohaine: e você ACS 3?

ACS 3: Ah eu também acho bom porque às vezes a gente sabe mas não sabe tudo né, aí

aproveita para tirar dúvida, por que a gente vai fazer visita e elas fazem pergunta e a gente pode

falar para elas para vir nas reuniões porque aqui às vezes ele já sabe mas ainda tem coisa que

ela tem dúvida, e é muito bom.

ACS 6: Uma coisa que eu achei interessante é esse DIU, eu nunca vi você podia na próxima

reunião trazer os exemplos para a gente ver né

Lohaine: dos métodos contraceptivos? Posso ver sim acho que na UFMT deve ter algum.

Lohaine: Então é isso meninas, obrigada pela presença de todas e eu trouxe um lanchinho pra

gente compartilhar.

1° ENCONTRO INDIVIDUAL – LUCIANA

29:15s

Pesquisadora 1: Então demorou pra caramba pra você ter ele?

Luciana: demoro, aí 6 horas da manhã eles aplicaram aquele soro né, pra anda mais rápido, só

consegui ter só 6 cm só, aí como eu só sangrava não saía nada.

Pesquisadora 1: aí optou pela cesária, que nem eu falei aquela vez né, a cesária ela ta aí pra

ajudar mesmo.

Luciana: É que meus planos era normal, mas aí eu não di conta, foi na cesária mesmo

Pesquisadora 1: se falando que o bebêzinho, que ele não tava achando o batimento ele podia ta

entrando em sofrimento né, é melhor tirar mesmo.

Luciana: uhum, eu não tava aguentando mais, acho que eu nem tinha mais força mais, o homem

perguntava as coisas pra mim eu só balançava a cabeça, não tinha nem voz pra responder mais

nada.

Pesquisadora 1: Ah mais é difícil mesmo

Luciana: também não quero saber de filho mais não, só esse aqui. Deus me livre de guri, ta bão,

não quero mais não.

Pesquisadora 1: éé, qual a sua idade Luciana?

Luciana: 24

Pesquisadora 1: huum, você nasceu aqui em Cuiabá?

Luciana: Nasci

Pesquisadora 1: nasceu, huuum e seus pais?

Page 154: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

149

Luciana: meus pais um é da Bahia, e a mãe eu não sei da onde que a ela é, mas ela é de Nobres

pra lá.

Pesquisadora 1: Ah, aí eles sempre moraram pra lá, pro..

Luciana: não, eles se conheceram aqui, aí eles juntaram né aí depois teram nóis que eles

cassaram, aí fomo pro sítio, aí moramo um tempo aqui.

Pesquisadora 1: Ah se morou lá no sítio também?

Luciana: é, eu cresci la né, eu nasci aqui, acho que nos fomos pra lá eu tinha o que, 4 ou 5 anos,

que nós fomos pra lá, depois que eu voltei, mas eu cresci minha infância lá.

Pesquisadora 1: Huum, bom né, realidade totalmente diferente da cidade

Luciana: é!! totalmente diferente...

Pesquisadora 1: crescer no sítio né, os meus pais também cresceram em sítio. Seus pais tem

quantos anos?

Luciana: vai fazer 50 ano agora

Pesquisadora 1: seu pai? e sua mãe?

Luciana: também

Pesquisadora 1: Os dois tem a mesma idade?

Luciana: os dois, aham.

Pesquisadora 1: legal, entendi, é aqui mora só você e seu irmão?

Luciana: só, só nós dois.

Pesquisadora 1: Alexandre né

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: entendi, ele que ta ajudando você também com o bebê, eu vi, cheguei aqui ele

tava lá.

Luciana: é, é ele fica bravo comigo, disque "ta fazendo ele chora que não sei oque", eu falo

pega ele, ele pega um pouquinho e põe lá na cama, fica brincando com ele na cama, não é

muito de paga não.

Pesquisadora 1: é que geralmente tem medo né, porque ta novinho

Luciana: é mais ele fala "peraí eu vô pega ocê", mas tem hora que ele pega pra brinca.

Pesquisadora 1: que bom, bom ter alguém assim né pra ajudar

Luciana: ééé

Pesquisadora 1: pelo menos pra aliviar um pouquinho

Luciana: aí ele me ajuda a levantar da cama porque eu num guento ainda...

Pesquisadora 1: e nem pode né

Luciana: aí ta indo, até o dia que eu for pro sítio de novo

Pesquisadora 1: se vai quando?

Luciana: to esperando terminar de fazer os exames dele tudinho aí que eu vô

Pesquisadora 1: e lá tem como se dá a vacina

Luciana: tem

Pesquisadora 1: tem posto lá né

Luciana: tem

Pesquisadora 1: tem que dá as vacinas certo.

Luciana: porque ele tomo a primeira aqui né, aí ele ta terminando de fazer o que tem que faze

pra mim ir, aí chega lá só fica as vacinas, aí faço só as vacinas dele lá, é mais fácil.

Pesquisadora 1: bonzinho ele né?

Luciana: Ah ele é bem calmo, essa noite ele dormiu bem pra caramba.

Pesquisadora 1: ele não ta dormindo bem?

Luciana: a noite passada ele não dormiu não, mas essa noite ele dormiu.

Pesquisadora 1: Ah mais também ele ta novinho, ta acostumando né, como o ambiente estranho.

Se trabalha de quê Luciana?

Luciana: Eu trabalho num restaurante.

Page 155: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Pesquisadora 1: se cozinha ou se é do serviços...

Luciana: não, eu sou é como que fala... Auxiliar de cozinha

Pesquisadora 1: ah sim, de cozinha

Luciana: aham, mas na minha gestação eu fiquei na salada porque na cozinha era muito quente

né, aí eles pegaram e arrumaram eu na salada, aí na hora que eu volta eu não sei o que eu vô

fazer, eu acho que eu vou voltar pro mesmo cargo que eu tava.

Pesquisadora 1: uhum, e se gosta de trabalhar com comida?

Luciana: gosto

Pesquisadora 1: legal, minha mãe também ela fala que se ela fosse voltar a trabalhar, ela ia

voltar cozinhando porque ela gosta de mexer com isso.

Luciana: é bom, não é ruim não

Pesquisadora 1: e seu emprego, foi tranquilo? quando você descobriu que tava grávida e tal?

Luciana: Foi, foi bem tranquilo, a patroa foi bem boa, todo mundo assim, todo mundo me

ajudou muito.

Pesquisadora 1: é, que bom

Luciana: foi bem tranquilo

Pesquisadora 1: hoje em dia do jeito que ta né, se vai ter os seis meses de licença?

Luciana: vou, é quatro mês né, na empresa aí eu vô pega mais um mês de férias, vô fica 5 meses

afastada, só cuidando dele

Pesquisadora 1: huum, lá eles não proporcionam plano de saúde? no seu emprego?

Luciana: não.

Pesquisadora 1: Mais que bom que você recebeu o apoio né, que hoje em dia ta tão difícil né,

os patrão não tão nem aí

Luciana: tá, ah não minha patroa é bem boa, assim... em vista de muitos, ela é boa

Pesquisadora 1: uhum... eee desculpa mais aqui na sua casa é só você quem trabalha ou seu

irmão também trabalha?

Luciana: não, ele também trabalha

Pesquisadora 1: então tem a renda de vocês dois né.

Luciana: aham

Pesquisadora 1: ah bom que tem duas rendas né, e só vocês dois não fica tão pesado

Luciana: éé, não fica tão pesado.

Pesquisadora 1: e você estudou até que idade?

Luciana: eu terminei, eu fiz até o terceiro ano.

Pesquisadora 1: se terminou o ensino médio

Luciana: uhum, terminei.

Pesquisadora 1: e seus pais ele tem estudo?

Luciana: mais ou menos, mainha ela tem eu acho que até o, terceira série, meu pai que tem o

1°, a 1° série, só que agora ele ta estudando né, porque aquele que......

Pesquisadora 1: EJA né?

Luciana: eu acho que é esse mesmo, ele tão estudando lá.

Pesquisadora 1: Ah que bom, que legal

Luciana: tão lá tudo animado eles.

Pesquisadora 1: que bom, meu vô também, ele começou a fazer lá no sítio que ele mora, aí ele

apren... ele não sabia nada, aí ele aprendeu a assinar o nome dele, essas coisas...

Luciana: meu pai também, meu pai sabe assinar, ele não sabe lê ta aprendendo agora, todo

animado, ta aprendendo a lê a fazer conta, fico só rindo dele.

Pesquisadora 1: ah mais é bom demais, o meu vô também fica todo feliz, aí agora ele tá que

troca o documento dele, porque ele fala que, que era só digital né e analfabeto, e ele fala que

agora ela sabe escrever o nome dele,que tem que troca.

Luciana: o tadinho! ele tem quantos anos?

Page 156: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

151

Pesquisadora 1: pois é, meu vô tem 74.

Luciana: nossa, ta forte ainda...

Pesquisadora 1: ta, tá meu vô, porque ele é no sítio, e idoso no sítio é totalmente diferente de

idoso aqui né, no sítio, meu vô ainda planta, ainda tem a roça dele, as criação lá, se vê se nem

imagina que ele tem a idade que ele tem.

Luciana: tomara que Deus conserve ele muito tempo ainda

Pesquisadora 1: Amém, Ave Maria, nem penso em perder meu vô, acho que eu...

-risos

Luciana: ah é igual eu com a minha veínha lá...

Pesquisadora 1: se ainda tem vó?

Luciana: Só tenho 1 agora, o restante já foi tudo

Pesquisadora 1: eu também só tenho uma vó por parte de pai e um vô por parte de mãe, só.

Luciana: Agora eu só tenho 1 vó.

Pesquisadora 1: Ela, ela é mãe do seu pai ou da sua mãe?

Luciana: da minha mãe.

Pesquisadora 1: ela mora lá com a sua mãe?

Luciana: Mora lá

Pesquisadora 1: aah bom que vai conhecer a bisa...

Luciana: Ave Maria ta ansiosa, já falou "porque que não vem logo", eu tenho que termina de

resolve aí eu vô, "ah ta demorando demais", até cegar lá já ta grande já

Pesquisadora 1: imagino..... éé, se falou que se teve pressão alta né no seu parto, sua família

tem histórico de hipertensão?

Luciana: Uhum, minha mãe tem!

Pesquisadora 1: sua mãe tem hipertensão? e seu pai tem?

Luciana: não

Pesquisadora 1: e você teve pressão alta na gestação?

Luciana: não na gestação não, subiu só no dia de ganha mesmo...

Pesquisadora 1: Uhum, mais foi só a pressão alta né não evoluiu pra pré-eclampsia?

Luciana: não, até de manhã ela já tinha ficado normal já

Pesquisadora 1: Ah ta, deve ser então o estresse né, fica muito ansiosa, nervosa....

Luciana: éé, uhum

Pesquisadora 1: Ainda bem, menos mal.... E como é que foi sua infância lá no sítio?

Luciana: Olha foi muita danadeza, muita brincadeira, muito couro por causa de coisas erradas,

mais foi bom

-risos

Pesquisadora 1: aproveitou muito né

Luciana: muito, brinquei muito, acho que por isso que a gente, que eu demorei tanto te filhos,

porque a gente cresce no sítio se não tem muito essa, vontade igual a gente fica aqui na cidade,

tudo tem o tempo da gente, aí eu acho que foi isso...

Pesquisadora 1: verdade, se voltou pra cá pra Cuiabá com quantos anos?

Luciana: tava com 23

Pesquisadora 1: 23? então ta com pouco tempo que se veio

Luciana: tem um ano

Pesquisadora 1: ah, pensei que tinha mais tempo que ses vieram, veio você e seu irmão juntou

ou veio antes?

Luciana: não, ele sempre morou aqui, ele sempre morou aqui sozinho, eu que vim depois.

Pesquisadora 1: ele veio aqui, pra cá com quantos anos?

Luciana: olha acho que tem mais de 5 anos que ele mora aqui, ele veio, tem 29 vai fazer 30

anos.

Pesquisadora 1: Ele é mais velho? nem parece...

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Luciana: ééé, ele é o filho mais velho da minha mãe...

Pesquisadora 1: uhum

Luciana: Eu sou a do meio, tem a caçula lá também

Pesquisadora 1: uhum, entendi. Então se tem 3 irmãos, e sua vózinha aqui tem ainda tá viva,

sua vó tem quantos anos?

Luciana: minha vó tem 74.

Pesquisadora 1: Aí é seu irmão mais velho, tem 29 né, aí é você que tem 24, e a outra?

Luciana: minha irmã tem 20

Pesquisadora 1: 20? éé... só você e ela que tá grávida?

Luciana: só

Pesquisadora 1: Você tem um bebêzinho, menininho e ela ta grávida...

Luciana: Ela tá grávida de uma menina...

Pesquisadora 1: menina? bom que vem um de cada um

Luciana: vai, vem uma casal!

Pesquisadora 1: Ah por isso que sua mãe ta desse jeito então, é o primeiro neto!

Luciana: ééé o primeiro neto dela, ela ta toda empolgada! mais ta a família inteira, todo mundo

empolgado...

Pesquisadora 1: Ah mais primeiro bebê da família, todo mundo fica...

Luciana: Mais tem bastante, lá em casa somos em que... agora acho que ta em 28 neto e 6

bisneto agora...

Pesquisadora 1: huum, aah da sua vó né

Luciana: aham é grande a família, não é pequeno não

Pesquisadora 1: ah mais e diferente né, de quando é mais próximo assim...

Luciana: ééé, esse aqui é o mais, é porque eu acho que eu sou a mais xodó de todos também,

dos tios, das tias, da avó, aí eles tão mais ansioso com esse aqui, querendo que chega logo.

Pesquisadora 1: entendi, legal. Luciana, e o pai dele?

Luciana: Olha o pai dele a gente, assim porque nois num namoramo sério, porque eu fui casada

né aí eu falei assim "não, agora eu não quero, namora sério com ninguém" só que aí eu sempre

tomei remédio, só que depois eu engravidei só que depois eu decidi que não queria fica com

ele.

Pesquisadora 1: uhum

Luciana: aí eu não quis fica com ele, aí eu falei "não eu vô, te o nenê sozinha" aí eu segui em

frente sozinha.

Pesquisadora 1: entendi

Luciana: eu não quis ele não, fica com ele não.

Pesquisadora 1: Mas ele ta acompanhando a gestação?

Luciana: Tá, ele acompanhou, ele ajuda...

Pesquisadora 1: ta pagando pensão?

Luciana: ta, tudo certinho, só que eu não quis mesmo fica com ele

Pesquisadora 1: Ah então, é que a gente pergunta e a pessoa fica meio assim, não, não to... que

nem eu falei, eu acredito muito nessas coisas, as vezes é melhor você fica aí com seu bebê e

criar ele sozinha, do que fica com mais uma pessoa.

Luciana: é porque, como se já foi casada, se já sabe como que é né, falei ah eu não quero de

novo não, falei não, ta bom, só o meu filho ta ótimo... E eu vô dá conta de cuida dele sozinha.

Pesquisadora 1: E ele já viu? já conheceu? ele veio aqui?

Luciana: jááá, vem!

Pesquisadora 1: ou foi lá no hospital?

Luciana: ele foi lá também, mais o ruim é que ele trabalha também igual eu, é entra cedo só saí

de tarde, de noite, aí só nas folgas. Mas ta bem tranquilo, cada um no seu canto...

Pesquisadora 1: num tao junto mas tem uma relação boa né

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Luciana: é, uhum, é uma relação boa.

Pesquisadora 1: ele tem quantos anos?

Luciana: acho que tem 35.

Pesquisadora 1: é mais velho né

Luciana: ele é mais velho

Pesquisadora 1: huum, entendi..... E o seu primeiro casamento, se tinha quantos anos quando

se casou?

Luciana: eu fui casada 4 anos, comecei a namora com 19, acho que foi com 20, casa não, ajunto

né.

Pesquisadora 1: Ah mais esse ajuntou hoje em dia já é casamento diante da lei né, então por

isso que...

Luciana: uhum, aí a gente ficou lá junto, até que a gente separou

Pesquisadora 1: Ah então se casou lá?

Luciana: lá! nós caso lá.

Pesquisadora 1: Aí se morou lá na sua casa? ou morava com seus pais?

Luciana: não, morava com meus pais, ele morava na fazenda né, aí meu pai falou "não,se não

vai muda não" e eu também não quis ir...

Pesquisadora 1: aí ele que foi pra sua casa?

Luciana: Aí ele que foi lá pra nossa casa, a nós fico morando lá o tempo todo

Pesquisadora 1: uhum, aí nessa época se não teve filho? não quis ter?

Luciana: não, não engravidei também, engravidei só depois que eu separei

Pesquisadora 1: huum, entendi. Ah mais é bom que você tem uma relação boa com o pai do

bebê né, o pai dele

Luciana: éé, é bem tranquilo

Pesquisadora 1: Então, fazendo aqui mais ou menos né, que esse aqui, não sei se já ouviu falar,

de genograma, ou árvore genealógica.

Luciana: aaaah já, eu já fiz essa árvore na escola já

Pesquisadora 1: já

Luciana: na matéria de...

Pesquisadora 1: Geralmente se faz na de biologia, ciências

Luciana:isso, de biologia. aham

Pesquisadora 1: então é mais ou menos pra gente representar quem é a sua família né

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: aí só pra gente ter mais ou menos uma noção, sua família é pequenininha

Luciana: ééé

Pesquisadora 1: é igual a minha, a minha ainda é menor porque, é só duas

Luciana: é só duas?

Pesquisadora 1: uhum, só eu e minha irmã... aí eu coloquei aqui a sua vó, porque se falou, a

gente geralmente representa o núcleo familiar principal né, que a gente fala que é aqueles que

são mais próximos, que moram juntos, ou que não moram juntos mais são mais próximos, que

nem é você com seus pais lá, e seus pais e sua vó que moram todo mundo junto né

Luciana: isso, uhum

Pesquisadora 1: e vocês aqui, e a sua irmã é casada?

Luciana: é casada

Pesquisadora 1: e é o primeiro filho dela?

Luciana: é o primeiro filho dela também

Pesquisadora 1: huum, legal. E seu irmão que não tem filho ainda ou tem?

Luciana: não, ele eu acho que não vai ter não

Pesquisadora 1: não?

Page 159: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

154

Luciana: não ta muito preocupado com isso não, ele fala ta bom só os sobrinhos, ta ótimo. Ele

é bem sussegado nessa parte

Pesquisadora 1: vai só mimar

Luciana: ééé, isso aí acho que vai mesmo. Já é assim com esse aqui

Pesquisadora 1: fica só namorando?

Luciana: fica

Pesquisadora 1: Mas também quem que não namora um coisa fofa dessa né

Luciana: verdade, né filho!

Pesquisadora 1: éé, e vamos fazer esse aqui né, que chama ecomapa, é mais ou menos, no

genograma a gente desenha a sua família, no ecomapa a gente desenha o seu, lembra que a

gente conversou... acho que você não tava, é, você não tava na reunião... é que a gente conversou

um pouco sobre rede de apoio.

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: se quer ir lá pra dentro? ta achando ta ventando muito.

Luciana: nããõ, aqui só vou mudar ele de posição.

Pesquisadora 1: quer que eu pegue a cobertinha que ele tava enrolado?

Luciana: não, ele ta quentinho.

Pesquisadora 1: ee, aí no ecomapa a gente representa a família, os núcleos de apoio

, tipo assim, quem te ajuda nesse processo, que nem, agora, quem ta te ajudando é bastante é a

sua mãe

Luciana: éé

Pesquisadora 1: porque ela ta aqui, ela saiu lá da casa dela né e veio pra cá pra te ajudar, e quem

sempre te ajuda também é o seu irmão, que divide tudo com você e ta ajudando com o bebê,

tipo isso a gente vê só pelo seu relato né, então seu irmão Alexandre né

Luciana: isso mesmo, é assim

Pesquisadora 1: a sua irmã é Geovana né?

Luciana: Auréa

Pesquisadora 1: quem é Geovana? sua mãe falou que... Ah deve ser o bebêzinho dela então?

Luciana: é Bruna Arielly o nome da bebê

Pesquisadora 1: sua mãe falou bem assim "agora saí ela e vem Geovana"

Luciana: Ela troca os nomes, até o nome do meu nenê tem hora que ela troca, aí eu fico mãe

não é esse, aí ela fica aah é mesmo.

Pesquisadora 1: é ela falou pra mim " qual que o nome bebê?" não lembrou mesmo a hora que

eu cheguei, aí seu irmão que lembrou

-risos

Luciana: é tem horas que ela não lembra mesmo

Pesquisadora 1: esquecida

Luciana: éé, ela esquece

Pesquisadora 1:e ai eu queria que você me dissesse quem mais é o seu, quem que é seu apoio

aqui, que te ajuda de alguma forma aqui, que é importante pra você

Luciana: Minha tia

Pesquisadora 1: ela mora aqui?

Luciana: Mora aqui, tem meu tio também, tem meus 2 tios também, eles moram aqui também.

Pesquisadora 1: então, sua tia e mais 2 tios né, são juntos algum? ou são todos tios assim...

Luciana: não, é uma é irmã da minhã mãe né e o outro é irmão do meu pai

Pesquisadora 1: ah então são separados né, como que é o nome deles? da tia é?

Luciana: Bia

Pesquisadora 1: Bia e dos tios? por parte de mãe

Luciana: é Rodrigo por parte de mãe

Pesquisadora 1: uhum e por parte de pai?

Page 160: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

155

Luciana: Mauro

Pesquisadora 1: e instituições? tipo assim PSF, hospital, seu serviço

Luciana: Não

Pesquisadora 1: não? nenhum?

Luciana: não

Pesquisadora 1: entendi, se ganha algum tipo de beneficio?

Luciana: lá na empresa agora vai ganhar só do nenê né, mas é só daqui, num sei quantos que é

Pesquisadora 1: de creche?

Luciana: éé, do bebê

Pesquisadora 1: aah legal, porque não é todas que tem né

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: da creche né... e você acha que você foi, você recebeu o atendimento que você

esperava dentro dos hospitais no parto?

Luciana: assim, geralmente do que todo mundo fala que eles entram pra trata, até que o meu eu

gostei

Pesquisadora 1: uhum, você gostou?

Luciana: porque no caso foi o processo esperado né, aí eles viu que não deu certo aí tento pelo

parto cesária, mas por mim ocorreu normal

Pesquisadora 1: uhum, foi lá no Santa Helena né?

Luciana: isso

Pesquisadora 1: hospital Santa Helena, é que aquela história né, tipo é que as vezes a gente não

se sente respeitada né, dentro dum hospital né, aí por isso que eu perguntei. E o PSF? você acha

que você teve o apoio do PSF quando precisou?

Luciana: do postinho? sim!

Pesquisadora 1: Quando você precisou você conseguiu tudo que você precisava por aí né?

Luciana: uhum, sim

Pesquisadora 1: entendi, e eles já orientaram você casa você quiser ganhar bolsa família, essas

coisas, já ti orientaram?

Luciana: não

Pesquisadora 1: não?

Luciana: Mas eu acho que eu não consigo porque eu tenho a carteira assinada né

Pesquisadora 1: ah mais isso não é impedimento

Luciana: não?

Pesquisadora 1: não, por causa que o bolsa família é mais vinculada a criança né, pra ajudar,

porque o bolsa família é pra ajuda a criança, é um beneficio que foi criado pensando em

diminuir a mortalidade e a desnutrição infantil, então por isso que quando fala que é bolsa

família eles falam que a criança tem que ta matriculado na escola, tem que ta com peso

adequado esses tipos de coisa, entendeu?

Luciana: Uhum

Pesquisadora 1: então eu acho que você consegue sim, não sei se agora com ele nesse

tamanhozinho né, ou se ele tem que ta um pouquinho maior

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: e se vai deixar ele na creche ele vai estar com seis meses né

Luciana: minha tia que vai cuidar, a minha mãe já ta meio assim, aí minha tia falou que vai

cuidar dele pra mim trabalhar... eu não vou deixa ele assim não, só se for o caso de precisão

mesmo

Pesquisadora 1: entendi

Luciana: aí vou por ele na creche, mas si eu conseguir não vou por não

Pesquisadora 1: ah é, se você tem opção é sempre melhor deixar com a família né

Luciana: ééé, uhum, acho que é mais tranquilo né

Page 161: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

156

Pesquisadora 1: uhum, é essa tia Bia? que vai cui... que falou que cuida dele pra você?

Luciana: uhum, é!

Pesquisadora 1: essa tia Bia é irmã da sua mãe?

Luciana: é, irmã da minha mãe

Pesquisadora 1: irmã da sua mãe né, deixa até eu marcar aqui, porque é importante, se ela é tão

próxima

Luciana: ela é, bastante

Pesquisadora 1: ela irmã mais nova ou mais velha da sua mãe?

Luciana: ela é uma das mais novas da minha mãe, não lembro assim...

Pesquisadora 1: a ordem né

Luciana: é a ordem delas né, só sei que é uma das mais novas né

Pesquisadora 1: não, não tem importância.... vou só deixar aqui anotado, porque como eu falei

a gente desenha as pessoas que você considera família, porque assim, a família hoje é diferente

né, a gente acredita que a família é mais por relação afetiva que por laços sanguíneo, tanto que

um padrasto as vezes é mais família que um pai biológico né...

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: ou uma madrasta né, por isso que a gente coloca, que nem agora, eu queria

também colocar, porque você falou que seus avós por parte de pai já faleceram, os 2 né, aí seu

pai e qual que é os seus tios por parte de pai, que você falou que te ajudam bastante também,

são mais novos ou mais velhos que seu pai?

Luciana: eles são mais novos também

Pesquisadora 1: são mais novos?

Luciana: é, são mais novos também

Pesquisadora 1: só pra gente também ter essa noção né, pra eu colocar eles também no seu

genograma. E você sentiu, que respeitaram você nas suas vontades no parto?

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: que nem aquela história que as vezes eles ficam insistindo tanto num tipo de

parto né

Luciana: é aquilo, é que no meu caso eu que queria ter tentado normal né, só que ai quando eu

vi também que eu não aguentava mais eles opnou já por cesária aí eu falei "não, pode fazer"

Pesquisadora 1: aí eles conversaram com você é? perguntaram pra você se você queria mesmo

e tal?

Luciana: Uhum, perguntaram

Pesquisadora 1: entendi, mas bom, que nem a gente falou lá naquela reunião, a questão do parto

não é simplesmente ser tal parto, tem que ser um outro tipo de parto, é que eles respeitem a sua

vontade, primeiro eles tentaram respeitar sua vontade, viu que não deu, aí perguntaram para

você se você queria fazer a cesária, e te deram os motivos e as escolhas né, isso que é importante

Luciana: éé, uhum, eles falaram tudinho

Pesquisadora 1: mas fico feliz de você ter tido uma experiência com o atendimento bom, o seu

parto foi mais difícil né, mas a sua experiência com o atendimento dentro do hospital foi bom..

Luciana: Uhum, foi bom, bem tranquilo

Pesquisadora 1: que bom, ééé, essa é sua primeira gestação né, se não teve nenhum aborto antes

nada né?

Luciana: ééé, não, não tive nada.

Pesquisadora 1: entendi, aí se falou que você fazia o uso de contraceptivo? quando se

engravidou? se usava pílula?

Luciana: Sim, eu fazia, usava pílula

Pesquisadora 1: Qual que você usava?

Luciana: usava o Previane

Page 162: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

157

Pesquisadora 1: Previane? e você tava tomando certinho e mesmo assim engravidou?

Luciana: Tava, eu tomava certinho, mas era que era pra vim mesmo

Pesquisadora 1: ele era comprimido ou injeção?

Luciana: não, comprimido

Pesquisadora 1: e só usava esse, não usava preservativo?

Luciana: não, só usava ele mesmo

Pesquisadora 1: entendi, e na gestação se fez os testes de DST? aqueles testizinhos rápidos que

coloca a gotinha nas plaquinhas?

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: e fez de sangue também né, pede os dois

Luciana: uhum, fiz tudo

Pesquisadora 1: entendi, bom. E sua amamentação como é que está sendo?

Luciana: Um pouquinho dolorido, mas ta sendo tranquilo

Pesquisadora 1: ta conseguindo né?

Luciana: Ta

Pesquisadora 1: ele ta mamando bem?

