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Para usar trechos deste captulo use a referncia a seguir:
LOURENO, Katia Regina Conrad; MEIRELES, Antnio Rauf Alves Di
Carli; MENDONA, Suelene
Regina Donola. Identidade, Cultura e Lngua de Sinais: O Mundo do
Surdo. In: Libras Lngua Brasileira de Sinais. Taubat: UNITAU, 2012.
Unidade 02, p. 25-46.
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UNIDADE 2
Identidade, Cultura e Lngua de Sinais: O Mundo do Surdo
Nesta unidade, vamos conhecer este sujeito de quem viemos
falando na
primeira unidade. Falamos da sua histria, seus direitos e seus
fundamentos
educacionais. Agora iremos conhecer quem este que chamamos por
Surdo. A
importncia desta descrio se d especialmente porque quando
falamos de uma
concepo scio-antropolgica ou epistemolgica (concepes do ponto de
vista
educacional, psicolgico, sociolgico) no podemos confundir com
concepes
biolgicas.
O sujeito Surdo do ponto de vista das cincias da sade
(biolgicas) define-
se por um corpo danificado. O ser deficiente que precisa ser
curado e/ou
reabilitado. Porm, estamos aqui para falar deste sujeito como um
ser social,
independente de suas limitaes, dificuldades. Falamos aqui do
Surdo como um
sujeito capaz, parte da sociedade e que possui identidades
prprias, cultura e
tambm uma lngua diferentes dos demais que habitam o mesmo espao,
pois os
que ouvem tero outras identidades, outra lngua e outra cultura a
ouvinte.
Ao focalizar a representao da identidade surda em estudos
culturais, tenho de me afastar do conceito de corpo danificado para
chegar a uma representao da alteridade cultural que simplesmente
vai explicar a identidade surda. O conceito de corpo danificado
remete a questes de necessidade de normalizao, o que significa
trabalhar o sujeito surdo do ponto de vista do sujeito normal
ouvinte (PERLIN, 2005).
Para Brasil (2004) quebrar o modelo-padro, a ideia de
deficincia
enxergar as restries de ambos: Surdos e ouvintes. Por exemplo:
enquanto
Surdos no conversam no escuro, ouvintes no conversam debaixo
d'gua;
enquanto Surdos se comunicam sem problemas entre rudos e sons
altos ou a
grandes distncias, ouvintes no conseguem se comunicar, a menos
que gritem.
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LOURENO, Katia Regina Conrad; MEIRELES, Antnio Rauf Alves Di
Carli; MENDONA, Suelene
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Surdo. In: Libras Lngua Brasileira de Sinais. Taubat: UNITAU, 2012.
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Para entender melhor isso, iremos conhecer um pouquinho mais
afundo o
mundo dos Surdos, chamado, especialmente por Karin Strobel
(atual presidente
da Federao Nacional de Educao e Integrao de Surdos FENEIS) de
Cultura
Surda. Entenderemos em seguida o conceito e quais so as
identidades surdas
no item 2.2; os artefatos culturais do povo Surdo no item 2.3;
e, partir destas
concepes, iremos entender com maior profundidade e fundamentao
terica a
importncia que a LIBRAS representa na vida de uma pessoa Surda.
Vamos l?
2.1 Cultura e Surdez
A surdez um pas sem um lugar prprio; uma cidadania sem uma
origem geogrfica... Wrigley (1966)
Falar em Cultura Surda como um grupo de pessoas localizado no
tempo e no
espao fcil, mas refletir sobre o fato de que nessa comunidade
surgem
processos culturais especficos uma viso rejeitada, pois muitos
autores ainda
defendem uma concepo de cultura como universal, nica (SKLIAR,
1998 apud
BRASIL, 2004).
Contudo, nos ltimos tempos, nas mais diversas reas de
conhecimento,
tem se considerado concepes no mais unitrias das coisas, e sim,
pluralizada.
Assim acontece com a cultura. Trabalhamos com a ideia do
multiculturalismo, pois
a cultura no esttica, viva. De acordo com Strobel (2008) a
cultura se modifica
e se atualiza, deixando claro que no surge com o homem sozinho,
mas sim a
partir das produes coletivas socializadas culturalmente,
passando de gerao
em gerao.
Strobel define, ento, que Cultura Surda o jeito de o Surdo
entender o
mundo e de modific-lo a fim de torn-lo acessvel e habitvel
ajustando-o com as
suas percepes visuais, que contribuem para a definio das
identidades surdas
e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a
lngua, as
ideias, as crenas, os costumes e os hbitos do povo Surdo.
Loureno (2012) afirma que nos primeiros anos de vida, quando a
criana
ouvinte chama o cachorro de au-au, o passarinho de piu-piu,
porque est
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fazendo referncia entre o animal e o som ele que faz. Do mesmo
modo, ao
identificar e observar o mesmo animal, a criana Surda tambm far
suas
referncias, no entanto, estas sero inteiramente visuais, por
exemplo: para o
cachorro identificar o pelo ou como o mostra seus dentes ao
rosnar; para o
passarinho far o movimento do bico abrindo e fechando, como o
prprio pssaro
faz ao piar, ou ento imitar seu bater de asas e assim por
diante.
O cultivo da linguagem, salienta Strobel (2008), e da identidade
so os
elementos fundamentais de uma cultura. Mas importante lembrar
que embora os
Surdos pertenam a Cultura Surda, este fato no os torna iguais.
No entanto, os
Surdo no se diferenciam um dos outros pelo grau de surdez, e sim
pelo grupo a
que pertencem, pelo uso da lngua de sinais e pela Cultura Surda,
que o ajudam a
definir suas identidades e formar comunidades. Mas sobre as
identidades surdas,
abordaremos logo a seguir, no prximo item desta unidade.
