-
Pe. Ademilson Luiz Ferreira
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
Apostila para uso dos alunos do Curso de Teologia
para Leigos e Consagrados da Regio Pastoral I Diocese de Marlia
SP Junho de 2012
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados
Regio Pastoral I
Diocese de Marlia SP
-
SUMRIO APRESENTAO
.............................................................................................3
I. SNODOS E CONCLIOS ECUMNICOS
..........................................4
II. OS 21 CONCLIOS ECUMNICOS DA IGREJA CATLICA.........5
a) Conclios do Primeiro
Milnio..............................................................................
.......5
a.a) Elaborao da Doutrina
.......................................................................................5
1. Nicia
............................................................................................................................
5 2. Constantinopla I
.............................................................................................................5
3. feso
.............................................................................................................................5
4. Calcednia
......................................................................................................................5
5. Constantinopla
II.............................................................................................................6
6. Constantinopla III
...........................................................................................................6
a.b) A F e a Poltica
...................................................................................................6
7. Nicia II
..........................................................................................................................6
8. Constantinopla IV
..........................................................................................................6
b) Conclos da Idade Mdia
..................................................................................6
b.a) Os quatro Conclios de Latro
.............................................................................6
9. Latro I
...........................................................................................................................6
10. Latro II
..........................................................................................................................7
11. Latro III
........................................................................................................................7
12. Latro IV
........................................................................................................................7
b.b) Disputas de poder Lio
........................................................................................7
13. Lio I
..............................................................................................................................7
14. Lio II
............................................................................................................................7
15. Viena (ou Vienne - Frana)
............................................................................................7
c) Conclios da poca da Reforma
..................................................................................7
c.a) Conclios versus Papas
................................................................................................7
16. Constana
.......................................................................................................................7
17. Florena
..........................................................................................................................7
c.b) Conclios do Sculo XVI
.......................................................................................8
18. Latro V
..........................................................................................................................8
19. Trento
.............................................................................................................................8
d) Conclios da Idade Moderna
20. Vaticano I
.......................................................................................................................8
21. Vaticano II
.....................................................................................................................8
III. O CONCLIO VATICANO II
................................................................9
1. Introduo
.......................................................................................................................9
2. Objetivos do Conclio
..................................................................................................10
-
3. Principais personagens
...................................................................................................10
4. Algumas conquistas do Conclio Vaticano II:
................................................................10
5. Conclio Vaticano II: Continuidade ou
Ruptura?............................................................11
5.1. De uma eclesiologia jurdica a uma eclesiologia sacramental
.......................................11 5.2. Inverses
eclesiolgicas do Vaticano II
.........................................................................12
5.3 Que significa um Conclio Pastoral?
............................................................................12
6. Participao dos Bispos Brasileiros no Conclio
............................................................13
III. ANEXOS
.................................................................................................14
1. Artigos do Pe. Ademilson publicados no site de Marlia
....................14 CONCLIO VATICANO II 50 ANOS DE SUA ABERTURA
..........................................14
CONHECENDO O PAPA QUE INICIOU O CONCLIO VATICANO II: JOO XXIII
.....15
CONHECENDO UM POUCO DOS DOCUMENTOS DO CONCLIO VATICANO II
......16
DOCUMENTOS CONCILIARES E SUA APROVAO AO LONGO DO CONCLIO
...17
MOVIMENTOS DE RENOVAO TEOLGICA QUE PRECEDERAM O CONCLIO
VATICANO II
.........................................................................................................................18
SACRAMENTALIDADE DO EPISCOPADO NO CONCLIO VATICANO II
..................19
A COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
.........................................................20
REALIZAES PARCIAIS DA COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
.....21
SNODO DOS BISPOS
...........................................................................................................21
CONCLIO VATICANO II: CONTINUIDADE OU
RUPTURA?.........................................22
VATICANO II DE UMA ECLESIOLOGIA JURDICA A UMA ECLESIOLOGIA
SACRAMENTAL
....................................................................................................................23
VATICANO II: UM CONCLIO PASTORAL?
.................................................................24
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II
Parte I
......................................................................................................................................
25
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II Parte
II 25
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II - Parte
III
Rede de relaes
.......................................................................................................................26
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS NO CONCLIO VATICANO II - Parte
IV
As Conferncias da Domus Mariae
.........................................................................................27
O CONCLIO VATICANO II E O PACTO DAS CATACUMBAS
......................................27
DOM HELDER, A CNBB E O CONCLIO VATICANO II parte I
...................................28
DOM HELDER, A CNBB E O CONCLIO VATICANO II parte II
................................ 29
DOM HELDER CMARA E AS CIRCULARES CONCILIARES
......................................30
OS CONSELHOS DIOCESANOS NO CONCLIO VATICANO II
.....................................31
2. Outros artigos
.............................................................................................................32
Artigo de Maria Clara Bingemer, Jornal O Globo, 25.04.2012.
............................................32
A memria do Conclio Vaticano II: O olhar do telogo (Pe. Libanio
- Jornal de Opinio) .........33
BIBLIOGRAFIA BSICA E COMPLEMENTAR
(COMENTADA)..............................34
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
3
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
APRESENTAO
Esta apostila destina-se ao Curso de Teologia para Leigos e
Consagrados da Regio
Pastoral I da Diocese de Marlia. Pretende ser um modesto
material para a compreenso do
Conclio Vaticano II que comemora 50 anos de sua abertura em
outubro deste ano.
Parte do contedo resulta da pesquisa de Mestrado realizada nos
anos de 2010 a 2012
em Belo Horizonte - MG. Muitos outros elementos constituem
estudos posteriores, visando ao
aprofundamento do assunto.
Dividimos o estudo em trs partes principais. Primeiramente
abordamos a
experincia dos Snodos e Conclios Ecumnicos na Igreja.
Verifica-se que a experincia
sinodal precede a conciliar. Constata-se igualmente que o
Conclio Vaticano II, embora se
insira na Tradio dos 21 Conclios Ecumnicos, reveste-se de uma
singularidade. No se
preocupou com condenaes ou definies dogmticas, mas como um novo
Pentecostes renovou a vida da Igreja. Constituiu o maior
acontecimento eclesial do sculo XX e, hoje,
quase 50 anos depois continua a orientar a vida da Igreja.
Abordamos brevemente os 21 Conclios Ecumnicos e sua importncia
para a histria
da Igreja. Os Conclios, alm de tratarem da doutrina da Igreja,
tambm apresentam medidas
disciplinares e tm importncia poltica no cenrio mundial. Revelam
a elaborao da
doutrina da Igreja, alm dos conflitos enfrentados por ela.
Alguns conclios condenaram
bispos e autoridades civis. Outros se depararam com o problema
de mais de um pretendente
ao papado, chegando a depor papas. Enfrentaram questes como o
Conciliarismo que pregava a autoridade do Conclio em relao ao
Papa.
Na Idade Moderna aconteceram dois Conclios Ecumnicos. Entre o
Conclio de
Trento (sc. XVI) e o Vaticano I (sculo XIX) se passaram quase
trs sculos e quase um
sculo distancia o Vaticano I do Vaticano II. Muitas coisas
mudaram na Igreja e no mundo e
tornava-se necessrio um aggiornamento da Igreja.
Na terceira parte da apostila, abordamos o Conclio Vaticano II,
apresentando uma
introduo, os objetivos, principais personagens e suas
conquistas, alm da sua eclesiologia.
Por fim, oferecemos um estudo sobre a participao dos bispos
brasileiros no Conclio.
Para auxiliar nas reflexes, disponibilizamos os artigos acerca
do Vaticano II escritos
para o site da Diocese de Marlia (www.diocesedemarilia.org.br),
alguns ainda no
publicados. Acrescentamos outros pequenos artigos para uma
compreenso geral do Conclio.
Quem desejar um aprofundamento do estudo encontrar ao final da
apostila uma
Bibliografia que oferece no apenas as principais obras em lngua
portuguesa, mas tambm
um pequeno comentrio acerca de cada obra. Assim, o leitor poder
pesquisar o assunto que
lhe interessar.
Esperamos que este estudo desperte o Povo de Deus de nossa
Diocese para a
compreenso do Conclio Vaticano II e de sua importncia para toda
a Igreja. A formao dos
leigos torna-se imprescindvel para a renovao eclesial.
Marlia, Junho de 2012
Pe. Ademilson Luiz Ferreira
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
4
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
I. SNODOS E CONCLIOS ECUMNICOS1
Concilium vem de concalare e significa convocar, podendo ser
considerado sinnimo
de synodus2 (snodo), conventus (reunio), coetus (grupo). No
sentido cristo, o termo aparece
pela primeira vez em Tertuliano e desde a Idade Mdia reserva-se
s assembleias da Igreja
universal, enquanto as assembleias regionais designam-se
snodos3. A experincia dos Snodos provinciais e regionais precede
historicamente os Conclios
Ecumnicos. O Snodo reveste-se de autoridade coletiva superior do
Bispo individual. Em alguns casos houve deposio de bispos.
Na segunda metade do sculo II, na sia, por ocasio da heresia
montanista e, mais tarde,
por causa da controvrsia acerca da data da Pscoa, surgem os
Snodos Particulares com o
objetivo de dirimir questes importantes concernentes f crist. No
sculo III, a prtica
generaliza-se.
No sculo IV (Nicia 325) tm incio os Conclios Ecumnicos. A Igreja
adapta-se s formas e organizaes imperiais. A comunho das igrejas
locais modela-se, em suas principais
manifestaes, no quadro geogrfico da provncia civil. A presidncia
do Colgio Episcopal local
recai sobre o Metropolita, Bispo da metrpole, capital civil da
provncia. Algumas sedes ganham
preeminncia: Roma, Constantinopla (a nova Roma), Alexandria,
Antioquia e Jerusalm4. A S
Romana goza de primazia cuja formulao jurdica se torna bem clara
com o Papa Leo I (440-
461). Considera-se o Bispo de Roma sucessor de Pedro e de seu
primado.
O Conclio de Nicia (325) reconhece a importncia dos Conclios
Particulares e
prescreve sua celebrao duas vezes por ano5. Constana (1414-1418)
reduz esta periodicidade
para cada trs anos6. O atual Cdigo de Direito Cannico (1983) no
estabelece prazos para a
realizao de conclios plenrios ou provinciais7.
Quanto aos Conclios Ecumnicos, apenas os sete primeiros tm
reconhecimento das
Igrejas ortodoxas. A Igreja Catlica Romana admite a existncia de
21 Conclios de Nicia (325) ao Vaticano II (1962-1965). Os oito
primeiros Conclios foram convocados pelo Imperador
e os demais pelo Papa. A partir do sculo V, a aprovao do Bispo
de Roma tornou-se
indispensvel aos Conclios8.
