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danar no dorso das ondas: nietzsche e a arte de viver
tony hara
Dana agora sobre mil dorsos,
Dorsos de ondas, malcias de ondas
Salve quem novas danas cria!
Dancemos de mil maneiras,
Livre seja chamada a nossa arte
E gaia a nossa cincia!
Os livros que nos levam alm dos livros so aqueles es-critos com
sangue. Escritos com o corpo que vibra, sente, pensa e reage aos
encontros e aos venenos da vida. Apro-ximam, de uma maneira
invulgar, a experincia singular e pessoal de um corpo que respira e
conspira , da reflexo filosfica. Entendendo aqui a filosofia como
modo de conduzir a vida, de transformar a si mesmo, de
transfi-gurar o mundo atravs do pensamento e no como siste-ma,
doutrina ou via de acesso verdade eterna, imutvel e
Tony Hara jornalista e doutor em Histria da Cultura pela
UNICAMP.
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universal. So obras que falam vida porque seus autores ousaram
converter a prpria existncia em um meio de conhecimento. Ao leitor
no caberia a obedincia e a re-petio mecnica de sbias oraes e
sentenas, mas um voltar-se a si, uma ao contra si a fim de abalar
os valores e os ideais que foram herdados e que ficaram impregnados
na memria, nos hbitos e nos modos de ver e sentir. E, mais ainda,
esses escritos grvidos de vida, solicitam tam-bm a reabertura de
todo um campo de experimentao, criao e expresso de novos valores e
possibilidades de existir. Isto , convidam os leitores a criarem
suas prprias avaliaes, suas prprias lentes, regras, limites e
medidas. Estimulam os leitores, enfim, a serem mestres na arte de
conduzir suas prprias existncias.
Entre os livros de Nietzsche, A Gaia Cincia talvez seja a obra
mais grvida de promessas e de novas esperanas no exerccio de uma
configurao outra do sujeito tico, alm da moral do rebanho e dos
desejos do maior nmero. Zaratustra aparece pela primeira vez,1
assim como o louco que anun-cia a morte de Deus2 e o esprito que
pronuncia o dilema do eterno retorno.3 A Gaia Cincia partejou
Zaratustra e as ideias-fora que ocuparam Nietzsche na sua ltima
fase at a famosa crise de Turim (janeiro de 1889) que interrompeu a
sua aventura filosfica. Mas A Gaia Cincia no apenas a antessala de
Zaratustra. Ela registra em pormenores a rdua tarefa que Nietzsche
se imps de autodomnio, de conheci-mento e transfigurao de si. O
momento em que o filsofo, numa mxima tenso, encontra o seu prprio
caminho, a sua maneira de filosofar e dizer sim vida; de tornar-se
aquilo que se , como diz uma de suas mximas mais conhecidas.
O livro escrito entre junho de 1881 e agosto de 1882 ocupa,
segundo o tradutor Paulo Csar de Souza, um lugar
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mpar: faz parte do que convencionalmente chamado perodo
positivista, inaugurado com Humano, demasiado humano (1878), e ao
mesmo tempo traz intuies e ques-tes que caracterizam a derradeira
postura do autor, o seu perspectivismo.4 Aos 37 anos, o filsofo
vivia a transio. Mudava de pele, convalescia ao se tornar o mdico
de si, examinando os impulsos e afetos que moldavam o seu jeito de
pensar, de avaliar e de governar a si mesmo. por esta razo que a
prpria histria da criao do livro torna-se bela e instigante:
trata-se da conquista de uma certa maes- tria na arte de viver e
que deveria ser partilhada com dis-cpulos e leitores.
Em junho de 1881, Nietzsche publica Aurora reflexes sobre os
preconceitos morais, e, no entanto, j escrevia a conti-nuao desse
livro, que segundo o plano original, teria cinco captulos que
encerrariam a crtica problemtica da mo-ral. Em agosto de 1881,
Nietzsche caminhava em torno do lago de Silvaplana quando viveu a
experincia na qual lhe foi revelado o pensamento do eterno retorno.
Ele descreve, anos depois, esse momento inspirador que o arrebatou
s margens do lago gelado: Um xtase cuja tremenda tenso desata-se
por vezes em torrente de lgrimas; um completo estar fora de si, com
clarssima conscincia de um sem-nmero de delicados tremores e
calafrios que chegam aos dedos dos ps.5 Aps essa celebrao e xtase
dos mscu-los, dos rgos, de todo o corpo que vibra e cria, Nietzsche
adoece mais uma vez.
Dor, enfermidade, prostrao. No ms de setembro do mesmo ano, ele
lamenta ao amigo Franz Overbeck: A dor derrota a vida e a vontade.
Ah, que meses, que vero eu passei. (...) Por cinco vezes convoquei
a morte como meu mdico. (...) Onde nesta terra existe um cu e
alegria
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duradoura, o meu cu?6 O cu ficaria mais cinza e denso com os
ventos do inverno na montanha, seis mil ps acima do nvel do mar.