H grande diversidade de comunidades Surdas e cada uma organizada
de
maneira diferente de acordo com os interesses em comum, como
etnia, religio,
profisso, entre outros. Outra questo importante aqui que, neste
mesmo grupo
local, a comunidade Surda, as pessoas da famlia, amigos,
professores e
intrpretes tambm esto presentes.
Para Padden e Humphries (2000 apud STROBEL, 2008), na
comunidade
Surda temos sujeitos Surdos e sujeitos ouvintes. Nesta, todos
compartilham suas
experincias atravs da lngua de sinais: os Surdos (que tm suas
experincias de
vida puramente visuais: a Cultura Surda) e os ouvintes que por
alguma
proximidade (profissional, de parentesco, etc.) conhecem a lngua
de sinais e
tambm as peculiaridades Surdas.
Mas ateno: os ouvintes que conhecem a lngua de sinais, apenas
a
conhecem e a utilizam para se comunicar na comunidade Surda a
que pertencem
(Pastoral ou Ministrio de Surdos, escolas, etc.), o que no os
faz pertencentes
Cultura Surda ou povo Surdo; nem faz dessa lngua sua lngua
materna; para um
ouvinte que pertena a alguma comunidade Surda, a LIBRAS ser sua
segunda
lngua.
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Isso porque a LIBRAS a lngua que traduz a Cultura dos Surdos:
os
hbitos, costumes, o jeito particular de ser Surdo; o viver no
silncio, sentir (e no
ouvir) as vibraes de uma msica; enfim, suas experincias e
percepes do
mundo puramente visuais.
Ento, recapitulando:
Cultura Surda: so os hbitos, costumes, vivncias de pessoas com
surdez;
enfim, as produes coletivas do povo Surdo a partir de seu prprio
modo de ser,
ver, entender e transformar o mundo. Para Strobel (2008), as
peculiaridades da
Cultura Surda resumem-se em oito artefatos; lembrando que o
conceito de
artefatos no se refere apenas a materialismos culturais, mas
quilo que na
cultura constitui as produes coletivas citadas acima. Aps
compreender o
conceito de identidades surdas no item 2.2, voc poder acompanhar
maiores
detalhes sobre estes artefatos no item 2.3.
Povo Surdo: so as pessoas que nasceram com surdez ou a
adquiriram logo
nos primeiros anos de vida, resultando num crescimento e
desenvolvimento
peculiar, adquirindo naturalmente a Cultura Surda. Para Strobel
(2008) o povo
Surdo so sujeitos que compartilham dos mesmos costumes, histria,
tradies e
pertencem as mesmas peculiaridades culturais, ou seja, constroem
sua
concepo de mundo atravs do artefato cultural visual. O grupo de
pessoas a
quem chamamos de povo Surdo so os sujeitos que podem no habitar
o mesmo
local, mas que esto ligados por um cdigo de formao visual
independente do
nvel lingustico.
Comunidade surda: um grupo local formado por Surdos (que possuem
a
Cultura Surda) e ouvintes, com cultura de um crescer e
desenvolver-se ouvinte,
mas que compartilham suas vidas com os Surdos; podem ser
comunidade de:
Pastoral de Surdos, Ministrio de Surdos, grupo de amigos/
profissionais, etc.
Podem fazer parte das comunidades Surdas seus familiares,
amigos, colegas de
escola ou trabalho, intrpretes de LIBRAS, companheiros
(namorados (as) ou
maridos/ esposas), etc.
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relevante lembrar que por meio da cultura que uma comunidade
constitui-se, integra e identifica pessoas. A existncia de uma
Cultura Surda ajuda
a construir a identidade das pessoas com surdez. Nesse sentido,
falar em Cultura
Surda necessita tambm falar da questo identitria. Um surdo estar
mais ou
menos prximo da cultura surda a depender da identidade que
assume dentro da
sociedade (BRASIL, 2004).
2.2 Identidade e Surdez
Strobel (2008) alega que atravs da cultura que os sujeitos
asseguram a
sua sobrevivncia e afirmam as suas identidades, a cultura que
temos determina
uma forma de ver, de interpretar, de ser, de explicar e de
compreender o mundo.
Se procurarmos concepes de identidades, novamente
encontramos
descries no unitrias, mas multifacetadas, plurais, fragmentadas.
Isso se d
pela mudana radical e constante das coisas. Identidades podem
ser at mesmo
contraditrias, no so algo pronto: so construes mveis.
No entanto, no caso dos Surdos, que vivem dentro da cultura
ouvinte1 um
caso onde a identidade reprimida, se rebela e se afirma em
questo da original.
A identidade surda sempre est em proximidade, em necessidade de
encontrar
outro igual (PERLIN, 2005).
Perlin assevera que as identidades Surdas assumem formas
multifacetadas
em vista das fragmentaes a que esto sujeitas. Os esteretipos,
rtulos,
interferem muitas vezes como um impedimento para a aceitao da
identidade
surda. O indivduo Surdo faz parte dos movimentos marginalizados,
margem da
1 Chamamos de ouvintes as pessoas que no possuem surdez e,
portanto, ouvem.
STROBEL, Karin Lilian. As imagens do outro sobre a Cultura
Surda.
Florianpolis: Editora da UFSC, 2008.
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sociedade predominante; e assim, vai acumulando esteretipos que
tem reforado
cada vez mais a supremacia discriminatria de sua produo
cultural.