Luciana: Ta mamando bem

Pesquisadora 1: hum, que bom... então não foi uma gravidez planejada né, foi um susto

Luciana: não, foi um susto.

Pesquisadora 1: Ah então ta bom, acho que é só isso... quando se for voltar lá do sítio se vai

voltar, só pra voltar a trabalhar ou vai voltar antes?

Luciana: e acho que deve voltar antes, porque, porque aí no caso eu vo assinar o papal da licença

né, aí vou voltar pra assinar o papel da férias né

Pesquisadora 1: uhum

Luciana: aí no caso eu vou vim

Pesquisadora 1: aí se já vai ficar né, não vai voltar pra lá

Luciana: aí no caso, nem sei, as vezes eu posso voltar, as vezes não...

Pesquisadora 1: quando se vim, quando você vir para assinar o papel da férias, aí se me avisa,

que ainda tem mais uma fase, que eu venho só aplicar um questionário, tá?

Luciana: Tá

Pesquisadora 1: aí se avisa que eu venho aqui ver vocês

Luciana: ta bom

Pesquisadora 1: ele ta com 8 dias agora né, ele nasceu que dia?

Luciana: ele nasceu quarta-feira

Pesquisadora 1: era que dia do mês

Luciana: é dia 26

Pesquisadora 1: 26, aniversário é 26/06

Luciana: uhum

Pesquisadora 1: aí eu venho então, aí quando você vier se menda uma mensaginha que eu venho

Luciana: uhum, ta bom

Pesquisadora 1: acho que era só isso...

2° encontro individual – Luciana

34:09s

Lohaine: Mas primeiro a gente vai falar um pouquinho, como que está sendo a maternidade pra

você?

Luciana: Assim, um pouquinho trabalhoso, mas bem, né.

Lohaine: e, como foi o primeiro mês, como foi a experiência?

Page 163: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

158

Luciana: difícil, muitoo difícil, Meu Deus do Céu, mas depois você vai pegando o jeito e vai

indo, mais tranquilo.

Lohaine: huum, que bom. E você tá feliz?

Luciana: Tô, bastante feliz, com esse coisinha, né mamãe (dirige-se ao filho)

Lohaine: E se ta com seguindo fazer todos os exames dele?

Luciana: tô, assim, por enquanto eles não pediram exame no postinho não.

Lohaine: foi só os primeiros mesmo né

Luciana: éé, e aí eu to levando ele todo, acompanhando ele né, aí só, aí as vezes quando ele ta

com alguma coisinha eu levo lá pra ver, mas por enquanto ele é bem saudável, graças a Deus.

Lohaine: Uhum, você amamentou ele até quanto tempo? tipo, ele mamou só no peito até

quantos meses?

Luciana: até os 4 meses, aí nos 5 mês pra cá ele já num, eu já comecei a dá mamadeira né, ele

mama, mas ele mama menos, ele mama quando ele quer agora, ele não mama na hora que eu

quero, mama na hora que ele qué.

Lohaine: Ah entendi, porque também a mamadeira é muito mais fácil, ele tem que fazer muito

mais esforço pra mamar no peito que na mamadeira...

Luciana: na hora que eu chego também, a noite ele, eu não sou muito de dar mama pra ele não,

deixo o neném pega o peito, aí durante a noite ele mama o peito.

Lohaine: ah mais também se tá voltando a trabalhar né, é compreensível que ele tem que pegar

mamadeira né

Luciana: ééé´, se não ele ia sofre bastante mesmo.

Lohaine: e como é que está a volta ao trabalho?

Luciana: até que tá tranquilo lá.

Lohaine: e pra você, como é que você ta se sentindo de se separar dele?

Luciana: difícil no primeiro dia, achei ruim, desinquieto, só que agora eu to saindo um

pouquinho mais cedo, to saindo 9:15 (da noite), só que já vai acaba, já que ele completa 6

meses, aí já acaba, falei "ave Maria, vou ter que ficar até o meu horário", vai ser ruim demais,

porque eu já fico querendo vir embora, chego mais cedo em casa.

Lohaine: você trabalha das, que horas?

Luciana: Das 4:00 (16:00 horas), eu entro 4 horas e saio as 10:15 da noite (22:15).

Lohaine: e ele, ta ficando com quem esse horário?

Luciana: ele fica um pouco com o meu irmão e fica um pouco com a minha tia

Lohaine: huum, seu irmão cuida dele?

Luciana: Cuida

Lohaine: Acostumou a ficar sozinho com ele?

Luciana: Fica...

Lohaine: No começo ele tava meio, batata quente não sabia o que fazer né

Luciana: ééé, agora ele tá ficando, mas ele fica bastante no carrinho, fica bastante na cama, ele

não é muito chorão não, ele é bem tranquilo.

Lohaine: to vendo, ele se interte sozinho né

Luciana: Uhum, tem os bichos dele marrado aqui, brinquedinho dele, tem que marrar pra não

perder, toda hora caí no chão.

Lohaine: entendi, e como que foi lá na sua mãe? te ajudou lá?

Luciana: foi bom, ajudou bastante, descansei bastante, o povo adulou bastante ele.

Lohaine: veio cheio de mania?

Luciana: um pouquinho, tava gostando de um braço, falei " pois é, na hora que chegar lá ele vai

sofre, porque, quem que vai tá lá pra ficar pegando ele?"

(diversos ruídos da criança vocalizando ao fundo)

Lohaine: é tia? mamãe judiou de você deixando você no carrinho? judiou? não quis dá braço

pra você? (se dirigindo ao bebê) e sua relação com o pai dele? ta do mesmo jeito?

Page 164: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

159

Luciana: ta do mesmo jeito, cada um no seu canto.

Lohaine: mais ta tranquilo ainda?

Luciana: tá

Lohaine: ele vem ver?

Luciana: Ainda não

Lohaine: não veio?

Luciana: não

Lohaine: e nem pega ele?

Luciana: não.

Lohaine: entendi, mas a pensão ele ta dando?

Luciana: uhum

Lohaine: e aí, e suas amigas? não tem amigas aqui que ajudam com ele? ou saem pra conversar

pelo menos

Luciana: não, minhas amiga... tem uma que mora lá no CPA aí na minha folga nós marca de ir

pra lá, mas só, porque aí todo mundo trabalha né, aí nos pega e num dá de deixa... Mas eu

também fico meio assim, de deixa, eu fico com medo.

Lohaine: não, nem é tanto cuidar dele né, é conversar com você, que é sempre bom.

Luciana:sim, mas eu fico meio assim, mas até que eu saio bastante ainda, carrego ele pra tudo

quanto é canto que vou, ele não fica pra trás né.

Lohaine: agora tem um anexo né. Entendi. Agora eu vou te fazer a pergunta mas você fique a

vontade pra responder com toda a sinceridade tá?

Luciana: uhum

Lohaine: As rodas te ajudaram em alguma coisa?

Luciana: como?

Lohaine: As rodas de conversa que a gente fez...

Luciana: Ajudou

Lohaine: em quê?

Luciana: é que eu fui acho que uma vez né...

Lohaine: se foi na de parto.

Luciana: Isso, foi uma vez que eu fui, a do parto não ajudou muito não, porque eu sofri.

Lohaine: não? entendi porque?

Luciana: pensa uma pessoa que sofreu fui eu, porque não tive como ter normal né, aí eu fiquei

muito tempo lá, pra mim ganha o neném. Até que ele tiraram, resolveram tira, aí eu sofri pra

caramba, nem o soro não resolveu.

Lohaine: não?

Luciana: não...

Lohaine: Eles colocaram ocitocina em você?

Luciana: uhum, e não resolveu, porque eu tava sentindo dor, e de manhã eles perguntaram se

podia pôr né, aí eu falei "ah, põe logo pra ver se resolve, mas não resolveu nada.

Lohaine: não? mas ele perguntaram pra você né?

Luciana: perguntaram.

Lohaine: Hum, entendi. E ai, sua relação com as outras pessoas, você tem notado que você ta

mais afastada das pessoas por causa dele?

Luciana: não, ta bem tranquilo. Assim, eu acho, não sei, no serviço eu também converso com

todo mundo né, normal, em casa também, não tem diferença não.

Lohaine: não afetou né?

Luciana: nãão, acho que é porque eu sou bem faladeira, eu acho. Eu converso muito com a

minha prima, é a que eu mais converso, nós liga uma pra outra de manhã e vai até 11 hora, aí a

gente conversa a manhã inteira, aí é bem tranquilo.

Lohaine: huum, e ela tem filho?

Page 165: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

160

Luciana: tem, uma neném de, ela vai fazer 8 meses, dia 17.

Lohaine: huum, entendi. E ela te ajuda?

Luciana: Ajuda muitoo

Lohaine: as dúvidas com ele?

Luciana: tudo, tudo quanto é dúvida eu tenho, eu tiro com ela, ela até ri de mim... Eu falo: "ah

o que seria de mim se não fosse você" ela fica rindo de mim, porque a dela já é mais velha né,

aí tudo ela me ensina.

Lohaine: Entendi. E você se aproximou dela, mas recente ou vocês sempre foram próximas.

Luciana: Não, toda vida nós somos assim.

Lohaine: Humm, que legal e sua irmã?

Luciana: Minha irmã ela sempre foi um pouco mais afastado, eu sempre fui na minha e ela no

cantinho dela, mas quando ela tem dúvida também ela pergunta.

Lohaine: Ela liga pra você?

Luciana: Liga.... é que lá tem mais gente né, aí ela...

Lohaine: E ela mora perto da sua mãe né?

Luciana: Ela mora perto da sogra dela, aí tem tia que não saí lá da casa dela né, então tem

bastante gente lá

Lohaine: uhum, entendi.

Luciana: Não quer rir hoje não Pedro? ( se dirigindo ao filho)

(brincam conversando com bebê)

Lohaine: Ta conversador ele

Luciana: tááá, ele é bem conversado, quando ele quer também...

Lohaine: e ele ta gatinhando já?

Luciana: não, ele ta ficando em pézinho já, põem as mãozinha pra cima já, se joga pra lá e pra

cá.

Lohaine: Ta ficando de boizinho já?

Luciana: tá

Lohaine: então daqui a pouco ele gatinha

Luciana: minha mãe que fala "ensina ele, se não ele vai ser um menino bobão" falei "aonde que

esse guri vai ser bobão mãe, ele não vai ser bobão não"

Lohaine: nessa geração não vai tem criança boba não.... as crianças nascem todas espertas

(risos)

Luciana: são mais espertas que a gente...

Lohaine: verdade

(risos)

Lohaine: Mas e você, como você tá, como ta se sentindo, porque gente tem mania de falar só

do filho.

Luciana: Ah, eu to bem tranquila assim, cansada... Eu vivo cansada só, mas de resto ta tudo

tranquilo, to dando conta, por enquanto né, por enquanto eu to dando conta né. Assim de vez

em quando eu estou tirando o tempo para mim amarrar os meus tapetes né e dormir também,

eu aproveito quando ele dorme para dormir também, mas também tranquilo ainda.

Lohaine: aah mas se você tá tranquilo agora, você já passou da fase mais difícil.

Luciana: ah graças a Deus!

Lohaine: você vai sofrer um pouquinho talvez quando ele começar a andar, porque tem que

ficar correndo atrás de criança, porque agora você coloca ele no lugar ele fica, depois você tem

que correr atrás dele né.

Luciana: Isso que é minha prima falou, "depois você vai ter que erguer tudo essas coisas, tirar

os trem tudo do alto que machuca, porque fica terrível" ainda mais aqui que não tem área Só

tem aquele portão ali, ele tem que aprender a ficar trancado Pior que ele já acostumou quando

ele sai ele fica achando estranho, acostumou a ficar dentro de casa.

Page 166: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

161

Lohaine: Antigamente você era bastante caseira?

Luciana: Sim, eu saio mesmo só na minha folga quando a gente marca alguma coisa a tarde, a

noite mesmo eu não saio fora da minha folga não, eu falo a minha folga é minha folga, é para

mim descansar aí eles ficam rindo de mim.

Lohaine:huum, entendi. Ah mas ele tem cara de ser uma criança bem tranquila mesmo.

Luciana: é ele não é muito chorão, só quando está com fome mesmo ou quando ele tá sentindo

alguma coisa aí ele chora, aí quando ele começa a chorar já pode saber que tem alguma coisa

incomodando ele, aí tá nascendo dente também pronto

Lohaine: Ah é já?

Luciana: Tá aprontando o dente sim, mas ele não gosta de mostrar de jeito nenhum esse dente

dele.

Lohaine: tá escondido ainda né tia, ainda é só seu né, fica mostrando com para os outros o

dente (se dirige ao bebê)

- risos

Lohaine: Aí o seu irmão fica com ele logo depois que você vai para o serviço e depois ele passa

para sua tia quando ele vai trabalhar? como é que é?

Luciana: é, no caso ele vai para o serviço né, hoje ele tá de folga, aí eu deixo com ela e na hora

que ele chega ele pega para mim .

Lohaine: aí fica até você chegar do serviço?

Luciana: uhum, aí ele já acostumou com os dois.

Lohaine: huum, entendi. Mas que bom que seu irmão te ajuda.

Luciana: ai ai graças a Deus! Aí a gente fica mais tranquilo.

Lohaine: É verdade com quem conhece né.

Luciana: que a madrinha dele até queria que eu mudasse, "ai vem para cá, a gente paga uma

babá" falei "Vou nada", se eu já tenho uma pessoa de confiança já já viu aí eu vou sair daqui

para arrumar outra pessoa que eu nem conheço, que ele não tem costume eu tenho muito medo.

Lohaine: verdade, ainda mais que ele já acostumou Nesse Ritmo né , depois para mudar é difícil.

Luciana: aí a minha mãe falou assim "não vai é perigoso até ele ficar doente" porque ele já

acostumou muito né.

Lohaine: e se apega né, ele deve ser doido no tio.

Luciana: é, fico o tempo todo caçando,para onde que você vai subir? (Se dirigindo ao bebê

que escala o carrinho)aqui a sua fralda, seu paninho.

- nesse momento ouve-se bastante vocalizações do bebê.

Lohaine: Veio conversar com a minha mãe tem que ouvir outra piada também tia, também

quero conversar Porque você não conversa comigo, só conversa com a mamãe porque? (a

pesquisadora se dirige ao bebê)

Luciana: você não quer mamar mesmo? (ainda se dirigindo ao bebê)

Lohaine: resolveu! não quer nada né fazer mamãe de besta só né que você quer

Luciana: direto ele faz isso!

Lohaine: Mas ele já mamou hoje?

Luciana: Só peito, mamadeira ele não mamou, Abaixa essa blusa, fica com esse pneuzinho de

Fora (se dirige o bebê enquanto abaixa a blusa)

Lohaine: vocês papel o dia inteiro né, eu que conheço a neta da vizinha, que a mãe dela é

silenciosa mas a vó Fala pelos cotovelos, e ela a vó dela que cuidava dela né, Elas moram junto,

mas essa menina fala mas fala, papeia, papeia e papeia, aí a mãe dela falava "misericórdia

minha filha fala demais", aí eu falava "uai ela cresceu com a sua mãe você quer o quê"

Luciana: éééé

- risos

Luciana: Ele também conversa bastante.

Page 167: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

162

Lohaine: é incrível a diferença da estimulação, quando a mãe tem costume de conversar

bastante com a criança, ela fica assim o tempo todo (se refere as localizações que o bebê

continua fazendo em alto som)

Luciana: o povo lá em casa também brincava bastante com ele.

Lohaine: mas vocês conversam bastante com ele né? quando estão fazendo alguma coisa, tipo

quando tão fazendo alguma coisa tá sempre falando com ele.

Luciana: aham, sempre.

Lohaine: é visível, em crianças que você não estimula tanto, não conversa com ela, ela fica mais

silenciosa.

Luciana: Ah agora tá até gritando.

- risos

Luciana: fala para ela "Espera aí eu vou pegar", é a mãe briga com você não briga? (Se dirige

a bebê)

- bebê começa a ficar irritado no carrinho

Luciana: ah você já quer sair daí de dentro não quer mais?

Lohaine: Você tá reclamando

Luciana: você já quer mamar? Agora quer né

Lohaine: tava chorando até tirar daqui aí já começa a rir, acabou o choro né, adoro um cabelo

né ele deu um puxão aqui no meu também.

Luciana: aham, gosta, esses dias eu fui no banco com ele aí a minha amiga foi comigo disque

para me ajudar, Tava com ele passou perto da mulher ele foi até fino no cabelo dela, ela disse

"meu Deus ele quase puxou o cabelo da mulher" eu falei que ele era desse jeito não pode ver

um cabelo, que ele puxa, o meu mesmo é só ele achar ele solto, mas gosta do cabelo.

Lohaine: ele tá respirando o ruídoso né? ele tá catarrento?

Luciana: tá, mas o médico falou que tá solto né, o catarrinho dele, diz que não tá… como é

que eles falam? Que o pulmão tá limpo, aí ele mandou ficar fazendo só o exame nele ou injetar

soro, 1 ml em cada lado do nariz, mas só que esse daí eu tenho dó de fazer, não tenho coragem

de fazer não.

Lohaine: o médico que falou para você fazer?

Luciana: Sim.

Lohaine: entendi, melhor não fazer Mesmo não não tá com tanto catarro para fazer assim e eu

acho perigoso.

Luciana: é, aí no caso, lá tem um médico mesmo e tem a, eu acho que a estagiária eu acho aí

ela tava me ensinando, aí ele falou assim que é um método que a gente faz mas que vai dar mãe

você vai querer fazer ou não, aí no meu caso ou não vou fazer, só que eles me deram o soro, a

seringa, só que eu prefiro fazer o outro lá é mais fácil, e judia menos também.

Lohaine: não tem necessidade também né, geralmente eles receita esse da seringa quando tá

com muito catarro e ele tá só um pouquinho.

Luciana: é ele tá com um pouquinho.

Lohaine: tá só chiando um pouquinho mas nem está escorrendo nariz né.

Luciana: não. você tá mamando? Você tem certeza que tá mamando? (se dirige ao bebê) ele

tá brincando com peito. Ele não gosta desse peito, mas é porque ele só gosta do outro, mas é

falo para ele "você vai mamar os dois, não vai deixar eu aleijado" mas ele mama bem pouco

esse aqui, estão mente de noite ele quase não manda esse aqui, ele mama só do outro lado.

Lohaine: Ah é essas crianças tem tanta Mania né

Luciana: acho que ele é igual eu mesmo, que eu sou manienta, e ele nasceu puxando tudo as

manias.

Lohaine: eu vou, a gente tem que aplicar um questionário, que eu não consegui achar a folha

impressa, aí eu vou perguntar antes, eu vou fazer a pergunta e você pode responder que: era

como antes antes de você ter o bebê, era menos do que antes tipo hoje em dia é menos do que

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163

quando você teve o bebê, ou é muito menos do que quando você teve ele e nunca que é tipo

depois que você teve ele parou acabou, você nunca se sentiu assim, exemplo, Tenho sido capaz

de rir e ver o lado divertido das coisas?Aí você responde se isso é tanto quanto antes de você

ter o neném ou diminuiu mudou? Você notou que mudou?

Luciana: mudou, eu acho que eu fiquei mais madura.

Lohaine: entendi, mas você consegue ver as coisas divertidas rir de si mesmo essas coisas?

Luciana: sim, qualquer coisinha.

Lohaine: Huum… tenho tido esperança no futuro.

Luciana: Tenho!

Lohaine: a mesma de antes? não mudou, até mais?

Luciana:um pouquinho, agora a gente pensa mais nele né, na gente a gente diminui um pouco.

Lohaine: entendi, tenho me culpado sem necessidade quando as coisas ocorrem mal, você tem

se sentido mais culpada pelo sobre as coisas?

Luciana: não

Lohaine: não?

Luciana: Não, nisso tá bem tranquilo

Lohaine: Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo

Luciana: Um pouco

Lohaine: é? e isso surgiu depois que ele nasceu?

Luciana: não, toda vida eu fui assim mesmo pronto

Lohaine: Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo.

Luciana: É, de vez em quando eu tenho medo.

Lohaine: E isso é depois que ele nasceu?

Luciana: fico com um pouquinho mais, porque é muito difícil né

Lohaine: até porque a gente tem medo do futuro sempre, em relação ao bebê e fica preocupada

com isso né.

Luciana: ééé

Lohaine: entendi, Tenho sentido que são coisas demais para você.

Luciana: Sim, é uma mudança…

Lohaine:Aí a gente tem essas opções: sim, a maioria das vezes não consigo resolve-las; Sim,

por vezes não tenho conseguido resolvê-lo como antes; não, a maioria das vezes resolvo

facilmente; e não, resolva tão bem quanto antes.

Luciana: acho que a segunda

Lohaine: Sim sim por vezes não tenho conseguido resolvê-los? né

Luciana: sim, isso.

Lohaine: agora você tem mais responsabilidade e tem vez você não consegue fazer?

Luciana: uhum, Isso mesmo.

Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal.

Luciana: não.

Lohaine: nunca?

Luciana: Não, eu durmo até demais.

-risos

Luciana: Quando eu tô cansada eu tô cansada, então eu durmo.

(nesse momento seu irmão Lucas se envolve na conversa rindo da afirmação de irmã)

Lohaine: ela tem dormido mal Lucas?

Lucas: hum, dorme igual a cama, cai na cama e se deixar acorda só outro dia.

-risos

Luciana: ele não chorando, durmo tranquilo.

Lohaine: ( se dirigindo ao bebê que sorri no carrinho) você também achou graça no seu tio?

- Risos.

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164

(Lucas se despede e sai)

Lohaine: Tenho-me sentido triste ou muito infeliz?

Luciana: triste de vez em quando, assim eu sempre me senti triste às vezes, sozinha, mas o

neném preencheu muito depois que ele nasceu, antes eu tinha bastante.

Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que choro?

Luciana: agora não, antes de eu chorar bastante agora não.

Lohaine: depois que ele nasceu você não tem tempo né

- Risos

Luciana: não tem tempo mais, o sufoco já passou.

Lohaine: (se dirige ao bebê )achei você bem mais sorridente no colo da mamãe tia

Lohaine: Tive idéias de fazer mal a mim mesma?

Luciana: não

Lohaine: nunca?

Luciana: Nunca tive isso não.

Lohaine: entendi, então... Mas e aí o que mais você tem para me contar? Que quer me contar

de como é que tá sendo , que eu não te perguntei?

Luciana: Ah eu acho que tá bem tranquilo, assim os outros falam a que até hoje eu não arrumei

um namorado nem nada aí eles falam "ah você tem que arrumar um namorado"aí eu falo "ah

não agora não" por quê eu vejo que é muito difícil, as pessoas querer uma criança, ou então

querer judiar, então eu falo para eles "não eu prefiro ficar só, só eu e o meu neném" eu acho

mais seguro, e mais feliz, que eu arrumar uma pessoa e ele fazer alguma coisa com ele aí eu

falei "a aí não" aí nesse, só nesse. que esse povo fica me enchendo o saco, Mas tirando isso tá

bem tranquilo.

Lohaine: uhum, eles ficam me esperando que você arrume um companheiro?

Luciana: É que eles falam que é para me ajudar aí eu falo "não por enquanto eu não estou, o

principal estou tendo com meu irmão, ele me ajuda bastante "então eu tô tranquilo, tô

precisando não.

Lohaine: Você sempre foi amiga do seu irmão assim?

Luciana: Sim, é que a minha mãe assim, nós crescemos juntos, só minha irmã que foi mais

Caçula que é minha mãe fala que nós dengô ela muito, agora nós mesmo eu não aguenta ela,

mas nós estamos bem Unidos assim, briga entre nós mesmos, faz as pazes.

Lohaine: entendi, porque o jeito que você fala do seu irmão, vê que vocês são bem

companheiros.

Luciana: é somos já desde pequena sim.

Lohaine: mas eu imagino né para ele um rapaz solteiro, sem filhos te ajudar dessa forma.

Luciana: ele fala assim eu não vou casar, não quero ter filhos, chega tá bom só o João Pedro tá

bom, assim que ele fala.

Lohaine: só quer ser tio?

Luciana: É, só que hoje tá muito difícil eu falo para ele "você tem que arrumar uma pessoa, mas

tem que saber a onde caçar né, se você caça um lugar ruim você não acha pessoas boas, você

tem que saber a onde caçar "mas ele disse que tá tranquilo ainda, que ele tá sossegado.

Lohaine: e ele já tem 30 né?

Luciana: Tem, 30 anos.

Lohaine: Quase a idade do meu noivo meu marido.

Luciana: é diferente né

- Risos

Lohaine: muito!

Luciana: Loguinho você se acostuma

Lohaine: espero

- risos

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Luciana: acostuma sim

Lohaine: e o pai dele? Vocês tem brigado por causa dessa distância? Porque parece que ele

está distante né?

Luciana: é bem tranquilo, mas nós não somos muito de conversar não, ele na dele eu na minha.

Lohaine: entendi, mas e a família dele ? não tem ninguém próximo?

Luciana: não

Lohaine: Não Mora Ninguém aqui?

Luciana: Não, família dele é toda de Salvador. aí não tem muito contato

Lohaine: e você acha que a, você sente falta desse contato? Não você e ele, mas do João

Pedrocom ele?

Luciana: Eu acho que, deve que mais para frente ele deve achar né, que ele vai querer saber ,

mas eu acho que o tio dele vai preencher o lugar, o tio dele é bem presente Então nesse ponto

aí eu, eu falo que tô fazendo a minha parte né agora ele não tá fazendo a dele, eu não posso

fazer muita coisa.

Lohaine: E você tem tentado, tentou já inclui ele nas coisas e ele não quis?

Luciana: É ele falou que ia ver e que não sei o quê, aí eu falei que não vou ficar insistindo.

Lohaine: você chama ele, e ele não...

Luciana: é ele não fala que não dá, não dá tempo. Então...

Lohaine: Parou de insistir né

Luciana: é, larguei mão.

Lohaine: entendi, mas você já tinha desde a gestação, você já estava se preparando para isso né?

Luciana: ééééé, que a gente brigou um pouco, ficou um pouco complicado Mas depois, falei "a,

se for para ser desse jeito não vai ser, eu não vou ficar aí sofrendo por causa de ninguém e nem

insistindo em uma coisa que não vai para frente né "aí eu abri mão

Lohaine: entendi

Luciana: por que não vale de nada fica insistindo nisso, então fui em frente. falei vou curtir só

o neném e pronto, vou ficar de boa.

Lohaine: entendi, né se você acha que isso é um assunto que traz Muita ansiedade ou sofrimento

para você?

Luciana: Não

Lohaine: hoje em dia não? E antes?

Luciana: já tive muita raiva no começo, mas agora não.

Lohaine: entendi

Luciana: agora bem tranquilo , nem me esquento mais, não vale a pena, eu acho que não vale

a pena esquentar a cabeça e sofrer, não vale a pena.

Lohaine: e no serviço falta de interrogação sua patroa tá tranquilo?

Luciana: Ela é bem tranquila, bem tranquila mesmo... esses dias o outro menino queria mudar

né, aí eles estavam precisando né, aí eles queriam me trocar para de manhã, aí eu falei "não de

manhã para mim não dá"

Lohaine: aí você é trabalhar que horas?

Luciana: Ia entrar às 7:40 né, e o Bate ponto e a ser 4 horas, mas no meu caso teria que sair

mais ou menos umas 6 horas de casa, e ia chegar aqui umas 5 horas da tarde, Aí eu falei não

vou ficar muito tempo fora de casa, falei que eu ia aproveitar ele muito pouco.

Lohaine: e ela entendeu bem sua escolha?

Luciana: aí eles ficaram meio assim mas eu falei que tava dando de mamar ainda, só que eu

nem falei que ele tava mamando leite porque eles podiam querer tocar né, por isso que eu nem

falei nada, mas eu não vou trocar não, porque eu quero curtir o máximo que eu puder dele,

quero deixar ele para trás não.

Lohaine: entendi, e seus tios que moram aqui?

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Luciana: agora tá todo mundo corrido, meu tio também ele ganhou, a mulher dele ganhou

neném também.

Lohaine: foi Esses tios que moram aqui?

