UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: Seminário Aplicado CRUZAMENTOS E DESEMPENHO EM VACAS LEITEIRAS Rafael Alves da Costa Ferro Orientadora: Dra. Eliane Sayuri Miyagi GOIÂNIA 2011
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CRUZAMENTOS E DESEMPENHO EM VACAS LEITEIRAS · reprodutivo e econômico de animais meio sangue, oriundos do cruzamento simples, em comparação a vacas formadas pelo cruzamento alternado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: Seminário Aplicado
CRUZAMENTOS E DESEMPENHO EM VACAS LEITEIRAS
Rafael Alves da Costa Ferro
Orientadora: Dra. Eliane Sayuri Miyagi
GOIÂNIA
2011
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RAFAEL ALVES DA COSTA FERRO
CRUZAMENTOS E DESEMPENHO EM VACAS LEITEIRAS
Seminário apresentado junto à Disciplina
Seminários Aplicados do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Animal da
Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás.
Nível: Mestrado.
Área de Concentração:
Produção Animal
Linha de Pesquisa:
Fatores genéticos e ambientais que
influenciam o desempenho dos animais
Orientadora:
Profa. Dra. Eliane Sayuri Miyagi – UFG
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Marlos Castanheira – UEG
Profa. Dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti - UFG
GOIÂNIA
2011
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SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................... iv
LISTA DE FIGURAS...................................................................... v
LISTA DE QUADRO...................................................................... vi
LISTA DE TABELAS..................................................................... vii
Médias seguidas das mesmas letras nas linhas não diferem entre si a nível de 5% de probabilidade. 1. GUIMARÃES et al. (2002) 2. Adaptado de GROSSI & FREITAS (2002) 3. Adaptado de FREITAS et al. (2001) 4. GLÓRIA et al. (2006) 5. Adaptado de REIS FILHO (2006) 6. MCMANUS et al. (2008a)
Em muitas propriedades as vacas com maior proporção da raça
Holandesa, não conseguem expressar todo seu potencial genético, em virtude do
manejo adotado, sistema de criação e influência dos fatores ambientais
(VASCONCELLOS et al., 2003), por exigirem temperatura ambiente entre -1 a
16ºC, com limites de -10 a 27ºC, enquanto os zebuínos de 10 a 27ºC, com
temperatura critica de zero a 35ºC, entrando em estresse quando ultrapassam
esses limites, afetando o consumo de alimentos, comportamento e os índices
produtivos e reprodutivos (FERREIRA, 2005).
O desempenho produtivo de diferentes grupos genéticos em sistema
extensivo, não apresenta diferença significativa entre os animais, devido a
influencia negativa de fatores ambientais (FACÓ et al., 2002). Animais
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Holandeses, puros, com grupos genéticos (½ e ¾) apresenta uma maior PL aos
mestiços, em virtude do estresse nutricional e térmico (MCMANUS et al. 2008a).
Em propriedades com manejo inadequado a criação de raças puras
especializadas, recomenda-se a utilização de vacas mestiças, ½ HG, por possuir
uma maior rusticidade e adaptação ao clima tropical, máxima heterose, sendo
assim capazes de expressar seu potencial genético, produtivo, herdado da raça
Holandesa (TEODORO, 2006). Devido a maior adaptação desses animais,
comparados a vacas com maior composição genética da raça Holandesa, ¾ e ⅞,
quando submetidos a mesma temperatura ambiente (AZEVEDO et al., 2005).
Já para o semi-intensivo o grupo de animais ≥ ⅞ apresentaram um
desempenho superior, produção de leite, aos demais, devido à proporção da raça
Holandesa, seguido pelos animais ¾ e ½, encontrando menores valores para os
animais ¼, observando que, promovendo uma melhoria das condições ambientais
tem um aumento no desempenho dos animais ≥ ⅞, ¾ e ½ H (FACÓ et al., 2002;
GROSSI & FREITAS, 2002; GUIMARÃES et al., 2002). GLÓRIA et al. (2006)
observaram que em sistema de pastejo, época das águas, e suplementação
volumosa, na seca, os animais ¾ são altamente produtivos.