Um exemplo de esteretipo a ideia que a sociedade tem de que o
Surdo
tem maior concentrao em suas atividades, pois no poder se
distrair com
barulhos. Isto leva a uma imagem do Surdo como produtor braal
de
produtividade. Ou seja, vale a pena contrat-lo no campo de
trabalho pelo que ele
produz no pelas suas habilidades e competncias
profissionais.
A identidade Surda se constri dentro de uma cultura visual. Essa
diferena
precisa ser entendida no como uma construo isolada, mas como
construo
multicultural. Os Surdos vo construindo seu pensamento e
compreendendo o
mundo a partir puramente de suas visualizaes.
Os ouvintes so acometidos pela crena de que ser ouvinte melhor
que ser
Surdo, pois, na tica ouvinte, ser Surdo o resultado da perda de
uma habilidade
'disponvel' para a maioria dos seres humanos. No entanto, essa
parece ser uma
questo de mero ponto de vista (BRASIL, 2004).
Maupassant (apud BRASIL, 2004, p.36), em seu conto Carta de um
louco,
reflete sobre o citado acima, defendendo que
'todas as idias de proporo so falsas, j que no h limite possvel,
nem para a grandeza nem para a pequenez [...] a humanidade poderia
existir sem a audio, sem o paladar e sem o olfato, quer dizer, sem
nenhuma noo do rudo, do sabor e do odor. Se tivssemos, portanto,
alguns rgos a menos, ignoraramos coisas admirveis e singulares;
mas, se tivssemos alguns rgos a mais, descobriramos em torno de ns
uma infinitude de outras coisas de que nunca suspeitaremos por
falta de meios de constat-las'.
Perlin (2005) denuncia que ouvintes que referem-se ao Surdo como
portador
de anomalias contribuem para a ideia da normalizao. Primeiro
entende-se por
Surdo o no normal; para, a partir da, discursar lindamente sobre
a normalizao/
ouvintizao do Surdo. Viver o ouvintismo2 ter preconceito contra
os Surdos.
2 O ouvintismo deriva da proximidade particular entre ouvintes e
Surdos, na qual o
ouvinte sempre est em posio de superioridade (PERLIN, 2005).
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A ouvintizao do Surdo, o chamado oralismo, uma ideologia
dominante,
na qual a concepo do sujeito Surdo refere exclusivamente uma
dimenso
clnica, uma perspectiva teraputica (SKLIAR, 1997 apud PERLIN,
2005). Perlin
uma grande pesquisadora das questes apresentadas neste item
(Identidade e
Surdez) e classifica as identidades surdas com diferentes
facetas, acompanhe as
definies a seguir:
a. identidades surdas esto presentes no grupo onde entram os
surdos que
fazem uso com experincia visual propriamente dita. O adulto
Surdo, em contato
com outros Surdos, vai construir sua identidade fortemente
centrada no ser Surdo
(a Cultura Surda), a identidade poltica surda. a conscincia de
ser
definitivamente diferente e de necessitar de implicaes e
recursos
completamente visuais.
b. identidades surdas hbridas so os Surdos que nasceram
ouvintes, e que
com o tempo adquiriram a surdez. uma espcie de uso de
identidades diferentes
em diferentes momentos. Eles captam do exterior a comunicao de
forma visual,
passam-na para a lngua que adquiriram por primeiro e depois para
os sinais.
Nascer ouvinte e posteriormente ser Surdo ter sempre presente
duas lnguas,
mas a sua identidade vai ir ai encontro das identidades
surdas.
c. identidades surdas de transio so os surdos que foram mantidos
sob o
cativeiro da supremacia ouvinte e que migram para a comunidade
surda.
Normalmente, a maioria dos surdos passa por este momento de
transio, visto
que composta por filhos de ouvintes.
d. identidade surda incompleta so aqueles surdos que vivem sob
uma
ideologia ouvintista latente que trabalha para socializar os
Surdos de maneira
compatvel com a cultura dominante. A superioridade ouvinte
exerce uma rede de
poder difcil de ser quebrada pelos Surdos, que no conseguem se
organizar ou
mesmo ir comunidades para resistirem ao poder. onde comeam as
situaes
dominantes de tentativa de reproduo da identidade ouvinte. Essa
identidade
nega a representao Surda. H casos de Surdos cujas identidades
foram
escondidas, nunca puderam encontra-se com outros Surdos,
conseguiram
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adentrar-se no saber junto aos ouvintes; mantidos em cativeiros
pela famlia,
incapacitados de chegar ao saber ou de se decidirem por si
mesmos.
e. identidade surda flutuante: permite ver o Surdo, de forma
consciente ou
no de ser Surdo (porm, vtima da ideologia ouvintista) desprezam
a Cultura
Surda nem tm compromisso com a comunidade Surda. o sujeito que
Surdo,
mas quer ser ouvinte devido s imposies que a sociedade coloca
atravs das
relaes de poder.
Experincias compartilhadas dentro da comunidade Surda permitem
aos
Surdos se sentirem capazes e sujeitos culturais. Surdos que
crescem em contato
com outros Surdos, so criados para viver em uma realidade surda
e quando
adultos, participando dos movimentos Surdos, constroem sua
identidade poltica.
necessrio que o Surdo torne-se um sujeito expressivo e projete
seu ser
no mundo. A identidade Surda precisa ser assumida, pois um passo
para
quebrar a priso imposta pelo ouvintismo, assegurando a
subjetividade da
cidadania e esvaziando o individualismo agressivo da
excluso.