Mesmo com a sade frgil, Nietzsche partiu, o destino seria a calma e
graciosa baa de Rapallo, no longe de Gnova.7
Uma sbita e inesperada melhora de sade na riviera italiana
permite Nietzsche pr o pensamento para andar. E isso era
fundamental, pois no dava crdito a um pen-samento que no fosse
parido ao ar livre, de movimen-tos livres no qual tambm os msculos
festejem.8 Pela manh, abandonava o albergue beira-mar e se dirigia
ao magnfico caminho para Zoagli, at o alto, passando por pinheiros
e avistando vasta poro de mar; tarde, quan-do a sade o permitia,
contornava toda a baa de Santa Margherita at Porto Fino.9 Nessas
andanas sob o sol, Nietzsche compartilhou segredos com o mar e
experi-mentou em seu corpo a serena alegria da convalescncia.
Tivemos bom tempo escreve em uma carta datada a 18 de novembro de
1881 , e no total nunca vivi coi-sa melhor. Todas as tardes me
sento diante do mar. Pela ausncia de nuvens minha cabea fica livre
e eu cheio de bons pensamentos.10 Os bons e belos pensamentos sobre
a moral, a vontade de conhecimento, a histria, a poltica e a vida
foram organizados em trs captulos finalizados em janeiro de
1882.
Esses trs captulos (ou Livros, como Nietzsche os cha-ma,
seguindo a tradio dos antigos), deveriam, segundo o filsofo Jrg
Salaquarda, consistir no coroado encerra-mento de sua filosofia dos
espritos livres. De acordo com esse plano, ele quis desenvolver o
pensamento do eterno retorno nos livros 4 e 5 e explicitar sua
significao e funo para um pensar futuro.11 Salaquarda o autor de
uma mi-
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nuciosa e surpreendente anlise que toma como plataforma de
interpretao as provas tipogrficas de A Gaia Cincia, sobre as quais
Nietzsche se debruou para fazer as correes e os aperfeioamentos
estilsticos. Nesse texto, o professor da Universidade de Viena
afirma que Nietzsche, no final de janeiro, deixou de lado o
manuscrito, pois no sabia ainda como avanar, como dimensionar as
implicaes e os des-dobramentos daquela inspirada intuio vivida s
margens no lago de Silvaplana. Isso significaria dizer que
Nietzsche ainda no sabia como comunicar e compor aquele que seria o
mais esotrico dos mistrios, para usar aqui a expresso de Oswaldo
Giacoia, o pensamento do eterno retorno.
No se sentindo suficientemente maduro para expressar os
principais elementos de seu achado, Nietzsche se dedi-ca a compor
poemas nos meses de fevereiro e maro. Pos-teriormente, 63 deles
sero selecionados e reunidos sob o ttulo Brincadeira, Astcia e
Vingana Preldio em rimas alems. Esta coletnea de poemas e epigramas
serviu como prlogo da primeira edio de A Gaia Cincia, publicada no
final de julho de 1882, custeada pelo prprio autor. Entre os poemas
h alguns que so diretamente dirigidos aos lei-tores, como que
convocando-os e alertando sobre quem a voz que canta e fala. No
poema Ecce Homo (que mais tarde seria o ttulo de sua
autobiografia), por exemplo, Nietzsche esboa o seu retrato: Sim, eu
sei de onde sou!/ Insacivel como o fogo/ Eu ardo e me consumo./
Tudo o que toco vira flama/ E tudo o que deixo, carvo:/ Sou fogo,
no h dvida.12 Um outro poema diz: Se me explico, me impli-co:/ No
posso a mim mesmo interpretar./ Mas quem se-guir sempre o seu
prprio caminho/ Minha imagem a uma luz mais clara tambm levar.13 Ao
leitor, ele escreve, Se der conta de meu livro,/ Certamente se dar
comigo!14; mas antes h o aviso: Jamais imitei algo de algum/ E
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ri de todo mestre/ Que nunca riu de si tambm.15 Os exemplos
dessa voz pessoal que se dirige diretamente para o corao do
leitor/discpulo se multiplicam nesse prel-dio em rimas. Num tom de
brincadeira e de traquinagem, Nietzsche se apresenta como mestre e
idealiza o seu leitor, aquele que seria capaz de transformar a sua
prpria expe-rincia em reflexo filosfica.
Enquanto lapidava poemas e epigramas, Nietzsche re-cebeu a
visita de seu amigo Paul Re. Neste final de inver-no ensolarado, os
amigos perambularam pelas margens do golfo de Gnova e chegaram
regio de Provena, onde Re dilapidou grande soma de dinheiro nos
cassinos de Mnaco. No se sabe ao certo quando que Nietzsche decidiu
batizar o novo livro que preparava. Mas essa via-gem pelo sul da
Frana deve ter colaborado na deciso, j que a expresso gaia scienza
era usada pelos trovadores provenais para designarem a sua arte.
