Crise econômica: Radiografia e soluções para o Brasil Reinaldo Gonçalves 30 outubro 2008 [email protected]
Crise econômica: Radiografia e soluções para
o Brasil
Reinaldo Gonçalves
30 outubro 2008
Sumário
1. Radiografia da crise internacional
2. Medidas de contenção
3. Especificidade da crise brasileira
4. Governo Lula: linha de menor resistência
5. Protocolo de soluções
6. Síntese
1. Radiografia da crise internacional
A. Causas
B. Extensão
C. Dimensão
D. Natureza
A. Causas
� Imediata: insolvência generalizada no sistema de hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos
� Determinantes conjunturais
� redução significativa da taxa de juro nos Estados
Unidos
� taxa básica caiu:
� 6% no início de 2001
� 1% em meados de 2004
Causas ...Determinantes conjunturais
� expansão da demanda por empréstimos
� elevação dos preços dos imóveis: tomada de
mais empréstimos para ganhos imobiliários
Determinantes estruturais
� desregulamentação do setor financeiro:
alavancagem
� desregulamentação financeira: empréstimos
sub-prime
� menor dinamismo do setor real
� deslocamento do capital do setor produtivo
� globalização financeira
� liberalização
� diversificação geográfica em escala global
B. Extensão global
� Globalização
� crescente interdependência entre os sistemas financeiros nacionais
� Afeta o centro do sistema econômico internacional (Estados Unidos)
� atinge o extremo oriente (Japão e Coréia do Sul)
� chega praticamente ao pólo norte (Islândia e Rússia)
� repercute no sul das Américas (Chile e Brasil).
C. Caráter multidimensional
� crise sistêmica no setor financeiro
� atinge o lado real da economia
� forte desaceleração
� recessão econômica
Multidimensional: dimensão político-social
� fragilidade dos grupos dirigentes
� Estados Unidos: Bush - presidente sub-prime
� revitalização do governo do Labour Party
britânico
� Impacto social
� desemprego
� perda de renda
� patrimônio do trabalhador.
D. Natureza predatória do capitalismo
� neoliberalismo: liberalização e
desregulamentação
� poder letal do “moinho satânico” do mercado
de capitais
2. Medidas de contenção: sete baterias
� Primeira:
� expansão da liquidez
� empréstimos para agentes financeiros e
empresas de outros setores
� Segunda:
� saneamento financeiro (bancos, financeiras, seguradoras, etc.)
� falências, concordatas
� fusões e aquisições
� Terceira:
� estatização parcial ou total dos agentes financeiros e empresas
� Quarta:
� garantias de empréstimos, depósitos e aplicações financeiras
Quinta: políticas econômicas expansionistas
� redução das taxas de juros
� expansão dos gastos públicos
� redução de carga tributária
� estimular a FBKF
� políticas comerciais restritivas
Sexta:Enfrentamento da crise cambial
� intervenção soft
� oferta de dólares no mercado spot
� leilões de “linha” (compromisso de recompra)
� Swap cambial
� não-resgate de swap cambial reverso
� mercados futuro, a termo e de derivativos
� emissão de títulos com correção cambial
Câmbio: Intervenção hard
� controle direto do mercado de câmbio
(conversibilidade)
� controle de capitais (entrada e saída)
� Taxas múltiplas de câmbio
� centralização do câmbio
� obrigatoriedade da internalização da receita
de exportação
� proibição temporária ou definitiva de fluxos
específicos de entrada e saída de capitais
Sétima: Redução do impacto social
� flexibilização e ampliação do esquema de seguro-desemprego
� vale-alimentação
� políticas assistencialistas em diversas áreas
� refinanciamento de dívidas / hipotecas imobiliárias
� travar processos de execução de hipotecas
imobiliárias
� travar arresto de imóveis por falta de pagamento
� esquemas especiais para o refinanciamento
3. Especificidade da crise brasileira
8. Má governança
7. Pressão inflacionária
6. Elevado passivo externo total e de curto prazo
5. Deterioração acelerada das contas externas
2. Crise financeira – sistêmica
4. Crise no setor de commodities– pressão do agronegócio
3. Crise cambial aguda –maxidesvalorização / megadesvalorização
2. Crise financeira – sistêmica
1. Crise real – desaceleração do crescimento da renda
1. Crise real – recessão / desaceleração do crescimento da renda
BrasilPaíses desenvolvidos
Crise brasileira: gravidade
1. Crise real – desaceleração do crescimento
2. Crise financeira – sistêmica
3. Crise cambial aguda – maxi-mega-desvalorização
4. Crise no setor de commodities – pressão do
agronegócio
5. Deterioração acelerada das contas externas
6. Elevado passivo externo total e de curto prazo
7. Pressão inflacionária
8. Má governança
PASSIVO E ATIVO EXTERNO, BRASIL: 2007(US$ bilhões, final do ano)
101Outros investimentos e derivativos
99No exterior
47No país
146Títulos de renda fixa
198No exterior
166No país
364Investimentos em ações
510Investimento em carteira
47Empréstimo intercompanhia
281Participação no capital
328Investimento estrangeiro direto
939Passivo (B)
180Ativos de reservas
39Outros investimentos e derivativos
15Investimentos em carteira
130Investimento direto brasileiro no exterior
365Ativo (A)
-574Posição (A-B)
Fonte: Bacen, Posição Internacional de Investimento.