FREITAS et al. (2001); FACÓ et al. (2009) verificaram uma maior PL a
medida que aumentou a composição genética da raça Holandesa, isto, quando
criadas em ambientes favoráveis, com bom manejo. Mostrando que a melhor
alternativa para produção de leite, em condições de nutrição e manejo adequado,
é a utilização de vacas com maior proporção da raça Holandesa.
Vacas com maior composição genética da raça Holandesa são mais
calmas, facilitando a ordenha. Animais ½ apresentam maior produção de cortisol
durante a ordenha mecânica (Figura 5) aproximadamente 13 ng/ml, enquanto as
¾ de cinco ng/ml, afetando a liberação de ocitocina, reduzindo a PL
(PROCIONATO et al., 2005)
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FIGURA 5 – Concentrações de cortisol segundo os grupos raciais, durante ordenha mecanizada exclusiva.
Fonte: PROCIONATO et al. (2005).
A duração de lactação (Tabela 8) também é afetada pela composição
genética doa animais (MCMANUS et al., 2008a).
TABELA 8 – Duração de lactação (dias) dos grupos genéticos, Holandês e Gir.
Autores Grupos Genéticos
¼ ½ ¾ ⅞ 15/16 31/32
1 - 267d 272c 282b 281,6b 292,3a
2 - 231,94 298,75 289,94 268,25 284,25
3 - 306,5c 328,2b 337,0a - -
4 - 250,73b 293,57a 305,77a 305,15a
5 284,4a 279,3b 274,4c - - -
Médias seguidas das mesmas letras nas linhas não diferem entre si a nível de 5% de probabilidade. 1. Adaptado de FREITAS et al. (2001) 2. GUIMARÃES et al. (2002) 3. GLÓRIA et al. (2006) 4. Adaptado de REIS FILHO (2006) 5. MCMANUS et al. (2008a)
A DL foi inferior para os animais ½, em consequência da elevada
proporção da raça Gir em sua composição genética, pois os zebuínos apresentam
a duração de lactação mais curta (GLORIA et al., 2006; REIS FILHO, 2006).
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Vacas com maior proporção genética da raça Holandesa apresentam maior DL
(GUIMARÃES et al., 2002).
Quando submetidas em ambientes desfavoráveis, ocorre uma redução
na DL dos animais com maior proporção genética da raça Holandesa (MCMANUS
et al., 2008a).
Com o aumento da produção de leite por vaca, obtêm piores índices
reprodutivos, IPP (Tabela 9) e IP (Tabela 10) (VERCESI FILHO et al., 2007).
TABELA 9 – Idade ao Primeiro Parto (meses) dos grupos genéticos, Holandês e Gir.
Autores Grupos Genéticos
¼ ½ ¾ ⅞ 15/16 31/32
1 34,15b 32,85a 33,63b 33,3ab
2 - 35,67 34,68 35,89 37,44
3 41,92c 32,89b 27,68a - - -
Médias seguidas das mesmas letras nas linhas não diferem entre si a nível de 5% de probabilidade. 1. Adaptado de FACÓ et al. (2005) 2. Adaptado de REIS FILHO (2006) 3. Adaptado de MCMANUS et al. (2008a)
Os valores de IPP foram maiores à medida que aumentou a
composição genética da raça Holandesa, mesmo de maneira não significativa
(REIS FILHO, 2006). Esses resultados podem estar associados a falhas no
manejo do rebanho, novilhas, resultado em menor ganho de peso (WENCESLAU
et al., 2000), uma vez que a IPP está relacionada com o peso dos animais para
dar início a vida reprodutiva (MCMANUS et al., 2008a), estando também
relacionado ao manejo na propriedade, como detecção de cio e habilidade do
inseminador (GROSSI & FREITAS, 2002).
FACÓ et al. (2005) verificaram uma menor média para o grupo ½,
representando um maior desempenho reprodutivo, sendo estatisticamente igual
ao ≥ ⅞. Os animais ¾ apresentaram resultados intermediários, já o grupamento ¼
possuiu a menor média.
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TABELA 10 – Intervalo de Partos (meses) dos grupos genéticos, Holandês e Gir.