Gaia era o nome da deusa que, na mitologia dos antigos romanos,
representa-va a Terra. Como afirma o pesquisador Jos DAssuno
Barros: A palavra, transformada em adjetivo passaria a ter
significados como mundano (no sentido de inserido no mundo), mas
tambm alegre, intensamente vivo, plenamente livre. Um pouco de cada
um desses sentidos aparece na incorporao do adjetivo gaia palavra
cin-cia, para designar a arte potica dos trovadores (sculos XII a
XIV). A Gaia Cincia, portanto, entendida como o alegre saber
inteiramente dedicado capacidade de viver intensamente, ao
envolvimento amoroso, exaltao da natureza, experincia da verdadeira
liberdade e, sobre-tudo, fina arte de tecer versos e fazer da
prpria vida individual, ela mesma, uma obra de arte.16
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Claridade, cu limpo, mar liso e sade mediterrnea. Nietzsche
parece viver seus dias de poeta-cavaleiro, de an-darilho ao
meio-dia: seu corpo no projeta sombra alguma. Nada do que
caracterizaria a alma alem, galerias e corre-dores, cavernas,
esconderijos e masmorras17 midas e som-brias, tem vez neste
luminoso perodo em que Nietzsche experimenta o retorno sade, a
gratido do convalescente. Nesta atmosfera, difcil imaginar que o
filsofo tenha se mantido insensvel s vibraes e vozes dos antigos
trova-dores que cantavam a vida livre, intensa e bela.
E quando chega a primavera de 1882, os amigos vol-tam para Gnova
onde se despedem. Paul Re segue para Roma e Nietzsche resolve
embarcar num navio de carga rumo ao sul, para surpresa de seus
amigos e familiares. Nesta poca do ano, ele costumava ir para as
montanhas em busca de um clima mais adequado ao seu corpo. Mas ele
vai em busca de mais sol, calor e claridade; vai para Messina,
Siclia. Para l eu quero ir; e doravante/ Con-fio em mim e no meu
pulso./ Aberto se estende o mar, e para o azul/ Lana-se o meu navio
genovs.18 Esses versos do poema Rumo a novos mares, escritos nessa
tem-porada em Messina, talvez expressem o estado de nimo do filsofo
tomado pelo mpeto da descoberta, tal como Colombo, o mais famoso
navegador parido pelo golfo de Gnova. Num outro poema intitulado No
Sul, os pensa-mentos j no caminham, eles aprenderam a voar: Andar
passo a passo no vida,/ P ante p torna alemo e pe-sado./ Eu pedi ao
vento que me alasse,/ Aprendi com os pssaros a planar / Voei para o
Sul, por sobre o mar.19
Durante quatro semanas, o filsofo perambulou pela ilha onde
escreveu uma srie de poemas que foram reu-nidos e publicados na
segunda edio de A Gaia Cincia
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(1886) com o ttulo Canes do Prncipe Vogelfrei [fora-da-lei]. Foi
expulso de l pelo siroco, vento quente, muito seco vindo do deserto
do Saara que atinge o sul da Itlia durante a primavera e o vero. Da
Siclia, Nietzsche parte para Roma, onde Paul Re o esperava para lhe
apresentar uma jovem russa que ele conhecera na casa da baronesa
Malwida von Meysenbug, velha amiga de Nietzsche.
No final de abril, o filsofo chega capital italiana e, na
catedral de So Pedro, acontece o primeiro encontro com a jovem
Lou-Andreas Salom. Vinte anos de idade, doen-te dos pulmes, Lou
abandonara os estudos e a cidade de Zurique procura, por recomendao
mdica, de um clima mais apropriado para o seu tratamento. Logo no
segun-do encontro, Nietzsche pede Lou em casamento. Ela tem outros
planos e faz a proposta: que fossem morar juntos ela, Nietzsche e
Paul Re (por decncia, a me de Re ou de Lou deveria completar o
grupo). A recusa de Salom no impediu que o trio viajasse junto rumo
a Zurique. No comeo de maio, alcanam a cidade de Lucerna, onde os
trs tiram aquela divertida foto em que Lou conduz uma charrete, com
um chicote na mo, puxada por Nietzsche e Re. Nesta cidade sua, foi
feito o segundo pedido de casa-mento. Em Zurique, o grupo se
separa, Nietzsche se dirige para Naumburg, cidade de sua me. Fica
marcado um novo encontro que aconteceria no incio do vero, em
julho.