Luciana: é um que mora lá em cima e o outro tá lá para minha avó, esse outro também tá

cuidando da filha dele para mulher dele trabalhar, aí ele que tá cuidando. aí de vez em quando

eu subo lá para ver eles, aí ele passa aqui também toda vez que ele vai por aqui ele passa aqui,

disse que para ver como é que tá as coisas.

Lohaine: entendi, sua família bem unida né.

Luciana: é minha família bem unida, não são briguento não.

Lohaine: bom, então eu acho que é isso.

Transcrição do 1° encontro individual

Gestante: Alice

Duração: 55 min

Lohaine: Então eu expliquei mais ou menos pra vocês como era o estudo né?

Alice: Uhum

Lohaine: e aí o que essa entrevista aqui com você ela consiste, pode ser que você fique até um

pouco desconfortável porque eu vou pergunta um monte de coisa ta, porque eu preciso tipo,

traçar um perfil, por exemplo, como eu vou fazer um manual de atendimento pros enfermeiro,

eu vou fala bem assim, "ó se vocês atenderem as gestantes, e fizerem isso, isso e isso, vocês

conseguem com que diminua o número de depressão pós-parto depois, entendeu? Então, mais

para isso eu tenho que falar, quais são essas gestantes, porque aqui é diferente de uma gestante,

exemplo, lá do Santa Isabel, que no meu bairro né. então é por isso que eu tenho que traçar um

perfil, com sua idade, é, como é a sua família, a sua escolaridade, esse tipo de coisa, então essas

coisas eu vou perguntar, ta bom?

Alice: Ta bom

Lohaine: então, quantos anos você tem?

Alice: 28

Lohaine: 28? é o seu primeiro bebê né

Alice: é

Lohaine: você é casada?

Alice: éé juntada né, não é casa do cartório mais...

Lohaine: é casada né, hoje em dia isso aí já é casado

Alice: Mora junto né

Lohaine: entendi, e seu marido tem filhos?

Alice: não,

Lohaine: não? é o primeiro dele também?

Alice: é o primeiro dele também!

Lohaine: ele tem a sua idade?

Alice: tem 22.

Lohaine: Ah mais novo. huum, legal. E quantos anos ele tem?

Alice: 22

Lohaine: ah, desculpa

-risos

Lohaine: éé, e os seus pais?

Alice: bom, aqui eu to morando aqui com a minha mãe né, mas minha casa é lá. só que eu num

tô lá ainda.

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Lohaine: aham

Alice: Aí meu pai, já tem um ano, é um ano e pouco que ele faleceu, aí eu moro aqui com a

minha mãe, e minha irmã ta morando aqui também porque o esposo dela faleceu recentemente

aí ela veio pra cá com as filhas dela

Lohaine: ah entendi.

Alice: só, eu, minha mãe, minha irmã, meu esposo e as meninas dela que nós mora aqui.

Lohaine: entendi, seu pai faleceu de quê? desculpa a pergunta indiscreta.

Alice: meu pai, ele tinha alzheimer, fico um tempo com alzheimer, aí depois que começou a

nascer um caroço aqui assim nele, ele descobriu que ele tinha câncer, aí ele foi pro hospital do

câncer e de lá ele não já não retornou vivo.

Lohaine: Entendi, ele tinha câncer de garganta ou boca?

Alice: de garganta

Lohaine: você estudou até quando?

Alice: ensino médio completo

Lohaine: e o seu marido?

Alice: meu marido, ele não fez ensino médio completo, parece que ele parou na oitava série.

Lohaine: ensino fundamental completo então né

Alice: uhum

Lohaine: entendi, ah e você nasceu aqui em Cuiabá?

Alice: foi

Lohaine: foi? e seus pais também, são daqui?

Alice: meu pai é da chapada e minha mãe, eu não sei de onde que ela é

Alice: MÃE A SENHORA É DAQUI?

Mãe da Alice: o que?

Alice: A SENHORA NASCEU AQUI NE CUIABÁ?

Mãe de Alice: não entendi

Alice: A senhora nasceu aqui em Cuiabá?

Mãe de Alice: não, aaah foi sim

- risos

Mãe da Alice: Bom dia, tudo bem?

Lohaine: Bom dia, tudo bem com a senhora?

Mãe da Alice: to bem graças a Deus, e nasci em Cuiabá.

Alice: Meu pai é de chapada né mãe

Mãe da Alice: hãm

Alice: Meu pai é de Chapada?

Mãe da Alice: Seu pai é de Chapada

Lohaine: entendi, ah, você trabalha?

Alice: não, eu saí do serviço

Lohaine: Você saiu do serviço porque engravidou ou antes?

Alice: Não, antes, eu pedi pra ser mandada embora, demorou muito tempo mas mandaram.

Lohaine: entendi, então quem trabalha aqui é só seu marido?

Alice: Aqui é só meu marido, minhã irmã e minha mãe ela recebe um auxilio, não é

aposentadoria é um auxilio.

Lohaine: Ela recebe do seu pai ou dela mesmo?

Alice: Não dela mesmo, do meu pai a gente tentou aposenta ele só que, mesmo ele com

alzheimer e os negócio a quiseram aceitar.

Lohaine: é Alzheimer é ruim pra aposentar, por causa que ele não tem muito sinais em exames,

você consegue detectar Alzheimer mesmo depois que a pessoa falece, aí você...

Alice: ah mais ele tinha bastante tempo já, bem uns 5 anos.

Lohaine: pois é, mas mesmo assim, Alzheimer é muito ruim pra aposentar.

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Alice: Ah num sei, acho que meu pai tinha Alzheimer, depressão, sei o que que ele tinha não,

mas era, no começo ele era muitooo..... tipo agressivo com minha mãe, as vezes ele acordava e

queria bater nela, as vezes ele mesmo se batia, com a cabeça na parede, ele era meio, ele era,

ele era, antigamente quando ele era com a minha mãe né, quando ele era mais novo, ele bebia

demais.

Lohaine: bebia?

Alice: era bebida e cigarro antigamente, aí depois um tempo ele melhorou com isso, passou a

ir na igreja e era, meu pai ele era assim mas ele não era uma má pessoa.

Lohaine: uhum, aquelas pessoas davam trabalho quando tavam bêbado, tirando isso...

Alice: tirando isso ele era bom, aí ele parou de bebe, parou de fuma quando começou a i na

igreja, aí depois, depois veio esse negócio, o Alzheimer, mas só que a gente não sabia que era

Alzheimer ainda né... Ele era muito violento, nessa questão de as vezes quer bater na minha

mãe, ou as vezes ele mesmo socava a cabeça na parede, tipo sei lá, falava que ele queria morrer,

que não sei o que. Aí teve um tempo, teve um dia que ele sumiu, que ele saía, ele tipo saía, não

tinha cristo que segurava ele aqui dentro não, aí ele saía, e ia pra outros bairro aí, um dia ele

saiu e não voltou, aí passou o dia todo, passou o dia todo sem vim, aí a gente começou a procurar

ele, e não achava, foi no pronto socorro, em vários lugar, aí ultima, ultima vez que a gente foi,

foi no pronto socorro aí ele passou num ônibus bem atras de mim e eu vi, essa parte da cabeça

dele e o boné dele.

Lohaine: foi sorte mesmo né

Alice: aham, achou ele, aí de lá pra cá ele só veio piorando

Lohaine: uhum, entendi. Então, você acha que ele teve depressão?

Alice: Eu acho que sim...

Lohaine: tinha um pouco né, no início. Mas ele tinha antes?

Alice: Não, ele era super ativo, esse quintal que agora é minha casa era dele né, ele fazia, tipo

ele fez uma rocinha lá né, plantava as coisas, ficava lá o tempo inteiro, ele era super ativo.

Depois da doença que ele ficou assim né. Dependente

Lohaine: entendi. Além dele, você tem mais alguém da sua família que tenha problema com

álcool?

Alice: Não, meus irmão bebe, mas não é assim igual ele bebia. bebe socialmente.

Lohaine: Socialmente né

Lohaine Você tem quantos irmãos?

Alice: 9

Lohaine: 9? é você e mais 9 ou...

Alice: Uhum, eu e mais 9

Lohaine: 10 filhos sua mãe teve?

Alice: 10 filhos

Lohaine: huum, são todos vivos?

Alice: São, graças a Deus

Lohaine: ééé, e a sua mãe, ela tem alguma doença? de base assim? tipo hipertensão essa coisa?

Alice: Tem!

Lohaine: Ela tem? ela é hipertensa? diabética também?

Alice: Uhum, diabética não, mas ela tem um monte de trenzera aí

Lohaine: de que?

Alice: aah de, ela tem dor de cabeça demais, aah é um monte de coisa, eu nem sei explica

direito

-risos

Lohaine: entendi, enxaqueca crônica eu também tenho. ô vida difícil!

Alice: ah ela, tem hernia parece que ela tem também. Dor no rim. dor não sei na onde...

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Lohaine: Ta sempre reclamando de dor em algum lugar. E os seus irmão tem? hipertensão,

alguma coisa assim? algum deles

Alice: Minha irmã que ta morando aqui ela tem, a outra minha irmã mais velha também tem.

Tem mais um irmão meu que tem.

Lohaine: Só? quantos irmãos e irmãs?

Alice: quatro irmão e 5 irmã.

Lohaine: Eu vou, depois a gente vai desenhar um pouquinho a sua família tá? porque preciso

fazer um genograma. É, e a sua mãe e o seu pai, eles estudaram?

Alice: não, minha mãe estudou acho que até a quarta série, me pai eu não sei. Mas ele sabia o

nome dele. escrever.

Lohaine: Sim, sabia assinar, meu vô também é assim.

Alice: Não sabia lê... a senhora foi até a quarta série né mãe?

Mãe da Alice: eu é.

Lohaine: Como fala, quarta série de antigamente você aprendia muito mais coisa que a quarta

série de hoje em dia né.

Mãe da Alice: eu estudava na escola lá, meu tio que era professor, mas aí ele morreu, acabou a

aula.

Lohaine: uhum, entendi. É, se teve outra gestação? aborto ou algo assim?

Alice: não

Lohaine: entendi, você fazia uso de contraceptivo? algum tipo? tomava pílula...

Alice: Antes eu toma por causa que eu tava fazendo negócio da espinha, aí a médica tinha

passado né, aí eu parei de fazer o tratamento, aí depois também meu esposo tinha feito, um....

aí como que é o nome do trem? pra saber lá o negócio dos esperma..

Lohaine: Espermograma?

Alice: É espermograma, aí o médico tinha falado assim que ele tinha esperma muito fraco, que

não sei oque...

Lohaine: A contagem era baixa

Alice: Aham, aí acabou que nós nem previnia não, falou "ah vamo vê"

Lohaine: aham

Alice: aí, mas num previnia, aí o esperma fraco ta aqui dentro!

-risos

Lohaine: não era tão fraco assim né

Alice: não era tão fraco como pensamos.

Lohaine: entendi, mas vocês queriam? tipo era um coisa que se acontecesse vocês estavam

felizes né

Alice: aham

Lohaine: entendi, legal.E você ou ele tem algum histórico de DST?

Alice: não

Lohaine: se fez aqueles teste rápidos né, que fura assim os dedos.

Alice: aham, fiz, fiz agora, eu tava com uns 5 a 6 meses, a doutora pediu também os exames de

sangue, porque eu não tinha feito no começo, aí eu fiz e agora também.

Lohaine: Uhum, entendi, e você pretende amamentar?

Alice: pretendo, como medo mais pretendo.

Lohaine: não, é mais a forma né, no começo você pode sofrer um pouquinho mais é mais a pega

Alice: é, que não é pra doer doer né

Lohaine: é mais a forma, dependendo como o bebê pega aí pode machucar, tem gente que a

mãe fica com o bico todo ferido né

Alice: minha mãe no primeiro filho dela o peito dela até minava sangue, mas mesmo assim ela

dava de mama

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Lohaine: é que o leite materno também é um santo remédio, tanto que você fala, as vezes o bico

do peito ta rachado a gente fala pra mãe deixar vazar um pouco e passar o leite na aureola, que

ele ajuda a cicatrizar.

Alice: que ele ajuda a cicatriza? olha eu não sabia disso.

Lohaine: Ele é, muito bom.

Alice: vou guardar isso né.

Lohaine: O leite materno até ajuda a cicatrizar, por isso que os médicos falam pra continuar

amamentando

Alice: aham

Lohaine: por causa que vai saindo o leite materno e já ajuda na cicatrização.

Alice: Vou fazer isso.

Lohaine: E como é que foi sua infância Ju?

Alice: foi boa, não tenho do que queixar não, a unica coisa que eu fiquei um pouco assim é que

a minha mãe não deixava a gente saí né, mesmo depois de maior assim ela não deixava.

Lohaine: trazia todo mundo na rédia curta

Alice: Aham, na rédia curta, aí a unica coisa assim que eu tenho de reclamação, era isso, porque,

as vezes queria ir na feira, queria saí com alguma colega, ela não

Lohaine: ela nunca deixou.

Alice: esse cachorro ronca..

Lohaine: Eu sei como é, as minhas também roncam, as pittbul roncam alto pra burro

Alice: se tem pittbul?

Lohaine: tenho, tenho duas.

Alice: que cruzar?

Lohaine: oi?

Alice: quer colocar pra cruzar com ele?

Lohaine: aaah não, é que lá em casa a gente não coloca cachorro pra cruzar, é difícil, mas vou

vê com meu pai, quem sabe.

Alice: a gente ta procurando faz dias pra cruzar e não acha.

Lohaine: Vou conversar com meu pai, que é mais dele né.

Alice: aham

Lohaine: é, você cresceu aqui nessa casa?

Alice: foi

Lohaine: todo mundo cresceu aqui

Alice: é a gente morava no Alvorada e do Alvorada a gente veio pra cá.

Lohaine: você veio pra cá com quantos anos?

Alice: foi com 5 mãe

Mãe da Alice: ah mais, 3 anos que se tava né

Alice: é 3 à 5 anos, eu não lembro

Lohaine: era bem nova né

Alice: aham

Lohaine: E seus irmãos, se sempre se deu bem com eles?

Alice: Sim, aqui em casa não tem, esses tempo teve uma desavença entre minhas irmãs mas

acabou que, elas já se acertaram.

Lohaine: desavenças tem em todas né

Alice: é

Lohaine: Eu com a minha irmã, até eu pegar uma idade, nós brigava igual cachorro com gato,

coitada da minha mãe. Ela já chegou de pegar nós duas com uma vara, colocar nós abraçadas

juntas e bate, bate um e cada uma assim pra vê se parava.

Alice: Meu pai falava que quando ele brigava com o irmão dele, dava uma vara pra cada um,

aí eles se batiam, ele batia no irmão dele e irmão dele batia nele.

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Lohaine: pois é, e o seu marido tem quantos irmãos?

Alice: tem duas

Lohaine: Duas? então são 3 ele e mais

Alice: Ele e mais 2

Lohaine: São mulheres ou homens?

Alice: Duas mulher mais uma quer ser homem

-risos

Lohaine: Ah uma é lésbica?

Alice: é

Lohaine: entendi, e ele nasceu aqui em Cuiabá também? se sabe?

Alice: Foi, uhum

Lohaine: Os pais dele são vivos?

Alice: São, mas o pai dele é lá de Campo Verde, e a mãe dele é daqui mesmo

Lohaine: São separados?

Alice: uhum

Lohaine: entendi, e ele se dá bem com a família dele?

Alice: Com a mãe dele e com as irmã dele sim, com o pai dele, ele não gosta muito porque o

pai dele não criou ele.

Lohaine: ah sim o pai dele, abandonou eles novinhos? separou da mãe deles novinhos?

Alice: aham, é

Lohaine: entendi. E você se da bem com sua sogra e cunhadas?

Alice: dô, dô

Lohaine: entendi, éé, e ele, ah já perguntei isso desculpa, ele cresceu aqui em Cuiabá tambem?

Alice: Foi

Lohaine: Foi, cresceu né, entendi. Ele trabalha de quê Alice?

Alice: agora, ele, bom a carteira dele ta assinada como encarregado de almoxarifado né, lá no

Confrade.

Lohaine: Confrade?

Alice: aham, o restaurante

Lohaine: ah restaurante, falei "o que que é confrade" não conseguia lembrar, entendi,

legal. Aqui no seu bairro é periférico igual o meu né, aqui no seu bairro o seus irmãos tiveram

contato com droga? algum deles?

Alice: Não que eu saiba

Lohaine: Não que você saiba né, Graças a Deus.

Alice: Graças a Deus.

Lohaine: Porque querendo ou não, porque aqui é igual o meu bairro né, uma realidade que tem

em todo canto, infelizmente, no meu bairro também, os rapazes da minha idade, que eu lembro

de quando eu era criança, uma galera, todos involvido com drogas.

Alice: com drogas né, verdade

Mãe da Alice: minha filha só toma a cervejinha dela né, dos dez filhos que eu tive graças a

Deus, Deus me abençoou tanto que... todo mundo trabalha, cada qual com sua responsabilidade,

com sua família.

Lohaine: entendi, que bom. Se tem bastante sobrinhos Alice? Com esse monte de irmão você

deve ter um monte de sobrinho né.

Alice: tem, tem uns, eu acho que uns 18 né mãe?

Mãe da Alice: Quê?

Alice: Sobrinho

Mãe da Alice: acho que sim

Alice: tem mesmo, tem até de sobrinho, meus sobrinho já tem tudo filho.

Lohaine: Ah, você já é tia-vó como dizem

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172

Alice: é, tia-vó, aham. Daqui o único que não tem filho é meu irmão, que ele gêmeos, aí ele é

o único que não tem, mas o outro já tem.

Lohaine: ah seu irmão e gêmeo? se tem irmãs gêmeos?

Alice: Sim eu tenho irmãos gêmeos

Lohaine: São iguais?

Alice: não

Lohaine: não, são diferentes? é dois homens?

Alice: é dois homens!

Lohaine: E ele são muito unidos?

Alice: não muito né mãe? conversa assim, unido igual outro, mas não de ta na casa do outro

conversando né

Lohaine: igual os outros irmãos né

Alice: uhum, até porque um conversa e o outro num é de conversar muito, é mais quietão na

dele.

Lohaine: é? é igual mais é diferente né

-risos

Alice: é diferente.

Lohaine: E você não tem medo de ter dois de uma vez também?

Alice: ah eu pensei que eu ia engravidar de gêmeo também, mas não engravidei não, graças a

Deus, se não eu ia morre

Lohaine: criar dois né

Alice: huum, só com esse um eu já to sofrendo, padecendo aqui.

Lohaine: entendi, e me fala um pouquinho mais do seu pai. Ele contava pra você como foi a

infância dele?

Alice: não

Lohaine: não? ele tinha bastante irmãos?

Mãe da Alice: tinha 22 parece né

Alice: 22?

Lohaine: 22? etâ pega

- risos

Mãe da Alice: Só que era duas mães né, não é só de um mãe

Lohaine: ah sim, entendi. Ele tinha irmãos e meio-irmãos né, entendi.

Alice: Mas também não teve, nós não tem muito contato assim com parente nosso, único que

a gente tinha mais era o Juca né mãe?

Mãe da Alice: Aham

Alice: Mais ele também faleceu.

Mãe da Alice: é que mora muito longe num tem?

Alice: é tudo lá do Paranatinga

Mãe da Alice: aí seu pai mudo pra Cuiabá, eles ficaram pra lá, o que mora aqui é difícil de ver

Alice: Mora no, é Planalto né mãe

Mãe da Alice: Quem?

Alice: o pai, os parente do pai é do planalto

Mãe da Alice: Planalto da Serra, pra lá de Chapada um pouco.

Alice: Mas ele tem ainda irmão vivo, minha tia de vez em quando vem aqui.

Lohaine: entendi.... Ju eu nem perguntei, o seu é um guri ou uma menina?

Alice: guri

Lohaine: Guri? como vai se chamar?

Alice: Miguel

Lohaine: Miguel?

Page 178: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

173

Alice: uhum

Lohaine: Os Miguel que conheço são todos espertos pra caramba

Alice: é?

Lohaine: conheço uns 3 que é tudo...

Alice: serelepe, abençoado?

Lohaine: não, não são serelepe assim de, tipo ser terrível, são assim de esperto, de pega as

coisas, de aprender com uma velocidade que você tem que ficar até, de olho no que você fala

perto dele.

Mãe da Alice: iiih tem uma neta que é assim

Alice: tem uma aqui que é assim

Mãe da Alice: ela mora bem aqui, menina ela não tem nem 2 anos né Alice?

Alice: ela já tem mãe, ela fez agora, semana retrasada.

Mãe da Alice: é? essa minina, muito esperta

Alice: pior que ela é mesmo, se ensina uma coisa assim pra ela

Lohaine: uhum, aprende rapidão né

Alice: Aprende rapidão

Lohaine: entendi, ééé, oque que eu ia pergunta pra você, agora esqueci....

Alice: Seu áudio vai sair só os passarinhos, as vezes eu gravo lá dentro do quarto alguma coisa

do bebê mexendo, ou ele faz alguma coisa, sai tudo os barulhos do passarinho.

Lohaine: sai? não tem importância, chega em casa eu ouço e escrevo tudo que foi falado no

áudio, dá um trabalhos...

Alice: vai ouvir só periquito

Lohaine: você espera ter mais filhos agora, depois desse? ou quer parar por aqui

Alice: eu quero parar por aqui, não quero ter mais não, no começo é muito ruim por causa das

náuseas, azia, a melhor parte é dos 4 mês até os 7 mês, depois é azia de novo, é, essa noite

mesmo eu não dormi com ele endurecia demais, enfiava na minha costela, outra hora ele tava

muito aqui em cima doía meu estômago, ah só sofrimento.

Lohaine: minha mãe fala que, quando ela tava gravida parece que enfiava, os pés debaixo da

costela, se não consegue respirar.

Alice: Uhum, ele passa a noite toda assim, doí. Enquanto isso se ta lá acordada e o marido ta lá

do seu lado roncando, nem acorda pra saber se se ta viva ou se ta morta. Ave Maria.

Lohaine: Ses tão juntos a quanto tempo?

Alice: dois anos.

Lohaine: entendi, deixa eu te falar, éé...... eu queria que você me ajudasse, você já viu,

genograma familiar?

Alice: tipo aquela árvore?

Lohaine: é, tipo árvore genealógica, então a gente vai fazer uma de você e se você me ajudar

do seu marido também.

Alice: uhum

Lohaine: Então a gente coloca aqui, a sua mãe e seu pai, aí seu pai é falecido né, seu pai tinha

quantos anos quando faleceu?

Alice: tinha quantos?

Mãe de Alice: 70 anos

Lohaine: e a senhora, tem quantos anos?

Mãe de Alice: Eu tenho 70.

Alice: Na verdade me pai tinha mais, porque foi ele mesmo que se registrou né mãe?

Mãe de Alice: é ele que registrou

Alice: aí ele colocou a data que ele achou que era.

Page 179: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

174

Mãe da Alice: ele aumentou a idade dele, ele morava pra lá aí passou do tempo do quartel, não

acho que diminuiu, passou do tempo do quartel e como ele queria alista num tem, e não era

registrado...

Alice: ele foi lá e se registrou

Lohaine: Nossa então ele, se registrou com mais de 18 anos?

Mãe da Alice: ele se registou com menos de 18, ele já tinha 18 e ele num, aí como, com 18 ano

já tinha que tá aqui, ele registrou com menos, pra ele poder.

Lohaine: não então, o que eu quis dizer é que ele se registrou ele já tinha mais de 18 anos e se

registrou

Alice: aham

Lohaine: Nossa ele se registrou grande pra caramba.

Mãe da Alice: Aí depois, eu num sei direito porque eu não conhecia ele né, conheci ele já...

parece que num sei, mais era 3 ou 4 ano que ele colocou a menos, segundo ele né.

Lohaine: uhum, nossa! não mais antigamente isso era muito comum, eu tinha uma, minha

bisavó ela morreu registrada com 99 anos, ela falou que quando ela foi registar ela lembra, ela

tinha uns 5 ou 6 anos.

Alice: Hoje em dia não saí do hospital sem o registro né

Lohaine: Aí hoje me dia meu pai fica rindo da minha mãe falando que ela, vi viver igual o povo

dela, fica pra semente.

-risos

Lohaine: e seus irmãos, qual a ordem de nascimento deles?

Alice: tipo, quem que nasceu primeiro?

Lohaine: é, quem que nasceu primeiro?

Alice: Foi minha irmã.

Lohaine: foi uma mulher?

Alice: aí depois veio meu irmão

Lohaine: um rapaz

Alice: depois quem mãe?

Mãe da Alice: Foi Silvana

Alice: Silvana

Mãe da Alice: aí Jorgea

Alice: Jucinei

Mãe da Alice: Jucinei

Lohaine: Jucinei é rapaz ou mulher?

Alice: éé um rapaz

Lohaine: é um nome que pode ser pros dois né

Alice: uhum, aí foi Mariluce né mãe

Mãe da Alice: é

Alice: aí veio o Gêmeos

Lohaine: aí veio os gêmeos?

Alice: Juliano e Julio

Mãe da Alice: Aí Rosângela

Alice: Aí Rosângela e eu

Lohaine: aí você, você é a caçula?

Alice: aham.

Lohaine: entendi, você sabe a idade dos seus irmãos?

Alice: não sei

Mãe da Alice: Eu também num sei, eu sô mãe mais não sei não

-risos

Lohaine: fica lembrando de todos né

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Alice: até data de aniversário passa batido pra mim, comigo assim eu não lembro muito não

Mãe da Alice: Eu num sei o ano nem a idade deles assim, só eles mesmo que sabe.

Lohaine: Qual é o irmão que você é mais próximo?

Alice: Minha irmã mais velha antes de mim

Lohaine: a que nasceu antes de você? ela tem quantos filhos?

Alice: 3

Lohaine: 3, são do mesmo pai?

Alice: é

Lohaine: São meninos ou meninas?

Alice: As 3 meninas

Lohaine: e agora do seu marido, você falou que os pais deles são separados né, e tem 3 filhos,

se sabe a ordem de nascimento deles?

Alice: Foi primeiro a Alice...

Lohaine: ele também tem uma irmã chamada Alice?

Alice: Aham, aí foi a Gilmara e aí foi ele

Lohaine: caçula

Alice: aham

Lohaine: só pra saber aqui, são vocês. Esse aqui eu vou fazer bonitinho e depois te mando bem

bonitinho.

Alice: Eu não sei como se entende depois

-risos

Lohaine: Outra coisa, se lembra que a gente tava conversando sobre rede de apoio?

Alice: Rede de apoio... que era uma mãe apoiar a outra, ou o marido...

Lohaine: é sobre as pessoas que você tem uma relação de apoio, pessoas, instituições, e tal.

Alice: aham

Lohaine: aí a gente vai fazer, tem um instrumento que a gente utiliza pra gente, desenhar rede

de apoio, chama ecograma ou ecomapa, aí é mais ou menos assim, primeiro a gente coloca a

sua família aqui, que é você seu marido e a sua mãe. Quem é que você acha que são os mais

próximos de você?

Alice: do meu marido e da minha mãe ou é com todo mundo?

Lohaine: não de todo mundo, assim que são as pessoas que você sabe que você pode contar?

Alice: daqui de casa são todos mundo, meus irmãos...

Lohaine: todos seus irmãos

Alice: aham

Lohaine: então são relações fortes né que a gente fala

Alice: Meu esposo também eu posso contar com ele.

Lohaine: uhum

Alice: mas a família dele não sei se tanto não

Lohaine: tudo bem, é o que você acha, é a sua percepção. Da sua família, então a gente nunca

vai falar assim "não mais, sério? como você diz isso"

Alice: Não mais, eles apoia, no começo não apoiava não, porque no começo eu lembro que ele

até gravou um vídeo da mãe dele, porque ele morava lá no Cabral, aí no começo ele vinha pra

cá, aí ele ficava aqui e aí ele ia embora tarde, as vezes ele ia embora 1 hora da manhã, aí teve

até uma vez que ele gravou um vídeo da mãe dele brigando com ele, porque ele vinha pra cá

atras de mim e não sei o que, aí desde esse dia, mais conversa e tudo, mas eu acho que não

apoiaria assim não.

Lohaine: uhum, entendi. E as instituições assim, você acha que você acha que tem um

relacionamento bom? tipo assim, que o que você precisa dela você consegue, sabe? Quais são?