Normalmente os Conclios foram marcados por controvrsias, questes
de f (heresias),
necessidade de reforma da Igreja, desafios sua autoridade e
outros temas significativos na poca
de sua realizao. Embora inserido na histria dos 21 Conclios
Ecumnicos, o Vaticano II difere
dos precedentes. Contou com participao macia do episcopado
mundial9, representantes de todo
o Povo de Deus10 e observadores das igrejas crists no
catlicas11. Revestiu-se de um carter
dialogal e de abertura, iniciando novo tempo na Igreja.
1 Cf. FERREIRA, 2012, p. 26-28.
2 Syn+hodos = sentido de caminhar juntos.
3 Cf. CONCLIO. In: Dicionrio Crtico de Teologia, p p. 409.
4 Chamadas posteriormente de Sedes Patriarcais da Pentarquia
justiniana.
5 Norma que permaneceu vlida at o sculo XV, embora no tenha sido
cumprida.
6 Basileia, V Lateranense e Trento confirmaram esta norma, que
caiu em desuso.
7 Devem ser celebrados sempre que parecer oportuno s Igrejas de
uma mesma Conferncia de Bispos (Conclio
Plenrio) ou maioria dos Bispos diocesanos da provncia (Conclios
Provinciais) (cf. cn. 439-440). 8 Cf. CONCLIO. In: Dicionrio Crtico
de Teologia, p. 409-412.
9 A sesso de abertura, celebrada em 11 de outubro de 1962 contou
com a participao de 1041 bispos europeus,
965 americanos, 379 africanos e mais de 300 asiticos. Certamente
o contexto do Conclio Vaticano II, em pleno
sculo XX, favoreceu a comunicao e a locomoo dos bispos a Roma.
10
Presena de peritos (normalmente presbteros), auditores e
auditoras (leigos, leigas e religiosas). Pela primeira
vez na histria o Conclio admitiu a presena de mulheres (10
religiosas e 13 leigas). Numericamente a presena
das religiosas (10) e leigos (29 homens e 13 mulheres) no foi
numerosa, porm assinala uma novidade
importante. 11
Poderiam participar das sesses solenes e congregaes gerais e
informar suas respectivas comunidades sobre
o trabalho conciliar.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
5
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
II. OS 21 CONCLIOS ECUMNICOS DA IGREJA CATLICA12
e) Conclios do Primeiro Milnio
a.a) Elaborao da Doutrina (e tambm algumas questes
disciplinares)
1. Nicia (325) condenou a cristologia de rio (negava a divindade
de Jesus), colocou a base para uma nova Profisso de F e promulgou
medidas disciplinares. Afirmou a
igualdade entre o Pai e o Filho (homo-ousios).
Credo de Nicia (verso latina DH 125)
Cremos em um s Deus, Pai onipotente, artfice de todas as coisas
visveis e invisveis.
E em um s nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido
unignito do Pai, isso , da
substncia do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro, nascido,
no feito, de uma s substncia com o Pai (o que em grego se diz
homoousion); por meio do
qual foram feitas todas as coisas que h no cu e as na terra; o
qual, por causa de nossa
salvao desceu, se encarnou e se fez homem, e padeceu, e
ressuscitou ao terceiro dia, e subiu
aos cus, havendo de vir julgar os vivos e os mortos.
E no Esprito Santo.
2. Constantinopla I (381) condenou o imperador Teodsio, diversas
heresias, colocou a base para uma nova profisso de f e tomou sete
medidas disciplinares. Afirmou a
divindade do Esprito Santo.
De acordo com o Conclio de Constantinopla (381), o Filho nasceu
antes de todos os sculos, coeterno ao Pai. Ainda em Constantinopla,
sob a influncia da teologia de Baslio Magno (j falecido por ocasio
do Conclio) declarou-se a divindade do Esprito Santo, embora no se
tenha afirmado textualmente que o Esprito Deus. A afirmao da
divindade
do Esprito atestada pela frmula Creio no Esprito Santo, Senhor
que d a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho
adorado e glorificado. Os atributos Senhor, doador da vida, digno
de adorao e glorificao so prprios de Deus e, portanto, predicados
ao Esprito Santo advogam em favor de sua divindade
13.
3. feso (431) Condenou do imperador Teodsio II, a doutrina de
Nestrio14 e promulgou oito medidas eclesisticas. Afirmou da
Maternidade Divina de Maria
(Theotokos).
Em feso (431), a divindade e a humanidade formam um s Senhor e
Cristo e Filho. O Verbo nascido de Maria segundo a carne (ela a
Depara ou Theotokos, isto , me de Deus)15.
4. Calcednia (451) Condenou o Monofisismo (nica natureza em
Jesus), comps nova profisso de F e tomou trinta medidas
eclesisticas. Afirmou as duas naturezas em
Cristo.
12
Cf. LAARHOVEN, p. 830-843, DENZINGER e BELLITTO, 2010. 13
Cf. FERREIRA, Ademilson Luiz. O Dogma da Santssima Trindade.
Disponvel em:
. Acesso em: 04 de junho de 2012. 14
Para ele, Maria era apenas me do homem Jesus. Afirmava duas
pessoas em Jesus. 15
Cf. artigo citado anteriormente.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
6
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
Seguindo, pois, os santos Padres, com unanimidade ensinamos que
se confesse que um s e o
mesmo Filho, o Senhor nosso Jesus Cristo, perfeito na sua
divindade e perfeito na sua
humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem composto de alma
racional e de corpo,
consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a ns
segundo a
humanidade, semelhante em tudo a ns, menos no pecado [cf. Hb
4,15], gerado do Pai
antes dos sculos segundo a divindade e, nestes ltimos dias, em
prol de ns e de nossa
salvao, gerado de Maria, a virgem, a Depara, segundo a
humanidade; um s e o
mesmo Cristo, Filho, Senhor, unignito, reconhecido em duas
naturezas1, sem mistura, sem
mudana, sem diviso, sem separao, no sendo de modo algum anulada
a diferena das
naturezas por causa da sua unio, mas, pelo contrrio,
salvaguardada a propriedade de cada
uma das naturezas e concorrendo numa s pessoa e numa s hipstase;
no dividido ou
separado em duas pessoas, mas um nico e o mesmo Filho, unignito,
Deus Verbo, o Senhor
Jesus Cristo, como anteriormente nos ensinaram a respeito dele
os Profetas, e tambm o
mesmo Jesus Cristo, e como nos transmitiu o Smbolo dos Padres
(DH 301-302).
5. Constantinopla II (553) Condenao da doutrina dos Trs
Captulos. Constantinopla II tambm apresenta a Trindade (neste
conclio aparece explicitamente o termo) como nica divindade do Pai,
do Filho e do Esprito Santo, devendo ser adorada em trs hipstases
ou pessoas.
6. Constantinopla III (680-681) condenao do Monotelismo (uma
nica vontade em Jesus). Declarou que Jesus tinha duas vontades (uma
humana e outra divina),
correspondente s duas naturezas.
a.b) A F e a Poltica Conclios passam a abordar tambm questes
polticas.
7. Nicia II (787) condenou a doutrina e a prtica dos
iconoclastas e promulgou 22 medidas eclesisticas. Apresenta a
declarao da Igreja sobre as imagens sagradas.
[...] ns definimos com todo o rigor e cuidado que, semelhana da
figura da cruz preciosa e
vivificante, assim as venerandas e santas imagens, quer
pintadas, quer em mosaico ou em
qualquer outro material adequado, devem ser expostas nas santas
igrejas de Deus, sobre os
sagrados utenslios e paramentos, sobre as paredes e painis, nas
casas e nas ruas; tanto a
imagem do Senhor Deus e Salvador nosso Jesus Cristo como a da
Imaculada nossa Senhora, a
santa Depara, dos venerandos anjos e de todos os santos e justos
(DH 600).
8. Constantinopla IV (869-870) Sob o imperador Baslio, o Conclio
condenou o Patriarca Fcio e tomou 22 medidas eclesisticas. Os
Ortodoxos contestam seu valor de
Conclio Ecumnico. Durante alguns sculos, o prprio Ocidente no o
reconheceu.
b) Conclios da Idade Mdia
b.a) Os quatro Conclios de Latro acontecidos no salo de
conferncias do terreno da residncia papal em Roma. Afirmao da
autoridade universal do Papa.
Temas abordados: independncia da Igreja, procedimentos legais
internos, reformas,
heresias, outras expresses de f, cruzadas e peregrinao.
9. Latro I (1123) regulamentou, sob o Papa Calixto II, as
consequncias da luta das investiduras
16 e promulgou 17 (ou 22) medidas eclesisticas.
16
Autoridades leigas nomeavam bispos ou abades.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
7
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
10. Latro II (1139) sob o Papa Inocncio II, ps fim ao cisma de
Anacleto II17 e condenou os erros dos seguidores do pregador
ambulante Pedro de Bruys e de Arualdo de
Brscia. Condenou a simonia e a usura.
11. Latro III (1179) Reafirmou a unidade papal (problemas com os
antipapas). Consolidou o processo medieval de reserva aos cardeais
quanto eleio do Papa (iniciado
em 1059). Combateu a heresia dos ctaros ou albigenses. Promulgou
19 cnones.
12. Latro IV (1215) organizou a reforma da Igreja, comps uma
Profisso de F, condenou Joaquim de Fiore e votou 71 constituies,
incluindo um projeto de Cruzada.
b.b) Disputas de poder dificuldades em relao ao poder
secular.
13. Lio I (1245) decretou a destituio do imperador Frederico II,
planejou uma cruzada e promulgou 23 medidas jurdicas. No adotou
resolues dogmticas.
14. Lio II (1274) proclamou a unio dos gregos (problemtica do
filioque), planejou uma Cruzada e tomou 29 medidas disciplinares,
incluindo a organizao do conclave
18.
15. Viena (ou Vienne - Frana) (1311-1312) Condenou a ordem dos
Templrios, tratou da cruzada e promulgou decretos.
c) Conclios da poca da Reforma
c.a) Conclios versus Papas
Contexto: Cisma Ocidental (1378-1417) presena de dois ou trs
pretendentes ao Papado19. Conciliarismo
20.
16. Constana (1414-1418) ps fim ao Cisma do Ocidente, condenou a
doutrina de Wicleff, permitiu a execuo de Joo Hurs e organizou a
reforma conciliar da Igreja.
