JornaldeAngola•Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2015 2015 44 TECNOLOGIA Primeiro satélite nacional em construção na Rússia é lançado dentro de dois anos CRIMES CIBERNÉTICOS DEVEM SER COMBATIDOS A caminho do progresso tecnológico EDIVALDO CRISTÓVÃO | O ano que hoje termina abriu uma discussão sobre a necessi- dade de Angola ter já uma lei so- bre crimes informáticos, em virtu- de de serem preocupantes os nú- meros de casos tornados públi- cos um pouco por todo o país. O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, também che- gou a levantar o problema num dos seus discursos públicos, em que de- fendeu a alteração do actual clima moral que tende a predominar nas re- lações sociais, sob o impacto das no- vas tecnologias de informação. O Presidente reconheceu que as redes sociais são uma conquista técnica e científica de toda a Huma- nidade, mas não devem ser utiliza- das para violar o direito das pes- soas, expor a vida íntima de quem quer que seja, caluniar, humilhar e veicular conteúdos degradantes e moralmente ofensivos. O Chefe de Estado defendeu que Angola deve dispor, o mais depres- sa possível, de uma legislação ade- quada para orientar a sociedade e as instituições e reprovar ou prevenir o surgimento deste tipo de práticas, que são inaceitáveis. Os Indicadores do Desenvolvi- mento Mundial revelam que Ango- la, em 2014, registou 21,26 por cen- to de usuários de Internet, enquanto, em 2013, foi de 19,1 por cento. Investimento nas comunicações O Angosat é o nome do primeiro satélite de Angola, que deve ser lan- çado em 2017 e está orçado em 40 mil milhões de kwanzas, financiados por um sindicato de bancos russos, liderado pelo Ruseximbank e VTB. A construção arrancou em 19 de Novembro de 2013 e está a cargo de um consórcio russo, liderado pe- la RSC, multinacional com larga experiência na produção de satéli- tes e foguetões propulsores em pro- gramas internacionais como o Soyuz-Apollo. O satélite marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pres- supõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequen- tes. O Angosat tem um período de vida de 15 anos e possui 22 “trans- ponders”, dispositivos de comuni- cação electrónica, e o projecto in- clui a criação de duas estações de rastreio, em Angola e na Rússia. Estas estações permitem uma inter- venção russa no controlo e coman- do do satélite, sempre que se mos- tre necessário, enquanto Angola cria autonomia neste domínio. O Angosat vai ter uma utilização de 99,2 por cento da capacidade pre- vista e fornecer serviços de suporte às telecomunicações electrónicas, incluindo a prestação de serviços em banda larga e de televisão. O Executivo tem estado a traba- lhar também na implementação da fibra óptica, que já interliga quase todo o território nacional. A construção do primeiro satélite de Angola encontra-se na ordem dos 58 por cento, devendo terminar em Novembro de 2016. O seu lança- mento está previsto para o primeiro trimestre de 2017. Para garantir o funcionamento do Angosat, o Ministério das Teleco- municações e Tecnologias de Infor- mação está a formar quadros em en- genharia de satélites e sistemas de engenharia espacial. Actualmente, sete estudantes estão a ser formados na Rússia e um na Itália. Do grupo, cinco fazem licenciatura e três dou- toramento. Também no exterior do país estão 29 jovens que fazem for- mação técnico-profissional contínua e intensiva, sendo nove em nano e picosatélites, dez em desenho de missões e sistemas espaciais e dez em operação de missões espaciais. O projecto, que prevê lançar em órbita o primeiro satélite angolano, abarca a construção de um centro de controlo e emissão de satélites. O ór- gão vai controlar, rastrear e fazer a telemetria dos dados enviados pelo satélite Angosat1 e vai estar locali- zado na comuna da Funda, municí- pio de Cacuaco, em Luanda. O edifício está a ser construído numa área de 6.617 metros quadra- dos e vai dispor de três pisos com a capacidade para 45 técnicos, um he- liporto, parque de estacionamento com 50 lugares e áreas verdes. O lo- cal foi escolhido pela Comissão In- terministerial para a Coordenação Geral do Programa Espacial Nacio- nal (PEN), tendo como base o baixo nível de interferência electromagné- tica, espaço para desenvolvimento do PEN e desenvolvimento da zona norte da província de Luanda. Redução de facturas A entrada em funcionamento do Angosat em 2017 vai permitir uma redução de custos das empresas de telecomunicações que operam em Angola. O satélite vai apoiar a dis- tribuição de serviços de telecomu- nicações, Televisão e Internet, con- tribuindo para a inclusão digital e coesão nacional dos angolanos. Actualmente, as pessoas precisam de serviços de dados com mobilida- de, principalmente os estudantes, que necessitam de investigar maté- rias ligadas à sua área de especializa- ção em qualquer lugar. Este projecto vai, também, ajudar a criar competências no ramo da en- genharia e tecnologia espacial, con- tribuindo, assim, para a diversifica- ção da economia angolana. Inventores angolanos Outra notícia divulgada em 2015 e que despertou o interesse dos an- golanos foi sobre a conquista de Angola de dez medalhas, duas das quais de ouro, na Feira Internacio- nal de Ideia, Inovação e Novos Pro- dutos, realizada em Nuremberga, Alemanha, em Outubro. Uma das medalhas de ouro foi ob- tida pela Faculdade de Medicina da Universidade Lueji A’Nkonde, se- diada em Malanje, pela investigação que desenvolve para a produção do primeiro soro antiofídico (para tratar vítimas de mordeduras de serpentes) feito com o veneno de cobras exis- tentes em Angola. Após o seu regres- so ao país, a delegação de inventores que representaram Angola na feira de Nuremberga foi homenageada pelo Ministério da Ciência e Tecno- logia, em cerimónia presidida pela ministra, Maria Cândida Teixeira. Na ocasião, Maria Cândida Tei- xeira revelou que o Ministério da Ciência e Tecnologia tem registado, desde há seis anos, 194 inventores. Destes, 158 são do sexo masculino e 36 do sexo feminino. De acordo com as estatísticas do Ministério da Ciência e Tecnologia, do universo de inventores/criadores registados, 80 por cento frequentam o subsistema de ensino geral e 20 por cento estudam em universida- des. Em relação às áreas de aplica- ção, 60 por cento dos inventores tra- balham em electrónica e tecnologias de informação e comunicação, cer- ca de 20 por cento em mecatrónica e os restantes estão distribuídos pelas áreas da arte, biologia e medicina. O actual desafio do Ministério da Ciência e Tecnologia é consolidar o estabelecimento de parcerias com os diferentes actores do sector produtivo, com vista à produção em série dos protótipos e ideias de inventores angolanos. Angosat marca a entrada de Angola numa nova era das Telecomunicações o que pressupõe a condução de um programa espacial que inciua no futuro o lançamentos de satélites subsequentes REUTERS MIQUÉIAS MACHANGONGO EDUARDO PEDRO A inciusão digital cresce de forma exponencial no país com a criação da rede de mediatecas Ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação José Carvalho da Rocha (ao centro) no lançamento do projecto Angosat