A preferncia dos surdos em se relacionar com seus semelhantes
fortalece sua identidade e lhes traz segurana. no contato com seus
pares que se identificam com outros surdos e encontram relatos de
problemas e histrias semelhantes s suas: uma dificuldade em casa,
na escola, normalmente atrelada problemtica da comunicao.
principalmente entre esses surdos, que buscam uma identidade surda
no encontro surdo-surdo, que se verifica o surgimento da Comunidade
Surda. Surgem com ela associaes de surdos,onde se relacionam,
agendam festinhas de final de semana, encontros em diversos points,
como em bares da cidade, em shoppings etc. (BRASIL, 2004, p.41)
Justamente estas associaes, encontros, points, festas e
demais
atividades, costumes e materiais que Strobel (2008) identificou
como artefatos da
Cultura Surda. A partir de uma identidade os Surdos se agrupam e
formam,
juntamente com alguns ouvintes, as comunidades Surdas. As
opinies, ideias e
produes desta comunidade e demais necessidades como de materiais
so os
artefatos culturais que, por sua vez, juntos, formam as
particularidades do povo
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Surdo. Se estiver achando complicado, no se preocupe! Vamos ver
cada artefato
e sobre o qu ele se refere.
2.3 Os Artefatos Culturais do Povo Surdo
J conhecemos a Cultura Surda estudada essencialmente por
Strobel, 2008.
Agora vamos conhecer de forma detalhada os estudos da mesma
autora sobre os
artefatos culturais; lembrando que no so simplesmente materiais,
mas
representaes de atitudes, tradies, valores, normas, etc. do povo
Surdo,
Strobel identifica, no total, oito:
1 EXPERINCIAS VISUAIS:
O artefato visual na Cultura Surda abrange as
expresses faciais e corporais, bastante usadas
durante a comunicao pela LIBRAS; as
expresses
desempenham
papel de suma
importncia na
conversao, deixando tanto o emissor como
receptor cientes do contexto e da intensidade do
que se fala. Para constituir tipos de frases na
oralidade usamos a entonao da voz, no caso
da lngua de sinais as expresses facial e
corporal. Temos tambm aqui a percepo
visual. Com a ausncia da audio e do som, os
Surdos percebem o mundo atravs de seus
Saiba mais sobre esse assunto em: Identidades Surdas. Gladis
Perlin.
http://sentidos.uol.com.br/canais/materia.asp?codpag=1347&cod_canal=11
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olhos, tudo o que ocorre ao redor dele: latidos de um cachorro,
os objetos que
caem, fumaa que surge.
2 LINGUSTICO:
Este artefato cultural inclui a Lngua de
Sinais, que um aspecto fundamental da Cultura
Surda e tambm os gestos denominados sinais
emergente ou sinais caseiros, que so os
sinais usados por Surdos que no tiveram contato com outros
Surdos e, por isso,
criaram dentro do lar gestos e mmicas para conseguirem se
comunicar em
famlia. A lngua de sinais capta as experincias visuais dos
sujeitos surdos. De
acordo com Quadros (1997 apud STROBEL, 2008) a criana Surda pode
at
adquirir a lngua portuguesa, porm, nunca ser de forma natural e
espontnea,
como ocorre com a lngua de sinais. No mundo todo temos pelo
menos uma lngua
de sinais com suas variaes regionais usada pelo povo Surdo de
cada pas.
Temos tambm como artefato cultural lingustico
a Escrita da Lngua de Sinais ELS, que uma
forma de escrita da lngua de sinais, conhecido
pelo nome de Sign Writing SW. Em 1974, na
Dinamarca, pesquisadores de lngua de sinais
depararam-se com os sistemas de escrita das
danas da Valerie Sutton e, a partir da,
evoluram com estudos e no Brasil tem sido
estudada
pela doutora
surda Mariane Stumpf desde 1996.
http://escritadesinais.wordpress.com/page/2/
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3 FAMILIAR:
O artefato familiar implica nos conflitos que o Surdo do
enfrenta quando o
mdico instrui a famlia a no usar sinais com aquela criana e
apenas incentivar a
audio e oralidade dele. Quando os pais tambm so Surdos, conhecem
a suma
importncia de at direito do filho de aprender a LIBRAS como
lngua materna,
mas pais ouvintes que desconhecem essa lngua e essa cultura
acabam deixando
seu filho marginalizados dentro do prprio lar. As crianas Surdas
de famlias que
desconhecem esse mundo tm uma carncia de dilogo. Observam as
conversas e discusses dentro do lar, porm no participam. O
prprio anseio
desta famlia em colocar aparelhos auditivos e tornar esse Surdo
uma pessoa
normal traz para ele grandes frustraes com o mundo e at com ele
mesmo.
Diferentemente disso, crianas Surdas de famlia com outros
Surdos
participam das manifestaes em
famlia, conversam, interagem, e
podem at no se achar diferente e
margem do resto do mundo!
Quando a famlia ouvinte sabe da
existncia da Cultura Surda e
procura se aprofundar e aprender
LIBRAS, participar da comunidade
surda, d tambm criana Surda,
oportunidade de relao e efetiva
troca de saberes durante os
dilogos. Esse tipo de relao, em
geral, resulta na aceitao de
identidade surda e na transmisso
natural da Cultura Surda.
Repare no relato de uma experincia da infncia de Sam Supalla; um
Surdo
norte-americano que tem vrias geraes de famlia de Surdos:
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Surdo. In: Libras Lngua Brasileira de Sinais. Taubat: UNITAU, 2012.
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4 Literatura Surda:
A literatura Surda refere-se aos registros
atravs de CD-ROOM, vdeos e DVD das
dificuldades e/ou vitrias, de diversas
experincias vividas pelo povo Surdo. Muitos
Surdos, poetas e escritores, registram suas
expresses literrias em lngua portuguesa. A
literatura Surda tambm envolve as piadas que
exploram a expresso facial e corporal, o
domnio da lngua de sinais e a maneira prpria
de cada um de contar. Em geral, os Surdos so
considerados extraordinrios contadores de
histrias. As piadas Surdas, bem como as
demais representaes literrias deste povo,
expressam muito da Cultura Surda.