O Conclio deps o Papa que o convocou (Joo XXIII papa pisano),
Gregrio XII (papa romano) concordou em renunciar
21 e em 1417 Bento XIII (papa avinhense) foi deposto. Foi
ampliado (apenas naquele momento) os membros do Conclave e
eleito o cardeal Odo Colonna
que adotou o nome de Martinho V.
17. Florena (Basileia-Ferrara-Florena-Roma 1439-1445?) o papa
Eugnio IV transferiu a sede do Conclio, enquanto um grupo de bispos
continuou reunido em Basileia.
Este grupo reafirmou o Conciliarismo, deps o Papa Eugnio IV e
elegeu Flix V (considerado pela Igreja antipapa). Em Ferrara, o
Conclio condenou o grupo de Basileia. Em Florena, conseguiu a unio
com os gregos, armnios e os coptas e, em Roma, com os
srios e maronitas de Chipre.
17
Aps o falecimento do Papa Honrio II, um grupo de cardeais elegeu
Inocncio II e outro grupo elegeu
Anacleto II. O ltimo foi considerado depois antipapa. 18
Para a eleio do Papa, os cardeais permaneciam reclusos e
trancados (cum clave). Caso a eleio demorasse
mais de trs dias, a comida seria reduzida. 19
Em 1378, Urbano VI (papa romano sucedido por Gregrio XII) foi
eleito fora do conclave e teve sua eleio questionada. Outro Papa
foi eleito: Clemente VII (sucedido por Bento XIII). Ambos os papas
excomungaram-se mutuamente. Em novo Conclio, reunido em Pisa e no
aprovado posteriormente pela Igreja, foi eleito Alexandre V,
sucedido por Joo XXIII (nome posteriormente adotado pelo Papa do
Vaticano
II). Portanto havia trs papados, trs colgio de cardeias e trs
sedes (Roma, Avignon e Pisa). Os trs papas tiveram sucessor
(BELLITO, 2010, p. 114-118). 20
Cf. BELLITTO, 2010, p. 114-118. O Conciliarismo radical pregava
a autoridade do Conclio sobre o Papa. 21
Aps seus delegados haverem convocado formalmente o Conclio em
seu nome para dar legitimidade s decises.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
8
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
c.b) Conclios do Sculo XVI antes e aps a reforma de Lutero
18. Latro V (1512-1517) O Conclio aplacou as contendas
galicanas. Condenou, sob o Papa Jlio II, o conclio dos cardeais de
Pisa (tambm conciliarista). Ps fim Sano Pragmtica de Bourges
22, substituindo-a por uma concordata com a Frana. Sob o Papa
Leo
X foi condenada a doutrina sobre a imortalidade de Pomponazzi.
Props nove medidas de
reforma.
Logo aps este Conclio, tem incio a Reforma Protestante com
Martinho Lutero. Os
protestantes desejavam um Conclio de clrigos e leigos.
19. Trento (1545-1563) contexto da Reforma Protestante e guerras
religiosas e polticas ocorridas na Europa. Em Trento, apenas
bispos, superiores de ordens religiosas e
representantes dos monastrios tinham direito de voto. Havia
tambm telogos consultores.
Trento foi convocado pelo Papa Paulo III como reao Reforma
Protestante e com objetivo
de realizar a reforma da Igreja. Dividiu-se em trs perodos:
I Perodo (1545-1547) promulgao de quatro decretos dogmticos:
sobre Sagrada Escritura, pecado original, justificao e sacramentos
e dois decretos de reforma.
II Perodo (1551-1552), sob o Papa Jlio III trs decretos
dogmticos (Eucaristia, Confisso e Uno dos Enfermos) e dois decretos
de reforma.
III Perodo (1562-1563), sob o Papa Pio IV seis decretos
dogmticos (missa, comunho, sacerdcio, matrimnio, purgatrio e culto
dos santos) e sete decreto de reforma que regulamentavam, entre
outras coisas, o dever de residncia dos bispos.
Entre as muitas iniciativas, Trento deu origem aos seminrios
para formar os padres.
d) Conclios da Idade Moderna
20. Vaticano I (1869-1870) realizado trs sculos aps Trento.
Antes de Trento, Pio IX publicou o Syllabus (Slabo) dos Erros,
condenando os erros modernos: pantesmo, naturalismo, racionalismo e
outros. Dois temas centrais estavam previstos no Vaticano I: a
explicao da f catlica face aos erros
da poca e a doutrina a respeito da Igreja de Cristo. Por causa
dos acontecimentos polticos23
,
s uma parte dos temas programados pde ser tratada. O Conclio
votou duas constituies:
Dei Filius, sobre a f catlica (tratou da relao f e razo), e
Pastor Aeternus, sobre a Igreja
de Cristo. Outra constituio sobre a Igreja no pde ser terminada
por causa da interrupo
do Conclio, adiado sine die (sem prazo de reabertura). Na
Constituio Pastor Aeternus, o
Vaticano I proclamou o dogma da Infalibilidade Papal24
.
Interrompido repentinamente em 1870, o Conclio Vaticano I ficou
incompleto e no pode abordar algumas questes importantes, como a
teologia do Episcopado e as relaes entre
Primado e Episcopado.
21. Vaticano II (1962-1965) convocado por Joo XXIII e concludo
por Paulo II, desenvolveu-se durante quatro perodos e aprovou 16
documentos: 4 Constituies, 9
Decretos e 3 Declaraes25
.
22
Por incentivo do rei Carlos VII da Frana, a assemblia do clero
reunida em maio e junho de 1438 em Bourges
tinha redigido 23 artigos, inspirados no Conclio de Basilia, nos
quais se sustentava em particular o
conciliarismo, dando origem Sanso Prgamtica subscrita pelo rei.
23
Invaso e ocupao de Roma e dos Estados Pontifcios. 24
Afirmou o Primado de Pedro, sua perpetuidade nos Romanos
Pontfices, a natureza e o carter do primado do
Romano Pontfice e seu Magistrio infalvel. Para o Vaticano I, o
Primado de Pedro primado de jurisdio e
no apenas de honra. Seu objetivo consiste na salvao eterna e no
bem perene da Igreja. 25
Cf. os artigos Conhecendo um pouco dos documentos do Conclio
Vaticano II e Documentos conciliares e sua aprovao ao longo do
Conclio.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
9
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
III. O CONCLIO VATICANO II 1. Introduo
- desenvolveu-se em quatro perodos (pouco mais de dois meses
cada um): I Perodo: 11/10
a 08/12/1962. II Perodo: 29/09 a 04/12/1963. III Perodo: 14/09 a
21/11/1964. IV Perodo:
14/09 a 08/12/1965. Entre um perodo e outro havia a intersesso,
na qual as Comisses Conciliares continuavam trabalhando
26.
- Convocado pelo Papa Joo XXIII27
, por meio da Constituio Apostlica Humanae
Salutis (25/12/1961), continuado (II Perodo) e concludo por
Paulo VI.
- aprovou 16 Documentos: Constituies, Decretos e Declaraes,
originalmente escritos
em latim e traduzidos para diversas lnguas (ttulo dos
Documentos: primeiras palavras em
latim)28
.
- precedido por Movimentos de Renovao Teolgica: Movimento
Bblico, Movimento
Litrgico e outros: renovao teolgica e eclesiolgica, movimento
ecumnico, movimento
missionrio, doutrina social da Igreja, atuao do laicato,
movimento da mstica da pobreza29
.
as 4 fases do evento conciliar (mais amplo que as sesses
conciliares):
anncio aos cardeais em Roma e aos cardeais do mundo todo
No dia 25 de janeiro de 1959, Joo XXIII anuncia aos cardeais de
Roma, na Baslica
de So Paulo, seu desejo de realizar um Snodo para Roma, um
Conclio Ecumnico
e a reforma do Direito Cannico. Em nome do Papa, o cardeal
Domenico Tardini,
Secretrio de Estado do Vaticano, envia carta aos cardeais de
todo o mundo
(FERREIRA, 2012, p. 71)
fase antepreparatria - nomeao da Comisso antepreparatria
(Pentecoste de 1959 17/05). Consulta a todo Episcopado mundial,
superiores de congregaes religiosas, reitores de universidades
e
faculdades catlicas e dicastrios romanos definio dos temas a
serem tratados. Segundo Dom Demtrio Valentini (2011, p. 19), o
material resultante das consultas totalizou 10 mil
pginas, divididas em 12 volumes.
fase preparatria - Iniciada com o Motu Proprio Superno Dei
(05/06/1960) - constituio das dez Comisses
Preparatrias, do Secretariado para divulgao, Secretariado para a
unidade dos cristos e da
Comisso Central. Estas comisses deveriam destacar os assuntos
principais e elaborar os
esquemas que seriam discutidos. Foram elaborados mais de 70
esquemas.
quatro sesses (ou perodos) conciliares (1962-1965). - o incio
dos trabalhos foi marcado pela escolha das comisses conciliares
destaque para a interveno do Cardeal Lienart da Frana que provocou
adiamento das eleies
30.
- rejeio de todos os esquemas no I Perodo. Apenas o esquema da
Liturgia agradou aos
Padres Conciliares que o aprovaram no II Perodo.
26
Cf. artigo Conclio Vaticano II 50 anos de sua abertura. 27
Cf. artigo Conhecendo o Papa que iniciou o Conclio Vaticano II:
Joo XXIII. 28
Cf. artigos: Conhecendo um pouco dos Documentos do Conclio
Vaticano II e Documentos Conciliares e sua aprovao ao longo do
Conclio 29
Cf. artigo Movimentos de Renovao Teolgica que precederam o
Conclio Vaticano II. 30
Beozzo (1994, p. 76-79) enfatiza, neste nterim, o papel de Dom
Helder e seu amigo Dom Manuel Larran nos
bastidores do Conclio. Antes da interveno Linart, Larran
contatara Helder, mostrando-se preocupado com a possibilidade de
uma lista prvia, apresentada pelo Secretrio do Conclio, para a
eleio das Comisses
Conciliares. Seria necessrio conversar com alguns cardeais para
postergar a eleio, dando tempo assembleia
para sugerir nomes, o que de fato ocorreu. Ambos organizaram uma
reunio com os delegados do CELAM,
sugerindo alguns nomes para as comisses, no apenas de
latino-americanos (FERREIRA, 2012, p. 72-73).
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
10
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
2. Objetivos do Conclio:
Em abril de 1959, Joo XXIII formula o objetivo fundamental do
Conclio:
[...] fazer crescer o empenho dos cristos, dilatar os espaos da
caridade [...] com clareza de pensamento e com grandeza de corao
(ALBERIGO, 2010, p. 30).
