UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA SOFIA CAROLINA DA SILVA CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL: PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS São Borja 2014 SOFIA CAROLINA DA SILVA
Mar 25, 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA
SOFIA CAROLINA DA SILVA
CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL:
PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE
REDES SOCIAIS
São Borja
2014
SOFIA CAROLINA DA SILVA
CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E JORNALISMO DIGITAL:
PRÁTICAS JORNALÍSTICAS EM CONTEXTO DE INCLUSÃO DE SITES DE
REDES SOCIAIS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Comunicação Social da
Universidade Federal do Pampa, como
requisito parcial para obtenção do Título de
Bacharel em Jornalismo.
Orientador: Vivian Belochio
São Borja
2014
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar como as inclusões dos sites de redes sociais
podem interferir nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com. Diante do atual
contexto do jornalismo digital, o qual tem utilizado os sites de redes sociais em suas práticas,
reflete-se, especificamente, sobre como as apropriações desses sites de redes sociais têm
influenciado as práticas jornalísticas. Para tanto, num primeiro momento, foi realizada revisão
bibliográfica que aborda os critérios de noticiabilidade e os valores-notícia, as características
do jornalismo digital e as apropriações das redes sociais realizadas neste âmbito. Na parte
metodológica, utilizaram-se as técnicas da observação qualitativa e da entrevista
semiestruturada. A observação do webjornal Zero Hora.com analisa a presença, ou não, dos
sites de redes sociais na sua publicação. Verifica as características das suas apropriações neste
veículo. Foram notadas, a partir da observação qualitativa, principalmente apropriações
relacionadas ao uso dos sites de redes sociais como fontes de pautas, o que foi possível
observar pelos conteúdos desenvolvidos a partir dos sites de redes sociais. Além da
observação do webjornal, também, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora chefe
do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel. Esta permitiu a verificação das
tendências notadas a partir da observação do webjornal, bem como a revelação de outros
detalhes importantes quanto ao uso de redes sociais. As conclusões indicam para uma possível
tendência de inclusão dos sites de redes sociais nas práticas jornalísticas cotidianas daquele
webjornal. Acredita-se que isso, consequentemente, pode interferir nos seus critérios de
noticiabilidade.
Palavras-chaves: Jornalismo digital; redes sociais; critérios de noticiabilidade e Zero
Hora.com.
ABSTRACT
This study aims to examine how the inclusion of social networking sites can interfere with the
criteria of newsworthiness webnewspaper Zero Hora.com. In today's context of digital
journalism, which has used social networking sites in their practices, is reflected specifically
on how the appropriation of these social networking sites have influenced the journalistic
practices. For this, at first, a literature review that addresses the criteria for newsworthiness
and the news values, the characteristics of digital journalism and appropriations of social
networks conducted in this field was performed. The theoretical part, we used the techniques
of qualitative observation and semi-structured interviews. The observation of webnewspaper
Zero Hora.com analyzes the presence or not of social networking sites in your publication.
Checks the characteristics of its appropriations in this vehicle. From the qualitative
observation were noted, mainly appropriations related to the use of social networking sites as
sources of guidelines, which was observed by content developed from social networking sites.
In addition to observing the webnewspaper also held semi-structured interview with the chief
editor of the core social networks Zero Hora.com, Barbara Nickel. This allowed the
verification of the trends noted from observation of the web journal, as well as the
development of other important details regarding the use of social networks. The findings
indicate a possible trend for the inclusion of social networking sites in everyday journalistic
practices that webnewspaper. It is believed that, consequently, can interfere with your criteria
of newsworthiness.
Keywords: digital journalism, social networks, criteria for newsworthiness and Zero
Hora.com.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São
Paulo ......................................................................................................................................... 42
Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de
redes sociais ............................................................................................................................. 43
Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo ............ 44
Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo .......... 45
Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo ......................................................... 46
Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria
Economia ................................................................................................................................ 47
Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 48
Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo .................................................. 49
Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido .............. 50
Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo ................................................. 51
Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão .......................................................... 52
Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão ..... 53
Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais .............................................. 56
Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57
Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 57
Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais ............................................... 58
Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 58
Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais ............................................. 59
Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1 .................................................................................. 62
Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo ......... 67
Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes
Sociais‟ ..................................................................................................................................... 68
Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero
Hora.com ................................................................................................................................. 69
Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook ................................. 69
Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com ......... 70
Figura 25 – Mosaica da Missão Instagram na página de conteúdo.......................................... 71
Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da apresentação
do jogador Pedro Geromel ........................................................................................................ 72
Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na
página de conteúdo ................................................................................................................... 73
Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
encontrado na capa do Zero Hora.com ..................................................................................... 74
Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ....... 76
Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes
sociais ....................................................................................................................................... 77
Figura 31 – Trecho de Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais ................................. 78
Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais .............................. 79
Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de
conteúdo ................................................................................................................................... 80
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ..................................................... 63
Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2 ....................................................................... 64
Tabela 03 – Tabela Geral das Fichas do Tipo 1 ....................................................................... 65
Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2 ......................................................................................... 66
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
2 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE
COMUNICAÇÃO DIGITAL ................................................................................................ 12
2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes níveis .......................................................... 18
3 A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB ....... 24
3.1 Inflências da Web 2.0 e da convergência ........................................................................... 31
4 APROPRIAÇÃO DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO ................ 36
4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros .............................................. 41
4.1.1 Folha de SãoPaulo ........................................................................................................... 41
4.1.2 Jornal O Globo ................................................................................................................ 46
4.1.1 Jornal Estadão .................................................................................................................. 51
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 55
5.1 Zero Hora.com .................................................................................................................... 55
5.2 Técnicas de análise ............................................................................................................. 61
5.2.1 Observação qualitativa .................................................................................................... 61
5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa ........................................................................... 65
5.2.1.2 sobre os conteúdos que partiram das remissões ........................................................... 66
5.2.2 Entrevista semiestrutura .................................................................................................. 81
6 CONSIDERAÇÃOES FINAIS ........................................................................................... 85
REFERENCIAS .................................................................................................................... 88
ANEXO A ................................................................................................................................ 92
ANEXO B ................................................................................................................................ 94
ANEXO C ................................................................................................................................ 95
ANEXO D .............................................................................................................................. 106
9
1 INTRODUÇÃO
Novas gerações têm crescido com o uso da internet, ao ponto de considerá-la como
elemento natural, comum no seu cotidiano, enquanto as gerações mais antigas têm se
adaptado à presença desta tecnologia. A web e suas aplicações, sejam elas de trabalho ou
lazer, estão inseridas, cada vez mais, nas rotinas dos indivíduos, ainda que de forma
experimental.
Isso também tem acontecido com o jornalismo, à medida que ele vem ampliando os
usos que faz das tecnologias digitais, entre elas as potencialidades da Web e da comunicação
em redes. Na realidade da cultura da convergência (JENKINS, 2008), o jornalismo digital
realiza experimentações que o alteram e que, quando bem sucedidas, imprimem-no identidade
própria. Dentre as suas características específicas, há de se considerar a sua diferenciação em
relação à interatividade, atualização contínua, personalização, hipertextualidade, memória e
multimidialidade (MIELNICZUK, 2003). O uso das bases de dados (BARBOSA, 2007) e dos
aparatos móveis (BARBOSA, 2013), também influencia esse processo. Algumas práticas
comuns ao jornalismo como apuração, produção, circulação e consumo de informação
(MACHADO; PALACIOS, 2006) têm se diferenciado quando se trata do jornalismo digital.
Os sites de redes sociais (RECUERO, 2009) são elementos que estão compondo,
atualmente, as práticas do jornalismo digital. As apropriações que são realizadas pelo
jornalismo nesses espaços variam de acordo com a criatividade e o domínio de cada
profissional em relação aos sites de redes sociais. O que se tem observado, é que eles estão
sido utilizados não apenas como perfis de veículos noticiosos, mas, também, algumas vezes,
para gerar conteúdo colaborativo ou, por exemplo, como fontes de pautas.
Diante disso, questiona-se: será que a inclusão dos sites de redes sociais nas
publicações noticiosas gera significativa mudança nas dinâmicas de produção das redações?
Quando, por exemplo, um jornal tradicional cria um perfil no microblog Twitter, perfil ou fan
pageno Facebook, será que é apenas uma moda passageira ou há algo que pode alterar o
processo de escolha das informações a serem destacadas? Quais são as evidências dessas
alterações? Será que elas interferem nos critérios de noticiabilidade dos meios jornalísticos?
Este trabalho propõe contribuir com a reflexão sobre as questões expostas. Para isso,
aborda como o uso dos sites de redes sociais no jornalismo pode ou não interferir na definição
dos seus critérios de noticiabilidade. O caso observado é do webjornal gaúcho Zero
10
Hora.com, representante do jornal impresso Zero Hora na Web. Este webjornal foi escolhido
pelas suas práticas ousadas em relação aos sites de redes sociais e, também, porque surgiu de
um jornal impresso, o qual teria, na sua redação, as práticas tradicionais mais consolidadas.
Considerando a proposta citada, os objetivos desta monografia são os seguintes:
Objetivo geral
- Investigar como a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de
noticiabilidade de Zero Hora.com.
Objetivos Específicos
- Estudar a apropriação dos sites de redes sociais nos veículos jornalísticos e as possíveis
afetações dessas ações nos seus critérios de noticiabilidade;
- Verificar características das apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com a
partir de observação estruturada e entrevista semiestruturada.
Para atingir tais objetivos, esta monografia é composta por quatro capítulos. O
primeiro apresenta reflexões teóricas sobre os processos de construção da notícia no
jornalismo, considerando as diferenças entre valores-notícia e critérios de noticiabilidade.
Esta partetambém discute os fatores que podem influenciar os critérios de noticiabilidade em
mídias diferentes, considerando suas características tecnológicas, seu suporte e seu modo de
endereçamento. Foram consultados autores como Dalmonte (2008), Moreira (2006), Traquina
(2005) e Wolf (2008). Na segunda parte, o enfoque são as características adquiridas pelo
jornalismo digital ao longo de sua história. Destaca-se as especificidades adquiridas por ele ao
longo das suas cinco gerações. A segunda parte também reflete sobre as transformações do
jornalismo digital na Web 2.0 (O‟REILLY, 2005) e no contexto da cultura da convergência
(JENKINS, 2008). Autores como Palacios, (2002), Mielniczuk (2003), Barbosa (2007; 2008;
2013) e Jenkins (2008) foram inseridos nas problematizações.
A terceira parte discute as características das apropriações dos sites de redes sociais no
jornalismo digital. Realiza reflexão sobre as possíveis interferências dessas ações nas suas
rotinas produtivas e nos seus critérios de noticiabilidade. Foram utilizados autores como
Lemos (2002), Machado e Palacios (2006), Recuero (2009), Zago (2011) e Souza (2013).
Finalmente, são descritos os procedimentos metodológicos, compostos por duas
técnicas: a análise qualitativa de 30 capas do webjornal Zero Hora.com e de onze páginas de
11
conteúdos do mesmo webjornal. Além disso, esta parte do trabalho descreve e analisa
entrevista semiestruturada realizada a editora chefe do núcleo de redes sociais do webjornal
ZeroHora.com, Bárbara Nickel.
Como o presente trabalho apresenta as primeiras reflexões de questões que ainda
precisam ser exploradas em estudos futuros, as primeiras conclusões apontam para possíveis
alterações das rotinas produtivas jornalísticas em função do uso das redes sociais.
Considerado que os critérios de notibiabilidade, conforme Moreira (2006), envolvem também
os elementos inseridos nas rotinas de produção das notícias, como será exposto no capítulo
um, acredita-se que eles podem estar sendo afetados por essas movimentações.
12
2CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA EM TEMPOS DE
COMUNICAÇÃO DIGITAL
Antes de aprofundar a discussão sobre a influência da apropriação dos sites de redes
sociais na definição dos critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos, é necessário
compreender os mesmos e a relação deles com as dinâmicas jornalísticas. Os próximos
parágrafos são dedicados a essa revisão e reflexão.
Sousa (2002, p.3) afirma que as notícias ocupam-se com as aparências dos fenômenos
que ocorrem na realidade social e com as relações que aparentemente esses fenômenos
estabelecem entre si”. Ou seja, segundo o autor, as notícias não representam fielmente a
realidade, porque a produção noticiosa sofre o impacto das limitações humanas. Por isso, as
notícias não deixam de serem representações de parcelas da realidade, “independentemente da
vontade do jornalista, da sua intenção de verdade e factualidade. (SOUSA, 2002, p.3).
Ferreira (2002) já discute outra perspectiva, pois aponta que a produção da notícia é
condicionada pelo “habitus1”. Ele afirma que é “sob a égide da lógica comercial que a prática
jornalística impõe as limitações na produção da notícia” (FERREIRA,2002, p.10). Segundo o
autor, a emoção é uma característica a se despertar na escolha da notícia. Esse apelo adquire
proporções diferentes, segundo as particularidades do meio e do veículo (FERREIRA, 2002).
Dessa forma, a construção da notícia, seus processos e dinâmicas, são descritos e
estudados a partir de diferentes pontos de vista. Um deles é a Teoria da Ação Pessoal, ou a
Teoria doGatekeeper,sugerida por David Manning White. Segundo Traquina (2005),o termo
gatekeeper refere-se à pessoa que “toma uma decisão numa sequência de decisões”
(TRAQUINA, 2005, p.150), o que, no processo de produção da notícia, seriam as escolhas em
série feitas pelos gate, que são os jornalistas, sobre as notícias que entrariam e as que não
entrariam em uma publicação jornalística.
Tal teoria leva ao entendimento de que o processo de seleção dos assuntos a serem
publicados se torna subjetivo e arbitrário, ou, ainda, “dependente de juízos de valores
baseados na experiência, atitudes e expectativas do Gatekeeper” (TRAQUINA, 2005,
p.150).Segundo Traquina, aTeoria doGatekeeperanalisa as notícias apenas a partir de quem a
produz: o jornalista, o que faz com que ela se situe ao nível individual, por apresentar uma
1 Ferreira (2002) entende o habitus como “tomadas de posição adotadas pelos jornais e pelos jornalistas sob a
égide das exigências do mercado” (FERREIRA, 2002, p.10). Ou seja, são as decisões tomadas entre as relações
entre força e sentido de um jornal, as quais servem para traduzi-lo no que ele é numa “busca de direto à
existência que se faz pela diferenciação de seus semelhantes” (FERREIRA, 2002, p.10).
13
explicação quase que exclusivamente psicológica. Assim, individualiza uma função que tem
dimensão burocrática inserida numa organização.
A teoria dos constrangimentosorganizacionais é outra linha de reflexão sobre a questão
da escolha das notícias privilegiadas em determinadas publicações. Traquina (2005) explica
que a teoria organizacional acabou alargando a perspectiva teórica do viés individual para
outro mais amplo, que é a organização jornalística.Waren Breed (1955/1993), sociólogo que
sugeriu essa teoria, alega que, na rotina de produção das notícias, o jornalista se confronta
“mais com as normas editoriais da política editorial da organização do que com quaisquer
crenças pessoais que ele ou ela tivesse trazido consigo” (TRAQUINA, 2005, 152). Ou seja,
dessa forma, a “teoria organizacional enfatiza o processo de socialização organizacional em
que é sublinhada a importância duma cultura organizacional, e não uma cultura profissional”
(TRAQUINA, 2005, p.153).
Com a revisão das teorias citadas, podemos observar que a construção da notícia varia
conforme o contexto em que ela está sendo produzida e as situações que direcionam o
julgamento de um fato como algo com potencial para ser noticiado. Esses variam desde, por
exemplo, a estrutura hierárquica dentro da redação até o julgamento do profissional a respeito
das possíveis preferências dos seus leitores. Ou seja, há diferentes universos que influenciam
a produção da notícia: o interno, sendo a redação; o externo, podendo ser as crises econômicas
que o jornalismo tem passado e, ainda, o contexto pessoal do profissional, quando o jornalista
pressupõe o que pode interessar o seu leitor. Assim, os critérios de noticiabilidade surgem em
consonância com todos esses fatores. Essas relações serão discutidas com as exposições a
seguir.
Para Wolf (2008), a noticiabilidade é constituída pelos critérios, operações e
instrumentos com os quais os órgãos de imprensa enfrentam a tarefa de escolher as notícias.
Por isso, assim como afirmar Berger (1996), “o processo de rotinização e estandardização das
práticas produtivas inclui fatores como o espaço disponível e a política editorial, a aprovação
do anunciante e a apreciação do leitor” (BERGER, 1996).
A rotinização compõe o processo que internaliza a produção da notícia. Sendo assim, é
durante esse momento que critérios são estabelecidos quanto à seleção e escolha dos fatos que
serão notícias. Esses critérios, que surgem durante a rotina jornalística, colaboram para a
construção social da realidade (DALMONTE, 2008). Dalmonte (2008) afirma que uma forma
de assegurar a legitimidade da notícia é por meio dos critérios de noticiabilidade, pois essa é a
estratégia do discurso jornalístico: assegurar o efeito de real.
14
Segundo Bianco (2004), a produção da notícia pelas empresas jornalísticas ocorre, de
forma rotineira, dentro de um ciclo produtivo constituído para facilitar o processo e tornar
viável o trabalho cotidiano. Dentro desse ciclo produtivo ao qual Bianco (2004) se refere, é
empregada uma série de critérios e procedimentos para atribuir noticiabilidade a um
acontecimento. Para Wolf (2008), esse conjunto de critérios
[...] correspondem ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais
os aparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um
número imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita e
tendencialmente estável de notícia. Sendo assim, a noticiabilidade está estreitamente
ligada aos processos que padronizam e tornam rotineiras as práticas de produção: ela
equivale a introduzir práticas de produção estáveis numa “matéria-prima” (os
acontecimentos do mundo), por sua natureza extremamente variável e imprevisível.
(WOLF, 2008, p. 196).
A partir das afirmações do autor,pode-se entender que os critérios de noticiabilidade
estão relacionados a vários fatores probabilísticos além de estaremligados à “cultura
profissional dos jornalistas” e à “organização do trabalho e dos processos de produção”
(WOLF, 2008, 196). Sendo a segunda característica relacionada às escolhas feitas pelo
jornalista enquanto um profissional que, por experiência, procura selecionar o que agrada o
seu público a partir da imagem que faz do mesmo. A organização do trabalho e dos processos
de produção são referente à linha editorial do veículo, ou seja, às condutas que também estão
relacionadas com interesses mercadológicos. Para Belochio(2010, p.9),“os critérios de
noticiabilidade envolvem aspectos profissionais e mercadológicos que acabam influenciando
as opções editoriais dos veículos”.
Wolf (2008) também diz que os critérios de noticiabilidade são o “conjunto de
elementos por meio dos quais o aparato informativo controla e administra a quantidade e o
tipo de acontecimentos que servirão de base para a seleção das notícias” (WOLF, 2008,
p.202). Por isso, seguindo os eixos de pensamento já apresentados, Moreira (2006) afirma, a
partir de Wolf (2008), que a “transformação de um acontecimento em notícia é o resultado de
uma ponderação entre avaliações relativas a elementos de peso, relevo e rigidez diferentes”
(MOREIRA, 2006, p.37). Características que a autora indica como responsáveis por formar o
caráter elástico do processo de noticiabilidade.
É pertinente, também, estabelecer algumas diferenças entre os critérios de
noticiabilidade e os valores de construção da notícia (valores-notícia). Moreira (2006) afirma
que ambos estão relacionados às rotinas produtivas. Porém, “os valores de seleção podem ser
analisados em um corpus de notícias publicadas, pois se referem mais às características que
15
tem ou deve ter uma notícia, entendida como um relato publicado” (MOREIRA, 2006, p.38).
Ou seja, os valores-notícia estão relacionados ao conteúdo da mensagem.
Já “os critérios de noticiabilidade tendem a ser usados quando querem fazer referência
não só aos fatos como também às circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados,
envolvendo qualquer elemento que possa influenciar a veiculação de uma notícia”
(MOREIRA, 2006, p.38). Por isso, Moreira (2006) os entende como de caráter elástico, pois
os critérios de noticiabilidade, para a autora, se formam a partir de variáveis e se relacionam
de maneiras e intensidades diferentes durante a produção jornalística. Sendo assim, pode-se
questionar: qual é o potencial de mutação das dinâmicas jornalísticas com diferentes práticas e
tecnologias que surgem com o tempo, inclusive as alterações que se referem à comunicação
digital, para a alteração desses critérios elásticos?
Wolf (2008) divide os critérios de noticiabilidade da seguinte forma: critérios
substantivos; critérios relativos ao meio; critérios relativos ao público e critérios relativos à
concorrência. Eles serão descritos nos próximos parágrafos.
Os critérios substantivos reúnem os valores referentes ao conteúdo da notícia, pois,
segundo Wolf (2008, p. 196), “afirmar que uma notícia é escolhida por ser importante ou
interessante não esclarece muito”. Wolf relaciona esse critério aos seguintes fatores: grau e
nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável; impacto sobre a
nação e o interesse nacional; quantidade de pessoas que o acontecimento (de fato ou
potencialmente) envolve e a relevânciado acontecimento em relação aos desenvolvimentos
futuros de uma determinada situação.
Os critérios relativos ao meio abarcam os valores-notícia derivados do tipo de meio de
comunicação que está veiculando a notícia, uma vez que as suas características tecnológicas
podem limitar/condicionar as formas de transmissão das notícias. Uma pauta que serve para
ser televisionada pode não servir para ser impressa. Da mesma forma, a notícia que serve para
o rádio pode não servir para a televisão sem uma adaptação. Isso também se estende aos
meios noticiosos digitais(BELOCHIO, 2010), que além de ampliarem as possibilidades já
existentes de transmissão das notícias, também criam formas diferenciadas, isso considerando
as peculiaridades da utilização dos meios digitais, como será observado adiante.
Os critérios relativos ao público, conforme Wolf (2008), estão relacionados à visão
que o jornalista forma sobre o seu público quando avalia a viabilidade de um fato ser
noticiado. Uma vez que o grau de satisfação dos leitores pode ser colhido através de
pesquisas, ou seja, “as exigências do destinatário são constantes” (WOLF, 2008, p.222), a
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produção do jornalista sofreria influência do que ele mesmo pensa ou crê sobre os assuntos
que o seu o público pode consumir ou não de informação.
Os critérios relativos à concorrência relacionam-se a quanto um veículo pode se
alterar a partir das ações da sua concorrência. Segundo Wolf (2008, p.224), “competição
produz também o resultado de contribuir para estabelecer parâmetros profissionais dos
modelos de referência”. Essa mesma competição que estimula mudanças também “gera
expectativas recíprocas, no sentido de que pode acontecer de uma notícia ser selecionada por
se esperar que os meios de comunicação concorrentes também o façam” (WOLF,2008, p.
224). Resumindo, um fato pode ganhar potencial de noticiabilidade num veículo porque o seu
concorrente pode publicá-lo.
Com a sucinta descrição dos critérios realizada até aqui, ainda a partir de Wolf (2008),
percebe-se que nem todos os critérios de noticiabilidade são importantes da mesma forma. “A
observação parece reforçar a hipótese sobre a natureza negociada da noticiabilidade: os
critérios relevantes, portanto, são variáveis (mesmo que de modo limitado) conforme alguns
fatores” (WOLF, 2008, p.225). Se os critérios são passíveis de mudança,pode-se dizer
queexiste uma
[...] natureza dinâmica dos valores/notícia: estes se alteram no tempo e, mesmo
apresentando uma forte homogeneidade dentro da cultura profissional (além das
divisões ideológicas, de geração, de meio de expressão etc.) não permanecem
sempre os mesmos. (WOLF, 2008, p. 205).
Mantendo a reflexão apresentada acima por Wolf, considera-se que essa natureza
dinâmica dos critérios de noticiabilidade potencializa prováveis alterações nos mesmos no
jornalismo digital.
Sobre os valores-notícia, Moreira (2006) esclarece que eles são referentes ao
julgamento do fato, enquanto os critérios de noticiabilidade atendem às necessidades dos
veículos para a produção de notícias. Ainda, a partir de Moreira, os valores-notícia
[...] são múltiplos e interrelacionados de diferentes maneiras, não são naturais, mas
fruto da cultura jornalística e de uma intenção prévia, e esta pode originar-se em um
nível pessoal, organizacional, social, econômico, ideológico, etc. Tanto os sujeitos
como as rotinas e também certos segmentos sociais, por exemplo, são agentes de
valoração e construção das notícias. (MOREIRA, 2006, p.40).