Esse encontro com Lou-Andreas Salom precipita o nascimento de A
Gaia Cincia. Nietzsche reconheceu em Salom a sua discpula ideal e
herdeira espiritual, como escreve em uma carta, na qual tenta
desfazer a impresso de que ele gostaria de transform-la em sua
secretria: At aqui jamais pensei em fazer voc ler alto ou escrever
para mim; mas desejei muito poder ser seu mestre. Para dizer a
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verdade toda: procuro pessoas que possam ser meus her-deiros;
trago comigo algumas coisas que no se podem ler em meus livros e
para isso procuro a terra mais bela e mais fecunda.20 E para
colocar a discpula a par de sua filosofia, Nietzsche resolveu
reunir os apontamentos que tinha mo finalizados em janeiro, e dar
um novo destino s notas que escavavam as diversas camadas do
pensamen-to sobre o eterno retorno. Como explica Jrg Salaquarda, a
partir do encontro com Lou Salom, o livro ganha uma nova configurao
e disposio: Para os livros 1-3, tomou no essencial as verses j
prontas desde o final de janeiro. Das anotaes para os livros 4 e 5,
ele eliminou quase todas as aluses ao pensamento do eterno retorno,
de cuja apresen-tao ele ainda no se julgava capaz. Nessa concepo,
dos dois livros anteriormente planejados resultou apenas um, que se
diferenciava dos trs outros menos tematicamente, do que sobretudo
na disposio fundamental subjacente.21
Em outros termos, o livro IV, escrito apressadamente por
Nietzsche e destinado a sua discpula, tomado por um outro estado de
esprito e nimo. Nietzsche encon-trou uma dico, uma voz diferente
nesse percurso entre a Provena e as terras fecundas e belas de Lou
Salom. Como observa Salaquarda em referncia ao Preldio em rimas e
ao livro IV, Nietzsche estava a caminho de uma forma muito pessoal
de comunicao.22 No quarto livro, intitulado Sanctus Januarius, era
um mestre na arte de vi-ver que se expressava com a mesma
desenvoltura e graa das antigas escolas filosficas. Esse mestre era
o prprio Nietzsche. E era a sua vida singular, o objeto de um saber
e de uma arte que ganhava a forma de um alegre saber, de uma
reflexo que incitava os indivduos a experimentarem uma vida livre
da moral do rebanho.
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Para Nietzsche de acordo com a anlise de Sala-quarda , a funo de
mestre impe a seu portador a obrigao de exprimir inequivocamente a
moral pessoal, para que os potenciais discpulos saibam a que esto
se entregando quando seguem um tal mestre. (...) Tornado mestre por
meio da experincia do pensamento do eterno retorno, tendo diante
dos olhos, na pessoa de Lou Salom, uma discpula potencial, ele se
esfora at o fim para, em sua mais recente publicao, expor to
claramente quanto possvel aquilo contra ou a favor do que ele se
colocava.23 Da a razo de Nietzsche considerar A Gaia Cincia o mais
pessoal de seus livros. E, pelas cartas que o filsofo enviou para
os amigos junto com a mais recente publicao, possvel perceber a
importncia que deu a esse experimen-to literrio no qual ele
revelava e partilhava no s seus pensamentos, mas tambm fragmentos
de sua vida. Ele estava particularmente interessado na recepo dos
escri-tos nos quais se apresenta como mestre, isto , nos poemas do
Preldio em rimas e nos aforismos do quarto captulo. Ao presentear o
venerado amigo Jacob Burckhardt, fez o pedido: eu gostaria
especialmente que o senhor pudesse ler o Sanctus Januarius (livro
IV) no contexto, para saber se ele, como um todo, se comunica. E
meus versos?24
Para o amigo e colaborador Peter Gast, Nietzsche repe-te o
pedido enfatizando o mesmo ponto: Faa algumas consideraes (...)
sobre o todo e a inteira disposio: comunica-se ela efetivamente?
Particularmente: Sanctus Januarius , em geral, compreensvel?25
No momento final da redao e reviso do livro IV, em julho de
1882, Nietzsche se encontrava em uma pequena cidade chamada
Tautenburg, no centro da Alemanha. Lou Salom se dirigiu para l.
Todas as manhs os dois cami-nhavam e conversavam sem parar: Nessas
trs semanas
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praticamente nos matamos de tanto falar rememora Lou. Estranho
como involuntariamente nesses dilogos chegamos beira de abismos,
aqueles lugares de verti-gem onde subimos solitrios para contemplar
a profun-deza. Sempre escolhemos a trilha das cabras e se algum nos
tivesse escutado pensaria que ramos dois demnios conversando.26 O
captulo escrito nessa atmosfera de in-tensa euforia e, at mesmo, de
um envolvimento amoroso que ligava o mestre discpula, intrigava o
prprio autor. Ser que comunica? Essa era a pergunta de Nietzsche a
seus interlocutores.