Alice: aah acho que nenhuma direito assim...

Lohaine: é?

Page 181: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

176

Alice: Porque lá no postinho mesmo, por exemplo, ontem não consultei

Lohaine: então tipo, aí se coloca aqui PSF, e tem uma relação bem fraca e não é reciproca.

Alice: O Júlio Muller, quando eu precisei deles, eles me atenderam bem.

Lohaine: Atenderam bem?

Alice: Aham

Lohaine: entendi, é o serviço do seu marido? eles ti dão suporte tipo, plano de saúde essas coisas

ou não?

Alice: não, só suga o coitado

Lohaine: só suga?

Alice: só, é pau pra toda obra lá'

Lohaine: entendi, aí seus irmãos você disse que todos você pode contar, mas só que a mais

próxima e a que mora aqui?

Alice: é a que mora aqui do lado

Lohaine: aah pensei que era a que mora aqui mesmo na sua casa.

Alice: não a que mora aqui em casa não é não, eu converso assim mais

Lohaine: aham, como é o nome da sua irmã que mora aqui do lado

Alice: aqui do lado? Rosângela

Lohaine: Já que você é mais próxima a ela a gente dá mais ênfase nela né, na família dela, ela

é casada?

Alice: uhum

Lohaine: e se é próximo ao marido dela também?

Alice: uhum, eu converso com ele, porque é tipo eu dela e meu esposo do marido dela

Lohaine: ah seu esposo e ele são bastante unidos?

Alice: Uhum

Lohaine: fica mais fácil né o convívio, entendi. E os seus sobrinhos, você tem uma ligação mais

forte com algum?

Alice: Com a filha dela, a ultima menina

Lohaine: entendi, a menor. Se tem alguma com seus irmãos que é um pouco mais conflituosa?

Alice: Não

Lohaine: O são mais fracas ou são mais fortes as relações, mas todas são bem amigáveis.

Alice: ééé são

Lohaine: entendi, e o seu marido?

Alice: bom aqui dentro de casa ele conversa com todo mundo, não tem nenhum conflito com

ninguém não.

Lohaine: entendi, e com a família dele?

Alice: Com a família dele.... só o pai dele que ele não gosta né, não tem contato com o pai dele,

deixa eu vê, ah ele tem negócio de família mesmo, ele briga... ele não gosta da mulher da irmã

dele, aí as vezes, tipo num conversa também, porque ela faz a irmã dele muito de besta, essa

parte eu concordo com ele, ela tira tudo que a irmã dele tem ela tira. e ele não gosta, ai ele pra

não caçar confusão com ela ele também não conversa com ela. Só, e a irmã dela agora, que deu

uma confusão com a irmã dele e mas disque já tava conversando.

Lohaine: entendi, e a sua irmã que mora aqui com você, qual delas é?

Alice: Mariluce, depois do Geovania, Lucelina, Silvana, Jorgea, Lucinei e Mariluce

Lohaine: Essa? ela é antes dos gêmeos

Alice: é

Lohaine: E tem espaço pra todo mundo?

Alice: Tem

Lohaine: A casa é grande?

Alice: é, até sobra quarto...

Lohaine: Ah nossa

Page 182: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Alice: é porque, lá no quarto que ela ta dormindo era o quarto da minha mãe, minha mãe fica

pulando de quarto, meu irmão arruma o quarto pra ela e vai e pula pro outro, aí ele vai e arruma

o outro ela vai e pula pra outro, já arrumou 2 quarto pra ela, ela já foi e pulou pro outro.

Lohaine: Uai porque?

Alice: Por causa que ele forra, e ela não gosta de forro, porque ela fala que fica muito escuro e

não sei oque

Lohaine: aah entendi

- risos

Alice: Aí ela fica, quem mandou você arrumar

Lohaine: Ele arruma forro em um, ela passa pra outro, ele arruma forro desse..

Alice: ela muda pra um que não tem, agora ele arrumou forro, no quarto que é do lado do meu,

não, ele arrumou no meu, aí ela ah porque é muito escuro, aí ele colocou uma tela na janela pra

não entrar musquito, mesmo assim ela não quis, aí ele arrumou do outro lado, aí ela não quis,

aí arrumou o dela mesmo pra ela dormir, aí ela não quis, aí ela ta no outro quarto que não tem,

aí ele falou que não vai arrumar mais.

-risos

Alice: porque ele vai arrumano e ela vai pulano de quarto pra quarto

Lohaine: então esse irmão é o que mais vem aqui?

Alice: todos eles vem aqui, todo dia... não a minha irmã mais velha que não vem todo dia, mais

o restante todo mundo, porque, a minha irmã mora aqui, a outra minha irmã mora, que eu tenho

mais negócio mora aqui do lado, tem uma irmã minha que mora no bairro aqui do lado, mas

todo dia de tarde também ta aqui, meu irmão mora do lado da minha casa lá, e a minha irmã

que quase não vem aqui mora na 22, e essa minha irmã que ta morando aqui mas a casa dela

também é na 22, mas desde que o marido dela faleceu ela passou a mora aqui. E a unica que

não vem aqui muito é a minha irmã mais velha.

Lohaine: São todos bem próximos então né, vem todos os dias seus irmãos aqui

Alice: aham, vem todo dia.

Lohaine: Legal, bom que sua mãe não se sente sozinha.

Alice: não, que nem eu falei, porque eu ia mudar né, aí tava arrumando as coisas lá pra mudar,

aí minha mãe ia ficar sozinha porque, aqui querendo ou não, era eu, ela e meu irmão, aí meu

irmão arrumou uma mulher, tem vem aqui, fica só pra lá.

Lohaine: ah então tipo ele não foi de vez mas também não fica aqui.

Alice: é, ele não foi de vez mas ele não fica aqui, aí ele vem, ele trabalha viajando né, aí ele

vem aqui traz a roupa pra minha mãe lavar, deixa aí toma banho e vai pra casa da mulher. Aí lá

na casa da mulher ele fica uns dias pra lá aí quando ele tem que viajar, ele vem e pega a roupa

que minha mãe lavou e viaja, aí fica assim, aí no caso se eu saísse ia ficar ele e minha mãe,

mais agora como minha irmã ta morando aqui, a´vai ficar minha irmã com ela.

Lohaine: entendi, e você vai pra sua casa depois que o bebê nascer?

Alice: pretendo ir né.

Lohaine: aí se vai, quer dizer, com certeza se vai pra maternidade, depois vem fica aqui um

tempo, né.

Alice: eu pretendo ficar aqui um mês, mas que nem eu falei pra ele, como só ele que tá

trabalhando fica um pouco puxada né, daí eu queria só que ele cobrisse a parte do fundo lá de

casa, porque o quarto fica muito quente, pra mim fica lá com o bebê, porque na frente não tem

área, não tem, tinha 2 pé de jaca, os dois morreram. Aí fica super quente, aí eu falei pra ele, se

pelo menos cobrisse lá no fundo já dava pra muda né, porque, já tem luz, já tem água, já ta tudo

lá.

Lohaine: ah deve ser porque o sol bate na parede né, por isso que fica quente.

Alice: é o sol da manhã bate na cozinha no caso e o sol da tarde bate no quarto.

Page 183: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

178

Lohaine: igual lá no meu quarto, quente que fica né. Aí se tem que colocar uma área pra... não

bate na parede direto né

Alice: é aí no caso teria que ser lavanderia, ai bate na área de serviço. também só falta cobri lá

a área de serviço, aí ele que fazer muro, porque o pessoal faz do nosso quintal uma rua, todo

mundo passa.

Lohaine: Mas é aquela história né, quando se precisa que você não tem pra onde ir, tem que sai

da casa dos seus pais é uma coisa, aqui você tem todo suporte.

Alice: é uma coisa, mais ele quer sair, ele quer sair, ele fica assim, ele fala "aí ate quando vai

ficar aqui, e depois que Miguel nascer nós vamos" eu falei, calma, não é assim, porque lá só vai

ficar eu e ele, eu de primeira viagem, ele de primeira viagem, como que vai conseguir cuida do

guri direito, aqui ainda tem minhas irmãs, tem minha mãe que vai ajudar, aí as vezes ele emburra

assim negócio, por causa disso, mas eu falo pra ele, eu até falo pra ele "se você quiser mudar

se vai, se muda sozinho porque eu não vou agora", "ah mais eu não vô se você não vai que não

sei o que"

Lohaine: Ah mais eu acho que deve ser bem desconfortável pra ele assim né morar só com a

família do outro né, a sua.

Alice: Não mais na verdade, é porque é assim, ele foi criado meio que solto, ele, é que

antigamente ele disque era MC, aí ele ficava só de canto, de cidade em cidade, ia pro Planalto

outra hora tava em Poconé, outra hora tava em Mimoso, não era criado assim junto da mãe dele,

ele foi criado mais pela vó dele, aí depois de uma certa idade que ele passou a conviver mais

com a mãe dele, que daí ele começou a trabalhar né, começou a pegar mais responsabilidade,

aí ele começou a mora com a mãe dele, aí tanto e que a mãe dele zangava dele vim pra cá no

começo, e também zangava pela minha idade, porque a gente é meio que aparentado distante,

sei lá... A vó dele é minha prima de segundo e a mãe dele também é prima, eu não sei, não tem

como descobri assim...

Lohaine: Ela com a sua mãe é parente mais de consideração né

Alice: é, aham

Lohaine: é bem distante

Alice: é bem distante, aí ele vivia assim, ele vivia com a vó dele porque ele brigava demais com

a mãe dele, aí depois de um certo tempo que ele começou a viver com a mãe dele, aí depois

que... porque eu já conhecia ele, conheci ele no velório da minha vó, que é bisavó dele, aí eu

conheci ele de vista lá né, nem conversei nem nada, aí depois que a gente começou a se falar,

na época também ele era novo, acho que ele tinha 16, eu já tinha mais de 18. Naquela época

também disque ele não queria nada com nada, era só viagem, canta funk e não sei oque.

Lohaine: Eu não perguntei como que é o nome do seu esposo?

Alice: Julian

Lohaine: Julian e Alice, já combina, já dá pra vocês montar a dupla

Alice: a dupla né

-risos

Alice: Aí ele era assim, ele era criado solto depois que ele passou a mora com a mãe dele, ai

acho que também a mãe dele acho que não gostou um pouco porque, meio que ele era a fonte

de renda da casa. Mas, aí como eles brigaram aí ele saiu, aí eu falei pra ele, assim, aí ele passou

a dormir aqui em casa e daqui mesmo ele ficou, até hoje.

Lohaine: nunca mais saiu

Alice: nunca mais saiu

-risos

Lohaine: entendi

Alice: aí no caso até hoje a mãe dela acha que ele é tipo obrigado, a dar dinheiro pra ela, mas

tipo ela tem tem que entender que não é mais lá, ele é aqui agora. aí as vezes eu zango um pouco

por causa disso mais, e jogo também, é tipo, muito viciado em jogo de computador.

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Lohaine: Ah, meu noivo também joga.

Alice: é? ele era um jogo lá, que ele passava o noite inteira acordado, as vezes a mãe dele achava

que ele tava dormindo ou levantando aquela horário, mas ele ainda tava acordado, não tinha

dormido nada, era dia e noite trancado no quarto, só saía comia alguma coisa e voltava pro

quarto, até esses dias atras ele tava, aí depois parou de jogar lá porque, vendeu o computador

dele, aí ele baixou o tal do free fire minha filha, não sei se é esse que seu noivo joga.

Lohaine: Ele joga pelo celular:

Alice: é, pelo celular, pior coisa da vida é esse troço, teve um tempo, esses dias atrás eu só

chorava porque ele não enturmava mais, era sempre sempre dentro do quarto, dentro do quarto

dentro do quarto, falava com ele, ele só "ahãm? que? sê falou comigo?" era assim, agora ele

voltou, depois que eu peguei no pé dele, conversei, ai ele voltou a se enturmar com o pessoal

aqui de casa.

Lohaine: Ele parou um pouquinho com o jogo?

Alice: uhum, ele ainda joga mas, e mais a noite quase perto de ir dormir.

Lohaine: só pra relaxar pra dormir né, entendi. E seus planos, depois que você ter o bebê, você

quer voltar a trabalhar?

Alice: eu quero voltar a trabalhar, até porque eu tava procurando emprego, mais eu não sabia

que tava grávida.

Lohaine: ah entendi, se trabalhava de que?

Alice: lá no Comper, era na padaria, só que lá era muito, muita coisa pra uma pessoa só, antes

quando eu comecei lá eu entrava 2 horas e saía 10:20 da noite, a foi eu batendo na mesma tecla

até que mudaram eu de horário, aí eu comecei a entrar 10 horas da manhã e saía 2:30 da tarde,

só que aí depois, sabe quando o encarregado gosta de uma pessoa, aí fica assim com aquela

pessoa mais pra você não ta nem aí? então aí ela ficava, ela vinha de lá, ela puxava o saco de

uma menina lá, porque a menina chamava ela até de mãe e pra mim era só serviço e mais nada,

aí eu fui injuriando, aí falei "ah não, eu quero sair". Daí ela pirraçando pra eu não sair e

pirraçando ela pra sair, aí que acabou que trocou de encarregado, veio outro e eu sempre

pedindo pra sair, eu tentando, aí o outro encarregado foi la e conversou aí a gerente falou que

não ia manda eu embora porque era boa de serviço e não sei oque, aí foi indo, foi indo aí eu

comecei a faltar, aí foi que eles me mandaram embora, eu tinha dois anos lá.

Lohaine: Aí depois que seu bebê nasce, depois que ele pega uma idade né, aí se quer voltar a

trabalhar.

Alice: aí eu vou voltar a trabalhar

Lohaine: e estudar, você nunca teve vontade de fazer faculdade?

Alice: eu não, eu era muito negócio com... eu mexia muito com negócio de desenho, eu gostava

muito de desenha, eu parei assim, mas antes eu gostava muito de desenha, de... sei lá eu ficava

lá no meu quarto fazendo as coisas. Aí eu ficava lá, desenhava, dormia, gostava muito de

dormir.

-risos

Lohaine: entendi, deixa eu ver, acho que é mais isso Ju, acho que é só isso, mais a gente vai

conversando, aí eu falei que acho que a gente mais fazer mais um, que nem eu falei pra vocês

que eu queria fazer sobre amamentação né, acho que vai ser 'bom pra vocês que já ta perto né,

só que a minha professora, que ela...

Alice: é aquela que foi na primeira reunião?

Lohaine: Não, é uma outra, é que eu tenho uma orientadora e uma coorientadora, é minha

coorientadora.

Alice: Aquela da reunião, ela é o que?

Lohaine: Então aquela lá e a Rosa Lúcia, minha orientadora. Só que aí ela não trabalha nessa

área, a outra que trabalha, ele trabalha com pós-parto, ela faz até estagio lá no Julio Muller, aí

Page 185: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

180

ela fica lá na maternidade mesmo né, na GO né, na obstetrícia, e aí ela cuida disso, de atender

as gestantes que já teve bebê, ajudar com banho, essas coisa né.

Alice: É eu quero ir pro Julio Muller quando eu for ter o bebê.

Lohaine: é aqui é referencia lá, então é pra lá mesmo.

Alice: é mais aí se chega lá e não tiver vaga eles manda pra outro lugar né

Lohaine: é mais é bem difícil, porque causa que como você é de referência lá, você é da região,

você automaticamente eles sabe que eles que tem a responsabilidade pelo seu parto entendeu.

Alice: é porque, no começo eu não fazia aqui eu fazia lá no Paiaguás, mas no Paiaguás também

a referência é lá. Porque no postinho daqui ave maria, fui lá, não era o postinho daqui, tava

reformando, era só uma casa.

Lohaine: Ah sim, era na época que tava de reforma né, eles tavam numa casa mesmo

Alice: era uma casa lá em cima lá, era dividido por cortina, era um buração assim no teto, vish

maria, aí eu não fiquei lá, aí eu fui pro Paiaguás, aí no Paiaguás eu tive, eu andava muito de

moto, aí eu tive sangramento, daí eu tive, como pra eu ir pra lá eu tinha de ir de moto, aí eu fui

e disse "agora eu vou ter que mudar pra cá", aí eu mudei pra cá.

Lohaine: só que aí já tava reformado né, já tava ajeitadinho

Alice: aham

Lohaine: Agora ficou bom lá, até aquela área lá no fundo, ficou ótimo.

Alice: Uhum.

Lohaine: Acabou de reformar lá

Alice: só é ruim que agora no final da gestação que eu precisava ir mais lá né, mais vezes, não

dá pra mim ir, porque a doutora ta de féria e a Fátima.... que era minha consulta ontem com ela

não teve, agora só mês que vem a consulta com ela, se eu não tiver ganhado.

Lohaine: entendi

Alice: Aí vou espera, mais também a Fátima e nada é praticamente a mesma coisa.

Lohaine: a é? é ruim o atendimento dela?

Alice: ele não é, ele não é assim questão de ser tão ruim, ela é meio desligada, ela parece ser

assim avuada, igual o ultimo dia dela, da consulta que fiz com ela, ela foi ouvir o coração do

bebê, aí ela tava me falando que ela foi ouvi o coração do bebê de outra mulher, ao invés dela

passar aquele gelzinho ela tava, ia passar cola de isopor na barriga da mulher, falei vish.... ah aí

ela larga se lá na sala e "ah esqueci de fazer tal coisa" aí ela vai, vai fazer a tal coisa dela e se

fica lá na sala lá esperando...

Lohaine: Ah entendi, se é de lá né Florianópolis.

Alice: é

Lohaine: Então aí eu quero fazer uma de amamentação né, pra ajudar vocês, mas aí eu não sei

porque, essa professora eu queria bastante que ela desse isso, ela fez uma cirurgia, aí ela ta de

atestado

Alice: ela ainda ta de atestado?

Lohaine: Aí ela ta afastada.

Alice: Cálculo renal é pedra no rim né

Lohaine: uhum

Alice: Minha irmã fez essa cirurgia.

Lohaine: Aí eu to tentando decidir se eu mesmo faço a roda sobre amamentação ou se a gente

espera ela.

Alice: Mas se ela vai ter recuperar, depois fazer outra né... Sera que é muito demorado?

Lohaine: Não ela falou que ta de atestado até dia 8 do mês que vem.

Alice: ah já ta bem aí, e essa lá que trabalha no Julio Muller, ela não pode fazer?

Lohaine: é ela, ela é professora e aí ela, o estágio que ela dá é la no Julio Muller, na GO, aí ela

trabalha com essa parte.

Alice: Lá no Julio Muller tem um monte de aprendiz né.

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181

Lohaine: é porque lá é hospital escola né, aí a gente, é parceria com a UFMT, aí a gente faz

estágio lá, aí ela vai com a gente pra lá fazer pós-parto né, cuidar de gestante, aprender a cuidar

de bebezinho novinho, dá banho...

Alice: é porque no dia tava com sangramento eu fui pra lá, quem me atendeu foi estudante, aí

ele faz, fala pra ele o que que a gente sentiu né, e depois ele passa pra uma professora, daí ela

fala o que que tem que fazer.

Lohaine: É que eles fazem mais ou menos pra saber o caso, e aí eles fazem uma previsão do

que que é mas aí ele confirma com o professor pra não ter perigo deles, t fazendo errado, eles

estão aprendendo.

Alice: uhum, quando eu fui lá foi estuante que me atenderam.

Lohaine: Mas se foi bem atendida lá? se gostou?

Alice: Uhum

Lohaine: que bom, tem gestante que fala que não gosta de lá.

Alice: aah as vezes que eu fui lá eu fui bem atendida...

Lohaine: Porque o povo fala "ah porque chega lá um monte de gente a mesma pergunta" é

porque lá são alunos de todas as áreas, tem aluno de medicina, de enfermagem, de nutrição e as

vezes eles vem e fazem a mesma pergunta mas especializado nas áreas deles entendeu

Alice: aham

Lohaine: Que nem o estudante de medicina, eles vão fazer as perguntas, tentando diagnosticar

você enfermagem, eu vou lá eu vou fazer as perguntas pra eu planejar como é que eu vou cuidar

de você, a nutrição pra planejar sua alimentação, orientação de alimentação entendeu, e as vezes

é as mesmas perguntas, mas com foco em coisas diferentes, aí as pessoas falam "ah mais é as

mesmas toda vez e tal".

Alice: Pra mim eles não fizeram um monte de pergunta não

Lohaine: É porque se tava na, se vai na emergência né, quando se for ser internada pra ganhar

o bebê, que se for ficar lá né um pouquinho, se vai ver, realmente tem, mas é por causa disso,

porque é um hospital escola né, tem um monte de gente ali aprendendo.

Alice: teve um dia que eu fui lá e foi só um rapaz que me atendeu, demorou um pouquinho só

pra mim passar pela triagem, eu falo com a minha irmã porque minha irmã trabalha lá né, eu

falo pra ela que lá é a UPA das gravidas, porque Meu Deus do céu, tem muita gravida naquela

emergência minina.

Lohaine: é porque lá é referência de gravidez de alto risco né, aí acaba que as gestantes...

Alice: vai tudo pra lá né

Lohaine: aham, aí as gestantes que tão com emergência igual você que teve sangramento vão

pra lá, e as gestante que já tem a gravidez de risco faz tudo a consulta lá.... quem tem pressão

alta faz todas as consultas lá

Alice: fica lá né

Lohaine: isso que eu ia perguntar, se não tem pressão alta? sua família tem um monte, se ta

acompanhando?

Alice: tô as vezes que eu vô lá no postinho ta 9 ou 10, tem gente que disque fala que teve a

pressão baixa a gravidez toda aí no dia de ganhar a pressão subiu

Lohaine: também as vezes é porque é o nervosismo né

Alice: Minha sobrinha ela teve que tira o bebê porque também tava com pressão alta.

Lohaine: sua sobrinha?

Alice: uhum, ela inchou demais, ela tava muito inchada, agora meu pé desinchou mais o

negócio, só que ela não desinchava, ela andava um pouquinho e já ficava fadigada assim, ela

acho que foi com 37 semanas o médico tirou, agora o bebezinho ta com 3 ou 4 meses.

Lohaine: ta novinho ainda, vai ter 2 bebê novo na família, quase a mesma idade

Alice: quase a mesma idade

Lohaine: o tio vai ser mais novo que o sobrinho

Page 187: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

182

Alice: é porque assim, a maioria é assim, igual meu sobrinho mais velho, que é da minha irmã

mais velha, eu tenho 28 e acho que ele tem 27.

Lohaine: cresceram quase junto, mesma idade

Alice: uhum, é tudo um perto do outro

Lohaine: Deixa eu ti perguntar, você falou que essa irmã que mora aqui com você, ela tem as

filhas delas né, são quantas filhas?

Alice: 2

Lohaine: 2? são duas meninas?

Alice: duas meninas

Lohaine: bastante mulher na sua família né

Alice: é

Lohaine: eu acho que é isso Ju, aí o que vai acontecer, a gente vai continuar fazendo as reuniões,

eu vou ti mandando os convites né, quando a gente marcar, aí pra você ir, aí depois que você

ganhar o bebê, quando você fizer 3 meses mais ou menos, aí eu volto aqui, ta? pra gente só

aplicar um questionário e finalizar. Ta ok?

Alice: ta

Transcrição do 2° encontro individual

Gestante: Alice

Duração: 1hr 10min 13s

Lohaine: E aí como é que você tá ?

Alice: Eu tô bem graças a Deus.

Lohaine: e ele?

Alice: ele também, no começo que ele deu trabalho, no começo foi o ó, mas depois de um mês

ele melhorou

Lohaine: é mas geralmente é, a gente tá acostumado com ele mas ele também tá acostumado

com a gente Né

Alice: É verdade, mas no começo ele deu trabalho demais vote, só chorava chorava chorava ,

se tava no colo chorava , se tava na cama chorava, ficava no berço chorava, mas não chora igual

aquela dali, menina mas aquela dali chora

Lohaine: a da Keila?

Alice: sim, ela é horas ela chorando, é porque ela não acordou ainda a hora que ela acorda ela

começa a chorar, né mãe

Lohaine (se dirigindo ao Miguel): mas você é muito simpático, é Miguel muito simpático

sorridente. mas só que agora está mais tranquilo?

Alice: agora tá, à noite melhorou essa noite que ele não dormi muito bem, de vez em quando

ele dorme a noite toda mas a maioria ele acorda para mamar 3 horas, 3 horas certinho Ele

acorda.

Lohaine: a mais, pelo menos se ele mama no peito só…

Alice: não mamadeira

Lohaine: mamadeira? Você não tá com ele no peito?

Alice: tava mas agora ele não quer mais

Lohaine: parou?

Alice: desde um mês eu tô dando mamadeira

Lohaine: entendi, mas se você começa a dar mamadeira geralmente logo a criança larga o peito,

porque é bem mais cansativa né (novamente se dirige ao Miguel) Oi tia você também tá

conversando com os outros e não me dá atenção, conversa comigo também tia, é eu papeio

Page 188: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

183

também bastante, eu gosto de conversar bastante) e como é que você falou que ele não tá

dormindo e comer ele tá comendo bem, mamando?

Alice: Mamar ele mama.

Lohaine: ele tá com quantos meses agora?

Alice: tá com quatro vai fazer cinco quarta-feira

Lohaine: logo vai começar a papinha né

Alice: é mas acho que ele não vai gostar não tudo que coloca na boca dele que não é leite Ele

não gosta não

Lohaine: é mas depois ele vai acostumando né

Alice: é

Lohaine: Você falou que descobriu que ele tem sopro? Quando que você descobriu?

Alice: Quando ele tinha 2 meses

Lohaine: dois meses?

Alice: Uhum

Lohaine: Porque que você descobriu?

Alice: Ele, tinha... parecia um catarro assim na garganta e aqui no pulmão dele chiava, chiava

não, ficava assim (imita um som borbulhante) o tempo inteiro, e aqui assim também o tempo

inteiro, só parava na hora de mamar, enquanto ele não tossia, ele não mamava direito, aí teve

um dia à noite ele estava gemendo gemendo, Aí eu falou vai lá na Policlínica, aí eu levei ele

na Policlínica chegando lá a médica passando raio X do peito e o exame de sangue, aí eu fiz lá

na cliniprev aí eu já resolvi marcar um Pediatra por lá mesmo aí é pediatra de lá, ela pegou e

ouviu o coração dele e falou "eu acho que ele tem um sopro no coração mas só que é bem

discreto" aí ela pegou e falou bem assim que era melhor passar para o cardiologista né, aí a

gente fez , na outra semana a gente fez aí ele tem mesmo sopro, aí esse mês a gente levou ele

no pediatra ela falou que o barulho do sopro aumentou, e que ela tava sentindo o fígado dele

que ela não tinha sentido na outra consulta, aí falou que era bom retornar no cardiologista

novamente só que o cardiologista que ele tava indo era lá na Femina e ele falou que só queria

ver ele quando ele estivesse com cinco meses, aí minha irmã trabalha no Júlio Muller né Aí eu

peguei o encaminhamento e ela conseguiu lá mais rápido aí ontem a gente foi lá.

Lohaine: entendi, e vai ter que operar então?

Alice: Vai, o cardiologista da Femina falou bem assim, ele passou um diurético para ele, passar

um diurético para ele e falou bem assim que que era para ficar tomando e com 5 meses voltasse

lá para ver como é que tá se tinha fechado ou diminuído, mas o médico ou cardiologista do

Júlio Muller falou que não sabe porque que ele e falou isso para gente porque ele sabe que não

iria fechar, que é com dois ou três dias de nascido e não fechou não fecha, aí tem que ser com

cirurgia pronto

Lohaine: entendi

Alice: aí também depois que ele começou a tomar o remédio aí acabou esse chiado assim, ele

às vezes tem, Mas é bem pouquinho, para menino (se dirigindo ao Miguel que desde o início

da entrevista está agitado fazendo diversos barulhos e gritando)

Lohaine: Ele é bem agitado né

Alice: Ele é

Lohaine: e o seu marido como é que está lidando com isso?