Ou seja, para Moreira, os valores-notícia são resultados do realce da redação e edição
de texto. A autora elaborou a seguinte tabela de valores-notícia, considerando dois
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pressupostos. O primeiro diz respeito ao fato de que, como todos os valores-notícia estão, de
alguma forma, submetidos à política editorial, seria conveniente localizá-la no topo da
estrutura, ainda que política editorial não seja um valor-notícia e sim um critério de
noticiabilidade. O segundo pressuposto é a consideração do valor-notícia “interesse
público/social” como indispensável, pois, uma vez que a notícia não interessa a ninguém, não
tem necessidade de ser noticiada.
Moreira (2006) definiu, com a análise das manchetes dos jornais impressos Folha de
São Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo, os seguintes valores-notícia como
característicos de jornais de referência: atualidade/ineditismo, importância,
emoção/dramaticidade, entretenimento, suspense, excepcionalidade,
O valor atualidade refere-se, segundo Moreira (2006), à notícia recente, enquanto que
o valor „ineditismo‟ relaciona-se às notícias que ainda não foram publicadas.
O valor „importância‟ é subdivido em outros cinco que consideram a relevância do
fato. São eles: „consequência e amplitude/impacto‟, que são referentes ao leitor; „intensidade
ou gravidade‟, referentes a fatos excessivos ou exagerados. A autora sugere como exemplos
notícias que envolvem alto contingente de pessoas ou valores monetários. „Utilidade e
serviço‟ são relacionados à prestação de serviços.
A „emoção/dramaticidade‟ aparece em chamadas nas quais é mais agregada a
criatividade do que a informação.
Já o valor „entretenimento‟, não é destinado ao assunto, e sim para quando a leitura de
uma matéria é tomada como entretenimento. Ou seja, trata-se de “reportagens sobre temas
leves, com texto criativo” (MOREIRA, 2006, p.102).
A „excepcionalidade‟ refere-se a situações incomuns, que fogem ao habitual. Como a
quebra da expectativa pode acontecer por vários motivos, este valor é subdivido em:
„incomum, insólito, singular‟, „extraordinário/sensacional‟, „mudança‟ e „imprevisibilidade,
inesperado e surpresa‟.
„Conflito/controvérsia‟ refere-se a notícias que possuem “tensão, polêmica,
ambiguidade ou contradição” (MOREIRA, 2007, p.104). Ele não foi incluído como um
subvalor de „negatividade‟ porque “nem todo conflito é negativo” (MOREIRA, 2007, p.104).
„Negatividade‟ é subdividido em „ infração/ilegalidade, „falha/anormalidade‟,
„violência‟ e „negatividade‟. Segundo a autora, este último subvalor surge concomitante ao
valor geral, pois “encontramos assuntos, como a morte, que se enquadram diretamente em
„negatividade‟ e não em „infração/ilegalidade‟, „falha/anormalidade‟ ou „violência‟”
(MOREIRA, 2007, p.104).
18
„Proximidade‟ trata-se da relação geográfica ou cultural e o valor „interesse
público/social” engloba temas como educação e saúde, por exemplo.
Diante da multiplicidade de classificações, podemos notar como os valores-notícia são
flexíveis e estão em constante dinâmica. Como afirma Belochio (2009, p.48) “os valores-
notícia são requisitos que classificam um fato como algo com relevância suficiente para ser
transformado em notícia” (BELOCHIO, 2009, p.48), ou seja, se as relevâncias se alteram,
dependendo do contexto, as classificações dos valores-notícia também podem se alterar.
2.1 Seleção dos temas de destaque em diferentes meios
Mielniczuk (2003) afirma que “cada veículo possui suas especificidades e, cada
período, seus recursos tecnológicos, interferindo não só em como a informação é organizada,
mas também nos elementos que integram sua apresentação, condicionando e diferenciando o
resultado final” (2003, p.1). Partindo dessa reflexão, acredita-se que os critérios de
noticiabilidade possam ser afetados com essas alterações, o que pode culminar com seu
alargamento a partir das características de cada tipo de mídia. Justamente por essas
especificidades, eles servem para o jornalista pensar as notícias a serem distribuídas conforme
o seu contexto de produção.
Para entender esse possível alargamento, é pertinente compreender as variações entre
as mídias existentes. Neste trabalho, as diferentes publicações e produtos noticiosos são
entendidos como mídias. São exemplos o jornal impresso, o radiojornal e o telejornal. Todas
essas mídias têm suas configurações e formatos característicos, o que permite que a notícia
seja trabalhada em cada uma de forma compatível com a sua proposta.
A descrição que Charaudeau (2007) faz das diferentes mídias como “dispositivos2 de
encenação da informação” ajuda a compreender melhor tais peculiaridades. Ele diz que o
jornal impresso, por exemplo, é uma mídia escritural, feita de palavras, de gráficos, de
desenhos e de imagens fixas, sobre um suporte de papel. Por essas características técnicas, a
relação com tempo e espaço é peculiar. “A relação de distância e de ausência física entre as
instâncias da troca faz com que a imprensa seja uma mídia que, por definição, não pode fazer
coincidir tempo e acontecimento, tempo de escrita e tempo de produção da informação e
2 Segundo Charaudeau (2007) o dispositivo “compreende um ou vários tipos de materiais e se constitui como
suporte com o auxílio de uma tecnologia”, ou seja, o dispositivo é um combinado de dois elementos (material e
suporte) ligados pela tecnologia. Sendo que o material pode ser o som, a escrita, a imagem enquanto o suporte
pode ser o rádio, a televisão e o papel. A partir do autor, e seguindo essa lógica, a tecnologia surge nesse
contexto para regular a relação entre os materiais e os suportes durante a comunicação. Há outros autores que
conceituam o dispositivo, porém o tema não será aprofundado por pertinência do trabalho do em questão.
19
tempo de leitura” (CHARAUDEAU, 2007, p. 113). Sabe-se que, para esse segmento, é
preciso tempo para a elaboração do material que antecede o tempo de distribuição, além do
tempo de leitura. Para Charaudeau (2007), esse ciclo temporal de produção é o que produz
uma defasagem entre o surgimento do acontecimento e o momento em que o leitor toma
conhecimento dele.
Mielniczuk (2003) também descreve as diferenças entre o impresso e outras mídias,
em relação ao formato de apresentação das informações jornalísticas. Para a autora, no jornal
impresso, a informação é distribuída e organizada em diferentes níveis dentro da publicação.
A pesquisadora busca em Lage (2001) as reflexões sobre esses três níveis de organização. São
eles:
a) projeto gráfico: consiste nos elementos gráficos que compõem o jornal,
são a mancha, os fios, as letras, os traços, os espaços em branco; b) sistemas
analógicos: são as fotografias, ilustrações, charges e cartoons; c) sistemas
linguísticos: é composto pelos textos. (MIELNICZUK, 2003, p.04).
Em relação ao formato do texto, a autora defende que, no impresso, o formato depende
do gênero e, quando tomamos o “gênero notícia”, é muito difundido o formato da pirâmide
invertida3, que estrutura o texto narrando “do mais importante para o menos importante”
(MIELNICZUK, 2003, p.04).
Conforme Mielniczuk (2003), seguindo a ordem cronológica da história do
jornalismo4, a mídia que surgiu após o jornal impresso foi o rádio. Sendo assim, como mídia
sonora, a produção do radiojornalprecisa considerar as vantagens ou desvantagens da
produção que estimula apenas um dos sentidos humanos – a audição.
Como descrito por Charaudeau (2007), o rádio é composto por
[...]voz, sons, música, ruído, e é esse conjunto que se inscreve em uma tradição oral,
ainda mais que não é acompanhada de nenhuma imagem, nenhuma representação
figurada dos locutores nem dos objetos que produzem essas vozes, esses ruídos,
esses sons. (CHARAUDEAU, 2007, p. 106).
A temporalidade dessa mídia, segundo o autor, é “mais próxima possível daquela da
instância de recepção”, ou seja, há uma maleabilidade do suporte que aproxima o tempo do
3 A autora toma o exemplo da pirâmide invertida para, dessa forma, “ilustrar a ocorrência de mudanças pelas
quais passa um dos elementos que condicionam o formato da notícia através dos diferentes suportes”
(MIELNICZUK, 2003, p.04). Sendo assim, ela analisa como a pirâmide invertida foi adaptada no impresso, no
rádio e na tv, como será disposto a seguir. 4 Mielniczuk (2003) afirma que o jornal impresso foi difundido no final do século XIX, enquanto o rádio se
popularizou a partir da década de 1920 e a televisão a partir da década de 1950. Para este trabalho, seguiremos
essa sequência cronológica, quando se notar necessário apresentar reflexões sobre as essas mídias.
20
acontecimento e tempo de escuta. Segundo o autor, a distância fica quase abolida entre a
mídia e o ouvinte, pela transmissão direta da oralidade,
[...] à qual se acrescentam uma enunciação interpelativa da parte da instância
midiática e diversas estratégias de interatividade, (telefone, correiro eletrônico,
sondagens imediatas) criando intimidade, confidência [...] (CHARAUDEAU, 2007,
p. 109).
Dessa forma, o conteúdo produzido para ser transmitido por ondas sonoras precisa
considerar a possibilidade do tempo de produção e de escuta quase que simultâneo, no caso de
programas ao vivo, e a linguagem oral. Precisa levar em conta a imediaticidade, característica
que assume pertinente importância, pois define as pautas que ainda são quentes. Para o rádio,
quanto mais recente for o fato, maiores são as chances de ele ser noticiado.
Considerando o produto, Mielniczuk (2003) afirma que o radiojornal segue a mesma
estruturação que existe no jornal impresso, no que tange à divisão do programa em blocos.
Estes fazem alusão às sessões e editorias do impresso. Em relação ao texto, Mielniczuk
(2003) lembra que, como o ouvinte só possui o áudio para compreender a informação, é
preciso, então, que haja redundância no texto. Sendo assim, ainda segundo a autora, pelas
características do suporte, a redundância se torna uma marca da formatação da informação
jornalística radiofônica.
O telejornalismo já se utiliza de imagem e som. Essas duas características técnicas
também afetam a relação com o tempo e o espaço. Charaudeau (2007) afirma que, em relação
ao tempo,
[...] a televisão, apesar das câmeras cada vez mais sensíveis e leves, tem muita
dificuldade em fazer coincidir tempo e acontecimento, tempo da enunciação e tempo
da transmissão. O peso do material e a rigidez da programação fazem com que, na
maior parte das vezes, a transmissão dos acontecimentos pela televisão não seja
direta. (CHARAUDEAU, 2007, p. 111).
No que tange ao tempo, o telejornalismo sofre com o deslocamento de equipamentos e
o próprio tempo de edição do conteúdo produzido. Ainda assim, a impressão de contato entre
os telespectadores e os jornalistas, no telejornalismo, é característica marcante, como afirma
Charaudeau (2007). Dessa forma, o contato que é estabelecido entre o sujeito que assiste e o
sujeito que apresenta confere mais uma das características peculiares dessa mídia específica.
Outras características também estão relacionadas à imediaticidade que a TV pode
proporcionar, quando transmite conteúdo ao vivo com transmissão direta do local que ocorreu
21
o fato noticiado. A existência de imagens sobre o conteúdo também interfere, pois, se há
conteúdo para ser mostrado, a notícia se torna mais privilegiada.
Mielniczuk (2003) observa que o formato do telejornal possui uma linguagem
transfronteira, pois, indiferente do idioma, e de eventuais aspectos culturais e de caráter de
investimento econômico, os telejornais são semelhantes entre si do ponto de vista técnico. Em
relação ao texto, Mielniczuk (2003) e Bittencourt (1993) sugerem que a narração da
informação jornalística na televisão segue certa sequência temporal. Por isso, a pirâmide
invertida, tanto utilizada no impresso, aqui não corresponderia ao formato mais adequado. Os
autores apontam que o lide5, que na TV é chamado de cabeça, é mantido. Contudo, o restante
da narração deve ser seguido em ordem cronológica.
Com esses esclarecimentos sobre o formato da notícia, podemos concordar com
Mielniczuk (2003) quando ela afirma, analisando o jornal impresso, o rádio e a televisão, “que
tais processos ocorram também com outros elementos que interferem no formato da
informação jornalística e não só no modelo de redação” (MIELNICZUK, 2003, p.8). Ou seja,
a construção da notícia se forma por um conjunto de fatores.
Além das diferenças do suporte, do espaço, do tempo de produção, distribuição,
consumo e formato das notícias, outros fatores também contribuem para diferenciar as mídias.
Para compreender esses fatores, é interessante recorrer à teoria do Modo de Endereçamento.
Gomes (2006) relaciona-a com a forma como os programas de telejornalismo são
direcionados ao público, tomando o Jornal Nacional como exemplo. Para a autora,
O modo de endereçamento é aquilo que é característico das formas e práticas
comunicativas específicas de um programa, diz respeito ao modo como um
programa específico tenta estabelecer uma forma particular de relação com sua
audiência. (cf. Morley & Brunsdon, 1978). (GOMES, 2006, p.2).
O endereçamento é marcado porexplorar o que cada mídia tem e oferece, sempre
refletindo como será a recepção de seus espectadores reais ou imaginados.Ou seja:
Na perspectiva da análise televisiva, o conceito tem sido apropriado para ajudar a
pensar como um determinado programa se relaciona com sua audiência a partir da
construção de um estilo que o identifica e que diferencia dos demais.(GOMES,
2006, p.2 - 3).
5 O lide para a televisão, segundo a autora, chamado de cabeça, é “a narração do locutor antes de chamar o
repórter com imagens externas” (MIELNICZUK, 2003, p.07).
22
Considera-se que outros tipos de publicações também têm modo de endereçamento.
Trata-se de um dos aspectos que diferenciam cada mídia, pois cada uma inclina-se para
receptores com perfis diferentes. As revistas especializadas, por exemplo, de jornalismo
literário, tal como a revista Piauí, da Editora Abril, não apresentam suas notícias como elas
são apresentadas no Jornal Folha de São Paulo. A Piauí tem o jornalismo literário como
definição inerente à sua especialização. Essa lógica é óbvia, porque cada mídia tem a sua
política editorial definida, com uma abordagem diferenciada, que privilegia assuntos
diferentes, de acordo com o seu modo de endereçamento ao público.
Portanto, os critérios de noticiabilidade de cada mídia podem variar, considerando
suas características tecnológicas, seu suporte e o seu modo de endereçamento. Em cada mídia,
um critério pode ter mais peso do que o outro. Os valores-notícia mudam em cada uma.
Dalmonte (2008, p.128) diz que, “dessa forma, pensar a organização das novas mídias pode
resultar num exercício de constante adequação conceitual, para tentar abarcar uma situação
que não é estanque e que, ao movimentar-se, requer ajustes”.
Acredita-se que o surgimento de jornais digitais impulsionou mudanças nesse sentido,
tendo impacto nos critérios de noticiabilidade. Conforme o autor,
[...] uma nova mídia é aquela que abre novos caminhos estéticos e permite criar
estratégias de produção, circulação e recepção de sentido, mas que também pode
dialogar com as que precederam. Essa possibilidade de conjunção midiática é o que
tem sido experimentado pela prática do jornalismo na Internet, que, pelo processo de
digitalização da informação, vem descolando-se de práticas mais
compartimentalizadas, como a do impresso, do rádio e a da televisão, para ambientes
em que há o diálogo entre práticas. (DALMONTE, 2008, p. 129).
Segundo o autor, a internet tem outras implicações, tais como a alteração das noções
de tempo e de espaço, que precisam ser consideradas na produção do jornalismo
digital.Dalmonte (2008) afirma que, de uma forma ou de outra, a web acrescenta a
característica que o autor chama de “conjunção midiática” quando consegue convergir
práticas de outras mídias. Exemplo é quando se apresenta uma narrativa com a presença de
texto, hiperlink, vídeo, foto e áudio.
Belochio (2012) explica que, nas publicações no webjornalismo, “são mais próximas
as coincidências com o tempo do acontecimento, tempo da escrita, tempo de produção da
informação e tempo de leitura” (BELOCHIO, 2012, p.44). A pesquisadora reflete não apenas
em relação ao tempo para com as publicações, como também para com outros meandros do
webjornalismo, tais como a multimidialidade, a memória e a interação. Outro exemplo da
23
atuação do tempo é a possibilidade de atualizações contínuas, que, segundo Palacios (2002) e
Mielniczuk (2003), se configurara como uma das potencialidades do jornalismo na Web.
Dessa forma, essas e outras características do webjornalismo serão descritas de forma
mais aprofundada no próximo capítulo. A intenção é indicar fatores que possivelmente
interferem na definição dos seus critérios de noticiabilidade.
24
3A TRANSFORMAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE NA WEB
Segundo Alves (2006), o jornalismo digital vem modificando a impressão ameaçadora
que causou no seu surgimento, há cerca de duas décadas, e isto tem acontecido porque o
jornalismo digital está desenvolvendo suas próprias características. Elas estão, cada vez mais,
se tornando específicas. Para esclarecer essa ideia,o autor sugere duas fases de
amadurecimento do jornalismo digital. São elas:
Sobre a primeira fase, ele afirma:
Em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas
tradicionais a encararam como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos,
originalmente produzidos em outros formatos. Na melhor das hipóteses, via-se a
presença na Internet como uma extensão ou um complemento do produto
tradicional. Assim, esta primeira década do jornalismo digital foi caracterizada por
este pecado original: a simples transferência do conteúdo de um meio tradicional
para outro novo, com pouca ou nenhuma adaptação. (ALVES, 2006. p.94)
A partir do autor, nessa primeira década, o jornalismo digital foi marcado pela visão
da web, pelas empresas tradicionais, como uma extensão ou complemento do produto
tradicional.Sendo assim, a web era vista, inicialmente, apenas como uma nova ferramenta
para distribuir conteúdos. Alves (2006) ainda acrescenta que, nessa primeira fase,registrou-se
“preguiça das empresas de apostar na Internet como um novo meio capaz de garantir sua
sobrevivência numa era que se impõe de forma avassaladora. No fundo, o jornalismo digital
tem sido muito tímido no que se refere à criatividade e a inovação” (ALVES, 2006, p.94).
Essa visão de Alves sobre a primeira fase do jornalismo digital contribui não apenas
para a contextualização daquele momento, mas também para que possamos compreender o
fenômeno das apropriações, atualmente, dos sites de redes sociais pelo jornalismo.
A segunda fase, Alves (2006), resume com a ideia de „comunicação eu-cêntria‟. Pois,
na segunda década do jornalismo digital, a informação
[...] está baseada nas decisões individuais do receptor, diante do enorme leque de
opções que a Internet lhe abre. A comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho
acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que eu
quero e onde eu quero. (ALVES, 2006, p.97).
Essa perspectiva de Alves chama atenção para a alteração de poder sobre a produção e
o consumo da informação. Quem escolhe os fatos relevantes para a disponibilização ao
público em publicações fechadas e limitadas não é apenas o jornalista, mas também o leitor.
Silva Júnior (2001)descreve três estágios para o jornalismo digital: o transpositivo, o
perceptivo e o hipermidiático. O transpositivo refere-sea esse primeiro contato dos veículos
25
com a internet. Ele afirma que o estágio transpositivo seguia o “modelo eminente presente nos
primeiros jornais online onde a formação e organização seguiam diretamente o modelo do
impresso” (ALVES, 2006, p.3).Ou seja, era a transposição do que existia no impresso para a
tela do computador, considerando o browser como uma folha de papel infinita.
O segundo momento do jornalismo digital é o perceptivo,no qual, segundo Silva
Júnior (2001),
[...] há uma maior agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede
em relação ao jornalismo online. Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo,
posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há
uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o
aproveitamento para a versão online. Porém, há a percepção por parte desses
veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede. (SILVA
JUNIOR, 2001, p.3).
Ou seja, segundo o autor, essa fase perceptiva está para um momento em que a web
não é vista como apenas um espaço para a transposição do que existe no impresso direto para
a tela do computador.São notados e explorados os seus recursos, ainda que de forma tímida.
Nesse momento, já podemos considerar que, por motivos de concorrência, ou simplesmente
por necessidade de inovar, o jornalismo digital já passa a aproveitar as potencialidades da
web.
O terceiro e último estágio que Silva Júnior (2001) apresenta é nomeado como
hipermidiático, o qual ocorrem o “uso de recursos hipertextuais, a convergência entre suportes
diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas
e/ou serviços informativos” (SILVA JÚNIOR, 2001, p.3).
Não muito diferente do que Silva Júnior (2001) propõe, Mielniczuk (2003) também
divide a trajetória do jornalismo digital em três fases.Elas são nomeadas como as fases: a) dos
produtos de primeira geração, ou fase da transposição; b) dos produtos de segunda geração,
ou fase da metáfora; c) dos produtos de terceira geração, ou fase da exploração das
características daweb.
O jornalismo de primeira geração, ou de transposição, refere-se ao movimento,
propriamente dito, de transporo conteúdo que era publicado nos grandes jornais impressos
para o espaço na Web. Dessa forma, “os produtos desta fase, em sua maioria, são
simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel, só que, para a
web”(MIELNICZUK, p.33, 2003). Outra característica a se considerar desta fase, a partir da
26
autora, é que a rotina de produção das notícias era atrelada ao ritmo estabelecido pelos jornais
impressos.
A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos
jornais impressos. No que diz respeito aos formatos de apresentação das narrativas
jornalísticas, não há nenhuma evidência de preocupação com relação a uma
possível forma inovadora de apresentação das narrativas jornalísticas. A
disponibilização de informações jornalísticas na web fica restrita à possibilidade de
ocupar um espaço, sem explorá-lo, enquanto um meio que apresenta características
específicas. (MIELNICZUK, 2003, p.33).
Ou seja, nessa fase, o jornalismo digital é como Alves afirmou: “tímido no que se
refere à criatividade e à inovação”, sendo os conteúdos publicados no papel apenas
transportados para a tela do computador. A segunda geração, ou fase da metáfora,faz algumas
ensaios com as potencialidades da web. Contudo, aindase mantém atrelada ao modelo do
jornal impresso.Como afirma Mielniczuk (2003),
Com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da internet no País,
e seguindo uma tendência mundial, nos final dos anos 90 do século passado [...]
começaram a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar
as características oferecidas pela rede. (MIELNICZUK, 2003, p.33-34).
Sendo assim, temos as primeiras experimentações,com alguns elementos diferentes
incorporados nas rotinas de produção dos jornalistas, tais como:
Links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as
edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação
entre jornalista e leitor ou entre leitores, através de fóruns de debates; a elaboração
das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto.
(MIELNICZUK, 2003. p. 34).
Dessa forma, podemos constatar que as incursões às características da web referem-se a um
processo de amadurecimento tecnológicosomado ao estímulo criativo e inovador.Porém, com
ressalvas, pois os elementos incluídos nessas rotinas ainda estão associados ao jornalismo
impresso.Mielniczuk (2003, p.34)refere-se a essas pequenas experimentações como uma
“tendência (...) de produtos vinculados não só ao modelo do jornal impresso enquanto
produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam
associadas ao jornalismo impresso”. Sendo assim, podemos concluir desta fase que havia
receio em relação à credibilidade, apesar das tentativas de exploração da web.
27
Na terceira geração, ou fase do webjornalismo, Mielniczuk (2003. p.34) afirma que o
“cenário vai se modificando a partir da crescente popularização do uso da internet e também
do surgimento de iniciativas tanto empresariais quanto editoriais”. Ela também diz que “são
sites jornalísticos que extrapolam a ideia de uma versão para a web de um jornal impresso já
existente” quando se utilizam, por exemplo:
Recursos multimídia, como sons e animações, que enriquecem a narrativa
jornalística; oferecem recursos de interatividade, como chats com a participação de
personalidades públicas, enquetes, fóruns de discussões; apresentam opções para
configuração do produto de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário;
apresentam a utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização
das informações da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa de
fatos. (MIELNICZUK, 2003. p.36).
Essas iniciativas compõem o desenvolvimento do jornalismo digital e a tomada da web
como um ambiente com potenciais ecaracterísticas próprias. Mielniczuk (2003) grifa que o
seu desenvolvimento mais específico “corresponde a um estágio mais avançado de toda uma
infra-estrutura técnica relativa às redes telemáticas, bem como corresponde a um momento de
expansão da base instalada e ao aumento do número de usuários” (MIELNICZUK, 2003. p.