Essa questo est ligada aos dois aforismos que encerram o captulo
Sanctus Januarius. Neles, surgem pela primeira vez o problema do
eterno retorno (Voc quer esta vida, como voc est vivendo e j viveu,
mais uma vez e por incont-veis vezes?27) e a descida de Zaratustra
das montanhas28 que, segundo a observao de Oswaldo Giacoia, j
contm, em grande parte literalmente, os primeiros lineamentos do
prlogo do livro Assim falou Zaratustra,29 escrito em feve-reiro de
1883. Pelo fato dessas criaes serem fundamen-tais para Nietzsche,
no seria incorreto interpretar, assim como fazem Giacoia e
Salaquarda, A Gaia Cincia como um livro estruturado para conduzir o
leitor ritmicamente num crescendo at a regio espiritual de
atmosfera rarefei-ta, onde enuncia a seu discpulo ideal a
quintessncia de sua doutrina.30 Por outro lado, o livro cumpriria
tambm uma outra finalidade: condensar os principais elementos da
sua filosofia dos espritos livres, o alegre saber dos indivduos
aptos a transfigurarem a existncia numa obra de arte. E, para
realizar esta tarefa, Nietzsche reflete e escreve sobre a sua
prpria vivncia a fim de delinear os traos mais decisi-vos de sua
arte de viver.
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Se considerarmos, como o faz o ensasta Wilhelm Schmid, A Gaia
Cincia como o livro nietzschiano da arte de viver,31 o quarto
captulo poderia ser apreciado como uma galeria onde antigas obras
so revisitadas, re-verenciadas e, finalmente, transformadas pelo
olhar e o viver de um jovem mestre que ambiciona tornar-se o que se
. O primeiro texto de Sanctus Januarius a expresso de um desejo e,
ao mesmo tempo, a afirmao de um prin-cpio prtico de bem viver: Amor
fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! No quero
fazer guerra ao que feio. (...) Que a minha nica negao seja desviar
o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, ape-nas
algum que diz Sim!32 Algum que afirme sua prpria existncia sem
hostilizar o feio e o mesquinho , teria necessariamente alma de
poeta e a pacincia de cientista: Ns queremos ser os poetas-autores
de nossas vidas, prin-cipiando pelas coisas mnimas e cotidianas;33
Ns que-remos examinar nossas vivncias de modo rigoroso como se faz
uma experincia cientfica, hora a hora e dia a dia! Queremos ser
nossos experimentos e nossas cobaias.34
Para afirmar plenamente a vida, a filosofia nietzschiana da arte
de viver exige, portanto, rigor na observao e ex-perimentao da
prpria vivncia e capacidade de inven-o de si mesmo. Essa vontade s
ganha corpo quando o conhecimento deixa de ser uma atividade
impessoal, ou seno, via de acesso para a tranquilizao, repouso e
aco-modao do esprito. A vida como meio de conhecimen-to com esse
princpio no corao pode-se no apenas viver valentemente, mas at
viver e rir alegremente!35 O conhecimento, configurado desta
maneira, torna-se peri-goso, algo arriscado, pois a prpria vida, a
reputao, a sanidade, o anseio de glria, os temores, as hesitaes
que
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entram em cena exigindo o seu destino, o seu lugar ao sol na
arena do pensamento.
Transformar a existncia em meio de conhecimento impe ao sujeito
um certo desembarao, um certo desa-pego daquilo que j foi
conquistado e pensado. H que se ter coragem para mudar de opinio,
para desdizer o que foi dito, para abandonar os hbitos adquiridos,
vo-luntariamente ou no. De tempos em tempos, h que se lanar o navio
genovs em mares bravios e desconhecidos. Colocando-se como exemplo,
Nietzsche afirma: Eu amo os hbitos breves e os considero o meio
inestimvel de vir a conhecer muitas coisas e estados. (...)
Acredito sempre que tal coisa me satisfar permanentemente. (...) E
um dia o seu tempo acabou: a coisa boa separa-se de mim, no como
algo que me repugna mas pacificamente e de mim saciada tal como eu
dela, e como se nos devssemos gratido mtua, estendendo-nos a mo em
despedida. E algo novo j espera na porta. Assim com alimentos,
pes-soas, ideias, cidades, poemas, peas musicais, doutrinas,
programa do dia, modo de vida.36
Despedir-se da coisa j pensada, da coisa j vivida e das inmeras
tentativas na arte de conduzir a vida com grati-do, boa conscincia,
benquerena e estima. Deixar ir e se distanciar sem rancor, culpa ou
vergonha, pois foi a sua vida que matou para voc aquela [antiga]
opinio, no sua razo: voc no precisa mais dela.37 So os novos
impulsos e afetos que tensionam a alma e querem transbordar e se
afirmar em um novo fluxo de pensamento. Num dos mais belos
aforismos do livro, o filsofo observa o jogo entre as ondas e as
falsias e capta na cena o desejo sempre re-novado da vontade de
conhecer, que no cessa, que no para de criar desassossegos: Com que
avidez esta onda se
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aproxima, como se houvesse algo a atingir! Com que pressa
aterradora se insinua pelos mais ntimos cantos das falsias! como se
quisesse chegar antes de algum; como se ali se ocultasse algo que
tem valor, muito valor. E agora ela re-cua, um tanto mais devagar,
ainda branca de agitao es-tar desiludida? Ter encontrado o que
buscava? Toma um ar desiludido? Mas logo vem outra onda, ainda mais
vida e bravia que a primeira, e tambm sua alma parece cheia de
segredos e do apetite de desencavar tesouros. Assim vivem as ondas
assim vivemos ns, seres que tm vontade!38
O sujeito tico do conhecimento, este que toma a prpria vida como
um experimento, precisa tambm estar descolado da moral do rebanho
que honra e premia os imutveis, os invariveis, os sempre os mesmos,
que no mudam de pele e nem de opinio, da a impresso geral de que so
confiveis. Essa fora que transforma o sujeito do conhecimento em um
dedicado especialista que se aprofunda em seu objeto de pesquisa
condena e difama a disposio que tem o homem do conhecimento para,
de maneira intrpida, decla-rar-se a qualquer momento contra a sua
opinio prvia e ser desconfiado em relao a tudo o que em ns quer se
tornar slido.39 Deixar de ser um sujeito confivel, til e previsvel,
de acordo com as regras e as percepes da maioria, isto , ser capaz
de contradizer, ter boa conscincia ao hostilizar o habitual, o
tradicional e o consagrado o maior dos pas-sos do esprito
liberto.40 Um passo em direo afirmao de uma vida e de um pensamento
singulares; sem demasia-do apego a uma verdade que paralisa e
acomoda-se em um determinado modo de vida domesticado e seguro.