Disponível: http://www.bcb.gov.br/sddsp/detposinterinv_p.shtm.
DETERIORAÇÃO DAS CONTAS EXTERNAS DO BRASIL: 2007-09(US$ bilhões)
46,1
13,6
40,0
3,6
23,6
-25,4
13,7
-34,3-40,0
-30,0
-20,0
-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Saldo comercial de bens Saldo conta corrente
2006 2007 2008 2009
4. Governo Lula: Medidas de contenção
� linha de menor resistência
�Atender aos setores dominantes
�Bancos
�Agronegócio
�Construtoras
4. Governo Lula: linha de menor resistência
NãoImpacto social7ª
Intervenção softCrise cambial 6ª
Contrario sensuPolíticas expansionistas
5ª
NãoGarantias4ª
SimEstatização3ª
NãoSaneamento financeiro2ª
SimExpansão da liquidez1ª
Uso no Brasil após a eclosão da crise
FocoMedidas de contenção: Baterias
Primeira bateria: expansão da liquidez
� recursos de empréstimos
� Bancos
� Exportadores
� Construtoras
� flexibilização do redesconto
� redução dos depósitos compulsórios
� expansão do crédito para o agronegócio
� ampliação do financiamento dos
exportadores
� Segunda bateria: saneamento financeiro� governo brasileiro ainda não explicitou mecanismos
específicos
� Terceira bateria: estatização parcial ou total� MP No. 443 (22/10/08)
� Asset Management Companies – AMCs: Banco do
Brasil e Caixa Econômica Federal: participação em
� empresas financeiras (bancos, seguradoras,
empresas de previdência, capitalização, etc.)
� construtoras
� Quarta bateria: garantias de depósitos, empréstimos e aplicações financeiras� governo ainda não tomou medidas nesta direção
�
� Quinta bateria: Políticas expansionistas� taxa de juro básica da economia não se alterou
� taxas efetivamente cobradas no mercado financeiro
aumentaram
� governo sinalizou com a perspectiva de corte de
gastos
Sexta bateria: Contenção da crise cambial
� Real sofreu forte desvalorização em outubro
� governo restringiu suas medidas à
intervenção soft
� venda de dólares no mercado spot
� leilões de “linha”
� leilões de swap
� não-resgate de swap reverso
� venda de dólares para o financiamento de exportadores
Desvalorização cambial na América Latina (%)(24 de outubro de 2008 comparativamente a 1º de julho de 2008)
47,5
34,5
23,0 22,4
16,0 15,4
7,2 6,4
0,2 0,0
-1,5-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
Bra
sil
Méx
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Colô
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rugu
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aragu
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Per
uV
enez
uela
Equ
ador
Bol
ívia
Sétima bateria:redução do impacto social da crise
� não mereceram a atenção por parte do
Governo Lula
Síntese: Governo Lula e a crise
� “estratégia da linha de menor resistência”
� Maior parte das medidas contempla:
� regulação da liquidez
� sustentação do setor financeiro
� proteção da renda do agronegócio
� estímulo às construtoras
� esforços no sentido de evitar a
megadesvalorização cambial
Beneficiários diretos: setores dominantes
� Beneficiários diretos da estratégia da linha de
menor resistência são setores dominantes no
atual governo
� bancos
� Agronegócio
� Construtoras
Ponto central: Governa precisa
� agir com maior firmeza antes que as reservas
internacionais caiam em demasia e atinjam o
“nível crítico”
� definir claramente a trajetória futura dos
focos das políticas macroeconômicas
fundamentais
Crise cambial: sintomas
� maxidesvalorização cambial
� forte saída de capitais
� grande elevação da taxa de juro
� redução significativa das reservas
internacionais
� moratória
� acordo com o FMI.