39). Contudo, como a dinâmica e as demandas da web vivem em processo de
desenvolvimento, a própria autora lembra que as fases
[...] não são estanques no tempo, e nem são excludentes entre si, ou seja, em um
mesmo período de tempo, podemos encontrar publicações jornalísticas para a web
que se enquadram em diferentes gerações e, em uma mesma publicação, pode-se
encontrar aspectos que remetem a estágios distintos. (MIELNICZUK, 2003. p. 39).
É a partir deste contexto de confluência concomitante das gerações que Barbosa
(2007) afirma que o modelo Jornalismo Digital em Base de Dados ou JDBD surgiu. Trata-se,
conforme a autora, de uma etapa de transição entre a terceira e a quarta geração do jornalismo
digital.
O Jornalismo Digital em Base de Dados, ou JDBD, tem como cerne a apropriação da
tecnologia das bases de dados6 nos processos produtivos. Quando elas são apropriadas no
jornalismo, desenvolve-se um paradigma próprio de produção (BARBOSA, 2007, p.1).
6Para melhores esclarecimentos, o conceito técnico de Bases de Dados refere-se ao “conjunto de dados
interrelacionados, organizados de forma a permitir a recuperação da informação. Armazenadas por meios ópticos
ou magnéticos como discos e acessadas local ou remotamente,” que visam “fornecer informação atualizada
(recursos estruturais), precisa e confiável (não dar a informação pela metade) e de acordo com a demanda
(oferecer o que o usuário necessita). Fonte: http://www.eca.usp.br/departam/cbd/lina/recurso2/bases.htm
28
Segundo Barbosa (2007), o JDBD tem as bases de dados como modelo para a apuração e
construção no jornalismo digital, pois as bases de dados se destacam na “construção e gestão
de produtos jornalísticos digitais – os cibermeios – bem como para a estruturação e a
apresentação dos conteúdos” (BÁRBOSA, 2008, p.5). Isso significa que as bases de dados
deixaram de desempenhar apenas a função documental e auxiliar, ou de espaço para busca de
informação e passaram, dessa forma, a auxiliar o profissional da área nos processos de pré-
produção, produção, disponibilização/circulação, consumo e pós-produção.
A adoção das BDs como paradigma é marca da quarta geração do jornalismo digital,
segundo Barbosa (2008). A pesquisadora afirma que as bases de dados auxiliam o jornalismo
na
[...] formação de equipes mais especializadas; desenvolvimento de sistemas de
gestão de conteúdos (SGC) mais complexos e baseados preponderantemente em
softwares e linguagens de programação com padrão open source, formato XML
(eXtensible Markup Language), algoritmos; acesso expandido por meio de
conexões banda larga; proliferação de plataformas móveis; consolidação do uso de
blogs; ampla adoção de recursos da Web 2.0; incorporação de sistemas que
habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças informativas;
produtos diferenciados criados e mantidos de modo automatizado; sites dinâmicos;
narrativas multimídia; utilização de recursos como RSS (Really Simple Syndication)
para recolher, difundir e compartilhar conteúdos; aplicações da técnica do tagging
na documentação e na publicação das informações; uso crescente de aplicações
mash-up; do conceito de geolocalização de notícias ou geocoding news; uso do
podcasting para distribuição de conteúdos em áudio; ampla adoção do vídeo em
streaming; novos elementos conceituais para a organização da informação; maior
integração do material de arquivo na oferta informativa; produtos experimentais
que incorporam o conceito de web semântica; emprego de metadados e data mining
para categorização e extração de conhecimentos; aplicação de novas técnicas e
métodos para gerar visualizações diferenciadas para os conteúdos jornalísticos que
auxiliam a sobrepujar a metáfora do impresso (broadsheet metaphor) como padrão.
(BARBOSA, 2008, p.9).
É possível notar, com as especificações de Barbosa (2008), que a quarta geração
dinamizou o fazer jornalístico, abrindo as possibilidades de atuação do jornalista e do leitor.
Deixou os processos de produção e de acesso às notícias, entre outros, mais práticos.
Atualmente, já se fala da quinta geração do jornalismo digital. Barbosa (2013)
apresenta seis características como componentes desta fase. São elas: medialidade,
horizontalidade, continuum multimídia, mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones. A
seguir, será exposta, brevemente, a descrição destas características.
A medialidade, segundo Barbosa (2013), refere-se à produção jornalística feita em
“diversos formatos de conteúdo (textos, fotos, áudios, vídeos, infográficos, slideshows,
newsgames, linha de tempo...) (BARBOSA, 2013, p.34) criados, editados e distribuídos de
29
forma totalmente digital e em rede”. A horizontalidade diz respeito aos “fluxos de produção,
edição, distribuição, circulação e recirculação dos conteúdos”(BARBOSA, 2013, p.36). Isso
seguindo a “lógica de atuação conjunta e integrada”, o que resulta, então, na “noção de um
continuum multimídia dinâmico”(BARBOSA, 2013, p.36). O continuum multimídia está
ligado à ideia de “integração de redação, gestão editorial multiplataforma, polivalência
midiática e a multimidialidade para os conteúdos” (BARBOSA, 2013, p.37).
As mídias móveis, aplicativos e produtos autóctones se destacam na quinta geração
porque, segundo Barbosa (2013),
As mídias móveis, especialmente smartphones e tablets, são também propulsoras
de um novo ciclo de inovação, no qual surgem os produtos aplicativos (apps)
jornalísticos para tablets e smartphones. Dentre eles, destacam-se como
potencialmente mais inovadores aqueles que denominamos autóctones, ou seja,
aplicações criadas de forma nativa com material exclusivo e tratamento
diferenciado. (BARBOSA, 2013, p. 42).
Isso faz deles “os novos agentes que reconfiguram a produção, a publicação, a
distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos
em multiplaformas” (BARBOSA, 2013, p.42).
É notável, a partir do que foi visto até aqui, que o surgimento de determinadas
tecnologias, como as bases de dados, pode desencadear e gerar mudanças nos modelos de
produção das redações. Acredita-se que tal fato pode influenciar os processos tradicionais
jornalísticos, como, por exemplo, os de apuração, edição e publicação. Recursos da Web 2.0,
característicos do cenário da cultura da convergência, foram apropriados para o uso
jornalístico, seja via apuração ou distribuição de informações. Também é visível a influência
de modelos da convergência jornalística no desenvolvimento do jornalismo digital. A quinta
geração parece estar relacionada com essas transformações.
As possíveis alterações dos processos tradicionais jornalísticos podem também refletir
nos critérios de noticiabilidade. Sobre a necessidade de refletir sobre os critérios de
noticiabiladade e suas tendências, Aldé (2004) afirma que
O jornalismo praticado na internet tem diferenças importantes em relação às mídias
impressas, como jornais e revistas, e implica novas práticas e critérios de
noticiabilidade específicos da mídia eletrônica. Ao contrário da edição de um
diário, cujas matérias pautadas vão sendo apuradas e modificadas ao longo do dia,
sendo eventualmente até descartadas antes de chegar ao leitor, no jornalismo online
o processo de apuração, reportagem e checagem dos fatos acontece em tempo real,
e é acompanhado pelos leitores, que têm acesso a uma variedade maior de
informações fragmentadas e fontes alternativas. (ALDÉ, 2004, p. 05).
30
Aldé (2004) considera que a relação diferente que o jornalismo digital oferece, em
relação ao tempo de apuração, produção e publicação, quando comparado ao impresso, deve
ser tomada para se refletir a respeito das “novas práticas e critérios de noticiabilidade”
(ALDÉ, 2004, p. 05). Firmino (2008) mantém o mesmo eixo de reflexão de Aldé (2004). Ele
considera que,
[...] com a expansão da infra-estrutura de tecnologias móveis digitais e conexões
sem fio como Wi-Fi e 3G, aliadas ao desenvolvimento de aplicativos avançados na
web, o jornalismo experimenta uma interface entre a mídia de massa e a mídia de
funções pós-massivas na construção do tempo real na relação com o espaço urbano
e a mobilidade.
A reapropriação destas ferramentas para a produção jornalística introduz novos
critérios de noticiabilidade. Compreender estas mutações é fundamental para um
enquadramento conceitual do próprio futuro do jornalismo num ambiente de
convergência e de digitalização midiática. (FIRMINO, 2008, p.01).
Firmino (2008) aponta que as reapropriações de elementos móveis que envolvem a
tecnologia wi-fi, 3G e aplicativos estão permitindo ao jornalismo experiências novas que, de
alguma forma, afetam as práticas jornalísticas. Situação que reflete nos critérios de
noticiabilidade. Dalmonte e Ferreira (2008) consideram que, a partir de então, há o
[...] desafio de se pensar quais são os novos critérios de noticiabilidade que, por um
lado, passam a marcar o modus operandi dessa esfera; por outro, reconfiguram as
concepções acerca do efeito de sentido propostas pelas especificidades dessa
narrativa jornalística. (DALMONTE e FERREIRA, 2008, p.127).
Dalmonte e Ferreira (2008) nos situam sobre a necessidade de refletir quando se há
elementos que afetam os critérios de noticiabilidade. As alterações podem não só afetar as
práticas, ou seja, a forma de se fazer jornalismo, como também, a forma de se consumir esse
jornalismo.
O jornalismo digital, como afirma Leitão (2012, p.9) “deve ultrapassar formatos e
linguagens, espaços e temporalidades. A partir disso, entram em cena os critérios de
noticiabilidade, a fim de modelar os itens desde a seleção até a produção das matérias”.Leitão
(2012) também acredita que o jornalismo digital se diferencia em vários aspectos da prática
jornalística nos meios convencionais e que se desenvolve de forma diferenciada.
A partir disso, podemos considerar que as diferentes práticas do jornalismo digital
podem interferir nos seus critérios de noticiabilidade. (ALDÉ, 2004; FIRMINO, 2008;
DALMONTE e FERREIRA, 2008; LEITÃO, 2012). Na realidade da cultura da convergência
(JENKINS, 2008), ainda mais. elementos têm afetado essas dinâmicas. O próximo tópico é
dedicado à reflexão sobre a questão.
31
3.1 Influências da Web 2.0 e da convergência
A forma de agir do indivíduo em relação à internet sofreu significativas alterações
desde o começo dos anos 2000. Este período tem como marca a consolidação das lógicas de
um espaço nomeado por O‟Reilly (2005) como Web 2.0. De certa forma, esse espaço também
tem afetado as rotinas de produção do jornalismo, levando o profissional da área a transformar
suas típicas formas de apuração, produção e a distribuição das notícias (PRIMO, 2006).
Primo (2006) afirma que
A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas
(serviços Web, linguagem Ajax, Web Syndication, etc.), mas também a um
determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias
mercadológicas e a processos de comunicação mediados por computador (PRIMO,
2006, p.1).
Assim, o termo não representa apenas questões relacionadas à informática e aos
interesses de programadores, por exemplo. O momento Web 2.0 pode ser entendido como a
fase em que o comportamento coletivo de participação, que Pierre Lévy (1999) associa ao que
ele chama de inteligência coletiva7, afeta as dinâmicas de navegação e de utilização do
ciberespaço.
O‟Reilly (2005) lista as características da Web 2.0 e as suas competências,definindo-as
como os princípios da Web 2.0. São eles: a) Serviços e software com „escalabilidade‟ de custo
eficiente; b)Controle sobre fontes de dados únicas e difíceis de serem criadas e que ficam
mais ricas quanto mais as pessoas as atualizarem; c) Confiança nos usuários como co-
desenvolvedores; d) Agregação de inteligência coletiva; e) Estimular a cauda longa através de
auto-serviço para o cliente; f) Software para mais de um dispositivo; g) Interfaces de usuários,
modelos de desenvolvimento e modelos de negócios leves.
Romaní e Kuklinski (2007) resumem os sete princípios da seguinte forma:
[...] a World Wide Web como uma plataforma de trabalho, o fortalecimento da
inteligência coletiva, a gestão de bases de dados como competência básica, o fim do
ciclo das atualizações de versão de software, os modelos de programação junto a
procura da simplicidade, o software não limitado a um dispositivo e experiências
7 Inteligência Coletiva, segundo Lévy é “[...] uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente
valorizada, coordenada em tempo real, que resulta uma mobilização efetiva das competências [...]”. (LÉVY;
2007).
32
enriquecedoras para os usuários.(ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15,
tradução nossa).8
Ou seja, segundo os autores citados, esta Web diferenciada deixa de ser uma vidraça
de conteúdos para se tornar uma plataforma aberta, construída sobre uma arquitetura baseada
na cooperação dos usuários. Conforme Primo (2006), essa arquitetura visa ao aproveitamento
da inteligência coletiva a partir da valorização das ações dos usuários dos seus serviços. Isso
ocorre mediante a incorporação de recursos de compartilhamento e interconexão nos serviços
oferecidos na Web 2.0.
A Web 2.0 se desenvolveu a partir do trabalho conjunto de inúmeros indivíduos, que
produzem e/ou consomem juntos, sem necessariamente o controle comercial da atividade de
produção e, tampouco, de consumo. Com essa contextualização, podemos julgar que o
cenário que se formou a partir de então, na Web, é de cooperação entre os internautas. Sobre
esse comportamento, Primo (2006) afirma que:
[...] não se dá porque na Internet todos são pessoas generosas ou porque a
tecnologia faz nascer a vontade de colaborar por si mesma, mas sim porque,
paralelamente às facilidades tecnológicas, os indivíduos têm interesses na produção
de bens coletivos, sejam estes os mais elevados, como prover um recurso a quem
dele necessita, sejam os mais terrenos, como a busca por reputação ou simples
diversão. (PRIMO, 2006, p.44).
Desse modo, segundo Primo (2006), o processo de cooperação é natural. Com o
ambiente favorecendo, as mudanças se tornam consequências. E assim, nesse contexto de
fácil acesso para os produtores e consumidores dos recursos disponíveis, o ambiente se tornou
fértil para mudanças.
Com o alto contingente de conteúdos disponibilizados em rede, surgem as iniciativas
de nicho, desenvolvidas por amadores, que formam o que Anderson (2006) chama de caudas
longas. A partir de Anderson (2006), o fenômeno da cauda longa resume-se ao abalo no
modelo da “cultura de massa”, através do crescimento da “cultura de nicho”. Tem acontecido
por uma conjuntura de fatores. “É a culminância de uma sucessão de inovações em negócios
que remontam a mais de século – avanços na maneira como descobrimos, produzimos,
distribuímos e vendemos.” (ANDERSON, 2006, p. 39). Essas inovações às quais Anderson
(2006) se refere permitiram não só autonomia ao indivíduo para sua própria produção e
8[...] la Word Wide Web como plataforma de trabajo, el fortalecimiento de la inteligencia colectiva, la gestión
de las bases de dados como competencia básica, el fin del ciclo de las actualizaciones de versiones del software,
los modelos de programación ligera junto a la búsqueta de la simplicidad, el software no limitado a um solo
dispositivo y las experiencias enriquecedoras de los usuarios. (ROMANÍ e KUKLINSKI, 2007, p.15).
33
distribuição amadora, como também opções para explorar o micro-mercado às grandes
organizações.
Anderson (2006) afirma que o “setor de notícia foi o primeiro a realmente sentir o
impacto da internet” (2006, p.183). O que demonstra que o fenômeno da cauda longa também
pode ser aplicado ao consumo de informação. Nesse sentido, Belochio (2009) indica a cauda
longa da informação:
[...] no topo da curva da demanda ficam os chamados hits, ou seja, os produtos mais
consumidos, preferidos pela grande maioria do público. Na cauda longa da
informação esse seria o caso dos meios informativos tradicionais, que conquistaram
credibilidade no decorrer de sua história, tais como jornais, emissoras de TV, rádios
e outras marcas mais conhecidas e também atuantes fora do universo digital. Sua
presença no ciberespaço é mais uma forma de projeção de seus conteúdos
massivos. Na cauda, conforme descreve o autor [Anderson], encontram-se os
nichos, entendidos como os meios alternativos e customizados de informação.
(BELOCHIO, 2009, p.3).
Com isso, podemos entender que, na cauda longa da informação, estão páginas
amadoras como os blogs, citados por Anderson (2006), além de uma série de outros tipos de
conteúdos publicados em espaços destinados à expressão dos cidadãos comuns, sem
vinculação com mídias tradicionais. As redes sociais também são espaços que podem ser
usados nesse sentido. Tal contexto é configurado a partir das seguintes forças: a
democratização das ferramentas de produção, a redução dos custos de consumo pela
democratização da distribuição e a ligação entre a oferta e a demanda (ANDERSON, 2006,
p.52-53).
A partir disso, podemos observar que a Web 2.0 é, de certa forma, a base para o
desenvolvimento da cultura de nichos citada por Anderson (2009), além de, também, integrar
a conjuntura descrita por Jenkins (2008) como realidade da cultura da convergência. Segundo
o autor, a cultura da convergência é caracterizada pela alteração da “lógica pela qual a
indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento”
(JENKINS, 2008, p.43). De acordo com Jenkins (2008), é importante entender que essa
realidade vai
[...] contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente
como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos
aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, à
medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações a fazer
conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. (JENKINS, 2008, p. 29).
34
As palavras de Jenkins (2008) enfatizam que o fenômeno não deve ser visto apenas
como um momento de desenvolvimento tecnológico, tal qual é possível se ver nas ruas e nas
mãos das pessoas pela presença, cada vez maior, dos equipamentosdigitais conectados.Jenkins
(2008) explica que a convergência “representa uma transformação cultural”, porque
transforma e afeta hábitos. Se, antes, um estudante precisava saber o horário do seu ônibus
por uma cartela de horários impressa, ou memorizar pela força do uso, atualmente, esse
mesmo estudante pode usar um aplicativo do seu smartphone conectado em rede 3G para
saber o horário e o itinerário do seu ônibus. Além disso, enquanto esse estudante espera seu
ônibus, por exemplo, poder checar redes sociais, ler notícias, baixar conteúdos e publicar os
seus próprios conteúdos.
Enfim, houve uma transformação de hábitos. Jenkins (2008, p.29) afirma que
“convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,
mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam
estar falando”. Jenkins (2008) também diz que a convergência é marcada pelo “fluxo de
conteúdos através de múltiplas plataformas midiáticas”, a “cooperação entre múltiplos
mercados midiáticos” e o “comportamento migratório dos públicos dos meios de
comunicação”. (JENKINS, 2008, p. 29). O exemplo do estudante ilustra essa afirmação.
Relacionando as ideias de Jenkins (2008) ao jornalismo, a convergência ganha
destaque. Barbosa (2008) relaciona a cultura da convergência à convergência jornalística, que
tem as seguintes características, conforme a autora:
Para o jornalismo, a convergência significa integração entre meios distintos,
produção de conteúdos combinando multi-plataformas para publicação e
distribuição, convergência estrutural com a reorganização das redações e a
introdução de novas funções para os jornalistas, uso associado de tecnologias da
informação, softwares, sistemas inteligentes, audiência ativa, exploração do
potencial interativo, hipertextual e multimídia da internet, e também a construção
de narrativas jornalísticas em conformidade com tais recursos. Mais que uma
palavra da moda ou justificativa para sobrecarga de trabalho e cortes nas equipes, a
convergência jornalística é uma oportunidade para renovar o jornalismo e atualizá-
lo frente às demandas do público do século XXI. (BARBOSA, 2008, p.2).
Segundo Barbosa (2008), a convergência no jornalismo afeta suas rotinas de produção,
pois a produção de conteúdos torna-se distribuída nas multiplataformas. O consumo também
se altera, uma vez, que a narrativa dos conteúdos pode ser feita de várias formas, através das
multiplataformas. Ou seja, a convergência jornalística é uma tendência diferente de se fazer e
de se consumir jornalismo.
35
Sendo assim, “a convergência envolve uma transformação tanto na forma de produzir
quanto na forma de consumir os meios de comunicação” (JENKINS, 2008, p. 44). Quando o
jornalismo se apropria de algum site de rede social, por exemplo, ele está, justamente,
realizando isso através da convergência, pois, nesse cenário, se alteraram as estratégias de
produção. Para entender melhor como a apropriação pode afetar o jornalismo e seus
processos, o próximo capítulo discute as apropriações dos sites de redes sociais realizadas
pelos veículos jornalísticos atuais.
36
4 APROPRIAÇÕES DE SITES DE REDES SOCIAIS PELO JORNALISMO
Recuero (2009) define os sites de redes sociais da seguinte maneira:
[...] um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós
da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Uma rede, assim, é uma
metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das
conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim,
seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas
conexões. (RECUERO, 2009, p. 24).
Ou seja, o site de rede social é um emaranhado de conexões e ligações entre os seus
componentes, chamados pela autora de atores. Estas conexões mantêm os atores ligados entre
si para que exista troca de comunicação entre o grupo. Alguns atores possuem mais ligações
do que outros. Contudo, ambos se alimentam e são alimentados pela rede social e a compõem
como um todo.
Outra observação da autora é de que são as “estruturas dos agrupamentos humanos,
constituídas pelas interações, que constroem os grupos sociais” (RECUERO, 2013, p.16). Tal
definção permite a compreensão de que, para que a rede seja estabelecida, é necessária a
conexão entre indivíduos. Por isso, a formação das redes sociais é dependente do
comportamento humano. Elas já eram assim antes do surgimento dos sites de redes sociais.
São criações que partem da tendência natural do ser humano de se agrupar e de trocar
informações entre si.
Recuero (2009) também salienta que a diferença entre os sites de redes sociais está no
tipo de apropriação que se realiza dos seus espaços. Ela coloca dois tipos: os “sites de redes
sociais propriamente ditos” e os “sites de redes sociais apropriados”. São exemplos dos
propriamente ditos o Orkut eo Facebook. “São sistemas onde há perfil e há espaços
específicos para a publicização das conexões com os indivíduos. Em geral, esses sites são
focados em ampliar e complexificar essas redes, mas apenas isso.” (RECUERO, 2009, p.
104). Já os „sites de redes sociais apropriados‟, também citados pela autora, são como o
Fotolog, Webblogs e o Twitter. “São sistemas onde não há espaços específicos para perfil e
para a publicização das conexões. Esses perfis são construídos através de espaços pessoais
ouperfis pela apropriação dos atores.” (RECUERO, 2009, p. 104). Para a autora, os sites de
redes sociais, sejam eles propriamente ditos ou apropriados, são
[...] ferramentas que proporcionam a publicação e a construção de redes sociais [...]
Nessas ferramentas, essas redes são modificadas, transformadas pela medição das
tecnologias e, principalmente, pela apropriação delas para a comunicação.
(RECUERO, 2013, p.16).
37
Portanto, é possível entender que o processo de apropriação é importante para que o
site de rede social seja muito ou pouco aderido pelo público. Uma apropriação criativa e
funcional pode significar curta ou longa popularidade de um site de rede social.
A apropriação é vista por Lemos (2002) como
[...] uma dimensão técnica (o treinamento técnico, a destreza na utilização do
objeto) e uma outra simbólica (uma descarga subjetiva, o imaginário). A
apropriação é assim, ao mesmo tempo, forma de utilização, aprendizagem e
domínio técnico, mas também forma de desvio (deviance) em relação às instruções
de uso, um espaço completado pelo usuário na lacuna não programada pelo
produtor/inventor, ou mesmo pelas finalidades previstas inicialmente pelas
instituições” (LEMOS, 2002, p.239).
Assim, a apropriação significa ir além do domínio da função pré-estabelecida. Pode
resultar na criação de outras formas de uso que surgem com a criatividade. Zago (2008) segue
a mesma linha de pensamento de Lemos (2002). Ela afirma que,
[...] embora os sites sejam criados com uma proposta inicial por seus
desenvolvedores, é a partir do efetivo uso que as redes sociais irão se constituir. [...]
Como o modo criativo adotado pelos usuários de internet, muitas vezes bastante
diferentes da proposta original dos sistemas, em um contexto de cibercultura.
(ZAGO, 2008, p.20).
Portanto, a criatividade é, de certa maneira, o mote da apropriação dos sites de redes
sociais quando a utilização desses sites é diferente do proposto inicialmente pelos seus
programadores (LEMOS, 2002; ZAGO, 2008).