O caminho do Sim da Gaia Cincia requer, portanto, rigor e
pacincia de cientista, vontade de experimentao e coragem para se
despedir com gratido dos antigos h-bitos, opinies e ideais
consagrados pelo rebanho. E para
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seguir essa difcil trilha sem cair nos abismos do rancor, do
ressentimento, da impotncia ou da acomodao, preciso saber como
desviar o olhar do que feio, como se esqui-var das foras que
prendem e limitam o experimento e a criao de si. Temos que aprender
com os artistas, afirma o filsofo, como tornar as coisas belas e
atraentes quando elas no o so: Afastarmo-nos das coisas at que no
mais vejamos muita coisa delas (...) ou ver as coisas de soslaio e
como que em recorte ou disp-las de tal forma que elas encubram
parcialmente umas s outras e permitam somente vislumbres em
perspectivas ou contempl-las por um vidro colorido ou luz do
poente.41 Impor uma distncia, transfigurar o olhar, modificar a
perspectiva de avaliao, deslocar o ponto de vista, criar iluses;
todas es-sas atividades e artifcios dos artistas so teis para
evitar que a existncia se transforme to somente num campo de
batalha (perdida) ao feio, ao asqueroso, ao repulsivo que tambm
compem a vida de todo o dia.
Desviar o olhar tambm deixar de lado tudo o que secundrio e que
no estimula a ao. Nietzsche, expli-citando seus prs e contras,
indica como se exercita essa atividade de autodefesa: No fundo,
tenho averso a todas essas morais que dizem: No faa isto!,
Renuncie!, Su-pere a si mesmo! mas tenho em boa conta as morais que
me impelem a fazer algo e a refaz-lo; e em nada pensar seno em
faz-lo bem, to bem como somente eu posso faz-lo! Quem vive assim,
separa-se continuamente de cada coisa que no participa de tal vida:
sem dio e repulsa que ele v despedir-se hoje isso, amanh aquilo
(...) ou ele nem v que se despedem, to rigorosamen-te o seu olhar
se volta para meta. (...) Nosso fazer deve determinar o que
deixamos de lado: ao fazer, deixamos de lado assim que eu gosto,
assim diz o meu placitum
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[princpio].42 Conquistar uma tal seriedade e concentra-o no
fazer, as mesmas que animam a criana que brinca, uma forma de zelo
e asseio que evita a perda de tempo e de energia vital com as
mesquinharias ou grandes tarefas do rebanho. Estar focado na meta,
isto , na composio e atribuio de um estilo ao carter, impede que o
sujeito tico do conhecimento se desvie de sua prpria jornada,
atrado por uma gama infinita de estmulos, apelos e ace-nos de glria
concedida pela maioria.
preciso deixar de lado, inclusive, a pretenso de me-lhorar a
humanidade, de corrigi-la seja atravs do castigo ou de outra forma
de repreenso qualquer. Raramente mudamos um indivduo. (...)
Elevemos tanto mais a ns mesmos! Obscureamos o outro com a nossa
luz! No queremos ficar obscuros por sua causa, como todos os que
castigam e no se satisfazem! melhor que nos afaste-mos. Desviem o
olhar!43 Que os mortos cuidem de seus mortos, que os ressentidos
encontrem seus venenos, que os remediados se distraiam com seus
consolos, que o re-banho paste em campos verdejantes. preciso saber
dei-xar de lado porque a compaixo , segundo os termos de Nietzsche,
o maior dos perigos. A todo momento o sujeito solicitado a
participar, a pr mo na conscincia e fazer parte da corrente do bem;
raramente o nosso olhar pousa em algo que no solicite um instante
que abandonemos nossas coisas para lhe acudir.44
Os que pregam a compaixo no toleram o trabalho de si sobre si
mesmo, empreendido pelo sujeito tico. Difamam-no ao nome-lo de
egosmo, em benefcio da moral, dos ideais e das necessidades do
grande nmero que, em sntese, anseia por uma felicidade banalizada.