No segundo perodo (29/09/1963), Paulo VI indica quatro
objetivos:
[...] exposio da teologia da Igreja, sua renovao interna,
empenho pela unidade dos cristos e, finalmente, o dilogo com o
mundo contemporneo (Ibid. p. 81).
Preocupao com a Igreja Ad intra e Ad extra.
3. Principais personagens
Padres conciliares assim eram indistintamente chamados os
membros do Conclio com direito a voto, sendo bispos (cardeais,
arcebispos ou bispos eram a maioria) ou no (cardeais no bispos,
superiores de congregaes religiosas, abades)
31.
Moderadores institudos por Paulo VI no II Perodo. Tinham como
misso coordenar as sesses conciliares em nome do Papa. Quatro
cardeais exerceram esta funo: Suenens,
Lercaro, Dphner e Agagianian. A amizade entre D. Helder e o
Card. Suenens rendeu bons
frutos ao Conclio.
Peritos telogos (normalmente presbteros) que assessoravam o
Conclio ou os Padres Conciliares (peritos privados). Os peritos do
Conclio podiam acompanhar os debates
conciliares, sem direito de intervir (a menos que lhes fosse
solicitado32
). Nas comisses
tinham direito a voz, mas no a voto.
Auditores e auditoras (ouvintes leigos e religiosas) nova
categoria criada por Paulo VI no II Perodo
33. 13 auditores (todos homens) estiveram presentes no II Perodo
e no perodo
seguinte compareceram algumas mulheres, dentre elas,
religiosas34
. No IV Perodo foi
convidado um casal mexicano, presidente do MFC da AL.
Observadores das Igrejas crists no catlicas (46 observadores,
representantes de suas Igrejas, e 8 hspedes). Entre eles estavam: o
prior de Taiz, Roger Schutz e o telogo Oscar Cullmann (ALBERIGO,
2000, p. 175).
4. Algumas conquistas do Conclio Vaticano II
Proporcionou nova imagem da Igreja: aberta, dialogante e
participativa. Promoveu o aggiornamento da Igreja.
Compreendeu a Igreja como Povo de Deus e valorizou as diferentes
vocaes na Igreja.
31
Em 1963, Paulo VI concedeu aos prefeitos apostlicos (mesmo que
no fossem bispos) o direito de participar
do Conclio (ALBERIGO, 2000, p. 168). 32
[...] nem sequer uma vez um perito foi convidado a falar na aula
conciliar ( ALBERIGO, 2000, p. 168). Entretanto, desempenharam
papel importantssimo assessorando o Conclio e os Padres
Conciliares. 33
Mesmo que no estivesse previsto no regulamento do Conclio
(modificado no II Perodo), Joo XXIII admitiu
no I Perodo o acadmico francs Jean Guitton. Afirma Beozzo (2005,
p. 328): Na falta de uma categoria, dentro do regulamento, pela
qual pudesse ser admitido e seu lugar na Aula Conciliar adjudicado,
fora includo
entre os observadores no-catlicos, por conta de sua atividade no
campo ecumnico. 34
Primeira vez que um Conclio admitiu a presena de mulheres (10
religiosas e 13 leigas). Os leigos presentes
foram 29 homens e 13 mulheres.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
11
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
Definiu a Sacramentalidade do Episcopado e sua Colegialidade
(pode-se consultar os artigos sobre estes temas).
Aprofundou o dilogo com o mundo e com as outras religies.
Promoveu renovao da Liturgia: uso do vernculo ao invs do latim,
concelebrao, comunho sob duas espcies, etc.
Uma vez por semana, celebrava-se na Baslica de So Pedro em rito
no latino,
expressando a riqueza das vrias expresses litrgicas da Igreja (o
Rito Latino no
nico na Igreja).
Valorizou o Primado da Palavra de Deus. O Evangelho ficava
exposto nas sesses conciliares. O Conclio promulgou uma Constituio
Dogmtica acerca da Palavra de Deus
(Dei Verbum).
Restaurou o diaconato como grau prprio da hierarquia.
Posicionou-se a favor da liberdade religiosa.
Assumiu as alegrias e esperanas, tristezas e angstias dos seres
humanos (Gaudim et Spes).
Durante o Conclio, o Papa Paulo VI instituiu o Snodo dos
Bispos.
5. Conclio Vaticano II: Continuidade ou Ruptura? (cf. artigo com
mesmo nome)
- duas leituras:
- continuidade: Vaticano II insere-se na Tradio dos 21 Conclios
Ecumnicos.
- ruptura: inaugurou nova era na Histria da Igreja apresentou um
novo rosto da Igreja. Ofereceu um vinho novo que deve ser colocado
em odres novos. - no se preocupa com condenaes ou definies
dogmticas.
- apresenta nova compreenso eclesiolgica.
- proporcionou mudana na relao com o mundo e outras
religies.
5.1. De uma eclesiologia jurdica a uma eclesiologia sacramental
(cf. artigo)
Eclesiologia jurdica:
[antes do Vaticano II] - Igreja = sociedade perfeita, visvel,
piramidal e desigual.
A Igreja a comunidade dos homens reunidos mediante a profisso da
verdadeira f, a comunho dos mesmos sacramentos, sob o governo dos
legtimos pastores, e, principalmente,
do nico vigrio de Cristo sobre a terra, o romano pontfice (...)
Para que algum possa ser
declarado membro dessa Igreja verdadeira, da qual falam as
Escrituras, no pensamos
que dele se pea nenhuma virtude interior. Basta a profisso
exterior da f e da
comunho dos sacramentos, coisa que o prprio sentido pode
constatar (...) A Igreja uma
comunidade (coetus) dos homens to visveis e palpveis quanto a
comunidade do povo
romano ou o reino de Frana ou a repblica de Veneza (S. Roberto
Bellarmino sc. XVI).
A Igreja por essncia uma sociedade desigual, isto , uma
sociedade que engloba duas categorias de pessoas: os pastores e o
rebanho, os que ocupam uma posio nos diferentes
graus da hierarquia e a multido dos fiis. Essas categorias so de
tal modo diferentes entre si,
que s no corpo dos pastores reside o direito e a autoridade
necessria para promover e dirigir
todos os membros para o fim da sociedade; quanto multido, esta s
tem o dever de se
deixar guiar e, como rebanho dcil, seguir os seus pastores (S.
Pio X - Encclica Vehementer
nos 11 fev. 1906).
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
12
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
5.2. Inverses eclesiolgicas do Vaticano II (Cf. LIBANIO, 2005,
p. 107-146)
Da Igreja-sociedade perfeita Igreja-mistrio. Vaticano II rompeu
com a tradio
apologtica, jurdica e abstrata da Igreja.
De uma viso essencialista a uma viso histrico-salvfica da
Igreja. Superao da dureza
do axioma Extra Ecclesiam nulla salus (Fora da Igreja no h
salvao) Igreja como sinal
(sacramento) de salvao.
- lembrar a ideia de Joo XIII: a Igreja no um museu a ser
preservado (uma fortaleza ou
antiguidade), mas um jardim a ser cultivado.
Da Igreja-hierarquia Igreja-povo de Deus inverso da ordem dos
captulos (povo de
Deus antes da constituio hierrquica) da Lumen Gentium. Igualdade
fundamental de todo o
Povo de Deus. Rompimento com a sociedade desigual de Gregrio XVI
(1831-1846).
Da centralidade da Igreja para a do Reino de Deus.
Da identificao da Igreja universal com Roma valorizao das
Igrejas locais Bispos
so vigrios de Cristo e no do Papa, as Igrejas locais so
verdadeiras Igrejas e no parte da
Igreja universal, Colegialidade completando o Primado, valorizao
das Conferncias
Episcopais.
Da conscincia ocidental europeia e romana da Igreja para uma
conscincia de sua
universalidade para Libanio, O Conclio quebrou o
eurocentrismo.
De uma Igreja em conflito com o mundo para uma Igreja em dilogo
com ele houve uma
reconciliao com o mundo moderno
As alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias dos
homens de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, so tambm as
alegrias e as
esperanas, as tristezas e as angstias dos discpulos de Cristo
(GS 1)
De uma Igreja auto-suficiente, senhora, para uma Igreja
servidora e solidria
De uma Igreja perdida no mundo da poltica ou unicamente voltada
para a vida eterna
para uma Igreja militante e peregrina em busca da plenitude
final a Igreja peregrina e
encarnada na Histria. Realiza a dialtica do j e ainda no.
De uma Igreja com redutos de vida religiosa perfeita para toda
ela chamada santidade
Vocao universal Santidade (LG V).
Da conscincia de uma mariologia isolada compreenso de Maria no
corao da Igreja
o esquema da Virgem Maria foi inserido no esquema sobre a
Igreja. Compreende-se Maria
na sua relao com o Mistrio de Cristo, Luz dos povos.
5.3 Que significa um Conclio Pastoral? (cf. artigo Vaticano II:
um Conclio
Pastoral).
- a preocupao maior era pastoral e no definir dogmas ou realizar
condenaes.
- no se contrape pastoral teologia.
- o Conclio tratou questes teolgicas importantes, mesmo que no
tenha definido dogmas.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
13
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
Afirmou o Cardeal Alosio Lorsheider:
O Conclio Ecumnico foi um Conclio pastoral-eclesiolgico. Duas
palavras-chave para entend-lo bem: aggiornamento (atualizao,
renovao, rejuvenescimento, diaconia, servio)
e dilogo (comunho, corresponsabilidade, participao). No veio
para definir ou condenar,
mas para servir e salvar.
Para Joo Paulo II, o Conclio foi [...] a grande graa que
beneficiou a Igreja no sculo XX: nele se encontra uma bssola segura
para nos orientar no caminho do sculo que comea.
6. Participao dos Bispos Brasileiros no Conclio35
- Trento: nenhuma participao brasileira. O bispado da Bahia o
primeiro do Brasil foi criado depois do incio do Conclio e seu
bispo no tomou parte nele.
- Vaticano I: sete dos onze bispos da poca participaram do
Conclio.
- Vaticano II: a maioria do nosso Episcopado o terceiro maior do
mundo na poca36. Houve participao mdia de 80%.
- No houve contribuio relevante na fase antepreparatria do
Vaticano II.
- Comisso Preparatria, majoritariamente europeia, romana e
curial (membros da Cria
romana) contou com a participao de dez brasileiros.
- Durante o Conclio articulao do Episcopado brasileiro liderada
por Dom Helder Cmara.