Alice: eu acho que ele é mais nervoso que eu, ontem mesmo ele chorou eu não sei o que

acontece assim parece que para mim tudo certo para ele não, ontem ele falou para mim

perguntar sobre a possibilidade de não operar, o médico falou né Por um lado ele tá bem mas

por outro lado ele pode piorar né, e com a cirurgia ele vai ter só ser hipertenso por um tempo aí

depois vai ficar normal a vida dele vai ser normal aí eu falei para que esperar uma coisa que

pode resolver agora, que mais para frente vai estar piorando né

Lohaine: sim, então você está bem resolvida em relação a isso?

Page 189: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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Alice: sim

Lohaine: mas o médico te explicou certinho como a cirurgia Ele conversou com você?

Alice: Ele explicou falou que é um corinho que faz na costela né, a amara veia, eu só esqueci

de perguntar quantos dias que ele tem que ficar no hospital depois, que depois ele vem para

casa

Lohaine: mas quando a pessoa te explica certinho como vai ser dá mais confiança né, talvez o

seu marido está tão preocupado porque ele não foi né?

Alice: é, porque ele não foi, na primeira consulta ele foi, mas na segunda ele já não foi porque

é complicado sair do serviço.

Lohaine: talvez se ele conversasse com o médico, médico explicar certinho como fez com você

daria mais uma tranquilidade né? Mas ele é muito simpático, muito sorridente.

Alice: Aí lá no Júlio Muller tem um monte de médico né aí o cardiologista dele fala aproveita

que ele é bonzinho, para ouvir que geralmente criança de quatro mês começa a reconhecer as

pessoas e estranhar né aí as vezes ele chora né

Lohaine: É aí às vezes você não consegue ouvir nada com o esteto por causa da criança

chorando muito. e como é que está sendo a maternidade para você depois que passou essa fase

mais difícil?

Alice: bem É muito difícil porque, eu não sei eu ainda bate um arrependimento de ter

engravidado, eu falo "O que é que eu fui fazer" esse menino chorava e era noite e dia, aí eu

olhava para o pai dele o pai dele acordava Porque eu acordava ele, mas é aquela coisa acordava

e dormir ao mesmo tempo, porque a mesma hora que acordava se eu olhava para ele já tava

assim dormindo

Lohaine: entendi

Alice: aí eu olhava para ele e ficar irritado, e ele chorava chorava chorava chorava, porque ele

era muito nervoso , ele não tinha paciência para pegar no peito aí o leite derramava na cara dele

ficava todo lavado de leite, tava para lá e para cá parece que não sabia pegar o peito, aí eu

olhava para o pai dele ele roncando e dormindo, aí eu pensava "cara do céu o que é que eu fui

fazer da minha vida, meu Deus do céu” até que conseguia, quando conseguia fazer ele dormir

ele fazia cocô, aí se limpar ele acordar, aí acordava. teve uma vez que ele chorou chorou, não

sei o que que deu nele, foi bem no começo quando eu vim eu saí do hospital e ele chorava

chorava chorava e nada de querer pegar o peito, aí foi indo até que minha mãe conseguiu

acalmar ele aí ela falou Para gente "vai dormir um pouco que eu vou ficar com ele" isso era

meia-noite aí ela veio entregar ele era 3 horas da manhã, ele queria mamar, aí eu tava lá o pai

dele dormindo também aí depois dessa hora ele mamou e dormiu, aí tem as cólicas que você

não sabe o que você faz tem remédio você dar remédio não adianta nada você dá outro remédio

não adianta, meu Deus do céu.

Lohaine: ele teve muita cólica?

Alice: Até que ele teve mais no começo, mas com dois meses já num.... mais a gente também

deu tanto remédio mais tanto remédio..

Lohaine: è por causa que no comecinho o intestino não ta preparado né, aí você vai comendo

as coisa e saí no leite...

Alice: Imaturo né.... E olha que eu comia só arroz branco só e frango ou carne assim né, não

comia nada de chocolate, ave maria... Ia na farmácia comprava remédio, ai falavam "ah esse

remédio é bom pra cólica" mandava ele lá ele vinha.... aah esse remédio não resolveu nada, vai

compra outro, esse outro aqui é bom! ia lá comprava... Mas eu acho que o que ajudou bastante

foi o colikids, porque ele é.... Eu achava que ele era efeito imediato, só que ele não é, ele demora

de 10 a 30 dias pra fazer efeito porque ele ajuda a matura o intestino.

Lohaine: uhum

Alice: aí com 2 meses ele não tinha mais cólica.

Lohaine: entendi

Page 190: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

185

Alice: ai o pessoal falava, com 3 mês melhor, e eu ansiava por esses 3 meses menina!! aí passou

1 mês aí eu ficava "só falta dois meses agora"... aí passava um mês "só falta mais um mês agora

e ele vai melhorar" aí tipo melhora algumas coisas mais tem outros problemas né, igual eu ouvia

falar do salto de desenvolvimento, aí fui pesquisar... "ah a criança fica chorando, a criança fica

grudenta, a criança só quer colo, falei "ah meu Deus" aí tem o pico dos 3 mês, aí eu ficava doida

pesquisando um monte de coisa...

Lohaine: Você precisa deixar de ser tão ansiosa!

Alice: Uhum, aí eu parei um pouco. No começo eu também eu sofria né por causa do corte né,

da cesária, e não conseguia levantar da cama, a cama é baixa, a cadeira todas baixa, eu sentia

dor assim parecia um fogo que tinha assim na onde que eles cortam, aí fica queimando,

queimando... Se toma remédio não passava, aí pra levantar na cama tinha que pedir pro meu

marido me ajudar a levantar, até que eu comprei uma cinta aí eu levantava sozinha, aí melhorou

bastante também depois que eu coloquei a cinta...

Lohaine: entendi...

Alice: Mas a maternidade não é fácil não!

Lohaine: não é mesmo, mas lembra que a gente falou que não era fácil?

Alice Lembro, ainda tive sorte que meu peito não feriu e nem nada...

Lohaine: éé?

Alice: uhum!

Lohaine: Que bom!

Alice: Eu usava, eu não sei, eu vejo fala que nada a vê né, mas só que eu usava bucha vegetal

a noite...

Lohaine: aaah ajuda e muito!

Alice: Só que aí o pessoal, aí eu ouvia um monte de gente falar que não era né, até na internet

eu vi que só ajudava a negociar o peito, mas não ajudava depois na hora que teve o bebê...

Lohaine: é que ajuda a firmeza, na elasticidade da pele do mamilo, isso que ajuda..

Alice: huuum, aí eu usa, não era todo dia, umas 3 vezes por semana ou sempre eu lembrava eu

passava, aí eu não sofri nada!

Lohaine: Que bom, e é sofrido demais quando fere, Ave Maria!

Alice: Quando fere disque é sofrido, minha mãe falou que quando ele teve a minha irmã mais

velha, disque o peito dela saía sangue de tão ferido que era.

Lohaine: e agora, se acha que ta muito difícil?

Alice: Agora já até melhorou, mais é porque eu fico aqui na minha mãe né, aí sempre tem um

pra pegar...

Lohaine: uhum

Alice: Mas agora, eu acho que em Janeiro a gente muda, que meu marido quer fazer o muro lá

por causa do cachorro, ai agora em janeiro eu acho que a gente muda, aí falta só a parte da

frente do muro lá.

Lohaine: entendi

Alice: aí, sei lá porque agora que deu uma melhora, porque a gente tava muito sem dinheiro, aí

acabou que teve que fazer... ele tinha vendido o celular dele pra fazer o muro, mas teve que usar

o dinheiro pra pagar a consulta pro neném, aí só que agora também o meu salário maternidade

foi aprovado...

Lohaine: huuum, ajuda né.

Alice: Aí to esperando pra vê se sai, é dia 20 parece que eles falaram, e aí já ajuda mais, só ele

que trabalha né.

Lohaine: uhum.

Alice: aí eu fico pensando assim e as pessoas que não tem ninguém? igual eu to num grupo de

mães e tem mulher lá que fala que não tem ninguém pra pegar o bebê, aí disque o marido chega

Page 191: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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e não quer pegar porque ta cansado, aí eu falo "Meu Deus do céu, até que não é tão ruim assim

pra mim", porque querendo ou não tem gente pra pegar ele.

Lohaine: esse grupo de mãe que você participa é na onde? na internet?

Alice: No whatsApp, aham

Lohaine: aah no WhatsApp, e onde você descobriu esse grupo?

Alice: no baby center...

Lohaine: Na página ou na loja?

Alice: é no aplicativo do baby center...

Lohaine: uhum

Alice: só que não tem nenhum de Cuiabá, é tudo de São Paulo...Não tem ninguém, só eu daqui.

Lohaine: entendi, e isso ajuda? esse grupo?

Alice: ajuda porque sempre porque que tem uma dúvida a gente vai lá, acha que é só com o

bebê da gente, mas é quem tem uma mãe que vai lá e fala "Ah meu bebê também ta assim"

Lohaine: aham

Alice: Igualzinho esses dias atrás, ele tava que toda hora fazia cocô, tava assim nesse negócio...

as vezes até tem dá nada ele fazia cocô, a bunda dele tava toda assada já, tava saindo aquelas a

pele assim, falei "ah meu Deus do Céu" aí eu fui perguntei lá né, aí a mulher foi e falou bem

assim que o bebê dela também tava assim faz dias e que tudo que dava não melhorava, aí ela

foi e falou assim pra mim que ela tinha dado Floratil e a médica pediatra dele falou que era

normal né, falei que não era normal porque num era assim, de repente de uma hora pra outra

começou em uma sexta e já tinha suas semanas quando levei ele no pediatra e ela falou que era

normal. aí a mulher falou pra mim que tinha comprado floratil, aí falei pro meu marido comprar

o Floratil pra dá pra ele pra ver se ia melhora, melhorou mais só que eu já tinha terminado de

dar o Floratil, e ele ainda tava, só que saí eu tinha desconfiado do... eu não sei se era ele, mas

depois que eu parei de dar, melhorou... foi o Sulfato ferroso, eu acho que era ele que tava dando.

Lohaine: Sulfato ferroso pode dar sim, diarreia...

Alice: e ele bebia o sulfato ferroso, demorava um pouco ele vomitava, sempre vomitava um

pouco

Lohaine: uhum

Alice: aí eu tinha falado com a pediatra ai ela foi e mudou... e ele ainda tem refluxo, aí é ais

difícil... Por isso que falo, se a mulher tem um bebê e o bebê não tem que tomar remédio ela já

tem erguer a mão pro céu... porque tomando remédio, toda hora se tem que lembrar que tem

que dar um... tem um que tem que ficar na geladeira, se saí tem que voltar, ou se não dá o

remédio ou se tem que voltar cedo por causa do remédio... aí se gente vai pra casa de um

conhecido de alguém, a gente leva né pra deixar na geladeira lá, pra dar na hora... mas é difícil,

todo tempo tem que lembrar do remédio...

Lohaine: entendi, e o refluxo, você descobriu quando?

Alice: o refluxo eu descobri no mesmo dia que ela descobriu o...

Lohaine: o Sopro?

Alice: Uhum... eu achava que... eu tinha lido os sintomas do refluxo oculto e o Miguel tinha...

Mas eu não falei pra ela, porque eles falam "não, não é nada"... aí foi ela que falou que ele fazia

umas bolinhas assim na boca de guspe, aí ela foi assim "eu acho que ele tem refluxo", aí eu

falei que ele tem os sintomas do refluxo oculto. Aí ela falou né que ele tinha refluxo, aí ela

passou um remédio pra ele, ontem mesmo ele deixou minha irmã podre vomito lá no hospital...

porque toda hora ele vomita. Aí eu vou vê né, vou marcar de novo com ela e pedi pra ela muda.

Lohaine: Então você vive com ele no médico?

Alice: Assim eu faço o acompanhamento né...

Lohaine: normal né

Alice: normal, aí se eu acho que ele ta com alguma coisa eu levo, mas só que, igual assim, eu

já tinha levado ele já, porque ele faz acompanhamento lá na cliniprev, e daí acabou que ela tinha

Page 192: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

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pedido pra ele voltar de novo, lá na femina, só que a gente juntou o dinheiro e ainda não tinha,

faltou 100 reais, aí minha mãe falou bem assim pra eu pegar o encaminhamento que daí ela

levava no hospital né? aí eu já tinha levado ele no pediatraa na Cliniprev na terça e na segunda,

eu levei ele no paiaguas, porque lá na segunda a consulta é no mesmo dia, não é igual aqui... ai

ela pegou e falou que ela não ouviu, ai ela falou que ele tava bem, aí eu falei pra ela que ele tem

sopro, e que eu precisava do encaminhamento pro cardiopediatra porque ele tem sopro, aí que

ela voltou lá e ouviu, e falou que realmente e tem, aí ela foi e deu encaminhamento, só que eu

não sei, porque no postinho falam uma coisa, no particular fala outra, se eu vou no postinho

falam que ele ta mais bom que dinheiro achado, não precisa de nenhum remédio, não precisa

de nada, mas se eu levo no pediatra particular, sempre vem com uma lista pra comprar, aí eu

não sei.

Lohaine: difícil né

Alice: Mas to acompanhando aí, vamo vê ate quando vai.

Lohaine: aham

Alice: Mas pra mãe é mais difícil, pro pai é mais fácil

Lohaine: ahé?

Alice: è sempre mais difícil... Pro pai, o pai fica lá, se não manda pega não pega, se não pedir

pra ficar não fica, aí brinca um pouquinho e pronto, saí pra lá. Aí, Julian mesmo, ele chega do

serviço eu já falo "toma o nenêm" "ah mais.." fiquei o dia inteiro com o neném ele chorou, tive

que ficar com ele no colo, fiquei o dia inteiro com ele no colo, e daí, ele fica, eu falo fica com

ele... Eu falo pra ele que eu tenho que ir esfregar a fralda dele, sempre arrumo alguma coisa pra

fazer, porque se eu não tiver nada pra fazer ele joga ele pra mim de volta, aí ele fica com ele

arruma o desenho dele e fica com ele lá na cadeira balançando.

Lohaine: entendi

Alice: Tem que ser assim, porque ele é bem ranzinza, ele não tem paciência, essa parte aí ele

puxou eu, aí nisso ele melhorou quase 100%

Lohaine: É?

Alice: do que ele era antes...

Lohaine: Que bom, ta mais calmo

Alice: bem mais calmo...

Lohaine: Eu vi lá, acompanhava suas postagem falando lá que você tava dormindo quase nada

no WhatsApp....

Alice: Não dormi mesmo, quase nada, essa noite mesmo não o que aconteceu com ele, ele

dormia e acordava, dormia demorava um pouquinho ele acordava, aí eu pegava ele e mesmo

assim, colocava a chupeta na boca dele mas mesmo assim ele chorava, e não parava, eu ficava

sentada com ele, dava uma raiva, mexe pra lá e mexe pra cá e nada... E olha pro pai dele o pai

dele dormindo, porque disque não pode acordar porque ele acorda cedo. "Aí se fica o dia inteiro

em casa com ele, eu não posso acordar porque eu tenho que ir trabalha e não sei o que" e eu

fico olhando pra ele, ele dormindo e eu lá com nenê acordado.

Lohaine: Uhum, e sua irmã e sua mãe tem te ajudado bastante?

Alice: Minha mãe e meus irmão tudo ajuda, aí por enquanto eu ainda to aqui né, mas só que daí

eu vou pra lá e é mais difícil né, porque eu não vou ficar toda hora saindo pra vir aqui, vai ter

as coisas pra fazer em casa, aí vou ter que esperar o pai dele chegar em casa ou fazer deixa ele

lá pra fazer ou deixar o pai dele chega pra fazer.

Lohaine: uhum, verdade.

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Alice: Eu pensava que era complicado mas é bem mais complicado....

Lohaine: Deixa eu te falar, eu vou fazer uma pergunta mais é pra você ser sincera, as reunões

que a gente fez, das rodas de conversa, te ajudaram?

Alice: não

Lohaine: não? nada?

Alice: Na verdade eu nem lembrei das rodas, ah tipo, eu acho que era tanta coisa assim pra

lembrar que sabe, na hora, eu queria ir no banheiro e não podia porque tinha que ficar com o

remédio, aí eu acho que é tanta coisa na cabeça que a gente nem num lembra, passa batido.

Lohaine: uhum, e as reuniões que a gente fez sobre a maternidade?

Alice: Maternidade.... aham

Lohaine: te ajudou né?

Alice: é verdade, sobre as coisas que você falou, aquele negócio da rede de apoio também eu

fiquei pensando, nessa parte eu também pensei e ela ajudou, porque é muito bom você ter

alguém pra te ajudar...

Lohaine: aham

Alice: pra você fazer alguma coisa, pra você poder come, porque tem dia que ele dorme no

horário as vezes que ele não dorme a´eu preciso de alguém pra ficar com ele, porque ele na

cama, ele fica só se tiver entretido ou na televisão ou ne alguma coisa, porque se não tiver ele

não fica...

Lohaine: entendi...

Alice: Aí essa parte assim que eu lembrava que as mulher falava, que você também falou, é

bom...

Lohaine: Que a gente falou sobre tentar não pegar tudo pra si, compartilhar né...

Alice: uhum, as vezes eu, tinha vez que eu falava, perguntava pros outros "quando você foi mãe

você sentiu isso?", igual eu falava, minha irmã quando foi mãe, eu perguntei se quando ela foi

mãe ela arrependeu... ela: "nãão", falou que não arrependeu, eu arrependo tinha vontade, tinha

hora que eu ficava com o neném e deitado no meu colo, mas tava chorando, tinha hora que dava

vontade de abrir o braço e deixar o guri cair, porque, cara do céu, não é possível, muito... mas

agora eu vejo que ele não é nada perto do dela.... eu falo "meu Deus do céu eu tenho que

agradecer, porque ele não é nada perto dela...

Lohaine: A questão é, como você falou, é que foi muito difícil no começo né

Alice: Teve uma vez que eu chorei porque eu pensava que ele não gostava de mim, com os

outros ele quietava e comigo ele chorava....

Lohaine uhum:

Alice: "não é possível, ele não gosta de mim..." mas só que ele tinha dias só de nascido, não

tinha nem 20 dias

Page 194: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

189

Lohaine: huum

Alice: E Eu chorava, falava esse neném não gosta de mim, porque o pai dele pega, ele queta,

os outros pega e ele quieta, outro pega e ele quieta, aí os outros "Ah é porque ele sente o cheiro

do leite, por isso que ele chora e não sei o que". Cara do céu, parecia um trem...

Lohaine: Mas deixa eu te falar, mais isso que faz, já de grande ajuda, de você admitir isso, de

você perguntar pra pessoas, de você falar sobre o que você ta sentindo, porque a maioria das

mães, elas não falam, elas se sentem muito culpadas de sentirem assim e aí elas guardam isso

pra ela e só vai corroendo, vai só acumulando né... então quando você fala sobre isso... tenho

certeza que as vezes algumas pessoas te olham atravessado que é normal...

Alice: Minha irmã!! "credo você arrepende te ter seu filho"

-Risos

Lohaine: quer dizer normal não,é comum né, é o que acontece... elas já olham assim quando

você comenta o que você ta sentindo... Mas só que, como é que você não iria sentir assim? é o

desespero e tal, você acabou de ter o bebê

Alice: aí você pensa na criança sempre, sempre preocupada, porque ele não ta dormindo, não

ta fazendo tal coisa, eu não posso fazer as coisas, porque é diferente agora, tem que fazer coias

que incluam ele né,,, Não só eu e meu marido, porque nem sempre né... as vezes "Você compra

tal coisa pra mim lá no mercado?" não... leva ele, pra passiar, porque sempre "não, tem que

fazer tal coisa" porque é muito difícil porque igual no começo ele, minha mãe tinha colocado

uma rede aqui, que era pra acostumar ele na rede, de manhã cedo ele já chorando e aí eu deixei

ele aqui na rede e ele chora e eu sentada na cadeira, "vou fingir que nem ouvi" eu não sei, subiu

uma raiva assim em mim, uma coisa esquisita

Lohaine: aham

Alice: aí esse menino chorava, chorava, chorava aí minha mãe "Alice, se tem que cuidar dele

se não você não vai ser uma boa mãe, tem cuidar dele, fazer as coisas", e eu escutando sempre

né... Aí acabava que meio que brigava com minha mãe, porque ela sempre falava que eu não ia

ser uma boa mãe, porque eu deixava ele chora, porque isso, porque aquilo, porque não podia

deixar ele chora porque ia crescer o umbigo... " Não deixa ele chora porque vai crescer o

umbigo", tem que pega ele, conversa com ele, faz não sei o que, lálálálálá, eu não sei, no começo

eu sentia muita raiva, daí foi indo e melhorou, as vezes ainda sinto, mas melhorou bastante,

porque ave no começo era muito ruim.

Lohaine: E o seu marido? você notou que ele mudou depois que o bebê nasceu?

Alice: Mudou!

Lohaine: Mudou o que?

Alice: Eu não sei, ele, eu não sei se mudou assim, no começo eu falei pra você que ele jogava

bastante né

Lohaine: aham

Alice: Aí no começo eu falava pra ele, as vezes ele ia joga aí eu falava ó "Não tem tempo pra

joga, quando, você tem que fazer tal coisa, tem que fazer alguma coisa" aí eu empurrava o

neném nele, agora ele ta sem celular também aí mudou bastante, porque ele mais com ele, se

eu empurra pra ele, ele fica, tem hora ele não fica não, fala que não quê fica, mas mesmo assim

eu falo que tem que ficar "Você é o pai dele", não é "ah, vou lá e brinco com e pronto, você tem

que me ajudar"

Lohaine: uhum

Alice: Aí nessas partes assim ele até que me ajuda o ruim é só que se o neném precisar, se eu

precisar não, ou ele acorda um pouquinho e fica um pouquinho com o neném e pronto, tempo

de eu fazer, as coisas dele eu deixo lá no quarto, a mamadeira, o leite, porque ele mama o

engrossado, aí deixo o engrossado também na garrafa térmica, pra não precisar sair lá do quarto

porque as vezes ele já ta impaciente, e ele começa a resmungar, resmungar e já quer chorar e se

eu vim de lá pra cá na cozinha, pra poder fazer e volta ele já tá lá no berreiro dele.

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190

Lohaine: uhum

Alice: Aí eu já deixo tudo lá e as vezes quando ele fica mais manhoso assim a noite, aí ele já

acorda rapidinho, acalma ele o tempo de eu fazer o mama e já volta a dormir, eu não, eu tenho

que ficar acordada, quanto ele tá, as vezes ele acorda e fica lá olhando pro tempo lá, o nené, eu

fico lá bem assim e o neném ta lá cuidando das coisas, parece que olha pro pai dele, olha pra

luz, porque fica uma luzinha no quarto acesa aí ele fica olhando atééé, e eu tenho que ficar lá

acordada até ele cansar e o pai dele ta lá dormindo, aí por isso que parece que a responsabilidade

fica tudo em cima da mãe, parece que a responsabilidade do pai é, dar dinheiro pra comprar

remédio,, levar pra algum lugar que precisa, e só.

Lohaine: Uhum

Alice: Porque parece que tudo... porque eu falo pra ele "dá mamadeira", "Ah eu não sei dá

mamadeira" aí se eu tiver fazendo alguma coisa mesmo que ele dá, porque senão ele não dá,

tem medo de engasgar... No começo tocava fralda suja do nené, e depois de um tempo parou,

não queria trocar fralda, eu falei "troca ele, ele fez cocô" "Ah eu não sei limpa", aprende... eu

também não sabia e aprendi... "Ah mais não sei o que... parece que eu pego nele, parece que ta

estalando osso dele, parecer que ta não sei o que" sempre arruma uma desculpa, aí foi indo e eu

falei pra ele "Uai, o filho é só meu ou é meu e seu?porque tudo vem só pra mim" aí foi indo, e

agora ele troca ele. Agora também se ele ta com dor de barriga, quando ele chega do serviço a

gente tem que revezar, uma hora eu limpava aí na próxima ele limpava. Aí quando ele não tá

aqui que é só eu.

Lohaine: entendi, então basicamente você ta cansada

Alice: Uhum, bastante... As vezes eu penso "imagina se eu trabalhasse", mas talvez se eu

trabalhasse ficaria mais descansada até, porque passaria um tempo sem o bebê...

Lohaine: Porque do bebê é muito emocional que envolve né, são é só o cansaço físico, no

serviço é mais o cansaço físico né aqui é o cansaço físico e emocional né

Alice: Sim, verdade. E ainda eu fico pensando, porque o Miguel não teve nenhuma crise assim,

de deixar ele roxo, sem respirar, nenhuma coisa assim que impediu ele tanto assim, porque tem

criança que é doente né e dá muito mais trabalho pra mãe... Porque assim igual tem uma menina

ali de cima que a amiga dela ali, ela o bebê dela é prematuro, uns 5 ou 6 meses, e tem

hidrocefalia, ele ficou internado no hospital e acho que semana retrasada ela veio pra casa, aí

fico pensando, o meu dá trabalho, mas não dá trabalho igual ao dela né, porque ela tem que

viver pra ele né...

Lohaine: uhum, e você ainda quer voltar a trabalhar?

Alice: Quero ah eu quero, porque eu acho que é melhor pro meu marido, pra poder ajuda ele, e

eu fico assim, eu quero compra uma coisa pra mim ou pro nenê e não posso, porque eu dependo

do dinheiro dele.

Lohaine: aham

Alice: Aí então eu quero "Ah eu posso compra tal coisa, vai dá pra você pagar?" aí ele

fica,"deixa eu ver, a fatura do cartão tem isso e isso, pode compra, vai dar pra pagar" aí ele vai

e paga, aí...

Lohaine: Se perde muito a independência né

Alice: uhum, perde a independência... eu falei um dia pra ele compra... mas logo logo eu vou

começa a trabalha pra mim poder compra minhas coisas, tudo que eu quere compra pra mim e

pro neném eu vou pode compra, porque eu sei que eu vou ter o dinheiro depois pra pagar, não

ficar dependendo dele, porque ele não sabe se ele vai ter dinheiro ou não, igual ele fez o acerto

no serviço, porque tipo, o neném, antes do neném nascer a gente só tinha moto, ele tinha a moto

dele e eu tinha a minha, a dele vivia mais estragando do que tudo, gastava um dinheirão, aí ele

pegou e vendeu, aí ficou só com a minha, e daí eu tinha saído, eu usava pra ir trabalhar voltava,

e ele ia de ônibus e depois eu ia no serviço dele e buscava ele, a tarde, aí acabou que, daí eu

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191

pedi pra me mandarem embora do serviço, eles mandaram... aí ele ficou com a moto, aí eu

engravidei, tive sangramento no começo...

Lohaine: aham, eu lembro que você comentou

Alice: aí eu já não andava mais de moto, se a gente precisava ir em algum lugar, ou ia de ônibus

ou ia de Uber ou emprestava o carro de alguém, aí ele pegou e falou que não dava pra ficar

assim, aí ele pediu pra patroa dele fazer o acerto com ele no serviço, pra poder comprar um

carro, aí vendeu a biz, a minha biz, pra poder inteirar o valor do carro e comprou... Ele também

faz os sacríficos dele, eu sei que ele faz os sacrifícios dele pela gente, e não é pouco não, é

bastante, aí agora, até agora ele ta sem carteira assinada, aí ele pegou o seguro, o seguro dele

acabou em Outubro, aí ficou que "ia fechar o restaurante, que não sei o que" aí acabou que não

vai fechar e no mês que vem vai assinar a carteira dele novamente, aí não tem décimo, essas

coisas né

Lohaine: uhum

Alice: não tem né, mais ele faz, ele faz bastante sacrifícios pela gente, mas tem hora que eu

quero uma coisa e ele não tem, mas tem hora, as vezes ele dá jeito... Ele fala, "não tem como"

e eu tenho que entender ou igual eu queria uma mamadeira pro nenê, por causa que minha

sobrinha deu uma mamadeira mas eu achava que que a mamadeira entrava vento e dava cólica

nele, quando ele era menor, aí eu vi na internet que tem uma mamadeira da Avent e ela não dá

cólica, e eu queria porque queria essa mamadeira, aí ele "quanto que é essa mamadeira" e eu

falei " 70 reais uma mamadeira" "70 reais a mamadeira?" e eu falei "ééé, mas tem que pensar

no nenê porque daí ele não vai te cólica" aí eu convenci ele a comprar, aí eu peguei e fui, achei

que o bico da mamadeira tava saindo muito pouco aí eu fui e abri o bico da mamadeira com

agulha, rasgou o bico aí saía demais e ele não conseguia, ele afogava... aí nós fomos vê o bico,

40 reais o bico "Meu Deus céu mamadeira 70 reais, bico 40 reais", convenci ele e comprou o

bico, aí ficou... ele faz assim, as minha vontades, o que eu quero assim, em relação ao nenê, as

vezes ele deixa de fazer pra ele, e ele vai fazer pra mim ou pro nenê, aí assim vai, pra mim, pro

nené e pra casa na verdade, as vezes ele quer cortar o cabelo mas não corta o cabelo, mas não

corta o cabelo porque tem que usar o dinheiro pra outra coisa... aí eu falo "vai, corta o cabelo

logo" aí eu convenço ele e aí ele vai, mas se não....