Nas palavras de Nietzsche: O que eles gostariam de perseguir
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com todas as foras a universal felicidade do rebanho em pasto
verde, com segurana, ausncia de perigo, bem-estar e facilidade para
todos; suas duas doutrinas e cantigas mais lembradas so igualdade
de direitos e compaixo pelos que sofrem e o sofrimento mesmo visto
por eles como algo que se deve abolir.45 Como se fosse pos-svel ao
indivduo, povo ou nao conquistar seu prprio horizonte e caminho sem
conhecer e compor com as cores da aflio e da dor.
E, por fim, na arte de desviar o olhar, de encontrar uma justa
distncia artstica, preciso, tambm, colocar a si mes-mo em
perspectiva. Este exerccio uma espcie de antdoto ao excesso de
seriedade, de gravidade, de peso que implica todo esse processo de
autoconhecimento e experimentao de si. Que o autodomnio no se
metamorfoseie em algo rgido demais a ponto de transformar o sujeito
tico do conhecimento em algo parecido a um espantalho moral. Isto ,
o indivduo constantemente irritado que age sempre como se o seu
autodomnio corresse perigo: ele no pode mais confiar-se a nenhum
instinto e fica permanentemente em atitude de defesa. (...) Sim,
ele pode tornar-se grande desse modo! Mas como ficou insuportvel
para com os ou-tros, difcil para si mesmo, e afastado das mais
belas causa-lidades da alma! E tambm de toda nova instruo! Pois
preciso saber ocasionalmente perder-se quando queremos aprender
algo das coisas que ns prprios no somos.46
O aforismo 107, Nossa derradeira gratido para com a arte
reescrito no momento em que Nietzsche finalizava o quarto captulo ,
ainda mais explcito e incisivo nessa questo de colocar a si mesmo
em perspectiva. A passa-gem bem conhecida, mas o prazer de cit-la
sempre renovado: Ocasionalmente precisamos descansar de ns
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mesmo, olhando-nos de cima e de longe e, de uma artstica
distncia, rindo de ns ou chorando por ns; precisamos descobrir o
heri e tambm o tolo que h em nossa paixo do conhecimento,
precisamos nos alegrar com a nossa es-tupidez de vez em quando,
para poder continuar nos ale-grando com a nossa sabedoria!47 o
poeta, o trovador, o pcaro que mora no sujeito do conhecimento que
o chama para danar na proa do navio em meio tempestade no alto-mar.
Entre os argonautas vislumbrados por Nietzsche, no h sintoma maior
de sade, de transbordante sade, do que este saltitante apelo do
poeta.
Cu limpo, claridade mediterrnea, rumo ao Sul; a sade que
retorna, os tremores de um insight inaudito, o envolvi-mento
amoroso, a jovem discpula... A filosofia nietzschiana da arte de
viver, inscrita em A Gaia Cincia, ou mais pre-cisamente no captulo
Sanctus Januarius, abarca todas essas experincias de um esprito
livre, mutante e nmade. So vivncias singulares de um corpo que
vibra to intensamen-te que parece querer produzir uma luz prpria o
seu pr-prio sol, o seu prprio self luminoso. Para Nietzsche, neste
perodo, toda essa luminosidade tinha um nome, Zaratustra. Coube a
ele, ao filho de Nietzsche, segundo a expresso de Salaquarda, a
tarefa de encenar a partir de sua prpria experincia, o enigma do
eterno retorno e o nascimento do Alm-do-Homem, como um novo ideal
que problemati-za e responde a uma viso de mundo fundada em um deus
cristo. Muito do que Nietzsche pensou e escreveu em A Gaia Cincia
talvez tenha ficado de lado com o surgimento de Zaratustra, escrito
ao qual ele dedicou dois anos de sua vida. Alguns temas foram
retomados em livros posteriores, outros simplesmente esquecidos,
porque a vida, o cu, o self do filsofo j eram outros. Assim vivem
as ondas assim vivem os que danam no dorso das ondas...
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1 Friedrich Nietzsche. Incipit tragoedia in A Gaia Cincia.
Traduo de Pau-lo Csar de Souza. So Paulo, Companhia das Letras,
2001, p. 231 (N.E.)