Desse modo, o uso criativo dos sites de redes sociais também está presente no
jornalismo. Os seus usos estão associados aos vários processos de criação da notícia, desde a
formação da notícia, para a coleta de pautas, até o uso para a potencialização da circulação
das notícias. Pressupondo os seus diversos modos de uso, com foco nas dinâmicas da notícia a
partir dos casos de análise dos perfis no Twitter e no Facebook do jornal Estado de São Paulo,
Sousa, (2013) distingue quatro momentos dos sites de redes sociais para a prática do
jornalismo. São eles:
a) Compartilhamento Simples:o mais comum e que foi encontrado em todos os
casos pesquisados. Ocorre quando são disponibilizados botões para
compartilhamento das notícias nos portais para sites externos (Twitter, Facebook,
LinkedIn, Digg). O encaminhamento por e-mails e o espaço de comentários foram
considerados como estratégias de distribuição e interatividade;
b) Perfil em redes sociais:é quando as organizações jornalísticas estão presentes nas
redes sociais por meio de perfis ou fanpages. Neste cenário, o grau de interação
38
com o público consumidor pode variar entre as organizações. É possível ainda, pelo
login via Facebook, que possibilita a visualização de conteúdos exclusivos, o
comentário de notícias e acessar links recomendados pelas redes de amigos;
c) Colaboração: ocorre quando os veículos jornalísticos utilizam o conteúdo
procedente e selecionado das RSIs. Isso ocorre frequentemente e, em coberturas
jornalísticas especiais, esse material costuma ser usado para atualizações em tempo
real, assim como para reportagens multimídia.
d) Redes sociais próprias:esse é o cenário mais recente. Ocorre quando, além de
possuir todas as características anteriores, “o jornal on-line dispõe de uma rede
social própria” (LONGHI; FLORES; WEBER, 2011, p. 26), trazendo: Ferramentas
existentes em um site de rede social como criar perfil, compartilhar e comentar
itens, seguir usuários, entre outras. As redes sociais próprias mantêm link com as
outras redes já existentes e oferecem a opção de importar contatos e de publicar os
links divididos na plataforma do veículo (SOUSA, 2013, p. 97 - 98).
Observando as características colocadas por Sousa (2013), pode-se notar que são
funções apropriadas para o uso jornalístico, uma vez que não surgiram, inicialmente, para esta
função. O jornalismo tem feito usos específicos dos sites de redes sociais, relacionados com
objetivos estratégicos no uso dessas ferramentas. Exemplo pode ser visto na análise de
Dalmaso (2013), ao falar do jornalismo no Facebook. Ela compara as postagens no Facebook
de dois veículos: „Sul 21‟, que é um meio nativo da Web, e „Zero Hora‟, que é um meio com
representações convencionais. Segundo ela, ambos os veículos seguem o mesmo formato de
publicação, pois publicam suas informações sempre acompanhadas dos links das matérias.
Enquanto, para o texto, o
[...] aspecto do instantâneo pode aparecer tanto no tamanho das mensagens
postadas, geralmente mais resumidas, quanto na utilização de expressões que
verbalizam o acompanhamento de uma pauta como “neste momento”, “em
instantes”, “estamos acompanhando” etc. Outra característica que é incorporada à
apresentação da informação nos sites de rede social é o apelo visual, utilização de
imagens acompanhando o texto, sejam fotografias como imagens de links de sites.
(DALMASO, 2013, p.2).
Esses exemplos foram apropriações semelhantes entre o Sul 21 e o Zero Hora. Para a
apresentação de links que remetem os internautas ao seu site oficial, o Sul 21 se “utilizou de
quatro formas diferentes de publicar conteúdo através de sua página do Facebook”
(DALMASO, 2013, p. 10). Postura que Zero Hora não adotou, pois, diferente do Sul 21, Zero
Hora “utiliza predominantemente o formato texto resumido, fotografia e link para o site”
(DALMASO, 2013, p. 15). Expressões de autorreferência também foram usadas por ambos
para “marcar o efeito de acompanhamento do fato, direto do local onde ele está ocorrendo”
(DALMASO, 2013, p. 11). Trata-se de algumas tendências de utilização desses espaços pelos
meios jornalísticos. Demonstram tentativas de explorar possibilidades das redes sociais, como
o acompanhamento contínuo dos fatos, em tempo real.
39
O Twitter tem sido um dos sites de redes sociais apropriados pelos meios jornalísticos
e a forma de apropriação tem variado bastante. Dentre essas formas, tem sido usado como
fonte de informação para o jornalismo durante o processo de formação da notícia (ZAGO,
2008; KWIATKOSKI, 2013).
[...] cobertura minuto a minuto, difusão de últimas notícias, informações sobre
bastidores da publicação jornalística, envio de atualizações direito do local do
acontecimento a partir de dispositivos móveis, entre outras, seriam algumas
possibilidades de utilização do Twitter que vêm sendo postas em prática por
organizações jornalísticas de todo o mundo. (ZAGO, 2008, p. 35).
Estas apropriações apontam como o Twitter está sendo inserido nos processos de
produção da notícia. Outra possibilidade de uso do Twitter é para a recirculação jornalística.
Ela ocorre, segundo Zago (2008), quando há uma subetapa na última etapa de consumo do
jornalismo. Segundo a pesquisadora, o fenômeno acontece após o consumo, quando “ele pode
continuar com o acontecimento sendo posto novamente em circulação pelas mãos dos
interagentes, que filtram e comentam a notícia originalmente posta em circulação pelos
veículos” (ZAGO, 2013, p. 215). Ou seja, a informação continua recirculando pelo site de
rede social por conta da potencialização dos interagentes e não mais, necessariamente, dos
veículos. Por isso, é possível observar que o Twitter é um site de rede social o qual
[...] muitos profissionais da comunicação usam, talvez como um reflexo de que a
ferramenta tem sido incorporada às rotinas produtivas de sua profissão, servindo
tanto como fonte quanto como espaço para circulação (ou recirculação) de
conteúdos. (ZAGO, 2008, p. 159).
Assim, a incorporação dos sites de redes sociais nas rotinas produtivas pode significar
a visão dos mesmos como canais para a prática típica do jornalismo digital. Contudo, estas
apropriações não devem ser vistas como maneiras de encurtar os caminhos na produção da
notícia e nem de substituir a apuração e a checagem de conteúdos (KWIATKOSKI, 2013).
Kwiatkoski (2013, p.18) coloca que “notícias falsas não são incomuns no jornalismo e nem
são uma novidade. A novidade está na sua origem”. Logo, o uso dos sites de redes sociais não
altera, em essência, o modo de fazer jornalismo, pois as etapas de apuração devem ser feitas
tal como se faz no jornalismo tradicional. O que pode estar se alterando são outros aspectos
do jornalismo digital.
Não é apenas o jornalista, quando produz, e o público, quando consome, que têm
sentido os impactos da inclusão dos sites de redes sociais no processo jornalístico, mas
também a relação dessas duas esferas. Esses lados não são excludentes e o fenômeno Pro-Am,
40
característico da cauda longa, segundo Anderson (2006), mostra que é possível melhorar as
notícias quando “profissionais e amadores trabalham lado a lado”(ANDERSON, 2006). “O
Pro-Am também pode estar acontecendo no jornalismo, a partir do aproveitamento que as
mídias de referência fazem dos conteúdos amadores disponíveis na Web.” (BELOCHIO,
2010, p. 135). Isso pode ser associado ao jornalismo colaborativo e pode acontecer através
dos sites de redes sociais, entre outros espaços. O Pro-Am
[...] pode ser observado quando os jornais digitais solicitam o envio de informações,
de fotografia e de vídeos sobre determinados eventos que não conseguem cobrir de
maneira abrangente e instantânea. A partir dessa ação, os veículos noticiosos
buscam ampliar a qualidade e a quantidade de informações e detalhes sobre os
acontecimentos com os quais trabalham, mediante a ajuda recebida do público
amador. (BELOCHIO; ZAGO 2010, p. 02).
Tendo em vista que essas práticas podem ser vistas nas apropriações que os meios
jornalísticos têm feito dos sites de redes sociais (BELOCHIO ZAGO, 2010), pode-se observar
que a apropriação dos mesmos tem alterado determinadas rotinas do processo de produção das
notícias. Dentre as etapas gerais da prática jornalística: apuração, produção, circulação e
consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2007), é possível identificar tendências
em cada uma. Por exemplo, o movimento Pro-Am (BELOCHIO 2010; BELOCHIO; ZAGO
2010),quando estimula o leitor a contribuir com o jornalista pelas redes sociais, gerando
conteúdo final colaborativo. Entende-se que essa ação pode afetar a apuração e a produção. A
recirculação de informações colocada por Zago (2011) é uma ação que se torna possível a
partir da modificação das práticas de consumo, que alteram a circulação. Os modelos para a
publicação de texto resumido, fotografia e link para o site (DALMASO, 2013) pode ser
associado a mudanças nas práticas de produção e de circulação. São exemplos de como,
atualmente, as apropriações de sites de redes sociais têm entrado nas rotinas jornalísticas.
Esses processos estão relacionados com as possibilidades do jornalismo na rede. Como
já visto no capítulo 2, enquanto produto jornalístico possível a partir de tecnologias
diferenciadas, o jornalismo digital apresenta características próprias que estão se acentuado. A
apropriação dos sites de redes sociais para estratégias peculiares é uma delas. Acredita-se que
essas especificidades podem influenciar a definição dos critérios de noticiabilidade nas
redações de maneira diferente, mais relacionada ao meio digital. Isso acontece, entre outras
coisas, a partir do contexto favorável, pois se pode apontar que, à medida que o jornalista
agrega o uso dos sites de redes sociais na sua própria rotina de produção, transforma as
mesmas em elementos do seu cotidiano. Se, como já destacado a partir de Moreira (2008, p.
41
38), os critérios de noticiabilidade são referentes “não só aos fatos, como também às
circunstâncias em que eles são percebidos e selecionados, envolvendo qualquer elemento que
possa influenciar a veiculação de uma notícia”, há possibilidades deque o uso dos sites de
redes sociais afete, de alguma maneira, os critérios de noticiabilidade. Quando percebemos o
quanto as apropriações dos sites de redes sociais estão participando das etapas da prática
jornalística citados anteriormente, isso fica mais evidente.Tanto que, em algumas redações, já
existem editorias específicas de mídias sociais nos jornais disponibilizados na rede.
Com base em tal fato, entende-se que as apropriações dos sites de redes sociais no
jornalismo digital podem estar interferindo nas suas dinâmicas de produção. Visto que eles
passam a integrar as estratégias editoriais dos veículos jornalísticos, podem estar assumindo
importância peculiar nesse contexto.
4.1 Exemplos de apropriações em sites jornalísticos brasileiros
Este tópico é dedicado à breve descrição de casos de apropriação dos sites de redes
sociais em alguns jornais de referência. Pois, é válido não só verificar a presença dos sites de
redes sociais nas estratégias desses outros webjornais, como também, as formas de
apropriações desses elementos. Para tal, foram verificados os aspectos dessas apropriações
dentro do webjornal e também dos perfis e páginas oficiais das redes sociais apropriados por
eles.
Segundo a Associação de Nacional de Jornais (ANJ), os dez maiores jornais do Brasil
de circulação paga durante o ano de 2012 são os seguintes: Folha de São Paulo (SP); Super
Notícia (MG); O Globo (RJ); O Estado de São Paulo (SP), também conhecido como O
Estadão; Extra (RJ); Zero Hora (RS); Diário Gaúcho (RS); Daqui (GO); Correio do Povo
(RS) e Meia Hora (RJ). Foram usados como exemplos neste trabalho os jornais Folha de São
Paulo, O Estadão e O Globo, ou seja, três dos quatro maiores jornais de circulação paga no
Brasil.
4.1.1 Folha de São Paulo
O Jornal Folha de São Paulo apresenta perfil em seis sites de redes sociais. São eles:
Facebook, Twitter, Google +, Instagram, Pinterest e Tumblr. Na página inicial do site,
atualmente, não há remissão para os sites de redes sociais. Contudo, nas páginas das editorias
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há um box que concentra alguns plugins9do tipo íconesdos sites de redes sociais do jornal e
outros que aparentemente são convenientes para a empresa. A imagem a seguir mostra o box
nomeado de “Siga a Folha”, que é igual para todas as outras páginas de editorias e que está
presente, inclusive, nas páginas de conteúdo.
Figura 1 -Box “Siga a Folha” retirado da página da editoria Ilustrada do jornal Folha de São
Paulo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/ Acesso em 01 de Mar. de 2014.
As páginas de conteúdos possuem três momentos de presença de redes sociais. O
primeiro momento, simular a uma tarja, contém três Pontos de Estímulos de
Interação(PEI)10
que são: o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweetar”, do Twitter e o “G +1”,
do Google Plus. Vale lembrar, que também no fim da página, há outra tarja como esta. O
segundo momento está nas opções do “+ Mais Opções”, o “Facebook” deste caso gera o
compartilhamento de conteúdo, ou seja, uma ação diferente do “Recomendar”.
O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones dos sites de redes sociais. A
imagem que segue mostra detalhes para melhor exemplificação da localização
dessesmomentos descritos.
9Neste trabalho, plugins são entendidos como programas ou extensões, que visa, quando instalados em outro
programa principal, adicionar funcionabilidades específicas. Ao longo do trabalho, o elemento será
exemplificado com mais detalhes.
10Pontos de Estímulos de Interação (PEI) são elementos, aparentemente, similares ao plugins. Contudo, o PEI
estimula uma ação. No caso, relacionados as redes sociais. Curtir, comentar, recomendar, compartilhar, twittar
são exemplos de ações estimuladas relativas ao Facebook e Twitter. Dessa forma, o PEI, não se limita a apenas
anexar o site de rede social como também estimula o leitor. Ao longo do trabalho, o PEI será exemplificado.
43
Figura 2 - Primeira parte da página de conteúdo com presença de três momentos de sites de
redes sociais.
Fonte:<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/02/1419558-comedia-e-a-grande-vencedora-do-cesar-
maior-premio-do-cinema-frances.shtml.>. Acesso em 01 de Mar. de 2014.
Pode-se observar, na imagem anterior, a tarja branca com os Pontos de Estímulos de
Interação de três sites de redes sociais. São eles: o “Recomendar” que serve para que o
indivíduo recomende conteúdos aos seus amigos do Facebook. O “Tweetar”que publica o
conteúdo noperfil do Twitterde quem efetuou a ação. E, o “G+1” que também servem para
publicar conteúdo na página de quem clicou. Logo, visam à intervenção do público, e não
apenas ao direcionamento dele para as páginas dessas redes sociais. Além disso, no ícone “+
Opções”, encontra-se a opção para oFacebook, que redimensiona para o compartilhamento do
conteúdo, outra ação do Facebook. O terceiro momento é o box com plugins do tipo ícones
que redirecionam para as páginas em questões e está presente, também, nas páginas de
conteúdo.
Nos próximos parágrafos, serão descritas observações breves sobre cada perfil dos seis
sites de redes sociais que o jornal possui.
O Perfil do Facebook é apresentado aos leitores com as normativas do jornalismo
produzido pela Folha de São Paulo. “A Folha de S Paulo (www.folha.com) quer levar a você
o melhor conteúdo, com pluralismo, jornalismo crítico e independência”. Também se pode
verificar a seguinte definição: “esta página foi para receber a sua opinião”. O modelo das
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postagens segue a forma chamada curta e link para a leitura integral do conteúdo, no site do
jornal, junto com uma imagem. Apesar de o perfil declarar que o Facebook seria um canal
para “receber a sua opinião”, não parece que o jornal realiza esse tipo de coleta com
frequência, pois não foi observada interação do perfil com o público no período desta
pesquisa. Aparentemente, o perfil só publica e recebe os comentários dos seus leitores sem
interagir. A imagem seguir mostra o modelo de publicação:
Figura 3 - Modelo de postagem no Facebook no perfil do jornal Folha de São Paulo
Fonte:<https://www.facebook.com/folhadesp>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
Como pode ser observado na Figura 3 os círculos marcam a chamada, o link e a foto.
É o modelo de postagem utilizado para este site de rede social.
A apresentação do perfil do Twitter é sucinta e resume-se à alegação da oficialidade do
perfil, junto com o link para o perfil do Facebook, mais o canal para atendimentos. O formato
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do conteúdo segue o modelo de chamadas rápidas com links para a leitura integral dos
conteúdos no site do jornal.
A apresentação do perfil no Google + traz o nome do jornal e endereço para o site do
jornal. Este site de rede social possui a sessão “sobre”. Logo, deduz-se que a apresentação é
sucinta por este motivo. O modelo de postagem de conteúdos segue o mesmo padrão do
Facebook, com chamada, link e imagem. Contudo, algumas postagens são marcadas com a
hashtag11
da editoria, ou com assunto geral que predomina na notícia. A imagem a seguir
mostra o detalhe:
Figura 4 -Modelo de postagem no Google + pelo perfil do jornal Folha de São Paulo
Fonte:<https://plus.google.com/+folha/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
11
Tags são etiquetas ou palavras-chaves as quais classificam um assunto específico. Hashtags seriam tags
precedidas do símbolo # (hash, em inglês). (ZAGO, 2011).
46
As marcações acima indicam “#Rússia” e“#folhacarnaval”, que se referem ao assunto
de cada notícia. Aparentemente, o uso dashashtagsé para nortear uma futura busca sobre o
assunto.
No Instagram, a Folha se apresenta com boas vindas ao leitor: “Bem-vindo AO
PERFIL oficial da Folha de S Paulo. Bem-vindo ao relato da Folha de S Paulo, o jornal mais
vendido do Brasil”. No mesmo espaço, também aparece o link para o site do jornal. As
imagens postadas no Instagram são, em sua maioria, as capas do jornal impresso, com
algumas imagens. Estas, possivelmente, foram publicadas no jornal impresso, ou nos outros
sites de redes sociais, como recursos para ilustrar e complementar conteúdos. Não foram
visualizados estímulos para a coleta de colaborações e manifestações do público.
O perfil do Pinterest, outro site de rede social voltado a imagens/fotografias, tem uma
apresentação curta, que se resume à declaração de oficialidade do perfil e também à sugestão
para o leitor seguir o perfil do Instagram do jornal. No que diz respeito ao conteúdo, o
Pinterest não parece, também, ter alguma associação com o público, resumindo-se a uma
legenda para as imagens.
O perfil no Tumblr é objetivo na apresentação ao leitor. “Tumblr oficial da Folha de S
Paulo. Site: folha.com.br”. Como este site de rede social também é específico para imagens, o
conteúdo das postagens apresenta sempre uma grande imagem, seguida de contextualização
curta da mesma. Depois disso, é exibido o link para a leitura do conteúdo no site do jornal, o
que não é feito no Pinterest.
4.1.2 Jornal o Globo
O jornal O Globo mantém, em sua página inicial, três plugins do tipo ícones referentes
aos três sites de redes sociais nos quais possui perfil. Os plugins estão localizados no canto
direito superior da página, no cabeçalho. Segue a imagem a seguir para ilustração:
Figura 5 -Cabeçalho da Capa do site do jornal O Globo
47
Fonte:<http://oglobo.globo.com/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
Como se pode notar na Figura 5, há uma presença tímida dos sites de redes sociais no
cabeçalho de O Globo. O site do jornal O Globo é organizado com páginas de editorias e
páginas de conteúdos. O cabeçalho pode ser visto da mesma forma que a imagem anterior
ilustra em todas essas páginas. As páginas de editorias possuem apenas esses ícones no
cabeçalho. As páginas de conteúdo apresentam três momentos de redes sociais. No cabeçalho,
aparecem antes do início do texto, logo após o título, e no final, na parte inferior da interface.
Nestas remissões está presente o “Recomendar”, do Facebook, o “Tweet”, do Twitter, e o
“G+1”, do Google +. O terceiro momento refere-se à presença do perfil do Twitterda editoria
em questão, em um box chamado de “Nas Redes”. Cada editoria possui o seu perfil no
Twitter. A imagem a seguir exemplifica, com o box da Economia.
Figura 6 - Imagem do box “Nas Redes” encontrado nas páginas de conteúdo da editoria
Economia
Fonte:<http://oglobo.globo.com/economia/com-dolar-alto-artigos-importados-ficam-mais-raros-11777464>.
Acesso em 04 de Mar. de 2014.
O box mostrado localiza-se à direta e ao meio das páginas de conteúdo, com o perfil
referente às suas editorias.
Como já apresentado, O Globo possui Facebook,Twitter e Google +. No Facebook, o
jornal se apresenta da seguinte forma: “Olá! Este é um ponto de encontro, um espaço para a
conversa em torno de ideias e notícias. 'Curta' a nossa página e seja bem-vindo (@)”. O
modelo de postagem é com chamada curta, imagem e link para a leitura completa no site do
jornal. Contudo, a partir de observação simples, percebe-se que as chamadas variam entre
muito curtas e com até duas linhas. Além de seguirem uma abordagem interrogativa, ou de
tom informal. Acredita-se que a intenção é provocar a interação com o público. Contudo, não
verificou-se, no período desta pesquisa, feedback do jornal em responder ou curtir os
48
comentários feitos pelos seguidores do perfil. A seguir, alguns exemplos da abordagem do
perfil de O Globo.
Figura 7 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo
Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 7 mostra um estímulo do meio jornalístico para a coleta do “curtir”, quando
interroga o leitor sobre a escola de samba que está na imagem. A questão é: “Mocidade:
curtiu?”. A próxima figura mostra um convite para a postagem de comentários:
Figura 8 - Imagem do Facebook do perfil do jornal O Globo
49
Fonte:<https://www.facebook.com/jornaloglobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014
A Figura 8 é o print screen de uma postagem de O Globo no Facebook questionando o
leitor sobre a sua concordância a respeito do Oscar de melhor filme. Através da questão “Para
o Bonequinho da GLOBO, „Ela‟ deveria ganhar o Oscar de melhor filme.
http://glo.bo/1gkpJmv. Qual é o seu palpite?”, solicita a manifestação do público.
A apresentação do perfil do Twitter do jornal O Globo é curta: “Acompanhe as
notícias do jornal O GLOBO”. As abordagens nas postagens seguem o formato de chamada
curta. A opção “resumo”, que é oferecida pelo próprio Twitter, é preenchida com breves
informações que complementam a chamada. Este “resumo” pode ser visto quando expande-se
o link “Ver resumo”. A próxima imagem mostra como O Globo se apropria desta função do
Twitter:
Figura 9 -Imagem do Twitter do perfil do jornal O Globo com o resume expandido
50
Fonte:<https://twitter.com/JornalOGlobo>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A demarcação anterior mostra conteúdo complementar à chamada, que ainda
redireciona para o site, caso o leitor queira o completar a leitura integral da notícia.
O Globo mantém o perfil no Google + parecido com o jornal A Folha de São Paulo.
Apresentação sucinta, com pequenas chamadas seguidas de link, imagem e hashtag para
organizar as editorias. A imagem a seguir ilustra como acontece a utilização das hashtags nas
chamadas.
Figura 10 -Imagem do Google + do perfil do jornal O Globo
51
Fonte:<https://plus.google.com/+JornalOGlobo/posts>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 10 apresenta a chamada da seguinte forma: “#Portela e #Mangueira
despontam como favoritas ao título do Grupo Especial”, com a presença das hashtags para os
nomes das escolas de samba. O que demonstra atenção as peculiaridades das redes sociais.
4.1.3 Jornal Estadão
A página inicial do site do Jornal Estadão,mantém três momentos com remissões fixas
para as redes sociais. Um box chamado “Siga o Estadão”, com links para o Facebook, Twitter,
Google +, Linkedin, RSS e You Tube. Um plugin do Facebook e no rodapé da página com os
links dos Twitter, Facebook, Google +, Linkedin, You Tube, Flickr e RSS. Além desses
momentos fixos na página inicial, também foram encontradas remissões nas chamadas. A
próxima figura mostra uma chamada com essas remissões.
Figura 11 - Imagem da página inicial do jornal Estadão
52
Fonte: <http://www.estadao.com.br/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A imagem anterior mostra a capa do Estadão com referências a um site de rede social
utilizado nas suas estratégias: o Instagram. Exibe o crédito da foto destacada da seguinte
forma: “@diogofqa/Reprodução Instagram”, ou seja, indica o contato e o site de rede social
que serviu como fonte da imagem. Há também a chamada “#estadaocarnaval: confira a folia
pelo Brasil e envie sua foto”, como estímulo para o envio de imagens via Instagram. Trata-se
de estratégia colaborativa.