Antnio Campos de Abreu, Otaviano de Menezes Bastos, Dioniso
Schmitt e
Gisele Ranchel so os pesquisadores da histria cultural de Surdos
mais
[...] Aps alguns encontros tentativos, eles tornaram-se amigos.
Ela era uma companheira satisfatria, porm havia o problema de sua
estranheza. Ela no conseguia falar com ela da maneira que conseguia
falar com seus irmos mais velhos e com seus pais. Ela parecia ter
uma dificuldade extrema de compreender mesmo os gestos mais simples
ou mais rudes. [...] Um dia, Sam lembra-se vivamente, que ele
finalmente entendeu que a sua amiga era de fato estranha. Eles
estavam brincando na casa dela, quando de repente a me dela chegou
at eles e animamente comeou a mexer sua prpria boca. Como se por
mgica, a garota pegou uma casa de boneca e levou-a para um outro
local. Sam estava perplexo e foi para casa perguntar a sua me sobre
exatamente que tipo de aflio que a menina da porta ao lado tinha.
Sua me explicou a ele que ela era ouvinte e por razo disto ela no
sabia sinalizar; em vez disso, ela e a sua me falam, movimentam
suas bocas para falarem entre si. Sam ento perguntou se esta menina
e a famlia dela era as nicas daquele jeito. A me dele explicou que
no, de fato, quase todas as pessoas eram como seus vizinhos. Era a
sua prpria famlia que era incomum. Aquele foi um momento memorvel
para Sam. Ele lembra de pensar o quanto estava curiosa a menina da
porta ao lado, e se ela era ouvinte, como as pessoas ouvintes eram
curiosas.
PADDEN; HUMPHRIES, 2000 apud STROBEL, 2008.
-
Para usar trechos deste captulo use a referncia a seguir:
LOURENO, Katia Regina Conrad; MEIRELES, Antnio Rauf Alves Di
Carli; MENDONA, Suelene
Regina Donola. Identidade, Cultura e Lngua de Sinais: O Mundo do
Surdo. In: Libras Lngua Brasileira de Sinais. Taubat: UNITAU, 2012.
Unidade 02, p. 25-46.
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conhecidos. Os povos Surdos usaram e usam inmeros meios de se
comunicar
atravs da lngua de sinais, desenhos, expresses faciais,
corporais e imagens
visuais. A necessidade de registrar suas atuaes do cotidiano,
como as vrias
conquistas, lngua de sinais, tradies culturais, entre outros,
fez surgir a
literatura surda!
5 Vida Social e Esportiva:
Este artefato corresponde a
acontecimentos culturais, tais como:
casamento entre Surdos, festas,
lazeres, eventos desportivos e
demais atividades nas associaes
de Surdos. Nos bailes e festas
bastantes frequentes das
associaes difcil ver muitos
Surdos danando (ainda que alguns
tenham o hbito de danar), em
geral concentram-se em pequenos grupos para conversar. A
conversao
extremamente comum durante os acontecimentos de Surdos, pois
sentem grande
necessidade em compartilhar sua vida, novidades, etc.
Em 2002 foi realizada na cidade de Passo Fundo Rio Grande do Sul
a
primeira Olimpada de Surdos do
Brasil. Strobel relata que foi um
momento emocionante com muitas
equipes advindas de diversas
associaes municipais e estaduais
de todo o pas; o Hino Nacional
apresentado em LIBRAS, hastear da
bandeira e desfile de abertura foi
comovente. Os Surdos tm sua vida
esportiva muito ativa, tendo at
Olimpadas Mundiais, organizadas de
quatro em quatro anos.
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Carli; MENDONA, Suelene
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Na olimpada de 2007, Austrlia, a dupla
de vlei de praia brasileira com os
atletas surdos Alex Borges e Alexandre
Couto ficou em quinto lugar. Temos
tambm os atletas surdos que competem
com os ouvintes em olimpadas no
especiais; na frica do Sul o nadador
Surdo Terence Parkin (foto ao lado)
conquistou medalha de prata nos 200
metros nado peito em olimpada
internacional de 2000. Seu treinador fazia o sinal de partida
para ele, j que no
podia ouvir a largada.
Ao final de tais eventos pblicos como
apresentaes artsticas ou palestras os
Surdos no costumam aplaudir como os
ouvintes. As palmas podem gerar grande
e profundo sentimento de aclamao
ouvintes devido ao forte e vibrante
barulho. Para os Surdos, quando esto
frente platia, no possvel
visualizam em sua totalidade as pessoas
batendo palmas, pois estas esto umas
na frente das outras. Para os Surdos o
usual levantar os braos no alto e balanar suas mos, e assim, o
Surdo ter o
alcance visual do aclamado e tambm a possibilidade de sentir a
mesma profunda
emoo que um ouvinte.