- organizao de Redes de Relaes durante o Conclio
- principais redes: CNBB (e outras Conferncias Episcopais),
CELAM (Conselho
Episcopal Latino Americano), Ecumnico, Igreja dos Pobres, Coetus
Internationalis Patrum (maior expresso da minoria conciliar
conservadora).
- os bispos ainda tinham contato com suas famlias religiosas (no
caso de bispos
religiosos), com os movimentos leigos, alm de estabelecer outras
redes de
relaes.
- Conferncia da Domus Mariae (residncia dos bispos brasileiros
durante o Conclio).
- Apoio do grupo de assessores: Opus Angeli.
35
Cf. os quatro artigos e os artigos sobre Dom Helder. 36
Durante a consulta aos bispos realizada em 1959, o Brasil
contava com 175 bispos, nmero aumentado para
231 ao trmino do Conclio (Beozzo, 2005, p. 58.160).
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
14
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
IV. ANEXOS
1. Artigos do Pe. Ademilson publicados no site de Marlia
Obs.: Alguns artigos ainda so inditos e recebero publicao futura
(aps junho de 2012).
CONCLIO VATICANO II 50 ANOS DE SUA ABERTURA
No dia 11 de outubro de 1962 teve incio a abertura do 21 Conclio
Ecumnico, o
mais participativo de toda a histria da Igreja, reunindo mais de
2.600 bispos de todo mundo,
dentre eles mais de 200 brasileiros. O Conclio Vaticano II
transcorreu durante os anos de
1962 a 1965, dividindo-se em quatro perodos. Neste ano,
portanto, celebramos o
cinquentenrio de sua abertura e para melhor conhecer este
importante evento eclesial,
ocuparemos esta coluna com artigos referentes ao Conclio.
A ideia do Conclio nasceu nos primeiros meses do pontificado do
Papa Joo XXIII e
em 25 de janeiro de 1959, o papa anunciou aos cardeais de Roma
seu desejo de realizar um
Conclio. Em nome do Papa, o cardeal Domenico Tardini, Secretrio
de Estado do Vaticano,
enviou carta aos cardeais de todo o mundo, comunicando a inteno
do pontfice.
Na festa de Pentecostes, no dia 17 de maio de 1959, o Papa
nomeou a Comisso
antepreparatria e, desta vez, o cardeal Tardini enviou carta a
todo o episcopado mundial,
comunicando a realizao do prximo Conclio e solicitando conselhos
e desejos do que os
bispos gostariam que fosse tratado. Os bispos teriam toda a
liberdade para propor temas a
serem discutidos.
No dia 05 de junho de 1960 teve incio a fase preparatria do
Conclio, com a
constituio das dez Comisses Preparatrias. Tambm foram criados: o
Secretariado para a
divulgao, o Secretariado para a unidade dos cristos e a Comisso
Central do Conclio.
Finalmente, em 11 de outubro de 1962 teve incio na baslica de So
Pedro, no
Vaticano, a solene abertura do Conclio Vaticano II. Em mdia,
cada um dos quatro perodos
conciliares durou pouco mais de dois meses (I Perodo: 11/10 a
08/12/1962. II Perodo: 29/09
a 04/12/1963. III Perodo: 14/09 a 21/11/1964. IV Perodo: 14/09 a
08/12/1965). Nos perodos
intermedirios os bispos puderam voltar para suas dioceses,
enquanto as comisses
continuariam seus trabalhos.
........Durante os quatro perodos conciliares (1962-1965) foram
aprovados 16 documentos,
entre Constituies, Decretos e Declaraes. Configurou-se uma nova
imagem da Igreja:
aberta, dialogante e participativa. Ao invs de condenaes, o
Conclio utilizou o remdio da misericrdia. A Igreja entrou em dilogo
com o mundo e com as outras religies. Valorizou o Povo de Deus, a
colegialidade dos bispos, a misso dos presbteros e religiosos.
Resgatou o
diaconato como grau prprio da Hierarquia. Posicionou-se a favor
da liberdade religiosa.
Assumiu as alegrias e as esperanas, as tristezas e as angstias
dos seres humanos como suas.
Aproximou a liturgia da vida do povo. Promoveu inmeras outras
iniciativas em favor do
dilogo e da comunho.
........Alegremo-nos com toda a Igreja por esta ddiva de Deus
que foi o Conclio Vaticano II e
procuremos conhecer um pouco melhor a riqueza deste Conclio que
transformou, de uma vez
por todas, a vida de nossa Igreja.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
15
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
CONHECENDO O PAPA QUE INICIOU O CONCLIO VATICANO II: JOO
XXIII
Angelo Giuseppe (Angelo Jos) Roncali nasceu no dia 25 de
novembro de 1881, em uma
humilde e numerosa famlia de Sotto Il Monte, provncia de Brgamo
Itlia. Duas caractersticas marcavam sua famlia: a limitao de
recursos materiais e a prtica religiosa. Angelo procurou
sempre manter relacionamento com sua famlia e nunca esqueceu
suas razes. O futuro Papa iniciou sua preparao para o Ministrio
Presbiteral aos 11 anos de idade
em outubro de 1892. Durante o perodo das frias, ao visitar sua
famlia, solicitava nunca ser
tratado de maneira diferente ou especial. Tambm lembrava que as
frias seriam oportunidade de
estudar e rezar.
Enviado a Roma, em 1901, para continuar seus estudos teolgicos,
Roncali foi ordenado
padre em 1904. Antes, porm, teve que interromper os estudos para
se dedicar ao servio militar.
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o Pe. Angelo atuou
como capelo militar.
No ano de 1921, Angelo Roncali assumiu a presidncia da Comisso
italiana da
Propagao da F e, assim, pde visitar as dioceses italianas. Em
1925 foi nomeado Bispo e
enviado para a Bulgria, como visitador e depois delegado
apostlico, o que lhe permitiu uma
proximidade com os Ortodoxos. No final de 1934, Roncali foi
transferido para a Delegao
Apostlica de Constantinopla (Istambul Turquia) onde teve contato
com o mundo islmico. Desenvolveu funes diplomticas e foi Bispo dos
catlicos de rito latino. No ano de 1944, aos 63
anos de idade, foi transferido para Paris onde desenvolveu a
funo de nncio apostlico.
Em novembro de 1952, j ultrapassado os 70 anos, Roncali recebe
do Papa Pio XII o
convite para substituir o patriarca de Veneza e torna-se
cardeal. Roncali anota em seu dirio que
aos 72 anos de idade assumiria um ministrio diretamente voltado
para a pastoral, aps longos
anos de servio diplomtico. Reconhecia que j estava s portas da
eternidade. Veneza seria sua ltima misso. Entretanto, depois de um
longo pontificado (1939-1958), faleceu o Papa Pio XII. Aps um
pontfice de grande influncia na Igreja, o Conclave (reunio dos
cardeais que elegem o
Papa) estava inclinado a escolher um Papa de transio.
Durante o conclave, o cardeal Roncali havia percebido que
poderia ser o eleito. Ele
desejava que este clice passasse, mas, como sempre, faria a
vontade de Deus em sua vida.
Quando consultado pelos colegas cardeais, aps um longo perodo de
silncio, Roncali afirmou:
aceito a eleio e me chamarei Joo. Explicou que se tratava do
nome de seu pai e do padroeiro da Igreja onde foi batizado.
Colocava seu pontificado sob a proteo de so Joo Batista e de so
Joo Apstolo. Desejava ser uma voz que grita no deserto,
preparando os caminhos do Senhor, ao
mesmo tempo em que desejava reclinar sua cabea no peito do
Senhor e tomar a me de Cristo
como sua me.
E assim se fez. Joo XXIII, contra todas as expectativas,
convocou o maior Conclio da
Histria da Igreja e, expressando sua inteno de ser
verdadeiramente Bispo de Roma, tambm
convocou um Snodo para aquela Igreja. Desejava ainda a reforma
do Direito Cannico realizada
posteriormente por Joo Paulo II.
Duas preciosas imagens acompanharam a vida do Papa Roncali: a
Igreja como famlia e
como um jardim florescente. Por ocasio da morte de Pio XII,
antes de sua escolha para o papado,
ele dizia: Ns estamos aqui na terra no para vigiar um museu, mas
para cultivar um jardim florescente de vida reservado a um futuro
glorioso.
No foi fcil para Joo XXIII convocar e conduzir o Vaticano II.
Muitas resistncias
surgiram, inclusive por parte da Cria Romana. Entretanto, como
bom diplomata, o bondoso Papa soube conduzir com maestria os
trabalhos at sua morte ocorrida antes do incio do segundo
perodo conciliar, no dia 03 de junho de 1963. Alm da grande obra
do Conclio, Joo XXIII foi
responsvel por duas importantes encclicas sociais: Pacem in
Terris e Mater et Magistra. No ano
de 2000 foi beatificado por Joo Paulo II.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
16
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
CONHECENDO UM POUCO DOS DOCUMENTOS
DO CONCLIO VATICANO II
Ao iniciar o Vaticano, II foram preparados 70 (ou 72) esquemas
conciliares (mais de duas mil pginas) para debater os temas do
Conclio. Os esquemas reproduziam a mentalidade da Cria
romana e, em sua maioria, estavam ainda ligados a uma imagem da
Igreja no mais
correspondente ao tempo presente. Todo o material foi condensado
em 17 esquemas e depois em
16 documentos conciliares, sendo que o esquema sobre a Virgem
Maria tornou-se o captulo VIII
da Lumen Gentium.
No primeiro perodo, os Padres Conciliares (membros do Conclio)
rejeitaram todos os
esquemas, sugerindo mudanas, adaptaes ou elaborao de novo
esquema. Apenas o esquema
sobre a liturgia contava com o apoio dos Padres. Mesmo assim,
este esquema foi aprovado apenas
no segundo perodo conciliar. A maioria dos esquemas necessitou
de vrias redaes.
Olhando as estatsticas do Conclio, verificamos que os documentos
conciliares foram
aprovados pela quase unanimidade dos membros do Conclio, alguns
chegando a contar com
apenas 2, 3 ou 4 votos contrrios (havia mais de 2.000 bispos
votando os documentos). Um dado
interessante consiste no fato de que documentos que exigiam
posio de maior dilogo em relao
ao mundo e s religies sofreram maior rejeio, porm sempre
representando posio
minoritria. Houve at mesmo um grupo minoritrio que fez campanha
contra o esquema (que
deu origem Constituio Gaudium et Spes) sobre a Igreja no mundo,
recomendando sua
completa rejeio. Apesar de seu esforo, dos 2.391 votantes,
apenas 75 votaram contra e 7 votos
foram nulos, ou seja, aproximadamente 3% dos bispos no aceitaram
o texto. Gaudium et Spes e
outros trs documentos conciliares foram aprovados apenas na
ltima sesso pblica do Conclio.