As páginas das editorias possuem o box “Siga o Estadão” com plugins tipo ícones e
links no rodapé, além dos plugins do Google + e do Twitter da editoria. A seguir, a figura
mostra como o box “Siga o Estadão”.
Figura 12 -Imagem do box retirado da página inicial da editoria Saúde do jornal Estadão
53
Fonte: <http://www.estadao.com.br/saude/>. Acesso em 04 de Mar. de 2014.
A Figura 12 apresenta o box encontrado nas páginas das editorias. Trata-se de plugins
tipo ícones que anexam os sites de redes sociais ao webjornal.As páginas de conteúdo
apresentam três momentos de presença de sites de redes sociais. Antes do início do texto, há
Pontos de Estímulos de Interação para quatro sites de redes sociais. São eles “Enviar” e
“Recomendar”, do Facebook,”Compartilhar”, do Linkedin, “G+”, do Google +, e “Tweet”, do
Twitter. O segundo momento é a presença do box “Siga o Estado”. O terceiro momento é um
plugin do Facebook.
O Estadão possui Facebook, Twitter e Google +, Linkedin e Flickr. A apresentação do
perfil do Facebook estimula a participação do público: “Este é um espaço para participação e
debate. Conheça as regras para mantermos discussões bacanas nesta página:
http://cadastro.estadao.com.br/responsabilidade-online.” O link redireciona o leitor para uma
página de cadastro do site, na qual são colocados os princípios do código de conduta da
“Responsabilidade Online” do Grupo Estado. A página está disponível no Anexo Apara
verificação. As postagens seguem o modelo: pequena chamada, link para o site e imagem.
O perfil do Google + tem como apresentação apenas o endereço do site do jornal. As
postagens seguem o mesmo modelo do Facebook: pequenas chamadas, link para a leitura
completa no site e imagem, além das hashtags no corpo do texto das pequenas chamadas.
O perfil do Twitter do Estadão se apresenta como “a versão online do jornal O Estado
de S. Paulo”, seguido da sugestão para o leitor seguir as atualizações do jornal no Facebook.
O formato do conteúdo não difere muito da Folha de São Paulo, seguindo o modelo: chamada
sucinta com link para a leitura no site do jornal.
O perfil do Estadão no Flickr só possui a identidade visual da empresa como
identificação. O Flickr é visto, aqui, como site de rede social apropriado, pois, possui
elementos que foram apropriados, por exemplo, a função ´comentar´. O perfil apresenta
imagens, provavelmente utilizadas pelo jornal impresso. Contudo, o perfil, a partir de
observação breve, não interage com os seus seguidores e foi atualizado pela última vez junho
de 2012.
54
O perfil do Linkedin oferece o espaço “Visão Geral”, para apresentação. Neste espaço,
o jornal se descreve como:
O Estadão é uma das maiores e mais importantes empresas de informação e
comunicação do Brasil, atuando nos segmentos de jornalismo, serviços de
informação, divulgação de publicidade e entretenimento. É uma organização que se
sente responsável pela promoção do desenvolvimento humano, político,
econômico, social e cultural do País. Como uma empresa dinâmica e em constante
renovação, o Estadão está sempre atento e aberto a profissionais talentosos que se
alinhem aos propósitos e à cultura da organização.
(In:<http://www.linkedin.com/company/estadao>. Acesso em 14 de Mar. de 2014).
As atualizações seguem o modelo chamada, link e imagem. Possuem as opções
“Gostei”, “Comentar” e “Compartilhar”.
Com essas ilustrações, a apropriação dos sites de redes sociais pelos veículos
jornalísticos brasileiros segue, aparentemente, tendências da cultura da convergência e da
convergência jornalística. Isso porque esses espaços são inseridos nas suas estratégias de
distribuição multiplataforma. A partir da breve verificação realizada nos sites dos jornais
Folha de São Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo, perceberam-se algumas dessas
tendências, como expor as notícias convencionais nos sites de redes sociais como mais um
canal de publicação para conduzir leitores ao site principal. Além disso, também se verificou
conteúdo postado em site de rede social em publicação jornalística. É o que foi visto no caso
do Estadão, que usou imagem do Instagram para enriquecer a cobertura sobre o carnaval no
seu webjornal. Outro ponto interessante é que todos os jornais observados utilizam de várias
maneiras os sites de redes sociais. Isso mostra que eles estão inseridos de maneiras diversas
no seu cotidiano, podendo influenciar, dessa forma, os processos de escolha e de produção das
notícias.
Diante dessas tendências, questiona-se: será que, por conta das peculiaridades do tipo
de estratégia realizada no ambiente digital, especificamente a partir do uso de sites de redes
sociais, podem mudar os critérios de noticiabilidade dos veículos jornalísticos que realizam
essa ação? Para refletir sobre essa questão, serão apresentados, adiante, dados sobre a
utilização que o webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais. Análise mais
detalhada será exposta para que a reflexão sobre o assunto seja aprofundada.
No próximo capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos deste
trabalho.
55
5PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com o objetivo de buscar evidências sobre a possível influência dos sites de redes
sociais nos critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com, foi definido um conjunto
de procedimentos metodológicos específicos para tal verificação. Eles serão descritos neste
capítulo. O tópico a seguir descreve Zero Hora.com.
5.1 Zero Hora.com
O caso escolhido para ser observado nesta pesquisa é do jornal digital gaúcho Zero
Hora.com. Segundo Belochio (2009), o site do jornal ZeroHora.com, tradicional impresso do
Rio Grande do Sul, surgiu por volta de 1997. “Dois anos mais tarde, já em 1999, Zero Hora
digital foi agregado ao portal Clic RBS” (BELOCHIO, 2009, p. 103). Apenas em 2007 que a
versão de Zero Hora.com surgiu.
Às 4h do dia 19 de setembro de 2007, entrou no ar o website Zero Hora.com,
que apresenta notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana,
mais a versão impressa do periódico. (In:<http://zerohora.clicrbs.com.br/>.
Acesso em 19 de Fev. de 2014).
Segundo Nickel12
(2013), com a existência de Zero Hora.com, foi colocado em prática
o plano do jornal impresso Zero Hora de fortalecer a sua marca com a presença de um site
“com notícias atualizadas 24 horas por dia, sete dias por semana” (NICKEL, 2013). Foi criada
uma equipe “especialmente para isso: para vir para dentro da redação e trabalhar com internet,
que não existia” (NICKEL, 2013). Conforme Nickel (2013), aproximadamente dois anos após
a criação do website, em 2009, as redes sociais foram incluídas nas suas estratégias. Foram
criados perfis de Zero Hora.com, inicialmente, no Twitter. Logo que o Facebook permitiu a
criação de páginas para organizações, foi criada a página de Zero Hora também no Facebook.
Atualmente, o jornal conta com oito perfis em redes sociais. São elas: Twitter,
Facebook, Google +, Instagram, Pinterest, Tumblr, Foursquare e Storify. Estes são
encontrados na „Central de Redes Sociais‟ de Zero Hora.com, que tem ficado como um dos
componentes da seção „Participe‟. Nesta página, pode-se encontrar o acesso aos perfis das
12
A jornalista Bárbara Nickel é editora chefe do núcleo de redes sociais na redação de Zero Hora. Ela foi
entrevista na redação do jornal Zero Hora no dia 30 de Setembro de 2013.
56
redes sociais do webjornal, tanto os gerais quanto os específicos das editorias e cadernos.
Exemplos são a „Central de Twitter‟, „Central do Facebook‟e „Fotógrafos no Instagram‟.
Além de regiões compiladoras de perfis, também se encontram na Central de Redes
Sociais as estratégias que estão em andamento no webjornal, como as Missões do Instagram,
tanto as gerais quanto as hiperlocais13
. Ou seja, essa página é um facilitador e organizador das
redes sociais e suas atividades no webjornal, uma vez que elas poderiam estar dispersas nas
páginas de conteúdo das editorias. A seguir, imagens da página „Central de Redes Sociais‟:
Figura 13 –Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.
A imagem anterior apresenta a „Central de Twitter‟, onde se concentram os perfis de
editorias, cadernos, repórteres e fotógrafos de Zero Hora.com com representação no
microblog. A próxima imagem apresenta a barra de perfis do Facebook:
Figura 14–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
13
O jornalismo hiperlocal é tem como objetivo mostrar os principais acontecimentos de uma determinada
região.( In:<http://jornaldobetania.com/entenda-o-que-e-jornalismo-hiperlocal/>. Acesso em 14 de Mar. de 2014.
57
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
Tal como a „Central do Twitter‟, a „Central do Facebook‟ também concentra os perfis
das editorias, cadernos e repórteres naquela rede social. A existência de áreas específicas
dessas duas redes sociais em Zero Hora.com indica que elas têm certa relevância nas
estratégias da equipe do webjornal e, consequentemente, podem estar presentes em suas
rotinas de produção. A próxima figura mostra a barra dos Fotógrafos do Instagram:
Figura 15–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev de 2014.
É interessante notar que a sessão „Fotógrafos no Instagram‟foi direcionada aos
repórteres fotográficos e fotógrafos da equipe de Zero Hora. Isso demonstra a atenção da
equipe do webjornal em relação às especificidades desta rede social de compartilhamento de
fotografias. A imagem a seguir apresenta os perfis gerais de outros sites de redes sociais:
Figura 16–Trecho retirado da página Central de Redes Sociais
58
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
A imagem anterior apresenta a sessão que concentra os perfis do Zero Hora.com do
Instagram, Tumblr, Storify,Facebook e You Tube.Verificam-se, na imagem, breves chamadas,
organizando os perfis para fácil acesso e dando objetivos diferentes para cada um. É o caso do
You Tube, por exemplo, que tem a proposta de expor vídeos sobre os bastidores de Zero Hora.
O Instagramque tem marcada a busca de colaborações. OFacebookque convida,
curiosamente, para o download de imagens. O Storify e o Tumblr que estimulam o
acompanhamento de coberturas. Essas chamadas demonstram o interesse da equipe em
popularizar, pois, existe o estimulo para participação do público. A próxima imagem mostra
outro espaço de Zero Hora.com que organiza os seus perfis gerais em sites de redes sociais:
Figura 17 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
59
A imagem destacada é outro tipo sessão, montada em box, para organizar os perfis.
Este box aparece, também, na página da Central de Redes Sociais. O fato de as redes sociais
contarem com espaços específicos na publicação digital de Zero Hora demonstra, de alguma
forma, o quanto as redes sociais ganharam notoriedade e importância no caso do webjornal
aqui observado. Isso porque elas permanecem disponíveis, diariamente, no webjornal. Além
disso, seus perfis são frequentemente utilizados em estratégias diferenciadas, contando com
atualizações diárias e, em algumas ocasiões, com o uso de materiais das redes sociais entre as
matérias constituídas para o site.
A próxima imagem apresenta links de algumas atividades promovidas por Zero
Hora.com nas redes sociais. Essas estratégias foram nomeadas de “Missão ZH”.
Figura 18 – Box retirado da página da Central de Redes Sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/pagina/redes-sociais-zh.html>. Acesso em 24 de Fev. de 2014.
Além de perfis organizados, também é possível encontrar, na „Central de Redes
Sociais‟, o „Missão Instragram‟. Ele busca a colaboração do público em ações relacionadas a
temas determinados pela redação. Na imagem anterior, é possível observar o box que
concentra as missões dos cadernos de bairros em busca de fotografias. Ou seja, neste caso, a
especificidade da rede social foi aplicada para a prática jornalística. Outro exemplo, que isto
acontece é com o uso do Twitter para coberturas. Pois, aproveita-se da imedialidade deste site
de rede social para publicar um fluxo de informações próximas ao vivo.
60
Na página „Central de Redes Sociais‟, conforme mostrado até aqui, é possível notar o
quanto os sites de redes sociais estão presentes em número e atividades dentro de Zero
Hora.com. O diferencial desta página é o quanto ela pode demonstrar como as redes sociais
tem ganhado espaço dentro da prática jornalística. Seja numericamente, pela quantidade de
perfis, ou pelas atividades envolvendo as redes sociais. Ou seja, a necessidade de ter uma
página dedicada às redes sociais e suas atividades chega a sugerir que o uso dos sites de redes
sociais pode estar integrado às práticas jornalísticas em Zero Hora.com.
Cada rede social onde Zero Hora.com mantém representação é apresentada ao leitor.
As apresentações de cada rede social estão colocadas da seguinte forma:
Facebook: Este é o espaço de Zero Hora no Facebook. Curta, Compartilhe e
comente as últimas notícias com a gente :) www.zerohora.com(In:
https://www.facebook.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.)
Twitter: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia,
variedades, trânsito, colunistas e mais. http://www.facebook.com/zerohora (In:
https://twitter.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev de 2014.)
Instagram: Bem-vindo ao perfil oficial da #ZeroHoraRBS no Instagram.
Acompanhe os bastidores do jornal. http://www.zerohora.com.br (In:
http://instagram.com/zerohorarbs. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)
Pinterest: Jornal do Rio Grande do Sul. Notícias, esportes, política, economia,
variedades, trânsito, colunistas e mais. www.facebook.com/zerohora(In:
http://www.pinterest.com/zerohora/. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)
Google +: zerohora.clicrbs.com.br/(In: https://plus.google.com/+zerohora/posts.
Acesso em 24 de Fev. de 2014.)
Storify: Jornal do Rio Grande do Sul produzido em Porto Alegre. Notícias,
esportes, política, economia, variedades, trânsito, colunistas e mais. (In:
http://storify.com/zerohora. Acesso em 24 de Fev. de 2014.)
Tumblr: Acompanhe as publicações do perfil oficial do jornal zero hora no
Instagram (@zerohorarbs) (In: http://instagramzh.tumblr.com/. Acesso em 24 de
Fev. de 2014.)
É possível notar, por algumas dessas apresentações acima, que é dada atenção a algumas
finalidades específicas dessas redes sociais. Por exemplo, como acontece com a apresentação
do Facebook, onde se percebe o estímulo para curtir, compartilhar e comentar. Trata-se de
funções do próprio Facebook que estão sendo apropriadas e aproveitadas nas estratégias do
webjornal.Outro exemplo está na apresentação do Instagram, onde nota-se a hashtag oficial
do jornal. Isso demonstra que as estratégias têm sido incluídas, provavelmente, porque há
consideração, por parte da equipe, das peculiaridades desses sites de redes sociais.
61
5.2 Técnicas de análise
Para atingir os objetivos desta pesquisa, foram escolhidas duas técnicas
metodológicas. São elas a observação qualitativa e a entrevista semiestruturada. Estas técnicas
foram consideradas adequadas para que os objetivos do presente trabalho sejam atingidos. A
seguir, cada etapa da pesquisa será descrita. Os resultados serão expostos na sequência.
5.2.1 Observação qualitativa
A observação qualitativa, segundo Martins e Theóphilo (2009), consiste em entrar “em
contato direto e prolongado com o ambiente no qual o fenômeno está inserido” (MARTINS;
THEÓPHILO, 2009, p. 141). É possível distinguir duas fases do processo de análise dos
dados qualitativos. A primeira
[...] ocorre durante o trabalho de campo, quando o pesquisador, à medida que coleta
informações e evidências, também organiza o material, dividindo-o em partes,
relacionando essas partes e procurando identificar tendências e padrões relevantes.
Num segundo momento, as tendências, padrões e regularidades encontrados são
reavaliados, buscando-se relações e interferências em um nível de abstração mais
elevado. (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p. 140).
Considerando-se as bases da técnica metodológica exposta, foi estabelecido,
inicialmente, o período de coleta dos conteúdos do webjornal Zero Hora.com para análise: do
dia 24/12/2013 ao dia 02/01/2014, incluindo as datas festivas de Natal e Ano Novo. Realizou-
se print-screens da página inicial do webjornal Zero Hora.com. A finalidade é encontrar
chamadas e outros espaços que utilizam ou mostram, de alguma maneira, os sites de redes
sociais. Esses elementos foram chamados aqui de remissões.
Quando encontrada alguma remissão para conteúdos relacionados a redes sociais,
verificou-se as características dessas remissões e também aspectos dos conteúdos para onde as
remissões direcionavam. As páginas que foram redirecionadas pelo link encontrado na home
do site foram analisadas em um segundo momento.
A coleta foi feita três vezes ao dia, durante dez dias. Isso totaliza, inicialmente, 30
imagens da página inicial do webjornal ZeroHora.com. O processo de coleta diária aconteceu
em margens de horários planejados: entre 8h e 9h da manhã para a primeira coleta; 14h – 15h
62
da tarde a segunda e 19h – 20h da noite a última coleta14
. Para auxiliar o processo de análise
do material coletado, foram preparadas fichas descritivas. Para o primeiro conjunto de
materiais, foram produzidas as „Fichas de Tipo 115
‟, que foram produzidas para cada capa
coletada. Elas são fichas descritivas relacionadas a cada uma das 30 capas coletadas. Esse tipo
de ficha contém data, hora e a pergunta: „Possui inserção de conteúdo ou elementos que
remetem a redes sociais?‟. Conta com as opções „sim‟ e „não‟ e „observações‟. Nos casos de
respostas positivas, o espaço para as „observações‟ foi preenchido com detalhes. Segue,
abaixo, uma „Ficha de Tipo 1‟ para exemplificação.
Figura 19 – Amostra da Ficha de Tipo 1
Ficha do tipo 1
Data: 25/12/2013
Hora: 8h
Possui inserção de conteúdo ou elementos que remetem a redes sociais?
( X ) Sim ( )Não
Observações: Remissão para a rede social „Intagram‟ apropriado pelo jornal como „Missão
Instagram – Leitores enviam fotos com a #NatalZH‟
Os dados obtidos com as „Ficha de Tipo 1‟ foram compilados em uma segunda. Esta
foi nomeada como „Tabela Geral das Fichas do Tipo 1‟. Ela é organizada em quatro colunas,
com as seguintes informações: „data‟, „alguma remissão‟, „hora em que houve remissão‟,
„rede social em que houve remissão‟. Segue imagem com exemplo da tabela:
Tabela 01 –Modelo da Tabela Geral das Fichas do Tipo 1
14
Em determinados dias esses horários tiveram variações diferentes, devido a problemas técnicos. Contudo, nada
que chegasse a mais de três horas de atraso.
15 Todas as Fichas de Tipo 1 estão disponíveis no Anexo B.
63
Data Alguma Remissão Hora em que houve
remissão
Rede social em que
houve remissão
24/12/2013
25/12/2013
26/12/2013
27/12/2013
28/12/2013
29/12/2013
30/12/2013
31/12/2013
01/01/2014
02/01/2014
A coluna „data‟ apresenta o dia em que ocorreu a coleta e indica que a tabela apresentará a
informação, considerando dados dos três turnos do dia indicado. Vale lembrar que as
informações específicas de cada turno podem ser encontradas nas „Fichas de Tipo 1‟. A
coluna „alguma remissão‟ aponta se, no dia indicado, foi registrada ou não alguma remissão
para as redes sociais na página inicial de Zero Hora.com. A tabela conta com as opções de
resposta „sim‟ e „não‟. A terceira coluna, „hora em que houve remissão‟, especifica em quais
turnos verificou-se a remissão informada na coluna anterior. A quarta coluna, „rede social em
que houve remissão‟, aponta em quais redes sociais, dentre as oito que o jornal possui perfil,
apareceram remissões.
Os conteúdos verificados a partir das remissões encontradas nas capas foram descritos
na „Ficha Geral do Tipo 2‟. 11print screens de notícias para as quais as remissões
direcionavam os leitores a partir da capa de Zero Hora.com foram feitos no período desta
pesquisa. Segue exemplo da „Ficha Geral de Tipo 2‟:
Tabela 02 – Modelo da Tabela Geral do Tipo 2
64
Data Plugin PEI Conteúdo desenvolvido
a partir de Redes Sociais
25/12/2013
26/12/2013
27/12/2013
28/12/2013
31/12/2013
01/01/2014
02/01/2014
A data apresenta os sete dias nos quais ocorreram as remissões para os sites de redes
sociais utilizados por Zero Hora.com. É importante explicar que esta tabela só apresenta as
datas em que as remissões ocorreram. Por isso, limitou-se aos sete dias em que isso ocorreu.
A coluna „plugin‟ aponta se houve, ou não, a presença de plugins. O plugin é um programa,
ou extensão, que é instalado em outro programa principal para adicionar a ele
funcionabilidades específicas. Ou seja, o plugin é como um acessório instalado conforme a
necessidade, o que facilita no gerenciamento do programa principal (In:
<http://www.tecmundo.com.br/hardware/210-o-que-e-plugin-.htm>. Acesso 14 de Mar. de
2014). Neste trabalho foram considerados plugins elementos que, apenas, direcionam os
navegadores aos sites de redes sociais, não estimulando nenhuma ação em relação a rede
social, como o curtir, comentar, recomendar e compartilhar do Facebook, por exemplo.
A coluna PEI indica a existência de outro tipo de remissão buscada, que são os Pontos
de Estímulos de Interação (PEI). Eles foram mostrados no capítulo 3, na observação dos usos
que jornais de referência fazem dos sites de redes sociais. Os PEI são entendidos como os
“recursos oriundos dos sites de redes sociais que, quando inseridos nas interfaces dos
produtos jornalísticos, complementam e ampliam os seus espaços de troca com o público”
(SILVA, S.; BELOCHIO, 2013). Neste trabalho, foram classificados como PEI os elementos
que estimulam uma ação. Uma vez que, o PEI não se restringe apenas em anexar os sites de
redes sociais.
Por fim, o item „Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais‟ indica os casos em
queconteúdo jornalístico foi produzido com alguma colaboração das redes sociais. Casos
como: conteúdo colaborativo com a coleta feita nas redes sociais, matérias com pautas que
surgiram nas redes sociais e coberturas feitas via redes sociais, por exemplo.
65
No próximo tópico, serão descritos os resultados da observação qualitativa de Zero
Hora.com.
5.2.1.1 Resultados da observação qualitativa
Conforme já salientado, foram verificadas, na observação qualitativa, 30 capas que
foram coletadas de 24/12/2013 ao dia 02/01/2014. Remissões para sites de redes sociais e
conteúdos com indicações para as mesmas foram procurados. O objetivo é observar a
intensidade e frequência da presença dos sites de redes sociais, bem como a forma como esses
sites de redes sociais são, atualmente, utilizados. O que, de certa forma, pode sugerir que os
sites de redes sociais têm relevância e são utilizados constantemente, ou não, nas rotinas de
produção dos jornalistas do webjornal ZeroHora.com. Uma vez que os critérios de
noticiabilidade incluem, também, as práticas cotidianas dos jornalistas na seleção dos assuntos
e na composição das notícias, elespodem ser influenciados pelos elementos utilizados nas
rotinas de produção jornalística. Logo, há de se considerar que o uso contínuo das redes
sociais pode, de alguma maneira, afetar, também, os critérios de noticiabilidade.
A tabela a seguir resume os resultados obtidos.
Tabela 03 - Tabela Geral das Fichas de Tipo 1
Data Alguma Remissão Hora em que houve
remissão
Rede social em que
houve remissão
24/12/2013 NÃO - -
25/12/2013 SIM 8h Instagram
26/12/2013 SIM 14h Twitter
27/12/2013 SIM 14h Twitter
28/12/2013 SIM 8h/14h Twitter
29/12/2013 NÃO - -
30/12/2013 NÃO - -
31/12/2013 SIM 8h Instagram
01/01/2014 SIM 20h -
02/01/2014 SIM 8h/14h/20h Twitter
É possível perceber, segundo mostra a „Tabela Geral das Fichas de Tipo 1‟, que,
dentre os dez dias observados, sete permitiram o registro de algum tipo de remissão para os
sites de redes sociais. Ou seja, na maior parte dos dias em que Zero Hora.com foi observado
para esta pesquisa, o webjornalpropôs algum tipo de trabalho com os sites de redes sociais.
66
Esta numeração aponta frequência significativa do uso das redes sociais em Zero Hora.com. O
que pode indicar que esses sites estão sendo usados constantemente, mesmo que de forma
sutil.
A segunda coluna indica a hora em que houve remissão. Detectou três casos de
remissões por volta das 8 horas da manhã. Quatro casos foram registrados, aproximadamente,
às 14 horas. Dois casos de remissões foram registrados, aproximadamente, às 20 horas. E
entre esses dez dias, em um deles, houve remissão nos três períodos.