Conhea a vida social e outros Surdos famosos em:
http://www.libras.com.br/web/surdos-famosos
Conhea a CONFEDERAO BRASILEIRA DE DESPORTOS DOS SURDOS:
http://www.cbds.org.br/
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Carli; MENDONA, Suelene
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6 ARTES VISUAIS:
O povo Surdo tem muitas criaes
artsticas que sintetizam suas emoes,
suas histrias, sua subjetividade e sua
cultura explorando seus modos de olhar
e interpretar o mundo. Dentro deste
artefato temos desenhos, pinturas,
esculturas e outras formas de
manifestaes artsticas. Existem
muitos DVDs filmados de poemas
Surdos, narrativas, contao de
histrias, etc. No teatro, a expresso
atravs das feies, do corpo e lngua
de sinais constantemente praticada
pelos sujeitos Surdos. O ator de teatro
Surdo mais conhecido no Brasil
Nelson Pimenta, formado em cinema e
mestre em Estudos da Traduo pela
Universidade Federal de Santa
Catarina. Alm de Pimenta, temos a
atriz Marlee Matlin, atriz norte-americana, com Oscar de melhor
atriz em 1987 no
filme Filhos do Silncio; Emanualle Laborit, francesa, que alm de
atriz de teatro
e cinema escreveu um livro de grande sucesso em diferentes
lnguas: O vo da
Gaivota; Rimar Romano, brasileiro, fundador da Cia. Arte e
Silncio; e temos
muitos outros pelo Brasil a fora como Reinaldo Plo, Heloir
Montanher, Celso
Badin, etc. E ainda alm destes atores famosos temos danarinos,
poetas,
pintores, mgicos, palhaos, escultores, contadores de histrias e
grupos de
msica-sem-som o at com som, como o caso do surdo-dum;
confira:
http://www.surdodum.com !!!
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7 POLTICO:
O artefato poltico refere-se
especialmente s lutas e
manifestaes pelos direitos
o povo Surdo. Em 2011
tivemos possivelmente a
maior manifestao do povo
Surdo de todos os tempos, o
movimento Nada sobre ns,
sem ns. No ms de Maio
tiveram grandes passeatas,
protestos e etc. em prol de
uma poltica educacional que contemplasse, em sua elaborao, a
participao de
Surdos. Em Setembro tivemos o Movimento azul e finalmente em 24
de Abril de
2012, no aniversrio de 10 do reconhecimento da LIBRAS, a
presidenta do Brasil
recebeu em ato pblico a proposta da comunidade Surda do Programa
Nacional
de Escolas Bilngues para Surdos, tambm conhecida como a
Pedagogia Surda.
Outro movimento interessante o movimento das Mulheres Surdas,
iniciado pela
pesquisadora Gladis Perlin no I Encontro Latino
Americano de Mulheres Surdas Lderes.
Artefato poltico tambm podem ser as diversas
associaes de Surdos, que tm como objetivo
poltico as reunies e assembleias, visando os
direitos judiciais e de cidadania dos Surdos. Um
exemplo a Federao Nacional de Educao e
Integrao de Surdos FENEIS, filiada
Federao Mundial de Surdos WDF. As
legislaes trazidas do item 1.2 deste fascculo
tambm fazem parte deste artefato cultural, pois
so resultados de rduas lutas como a lei
10.436/02 que reconhece a LIBRAS como lngua
natural dos Surdos e o decreto 5.626/05 que
regulamenta esta lei e dispe outros direitos.
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Temos ainda como conquistas polticas a
criao da graduao em LIBRAS, o curso
de Letras/LIBRAS da Universidade Federal
de Santa Catarina UFSC nas modalidades
licenciatura e bacharelado; e o Dia
Nacional dos Surdos, comemorado em 26
de Setembro, data de fundao do Instituto
Nacional de Educao de Surdos que,
como voc j viu na histria (item 1.1) foi a
primeira escola para Surdos no Brasil. Internacionalmente o Dia
do Surdo
comemorado em 30 de Setembro.
8 MATERIAIS:
Este artefato constitudo de materiais que
possibilitam a acessibilidade dos Surdos como: o
telefone para
Surdos na
imagem direita (T.D.D. ou T.S.); softwares,
aparelhos tecnolgicos, legenda e intrpretes
de LIBRAS em programas locais e filmes
brasileiros, etc. Pode ser artefato material at
mesmo o MSN; skype; ooVoo; uso de celular
via torpedos; a tecnologia android, etc.
Conhea outras Tecnologias de Acessibilidade para Surdos:
UNICAMP:
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/06/nova-tecnologia-ajuda-deficientes-auditivos-usar-o-computador.html
ooVoo: tecnologia bastante utilizada pelas comunidades surdas
brasileiras (http://www.baixaki.com.br/download/oovoo.htm)
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2.4 A importncia da LIBRAS para o Surdo
Como pudemos compreender a partir das leituras anteriores, ter
o
reconhecimento da lngua de sinais como uma lngua natural, como
direito do
Surdo e meio de comunicao e expresso da comunidade surda, no foi
muito
fcil no mesmo? Foi necessria uma caminhada repleta de lutas.
Vamos
entender agora a importncia da LIBRAS para o desenvolvimento da
pessoa
Surda.
Ao contrario do que muitas pessoas acreditam a Lngua Brasileira
de Sinais
no um conjunto de sinais ou gestos feitos com as mos que
substituem ou
interpretam as palavras do portugus ou a lngua oral, tampouco
uma linguagem
como a linguagem das abelhas ou a mmica. Existem pessoas que
embora
acreditem que se trata de uma lngua, essa limitada, no
possibilitando a
expresso de ideias abstratas, apenas as idias concretas (FELIPE,
s/d).