2 Idem, O insensato, p. 147. (N.E.)
3 Ibidem, Sanctus Januarius, p. 230. (N.E.)
4 Alm disso, o livro tal como se l atualmente resultado de uma
reunio de textos escritos em diferentes momentos. Na primeira edio,
agosto de 1882, constava apenas os quatro captulos e os poemas
reunidos sob o ttulo Brinca-deira, Astcia e Vingana. Cinco anos se
passam e Nietzsche volta a se debru-ar sobre A Gaia Cincia, quando
ele organiza a segunda e definitiva edio. Aps ter parido Zaratustra
e em meio s pesquisas e reflexes de Alm do bem e do mal (1886),
Nietzsche escreve e acrescenta ao volume o prefcio, um quinto
captulo (Ns, os impvidos) e um apndice com novos poemas. Paulo Csar
de Souza. Psfcio in Friedrich Nietzsche, 2001, op. cit., p.
334.
5 Friedrich Nietzsche. Ecce Homo, como algum se torna o que .
Traduo de Paulo Csar de Souza. So Paulo, Companhia das Letras,
1995, p. 86.
6 Friedrich Nietzsche apud Rdiger Safranski. Nietzsche,
biografia de uma tragdia. Traduo de Lya Lett Luft. So Paulo, Gerao
Editorial, 2001, p. 214.
7 Friedrich Nietzsche, 1995, op. cit., p. 83.
8 Idem, p. 38.
9 Ibidem, p. 83.
10 Friedrich Nietzsche apud Rdiger Safranski, 2001, op. cit., p.
334.
11 Jrg Salaquarda. A ltima fase de surgimento de A Gaia Cincia.
Tradu-o de Oswaldo Giacoia Junior e Barbara Salaquarda in Cadernos
Nietzsche, n. 6, 1999, pp. 75-93. Disponvel em:
http://www.ch.usp.br/df/gen/pdf/cn_06_05.pdf (acesso em:
6/2/10).
12 Friedrich Nietzsche, 2001, op. cit., p. 49.
13 Idem, p. 27.
14 Ibidem, p. 43.
15 Ibidem, p. 5.
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16 Jos DAssuno Barros. A gaia cincia dos trovadores medievais in
Re-vista de Cincias Humanas, vol. 41, n. 1 e 2. Florianpolis,
EDUFSC, abril e outubro de 2007, p. 83.
17 Friedrich Nietzsche. Alm do Bem e do Mal: Preldio a uma
Filosofia do Fu-turo. Traduo de Paulo Csar de Souza. So Paulo,
Companhia das Letras, 1992, p. 244.
18 Friedrich Nietzsche, 2001, op. cit., p. 309.
19 Idem, p. 295.
20 Friedrich Nietzsche apud Rdiger Safranski, 2001, op. cit., p.
231.
21 Jrg Salaquarda, 1999, op. cit., p. 77.
22 Idem.
23 Ibidem, p. 89.
24 Friedrich Nietzsche apud Ibidem, p. 78.
25 Ibidem.
26 Lou-Andreas Salom apud Rdiger Safranski, 2001, op. cit., p.
232.
27 Friedrich Nietzsche, 2001, op.cit., p. 230.
28 Idem, p. 231.
29 Oswaldo Giacoia Junior. O caos e a estrela in Revista
Impulso, vol. 12, n. 28. Piracicaba, Editora UNIMEP, 2001, p.
12.
30 Idem, p. 12.
31 Wilhelm Schmid. Dar forma a ns mesmos: sobre a filosofia da
arte de viver em Nietzsche. Traduo de Alexandre Alves in Verve,
vol. 12. So Paulo, Nu-Sol/PUC-SP, 2007, p. 52.
32 Friedrich Nietzsche, 2001, op. cit., p. 189.
33 Idem, p. 202.
34 Ibidem, p. 231.
35 Ibidem, p. 281.
36 Ibidem, p. 200.
37 Ibidem, p. 208.
38 Ibidem, p. 209.
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39 Ibidem, p. 201.
40 Ibidem, p. 202.
41 Ibidem, p. 299.
42 Ibidem, p. 206.
43 Ibidem, p. 214.
44 Ibidem, p. 227.
45 Friedrich Nietzsche, 1992, op. cit., p. 48.
46 Friedrich Nietzsche, 2001, op. cit., p. 207.
47 Friedrich Nietzsche, 1992, op. cit., p. 133.
Resumo
Este artigo analisa o perodo em que Nietzsche se dedica a
es-crever o livro A Gaia Cincia. Por meio das informaes
bio-grficas, dos textos e poemas dessa obra pretende-se delinear
alguns traos da filosofia da arte de viver de Nietzsche.
palavras-chaves: arte de viver, Nietzsche, experimentao.
Abstract
+is article examines the period in which Nietzsche wrote the
book +e Gay Science. +rough the biographical information, the texts
and poems that work is intended to outline some fea-tures of the
philosophy of art of living of Nietzsche.
keywords: art of living, Nietzsche, experimentation.
Recebido para publicao em 10 de setembro de 2009. Con-firmado em
28 de maio de 2010.
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