A coluna „Rede Social em que houve remissão‟ indica que o Twitter é a rede social
que mais aparece na página inicial do site do Zero Hora, seguido do Instagram.
5.2.1.2 Sobre os conteúdos que partiram das remissões
Além das características das remissões para sites de redes sociais nas capas de Zero
Hora.com, também foram verificados aspectos das páginas para as quais as remissões da
página inicial estavam direcionadas, no caso, as páginas de conteúdo. Para concentrar os
dados encontrados nos dez dias, foi elaborada a „Tabela Geral de Tipo 2‟.
Como já explicado, as informações da tabela foram agrupadas nos seguintes tópicos:
„data‟, „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de redes
sociais‟. Para „plugin‟, „ponto de estímulo de interação (PEI)‟ e „conteúdo feito a partir de
redes sociais‟, as respostas indicam se identificou-se, ou não, o item em questão, sem
especificar quais redes sociais foram usadas. Segue a Tabela Geral do Tipo 2 com os dados
observados nos sete dias em que identificou-se remissões:
Tabela 04 – Tabela Geral do Tipo 2
Data Plugin PEI Conteúdo desenvolvido
a partir de Redes Sociais
25/12/2013 X
26/12/2013 X X
27/12/2013 X X
28/12/2013 X X
31/12/2013 X
01/01/2014 X X
02/01/2014 X X X
67
Com os resultados apresentados na tabela, é possível constatar que existe significativa
presença de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais. Ao todo, nos dez dias da coleta
realizada neste trabalho, as remissões foram encontradas em sete deles. Isso representa 70%
dos casos de remissão e 36% do total. Osplugins foram detectados em duas ocasiões dentro
dos conteúdos e os PEI foram verificados em quatro dias.
O intuito da coleta é observar a utilização dos sites de redes sociais no webjornal Zero
Hora.com e, dessa forma, poder indicar se estão, ou não, ganhando espaço como elementos
cotidianos no webjornal. O que, com indícios positivos, pode derivar de uma inclusão dos
sites de redes sociais nas rotinas produtivas dos jornalistas do webjornal em questão.
Nos próximos parágrafos, serão descritos exemplos de Plugins, de PEI e de Conteúdos
desenvolvidos a partir de Redes Sociais.
A seguir, serão apresentados dois exemplos de plugins encontrados em Zero
Hora.com.
Figura 20 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com em página de conteúdo
Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013
Figura 21 - Exemplo de plugin encontrado em Zero Hora.com na página „Central de Redes
Sociais‟
68
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014
Como se pode notar, os plugins são extensões adicionadas ao site Zero Hora.com do
Twitter e Facebook. Como plugins, eles não apresentam nenhum elemento que estimula
„twittar‟, „curtir‟, „comentar‟ ou „compartilhar‟, ou seja, alguma das atividades oriundas das
redes sociais. Servindo apenas para anexar a rede social à página do website.Portanto, eles não
possuem estímulos para a interação, caso dos PEI, descritos a seguir.
A diferença dos PEI com relação aos plugins é, especificamente, o tipo de interação
que o PEI oferece e que não existe no plugin. Algumas vezes, determinado tipo de plugin
contém o PEI na sua composição. Contudo, a característica que resguarda a classificação de
um elemento como PEI é o tipo de interação que oferece. Os PEI são elementos que
estimulam uma ação em relação à rede social. Por exemplo, curtir, compartilhar para o
Facebook; twittar para o Twitter. Eles não se limitam, apenas, em anexar a rede social na
página, tal como acontece no caso dos plugins. Os PEI podem aparecer sozinhos, semelhantes
a botões, ou juntos a um plugin. A seguir, exemplo de PEI captado na coleta do dia
02/01/2014.
69
Figura 22 -Pontos de Estímulos de Interação encontrados na página do webjornal Zero
Hora.com
Fonte:<http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 02 de Jan. de 2014.
A Figura 22 apresenta três PEI: o recomendar, do Facebook, o tweet, do Twitter, e o
G+, do Google +. Estes PEIsestão localizados no início da página, antes do texto da matéria,
o que demonstra, de alguma forma, uma preocupação funcional da equipe jornalística com
relação ao leitor, para que ele veja e tenha vontade de clicar e, assim, ajudar na circulação, ou
na recirculação (ZAGO, 2011), do conteúdo do jornal, também através dos perfis dos sites de
redes sociais. A figura a seguir mostra um PEI junto a um plugin.
Figura 23 - PEI como botão de „curtir‟ junto a um plugin do Facebook
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/>. Acesso em 24 de Fev. de 2014
O PEI mostrado aparece compondo um plugin. Os PEIs das Figuras22 e 23 são
assemelhados a ícones. Contudo, estimulam o compartilhamento de conteúdo, diferente dos
70
pluginstipo íconesou os plugins comuns tipo boxque apenas anexam as redes sociais na página
do webjornal Zero Hora.com, como é possível observar nas Figuras 20 e 21.
A categoria „Conteúdo desenvolvido a partir de Redes Sociais‟ refere-se a conteúdos
que utilizaram material de redes sociais como complementos, sendo ou não trabalhos
colaborativos com o público. Para melhor compreensão, serão descritos exemplos dos casos
de conteúdos desenvolvidos a partir de redes sociais, coletados durante os dez dias. A figura a
seguir apresenta o uso do site de rede social Instagram.
Figura 24 – Chamada para a Missão Instagram encontrada na capa do Zero Hora.com
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.
71
A Figura 24 foi encontrada na página inicial do webjornal no dia 25 de dezembro de
2013 e chama para o mosaico feito com imagens de leitores que utilizaram a hashtag
„#NatalZH‟. A seguir, a figura para a qual o link direcionava.
Figura 25 – Mosaico da Missão Instagram na página de conteúdo
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 25 de Dez. de 2013.
Na Figura 25, está o mosaico feito a partir de fotografias do Instagram, as quais foram,
antes, tagueadas pelos leitores com a hashtag „#NatalZH‟. O mosaico de fotografias da figura
mostra um tipo de conteúdo gerado com o trabalho colaborativo estimulado pelos sites de
redes sociais. O webjornal Zero Hora.com define, por semana, um tema para a „Missão
72
Instagram‟ com a hashtag relacionada ao tema escolhido. No caso observado, foi o Natal que
gerou a #NatalZH. E as melhores fotos, segundo a equipe do webjornal, integram o mosaico.
O exemplo acima demonstra que, de certa maneira, a equipe refletiu sobre as potencialidades
da rede social em questão para encontrar uma forma de utilizá-la e assimgerar conteúdo.
Contudo, antes do mosaico e toda a estratégia da Missão Instagram, foi necessário que a
equipe conhecesse o site de rede social, para depois especular maneiras de apropriá-lo. Isso
demonstra apropriação dos sites de redes sociais para a prática jornalística.
Este exemplo mostra como a equipe se apropriou de uma rede social e das suas lógicas
internas para montar um conteúdo temático junto com os leitores. Vale destacar que o
tagueamento da forma como foi realizado neste caso é possível no interior do Instagram, pois
esta é uma prática especifica desta rede social. Essa estratégia é interpretada, aqui, como uma
das maneiras de gerar conteúdo a partir de redes sociais, com ações pensadas exclusivamente
para o aproveitamento da ferramenta. Isso mostra que a redação destina algum tempo para
organizar essas estratégias direcionadas para as redes sociais.
O próximo exemplo envolve a cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel
ao Grêmio.
Figura 26 – Chamada encontrado na capa do Zero Hora.com para a cobertura da
apresentação do jogador Pedro Geromel
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.
73
É possível notar remissão pela linguagem da chamada, pois o „Siga‟ remete ao Twitter,
uma das redes sociais em que Zero Hora.com possui perfil.A seguir, a figura mostra a página
para onde o link da chamada “AO VIVO: Pedro Geromel é apresentado pelo Grêmio”
direcionou.
Figura 27 – Trecho da cobertura da apresentação do jogador Pedro Geromel encontrada na
página de conteúdo
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 26 de Dez. de 2013.
A imagem anterior demonstra como o Twitter pode ser utilizado para fazer coberturas,
quando reuniu os twittes publicados pela equipe do Zero Hora durante a mesma. É possível
notar, pela Figura 27, como a cobertura se utilizou do imediatalismo com a publicação das
falas de Rui Costa, diretor executivo do Grêmio, entre aspas, buscando publicar uma
cobertura em “tempo real”.
74
Para isso acontecer, foi necessário considerar qual das redes sociais era mais
conveniente para esse trabalho. Tomando o Twitter como conveniente, isto pode indicar que a
equipe está atenta às funcionabilidades das redes sociais e tentando aplicá-las nas suas
práticas tradicionais, no caso, para a cobertura do fato em questão. Ou seja, uma vez que se
estuda o site de rede social que melhor se encaixa para determinado atividade, pode ser mais
um indício da inclusão das redes sociais nas suas rotinas de forma peculiar.
Outra situação de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais são matérias
desenvolvidas sem a colaboração específica do público, montada com conteúdos coletados
dos sites de redes sociais. Esse tipo de material não foi encontrado na coleta estabelecida por
uma semana. Mas, considerando a importância da contextualização do exemplo, serão
apresentados a seguir alguns exemplos capturados em outros momentos. As imagens a seguir
apresentam este tipo de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais.
Figura 28 - Chamada com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes
sociais encontrado na capa do Zero Hora.com
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
A Figura 28 foi captada da página inicial, no dia 21 de janeiro de 2014. Mostra a
forma como apareceu, na capa de Zero Hora.com, remissão para conteúdo a partir de redes
75
sociais. No exemplo, a remissão é indicada pela seta, além de ser notória, também, a partir da
chamada que possui o termo “#FornoAlegre” na chamada “Porto Alegre é a capital mais
quente pelo 3º dia” e a indicação de fatos ocorridos na rede social, no caso, o Twitter. O
conteúdo encontrado na página redirecionada pelo link será apresentado na imagem a seguir:
Figura 29 - Imagem com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
76
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
A partir da Figura 29, é possível observar como as redes sociais contribuíram para a
criação da matéria “#FornoAlegre: o calorão xingado muito no Twitter”. Pode-se notar, neste
77
caso, que as redes sociais estiveram presentes no desenvolvimento da matéria, pois se trata de
um assunto que circulou nas redes sociais, em especial no o Twitter. O fato é relatado no texto
da própria notícia: “O calorão em Porto Alegre voltou com tudo e as brincadeiras nas redes
sociais também”, e, “...seja em #FornoAlegre ou em #poa40graus, sem um ar-condicionado,
não há muito o que fazer” (In: http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014). No
exemplo em destaque, foi usado o Storify, um site de rede social que compila conteúdos
selecionados de outras redes sociais. Como é possível ver na imagem, a equipe do Zero
Hora.com usou material com origem no Twitter e no Instagram para compor os exemplos das
brincadeiras feitas pelo público. Eles ajudaram na estruturação da matéria, servindo como
pauta e conteúdo.
Durante a observação da remissão mostrada anteriormente, também foi encontrado
outro exemplo. Segue a imagem:
Figura 30 – Chamada de capa com remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes
sociais.
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
É possível notar a remissão para conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais pelo
texto da chamada, publicada na capa de Zero Hora.com no 21/01/2014. A seguir, a imagem
do conteúdo referente à chamada:
Figura 31 – Trecho de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
78
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 21 de Jan. de 2014.
79
O Tumblr foi o site de rede social onde os conteúdos acima foram pesquisados para
gerar e compor a notícia. Vale lembrar que, apesar de ser uma “brincadeira da Internet”, o
conteúdo foi organizado na editoria de Política e não na editoria que trata de entretenimento.
A próxima imagem também trata de conteúdo da editora de Política:
Figura 32 – Chamada de conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.
A Figura 32 foi encontrada na página inicial do webjornal, tendo a remissão ao
conteúdo da rede social também pela redação na chamada, com a palavra “Twitter”, em
“Bate-boca no Twitter”. A próxima imagem apresenta a página dos conteúdos para os quais o
link da chamada direcionou.
Figura 33 – Conteúdo desenvolvido a partir de redes sociais encontrado nas páginas de
conteúdo.
80
Fonte: <http://zerohora.clicrbs.com.br/>. Acesso em 08 de Mar. de 2014.
81
A Figura 33 apresenta um material todo desenvolvido a partir de conteúdo coletado
em redes sociais, considerando, ainda, a utilização dos twitts para compor a matéria.
De forma geral, esses casos ilustram situações em que os sites de redes sociais foram
usados para gerar conteúdos. Isso porque o assunto da pauta foi capturado nos sites de redes
sociais e o próprio conteúdo, como imagens, twitters ou memes, também foram retirados das
redes sociais para inclusão em matérias jornalísticas. Comportamento que indica que a equipe
do Zero Hora.com está atenta aos assuntos que circulam nos sites de redes sociais.
Uma vez que o jornalista usa os sites de redes sociais para saber os assuntos que têm
circulado nesses locais e, assim, considerá-los como pautas em potencial e desenvolvê-las,
isso pode indicar que os sites de redes sociais têm sido considerados, em algum momento,
úteis para o trabalho jornalístico e, uma vez tomando as redes sociais como materiais de
trabalho, naturalmente, elas são incluídas nas práticas das rotinas produtivas. O que pode
afetar os critérios de noticiabilidade.
A própria inclusão de temas que não teriam espaço em publicações limitadas como o
impresso, caso dos materiais com a hashtag #NatalZH, mostra que temas diferentes são
incluídos nas publicações. A publicação de casos como o bate-boca no Twitter indica que,
através de prováveis rondas diárias em redes sociais, pautas são coletadasnesse ambiente. O
que indica que os sites de redes sociais estão ganhando apropriações mais relevantes a prática
jornalística, e se configurando como mais do que apenas canais para distribuição de conteúdo.
5.2.2 Entrevista semiestruturada
Segundo Martins e Theóphilo (2009), a entrevista semiestruturada “é conduzida com
uso de um roteiro, mas com liberdade de serem acrescentadas novas questões pelo
entrevistado” (MARTINS; THEÓPHILO, 2009, p.88). Trata-se, neste trabalho, de uma opção
para compreender como a equipe do ZeroHora.com está agindo em relação aos sites de redes
sociais. Se estão considerando as redes sociais dentro de suas rotinas de produção a partir da
forma como pensam trabalhá-las. Se há o cuidado de refletir as suas pontencialidades para os
usos jornalísticos. Enfim, foram buscadas evidencias em relação ao uso mais atento as
tendências dos sites de redes sociais para o uso jornalístico.
Considerando as possibilidades dessa técnica, foi elaborado um pré-roteiro de
perguntas, que foi dirigido para a editora do núcleo de redes sociais do jornal Zero Hora,
82
Bárbara Nickel16
, A entrevista aconteceu na redação de Zero Hora.com, tendo duração de
aproximadamente uma hora. Ocorreu no dia 30/09/2013. As perguntas seguiram o pré-roteiro.
Contudo, conforme a pertinência, outras perguntas foram realizadas.
Ao todo, foram feitas vinte perguntas. Estas abordaram assuntos como a iniciativa que
há na redação para o uso dos sites de redes sociais, quais as situações e maneiras que as redes
sociais tem sido aplicadas para o uso jornalístico da equipe, ações que só acontecem nas redes
sociais e pautas que, também, são desenvolvidas apenas para as redes sociais.A seguir, serão
colocadas as impressões de Nickel (2013), coletadas a partir da entrevista semiestruturada.
Nickel (2013) comenta que, mesmo que os quatro anos de uso dos sites de redes social
como estratégia de Zero Hora.com possam parecer muito, em relação à história do jornalismo
digital como um todo, esses quatro anos são pouco tempo de experiência. Por isso, muitas das
abordagens ainda se desenvolvem de forma experimental.
Das redes sociais que Nickel (2013) auxiliou na criação do perfil, a jornalista afirma
que os motivos para criá-los giraram em torno da percepção de que tais redes sociais passaram
a ser jornalisticamente úteis aos leitores, ou ainda, pela tendência de outros veículos
jornalísticos do mundo na sua utilização. Nickel (2013) aponta que é possível, por meio da
observação do comportamento do público em geral nas redes sociais, perceber quais são os
assuntos que os interessam. E uma vez, que algumas tendências são notadas elas são
encaminhas para as editorias que possam se apropriar com mais autonomia.
Ela citou como exemplo, a apropriação do Pinterest, que indicou que o público, nesta
rede social, prefere assuntos relacionados a estilo de vida, como gastronomia e arquitetura.
Sendo um conteúdo que é trabalhado no jornal pela editoria Casa&Cia, o comportamento foi
relatado aos jornalistas dessa editoria para que assim se integrassem da situação e, dessa
forma, acompanhassem a tendência nem que fosse apenas para “perceberem o que as pessoas
estão falando nas redes”. Ou seja, de certa forma, o Pinterest se tornou uma fonte de pautas
para os jornalistas de Zero Hora.com.
Nickel (2013) esclarece que mesmo com esse trabalho de ir até as editorias e integrá-
los de algo que possa ser útil a eles, esse trabalho com as redes sociais não é cobrado.
16
A entrevista transcrita na íntegra está disponível no Anexo C.
83
[...] tem muita iniciativa de educação para a redação, mas nenhuma cobrança. Nada
de chegar na editora de Geral e dizer “vocês têm que fazer quinze matérias de redes
sociais por semana”. Não tem isso. (NICKEL, 2013).
Mesmo sem haver cobranças, segundo Nickel (2013) às vezes algumas editorias se
interessam por trabalhar com alguma rede social. Traçando o caminho inverso que geralmente
acontece na redação. Pois, a dinâmica, geralmente, tem sido: a equipe de digital observa os
sites de redes sociais e faz o perfil – observa o comportamento do público desta rede social –
reflete como a rede social pode ser apropriada e integra uma editoria que melhor pode se
apropriar. Como, às vezes o caminho tem sido inverso, com as editorias indo a encontro das
redes sociais e até mesmo procurando a jornalista para auxiliá-los. Isso faz Nickel (2013)
acreditar que, dessa forma, a incorporação das redes sociais virá como consequência.
Dentro as atuais aplicações e usos dos sites de redes sociais, Nickel (2013) tem
observado alguns os quais alegou ser:
Apuração e acompanhamento de notícias, para entrar em contato com pessoas, para
descobrir coisas que estão acontecendo, muito frequentemente buscar pautas que
estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar [...], para fazer uma
pauta que seja colaborativa. (NICKEL, 2013).
Ou seja, etapas que eram cumpridas mesmo antes das redes sociais, e que estão se
transformando com as apropriações dos sites de redes sociais. Se antes o jornalista
acompanhava notícias por meio de outros veículos de comunicação, atualmente, isso também
pode ser complementado por uma ronda nas redes sociais. Se para apurar informações usava-
se o telefone, fax, e-mail ou presença pessoal, atualmente, pode-se contatar fontes e apurar
informações, também, através de redes sociais. Isso pode indicar que estão participando da
prática jornalista.
Ocorre, também, segundo a editora, a correção de informações erradas que o jornal
noticiou. Isso ocorre pela rede social, situação que acontece a partir do potencial de feedback
proporcionado pelas redes. Nickel (2013) lembra que, às vezes, os leitores podem estar
errados, mas há outras em que estão certos. Mesmo assim, ela considera essa manifestação
dos leitores como algo que “enriquece bastante o nosso trabalho”.
Além das práticas citadas acima, existe, também, o conteúdo ou atividades preparadas
apenas para as redes sociais. Nickel (2013) usa como exemplo o “bom dia”, que só é feito
para e nas redes sociais e que resulta em muita repercussão. Vale citar, além disso, as versões
especiais de cards para o Facebook, disponibilizadas nas datas comemorativas como Semana
84
Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa. Trata-se de materiais que não entrariam no site ou no
jornal impresso.
[...] a gente usa muito o Instagram pra fazer missões. A última foi a de primavera;
[...] pega uma foto legal que alguém postou, coloca no Facebook, chama as pessoas
para postar mais, dá os comentários. A gente consegue fazer um mosaico no site e,
daí, lá no Twitter, a gente dá o link para o mosaico e diz para as pessoas
participarem. Enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria
atividades que são só das redes. (NICKEL, 2013).
Isso pode apontar que as redes têm ganhado espaço para que sejam trabalhadas com
material exclusivo. Entre as atividades específicas para as redes sociais, há também a
produção de conteúdos. Nickel (2013) cita a notícia de lançamento do PlayStation IV :
Isso não seria manchete nem no site, nem no jornal, mas a gente sabe que gera
conversa, que é um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e, por isso,
ele rende no Facebook. Nas redes a gente sabe que funciona. É isso também, as
pessoas que estão em lugares diferentes, porque as que estão lá no Facebook não é
[não têm] o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil [de
quem] que lê o jornal impresso. (NICKEL, 2013).
A partir desse contexto, podemos notar que as redes sociais podem, de alguma forma,
também preencher lagunas quando se tornam o local conveniente para alguns tipos
específicos de pautas, tal como, a do lançamento do PlayStation IV a qual Nickel (2013)
comentou que tinha potencial para estimular a interação com os leitores, perguntando a
opinião deles, por exemplo.
Assim, Nickel (2013) diz o que, atualmente, tem sido experimentado em relação a
redes sociais, na redação de um jornal impresso que precisou, com o tempo, se adaptar às
mudanças tecnológicas.
85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da notícia acontece a partir da conjunção de variados fatores. Questões
internas da redação, como política editorial, uso de tecnologias e questões pessoais de
julgamento sobre um fato como pauta em potencial são exemplos de questões que influenciam
a construção da notícia. Ou seja, para a transformação de um acontecimento em notícia, são
consideradas questões internas e externas que, dependendo do contexto, têm pesos diferentes
(WOLF, 2008; FERREIRA, 2002; MOREIRA, 2006; SOUSA, 2002; TRAQUINA, 2005). Os
elementos exemplificados, entre outros, compõem os critérios de noticiabilidade das redações
jornalísticas (WOLF, 2008; MOREIRA, 2006). Logo, a construção da notícia é influenciada
por contextos diferentes, os quais afetam a própria rotina de produção. Isso denomina o
possível caráter elástico dos critérios de noticiabilidade, como visto a partir de Moreira
(2006).
No jornalismo digital, uma série de elementos têm sido inseridos nas rotinas de
produção dos veículos noticiosos desde o início de sua história, conforme foi discutido neste
trabalho. A apropriação de tecnologias e a aplicação de diferentes estratégias em espaços da
Web 2.0 é uma prática comum, que facilita experimentações neste contexto. Dentre as
apropriações realizadas atualmente, o uso dos sites de redes sociais (RECUERO, 2009) tem
ganhado espaço nas produções do jornalismo digital. As práticas tradicionais de apuração,
produção, circulação e consumo de informação (MACHADO; PALACIOS, 2006; ZAGO,
2011)estão sendo experimentadas, também, com o auxílio dos sites de redes sociais.
A partir deste contexto, foi possível refletir a respeito da influência que a inclusão dos
sites de redes sociais pode ter nas práticas cotidianas de produção do jornalismo digital. Para
contribuir na verificação destas reflexões, foi tomado como objeto de estudo o uso que o
webjornal Zero Hora.com faz dos sites de redes sociais nas suas rotinas e nas suas
publicações. A escolha desse webjornal parte do entendimento de que elesurgiu, inicialmente,
como representação, na Web, de um jornal impresso de tradição no Rio Grande do Sul, com
mais de 40 anos de história. Isso faz das suas práticas tradicionais questões possivelmente
presentes, também, na redação do seu webjornal, Zero Hora.com. Acredita-se que as práticas
tradicionais e as práticas características do jornalismo digital são combinadas em Zero
Hora.com. Isso inclui o uso experimental dos sites de redes sociais.
Os procedimentos metodológicos incluíram a análise qualitativa da capa de Zero
Hora.com e de páginas de conteúdo, para observar como o webjornal está se apropriando dos
86
sites de redes sociais. Além disso, realizou-se entrevista semiestruturada com a editora-chefe
do núcleo de redes sociais de Zero Hora.com, Bárbara Nickel.
Partindo dos dados observados, notou-se que Zero Hora.com utiliza os sites de redes
sociais para gerar conteúdos colaborativos, para o desenvolvimento de conteúdos a partir de
redes sociais, para a busca de pautas e para coberturas. São exemplos as montagens do
mosaico Missão Instagram, nas quais Zero Hora propõe um tema colaborativo por semana e
seleciona as fotografias mais interessantes para a sua composição. Vale citar como exemplo
de matéria de pauta originada nas redes sociais o texto intitulado como “Bate-Boca no
Twitter”, descrito no capítulo metodológico.Por fim, exemplo de cobertura com o auxílio das
redes sociais é o caso da apresentação ao Grêmio do jogador Pedro Geromel, também descrito
anteriormente.