Houve portanto, aprovao de dois documentos no segundo perodo,
trs no terceiro e onze no
quarto perodo conciliar.
Os documentos recebem nome em latim. Acontecia o mesmo com os
esquemas. Por
exemplo, antes de se tornar Lumen Gentium, o esquema conciliar
intitulava-se De Ecclesia
(sobre a Igreja). A redao oficial dos textos em latim e eles
recebem o nome das primeiras palavras. Assim, por exemplo, o
esquema De Ecclesia, quando chegou sua verso definitiva
recebeu o nome de Consituio Dogmtica Lumen Gentium. O texto
latino inicia-se assim:
LUMEN GENTIUM cum sit Christus.... (A luz dos Povos Cristo...).
A Constituio sobre a liturgia comea afirmando: SACROSANCTUM
CONCILIUM, cum sibi propanat vitam christianam inter fideles in
dies augere... (O Sacrossanto Conclio, que se prope fomentar sempre
mais a vida crist entre os fiis...). J em relao Gaudium et Spes, o
incio do texto latino afirma: GAUDIUM ET SPES, luctus et angor
hominum huius temporis... (As alegrias e as esperanas, as tristezas
e as angstias dos homens de hoje... so tambm as alegrias e as
esperanas, as tristezas e as angstias dos discpulos de Cristo).
Ao citar cada documento, fazemo-lo atravs da sua sigla (Gaudium et
Spes GS, Lumen Gentium LG e assim por diante) e um nmero que
representa um ou vrios pargrafos. Podemos tambm dividir este nmero
em a,
b e c e acrescentar o captulo do texto conciliar. Por ex: LG
III, 23d (corresponde ao quarto
pargrafo do nmero 23 do terceiro captulo da Constituio Dogmtica
Lumen Gentium como no caso da Bblia no se cita a pgina, pois ela
pode variar em cada edio).
De acordo com sua importncia ou peso doutrinal, os documentos
dividem-se em:
Constituies (4), Decretos (9) e Declaraes (3). Lumen Gentium
(LG) e Dei Verbum (DV) so
chamadas Constituies Dogmticas. Gaudium et Spes uma Constituio
Pastoral e a Constituio sobre a liturgia chamada de Constituio
Sacrosanctum Concilium. Os Decretos tm normalmente um papel de
orientao, como no caso do Decreto Christus Dominus que
orienta o mnus pastoral dos Bispos na Igreja ou o Decreto
Presbiterorum Ordinis acerca do
ministrio e da vida dos Presbteros. Outros textos receberam o
nome de Declarao como no caso da Declarao Dignitatis Humanae sobre
a Liberdade Religiosa.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
17
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
DOCUMENTOS CONCILIARES E SUA APROVAO AO LONGO DO CONCLIO
Conforme apresentamos em artigos anteriores, o Concilio Vaticano
II desenvolveu-se em
quatro perodos ao longo de quatro anos (1962-1965).
Apresentamos, a seguir, a sequncia de
aprovao de cada documento conciliar. Placet significa concordo,
aprovo e representa o nmero de aprovaes. Non Placet representa a
reprovao. Em caso de textos anda no
definitivos, encontra-se tambm placet iuxta modum aprovo com
(desde que haja) modificaes. Ao lado do nome latino de cada
documento conciliar, esclarecemos brevemente seu
contedo. Os documentos do Conclio foram promulgados pelo Papa
Paulo VI, que se apresenta
como Paulo Bispo, Servo dos Servos de Deus, e so assinados pelos
Padres Conciliares (como so chamados os bispos que participam de um
Conclio, independente de serem Bispos
diocesanos, Auxiliares, Arcebispos ou Cardeais).
I Perodo (1962) nenhum documento aprovado
II Perodo (1963)
Constituio Sacrosanctum Concilium sobre a reforma da Liturgia:
2.147placet/ 4 non placet
Decreto Inter Mirifica sobre os Meios de Comunicao Social: 1.960
placet/ 161 non placet
III Perodo (1964)
Constituio Dogmtica Lumen Gentium sobre a Igreja: 2.151 placet/
5 non placet Decreto Unitatis Redintegratio sobre o Ecumenismo
(reintegrao da unidade): 2.137 placet/ 11 non placet
Decreto Orientalium Ecclesiarum acerca das Igrejas Orientais
Catlicas (ligadas a Roma): 2.110 placet/ 39 non placet
IV Perodo (1965)
Constituio Dogmtica Dei Verbum sobre a Revalao Divina: 2.344
placet/ 6 non placet Decreto Christus Dominus acerca do Mnus
(ministrio) Pastoral dos Bispos na Igreja: 2.319 placet/ 2 non
placet/ 1 voto nulo
Decreto Perfectae Caritatis sobre a atualizao dos religiosos:
2.321 placet/ 4 non placet Decreto Optatam Totius trata da formao
sacerdotal: 2.318 placet/ 3 non placet Decreto Apostolicam
Actuositatem referente ao Apostolado dos Leigos: 2.340 placet/ 2
non placet
Declarao Gravissimum Educationis sobre a educao crist 2.290
placet/ 35 non placet Declarao Nostra Aetate trata da relao da
Igreja com as Igrejas no-Crists: 2.221 placet/ 88 non placet/ 3
votos nulos
Promulgados na ltima sesso pblica:
Constituio Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de
hoje: 2.309 placet/ 75 non placet/ 7 votos nulos
Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionria da Igreja: 2.394
placet/ 5 non placet Decreto Presbiterorum Ordinis acerca do
Ministrio e da Vida dos Presbteros: 2.390 placet/ 4 non placet
Declarao Dignitatis Humane sobre a Liberdade Religiosa: 2.308
placet/ 70 non placet/ 8 votos nulos
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
18
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
MOVIMENTOS DE RENOVAO TEOLGICA QUE PRECEDERAM O
CONCLIO VATICANO II
A renovao provocada pelo Conclio Vaticano II foi precedida por
movimentos
europeus de renovao teolgico-pastoral que tambm atingiram nosso
pas. Dentre eles,
destacam-se os movimentos bblico e litrgico. Acrescentam-se:
renovao teolgica e
eclesiolgica, movimento ecumnico, movimento missionrio, doutrina
social da Igreja,
atuao do laicato, movimento da mstica da pobreza, entre
outros.
O interesse catlico pelos estudos bblicos ganhou impulso com a
fundao da Escola
Bblica de Jerusalm em 1890. A partir de ento, iniciou-se longo
processo de srios estudos
bblicos, apoiados ou no pelo magistrio da Igreja. Em 1943, o
Papa Pio XII escreveu a
encclica Divinu Afflante Spiritu, abrindo espao para uma maior
utilizao dos mtodos
histrico-crticos e demais investigaes teolgicas. Alm de tradues
de textos bblicos,
foram divulgados nesta poca muitos escritos representativos do
movimento bblico. Os
estudos bblicos ganharam maior relevncia no mundo catlico. No
Brasil, o movimento
bblico recebeu impulso com a fundao da Liga de Estudos Bblicos
(LEB) em 1947, durante
a primeira Semana Bblica Nacional em So Paulo. Nascia a leitura
popular da Bblia, com os
Crculos Bblicos.
O movimento litrgico tem sua origem em 1909, por ocasio do
Congresso de Malines
na Blgica, tendo como principal nome D. Lambert Beauduin.
Entretanto, suas ideias
encontram precursores no sculo anterior, sobretudo em D.
Guranger, primeiro abade de
Solesmes (Frana). Aps a II Guerra Mundial, o movimento se
expandiu, tornando-se mais
popular e passando a ser divulgado pela Ao Catlica. Entre as
ideias do movimento
litrgico estava a substituio do latim pela lngua verncula. A
partir da encclica Mediator
Dei de Pio XII (1948), o movimento sentiu-se incentivado a
continuar seu trabalho e, a partir
de 1951, os episcopados de vrios pases apresentaram projetos de
reforma litrgica para
Roma. A aprovao da Sacrossanctum Concilium como primeiro
documento do Conclio
Vaticano II corroborou as ideias do movimento litrgico. Este
movimento chegou ao Brasil
em 1933, por meio dos cursos de liturgia ministrados por Dom
Martinho Michler (OSB) no
Instituto Catlico de Estudos Superiores. Foi difundido pela Ao
Catlica e encontrou
obstculos por parte de setores conservadores da Igreja.
Juntamente com estes dois movimentos, crescia o interesse pelo
ecumenismo, pela
misso e pelas questes sociais. Ampliava-se a reflexo acerca do
papel dos leigos, cuja
importncia era sentida em movimentos como a Ao Catlica. A
temtica e a vivncia da
pobreza por parte da Igreja tambm se encontrava na preocupao de
alguns telogos, bispos,
presbteros, religiosos e leigos. Houve um grupo de bispos que
durante o Conclio manifestou
um compromisso com os pobres atravs do Pacto das Catacumbas.
Enfim, mesmo antes do
Vaticano II, apesar de todas as resistncias, havia desejo de
renovao da vida eclesial.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
19
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
SACRAMENTALIDADE DO EPISCOPADO NO CONCLIO VATICANO II
Entre as conquistas teolgicas do Conclio Vaticano II est a
reflexo sobre a teologia
do Episcopado e a definio de sua sacramentalidade, colocada em
dvida pela Escolstica. A Idade Mdia reduzia o sacramento ao aspecto
cltico e negou reconhecer no ministrio
episcopal um grau prprio da Ordem, pois o sacerdcio possua o
pleno poder da
transubstanciao. No havia, neste sentido, diferena entre
Presbtero e Bispo.
A teologia do segundo milnio privilegiou uma concepo
individualista do ministrio
ordenado, reduzindo-o ao poder de consagrar. O Episcopado era
considerado no um sacramento, mas uma dignidade na qual no havia
nenhum acrscimo no poder de ordem, mas
no de jurisdio. Deste modo, compreendia o Episcopado em funo do
Presbiterado.
O Vaticano II supera a dicotomia entre poder de ordem e de
jurisdio. Reconhece o
Episcopado no como complemento do Presbiterado, mas como
plenitude do sacramento da Ordem. Agora, o Presbiterado
compreendido em funo do Episcopado. Juntamente com
o mnus de santificar, a legtima ordenao episcopal comunica o de
ensinar e reger.