No entanto, as pesquisas vm confirmando que como toda lngua, a
lngua
de sinais so sistemas abstratos de regras gramaticais, naturais
das
comunidades de indivduos surdos, portanto devem ser reconhecida
como lngua
natural (FERNANDES, 2003), portanto uma lngua completa com
caractersticas e
estruturas prprias, capaz de transmitir idias sutis, complexas e
abstratas. Os
seus usurios podem discutir, filosofia, literatura ou poltica,
alm de esportes,
trabalho, moda e utiliz-la como funo esttica para fazer poesia,
estria, teatro
e humor (FELIPE, s/d, p. 2). Permite ainda a expresso de
qualquer significado
decorrente da necessidade comunicativa do ser humano. (BRITO,
1997, p. 19)
Os surdos podem comunicar-se mais
facilmente e com maior preciso pela lngua de
sinais, porque o crebro deles se adapta para esse meio e, se
forados a falar,
nunca conseguiro uma linguagem eficiente e sero duplamente
deficientes (SACKS, 1990)
[...] minha luta comeou no sentido de que a surdez seja
reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas
possibilidades da diversidade humana. Ser surdo no melhor ou pior
do que ser ouvinte, apenas diferente. E ser surdo diferente de ser
deficiente auditivo. Se um de vocs aqui presentes, que ouve e que,
por isso, tem a cultura da audio, ou seja, se comunica atravs da
fala, gosta de msica e do barulho do mar etc, perder a audio,
certamente ser um deficiente auditivo, pois estar com um dficit,
uma vez que perdeu algo que j teve um dia. Mas eu nasci surdo e,
como s se perde aquilo que se tem, nunca perdi a audio, pois nunca
a tive. Eu tenho o direito de viver assim, e o mundo tem o dever de
aceitar minha diferena. (PIMENTA, 2001, p. 24)
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Voc deve estar se perguntando: Como a criana aprende a lngua de
sinais ?
De acordo com Fernandes (2003) a teoria pautada na base biolgica
pode
explicar alguns comportamentos de aquisio da linguagem do Surdo
ao
comprovar que crianas Surdas, mesmo no expostas a nenhum tipo
de
linguagem oral-auditiva ou espao-visual desenvolvem
espontaneamente um
sistema de gesticulao manual e que h semelhanas entre os
sistemas
desenvolvidos por crianas surdas que nunca tiveram contato entre
si. (2003,
p.30). Assim, parece perigoso afirmar que crianas Surdas no
desenvolvam uma
linguagem prpria, mesmo na ausncia de sua lngua oficial.
Nessa perspectiva, parece possvel acreditar que essa
semelhana
presente nesses sistemas apresentados pelas crianas ocorre dos
universais
lingusticos, ou seja, dessa habilidade inata para o
desenvolvimento da linguagem.
Assim, essa possibilidade est presente em toda criana ao nascer,
seja ela Surda
ou ouvinte. Nessa concepo, do ponto de vista neurolgico, o
crebro est
preparado para adquirir uma lngua, seja ela de modalidade oral
ou visual.
Entretanto:
[...] se levarmos em considerao que a aquisio da linguagem
liga-se ao crescimento e maturao de capacidades inatas em condies
externas adequadas (Chomsky,1966), os estmulos aos quais o surdo
exposto, mesmo sob educao especial, so muito diferentes daqueles
vivenciados pelo ouvinte, deixando-o, automaticamente, em condies
diferentes desse, no que se prefere s lnguas orais-auditivas.
Assim, propiciar ao surdo a aquisio da lngua de sinais como
primeira lngua a forma de oferecer-lhe um meio natural de aquisio
lingustica, visto que se apresenta como lngua de modalidade
espao-visual, no dependendo, portanto da audio para ser adquirida.
(FERNANDES, 2003, p.30)
Segundo a autora supramencionada, expor o Surdo a mecanismos
lingusticos no naturais (como a Lngua Portuguesa oralizada) como
primeira
lngua, alm de exigir um esforo desnecessrio, poder prejudicar,
de modo
significativo, o desenvolvimento natural da criana (FERNANDES,
2003, p.31).
Apesar dessa pr-disposio gentica, a criana precisa estar exposta
a um
ambiente lingustico que atenda as suas necessidades, caso
contrrio, tais
informaes inatas no se desenvolvero. Afirma ainda que a aquisio
e domnio
da lngua de sinais iro garantir, em curto prazo, no s um meio de
comunicao
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eficaz, mas, tambm, o instrumento de desenvolvimento dos
processos cognitivos,
indispensvel nos primeiros anos de vida (ibidem).
Perceba que a lngua de sinais muito mais que um conjunto de
gestos e um
meio de comunicao, nos aspectos cognitivos, ela possibilita o
desenvolvimento
e a organizao de vrias formas de pensar.
Existe uma grande preocupao com a questo do diagnstico precoce
da
surdez e sua relao com o desenvolvimento social, lingustico e
cognitivo da
criana Surda. No campo da sade, diversas iniciativas vm sendo
realizadas com
o objetivo de orientar pais e profissionais sobre a necessidade
e a possibilidade de
avaliao precoce em casos de surdez. Marchesi, (2004), dentre
outros, afirma
que as consequncias do diagnstico e interveno tardios redundam
em
significativos atrasos no desenvolvimento social e da linguagem,
alm de baixo
desempenho acadmico. Nesse sentido, profissionais da rea, tanto
da sade
quanto da educao especial, tm se empenhando para que essa
identificao
seja realizada o quanto antes, permitindo assim, que a interveno
implique
melhores desempenhos nas reas atingidas. (MENDONA, 2007).
Adquirir uma lngua desde os primeiros anos de idade
fundamental,
destacando que o papel do meio social em que vive fundamental
para que o
mecanismo da linguagem presente no indivduo seja estimulado e
desenvolvido. A
alerta realizada: ao contrario, a aquisio tardia de uma
lngua
[...] leva a criana surda a um tipo de pensamento mais concreto,
j que atravs do dilogo e da aquisio do sistema conceitual que ela
pode se desvincular cada vez mais do mundo concreto, internalizando
conceitos abstratos. (GOLDFELD, 1997, P. 54).