Autores Grupos Genéticos
¼ ½ ¾ ⅞ 15/16 31/32
1 13,54ab 13,41a 13,70b 14,12c
2 - 12,43 12,70 13,16 13,24
3 14,38b 14,52b 11,66a - - -
Médias seguidas das mesmas letras nas linhas não diferem entre si a nível de 5% de probabilidade. 1. Adaptado de FACÓ et al. (2005) 2. Adaptado de REIS FILHO (2006) 3. Adaptado de MCMANUS et al. (2008a)
Os animais com maior composição genética da raça Holandesa
apresentam um maior IP, piores índices reprodutivos, podendo ser justificado pela
maior produção de leite (FACÓ et al., 2005), devido ao redirecionamento dos
nutrientes para a glândula mamária, em consequência da lactação (SANTOS et
al., 2009).
Outro fator que pode promover um aumento no intervalo de parto é o
adiamento da inseminação, por parte dos produtores, de animais altamente
produtivos (MCMANUS et al., 2008a).
2.4 Alguns parâmetros genéticos que influenciam na escolha dos animais
A produção de leite é influenciada por fatores de ordem genética e não
genética (RENNÓ et al., 2002).
Dentre esses parâmetros genéticos encontra-se a repetibilidade e
herdabilidade. O valor de repetibilidade permite uma previsão das futuras
produções dos animais, com base na produção atual, sendo bons indicadores no
processo de seleção dos melhores animais (MCMANUS et al., 2008b; SANTANA
JÚNIOR et al., 2010).
Quanto mais alto o valor da repetibilidade, maior a possibilidade de
apenas uma medida no animal representar sua capacidade real de produção
(LOPES et al., 2005b).
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Para a raça Pardo-Suíça, foram encontrados valores de 0,40 e 0,37,
para produção de leite e gordura, respectivamente (ARAÚJO et al., 2003).
A repetibilidade, para raça Holandesa, em Goiás, foi de 0,21 e 0,20,
respectivamente, para PL e teor de gordura. Esses baixos valores podem ser em
virtude da pequena quantidade de lactação por vaca (SANTANA JÚNIOR et al.,
2010).
GLÓRIA et al. (2006) encontraram elevados valores de repetibilidade
para produção de leite, 0,72, 0,69 e 0,63, respectivamente para os grupos
genéticos ½, ¾ e ⅞ HG.
A herdabilidade representa a porção da variância fenotípica causada
pela variação dos valores genéticos aditivos, podendo variar de zero a um.
Valores baixos (zero a 0,2) indicam que o ambiente influencia em grande parte na
variação da característica entre os indivíduos, já para valores altos (acima de 0,4)
significa que a variação da característica é devido às diferenças genéticas
(LOPES et al., 2005b).
Tem-se observado variações nos valores de herdabilidade para PL e
de gordura. Em experimento em Goiás, em rebanho da raça Holandesa,
encontraram valores de 0,18, tanto para produção de leite quanto para teor de
gordura (SANTANA JÚNIOR et al., 2010). Enquanto FREITAS et al. (2000)
verificaram valor de 0,27 para a PL.
VERCESI FILHO et al. (2007) encontraram valores de herdabilidade de
0,28, 0,30, 0,19 e 0,48, respectivamente, para produção de leite, teor de gordura,
DL e IP.
MCMANUS et al. (2008b) acharam valores de 0,18 para IP e 0,24 para
IPP, mostrando a grande influencia do meio nos índices reprodutivos, e foram
encontrados valores de herdabilidade de 0,37 e 0,36, para PL e gordura,
respectivamente, para a raça Pardo-Suíça (ARAÚJO et al., 2003).
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
São vários os tipos de cruzamentos e raças existentes que podem ser
utilizados para promover o melhoramento genético do rebanho brasileiro.
Entretanto, necessita-se de estudos para verificar qual o melhor sistema a ser
utilizado na região que se pretende criar os animais.
Com a realização dos cruzamentos entre as raças taurinas e zebuínas,
tem-se formação de diferentes grupos genéticos, podendo ser criados nas mais
variadas condições. Sendo que em ambientes mais rústicos, como sistema
extensivo, animais com maior proporção genética de raças zebuínas são mais
produtivos. Já em sistema semi-intensivo e intensivo, boa qualidade do ambiente,
vacas com maior proporção da raça Holandesa apresentam desempenho superior
aos das raças zebuínas.
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