Comunicados diretamente por meio da ordenao, seu exerccio
regula-se por leis cannicas.
Para o Conclio, os bispos so vigrios e legados de Cristo (LG
III, 27a) e no do Papa. So revestidos de autoridade prpria,
ordinria e imediata, exercida pessoalmente
em nome de Cristo. Seu poder no consiste em participao do poder
concedido por Deus a
Pedro e aos seus sucessores, mas, sim, do poder que foi dado
diretamente por Cristo ao
conjunto do Colgio Apostlico, e que se transmitiu ao Colgio dos
bispos. A autoridade dos
bispos no deriva do Papa, mas do prprio Cristo.
O Conclio considera o Papa como cabea do Colgio Episcopal. Assim
como os
bispos no so seus vigrios, ele tambm no o do Colgio Episcopal.
Por isso, o Romano
Pontfice tem poder pleno, supremo e universal na Igreja. Tambm a
Ordem dos Bispos, junto
com o Papa, detm o poder supremo e pleno sobre a Igreja inteira.
A autoridade suprema na
Igreja pode ser exercida de maneira primacial pelo Romano
Pontfice ou colegial, pelo
Colgio dos Bispos unidos ao Papa. Mesmo exercendo o Primado, o
Papa no est fora do
Colgio Episcopal e no pode ser separado ou isolado do Colgio. O
exerccio do primado
no se dirige por normas subjetivas ou arbitrrias, mas est
vinculado a normas objetivas,
como o bem da Igreja, a Palavra de Deus, a Tradio eclesistica e
dos Conclios Ecumnicos
e o ofcio episcopal.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
20
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
A COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
O Conclio Vaticano I (dez. 1869 - dez. 1870) definiu o Primado
do Romano Pontfice
(Papa). Para aquele Conclio, o primado de Pedro continua nos
seus sucessores. Juntamente
com o Primado, o Vaticano I definiu o Magistrio infalvel do
Romano Pontfice, quando fala
ex cathedra, ou seja, no pleno exerccio de seu mnus de pastor e
doutor dos cristos.
Interrompido repentinamente por causa da guerra franco-alem e da
ocupao de
Roma em 1870, o Vaticano I no pode debruar-se sobre a doutrina
do Episcopado, deixando
uma enorme lacuna que poderia levar a favorecer ainda mais o
centralismo romano.
Entretanto, encontramos uma modesta abertura na Constituio
Pastor eaeternus acerca do poder dos bispos, na qual a Constituio
afirma que o poder do papa verdadeiramente episcopal e que no pode
por obstculos ou prejudicar o poder dos bispos, mas o confirma.
Sem assumir o compromisso de ser simples continuidade do
Vaticano I, o Conclio Vaticano II ocupou-se da teologia do
episcopado, definindo sua sacramentalidade e
colegialidade.
A palavra Colegialidade no figura nos textos conciliares, mas
compreende-se seu sentido a partir das noes de colgio, afeto
colegial, unio colegial, solicitude por todas as
Igrejas etc.
O Conclio nos ensina que o Romano Pontfice, sucessor de Pedro, e
os bispos,
sucessores dos apstolos, unem-se entre si semelhana de Pedro e
dos demais apstolos que
formam um s colgio apostlico (LG III, 22a). Portanto, o Colgio
Episcopal sucede ao
Colgio Apostlico (LG III, 22b). Enquanto o Papa sucede a Pedro,
os bispos no sucedem a
um Apstolo em particular, mas so sucessores do Colgio
Apostlico.
A compreenso da Colegialidade Apostlica deduz-se diretamente das
Escrituras, do
carter colegial e comunitrio do ministrio apostlico como
ministrio dos Doze. Quanto ao
paralelismo entre Pedro os outros Apstolos e Romano Pontfice os
Bispos, sucessores dos Apstolos, Lumen Gentium no apela ao
testemunho das Escrituras, mas a uma
disciplina muito antiga da Igreja. Desta forma, a Colegialidade
Apostlica constitui o modelo para a Colegialidade Episcopal e as
bases escritursticas daquela fornecem as bases
desta. A misso universal de Cristo se perpetua de modo perene
nos bispos, sucessores dos
Apstolos. O Episcopado como colgio iuris divini (de direito
divino) apresenta-se como
fundamento dogmtico da Colegialidade dos bispos.
Distingue-se entre: a) ao estritamente colegial, vivida por todo
o Colgio Episcopal, de forma solene no Conclio Ecumnico ou fora
dele. O exerccio do supremo
poder fora do Conclio, exercido pelos bispos espalhados pelo
mundo, acontece de duas
maneiras: quando o Papa convoca os bispos para uma ao colegial
ou quando aprova ou
aceita livremente sua ao conjunta; b) realizaes parciais da
Colegialidade, fruto da ao de parte do Colgio Episcopal, como as
Conferncias Episcopais, o Snodo dos Bispos, entre
outras instituies. Ambas as manifestaes de Colegialidade derivam
do mesmo princpio
teolgico.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
21
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
REALIZAES PARCIAIS DA COLEGIALIDADE NO CONCLIO VATICANO II
A partir da teologia do Conclio Vaticano II, podemos distinguir
entre a ao estritamente colegial, exercida pelo Colgio dos Bispos
em comunho com o Papa (de forma solene no Conclio Ecumnico) e
realizaes parciais da Colegialidade, vivida por parte do Colgio
Episcopal.
Consideram-se as realizaes parciais como expresso autntica e
verdadeira da
Colegialidade, no se confundindo o que o Conclio chama de afeto
colegial com mero sentimento. Trata-se de Colegialidade autntica e
no de segunda categoria.
Entre os instrumentos da Colegialidade encontram-se os Conclios
Particulares e as
Conferncias Episcopais, compreendidos na sua realidade teolgica
e no como organismos
meramente prtico-pastorais. Acrescenta-se ainda, o Snodo dos
Bispos, institudo durante o
Conclio. Ambas as formas de Colegialidade tm a mesma base
ontolgico-sacramental e a mesma fundamentao teolgica, ou seja, a
raiz de toda Colegialidade est na legtima
ordenao episcopal.
Juntamente com os Conclios, Snodos Particulares, Snodos dos
Bispos e
Conferncias Episcopais, outros organismos, como o colgio dos
cardeais, a cria romana e
visitas ad Limina, favorecem a Colegialidade Episcopal.
SNODO DOS BISPOS
Fruto amadurecido no clima do Conclio, durante os debates em
torno da
Colegialidade, o Snodo dos Bispos foi institudo pelo motu
proprio de Paulo VI Apostolica
sollicitudo (15/12/1965). A ideia de sua criao surgiu durante as
discusses do Decreto
Christus Dominus e do terceiro captulo da Constituio Dogmtica
Lumen Gentium.
Configura-se como instituio permanente submetida autoridade
papal, com
finalidade de prestar ajuda eficaz ao Supremo Pastor da Igreja.
Sua tarefa consiste
basicamente em informar e aconselhar o Papa. Pode gozar de poder
deliberativo quando
concedido pelo Romano Pontfice. As assembleias sinodais
dividem-se em: geral,
extraordinria e especial.
At o presente, foram realizadas 24 Assembleias Sinodais (est
previsto um Snodo
para 2012), assim distribudas:
a) No pontificado de Paulo VI: 5 Assembleias sinodais 4
Assembleias Gerais Ordinrias (1967, 1971, 1974, 1977) e 1
Assembleia Geral Extraordinria em 1969.
b) Joo Paulo II: 15 Assembleias sinodais 6 Assembleias Gerais
Ordinrias (1980, 1983, 1987, 1990, 1994, 2001); 1 Assembleia Geral
Extraordinria (1985) e 8
Assembleias Especiais (1980, 1991, 1994, 1995, 1997, 1998
(duas), 1999).
c) Bento XVI: 4 Assembleias Sinodais 2 Assembleias Gerais
Ordinrias (2005 e 2008) e 2 Assembleias Especiais (2009 e 2010)
[Est previsto o Snodo sobre a Nova Evangelizao
em outubro deste ano].
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
22
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
CONCLIO VATICANO II: CONTINUIDADE OU RUPTURA?
Duas leituras podem ser feitas acerca do Conclio Vaticano II,
iniciado h quase 50
anos atrs, em 11 de outubro de 1962: continuidade ou
ruptura.
Os partidrios da continuidade dizem: O Conclio Vaticano II
insere-se na grande
Tradio da Igreja, na histria dos 21 Conclios Ecumnicos. Outros
argumentam que tal
Conclio seria continuao do Vaticano I, interrompido por causa da
guerra franco-alem e da
ocupao de Roma em 1870.
Os partidrios da ruptura defendem que o Conclio Vaticano II
inaugurou nova era na
histria da Igreja, rompeu com concepes tridentinas (ainda do
Conclio de Trento sc.
XVI) e lanou a Igreja em novo momento histrico nunca antes visto
na histria.
Com as devidas ressalvas, as duas leituras podem ser abordadas.
De fato, o Conclio
Vaticano II no est isolado na histria, no um evento que caiu dos
cus (embora seja
uma bno de Deus), no comeou do zero. Insere-se na histria dos 21
Conclios
Ecumnicos, porm apresenta novidades importantes para a
Igreja.
Embora alguns papas pretendessem retomar o inacabado Conclio
Vaticano I, Joo
XXIII deu um passo alm, convocando o Vaticano II. No se tratava
de continuar o
Conclio anterior, mas estava sendo convocado um novo Conclio,
inclusive com novo nome.
Algumas questes no abordadas pelo Conclio anterior, como a
teologia do Episcopado,
deveriam ser abordadas pelo novo Conclio, mas outros assuntos,
impensveis no passado,
estavam em pauta.
As ideias divulgadas pelo novo Conclio no brotaram do nada, so
fruto de uma
evoluo, de uma longa caminhada e caracterizam ruptura com
algumas concepes no
mais adaptadas ao tempo presente. Foi preciso ousadia, coragem
e, sobretudo, muita abertura
ao Esprito para repensar a vida da Igreja, sua natureza e misso.
Passos importantes foram
dados: o Povo de Deus considerado antes da Hierarquia; a
doutrina da Colegialidade dos
bispos completando a doutrina do Primado do Romano Pontfice; a
Igreja no limitada
Hierarquia, mas compreendida como Povo de Deus; a liturgia como
ao de todo o povo; o
respeito s outras religies e liberdade religiosa; o
reconhecimento da autonomia das
realidades terrestres, entre outros.