Se consideramos ento que a habilidade da linguagem inata, ou
seja,
parte da dotao gentica da espcie humana e que o meio e a interao
social
representam papel relevante para o seu desenvolvimento no h como
no
destacar aqui que as condies sociais, econmicas e culturais dos
indivduos
iro contribuir nesse processo de forma negativa ou positiva. O
seja, a questo da
deficincia, (nesse caso a surdez) por si s, no ir definir o
futuro do sujeito.
(MENDONA, 2007)
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Autores como Fernandes(1990), Sacks (1990), Brito (1993 ),
Goldfeld (1997)
entre outros afirmam que o estmulo do meio indispensvel para a
aquisio da
linguagem, ao contrrio poder acarretar reflexos no
desenvolvimento cognitivo
da criana Surda
Para Goldfeld (1997) as dificuldades encontradas na aquisio de
uma
lngua oral pelo Surdo e a dificuldade de acesso lngua de sinais
implicam em
atraso de linguagem dessa criana. Em consequncia desse processo,
a
aprendizagem e o desenvolvimento podero ser afetados, implicando
em
problemas de escolarizao. Diz a autora: somente atravs da
exposio a esta
lngua (de sinas), a criana surda pode desenvolver-se lingustica
e
cognitivamente sem dificuldades (p.105)
Sacks (1990) afirma que se as crianas no so expostas a cdigo
lingustico, pode haver um atraso da maturao cerebral. Brito
(1993) afirma que a
criana surda deve ser exposta a lngua de sinais precocemente,
caso contrrio
refletir
Como pudemos observar a aquisio da lngua de sinais pela pessoa
surda
ocorre nas relaes, no encontro com seus pares surdos e essencial
para seu
desenvolvimento cognitivo, lingustico e social.
No filme E seu nome Jonas, voc poder perceber de maneira
muito
clara o papel da linguagem para o desenvolvimento da criana.
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2.5 Sntese da unidade
Esta unidade introduzimos trazendo os estudos e conceitos sobre
Cultura
Surda. Partimos ento pra relao das identidades identificando
cada identidade
adquirida pelos Surdos. Detalhamos as peculiaridades da cultura
dos Surdos a
partir de seus artefatos: o artefato experincias visuais
(expresses
faciais/corporais e percepes visuais); lingustico (LIBRAS,
sinais caseiros, Sign
Writing ou Escrita de Lngua de Sinais); familiar (conflitos e
barreiras de
comunicao ou relaes de troca e dilogo em LIBRAS em famlia);
literatura
Surda (registros em Lngua Portuguesa como livros, artigos,
teses, dissertaes,
etc. e em LIBRAS atravs de CD ROOM, DVD, etc.); vida social e
esportiva
(eventos, festas, encontros, competies esportivas); artes
visuais (expresses
artsticas de Surdos evidenciadas pelas percepes visuais:
desenhos, pinturas,
esculturas e tambm teatro, poema, contaes de histria, dana,
cinema);
poltica (associaes de Surdos, FENEIS, Dia do Surdo, movimentos,
protestos,
legislaes, propostas educacionais); e materiais (objetos de
acessibilidade).
Para concluir este estudo levantamos as principais questes que
mostram a
importncia da LIBRAS na vida dos Surdos.
2.5 Para saber mais
Lngua Brasileira de Sinais Uma Conquista Histrica. (2006)
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/
pessoa_com_deficiencia/arquivos/Libras_Uma_conquista_historica.pdf
Reportagem do G1 site da T.V. Globo
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL732407-5598,00-bebes+surdos
+devem+aprender+lingua+dos+sinais+nos+primeiros+meses+de+vida.html
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REFERNCIAS DESSA UNIDADE:
BRASIL. Ensino de Lngua Portuguesa para Surdos: Caminhos para
Prtica Pedaggica.v.1. Braslia: MEC, 2004. BRITO,L.F. Integrao
Social e educao de Surdos.Rio de Janeiro: Babel, 1993. FELIPE,
Tanya Amara (coord). Libras em Contexto. Curso Bsico. Rio de
Janeiro. Ministrio da Educao e do Desposrto. Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educao. Secretaria de Educao Especial, s/d
FERNANDES, Eullia. Linguagem e Surdez. Porto Alegre: ArTmed, 2003.
GOLDFELD, Mrcia. A criana surda: linguagem e cognio numa
perspectiva scio-interacionista. So Paulo: Plexus, 1997. LOURENO,
Katia Regina Conrad. LIBRAS Lngua Brasileira de Sinais. In:
www.acessolibras.com. Acesso em 21 de Junho de 2012, s 14h17min.
MENDONA, Suelene Regina Donola. Trajetrias Scio-Educacionais de
Adultos Surdos: Condies Sociais, Familiares e Escolares. Tese de
doutorado, 2007. PERLIN, Gladis T.T. Identidades surdas. In:
SKLIAR, Carlos (org.). A Surdez: um olhar sobre as diferenas. Porto
Alegre: Mediao, 2005. PIMENTA, Nelson. Oficina-Palestra de Cultura
e Diversidade. In: Anais do VI Seminrio Nacional do INES - Surdez e
Diversidade Social. Setembro de 2001. SACKS, Oliver. Vendo vozes:
uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro. Imago,1990.
SILVA, Marlia da Piedade Marinho. Identidade e Surdez: o trabalho
de uma professora surda com alunos ouvintes. So Paulo: Plexus
Editora, 2009. STROBEL, Karin Lilian. As imagens do outro sobre a
Cultura Surda. Florianpolis/SC: Editora da UFSC, 2008.