Governo Lula: agravante da mágovernança
� incompetência operacional da área
econômica
� “preferência revelada” pela estratégia da
“linha de menor resistência
� ambigüidade e a falta de consistência das
políticas macroeconômicas
� operações de resgate e capitalização de
empresas financeiras e não-financeiras
(Asset Management Companies - AMCs)
5. Protocolo de soluções
Punição da administração temerária (evitar moral hazard – risco moral)
Estatização
Controle público das operações de resgate e recapitalização
Recapitalização dos bancos
Oferta de divisas estrangeiras
Imposto de exportaçãoRecompra de títulos do governo
Controle do câmbioReforçar marco regulatório e legal referente às operações de resgate e capitalização das empresas financeiras e não-financeiras
Precificação
Controles de capitais (entrada e saída)
Internalização das receitas de exportação
Garantias para os empréstimos inter-bancários
Expansão dos gastos públicos
Aumento dos limites de garantias de depósitos
Empréstimos diretos aos bancos
Redução da carga tributária
Aumento da liquidez -Redução do depósito compulsório
Compra de títulos de empresas no portfólio dos bancos
Refinanciamento hipotecário
Redução da taxa de juro básica e na ponta dos empréstimos
Organização de esquemas de falências e concordatas
TrabalhadoresGeralSistema financeiro
Crise brasileira: propostas
1. Redução da taxa de juro básica e na ponta
dos empréstimos
2. Aumento dos limites de garantias de
depósitos
3. Punição da administração temerária
4. Controle pela sociedade das operações de
resgate e capitalização
Propostas ...
5. Imposto de exportação
6. Internalização da receita de exportação
7. Redução da carga tributária sobre os
trabalhadores
8. Expansão dos gastos públicos
9. Controles de capitais (entrada e saída)
10.Controle do câmbio
6. Síntese
� Crise: � causas estruturais
� extensão global
� dimensão múltipla
� natureza sistêmica
� Grande instabilidade
Mudanças importantes em escala global
� re-regulamentação do sistema financeiro
� maior presença do Estado na atividade
produtiva
� restrições à liberalização cambial e
financeira)
� custo elevado em termos de produção, renda
e finanças públicas durante longo período
(16% PIB)
Situação brasileira
� particularmente grave
� vulnerabilidades e fragilidades do país
� erros de estratégia e política do governo Lula
� Países desenvolvidos: crises gêmeas (lado
real e setor financeiro)
� Brasil: espectro de crises e incertezas críticas
é muito maior
Brasil: gravidade
1. lado real
2. crise financeira
3. crise cambial4. crise no setor de commodities
5. deterioração acelerada dos desequilíbrios de fluxos externos (balanço de pagamentos)
6. elevado desequilíbrio de estoque (passivo externo de curto prazo)
7. pressão inflacionária8. risco de má governança
Governo Lula
� “estratégia da linha de menor resistência”
� maior parte das medidas tem viés pró setores
dominantes (bancos, agronegócio e
construtoras)
� subestima os riscos de ocorrência de crise
cambial e econômica ainda mais grave no
país
Argumento central
� Crise atual brasileira tem repercussões e
está envolvida em incertezas críticas muito
mais sérias do que aquelas implícitas nas
medidas tomadas pelo governo Lula no
imediato pós-crise nos Estados Unidos
� Crise atual é multidimensional
� Necessário tomar medidas que estejam à
altura do potencial de destruição da crise
atual
� Proteção dos setores dominantes versus
proteção dos trabalhadores
� Governo Lula: protegendo os setores
dominantes
Obrigado!