Lohaine: fica preocupado também né, com as coisas que precisa

Alice: ele fica preocupado com tudo que precisa, aí corre atrás de um empresta dinheiro "fulano

tem dinheiro pra me arrumar, porque preciso fazer uma coisa pro nenê", aí sempre ele vai lá pra

vó dele e a vó dele empresta pra ele fazer alguma coisa quando é pro neném, quando é pra

compra remédio ou algo assim... Assim, nessa parte ele tem bastante responsabilidade...

Lohaine: Uhum, você reclama mais da questão de você cuidar do bebê sozinha né

Alice: é de ajuda né

Lohaine: entendo, e você acha que ficou mais solitária em relação aos seus amigos depois que

o bebê nasceu?

Alice: fiquei!! sumiu todo mundo, não aparece nenhum, sumiu sumiu, até... se lembra aquela

que veio aqui no dia que você veio, ave eu e ela vixi maria, era carne e unha, sumiu... Eu não

sei também né porque as vezes a gente fala do problema da gente mas não sabe o problema que

ela tem né

Lohaine: aham

Alice: Eu sei só que ela ta fazendo faculdade e trabalha, não sei o que aconteceu, mas assim até

em relação a conversa no whatsApp também, sumiu, sei lá parece que de repente todo mundo

evapora, todo mundo... aí acaba que você tem que conversar com alguém da sua família mesmo,

porque senão não tem ninguém de fora pra conversar...

Lohaine: Entendi

Alice: Aì eu vou aqui na vizinha e converso um pouquinho com ela, só também... As amigas

assim que eu tinha, não tem mais nenhuma...

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Lohaine: É só família mesmo

Alice: Aham, mas isso disque é normal né?

Lohaine: A maioria das mãe passam por isso, elas sentem isso.

Alice: Porque some todo mundo, parecia até que (incompreensível)

Lohaine: uhum, mas e sua família?

Alice: Ah a família é unida assim, por assim ajudar a cuidar do neném, se precisar pegar, não

tem o que queixar deles não

Lohaine: ajudam bastante né, e a família do Julian?

Alice: A família dele por morar longe, lá no Cabral, eles quase não vêm aqui, e também o Julian,

sei lá... eu não sei

Lohaine: Eles não tem uma relação muito boa né, que você falou, que tem muito conflito a

família dele.

Alice: ééé, a família tem muito conflito entre eles lá né e Julian não gosta de se meter, desde o

dia que foi lá da última vez, depois dessa vez que eles discutiram por lá, ficamos um mês e

pouco sem ir

Lohaine: Uhum

Alice: Por causa de fralda, eu falei que quando a gente vinha, quando a gente ia lá era muita

trocação de fralda, o nenê mijou uma vez e troca a fralda, o nenê... troca a fralda, aí eu falei né.

falei "Se tem que falar pra sua mãe lá que não tem condições, como que a gente vai conseguir

comprar fralda"

Lohaine: Uhum

Alice: aí teve um dia que a gente saiu do pediatra e foi lá, aí chegou,tipo tem uma rotatória

como daqui um pouquinho mais pra frente, pra chegar na mãe dele, na rotatória eu falei "para

o carro que eu vou trocar a fralda do neném, chega lá eles vão querer trocar" aí peguei troquei

a fralda do neném, chegou lá não foi 15 minutos trocaram a fralda do nenê porque disque tava

cheia, nesse dia Julian discutiu lá... tanto é que na hora ele queria vir embora, tanto que a mãe

dele falou "não, não vai embora" e ela tava fritando pastel lá pra gente e ela falou "se vai comer

o pastel e depois se você quiser embora se vai embora" discutiu, discutiu, discutiu, ele a mãe

dele a a tia dele... e eu fiquei de fora, fiquei só ouvindo eles fala né...

Lohaine: Uhum, entendi,,, e ele ainda está sem falar com a irmã?

Alice: não, já ta falando com ela

Lohaine: ja ta falando com a irmã? porque se falou que eles...

Alice: é eles, tinham se desentendido né, mas agora voltou a falar normal... Eu acho que ele

aceitou também a menina, porque é uma opção dela né, ela que tem que escolher o que ela acha

melhor pra ela, aí acho que ele, foi indo ele entendeu e agora eles conversam.

Lohaine: entendi, que bom né

Alice: Uhum, não tem como né, família é assim mesmo, se briga, outra hora se briga, outra hora

se ta bem, outra hora se briga de novo.

Lohaine: Uhum, verdade.

Alice: da ultima vez, da ultima briga deles, que ele foi pra e discutiu com a mãe dele e a tia

dele, aí passou um mês e ele falou que não ia lá enquanto eles não viessem aqui...

Lohaine: Uhum

Alice: Aí a mãe dele fica assim "ah trás meu netinho, trás meu netinho" aí ele "não vou levar,

enquanto vocês não vierem aqui, porque vocês não tem tempo pra nós, mas a gente tem que ter

tempo pra vocês" aí ele pegou e falou que não ia leva... aí acabou que ele levou, falei "ah, vai

te que leva porque eles não vem", Ah irmã dele que é madrinha do neném ainda vem né.

Lohaine: aham

Alice: mas só que agora também eles tem outro bebê lá, que a irmã dele e a mulher dela, e a

mulher dela tava grávida e teve o bebê...

Lohaine: Ah, entendi.

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Alice: Aí, dia 14 faz um mêszinho... aí, acho que por eles... aí eles mandam assim mensagem

pedindo foto do neném, querendo saber... Mas, fora isso também, a gente quase não vai lá, por

causa do tempo também... Por causa que a mãe dele mexe com salgado, ela dorme cedo, porque

ela tem que acorda 2 horas da manhã, aí acho que 7 horas mais ou menos, ela já ta dormindo,

aí ele, nesses horários, ele ta chegando do serviço 5 horas pra ir lá, não dá... aí final de semana

a gente vai lá, a gente vai lá, vai rápido, não demora muito, porque logo ela já tem que mexer

com salgado na parte da tarde, pra deixar pronto pra no outro dia ela só assar ou fazer alguma

coisa assim.

Lohaine: tudo pré pronto só pra assar ou fritar né, sei como é. um conhecido meu mexe também

e dá uma trabalheira que só

Alice: Uhum, dá mesmo... aí as vezes a gente vai lá, na ultima vez que a gente foi lá mesmo,

pela distância também que ele não gosta de ir, porque gasta muita gasolina, aí na última vez

que a gente foi lá a mãe dele tava com uma enxaqueca, praticamente nem saiu do quarto, e a

irmã dele praticamente expulsou nós, porque ela tava cansada também, falei pra ele "porque

que sua mãe não avisou que tava com dor de cabeça né, que tava deitada", aí a irmã dele "tenho

que acorda amanhã de madrugada, pra poder mexer com salgado e to com sono" e a nenê não

deixa eles dormi, porque a nenê tem cólica, bastante cólica e eu falei "Ah vamos embora amor,

porque a Juh quer dormir também" saímos de lá era umas 8 horas, falei "ah, vambora" aí a gente

pego e veio embora.

Lohaine: e a vó dele?

Alice: a vó do Julian?

Lohaine: Julian!

Alice: a vó dele praticamente e gente não foi mais lá, mas esses tempo atrás ela veio aqui,

passou a tarde inteira aqui.

Lohaine: Legal

Alice: Só que a vó dele, a vó dele entende ele assim, mais que a mãe dele

Lohaine: é por isso que eu perguntei, se falou que ela que criou ele né

Alice: Ela entende mais do que a mãe dele, as vezes ele liga, ele liga quando ele quer saber

alguma coisa de lá né, aí ele liga e a vó dele conta "ah fulano foi lá, que não sei o que, minha

vó falou que saiu a maior briga lá" porque as vezes a mãe dele não conta né, mas se ele liga pra

vó dele ela conta. Mas esses dias mesmo, a vó dele tava ruim, a gente nem foi lá, ela tava de

cama, não sei o que tinha acontecido com ela lá, mas tava ruim. Mas ele também nem foi lá pra

saber, as vezes ele liga, eu não sei, a tia dele mesma hora, ela tava mexendo no psicologo, teve

um tempo que ela tava no psicologo, ao mesmo tempo que ela tipo te dá atenção, ela some!!

você pode mandar zilhões de mensagem, ela não responde mais, aí de repente ela aparece....

igual, antes quando eu tava grávida, praticamente todo dia ela me ligava ou ela mandava

mensagem, de repente se pudia mandar mensagem que ela não respondia mais você, se ligava

não atendia... aí as vezes ela que ta com o celular da vó dele, aí ele liga ela desliga, aí ele já

sabe que é ela, ou uma das primas dele. As vezes desliga até o telefone, aí eu falo pra ele "ah

sua tia, ela é muito crazy" a mesma hora que ela tá lá, ela não te atende mais.

Lohaine: Entendi, aí acaba que ele não consegue falar com a vó por causa disso?

Alice: é, e agora ele também depende muito do meu celular, se ele querer falar, aí tem que ligar

do meu celular.

Lohaine: aham

Alice: E as vezes eu to mexendo no meu celular, aí ele fala "Ah tem como você me dá o meu

celular?" e eu falo "Seu celular nada, vai comprar um celular pra você" eu não aguento mais ele

sem celular, porque se eu preciso falar com ele eu tenho que ligar no celular da empresa.

Lohaine: entendi, fica ruim né, ficar sem contato...

Alice: Uhum, vai acontece, as vezes pode acontece alguma coisa na estrada né, vai saber

Lohaine: aham

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Alice: e também tem o nenê, tem que ter, ele tem que ter algum meio de comunicação, porque

vai que acontece alguma coisa pro nenê e eu preciso dele...

Lohaine: Uhum, pois é.

Alice: Isso porque a gente ainda ta aqui na minha mãe, eu quero vê quando a gente mudar pra

lá.... por que tem horas, que eu não sei, porque tem horas que ele é bem ignorante

Lohaine: o Julian?

Alice: éé, aí as vezes assim, igual teve um dia que o pessoal veio pro velório da minha prima,

e tava só eu e ele aqui, e daí minha irmã tem mania de falar com o neném gritando né, e daí

nesse dia ela falou, do mesmo jeito que ela fala sempre com ele, e daí o Julian não gostou,

pegou o nenê e entrou com o nenê pro quarto e fechou a porta, aí eu peguei entrei pra dentro do

quarto e falei "porque você trouxe ele pra cá?" "ah, fica com essa gritação aí" e eu falei "uai, é

o normal dela, se sabe que ela fala com ele desse jeito" "ah eu não gosto de gritação, desse

barulho" ele é novo mais tem o espirito de velho "ah eu não gosto do barulho, desse povo que

vem" aí nesse dia a gente discutiu, daí ele falou que ele sempre tem que me ouvir mais eu não

posso ouvir ele...

Lohaine: Aham

Alice: Aí as vezes minha mãe fala que ele pode mudar quando a gente for pra casa, ela fala "ah,

toma cuidado com Julian" vai saber né... Mas só que eu acho que nessa parte não

Lohaine: porque, ele perde a paciência muito fácil, essas coisas?

Alice: Não, ele não perde a paciência fácil, eu não sei porque ela tem esse pensamento...

Lohaine: Ele nunca deu motivo pra ela imaginar?

Alice: Não, ele nunca deu... porque as vezes ela acha que aqui em casa ele é uma coisa e, mas

na nossa casa ela vai ser outra.

Lohaine: entendi

Alice: Aí eu não sei, ela fala "Se tem que fazer uma chave cópia e deixar escondido, se acontecer

alguma coisa, você some, você abre a porta e vem embora" aí eu, eu não sei... Ele tem as partes

dele ignorante mais...

Lohaine: Você tem esse medo?

Alice: não, em relação a isso não.

Lohaine: Mas você tem medo de morar sozinha com ele?

Alice: Tenho, eu não sei, não é pelo fato de... é pelo fato de morar sozinha, de ter a minha

própria casa, que é minha responsabilidade que vai ser maior, não sei se vai se maior ou se vai

se a mesma... Porque assim, agora depois que eu tive o nenê eu parei de fazer muita coisa,

porque o nenê ocupa o tempo e eu tenho que cuidar dele

Lohaine: uhum

Alice: e lá em casa, igual lá em casa não vai ser assim... As vezes aqui, porque aqui em casa ele

que paga a luz, a luz ele que paga, aí fica bem assim, porque eu coloco o microondas na tomada

pra esquentar o leite do nenê "Pra que deixar esse microondas na tomada" aí tira, demora três

horas, duas horas, eu boto o trem na tomada de novo, í tipo ele fala que ele que paga a luz, se

ele não ta reclamado ela não tem que falar, mas ela fala, minha mãe fica a trás da gente, e fica

eu ligo e ela desliga... aí ele fala, eu que pago... é pesado é pesado, porque é quase 400 reais de

luz mas, ele não fala nada não.

Lohaine: entendi.

Alice: Aí ele fala que quer ir pra casa porque aí vai ser os nossos gastos, porque vamos ser nós

que vamos pagar luz, aí vai ser menas coisas que acho, porque a gente gasta muito assim... nem

tanto com besteira, com coisas necessárias mesmo

Lohaine: uhum

Alice: Aí tem que pagar, tem vez que a fatura do cartão vem mil reais de um cartão, aí de outro

cartão vem 500, aí vem quase 400 reais de luz, aí as vezes ele fica sem dinheiro pra nada, se

não fosse o cartão ajudar a gente, tava desesperado... aí tem que esperar, a fatura do cartão

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vence tal dia, tem que esperar até tal dia pra poder comprar porque não tem dinheiro... Aí eu

acho que ele acha que mudando lá pra casa vai sobrar assim mais dinheiro né...

Lohaine: Uhum, entendi... vai ser menos pessoas na casa, menos gasto né

Alice: Mas em relação a gastos, o que ele tem aqui é só isso.

Lohaine: entendi, e compra do mês?

Alice: Minha mãe que faz... Mas aí a gente vai, quando a gente vai no atacadão a gente trás né,

se tiver faltando... compra frango lá, porque carne a gente não compra aqui, compra aquele

frango a passarinho, compra lá se tiver precisando de alguma coisa, compra o leite, que é uma

vez minha mãe compra uma caixa fechada, outra vez é nós,aí só que daí a fatura do cartão vem

super alta, o cartão do atacadão, porque você vai pegando uma coisa e outra coisas, a maioria

das coisas que ele gosta de reclamar, que a fatura já foi 300 reais, e nem fechou o mês e o leite

do nenê toda semana tem que compra, é 40 reais toda a semana. Aí ele fala, mas também a

maioria das coisas que a gente pega é tipo, é 10 reais ou pra mais de 10 reais, ai qualquer coisa,

umas 10 coisas já vai dá quase 100 reais, aí ele fala "ah tem que maneirar nas coisas de comprar

no Atacadão" mais ele fala, mas eu vou lá e compro.

Lohaine: Então, querendo ou não o financeiro pesa muito né

Alice: é, pra ele pesa, pra ele.

Lohaine: Se falou então que ele descobriu que o bebê vai ter que operar e ele chorou ontem?

Alice: Chorou lá pro serviço dele, na minha frente eu acho que ele chorou uma vez na minha

frente, quando ele ta na minha frente ele quase não chora.

Lohaine: entendi, mas como se ficou sabendo?

Alice: ele mesmo me falou e depois ele ficava olhando assim pro neném, aí ele falou "Ah amoor,

depois que você falou pra mim eu até chorei lá porque o nenê é tão novo pra já ter que fazer a

cirurgia", aí eu falei "Ah mais é uma coisa que é necessária, se fosse desnecessária nem

precisava mesmo, nem correria mais atrás, era só fazer o acompanhamento e pronto, mas é

necessário" aí ele "Ah mais tem gente que tem problema no coração e vive muito bem sem

cirurgia" porque meu sobrinho tem e nunca fez cirurgia e o filho do vizinho também tem e

nunca fez... aí eu falei "Ah se for pra ele viver melhor depois, compensa fazer agora" porque

ele quer coloca no neném pra fazer algum tipo de esporte pra ocupar a mente, e se ele tiver, se

ele não tiver operado não tem como né fazer, ficar fazendo cansaço, ele não pode cansar.

Lohaine: Uhum

Alice: Eu não sei também, porque eu fico pensando, porque tem uma colega minha que a nenê

dela passou por uma operação, que opero também porém não, parece que, como ela falou,

parece que não fez, porque o Miguel, ele se ele, eu não deixo muito ele chora, mas ele nunca

ficou roxo e ela ficava, aí o dela teve 3 paradas cardíaca a bebê dela aí tentaram colocar marca

passo pra vê se melhorava mas não teve resultado antes da cirurgia, ela falou que ela fez a

cirurgia, mas mesmo assim não pode deixar a neném chora porque se ela chora, ela fica roxa,

fica sem ar.

Lohaine: Entendi, não viu muita diferença?

Alice: ééé, eu não sei, teve só uma vez que eu derrubei o celular em cima dele, ele chorou duro,

mas também foi só essa vez e domingo passado também, ele não gosta muito de barulho assim,

de pessoa conversando muito alto perto dele, ele chora, e a madrinha dele tava sentada com ele

aqui na cadeira, e ele tava falando alto, ele fica assim ó, de repente ele uáááá (imita o choro do

bebê) de repente ele abriu a boca que ficou até soluçando, e foi só essas duas vezes que vi ele

chorar duro, duas, mais não ficou roxo.

Lohaine: entendi.

Alice: e disque isso deixa a criança roxa né, eu não sei, sei lá eu não entendo, tem o negócio

mais não não tem praticamente os sintomas, se você olha pra ele você não pensa que ele tem

alguma coisa...

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Lohaine: nããão, eu fiquei surpresa, é porque é pequeno né, como você falou, ele não é tão

magrinho né, geralmente criança que tem esse problema é mais magrinha que ele, ele parece

uma criança saudável magra...

Alice: saudável magra, aham!

Lohaine: não parece que ele tem algum tipo de problema.

Alice: Uhum, igual ontem eu vi lá no hospital uma menininha, mas eu acho que ele, eu não sei

se ele tinha sopro no coração, ele tava sentado lá perto da gente mesmo, eu pensei que ele tinha

meses, mas ele já tem ano, e ele é pequeninho, miradinho assim, aí eu até perguntei pra mãe

dele "ele tem quantos meses?", aí ela falou "não, ele já tem ano", e a enfermeira lá que tava

pesando o Miguel, eu não sei porque talvez porque ela é véia, ela num... perguntou se o Miguel

já tinha ano... Mas ele não parece que tem ano, falei "não, ele tem 4 meses", só que também da

mulher ele mama só no peito, eu não sei, não sei se era porque ele tem problema no coração

por isso que ele era magrinho.

Lohaine: Uhum, entendi. Eu vou fazer umas perguntas pra você que é de uma escala, ta bom?

aí eu vou ti dar 4 opções em casa pergunta, aí você me diz se é a primeira, segunda, terceira ou

quarta, ta bom?

Alice: ta bom

Lohaine: 1, Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas? aí é, tanto como antes,

menos do que antes, muito menos do que antes e nunca.

Alice: menos do que antes.

Lohaine: menos do que antes, tenho tido esperança no futuro, aí tanta como sempre tive, menos

do que costumava ter, muito menos do que costumava ter e quase nenhuma

Alice: não, sempre tive esperança, agora minha esperança é meu filho crescer também né

Lohaine: então a mesma coisa?

Alice: é, a mesma coisa de antes!

Lohaine: aham, tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal... sim, a

maioria das vezes; Sim, algumas vezes; raramente; Não, nunca.

Alice: Algumas vezes

Lohaine: algumas vezes? 4. Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo, não, nunca;

quase nunca; Sim, por vezes; Sim, muitas vezes.

Alice: quase nunca

Lohaine: quase nunca? Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo, sim,

muitas vezes; sim, por vezes; não, raramente; não, nunca.

Alice: as vezes sim, as vezes não... por vezes né

Lohaine: por vezes né? Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes

não consigo resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a

maioria das vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.

Alice: não tão bem quanto antes, antes resolvia mais e agora não consigo.

Lohaine: as vezes ou a maioria das vezes você não consegue resolve?

Alice: a maioria das vezes.

Lohaine: a maioria né, ok. Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal; Sim, quase

sempre; Sim, por vezes; Raramente; Não, nunca.

Alice: Raramente

Lohaine: raramente? Tenho-me sentido triste ou muito infeliz; Sim, quase sempre; Sim, muitas

vezes; Raramente; Não, nunca.

Alice: Raramente

Lohaine: raramente? Tenho-me sentido tão infeliz que choro, Sim, quase sempre; Sim, muitas

vezes; Só às vezes; Não, nunca.

Alice: Nunca

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Lohaine: Nunca? Tive idéias de fazer mal a mim mesma, Sim, muitas vezes; Por vezes; Muito

raramente; Nunca.

Alice: Nunca.

Lohaine: Nunca

Alice: Agora não, tinha um pouco antes.

Lohaine: Antes do bebê?

Alice: sim

Lohaine: entendi, e você falou que as vezes você sente muito, ansiosa com o bebê que não para

de chorar.

Alice: Não faz as coisas, sim eu fico ansiosa quando ele, quando ele... tem dia ele ta bem e tem

dia parece que não ta tudo bem, tem dia ele chora menos, tem dia ele chora mais...

Lohaine: Uhum, mais isso é toda a criança né

Alice: é, aham. E eu fico ansiosa com coisa assim que eu vejo, tipo uma mulher do instagram,

e ela posta a nenémzinha dela lá, e ela é uma semana mais velha que o Miguel, ela fez 5 messes

e Miguel faz na segunda.... E a bebêzinha dela já senta, e Miguel não senta.

Lohaine: Mais é menina? menina desenvolve mais rápido que guri, de sexo, não sei porque mas

meninas geralmente fala antes, gatinha antes, caminha antes, tudo que guri.

Alice: Tudo antes? e daí que eu fico ansiosa porque igualzinha a mulher que era do Ubirajara,

ela teve o bebê dela uma menininha, no mesmo dia que eu, eu até vi ela andando lá pelo

corredor, pra dilata.

Lohaine: aham

Alice: e o bebê dela já rola, e Miguel lá e do jeito que você bota ele lá ele fica, e o dela já rola,

já senta e eu não sei o que acontece com esse menino, parece que não ta desenvolvendo.

Lohaine: mais ele já ta durinho né

Alice: duro no colo da gente, mas pra senta, se senta ele, ele fica assim ó...

Lohaine: entendi, é que as vezes a gente fica muito ansiosa a gente fica comparando uma

criança a outra

Alice: uhum, a outra

Lohaine: e não, seu bebê diferente de outro, ele vai desenvolver algumas coisas diferente das

outras, igual tem criança que senta mais rápido, mais as vezes o seu não senta mais rápido mais

consegue movimentos finos mais rápidos, por exemplo pegar coisas pequenas com a pontinha

do dedo, isso é muito difícil pra criança aprender, e as vezes ele não senta tão rápido mais isso

ele aprende mais rápido então, varia uma coisa com a outra entendeu, então é muito difícil você

comparar uma criança com a outra, porque...

Alice:é que nem o daqui do lado, ele nasceu uma semana, Miguel é uma semana mais velho

que ele, aí as vezes eu vou lá conversar com a vó dele, a vó dele fica com ele, aí tipo ela, "Mais

Miguel é durinho, João não é assim", foi até um dia que eu peguei ele e eu pensei que ele era

igual o Miguel, mas ele é molão, e eu não sabia, e era a primeira vez que eu tinha pegado ele,

porque Miguel eu pego ele aqui e boto ele aqui, e aqui ele fica né, eu não preciso ficar toda hora

segurando as costas dele, eu fui fazer a mesma coisa, eu não sabia, aí eu fui peguei elem

coloquei ele aqui e daí ele "páfe" pra frente, aí eu "aí meu Deus ele ainda é mole" eu não sabia

que ele era mole, ele é bem mais molinho que o Miguel

Lohaine: Uhum, então tipo, você vê isso né, a diferença. então é muito difícil você comprar

uma criança com a outra entendeu, é só esperar, daqui a pouco quando se vê ele já ta até

caminhando, senta logo já tá, gatinha que você nem vê, entendeu, porque é muito difícil isso,

então se você ficar comparando o seu bebê com as outras, você vai ficar só ansiosa antes do

tempo e isso não vai resolver nada, porque não vai nem apresar o guri, ele vai continuar do

mesmo jeito.

Alice: Antes era o peso, o peso dele, eu achava ele muito magrinho, aí eu ficava olhando sempre,

olhava o peso sempre, aí eu via que tinha bebê com, as vezes, com mesmo mês que ele e as

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198

vezes com o peso, bem menos que ele, e as vezes,, bebê mais novo que ele, tipo meses e 9 kilo,

e Miguel tava lá no 5 e 6, aí tipo eu ficava assim olhando, que na hora que eu via um bebê que

era mesmo mês que ele, porém mais magrinho que ele, aí eu ficava feliz, ficava "ó ainda bem",

aí as vezes eu via, mesmo mês que ele, bem mais pesado que ele.

Lohaine: Mas aí que está, ser gordinho não quer dizer que ele seja saudável entendeu, então

vária sabe, e você não pode ficar comparando seu bebê com outro que isso só vi te dar estres,

só vai te dar ansiedade. Assim como você não pode se comparar como mãe com outras pessoas,

porque você é a melhor mãe que você pode, nas condições que você tem.

Alice: verdade

Lohaine: ai você se compara com outra mãe, e aí você acaba se sentindo culpada sem

necessidade.

Alice: é verdade

Lohaine: porque com certeza ela também vai se comparar com outra pessoa e vai se sentir

ansiosa.

Alice: E a gente sempre se compara com uma pessoa que as vezes a gente acha que é melhor

do que a gente, a gente se acha inferior

Lohaine: só pra se sentir mal

Alice: aham, a gente se acha inferior aquela pessoa fala "nossa, ela cuida tão bem do bebê, o

bebê ta com não sei quanto kilos, ta isso, ta aquilo" Com Miguel,é desse jeito, antes eu tava

negócio com pegar, mais botava as coisas pro menino e ele não pegava "ah mais era uma

lerdeza" eu falava que Miguel era uma lerdeza, "Mais esse Miguel é uma pamonha mesmo, o

guri não pega o negócio, fulano já é bem mais, já pega as coisinha" foi indo ele aprendeu,

aprendeu apegar, agora tudo que você, agora tudo que cê, ele não vira assim, ele vira assim

mais de lado, mais não vira assim de bruço, pra rola, aí esse dias mesmo eu deixei meu celular'

lá carregando, eu deixei ele lá, na cama também, e vim aqui lavar a mamadeira dele, na hora

que volto lá ta o guri com o celular e o carregador na boca, ele já tinha pegado, agora assim,

pegar, ele pega bem, qualquer coisa que você dá pra ele assim, ele já pega, antes era a mãozinha

mais dura assim, agora não já pega certinho

Lohaine: faz todo o movimento né

Alice: éé, passa com o cabelo perto dele, ele puxa assim.

Lohaine: entendi, mas é assim mesmo..

Alice: ééé, mas a gente fala que ele é bem ativo, tem hora que tenho até medo dele se igual o

primo dele, o primo dele é autista.

Lohaine: ah sim, entendi.