Além disso, Zero Hora.com também utiliza as redes sociais para estimular o
compartilhamento dos seus conteúdos pela rede e para que os mesmos sejam curtidos. Isso foi
visto nas páginas de conteúdos, abaixo dos títulos das matérias. Também foi identificado na
página “Central de Redes Sociais”.
A entrevista semiestruturada revelou que os sites de redes sociais têm sido usados no
cotidiano de produção de Zero Hora.com. Isso acontece em várias etapas da produção,
conforme revelado por Nickel (2013). O fato de as redes sociais estarem inseridas nas fases de
apuração e acompanhamento de notícias, busca de pautas e fontes, como indicado pela
jornalista, mostra que elas vêm sendo amplamente inseridas no contexto produtivo do
webjornal. Percebeu-se o uso estratégico e exclusivo dos sites de redes sociais para a
produção e distribuição de determinados tipos de conteúdos. Exemplo é o lançamento do
videogame PlayStation IV, que só foi publicado nas redes sociais, situação que considerou o
interesse do indivíduos que estão presentes nas rede sociais. Isso demonstra que,
provavelmente, a redação de Zero Hora.com dedica parte do seu tempo para pensar o que é
interessante para a exposição nas redes sociais. Significa, então, uma adaptação às suas
demandas.
Com essas evidências, foi possível refletir sobre como a tendência de apropriação dos
sites de redes sociais pode afetar os critérios de noticiabilidade do webjornal Zero Hora.com.
Percebeu-se que existe a possibilidade dessa afetação, já que as redes sociais aparentemente
estão inseridas como elementos estratégicos e frequentes na publicação e nos processos
87
produtivos de Zero Hora.com. Isso é o que foi verificado a partir da observação estruturada e
da entrevista semiestruturada.
Com base nisso, acredita-se que esta monografia atingiu o objetivo de investigar como
a utilização dos sites de redes sociais pode interferir nos critérios de noticiabilidade de Zero
Hora.com.Com a revisão teórica, foi possívelestudar a apropriação dos sites de redes sociais
nos veículos jornalísticos e as possíveis afetações dessas ações nos seus critérios de
noticiabilidade. Através da verificação empírica, identificou-se características das
apropriações dos sites de redes sociais em Zero Hora.com.
É valido destacar que este trabalho traz primeiras impressões sobre possíveis
mudanças nos critérios de noticiabilidade a partir da apropriação dos sites de redes sociais no
jornalismo digital. Limita-se à exposição de aspectos do caso de Zero Hora.com. Considera-se
que a presente pesquisa contribui para o estudo da questão e que é relevante a realização de
reflexões futuras.
88
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92
ANEXOS
ANEXO A – Termo de uso de Responsabilidade On-Line do webjornal Estadao.com
O Estadão.com.br faz questão de oferecer um espaço democrático para a livre troca de ideias,
manifestação de opiniões e interação entre as pessoas. Como se sabe, democracia não exclui
divergências. Às vezes, conversas podem causar mal-entendidos. Com base em diversas
experiências de convivência online, apresentamos algumas regras para que esta convivência
seja produtiva, saudável e baseada no respeito mútuo.
IDENTIDADE
Para sua própria segurança, não é bom que a Internet se torne terra de ninguém. Por isso,
sempre forneça dados verdadeiros e exatos. As informações da sua inscrição são protegidas e
não serão entregues a ninguém, exceto às autoridade e, mesmo assim, por determinação
judicial
MODERAÇÃO
As regras de Atitude Online atendem aos princípios do código de conduta “Responsabilidade
Online” do Grupo Estado.
Acreditamos na liberdade de expressão e oferecemos um espaço rico para troca de ideias. Em
contrapartida, as pessoas devem se manifestar com responsabilidade e respeito às leis
brasileiras. Desta forma, textos, imagens ou quaisquer materiais em desacordo com esses
preceitos poderão ser removidos do Estadão.com.br.
Será considerada infração, a publicação de conteúdo:
1. Ilegal
2. Abusivo
3. Ameaçador
4. Nocivo
5. Obsceno
6. Profano
7. Difamatório de qualquer pessoa ou instituição
8. Discriminatório de credo, raça, condição social ou orientação sexual
9. De Incitação à violência e/ou ao crime contra pessoas, instituições, países ou a patrimônio
público e privado
10. Capaz de ferir a reputação de pessoas ou organizações
11. Que configure Plágio
12. Produzido por terceiros, sem a reprodução autorizada
13. Considerado Spam ou correntes de mensagens
93
14. Com transmissão de ou que leve a locais com material de potencial destrutivo como vírus,
worms, cavalos de tróia
15. De Propaganda política, de produto ou serviço
16. Falso ou fraudulento
17. Que viole o direito de propriedade de uma pessoa ou empresa
18. Que finja ser de autoria de outra pessoa, famosa ou não
19. Que advenha de login e/ou nome de usuário desrespeitoso ou ofensivo, independente do
conteúdo do comentário
20. Com mais de 3 (três) links para outros sites ou páginas da Internet; todos estes links
devem conter a devida explicação sobre do que se tratam .
21. Com textos em caixa alta, ou seja, somente com letras maiúsculas. Pelo uso e costume da
internet, escrever em caixa alta pode ser interpretado como agressão aos outros usuários e
também aos leitores; seria o equivalente a entrar em uma sala gritando.
22. Fora do tema proposto pela notícia, artigo, coluna ou postagem de blog. Os comentários
são bem-vindos, mas devem se ater ao tema proposto na página.
23. Postado por usuários com único objetivo de „bater-boca‟ com outro(s) usuário(s) ou que
configura conversa pessoal ou mensagem típica de salas de chat.
24. Que divulgue informações pessoais do próprio autor ou de outras pessoas – por motivo de
segurança.
As consequências por infração a estas regras:
1. Infrações podem levar a exclusão do conteúdo com consequente comunicação por e-mail
ao autor
2. Usuários que forem denunciados ou tiverem conteúdos retirados do ar, poderão ter seus
comentários pré-moderados
3. Infrações consideradas graves poderão incorrer na suspensão por período determinado ou
até na exclusão de um ou mais membros
4. Será considerada falta gravíssima qualquer tentativa de fraude, inclusive para prejudicar
outro usuário de forma que ele seja passível de perder seu direito de acesso ao site por
interdição ou exclusão.
Mecanismo de eliminação de conteúdo: À equipe do estadão.com.br reserva-se o direito de eliminar sem consulta toda e qualquer
postagem de conteúdo, no todo ou em parte, que fira diretamente as regras acima
estabelecidas.
94
ANEXO B – CD com materiais das Fichas de Tipo 1
95
Anexo C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURA
Entrevista com Bárbara Nickel
S. Desde quando o Zh utiliza as redes sociais nas estratégias?
B.Desde 2009. Eu entrei aqui no Zero Hora em 2007 para participar de uma equipe online que
até então o site do Zero Hora era só pegar o PDF do jornal e colocar na internet. Não tinha um
site atualizado vinte e quatro horas por dia, não tinha uma equipe produzindo notícias, até
porque a RBS tinha o Click RBS que era o canal de notícias na internet. Mas, em 2007, a
empresa resolveu fortalecer as marcas, os veículos na internet, então criou “zerohora.com”
com notícias atualizadas vinte e quatro horas por dias, sete dias por semana. E, formou uma
equipe especialmente para isso: pra vir pra dentro da redação e trabalhar com internet, que
não existia isso. Éramos cinco editores, uns doze redatores, tinha que pedir arte, assistente de
conteúdo multimídia, enfim, era uma equipe bem voltada pra fazer jornalismo online. Dentro
dessa equipe, a minha função era trabalhar com interatividade com o leitores, então eu
cuidava do canal “Leitor Repórter”. Eu era responsável pelo canal “Leitor Repórter” e por
todos os canais de interação com os leitores. E daí, naquela época, eu estava sempre
pesquisando como é poderíamos interagir de maneiras diferentes, como é poderíamos trazer
para o site, enfim, estava sempre pensando sobre isso e pesquisando ferramentas. Daí, eu
acho, não tenho certeza, lá por 2009, se eu não me encano, foi logo depois das eleições do
Obama nos Estados Unidos, que eu vi que eles estavam usando o twitter jornalisticamente. E,
eu fui lá e criei uma conta do Zero Hora. Vou criar o perfil do Zero Hora, avisei, disse – „olha,
tão usando, vou criar esse perfil acho bom a gente criar de todos os jornais do grupo porque
parece que vai se tornar uma coisa relevante. ‟
Então, a gente criou o perfil do Zero Hora bem nos primórdios, assim, do uso do
twitter no Brasil. E o facebook também, assim, que foi possível criar a página de
organizações, porque antes só podia ter perfis, assim que foi possível isso, se não me engano
foi em 2009, acho que talvez o twitter tenha sido 2008 e o facebook 2009. Então, a gente
sempre vai criando os perfis, assim, sempre criou, pelos menos, dessas redes que se tornaram
o mais relevante jornalisticamente – assim que foi possível, mesmo se a gente não soubesse
exatamente o a gente ia fazer.
S. Por que razões os sites de redes sociais são usados no ZH? É uma noção de estratégia?
ou porque vai surgindo?
B. Bom...lá naquele começo era porque estava surgindo e eu desconfiava que poderia vir a
ser...a agente é uma, apesar de pra tempo de internet quatro anos ser ser bastante coisa, pra
tempo de evolução do jornalismo, cinco anos é pouco tempo. Então, na verdade , em relação
ao jornalismo essas tecnologias são bastante novas. Então, não é assim, a gente nunca tinha
uma estratégia clara, porque é uma tecnologia bastante diferente do que o jornalismo tinha até
então.
S.Como vocês escolherem qual site de rede vai fazer um perfil? Como vocês selecionam
essas redes? Como que é essa escolha?
B.Então, em 2010 eu virei editora de redes sociais do grupo RBS, mas eu trabalhava dentro da
Zero Hora. Eu meio que dava consultoria para os outros veículos, TV, rádio ... Mas, eu
atuava dentro da Zero Hora. Em 2012, eu cansei. E aí, abriu uma vaga no caderno de
tecnologia, e aí eu passei uns nove meses um pouco ausente. Então, por exemplo, o Instagram
96
da Zero Hora foi criado nesse período que eu não tava, mas em todas outras redes eu estava.
Então, das outras eu posso te dizer.
A gente cria no momento porque percebe que jornalisticamente ou pra um serviço que
pode ser útil para o nosso leitor a gente percebe que é interessante ou também porque a gente
fica acompanhando tudo que todos os veículos estão fazendo no mundo e mesmo que não seja
veículos jornalísticos, a gente consegue ver a relação entre, por exemplo, o Pintrest,a gente
consegue perceber, assim, no início i tipo de interesse que as pessoas tem ..ah, as pessoas tem
interesse em decoração, estilo de vida e gastronomia, arquitetura, assuntos que a gente tem,
esse tipo de conteúdo pra oferecer e tem pessoas lá que querem consumir esse tipo de
conteúdo. Então, vamos ver como é que a gente consegue adaptá-lo. Esse tipo de conteúdo
que a gente tem para aquela rede – esse ainda é o primeiro pensando. Segundo – como, se a
gente ensinar os jornalistas de redação a usarem a gente dizer “olha, o Zero Hora ta fazendo
isso lá, essa rede funciona assim, se vocês que estão trabalhando com gastronomia com
decoração, com modo, com estilo de vida e saúde, entrarem lá vocês vão ver que há bastante
pauta que tem conteúdo interessante que vocês podem compartilhar pra vocês se tornarem
mais relevantes e perceberem o que as pessoas estão falando nas redes também.”
No caso, do foursquare, eu comecei a usar e daí...também houve uma mudanças no
foursquare quando eu criei um perfil RBS e depois também poderia, passou a poder ser, uma
página, uma espécie de página, mudou o tipo de, poderia ser oficial e que queria ser oficial
desde o início, a gente entra em contato com as redes e não consegue.
Enfim, mas no começo, eu Bárbara comecei a usar “ah que legal seria se nos lugares que eu
fosse, houvesse dicas da Zero Hora isso tornaria o Zero Hora mais relevante eu acho
surpreenderia `às vezes a pessoa “ahhh to aqui no parcão, deixa eu ver o que tem em volta e
aparece uma dica do Zero Hora” acho que isso é relevante. Então, vou criar um perfil do Zero
Hora vou começar adotar assim.
No primeiro momento, normalmente, a gente faz isso e depois a gente parte para as editorias,
tem uma editoria de bairros e tem a editoria que é a central dos interiores e daí a gente vai
conversar com eles, tipo – “olha, a gente tem essa rede será que não seria legal os repórteres
do interior nos mandarem dicas que a gente possa cadastrar também no interior, pq a gente
fica focando muito em Porto Alegre e os cadernos de bairros vivem muito essa realidade
hiperlocal e conhecem bem os bairros. Eles não poderiam se apropriar do foursquare do Zero
Hora e eles cadastrarem dicas? O Caderno Donna ou o Segundo Cadernonão seria legal que
eles se apropriassem? E, aí a gente começa a fazer esse trabalho junto com as editorias.
Algumas adotam com mais facilidade outras abandonam. Porque todas editorias tem que fazer
o jornal, eles tem que fazer o site. Elas tem que fazer as redes. Elas tem que fazer tudo.Então,
alguma coisa, dependendo do editor acaba deixando de ser priorizado.
S.Uma pena não tem um profissional na equipe que só cuide das redes.
B.Mais ou menos.É uma pena quando eu penso do ponto de vista das redes. Mas, quando eu
penso do ponto de vista do jornal eu acho uma pena que eles ainda não consigam trabalhar
web. Eu acho que a gente tem lacunas digitais bastantes graves pra eu querer exigir que eles
trabalhem bem as redes. Então, eu acho que as redes serão uma conseqüência, já evoluiu
bastante. As pessoas, muitas vezes, agora, como tem duzentas pessoas na redação. Outras
pessoas chegam pra mim e dizem: “ah Bárbara como a gente pode usar tal coisa. Tô pensando
em fazer isso no caderno de Bairros, como é que eu faço?”. O Segundo Caderno vem e “ah
será que a gente não pode usar o foursquare ?”E assim, muito freqüentemente, surgem
iniciativas também das próprias editorias. É bastante diverso agora. Tem bem mais gente com
certo nível para lhe dar com tecnologia.
97
Porque a gente sempre testa, desde o início. A gente sempre testou. Pra tu ter uma
ideia, desde o inicio do twitter do Zero Hora a minha primeira lógica que eu pensei, foi assim:
tinha o twitter do G1 que era o feed de todas as notícias e continua sendo a mesma coisa até
hoje. Tinha do Terra, da BBC, da CNN e eu pensei assim: bom, uma pessoa que hoje que
entra no twitter e quer acompanhar notícia por que ele vai seguir o Zero Hora, no twitter? Se
tem o G1, tem a CNN, não agora que já está popularizado, digo – lá no início. O único motivo
que vai querer ele ler o Zero Hora são as notícias que só a Zero Hora tem. Ninguém vai
acompanhar a Zero Hora pra saber acidente na China ou mesmo um acidente na Bahia. A
gente não tem a menos propriedade pra dar uma notícia desse nível. O que a gente tem
propriedade? A gente tem propriedade pra falar das coisas daqui. Que é bem a lógica do
jornal. Ah..então vamos colocar todas as notícias que são locais, porque as outras as pessoas
vão seguir nos outros twitters . Daí tá. A gente começou assim. Daí a agente percebeu que a
gente não pode – não falar de assuntos relevantes nacionais ou internacionais. Não pode
deixar de falar da eleição do Obama. Então, o nosso critério passou a ser assim: a gente tem o
site da Zero Hora e tem a manchete do site da Zero Hora que tende a ser local, mas se uma
notícia nacional se impor ela vai ser notícia. Daí o critério passou a ser: Todas as notícias
locais e todas as manchetes do site, porque se um assunto é relevante o suficiente para ser a
nossa manchete – ele tem que estar no twitter.
O facebook, no começo, por exemplo, nenhuma notícia que a gente colocava as
pessoas curtiam ou comentavam. Nenhum conteúdo noticioso de verdade era só bobagem. Se
a gente coloca, que nem essa semana, os quinze pandas que nasceram – as pessoas adoram.
Mas, no começo a gente estava colocando só bobagem. Mas, aí as pessoas começaram a
reclamar “mas não tem nenhuma notícia?”. E, aí começamos a também dar a notícia. A gente
vai adaptando ao que as pessoas vão nos respondendo.
E aí acontecem fenômenos bem interessantes: O que as pessoas consomem e o que as
pessoas querem parecer que elas consomem. São coisas bem diferentes. Tanto que qualquer
site que tu for nas notícias „mais lidas‟ é bobagem, mas se você for nas „mais enviadas por e-
mail‟ ou „mais compartilhadas‟ que é aquilo que eu quero mostrar pra ti que to lendo,
geralmente, são coisas mais sérias. E daí acontece o dilema: o que eu sou e o que eu quero
parecer. Assim, a gente coloca às vezes uma bobagem assim, sei lá, os pandas, por exemplo,
muitas pessoas vão clicar nessa notícia. Às vezes, a gente vê, na hora, que muitas pessoas
estão clicando poucas vão compartilhar e muitos vão comentar tipo “ah eu não tô curtindo o
Zero Hora no face pra ver notícia idiota”, mas está clicando.
Então, o que quê acontece do Segundo Caderno, que é um drama a página do facebook
do Segundo Caderno. Porque eles são um caderno de cultura e lazer que ele não é um caderno
popular. Ele é um caderno que vai tratar de teatro, de exposições de arte, de cinema, mas
sempre com o viés um pouco mais cultural e menos popular. E o que acontece no facebook do
Segundo Caderno? Se, eles compartilhar, que nem a capa de hoje, que é sobre fachadas de
banco que estão sendo apropriadas por artísticas. Intervenções Urbanas. Tá é legal. Mas, se a
gente colocar na capa do site isso não é pop. Não é um assunto pop. Então, a gente pega esse
assunto e posta lá no facebook do Segundo Caderno. Daí não tem reação nenhuma. E, se a
gente posta o último capítulo da novela, colocar no facebook do Segundo Caderno: milhares
de pessoas vão clicar e milhares de pessoas vão nos xingar tipo, “ahh que bobagem”`. E é
isso: entre o que as pessoas são e o que elas querem aparecer. Esse caderno vive bem esse
dilema.
S.Quais são as redes sociais mais utilizadas?
B.Facebook. A gente usa facebook, twiiter, Google + com tudo que a gente posta no
Facebook, a gente replica. Assim, há uma agência de Publicidade que é responsável pelo
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Google + no Brasil e o trabalho deles é ficar ligando para os lugares e ficarem dizendo “olhem
usem, se usa assim”...e recentemente, faz uns três meses mais ou menos, nós tínhamos quatro
mil pessoas que curtiam, sei lá, davam um “mais” na página do Zero Hora. Bom..eles ligaram
pra cá e dizeram “olha, a gente vai colocar a página de vocês, já que vocês atualizam, vamos
colocar, quando um novo usuário se cadastra no Google + e ele diz que quer seguir notícias
vai aparecer a página de vocês de sugestão pra quem quer acompanhar notícias, na categoria
notícias. Então, a gente: ta legal. Em seis meses tem mais de duzentas mil pessoas que curtem
a nossa página no Google +.
É um crescimento assustador e a gente fica sempre acompanhando porque a gente usa
o HootSuit que uma ferramenta de gestão de perfis, então, a gente fica acompanhando pega o
mesmo conteúdo...porque não tem retorno em termos de audiência e não repercussão. Tem
duzentos mil pessoas que curtem a nossa página lá no Google e três pessoas curtem uma
postagem que a gente faz. Tem dois comentários, ninguém clica, mas igual, a gente não quer
deixar vazio e fantasmagórico por isso a gente publica nas duas ao mesmo tempo. Então, o
mesmo conteúdo entra nas duas.
S. Há um diferença no uso de cada rede social? Qual?
B.No twitter a gente privilegia bastante notícias factuais e a gente não vai deixar de dar
nenhuma notícia, porque a gente imagina que quem ta ali quer seguir e quer saber o que está
acontecendo agora, porque tem muito a questão do tempo real.
S. Ele já foi utilizado para cobertura?
B. Sim. A gente sempre usa. Inclusive a gente tem três perfis principais relacionados a Zero
Hora que não são as da editorias que é “o transito ZH” e o “ao vivo ZH”. A gente criou o “ao
vivo ZH” anos e anos atrás, pq eu a gente pensou? a gente quer fazer coberturas ao vivo, no
twitter, mas a gente não acha que os assuntos das coberturas ao vivo vão interessar pra todo
mundo que segue a Zero Hora, então, quando a gente faz cobertura ao vivo que não é de
trânsito e não é da editoria. Porque se é ao vivo de economia, vai fazer no perfil de economia,
ahh se for ao vivo de política, vai fazer com o perfil de política. Os com os dos repórteres,
cada um vai fazer o seu.
A visita da Dilma, inauguração do aero móvel que foi que teve aqui a gente vai fazer
usando o “ao vivo ZH” e daí no perfil da Zero Hora a gente diz “olha, a Dilma está em Porto
Alegre e vai começar a inauguração para acompanhar em tempo real siga o „ao vivo ZH‟”e
daí segue a cobertura por lá mesmo assim as principais notícias colocando no perfil oficial.
Acidente, tiroteio, polícia e trânsito a gente vai noticia bastante no twitter e também a gente
usa pra pedir opinião das pessoas em alguns assuntos.
A gente tá com a editoria de opinião, eles tem um twitter que é “opinião ZH”, que são
responsáveis pelos editorais e pelos artigos que saem no jornal e eles publicam esses artigos
no blog e eles sempre publicam pedindo opinião das pessoas no twitter, a gente reforça isso
com o twitter do Zero Hora e retwitta isso, pede também que as pessoas opinem sobre esses
artigos.
Mas, mais no twitter o foco é notícias factuais e também as pessoas nos avisam muito
das coisas que estão acontecendo. As pessoas nos avisam “ah, uma árvore caiu aqui na
Ipiranga agora” as pessoas sempre estão nos avisando porque tem muito esse coisa do tempo
real. No facebook a gente evita o que é muito tempo real até porque a gente não sabe quando a
pessoa vai ler essa notícia até pelo algoritmo lá do facebook que resolve mostrar para ti uma
coisa que a gente publicou há doze horas. Então, se a gente coloca: aconteceu tal coisa
aguarde mais informações daqui a pouco tu vê, já vai ter tido mais informações e aí tu vai
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achar que a gente não sabe mais informações, então, assim a gente não valoriza muito o que é
muito tempo real, muito factual, a gente trata assunto que já estão um pouquinha consolidado
com o facebook.
E o twitter pra coberturas em tempo real não tem nada melhor, muito bom.
S. É possível apontar um nível de importância das redes sociais nos processos de
produção da notícia? ....ele auxilia na apuração ...
B.Auxilia. E o mais legal de perceber, ao longo desses anos é o quanto, apesar de nem toda a
redação, todas as editorias estejam craques em ter perfis oficiais, talvez a editoria de
economia não tenha o melhor perfil, a melhor página do facebook de economia, isso é chato.
Mas, é legal de perceber o quanto uma massa muito grande da redação, como jornalista, já
usam como ferramenta de apuração e de acompanhamento de notícias. Então, assim
seguidamente, nas reuniões de pauta a gente troca e-mails „olha, está rolando isso, to vendo
que isso ta acontecendo nas redes sociais a gente deve ou não fazer uma matéria, é ou não um
assunto?” Ou, muito frequentemente “ah a gente precisa entrevistar uma pessoa, só vê ela no
facebook vamo entrar em contato com ela usando as ferramentas de redes sociais”Então, pra
entrar em contato com pessoas, pra descobrir coisas que estão acontecendo, muito freqüente
buscar pautas que estão acontecendo, que as pessoas estão começando a falar.
E também para fazer uma pauta que seja colaborativa.