Compreende-se a Igreja no mais como Sociedade Perfeita, na qual
se valorizam
seus aspectos institucionais e sua hierarquia somente, mas como
comunho, mistrio e Povo
de Deus. Acontece verdadeira revoluo copernicana. Ou seja, assim
como o mundo
compreendeu que a Terra no o centro do universo e o universo no
gira ao seu redor, a
Igreja, sem deixar de ser Me e Mestra, apresenta-se como pobre
servidora da humanidade,
convidando-nos a renunciar s pompas e aos ttulos, sendo sinal do
Reino de Deus. O
Vaticano II apresenta a mesma Igreja de todos os tempos, mas com
novo rosto e novas
perspectivas. Oferece um vinho novo que no pode ser guardado em
odres velhos.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
23
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
VATICANO II DE UMA ECLESIOLOGIA JURDICA A UMA ECLESIOLOGIA
SACRAMENTAL
A viso de Igreja anterior ao Conclio Vaticano II consistia
basicamente em uma
eclesiologia jurdica, ou seja, concentrava maior preocupao com
os aspectos exteriores e
jurdicos da Igreja. Esta era compreendida como sociedade
perfeita e ao mesmo tempo uma
sociedade desigual [viso piramidal de Igreja]. Salientava-se o
papel da hierarquia e dos
ministros ordenados, compreendidos como superiores aos leigos.
Estes tinham um papel
passivo e, quando muito, eram colaboradores da hierarquia.
O Conclio Vaticano II, por meio do retorno s fontes, sobretudo
bblicas e
patrsticas, desloca-se para uma eclesiologia sacramental [Igreja
sacramento de salvao] e de
comunho, compreende a Igreja como mistrio e como Povo de Deus.
Valoriza as diferentes
vocaes na Igreja e redescobre o papel do leigo. [1 cap. LG
apresenta o Mistrio da Igreja]
Ao abordar o mistrio da Igreja, a Constituio Lumen Gentium
apresenta sua
dimenso tendrica (LG I, 8), ou seja, analogamente ao mistrio do
Verbo encarnado, a
Igreja uma s realidade, assembleia visvel e comunidade
espiritual, provida de rgos
hierrquicos e Corpo Mstico de Cristo. No se considera a
Hierarquia em funo de certa
superioridade em relao os leigos, mas como servidora deles e de
toda a Igreja. O
Sacerdcio ministerial est a servio do Sacerdcio de todo o Povo
de Deus.
A Constituio sobre a Igreja (LG) parte primeiramente da comum
dignidade de todo
o Povo de Deus37
e somente depois aborda a constituio hierrquica da Igreja. Ela
nos
lembra que os bispos, padres e tambm o Papa so membros do Povo
de Deus e, ao mesmo
tempo, esto a seu servio.
[LG I O mistrio da Igreja/ LG II O Povo de Deus/ LG III A
Constituio Hierrquica da Igreja e em especial o Episcopado/ Depois:
os leigos (cap. IV), Vocao Universal Santidade (V), os religiosos
(VI), ndole escatolgica da Igreja (VII), A Bem-aventurada Virgem
Maria Me de
Deus no Mistrio de Cristo e da Igreja].
O retorno s fontes bblicas pode ser confirmado quando nos
recordamos das palavras
do Cristo:
Quanto a vs no pemitais que vos chamem de Mestre, pois um s o
vosso
Mestre e todos vs sois irmos. A ningum na terra chameis de Pai,
pois um s o
vosso Pai, o celeste. Nem permitais que vos chamem de Guias,
pois um s o
vosso guia, Cristo. Antes, o maior dentre vs ser aquele que vos
serve (Mt 23, 8-
11).
A Patrstica pode ser evocada, entre outros textos, por meio da
clebre expresso de
So Gregrio Magno, ao definir sua misso como Papa: Servus
servorum Dei (Servo dos
Servos de Deus).
37
Antes de abordar a Hierarquia (cap. III), LG (cap. II) aborda o
Povo de Deus (que abrange todos os fiis, incluindo os membros da
hierarquia). Em LG IV, 32c afirma-se textualmente que entre todos
os membros do
Povo de Deus reina [...] verdadeira igualdade quanto dignidade e
ao comum a todos os fiis na edificao do Corpo de Cristo.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
24
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
VATICANO II: UM CONCLIO PASTORAL?
Afirma-se, com freqncia, que o Conclio Vaticano II foi um
Conclio Pastoral. Alguns, querendo desmerecer sua importncia,
atribuem palavra pastoral um valor quase irrisrio como se o Conclio
tivesse sido um simples encontro de bispos para discutir alguns
probleminhas da Igreja. Pelo fato de no ter definido dogmas nem
condenado heresias, alguns se sentem no direito de no concordar com
as orientaes do Vaticano II.
J afirmamos em artigos anteriores que o Papa que convocou o
Conclio Joo XXIII no tinha inteno de propor dogmas ou realizar
condenaes, embora, durante o Conclio, um grupo minoritrio tenha
lutado pelo dogma da mediao universal de Nossa Senhora e
pela condenao explcita do comunismo. No estava em jogo preservar
um museu ou uma pea de antiguidade, mas cultivar um jardim.
Afirmava o Papa: o nosso dever no s vigiar este tesouro precioso
como se nos preocupssemos unicamente com sua antiguidade,
mas o de dedicarmo-nos, com vontade determinada e sem temor,
obra exigida por ele e
pelos tempos atuais, continuando desta forma o caminho que a
Igreja vem fazendo h vinte
sculos.
Neste novo Conclio, o mtodo seria diferente. Em lugar da
severidade das condenaes, seria aplicado o remdio da misericrdia.
Esclarecendo o verdadeiro rosto da Igreja, no se apresentaria a
doutrina em tom de condenao ou de ultimato. De acordo com o
continuador do Conclio Paulo VI seu objetivo seria: exposio da
teologia da Igreja, sua renovao interna, empenho pela unidade dos
cristos e o dilogo com o mundo
contemporneo.
Estavam em jogo outras preocupaes e motivaes, mais pastorais que
simplesmente dogmticas. Evidentemente no se tratava de contrapor a
pastoral teologia, mas era o momento de assumir o estilo do bom
pastor como critrio para toda atividade da Igreja e seu
ensinamento. A Igreja deveria ser situada perante o mundo no
como
a grande inquisidora nem mesmo apresentando resposta pronta para
todos os problemas, mas em atitude de dilogo. No seria a hora de
impor, mas de propor o Evangelho e de discernir os sinais dos
tempos. O Conclio caminhou em clima de dilogo, no obstante as
muitas tenses ocorridas nele. Todos os documentos foram
aprovados pela quase
unanimidade dos membros. Aqueles que exigiam posicionamento mais
srio, crtico e
dialogal encontraram maiores resistncias. Nenhum dos dois papas
queria impor minoria a
opinio da maioria. No foi fcil chegar a um consenso.
Apesar de sua preocupao pastoral, o Conclio no deixou de
discutir pontos importantes da doutrina e, ainda que no tenha
proposto novos dogmas, soube apresentar a f
crist de maneira adequada s exigncias de seu tempo histrico.
Re-props com maestria e extrema coragem a doutrina da Igreja,
situando-a de uma maneira totalmente nova perante o
mundo. Fruto de um longo processo de renovao teolgica, fez
justia a telogos cujas ideias
anteriormente foram vistas como suspeitas, ampliou os horizontes
do dilogo ecumnico e
inter-religioso, resgatou o valor do sacerdcio comum a todos os
fiis, contemplou as
diferentes vocaes do Povo de Deus. No desejo de voltar s fontes
sobretudo bblicas e patrsticas soube lanar-se em direo a um futuro
novo. Sem desprezar o passado, dialogou com as ideias do presente,
tornando a Igreja mais credvel perante o mundo, retirando a
poeira e o mofo que se encontravam sobre a ela.
-
CONCLIO VATICANO II: HISTRIA E TEOLOGIA
25
Curso de Teologia para Leigos e Consagrados - Regio I Dioc.
Marlia Assessor: Pe. Ademilson Luiz Ferreira
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS
NO CONCLIO VATICANO II - Parte I
Enquanto no Conclio de Trento (1545-1563) no houve participao
brasileira e o Vaticano I
envolveu um nmero pequeno de bispos brasileiros, a maioria do
nosso numeroso episcopado o
terceiro maior do mundo na poca esteve no Vaticano II.
O evento conciliar percorre as seguintes fases: anncio aos
cardeais em Roma e aos cardeais do mundo todo (1959), fase
antepreparatria (1959-1960) na qual se nomeou a Comisso
antepreparatria e recolheram-se sugestes dos bispos do mundo
inteiro , fase preparatria (1960-1962) com a formao das Comisses
Preparatrias e as quatro sesses conciliares (1962-1965).
Na fase antepreparatria, 76% dos bispos brasileiros enviaram as
sugestes, enquanto a
participao nas sesses conciliares foi superior. Por ocasio da
primeira sesso, dos 204 prelados, 173
tomaram parte na abertura dos trabalhos conciliares, ou seja,
quase 85%. Na ltima sesso o
percentual foi semelhante.
No houve contribuio relevante dos bispos brasileiros, por ocasio
do envio de sugestes ao
Conclio. As respostas dos bispos brasileiros indicam que, entre
a minoria ultraconservadora, liderada
por Dom Antnio de Castro Mayer e Dom Geraldo de Proena Sigaud
(ambos ligados TFP) e os
bispos com pensamento mais avanado, como Dom Helder e prelados
do Nordeste, havia o campo moderado majoritrio, expressando a
opinio mdia do episcopado brasileiro, ainda ligado ao referencial
clericalista e eclesiocntrico.
A participao do episcopado brasileiro na fase preparatria foi
pequena. A Comisso
preparatria, majoritariamente europeia, romana e curial, contou
com a participao de dez brasileiros:
quatro membros e seis consultores. Os membros brasileiros eram o
cardeal Cmara, Dom Alfredo
Vicente Scherer, Dom Antnio Maria Alves de Siqueira e Mons.
Joaquim Nabuco. Entre os
consultores estavam: Dom Helder, Dom Geraldo Fernandes Bijos,
Dom Alfonso M. Ungarelli, Frei
Boaventura Kloppenburg, Pe. Estevo Bentia e Dom Jos Vicente
Tvora. Verifica-se, porm, boa
articulao do episcopado brasileiro durante o Conclio, sobretudo
por meio de Dom Helder Cmara.
PARTICIPAO DOS BISPOS BRASILEIROS
NO CONCLIO VATICANO II - Parte II
Durante o Conclio, o episcopado brasileiro teve participao
modesta na Aula Concil