Alice: aí tem hora que eu fico pensando "vai esse nenê é autista também", porque o Marcos é

terrível ele, tempo inteiro que ele ta assim, se tem que, ou se ele não tiver brincando no celular,

se tem que fazer alguma coisa, se tem que ficar de olho nele... ele fica "qual que é a senha do

Wi-fi" "não tem wi-fi aqui Marcos" aí ele, esse dia mesmo ele veio aqui em casa, aí tem aquele

cachorro pequinininho ele corre, o cachorro corre atrás dele, aí ele passou perto do termometro,

já ficou apertando e desapertando o botão, "Marcos não mexe Marcos", e ele fica que sobe em

cima da estante de sapato, ele é terrivel, aí eu fico pensando "Meu Deus do Céu" até mamãe

esses dias falou "será que nenê vai se igual aquele primo dele" eu "Ah, não sei" porque tem

horas que ele é terrível.

Lohaine: Mas isso é coisa que você só tem que esperar né, não pode...

Alice: éé, só esperar, não dá pra ficar ansiosa com uma coisa que nem sabe se tem ou não.

Lohaine: Pois é

Alice: Do primo dele a mãe dela não correu atrás né, porque desde o teste do pézinho já eu

alterado alguma coisa, só que ela não foi sabe.

Lohaine: ah, entendi.

Alice: O do Miguel não, o teste do pézinho dele já deu normal

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Lohaine: Tem que ir atrás, porque o teste do pézinho ele descobre um monte de síndrome

perigosas

Alice:Sim, verdade... o bebê da menina aqui pra cima, ela fez o teste do pézinho dele e daí o

dele deu um trem lá diferente do de Miguel, ela veio aqui pra comparar, aí o dela tava dando

tipo que ele fez transfusão, que ele recebeu sangue, só que ela falou que não recebeu nenhum

sangue, porque quando ele nasceu, ele teve ictericia, ele ficou la, ela veio embora aí a equipe lá

ligou pra ela voltar e ela voltou e ele ficou, aí durante o dia ele ficava e ela ficava com ele e

durante a noite ela tinha que vir embora, aí ela fala que ele nunca recebeu sangue, mas lá no

teste do pézinho ta falando que ele recebeu, ela falou que ia lá vê mais nem num foi.

Lohaine: entendi, mas eu acho então que é só isso...

Transcrição do 1° encontro com Bianca

Realizada: 20/12/2019

Duração: 1:04:16s

Lohaine: vamos começar conversando um pouco sobre a sua maternidade, como é que está

sendo a sua maternidade? Dessa vez.

Bianca: A tá sendo bem sobrecarregada né, como eu digo que cuidar de 3 ao mesmo tempo dá

um pouquinho de trabalho, E também porque assim ela ainda é pequenininha e ela ainda

mamava no peito, aí agora com ele ela ver né ele mamando e aí ela fica com vontade de mamar

e quer mamar, tem dia la mama também né, mas é pouco.

Lohaine: entendi, e quantos anos ela tem?

Bianca: ela tem três.

Lohaine: tem três? E ela ainda estava no peito?

Bianca: Tava no peito ainda.

Lohaine: não mas é bom, Ave Maria melhor remédio é o peito.

Bianca: aí ela mama, ela vê aí ela fica com vontade de mamar e vem se esfregando, mas ela

entende eu vou conversando né com ela, mas tá sendo assim bom né, um filho assim eu acho

que é um presente de Deus né.

Lohaine: Sim, e você está bem?

Bianca: Tô, Acho que sim.

- risos

Lohaine: Por que acha?

Bianca: Eu não sei, tipo, às vezes eu fico muito cansada né, as crianças começam a chorar do

nada assim mas….. é igual assim, eu falo assim para as minhas amigas, é normal eu acho que

todas as mães têm isso né.

Lohaine: aham, Ainda mais você com três né?

Bianca: Ééé

Lohaine: e cadê a outra? Tá dormindo?

Bianca: Tá dormindo!

Lohaine: Dorminhoca?

Bianca: Ela dormiu de madrugada já, que Leandrofalou, umas 2 horas da manhã assistindo

desenho.

Lohaine: nossa

Bianca: e ele dormiu e ela ficou aí, ela não desliga a televisão enquanto não manda dormir ela

não vai né.

Lohaine: uhum

Bianca: aí foi dormir essa hora, por isso que ela tá dormindo até agora

Lohaine: e ela acorda cedo ? Ela tem escola, Ela estuda?

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Bianca: tem, mas já tá de férias já.

Lohaine: aham, mas quantos anos ela tem?

Bianca: tem seis

Lohaine: aí é uma de 6, uma de 3 e o Vitor de ...

Bianca: três meses também

Lohaine: três meses, tudo três

- risos

Bianca: de três em três

Lohaine:uhum, entendi. E você tem família aqui perto? Que te ajude?

Bianca: Não, que mede o dessa nós aqui mesmo, Maurício, eu e Leandroné.

Lohaine:aham

Bianca: mas a minha irmã mora no 1º de Março, aí ela às vezes, quando ele nasceu ele já veio

aqui né, me ajudou com algumas coisas, mas eu também não sei parece que eu tô incomodando

sabe, aí eu não gosto que a pessoa vem e me ajuda, esses dias a minha sogra veio para cá, Passou

três dias aqui e ela reclamou que eu toda hora vinha e pegava o Vitor dela, mas assim ele

começa a chorar e parece que ele tá incomodando sabe, porque ela já tem 65 anos né E aí eu ia

lá pegava ele, e ficava lá fica fazendo almoço e com ele no colo, aí eu e ela não temos tanta

intimidade assim né para conversar sobre todas as coisas, E aí ela ficava aqui só que ela ficava

sentida, ela achou que eu que não tô deixando ela pegar ele.

Lohaine: ela achou que você não...

Bianca: Eu não sei parece que eu tô incomodando, tipo eu, não é que eu não aceite ajuda, é

igual o Leandrofala para mim "você não aceita que as pessoas te ajude "mas eu não gosto,

parece que eu tô atrapalhando, que eu tô incomodando sabe?

Lohaine:uhum

Bianca: mas essas coisas eu dou conta sozinha, vai indo.

Lohaine: mas eu imagino que deve ser muito difícil com três crianças pequenas.

Bianca: um pouquinho

Lohaine: misericórdia, E como você tem se sentido além desse cansaço?

Bianca: Bem né, graças a Deus com saúde e acho que o importante é isso né, mas eu acho que

sim tudo bem sim.

Lohaine: tá satisfeita com os bebês ? quer mais um ou tá bom?

Bianca: Não, ele já veio de enxerido né.

Lohaine: você já queria ter parado com as duas meninas?

Bianca: Sim com as duas meninas, mas tipo Leandroele queria ter um menino, sempre quis ter

um menino né...

Lohaine: aham

Bianca: quando eu engravidei da Cecília ele ficava que "é um menino, um menino, um menino

"aí fez a ultrassom, menina. e ele ficou assim, não assim chateado né….

Lohaine: ficou sentido né

Bianca: É, ficou um pouquinho assim porque queria Menino né, aí quando eu descobri que tava

grávida dele, foi uma surpresa, aí a gente fez a ultrassom, e Eu já imaginava que era outra

menina, já que já tinha duas né.

Lohaine:uhum

Bianca: fez a ultrassom, quando ela falou que era menino meu Deus do céu, ficou totalmente

diferente a cara dele de quando a gente veio da ultrassom da Cecília e dele, ele vinha olhava

todas as lojinhas de roupa de bebê, que ia comprar meu sei o que De bebê, de menino que ia

comprar uma chuteira para jogar futebol….

Lohaine: ficou todo feliz!

Bianca: e ele depois que ele saiu do serviço, que ele acertou os problemas né, no começo do

ano a gente passou um pouquinho de aperto financeiro né, por causa de exame, do ultrassom, e

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o fato de ser um menino que estimulou ele para, assim, ter mais ânimo sabe, até quando ele

nasceu assim parece que ele veio não para mim sabe, mas para ele, por ele sabe? Eu acho que

eu vejo isso.

Lohaine:uhum, que legal. E ele te ajuda bastante? Ele é companheiro?

Bianca:é, sim bastante, bastante mesmo assim, todas as coisas né eu e ele né, aí a Lúcia já é um

pouquinho maior e ela ajuda com algumas coisas né, mas é mais eu e ele aqui em casa, e ele

ajuda muito, ele faz comida, limpa a casa, tudo tudo, limpar ele, dá banho nela sabe, dobrar

roupa, ajuda lavar roupa, ele é um paizão mesmo.

Lohaine: bem parceiro né?

Bianca: É

Lohaine: é, eu vi, porque quando você ia nas reuniões você ia sozinha né, não levava as

menininhas...

Bianca: é, ele ficava com elas aqui.

Lohaine: porque geralmente quando as mães têm bebê pequeno, crianças pequenas igual elas

né, acaba tendo que levar porque o pai não fica.

Bianca: A, ela não para (se referindo a Cecília) Ela não fica quieta um minuto, e a outra maior

fica quietinha né, agora ela não 3 anos tem muita energia, mas energia que eu, para gastar ela

não para, fica para lá e para cá, mexe uma coisa e nem outra aí não dá certo levar sabe, levar

ela no lugar que tem que fazer silêncio não dá, por mais que não acontece isso, porque os adultos

falam mais que as crianças lá né, mas ela não para, aí ele ficava com ela.

Lohaine: que bom, o Leandrosempre foi um bom rapaz, Que bom que ele é um bom marido.

Bianca: é, ele é .

Lohaine: porque eu não sei se você sabe, mas eu conheço ele...

Bianca: você não, mas tem a sua irmã, ele sempre falava dela.

Lohaine: eu conheço ele acho que…. ah, eu era adolescente.

Bianca: é?

Lohaine: Quando eu conheci ele. teve um tempo que ele vivia lá em casa.

Bianca: ah Leandroé bandoleiro, vai para todo canto a gente tem gente que ele conheceu assim,

todo mundo que conhece ele gosta dele né, aí para, tipo uma pessoa que ele conheceu há muito

tempo, há muito tempo que não vê aí que ele passa em frente à casa da pessoa, que ele trabalha

de Uber né, aí ele anda cidade inteira "Ah não tô com passageiro eu vou parar lá, vou lá " eu

"Leandropelo amor de Deus"

Lohaine: Mas é bom assim.E as outras, elas estão lidando bem com o novo bebê? Além dessa

com mamar?

Bianca: até que sim, o negócio dela porque ela assim, ela quer fazer carinho, às vezes pode

machucar tipo ela quer abraçar e aperta muito ele, mas ela é em geral gostaram bastante, eu

achei que ia ser mais difícil né, ter o novo bebê e tal, principalmente ela (se referindo a Cecília)

que eu fiquei mais...

Lohaine: preocupada né

Bianca:uhum, preocupada. Mas foi tranquila Sim, quando chegou, mas acho que também é

porque o menino, é diferente, e é um bebezinho, e ele parece bastante com a outra, e então ela

ficou encantada, é completamente diferente de quando ela nasceu, porque ela não sei parece

que ela rejeitou um pouco, por ser menina né.

Lohaine: Talvez porque ela era muito novinha né, tinha três aninhos quando essa aqui nasceu

né?

Bianca: Tinha 4 anos eu acho, que ela tinha, ela tipo meio que rejeitou um pouco, e ela também

sabe, vê que ela gostou né, a gente vê um bebezinho e ela é bastante cuidadosa, tem esse lado

dela de cuidar, de proteger sabe, é diferente da outra , que a outra não é muito assim de proteger

e cuidar não, ela é malvada mesmo, mas ela até na hora que ela machuca a, ela vai na intenção

de proteger, de fazer carinho né, mas ele é pequenininho...

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202

Lohaine: não tem noção da força ainda né, essas coisas né.

Bianca: já vai dormir (se referindo ao Vitor) ainda mais com esse tempinho que tá fresquinho

Lohaine: eles aproveitam né

Bianca: tão bom para dormir.

Lohaine: é é, Deixa eu te perguntar, você ainda estuda?

Bianca: não, já terminei já.

Lohaine: você terminou o ensino médio?

Bianca: aham

Lohaine: hum, Entendi, E você trabalha?

Bianca: Não, nunca trabalhei de carteira assinada, nada, está em casa mesmo. Eu tive Lúcia

com com 15 anos, aí eu tava no primeiro ano né, aí eu parei, aí sempre era para eu ir estudar e

ficava adiando e adiando, aí uma amiga minha falou desse INSEJA que é do governo né,

governo não….

Lohaine: é, do governo.

Bianca: do governo né?

Lohaine: uhum

Bianca: Então para mim fazer a prova e aí dependendo das notas né eu passava, e eu fiz esse

aí, porque assim para mim tá todo dia fazendo o CEJA, é EJA na verdade que chama, o EJA

todo dia né, pelo menos duas vezes na semLúcia é tinha que ir né E eu achava que para mim

não tinha como né, eu ir né, porque é por causa das meninas, das coisas para fazer, e eu achei

esse daí tipo um domingo só se faz a prova e Pronto né, e eu terminei com isso daí, aí eu peguei

o certificado esse ano, no começo do ano.

Lohaine: huuum, entendi, e Mauricio? Ele terminou regular?

Bianca: Ele, Ah o dele ele começou a fazer faculdade e parou, no segundo semestre se eu não

me engano, de administração que ele estava fazendo.

Lohaine: entendi, parou por quê?

Bianca: Não sei...

Lohaine: questão financeira outra coisa?

Bianca: Eu não conhecia ele na época.

Lohaine: Ah sim entendi

Bianca: não sei

Lohaine: ele é mais velho né? Quantos anos ele tinha quando você engravidou?

Bianca: Tinha 22, 21 ou 22 anos, porque ele é 7 anos mais velho que eu, eu tô com 22 e ele vai

fazer 30 né, é vai fazer 29 ou 30.

Lohaine: entendi.

Bianca: . Ele é sete anos mais velho.

Lohaine: você engravidou adolescente né, e como é que foi, Foi muito difícil para você?

Bianca: Ah um pouquinho, mas por causa do julgamento das pessoas, e a Lúcia Clara ela nasceu

com o intestino para fora e de 7 meses

Lohaine: eu lembro dessa história

Bianca: aí no dia que ela nasceu, eu fui no postinho eu morava em Acorizal na época e aí quando

eu fui lá, eu tava com sangramento e com uma cólicazinha fraca e eu não sabia ainda né, como

que era na hora de ter o bebê né, por isso que eu acho importante ter esses encontros e tal Porque

na época lá nem nas enfermeiras mesmo não falavam, porque eu tava de 7 meses ainda não

chegou o ponto de falar "a quando você tiver sentindo isso isso isso é quando o bebê vai nascer

"E aí eu fui e a mulher falou que era infecção urinária e passou um soro para mim E aí o

motorista da ambulância que falou "não vamos levar ela para o Santa Helena né, qualquer

coisa" e ela nasceu...

Lohaine: aham

Page 208: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

203

Bianca: Chegamos aqui e não demorou muito tempo ela já já nasceu de parto normal, me deram

soro tudinho mas não conseguiu segurar, quando a doutora deu um toque já tava com uns 10cm

já E aí na hora que ela nasceu, aí a enfermeira levou um susto e falou para mim " você não

sabia que ela tava assim? "Aí eu eu fiquei "Como assim né? " E aí que elas foram explicar para

mim que ela tinha nascido com intestino para fora e que ia ter que fazer cirurgia tudo mais, E

aí eu vi a enfermeira, ela virou as costas para mim e falou assim "essa daí deve ter tomado

remédio para abortar e não deu certo" e saiu do quarto, da sala, aí eu não sabia o que fazer e

tipo eu não sei se é porque eu passei a gravidez inteira ouvindo "Ah você não toma remédio?

Você não preveniu? E aí parece que todo mundo ficava olhando e julgando que eu era culpado

de ela ter nascido daquele jeito mas ainda sim deu tudo certo.

Lohaine: ela passou pela cirurgia né?

Bianca: Ela fez a cirurgia no Júlio Muller

Lohaine: quando ela tinha quantos anos?

Bianca: Tava com três dias, três dias de nascida.

Lohaine: foi bem pequenininha né

Bianca: É porque a cirurgia tem que fazer rápido né

Lohaine:Entendi

Bianca: três dias de nascido, na hora, 2 horas antes mais ou menos dela fazer a cirurgia ela teve

uma parada cardíaca aí reanimaram ela e voltou, aí iam examinar ela e esperar um pouquinho

para fazer a cirurgia mesmo ou não, só que aí o cirurgião falou que tinha que fazer logo e ela

fez a cirurgia graças a Deus deu tudo certo.

Lohaine: Deu tudo certo a cirurgia?

Bianca: foi pelo umbigo, aí se você não conhecer as histórias e nem fala que ela tem uma

cirurgia né.

Lohaine: entendi, nem fica cicatriz né.

Bianca: não, é pelo umbigo que eles fizeram, é porque eu acho que ela era muito pequenininha

né.

Lohaine: não é que hoje eles fazem muito essas por vídeo assim, que usa umbigo

Bianca: é, perfeitinha a cirurgia.

Lohaine: que bom, E como é que foi cuidar, com 15 anos cuidar de um bebê recém-nascido e

ainda de pós-operatório?

Bianca: ah, Foi assim porque ela teve alta, já com dois meses né, então já tava maiorzinho, a

única coisa porque assim ela não pegava peito né, depois que ela teve alta que era para dar, que

ela não podia mamar no peito ainda, porque depois da cirurgia ela não tava fazendo cocô e eles

falaram que ela não poderia mamar nada aí eles fizeram aquela alimentação parenteral, na

sonda, mas só que ela não mamou no peito né, era NAN... (Conversa com a filha Cecília)...

Mas deu tudo certo, tinha a minha cunhada que me ajudava né, a irmã de Maurício, ela me

ajudava, ela já tinha um bebê né...

Lohaine: aham

Bianca: Mas uma experiência e foi indo né

( a entrevista é interrompida pela filha Cecília)

Lohaine: é só a mãe para atender a metade das coisas que ela diz né, eu quase não entendo que

ela fala.

Bianca: Às vezes acho que nem ela entende direito o que ela fala, e eles querem falar rápido, já

fala tudo errado e ainda quer falar rápido as coisas.

- risos

Lohaine: e você acha que a sua idade ajudou, você ser mais velha para ser mãe e depois?

Bianca: Ajudou como assim? Já amadurecer?

Lohaine: é, você ter sido mais velhas quando você engravidou depois?

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204

Bianca: Sim, Acho que sim a gente aprende né, porque assim quando eu morava com a minha

irmã eu cuidava da minha sobrinha, eu já tinha noção um pouquinho das coisas né

Lohaine: de cuidar de criança né?

Bianca: uhum, de cuidar de bebê a primeira era uma criança quando eu fui lá, tinha seis meses,

a outra tava maiorzinho, mas assim né é diferente quando você cuida da criança e quando é seu

filho né, mas ajudou bastante ela amadurecer, hoje mesmo eu sou muito sei lá eu acho que eu

não confio muito nas pessoas sabe, eu sou muito…. é um pouquinho que atrapalha né, você

desconfia de todo mundo, Principalmente quando em relação aos seus filhos né

Lohaine: é, mas do jeito que está o mundo não dá para você confiar cegamente nas pessoas,

Deus me livre.

Bianca: é, verdade, não gosta delas ficar pegando as coisas, tipo balinha, essas coisas dos

outros, comida, essas coisas eu não gosto, não deixo, que hoje em dia a gente tem que ficar com

os olhos bem abertos...

Lohaine: E você morava lá em Acorizal né?

Bianca:Quando eu tive Lúcia, quando ela nasceu a gente já mudou para cá, em abril de 2013.

Lohaine: e você nasceu lá?

Bianca: Nasce em Rosário mas sempre morei lá

Lohaine: uhum

Bianca: aí eu vim para cá para morar com a minha irmã que mora no primeiro de março, com

9 anos, aí eu vim morar com ela, que eu tive uma tuberculose e fiquei internada no pronto-

socorro né, E aí a minha mãe não sabia ver a hora essas coisas para dar o remédio, que tem que

dar certinho né, no horário certinho não podia passar da hora, E aí é minha irmã se prontificou

a ficar comigo, a cuidar de mim né, E aí eu vim morar com ela, na época ela morava no

PlLúcialto E aí fiquei morando com ela desde sempre, aí quando eu mudei para Acorizal que

eu conheci Leandroe aí a gente já casou, mas se não eu acho que Estaria morando para lá até

hoje.

Lohaine: aham, você casou, você foi morar com Leandroantes da Lúcia nascer?

Bianca: É, a gente, não, a gente veio morar junto mesmo quando ela nasceu, a gente alugava

uma kitnet aqui no Alto das Boa Vista E aí foi indo, que a gente foi morar junto mesmo foi em

2013, quando a Lúcia nasceu.

Lohaine: 2013 né

Bianca: É

Lohaine: se você quiser ir fazer alguma coisa para ela, levantar, você pode ficar à vontade tá,

não precisa ficar aqui sentada não….

Bianca: tá bom

Lohaine: E aí depois vocês vieram direto para cá, como é que foi você com bebê pequeno vir

morar para cá, não conhecia, recém-casada?

Bianca: ah eu acho que tava bem né, eu confiava nele, gostava dele e a gente foi indo, ele me

ajudou, desde sempre né ele sempre me ajudou, me apoiou bastante e eu apoiando ele, e eu

acho que tu já bastava para gente né, mas foi difícil também, aí ele tava trabalhando em Acorizal

né, teve que largar o serviço lá para vir para cá, mas só que para ele fosse mais fácil porque ele

já trabalhava aqui né, já conhecia tudo, aí ele foi através de amigos conseguindo serviço e foi

indo.

Lohaine: na empresa que ele trabalhava agora, que tá na justiça, ele trabalhava de quê?

Bianca: Na carteira é motorista né, mais ele fazia tudo, ele fazia a contabilidade, ele era

vendedor era tudo, serviço geral.

- risos

(a conversa novamente interrompida por Luísa)

Bianca: Joga esse aí lá no lixo para mãe, por favor (se dirigindo a Cecília que brincava com 1

lenço umidecido).

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205

Lohaine: a minha irmã se visse esse cabelo dela ficava doidinha, minha irmã tem cachos né

Bianca: Aqui em casa cabelo cacheado só tem ela

Lohaine: só ela? a outra não tem também?

Bianca: Não, da outra liso, não sei como porque nem o meu é liso, assim da minha mãe é, da

minha mãe é tipo índia sim, então dela é bem liso e grosso que é os fios, mais ninguém assim

dos nossos irmãos tem cabelo liso, só ela, eu falo que ela faz progressiva no cabelo dela

escondido, porque não é possível que ninguém tenha cabelo liso. (risos) aí só a Lúcia e o Vitor

parece que vai ficar liso, não sei, e minha outra sobrinha que tem cabelo liso o resto é tudo

cacheado também.

Lohaine: e quando você voltou para cá, quer dizer quando você veio para cá, Vocês decidiram

que você ia ficar em casa cuidando do bebê?

Bianca: Não é que a gente decide, acho que vai deixando né, foi assim com a Lúcia, aí a gente

sempre pensa assim "vou trabalhar quando a Lúcia fazer pelo menos 5 anos, que ela já vai falar

as coisas "fala o que aconteceu né e tal, fala como ela tá né, E aí vem a Cecília, e a gente fala

de novo né, vamos deixando deixando e, acho que a gente vai deixando né E aí aí hoje eu tô

com Vitor pequenininho e não tem como trabalhar também.

Lohaine: e você sente falta? Você gostaria de trabalhar? Ou não, você tá feliz assim?

Bianca: Assim, não, eu queria trabalhar, eu queria ter dinheiro, para gente né, porque igual

agora a gente mudou para cá comprou a nossa casa, aí a gente quer né comprar os nossos móveis

todinho, mas para ajudar né que às vezes eu sinto que estou folgada, que eu estou só gastando

as coisas e não ajudo, mas igual ele mesmo conversa "não, você tá aqui você cuida das meninas,

você faz as comidas, Você faz tudo né, coisas que eu não posso fazer porque não estou aqui, se

se você não estiver quem vai fazer? ninguém vai cuidar das meninas, cuidar da casa como a

gente faz que a mãe né

Lohaine:uhum

Bianca: então eu pretendo quando ele estiver maiorzinho né, maiores, tem vontade de trabalhar

para ajudar também na renda, é mais a questão da renda mesmo né

Lohaine: você fica preocupada né?

Bianca: É

Lohaine: entendi

Bianca: parece que fica só sobrecarregando ele né

(vamos novamente interrompidos por Cecília)

Bianca: Ô Meu Deus, vem o tetê aqui. (começa a amamentar Cecília)

Lohaine: é, a gente vai começar a fazer um, agora você já viu falar de árvore genealógica?

Bianca: não

Lohaine: é mais ou menos o esquema para gente representar a sua família tá? Aí a gente começa

primeiro pela sua mãe, sua mãe era casada com seu pai?

Bianca: Sim

Lohaine: era? Eles ficaram casado até o fim? Ou ainda são vivos?

Bianca: É, só a minha mãe, meu pai faleceu eu tinha, ia fazer 1 ano de vida.

Lohaine: da Lúcia?

Bianca: Não, eu!

Lohaine: aaaah, você fazer um ano, então nem conviveu...

Bianca: ééé, não.

Lohaine: E a sua mãe casou de novo?

Bianca: Ela tem namorado né, cada ano...

-Risos

Lohaine: tem vários namorados mas nunca casou?

Bianca: não, casar mesmo não.

Lohaine: e ela tem filhos com outro namorado?

Page 211: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

206

Bianca: Não

Lohaine: ou só tem com seu pai

Bianca: só com o meu pai, nós somos 5 né, nós somos seis, ela teve seis filhos com ele e não

teve mais filhos, depois que ele faleceu

Lohaine: entendi, e os seus irmãos Qual é a ordem? Não precisa por o nome mas se é menino

ou menina. é mais velho?

Bianca: é menina, mulher

Lohaine: uhum, e depois?

Bianca: Outra mulher, aí dois homens e aí duas mulheres de novo

Lohaine: São seis?

Bianca: Sim, 6.

Lohaine: você é a caçula?

Bianca: Sou

Lohaine: essa aqui é você (apontando no esboço do genograma que a pesquisadora fazia no

caderno)

Bianca: aaah

Lohaine: agora você consegue fazer o do Maurício?

Bianca: Ixi

Lohaine: Leandroe a mãe dele era casada com pai?

Bianca: Era, só que hoje eles são vivos mas são separados

Lohaine: são separados né?

Bianca: É, aí primeiro vem quem? A Maria da Glória e a Lenise, duas mulheres..

Lohaine: uhum , não tem gêmeos né?

Bianca: Não, é que se é de outro pai

Lohaine: aaaaah então ela era casada antes?

Bianca: É, era casada com uma pessoa, aí ele faleceu e ela casou de novo e teve….

Lohaine: o Mauricio? Deixa eu desenhar aqui de novo. Então ela, a mãe dela que ela era casada

com homem, aí ele faleceu.

Bianca: é, teve duas meninas e aí ele faleceu.

Lohaine: aí teve duas meninas

Bianca: é, duas meninas

Lohaine: só?

Bianca: Só

Lohaine: aí ela casou novamente, com o pai do Maurício, E aí?

Bianca: É, aí ela teve, quem veio primeiro? O…. Ai meu Deus quem que é o mais velho deles?

eu não sei quem que é o mais velho assim por ordem

Lohaine:uhum

Bianca: Acho que primeiro é o maurindo, homem.

Lohaine:uhum

Bianca: Aí vem o Agnaldo, outro homem, aí é a Marcia, uma mulher né E aí o Leandroe o

Magno, dois homens de novo.

Lohaine: e o Maurício

Bianca: é

Lohaine: aí ele se casa com você e tem, a Lúcia, Lúcia?

Bianca: Lúcia Clara

Lohaine: Lúcia Clara né, E aí Cecília e o rebento Vitor.

Bianca: é

Lohaine: seis anos, três anos e 3 meses

Bianca: 3 meses é

Lohaine: prontinho

Page 212: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

207

Bianca: é, eu tive três.

Lohaine: pois é, Qual que é a sua cunhada que você falou que te ajuda? Que veio para cá e te

ajudar?

Bianca: é a Marcia

Lohaine: Essa aqui? (Apontando para o genograma)

Bianca: é, ela que é a madrinha da Lúcia também, ela que ajudou bastante a gente.

Lohaine: Quando a Lúcia nasceu né?

Bianca: É

Lohaine: ainda é próxima de vocês?