E, a gente pode até falar de ferramentas oficiais, por exemplo, a gente já fez muitas pautas
sobre a situação das praças de Porto Alegre a gente não tem como nós irmos a todas as praças
a gente pode ir a cinqüenta, setenta praça, mas a gente não vai a todas, então, gente continua
muito fazendo esse uso, chamando as pessoas pra colaborarem com a gente no site que daí a
gente usa as ferramentas pra achar as pessoas tanto pra montar o produto que seja jornalístico
colaborativo quanto pra encontrar isso num caso, no outro caso, é...dia dos pais e a gente quer
falar sobre pais que criam filhos sozinhos, sem a mãe..então vamos ver a gente consegue
algum case pelas redes sociais e daí a gente pode usar e é legal que a gente usa o perfil da
Zero Hora pra convocar as pessoas pra buscar pessoas pra falarem com a gente, ou então, se a
gente quer descobrir alguma coisa que nem, agora, no caderno do 25 anos da Constituição
tinha um livro de fotos que tinha uma foto de vinte e cinco anos atrás, que tinham várias
crianças segurando placas e que era alguma coisa da Constituição. Quem são essas crianças?
Não estava no livro. Então a gente coloca isso nas redes sociais perguntando “ah, vocês sabem
quem são essas crianças? Ajude encontrar essas crianças.” Então, isso a gente faz bastante
também.
S. Se você pudesse apontar desses fatores indicados, esses de apuração, de busca de
pauta, de colaboração. Quais os processos que envolvem mais apropriações das redes e
quais são eles em ordem. Para que elas (as redes sociais) tem mais serviço ultimamente?
B.É muito difícil em uma redação de duzentas pessoas a gente conseguir numerar, então eu
não sei quantas pautas já surgiram porque alguém viu alguma coisa em uma rede social, tenho
certeza, que já foram muitas e todo dia a gente vê alguma, mas eu não sei quantas. Eu não sei
quantas vezes alguém conseguiu entrevistar alguém por causa das redes sociais, quantas vezes
são inúmeras e a mesma coisa. Não sei quantas vezes a gente já conseguiu chegar em uma
informação. Não tem os números disso para colocar em uma ordem de relevância, mas eu sei
que todos são processos bem disseminação dentro da redação. Até porque a gente para a
redação e explica como funciona, vai lá e ajuda as pessoas a fazerem. A gente tem um
processo de conscientização bem grande. O que a gente consegue medir? E daí tem duas
coisas que a gente consegue ter os dados, que é: quanto a audiência as redes sociais trazem
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para o nosso site, quantas pessoas clicaram naquele link, compartilhou no facebook e daí veio
para o site do Zero Hora, que é visualizações do nosso site, quantas pessoas vieram para o
nosso site porque elas viram alguma coisa em redes sociais e isso é uma coisa de mais ou
menos 14% da audiência do site vem de redes sociais.
S. Mas esses 14% são de todas as redes?
B. De todas as redes, só que considerando o facebook está em 95%. Passou uma época o
twitter depois veio o facebook. Por isso, a gente começa a dar um pouco menos de atenção,
porque dá menos retorno em termos de audiência para o site.
E outra coisa, tudo que a gente posta no facebook imediatamente as pessoas reagem ou
corrigem - isso tem um valor muito grande também, que pode entrar como um outro item
também. Que é informações que a gente tava dando, que nós estamos errados. Correção – a
gente chama. Muitas vezes, a gente postou um negócio no facebook e imediatamente eles já
dizem “olha, não é assim, não foi assim que aconteceu. Eu vi um dado em outro lugar que é
diferente”. Então, isso as pessoas nos questionarem, às vezes elas estão erradas, mas às vezes
elas estão certas e isso é bem legal é um processo, uma coisa que enriquece bastante o nosso
trabalho. E mesmo a avaliação do a gente está fazendo certo ou não, porque apesar da gente
não poder fazer. Se a gente for fazer tudo o que audiência gosta, se a gente for uma capa do
site, capa pra dar a melhor audiência a gente faria uma capa mais parecida com a do Terra
que tem mulher pelada, que tem tragédia, quem tem notícias bizarras, essa não é a linha
editorial do Zero Hora. A gente não vai fazer tudo que a audiência quer, mas entre fazer o que
a audiência quer e não ouvir nada que as pessoas estão falando tem o meio termo, que é o que
a gente tenta fazer. Se às vezes as pessoas vão reagir, a gente posta a capa do Zero Hora, por
exemplo, todo dia no facebook em todas as nossas redes, às vezes as pessoas vão nos dizer,
“olha, por que tal assunto é tão importante não está na capa hoje?” E a gente leva para a
reunião de pauta dos editores.
S. Eles questionam?
B. Questionam. E a gente às vezes vai responder “porque olha que tal assunto, às vezes a
gente tem argumento, às vezes não” porque a gente achou que para o nosso leitor o atentado
na Nigéria não fosse importante, mas é. As pessoas querem saber e isso pra gente entender
melhor o nosso trabalho também é muito legal. É muito legal levar na reunião dos editores,
chegar lá e dizer pra eles “olha vocês fizeram um julgamento de que os assuntos mais
relevantes eram esses, mas as pessoas estão perguntando sobre o atentando na Nigéria”. Tem
gente trabalhando aqui há vinte, trinta anos e tem uma visão, imagina que seja o leitor do Zero
Hora. “ah mas é porque o leitor do Zero Hora não se interessa por esse assunto” e daí nas
redes sociais ..é o leitor que ta falando não é a gente que ta imaginando, é ele que está dizendo
pelo que ele se interessa e isso eu acho é um processo que mais enriquece assim o jornal.
S. Como acontece a avaliação dos temas que são publicados, a partir das redes sociais.
B. Bom...o único valor que a gente consegue medir é audiência, que não consegue medir, mas
que consegue relacionar diretamente com a performance do jornal como um todo. Então a
gente faz coisas que são só para o facebook e só para o twitter. Por exemplo, a gente dá “bom
dia”, isso a gente não faz no site. Isso é uma coisa que tem centenas de curtidas diariamente e
centenas de comentário diariamente por que as pessoas respondem? ..ainda é um mistério pra
mim, porque elas dão bom dia pra um jornal, mas ainda assim elas respondem.
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Por exemplo, tem várias fotos que os fotógrafos fazem, fazem fotos todo dia de manhã pra
ilustrar uma matéria de clima de como será a previsão do tempo e a gente escolhe uma bem
legal e coloca no facebook também, pessoas adoram. Às vezes, nós damos “bom dia”usando
essa foto também. Tem várias coisas que a gente faz só no facebook, por exemplo, a gente faz
umas versões especiais em datas como Semana Farroupilha, Dias dos Pais, Páscoa a gente faz
aqueles cards de facebook, uma ilustração e uma frase e a gente nem dá a notícia no site ou no
jornal não tem nada a vê com o resto. A gente às vezes adapta de um jeito bem diferente, por
exemplo, a gente começou a fazer com os colunistas de pegar uma frase forte da coluna e
criar uma espécie de card do colunista com aquela frase de impacto e postar ela bem editada
com uma imagem legal, também as pessoas curtem bastante.
Como a gente usa muito o Instagram pra fazer missões, “fotos de primavera” e daí
pedem pra pessoas mandarem fotos e a gente faz um ciclo. A última foi a de primavera e a
gente fica fazendo isso nas redes, gera missão no Instagram, pega uma foto legal que alguém
postou, coloca no facebook , chama as pessoas para postar mais, dá os comentários, a gente
consegue fazer um mosaico no site, e daí, lá no twitter a gente dá o link para o mosaico e diz
para as pessoas participarem, enfim, a gente fica com as atividades só das redes, a gente cria
atividades que são só das redes.
São coisas que fazem sentido nas redes, que as pessoas tão lá pra isso, assim, não
fazem tanto sentido no site e daí a gente acaba fazendo algumas coisas e às vezes a gente
adapta faz de um jeitinho diferente, assim, mas, por exemplo, dias dos pais, façamos aqui um
tempão “ah vamos lançar uma missão dos dias dos pais” ficamos horas e horas pensando até
que a gente, ah “vamos criar uma missão: Lembra disso pai” que era para colocar uma foto
antiga, nostálgica, tua com teu pai. E, dái a gente criou a missão no Instagram. E os leitores:
“tá eu quero participar, mas eu nem sei o que é esse Instagram” E, a gente teve que criar a
mesma versão no site, só que o site é uma ferramenta horrível, que a gente tem que baixar as
fotos que as pessoas mandam por e-mail, daí a gente tem que baixar...
S. E não surgiu a ideia de fazer um tutorial? ...
B.A gente pode fazer, mas mesmo assim, a gente não pode obrigar as pessoas a terem
Instagram. A todos os leitores terem Instagram. Nem todo mundo quer ter.É uma coisa de
nicho. E isso, como é uma coisa nostálgica, muitas pessoas quiseram participar. A gente
recebeu trezentos e-mails com fotos e daí a gente tem o trabalho braçal de colocar todas as
fotos no site, mas a gente não pode não contemplar essas pessoas. Mas, enfim, daí a gente vai
..vai fazendo assim.
S. Existe alguma orientação da organização em relação a necessidade do uso das redes
na produção das notícias?
B.Bom...Existem duas coisas, já existe um esforço do grupo, tanto que eu era editora de redes
sociais do grupo, tanto de orientar ir lá em cada redação explicar como funciona aí passou
essa primeira fase de alfabetização e agora existem esforços individuais de cada veículo.
Então, assim, dentro da Zero Hora. A Marta, que é a nossa diretora de redação, ela incentiva,
diz pras pessoas usarem, quer que a gente seguidamente apresente cases e fale como é que a
gente envolveu o leitor pelas redes sociais ou como é que elas foram usadas para fazer uma
matéria e a gente compartilha muito essas informações.
Agora, por exemplo, está acontecendo um curso, a RBS criou um negócio que chama
“Escola de Produto” que são cursos corporativos, alguma coisa assim, e cada veículo decide
como vai ser o seu. E aqui na Zero Hora a gente fez cursos de redes sociais, então, eu dei uns
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dez cursos de redes sociais pras pessoas, separados em níveis, do bem básico – pra quem
sabia o que era RT, pra quem nunca tinha entrado no twitter. Até de inovação, pra ver quais
são as cosias mais malucas que estão sendo feitas e que a gente poderia pensar em fazer e
como elas funcionam e passando um pouco, como é que faz cobertura ao vivo. Se tu tiver em
uma cobertura ao vivo, como é que tu avalia, se um twitter que alguém está postando pode ou
não ser verdade, como é que tu julga se vai usar isso ou não. Bom.. a gente tem muita
iniciativa de educação pra redação, mas nenhuma cobrança. Nada de chegar na editora de
Geral e dizer “vcs tem que fazer quinze matéria de redes sociais por semana” não tem isso.
S. Quando o jornalista novo entra na redação ele recebe instruções no sentido, mas pelo
que eu estou vendo a instrução acontece durante, não é na chegada, ou como é que é?
Porque tem relação ao perfil, os novos jornalistas que estão se formando já tem um
perfil mais multimídia e tal ..
B.É isso que tu imagina. Mas, não. Na verdade, talvez sim, que muitos jornalistas novas que
estão se formando tem perfil multimídia, estudaram jornalismo online, tiveram aula disso na
faculdade coisa que eu não tive. Mas, não sei se é porque as pessoas que chegam aqui na
redação quando elas vêm é porque elas querem trabalhar no Zero Hora, no impresso, tudo
isso, elas chegam aqui, elas idealizam “bah, vou trabalhar em um jornal impresso”. E, a gente
sofre a gente que trabalha mais com internet, sofre muito de ver um jornalista novo que chega
aqui com sonho de trabalhar em um jornal de papel. Tu que conhece o potencial, que usa, que
sabe como funciona, que acompanha notícias de todos os lugares do mundo pela internet, não
percebe o valor disso, e isso é um drama a parte, assim – do perfil do profissional.
Mas, sim, quando ... a gente até achou um programa mais sistemático e agora ta um
pouco mais informal, entre três pessoas, uma numa semana, outra em outro .. três pessoas vão
entram no mês, e em um dia da semana essa pessoas vai passar por todas as editorias, vai
saber como todas elas funcionam e passam pela minha editoria também em que a gente vai
conversar “olha, as redes sociais, aqui na Zero Hora a gente trabalha assim, as editorias tem os
perfis oficiais. O Zero Hora tem perfil oficial, mas além disso, tu no seu perfil pessoal
também pode atuar como profissional, como é que a RBS entende a atuação do jornalista, essa
questão, perfil pessoal vs. perfil profissional é uma dúvida que surge bastante. A gente explica
isso, então isso é uma coisa que eu explico pra todo mundo que entra.
Pra pessoa que entra aqui, não é uma questão de rede social, tem um guia de ética da
RBS que diz “ow, se tu és um jornalista da RBS, tu tens um perfil ético que é esperado de ti,
na vida” não só nas redes sociais. Então, isso tu tem que considerar na sua atuação nas redes
sociais, independente disso.
Quando a RBS olha para o seu perfil de twitter não vai ficar pensando “ah, não, mas
esse aqui é a Sofia da vida pessoal, a gente não tem nada a vê com isso”. Não. Tu é sempre
jornalista.
Então, isso é bem difícil, é bem diferente dos veículos a nossa abordagem em relação a
Gaúcha, por exemplo, na Gaúcha eles colocam o selinho da Gaúcha no perfil das pessoas a
gente não faz isso, porque o profissional de rádio é um profissional que aparece mais ele fala
na rádio, ele assina as matérias, ele tem mais visibilidade que o profissional do jornal. O
profissional do jornal tem uma coisa mais de timidez, é mais reservado. Ah, é muito diferente,
a abordagem assim.
S.Como é a rotina diária de produção do ZH?
B. A gente tem uma equipe em maio desse ano, foi criado uma equipe diferente da qual eu
sou editora. Antes tinha uma área que era de atendimento ao leitor, que fazia a página de
103
cartas, que tinha cinco pessoas. Existia uma área de redes sociais, que tinha uma editora e um
estudante e existia uma área de divulgação que tinha uma editora e duas pessoas, que são as
pessoas que fazem o VT, releases, coisas assim da Zero Hora. E, essas três áreas se juntaram e
com isso, o que eu consegui fazer é distribuir melhor a energia. Não precisa de cinco pessoas
pra fazer uma página de jornal, todo dia. Então, a gente redistribuiu as energias e agora a
gente tem das 7h da manhã às 22h da noite tem uma pessoa, em alguns horários duas, que
estão produzindo conteúdo pro twitter, Instagram, facebook, Google +, e que estão pensando
em ações e que estão alimentando esses perfis. E, daí assim, eu vou na reunião de pauta da
manhã e daí a gente discuti as pautas do jornal e já consegue “ah, será que nessa das praças,
nós não podíamos convocar as pessoas?”
S. Essa interação acontece com a editoria de digital, que por exemplo, vai fazer essa
pauta?
B.É que hoje não tem mais, aquele núcleo de digital que eu te falei de 2007. Aquela equipe de
redatores e editores – aquilo não existe mais. Porque hoje cada editoria é responsável pelo seu
conteúdo ou redes. Então, não tem mais redatores online. Só tem a editoria de Geral que é
responsável por tudo. E eles cuidam do perfil do Trânsito, por exemplo. E a nossa editoria
cuida dos perfis oficiais, a gente senta na mesa, que estão as pessoas que editam a capa do
site. Então, só tem editor de capa e as pessoas que trabalham com redes, então a gente fica o
tempo inteiro conversando com as editorias direto, do tipo, “ah a gente precisa saber o que as
pessoas estão pensam sobre um assunto”é uma pauta de Geral, daí eu vou dizer pra pessoas
que trabalha comigo “ah, Estevano, tu vai lá e conversa com o Rodrigo porque está rolando
uma pauta sobre esse assunto, combinem como é que é o melhor jeito, como é que ele vai
acompanhar, enfim, conversem...”
E seguidamente, o que acontece? ..uma editoria quer uma matéria, quer publicar no
jornal ou no site ou alguma coisa que tenha repercussão. “Ah, eu quero saber como é que isso
repercutiu nas redes sociais”, muitos repórteres sabem fazer essa busca, sabem acompanhar e
sabem como buscar esse material, muitos não sabem. Então, eles vêm aqui e dizem “ah eu to
fazendo essa matéria eu queria ter algumas opiniões das pessoas do twitter, me ajudem a
encontrar” .
Seguidamente, até da nossa editoria surgem muitas pautas assim, porque a gente
sempre ta vendo o que está acontecendo nas redes, então, vai lá dizer para a editoria de
economia “olha só o dono da barilha fez uma declaração homofóbica e agora nas redes sociais
ta todo mundo falando sobre isso” e daí ela vai dizer “ah, não, mas teve agora uma pesquisa
do IBOPE que divulgou o negócio do emprego e renda” ta mais isso ninguém vai ler agora, a
agente precisa de uma matéria sobre isso que é sobre o que todo mundo ta falando...e a gente
fica, como é todo processo jornalístico, numa batalha constante..assim, do tipo: isso aqui é
mais importante agora por que se a gente tiver essa matéria e publicar agora e chamar no face
vai ter muita audiência, e ela vai dizer “não, mas isso é irrelevante, eu preciso produzir essa
matéria que vai ser manchete do site e não isso que é uma bobagem” , mas aí a gente: “tá mas
a manchete do site não vai render audiência nenhuma, ninguém quer saber da sua pesquisa”
ao fica essa batalha constante, daí, muitas vezes agora que a gente já tem uma equipe bem
mais estruturada eu digo”ta, então, eu vou fazer” e eu tenho uma equipe que consegue
produzir algum conteúdo. Então, às vezes quando as editorias não conseguem a gente assume.
E a matéria do Tinder, que é um aplicativo de celular ... é uma coisa de namoro. Uma menina
da minha equipe disse: “ow, a gente não fez nenhuma matéria sobre isso” e sugeriu para o
editor chefe e o editor chefe disse “ah legal, vamos fazer”. Daí, qual editoria vai fazer essa
matéria? Geral, economia, política, segunda caderno, ninguém se acusou. Aí eu disse: “ah,
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ninguém vai fazer então façam vocês”. Então, duas gurias que trabalham comigo fizeram a
matéria que saiu no jornal impresso, no site e nas redes.
Então, a gente também começa a ter essa missão e essa estrutura de produzir conteúdo
que ou é sobre as redes ou é porque está repercutindo nas redes, ou é porque a gente sabe que
vai interessar pras pessoas que estão nas redes.
S. O ZH costuma publicar assuntos que normalmente eles não são privilegiados nas
publicações oficiais, se o jornalista tem algum critério diferente para saber o que vai
publicar nas redes no perfil do ZH.
B.Tem notícias que não são de trânsito, que não são factuais, que não são as notícias que não
vão ser privilegiadas no jornal de amanhã e nem na capa do site do Zero Hora que a gente
valoriza mais no facebook, não é que a gente vai produzir um conteúdo de notícia só para o
facebook. Alguma notícia que não é notícia factual extremamente irelevante pro jornal a gente
acaba tomando ela como relevante para o facebook. Mas, não é que ela não vá ser produzida
pro jornal ou pro site, um exemplo assim, coisas que a gente tem a valorizar mais nas redes é,
sei lá, lançamento do PlayStation 4, é factual, que pode ser uma notinha lá no jornal de
amanhã, pode ser uma nota no site, mas no facebook a gente pode explorar muito mais
porque a gente pode perguntar “ah, vocês gostaram mais do PlayStation 4 ou do Xbox?” e
fazer foto, e ficar interagindo, sabe? A gente vai alimentar mais isso, porque a gente sabe que
vai gerar debate, polêmica num universo que se interessa por esse tipo de assunto e é um tipo
de assunto que faz sentido pra um público que não é necessariamente o público que lê o
jornal. A gente consegue perceber a diferença de interesse, se a gente colocasse o PlayStation
4 nunca seria manchete no site, nunca seria, não é relevante para o site e se eu chegasse na
reunião de pauta dizendo: “olha, a gente sabe que não está acontecendo mais nada e o
PalyStation ..é sobre isso que as pessoas estão falando”. No atual, momento do Zero Hora,
isso não seria manchete nem no site, nem no jornal; mas a gente sabe que gera conversa, que é
um assunto sobre o qual as pessoas gostam de conversar e por isso, ele rende no facebook.
Nas redes a gente sabe que funciona.
E é isso também, as pessoas que estão em lugares diferentes porque as que estão lá no
facebook não é o mesmo perfil que necessariamente está no site, não é o mesmo perfil que lê
o jornal impresso. Então, isso é difícil porque a gente não tem uma pesquisa de dados, apenar
que no facebook a gente ter maravilhosa recurso do facebook em sites, então a gente sabe que
pessoas entre 20 – 35 anos que lêem a nossa página do facebook ou que..é bem diferente do
assinante do Zero Hora que tem uma média de 55 anos.
Então a gente sabe que no facebook é gente do mundo todo, que tem muito gaúcho
desgarrado que nos acompanha pelo faebook.
S.Quando vocês vão escolher essas pautas factuais que vão para as redes, vocês estão
considerando ali a margem de idade? Vocês levam em consideração?
B. A gente leva em consideração isso e a experiência prévia assim, os assuntos que a gente
sabe, que a gente coloca a questão subjetiva de quem está ali todo dia trabalhando com isso.
Tanto que seguidamente e que está acontecendo, que eu acho muito legal isso, tem a página
do Segundo Caderno, tem a página da Economia, e Política e do caderno Casa&Companhia
esses cadernos ... quando as pessoas começam a se apropriar mais das suas páginas, elas vêem
e nos pedem “ah eu postei na minha página, na página do Segundo Caderno essa notícia e eu
quero que tu compartilha na página do Zero Hora” que quando a gente compartilha fica lá,
que foi postado originalmente pela página do Segundo Caderno e dái dá mais..As pessoas
vêem que existe uma página.
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Os editores conscientes eles preferem que a gente compartilhe do que a gente postar
no facebook direto porque daí não vai aparecer que a página é deles. Então, seguidamente
vêem gente e pedi e já estão nos mandando chamadas...assim já criou um processo na redação
e alguns pessoas ..”ah olha, isso aqui é legal para o face, postei na página da Economia agora
– compartilhem no face da Zero”. Está surgindo bastante isso e o que eu oriento para as
pessoas da minha equipe: vocês não tem que compartilhar tudo, porque a pressão é forte,
porque assim ow ..a editora de Política publica uma notícia no facebook de Política e eles
querem que a página da Zero Hora compartilhe aquilo que foi postado na página da Política,
porque a página pode compartilhar e daí fica parecendo que originalmente foi postado pela
página da Política e assim cresce o número de seguidos. E, as pessoas que estão cuidando das
páginas, os editores, eles vendem as chamadas ..eles chegam ali e dizem “olha, eu to postando
isso agora no facebook da Política chama no da Zero”.. eles vêm e conversam e pedem e daí
eu digo “olha, é legal que eles façam isso, mas nem tudo que eles publicam a gente precisa
compartilhar, tem que saber dizer não, vocês tem que saber explicar porque voces estão
postando uma coisa e não postando outra.
S. E como que é feito isso?
B.É difícil, às vezes eles postam coisas que eles não conseguiram dizer não. Às vezes, eles
deixam de postar que acham que não vai funcionar porque já teve uma experiência prévia.
S. O que, por exemplo, não entraria?
B.Casa&Companhia acabou de estrear uma página e é um caderno de decoração , bem
específico. Então, a editora, no caso quer bombar a página dela e daí ela posta que nem, na
semana, passada: apartamento de jovem solteira ...daí pede para pessoal aqui, que trabalha
comigo: “ah eu quero que vocês compartilhem”, mas vão dizer “ah isso não tem nada a vê
com o tipo de conteúdo do Zero Hora” e daí ela vai dizer: “ta, mas é conteúdo do Zero Hora, é
um caderno do Zero Hora a gente publica esse conteúdo no jornal, publica no site porque
vocês não vão compartilhar no facebook?” E às vezes, por preconceito porque a gente
imagina que as pessoas não vão gostar a gente deixa de publicar. E daí, eu digo: “olha, vocês
tem postar uma vez, pelo menos, tem que postar uma vez daí vocês vêem qual é a reação,
vêem o que as pessoas estão dizendo pra poder tomar a decisão com base em algum dado”.
Não pode dizer que vocês acham que as pessoas não vão gostar, não é justificativa a gente
precisa saber se as pessoas vão gostar ou não. Aí a gente vai sempre experimentando, isso
que a gente tenta fazer.
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ANEXO D – CD com materiais da coleta.