Bianca: Bastante

Lohaine: e qual os outros irmãos do Maurício….. aaaaah, ela é casada?

Bianca: Sim

Lohaine: e tem quantos filhos?

Bianca: Tem só uma menina

Lohaine: e ela só é casado uma vez né

Bianca:aham

Lohaine: É por causa que as pessoas que são mais próximas a gente tenta representar também

a família dela né, e você a próxima do marido dela também? de todo mundo?

Bianca: Sim, também de todos, ele é meu padrinho né bem próximo, bem próximos mesmo,

quando a gente precisa de alguma coisa, quando eles precisam…..

Lohaine: eles são sua referência?

Bianca: Sim, bastante.

Lohaine: Entendi, e da sua família quem você é mais próxima?

Bianca: das minhas duas irmãs

Lohaine: essa aqui? Qual?

Bianca: É as duas mais velhas.

Lohaine: essas duas?

Bianca: É, por quê a outra faleceu

Lohaine: huuuum

Bianca: acho que em 2013, outubro de 2013.

Lohaine: nossaaa , Então tinha acabado de ter a Lúcia né?

Bianca: éééé, ela e, a gente engravidou quase juntos, E aí a Lúcia nasceu em abril e ela tava de

8 meses de gestação, era uma gravidez de risco Porque ela tinha reumatismo e Vitiligo também,

e ela fazia pré-natal no Júlio Muller, com reumatologista tudinho, aí tava tudo normal com oito

meses ela morava em Acorizal com a minha mãe e aí ela veio para uma consulta e ela ficava

lá em casa que eu morava lá no Alvorada na época e era mais perto do Hospital né E ela vinha

e ia para casa da minha irmã no primeiro de março, aí à noite ela pegou o ônibus levei ela no

ponto e ela foi, E aí ligou do SAMU que ela tinha desmaiada no ônibus se tinha encaminhado

ela para o Santa Helena, E aí eles fizeram o exame e falaram que a pressão dela tava alta, bem

alta, e aí tiraram a minha sobrinha e com um mês e um dia depois que ela nasceu, que ela ficou

na UTI né depois do parto ela ficou na UTI e ela faleceu, depois de um…. eles lá foram entubar

ela e o, Como que fala... o pescoço dela disse que era muito fino não sei direito como eles

explicaram e eles foram entubar e perfurou o pulmão dela, e Tava sangrando e no procedimento

para estancar né, o sangue do pulmão que ela faleceu.

Lohaine: entendi

Bianca: ela teve pouco tempo né Depois que ela teve intubação e...

Lohaine: a cirurgia?

Bianca: É

Lohaine: mas e aí a sua sobrinha? quem fica com ela?

Bianca: A minha irmã mais velha, essa que mora no 1º de Março

Page 213: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

208

Lohaine: irmã mais velha que cuida?

Bianca:aham

Lohaine: e essa sua irmã que morreu era casada?ou não?

Bianca: Não, Ela só teve namorado, namorou com o pai da minha sobrinha mas eles não

estavam juntos, tanto que na época ela estava namorando com outra pessoa já, Só que também

era porcaria, Tipo ela ficou aqui na UTI e ele nem ligou sabe, ficava indo na festa lá e nem

ligava para ela.

Lohaine: e é menina ou guri essa sua sobrinha?

Bianca: Menina

Lohaine: aí qual das, é sua irmã mais velha que cuida?

Bianca: é, ela que cuida.

Lohaine: ela é casada?

Bianca: É

Lohaine: ela tem quantos filhos?

Bianca: Olha, Micael, Eduarda, Evelyn e Emily, 4

Lohaine: quatro?

Bianca: Sim

Lohaine: Michael, Eduarda, Evelyn?

Bianca: Evelyn e Emily e é Sofia né

Lohaine: e a Sofia , depois quem veio aqui pega não entende nada né

Bianca: Sim, só você mesmo para entender

Lohaine: e essa outra irmã que você falou que é bem próxima também , ela é casada?

Bianca: É, não, ela é casada agora tá namorando.

Lohaine: a então Ela separou e começou outro relacionamento

Bianca: isso

Lohaine: do primeiro ela teve filhos?

Bianca: Teve, ela teve de cada, de cada marido dela teve um filho, já tem três filhos...Só que

ela cuida de dois

Lohaine: Ela tá no terceiro relacionamento?

Bianca: Quarto

Lohaine: no quarto?

Bianca: no quarto na verdade

Lohaine: então, com o primeiro marido que ela separou ela teve 1?

Bianca: teve um

Lohaine: tá, menina?

Bianca: Menino

Lohaine: menino, aí ela casou de novo

Bianca: de novo

Lohaine: deixa só eu ver a ordem

Bianca: aí ela teve outro filho

Lohaine:uhum

Bianca: só que esse Quando Ela separou ele ficou com a guarda dele

Lohaine: aham, e se ela não cuida?

Bianca: Não

Lohaine: é guri também?

Bianca: É menino também, todos são meninos

Lohaine: segundo, aí ela teve?

Bianca: Aí ela casou de novo, e seu casamento mais longo eu acho.

Lohaine:aham

Bianca: aí ela teve outro menino

Page 214: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

209

Lohaine: só tem guri?

Bianca: só guri

Lohaine: e agora ela está no outro relacionamento?

Bianca: Agora ela tá em outro mas não teve filhos, ela tem engravidou mas perdeu, mas ela

tava de pouquinho semLúcias.

Lohaine:E essas suas irmãs Elas moram aqui em Cuiabá?

Bianca: Moram, essa mora no primeiro de março essa mais velha

Lohaine:uhum

Bianca: que até coisa da Sofia, e a outra mora no São Gonçalo, mas os dela tão grandão já

Lohaine: você é próxima das duas?

Bianca: Sim

Lohaine: bem próxima das duas também né?

Bianca: uhum

Lohaine: entendi, e da família do Leandroé só essa que você é próxima?

Bianca: Só, infelizmente. porque eles não são muito de…. ficar sabe, de preocupar com os

outros, eles são falsos digamos assim né.

Lohaine: então você não se dá bem com a família dele?

Bianca: Não muito, nem ele próprio só com a mãe dele e o pai dele, o resto....

Lohaine: então é uma irmã do Maurício, isso aqui é o que a gente chama de ecomapa, esse que

a gente representa a sua rede de apoio, Tipo quem é que te ajuda, com quem você pode contar,

então a gente coloca que essa família no meio e a gente representa os tipos de relacionamentos

que você tem com elas, quem é mais próximo aí a irmã do Maurício, que é a madrinha da Lúcia

né, aí a família da sua irmã mais velha né, Como que é o nome da sua irmã mais velha é?

Bianca: Renata

Lohaine: TatiLúcia

Bianca: Renata

Lohaine:ne?

Bianca:aham

Lohaine: Renata né que a sua irmã, Bianca, sua que é outra relacionamento forte que você tem,

que você falou que é bem próxima a ela, aí tem a outra que a sua segunda irmã mais velha.

Bianca: é Roberta o nome dela

Lohaine: e você é próxima do marido dela ou só ela?

Bianca: Sim também, ele é bem ativo na família né, no grupo da família

Lohaine: E a sua mãe? Você tem um relacionamento forte com ela?

Bianca: É, mais ou menos, acho que eu tenho um relacionamento mais forte entre irmãs do que

ela sabe, mas é porque a minha mãe ela não, como eu posso dizer, ela tem uma certa idade, Ela

já tem 65 anos não tão velha mas ela não entende muito as coisas, tipo a gente dela, porque ela

não entende muitas coisas, acho que ela trabalhou muito já viveu muito, teve uma vida muito

sofrida doméstica sabe, e ela fala que era maltratada na casa dos patrões delas e tal, e hoje assim

para ela aconteceu mas não aconteceu, tipo ela fala que eu era gêmea, que tinha um menino,

tem hora que ela fala que é um menino tem hora que é uma menina, mas foi a minha irmã mas

ela fala que ela teve um menino e perdeu mas não sei se é verdade porque uma coisa que ela

fala sabe, mas não tem nada que comprove, um laudo médico né alguma coisa assim.

Lohaine:uhum

Bianca: só que é uma coisa forte assim, porque assim às vezes ela tem uma lembrança que ela

perdeu esse bebê e tem vez que ela fala que eu era gêmeos desse bebê e que ele nasceu morto.

Lohaine: é uma história bem confusa

Bianca: é, nessas coisas assim que você não sabe se aconteceu mesmo ou não, até coisa assim

de agora mesmo ela fala que aconteceu mas não aconteceu.

Lohaine: e ela tem alguma doença, você já viram?

Page 215: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

210

Bianca: Segundo não, a gente tá fazendo exames agora né nela para ver se tem alguma coisa né

Lohaine: Talvez o Alzheimer né

Bianca: É, e ela tomava remédio para labirintite e agora que o médico falou para mim, era o

cinarizina, e o médico falou que esse remédio causa Alzheimer nas pessoas né e que eles não

estão usando mas ele, os médicos não estão passando esse remédio.

Lohaine:uhum

Bianca: e falou para trocar

Lohaine: entendi,e o restante da sua família?

Bianca: é os meus dois irmãos, não tem problema mental, não sei se você já ouviu falar do

Felipe lá de Acorizal

Lohaine: ah, você é irmã do Felipe?

Bianca: é meu irmão, e o Alcides que eu chamo ele de Chidão, O apelido dele é Chidão, mas

ele também não é muito próximo não

Lohaine: entendi, seu irmão tem o quê?

Bianca: Olha dizer o diagnóstico dele, ele é difícil lá em casa

Lohaine: qual que é ele?

Bianca: Ele é o depois, antes da minha irmã, esse aqui (apontando para o desenho no

genograma)

Lohaine: seu irmão tem problema mental né

Bianca: uhum

Lohaine: esses tempo atrás ele tava perdido aqui né

Bianca: Tava, ele veio para cá de carona com, pegou uma carona com pessoal do Baús e veio

para cá e largaram ele lá no centro né gente sem noção, de trazer ele, mas às vezes os outros

também não sabe que ele tem esse problema

Lohaine: tão sério né?

Bianca: que às vezes, tem hora que ele conversa normal né e depois que ele, que dá loucura

dele, e ele é agressivo às vezes e esse era meu medo aqui né, mas a chamo ele devolver ele para

Acorizal

Lohaine:uhum, e ele é agressivo assim em casa?

Bianca: As vezes, minha mãe fala que as vezes ele xinga ela, quer bater nela

Lohaine: entendi…. E a sua mãe, você disse que ela teve uma vida muito sofrida, Que ela sofreu

violência em casa do seu pai?

Bianca: Não, em casa não… não sei né, mas do meu pai ela nunca falou assim não

Lohaine: você era pequena né, mas seu pai bebia?

Bianca: Ela fala, então por isso que a gente não sabe né, porque ela fala conta as coisas e a gente

não sabe se aconteceu mesmo ou não, mas ela fala muito disso, igual desse filho dela que

faleceu, mas a gente não sabe dizer se é verdade ou não, mas ela sempre fala só muda a versão

entende por isso que a gente acha que é verdade mesmo

Lohaine: ela só é confusa do que aconteceu né

Bianca: é, isso. aí ela fala que nessa, porque assim antes né, A mulher chegou na casa da minha

avó e pediu para ela para trabalhar de doméstica, que ia cuidar dela e a comprar as roupas e que

não era para ela se preocupar né, que ela ia cuidar dela muito bem, e ela veio para cá para

Cuiabá para trabalhar na casa dessa mulher, e ela tinha uma filha deficiente, na cadeira de rodas

né, E aí ela falava né que batia nela, tem um caso que ela fala que ela bateu nela com fio

do aspirador que é grosso.

Lohaine: a patroa né?

Bianca: Isso a, a patroa dela que disse que batia nela.

Lohaine: entendi

Bianca:mas não sei né

Lohaine: as suas irmãs também não lembram?

Page 216: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

211

Bianca: Não

Lohaine: elas eram pequenas?

Bianca: Elas eram pequenas, na época a gente não era nem nascido ainda né, porque ela não

tinha conhecido meu pai.

Lohaine: não, eu tô falando do seu pai, as suas irmãs não lembram dele?

Bianca: a, as minhas duas irmãs mais velhas lembram dele

Lohaine: e elas falam como ele era?

Bianca: A gente sabe um pouco também pela memória do povo de Acorizal né, todo mundo

nunca teve uma pessoa que falou mal dele, que é uma pessoa trabalhadora, tem umas que falam

que ele vendia picolé e pipoca, e andando na rua né vendendo picolé e pipoca, mas todo mundo

lá conhecia ele, O apelido dele era João pelenga, não sei se era João pelenga porque ele andava

muito né, pelenga de andar muito vendendo picolé e pipoca, mas ele sempre as pessoas me

falavam que por mais que ele não tinha estudo nada mas ele era muito inteligente, bom de

cálculo né

Lohaine: era uma boa pessoa

Bianca: era, graças a Deus.

Lohaine: alguém da sua família já sofreu algum tipo de violência, e suas irmãs, violência

doméstica? essa irmã aqui que teve bastante maridos

Bianca: não ela…. ah essa daí que batia nos maridos dela

Lohaine: entendi, problema com bebida?

Bianca: Não, Essa é minha irmã, essa que teve bastante maridos mesmo ela bebe bastante, mas

tipo não...

Lohaine: gravíssimo

Bianca: não, ela trabalha, tenha vida dela e do final de semLúcia ela bebe né, bastante. esse

marido dela também agora não bebia, aí começou a namorar com ela começou a beber também,

foi má influência.

Lohaine: entendi, e na família do Maurício?

Bianca: Na família do Leandroninguém bebe desse tanto, é mais a minha família mesmo, que

bebe mais.

Lohaine: e eles sofreram algum tipo de violência, a mãe dele? Alguém é sim?

Bianca: Acho que não, Ela nunca falou isso não

Lohaine: também vocês não são muito próximas né

Bianca: É

Lohaine: você tem amigos aqui que vocês são próximos, que vocês sabem que podem contar

Bianca: ixi, amigo mais difícil, tem um primo dele que é o Zé Luís que….

Lohaine:Ah o Leonardo, eu conheci

Bianca:conheceu? Então ele também, ele e a mulher dele é muito gente boa, e a gente tá...

Lohaine: saem juntos né

Bianca: aham, acho que de todos ele são, mas não é amigo é parente também né, primo.

Lohaine: ele tem quantos filhos, o Leonardo?

Bianca: só um, uma menina.

Lohaine: só uma ainda?

Bianca:uhum, A mulher dele teve pressão alta no parto

Lohaine: Ah sim e aí Eles resolveram parar né

Bianca: é, porque é perigoso né. Já duas vezes que ela passou mal que a pressão dela subiu, e o

médico falou que eu era perigoso né uma gravidez, porque a pressão dela fica oscilando e tal,

mas diz que eles queriam tentar no ano que vem um menino, mas eu não sei se eles vão mesmo

não né, a mulher dele ainda tá meio assim ainda, você conhece a mulher dele?

Lohaine: Não conheço, conheço, eu já vi

Bianca: então, Ela é muito gente boa

Page 217: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

212

Lohaine: minha irmã conhece mais, sim o Leonardo sempre foi um bom,Ele ainda tá

trabalhando no exército? teve um tempo que ele foi trabalhar para outro estado né

Bianca: disso eu não sei, eu sei que ele não tava trabalhando e agora tá trabalhando de Uber né

também, tem um servicinho no horário comercial e à noite ele faz Uber

Lohaine: só para complementar renda né

Bianca: É

Lohaine: o Leandroque ele está só nisso

Bianca: por enquanto, até dá baixa na carteira dele para ele procurar outro serviço né, porque

ele não pode arrumar outro serviço, porque também ele perde Seguro né, se ele arrumar outro

serviço, então ele tem que esperar

Lohaine: entendi

Bianca: e você não vai parar de mamar mais não? mama mais que o Vitor (se dirigindo a Luísa

que mama no seu peito)

Lohaine: agora eu vou aplicar uma escala que a justamente só para, eu vou lendo para você e

você diz qual que é a sua resposta tá bom?

Bianca:uhum.

Lohaine: hoje é dia 20... 20... Nossa o final do ano tá bem aí

Bianca: pois é

Lohaine: Tenho sido capaz de rir e ver o lado divertido das coisas? aí é, tanto como antes, menos

do que antes, muito menos do que antes e nunca.

Bianca: muito mais que antes

Lohaine:Muito mais?

Bianca: Cada vez mais

Lohaine: então vou colocar tanto como antes aqui. tenho tido esperança no futuro, aí tanta como

sempre tive, menos do que costumava ter, muito menos do que costumava ter e quase nenhuma.

Bianca: Menos do que costumava ter

Lohaine: tenho-me culpado sem necessidade quando as coisas correm mal... sim, a maioria das

vezes; Sim, algumas vezes; raramente; Não, nunca.

Bianca:Raramente

Lohaine: Tenho estado ansiosa ou preocupada sem motivo, não, nunca; quase nunca; Sim, por

vezes; Sim, muitas vezes.

Bianca: Sim por vezes

Lohaine: Tenho-me sentido com medo ou muito assustada, sem motivo, sim, muitas vezes; sim,

por vezes; não, raramente; não, nunca.

Bianca: Não, nunca.

Lohaine: Tranquila do jeito que você é né

Bianca: mais ou menos

Lohaine: Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes não consigo

resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a maioria das

vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.

Bianca: Como? Me perdi na pergunta

Lohaine:Tenho sentido que são coisas demais para mim, sim, a maioria das vezes não consigo

resolvê-las; Sim, por vezes não tenho conseguido resolvê-las como antes; Não, a maioria das

vezes resolve-as facilmente e Não, resolvo-as tão bem como antes.

Bianca: Ah então é sim, a maioria das vezes

Lohaine: a maioria das vezes você senti que não consegue resolver as coisas

Bianca:é , é muita coisa... se for no sentido né que resolvo mesmo a maioria das vezes não

consigo de terminar de fazer as coisas, e vou deixando acumulando para outro dia e assim vai

indo.

Page 218: DEPRESSÃO NO PÓS-PARTO: CUIDADO DE ... - UFMT

213

Lohaine: entendi, Tenho-me sentido tão infeliz que durmo mal; Sim, quase sempre; Sim, por

vezes; Raramente; Não, nunca.

Bianca: Não, nunca.

Lohaine: não? Você dorme bem?

Bianca: Mais ou menos com o Vitor, mas não de mal...

Lohaine: tipo não por insônia mal por causa que ele tá acordado.

Bianca: é, isso. Se deixar eu durmo o dia inteiro.

Lohaine: Tenho-me sentido triste ou muito infeliz;

Bianca:Não, nunca.

Lohaine: nunca?

(Vitor que estava dormindo no quarto acorda chorando)

Bianca: acordou!

Lohaine: Quer que eu vou pegar ele para você?

Bianca: não espera aí deixa eu ver, vamos lá pegar o Vitor? (se dirigindo a Cecília que ainda

estavam no colo mamando)

Bianca: Pera aí só vou pegar ele.

Lohaine: não, fique à vontade. Pente o cabelo bonitinho se coisa todo para cima né

- Risos

Bianca: Ah não para ficar o dia todo para cima.

(aguardo enquanto Bianca se acomoda com o Vitor no colo)

Bianca: mas eu ainda tenho outras crianças ele é bem bonzinho, mas que a Cecília era quando

era bebezinha, dá menos trabalho.

Lohaine: A Luísa dava muito trabalho?

Bianca: sim, muito

Lohaine: você acha muita diferença de criar um guri e uma menina?

Bianca: assim algumas coisas, Tipo na fralda Que menino se não colocar direito a fralda vaza,

o xixi, não sei porquê tem que colocar bem certinho, bem fechadinha Ah sim e de menina não,

não sei o que acontece, outra diferença de menino e menina é que menina você tem que limpar

de cima para baixo né para não dar infecção de urina, Por que a Luísa mesmo teve infecção de

urina quando ela tinha uns quatro ou cinco meses, que eu sempre limpei de cima para baixo

tanto que Lúcia não teve infecção de urina e ela teve, aí menino não tem isso que até bom né.

Lohaine: uhum, aí eu vou continuar, só falta mais duas questões

Bianca: tá bom

Lohaine:Tenho-me sentido tão infeliz que choro, Sim, quase sempre; Sim, muitas vezes; Só às

vezes; Não, nunca.

Bianca: não.

Lohaine: nunca? ou às vezes?

Bianca: nunca

Lohaine:Tive idéias de fazer mal a mim mesma, Sim, muitas vezes; Por vezes; Muito raramente;

Nunca.

Bianca: não, nunca

Lohaine: não?

Bianca: Não mesmo, a única coisa é que às vezes eu tenho muita coisa para fazer e acaba me

sentindo sobrecarregada, E aí aí me dá um nervoso que eu chego a chorar, mas não de...

Lohaine: entendi, mas isso começou depois que o Vitor nasceu?

Bianca: Foi, depois que a gente mudou para cá para nossa casa né, agora é mais serviço

Lohaine:aham

Bianca: porque antes a gente morava numa kitnet de dois quartos e sala cozinha americLúcia,

e eu tipo tinha visão de tudo né, se tava na cozinha eu tava vendo ontem que a Cecília e a Lúcia

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214

tavam, e aqui tem essa terra aqui que menino do céu quando chove eles inventam de brincar na

terra e Ave Maria, mas é gostoso.

Lohaine: entendi

Bianca: Acabou as perguntas?

Lohaine: Acabou

Bianca: oxe

Lohaine: e como é que foi a sua infância?

Bianca: Ah foi bem divertida, eu tenho boas memórias graças a Deus eu e a minha irmã que

faleceu a gente era bem próximas né então a gente brincava, corria… e com os meus irmãos

eu não... eu não sei se é porque eles eram meninos, mas assim eu não tenho muita memória com

eles, eu acho até estranho, até brinco que que eles são adotados, porque eu não tenho

lembranças principalmente desse meu irmão que tem problema mental, eu não tenho lembrança

dele, eu não sei estranho, única lembrança que eu tenho dele é que ele brincava de fazer…. a

gente brincava de fazer Boizinho com manga, enfiava palito de fósforo e fazia fazendinha e tal,

a única lembrança dele que eu tenho dele é essa, mas a infância foi boa a gente deu trabalho

para mamãe.

Lohaine: e agitado também

Bianca: é

(somos interrompidos por Cecília conversando)

Lohaine: eu não entendo nada que ela fala e ela ainda cochicha fala bem baixinho, aí sim

Bianca:É porque você tá aqui senão estava gritando aqui, até Vitor tava gritando

(Bianca conversa e brinca com Vitor)

Lohaine: como é que foi para você está grávida, quer dizer com bebezinho pequeno e perder a

sua Irmã?

Bianca: Ah, normal, tipo ela ficava se inspirando em mim "vou ter parto normal também

"porque assim o meu parto normal foi bem rápido, o parto da Lúcia né, foi um parto assim

rápido e eu não senti dor, tanto que era tão ilusão porque eu achava que não ia sentir dor com a

Cecília, quando a Luísa ia nascer, eu não tive nenhuma dor, e a recuperação foi muito boa né,

do parto, então ela ficava "eu quero ter um parto igual ao seu, assim rápido e sem dor "e a Lúcia

nunca deu muito trabalho assim, ela não teve nada, teve bastante cólica, mas tipo tomava vacina

e ela não teve febre sabe, uma criança que nunca me deu muito trabalho não

Lohaine: era tranquila?

Bianca: sim, ainda primeiro filho né, até na fase do dente nascendo ela não ficava muito

irritada, era é muito calminha assim, era não é até hoje calma.

Lohaine: entendi, você ficou… quando você teve seu bebê, quando você teve a Lúcia, mais

cedo que ela?

Bianca: Foi, a Lúcia nasceu em abril e o dela foi uma cesariLúcia tudo, foi em setembro, dia 20

de setembro que ela nasceu

Lohaine: entendi

Bianca: ela faleceu no dia 21 de outubro.

Lohaine: foi muito difícil para você?

Bianca: Ah, Foi bastante.

Lohaine: você falou que era bastante a próxima ela né

Bianca: bastante, nossa, e eu ficava sonhando com ela quase todos os dias depois que ela

faleceu, e foi só cair a ficha assim quando eu vi ela no caixão e na hora de enterrar, na hora de

enterrar Então nossa foi , sei lá tipo vai deixar lá sabe

Lohaine: é, muito difícil né

Bianca: nossa

Lohaine: e você tava com bebê pequeno né, E você acha que isso afetou a sua

maternidade?depois

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215

Bianca: acho que não, eu vi ela como, assim depois que ela faleceu né a gente começa dar mais

valor nas pequenas coisas, tipo ela faleceu e não deu para cuidar da minha sobrinha né

( Bianca se emociona nesse momento)

Lohaine: você tava com bebê pequeno também né

Bianca: É

Lohaine: entendi

Bianca: e a gente tipo falava assim "Vamos cuidar dela por ela né"porque a gravidez dela era

de risco, ela não podia ter bebê, então o médico falou para ela se ela queria tirar, e ela falou

que não queria levar adiante né, então foi uma escolha dela né, ela queria ter um bebê a qualquer

custo.

Lohaine:E você a próxima da sua sobrinha hoje em dia?

Bianca: Bastante, eu queria ser até madrinha dela né, foi uma briga na família de que ia batizar

ela, E ela é bem próxima da Lúcia que assim quase da mesma idade né, então a gente é bem

próxima, a gente é bem próximo da minha irmã, ela vem aqui eu vou lá, a Lúcia vai para lá

passar dias

Lohaine: nas férias

Bianca: final de semLúcia, as férias não porque ela tem muita criança né, mas assim final de

semLúcia a gente vai lá e as meninas ficam chorando para deixar a Lúcia e a Cecília, assim eu

não deixo a Luísa porque ela é muito pequenininha e dá mais trabalho né aí eu deixo a Lúcia

geralmente ela fica lá, e ela é madrinha da Cecília.

Lohaine: a sua irmã?

Bianca: É

Lohaine: a mais velha é madrinha da Cecília?

Bianca: É isso, Isso mesmo madrinha da Cecília ainda não batizou ainda mas é a madrinha, só

a Lúcia que é batizada. A gente tá só enrolando para batizar.

Lohaine: mas sua família é grande né você tem bastante sobrinhos

Bianca: sim bastante meninas, bastante meninas, só minha irmã que é a segunda mais velha que

tem menino o restante são todas meninas.

Lohaine: o sua irmã mais velha que tem o guri né? o mais velho dela que é um guri né

Bianca:é só ela que tem um menino, mas é grande Ele tem 19 anos

Lohaine: ah, sim

Bianca: e ele veio numa época que era só a menina, e todas engravidaram quase todas juntas,

era essa minha irmã, uma outra prima Nossa e essa minha irmã Zélia, tudo na época de 6 ou 7

anos assim, as meninas são dessa época

Lohaine: entendi, são todas juntas, a família do meu noivo que tem, lá eles engravida de três

em três, é incrível, uma descobriu que tá grávida logo tem duas que descobre também, as

crianças são sempre de três em três.

- risos

Bianca: esses dias eu vi no Face que a gravidez passa né

Lohaine: contagioso

Bianca: é contagioso, E é verdade. eu tava grávida a sobrinha do meu marido veio aqui, porque

ela queria batizar o Vitor né, aí ela vinha aqui em casa e descobriu que tava grávida, e ela tinha

problema para engravidar aí ela falava "gente não passa perto de Bia grávida por quê é

Contagioso "e tá todo mundo fugindo de ter bebê né, e ninguém quer ter.

Lohaine:ah mas você vem e fica assim olhando essas coisas mais fofas né aí logo pensa "Ah

eu acho que eu quero até filho"

Bianca: a minha família foi, primeiro foi a minha prima em novembro, aí a minha irmã teve

também dia 28 de novembro, aí a Lúcia nasceu em abril e a Sofia setembro, tudo assim...

Lohaine: tudo perto né, então tem bastante criança próxima

Bianca: foi

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Lohaine: O Vitor tá suando mamando (fala se dirigindo Cecília que desligou o ventilador)

Bianca: é ele soa bastante

(entrego uma caneta e uma folha em branco para Cecília e converso com ela um pouco E acabo

desenhando uma menina, uma casa com portas e janelas, árvore de Natal com presentes em

baixos e um Papai Noel e é assim terminamos nossa conversa.)